Ciência e Conhecimento Científico Igor Menezes. Ciência e Conhecimento Científico O Conhecimento Científico e outros Tipos de conhecimento “ Sem conhecimento

Ciência e Conhecimento Científico

Igor Menezes


O Conhecimento Científico e outros Tipos de conhecimento

“ Sem conhecimento não há respostas corretas para o homem” (Campos, 2004)

Ao longo de sua evolução, a humanidade gerou diversas formas de conhecimento, as quais possuem diferentes características e limites na explicação dos fenômenos

que se apresentam ao homem no seu dia-a-dia.


O Conhecimento Científico e outros Tipos de conhecimentoConhecimento mítico

Conhecimento religioso

Conhecimento filosófico

Senso Comum (empírico)

Científico


A primeira forma de conhecimento era uma rudimentar explicação de um fenômeno, a qual havia sido vivenciada por um grupo de seres humanos e

perpetuada inicialmente através da linguagem oral (Ferrari, 1982). É um conhecimento vivencial.


Empírico (Senso comum)



Conhecimento vulgar ou popular: transmitido de geração a geração por meio da educação informal e baseado em imitação e

experiência pessoal; portanto empírico e desprovido de conhecimento preciso como o por que e como acontecia.



É aquele produzido por todo ser humano através sua própria existência.



Todo indivíduo produz conhecimento a partir de sua interação com o mundo, sendo este conhecimento o resultado da experiência individual do sujeito. E depende:

• Cultura

• Sociedade

• Momento histórico

• Meio (ambiente físico)


Por ser fruto da experiência individual, o conhecimento empírico não serve genericamente, ou seja, não pode ser uma LEI.



O conhecimento empírico é fruto do acaso e não reflete um princípio constante.


A constância é alcançada quando, às vezes, algumas experiências individuais, mesmo que restritas pelo seu caráter empírico, refletem uma lei científica.



A pessoa não entende o porquê funciona, mas sabe que funciona.

Ex: Um camponês, mesmo iletrado de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, o tipo de solo adequado, etc.


A ciência não se contrapõe ao conhecimento empírico.



Muitas vezes, a ciência se aproveita deste conhecimento como ponto de partida para pesquisas que resultarão em leis e princípios científicos.

A ciência gera uma nova forma de compreender o mundo e isto determinou a revisão da validade da explicação do conhecimento decorrente da vivência pessoal.

Não se pode negar...


Características do Conhecimento Empírico (Senso Comum, conhecimento popular)

Superficial/falível e inexato: conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto as coisas: “porque vi”, “porque o senti”, “porque o disseram”.

Sensitivo: referentes a vivências, estados de animo da vida diária.

Subjetivo: o próprio sujeito organiza suas experiências e conhecimentos (adquiridos por vivências, ou por “ouvi dizer”).

Ametódico: não é produzido intencionalmente, pois depende do acaso.


Assistemático: a organização das experiências não visa uma sistematização de idéias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las; não representa uma regra que é válida de modo genérico.

Acrítico: a pretensão de que estes conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

Dependente: é fortemente influenciado pela cultura, sociedade e ambientes físico e geográfico.

Características do Conhecimento Empírico (Senso Comum, conhecimento popular)


Conhecimento Religioso

Provavelmente o conhecimento religioso surgiu paralelamente ao

conhecimento empírico, sendo uma forma de explicar fenômenos para os

quais a experiência individual não conseguia fornecer elementos

suficientes para sua compreensão.

No conhecimento religioso, para explicar o fato ocorrido não é necessária a vivência dele (o empírico).


É necessária uma explicação a partir da existência de uma força superior ou de um ser supremo (ou mais de um), no caso Deus, que seria a razão para a ocorrência dos fatos não redutíveis à

experiência em si, pela lógica do conhecimento empírico.



O conhecimento religioso precisa usar um conceito-chave nas suas explicações.

Caráter dogmático: aceito como verdade, sem ser discutido.



Um dogma (pedra fundamental) se constitui em um conhecimento ou idéia central sobre qual toda a estrutura posterior do

conhecimento religioso é construída.

Ex: Reencarnação; a Santíssima Trindade, etc.



Mesmo sendo parte do conhecimento religioso, as religiões não são as únicas a utilizar deste conhecimento.

Qualquer conhecimento que seja baseado em conceitos que não possam ser discutidos, testados ou questionados pode ser

religioso (Popper, 1975; Peluso, 1995)



Popper (1975), sugere que há teorias que não possuem condições de obter o adjetivo científico.

Pseudociências: modelos teóricos que parecem ciência por possuírem um método exclusivo.

Mas este método e todo conhecimento por ele gerado são relacionados a uma hipótese central, que é assumida como verdadeira, sem questionamento ou testagem, tornando-se assim um dogma.



