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FALA , novembro 2012 Jornal do Colégio João XXIII www.joaoxxiii.com.br Izaías de Oliveira/ João XXIII A Mostra Cultural é uma espécie de balanço anual dos pro- jetos realizados na cidadela escolar. Não por acaso, o nome escolhido para batizar o evento em 2012 foi Colégio João XXIII: Cidade da Convivência, da Cultura e da Ciência. Rea- lizada no dia 24 de novembro e distribuída por 15 espaços diferentes, a Mostra reuniu um público de aproximadamente 600 pessoas, que conheceram trabalhos interdisciplinares da Educação Infantil ao Ensino Médio. Cidadela cultural

Cidadela Izaías de Oliveira/ João XXIII cultural fileFALA, Jornal do Colégio João XXIII novembro 2012 Izaías de Oliveira/ João XXIII A Mostra Cultural é uma espécie de balanço

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FALA,novembro 2012Jornal do Colégio João XXIII

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A Mostra Cultural é uma espécie de balanço anual dos pro-jetos realizados na cidadela escolar. Não por acaso, o nome escolhido para batizar o evento em 2012 foi Colégio João XXIII: Cidade da Convivência, da Cultura e da Ciência. Rea-lizada no dia 24 de novembro e distribuída por 15 espaços diferentes, a Mostra reuniu um público de aproximadamente 600 pessoas, que conheceram trabalhos interdisciplinares da Educação Infantil ao Ensino Médio.

Cidadela cultural

Efeito borboletaO que fazemos no presente ecoa

no futuro. O chamado Efeito Borboleta não é apenas uma crendice popular ou um delírio místico. Ele foi cientificamen-te descrito pelo cientista Edward Lorenz, em 1963. Mas não é preciso ser nenhum sábio para chegar à conclusão de que nossas decisões têm consequências em toda a nossa vida. Ensinamos isso aos nossos filhos e aos nossos alunos.

Essa é a razão pela qual o Colégio João XXIII, por meio do seu Conselho Deliberante, discute e planeja cada passo a ser tomado na gestão escolar. Porém, é importante dizer que este é um momento especialmente desafiador, que merece uma visão mais global, ca-paz de dar conta daquilo que queremos para a Escola relacionado ao seu cres-cimento e à manutenção de sua identi-dade frente às mudanças estruturais da sociedade e das tecnologias.

A proposta educacional humanista – baseada no conhecimento, na consciência e na criatividade, atribui-nos responsabili-dades perante um mundo em que a ten-dência e o estímulo à competitividade e ao individualismo se fazem presentes.

Por isso, é importante que toda a comunidade tenha consciência de que manter uma escola com a qualidade de ensino e a estabilidade financeira dese-jada por todos não é tarefa fácil e nem atribuição exclusiva do Conselho Delibe-rante, da Fundação ou da Diretoria Peda-gógica. Lembramos a Escola Comunitária para que, daqui a 10 anos, uma singela borboleta que bateu as asas em uma das flores plantadas pelas crianças lá no Jar-dim Sensível da 1ª série não seja respon-sabilizada por decisões que tomamos ou deixamos de tomar.

Cristina PozzobonPresidente da Fundação João XXIII

EDITORIAL

Jornal do Colégio João XXIII

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL JOÃO XXIIIPresidente: Cristina Toniolo PozzobonVice-presidente: Afonso Mossry Sperb

Diretor Financeiro: José Carlos Carpes CastiglioDiretor Jurídico: Blair Costa D’Ávila

Diretor de Patrimônio: Pedro Chaves Barcellos FilhoDiretora de Comunicação: Jaqueline Tittoni

INSTITUTO EDUCACIONAL JOÃO XXIIIDiretora Geral: Anelori Lange

Vice-Diretora: Maria Tereza Coelho

Edição: Rosina Duarte Textos: Luana Dalzotto

Diagramação e editoração: Cristina Pozzobon

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A matemática da vidaNo recreio, Osvaldo está sempre cercado por alunos

