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Cidades na Cidade Cities within the City

Cidades na Cidade Cities within the City - colaterais.org · radical entre condomínios e favelas que podem estar escondidas alter-business. Forces not directly involved in informal

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Este projeto propõe uma estratégia que vê, nos desequilíbrios sociais das grandes cidades, oportunidades de projeto. Cidades na Cidade se caracteriza pela aproximação de dois extremos que se repelem. O primeiro extremo é bem conhecido dos arquitetos e abrange a visão dos produtores da cidade: as construtoras, as imobiliárias e as grandes empresas. É o lado da especulação imobiliária, das forças que determinam as inclusões e exclusões urbanas e que não está diretamente ligado às ocupações informais.

O outro lado consiste nas favelas. Território escolhido para investigar melhor a fronteira entre essas duas cidades, entre o formal e o informal, elas não entram aqui como um setor marginalizado ou excêntrico, mas como uma parte indissociável de um todo que só será estudado junto às forças do mercado imobiliário. Tal aproximação é o nosso ponto de partida; o que move um estudo onde compensações e contrapartidas aproximam classes sociais antagônicas do cenário urbano.

Os objetivos do projeto baseiam-se nas potencialidades específicas da cidade fragmentada - repartida entre condomínios e favelas, o “asfalto” e a clandestinidade - de uma forma simultânea que podemos resumir como:Investigar as possibilidades de uma intervenção em favela que seja vinculada ao poder privado (e não ao público, como geralmente acontece), explicitando contrastes sociais como uma saída para o problema: choques de classes sociais que poderão mostrar outras possibilidades de intervenção, onde melhorias sociais e o capital imobiliário convergem em uma mesma abordagem.

CIDADES NA CIDADE

Ora, o processo de favelização se tornou grande demais para ser resolvido por programas públicos de melhoria urbana, e por isso urge a concepção de novas formas de intervenção na cidade informal. É na aproximação radical entre condomí-nios e favelas que podem estar escondidas alternativas para o orçamento limitado das prefeituras das grandes cidades. Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Caracas, os favelados são detentores de grandes áreas para especulação. Se para a iniciativa privada fossem cedidos terrenos hoje ocupados pela favela, mecanismos de contrapartida entre construtoras e favelas gerariam projetos que englobariam moradores “ini-migos”. Em princípio, a estratégia que testamos aqui é sim-ples: empresários e favelados conciliando soluções possíveis, terrenos para prédios em troca de intervenções sociais na favela. Ou seja, condomínios e favelas sendo contemplados num mesmo projeto.

Favela Acaba MundoSituada em Belo Horizonte, a favela Acaba Mundo, depois re-batizada Vila JK, está inserida na área de entorno do Tomba-mento da Serral do Curral, que é um instrumento de preser-vação ambiental. Ou seja, a favela está dentro das imediações de uma Serra considerada patrimônio natural e simbólico da cidade. Ao sul, ela é cercada pelos já saturados bairros Sion, Anchieta e Mangabeiras, todos de classe média-alta / alta. Nas outras três direções, ela é envolvida pela área tombada da Serra, de propriedade de uma mineradora ainda em ativi-dade. Essa área tombada que envolve a favela é um grande vazio absolutamente não ocupável devido à legislação de tom-bamento, que impede qualquer densidade.

A grande questão passou então a ser a maneira de inserir equipamentos, sejam eles públicos ou privados, na região tom-bada da Serra, incluindo aqui os interesses da favela Acaba Mundo.

Serra do CurralNo nosso entendimento, a incorporação da área tombada da Serra do Curral para a cidade deve obedecer ao conceito de Parque Urbano, onde a conservação ambiental e a ativação social por meio de equipamentos de uso público deverão per-mitir o uso da Serra. Pretendemos, em outras palavras, tor-nar pública uma área verde privada, ainda não ativada e não utilizada pela população.

Sabendo que essa área no entorno da favela Acaba Mundo pertence ao setor privado, e sabendo que ela está dentro do limite de tombamento da Serra, uma intervenção arquitetô-nica aqui deve passar por uma estratégia de ocupação onde estariam conciliados os interesses 1.dos proprietários dessa área tombada; 2. dos ambientalistas; 3. do poder público; e 4. da comunidade. Trata-se de uma área onde uma Operação Urbana1 pode ser utilizada como instrumento para que o setor privado usufrua do potencial construtivo de sua propriedade, levando em consideração os interesses do setor público e da comunidade diretamente envolvida (no caso, a favela Acaba Mundo).

Pelo Tombamento da Serra do Curral, fica explícita a intenção do poder público em vetar a construção nessa grande área tombada, toda ela pertencente à Mineração Lagoa Seca. En-tretanto, a área considerada ARE3 (Área de Recuperação 3, ver mapa ao lado), por já estar degradada, é passível de ocu-pação. Sendo essa região uma das mais valorizadas para em-preendimentos de luxo na zona sul, a mineração reivindicará a transferência do direito de construir das áreas não-degradas da Serra para a área degradada (ARE3). Essa transferência terá que obedecer a critérios não definidos por lei, daí a uti-lização de uma Operação Urbana como recurso para negociar esses critérios. É aqui que poderemos então entrar com a O. U. como um mecanismo capaz de equilibrar os interesses da prefeitura, da mineração, da favela e o dos ambientalistas.

