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CHIQUE É TRATAR O - Amazon S3de etiqueta é não pensar no cole-tivo. Cada um quer resolver o seu problema”, observa Agni. Estudiosa do tema interação da etiqueta com a ética,

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ESPECIALCAPA

CHIQUE É TRATAR O

Pedro Vilela/Agência i7

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CHIQUE É TRATAR O

ETIQUETA DO SÉCULO 21 DEIXA DE LADO AS NORMAS RÍGIDAS E ENCARA O RELACIONAMENTO COM O MUNDO

AGNI MELO e Cristiana Gontijo:

o maior problema é não

pensar no coletivo

OUTRO BEM

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ELIANA FONSECA

Esqueça qualquer menção a regras rígidas de como se sen-tar, portar, segurar talheres.

A nova etiqueta do século 21 tem muito mais a ver com a sua rela-ção com o mundo. Conectado, no trabalho, divertindo-se ou em qualquer momento da vida, espe-cialistas afirmam que as regras são as mesmas – é preciso pontuar a vivência com educação e respeito ao próximo. Alguns chegam a falar que é preciso pisar no freio. Che-ga de falar que não há tempo para nada. A pressa tem sido conside-rada um fator de embrutecimento – em prol dela há violência e des-cortesias no trânsito, em super-mercados, em bancos, desgastes nas relações profissionais e sociais, afastamentos. Tal como ocor-reu nos anos 1960, quando houve uma grande ruptura e as velhas re-gras de etiqueta foram deixadas de lado, talvez agora seja o momen-to de refletir o que queremos para moldar nossas relações daqui por diante.

Logicamente, normas para roupas, de como se portar em di-versas ocasiões, da combinação entre formal e despojado, ainda embaralham e causam inseguran-ça no cotidiano de muita gente. E para isso, há cursos e palestras de imagem pessoal. Mas, segundo as consultoras Cristina Gontijo e Agni Melo – autoras do livro Imagem Pessoal e Etiqueta – os novos có-digos de comportamento trazem a gentileza, o respeito ao próximo, a igualdade como conceitos estraté-gicos de construção dessa nova eti-queta do século 21. O esnobismo e demonstrações de superioridades sociais tão comuns em regras pas-sadas, já não valem para esse mo-delo.

Cristina e Agni remetem a uma

declaração de Michelle Obama, mulher do presidente dos Estados Unidos, que exige que as filhas ar-rumem suas camas na Casa Bran-ca. “É como uma declaração de princípios. Ela quer sinalizar para as filhas e o mundo que todos são iguais, que têm os mesmos deve-res e obrigações. E isso é uma mar-ca da nossa época, em que todos buscamos um mundo melhor, que respeite mais as pessoas”, afirma Cristina.

Agni diz que, para esse novo cotidiano diferenciado e mais res-peitoso, é necessário repensar o

que cada um entende por norma-lidade. É refletir o cotidiano tam-bém a partir do outro e parar com ações que minam o coletivo. Não valem mais passar na frente em uma consulta porque tem conhe-cidos, cortar outro veículo no trân-sito ou abusar do olha com quem está falando, exacerbando que a lei é para poucos. “O maior problema de etiqueta é não pensar no cole-tivo. Cada um quer resolver o seu problema”, observa Agni.

Estudiosa do tema interação da etiqueta com a ética, Betânia Pena observa que, nas redes sociais, o fenômeno é o contrário. O foco não é no individual, mas no outro. Po-rém a relação está longe da ideal. Primeiro porque a exposição exa-cerbada e a busca da aceitação do outro têm gerado uma espécie de competição e o resultado são pos-tagens que mais do que arrepen-dimentos podem gerar problemas profissionais sérios. “A regra para qualquer pessoa deveria ser, nun-ca coloque na sua rede social o que você não coloria em um outdoor. Há uma falta de percepção do al-cance da conectividade”, afirma Betânia.

Se a globalização e a intensa conectividade trouxeram hábitos como a necessidade de postar ou ficar on-line o tempo todo, as nor-mas da nova etiqueta do século 21 são claras. Não há o que se discu-tir sobre o que é, ou não, abuso. “Chegar a um restaurante e cada um ficar mexendo em seu celular, obviamente é deselegante”, diz Be-tânia Pena.

