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1 CICLOS: uma poéca de encontros entre a cerâmica e o mar

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CICLOS:uma poética de encontros entre a cerâmica e o mar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS

PROJETO DE GRADUAÇÃO

MARIA BELÉM ADAMS SCHERER

CICLOS:uma poética de encontros

entre a cerâmica e o mar

ORIENTADOR:

PROF.ME. CLÁUDIA ZANATTA

BANCA EXAMINADORA:

PROF.ME. RODRIGO NÚÑEZ

PROF.DRA. LAURA CASTILHOS

PORTO ALEGRE, JUNHO DE 2009.

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“O ser humano foi chamado de microcosmos pelos an-

tigos e com certeza o termo foi bem escolhido, porque

o ser humano é composto de terra, água, ar e fogo, da

mesma maneira que o é o corpo da Terra. Se o ser hu-

mano tem ossos como suporte e estrutura da carne, a

Terra tem rochas como suporte do solo; se o ser humano

carrega um lago de sangue, em meio ao qual o pulmão

se enche e se esvazia com a respiração, e a partir do qual

as veias emanam e se ramificam através do corpo, do

mesmo modo o oceano preenche o corpo da Terra com

uma infinidade de veias de água.” ¹

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SUMÁRIO

I. Primeiros Passos 5

II. Processo de Criação - fase inicial 8

III. Encontros com Artistas Encontros 11 O Encontro 12

IV. no Atelier, na Praia e na Galeria 15 Conclusão 21 Agradecimentos, Créditos e Curiosidades 23

Notas 25 Referências Bibliográficas 26

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Belém na praia - 1982

“O olhar de admiração do filósofo é parecido com

o olhar infantil: (...) um olhar espontâneo e irreverente.

O modo infantil de olhar está apto a enxergar

o que todos podem ver, mas não conseguem por causa

do hábito, do medo e da preguiça. (FEITOSA, 2004:30)

I. Primeiros Passos

Ainda não tinha estrutura física para me sustentar de pé quando tive o

primeiro contato com a areia, com o mar e com o ar úmido e salgado que dele

vem. A partir deste momento, todos os anos, no verão, voltei à mesma praia, à

mesma areia, às mesmas pedras e ao mesmo mar.

Lá, me sentia integrada ao meio. Todos aqueles espaços faziam parte

também do meu espaço interno. Aceitava as coisas como elas eram, como

aconteciam. Não pensava que algo podia ser diferente, as coisas simplesmente

eram como eram. Havia sim, uma curiosidade de saber como eram, mas não

por que eram.

Ao longo do tempo, escolhi alguns lugares nos quais me sentia melhor

para estar. Um destes locais que escolhi, ou que me escolheu, foi uma grande

foto

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pedra na costa. A grande pedra, ou “pedra-mãe”, no final da tarde, quando as

primeiras estrelas aparecem e a brisa do mar já refresca o ar, está quente do

sol que recebeu durante o dia. Ali encontro um berço e até a pedra se torna

macia, com seu calor e sua forma côncava.

Para chegar até ela, tenho que percorrer um caminho de outras, bem

menores. O contato dos pés nas pedras, cria estímulos sensitivos. Ao caminhar

sobre elas o corpo precisa estar em constante busca de equilíbrio, o que me

deixa mais presente e alerta. A cada ano, me sentia mais apta a percorrer a

costa, a pular de pedra em pedra, com os pés como garras, aderentes à super-

fície áspera.

Deitada na "pedra-mãe" vejo as gaivotas, os tesourões e as nuvens de di-

versas formas e cores. Virando a cabeça, em primeiro plano encontro a própria

pedra e logo atrás, o mar. A vida ali pulsa, intensa e com ritmo e a paisagem

muda a cada instante.

Detenho-me num recorte, numa parte daquela pedra, para mais detalhes

perceber. Identifico um aglomerado de grãos de diferentes cores e brilhos, que

se acomodam e se encaixam, formando inúmeros desenhos. E ainda, com o

toque, posso sentir sua textura e temperatura.

O mar, que em alguns momentos fica presente somente por seu som ao

fundo, noutros chama a atenção do olhar. E assim, elejo mais um recorte, onde

paro e mais um mundo se abre.

“Como um som puro ou um sistema melódico de sons puros

no meio de ruídos, assim um cristal, uma flor, uma concha

se destacam da desordem comum do conjunto

das coisas sensíveis.” (VALÉRY, 2007:95)

Assim, num ambiente vasto e complexo, como o que descrevo, a diversi-

dade é enorme e todos os sentidos ficam ativos, o que pode levar à dispersão.

Quando tudo quero ter e perceber ao mesmo tempo, busco um foco nos ob-

jetos, ou “pedaços de natureza” próximos. Estes fragmentos, ao se tornarem

o centro de atenção, tomam uma dimensão muito maior do que a que tinham

antes, em relação ao ambiente em que estão. Cada pequena parte passa a ser

percebida com grande riqueza de detalhes.

