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 Dad os Interna cio nai s de Cat alo gaç ão na Publ ica ção (CI P) Cataloga ção na public ação elabora da pela Bibliot ecária  Neid e Maria Jardin ette lanine UilCR B-9/ 884. Tema s e questões: par a o ens ino de his tór ia do Para I Regin a Célia Alegr o; et  alo  (orga nizad oras). - Londr ina: EDUEL,2 008. 314p.;23cm. Direi tos reservados a Editora da Univ ersidade Estadual de Londri na Compus Universitári o Caixa Posta l 6001 86051 -990 Londrin a PR Fone!Fax: (43) 3371-4674 e-mail:  [email protected] www.uel.br/editom Impr esso no Bmsil l Prin ted in Brazi l Depósito Legal na Biblioteca Nac ional Pró-Reitoria de Extens ão - PROEX jUEL Centro de Letra s e Ciê ncia s Hum ana s (UE L) Dep artamento de His tóri a (UEL) Dis que Gra mát ica - CLC HjUEL  Núcleo Regional de Educação de Londrina  Núcleo Regional de Educação de Comélio  ProcóF

Cidade e Identidade no ensino da história

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Capítulo do livro "Temas e questões para o ensino de história do Paraná". 2.ed. Londrina: Ed. da UEL, 2013.

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  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Catalogao na publicao elaborada pela BibliotecriaNeide Maria Jardinette lanineUilCRB-9/884.

    Temas e questes: para o ensino de histria do Paran I Regina CliaAlegro; et alo (organizadoras). - Londrina: EDUEL,2008.314p.;23cm.

    Direitos reservados aEditora da Universidade Estadual de LondrinaCompus UniversitrioCaixa Postal 600186051-990 Londrina PRFone!Fax: (43) 3371-4674e-mail: [email protected]/editom

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    Departamento de Histria (UEL)Disque Gramtica - CLCHjUEL

    Ncleo Regional de Educao de LondrinaNcleo Regional de Educao de Comlio ProcF

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    CIDADE E IDENTIDADE.

    REGIo E ENSINO DE HISTRIA

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    *Professor do Departamento de Histria da Universidade Estadual de PontaGrossa, doutor em Educao pela UNICAMP.

  • "Nada vejo por esta cidadeQue no passe de um lugar comum"(Z Ramalho - Jardim das Accias)

    You can choose a ready guideln some celestial vaice

    11you choose not to decideYou still have made a choice

    You can choose from phantom fearsAnd kindness that can kill

    1will choose a path thats clear1 will choose free will

    (Neil Peart - Free Will)

    Muitas das reflexesdesenvolvidas neste texto sooriginriasdo meu trabalho como orientador de estgios na UniversidadeEstadual de Ponta Grossa (UEPG). Nessas oportunidades,colaborei com projetos destinados a .formar professores deHistria em atividades de estgi,? baseadas em pesquisa daHistria local, entendidas como atividade educativa e, portanto,envolvendo os alunos das escolas. Logo,trata-se aomesmo tempode um ensaio que pretende algumas reflexes gerais, e de umconjunto de notas sobre a prtica de :pesquisa - conjuntamentecom os alunos - sobre a Histria locai re~nal.

    Acidade de PontaGrossa est localizada no Brasilmeridional,no sul do estado do Paran, aproximadamente a 100quilmetrosda capital, Curitiba. a principal cidade da regio dos CamposGerais, em posio geogrfica estratgica e em um importanteentroncamento rodoferrovirio e de linhas de comunicao,funo, alis, importante para todo o Estado, motivo pelo quala cidade, entre as suas variadas alcunhas, tambm conhecidacomo "capital dos caminhes". Tambm por essa caracterstica,a cidade ainda retm - embora tenha sido maior no passado - asinfluncias da ferrovia em sua economia, conformao urbana ecomposio social.

