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Ciência no século 20
“Nenhum período da História foi tão penetrado pelas ciências naturais nem tão dependente delas quanto o
século XX. Contudo, nenhum período da História, desde a retratação de Galileu, se sentiu menos à
vontade com elas.”
A onipresença da ciênciana vida cotidiana
• Em 1910, os físicos e químicos alemães e britânicos juntos chegavam a 8 mil pessoas.
• Em 1980, o número de cientistas e engenheiros empenhados em pesquisa e desenvolvimento experimental no mundo era estimado em 5 milhões (dos quais 1 milhão nos EUA).
Mudança do eixo geográfico da pesquisa científica
• Entre 1900 e 1933, só sete prêmios Nobel foram para os EUA.
• Entre 1933 e 1970, foram 77.
“Fuga de cérebros”: muitos desses prêmios foram concedidos a estrangeiros trabalhando em universidades dos EUA
Um cenário desigual
• Nas décadas de 1970/80, os países capitalistas desenvolvidos gastaram ¾ de todos os orçamentos de pesquisa científica e tecnológica no mundo.
Ciência: cada vez + incompreensível
• Até o final do sec 19, a ciência tinha uma gama estreita de aplicações práticas. E os avanços das pesquisas se traduziam diretamente em inovações tecnológicas:
• - a Física e a Matemática: engenheiros;• - química e da eletricidade: indústria e as
comunicações
A mudança no século 20:
Aas duas vertentes (ciência pura e conhecimento científico aplicado às inovações tecnológicas) começaram a caminhar em separado.
• De um lado: a moderna tecnologia – aviões, carros, rádio, cinema...
• Do outro: a moderna teoria científica: a Relatividade, a Física Quântica, a Genética...
O paradoxo do final do século
• Uma sociedade totalmente moldada pelos avanços da ciência: Índia e Indonésia teriam sido incapazes de produzir alimentos sem as conquistas da biotecnologia.
• Mas o problema dessas tecnologias é que elas se baseiam em descobertas e teorias muito distantes do mundo do cidadão comum.
Nem eles imaginavam...
• ...que suas descobertas pudessem ter alguma conseqüência prática:
• - o alemão Otto Hahn, que descobriu a fissão nuclear em 1939 duvidava que isso tivesse alguma aplicação prática em futuro previsível.
• - o famoso trabalho de Alan Turing (1935), que forneceu a base para a teoria do computador, foi escrito como um texto especulativo para exercícios de lógica matemática...
Mundos separados: do leigo e do cientista
• Mas o contato entre esses dois mundos ocorre de modo rápido e intenso:
• transistores –subproduto das pesquisas da Física sobre as propriedades magnéticas dos cristais (1948);
• raio laser, visto pela primeira vez em laboratório em 1960, chega ao consumidor na década de 1980 na forma do compact disc (CD).
• pesquisas sobre DNA, da década de 1950, a partir da década de 1980 se incorporavam a inúmeras atividades econômicas, na medicina e na agricultura.
Em síntese...
• Os novos avanços científicos se foram traduzindo, cada vez mais depressa, em uma tecnologia que não exige qualquer compreensão dos usuários finais.
• Exemplo: operador de caixa de supermercado.
A norma no final do séc.20:
• Convivemos no dia a dia com milagres da tecnologia científica de vanguarda – milagres que não precisamos entender. E mesmo que fôssemos capazes de entender a tecnologia por trás desses aparelhos e procedimentos, esse seria um conhecimento irrelevante.
A religião resulta enfraquecida...
• Tornou-se tão dependente da tecnologia baseada na alta ciência como qualquer outra atividade humana...
• Em 1900, um sacerdote podia realizar suas atividades como se Newton, Faraday ou Lavoisier não tivessem existido).
• Nos 70s, Khomeini, exilado na França, difundiu suas palavras ao Irã por meio de fitas-cassete!
Igrejas reconhecem a ciência
• Cristãos fundamentalistas exigem que a doutrina de Darwin seja substituída, ou ao menos contrabalançada, pelo que chamam de “doutrina da criação”.
• Igreja Católica reabilitou Galileu!• Big Bang – mão de Deus...
Mas existe um desconforto...
• O progresso da ciência se deu contra um pano de fundo marcado pela desconfiança, pelo medo.
• Quatro sentimentos negativos em relação à ciência:• o de que ciência é incompreensível;• o de que suas conseqüências, tanto práticas quanto
morais, são imprevisíveis, e provavelmente catastróficas;• - o de que ela acentua o desamparo do indivíduo;• - o de que ela solapa a autoridade... (Mas os regimes autoritários também estavam
interessados no progresso da ciência).
Crenças anti-científicas (ou irracionais)
• OVNIs: Hobsbawm atribui esse fenômeno a uma rejeição ao domínio da ciência.