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recortes da paisagem - detalhes registrados em caminhadas em lugares diversos

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II. Processo de Criação

Fase inicial

Ao mesmo tempo em que tenho guardadas as vivencias aqui comenta-

das brevemente, na cidade, mais especificamente na universidade, no curso

de cerâmica, tento entender porque gosto de manusear o barro, criar formas e

solidificá-las. E ainda, quero encontrar um fim para elas, um destino e até um

porque de existirem.

Quando amasso o barro tenho consciência do meu próprio corpo. O con-

tato com a matéria me traz para o momento presente, aguça os sentidos e

deixa mais clara minha mente. Aos poucos deixo as formas surgirem, sem

planos, sem um objetivo final. Deixo o gesto ser espontâneo e o resultado uma

surpresa.

Uso a cerâmica como meio para a criação porque penso que ela traz em

si o contato com os elementos básicos e primordiais da natureza e por isso

também do ser humano e de todo o Universo. Como diz Katsuko Nakano, fa-

zendo cerâmica, participamos de movimentos de transformação. O que, acred-

ito, acontece involuntariamente, mesmo que não haja consciência do que se

move. “Fazendo cerâmica podemos, mais do que qualquer outra arte,

sentir,contatar e participar deste movimento perpétuo de transformação cósmica,

pois ela lida diretamente com os elementos que constituem o Universo:

Terra, Água, Ar e Fogo.” (Nakano, 1989:67)

“ (…) o artista lida, não somente com a matéria nos seus diversos

estados e nas suas transformações químicas

mas lida também com energias vitais.” (Nakano, 1989:67,69)

As primeiras formas, para a realização deste trabalho, se assemelhavam

a animais, principalmente pássaros, como mostram as imagens nas páginas

seguintes. Durante dois ou três semestres, eu os observava, esperando que

me comunicassem algo. Queria saber o que traziam de mim, o que faziam ali

existindo. Até que percebi que pertenciam a outro espaço, que eram parte das

minhas memórias em lugares onde vivi junto à natureza.

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Levei-os, então, para estes locais e logo tive a confirmação de que de lá

surgiram e que eu fui um canal para sua concretização. Assim, escolhemos,

eles, eu e tudo o que nos move, locais específicos para estar. E senti rapida-

mente a integração entre as peças e seus novos habitats. Acomodei-as junto a

troncos velhos, onde outras plantas crescem, às pedras perto e longe da água,

à areia e a terra. Fui experimentando misturar as peças cerâmicas aos micro-

climas que encontrava. Em alguns tive surpresas animadoras, pois mesmo sem

ter visualizado o local exato ao criar as formas, elas se integravam perfeita-

mente e pareciam já estar lá há anos. Estas (exemplos nas imagens abaixo),

que logo se misturaram à madeira, às plantas, às pedras, preferi não mais re-

mover de onde estavam.

Já, outras tentativas de integrar as peças a determinados micro-climas,

não funcionaram, aos meus olhos. Algumas mudei de lugar poucas vezes,

outras mais e outras ainda, inúmeras vezes, até ter certeza de que elas não

pertenciam àqueles espaços. Assim comecei a selecionar, fazer escolhas e

repetir o que parecia mais harmônico. Meu objetivo era que as peças ficassem

integradas, sem abalar ou desequilibrar um ambiente já existente a ponto de

promover um mimetismo, entre o que já existia ali e as peças cerâmicas criadas

por mim.

Ao observar as peças e intervenções que foram excluídas e as escolhi-

das, percebi que aquelas têm suas formas mais duras, mais racionais e menos

orgânicas. São peças figurativas, que tentam se expressar mais pela forma do

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que pelo gesto. Elas são fechadas e rígidas e com isso não se misturam e inte-

gram ao meio. Nas imagens abaixo é possível constatar que, mesmo com uma

busca de relações entre formas, cores e texturas, é evidente que foram coloca-

das nos lugares. E isto não me pareceu interessante, pela artificialidade. Aqui,

aparece a distância entre um fazer racional e o que já existe na natureza e tem

sua funcionalidade.

Assim, optei pelas peças que mais se mimetizaram ao ambiente. A partir

daí, criei novas relações entre elas e os elementos naturais escolhidos. E, para

que o que se criava em um lugar distante, pudesse ser visto por outras pes-

soas, desde o início, foram feitos registros fotográficos para uma posterior

apresentação.

Durante essas experiências, busquei constantemente, referências de ar-

tistas que pudessem trabalhar de forma semelhante ao que eu vinha fazendo,

para ter novas alternativas para o desenvolvimento do trabalho.

