Cidade, corpo e deficiência: percursos e discursos possíveis na experiência urbana

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Regina Cohentese de doutorado: Cidade, corpo e deficiência: percursos e discursos possíveis na experiência urbana.Instituto de psicologia da UFRJ2006

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    iiCIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    Regina Cohen

    CIDADE, CORPO E DEFICINCIA: Percursos e Discursos Possveis na Experincia Urbana

    RIO DE JANEIRO Maio de 2006

    Tese de Doutorado apresentada como parte dos requisitos necessrios para a obteno do ttulo de Doutor em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social no Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientadora: Maria Incia D'vila Neto Co-Orientadora: Ceclia de Mello e Souza

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    Cohen, Regina,

    C678 Cidade, corpo e deficincia: percursos e discursos possveis na

    experincia urbana/ Regina Cohen. - Rio de Janeiro: EICOS/IP/UFRJ,

    2006.

    xiv+207 il.; 30cm.

    Orientadora: Dra Maria Incia Dvila Neto. Tese (doutorado) - UFRJ/EICOS/ Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social, 2006. Referncias bibliografias: f.247-60.

    1. Cidade, 2.Espao Urbano, 3. Deficiente fsico. 4. Corpo 5.Percepo. 6. Percurso, 7. Experincia Urbana. I. Dvila Neto, Maria Incia. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia, Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social. III. Ttulo.

    CDD 300

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    Regina Cohen

    RIO DE JANEIRO

    Maio de 2006

    Tese de Doutorado submetida como parte dos requisitos necessrios para a obteno do ttulo de Doutor em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social no Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Incia D'vila Neto Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social Eicos/UFRJ

    Co-Orientadora: Profa. Dra. Ceclia de Mello e Souza Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social Eicos/UFRJ

    Profa. Dra. Rosa Maria Ribeiro Pedro Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social Eicos/UFRJ

    Profa. Dra. Cristiane Rose de Siqueira Duarte Programa de Ps-Graduao em Arquitetura Proarq/UFRJ

    Prof. Dr. Paulo Afonso Rheingantz

    Programa de Ps-Graduao em Arquitetura Proarq/UFRJ

    Profa. Dra. Gleice Virginia Medeiros de Azambuja Elali Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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    MARIA INCIA,

    O que dizer para minha orientadora?

    Voc esteve presente o tempo todo mostrando as incoerncias,

    ajudando e apontando caminhos e percursos possveis. Sei que

    no foi fcil e, mesmo no tendo demonstrado, me lembro do

    seu entusiasmo quando consegui definir minha metodologia e

    novas perspectivas para a pesquisa.

    Voc batalhadora e te admiro muito como pessoa, intelectual

    e pesquisadora. Como orientadora me guiou nas leituras, me

    emprestou muitos livros e referncias e acompanhou mais de

    perto na reta final a grande dificuldade de concluir o trabalho.

    Suas contribuies foram muito importantes e espero que

    consigamos escrever alguns artigos juntas, comemorar vida

    como voc fez um dia e planejar novas empreitadas.

    Tenho um grande carinho por voc e mais do que profissional

    quero t-la como uma grande amiga.

    BON COURAGE!

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    CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    Que cidade esta, em que tantos vivem, mas que s voc vive, que s voc v?

    sua a cidade dos que olham para cima? sua a cidade dos que olham para o cho, para as caladas, para os degraus? Ou a cidade dos que

    no olham, dos que no vem? A sua a cidade em que a barriga pesa at libertar uma nova vida, ou

    aquela em que no se pode falar em barriga? Conte como a cidade dos que se doem de amor e a das para quem o

    ato de amar di. Vamos ler a cidade dos que ouvem outros sons e a dos que no ouvem

    som algum. A dos que tocam sons que no se ouve e a dos que no emitem sons.

    Como a sua cidade, se sua cidade sua cor? Como sua cidade, encoberta pelo olhar viciado do quotidiano,

    escondida pela indiferena ou apenas tmida, recndita: cidade invisvel.

    www.orkut.com Comunidade As Cidades Invisveis.

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    DEDICATRIA

    Uma dedicatria especial para minha irm querida que se estivesse aqui estaria muito feliz torcendo por mais este passo.

    Sinto saudades!

    A voc mana eu dedico esta tese.

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    Na minha cidade eu consigo caminhar, mesmo sobre as rodas da minha cadeira. No encontro buracos, degraus ou pedras. As caladas

    so lisas e macias. Existem rampas em todas as esquinas. Na minha cidade as ruas no morreram, so alegres e cheias de rvores com pssaros. Tem informaes para quem no ouve e

    consegue orientar quem no v. A minha cidade fica no Brasil, mas existe apenas nos meus sonhos.

    Regina Cohen. A Cidade do meu Movimento.

    www.orkut.com Comunidade As Cidades Invisveis.

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    AGRADECIMENTO ESPECIAL

    PARA CRISTIANEAlgum muito especial me ajudou durante todo este processo dando

    fora e fazendo valer a pena chegar at aqui. Iniciei minhas pesquisas e

    a vida acadmica sempre estimulada por ela. Esta pessoa se chama

    Cristiane Rose de Siqueira Duarte e a ela devo algumas palavras de

    gratido.

    Cristiane foi colega de turma na Faculdade de Arquitetura, orientadora

    de mestrado, cmplice e sempre amiga. Depois de formadas nos

    afastamos e algum tempo depois nos reencontramos para trabalhar

    juntas no Ncleo Pr-Acesso da UFRJ.

    Amiga,

    difcil te agradecer por tudo que tem representado na minha vida.

    Admiro voc pela competncia, inteligncia e pelo carinho que tem

    pelas suas orientandas e alunas. Como senti sua falta nos momentos

    mais difceis deste caminho quando queria te consultar, te mostrar o

    andamento do meu trabalho, dirimir as muitas dvidas, angstias e

    inseguranas quando voc partilhou um pouco das minhas ansiedades.

    Estou emocionada e triste ao mesmo tempo porque agora sinto aquele

    vazio de concluir uma tarefa muito importante para a qual voc foi a

    grande motivadora e por ter a honra de te encontrar sempre por perto

    como uma grande amizade que no quero que se acabe nunca.

    Vamos comemorar muito e sempre porque so estas manifestaes de

    afeto que nos fazem crescer e sentir o prazer de ir sempre mais

    adiante.

    Muito Obrigado!

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    AGRADECIMENTOS

    No tenho muitas pessoas mais para agradecer, mas algumas foram bastante

    especiais. Durante as crises e a vontade de quase desistir pude contar com meu

    grande amigo e terapeuta Jorge, aconselhando, animando e fazendo ir em frente.

    Teve pacincia e foi quem mais verdadeiramente acreditou que eu conseguiria

    chegar at aqui e vencer.

    minha querida bolsista e estagiria Monique do Ncleo Pr-Acesso da UFRJ devo

    desculpas pelas exigncias e ausncias e agradeo pela grande tarefa de fazer os

    quadros e tabelas desta tese. Gosto muito de voc!

    Ethel, minha amiga querida. Obrigado pela linda capa, pelo apoio moral e pela

    torcida. Tenho um grande carinho por voc, sou sua f incondicional, te admiro

    muito e quando crescer quero ter toda esta competncia e ser como voc.

    No posso deixar de mencionar a Ceclia, para quem no sei o que dizer porque ela

    se sentia bastante acanhada na tentativa de ajudar, no sabendo como poderia

    desempenhar este rduo papel de ser co-orientadora. Obrigado por suas mensagens

    de apoio e pelos comentrios importantes que fez sobre o copio.

    Rosa Pedro, com voc tudo comeou quando fez minha entrevista para admisso no

    doutorado. Dali em diante, sempre te encontrava sorrindo em meio qualquer

    crise, inclusive na minha qualificao, o que servia para acalmar a todos em volta.

    Na vida acadmica agradeo a Paulo Afonso com quem tenho a honra de trabalhar

    na mesma sala e pedir alguns conselhos acadmicos e pessoais. Gleice que tambm

    faz parte da banca examinadora uma nova amizade que tenho certeza ir crescer

    e render muitos frutos.

    A Mariana, tambm bolsista, espero que no fique dando tantas desculpas. Agora

    vou te cobrar porque confio no seu potencial como estagiria e pessoa, desde que

    haja empenho.

    Ficou faltando o importante agradecimento a todos os participantes da pesquisa e

    dos percursos comentados: Ednilson, Evangel, Zenira, Vander, Chiquinho, Valmir,

    Lobo, Rita, Elane, Maruf, Tnia, Cludio, Estela, Heloisa, Maringela, Welington,

    Wesley e Valria. Sem cada um de vocs no haveria a pesquisa.

