306
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Desafio para a sociedade brasileira Livro Verde Brasília, Julho 2001 Coordenadores Cylon Gonçalves da Silva Lúcia Carvalho Pinto de Melo Ministério da Ciência e Tecnologia Academia Brasileira de Ciências

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃODesafio para a sociedade brasileira

Livro Verde

Brasília, Julho 2001

Coordenadores

Cylon Gonçalves da SilvaLúcia Carvalho Pinto de Melo

Ministério da Ciência e TecnologiaAcademia Brasileira de Ciências

Page 2: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação - Projeto DECTITodos os direitos reservados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Os textos contidos nesta publicação, desde que não usados para fins comerciais,poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos. As imagens não podem ser reproduzidas, transmitidas ou utilizadas, sem expressaautorização dos detentores dos respectivos direitos autorais.

Ministro de Estado da Ciência e TecnologiaEmbaixador Ronaldo Mota Sardenberg

Secretário ExecutivoCarlos Américo Pacheco

Presidente da Academia Brasileira de CiênciasEduardo Moacyr Krieger

Coordenação Geral do Projeto DECTICylon Gonçalves da SilvaLúcia Carvalho Pinto de Melo

Ministério da Ciência e Tecnologia – MCTEsplanada dos Ministérios, Bloco E70067-900, Brasília – DF, Brasilhttp://www.mct.gov.br

Ciência, tecnologia e inovação: desafio para a sociedade brasileira- livro verde / Coordenado por Cylon Gonçalves da Silva e Lúcia

Carvalho Pinto de Melo. – Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia /Academia Brasileira de Ciências. 2001.

250p. : il ; 23 cm.

ISBN: 85-88063-03-4

1. Ciência – Tecnologia – Inovação. 2. Conhecimento.3.Qualidade de Vida. 4. Desenvolvimento Econômico. 5. DesafiosEstratégicos. 6. Desafios Institucionais. I. Silva, Cylon Gonçalves da. II.Melo, Lúcia Carvalho Pinto de. III. Brasil. Ministério da Ciência e Tecnologia.IV. Academia Brasileira de Ciências.

CDU 301.15:004(81)

ii

2001Impresso no Brasil

Page 3: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Livro Verde

Coordenação GeralCylon Gonçalves da Silva – LNLS/ABTLuSLúcia Carvalho Pinto de Melo – MCT e FJN

Grupo de Concepção e RedaçãoAntonio José Junqueira Botelho – PUC-RioAntônio Márcio Buainain – Unicamp, CoordenadorRuy Quadros de Carvalho – UnicampSérgio Salles Filho – Unicamp e Finep

Colaboradores do Projeto DECTIA equipe de redação do Livro Verde contou com especial apoio dasseguintes pessoas:

Alfredo H. Costa Filho – UnescoCarlos Henrique Cardim – CEE/MCTFlávia Maia Jesini – UnBGuilherme Euclides Brandão – MCTHenriqueta Borba – UnescoIone Egler – MCTLeonardo R. Genofre – UnBReinaldo Ferraz – MCTRoberto Medeiros – LNLSSandra Holanda – MCTSimone H. Cossetin Scholze – MCTSinésio Pires Ferreira – MCT

Documentos Técnicos de SubsídioO Livro Verde beneficiou-se de documentos, notas técnicas econtribuições escritas preparadas, a pedido da coordenação geral, peloscolaboradores a seguir relacionados:

Abraão Benzaquem Sicsu – FJNAdemar Ribeiro Romeiro – Unicamp e EmbrapaAdriano Dias – FJNAkira Homma – FiocruzAlice Rangel de Paiva Abreu – CNPqAna Lúcia Delgado Assad – MCTAndré Furtado – UnicampÂngelo Pavan – IBGECarlos Henrique de Brito Cruz – FapespCarlos Nassi – UFRJCarlos Nobre – CPTEC/InpeCarlos Vogt – UnicampCelso José Monteiro Filho – IBGECelso Pinto de Melo - UFPe e CNPqDébora Mello – UnicampEduardo Moacyr Krieger – Incor e Academia Brasileira de CiênciasElísio Contini – EmbrapaElizabete Rondelli – UFRJElói de Souza Garcia – MCTEugênio Neiva, ConsultorEvando Mirra de Paula e Silva – CNPqFernando Galembeck – UnicampFrancisco Ariosto Holanda – Secretário da Ciência e Tecnologia/CearáFrancisco César de Sá Barreto – UFMGGuilherme Euclides Brandão – MCT

Henrique Lins de Barros – MAST/MCTIone Egler – MCTJoão Alziro Herz da Jornada – InmetroJoão Batista Dias de Paiva – UFSMJoão Carlos Ferraz – UFRJJoel Weisz – FinepJosé Carlos Albano do Amarante – IMEJosé Galízia Tundisi – Instituto Internacional de EcologiaJosé Maria da Silveira – UnicampLeopoldo de Meis – UFRJLuiz Fernando Vieira – EmbrapaLuiz Gylvan Meira Filho – AEB/MCTLuiz Pinguelli Rosa – UFRJLuiz Tomáz Carrilho T. Gomes – MCTMárcio de Miranda Santos – Embrapa e CGE/MCTMaria Antonia Gazzeolli – Unicamp e Ministério da EducaçãoMariza Barbosa – EmbrapaMaurício Antonio Lopes – EmbrapaMaurício Compiani – UnicampMaurício Otávio Mendonça Jorge – MCTMichelangelo Trigueiro – UnBMurilo Flores – EmbrapaNelson Brasil – AbifinaPaulo Arruda – UnicampPaulo Roberto Tosta – FinepPedro Wongtschowski – OxitenoRegina Gusmão – FapespReinaldo Dias Ferraz de Souza – MCTRenato Janine Ribeiro – USPRex Nazareth Alves– IMERoberto Bernardes – Fundação Seade/SPRogério Meneghini – LNLSRui de Araújo Caldas – MCTSandra Holanda – MCTSelma Leite – UFPASérgio L. A. de Queiróz – UFRJSérgio Neves Monteiro – UENFSidney Mello – UFFSilvia Figueiroa – UnicampSílvio Zancheti – UFPeSimon Schwartzman – AIRSimone H. Cossetin Scholze – MCTSinésio Pires Ferreira – MCTStefan Bodgan Salej – FiemgWaldimir Pirró y Longo – Observatório Nacional/MCT e UFF

iii

Page 4: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Abílio Afonso Baeta Neves – Presidente, CapesAdalberto Luiz Val – INPAAdalberto Vasquez – CapesAdão Vilaverde – SCT/RSAfonso Carlos Correa Fleury – USPAlaíde Mammana – ITI/MCTAlberto Duque Portugal – Presidente, EmbrapaAlberto Pereira de Castro – Diretor-Presidente, IPT/SPAlcir Monticelli – UnicampAleksandra Reis – EmbraerAlessandra Beatriz Rodrigues de Castro – MCTAlexandre Camargo Coutinho – EmbrapaAna Curi – MCTAna Francisca Fernandes Corrêa – MCTAna Lúcia Gazzola – UFMGAna Maria Martins – IEA/CTAAna Maria Sampaio – IELAna Paula Saint´Clair – CNEN/MCTAnderson Lopes de Moraes – MCT/CGEAndré Amaral Araújo – Diretor, FinepAndréa Koury Menescal – CNPqAndréa Lessa – INT/MCTAndres Trancoso Vilas – CGE/CTHidroÂngela Maria Cohen Uller – UFRJÂngela Paulista – MCTAngelo Pavan – IBGEAntonio Afonso Lamounier – Trópico TelecomunicaçõesAntonio Carlos de O. Barroso – Diretor, CNENAntonio Figueiredo – MECAntônio Gomes Cordeiro – CNEN/MCTAntonio OliveiraAntonio Sérgio Pizzarro Fragomeni – MCTArmando Dias Mendes – UFPAArmando Mariante de Carvalho – InmetroArmando Mendes – UFAMCarlos A. Dompieri – ex-Presidente, FinepCarlos Alberto Eiras Garcia – Reitor, FURGCarlos Cruz – CNPq/MCTCarlos Eduardo Morelli Tucci – UFRGS e CGE/CTHidroCarlos Gastaldoni – BNDESCarlos Lombardi – MCTCarlos Oití Berbert – MCTCarlos Roberto Colares Gonsalves – MCTCarlos Z. Ignácio Mammana – ITI/MCTCélia Bona – CBPF/MCTCélia Poppe – FinepCélio Andrade – LNA-MCT

Contribuições

Ao longo de mais de 10 meses de trabalho para elaborar o Livro Verde, o Grupo de Concepção e Redação se beneficiou de comentários técnicos,sugestões, críticas, entrevistas, apoio técnico-administrativo e, mesmo, de puro estímulo da parte de incontáveis pessoas no País e no exterior, emreuniões formais e informais, inclusive via internet. Muitos participaram ativamente de um conjunto de reuniões de trabalho sobre os cinco temascentrais que compõem a estrutura do Livro. Outros comentaram versões preliminares do documento, sugerindo modificações e também possibilitaramobter imagens utilizadas no Livro.

Na tentativa de dar o merecido crédito e registrar os justos agradecimentos ao maior número possível de colaboradores, optou-sepor listar o nome de todos que contribuíram, sem distinção de papel ou posição, para o Livro Verde:

Celso Barbosa – AnpeiCelso Cruz – FinepCelso José Monteiro Filho – IBGECelso Pinto – Jornal O ValorCharlote Stephanie – FinepClaudenicio Ferreira – UnicampCláudia Diogo – CNPqCláudia Penha – MAST/MCTCláudia Regina de Almeida Souza – CNEN/MCTClaudio Cavalcanti Ribeiro – Secretário de Ciência e Tecnologia/ParáCláudio de Almeida Loural – CPqDCláudio Soligo Camerini – PetrobrasClovis Andrade Junior – MCTCristiano de Lima Logrado – MCT/CGE/CTEnergCristina Clark – Fiocruz/MSCristina Tavares – Fiocruz/MSDalci Maria dos Santos – MCT/CGEDominique Ribeiro – UFRJDonald Sawyer – MCTDurval Costa Reis – MAST/MCTEdmundo Antonio Taveira Pereira – MCTEdson Vaz Musa – EVM ConsultoriaEdvaldo Fonseca – IPENElaine Rose Maia – CEE/MCTEliana de Souza Lima – EmbrapaEliane Oliveira – UnifespElisa Pereira Reis – UFRJElizabeth Babachevski – USPElizabeth Pinto Guedes – FinepEric Jan Roorda – ProcompÉrica Batista Vargas – MCTEsper Abrão Cavalheiro – MCTEugenio Emílio Staub – Presidente, GradienteFábio Celso Macedo Soares – FinepFábio Erber – UFRJFábio Veras – FiemgFernando Cunha – FapespFernando Luís de Castro Miquelino – CPqDFernando Luz – MCTFernando Nery – Módulo InformáticaFernando Varejão Freire – MCTFrancisco Mauro Salzano – UFRGSFrancisco Romeu Landi – FapespFrançois René – MCTGabriela Campos Teixeira – MCTGeraldo Falcão – PetrobrasGerson E. Ferreira Filho – ex-Presidente, Finep

iv

Page 5: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Gilberto Câmara – INPEGilberto M. Januzzi – MCT/CGE/CTEnergGlaci Terezinha Zacan – UFPrGláucia Maria Cleibe de Oliveira – MCTGlaucius Oliva – USPGuilherme Emrich – BiobrásHelenise Brant – MCTHélio Guedes de Campos Barros – MCTHenrique Lins de Barros – MAST/MCTHerman Wever – Presidente, SiemensHernan Chaimovich G. – Pró-Reitor, USPHugo Fragnito – UnicampHulda Gesbrecht – AbiptiHumberto S. Brandi – UFRJIrma Rosseto Passoni – ex-Deputada FederalIsa Helena O. G. de Almeida Pereira – MCTIsabel Tavares – CNPqIsaias de Carvalho Macedo – CoopersucarIvone P. Mascarenhas – USP São CarlosJ. P. von der Weid – Pipeway Engenharia Ltda.Jacob Palis Junior – Diretor, IMPAJacques Marcovitch – Reitor – USPJeter Bertoletti – Museu de Ciência e Tecnologia/PUCRSJoão Batista Dias de Paiva – UFSMJoão Carlos Brum Torres – UFRGSJoão Evangelista Steiner – MCTJoão F. Gomes de Oliveira – Diretor, NUMA e USP São CarlosJoão Furtado – UnespJoão Lucas Marques BarbosaJoão Metello de Mattos – MCT/CGE/CTHidroJoão Paulo dos Reis Veloso – Presidente, INAEJoão Roberto Rodrigues Pinto – MCT/CGE/CTEnergJorge Ávila – Diretor, FinepJorge Pereira da Silva – INT/MCTJosé Antônio Pimenta Bueno – PUC-RioJosé Augusto Coelho Fernandes – CNIJosé Augusto Pereira da Silva – Pipeway Engenharia Ltda.José Carlos Albano do Amarante – IMEJosé Carlos Gomes Costa – MCT/CGE/CTEnergJosé Claudio Castoldi – Replan/PetrobrasJosé D’Albuquerque e Castro – UFRJJosé Domingos Miguez – MCTJosé Eduardo Cassiolato – UFRJJosé Elio Trovatti – CPqDJosé Ellis Ripper Filho – ASGAJosé Gilberto Aucélio – MCTJosé Graça Aranha – INPIJosé Guilherme Ribas Sophia Franco – LNLSJosé Márcio Correa Ayres – MCTJosé Maria Cardoso da Silva – UFPeJosé Mauro dos Santos Esteves – Presidente, CNENJosé Murilo Costa Carvalho Júnior – MCTJosé Paulo Silveira – MPO/SPIEJosemar Xavier de Medeiros – MCT/CGE/CTEnergJucilene Gomes Pereira – Ibict/MCTJúlio Cezar Rodrigues Martorano – CPqDJurandir Fernando Ribeiro Fernandes – UnicampKátia Godinho Gilaberte – MCTKatia Lanes – CNEN/MCTKurt Politzer – Abiquim

Ladislau Cid – EmbraerLaila Dantas – Ibict/MCTLauro T. G. Fortes – AEB/MCTLeila Mendonça Raulino - SocinfoLélio Fellows – CNPqLeonor M. Câmara – MCTLeopoldo de Meis – UFRJLilian Bayma de Amorim – Museu Goeldi/MCTLindaura Campos de Faria - FinepLívia Barbosa – UFFLívio Amaral – UFRGSLuis Carlos Mendonça de Barros – Presidente, MBGLuís Valcovi Loureiro – Capes/MECLuiz Bevilacqua – LNCC/MCTLuiz Carlos Joels – MCTLuiz Carlos Scavarda do Carmo – PUC-RioLuiz Cláudio Braz – CNEN/MCTLuiz Claudio Marigo – MamirauáLuiz Hildebrando Pereira da Silva – CepemLuiz Marques Couto – MCTLuiz Roberto Liza Curi – MECLynaldo Cavalcanti de Albuquerque – AbiptiM. Dalila T. Andrade – EmbraerManoel Abílio de Queiróz – EmbrapaManoel Barral Netto – UFBA e FiocruzMarcelo Coelho – Folha de S. PauloMarcelo Juni Ferreira – LNLSMárcia Maro da Silva – MCTMarco Antonio Raupp – Diretor – LNCCMarco Aurélio Garcia – Secretário Municipal da Cultura/SPMargarida Maria Pion da Rocha Paranhos – MCTMaria da Graça Duarte Ramos – CNPqMaria das Graças Nunes – N.I. Lingüística ComputacionalMaria Isabel Fonseca – MCTMaria Isabel Tavares – CNPqMaria José Gazzi Salum – UFMGMaria Laura da Rocha – MCTMaria Lúcia Horta – FinepMaria Luiza Braz Alves – MCTMaria Sílvia Dipietro – USPMaria Sylvia Romero Derenusson – MCTMariana Barnes Small – CEE/MCTMarileusa D. Chiarello – MCTMarilia Giovanetti de Albuquerque – MCTMariluce Moura – FapespMário Araújo – CCT/UFPBMário Dias Ripper – PUC-RioMarisa Barbar Cassim – MCTMarta Kühl – Trópico TelecomunicaçõesMaura Pacheco – FinepMaurício Nogueira Frota – PUC-RioMauro Marcondes – FinepMauro Miagute – FiespMoema Soares de Castro – CCT/UFPBMoema Tavares da Costa – SocinfoMonica Berton – ITI/MCTMonica da Silva Fernandes – INT/MCTMúcio Roberto Dias – AEB/MCTNassim Gabriel Mehedff – MTNelson Simões – RNP

v

Page 6: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Nilton Marlúcio de Arruda – Cenpes/PetrobrasOnildo João Marini – MCT/CGE/CTHidroOrestes Marracini Gonçalves – USP e ABNTOscar Cordeiro Neto – CGE/CTHidroOswaldo Biato – MREOswaldo Cruz – CPqDPaula Regina Kuser – CBME/LNLSPaulo César Gonçalves Egler – ABCPaulo Cesar Silva – LME/LNLSPaulo de Goes – ABCPaulo Escada – INPE/MCTPaulo Estevão Cruvinel – Diretor, EmbrapaPaulo Haddad – Presidente, PhorumPaulo Kliass – MCTPaulo Sizuo Waki – MCTPedro Carajilescov – UENF e ANEPedro Wilson Leitão Filho – FunbioPlínio Asmann – IPT/SPRaimundo Aroldo Silva Queiróz – CEE/MCTRaimundo Tadeu Corrêa – MCTRamiro Wahrhaftig – Secretário de C&T e Ensino Superior/ParanáRegina Célia França – AEB/MCTReinaldo Fernandes Dana – MCTReinaldo Guimarães – UERJRenato Baumgratz Viotti – MCTRoberto Freire – SenadorRoberto Pinto Martins – MCTRoberto Sbragia – USPRogério Henrique de Araújo Júnior – IbictRogério Mamão Gouvêa – CNEN/MCTRômulo Ângelo Zanco Filho – CPqDRonaldo Cardoso Lemos – ITIRonaldo Seroa Mota – IPEARubens Amador – MCTRui Albuquerque – UnicampRuy Coutinho do Nascimento – BNDESSandoval Carneiro – UFRJSandra Fernandes – PetrobrasSérgio Besserman Vianna – Diretor, IBGESérgio Danilo J. Pena – UFMGSérgio F. G. Bath – MRESérgio Haddad – Presidente – AbongSérgio Machado Rezende – UFPeSérgio Mascarenhas de Oliveira – Presidente, IEASérgio R. R. Queiróz – UnicampSteferson Faria – PetrobrasSueli Maffia – Ibict/MCTSuely Martins da Silva – MCTTânia Mendes – CGE/MCTTatiana Pires – CEE/MCTTereza Simpson – FinepTomás Bruginski de Paulo – MCTVanda Regina T. Scartezini – MCTVania Gurgel – CNPq/MCTVera Marina da Cruz e Silva – FinepVera Pinheiro – MAST/MCTVilmar Faria – PR/GAP/AEPRVilson Nava – Fundação CPqDWalter Bartels – AIEBWilson Suzigan – Unicamp

vi

Page 7: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

APRESENTAÇÃO

Page 8: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O Livro Verde da Ciência, Tecnologia e Inovação,que apresento, resulta de amplo debate, coordenadopelo Ministério da Ciência e Tecnologia, acerca dopapel do conhecimento e da inovação, na aceleraçãodo desenvolvimento social e econômico do País.

Ao resgatar a trajetória da Ciência e Tecnologia brasi-leira e estimular a reflexão sobre seu futuro, o LivroVerde traz à luz os sólidos alicerces em que se fun-dam seus avanços contemporâneos. Explicita, sobre-tudo, valiosos elementos da visão estratégica quehoje orienta a sustentação e a ampliação do esforçonacional em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I),como condição necessária de desenvolvimento, bem-estar, justiça social e de exercício da soberania.

O presidente da República, professor Fernando Hen-rique Cardoso, desde o primeiro momento, associou-se diretamente à dinâmica de transformação e atua-lização da C&T e, ao liderar esse movimento, orien-tou o governo como um todo para que apoiasse osesforços que ora ingressam em nova etapa, para aqual o Livro Verde funciona com verdadeira portade entrada.

Mais do que veicular a opinião do Ministério da Ciên-cia e Tecnologia, este Livro reflete e sintetiza o diá-logo aberto, de âmbito nacional, entre o Ministério ea sociedade em suas diversas esferas interessadas nofuturo da Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil.Mais de um ano transcorreu entre as primeiras dis-cussões sobre a necessidade e viabilidade deste exer-cício, a concepção, a preparação e a publicação des-te Livro. Um prazo ao mesmo tempo longo e curto.Longo, dada a premência de discussão desses temas,

e curto, dada a magnitude da tarefa. A preparação doLivro beneficiou-se de um amplo processo – aindaem curso – de consultas, do qual vêm participandolideranças políticas, empresariais, acadêmicas e dogoverno. Nesta primeira etapa, foram realizadas cin-co reuniões de trabalho sobre os temas centrais destedocumento e entrevistadas mais de cinqüenta perso-nalidades de destaque, em uma rica troca de idéias eno propósito comum de buscar consensos. No total,mais de uma centena de pessoas foram ouvidas, e seuscomentários, sugestões e contribuições diretas para oLivro foram incorporadas a este debate.

O Livro Verde é também um instrumento de trabalho.Serve como uma das principais bases para os debatesda Conferência Nacional da Ciência, Tecnologia e Ino-vação, tendo em vista a elaboração de Diretrizes Es-tratégicas, com o horizonte temporal até 2010. Diretri-zes, neste sentido, constituem orientações de ordemgeral, formuladas dentro de princípios realistas, e com-prometidas com as necessidades nacionais; estratégicassão elas, por se pautarem pela capacidade de planeja-mento, visão de futuro e de projeto nacional, com fococlaro e voltado para resultados.

Neste momento de transição para realizações aindamais significativas por parte da ciência e tecnologiabrasileiras e sua integração definitiva na agenda so-cial, política e econômica do País, a adoção de Dire-trizes Estratégicas faz-se não apenas oportuna, masnecessária.

O Livro Verde foi concebido para ser utilizado pe-los participantes da Conferência Nacional e por todosos que se envolverem na discussão das Diretrizes

APRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

viii

Page 9: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Estratégicas. Não se trata de simples documento dereferência, pois é substantivamente orientado e em-bute avaliações do que poderá vir a ser a CT&I bra-sileira. Supõe um percurso positivo e tem inegáveisintenções e conseqüências políticas.

Tomado no conjunto, o Livro Verde divulga varia-díssimos elementos de informação que, no essen-cial, substanciam a percepção de que a sustentaçãodo esforço nacional de CT&I não só é imprescindí-vel, mas tem viabilidade na emergente ordem inter-nacional. O papel da CT&I, nessa ordem, diz res-peito à aceleração da produção do conhecimento eda inovação; mas também é sua vocação tornar-se oprincipal fator de agregação de valor a produtos, pro-cessos e serviços. A ordem internacional abriga atendência no sentido da concentração do saber, dosaber-fazer e da introdução de produtos sofisticadose inovadores no mercado mundial.

As conquistas no avanço do conhecimento e das tec-nologias indicam possibilidades objetivas de o Paíscolocar-se, de forma satisfatória, no seio dessa or-dem, de modo a aproveitar as oportunidades inter-nacionais existentes e evitar suas disfunções. Essepapel da CT&I refere-se, portanto, à necessidade deacompanhar e, na medida do possível, participar doque se passa nas fronteiras avançadas do conheci-mento e das tecnologias de ponta; refere-se à buscada excelência e da qualidade da pesquisa; ao cum-primento das vocações nacionais e regionais brasi-leiras; ao atendimento dos reclamos da sociedade,no quadro da correção dos desequilíbrios e da obten-ção de melhor qualidade de vida para todos; às neces-sidades do setor produtivo, em termos de superaçãodo déficit tecnológico nacional, e dos novos modosde organização, gestão e financiamento da CT&I noBrasil. Tampouco descuida da necessária internaliza-

ção das informações sobre o País existentes em cen-tros de pesquisa no exterior e dos novos limites eoportunidades da cooperação internacional emCT&I.

O Livro Verde demonstra não a ruptura com o pas-sado, mas sua superação, em processo que está deci-didamente em curso em nossos dias. Evidência dissoé o apoio prestado pelo Ministério da Ciência e Tec-nologia (MCT) a áreas de impacto social e econômico– desde os programas de biotecnologia, tecnologiasda informação, nanotecnologias, materiais especiais,ciência e tecnologia do mar, pesquisa e aplicaçõesespaciais, até projetos inovadores recentes, como osde combate à violência e em prol da segurança pú-blica, de apoio da C&T à comunidade negra, alémda iniciativa de atração e fixação de pesquisadoresconduzida pelo Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq).

Nesse quadro, é crescente a obsolescência da pro-blemática tradicional da CT&I brasileira e a emer-gência de novas e desafiadoras questões. Sua agendase renova a grande velocidade e a aceleração da pro-dução de artigos indexados e o rápido crescimentonos números relativos à formação de doutores/anoindicam, de forma inequívoca, que estamos no ca-minho certo e vamos alcançar nossas metas.

Em anos recentes, tornou-se muito mais nítida a per-cepção da importância da ciência e tecnologia e da am-pliação dos objetivos da respectiva política nacional.Os recursos disponíveis para a pesquisa e desenvolvi-mento (P&D) aumentaram significativamente. Cria-ram-se novos instrumentos de financiamento da pes-quisa, organizou-se um novo e arrojado quadro jurídicoe institucional, e a inovação tecnológica aparece comoobjetivo central dos esforços nacionais. Em paralelo

ix

Page 10: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ao estabelecimento de laços mais robustos com a co-munidade científica – convidada, de forma sistemática,a integrar comitês científicos, comitês de seleção deprojetos e comitês de busca, a participar na elaboraçãode editais, bem como no exame de políticas públicas –,objetivou-se também intensificar a participação do se-tor privado nos investimentos em P&D.

A implantação de novos instrumentos financeiros,sobretudo os fundos setoriais, recebeu grande im-pulso, tendo-se fixado objetivos mais amplos, maiscomplexos e mais definidos, com ênfase no foco, nabusca de resultados, na gestão compartilhada e trans-parente. A perenização do Fundo Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)permitirá estabilidade dos recursos, há muito reivin-dicada pela comunidade científica. Outros avançosrecentes de grande importância – devidamenteregistrados no Livro Verde – dizem respeito à estrutu-ração de redes nacionais e regionais, ao apoio à incu-bação de empresas e ao capital de risco, à ênfase nosestudos prospectivos, acompanhamento e a avalia-ção, ao fortalecimento dos sistemas locais de inova-ção, com foco nas cadeias produtivas.

Um campo que também merece atenção especial dizrespeito ao desenvolvimento institucional. Com a incor-poração da Comissão Nacional de Energia Nuclear(CNEN) e da Agência Espacial Brasileira ao MCT, osistema torna-se mais complexo, mais eficiente e maisintegrado. Esse processo avança, nestes dias, com acriação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, areforma dos institutos do MCT e a criação dos novosInstitutos do Milênio em áreas estratégicas para o esforçonacional de pesquisa. Nesse campo, a importância daatuação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia(CCT) traduz-se, inter alia, na nova ênfase hoje conferidaàs ações de prospecção.

No plano da legislação afeta à CT&I, alcançaram-se tam-bém progressos consideráveis, com a aprovação no Con-gresso – com agilidade e apoio pluripartidário – das leisque estabeleceram os fundos setoriais. Outras iniciativaslegislativas relevantes se referem às áreas de propriedadeintelectual (patentes, novos cultivares, software e topo-grafia de circuitos integrados), às novas leis de Informá-tica, de Acesso à Biodiversidade, de Biossegurança. Asfuturas Leis da Inovação e de recuperação dos incentivosà P&D privada serão, em breve, levadas ao debate público.

Com o intuito de acompanhar o ritmo de avanço daCT&I mundial, o Brasil começa a instalar e ampliar acapacidade de buscar, ao mesmo tempo, variados macro-objetivos. Deram-se os primeiros passos em direção àuma política suficientemente flexível e a uma gestão sistê-mica e abrangente, capazes de abrigar atividades atérecentemente consideradas, em larga medida, antagô-nicas ou mutuamente excludentes, como a equivocadae ultrapassada antinomia entre ciência básica e tecno-logia.

A um só tempo, fortalece-se a pesquisa e recupera-se o déficit nacional de desenvolvimento tecnológi-co; estimulam-se a indução e a espontaneidade napesquisa básica; buscam-se excelência, qualidade erelevância, mas também a desconcentração regionalda pesquisa e dos investimentos; promove-se a si-multânea expansão do sistema nacional de CT&I eda ação regional conduzida ou apoiada pelo MCT.Se, de um lado, com o Fundo de Infra-Estrutura ex-pandem-se os projetos de pesquisa e revigora-se ainfra-estrutura de pesquisa, por outro, recebe reforçoa execução de bolsas pelo CNPq, via fundos seto-riais. Com o Fundo Verde Amarelo, dispõe-se de umvigoroso instrumento para que a aproximação univer-sidade-empresa abandone definitivamente o planodas intenções e ganhe concretude e eficácia.

x

Page 11: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O campo internacional é similarmente caracterizadopor uma nova visão: a política de fortalecimento doesforço nacional brasileiro vem acompanhada do duploreconhecimento do caráter crescentemente global daCT&I, como de que o panorama internacional nessaárea comporta muitas complexidades não é necessa-riamente “amigável”. Requerem-se, portanto, o apro-fundamento conseqüente de nossas ações internas eum tratamento sofisticado de nossa postura externa.

Empreendem-se, neste último sentido, esforços ati-nentes ao avanço no tratamento das questões globaise à consolidação da confiabilidade do Brasil como atorimportante no concerto das nações. São numerososos campos de trabalho: biodiversidade, camada deozônio, proibição de armas químicas, regime de tec-nologias de uso duplo nos campos civil e militar, acandente questão das mudanças climáticas, a supera-ção do hiato digital entre países desenvolvidos e emdesenvolvimento, a recuperação dos financiamentosdo Banco Mundial e do Banco Interamericano de De-senvolvimento para P&D, o início de uma política deatração de investimentos de empresas de base tecno-lógica e de ações conjuntas com as mesmas.

A reforma da política brasileira de cooperação interna-cional, tanto com os países avançados, quanto com asnações em desenvolvimento, adquire ênfase revigorada,quando o pesquisador brasileiro ganha novo alento enovos horizontes em termos programáticos e de finan-ciamento de suas pesquisas, quando as necessidadesdo desenvolvimento tecnológico e a inovação ascen-dem ao primeiro plano de nossas considerações.

No entanto, despertar e mobilizar a sociedade parao debate sobre a importância da CT&I e de sua in-serção definitiva na agenda da sociedade brasileiradepende ainda, em grande medida, de nossa capaci-

dade de transmitir, com clareza, seus reais impactose os motivos do interesse do País em participar dogrupo de países que atuam na linha de frente dosavanços científicos e tecnológicos internacionais.Compreender e difundir amplamente as razões pelasquais o Brasil participa e continuará a participar ati-vamente dessas ações significa legitimá-las perantea sociedade e permite angariar o apoio permanentedesta ao imprescindível esforço nacional em CT&I.

Ao levar em consideração todos esses elementos, aimportância do Livro Verde, reflete-se nas evidên-cias que emergem de suas páginas – às vezes comoadvertências, às vezes como expectativas – de queo diálogo democrático é o caminho privilegiado paradefinir os interesses gerais, superar condições deatraso e fazer preponderar o ideal da contempora-neidade. O Livro Verde busca mostrar, por fim, acontribuição que podem a Ciência e Tecnologia pres-tar para que o País alcance definitivamente seu lugarno cenário mundial.

Finalmente, desejaria agradecer vivamente a todosque, no Ministério da Ciência e Tecnologia e na co-munidade científica, por sua dedicação profissional,talento, competência e espírito público, contribuírampara a idealização e elaboração deste Livro Verde,em especial o Dr. Carlos Américo Pacheco, Secretá-rio Executivo do MCT, o Dr. Cylon Gonçalves daSilva, a Dra. Lúcia Melo e a equipe de redação lide-rada pelo Prof. Antonio Márcio Buainain.

Ronaldo Mota Sardenberg

Ministro da Ciência e TecnologiaBrasília, julho de 2001

xi

Page 12: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

xii

Page 13: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

PREFÁCIO

Page 14: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

PREFÁCIOPREFÁCIOPREFÁCIOPREFÁCIOPREFÁCIO

A Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia eInovação que será realizada em Setembro de 2001representa certamente um marco para o desenvolvi-mento do setor no País.

Será a grande oportunidade de mobilizar todos osprincipais atores que estão engajados em transformara Ciência e Tecnologia em instrumentos efetivos deuma grande mudança econômica e social do Brasil,enfrentando desafios, resolvendo problemas, aten-dendo aos anseios da sociedade. Envolve não só oGoverno e a comunidade científica e tecnológica,mas outros segmentos da sociedade que esperam queo País alcance, no mais curto espaço de tempo pos-sível, um padrão de desenvolvimento compatívelcom suas potencialidades.

Trata-se, além disso, de um esforço que se faz numcontexto em que Ciência, Tecnologia e Inovação sãoencaradas segundo um novo paradigma, o da susten-tabilidade, ou seja, de utilizar o conhecimento pro-duzido de forma eticamente responsável, garantindoa preservação dos recursos disponíveis no planetapara as futuras gerações.

Não é por acaso que o presente trabalho, o Livro

Verde de CT& I foi organizado de forma a cobriras seguintes questões Avanço do Conhecimento;

Qualidade de Vida; Desenvolvimento Econômi-

co; Desafios Estratégicos; Desafios Institucio-

nais, temas que se relacionam diretamente a essenovo paradigma. Trata-se de um documento preli-minar apresentando, para discussão com a sociedadee apreciação durante o processo preparatório e naConferência Nacional de Ciência e Tecnologia para

Inovação, um conjunto de diretrizes para a CT&I,uma visão estratégica com a respectiva alternativapara o desenvolvimento da CT& I, linhas de ação,prioridades, instrumentos, arcabouço institucionale fontes de financiamento. Por essa razão, é um do-cumento aberto para discussão, preparado para re-ceber contribuições que virão dos mais diversos se-tores e regiões.

A Academia Brasileira de Ciências, ao aceitar a in-cumbência de organizar a Conferência em parceriacom o Ministério da Ciência e Tecnologia e suasagências, assume de forma consciente a responsabi-lidade de garantir que esse empreendimento seja bemsucedido. Aos que contribuíram para a elaboraçãodeste documento, nossos agradecimentos pelo enor-me esforço em agregar dados, informações e percep-ções que muito nos ajudarão nas discussões da Con-ferência e, finalmente, na produção do Livro Brancoque irá conter um elenco de compromissos realistaspara o desenvolvimento de nossa Ciência, Tecnolo-gia e Inovação nos próximos dez anos.

Eduardo Moacyr Krieger

Presidente da Academia Brasileira de Ciências

xiv

Page 15: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

xv

O LIVRO VERDE

Page 16: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A elaboração deste Livro Verde não teria sido possí-vel sem o apoio decidido do Ministro Ronaldo MotaSardenberg e do Secretário Executivo Carlos Amé-rico Pacheco. Foi deles a idéia de que era necessário,com urgência, iniciar uma discussão sobre o plane-jamento da Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil.Transformá-la em realidade é uma tarefa de todosnós. Este Livro Verde, cuja concepção iniciou-se hámais de um ano e cuja redação ocupou boa parte deum semestre, é uma primeira tentativa de organizar,ampliar e difundir o debate sobre essas questões cen-trais para o futuro da sociedade brasileira. Uma ten-tativa, certamente, cheia de lacunas e imperfeições,como cumpre a um Livro Verde. Agravadas, entre-tanto, pelo fato de ser a primeira vez que se tentaum exercício desta magnitude, com tal abrangênciade temas em um prazo tão curto. Aprender é aprenderfazendo, é errar e tirar ensinamentos desses erros. Éde se esperar que em um futuro não muito distanterenove-se este exercício. A equipe que assumir talresponsabilidade poderá aproveitar esta experiênciae fazer melhor.

Tecnologia e Inovação foram trazidas no Livro Ver-de, propositadamente, para a boca de cena. Isto nãosignifica menosprezar a Ciência. A razão destaescolha prende-se à percepção de que o grande de-safio, hoje, reside mais na necessidade de incremen-tar a capacidade de inovar e de transformar conhe-cimento em riqueza para a sociedade brasileira co-mo um todo, do que no potencial do sistema de C&Tbrasileiro de gerar novos conhecimentos.

O processo de desenvolvimento, por sua própria na-tureza, é uma sucessão de desequilíbrios e disfun-

cionalidades. O Brasil investiu, durante meio século,na construção de um sistema de pesquisa e, depois,de pós-graduação que já alcançou, apesar de suaslimitações, dimensões respeitáveis. Mas este sistemase erigiu sobre um alicerce pouco sólido. Dois indi-cadores demonstram isto.

Entre 1981 e 1999, a escolaridade média do brasileiropassou de cerca de quatro anos para cerca de seisanos. Ou seja, em uma geração, a escolaridade médiano Brasil cresceu apenas dois anos. Isto significa que,em que pesem os avanços no topo da pirâmide edu-cacional, a sociedade brasileira, como um todo, aindaestá longe de ser uma sociedade do conhecimento.É preciso, pois, urgentemente, universalizar comqualidade o ensino no Brasil, mobilizando ao máximoo que já se construiu no ensino superior e na pós-graduação.

A transformação de conhecimento em riqueza se dá,preponderantemente, pela ação inovadora de empre-sas. Entretanto, os investimentos do setor privadoem P&D são claramente insuficientes – o Estadoainda é responsável por cerca de dois terços dessesinvestimentos no País. Não se trata de fazer comque o Estado diminua sua contribuição absoluta -muito ao contrário, como o demonstra a criação dosfundos setoriais –, mas de fazer com que o setorprivado se torne, num prazo relativamente curto, oparticipante maior no esforço de P&D no País, cujosbenefícios sejam apropriados, prioritariamente, pelapopulação brasileira. A experiência histórica dospaíses que se desenvolveram mostra, também, opapel fundamental das empresas nacionais naconstrução da riqueza desses países e na montagem

O LIVRO LIVRO LIVRO LIVRO LIVRO O O O O VERDEVERDEVERDEVERDEVERDE

xvi

Page 17: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

de um sistema de inovação forte. Aprender obser-vando a trajetória de quem teve sucesso é umamelhor opção do que tentar seguir as prescriçõescontemporâneas dos bem sucedidos para aqueles quebuscam trilhar os mesmos caminhos.

A baixa escolaridade do brasileiro e a reduzida propor-ção de investimentos privados em P&D são fatos in-dependentes, mas não inteiramente dissociados. Nãofaltam empreendedorismo e criatividade ao brasileiro:faltam conhecimentos, providos por uma educação, emtodos os níveis, universal, sólida e moderna, que capa-citem a população a aproveitar Ciência, Tecnologia eInovação na busca de uma vida melhor. Conhecimentopara todos é, acima de tudo, poder para construir umBrasil melhor – uma sociedade do conhecimento seráuma sociedade mais justa e eqüitativa.

Dar um papel mais relevante à Tecnologia e Inova-ção, neste momento, significa criar as condições paraobter um maior apoio futuro por parte da sociedadebrasileira à Ciência, à pesquisa fundamental e àfascinante e infinita exploração do Universo em quevivemos. Atenta a isto, em paralelo a este Livro Ver-de, a Academia Brasileira de Ciências está prepa-rando uma série de estudos sobre áreas de conheci-mento, sua situação atual no Brasil, os grandes avan-ços que se desenham para os próximos anos, e osdesafios que terão de ser vencidos para permitir aoBrasil contribuir para esses avanços. Outros estudosrealizados por sociedades profissionais, entidades declasse e organizações preocupadas com Ciência,Tecnologia e Inovação, enriquecerão o debate, com-plementarão e corrigirão o Livro Verde, preenchendomuitas das lacunas aqui deixadas.

Cabe, ainda renovar os agradecimentos a todos quecolaboraram com esta empreitada, compartilhando

generosamente seus conhecimentos, fornecendo in-formações, produzindo textos, criticando e melho-rando este Livro Verde. Ele é, sobretudo, uma obracoletiva - muitos co-autores se reconhecerão no textofinal, apesar de, na tentativa de produzir um docu-mento mais coerente, suas contribuições terem sidoeditadas. A opção por um Livro de aparência menosacadêmica e de leitura mais fácil (vã esperança!) fezdispensar o aparato de notas e referências bibliográ-ficas, que seriam necessárias para fazer a devida jus-tiça a todos os colaboradores. Optou-se por listá-losnas páginas iniciais. Além dos agradecimentos, cabeaqui, portanto, também um pedido de desculpas.

Pessoalmente, quero agradecer aos colegas da equipede redação, responsável por grande parte do trabalhode criação do Livro Verde: Tuca (Antonio Márcio),Botelho, Ruy e Sérgio. Quero, também, agradecer àLúcia, liderança inteligente, pertinaz e dedicada, que,além de tudo, nos lembrou suave, mas firmemente,que o mundo não é só dos homens, nem o Brasil, sóo Sudeste... Finalmente, mas não menos importante,quero agradecer ao Ministro Sardenberg e ao Secre-tário Executivo Pacheco por terem me honrado como convite para participar desta missão. Erros, lacunase deficiências que persistem, bem como cortes eedições de textos, são de inteira responsabilidade dosignatário.

Cylon Gonçalves da Silva

LNLS/ABTLuS

xvii

Page 18: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

xviii

Page 19: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Desde a segunda metade do século XX, está em curso

uma revolução radical, certamente a mais profunda

de toda a história da espécie humana até o presente.

Impulsionada por dois grandes avanços do conheci-

mento - a ampliação da capacidade dos sistemas de

comunicação e processamento de informação, repre-

sentada pelo computador e sua integração com os

meios de comunicação e os progressos da biologia

molecular - ela deve nos preocupar, enquanto nação,

por suas profundas implicações políticas e econômicas.

Os países cujas populações não alcançarem o nível

educacional requerido para acompanhar e se adian-

tar a essa revolução estarão condenados a um atra-

so relativo crescente e a uma dependência política

daquelas nações que dominam o conhecimento, mais

opressora do que qualquer outra jamais vista na histó-

ria da humanidade. Não se trata de subjugação mili-

tar, visível nas forças de ocupação de uma potência

estrangeira, ou econômica, perceptível nas limitações

externas às opções de uma política nacional. Trata-

se de uma subjugação completa, invisível e inescapável.

A situação atual do Brasil não o condena a uma

perpetuidade de atraso. Bem ao contrário, o que

este Livro Verde mostra é o extraordinário caminho

percorrido nos últimos cinquenta anos, as iniciativas

transformadoras atualmente em curso e as fantásti-

cas oportunidades para o futuro. Mostra, igualmente

que, para a próxima década, há uma consciência

clara das demandas mais prementes e das dificulda-

des a vencer. No curto prazo, muito do que precisa

ser feito já se encontra bem encaminhado e delineadas

as linhas mestras de atuação. A chave do caminho

do futuro encontra-se no exemplo da ação pertinaz

e consequente, orientada por uma visão de longo

prazo da construção do País, que caracterizou o cres-

cimento da Ciência e Tecnologia no Brasil nas últimas

cinco décadas.

¨

¨

Page 20: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

xx

Page 21: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Coordenação geral, concepção e redação do Livro Verde iiiColaboradores iiiApresentação viiPrefácio xiiiO Livro Verde xvÍndice de Gráficos, tabelas e quadros xxiii

Introdução 1O debate necessário 2Um projeto de longo prazo 5Os grandes temas 7

Capítulo 1. Ciência, Tecnologia e Inovação: a dimensão do sistema no Brasil 11As transformações do Brasil no último meio século 17A dimensão do sistema de CT&I no Brasil 21Desafios do Sistema Brasileiro de CT&I 35O Plano Plurianual do MCT: 2000-2003 39Tendências internacionais em políticas para CT&I 41

Capítulo 2. Ciência, Tecnologia e Inovação: o avanço do conhecimento 43Educação para a Ciência, Tecnologia e Inovação 51Formação de recursos humanos para CT&I 55Profissionais e pesquisadores na construção do futuro 65Avanço do conhecimento 71Ciências Sociais para uma sociedade do conhecimento 77Nanociências e Nanotecnologias 79

Capítulo 3. Ciência, Tecnologia e Inovação: qualidade de vida 83Qualidade de vida no meio urbano 87Qualidade de vida no meio rural 99Alimentação e nutrição no Brasil 103Saúde 105

Capítulo 4. Ciência, Tecnologia e Inovação: desenvolvimento econômico 113C&T e Inovação tecnológica para o desenvolvimento 119A necessidade de incrementar a inovação e o esforço tecnológico das empresas 123Políticas de incentivo à P&D nas empresas 133A baixa intensidade tecnológica do comércio exterior brasileiro 139A necessidade de ampliar a participação dos setores de alta tecnologia na estrutura produtiva: tecnologias da informação e comunicação 143A necessidade de fortalecer a inovação e a difusão tecnológica nas micro e pequenas empresas e a questão regional 149Normas técnicas e metrologia para a competitividade 151Agricultura 155

SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

xxi

Page 22: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Plantas transgênicas 163Capítulo 5. Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios estratégicos 165

Parte 1: Conhecimento e gestão do patrimônio nacional 169Levantamento geográfico e estatístico do território 169Meteorologia e climatologia 170Gestão do meio ambiente 173Biodiversidade 175Recursos do mar 178Recursos hídricos 181Recursos minerais 183

Parte 2: Grandes vulnerabilidades e oportunidades 185Fármacos 185Energia 188Tecnologia da informação 191Telecomunicações 199Biotecnologia 203Tecnologia espacial 207Tecnologia aeronáutica 211Tecnologia nuclear 211

Perspectivas da Cooperação Internacional em CT&I 215

Capítulo 6. Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios institucionais 225A organização para CT&I e o marco institucional 229Políticas de CT&I: uma revisão de instrumentos 233A competitividade institucional da pesquisa: a necessidade de um novo arranjo legal 245As agências de fomento na organização dos sistemas de inovação 253

Travessia: Cooperação, diversidade e sustentabilidade 255

Anexo Metodológico 263

Siglas, Acrônimos e Similares 269

Legendas e créditos de fotos 273

xxii

Page 23: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ÍNDICE DE GRÁFICOS, ÍNDICE DE GRÁFICOS, ÍNDICE DE GRÁFICOS, ÍNDICE DE GRÁFICOS, ÍNDICE DE GRÁFICOS, TTTTTABELAS E QUABELAS E QUABELAS E QUABELAS E QUABELAS E QUADRADRADRADRADROSOSOSOSOS

Gráficos

Capítulo 1Gráfico 1 – Recursos do Governo Federal aplicados em Ciência e Tecnologia (C&T), segundo Ministérios 23Gráfico 2 – Recursos aplicados em C&T pelo MCT 24Gráfico 3 – Recursos dos Governos Estaduais aplicados em Ciência e Tecnologia 25Gráfico 4 – Pedidos de patentes depositados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial 33

Capítulo 2Gráfico 1 – Brasil: média de anos de estudo da população em idade ativa (10 ou mais anos de idade) 63Gráfico 2 – Ocupação de Profissionais de Nível Superior 67Gráfico 3 – Índice do Número de Artigos publicados em periódicos científicos internacionais 72

Capítulo 4Gráfico 1 – Evolução da Área e Produção de Grãos 116Gráfico 2 – Taxa de Inovação da Indústria de Transformação em estados selecionados 126Gráfico 3 – Balanço Tecnológico 129Gráfico 4 – Valores Globais dos PDTI/PDTA ano a ano 134Gráfico 5 – Importação e Exportação de Produtos Acabados de Informática 144Gráfico 6 – Universidades e Instituições de Ensino e Pesquisa que receberam recursos da Lei de Informática 145Gráfico 7 – Agentes Softex Centros Genesis 147

Capítulo 5Gráfico 1 – Backbone da RNP 196Gráfico 2 – Requisitos de Processamento de Alto Desempenho para Grandes Desafios em P&D 197

Cooperação InternacionalIniciativas Recentes do Brasil em Cooperação Internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação 224

Tabelas

Capítulo 1Tabela 1 – Recursos do Governo Federal aplicados em Ciência e Tecnologia (C&T), por modalidade 23Tabela 2 – Fundos Setoriais: previsão de recursos para 2001 25Tabela 3 – Participação percentual dos Dispêndios em C&T em relação à Receita Total dos estados 27Tabela 4 – Valor da renúncia fiscal pelo Governo Federal segundo as leis de incentivo à pesquisa,

desenvolvimento e capacitação tecnológica 28Tabela 5 – Esforços em C&T e dispêndios em P&D financiados pelo Setor Público 29Tabela 6 – Esforços em Ciência e Tecnologia (C&T) e dispêndios em Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D) por setores de aplicação – Dados Preliminares 30Tabela 7 – Dispêndio Nacional em P&D como percentagem do PIB 30Tabela 8 – Indicadores selecionados da Pós-Graduação 31Tabela 9 – Doutores titulados em área de Ciências e Engenharias 32Tabela 10 – Número de artigos científicos e técnicos publicados 33Tabela 11 – Patentes registradas no Escritório de patentes Norte-americano 34

xxiii

Page 24: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Capítulo 2Tabela 1 – Matrículas por Dependência Administrativa. 56Tabela 2 – Alunos matriculados em cursos de Pós-Graduação 60Tabela 3 – Papel das Bolsas no Apoio à Pós-Graduação. Bolsas de Mestrado e Doutorado

concedidas no País, por agências federais 61Tabela 4 – Número de Ocupados Formais: total e com Educação Superior em Ocupações Científicas, Técnicas e Artísticas 66Tabela 5 – Brasil: Distribuição dos Grupos de Pesquisa segundo as Regiões Geográficas 68Tabela 6 – Brasil: Distribuição dos Grupos de Pesquisa segundo a Grande Área de

Conhecimento predominante de suas atuações 69

Capítulo 3Tabela 1 – Atividades Humanas e Qualidade das Águas 93

Capítulo 4Tabela 1 – Porcentagem do Dispêndio Nacional em P&D financiado pelas Empresas. 121Tabela 2 – Taxa de Inovação das Empresas Industriais, segundo tamanho da Empresa. 125Tabela 3 – Gastos em P&D das Empresas em percentagem do PIB 127Tabela 4 – Remessas e Receitas ao Exterior por Contratos de Transferência de Tecnologia 128Tabela 5 – Estimativa das Despesas realizadas pelas Empresas do “Universo Anpei” em Atividades Inovativas 128Tabela 6 – Gastos com P&D de Subsidiárias de Empresas Norte-americanas realizados fora dos EUA 130Tabela 7 – Distribuição das Exportações segundo Intensidade Tecnológica 141Tabela 8 – Exportações e Importações de Manufaturas segundo Intensidade Tecnológica 141Tabela 9 – Participação de Cultivares da Embrapa 156Tabela 10 – Brasil – Estab., Área, Valor Bruto da Produção (VBP) e Financiamento Total (FT) 158Tabela 11 – Zoneamento Agroecológico 162

Capítulo 5Tabela 1 – População e número de Hosts em Países Selecionados 192Tabela 2 – Participação Econômica do Setor Aeroespacial 210

Quadros

IntroduçãoMarcos Importantes da Construção do Sistema Nacional de C&T 10

Capítulo 1Quadro 1 – Conceitos e Definições 16Quadro 2 – Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia – CCT 20Quadro 3 – Bolsas IEL – Sebrae – CNPq para o Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico de Micro e Pequenas Empresas 37Quadro 4 – Programa de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas - RHAE 37Quadro 5 – Programas do Plano Plurianual 2000-2003 40Quadro 6 – Recomendações da OCDE com relação a Políticas para CT&I 42

Capítulo 2Quadro 1 – Avanços na Área de Biotecnologia: o Projeto Genoma 47Quadro 2 – Química 49Quadro 3 – Uma conquista invisível na Agropecuária 50Quadro 4 – Divulgação Científica 52Quadro 5 – Matemática no Brasil: a premência de crescer 54Quadro 6 – Ensino de Engenharia 58Quadro 7 – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Pibic 62

xx

Page 25: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Quadro 8 – A Fábrica do Futuro 69Quadro 9 – Genética moderna no Brasil 73Quadro 10 – A Física brasileira: as duas últimas décadas e perspectivas 74Quadro 11 – Programa Especial de Fixação de Doutores – Profix 75Quadro 12 – Ciências Sociais para uma Sociedade do Conhecimento 78

Capítulo 3Quadro 1 – Combate à Violência e Segurança Pública 89Quadro 2 – Inovação no Sistema de Esgotamento Sanitário 94Quadro 3 – Programa de Apoio às Tecnologias Apropriadas – PTA 101Quadro 4 – O Semi-Árido nordestino e o Programa Xingó 102Quadro 5 – Instituto do Coração (Incor): Centro de Assistência, Ensino e Pesquisa de Qualidade Mundial 107Quadro 6 – Pesquisa em Medicina Clínica 110Quadro 7 – Centro para Controle de Enfermidades (CDC) de Atlanta 111Quadro 8 –Vacinas no Brasil 112

Capítulo 4Quadro 1 – A Elaboração de Indicadores de Inovação no Brasil 125Quadro 2 – Programas Tecnológicos Offshore da Petrobras 131Quadro 3 – A Indústria Química Brasileira 132Quadro 4 – Projeto Inovar 136Quadro 5 – Proposta de Política de Desenvolvimento Tecnológico do IEDI 137Quadro 6 – Progex 140Quadro 7 – Comércio Exterior segundo Intensidade Tecnológica 141Quadro 8 – Softex: A Sociedade para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro 147Quadro 9 – A Atuação do CPqD 148Quadro 10 – Sebrae 150Quadro 11 – CNI/IEL/Senai 152Quadro 12 – Capacitação Científica e Tecnológica em Metrologia 153Quadro 13 – Tecnologia para os Agricultores Familiares 160Quadro 14 – Plantio Direto 161Quadro 15 – Zoneamento Agroecológico 162

Capítulo 5Quadro 1 – Sistema Avançado de Informações para a Agricultura 170Quadro 2 – El Niño/La Niña e o Clima no Brasil 171Quadro 3 – O Valor dos Serviços Meteorológicos 172Quadro 4 – Iniciativas brasileiras em Mapeamento e Gestão da Biodiversidade 177Quadro 5 – Acesso a Biodiversidade 178Quadro 6 – Ciência e Tecnologia para a Amazônia 179Quadro 7 – A Questão das Patentes de Fármacos 187Quadro 8 – Governo Eletrônico 193Quadro 9 – O Desafio da Exclusão Digital 194Quadro 10 – O Programa Sociedade da Informação 198Quadro 11 – Comunicações Ópticas no Brasil 200Quadro 12 – Novos Paradigmas em Telecomunicações – a Agenda de P&D do Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento (CPqD), no início do século XXI 201Quadro 13 – Cartão Telefônico Indutivo 202Quadro 14 – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio 205Quadro 15 – Vitória da Biotecnologia 206Quadro 16 – O Plano Nacional de Atividades Espaciais – PNAE e seus atores principais: AEB, INPE e Deped 208Quadro 17 – Programa China-Brasil de Desenvolvimento de Satélites (CBERS) 209Quadro 18 – Aplicações de larga escala de Técnicas Nucleares no Brasil 212

xxi

Page 26: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Capítulo 6Quadro 1 – Pesquisa Inovadora em Pequenas Empresas – PIPE/Fapesp 235Quadro 2 – Encomendas Tecnológicas pelo Setor Público 237Quadro 3 – ProspeCTar 238Quadro 4 – Acordos de Pesquisa e Desenvolvimento Cooperativos (Crada) 239Quadro 5 – Centros de Pesquisa Cooperativa (CRC) 239Quadro 6 – Plataforma Tecnológica 240Quadro 7 – Rede ONSA 241Quadro 8 – Programa Institutos do Milênio 242Quadro 9 – Organizações Privadas de Pesquisa 247Quadro 10 – Lei Francesa de Incentivo à Inovação 248Quadro 11 – Projeto de Lei do Senado nº. 257 249Quadro 12 – Lei da Inovação 250

Page 27: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

INTRODUÇÃO

Page 28: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

2

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

INTRODUÇÃOO DEBATE NECESSÁRIO

Neste ano, comemora-se o cinqüen-tenário de criação do Conselho Na-cional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (nascido Conse-lho Nacional de Pesquisas, em 17de abril de 1951). Em meio século,longo caminho foi percorrido e aCiência e Tecnologia tornam-secada vez mais relevantes para a so-ciedade brasileira. Em 1951, o Bra-sil era um país predominantementerural, com população de pouco maisde cinqüenta milhões de habitantes,dos quais apenas trinta e seis porcento habitavam em cidades. Quan-do o CNPq foi criado, Ciência e Tec-nologia tinham algum significadoapenas para pequena fração dos ha-bitantes dos grandes centros brasi-leiros. Hoje, a população do paísmais do que triplicou e a relaçãopopulação rural/população urbanase inverteu; menos de um quarto dapopulação brasileira vive fora das ci-dades. O mundo e a sociedade bra-sileira sofreram transformações pro-fundas.