Porém a multiconectividade trouxe outros dilemas relaciona-dos à baixa autoestima e a falta de parâmetros, principalmente para os viciados em redes sociais. Estu-do da Universidade de Humboldt,

Chegamos ao extremo, à beira do suportável. A pressa hoje é a deusa, e é tudo

em nome da rapidez”

Claudia Matarazzo

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em Berlim, indicam que esse grupo está infeliz por causa de um senti-mento comum a todos os mortais: a inveja. Sim, porque quase todos os perfis miram na autopromoção com férias perfeitas, passeios per-feitos, roupas perfeitas, frases per-feitas, vida perfeita. O resultado é que o viciado em rede social come-ça a sofrer de ansiedade, tristeza, dúvida, decepções, por entender que sua vida está longe das que são mostradas na rede. Nessa hora, a regra é ter discernimento. “É pre-ciso bom senso, naturalidade e um pouco de afeto e de dedicação. E isso vale para todos os relaciona-mentos”, avisa Betânia.

Mas nada disso vai ocorrer se não houver transformação, resga-te que tem a ver com o incômo-do do homem moderno com a sua atual situação e de como está di-recionando sua vida. Essa é a opi-nião da especialista em etiqueta e comportamento, a consultora Claudia Matarazzo. Se nos anos 1960, o movimento pop e a contra-cultura levaram ao rompimento na chamada etiqueta clássica, os anos 1980 e 1990 trouxeram outra revo-lução, a da informática, que tem gerado grandes reflexos até hoje. O problema, segundo Claudia, é que a tecnologia e a internet provoca-ram uma aceleração na socieda-de, em que a pressa justifica vários deslizes. “Chegamos ao extremo, à beira do suportável. A pressa hoje é a deusa, e é tudo em nome da ra-pidez. O resultado é que a qualida-de dos relacionamentos não está boa”, diz a consultora.

O remédio amargo é uma re-flexão e transformação radicais, em que é preciso parar e seguir um ritmo natural do corpo e de uma convivência maior em grupo. “É um exercício para a vida e vai na contramão do que o mercado e o sistema infligem à sociedade. Só

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parando é que vamos recarregar a nossa energia e conseguir ser mais serenos, elegantes, atenciosos.”

Conhecedor de várias culturas e das novas regras de comporta-mento do século 21, o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Angelo Oswaldo de Araú-jo Santos, observa que a transição entre o fim da etiqueta clássica – aquela voltada mais para como eu vou me portar e para como agir e se portar em ocasiões especiais – e as atuais regras gerou uma sociedade com comportamentos desrespei-tosos. Para Angelo Oswaldo, a ve-lha etiqueta angustiava o convívio social, aprisionava as pessoas em patamares sociais. “Logicamente, a informalidade é saudável tanto mental quanto fisicamente, mas, com ela, instalou-se uma grande falta de educação que vem se tra-duzindo em abusos, irregularida-des e até pequenos atentados ao bom convívio social”, diz.

Angelo Oswaldo faz menção ao que considera um dos maio-res problemas modernos, a falta de educação no trânsito, para falar que essa quebra de normas dese-ducou o brasileiro na convivência dos espaços públicos. “As pesso-as têm convivido mal nas ruas. A informalidade sonhada acabou se transformando em um pesadelo.”

A globalização e o crescente avanço da tecnologia, na opinião do presidente do Ibram, contribuí-ram para uma maior flexibilização do comportamento individual e coletivo em diversos países. “Mas, no nosso caso, como abolimos quase tudo, ficou muito mais fácil para as pessoas praticarem peque-nas agressões ao próximo.”