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    RESUMO

    ABSTRACT Introduo Apresentao do Tema 1

    1. Objeto de Estudo 7 2. A Problemtica e as Questes Centrais 11 3. Hipteses de Trabalho 13 4. Objetivos 14

    5. Jean-Paul Thibaud 15 6. Percursos e Itinerrios pela Cidade O Mtodo como Fundamentao. 18 7. Outros autores 21 8. O Corpo Deficiente 24 9. O Corpo Deficiente no Ambiente Urbano 26

    10. As Categorias de Anlise 30 11. Outros Conceitos Importantes 35

    12. As Pessoas com Deficincia 40 13. O Corpo Deficiente atravs da Histria 45 14. As Pessoas com Deficincia e o Desenvolvimento Sustentvel 59 15. Pessoas com Deficincia, Sustentabilidade e Acessibilidade no Brasil. 63

    16. Sobre os Ambientes Urbanos 73 17. Corpo, Ambiente e Movimento Motricidade e Mobilidade 74

    17.1 Percepo, Cognio e Experincia Urbana 80 18. Ambientes, Espaos e Lugar 85

    18.1 Corpo Deficiente situado no Espao Identificao com os Lugares 89 19. Ambientes Sensveis, Percepo Situada e Acessibilidade 94

    20. A Busca de um Caminho Metodolgico 103 21. A Perspectiva do Usurio 103 22. Caminhos Metodolgicos Percursos Comentados O Mtodo de Jean-Paul Thibaud 105

    SUMRIO

    PARTE II FUNDAMENTAO TERICA E CONCEITUAL:

    PARTE I ESTRUTURA DA TESE:

    PARTE IV AS PESSOAS COM DEFICINCIA:

    PARTE V AS PESSOAS COM DEFICINCIA E AS AMBINCIAS URBANAS:

    PARTE III CATEGORIAS DE ANLISE E OUTROS CONCEITOS IMPORTANTES:

    PARTE VI METODOLOGIA O CORPO DEFICIENTE CAMINHANDO PELAS RUAS DA CIDADE:

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    22.1 Anlise do Contexto das Pessoas Pesquisadas 22.2 Definio dos Espaos de Pesquisa 22.3 Os Percursos Realizados 22.4 Entrevistas 22.5 Foto e Vdeo

    23. O Roteiro da Pesquisa 23.1 Primeiro Passo Percursos Comentados 23.2 Segundo Passo Entrevista

    23.2.1 O Percurso 23.2.2 A Cidade como um todo

    24. As Limitaes da Pesquisa

    25. A Pesquisa de Campo 26. A Cidade Percebida Os Percursos Comentados

    26.1 A Necessidade de uma Contextualizao 26.2 A Cidade de Salvador

    26.2.1 O Percurso na Estao da Lapa 26.3 A Cidade de Juiz de Fora

    26.3.1 O Percurso na Avenida Independncia 26.4 A Cidade do Rio de Janeiro

    26.4.1 O Percurso no Bairro de Ipanema 26.4.2 O Percurso no Calado de Campo Grande 26.4.3 O Percurso no Bairro da Lapa 26.4.4 O Segundo Percurso no Bairro de Ipanema 26.4.5 O Percurso no Largo da Carioca 26.4.6 O Percurso no Bairro da Tijuca A Praa Saens Pea.

    26.5 O Distrito Federal ou a Capital do Pas Braslia 26.5.1 O Percurso na Esplanada dos Ministrios

    27. A Anlise dos Percursos e dos Discursos

    27.1 A Cidade Vivida 28. Corpo, Ambiente e Movimento nas Cidades Pesquisadas Deficientes?

    28.1 As Categorias de Anlise 29. Cidades Possveis

    PARTE VII AS PESSOAS COM DEFICINCIA POR ELAS MESMAS A DESCRIO DOS PERCURSOS:

    PARTE VIII ANLISE E AVALIAO DOS DADOS: 160

    CONCLUSES 186

    161 163 171 174 179

    121 122 123 124 125 130 130 133 135 137 141 145 149 152 156 158

    108 111 112 114 115 116 117 117 117 117 118

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    LISTA DE SIGLAS 206

    LISTA DE GRFICOS 206 LISTA DE TABELAS 206

    LISTA DE QUADROS 207 LISTA DE FIGURAS 207

    BIBLIOGRAFIA 191

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    RESUMO

    Regina Cohen

    Palavras-chave: corpo, deficincia, cidade, espao urbano, percepo em movimento, percurso, experincia urbana.

    CIDADE, CORPO E DEFICINCIA: Percursos e Discursos Possveis na Experincia Urbana

    A presente pesquisa aborda a utilizao e apropriao do ambiente segundo o caminhar de

    pessoas que possuem uma deficincia ou mobilidade reduzida. Trata-se de uma abordagem

    interdisciplinar da percepo ambiental que leva em conta a dimenso intersensorial da

    experincia urbana e os sentimentos. Esta investigao adotou o mtodo dos percursos

    comentados de Jean-Paul Thibaud, para quem, as caractersticas do local so analisadas, na

    maior parte do tempo, em termos de situaes ou de um determinado contexto espacial e

    temporal. Se para o autor, perceber envolve um conjunto sensorial que afetado pelo tipo de

    mobilizao perceptiva ao qual ele d lugar, para esta tese, ser este caminhar que nos

    mobilizar para o entendimento da relao entre corpo, cidade e deficincia e de percursos e

    discursos possveis na experincia urbana. A anlise da percepo ambiental de pessoas com

    deficincia ou com mobilidade reduzida foi realizada no contexto de quatro cidades brasileiras:

    Rio de Janeiro, Salvador, Juiz de Fora e Braslia. Os dados obtidos nos permitem apontar para o

    paradoxo existente entre as cidades percebidas e as vividas pelas pessoas pesquisadas atravs

    das sensaes. A falta de identificao destas pessoas com os lugares tambm demonstrou

    como elas no conseguem se apropriar deles e desenvolver o sentimento de pertencimento

    sua cidade ou de sua experincia urbana. Mesmo assim, as cidades despertaram laos afetivos,

    revelando a expresso de uma ambincia sensvel.

    Orientadora: Maria Incia D'vila NetoCo-Orientadora: Ceclia de Mello e Souza

    Resumo de Tese submetida como requisito parcial para a obteno do ttulo de Doutor em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social no Programa de Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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    ABSTRACT

    Regina Cohen

    Keywords: body, disability, city, urban space, perception in movement, route, urban experience.

    CITY, BODY AND DISABILITY: Possible Routes and Speeches in the Urban Experience

    This dissertation outlines how people with disability or reduced mobility use and appropriate

    urban environment. Our aim is to develop an interdisciplinary approach of the environmental

    perception and to take into consideration the intersensorial dimension of the urban experience

    and the feelings. For our investigation, we have adopted the method of annotated routes by

    Jean-Paul Thibaud, for whom local characteristics are analyzed, mostly, in terms of situations or

    on a specific spatial and temporal context. If the author understands perceiving as an

    embodiment of sensorial elements affected by the type of perceptive mobilization, in this thesis it

    is this movement that allows the understanding of the relation among city, body and disability and

    of possible routes and speeches in the urban experience. The analysis of the urban perception of

    people with mobility difficulty is based on data collected in four Brazilian cities: Rio de Janeiro,

    Salvador, Juiz de Fora and Braslia. It reveals a paradox between people with disabilities

    perceived city and the cities experienced through their sensations. The lack of identity people with

    disability have towards the analyzed places has also demonstrated that they cannot improve their

    sense of belonging and appropriation of the city and their urban experience. Even though, cities

    can give good feelings such as affect, showing the expression of an ambiance.

    Advisor: Prof. Dr. Maria Incia D'vila NetoCo-advisor: Ceclia de Mello e Souza

    Abstract of the Thesis submitted as partial requirement for the obtainance of the degree in Doctor in the Program of Communities Interdisciplinary Studies and Social Ecology of the Psychology Institute at the Federal University of Rio de Janeiro.

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    INTRODUO APRESENTAO DO TEMACIDADE, CORPO E DEFICINCIA.

    possvel ir mesmo mais longe ainda e indagar se a relao existente entre o narrador e sua matria, a existncia humana, no assume tambm um carter

    artesanal; se sua tarefa no se resume exatamente em trabalhar a matria-prima das experincias prprias e estranhas de forma slida, til e nica?.

    Walter Benjamin. O Narrador. 1969: 80.

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    Fig 1: O corpo

    Fonte: www.germinaliteratura.com.br/almandrade

    Fig 2: O corpo deficiente em movimento

    Fonte: Henri-Jacques Stiker

    Esta tese far uma reflexo sobre a locomoo e sobre a

    motricidade, tendo como objetivo principal o entendimento dos

    percursos e itinerrios cotidianos realizados pelo corpo

    deficiente. Foram analisadas as diversas formas de caminhar,

    perceber e descrever os ambientes urbanos e demonstraremos

    estas maneiras de agir, sentir, viver e conhecer esses

    ambientes que levam a pessoa a apropriar-se das cidades para

    a elas pertencer.

    Mais do que assumir o papel do narrador de Walter Benjamin,

    foi investigada a realidade vivida por Pessoas com Deficincia

    nas cidades, suas sensaes, sua percepo e seu corpo

    situado nos ambientes.

    Os quatro primeiros captulos, que formam a primeira parte da

    tese, apresentam a maneira como foram estruturados o objeto

    de estudo, objetivos e hipteses de trabalho, a problemtica e

    as questes centrais.

    Para analisar os percursos e discursos, foi feito o levantamento

    da teoria existente sobre ambientes como lugares de ao e de

    sensaes e de questes relacionadas ao corpo, motricidade

    que o une ao seu ambiente sensvel, sua mobilidade urbana

    e percepo situada no contexto de algumas cidades.

    A parte II apresenta a fundamentao terica tendo como

    principal eixo condutor o socilogo Jean-Paul Thibaud. A

    aplicao da base conceitual e avaliao dos dados da

    pesquisa de campo consideraram as seguintes categorias de

    anlise: affordances (caractersticas do meio ambiente

    INTRODUO APRESENTAO DO TEMA

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    oferecidas ao usurio), orientao, identificao com os lugares

    e experincia urbana, colocadas na parte III.

    Com base na etnometodologia de Thibaud e nestas categorias,

    apresentamos a hiptese de que as caractersticas fsicas dos

    ambientes urbanos, ou suas affordances influenciam nas

    competncias motoras e na habilidade de lidar com o meio,

    condicionando ou reforando a deficincia ou a mobilidade

    reduzida e influenciando nos sentimentos que as Pessoas com

    Deficincia tm ao se locomoverem.