    Nesse espao e sob essa influncia, a licenciatura em Histria

  • da Universidade Estadual de Ponta Grossa vemfavorecendo, hmais de uma dcada, o trabalho de formao do professor deHistria, associado pesquisa comoatividade educativa, sejadoslicenciandos, sejados alunos em suas atividades de estgio (nasdisciplinas de EstgioSupervisionado, lotadasno Departamentode Mtodos e Tcnicasde Ensino) ou de prtica de ensino (nasdisciplinas de Oficina de Histria, lotadas no Departamento deHistria). Em ambas as frentes, os professores" aprendizes" sotreinados para a escolha de temas em Histria regional, ou quepossam ser investigados em fundos documentais acessveis,localizados na cidade, para a elaborao de projetos de pesquisae para a sua aplicao (ou construo, quando o caso) comoatividade didtica junto aos alunos do ensino fundamental emdio nas escolaspblicas da comunidade. Dessa maneira, asatividades acabampor atuar sobre a formaoda identidade dosquedelas participam, a partir da perspectiva daHistria regional,e do ao professor em formao uma amostra da dimenso deseu trabalho na escola.

    O aluno que passa por essas atividades posto diante deuma srie de questes que, a nosso ver, so hoje essenciais prtica do professor de Histria: a postura de pesquisa comoinvestigao da realidade e do passado das pessoas com asquaisinterage;a premnciade tomar cada vezmaisasaulas deHistriacomo espao dessa pesquisa; a possibilidade de produodo conhecimento por part~ dos alunos em idade escolar; anecessidade da ateno e elaborao de outras histrias, almda tradicional oficial. Dessamaneira, cremos que as atividadesde formao do professor de Histria agem, sobre a prtica, nascaractersticasdoprofessor que sepreocupa comoutras questes,alm da reproduo do conhecimento histrico acadmico emclasse.

    Pretende-se, neste texto, traar algumas ponderaes sobrea temtica do ensino de Histria, em funo da composio dasidentidades pessoais e coletivas. Nisso necessrio um certo

    cuidado, pois a identidade oelementocentral nacomposiodassubjetividades e, por conseguinte, das aes ou inaes de cadaum. Nesse sentido, a identidade poltico- territorial, a poltico-ideolgica, a temporal (no sentido de articulao dinmicaentre representaes do passado presente futuro), entre outras,so submetidas a diversos chamamentos oriundos de vriosinteresses. Trata-se de um verdadeiro campo de batalha, ondeo esplio a identidade primeira, a auto-definio prioritriana hierarquia de pertencimentos de uma pessoa, ou seja, aquiloque considero acima de tudo: catlico, evanglico, brasileiro,imigrante ucraniano ou russo-alemo, latino-americano, cidadodo mundo, professor,ponta-grossense, lder comunitrio, liberal,sulista ...

    A identidade sempre foi uma questo central para oser humano, porm adquire um aspecto dramtico nos diasde hoje, em que as aceleradas transformaes alteram astrajetrias pessoais, outrora lineares e previsveis, em sinuosase indeterrninadas. Antes, quando nascia um menino em urnapequena propriedade rural, ele sabia que ia cuidar da terra edos animais, casar-se, ter filhos e herdar a propriedade de seupai para que tambm seu filho seguisse esse ciclo;hoje, ele notem certeza se acabar trabalhando corno condutor de nibuse vivendo na periferia de uma grande cidade, ou nas estradase acampamentos de sem-terra. Algo semelhante ocorre nascidades. Essa situao denominada, por Manique y Proena(1994),corno uma" crise de identidade" comum s sociedadesmodernas, crise que desorientou a juventude, obliterando suacapacidade de traar projetos de vida a mdio e longo prazo e, oque to ruim ou pior, sua capacidade de sonhar e de lutar porseus sonhos.

    Renato Ortiz (2000), lendo Anthony Giddens, propeuma interpretao de mais longaabrangncia para esseprocesso, envolvendo os sculos que costumamos relacionar "modernidade", embora possamos adicionar que, diante do