Operação UrbanaA Operação Urbana poderá ser pensada de duas formas. A primeira delas concentra todo o potencial construtivo da mi-neração em uma só área (proposta 2, alta densidade). Esta coincide com o aterro de estéril junto ao bairro Belvedere. Nesta primeira hipótese, a densidade será alta, mas toda a área restante da Serra seria liberada como um Parque Urba-no de uso público. Para construir o empreendimento privado (concentrado no projeto 1 - Centro Empresarial), os empre-endedores deverão patrocinar compensações a serem dadas para a prefeitura (projeto 2) e favela (projetos 3 e 4).

A segunda densidade (proposta 1, baixa densidade) propõe uma ocupação bem mais esparsa. A área para equipamentos privados estaria espalhada ao longo de uma área bem maior, e consequentemente a área do Parque Urbano seria menor. Em ambos os casos, o novo Parque Urbano seria uma conti-nuação do existente Parque das Mangabeiras (ver mapa no canto superior direito), o que deixaria Belo Horizonte com uma enorme rede de parques articulados.

Lideranças Comunitárias Rede de Esgoto Existente Tempo de Ocupação Padrão Construtivo Áreas de Risco

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Cidades na Cidade propõe uma estratégia que vê, nos desequi-

líbrios sociais das grandes cidades, oportunidades de projeto. Cidades na Cidade se caracteriza pela apro-ximação de dois extremos que se re-pelem. O primeiro extremo é bem conhecido dos arquitetos e abrange a visão dos produtores da cidade: as construto-ras, as imobiliárias e as grandes em-

Cities within the City considers proj-ect opportunities spotted by the so-cial disequilibrium of cities under un-controlled sprawl. It is characterized by the gathering of two repelling ex-tremes. On the one hand, the city-makers’ point of view. Construction compa-nies, real state agencies and enter-prises standing for the production of buildings and the land speculation

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1

5

2 4

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Lideranças Comunitárias Communitarian Leaderships

1::Generosa Costa de Oiveira Braz (LF) Rua Correas, 555

2::José Roberto dos Santos (LF) Rua dos Carvalhos, 89

3::Daniel Engênio Moreira (LI) Rua dos Carvalhos, 21

4::José Vieira Silva (LF) Rua Desenganos, 48

5::Efigênia Martins (LF) Rua dos Carvalhos, 180

6::Perova (LF) Casa Bem me quer

7::Cida (LI) Rua dos Carvalhos, 11

Rede de Esgoto Existente Existent Sewer Net

Depósito irregular de lixo

Lixeira Pública

Caçamba

Esgoto a céu aberto

Rede de esgoto

Sentido do fluxo

Irregular garbage deposit

Public garbage can

Dump-cart

Open sewer

Sewer net

Flow direction

Fonte: Clam Engenharia, PGE da Vila JK, 2000

Fonte: Clam Engenharia, PGE da Vila JK, 2000

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presas. É o lado da especulação imo-biliária, das forças que determinam as inclusões e exclusões urbanas e que não está diretamente ligado às ocupações informais.O outro lado consiste nas favelas. Território escolhido para investigar melhor a fronteira entre essas duas cidades, entre o formal e o informal, elas não entram aqui como um se-tor marginalizado ou excêntrico, mas como uma parte indissociável de um todo que só será estudado jun-to às forças do mercado imobiliário. Tal aproximação é o nosso ponto de partida; o que move um estudo onde compensações e contrapartidas apro-ximam classes sociais antagônicas do cenário urbano. Os objetivos do projeto baseiam-se nas potencialidades específicas da ci-dade fragmentada - repartida entre condomínios e favelas, o “asfalto” e a clandestinidade - de uma forma simul-tânea que podemos resumir como:Investigar as possibilidades de uma intervenção em favela que seja vin-culada ao poder privado (e não ao público, como geralmente acontece), explicitando contrastes sociais como uma saída para o problema: cho-ques de classes sociais que poderão mostrar outras possibilidades de in-tervenção, onde melhorias sociais e o capital imobiliário convergem em uma mesma abordagem. O processo de favelização se tornou grande demais para ser resolvido por programas públicos de melhoria urbana, e por isso urge a concepção de novas formas de intervenção na cidade informal. É na aproximação radical entre condomínios e favelas que podem estar escondidas alter-

business. Forces not directly involved in informal settlements but which, in its overall, determine all the urban in-clusions and exclusions.On the other hand, the slum quarters. Spotted here neither as marginal nor eccentric, they are considered as an inseparable part of a whole analyzed through the participation of the real state market. In other words, slums as territories for an economic inves-tigation on the borders among both cities, the formal one as well as the informal. The project itself focuses on specific potentialities of a fragmented city split over among slums and residen-tial condominiums - the “asphalt” and the clandestinity.It sums up slums upgrading tied to the private companies’ initiative, rather than the public entrepreneur-ship; and emphasizes the social con-trasts as a problem-solving policy: social classes’ differences leading to design possibilities that converge the real state capital and the social inter-est in the same approach.In the Third World cities, slumming of areas has increased far steady to be come across by public urban-upgrad-ing programs. Therefore, alternative ways to intervene in the informal city urge. The radical gathering of condo-miniums and slums shall bring about alternatives to the limited budget of these cities. In Sao Paulo, Belo Hori-zonte or Caracas, outstanding urban areas are held in between slums. If municipal procedures yield plots taken over by the city-slums to the city-makers, the counterpart among constructors and slums dwellers shall sprout projects aimed at the co-living

