Ciclos de negocios na construcao civil: construcao e analise de

indicadores compostos coincidentes da atividade economica setorial

nacional e regional

Fernando Cruz1, Jefferson Colombo1

aDoutorando em Economia Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul & Pesquisador em Economiada Fundacao de Economia e Estatıstica

bPesquisador em Economia da Fundacao de Economia e Estatıstica

Resumo

O presente artigo busca contribuir com a literatura de ciclos de negocios no Brasil e, em particular,no setor de construcao civil de duas formas. Primeiro, com a construcao de indicadores coincidentesda atividade economica do setor de construcao civil no Brasil, bem como em seis estados brasileirosalem do Distrito Federal, em frequencia mensal, baseando-se na metodologia proposta pelo TheConference Board. Em segundo lugar, atraves da identificacao e analise dos movimentos cıclicosdestes indicadores, por meio do algoritmo Bry-Boschan, explorando-se, inclusive a relacao entre osciclos das diferentes unidades observacionais estudadas. Os resultados apontam que: i) os ciclosna construcao civil sao, em geral, condizentes com os ciclos economicos nacionais datados peloCODACE; ii) apesar do grau de conformidade ser relativamente alto, existem heterogeneidadesnos ciclos da construcao civil entre diferentes regioes geograficas.Palavras-chave: Ciclo de negocios; Construcao Civil; Estados brasileiros.Area de submissao: Macroeconomia.Codigo JEL: E3; E32; L74.

Abstract

This paper aims to contribute to the Brazilian business cycle literature, particularly in the Con-struction sector in two ways. Firstly, building monthly coincident indicators of economic activity forthe construction sector in Brazil and six states as well as the Federal District, based on The Confer-ence Board methodology. Secondly, through the identification and analysis of cyclical movementsof these indicators, dating peaks and troughs in the activity through the Bry-Boschan algorithm,also exploring the relation between cycles from different observational units. The results show that:i) construction cycles are, in general, consistent with national economic cycles dated by CODACE;ii) in spite of the relatively high degree of conformity, there’s some heterogeneity in constructioncycles between different Brazilian regions.Keywords: Business Cycles; Construction; Brazilian states.JEL Code: E3; E32; L74.

1. Introducao

Ciclos de negocios nao sao um assunto novo na ciencia economica. Desde pelo menos ?, ha

estudos buscando responder a perguntas teoricas e empıricas sobre as flutuacoes de curto prazo

na atividade economica agregada. No primeiro grupo, figuram questoes como as causas de tais

flutuacoes – se endogenas, exogenas, monetarias, reais, etc - e as implicacoes de polıtica economica

das mesmas. No segundo grupo, estrategias empıricas sao criadas a fim de testar diferentes pro-

posicoes teoricas, avaliar os efeitos de intervencoes governamentais, ou mesmo com vistas a captar

regularidades empıricas acerca do fenomeno. Um grupo especıfico de regularidades – a deteccao de

pontos de virada, duracao, amplitude, frequencia, difusao, dentre outras caracterısticas do ciclo de

negocios – e de particular importancia para o monitoramento da atividade economica e, portanto,

util para auxiliar a tomada de decisao nao apenas de policy makers preocupados com o timing

da polıtica economica, mas tambem de consumidores e investidores em suas tomadas otimas de

decisao.

Este ultimo grupo tem sido o foco de diversos estudos, desde o trabalho seminal de ?, caracteri-

zando o ciclo de negocios como:

”[...]expansoes que ocorrem ao mesmo tempo em diversas atividades economicas, segui-

das por recessoes, contracoes e recuperacoes igualmente generalizadas que se fundem

com a fase de expansao do ciclo seguinte.”(BURNS e MITCHELL, 1946, p.3)

Diversas instituicoes ao redor do mundo realizam o monitoramento e a datacao das fases do

ciclo economico de diferentes paıses, como NBER, OCDE, CEPR, CODACE/FGV-IBRE, dentre

outros. No entanto, o monitoramento de atividades especıficas da economia e mais raro.

