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1 CIÊNCIA NO SUPLEMENTO INFANTIL FOLHINHA Adriana M. Donini¹ RESUMO Diversos jornais têm dedicado espaço ao público infantil por meio de suplementos veiculados semanalmente. A discussão sobre divulgação da ciência pelos meios de comunicação também ganhou maior destaque no campo da Comunicação, inclusive com a oferta de cursos de pós- graduação e inclusão da disciplina de Jornalismo científico ou especializado nas grades de alguns cursos de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo. O caderno infantil Folhinha, perten- cente ao jornal Folha de S. Paulo, é uma publicação semanal que existe desde 1963. Este trabalho tem como objetivo analisar a cobertura sobre ciência realizada pela Folhinha em dois períodos distintos. Para tal, foram estudadas 10 edições, sendo cinco veiculadas nos meses de junho e julho de 1985, e outras cinco publicadas no mesmo período de 2009. O estudo considerou o enfoque adotado pela publicação em relação à temática pesquisada, incluindo elementos como vocabulá- rio empregado, adequação ao público-alvo a que se propõe atingir o suplemento infantil pesqui- sado, fontes e gêneros textuais utilizados como, por exemplo, reportagem, artigo ou resenha. A intenção também foi identificar se houve mudança na postura do jornal em relação a esse assunto em diferentes épocas. Para as análises, foram utilizados como referenciais teóricos conceitos de divulgação científica, jornalismo infantil, contemplando elementos de documento produzido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), denominado “Os desafios adultos dos cadernos infantis”. Também o manual de redação do jornal Folha de S. Paulo. Como resultado, pudemos constatar que o tema ciência esteve bastante presente nas edições de 1985 estudadas, ocupando espaço de destaque em várias das publicações. Constatamos que os textos que conside- ramos como os que abordaram ciência não foram em sua maioria produzidos por jornalistas e sim _____________________________________ ¹ Jornalista e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) do câmpus de Bauru da Unesp. E-mail: [email protected]

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CiênCia no suplemento infantil Folhinha

Adriana M. Donini¹

ResumoDiversos jornais têm dedicado espaço ao público infantil por meio de suplementos veiculados semanalmente. A discussão sobre divulgação da ciência pelos meios de comunicação também ganhou maior destaque no campo da Comunicação, inclusive com a oferta de cursos de pós-graduação e inclusão da disciplina de Jornalismo científico ou especializado nas grades de alguns cursos de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo. O caderno infantil Folhinha, perten-cente ao jornal Folha de S. Paulo, é uma publicação semanal que existe desde 1963. Este trabalho tem como objetivo analisar a cobertura sobre ciência realizada pela Folhinha em dois períodos distintos. Para tal, foram estudadas 10 edições, sendo cinco veiculadas nos meses de junho e julho de 1985, e outras cinco publicadas no mesmo período de 2009. O estudo considerou o enfoque adotado pela publicação em relação à temática pesquisada, incluindo elementos como vocabulá-rio empregado, adequação ao público-alvo a que se propõe atingir o suplemento infantil pesqui-sado, fontes e gêneros textuais utilizados como, por exemplo, reportagem, artigo ou resenha. A intenção também foi identificar se houve mudança na postura do jornal em relação a esse assunto em diferentes épocas. Para as análises, foram utilizados como referenciais teóricos conceitos de divulgação científica, jornalismo infantil, contemplando elementos de documento produzido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), denominado “Os desafios adultos dos cadernos infantis”. Também o manual de redação do jornal Folha de S. Paulo. Como resultado, pudemos constatar que o tema ciência esteve bastante presente nas edições de 1985 estudadas, ocupando espaço de destaque em várias das publicações. Constatamos que os textos que conside-ramos como os que abordaram ciência não foram em sua maioria produzidos por jornalistas e sim _____________________________________¹ Jornalista e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) do câmpus de Bauru da Unesp. E-mail: [email protected]

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por especialistas como biólogo e cineasta. Em 2009, percebemos que diversas reportagens sobre turismo poderiam ter utilizados elementos da ciência. Esses textos, no entanto, apresentaram aspectos mais comerciais. As jornalistas viajaram a convite de empresas, sendo pouco enfocados ou abordados sem clareza conteúdos que poderiam ser elucidados como a matéria sobre peixes em Dourados (MS) e outra em relação a montanhas russas. Em algumas reportagens, como a que enfocou observadores de aves, os assuntos também poderiam ter sido mais bem explorados do ponto de vista da divulgação científica. Em ambos os períodos, foi possível perceber certo des-preparo dos profissionais que escrevem para esse público e uma indefinição quanto à linguagem empregada que, em alguns momentos, assemelha-se à linguagem oral, há emprego de gíria e, outras vezes, nota-se a utilização de palavras que podem ser consideradas de difícil compreensão do público-alvo e que não são seguidas de explicação.

palavras-chave: Jornalismo infantil. Ciência. Linguagem

introdução

A maioria dos jornais, sejam eles de circulação nacional, regional ou local, possuem suplemen-tos infantis que são veiculados semanalmente. O Jornal Folha de S. Paulo conta com um caderno destinado às crianças desde 1963. No entanto, apesar de haver uma grande quantidade de publi-cações voltadas a esse público-alvo, percebe-se que não existe uma política bem definida pela maioria das empresas de comunicação em torno desses produtos editoriais.

