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fíl IDEOLOGI E  PROTESTO POPUL NOS  SÉCULOS  XVII  X IX Organizado  o r  Frederick  Krantz

Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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Hill.Christopher - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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fíl

IDEOLOGI E PROTESTO POPUL R

NOS  SÉCULOS

  XVII

  XIX

Organizado

  or Frederick Krantz

Jo r e  Zaha r Editor

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Pobres

  e o Povo na

  nglaterra

 do

 Século  XV

hristopher

  Hill

Para

  começar, preciso deixar claro

  um

  ponto.

  A

  palavra

  povo

é  com

frequência

  maltratada hoje, como

  nas

  ocasiões

  em que

  políticos dizem

  que

 o  povo quer  isto ou  o  povo  não  tolerará  isto ,  quando, estatisticamente,

não têm a

  mínima ideia

 do que o

  povo quer.

 Mas o

  fato

  de

  podermos com-

preender  que  estão maltratando  a  palavra mostra  que há um significado

acordado.  O  povo  da  Inglaterra significa  os  habitantes deste país, todos

eles, homens

  e

  mulheres,  ricos

  e

  pobres. Conforme veremos, porém,

  as

coisas

  não

  eram

  tão

  simples assim

  no

  século

 XVII.

  Pouquíssimos,

  na

  ver-

dade,

  que

  usavam

  á

  palavra

  povo

incluíam todos

  os  habitantes.

O

  emprego linguístico,

  naturalmente,

  relaciona-se

  com a

  prática

  políti-

ca.

  Constitui quase

  um

  choque recordar

  que só

  neste século

  todos  os

  adul-

tos

  foram

  considerados como povo  no  sentido  de ter  direito  a um  voto para

eleger

  o

  Parlamento. Historiadores

  do

  século

  XIX

  aceitavam

  com

  toda

  se-

riedade

  alegações  do  século

 XVII

  de que o  Parlamento representava  o  povo

da

  Inglaterra porque lhes parecia  que

  s u

  Parlamento representava-o, em-

bora apenas  uma  minoria  da  população tivesse direito  ao  voto.  Só no  pre-

sente século

  é que os

  historiadores

  se

  tornaram conscientes

  da

  importân-

cia

  deste ponto cego. Como acontece  com  tanta frequência,  a

  história

  teve

que ser

  reescrita

  não

  porque nova prova tivesse sido descoberta

  mas por

causa  de

  mudanças

  na

  sociedade

  em que

  viviam

  os

  historiadores. Neste

caso,

  a

  adoção

  do

  sufrágio

  universal tornou-os mais conscientes

 de sua au-

sência  no

  século XVII.

Ao

  irromper

  a

  guerra civil entre

  Rei e

  Parlamento

  em

  1642, este últi-

mo

  teve

  que

  arranjar argumentos para justificar

  sua

  posição  contra  o  pri-

meiro,

  que

  fora aceito como Ungido pelo Senhor, governando

  por

  direito

divino,

  e não

  apenas

  por

  tradição,

  por

  direito histórico

  e

  legal.

  Que

  direito

tinha

  o

  Parlamento

  de se

  opor

  a

  ele?

  A

  resposta encontrada

  foi que o

  Par-

lamento  representava

  o

  povo

  da

  Inglaterra

  e que o

  povo,

  em seu

  todo,

  era

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Chrislopher

  H iU  5

superior até mesmo ao Rei. Alegaram mesmo alguns, para horror dos con-

servadores,  que o

  texto bíblico Não toqueis

  nos

  meus ungidos referia-

se

  a

  sujeitos

  inferiores...

  Esse perigoso dogm a , escrevia

  um

  panfletário

  em  1642, foi martelado  nos  ouvidos  do  povo como  se ele  apenas

  fosse

o

  ungido, ninguém mais

  mas

  apenas

  ele .

 

Mas

  ainda

  que o

  povo fosse

superior

  ao

  Rei, perguntas incómodas foram

  feitas  em

  discussões livres

  por

volta

  da

  década

  de

  1640 sobre

  a

  medida

  em que o

  Parlamento

  era  real-

mente representativo.

  O

  realista

  Sir

  Robert  Filmer  divertiu-se muito obser-

vando que, longe de representar o povo da Inglaterra, o eleitorado parla-

mentar  na

  verdade incluía talvez

  um em

  cada

  dez

  ingleses

  — dez da

  classe

alta.

  Os

  Niveladores apresentaram

  o

  mesmo argumento

  do

  ponto

  de

  vista

oposto. Mas eles — ao contrário de Filmer — pensavam que o

  sufrágio

devia  ser

  ampliado,

  de

  modo

  a

  tornar

  o

  Parlamento representativo

  de

  toda

a

  população masculina.

Neste  ponto  os  pensadores políticos parlamentaristas meteram-se  em

águas  fundas.  A  retórica  da  acusação  no  julgamento  de

  Carlos

  I,

  quando

ele foi

  condenado

  à

  morte

  como

  traidor

  do

  povo

  da

  Inglaterra,

  e da

  legis-

lação  que  abolia  a  monarquia  em  1649, explorou muito  a  superioridade  do

 povo em relação  ao  Rei. Mas ainda que o Parlamento Longo de  fato

representasse

  o povo, era

  fato

  bem sabido que, antes de

  o

  Rei ser levado

a

  julgamento, uma grande maioria de membros do Parlamento teve que

ser expurgada pelo coronel

  Pride.

  O  Remanescente  que  sobrou  do  Parla-

mento,

  sentado sobre

  as

  baionetas

  do

  Novo Exército Modelo,

  dificilmente

se

  parecia com o povo da Inglaterra — e menos ainda com

  o

  próprio exér-

cito,

  pensavam muito contemporâneos.

Mas,

  neste caso, quem

  era o

  povo?

  A

  pergunta permaneceu.

  Fora

  fo r -

mulada

  um

  século antes. Quando

  um dos

  propagandistas

  de

  Henrique  VIII,

William

  Marshall, traduziu

  o  Defensor

  Pacis

de

  Marsiglio

  de

  Padua,

  em

1535, viu-se

  obrigado,  irritantemente,  a

  interromper

  o

  texto

  de

  tempos

  em

tempos  com

  notas marginais, explicando

  aos

  leitores que,

  a

  despeito

  das

aparências, quando Marsiglio  falava  no povo ele não se referia a todo o

povo.  Em

  toda esta longa crónica,

  ele não

  fala

  da

  multidão vil,

  mas do

Parlam ento ; nos casos

  em que  fala  em tal

  multidão,

  ele se

  refere

  a que

está  reunida

  no  Parlamento .2  No

  reinado

  de

  Elizabeth,

  Sir

  Thomas

  Smith

declarou que a com unidade consiste apenas de homens livres . Diaristas,

agricultores pobres e outros que não possuem propriedades livres e alo-

diais nem  têm voz nem  autoridade  em  nossa

  comunidade

  e não se os  deve

levar  em  conta, salvo  para  serem  governados .

3

  Um  assustado  baronete

insistiu

  nesse ponto em

  1641:

  os arcebispos, os nobres,

  juntamente

  com

a

  pequena nobreza,

  as

  gentes

  de boa

  família

  e

  educação, consultam-se entre

si

  e estabelecem as regras de governo; os plebeus se submetem e as obede-

cem .4

  Em 1641, porém, os plebeus não estavam se submetendo e obede-

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gg  a outra história

cendo cegamente, como  se  esperava deles. Após

  1 < S 6 0 -

  porém,  ó duque de

Albefrriarle  podia  dizer  com  mais  confiança

  que

  "os  mais pobres  e mais

humildes

  não

  têm

  interesse

  ria

  comunidade, salvo

  o de

  respirar".

5

  Os ho-

mens

  de  propriedade  do  século XVII herdaram um  horror  ao  Monstro  de

Muitas Cabeças,  a  população ignorante  e irracional.6

Dessa

  maneira,  escritores de  classe superior tendiam  a  excluir  os po-

bres Ho

  "povo

  livre , embora  não o

  fizessem

  de

  forma

  muito precisa  ou de-

liberada.  Eles

  simplesmente

  não  pensavam  nas  classes mais baixas (não

mais  do que

  pensavam

  em  mulheres) quando  se  referiam  ao  "povo"  que  o

Parlamento  representava. O  anónimo

  The

  Lawes

  of

  England provavelmen-

te

  escrito

  por um

  puritano

  nas  décadas  de 1620-ou

  1630, citava como

  um

dos  direitos

  do

  "povo"  —  "aquelas

  jura

  f

amiliae consistindo  de  esposas,

filhos,  servos, bens  e  terras",  sobre  os  quais  todos os  pais  de  família  são

  senhores  e  reis  em

  suas

  próprias

  casas".

7  O  exemplo mais conhecido

  'no

particular

  é

  o do  capitão Adam

  Baynes,

  membro

  do-

 Parlamenta por  York-

shire,  em discurso;  nessa assembleia  em  1659.

  Discutindo

  as  causas  da  guer-

ra  civil, disse  ele que  "o  povo como  dono  de  propriedades  era

  insuportá-

vel  para  ò  Rei;  e,  'em  armas', 'insuportável  demais...  A  propriedade  em

geral está agora  com o

  povo..'-.  Todo

  governo  se  baseia  na  propriedade,

pois;

 hão

  fosse1

 assim,

  os

  pobres

  é

  que

  governariam .

  Aparentemente,

 pobre

não

  é

 povo porque  não  tem

  propriedades.8

A  questão,  aliás,  surgira  antes,  em  outubró-novembró  de  1647;  no

Conselho  Geral-

  do

  Exército,'  reunido em Pútney.  O

  exército acabara

  de

vencer

  a

  ;guerra

  contra  o Rei e  este Conselho - Geral,  formado  de  generais,

de  alguns oficiais representantes  das  fileiras  è  de  alguns  Niveladòres  lon-

drinos,

  discutia

  qual devia

  ser a

  futura Constituição

  da

  Inglaterra

  — uma

ocasião

  excepcional.

  O  coronel  Rainborough  e

  os

  Niveladòres  pediram  —

ou

  pareceram

  pedir

  — 'o

  sufrágio

  masculino sobre

  o

  fundamento

 'de que

todos

  os

  homens tinham direito natural

  ao

  voto.

  Os

  Niveladòres

  e

  seus

correligionários

  em

  Pútney  ficaram  muito confusos quando

  o

  Comissário-

Geral  Ireton

  sugeriu

  que os  mesmos  argumentos  podiam

  ser

  usados para

defender  um  direito  natural  de  todos  os

  homens

  a  propriedade  —  isto  é,

para  justificar  o  comunismo.  A  maioria  dos  Niveladòres  era  favorável  à

propriedade

  privada

  e  talvez  não tivesse

  pensado

  bem em

  todas

  as

  impli-

cações  de  frases  retumbantes, como  a

  de Lilburne,

  de que "os  mais

  pobres

têm

  um

  direito

  tão

  autêntico

  a

  votar...

  corrio

  os

  mais ricos

  e

  mais

nobres".

9  Rainborough

  pronunciou

  ás  palavras  famosas  o

  mais

  pobre

que  há

  na

  Inglaterra

  tem

  tanto

  uma

  vida para  viver

  como  o

  mais  rico-  é,

por

  conseguinte...

  Eu

 penso

  que o

  homem mais pobre

  na

  Inglaterra (todo

homem  nascido  ria  Inglaterra")  não

  está

  em  absoluto  sujeito  em  sentido

estrito  ao  governo no  qual  não

  teve  voz

  em se  submeter . Ireton,

  repetindo

Sif  Thomas  'Smith,

  retrucou

  que  "o  fato  de um  homem  nascer aqui não

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Çhristoph r  íill  37

lhe dá  direito  a um  voto:  o  sufrágio

1

  está  vinculado  à  propriedade.  Por

povo, susten tou Ireton , entende-se aqueles que poss uem interesse perma-

nente  na  terra .  O

  coronel

  Rich

  acrescentou

  que se

  senhor

  e

  servo  fossem

eleitores iguais, então

  a

  maioria pode,

  por uma

  lei...

  destruir

  a

  proprie-

dade .  Se

  qualquer qualificação

  de  propriedade :

 fos se man tida, disse ele,

cinco  sextos  do  povo seriam excluídos  do direito  ao  voto.  Que  garantias

têm os

  senhores, perguntaram

  Rich  e

  Ireton,  de

  que se  o

  voto

  for  conce-

dido  aos

 pobres-eles  não

  votarão pelo  comunismo  e  pela divisão  das  pro-

priedades

  dos

  ricos?10

  insígixs

  i r c

  - y . . :

  -r:o )  n k

Os Niveladores não

  possuíam

  uma resposta pronta. Provavelmente, es-

tavam

  divididos entre

  si.