• Os que se rebelam contra o flúor na água: conspiração para enfraquecer os seres humanos pelo envenenamento compulsório...
• Hipocondria generalizada.... Rejeição às vacinas... Idéia de que as linhas de transmissão elétrica causam males a quem estiver por perto.
• (Mais recentemente: celulares...)
Por trás disso, segundo Hobsbawm,
...existe o fosso crescente entre os especialistas, dotados de critério para avaliar essas questões, e os leigos, aos quais só restam duas atividades possíveis em relação à ciência: esperança
ou medo.
A grande separação
• Ruptura dos laços entre as descobertas dos cientistas e a realidade baseada na experiência dos sentidos
• O mesmo ocorreu com os laços entre a ciência e o tipo de lógica baseado no senso comum.
• Progresso da ciência passou a depender cada vez mais de pessoas escrevendo equações do que fazendo experiências em laboratório.
Adeus às velhas certezas
• Para os próprios cientistas, o rompimento com a experiência dos sentidos e o senso comum significou um rompimento com as certezas tradicionais de seu campo.
• O caso da Física: lida com os menores elementos da matéria e, ao mesmo tempo, com o maior conjunto de matéria, o Universo.
• No final do século 19, nenhum campo da ciência parecia tão firme, estruturado na física newtoniana.
Descobertas revolucionárias
• Mas suas bases foram solapadas pelas teorias de Max Planck e de Albert Einstein.
• Planck: descobriu que a intensidade da luz, em certas temperaturas, evolui em saltos (e não gradativamente).
• Conclusão: energia não é gerada ou absorvida de modo contínuo, e sim em pequenos “pacotes”, que batizou de “quantum”
Teoria da Relatividade
• Espaço e tempo não são categorias absolutas:Dependem da posição e da velocidade em que
se encontra o observador. Só é imutável a velocidade da luz: 300 mil km por segundo.
- Quanto + rápido um corpo se move, + lenta é a passagem do tempo para ele.
- Quanto + um corpo se aproxima da velocidade da luz, seu tamanho diminui e a massa cresce.
Bomba atômica –e muito mais
• Pesquisas de Einstein com base na Relatividade revelaram a enorme energia que se esconde no interior do átomo (E = mc2).
• Novas pesquisas: a trajetória da luz é distorcida pela imensa gravidade exercida por corpos maciços (estrelas e planetas).
• Eclipse solar em Sobral (CE): astrônomos constataram que raios de luz “entortam” ao passar pelo Sol (1919).
Mudança radical na Física
• ANTES• Era objetiva: podia se submeter à observação
direta, apesar das limitações dos aparelhos.• Não era ambígua: um objeto ou fenômeno era uma
coisa ou outra. • Suas leis era universais, igualmente válidas no nível
cósmico e no microcósmico.• Os mecanismos que ligavam os fenômenos eram
compreensíveis – isto é, capazes de ser expressos como “causa e efeito”.
Um cenário de incertezas
AGORA• O que é a luz uma onda ou um feixe de partículas¿“Hoje temos duas teorias da luz, ambas
indispensáveis, mas, devemos admitir, sem nenhuma relação entre si”
- O átomo deixou de ser a menor unidade possível de matéria (como indica seu nome grego) para se tornar um complexo sistema que abriga uma variedade de partículas ainda menores.
Como funciona o átomo?
• Rutherford (1911):a moderna representação do átomo: um núcleo atômico cercado de elétrons que circulavam ao redor dele como os planetas ao redor do Sol.
• Niels Bohr mostrou que o átomo age de um modo totalmente absurdo pelos padrões da mecânica newtoniana: o elétron simplesmente “salta” de uma órbita para outra, sem percorrer o trajeto de um ponto ao outro.
O Princípio da Incerteza
• Werner Heisenberg (1927) descobriu que o próprio processo de observar fenômenos no nível subatômico na verdade os modificava.
• Quando um cientista mede a velocidade de um objeto muito pequeno, ele muda a posição da partícula – e vice-versa.
• Conclusão: impossível calcular com exatidão as duas coisas...
Tudo isso foi provado em laboratório
• Os padrões de elétrons desvendados pela física subatômica tinham poder preditivo e explicativo incontestável.
• Quando os físicos produziram pela 1ª vez o plutônio para fazer a bomba atômica em Los Alamos, as quantidades utilizadas eram tão pequenas que suas propriedades não puderam ser observadas.
• Toda a pesquisa foi feito com base no número de elétrons que existiam orbitando ao redor do núcleo. E com isso se fez a bomba em 1943.
O avesso da matéria
• Muitos dos avanços foram obtidos com base numa suspensão temporária da descrença.
• Antimatéria, descoberta por Paul Dirac em 1928: elétrons com uma energia menor que a energia zero do espaço vazio. Cada partícula tem um “irmão gêmeo rebelde”.