Em 2002, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e o Instituto Ayrton Senna em parceria com a Unicef elaboraram um documento que aponta problemas e oferece sugestões em relação ao jornalismo infantil.

Nos últimos anos, o tema divulgação científica tem ganhado espaço tanto em cursos de gradu-ação em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, como em cursos de especialização.

Além desse campo, diversas instituições e pesquisadores de várias áreas do saber têm desen-volvido ações na tentativa de promover maior popularização da ciência. Também, desde 2004, o Governo Federal realiza a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia que reúne diversos traba-lhos que possuem a intenção de aproximar a ciência da população. Na mídia, de maneira geral, percebe-se que a concepção sobre esse tema ainda é bastante limitada, sendo que comumente é associado às áreas de ciências exatas e biológicas.

O presente trabalho procurou analisar como o tema ciência foi abordado pelo suplemento Fo-lhinha em dois períodos distintos. Para tal, foram estudadas cinco edições publicadas nos meses de junho e julho de 1985 e outras cinco veiculadas nos mesmo período de 2009.

A intenção foi verificar se a ampliação do campo de Comunicação e da divulgação científica teve reflexo no trabalho realizado pelo jornal, identificando-se a forma de abordagem do tema. Também se as recomendações do documento citado que foi produzido pela Andi e pela Unicef e as regras do Manual da Folha de S. Paulo têm sido levadas em consideração pelo suplemento infantil. Foram observados, principalmente, o vocabulário empregado, gênero textual e fontes utilizadas. Jornalismo infantil

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A revista Tico-Tico, que começou a circular em 1905, pode ser considerada o marco inicial do jornalismo infantil brasileiro. No início, as publicações destinadas às crianças possuíam um caráter mais cultural e algumas delas também tinham como objetivo atuar como complemento à educação. Esse é o caso da Folhinha de S. Paulo que, nas décadas de 1960, além de diversos textos sobre literatura, também possuía como colaboradores a Chefia do Ensino Primário IBECC e a Secretaria da Educação e Cultura do Município de São Paulo, conforme consta na edição de 28 de setembro de 1969.

Porém, percebe-se que ao longo dos anos o aspecto mercadológico e a superficialidade na abor-dagem dos assuntos passaram a se sobressair nos cadernos infantis. Também que, apesar de essas publicações já serem produzidas há várias décadas, ainda não foram definidas diretrizes claras em relação a esse segmento.

Para se ter uma ideia da qualidade dos suplementos voltados às crianças e publicados pelos jornais, em 2002, a Andi e o Instituto Ayrton Senna em parceria com a Unicef realizaram pesquisa denominada Os desafios adultos dos cadernos infantis. Este trabalho consistiu na análise de 36 suplementos infantis encartados em jornais de 28 cidades de 13 diferentes Estados, sendo pesqui-sadas 138 edições (média de quatro edições por suplemento), veiculadas no primeiro semestre de 2001, o que equivaleu a análise de 576 textos publicados nos suplementos estudados.

Para tal, foi constituído um grupo que definiu instrumentos de investigação: um que orientou a classificação e avaliação do conjunto das edições dos cadernos infantis e outro que construiu parâmetros e critérios para a classificação e avaliação de cada um dos textos extraídos daquelas edições.

Os consultores se preocuparam em investigar os dados da cobertura, descrever o quê, na opi-nião deles, seria uma cobertura ideal e indicar caminhos para operacionalizá-la. Eles estudaram os diversos aspectos dos cadernos infantis, a partir de três eixos: conteúdo; forma e linguagem; e seções. A conclusão foi que a maioria dos suplementos não possui um projeto editorial definido.

Após a pesquisa, educadores e comunicadores apontaram problemas e possíveis soluções para melhorar o conteúdo dos suplementos infantis de acordo com os principais elementos de compo-sição jornalística.

A linguagem que é um dos aspectos primordiais a ser levado em consideração quando se escre-ve para crianças também está presente no documento.

Sobre essa questão, o relatório afirma que:

Não é satisfatório simplificar a linguagem, o discurso, apelar para diminutivos, abordar os assuntos de forma superficial. Redigir para elas em suplementos in-fantis publicados periodicamente é uma tarefa complexa, difícil de enfrentar sem cometer equívocos. (2002, p. 26)

O documento ressalta ainda a dificuldade em atingir um público que apresenta graus diferen-tes de desenvolvimento e afirma também que por meio de reportagens vinculadas à realidade do leitor, da contextualização, da associação de fatos, da variedade de temas e de fontes, os veículos podem despertar o interesse pela leitura, a capacidade de refletir e, consequentemente, a visão crítica.