    Os captulos seguintes situam a realidade encontrada, o corpo

    deficiente atravs da histria, sua relao com os ambientes

    urbanos e o tratamento dado pelos tericos sobre corpo,

    motricidade, mobilidade urbana, percepo situada, ambiente

    sensvel, lugar, experincia urbana e sustentabilidade.

    Para compreender os caminhos efetuados pelas Pessoas com

    Deficincia utilizamos o Mtodo dos Percursos Comentados

    desenvolvido por Jean-Paul Thibaud1 que privilegia a ao e o

    envolvimento das pessoas diretamente analisadas. Deste

    embasamento terico central sobre as situaes urbanas

    dirias vividas foram estabelecidos os principais conceitos e

    referncias para a investigao.

    1 Jean-Paul Thibaud socilogo, doutor em urbanismo e diretor de um centro de pesquisas sobre o espao sonoro e o meio ambiente urbano UMR CNRS 1563 em Cresson, na Faculdade de Arquitetura de Grenoble. Os caminhos metodolgicos que fazem parte de um de seus trabalhos nos conduziram em nossa pesquisa de campo, como ser demonstrado na parte 6 desta tese que trata da metodologia adotada. THIBAUD, Jean-Paul. La mthode des parcours comments. In GROSJEAN, Michle ; THIBAUD, Jean-Paul [Org.]. LEspace Urbain em Mthodes. Marseille: ditions Parenthses, 2001 [Collection Eupalinos srie Architecture et Urbanisme].

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    Foram realizados nove percursos comentados nas cidades de

    Salvador, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Braslia.

    Em Salvador, foi definida uma rota em um local estratgico da

    cidade, quando a pesquisadora acompanhou duas pessoas

    cegas e duas pessoas com deficincia fsica. Na cidade de Juiz

    de Fora, em Minas Gerais s participaram da pesquisa pessoas

    com deficincia fsica geradas por causas diversas. No Rio de

    Janeiro os percursos comentados foram feitos em bairros com

    caractersticas e localizaes bastante diversificadas, assim

    como os perfis scio-culturais e econmicos das pessoas

    entrevistadas. O percurso no Distrito Federal foi realizado por

    uma pessoa que se locomove em cadeira de rodas e, mesmo

    tendo sido feito em uma s quadra da Esplanada dos

    Ministrios, contribuiu de maneira significativa para as

    concluses desta tese.

    Percursos comentados efetuados por corpos deficientes foi

    uma novidade para todas as pessoas envolvidas na pesquisa,

    alm de suas aes e sensaes no espao e no tempo.

    Significaram a programao de uma rota a partir de um ponto

    fixo e o encontro em um local predeterminado para o relato

    desta experincia urbana. O objetivo do mtodo utilizado foi

    unir caminhos fsicos e sentimentos, percepo e cognio,

    percurso e discurso, espao e lugar, corpo deficiente e

    movimento. Implicou uma sucesso de atos: caminhar, ver,

    desviar-se, lembrar-se, perceber, comparar e descrever.

    Os itinerrios representaram o prprio movimento do corpo

    deficiente, seu deslocamento pelo espao e sua relao com a

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    cidade, tendo sido registrados oito horas de gravaes

    transcritas e analisadas pela autora e documentados atravs

    de recursos visuais como fotografias (cerca de 400) e vdeos (4

    horas). Estes recursos metodolgicos envolveram

    pesquisadora e pesquisados em uma interao que buscou o

    sentido de apropriao do lugar percorrido pelo corpo e uma

    identificao com a cidade.

    Para talo Calvino (1990), a cidade ideal feita de excees,

    impedimentos e contradies. Para as Pessoas com

    Deficincia surgem complexidades adicionais ao lidar com

    ambientes inadequados, o que afeta sua experincia individual

    do meio. Assim, a desestruturao do universo urbano que

    gera ambientes de no pertencimento decorrncia de todas

    as barreiras fsicas existentes, como ser demonstrado na

    avaliao dos dados e nas concluses.

    Os problemas colocados podem apontar para possveis

    mudanas almejadas por estas pessoas. Repensando as

    concepes de percepo situada e de sensaes vividas no

    ato de caminhar em um determinado contexto ambiental estarei

    repensando a acessibilidade, por mim trabalhada, avanando

    nesta rea de conhecimento e subsidiando a construo de

    novos paradigmas para a expresso de uma afetividade motora

    pela cidade.

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    6CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

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    A ambincia no se apresenta como um objeto que podemos facilmente construir e delimitar. Colocando em questo a distino de objeto e de sujeito, ela

    questiona a prpria possibilidade de sua objetivao.

    Jean-Paul Thibaud. Une Approche Pragmatique des Ambiances Urbaines. 2002, p.156.

    PARTE I ESTRUTURA DA TESEOBJETO, PROBLEMTICA, HIPTESES E OBJETIVOS.

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    7CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    Esta tese adotou como objeto de estudo a relao do corpo

    deficiente com os ambientes da cidade, o que ela significa e a

    maneira como acontece. Por acreditarmos que qualquer objeto

    o ambiente urbano das cidades s pode existir com relao

    a um sujeito a Pessoa com Deficincia , esta relao e seu

    entendimento so fundamentais. As cidades se diferenciam e

    se qualificam como lugares de ao pelo trajeto desta pessoa

    deficiente que busca realizar certas atividades e que, neste

    esforo, considera os elementos do ambiente, seus apoios e

    seus obstculos.

    A escolha do universo da deficincia justifica-se pela maneira

    fragmentada dos inmeros trabalhos acadmicos que tratam do

    tema de forma isolada (Amaral, 1987; Gleeson, 1998). O

    conjunto das dificuldades encontradas diz respeito s muitas

    esferas da vida cotidiana destas pessoas que envolvem o

    acesso sade, trabalho, educao, cultura, esporte e lazer.

    Em todas estas atividades, conforme relatos da imprensa, os

    estudos mencionados e os depoimentos colhidos para este

    trabalho, percebe-se uma excluso e uma no aceitao das

    diferenas corporais e um no reconhecimento de suas

    necessidades especficas.

    Se considerarmos o crescente nmero de pessoas em todo o

    mundo com alguma dificuldade de locomoo ou mobilidade

    reduzida, como veremos adiante, percebemos que este

    segmento da populao no mais constitui uma minoria. Com

    os avanos tecnolgicos e mdicos, as expectativas de vida

    1. OBJETO DE ESTUDO

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    8CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

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    tm melhorado e vemos aumentar o envelhecimento da

    populao. Pessoas acima de 65 anos apresentam deficincias

    e dificuldades para enxergar, ouvir e se locomover.

    Este grfico mostra que mesmo nos pases considerados

    desenvolvidos, como Canad e Estados Unidos, o nmero de

    pessoas com alguma deficincia bastante significativo,

    apesar de diferenas em termos de definio. Alguns pases da

    Europa e tambm os considerados em desenvolvimento da

    Amrica Latina, incluindo o Brasil, acompanham esta

    tendncia.

    O Censo Demogrfico realizado em 2000 pelo Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) registrou que

    14,5% da populao brasileira possuem algum tipo de

    deficincia, conforme o grfico abaixo:

    Grfico 1:

    Pessoas com Deficincia no MundoFonte: Armazm de Dados Rio em Foco

    Secretaria Municipal de Urbanismo Instituto Pereira Passos

    Grfico 2: Pessoas com Deficincia no Brasil

    (IBGE, 2000) Fonte: www.assitenciasocial.gov.br.

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    9CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    No Brasil, esta incidncia maior na regio Nordeste e menor

    na regio Sudeste, como demonstra a tabela do IBGE (2000)

    abaixo. O Estado de So Paulo apresenta o maior nmero de

    cegos (23900), seguido pela Bahia (15400).

    Tabela 1

    Proporo da populao residente com uma das deficincias investigadas por domiclio, segundo as grandes regies

    Grandes Regies

    Total Urbana Rural

    Brasil 14,5 14,3 15,2

    Norte 14,7 15,7 12,5

    Nordeste 16,8 17,0 16,3

    Sudeste 13,1 13,0 13,8

    Sul 14,3 13,8 16,5

    Centro Oeste 13,9 14,0 13,1

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Segundo o IBGE (2000), deste total, 19,8 milhes de pessoas

    com deficincia vivem em reas urbanas, fazendo com que o

    acesso aos ambientes para a realizao das atividades dirias

    desempenhe um papel importante para a melhoria da

    qualidade de vida nas cidades.

    Adotar como objeto de estudo esta relao entre a Pessoa com

    Deficincia e o ambiente urbano permite tambm avaliar a

    existncia de cidades mais acessveis que outras ou se

    barreiras fsicas fazem parte apenas da realidade brasileira.

    Apesar de a deficincia no ser uma questo recente, a

    acessibilidade atual que estas pessoas encontram em algumas

    cidades foi fruto de uma luta pela garantia de seus direitos que

    teve incio em 1962 nos Estados Unidos e revela uma

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    10CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    Fig 3: Berkeley - CA - Travessia de Rua www.transitorienteddevelopment.dot.ca.gov

    Fig 4: Rampa no Metr de Buffalo NY Fonte da autora

    Fig 5: San Antonio - EUA

    Fig 6: Parque em Montreal Canad Fonte: Mrcia Kauffmann

    Fig 7: Travessia na Place de LOpera Paris Frana

    tendncia mundial de respeito diversidade humana e

    liberdade individual. O movimento de vida independente surgiu

    a partir de 1972 na cidade americana de Berkeley, na

    Califrnia, que foi pioneira na questo da acessibilidade. No

    Canad, cidades como Vancouver ou Montreal so apreciadas

    pelo nvel de acesso que conseguem proporcionar s pessoas

    com alguma deficincia. Algumas cidades europias como

    Barcelona, Amsterd e Londres tambm tm demonstrado

    sensibilidade para a questo, pois j se v em seus

    planejamentos urbanos a incluso das necessidades espaciais

    de todos.