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III. Encontros com ArtistasEncontros

Franz Krajcberg, artista polonês que

se naturalizou brasileiro, cria em defesa da

natureza. Ele esculpe, com diferentes mate-

riais, a partir da observação ou utilizando os

próprios elementos naturais encontrados.

Homem que vive na e para a natureza,

procura, através de sua arte, chamar a atenção

do público para as belezas e principalmente

para o sofrimento da Terra,constantemente

destruída pelo ser humano.

Andy Golsworthy foi outra referência

importante, por trabalhar em comunhão com

a natureza. Sua sensibilidade e observação

nos detalhes que o cercam, permitem que

crie formas extraordinárias. Usando somente

suas próprias mãos e o que o ambiente onde

se encontra disponibiliza; cria esculturas,

sutis, vulneráveis ao tempo, usando folhas,

pequenos galhos, terra ou gelo. Ou mais re-

sistentes, com pedras, por exemplo.

No seu trabalho, o processo não é me-

nos importante do que o resultado final, o

qual é registrado por fotos e vídeos.

Andy Goldsworthy - Ice Spiral: Three Soul ³

Franz Krajcberg, escultura com 6 m de altura ²

“Meu trabalho é minha revolta, meu grito contra a barbárie que o Homem pratica.” ²

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O Encontro

Ao observar as fotos impressas para analisar o que já havia sido feito e

dar seguimento ao trabalho, tive uma feliz surpresa ao encontrar na internet

uma artista com a qual muito me identifiquei. Seu trabalho me mostrou o cami-

nho que eu procurava e que já estava ao meu alcance. Só precisei reconhecê-lo

para segui-lo.

O caminho para este encontro foram buscas na internet por artistas de

uma região de meus ancestrais que eu pretendia conhecer. Encontrei Lotte

Glob. Artista dinamarquesa, Glob vive há quarenta anos no norte da Escócia.

Seu trabalho acontece nas montanhas geladas, com ventos furiosos, onde pou-

cas pessoas resistem ao clima. Foi lá neste lugar selvagem, com pouquíssimos

habitantes e de difícil acesso que Glob escolheu para viver e criar.

The Ultimate Rock Garden

Nas imagens ao lado, constato

que a artista conhece muito bem o am-

biente onde vive e cria. Que conhece se-

gredos da alquimia da terra e seus ele-

mentos.

Parece-me que Glob materializa

suas visões, que completam a paisagem.

É como se as figuras criadas já existis-

sem nos lugares onde foram colocadas,

mas não eram visíveis às outras pesso-

as antes de serem materializadas pelas

mãos da artista.

E a composição ainda se torna

mais harmônica e integrada, pelo fato

das peças serem compostas pelos pró-

prios elementos naturais que as cercam

e sustentam.

The Ultimate Rock Garden

“A idéia de extender para além

do meu próprio jardim, para

dentro do grande espaço selva-

gem além da minha porta dos

fundos, pareceu inevitável.” 4

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Lotte Glob - Floating Stone Line

Balnakiel Beach 29 August 1992

Parte do trabalho da artista são intervenções onde a água atua direta-

mente nas peças. Como aparece nas imagens acima, Glob coloca estrategica-

mente as peças ao longo da praia, criando uma extensa linha, ou, em outras

ocasiões, círculos. O movimento das ondas do mar desconstrói o que foi feito.

Assim se estabelece um diálogo entre o ambiente natural e os objetos criados,

que são englobados pela paisagem.

A artista apresenta seu trabalho por meio de registros fotográficos, se-

guidos de relatos das experiências. Suas anotações se parecem com detalha-

dos relatos de viagem. Ela anota fatores como; o horário que aconteceu, como

estava o céu e o clima, quanto tempo a água levou para chegar até as peças e

o que foi acontecendo em seguida. Cada mínimo acontecimento é observado e

relatado.

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“Lua nova - 14h de um dia de sol brilhante - maré baixa,

quase vazia - quando começo a colocar 333 pedras flutuantes -

3/4 de um caminho na areia formando uma longa linha seguida

de uma curva na praia - como uma fileira - 416 pés de distância -

atravessando um pequeno riacho. - 16h a linha de pedras flutuantes

está pronta para a maré voltar (...) Maré grande movendo-se

excepcionalmente rápido - (...) uma performance começou -

pedras flutuantes - precipitando-se pelo ar, pela praia (...)”

Assim, a partir das fotos e dos relatos, a imaginação é facilmente desper-

tada. Lotte conta uma história diferente, onde descreve seus atos e principal-

mente a atuação da natureza a partir do que ela cria. É uma história diferente

por se passar num ambiente peculiar, onde a natureza é intensa e dominante.

E também por escolher horários inusitados, como da madrugada até o amanhe-

cer.