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O material também aponta que: “(...) é fundamental que as matérias jornalísticas colaborem para que os leitores possam assimilar uma atitude plural, democrática, que respeite o pensamento divergente.” (2002, p. 31)

Ainda é recomendado que os profissionais que escrevem em jornais infantis estejam familia-rizados com os processos educacionais e questões técnicas de leitura de cada faixa etária e que os cadernos que optam por ter uma consultoria especializada tanto em termos educacionais como lingüísticos conseguem atingir melhor o público-alvo. A publicação também defende a utilização de textos com linguagem mais interativa.

Nos últimos anos, diversas pesquisas acadêmicas tiveram como objeto os suplementos infantis, principalmente os de maior circulação nacional como a Folhinha, pertencente ao jornal Folha de S. Paulo e o Estadinho, encartado no O Estado de S. Paulo.

Entre esses estudos podemos citar trabalhos desenvolvidos por Mayra Fernanda Ferreira que analisou a influência do suplemento infantil Folhinha na construção da visão crítica de mundo das crianças. O estudo partiu da análise de conteúdo desse suplemento infantil e se complemen-tou a partir de entrevistas com crianças na faixa etária de 10 e11 anos.

Ela também realizou o estudo “Infância em papel: o jornalismo infantil no interior”, no qual ela avaliou a relação das crianças com a mídia impressa, procurando verificar a influência que os conteúdos dos suplementos infantis exerciam sobre seus leitores.

Juliana Doretto foi outra pesquisadora que teve como objetos suplementos infantis. No artigo “A identidade do leitor da Folhinha: construção que se atualiza”, publicado em 2008, ela procu-rou contrapor o público-leitor a quem a Folhinha diz se destinar à criança que aparece na leitura dos textos do caderno. Em outro trabalho, Doretto analisou o uso dos suplementos infantis na sala de aula. Para essa investigação, ele estudou a Folhinha e o Estadinho.

Ainda podemos citar como exemplo o trabalho “Análise do conteúdo ambiental de suplemen-tos infantis de jornais impressos”, de autoria de Tais Oetterer de Andrade, e que teve como obje-tivo fazer uma análise quantitativa e qualitativa do conteúdo ambiental dos suplementos infantis dos veículos O Estado de São Paulo; Folha de São Paulo; e Jornal de Piracicaba.

manual de Redação da folha

O Manual de redação do jornal Folha de S. Paulo, ao qual pertence o suplemento Folhinha, foi criado em 1984 e, segundo a empresa, o objetivo era traduzir em normas a sua concepção de jornalismo. No início, o guia não se limitava a impor regras gramaticais e padronizar a lingua-gem, mas oferecer ao jornalista noções de produção gráfica, conceitos, e servir como base para discussões no dia-a-dia da redação.

De acordo com as regras da empresa, o texto deve ser claro e direto, exato e conciso e desen-volver-se por meio de encadeamentos lógicos e que os parágrafos e frases precisam ser curtos.

No Manual também é afirmado que o autor deve abster-se de opinar, exceto em artigo, definido como um gênero jornalístico que traz interpretação ou opinião do autor e é sempre assinado, ou crítica.

A contextualização dos assuntos enfocados e a pluralidade de fontes devem ser levados em consideração por quem produz textos veiculados em jornais destinados ao público infantil. Agin-do dessa forma, estimula-se a reflexão e a criticidade dos leitores.

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Na edição de 1996 do manual é recomendado que: “(...) Mesmo sem opinar, sempre é possível noticiar de forma crítica. Compare fatos, estabeleça analogias, identifique atitudes contraditórias e veicule diferentes versões sobre o mesmo acontecimento”.

Entre outras recomendações estão que o jornalista só deve tentar escrever uma análise depois de checar se dispõe de informações suficientes para sustentar suas conclusões; que ele deve en-trevistar os envolvidos; cruzar as suas observações com dois ou mais especialistas no assunto, de preferência com posições divergentes; sempre utilizar números e estatísticas para dar mais cre-dibilidade e objetividade às observações; ressaltar contradições; e, para tornar seus argumentos mais claros, utilizar analogias.

Ainda consta nas orientações que, para o texto de análise não ficar desinteressante, o redator deve recorrer a declarações inteligentes, famosas ou engraçadas sobre o assunto, além de mencio-nar casos históricos ou relevantes que guardem semelhanças com o tema abordado.

Subentende-se que essas normas deveriam ser colocadas em prática também durante a produ-ção da Folhinha, tendo em vista que ela integra o jornal Folha de S. Paulo.

folhinha

Idealizado pela jornalista Lenita Miranda de Figueiredo e pelo desenhista Mauricio de Sousa, esse suplemento infantil foi criado em 8 de setembro de 1963 e possuía o nome de Folhinha de S. Paulo, sendo que a partir de 1987, passou a ser chamado apenas de Folhinha.