0 a 5 anos

5 a 10 anos

10 a 15 anos

15 a 20 anos

20 a 25 anos

25 a 30 anos

acima de 30 anos

0 to 5 years

5 to 10 years

10 to 15 years

15 to 20 years

20 to 25 years

25 to 30 years

above to 30 years

Precário

Regular

Bom

Precarious

Regular

Good

Tempo de Ocupação Time of occupation

Padrão Construtivo Constructive standard

Fonte: Clam Engenharia, PGE da Vila JK, 2000

Fonte: Clam Engenharia, PGE da Vila JK, 2000

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of such “enemies”. Rather simple at a first glimpse, Cities within the City tests the possible gathering of en-trepreneurs’ and slums inhabitants’ interests: building-plots in exchange for urban and architectural interven-tions in the slums. It searches for the contemplation of condominiums and slums radically and simultaneously, within a very same project, though. JK VillageJK Village, formerly called Acaba Mundo, is settled in the surroundings of a listed ridge called Serra do Cur-ral – natural patrimony and symbol of Belo Horizonte, Brazil. It is limited by some over inhabited, middle-up-per class districts, and involved to the south by the Serra’s green-con-trolled-areas (ownership of a local mining-company). Due to city gov-ernment listing-hinders, these green areas which border Acaba Mundo resemble an enormous void, a non-density private land. Cities within the City’s core-inquiry aims at the inser-tion of either public or private facili-ties within the Serra’s area - where the slum Acaba Mundo is also locat-ed. It intends to set public a non-ac-tivated, private, green-listed-area by means of an Urban Operation.

Serra do CurralWe tend to believe that the incor-poration of Serra do Curral’s listings by the city shall bring about its use through the settling of urban parks, where both the environmental con-servation and the social activation of a great urban void are carried by means of public facilities installed in the design scope-areas.

ScenarioA private company holds the owner-ship of the Acaba Mundo’s bordering green areas – the bottom of the ridge listed by the city government. Any architectural intervention in this area shall frame an occupation strategy that conciliates the conflicting inter-ests of 1.the owner of the listed-ar-eas; 2. the environmental activists; 3. the city government; and 4. the slum community. An Urban Operation shall be applied as a mechanism to benefit the enterpreneurs – in their use of the area’s plot ratio (0.3) - looking forwards to meeting govern-mental and community’s interests as well.Some of the listed areas are degraded by two open pits (ARE 3, see the list-ed area plan). Other ones are (rela-tively) untouched natural lands (APR2 and APR). The listing policy forbids any density in the natural parts, but it is open to any proposal for the pits’ surroundings. Sooner or later, due to the site’s over-evaluation in the real state market, the mining company may demand the transfer of the plot ratio of the natural lands to a differ-ent area located in its perimeter.

Urban OperationThe Urban Operation applied in this study case shall be modelled in two different possibilities. The first one concentrates the constructive-po-tential within a sole high-density plot (density 1), which is a land-fill of barren soil. The project’s remain-ing areas shall be set free to hold an urban park. In order to build the Business Center on the land-fill (proj-

nativas para o orçamento limitado das prefeituras das grandes cidades. Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Caracas, os favelados são detentores de grandes áreas para especulação. Se para a iniciativa privada fossem cedidos terrenos hoje ocupados pela favela, mecanismos de contrapartida entre construtoras e favelas gerariam projetos que englobariam moradores “inimigos”. Em princípio, a estratégia que testamos aqui é simples: empre-sários e favelados conciliando solu-ções possíveis, terrenos para prédios em troca de intervenções sociais na favela. Ou seja, condomínios e fave-las sendo contemplados num mesmo projeto. Vila JKSituada em Belo Horizonte, a antiga favela Acaba Mundo está inserida na área de entorno do Tombamento da Serral do Curral, que é um instrumen-to de preservação ambiental. Ou seja, a favela está dentro das imediações de uma Serra considerada patrimô-nio natural e simbólico da cidade. Ao sul, ela é cercada pelos já saturados bairros Sion, Anchieta e Mangabeiras, todos de classe média-alta / alta. Nas outras três direções, ela é envolvida pela área tombada da Serra, de pro-priedade de uma mineradora ainda em atividade. Essa área tombada que envolve a favela é um grande vazio absolutamente não ocupável devido à legislação de tombamento, que impe-de qualquer densidade. A grande questão passou então a ser a maneira de inserir equipamentos, sejam eles públicos ou privados, na região tombada da Serra, incluindo aqui os interesses da Vila JK.

Serra do CurralNo nosso entendimento, a incorpo-ração da área tombada da Serra do Curral para a cidade deve obedecer ao conceito de Parque Urbano, onde a conservação ambiental e a ativação social por meio de equipamentos de uso público deverão permitir o uso da Serra. Pretendemos, em outras pala-vras, tornar pública uma área verde privada, ainda não ativada e não uti-lizada pela população. Sabendo que essa área no entorno da favela Acaba Mundo pertence ao setor privado, e sabendo que ela está dentro do limite de tombamento da Serra, uma intervenção arquitetônica aqui deve passar por uma estratégia de ocupação onde estariam concilia-dos os interesses 1. dos proprietários dessa área tombada; 2. dos ambien-talistas; 3. do poder público; e 4. da comunidade. Trata-se de uma área onde uma Operação Urbana pode ser utilizada como instrumento para que o setor privado usufrua o potencial construtivo de sua propriedade, le-vando em consideração os interesses do setor público e da comunidade di-retamente envolvida (no caso, a Vila JK). Pelo Tombamento da Serra do Cur-ral, fica explícita a intenção do poder público em vetar a construção nessa grande área tombada, toda ela per-tencente à Mineração Lagoa Seca. Entretanto, a área considerada ARE3 (Área de Recuperação 3, ver mapa), por já estar degradada, é passível de ocupação. Sendo essa região uma das mais valorizadas para empre-endimentos de luxo na zona sul, a mineração reivindicará a transferên-

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Este projeto propõe uma estratégia que vê, nos desequilíbrios sociais das grandes cidades, oportunidades de projeto. Cidades na Cidade se caracteriza pela aproximação de dois extremos que se repelem. O primeiro extremo é bem conhecido dos arquitetos e abrange a visão dos produtores da cidade: as construtoras, as imobiliárias e as grandes empresas. É o lado da especulação imobiliária, das forças que determinam as inclusões e exclusões urbanas e que não está diretamente ligado às ocupações informais.

