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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 009.594/2012-4 GRUPO II – CLASSE V – Plenário TC 009.594/2012-4 Natureza(s): Relatório de Auditoria Órgão/Entidade: Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. - MT Responsáveis: Jorge Antônio Mesquita Pereira de Almeida (CPF 341.332.917-00), Luiz Carlos Oliveira Machado (CPF 222.706.987-20) Interessado: Congresso Nacional Advogado constituído nos autos: Ana Carolina Guizzo (OAB/SP 206.536) e outros SUMÁRIO: AUDITORIA. FISCOBRAS/2012. EXTENSÃO DA FERROVIA NORTE-SUL (LOTE 5S). DEFICIÊNCIAS DO PROJETO BÁSICO. IRREGULARIDADE GRAVE COM PROPOSTA DA UNIDADE TÉCNICA DE RECOMENDAÇÃO DE PARALISAÇÃO (IGP). PROPOSTA DE ADOÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR VISANDO À SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA OBRA. OITIVA DA VALEC E DOS CONSÓRCIOS EXECUTORES DA OBRA. JUSTIFICATIVAS CONSIDERADAS INSUFICIENTES PARA MODIFICAÇÃO DAS PROPOSTAS. ASSINATURA DE PRAZO E DETERMINAÇÕES PARA QUE A VALEC BUSQUE A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS APONTADOS. SANEAMENTO PARCIAL DAS FALHAS DO PROJETO BÁSICO. ADOÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR VISANDO À SUSPENSÃO DOS SERVIÇOS PARA OS QUAIS AS IRREGULARIDADES NÃO FORAM SANEADAS. IRREGULARIDADES NÃO SANEADAS CLASSIFICÁVEIS COMO GRAVES COM RECOMENDAÇÃO DE CONTINUIDADE (IGC). AUDIÊNCIAS. DETERMINAÇÕES. COMUNICAÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL. RELATÓRIO Adoto como parte integrante deste relatório a instrução (pç. 113), elaborada no âmbito da Secob-4. “INTRODUÇÃO 1. Trata-se de análise das medidas corretivas preliminares, apresentadas pela Valec em cumprimento ao Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, exarado acerca de auditoria realizada no âmbito do Fiscobras 2012 nas obras do Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS), localizados 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 009.594/2012-4

GRUPO II – CLASSE V – PlenárioTC 009.594/2012-4 Natureza(s): Relatório de AuditoriaÓrgão/Entidade: Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. - MT Responsáveis: Jorge Antônio Mesquita Pereira de Almeida (CPF 341.332.917-00), Luiz Carlos Oliveira Machado (CPF 222.706.987-20) Interessado: Congresso NacionalAdvogado constituído nos autos: Ana Carolina Guizzo (OAB/SP 206.536) e outros

SUMÁRIO: AUDITORIA. FISCOBRAS/2012. EXTENSÃO DA FERROVIA NORTE-SUL (LOTE 5S). DEFICIÊNCIAS DO PROJETO BÁSICO. IRREGULARIDADE GRAVE COM PROPOSTA DA UNIDADE TÉCNICA DE RECOMENDAÇÃO DE PARALISAÇÃO (IGP). PROPOSTA DE ADOÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR VISANDO À SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA OBRA. OITIVA DA VALEC E DOS CONSÓRCIOS EXECUTORES DA OBRA. JUSTIFICATIVAS CONSIDERADAS INSUFICIENTES PARA MODIFICAÇÃO DAS PROPOSTAS. ASSINATURA DE PRAZO E DETERMINAÇÕES PARA QUE A VALEC BUSQUE A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS APONTADOS. SANEAMENTO PARCIAL DAS FALHAS DO PROJETO BÁSICO. ADOÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR VISANDO À SUSPENSÃO DOS SERVIÇOS PARA OS QUAIS AS IRREGULARIDADES NÃO FORAM SANEADAS. IRREGULARIDADES NÃO SANEADAS CLASSIFICÁVEIS COMO GRAVES COM RECOMENDAÇÃO DE CONTINUIDADE (IGC). AUDIÊNCIAS. DETERMINAÇÕES. COMUNICAÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL.

RELATÓRIO

Adoto como parte integrante deste relatório a instrução (pç. 113), elaborada no âmbito da Secob-4.

“INTRODUÇÃO1. Trata-se de análise das medidas corretivas preliminares, apresentadas pela Valec em cumprimento ao Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, exarado acerca de auditoria realizada no âmbito do Fiscobras 2012 nas obras do Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS), localizados entre a Ponte do Rio Arantes/MG e a cidade de Estrela d'Oeste/SP. As obras estão sob a responsabilidade da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.HISTÓRICO2. O relatório de fiscalização apontou, como constatações, avanço desproporcional das etapas do serviço, liquidação irregular da despesa e deficiências do projeto básico.3. Embora o andamento das obras do Lote 5S ainda esteja em um estado que não permite antever o início da montagem da grade ferroviária (superestrutura), as medições analisadas demonstram que os acessórios necessários à fixação do trilho ao dormente formando a grade, mais especificamente os grampos elásticos tipo Pandrol, as palmilhas amortecedoras e os calços isoladores, já foram adquiridos e recebidos em sua totalidade.

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4. Quanto à liquidação irregular da despesa, a equipe verificou que constava no contrato de obras do lote 5S da extensão sul da Ferrovia Norte - Sul (FNS), o fornecimento, pela contratada, de aeronaves para serem utilizadas no apoio à execução das obras.5. O controle para utilização desse serviço se mostrou incompleto, pois as medições não respeitaram os procedimentos constantes na Especificação Técnica Valec 80-ES-028A-92-8003, que regula a utilização de aeronaves pela Valec. Não houve comprovação de utilização de tais serviços em vinculação direta com a obra, e havia indícios de sua utilização para suprir necessidades da administração central da Valec.6. Quanto ao projeto básico, a equipe verificou que os projetos básicos do lote 5S da construção da extensão sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS) não possuem todos os elementos necessários e suficientes para caracterizar a obra, contrariando o disposto no inciso IX do art. 6º da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, bem como não atendem aos requisitos elencados no art. 12 da mesma lei. 7. As principais irregularidades identificadas no âmbito dos projetos básicos dos lotes fiscalizados foram: interrupções do traçado com risco de perda de funcionalidade da obra, alterações no traçado, seleção de método construtivo antieconômico e não usualmente aplicado nas obras ferroviárias para produção dos diversos tipos de concreto; insuficiência de sondagens para dimensionamento das obras de arte especiais; insuficiência de caracterização do terreno; equiparação de atos da fiscalização ao projeto básico da obra e adoção na planilha orçamentária de ''serviços por administração'', com as quantidades em horas de máquinas e pessoal, sem a identificação do objeto que se pretende executar.8. Em análise do Relatório de Fiscalização, o Ministro Relator, diante das similaridades entre a situação de deficiência de projeto básico descrita no relatório de fiscalização dos presentes autos, e aquela constante do TC 016.731/2011-5, que trata das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), bem como aquela relatada no TC 012.612-2012-0, que trata dos lotes 1S a 4S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul, verificou a possibilidade de alteração da proposta de classificação da gravidade das irregularidades observadas na Extensão Sul da FNS.9. Entendeu o relator que poderiam estar presentes no caso os requisitos constantes do art. 91, § 1º, inciso IV, da Lei 12.465/2011 (LDO/2012) para a classificação IGP, ou seja, o impacto da irregularidade mencionada seria materialmente relevante em relação ao valor total contratado, ainda que não seja quantificável neste momento, apresentando grande potencialidade de ocasionar elevados prejuízos ao erário, além de configurar graves desvios relativamente aos princípios constitucionais a que está submetida a administração pública, no caso, os princípios da legalidade e da economicidade.10. Ante o exposto, o Relator determinou à Secob-4 que, com fundamento no art. 276, § 2º, do RI/TCU, realizasse a oitiva da Valec e dos consórcios contratados para que se pronunciassem, no prazo improrrogável de cinco dias úteis, acerca das irregularidades atinentes às deficiências do projeto básico apontadas no Relatório de Fiscalização 382/2012, em especial quanto às interrupções de traçado da ferrovia e as deficiências de sondagens para dimensionamento das obras de arte e caracterização do terreno.11. Após a análise das manifestações da Valec e dos consórcios contratados acerca dos indícios de irregularidade grave aptos a ensejar a paralisação da obra, bem como acerca da adoção de medida cautelar, observou-se que não foram afastadas as irregularidades, bem como não foram apresentados elementos aptos a afastar a classificação do achado como IGP ou a afastar a adoção de medida cautelar para a paralisação da obra.12. Foi considerado que a situação tornou-se mais grave, em especial quanto às obras de arte especiais, pois a Valec defendeu a regularidade e adequação das deficiências apontadas, sem lhes oferecer solução, e ficou então demonstrado que não foram contratados os projetos de obras de arte especiais da obra.13. O risco à funcionalidade da obra foi observado como sendo ainda maior do que aquele inicialmente considerado, pois a situação encontrada era tal que a obra poderia chegar próxima à sua conclusão, até mesmo com lançamento de trilhos, sem que sequer existisse contratação para a elaboração de projetos executivos de obras de arte especiais. 14. Uma vez que há construtoras que alegam ter elaborado tais projetos, foram verificados indícios de ocorrência de pagamentos por química, já que tais serviços de elaboração de projetos não constam da planilha contratual.15. A Unidade Técnica apontou que as medidas corretivas a serem tomadas pela Valec, tendo em vista a situação apontada no relatório de fiscalização (peça 38), incluíram realizar a definição precisa do traçado da obra, com indicação das soluções para superação dos obstáculos e interferências ocorridos, bem como a adoção dos novos parâmetros usados pela própria Valec para a contratação de projetos executivos para a Ferrovia de Integração Centro-Oeste e a elaboração do novo orçamento corrigido da obra.