  Alguns deles estabeleciam

  uma

  distinção entre

  os

homens livres  e os  pobres;

  Todos

  os  habitantes  que não  perderam  seu

  di-

reito-inato ,  disse Maximilian Petty , devem

  ter

  voto  igual

  nas

  eleições .

E sugeriu que os pobres haviam perdido sua liberdade inata tornando-se

— r

pelo  menos

  temporariamente.—

  dependentes

  de  outrem.  Isto  se

  aplicava

também  a  aprendizes  e a

  serviçais

  que

  residiam

  com os patrões.

  Alguns

  dias

depois, o Conselho Geral do

  Exército

  votou no sentido de estender o su-

frágio a

  todos, menos

  a

  .serviçais

  e a

  mendigos.,

11

,

  í - . r . ' , ; ; , ,   . ; . . - • •

 

distinção

  aventada por;  Petty  era na

  verdade

  muito sofisticada.  A

maioria  dos  teóricos

  políticos

  parlamentaristas

  continuou

  a  falar  no

  povo ,

e  apenas quando pressionados  é que  reconheciam  que não  incluíam

  os

  po-

bres.  Assim,

  Marchamont

  Nedham, propagandista  do  governo republicano

na  década  de  1650,  declarou  que  quando mencionamos  o  povo  não nos

referimos

  ao  corpo confuso

  e

  promíscuo

  do  povo ;

  por povo entendemo s

aqueles que serão devidamente escolhidos para representar sucessivamente

o povo em suas assembleias  supremas .

12

  Para todos os efeitos, ele  poderia

estar quase lendo

  as

  notas

  de Marshall à sua

  tradução

  da

  obra

  de Marsi-

glio

  e  isto  foi o  mais

 perto

  que  chegou  de uma  definição.  Em  1653, Robert

Norwood

  afirmou

  que os  Parlamentos  são o  povo reunido , que entre

si  escolheu pessoas

  em

  todas

  as

  partes

  da

  terra . Respondendo

  a uma

  per-

gunta  sobre quem deveria  julgar  a

  justiça

  das  leis  do  Parlamento respondeu

que  ora, todos  os  ingleses, todo  o  povo  da  Inglaterra,  em e por  suas  vá-

rias cortes  e

  servidores. . .

  centenas  de  cortes, cortes  de  condado, cortes

de investigação,

  xerifes,

  júris e coisas

  assim .13

  Aqui, todo o povo signi-

fica  no  máximo todos  os  chefes  de  família.

Thomas

  Hobbes chegou perto de uma descoberta im portan te quando

argumentou

  que o

  estado

  é

  fundado

  no

  consentimento

  do

  povo

  e

  que,

  a

este respeito, todos

  os

  homens

  são

  iguais.

  Hobbes,

  porém, incluíra

  o

  indi-

vidualismo competitivo

  na sua

  psicologia básica

  do

  homem

  e o

  objeto

  de

sua  análise nem de longe era o estabelecimento de uma democracia. Muito

ao   contrário, arg umentou que a for m a de governo era irrelevante, enquan-

to os  súditos fossem  protegidos  da  anarquia  a  que,  de  outra  forma,  levaria

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38  outr históri

sua  com petitividade inerente.  De  modo  que o

  efeito

  disto consistia  em de-

fender

  o  st tus quo  — qualquer velho  st tus  quo  — contra mudanças de

todos  os  tipos,  ainda que,  uma  vez,

 ocorrida

  a  mudança,  ela  devesse  ser

aceita.

James  Harrington  (Baynes

  era

  harringtoniano) elaborou

  um a

  teoria

política  republicana  na  qual sempre  falava  no  governo

  como

  baseado  no

povo, embora, em sua comunidade ideal, criados não  fossem  cidadãos. A

distinção entre homens livres  e  criados parecia-lhe por assim dizer natu -

ral ,  não

  derivada

  da  Constituição  mas  existente antes  da  formação  do es-

tado.14  Criados nem tinham direito ao voto nem podiam portar armas. Na

Inglaterra, argumentou,  o  poder económico  no  século anterior  a  1640 pas-

sara para

  o

  povo ,

  que

 subvertera

  o

  equilíbrio tradicional adqu irindo

  terras

 à

Coroa,  à  Igreja  e à  aristocracia.  A  revolução  de  1640 fora simplesmente

uma  questão  de  ajustar  a  superestrutura política  de  modo  a  restabelecer  o

equilíbrio.  Por  povo Harrington evidentemente entendia pessoas detentoras

de  alguma propriedade.

  Os

  camponeses,

  não

  participando

  do

  equilíbrio,

não

  podem

  (em

  relação

  ao

  governo)

  ser

  levados

  em  conta e por

  conse-

guinte não

  é

  chamado

  de o

  estado comum,

  m as

  apenas

  o

  terceiro estado,

ao  passo

  que a

  pequena burguesia rural

  na

  Inglate rra constitui

  o

  comum,

o  verdadeiro  povo.

15

  D e  modo  que  havia distinções estabelecidas entre povo

e  povo.  Em um dos  diálogos  de  Harrington, pe rgu nta Publicola:  O  Par-

lamento declarava

  que

  todo poder reside

  no

  povo,

  m as

  apenas

  o

  melhor

tipo

  de

  povo? Va lerius, (qu e parece representar Harrington) responde:

  O  Parlamento consistia exclusivamente do  melhor

  tipo...

  Não  era,

  diria

você, uma democracia... Ainda assim, esta tinha origem na eleição livre

pelo povo . Publicola continuava insatisfeita.

  Livre

  até que  ponto? Obser-

vando-se  que pessoas subordinadas a senhores não ousavam eleger quem

os  desagradasse .

  Há

  nisso algo

  de

  verdade ,

  reconheceu

  Valerius, mas

estou

  convencido de que as pessoas não subordinadas a  senhores  preferi-

riam

  ainda assim  o  melhor tipo .

  Isto

  é  verdade , concordou  Publicola.16

Em   outubro  de  1659, Henry Stubbe,  que  lera  o seu  Harrington,  fazia

uma

  distinção entre

  a

  nação (todos

  os

  homens,

  exceto os

  criados,

  que

idealmente  deviam  ter o  direito  de  votar  em uma  comunidade livre)  e o

povo (na  verdade  os  defensores  da Boa e  Velha Ca usa ). Reconhecia

Stubbe que este não era o  emprego  normal da palavra  povo :  para  ser

parte

  do

  povo

  não é

  necessário

  que o

  indivíduo possua

  terra .

  Soldados

sem

  terra deviam desfrutar  os  direitos  dos  cidadãos.

  O povo

controlaria

o

  Senado;

  o

  Pa rlam en to seria escolhido

  por

  toda nação,

  e não

  pelo povo

apenas .

17

Na

  opinião

  de  Algernon  Sidney,  também (que  mais

  tarde

  se  tornaria

o

  herói  -dos  Liberais)

  nem

  todas

  as

  pessoas eram cidadãos plenos. Ne-

n h u m  homem enquanto  for  criado pode  ser  membro  de uma  comunidade,

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  hristopher Hill

  39

pois aquele  que não é  dono  de si  mesmo  não  pode  tomar  parte  no  gover-

no  de  outros .

18

  Locke repetiu  os  argumentos  de  Harrington.  Seu  estado

tinha origem em um contrato social entre o povo. Mas o  povo que fun-

dava  esse estado possuía criados  no  estado  de  natureza, antes  de  existir  o

estado:

  a

  relva

  que meu

  criado  corta

a  mim

  pertence. James  Tyrell,  amigo

e seguidor  de  Locke,  de  maneira alguma admitia  que a

  ralé,

  ou  turba,  de

qualquer  nação se levantasse em armas contra um governo civil, mas ape-

nas

  toda

  a

  comunidade

 de

  pessoas

  de

  todos

  os

  graus

  e

  ordens, comandadas

pela nobreza e gente de boa família e educação . Criados sem propriedade

em   bens  ou  terras  não  tinham mais razão do  que

  crianças

  para  ter voz

na  instituição  do  governo .  (E não  mais razão  do que  mulheres: esta ati-

tude,

  aliás,  ajuda  a explicar por que nem mesmo os Niveladores  defendiam

o  direito  do  voto  às  mulheres).  Os  Liberais  do  século

  XVIII

  tendiam  a

pensar

  que  povo significa gente  de boa  família  e  educação .19

No

  século  XVII,

  a

  prática

  era

  mais clara

  do que a

  teoria,

  mas

  também

igualmente desfavorável  aos  pobres.  Em  1640,  era  opinião  da

  Casa

(dos

Comuns)

  que

  nenhum mendigo

  ou

  homem

  que

  recebeu ajuda

  pública,

  nem

está  suje ito a pagamento de imposto, é capaz de ter voz na eleição de bu r-

gueses .

20

  Esta  era a  prática normal  nas  eleições  em  distritos. Analoga-

mente,  nas eleições paroquiais, aqueles que não pagavam taxas para os

pobres

  e a

  igreja tampouco podiam

  votar.

21

  Aos  'homens  de

  propriedade

do século  XVII

  isto

  parecia  apenas justo:  os que  eram  eleitos  gastavam

o  dinheiro  dos  contribuintes  de  impostos  e  taxas  e, por  conseguinte, deviam

ser  eleitos por eles e perante eles serem responsáveis. No campo, além do

mais,

  observou Richard Baxter,

  na

  maioria

  das

  paróquias,

  a

  maior parte

do

  voto

  dos

  vu lgares . ..

  é

  governada pelo dinheiro

  e, por

  conseguinte, pelos

senhores  de  terras .  Aqueles cuja  pobreza  é tão  grande  que  os  leva  a ser

criados  de  outros  e os priva  de sua  liberdade  inata devem perder  o  direito

ao  voto.

22

  Sir  Simonds D'Ewes  que,  em  1640,  de  forma  muito surpreenden-

te ,

  argumentou

  que os

  pobres deviam

  ter

  direito

  a

  voto, ressalvou esta opi-

nião

  um ano  depois,  de  modo  a  excluir  os  vagabundos. Ainda  assim,  fo i

mais liberal que  a  maioria  de  seus

  contemporâneos.

23  O

  pastor

  presbite-

riano

  Thomas  Edwards,  por exemplo,

  considerava como

  um  reâuctio

  aã

absurdum

  toda

  e

  qualquer ideia

  de

  sufrágio  universal

  que

  concedesse

  o

  voto

a

  indigentes  e a

  mulheres.

24

  Deveriam as mulheres, crianças, em pregad os

domésticos,  loucos e imbecis , pergun tava o arcebispo Ussher, ter a mes-

ma  liberdade

  de

  votar

  que

  homens

  de

  idade, fortuna

  e

  compreensão?

ffi O

conde

  de

  Shaftesbury.

  por

  volta

  de

  1680, declarou

  que

  todo

  paterfamí-

l i a s . . .

  tem...

  os  votos  de  toda  sua  família,  homem, mulher  e

  filho

  nela

incluídos .  Locke achava natural

  que os

  pobres, criados

  e

  mulheres

  não

tivessem  direito

  ao

  voto.26

  Por

  razões análogas,

  o

  tipo mais baixo

  de

  pes-

soas  e  criados era  habitualmente excluído  de  serviço  na  milícia.

27  Fornia-

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ftf 

buíra  história

vam  contudo,  ;a'prihcipapqfdritg  de  conscritos  para  o

  serviço  militar

  no

ultramar.  G i r a r a s : ,

  • •

- . • •

  r i   > u p   "ovoq"  - o   • • •

  :  > • •

  (íjsiínoa

  m u

  i  magno  B i f n i i

tijaixâ

  b ( n a   .   m   • . . • . - . • .   . :   3   E V

Há um   fundo  teológico  nessas'  Atitudes  que talvez valha a pena  estudar

por  um  momento:  Quando,

  no'  reinado

  dê  Eliza beth, puritanos presbiteria-

nos

  argumentaram que leigos idosos  deviam

  ser  eleitos

  pelas congregações

das

  paróquias

  pára compartilhar  com

  o  pastor

  da

  administração

  da  disci-

plina dá  igreja

  oficial,1

 ouviram-se  altos  gritos'

  de  protesto

  no

  sentido  de que

isto  significaria  que

:

  o  rebotalho

  dó

  povo escolheria aqueles

  que

  supervi-

sionariam a  conduta moral  de  seus superiores  na  sociedade.  O  arcebispo

Parker

  deplorava todo

  e

  qualquer

  sistema^

 que

  permitisse

  quê - "o

  povo

  fosse

6

  órdetiador  dás coisas .28  Defensores

  do

  'prebiterianismo  tiveram  grande

trabalho

  para explicar

  que não 'tinham

  ein  rhente  èssé

:: tipo  de  democracia.

