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CIÊNCIA E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO PROFA.: ENIMAR J. WENDHAUSEN

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CIÊNCIA E OUTROS TIPOS

DE CONHECIMENTO

PROFA.: ENIMAR J. WENDHAUSEN

Objetivo da aula

Discorrer sobre os caminhos que levam ao

conhecimento.

Importância da discussão

Para que se compreenda a diferença entre o

conhecimento científico e os outros tipos de

conhecimento.

É POSSÍVEL SEPARAR CIÊNCIA DE IDEOLOGIA?

A ciência é o único caminho para o

conhecimento?

A ideologia pode ser identificada por um conjunto

de crenças de como os homens vivem e atuam no

mundo (MARTINS;THEÓPHILO, 2009).

“As visões de mundo e ideologia influenciam

bastante a ciência, porque impregnam o

pensamento e o sentimento de sociedades e

classes”(MARTINS;THEÓPHILO, 2009, p. 24)

A ciência não é o único acesso ao conhecimento e à

verdade.

O cientista e o homem comum podem observar o

mesmo objeto e fenômeno, o que muda é a forma

como esta observação é realizada.

O exemplo do agricultor que sabe o momento

exato de semear, a época de colher, quando a

terra necessita de adubo.

Saber que determinada planta precisa da

quantidade x de água e se não ocorrer de forma

natural, deve ser irrigada – conhecimento

verdadeiro e comprovável, mas não científico.

Para ser científico é necessário conhecer a natureza

dos vegetais, sua composição, ciclo de

desenvolvimento etc.

Definições de ciência

Em Lakatos e Marconi (1995) são apresentadas várias

definições, cada uma acentua determinados aspectos.

Contudo, nenhuma característica tomada separadamente

define adequadamente o conceito de ciência.

Conceitos mais comuns e incompletos de ciência

(LAKATOS;MARCONI, 1995, p. 18):

‘Acumulação de conhecimentos sistemáticos’.

‘Conhecimento certo do real pelas suas causas’.

‘Estudo de problemas solúveis, mediante método

científico’.

Conceito de Ander-Egg (1978) apud Lakatos e

Marconi (1991, p. 19):

‘A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais,

certos ou prováveis, obtidos metodicamente

sistematizados e verificáveis, que fazem referência a

objetos da mesma natureza’.

Conhecimento racional

Está constituído por elementos como sistema conceitual,

hipóteses, definições, tem exigência de método.

Certo ou provável

Não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível

de todo o saber que a compõe.

Obtidos metodicamente

São obtidos mediante regras lógicas e procedimentos

técnicos.

Sistematizadores

Trata-se de um saber ordenado logicamente.

Verificáveis

As afirmações devem ser comprovadas.

Relativos a objetos de uma mesma natureza

Objetos pertencentes a determinada realidade, que

guardam entre si caracteres de homogeneidade.

A ciência pode ser caracterizada como uma forma

de conhecimento objetivo, racional, sistemático,

geral, verificável e falível podendo ser definida

mediante a identificação de tais características.

Objetivo

Descreve a realidade independentemente da posição

do pesquisador.

Racional

Se vale da razão para chegar a seus resultados.

Sistemático

Se trata de um saber ordenado logicamente, formando

um sistema de ideias e não conhecimentos dispersos e

desconexos.

Geral

Se dirige à elaboração de leis ou normas gerais, que explicam

os fenômenos de certo tipo

Verificável

Possibilita demonstrar a veracidade das informações

Falível

Reconhece a sua capacidade de errar

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

É real porque lida com ocorrências ou fatos.

Suas proposições ou hipóteses têm a sua

veracidade ou falsidade conhecida através da

experimentação.

É sistemático pois se trata de um saber ordenado

logicamente, formando um sistema de ideias(teoria) e

não conhecimentos dispersos e desconexos.

Possui características da verificabilidade, a tal ponto

que as afirmações (hipóteses) que não podem ser

comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.

Classificação das Ciências

Bunge;

- Formais: estudam objetos abstratos cujos argumentos e teoremas dispensam testes

para experimentação.

Lógica e Matemática.

- Factuais: experimentais ou empíricas. Estudam objetos concretos.

- Naturais e Sociais.

- O QUE É EMPÍRICO?

- É relativo à observação de uma realidade externa ao indivíduo.

CONHECIMENTOS NÃO-CIENTÍFICOS

CONHECIMENTO VULGAR OU POPULAR

Transmitido por educação informal;

Baseado em imitação e experiência pessoal;

O que o diferencia do conhecimento científico é a

forma, o método e os instrumentos do conhecer;

Representa o saber cotidiano disponível, com o qual

o nosso dia-a-dia é organizado.

Martins e Theóphilo (2009)

É incoerente e impreciso – não há aplicação de

métodos e reflexões - Ainda é a base para o

conhecimento científico

Porque é considerado a base do conhecimento científico?