No Brasil esta tarefa se torna ainda mais difıcil, uma vez que nao existe uma serie unica, em

frequencia mensal, que represente a dinamica do setor em suas diversas dimensoes de producao,

vendas e emprego. Destarte, o presente trabalho tem dois objetivos principais. O primeiro e cons-

truir um indicador composto coincidente de atividade economica da construcao civil para o Brasil

2

e mais seis estados do paıs, alem do Distrito Federal. A restricao do numero de estados estudados -

Bahia, Ceara, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Sao Paulo, Minas Gerais - deve-se exclusivamente a

limitacao de dados disponıveis da Pesquisa de Emprego e Desemprego (Sistema PED). O segundo

objetivo e analisar os movimentos cıclicos dos indicadores propostos, identificando seus turning

points atraves do algoritmo Bry-Boschan e, em seguida, investigando a relacao entre o timing das

fases de expansao e recessao das unidades observacionais estudadas.

Com vistas a atender a estes fins, o presente trabalho foi dividido em cinco secoes, sendo a pri-

meira esta introducao. A segunda secao apresenta uma breve revisao sobre a literatura de ciclos

de negocios na construcao civil e sua relacao com os ciclos no restante da atividade economica. A

terceira secao expoe o metodo do The Conference Board, utilizado para realizar a agregacao das

series individuais em um indicador unico da construcao, bem como o metodo de identificacao dos

picos e vales das series. A quarta secao discute os resultados encontrados, dividindo-se em duas

subsecoes, as quais analisam, respectivamente o Brasil e os estados. Por fim, as conclusoes sao

apresentadas na quinta secao.

2. Ciclos de negocios na construcao civil

E comum encontrarmos referencias a dois tipos de ciclos relacionados ao setor da construcao

civil na literatura. Estes ciclos se distinguem nao apenas pelos fatores causais e mecanismos de

propagacao associados, como tambem por sua frequencia. Por exemplo, ondas longas observadas

no setor de construcao, em perıodos de quinze a vinte anos, estao associadas a fatores populacio-

nais (?), crescimento economico e subsequente desenvolvimento urbano (?). Ja flutuacoes de curto

prazo, em frequencias associadas aos ciclos de negocios como definidos em ? - isto e, entre um e

doze anos – se misturam com os ciclos no restante da atividade economica, especialmente quando

se observam dados em frequencia mensal ( ?).

Estudos em linha com a interpretacao dos ciclos de Burns e Mitchell abarcam majoritariamente

flutuacoes na construcao imobiliaria, particularmente de residencias, com algumas excecoes, como

?. Por exemplo,? examina os ciclos de curto prazo na construcao residencial americana no pe-

3

rıodo 1946-1959. A identificacao dos quatro ciclos especıficos encontrados no setor de construcao

de residencias e realizada de maneira similar a proposta do NBER, observando-se, no entanto,

movimentos conjuntos em tres series relacionadas ao setor: iniciacao privada de habitacao nao

agrıcola (Private nonfarm housing starts), gravacoes de hipotecas nao agrıcolas de US$20.000,00

ou menos (nonfarm mortgage recordings of $20,000 or less) e contratos residenciais (residential

contract awards).

Contudo, diferentes tipos de construcao (real estate) podem ter comportamentos cıclicos distintos.

Buscando alinhar formulacoes teoricas e evidencias empıricas, ? utiliza modelos de Estoque-Fluxo

para diferenciar as condicoes sob as quais a dinamica de diferentes tipos de construcao (real estate)

gera ciclos endogenos ou sao apenas reacoes a choques exogenos nas economias nacional ou regional.

Por outro lado, ? apresenta um modelo de equilıbrio geral do mercado de habitacoes residencial

(residential housing market), com interacoes entre agentes - proprietarios, bancos e desenvolvedores

– que explica a transicao entre perıodos de acumulo de inventarios e perıodos de novas construcoes.