O outro lado consiste nas favelas. Território escolhido para investigar melhor a fronteira entre essas duas cidades, entre o formal e o informal, elas não entram aqui como um setor marginalizado ou excêntrico, mas como uma parte indissociável de um todo que só será estudado junto às forças do mercado imobiliário. Tal aproximação é o nosso ponto de partida; o que move um estudo onde compensações e contrapartidas aproximam classes sociais antagônicas do cenário urbano.

Os objetivos do projeto baseiam-se nas potencialidades específicas da cidade fragmentada - repartida entre condomínios e favelas, o “asfalto” e a clandestinidade - de uma forma simultânea que podemos resumir como:Investigar as possibilidades de uma intervenção em favela que seja vinculada ao poder privado (e não ao público, como geralmente acontece), explicitando contrastes sociais como uma saída para o problema: choques de classes sociais que poderão mostrar outras possibilidades de intervenção, onde melhorias sociais e o capital imobiliário convergem em uma mesma abordagem.

CIDADES NA CIDADE

Ora, o processo de favelização se tornou grande demais para ser resolvido por programas públicos de melhoria urbana, e por isso urge a concepção de novas formas de intervenção na cidade informal. É na aproximação radical entre condomí-nios e favelas que podem estar escondidas alternativas para o orçamento limitado das prefeituras das grandes cidades. Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Caracas, os favelados são detentores de grandes áreas para especulação. Se para a iniciativa privada fossem cedidos terrenos hoje ocupados pela favela, mecanismos de contrapartida entre construtoras e favelas gerariam projetos que englobariam moradores “ini-migos”. Em princípio, a estratégia que testamos aqui é sim-ples: empresários e favelados conciliando soluções possíveis, terrenos para prédios em troca de intervenções sociais na favela. Ou seja, condomínios e favelas sendo contemplados num mesmo projeto.

Favela Acaba MundoSituada em Belo Horizonte, a favela Acaba Mundo, depois re-batizada Vila JK, está inserida na área de entorno do Tomba-mento da Serral do Curral, que é um instrumento de preser-vação ambiental. Ou seja, a favela está dentro das imediações de uma Serra considerada patrimônio natural e simbólico da cidade. Ao sul, ela é cercada pelos já saturados bairros Sion, Anchieta e Mangabeiras, todos de classe média-alta / alta. Nas outras três direções, ela é envolvida pela área tombada da Serra, de propriedade de uma mineradora ainda em ativi-dade. Essa área tombada que envolve a favela é um grande vazio absolutamente não ocupável devido à legislação de tom-bamento, que impede qualquer densidade.

A grande questão passou então a ser a maneira de inserir equipamentos, sejam eles públicos ou privados, na região tom-bada da Serra, incluindo aqui os interesses da favela Acaba Mundo.

Serra do CurralNo nosso entendimento, a incorporação da área tombada da Serra do Curral para a cidade deve obedecer ao conceito de Parque Urbano, onde a conservação ambiental e a ativação social por meio de equipamentos de uso público deverão per-mitir o uso da Serra. Pretendemos, em outras palavras, tor-nar pública uma área verde privada, ainda não ativada e não utilizada pela população.

Sabendo que essa área no entorno da favela Acaba Mundo pertence ao setor privado, e sabendo que ela está dentro do limite de tombamento da Serra, uma intervenção arquitetô-nica aqui deve passar por uma estratégia de ocupação onde estariam conciliados os interesses 1.dos proprietários dessa área tombada; 2. dos ambientalistas; 3. do poder público; e 4. da comunidade. Trata-se de uma área onde uma Operação Urbana1 pode ser utilizada como instrumento para que o setor privado usufrua do potencial construtivo de sua propriedade, levando em consideração os interesses do setor público e da comunidade diretamente envolvida (no caso, a favela Acaba Mundo).

Pelo Tombamento da Serra do Curral, fica explícita a intenção do poder público em vetar a construção nessa grande área tombada, toda ela pertencente à Mineração Lagoa Seca. En-tretanto, a área considerada ARE3 (Área de Recuperação 3, ver mapa ao lado), por já estar degradada, é passível de ocu-pação. Sendo essa região uma das mais valorizadas para em-preendimentos de luxo na zona sul, a mineração reivindicará a transferência do direito de construir das áreas não-degradas da Serra para a área degradada (ARE3). Essa transferência terá que obedecer a critérios não definidos por lei, daí a uti-lização de uma Operação Urbana como recurso para negociar esses critérios. É aqui que poderemos então entrar com a O. U. como um mecanismo capaz de equilibrar os interesses da prefeitura, da mineração, da favela e o dos ambientalistas.

Operação UrbanaA Operação Urbana poderá ser pensada de duas formas. A primeira delas concentra todo o potencial construtivo da mi-neração em uma só área (proposta 2, alta densidade). Esta coincide com o aterro de estéril junto ao bairro Belvedere. Nesta primeira hipótese, a densidade será alta, mas toda a área restante da Serra seria liberada como um Parque Urba-no de uso público. Para construir o empreendimento privado (concentrado no projeto 1 - Centro Empresarial), os empre-endedores deverão patrocinar compensações a serem dadas para a prefeitura (projeto 2) e favela (projetos 3 e 4).