Page 29: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

3

Introdução

Visão de futuVisão de futuVisão de futuVisão de futuVisão de futurrrrrooooo

Em 1951, é criado o Conselho

Nacional de Pesquisas (CNPq).

Álvaro Alberto da Motta e

Silva, almirante, empresário e

pesquisador, torna-se o

primeiro presidente da

Instituição.

Ciência e Tecnologia, mais do que nunca, fazem partedo cotidiano das pessoas. DNA, genoma, telefonecelular, internet são expressões que passaram a in-tegrar o vocabulário popular. As telecomunicaçõespermitem acesso local e global a um número de bra-sileiros maior do que a população de muitos paísesdo mundo. O Brasil acabou de demonstrar sua com-petência em seqüenciamento de genoma, com re-percussão no cenário internacional e na sociedadebrasileira. O País não apenas cresceu como se trans-formou estruturalmente nos últimos cinqüenta anos.A explosão demográfica, a urbanização e a indus-trialização, que em conjunto formaram o pano defundo da história brasileira na segunda metade doséculo XX, estão presentes em quaisquer indicado-res da evolução espantosa do País neste meio sécu-lo. O ano de 1951, quando nasceu o CNPq, não estáapenas no século passado – está em um Brasil quenão mais existe.

Há dezesseis anos, era criado o Ministério da Ciênciae Tecnologia. Logo após, o Ministro Renato Archerconvocou uma conferência de Ciência e Tecnologia.Esta Conferência, que se realizou em 1985, deu-seem um momento especial da história recente doBrasil e respondeu à necessidade de redemocratiza-ção do País. Havia grande desejo da população emgeral e da comunidade científica, em especial, departicipar das decisões governamentais em todos osníveis, depois de vinte anos de um regime autoritá-rio. A conferência buscou construir novos caminhospara essa participação. O passo foi dado, mas as tur-bulências econômicas e políticas que se seguiram eas freqüentes mudanças de comando no MCT, mes-mo quanto à sua natureza jurídica, interromperampor largo tempo o debate então iniciado. Nesse meiotempo, mudou o mundo e mudou o Brasil. A acele-rada disseminação das tecnologias modernas, espe-

Page 30: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

4

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

cialmente as de base microeletrônica, encurtou cadavez mais o ciclo de vida dos produtos. Nesse cenário,a capacidade de gerar, introduzir e difundir inovaçõespassou a ser determinante para a competitividadedas empresas e das nações em um mundo cada vezmais globalizado. Torna-se, assim, necessário e ur-gente avaliar e discutir, com a sociedade, o papel eos rumos da Ciência, Tecnologia e da Inovação nocontexto do novo século que se inicia.

No momento atual da Ciência e Tecnologia no Brasil,as necessidades são bastante distintas daquelas quepresidiram as articulações de 1985. Muitas das defi-ciências ali apontadas ainda persistem, sobretudo asde natureza social e econômica. Persistem, também,dificuldades de financiamento no setor, apesar dosprogressos feitos tanto pelo setor público como pri-vado. Mantêm-se, igualmente, muitos dos obstáculosinstitucionais que no passado dificultaram o avançoda Ciência e Tecnologia, seja de natureza legal, fi-nanceira ou organizacional. Legislação, mecanismosde gestão e fomento, estrutura de incentivos, fontesde financiamento, entre outros temas, já estão naagenda atual do MCT e deverão, sem dúvida, serobjeto de reflexão da Conferência Nacional de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação, a ser realizada em setem-bro de 2001. Outros desafios de grande porte vieramsomar-se aos antigos, tais como a disseminação dosinstrumentos modernos de comunicação e informa-ção - basta lembrar que, em 1985, o computador pes-soal estava em sua infância e a Internet era um sonho;as mudanças nos modos de organização do trabalhoe o desemprego “tecnológico”; a exploração susten-tável da biodiversidade; as mudanças climáticas glo-bais; a poluição atmosférica e as contaminações in-dustriais do solo urbano; novos organismos transgê-nicos, entre tantos outros, para os quais a sociedadebrasileira precisa buscar soluções, algumas no curto

prazo, outras para assegurar maior qualidade de vidapara as gerações futuras e que dependem, cada vezmais, de Ciência, Tecnologia e Inovação.

O crescimento dos recursos humanos qualificados,que pressiona uma infra-estrutura de pesquisa cres-centemente desatualizada, gera a necessidade de ex-pansão planejada da base científica pública e privada.A abertura econômica do País impõe a necessidadede formas mais criativas e de continuidade do pro-cesso de expansão do conhecimento e de inovação.E, mais especificamente, no âmbito do MCT, a cria-ção dos fundos setoriais conflui na mesma direção.Tornou-se necessário repensar, com urgência, o mo-delo e a estratégia de desenvolvimento científico etecnológico brasileiro para as próximas décadas. Osfundos setoriais são a grande novidade e, tanto emtermos de recursos adicionais, quanto de métodosatualizados de gestão, constituem grande oportuni-dade de um salto qualitativo e quantitativo para umsistema nacional de inovação. Mais do que qualqueroutro avanço recente, a criação dos fundos setoriaisirá balizar a evolução do setor público de pesquisa edesenvolvimento e sua articulação com o setor pri-vado na próxima década. Impossível, portanto, quenão figurem com proeminência neste debate.

Page 31: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

5

Introdução

UM PROJETO DE LONGO PRAZOUM PROJETO DE LONGO PRAZOUM PROJETO DE LONGO PRAZOUM PROJETO DE LONGO PRAZOUM PROJETO DE LONGO PRAZO

Ciência e Tecnologia não se tornarão relevantes paraa sociedade brasileira como conseqüência de umevento, mas como conseqüência de um esforço con-tinuado de qualificação de recursos humanos, emtodos os níveis; da existência de leis e normas ade-quadas ao setor, que possibilitem mecanismos de ges-tão modernos, agéis e eficazes, e estimulem a inova-ção; do bom funcionamento de organizações públicasde fomento, pesquisa e desenvolvimento articuladasentre si e sensíveis às demandas da sociedade; deum número crescente de empresas inovadoras e com-petitivas, realizando um esforço consistente de pes-quisa e desenvolvimento; da criação de mecanismospermanentes de prospecção, acompanhamento e ava-liação; enfim, da implantação efetiva daquilo que seconvencionou chamar de um Sistema Nacional deInovação moderno, dinâmico e compatível com asprioridades e necessidades da sociedade brasileiracontemporânea. Fundamentalmente, o que se impõeassegurar é a continuidade e o fortalecimento do es-forço nacional no campo da Ciência e Tecnologia.

A riqueza e diversidade já atingidas pelo nosso sis-tema nacional de inovação, a certeza de que há cria-tividade e imaginação suficientes para que se bus-quem soluções compatíveis com as necessidades lo-cais e regionais, bem como com o interesse nacional,para problemas diversos e situações complexas, im-põem que se evitem propostas uniformes, isonômicase detalhistas. Deve-se reforçar a capacidade de fi-

Page 32: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

6

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

nanciamento no setor, não apenas com recursos pú-blicos, mas com um incremento significativo da con-tribuição privada. Isto demandará a formulação deum conjunto de políticas nacionais compatíveis comos objetivos desejados. É indispensável que essaspolíticas contemplem a flexibilização e descentrali-zação capazes de reduzir custos administrativos eburocráticos do sistema e permitam que todas ini-ciativas meritórias e relevantes tenham apoio e ob-tenham resultados. O Ministério da Ciência e Tec-nologia espera que a realização da Conferência e aformulação subseqüente de Diretrizes Estratégicaspara a Ciência, Tecnologia e Inovação consolidem oreinício de um processo de prospecção, avaliação edefinição dos rumos do setor no Brasil, compatívelcom suas dimensões e sua dinâmica.

Não se trata de formular um plano exaustivo e abran-gente para o atingimento dos inumeráveis objetivosde um sistema nacional de inovação; tampouco sedeseja detalhar atividades e estabelecer seus investi-mentos e cronogramas específicos. Diretrizes Estra-tégicas têm outra finalidade – definir rumos, indicarmetodologias de trabalho, orientar no sentido de buscade resultados concretos e relevantes, apontar as princi-pais vulnerabilidades do setor e as oportunidades quedelas decorrem para seu fortalecimento e expansão,focalizando em especial aquelas que por sua abran-gência e horizontalidade afetem a infra-estrutura dosistema como um todo ou que, por seu conteúdo, alte-rem de forma decisiva as perspectivas futuras da Ciên-cia e Tecnologia entre nós. Obviamente, no escopodeste documento não seria possível esgotar os temasque merecem relevo. Apesar da abrangência das con-sultas realizadas, a premência do tempo e as limitaçõeseditoriais certamente criaram lacunas que serão pre-enchidas pelas discussões que antecederão a Confe-rência Nacional e pelos debates que nela culminarão,

completando-se posteriormente este ciclo com aedição de um Livro Branco com diretrizes para aCiência, Tecnologia e Inovação.

A elaboração dessas Diretrizes Estratégicas é vistapelo MCT como um processo cuja continuidade éessencial para o fortalecimento do sistema nacionalde inovação. Novos marcos institucionais – umalegislação moderna e propícia à inovação – e novosmecanismos de fomento – fundos setoriais – somentese viabilizarão e se sustentarão no longo prazo comofrutos de uma mobilização mais ampla dos setoresinteressados e de uma participação política constantee sustentada. Ambas exigem, em uma sociedadedemocrática, pelo alto grau de risco e de incertezasque cercam todos processos de inovação, debatepermanente e conseqüente, mas, sobretudo, discus-são bem informada sobre as vulnerabilidades da nos-sa sociedade e as oportunidades que elas propiciampara o exercício humano criativo na aplicação e ge-ração do conhecimento. Passado e presente definema realidade dentro da qual se trabalha. Contudo, ofuturo não preexiste, mas é construído constante-mente, a partir das visões individuais e coletivas deuma sociedade. Há apenas meio século, a sociedadebrasileira fomenta, de forma institucionalizada, pes-quisa e desenvolvimento. Os percalços encontradosnesse caminho não foram suficientes para desviá-lafundamentalmente daquela visão imaginada pelospioneiros criadores do CNPq, almirante Álvaro Al-berto à sua frente. Podemos apenas antever o quan-to a sociedade brasileira acumulará ao longo dos pró-ximos cinqüenta anos, em conseqüência da implan-tação de um processo de elaboração, aplicação e revi-são permanente de um conjunto de Diretrizes Es-tratégicas para a Ciência, Tecnologia e Inovação bra-sileiras.

Page 33: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

7

Introdução

OS GRANDES OS GRANDES OS GRANDES OS GRANDES OS GRANDES TEMASTEMASTEMASTEMASTEMAS

O Avanço do Conhecimento

Qualidade de Vida

Desenvolvimento Econômico

Desafios Estratégicos

Desafios Institucionais

O presente documento está organizado em seis ca-pítulos. O primeiro apresenta um panorama geral dabase científica e tecnológica brasileira: sua dimensãoe distribuição, seu processo de construção e evolu-ção, assim como o padrão de gastos e investimentosrealizados na montagem do sistema. Os demais ca-pítulos correspondem aos grandes temas seleciona-dos para melhor organizar a discussão ora proposta:avanço do conhecimento, qualidade de vida, desen-volvimento econômico, desafios estratégicos emCiência, Tecnologia e Inovação e, por último, desafiosinstitucionais.

Page 34: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

8

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Avanço do Conhecimento

O primeiro tema reconhece a importância centralde recursos humanos qualificados e, igualmente, doesforço do avanço do conhecimento para a sociedademoderna. Nele, serão examinadas as questões da edu-cação para a Ciência e Tecnologia, da continuadarelevância da pesquisa científica,da resposta do País às demandasda sociedade do conhecimento, dadifusão do conhecimento, impe-rativa para a competitividade sus-tentada de uma cultura de inova-ção, e do papel renovado e expan-dido das Ciências Sociais.

Qualidade de Vida

No segundo tema, a qualidade de vida refere-se nãoapenas a esta geração, mas às gerações futuras, comouma preocupação central e crescente da sociedade.Com as desigualdades sociais e regionais do Brasil,a expressão “qualidade de vida” adquire, ademais,significado especial, distinto daquele dos países de-senvolvidos. As questões da pobreza, urbana e rural,da convivência em hábitats urbanos de baixo nível

de sociabilidade e alto ní-vel de violência, entre mui-tas outras, complementamas discussões contemporâ-neas sobre qualidade de vi-da nos países ricos. Dessemodo, a questão do impac-to do desenvolvimentocientífico e tecnológico so-bre o cidadão brasileiro eseu ambiente, sua saúde,alimentação, mesmo sobre

a vida cotidiana no trabalho e no lazer, torna-se in-separável de qualquer proposta para um sistema na-cional de inovação que possa contar com o apoiocontinuado da sociedade.

Desenvolvimento Econômico

No terceiro tema retoma-se, nocontexto brasileiro atual, a ques-tão do papel da Ciência e Tecno-logia no crescimento econômicosustentado. A incorporação da pes-quisa e desenvolvimento na pro-dução de bens e serviços inova-dores é indiscutivelmente a fontedo crescimento da produtividadedo trabalho e da riqueza per capitadas sociedades avançadas de nosso

tempo. O Brasil, como país em desenvolvimento,precisa realizar um esforço especial para vencer adistância que o separa dessas sociedades, ao mesmotempo em que o faz vencendo suas profundas de-sigualdades regionais e sociais e definindo novos mo-delos de desenvolvimento sustentável no longo pra-zo. O capítulo discute as principais condicionantesdo processo de inovação na indústria e na agricul-tura brasileira e também indica fragilidades, poten-cialidades e instrumentos que estão sendo e/ou po-dem ser utiliza-dos para difundira cultura da ino-vação em todo otecido produtivodo País.

Page 35: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

9

Introdução

Desafios Estratégicos

O quarto tema será, sem dúvida,o mais controverso, na medidaem que serão identificados algunsgrandes desafios para o setor noPaís, no horizonte de uma década.Assim como ainda restam no Bra-sil imensos espaços a conhecer erecensear em seus patrimônios naturais, como aAmazônia, o mar, o semi-árido, há também espaçosvirtuais que precisam ser construídos e explorados,como os da Sociedade da Informação. Juntem-se aisto as oportunidades de grandes setores emergentescomo a biotecnologia, ou já quase tradicionais, masainda assim relevantes para a atualidade e para ofuturo, como a exploração do espaço, a utilizaçãopacífica da energia nuclear, a busca de fontes deenergia renováveis e limpas, para se ter uma idéiapreliminar da extensão desses desafios, para os quaisa Ciência e a Tecnologia certamente têm muito acontribuir. Essas questões são importantes demaispara serem esquecidas e, ao mesmo tempo, para quese imagine que diretrizes para elas possam serformuladas à margem de uma discussão mais amplacom a sociedade.

Desafios Institucionais

Finalmente, no último grande tema, consideram-seos desafios legais, institucionais e organizacionais aserem superados para que grandes objetivos realistas– porém ambiciosos, delineados nos temas anterio-res, de avanço do conhecimento, desenvolvimentosustentável e crescimento econômico, alicerçados nautilização crescente da Ciência e Tecnologia, pelasociedade brasileira, para construção de seu bem-estar social e econômico – tornem-se realidade.

Finalmente, cabe lembrar o panode fundo dessa discussão: enquantoem outros países, sobretudo na Eu-ropa e na América do Norte, asquestões da miséria, da desigual-dade social e da própria soberanianacional parecem resolvidas, emnosso País, além dos desafios no-vos, característicos da virada de sé-

culo, devemos enfrentar, no plano da persistência edesenvolvimento de nosso esforço nacional em Ciên-cia e Tecnologia, questões – como as mencionadas –que naqueles países foram equacionadas desde oséculo XIX ou na primeira parte do século XX. Daíque haja um caráter a um tempo complexo e prementedas questões que se formulam para C&T em nossoPaís: complexo, porque devem encaminhar mais pro-blemas do que nos países desenvolvidos; premente,porque, sem enfrentar esses desafios, teremos de lidarcom problemas econômicos e sociais agravados.

Ao longo dos próximos capítulos, esses temas sãoexaminados com maior ou menor profundidade, masem qualquer caso, sem lhes fazer completa justiça.Ficam aqui, contudo, o convite e até a provocação,para um debate que enrique-ça a formulação das Diretri-zes Estratégicas para a Ciên-cia, Tecnologia e Inovação napróxima década. Este é o fo-co que se pede ao leitor man-ter ao longo da leitura destedocumento e de suas contri-buições para este esforço.

Page 36: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

10

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Século XIX• Criação dos cursos de Direito em Olinda e São Paulo

(1828) e da Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1874), primeirainstituição de ensino na área das engenharias.

• O Observatório Nacional foi criado por D. Pedro I em 15de outubro de 1827. Com a proclamação da república, em 1889, oImperial Observatório do Rio de Janeiro passou a se denominarObservatório Nacional.

• Criação da Escola Médico-Cirúrgica no Rio de Janeiro;criação do Jardim Botânico, com missão de coletar e pesquisar asespécies vegetais nativas; criação do Museu Real, posteriormentetransformado em Museu Nacional, com forte orientação para asciências naturais.

•Criação de centros de ciências naturais, saúde e higiene,entre os quais o Museu Paraense Emílio Goeldi, em 1885, o Institu-to Agronômico de Campinas, em 1887, o Museu Paulista em 1893,o Instituto Bacteriológico de São Paulo, 1893, e o Instituto Butantã,em 1899.

• Instituto Soroterápico Municipal de Manguinhos, em 1900,transformado em Instituto Oswaldo Cruz em 1907.

Século XX• Em 1916, foi fundada a Sociedade Brasileira de Sciencias

que, em 1921, passou a ser denominada Academia Brasileira deCiências.

• Em 1920, foi criada a primeira universidade a partir dafusão da Escola Politécnica, da Faculdade de Medicina e Faculdadede Direito na Universidade do Rio de Janeiro.

• Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e da Saúdee nas décadas seguintes cresceu o número de universidades fede-rais e escolas privadas.

• Em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo (USP),hoje a maior universidade brasileira, já com objetivos de “promo-ver o progresso da ciência por meio da pesquisa”.

• Após a II Guerra, foram criados o Centro Tecnológico daAeronáutica (CTA), o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o Ins-tituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com o objetivo de formarrecursos humanos altamente qualificados e desenvolver tecnologiade ponta na área militar.

• Em 1948, foi fundada a Sociedade Brasileira para o Pro-gresso da Ciência (SBPC).

• Em 1949, foi criado o Centro Brasileiro de PesquisasFísicas (CBPF), instituição privada que reuniria alguns dos maisconceituados físicos brasileiros.

• Em 1951, quase ao mesmo tempo em que se criaraminstituições similares em vários países desenvolvidos, foi criado oConselho Nacional de Pesquisas (CNPq), talvez o marco mais rele-vante da institucionalização do apoio à pesquisa científica e tecnológicano Brasil.

• Ainda em 1951, foi criada a Campanha Nacional de Aper-feiçoamento do Ensino Superior, depois transformada na Coorde-

Quadro 1:Marcos Importantes da Construção do Sistema Nacional de C&T

nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, hoje Fun-dação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior (Capes), com o propósito de apoiar a formação de recursoshumanos em todas as áreas do conhecimento.

• Em 1956, foi fundado o Instituto de Pesquisas Energéticase Nucleares (IPEN), com o objetivo de realizar pesquisas científi-cas e desenvolvimento tecnológico e formar especialistas na áreanuclear.

• Em 1960, foi criada a Fundação de Amparo à Pesquisa doestado de São Paulo (Fapesp), que começou a funcionar efetiva-mente em 1962.

• Em 1965, foi criado o Fundo de Financiamento de Estu-dos de Projetos e Programas, vinculado ao então Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico (BNDE) e que daria origem, em 1967,à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), responsável peloapoio a projetos de pesquisa e desenvolvimento realizados porempresas e institutos de pesquisa.

• Ao fim dos anos sessenta, estruturam-se projetos ambi-ciosos de novas instituições de pesquisa no Brasil, como a Coppe,no Rio de Janeiro, e a Unicamp, em São Paulo.

• A reforma universitária de 1968 lança as bases do novoregime de ensino superior no País, com êxitos efetivos na implan-tação da pós-graduação, através de ações do FNDCT (criado em1969), do CNPq e da Capes.

• No dia 22 de abril de 1971, foi criado oficialmente oInstituto de Pesquisas Espaciais (INPE), subordinado diretamenteao CNPq.

• Em 1973, foi criada a Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura edo Abastecimento, com a missão de viabilizar soluções para o de-senvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro por meio degeração, adaptação e transferência de tecnologias.

• Em 1985, foi criado o Ministério de Ciência e Tecnologia,com o mandato de coordenar as atividades de C&T no País.

• A Constituição de 1988 faculta aos estados a vinculação dereceita para C&T. Diversas fundações estaduais de amparo à pes-quisa começam a ser criadas.

• Criada a Academia Nacional de Engenharia (ANE), em 1991.• Em fevereiro de 1993, o primeiro satélite artificial nacio-

nal é colocado em órbita, através do foguete norte-americanoPegasus, o Satélite de Coleta de Dados -1 (SCD-1).

• Criada, em 1994, a Agência Espacial Brasileira (AEB),autarquia federal de natureza civil, vinculada ao Ministério da Ciên-cia e Tecnologia, é responsável pela definição de ações destinadas aconcretizar os objetivos descritos na Política Nacional de Desen-volvimento das Atividades Espaciais (PNDAE).

• Em 1996, é criado o Conselho Nacional de Ciência eTecnologia (CCT), órgão de assessoramento superior do Presiden-te da República para a formulação e implementação da políticanacional de desenvolvimento científico e tecnológico.

Fonte: Figueiredo (1999) e Schwartzman (2001)

Page 37: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A DIMENSÃO DO SISTEMA NO BRASIL

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Page 38: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

12

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Inicia-se um novo século. Este se-rá, ainda mais do que o anterior, oséculo da Ciência, da Tecnologia eda Inovação. O Brasil precisa le-var adiante a discussão sistemáti-ca, ampla e participativa dos desa-fios de construção de uma socie-dade onde o conhecimento seja opropulsor de conquistas culturais,sociais e econômicas. Sem isto, es-taria abrindo mão de instrumentosessenciais para planejar o futuro,determinar prioridades, avaliar ecorrigir o rumo do nosso desenvol-vimento científico e tecnológico.

A questão fundamental a ser formu-lada, e que orienta a construção des-te Livro Verde, é a de como inserirCiência, Tecnologia e Inovação naagenda política do País e, dessa for-ma, transformá-las em verdadeira

A DIMENSÃO DO SISTEMANO BRASILA DIMENSÃO DO SISTEMANO BRASIL

CIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOCIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃO

Page 39: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

13

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

alavanca da criação de uma sociedade rica e eqüitati-va. É preciso criar as condições para aproveitar oimenso potencial de promoção social, econômica ecultural que o desenvolvimento da Ciência e da Tec-nologia oferece, hoje e ainda mais no futuro. O de-safio é construir, de forma coordenada e participati-va, as bases efetivas de uma sociedade sintonizadacom a produção e o avanço do conhecimento.

O esforço não é simples, nem se esgota nos diag-nósticos, problemas e diretrizes discutidos neste li-vro, cujo objetivo é bem mais modesto: buscar ele-mentos de convergência que possam orientar a cons-trução e operacionalização de uma nova agenda bra-sileira para Ciência, Tecnologia e Inovação. Trata-se, portanto, de lançar um amplo debate, o qual, emúltima instância, definirá os compromissos a seremlevados adiante.

Sociedade do conhecimento, sistemas de inovação,função social do conhecimento, estes, entre outrostemas, são assuntos recorrentes neste Livro. Seja qualfor o enfoque que se privilegie, há forte convergên-cia em âmbito internacional sobre o papel-chave quehoje cumprem Ciência, Tecnologia e Inovação naconstrução das sociedades modernas.

Os países desenvolvidos e um grupo cada vez maiorde países em desenvolvimento têm colocado a pro-dução de conhecimento e a inovação tecnológica nocentro de sua política para o desenvolvimento. Fa-zem isto movidos pela visão de que o conhecimentoé o elemento central da nova estrutura econômicaque está surgindo e de que a inovação é o principalveículo da transformação do conhecimento em valor.Os investimentos feitos em Ciência, Tecnologia eInovação trazem retorno na forma de uma populaçãomais bem qualificada, de empregos mais bem remu-

“Os projetos de êxito em C&T exigem

capacitação científica estruturalmente

sólida e massa crítica de

pesquisadores qualificados. Um

esforço contínuo e cumulativo de

educação com padrões elevados de

excelência, durante décadas e

décadas. Ciência e Tecnologia são

sempre atividades sensíveis à

acumulação de conhecimentos e à

formação de grande quantidade de

pessoas capazes de gerar novos

conhecimentos.”

Carlos Henrique de Brito Cruz,Fapesp

“A Universidade enfrentará melhor a

concorrência de outros sistemas de

transmissão do saber (como a própria

Internet) apenas se conseguir integrar

Ensino e Pesquisa. O adequado

desenvolvimento da Pesquisa exige o

atendimento articulado de múltiplos

requisitos. Recursos amplos, crescentes

e assegurados em perspectivas de dez,

quinze ou mais anos. Porém, tais

programas também envelhecem... e se

impõe que, continuamente, recebam

novos pesquisadores, jovens e

talentosos.”

Glaci Therezinha Zancan,UFPR

Page 40: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

14

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

nerados, de geração de divisas e de melhor qualidadede vida.

A produção de conhecimento e sua incorporação eminovações tecnológicas são instrumentos cruciais parao desenvolvimento sustentável. Pelo lado do de-sempenho econômico, isto se deve ao fato de que asinovações são o principal determinante do aumentoda produtividade e da geração de novas oportunidadesde investimento. E uma característica central dainovação tecnológica nas economias industrializadasé a crescente incorporação de conhecimento científicocada vez mais complexo. No Brasil, a presença de pro-dutos e processos incorporando conhecimento e tec-nologia avançada em praticamente todos os setoresda economia, em geral, e na pauta de exportações,em especial, ainda é restrita, o que aponta para a neces-sidade de que Ciência, Tecnologia e Inovação assu-mam papel central na formulação das políticaseconômica e industrial.

Por outro lado, o avanço do conhecimento e a ino-vação têm enorme potencial para ajudar a sociedadea forjar respostas à altura dos grandes desafios a seremenfrentados na busca da qualidade de vida para apopulação. No caso brasileiro, a superação de doen-ças endêmicas, a universalização do ensino médio, aexploração sustentável do maior – e ainda pouco co-nhecido - patrimônio de biodiversidade do planeta ea exploração das fronteiras do espaço e do mar sãoexemplos de desafios para os quais CT&I podem darcontribuições imprescindíveis.

Entretanto, um problema comum a muitos paísesem desenvolvimento é que, se há preocupação cres-cente com os temas de Ciência, Tecnologia e Inova-ção, esses ainda não são tratados como aspectos fun-damentais das estratégias de desenvolvimento

adotadas. As conseqüências negativas desta posturasó serão sentidas no futuro.

No Brasil, a sociedade e o Estado empreenderamesforços consideráveis, nos últimos cinqüenta anos,para a construção de um sistema de Ciência eTecnologia que se destaca entre os países emdesenvolvimento. Um robusto sistema universitárioe de pós-graduação e um conjunto respeitável deinstituições de pesquisa, algumas de prestígio inter-nacional, constituem os elos fortes desse sistema.Muitos dos resultados positivos para a sociedade bra-sileira, decorrentes do esforço feito até aqui, sãocomentados ao longo deste trabalho. Graças aosinvestimentos sistemáticos na pós-graduação e napesquisa, a produção científica brasileira ampliou sig-nificativamente sua presença no cenário internacio-nal. Em determinadas áreas da pesquisa tecnológica– como a agropecuária, a saúde e a exploração depetróleo –, a acumulação de conhecimento tem tra-zido expressivo retorno social e econômico.

No entanto, o chamado sistema de Ciência e Tecno-logia brasileiro apresenta problemas e deficiênciasque dificultam sua resposta aos novos desafios quese colocam para o ingresso da sociedade brasileirana sociedade do conhecimento e aos benefícios queela pode trazer para toda a população. Alguns dessesproblemas, comentados ao longo deste volume, sãoa pequena participação do esforço privado, em es-pecial das empresas, no investimento realizado emCT&I, da qual resulta a inexpressiva posição brasileirana atividade de patenteamento, a fragmentação e apouca coordenação das atividades relacionadas àCT&I, dispersas em diferentes setores, e à (ainda)excessiva centralização das ações governamentais naesfera federal. O que aqui se busca apontar é a ne-cessidade da transição de um sistema de C&T, con-

Page 41: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

15

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

centrado nas ações do Governo Federal e de algunsestados da Federação, e em suas instituições de en-sino e pesquisa, para um sistema nacional de Ciência,Tecnologia e Inovação, com ampla participação deagentes públicos e privados, e presença forte em to-dos os setores. Esta é uma tarefa de grande porteque exige a participação das organizações públicasde pesquisa, das universidades, do governo em suasdiversas esferas, mas também das empresas e da gran-de variedade de instituições da sociedade civil atuan-tes no Brasil.

Este capítulo apresenta as principais característicasdo sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Ino-vação, com o intuito de oferecer ao leitor um pano-rama amplo de sua dimensão e alguns de seus prin-cipais problemas. Na próxima seção, procura-se situara construção do sistema de C&T no contexto dastransformações econômicas e sociais do País, nosúltimos cinqüenta anos. A seção seguinte apresentaindicadores comentados sobre os esforços públicose privados em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)e Ciência e Tecnologia (C&T) no Brasil e sobre abase e formação de recursos humanos qualificadospara a pesquisa, além de indicadores da produçãocientífica e da atividade de patenteamento. Na se-qüência, os problemas e desafios mais importantesdo sistema de C&T são comentados: a concentraçãoregional das atividades de C&T; os laços entre a pes-quisa e as empresas; a necessidade de coordenaçãointerinstitucional. As principais características doPlano Plurianual do MCT para o período 2000-2003são o tema da seção seguinte. Finalmente, a últimaseção deste capítulo apresenta algumas das princi-pais tendências recentes das políticas de CT&I nospaíses mais industrializados, como quadro de refe-rência para a discussão das questões brasileiras.

Page 42: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

16

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Ao longo desse livro, uma série de conceitos e expressões são utili-zadas, sobretudo nas seções que mencionam indicadores científicose tecnológicos. Em sua maioria, tais conceitos são sistematizados pororganismos internacionais, com vistas à sua padronização para a cons-trução de indicadores pelos diferentes países. No caso do Brasil, asestatísticas acompanham, de forma geral, as recomendações da OCDE,em especial no que tange aos conceitos de P&D, inovação e atividadesinovativas.

Porém, tal como ocorre nos países em desenvolvimento, as ativida-des de P&D não são suficientemente amplas para contemplar o con-junto de atividades científicas e tecnológicas que são desenvolvidas noPaís. Por esta razão, as estatísticas nacionais também consideramoutras atividades científicas e técnicas correlatas, acompanhando, emparte, as recomendações da Unesco. Mais especificamente, são com-putadas como atividades de C&T o que a Unesco denomina de "ser-viços científicos e tecnológicos", à exceção daqueles realizados embibliotecas, museus e serviços de editoração que não pertençam ainstituições típicas de Ciência ou Tecnologia e coleta de dados sobrefenômenos socioeconômicos.

• Atividades Científicas e Tecnológicas (C&T)Atividades científicas e tecnológicas correspondem ao esforço siste-mático, diretamente relacionado com a geração, avanço, dissemina-ção e aplicação do conhecimento científico e técnico em todos oscampos da Ciência e da Tecnologia. Incluem as atividades de pesquisae desenvolvimento (P&D) (cuja definição se encontra adiante), otreinamento e a educação técnica e científica, bem como os serviçoscientíficos e tecnológicos. Treinamento e educação técnica e científicacorrespondem a todas as atividades relativas ao treinamento e aoensino superior especializado não-universitário, ao ensino superior eao treinamento para a graduação universitária, à pós-graduação e aostreinamentos subseqüentes, além do treinamento continuado paracientistas e engenheiros. Os serviços científicos e tecnológicos com-preendem as atividades concernentes à pesquisa e ao desenvolvi-mento experimental, assim como as que contribuam para a geração,disseminação e aplicação do conhecimento científico e tecnológico.

Podem ser agrupados em nove subclasses:- atividades de C&T em bibliotecas e assemelhados;- atividades de C&T em museus e assemelhados;- tradução e edição de literatura científica;- pesquisa geológica, hidrológica e assemelhadas;- prospecção;- coleta de dados sobre fenômenos socioeconômicos;- testes, padronizações, controle de qualidade etc.;- aconselhamento de clientes, inclusive serviços públicos deconsultoria agropecuária e industrial;- atividades de patenteamento e licenciamento por instituições pú-blicas (Unesco: Recommendation Concerning the InternationalStandardisation of Statistics on Science, 1978, citado em OCDE,Manual Frascati, 1993.

• Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)Pesquisa e desenvolvimento experimental compreendem o traba-lho criativo, realizado em bases sistemáticas, com a finalidade deampliar o estoque de conhecimento, inclusive o conhecimento dohomem, da cultura e da sociedade, assim como o uso desse estoquede conhecimento na busca de novas aplicações. Compreende trêsatividades: pesquisa básica – trabalho experimental ou teórico rea-lizado primordialmente para adquirir novos conhecimentos sobreos fundamentos de fatos ou fenômenos observáveis, sem o propó-sito de qualquer aplicação ou utilização; pesquisa aplicada – investi-gação original, realizada com a finalidade de obter novos conhecimen-tos, mas dirigida, primordialmente, a um objetivo prático; desenvol-vimento experimental – trabalho sistemático, apoiado no conheci-mento existente, adquirido por pesquisas ou pela experiência prá-tica, dirigido para a produção de novos materiais, produtos ou equi-pamentos, para a instalação de novos processos, sistemas ou ser-viços, ou para melhorar substancialmente aqueles já produzidos ouinstalados (OCDE, Manual Frascati, 1993, p.29).

• InovaçãoInovação tecnológica de produto ou processo compreende a introduçãode produtos ou processos tecnologicamente novos e melhorias signifi-cativas em produtos e processos existentes. Considera-se que umainovação tecnológica de produto ou processo tenha sido implementadase tiver sido introduzida no mercado (inovação de produto) ou utilizadano processo de produção (inovação de processo). As inovaçõestecnológicas de produto ou processo envolvem uma série de atividadescientíficas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais. Afirma inovadora é aquela que introduziu produtos ou processostecnologicamente novos ou significativamente melhorados num perío-do de referência (OCDE, Manual de Oslo, 1996, p.35).

• Atividades inovativasAtividades inovativas compreendem todos os passos científicos,tecnológicos, organizacionais, financeiros e comerciais, inclusive oinvestimento em novos conhecimentos, que, efetiva ou potencial-mente, levem à introdução de produtos ou processos tecnologica-mente novos ou substancialmente melhorados. As atividades inovati-vas mais destacadas: aquisição e geração de novos conhecimentosrelevantes para a firma; preparações para a produção; marketing dosprodutos novos ou melhorados (OCDE, Manual de Oslo, 1996, p.44).

• Sistema Nacional de InovaçãoA origem do conceito remete aos trabalhos de Lundvall (1988),Freeman (1987) e Nelson (1992). Tomando como ponto de partida avisão do processo de inovação como um fenômeno complexo esistêmico, o Sistema Nacional de Inovação pode ser definido como oconjunto de instituições e organizações responsáveis pela criação eadoção de inovações em um determinado país. Nessa abordagem, aspolíticas nacionais passam a enfatizar as interações entre as institui-ções que participam do amplo processo de criação do conhecimentoe da sua difusão e aplicação (OCDE, Manual de Oslo, 1996, p. 7).

Quadro 1Conceitos e Definições

Page 43: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

17

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

AS TRANSFORMAÇÕES DO BRASIL NOÚLTIMO MEIO SÉCULO

As principais instituições de fomento do sistemanacional de C&T comemoram cinqüenta anos. Nes-sas cinco décadas, o Brasil passou por grandes trans-formações. Dois grandes ciclos de crescimento mo-vidos pela substituição das importações, um nos anoscinqüenta e outro nos setenta, foram responsáveispela base de nossa industrialização. Períodos decrescimento rápido foram entremeados por momen-tos de estagnação e crise, em geral decorrentes dadebilidade da inserção internacional. Inflação estru-turalmente alta ou fragilidade externa foram dilemasrecorrentes, mas, indiscutivelmente, o Brasil se trans-formou em uma das principais economias do mun-do e mudou a face de sua sociedade.

A partir da década de oitenta, em parte como decor-rência das mudanças da economia global, esgota-seo modelo de substituição de importações. Como eco-nomia historicamente internacionalizada, mas pou-co competitiva e pouco aberta para o exterior, o Paísteve dificuldades em se situar nesse novo contexto.Com a estabilização da moeda, um conjunto de refor-mas estruturais é posto paulatinamente em curso,buscando redefinir o papel do Estado, novos me-canismos de regulação dos mercados e um novo re-gime fiscal. A necessidade de maior inserção inter-nacional, em um mundo de grande instabilidade eem franca mudança, colocou em evidência uma novaagenda.

Page 44: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

18

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Entre as maiores transformações dos últimos vinteanos, está a consolidação da democracia. A supera-ção do autoritarismo se expressa com clareza naConstituição de 1988 e no conjunto dos processoseletivos que orientam a seleção dos dirigentes pú-blicos nos seus mais diversos níveis. Com um regimepolítico que ainda carece de aperfeiçoamento, é ine-gável o avanço no terreno dos direitos humanos, naliberdade de imprensa e no entendimento do papelcentral da democracia. A realização de mudançasimportantes na natureza do Estado, no regime eco-nômico ou na ordem social, em um quadro de cres-cente afirmação da institucionalidade democrática,revela a maturidade política do País.

A estrutura social brasileira mudou de forma drásticanesses cinqüenta anos. O país rural transformou-seem uma sociedade industrial e urbana complexa e pro-fundamente heterogênea. Uma nova classe médiasurgiu e cresceu significativamente nos últimos trintaanos, impulsionada pelo papel do Estado e da grandeindústria e, depois, estimulada pelo crescimento denovos empreendimentos privados no comércio e nosserviços. Em conjunto, esses segmentos criaram ummercado de consumo de proporções significativas,mesmo em comparação com muitos países desenvol-vidos. Trouxeram também novas demandas políticas,expectativas econômicas e de participação social que,além de serem componentes ativos da mudança napolítica social, estruturaram uma nova agenda, comtemas como a proteção do meio ambiente e a defesado consumidor.

A despeito de todas as mudanças drásticas ocorridasnesses cinqüenta anos, persistem desafios imensos.O maior deles é, sem dúvida, o da desigualdade social.A história brasileira guarda marcas muito fortes deuma trajetória de iniqüidade: a convivência, até o fim

do século XIX, com o regime escravocrata, o com-pleto descaso com a escolaridade básica, que só mui-to recentemente recebeu a prioridade necessária, e anatureza incompleta de nosso Estado de bem-estarsocial são os exemplos mais marcantes. Essas ques-tões, traduzidas nos termos dos desafios do novo sécu-lo, acrescentam mais um problema à agenda da CT&I:ser instrumento também da construção de uma socie-dade mais igualitária e justa.

A evolução do sistema nacional de C&T

Ciência e Tecnologia contribuíram para os progressosobservados ao longo da última metade do século XX,principalmente por meio da formação de recursoshumanos qualificados e, em alguns setores já mencio-nados, pelo desenvolvimento e transferência de tec-nologia. No entanto, o novo contexto socioeconô-mico e institucional vigente exige mais que compe-tência pontual e setorial em C&T. Hoje, a dinâmicaeconômica e social se baseia na aplicação ampla doconhecimento, e o desafio é construir, a partir dasbases atuais, uma sociedade com capacidade parainovar e enfrentar os problemas atuais e futuros. Nãose trata, como será discutido ao longo de todo o LivroVerde, de mera questão semântica – sociedade doaprendizado, conhecimento ou informação. A ques-tão de fundo é capacitar o país a aprender de formacontínua e a transformar, cotidianamente, conheci-mento em inovação e inovação em desenvolvimento.

Ao longo dos últimos cinqüenta anos, o Brasil cons-truiu um sistema nacional de Ciência e Tecnologiasofisticado, mas incompleto, o qual, como se veráadiante, a despeito de todas as suas debilidades, nãotem paralelo na América Latina.

As dificuldades experimentadas na década de oitenta,

Page 45: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

19

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

associadas ao estancamento dos investimentos pú-blicos no País, comprometeram muitas das conquis-tas realizadas na década anterior. Ainda assim, a de-mocratização do País teve impactos positivos parao setor. De um lado, explicitou demandas e valorizouo papel da comunidade acadêmica no processo deconstrução da sociedade democrática; de outro, nocontexto das reformas institucionais, foi criado o Mi-nistério da Ciência e Tecnologia, que passou por di-versas reestruturações até atingir a sua configuraçãoatual. A Conferência Nacional de Ciência e Tecno-logia, realizada em 1985, com o objetivo de promovergrande mobilização nacional em torno da área e iden-tificar os obstáculos e as oportunidades abertas aoPaís pela revolução técnico-científica mundial, ex-pressava, naquele momento, as enormes expectati-vas em relação ao papel que C&T deveriam assumirna reconstrução democrática.

A partir de 1990, a política de abertura econômica ede maior inserção do País no mercado internacionalmodificou as condições de funcionamento da eco-nomia brasileira. A estratégia adotada propunha ainserção competitiva da economia brasileira no mer-cado internacional e visava diminuir a presença doEstado na economia, dando início a um amplo pro-jeto de privatização das empresas públicas. Outrasmedidas associadas foram o fortalecimento das leisde proteção ao consumidor, a revisão das leis de pro-priedade intelectual e a extinção dos mecanismosde controle de contratos de transferência de tecno-logia, entre outras.

Nesse novo ambiente institucional, estruturaram-seprogramas voltados para fortalecer a competitividadedo parque industrial do País, como o Programa Brasi-leiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), o Pro-grama de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indús-

tria (PACTI) e o Programa de Apoio ao ComércioExterior (PACE). Mais do que prover recursos pú-blicos, buscou-se favorecer a inovação e o investi-mento em capacitação tecnológica por parte das em-presas, mediante a criação de incentivos fiscais paraa capacitação tecnológica.

No período recente, grande esforço está sendo feitopara alçar Ciência, Tecnologia e Inovação a um no-vo patamar, tanto em termos do porte e alcance dasatividades de pesquisa e desenvolvimento, como dasua contribuição para a agenda econômica e socialdo País. Isso requer um novo padrão de financiamentoe de gestão dos recursos destinados a CT&I, apto aresponder aos crescentes desafios que a sociedadebrasileira deverá enfrentar na próxima década. Esseé o sentido dos fundos setoriais recém-criados e dasreformas institucionais em curso no âmbito do Go-verno Federal, temas que serão aprofundados nosvários capítulos deste Livro Verde.

Page 46: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

20

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A experiência internacional de conselhos de Ciência e Tecnologiasubordinados diretamente aos mais altos escalões do governo, cujoparadigma de maior realce é o Japão, estimulou a idéia de se criar noBrasil um novo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), soba direção do presidente da República. Tal orientação fundamentou-se,sobretudo, na crescente importância da Ciência e Tecnologia para odesenvolvimento econômico, industrial e social dos países, incluindo ainfluência que exerce nas relações entre diferentes setores quecompõem o governo e nas relações internacionais. O CCT tem, entresuas missões, propor planos, metas e prioridades de governo referentesà área, efetuar avaliações relativas à execução da política nacional dosetor, e opinar sobre propostas ou programas que possam causarimpactos à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, bem comosobre instrumentos normativos para sua regulamentação.

O presidente da República preside o Conselho e o ministro daCiência e Tecnologia é o secretário. Dezesseis membros integramo CCT: oito ministros de Estado (além do ministro da Ciência eTecnologia, os ministros da Defesa; do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior; da Educação; da Fazenda; da Integração Na-

cional; do Planejamento, Orçamento e Gestão e das Relações Exte-riores) e oito representantes da comunidade científica e do setorempresarial com seus respectivos suplentes.

O CCT desenvolve estudos que auxiliam o MCT na formulação daPolítica Nacional de C&T, entre os quais:

• Situação Atual da Ciência e Tecnologia no Brasil (1997) - orientadopara conhecer o panorama atual da C&T no País e informar osconselheiros sobre o perfil da base científica e tecnológica, bemcomo seu potencial para promover "inovação".• A Formação da Sociedade da Informação no Brasil (SocInfo), 1998,projeto de amplitude nacional para articular e coordenar odesenvolvimento e a utilização de serviços avançados de computação,comunicação e informação e suas aplicações na sociedade, de formaa alavancar a pesquisa e a educação, bem como assegurar a inserçãocompetitiva da economia brasileira no mercado mundial• Atualmente, coordena estudo prospectivo, que objetiva elaborarsubsídios para a formulação de políticas de C&T, o Programa Pros-peCTar.

Quadro 2Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia - CCT

Page 47: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

21

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

1 As atividades de C&T incluem as de P&D e as Atividades Técnicas e Científicas Correlatas (ACTC). As primeiras correspondem a todo otrabalho criativo efetuado sistematicamente para ampliar a base de conhecimentos científicos e tecnológicos. As ACTC são aquelas que apóiamdiretamente as atividades de P&D. Abarcam a coleta e a disseminação de informações científicas e tecnológicas, a transferência de resultados delaboratório para a produção industrial, as ações para o controle de qualidade, a proteção da propriedade intelectual, a promoção industrial, olicenciamento e absorção de tecnologia e outros serviços assemelhados.

A DIMENSÃO DO SISTEMA DE CT&I NO BRASIL

Para orientar as discussões em torno deste Livro Ver-de, é importante ter uma visão abrangente das di-mensões do sistema de CT&I brasileiro, sobretudoatravés de um conjunto de estatísticas que permitecomparações internacionais. Tendo em vista osprincipais critérios de mensuração adotados em ou-tros países, essa seção apresenta indicadores refe-rentes aos principais insumos empregados em C&Te P&D, ou seja, o dispêndio nacional realizado nessessetores, além do esforço de formação de pesquisa-dores por meio da pós-graduação. Ademais, são co-mentados os principais resultados do sistema deCT&I, ou seja, indicadores da produção científicabrasileira e das atividades de patenteamento por ins-tituições e pessoas.

Esforços em C&T e dispêndios em P&D no Brasil

A forma de dimensionar o sistema de C&T tradicio-nalmente adotada baseia-se na proporção dos gas-tos nessas atividades em relação ao PIB. Entretanto,as estatísticas internacionais tratam de um universomais restrito, pois se limitam aos gastos com P&D,segundo as recomendações da OCDE sobre o tema1 .As estatísticas nacionais seguem as normas dessainstituição, consubstanciadas no Manual Frascati,

Page 48: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

22

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

assim como aquelas contidas no Manual Estatísticoda Unesco. Isso as torna comparáveis com as deoutros países e, ao mesmo tempo, mais adequadasàs peculiaridades nacionais, comuns aos países emdesenvolvimento, onde as atividades técnicas ecientíficas correlatas assumem um peso significativono esforço nacional em C&T.

O Brasil vem contabilizando, há mais de duas déca-das, apenas os gastos realizados pelo setor público.Isso se justifica pelo fato de que, historicamente,grande parte do esforço nacional em C&T se con-centrou nesse setor, com contribuição relativamentepequena das empresas privadas. Não por acaso, amensuração dos gastos do setor privado é ainda ho-je limitada, tendo em vista a inexistência de umapesquisa abrangente e regular sobre o tema. Aindaassim, o presente documento apresenta uma versãopreliminar desse indicador, elaborado com base nasmelhores informações disponíveis.2

Esforços do Setor Público em C&T e RecursosAplicados em P&D3

A trajetória dos gastos públicos com C&T no Brasiltem sido marcada por forte instabilidade. A décadade noventa não foge a esse padrão, pois os gastoscom C&T4 não ficaram imunes às dificuldades finan-ceiras e fiscais enfrentadas pelo Estado brasileiro.O montante de gastos em C&T do Governo Federaltambém não se manteve estável nesse período. Apóster-se elevado entre 1993 e 1996, voltou a reduzir-

se em 1997 e 1998, mantendo-se praticamente esta-bilizado em 1999, com previsão de recuperação em2001. A entrada em vigor dos fundos setoriais per-mite projetar uma trajetória ascendente para os pró-ximos anos. Espera-se que, com essa nova fonte derecursos, os gastos públicos federais em C&T atinjamum novo patamar e deixem de apresentar a instabili-dade que os caracterizou no passado (Tabela 1).

Um aspecto que merece ser lembrado é que, alémdo MCT, vários outros ministérios desenvolvem ati-vidades de C&T. Destacam-se o Ministério da Edu-cação, o Ministério da Agricultura, sobretudo pormeio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá-ria (Embrapa), e o Ministério da Saúde. A longa listade instituições e ações vinculadas a outros ministé-rios – como o do Meio Ambiente; do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio Exterior, da Defesa,com o Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) edas Comunicações – reflete a horizontalidade dasatividades de CT&I na administração pública brasi-leira e põe em relevo a complexidade da coordenaçãodas ações do sistema (Gráfico 1).

A posição central que o Ministério da Ciência e Tec-nologia (MCT) ocupa nesse sistema implica que aevolução de seus gastos é fundamental para se avaliaro comportamento passado e as perspectivas do con-junto do sistema. A análise dos recursos empregadosem C&T no período de 1991 a 2000 reafirma a gran-de flutuação dos dispêndios federais. No entanto,deve-se notar que partir de 1999 esses recursos

2 Foram utilizadas as informações produzidas pela Anpei, que possuem algumas limitações para este tipo de exercício. Diante disso, o MCT, coma colaboração da própria Anpei, desenvolveu uma metodologia para adequar suas informações a esse propósito, cujos resultados foram utilizadosno presente documento. Em simultâneo, o MCT vem patrocinando um esforço maior, empreendido pelo IBGE, na montagem de uma pesquisa deabrangência nacional sobre inovação tecnológica que deverá, a partir do próximo ano, prover o País de indicadores mais abrangentes sobre asatividades de P&D e inovativas nas empresas.3 Foram computados os recursos originários do Tesouro Federal e de outras fontes. Não estão incluídos os dispêndios com a pós-graduação, queforam objeto de tratamento específico.4 Descrição mais detalhada da metodologia adotada e de suas limitações pode ser encontrada no Anexo Metodológico.

Page 49: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

23

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

Page 50: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

24

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

mostram tendência de ampliação e que a previsãopara 2001 é de uma expansão de cerca de R$1 bilhãoem relação ao ano anterior (Gráfico 2). Boa partedessa expansão deve-se à inclusão, nessas estimati-vas, dos recursos provenientes dos fundos setoriais,fato que já vem ocorrendo desde 1999, com o Fun-do do Petróleo (CTPetro), ao qual serão adiciona-dos, no ano em curso, os demais fundos aprovadosem 2000 (Tabela 2).

Gastos dos Governos Estaduais

Os governos estaduais têm desempenhado papel decrescente importância no campo da C&T. O Gráfi-co 3 mostra, com base nas informações disponíveis,a distribuição regional dos recursos dos tesouros esta-duais destinados a C&T. Embora se deva reconhecerque em muitos casos a contabilidade estadual de gas-to em C&T ainda seja precária e que existem algu-mas lacunas importantes, as informações disponíveis

são suficientes para mostrar que, desde 1996, essesrecursos têm-se mantido estabilizados em cerca deR$1,1 bilhão. Notam-se, no entanto, substanciais di-ferenças entre os estados e fortes flutuações do nívelde gastos de cada um deles, em parte devido àsdiferentes capacidades de gasto e em parte devidoaos vários níveis de prioridade que atribuem a essetema em suas respectivas agendas.