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“Que ajojo, cara. Sai dessa!”. O con-selho é do professor de Desenho Geo-métrico, Oswaldo Gomes Taveira Mano, para um aluno, no pátio. Às vésperas da segunda aposentadoria - ele já se apo-sentou da escola pública há cerca de 10 anos – o Mestre da Matemática admite: “Já fui mais carrasco, mais ainda tenho caneta vermelha”. Consequência do pas-sar dos anos, a mudança de comporta-mento fez surgir o lado mais sensível e acolhedor, “meio avô”. “É a or-dem da vida, e entre as coi-sas boas da idade está essa visão mais afável e ampla do todo” reflete ele, que este ano completa 12 anos de João e 40 de magistério.

Oswaldo come-çou a trabalhar no Colégio mais ou me-nos um ano antes de se aposentar: “Gostei porque é uma Escola descomplicada e acolhe-dora para alunos e professores. Faço parte da família do João; então, é ótimo encerrar a carreira aqui. Vou dar tchau e dizer até amanhã”, declara o professor.

Durante 2012 ora esteve de luto ora fez planos para preencher esse espa-ço. Curtir os netos, viajar e até assumir a personalidade do “bom velhinho” – herdada graças à barba branca – farão parte da nova rotina. “Se eu for Papai Noel e, acho que serei, vai ser para os velhos, porque eles amam muito mais o personagem”, comenta, divertido.

Brincadeira ou não, só o tempo dirá. O certo é que a vontade de influenciar e

ajudar as pessoas são caracte-rísticas da personalidade

de Oswaldo bastante exercidas na profis-são. “Meus objeti-vos sempre foram fazer com que o aluno entendesse Matemática e a

vida”, conta. Para ele será di-

fícil “dar tchau”. “Esse convívio faz parte da mi-

nha história e me dá prazer. Prazer é a chave de tudo, inclusive da boa formação”, afirma. E o conselho do mestre é: “Tudo que é decorado é es-quecido. Decorar é saber decoração, e ninguém sabe matemática de coração”.

Ӄ uma escola

DESCOMPLICADA E

ACOLHEDORA”Oswaldo

Eclética é um adjetivo modesto para clas-sificar a Mostra Cultural do Colégio João XXIII, que neste ano atraiu 600 visitantes. Nos 15 espaços diferentes, eles foram apresentados às obras da imaginação – e, é claro, do conhe-cimento – dos alunos: caixas que não são ape-nas caixas, meleca colorida de bebê, máquina de colher chuva, pratos revolucionários e di-nheiro voador, entre dezenas de outras inven-ções da meninada. Pelos corredores, mistu-rados aos familiares, padrinhos e madrinhas, amigos e outros membros da comunidade escolar, desfilaram não apenas cientistas mi-rins e detetives de metro e meio, poetas, mas também uma legião infanto-juvenil de pin-tores, fotógrafos, viajantes, cineastas, atores, teatrólogos,figurinistas, contadores de histó-rias, instrumentistas, menestréis e cantadores.

Cinema, Teatro, Música, Literatura, Arte e Ciências povoaram o Colégio na manhã de sábado. Além dos 32 projetos selecionados para o VII Salão UFRGS Jovem, da Mostra de Curtas e da Feira de Willian a Jorge, o evento compartilhou estudos surpreendentes, como o Móbile. Realizado pelos alunos do 3º ano do EM na disciplina de História da Arte, sob coordenação do professor André da Rocha, o projeto, composto de esculturas móveis, pro-vocou reflexões sobre a relação do homem com o capitalismo e a influência do tempo no mundo moderno.