  • quadro de simultaneidades ediferentes ribnos do tempo, trata-sedeum processo que Uainda" continua - ou, para alm do" ainda",renova-se sob novas formas e contextos em plena atualidade.Para ele, a modemidade tem um papel de "desencaixe" dasidentidades, de diluio das fronteiras, internamente dinmicoe contraditrio ao mesmo tempo. Nas sociedades antigas, oespao e o tempo parecem estar contidos pelo entorno fsico,e as comunidades (que, diferentemente das sociedades, tmsua identidade referenciada para dentro do grupo, e no inter-grupos) detm o papel principal na identificao do indivduo.O processo de modernizao dilui as fronteiras da aldeia, dacomunidade, reivindicando, para a nao, a identidade, opertencimento poltico-territorial. Mas a modernidadei nesse11desencaixe" traz consigo os germes da sua negao, porque omesmo 11desencaixe" tender, contemporaneamente, a atingir aprprianao,mov~ndoaidentidadepara terrenoscontraditrios,pendentes entre a mtindializao e o retorno a uma comunidadelocal que j no .mais a mesma da pr-modernidade. Vale apena transcrever um trecho de Ortiz para melhor acompanharesse raciocnio:

    ..:~Ia [a nao] pressupe o desdobramento dohO!Zontegeogrfico, retirando as pessoas de suaslocalidades para recuper-Ias como cidados. Ano as 11desencaixa" de suas particularidades, deseus provincianismos, para integr-Ias como partede uma mestpa sociedade. Os homens que viviama experincia de seus "lugares" mergulhados nadimenso do tempo e do espao regionais soassim referidos a uma outra totalidade. (...) A redecomunicativa(estradas deferro,rodovias, transporteurbano, telgrafo, jornais) que em alguns paseseuropeus como Frana, Alemanha e Inglaterra fruto do sculoXIX,ir, pela primeira vez, articularesse emaranhado de pontos, interligando-os entresi. A parte encontra-se, assim, integrada ao todo.O espao se desterritorializa, adquirindo um outrosignificado (ORTIZ, 2000,p. 84).

    o autor arremata esse pargrafo com a advertncia de queesse movimento no se realiza sem tenses.

    Contemporaneamente, os munidpios, os bairros e as vilasso espaos contraditrios, em que tradies ancestrais cruzam-se com a prpria tradio da modernidade. Os caminhos e odesenho dos quarteires das praas, resultantes de costumes epassagens de dcadas ou de. sculos atrs, so transitados porcarros e nibus produzidos por empresas transnacionais, compropagandas e termos oriundos de diversas culturas. O somque se ouve polifnico: so msicas sertanejas de raiz, o funkcarioca e msica romntica genrica, em que fica indistintaa origem rural ou do samba das periferias. O ar cortado porondas de rdio, televiso, aparelhos telefnicos celulares e redesde internet sem fio...Esse o "local" em que a Histria e o ensinose desenvolvem.

    A Histria regional no Brasil vem sendo considerada comouma histria da circunscrio de cada cidade, uma histriasobretudo municipal. A concepo de municpio, entre ns, to elaborada e to regional, que difcil abordar o assunto semseguir essa determinao. Ns nos perguntamos, porm, comoser possvel ver alm, entre os que buscam novos significadospara "local", relativizando uma identidade forjada a partir dademarcao de limites poltico-territoriais feita pelo Estado epelas elites do poder. Entendemos o estudo da Histria local,dialeticamente, como uma busca do particular e do diferente,daquilo que diverge e relativiza histrias e identidades maisamplas (como a nacional), simultaneamente com a demandada universalidade humana naquilo que aparentemente particular.

    Considerando a situao ponta-grossense, h certasparticularidades no seu desenvolvimento histrico que qualquertrabalho com Histria local precisa considerar. De acordocom Guimares (1997),a cidade teve um surto de crescimentoeconmico, destacadamente no setor agroindustrial, em meados

  • da dcada unida de 1970,principalmente no plantio. Naquelecontexto de revitalizao econmica, a atrao populacional foirepresentativa, e amigraopassou para contribuir decisivamentepara o crescimento do nmero de habitantes da cidade. Naspalavras deMonastirsky(1997,p.36), "A quantidade das pessoasque migraram para a cidade, ao longo das ltimas dcadas,foi alm da capacidade de absoro de fora de trabalho que osistema novo permitia. Ponta Grossa rapidamente contabilizouum dos maiores ndices de favelizao da regio sul do Brasil".Ao mesmo tempo, a ausncia de um planejamento territorialeficaz e a especulao imobiliria de bens desenharam o mapa.da municipalidade, bemcomo o seu cotidiano.