No modelo, construıdo sob a hipotese de ambiente economico de uma cidade madura, contratos de

hipoteca, estado de degradacao das habitacoes existentes, retorno esperado das habitacoes, dentre

outros fatores, tornam os precos das habitacoes ligados ao crescimento economico local e a decisao

de construcao dependente do estado da economia.

E importante ressaltar ainda que, mesmo a direcao da causalidade na relacao entre os ciclos na

construcao e o ciclo de negocios da atividade economica geral nao e unıvoca. ?, por exemplo,

enfatiza a importancia do setor de construcao de moradias no ciclo de negocios americano, obser-

vando que a maior parte das recessoes no pos-guerra foram precedidas por um desaquecimento na

construcao ou investimento relacionados ao setor. A partir de extensa evidencia empırica conclui

que a “construcao de moradias e o ciclo de negocios”.

Evidencias de ciclos na construcao baseadas em tecnicas de analise de series de tempo tambem

estao presentes na literatura. ? utilizam um modelo autoregressivo com mudanca de regime mar-

koviano (MS-AR) de tres estados para captar assimetrias e mudancas nos regimes da taxa media

de crescimento da industria de construcao dos Estados Unidos entre 1980 e 2010, usando dados

4

trimestrais. Por outro lado, ? prove alguns fatos estilizados para os ciclos de investimento na

construcao residencial e nao residencial em Israel, combinando analises no domınio da frequencia

e do tempo.

E importante destacar que as variaveis utilizadas para captar os ciclos de referencia no setor,

mesmo quando consideram seus aspectos multiplos (e.g.?), nao buscam combinar as diferentes

variaveis, analisando-as unicamente em separado. Como mostrado nas secoes seguintes, combinar

tais variaveis pode ser um exercıcio interessante, sobretudo quando se deseja sumarizar resultados

de diferentes indicadores.

3. Metodologia

3.1. Indicadores Compostos Coincidentes: o metodo do The Conference Board

Existem diversas metodologias para a construcao de indicadores coincidentes da atividade

economica propostas na literatura. Dentre as parametricas, destacam-se os modelos de fator di-

namico de ?, cujo intuito e estimar o valor de uma variavel nao-observada - o fator, entendido

como o ”estado da economia” - que governa os movimentos das series de tempo das atividades

economicas coincidentes. No entanto, cada atividade tambem possui um componente idiossincra-

tico nao-correlacionado entre as series individuais, o qual afeta o comportamento das mesmas.

A partir deste trabalho, diversas modificacoes foram propostas, incorporando nao-linearidade nos

parametros, como por exemplo ?.

Uma maneira mais simples de obter um indicador composto coincidente, sem a utilizacao de mode-

los econometricos, e implementada pelo The Conference Board (TCB) nos Estados Unidos desde

1995. O procedimento requer duas grandes etapas. Em primeiro lugar, e necessario definir textita

priori as series de tempo que comporao o indicador. Atualmente sao utilizadas quatro series coin-

cidentes pela instituicao1: a) Empregados em folhas de pagamento nao-agrıcola, b) Renda pessoal

menos transferencias, c) Producao Industrial e d) Vendas de manufatura e comercio. Em seguida,

1Traducao livre dos seguintes termos: Employees on nonagricultural payrolls; Personal income less transferpayments; Industrial production; Manufacturing and trade sales

5

a construcao do ındice e feita, seguindo-se seis passos (?):

• Calculo da variacao percentual simetrica do mes t contra o mes t-1 de cada variavel:

ri,t = 200.xi,t − xi,t−1

xi,t + xi,t−1

(1)

onde r e a variacao percentual ponderada pelo valor medio da variavel no perıodo, x e a

variavel coincidente, o subscrito i refere-se a variavel e t ao tempo.

• Calculo do fator de padronizacao, entendido como a inversa do desvio padrao de cada uma

das series. Este fator e entao padronizado de modo que a soma dos fatores resulte na unidade:

wi =(1/σi)∑i(1/σi)

(2)

• Ajuste das series de variacao percentual simetrica pelo fator de padronizacao, resultando a

na contribuicao mensal de cada componente (c) ao ındice final:

ci,t = wi.ri,t (3)

• Agregacao, obtida pela soma das contribuicoes mensais:

St =N∑i

ci,t (4)

one N e o numero de series utilizadas.