Uma forma de se avaliar o esforço em C&T de cadaestado é relacionar os gastos realizados sob essa ru-brica (recorde-se: apenas os recursos oriundos dostesouros estaduais, sem computar os gastos com pós-graduação das universidades de cada estado) com ototal de suas receitas, embora haja limitações im-portantes nas informações ora disponíveis. Sob essaperspectiva, alguns movimentos chamam a atenção,como a manutenção dessa relação em patamaresrelativamente elevados nos estados de Pernambuco,São Paulo e Rio Grande do Sul, ao longo de todo o

Page 51: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

25

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

Page 52: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

26

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

período considerado. Mais recentemente, essa situa-ção também passou a ser observada nos estados daParaíba, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Cata-rina e Goiás. O caso de Santa Catarina merece des-taque, pois foi capaz de manter cerca de 3% de suasreceitas totais aplicadas em C&T, durante três anosconsecutivos. Essas informações demonstram comeloqüência o quanto C&T vêm ganhando espaço nasagendas governamentais de muitas unidades daFederação, nas diferentes regiões do País (Tabela 3).

Gastos com a Pós-Graduação

Outro elemento importante para se mensurar os gas-tos do setor público em C&T, não considerado atéagora, é a pós-graduação. Para essa estimativa, to-mou-se o total dos gastos das universidades federaise estaduais, exceto os referentes à manutenção doshospitais universitários e ao pagamento de pensõese aposentadorias. Com apoio na base de avaliaçãoda pós-graduação da Capes, considerou-se que, nocaso das universidades federais, 38% (a participaçãodo montante dos vencimentos dos professores dapós-graduação no total dos vencimentos dos pro-fessores) seriam equivalentes aos gastos com a pós-graduação. Em 1999, esse valor correspondia aR$1.745,3 milhão. No caso das universidades esta-duais, só se obtiveram informações de algumas da-quelas que oferecem cursos de pós-graduação5 , o queimplica uma certa subestimação nesse cálculo, aindaque as maiores universidades tenham sido contem-pladas. Além disso, não se dispunha do valor refe-rente ao total dos vencimentos dos professores, masapenas de seu número. Desse modo, para se estimara parcela dos recursos gastos por essas universidades,

computados como dispêndios com a pós-graduação,utilizou-se a proporção do número de professoresda pós-graduação no total de professores e chegou-se ao resultado de R$ 1.087,7 milhão em 1999.

Renúncia Fiscal

A renúncia fiscal é outro elemento para o cálculodos recursos aplicados em C&T pelo setor público(Tabela 4). Em princípio, esses recursos não são efe-tivamente gastos pelo Governo Federal, mas, semdúvida, são transferidos a outros agentes, de modogeral do setor privado, que irão utilizá-los. A con-cessão de incentivos fiscais, no âmbito federal, paraas atividades de pesquisa, desenvolvimento e capa-citação tecnológica assenta-se basicamente em cincodiplomas legais: as leis que concedem incentivos àimportação de equipamentos de pesquisa (8.010/90 e 8.032/90); a Lei de Informática (8.248/91, parao conjunto do País, hoje reeditada como 10.176/01,e a 8.387/91 para a Zona Franca de Manaus); a Leide Incentivos à P&D (8.661/93) (ver capítulo 5).

Esforços públicos em C&T e dispêndios públicosdestinados a P&D6

Considerando os três conjuntos mencionados acima(gastos dos governos federal e estaduais, gastos coma pós-graduação e renúncia fiscal), foi possível esti-mar o montante de recursos oriundos do setor públicoassociados aos esforços em C&T e aos dispêndios emP&D (Tabela 5). Porém, diante das dificuldades emse obterem todas as informações necessárias para seucálculo para um período mais extenso, este trabalholimita-se a publicar os resultados referentes a 1999.

5. Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Universidade Estadual Paulista (Unesp), UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Universidade Estadual do Ceará, Universidade Estadualde Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM), e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).

Page 53: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

27

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

Page 54: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

28

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Gastos das Empresas em C&T e P&D6

Uma das limitações do sistema de C&T brasileiro éa baixa contribuição do setor privado para o esforçode pesquisa e desenvolvimento no País, conseqüên-cia do modelo de desenvolvimento industrial adotadono passado e da reduzida cultura empreendedora quecaracteriza nossa economia.

Estima-se que, em 1999, o montante de gastosempresariais em P&D tenha alcançado cerca de R$3,0 bilhões. Mesmo considerando as despesas comserviços técnicos e aquisição de tecnologia, que seaproximam de forma imprecisa ao conceito de C&T,o montante apurado é de R$ 4,6 bilhões, claramenteinsuficiente, seja do ponto de vista das necessidadesdo País, seja do peso e relevância do setor privadona economia brasileira.

Esforços em C&T e dispêndio em P&D

A Tabela 6 mostra o montante de recursos correspon-dente aos esforços nacionais em C&T e os direcio-nados a P&D. Pode-se observar que, em 1999, o va-lor estimado do esforço nacional em C&T correspon-dia a 1,35% do PIB do País, que equivale a cerca deR$13 bilhões. Já a estimativa de gastos em P&D cor-respondia a aproximadamente R$8,4 bilhões, ou0,87% do PIB daquele ano.

O percentual de gastos em P&D em relação ao PIB(0,87%) coloca o Brasil em um patamar próximo depaíses como Espanha (0,90%, em 1999), Portugal(0,73%, em 1998) e Hungria (0,68%, em 1998), masainda distante da Coréia do Sul (2,52%, em 1998)(OECD: Main Science and Technology Indicators, 2000).Entre os países da América Latina, entretanto, oBrasil possui o maior valor absoluto e a maior pro-porção de gastos em P&D sobre o PIB (Tabela 7).

6. Ver Anexo Metodológico para os critérios de estimação desse indicador.

Page 55: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

29

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

Em relação ao total dos gastos nacionais em P&D,em 1999, a participação das empresas correspondea 35,7%. Não obstante esses números terem sidoestimados com grande cuidado metodológico, note-se o fato de que a informação primária hoje dispo-nível é limitada e não pode ser considerada repre-sentativa do conjunto das empresas brasileiras. Emmédia, nos países da OCDE entre 1996 e 1998, aindústria foi responsável pelo financiamento de cercade 63,1% dos gastos em P&D; em 1998, para essespaíses, o conjunto do setor privado executou quase70% do total de gastos em P&D.

Recursos Humanos para a Pesquisa

Nos últimos trinta anos, a sociedade brasileira reali-zou um grande e bem-sucedido esforço de formaçãode pessoal qualificado. Para tanto, construiu um sis-tema de pós-graduação, apoiado em uma firme polí-tica de concessão de bolsas, que não tem paralelosnos países em desenvolvimento.

Contribuição da Pós-Graduação

Em pouco mais de dez anos (Tabela 8), nota-se ex-pressiva elevação de todos os indicadores seleciona-dos. Chama atenção o fato de o número de matrícu-las no mestrado haver mais que duplicado e no dou-torado quase quadruplicado nesse período. Em 2000,cerca de 19 mil pessoas obtiveram o título de mestree mais de 5 mil o título de doutor. Dez anos antes, onúmero de mestres e doutores graduados no País nãochegava a um terço do resultado de 1999. É igual-mente notável o fato de que mais de 120 mil mestrese mais de 35 mil doutores tenham se formado nosúltimos quinze anos.

As informações do Diretório dos Grupos de Pes-quisa do CNPq – 2000, fortemente concentradas nasuniversidades e nos institutos públicos de pesquisa,indicam que existem hoje quase 49 mil pesquisado-res, dos quais 57% (27.662) são pós-graduados comdoutorado.

Page 56: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

30

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 57: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

31

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

O Brasil ocupa uma posição respeitável no que dizrespeito ao número de doutores titulados nas áreasde ciências e engenharias (Tabela 9). Sua posição,pouco acima da Espanha, Coréia do Sul e Canadá,mas ainda distante da China e da Índia, indica quehouve um grande progresso, mas que há muito o queavançar.

Esses números revelam que o Brasil dispõe hoje deuma base de recursos humanos altamente qualifica-dos, que constitui um sólido ponto de partida paralançar-se ao desafio de construir o futuro de desen-volvimento sustentável. Porém, é preciso superar asvárias limitações que persistem, muitas das quais re-veladas por esses indicadores.

Produção Científica

Apesar das insuficiências do Sistema Nacional deCT&I, mencionadas anteriormente, a produção cien-tífica brasileira não apenas tem crescido como vemganhando maior reconhecimento internacional. Asinformações produzidas pelo Institute for ScientificInformation (ISI), reconhecida instituição no campoda bibliometria, coloca o Brasil em posição de des-taque na produção de artigos nos periódicos indexa-dos em sua base. Em 1991, o Brasil ocupava o 28ºlugar na produção de artigos científicos e técnicospublicados nesses periódicos, tendo passado para a17ª posição em 2000 (Tabela 10).

Page 58: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

32

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A média de artigos originários do Brasil publicados noperíodo 1988-92 (3.166 ou 0,6% da produção mun-dial) praticamente quadruplicou quando se comparacom o período 1996-2000 (7.836 ou 1,12% da produçãomundial). Esses valores ainda são inferiores a paísescomo Espanha (18.082), China (17.792) e Índia(14.879), mas se encontram muito próximos aos deIsrael (8.554), Coréia do Sul (8.053) e Taiwan (7.892).

Observe-se que a base ISI, por mais ampla que seja,é incapaz de incluir a totalidade da produção cientí-fica brasileira, seja pelo fato de se restringir a artigos,enquanto a produção científica assume várias outrasformas, seja por privilegiar periódicos de circulaçãointernacional, enquanto, em especial para certasáreas do conhecimento, o principal veículo de suaprodução são periódicos nacionais. Isso significa que

o excelente desempenho do Brasil naquela base éapenas uma amostra do conjunto da produçãocientífica nacional.

Patentes

O número de patentes é outra medida que auxilia aavaliação da capacidade de inovação do País. Em1999, foram depositados no Instituto Nacional dePropriedade Industrial (INPI) 16.569 pedidos depatentes. Embora crescente nos últimos cinco anos(foram contabilizados 11.711 pedidos em 1995), esseindicador ainda é muito reduzido e revela um dosmaiores desafios a serem enfrentados pelo País: suabaixa capacidade de transformar os notáveis avançoscientíficos que vem conquistando em aplicaçõescomerciais ou inovações (Gráfico 4).

Page 59: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

33

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

Page 60: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

34

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Tal desafio pode ser mais bem avaliado ao se observaras informações sobre os registros de patentes originá-rias do Brasil e de alguns países selecionados no Es-critório Norte-Americano de Patentes. Apesar do cres-cimento observado durante a década de noventa, em2000, apenas 113 patentes foram registradas pelo Bra-sil. Se comparada aos casos da Argentina (63) ou doMéxico (100), a situação nacional é até favorável, mas

um confronto com a Coréia do Sul, por exemplo,mostra grande diferença na trajetória de ambos ospaíses. Em 1980, o Brasil registrou vinte e quatropatentes naquele organismo, e a Coréia do Sul apenasnove. Já em 2000, as 113 patentes brasileiras corres-pondem a uma pequena fração das 3.472 registradaspela Coréia (Tabela 11).

Page 61: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

35

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

O aparato institucional estabelecido nos últimoscinqüenta anos foi um fator determinante de impulsãodo progresso científico e tecnológico no Brasil e dascontribuições que a Ciência e a Tecnologia aportaramao desenvolvimento nacional. Apesar dos êxitosalcançados, o sistema brasileiro de CT&I ainda apre-senta insuficiências significativas, especialmente quan-do se levam em conta as necessidades da populaçãobrasileira e os desafios a serem enfrentados. O volumee a sustentabilidade dos recursos que lhe são destina-dos, a concentração regional, o grau de coordenaçãointerinstitucional e a modesta participação do setorprivado são problemas que devem ser superados paraque o País possa explorar, plenamente e de formasustentável, o seu potencial de desenvolvimento. Estassão as questões discutidas nesta seção.

Concentração regional das atividades de C&T

A concentração regional das atividades de pesquisano Brasil é, fundamentalmente, uma outra faceta dasdesigualdades regionais que caracterizam o País. Éverdade que, mesmo em países desenvolvidos e comlonga tradição de pesquisa, pode-se perceber a con-centração da pesquisa científica, em especial no quediz respeito a grupos de excelência. Porém, o que osdistingue do caso brasileiro é o fato de se ter consti-tuído naqueles países uma ampla e diversificada basede pesquisa capaz de desenvolver projetos relevan-tes e de qualidade. A inclusão dessa questão no rol

DESAFIOS DO SISTEMA BRASILEIRO DE CT&I

Page 62: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

36

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

das prioridades nacionais sobre o tema, imprimindomaior ênfase, por exemplo, às aplicações práticas doconhecimento científico acumulado, levará a umadesconcentração do setor, com o surgimento de no-vos centros no País. Ainda assim, deve-se destacar apresença, em todas as regiões, de grupos de pesqui-sadores e instituições de alto nível, que sem dúvidaformam a base para uma vigorosa ação de fortaleci-mento e ampliação horizontal da capacitação das re-giões em CT&I.

A redução das desigualdades

Uma das diretrizes estratégicas para a C&T deveriaser elevar a participação dos estados com menor ní-vel de desenvolvimento nos investimentos em C&T.A alocação de uma parcela expressiva dos novos fun-dos setoriais para essas regiões tem como objetivoreduzir as desigualdades regionais em matéria de exe-cução e difusão de C&T no País, contribuindo destaforma para diminuir as diferenças socioeconômicasque ainda hoje caracterizam o Brasil. Portanto, estaalocação deve ser acompanhada pelo comprometi-mento das comunidades locais e pela complementa-ção, ainda que parcial, dos fundos federais com re-cursos locais. As experiências histórica e internacio-nal demonstram claramente que o desenvolvimentode qualquer região só se sustenta no longo prazoquando baseado em forças endógenas, capazes deorientá-lo de acordo com as demandas e visões dacomunidade diretamente interessada.

O desenvolvimento de núcleos regionais de pesquisapassa pela ação complementar dos governos estaduaise das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) pormeio de uma forte articulação com as secretarias esta-duais de C&T na definição de prioridades e estratégiasregionais. Como indicado anteriormente, desde o início

dos anos noventa, a atividade de apoio a C&T noâmbito dos estados vem crescendo, e o surgimento des-ses atores representa um elemento importante parareorientar tais atividades, colocando-as a serviço dosinteresses e necessidades das economias regionais.

Relações entre Instituições de Ensino Superior eEmpresas

A universidade é um ator central em qualquer siste-ma de inovação, sobretudo no Brasil, por abrigar osprincipais centros de pesquisa e formação de pessoal,razão pela qual merece comentários específicos. Hámuitas questões relevantes a serem discutidas no quediz respeito às instituições de ensino superior, comoa necessidade de recuperar sua infra-estrutura de pes-quisa e de estender ainda mais a qualificação do cor-po docente, assim como de ampliar as oportunidadesde acesso a esse grau de ensino à parcela mais ex-pressiva da população brasileira (que serão objetode tratamento específico no capítulo subseqüentedesse Livro). Dentre essas questões, destaque-se apremente necessidade de maior integração entre acomunidade acadêmica e o mundo empresarial.

Uma série de iniciativas tem sido implementada paraincorporar as empresas como parceiras importantesdo sistema, em especial estreitando suas relações comas universidades e os institutos de pesquisa. A insti-tucionalização dos fundos setoriais, como se veráadiante, é um mecanismo importante para dar contadesse objetivo. Uma lei da inovação que permitissemaior mobilidade dos pesquisadores entre universi-dades e empresas seria também um passo importantenessa direção. Novos projetos cooperativos, redestemáticas e várias outras experiências já em cursopodem contribuir para criar um ambiente muito maisfavorável à inovação.

Page 63: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

37

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

Os mecanismos de financiamento e incentivos aoaperfeiçoamento e inovação tecnológica vêm-se ex-pandindo na última década. O Programa de ApoioTecnológico às Micro e Pequenas Empresas (Patme),criado por meio de parceria entre o Sebrae e a Finep,presta consultoria tecnológica para o aperfeiçoamen-to de produtos ou linhas de produção e/ou paraorientar as empresas no desenvolvimento de novastecnologias.

Todavia, a maioria das indústrias instaladas no Paísdesconhece a existência do programa de incentivospara o desenvolvimento tecnológico, como demons-tra uma pesquisa da CNI. Dos empresários consul-tados, 80% disseram ignorar a possibilidade de obterreduções de impostos para investir em pesquisa denovas tecnologias e produtos. Desde 1993, apenas105 empresas (mais da metade no estado de SãoPaulo) beneficiaram-se dos incentivos ao setor in-dustrial e agropecuário.

Não há informações precisas que permitam estimaro número total de doutores absorvido pelo setorprivado no Brasil. Ainda assim, segundo avaliaçãoda Anpei, baseada em um grupo limitado de empre-sas, é possível afirmar que este número é reduzido,denotando a modesta realização de pesquisa tecno-lógica nas empresas. Do mesmo modo, sabe-se queuma percentagem pequena dos engenheiros e pes-quisadores brasileiros trabalham em ambiente em-presarial, enquanto nos países mais desenvolvidoseste percentual é sempre maior que 50% (EUA 79%,Canadá 52%, Coréia 55%, Inglaterra 64%). O res-tante atua nas universidades e centros de pesquisa.

As incubadoras de empresas de conteúdo tecnológi-co, no Brasil como em outros países, abrem uma pers-pectiva de efetiva transferência do conhecimento doscentros de pesquisa e ensino para a sociedade. Comomecanismo adicional de incorporação de pessoal qua-lificado ao mercado de trabalho e de geração de ino-vações para o mercado, elas são importantes, mas,por si só, não resolvem os problemas de grave subin-vestimento privado em P&D.

O processo de privatização em curso propõe umasérie de desafios que certamente marcarão o sistemanacional de inovação nos próximos anos. No passado,

Instrumento que permite a estudantes de graduação orientadospor seus professores prestar serviços ao longo de seis meses, paramicro e pequenas empresas, de forma a solucionar problemasespecíficos de cunho tecnológico e contribuir para a melhoria dacompetitividade. Busca ampliar e aperfeiçoar o relacionamento entreas instituições de ensino superior e o setor produtivo brasileiro,por meio do engajamento de professores e pesquisadores nas de-mandas dessas empresas.

Quadro 3Bolsas IEL - Sebrae - CNPq para o Apoio aoDesenvolvimento Tecnológico de Micro ePequenas Empresas

Como parte do conjunto de instrumentos do CNPq de promoçãoda integração universidade-empresa, objetiva:• apoiar de forma institucional ou interinstitucional projetos para acapacitação de recursos humanos, quando vinculados:

- a linhas de pesquisa tecnológica,- ao desenvolvimento de processos produtivos e- aos serviços tecnológicos e de gestão.

• enfatizar a colaboração entre empresas, universidades e institu-tos de pesquisas;• possibilitar múltiplas estratégias de capacitação, incluindo estági-os, cursos e outros eventos não enquadrados nas competênciastradicionais da formação acadêmica;• responsabilizar a instituição proponente pela administração dacota de bolsas aprovadas e pela avaliação do desempenho dos bol-sistas;• estabelecer a avaliação dos projetos, tomando como base os obje-tivos finais pretendidos, compreendendo a análise do impacto doprograma, nas instituições participantes, em cada área prioritária, ena composição e expansão da base técnico-científica brasileira.

Quadro 4Programa de Recursos Humanos paraAtividades Estratégicas - RHAE

Page 64: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

38

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

as grandes empresas estatais tiveram papel de des-taque nos investimentos em desenvolvimento tec-nológico de interesse nacional. Apesar das salvaguar-das inscritas nos contratos de privatização, é inegávelque os critérios para esses investimentos serão aospoucos substituídos pela lógica orientada para o aten-dimento das demandas de mercado. Os investimen-tos para projetos de interesse público, de alto riscotecnológico ou de longo prazo, deverão dispor deoutros mecanismos de financiamento, como nos paí-ses desenvolvidos.

Essas mudanças tendem a reforçar e principalmentea reestruturar as ações voltadas para a difusãotecnológica. Um desafio atual é o de qualificar e capa-citar as instituições de ensino e pesquisa para aten-der às novas demandas do setor privado e disputaros recursos por ele alocados para P&D e capacitação,sem, contudo, abandonar suas missões específicasde longo prazo.

Integração Institucional

Como já se mencionou, o sistema nacional de C&Té complexo, e é mais resultado de respostas a pro-blemas e desafios surgidos ao longo do tempo, doque produto de ações claramente planejadas. Envolveum conjunto de instituições dos governos federal eestaduais, empresas públicas e privadas, atores di-versificados, como as universidades, institutos depesquisa e tecnologia, as quais operam segundo per-sonalidades e estatutos jurídicos variados. As difi-culdades de coordenação interna e de articulação des-ses diversos componentes com os demais atores dasociedade são notórias e estão presentes em qualquerpaís do mundo. No Brasil, a situação é ainda agrava-da pela reconhecida dificuldade de coordenação ins-titucional do setor público, seja em nível horizontal,

entre ministérios e agências do Governo Federal, sejaem nível vertical, entre o Governo Federal e as demaisinstâncias. É fundamental, portanto, desenvolver me-canismos de coordenação das ações de CT&I, incor-porando as agências de fomento federais e estaduaise mais atores sociais ao processo (ver capítulo 6).

A articulação entre as ações do Governo Federal edos estados constitui uma combinação poderosa parasuperar no médio prazo as desigualdades regionais.Seus efeitos tendem a ser ainda mais significativos,à medida que se sistematize um esforço concentradonessa direção. Os esforços em implementação peloMCT, em parceria com as Fundações de Amparo àPesquisa dos estados, para formar as redes regionaisde seqüenciamento do genoma, são um exemplo deprogramas mobilizadores importantes.

Por sua vez, a maior integração das atividades noâmbito do próprio Governo Federal é também rele-vante. A introdução da planificação plurianual paraas ações públicas, estabelecida pela Constituição de1988 e concretizada no Plano Plurianual (PPA), so-bretudo o concebido para o período 2000-2003, re-presentou um progresso relevante na retomada doplanejamento das ações do setor público, cujo pro-cesso deve ser aperfeiçoado pela introdução de no-vos instrumentos de definição de prioridades, coor-denação institucional e avaliação de resultados.

Page 65: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

39

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

O PLANO PLURIANUAL DO MCT: 2000-2003

O diagnóstico do PPA reconhece que o Brasil possuiuma organização institucional de CT&I diversificadae conta com uma capacidade técnico-científica im-portante, especialmente em termos de América La-tina. Reconhece, também, que essa capacidade estámuito aquém daquela disponível nos países commaior tradição no progresso científico e tecnológicoe que o sistema brasileiro de C&T é incompleto eapresenta deficiências de coordenação. As principaisbarreiras dizem respeito à ausência de mecanismosde retroalimentação do sistema, inclusive no que dizrespeito à avaliação de desempenho das instituições,à definição nem sempre precisa do papel das agênciasde fomento, de modo a dar conta da complexidadedo processo de desenvolvimento científico e tecno-lógico, e à administração não autônoma dos institu-tos de pesquisa e universidades, que dificulta a mo-dernização de suas atividades, a articulação com osetor privado, e uma melhor gestão de seus recursoshumanos, materiais e financeiros, além dos bensintangíveis.

As principais preocupações contidas no PPA 2000-2003 (Quadro 5) referem-se a:

• ampliar e aprimorar a base técnico-científica na-cional;• ampliar o volume de recursos destinados a C&T eassegurar sua sustentabilidade, por meio da criaçãodos fundos setoriais;• reduzir a concentração regional das atividades deC&T;• estimular o maior envolvimento do setor privadonas atividades de C&T.

Page 66: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

40

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Novas fontes de recursos

É inegável que o País dispõe de uma estrutura deapoio ao desenvolvimento científico e tecnológicorelativamente sólida. Apesar disto, como já se co-mentou, o volume de recursos disponíveis para CT&Ioscilou de ano para ano, comprometendo o funcio-namento do sistema como um todo, já que as suasatividades requerem planejamento e execução de lon-go prazo. É necessário, portanto, adotar padrões defomento e de financiamento que dêem maior estabi-lidade e continuidade à atividade de pesquisa, per-mitindo o lançamento de novas estratégias de de-senvolvimento de CT&I.

A criação dos fundos setoriais é um passo importantenessa direção, com a vantagem adicional de que asua aplicação leva em conta, explicitamente, a ne-cessidade de desconcentrar as atividades de C&T ede propiciar maior integração entre os atores ativosno sistema.

Em 1999, entrou em operação o Fundo do Petróleo(CTPetro). Em 2001, começaram a ser regulamen-tados e implantados em 2001: Energia Elétrica, Re-cursos Hídricos, Transportes Terrestres e Hidroviá-rios, Mineral, Espacial, Interação Universidade-Em-presa (Fundo Verde-Amarelo) e Infra-estrutura, alémdos fundos dos setores de Telecomunicações(Funttel) e Informática. Há propostas de novos fun-dos para as áreas de Agronegócio, Aeronáutica, Saúdee Biotecnologia.

As receitas que alimentam os fundos têm diversasorigens, tais como royalties, parcela da receita dasempresas beneficiárias de incentivos fiscais, com-pensação financeira, licenças e autorizações, doa-ções, empréstimos e receitas diversas. Os recursosserão administrados por comitês gestores integradospelo MCT, ministérios relacionados à atividade,agências reguladoras setoriais, iniciativa privada eacademia. A criação do Centro de Gestão e EstudosEstratégicos em Ciência, Tecnologia e Inovação de-verá orientar a formulação das políticas e prioridadesdo setor, articulando-as ao funcionamento de cadaum dos fundos setoriais7 . O conjunto dos fundos jáaprovados deverá representar uma contribuição adi-cional de mais de R$1 bilhão ao ano.

Instrumentais•Capacitação de Recursos Humanos para Pesquisa•Expansão e Consolidação do Conhecimento Científico e Tecnológico•Inovação para Competitividade

Horizontais•Desenvolvimento de Serviços Tecnológicos•Sistemas Locais de Inovação

Temáticos•Aplicações Nucleares na Área Médica•Desenvolvimento Tecnológico na Área Nuclear•Produção de Componentes e Insumos para a Indústria Nuclear e de Alta Tecnologia•Segurança Nuclear•Fomento à Pesquisa em Saúde•Ciência e Tecnologia para o Agronegócio•Promoção do Desenvolvimento Tecnológico no Setor Petrolífero•Ciência e Tecnologia para a Gestão de Ecossistemas•Biotecnologia e Recursos Genéticos•Ciência e Tecnologia para o Setor Aeronáutico•Climatologia, Meteorologia e Hidrologia•Mudanças Climáticas•Nacional de Atividades Espaciais•Sociedade da Informação•Produção de Equipamentos para a Indústria Pesada•Programa de Apoio Administrativo

Quadro 5Programas do Plano Plurianual 2000-2003

7 Ver discussão sobre o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos no Capítulo 6.

Page 67: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

41

Capítulo 1 - A Dimensão do Sistema no Brasil

TENDÊNCIAS INTERNACIONAISEM POLÍTICAS PARA CT&I

Este capítulo se encerra com a apresentação das ten-dências mais significativas das políticas de CT&I nospaíses industrializados. Esses países e alguns em de-senvolvimento, como a China e a Índia, têm amplia-do o peso e a diversidade das suas políticas paraCT&I. Isto decorre da percepção de que C&T sãocruciais para a inovação, para a competitividade, parao desenvolvimento de novas oportunidades de cres-cimento e de emprego, bem como para viabilizar res-postas aos problemas sociais e do meio ambiente.Um recente estudo da OCDE, baseado em pesquisarealizada junto aos países membros, estabelece re-comendações a partir dos principais resultados en-contrados (Quadro 6).

Além dessas linhas de convergência de políticas ado-tadas pelos países industrializados, sobretudo paraincrementar a inovação tecnológica, grande ênfasetem sido dada à pesquisa científica e tecnológica.A maior parte dos países da OCDE estão plenamen-te conscientes de que a Ciência e a Tecnologia sãofundamentais para o crescimento e para o alcancede objetivos sociais. Neste sentido, as principais mu-danças e reformas adotadas por esses países seguemas seguintes linhas:

- comprometimento renovado com o financiamentopúblico da pesquisa científica;

- grandes esforços para reformar as universidades,

“Nos cinco países mais desenvolvidos, a

participação privada nos gastos com

P&D é, em média, de 62%; no Brasil é

muito mais baixa. Aqui o setor

privado pode ampliar sua parceria

com o Estado para financiar a C&T.

Porém, não há progresso tecnológico

divorciado da ciência básica e esta

requer participação maior do Estado.

A WWWWWorld Wide World Wide World Wide World Wide World Wide Webebebebeb e a Internet

foram projetos de êxito pela presença

de cientistas pagos pelo Estado.”

Stefan Bogdan Salej,Federação das Indústrias doEstado de Minas Gerais

Page 68: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

42

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

(i) Aperfeiçoar a gestão da base de pesquisa científica e tecnológicapor meio da maior flexibilidade nas estruturas de pesquisa e doincremento da colaboração universidade-indústria.

(ii) Assegurar que o progresso tecnológico de longo prazo seja pre-servado por meio do financiamento adequado da pesquisa pública eincentivos para a colaboração entre empresas em pesquisa pré-competitiva.

(iii) Melhorar a eficiência do apoio financeiro público à P&D e elimi-nar os obstáculos ao desenvolvimento dos mecanismos de mercadopara o financiamento da inovação, por exemplo, através do capitalde risco privado.

(iv) Fortalecer os mecanismos de difusão tecnológica, por meio dapromoção de maior competição nos mercados de produtos e pormeio do aperfeiçoamento dos programas de difusão tecnológica.

(v) Adotar medidas que contribuam para reduzir os desencontrosentre a demanda por qualificações e competências e a oferta dasmesmas, bem como melhorar as condições para que as empresasadotem novas práticas organizacionais.

(vi) Facilitar a criação e o crescimento de empresas baseadas emnovas tecnologias, por meio do desenvolvimento de maior capaci-tação gerencial e inovativa, da redução de barreiras regulatórias,financeiras e de informação, além da promoção da capacidade paranovos empreendimentos.

(vii) Promover novas áreas e oportunidades de crescimento, pormeio de reforma legal e regulatória que estimule novos entrantes erespostas tecnológicas flexíveis.

(viii) Aperfeiçoar técnicas e fortalecer os mecanismos institucionaisde avaliação.

(ix) Introduzir novos mecanismos de apoio à inovação e à difusãotecnológica, particularmente por meio da maior utilização de par-cerias público/privado.

(x) Eliminar os obstáculos à cooperação tecnológica internacional,por meio de maior transparência no acesso de empresas e institui-ções estrangeiras aos programas nacionais e por meio da garantiade um quadro confiável de direitos de propriedade intelectual.

(xi) Ampliar a capacidade de coordenação econômica, por meio dereformas nos mercados financeiros, de produtos e de trabalho epor meio de reformas na educação e na formação profissional.

(xii) Incrementar a abertura para os fluxos internacionais de produ-tos, pessoas e idéias e aumentar a capacidade de absorção das eco-nomias domésticas.

Quadro 6Recomendações da OCDE com relação aPolíticas para CT&I

visando à maior autonomia e maior ênfase no seupapel de comercializar a pesquisa realizada com fi-nanciamento público;

- estabelecimento de centros de excelência, de pa-drão mundial, freqüentemente baseados na coope-ração estreita entre as instituições científicas e a co-munidade empresarial;

- maior atenção a novas áreas e setores de cresci-mento, como a biotecnologia e as tecnologias de in-formação e comunicações, e a promoção de firmasnovas;

- maior ênfase à colaboração e à formação de redes;

- medidas que aumentem a flexibilidade e a mobi-lidade de pesquisadores e cientistas;

- maior ênfase e esforços na avaliação dos resultadose impactos das políticas;

- maior atenção a questões relacionadas com CT&Inos mais altos níveis decisórios do governo;

- envolvimento crescente da sociedade na formula-ção e avaliação de políticas.

Page 69: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O AVANÇO DO CONHECIMENTO

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Page 70: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

44

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O AVANÇO DOCONHECIMENTO

Os grandes ciclos de expansão deeconomia moderna, iniciando-secom a primeira revolução industrial, tiveram como base novas fontes deenergia, como o carvão e o petróleo,e motores, como a máquina a vapore o motor de combustão interna,complementadas por novos proces-sos industriais, como o tear mecâ-nico, a siderurgia, a indústria quí-mica e a produção em série de bensde consumo. No século XIX, a ele-tricidade e, no século XX, as ondaseletromagnéticas foram empregadaspara gerar um dos maiores avançosda humanidade: comunicações rá-pidas sem transporte físico da men-sagem. O telégrafo com fio, seguidopelo sem fio, foram o sinal de partidade uma profunda transformação nosmeios de comunicação, da qual o rá-dio, a televisão e o telefone são, ho-je, os instrumentos mais difundidos.

CIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOCIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOO AVANÇO DOCONHECIMENTO

Page 71: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

45

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

No entanto, desde a segunda metade do século XX,está em curso uma revolução ainda mais radical,certamente a mais profunda de toda a história daespécie humana até o presente. Esta revolução nãofoi provocada pela descoberta de novas formas deexplorar fontes de energia ou de controlá-las; peloavanço de processos industriais; ou pela expansãodos meios de transporte, como a ferrovia, os veículosautomotores ou os aviões. Ela está sendo impulsio-nada por dois grandes avanços do conhecimento: deum lado, pela ampliação da capacidade dos sistemasde comunicação e processamento de informação,possibilitada pelos formidáveis avanços na micro-eletrônica – transistor, circuito integrado, micropro-cessador, representada pelo computador e sua inte-gração com os meios de comunicação –; de outrolado, pelos progressos da biologia molecular.

Não se trata mais de substituir a força humana porinstrumentos mecânicos, mas de substituir o cérebrohumano por sistemas eletrônicos. Não é o trabalhobraçal que se quer poupar ou amplificar, mas aquiloque mais distingue a espécie: a capacidade de adqui-rir, processar e transmitir informações, que vai sendopaulatinamente transferida para máquinas. Um com-putador já vence o maior enxadrista do mundo.É irrelevante que sua estratégia de jogo seja a daforça bruta, da capacidade de analisar em segundoscentenas de milhões de seqüências de movimentosdas peças e de selecionar a mais promissora. Ele ain-da sim supera a estratégia criativa do jogador huma-no. E isto reflete apenas o estágio inicial dessa revo-lução. Podemos apenas imaginar até onde chegarãoesses avanços nas próximas décadas e como elesmudarão os relacionamentos sociais e dos homenscom as máquinas.

“O desenvolvimento contemporâneo

implica simultaneidade de problemas

no tempo e no espaço. Neste sistema

complexo cabe identificar as

"variáveis de controle". Educação,

Ciência e Tecnologia passaram a ser

"variáveis de controle" para a

orientação estratégica da dinâmica

social futura.”

Sérgio Mascarenhas de Oliveira,Instituto de Estudos Avançados/São Carlos.

Page 72: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

46

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Não se trata, tampouco, de aperfeiçoar processos pro-dutivos milenares, como a metalurgia, mas de rede-senhar a própria vida. Os cientistas aprendem a ma-nipular os processos biológicos fundamentais. DNA,genoma, clonagem, engenharia genética, biossegu-rança são termos que se incorporam ao dia-a-dia emvelocidade alucinante.

Essa combinação – tecnologias da informação e co-municação e biologia molecular –, aliada à crescentecapacidade de manipular a matéria nos seus consti-tuentes atômicos, a nanotecnologia, irá redefinir osconceitos de máquina e as idéias de fabricação.A fábrica do futuro está começando a nascer, e temmuito pouca semelhança com as herdadas dos sécu-los XIX e XX. O panorama que se desenha dessesavanços pode nos encher de orgulho e esperança,ou de horror e ansiedade. Não importa. O fato con-creto é que o conhecimento é inesgotável. Confron-tados com a inevitável marcha em busca do conhe-cimento, nosso dever é transformá-la em instrumentoefetivo de desenvolvimento sustentável da comuni-dade nacional e da humanidade como um todo. Es-sa é a tarefa para o século que se inaugura.

A sobrevivência da humanidade está intrinsecamenteligada ao avanço do conhecimento. Sem conheci-mento e sem Ciência, Tecnologia e Inovação, não épossível sustentar os bilhões de seres humanos queconsomem os limitados recursos do globo terrestre,ou administrar e prover de serviços essenciais umasociedade urbana, na qual milhões de pessoas con-vivem em espaços cada vez mais limitados. Sem aCT&I, tampouco é possível preservar para as ge-rações futuras a herança natural que recebemos denossos ancestrais, muito menos superar os gravesdesequilíbrios e iniqüidade sociais que jogam bilhõesde seres humanos na mais humilhante fome e miséria.

Page 73: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

47

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

Costuma-se dizer que, antigamente, podia-se abrirum relógio e, com um pouco de esforço, entenderseu funcionamento. Hoje em dia, não adianta des-montar um relógio eletrônico – a contemplação desuas peças nada nós dirá sobre seu modo de opera-ção. Ainda menos aprenderemos sobre um compu-tador, desmontando-o. Ou seja, a revolução em cur-so significa que a capacidade de entender as peças

essenciais do mundo em que vivemos, de trabalharcom elas e de empregá-las produtivamente tornou-se absolutamente dependente do domínio do conhe-cimento nelas inserido. Isto se aplica não apenas acomputadores, relógios a quartzo ou automóveis mo-dernos. Uma modesta semente de soja da Embrapatraz tanto ou mais conhecimento embutido do queesses equipamentos.

Na década de oitenta, foram descobertas duas formas distintas deseqüenciar DNA: uma, pelo grupo de Maxam e Gilbert, dos EstadosUnidos, e outra, pelo grupo de Sanger, na Inglaterra. Seqüenciar oDNA significou descobrir uma infinidade de novos genes, evidenci-ar como o genoma se organiza e desvendar novas seqüências funcio-nais que não codificavam diretamente para uma proteína, mas reve-lavam mecanismos de controle de transcrição. Ambos, Gilbert eSanger, receberam o prêmio Nobel por esta descoberta. O métodode Sanger acabou prevalecendo e, no final da década de oitenta, asubstituição de nucleotídeos radiativos por fluorescentes permitiusua automatização. A capacidade de seqüenciamento de DNA é hojefantástica. Somando a rapidez e precisão do processo deseqüenciamento a um trabalho organizado e colaborativo, em for-ma de rede, tornou-se possível seqüenciar genomas inteiros, taiscomo o da levedura e o humano, em tempo relativamente curto,em relação ao que seria necessário há apenas dez anos.

Empresas, em busca de bons negócios, embarcaram em seqüencia-mentos de genomas. A de maior sucesso foi a Celera, responsávelpelo seqüenciamento do genoma da Drosophila, pelo seqüenciamentodo genoma humano (inicialmente independente e depois em cola-boração com o empreendimento publico) e pelo seqüenciamentodo genoma do camundongo.

As perspectivas abertas pelo o seqüenciamento do genoma humanopara uma biologia funcional mais aprofundada, para a descoberta daraiz genética de muitas doenças e para a descoberta de métodos dediagnósticos e de medicamentos novos constituem algo que seriainimaginável há alguns anos. Uma nova fase, a do proteoma, está sedesenvolvendo a partir do genoma, em que o estudo de proteínas,as moléculas responsáveis pelos fenômenos químicos e físicos noorganismo, passa a ser uma realidade palpável.

Até cinco ano atrás, o Brasil ocupava posição pouco privilegiada emtermos de competência na área de biologia molecular. Em 1997,um grupo de pesquisadores do estado de São Paulo, articuladospela Fapesp, organizados em rede (Rede ONSA, ver capítulo Desa-fios Institucionais) iniciou um grande programa de seqüenciamentode genoma. Foi escolhido um fitopatógeno, que tem importânciaem um segmento significativo da economia brasileira. Ter impor-

Quadro 1Avanços na Área de Biotecnologia: o Projeto Genoma

tância econômica significava associar, desde o início, os resultadosde uma pesquisa básica às necessidades da sociedade, neste caso adescoberta de elementos para combater uma doença que põe emrisco uma produção de grande importância para a exportação – alaranja. A bactéria escolhida foi a Xylella fastidiosa, responsável peladoença do amarelinho, que vem dizimando os laranjais do estado deSão Paulo. O sucesso desse programa colocou o Brasil, dentre ospaíses em desenvolvimento, como o único a fazer parte do clubeque tem tecnologia avançada em genômica.

O MCT está liderando um esforço nacional de ampliação do progra-ma de seqüenciamento de genomas de organismos importantespara problemas brasileiros. Por exemplo, programas dos genomasde protozoários (Trypanosoma cruzi e Schistosoma manzoni) estãosendo estruturados e poderão trazer conhecimentos de granderelevância para combater a doença de Chagas e a esquistossomose.Redes estão se articulando e equipamentos estão sendo adquiridos.Mais uma vez, coordenações competentes e forte interação entreos grupos da rede serão fundamentais para avanços em conheci-mentos e qualificação em uma área de importância inconteste dabiotecnologia moderna.

O processo de utilização do acervo de conhecimentos e bancos dedados gerados pelos programas de genoma estrutural, visando ao estu-do de mecanismos biológicos e ao estabelecimento das relações entreestrutura (genes) e função biológica (caracteres), dependerá da organi-zação apropriada de bancos de dados e armazenagem dos recursosgenéticos. Assim, a Embrapa está organizando, por meio do seu proje-to estratégico de Genética Genômica Funcional, parte do seu acervo derecursos genéticos segundo o conceito de Bancos de Caracteres. Naprimeira fase, esses Bancos de Caracteres serão desenvolvidosprioritariamente com foco em caracteres expressos em raízes deplantas tropicais (tolerância a alumínio, eficiência na absorção de nutri-entes, como fósforo, nitrogênio, micronutrientes etc.). Tais conjuntosde recursos genéticos serão insumos básicos para projetos de genoma(funcional e proteoma) e prospecção gênica, devendo ter grande utili-dade para estudos de mecanismos biológicos, identificação e clonagemde genes e módulos regulatórios úteis para expressão de moléculas deinteresse da bioindústria, bem como desenvolvimento de plantas, ani-mais e microorganismos com atributos superiores.

Page 74: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

48

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Mais do que nos impressionar por seus produtos e“milagres”, ou nos assustar por suas conseqüências,a revolução em curso deve nos preocupar, enquantonação, por suas implicações políticas, econômicas esociais. Os países cujas populações não alcançaremo nível educacional requerido para acompanhar e seadiantar a essa revolução estarão condenados a umatraso relativo crescente e a uma dependência políti-ca daquelas nações que dominam o conhecimentomais opressora do que qualquer outra que jamais seviu na história da humanidade. Não se trata de sub-jugação militar, visível nas forças de ocupação deuma potência estrangeira, ou econômica, perceptí-vel nas limitações externas às opções de uma políti-ca nacional. Trata-se de uma subjugação completa,invisível e inescapável.

Avanço do conhecimento implica capacitar a socie-dade para sobreviver e prosperar nessa nova era. É,assim, um magno desafio a ser enfrentado pela so-ciedade brasileira. Avanço do conhecimento deveser entendido em dois sentidos complementares. Nosentido da difusão horizontal, para toda a população,do conhecimento necessário para a vida moderna, eno sentido vertical, em profundidade, da capacidadede realizar pesquisa e desenvolvimento, e assim par-ticipar de forma ativa nas redes universais que ope-ram na fronteira do conhecimento. Tanto no sentidodo crescimento do número de brasileiros escolariza-dos, quanto no sentido de que o País tenha a capaci-dade de gerar o conhecimento e as aplicações neces-sárias para seu desenvolvimento social e econômico.Apenas operando em conjunto, os dois movimentospoderão assegurar a expansão da Ciência, Tecnologiae Inovação em ritmo e qualidade compatíveis comas exigências e desafios a serem enfrentados nas pró-ximas décadas. Os dois processos são, portanto,complementares e se reforçam mutuamente. Por

exemplo, para educar bem e para educar os educa-dores, são necessários quadros qualificados. Estaqualificação está indissociavelmente associada aboas universidades e centros de pesquisa. Para haverquadros qualificados receptivos à inovação, na quan-tidade requerida, é preciso que a educação seja es-tendida ao maior número possível de brasileiros eque os talentos com a vocação para o trabalho inte-lectual tenham a oportunidade de acesso à educação,independentemente de sua origem social. Trata-se,portanto, de colocar em movimento e reforçar estecírculo virtuoso de avanço do conhecimento, que éa base da criação de uma sociedade do aprendizadobrasileira, nacional na sua cultura, universal no seuconhecimento.

Um dos elementos fundamentais do avanço do co-nhecimento é a formação de uma comunidade ca-pacitada a buscar, no imenso reservatório de conhe-cimento e talentos disponíveis, aquelas informaçõese pessoas detentoras de conhecimentos, com capa-cidade de fazer escolhas tecnológicas e selecionar in-formações que permitam a rápida solução de proble-mas de interesse nacional. Esses interlocutores são achave para o posicionamento estratégico do Brasil nocenário competitivo internacional nos anos a vir, sejade seu setor privado, seja de seu setor público. Assim,o avanço do conhecimento no País não significa bus-car uma posição autárquica e de auto-suficiência emum mundo globalizado. Significa, ao contrário, a inser-ção do Brasil na comunidade mundial em condiçõesde igualdade e de competitividade.

As assim chamadas sociedades do aprendizado oudo conhecimento dos países avançados se destacampelo papel central que nelas ocupa o avanço do co-nhecimento. O alto investimento na pesquisa, o cres-cimento do número de professores, engenheiros, téc-

Page 75: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

49

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

Nos anos setenta, Giuseppe Cilento (USP e Unicamp) propôs aexistência de uma “Fotoquímica e Fotobiologia sem Luz”, ou seja:compostos metabolicamente importantes geram radicais livres, quepor sua vez produzem moléculas em estado excitado capazes deproduzir importantes fenômenos biológicos. Essa idéia muito origi-nal foi detalhadamente explorada pelo grupo de Cilento e, maistarde, por numerosos pesquisadores na Europa e Estados Unidos.Os seus conceitos básicos foram assimilados pela comunidade ci-entífica mundial, gerando intensa atividade de pesquisa e dandonova compreensão sobre a toxidez do oxigênio e sobre a importân-cia de dioxetanos e peróxidos. Essa atividade prosseguiu, depois damorte de Cilento, conduzida por alguns dos seus discípulos, emparticular Etelvino Bechara e Ohara Augusto. O primeiro tratoucom sucesso de problemas de bioluminescência e de mecanismosde inflamação, fazendo também uma bem-sucedida incursãotecnológica ao demonstrar mecanismos de dano biológico às tintasautomobilísticas. A segunda tem desenvolvido e explorado as des-cobertas de Cilento no estudo de várias patogêneses. O grupo for-mado por Henrique Bergamin, no Centro de Energia Nuclear naAgricultura (Piracicaba) nos anos setenta, inventou e desenvolveuuma nova tecnologia analítica, a “flow-injection analysis” (FIA), quehoje é adotada em laboratórios de muitos tipos, em todo o mundo.

Quadro 2Química

nicos, cientistas e pesquisadores, inclusive com a in-corporação de cientistas estrangeiros, a organizaçãode grandes programas científicos e tecnológicos mo-bilizadores, a existência de numerosas e importantesempresas de base tecnológica são aspectos que re-fletem a busca seletiva dessas sociedades por lideran-ça no progresso do conhecimento.

Mudanças no perfil ocupacional e educacional daforça de trabalho, crescimento e diversificação daeducação e ampliação do ensino em todos seus níveis,valorização das profissões pedagógicas, técnicas ecientíficas, definição de prioridades para o avançodo conhecimento são alguns dos aspectos centraisdas sociedades do conhecimento que necessitam serincluídos, inadiavelmente, na agenda da sociedadebrasileira.

FIA é uma tecnologia muito adequada às necessidades da pesquisaagrícola e ambiental, ao diagnóstico clínico, ao controle industrial ea quaisquer situações em que seja necessário executar grandesnúmeros de análises químicas, para gerar os dados primários ne-cessários à solução de algum problema científico ou tecnológico emsituações complexas. Esta tecnologia se ramificou em um grandenúmero de tecnologias específicas, com um impacto facilmenteverificado: o Web of Science registra hoje mais de 4300 referênciasa trabalhos sobre FIA.

Um problema chave, hoje, é o da criação de nanoestruturas funcio-nais, utilizando conceitos de supramoléculas, auto-ordenamento ecompartimentalização. Este trabalho é a resposta ao desafio de seconstruirem estruturas de dimensões muito inferiores às da atualmicroeletrônica, para com elas construir dispositivos funcionais(optoeletrônicos, microeletrônicos, biomédicos) e materiais estru-turais que explorem propriedades revolucionárias, como a super-plasticidade de nanopartículas. O sucesso no domínio desta proprie-dade poderá gerar uma nova revolução tecnológica na fabricação demateriais estruturais e objetos de uso geral, tão grande quanto foi arevolução causada pela introdução dos plásticos, no século XX.

Page 76: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

50

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O aumento da produtividade e qualidade sempre foi desafio para apesquisa agropecuária brasileira. Mas não o único. Tecnologias des-tinadas à agricultura, à pecuária e ao setor florestal brasileiro quepermitissem a exploração em bases sustentáveis, e não predatóri-as, também exigiram a atenção dos pesquisadores da Embrapa edos seus parceiros. A qualidade ambiental garantida pela pesquisana produção agropecuária e florestal ainda não pôde ser mensuradade forma efetiva. No entanto, diversos exemplos indicam que oagronegócio saiu ganhando.

Pesquisadores aderiram a uma idéia simples: o controle de umapraga (doença, inseto ou planta daninha), usando seus próprios ini-migos naturais. O uso do controle biológico, em vez de inseticidasquímicos. Opção importante em um país que despeja por ano maisde 260 mil toneladas de agroquímicos nas lavouras e onde o consu-mo de praguicidas cresceu 44% em dez anos. Tecnologias brasilei-ras nessa área estão sendo adotadas no Brasil e em outros países.

É o caso do controle da mosca-da-carambola, capaz de dizimar poma-res inteiros. O controle biológico da praga, desenvolvido pela EMBRAPA,está sendo adotado pela França. Pesquisadores da empresa já libera-ram aqui seis milhões de vespas Diachasmimorpha longicaudata paracontrole da mosca, que ataca mais de 30 tipos de frutas. Com apenasalguns milímetros de comprimento, a vespa é capaz de parasitar amosca, que no Brasil, caso chegasse à região Nordeste, por exemplo,seria capaz de comprometer a exportação de frutas e causar prejuí-zos da ordem de centenas de milhões de reais.

Quadro 3Uma conquista invisível na Agropecuária

A lagarta-da-soja pode ser controlada pelo uso do BaculovírusAnticársia, um método totalmente natural desenvolvido pela Em-brapa e tão eficiente quanto os inseticidas químicos. O baculovírusé produzido de lagartas contaminadas por vírus que, após macera-das, são diluídas em água e pulverizadas na lavoura. Desde o seulançamento, em 1983, o baculovírus já foi aplicado em mais de 10milhões de hectares, proporcionando uma economia superior aU$100 milhões em agrotóxicos, o equivalente a mais de 11 milhõesde litros de produtos químicos que deixaram de ser jogados nanatureza.

A pesquisa da bióloga Johanna Döbereiner teve importância funda-mental para a descoberta da fixação biológica de nitrogênio, hojeempregada em culturas como o feijão, a ervilha e principalmente asoja, com significativas vantagens econômicas e ambientais para aagricultura brasileira. Por implicar menores custos de produção epor estar associada ao melhoramento genético, a cultura da soja,antes restrita ao clima temperado do Sul do País, estendeu-se pararegiões tropicais, que hoje contribuem para a maior parte das 30milhões de toneladas anuais que produzimos. A fixação biológicapromove a economia de fertilizantes nitrogenados em uma área deaproximadamente 12 milhões de hectares, o que reduz significati-vamente a importação de adubos nitrogenados, altamente deman-dantes de insumos em seu processo de produção, como energia epetróleo. Estima-se que a economia com o uso dessa tecnologia,somente na cultura da soja, seja de U$1,5 bilhões.

Page 77: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

51

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

A sociedade do conhecimento exige que se estabe-leçam programas de estímulo individual ao aprendi-zado contínuo e ao desenvolvimento de uma culturacientífica e tecnológica. Nesse sentido, a educaçãopara CT&I deve dirigir-se aos estudantes da educaçãobásica, nos níveis infantil, fundamental e médio, dasescolas técnicas, aos professores e aos administra-dores escolares, bem como a todos os cidadãos quenecessitam de conhecimentos básicos e aplicados deCT&I, de modo a assegurar sua prosperidade, segu-rança, qualidade de vida e participação social.

O grande desafio está não apenas em tornar a edu-cação relevante, mas em fazer atraente o processoeducacional para mestres e alunos. No caso dos pri-meiros, a questão da formação profissional, ambientede trabalho, remuneração e perspectivas de carreirasão cruciais. Para os segundos, será preciso desen-volver métodos educacionais (textos, programas decomputador, redes etc.) capazes de competir em atra-tividade, sem perder conteúdo, com os meios de co-municação de informação e entretenimento que fa-zem parte do universo das crianças e adolescentesde hoje. Para os adultos, terão de ser desenvolvidasmetodologias apropriadas para sua realidade pessoale disponibilidade profissional, tais como o ensino adistância, o treinamento no próprio local de trabalhoou a qualificação profissional visando renda e em-prego. Terá papel determinante no processo o esta-belecimento de atrativos e estímulos ao ingresso de

EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

“As novas tecnologias ocuparão,

certamente, um lugar central nos

debates da próxima Conferência.

Será imprescindível discutir, também, a

atual formação universitária. Esta fica

comprometida, inclusive, pelo déficit

de 600 mil docentes para os ensinos

primário e secundário, cuja solução

exige um esforço análogo ao de uma

economia de guerra.”

Abílio Baeta Neves,Capes

Page 78: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

52

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

jovens talentos no mercado de trabalho em CT&I,ou seja, a formação de pesquisadores tanto para asinstituições públicas e privadas de pesquisa comopara as empresas.