Ander – Egg (1978) afirma que este tipo de

conhecimento é:

Superficial – conforma-se com a aparência, com o que

se pode comprovar só pelo fato de estar junto das

coisas, frases que a expressam (porque o vi, porque

disseram, porque todo mundo diz).

Subjetivo – é o próprio sujeito que organiza suas

experiências e conhecimento, tanto os adquiridos por

vivência própria como os por ouvir dizer.

Assistemático – a organização das experiências

adquiridas pelo indivíduo não visa a sistematização

das idéias.

Acrítico – verdadeiros ou não, manifestam-se de

forma não crítica.

CONHECIMENTOS NÃO-CIENTÍFICOS

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Parte de hipóteses não submetidas à observação;

É não verificável, pois as hipóteses filosóficas não

podem ser confirmadas nem refutadas, são

simplesmente aceitas;

É racional, pois consiste num conjunto de enunciados

logicamente correlacionados;

É infalível e exato, pois suas hipóteses não são

submetidas ao teste da observação (experimentação).

O conhecimento filosófico tem por origem a

capacidade de reflexão do homem e por instrumento

exclusivo o raciocínio.

Como a ciência não é suficiente para explicar o sentido

geral do universo, o homem tenta essa explicação pela

Filosofia.

CONHECIMENTOS NÃO-CIENTÍFICOS

CONHECIMENTO RELIGIOSO

Se apóia em doutrinas que contêm proposições

sagradas (valorativas);

suas evidências não são verificadas e parte do

princípio de que as verdades tratadas são indiscutíveis.

Ex.: Explicação dos teólogos e cientistas sobre a teoria

da evolução das espécies.

Os teólogos baseiam-se em textos sagrados.

Os cientistas em suas pesquisas.

A geração do conhecimento se processa em quatro

níveis ou polos:

a) epistemológico;

b) teórico;

c) metodológico;

d) técnico.

Polo epistemológico

São consideradas explicitação das problemáticas

de pesquisa e a produção do objeto científico;

A pesquisa se inicia pelo problema e é a busca de

solução para o problema que orienta toda a

lógica de investigação.

Polo teórico

Orienta a definição das hipóteses e construção dos

conceitos.

Compreende aspectos como teorias, modelos e

hipóteses.

Polo metodológico

São os diversos modos de tratar a realidade - inclui

dimensões amplas de abordagens metodológicas e

outras mais específicas.

Polo técnico

Guia os procedimentos de coleta de dados – escolhas

práticas realizadas pelo pesquisador para permitir o

encontro com os fatos empíricos.

Polo de formatação e edição

Polo de avaliação (instrumental para avaliações

quantitativas e qualitativas).

A Escolha de um Assunto-Tema – Problema para a

Construção de um Trabalho Científico

Não há uma regra básica para escolher um assunto-tema-problema que mereça ser pesquisado.

Critérios que podem orientar a escolha: deverá ser ao mesmo tempo, importante, original e viável.

Quando um tema é importante?

Quando for ligado a uma questão que polariza, ou

afeta um segmento da sociedade, ou

está direcionado a uma questão teórica que merece

atenção.

Quando um tema é original?

Quando há indicadores de que o resultado pode

surpreender.

Trazer novidades.

Possibilitar um novo entendimento do fenômeno a ser

investigado.

Temas cujos resultados são previsíveis, não

surpreendentes, não merecem investigação.

Deve ter viabilidade

Está ligada às evidências empíricas que permitam

observações, testes, coleta de dados e validações,

condições de prazo, custo e potencialidade do

pesquisador.

Como um objeto de pesquisa pode surgir?

De circunstâncias pessoais ou profissionais;

de experiência científica própria ou alheia;

da sugestão de uma personalidade superior;

do estudo, da leitura de grandes obras, da leitura de

revistas especializadas.

Primeiro:

Deve-se realizar a delimitação do campo da ciência

que tratará o trabalho científico.

Ex.: Economia

Segundo:

Deve-se delimitar o assunto.

Economia do Trabalho

Economia Brasileira

Economia Agrícola

Economia Industrial

História do Pensamento Econômico

Teoria Macroeconômica

Terceiro:

Definir o tema para o estudo, que significa delimitar o

assunto, evitando um foco genérico ou abrangente.

Ex.: Os efeitos da atividade empreendedora no

crescimento econômico e na taxa de desemprego em

853 municípios de Minas Gerais.

Quarto:

O pesquisador deverá problematizar o tema – o

que significa formular com clareza e precisão o

problema a ser estudado.

O que é um problema?

O problema é expresso de forma interrogativa e

poderá expressar a relação entre duas ou mais

variáveis.

É importante ter cautela na escolha de estudos

extremamente inovadores e aqueles que já

existem.

Os primeiros sugerem especulações e os últimos

repetições.

O que fazer? Por que fazer?

Ao responder as duas questões, o pesquisador

estará caracterizando o objeto de seu estudo e

formulando seu problema de pesquisa.

Será preciso relatar os antecedentes do problema,

a relevância de se estudar o tema proposto, bem

como argumentar sobre a importância

prática/teórica dos possíveis achados do estudo

que se pretende desenvolver.