É claro perceber que a artista trabalha a favor da natureza, pois, o vento,

a chuva, o sol e/ou o mar que determinam como se dará o processo. Nada pode

ser absolutamente programado, pouco é possível prever. É o deixar acontecer,

deixar que forças exteriores determinem o destino, o andamento das coisas.

O ambiente onde vivi e que me inspira para a criação em arte não é hostil

e selvagem como é o de Glob. Mas também foram espaços isolados, onde é

possível estar em contato direto com a natureza. Nestes ambientes naturais,

desde criança, busquei refúgio, acolhimento e mundos diferentes.

Glob teve sua primeira experiência com cerâmica aos 13 anos de idade e

a partir daí seguiu, por toda sua vida, em contato com a matéria e técnica que

a envolve.

Fascinada por pedras, ela diz que isto é um instinto natural do homem,

que podemos observar nas crianças, que, em contato com a natureza, coletam

pedrinhas o tempo todo ou precisam de um contato com a terra e seus ciclos.

E que este contato é inato e imediato.

Foi o mesmo que vivi e senti. Gostava, além de coletar pedras, de estar

em contato com os elementos naturais e observar seus ciclos. Encontrei, então,

na cerâmica, uma maneira de resgatar este jeito de estar e sentir. E ainda, com

a técnica, desenvolver uma nova linguagem e uma nova forma de expressão.

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IV. No Atelier, na Praia e na Galeria

Na primeira fase do trabalho, levei as peças cerâmicas para o ambiente

natural escolhido (a praia), criei uma intervenção entre elas e o meio e efetuei

um registro fotográfico. A partir da observação do resultado desta etapa, junto

com sugestões de professores, achei importante buscar uma constante. Assim,

reduzi o campo físico da instalação e também as formas das peças.

No atelier procurei uma forma a partir de sensações, sem, no início, me

preocupar com o resultado. Assim procedi porque acredito que sem o julga-

mento da mente, a expressão se torna mais autêntica.

Desta forma, amasso o barro relembrando a paisagem, velha conhecida,

seu cheiro, suas cores e o meu estado, minha respiração, meus pensamentos

e tudo que me preenche e esvazia quando estou lá. E com as mãos em contato

com o barro, sem pretensão de definir qualquer forma, faço uma meia bola

oca. Como um pote, um recipiente.

Ao sentir esta forma nas mãos, me sinto mais próxima das sensações

que me passa o lugar lembrado. E, animada, começo a repetir o gesto. E ou-

tras parecidas vão surgindo. Tenho vontade de fazer várias, um conjunto, um

grupo, uma colônia, uma comunidade. Cada peça-indivíduo com sua própria

identidade. A curva da abertura (ou a boca) de cada uma as diferencia assim

como suas dimensões, sutilmente diferentes e suas tonalidades, devido ao uso

de argilas de cores distintas.

Depois de queimadas, levo as peças para a praia. Chegando lá, caminho

com elas nas mãos, em direção ao local visualizado enquanto as criava no ate-

lier e percebo que suas formas são semelhantes às encontradas na natureza

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de maneiras bastante diversas. Inevitavelmente passo a fazer associações entre

elas e os abrigos de animais que encontro. A forma arredondada, acolhedora,

protegida, de barro, de palha, de folhas, são ninhos, casulos, moradas, enfim.

Então, percebo que criei estas formas porque elas já estavam em mim, assim

como são correntes em toda a natureza.

Ao chegar no local escolhido, encontro um local específico para estarem.

Deixo-as lá e me distancio a ponto de poder observá-las integradas na paisa-

gem. Observo as mudanças de tonalidades das mesmas com o movimento do

sol, da luz do céu e do mar ou qualquer coisa que traga luz ou sombra ao local.

Pequenos animais das pedras da costa marinha passam próximos, ou mesmo

entram e se apropriam de alguma peça, como sua nova morada. A maré sobe

e de repente uma onda mais forte arrasta peças. Algumas permanecem, outras

rolam, viram e são acomodadas em outro lugar e outras ainda, são carregadas

pela onda para a imensidão do mar.

Cada uma das peças tem características próprias. As que se foram pro-

vavelmente nunca mais verei ou tocarei. Por um breve instante, sinto a dor da

perda. Mas logo me lembro que as criei e as coloquei num local de risco, ins-

tável e que era lá que deveriam estar. Assim me despeço e as deixo seguirem,

partes de mim que se desprendem. Imagino os lugares para onde poderão ser

levadas pelas águas ou por qualquer outro elemento que encontrarem em seus

caminhos. E imagino que nelas, estarei, participando, de forma indireta de to-

das suas experiências.

Procuro uma maneira de registrar as vivências descritas, de forma que

outras pessoas possam participar de alguma maneira. Num primeiro momen-

to, exploro a fotografia para este fim. Um campo novo para mim. Busco na

fotografia uma nova linguagem para expressão. Primeiro o equipamento e sua

técnica, depois as possibilidades que possui no meio onde a utilizo.