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16. Ainda que as deficiências apontadas sejam em projetos básicos, uma vez que a obra já está em execução, as correções devem ser feitas por ocasião da elaboração dos projetos executivos, sendo adequado, portanto, a adoção, no mínimo, dos parâmetros já usados pela Valec para projetos executivos em empreendimentos recentes.17. Somadas estas observações à ocorrência de perdas econômicas e sociais em face da não execução concomitante de serviços essenciais à funcionalidade da obra, na extensão original da FNS, tem-se que, após a análise das oitivas da Valec e das contratadas, permaneceu a situação tal que, então, a Valec não dispunha, ou pelo menos não apresentara, as seguintes informações:

a) traçado real completo da Ferrovia Norte-Sul, em sua Extensão Sul, baseado em estudos que considerem as interrupções, obstruções e interferências já detectadas pela própria Valec;

b) preço final a ser pago pelo erário para conclusão das obras da Extensão Sul da FNS, ou da própria extensão original da FNS;

c) prazo para conclusão das obras da Extensão Sul da FNS, ou mesmo da extensão original da FNS;

d) providências a serem tomadas, considerando desembolso do erário e prazo para conclusão, a fim de viabilizar a funcionalidade, pelo menos parcial, da Ferrovia Norte-Sul ou de sua Extensão Sul.18. Por meio do citado Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, o Tribunal realizou às seguintes determinações à Valec:

9.1.1. encaminhe a este Tribunal, até a data de 15/10/2012, os seguintes elementos:9.1.1.1. definição do traçado da obra, com indicação das soluções para superação dos obstáculos e interferências ocorridos;9.1.1.2. projetos de obras de arte especiais embasados em estudos adequados, os quais devem necessariamente incluir a sondagem do terreno que atenda, no mínimo, aos termos da norma Valec 80-EG-000A-29-000 em sua revisão 6 e aos parâmetros preconizados pela Valec no edital 2/2012, cujo objeto é elaboração do projeto executivo da Ferrovia de Integração Centro-Oeste;9.1.1.3. caracterização do terreno ao longo do leito da ferrovia, por meio de sondagens, de forma a atender os parâmetros preconizados pela Valec no citado edital 2/2012;9.1.1.4. composições unitárias que reflitam a realidade da obra no caso da produção de concreto em usina para as obras de arte especiais, obras de arte correntes e dispositivos de drenagem, conforme evidenciado no Relatório de Fiscalização 382/2012;9.1.1.5. comprovação da exclusão dos itens referentes à contratação de aeronave do contrato de execução de obras civis dos lotes da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul;9.1.1.6. adequação dos orçamentos das obras dos lotes, refletindo as alterações de projeto decorrentes das providências acima;9.1.2. comprove a inclusão em suas normas de elaboração de projeto básico, da obrigatoriedade de apresentação de estudos que fundamentem a viabilidade de execução da obra no prazo estipulado, e que associem a realização das atividades da obra ao cumprimento de seus pré-requisitos, estudos esses contendo gráfico de Gantt, ABC de insumos, histograma de mão de obra e caminho crítico;9.1.3. comprove a exclusão do item 4.a da norma "Valec 80-ES-028A-19-8001 – Colchão Drenante", a expressão "ou determinação da fiscalização", a qual contraria o disposto no art. 6º, inciso IX, da Lei 8.666/93, por permitir alterações do projeto básico por atos da fiscalização;9.1.4. de forma a atender o disposto no art. 6º da Lei 8.666/1993, promova estudos com vistas à alteração da especificação de estudos geotécnicos para projetos (80-EG-000A-29-000), especialmente no que se refere ao intervalo, a profundidade e o método das sondagens no corpo estradal, utilizando, entrementes, no mínimo, os parâmetros estabelecidos na Publicação IPR 742 – Manual de Implantação Básica de Rodovia, 3ª edição 2010, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, até que a Valec disponha de normativo próprio;

19. A documentação apresentada pela Valec em atendimento às determinações acima é analisada na presente instrução.EXAME TÉCNICO20. A análise da documentação recebida da Valec será apresentada na ordem das determinações do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário. Uma vez que foi apresentada pela Valec documentação única para estes autos e para os autos do TC 012.612-2012-0, as informações serão tratadas de forma conjunta e repetidas em ambos os autos, respeitando as especificidades de cada processo.

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I. Definição do traçado da obra, com indicação das soluções para superação dos obstáculos e interferências ocorridos21. No documento intitulado “Estimativas de Custos para Adequação das Travessias da FNS” (peça 77), a Valec apresentou um rol de interferências e respectivas estimativas de custos para realocação das linhas de transmissão.22. As estimativas de custos vieram desacompanhadas de elementos que as comprovem, bem como não foi encaminhada pela Valec qualquer comprovação de aquiescência das concessionárias de energia elétrica quanto aos remanejamentos citados.23. Sem a aquiescência das concessionárias, fica prejudicada a análise do traçado, pois pode ser o caso de alteração do traçado da ferrovia, em lugar da remoção da linha. 24. Ressalte-se que nenhuma das interferências com linhas de transmissão teve comprovada o seu saneamento pela Valec. Assim, todas as interferências de traçado por cruzamento de linhas de rede elétrica, para todos os lotes, permanecem pendentes de comprovação de regularidade pela Valec.25. Quanto às ocorrências de sítios arqueológicos, a Valec apresentou lista das providências tomadas para identificação, resgate e monitoramento das ocorrências.26. Desta forma, conclui-se que não foi apresentada a definição completa do traçado da obra, uma vez que, quanto às interferências com redes elétricas, não foram comprovadas as providências e os eventuais custos envolvidos para o lote 5S, nos quais estavam as irregularidades apontadas. As estimativas de custos da Valec, por estarem desacompanhadas de elementos comprobatórios, não puderam ser analisadas.II. Projetos de obras de arte especiais embasados em estudos adequados27. No documento intitulado “Quadro Resumo OAE” (peça 86), a Valec apresentou um rol de obras de arte especiais e o estado atual dos respectivos projetos.28. Vinte e seis projetos de obras de arte especiais ainda estão em desenvolvimento, conforme o documento apresentado pela Valec, incluindo as pontes sobre os rios Arantes, Grande e Capivara, e córrego Santa Rita, cujas deficiências foram apontadas nos relatórios de fiscalização.29. Todos os cinco lotes da Extensão Sul apresentam obras de arte especiais com projeto ainda pendente, não sendo melhor a situação do lote 5S.30. Para que se tenha melhor noção da situação, as informações apresentadas pela Valec na peça 86 dão conta da falta dos seguintes projetos do lote 5S:

a) Ponte sobre o rio Arantes;b) Ponte sobre o rio Grande;c) Ponte sobre o rio Capivara;d) Ponte sobre o córrego Santa Rita;e) Passagem inferior no km 586+890 (MG-255); ef) Viaduto ferroviário sobre a BR-497.

31. Ressalte-se que, após a análise da documentação anteriormente apresentada pela Valec, restavam irregularidades nos projetos de obras de arte especiais no lote 5S, sendo que a elaboração dos projetos executivos das obras de arte especiais, em concomitância com a obra, não constitui irregularidade.32. Desta forma, conclui-se que não foi apresentado o conjunto completo dos projetos de obras de arte especiais embasados em estudos adequados do lote 5S.III. Caracterização do terreno ao longo do leito da ferrovia33. A determinação realizada por esta Corte de Contas, por meio do item 9.1.1.3 do citado Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, previu que a Valec comprovasse a caracterização do terreno ao longo do leito da ferrovia, por meio de sondagens, de forma a atender os parâmetros preconizados pela Valec no edital 2/2012.34. Aquele edital, em seu item 10.2.1, previa na caracterização do subleito, entre outros objetivos, a determinação das condições de suporte do subleito e a caracterização dos materiais a escavar como materiais de construção.35. Para realizar a devida caracterização dos materiais, aquele edital previa a realização de sondagens a trado, a cada 150 metros, no máximo, com profundidade de 1,5 metros. Caso fossem encontrados materiais impenetráveis ao trado, deveria ser realizada sondagem à percussão. Para os cortes, foi previsto também a realização de sondagem rotativa.36. De modo semelhante, aquele edital, adotado como referência na determinação desta Corte, previu a realização de sondagens nos locais dos futuros aterros.

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37. O edital ainda previu que com o material coletado nas sondagens seriam feitos os seguintes ensaios complementares: granulometria por peneiramento e sedimentação, índices físicos (Limites de Atterberg), compactação (Proctor normal), índice de suporte Califórnia e expansão.38. Ressalte-se que os ensaios previstos são baseados em metodologias reconhecidas e normatizadas, tanto pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) quanto pela própria Valec e pela ABNT, e adotadas internacionalmente para caracterização de materiais.39. Durante a fiscalização, conforme apresentado nos respectivos relatórios, foram observadas deficiências de caracterização de materiais, tanto nos cortes quanto nos aterros. Tais deficiências abrangiam tanto a categoria dos materiais, para fins de escavação (primeira, segunda e terceira categorias), quanto os índices físicos dos materiais, em especial a capacidade de suporte e a expansão.40. Diante das determinações exaradas por esta Corte, a Valec vem apresentando propostas de realizar a adequada caracterização do terreno por meio de um método chamado eletrorresistividade, o qual já é conhecido e utilizado para caracterizar a continuidade de maciços rochosos em jazidas.41. Conforme proposto pela Valec, tal metodologia seria utilizada para, nos cortes, indicar a categoria dos materiais para fins de escavação.42. Desta forma, o método da eletrorresistividade não é proposto pela Valec para caracterizar os materiais nos aterros, nem para indicar as características físicas dos materiais, como a capacidade de suporte e a expansão.43. Assim, mesmo que tal método venha a ser considerado apto para a finalidade inovadora que é proposta pela Valec, os problemas de caracterização dos aterros e os problemas de caracterização de propriedades físicas dos materiais não seriam abrangidos. A título exemplificativo, é oportuno lembrar que no lote 1S, nas proximidades da estaca zero, o relatório de fiscalização apontou a remoção de aproximadamente 76.000 metros cúbicos de material de primeira categoria, por este material não apresentar a adequada capacidade de suporte. Um caso como esse não seria resolvido pela inovadora metodologia proposta.44. Apenas os aterros sondados pela Valec no lote 1S apresentavam mais de 155.000 metros cúbicos de solo mole identificados na fase de projeto, sendo desconhecido o volume real, por conta das citadas deficiências de sondagem. A remoção de solos de baixa capacidade de suporte nas proximidades da estaca zero, sem considerar a realização de outras remoções de solos não previstas, já incrementou em quase 50% o quantitativo indicado em projeto.45. Em caso semelhante, no lote 11 da Ferrovia Norte Sul, em sua extensão original, o contrato 50/2011 teve os subitens relativos a colchão drenante aditivados em 245% (material) e 6781% (transporte), como decorrência de falhas na caracterização dos materiais dos aterros. Tal ocorrência foi apurada no Relatório de Fiscalização 154/2012 (TC 006.264/2012-3, peças 109 e 110).46. Preliminarmente já se pode perceber que, ainda que venha a ser comprovada a aptidão do método da eletrorresistividade para a caracterização das categorias dos materiais de aterros, para fins de escavação, resta pendente a caracterização de todos os aterros, bem como de todos os cortes, no quesito propriedades físicas.47. Acrescente-se não ser esse o método determinado pelo citado Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, o qual adotou os parâmetros do edital Valec 2/2012 por aquele edital atender às necessidades de caracterização de cortes e de aterros, tanto para as categorias para fins de escavação quanto para as propriedades físicas dos materiais.48. Tratadas estas questões preliminares, as quais já identificam a inaptidão da inovadora metodologia da Valec para o completo atendimento às determinações desta Corte, analisa-se a natureza de tal inovação apresentada pela Valec.49. A título de exemplificação, a Valec apresentou algumas pranchas de sondagem e uma programação para realização de sondagens no lote 1S, 2S, 4S e 5S, não havendo apresentação de programação para o lote 3S (peças 129 e 130). 50. Destaca-se que a Valec não demonstrou a possibilidade técnica de se utilizar o ensaio indireto de eletrorresistividade para classificação e quantificação dos materiais de escavação em primeira, segunda e terceira categoria nos cortes onde a sondagem direta foi insuficiente ou não foi realizada. 51. Também, a empresa pública não demonstrou correlação deste tipo de sondagem com a determinação de parâmetros essenciais ao projeto da obra, obtidos usualmente por meio de amostras de solo, tais como: expansão do subleito, capacidade de suporte (índice de suporte Califórnia) e identificação de regiões de solo mole.