William

  Stóughton,

1  por'

  exemplo,

  falou

  em 1604

  sótíé  'o

  direito 

inato

db' povo,  ab  mesmo tempo  em  que  especificamente

  excluída

  "a

  multidão"

  direito  c f è

  eleger  os

  presbíteros.29

  Não

 'devia• haver' 

mèdó

  da

  palavra  de^'

rriócracia,

 "contanto  que  a  coisa

  que

  a

  pa l av ra '

 repiresèntava  não  fosse  peri-

gosa. 'Só os ' ánábá tistas

  é que

  defendiam'a ' igua ldade

  de

  eriados  e  senhores^

áfirrtíóti

;

  William Goúgei

30

  "Os anabatistas

  são;

  homens

  que não

  admitem

que

 

lhe

  escamoteiem'ó

  direito

  inato

  de  pessoas  nascidas'livres na  Inglaterra ,

declarou'-' ufn"deles;

81

''   •

0 j

'P

  80

  roteot •

  sn qs

  fifcmBq

  oiai

  I1VX oluoòg

  ob

  • 'Em  1593,

  Richard: Hoóker

''

  chamou átençatf

  paTâ

:

 a  ambiguidade  exis-

terite riós  -argúíneritós

  presbiterianos: "Quando  dizem

  que  os

  pastores  devem

ser

  escolhidos

  corrr: 'ó   cótíseritiménto  de muitos,;  por  rriuit s  entendem a mul-

tidão, ou  Ó

 ptívó

  comum;  irias  ao  exigir  que  os  muitos  se  juntem  ao

  bispo

na  administração":'das'censuras  da  :igreja,  entendem  por  muitos

  alguns

  pou-

cos

  presbíteros,

  escolhidos

1

 no

  meio

  dó povo

  p'ará

  esse

  fim".

32

  Meio século

depois,   O S

; Niveladores'

  "andavam  igualmente  e m ; círculo,  'não  conseguindo

definir 'Ó   que '

 entendiam

  por  povo .

33  ;

  «sneíoq  o insmui; ;

Puritanos de  épocas

 

posteriores

1

  mostrarairi-sè

  -ihai^'cautelosos

  do  "quê

Stoúghton.  Quando

  Os 'Peregrinos

  embarcaram para  a  América, "alguns  es-

tranhos  entre

  eles

íizeram  "discursos  descontentes  e

 'sediciosos",

  insinuan-

do que

  "ninguém tinha

  o  poder  de  dirigi-íos e;  que

  ''quando  desembarcas-

semv

 usariam

  sua

  própria

  liberdade .  "O povo',

  por  conseguinte ,  como disse

Thomas  Prince  :uin

  século

  deipois, "antes  de

  desembarcar ,

  sabiamente  se

transformou

  em um

  corpo político:.. 

mediaiite

:

 cbntrato

  solene"

  - — o

  quê

efetivamente  excluía  não só

  os1  estranhos

mas também   -empregados domés-

ticos .^  Na Nova  Inglaterra,  a  exclusão  da  filiação  à  igreja implicava  ex -

clusão  do  direito  àO:  voto. Isto  tornou  explícito  ó que era  implícito  na

Inglaterra,

  onde

  a

  paróquia

  s'è  transformara  em uma

  unid ade simultanea-

mente eclesiástica  e  política.  A s  mesmas pessoas exerciam  o direito de  vote

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Chrístopher   Hill

 

em

  cada

  um a

  dessas

  condições.

  Patifes,  indigentes,  vagabundos ,

  argumen-

taram  Williám Perkins

  é

  outros puritanos, geralmente

  não

  participam

  de

sociedade

  ou

  corporação

  civil";

  não

  se

  filiam

  a

  qualquer congregação

  es-

tabelecida para obter

  ingresso

  no  reino  de

  'Deus".

  Permaneciam à  parte  da

igreja

  e da  comunidade,  a  menos  e até que  pudessem  ser  recuperado pela

disciplina

  e trabalho  árduo;

35

  U ma  curiosa analogia

  entre

  a  teoria

  que

  vimos estudando,

  que al-

gumas  pessoas  são  cidadãos  plenos  enquanto  criados  e  pobres  não  são,  e

Ò

  significado duplo

  que os

  calvinistas  deram

  à  palavra Igreja.  Em

  certo

sentido,  a  Igreja  ê  toda  a  comunidade;  em  outro,  os  piedosos nessa comu-

nidade.

  Em

  i i m ' m u ndo  ideal, Igreja

  é

  estado  seriam

  governados

  pela mino-

ria

  piedosa"

Na  prática,  isto dificilmente  fo i  alcançado

  'em  virtude

  da  difi-

culdade

  d'e

  identificai

  os

1  eleitos

  dê

  Deus  na  terra: havia  os  relapsos  e Os

hipócritas.

  A

  distinção teórica,

  no

  entanto,  permaneceu  clara.  Derivava

  ela

da  teologia.'  Desde toda  a  eternidade  os

  eleitos

  estavam  predestinados  à

salvação.'Por

  conseguinte;

  em

  um

  sentido,1 Cristo'

 morreu  'por:

 todos  Os  ho-

rriénk';  em

  outro, apenas

  pelos

  eleitos. Pessoas educadas nessa

  tradição

  teo-

lógica,

  que

  pensavam  na  igreja  como

  simultaneamente

  toda comunidade  e

como

  minoria  eleita  nela, facilmente descambavam  pára  pensar  no  povo.

como todos

  os

  habitantes, para

  "o

  povo"

  como

  a

  minoria respeitável. Mil-

ton considerava  corno  "o

  povo1*'  os  chefes

  de

  família.

  Por  povo  entendemos

todos' os  cidadãos  de ' todos  os  grátis",' m ás  aparentemente;  sobretudo  "a

cíâssè

  rriédia.

  que

  produz

  o

  ihaior

  numero

  de

  Homens

  de

  bòní-senso

  e co-

nhecimento

  dos

  assuiitos

  do mundo"i

36

  Ele virtualmente

  repetia

  os

  argumen-

tos  expendidos  pelos  rebeldes

  holandeses'eerba

:

de

  60

  aíios  antes.  O s  Estados

fi^o"   J é Õ : representavam " mas feràm^Selécibfrados

 '("feitos") pelo'

 povo.'  Mas

  -ex-

cluídos  do  povo' estão todos  que

  chamamos

  de1 ' 

falé

;

.:

 • . erri  contraste  com

os

  cidadãos

  bons

  e

  decentes"

 :

37

-

>

T

'Ôg'dois'conceítõs

;  estavani

  íigados

  ria

  Suposição

  de Stoughton de que

os

  presbíteros eleitos seriam homens  de  ocupação .  Na  postura parlamen-

tar

  dê  Í646,

  que crioií uma

  Igreja Oficial  Presbiteriarià  na'  Inglaterra,

  os

presbíteros  deviam  ser  eleitos  por

  membros

  das  congregações  que não  fos-

sem  criados

  que não têm

  família".38'Tampouco  fo i

  a

  mudança

  de

  povo

para eleitor peculiar

  aos

  presbiterianos.

  De

  idêntica maneira,

  o

  bispo Lan-

celot  Andrewes

  fez Uma

  distinção entrb

  "os

  tipos'

  comuns**

 í

è

 ;;

"õ§

 verdadei-

ros

  cristãos".^

  • • ' •

  OÍO(

V

 ob

  '

jrific

l

  bn

q o

  ieup

  un

  O B D f i i i n í

  em u

  icJíia-jíno

  sup  Eiínil

  oi5?6Jijqoq  j j f a

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  o í í J s r n i i G   o   3  ,ari3d  eoiíwo  ab  sup  i b   . b i q à - t   ^ i s j m   « ;du?

  •

Por  analogia,  o  perisgnle.ny

i

reli

g

ioso  contribuiu  pára

  explicar

  por que ho-

mens

  esqueciam

  "os  pobres quando

  falavam

  de  "povo".  Mas  havia tam-

bém

  fenómenos

  sociais  que  ajudam  a  explicar'por  que  isso  era tão

  fácil.

Em

  primeiro

  lugar,

  temos

  que nós

  lembrar

  da

  natureza  patriarcal

  da

  socie-

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42  outra história

dade  do  século XVII. Grande parte

  da

  população

  —

  provavelmente

  a

  maio-

ria   —

  vivia

  em  famílias  que

  eram também unidades

  de  produção,  fossem

oficinas

  industriais  ou

  fazendas

  familiares.  O  chefe  da  família  era o  gerente

da  firma

  e

  supervisionava

  não só a

  esposa

  e  filhos,  mas

  também seus apren-

dizes  e

  domésticos residentes.

  Era

  considerado responsável pelo bem-estar

moral

  e

  religioso

  de

  todos, educação

  e

  treinamento vocacional,

  e não me-

nos que

  pelos seus próprios

  filhos.  A

  exclusão

  de

  mulheres, crianças,

  cria-

dos e aprendize s era justificad a pela suposição de que os mesmo s eram

  virtualmente  representados pelo chefe

  da

  família.40  Quando

  o

  aprendiz

  ou

o

  criado residente casava

  e

  constituía família,

  eles,

  também, tornavam-se

  livres e

  po ssivelmente qualificados para votar.

  Em

  1647, argumentava-se

que  muitos  no  exército eram criados  e  aprendizes,  não  livres ainda e,

por  definição,

  incapazes

  de  representar qualquer

  pessoa.

41

  Indigentes  e va-

gabundos não contavam, absolutamente.

Em segundo, claro, todas as ideias políticas eram formuladas por in-

telectuais, homens

  de

  alguma educação.  Isto

  se

  aplicava mesmo

  a

  radicais

temporários

  como os Niveladores, os  iggers

  ( Carpidores )

  e os Meto-

distas

  Primitivos.  Entre

  os

  três  principais

  Niveladores,

  Richard  Overton

  ti-

vera  educação universitária, William  Walwyn  — neto de um bispo — era

leitor muito sofisticado de M ontaigne;

  Lilburne

  — filho de um cavalheiro

— tivera algum treinamento   em  advocacia; Winstanley,

  o

  Digger ,

  cursara

escola primária e  fazia  citações em latim. No século anterior a 1640 ha-

viam  se  aprofundado  as

  linhas

  da  divisão

  educacional.

  Nesse

  século  ocor-

re u  o que o

  professor

  Stone.

 chamou

  de

  revolução educacional .

  Era

  muito

maior  o  número  de  escolas  na  Inglaterra, isto devido principalmente  a

  gene-

rosas doações

  de

  comerciantes

  e

  cavalheiros.

  Uma vez que a

  sociedade

  se

tornava crescentemente comercializada,

  era

  muito maior

  a

  necessidade

  de

pessoas  que  podiam ler, escrever  e  fazer

  contas.

No século da revolução educacional, porém, ocorreu também maior di-

visão

  económ ica. Alg uns comerciantes, pequenos

  proprietários

  e artesãos

estavam   prosperando  — os  qualificados,  os  felizardos,  os que  viviam pró-

ximos  a um  mercado urbano  em  expansão (Londres,  principalmente), e,

no  campo,  os que  tinham longos contratos  de  arrendamento  com  aluguel

fixo  que os

  protegia contra

  os

  preços

  em

  alta. Embo ra constituíssem

  m i-

noria,  eram também  um  grupo empreendedor,  autoconfiante,  que  logo  de-

pois

  formaria

  grande

  parte

  do

  apoio

  recebido

  pelos revolucionários radicais,

A massa da população tinha que enfrentar uma inflação na qual o preço

dos alimentos subia mais rápido

  do que o de  outros

  bens,

  e o

  alimento

  dos

pobres mais fortemente

  que  o

  alimento

  dos  ricos.  Uma das

  consequências

disso  foi que os  donos  de  terra sentiram-se encorajados  a  enfrentar  os  pre-

ços crescentes cobrand o alugueres extorsivos, erguendo cercas

  e

  instalando

excesso

  de animais nas terras com uns, e graças a um sem-número de outros

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  hristopher  íill

  43

expedientes  que os

  salvava

  às

  expensas

  dos

  pobres.