O primeiro aspecto na fotografia a explorar foi o recorte. A escolha pelo

local específico e o ângulo. O que fica em primeiro plano, onde deve estar o

foco, o que deve estar ao fundo, toda a disposição no quadrado. Depois a luz,

outro aspecto que altera consideravelmente as sensações que a imagem trans-

mitirá. Por isso, fotografei em diferentes horas e dias.

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Nas fotos, procurei sempre dar ênfase às peças cerâmicas. Para que apa-

recem suas texturas, as marcas das mãos que as modelaram e o granulado do

barro, com diferentes matizes. Pois, foi a partir do contato com o barro que as

memórias aqui contadas apareceram. As peças são o ponto de referência, são o

foco do trabalho, mas não estão em nenhum momento separadas do ambiente

em que estão inseridas.

Pensando em aproximar os espectadores do processo de trabalho, deci-

di, além das fotos, fazer filmagens. Estas, não tiveram influência no processo

da intervenção, mas adquiriram uma linguagem própria com significados pró-

prios. Ao fazer a filmagem e visualizar o resultado, tive uma nova experiência,

inesperada, que me despertou diversas questões.

As filmagens foram feitas com a câmera parada. Assim fiz a escolha de

um recorte específico na ampla paisagem. As peças cerâmicas foram incluídas

ao ambiente natural, nas pedras ou na areia da costa marítima. Algumas em

locais aonde a água chega, outras em pedras altas, onde o mar não pode alcan-

çar, semelhantes aos que aparecem nas fotos.

No primeiro dia de filmagem, me deparei com a maré alta. As pedras da

beira estavam cobertas pela água. Aquelas onde há mais vida, onde animais

constroem moradas, estavam submersas, aparecendo raramente, dependendo

do movimento das ondas. Assim, precisei me adaptar e não senti as peças tão

integradas ao meio quanto estavam há quatro meses atrás, quando tirei as fo-

tografias. Mas, as adaptações necessárias por causa da inconstância natural,

sempre podem trazer novas possibilidades e descobertas.

O filme escolhido para ser apresentado, tem seu espaço reduzido pelo

enquadramento estático. Em primeiro plano estão as pedras e as peças cerâ-

micas, em contraste à água do mar ao fundo, que se movimenta constante-

mente. A filmagem foi feita ao anoitecer e fiquei surpresa com a velocidade da

mudança de luz. No inicio, tudo que está enquadrado pela câmera, está bem

iluminado e visível e, em 11min, se passa a quase total escuridão.

Esses 11min podem parecer passar lentamente para quem espera de um

filme constante ação. Mas, se há disposição para parar e observar, neste tempo

muitas coisas acontecem no recorte reduzido.As ondas que vão e vem e as ve-

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zes quase alcançam as peças, mas ao contrário, logo se distanciam, deixando-

as estáticas. Ou a luz, que, em constante diminuição, altera as cores de todo o

quadro, fazendo com que a cada instante as formas se alterem no olho do es-

pectador. Enquanto alguns detalhes se sobressaem, outros são apagados pelas

sombras que se criam.

O enquadramento estático e o movimento que há dentro desse recorte

são como uma janela. Os movimentos que acontecem dentro desses limites,

se apresentam interrompidos, sem inicio nem fim. Temos uma parte bastante

reduzida dos acontecimentos no ambiente onde ocorreu a instalação, o que

propicia dar atenção aos detalhes, aumentando as percepções através de um

olhar mais minucioso.

Isso me remete ao personagem Palomar, de Ítalo Calvino. No livro “Pa-

lomar”, ele faz exercício semelhante ao reduzir o campo de observação das

ondas com sua própria imaginação.

"O senhor Palomar procura agora limitar o seu campo de observação;

se ele considerar um quadrado, digamos, de dez metros de mar,

pode fazer um inventário completo de todos os movimentos de ondas

que ali se repitam com variadas freqüências, num dado intervalo de tempo."

(PALOMAR, 2002: 13)

O recorte do campo de visão, a limita, para proporcionar a ampliação das

percepções. Quando assisto ao filme, percebo novos detalhes e depois disso,

imagino o entorno. A imaginação quer ver além dos limites dados pela tela.

Assim é possível criar novos cenários, ou até histórias que continuam além do

ponto visível.

Quando faço uma fotografia estou congelando uma imagem e o mesmo

acontece nos filmes em que a câmera está parada, mas neste caso, uma se-

qüencia de imagens são congeladas. Enquanto todas as coisas vivas são imper-

manentes, estes registros procuram eternizar um momento.

"KÊN / A QUIETUDE (MONTANHA) ...

as coisas não podem se mover incessantemente; é preciso fazê-las parar.(...)