• Calculo recursivo do ındice (I) a partir de um valor inicial , no caso, 100, usando a formula

da variacao percentual simetrica:

ICC CCt = ICC CCt−1.(200 + St)

(200 − St)(5)

6

• Por fim, a base do ındice e modificada para o perıodo desejado e os valores obtidos no passo

anterior sao multiplicados por 100 e divididos pela media dos nıveis do ındice preliminares

na data base.

3.2. Identificacao dos ciclos

Para deteccao dos turning points da atividade setorial utilizou-se o metodo de ?, aplicado a da-

dos mensais. O Algoritmo Bry-Boschan e uma forma de mecanizar o procedimento de datacao de

ciclos na tradicao seguida pelo National Bureau of Economic Research (NBER). A partir de algu-

mas regras impostas ao comportamento da serie, e possıvel classificar picos e vales e, consequente-

mente, fases de expansao e recessao. A essencia do algoritmo consiste em tres passos. Em primeiro

lugar, escolhe-se uma janela de forma a identificar maximos (y(t− k). . . yt−1 < yt > yt+1. . . yt+k) e

mınimos locais (yt−k. . . yt−1 > yt < yt+). . . yt+k). Em seguida, impoe-se um perıodo mınimo para

a duracao de uma fase do ciclo (f), isto e, o tempo transcorrido entre um pico (vale) e um vale

(pico), e tambem uma duracao mınima para o ciclo completo (c), de pico a pico ou de vale a vale.

Essas restricoes visam a expurgar oscilacoes e ruıdos nao relacionados ao ciclo de negocios.2

Neste trabalho, as especificacoes utilizadas para os dados mensais foram k = 5; f = 3; c = 12.

Cabe ressaltar que, nessas especificacoes, ciclos em frequencias muito baixas, como decenais ou

seculares, nao sao capturados pelo algoritmo.

4. Analise dos resultados

A analise dos resultados esta dividida em tres partes. Na primeira, a proxy mensal do nıvel de

atividade da construcao civil e comparada com o ındice de volume da construcao civil oriundo do

Sistema de Contas Trimestrais (SCT). Na segunda, sao expostas as series estaduais da construcao

civil de forma a explorar eventuais heterogeneidades no desempenho setorial entre diferentes unida-

des federativas (UFs). Finalmente, na terceira parte, sao expostos os resultados setoriais estaduais

2Adicionalmente, pode-se impor uma restricao de magnitude (l), de forma que quedas muito severas, emborarapidas, sejam classificadas como perıodos recessivos.

7

a luz das fases de recessao e expansao da economia brasileira, conforme datadas pelo Comite de

Datacao de Ciclos (CODACE).

4.1. Proxy mensal vs VAB trimestral do setor de construcao

A primeira etapa de apresentacao dos resultados se refere a comparacao da serie mensal da

construcao civil no Brasiil, elaborada a partir do metodo do The Conference Board (TCB), com o

ındice de volume trimestral da construcao civil (IBGE). Esta etapa e uma especie de validacao da

proxy mensal criada para o BR e UFs selecionadas neste estudo, ja que, a priori, espera-se que um

ındice que reflita o estado da economia em algum setor em maior frequencia deva ter aderencia ao

PIB trimestral de sua atividade equivalente no Sistema de Contas Trimestrais.3

A Figura ?? sumariza os movimentos da serie mensal da construcao civil brasileira (vendas

de materiais de construcao, nıvel de emprego RAIS/CAGED, e massa de rendimentos reais da

PED) com o ındice de volume com ajuste sazonal do sistema de contas trimestrais. Observa-se

que, a excessao dos anos iniciais (2005, 2006), onde a proxy mensal apresentou comportamento

diferente do VAB trimestral, a proxy mensal demonstrou ter seus turning points condizentes com a

serie de referencia trimestral. Tanto na recessao internacional do final de 2008 quanto na recessao

nacional de meados de 2014, a serie mensal da construcao civil conseguiu captar com exatidao

esses movimentos de reversao cıclica, o que nos faz crer que o ındice mensal representa de maneira

satisfatoria a trajetoria do setor.