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52. A seguir, de forma a subsidiar a decisão deste Tribunal a respeito da obra, será feita uma síntese sobre os fundamentos básicos e as aplicações das duas formas de investigação de subsolo: direta e indireta. 53. As informações foram retiradas de uma revisão na literatura técnica, com especial destaque para o Livro Geologia de Engenharia. Destaca-se que esse livro, apoiado pelo CNPq, constitui o mais detalhado retrato do desenvolvimento da Geologia de Engenharia no Brasil, fruto do trabalho de mais de 80 especialistas.54. Os métodos diretos compreendem o emprego de poços de visita, sondagens a trados, à percussão e rotativas e a realização de ensaios nas amostras retiradas. Com esse tipo de investigação geotécnica, é possível definir com precisão, as características dos materiais ao longo da linha de perfuração: descrevem-se testemunhos, variações litológicas, estruturas geológicas e características geotécnicas dos materiais. 55. A retirada de amostra permite a realização de diversos ensaios, sendo essencial para a classificação do solo, para a determinação dos quantitativos de materiais de escavação (primeira, segunda e terceira categoria) e para investigação de seu comportamento mecânico, ou seja, para a determinação de áreas de solos moles, para o dimensionamento de colchão drenante, entre outros.56. Os métodos geofísicos determinam a distribuição de parâmetros físicos dos maciços, tais como velocidade de propagação de ondas acústicas e resistividade elétrica, que de forma indireta, são correlacionados com algumas propriedades geotécnicas do subsolo. 57. Entre os diversos tipos de investigação geofísica, destacam-se o método de eletrorresistividade e o método sísmico. Observa-se que a utilização de métodos geofísicos (como o método da eletrorresistividade) na engenharia se dá principalmente na fase de reconhecimento da área. Entretanto, este tipo de sondagem é sempre complementar às sondagens diretas. 58. De acordo com o livro Geologia de Engenharia: “Em qualquer das fases de aplicação dos métodos geofísicos, a utilização será sempre entendida como suplementar às informações obtidas através dos métodos diretos de investigação” (p. 165). Além disso, de acordo com os mesmos autores: “Os métodos geofísicos não devem ser analisados como substitutos dos métodos convencionais de investigação” (p. 165).59. A substituição da investigação direta (sondagens a trado, à percussão e realização de ensaios laboratoriais) pela utilização do método da eletrorresistividade não é admissível. Ou seja, o emprego da eletrorresistividade nos cortes onde não foi realizada sondagem não irá contribuir para o conhecimento do subsolo. 60. O sucesso na interpretação dos dados geofísicos depende essencialmente do conhecimento preexistente do local. Segundo o livro Geologia de Engenharia: “Ao não se levar em consideração tais aspectos, o modelo final da área estudada pode não corresponder ao real e assim ocorrer um certo desapontamento com relação à expectativa da aplicação dos métodos geofísicos na investigação proposta” (p. 166). 61. Outro aspecto importante a ser observado, é a contradição entre as informações prestadas pela Valec nos presentes autos e aquelas apresentadas na resposta aos interessados na Concorrência 2/2012. No caderno de respostas dessa concorrência, disponível no website da Valec, o qual trata da licitação do projeto executivo da Ferrovia Integração Centro Oeste (Fico), a Valec respondendo a pergunta número 10, abordou este assunto. Para facilitar a compreensão, a seguir será transcrita a pergunta e a resposta da Valec (com grifos acrescentados):

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10) Nesse Edital, a VALEC prescreve a realização sistemática de prospecções indiretas (geofísica) em paralelo com as ditas prospecções diretas (aquelas em que se pode obter amostras dos materiais prospectados) (...) Encontra-se a situação, bastante frequente, em campanhas de investigação geotécnica, em que os resultados obtidos pelos métodos diretos apresentam divergências com os resultados obtidos pelos métodos indiretos, pergunta-se: a) Quais os resultados que deverão ser adotados como prevalentes na elaboração do projeto de fundação da obra-de-arte especial? RESPOSTA: Os resultados adotados na elaboração do projeto de fundações de OAE´s são os resultados das investigações diretas, utilizando os métodos tradicionais e consagrados da engenharia de fundações. Os levantamentos das investigações indiretas são complementares. Apesar dos resultados adotados para o dimensionamento das OAE´s serem das investigações diretas e as investigações indiretas serem apenas complementares desta, uma não prevalece sobre a outra e as duas devem ser executadas e não pode haver divergências entre os resultados das mesmas (...)b) Se o TR fixa, com tantos detalhes, a quantidade e os limites de prospecção a ser adotado em cada caso e, se um prevalece sobre o outro, não se poderia (ou deveria) executar somente um dos métodos de prospecção, com economia para o Erário?RESPOSTA: Como o exposto acima não pode ser executado apenas um dos métodos de prospecção. Os estudos geofísicos serão aferidos com as investigações diretas e servirão para caracterização contínua do trecho. 62. Assim, verifica-se que a Valec reconhece que a utilização de métodos indiretos não substitui o emprego dos diretos. Entretanto, a documentação trazida aos autos pela Valec apresenta o emprego da eletrorresistividade como solução para o problema de insuficiência e falta de sondagens. Essa situação deve ser observada com cuidado, pois, conforme já citado, os Acórdãos 2466/2012 e 2467/2012-TCU-Plenário determinaram que a Valec encaminhasse ao Tribunal a comprovação da adequada caracterização do terreno utilizando os mesmos parâmetros adotados no edital 2/2012 (Fico).63. Por fim, observa-se que não existe nenhuma norma ou manual técnico que sustente que o emprego de eletrorresistividade em um corte onde não foi feita sondagem direta seja suficiente para determinar o comportamento do subsolo. O emprego de métodos geofísicos só é positivo se concomitantemente for realizado um programa de sondagens diretas de acordo com as normas técnicas pertinentes. 64. Este método só é útil nos cortes onde a sondagem foi realizada de acordo com as normas, pois daria uma confirmação da continuidade do material. Entretanto, destaca-se que no caso da Extensão Sul, as sondagens diretas não foram realizadas de acordo os padrões técnicos existentes. 65. Explicando de forma bem prática, em alguns casos, a sondagem direta mais próxima está a 2 km do ponto sem sondagem. Em outros, a sondagem parou no impenetrável, ou seja, numa região onde o trado teve dificuldade de penetrar, assim, a profundidade não alcançou a posição em que será construída a ferrovia (greide). Em outros, apresenta apenas um furo de sondagem, quando deveria ter 3 ou mais. Nestes casos, a utilização de eletrorresistividade não ajuda no reconhecimento do solo, pois os dados necessários para calibração do sistema são insuficientes. 66. Uma frase bem conhecida no meio geotécnico, citada em inúmeros trabalhos técnicos, resume a importância da investigação geotécnica para as obras de engenharia: “Todas as sondagens são caras, mas as mais caras são aquelas que não foram feitas” (G. Lahuec - Dragages et Geologie).67. Para adoção de novo tipo de ensaio, e sua consequente aceitação, é necessária a validação da metodologia, com apresentação da base amostral adotada, dos critérios estatísticos utilizados, da variabilidade entre os resultados obtidos pelo novo método em comparação aos métodos reconhecidos, das estimativas de variação dos custos da obra em decorrência da variabilidade dos resultados, bem como de todos os demais parâmetros e resultados detalhados.68. Em suma, um novo método de ensaio deve ser precedido de seu tratamento científico, e não da mera transposição de um método usado para outros fins.69. Não é uma simples questão de dúvida, se o método é bom ou não. Não existe tratamento científico e consequente validação da metodologia como apta a ser considerada substituta, ou mesmo complementar, aos procedimentos de sondagens previstos em normativos.70. A contratação de serviços não reconhecidos e não previstos é situação potencialmente danosa ao erário, tanto pelo gasto público na contratação de tais serviços, quanto no posterior gasto público na própria obra, decorrente de eventuais deficiências do método, levando a caracterizações incorretas dos materiais e a novos replanilhamentos.