Inicialmente, esse caderno infantil era veiculado aos domingos e, atualmente, circula aos sába-dos. A Folhinha começou a ser publicado totalmente em cores no ano de 2006.

No site do grupo Folha consta a seguinte descrição sobre o suplemento infantil: “Todo sábado, a Folhinha publica reportagens e fotos em sintonia com os interesses das crianças, além de seus personagens preferidos, quadrinhos, passatempos, brincadeiras e promoções”.

Ferreira (2006, p.46) destaca entrevista concedida por Patrícia Trudes da Veiga, editora da Folhinha:

A Folhinha quer atingir a infância contemporânea com suas dificuldades, pro-blemas, mudanças sem impor, julgar modelos e percepções antigas. Ao mesmo tempo, nossa preocupação é de traduzir o noticiário adulto e também tratar a moda infantil, mas sempre com olhar crítico.

Quanto ao público-alvo, a Folhinha é produzida para crianças dos sete aos 12 anos de idade. E

justamente esse é um dos pontos identificados por estudiosos e também observado nos conteúdos dos suplementos infantis, ou seja, a dificuldade em atingir um público em diferentes fases de alfabetização e desenvolvimento.

Piaget denominou essa faixa etária (7 a 12 anos) de estágio das operações concretas. No entan-to, segundo Palangana (1998), ele observa que essa divisão não pode ser tomada como parâmetro rígido porque devido as diferenças individuais e de meio ambiente podem haver variações quanto à idade em que as crianças atravessam as diferentes fases de desenvolvimento.

Em relação ao estágio de operações concretas, Palangana (1998, p. 27) comenta que:

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Com o desenvolvimento da capacidade para pensar de maneira lógica - caracte-rística desse período-, a criança não apenas busca compreender o conteúdo do pensamento alheio, mas também empenha-se em transmitir seu próprio pensa-mento de modo que sua argumentação seja aceita pelas outras pessoas. Nesse estágio de desenvolvimento, ela pensa antes de agir iniciando, assim, o processo de reflexão.

Esse aspecto justificaria o espaço que o jornal analisado mantém para manifestação dos leito-

res, seja por meio de cartas, desenhos ou textos sobre assuntos pré-determinados. Ainda sobre esse período de desenvolvimento, Palangana (ibid.) comenta que ocorre o aban-

dono do pensamento fantasioso e o aparecimento da necessidade de comprovação empírica das elaborações mentais, tendo em vista que nesta fase a criança não dispõe de estruturas lógico-formais.

Mas, apesar de o caderno teoricamente ser produzido para esse público. Doretto (2008) afirma que, em entrevista concedida a ela, a jornalista Gabriela Romeu, da equipe da Folhinha, diz que a publicação atinge, principalmente, as crianças entre 9 e 10 anos, e que esse aspecto é constatado por meio do retorno dos leitores.

interatividade e lúdico

Luiz (2004) apud Amaral (1971) esclarece que a participação do leitor é muito importante, por-tanto a criança deve ser convidada a criar e enviar comentários, críticas, sugestões, suas próprias histórias e desenhos para serem publicados no suplemento. Essas seções, então, teriam como ob-jetivo incentivar os leitores a escrever e a desenhar, além de abrir um canal direto de comunicação entre público e redação.

O relatório da Andi também concluiu que o espaço para cartas dos leitores é essencial aos cadernos infantis: “(...) por meio dele, podem chegar sugestões de pauta e um retorno imediato quanto à receptividade do caderno”. (2002, p. 42)

Já, por meio de adivinhações, jogos, palavras-cruzadas, recortes, e histórias em quadrinhos, exercita-se o raciocínio, a imaginação e a criatividade das crianças.

Sobre esse aspecto, Rojas (2004) afirma que:

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

Comunicação científica

A comunicação científica pode ser entendida como geração e transformação da informação científica e compreende a difusão, disseminação e divulgação científica.

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Segundo Bueno (1984), a difusão científica, pode abranger todo e qualquer processo ou recur-so utilizado para veiculação de informações científicas e tecnológicas e ser utilizada tanto para especialistas quanto para o público em geral.

Já a disseminação, de acordo com Bueno (ibid., p. 15), equivaleria a “transferência de infor-mações científicas e tecnológicas, transcritas em códigos especializados, a um público seleto, formado por especialistas”. Esse é o caso de revistas científicas especializadas.

Quanto à divulgação científica, que é a vertente em que se enquadram os suplementos analisa-dos, Bueno (p. 18) explica que :

Essa atividade pressupõe um processo de recodificação de uma linguagem espe-cializada visando a tornar seu conteúdo, de acesso fácil a uma vasta audiência. Esse seria o caso de veiculação de conteúdos sobre ciência e tecnologia pelos meios de comunicação que procuram simplificar as informações.

análise

Na análise foi estudada a abordagem do tema ciência em 10 edições do jornal Folhinha, sendo cinco veiculadas nos meses de junho e julho de 1985 e outras cinco no mesmo período de 2009. As edições do ano de 1985 analisadas são as que estavam disponíveis em acervo a que foi pos-sível ter acesso. Já no caso das de 2009, as edições foram consultadas no arquivo disponível no site da Folhinha.