    O arquiteto espanhol Francesc Aragall diz que em sua cidade

    Barcelona, considerada uma referncia, a maioria dos projetos

    j incorporam a questo que l evoluiu em funo de um

    trabalho conjunto de diversos setores da sociedade, o qual

    culminou por ocasio de um importante momento poltico os

    Jogos Olmpicos de 1992, quando toda a cidade teve de ser

    adaptada.

    Por outro lado, pode-se observar como um maior nmero de

    cidades grandes e pequenas, leva adiante projetos de

    acessibilidade. Esta evoluo teve bastante sucesso nas

    cidades americanas. Mais de vinte anos depois, a partir de

    1982 o movimento internacional chegou ao Brasil influenciando

    as mudanas.

    Algumas cidades da Amrica Latina, como Santiago, no Chile e

    Buenos Aires, na Argentina, incluindo algumas cidades

    brasileiras, tm tentado se adequar nova realidade por meio

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    11CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    Fig 8: Esquina com rampa em Paris - Frana.

    Fig 9: Rua de Pedestres em Santiago

    Chile

    de solues pontuais, nunca de uma forma mais ampla.

    Pesquisamos o contexto de quatro delas e sua relao com as

    Pessoas com Deficincia. Em termos projetuais, a

    acessibilidade pode condicionar o processo criativo como o

    fazem a sustentabilidade, a cultura, a sociedade ou a

    economia.

    Pensar o urbano hoje uma necessidade. O modelo vigente

    at ento, de que as pessoas que deviam se adaptar aos

    ambientes ficou ultrapassado e cede lugar a um novo, mais

    humano que incorpora o direito de qualquer cidado sua

    cidade.

    O pressuposto justifica a razo pela qual estamos trabalhando

    com estas pessoas. A excluso faz parte de um contexto mais

    amplo, como colocado na dissertao de mestrado em

    urbanismo (Cohen, 1999), o que refora a investigao desta

    tese sobre a realidade encontrada no Brasil.

    Dando continuidade pesquisa do Mestrado em Urbanismo, foi

    delimitada uma problemtica que trata da percepo situada

    nos ambientes urbanos segundo pessoas com deficincia.

    Naquela poca, trabalhamos com o recorte social constitudo

    de pessoas que possuem alguma deficincia fsica e que se

    locomovem em cadeira de rodas ou por meio de muletas.

    Devido a uma maneira peculiar de locomoo, discorremos

    sobre a falta de vista panormica da cena urbana para quem

    possui um ngulo de viso mais baixo por estar sentado ou

    2. A PROBLEMTICA E AS QUESTES CENTRAIS

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    12CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    devido preocupao de ter que caminhar olhando para os

    buracos e irregularidades da calada.

    A importante questo de como estas pessoas percebem os

    ambientes de uma cidade mereceu uma investigao maior,

    transformando-se na problemtica desta pesquisa para minha

    tese de doutorado.

    O amadurecimento do tema e de algum tempo dedicado s

    questes de acessibilidade de pessoas com deficincia ao

    meio fsico, tambm evoluiu para uma abordagem mais

    universal como tem sido o prprio discurso corrente. Desta

    forma, alm das pessoas com dificuldades de locomoo, foi

    tambm incorporada a deficincia sensorial de viso como

    parte de nosso estudo.

    Com relao problemtica do corpo situado no ambiente

    urbano pode-se mencionar Gauricus2:

    O corpo deficiente situado em um lugar sintetiza a relao

    pesquisada entre corpo e ambiente urbano. Nos trabalhos

    consultados para embasar esta avaliao, a identidade da

    pessoa, sua interao com o mundo e a emergncia do seu

    self tm sido o foco principal de estudos na psicologia. A

    identidade vista como um processo de interao

    2 Traduo livre da autora: Tout corps, quelque soit sa position, doit tre ncessairement situ en un lieu quelconque... Le lieu est ncessairement avant tout corps situ. (Gauricus apud Duvignaud, 1977)

    Todo corpo, qualquer que seja sua posio, deve estar necessariamente situado em um lugar. O lugar antes de tudo um corpo situado.

    Pomponius Gauricus (De Sculptura, 1504), apud Jean Duvignaud. Lieux et non Lieux, 1977

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    13CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    comunicativa entre conscincia e corpo situado no mundo3

    (Souza & Gomes, 2005). Este sentido conferido a um corpo em

    funo de ambientes que o constituem e o situam, faz parte

    das consideraes feitas nesta tese.

    Complementarmente maneira como se d a relao do corpo

    deficiente com o ambiente urbano, outra questo diz respeito a

    este corpo na cidade, do caminhar pelas ruas, perceber os

    ambientes, se locomover. Como as Pessoas com Deficincia

    se locomovem pelos ambientes urbanos das cidades? Como

    elas percebem e vivem esses espaos? Qual sua experincia

    da cidade?

    Estas so indagaes de ordem bastante prtica e objetiva e

    para tratar delas e tambm do plano mais subjetivo da

    experincia urbana, nossa problemtica tambm busca

    entender as sensaes e sentimentos que estas pessoas tm

    da cidade.

    Este trabalho teve como pressuposto principal a hiptese de

    que as deficincias so situaes condicionadas pelo

    ambiente. Como hiptese complementar assume-se o fato de

    que a deficincia condicionada pela situao encontrada no

    ambiente construdo e sua forma sensvel.

    3 O grifo da autora.

    3. HIPTESES DE TRABALHO

    H.1 As caractersticas fsicas dos ambientes urbanos influenciam nas competncias motoras e na habilidade de lidar com o meio, condicionando ou reforando a deficincia.

    H.2 Os sentimentos das Pessoas com Deficincia com relao ao meio so situaes condicionadas pelas caractersticas dos ambientes.

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    O objetivo principal investigar a locomoo e o

    comportamento ambiental das Pessoas com Deficincia.

    Buscou-se avaliar como o corpo de uma pessoa com

    deficincia fsica e sua postura corporal, bem como as

    deficincias sensoriais de viso influenciam na percepo

    urbana. Deseja-se tambm saber como os ambientes urbanos

    esto configurados para atender s necessidades destas

    pessoas.

    Assim, a pesquisa se estruturou da seguinte forma:

    4. OBJETIVOS

    Principais Objetivos:

    Examinar a maneira como as Pessoas com Deficincia se locomovem pela cidade; Analisar a relao entre a mobilidade urbana da Pessoa com Deficincia e os

    ambientes da cidade;

    Avaliar a Percepo Urbana de Pessoas com Deficincia. Objetivos Especficos:

    Investigar a relao entre o corpo da Pessoa com Deficincia e a maneira como se locomove pelos ambientes urbanos;

    Avaliar como o corpo da Pessoa com Deficincia Fsica afeta a maneira como ela se locomove e percebe a cidade;

    Pesquisar como uma deficincia sensorial de viso influencia na maneira como a pessoa se locomove pela cidade e a percebe;

    Entender como essa deficincia visual influencia nas suas vivncia e experincia de cidade.

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    15CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    O interesse dos trabalhos atuais sobre a paisagem oferecer um quadro terico que permita pensar a relao sensvel com o mundo ambiente. Algumas abordagens se

    interrogam sobre a dimenso esttica da experincia urbana contempornea. Se existem diversas maneiras de conceber a paisagem, a maior parte delas reconhece sua

    vertente afetiva e emocional.

    Jean-Paul Thibaud. Une Approche Pragmatique des Ambiances Urbaines.

    In Ambiances en Dbats. 2004, p.152.

    PARTE II FUNDAMENTAO TERICA E CONCEITUAL:CORPO DEFICIENTE, ESPAO E PERCURSOS URBANOS.

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    16CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    A adoo das noes de ambiente sensvel desenvolvidas

    por Jean-Paul Thibaud (2004) foi um aspecto importante

    incorporado em nossa abordagem sobre a relao das

    Pessoas com Deficincia com as cidades. Serviu como ponto

    de partida e fundamentao terica para esta tese, exatamente

    por colocar em evidncia todos os sentidos e sensaes que

    so acionados no ato de caminharmos pela urbe.

    Esta relao prtico-sensvel inaugura uma nova maneira de

    tratar o corpo em uma dinmica ambiental quando alguns

    fatores necessariamente devem ser pensados. Para Thibaud

    (2004:146), o lugar possui um investimento corporal

    indissocivel de seu poder de orientao e de expresso, o

    que tambm nos faz abandonar as antigas teorias do ambiente

    sem qualidades por uma abordagem do espao encarnado

    (Ibid, 147).

    Alm do envolvimento do corpo no ato fundamental de uma

    Pessoa com Deficincia se locomover, algumas das situaes

    de percepo ambiental problemtica so trabalhadas pela

    corrente de estudos desenvolvidos por este socilogo francs4.

    O contexto situado de um corpo com mobilidade reduzida foi

    construdo com base nestas consideraes e, acima de tudo,

    4 Em seu Laboratrio de Estudos sobre o Espao Sonoro em Cresson, onde diretor, o socilogo Jean-Paul Thibaud trabalha com as noes de percepo situada e ambiente sensvel, por ele desenvolvidas e baseadas na etnometodologia. Estes conceitos fazem parte de alguns de seus trabalhos centrados na ao do cidado, nos sentimentos e no envolvimento do corpo como base para a ao, como ser tratado nesta tese.

    5. JEAN-PAUL THIBAUD

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    17CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    nas relaes afetivas com os lugares que ele capaz de

    desenvolver quando os percorre.