Esta etapa de comparacao da serie mensal com a serie trimestral, oriunda do sistema de contas

trimestrais, e importante no sentido de validar a serie construıda nesse estudo. Caso ambas nao

apresentassem comportamento cıclico similar, seria virtualmente impossıvel defender o uso da

proxy mensal para datar os ciclos da construcao civil entre os estados brasileiros.

3Mais do que movimentos comparaveis em magnitude, espera-se que a proxy mensal reflita de maneira adequadaos turning points na serie trimestral, i.e, seus picos e vales.

8

Figura 1: Proxy mensal do setor da construcao e ındice de volume da construcao no PIB trimestral, Brasil, 2004m1a 2017m3

Nota: Ambas as series foram ajustadas sazonalmente. A serie trimestral (2004T1 a 2016T4) foi dessazonalizada peloIBGE; a serie mensal (2004m1 a 2017m3) foi dessazonalizada pelos autores, utilizando o Win-X13 do Bureau of EconomicAnalysis (BEA).

100

150

200

250

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r coi

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zona

l - IB

GE

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Índice de volume trimestral da Construção com ajuste sazonal - IBGE

Indicador coincidente da construção (ICC-BR)

Fonte: elaborado pelos autores.

4.2. A datacao cıclica da construcao civil em estado selecionados

Evidencias empıricas mostram que, embora as recessoes nacionais tendam a ser observadas

tambem nas suas unidades subnacionais, este movimento cıclico regional difere do nacional tanto

timing quanto na duracao (?). Desta forma, e importante comparar os movimentos de expansao

e recessao em diferentes unidades federativas, especialmente em uma espacializacao ampla, onde

choques locais podem fazer com que a atividade economica da construcao apresente turning points

em momentos especıficos.

Uma vez que a nossa proxy mensal do nıvel de atividade do setor da construcao apresenta

movimentos cıclicos condizentes com o VAB trimstral da atividade, procede-se com a aplicacao

deste mesmo metodo as unidades federativas. Procedimento analogo ao descrito na secao 3, cu-

jos resultados para o caso brasileiro foram apresentados na Figura ??, foi aplicado as unidades

federativas que possuiam informacoes suficientes.4 Em sentido horario, as UFs cujas informacoes

4A principal limitacao no que se refere ao numero de UFs se deu atraves dos dados de massa de rendimentosreais da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do DIEESE, que advem de pesquisas mensais algumas capitaise regioes metropolitanas do paıs. A vantagem desta pesquisa em relacao aos dados do CAGED e que ela captura

9

estavam disponıveis sao Ceara (ICC 2), Pernambuco (ICC 3), Bahia (ICC 4), Minas Gerais (ICC

5), Sao Paulo (ICC 6), Rio Grande do Sul (ICC 7) e Distrito Federal (ICC 8). As datacoes cıclicas

- expostas em areas hachuradas na Figura ?? - foram obtidas mediante aplicacao do algoritmo Bry-

Boschan (BB), que identifica pontos de mınimo e maximo locais que possivelmente caracterizam

inıcio e fim de perıodos de expansao, respectivamente.5

As informacoes expostas na Figura ?? sugerem que, em geral, ciclos regionais na atividade da

construcao civil coincidem com aqueles observados na serie nacional. No entanto, alguns estados

– em especial Bahia e Rio Grande do Sul – mostram ciclos adicionais, que nao dizem respeito

nem a recessoes na economia nacional (CODACE) nem com os movimentos setoriais nacionais.