    Ento, necessrio considerar que a clientela envolvida.Pelos projetos de prtica de ensino e de estgio no curso delicenciatura em Histria da UEPG, como a prpria composiopopulacional da cidade, heterognea em termos de origem.(geogrfica, tnica, cultural e tambm social). Essa afirmao ainda mais contundente se considerarmos que o projeto prioritariamente aplicado em escolas pblicas onde esto osfilhos (e netos) daqueles que migraram nas dcadas anteriores,ou mesmo h pouco tempo, para Ponta Grossa. No sobreuma particularidade local, porque esse processo aconteceu econtinua ocorrendo na maioria das mdias e grandes cidadesbrasileiras, como podemos experimentar em nosso cotidiano.Ento, a pergunta que f~emos : qual o significado de umpatrimnio histrico local consagrado, cannico, central, sejapara este estudante migrante ou para o filho de migrantes? Opassado da cidade, que at os anos 1960era majoritariamente oque hoje o centro e alguns poucos bairros e na dcada de 1990expandiu-se alm desses limites, o passado desse aluno? Atque ponto compe sua identidade?

    A identidade poltico-territorial das crianas precede seuacesso escola: elas j tm contatos com simbolos nacionais erelaes de identificao nos primeiros anos de vida, emborano os possam formular em termos cognitivos. Entretanto,estabelece-sedesde o primeiro momento, a noo de lugar queZamboni(l993, p. 8), com base em Tuan, define como "nossasegurana, nossa casa, nosso bairro, nossa cidade, a ele estamosunidos fisicamente e emocionalmente". Porm, essa relaono mecnica, afetada pelas movimentaes populacionaise, mesmo em escala menor, pelas movimentaes de famlias eindivduos. A relao de indiferena ou mesmo de hostilidadecom o meio circundante um sintoma da urbanizao e damodernidade como um todo, que move os laos do indivduocomo local, incapacitandomuitas vezes a construo das relaesfsicase emocionaisque caracterizam o lugar.

    Um exemplo muito interessante daquela relao entre apessoa e o meio colocada por Marilena Chau (1986),ao citara anlise de Magnoni sobre as relaes estabelecidas pelosresidentes das periferias em algumas grandes cidades brasileirase seus lugares de moradia. Para Chau, os residentes, almde reinventarem as suas casas, muitas vezes providas pelosgovernos dentro de projetos de urbanizao concomitantementecom o controle social, os residentes, inventam e elaboram

    d " d "0 "noA "tambm seu espao, nomean 0-0 como pe ao . Y""-.aao,alm do seu componente geogrfico, tambm formado poruma determinada rede de relaes sociais nas quais se traamnormas de lealdade e um cdigo de sociabilidade. No limite, atransformao dos locais em lugares tambm parece seguir algica popular da constituio do "pedao", o que talvez possaexplicar a ausncia de vida e autenticidade em muitos projetosde preservao do patrimnio cultural: resgata-se o espao,masno as relaesdas pessoas com ele.

  • Nesse caso, qual o lugar do estudante migrante? Ou seja,quais so as suas identificaes, e que relaes eles estabelecemcom o local? Sem querer adiantar uma resposta nem lanaruma generalizao, mas simplesmente traar uma hiptese, provvel que a depredao do patrimnio pblico (emesmo dopatrimnio histrico) esteja fortemente ligada a um sentimentode exterioridade a esse espao e a seus aparatos, em umamanifestao explosiva da angstia pelos desencontros daidentidade entre os indivduos.

    Nesse contexto,aHistria localpode ter o papel deajustadorasuperficial de conflitos, ao tentar transformar locais em lugares(no sentido proposto por Yi-FuTuan), colaborando no processode alienao, e indagando sobre a identidade dos que analisamo local e as relaes que se estabelecem, sem uma atitude prviae exterior (atitude que, geralmente, procura para instruir sobrea preservao de elementos que so lugares para quem instrui elugares para os que soinstrudos, em uma faceta pouco notadada dominao social).