Segundo Popper (1975), como exemplos de pseudociências temos:

Dialética - marxista – sempre buscando relação entre dominante e dominado

Psicanálise – tudo está relacionado e é causado pelo inconsciente.



Características do Conhecimento Religioso

Valorativas: apóia-se em doutrinas que possuem posições sagradas.

Inspiracional: reveladas pelo sobrenatural.

Infalíveis e indiscutíveis: as “verdades” apresentadas são consideradas “revelações” da divindade.

Sistemático: origem, significado, finalidade e destino.



Dogmático: baseia-se em uma idéia, conceito ou condição que não é possível de ser contestada ou testada, sempre apresentando motivos não-racionais para esta condições.

Não são verificadas / não testável: não aceita ser testado, por ser construído através de um ponto-chave de caráter hipotético. O conhecimento religioso não aceita ser testado, exceto por seus próprios princípios (tendencioso).



Depende da crença/da fé: está sempre implícita uma atitude de fé do indivíduo perante o conhecimento revelado. Este ato de fé pode ser espontâneo (ocorre

conscientemente), ou induzido por fatores externos (pressões familiares,

grupais, culturais, etc.)


O profissional que atua baseado na ciência tem o direito de atuar profissionalmente considerando seus valores pessoais e/ou religiosos? Quais os

riscos desta atitude?



É importante que um profissional saiba separar seus valores pessoais do seu conhecimento científico e

profissional.


Conhecimento Filosófico

Antecedeu, historicamente, o aparecimento da ciência.

Ao contrário da ciência, esta forma de conhecimento teve impacto rapidamente sobre a sociedade, sendo reconhecida e valorizada.

Foi na filosofia que a ciência começou a ser pensada, discutida e debatida.

A filosofia continua existindo, mesmo após o advento da ciência.


A filosofia é uma forma racional de conhecimento, não admitindo a intuição ou a fé como origem (Ferrari, 1982).

É uma forma de conhecimento que tem a condição de colocar suas hipóteses antecipadamente, mesmo que nunca possam ser testadas.

O conhecimento filosófico recorre a experiência pessoal e subjetiva, evitando a experimentação, o que a tornaria ciência.

O cerne do conhecimento seria a lógica interna entre os conceitos, na coerência lógica entre as relações e os seus diversos componentes teóricos.



O objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceituais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais.

O método da filosofia é o método racional no qual prevalece o processo dedutivo, que antecede a experiência, não exige confirmação experimental, mas somente coerência lógica.

A filosofia encontra-se sempre a procura do que é mais geral; busca uma concepção unificada e unificante do universo.



O conhecimento científico tem a obrigação real de testar hipóteses

A lógica e a coerência são importantes para o conhecimento cientifico, porém não são suficientes para garantir o reconhecimento como verdadeiro.

Conhecimento Filosófico X Conhecimento Científico


Valorativo: seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação.

Racional: consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados.

Sistemático: suas hipóteses e enunciados visam uma representação coerente da realidade estudada.

Não Verificável: não são confirmados nem refutados.

Infalível e exato: seus postulados e hipóteses não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).



Revolução Científica – Séc. XVII

Copérnico e Newton mudam a imagem do universo e as idéias sobre a ciência, sobre o trabalho científico, as instituições científicas, as relações entre ciência e sociedade e o saber científico e a fé religiosa.

Copérnico rompe com a idéia geocêntrica. A terra não é mais o lugar privilegiado da criação, o lugar

designado por Deus a um homem concebido como ponto mais nobre da criação.


A ciência deixa de ser a intuição privilegiada do mago ou astrólogo.

A ciência deixa de ser o discurso sobre o “mundo do papel (Filosofia)”, para ser um discurso sobre o

“mundo da natureza”; um discurso dirigido à obtenção de proposições verdadeiras, experimentais e portanto publicamente

controláveis sobre os fatos.



Característica principal da ciência moderna é o método.

Método Hipotético-dedutivo: Tornam-se necessárias hipóteses como tentativas de

soluções de problemas. Hipóteses das quais se deduzem em conseqüências

experimentais publicamente controláveis.

A formação de novo tipo de saber pede um outro tipo de “investigador”: cientista experimental



O cientista se utiliza de instrumentos precisos, fundindo a teoria com

técnica. É o pesquisador que convalida teorias com experimentos

realizados por meio de operações instrumentais com os objetos.

A ciência experimental encontra confirmação

por meio dos experimentos.

A revolução científica é a nova forma de saber,

diferente do saber religioso.

Crescimento da instrumentação: nexo da teoria

e prática, do saber e técnica.



É o estágio mais recente na evolução do conhecimento humano.

A palavra Ciência se origina do latim, na palavra Scientia que se originou de Scire que significa aprender, conhecer.