No caso do RS, os anos de 2004-2005 registraram forte estiagem nos municıpios do estado, em

especial na safra de verao, o que comprometeu boa parte da realizacao da receita de producao

(?). Esta quebra de safra reduz a renda agrıcola e, a partir deste canal, pode implicar um efeito

relevante sobre o setor da construcao civil local, em especial nas regioes cuja economia e mais

ligada ao setor agropecuario. No caso do Nordeste, o estudo de ? encontrou evidencia de que

a Bahia e o Estado da Regiao cuja producao agrıcola e mais sensıvel ao clima, em especial a

cultura do milho, que afeta um grande numero de agricultores familiares. Esses eventos climaticos

regionais sao frequentemente associados a fenomenos climaticos como o El Nino e o La Nina, que,

no caso da regiao Sul do Brasil, provocam a ocorrencia de precipitacao acima (abaixo) da normal

climatologica, respectivamente (?).

4.3. Indice de concordancia: os ciclos estaduais da construcao condizem com os ciclos nacionais?

Uma das maneiras analisar os ciclos economicos regionais e coloca-los em perspectiva com os

ciclos nacionais. ? sugerem o uso de um ”ındice de concordancia”, baseado no estudo de (?).

Intuitivamente, ele mede o grau em que dois ciclos de negocios estao em sincronia – e medido pelo

informacoes tambem sobre empregados informais, algo que e importante para tentar estimar os movimentos daconstrucao por conta propria.

5O metodo de Bry-Boschan aplicado a diferentes estados permite a comparabilidade de movimentos cıclicos dosetor de construcao em diferentes unidades da federacao. Embora nao seja o unico metodo de datacao cıclica, oalgoritmo BB e tido como um metodo simples e que gera bons resultados na datacao de ciclos economicos.

10

Figura 2: Proxy mensal do nıvel de atividade do setor da construcao, por UF, 2004m1 a 2017m3

(a) Brasil

100

150

200

250

Indi

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r coi

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C-B

R)

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Rec

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es n

o IC

C-B

R

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-BR Indicador coincidente da construção (ICC-BR)

(b) Ceara

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150

200

250

300

Indi

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r coi

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da

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truçã

o (IC

C-C

E)

01

Rec

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o IC

C-C

E

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-CE Indicador coincidente da construção (ICC-CE)

(c) Pernambuco

100

150

200

250

300

Indi

cado

r coi

ncid

ente

da

cons

truçã

o (IC

C-P

E)

01

Rec

essõ

es n

o IC

C-P

E

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-PE Indicador coincidente da construção (ICC-PE)

(d) Bahia

100

120

140

160

180

200

Indi

cado

r coi

ncid

ente

da

cons

truçã

o (IC

C-B

A)

01

Rec

essõ

es n

o IC

C-B

A

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-BA Indicador coincidente da construção (ICC-BA)

(e) Minas Gerais

100

150

200

Indi

cado

r coi

ncid

ente

da

cons

truçã

o (IC

C-M

G)

01

Rec

essõ

es n

o IC

C-M

G

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-MG Indicador coincidente da construção (ICC-MG)

(f) Sao Paulo

100

120

140

160

180

200

Indi

cado

r coi

ncid

ente

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truçã

o (IC

C-S

P)

01

Rec

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es n

o IC

C-S

P

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-SP Indicador coincidente da construção (ICC-SP)

(g) Rio Grande do Sul

100

120

140

160

180

200

Indi

cado

r coi

ncid

ente

da

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truçã

o (IC

C-R

S)

01

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es n

o IC

C-R

S

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-RS Indicador coincidente da construção (ICC-RS)

(h) Brasılia

100

120

140

160

180

200

Indi

cado

r coi

ncid

ente

da

cons

truçã

o (IC

C-D

F)

01

Rec

essõ

es n

o IC

C-D

F

2004m1 2006m1 2008m1 2010m1 2012m1 2014m1 2016m1 2018m1Ano-mês

Recessões no ICC-DF Indicador coincidente da construção (ICC-DF)

11

percentual das vezes em que duas economias estavam no mesmo regime (expansao ou contracao).

No caso americano, a evidencia empırica sugere que o Alaska e Hawaii sao os estados cujos ciclos

economicos gerais sao os menos dependentes da economia nacional; Massachussets and Minessota,

no outro extremo, sao aqueles cujas fases cıclicas sao mais proximas das nacionais (?).

