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Cidade Industrial Antonio Castelnou

Cidade Industrial - istoecidade.weebly.com · se apóiam sobre um corpo de saberes artísticos ... 2000. Em 1900, ainda 60% da população francesa vivia no campo; e na Escandinávia,

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Cidade IndustrialAntonio Castelnou

Introdução

O URBANISMO é a arte de produzir ou mudar a forma física das cidades, sendo formado por

ações e práticas de organização do espaço que se apóiam sobre um corpo de saberes artísticos

e científicos ao mesmo tempo.

Em conjunto a técnicas e instrumentos de intervenção, que se traduzem por meio de

prescrições dirigidas aos gestores da cidade, trata-se de uma disciplina do espaço e do

tempo, voltada à práxis (prática consciente).

Sua teoria tem suas bases nas mudanças produzidas

pela REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1750-1830),

caracterizada pelo conjunto de transformações

econômicas, políticas, sociais, culturais e

tecnológicas, que vinham se processando desde fins

do século XVIII e que culminaram na primeira metade do século XIX.

Máquina à vapor (1769)James Watt (1736-1819)

A INDUSTRIALIZAÇÃO consistiu na passagem da produção baseada

na ferramenta (artesanato/manufatura) para aquela baseada na máquina (indústria), por

meio do desenvolvimento contínuo da técnica para fornecimento, em maior

quantidade e melhor qualidade, de inventos

para o homem.

Tear Jenny (1764)James Hargreaves (1720-78)

Diminuição da

mortalidade

a partir de 1750

(Aumento do

crescimento

vegetativo)

Aumento do

nível de vida

(Melhoria das

condições

higiênicas e

sanitárias)

Aceleração do

processo de

industrialização

(Estímulo à

produção

científica e industrial)

Incremento

demográfico

e industrial

(Maior demanda

por alimentação,

vestuário, etc.)

REVOLUÇÃO

INDUSTRIAL

Basicamente, os progressos industriais deram-se devido ao espírito empreendedor do homem, que buscou

solucionar problemas através do cálculo e da reflexão.

Contudo, também demonstrou decisões arriscadas, ações

incompletas e contraditórias, que permearam os sucessos

e avanços com crises e sofrimento de muitas pessoas

(BENEVOLO, 1998).

Slum neighborhoodin London (1871)

Os miseráveis (1872)Gustave Doré (1832-83)

Esses males ocorreram principalmente pela falta

de coordenação entre o progresso científico e técnico e a organização geral da sociedade, além da falta de providências

administrativas adequadas para

controlar as consequências das rápidas mudanças

econômicas.

Gravuras deGustave Doré (1832-83)

Coalbrookdale at night (1801)Philippe J. Loutherbourg(1740-1812)

Tal desequilíbrio acabou se refletindo na arquitetura do século XIX, cujo sistema era regido pelas leis

naturais e ainda por convenções deduzidas na Antiguidade e no Renascimento, que se abriram para

o HISTORICISMO (negação da universalidade das regras clássicas e a busca de outras fontes de

inspiração no passado histórico).

John Nash (1752-1835)Royal Pavilion

(1815/21, Brighton GB)

Sacré-Coeur

(1875/1914, Paris Fr.)Paul Abadie (1783-1868)

Principalmente a partir de 1850, o arquiteto perdeu

o contato com a realidade de seu tempo e passou a

discutir somente os aspectos estético-estilísticos,

deixando para outros a parte ligada à tecnologia

construtiva.