A educação para a CT&I deve propiciar condiçõespara o indivíduo conhecer o mundo físico, biológico,humano e social, bem como desenvolver atitudes,hábitos e valores necessários para formar seres hu-manos solidários e criativos, capazes de pensar porsi próprios e de interagir com o mundo físico e socialde maneira responsável. Isto significa compreendera maneira científica de produzir conhecimento e asprincipais atividades humanas que têm moldado omeio ambiente e a vida humana, tais como agricul-tura, manufatura, materiais, fontes e uso de energia,comunicação, processamento da informação e tec-nologia da saúde etc., bem como a responsabilidadeético-político-social dos que fazem Ciência, Tecno-logia e Inovação.

No Brasil, têm sido feitos esforços nesse sentido que,no entanto, precisam ampliar sua magnitude e esco-po. Cabe notar a experiência do Programa de Edu-

cação para a Ciência (SPEC), subprograma do Pro-grama de Apoio ao Desenvolvimento Científico eTecnológico (PADCT), e o Programa Pró-Ciências,da Capes. O SPEC apoiou cerca de 300 projetos,envolvendo mais de 45 mil professores de todos osníveis, em 55 cidades de 22 estados. Mesmo assim,a qualidade do ensino em geral continua sendo umgrande desafio, particularmente no que diz respeitoà importância que deve ser dada pelos currículos deciências às relações entre Ciência, Tecnologia e socie-dade, ao estímulo para a produção de pesquisa naárea de ciência e matemática e, também à articulaçãodas secretarias estaduais e municipais de Educação.

No CNPq, encontra-se em estruturação um progra-ma de educação para a Ciência e Tecnologia. Talprograma deverá dirigir-se à educação para a ciênciae tecnologia, entendida como o desenvolvimento deconhecimentos, atitudes e habilidades mentais quepreparem o indivíduo para a carreira técnico-cientí-fica e para a sua inserção crítica no mundo. Algunsde seus objetivos: participar ativamente do proces-so de alfabetização científica e tecnológica de todapopulação; fortalecer a alfabetização científica e tec-

A compreensão pública do que é ciência constitui elemento funda-mental na construção da cultura científica. Ela é complementar àeducação para a ciência, na medida em que atua na informação aopúblico sobre os grandes temas da CT&I e suas implicações para aqualidade de vida.

Como os temas da divulgação científica e da educação para a ciênciatêm recebido atenção cada vez maior dos programas oficiais e daspolíticas públicas de CT&I, em vários países desenvolvidos, a ten-dência é que se multipliquem as formas de seu tratamento. NoBrasil, embora a história da divulgação científica e do ensino para aciência tenha começado mais tardiamente, já se pode reconheceruma institucionalização importante, em uma atividade cuja tendên-cia é organizar-se cada vez mais. Neste momento, a divulgaçãocientífica vem encontrando apoio nas políticas públicas de CT&I e

Quadro 4Divulgação Científica

nas atitudes positivas da comunidade de cientistas e de jornalistas.Para consolidar essa atividade entre nós, algumas medidas sãosugeridas, de modo a se constituírem em marcos de procedimen-tos programáticos para o setor:

- criar um programa nacional de divulgação da ciência e da tecnologiacom o apoio das agências de fomento e dos fundos setoriais.- incluir ao menos uma disciplina de jornalismo científico nas gradu-ações de jornalismo.- estimular a criação de cursos de pós-graduação em jornalismocientífico, com caráter eminentemente multidisciplinar e multi-institucional, abertos a jornalistas e a cientistas.- estimular as experiências de publicações em jornalismo científi-co, inclusive as eletrônicas.

Page 79: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

53

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

nológica no sistema escolar, contribuindo assim pa-ra a melhoria no sistema educacional brasileiro; ade-quar e qualificar mão-de-obra e perfil dos profissio-nais das carreiras técnico-científicas, com vistas aelevar a produtividade interna; aprimorar formaçãoe a capacitação dos profissionais de educação; pro-porcionar o avanço do conhecimento em educação.

Museus de Ciência

A educação científica e tecnológica deve ir além dosbancos escolares. Centros e museus de ciência per-mitem estender as oportunidades de educação, difu-são e informação sobre Ciência e Tecnologia nãoapenas à população em idade escolar, mas a toda apopulação, como uma opção de lazer. O Brasil aindatem muito poucos museus de ciência. Alguns exem-plos: em Belém do Pará, o centenário Museu Pa-raense Emílio Goeldi e, no Rio de Janeiro, o Museude Astronomia e Ciências Afins, ambos do MCT;em São Paulo, a Estação Ciência, criada pelo CNPqe hoje sob a responsabilidade da Universidade deSão Paulo; em Porto Alegre, o Museu de Ciência eda Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica.Como parte da estratégia de avanço do conhecimen-to, é preciso, nos próximos anos, expandir substan-cialmente a rede desses centros de divulgação cien-tífica e integrá-la, de forma efetiva, ao processo deaprendizagem e alfabetização tecnológica das crian-ças e jovens brasileiros, e ao de educação tecnológicados adultos.

Page 80: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

54

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Quadro 5Matemática no Brasil: a premência de crescer

A matemática brasileira, sobretudo em suas linhas de pesquisafundamentais, experimentou grande avanço nas últimas três déca-das, a partir do trabalho pioneiro de poucos, mas excelentes, cien-tistas. Criaram-se ambientes de efervescência científica de padrãocrescentemente elevado, ao mesmo tempo em que crescia a parti-cipação de jovens e de matemáticos experientes. Ela hoje desfrutauma nítida posição de destaque dentre os países em desenvolvi-mento, passando o País a fazer parte do grupo III na classificação daUnião Internacional de Matemática ao lado da Australia, Bélgica,China, Hungria, Índia, Holanda, Polônia e Espanha. Isto é motivo deorgulho, mas sobretudo é estímulo para uma conquista ainda maisampla e complexa: promover um avanço de nossa matemática emtermos mais abrangentes, mas tão importantes quanto nossosanseios iniciais de desenvolver, aqui mesmo, pesquisas e formaçãode novos pesquisadores de primeira qualidade.

Os desafios que se apresentam são os da integração com outrasáreas da ciência, do estímulo às aplicações ao setor produtivo e daquestão fundamental da qualidade do ensino em todos os níveis.A premência de crescer torna-se, assim, indiscutível e, até mesmo,avassaladora.

A história do desenvolvimento da comunidade matemática no Brasilé relativamente recente. Nas primeiras décadas do século XX, comexceção de nomes isolados, a matemática brasileira estava inteira-mente dissociada do panorama internacional. Algumas datas impor-tantes: a criação da Faculdade de Filosofia da USP em 1934, a doCNPq em 1951 e a do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA)em 1952. Apenas em meados da década de 60, artigos de matemáti-cos brasileiros começavam a aparecer com alguma freqüência emboas revistas internacionais, embora grande parte dessas pesquisasfosse ainda realizada no exterior. O desafio fundamental de produzirnovos resultados matemáticos no Brasil teve início com os primeirosprogramas de pós-graduação nos anos 60.

Apesar desse inegável sucesso, a possibilidade de uma expansão pla-nejada da pós-graduação em matemática tem sido dificultada pelaausência de uma ampla compreensão de sua importância. Crescetambém a preocupação com o ensino de matemática em todos osníveis, reconhecendo-se o papel que ela tem na formação de recur-sos humanos qualificados em todos os segmentos da sociedade. Épreocupante a escassez de pessoal qualificado para atender não ape-nas à demanda do ensino tradicional, nos seus vários níveis, mastambém àquela gerada pela evolução científica e tecnológica do país.Constata-se, hoje, que o número de profissionais pós-graduados exis-tente está longe de atender à demanda do ensino, da pesquisa, dosetor produtivo e do próprio governo.

A produção de mestres e doutores vem crescendo ao longo dosúltimos trinta anos. Passamos da situação em que os pós-graduadoseram formados no exterior para a de hoje em que todos os mestrese a maioria dos doutores são formados no País. No entanto, estecrescimento ainda é insuficiente e está em descompasso com oavanço das necessidades acadêmico-científicas e com a própria di-nâmica educacional.

Por exemplo, um exame dos dados referentes à matemática no anode 1999 revela que foram formados apenas cerca de 200 mestres,assim mesmo se considerarmos áreas do conhecimento agregadas amatemática. Como existem 369 cursos de graduação em matemáti-ca, isto significa que foram disponibilizados, naquele ano, cerca de 0,5novos mestres por curso de graduação, o que é altamente insuficien-te em face da demanda atual. Este número é ainda muito mais preo-cupante quando observamos que, no mesmo ano, existiam no País2004 cursos de graduação que exigem formação matemática (1360em áreas de ciências exatas e da terra e 644 em engenharia etecnologia).

A realidade revelada pelo Exame Nacional de Cursos (ENC-2000) epelo Sistema de Avaliação do Ensino Brasileiro – SAEB apresentauma situação extremamente preocupante no que concerne à forma-ção matemática do cidadão brasileiro. No ENC-2000, realizado comgraduandos de matemática, 88,2% dos participantes obtiveram, emuma escala de 0 a 10, conceito menor do que 2,24. Além disso, asmelhores médias institucionais não ultrapassaram 6,1 na mesmaescala. Isto é um indicador forte de que a formação oferecida nos 369cursos de graduação em matemática está longe do ideal. Já os dadosresultantes dos exames realizados pelo SAEB, nos anos 85, 97 e 99,revelam que os alunos da terceira série da escola média obtiveramnotas na faixa 225 a 275 em uma escala de 0 a 500. Aqui o indicadorfundamenta a hipótese de um ensino fundamental com grandes defi-ciências em matemática. Para mudar esse quadro, é necessária umamobilização imediata da comunidade matemática na discussão dediretrizes para o ensino da matemática e na implementação de novosprogramas de aperfeiçoamento dos atuais professores e ampliaçãodos já existentes, tais como o Pró-Ciências. Se quisermos melhoraro nível do ensino de matemática nos primeiro e segundo graus, deve-remos agir sobre toda a cadeia, que inclui as licenciaturas e bachare-lados, os mestrados e os doutorados.

Por outro lado, a ampliação do número de profissionais de matemá-tica envolvidos com aplicações desta ciência ao setor produtivo e aoutras ciências demanda uma formação atualizada, diferenciada emais abrangente, bem como o incentivo a parcerias multidisciplinaresem pesquisa e na solução de problemas originados na realidadesocioeconômica do País.

A comunidade matemática brasileira analisou o quadro geral destaárea no país e conscientizou-se da necessidade absoluta de umcrescimento acelerado da mesma e dispõe-se a dar sua vigorosacontribuição para alcançar tal fim, aceitando a responsabilidade depropor soluções que possam ser a base para a definição de políticase estratégias para solucioná-la e, posteriormente, contribuir para aimplementação das mesmas.

O objetivo final é uma ação coordenada da comunidade dos mate-máticos e das agências de fomento, para obter-se um salto significa-tivo da matemática no País, tanto do ponto de vista da competênciaquanto do porte de sua comunidade e a conseqüente superação dasdeficiências aqui apontadas.

Page 81: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

55

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

A formação e capacitação de recursos humanos éfator crítico para o desenvolvimento. As nações queinvestiram de forma sistemática no fortalecimentoe ampliação de capital humano atingiram patamarescientíficos e tecnológicos diferenciados que lhes per-mitiram tanto ampliar a base econômica quanto apri-morar indicadores de qualidade de vida.

Expansão do Ensino no Brasil

Os esforços brasileiros neste campo, nos últimos cin-qüenta anos, têm sido notáveis. No período mais re-cente, ao lado da expansão quantitativa e da amplia-ção da cobertura geográfica, a política educacionalvem dando particular atenção para a superação de de-ficiências estruturais do sistema que comprometem aqualidade da educação. Temas como orientação aca-dêmica e pedagógica do ensino, capacitação de novosprofessores e atualização contínua do quadro funcio-nal, capacidade de atender à crescente demanda poreducação de qualidade em todos os níveis, avaliaçãode resultados, gestão operacional e pedagógica já estãosendo enfrentados, mas, ainda assim, por quaisquercritérios que se adotem, devem integrar a agenda paraos próximos dez anos na área de educação.

Melhoria da Qualidade do Ensino

O aprimoramento e expansão quantitativa da redede ensino fundamental no País já está ampliando

FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA CT&I

“O foco não pode ser nem a

Tecnologia nem a Ciência. O foco

deve ser a educação, o cidadão, a

espécie humana, nos seus mais

variados aspectos e vistos como

partes essenciais de um processo de

desenvolvimento mais amplo, do qual

a educação tecnológica é apenas uma

faceta.”

Francisco Cesar Sá Barreto,UFMG

Page 82: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

56

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

fortemente a demanda no ensino médio e até mesmono nível superior, que terá grandes desafios ao longoda próxima década, como conseqüência da expansãodos demais níveis. De um lado, é necessário assegurara contínua melhoria do padrão qualitativo do ensino,que, apesar do evidente progresso observado nos últi-mos anos, ainda está certamente aquém dos níveisdesejados; de outro lado, é preciso capacitar o siste-ma de ensino médio e superior para absorver o au-mento da demanda e responder às exigências educa-cionais da sociedade do conhecimento.

O Ensino Superior de Graduação

Existe enorme demanda não atendida de ensino supe-rior no Brasil. Durante quase quinze anos, o númerode inscritos no vestibular cresceu mais rapidamente queo número de vagas, e apenas no último quinqüênio ohiato entre o número de candidatos e matriculados foiestabilizado. Em 1981, o número de candidatos ins-critos para os vestibulares foi de cerca de 1,7 milhão,correspondendo a 125% do total de matriculados; em1994, o número de candidatos foi de 2.2 milhões, 41%a mais do que o número de matriculados (1,7 milhão).Em 1999, o total de inscritos no vestibular alcançou3.3 milhões, e a relação número de candidatos/númerode matriculados não se alterou.

O fato é que, depois de quase uma década de estag-nação, o número de matrículas no ensino superiorvoltou a crescer de forma acentuada no último quin-qüênio. Verifica-se que, em 1981, o total de matri-culados em instituições públicas e privadas de ensinosuperior era de 1,4 milhão de estudantes. Em 1994,este número era de 1,7 milhão (dos quais 41,6% eminstituições públicas), tendo saltado para 2,4 milhõesem 1999 (35% do total). Observa-se, portanto, umcrescimento vigoroso do sistema privado (58,1% en-tre 1994 e 1999), embora o sistema público tambémtenha crescido 20,5% no mesmo período. Neste pe-ríodo, destacou-se a elevação da oferta de vagas peloensino privado (70,3%), bem superior ao crescimentoda oferta nas universidades públicas (23,2%), o quelevou a participação do primeiro a 75,6% do totaldas vagas oferecidas em 1999 (Tabela 1).

Expansão do Ensino Privado

A expansão do sistema privado vem permitindo nãoapenas a absorção de parte do crescimento da de-manda, mas também a maior capilaridade da redede escolas superiores, alcançando inclusive cidadesde pequeno e médio porte do interior do País. Aomesmo tempo, impõe aos gestores do sistema o enor-me desafio de assegurar a prestação de serviços de

Page 83: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

57

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

qualidade compatível com as exigências da sociedadecontemporânea e com a própria realidade econômicadas famílias brasileiras. Impõe, ainda, o desafio deintegrar o sistema privado com as atividades de pes-quisa e de formação de recursos humanos de altonível, para atender à crescente demanda do própriomercado de trabalho por esse tipo de profissionais.

Apesar desse aumento, o total de matrículas, quan-do comparado à população brasileira na faixa etáriade 18 a 24 anos, ainda representava uma proporçãobaixa, no final da década passada (10% no ano de1998).

O estudo “Resultados e Tendências da EducaçãoSuperior no Brasil” (INEP, 2000) confirma a acele-ração do ritmo de matrículas na graduação, tal comomencionado acima, a melhoria global dos indicadoresde eficiência e produtividade do sistema – eviden-ciada pelo aumento do número de concluintes, me-lhoria da relação entre o número de concluintes e onúmero de ingressantes, aumento do número de alu-nos por professor e de aluno por funcionário –, amelhoria da qualificação docente e a expansão e con-solidação dos programas de pós-graduação nas insti-tuições de ensino superior públicas.

Avaliação do Ensino Superior

Está sendo implantado no Brasil um sistema de ava-liação geral das instituições de ensino superior, nosmoldes da que já pratica a Capes há mais tempo paraos programas de pós-graduação. Os resultados aindanão permitem o diagnóstico qualitativo completo detodos os cursos, mas são suficientes para sustentar avisão de que o sistema ainda é desequilibrado e deque, ao lado de instituições de nível acadêmico ele-vado – principalmente as públicas –, convive um con-

junto que ainda precisa melhorar, de forma substan-cial, para atingir os padrões de qualidade que o MECvem fixando como parte do esforço de melhoria ge-neralizada do ensino no Brasil.

Neste contexto, somente uma parcela dos cidadãostem acesso à educação sistemática e de qualidade.A dificuldade com o modelo atual não está somentena existência de instituições de perfis diferenciadospara atender à enorme e diversificada demanda.Reflete ainda, tanto problemas estruturais, que vêmse acumulando há décadas, como impasses típicosdos períodos de transformação acelerada e rupturade paradigma, entre os quais a incerteza em relaçãoà estratégia a ser seguida, à redefinição de funções eprioridades, resistência às mudanças, multiplicidadede interesses não necessariamente convergentes eassim por diante. Não se pode imaginar que os pro-blemas possam ser superados por reformas educa-cionais, nos moldes da implementada pelo governomilitar na década de 60. As instituições de ensinoestão em processo de transformação, e o desafio dapróxima década consiste, por meio do contínuo diá-logo e debate envolvendo governo, instituições deensino e sociedade em geral, levar adiante um amploprograma de ampliação quantitativa e qualitativa dosistema de ensino superior. Para isto será necessário,entre outras ações, superar a carência de projetosacadêmicos e pedagógicos para desenvolver meto-dologias e técnicas adequadas para resolver as gran-des questões relacionadas com o atendimento quan-titativo da demanda e com a qualidade da educação.

Plano Nacional de Educação

O Plano Nacional de Educação representa um pas-so neste sentido. Considerando-se que a populaçãobrasileira na faixa etária entre 18 e 24 anos é superior

Page 84: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

58

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O período pós II Guerra Mundial pode ser considerado um marcode pujança da engenharia e seu importante papel de transformar oconhecimento em inovação. Essa “engenharia do conhecimento”,ocorrida de forma tão acelerada no último século, trouxe profundasmodificações na visão do homem de si mesmo e na sua forma deviver e, conseqüentemente, no modo de produção.

Os resultados brasileiros em termos de inovação ou invenção sãoextremamente preocupantes, quando comparados aos de paísesdesenvolvidos. Por exemplo, enquanto em todo o período de 1988a 1996 houve a solicitação de 112.436 patentes no Brasil (a maiorparte originária do Exterior), registraram-se 206.276 pedidos nosEstados Unidos, apenas no ano de 1996.

Esse quadro mostra a necessidade de mudança na formação doengenheiro. Hoje, a competitividade instalada na indústria e as exi-gências com o comprometimento ambiental e social requerem umperfil de engenheiro com capacidade para identificar as oportunida-des para a inovação e que tenha, ainda, uma boa capacidade gerenciale de inter-relação pessoal. Em resumo, requer-se hoje do enge-nheiro uma formação mais abrangente e, ao mesmo tempo, demaior conteúdo científico, condições que não têm sido contempla-das na maioria dos currículos brasileiros.

O Brasil forma cerca de 15 mil engenheiros por ano. Entretanto, amaior parte daqueles que permanecem na profissão têm geralmenteuma formação que pouco os estimula à busca da inovação. Comparadoaos países desenvolvidos, o Brasil apresenta um número de 6 enge-nheiros por mil trabalhadores da população economicamente ativa,contra 15 por mil na França e 25 por mil no Japão e Estados Unidos.Apenas 10% do alunado de graduação das universidades brasileirasestá matriculado em cursos de engenharia, contra mais de 25% nosEstados Unidos. Esse quadro é um forte indicativo da desvalorizaçãoda profissão, conseqüência dos inadequados investimentos em pes-quisa e desenvolvimento e em infra-estrutura no País.

Em 1994, o Ministério da Ciência e Tecnologia, por intermédio daFinanciadora de Estudos e Projetos (Finep), criou o Programa deDesenvolvimento das Engenharias (Prodenge). O referido progra-ma tinha como objetivo estruturar e modernizar o ensino e a pesquisaem engenharia. O Prodenge atuou mediante dois subprogramascomplementares: a Reengenharia do Ensino de Engenharia (Reenge),e a criação de Redes Cooperativas de Pesquisa (Recope), envolven-do a interação entre universidades, institutos de pesquisa e empre-sas para a realização de atividades conjuntas de pesquisa, desenvol-vimento experimental e engenharia. O saldo do Prodenge é muitopositivo. O Recope, por exemplo, criou uma cultura de cooperaçãoentre as escolas de ensino de engenharia no País, lançou as bases deimportantes coalisões regionais dessas escolas e propiciou a cria-ção de uma Rede Brasileira de Engenharia, uma infra-estrutura detelecomunicações que interliga as escolas de engenharia, facilitandointerações e a realização de cursos à distância.

O Programa de Apoio ao Ensino e Pesquisa em Engenharia (Paepe)do MCT e MEC virá substituir o Reenge e continuar o esforço dereativação das engenharias no Brasil.

Quadro 6Ensino de Engenharia

a 20 milhões, o alcance da meta estabelecida no PlanoNacional de Educação prover, até o final da década,oferta de educação superior para, pelo menos, 30% dapopulação na faixa etária de 18 a 24 anos demandaráum esforço gigantesco de expansão da educaçãosuperior. Ou seja, estabelecer as condições para passarde 2 milhões de vagas para entre 4 e 6 milhões de va-gas nos próximos cinco anos.

Um aspecto que chama a atenção é o crescimentoacentuado da participação do segmento privado dosestabelecimentos de ensino superior no Brasil e aexpansão, neste segmento, dos estabelecimentos iso-lados (escolas formadas muitas vezes por um ou doiscursos com única direção, sucedâneas de escolas se-cundárias). No total dos estabelecimentos de ensinosuperior isolados, as faculdades privadas represen-tavam 60%, em 1996. Neste quadro, uma exigênciacrucial para o setor público é a definição de formasde regulação que garantam à população uma pers-pectiva de melhora contínua e substancial da quali-dade da educação ofertada. Um passo inicial impor-tante e inédito nessa direção foi dado com a institu-cionalização da sistemática atual de avaliação doMEC. Esta compreende os “Provões”, ou ExameNacional de Cursos (ENC), cujo objetivo é a avalia-ção do desempenho dos alunos e a avaliação dascondições de oferta de cursos de graduação. Estaocorre mediante visitas de verificação realizadas porespecialistas, que efetuam a avaliação dos cursos comrespeito à qualificação do corpo docente, organizaçãodidático-pedagógica e instalações. A provisão de edu-cação privada de qualidade requer, necessariamente,aperfeiçoamento dos mecanismos de avaliação, a fimde romper com o círculo vicioso da mediocridadeque governa o funcionamento de muitas instituiçõesde ensino superior: o estudante paga pelo diploma,e não pelo conhecimento e formação, e por isso

Page 85: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

59

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

mesmo não exige a prestação de um serviço de boaqualidade. Ao contrário, quanto menor a exigência,melhor, pois mais fácil será a obtenção do título.

Com relação ao ensino superior público, o mesmoPlano Nacional de Educação coloca um desafio: am-pliar a oferta de ensino público e assegurar um nú-mero de vagas nunca inferior a 40% do total. Istoimplica a necessidade de quase dobrar a oferta deensino superior por estabelecimentos públicos. Aindaque parte desse crescimento possa vir a ser atendidocom a criação de novos estabelecimentos – inclusiveem parceria da União com os estados, como indicadono Plano – , é inevitável que as universidades públi-cas promovam ampliação substancial de suas vagas,o que já está ocorrendo. O desafio, na universidadepública, é o de expandir o ensino e ao mesmo tempomelhorar sua qualidade sem comprometer o esforço,a qualidade e os resultados da pesquisa, que tambémdevem ser potencializados.

A diversidade e a heterogeneidade de nosso com-plexo de educação superior devem ser consideradascomo premissa fundamental quando se avança naconstrução de políticas dirigidas ao setor.

A Pós-graduação

A pós-graduação no Brasil constitui o cerne da pes-quisa científica. É também a base de formação depesquisadores para instituições de pesquisa e paraempresas. Neste sentido, tem função estratégica naconstrução do futuro. Sob todos os aspectos – nú-mero de cursos, alunos, bolsas, produção científica–, o quadro da pós-graduação no Brasil, nos anos90, foi de expansão. O número de estudantes matri-culados na pós-graduação stricto sensu cresceu acimade 80%, ao longo da última década (ver capítulo 1 e

Page 86: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

60

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Tabela 2). O número de alunos de doutorado cres-ceu ainda mais rapidamente do que o de mestrado.Esta é uma das principais realizações da década denoventa, com poucas paralelas no resto do mundo.

A pós-graduação brasileira vem apresentando umnível de qualidade crescente e para isto contribuiu,de forma decisiva, o processo de avaliação instituídopela Capes, com a colaboração do CNPq e outrasagências de fomento, e a participação da comunidadecientífica. Este processo e a resultante elevação dopatamar de qualidade do ensino de pós-graduaçãono Brasil é exemplar do que se pode alcançar de for-ma participativa com perseverança e visão de futuro.

Bolsas de Formação

Um dos instrumentos mais importantes para a ob-tenção desses resultados tem sido a concessão debolsas de formação. O número total de bolsas de mes-trado e doutorado no País (Tabela 3), concedidas pe-lo conjunto das agências federais (CNPq e Capes),passou de menos de 10 mil bolsas/ano, em 1980 paramais de 30 mil/ano em 2000. Tomando-se apenas asbolsas de mestrado, vemos que, seu número, que era

de aproximadamente 8 mil em 1980, cresceu conti-nuamente até 1994, quando atingiu seu ponto máxi-mo com quase 22 mil bolsas, e vem se reduzindo des-de então, tendo atingido o patamar de 17 mil bolsasem 2000. Já o número de bolsas de doutorado partiude cerca de 1.300, em 1980, elevou-se continuamentedurante todo o período, deu um salto expressivo em1993, chegando a pouco mais de 8.500 bolsas, e man-teve-se em uma trajetória de crescimento contínuoaté 2000, quando atingiu seu ponto de máximo com14 mil bolsas. Incluindo-se todas as agências estaduais,o número de bolsas de estudos de formação no país,atualmente vigentes, aproxima-se de 60 mil, segundoas informações do Prossiga captadas em maio de 2001.A prioridade dada às bolsas de doutorado reflete umadecisão da política educacional, para atender àdemanda futura, com o objetivo de reforçar a ofertade recursos humanos de qualificação elevada, cujaformação requer anos.

Como reflexo da opção de abreviar o tempo deformação dos pesquisadores, acompanhando assim atendência internacional1 , acentuou-se o direcionamentoda concessão de bolsas ao doutorado, em especial peloCNPq, que, em 2000, pela primeira vez em sua história,

Page 87: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

61

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

concedeu um número de bolsas de doutorado (5.858)superior ao de bolsas de mestrado (5.572).

Foi também uma opção deliberada de País consti-tuir em suas universidades cursos de mestrado e

doutorado, distinguindo-se da prática adotada poroutros países em desenvolvimento de utilizar-semaciçamente do recurso de enviar seus estudantespara centros estrangeiros. Evidentemente, para áreasdo conhecimento consideradas prioritárias ou que

1 Um ponto essencial ao debate é a diferenciação dos sistemas de pós-graduação em sentido amplo e em sentido estrito. A tendência recente decrescimento desproporcional do número de mestres formados nos EUA, Canadá e países da Europa está associada, basicamente, aos chamadosMBAs e similares. Referem-se muito mais a mecanismos de educação/formação continuada do que a instrumentos de consolidação da base daestrutura universitária e de pesquisa. Poucos países exigem ou mesmo reconhecem a necessidade de titulação em nível de mestrado para que seingresse no programa de doutorado.

Page 88: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

62

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

não sejam contempladas nos cursos de pós-graduaçãono País, o envio de estudantes brasileiros para oexterior é a solução mais adequada. De modo geral,a concessão de bolsas de estudo para doutorado-san-duíche e pós-doutorado foi priorizada, sobretudo apartir da primeira metade da década de noventa.Além de manter os vínculos científicos das institui-ções, pesquisadores e estudantes nacionais com oexterior, essa opção tende a incentivar a disseminaçãoda capacidade científica no País, na medida em queos bolsistas tendem a ser mais experientes e a possuirvínculos institucionais mais estabelecidos. Além deincentivar o desenvolvimento e a disseminação decapacidade científica e de pesquisa no País, essa op-ção, complementada com a busca de soluções maisadequadas para a inserção produtiva desses pesqui-sadores, contribui para evitar a perda de profissionaismais capacitados para o exterior. Tendo em vista arapidíssima evolução da CT&I nos países avançados,não se deveria excluir, metodologicamente, a possi-bilidade de expandir o número de bolsas de estudono exterior em áreas selecionadas do conhecimento.Por outro lado, parece necessário que a sociedade

abra um debate no contexto das perspectivas dacrescente demanda por recursos humanos qualifica-dos por países avançados, definindo tanto políticasde fixação no País da mão-de-obra qualificada, comoa intensificação de intercâmbio com o exterior comomecanismo de prevenção da fuga de cérebros.

Finalmente, vale mencionar ressalvas que são feitasquanto à queda da relação entre bolsas de mestrado ede doutorado, no Brasil. Esta filosofia contrasta com atendência de países desenvolvidos, como os EUA e oJapão, onde a relação entre mestres e doutores formadosé bem superior à do Brasil, mesmo tomando-se em con-sideração apenas o MA e o MSc (ou seja, desconside-rando-se o MBA). Leve-se em consideração tambémque a situação nesses dois países é radicalmente distintada existente no Brasil. O argumento considera que acrescente sofisticação e complexidade da ciência mo-derna requer a formação de equipes organizadas emestrutura piramidal, incluindo pessoal treinado em di-versos níveis, um ou dois líderes, poucos doutores ediversos mestres e técnicos qualificados com nível equi-valente ao secundário.

O Pibic nasceu em 1988, de uma iniciativa inovadora do CNPq, quevisava estabelecer um contato mais estreito entre as instituiçõesde ensino e as de pesquisa. Serve de instrumento para a formaçãopara pesquisa de estudantes da graduação em todas as áreas doconhecimento. Dirige-se o programa ao aprendizado concreto deteorias e metodologias de pesquisa sob a orientação de pesquisado-res mais experientes, buscando: i) introduzir o aluno no mundo dapesquisa científica, ou seja, deve estimula-lo à continuidade dosestudos, garantindo frutos duradouros, introduzindo-o mais cedona pós-graduação com melhores e mais rápidos resultados; ii) esti-mular o pesquisador-orientador a formar equipes para a atividadecientífica. Este aspecto da iniciação científica permite desenvolver econsolidar a investigação científica integrada à própria formação decolaboradores; iii) propiciar à instituição um instrumento de formula-ção de políticas de pesquisa. Isto é, a IC deve servir às instituições

Quadro 7Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Pibic

como um incentivo à recomposição de atividades, capaz de conduzira inovações no planejamento e na definição de linhas de pesquisacom vistas à identificação com o próprio perfil institucional.

Metas - de caráter substantivo (voltada para as expectativas relativas à iden-tidade do programa). Nos próximos dez anos, o PIBIC deverá con-tribuir para diminuir em pelo menos dez anos a idade média atualde formação de mestres e doutores;

- de caráter de política científica (forma de intervenção estratégica noplanejamento do desenvolvimento regional equilibrado). O Pibic deve-rá contribuir para, na próxima década, diminuir as disparidadesregionais na distribuição da competência científica no territórionacional.

Page 89: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

63

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

A indústria segue a mesma estrutura piramidal, con-tratando mais bacharéis, menos mestres e somentealguns doutores para posições de liderança. Portanto,a redução da percentagem de estudantes de mestradocom bolsa poderia diminuir a capacidade da univer-sidade de selecionar talentos e desfavorecer a for-mação de recursos humanos qualificados para a in-dústria, que prefere contratar mais mestres do quedoutores.

O nível de escolaridade da população brasileira comum mínimo de dez anos de idade registra um cresci-mento muito lento desde 1981 (Gráfico 1). Em de-zessete anos, a escolaridade média do brasileiro au-mentou menos de dois anos. Em 1999, ela era aindainferior a seis anos. Não há testemunho mais elo-qüente e doloroso do despreparo do país para os de-

safios da sociedade do conhecimento. Igualmente,não há desafio mais urgente a ser enfrentado para oavanço do conhecimento, caso se queira fazer daCiência, Tecnologia e Inovação os motores do desen-volvimento do Brasil no século XXI. Será precisoque a sociedade e os poderes públicos dêem, à ques-tão educacional, atenção constante e prioritária a todauma geração. Só assim será possível acelerar o ritmode crescimento da escolaridade média do brasileiroe começar a aproximá-la daquela dos países bem-sucedidos, em seu esforço de desenvolvimento sociale econômico. Como já se indicou anteriormente, aescolaridade média da Coréia do Sul, por exemplo, émais de duas vezes superior à brasileira. Cumpreainda ressaltar que do indicador quantitativo nãotransparece a questão da qualidade dessa educa-ção, outro fator crucial do desafio brasileiro.

Page 90: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

64

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 91: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

65

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

A distribuição da educação no Brasil é tão desigualquanto a distribuição de riqueza, produzindo um cír-culo vicioso que alimenta a pobreza: o baixo nívelde educação implica baixa produtividade, baixo nívelde renda e exclusão social, que por sua vez limita oacesso à educação de qualidade e as possibilidadesde ascenção social. Em 1999, no topo da pirâmideeducacional, cerca de três milhões de brasileiros (me-nos de 2% da população) possuem emprego formal,muitos desses em ocupações científicas, técnicas eartísticas e de direção superior. As estatísticas mos-tram não apenas que as taxas de desemprego para osbrasileiros com educação superior são bem inferioresà média geral, mas também que, entre 1985 e 1999,os ocupados em empregos formais, com educaçãosuperior, passaram de cerca de 9% para mais de 12%do total de empregados (Tabela 4).

Não obstante, a participação de cientistas e enge-nheiros nesse total é bastante limitada: em 1999, onúmero de cientistas e engenheiros (excluindo-se osprofissionais de informática) somava cerca de 126mil pessoas, o que representa apenas 0,5% do em-prego formal no Brasil (ou 0,7%, se forem incluídosos profissionais de informática). Embora na primeirametade da década de noventa tenha se reduzido onúmero de cientistas e engenheiros, a partir de 1996este número passou a apresentar tendência de cres-cimento, superando, no caso dos cientistas, o patamarobservado em 1990. Ademais, merece destaque a

PROFISSIONAIS E PESQUISADORESNA CONSTRUÇÃO DO FUTURO

Page 92: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

66

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

grande expansão do número de profissionais deinformática que, entre 1991 e 1999 variou quase50%. Em comparação com indicadores equivalentesde países mais industrializados, no Brasil aparticipação desses profissionais no emprego éexígua. Nos países mais industrializados da OCDE,em 1998, a participação de cientistas e engenheirosno emprego variava entre 5% e 12% do empregototal.

A distância entre o Brasil e os países mais industria-lizados é determinada primordialmente pelo menornúmero de empregos desses profissionais nas em-presas. A principal razão para isto é a relativamentereduzida atividade de P&D e engenharia realizadanas empresas brasileiras.

Os professores, os funcionários superiores da adminis-tração pública (incluindo pesquisadores), os profis-sionais da saúde e os profissionais de informática cons-tituem as categorias que mais cresceram entre 1985 e1997, entre os grupos que estão sendo aqui con-siderados (Gráfico 2). Os professores representam cercade 40% do total dos profissionais de nível superior emocupações científicas, técnicas e artísticas. Os profes-sores do ensino superior somavam cerca de 135.000

indivíduos, em 1998, ou 15% do total de professores.

Se o significativo aumento no número e participa-ção dos professores é um fato animador, o agrava-mento do já precário quadro de utilização de enge-nheiros e cientistas nas empresas merece atençãoredobrada e a busca de instrumentos para superá-lo.A promoção do desenvolvimento de atividades tec-nológicas nas empresas depende de um conjunto depolíticas diretas e indiretas de incentivos. Vale lem-brar que a reformulação das políticas de apoio à P&Dem vários países (como a França, a Holanda, a Bél-gica e a Austrália) tem incorporado mecanismos espe-cíficos de apoio à contratação de cientistas e enge-nheiros pelo setor privado.

No que concerne aos recursos humanos com altonível de qualificação, as informações produzidas pelaPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(PNAD)2 , do IBGE, mostram que o número de pes-soas com mestrado ou doutorado no Brasil passoude 157 mil em 1992, para 258 mil em 1999, das quais224 mil eram economicamente ativas. Por seu turno,221 mil estavam ocupadas em 1999. Logo, haviacerca de 3 mil pessoas com título de mestre ou doutorem situação de desemprego naquele ano. Isso corres-

Page 93: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

67

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

ponde a uma taxa específica de desemprego daordem de 1,3%, contra 4,2% entre as pessoas comnível superior completo e 9,6% para o conjunto dapopulação.

Esse mesmo levantamento permite outras verifica-ções interessantes: em 1992, das pessoas ocupadas,51% que freqüentaram regularmente cursos de mes-trado ou doutorado, independentemente do fato deos terem ou não concluído, estavam empregadas nosetor público. Destas, 55% estavam inseridas em ati-vidades de ensino. Em 1999, observa-se que a pro-porção daquelas empregadas no setor público haviase reduzido para 45% e a parcela das que desenvol-viam atividades educacionais havia passado para53%. Deve-se considerar que este movimento foi

motivado tanto pela criação de novas oportunidadesde ocupação no setor privado como pela aposenta-doria e planos de demissão voluntária associados àsreformas institucionais implementadas no setorpúblico ao longo da década de noventa.

Assim, o setor privado está se tornando o principalempregador dos indivíduos de alta qualificação(segundo a PNAD, essa situação passou a se verificara partir de 1998). Note-se que a expansão das opor-tunidades de emprego nesse setor não se explica ape-nas pelo crescimento das ocupações nos serviços deeducação, uma vez que a proporção das pessoas deelevada qualificação que atuam nesse segmento es-pecífico manteve-se, em 1999, no mesmo patamarobservado em 1992 (23%).

2 Por ser uma pesquisa amostral, a PNAD se ressente de importantes limitações para realizar estimativas de eventos de baixa freqüência, como osora analisados. Portanto, as estimativas aqui apresentadas devem ser tomadas com reservas, especialmente aquelas em números absolutos. Porém,a série temporal que se obteve apresenta um comportamento consistente, sugerindo que sua amostra não apresentou variações expressivas noperíodo no que tange a esse aspecto.

Page 94: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

68

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Entre as informações coletadas estão as referentesao número de pessoas com nível superior que atuamem atividades de P&D no interior das empresas. Seusprimeiros resultados indicam que há no País cercade 12.200 pessoas nessa situação, distribuídas em1.800 empresas, das quais 65% estão localizadas noestado de São Paulo.

A Base de Pesquisadores Empregada no Brasil

De acordo com o último levantamento do Diretóriodos Grupos de Pesquisa no Brasil (2000), do CNPq,224 instituições forneceram informações sobre 11.760grupos de pesquisa nos quais trabalham 48.781pesquisadores, sendo 27.662 com título de doutor.

A distribuição geográfica dos 11.760 grupos de pes-quisa é fortemente concentrada na região sudeste,conforme demonstra a Tabela 5. São 6.733 gruposlocalizados nesta região, seguindo-se a região Sulcom 2.317 grupos, a Nordeste com 1.720, a Centro-Oeste com 636 e a região Norte, com apenas 354.

O estado de São Paulo abriga 3.645 grupos, seguidodo estado do Rio de Janeiro, com 1.922. Essas duasunidades da Federação, mais o Rio Grande do Sul eMinas Gerais, abrigam dois terços da atividade de pes-quisa quando medida pelo número de grupos. Univer-

sidades, escolas isoladas e institutos de pesquisa comatividade de pós-graduação detêm 89,6% do total dosgrupos. Estes números refletem a consolidação da pós-graduação na institucionalização da pesquisa no Bra-sil, fato que foi reforçado nas duas últimas décadaspela continuidade dos programas de bolsas de estudo,mesmo nas fases mais difíceis e de maiores cortes dogasto público no setor. Também é muito concentradaa atividade de pesquisa no Brasil do ponto de vistainstitucional. Dezesseis instituições, que perfazem 7%do total de instituições inventariadas, abrigam metadedos grupos de pesquisa.

Tomando-se as grandes áreas, a percentagem de dou-tores varia de 68,4%, nas ciências exatas e da Terra,a 45,8%, nas ciências humanas. Entre as áreas doconhecimento, há 11 com mais de 70% de pesquisa-dores doutores. Dessas, seis pertencem às ciênciasbiológicas (biofísica, bioquímica, fisiologia, farma-cologia, morfologia e imunologia), quatro às ciênciasexatas (astronomia, matemática, física e química) ea restante cabe à engenharia civil. A astronomia e amatemática lideram o ranking de titulação, respecti-vamente com 85% e 83% de doutores. No que serefere às grandes áreas, a distribuição dos grupos émostrada na Tabela 6.

Page 95: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

69

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

As técnicas de fabricação de que dispomos são ainda muito primiti-vas, se comparadas àquelas da natureza. O fio de uma teia de ara-nha, por exemplo, tem a resistência de um fio de aço do mesmodiâmetro, mas é muito mais flexível. A produção do fio de aço exigeuma seqüência complexa e custosa de fabricação. Da extração dominério de ferro até o produto final, o processo de fabricação écaro, demorado, consome uma quantidade enorme de energia e éaltamente poluente. Comparemos esta seqüência de etapas de fa-bricação com a simples produção do fio da teia de aranha: silencio-so, limpo e eficiente. Qual a diferença? A glândula da aranha queproduz o fio manipula quase que diretamente os átomos que cons-tituem suas moléculas. Ela emprega uma técnica de fabricação ex-tremamente sofisticada, manipulando a matéria de “baixo para cima”,isto é, dos átomos e moléculas invisíveis para o produto final, visí-vel. Esta técnica é aquilo que os cientistas chamam de nanofabricação:a montagem de materiais e dispositivos átomo por átomo, molécu-la por molécula. Já nossas técnicas metalúrgicas, herdadas da anti-güidade e aperfeiçoadas pela ciência mais recente, são extrema-mente cruas e manipulam a matéria, por assim dizer, de cima parabaixo, do visível (material) para o invisível (átomos). A ciência mo-derna ambiciona, cada vez mais, imitar a aranha em lugar de imitara forja de Plutão, o mítico deus da antigüidade que forjava metaisem meio ao barulho e calor de sua siderúrgica primitiva.

As máquinas do futuro empregarão mais componentes miniaturiza-dos e materiais produzidos por técnicas que se aproximarão, pro-gressivamente, daquelas empregadas pela natureza, por exemplo,na “produção” de uma formiga. A formiga é uma pequena “máqui-na” que se autoconstrói, dotada de sensores químicos e eletromag-néticos poderosos, atuadores mecânicos potentes, capaz de se lo-comover e identificar onde precisa atuar para conseguir os resulta-dos desejados. Mesmo nossas melhores máquinas são ainda primiti-vas, se comparadas à sofisticação de uma formiga, e precisam serconstruídas com enorme paciência e alto custo. Como na produçãoda formiga, o objetivo da nanofábrica do futuro é produzir máquinasque se autoconstruam, que se montem e se reparem sozinhas.

Para chegar lá, o nosso conhecimento da natureza ainda precisaavançar muito. Pesquisas multidisciplinares em física, química, bio-logia, engenharia de materiais, computação, matemática serão ne-cessárias para que os processos de manufatura de artefatos huma-nos se aproximem em eficiência ao uso de matérias-primas e ener-gia, na preservação do meio ambiente e na engenhosidade daquelesempregados pela natureza na produção de seres vivos. As próximasdécadas prometem ser fascinantes na busca de soluções para essesproblemas.

Quadro 8A Fábrica do Futuro

Page 96: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

70

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

De onde vem a cor azul da asa daborboleta? Esta cor é produzida por uma

intricada grade de difração tridimensionalformada por estruturas muito pequenas

(inferiores a um milionésimo de milímetro),que não se sabe reproduzir artificialmente.

A compreensão deste fenômeno envolvebiologia, engenharia de materiais, óptica e,

ao mesmo tempo em que satisfaz acuriosidade sobre um belíssimo fenômeno

natural, dá indicações sobre como produzirnovos materiais artificiais com

propriedades ópticas inovadoras.

O segredo da asa da borboletaO segredo da asa da borboletaO segredo da asa da borboletaO segredo da asa da borboletaO segredo da asa da borboleta

Page 97: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

71

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

A pesquisa acadêmica tem a insubstituível funçãode acompanhar e expandir a fronteira do conheci-mento, além de treinar jovens para a atividade deprospecção, absorção e difusão do conhecimento.

Em 2000, a produção científica brasileira, medidapelo número de artigos científicos e técnicos publi-cados e indexados no National Science Indicators,chegou a 9.511. Enquanto na década de oitenta ocrescimento da produção científica foi da ordem de88%, na década de noventa essa taxa subiu para cer-ca 150% (Gráfico 3). Não apenas cresceu a partici-pação da produção brasileira na produção mundialde conhecimento, como vem crescendo mais rapi-damente do que o conjunto da América Latina e domundo. Também a citações de artigos brasileiroscresceram aceleradamente nas últimas duas décadas:passaram de pouco mais de 14 mil entre 1981 e 1985,para quase 85 mil entre 1996 e 2000.

O desempenho da produção científica brasileira sus-cita uma reflexão sobre o papel da ciência básica noprocesso de desenvolvimento da CT&I. Nos anosrecentes, tem crescido sobre o sistema de CT&I apressão por resultados, os quais tendem a ser con-fundidos com aplicações práticas e rentáveis dos pro-dutos das pesquisas. Argumenta-se com freqüênciaque os países em desenvolvimento não têm condi-ções de competir com os desenvolvidos na geraçãode novos conhecimentos, já que estes consomem re-

AVANÇO DO CONHECIMENTO

Page 98: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

72

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

cursos consideráveis, sem garantia de resultados con-cretos e no curto prazo.

Refletindo esta situação, os sistemas de financiamen-to e apoio à CT&I tendem a priorizar as chamadaspesquisas de resultados, deixando de tratar a questãodas relações e interseções cada vez mais crescentesentre a geração e apropriação do conhecimento.A questão que se coloca é como incentivar a pesquisaem geral e ampliar e otimizar as oportunidades degeração de conhecimentos úteis à sociedade. Nãose pode esquecer, também, o papel estratégico re-servado a um corpo de engenheiros e pesquisadoresbrasileiros de classe mundial, capazes de realizar umainterlocução de igual para igual com seus pares dospaíses avançados, no acompanhamento de progres-

sos importantes para o país, na prospecção científicae tecnológica, na negociação de tecnologias e na de-fesa do interesse nacional nos foros internacionais.

A formulação das Diretrizes Estratégicas para oavanço do conhecimento, em especial a determina-ção de prioridades para a indução de pesquisas emáreas básicas, deverá ser objeto de discussões comos vários segmentos da comunidade científica e ou-tros agentes que detêm o conhecimento especializa-do necessário para formulá-las. Iniciativas neste sen-tido já estão sendo tomadas pelo MCT e CNPq, porexemplo, no campo da biotecnologia, da oceanogra-fia, da nanotecnologia, entre outros. Estudos pros-pectivos periódicos das áreas de pesquisa; avalia-ções freqüentes pelos pares, inclusive pela comuni-

Page 99: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

73

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

A maneira como a natureza do processo da hereditariedade veio aser desvendada nos últimos duzentos anos constitui uma históriaex traordinária do progresso científico. Em uma sucessão empol-gante, os biólogos descobriram que as instruções da herança segui-am regras específicas de transmissão, residiam nos cromossomoscontidos no núcleo, eram guardadas na molécula de DNA, eramescritas em um preciso código genético e poderiam ser lidas naíntegra para especificar a forma e função de um organismo.

A genética como ciência começou no Brasil por iniciativa de AndréDreyfus, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universida-de de São Paulo. Dreyfus conseguiu trazer para São Paulo, na déca-da de quarenta, um renomado geneticista, T. Dobzhansky, que haviatrabalhado na equipe de Morgan, um dos fundadores da genéticamoderna, no início do século passado. Dobzhansky estava interes-sado em estudos de populações naturais de Drosophila das florestastropicais. Genética de população, usando o modelo Drosophila, era aárea de interesse de Dobzhansky, e o material novo que lhe caia àsmãos permitia-lhe antever o alcance de um estágio competitivo,apesar de estar no Brasil. De fato, entre 1949 e 1955 muitos artigosforam publicados com repercussão significante. Vários pesquisado-res brasileiros se beneficiaram da longa permanência (cerca dedois anos) de Dobzhansky no País, entre eles, C. Pavan, A. Brito, A.Cordeiro, E. Magalhães, F. Salzano e N. Freire- Maia.

Muitos continuaram a sua linha, mas outros procuraram novos ca-minhos. Pavan, com M. Breuer, iniciou estudos em cromossomospolitênicos de Rhynchosciara angelae. As propostas sobre “puffs” deDNA abriram caminho para o início da biologia molecular no Brasile tiveram na época grande repercussão internacional. N.Freire-Maia e F. Salzano mantiveram-se na genética de população, masmigraram para a área de genética humana. Pedro Henrique Saldanhafoi outro nome que se destacou nesta área.

Uma vertente adicional da genética brasileira iniciou-se com a vindado pesquisador alemão F.G. Brieger para a Esalq, da USP, emPiracicaba, em 1936. W. Kerr iniciou sua carreira influenciado pelaescola de Brieger, assim como E. Paterniani e A. Blumenschein,estes na área de melhoramento genético, tópico que introduziramcomo tema de pesquisa na Embrapa. Alcides de Carvalho teve,reconhecidamente, enorme impacto econômico trabalhando no Ins-tituto Agronômico de Campinas; sem o trabalho de Carvalho, aferrugem teria acabado com o café brasileiro.

Na verdade, a genética molecular moderna se desenvolvia comgrande fulgor na década de cinqüenta, principalmente nos EstadosUnidos e na França. Ela estava umbilicalmente ligada à genética devírus e microrganismos, áreas até então pouco desenvolvidas noBrasil. É interessante que Brieger, percebendo esta defasagem,trouxe na década de sessenta para o Brasil um pesquisador famosodesta área, Demerec. Este sugeriu que os esforços não fossemdirigidos para bactérias e vírus, áreas muito competitivas, mas quefosse feito um esforço no sentido de se desenvolver genética defungos. Como conseqüência deste aconselhamento, João Lúcio deAzevedo foi para o exterior se dedicar à genética de Aspergilus.

A genética de microrganismo foi a mola propulsora da biologiamolecular moderna. Pode-se dizer que nós perdemos este bonde eque estaríamos fadados a não desenvolver a biologia molecular nonosso País. Porém, ela deu grandes saltos e suas amarras à genéticade microrganismos se tornaram menos importantes do que a sualigação com a bioquímica, biofísica, imunologia e biologia celular.O suporte para tudo isso passou a ser a tecnologia de DNA recom-binante. Foi assim possível para o Brasil ”queimar a etapa” da gené-tica de microrganismos. Com o envio de um grande número dejovens para bons laboratórios do exterior e com o advento de vigo-rosos programas nas nossas agências de fomento, há sinais eviden-tes de que a biologia molecular e a genética molecular modernasestão se tornando áreas fortes de pesquisa no País.

Quadro 9Genética moderna no Brasil

dade internacional, dos resultados obtidos em pro-gramas de indução; abertura para o surgimento denovos domínios do conhecimento, em particular, aschamadas áreas “interdisciplinares”; todos esses sãoelementos bem conhecidos do processo de definiçãode Diretrizes em países avançados cientificamentee que estão sendo crescentemente seguidos no Brasil.A riqueza e complexidade do sistema de pesquisabásica no País não recomenda que tais prioridadessejam explicitadas no âmbito de um documento geralcomo este, o que não significa que a importância desua discussão não seja reconhecida.

Neste contexto, a demanda espontânea dos cientistase pesquisadores não pode ser olvidada, como salva-guarda às limitações do planejamento, definição eescolha de prioridades. O atendimento a essa de-manda atinge dois objetivos: acolhimento de temase oportunidades relevantes que não tenham sidoidentificados no planejamento induzido; abertura deespaço para o desenvolvimento de temas e problemastecno-científicos determinados pela lógica internadas disciplinas científicas, inclusive com vistas a via-bilizar o acompanhamento do progresso da ciênciae da tecnologia.

Page 100: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

74

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Algumas das grandes conquistas da ciência e tecno-logia no País se deram sob a égide do avanço do co-nhecimento. O sucesso de Oswaldo Cruz na erradi-cação da febre amarela deve-se aos resultados dosavanços da pesquisa básica aliados a uma visão socialclara e focada. Da mesma forma, o êxito da indústriaaeronáutica brasileira está intimamente ligado ao de-senvolvimento de uma sólida base de conhecimentode ponta aplicado ao desenvolvimento de novas tec-nologias, incorporados na formação e na pesquisa dasinstituições que alicerçaram seu desenvolvimento.

A falsa dicotomia entre criatividade científica e uti-lidade torna-se ainda mais vazia nos dias de hoje,em que se esvanecem as fronteiras não só entre as

disciplinas científicas, mas também entre estas eáreas tecnológicas. Novas metas de caráter complexoe transdisciplinar, como nanotecnologia e biocom-plexidade, impõem-se como fomentadoras do avançodo conhecimento para novos patamares.

O avanço do conhecimento e o reforço da capacidadenacional para transformar conhecimento em inovaçãodemandarão novo modo de relacionamento entre asciências e as engenharias, bem como nova posturadas universidades e instituições públicas de pesquisa.Constitui um desafio imediato organizar e estimularequipes adequadas a esse tipo de pesquisa, objetivose práticas. Para as universidades, o desafio residiráem mudar sem abandonar seus valores de base, mas

A física brasileira, como de resto a ciência no Brasil, expandiu-se econsolidou-se ao longo das últimas décadas. Em particular, há duasáreas importantes para as tecnologias modernas de computação ecomunicação, a física de semicondutores e a óptica quântica e não-linear, onde o País formou grupos de qualidade internacional econtribuíu para o surgimento de novas empresas.