Bem próximo, na etapa de 1º ao 5º ano, podiam ser vistos protótipos de cidades mon-tados pelos alunos do 2º ano durante o proje-to Mudanças e Permanências’, vencedor do 5º Prêmio Educação para o Trânsito da Empresa Pública de Transporte Coletivo’ (EPTC). As saí-das de estudos, as Férias Inteligentes e o pro-jeto socioambiental O Mundo Passado a Limpo também estiveram entre as atrações. A trilha sonora da Mostra ficou por conta dos alunos dos professores de Música, Ana Maestri, Es-

Obra da imaginação

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Para quem vê um cartão postal de Por-to Alegre – uma metrópole refletida nas águas do Guaíba – é difícil imaginar que por aqui também existem chácaras nas quais não só agricultores plantam frutas e hortigranjeiros com chapéu de palha na cabeça, mas também va-

cas e cavalos pastam em pequenas fazendolas e carretas transitam

em estradinhas de chão batido. Os alunos do 3º ano do EF, po-rém, tiveram oportunidade de conhecer esse lado secreto da capital quando fizeram a saída de estudos City Tour III – Cami-nhos Rurais, realizado entre 25

de outubro e 1º de novembro. Na saída de campo, que fez parte

do projeto Porto Alegre (tantas his-tórias fazem a nossa história!), os es-tudantes conheceram o bairro Belém Velho, a Floricultura Rossato Garden, a chácara Malinski e o Santuário Mãe de Deus, no alto do Morro da Glória. Durante o roteiro, tiveram oportu-nidade de comparar diferentes pai-sagens, relevo e vegetação, além de reconhecer a interdependência entre o campo e a cidade.

Porto Rural

Mais de 600 pessoas compareceram à Mostra Cultural

Uma das mais belas e antigas cidades bra-sileiras, o Rio de Janeiro, foi escolhida para uma viagem de estudos, realizada pelos alunos da 2ª série do Ensino Médio, em 23 de outubro. O projeto interdisciplinar en-volveu as disciplinas de História, Geogra-fia e Educação Física e focou importantes transformações e permanências ocorridas nos séculos XV e XX ainda visíveis na cida-de. Durante a excursão, os viajantes visi-taram os Museu de Belas Artes e Histórico

Nacional, além dos Arcos da Lapa, Forte de Copacabana, Confeitaria Colombo e Teatro Municipal. Articulado à 2ª edição do Dez a Dez, o trabalho teve uma apre-sentação especial no Ginásio em 10 de novembro, quando foram apresentados vídeos, jornais e fotografias feitas pelos estudantes, envolvendo uma releitura da história, da arte, da literatura e da cultura corporal carioca ao longo do tempo.

Rio antigo

têvão Grezeli e Marcello Soares, incluindo a Banda do João XXIII. “Compartilhar o trabalho realizado dentro do João com a comunidade é um objetivo da Escola que se manifesta o ano inteiro. Essa relação intensa com as famílias faz parte do Colégio. Para mim, como mãe, isso é fundamental porque é nesses momentos que posso observar como meu filho se relaciona dentro da Es-cola”, resume Ales-sandra Krause, mãe de João Henrique, d o 2 º ano B.

Imagine uma colmeia transgressora onde as abelhas não são apenas obrei-ras fadadas a repetir o mesmo trabalho dia após dia, mas criam, compartilham, inventam, experimentam, aprendem, ensinam e se divertem. Você visualizou uma das aulas-oficinas do Centro de Desenvolvimento Profissional Contínuo (Cetrein) do João XXIII que, na sua última edição, bateu todos os seus próprios re-cordes ao reunir uma turma de 59 alunas. Elas são educadoras assistentes da Edu-cação Infantil e trabalham em instituições particulares, municipais e comunitárias.

Na oficina-colmeia – que a coordena-dora Márcia Valiati prefere chamar Usina de Ideias – ocorreram metamorfoses. As participantes transformaram garrafas pet, cordões, papel, tintas, fitas, tecidos e cacos de dezenas de materiais destina-dos ao lixo, em objetos surpreendentes: vai-e-vem multicoloridos, confortáveis puffs, flores transparentes, guirlandas, cordas torcidas multiuso, luminárias orientais. O som de risos e vozes – en-quanto as mãos trabalham sem tré-gua – lembra o de uma colmeia, mas amplificado.