Quietude significa deter-se." (WILHEM, 1989:162)

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A foto ou o filme tornam momentos permanentes. Em contrapartida, o

olhar do espectador é transitório, varia a cada vez ou a cada instante em que

está a observar.

Como os escritores, que pelas palavras, transportam seus leitores para

outros mundos, pretendo, através de imagens e sons, estimular os espectado-

res há criarem seus próprios cenários. Apresento na galeria, os registros da

instalação realizada ao ar livre para que as sensações se manifestem a partir de

vivências únicas de cada pessoa.

Relaciono este processo ao da leitura porque quando, por exemplo, leio

a maneira como o personagem Palomar, de Italo Calvino, vê o mar, tenho uma

nova visão sobre o mar que conheço e que muito já observei. As questões que

surgem para ele, pela observação de si em relação ao ambiente em que está,

me sensibilizam, principalmente, porque a maneira como é escrito é capaz de

me transportar à lugares e situações que já vivi.

“... quando se espera que a onda role sobre o tapete, verifica-se

que já não há onda, mas somente o tapete,e mesmo este

desaparece rapidamente, tornando-se uma cintilação

de areia molhada que se retira veloz...” (CALVINO, 2002:12)

Ao ler, faço uma conexão direta com o que conheço e novos pontos de

vista sobre um espaço e movimentos que o envolvem, se criam. As experiên-

cias contadas se somam e as maneiras de ver uma mesma paisagem são infini-

tas. Assim também pretendo mostrar um pouco do meu olhar sobre um espaço

e o diálogo que crio com o mesmo através da construção e colocação de peças

cerâmicas. E no momento que faço isto, o meu próprio olhar também já se

modificou.

Para apresentar o trabalho na galeria, neste momento, levarei algumas

fotografias e um vídeo de 11min. As fotos serão colocadas de maneira que o

espectador precise se movimentar e mudar sua postura para conseguir enxer-

gar algumas das imagens. Isso para remeter ao que experimentei para fazer a

intervenção e as próprias fotos. Da mesma forma como precisamos estar para

podermos perceber os detalhes à nossa volta.

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Conclusão

Assim como não há um início claramente determinado para o trabalho

presente, este também aqui não termina. Ele fecha um ciclo por passar pelas

etapas que levam da idéia à criação e desta à exposição ao público. Desta for-

ma, um ciclo se completa, para que outro se inicie, dentro da grande roda da

vida.

Durante o desenvolvimento do trabalho novas idéias nasceram, sugerin-

do sua continuidade. No processo há muito por explorar. Mas tudo tem seu

tempo e as novas possibilidades ficam registradas, para serem testadas e de-

senvolvidas em seguida.

Em paralelo à prática, há uma busca por artistas e movimentos de arte

que tratam a questão da instalação fora das galerias e dos museus. A pesquisa

seguirá pela observação do que foi feito ao longo deste trabalho juntamente

com as leituras dos textos que tratam estas questões. Como na Land Art, Site-

Specific, Site, Non-Site, Arte Ambiente, etc., quando os trabalhos são feitos em

ou para ambientes externos. Alguns textos escolhidos para o seguimento da

pesquisa estão citados nas referências bibliográficas.

Apresentar partes dos processos acredito que enriquecerá o trabalho.

Desde, provavelmente a adolescência, que escrevo sobre sensações, sonhos,

dúvidas, desejos, emoções, em caderninhos. E, além disso, nos mesmos cader-

ninhos, ainda escrevo frases de livros que leio, receitas culinárias, lembretes do

que devo fazer no dia seguinte ou no próximo ano. Geralmente, cada vez tenho

pelo menos três caderninhos rolando pela casa com anotações diversas.

Há uns dois anos, decidi colocar vários deles no lixo. Na época achei

que seria uma maneira de me desprender de um passado que não queria mais.

Hoje, quando leio um caderno da Marlies Ritter, que acompanha sua mostra

“Sem Título” , volto a dar valor aos poucos caderninhos que ficaram. No seu

texto ela mostra o que a acompanha no seu processo de criação com cerâmica.

Os fazeres e os sentimentos do seu dia-a-dia.

Porque, enquanto trabalhamos, vivemos. Como diz Andy Goldworsthy:

“Arte não é uma profissão, é vida” . O que já foi e o que está sendo vivido,

influenciará diretamente no resultado do trabalho. Então porque não deixar

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aparecer o que o acompanha e o forma?

O valor de cada coisa depende de como a olhamos e tratamos. Procuro

o que está escondido, o que não é claramente visível ou facilmente captado.

Aquilo que se mistura sem perder sua identidade.