A segunda densidade (proposta 1, baixa densidade) propõe uma ocupação bem mais esparsa. A área para equipamentos privados estaria espalhada ao longo de uma área bem maior, e consequentemente a área do Parque Urbano seria menor. Em ambos os casos, o novo Parque Urbano seria uma conti-nuação do existente Parque das Mangabeiras (ver mapa no canto superior direito), o que deixaria Belo Horizonte com uma enorme rede de parques articulados.

Lideranças Comunitárias Rede de Esgoto Existente Tempo de Ocupação Padrão Construtivo Áreas de Risco

Este projeto propõe uma estratégia que vê, nos desequilíbrios sociais das grandes cidades, oportunidades de projeto. Cidades na Cidade se caracteriza pela aproximação de dois extremos que se repelem. O primeiro extremo é bem conhecido dos arquitetos e abrange a visão dos produtores da cidade: as construtoras, as imobiliárias e as grandes empresas. É o lado da especulação imobiliária, das forças que determinam as inclusões e exclusões urbanas e que não está diretamente ligado às ocupações informais.

O outro lado consiste nas favelas. Território escolhido para investigar melhor a fronteira entre essas duas cidades, entre o formal e o informal, elas não entram aqui como um setor marginalizado ou excêntrico, mas como uma parte indissociável de um todo que só será estudado junto às forças do mercado imobiliário. Tal aproximação é o nosso ponto de partida; o que move um estudo onde compensações e contrapartidas aproximam classes sociais antagônicas do cenário urbano.

Os objetivos do projeto baseiam-se nas potencialidades específicas da cidade fragmentada - repartida entre condomínios e favelas, o “asfalto” e a clandestinidade - de uma forma simultânea que podemos resumir como:Investigar as possibilidades de uma intervenção em favela que seja vinculada ao poder privado (e não ao público, como geralmente acontece), explicitando contrastes sociais como uma saída para o problema: choques de classes sociais que poderão mostrar outras possibilidades de intervenção, onde melhorias sociais e o capital imobiliário convergem em uma mesma abordagem.

CIDADES NA CIDADE

Ora, o processo de favelização se tornou grande demais para ser resolvido por programas públicos de melhoria urbana, e por isso urge a concepção de novas formas de intervenção na cidade informal. É na aproximação radical entre condomí-nios e favelas que podem estar escondidas alternativas para o orçamento limitado das prefeituras das grandes cidades. Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Caracas, os favelados são detentores de grandes áreas para especulação. Se para a iniciativa privada fossem cedidos terrenos hoje ocupados pela favela, mecanismos de contrapartida entre construtoras e favelas gerariam projetos que englobariam moradores “ini-migos”. Em princípio, a estratégia que testamos aqui é sim-ples: empresários e favelados conciliando soluções possíveis, terrenos para prédios em troca de intervenções sociais na favela. Ou seja, condomínios e favelas sendo contemplados num mesmo projeto.

Favela Acaba MundoSituada em Belo Horizonte, a favela Acaba Mundo, depois re-batizada Vila JK, está inserida na área de entorno do Tomba-mento da Serral do Curral, que é um instrumento de preser-vação ambiental. Ou seja, a favela está dentro das imediações de uma Serra considerada patrimônio natural e simbólico da cidade. Ao sul, ela é cercada pelos já saturados bairros Sion, Anchieta e Mangabeiras, todos de classe média-alta / alta. Nas outras três direções, ela é envolvida pela área tombada da Serra, de propriedade de uma mineradora ainda em ativi-dade. Essa área tombada que envolve a favela é um grande vazio absolutamente não ocupável devido à legislação de tom-bamento, que impede qualquer densidade.

A grande questão passou então a ser a maneira de inserir equipamentos, sejam eles públicos ou privados, na região tom-bada da Serra, incluindo aqui os interesses da favela Acaba Mundo.

Serra do CurralNo nosso entendimento, a incorporação da área tombada da Serra do Curral para a cidade deve obedecer ao conceito de Parque Urbano, onde a conservação ambiental e a ativação social por meio de equipamentos de uso público deverão per-mitir o uso da Serra. Pretendemos, em outras palavras, tor-nar pública uma área verde privada, ainda não ativada e não utilizada pela população.

Sabendo que essa área no entorno da favela Acaba Mundo pertence ao setor privado, e sabendo que ela está dentro do limite de tombamento da Serra, uma intervenção arquitetô-nica aqui deve passar por uma estratégia de ocupação onde estariam conciliados os interesses 1.dos proprietários dessa área tombada; 2. dos ambientalistas; 3. do poder público; e 4. da comunidade. Trata-se de uma área onde uma Operação Urbana1 pode ser utilizada como instrumento para que o setor privado usufrua do potencial construtivo de sua propriedade, levando em consideração os interesses do setor público e da comunidade diretamente envolvida (no caso, a favela Acaba Mundo).

Pelo Tombamento da Serra do Curral, fica explícita a intenção do poder público em vetar a construção nessa grande área tombada, toda ela pertencente à Mineração Lagoa Seca. En-tretanto, a área considerada ARE3 (Área de Recuperação 3, ver mapa ao lado), por já estar degradada, é passível de ocu-pação. Sendo essa região uma das mais valorizadas para em-preendimentos de luxo na zona sul, a mineração reivindicará a transferência do direito de construir das áreas não-degradas da Serra para a área degradada (ARE3). Essa transferência terá que obedecer a critérios não definidos por lei, daí a uti-lização de uma Operação Urbana como recurso para negociar esses critérios. É aqui que poderemos então entrar com a O. U. como um mecanismo capaz de equilibrar os interesses da prefeitura, da mineração, da favela e o dos ambientalistas.