Foram consideradas apenas as reportagens, notícias e textos principais de cada edição, excluin-do-se textos literários, passatempos em sessões específicas de conteúdos enviados pelos leitores. Principalmente nas edições de 1985, foi difícil classificar os textos, pois eles não se enquadram nem no formato de artigo, nem possuem características apenas de reportagens. Dessa maneira, incluímos os textos redigidos por repórteres da Folhinha ou colaboradores e que não tinham ca-ráter ficcional. As imagens não foram contempladas nas análises.

Edições de 1985

9 de junho

“Conheça a morada caraguatá” (página 4)Texto que ocupa uma página inteira e foi escrito por biólogo autor da série de livros infantis

“Caraguatá – um projeto ecológico”. Ao identificar quem é o autor do texto também há uma cha-mada para exposição sobre o tema abordado e que seria realizada no Sesc Fábrica Pompéia, em São Paulo.

Quanto à linguagem empregada, percebe-se que há preocupação do autor com a clareza e adequação dos termos empregados em relação ao público-alvo da Folhinha. Ele já inicia o texto explicando que ‘caraguatá’ é “um nome que serve para uma porção de plantas parentes do aba-caxi”. Ainda podemos citar entre os termos elucidados a palavra girinos, que ele explica entre parênteses que corresponde à fase aquática das pererecas.

O biólogo se vale de diversas comparações como percebemos nos trechos: “alguns caraguatás são grandes, do tamanho de uma lata de lixo, e são parecidos com a coroa de um abacaxi”; e “a

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grande surpresa é que essa planta é um verdadeiro conjunto habitacional de folhas, onde vive uma variedade enorme de bichos”.

O autor também explica a importância das plantas para o equilíbrio ecológico de forma clara. Outro aspecto presente nesse texto é que ele aponta aspectos negativos em relação ao caraguatá

Se o caraguatá é importante para o equilíbrio da natureza, em certas situações ele é indesejável! Isso porque entre os seus habitantes mais comuns encontram-se as larvas mosquitos, e muitos desses insetos são transmissores de doenças, como a malária. (p. 4)

Ele ainda alerta para o fato de que essas plantas estavam sendo retiradas das matas, comerciali-zadas e que, se fossem cultivadas em excesso, em jardins, poderiam causar problemas. O biólogo recomenda que elas sejam utilizadas como enfeite: “Portanto, nada de procurar caraguatá para enfeitar o jardim. É na natureza que essa planta cumpre a sua importante função”.

o livro mágico (página 5)Cinema nº2 landa Pinheiro – Espaço reservado Ciência

Consiste em uma série com explicações sobre cinema escritas por Landa Pinheiro, cineasta e professora de cinema para criança. Logo no início do texto, ela utiliza a palavra retina, sem expli-car o significado. Depois ela comenta que esse assunto foi abordado na edição anterior.

A cineasta cita o físico belga Joseph Plateau e descoberta realizada por ele, em 1832, a partir da observação dos movimentos dos pés das pessoas. Ela destaca ainda que, a partir daí, Plateau construiu um brinquedo chamado fenaquitoscópio “que saiu dos gabinetes da física para dar ori-gem a uma série de brinquedos que divertem crianças e adultos”.

Quanto às palavras empregadas que podem ser consideradas inadequadas, considerando-se a grande abrangência do público-alvo a que se destina o jornal, estão “retenção” e ‘princípio es-sencial”.

Nota-se o diálogo com o leitor conforme recomenda no manual da Andi e da Unicef, produzi-do em 2002. A interatividade nesse texto está presente quando, após recapitular a ideia da edição anterior é usada a expressão “lembram-se?”. Também no final do texto é utilizada a frase “que tal a gente se exercitar desenhando as várias fases do movimento?” (p. 5)

Ainda são apresentadas imagens para que as crianças coloquem a prática o conteúdo apresen-tado no texto. Seção que ocupa uma página inteira do jornal.

23 de junho

Bicho novo no Zôo (página 3)Notícia sobre novos bichos que podem ser vistos no Zoológico de São Paulo: uma cobra e

um lagarto vegetariano. No texto, são descritas algumas características dos animais, oferecendo maior contextualização aos leitores.

o direito dos canhotos (páginas 4 e 5)Essa edição do jornal foi publicada invertida. Em relação ao texto principal, ele traz informa-

ções sobre a porcentagem e o número de canhotos e o motivo de algumas pessoas terem mais

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facilidade em utilizar a mão esquerda. Também cita personagens infantis e personalidades que são canhotos como o imperador Na-

poleão Bonaparte; o ex-presidente João Figueiredo; atrizes; e um jogador. Ainda são utilizados depoimentos de Magali, filha do Maurício de Souza, e na qual ele se inspirou para criar uma das personagens da Turma da Mônica, e opinião de um professor de Anatomia. Nesse caso, nota-se que esse recurso é explorado conforme aponta o Manual de Redação da Folha.