No trabalho presente, apresento algumas fotos e um vídeo. Tanto no

texto quanto nas imagens, o processo aparece apenas superficialmente. Uma

alternativa a explorar são palavras dialogando com as imagens, como forma de

trazer o processo. Mostrar o que se esconde, dar um novo valor ao que parece

mais simples e comum.

Pretendo, também, criar formas que possam ser fixadas nas pedras da

praia ou em outras superfícies a escolher. Pois no trabalho presente, a maioria

das peças logo foram arrastadas pelas águas. Com elas fixas, bem encaixadas

nas irregularidades da superfície, ou maiores, para terem mais peso, devem

permanecer mais tempo nos lugares. Com isso será possível observar as mu-

danças do tempo. Como a cerâmica se comporta e como o entorno a engloba.

A partir das fotos e principalmente da filmagem apresentada, se ob-

servou a influência da luz do sol. As diferentes nuances, as mudanças de cor

e suas intensidades ao longo do dia. Assim, há agora a intenção de trabalhar

em diversos horários e estações do ano. Com isso, além da luz, será possível

observar sons e movimentos da natureza específicos de cada momento. E com

estas observações e estudos, voltar a amassar o barro, para que um novo ciclo

se inicie.

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Créditos, Agradecimentos e Curiosidades

No último mês antes da entrega do trabalho, busquei lembrar e identificar o que no

trabalho resultou de sugestões de outras pessoas. Achei importante dar-lhes crédito e assim

aqui escrevo algumas que contribuíram consideravelmente no processo.

Quando ainda buscava um assunto a tratar, levei um pequeno texto e algumas peças

para o professor Rodrigo Núñez. Falei que para desenvolver a pesquisa, partiria do caos, que

queria criar de forma totalmente espontânea, sem interferência da mente. O Rodrigo, então,

falou que minhas peças não pareciam espontâneas, mas que tinham uma estrutura e que mi-

nha idéia de partir do caos devia ter surgido da não clareza do que eu queria. E ele tinha toda

a razão, eu realmente estava confusa.

Agradeço também ao Rodrigo, por sempre me incentivar a deixar aparecer no trabalho

minhas características pessoais e minha história de vida. Isto foi muito importante para que eu

me entregasse e me envolvesse com o meu propósito com vontade e confiança. E também por

me sugerir, na pré-banca, conhecer Marlies Ritter, artista que através de seu trabalho, me deu

novas alternativas para o prosseguimento do meu.

E, ainda na pré-banca, à professora Laura Castilhos ao pedir que eu prestasse atenção

para não deixar que na exposição, meu trabalho se parecesse com uma vitrine de venda de

viagens. O que me fez concluir que meu trabalho podia passar impressões muito diferentes

para cada espectador.

Agradeço à professora Teresa Poester, que desde o inicio, mesmo longe, ficou horas

comigo ao telefone me incentivando e dando dicas e referências. Uma dica importante foi a de

buscar uma constante, quando eu já tinha buscado muitas alternativas e era hora de reduzir

e direcionar a pesquisa com foco. Agradeço ainda à Teresa por me disponibilizar seus livros e

por sugerir que eu utilizasse diferentes mídias. E pela delicadeza de perceber minha maneira

de ser e me incentivar a deixar o trabalho com a minha cara.

Agradeço à minha mãe e à minha irmã, que num final de semana que chovia muito

muito muito, aceitaram pegar quase 500km de estrada comigo porque eu dizia que precisava

fotografar na praia naqueles dias, confiando na previsão do tempo que indicava que a chuva

ia parar. E surpreendentemente a previsão se confirmou e o sol até espiou. Naquele momento

fiz as primeiras intervenções e registros. Neste dia era meu aniversário e o resultado foi um

grande presente. Tive certeza que por ali eu queria seguir.

Agradeço ainda à minha mãe por, alguns meses depois, também me acompanhar e

acordar comigo antes do sol nascer para me ajudar a carregar as peças, câmera e tripé até a

praia. Pelo seu companheirismo e por sempre acreditar nas minhas experiências.

E ainda à Flora, por achar lindo o que faço e por querer que o cenário das apresentações

de dança dela seja feito por mim, baseado neste trabalho.

Agradeço à Cris Burger, que me apresentou o trabalho de Andy Goldsworthy e à Evânia,

que me apresentou o de Franz Krajcberg. E ao Carlinhos, que há anos atrás, me vendo modelar

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das primeiras peças que fiz em cerâmica, disse que eu levava jeito pra coisa e realmente apre-

ciou o que eu fazia.

Agradeço ao Estevan por me emprestar sua câmera fotográfica e por sempre me tran-

quilizar. E ao Luis, por me emprestar seu tripé. E a Fernanda por me dar boas dicas e me ajudar

a formatar o texto.