  O

  cerco

  da

  terra

  poi

acordo entre

  os

  ocupantes  mais ricos  da  aldeia aumentava-lhes  o  poder  so-

bre a  comunidade.

Como resultado, consolidou-se

  um a

  classe permanente

  de

  pobres numa

ocasião

  em que

  oportunidades económicas

  se

  abriam para

  uns

  poucos afor-

tunados.

  A

  pobreza

  da

  massa,  claro nada tinha

  de

  novo;

  o que era

  novo

era

  a

  possibilidade

  que

  alguns membros

  de

  grupos sociais situados abaixo

da  pequena nobreza pudessem transpor  a  barreira entre  a  indigência  e a

prosperidade.  E a  educação  era  vital

  para

  a transposição  dessa  barreira.

Os

  pobres,

  no

  entanto,

  não

  podiam dispensar

  o

  trabalho

  dos

  filhos,

  não ti-

nham

  meios para mante-los  na  escola logo  que  atingiam  a  idade  em que

podiam contribuir para

  a

  renda

  da

  família

  —

  sete

  ou

  oito

  anos

  de

  idade.

42

Apenas

  uma

  insignificante minoria

  dos

  filhos

  dos

  pobres tinha sorte

  de en-

contrar

  um

  benfeitor

  que

  lhes custeasse

  a

  estada

  na

  escola primária. Menos

ainda chegavam   à  universidade.  O  fato  por  todos

  observado

  de que os fi-

lhos das  famílias  de boa situação e educação estavam usurpando as vagas

gratuitas

  em  escolas inicialmente destinadas  às  crianças pobres  não  consti-

tuía tanto prova  de  ganância  e  egoísmo  da  pequena burguesia quanto  da

impotência económica

  dos

  desvalidos. Desta maneira, consolidaram-se

  as

linhas

  da  divisão social:  a  vasta massa  dos  filhos  dos  pobres  era  excluída

de

  acesso

  à

  escada educacional,

  que os

  filhos

  de

  seus superiores mais afor-

tunados  galgavam rapidamente.

  Era

  quase impossível  ao  indigente escapar

da

  herança com a qual nascera.

A lei

  elisabetana

  de

  ajuda

  aos

  pobres teve curso legal após

  a  fome  da

década

  de

  1590. Aceitando

  a

  existência

  de uma

  classe permanente

  de

  indi-

gentes,  dispunha

  a lei e

  legitimava

  o

  pagamento

  de

  ajuda

  aos

  pobres

  que

a

  merecessem, diferenciando-os  dos  ociosos,  dos  patifes  e dos vagabundos ,

e  colocou  sua  aplicação,  sob os

  J.P.s.

  nas  mãos  dos  policiais  e  sacristãos

de

  aldeia.

43

  Estes eram recrutados  na  camada intermediária, abaixo  da pe-

quena  nob reza, en tre os 10 superiores de aldeões relativam ente  próspe-

ros.  À  medida  que uma  classe  de  pobres  permanentes  se  diferenciava  das

elites

  das

  paróquias

  nos

  dias desesperadamente difíceis

  das

  décadas

  de

  1590.

1620  e

  1640

  —

  crise económica

  e

  tributação

  de

  guerra

  — os

  problemas

  de

manutenção

  da lei e da

  ordem começaram

  a

  preocupar cada

  vez

  mais

  as

elites

  das

  paróquias

  e a

  pequena  nobreza.44  Destituídos

  de

  direitos, impo-

tentes,  analfabetos, o  único recurso  dos pobres no  estado  de  quase inanição.

era

  a revolta

  cega.

  Eles

  existiam

  não

  apenas para serem governados: man-

te-los

  em  sujeição  e

  obrigá-los

  a

  trabalhar constituía

  um dos

  grandes obje-

tivos  do  governo  e das  classes  ricas,  nesse momento  com o  apoio  da  cama-

da

  intermediária.

Uma lei de  1610  estatuiu que todos os homens ou mulheres válidos

que  ameaçassem  fugir  de sua  paróquia estavam sujeitos  a  serem enviados

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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44

  butra  históri

a uma  casa  de  correção  e  tratados como  vagabundos.4^  Quando  necessário,

podiam  ser  recrutados para

  trabalho»-

  como  eram  recrutados para  as  for-

ças armadas, embora  "o  tipo

  maisx

  vil de pes soas e criados" fosse

  em  ge-

ral

  excluído

  da:

  milícia,

  o

  exército

  da

  propriedade,

  porque "o

  governo

  te-

m ia , armar e  treinar

  ;as:-iordens  mais

  baixas".46  Esta

  separação cada vez

mais profunda entre  "os  pobres"  e o  resto  da população

  explica

  até  certo

ponto

  a

  tendência

  do

  puritanismo inglês,

  de

  William  Perkins

  na

  década de

1590

  e daí em

  diante,

  que salientava a

  perversidade,  aparentemente irrepa-

rável,

  dos  pobres.  As  doutrinas calyinistas  de  predestinação  da  maioria  da

humanidade à

  condenação

  eterna reflétia as;

 realidades

  sociais da vida in-

glesa  e m  princípios  e  meados  do  século  XVII.4?

  [-êíasn

v  ;

  . . . . .

Em um discurso ao seu Parlamento   em;

  1645,

  Qliver

  ;Croinwell

  disse

que os  Niveladores  queriam reduzir  "todos  à

  dgualdade'V

  objetivo  este que

julgava

  provável que  interessasse  a

  "todos

  -os

  homens,

 pobres....  ei  a

  todos

os

  homens  maus';'.  Harrington,  analogamente,

  falou/  nos:. "ladrões;  ou  Nive-

ladores",

48

  (A  maioria

  dos

  líderes

  dós  Niveladores^oiâ

  jíeréadeíí;ôra; defen-

sora  da

  propriedade

  privada-. Gromwell; e  Harririgton estavam  provavel-

mente

 pensando  em i Winstanley,,ie  «©s .Niveladores r Autênticos,

  que:; discuti-

remos

  logo;

 em

  seguida.:),:

  u r

  B Í Í   iQ

  b i f i

  f Z b  íob

  B o r m

 

; 'onôíoqíni

A

  maldade

  dos pobres

  contribui

  também

  para explicar

  a  ênfase  de pu-

ritanos

  e

  do  Parlamento

  na

  disciplina

  do

  trabalho,

  e

:

 na

  pècaminosidade

  do

ócio.

  As

 -classes'  inferiores  "debochadas"

  te  "profanas"  preferiam,

  sabida-

mente,  a  indolência  ao  trabalh o, consideravam todos  : os

  ;

 dias

  santos

  como

feriados,1

  isto

  -de

  ^ u m a

  maneira  lamentavelmente

  ipapista;  -e

  a  lei  de  ajuda

dós

 pobres

  estabelecia  uma

  clara

• distinção

  entre

  'os  merecedores  e  os

  pa-

tifes  indolentes.  Súpunha-^se

  que

;

os

  pobres ' t rabalhariam

apenas

  para evitar

a

  morte pela

  fome.

49

  Uma

  postura

  de

  1550 permitia

  a

  construção

  de pe-

quenas cabanas

  em

  terras devolutas

  e  públicas.  Essa  gente  formava

:

  um a  re -

serva

  conveniente

  de

  mão-de-òbra

  barata

  para ' ' a s

;

  novas  indústrias  rurais.

As

  terras

  públicas  e

  devolutas davam-lhe algo

  de  que  viver  quando  não  h a-

via emprego.

  ^Há

  menos

 pobres

  onde

  h á

  menos terras

  públicas",  observou

Samuel

  Hartlib,

  O  aumento

  da

  produção

  agrícola

  inglesa,  e

  os  lucros  dós

fazendeiros,

  porém, dependiam

  de pôr

  em  cultivo terras devolutas.

  Os

  abas-

tados

  começaram

  a  antipatizar com

  esses

  "residenteg  pobres",

  como Bacon

os-  chamava.

50  O cerco;  dás 'terras  públicas;^

  disse,  Adam

  Moore  em

  1653,

"dará  aos

  pobres um interesse

  fio

  'trabalho

1

-que o terror nunca

  conseguiu

até   agora instilar".  Os  asilos  de  pobres

  foram

  deliberadamente  tornados

  de-

sagradáveis

  a fim de

  desestimular

  os candidatos à

  ajuda.51

A

  possibilidade de ocupar terras não-cultivadas era o último

  refúgio

dos

  pobres migrantes.

  No

  século

  XVII,

  florestas  foram  postas

  sob

  cultivo

e  tomadas medidas

 para

  l imitar

  a

  mobilidade

  da

  classe  mais baixa.

  A Lei

de  Colonização  de

  1662

  fez-se

  acompanhar

  de uma

  campanh a contra

  as

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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Christopher   Hill  45

cabanas. Isto se tornou possível porque terminara a  explosão  demográfica

e, na  verdade,  logo  depois  foi  necessário, por  razões económicas, permitir

mobilidade  limitada.52  No  início,  medo; de  excesso  de

  população;

  no  fim,

medo de

  .carência

  de braços: da importação para a  exportação-de  cereais.

Sir

  Dalby Thomas

  expressou a nova-ideia quando:

 disse,

  em 1690, que

  o

povo

  é  a

  riqueza

  da; ;nação.'Mas  apressou-se  a  acrescentar  que ,por

  :"povo"

entendia  as  pessoas  laboriosas

  e

  industriosas,  não  ©s  desempregados,  : tais

como

  b i s e a t e i r o s

• • • •

mendigos

  • - > - ;

  e maliciosamente acrescentou,  "ai

  pequena

nobreza,<

  o  clero,  e -

  L O S

 : advogados".53

  Swift,

  analogamente*

  distinguia

  entre

artesãos'pobres,: peqiíteBos.negociantesderitrabalhadores;

 .braçais, .por

  um lado,

e a

 íale:

 ociosa,  pelo, outr.Q;.5*o)iijM .oBjnavnoo  K 2

  oir^ibfnt  s   moo

  j - j q r r ; : ; - K

•"•Visto-o  assunto. dd »utro  lado,

 .'temos

  que recordar

í

  ódio

  sentido

  por

muitos

  pobres

  - a

  • •

 uma-

  vida

  'db^trabalhovássalariadói

  permanente.^:;

 que

  «eonsii

deravam como; uma

 íormã  derfalta

  de

  liberdade.--'Esta

 tipo  der trabalho  e a

lei;

  de

  ajuda

  aos^

 pobres  surgiram  juntos,55  Bernard ;M andeville,

  em

  princí-

pios

1

 do  século

 XVIII,'esclareceu

  a  diferença entre  os pobres  e o  resto  da

sociedade  quando  disse: "Quase  não

  temos

  pobres  em  número  suficiente

para  fazer  o  necessário  a fim de que nós  possamos

  subsistir":

 ..(Note-se  ia '

diferença  entre  "eles",  os

  pobres^

  e

 "nós", para

  quem eles trabalham.)  "Ho-

mens  que  estão .destinados  a  permanecer  e terminar  seus  dias  em  -uma  la-

boriosay  .cansativa*

 i e

  'dolorosa  '.situação

  de:i  vida*

 •<

quanto; n mais cedo

  fo.reni

colocados  nessaj  eondiçãoi  mais.

 pacientemente

  se  submeterão;  a

  ela  para

sempre

(grifo  nosso).^6

  ;   Y .^   go

  sup  ioq  ovi)om  o  siaH

  . « o b e < > ' ' •

Se  -estudamos  dessa  perspectiva^

  fenómenos  \ •

 ocorridos^

 no

  século

  XVII,

emergem  vários pontos  relevantes;  para1  nosso

  tema,;

  Recentemente,:•

  argu-

mentou  John  Moril l .^de  forma muito convincente, que o século

  XVII

  nã&

dispunha

  de palavra que abrangesse esses pequenos

  proprietários

  rurais, ar-

tesãos  e  comerciantes  que  prosperavam  à  época da  grande cisão económica.