Operação UrbanaA Operação Urbana poderá ser pensada de duas formas. A primeira delas concentra todo o potencial construtivo da mi-neração em uma só área (proposta 2, alta densidade). Esta coincide com o aterro de estéril junto ao bairro Belvedere. Nesta primeira hipótese, a densidade será alta, mas toda a área restante da Serra seria liberada como um Parque Urba-no de uso público. Para construir o empreendimento privado (concentrado no projeto 1 - Centro Empresarial), os empre-endedores deverão patrocinar compensações a serem dadas para a prefeitura (projeto 2) e favela (projetos 3 e 4).

A segunda densidade (proposta 1, baixa densidade) propõe uma ocupação bem mais esparsa. A área para equipamentos privados estaria espalhada ao longo de uma área bem maior, e consequentemente a área do Parque Urbano seria menor. Em ambos os casos, o novo Parque Urbano seria uma conti-nuação do existente Parque das Mangabeiras (ver mapa no canto superior direito), o que deixaria Belo Horizonte com uma enorme rede de parques articulados.

Lideranças Comunitárias Rede de Esgoto Existente Tempo de Ocupação Padrão Construtivo Áreas de Risco

Este projeto propõe uma estratégia que vê, nos desequilíbrios sociais das grandes cidades, oportunidades de projeto. Cidades na Cidade se caracteriza pela aproximação de dois extremos que se repelem. O primeiro extremo é bem conhecido dos arquitetos e abrange a visão dos produtores da cidade: as construtoras, as imobiliárias e as grandes empresas. É o lado da especulação imobiliária, das forças que determinam as inclusões e exclusões urbanas e que não está diretamente ligado às ocupações informais.

O outro lado consiste nas favelas. Território escolhido para investigar melhor a fronteira entre essas duas cidades, entre o formal e o informal, elas não entram aqui como um setor marginalizado ou excêntrico, mas como uma parte indissociável de um todo que só será estudado junto às forças do mercado imobiliário. Tal aproximação é o nosso ponto de partida; o que move um estudo onde compensações e contrapartidas aproximam classes sociais antagônicas do cenário urbano.

Os objetivos do projeto baseiam-se nas potencialidades específicas da cidade fragmentada - repartida entre condomínios e favelas, o “asfalto” e a clandestinidade - de uma forma simultânea que podemos resumir como:Investigar as possibilidades de uma intervenção em favela que seja vinculada ao poder privado (e não ao público, como geralmente acontece), explicitando contrastes sociais como uma saída para o problema: choques de classes sociais que poderão mostrar outras possibilidades de intervenção, onde melhorias sociais e o capital imobiliário convergem em uma mesma abordagem.

CIDADES NA CIDADE

Ora, o processo de favelização se tornou grande demais para ser resolvido por programas públicos de melhoria urbana, e por isso urge a concepção de novas formas de intervenção na cidade informal. É na aproximação radical entre condomí-nios e favelas que podem estar escondidas alternativas para o orçamento limitado das prefeituras das grandes cidades. Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Caracas, os favelados são detentores de grandes áreas para especulação. Se para a iniciativa privada fossem cedidos terrenos hoje ocupados pela favela, mecanismos de contrapartida entre construtoras e favelas gerariam projetos que englobariam moradores “ini-migos”. Em princípio, a estratégia que testamos aqui é sim-ples: empresários e favelados conciliando soluções possíveis, terrenos para prédios em troca de intervenções sociais na favela. Ou seja, condomínios e favelas sendo contemplados num mesmo projeto.

Favela Acaba MundoSituada em Belo Horizonte, a favela Acaba Mundo, depois re-batizada Vila JK, está inserida na área de entorno do Tomba-mento da Serral do Curral, que é um instrumento de preser-vação ambiental. Ou seja, a favela está dentro das imediações de uma Serra considerada patrimônio natural e simbólico da cidade. Ao sul, ela é cercada pelos já saturados bairros Sion, Anchieta e Mangabeiras, todos de classe média-alta / alta. Nas outras três direções, ela é envolvida pela área tombada da Serra, de propriedade de uma mineradora ainda em ativi-dade. Essa área tombada que envolve a favela é um grande vazio absolutamente não ocupável devido à legislação de tom-bamento, que impede qualquer densidade.

A grande questão passou então a ser a maneira de inserir equipamentos, sejam eles públicos ou privados, na região tom-bada da Serra, incluindo aqui os interesses da favela Acaba Mundo.

Serra do CurralNo nosso entendimento, a incorporação da área tombada da Serra do Curral para a cidade deve obedecer ao conceito de Parque Urbano, onde a conservação ambiental e a ativação social por meio de equipamentos de uso público deverão per-mitir o uso da Serra. Pretendemos, em outras palavras, tor-nar pública uma área verde privada, ainda não ativada e não utilizada pela população.

Sabendo que essa área no entorno da favela Acaba Mundo pertence ao setor privado, e sabendo que ela está dentro do limite de tombamento da Serra, uma intervenção arquitetô-nica aqui deve passar por uma estratégia de ocupação onde estariam conciliados os interesses 1.dos proprietários dessa área tombada; 2. dos ambientalistas; 3. do poder público; e 4. da comunidade. Trata-se de uma área onde uma Operação Urbana1 pode ser utilizada como instrumento para que o setor privado usufrua do potencial construtivo de sua propriedade, levando em consideração os interesses do setor público e da comunidade diretamente envolvida (no caso, a favela Acaba Mundo).