Para um observador distraído, poderia ser confundida com uma aula de artes manuais ou curso de reciclagem. Mas a proposta vai mui-to além disso. O trabalho reflete a prática das crianças do Joãozinho Legal, que cotidianamente montam seus brinquedos e brincadeiras com objetos descartáveis sem necessidade de ensiná-los a construir algo que al-guém um dia inventou. “A criança tem naturalmente este olhar sensível, não condicionado, esta capacidade de atri-buir novos significados para as coisas com seu pensamento mágico, criativo, transformador”, explica Márcia, lem-brando que as criações da gurizada renderam a surpreendente exposição

Aulas do Cetrein são usinas de ideias

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A oficina oferecida às educadoras assistentes...

do Cetrein. Para Márcia, tudo isso é transformador: “Quando se descons-trói a ideia do feio, do descartável, se descobre o valor do ser humano”.

A formação para educadores assis-tentes oferecida pelo Cetrein, entretan-to, excede às oficinas. O curso é com-posto de 100 horas de aulas teóricas realizadas às segundas e quintas-feiras à noite. As alunas e os alunos recebem certificado final. A avalição envolve

uma prática pedagógica de 20 horas em instituição de educação infantil, acompanhada de relatório descritivo e reflexivo. Esse estágio é supervisionado pela coordenadora, que realiza visitas ao local de trabalho. Seu foco principal é acompanhar as ações voltadas ao que chama “indissociabilidade entre cuidar e educar crianças pequenas”.

Ao longo das aulas, os participan-tes da formação do Cetrein recebem orientações em diversas áreas, sempre

“Estas aulas me trazem muitos

benefícios na escola e também em

casa, porque tenho um bebê de um

ano e aprendi muito. Além disso,

se aprendem muitas brincadeiras e

coisas práticas que podemos aplicar

na escola (Josiane Borges, Escola

Raio de Sol)

Criança Arteira Recicla o Mundo, duran-te a Feira do Livro do Colégio

Com a proposta de provocar um olhar menos viciado e mais inventivo nas alunas, o Cetrein uniu as práticas da criançada com os fundamentos do projeto O Mundo Passado a Limpo, que propõe uma abordagem multidiscipli-nar de sustentabilidade. E mais: rompeu barreiras ao reunir professores do João e de outras escolas, além das dinami-zadoras do Joãozinho Legal, às alunas

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...foi inspirada no projeto Criança Arteira Recicla o Mundo

“Antes eu tinha dificuldade para resolver as situações de conflito. Quando duas crianças brigam pela bola, por exemplo, não adianta arrancar a bola.Em vez de dizer ‘não pode’, não faz’, é preciso entender o que está acontecendo, transformar essa competição em uma brincadei-ra”. (Samara Fradié, Escola Lupicínio Rodrigues)“Eu tinha pena dos pequenini-

nhos. Tinha pena de dizer não

quando eles queriam um brin-

quedo que outra criança maior

estava usando, por exemplo. Ago-

ra eu sei que dá para dizer ‘espe-

ra um pouco’ Por que o maiorzi-

nho tem que ceder sempre? Ele

também precisa ser respeitado. A

criança, mesmo quando peque-

na, não pode ter tudo na hora

que quiser, porque a vida não é

assim. (Rita Maciel, escola Padre

Pedro Leonard II)

“É como se eu estivesse fazendo uma terapia. As aulas fazem com que eu entenda as coisas pelas quais passei na infância e o que me faltou para ter uma vida melhor. Eu quero que os pequenos tenham o melhor para a vida de-les, dando apoio a tudo que eles precisam”. (Silvia Portela, Escola Padre Pedro Leonard)

aplicáveis no dia a dia. Com um lençol, por exemplo, aprenderam a fazer um rio que as crianças precisam atravessar, enfrentando diversas situações impre-visíveis. Mais do que uma brincadeira, o exercício exige concentração, raciocínio e criatividade para superar as situações difíceis. Entre dezenas de temas nevrál-gicos – e nem sempre fáceis de lidar – ouviram e debateram longamente so-bre sexualidade na infância com a psi-cóloga do João XXIII, Maria Fernanda Soledade Hennemann.