• É um conceito que não faz sentido nos termos do dia-a-dia, mas que tem sido utilizado pelos físicos. (Combustível da Enterprise...)
Permanente contradição
• Não havia como expressar a totalidade da matéria em uma descrição única.
• A única maneira de avaliar a realidade era comunicando-a de modos diferentes e juntando todos os modelos para se complementarem uns aos outros.
• Einstein: “Deus não joga dados”
E o átomo se complica ainda +
• Desapareceu a simples dualidade entre núcleo positivo e elétron negativo.
• Os átomos eram agora habitados por uma fauna e flora crescentes de partículas elementares, algumas delas muito estranhas. Os neutrons, descobertos em 1932....
• Os quarks: partículas minúsculas, sempre em grupos de três, girando na velocidade da luz
Outras revoluções na ciência
• Em cosmologia, Edwin Hubble percebeu que o Universo parece estar se expandindo a uma velocidade estonteante a partir de uma explosão inicial: o Big Bang, há 15 bilhões de anos. E pode acabar de uma forma igualmente dramática,
• Na geologia, desmoronou a idéia de uma crosta terrestre relativamente estática. Desde os anos 60, prevalece a teoria da “deriva continental”, de Alfred Wegener: um globo de placas gigantescas mudando de lugar, às vezes rapidamente – as placas tectônicas.
E na Biologia, não foi só o DNA:
• Stanley Miller recriou em laboratório as condições da planeta no início da vida: produziu aminoácidos e proteínas.
• Jay Gould: saltos na Teoria da Evolução: períodos breves em que ocorre uma explosão de novos animais e plantas.
• Fim dos dinossauros: queda de um meteoro.
Relação cientistas-política
• No pré-2ª Guerra Mundial, grande parte dos cientistas abraçou idéias de esquerda. Confiavam no potencial que a ciência moderna colocava à disposição da humanidade: mundo mais justo, menos desigual.
• Luta contra o fascismo, perseguição aos judeus• A própria guerra nuclear foi filha do antifascismo: carta
dos cientistas aos líderes aliados para que fizessem a bomba atômica antes da Alemanha nazista.
• Depois, os mesmos cientistas tentaram impedir o lançamento das bombas de Hiroxima e Nagasáki, mas aí foi tarde demais....
Pós-2ª Guerra
• ciência se despolitizou. Governos e empresas passaram a aplicar muito dinheiro em pesquisas.
• O contingente de cientistas se multiplica com o financiamento público
• e os novos pesquisadores deixam de fazer perguntas sobre as finalidades (militares¿) de muitas das suas pesquisas.
Na União Soviética...
• Stálin: o caso Lissenko: intervenção na Biologia• No pós-stalinismo o uso político da ciência era
muito intenso, com a Guerra Fria e a corrida espacial.
• Avanços: o Sputnik (1957), o primeiro vôo espacial tripulados (Iúri Gagárin, 1961).
• Mas também foi entre os cientistas que a dissidência política foi mais expressiva: Andrei Sakhárov, o “pai” da bomba de hidrogênio soviética...
Novas preocupações
• A idéia de que a ciência está mudando a vida humana para melhor passa a ser contrabalançada pela percepção dos riscos associados às avanços científicos.
• Primeiro: o pesadelo da guerra nuclear.
Nos 70s, meio ambiente
• Sinal de alerta: a descoberta de que os CFCs (cloro-fluor-carbonos) usados em refrigeração e aerossóis consumiam o ozônio na atmosfera: os “buracos” na camada de ozônio.
• Em seguida: a percepção do aquecimento global e sua relação com o consumo de combustíveis fosseis.
Implicações éticas e políticas
• Os debates na Biologia sobre o peso dos genes na definição de características como a inteligência.
• Conservadores (direita): tendem a ver a sociedade como formada por desigualdades absolutas, geneticamente determinadas.
• Progressistas (esquerda): vêem as desigualdades como fruto do ambiente, mas do que dos genes. Isto é, elas podem ser eliminadas por políticas públicas.
No plano ético...
• Limites da pesquisa quando ela tem como objeto a reprodução humana: a questão da clonagem, da determinação de traços físicos como a cor dos olhos, o sexo dos bebês...
• “O que agora estava em causa não era a busca da verdade, mas a impossibilidade de separá-la de suas condições e conseqüências....”
A polêmica continua...
• Pessimistas: a humanidade não é capaz de lidar com os seus poderes de transformação da Terra ou mesmo de reconhecer os riscos que ela cria para si mesma e para o planeta. Por isso: necessidade controlar e limitar a ciência.
• Otimistas: a própria ciência é capaz de encontrar soluções para os problemas que surgem com a aplicação das suas descobertas.