    No podemos subestimar os sentimentos e esta pessoa

    responder tanto ao mundo percebido quanto ao mundo real

    ou vivido atravs das sensaes. Sua percepo ser

    influenciada e situada por uma experincia prvia do seu

    ambiente sensvel.

    Estas so algumas das noes trabalhadas por Thibaud que

    conduziram ao referencial terico de base etnometodolgica,

    valorizando a ao do sujeito, a percepo situada e s

    qualidades sensveis de uma ambincia que tem o corpo como

    base de expresso de uma afetividade motora e ambiental.

    Assim, considerando-se que existem diferentes maneiras de

    estudar e conceber os ambientes buscou-se estabelecer um

    novo paradigma e avanar nas clssicas teorias sobre o corpo,

    sobre a acessibilidade cidade, sobre a percepo ambiental e

    sobre o sujeito com deficincia se deslocando e

    experimentando seu objeto de ao urbana: seu universo

    urbano imediato.

    O ambiente, como trabalhado por Thibaud, emerge nesta tese

    como condicionante do deslocamento do corpo deficiente,

    condicionando tambm sua prpria deficincia.

    Esta concepo pode retirar da Pessoa com Deficincia a

    responsabilidade pela falta de habilidade de lidar com o meio,

    fazendo ver que as prprias ambincias so deficientes por

    no permitirem a motricidade e a mobilidade, que a hiptese

    que buscaremos comprovar com as consideraes que sero

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    18CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    feitas. O que esta pessoa identifica ou seleciona faz parte da

    sua experincia urbana que ser o resultado da sua percepo

    ambiental.

    Tambm buscamos uma metodologia inovadora para nossa

    pesquisa dos trajetos e caminhos que so efetuados pela

    cidade. Desta forma, os conceitos e procedimentos descritos

    no mtodo de pesquisa de ambientes urbanos desenvolvidos

    por Thibaud tambm serviro como fundamentao.

    A reunio dos trabalhos sobre mtodos de pesquisa dos

    espaos urbanos feita por Grosjean e Thibaud (2001) mostra

    uma evoluo na maneira como a cidade tem sido analisada

    metodologicamente. As abordagens vo desde a Ecologia

    Urbana, Antropologia do Imaginrio, Psicologia Ambiental,

    Avaliao Ps-Ocupao at trabalhos em Sociologia sobre

    Modos de Vida e Semiologia do Espao.

    Os estudos sobre a cidade aconteceram de acordo com dois

    movimentos. Em um primeiro momento, o espao urbano era

    tratado separadamente segundo uma perspectiva arquitetnica

    ou uma perspectiva sociolgica. Raramente havia articulao

    destas dimenses e o meio fsico era visto como reflexo da

    estrutura social ou como determinante do comportamento.

    Quando nos referimos tanto fenomenologia quanto ecologia da percepo, parece ilusrio querer dissociar a percepo do movimento. Este princpio de percepo motriz no diz respeito apenas a uma

    ontologia da carne ou de uma prtica do corpo que percebe, ele torna-se operante para escolher a construo sensorial do espao pblico.

    Jean-Paul Thibaud. Mthodes des Parcours Coments. 2001, p.83

    6. PERCURSOS E ITINERRIOS PELA CIDADE:O MTODO COMO FUNDAMENTAO

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    A partir dos anos 80, ainda conforme Grosjean e Thibaud,

    comearam a surgir novos paradigmas de questionamento da

    cidade moderna e uma nova perspectiva de anlise passou a

    valorizar trs nveis:

    Com estas novas concepes de estudo da cidade, fui

    influenciada a pensar e trabalhar em termos de uma

    interdisciplinaridade mais ampla, e transcender a minha

    posio como arquiteta. Tornou-se ainda mais evidente a

    necessidade de entendimento dos lugares como ambientes

    para o comportamento das pessoas com deficincia. Estes

    esto intimamente ligados aos seus ambientes subjetivos e

    especialmente caracterizados como espaos psicolgicos que

    abrangem aspectos sensoriais visuais, auditivos, olfativos e

    trmicos, aspectos cinestsicos que so os de movimento e as

    sensaes que esto presentes nos deslocamentos.

    A nova postura de dar credibilidade aos agentes que utilizam

    os ambientes urbanos faz parte da etnometodologia e foi

    escolhida como instrumento de pesquisa para esta tese por

    ressaltar o valor da experincia e da ao.

    Assim, para uma investigao dos ambientes segundo a

    perspectiva de acompanhamento de certos itinerrios urbanos,

    1. A importncia do contexto a necessidade de avaliar o carter situado dos fenmenos observados. Esta avaliao s podia ser feita com o pesquisador indo avaliar no local.

    2. A valorizao do cidado dotado de competncias para atuar sobre o meio o cidado como um agente produtor do espao pblico.

    3. As abordagens da fenomenologia - o espao dotado de caractersticas prprias que afetam o deslocamento, para melhor ou para pior, daqueles que a se locomovem, a sonham, a falam.

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    20CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    a questo central da relao entre corpo e ambiente ganhou

    evidncia ainda maior. As perguntas iniciais foram assumidas

    como questes fundamentais: Como as Pessoas com

    Deficincia se locomovem? O que percebido por elas ao se

    deslocarem pela cidade? O que o lugar evoca para estas

    pessoas? O que ele mobiliza em termos de sensaes,

    comportamentos, encontros, sentimentos, que tipos de

    sociabilidade?

    Para responder a estas questes apoiamo-nos em conceitos

    de diversas disciplinas, em especial da psicologia ambiental, da

    percepo em movimento, da fenomenologia, da antropologia,

    da sociologia e do urbanismo. A interdisciplinaridade permeou

    toda a pesquisa, ajudando a definir um caminho de

    investigao: o mtodo dos percursos comentados de Jean-

    Paul Thibaud.

    Mais do que um mtodo, a linha de pesquisa de Thibaud serviu

    como fundamentao, por tratar dos ambientes sensveis, da

    ao dos habitantes urbanos, de sua percepo situada em um

    determinado contexto e de sua vida social dentro de uma

    abordagem interacionista mais complexa que a sustenta. A

    troca de olhares, os encontros e os contatos humanos exercem

    uma influncia importante tanto na maneira como as pessoas

    so percebidas, quanto na maneira como percebem o

    ambiente social e urbano. Que lugar ocupa a percepo na

    construo social da realidade (Berger e Luckmann, 2002)?

    Buscou-se a compreenso desta realidade encontrada a partir

    de uma percepo em movimento e de uma metodologia de

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    21CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    pesquisa que trabalha com contextos, situaes, perspectivas,

    culturas e estratgias. O mtodo no utilizou apenas o discurso

    do movimento das Pessoas com Deficincia pesquisadas, mas

    procurou perceber em contexto. A proposta do trabalho de

    Thibaud compreender as caractersticas sensveis de um

    lugar (1993), configurando a percepo de uma pessoa que

    caminha, seus sentimentos e afetividades e levando tambm

    em considerao o inevitvel colocar em movimento da

    percepo.

    Nossa reformulao conceitual que se apoiou

    fundamentalmente em Jean-Paul Thibaud tambm nos

    conduziu reflexo das diferentes abordagens sobre o tema da

    percepo situada do corpo, sua mobilidade e de um contexto

    que pode ser condicionado pelas caractersticas e situaes

    ambientais encontradas ao se percorrer um determinado lugar.

    Na rea da Psicologia Ambiental, James J. Gibson (1986)

    tambm foi referncia importante para nossa fundamentao

    terica. Sua Abordagem Ecolgica da Percepo Visual Direta

    que trata de uma percepo associada a um corpo em

    movimento contribuiu para o entendimento desta relao.

    Alguns conceitos de exterocepo e propriocepo

    aprofundados por Gibson, contriburam por sua reconsiderao

    da noo de estmulos do meio ambiente que um corpo

    capaz de receber. O que interessa mais especificamente com

    7. OUTROS AUTORES

  • 228228

    22CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    relao s questes aqui desenvolvidas, o sentido de

    cinestesia como a conscincia de movimentos corpreos e

    musculares e da mobilidade do prprio corpo sendo

    caracterizadas como fatores importantes da identidade das

    Pessoas com Deficincia nos ambientes da cidade.

    Questionamos a teoria de Gibson por excluir o envolvimento

    dos vrios sentidos e das sensaes no ato de as pessoas se

    locomoverem e perceberem os ambientes. Apesar disto, o

    autor estabelece em seus estudos uma relao entre as

    caractersticas de locomoo dos indivduos com as condies

    do meio, o que vai de encontro com Thibaud ao destacar a

    associao de uma motricidade com o carter situado da

    percepo de acordo com um contexto ambiental.

    Com estes suportes conceituais, podemos tambm fazer uma

    reflexo mais apurada sobre o conceito das affordances ou das

    caractersticas ambientais de Gibson como condies

    necessrias para a locomoo e a percepo. O processo, no

    nosso entender, tambm requer os aspectos cognitivos e

    afetivos no ato que o nosso sujeito - a Pessoa com Deficincia

    desenvolve para se locomover e se identificar com seu

    ambiente urbano sensvel imediato. Vista sob este ponto de

    vista, a mobilidade tambm adquire esta dimenso prtico-

    sensvel defendida por Thibaud, proporcionando para a

    orientao e para a percepo situada desta pessoa

    sentimentos e sensaes que animaro estes lugares com sua

    participao, o que negado por Gibson.

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    Na relao das pessoas com os lugares de uma cidade, um

    grande nmero de fatores interiores ao sujeito est envolvido

    na sua percepo situada de seu ambiente sensvel. Amos

    Rapoport acrescenta a influncia da cognio e dos aspectos

    da forma urbana, levando em considerao o envolvimento de

    trs atividades no processo: rea cognitiva perceber,

    conhecer, pensar, etc.; rea afetiva sensaes, sentimentos,

    emoes, etc. (incorporadas em imagens); rea conativa

    inclui a ao sobre o meio ambiente como resposta s duas

    reas anteriores. (Rapoport, 1978: 42).