demarcados e orientação profissio-nal por parte da equipe do João XXIII. Tudo temperado com muita troca de vivências. “Aqui cresci como mãe, como pessoa e como profissional. Eu não tinha paciência. Sempre gostei de crianças... dos vizinhos. Eu ia lá, brincava, tumultuava, fazia um auê, deixava as crianças bem mal-educa-das e ia embora. Hoje eu sei que não basta gostar. Tem que educar”, avalia Simone Bones, da escola Integração dos Anjo. E Karine Cutruneo, da Es-cola Raio de Sol, arremata: “A gente sai do trabalho cansada, mas depois chega aqui e quer mais. Os professo-res sabem do que estão falando. Eles fazem a gente ver o que está errado e orientam como melhorar. Só duas vezes na semana é pouco”.

Linguagem do sono “Prestem atenção no sono”, avi-

sa Maria Fernanda. E acrescenta: “Dormir não é só fechar os olhos e desconectar da realidade. O sono da criança nos diz muitas coisas”. E aguarda, porque sabe que logo vem uma chuva de dúvidas e exemplos práticos não apenas dos locais de trabalho como também domésticos. Daí para frente a aula vira um debate por boa meia hora. Fica esclarecida a necessidade de preparar as crian-ças para o sono – cumprir horários regulares, escovar os dentes, botar o pijaminha, ouvir uma história, entre outros rituais diários – e não apenas dizer: “Hora de dormir! Boa noite. Apaga a luz”. Essas rotinas ajudam a criança a se organizar.

O pingue-pongue avança: E o bei-jo selinho? O ciúme do pai? É normal? Quando, como e onde? Até que ida-de dura a Electra e o Édipo? Não há provas de avaliação do desempenho das participantes nem determinação rígida sobre certo e errado. Porém, o conteúdo é bem nutrido, com temas

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Quando d i s se ram

que a reunião seria no salão dos

fundos logo pressenti que aquele final de tarde seria diferente. Afi-nal, o convite me revelaria um dos espaços mais privilegiados do Colégio João XXIII: o pátio dos fundos. Local onde a natureza das coisas impera dominante. Árvores, chão ba-tido, espaço. Confesso que circulo pouco por ali, mas isso não me impede de reconhecer ali uma espécie de santuário sonoro.

Começa cedo. A entrada dos professores, o blá-bláblá da chegada. Ao longo do trecho que separa o estacionamento dos prédios eles já vão trocando ideias – as mesmas que depois tomarão forma e crescerão em sala de aula, no café do intervalo. Mais tarde, no meio da manhã, vêm os pequenos – os das primeiras séries –, e estes já conhecem

todos os mocós e recantos escondidos do pá-tio grande. Eles correm seus primeiros anos de vida, vezenquando derrapando no areião lomba abaixo, noutras subindo (ou tentando subir) nas árvores, sempre atacados daquele estado de pura felicidade por estarem soltos – o tempo de um recreio. Esses sim são felizes... Afinal, quem não gostaria de um pátio cheio de árvores, lombas e descidas, ou de brincar de esconde-esconde? É um privilégio circu-lar por ali nas horas em que os adultos – os atarefados – estão na faina do dia a dia, em salas fechados, compromissos, reuniões. Dali, do pátio grande, esses pequenos por certo guardarão boas memórias: dos tombos, das escaladas... e dos monitores, afinal, há regras por ali também.

À tarde o pátio dos fundos ganha nova leva de alunos e tudo se repete, só que agora com o calor da tarde. Atividades outras exis-tem. E é ali, no verde artificial do campão, que

outros movimentos contagiam o pátio gran-de. As disputas, as corridas, os exercícios, as di-vididas, tudo rompe a natureza do silêncio do pátio dos fundos... E os gritos da gurizada são cortados, aqui e ali, pelo martelar dos pássa-ros, os verdadeiros habitantes soberanos do lugar. Mas há outros movimentos sonoros.