A ciência diferencia-se das demais forma de conhecimento por possuir um MÉTODO.

Método: conjunto de princípios que norteiam a conduta do cientista ao longo da produção do conhecimento (é a parte mais importante da pesquisa).

Conhecimento Científico


A palavra método se originou na Grécia antiga e significa como percorrer ao longo do caminho.

O método seria as regras que irão nortear a conduta ao longo do caminho (irá garantir a validade).



Aspectos para que o conceito ou idéia obtenha o reconhecimento da ciência

Método: necessita ser produzido através da aplicação de um conjunto de princípios que tenham o status de científico.

Sistemático: deve buscar produzir e retratar regras, principios ou leis que expliquem a natureza do fenômeno pesquisado.



Aspectos para que o conceito ou idéia obtenha o reconhecimento da ciência

Objetivo: o conhecimento científico deve ser relatado da forma

mais simples e direta possível para garantir que suas

explicações sejam compreensíveis para todos os indivíduos.

Não deve necessitar de dons ou experiências especiais para

ser compreendido e assimilado.



Exemplo de conhecimento científico em fisiologia

Lei formulada pelo fisiologista Ivan P. Pavlov

– Lei da Aprendizagem comportamental

• Experimentos com cães.

Estímulo Neutro: campainha (som)

Estímulo Reflexo: salivação

Lei do condicionamento clássico (condição do reflexo)



O conhecimento científico precisa ser compreendido dentre os limites naturais de qualquer conhecimento.

Ele não pretende traduzir toda a verdade.

A ciência busca dar respostas mais confiáveis à humanidade, que independam da experiência individual e não expliquem a vida humana em função de dogmas.

Em ciência, algo é verdadeiro até que se prove o contrário, ou seja, nunca algo é (ou será) totalmente verdadeiro.



O objeto de estudo da ciência pode ser compreendido pela noção de fato e fenômeno.

Fato: é algo que existe independente de qualquer interpretação, julgamento ou enfoque prévio.

Fenômeno: é o fato percebido no ângulo de interesse de um determinado campo do saber científico. O fenômeno é o objeto de estudo da ciência.



Replicabilidade: possibilidade de se realizar novamente uma pesquisa, com o mesmo padrão e conduta metodológica adotada e se atingir resultados estatisticamente semelhantes, demonstrando que o conhecimento reflete uma regra e não uma exceção.

Fidedignidade: é determinada a partir da replicabilidade da pesquisa. Uma pesquisa é fidedigna quando seus resultados podem ser generalizados para condições além da pesquisa específica, com riscos cientificamente aceitáveis.



Generabilidade: possibilidade de um fenômeno ser explicado em condições naturais, ou seja, além dos limites da pesquisa. Os resultados só podem ser generalizados após garantidas a replicabilidade e a fidedignidade.

Falseabilidade: o conhecimento só será científico se for possível de ser falseável, ou seja, quando se demonstra que a sua validade não é total; que o conhecimento produzido não é definitivo nem único, mas serviu como um importante passo para a construção do saber científico.



Para o modelo científico, explicações cada vez mais completas substituem explicações superadas.

Segundo Popper (1975):

“Ser cientista, portanto, é trabalhar com a dúvida,

conviver com a incerteza, pois tudo que se sabe hoje

pode ser substituído por um modelo explicativo amanhã”.

Os limites do conhecimento científico

A verdade na Ciência: um conhecimento é tido como verdadeiro, até que se prove ao contrário.


Características do Conhecimento Científico

Real (factual): pois lida com ocorrências ou fatos.

Contingente: suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão.

Sistemático: saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria), e não conhecimentos dispersos e desconexos.


Características do Conhecimento Científico

Verificável: as hipóteses que não podem ser comprovadas

não pertencem ao âmbito da ciência.

Falível e aproximadamente exato: não é definitivo, absoluto

ou final, e por este motivo é aproximadamente exato: novas

proposições podem reformular o acervo de teoria existente.


Conceito de Ciência

• Sistematização de conhecimentos.

• Conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o

comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar.

“...é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigido ao sistemático conhecimento com o objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação” FERRARI (1982).

Segundo Trujillo Ferrari, a ciência é:


Características das formas de conhecimento

Característica/Conhecimento

Senso Comum Religioso Filósofo Científico

Vinculação com a realidade Valorativo Valorativo Valorativo Real (factual)

Origem Reflexivo Inspiracional Racional Contingente

Ocorrência Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático

Comprobabilidade Verificável Não verificável Não verificável Verificável

Eficiência Falível Infalível Infalível Falível

Precisão Inexato Exato Exato Aproximadamente Exato

Campos (2004) pág. 41 Todas estas condições precisam estar presentes para que o conhecimento seja científico.

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