E  disse, menos convincentemente,  que por  isso  mesmo  o  historiador  não

devia

  tentar distinguir entre eles um

  grupo

  social ligado pela mesma situa-

ção  económica.57  Acho, porém, que podemos reconhecer agora que o século

XVII  tinha,  de  fato,  uma  palavra

  para

  descrevê-los,  embora  seu  emprego

seja  tão

  diferente  do

  nosso  que não  conseguimos notá-lo.  A  palavra  é "povo"

— os que  ficavam  entre a nobreza em cima e os permanentemente pobres

embaixo  e dos  quais eles  se  encontravam  em  processo  de  se  diferenciarem.

Em

  segundo

  lugar,  a  obra de Derek Hirst mostra-nos que em princí-

pios  do  século  XVII  o  eleitorado  parlamentarista  —-  o  tipo

  médio

  e  mais

baixo, embora

  acima

  dos muito pobres

  das-cidades,

  os pequenos proprietá-

rios rurais e donos  de terras livres e alodiais no  campo—

f

  estava desenvol-

vendo  um: interessa

 àovè

 e

 crescentemente

  ativo  pela política  nacional-rias

eleições  para o

  Parlamento;

5

?:

 >Ia

  grave-depressão

  económica  ocorrida  nos

20  anos•-•que  precederam>a  década  de  16401

 

que,  segundo  o  professor

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^g

 

outr

históri

Bowden foi talvez a pior de toda a história inglesa no que interessava aos

pobres

 59

  —  houve medo permanente  de uma  revolta popular.  Em  princí-

pios  da  década  de  1640, líderes  do  Parlamento Longo utilizaram apelos  ao

povo e a ameaça de violência de turba a fim de pressionar o rei,  embora»

no fim, conseguissem mais do que haviam barganhado.

Em  terceiro,  os

  mais radicais  entre

  os

  revolucionários par lam enta ristas

eram  originários da camada média de pequenas cidades e do campo, das fi-

leiras

  de

  homens autoconfiantes

  que

  estavam prosperando

  mas

  eram

  excluí-

dos

  dos

  privilégios sociais

  e

  políticos, ainda

  que por

  educação

  e

  cultura

  se

distinguissem   dos

  permanentemente pobres. Esses homens estavam dispostos

a romper

  com a

  tradição

  e a

  convenção. Muitos deles ingressaram

  no

  Novo

Exército Modelo. Deliberadamente, Oliver

  Cromwell

  recrutou seus Ironsi-

des

  entre proprietários

  de

  terras livres

  e

  alodiais

  e

  seus filhos ,

  capitães

que

  se vestiam com lã grosseira . Esses hom ens da cam ada média estavam

prontos

  a

  enfatizar

  os

  direitos

  do

  povo contra

  os

  privilégios

  dos

  pares

  do

reino, nobreza  e  grandes comerciantes: queriam  que o  direito  ao  voto lhes

fosse  concedido

  e não  sentiam inibições  em  utilizar  o  apoio  da  classe baixa.

Mas —

  exceto

  em

  momentos

  de

  emoção

  — não

  queriam realmente

  que os

pobres também ganhassem direito ao voto. Os abastados das cidades e pa-

róquias rurais queriam que  fosse  oficialmente confirmada e aceita sua voz

crescente

  nos

  assuntos públicos.

  Em

  última análise, porém, esses pequenos

proprietários possuíam mais

  em

  comum

  com a

  nobreza

  do que com os  des-

privilegiados. Este

  o ̂ motivo  por que os

  Niveladores entraram

  em  colapso

logo

  que se

  tornou claro

  que não

  conseguiriam dominar

  o

  exército.

Em

  quarto,

  o

  papel desempenhado pelo arcebispo Laud

  e

  seus

  segui-

dores talvez pareça diferente

  a

  esta perspectiva.

  Os

  puritanos

  criticaram-no

porque suas inovações teológicas

  e

  cerimoniais, segundo pensavam,

  estavam

trazendo

  a

  Inglaterra

  de

  volta

  ao

  papismo (catolicismo romano).

  Os  lau-

dianos,  que

  dominaram

  a

  igreja

  e o

  estado

  na

  década

  de

  1630, eram com-

batidos  não

  menos

  por

  motivos sociais

  que

  teológicos.

  Sob  Laud,  as

  cortes

da

  igreja estimularam abertamente

  a

  indolência

  ao

  castigarem

  os que  tra-

balhavam nos dias santos. O

  Livro dos Esportes

publicado em 1633, in-

centivava

  homens e mulheres a participarem nos domingos dos tradicionais

passatempos

  da aldeia. Os puritanos achavam que deviam nesses dias me-

lhorar a m ente ou , pelo m eno s, descansa r após seis dias de trabalho.  As

elites das

  paróquias concordavam

  com os

  puritanos

  em que os

  ritos

  de fe-

cundidade

  subjacentes aos  esportes tradicionais subvertiam  a disciplina  no

  tra-

balho,

  que se

  esforçavam

  por

  impor. Laud opunha-se

  ao

  cerco

  de

  terras

  pú-

blicas

  porque o despejo de pequenas propriedades implicava perda de con-

tribuintes,

  de homens treinados para a milícia e de dízimo à igreja, além

de

  acenar

  com o

  perigo

  de  distúrbios  e

  inquietação

  social.

  Na

  década

  de

1630,  o  Conselho Privado interferiu  no  controle local  da  ajuda  aos  pobres

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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  hristopher Hill

  47

e regu lam entaç ão de salários. Os laudianos, note-se, não eram tan to

  a

  favor

dos pobres como contrários  às  elites  das  paróquias, contra  o  controle  cres-

cente

  dos

  assuntos  locais pela camada média

  da

  população,

  em

  aliança

com

  as oligarquias urbanas e pequena nobreza. Achamos tão natural que

deva

  ter

  havido

  um

  ininterrupto

  aumento

  de

  poder

  das

  oligarquias locais

no

  século

  XVII  que

  esquecemos

  a

  tentativa laudiana

  de

  reverter esse pro-

cesso. Assim

  fazendo,

  deixamos

  de

  levar

  em

  conta

  a

  importância social

  da

derrubada dessa

  corrente na

  década

  de

  1640

  e da  abolição  das cortes

  ecle-

siásticas  que

  impunham  o  laudianismo. Restabelecidas

  na

  década

  de

  1660,

as

  cortes eclesiásticas abstiveram-se

  de

  tentar controlar

  a

  vida social

  e

  eco-

nômica.

Tudo isto poderá talvez

  nos  ajudar  a

  compreender

  a

  restauração

  da mo-

narquia

  em

  1660. Após

  a

  guerra civil, parecia

  que as

  coisas pareciam estar

fugindo  ao  controle  — no  exército, agitadores exigiam  o  sufrágio  de  todos

os adultos, ativistas entre os artífices reuniam congregações das classes mais

baixas

  e

  pregavam

  a  sedição,  sem

  qualquer

  restrição.  O  regicídio  e a

  abo-

lição  da  Câmara  dos  Lordes pareciam  pôr em  dúvida  a  subordinação social.

Niveladores,

  Carpidores,  Ranters * e

  Quacres organizavam

  as

  classes baixas.

Os

  revolucionários moderados sentiam autêntica indignação

  e

  medo. Haviam

sido abandonados  por  aqueles  a  quem tinham libertado.  Em  1650,  um In-

dependente disse

  que o

  governo

  do

  Grande Turco seria preferível

  ao da

ralé.

60

  Tais preocupações

  de

  natureza social acabaram

  por

  levar

  os

  homens

de

  propriedade  a  restaurar  a  monarquia  e  colocar

  Carlos

  II no  trono  —

não certamente o Grande  Turco,  mas sem dúvida melhor do que a gen-

talha.

Durante algum tempo no  período 1647-49, alegou-se  que o  Novo Exér-

cito Modelo

  era

  o povo e, de  fato,  ele dem onstravelm ente constituía um

corte long itudin al mais justo que o eleitorado, um a vez que incluía nas fi-

leiras conscritos oriundos  da  classe baixa.  O  povo  em

  bruto ,

  declarou

William

  Sedwick

  em  1649, nada mais  é que um  monstro,  uma  massa rude

e incontrolável, mas, no exército, está reunida e

  transformada

  em vida ex-

celente . . .

  Isto

  porque  um  exército  tem em si  todo  o  governo  e  partes  do

governo, ordem,

  justiça,

  etc., e sua ignorância e desvalimento são supera-

dos: ele é realme nte o povo, não como um rude emp ilhamento ou um

corpo

  estúpido

  e

  pesado,

  mas de

  forma selecionada,

  escolhida .

61

 O

  exército

era controlado pelo

  povo .

Grupo religioso inglês

  do

  século XVII,

  panteísta  e

  antinomista.  (N.R.)

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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outr

/ws/ária

 „  .Isto, pode

  ,ter

  sido , plausível,

 no

  período

  1647-49,,

 quando  o  Novo Exér-

cito  Modelo, alegando, que mo era  mais  "um  exército mercenário", assumiu

o  poder.  Na  década  de  1650, porém,  o  exército  foi  repetidamente expur-

gado

  de

  radicais, prpfissionalizadp

  e

  usado

  cada

  vez

  mais, para reprimir

  o

povo

  que

  alegava representar. Assim,

  embora-um  panfletista

  de 1653 ainda

argumentasse

  que o

 exército

  era "o

  poder

  do

  povo, escolhido pelo

  povo,

  en-

carregado

  do

  bem-estar

  e defesa  do ,

 povo",

  teve que admitir que "por povo

se,

 entende,a.

 parte

  válida,

  bem

  educada-,

  o

 .resto,

 é a

  parte conquistada

  ou

submetida,

  que não

  pode reivindicar direito algum

  nessa  eleição

  livre

  que

é  o

  fruto

  da

  conquista",

6

?

  O

; exército

  tprnpu-s.e,

  cada vez.

 mais

  impopular

  à

medida  que  transcorria  a  década  de  1650  e  deixou  uma  duradoura herança

de

  antipatia

  por

  exércitos permanentes,

  que era

  compartilhada

  não

  menos

por

  radicais

  do que por  conservadores.  Foi  meramente patético quando,  em

165,9,

 jn>,jpanfjetista  alegou,.^M,

 "o

  exéreitgj.é^.principal.:Ç£$po

  do

  ;ppvo"p

representando,

 melhor, p

  "grosso ordinário  e  comum  doP°YO,", ;que  o  Parla-

mento. Q

  .poder  devia,  caber "ao povo bom

  cprporificado;nq,,exército

i  e

  nar

queles,uque   a . e l e   .aderiram"-63  ;  .

  • .

  .

  . . . . - . • • . . • ; - . •

  . - ;

  < n i f i a

  ? p . t y i v h i : . ;

Q  -que.

 sugerimos

  aqui  é que  a

  distinção entre

 "os

  pobres"

  e o "povo '

possuía  fundas  raízes na

  realidade

  social  da  Inglaterra  do  século  XVII*  O di-

lema

  dos

  radicais

  na  Revolução Inglesa  — e  que/reapareceu  em  revoluções

posteriores.;,---r   era

;

que,

 p

  povo,-fora

  rnantido durante séculos- distantes  4a

política

  e . d a .  educação.,

 Em

  1.6.42,  Milton  denunciava,  ps bispos,

 que

  "com

armais  desuman,a  crueldade.;. .  :arranca  priraeirp  os  olhos  ,do; jpovp"  e  .de-

pois  "o

  censura

  por

  sua

 .cegueira",  S.entia.-se,

  f  eliz.

  epm,

 ,a  maneira como

"aquele látego;;de,  ferro,,  o, tpovo"  derrubou  violentamente  O ;  governo

 

dos

bispos  em

  1640-41,

 Esses atos, porém, não  ofereciam; uma  soluçãx>  de  longo

prazo para  os  problemas  da  Inglaterra. Rapidamente, Milton perdeu con-

fiança  no  povo  logo

  que

  o viu em

  ação.

  ("É  em  abuso  que

 .pensa

  quando

grita por liberdade")- Na década de 1650, ele, ,como,,outros, compreendeu

que

  a consequência provável da introdução do direito amplo ao voto de-

fendido  pelos  Nryeladores

  não

  seria

  uma

  república democrática,

  mas a

  volta

dos  realistas  ao  poder,  e  comparou  o

  "povp"

  à

  "turba".