Pelo Tombamento da Serra do Curral, fica explícita a intenção do poder público em vetar a construção nessa grande área tombada, toda ela pertencente à Mineração Lagoa Seca. En-tretanto, a área considerada ARE3 (Área de Recuperação 3, ver mapa ao lado), por já estar degradada, é passível de ocu-pação. Sendo essa região uma das mais valorizadas para em-preendimentos de luxo na zona sul, a mineração reivindicará a transferência do direito de construir das áreas não-degradas da Serra para a área degradada (ARE3). Essa transferência terá que obedecer a critérios não definidos por lei, daí a uti-lização de uma Operação Urbana como recurso para negociar esses critérios. É aqui que poderemos então entrar com a O. U. como um mecanismo capaz de equilibrar os interesses da prefeitura, da mineração, da favela e o dos ambientalistas.

Operação UrbanaA Operação Urbana poderá ser pensada de duas formas. A primeira delas concentra todo o potencial construtivo da mi-neração em uma só área (proposta 2, alta densidade). Esta coincide com o aterro de estéril junto ao bairro Belvedere. Nesta primeira hipótese, a densidade será alta, mas toda a área restante da Serra seria liberada como um Parque Urba-no de uso público. Para construir o empreendimento privado (concentrado no projeto 1 - Centro Empresarial), os empre-endedores deverão patrocinar compensações a serem dadas para a prefeitura (projeto 2) e favela (projetos 3 e 4).

A segunda densidade (proposta 1, baixa densidade) propõe uma ocupação bem mais esparsa. A área para equipamentos privados estaria espalhada ao longo de uma área bem maior, e consequentemente a área do Parque Urbano seria menor. Em ambos os casos, o novo Parque Urbano seria uma conti-nuação do existente Parque das Mangabeiras (ver mapa no canto superior direito), o que deixaria Belo Horizonte com uma enorme rede de parques articulados.

Lideranças Comunitárias Rede de Esgoto Existente Tempo de Ocupação Padrão Construtivo Áreas de Risco

Este projeto propõe uma estratégia que vê, nos desequilíbrios sociais das grandes cidades, oportunidades de projeto. Cidades na Cidade se caracteriza pela aproximação de dois extremos que se repelem. O primeiro extremo é bem conhecido dos arquitetos e abrange a visão dos produtores da cidade: as construtoras, as imobiliárias e as grandes empresas. É o lado da especulação imobiliária, das forças que determinam as inclusões e exclusões urbanas e que não está diretamente ligado às ocupações informais.

O outro lado consiste nas favelas. Território escolhido para investigar melhor a fronteira entre essas duas cidades, entre o formal e o informal, elas não entram aqui como um setor marginalizado ou excêntrico, mas como uma parte indissociável de um todo que só será estudado junto às forças do mercado imobiliário. Tal aproximação é o nosso ponto de partida; o que move um estudo onde compensações e contrapartidas aproximam classes sociais antagônicas do cenário urbano.

Os objetivos do projeto baseiam-se nas potencialidades específicas da cidade fragmentada - repartida entre condomínios e favelas, o “asfalto” e a clandestinidade - de uma forma simultânea que podemos resumir como:Investigar as possibilidades de uma intervenção em favela que seja vinculada ao poder privado (e não ao público, como geralmente acontece), explicitando contrastes sociais como uma saída para o problema: choques de classes sociais que poderão mostrar outras possibilidades de intervenção, onde melhorias sociais e o capital imobiliário convergem em uma mesma abordagem.

CIDADES NA CIDADE

Ora, o processo de favelização se tornou grande demais para ser resolvido por programas públicos de melhoria urbana, e por isso urge a concepção de novas formas de intervenção na cidade informal. É na aproximação radical entre condomí-nios e favelas que podem estar escondidas alternativas para o orçamento limitado das prefeituras das grandes cidades. Seja em São Paulo, Belo Horizonte ou Caracas, os favelados são detentores de grandes áreas para especulação. Se para a iniciativa privada fossem cedidos terrenos hoje ocupados pela favela, mecanismos de contrapartida entre construtoras e favelas gerariam projetos que englobariam moradores “ini-migos”. Em princípio, a estratégia que testamos aqui é sim-ples: empresários e favelados conciliando soluções possíveis, terrenos para prédios em troca de intervenções sociais na favela. Ou seja, condomínios e favelas sendo contemplados num mesmo projeto.

Favela Acaba MundoSituada em Belo Horizonte, a favela Acaba Mundo, depois re-batizada Vila JK, está inserida na área de entorno do Tomba-mento da Serral do Curral, que é um instrumento de preser-vação ambiental. Ou seja, a favela está dentro das imediações de uma Serra considerada patrimônio natural e simbólico da cidade. Ao sul, ela é cercada pelos já saturados bairros Sion, Anchieta e Mangabeiras, todos de classe média-alta / alta. Nas outras três direções, ela é envolvida pela área tombada da Serra, de propriedade de uma mineradora ainda em ativi-dade. Essa área tombada que envolve a favela é um grande vazio absolutamente não ocupável devido à legislação de tom-bamento, que impede qualquer densidade.

A grande questão passou então a ser a maneira de inserir equipamentos, sejam eles públicos ou privados, na região tom-bada da Serra, incluindo aqui os interesses da favela Acaba Mundo.