Agradeço ao Carlos, por quem me desloquei até a Escócia. E agradeço à deus, por não

ter encontrado Carlos, mas ter descoberto o trabalho de Lotte. E por conta da viagem ter troca-

do e-mails com ela e recebido um importante e raro livro seu. Esta que se tornou minha grande

mestra. E agradeço ao Bola.

Agradeço à professora Cláudia Zanatta pela sua disponibilidade e dedicação. Por me

fazer acreditar. Pela maneira como me conduziu para que eu me organizasse para escrever.

Pela sugestão do subtítulo, que já ao final não conseguia criar e que me apropriei, porque nele

ficou claro o sentido do trabalho. Pelo respeito à mim e ao meu trabalho. Pela sua delicadeza.

Agradeço também aos meus dois pais, Gerson e Pena, que desde pequena me ensina-

ram a escutar e a amar a natureza e a arte.

E, ainda, agradeço à mim, por ter escutado todas estas pessoas e ficado só com o que

me falou ao coração.

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Notas

1. “Man was called the microcosmos by the ancients, and surely the term was well chosen; for just as man

is compused of earth, water, air, and fire, so is the body of the earth. As man has bone as support and

framework for the flesh, so the earth has rocks as support for the soil; as man carries a lake of blood in

which the lungs inflate and deflate in respiration; as the veins emanete from the lake of blood and are

ramified throughout the human body, in the same way, the ocean fills thebody of the earth with an in-

finity of veins of water.” disponível em: http://tinyurl.com/mahulm, acessado em 21 de junho de 2009,

tradução livre da autora

O texto original, por Leonardo da Vinci, está no Códice Atlântico, que se encontra na Biblioteca Ambro-

siana, em Milão

2. disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/eventos/conteudo�395760.shtml, aces-http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/eventos/conteudo�395760.shtml, aces-

sado em 15 de abril de 2009

3. disponível em: http://www.morning-earth.org/ARTISTNATURALISTS/AN�Goldsworthy.html, acessado

em 10 de abril de 2009

4. “The idea of extending beyond my own garden into the great wildrness at my back door seemed inevi-

table.” disponível em: lotteglob.co.uk, acessado em 15 de maio de 2009 tradução livre da autora

5. disponível em: lotteglob.co.uk, acessado em 21 de março de 2009

6. “New moon - 2 PM on a bright sunny day -tide low, almost out - when starting to place 333 floating

stones - ¾ way out on the sand in a long line following the curve of the beach - like a string of beads - 416

feet long - crossing a small stream. - 4 PM the floating stone line ready for the tide to turn (...) Big tide

moving exceptional fast - (...) a performers started - flying stones - hurtling through the air, towards the

shore (...)” disponível em: lotteglob.co.uk, acessado em 15 de maio de 2009 tradução livre da autora

7. caderno da artista Marlies Ritter que acompanha a mostra “Sem Título”, na galeria Bolsa de Arte, em

Porto Alegre, em 2009

8. “Art is not a career, it�s life” disponível em: http://www.youtube.com/watch?v�3TWBSMc47bw aces-“Art is not a career, it�s life” disponível em: http://www.youtube.com/watch?v�3TWBSMc47bw aces- disponível em: http://www.youtube.com/watch?v�3TWBSMc47bw aces-http://www.youtube.com/watch?v�3TWBSMc47bw aces-

sado em 24 de abril de 2009, tradução livre da autora

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Referências Bibliográficas

livros

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NAKANO, Katsuko, Terra Fogo Homem. São Paulo: Editora Oriento, 1989.

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WILHELM, Richard. I Ching: o livro das mutações. São Paulo: Editora Pen-samento, 1989

O�DOHERTY, Brian. No Interior do Cubo Branco. São Paulo: Martins Fontes, 2002

FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. São Paulo: Ediouro, 2004

VINCI, Leonardo, CHASTEL, Andre e CALLMANN, Ellen. Leonardo on art and the artist: Dover Publications, 2002disponível em: http://tinyurl.com/mahulm, acessado em 20 de junho de 2009

catálogo

TUCHMAN, Maurice e ELIEL S., Carol. Visiones Paralelas: artistas modernos y arte marginal. Madrid: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, 1993

caderno

RITTER, Marlies. Sem título. Porto Alegre: Bolsa de Arte, Camila Kieling Marta castilhos Editoras Associadas, 2009

textos

Arte Contemporânea e Natura: a expansão do território do museu.disponível em: http://www.forumpermanente.org/ acessado em 29/03/2009

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leituras para o seguimento da pesquisa

KRAUS, Rosalind. A escultura no campo expandido.disponível em: http://www.artpublica.com/textos/Krauss01.pdf acessado em 15 de junho de 2009

KWON, Miwon. One Place after Another: Site-Specific Art and Locational Iden-tity. Cambridge: MIT Press, MA, 2002.

SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996

CARERI, Francesco. Walkscapes. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002