    Com o acrscimo desta viso, conseguimos reunir em nossa

    fundamentao, os aspectos prticos da ao e da percepo

    visual situada em um tempo e em um ambiente presente de

    James Gibson com a cognio fazendo uso da memria e de

    sentimentos diversos como medos, desejos, afetos e

    aspiraes (Rapoport) que so as nossas sensaes (Thibaud)

    ao nos deslocarmos no meio.

    As consideraes feitas pelos tericos de base

    etnometodolgica colocam em questo a prpria noo de

    recurso fornecida por Gibson e trazem para o centro do debate

    o prprio cidado, na medida em que o recurso s existir em

    funo de um sujeito que percebe, de sua ao e de sua

    posio no ambiente.

    Para a compreenso do universo urbano real e concreto vivido

    pelas Pessoas com Deficincia nas cidades versus as cidades

    vividas pelos seus sentimentos, a Teoria Ecolgica da

    Percepo Direta de Gibson e o tratamento dado por Thibaud

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    24CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    percepo situada de seu ambiente sensvel no poderiam se

    sustentar sozinhos.

    A busca de uma conscincia acerca do caminhar pelos

    ambientes da cidade ajudou a definir uma outra perspectiva: a

    de um fenmeno chamado mobilidade urbana como resultante

    das caractersticas corporais destas pessoas ou de seu lugar

    na cidade. Considerando-se que a prtica de um lugar que

    constitui uma ambincia e envolve a motricidade de um corpo,

    tambm adotaremos a Fenomenologia da Percepo de

    Maurice Merleau-Ponty (1996) como referncia desta tese.

    Esta perspectiva nos fornece as importantes distines entre

    espaos geomtricos euclidianos e espaos antropolgicos

    transformados em lugares e, principalmente, a sntese to

    fundamental para as nossas reflexes sobre as possibilidades

    de ao ambiental e identificao com a cidade proporcionadas

    por um corpo situado em relao com um meio (Merleau-

    Ponty,1996).

    Pelo seu carter existencialista e pela valorizao da

    motricidade do corpo situado no ambiente, a fenomenologia faz

    parte de nossa fundamentao. As anlises feitas por Merleau-

    Ponty sobre a percepo como um fenmeno e de uma

    experincia do corpo prprio foram de grande importncia para

    o desenvolvimento deste trabalho.

    Meu corpo tem poder sobre o mundo quando minha percepo me oferece um espetculo to variado e to claramente articulado quanto possvel, e quando minhas intenes motoras,

    desdobrando-se, recebem do mundo as respostas que precisa.Maurice Merleau-Ponty. Fenomenologia da Percepo. 1996: 337.

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    25CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    Este depoimento de uma pessoa que se locomove em cadeira

    de rodas sinaliza para uma positividade quanto ao tratamento

    que pode ser dado a um corpo deficiente. A deficincia pode

    ser uma situao que faz parte de um contexto cultural, social e

    ambiental das pessoas que a possuem. Tambm pode ser vista

    como um aspecto especial que oferece novas oportunidades

    para a experincia e o amadurecimento do nosso sujeito no

    mundo.

    Posturas corporais, competncias motoras e motricidades

    especficas podem revelar pontos de vista mais de acordo com

    uma nova ordem que libere o tratamento do corpo deficiente

    dos modelos de um padro idealizado. No lugar de compensar

    este corpo, a deficincia pode ser deslocada da pessoa para as

    caractersticas mais alegres da vida como seus encontros com

    o outro, suas sensaes e sua afetividade.

    Entretanto, sero feitas algumas consideraes mais

    freqentes sobre o corpo deficiente que fazem parte do

    discurso da sociedade e do preconceito ainda to presente. Os

    prprios ambientes urbanos podem colocar este mesmo corpo

    em situaes de desvantagem, reforando a deficincia e

    Quem disse que os aleijados so infelizes? S porque eles no podem danar? Toda msica pra, em algum momento. S porque eles no podem jogar tnis? Muitas vezes o sol est muito quente! S

    porque tm que ser ajudados a subir e descer escadas? () A poliomielite no triste - ela s um grande inconveniente, o que significa que voc no pode ter acessos de mau humor e correr para dentro do quarto e bater a porta com um pontap. Aleijados uma palavra horrvel. Ela especifica!

    Coloca de lado! muito ntima! Condescendente!.

    Depoimento de Linduska que possui uma deficincia fsica.

    In. Erving Goffman. Estigmas: Notas sobre a manipulao da identidade deteriorada. 1988, p.126.

    8. O CORPO DEFICIENTE

    Fig 11: mulher deficiente em cadeira de rodas.

    Fonte: site Corbis set 2005

    Fig 12: homem deficiente em

    cadeira de rodas. Fonte: Raymond Lifchez, 1979.

    Fig 10: Andrea Vesalius

    De Humani Corporis Fabrica

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    26CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    tornando-se eles prprios deficientes. J existem alguns

    tericos debruados em anlises interessantes nas reas da

    antropologia e da sociologia, constituindo-se campos

    especficos para o estudo do corpo.

    Pessoas que possuem corpos com mutilaes, segundo Le

    Breton, so fadadas suspeita, a elas se designa uma

    existncia que se desenvolve no palco, diante do ardor dos

    olhares sem indulgncia dos transeuntes ou das testemunhas

    da dessemelhana (Le Breton. 2003: 86).

    Includas nas aparncias imediatamente visveis ao olhar dos

    outros, Le Breton tambm considera que estas caractersticas

    costumam gerar um certo desconforto no ambiente:

    Diante destas colocaes, utilizaremos alguns trabalhos

    desenvolvidos por David Le Breton, na sua antropologia do

    corpo e constituiremos este quadro terico referencial com

    relao ao corpo deficiente.

    Existem fatores a serem levados em considerao na

    constituio de nosso sujeito e que esto relacionados com o

    tipo de deficincia, com algumas funes orgnicas afetadas e

    com o comprometimento da prpria motricidade diretamente

    relacionada com este corpo e antecedendo sua mobilidade nos

    ambientes. Ocorre muitas vezes o prejuzo de determinados

    sentidos como, por exemplo, o de cinestesia no caso da

    deficincia fsica, a viso no caso das pessoas cegas, a

    Em nossas sociedades, o homem que sofre de alguma deficincia fsica no mais sentido como homem inteiro; visto pelo prisma deformante do distanciamento ou da compaixo. Qualquer alterao

    notvel da aparncia do corpo, qualquer transtorno que afete a motricidade, suscita o olhar e at mesmo a perturbao, a estigmatizao.

    David Le Breton. Adeus ao Corpo. 2003: 86.

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    27CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    audio para os surdos e a cognio em pessoas com

    deficincias mentais.

    Mas, no pretendemos tratar o assunto em termos do que a

    pessoa perdeu e sim nas situaes oferecidas para a sua

    experincia corprea e para o seu viver na cidade

    contempornea. Assim, sua locomoo, sua acessibilidade e

    sua orientao ficaro condicionadas pelas caractersticas

    ambientais e no por suas habilidades. A responsabilidade de

    incluso deste corpo retirada da pessoa, sendo transferida

    para seu universo de ao ou seu ambiente sensvel.

    Existem muitas pesquisas sobre o corpo, mas busca-se nesta

    tese a relao desta corporeidade com a mobilidade urbana.

    Da tenso entre os nossos sujeitos com deficincia e sua

    dificuldade de locomoo ou mobilidade reduzida, procuramos

    pelas abordagens situacionais e fenomenais deste corpo.

    Resulta disso um drama em que o movimento se torna tenso, luta e esforo entre o interior e o exterior dos seres representados e entre esses seres e os espaos que os circunscrevem e

    emolduram.

    Carlos Antonio Leite Brando, O Corpo do Renascimento,

    In Adauto Novaes, O Homem Mquina, p.287.

    9. O CORPO DEFICIENTE NO AMBIENTE URBANO

    Fig 13: Corpo em Metrpolis.

    Fig 14: Corpo Deficiente no Espao. Fonte: Raymond Lifchez, 1979.

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    28CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    O trabalho de Paul Schilder sobre A Imagem do Corpo (1999)

    foi importante para a anlise da locomoo destas pessoas

    pela cidade. Schilder sofreu influncia da psicologia da gestalt

    e tambm inspirou-se na fenomenologia. Seus estudos

    concentraram-se nos mecanismos mentais da percepo e da

    ao.

    A importncia das qualidades do meio ambiente para a

    locomoo e ao so alguns pressupostos da teoria

    desenvolvida por Schilder. Mais do que isso, a autoconscincia

    do prprio corpo fundamental para o movimento:

    Dentro desta concepo de direcionar a ao com um objetivo

    especfico que , no nosso caso, a prpria mobilidade urbana,

    a imagem corporal, o movimento do corpo prprio trabalhado

    por Merleau-Ponty e o ambiente assumem uma interrelao

    situada. Em outras palavras significa que uma pessoa com

    caractersticas especficas de motricidade e diferentes

    habilidades motoras necessita de um suporte para a sua ao

    que pode ser a aceitao de seu prprio corpo ou um lugar que

    ela deseja alcanar.

    O ambiente dotado assim deste poder na competncia de

    qualquer pessoa e ao mesmo tempo que ele preenchido pelo

    corpo, ele tambm capaz de influenciar suas reaes

    emocionais, suas sensaes e sua identificao com a cidade.