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71. A Valec, em sua tentativa de validar a inovadora metodologia, apresentou uma série de artigos técnicos acerca do assunto. Ocorre que tais artigos tratam da eletrorresistividade como método para determinar a continuidade de maciços rochosos, bem como a presença de água e altura de lençóis freáticos.72. A própria norma em uso pelo Dnit, a norma DNER-ME 040/95, trata da sondagem por eletrorresistividade como método para conhecimento da continuidade de massas rochosas do subsolo, e ressalta a necessidade de sondagens mecânicas com amostragem. Diz aquela norma que “a interpretação da sequencia de valores de resistividade aparente obtido nos ensaios tem apenas caráter qualitativo”.73. Merece destaque um dos artigos trazidos aos autos pela Valec, o “Relatório do levantamento geofísico utilizando o método de eletrorresistividade para o projeto TAV – Trem de Alta Velocidade”, por se tratar de um estudo recente, elaborado para uma obra ferroviária importante para o país (peça 107).74. O estudo apresenta os resultados apenas em termos de fraturamentos e/ou alterações na permeabilidade do meio, e em termos de zonas anômalas de alta resistividade correlacionáveis a variações na continuidade do meio, ou seja, não há qualquer menção à caracterização do material em categorias para fins de escavação, ou mesmo quanto às propriedades físicas dos solos estudados.75. Aquele estudo, em suas conclusões, informa que é necessária a realização de sondagens diretas para interpretação do significado das anomalias de baixa resistividade elétrica observadas, ou seja, a própria documentação de suporte apresentada pela Valec indica a necessidade de realização de sondagens por métodos reconhecidos.76. Ademais, a Valec não trouxe aos autos qualquer estudo científico que suporte a utilização das sondagens por eletrorresistividade em substituição aos métodos reconhecidos. A inovação é inerente ao progresso das atividades humanas, mas tal inovação, especialmente quando envolve o gasto de recursos públicos, deve ser realizada de modo adequado, com os necessários estudos e reconhecimento científico.77. Mesmo que a Valec houvesse apresentado estudos que suportassem a adoção da inovadora metodologia, não foram apresentados os resultados das sondagens ao longo da ferrovia, sendo apresentadas apenas algumas amostras esparsas, conforme já citado, e um cronograma de atividades que prevê a conclusão de tais sondagens em 24 de dezembro de 2012.78. Acerca do cronograma, verifica-se outro fato digno de preocupação. A Valec tem apresentado essa metodologia inovadora com reconhecidas limitações como alternativa para agilizar a caracterização do subsolo onde será construída a ferrovia. Entretanto, verifica-se que o cronograma não está sendo cumprido, revelando prejudicada justamente a alegada vantagem do método. Se o método não está se revelando mais rápido que as sondagens tradicionais, há que se questionar a pertinência de se prosseguir com tal procedimento (peça 90).79. Diante do exposto, conclui-se que o emprego de eletrorresistividade não sana os graves problemas de deficiência de sondagem verificados na Extensão Sul, tampouco dá evidência conclusiva de que poderá saneá-los a curto prazo. As informações apresentadas pela Valec não acrescentaram nenhum argumento que afastasse as irregularidades apontadas nos Relatórios de Fiscalização. 80. As deficiências de sondagem possibilitam a ocorrência de erros na caracterização dos materiais das escavações e na mensuração dos quantitativos, contrariando o art. 6º, inciso IX, da Lei 8.666/1993, bem como, impedindo que a administração saiba o real valor do contrato em execução.81. Conforme já demonstrado, as sondagens por eletrorresistividade não foram propostas para os aterros e, quanto aos cortes, não foram propostas para a identificação de propriedades físicas, como a capacidade de suporte e a expansão, sendo propostas apenas para a caracterização das categorias dos materiais (primeira, segunda e terceira), o que também não foi demonstrado como viável, não sendo apresentados os resultados de sondagens já realizadas ao longo da Extensão Sul, havendo apenas um cronograma de atividades propostas, mas não cumpridas.IV. Composições unitárias que reflitam a realidade da obra no caso da produção de concreto em usina82. A Valec apresentou composições unitárias de concreto em dois possíveis cenários, um deles adotando preços de insumo (areia, brita e cimento) dos contratos em vigor, e outro adotando o preço de areia comercial do Sistema de Custos Rodoviários (Sicro), nos casos em que era previsto areia produzida (peças 91 e 92).83. Em seus cenários, a Valec utilizou as distâncias de momento de transporte (DMT) de cada obra de arte, fazendo a média ponderada dos volumes e distâncias para obter uma DMT média para cada lote.84. Feita uma análise preliminar das composições apresentadas pela Valec, observou-se diversos problemas, citados a seguir.

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85. Foi utilizado critério inadequado para a elaboração da composição de referência para cada contrato, onde a metodologia usada pela Valec adotou os preços unitários contratuais (opção 1) ou os preços unitários contratuais com exceção da areia, com preço comercial do Sicro (opção 2). 86. A referência deveria ser construída integralmente com base no Sicro, para cada um dos lotes, após o que seria então comparada com os preços contratuais. Destaca-se que o uso de areia comercial, em detrimento da explorada, deve ser acompanhado de evidências de que inexiste areia a ser explorada.87. Tal medida é necessária, pois, em tese uma empresa contratada pode estar adquirindo comercialmente a areia apenas por tal preço ser mais atrativo para a construtora. Em um caso assim, a construtora poderia estar evitando a utilização de areia explorada, a qual seria mais barata para o Erário, a fim de aumentar seus rendimentos.88. Na opção 2 a Valec adotou areia comercial, sem demonstrar a inexistência de jazidas a serem exploradas, o que não permite a adoção das composições apresentadas.89. Em consulta ao website do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), por meio do seu sistema Sigmine - Sistema de Informações Geográficas da Mineração, disponível em www.sigmine.dnpm.gov.br/, verificou-se que existem licenças minerárias para areia (números 834062/2010 e 834061/2010) e para granito (número 821019/2010), em nome da contratada Tiisa, responsável pelas obras do lote 5S (peça 111).90. Diante da exiguidade do prazo para análise da documentação, deixou-se de diligenciar ao DNPM a fim de obter-se informações acerca do estado da exploração mineral efetuada pela contratada. Todavia, diante da existência das licenças minerarias, fica clara a viabilidade da utilização dos insumos, em contraposição às composições apresentadas pela Valec.91. Na documentação apresentada, não há evidência que indique as distâncias de transportes adotadas para os insumos areia e brita. A Valec apenas indicou tais distâncias, o que não permite a adoção das composições apresentadas.92. Não há demonstração das quantidades e dos coeficientes de produtividades dos equipamentos “carregadeira de pneus”, “caminhão basculante” e “caminhão betoneira”, bem como não há demonstração da necessidade do equipamento “caminhão carroceria”, além de não estar demonstrada a adequação dos coeficientes de produtividade de tal equipamento.93. Foi utilizado pela Valec o caminhão betoneira de 5m³, apesar de existirem caminhões betoneiras de capacidade bastante superior (10 a 12 m³), o que foi aumentaria a produtividade e reduziria os custos, fato desconsiderado nas composições apresentadas pela Valec.94. O Gerador adotado é o de 288 KVA, o mesmo que é usado para central de concreto de 180m³/h, enquanto a central adotada é de 30m³/h, o que não é razoável. Observa-se que o gerador de 150 KVA tem preço unitário de R$ 69,74 a hora produtiva, contra R$ 116,94 do gerador de 288 KVA adotado pela Valec (Sicro de setembro de 2009).95. Por fim, a Valec adotou 20,51% sobre a mão de obra ligada aos equipamentos, enquanto o adequado seria 15,51%, pois tal mão de obra não usa ferramentas (5%).96. Desta forma, diante das diversas inconsistências e incorreções nas composições de concreto apresentadas pela Valec, estas não devem ser consideradas válidas, estando pendente de cumprimento à determinação à Valec para que apresente composições unitárias que reflitam a realidade da obra no caso da produção de concreto em usina para as obras de arte especiais, obras de arte correntes e dispositivos de drenagem, conforme evidenciado no Relatório de Fiscalização 382/2012 (peça 38).V. Exclusão dos itens referentes à contratação de aeronave97. A Valec apresentou documentação determinando à sua superintendência de construção a imediata retirada do item “helicóptero” de todos os contratos de obra da Extensão Sul, bem como apresentou termo de referência para contratação de aeronaves.VI. Adequação dos orçamentos das obras dos lotes, refletindo as alterações de projeto decorrentes das providências adotadas98. Não foi apresentada pela Valec a Adequação dos orçamentos das obras dos lotes, refletindo as alterações de projeto decorrentes das providências adotadas.99. Desta forma, o preço final a ser pago pelo erário pela execução das obras de Ferrovia Norte-Sul, em sua Extensão Sul, permanece desconhecido.100. Em sua apresentação (peça 87), a Valec apresenta argumentação de que as deficiências de projeto indicadas pela equipe de fiscalização terão baixo impacto percentual sobre o preço total da obra.

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101. Os argumentos da Valec para realizar tais afirmações são inconsistentes, conforme demonstrado a seguir.102. Para as interferências com linhas de transmissão de energia elétrica, uma vez que a Valec não apresentou qualquer informação originada das concessionárias de energia, ou mesmo as composições dos custos dos serviços, os valores adotados pela Valec são semelhante aos itens de “verbas”, tantas vezes já rejeitados por este Tribunal na análise de orçamentos de obras públicas. Desta forma, os valores apresentados, e os respectivos percentuais de impacto, devem ser rejeitados, por serem inconsistentes.103. Para as obras de arte especiais, a Valec apresenta um percentual de alterações nos preços sem realizar qualquer comprovação. Conforme já tratado na presente instrução, há vinte e seis projetos de obras de arte especiais ainda em desenvolvimento, conforme documento apresentado pela Valec, incluindo as pontes sobre os rios Preto, Arantes, Grande e córrego Ponte Nova, cujas deficiências foram apontadas nos relatórios de fiscalização.104. Uma vez que há projetos ainda deficientes, e projetos ainda em elaboração, o impacto sobre o preço final da obra não é conhecido. Ressalte-se, a título exemplificativo, que no lote 3S da extensão sul da FNS houve uma alteração de tal monta que chegou a alterar o traçado da própria ferrovia, resultando em embargo realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), conforme já tratado no voto condutor do citado Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário.105. Para a adequada caracterização do terreno, a Valec também prevê um impacto percentual no preço final da obra. Ocorre que em seu estudo, a Valec considerou apenas o impacto das categorias de escavação dos materiais nos cortes (primeira, segunda e terceira), sem considerar os impactos relativos à caracterização física dos materiais (suporte e expansão, por exemplo) e sem considerar os impactos da caracterização dos materiais nos aterros.106. Oportuno lembrar que, nos casos dos aterros, fiscalizações desta Corte por diversas vezes identificaram significativos incrementos nos quantitativos de remoção de solos moles e de aplicação de rachão para colchão drenante, fruto das deficiências de caracterização dos materiais nos locais dos aterros.107. Conforme já citado, no lote 11 da Ferrovia Norte Sul, em sua extensão original, o contrato 50/2011 teve os subitens relativos a colchão drenante aditivados em 245% (material) e 6781% (transporte), como decorrência de falhas na caracterização dos materiais dos aterros. Se não há adequada caracterização dos aterros, e das propriedades físicas dos materiais em toda a ferrovia, a margem de impacto sobre o preço final da obra é indeterminável.108. Em sua apresentação, a Valec estima que o risco total de alteração do preço da obra é menor que 3%. Uma vez que parâmetros essenciais foram desconsiderados pela Valec, tal percentual é inconsistente, e o preço final da obra permanece desconhecido, sendo indeterminável a margem máxima de incremento do preço da obra, por conta das inconsistências e deficiências nos projetos, conforme demonstrado.VII. Alteração de normas de elaboração de projeto básico109. A Valec apresentou portaria designando comissão com a finalidade de alterar suas normas de projeto básico, não sendo comprovada a alteração das referidas normas, o que deixa de atender ao determinado no item 9.1.2 do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário.VIII. Alteração da norma de colchão drenante110. A Valec apresentou extrato de ata da reunião da diretoria executiva da Valec e versão atual da norma de colchão drenante, comprovando o cumprimento da determinação desta Corte.IX. Estudos com vistas à alteração da especificação de estudos geotécnicos para projetos111. A Valec apresentou extrato de ata da reunião da diretoria executiva da Valec e versão atual da especificação de estudos geotécnicos para projetos, comprovando o cumprimento da determinação desta Corte.CONCLUSÃO112. Diante do exposto, e considerando as falhas da Valec em apresentar a totalidade da documentação determinada por meio do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, tem-se que permanece a situação tal que, atualmente, a Valec não dispõe, ou pelo menos não apresenta, as seguintes informações:

a) traçado real completo da Ferrovia Norte-Sul, em sua Extensão Sul, baseado em estudos que considerem as interrupções, obstruções e interferências já detectadas pela própria Valec;

b) preço final a ser pago pelo erário para conclusão das obras da Extensão Sul da FNS, ou da própria extensão original da FNS;

c) prazo para conclusão das obras da Extensão Sul da FNS, ou mesmo da extensão original da FNS;

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d) providências a serem tomadas, considerando desembolso do erário e prazo para conclusão, a fim de viabilizar a funcionalidade, pelo menos parcial, da Ferrovia Norte-Sul ou de sua Extensão Sul.113. Está presente o perigo da demora, consubstanciado no risco de perda dos recursos gastos na obra sem gerar o retorno previsto. Presente também a fumaça do bom direito, consubstanciada na identificação das irregularidades de deficiências de projeto. Desta forma, faz-se adequada a adoção de medida cautelar determinando a suspensão do contrato 68/2010.114. Conforme entendimento já esposado nos presentes autos (peças 43 e 44), está afastado o perigo da demora reverso, pois as indefinições e deficiências de projetos, aliadas à inércia causada pela expiração dos contratos que possibilitariam a adoção tempestiva das medidas corretivas, já estão causando interrupções na execução, conforme relatado no achado 3.1 do Relatório de Fiscalização (peça 38).115. Não se pode deixar de mencionar que as interrupções e indefinições do traçado desequilibram o diagrama de massas e encarecem as atividades de escavação carga e transporte, pois o material que seria retirado ou deposto no trecho interrompido precisa ser transportado de/para mais longe. 116. Nesse sentido, parar a obra, suprir as deficiências de projeto e só então retomá-la tem se mostrado solução mais rápida, mais econômica e menos danosa ao meio ambiente do que executá-la com descontinuidades, sem falar na perda de capacidade de operação causada por alterações de traçado pontuais, condicionadas a trechos que não deveriam ter sido executados.117. Cabe também determinar à Valec que informe as providências tomadas de forma a redimensionar o objeto do contrato de supervisão 90/2010.118. Uma vez que as audiências dos responsáveis propostas no Relatório de Fiscalização não foram determinadas, enquanto tratava-se da questão da classificação das irregularidades da obra, bem como não foi tratado da apuração de responsabilidades, por parte da Valec, das empresas projetistas e supervisoras, propõe-se novamente a realização das referidas audiências e determinações.119. Já foram analisadas as oitivas da Valec e das empresas contratadas (peças 64, 65 e 66), tendo sido alcançadas conclusões semelhantes às aqui apresentadas.PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO120. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior propondo:120.1. Realizar audiência, com fundamento no art. 43, inciso II, da lei 8.443/92 c/c art. 250, inciso IV, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, dos senhores:

a) Luiz Carlos Oliveira Machado, Diretor de engenharia à época, CPF 222.706.987-20, para que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência, encaminhe a este Tribunal suas razões de justificativa quanto à aprovação do termo de referência do Edital 4/2010 contendo projeto básico deficiente que determinou a realização de certame contendo termo de referência em desacordo com os requisitos mínimos exigidos pela Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, em seus artigos 6º e 7º, e a consequente contratação de execução de obra baseada em projeto básico deficiente, conforme descrito no item 3.1 do relatório de fiscalização.

b) Jorge Antonio Mesquita Pereira de Almeida, Superintendente de Projetos à época, CPF 341.332.917-00, para que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência, encaminhe a este Tribunal suas razões de justificativa quanto à assinatura do memorando 79/2009-SUPRO/RJ encaminhando para aprovação projeto básico deficiente, no qual atestou a conformidade do referido projeto básico, o que levou à realização de licitação sem contemplar os requisitos mínimos exigidos pela Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, em seus artigos 6º e 7º, e à consequente contratação de execução de obra baseada em projeto básico deficiente, conforme descrito no item 3.1 do relatório de fiscalização.120.2. determinar à Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. que, com fundamento no art. 276 do Regimento Interno do TCU, cautelarmente suspenda, de imediato, na fase em que se encontrar, até que se comprove a adoção de todas as medidas corretivas informadas ao Congresso Nacional no item 120.4 desta proposta, o contrato 68/2010 (lote 5S), para execução das obras e serviços de engenharia do Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul, em razão de deficiências de projeto básico;120.3. determinar à Valec - Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., com fundamento no art. 45 da Lei 8.443/1992, que:

a) no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência, informe as providências tomadas de forma a redimensionar o objeto do contrato de supervisão 90/2010, diante da suspensão do respectivo contrato supervisionado;

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b) no prazo de 120 dias, a contar da ciência, garantidos os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, apresente a este Tribunal as medidas adotadas que comprovem a apuração de responsabilidade:

b.1) da projetista contratada Contécnica Consultoria Técnica Ltda, nos termos do art. 87 da Lei 8.666/93 (achado 3.1 do relatório de fiscalização); e

b.2) da supervisora contratada, Enger Engenharia S/C Ltda, nos termos do art. 87 da Lei 8.666/93, pela infringência aos itens 7.1 e 7.3-O do anexo I do edital de licitação 12/2010 (achado 3.1 do relatório de fiscalização).120.4. comunicar, em cumprimento ao art. 96, caput, da Lei 12.465/2011 (LDO/2012), à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional que foram detectados indícios de irregularidades graves do tipo IG-P (inciso IV do § 1º do art. 91 LDO/2012) no contrato 68/2010, para execução das obras e serviços de engenharia do Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul, em razão de deficiências de projeto básico, não sendo possível estimar o valor do potencial dano ao erário, e que seu saneamento depende da adoção das seguintes medidas pelo órgão gestor:

a) realizar a definição precisa do traçado da obra, com indicação das soluções para superação dos obstáculos e interferências ocorridos;

b) elaborar os projetos de obras de arte especiais embasados em estudos adequados, os quais devem necessariamente incluir a sondagem do terreno que atenda, no mínimo, aos termos da norma Valec 80-EG-000A-29-000 em sua revisão 6 e aos parâmetros preconizados pela Valec no edital 2/2012, cujo objeto é elaboração do projeto executivo da Ferrovia de Integração Centro-Oeste;

c) realizar a adequada caracterização do terreno, por meio de sondagens, de forma a atender os parâmetros preconizados pela Valec no citado edital 2/2012; e

d) realizar adequação do orçamento, refletindo as alterações de projeto, a fim de que as medidas cabíveis possam ser tomadas tempestivamente.120.5. remeter cópia integral dos autos ao Ministério Público Federal, por meio de sua Procuradorias da República nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, para que adote as providências que entender cabíveis;120.6. retornar os autos à Secob-4 a fim de que adote as demais medidas processuais que se fizerem necessárias.”

2. O Diretor da 3ª DT da Secob-4, por meio do despacho à pç. 114, complementou a instrução por meio da seguinte análise:

“1. Trata-se de análise das medidas corretivas preliminares, apresentadas pela Valec em cumprimento ao Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, relativas ao Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul (FNS). As obras estão sob a responsabilidade da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.2. Foi apresentada pela Valec documentação única para estes autos e para os autos do TC 012.612-2012-0, razão pela qual as alegações foram tratadas de forma conjunta e repetidas em ambos os autos, respeitando as especificidades de cada processo.3. Verificou-se que, tanto para o lote 5, quanto para os demais, permanecem indefinições de traçado causadas pelas linhas de transmissão de energia, embora já possam ser consideradas saneadas as indefinições decorrentes dos sítios arqueológicos já identificados.4. O mesmo se dá com as obras de arte especiais, que contam com vinte e seis projetos executivos (de um total de mais de 60) ainda em desenvolvimento, nos cinco lotes. Permanecem as indefinições quanto ao preço final a ser pago pelo erário para conclusão das obras, mas o peso das OEAs nessas indefinições tenha reduzido, resultando numa situação que, isoladamente, dificilmente seria materialmente relevante, nos termos da LDO.5. A grande indefinição deve-se à caracterização do terreno, pois a nova metodologia de sondagem não está tendo a produtividade noticiada pela Valec e demonstrou não ter condições de caracterizar fisicamente o solo (ex.: capacidade de suporte e expansão). Ademais, inexiste norma ou manual técnico que sustente que o emprego de eletrorresistividade em corte ou aterros onde não foram feitas sondagem direta seja suficiente para determinar o comportamento do subsolo.6. Além de a nova metodologia de sondagem não ter resolvido o problema da indefinição do subsolo, pode vir a se caracterizar como situação potencialmente danosa ao erário, tanto pelo gasto público na contratação de tais serviços, quanto no posterior gasto público na própria obra, decorrente de eventuais deficiências do método.