  Os  governadores

da Comunidade "são  agora

  o

 povo".164

  "Em toda

  parte

  o

  maior número

  e

pelo Rei", escreveu  um  Independente  em  outubro  de  1648.  "Se  governa

a voz da  multidão  inebriada...  com que  rapidez seus próprios interesses,

a paz e a  segurança seriam abandonadas  e  contrariadas?".65  Na  década  de

1640, Richard Overton mencionara

  a

  "Rude Multidão" entre

  os que

  apoia-

vam   o Sr.  Perseguição.66  Os presbiterianos demonstraram que,  rião  íríérios

que   os

  Independentes, podiam usar

  as

  "turbas"  urbanas' pára

  fins

  conserva-

dores. Em 1688, Roger Morrice observara som briam ente "há outro poder

(embora injustificável)

  que a

  turba

  possuía",

  além

  do de

  "governantes

  na-

turais  do  país,6?  No;,firtal

:i

do, séçujp,,  posem-,  a:, "turba"  era notoriamentes  in-

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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  hristopher

  Hill

  9

constante:  os  tories

podiam levantar turbas

  pró-rei  ou  pró-igreja

  para

reprimir dissidentes.

Dessa

  maneira, qual poderia  ter  sido  a  solução?

  Cromwell

  defendia  o

que é

 para

  o bem

 deles,

 não o que os

  agrada .

 Thomas

  Scot

  falava

 de

  nosso

novo povo, escasso,

  mas já  proselitizado .

  Nós

  . . .

 teríamos dado

  o

  direito

do

  voto

  ao

 povo ,  declarou

  o

  regicida John Cook,

  se a

  nação

  não

  tivesse

se  deliciado mais com a servidão . Hugh Peter falava em utilizar o exército

para

  fazer

  com que os camponeses com preendessem o que era  liberdade.

68

Configurava-se  aí o

  dilema

  de

  Rousseau,

  de

  obrigar

  o

  homem

  a ser

  livre,

o

  dilema

  que o

  Partido Comunista Soviético tentou resolver

  com a

  ditadura

do proletariado. O PC, porém, afastou-se

  do

  povo, exatamente como acon-

teceu

  com o

  exército

  de

  Cromwell:

  o que

  Trotski chamou

  de

  substitutis-

mo ,

  o

  governo

  de uma

  minoria

  em nçme de um

  povo que,

  em

  teoria repre-

senta, inevitavelmente

  degenera em

  algo menos

  que

  admirável.

  O

  problema

não

  acabou

  com o

  fracasso

  do

  século

 XVII  de

  solucioná-lo

  em

  1817:

  ad-

mitia

  Shalley que as consequências da extensão imediata do  sufrágio  para

cargos

  eletivos a

  todos

  os

  homens adultos

  implicaria

  colocar

  o poder nas

mãos

  daqueles que

  foram  tornados

  brutais, estúpidos e ferozes por eras

de escravidão .69

Laurence Clarkson,  th e  Ranter, foi em outubro de 1647 um dos pou-

cos que

  tentaram agitar

  o

  povo

  e

  levá-lo

  a

  agir

  com

  base

  em uma

  análise

classista

  da

  política. Constitui, declarou ele, tendência

  congénita  da

  maior

parte  da  nobreza  e de  gente  de boa  família  e  educação oprimir pessoas

que

  não são tão

  ricas

  e

  respeitáveis como elas mesm as . Julgam

  os po-

bres como estúpidos e a si mesmas como sábias e, por conseguinte, con-

fiam

  em que

  quando

  a

  comunidade eleger

  um

  Parlamento,

  ele

  deve

  ser

  es-

colhido  entre os  mais  nobres e os  mais  ricos...  A  escravidão  do  povo  ê

sua

  liberdade,

  a

  pobreza

  do

  povo

  sua

  prosper idade. . .

  Quem

  são os

  opres-

sores, senão a nobreza e as pessoas de boa família e educação? E quem são

os  oprimidos, senão  o  pequeno proprietário rural,  o  fazendeiro,  os  comer-

ciantes

  e os

  trabalhadores

  braçais?. .  . Não

  escolheu

  o

  povo opressores

para

  resgatá-los

  da opressão? ™

  Part indo

  de

  supostos semelhantes

  aos de

Harrington (ver pág. 38), Clarkson defendia

  conclusões

  radicalmente  dife-

rentes.

Numerosos

  reform adores m anifestaram receios, especialmente

  nos

  anos

de  fome  de

  1648-49,

  das

  consequências perigosas

  que

  poderiam resultar

  se

alguma  coisa

  não

  fosse

  feita

  para aliviar

  a

  situação

  dos

  pobres,

  profunda-

mente

  atingidos

  por más

  colheitas, além

  da

  tributação

  de

  guerra,

  aloja-

mento

  gratuito de tropas e pilhagens. Em

  janeiro

  de 1648. os pobres

estavam confiscando cereal destinado  ao  mercado  e

  dividindo-o

  entre  si,

na cara de  seus  donos, dizendo-lhes que não podiam morrer de  fome .71

No dia 3 de

  abril

  de

  1649, Peter

  Chamberlen  manifestou

  receio

  de que os

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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50  outra história

que

  passavam  fome

  po r  fal ta  de pão

  passassem

  à

  ação direta,

  a

  menos

  que

alguma  coisa  fosse feita  por eles. Pregava a nacionalização das te rras con-

fiscadas

  à  Igreja, Coroa  e  realistas  e sua  entrega  aos  pobres para  que as

cultivassem,

  jun tam ent e com as terras públicas e  brejos.

72

  Mas apenas um

pensador, segundo penso, seguiu Clarkson  em  enfocar  o  problema  do  ponto

de  vista  dos  pobres,  e foi  além  dele, propondo medidas  específicas,  bem

pensadas,

  que não

  teriam sido meros paliativos

  mas que

  visavam

  à

  abolição

to ta l

  da

  pobreza

  —

  possibilidade esta

  que

  Bacon concebera,

  mas que

  nin-

guém fizera

  nada para

  pôr em

  prática. Este homem

  foi  Gerrard  Wins tan ley ,

líder dos Autênticos Niveladores, ou Carpidores  Diggers).

Carpidores

  Diggers)

  começaram

  a

  carpir

  (capinar,

  cultivar)

  as

  terras

públicas (com un s) situadas nas proximidades de Co briam, Surrey, em abril

em

  1649. Ao defe nder a atitu de dessas pessoas, W instanley

  falou

  delibera-

damente  em

  nome

  de

  todo

  o

  povo oprimido

  da

  Inglaterra

e, na

  realidade,

  de

  todo mundo .

  A

  Inglaterra

  é uma

  prisão ,  disse,

  e os

  pobres

  são os

prisioneiros . Tod as

  as  leis ,

  declarou

  ele em

  1652, depois

  da

  destruição

da  colónia,

  foram feitas

  nos

  dias

  dos

  reis

  a fim de

  facilitar

  a

  vida

  dos

ricos  latifundiários .

  Os

  trabalhadores pobres foram deixados

  em

  servidão .

Essas leis

  que

  escravizavam

  os

  pobres

  aos

  ricos eram apoiadas pelo clero,

que

  prometia recompensa

  no

  céu,

  no

  além. Winstanley

  e os  Carpidores

  que-

riam  um céu

  mais tangível,

  na

  terra, naquele momento.

  A

  vitória sobre

  o

Rei na

  guerra civil fora conquistada

  pelo

  povo, incluindo

  os

  pobres,

  que

na

  verdade

  se

  encarregara

  da

  maior parte

  da

  luta

  e

  suportara

  o

  maior peso

da  tributação  e  alojamento gratui to  de  tropas  e era  apenas justo que, nesse

momen to ,  se

  beneficiasse

  com a

  vitória sobre

  o

  poder

  real.

73

Acreditava

  Winstanley

  que as

  Escrituras

  que

  dizem

  que os

  pobres her-

darão

  a

  terra

devia

  ser

  real

  e

  concre tamente cumprida;

  m as

  consignou

a

  relutância

  dos  bem-nascidos  e

  ricos

  de

  partilhar

  com o

  povo comum

  os

frutos  da

  vitória.

  A

  dureza

  das

  pessoas bem-nascidas

  e

  educadas contra

o povo poderia

  levar  à  catástrofe  no  caso  de uma  invasão estrangeira.

  Isto

porque  o  povo compreende que,  se  lu ta r  e  vencer  o  inimigo,  ele...  ainda

a s s i m . . .

  provavelmente continuará

  escravo .  Diz

  ele: Bem

  que

  podemos

viver  sob o

  inimigo estrangeiro, trabalhando

  por

  salário, como vivemos

hoje sob nossos irmãos . Por tod os os motivos, por conseg uinte, era im-

portante reconhecer

  que o

  povo comum (en t re

  o

  qual W instanley espe-

cificamente  incluía  dos  trabalhadores pobres)  é  parte  da  nação .

74

  Isto

constituía  um

  desafio frontal

  aos

  tradicionalistas,

  que

  sustentavam

  que os

pobres existem apenas para serem go vernados .

  Esta  é a servidão de que os pobres se queixam , de serem mantido s

pobres por seus irmão s em um a terra onde há tanta abund ância para

  todos

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7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)

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  hristopher  Hill

  51

U m a

  organização  económica racional, baseada

  na

  propriedade coletiva,

acabaria  com a  opressão  e  exploração  dos  pobres.  Só  desta maneira  pode-

ria ser

  estabelecida

  a

  igualdade real.

  A

  solução preconizada

  por

  Winstan-

ley  assemelhava-se

  a de

  Chamberlen, mas,

  em vez de

  instar

  com os

  ricos

para  que

  fizessem  concessões caritativas, apelava

  ao  próprio

  povo  para

  que

ocupasse  e

  cultivasse

  as

  terras públicas

  e

  devolutas,

  que por

  direito

  lhes

pertencia  e que  lhes eram negadas

  apenas

  por  leis  assassinas . Isto  por-

que  o  homem  jnais  pobre  tem um  título  tã o  verdadeiro  e  justo  à  terra

como

  o

  mais  rico .

  Deste

  modo,

  ele

  ampliava

  os  direitos

  naturais ,

  do

direito  ao  voto  ao  direito  à  propriedade, exatamente  como  Ireton  previra

nos  Debates Putney.  Os  Carpidores  consideravam

  ium

  dever demonstrar  que

  todos deviam,  como  herança  legítima, ter  o  benefício  e a liberdade de

sua

  criação, sem levar em conta  pessoas .  Querem ser ainda escravos e

mendigos quando podem   ser  homens  livres? ,  perguntavam  eles.75

  A

  implantação

  da lei

  justa  virá

  dos

  pobres ,

  acreditava Winstanley.

  A

  magistratura

  significa  o

  maior

  dos

  laços...

  que

  liga,

  no

  amor,

  as

  pes-

soas ,

  preserva a  todos  a  nenhum despreza.  E  perguntou:  Será  assim  a

magistratura  das

  nações?

A

  resposta

  só

  poderia

  ser

  Não:

  ela

  favorece

  os

ricos, despreza  e  ignora  os  pobres.  Em  m uitas paróquias , observou Wins-

tanley,  dois  ou  três  dos  grandes possuem

  todo

  poder para lançar impostos,

intimidar

  os

  policiais

  e

  outros servidores

— as

  elites

  das

  paróquias

  a que

nos

  referimos.

  A

  verdadeira magistratura deveria

  ser  procurada

  entre

  os

pobres

  e

  desprezados

  da

  terra, pois

  é

  entre eles

  que o

  Cristo

  reside .

  Ali-

mentava  W instanley a esperança de que a Revolução n a In glaterra assina-

lasse  o  início  de um  melhor  estado  de  coisas,  no  qual  a  verdadeira liberda-

de  seria tornada possível pela abolição  da  propriedade privada  e do  traba-

lho  assalariado  e  pela  implantação de uma  sociedade comunista  igualitá-

ria.

7

'

6

  Na  comunidade ideal  que  bosquejou,  o

  sufrágio

  seria estabelecido,  m as

privados  do

  direito

  ao

  voto

  os que

  haviam apoiado

  Carlos  I

  durante

  a

guerra

  e os

  especuladores

  em terras

  confiscadas.

  Os

  aprendizes seriam tam-

bém

  privados

  do

  direito

  ao

  voto durante

  o

  período

  de

  aprendizagem (pelas

razões tradicionais), como também deviam   ser

  privados

  de sua

  liberdade

na  comun idade aqueles  que  houvessem cometido crimes  particularmente

abomináveis,

  tais como comprar, vender e pregar por dinheiro. Todos os

magistrados seriam  eleitos  anualmente (incluindo juizes,  policiais  e  pasto-

res)

  por

  todo

  o

  corpo

  da

  paróquia . Eles

  e os

  deputados

  (M .