    O conhecimento de algum sobre seu prprio corpo uma necessidade absoluta. Deve sempre haver o conhecimento de que eu estou agindo com o meu corpo, (...), que tenho que usar uma determinada

    parte do meu corpo. (...) H sempre um objeto em direo ao qual a ao dirigida. Este objetivo pode ser o prprio corpo ou pode ser um objeto no mundo externo.

    Paul Schilder. A Imagem do Corpo 1999: 55.

    Fig 16: Deficiente caminhando.

    Fonte: Raymond Lifchez, 1979.

    Fig 17: Amputado caminhando.

    Fonte: site Corbis.

    Fig 15: Pessoa Idosa no Espao. Fonte: site Corbis.

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    29CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    Vista sob este ngulo, estas variveis ambientais

    comprometero os prprios sentimentos da pessoa com

    relao ao seu corpo, sua deficincia e sua urbe.

    Soma-se a estas referncias, o estudo de Rudolf Laban (1978)

    sobre o domnio do movimento. Se considerarmos que o

    objeto no mundo externo e nesta pesquisa o ambiente

    urbano por excelncia, a interao entre corpo situado na

    cidade e mobilidade das Pessoas com Deficincia formam o

    contexto global desta tese.

    Neste sentido, os percursos e itinerrios pela cidade como

    trabalhado no mtodo de Thibaud (2001) se concretizam com

    esta dinmica e recebe tambm a colaborao de muitos que

    com ele tm trabalhado dentro desta perspectiva, como o

    caso de Mariani-Rousset (2001):

    Os trabalhos de Thibaud tm recebido um interesse cada vez

    maior de pesquisadores dos ambientes pblicos urbanos e das

    situaes cotidianas dotadas de algum sentido. A locomoo

    da Pessoa com Deficincia e a relao de seu corpo com estes

    ambientes sensveis dotados de algum valor, ajudou a

    constituir todo este arcabouo terico que serviu como

    fundamentao desta tese.

    Os percursos Para certos pesquisadores, o percurso representa o movimento do corpo, o deslocamento no espao. Para outros, ele descrito como uma interao entre concepo e visita, o

    percurso sendo levado em conta em funo do contexto. Com o percurso, o simples fato de se deslocar comea a possuir sentido.

    MARIANI-ROUSSET, Sophie. La mthode des parcours dans les lieux dexposition. In Grosjean e Thibaud. Espaces Urbans en Mthodes. 2001: 31.

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    30CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    A imagem que as pessoas tm de si mesmas, sua auto-imagem, se baseia em um sentido de prpria competncia e influi na imagem que tem de seu meio ambiente,

    de sua interao com ele e de sua avaliao. Tudo isto se refere implicao no meio, ao papel das imagens na interao homem-meio, s atividades e conduta, e

    funo simblica de meio fsico ao estabelecer a identidade de grupo e a percepo e cognio ambientais do meio urbano.

    Amos Rapoport. Aspectos Humanos de la Forma Urbana, p. 326.

    PARTE III DEFINIO DAS CATEGORIAS DE ANLISE E OUTROSCONCEITOS IMPORTANTES.

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    31CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    No processo de relao com a cidade, muitos elementos

    interagem para que a Pessoa com Deficincia possa se

    deslocar e ter seu corpo situado nos ambientes. A conscincia

    e o domnio de seu prprio movimento, a imagem corporal de

    si, os seus espaos fsicos e sociais, a percepo da cidade,

    sua identificao com os lugares e seus sentimentos, so todos

    aspectos das atividades, da conduta e da vida desta pessoa.

    Estes fatores sero examinados como categorias de anlise.

    Alm destas categorias, tornou-se necessria a colocao de

    alguns outros conceitos igualmente importantes, como, por

    exemplo: mobilidade urbana, acessibilidade, barreiras, rota

    acessvel e desenho universal.

    Identidade do Corpo no Espao Identificao com a Cidade O conceito de identidade aos lugares5 place identity ou

    place attachment foi desenvolvido nos anos 70 pelo

    pesquisador Harold Proshansky para designar a caracterstica

    do lugar que proporciona pessoa uma identificao e ao

    mesmo tempo refora a identidade do seu eu pessoal de forma

    cognitiva e afetiva e tambm sua identidade social.

    5 A traduo literal da expresso place identity do ingls seria identidade aos lugares o que preferimos designar por uma identificao que um processo mais amplo que envolve o pertencimento cidade e a apropriao dos lugares.

    que a identidade pessoal exprime-se tambm em termos de identificao com um lugar. Mas pode tambm acontecer que no nos identifiquemos com o lugar onde estamos; neste caso nascer um

    sentimento de no-integrao: o espao ento vivido como um meio no qual nos sentimos estranhos e com o qual recusamos qualquer familiaridade. Estamos assim perante um fenmeno eminentemente

    conflitual que se exprime como uma resistncia a condies de vida insatisfatrias e excluso potencial que elas arrastam.

    Gustave N. Fischer. Psicologia Social do Ambiente. 1994:199.

    10. AS CATEGORIAS DE ANLISE

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    32CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    A identificao com um lugar a qualidade do espao fsico

    que fornece ao homem um sentido de place identity,

    ajudando-o a definir seu papel na sociedade. um conceito

    muito importante para a Psicologia Ambiental que envolve no

    s a histria da Pessoa com Deficincia, como tambm sua

    competncia motora, sua motricidade e a histria ou contexto

    do lugar que ela habita, ou seja, sua cidade.

    A idia de place identity de Proshansky a mesma

    desenvolvida por Abraham Moles e Elisabeth Rohmer (1978)

    sobre o Point Ici que antropologicamente se traduz pela idia

    de que o homem necessita de espao e mais ainda de um

    lugar. Segundo Moles e Rohmer, esta identidade ou Point Ici

    revela-se para a pessoa com sentimentos de pertencimento,

    apropriao, domnio e at laos com os ambientes que do

    um significado aos seus deslocamentos, permitindo o seu

    movimento e a sua experincia urbana.

    Esta experincia constitui-se da mobilidade da pessoa e de sua

    percepo situada no contexto da sua motricidade. Traduzimos

    esta identificao como a experincia do aqui e do agora ou de

    ambientes que se transformam em lugares. neste sentido

    que investigaremos a locomoo e a apropriao dos

    ambientes pelas pessoas com deficincia.

    Affordances do Meio Ambiente

    So o que o meio oferece ao animal, o que ele proporciona ou fornece, tanto para o bem como para o mal. O verbo to afford encontrado no dicionrio, mas o nome affordance no. Eu o constru. Eu

    quero com isto me reportar a algo que se refere tanto ao meio ambiente quanto ao animal de maneira que no existe nenhum outro termo. Ele implica a complementaridade do animal e do meio ambiente.

    James Gibson. The Ecological Approach to Visual Perception. 1986: 127.

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    33CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    A teoria das affordances de Gibson foi influenciada pelo

    trabalho de Kurt Lewin para explicar a idia de valncia 6 que

    significa as caractersticas fsicas prprias de um meio

    ambiente permitindo a locomoo das pessoas. Ambientes,

    situaes ou outras pessoas podem possuir valncias positivas

    ou negativas dependendo da sua habilidade para satisfazer as

    necessidades ou aes. Mas para Gibson, a affordance de

    uma coisa no muda quando a necessidade do observador

    muda. O observador pode ou no perceber ou atender a

    affordance, de acordo com as suas necessidades, mas ela est

    sempre l para ser percebida.

    O conceito e a idia de affordance desenvolvida por James

    Gibson (1986) coloca em evidncia a constituio do prprio

    ambiente como favorecedor ou no de uma identificao com a

    sua cidade. As affordances dizem respeito ao e ao

    movimento de uma pessoa; no sentido prtico e objetivo, so

    as caractersticas de um ambiente e as possibilidades que ele

    fornece. Devem estar intimamente relacionadas com a postura

    da pessoa que est sendo considerada e possuem um

    significado pelo que permitem ser efetuado no ambiente,

    apontando para a dicotomia do mundo subjetivo da pessoa

    com o ambiente objetivo da cidade.

    Mais do que isso, a affordance pode transferir a dificuldade de

    locomoo da pessoa que possui uma deficincia para o

    prprio ambiente. Um dos exemplos colocados por Gibson 6 Valence foi um conceito desenvolvido por Kurt Lewin e a traduo oficial mais prxima de valncia, termo utilizado tambm por Antonio Gomes Penna (1993).

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    34CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

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    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    refere-se s propriedades de uma superfcie relacionadas ao

    corpo e ao tipo de locomoo.

    Com esta categoria de anlise, sero verificadas as

    caractersticas objetivas da cidade as affordances do meio

    ambiente como parte do processo da percepo das Pessoas

    com Deficincia situada nos ambientes. As affordances, para

    Gibson, so os nicos fatores que influenciam a avaliao,

    excluindo qualquer representao mental e considerada pelo

    prprio autor uma hiptese bastante radical por implicar que os

    valores e significados das coisas no meio ambiente podem

    ser diretamente percebidos (Gibson, 1986: 127).

    Nesta tese tambm sero examinadas questes mais

    subjetivas, mentais e fenomnicas que esto contidas nas

    outras categorias que sero mostradas a seguir.

    Orientao Espacial Para Henry Sanoff (1991), o sentido de orientao deveria ser

    uma maneira compartilhada da cultura, acessvel s pessoas e

    significa a experincia comum de localizao que uma pessoa

    pode encontrar em um ambiente desde que existam condies

    para tal.

    considerado como um processo cognitivo que geralmente

    ocorre com respostas afetivas em relao a um lugar,

    expressando uma sensao de encontro ou de um lugar para o

    corpo da pessoa se situar no tempo e no espao. A orientao

    O sentimento de orientao essencial para nosso bem-estar no meio ambiente. Basicamente, ele nos permite saber onde estamos, ter um sentido de onde ir depois e ser capaz de escolher uma rota adequada para chegar l. D um sentido de facilidade e alegria e nos permite apreciar novas e inesperadas caractersticas. Envolve um nvel de diferenciao no meio ambiente para fornecer

    alternativas para direo, distncias e mudanas, assim como um sentido de familiaridade nele.