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7. Constatou-se que as composições unitárias ainda não refletem a realidade da obra no caso da produção de concreto.8. Pelo exposto, manifesto-me de acordo com a proposta do auditor.”

3. A titular da Secob-4 manifestou sua anuência à proposta formulada na instrução, conforme despacho à pç. 115.

É o relatório.

PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO

Trata-se, nesta etapa processual, da análise das informações encaminhadas a este Tribunal pela Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. por força da determinação prolatada no item 9.1.1 (e seus subitens) do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, nos seguintes termos:

“9.1. determinar à Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. que:9.1.1. encaminhe a este Tribunal, até a data de 15/10/2012, os seguintes elementos:9.1.1.1. definição do traçado da obra, com indicação das soluções para superação dos obstáculos e interferências ocorridos;9.1.1.2. projetos de obras de arte especiais embasados em estudos adequados, os quais devem necessariamente incluir a sondagem do terreno que atenda, no mínimo, aos termos da norma Valec 80-EG-000A-29-000 em sua revisão 6 e aos parâmetros preconizados pela Valec no edital 2/2012, cujo objeto é elaboração do projeto executivo da Ferrovia de Integração Centro-Oeste;9.1.1.3. caracterização do terreno ao longo do leito da ferrovia, por meio de sondagens, de forma a atender os parâmetros preconizados pela Valec no citado edital 2/2012;9.1.1.4. composições unitárias que reflitam a realidade da obra no caso da produção de concreto em usina para as obras de arte especiais, obras de arte correntes e dispositivos de drenagem, conforme evidenciado no Relatório de Fiscalização 382/2012;9.1.1.5. comprovação da exclusão dos itens referentes à contratação de helicóptero do contrato de obras civis do lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul;9.1.1.6. adequação do orçamento, refletindo as alterações de projeto decorrentes das providências acima;”

A mencionada decisão foi prolatada nos autos de auditoria realizada no âmbito do Fiscobras/2012 nas obras do Lote 5S da Ferrovia Norte-Sul, localizado entre a Ponte do Rio Arantes/MG e a cidade de Estrela d’Oeste/SP, sob a responsabilidade da Valec.

- II -

Faço, a seguir, um breve histórico do andamento do presente processo. No Relatório de Fiscalização 382/2012 (pç. 38), resultante dos trabalhos de auditoria, foram apontadas, dentre outros achados, irregularidades graves decorrentes do projeto básico deficiente da ferrovia. Entretanto, essas irregularidades foram, naquele momento, objeto de proposta de classificação como irregularidade grave com recomendação de continuidade (IGC) no mencionado relatório. Contudo, ao analisar o relatório em meu Gabinete, verifiquei que as informações nele contidas apontavam a possibilidade de necessidade de alterações significativas no traçado da ferrovia, em razão dos pontos de interrupção detectados pela equipe de auditoria. Verifiquei, ainda, a existência de deficiência grave no projeto básico em razão de sondagens insuficientes para o dimensionamento das obras de arte especiais e também para a caracterização do terreno ao longo do traçado da ferrovia. Considerando que essas deficiências do projeto básico apresentavam potencial de acarretar dano ao erário de elevada monta, bem como poderiam resultar em indefinições quanto aos custos e

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prazo de execução da ferrovia, entendi que estariam presentes nos autos, em princípio, elementos suficientes para caracterizar as irregularidades apontadas como graves com recomendação de paralisação (IGP). Todavia, considerando o vulto da obra, sua importância em termos socioeconômicos para o País, bem como a sua complexidade, entendi pertinente buscar todos os elementos necessários a uma firme fundamentação da decisão quanto à mudança da classificação dos achados de auditoria. Nesse sentido, determinei à Secob-4 (despacho à pç. 41) que realizasse a avaliação do impacto, em termos de dano ao erário, causado pelas deficiências apontadas no projeto básico. Em atendimento à determinação formulada no despacho acima mencionado, a Secob-4 reanalisou situação encontrada, levando em consideração as informações atualizadas obtidas no conjunto de fiscalizações realizadas na extensão sul da Ferrovia Norte-Sul. Como resultado dessa nova análise, foi proposta a reclassificação da irregularidade atinente às deficiências do projeto básico de IGC para IGP, ou seja, irregularidade grave com recomendação de paralisação, nos termos do art. 91, § 1º, inciso IV, da LDO/2012. Foi proposta, ainda a suspensão cautelar do contrato de execução da obra, bem como os necessários ajustes ao contrato de supervisão. Ante esse novo posicionamento da unidade técnica, determinei (despacho à pç. 48), face à proposta de adoção de medida acautelatória, a oitiva prévia da Valec e da empresa contratada para execução das obras do lote. As respostas às oitivas foram consideradas pela unidade técnica insuficientes para afastar as irregularidades apontadas. Por essa razão, a Secob-4 manteve sua proposta de reclassificação das irregularidades como IGP, bem com a adoção de medida cautelar visando à suspensão da execução das obras até que fosse comprovada a adoção de todas as medidas corretivas necessárias ao saneamento das irregularidades. Em que pese ter considerado que a proposta da Secob-4 estava devidamente fundamentada em termos técnicos, resolvi levar ao Plenário proposta no sentido de que fosse dada à Valec mais uma oportunidade para que a empresa buscasse as soluções para os problemas apontados na presente auditoria. Nesse diapasão, foram prolatadas, por meio do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, as determinações mencionadas acima. Cabe resumir aqui as deficiências do projeto básico da ferrovia consideradas determinantes para eventual classificação da irregularidade como IGP, conforme amplamente discutido no Voto condutor do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário: Interrupções do traçado com risco de perda de funcionalidade da obra: foi constatado que a obra apresentava alguns pontos em que sequer foi iniciada, em razão de (1) cruzamentos com linhas de transmissão de energia elétrica, sendo que o projeto básico não previa qualquer solução para tais cruzamentos; e (2) existência de sítios arqueológicos ao longo do traçado da ferrovia, não havendo, no momento da auditoria, previsão de liberação do início das obras nesses sítios. Insuficiência de sondagens para dimensionamento das obras de arte especiais: foi constatado que, nos locais de execução de pontes no traçado da ferrovia, a Valec não realizou previamente sondagens adequadas ao correto dimensionamento das referidas obras de arte especiais. Dessa forma, conforme apontado pela auditoria, não há projeto estrutural e quadro de aço que indiquem o critério adotado pela Valec para quantificação das obras de arte especiais do lote, podendo provocar impacto significativo no contrato caso haja a necessidade de aumento de quantidades por meio de aditivos contratuais. Insuficiência de caracterização do terreno: em razão da insuficiência ou inexistência de sondagens, os quantitativos de materiais de 1ª, 2ª e 3ª categoria nos trechos em corte da ferrovia não se encontravam devidamente definidos no projeto básico. Considerando que os serviços de terraplenagem são altamente relevantes em relação ao valor total das obras, essa deficiência no projeto básico tem o potencial de alterar significativamente os valores contratados desses serviços no momento de execução da obra, além de permitir a ocorrência de dano ao erário por meio de medição de materiais de categoria inferior como se fosse de categoria acima.

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- III -

As informações apresentadas pela Valec em resposta às determinações contidas no item 9.1.1 do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário foram analisadas pela Secob-4 por meio da instrução (pç. 113), complementada pelo despacho do Diretor da 3ª DT (pç. 114), transcritos no relatório supra. Nessa análise, a unidade técnica apresenta as seguintes conclusões em relação às irregularidades em questão:

a) quanto aos sítios arqueológicos, a Valec apresentou uma lista das providências tomadas para identificação, resgate e monitoramento das ocorrências. Dessa forma, considera-se solucionada essa questão;

b) quanto aos cruzamentos com linhas de transmissão, a Valec não apresentou elementos probatórios que demonstrassem o saneamento das interferências;

c) quanto às sondagens necessárias à caracterização das obras de arte especiais, a unidade técnica entende que, apesar de permanecerem as indefinições quanto ao preço final a ser pago pelo erário para conclusão das obras, o peso das obras de arte especiais nessas indefinições foi reduzido, resultando numa situação que, isoladamente, dificilmente seria materialmente relevante, nos termos da LDO;

d) quanto às sondagens necessárias à caracterização do terreno no leito da ferrovia, a Valec não atendeu à determinação. Em razão de a Valec não ter conseguido sanear todas as irregularidades consideradas mais relevantes em relação às deficiências do projeto básico, a unidade técnica manteve sua proposta de classificação das irregularidades como IGP, bem como de adoção de medida cautelar visando à paralisação das obras até que a estatal solucione os problemas apontados.

- IV -

Apesar de se reconhecer que a Valec se esforçou para apresentar ao Tribunal as informações necessárias ao saneamento das irregularidades apontadas na auditoria, foi verificado que o atendimento à determinação prolatada por este Tribunal foi apenas parcial. Conforme as conclusões acima relacionadas, apenas demonstrou-se a solução das interrupções causadas pela presença de sítios arqueológicos no traçado da ferrovia, bem como as providências da estatal que resultou em avanço em relação aos projetos executivos das obras de arte especiais, a ponto de a Secob-4 não considerar que esses projetos, por si só, representem atualmente motivos para classificar a irregularidade como IGP. Dessa forma, restaram não afastadas duas das principais irregularidades apontadas: interrupções do traçado devido ao cruzamento com linhas de transmissão de energia elétrica e ausência de sondagens para a caracterização do terreno no leito da ferrovia. Conforme apontado pela Secob-4 na instrução constante do relatório supra, persistem os problemas relativos à ausência de solução para os cruzamentos da ferrovia com as linhas de transmissão de energia elétrica ao longo do seu percurso. Muito embora os representantes da Valec tenham informado em reuniões técnicas realizadas com os auditores da Secob-4 sobre negociações efetuadas com as concessionárias de energia elétrica para remanejamento de parte dessas linhas, não foi apresentada qualquer comprovação da aquiescência dessas concessionárias quanto aos mencionados remanejamentos das linhas de transmissão. Assim, ainda que não se deva, em princípio, desacreditar o trabalho da empresa visando à busca da solução definitiva dos problemas apontados, não há, neste momento, comprovação da solução, seu custo e prazo de execução.