Serra do CurralNo nosso entendimento, a incorporação da área tombada da Serra do Curral para a cidade deve obedecer ao conceito de Parque Urbano, onde a conservação ambiental e a ativação social por meio de equipamentos de uso público deverão per-mitir o uso da Serra. Pretendemos, em outras palavras, tor-nar pública uma área verde privada, ainda não ativada e não utilizada pela população.

Sabendo que essa área no entorno da favela Acaba Mundo pertence ao setor privado, e sabendo que ela está dentro do limite de tombamento da Serra, uma intervenção arquitetô-nica aqui deve passar por uma estratégia de ocupação onde estariam conciliados os interesses 1.dos proprietários dessa área tombada; 2. dos ambientalistas; 3. do poder público; e 4. da comunidade. Trata-se de uma área onde uma Operação Urbana1 pode ser utilizada como instrumento para que o setor privado usufrua do potencial construtivo de sua propriedade, levando em consideração os interesses do setor público e da comunidade diretamente envolvida (no caso, a favela Acaba Mundo).

Pelo Tombamento da Serra do Curral, fica explícita a intenção do poder público em vetar a construção nessa grande área tombada, toda ela pertencente à Mineração Lagoa Seca. En-tretanto, a área considerada ARE3 (Área de Recuperação 3, ver mapa ao lado), por já estar degradada, é passível de ocu-pação. Sendo essa região uma das mais valorizadas para em-preendimentos de luxo na zona sul, a mineração reivindicará a transferência do direito de construir das áreas não-degradas da Serra para a área degradada (ARE3). Essa transferência terá que obedecer a critérios não definidos por lei, daí a uti-lização de uma Operação Urbana como recurso para negociar esses critérios. É aqui que poderemos então entrar com a O. U. como um mecanismo capaz de equilibrar os interesses da prefeitura, da mineração, da favela e o dos ambientalistas.

Operação UrbanaA Operação Urbana poderá ser pensada de duas formas. A primeira delas concentra todo o potencial construtivo da mi-neração em uma só área (proposta 2, alta densidade). Esta coincide com o aterro de estéril junto ao bairro Belvedere. Nesta primeira hipótese, a densidade será alta, mas toda a área restante da Serra seria liberada como um Parque Urba-no de uso público. Para construir o empreendimento privado (concentrado no projeto 1 - Centro Empresarial), os empre-endedores deverão patrocinar compensações a serem dadas para a prefeitura (projeto 2) e favela (projetos 3 e 4).

A segunda densidade (proposta 1, baixa densidade) propõe uma ocupação bem mais esparsa. A área para equipamentos privados estaria espalhada ao longo de uma área bem maior, e consequentemente a área do Parque Urbano seria menor. Em ambos os casos, o novo Parque Urbano seria uma conti-nuação do existente Parque das Mangabeiras (ver mapa no canto superior direito), o que deixaria Belo Horizonte com uma enorme rede de parques articulados.

Lideranças Comunitárias Rede de Esgoto Existente Tempo de Ocupação Padrão Construtivo Áreas de Risco

Vila JKJK Village

Área Privada transformada em Parque UrbanoPrivate area turned into urban park

Área ocupada (parcelável) = 867.150,08m²Densidade=614.764,94 / 867.150,08=0.70Occupied area (divisible) = 867.150,08m²Density=614.764,94 / 867.150,08=0.70

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Vila JKVila JK

Área Privada transformada em Parque UrbanoPrivate area turned into urban park

Área ocupada (parcelável) = 221.346,93m²Densidade=614.764,94 / 221.346,93=2.77Occupied area (divisible) = 221.346,93m²Density=614.764,94 / 221.346,93=2.77

AP_Área de PreservaçãoAP_Preservation Area

APR2_Área de Preservação 2APR2_Preservation Area 2

ARE3_Área de Preservação 3APR3_Preservation Area 3

Até 30%Up to 30%

Até 47%Up to 47%

Acima de 47%Above 47%

ect 1), construction companies shall sponsor interventions as counterpart and compensations offered either to the prefecture (project 2) or the slum (project 3 and 4).The second one (density 2) suggests a low-density occupation for the area. Private facilities shall be spread over significant areas in the site, however settled within the mining’s degraded-areas as well. Consequently, the plot directed at the urban park itself shall be smaller than the area suggested in the previous approach.

cia do direito de construir das áreas não-degradas da Serra para a área degradada (ARE3). Essa transferên-cia terá que obedecer a critérios não definidos por lei, daí a utilização de uma Operação Urbana como recurso para negociar esses critérios. É aqui que poderemos então entrar com a O. U. como um mecanismo capaz de equilibrar os interesses da prefeitura, da mineração, da favela e o dos am-bientalistas.

Operação UrbanaA Operação Urbana poderá ser pen-sada de duas formas. A primeira de-las concentra todo o potencial cons-trutivo da mineração em uma só área (proposta 2, alta densidade). Esta coincide com o aterro de estéril junto ao bairro Belvedere. Nesta primeira hipótese, a densidade será alta, mas toda a área restante da Serra seria liberada como um Parque Urbano de uso público. Para construir o empre-endimento privado (concentrado no projeto 1 - Centro Empresarial), os empreendedores deverão patrocinar compensações a serem dadas para a prefeitura (projeto 2) e a favela (projetos 3 e 4). A segunda densidade (proposta 1, baixa densidade) propõe uma ocupa-ção bem mais esparsa. A área para equipamentos privados estaria es-palhada ao longo de uma área bem maior, e consequentemente a área do Parque Urbano seria menor. Em ambos os casos, o novo Parque Urbano seria uma continuação do existente Parque das Mangabeiras, o que deixaria Belo Horizonte com uma enorme rede de parques articulados.