A partir do trabalho de um pequeno grupo de pesquisadores, nofinal dos anos sessenta, a física de semicondutores teve um signifi-cativo desenvolvimento, fazendo com que o País se capacitasse nocrescimento e caracterização de materiais de grande interessetecnológico. Isto se deu, especialmente, pela formação de recursoshumanos qualificados, tanto em teoria quanto na parte experimen-tal, e pela implantação de equipamentos sofisticados, baseados emtécnicas, tais como epitaxia por feixe molecular (MBE) e deposiçãoquímica de vapor organo-metálico (MOCVD), que permitem fabri-car novos materiais a partir da manipulação de átomos. Com estacapacitação, o País tem condições para ingressar no campo da na-notecnologia, como também para explorar as fronteiras do conhe-cimento em materiais, o chamado “limite quântico”, quando asdimensões dos dispositivos se aproximam das dimensões dos pró-prios átomos.

Na óptica, houve grandes progressos na tecnologia de laser e fibrasópticas – onde o País desenvolveu sua própria tecnologia –, comimportante impacto na indústria de telecomunicações e de equipa-mentos médicos e dentais. Quanto aos últimos, as realizações vãodesde o desenvolvimento de equipamentos ópticos para uso em

odontologia até tratamento de tumores por fototerapia. Ao mesmotempo, os avanços em pesquisa básica, relacionados ao armazena-mento de átomos frios e à compreensão mais profunda do fenôme-no de descoerência, representam passos fundamentais desde ocampo de computação quântica até possibilidades na prospecção depetróleo.

Dentre as diversas atividades em curso que apresentam grandepotencial, destacam-se aquelas em sistemas nanoestruturados, ba-seados na fabricação de dispositivos com dimensões menores ou daordem de 100 nanômetros (bilionésimos de metro) – algo como ocomprimento de uma cadeia de mil átomos. Mais do que a escalareduzida final, o aspecto verdadeiramente inovador esta na capaci-dade que o homem adquiriu de manipular átomos, quer seja atra-vés de processos de deposição, quer por síntese supramolecular,permitindo assim que a estrutura e composição dos materiais pos-sam ser controladas em escala nanoscópica. À medida que novospatamares de miniaturização são atingidos, torna-se também possí-vel desenvolver máquinas menores e mais eficientes, com grandeimpacto sobre a indústria de computadores e robótica em geral.

Além dos aspectos práticos, os sistemas obtidos por meio da mani-pulação de átomos abrem novas fronteiras do conhecimento emciência básica. Com efeito, com a redução de uma (ou mais) dasdimensões até a escala nanométrica, surgem manifestações de efei-tos quânticos, muitas das quais eram totalmente desconhecidas atérecentemente. A busca de explicações para esses fenômenos deuorigem, em vários casos, a novas idéias e conceitos em física.

Quadro 10A Física brasileira: as duas últimas décadas e perspectivas

Page 101: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

75

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

adotando, ao mesmo tempo, uma cultura cooperativae empreendedora diferenciada. Já as instituições depesquisa devem enfrentar, sem hesitação, o desafiode se abrirem tanto para outras instituições congê-neres e universidades, como e principalmente para asociedade.

Finalmente, é preciso reconhecer que a fronteira doconhecimento expande-se, freqüentemente, graçasao trabalho de jovens pesquisadores e às atividadesde inovação levadas a cabo pelas empresas. Umaquestão prioritária e urgente diz respeito à criaçãode mecanismos de absorção de jovens pós-doutorese de financiamento à sua pesquisa. O programaProfix, do CNPq, é uma iniciativa importante nestesentido, mas, a médio prazo, o problema não podeser resolvido exclusivamente por meio de bolsas ede auxílios a pesquisas para jovens doutores. Novasinstituições de pesquisa terão de ser criadas na pró-xima década, para explorar novas áreas do conheci-mento e promover a absorção de recursos humanosaltamente qualificados formados no País e exterior.O congelamento nas últimas décadas da criação de

Institutos de Pesquisa e Laboratórios Nacionais – oúltimo grande laboratório nacional, o LaboratórioNacional de Luz Síncrotron, foi criado em 1985 –não reflete, obviamente, a tremenda expansão dapesquisa científica no País e no mundo desde então.Este atraso terá de ser recuperado ao longo da próxi-ma década, inclusive com as iniciativas em curso, eexplorando, entre outros, os mecanismos de finan-ciamento disponibilizados pelos fundos setoriais eas novas formas de organizações da pesquisa atuaise por desenvolver. Não é desprezível o potencial queesta oportunidade representa, por exemplo, para oequacionamento da questão do desequilíbrio regionalda base de pesquisa científica do País. Ao contrário,é uma das mais interessantes opções ao alcance doMCT e das regiões para começar a resolver, de formapermanente, este desafio e, ao mesmo tempo, im-pulsionar decisivamente a pesquisa científica e tec-nológica no País. Esse tema é retomado, em maiorprofundidade, no capítulo Desafios Institucionais,inclusive à luz de iniciativas recentes como a do Ins-tituto do Milênio e do Centro de Gestão e EstudosEstratégicos, ora em formação.

Com o duplo objetivo de contribuir para o combate à evasão depessoal qualificado e de facilitar o retorno ao País de profissionaisem atividade no exterior, o CNPq criou recentemente o ProgramaEspecial de Fixação de Doutores, PROFIX. Por meio desse progra-ma, o CNPq estabelece mecanismos adicionais para incorporardoutores de especial talento e competência no setor acadêmico eem institutos públicos de pesquisa e busca estimular a progressivaincorporação de recursos humanos altamente qualificados em ativi-dades de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico nosetor privado nacional.

O PROFIX permite vinculação por até 4 anos em instituições deensino e pesquisa, institutos de pesquisa científica e tecnológicafederais e estaduais, empresas públicas de pesquisa e desenvolvi-mento, empresas privadas em fase de incubação e microempresas(de acordo com a Lei nº 9841/99), e centros de pesquisa e desenvol-vimento de empresas privadas atuando em território nacional. Um

Quadro 11Programa Especial de Fixação de Doutores - PROFIX

pacote de incentivos estará disponível para concessão aos candida-tos selecionados. Ele inclui bolsas especiais PROFIX, de valor maisalto que as de forma de apoio equivalentes e diferenciadas de acor-do com o nível de experiência do pesquisador, concessão de auxílioà pesquisa e de auxílios-viagem e alocação de quotas de bolsas deiniciação e de apoio técnico. Após a obtenção da vinculação perma-nente em alguma instituição acadêmica nacional, estará ainda aber-ta aos bolsistas PROFIX a possibilidade de receber um novo pacotede incentivos por dois anos adicionais como forma de viabilizar suainserção na nova instituição.

Lançado em fase experimental, como uma operação-piloto, o pro-grama PROFIX deverá ser aperfeiçoado durante os primeiros anosde funcionamento, e poderá ser eventualmente expandido paraalcançar um maior número de pesquisadores através da incorpora-ção de novas formas de financiamento como, por exemplo, o apoiodos Fundos Setoriais.

Page 102: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

76

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 103: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

77

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

As ciências sociais têm papel crucial no entendimen-to das relações entre CT&I e a sociedade. A análiseda natureza, a evolução e impactos da ciência e tec-nologia na sociedade contemporânea torna-se maiscrítica nesse século XXI, na medida em que as novastecnologias da informação e da biotecnologia passama moldar não somente as estruturas econômicas esociais vigentes, mas também a própria identidadedas pessoas.

A mais extensa e rápida difusão da tecnologia nasociedade moderna gera maior número de contro-vérsias científicas e tecnológicas, à medida que seampliam os grupos de atores e o conjunto de inte-resses por trás de cada campo que se enfrenta. Igual-mente, o maior e mais intenso contato da sociedadecom a ciência e a tecnologia aguça a percepção deseus membros em relação a estas, aumentando suasdemandas por maior transparência na priorização noinvestimento em CT&I.

Uma sociedade do conhecimento requer um públicoaberto para a ciência e para a tecnologia de formapositiva e dinâmica. Ora, as ciências sociais têm mui-to a contribuir para o mapeamento da percepção dasociedade brasileira sobre esses temas.

Ao mesmo tempo, estamos diante de mudanças tãoradicais nas ciências sociais, quanto as que estãoacontecendo nas engenharias e nas ciências exatas e

CIÊNCIAS SOCIAIS PARA UMA SOCIEDADEDO CONHECIMENTO

Page 104: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

78

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

biológicas. Naquelas, vêm se processando a integra-ção de áreas antes especializadas e a incorporaçãode disciplinas instrumentais, como matemática, esta-tística e computação. As ciências humanas e sociaistambém enfrentam desafios em vários aspectos. Emprimeiro lugar, deverão provar seu valor em meio auma onda de demanda por eficiência, lucratividadee resultados, em que o avanço tecnológico é a chavepara o aperfeiçoamento do mercado e a criação de

Diretrizes estratégicas em CT&I para ciências humanas e sociais napróxima década incluem, necessariamente, dois conjuntos de ques-tões. O primeiro está relacionado com o desenvolvimento das ciên-cias humanas e sociais enquanto ciências, isto é, sua capacidade deproduzir conhecimento novo e de contribuir para o avanço do conhe-cimento científico em geral e na sua área específica. O segundoconjunto de questões está ligado à “aplicação” desse conhecimentoe sua possível contribuição para a formulação, equacionamento,divulgação e avaliação de políticas públicas e sociais voltadas para asolução dos grandes problemas da sociedade contemporânea, inclu-sive aqueles ligados à ciência e tecnologia.

No sentido de fortalecer a capacidade das instituições e cientistasbrasileiros para compreender o conjuntos de questões que se colo-cam hoje, e mais ainda no futuro, como desafios para as ciênciassociais, as diretrizes devem apontar para:

•caminhar em direção a um modo coletivo mais intenso de estruturaro ambiente de pesquisa, juntamente com o desenvolvimento deferramentas de pesquisa coletivas, com o apoio à construção siste-mática de amplos conjuntos de dados e arquivos, proporcionandoao pesquisador uma forte base de apoio;

• Encorajar a pesquisa multidisciplinar, reconhecendo, ao mesmotempo, a necessidade essencial de manter sólidas bases disciplina-

res, visto que o treinamento intensivo em uma determinada disci-plina será sempre importante para o desenvolvimento de bonspesquisadores. Entretanto, a inovação ocorre, com freqüência, nasfronteiras das disciplinas, além de que situações reais não se encai-xam em subdivisões disciplinares rigorosas;

• Promover o envolvimento das disciplinas de humanidades empesquisa e equipes interdisciplinares. O uso de metáforas nas quaisas humanidades sobressaem é uma maneira altamente eficiente decomunicar idéias ou relações complexas. Ademais, as humanidadesoferecem perspectivas essenciais para pesquisas orientadas parasoluções;

• Encorajar o desenvolvimento de novas parcerias de pesquisa emodos de trabalho, o que significa unir os produtores e os usuáriosda pesquisa, fazendo com que tirem, todos, vantagem do conheci-mento e da perícia mútuos e colaborem desde a definição das ne-cessidades da pesquisa até à conclusão do projeto. Ademais, parcei-ros não acadêmicos têm uma probabilidade muito maior de aplicaros resultados de projetos dos quais participaram, por considera-rem o conhecimento como um produto próprio;

• Fomentar a crescente inserção internacional das ciências huma-nas e sociais através da cooperação internacional e de pesquisascomparativas.

Quadro 12Ciências Sociais para uma Sociedade do Conhecimento

empregos. Em segundo lugar, serão desafiadas a en-frentar questões novas e prementes que estão sur-gindo no contexto de grandes mudanças sociais eeconômicas, crescente interdependência entre paísese pressões cada vez maiores sobre indivíduos e fa-mílias. Finalmente, serão instigadas a utilizar inte-gralmente as novas tecnologias, que vêm permitindoo desenvolvimento de novas ferramentas e infra-es-truturas de pesquisa.

Page 105: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

79

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

O estudo da Ciência e Tecnologia em escala nanomé-trica compõe um campo transdisciplinar de ativida-des na fronteira do conhecimento. As nanociênciase nanotecnologias dizem respeito ao estudo, carac-terização e descrição de fenômenos que ocorrem nananoescala (um nanômetro equivale a um bilionésimodo metro - 1nm = 0,000000001m = 10-9m) e aoconseqüente desenvolvimento de aplicações tecno-lógicas e de dispositivos que explorem as proprieda-des da matéria nessas dimensões, comparáveis aotamanho de átomos e moléculas.

Ao operar com dispositivos nanométricos, novaspropriedades mecânicas, elétricas, magnéticas e óp-ticas podem ser exploradas, além de se tornar pos-sível em graus inusitados o controle e a manipulaçãode propriedades fundamentais, como a reatividadequímica e o arranjo espacial de átomos e moléculas.Para se ter uma melhor idéia dessa escala, podemoscomparar os comprimentos de alguns objetos:• diâmetro de um átomo: 1/4 de nanômetro• menor dispositivo eletrônico experimental: cercade 10 nanômetros na sua menor dimensão• proteínas: ~10 - 50 nanômetros• menor dispositivo eletrônico disponível comercial-mente: cerca de 200 nanômetros• bactéria: cerca de 1.000 nanômetros• diâmetro de um cabelo humano: 10.000 nanômetros

Ao longo dos últimos vinte anos foram aperfeiçoados

NANOCIÊNCIAS E NANOTECNOLOGIAS

Page 106: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

80

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ou inventados vários instrumentos, tais como micros-cópios especiais (eletrônico de transmissão, de forçaatômica, de tunelamento, de varredura, de campopróximo, etc), que permitem ver, manipular e contro-lar objetos na nanoescala, o que possibilitou novoshorizontes de descobertas, invenções e aplicações.

Fenômenos que ocorrem em nanoescala são de hámuito conhecidos. Por exemplo, os catalisadores são,em sua maioria, partículas nanométricas, e assim acatálise (tanto a inorgânica quanto a biológica, feitapor enzimas) se passa na nanoescala. De fato, a maio-ria dos fenômenos em biologia fundamental envolveprocessos que se passam em dimensões moleculares,e portanto nanométricas. O que há de novo é o con-trole e grau de precisão permitidos pelas técnicasmais recentes usadas em análises teóricas e na pre-paração e caracterização de materiais na escala nano-métrica.

A redução do tamanho no controle de processos edispositivos oferece uma enorme gama de possibili-dades. Toda a revolução em tecnologia da informa-ção, por exemplo, foi tornada possível pela sistemá-tica integração de um número cada vez maior de com-ponentes de tamanho progressivamente menores emum único "chip", o que aumentou enormemente acapacidade de processamento de cada unidade. Porsua vez, a "nanomedicina" começa a produzir nano-dispositivos para diagnóstico e tratamento; uma vezdiretamente posicionados nas regiões celulares pa-tologicamente afetadas, esses dispositivos podem tan-to fornecer informações pontuais sobre o funciona-mento e fisiologia dessas regiões quanto comandara liberação controlada de fármacos.

Ao mesmo tempo, é importante ser capaz de con-trolar e alterar a estrutura de materiais na nanoescala.

Isto torna possível melhorar as propriedades dos ma-teriais sem alterar sua composição química, ou seja,embora as mesmas moléculas (ou grupos de átomos)continuem presentes, seu arranjo ou disposição es-pacial pode ser diferente, do que resultam proprie-dades inovadoras.

Finalmente, como a maioria dos fenômenos embiologia molecular ocorre na nanoescala, o uso dastécnicas de nanociências em biologia leva a um en-tendimento mais profundo de como a natureza fun-ciona e sobre possíveis formas de controlar seu de-sempenho. Assim, por exemplo, a auto-montagem(ou seja, a organização espontânea de átomos, molé-culas ou cadeias poliméricas em estruturas mais com-plexas), enquanto sendo um fenômeno biológico denatureza fundamental (sendo, por exemplo, respon-sável pela formação de membranas celulares), temsido recentemente usada para a construção de dis-positivos eletrônicos.

As aplicações da nanotecnologia permeiam as áreasde novos materiais e fabricação, transporte, nano-eletrônica e tecnologia de computadores, medicinae saúde, aeronáutica e exploração espacial, energiae meio ambiente, biotecnologia e agricultura, segu-rança nacional e educação, e podem portanto ter im-portante impacto direto sobre a competitividade daindústria nacional em um futuro não muito remoto.

Alguns exemplos merecem destaque:

• Nanoeletrônica: A nanoeletrônica mudará profun-damente o atual estado-da-arte no processamentode informações. Isto porque o limite fundamentalda presente tecnologia (baseada na escala micro, ouseja, no milionésimo do metro) está próximo a seratingido e um novo paradigma terá de surgir para a

Page 107: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

81

Capítulo 2 - O Avanço do Conhecimento

área da eletrônica. O primeiro produto comercial emnanoescala (uma cabeça de leitura magnética combase no princípio de magneto resistência gigante) pro-mete revolucionar a indústria que trata de armaze-namento de informações em computadores. Em to-do o mundo, a base de conhecimento tecnológicoexistente em microeletrônica está sendo expandidapara uma grande variedade de aplicações não eletrô-nicas, incluindo seqüenciamento genético e constru-ção de dispositivo micro e nano-mecânicos, de nano-sensores ópticos, etc. Com a transição para a nano-eletrônica, essas fronteiras entre as disciplinas de-verão se tornar cada vez mais tênues.

• Medicina e Saúde: O desenvolvimento de novosfármacos e de sistemas de entrega controlada de dro-gas está em fase de avanço acelerado. Sistemas hí-bridos combinando tecidos artificiais e naturais des-tinados à substituição de órgãos no corpo humano epara colocação direta no interior de células são umaoutra área de pesquisa adiantada.

• Biotecnologia e Agricultura: Os pilares molecularesda vida - proteínas, ácidos nucléicos, lipídios, car-boidratos - são exemplos de materiais que possuempropriedades únicas determinadas pelo seu tamanho,formas de dobramento ("folding") e formação de pa-drões em nanoescala. O desenvolvimento de siste-mas artificiais que imitem o funcionamento e açãode sistemas biológicos forma uma área interdiscipli-nar de pesquisa muito ativa (por exemplo, a área dequímica bio-mimética é baseada nesse tipo de ana-logias). Ao mesmo tempo, a nanofabricação de ar-ranjos de detetores permite a realização de milharesde experimentos para caracterização e seleção simul-tânea de genes usando pequenas quantidades de ma-terial.

• Tecnologias relacionadas à energia: Novos tiposde baterias, sistemas fotossintéticos artificiais e cé-lulas solares de maior rendimento quântico para ge-ração de energia limpa e novas maneiras de armaze-namento seguro de hidrogênio para uso em célulascombustíveis são exemplos de aplicações da nano-tecnologia aplicada à energia.

• Meio ambiente: Membranas seletivas para a filtra-gem de contaminantes e armadilhas nanoestrutura-das para remoção de poluentes de efluentes indus-triais são alguns exemplos de aplicações das nanotec-nologias à conservação do meio ambiente. Atual-mente, os dessalinizadores de maior eficiência já utili-zam materiais nanoestruturados para a obtenção deágua potável a partir de mananciais de água salobra,ou mesmo diretamente dos oceanos.

Mesmo nos países mais avançados, a nanociência ea nanotecnologia são assuntos recentes. Em meadosda década de noventa, a Alemanha estabeleceu umarede de cinco Centros de Competência, cada um comsua ênfase voltada para diferentes aspectos da área.Nos Estados Unidos, a National Science Foundationestabeleceu em 1998 uma comissão conjunta comoutras agências governamentais para a elaboraçãode um plano nacional de ação especificamente vol-tado para o apoio a essas atividades, do que resultouo programa americano de nanociências e nanotec-nologias (National Nanotechnology Initiative).

O MCT e o CNPq articularam em novembro de 2000uma primeira reunião nacional sobre o tema reunindopesquisadores de diferentes instituições do País, da qualresultou um documento (disponível em www.cnpq.br)propondo uma estratégia para articulação coordenadados interessados pela nanociência e nanotecnologia noPaís. No documento, um levantamento preliminar

Page 108: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

82

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

mostra que há mais de 120 cientistas atuando em áreasdiretamente relacionadas a problemas de nanoescala,seja em química, biologia, física, biotecnologia,farmácia, eletrônica ou agricultura.

Por outro lado, sendo uma área nova, certamente aformação atual dos estudantes em nível de graduaçãoe pós-graduação - ainda muito rigidamente confinadaaos domínios de áreas específicas do conhecimento- deixa muito a desejar. Um esforço considerável pre-cisa ser feito para introduzir em nível de graduaçãodisciplinas relacionadas a nanociências e nanotec-nologias, incrementar o treinamento de técnicos eengenheiros em técnicas avançadas de análise de no-vos materiais, aumentar o estímulo a estudantes depós-graduação para que venham a atuar nessas áreas(de natureza intrinsecamente inter e multidisciplinar),o que, em casos especiais, necessita envolver a for-mação especializada no exterior.

A partir das articulações coordenadas pelo MCT/CNPq, foi recentemente lançada pelo CNPq umachamada de projetos com o objetivo de formar trêsredes voltadas para temas específicos das nanociên-cias e nanotecnologias. Sugestões de possíveis dire-trizes para a ação governamental podem ser encon-tradas no documento preliminar preparado pela co-missão de articulação, já mencionado anteriormente.

Page 109: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

QUALIDADE DE VIDA

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Page 110: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

84

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

“Qualidade de vida” pode ser inter-pretada de muitas maneiras. Cadapessoa e sociedade tem uma listadaquilo que considera prioritárioem termos de qualidade de vida eesta varia com o tempo, influencia-da por múltiplos fatores sociais, cul-

QUALIDADE DE VIDAQUALIDADE DE VIDA

CIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOCIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃO

Page 111: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

85

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

turais e econômicos. Saúde, alimentação sadia,trabalho adequado, lazer agradável, acesso a bensculturais, ar puro, água potável, vida social,segurança, tranqüilidade em relação a seu futuro eao de seus familiares, e assim por diante. À primeiravista, Ciência, Tecnologia e Inovação parecem terpouco a ver com qualidade de vida. Entretanto, emuma sociedade moderna, elas são indissociáveis. Paraprover saúde, alimentação, trabalho, lazer, segurançae um meio ambiente adequado, a sociedade precisadispor de conhecimento e de saber aplicá-lo nasolução de seus problemas. A dimensão ecomplexidade dos desafios a serem enfrentadosrequerem uma população cada vez com melhorcapacitação, um número cada vez maior deprofissionais qualificados e de instituições apropria-das. No longo prazo, a sobrevivência da humanidadedepende da gestão adequada do meio ambienteglobal e, para isto, é preciso poder prever as con-seqüências das intervenções cada vez mais impor-tantes dos seres humanos sobre o seu hábitat. Istosignifica, em última análise, um projeto sustentávelde geração de riqueza e de desenvolvimento econô-mico para o Brasil nesta e em décadas futuras.A formulação de diretrizes estratégicas para Ciência,Tecnologia e Inovação para a qualidade de vida napróxima década deve ser, assim, uma prioridade paraa comunidade científica, para o sistema produtivo epara a sociedade brasileira.

O crescimento econômico e a elevação da capaci-dade de geração de riquezas constituem o fundamen-to de qualquer melhoria sustentável da qualidade devida; no entanto, crescimento econômico, por si só,é insuficiente para promover a correção das distor-ções sociais históricas, bem como para distribuir osbenefícios do desenvolvimento, seja entre regiões,seja entre os grupos sociais. Os padrões de cresci-

“Reduzir a pobreza, assegurar

alimentos, produzir energia sem

degradação ambiental, propiciar

saneamento básico e água de

qualidade e desenvolver ambientes

urbanos e rurais saudáveis são alguns

dos principais desafios do

desenvolvimento. Para enfrentá-los,

cabe ampliar a capacidade de

trabalho interdisciplinar no Ensino

e na Pesquisa.”

José Galizia Tundisi,Instituto Internacional de Ecologia/São Carlos

“Uma questão essencial em matéria de

qualidade de vida é a existência de

uma grande massa de trabalhadores

sem esperança de emprego por

carência de qualificação profissional.

Urge fortalecer toda a cadeia do

conhecimento partindo da educação

de base, passando pelo ensino

profissionalizante, depois pela

graduação e pós-graduação, até

prover uma oferta adequada de

extensão, assistência, difusão e

transferência de tecnologias.”

Francisco Ariosto Holanda,Secretário de Ciência e Tecnologia, Ceará.

Page 112: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

86

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

mento das sociedades contemporâneas – caracteriza-dos pela concentração da população em grandes cen-tros urbanos, padrão nutricional desequilibrado, usointensivo de produtos químicos nos alimentos, forteexclusão social, precariedade dos serviços públicos,condições inadequadas de habitação, contaminaçãodo meio ambiente etc.– têm gerado um conjunto deefeitos negativos sobre a qualidade de vida das po-pulações, mesmo nos países desenvolvidos.

Dentre as várias maneiras de organizar uma discussãosobre Ciência, Tecnologia e Inovação para qualidadede vida, podemos começar por olhar onde moram aspessoas. As estatísticas brasileiras indicam que cercade 80% da população se concentram em cidades, sen-do que mais da metade em metrópoles com mais de 7milhões de habitantes. Cidades que se construíramem função de migrações rurais aceleradas, e se po-voaram de forma caótica, sem planejamento, e seminfra-estrutura adequada. A população rural brasilei-ra, apesar de representar apenas cerca de 19% do to-tal, soma mais de trinta milhões de pessoas, ocupan-do espaços bastante diferenciados geograficamente,dos pampas gaúchos à floresta amazônica. Qualida-de de vida na cidade ou no campo coloca problemasdiversos para Ciência, Tecnologia e Inovação. Entre-tanto, eles compartilham de um único fio condutor: anecessidade urgente de novas maneiras de aplicar oconhecimento e de gerar novos conhecimentos nasolução dos problemas encontrados.

Nesse sentido, é necessário não apenas avaliar o po-tencial de contribuição das Ciências Sociais no con-texto da reflexão sobre a qualidade de vida, mas étambém crucial aproximar Ciência, Tecnologia e Ino-vação dos problemas do desenvolvimento social, demodo a contribuir para o aperfeiçoamento das po-líticas públicas e propiciar soluções tecnológicas mais

adequadas e de menor custo. Na primeira vertente,relativa às políticas públicas, a contribuição das Ciên-cias Sociais envolve iniciativas que vão desde a aná-lise de fenômenos e tendências, de maneira a corrigirdistorções, antever impactos sociais, formular polí-ticas e estratégias, dar suporte à formulação e ava-liação de políticas e gestão, incluindo desenvolvi-mento local e regional integrado, com ênfase na ge-ração de emprego e renda. Na segunda frente, há dese explorar as possibilidades de áreas como tecno-logias para a solução dos problemas sociais existen-tes, além de tecnologias capazes de facilitar o acessoa bens e serviços básicos (habitação, saneamento,educação, saúde e transporte), novas tecnologias degestão dos serviços públicos e tecnologias que faci-litem a criação local de novos empregos.

Page 113: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

87

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

QUALIDADE DE VIDA NO MEIO URBANO

A cidade talvez seja o principal “artefato” construídopelo homem, cujo funcionamento determina, emgrande medida, a qualidade de vida dos seus habi-tantes. A ocupação da cidade, a distribuição da ha-bitação, do emprego e dos serviços em geral, e a pro-visão do transporte de pessoas e bens para viabilizara vida social e econômica das cidades, têm um im-pacto direto sobre a qualidade de vida das pessoas.A construção e características das cidades brasileirasmodernas são profundamente marcadas pelo elevadoritmo do processo de urbanização no Brasil – fatoque tornou mais difícil a provisão de serviços públi-cos necessários para a vida urbana – , pelas condi-ções mais gerais do desenvolvimento brasileiro, assimcomo por processos inerentes à vida em grandes ci-dades. Entre as questões centrais deste tema, sobres-saem: i) planejamento e gestão urbana; ii) sociabili-dade urbana, pobreza e exclusão social, além de se-gurança; iii) transportes, comunicação e acesso àeducação, à saúde, ao trabalho e ao lazer; iv) provisãode água, saneamento básico e tratamento de resíduosurbanos e industriais; v) toxicidade ambiental, sejaaquela produzida pela indústria, agricultura ou peloacúmulo de resíduos da vida urbana.

Dificilmente será possível melhorar a qualidade devida sem contribuições diretas e indiretas aportadaspela Ciência, Tecnologia e Inovação. É necessáriobuscar desenvolver, identificar, avaliar e disseminartecnologias que possam contribuir para a solução dos

Page 114: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

88

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

problemas existentes. Deve-se, igualmente, estimulara análise dos fenômenos sociais no mundo contem-porâneo e suas tendências, de forma a antever essesimpactos e facilitar a formulação de estratégias e acriação de instrumentos que permitam potencializarseus aspectos positivos para a sociedade e superaros efeitos adversos decorrentes.

O Planejamento das Cidades

Para que a ocupação e uso do espaço urbano ocorramde forma planejada, é necessário desenvolver ins-trumentos de negociação entre sociedade e governo,assim como de gestão compartilhada entre os órgãosque definem as diretrizes para o desenvolvimentourbano, os executores dessas diretrizes e os usuáriosfinais, nas suas distintas áreas: habitação, transporte,saneamento, equilíbrio ambiental etc.

A qualidade de vida urbana é fruto direto do sistemade gestão das cidades. Depende do sistema de ofertae da distribuição de bens e serviços públicos e pri-vados e da forma de apropriação e uso do excedentesocial e dos fundos públicos. Todo esse processoconstitui a gestão e o planejamento das cidades.

A nova agenda da gestão e do planejamento passapela compreensão da cidade formada por novos pro-cessos: crescimento demográfico; aumento de expec-tativa de vida e envelhecimento da população; ex-pansão urbana dentro das margens físicas da cidade(diminuição das periferias); alta migração interur-bana; obsolescência acelerada de tecidos urbanosmais antigos; especulação imobiliária e verticalizaçãodas edificações; desindustrialização e formação deuma economia urbana de serviços; formação de ci-dades globais e cidades periféricas e da cidade dainformação digital, entre outros.

Desse modo, a agenda de pesquisa sobre gestão ur-bana e o planejamento deveria contemplar as seguin-tes questões: i) quais são os novos atores da confor-mação da cidade e de sua inserção na globalização?ii) quais são os mecanismos de sua participação erepresentação no processo decisório urbano? iii) oque são e como devem ser formados os fundos pú-blicos? iv) até onde vai a responsabilidade públicapela construção do espaço urbano, isto é, como seformam parcerias público/privado para o investi-mento e a manutenção urbana? v) como prever e seorganizar para a nova cidade em termos demográ-ficos, culturais, econômicos e de informação? vi)como renovar a cidade existente e construir a nova,sem recorrer à destruição dos tecidos urbanos an-tigos? vii) como potencializar o uso do patrimôniocultural e ambiental construído? viii) como repre-sentar a qualidade de vida urbana e construir sistemasde acompanhamento?

O sistema de CT&I do Brasil tem uma grande tarefapara iniciar as suas ações nessa área, seja por meioda formação de novos quadros, seja pela requalifi-cação de recursos humanos, inclusive cientistas,administradores e técnicos em gestão e planejamentourbano, para enfrentar o desafio da quebra dos para-digmas anteriores. De modo correlato, a promoção eo apoio à pesquisa aplicada e de base nessa área ébastante ampla e, seguramente, essa tarefa não po-derá ser realizada exclusivamente pelo sistema depesquisa universitário.

Page 115: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

89

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

Sociabilidade Urbana, Pobreza e ExclusãoSocial, e Segurança

A sociabilidade urbana é um tema crucial para aqualidade de vida dos brasileiros: a violência urbana,a organização comunitária e as novas formas de parti-cipação e representação de interesses de grupos nacidade dominam o debate sobre o tema. A urbaniza-ção acelerada do Brasil não foi acompanhada poruma nova forma de cultura urbana que reafirmasseo sentido de comunidade e cooperação entre indiví-duos e grupos sociais. A sociedade, caracterizada porforte desigualdade, propiciou a formação de uma cul-tura urbana que vem enfrentando os principais pro-blemas segundo uma ótica restritiva e privatista, queganha sua máxima expressão nos shopping centers enos condomínios residenciais de luxo com os siste-mas fechados de infra-estrutura, sociabilidade, trans-porte e segurança. O resultado é um espaço públicodesqualificado, desprovido de significados sociaisprofundos como os relacionados à memória e à iden-tidade coletiva.

A oferta restrita de oportunidades de ascensão social(emprego, oportunidade de educação e treinamento,serviços de saúde etc.) e de espaços e serviços pú-blicos de uso coletivo de baixa qualidade criaram ocaldeirão de fermentação e explosão da violência ur-bana. Está claro que a solução desse grande problemapassa por enfrentar questões estruturais da sociedadee da economia brasileira e, principalmente, pela cons-trução de uma nova forma de sociabilidade e de go-verno das cidades.1

O sistema de CT&I poderá contribuir para o aper-feiçoamento da sociabilidade urbana e, portanto, damelhoria da qualidade de vida. A agenda de pesquisae estudos é ampla e inclui temas como a requalifica-ção dos espaços públicos; a reutilização de áreas ur-banas obsoletas ou degradadas para novos usos; osequipamentos culturais como “motores” da econo-mia urbana de serviços; a alfabetização digital e oacesso à vida cultural na cidade (a cidade digital);segurança pública e lazer; entre outros.

A superação do quadro de pobreza e exclusão socialrequer ações em diversos campos. O Desenvolvi-mento local integrado e sustentável constitui temada agenda de agências internacionais e nacionais, go-vernos e sociedade civil organizada. As formas depromoção do desenvolvimento local, como redes deprodução, iniciativas de economia solidária, coope-rativas e outras, definem-se pela formulação de pro-jetos estratégicos que articulem empreendedorismoe projetos sociais.

Percebe-se, por todo o País, a experimentação depolíticas públicas inovadoras e a ação de novos atoressociais na condução dos processos de geração de em-

1 O conceito governo da cidade é utilizado aqui no mesmo sentido que o anglicismo ‘governança’ tem sido usado naliteratura política brasileira.

O MCT estabeleceu protocolo de cooperação com o Gabinete deSegurança Institucional da Presidência da República, com o objetivode ampliar as possibilidades de utilização de resultados de pesqui-sas científicas e tecnológicas realizadas no País, e está mobilizandogrupos de pesquisas que trabalham em vários setores afetos aotema. Um conjunto de projetos sobre a questão da segurança deinformação e chave pública, mapeamento e monitoração de armas eexplosivos, sistemas inteligentes de vigilância, entre outros, estãoem fase de finalização.

Quadro 1Combate à Violência eSegurança Pública

Page 116: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

90

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

prego e de renda. Cabe à CT&I avaliar se essas ini-ciativas podem ser tornadas mais perenes, sustentá-veis e integradas de desenvolvimento socioeconô-mico, bem como se é possível articular essas políticas,ainda fragmentárias e experimentais, em torno de ummarco mais universal e consistente com a dimensãodos problemas sociais a serem enfrentados.

Transportes

A questão dos transportes urbanos é uma das maisimportantes na determinação da qualidade de vidado habitante das cidades brasileiras, onde o trans-porte público - meio de acesso básico da populaçãoà educação, ao trabalho, ao lazer e aos serviços so-ciais - é, reconhecidamente, de má qualidade. A de-gradação da qualidade de vida ocasionada pelas de-ficiências do transporte urbano, público e privado, éimensa. Como conseqüência da disputa pelo uso doespaço urbano, entre o transporte motorizado e pe-destres, os atropelamentos tomaram proporções decalamidade social, com alto percentual de vítimasfatais. De acordo com dados do Instituto de Pesqui-sas Econômicas Aplicadas (IPEA), os congestiona-mentos medidos em dez cidades brasileiras (de gran-de e médio porte) ocasionavam em 1998 um desper-dício de recursos da ordem de R$500 milhões.

Como todos os outros aspectos da qualidade de vida,essa questão transcende os limites de atuação daCiência e Tecnologia, mas, simultaneamente, colocaproblemas que poderiam ser resolvidos mediantegrande esforço integrado das engenharias e das Ciên-cias Sociais. Um programa mobilizador de pesquisae desenvolvimento em transportes urbanos compre-enderia desde o desenvolvimento de motores em-pregando combustíveis não poluentes (ou menos po-luentes), planejamento e engenharia de tráfego, infor-

Page 117: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

91

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

mática, até as Ciências Sociais (gestão e planejamen-to urbano, gestão do sistema público e privado detransporte). A busca de solução deste imenso pro-blema social poderia ser um estímulo importante pa-ra o uso inovador da Ciência e Tecnologia no Brasil.

O Brasil desenvolveu competências na área de pla-nejamento urbano, tanto nas universidades como emalgumas agências da administração pública federal,em particular na Empresa Brasileira de TransportesUrbanos e no Geipot. Soluções tecnológicas e deengenharia de transporte foram desenvolvidas nessecomplexo de instituições. Tecnologias nacionais maismodernas, como os sistemas inteligentes na gestãodos transportes e de informação para os usuários,não se encontram desenvolvidas, em parte, pelainexistência de demanda por parte dos estados e mu-nicípios aos grupos de pesquisa. Apesar da fragili-dade institucional associada a anos de crise do setorpúblico, existem ainda alguns núcleos nas universi-dades e competências no aparelho de Estado e nosetor privado que poderiam ser mobilizadas para odesenvolvimento de projetos multidisciplinares vol-tados tanto para o desenvolvimento de tecnologiasde processo, quanto de produtos. A articulação entrepesquisa, realizada principalmente nas universidades,e o setor privado, responsável pela produção e pres-tação dos serviços de transporte, é fundamental paraassegurar que os projetos convertam-se em inovaçõese desta forma beneficiem a população como um todo.

Provisão de Água

A existência de vida depende da água, mas apenasrecentemente esta passou a integrar a agenda de preo-cupações e debates da sociedade, que começa a per-ceber que esse recurso não é inesgotável. O mau usoda água doce constitui-se em séria ameaça à quali-

dade de vida e ao desenvolvimento sustentável.O Brasil possui a maior bacia hidrográfica do mundoe o segundo maior potencial para irrigação. Os riosbrasileiros contribuem com aproximadamente 12% dototal de água doce disponível no mundo, mas aindaassim apenas 83% dos domicílios têm abastecimentopúblico de água e só 8% dos municípios apresentamunidades de tratamento. A seca do Nordeste é umarealidade persistente que flagela periodicamentemilhões de brasileiros. A competição pela água entrea agricultura, indústria e cidades já é um problemareal em várias regiões do País, com efeitos negativossignificativos sobre a qualidade de vida e economia.

A falta de integração na gestão dos problemas urba-nos, principalmente devido à setorização das açõespúblicas, tem sido uma das grandes causas do agrava-mento das condições hídricas nas cidades: (i) conta-minação dos mananciais; (ii) falta de tratamento e dedisposição adequada de esgoto sanitário, industrial ede resíduos sólidos; (iii) aumento das inundações eda poluição devido à drenagem urbana; (iv) ocupaçãodas áreas de risco de inundação, com graves conse-qüências para a população.

O principal desafio para CT&I na área de gestão daágua para abastecimento urbano é contribuir para so-luções integradas e economicamente sustentáveis, quebeneficiem também a população de baixa renda, quese encontra nas condições mais desfavoráveis. A redu-ção da disponibilidade hídrica devido à degradaçãoda qualidade da água dos rios, lagos e aqüíferos é umproblema que hoje afeta a qualidade de vida de umnúmero significativo de famílias e que tenderá a agra-var-se caso não sejam revertidas as tendências atuais.No entanto, todos esses desafios somente serão ven-cidos com o desenvolvimento tecnológico que busque,por exemplo, a racionalização do uso da água, com

Page 118: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

92

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ticamente não existe. Os desafios para CT&I são aavaliação integrada dos processos meteorológicos,hidrológicos e dos ecossistemas sujeitos à variabili-dade climática; desenvolvimento de modelagem des-ses processos integrados e a avaliação dos cenáriosde desenvolvimento dos espaços brasileiros.

Saneamento Básico

O Estado brasileiro não foi capaz de implantar umsistema de saneamento básico em ritmo consistentecom as necessidades geradas pelo rápido processode urbanização nos últimos trinta anos. Mesmo assim,entre 1960 e o final dos anos noventa, registrou-seuma notável ampliação da rede de equipamentos sa-nitários e do percentual da população atendida. En-quanto em 1960 apenas 41% da população urbanatinham acesso à rede de água, em 1997 pouco maisde 90% eram atendidos por esse serviço, 85% porcoleta pública de lixo e a drenagem atendia a umnúmero estimado de 50%. Entretanto, quanto ao des-tino final de resíduos sólidos e líquidos, a situaçãono País é séria. Estima-se que somente 10% do esgo-to coletado e 15% do lixo têm destino final adequado.O acesso à rede coletora de esgotos é substancial-mente inferior (46% em 1997 e 26% em 1960), assimcomo a disponibilidade de esgotos e fossas sépticas(25% em 1997). Talvez seja este o problema am-biental brasileiro com maior impacto sobre a quali-dade de vida - particularmente a saúde - das popu-lações urbanas no Brasil.

Problemas como água contaminada, falta de sanea-mento, poluição do ar e exposição a organismos trans-missores de enfermidades continuam sendo os prin-cipais fatores ambientais responsáveis pela deterio-ração da saúde de vastas camadas populacionais.Diarréia, cólera, leptospirose, dengue e outras enfer-

programas de redução de consumo, e de perdas nalinha, reutilização da água, equipamentos de menorconsumo, entre outros. Sistemas eficientes de trata-mento de água, adequados à realidade local, bem comoo desenvolvimento de sistemas de controle da polui-ção que melhorem a qualidade da água, são tambémdesafios a serem vencidos. As cidades brasileiras preci-sarão melhorar seus sistemas de coleta e disposição fi-nal de resíduos sólidos e de controle das cargas difusasde poluição. As enchentes urbanas precisam de melho-res formas de gestão técnica e institucional para que,em um futuro próximo, perdas materiais e relativas àsaúde humana sejam significativamente minimizadas.

O aparecimento de bactérias patógenas resistentesaos sistemas tradicionais de tratamento de água e ainexistência de meios adequados de monitoração dofenômeno, por exemplo, representa um imenso riscode saúde pública e requer pesquisas urgentes, usan-do as mais avançadas técnicas da biologia moderna.Sistemas de monitoramento das redes de distribuiçãopoderão se beneficiar de microdispositivos e micro-sensores químicos e biológicos avançados, os quais,fabricados em massa, são de baixo custo unitário epoderão fornecer informações em tempo real sobrea qualidade da água e perdas na distribuição. Há,portanto, escopo para Ciência, Tecnologia e Inova-ção de alto nível, mobilizadoras de pesquisa na fron-teira, para aplicações de interesse público imediatomesmo em um campo aparentemente tão tradicionalquanto o do abastecimento de água (Tabela 1).

São significativos os efeitos da modificação do usodo solo e da variabilidade climática de curto e médioprazos sobre a bacia hidrográfica e sobre as atividadeshumanas. O conhecimento desses impactos sobreos sistemas hídricos é, ainda, limitado. Da mesmaforma, o gerenciamento integrado dessa questão pra-

Page 119: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

93

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

midades associadas às condições ambientais redu-zem de forma significativa o bem-estar das popula-ções urbanas e rurais. Os custos para a saúde sãoelevados e têm reflexos diretos na economia e nosetor público. Desta maneira, é necessário combinarações no campo da medicina em geral com inter-

venções nas áreas de saneamento básico e controledas condições ambientais nos centros urbanos.

A análise das contribuições de CT&I para a melhoriadas condições de saneamento básico nas áreas urba-nas envolve os serviços públicos de abastecimento

Page 120: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

94

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O sistema de esgotamento sanitário convencional é composto decinco tipos de componentes: redes individuais, rede pública decoleta, estações elevatórias, estações de tratamento e emissários.

As redes individuais coletam os efluentes das unidades residenciaise os entregam à rede pública de coleta por meio de ligação física.Essas são, em geral, de instalação compulsória nas áreas onde hárede de coleta pública.

A rede pública de coleta recolhe o efluente diretamente de cadaterreno e o transporta até uma estação de tratamento. É dispostasob via pública, de acordo com padrões técnicos rígidos, determi-nados em parte pela sua localização. A rede deve suportar, semsofrer danos, os efeitos do movimento de veículos sobre a via. Seucusto por metro linear é muitas vezes que o custo por metro lineardas redes individuais. Envolve obrigatoriamente todos os quartei-rões de uma cidade, coincidindo o seu traçado com o traçado dasvias públicas.

A profundidade máxima da rede que flui por gravidade para a maio-ria das redes públicas de coleta é de seis metros. Nesse ponto, seinstala uma estação para elevar o efluente à profundidade mínima.

Para tratar esgoto sanitário, a maioria das estações modernasemprega atualmente processos aeróbicos – que requerem oxigê-nio -, complexos do ponto de vista da engenharia e que envolvemelevados investimentos, altos custos de manutenção e operação,resultando, conseqüentemente, em elevado custo de esgoto trata-do por metro cúbico.

Nos últimos anos, houve acelerada evolução dos conhecimentos edo emprego de reatores anaeróbicos – que não requerem oxigê-nio. Embora o tratamento de esgotos sanitários por esses proces-sos necessite de um pós-tratamento para a redução da carga orgâ-nica exigida para o lançamento dos efluentes nos diferentes corposreceptores, está comprovado que o custo de esgoto tratado por

metro cúbico é bem inferior ao do tratamento aeróbico.

A inovação do sistema condominial também é outro fator de redu-ção notável nos custos. Trata-se de uma inovação tipo “ovo deColombo”, pela sua simplicidade, que reduz em mais de um terço,às vezes à metade, os custos de um sistema de esgotamento sanitá-rio. A lógica da inovação consiste em introduzir uma zona interme-diária, entre as redes individuais dos usuários e a rede pública decoleta. As redes individuais passam a se ligar com uma rede inter-mediária, a qual coleta os esgotos do quarteirão, havendo apenasuma ligação do quarteirão com a rede pública de coleta.

O primeiro fator de redução de custos é a substituição de parte darede pública pela rede condominial. A rede substituidora apresentaos mesmos custos por metro linear das redes individuais. A redecondominial pode correr sob a calçada, sob as áreas de recuo frontaldas edificações, ou, ainda, no fundo dos terrenos de uma quadra. Talqual as redes individuais, não corre sob a via pública, não tem queresistir ao tráfego de veículos, não necessita de engenheiros paraseu projeto, nem para sua execução. A rede coletora pública passaem um ponto do quarteirão para a ligação com a rede condominial,tendo sua extensão reduzida, grosso modo, à metade, pois em umconjunto de vias correspondentes a quarteirões subseqüentes sóprecisa passar sob uma via a cada duas. Outro fator de redução decustos está vinculado ao número de ligações com a rede pública decoleta. Sendo apenas uma por quarteirão, ela pode ser deixadapreparada quando da instalação da rede pública de coleta, não ha-vendo mais motivo para escavações na via pública para prover liga-ções com a rede pública de coleta. Assim, não apenas os custos dasescavações para estabelecer as ligações, estabelecimento das liga-ções e posteriores correções do capeamento da via pública, terre-no por terreno são reduzidos, quando forem passando a abrigarconstruções, mas também os custos da demora em corrigir orecapeamento e os custos decorrentes dos erros de recapeamento,de presença tão comum nas vias públicas dos subúrbios das cidadesbrasileiras são contidos.

Quadro 2Inovação no Sistema de Esgotamento Sanitário

de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, dre-nagem urbana e controle de vetores. Todos esses se-tores apresentam importantes interfaces com a saú-de pública, com o meio ambiente, desenvolvimentourbano e com a habitação, sendo componentes fun-damentais na melhoria da qualidade de vida. O seuvalor social é inquestionável (Quadro 2).

A agenda está por ser definida, mas deveria guiar-se

por alguns critérios: (i) levando em conta que o prin-cipal obstáculo enfrentado diz respeito ao volumede recursos necessários para expandir o sistema desaneamento, superior à disponibilidade do setor tantopúblico quanto privado, seria conveniente concentraresforços em soluções que permitam reduzir os custosde implantação e manutenção dos sistemas de sa-neamento; (ii) tecnologias de informação, monito-ramento em tempo real e gestão das condições am-

Page 121: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

95

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

bientais que afetam a operação do sistema e a quali-dade de vida e que permitam reduzir os custos demanutenção, aumentar a eficiência dos serviços emelhorar a qualidade de vida e condições de saúdeda população; (iii) desenvolvimento, aperfeiçoamen-to e difusão de tecnologias eficientes de baixo custode implantação, operação e manutenção destinadasprioritariamente às populações mais carentes; (iv)desenvolvimento de soluções que potencializem ocrescimento local, estimulem a criação de laços co-munitários, fortaleçam as organizações sociais ecriem oportunidades de negócios e empregos diretospara a população beneficiária. A experiência temmostrado que esse tipo de desafio proporciona gran-des oportunidades para o desenvolvimento de rela-ções democráticas e participativas entre o setor pú-blico e a sociedade, contribuindo para a criação deum novo modelo de Estado; (v) ações que visem àtransferência das tecnologias desenvolvidas, dentrodos padrões anteriormente explicitados, para as em-presas responsáveis por serviços de saneamento.

Tratamento de Resíduos Sólidos

Os resíduos sólidos orgânicos produzidos nas cida-des colocam uma série de ameaças ao meio ambien-te. A utilização de aterros sanitários é uma alternativacada vez menos recomendável para receber o volumede resíduos sólidos de cidades de médio e grandeporte. Os impactos ambientais e sobre a qualidadede vida da população incluem desde a contaminaçãode lençóis freáticos até problemas de saúde, espe-cialmente para os moradores das áreas vizinhas aosaterros sanitários. A queima tampouco é uma alter-nativa aceitável, pois contribui para elevar a polui-ção atmosférica, inclusive com a emissão de gasestóxicos produzidos pela queima de material com ele-vado conteúdo de matérias-primas petroquímicas.

A solução de longo prazo é reduzir a quantidade delixo produzido nas cidades, mas de imediato é neces-sário desenvolver soluções técnicas para o tratamen-to e armazenamento de resíduos. Pesquisas nessaárea deveriam levar em conta a redução de custosem relação aos métodos tradicionais, a possibilidadede reciclagem e reutilização de materiais, o desen-volvimento de soluções alternativas e economica-mente viáveis para substituir produtos descartáveispor apresentações mais duráveis, a criação de em-prego e renda e os efeitos sobre o meio ambiente emgeral. O lodo gerado nas estações de tratamento deesgoto e de água também é um fator altamente po-luidor dos recursos hídricos, uma vez que, na maioriados casos, é simplesmente lançado nos corpos d’á-gua. Estudos sobre o reaproveitamento e alternati-vas de disposição final segura desse resíduo são fun-damentais para garantir a qualidade das águas, prin-cipalmente se levarmos em conta que, com a am-pliação do percentual de esgoto tratado, o volumede lodo gerado crescerá significativamente.

Poluição Urbana

A poluição atmosférica urbana é produzida principal-mente pelas emissões industriais e de veículos auto-motores. A contaminação do solo, embora menos no-tória, é um problema cuja gravidade não pode ser me-nosprezada. Produzida pela descarga de produtosquímicos usados pela indústria urbana ou por despejosdomésticos, ela é agravada pela deficiência dos orga-nismos de monitoração e controle e de saneamento.

A poluição nas cidades é também sonora e visual.Hoje nas grandes cidades brasileiras não se pode falarde poluição sem incluir o ruído das ruas, dos veícu-los, além do som mecânico das lojas, das residências,dos bares, das aglomerações públicas, do comércio

Page 122: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

96

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Um levantamento sistemático dessas técnicas deveser desenvolvido por especialistas que possam avaliaras experiências e recomendar formas de uso imedia-tas, ampliando, por exemplo, o Centro Nacional deReferência em Habitação/Infohab.

As iniciativas na área de habitação devem ser con-sistentes com os princípios do desenvolvimento sus-tentável, e as ações de CT&I para os próximos dezanos deveriam incluir, necessariamente, as seguintesprioridades:

• urbanização/recuperação de áreas de habitações“subnormais”. Essas ações devem considerar as con-dições locais, as soluções geradas pela própria co-munidade e as questões fundiárias envolvidas no usodo solo pretendido. Nesse sentido, CT&I devem con-tribuir para encontrar soluções que minimizem asremoções de famílias dos seus locais de moradia eao mesmo tempo viabilizem a incorporação dessesaglomerados à cidade moderna, com provisão de ha-bitação e serviços públicos básicos;• utilização de técnicas e de materiais de abundânciaregional, respeitados os requisitos de desempenhotécnico, visando a o barateamento da habitação;• utilização de recursos abundantes na comunidade,em particular a mão-de-obra desempregada e comocupações precárias;• estudos sobre as condições de vida e sociabilidadedas aglomerações e bairros com grande concentraçãode habitações precárias, visando principalmente ar-ticular as soluções tecnológicas aos problemas so-cioeconômicos das comunidades pobres, de tal for-ma que as eventuais intervenções na área habitacio-nal possam produzir efeitos colaterais positivos, taiscomo geração de emprego e renda na comunidade,aprendizado profissional e fortalecimento das orga-nizações comunitárias.

e dos automóveis. A poluição visual está presentena descaracterização da paisagem urbana, na proli-feração de painéis de publicidade nos espaços livrespúblicos e privados, no recobrimento das fachadasdas edificações com propaganda, na verticalizaçãoem áreas urbanas de patrimônio histórico e artístico,no tratamento uniforme de pavimentos de ruas ecalçadas e do mobiliário urbano. O sistema de CT&Ipode contribuir para uma melhor identificação doque seja esse tipo de poluição e do modo como ospadrões culturais de referência estão mudando, pormeio do incentivo a pesquisas e propostas de controlee gestão urbana das atividades causadoras.

Habitação

O déficit habitacional brasileiro é, sem dúvida, umdos problemas sociais mais graves do País. Mas oproblema habitacional transcende a carência de ha-bitações e diz respeito à ocupação desordenada dosolo urbano, aos padrões técnicos e normas geraisque regulam a ocupação do solo e as construçõesresidenciais, ao elevado custo, baixa qualidade eadaptabilidade das construções às condições ambien-tais e socioeconômicas da população.