    Henry Sanoff. Visual Research Methods in Design, 1991: 73.

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    35CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    espacial um fator muito importante na caracterizao da boa

    forma da cidade (Lynch). Theo van der Voordt (1978) a coloca

    como um dos nove aspectos embutidos no conceito de

    qualidade funcional.

    As arquitetas Dischinger, Ely et al., sustentam com base em

    seus estudos sobre a acessibilidade, que a orientao de uma

    forma mais ampla envolve dois processos distintos e

    interativos: orientao espacial e orientao dinmica. O

    primeiro segue a definio de Sanoff que o traduz com a idia

    de mapa mental. A orientao dinmica7 envolve o

    deslocamento do indivduo para chegar a determinado local

    (Dischinger, Ely et. al., 2004:31).

    Segundo Passini (1984), a orientao envolve trs

    caractersticas: informao, deciso e execuo da deciso. O

    processo deve ser visto de forma integrada envolvendo

    tambm as informaes contidas no ambiente. De acordo com

    Gibson, a orientao s possvel com as affordances que as

    pessoas encontram nos ambientes que lhes fornecem esta

    informao, tornando-as capazes de se decidirem para onde

    querem ir e partirem para a ao.

    Experincia Urbana Existe uma diversidade de mundos perceptivos e de

    experincias sensoriais. Jean-Paul Thibaud (2001) apontou

    esta dimenso intersensorial dos ambientes. Para obter esta 7 Segundo as autoras, a utilizao do termo orientao dinmica foi resultante da traduo de wayfinding.

    Tudo aquilo que o homem e faz est ligado experincia do espao. Nosso sentimento do espao resulta da sntese de numerosos dados sensoriais, de ordem visual, auditiva, cinestsica, olfativa e

    trmica.

    Edward Hall, A Dimenso Oculta.

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    36CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

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    experincia urbana, a busca de orientao e informao no

    espao faz parte da explorao perceptual situada no meio e

    utiliza todos os rgos dos sentidos, atravs dos quais o

    ambiente se relaciona com o corpo, contribuindo para sua

    locomoo, sua ao e sua experincia.

    Com relao percepo visual e experincia adquirida por

    este sentido, leva-se em considerao o ngulo de viso da

    Pessoa com Deficincia que olha, que depende de sua postura

    corporal, de sua motricidade, de sua posio no espao

    (sentada, inclinada, etc.), de sua maneira de locomoo, das

    caractersticas dos ambientes urbanos e da disposio dos

    elementos e equipamentos na cidade.

    Alm da viso e da percepo, o carter da experincia

    tambm parte de um processo de cognio espacial intra-

    urbana (Cauvin, 1999). Assim, a Pessoa com Deficincia pode

    experienciar um espao urbano especfico (uma rua, uma

    praa, um transporte, uma estao de nibus) e neste ato ela

    desenvolve algumas aes: julgamentos, avaliaes e

    interpretaes de seu esquema cognitivo. So os resultados

    destas operaes que propiciaro a ao e a experincia

    urbanas. Em outras palavras, esta anlise envolve mais

    especificamente, trs reas: rea cognitiva, rea afetiva e rea

    conativa.

    A experincia urbana tambm depende de muitos outros

    fatores. Certamente, o ambiente fsico importante, mas no

    nico. Com base nas colocaes dos estudiosos da

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    37CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

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    experincia urbana8, pode-se dizer que a conscincia do

    prprio corpo do observador no mundo uma parte da

    experincia (Gibson: 207). E como o espao urbano vivido

    atravs da ao, a experincia deste corpo da pessoa com

    deficincia em movimento que ser examinada.

    Alguns conceitos desta tese aparecem com alguma freqncia

    tanto no nosso discurso sobre a locomoo do corpo no

    ambiente urbano quanto no das pessoas com deficincia que

    fizeram os percursos comentados. Por estas razes merecem

    alguma meno, mesmo que de forma breve, pois esto

    relacionados com o prprio deslocamento pelos espaos.

    Mobilidade Urbana Mobilidade Urbana e Motricidade so dois conceitos

    amplamente trabalhados por Jean-Paul Thibaud (2001, 2004)

    nos seus estudos sobre ambincias e por Rachel Thomas

    (2000) em sua tese de doutorado sobre acessibilidade. A

    motricidade diz respeito s prprias caractersticas e

    movimentos do corpo, mas antecedem a mobilidade humana

    que significa se deslocar de um ponto a outro nos ambientes

    urbanos. Estes autores debatem sobre estas noes,

    considerando que alm dos aspectos orgnicos das pessoas e

    das caractersticas corporais, esto envolvidas na dinmica as

    sensaes. Vista sob este ngulo, a mobilidade pode ser

    8 O conceito de experincia urbana tem sido adotado e aperfeioado nas pesquisas de DUARTE, Cristiane Rose & COHEN, Regina. (2002, 2004 e 2005). Pode-se tambm mencionar os muitos estudos sobre a experincia urbana: COHEN, Regina. & DUARTE, Cristiane (2004). HARVEY, David (1992) e FISCHER, Claude S. (1984).

    11. OUTROS CONCEITOS IMPORTANTES

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    38CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

    EICOS - PROGRAMA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIALREGINA COHEN

    considerada mais do que uma condio fsica e envolve

    afetividades e emoes no ato de se movimentar e perceber

    uma ambincia, que a maneira como queremos analis-la

    nesta tese.

    O Governo Federal criou uma poltica de mobilidade urbana

    que, dentre outras questes, vem trabalhando com a

    acessibilidade de Pessoas com Deficincia. Dentro deste

    programa existe um projeto que se chama Brasil Acessvel

    que tenta estimular, atravs de financiamentos ou cursos de

    capacitao, um melhor deslocamento destas pessoas.

    Algumas cidades brasileiras j passaram pela experincia e

    cabe com a introduo do conceito, saber como est a relao

    do discurso do poder com a perspectiva do usurio. Em outras

    palavras como ocorre esta mobilidade nas cidades brasileiras e

    como estas pessoas se locomovem.

    Acessibilidade A acessibilidade no ser examinada aqui em toda a sua

    globalidade tendo em vista os inmeros trabalhos

    desenvolvidos sobre o tema, inclusive a dissertao de

    mestrado da autora desta pesquisa (Cohen, 1999) e as

    pesquisas de Duarte e Cohen nestes ltimos anos. Entretanto,

    cabe ressaltar o carter inovador como estas estudiosas vem

    tratando o assunto, dando aos ambientes a responsabilidade

    no fornecimento da acessibilidade e que tambm a hiptese

    A mobilidade um atributo das cidades e se refere facilidade de deslocamentos de pessoas e bens no espao urbano. Tais deslocamentos so feitos atravs de veculos, vias e toda a infra-estrutura urbana (vias, caladas, etc.) que possibilitam esse ir e vir cotidiano. (...) o

    resultado da interao entre os deslocamentos das pessoas e bens com a cidade.

    Ministrio das Cidades, Secretaria de Transporte e da Mobilidade Urbana e Instituto Polis.

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    sobre as influncias das affordances nas competncias

    motoras das Pessoas com Deficincia, que se pretende

    comprovar nesta tese. A definio da Associao Brasileira de

    Normas Tcnicas (ABNT) a seguinte:

    Esta conceituao importante por associar a acessibilidade

    com condies de alcance, que se relaciona com a categoria

    de anlise de orientao e com a percepo que um aspecto

    da experincia urbana muito importante.

    Outra definio fornecida pelo Decreto Federal Brasileiro

    5296, tambm de 2004:

    Dentro desta perspectiva em associar a acessibilidade com

    percepo, inauguramos tambm uma nova fase inspirada nos

    trabalhos desenvolvidos por Jean-Paul Thibaud e na tese de

    doutorado de Rachel Thomas (2000) sobre a acessibilidade,

    orientada por ele. O carter situado da percepo defendido

    por Thibaud e Thomas coloca a questo da deficincia como

    sendo condicionada e situada pelas caractersticas dos

    ambientes e pela acessibilidade, envolvendo tambm a

    expresso motora de uma afetividade.

    Acessibilidade - a possibilidade e condio de alcance, percepo e entendimento para utilizao com segurana e autonomia de edificaes, espao, mobilirio, equipamento urbano e

    elementos.

    NBR 9050/2004 ABNT.

    Condio para utilizao, com segurana e autonomia, total ou assistida, dos espaos,mobilirios e equipamentos urbanos, das edificaes, dos servios de transporte e dos

    dispositivos, sistemas e meios de comunicao e informao, por pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida.

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    40CIDADE, CORPO E DEFICINCIA:

    PERCURSOS E DISCURSOS POSSVEIS NA EXPERINCIA URBANA

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    Barreiras Todas as noes de limites, fronteiras e distncias sociais

    ajudam tambm a definir o conceito de barreiras fsicas que

    assume o carter concreto de impedimento para a ao no

    meio ambiente. Barreiras representam dificuldades nos

    percursos das Pessoas com Deficincia, na sua percepo dos

    espaos urbanos e no seu campo de viso da panormica da

    cidade. Tambm um conceito importante j trabalhado na

    dissertao de mestrado de Cohen (1999).

    Rota Acessvel O conceito de Rota Acessvel consiste no percurso livre de

    qualquer obstculo de um ponto a outro (origem e destino) e

    compreende uma continuidade e abrangncia de medidas de

    acessibilidade.