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Já em relação à caracterização do terreno ao longo do leito da ferrovia, há que ser mencionado que esse foi o ponto mais fragilizado da tentativa da Valec de atendimento da determinação prolatada por este Tribunal. De acordo com a detalhada análise realizada pela Secob-4 na instrução constante do relatório anexo, a Valec apresentou proposta de realizar a caracterização do terreno por meio de prospecções geofísicas, utilizando o método da eletrorresistividade. Ocorre que, além de a estatal não ter trazido as sondagens exigidas, o método apresentado como solução para a realização das sondagens é considerado, conforme os estudos efetuados pela Secob-4, tecnicamente inadequado ao propósito da correta caracterização do terreno para efeito da quantificação dos serviços de terraplenagem necessários à construção do lote da ferrovia. Há que ser ressaltado que não cabe ao Tribunal interferir na esfera de discricionariedade dos administradores, nem atuar como órgão consultivo dos jurisdicionados. Cabe aos mesmos buscar as soluções que entenderem mais adequadas ao alcance da finalidade almejada, respeitando os princípios normativos a que estão sujeitos, assumindo a responsabilidade quanto às soluções adotadas. Contudo, é forçoso reconhecer que a tentativa da Valec de solucionar uma grave irregularidade por meio de uma técnica não usual, e, segundo a unidade técnica, apontada na literatura técnica como inadequada para a solução do problema, é, no mínimo, uma opção temerária, com potencial não apenas de manter não solucionada a caracterização do terreno, como também de provocar mais atrasos na solução da falha, além de possíveis desperdícios com o investimento em sondagens de resultados duvidosos. Por outro lado, da mesma forma como a inexistência sondagens, o uso de sondagens não confiáveis abre portas para a ocorrência de danos ao erário, na forma de superfaturamentos por meio de medições de serviços de terraplenagem não condizentes com os serviços efetivamente realizados na obra. Além dessas questões, há que ser observado que a determinação prolatada no Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário previa que as sondagens deveriam atender os parâmetros preconizados pela Valec no edital da Concorrência 2/2012, cujo objeto é elaboração do projeto executivo da Ferrovia de Integração Centro-Oeste. A utilização desses parâmetros como paradigma para as sondagens em questão deveu-se ao fato de que elas servem tanto para definição das categorias de solo para fins de escavação quanto para a definição das propriedades físicas dos materiais extraídos. Conforme apontado pela unidade técnica, a definição dessas propriedades é essencial para o aproveitamento desses solos para a sua utilização em aterros. Verifica-se, portanto, que a técnica da eletrorresistividade preconizada pela Valec para a realização das sondagens, além de ser de eficiência duvidosa para a caracterização dos solos, não se presta para a definição das propriedades físicas dos materiais extraídos, uma vez que essa caracterização depende da análise de amostras obtidas por métodos tradicionais de sondagem. Ademais, a própria Valec, por ocasião da prestação de esclarecimentos aos interessados na Concorrência 2/2012 (Fico), estabeleceu que as prospecções geofísicas – que é o caso da eletrorresistividade –, são complementares aos métodos tradicionais, não devendo ser utilizadas isoladamente. Outro ponto importante abordado na instrução elaborada pela Secob-4 diz respeito à proposta da Valec de utilizar o método da eletrorresistividade apenas nos cortes. Não há previsão de sondagem nos locais de aterro. Entretanto, a caracterização dos solos nos aterros é também de suma importância para a quantificação dos serviços de terraplenagem, pois a eventual presença de solos moles nesses locais, representa forte impacto no orçamento da obra, devido à necessidade de remoção desse solo e a possível necessidade de lançamento de colchão drenante. Por fim, a Secob-4 questiona a opção da Valec pela técnica da eletrorresistividade como alternativa para agilizar a caracterização do subsolo onde será construída a ferrovia. Ante a constatação de que o cronograma de realização dessa sondagem não está sendo cumprido, devido a possíveis dificuldades de interpretação dos dados produzidos por essa técnica, restaria prejudicada a alegada

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vantagem do método em termos de celeridade, não justificando então a sua escolha em desfavor dos métodos tradicionais e consagrados.

- V -

Ante essas análises, fica patente que a inexistência, até o momento, das sondagens necessárias à caracterização dos solos no leito da ferrovia é uma irregularidade suficiente, por si só, para a fundamentação da proposta da unidade técnica. Cabe mencionar que em uma apresentação (pç. 87) feita pela Valec em 20/09/2012 aos auditores da Secob-4, na qual procurou-se demonstrar as ações que a empresa estava adotando em relação ao cumprimento das determinações do Tribunal, foi apresentado um cálculo dos riscos da prospecção geotécnica para classificação de materiais de escavação em regiões de corte com sendo de apenas 1,0% em relação ao valor total do contrato do lote. Entretanto, conforme a análise da Secob-4, a Valec considerou apenas o impacto das categorias de escavação dos materiais nos cortes (primeira, segunda e terceira), sem considerar os impactos relativos à caracterização física dos materiais (suporte e expansão, por exemplo) e sem considerar os aterros, conforme já discutido. Assim, verifica-se que esse cálculo carece de consistência. Há que ser ressaltado, conforme já amplamente discutido no Voto condutor do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário, que o serviço de terraplenagem de uma ferrovia é item de custo extremamente relevante no valor total da obra. Assim, a ausência das sondagens, parâmetro essencial para a quantificação desse serviço, traz forte impacto na previsão do custo final da obra. A esse respeito, considero pertinente recuperar aqui o seguinte trecho do mencionado acórdão:

“22. As deficiências das sondagens necessárias à correta caracterização do terreno, por sua vez, torna os quantitativos de terraplenagem – relevante item de custo da obra – totalmente imprecisos, por não haver uma adequada quantificação dos solos de primeira, segunda e terceira categorias a serem escavados. Considerando que os custos de escavação de cada uma dessas categorias de solo são muito diferenciados, a indefinição dos quantitativos desses solos pode acarretar grande imprevisibilidade nos custos de terraplenagem. Pior ainda, abre-se uma porta para superfaturamentos por medições de escavações de solos de categoria inferior como se fossem de categorias acima.”

É de se concluir, portanto, que a proposta da Secob-4, no sentido de classificação da irregularidade como grave com recomendação de paralisação (IGP), está correta e devidamente fundamentada. Tanto a indefinição do traçado da ferrovia, em face dos cruzamentos com linhas de transmissão de energia elétrica, quanto a ausência de sondagens necessárias à precisa caracterização do terreno do leito da ferrovia a recomendam. No entanto, mais uma vez, em razão da importância socioeconômica da obra, e visando evitar vultosos prejuízos com desmobilização, mobilização, deterioração e preservação do empreendimento, proponho a adoção de uma solução alternativa que previne, por enquanto, a paralisação integral da obra. Por essas razões, deixo de acolher a proposta de classificação das irregularidades como IGP, mas entendo pertinente a proposta de adoção de medida cautelar visando à paralisação da execução das obras até que se comprove a adoção das medidas corretivas necessárias ao saneamento das deficiências do projeto básico. Entretanto, entendo que essa medida pode ser adotada de forma localizada, sem implicar na paralisação total da obra. Considerando que os serviços de terraplenagem são aqueles de maior volume no estágio inicial em que a obra se encontra e, ainda, que esses são os serviços afetados diretamente pela deficiência mencionada, não há como se permitir o seu prosseguimento sem que sejam feitas as sondagens necessárias à quantificação dos mesmos. Vale lembrar, também, que esses serviços sofrem interrupção em razão da inexistência de solução para os cruzamentos com as linhas de transmissão de energia. Portanto, entendo que a medida cautelar deve atingir principalmente esses serviços.

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Ainda em relação a essa cautelar, a meu ver, seu impacto será minimizado na medida em que a Valec se empenhar na realização de uma campanha de sondagem que produza os resultados adequados. Isso porque considero, como medida adicional visando à minimização da paralisação, que se possa dispensar a Valec de dispor da sondagem de todo o lote para que os serviços de terraplenagem tenham continuidade. Assim, penso que bastará a frente dos serviços de sondagem estar suficientemente avançada em relação à frente de obras, de forma a evitar a ocorrência de desequilíbrios no balanço do diagrama de massas nos serviços de terraplenagem, para que essas obras possam avançar. Nesse sentido, entendo que deve ser determinado à Valec que forneça ao Tribunal um cronograma de execução das sondagens no lote, o qual contemplará a divisão do lote em trechos a serem definidos pela empresa, sendo que a execução das obras em cada trecho ficará condicionada à prévia realização das respectivas sondagens do mesmo trecho. Outra determinação considerada não atendida pela Valec, conforme a análise da unidade técnica, diz respeito às composições unitárias que reflitam a realidade da obra no caso da produção de concreto em usina (subitem 9.1.1.4 do Acórdão 2466/2012-TCU-Plenário). Considerando que essas composições são essenciais para a correta avaliação dos custos das obras de artes especiais, obras de arte correntes e dispositivos de drenagem, entendo que a medida cautelar deve também suspender a execução desses serviços até que a determinação seja atendida pela Valec. Entendo, contudo, que essa medida tem pequeno impacto sobre o andamento desses serviços, já que a pendência para a sua continuidade pode ser facilmente solucionada pela Valec. Quanto aos cruzamentos da ferrovia com linhas de transmissão de energia, há também necessidade de adoção de medida cautelar de forma a se permitir a execução das obras nesses pontos apenas após o encaminhamento da comprovação da devida solução técnica para esses cruzamentos. No caso dessa solução se dar por meio do remanejamento das linhas de transmissão, devem ser fornecidos elementos que comprovem a conclusão desse remanejamento; caso a solução envolva a alteração de traçado da ferrovia, deve ser fornecido o projeto desse novo traçado, bem como as composições dos custos unitários dos serviços relativos a essas alterações. Em qualquer caso, a paralisação da obra determinada pela medida cautelar deve ocorrer em um ponto em que se garanta que a sua continuidade posterior não implique em perda de serviços já executados. Quanto a esse aspecto da medida cautelar, considero, mais uma vez, que seu impacto é relativamente pequeno, tendo em vista que as informações constantes da apresentação feita pela Valec aos auditores deste Tribunal em 20/09/2012 (pç. 87) dão conta de que as tratativas para a solução dessas interferências estão bastante avançadas. Ante essas considerações, entendo que a adoção de medida cautelar visando à paralisação apenas parcial das obras, e pelo menor tempo possível, é solução que melhor atende ao interesse público, visando minimizar a possibilidade de eventuais desmobilizações, bem como impedir a deterioração das obras já executadas. Tudo isso, entretanto, dependerá do empenho da Valec em buscar a solução das pendências apontadas no menor prazo possível. Importante ressaltar, entretanto, que a solução do problema das sondagens – considerada a mais relevante no estágio atual desta auditoria, repita-se – deve demandar da Valec uma reavaliação do método preconizado (eletrorresistividade), conforme já amplamente discutido.