O Brasil conta com inúmeras experiências na áreade construção residencial, executadas tanto no âm-bito de programas habitacionais quanto por iniciativade instituições de pesquisa e organizações comuni-tárias. Um primeiro passo para a definição de dire-trizes de CT&I para habitação deveria ser, sem dúvi-da, documentar e analisar essas experiências, permi-tindo dessa forma uma utilização mais abrangente eadaptação às condições e especificidades locais. Istopossibilitaria o uso imediato e disseminação, sem cus-tos adicionais, de tecnologias e técnicas já desen-volvidas e testadas em programas de caráter social.

Page 123: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

97

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

A existência de um reduzido número de normas paraos produtos da construção civil (cerca de 1.500, abran-gendo produtos, ensaios, especificações etc.), assimcomo de poucas pesquisas no campo da raciona-lização dos componentes, restringe as possibilidadesde elevar a eficiência da construção e reduzir o custoda habitação. Além disso, as normas técnicas exis-tentes são pouco disseminadas, e a maioria dos agentesnão se beneficia das vantagens potenciais da nor-malização, em particular no que se refere à qualidade,aumento da produtividade e redução de custos. Aolado de um esforço para ampliar o número de pro-dutos da construção civil cobertos pelas normas dequalidade e especificações necessárias para sua utili-zação mais eficiente, é preciso estimular pesquisassobre a racionalização e uso sustentável de materiaise componentes. Nessa mesma linha, deve-se incenti-var pesquisas com novos materiais disponíveis nasvárias regiões do País. Faz-se também necessário oestímulo à elaboração de códigos de práticas.

Alguns estudos indicam que a simples redução donível de desperdício na construção civil possibilitariaum aumento da ordem de 25% na oferta de habitaçãosem a adição de novos recursos. Programas de gestãoda qualidade e da produtividade são fundamentaispara modificar as condições dessa indústria, deven-do-se, por exemplo, intensificar as ações implemen-tadas no âmbito do Programa Brasileiro de Qualidadee Produtividade do Hábitat/PBQP-H.

Soluções tecnológicas mais avançadas somente serãoviáveis se acompanhadas de investimentos na for-mação e reciclagem da mão-de-obra, em grande me-dida a cargo das próprias empresas. O setor públicopode e deve facilitar a ação dos agentes privados,sendo particularmente relevante o reforço do nívelgeral de educação, da educação profissionalizante e

da educação tecnológica. Nesse sentido, é impor-tante reduzir o tempo de formação de trabalhadoresespecializados e desenvolver programas de capa-citação e reciclagem utilizando as vantagens ofere-cidas pela sociedade de informação. Mais uma vez,a articulação entre os setores públicos e privadosaparece como condição essencial para a superaçãode problemas, alguns simples, que afetam a qualidadede vida de milhões de pessoas.

É preciso avaliar a possibilidade de criação de umprograma setorial destinado a promover o desenvol-vimento tecnológico e gerencial da construção civil,juntando esforços das várias instituições tecnológicasespecializadas e de excelência já existentes, estimu-lando o intercâmbio interdisciplinar e reforçando oslaços entre a indústria e as instituições de pesquisa eensino em todos os níveis. Nessa mesma linha, é ne-cessário melhorar os laboratórios voltados para a qua-lificação e certificação de materiais e de componen-tes para a construção civil; desenvolver estudos e açõesvoltados para a melhoria das condições de trabalhona construção civil, assim como de iniciativas queajudem a fixação da mão-de-obra; desenvolver estudospara a avaliação e o aperfeiçoamento de metodologiadestinada à apropriação dos custos da construção dahabitação popular, conforme propostas discutidas noFórum de Competitividade da Indústria da Construçãoe no já mencionado PBQP-H.

Page 124: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

98

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 125: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

99

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

QUALIDADE DE VIDA NO MEIO RURAL

O Brasil já não é um país rural. Ainda assim, quase32 milhões de pessoas, número superior à populaçãototal de muitos países europeus e latino-americanos,vivem no campo ou em pequenas cidades e vilas, edependendo diretamente das condições de vida etrabalho vigente no mundo rural.

O meio rural brasileiro representa de forma para-digmática as contradições estruturais básicas do País.Rico em recursos naturais exploráveis, do meio ruraloriginam-se mais de 30% da riqueza produzida anual-mente no País. No entanto, em um ambiente de ri-queza e opulência, ainda vivem milhões de brasileirosauferindo níveis de renda insuficientes para assegu-rar a aquisição de uma cesta básica de alimentos.São heranças históricas com as quais já não é possívelseguir convivendo, cuja superação é prioridade ime-diata do governo e da sociedade. CT&I têm granderesponsabilidade nessa batalha e podem aportar con-tribuições efetivamente válidas para melhorar a qua-lidade de vida da população rural.

Estudo recente do Banco Interamericano de Desen-volvimento (BID) estima que em 1997 pouco maisda metade dos domicílios rurais, abrigando quase 66%da população rural, eram pobres. Quase dois terçosdos pobres rurais estão concentrados na região Nor-deste (incluindo o norte de Minas Gerais). Conside-rando em conjunto os indicadores de renda e necessi-dades básicas, o percentual de pobreza sobe para quase

Page 126: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

100

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

qualidade e nível de remuneração de empregos nomeio rural. Dentre os atributos dos própriosindivíduos, deve-se destacar a saúde, o níveleducacional e a qualificação profissional como de-terminantes diretos do nível de renda e da qualidadede vida da população rural. Por último, é necessárioindicar que a provisão e acesso à infra-estrutura básica,especialmente transporte, energia e comunicações,também condicionam, direta e indiretamente, o nívelde renda e a qualidade de vida no meio rural.

A superação desse quadro exige a coordenação deesforços de várias áreas, e CT&I, por si só, não podemser vistas como portadoras de soluções mágicas oumilagrosas. Dessa maneira, as indicações a seguir de-vem estar inseridas em um contexto mais amplo deação de vários setores dos governos e da sociedadeem geral.

Além das atividades de pesquisa científica e tecnoló-gica, é necessário reforçar as ações de extensão tec-nológica, ampliando o acesso às informações e à ca-pacitação técnico-profissional, seja dos produtores,seja dos profissionais que trabalham nos serviçosrurais.

A oferta e a qualidade da educação formal no meiorural são inferiores às das cidades. Muitos daquelesque têm acesso à escola concluem o nível médio semde fato absorver o conteúdo essencial previsto paraesses anos de estudos. Tal deficiência reduz os efeitospositivos da educação formal, em particular as pos-sibilidades de os indivíduos lograrem uma inserçãofavorável na economia e melhorar de vida. A decisãode mudar essa situação esbarrará na insuficiência dequadros humanos qualificados para levar a cabo atarefa; no baixo nível de qualificação e habilidadeprofissionais dos professores, extensionistas, outros

80% da população rural. Qualquer programa visandomelhorar a qualidade de vida das populações ruraisdeve, portanto, levar em conta as características e con-dicionantes estruturais da pobreza rural no Brasil.

CT&I já vem desempenhando um papel relevantepara as mudanças de qualidade de vida no meio ru-ral. A introdução e difusão do “radinho de pilhas”,apenas para dar um exemplo, tiveram grande impac-to, tendo sido por décadas o principal, senão o único,meio de comunicação e acesso à informação da po-pulação rural pobre. Ainda hoje o rádio é amplamenteusado para a transmissão de programas de interessepúblico, desde educação, extensão rural até mo-bilização da população para campanhas de vacina-ção e outras. De fato, é possível afirmar que o sim-ples aproveitamento do conhecimento, tecnologia einovações já disponíveis poderiam produzir signi-ficativos impactos positivos na qualidade de vidada população rural.

Uma agenda de CT&I para melhorar a qualidade devida da população rural deveria focar a capacitaçãoda população para elevar seu nível de renda e a pro-visão e facilitação do acesso a alguns serviços pú-blicos que tenham efeitos diretos sobre a qualidadede vida e sobre a capacidade de geração de renda,particularmente educação, saúde e capacitação pro-fissional.

A renda da população rural é determinada por umconjunto de fatores estruturais e conjunturais cuja aná-lise transcende os limites deste documento. Os con-dicionantes de natureza estrutural mais relevantes sãodisponibilidade e qualidade dos recursos naturais paraexploração agropecuária, acesso aos demais meios deprodução, à informação e aos mercados de insumos,produtos e serviços, nível tecnológico e produtividade,

Page 127: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

101

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

técnicos e da mão-de-obra atualmente empregada.É possível construir, improvisar salas de aulas e ad-quirir equipamentos. No entanto, é impossível formarprofessores em curto prazo de tempo, e a alternativade improvisá-los costuma produzir os efeitos duvi-dosos das vacinas vencidas. O desafio é utilizar atecnologia da informação para qualificar e requalifi-car professores que trabalham no meio rural e naspequenas cidades, preferencialmente residentes lo-cais. A mesma tecnologia deveria ser usada de formaintensiva para educação à distância, assim como paraprogramas de capacitação e extensão profissional(Quadro 3).

Em sua maioria, os domicílios da zona rural, mesmoos pobres, têm acesso à comunicação de massa. Cer-ca de 80% possuem rádio e 40% televisão. Por si sóesses números são encorajadores, pois permitem aimplementação de programas de educação rural,transferência tecnológica, capacitação profissional,educação sanitária etc., baseados na utilização, nãoapenas do rádio e da TV, mas também de novas tec-nologias de comunicação e informação.

Um desafio do desenvolvimento científico e tecno-lógico é contribuir para criar condições para a per-manência da população nas regiões rurais, em parti-cular naquelas mais distantes e que oferecem condi-ções de vida mais difíceis. Melhorar as oportunidadeseconômicas e as condições de saúde, habitação eeducação, a partir de estudos sobre a realidade e po-tencialidade local, melhor aproveitamento de recur-sos escassos, identificação de uso econômico pararecursos abundantes, conservação e recuperação domeio ambiente degradado, são algumas das áreas quedeveriam receber atenção ao longo da década.

As secas atingem direta e indiretamente a qualidade

Quadro 3Programa de Apoio às TecnologiasApropriadas - PTA

Este programa objetiva o desenvolvimento, a transferência, a trans-formação e a apropriação de conhecimentos tecnológicos que pos-sam agregar valor à produção proveniente da pequena propriedaderural e micro/pequenas empresas, observadas suas característicaseconômicas, sociais, culturais e ambientais, com vistas a contribuirpara a melhoria da qualidade de vida das comunidades envolvidas.O Programa concentra-se basicamente em três linhas de atuação,que podem ser resumidas em produção, extensão e informaçãotecnológicas.

Componentes:• Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs) – O estado do Cearávem implantando uma rede de CVTs. São escolas de cunho essenci-almente prático, voltadas para o ensino profissionalizante e para oestudo de ciências. Equipados com laboratórios de física, química,biologia, informática, eletromecânica, biblioteca multimídia, con-tando com um quadro docente qualificado, os CVTs estão sendoimplantados em quarenta municípios. O objetivo é proporcionarapoio aos professores e alunos do 2º grau em aulas práticas e ofere-cer cursos técnicos profissionalizantes orientados de acordo com avocação natural da região e segundo a capacitação tecnológica dapopulação. Eles oferecem treinamento àquelas pessoas que nãotêm mais tempo de receber ensino formal, mas que, por não teremprofissão definida, precisam adquirir novos conhecimentos para semanterem ou entrar no mercado de trabalho. Também é tarefa dosCVTs a prestação de serviços de análise laboratorial e de assistênciatécnica à comunidade.

• Centros Regionais de Ensino Tecnológico (Centecs). Os progra-mas dos Centecs aliam o desenvolvimento de atitudes e habilidadesnecessárias para produzir e trabalhar em um ambiente competiti-vo, o treinamento técnico específico para a realização de tarefasprodutivas a uma educação sólida que crie no profissional umautodidatismo e capacidade para aprimorar continuamente seusconhecimentos.

• Núcleos de Tecnologias Apropriadas (NTAs). Procuram avaliar emelhorar a produção local, otimizando a organização das qualifica-ções empregadas, com o intuito de instalar pequenas unidades deprodução, além de promover a capacitação do homem para execu-tar trabalhos produtivos, mediante a realização de cursos.

Page 128: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

102

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O ambiente semi-árido do Nordeste brasileiro é diversificado, nosseus recursos naturais, e complexo, na convivência do homem como seu clima seco e quente. Se, por um lado, o regime hídricoirregular se constitui em um sério fator limitante para a produçãoagropecuária, por outro existem áreas com boa disponibilidade deáguas superficiais e subterrâneas, bem como recursos de solo apro-priados para desenvolver agricultura irrigada, em condições com-petitivas com outros semi-áridos do mundo.

O semi-árido, dominado pelo bioma Caatinga, é centro de origemde algumas espécies que exibem variabillidade genética, entre esssasas plantas xerófilas, que têm múltipla utilização, seja como forra-gem, alimentação humana e usos medicinais, entre outros aindapouco explorados.

O Ministério da Ciência e Tecnologia, juntamente com outras ins-tituições como MEC, Sebrae, Embrapa e universidades, vêm de-senvolvendo programas e projetos visando, por meio de diversasinovações tecnológicas e qualificação de recursos humanos, melho-rar as condições de exploração sustentável do semi-árido.

O Programa Xingó é uma iniciativa de cunho multidisciplinar doMCT/CNPq e da Chesf, em conjunto com universidades de Sergipe,Alagoas, Bahia e Pernambuco, com grupos de pesquisa divididosem nove áreas. Assim, o Programa Xingó desenvolve ações em 29municípios compreendidos nos estados de Alagoas, Bahia, Per-nambuco e Sergipe, em uma área total de 40.293km, abrangendouma população de 584.883 habitantes, operando sempre no senti-do de desenvolver as potencialidades da região do Baixo São Fran-

Quadro 4O Semi-Árido Nordestino e o Programa Xingó

cisco. A estratégia do programa está calcada no entendimento deque o desenvolvimento passa pela elevação do nível de educação dapopulação local e pelo maior conhecimento das potencialidades evocações da região, passos necessários para a exploração sustentá-vel da caatinga e melhoria da qualidade de vida do sertanejo.

O Programa Xingó tem como objetivos: (i) desenvolver Ciência eTecnologia para a melhoria da qualidade de vida das populações e asustentabilidade do semi-árido; (ii) atuar junto às comunidades desua área de abrangência, difundindo e incentivando o uso dos conhe-cimentos científicos; (iii) priorizar as pesquisas divulgação dos co-nhecimentos em (a) gestão de recursos hídricos e (b) conhecimen-to e uso da biodiversidade da Caatinga.

Nesta mesma direção, a Embrapa Semi-Árido vem trabalhando hávários anos no sentido de conhecer, classificar e hierarquizar osfatores que limitam o desenvolvimento da agropecuária da regiãosemi-árida do Nordeste. Essa experiência aponta para um novotipo de relacionamento entre a pesquisa e o desenvolvimento rurale permite sintetizar os conhecimentos adquiridos em umametodologia capaz de diagnosticar, de modo rápido e seguro, osrecursos ambientais de solo, vegetação e água e os sistemas deprodução.

É necessário indicar que o dinamismo dos pólos de irrigação pre-sentes em vários estados nordestinos está fortemente baseado eminvestimentos em CT&I, cujos resultados viabilizaram a exploraçãocomercial competitiva de cultivos até então não desenvolvidos naregião.

de vida no meio rural, reduzindo a oferta de energia,água potável e para usos produtivos. O País perde,anualmente, somas altas, provavelmente superioresa U$1 bilhão, em função das secas, principalmenteno Nordeste, onde elas são eventos freqüentes (Qua-dro 4). É preciso ampliar a disponibilidade hídricautilizando técnicas inovadoras como novas formasde exploração de água subterrânea no cristalino,processos de dessalinização, processos integrados degestão da demanda e de racionalização do uso daágua, controle e melhoria da qualidade da água emelhoria da previsão climatológica (ver RecursosHídricos no Capítulo 5 - Desafios Estratégicos emCT&I).

Page 129: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

103

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NO BRASIL

Quanto mais complexa a organização de uma socie-dade, tanto mais dependente de sua segurança alimen-tar ela se torna. Em uma era urbana, de supermer-cados, alimentos congelados, produtos prontos paraconsumir e cadeias de restaurantes de refeições rápidas,é difícil às vezes dar-se conta de que a civilização hu-mana sempre dependeu, para sua sobrevivência, dadisponibilidade de alimentos em abundância e qua-lidade adequadas. É difícil, também, dar-se conta daqualidade nutritiva dos alimentos ingeridos quo-tidianamente ou das complexas cadeias produtivas queos trazem da terra até nossa mesa. Tecnologia eInovação foram sempre fatores determinantes das con-dições de nutrição humana. Antes mesmo do surgi-mento da agricultura, a tecnologia estava presente napedra lascada e na lança que permitiam a caça de ani-mais selvagens. No presente, com mais razão ainda,Ciência, Tecnologia e Inovação estão na base da segu-rança alimentar das nações: produção, processamento,controle de qualidade, embalagem, conservação, distri-buição, desenvolvimento de novas espécies comestí-veis, pesquisa em nutrição, e assim por diante, têmtudo a ver com o domínio e expansão do conheci-mento. A química provê análise de solos, defensivosagrícolas e métodos de conservação; a biologia e agenética, novos cultivares, novas formas de defesacontra pragas; satélites artificiais e a informática per-mitem georeferenciar plantações e a agricultura de pre-cisão. Ao mesmo tempo, as Ciências Sociais têm umpapel fundamental na avaliação dos impactos socio-

Page 130: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

104

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

econômicos das transformações provocadas pela in-trodução das tecnologias, em particular sobre apobreza e sobre o padrão nutricional das populaçõesmais vulneráveis.

No Brasil, como em muitos outros países, enquantoalguns têm demais e gastam fortunas para perder pe-so, outros têm de menos e vivem no limite da subnu-trição. Segundo a FAO, a disponibilidade teórica dealimentos passou de 2408 calorias per capita/dia em1970 para 2958 em 1998, superando o mínimo paraassegurar as necessidades alimentares da população.As pesquisas de orçamento familiar feitas pelo IBGEindicam que a estabilidade monetária teve impactospositivos significativos sobre a segurança alimentar daspopulações vulneráveis, mas, ainda assim, uma parcelada população, não apenas nas cidades, mas tambémno campo, passa fome ou não tem um regime alimentarminimamente adequado. Segundo dados do IPEA,uma em cada quatro crianças é pobre e vive sob orisco da fome. Estima-se que aproximadamente 33milhões de brasileiros não aufiram renda suficientepara adquirir a cesta mínima de alimentos, vivendo,portanto, em condições de insegurança alimentar. Aomesmo tempo, a Secretaria de Agricultura do Estadode São Paulo estima um desperdício de gênerosalimentares associado a perdas pós-colheita da ordemde R$10 bilhões, equivalente a quase 7 milhões decestas básicas por mês durante todo um ano.

A viabilidade de crescimento sustentável com distri-buição de renda e redução significativa da pobrezanos próximos dez anos – objetivos estratégicos da Na-ção – pressupõe o crescimento da oferta de alimen-tos em quantidade, qualidade e custo compatível comas necessidades nutricionais e nível de renda da po-pulação brasileira. Trata-se, sem dúvida, de um dosprincipais desafios que o País deverá enfrentar nos

próximos dez anos. A agenda brasileira de CT&I paraalimentação e nutrição deverá focar tanto a questãodo abastecimento e acesso, como a questão da quali-dade dos alimentos.

Os problemas de saúde relativos à má nutrição com-provam que a questão alimentar não se resume aoacesso, mas também à adequação da dieta e qualidadedos alimentos. As doenças nutricionais, a desnutriçãopor um lado e a obesidade por outro, além das de-correntes das carências específicas causadas pelasinadequações de micronutrientes, impõem acompa-nhamento e avaliação de políticas específicas quepressupõem as ações conjuntas de abastecimento,saúde, educação alimentar entre outras.

A preparação de uma Tabela Brasileira de Composi-ção de Alimentos é uma prioridade e poderia vir aconstituir-se em programa nuclear e aglutinador dasáreas de estudo associadas à questão alimentar.

É necessário qualificar e capacitar laboratórios bra-sileiros para o controle científico da qualidade dealimentos, formando redes interlaboratoriais, dotá-los de equipamentos adequados e de recursos hu-manos qualificados para atuar na área de análise ecertificação alimentar.

Programas sociais como a Merenda Escolar devempressupor uma atividade de capacitação em Ciênciae Tecnologia visando à qualidade, voltada aos atoresenvolvidos com os programas. A educação alimentar,tanto pela ótica da saúde/nutrição, quanto pela saú-de/segurança do alimento, passa a ser pressupostopara o direcionamento das políticas sociais aliadas àCiência e Tecnologia.

Page 131: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

105

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

SAÚDE

Saúde e qualidade de vida são praticamente sinôni-mos sob muitos aspectos. Ciência, Tecnologia e Ino-vação estão no centro da questão saúde. Seja na iden-tificação de doenças e de suas potenciais curas, seja,sobretudo, na prevenção das moléstias que nos afli-gem. Sem o microscópio, por exemplo, jamais sabe-ríamos que são organismos invisíveis ao olho nu quecausam um bom número de doenças. Sem a química,não teríamos compreensão dos mecanismos de atua-ção desses organismos. Sem a biologia, não sabería-mos como entender o relacionamento entre os váriosorganismos vivos, suas relações mutuamente bené-ficas ou maléficas para o ser humano e seus animaisdomesticados. O conhecimento assim adquiridomune a espécie humana com armas de defesa con-tra seus “predadores” visíveis e invisíveis e contradesequílibrios bioquímicos que afetam o metabolis-mo humano. Começa a indicar, também, caminhospara “ligar” e “desligar” o sistema auto-imune, res-ponsável por alergias e rejeições a transplantes.A aspirina, um dos medicamentos modernos maissimples e mais utilizados, tem pouco mais de umséculo de existência. Os antibióticos surgiram nomercado após a II Guerra Mundial. As terapêuticasantivirais ou a prevenção, diagnóstico e tratamentodo câncer ainda engatinham. Os recentes progressosna genômica (um termo que existe há bem poucotempo) e na biotecnologia apontam para a possibili-dade de progressos espetaculares para a ciência mé-dica no século XXI. Todas essas inovações são ab-

“Para melhorar a qualidade de vida

no País é fundamental que se

disponha de uma sólida base científica

própria em matéria de saúde. O

Brasil não deve permanecer, nesta

área, como dependente passivo do

desenvolvimento tecnológico mundial.

Em particular, cabe dar prioridade à

produção nacional de "princípios

ativos", reduzindo sua subordinação

atual às importações.”

Kurt Politzer,Indústrias Químicas Taubaté

Page 132: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

106

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

riamente, tanto o quadro epidemiológico e sanitário,como a política nacional de saúde do País.

Em que pesem as significativas melhorias dos indi-cadores de saúde pública da população brasileira, oquadro epidemiológico do País caracteriza-se pelapresença dos três diferentes padrões que representama transição epidemiológica:

• doenças de natureza infecciosa e parasitária asso-ciadas à carência ou à ausência de adequado sanea-mento ambiental e ainda ao incipiente desenvolvi-mento socioeconômico, especialmente carências nu-tricionais;

• doenças crônicas, em especial as cardiovascularese neoplasias, relacionadas ao aumento da expectativade vida e ao envelhecimento populacional;

• doenças relacionadas à urbanização e industriali-zação, à contaminação ambiental, ao processo de tra-balho e às pressões da vida “moderna”, inclusive asprovocadas pelas drogas e pela violência.

Além de inegáveis progressos, como o controle dapoliomielite, registra-se o recrudescimento da malá-ria, dengue e cólera, o crescimento de problemas as-sociados às alterações socioambientais, ao envelhe-cimento da população e à mortalidade por causasexternas, o aparecimento da síndrome da imunode-ficiência adquirida (Aids) e de distúrbios relaciona-dos ao trabalho e vida urbana, desde as lesões poresforço repetitivo até o stress e a depressão.

Esse panorama, que sobrepõe características epide-miológicas de países atrasados e países industriali-zados, compõe o cenário da saúde no Brasil nos pró-ximos dez anos, a realidade a ser transformada e, ao

solutamente dependentes da Ciência e Tecnologia.

A importância da saúde se reflete nos números daeconomia: apenas os Estados Unidos, no seu setorpúblico, investe dezenas de bilhões de dólares porano em pesquisas da saúde; a indústria farmacêuticamovimenta, igualmente, dezenas, senão centenas debilhões de dólares a cada ano. No Brasil, a depen-dência de insumos importados para o atendimentode necessidades básicas da saúde de sua populaçãogera imensa vulnerabilidade estratégica do País, mascria, também, oportunidade única para um esforçointegrado de pesquisa, desenvolvimento e industria-lização avançada. As questões de saúde se refletemnas políticas públicas – desde os orçamentos gover-namentais para o setor público de saúde e na regula-ção dos agentes privados, até as questões de patentese de propriedade industrial, debatidas em foros inter-nacionais. A capacidade do setor público de proverum atendimento médico de qualidade passa não ape-nas pelas questões de medicina social, mas, igual-mente, por questões logísticas de organização da in-formação, para as quais a informática pode disponi-bilizar ferramentas essenciais.

Saúde é um exemplo marcante de como as mais diver-sas disciplinas de Ciência e Tecnologia – química, fí-sica, matemática, biologia, genética, medicina, en-genharia, informática, Ciências Sociais, entre outras –podem ser articuladas entre si e com atividades de ser-viço e industriais – medicina social, postos de saúde,centros hospitalares e hospitais-escola, indústrias quí-mica, farmacêutica e de equipamentos médicos, in-cubação de novas empresas, entre outras - em um gran-de programa propulsor do desenvolvimento nacional.

A definição de diretrizes para CT&I em Saúde paraos próximos dez anos deve levar em conta, necessa-

Page 133: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

107

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

mesmo tempo, os desafios a serem enfrentados.

Ao contrário da maioria dos países em desenvolvi-mento, o Brasil possui um sistema de saúde (públicoe privado) e um conjunto de instituições de pesquisaespecializadas em saúde lato sensu, recursos huma-nos, experiências, técnicos e empresas que em seuconjunto caracterizam um sistema de CT&I em Saú-de, distinto do Sistema Nacional de CT&I, e quedeve servir de base para ações futuras nessa área.

Essa competência envolve instituições de ensino epesquisa (universidades e institutos de pesquisa), in-dústria farmacêutica, indústria de insumos e equi-pamentos médico-hospitalares, indústria de base bio-tecnológica e instituições vinculadas ao sistema desaúde pública. As atividades de maior conteúdo cien-

tífico e tecnológico são realizadas notadamente porinstituições públicas. O Sistema inclui ainda um ex-tenso aparato regulatório, envolvendo normas debiossegurança, propriedade intelectual, ética em pes-quisa com animais e seres humanos, vigilância sani-tária, saúde suplementar, regulação da concorrência,entre outras esferas.

A definição de prioridades, tendo em vista a veloci-dade dos avanços científicos e técnicos, exige ins-trumentos dinâmicos, técnica e politicamente com-petentes de monitoração dos conhecimentos sobreo processo saúde–doença produzidos pelas ciênciasbiológicas, pelas diversas especialidades médicas, pe-la epidemiologia, pelas Ciências Cociais; monitora-ção dos conhecimentos multidisciplinares voltadosao aumento da eficiência e eficácia do planejamento,

Quadro 5Instituto do Coração (Incor): centro de assistência, ensino e pesquisa de qualidade mundial

Ao completar 25 anos, o Incor é considerado um dos maiores emelhores centros médicos do mundo. Contando com aproximada-mente 450 leitos, nele se realizam, por dia, em média, 20 cirurgias,40 cateterismos e intervenções, 160 ecocardiogramas e 70 estudosde radioisótopos. Laboratórios de diagnósticos sofisticados onde serealizam as técnicas mais modernas de investigação e intervenções,dão apoio logístico a essas operações. Métodos diagnósticos deultrassom, radioisótopos, tomografia computadorizada e ressonân-cia magnética, bem como técnicas bioquímicas modernas permi-tem a execução de processos mais recentes. Sistemas de monitori-zação contínua e informática que ligam vários setores do hospital,permitem o acompanhamento permanente da evolução dos pacien-tes. A recente inauguração do bloco 2 disponibilizou instalaçõessofisticadas que permitem a prática de uma medicina altamentediferenciada, em situações agudas ou eletivas. Setenta e cinco porcento de todos os atendimentos do Incor são para pacientes doSUS, sejam internados ou ambulatoriais.

As atividades do Incor são harmonicamente distribuídas entre as-sistência, ensino e pesquisa. No ensino, tanto graduação como pós-graduação são contempladas. Estudantes da USP, do terceiro aosexto ano, são treinados no Incor. A pós-graduação em Cardiologiastrictu sensu compreende hoje mais de 200 alunos. Residentes eestagiários – aproximadamente 200, dentre os quais muitos estran-geiros – em Cardiologia Clínica, Cirurgia, Anestesia, Pneumologia,Fisiologia Aplicada, Hematologia e Radiologia completam sua forma-ção na instituição.

As áreas de pesquisa, que conjugam laboratórios com estruturapara pesquisa básica e investigação clínica, compreendem pratica-mente todos os campos da Cardiologia: hipertensão, miocardiopatias,aterosclerose, insuficiência coronária, insuficiência cardíaca, ar-ritmias, valvopatias, biologia molecular, biologia vascular, imunologia,epidemiologia, lípides, hemodinâmica e intervenções por catateres,emergências cardiovasculares, doenças congênitas, transplantes,cirurgia cardíaca e outras. Estas atividades de pesquisa tem produ-zido inúmeras e constantes contribuições inovadoras, apresenta-ções em congressos internacionais e publicações em revistas cien-tíficas de maior credibilidade.

Em busca do ideal de associar uma prática médica qualificada, associ-ada à geração de novos conhecimentos, adotou-se uma filosofia base-ada na busca constante de padrões de alta qualidade em todas asatividades do Incor, médicas ou não. Para viabilizar tal empreendi-mento adotou-se o modelo de administração mixto cooperativo:universidade, estado e iniciativa privada. A Fundação Zerbini e o es-tado, atuando em conjunto com os médicos, têm sido os instrumen-tos práticos que viabilizam a instituição, oferecendo-lhe mecanismosadministrativos e financeiros que permitem sua sobrevivência ecompetitividade no mercado de trabalho, dentro do espírito acadê-mico que norteia as instituições universitárias. Esta colaboração é oque permite dedicação integral de um corpo de cientistas profissionais,a atuação de profissionais médicos altamente qualificados, bem comoa renovação tecnológica e humana constante da instituição, sem a qualo futuro da instituição estaria comprometido.

Page 134: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

108

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

inclua, entre outras, dados atualizados sobre a si-tuação epidemiológica do País, efeitos sobre a saúdeda população e sobre as atividades econômicas, cus-to da prevenção/combate e avanços científicos, faz-se necessária com a efetiva articulação das diversasinstâncias envolvidas. Tal sistema constitui o ins-trumento básico para a definição de prioridades epara a monitorização permanente da consistência evalidade das definições realizadas, bem comoreavaliações e computação de resultados.

Mesmo aceitando o cenário mais otimista para ospróximos dez anos, seria temerário supor a disponi-bilidade de recursos suficientes para atacar integral-mente todos os problemas. É necessário eleger prio-ridades. Isto já vem sendo feito com êxito pela arti-culação entre governo e sociedade representada pelasConferências Nacionais de Saúde. A definição dasprioridades científicas deve levar em conta as neces-sidades do País estabelecidas nesses complexos de-bates. Mais do que competir com outras nações, naárea da saúde é fundamental levar em conta as par-ticularidades epidemiológicas do Brasil, principal-mente aquelas que não são objeto das preocupaçõese investimentos dos grandes laboratórios multina-cionais. Em muitos campos, sem um programa na-cional de CT&I, será impossível reduzir a vulnera-bilidade do País para superar o quadro atual e en-frentar eventuais emergências no futuro.

O desenvolvimento de CT&I em Saúde para enfren-tar problemas correntes só terá êxito, se fundado emsólida capacidade científica, tecnológica e industrialna área da saúde em geral, e também em um sistemaqualificado para acompanhar ativamente os progres-sos nessas áreas e aplicar os avanços para a soluçãodos problemas correntes.

gestão e qualidade dos serviços; combate à violênciae segurança pública e articulação e organização dosinteresses dos diversos atores envolvidos no setor;conhecimentos orientados para a complexidade dosdesafios éticos dos avanços em CT&I; e avaliaçãodos riscos e benefícios da incorporação dos novosconhecimentos na atenção à saúde.

As agências vinculadas ao MCT ou aos ministériosda Saúde, Educação e Agricultura vêm apoiando,de forma decisiva, porém pouco articulada, as ativi-dades de CT&I em Saúde. Quase 25% do orçamentodas agências federais de fomento a CT&I, incluindoa Capes (MEC), estão sendo alocados na área desaúde. É possível a existência de duplicações de es-forços, perdas de recursos e subaproveitamento depotencialidades, problemas comuns em operaçõesfragmentadas e sem mecanismos efetivos de coor-denação. A organização, eficiência e transparênciados diversos mecanismos institucionais envolvidossão exigências para a superação dos entraves à oti-mização dos instrumentos em um contextoestratégico buscando a integração das necessidadesde pesquisa identificadas pelo Ministério da Saúdecom as prioridades definidas pelo MCT e MEC. Aomesmo tempo, faz-se necessária a construção demecanismos de absorção dos resultados pelo SistemaÚnico de Saúde, orientando essa política de CT&Ipara um claro compromisso ético e social de melhoriadas condições de saúde da população e levando emconta as diferenciações regionais na busca deeqüidade.

Refletindo a atual conformação institucional da áreade CT&I em Saúde, as informações para essa sãodispersas e insuficientes para o planejamento e ges-tão das atividades de P&D nessa área. A organizaçãode um sistema de informações estratégicas que

Page 135: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

109

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

Além da pesquisa básica ou fundamental, qualquerpolítica de CT&I em Saúde deve indicar áreas priori-tárias para investimentos em pesquisa. Como já semencionou, a definição dessas prioridades é tarefacomplexa, cuja natureza política não exclui a necessi-dade de levar em conta também critérios técnico-cien-tíficos. A discussão e definição das prioridades deve-ria considerar os seguintes pontos: (i) a importância eo risco das patologias para a saúde pública do País;(ii) necessidade de geração e absorção de conheci-mentos estratégicos em saúde, em uma orientação debusca de competitividade nacional a médio e longoprazos; (iii) patologias relevantes para o País que nãosejam prioritárias para os países desenvolvidos; (iv)competência basal nas áreas escolhidas e capacidadede irradiação de novos grupos de excelência; (v) apli-cabilidade dos resultados das pesquisas aos problemasprioritários da agenda da saúde pública.

No horizonte de dez anos, torna-se necessário estaratento para as novas tendências do conhecimento eda tecnologia em saúde, cujo impacto é de médio elongo prazos, a exemplo da terapia genética, da nano-tecnologia, das diversas oportunidades oferecidas pelasbiotecnologias, química combinatória, entre outras.

Nas últimas duas décadas, os recursos para o desen-volvimento científico e tecnológico na área de saúdeforam expressivos, especialmente levando-se em con-ta o contexto geral do financiamento de CT&I. Tam-bém deram bons resultados e produziram uma subs-tantiva capacitação institucional e tecnológica.A área de saúde é uma das mais dinâmicas do pontode vista da geração de conhecimentos e da inovação,tendo participação marcante em todos os indicadoresde C&T como dispêndio público e privado em P&D,trabalhos publicados, patentes, novos produtos e pro-cessos lançados no mercado e intensidade da relação

entre as instituições acadêmicas e a indústria.

Ainda assim, a situação hoje existente está muitoaquém das necessidades e potencialidades do setor.A restrição dos recursos do Fundo Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT),na última década, impossibilitou o desenvolvimentopleno de vários projetos e também a efetiva capaci-tação de diversos grupos emergentes de grande po-tencial. Desse modo, na estratégia dos fundos seto-riais, agora adotada como fonte permanente de re-cursos para setores específicos, a área de saúde, vistacomo prioritária, terá de ser contemplada. A apro-vação de um fundo setorial de Saúde virá assegurarfonte permanente de recursos para viabilizar a im-plementação de uma política nacional de CT&I emSaúde consistente com as necessidades e possibi-lidades do País. Ao mesmo tempo, esse fundo seapresentará como instrumento adequado para o exer-cício de uma efetiva coordenação, integração e arti-culação das diversas instâncias envolvidas no desen-volvimento de CT&I.

Além do aumento do aporte de recursos do setorpúblico para a área de CT&I em Saúde, é necessáriaa mobilização de esforços para aumentar a partici-pação do setor privado. A indústria nacional de bensde saúde ainda não alcançou padrões de preço e qua-lidade compatíveis com os níveis internacionais, e oavanço desse setor tem sido dificultado pela ausênciade adequada articulação das políticas dirigidas paraos vários segmentos do complexo de insumos far-macêuticos, química fina, biotecnologia, eletrônico,metal-mecânico e polímeros. A integração dessas po-líticas é requisito essencial para dar sustentação aosalto qualitativo e para aumentar a competitividadeda indústria do setor saúde.

Page 136: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

110

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Na área de medicamentos, em que o Brasil ocupa aoitava posição no mercado mundial, com faturamentoem torno de US$6 bilhões, trata-se de aumentar o con-teúdo tecnológico da oferta nacional, considerandoque as matérias-primas ativas são importadas em quasesua totalidade. Para tanto, torna-se necessário esta-belecer uma política eficaz de articulação da indústriaprivada com as instituições nacionais de pesquisa edesenvolvimento tecnológico, criando-se um padrãode incentivos para a obtenção de competitividade combase na absorção e geração de inovações. (Ver o ca-pítulo Desafios Estratégicos/Fármacos).

O Brasil continua contando com uma base industrialcom capacidade para responder ao desafio de produ-zir medicamentos a custos acessíveis para a populaçãoem geral e compatível, seja com a realidade or-çamentária, seja com as restrições do quadro macro-econômico. O crescimento sustentado esperado paraa próxima década ampliará a margem de manobranesse campo, mas isso não modifica o fato de que osrecursos orçamentários continuarão escassos para adimensão dos problemas, muito menos a decisão deque um país quase continental como o Brasil, com

mercado doméstico relevante, com uma populaçãoainda jovem pressionando o mercado de trabalho, nãopode renunciar ao objetivo de internalizar, de formacompetitiva, segmentos produtivos relevantes parasuprir pelo menos parte da demanda. Nesse contexto,ganha relevância apoiar o desenvolvimento e aprodução de medicamentos. Destacam-se três linhasde ação: pesquisas focadas em algumas famílias desais utilizados na fabricação de medicamentos de usocontinuado e de grande consumo pela populaçãobrasileira; apoio à ampliação permanente da produçãode medicamentos genéricos; pesquisas com vistas àprodução de fitoterápicos, tomando como base aprópria “medicina popular”, cuja experiência eimportância continua fortemente subestimada no País.

A área de imunobiológicos (vacinas e kits para diag-nósticos), por sua vez, constitui o principal nichopara a entrada competitiva do País nas novas bio-tecnologias em saúde. Existe uma base industrial con-centrada em instituições de C&T (notadamente aFundação Oswaldo Cruz e o Butantã), o sistema devacinação em massa é dos mais avançados dos paí-ses em desenvolvimento, o mercado público é o maior

Tanto o planejamento e execução de políticas de saúde como a pro-moção da pesquisa em medicina devem levar em conta a grandeheterogeneidade do país, em termos regionais e sociais, que leva àexistência simultânea de um perfil epidemiológico próprio de paísesde baixa renda (predomínio das doenças transmissíveis e condiçõesmaternas e perinatais) e de um perfil próprio de países desenvolvi-dos (predomínio de doenças não transmissíveis). As interações dosetor de saúde com o de bem-estar social não devem obscurecer aanálise de prioridade de pesquisa médica. Essa visão, ao mesmotempo que reforça a importância da pesquisa em sistemas de saúde,evidencia a necessidade de promover o desenvolvimento de investi-gação clínica associada à pesquisa básica em câncer, doençascardiovasculares, gerontologia e geriatria, distúrbios psiquiátricos, etransplantes de órgãos e tecidos. Além de sua crescente importânciaepidemiológica, são áreas em que a transferência de tecnologias paradiagnóstico e terapêutica têm custos muito elevados, e nas quais a

descoberta de métodos preventivos tem impacto positivo imediato.

A importância de algumas doenças infecciosas (como tuberculose,infecções hospitalares e outras) continuarão a exigir atenção. Osaltos custos da pesquisa médica, a urgência de obter resultadospráticos e a necessidade de testar grandes grupos de pacientes paraobter respostas sólidas exige um novo paradigma de organização:pesquisa colaborativa em rede ou multicêntrica. Neste sentido, énecessário que o incentivo a esta atividade seja vinculado ao próprioprocesso de geração de conhecimento básico e aplicado, e não ape-nas utilizado como campo de teste de medicamentos eimunobiológicos concebidos no exterior. Outra mudança necessá-ria é a aproximação efetiva das áreas de saúde com a física, bioquí-mica e engenharia, para desenvolvimento de equipamentos de as-sistência e de diagnóstico, reagentes, processos diagnósticos epróteses, e a implantação de um parque biotecnológico próprio.

Quadro 6Pesquisa em Medicina Clínica

Page 137: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

111

Capítulo 3 - Qualidade de Vida

Quadro 7Centro para Controle de Enfermidades (CDC) de Atlanta

O Centro para Controle de Enfermidades dos Estados Unidos fun-ciona como um órgão nacional que tem como meta desenvolver eaplicar conhecimentos sobre prevenção e controle de doenças, dasaúde ambiental, além de promover atividades educativas voltadaspara melhorar a saúde da população.

Dentre as principais atividades desenvolvidas podem-se destacar:(i) mapeamento das principais áreas de ação; (ii) coleta e difusão deinformações atualizadas; (iii) articulação de diferentes organizações,não necessariamente restritas à área de saúde; (iv) avanço naaplicabilidade dos conhecimentos de C&T em suas ações. Alémdisso, o CDC detecta e investiga problemas relacionados à saúde,conduz pesquisas a fim de intensificar os meios de prevenção, de-senvolve e intercede sobre políticas públicas, promove comporta-mentos e fomentar o cuidado à saúde ambiental, além de promoverlideranças e treinamentos especializados.

Atualmente, o CDC sustenta e desenvolve parcerias com entidadese órgãos públicos e privados. O CDC distribui-se em doze sub-

órgãos, sendo estes centros, institutos e agências, empregando umtotal de 8.500 pessoas, distribuídas em 170 ocupações relacionadasà saúde pública.

O CDC reúne competência instalada (humana, base de dados eequipamentos) para o diagnóstico, estudos epidemiológicos e con-trole das doenças transmissíveis. Em uma estrutura com tais facili-dades, as disciplinas básicas desempenham papel fundamental.

No Brasil inexiste um centro semelhante, colocando o País emsituação de “insegurança sanitária” e extrema fragilidade para en-frentar situações emergenciais como as epidemias de meningite,os surtos de cólera e dengue ocorridos recentemente. A implanta-ção de um similar do CDC no Brasil daria uma contribuição decisivapara a modernização de métodos utilizados em laboratórios clíni-cos estatais ou privados em todo o País.

da América Latina e mesmo um dos mais expressivosdo mundo, e existe toda uma infra-estrutura de con-trole de qualidade, essencial para o lançamento denovos produtos (Quadro 8).

O que falta é a articulação destas partes do sistemade acordo com uma política de competitividade quese baseie no poder de compra do Estado e na orien-tação dos esforços de pesquisa e desenvolvimentoem vacinas estratégicas, segundo as necessidades desaúde da população. Estas iniciativas devem superaro forte hiato existente entre as atividades de pesquisae a produção industrial.

O desenvolvimento das ciências básicas tem desdo-bramentos imprevisíveis para a área da saúde e apenasa existência de um sólido corpo de pesquisadoresbásicos pode enfrentar situações novas, não previs-tas, dentro da patologia humana. Portanto, é indis-pensável que, além do desenvolvimento específicode temas programáticos, seja contemplada, em qual-quer política nacional de desenvolvimento científicoe tecnológico em saúde, a sustentação continuadada competência nas áreas básicas pertinentes. Oapoio aos grupos de excelência nacionais nessasáreas, como instrumentos para a geração de novoscentros de competência distribuídos nas regiões doPaís, é fundamental (Quadro 7).

Page 138: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

112

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O desenvolvimento de vacinas e dos pro-gramas de vacinação no Brasil tem espe-cial importância no campo da Saúde Pú-blica do País. As campanhas de imuniza-ção da varíola e da poliomielite são exem-plos da importância desta área, conquis-tando a erradicação destas doenças noBrasil. Outras viroses, como o sarampo,hoje uma raridade, têm sua eliminaçãonas Américas prevista nos próximos doisou três anos.

Dois programas são de fundamental apoioà vacinação: (i) Programa Nacional deImunização, considerado modelo pelaOrganização Mundial de Saúde (OMS),consolidou-se no Brasil por meio de al-tas coberturas e por oferecer enormegama de vacinas gratuitamente à popula-ção, desde a BCG, hepatite B até vacinaspara meningite meningocócica de sorosgrupos A e C e meningite meningocócicasoro-grupos B e C; (ii) Programa deAuto-suficiência Nacional em Imunobio-lógicos, com apoio aos laboratórios pro-dutores de vacinas, todos laboratóriospúblicos apoiados por vários programasde CT&I.

Mercado mundial de vacinas: em nível internacional, a atividade deprodução de vacinas tem se concentrado em poucos grandes labo-ratórios multinacionais. Estes praticam um sistema de duplo pre-ço, diferenciado para o mercado de seus países sede e os outros.

Desta forma, conseguem oferecer as vacinas a um preço marginalnas licitações. A OMS vem defendendo esta política, propondo que

Quadro 8Vacinas no Brasil

os países mais desenvolvidos paguempreços mais altos e os mais pobres re-cebam as vacinas a um preço simbólico,quando não doadas.

O Brasil está colocado em uma posiçãointermediária, sendo definido como ca-paz de pagar pelas vacinas um preço demercado, maior que os praticados peloUnicef e o Fundo Rotatório da OPAS.

Desenvolvimento tecnológico de vaci-nas: o desenvolvimento de vacinas é umprocesso complexo, que envolve gru-pos de pesquisa multidisciplinares emum laboratório-piloto e estudos clíni-cos de campo, com longo período dematuração (dez anos em média), e altoinvestimento de risco. Estima-se queseja investido anualmente cerca de US$1bilhão por parte de governos e laborató-rios privados na pesquisa e desenvolvi-mento de vacinas.

No Brasil, os investimentos em P&Dna área de produção de vacinas são apoia-dos por vários programas de fomento àpesquisa, como o CNPq, PADCT, Finep,Fapesp e outros. O programa de biotec-

nologia do MCT permitiu a criação de vários grupos de pesquisado-res envolvidos no desenvolvimento de vacinas contra importantesdoenças, como a dengue e a leishmaniose, malária, esquistossomose,lepra, diarréias bacterianas e virais. Entretanto, estas iniciativasainda não são integradas, fazendo-se assim necessárias a definiçãode prioridades e a coordenação das diferentes atividades.

Page 139: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

113

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Page 140: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

114

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Muito mais do que no passado, co-nhecimento e inovação têm, hoje,papel estratégico e insubstituívelno processo de desenvolvimentoeconômico. A conhecida tríade defatores de produção – capital, tra-balho e recursos naturais – já não ésuficiente, por si só, para asseguraro progresso das nações. A estesfatores de produção deve-se agre-gar o conhecimento – a capacidadede utilizá-lo de forma criativa e pro-dutiva –, sem o qual o capital en-velhece, os recursos naturais não

CIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOCIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃODESENVOLVIMENTOECONÔMICODESENVOLVIMENTOECONÔMICO

Page 141: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

115

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

podem ser explorados de forma sustentável ecompetitiva, e a produtividade do trabalho – emconstante evolução nos países de economias dinâ-micas – cai em termos relativos. Mas não é suficien-te acumular conhecimento. É necessário, além dis-so, dispor de capacidade para inovar, ou seja, paraaplicar o conhecimento na solução de problemasconcretos enfrentados pela sociedade, para gerar no-vos produtos e processos; criar e aproveitar oportu-nidades de ganhos privados e sociais; produzir e dis-tribuir riqueza; gerar bem-estar.

Assim como o conhecimento vem assumindo o papelde fator de produção essencial para o progresso sociale econômico das sociedades contemporâneas, a ca-pacidade para inovar é, sem dúvida, um dos fatoresmais relevantes na determinação da competitividadedas empresas e da economia em geral. Gerar conhe-cimento e reforçar a capacidade de inovação da eco-nomia brasileira constitui, sem dúvida, um requisitochave para transformar, de forma efetiva, o Brasilreal, com todos os problemas conhecidos, no paísque todos almejam.

A percepção de que o conhecimento é o elementocentral de uma nova estrutura econômica que estásurgindo, de que a aprendizagem é seu mais impor-tante processo e de que a inovação é o principal veí-culo de transformação do conhecimento em valorpermite que países desenvolvidos e um grupo de paí-ses em desenvolvimento adotem iniciativas para co-locar Ciência, Tecnologia e Inovação no centro daagenda política e econômica.

No Brasil, entretanto, a percepção de que CT&I têmvalor econômico é ainda praticamente restrita às co-munidades acadêmica e tecnológica, aos órgãos go-vernamentais do setor e à pequena parte do empre-

“Os países que lideram o

desenvolvimento mundial cresceram

com base em capitais nacionais. Uma

estratégia para C&T, voltada para os

dez próximos anos, deve ajudar a

criar um ambiente que fortaleça a

iniciativa privada nacional. Isto

implica o desafio de adequada

articulação da política de C&T com as

demais políticas macroeconômicas

do País.”

Paulo G. Cunha,Grupo ULTRA

“Cresce a importância estratégica da

inovação; se esta se desacelera,

haverá redução progressiva da

produtividade e do ritmo de

crescimento. No País há dois

obstáculos adicionais: o alto peso das

restrições externas e a

desnacionalização de parte do

patrimônio empresarial. São funções

prioritárias do Estado, portanto,

"operar setorialmente",

complementando estímulos das

políticas horizontais; e gerar incentivos

para pesquisas de interesse social, as

quais o mercado dificilmente

privilegiará.”

Celso Pinto,Jornal O Valor

Page 142: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

116

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

sariado. As transformações e eventos verificados nosúltimos anos diretamente relacionados à CT&I e,particularmente, a criação dos fundos setoriais, o êxi-to do Projeto Genoma, o reconhecimento interna-cional da Embraer, entre outros, não apenas cha-mam a atenção do setor privado para a importânciados investimentos em CT&I, mas também permitemantever, pela primeira vez, que CT&I poderão terpapel de relevo no conjunto das políticas públicas.Apesar de sua recente intensificação, os esforços atéagora realizados ainda não foram suficientes para quea geração do conhecimento e a inovação tecnológicaentrassem em definitivo na agenda do País.

É, todavia, inegável a ampliação da percepção deque CT&I têm valor econômico e facilitam o reco-nhecimento, pela sociedade, de que os investimentos

feitos nessa área trazem importante retorno, na for-ma de empregos qualificados e mais bem remunera-dos, geração de divisas e melhoria da qualidade devida. Não faltam exemplos, e não é demais repetiralguns deles: a Embrapa, cujas pesquisas viabiliza-ram a ocupação econômica competitiva do cerrado,transformando o Brasil em grande produtor de grãose carnes (Gráfico 1); a Petrobras, que extrai petróleodo fundo do mar utilizando tecnologia gerada noPaís; a Fiocruz, cujas vacinas foram determinantespara a melhoria do quadro epidemiológico brasilei-ro; a cooperação Brasil-China, responsável pelolançamento e operação do satélite de monitoramentodos recursos terrestres de ambos países. O desafiopara os próximos anos reside em incorporar de modosignificativo a contribuição da iniciativa privada aoprocesso de inovação e ampliar os exemplos comoesses, de modo a transformar a inovação em dínamo

Page 143: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

117

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

de toda a economia, e não apenas de alguns nichosespeciais.

A despeito da ênfase dada, na questão da inovação,às novas tecnologias da informação e da comunica-ção ou, em geral, ao chamado setor de alta tecnolo-gia, a agricultura e os negócios dela derivados aindageram cerca de 25% do PIB brasileiro e estão nabase de um dos mais graves problemas do País: aquestão fundiária. Tratar, portanto, de Ciência, Tec-nologia e Inovação para o desenvolvimento econô-mico significa, obrigatoriamente, tratar da agricul-tura brasileira. Tanto da grande agricultura, que re-quer alta tecnologia e grandes investimentos de ca-pital, quanto da pequena agricultura, que só sobre-viverá economicamente se tiver expressiva adiçãode conteúdo tecnológico. Este desafio, se correta-mente enfrentado, representa oportunidade de ascen-são educacional, econômica e social para milhõesde brasileiros. Assim sendo, este capítulo, após exa-me centrado principalmente em questões industriais,encerra-se com foco no debate sobre a inovação naagricultura.

Page 144: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

118

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 145: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

119

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

Ciência, Tecnologia e Inovação podem contribuirsubstancialmente para o desenvolvimento econômi-co, entendida esta expressão como o crescimentosustentável da renda per capita e do emprego, associa-do à melhoria da distribuição da renda pessoal e regio-nal e à conservação do meio ambiente.

Os problemas decorrentes do espaço geográfico, dascaracterísticas da população e do perfil do parqueprodutivo brasileiro, entre outros fatores, exigem res-postas que só o esforço nacional pode dar, o queindica a necessidade de que CT&I sejam o compo-nente central de uma reformulação das políticas eco-nômica e industrial. No médio e longo prazos, comotem sido nossa experiência, iniciativas em CT&I sãocruciais para a criação de novas oportunidades dedesenvolvimento e para a superação de obstáculosestruturais ao crescimento.