Exemplo

A decisão de estudar o trabalho infantil não se

restringe apenas à oportunidade de discutir um

tema polêmico por natureza, mas de se acreditar

que o estudo da utilização da força de trabalho

infanto – juvenil alcança relevância do ponto de

vista da compreensão de aspectos essenciais da

realidade brasileira tais como: a pobreza, a

desigualdade e a exclusão social.

Exemplo

O trabalho infantil, via de regra, é utilizado como

estratégia de reprodução da classe trabalhadora, o

que implica dizer que o salário, preço da força de

trabalho, não supre as necessidades básicas do

trabalhador adulto e de sua família.

Essa estratégia, se de um lado supre as

necessidades mínimas de sobrevivência da família, por

outro tira da criança a oportunidade de se desenvolver

de forma integral, de ter acesso à escola e de exercer

plenamente sua cidadania.

Exemplo

No Estado de Sergipe 57.538 crianças encontram-se envolvidas no trabalho infantil. Sendo que destas, 23.739 estariam exercendo suas atividades em zonas urbanas e as demais em áreas rurais (CORREIO DE SERGIPE, p. 5).

As atividades econômicas em que as mesmas encontram-se inseridas, são bastante variadas, indo desde a agricultura (cultura da mandioca, do arroz, da banana entre outras) à indústria (beneficiamento da laranja, casas de farinha, piscicultura etc.) como também na atividade de serviços.

Exemplo

No Estado, o arroz é apontado como um dos principais produtos das lavouras temporárias, tendo ocupado em 1997 a quinta colocação em área colhida (ha) segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apud Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia (1999, p. 12). No caso dessa cultura, as crianças são recrutadas para executar atividades de combate a praga de ratos que vêem prejudicando a produção. Para tanto, acabam manuseando substâncias tóxicas sem a devida proteção e segurança o que pode vir a acarretar prejuízos ao seu desenvolvimento integral.

Exemplo

Assim sendo, o presente estudo se propõe a

analisar a problemática do trabalho infanto –

juvenil na rizicultura sergipana, atividade

econômica tradicionalmente desenvolvida na região

ribeirinha do Vale do São Francisco.

Exemplo

Espera-se que os resultados da pesquisa possam contribuir com a ação do provimento sindical, Delegacia Regional do Trabalho e da Vigilância Sanitária, das Secretarias Municipais de Educação e da Saúde e do Governo do Estado, no sentido de colocar em suas mãos um trabalho capaz de colaborar seja com sua ação fiscalizadora, seja na elaboração de políticas e programas que pretendam erradicar o trabalho infanto - juvenil no nosso Estado.

Exemplo

O Estudo do trabalho infanto – juvenil na

rizicultura do Estado de Sergipe constitui, portanto,

uma contribuição não só para os movimentos

populares, como para os órgãos públicos e para a

sociedade civil em geral, uma vez que ele pode se

constituir num documento denúncia e num grito para

as autoridades competentes no sentido de levá–los

a tomar posição frente a realidade constatada.

O que o pesquisador deve levar em conta para

formular um problema de pesquisa?

Depende das habilidades/capacidades intelectuais do

pesquisador, perseverança, conhecimento do assunto-

tema a ser pesquisado, criatividade, imaginação

disciplinada e determinação (MARTINS; THEÓPHILO,

2009).

Pavlov citado por Martins e Theóphilo afirma que

“[...] os aprendizes da ciência devem ter: constância,

constância e constância! Modéstia, ou seja, nunca

admitir que se sabe tudo, e [...] paixão: a ciência

demanda dos indivíduos grande tensão e forte

paixão”(2009, p. 5).

Fontes para Escolha de um Assunto-Tema-Problema

O que pode auxiliar na escolha de um tema?

A leitura de livros, periódicos, revistas técnicas.

A busca pela Internet (pela pesquisa em bibliotecas

especializadas)

Conversa com professores

Observação direta do comportamento dos fenômenos

e dos fatos (a reflexão é uma fonte de idéias).

O senso comum pode trazer ideias para serem

pesquisadas cientificamente.

“[...] temas fecundos nascem do campo das

controvérsias”(MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 7).

“Uma escolha para safar-se da dificuldade

converte-se logo em carga pesada!”(2009, p. 7).

Assim como, uma escolha infeliz pode tornar a

pesquisa inviável e pode provocar atitudes

desfavoráveis em relação aos trabalhos científicos

de um modo geral.

“Cuidados devem ser tomados com o excesso de

ambição. [...] é preciso buscar, obter, armazenar e

ter acesso ao máximo de informações possíveis

sobre o tema, com um nível aceitável de esforço e

dispêndio de tempo e recursos”(MARTINS;

THEÓPHILO, 2009, p. 7).

REFERÊNCIAS

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de

Andrade. Metodologia científica. 2. ed. São

Paulo: Atlas, 1991.

MARTINS, G. de A.; THEÓPHILO, C. R. Metodologia

da investigação científica para ciências sociais

aplicadas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.