Do revivalismo estético (neoclássico, neogótico,

neobarroco, etc.), chegou-se à difusão do ECLETISMO,

incentivado pelo maior conhecimento do passado

e da arqueologia.Tour Eiffel (1888/9, Paris)

Gustave Eiffel (1832-1923)

Industrialização

Progressivas e decisivas, as transformações provocadas pela Revolução Industrial (1750-1830), aconteceram em três níveis, a saber:

Econômico-tecnológico: aumento da produção, da circulação e do consumo através da invenção da máquina

Sócio-político: proletarização de milhares de artesãos e formação de reserva de mão-de-obra

Urbano-territorial: nova distribuição da população no território e mudanças radicais na infra-estrutura urbana

Quanto às modificações técnico-construtivas,

houve:

Racionalização no uso de materiais tradicionais (melhoria de qualidade, acabamento e transporte)

Emprego sistematizado de materiais novos (ferro, vidro e concreto armado)

Palácio de Cristal(1850/1-1936, Londres GB)Sir Joseph Paxton (1803-65)

Primeira Exposição Universalde Londres (1851)

Difusão das máquinas, melhoria do aparelhamento dos canteiros de obras e das obras de fundações: John MacAdam (1756-1836) Thomas Telford (1757-1834)

Desenvolvimento das vias de transporte terrestre e aquático (traçado, topografia, etc.)

Sistemas de fundaçãoThomas Telford

(1757-1834)

Sistemas de pavimentaçãoJohn MacAdam

(1756-1836)

Em relação aos progressos científico-culturais, houve:

Surgimento das regras de Geometria Descritiva: Gaspard Monge (1746-1818)

Difusão do sistema métrico decimal: Revolução Francesa (1789-99)

Representação em diedroGaspard Monge (1746-1818)

Métodos de representaçãográfica em escala métrica

Desenvolvimento de novos conceitos físicos: Robert Hooke (1635-1703) Charles-Auguste Coulomb(1736-1806), etc.

Transformações no ensino de arquitetura e engenharia (fundação das Escolas Politécnicas e incorporação do ensino arquitetônico às Escolas de Belas Artes a partir do início do século XIX)

Leis de eletromagnetismoCharles-Auguste Coulomb

(1736-1806)

Leis de elasticidadeRobert Hooke (1635-1703)

Até o surgimento das primeiras escolas de engenharia – École des Ponts et Chaussées (1747)

e École des Ingénieurs de Mézières (1748) – o arquiteto era ao mesmo tempo o criador da forma e o único capacitado para realizá-la. Porém, a nova

profissão fundou-se na investigação científica e fez do engenheiro o “homem moderno por excelência”.

Primeira ponte de ferro(1779, Shropshire GB)

Os criadores da nova profissão eram arquitetos

construtores de linha definitivamente racional,

que definiam ARQUITETURA como a

“arte de construir”, em que mais importavam economia

e funcionalidade.

No século XIX, foi a ENGENHARIA que resolveu

os novos problemas funcionais, por meio de soluções inovadoras,

principalmente através das novas técnicas e materiais.

Tour Eiffel – Champ-de-Mars(1888/9, Paris França)

A formação do arquiteto do século XIX acabou

isolada do conhecimento e contato com a

realidade cultural de renovação, assim como

dos aspectos construtivos que a

engenharia aperfeiçoava rapidamente. Sua

atividade restringiu-se a uma PRÁTICA

ECLÉTICA, caracterizada pelo monumentalismo e pelo ornamentalismo.

Ópera de Paris (1861/75)Charles Garnier (1825-98)

As doutrinas arquitetônicas centralizavam-se em uma postura acadêmica, que ignorava a vastidão

dos novos problemas sociais a que deveriam servir, numa atitude à margem de seus fundamentos

culturais. Paralelamente, a cidade modificava-se.

Vitorian Style

(1837-1901)

Rainha Victoria(1819-1901)

Cidade Industrial

Com o Capitalismo industrial, uma nova sociedade emergiu e fez nascer também uma

nova ordem do espaço urbano, que conduziu a uma revolução no modo de pensar a cidade, a qual se expandiu em um ritmo surpreendente.

Esse crescimento acelerado da urbanização levou à concepção da cidade industrial como

CAOS que precisava ser controlado e dirigido, de modo a garantir o desenvolvimento das

novas relações sociais e econômicas.