As inovações são o principal determinante do au-mento da produtividade e da geração de oportuni-dades de investimento. A inovação compreende aintrodução e a exploração de novos produtos, pro-cessos, insumos, mercados e formas de organização.Uma característica central da inovação tecnológicanas economias industrializadas é a crescente incor-poração do conhecimento científico, cada vez maiscomplexo, aos processos mais simples de geração deriqueza. Embora o foco de promoção da inovaçãoseja a inovação tecnológica (de produto e/ou pro-

C&T E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARAO DESENVOLVIMENTO

Page 146: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

120

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A inovação resulta de processo de aprendizagem noqual as empresas interagem com seus clientes, forne-cedores e organizações produtoras de conhecimento,como as universidades, institutos tecnológicos e sis-temas de treinamento. Nos sistemas nacionais de ino-vação, a interação desses atores forma o contextoem que ocorre a produção de conhecimento e ino-vação. As relações entre estes atores seguem padrõessetoriais, que, por sua vez, são condicionados pelocontexto institucional nacional e regional. Estes pa-drões são diferentes entre si e refletem a multiplici-dade de interações entre o mercado, a empresa e ins-tituições externas de pesquisa (e também entre di-versas funções internas da empresa).1

O foco na organização para a aprendizagem tem le-vado a mudanças substanciais na organização internae nas relações entre as empresas. Estruturas hierár-quicas muito verticalizadas e rigidamente departa-mentalizadas tendem a dar lugar a arranjos organi-zacionais que privilegiam a comunicação horizontale a combinação multifuncional de competências.Mesmo em nações com estruturas produtivas hetero-gêneas, como o Brasil, é significativa a difusão depráticas de trabalho em grupo. A necessidade de en-gajamento do conjunto das funções da empresa e dasua força de trabalho no processo de inovação é umdos fatores que conduzem à elevação dos requisitosde escolaridade mínima para a contratação de tra-balhadores, tanto nos países mais industrializados,quanto nos países de renda intermediária. Neste con-texto, é relevante o papel da escola, dos sistemas deformação profissional e das políticas educacionais.

cesso), não se deve subestimar a importância dainovação organizacional para o aumento da produ-tividade e para a constituição de ambiente adequadoao processo de inovação.

Nos países industrializados, tem crescido a preocu-pação com o papel da inovação tecnológica para odesempenho econômico dos serviços. No conjuntodos países da Organização para Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OCDE), os serviços sãoresponsáveis por 70% do PIB (57% no Brasil). Por-tanto, o crescimento e a inovação no setor de serviçossão progressivamente importantes para o desenvol-vimento econômico. Em países de renda interme-diária, como o Brasil, é maior a participação dos seg-mentos menos inovadores dos serviços. São setoresque se caracterizam por baixa utilização de novastecnologias, emprego de força de trabalho pouco qua-lificada, com remuneração média inferior à da in-dústria. Esta situação implica a existência de opor-tunidades de ganhos de produtividade substanciaispor meio da difusão tecnológica.

Apenas para ilustrar as possibilidades nesse campo,bastaria mencionar que a indústria de maior cresci-mento relativo no mundo é a de entretenimento, lide-rada pelo turismo. O turismo, associado à exploraçãoracional de espaços ambientalmente sadios e ao con-tato com a diversidade da vida animal e vegetal, estácrescendo, e o Brasil é um dos poucos países capazesde fornecer um leque de opções. No entanto, aindaestá incipiente entre nós essa tecnologia de serviços,potencialmente agregadora de valor e absorvedorade recursos humanos qualificados.

1. Este enfoque substituiu a visão linear do processo de inovação, segundo a qual os resultados científicos seriam sempre o primeiro passo noprocesso de invenção tecnológica, à qual se seguiria a introdução de inovações no mercado.

Page 147: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

121

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

A necessidade de aprendizagem permanente, no pla-no individual e das organizações, implica mudançano conceito de educação e formação profissional, eestas ganham contornos de atividade permanente(educação contínua). Nos países da OCDE, a somados gastos públicos em educação, dos dispêndios emP&D e do investimento em software tem crescido sig-nificativamente. Mais da metade desses investimen-tos se destina à educação. A força de trabalho dessespaíses tem ampliado seu grau de escolaridade demaneira significativa. No intervalo de uma geração,a parcela da população total da OCDE com nívelde educação superior cresceu de 22% para 41%.

A natureza interativa da aprendizagem e as facilida-des de codificação e comunicação proporcionadaspela difusão das Tecnologias da Informação (TI) tam-bém têm transformado as relações entre as empresase dessas com as instituições de pesquisa. Vem cres-

cendo, no âmbito internacional, a participação deredes de instituições e de empresas nas atividadesde pesquisa e desenvolvimento, como revelam as in-formações patentárias.

Apesar dessas facilidades, ainda não é automática aefetiva constituição de relações de colaboração tec-nológica entre empresas. Nos países em desenvolvi-mento, a questão da coordenação das relações dosfornecedores locais com clientes globais pode reque-rer algum nível de intervenção e regulação, caso sedeseje maximizar a transferência de tecnologia e aaprendizagem nacional.

Um aspecto central do esforço dos países para am-pliar sua capacidade de inovar consistiu no cresci-mento da parcela de dispêndios do setor privado, nototal do dispêndio nacional (Tabela 1) em pesquisae desenvolvimento. Sobressaem os casos do Japão,

Page 148: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

122

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Coréia e Irlanda, em que os gastos privados sãoresponsáveis por 70% dos dispêndios nacionais emP&D. No outro extremo, estão países como o Méxicoe Portugal, em que o governo é responsável por 70%desse dispêndio.

O progresso das nações da OCDE constitui um de-safio para países em desenvolvimento, como o Bra-sil. No terreno da competição baseada na capacida-de de inovação tecnológica, a fronteira estabelecidapelos líderes se move cada vez mais depressa. Parao Brasil, não se trata apenas de ampliar seu esforçoem CT&I, ou de fazê-lo de forma a permitir que asempresas ampliem substancialmente sua participaçãonesse esforço. O desenvolvimento futuro vai depen-der também da capacidade do País para reduzir ofosso que o separa da fronteira tecnológica mundial.

Page 149: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

123

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

A NECESSIDADE DE INCREMENTAR A INOVAÇÃO EO ESFORÇO TECNOLÓGICO DAS EMPRESAS

A industrialização brasileira caracterizou-se pelasubstituição de importações, política cuja tônica re-caiu na importação de tecnologias embutidas nasplantas industriais, nos equipamentos e nos sistemasde controle de produção. Ocorreu também a impor-tação de tecnologia não embutida, com procedimen-tos controlados pelo Instituto Nacional de Proprie-dade Industrial (INPI), por meio dos contratos detransferência de tecnologia, que visavam disciplinaro acesso a tecnologias, principalmente se havia algu-ma possibilidade para o seu desenvolvimento no Bra-sil. Esta estratégia era coerente com o modelo geral,pois a utilização do poder de compra das empresasestatais de certa forma estimulou a geração de capa-cidade de oferta interna de tecnologia.

Esse modelo prescindiu, em grande medida, da capa-cidade interna de geração do conhecimento. O pe-queno esforço empreendido pelas empresas no sen-tido de absorver, dominar e aperfeiçoar as tecnolo-gias importadas refletiu-se no fato de que o setorprodutivo demandou pouco envolvimento das uni-versidades e institutos de pesquisa na produção denovas tecnologias. Esse distanciamento perdura atéhoje, embora progressivamente se acumulem casosde êxito na relação universidade – centros de P&D –empresas. Rompê-lo constitui, sem dúvida, um dosgrandes desafios da atualidade, especialmente se le-varmos em conta que, ao mesmo tempo, é necessáriopromover a consolidação da pesquisa básica. Trata-

“Como o Estado poderá ser eficiente e

eficaz, catalisando o desenvolvimento

da C&T no futuro? O País "não

poderá ser bom em tudo" e ganha

relevância a tarefa de "focalizar"

aquelas cadeias tecnológicas nas quais

possa se especializar. Consciente de

que uma estratégia empresarial

decisiva, no mundo moderno, é um

conveniente "controle" da

incorporação e da difusão das

inovações. Nas relações externas, este

controle deve estar finamente

associado ao comércio.”

Isaías de Carvalho Macedo,Unicamp

Page 150: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

124

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Cabe observar que, em áreas críticas para o desen-volvimento científico-tecnológico – como nos cam-pos da biologia, química fina, novos materiais, micro-eletrônica, mecânica de precisão –, as tecnologiasainda não estão disponíveis para transferência, ha-vendo de se estimular a capacidade de desenvolvi-mento endógeno, mediante, inclusive, a estratégiade parcerias com centros de excelência no exterior,com o objetivo de alcançar o desenvolvimento con-junto de tecnologias selecionadas.

Outro ponto a ressaltar é a importância ainda limitadadada às atividades de P&D, como fator crítico paraa competitividade empresarial. Na maioria dos casos,as estratégias empresariais de ampliação da compe-titividade se restringem às melhorias incrementaisdo produto e do processo produtivo.

As empresas brasileiras apresentam elevado grau deheterogeneidade em relação ao seu desempenho ino-vador, embora se registre avanço importante nestecampo. Para o conjunto das empresas industriais pau-listas, a taxa de inovação2 de 25% – ou seja, a indi-cação de que um quarto de todas as empresas indus-triais paulistas introduziram alguma inovação de pro-duto ou processo – não se distancia das taxas dospaíses que apresentam estrutura produtiva com nívelde desenvolvimento e complexidade tecnológica se-melhantes ao do estado de São Paulo, como Espa-nha (29,5%) e Austrália (26%). Entretanto, quandoa referida taxa é confrontada com a de países de in-dustrialização madura e mais avançada, como França(41%) e Alemanha (53%), evidencia-se uma distân-cia substancial entre os níveis de desempenho ino-vador das empresas industriais (Tabela 2 e Quadro1).

se de tarefa complexa, que exige a reorientação daspróprias prioridades e estratégias historicamente ado-tadas pela política científica e tecnológica – voltada,fundamentalmente, até muito pouco tempo, para omeio acadêmico –, para incluir as empresas, públicase/ou privadas, como agentes e beneficiários dasações do setor público na área de CT&I. Requertambém a reorientação da política econômica, emparticular o reforço das políticas setoriais – industrial,agropecuária, de comércio exterior e tecnológica – edos mecanismos de planejamento das ações do setorpúblico e de coordenação interinstitucional em todosos níveis do governo e entre este e a sociedade.

O modelo de substituição de importações já neces-sitava de revisões em profundidade, em parte devidoa seu próprio êxito, em parte devido às transforma-ções ocorridas na economia internacional, quandose deu a abertura econômica do início da década denoventa. Ela marcou o fim da experiência de indus-trialização protegida, que, independentemente daavaliação que dela se faça, foi responsável pela trans-formação rápida e exitosa – pelo menos do ponto devista econômico – de um país rural e agrícola emuma nação urbana e industrial. Desde então, a funçãode P&D privada concentrou-se em um grupo seletode empresas de grande porte e de pequenas e médiasempresas de base tecnológica, complementada pordispêndios associados a programas governamentais.Os investimentos e programas que mantiveram suacontinuidade na última década apresentaram resul-tados importantes. Sobressaem as pesquisas agríco-las, em especial a da soja, e conquistas na área dabiologia, como vacinas, além das tecnologias de ma-teriais e prospecção do petróleo, entre outras.

2 A taxa de inovação mede a participação de empresas que realizam inovação no total das empresas.

Page 151: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

125

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

As diferenças nas taxas de inovação refletem sobre-tudo a capacidade de absorção de novas tecnologias,uma vez que o conceito de inovação, tal como aquiutilizado, refere-se à adoção (e não necessariamenteà geração) de novas tecnologias de produto e/ou pro-cesso. Neste sentido, pode-se dizer que houve con-siderável taxa de adoção de inovações na economiapaulista. Mesmo não dispondo de informações tãoprecisas para outros estados, é razoável sustentar ahipótese de que esse movimento, mesmo que commenor intensidade, foi mais amplo, em termos geo-gráficos, especialmente em estados como Minas Ge-rais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,cujas economias vêm registrando notável expansãodas atividades industriais. Esta tendência é compa-tível com o período de crescimento e de retomadade investimento que caracterizaram os primeirosanos do Plano Real, fase em que a indústria assistiua intenso movimento de introdução de produtos eprocessos novos. O relativamente fraco desempenhoinovador das pequenas empresas reflete, além dasdificuldades por elas encontradas no desenvolvimen-to próprio de produtos, a baixa taxa de difusão denovas tecnologias.

As taxas de inovação apresentam grande heteroge-neidade regional, quando considerada a indústria bra-

Um avanço importante na elaboração de indicadores de inovação eda atividade tecnológica das empresas ocorreu na década de noven-ta, com o desenvolvimento de metodologia para pesquisas de ino-vação (Manual de Oslo, OCDE, 1997). No Brasil, a experiência compesquisas de inovação se iniciou com a realização da PAEP/Seade(Pesquisa da Atividade Econômica Paulista). Trata-se de pesquisaaplicada na indústria de transformação paulista, com referência aoperíodo 1994/96, que cobriu cerca de 10.000 empresas com cinco emais empregados. Apesar da variação das características estatísti-cas das pesquisas de inovação, elas permitem situar o desempenhoinovador das empresas de diferentes países.

O principal indicador de desempenho inovador das empresas é ataxa de inovação, que indica a participação percentual das empresasinovadoras, ou seja, das empresas que introduziram produtos e/ouprocessos novos ou substancialmente modificados, num setor, numaregião ou na economia.

Quadro 1A Elaboração de Indicadores deInovação no Brasil

sileira como um todo. Pesquisas aplicadas em dife-rentes estados brasileiros revelam que, no períodode 1994 a 1999, a taxa média de inovação dasempresas industriais brasileiras com 100 ou maisempregados foi de 46%; revelam também pronun-ciada disparidade da taxa de inovação por estado(Gráfico 2). A situação encontrada na economia pau-lista, por exemplo, com taxa de inovação de cercade 56% para empresas de médio e grande porte, nãose reproduz nos demais estados brasileiros.

Page 152: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

126

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A despeito dessa heterogeneidade, o desempenho ino-vador das empresas brasileiras na segunda metade dosanos noventa pode ser considerado razoável. No ca-so das grandes empresas industriais do Sul e do Su-deste, a maioria tem atualizado produtos e processos.No entanto, deve-se esclarecer que a atualização deprodutos e processos não resultou primordialmentede investimentos diretos em P&D e de processos deaprendizagem e formação de competências internas.Na verdade, as empresas têm-se utilizado de formaintensa da transferência de tecnologia importada paraviabilizar com agilidade o processo de inovação. Estaestratégia poderia ser potencializada, caso fosseacompanhada de esforço interno para completar o“ciclo de absorção da tecnologia importada”.

A debilidade do esforço de realização de P&D inter-no é confirmada pelas informações disponíveis(Tabela 3), as quais indicam que as empresas apre-sentam investimentos relativamente baixos nestecampo, atingindo, em seu conjunto, o percentual de0,3% do PIB (equivalente a 35,7% do dispêndio na-

cional em P&D). Como já se mencionou, a tarefa desuperar esta debilidade é fundamental para a consoli-dação de um sistema de CT&I capaz de responder àsexigências do desenvolvimento brasileiro. A políticade CT&I, em conjunto com outros instrumentos depolítica pública, deve criar condições e incentivos paraa geração de tecnologia no País.

Evidência adicional desta situação está na forma co-mo as empresas procuram informações para subsidiarseu processo inovativo. Na maior parte dos casos,as atividades de inovação são influenciadas primor-dialmente pelas suas ligações comerciais com clien-tes, fornecedores e competidores. A importância doesforço tecnológico interno (departamento de P&D)vem em quarto lugar. Em geral, pode-se afirmar queas empresas brasileiras parecem ser mais reativas aomercado do que propensas a serem inovadoras ativas.Também chama a atenção a baixa importância atri-buída pelas empresas às universidades e institutosde pesquisa como fontes da informação.

Page 153: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

127

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

Os indicadores de produção tecnológica refletemcom clareza essa estratégia de não privilegiar a reali-zação de P&D no País. Entre esses indicadores, valerealçar os que se referem à atividade de patentea-mento, a qual, embora apresente importantes dis-crepâncias entre os países avançados, vem conquis-tando crescente relevância econômica.

A outra face deste processo refere-se às remessas eingressos relativos a serviços tecnológicos. As es-tratégias das empresas no País, marcadas por nívelconsiderável de aquisição externa de tecnologia, vêmelevando o total do fluxo de pagamentos brasileirosrelacionados com contratos de tecnologia, embora,ao mesmo tempo, também esteja crescendo a receitaderivada de fornecimento de tecnologia (Tabela 4).

A partir de 1993, com a recuperação do crescimentoda economia e as transformações legais realizadasna ordem econômica nacional, os volumes de recur-sos remetidos ao exterior retomaram a tendência deevolução ascendente, interrompida nos anos oitenta.

Em 1988, os montantes enviados alcançaramUS$141 milhões, limite inferior histórico da série deremessas; os ingressos perfaziam apenas cerca deUS$70 milhões. Em 1999, as remessas chegaram acerca de US$2,97 bilhões, ao passo que os ingressos,na mesma data, totalizaram US$1,25 bilhão. É inte-ressante notar que o crescimento foi expressivo tantopara as remessas, quanto para os ingressos.

O resultado final consolidado foi o crescimento dodéficit nos fluxos referentes à transferência de tec-nologia (Gráfico 3), de um patamar inexpressivo, até1992, para US$1,7 bilhão aproximadamente, em1999, que continua onerando o balanço de pagamen-tos. Um elemento positivo novo (da década de no-venta), no entanto, que merece atenção tem sido ocrescimento do fluxo de ingressos, até então inex-pressivo.

Vale ressaltar que, apesar de revelarem volume aindarelativamente limitado, os indicadores disponíveissugerem a tendência de um maior esforço das em-

Page 154: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

128

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 155: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

129

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

3 Esse valor foi alcançado mediante a expansão dos dados da Anpei para o chamado Universo Anpei, que é formado pelo conjunto das empresascadastradas na Anpei. Estas são as empresas que, sem dúvida, realizam grande parte do dispêndio nacional em P&D. Optou-se aqui, em função dainexistência de parâmetros consistentes, por não estimar o gasto em P&D do restante da indústria, o que sem dúvida elevaria esse percentual.

presas na área. A entrada em vigor dos instrumentoslegais de incentivos fiscais – Lei 8.661/93 (Incenti-vo à P&D no Setor Industrial e na Agropecuária) eLei 8.248/91 (Lei de Informática) – contribuiu deforma importante para esta ampliação, embora comimpactos circunscritos às grandes empresas e por tem-po muito limitado.

Dois indicadores revelam esse aumento do gasto pri-vado: os números da pesquisa da Associação Na-cional de Pesquisa e Desenvolvimento das EmpresasIndustriais (Anpei), tabela 5, que foram recentemen-te atualizados e expandidos para um universo deaproximadamente 1100 empresas (“Universo Anpei”– ver nota 3 e Anexo Metodológico), e as informa-ções do dispêndio em P&D das subsidiárias de em-presas norte-americanas. As informações da Anpeidão conta de significativo aumento dos gastos, aolongo da década de noventa. Ainda que esse resul-tado não represente a totalidade da indústria brasi-

leira, a metodologia empregada para essa estimativarepresenta aprimoramento importante em relação àsséries divulgadas anteriormente. Com exceção daredução do dispêndio com engenharia não rotineira,todas as demais despesas se elevam em termos reais,com destaque para P&D e para aquisição de tecno-logia, o que é coerente com as informações do balan-ço tecnológico.

As informações prestadas ao governo dos EUA pelasempresas controladas por companhias norte-ameri-canas também reforçam esse diagnóstico. Segundoas mesmas, os dispêndios com atividades de P&Dno Brasil teriam alcançado a cifra de US$489 milhõesem 1996. Assim, a avaliação de um dispêndio globalde 0,3% do PIB, por parte das empresas3, é índicerevelador tanto do aumento recente, quanto danecessidade de elevar o patamar de esforço do setorempresarial (Tabela 6).

Page 156: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

130

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Os investimentos sistemáticos em pesquisa científi-ca e tecnológica também resultaram em acumulaçãode conhecimento e produziram resultados econômi-cos expressivos. Esta é, por exemplo, a situação daEmbrapa, que trouxe contribuição substancial parao desenvolvimento da agricultura brasileira, com im-plicações de monta para a competitividade externado agronegócio e para a desconcentração regionaldo desenvolvimento (ver seção Agricultura). Deve-se destacar que o MCT, por meio do fomento diretoà pesquisa e pela concessão de bolsas de estudo, vemapoiando as iniciativas da Embrapa e de diversosinstitutos vinculados a outros ministérios.

Um exemplo expressivo é o da Petrobras e seu Pro-grama de Capacitação Tecnológica para Exploraçãoem Águas Profundas (Procap), por meio do qual aempresa vem realizando importantes atividades deexploração e produção em águas profundas. As ini-ciativas efetuadas nas regiões marítimas tornaram-se fundamentais para o aumento da produção de pe-tróleo e gás natural, tendo em vista a política de bus-ca de autonomia em petróleo iniciada nos anos oi-tenta. Esses esforços foram inaugurados com a des-coberta de Albacora (1985) e Marlim (1986), consi-derados os primeiros campos gigantes (com reser-vas superiores a 1 bilhão de barris) de petróleo atéentão encontrados no Brasil (bacia de Campos, noestado do Rio de Janeiro). O significado econômico

Page 157: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

131

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

O Procap 1000 apresentou dois distintos esforços de pesquisa: oprimeiro está relacionado com o aprofundamento do conhecimen-to sobre os sistemas já utilizados pela Petrobras (Sistemas flutuan-tes de produção); no segundo, a empresa passa a fazermonitoramento de inovações tecnológicas, muitas delas ainda emsua fase exploratória, ou seja, sistemas de produção que se encon-travam na fase de desenvolvimento conceitual.

A complexidade dos esforços demandados neste Programa tornoufundamental o envolvimento de vários agentes de inovação nacionaise internacionais, destacando-se as universidades, centros de P&D,empresas de engenharia e indústria. Trabalharam nesse Programamais de 400 funcionários da Petrobras e cerca de 1000 pesquisadorese técnicos de instituições e empresas brasileiras e estrangeiras.

Entre os resultados alavancados com o Procap 1000, pode-se mencio-nar o domínio da tecnologia de sistemas flutuantes de produção paraáguas profundas (até 1000 metros). Em decorrência do Programa, aPetrobras iniciou a produção no campo de Marlim, a partir de 1992.No mesmo ano, a Petrobras foi premiada pela OTC (Offshore TechnologyConference) em Houston-Texas, pelos seus avanços tecnológicos nossistemas flutuantes de produção em águas profundas. Em junho de1994, foi instalada a plataforma P-XVIII, a 910 metros de profundida-de, com capacidade de produção de 100 mil barris por dia, que foidurante dois anos recordista mundial. Durante esse programa, aempresa obteve o registro de vinte e duas patentes internacionais

Quadro 2Programas Tecnológicos Offshore da Petrobras

dessas jazidas de hidrocarbonetos estimulou a Pe-trobras a conceber um programa de desenvolvimen-to tecnológico voltado para exploração em grandesprofundidades, culminando com a constituição doProcap 1000 (1986-1990), seguido pelo Procap 2000(1993-1999) (Quadro 2). Estes programas tinhamcomo principal objetivo o domínio dos sistemas deprodução submarinos, permitindo a extração dehidrocarbonetos em até 1000 e 2000 metros de lâ-mina d´água, respectivamente. Vale ressaltar que ossistemas de produção existentes na época dolançamento do programa permitiam o aproveitamen-to de poços em até 400 metros de profundidade.

Em setores como o siderúrgico, petroquímico, depapel e celulose, de alimentação e agronegócio, deequipamentos elétricos e mecânicos, além de alguns

relacionadas com os conceitos submarinos de produção.

Um estudo de avaliação do Procap 1000 permitiu identificar e quan-tificar os impactos econômicos decorrentes do Programa. Os resul-tados desse estudo indicam que para cada R$1 aplicado no Programa,obteve-se impacto total de R$12,12 até 1997, período em que foirealizado o estudo de avaliação, chegando-se a R$18,75 até 2005, deacordo com as projeções realizadas. Uma proporção importante dosimpactos oriundos do Programa (cerca de um terço) são indiretos,ou seja, resultou do processo de aprendizagem realizado ao longo doPrograma, capitalizados na forma de novas tecnologias, recursos hu-manos, competências relacionais e organizacionais.

As sucessivas descobertas de campos gigantes em águas cada vezmais profundas (de 1000 até 3000 metros), associadas aos resulta-dos do Procap 1000, estimularam a Petrobras a dar continuidadeaos esforços por intermédio do Procap 2000 (1993-1999) e Procap3000 (em vigor). Estes apresentam-se como agendas estratégicas epermanentes de desenvolvimento de tecnologias consideradas defronteira pela indústria petrolífera. Para tal, a empresa tem partici-pado de vários consórcios internacionais de pesquisa em regimemulticliente, bem como vem montando e sendo agente executorde consórcios de pesquisa, de que participam grandes empresasoperadoras estrangeiras de petróleo, além de inúmeros projetoscooperativos, envolvendo várias universidades brasileiras, agora fi-nanciados com recursos do CTPetro, o Fundo Setorial do Petróleo.

segmentos de serviços, como os de informática e ser-viço de engenharia, há também experiências bem- su-cedidas de empresas privadas, controladas por capi-tal nacional, que em grande medida alavancaram seucrescimento através do investimento sistemático emP&D e na geração de novas tecnologias (Quadro 3).

As empresas estrangeiras, especialmente as que ope-ram em setores de média e alta tecnologia, ocupampapel de relevo na economia brasileira. Suas estra-tégias de investimento em tecnologia constituem, porisso mesmo, elemento fundamental de risco e opor-tunidade. Na indústria de transformação do estadode São Paulo, as empresas total ou parcialmente con-troladas por capital externo eram responsáveis por37,3% do faturamento líquido total do setor, muitoembora representassem apenas 2% do número de em-

Page 158: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

132

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A indústria química representa o segundo mais importante seg-mento da indústria de transformação no Brasil, sendo suplantadaem tamanho apenas pela indústria de alimentos e bebidas. Suasvendas em 2000 foram de US$ 42,6 bilhões.

Ela é, em geral, moderna, com unidades industriais competitivas ecom tecnologia atualizada (em sua maior parte importada). Mas oseu crescimento, nos últimos quinze anos, tem sido insuficiente,levando parcela crescente do mercado doméstico a ser atendidapor importações (US$10,6 bilhões em 2000); estas importaçõesrepresentam oportunidades de crescimento para a indústria nacio-nal. O setor químico é responsável pelo maior déficit comercial daindústria de transformação brasileira (estimado em US$ 7,5 bi-lhões em 2001).

As razões do não-atendimento da demanda pela indústria domésti-ca são de duas naturezas. Para os produtos já fabricados (represen-tando cerca de 60% das importações), as restrições são especial-mente de natureza econômica. Para os produtos não fabricados(representando cerca de 40% das importações), as restrições sãoespecialmente de natureza tecnológica.

As restrições de natureza tecnológica afetam os produtos de maiorvalor, intensivos em tecnologia de processo, produto e aplicação.A remoção destas restrições requer investimentos em Pesquisa,Desenvolvimento e Engenharia (PD&E), especialmente nas áreasda química e da engenharia química e visam atender os segmentosde especialidades e de química fina. O aproveitamento de matéri-as-primas de origem natural e os processos biotecnológicos apre-sentam expressivo potencial econômico, acessível apenas median-te significativos dispêndios em pesquisa, desenvolvimento e enge-nharia e maior integração entre a indústria e a área acadêmica.

Quadro 3A Indústria Química Brasileira

presas industriais. Em setores de uso intensivo detecnologia, como as indústrias farmacêutica, de com-putadores e equipamentos para telecomunicações, aparticipação dessas empresas na receita é muito maior.As estratégias tecnológicas dessas empresas terão sem-pre impacto significativo na constituição da capaci-dade de inovar da economia brasileira.

A experiência de países com estruturas econômicas emque as empresas estrangeiras são amplamente domi-nantes, como Malásia e Cingapura, reforça a importân-cia de se adotarem políticas não só de incentivo àrealização de P&D em território nacional, mas tam-bém de estímulo para que essas empresas contribuam

para a capacitação e realização de P&D por parte deseus pequenos e médios fornecedores domésticos.

Recente pesquisa da Sociedade Brasileira de Estudosde Empresas Transnacionais e da GlobalizaçãoEconômica (Sobeet) permite compreender melhoro comportamento tecnológico das empresas trans-nacionais em operação no País e detalha as infor-mações ainda bastante fragmentárias dos indicadoresde intensidade de P&D no setor privado nacional.As oitenta e cinco empresas pesquisadas respondiampor 15% do PIB industrial, no ano de 1998. Essasempresas investiram naquele ano quase US$1 bilhãoem atividades inovadoras, dos quais cerca de US$550milhões em atividades propriamente de P&D.

Na média, o gasto total com P&D representava cercade 2,3% do faturamento das empresas transnacionaispesquisadas, com percentuais bem mais elevados paraempresas de maior porte, valores praticamente autofi-nanciados pelas próprias empresas. Os segmentosmais intensivos em P&D realizados no País por essasempresas são os de máquinas e equipamentos, eletro-eletrônicos e automobilístico.

Ampliação do mercado, redução de custos, melhoriada qualidade e busca de novos mercados são as moti-vações mais relevantes para a inovação. Disponibilidadee qualificação da mão-de-obra são elementos conside-rados críticos. As universidades e institutos tecnológicosno Brasil, além de suas respectivas matrizes, consti-tuem os principais parceiros dessas empresas em seusprojetos. Do total de inovações geradas, a maioria ab-soluta foi patenteada pelas transnacionais aqui instala-das. Dessas, 888 foram depositadas no exterior e 924no Brasil. No exterior, das depositadas, mais de 86%foram concedidas, enquanto no Brasil esta percentagemfoi de apenas 17%.

Page 159: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

133

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

POLÍTICAS DE INCENTIVO À P&D NAS EMPRESAS

As atividades de P&D nas empresas se caracterizampelo custo elevado e retorno incerto. Por isso, as na-ções industrializadas dispõem de um conjunto de po-líticas e instrumentos de incentivo e fomento à P&Dempresarial. Com base na experiência das nações queestão na liderança tecnológica, o financiamento pú-blico à P&D privada e a outras atividades relaciona-das com a inovação nas empresas pode ser distribuí-do em dois conjuntos principais: o apoio direto, pormeio do uso do poder de compra do Estado ou doaporte de recursos sem retorno, e o financiamentoindireto, com base na concessão de incentivos fiscais(em geral, deduções do Imposto de Renda).

Os instrumentos de fomento direto têm crescido,provavelmente, por serem mais adequados para aintervenção seletiva, em contraste com a intervençãopromovida pelos incentivos fiscais, de modo a esti-mular o desenvolvimento de tecnologias específicas,mediante a capacitação de pequenas e médias em-presas ou, ainda, a geração de parcerias entre insti-tuições públicas de pesquisa e empresas.

No Brasil, a experiência recente de apoio à P&Dprivada foi quase inteiramente baseada em incenti-vos fiscais. No entanto, um conjunto de fatores levaà percepção de que se faz necessário diversificar osinstrumentos de apoio à P&D privada, com maiorrecurso a mecanismos de fomento direto. Em pri-meiro lugar, os incentivos fiscais em geral somente

Page 160: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

134

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

em P&D;• amortização acelerada de dispêndios relativos àaquisição de bens intangíveis vinculados a ativida-des de P&D;• crédito de 50% do Imposto de Renda recolhido nafonte e redução de 50% do IOF sobre o pagamentode royalties ou assistência técnica ao exterior, refe-rentes a contratos de transferência de tecnologia.

A resposta das empresas à divulgação da lei e deseus benefícios foi positiva e imediata. A evoluçãoda apresentação de programas foi crescente no perío-do 1994-1997, diminuindo a partir de 1998, após aredução dos incentivos fiscais (Gráfico 4). Até o ano2000, 149 empresas submeteram igual número depropostas de PDTI/PDTA, sendo que 104 foramaprovadas. As empresas que efetivaram investimen-tos e receberam incentivos fiscais são, na maioria,indústrias de grande porte; as empresas industriaismédias beneficiadas em geral estiveram associadasa empresas maiores. Uma vez que esses programastêm, em média, duração de quatro a cinco anos, eque a maior parcela dos investimentos se concentrana sua metade final, os investimentos aprovados atin-giram seu patamar mais elevado, de cerca de R$700milhões a R$800 milhões, no período de 1997 a 1999.

são adequados para alcançar as grandes empresas,uma vez que as pequenas e médias empresas nãotêm Imposto de Renda a pagar. Em segundo lugar,os objetivos de promoção do desenvolvimento cien-tífico e tecnológico estabelecidos com a criação dosfundos setoriais exigem intervenções mais seletivas,focalizadas em setores e na busca do desenvolvi-mento de conhecimento e tecnologias específicos.

A tendência internacional é focalizar os programasde renúncia fiscal em atividades de P&D propria-mente ditas, deixando de lado o incentivo a contratosde aquisição de tecnologia ou a programas de trei-namento. Nas recentes reformas dos regimes de in-centivo fiscal à P&D na França, Bélgica, Holanda eEspanha, parte dos incentivos fiscais passou a seroferecida apenas com base na dedução de despesasrelativas a salários e custos previdenciários de pes-quisadores. No caso francês, despesas com a con-tratação de jovens doutores podem ser deduzidasintegralmente. O estágio de desenvolvimento brasi-leiro, contudo, provavelmente demandará instrumen-tos mais diversificados e flexíveis do que os utiliza-dos nos países da OCDE.

No Brasil, a Lei 8.661/93 criou a possibilidade deserem incentivados Programas de DesenvolvimentoTecnológico Industrial (PDTI) e Agropecuário(PDTA), elaborados e submetidos pelas empresas.Em sua forma original, a Lei 8.661/93 compreendiaos seguintes incentivos:• dedução das despesas com atividades de pesquisa edesenvolvimento tecnológico (próprias ou contratadas),até o limite de 8% do Imposto de Renda a pagar;• isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados(IPI) incidente sobre equipamentos e instrumentosdestinados às atividades de P&D;• depreciação acelerada de equipamentos utilizados

Page 161: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

135

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

Os números globais dos programas aprovados atédezembro de 2000 mostram uma relação de 1 para3,58 entre o valor da renúncia fiscal e a soma daspropostas de investimentos privados, significando queos R$1,17 bilhão em incentivos fiscais concedidos parao período 1994-2004 poderia induzir investimentosde até R$4,20 bilhões por parte das empresas. Issodemonstra que, se mantido na sua plenitude e aperfei-çoado, o instrumento poderia, a médio prazo, provo-car melhor equilíbrio entre as participações dos se-tores público e privado nos investimentos em pesqui-sa e desenvolvimento. No entanto, os investimentosefetivamente realizados pelas empresas, de 1994 aabril de 2000, atingiram apenas cerca de R$1,6 bi-lhão, ou 40% do total previsto, ao passo que a renún-cia fiscal efetiva alcançou aproximadamente R$155milhões, ou 13% dos benefícios aprovados. Assim, arelação investimentos/incentivos efetivos foi de10,27, o que representa cerca de três vezes a relaçãoprevista nos programas aprovados.

Em 1997, a Lei 9.532 alterou a legislação tributáriafederal, reduzindo drasticamente os incentivos fiscaisda Lei 8.661/93. Essa alteração levou à queda drás-tica do número de propostas apresentadas pelas em-presas. Nos exercícios de 1999 e 2000, foram proto-colados apenas quatro e cinco propostas, respecti-vamente, contra quinze, em 1998, e trinta e um, em1997. Os tímidos resultados obtidos com a aplicaçãoda Lei 8.661/93, no ano 2000, evidenciam os efeitosinibidores da alteração na legislação.

Considerando-se a experiência da década de noven-ta, parece claro que a principal prioridade de umareforma da Lei de Incentivos Fiscais à P&D deveser a reavaliação das deduções e isenções fiscais nostermos originalmente instituídos pela Lei 8.661/93.

Em linha com as tendências internacionais, esses in-centivos fiscais devem ser focados nas atividadesde P&D. Nesse sentido, considerando-se que as em-presas brasileiras realizam principalmente inovaçõesincrementais, a definição adotada pela lei deveriaconsiderar outras atividades correlatas, além de pes-quisa básica, aplicada e desenvolvimento experimen-tal. Finalmente, o programa deveria ser desenhadode forma a encorajar a atividade inovadora em re-giões menos desenvolvidas do País.

Algumas sugestões adicionais complementam ospontos acima colocados:• estabelecer incentivo adicional, ou escalonar os be-nefícios existentes, para as empresas que realizaminvestimentos anuais crescentes em P&D;• fortalecer a integração do programa de incentivosfiscais com os programas de fomento existentes;• ampliar o escopo dos incentivos à P&D, de maneiraque a lei se aplique ao desenvolvimento de tecnolo-gias para serviços;• priorizar projetos cooperativos, em especial aquelesrealizados por grandes empresas em cooperação compequenas e médias empresas da mesma cadeia pro-dutiva;• incentivar a absorção de mão-de-obra qualificada(mestres e doutores) pelo setor privado.

Um aspecto merecedor de atenção é a possibilidadedo emprego de fundos públicos, sem retorno, para ocusteio parcial de projetos de P&D que impliquema necessidade de desenvolver nova tecnologia, desdesua fase exploratória até a aplicação em um produtocomercializável.

Os exemplos internacionais de programas desse tipoestão relacionados com o alcance de objetivos espe-cíficos de desenvolvimento tecnológico: a promoção

Page 162: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

136

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

de novas tecnologias de ponta desenvolvidas por pe-quenas e médias empresas, o estímulo a parcerias queenvolvam governo, empresas e instituições públicasde pesquisa, ou mesmo a necessidade de acelerar odesenvolvimento de um campo tecnológico prioritárioou programas de pesquisa de interesse público.

No Brasil, o apoio direto à P&D nas empresas, comfinanciamento parcial a fundo perdido, tem se desen-volvido por meio de programas que buscam promo-ver parcerias entre empresas privadas e instituiçõespúblicas de pesquisa (inclusive universidades). Esteé o caso de iniciativa do PADCT, dos editais para

apresentação de projetos realizados pelo CTPetro,bem como dos programas de várias fundações deamparo à pesquisa estaduais. Esta experiência estáorientando a adoção de instrumentos semelhantesna operação de outros fundos setoriais.

É importante ressaltar o surgimento do projeto Ino-var da Finep (Quadro 4). Este projeto combina umelemento limitado de apoio direto, para a fase deestudos de viabilidade, com a organização de inves-timento de capital de risco em pequenas e médiasempresas de base tecnológica. O objetivo agora éexpandir o Inovar, o que já se começou a fazer.

O Projeto Inovar, da Finep, é proposta de organização da estruturainstitucional para a promoção de investimentos de capital de riscoem pequenas e médias empresas de base tecnológica no Brasil.

O Projeto Inovar tem como objetivo criar novas empresas de basetecnológica e solucionar as dificuldades enfrentadas por essas em-presas, como a falta de recursos em condições adequadas e a carên-cia de capacidade gerencial.

As atividades do Projeto são:• Portal de Capital de RiscoFoi criado o www.venturecapital.com.br, para disseminar notícias,estatísticas, textos selecionados e publicações sobre capital de ris-co no Brasil e no mundo. Este site também tem por objetivo servirde ponto de encontro entre investidores e empresas que desejamcaptar recursos de capital de risco (como no site americanowww.garage.com). Oferece também a oportunidade a empresaspara se cadastrarem no site, a fim de se apresentarem em umavitrine virtual, na qual os investidores poderão pesquisar e selecio-nar oportunidades para investir.• Venture Forum BrasilEstrutura de organização de rodadas de negócios entre investido-res e empreendimentos de tecnologia. Tem por objetivo incrementaro fluxo de oportunidades de investimento em tecnologia e promo-ver o encontro dos investidores com a seleção das melhores opor-tunidades de investimento no País.• Rede Inovar de prospecção e desenvolvimentode negóciosConstitui articulação entre incubadoras de empresas, fundações deapoio às universidades e centros de pesquisa, fundações estaduais deamparo à pesquisa, Rede Estadual Sebrae, institutos tecnológicos e

Quadro 4Projeto Inovar

associações de classe, coordenados pela Finep em parceria com oCNPq, o Sebrae Nacional, a Anprotec e a Sociedade Softex. Tem porobjetivo a realização de ações coordenadas para o desenvolvimentodo mercado de capital de risco, um esforço de prospecção ativa deprojetos de pesquisa com potencial de mercado e regularização deaporte de recursos para conclusão dos projetos.• Incubadora de FundosEstrutura através da qual alguns parceiros institucionais buscamdesenvolver avaliação sistemática de gestores de fundos que confirasegurança e transparência às decisões de investimento. Seus obje-tivos: i) facilitar a entrada de novos investidores no mercado deempresas de tecnologia; ii) identificar deficiências no processo degestão de fundos de investimentos e sugerir formas de superação;e iii) atrair novos gestores para o mercado e ampliar a oferta derecursos.

RESULTADOS

Portal Capital de Risco no Brasil, colocado no ar em maio de 2000.Conta com 500 empresas cadastradas.

Em agosto de 2000, foi realizado o 1Encontro da Rede Inovar, comparticipação de 218 representantes de instituições parceiras quereceberam noções sobre a indústria de capital de risco. Realizaçãode três Ventures Foruns Brasil – o primeiro no Rio de Janeiro emoutubro de 2000, o segundo em Porto Alegre, em dezembro de2000, onde 26 empresas de tecnologia foram apresentadas a inves-tidores, e o terceiro em São Paulo, em abril de 2001, com a seleçãode 25 empresas. Um novo Venture Forum, voltado exclusivamentepara projetos na área de biotecnologia, será realizado na cidade deBelo Horizonte. Outros mais irão ainda ocorrer.

Page 163: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

137

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) –publicou recentemente uma agenda que dá grande ênfase à políticatecnológica como um dos elementos estratégicos da política indus-trial. O texto reafirma que “não se trata apenas de estimular asempresas industriais a acompanhar o progresso técnico para me-lhorar sua competitividade, mas sim identificar algumas janelas deoportunidade para o Brasil melhorar a eficiência econômica de seusistema produtivo, produzir e exportar mais produtos com maiorconteúdo tecnológico e, assim, contribuir para o aumento dos ní-veis de renda da economia.”

Além de recomendações específicas para o segmento de informática,esse documento traz três conjuntos gerais de sugestões:

POLÍTICA TECNOLÓGICA• Reformar o Programa de Apoio à Capitação Tecnológica da Indústria(PACTI), privilegiando a dimensão setorial das ações.• Centralizar as ações de financiamento ao desenvolvimentotecnológico na Finep, ampliando sua articulação com o meio empre-sarial.• Privilegiar a cooperação entre os elos das cadeias produtivas.• Estimular a constituição de entidades tecnológicas setoriais ETS.• Estruturar programas de difusão tecnológica setorial.• Criar, em parceria com o setor privado, programas ou instituiçõesespecializadas em prospecção tecnológica e identificação de janelasde oportunidade.

Quadro 5Proposta de Política de Desenvolvimento Tecnológico do IEDI

• Criar outros fundos setoriais específicos além dos já estabelecidos.

APOIO FINANCEIRO E INCENTIVOS• Reformular e ampliar os incentivos fiscais para torná-los maisatraentes para as empresas.• Estimular mecanismos de capital de risco.• Atender a empresas em estágios iniciais e embrionários (seedmoney).• Estabelecer novas fontes para linhas de financiamento, integran-do os fundos setoriais aos demais instrumentos de apoio ao desen-volvimento tecnológico.• Focalizar a Finep no desenvolvimento tecnológico das empresas.• Reduzir o custo do crédito para o desenvolvimento tecnológico.

SISTEMAS ESTADUAIS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA• Estabelecer critérios para definição das prioridades daspolíticas estaduais em função dos impactos previstos sobre aseconomias locais.• Identificar e explorar “janelas de oportunidade” para a dinamizaçãodas economias locais, a partir de visões de longo prazo para aspolíticas de C&T estaduais.• Montar arranjos produtivos e tecnológicos em escala local quefavoreçam a realização efetiva do processo inovativo.• Maior rigor na alocação dos escassos recursos governamentais econcentração dos esforços em um conjunto mais restrito de priori-dades.

Page 164: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

138

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 165: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

139

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

A BAIXA INTENSIDADE TECNOLÓGICA DO COMÉRCIOEXTERIOR BRASILEIRO

Um dos maiores obstáculos ao nosso crescimentoeconômico tem sido a dificuldade estrutural da eco-nomia em realizar superávits significativos na ba-lança comercial e reduzir o déficit na balança deserviços. Em grande medida, esses problemas estãorelacionados com o perfil da estrutura produtiva ede comércio exterior e com o perfil das atividadestecnológicas das empresas brasileiras. A política deCT&I pode fazer bastante no sentido de modificarestes perfis, atuando de forma complementar às po-líticas industrial e de comércio exterior.

O problema mais aparente consiste na concentraçãodas exportações em produtos obtidos com uso in-tensivo de energia/recursos naturais/trabalho e,inversamente, o grande volume de importações deprodutos gerados graças à utilização intensiva detecnologia. A competitividade da economia brasi-leira, no conjunto, concentra-se em produtos inter-mediários com pouca diferenciação (baixa intensi-dade tecnológica), como celulose, minério de ferro,aços de menor valor e produtos do agronegócio, co-mo soja, suco de laranja, açúcar e café, além de pro-dutos de setores de uso intensivo de mão-de-obra(o de calçados é o campeão, mas o de móveis já sedestaca).

Ao examinar exclusivamente o comércio de manu-faturas, nota-se que, em contraste com o padrãomundial, que apresentou lenta evolução nos anosnoventa, o Brasil foi um dos países que, ao longodaquela década, mais aumentaram a participação

Page 166: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

140

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT),em convênio com o Sebrae, implantou há dois anos o Programa deApoio Tecnológico à Exportação (Progex), com ótimos resultados.Esse fato motivou os Ministérios da Ciência e Tecnologia e doDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e a SecretariaExecutiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) a instituir oPrograma Nacional de Apoio Tecnológico à Exportação, em parceriacom a Finep, o IPT, o Sebrae e demais instituições de pesquisastecnológicas credenciadas.

Seu objetivo é permitir às micro, pequenas e médias empresasobter aporte tecnológico por meio de consultorias e serviços obje-tivos e dirigidos, com vistas a alavancar as exportações. Essa con-sultoria é prestada por um instituto tecnológico especialmente cre-denciado.

O trabalho de adequação de produtos para a exportação é realizadoem duas fases:

Fase 1: elaboração de diagnóstico para identificar a problemáticatecnológica a ser solucionada e a elaboração de plano de trabalho,enfocando questões como normas, certificação e patentes, disponi-bilidade de laboratórios internos e externos, identificação de con-sultores, avaliação da capacidade produtiva do cliente, trabalho dedesign, eventuais alterações de processo (redução de custos, subs-tituição de matérias-primas e/ou componentes, alterações de lay-out, etc.).

Fase 2: consiste na implementação do plano de trabalho desenvolvidona Fase 1, envolvendo ações tecnológicas como ensaios laboratoriais,análises direcionadas à solução dos problemas detectados (qualidadedo produto, embalagem, processo produtivo, custos, design, atendi-mento de normas e regulamentos e obtenção de marcações comoCE, UL e outras).

Além do IPT, cinco outras entidades tecnológicas (Cetec MG, TecparPR, INT RJ, ITEP PE e Fucapi AM) devem estender essa rede deconsultores para várias regiões do País.

Quadro 6Progex

das exportações de produtos de maior tecnologia,como proporção das exportações de manufaturas,tendo passado de 29% do total em 1991 para 42%em 1998. Esse aumento foi determinado pelaevolução de apenas dois grupos de indústrias: aautomobilística e a indústria de aeronaves. O índicereferente a importações de alta e média-altaintensidade tecnológica manteve-se praticamente nomesmo patamar de 60% durante toda a década.

“A baixa presença dos produtos com

tecnologia intensiva na pauta das

exportações é outro desafio a

considerar (5% do total, enquanto a

média mundial é de 18%). Esta é

outra razão para que o País invista

fortemente em C&T e leve seus

resultados ao setor produtivo. Se

ficar alheio a esta urgência de

inovação, parte essencial da economia

nacional se inviabilizará e, na crise,

uma vez mais as emergências da

economia pautarão as grandes

decisões políticas.”

Pedro Wongtschowski,Oxiteno

Page 167: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

141

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI)realizou recentemente levantamento do comércio exterior brasi-leiro, utilizando-se das metodologias da OCDE de agregação deprodutos segundo sua intensidade tecnológica. As exportações eimportações foram classificadas em setores de produtos de baixa,média baixa, média alta e alta intensidade tecnológica. Os resultadosreafirmam a baixa intensidade tecnológica de nosso comércioexterior:

• baixo peso das exportações de alta e média-alta intensidadetecnológica (A/MA) como proporção das exportações totais (24%em 1998), relativamente ao padrão médio mundial (43%);• percentual de importações de produtos de alta e média altaintensidade tecnológica (A/MA) como proporção das importaçõestotais (47% em 1998) superior ao padrão mundial (sendo, porém,mais aproximada) (Tabelas 7 e 8).

Quadro 7Comércio Exterior segundoIntensidade Tecnológica

Page 168: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

142

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 169: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

143

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

A NECESSIDADE DE AMPLIAR A PARTICIPAÇÃO DOSSETORES DE ALTA TECNOLOGIA NA ESTRUTURA PRODUTIVA:TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Os setores produtores das Tecnologias da Informa-ção (TI), dada sua presença em quase todos os seg-mentos da economia moderna, são cruciais para as-segurar condições de competitividade da economiacomo um todo e para superar vários problemas es-truturais do País, especialmente os de cunho social.Nossa falta de competitividade nos principais seg-mentos das TI decorre primordialmente da limitadaimplantação desses segmentos no Brasil (correspondea apenas cerca de 7% do PIB industrial). A localiza-ção global de investimentos produtivos das grandesempresas desses setores não decorre apenas da exis-tência de mercado interno atraente e mão-de-obraindustrial barata. Ao contrário, devido ao aumentosistemático dos custos da realização da P&D nospaíses mais industrializados, a capacitação local dopaís hospedeiro em engenharia e P&D tem sido umfator que cada vez mais influencia decisões sobrelocalização de investimento, como demonstramexemplos da Índia, China, Malásia e Cingapura.

A questão da política para o desenvolvimento das TI(compreendida não apenas a indústria de bens e equi-pamentos, mas também a de software e serviços espe-cializados) tem grande inter-relação com a implanta-ção dos fundos setoriais de fomento da P&D. Isto émais evidente no caso do Fundo para o Desenvolvi-mento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel),já que os serviços de telecomunicações se colocamhoje entre os maiores importadores de bens e serviços

Page 170: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

144

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

baseados nas TI. Portanto, a atuação do Funttel, emarticulação com a política industrial, deveria compre-ender ações que fomentem o desenvolvimento na-cional da pesquisa tecnológica e de produtos e serviçosde base digital para telecomunicações (seja pelas gran-des empresas internacionais produtoras de equipamen-tos ou serviços, seja pelas empresas nacionais, de me-nor porte, que atuam na provisão de nichos de equi-pamentos e serviços especializados).

Este tipo de atuação é crucial para o desenvolvimen-to das pequenas e médias empresas nacionais de basetecnológica (EBTs). A atuação dos fundos junto auniversidades e instituições públicas deve privilegiara pesquisa científica e tecnológica que esteja articuladacom a estratégia de desenvolvimento das TI.

O processo de inserção competitiva da indústria bra-sileira de tecnologias de informação irá requereratenção especial dos poderes públicos na próximadécada. A atuação não deverá limitar-se à montagemde bens finais, cuja produção e exportações cresce-ram sensivelmente no País, nos últimos anos. Mastal ação deve ampliar a agregação doméstica de valor,

com ênfase em engenharia e desenvolvimento tec-nológico nacionais. Vários instrumentos estão dispo-níveis, inclusive os da nova Lei de Informática e osfundos setoriais, para que se estimule a alteração doperfil das indústrias da tecnologia de informação,visando ao melhor aproveitamento de nichos demercado e abrindo possibilidades reais de entradano mercado internacional para empresas brasileiras(Gráfico 5).

A indústria de tecnologias da informação, em seusvários segmentos, vem crescendo à taxa anual médiade 13% de 1993 a 1999. A legislação de informáticae o crescimento do mercado brasileiro, em conjuntocom as políticas do BNDES, atraíram para o Paíscerca de 100 novas empresas, em sua maioria grandesnomes internacionais, mas há ainda relativamentepouco esforço de engenharia e desenvolvimentonacional por parte dessas empresas. Muitos de seusprodutos são apenas montados no Brasil.

A indústria de telecomunicações contribuiu para oPIB brasileiro, no ano 2000, com cerca de US$7 bi-lhões, devendo atingir US$ 7,3 bilhões em 2001. As

Page 171: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

145

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

indústrias do setor também aumentaram o forneci-mento de equipamentos, que atingiu o valor de R$21,5 bilhões em 1999. O esforço de P&D realizadono País por essas empresas, entretanto, não é com-patível com a dimensão econômica do setor. Esta éuma questão fundamental para a discussão das dire-trizes estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inova-ção na área de telecomunicações.

Com a privatização do setor de telecomunicações, aindústria de tecnologias da informação e comunica-ção ganhou nova dinâmica. Criou-se uma nova rea-lidade no País, com a qual a área de Ciência, Tecno-logia e Inovação ainda está aprendendo a lidar.

Como resultado da legislação de informática, queexigia investimentos de 5% do faturamento das em-presas em pesquisa e desenvolvimento, como con-trapartida a seus benefícios, estima-se que o mon-tante acumulado desses investimentos atingiu R$3,0bilhões, entre 1993 e 2000, proveniente das empresasque operam nas mais diversas regiões brasileiras (comexceção da Zona Franca de Manaus, que aplica dire-tamente os recursos que gera).

Desse montante, cerca de R$2,0 bilhões foram alo-cados diretamente pelas empresas, R$1,0 bilhão foidispendido em convênios com instituições de ensi-no e pesquisa (Gráfico 6) e R$128 milhões junto aosProgramas Prioritários do MCT, tais como Softex,Rede Nacional de Pesquisa e Proten.

Dada a estrutura do setor, verifica-se acentuado graude concentração dos incentivos em um número re-duzido de empresas. Em 1999, trinta empresas foramresponsáveis por 83% do volume de incentivos, eapenas dez entre estas responderam por 61% do totalde incentivos.

Esses incentivos, significativos por qualquer padrão,indicam o montante de recursos que podem ser in-vestidos no desenvolvimento científico e tecnológicodo Brasil pelo setor privado. Vale lembrar que elesequivalem a cerca de 40% do orçamento do MCTno mesmo período. Embora se estime que as empre-sas incentivadas pela Lei investiram cerca de R$3bilhões no período 1993–2000, não se pode identificarcom precisão o percentual desses recursos efetivamenteempregados em atividades de P&D propriamente ditas.