Com a propriedade de quem já transitou por épocas em que eti-queta mais clássica era uma im-posição social, Eunice Impellizieri diz que a etiqueta do século 21 é

As pessoas têm convivido mal nas

ruas. A informalidade sonhada acabou se transformando em

um pesadelo”Angelo Oswaldo Santos

um pesadelo”Angelo Oswaldo Santos

BETÂNIA PENA: “É preciso bom senso,

naturalidade e um pouco de afeto”

Igor Coelho/Agência i7

Fotos: Divulgação

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Aprenda a escutar. Em um mundo saturado de informação, ouvir o outro é muito importante. Numa reunião, saber se calar, ouvir todos os pontos de vista e, ao intervir, tentar buscar uma síntese, pode dar a você mais infl uência do que tentar se sobressair atropelando os outros

Administre o seu tempo on-line. Se você não tomar cuidado, e-mails, mensagens de celular e Facebook podem mantê-lo distraído e diminuir a sua produtividade. A menos que sua atividade dependa de estar conectado o tempo todo, procure não misturar o período on-line com sua atividade principal

A pessoa que está presente é mais importante do que a que chama no celular. Nunca atenda chamadas no meio de reunião ou de encontro profi ssional. Caso seja absolutamente necessário deixar o celular ligado, avise antes os presentes que irá receber uma chamada e explique o porquê

Acima de tudo, respeite os outros. Não tente se sobressair à custa das outras pessoas. Os grandes gênios do relacionamento são pessoas que conseguem fazer seus interlocutores se sentirem valorizados e respeitados e nunca se colocam como superiores

Cuide do seu comportamento, inclusive nas mídias sociais. Hoje, a opinião que você expressa

na web fi ca registrada para sempre. Portanto muito cuidado com o que curte, compartilha

e com o que escreve. E não se exponha. A sua imagem na internet é uma imagem pública

Aprenda a dizer não. Hoje em dia é muito comum as pessoas assumirem mais compromissos do

que podem cumprir. Organize-se para ser sempre pontual e cumprir com os seus compromissos

da melhor maneira. Quem se sobrecarrega compromete o próprio desempenho

Aprenda a usar bem ferramentas como e-mail, SMS e smartphone. Mensagens no celular ou no e-mail podem ser menos intrusivas que uma chamada no

celular, dependendo da ocasião. Quando alguém não pode atender você ao telefone, mandar uma

mensagem explicando o que quer pode poupar tempo

DICAS PARA SE COMPORTAR BEM NO MUNDO (*)

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Administre o seu tempo tomar cuidado, e-mails, mensagens de celular e Facebook podem mantê-lo distraído e diminuir a sua produtividade. A menos que sua atividade dependa de estar conectado o tempo todo, procure não misturar o período

A pessoa que está presente é mais importante do que a que chama no celular.chamadas no meio de reunião ou de encontro profi ssional. Caso seja absolutamente necessário deixar o celular ligado, avise antes os presentes que irá receber uma chamada e explique o porquê

Acima de tudo, respeite os outros.se sobressair à custa das outras pessoas. Os grandes gênios do relacionamento são pessoas que conseguem fazer seus interlocutores se sentirem valorizados e respeitados e nunca se colocam como superiores

Cuide do seu comportamento, inclusive nas Hoje, a opinião que você expressa

fi ca registrada para sempre. Portanto muito cuidado com o que curte, compartilha

e com o que escreve. E não se exponha. A sua imagem na internet é uma imagem pública

Hoje em dia é muito comum as pessoas assumirem mais compromissos do

que podem cumprir. Organize-se para ser sempre pontual e cumprir com os seus compromissos

da melhor maneira. Quem se sobrecarrega compromete o próprio desempenho

Aprenda a usar bem ferramentas como e-mail, SMS Mensagens no celular ou no e-mail

podem ser menos intrusivas que uma chamada no celular, dependendo da ocasião. Quando alguém não pode atender você ao telefone, mandar uma

mensagem explicando o que quer pode poupar tempo

uma maneira de compreender a vida por outro ângulo. Para ela, os códigos de comportamento atuais estão relacionados com valores como gentileza, solida-riedade, compaixão, tolerância. Eunice observa que não há es-paço para regras rígidas e que a postura elegante de vida tem a ver mais com o acolhimento ao outro. “Na verdade, não é nem uma etiqueta, mas sim uma coi-sa que deveria ser natural a cada ser humano. Não cabe tratar bem porque é etiqueta, mas porque temos de compreender que so-mos iguais e não há mais espa-ço para preconceito. É ser gentil com qualquer um.”

*Fonte: Cristina Gontijo e Agni Melo

EUNICE IMPELLIZIERI: “Somos iguais e não há espaço para preconceito”

Arquivo Pessoal

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