Naquele final de tarde de uma reunião marcada, eis então que tudo me foi diferente porque conheci um outro espaço do Colégio João XXIII. No galpão mais ao fundo, ao lado do salão de festa, este belo espaço que ou-trora foi depósito de tudo, ali pertinho, numa sala de aula, acordes enfeitiçavam o meu final de tarde. A banda dos pais ensaiava Smoke in the water. E fiquei a pensar que o pátio dos fundos também pode ser dos pais. Em reuniões, sim; em boa música também..

Edgar Aristimunho, pai do Mateus, 5º ano C

Históriasdo

João

O projeto Crônicas do João é um espaço literário aberto em que a comunidade pode mostrar sua escrita criativa. Esperamos o seu texto.

Acordes de Fim de Tarde

O projeto do Colégio João XXIII Uma Escola Para Sentir e Viver – A identidade do 5° ano em uma abor-dagem multirreferencial no currículo de 9 anos do Ensino Fundamental foi um dos vencedores da 3ª edição do prêmio Inovação em Educação, do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS). A pre-miação foi realizada no dia 4 de de-zembro, no Teatro da Pucrs, data em que o Sinepe completou 64 anos. O João XXIII conquistou medalha de bronze.

As instituições ven-cedoras passaram por duas etapas de avaliação: na primeira, foram julgados os pro-jetos escritos e, na segunda, os trabalhos parti-

ciparam de audiência pública. Nessa ocasião, o João foi defendido pelas coordenadoras pedagógicas Ianne Vieira e Rosa Ely. “Conseguimos dar visibilidade ao projeto fora do âmbito da comunidade escolar. Na audiência pública falamos com o coração sobre o trabalho, que começou a ser cons-truído em 2008, e este ano está sendo colocado em prática”, comemora Rosa.

A iniciativa, que faz parte do Prêmio Destaque do Sindicato re-

alizado há dez anos, possui atualmente três áreas

de atuação: ‘Inova-ção em Educação’,

‘Comunicação’ e ‘Responsabi-lidade Social’. Todas elas são subdiv id idas em categorias menores.

Novo 5º ano conquista prêmio do Sinepe

Um arauto inglês medieval se encontrou com um

cantador do sertão nordestino no Ginásio do Co-

légio João XXIII em 6 de novembro passado. Esse

passe de mágica do calendário ocorreu durante

o evento Uma Feira em dois Tempos: de Willian

a Jorge, que reuniu obras e ambientes históricos

do dramaturgo inglês Willlian Shakespeare e do

escritor baiano Jorge Amado.

O estudo de ambos os autores pelos alunos da 8ª

série estendeu-se ao longo do ano, envolvendo

as disciplinas de Filosofia, História, Língua Inglesa,

Língua Portuguesa e Música. Questões históricas

e ideológicas dos dois períodos foram abordadas

separadamente nas feiras medieval e nordestina,

mas um arauto- mensageiro oficial da Idade Mé-

dia – e cantadores faziam a ponte entre os dois

ambientes. A trilha musical foi feita ao vivo, pelos

estudantes, que também apresentaram leitura

dramática, teatro de bonecos e de sombras.

Salve Jorge, Save William

Autores mirins, ainda com porteirinhas nos dentes, autografaram na 58ª Feira do Livro de Porto Alegre. Eles eram alunos do 2º ano do Colégio João XXIII e assinavam a obra coletiva Criando Histórias para não criar CRACA!, projeto pedagógico realiza-do em parceria com a escritora Christina Dias, mãe dos alunos Fernando (5º ano A do EF) e Luisa (2º ano C do EM). Além do lançamento, ocorrido na manhã de 21 de outubro, no Território das Escolas, a Escola também contou com um espaço especial no Cais do Porto – o Planeta Literatura – onde foi exposto todo o trabalho literário desenvolvido, além de releituras artísticas da obra de Iberê Camargo, produzidas pe-los estudantes.

Toda essa história começou com a leitura de alguns dos livros de Cristina, entre eles Criando craca, e Iberê Menino, que conta a vida do artista plástico Iberê Camargo, com linguagem voltada para o público infantil. Autora experiente de 18 obras e membro da comunidade esco-la, ela acabou se envolvendo de corpo e alma no projeto. Realizou oficinas literá-rias, orientou a gurizada, acompanhou a edição junto com os professores e con-

seguiu não apenas viabilizar a publicação do livro como também o espaço especial para a Escola na Vitrina da Leitura, da Bi-blioteca Moacyr Scliar, instalada no Cais.