- VI -

Feitas essas considerações sobre a adoção de medidas cautelares, continuo a analisar a proposta da Secob-4 quanto à classificação das irregularidades como IGP. Ante todas as deficiências do projeto básico ainda não solucionadas, em especial aquela referente à falta de caracterização dos solos no leito da ferrovia devido à inexistência de sondagens, entendo presente nos autos os requisitos constantes do art. 91, § 1º, inciso IV, da Lei 12.465/2011 (LDO/2012) para a classificação da irregularidade como grave com recomendação de paralisação

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(IGP). Nesse sentido, considero o impacto da irregularidade mencionada materialmente relevante em relação ao valor total do lote contratado, ainda que não seja possível quantificar os danos decorrentes dessa irregularidade em razão das próprias deficiências do projeto básico utilizado como referência para a contratação. Ademais, a irregularidade apresenta grande potencial de propiciar elevados prejuízos ao erário, conforme discutido no parágrafo transcrito no item 26 desta proposta de deliberação, além de configurar graves desvios relativamente aos princípios constitucionais a que está submetida a administração pública, no caso, os princípios da legalidade e da economicidade. Todavia, há que ser reconhecido que a Valec e o Ministério dos Transportes têm demonstrado perante este Tribunal empenho na solução dos problemas apontados na presente auditoria. Prova disso é que a situação atual já evoluiu consideravelmente em relação àquela detectada durante o período da auditoria. Entretanto, em razão da extensão e da gravidade dos problemas encontrados pela nova diretoria da Valec, que assumiu o comando da estatal há cerca de um ano, não foi possível, até o momento, solucionar a totalidade das irregularidades apontadas. Dessa forma, entendo suficiente, no momento, a adoção das medidas cautelares acima mencionadas como forma de solucionar os problemas ainda existentes, buscando minimizar, o mais possível, o impacto no andamento das obras. Não seria, portanto, o caso de classificar, nesse estágio, as irregularidades pendentes de solução, pois a consequente inclusão das obras no quadro de bloqueio da LOA teria efeitos muito mais abrangentes, podendo, inclusive, resultar no bloqueio de recursos orçamentários para a obra, o que não seria condizente com as medidas que visam à paralisação apenas de parte dos seus serviços, e pelo menor tempo possível. Assim, muito embora considere, neste momento, já presentes as condicionantes para a classificação das irregularidades como IGP, nos temos da LDO/2012, considero pertinente que a decisão sobre a adoção dessa medida seja postergada para a próxima fiscalização do Fiscobras, ocasião em que deverá ser reavaliada a efetividade das medidas ora adotadas. Dessa forma, deve ser informado ao Congresso Nacional que as irregularidades não solucionadas até o momento merecem a classificação como irregularidades graves com recomendação de continuidade (IGC), nos termos do art. 91, § 1º, inciso VI, da LDO/2012, sem prejuízo de se informar também sobre a adoção das medidas cautelares.

- VII -

Quanto às demais propostas formuladas pela Secob-4, acolho-as in totum, por entender que as análises unidade técnica não carecem ressalvas. Dentre essas propostas, deixo de acolher, nestes autos, aquela relativa à realização de audiência do responsável pela aprovação do termo de referência do edital da Concorrência 4/2010 contendo projeto básico deficiente, bem como do responsável pelo encaminhamento para aprovação do projeto básico deficiente utilizado na licitação. Isso porque essas audiências já estão sendo propostas nos autos do TC-012.612/2012-0, que trata de auditoria também no âmbito do Fiscobras/2012, nos Lotes 1S a 4S da extensão sul da Ferrovia Norte-Sul. Dessa forma, por se tratar das mesmas irregularidades, praticadas no mesmo empreendimento, entendo que não há razão para a realização das mencionadas audiências em ambos os processos. Não posso terminar sem mencionar meu reconhecimento ao trabalho de excelência desenvolvido pela equipe da Secob-4, nas pessoas da titular daquela unidade, Juliana Carvalho, do Diretor da 3ª DT, Nivaldo Dias Filho, do Assessor Nicola Khoury e do Auditor Carlos Alberto Bornhofen, e pela minha assessoria, na pessoa do Auditor Oscar Silva. Refiro-me não só à excelência, mas ao profissionalismo, à dedicação e à preocupação por uma solução técnica, mas equilibrada. Louvo, portanto, a postura e a atitude desses funcionários exemplares. Da mesma forma, manifesto meu reconhecimento também à Valec, na pessoa de seu Diretor-Presidente, juntamente com sua equipe técnica, e também ao Ministério dos Transportes, pelo empenho demonstrado em atender as determinações do Tribunal.

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Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 24 de outubro de 2012.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI Relator

ACÓRDÃO Nº 2908/2012 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC 009.594/2012-4. 2. Grupo: II – Classe de assunto: V – Auditoria.3. Interessado: Congresso Nacional.3.1. Responsáveis: Jorge Antônio Mesquita Pereira de Almeida (CPF 341.332.917-00), Luiz Carlos Oliveira Machado (CPF 222.706.987-20)4. Unidade: Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A..5. Relator: Auditor Augusto Sherman Cavalcanti.6. Representante do Ministério Público: não atuou.7. Unidade técnica: Secob-4.8. Advogado constituído nos autos: Ana Carolina Guizzo (OAB/SP 206.536) e outros.

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria realizada no âmbito do Fiscobras/2012,

tendo por objeto o Lote 5S da Ferrovia Norte-Sul, sob responsabilidade da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. determinar à Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. que:9.1.1. com fundamento no art. 276 do Regimento Interno do TCU, suspenda cautelarmente, de

imediato, na fase em que se encontrar, a execução dos serviços de terraplenagem do Contrato 68/2010 (lote 5S), para execução das obras e serviços de engenharia do Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul, ficando a retomada desses serviços condicionada a:

9.1.1.1. deliberação definitiva deste Tribunal acerca de cronograma de execução das sondagens necessárias à caracterização do terreno ao longo do leito da ferrovia, de forma a atender os parâmetros preconizados pela Valec no edital da Concorrência 2/2012, podendo o lote ser dividido em tantos trechos quanto a Valec considerar necessários, desde que a extensão de cada trecho seja suficiente para evitar que ocorra o desequilíbrio do balanço do diagrama de massas no serviço de terraplenagem dentro daquele trecho, devendo esse cronograma ser elaborado e apresentado ao Tribunal em um prazo de 30 (trinta) dias;

9.1.1.2. elaboração, para cada trecho, das composições de custo unitário dos serviços de terraplenagem, embasadas nas sondagens para caracterização do solo do trecho, de acordo com o cronograma definido no subitem anterior, considerando que os serviços de terraplenagem de cada trecho deve ser precedido da respectiva sondagem;

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9.1.2. com fundamento no art. 276 do Regimento Interno do TCU, suspenda cautelarmente, de imediato, na fase em que se encontrar, os serviços de execução de obras de arte especiais do Contrato 68/2010 (lote 5S), até que o Tribunal delibere definitivamente acerca das composições de custo unitário, elaboradas após a conclusão dos respectivos projetos executivos, que reflitam a realidade da obra no caso da produção de concreto em usina para essas obras, conforme evidenciado no Relatório de Fiscalização 382/2012, devendo essas composições serem encaminhadas ao Tribunal em um prazo de 120 (cento e vinte) dias, incluída nesse prazo a elaboração dos projetos executivos faltantes, podendo ser antecipada a entrega das composições relativas aos projetos executivos já existentes;

9.1.3. abstenha-se de executar serviços de terraplenagem, ainda que atendido o item 9.1.1 (e seus subitens) acima, nos pontos de cruzamento com linhas de transmissão de energia, até que seja concretizada uma das seguintes soluções para essas interferências:

9.1.3.1. definição da solução técnica para o remanejamento da linha de transmissão, acompanhada da anuência da respectiva empresa concessionária e dos custos dessa solução; ou

9.1.3.2. elaboração do projeto do novo traçado, em caso de necessidade de alteração do traçado da ferrovia, juntamente com as composições dos de custos unitários dos serviços relativos a essa alteração, embasadas nas sondagens necessárias a esse novo traçado;

9.2. determinar à Secob-4 que:9.2.1. monitore, em processo específico, o cumprimento do subitem 9.1 deste Acórdão;9.2.2. avalie, no âmbito das fiscalizações do Fiscobras/2013, a efetividade das medidas adotadas

no subitem 9.1 deste Acórdão, reavaliando, naquela oportunidade, a classificação das irregularidades apontadas no projeto básico;

9.3. comunicar, em cumprimento ao art. 96, caput, da Lei 12.465/2011 (LDO/2012), à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional que foram detectados indícios de irregularidades graves do tipo IGC (§ 1º, inciso VI, do art. 91 da LDO/2012) no Contrato 68/2010, cujo objeto é a execução das obras e serviços de engenharia do Lote 5S da Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul, em razão de deficiências de projeto básico, as quais ensejaram a adoção, por parte deste Tribunal, de medida cautelar determinando a paralisação de parte dos serviços previstos em contrato até que sejam adotadas, por parte da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., as medidas determinadas no item 3.1.1 (e seus subitens) deste Acórdão;

9.4. encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e Proposta de Deliberação que o fundamentam à Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. e ao Ministério dos Transportes;

9.5. arquivar o presente processo.

10. Ata n° 42/2012 – Plenário.11. Data da Sessão: 24/10/2012 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2908-42/12-P.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Augusto Nardes (na Presidência), Valmir Campelo, Walton Alencar Rodrigues, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e José Múcio Monteiro.13.2. Ministro-Substituto convocado: Marcos Bemquerer Costa.13.3. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator), André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO NARDES

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI

na Presidência Relator

Fui presente:

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Page 22: Cidadão | Portal TCU · Web view2012/10/29  · 80. As deficiências de sondagem possibilitam a ocorrência de erros na caracterização dos materiais das escavações e na mensuração

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 009.594/2012-4

(Assinado Eletronicamente)PAULO SOARES BUGARINProcurador-Geral, em exercício

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