Durante o texto, o jornal procura mostrar aos leitores que não há problemas em ser canhoto: “ser canhoto é normalíssimo”. Também é mostrado que existem produtos para as pessoas que não têm tanta habilidade com a mão direita. Quanto aos termos técnicos, eles são seguidos de expli-cações e nota-se uma linguagem mais coloquial em alguns momentos.

30 de junho

Participe Bigode do gato (página 2)Promoção para os leitores responderem para que serve o bigode do gato e quem não souber

escrever pode mandar desenhos. Linguagem verbal adequada ao público infantil. Acreditamos que este quadro estimula à descoberta científica.

Super exposição de peixes (página 2)Divulgação de exposição de peixes realizada em um shopping de São Paulo. Sobre esse texto,

vale ressaltar que diversas palavras não contêm explicações como “espécies embalsamadas”. Também em um trecho é afirmado que o peixe “dá choque de até seiscentos volts”, sem detalhar o que isso representa.

Para ler antes de empinar a Folhinha (páginas 4 e 5)Texto que aborda a origem do brinquedo chamado papagaio, curiosidades sobre ele, como é

conhecido em outros países e em diferentes regiões do Brasil. Dessa maneira, o leitor entra em contato com a cultura de outras regiões como sugere o Manual da Folha.

Em seguida, é explicado o motivo de o papagaio voar: “Um princípio de física explica porque o papagaio fica no ar. É que duas forças se opõem, ou seja, o empinador puxa o papagaio para baixo e o vento que faz a força pata cima, sustentando assim o papagaio no ar”.

Também são citados os nomes de cientistas como Graham Bell (inventor do telefone) e Benja-mim Franklin. No caso de Franklin é explicada qual seria a contribuição do papagaio à invenção do pára-raios:

Uma experiência de Franklin passou para a história dos papagaios e da ciência. Esse cientista prendeu uma chave de metal ao fio do papagaio e o empinou num dia de tempestade. Aconteceu que a eletricidade das nuvens foi captada pela chave e pelo fio molhado da pipa. Assim, ele pode descobrir um instrumento capaz de aparar os raios, ou seja, o pára-raios. (p. 4)

A relação entre o papagaio e o surgimento das fotos aéreas também é relatada em: “(...) outra curiosidade: as primeiras fotos aéreas foram tiradas graças ao papagaio: uma máquina fotográfica

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foi presa a uma pipa e assim as primeiras fotos foram feitas”. (p. 4) Em seguida, são oferecidas recomendações e dicas de segurança para os leitores os leitores

empinarem o papagaio disponível no jornal para ser recortado e montado. Nota-se uma contex-tualização na abordagem e utilização da divulgação científica ao enfocar o assunto. Quanto à linguagem, as palavras “hieróglifo” e “eolismo”, não foram seguidas de explicação.

7 de julho

Pra que esse bigode? (página 2)Continuação desta seção visa à participação e estimula o leitor a pesquisar Segundo o jornal, os desenhos serviriam para ilustrar a página na data que a resposta e um texto sobre gatos fossem veiculados.

“a TV Q CV” (páginas 4 e 5)Neste texto, que é destaque da capa e ocupa uma página inteira, é abordado o funcionamento

da TV. Ele foi redigido por Paulo Prioli, produtor de vídeo e cineasta. Logo no título, ele procura utilizar uma linguagem informal e que se dirija ao leitor no caso do CV (você vê).

O texto não segue os padrões do jornalismo informativo. Quanto às expressões utilizadas, há palavras que não pertencem ao universo dos leitores ou que não são escritas conforme a norma culta como “refesteladão”; “ô cumpadre”; “troço”; “bestando”.

Outro aspecto a ser destacado é o uso de idéias presentes no senso comum como a compara-ção do químico Jacob Berzelius a “um tipo meio biruta que ficava no laboratório fazendo suas químicas”.

Mais uma constatação é em relação a impressão do autor do texto sobre o entendimento do leitor e, até mesmo, a exposição de sua visão de superioridade, como no trecho “Se eu for explicar ‘tintim por tintim’ como funciona a TV, a coisa ia ficar muito complicada, muito chata e vocês não iriam entender. O importante é que vocês entendam o princípio da idéia”.