No caso da construcao civil no Brasil, calculou-se o grau de concordancia entre as fases de

expansao e recessao nas sete unidades federativas consideradas (CE, PE, BA, MG, SP, RS e DF)

e aquelas registradas no agregado nacional (BR). O resultado, exposto na Tabela ??, evidencia

que Minas Gerais (95.6%), Sao Paulo (92.5%) e Pernambuco (91.2%) foram os estados cujas fases

de expansao e recessao na construcao civil mais tenderam a concordar com as fases nacionais. No

outro extermo, Bahia (78.6%0, Ceara (84.3%) e Distrito Federal (87.4%) foram os que apresentaram

ciclos relativamente mais heterogeneos ao observado em escala nacional, sinaliando que seus ciclos

seguem dinamica diferente daquela observada nos estados cujo grau de concordancia foi maior.

Tabela 1: Grau de concordancia entre as fases cıclicas da construcao civil regional e nacional, por UF, 2004m1 a2017m3

Estado Concordancia

MG 95.6%SP 92.5%PE 91.2%RS 88.1%DF 87.4%CE 84.3%BA 78.6%

Media 88.2%

4.4. A interacao entre os ciclos economicos da economia brasileira e o setor da construcao

Uma terceira abordagem empırica realizada neste estudo busca comparar as fases de recessao e

expansao da construcao civil nas UFs e no agregado brasileiro com os ciclos datados pelo Comite

de Datacao de Ciclos no Brasil – CODACE. Esta analise permite analisar os ciclos abordados na

construcao civil em diferentes regionalizacoes com aqueles movimentos cıclicos da economia em

geral. Quanto mais proximos forem estes ciclos, mais forte tende a ser o contagio entre movimento

recessivos nacionais e a dinamica da construcao civil em diferentes entes federados.

12

A Tabela ?? mostra que, no perıodo analisado, as duas recessoes nacionais observadas (2008m7

a 2009m1 e 2014m3 ate fim ainda nao datado6 coincidem com movimentos de contracao tambem

no setor da construcao civil, tanto no BR quanto na maior parte das UFs.

No entanto, algumas singularidades regionais merecem ser destacasdas. Na recessao de 2008-

2009, os estados de Ceara, Pernambuco e Distrito Federal nao mostraram evidencias de queda

na atividade da construcao civil suficientes para caracterizar um perıodo recessivo. Esta aparente

resiliencia destes estados a recessao nacional contrapoe-se ao movimento recessivo comum ao ci-

clo nacional observado no BR (2008m10 a 2009m1), BA (2008m6 a 2009m1), MG (2008m10 a

2008m12), SP (2008m10 a 2008m12), e RS (2008m10 a 2008m12). No caso da atual recessao

(2014m3 - ?), houve uma generalizacao maior do molvimento recessivo, inclusive no que se refere

ao timing, que tendeu a ser bastante proximo.7 Estes resyltados sugerem que, em geral, os mo-

vimentos de expansao e recessao na economia brasileira convergem com os movimentos cıclicos

observados no setor da construcao, seja no caso nacional, seja nas suas UFs. Alguns estados, po-

rem, apresentaram resiliencia um pouco maior na atual crise, o que abre espaco para a realizacao

de estudos futuros que objetivem entender os determinantes da ocorrencia de regimes comuns de

expansao/recessao na economia agregada e em setores da atividade economica.

5. Conclusao

A construcao civil e um dos principais setores da economia, cumprindo papel-chave para diver-

sas atividades a montante e a juzante de sua cadeia produtiva. Sua importancia relativa tambem se

reflete em sua contribuicao para o PIB. No Brasil, apenas a industria de construcao responde por

cerca de 6% do PIB nacional. Portanto, cabe investigar em que medida as flutuacoes observadas na

atividade setorial relacionam-se a movimentos especıficos - setoriais ou regionais - ou sao reflexos

de movimentos mais gerais na atividade economica.