Em 1800, apenas 22 cidades européias

possuíam mais de 100.000 habitantes e na América nenhuma. Londres tinha

cerca de 860.000 habitantes e Chicago nem

existia.

Em 1900, a Europa já possuía 84 cidades desse tamanho ou maiores; e a

América 53. Londres atingia 6,5 milhões de

habitantes, seguida por Paris e Berlim.

Áreas industriais daInglaterra (1911)

Em 1851, a população das cidades inglesas já era maior que a do campo. Na Alemanha, isto aconteceu em 1890; e nos EUA somente em 1920. No Brasil, em

2000. Em 1900, ainda 60% da população francesa vivia no campo; e na Escandinávia, 75%.

No início do século XIX, a Europa já contava

com o motor a vapor e com a iluminação à gás,

o que favorecia sua industrialização.

Em 1804 foi construída a primeira locomotiva a

vapor bem-sucedida, sendo em 1830

inaugurada a primeira ferrovia a vapor para

mercadorias e passageiros, ligando

Liverpool e Manchester. Liverpool-Manchester Railway

(1830, Inglaterra GB)

Entretanto, as condições higiênicas e sanitárias das cidades industriais eram muito precárias,

agravadas pelos padrões de moradia e exploração

dos trabalhadores.

Na década de 1830, o COLÉRA alastrou-se pela Europa, matando 100.000 só na França. Somente

em 1849, 16.000 londrinos morreram devido à

doença.

Over London by Rail(1870)

Cachorros sem dono (1872)Gustave Doré (1832-83)

Diante dessa situação crítica, vários sanitaristas buscaram soluções. Por

exemplo, sir Edwin Chadwick (1800-90)

estabeleceu uma correlação entre

condições de vida e mortalidade, associando

as doenças transmissíveis a miasmas, estes surgidos

da matéria em decomposição, o que fez nascerem as primeiras

LEIS SANITÁRIAS voltadas à habitação e saneamento.

MiasmasEdwinChadwick (1800-90)

Transmissão de germesLouis Pasteur(1822-95)

GermicidasJosephLister

(1827-1912)

O MOVIMENTO HIGIENISTA conduziu a

novas normas de projeto e construção,

saneamento urbano, criação de parques e grandes reformas nas

cidades européias.

Na segunda metade do século XIX, visando a

contenção de revoltas e melhoria das condições

de vida, surgiu o URBANISMO

NEOCONSERVADOR.

Plano de Paris(1851/69)

Urbanismo Neoconservador

O inchamento da cidade industrial conduziu a problemas de circulação e infra-estrutura urbana, além de condições precárias de

salubridade e habitação, que levou a muitas greves, manifestações e revoltas.

Na década de 1830, França, Bélgica, Polônia, Suíça e partes da Alemanha e Itália estavam em

revolta. Os anos de 1848 e 1849 viram a explosão de quase toda a Europa nas mais

sangrentas revoluções, guiadas por sentimentos nacionalistas e por ideais comunistas.

Apesar do insucesso de muitas revoltas, para

conter os problemas e, ao mesmo tempo, garantir a

manutenção da ordem econômica e social, várias

municipalidades promoveram grandes

REFORMAS URBANASnas principais capitais européias, por meio de

uma atitude neoconservadora e

tradicionalista.Greve emParis (Séc. XIX)

Paris foi pioneira através de um amplo plano de

reestruturação urbana, de bases estritamente

técnicas e estéticas, de forte caráter higienista e

anti-revolucionário, empreendido pelo Barão de Haussmann (1809-91),

entre 1851 e 1869; e amplamente copiado pelo

mundo afora.

Arc de Triomphe – Champs-Elysées

(1851/69, Paris França)

Georges-EugèneHaussmann (1809-91)

O Plano de Paris (1851/69) modelou as feições contemporâneas da cidade e envolveu a demolição

de bairros antigos, a abertura de novas vias, a implantação de parques e de diversos serviços

públicos (iluminação, água,esgoto, transporte, etc.).