No final do texto, mais uma vez, ele deixa transparecer a sua incerteza em relação à compreen-são do texto que ele redigiu e subestima os leitores, ao escrever:

Se vocês entenderam tudo isso direitinho já está muito bom. Como esse assunto é muito complicado vamos deixar o resto pra lá. Se vocês quiserem aprender mais sobre o assunto, escrevam para a Folhinha. E não se esqueçam de dizer o que foi que vocês não entenderam ou o que ficou faltando dizer, tá legal? (p. 5)

28 de julho

O Disco de Newton - Todo colorido, ele fica branco ao girar (página 4)Texto com chamada em destaque na capa e que foi escrito por colaboradora que é jornalista e

astrônoma do Museu de Astronomia do Rio de Janeiro. Inicialmente, enfoca a descoberta de Is-sac Newton: “imagine que a cor branca é, na verdade, uma luz composta por várias cores! Quem descobriu isso foi o físico inglês Isaac Newton”. O texto elucida bem o assunto conforme podemos contatar no seguinte trecho:

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Explicando melhor essa história: Newton deixou entrar numa casa apenas um feixe de luz de sol. Essa luz, batendo no prisma, projetou na parede branca da casa as cores do arco-íris. Quando Newton viu aquela faixa de luz colorida na parede pensou que fosse um fantasma. Por isso, é usado o nome “espectro”, sinônimo de fantasma. Em inglês, escreve-se “spectrum”. (p. 4)

Após abordar o tema, é ensinado como se faz um disco de Newton também como fazer um arco-íris em casa, utilizando um esguicho ou um espelho.

Edições 2009

13 de junho

“no reino das águas claras”Reportagem principal e pertencente à editoria de Turismo sobre passeio na nascente do Rio

Olho d’Água. Descreve a atividade e cita a opinião que uma leitora postou no blog e de um ga-roto que participou do passeio. São utilizados diversos adjetivos para convencer o leitor de que o passeio é algo prazeroso.

Também apresentadas as principais descrições de alguns peixes e répteis, nesse caso, alguns aspectos científicos aparecem quando são mencionados os hábitos de alguns animais. Na reporta-gem, são apresentados valores para o mergulho, câmera fotográfica e hospedagem.

Cerrado é um baú de tesouros Apresenta de forma geral as principais características do cerrado. A linguagem pode ser conside-rada acessível ao público-alvo do caderno infantil. Um exemplo é a preocupação em demonstrar a dimensão do cerrado: “Divida o Brasil em cem partes iguais: 22 (ou 22% do território brasileiro) são ocupadas por cerrado, segundo maior bioma (conjunto de populações animais e vegetais em uma mesma área)”.Em outro trecho, o tamanho de um hectare: “O núcleo do cerrado está distribuído pelo Planalto Central (GO, TO, MT, MS, parte de MG, BA e DF), abrangendo 196 milhões de hectares – para você ter uma ideia, um campo de futebol tem um hectare”. 20 de junho

“abc da astronomia”Texto escrito por colaboradora do jornal e que aborda o Ano Internacional da Astronomia,

criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Há uma contextualização da Astronomia com o cotidiano dos leitores, como podemos perceber no seguinte trecho: “O universo e os astros influem diretamente nas nossas vidas: como o Sol, que esquenta os dias frios de inverno”. Essa recomendação consta no Manual da Folha e produzido pela Andi.

No final, há um link em que as crianças poderão acessar mais programações sobre astronomia. Em seguida, são apresentadas, por tópicos, 27 curiosidades sobre Astronomia e o Universo.

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Podemos destacar a ausência de entrevistas. Como fontes, são citados dois professores, um site e dois livros. Há a utilização predominante de curiosidades.

27 de junho

Para o alto e avante!Reportagem sobre dois novos brinquedos do Parque de Orlando, considerada pela Folhinha

como pertencente à editoria de Turismo. Sobre esse texto, vale destacar que há uma melhor ela-boração na redação para tentar atrair o leitor:

Suavemente, a arraia sobe até a superfície. Em seguida, mergulha e gira veloz-mente, deixando qualquer um tonto só de olhar. É peixe, mas bem que parece voar. Na verdade, é a imitação de um peixe - ou de seus movimentos - na água. Assim poderia ser descrita a Manta, a mais nova montanha-russa dos parques de Orlando, na Flórida (EUA).

Foi utilizado trecho de entrevista com integrante da equipe de design de atrações do Busch Entertainment Corporation. Em seguida, é apresentada uma relação com descrição de diversos brinquedos encontrados no parque e dicas para quem for visitar o local. É mencionado que a jor-nalista viajou a convite do Orlando/Orange County Convention & Visitors Bureau.

Na reportagem, não são explorados conceitos científicos quando os brinquedos são citados. Consideramos que, apesar de ser uma reportagem da Editoria de Turismo, poderiam ser inseridas explicações como, por exemplo, da área de Física e que trouxessem novos conhecimentos aos leitores. No entanto, o texto ficou preso ao aspecto comercial, tendo em vista que houve preocu-pação em divulgar o parque do ponto de vista mercadológico.

TVluz, câmera, cambalhota!