6No momento em que escrevemos este artigo, o CODACE ainda nao havia deliberado com um consenso acercado atual perıodo recessivo da economia brasileira, iniciado em 2014m3.

7A excessao e o estado de CE, cujo setor da construcao demorou mais tempo para entrar em recessao, ocorrendoapenas em 2014m11, 8 meses apos o inıcio da recessao da economia brasileira.

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Tabela 2: Recessoes economicas nacionais e comportamento cıclico do setor da construcao, BR e UFs selecionadas,2004m1 a 2017m4

Tempo ICC-BR ICC-CE ICC-PE ICC-BA ICC-MG ICC-SP ICC-RS ICC-DF

A) Recessao brasileira de 2008-2009 (2008m7 a 2009m1)

abr/08 0 0 0 0 0 0 0 0mai/08 0 0 0 0 0 0 0 0jun/08 0 0 0 X 0 0 0 0jul/08 0 0 0 X 0 0 0 0

ago/08 0 0 0 X 0 0 0 0set/08 0 0 0 X 0 0 0 0out/08 X 0 0 X X X X 0nov/08 X 0 0 X X X X 0dez/08 X 0 0 X X X X 0jan/09 X 0 0 0 X 0 0 0fev/09 0 0 0 0 0 0 0 0

mar/09 0 0 0 0 0 0 0 0

B) Recessao brasileira de 2014 - ainda nao terminada (2014m3 em diante)

set/13 0 0 X 0 0 0 0 0out/13 0 0 X X 0 0 0 0nov/13 0 0 X X 0 0 0 0dez/13 0 0 X X 0 0 0 0jan/14 0 0 X X 0 0 0 0fev/14 X 0 X X X X X X

mar/14 X 0 X X X X X Xabr/14 X 0 X X X X X Xmai/14 X 0 X X X X X Xjun/14 X 0 X X X X X Xjul/14 X 0 X X X X X X

ago/14 X 0 X X X X X Xset/14 X 0 X X X X X Xout/14 X 0 X X X X X Xnov/14 X X X X X X X Xdez/14 X X X X X X X Xjan/15 X X X X X X X Xfev/15 X X X X X X X X

mar/15 X X X X X X X Xabr/15 X X X X X X X Xmai/15 X X X X X X X Xjun/15 X X X X X X X Xjul/15 X X X X X X X X

ago/15 X X X X X X X Xset/15 X X X X X X X Xout/15 X X X X X X X X

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Destarte, este estudo objetivou analisar os ciclos economicos do setor da construcao no Brasil e,

especificamente em Unidades Federativas (UF) selecionadas. Para tanto, foram criadas medidas

mensais que sumarizassem a dinamica da atividade economica do setor - os indicadores compostos

coincidentes da atividade da construcao. Os turning points destas series foram identificados atraves

do algoritmo Bry-Boschan, permitindo entao que a relacao entre os ciclos das diferentes unidades

observacionais fossem estudados.

Conclui-se que: i) apesar do grau de concordancia ser relativamente alto (88.2%, em media, no

perıodo analisado), existem heterogeneidades nos ciclos da construcao civil entre diferentes Regioes

Geograficas (e.g., Nordeste vs Sudeste e Sul); e ii) os ciclos na construcao civil sao, em geral, condi-

zentes com os ciclos economicos nacionais datados pelo Comite de Datacao de Ciclos (CODACE).

Embora nao seja um hipotese testada neste estudo, a heterogeneidade dos movimentos cıclicos

regionais na construcao civil podem derivar de choques economicos locais (como estiagens, por

exemplo), cujos efeitos, inicialmente observados no setor primario, podem perpassar para o setor

da construcao civil (e.g., Rio Grande do Sul em 2004-2005). Estudos futuros poderao analisar com

mais detalhes as origens e os determinantes da dessincronia cıclica da construcao civil em dife-

rentes unidades federativas, com enfoque nas caracterısticas economicas locais que possivelmente

condicionam o comportamento do setor ao longo do tempo.

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