Para a escritora “foram momentos mágicos, de muita criação e produção de textos especialíssimos”. Mais do que produzir uma obra literária capaz de emocionar e orgulhar pais e crianças, é

importante “abrir espaços, frestas e jane-las para os livros, porque ler, produzir e contar histórias são hábitos fundamentais na formação das nossas crianças”, explica Ianne Vieira, coordenadora pedagógica da Etapa de 1º ao 5º ano.

(Confira trechos das histórias no es-paço Esta Página é Nossa, na contracapa deste jornal)

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João autografa na Feira do Livro de Porto Alegre

Dinastia de escritorasHelena Figueiredo Santos Silva, aluna do 2º ano F e uma das autoras do livro Criando Histórias para não criar CRACA! é a terceira de uma dinastia. Sua avó, a escritora e artista plástica Isolde Bosak, autografou na Feira do Livro de 2009. No ano seguinte, foi a vez da mãe, Joana Bosak de Figueiredo, doutora em História e Literatura. E, neste ano, a própria Helena assinou a obra escrita em parceria com os colegas do João XXIII. Conhecida como “a leitora” pelos responsáveis pela Biblioteca escolar, ela retira um livro por semana. “Quando a gente lê, pode imaginar coisas que não existem no mundo”, explica. Depois da estreia, anda planejando escrever um livro só seu. E dá uma pista: “Vai ser uma história diferente de mistério”.

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Alunos do 2º ano produziram a obra coletiva Criando Histórias para não criar CRACA!

Espaço dos estudantes do João XXIII

“Era uma vez um ET que se sentia mui-to diferente. Ele era parecido com o Pi-nóchio (...) mas não era mentiroso. (...) Ele se sentia diferente, e por isso não se sentia normal (...)Seu único amigo era um dragão solitário que parecia um gatinho. (...)“Vamos tentar virar herói para ter uma vida mais legal? (...) Os dois tentaram. Eles descobriram que (...) teriam que treinar por muito tempo (...) Eles passaram por provas de fogo, foram atingidos por machados, espadas, bombas espinhos e armadi-lhas. (...) Para isso tinham até que voar.

Como farão isso? (*)

Cabeça livre de craca“Desejamos uma boa viagem lite-rária, com garantia de arte, diver-são e muita imaginação! Impor-tante! Esse livro também é muito eficaz para prevenir CRACA. Sem-

pre que precisar, abra, solte sua imaginação e fique bem! Nós te-mos a comprovação de que nada é mais eficaz para CRACA do que ler, imaginar e viver histórias...”

“Era uma vez uma árvore especial. Ela era chamada assim porque era amada por todos. (...) Ela brilhava (...) porque foi plantada com carinho e amor. (...) Suas folhas eram mágicas (...) e só bri-lhavam quando a gente olhava para elas. Um dia a árvore parou de brilhar e perdeu todas as folhas. Quando a úl-tima folha caiu, todas as outras árvores da floresta murcharam. (...)”

Por que a árvore parou de brilhar? (*)

“Era uma vez um montão de letras misturadas. Elas pareciam antigas e estavam dentro de um livro. (...) Não podiam se desgrudar e não era pos-sível ler o que estava escrito(...) Elas guardavam um segredo (...) que ja-mais poderia ser revelado. E foi por isso que elas se embaralharam. (...) Se o segredo fosse decifrado (...) as letras desapareceriam para sempre e os li-vros ficariam vazios (...)”

Como salvar os livros? (*)

(*) Para responder a todas as perguntas acima, leia o livro completo

(Recado dos autores, impres-so na contracapa do livro Criando Histórias para não Criar CRACA!, escrito pelos alunos do Colégio João XXIII)

Superamigos em... O caminho para a fama(2º ano B)

A árvore especial

(2º ano D)

O Segredo das Letras

(2º ano F)