  Ps.) seriam

responsáveis

  perante seu senhor,  o  povo,  que os  elegeu .  A  sanção invo-

cada

  por

  Winstanley

  era o

  poder

  de

  todo

  o

  povo armado,

  que

  defenderia

a liberdade da com unidade contra  o  inimigo extern o, os servidores dege-

nerados e

  todos aqueles

  que

  por perfídia

  se

  esforçam

  para

  destruir

  as

leis da  liberdade comum .  N ão  haveria exército  permanente.

77

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52   z  outr históri

Winstanley,

  por  conseguinte, levava  a  sério  a  igualdade entre  cria-

dos e  patrões proclamada anteriormente pelos  anabatistas  p.  40) .  Ele

imaginava  uma  reorganização  da

  sociedade

  que  permitiria  aos pobres  se

afirmarem   como parte

  da

  nação.

  Ele foi o

  único homem, tanto quanto

sei,  que  tentou realmente enfrentar  o  problema  de  preparar  todo  o  povo

para dirigir uma democracia. Reconhecia que isso exigiria um longo perío-

do de educação e  reeducação  política  a fim de  libertar o  povo  da  depen-

dência  da  pequena nobreza  e do  clero,  dos  quais havia sempre recebido

suas ideias  políticas.  Propunha leis  e

  instituições

  que  incorporassem  os  ver-

dadeiros interesses  do  povo,  mas  este conservaria sempre  o  controle  do

governo

  representativo

  que

  aplicaria

  as

  leis,

  apoiado  na  autoridade final

do  povo armado.

  E

  como povo Winstanley entendia realmente todo

  o

  povo.

Talvez  possamos pensar

  que

  essas propostas foram insuficientes em bora

tivessem

  sido elaboradas em muito mais detalhes do que pudemos sugerir/

aqui .  Ele, finalmente, desesperou  de que  viessem  a ser aceitas. Mas

  elas,

pelo menos, colocam e ten tam solucionar alguns problemas atinen tes ao

estabelecimento  de uma  sociedade comunista  —  nisto muito  à  frente  de

seu tempo.

Conforme demonstra  o  fracasso  dos  Niveladores  e dos

  Carpidores,

  os

pobres

  no

  século

  XVII

  era não só

  pouco educados

  m as

  estavam também

divididos  pela  situação económica.  Os  Niveladores apelavam para  os pe-

quenos

  proprietários

  e

  Lilburne atacava o experimento comunista

  dos

  Car-

pidores, embora alguns de seus seguidores se mostrassem mais simpáticos

à

  ideia.

  Os

  Niveladores conseguiram

  seu

  apoio inicial principalmente

  em

Londres

  e no

  exército.

  Em

  1649, lançaram

  uma

  campanha

  de

  propaganda

nas pequenas cidades em   torno  de Londres e começaram a atribuir mais

importância

  ao

  campo, dando nova  ênfase

  à

  oposição

  ao

  cerco

  das

  terras

e  defesa  dos  direitos  de  proprietário  aos  pequenos ocupantes. Imediatamen-

te, foram reprim idos. Os Carpidores surgiram no ponto socialmente pe ri-

goso  em que pobres rurais e urbanos deram-se as mão s.

  Eles,

  também,

foram

  reprimidos,  talvez  por coincidência, depois que enviaram emissários

de  Surrey  para

  dez ou

  mais grupos

  de

  simpatizantes espalhados pelos Mid-

lands.

  O que mais tarde alarmou mais as classes respeitáveis sobre os nada

respeitáveis e belicosos primeiros Quacres foi que eles aceitavam muitas

das

  idiéas

  dos

  Niveladores

  e

  Carpidores

  e que

  possuíam

  um a

  organização

nacional. Essas preocupações desempenharam papel  de  vulto  na  criação  do

pân ico social que culm inou na restauração de Carlos II. A

  questão

  agora,

disse Richard Baxter  à  Câmara  dos  Comuns  em  abril  de  1660,  não é se

vamos  ter ou não bispos mas se haverá ou não  disciplina.78  Embora ele  fosse

um

  velho inimigo

  dos

  bispos, nesse momento

  as

  questões teológicas tiveram

que  ceder lugar  ao  medo social.

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 hristoph r

  M  53

Iniciamos este estudo  com um  problema  de  teoria política:  por que  sérios

pensadores

  políticos

  do  século  XVII  não

  ppderam  compreender

  que-  os

pobres

  faziam

  parte do povo? Sugiro uma possível analogia com

  a'- teolo-

gia puritana:

  Cristo

  morreu

  por

  todos

  os

  homens,

  mas

  principalmente pelos

eleitos.  Mas,  no fim,  fomos  levados para a história social: a diferenc iação

entre povo

  e

 pobres  pode

  ser

  entendida

  (o que não

  significa dizer justifi-

cada)

  -apenas

  se compreendermos alguma coisa do estado deprimido e igno-

rante

  dos

  pobres

  na

  sociedade pré-industrial inglesa,

  da

  mesma maneira

  que

só podemos compreender

  o

  ponto cego semelhante

  em

  relação

  às

  mulheres

  se

reconhecermos como  era  inteiramente patriarcal  a  sociedade dessa época.

O  ponto  que  desejo finalmente salientar  não é a  incapacidade  dos ho-

mens

  do

  século

  XVII

  de

  incluir

  os

  pobres

  no

  povo,

  o que nos

  poderia levar

a

  concluir

  hipocritamente  que  somos

  muito

  mais inteligentes  e  melhores

que  eles. O que quero

  enfatizar

  é que o pensamento deles foi  suficiente-

mente

  longe para

  que

  surgisse absolutamente

  a

  questão

  de

  pobre

  ser

  povo

também. Esta

  questão

  não foi postulada em parte alguma da Europa no

século  XVII

  e só

  reapareceu

  na

  Inglaterra

  no

  século XIX, depois

  de a

Revolução Industrial

  ter

  transformado

  os  pobres em

  classe operária.

  E

não foi solucionada na prática, form alm ente,

  pelo

  menos, até o presente

século.

  Os  radicais  do  século  XVII  deram  um  fantástico salto intelectual

nas

  circunstâncias revolucionárias

  da

  década

  de

  1640, culminando

  com as

propostas

  de

  Winstanley

  para  uma

  reorganização

  da

  sociedade

  que

  permi-

tiria aos pobres  fazer  valer

  seus

  direitos como

  parte

  da nação . Sugiro

ainda que o salto intelectual foi tornado possível pela evolução rápida da

economia

  caseira,  à

  medida

  que o

  capitalismo

  se

  desenvolvia

  na

  agricultu-

ra e na

  indústria.

  E foi a

  preponderância excepcional

  da

  família

  na  econo-

mia

  inglesa

  e dos

  chefes

  de

  família entre

  os

  defensores

  do

  Parlamento

  que

tornou teoricamente possível

  a

  concepção

  de

  soberania

  do  povo..  E,

  tam-

bém,

  foi a

  estratificação

  que

  ocorreu entre

  os

  chefes

  de

  família

  que

  tornou

impossível aos pobres serem aceitos como povo.

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286  a

  outra história

1 1 A   discussão  d e  Rude neste par t icular , como al iás  em  outros contextos, aborda

a espinhosa que stão de se ou em que sentido (s) os estratos populares pré-

mòdernos const i tuem  u m a  classe

e

  da  amiú de incorreta aplicação  a  grupos

  tradicionais

de

  camponeses e artesão s de um a teoria social e ideológica m ar-

xista,  desenvolvida  sobre a base das posteriores burguesia

  industrial

  do século

XIX e da  classe operária.  A  elaboração  de um  marco concei tual- teór ico apro-

pr iadamente

  flexível  con t inua

  a ser um a

  questão muito v iva

  na

  historiografia

  popular pré-mo derna.

12.

  Ver F.

  Krantz ,

  Sans

  Erudi t ion, pás  d'Histoire... ,  in  History

  from

  Below...

in  Honour  of  George  Rude 3-33  a  23-6.

1 3.  Para  uma  lista parcial  de  inf luênc ias ,  e  especialmente  do

  The  Making  of

  the

English  Working

  Class

  (1963), de Thompson, e do anterior  Primitive

  Rebcls

(1959),  de Hobsbawm, ver  Changing

  Face... ,

  pp. 196-7.

capítulo  2  (pp. 34-53)

1 .

  (Anon . ) ,  The  Soveraignity  of  King:  Or An  absolute

  Answer

  and

  Conful'j

tion

  (o f  schismatics)  (1642), Sig.  A  Iv .

2 .

  G.R.

  Elton,

  The Political Creed

  of

  Thomas  Cromwell ,

  Transactions

  of the

Royal  Histórica Soe. 1956, p. 86. No   The  Tudor

  Constitution

  (Cambridge,

Universíty

  Press, 1960), Elton

  parece

  aceitar essa suposição

  de que os

  par-

lamentos

  da  época Tud or representavam  o  povo,

  todos

(pp. 230, 300, 303).

3.  Org. L. A lston,  De  Republica  Anglorum:  A  Discourse  of the  Commonwealth

  England  (Cambrid ge. Un ivers ity Press, 1960),  pp  20-2.

4. Sir T.  Aston,

  A  Remonstrance

  against  Presbytery  (1641), Sig.  l 4v. :

 ;

5.

  G.  Monck,

  d u q u e

  d e

  Albermale,

  Observations

  Upon

  Military

  and

  Political

Affaire  (167 1), p. 146.

6. Discu ti este assunto em maior extensão no   Change  and Continuity in

  Sevea-

teenth-Century England  (1974), Cap.

  8.

7 .  Citado  por  M.A.  Judson,  The

  Crisis

  of the  Constitution  (Rutgers  Univer s i ty

Press, 1949), p. 337.

8.

  Org.

  J.T.

  Rut t ,  Diary  of  Thomas

  Burton

  (1828), III,  pp.  147-8.

9. J.  Lílburne,  The

  Charters

  of

  London

  (1646),  p. 4.

1 0.

  Org. A.S.P. W ood house,  Puriianism and Liberty  (1938),

  pp.

  53-6,

  63.

11.  Ibid. p. 53:  D.E.  Underdown,  The  Parl iamentary  Diary  of  John  Boys,  1647-8 ,

Bulletin  of the

  Institute

  of

  Historical Research,

  XXXIX

  (1966),  pp .  152-3.

12.  Mercurius

  Paliticus,  n. 78, 27 de

  novembro-4

  de

  dezembro

  de

  1651,

  p.

  1237:

c f .  n. 77, p.  1222,  e  Marchamont  N e d h a m ,  The  Excellencie  of a  Free State

(1656),

  p.  244,  c i tado  em J.  Frank,

  Cromwell 's

  Press

  Agent:  A Criticai  Bio-

graphy  of

  Marchamont Nedham,

  1620-1678 (Lanham,  Maryland,  1980),  pp

99-100.

13.

  Rober t Norwood ,  An Additional Discourse  (1653),  pp.  44-8.

1 4.

  Org. J.G.A. Poco ck,

  The

  Political Works

  of

  James Harrington  (Cambridge

Universi ty  Press, 1977),

  pp.

  786-8.

15.  Ibid. pp.

  436-7.

16.  Ibid.,  pp.

  786-8;

  cf. p. 764.

17.

  H.

  Stubbe,

  A

  Letter

  to an  Officer  of the  Army  (1659),  pp.  52-4, 59-62,  ci-

tado por J.R. Jacob no seu   Henry  Stubbe, Radical Protestantism and  the

Early  Enlightenment

  (Cam bridg e e Nov a York, 1983), cap. 2.

  Metts '

  agra-

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notas

287

dec imentos

  ao professor Jacob por me ter permitido ler e citar este livro antes

de sua publicação.

18.  A.  Sidney Discourses  Concerning Government

  (1698),

  p. 79.

19.

  James Tyrell,  Patriarcha

  non

  Monarcha  (1681), pp. 83-4, citado por J.

  R í -

chards,  L.  Mulligan  e  J.K.  Graham,  'Property'  and  'People':  Political Usages

of

  Locke  and  Some Contemporaries ,  Journal  of the  History  of Ideas XLII

(1980), p. 34; cf. p. 42, e H.T. Dickinson,  Liberty

  and

  Property  (1977), p.

78.

  De.vo

  esta última referência

  a

  Antony Arblaster.