    Local no simplesmente o que est fisicamente prximo,bem como o material no simplesmente aquilo que pode sertocado e sentido. Cada um de ns tem um exemplo de coisasque sempre estiveram nos lugares pelos quais passamoscotidianamente, que sempre estiveram em nosso campo visual,e que nunca existiram para ns, at um certo momento emque nos apercebemos daquilo e que lhe damos um sentido, enos aproximamos dele em uma relao que sobrepuja o meroconhecer. Geralmente, essa (re)aproxmao acompanhadade surpresa e encantamento, e algum susto por nunca termosnotado aquilot Assim, o trabalho com a Histria local precisaser mais que o trabalho com os referenciais fsicos da cidadee de sua Histria, que podem continuar no tendo nenhumsignificado para o aluno (como muitos dos temas da Histria

    nacional, que julgamos alheios), pois o local no est no espaoe sim na experincia dos indivduos. Nesse sentido, vale a penamencionar que:

    Nos aborrecemos com a repetio de"Otapeuzinho Vermelho" no porque j aconheamos,masporque irrelevantepara nossoli agora" e a conjuntividadepresentes.Pode-setercertezaque para o 11agora" e a conjuntividadedascrianas, da maior importncia,do contrrioelano insistiriapara que fosserepetida. (...) Aquiloque s6 se relaciona com o "agora mesmo" ,por definio,sem importncia.As pessoas queescolhemsuas hist6riasno passado do seu "agoramesmo",soamserterrivelmenteaborrecidas.Deles,sepode afirmarqueno possuemnenhum 11agor'(tempos passados e tempos por vir);' em outraspalavras, que no tm personalidade. (HELLER,1993, p.72)

    nesse enfoque que as atividades de prtica de ensino ede estgio esforam-se para obter, indo alm de uma Histrialocalque seja um.merolocalismo,uma reafirmao de valores ereferncias do extrato social imperante da cidade, uma repetioem escala loc~' da l(>~ca da Histria nacional usualmenteestudada, que se presta, entre outros objetivos, supressoda diversidade com o encaixe do diverso em uma narrativaunificadora, que reduz o mltiplo ao mesmo. Para isso, soabordados, sempre que possvel, temas que tm a possibilidadedefugir de um enfoque tradicional da Histria da cidade, e atingira Histria dos migrantes e imigrantes, dos trabalhadores ruraise urbanos; outro caminho a releitura dos temas tradicionais daHistria local, propiciando uma abordagem critica e alternativa,que se beneficia do enfrentamento entre a artificialidade daHistria construda e a da memria, isto , a da experincia dosindivduos.

    lEssa redescoberta um dos aspectos do trabalho de Ldia Possas (1992)notexto "Rastreando pistas - a observao das praas da cidade:'

  • alguma relao com uma tatarav ndia cuja tribo mal havia feitocontato com a "civilizao brasileira" no incio desse sculo?

    Que relao a Histria vivida e experimentada pelo alunopode estabelecer com a Histria nacional? A Histria pessoalestaria somente no campo da memria? Que relaes essamemria estabeleceria com a Histria? E como a Histria localpode aparecer nesse contexto? No buscamos aqui estabeleceruma radical separao entre a Histria e a Memria. A Histriapode ser compreendida como um esforo com base na critica ena cincia para superar a condio de estar merc da memria,que geralmente assume a forma de pensamento no-crtico, pr-,filosfico. Porm a Histria, notadamente a Histria nacional,.tradicional, edificada paralelamente construo do Estado-nao pelas classes dominantes do imprio, assume a perspectivada memria, tal como a colocamos acima, e cumpre a funosocial de "dotar um grupo, uma nao, de sua memria, restitu-Ia" (FERRO, 1989, p.108). Tambm no vedada memriaa possibilidade de ser critica em relao s determinaes darealidade, algo que Gramsci chamaria de "bom senso". O queocorre que h uma determinada Histria local que se abriga semproblemas debaixo da sombra da Histria nacional, assumindoseu papel subordinado em uma identidade planejada e executadade cima para baixo, que se centraliza em uma memria, antesque em uma Histria.

    Essa Histria local miniaturiza a tradio da Histrianacional e escolhe seus prceres, smbolos e espaos consagrados,e sincroniza o tempo de seus objetos locais com o tempo daHistria nacional, herdando os pressupostos e as limitaesdesta ltima.