Sobre os bastidores de um programa da TV Cultura. Esse texto poderia explorar melhor o funcionamento de um programa de TV. Não é explicado o motivo da diferença entre tempo de gravação e os trechos que vão ao ar, apesar de haver um comentário sobre esse procedimento, conforme podemos observar no trecho: “Fazer o programa dá um trabalhão: são de três a quatro horas de estúdio para gravar aproximadamente uma hora e meia de imagens, que viram um pro-grama de 30 minutos”.

4 de julho

‘Passarinhólogos’Reportagem sobre observadores de pássaros. No texto, há dicas de como ir a campo para ob-

servar as aves. Foram entrevistados duas crianças que participaram dessa atividade. Também são apresentados nomes de pássaros e o motivo de receberem tais denominações. Consideramos que poderiam ter sido acrescentadas algumas informações como hábitos e fisiologia de alguns ani-mais, aproveitando-se dessa maneira para promover maior divulgação da ciência.

É citado que as fontes foram biólogos, um observador de aves e organizador de exposições, e

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um fotógrafo. 18 de julho

Com o pé na luaReportagem que aborda a data em que o homem teria pisado pela primeira vez na Lua. No

texto do intertítulo “Nasa quer voltar a Lua em 2019”, são enfocadas perspectivas da Nasa. Vale destacar que há certa preocupação com a utilização de palavras e de explicar o conteúdo como percebemos em: “A busca por gelo no satélite faz parte do plano de implantação de uma base lunar. Se há gelo – água na forma sólida -, é possível que também exista água na forma líquida. Ela poderia fornecer hidrogênio (usado como combustível) e oxigênio”. Considerações finais

Constatamos que o tema ciência está presente em ambos os períodos em que analisamos o su-plemento Folhinha, porém nas edições de 1985, a temática foi mais prevalente.

O que podemos perceber tanto nas edições de 1985 quanto nas de 2009 é que, como já apon-taram alguns estudos, não há definição de uma linguagem para os suplementos infantis. Em algumas edições, percebe-se uma adequação ao público-alvo e, em outros momentos, isso não acontece.

Em relação aos suplementos de 1985, podemos destacar que os textos que consideramos como sendo de Ciência já estão em sua maioria identificados como pertencentes a essa editoria e a maioria são das áreas ciências exatas e biológicas.

Nota-se um maior aprofundamento dos assuntos, interatividade e atividades práticas no final dos textos, sendo que eles grande parte deles foi produzido por não jornalistas como biólogos e cineastas. Em alguns casos, apenas aparece que o autor de determinado texto é colaborador do jornal.

Podemos concluir que ao invés de jornalistas redigirem reportagens e ouvirem especialistas, na época optava-se por convidar pessoas das áreas que seriam abordadas para eles adaptarem as in-formações ao público-alvo da Folhinha, resultando em textos que não consideramos como sendo jornalísticos por não apresentar características que os enquadrassem nessa categoria.

De maneira geral, pode-se dizer que os profissionais de outras áreas conseguiram associar os conhecimentos transmitidos ao cotidiano dos leitores, apenas em alguns casos, houve emprego de linguagem mais coloquial, de aumentativo ou subestimação do público.

Quanto às edições de 2009, também percebemos diversos textos assinados por colaboradores, no entanto, diferentemente das edições de 1985, nesse caso vários os redatores são identificados como jornalistas. Percebe-se, no entanto, que esses textos não seguem as regras estabelecidas pelo Manual de Redação da Folha, ou seja, não há opiniões divergentes sobre os assuntos e, em alguns casos, não há nenhum trecho de entrevista.

O aspecto comercial também está mais presente nas publicações mais recentes. Duas das ma-térias foram produzidas para divulgar um serviço, sendo que as repórteres viajaram a convite de empresas. Nota-se que ainda que, em vários textos, optou-se ela utilização de dicas, curiosidades e informações obtidas a partir de sites e livros.

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Assim, podemos dizer que, embora tenha havido discussões e estudos sobre os suplementos in-fantis que apontaram problemas e soluções, pouco se evoluiu em relação à produção dos cadernos infantis. Diversas recomendações ainda não têm sido colocadas em prática.

Em relação à divulgação científica, também não houve avanço relevante, tendo em vista que em nossas análises contatamos que as edições de 1985 cumpriram melhor esse papel ao realizar um maior aprofundamento dos temas abordados e explorar mais elementos recomendados para atingir o público-alvo dessa publicação.

Acreditamos também que é necessário rever o conteúdo de disciplinas de jornalismo especia-lizado presente nos currículos dos cursos de graduação em Comunicação Social – habilitação em jornalismo. Devem ser contempladas ou melhoradas abordagens em relação ao jornalismo infantil e científico.

Ainda pensamos ser necessário que os suplementos infantis não sejam apenas um encarte do jornal e sim que haja preocupação em se ter uma equipe própria para este veículo e diretrizes que contribuam para a melhoria da qualidade dos jornais voltados às crianças.

Referências

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