20. M.R.  Frear,  The Election at Great  Marlow ,  Journal of Modern History

XIV,  p.  435; M.F. Keeler,

  The  Long  Parliament 1640-1641:  A  Biographical

Study of its Members  (Filadélfia, 1954),  pp. 33, 35;  Derek Hírst,  The  Repre-

sentative

  of the

  People? Voters

  and

  Voting

  in

  England

  under the Early

  Síuarts

(Cambridge Universíty Press, 1975), cap.  5.

21.  H.

  Prideaux,  Directions

  to

  Churchwarden

  (Norwich,

  1701),

  p. 51.

22.  R.  Baxter,  The  Holy  Commonwealth  (1659),  pp.  243, 218-19.

23. G.P.  Gooch  e  H.J.  Laski,  The  History  of  English Democratic  Ideas  in the

Seventeenth

  Century

  (1927),  p.  154.

24.

  T.  Edwards Gangraena Parte  II  (1646),  p.  16c.

25.

  J. Ussher,

  The Power  communicated  by God to the Prince

  (3  ̂ ed. 1700),

Síg

  D

  6v-7. Primeira edição, póstuma,

  em

  1661. Ussher faleceu

  em

  1656.

26.

  Shaftesbury Some

  Observations ,

  em

  Somers  Tracts

  (1809-15), VIII, p.

  401;

J. Dunn,  The Political Thought of John  Locke  (Cambridge University Press,

1969), pp. 122-3, 131.

27. Ver

  nota

  46, p.

  288.

28.

  Citado em P. Collinson,

  Archbishop

  Grindal: The  Struggle  for a  Reformed

Church  (1979),

  p.

  289;

  cf. pp.

  205, 247-8.

29. W. Stoughton,

  An

  Assertion

  for

  true

  and

  Chrisíian Church-Policie  (1604),

pp. 193-5, 362-72.

30.

  W .  Gouge,  Of  Domesticai Duties  (1626),

  pp.

  331-2.

31.

  (J. Sturgion),  Queries

  for His  Highness  to

  Answer  (1655), citado por D.B.

Heriot,  Anabaptism in England during the 17th  century ,  Transaciions  of the

Congregational

  Hist.

Soe. XIII  (1937-9),  p. 29.

32.  R.  Hooker,  Works  (Oxford University Pres, 1890),  II, p.  405.

33.

  J.

  Frank,

  The Beginnings of the

  English

  Newspaper

1620-1688

  (Harvard

University  Press, 1961),  p.  343,  referindo-se a  A Modest  Narrative n. 7,  12-19,

maio

  de

  1649.

34.

  W .

  B r a d f o r d Histoi-y   of  Plymouth  Plantation  (Collections

  of the

  Massachusetts

Hist.,

  Soe.,

  III, 1856),

  pp.

  89-90;

  T.

  Prince,  A

  Chronological History

  of New

England  in the Form of

  Annals Part

  II Seção  l  (1736),  em  An English Gar-

ner

  (org.  E.  Arber,  1895-7), II, pp.  410-11.

35.

  Ver meu  Puritanism and  Revolution  (1958), pp. 225-7;  Society and Puritanism

in

  pre-Revolutionary  England

  (1964),

  pp.

  274-5.

36.  Org. D.M. Wolfe,  Complete Prose Works  of  John Milton

  (Yale

  ed.,  1953),

III, pp. 236-7; cf. IV, pp. 389, 471, e meu  Milton and the English Revolution

(1977),  p.  186.

37.  P.  Geyl The Interpretation of Vrancken's  Deductio  ,of 1587 on the Nature

of

  the

  Power of the State of  Holland ,  em

  From Renaissance to the Coun-

ter-Reformation:  Essays  in Honor of Garrett Mattingly  (org. C.H.

  Cárter,

Nova York, 1965),  p.  239,

38. Org. C.H.  Firth  e R.S. Rait,  Acts

  and Ordinances of the

  Interregnum  (1911),

I, p. 749.

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288  c  outra história

39.

  L.  Andrewes,  XVI

  Sermons

  (2  ̂ e.d.,

  1631),

  p.  459.

40.  Ver,  por  exemplo, John  Eliot,  The  Christian  Commonwealth  (1659),  pp.  5-6.

41.  (Anon.),  The  Case  o f  the  Army

  Soberly

  Discussed  (1647),  p. 6.

42.

  Joan  Simon,  Education

  and

  Society  in  Tudor  England  (Cambridge Univer-

sity  Press, 1966), pp. 195, 217, 370.

43.

  R. H. Tawney,  The

  American

  Labour Movement and

  other  Essays  (ed. J.M.

Winter, Brighton, 1979), pp. 179-80; cf. meu  Puritanism and

  Revolution

p.

  233;  Change

  and

  Continuity

  in

  Seventeenth-Century England  (1974),

  p.

202.

44.

  Ver K.

  Wrightson

  e D.

  Levine,  Poverty and  Piety  in an  Essex  Village:  Ter-

ling 1525-1700  (1979),

  passim;  e

  também

  William

  Hunt,

  The

  Puritan  Mo-

ment  (Cambridge, Mass.,  1983),  que ele bondosamente me permitiu que  lesse

antes

  da

  publicação.

45.

  Meu  Reformation  to

  Industrial Revolution

  (ed.

  Penguin),

  p. 58.

46.

  L.

  Boynton,

  The

  Elizabethan Militia 1558-1638  (1967),

  pp. 62,

  108-11,

220-1.

47.  Society and Puritanism pp. 274-5.

48. Harrington,  Works p. 292; cf. pp. 129-30, 657-60, 840.

49. Ver meu  Century  of  Revolution  (ed.  revista,

  1980),

  pp.  18-21,  131, 177-8.

50.  Reformation  to  Industrial

  Revolution

pp. 56,  98-9.

51. Adam Moore,  Bread

  for the

  Poore  (1653),  p. 39.

52. P.  Styles,

  Studies  in  Seventeenth-Century West  Midlands  History  Kineton,

1978),

  pp.

  186-93.

53. Dalby  Thomas,  An Historical Account of the  Rise  and

  Growth

  of the West

índia

  Colonies

(1690),

  em

  Harleian

  Miscellany

  (1744-5),

  II, p.

  343.

54. J.

  Swift,

  Works  (1814),

  VIII,

  pp.

  111-12.

55.  Argumentei

  isto

  em  Change  and  Continuity cap.  10.

56. (Bernard de Manderville),  The  Fable  of the Bees  (3$

  ed.,

  1724), I, pp. 328-

30; cf. pp.

  210-13.

57.

  J.S.  Morrill,

  Seventeenth-Century

  Britain 1603-1714  JFolkestone,  1980),

  pp.

108-9.

58.

  D.

  Hirst,

  op.

  cit. passim.

59.

  P.J.

  Bowden,  Agricultural

  Prices,

  Farm

  Profits,

  and

  Rents ,

  in The

  Agra-

rian

  History

  o f

  England

  and

  Wales,

  IV 1500-1640

  (org.

  J.

  Thirsk, Cambridge

University Press, 1967), p. 621.

60.  John  Price,  The  Cloudie

  Clergy

  (1650),  p. 14.

61. W. Sedgwick,  A  Second  View  of the  Army  Remonstrance  (1649),  p. 13;

cf .

  M.

  Kishlansky,  The  Rise  of the New  Mode l  Army  (Cambridge Univer-

sity Press,

  1979).

62. T.

  Lock,  The  Extent  of the

  Sword

  (1653-4),

  p. 2.

63.  (Anon.),  The  Armies  Vindication  of  This Last Change  1659),  pp.

  3-6,

  ci-

tado

  por

  Austin Woolrych

  em sua

  Introdução

  ao

  Vol.

  VII do

  The  Complete

Prose  Works

  o f

  John Milton

  (Yale

  University Press, 1980), VII,  pp .  124-5.

64.  Milton,  Complete Prose Works

I, pp.

  923-3,

  IV, p.

  635.

65.  (Anon.),

  Salus

  Populi Solus  Rex  (1648),

  citado

  por

  H.N. Brailsford,

  The

Levellers  and the

  English

  Revolution

  (1961),

  pp.  345-6.

66. R. Overton,  The  Araignement  of Mr. Persecution in

  Tracts

  on  Liberty in

the Puritan Revolution

org.  W.  Haller  (Columbia  University Press,  1933),

III,  p.  213.

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notas  289

67 .  Citado  por Howard  Nenner, Constitutional  Uncertainty  and the  Declara-

tion

  of  Rights ,  in  After  the  Rejormation:

  Essays

  in  Honor  of

  J.R.

  Hexter

org. Barbara  C.  Malament

  (Manchester

  University Press,  1980),  p.  294.

68.

  M r.

  Peters

  Last

  Report

  of the  English  Warres

  (1646),

  p. 6.

69.

  P.B.

  Shelley,

  A

  Proposal

  fo r

  Putting

  Reform

  to the

  Vote  (1817),

  em

  Prose

Works

  (1912),  I, p.  365.

70.

  L.  Clarkson,  A Generall  Charge  or

  Impeachment

  of  High  Treason in the

name  of

  Justice Equity,

  against  the  Communality  of

  England

  (1647),  pp .

10-18.

71.

  J.  Wildman,

  Truths  Triumph  (1648),

  p. 4.

72.

  P.

  Chamberlen,  The  Poore  Mans  Advocate  (1649),  passim.

73 .

  Gerrard Winstanley,  The L aw of  Freedam  and

  other Writings

  (ed.  Pen-

guin) ,  pp. 97,  108-9, 136, 170, 201-2, 373-4.

74 .

  Ibid. pp.

  182, 372-4.

75 .

  Ibid.

pp. 49,  104-6, 340; org.  G. H.  Sabine,

  The

  Works  of  Gerrard Wins-

tanley  (Cornell University Press, 1941),

  p.

  408.

76.  The Law of  Freedom pp.  244-5, 281; Sabine,  op.  cit.,  p.  205;  meu  The

Religion  of

  Cerrará

  Winstanley  Past  and  Present  Supplement,  n. 5,  1978),

pp.  26-7.

77.  The Law of  Freedom,  pp .  314-21, 324, 345, 356-7, 361-2, 383-9.

78   R.  Baxter,  A  Sermon  of  Repentance  (1660),  p. 43.

capítulo

  3  (pp.

  54-79)

1.  C.V.  Wedgwood,  The

  King's Peace  1637-1641  (1955; edição londrina, 1966),

p.  53.

2.  J.E. Handley,  Scottish  Farming  in the  Eighteenth

  Century

  (Londres, 1953),

pp .  88-90.

3 .  Patríck Gordon, citado  por  Andrew  Lang,  A

  History

  of

  Scotland  (3?

1

  ed.,

Edimburgo,  1924),  Vol. 3, p.  151.

4.  James Níchols,  Calvinism  and  Arminianism  (Londres, 1824),  pp.  xli,  205.

5.  Basilikon Doron  (1603),  citado  por  Lang,

  op.

  cit. Vol.  2, pp.  438-9.

6.

  1.1.

  Rae,  Scotland

  in

  th

e

  Time

  of

  Shakespeare

  (Cornell

  Univ.

  Press, 1965),

p. 21.

7. A.  Peterkin,  org.,  The  Booke  of the

  Universal

  Kirk  of  Scotland

(Edim-

burgo,  1838),  pp.  434-5.

8 .  Willíam

  Ferguson,  Scotland's Relations

  with

  England:  a  Survey  to  1707

  (Edim-

burgo, 1977),  p.  120.

9.  Rae,

  op.

  cit. p. 30;  Anon.  (?  James  Myles),

  Chapters  in the

  Life  o

  a

  Dun-

dee  Factory  Boy  (Dundee, 1887),  p. 27.

10.   J.M.  Reid,  Kirk  and  Nation.  The  Story  of the  Reformed  Church  of  Scotland

(Londres, 1960),

  pp.

  68-9.

í

 l .

  Gordon Donaldson,  Scotland,

  th e

  Making

  of the

  Kingdom

James

  V  —  Ja-

mes  Vil

  (1965, edição

  de

  Edimburgo, 1978),

  pp.

  315-6.

12.

  Reid,

  op.

  cit.

p. 75.

13 .  David Stevenson,  The  Scottish  Revolution  1637-1644.  The  Triumph  of the

Covenanter  (Newton Abbot, 1973),

  pp.

  224-6.

14.  Ibid. p.  200.