    Compreende-se que simplesmente ensinar uma dadaHistria local (a dominante) ao conjunto dos alunos significarianecessariamente contribuir com a alienao, no sentido dedistanciamento entre o sujeito (o aluno) e o objeto (a cidade e opassado), alienao que seria marcada pelo fato de o indivduo

    La Historia nacional es el vinculo que nos unea todas Ias generaciones que nos precedieron enel mismo solar que nosotros habitamos. Este nexoafectivo, con nuestros antepasados hace que susglorias sean tambin Ias nuestras, demuestra Iaunidad de destino de una comunidad y despiertay fomenta, en definitiva, el sentimiento patritico.(ADELL,1m, p.57)

    Essa citao est aqui posta para delimitar exatamente o tipode entendimento da relao entre local e nacional, contra o qualeste texto argumenta. A Histria nacional tem sido a cristalizaoda compreenso linear do tempo e das coisas, e hoje, mais do quenunca, a urgncia a busca da diferena para a afirmao de umcontrato de convivncia coletiva em novas bases.

    No Brasil comemorou-se, no ano 2.000, o que a publicidadechama incorretamente de "500 anos do Brasil", ou o aniversrio~o "Descobrimento~' do pas pelo capito portuguS' PedroAlvares Cabra!. Uma grande editora publicou uma' obra sobrea Histria do Brasil, no ensejo dessas comemora~, e 'fezpublicidade dela em um folheto ilustrado que convi

  • assumir uma identidade que objetivamente no a sua. Nobasta estar ou ser nascido em Ponta Grossa para assumir comosua a Histria do baro sem ttulo de nobreza, dos tropeiros efazendeiros, da catedral demolida e da nova, da antiga fbricade cerveja, do mate, da madeira. A Histria local deve ser umacomposio de pluralidades e experincias diversas que seencontram num mesmo lugar (a cidade) que entretanto no asdetermina, no ascongrega, no lhesatribui uma lgicaunificada,obrigatria, teraputica. A cidade s as rene.

    H muito a fazer em termos de um levantamento pluralistada Histria local.

    Assim, pois, a identidade local para cada sujeito pode sermuitas coisas: pode ser identid~de alternativa, identidadecontrapositora, ou identidade p~ssiva e obrigatria (afinal,nascemos ou estamos aqui). Tambm a Histria local pode tervrios significados em relao Histria nacional, e a vertente. lOcalista, tradicional, capaz de olhar a cidade s a partir de.$eU centro e de seus documentos-monumentos consagrados(ou lugares de memria, para utilizar um termo da dcada de1980), s a partir de seus prceres, encaixa-se perfeitamente

    '.:: na usual Histria da nao, pois ambas pensam seu objeto demaneira "geogrfica", e no experiencial, no considerando airredutibilidade de identidades pessoais e coletivas, mltiplase multiculturais. A Histria local que se apresenta comouma alternativa ao Hmesmp" est em busca de uma (ou mais)temporalidade (s) prpria (s), e no na repetio de umatemporalidade que se encaixe com o tempo artificial,excludentee esquemtico de uma Histria nacional.

    Por outro lado, a Histria local pode ser resultado de umaperspectiva diferente, que no busca imiscuir-se no ritmo ena lgica da Histria nacional, nem estabelecer-se em umahierarquia de histrias em tomo das divises arbitrrias que soos Estados-nao, suas subdivises administrativas e as cidades.A Histria local podemostrar que no necessrio ou obrigatrio

    que as histrias se encaixem em uma s lgica: pelo contrrio,no h uma lgica comum a todos os eventos nos vrios nveisda atividade humana, mas uma muItiplicidade de sentidos emque a Histria se desenvolve.

    "t' I 'F'\\; ...."Vil t" [.KIS ri/r') i.~

    Aspecto do Parque Ambiental Manoel Ribas - Ponta Grossa, PR. Ao fundo, opatrimnio histrico ferrovirio utilizado para exposies de arte. Foto LuisFemando Cem.

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    GNERO NO BRASIL E NO PARAN:

    CoMO ENSINAR EM SALA DE AULA?

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    *Professora do Departamento de Histria da Universidade Estadual deLondrina, doutora em Histria Socialpela UNICAMP.