Page 172: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

146

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A nova Lei de Informática, estendendo esses incen-tivos até 2009, constitui assim instrumento funda-mental para o aumento do gasto em P&D no País.Os aprimoramentos trazidos pela nova lei devempermitir melhorias na sistemática anterior, como ocredenciamento das instituições habilitadas a realizarconvênios, ou a melhor distribuição regional da con-trapartida em P&D. Desta forma, espera-se atingirmelhor equilíbrio das aplicações incentivadas emP&D em instituições de ensino ou pesquisa das vá-rias regiões. É de se esperar, igualmente, que o con-trole mais rigoroso da utilização dos recursos se tra-duza em aplicações crescentemente mais estratégicas.

O MCT vem desenvolvendo uma discussão para defi-nir a nova política para o setor de TIC, que se desdobraem focos distintos e interligados: o desenvolvimentode bens finais (hardware), a política de desenvolvimentode software e a reestruturação e desenvolvimento dosetor de microeletrônica (Quadro 8). Os três vérticesdesta política visam criar condições de modificação docenário das tecnologias de informação, no seu conceitode produção, de modo a viabilizar a participação dosetor no mercado internacional.

Esta política envolve forte capacitação de recursoshumanos e por isso depende principalmente de in-vestimentos nas universidades e centros de pesquisaespecializados, cujo montante inicial não é elevado.Uma estratégia consistente de formação de recursoshumanos qualificados permite a disseminação do co-nhecimento e o crescimento empresarial de formahomogênea.

A política de desenvolvimento de bens finais (dehardware), apoiada na nova Lei de Informática, priori-za a pesquisa e desenvolvimento, contribui para a des-centralização regional do conhecimento, para a mo-

dernização da infra-estrutura e para o desenvolvimentode produtos, em parceria com o setor privado.

Após crescimento médio anual de 19% na décadade noventa, o valor do mercado interno brasileirode software está estimado, para o ano de 2001, emUS$3,4 bilhões. Se considerado em conjunto comos serviços técnicos de informática, este mercadodo setor de tecnologias da informação atingirá a cifrade US$7,7 bilhões.

As características de emprego de recursos humanosde alto nível, que a produção de software agrega, alia-das ao pequeno volume exigido de investimentos ini-ciais, permitem a distribuição da produção de formarazoavelmente homogênea em todo o País, o queconstitui fator relevante para a distribuição de ri-quezas de modo mais equilibrado e conseqüente for-talecimento do mercado interno.

A legislação que reestruturou o setor de telecomuni-cações garantiu recursos para investimento na pro-moção do desenvolvimento tecnológico, por meiodo Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico dasTelecomunicações (Funttel), junto ao Ministério dasComunicações. A estratégia emergente de desenvol-vimento tecnológico e inovação para o setor é com-plementada ainda pelos incentivos proporcionadospela Lei de Informática, que buscam atrair atividadesde P&D para o País e torna viáveis outras parceriasentre universidades e empresas. Nesse novo contexto,algumas empresas transnacionais já estabeleceramcentros de P&D – principalmente voltados para odesenvolvimento de software de gerenciamento de re-des, software para terceira geração, wireless, protocolosIP e backbones óticos – e estabeleceram projetos depesquisa e cooperação com universidades. Ao mesmotempo, persistem as atividades de desenvolvimento

Page 173: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

147

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

A Sociedade para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro(Softtex) tem o objetivo social de executar, promover, fomentar eapoiar ações de inovação e desenvolvimento científico e tecnológicodo software brasileiro e suas aplicações, através da gestão, transfe-rência de tecnologias e promoção do capital humano, visando aodesenvolvimento socioeconômico brasileiro.

O programa tem duas vertentes principais: uma tecnológica, outrade mercado. Na vertente tecnológica, a estratégia adotada foi a deestabelecer núcleos de desenvolvimento de software para exporta-ção e centros Gêneses de suporte à geração de novas empresas emcidades brasileiras. Na vertente de mercado, o Programa montouescritórios de representação no ex-terior, com espaço para “incubaçãomercadológica”. Em julho de 1995,foi lançado o Softex Mall, que passoua integrar a internet, fornecendoacesso generalizado ao portfólio dasempresas brasileiras exportadorasde software.

O sistema Softex brasileiro, com as37 unidades espalhadas pelo País (19núcleos e 18 centros de pesquisa),conseguiu cumprir a meta de expor-tação fixada em 1996 para o ano pas-sado. Uma avaliação preliminar indi-ca que o País atingiu US$100 milhõesem vendas externas de programasde computador.

Embora pretenda ampliar as vendasinternacionais de software, o Softexpassa a olhar mais para o mercadointerno. A mudança de foco pretende melhorar a captação de recur-sos para financiar empresas brasileiras de software e ampliar omercado brasileiro. Está em negociação acordo inédito com a Soci-edade Operadora de Mercado Aberto (Soma), a bolsa eletrônicabrasileira, similar a Nasdaq dos Estados Unidos. Ele prevê a forma-ção de um fundo com recursos de outros fundos de investimentoque bancariam vários projetos de software ao mesmo tempo. Duasvantagens: a atividade ganharia nova fonte de recursos, e o investi-dor diluiria os riscos na aposta de várias idéias ao mesmo tempo.

Quadro 8Softex: A Sociedade para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro

A política tem propiciado o crescimento dos investimentos empesquisa e desenvolvimento por parte da iniciativa privada, atraídoinvestimento de longo prazo das grandes empresas internacionais,e os produtos fabricados no País têm preços competitivos em rela-ção aos seus similares importados.

Núcleos Regionais Softex: Unidades regionais (autônomas) de pro-moção à exportação de software, os Núcleos Softex oferecem àsempresas acesso a produtos e serviços especializados da rede deagentes Softex. Os núcleos instalam-se com forte apoio regional,contando com a infra-estrutura e suporte de centros acadêmicos eparceiros institucionais. Estes núcleos oferecem, às empresas asso-

ciadas, cursos, treinamentos, con-sultoria, apoio e estrutura técnicapara reuniões e eventos, bibliote-ca setorizada, clipping do setor enewsletter própria, entre outrosserviços. Os núcleos são respon-sáveis ainda por articular ações emnível nacional, como a publicaçãode catálogos e organização de even-tos e seminários, com a promo-ção de empresas em nível inter-nacional.

Financiamento: com o objetivo deaumentar o quadro de financiamen-tos no setor, a Sociedade Softex,em articulação com seus parcei-ros, vem atuando na construção demecanismos de financiamentoadequados às empresas brasilei-ras de software. O Programa deApoio ao Setor de Software

(Prosoft) foi criado pelo BNDES e a Softex para estimular a compe-titividade da indústria brasileira de software em nível internacional.O Programa oferece empréstimos de R$200 mil a R$3,5 milhões,a critério, sem necessidade de apresentar garantias reais, paraempresas que faturem até R$35 milhões anuais. O crédito é feitocom prazo total de seis anos (com dois de carência), com dívidacorrigida pelo IGP-M. Desde que foi lançado, em 1997, o Prosoft jábeneficiou doze empresas, com a aprovação de R$24,5 milhões emfinanciamentos. Atualmente, o Programa conta com R$25,5 mi-lhões para comprometer até junho de 2001.

Page 174: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

148

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Ao longo de seus 25 anos de existência, o CPqD desenvolveu mais deuma centena de produtos de hardware e software e prestou incontáveisserviços tecnológicos com grande efeito multiplicador e elevada rela-ção custo/benefício para seus clientes, parceiros e para a sociedadebrasileira. São noventa patentes concedidas no Brasil e mais cinqüen-ta e uma concedidas no exterior, além de 121 registros de software.

Para se ter a dimensão do impacto dos resultados alcançados peloCPqD, vale citar que a entrada efetiva das centrais Trópico RA nomercado brasileiro, em junho de 1990, fez com que o preço doterminal de comutação fosse reduzido de US$1mil para US$330.00em um ano, atingindo posteriormente o patamar de US$200.00.Isto resultou em economia ao País de aproximadamente US$5bilhões entre 1993 e 1998, o ano da privatização da Telebrás. Istosem contar o fator multiplicador da criação de indústrias e de em-pregos diretos.

Outro exemplo clássico é o desenvolvimento dos telefones públi-cos utilizando cartões indutivos, uma tecnologia barata e de fácilassimilação pela população de baixa renda. Sua introdução na redetelefônica proporcionou a incorporação de significativos ganhostecnológicos e econômicos, estimados em US$200 milhões anuais.

Na linha do desenvolvimento de softwares para gerência de redes, oCPqD desenvolveu o Sistema Automatizado de Gerência de RedeExterna (Sagre), que proporcionou economia estimada em US$1,2bilhão na implantação de novo processo de cadastramento de ter-minais, unicamente com a utilização de pares que estavam ociososnas redes das operadoras.

Em julho de 1998, o Centro foi transformado em fundação de direi-to privado. Neste novo contexto, o CPqD tornou-se fonte de co-nhecimentos tecnológicos sempre à disposição da Agência Nacionalde Telecomunicações (Anatel), das empresas operadoras de teleco-municações, das indústrias de equipamentos e de softwares paragerência de redes e de serviços, além de outros interessados.

Atuando dessa forma, o CPqD continua a contribuir para a socieda-de brasileira por intermédio de suas duas funções: a estratégica e aempresarial.

Na função estratégica, o seu objetivo é atuar nas tecnologias emer-gentes e/ou pré-competitivas, bem como promover o conhecimen-to e a difusão de sua capacitação tecnológica para a sociedade, atra-vés do seu efeito multiplicador, contribuindo dessa forma para acompetitividade do País. Na função empresarial, o seu objetivo écontribuir para a competitividade das empresas, com as estratégiasde foco e de agregação de valor aos clientes.

Quadro 9A Atuação do CPqD

tecnológico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimentoem Telecomunicações (CPqD), transformado em fun-dação de direito privado (Quadro 9).

Paralelamente, iniciou-se uma ofensiva para melhorestruturar o setor de microeletrônica, que hoje pres-siona a balança comercial, em função da demandacrescente de produtos importados, em sua maioriacircuitos integrados, e cujas importações até setem-bro do ano 2000 já haviam superado US$1,2 bilhão,mas da qual também participam outros componentesimportantes, como fibras ópticas, lasers e similares.

A política para o segmento de microeletrônica apóia-se, também ela, em três focos que podem agir indepen-dentemente e que, em conjunto, compõem a completainserção do País no cenário mundial de produtores demicroeletrônica: política de desenvolvimento de projeto(design); produção de back end e atração de fundições.

Page 175: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

149

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

A NECESSIDADE DE FORTALECER A INOVAÇÃO E ADIFUSÃO TECNOLÓGICA NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESASE A QUESTÃO REGIONAL

O universo das micro, pequenas e médias empresas(PME) é muito significativo no Brasil, sendo res-ponsável pelo maior número de empregos gera-dos (mais de 70% dos empregos e 21% do PIB). NoJapão, as PME constituem 98% do total de empresas.Na Alemanha, as médias empresas são um dos maisdinâmicos segmentos exportadores.

A existência de grande quantidade de microempresase empresas de pequeno porte leva à menor concen-tração econômica e, nesse sentido, as mesmas cons-tituem importante mecanismo de distribuição de ren-da. O desafio para Ciência, Tecnologia e Inovaçãona próxima década é contribuir para a expansãoquantitativa do setor e melhorar seu padrão de com-petitividade, inclusive no setor de exportações.

O ambiente econômico atual a que estão expostasas microempresas e empresas de pequeno porte ésevero. Pelo menos cinco barreiras são responsáveispelas dificuldades da manutenção ou crescimentocompetitivo das micro e pequenas empresas. Elastêm a ver com sua capacidade de:• investimento: custo do capital e formas de fi-nanciamento tradicionais;• gerenciamento e de qualificação profissional damão-de-obra;• barganha e negociação com fornecedores e canaisde distribuição;• inovação do produto, tecnológica ou não (como,

Page 176: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

150

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

por exemplo, design);• melhoria de processo produtivo com forte enfoqueem qualidade.

Arranjos institucionais para promoção da inovação– como pólos, parques tecnológicos, distritos indus-triais, clusters ou aglomerados produtivos, incubadorasde empresas, centros de inovação, entre outros – es-tão sendo estimulados desde a década de oitenta.Cada qual com particularidades próprias, atendendoa diferentes fases do processo de maturação das em-presas, têm sido utilizados no mundo inteiro parainduzir o crescimento do setor.

A organização e promoção de sistemas locais de ino-vação, visando estimular sinergias entre os agenteslocais – para superar gargalos tecnológicos que tra-vam o desenvolvimento de atividades produtivascom potencial relevante de geração de renda e em-prego –, apresenta nova concepção de desenvolvi-mento regional e nova dimensão para a participaçãodas micro e pequenas empresas no contexto de de-

senvolvimento. Um fator muito importante consistena possibilidade de se incluir inovações advindas depercepções locais ou mesmo de tecnologias desen-volvidas localmente, muitas vezes garantindo dife-rencial único para o mercado. É necessário levar emconsideração alguns fatores e linhas de ações, taiscomo:• especificidades locais, ou seja, a adoção de políti-cas diferenciadas de acordo com as necessidades oupotencialidades locais;• contribuição da Ciência, Tecnologia e Inovação naformação e consolidação de novos pólos de desen-volvimento regional;• formação, capacitação e fixação de mão-de-obraespecializada para dar suporte às ações de inovação;• importância da ação do Estado no desenvolvimentoeconômico e social, em especial nas regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste;• impactos ambientais ligados à atividade econômicanas novas regiões de desenvolvimento – o objetivodeve ser o desenvolvimento sustentável.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas éinstituição técnica de apoio ao desenvolvimento da atividade em-presarial de pequeno porte, voltada para o fomento e difusão deprogramas e projetos que visam à promoção e ao fortalecimentodas micro e pequenas empresas.

O Sebrae foi criado em 1990 por lei de iniciativa do Poder Executi-vo, em parceria com as confederações representativas do setorempresarial. O Sebrae é um serviço social autônomo – sociedadecivil sem fins lucrativos que, embora operando em sintonia com osetor público, não se vincula à estrutura pública federal.

As inúmeras iniciativas conjuntas do Sebrae Nacional ou dos Sebraesestaduais transformaram essa instituição em parceira estratégicadas agências de fomento à C&T, especialmente do MCT.

Entre esses projetos está o Programa de Apoio Tecnológico às Microe Pequenas Empresas (Patme). Esse é um mecanismo criado pelo

Quadro 10Sebrae

Sebrae e a Finep para permitir que pequenas e médias empresasacessem os conhecimentos existentes no País, por meio deconsultorias, visando à elevação do patamar tecnológico. Aconsultoria para execução dos projetos é prestada por centrostecnológicos, universidades, instituições de pesquisa, escolas técni-cas e fundações voltadas às atividades de pesquisa e desenvolvimen-to tecnológico.

O Sebrae é também tradicional fonte de suporte aoempreendedorismo e à incubação de empresas, bem como aoSoftex, aos programas de design e tecnologias industriais básicas, aoProgex e aos sistemas locais de inovação.

A mais recente parceria do MCT com o Sebrae é o Projeto Inovarde capital de risco. O Sebrae participa, com a Petrus e o BID, doFundo dos Fundos de Capital de Risco, cujo objetivo é ampliar a açãode suporte ao risco tecnológico das pequenas e médias empresas.

Page 177: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

151

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

NORMAS TÉCNICAS E METROLOGIAPARA A COMPETITIVIDADE

Merece particular atenção o fato de que o comérciointernacional – além de estar, em escala crescente,orientado pela capacidade das empresas de incorpo-rar, de forma contínua e sistemática, inovações tec-nológicas de produtos, processos e gerenciais – de-fronta-se ainda com o crescimento das chamadas bar-reiras técnicas ao comércio. Com efeito, desde a cria-ção do Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas(GATT), em 1947, a tarifa média aplicada a bensera de 40% e vem decrescendo, de tal forma que,em 1994, ao término da Rodada Uruguai, havia abai-xado para 5%. Ao mesmo tempo, em sentido inverso,multiplicam-se as barreiras técnicas ao comércio, re-presentadas pelas crescentes exigências de certifica-ção de produtos e serviços, segundo algum padrãonormativo internacionalmente aceito. Essas barreirassão de tal ordem que, no âmbito da OrganizaçãoMundial do Comércio, foi estabelecido o Acordo deBarreiras Técnicas, com o objetivo de levar os paísesmembros a se absterem de criar obstáculos desne-cessários ao comércio, exceto no que se refere aocumprimento dos chamados objetivos legítimos. Taisobjetivos se circunscrevem aos aspectos da saúde,segurança, proteção da vida humana, animal e vege-tal, defesa da concorrência, proteção ambiental e pro-teção ao consumidor.

Page 178: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

152

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Entretanto, a certificação de produtos, de sistemas(Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental) e de ser-viços é praticamente condição geral para o acesso amercados. A certificação – ou qualquer outra formade demonstração da conformidade de produtos e ser-viços com requisitos técnicos especificados em nor-mas técnicas (quando esses requisitos são voluntá-rios) ou em regulamento técnico (quando esses re-

O Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e o Serviço Nacional de Aprendiza-gem Industrial (Senai) são entidades ligadas à Confederação Nacio-nal da Indústria (CNI) e que atuam na área tecnológica, sendo partefundamental do sistema nacional de inovação.

O IEL tem como missão promover a interação das empresas dosetor industrial com as instituições de ensino, pesquisa e demaisorganizações baseadas no conhecimento, visando à competitividadee ao desenvolvimento do setor produtivo brasileiro, através da re-alização de estudos e projetos junto a instituições geradoras deconhecimento e de novas tecnologias.

Dentre seus projetos, destacam-se a parceria Bitec – “Bolsas IEL –Sebrae – CNPq para apoio ao Desenvolvimento Tecnológico dasMicro e Pequenas Empresas”, cuja 3ª edição 2000–2001 envolveu27 estados da Federação, 396 estudantes de graduação e 384 pro-fessores universitários de 95 universidades públicas e privadas,abrangendo mais de 20 áreas de conhecimento.

Outra parceria do IEL/MCT é o projeto de “Pesquisa sobre Empre-sas Graduadas por Incubadoras”, que consiste em pesquisa quanti-tativa e qualitativa com o universo destas empresas em todas asregiões, objetivando medir o seu impacto no processo de desenvol-vimento econômico, social e tecnológico das localidades e regiõesonde atuam.

O Senai tem por objetivo contribuir para o fortalecimento da indús-tria através da educação para o trabalho, assistência técnica etecnológica, produção e disseminação de informação, além da gera-ção e difusão de tecnologia, atuando de forma efetiva através dosSenaitec’s – Centros Nacionais de Tecnologia –, sendo estes verda-deiros pólos de geração, absorção, adequação e transferência detecnologia, que tornam disponível o conhecimento produzido pelossetores industriais de ponta dos diversos estados.

O Senai é parceiro do MCT em projetos de tecnologia industrialbásica, normalização, gestão da qualidade e sistemas de rede deinformações tecnológicas. Há também grande interface de atuaçãonas áreas de transferência de tecnologia, empreendedorismo, de-senvolvimento regional, incubadoras e parques tecnológicos e capa-citação empresarial.

Quadro 11CNI/IEL/Senai

quisitos são compulsórios, abrigados sob o artigo IIdo Acordo de Barreiras Técnicas da OMC) – depen-de da existência de organismos de inspeção e de cer-tificação acreditados segundo normas e guias inter-nacionais. Estes, por sua vez, realizam ensaios emlaboratórios credenciados segundo os mesmos parâ-metros, que, por sua vez, baseiam-se em normas téc-nicas e em regulamentos técnicos. Tudo isso tem co-mo base laboratórios metrológicos capazes de dis-seminar padrões nacionais de medida e efetuar cali-brações que garantam a rastreabilidade das mediçõesem escala mundial.

Esta base metrológica, por seu turno, deve estar as-sentada sobre infra-estrutura metrológica nacionalaltamente capacitada, operando em modelo de rede,em condições de disseminar nacionalmente as uni-dades das grandezas necessárias, em níveis de incer-teza cada vez menores, além de demonstrar a suacompetência internacionalmente. Isto exige que asinstituições da rede estejam operando na fronteirado conhecimento científico e tecnológico, o que re-quer sólido esforço em pesquisa básica e aplicada.No panorama brasileiro, essa necessidade implica re-vitalizar o Inmetro, como o núcleo da rede, para am-pliar consideravelmente a capacidade nacional deprestar serviços metrológicos, bem como as ativida-des de pesquisa científica e tecnológica (Quadro 8).

Além do fato de que essa formidável infra-estruturaexija investimento extremamente alto, os sistemasde metrologia, normalização e avaliação da confor-midade (inspeção, ensaios e certificação) devem serreconhecidos internacionalmente, sem o que o preçode um produto estará acrescido de tantas certifica-ções quantos forem os mercados de destino dessesbens e serviços.

Page 179: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

153

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

Outro ponto merece relevo: no passado, a normatécnica nacional ou setorial era instrumento de de-fesa de mercados e, como tal, foi recurso tático usadono processo de substituição de importações.

Hoje, a competição internacional baseia-se nas nor-mas técnicas internacionais. Assim, é vital que a em-presa participe do esforço de normalização nos forosinternacionais e que tenha condições de defender seusinteresses no campo da tecnologia, nos momentos emque a norma é discutida e aprovada. Caso contrário, aempresa será mera seguidora de padrões tecnológicosdeterminados pela concorrência.

Esse é um desafio particular no caso brasileiro, umavez que apenas 0,05% das empresas brasileiras par-ticipa da Associação Brasileira de Normas Técnicas(ABNT), foro nacional de normalização e, como tal,habilitado a representar o Brasil nos foros interna-cionais que tratam da matéria.

Os institutos metrológicos nacionais, em vários países desenvolvi-dos, combinam pesquisa científica de alto nível com forte interaçãocom as necessidades concretas de seus parques industriais e deserviços.

Dentro deste espírito, é oportuno para o Brasil contar com umaorganização na área de metrologia, onde pesquisa básica, pesquisaaplicada, inovação tecnológica e serviços para a indústria se inte-grem.

Seria, como no Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), ainstituição metrológica nacional dos Estados Unidos, o locus ondecoexistem, natural e sinergicamente, pesquisa científica, pesquisatecnológica, transferência de tecnologia a empresas, inovação e ser-viços de alto conteúdo tecnológico. Na situação brasileira de relati-va escassez de recursos, esta organização teria de aproveitar aomáximo a capacidade de pesquisa já instalada no País, para coorde-nar projetos nacionais integradores em metrologia científica.

A infra-estrutura ora existente nos laboratórios do Inmetro emXerém-RJ é bastante boa no que tange a prédios e instalações, ondejá se realizam trabalhos de alto valor científico e tecnológico, masainda muito aquém do necessário. Isto sugere que o investimentoem um grande projeto para desenvolver a metrologia científica eindustrial no Inmetro representaria a criação de um núcleo naturalpara esta rede nacional, capaz de integrar Ciência, Tecnologia eInovação, com grande impacto na competitividade de nossas em-presas.

Quadro 12Capacitação Científica e Tecnológicaem Metrologia

Page 180: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

154

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 181: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

155

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

AGRICULTURA

A agricultura, no Brasil e no mundo, vem passandopor notável transformação nos últimos vinte anos. Aocontrário de previsões feitas no final da década desetenta e início da de oitenta, a agricultura não cami-nhou para a perda de sua importância econômica esocial. Tampouco se realizaram as previsões de queos produtos agrícolas seriam substituídos por proces-sos industriais baseados na química e na biotecnologia.As transformações ocorridas nesses últimos vinteanos prenunciam a constituição de um padrão produ-tivo e tecnológico extremamente dinâmico para aagricultura.

As funções sociais e econômicas da agricultura sãohoje muito mais complexas que aquelas que nortea-ram as políticas desde a última metade do século pas-sado. A agricultura se diversifica, passa a incorporarcada vez mais inovações de produto e de processo,integra-se com os demais setores da economia e é cen-tro das atenções no comércio internacional, na for-mulação de políticas ambientais e de sanidade animale vegetal. Ademais, ela é um dos focos do desenvol-vimento das novas tecnologias de base biológica.

Falar hoje em agricultura é tratar de vasto conjuntode atores, intra e intersetoriais. Talvez uma das suascaracterísticas mais evidentes e mais marcantes, sobo ponto de vista científico e tecnológico, seja a fortearticulação com a indústria, com o comércio e, emgeral, com o que se convencionou chamar de negócio

Page 182: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

156

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

As atribuições que tradicionalmente pesavam sobrea agricultura – de produção barata de alimentos ematérias-primas, de reserva de mão-de-obra para aindústria e de geradora de excedentes para a expor-tação –, embora ainda existentes, são suplantadaspor outras bem mais dinâmicas. Três verificações re-forçam esta perspectiva:

• Mudanças nos padrões de consumo alimentarSeja pelo processo de urbanização e suas implicaçõessobre os hábitos alimentares (alimentação fora de ca-sa, maior consumo de alimentos industrializados e/oupreparados, alimentação rápida etc.), seja pela va-lorização de aspectos qualitativos (como alimentos con-siderados mais saudáveis, nutricêntricos, entre outros);

• Integração às cadeias produtivasEm parte como decorrência do ponto anterior, e tantono Brasil como no mundo em geral, impõe-se cadavez mais à agricultura a necessidade de integraçãoàs cadeias produtivas, quer com a agroindústria pro-cessadora, quer com os grandes distribuidores, par-ticularmente com as megaempresas de distribuiçãono varejo de produtos e insumos;

• Redução da degradação ambiental edo uso de insumosAqui entram a agricultura de precisão, a redução da

agrícola, agronegócios ou agribusiness. Dados comoa queda da participação da agricultura na renda na-cional, tomados setorialmente, são pouco represen-tativos do papel que ela cumpre. No Brasil, o negócioagrícola representa hoje cerca de 25% do PIB. Ascadeias produtivas de citros, bovinocultura, avicul-tura e suinocultura, açúcar e álcool, o complexo dasoja, entre outros, são exemplos de organizações pro-dutivas dinâmicas, complexas e fortemente deman-dantes de conhecimento. Os mercados de produtosagrícolas e agroindustriais estão cada vez mais com-petitivos, e as novas tecnologias são elementos cen-trais na busca de competitividade. Não apenas ascommodities, mas também mercados de produtos e in-sumos diferenciados têm demanda qualificada porconhecimento de base científica e tecnológica.

Produzir mais, degradando menos e a custos com-petitivos, gerar capacidade de diferenciação de pro-dutos e de mercados, abrir oportunidades para pro-dutores marginalizados e dar condições de expan-são àqueles já inseridos no agronegócio, mas sob ris-co de exclusão, enfrentar os novos requisitos com-petitivos de mercados internos e externos, estar atua-lizado para fazer face aos novos padrões de consumosão desafios que requerem necessariamente a imple-mentação de uma política tecnológica voltada paraas atividades ligadas ao agronegócio.

Page 183: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

157

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

quantidade e da toxicidade de pesticidas, o extrati-vismo sustentável, a recuperação de áreas degrada-das, a menor contaminação de lençóis freáticos; en-fim, o uso sustentável de recursos naturais.

Acrescente-se a verdadeira revolução que novas ba-ses de conhecimento no setor agro-silvo-pastoril es-tão provocando na agricultura, tanto nos fundamen-tos moleculares e celulares dos seres vivos, quantona organização, acesso e processamento de informa-ção. O resultado é a mudança radical da base técnicae produtiva da agropecuária, com enormes oportu-nidades de desenvolvimento.

Se a busca de ganhos de produtividade na agriculturaainda é estímulo importante, o surgimento de novasbases de conhecimento acentua o papel do desenvol-vimento científico e tecnológico para o futuro da pro-dução agropecuária e agroindustrial. Não há mais porque restringir o melhoramento genético aos ganhosde produtividade física, nem por que persistir ofer-tando pacotes tecnológicos homogêneos para con-dições agroecológicas distintas, ou limitando o espa-ço econômico da agricultura às commodities. Repensaras diretrizes de formação de pessoal, inclusive arevisão curricular e as oportunidades produtivas tor-naram-se imperativos estratégicos. Tem-se pela frenteformidável esforço de planejamento, de gestão e dereorganização da pesquisa e da inovação na agriculturae, por que não dizer, no negócio agrícola.

Países como o Brasil, que apresentam agriculturascom forte grau de heterogeneidade, onde convivemsituações que vão da miséria até a completa integra-ção aos mercados e ao uso sistemático de alta tec-nologia, oferecem duplo desafio: aproveitar as opor-tunidades da nova base de conhecimento e ampliara produtividade e as condições de competitividade

de produtos de base tradicionais (commodities).

A heterogeneidade dos tipos de produtores tambémé elemento que pesa nessa situação. A produção fa-miliar no total da agricultura brasileira correspondea 85% dos estabelecimentos agrícolas, ocupandoárea de cerca de 108 milhões de ha (equivalentes a30% da área agrícola total) e respondendo por 38%do Valor Bruto da Produção (VBP). Já a produçãocomercial representa 11,4% dos estabelecimentos(equivalentes a 68% da área total e a 61% do VBP -Tabela 10). As heterogeneidades que esses númerosrevelam serão ainda maiores, se esses produtoresforem divididos em diferentes estratos, segundo osníveis de renda e de capitalização. Assim, encontram-se na agricultura brasileira grupos de agricultoresfamiliares com condições de inserção econômicamuito diferenciadas: enquanto os mais capitalizadosobtêm, por ano, uma renda total média deR$15.986,00, os menos capitalizados têm apenasR$98,00.

Esta breve apreciação sobre a estrutura de produçãoagrícola no Brasil reforça a visão da complexidadedos desafios com que se defrontam CT&I no quediz respeito à agricultura brasileira. Aproveitar asoportunidades abertas pelo novo conhecimento, sermais competitivo, reduzir desigualdades entre pro-dutores, entre níveis de produtividade e entre regiões,reduzir o impacto ambiental é o que levará a soluçãodo mesmo problema.

Os desafios estratégicos de CT&I apresentados pelaagricultura e pelo agronegócio podem ser tratadossob a óptica dos seguintes temas:

• Biologia MolecularGenes passaram a ter alto valor agregado e repre-

Page 184: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

158

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

sentam o principal insumo da biotecnologia moderna.Cabe identificar os genes e suas funções para desen-volver aplicações aos problemas de produção, sus-tentabilidade e competitividade do agronegócio.

Essa é uma ação necessariamente coletiva que en-volve a criação de redes de atores públicos e priva-dos e mobiliza recursos de universidades nacionaise internacionais, institutos públicos e privados, ato-res governamentais vinculados aos ministérios da A-gricultura, da Ciência e Tecnologia, do Meio Am-biente e de órgãos reguladores, financiadores e defomento. É preciso construir plataformas integradase transdisciplinares nas áreas de genoma funcional ebioinformática, associadas a pesquisas em recursosgenéticos, em melhoramento por genética clássica,biotecnologia, entre outras, que possam constituirnúcleos de aplicação dos conhecimentos e produtosgerados, bem como gerar impactos sobre o desen-volvimento do agronegócio brasileiro.

• Tecnologias de Base BiológicaO avanço que está ocorrendo nas ciências biológicastem permitido que tecnologias químicas sejam subs-tituídas por soluções que têm como base os conheci-mentos da biologia. Não é possível, ainda, dimensio-nar o escopo, a abrangência e a velocidade dessa mu-dança. Todavia, considerando os atuais acordos geo-

políticos e comerciais e as reformas nos aparatos le-gais e institucionais de C&T, é possível afirmar queos países que não acompanharem a cadência dessamudança perderão mercados para seus produtos e ve-rão reduzida a oferta de empregos para seus cidadãos.

Progressos já foram feitos na área de insumos para aprodução primária. São exemplos de êxito a utilizaçãoda fixação biológica de nitrogênio em substituiçãoao uso de fertilizantes químicos nitrogenados e algu-mas tecnologias para controle integrado de pragas edoenças. Resta, porém, amplo espectro de áreas queestão demandando conhecimentos e tecnologias. Umdesses exemplos está na qualidade dos solos tropicaise na produção de “produtos orgânicos”: como substi-tuir eficientemente as atuais soluções técnicas paracorrigir as diferentes carências desses solos tropicais?

Os serviços e a indústria demandam soluções tec-nológicas competitivas, de base biológica, para em-balagens, como, por exemplo, a possibilidade do usode derivados da mandioca para substituição de iso-lantes térmicos atuais. Na mesma linha está autilização de biomassa em soluções eficientes paraa mudança da matriz energética brasileira. Em todosos casos que envolvem mudanças no processo in-dustrial, o investimento em C&T pode ser extrema-mente alto para pequenas e médias empresas, razão

Page 185: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

159

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

pela qual é necessária intensa troca de informaçõesentre pesquisadores do processo industrial e pesqui-sadores da área biológica, o que indica que novosarranjos institucionais em C&T precisam ser dese-nhados e implementados.

• Sanidade AnimalA abertura dos mercados brasileiros à concorrênciaexterna, aliada à participação do Brasil no Mercosul,está, há cerca de uma década, pressionando a cadeiade carnes, especialmente a bovina, para que obtenhaganhos em competitividade e mantenha sua parti-cipação nos mercados interno e externo.

Mais recentemente, o surgimento na Europa da en-cefalopatia espongiforme bovina (BSE) – doença davaca louca –, cuja origem está associada às práticasde alimentação com proteína animal adotadas nosseus sistemas de produção, aliado ao pânico provo-cado junto aos consumidores europeus, abriu grandesoportunidades para que a cadeia nacional de produ-ção de carne bovina capitalize o grau de competiti-vidade anteriormente obtido, avance nesse caminhoe consolide a posição do País como grande fornece-dor do mercado externo. Os sistemas de produçãoaqui utilizados, baseados na criação a pasto e no usorelativamente pouco intensivo de agroquímicos, ins-piram mais confiança nos consumidores. Um conjun-to adequado de ações mercadológicas, gerenciais etécnico-científicas, nos próximos anos, pode trans-formar o Brasil em um dos maiores protagonistas nomercado mundial de carnes bovinas.

• Agricultura, Saúde e NutriçãoA mudança ocorrida na pirâmide etária da populaçãoe o aumento de doenças crônico-degenerativas e dedoenças relacionadas com os processos de urbani-zação e industrialização estão demandando produtos

Page 186: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

160

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

no processo político e econômico. Assegurar que osresidentes no meio rural tenham acesso à informação eao conhecimento é evitar que, como ocorreu no tempoda escravidão, seja criada, no campo, nesta década, umasubclasse de brasileiros (Quadro 13).

• Competitividade em Agricultura TropicalAs variáveis que estão moldando as sociedades, espe-cialmente os avanços da área científica, dos meios decomunicação e de transporte, estão levando ao acir-ramento da concorrência entre países, não mais novolume da produção em si, mas no controle do co-nhecimento e geração de tecnologias. Dadas as carac-terísticas dos nossos ecossistemas e da nossa capacidadetécnica, o Brasil tem condições de ser líder emtecnologia para agricultura tropical. Porém, há ne-cessidade de se definir com precisão qual é exatamenteo nicho de conhecimentos e tecnologias que queremosdominar.

primários com condições mínimas de qualidade paraserem usados como ingredientes de dietas específi-cas. Em muitos desses casos, o foco do comércio passados produtos para os seus componentes. Tem-se, comoexemplo, o setor de produtos lácteos, no qual atendência está no crescimento do comércio de com-ponentes do leite, como a lactose e outros, em de-trimento do comércio do produto leite. A importânciada qualidade final do produto é tão grande, que paísesque não atentarem para essa exigência poderão chegarao paradoxo de terem excesso de produção primária,de qualidade inferior, e de serem grandes importadoresde componentes desses produtos primários. As atuaislinhas de P&D precisam ser redirecionadas, incorpo-rando novos indicadores de qualidade.

• Acesso à InformaçãoO acesso à informação e ao conhecimento é a variávelde maior poder de exclusão ou inclusão dos indivíduos

O universo dos agricultores familiares é extremamente diversifi-cado, seja em relação às condições socioeconômicas das famílias,seja entre as regiões do País. Ainda assim, a maioria desses produ-tores enfrenta duas restrições básicas comuns que reduzem seupotencial de desenvolvimento: a disponibilidade de terra e capital,de um lado, e de mão-de-obra familiar, de outro. Tais restriçõespodem ser superadas por meio de arranjos tecnológicos e institu-cionais adequados. A experiência revela que esses produtores têmelevada aversão ao risco, em geral alto na atividade agropecuáriadevido às flutuações dos mercados e da natureza. Essa aversão,junto com a restrição estrutural de terra e capital, leva-os a adotaruma estratégia específica de produção econômica e reproduçãosocial, a qual se manifesta em sistemas de produção diversificadose baseados na utilização mais intensiva de fatores e insumos dispo-níveis na unidade de produção.

A viabilidade dos produtores familiares, hoje e muito mais ainda nofuturo, depende fundamentalmente da possibilidade de elevar aprodutividade, de reduzir as restrições acima mencionadas e concre-tizar as vantagens competitivas potenciais associadas à utilização damão-de-obra familiar e à gestão integrada da unidade produtiva.

Quadro 13Tecnologia para os Agricultores Familiares

Nem sempre, contudo, as tecnologias e inovações produzidas aten-dem às necessidades e interesses dos agricultores familiares.

Daí deriva uma vasta linha de ação para CT&I, que envolve pesqui-sas científicas que levem em conta as particularidades dos produto-res familiares e que sejam orientadas para melhorar o rendimentodos principais sistemas produtivos utilizados por esses produtores.

A pauta de pesquisas e estudos engloba um conjunto de temas, desdeo aumento da eficiência econômica do uso dos fatores terra e traba-lho em ambiente de agricultura familiar, redução de risco econômicoe natural, elevação das sinergias entre os vários subsistemas utiliza-dos, conservação e recuperação dos recursos naturais, técnicas depré-processamento rural e de conservação e assim por diante.

O desenvolvimento de tecnologias para produtores familiares tam-bém deveria ser incentivado. É certo que a maior restrição nessecampo é de natureza econômica e institucional, e não de naturezatecnológica. Ainda assim, o desenvolvimento de equipamentos ade-quados – em escala, funcionalidade e custos – às necessidades eespecificidades dos produtores familiares, associado a ações paraviabilizar sua adoção, poderia ter significativo impacto sobre a pro-dutividade e rendimento direto de milhões de produtores, benefi-ciando toda a comunidade.

Page 187: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

161

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

• Informação e Apoio à DecisãoTão importante quanto o processo produtivo em si(como produzir), é a decisão do que produzir e paraquem produzir. O conhecimento sobre as caracte-rísticas dos mercados existentes, tais como prefe-rências e costumes dos consumidores, é de crucialimportância para a competitividade do agronegócio.Todavia, os custos envolvidos no levantamento ena análise dessas informações são em geral incom-patíveis com o tamanho das empresas do agrone-gócio nacional. Assim, arranjos institucionais preci-sam ser implementados para levantar, analisar e dis-ponibilizar essas informações.

• Mudanças Ambientais e o AgronegócioA elucidação dos impactos das mudanças ambientaisglobais sobre o agronegócio brasileiro, o desenvol-vimento de modelos tecnológicos para adaptação aosfenômenos, bem como medidas de mitigação rela-cionados com as tecnologias de produção, consti-tuem metas imperativas para o futuro da agriculturae do agronegócio.

• Agricultura OrgânicaO binômio saúde/alimentação, aliado à forte cons-cientização pela sociedade da necessidade de se pre-servar o ambiente, vem despertando o interesse doconsumidor por alimentos mais saudáveis, produzi-dos por técnicas agronômicas de baixo impacto am-biental. Por responder a esses anseios, a agriculturaorgânica apresenta-se em ampla expansão, oferecen-do condições de sustentabilidade, preservação dosrecursos naturais e, em sistemas mais avançados, pro-dução de alimentos com certificação de origem.O consumo de produtos orgânicos apresenta umatendência de crescimento na atualidade e, nos paísesindustrializados, deve passar do atual patamar de 1%a 2% de participação no total de vendas de alimen-tos, para cerca de 10%, até o ano 2005. Em decor-rência da baixa dependência de insumos externos –pelo aumento de valor agregado ao produto, comconseqüente aumento de renda para o agricultor, epor propiciar a conservação dos recursos naturais –,a agricultura orgânica apresenta-se como mercado ino-vador e atrativo. Cria oportunidades, principalmente,

Plantio Direto, técnica de manejo do solo desenvolvida pelaEmbrapa, consiste de um conjunto de técnicas de preparo do solocuja principal característica é evitar os impactos negativos das ope-rações tradicionais de aração e gradação. Trata-se de, ao mesmotempo, adaptar o preparo do solo às condições edafo-climáticas dostrópicos quanto de aproveitar ao máximo a matéria orgânica resul-tante do plantio do ciclo produtivo imediatamente anetrior. Paraisso, utiliza-se de herbicidas dissecantes, e de equipamentos de-senvolvidos para, ao mesmo tempo, incorporar a matéria orgânicaseca e proceder a etapa de adubação de plantio e a semeadura (oudo plantio de mudas).

Os benefícios estão associados ao aumento de produtividade devi-do aos impactos favoráveis sobre as características físicas e conser-vação do solo em situações de cultivo intensivo. A técnica, introduzidanos anos setenta pela Embrapa, difundiu-se rapidamente desde adécada de oitenta. Estima-se que a área com plantio direto tenhapassado de 1 milhão de hectares em 1990 para 12 milhões em

Quadro 14Plantio direto

2000. Seus principais benefícios são:

• econômicos: redução em 60% no uso de combustíveis fósseis;maior flexibilidade nas operações de manejo, sobretudo no plantio,ampliando as possibilidades em relação às operações tradicionais ereduzindo o risco produtivo do agricultor.

• ambientais: redução das perdas de solo por erosão da ordem de90%, que representa mais de 100 milhões de toneladas de terrafértil preservadas por ano, evitando o assoreamento de cursosd´água, lagoas e barragens, melhorando a qualidade e a disponibili-dade e reduzinho o nível de enchentes.

• econômico e ambientais de longo prazo: absorção de 76 milhõesde toneladas de carbono atmosférico por cada 1% de incrementono teor de matéria orgânica na camada superficial do solo. Conside-rando-se os 10 milhões de hectares cultivados sob plantio diretosão 7,6 toneladas por hectare em termos de sequestro de carbono.

Page 188: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

162

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

para pequenos e médios produtores, inclusive comu-nidades de agricultores familiares e vários outros seg-mentos da cadeia produtiva, o que pode auxiliar odesenvolvimento das áreas rurais próximas aos grandescentros urbanos e aos corredores de exportação.

Apesar desse grande potencial, a agricultura orgâni-ca, em diversas partes do mundo, está sendo desen-volvida em bases ainda empíricas, não científicas, oque tem levado a uma série de problemas, inclusive,em muitos casos, baixa credibilidade dos processosde produção e de certificação dos produtos.

• Agricultura de PrecisãoNo Brasil, as técnicas de agricultura de precisão co-meçam a se tornar importante ferramenta para o ge-renciamento de sistemas de produção, que buscama redução de impactos nocivos de práticas agrícolassobre o meio ambiente, enquanto melhoram produ-tividade de sistemas de produção em aspectos qua-

litativos e quantitativos. A agricultura de precisãooferece novas e revolucionárias oportunidades deaplicação de inovações no campo da automação, ins-trumentação, sensoriamento remoto e tecnologia dainformação, para o aprimoramento dos sistemas deprodução agropecuária. O foco da nova revoluçãoem agricultura de precisão está na aplicação do con-ceito de “manejo sítio-específico”, cujo principalobjetivo é a identificação de variabilidade espacial etemporal em campos de produção e o desenvolvi-mento de práticas de manejo que permitam melhorgerenciamento dos processos de produção à luz davariabilidade detectada. Assim, os sistemas tradicio-nais podem ser substituídos por estratégias econô-micas e ecologicamente mais saudáveis e eficientes.A pesquisa, assistência técnica, agricultores, inicia-tiva privada, fabricantes de equipamentos, associa-ções, cooperativas e governo têm papel fundamentalnesse processo.

O zoneamento agroecológico feito pela Embrapa cobre hoje 20 estados, mais de 3200 muni-cípios e sete produtos (algodão, arroz, milho, soja, feijão, trigo e maçã). O zoneamentoidentifica as aptidões agrícolas de cada região e recomenda um pacote tecnológico paraminimizar o risco para os agricultores, maximizar o rendimento dos cultivos e proteger omeio ambiente. A adoção do zoneamento e das recomendações técnicas já teve impactoseconômicos consideráveis, tanto para os agricultores que pagam um prêmio mais baixo peloseguro agropecuário, como para o Programa, que passou de um déficit superior a US$150milhões para um superávit (Tabela 11).

Quadro 15Zoneamento Agroecológico

Page 189: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

163

Capítulo 4 - Desenvolvimento Econômico

PLANTAS TRANSGÊNICAS

A tecnologia de organismos transgênicos, os chama-dos organismos geneticamente modificados, é umadecorrência do progresso científico das últimas dé-cadas na compreensão do fenômeno da vida. Forte-mente carregada por considerações éticas, morais ereligiosas, a discussão sobre organismos transgênicostranscende os limites dos laboratórios, na medidaem que suas aplicações práticas, seja na produçãode alimentos, seja na produção de insumos para aindústria farmacêutica, ou, no limite, na criação denovas formas de vida, tornaram-se realidade pela pri-meira vez na história do homem. O conhecimento,na civilização ocidental até agora, tem-se mostradouma força irresistível. Alguém, em algum lugar domundo, conseguirá, mais cedo ou mais tarde, explorarsuas conseqüências para o bem ou para o mal. Nãohá solução simplista para isto. O debate esclarecidodessas questões cruciais para o futuro da humanida-de, em uma sociedade democrática, requer uma po-pulação cientificamente “alfabetizada”, que possa,ao menos, acompanhar os argumentos, formar suaprópria opinião e decidir com maior conhecimentode causa.

Plantas transgênicas com características importantes,tais como a resistência contra pragas, são necessáriasonde falta resistência inerente nas espécies locais.Há pesquisa avançada no desenvolvimento de re-sistência contra doenças causadas por vírus, bactériase fungos; modificações na arquitetura da planta

Page 190: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

164

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

(exemplo: altura) e desenvolvimento (por exemplo:florescimento rápido ou tardio, ou produção das se-mentes); tolerância a pressões abióticas (por exemplo:salinidade e seca); produção de bens químicos in-dustriais (recursos renováveis baseados em plantas);o uso de biomassa de plantas transgênicas para com-bustível.

A manipulação genética de plantas e microorganis-mos pode ser orientada para um conjunto de objeti-vos não excludentes, entre os quais a elevação daprodutividade agropecuária, a redução de custos deprodução e uso mais eficiente e sustentável dos re-cursos naturais, a redução de carências nutricionais,preservação da biodiversidade e recomposição deambientes degradados. Alimentos produzidos pormeio de tecnologia de modificação genética podemser mais nutritivos, estáveis quando armazenados e,em princípio, podem ser benéficos à saúde dos con-sumidores, tanto em nações industrializadas, quantoem nações em desenvolvimento.

No Brasil, uma experiência de inserção de gene dacastanha em feijão para melhoria do teor de amino-ácidos essenciais foi iniciada ainda nos anos oitenta.Hoje, multiplicam-se as iniciativas nesse sentido, uti-lizando plantas de cultivo globalizado, como o arroz,e cultivos mais identificados com países e regiões,como o feijão.

Esforços do setor público poderão ser necessáriospara estimular plantações de transgênicos que bene-ficiem agricultores pobres, reduzindo suas des-vantagens de escala, potencializando suas vantagenscompetitivas e melhorando tanto sua capacidade deprodução, como de gerar renda e adquirir alimentosno mercado. Esforços de cooperação entre os setoresprivado e público serão necessários para desenvolver

novas sementes transgênicas que beneficiem peque-nos produtores e consumidores. Um ponto a ser lem-brado é que a atuação das empresas estrangeiraslíderes do setor de sementes não se pauta necessa-riamente pelo interesse social, mas é determinadapor suas estratégias de negócio.

É necessário adotar medidas rigorosas para investi-gar os efeitos potenciais sobre o meio ambiente esobre a saúde humana – sejam estes positivos ou ne-gativos – em aplicações específicas de tecnologiasde manipulação genética. Tais esforços devem seravaliados tomando-se como referência os efeitos detecnologias convencionais da agricultura, que estãoatualmente em uso – critério, aliás, empregado nasavaliações e manejos de risco conduzidos pela Co-missão Técnica Nacional de Biossegurança(CTNBio), vinculada ao MCT.

Sistemas reguladores de saúde pública devem ser mo-bilizados para identificar e monitorar quaisquer efei-tos potencialmente adversos, que podem surgir doconsumo de plantas transgênicas, assim como paraquaisquer outras novas variedades.

Empresas privadas e instituições de pesquisa devemcompartilhar a tecnologia de modificação genética,que atualmente está sujeita a acordos de licenças epatentes muito restritivos. Adicionalmente, isençõesespeciais deverão ser dadas aos agricultores de baixarenda para protegê-los de restrições que prejudiquemo desenvolvimento das suas plantações.

Page 191: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

DESAFIOS ESTRATÉGICOS

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Page 192: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

166

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O elenco de questões até aqui le-vantadas em educação, avanço doconhecimento, qualidade de vida edesenvolvimento econômico jápermite definir, por si só, um con-junto de desafios de importânciaestratégica para o futuro do País.Contudo, elas não esgotam a agen-da de temas para os quais Ciência,Tecnologia e Inovação têm a con-tribuir. Neste capítulo, ao mesmotempo em que se estende e se com-plementa a abrangência dos temastratados anteriormente, procura-setambém dar-lhes um enfoque maisespecífico. A extensão das questõesa serem tratadas contém, como nãopoderia deixar de ser, um elementode arbitrariedade na sua escolha.Dentro da concepção original desteprojeto, de estimular um debateamplo com a sociedade e a co-munidade científica e tecnológica,a escolha deve ser vista como con-

DESAFIOS ESTRATÉGICOS

CIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOCIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃODESAFIOS ESTRATÉGICOS

Page 193: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

167

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

tribuição para definir prioridades, como uma agen-da aberta, um convite ao debate e uma oportunidadepara análise mais aprofundada da necessidade dearticulação entre instituições e agentes com res-ponsabilidades e atuação em diferentes setores.

Assim entendidos, parece conveniente organizar osdesafios estratégicos aqui tratados em três linhas deação:

i) mapear e conhecer a realidade nacional, não apenasem seus recursos naturais mas em seus recursos hu-manos e patrimônio intangível, pois sem informaçõesamplas e confiáveis sobre as reais condições do País,que subsidiem a tomada de decisões por parte da socie-dade, corre-se o risco de improvisações, tão nocivasquanto os problemas que se pretendem resolver.ii) identificar vulnerabilidades importantes da socie-dade e da economia e entendê-las como oportuni-dades de alavancar o desenvolvimento científico etecnológico, social e econômico – essas vulnerabili-dades tanto podem ser desequilíbrios sociais quantogargalos importantes da economia. iii) Mapear inicia-tivas de amplo alcance, que elevem o patamar decapacitação em algumas áreas-chave para o desen-volvimento econômico sustentável.

Essas iniciativas, que irão surgir naturalmente da se-leção de prioridades para as diretrizes estratégicasdo setor, caracterizam-se por buscar um salto tec-nológico, por meio do qual o desenvolvimento debens ou de serviços se dará no marco de parâmetrosde confiabilidade ou competitividade queultrapassem o referencial de desempenho domomento. Superado o desafio, e difundidos seusresultados, a sociedade terá evoluído na direção demaior desenvolvimento, eqüidade e justiça; o setorprodutivo nacional terá galgado um novo patamar

“Os grandes desafios estratégicos

para a C&T se ligam à centralidade

do conhecimento no progresso do

mundo contemporâneo. Há desafios

que decorrem de como se move a

fronteira deste conhecimento; há

outros que se prendem às

peculiaridades atuais da situação

econômica e social do País e há,

ainda, os que se ligam à aspiração

nacional de uma presença soberana

no cenário internacional futuro.”

Waldimir Pirró y Longo,Observatório Nacional

“Há reais oportunidades para por em

marcha, no País, importantes projetos

"mobilizadores", capazes de gerar

novos impulsos para a C&T. Isto

passa pela definição urgente de

prioridades e de novos instrumentos

de fomento; eliminou-se a reserva de

mercado sem que se criassem

incentivos compensatórios. Estes

devem buscar produzir

desenvolvimento científico e

tecnológico melhor distribuído por

todas as regiões do País.”

Sérgio Machado Rezende,UFPe

Page 194: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

168

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

de competitividade; as estruturas de geração de co-nhecimento terão adquirido competências inteira-mente novas; os produtos, bens e serviços, terãomaior confiabilidade.

Independentemente das escolhas específicas que se-jam feitas, seis ingredientes são básicos para enfren-tar esses desafios estratégicos:

• recursos humanos adequadamente treinados, istoé, programas consistentes de formação de recursoshumanos em áreas estratégicas e absorção de pessoalem empregos qualificados;

• avanço do conhecimento, isto é, pesquisa própria eabsorção de resultados produzidos em outros países,com o domínio de um vasto campo de conhecimentosem múltiplas áreas e capacidade não apenas para ope-rar tecnologias disponíveis, mas também – e princi-palmente – para inovar e acompanhar o progresso tec-nológico em campos-chave, como saúde, engenha-rias, materiais, informação e biologia;

• capacidade para identificar oportunidades e fazerescolhas tecnológicas adequadas às necessidades dosvários programas considerados;

• integração de esforços de pesquisa, com programasde natureza cooperativa entre agentes do setor pú-blico, setor privado e terceiro setor, cujo escopo eescala lhes garantam abrangência social ou impactoeconômico;

• forte participação do setor privado, com progra-mas de incentivo e fomento à pesquisa, desenvolvi-mento e inovação em empresas nacionais e condiçõespara que empresas estrangeiras realizem pesquisa edesenvolvimento em escala compatível com os be-

nefícios econômicos que obtêm no mercado bra-sileiro e que tenham um retorno real para o País;

• instituições e ambiente institucional adequado efavorável ao desenvolvimento da Ciência, Tecnolo-gia e Inovação, que são fundamentais para vencercom sucesso os desafios estratégicos do País.

Na primeira parte desse capítulo, serão consideradasas questões referentes ao levantamento, gestão e de-senvolvimento sustentável de importantes recursosnaturais do País: mapeamento do território; meteo-rologia e climatologia; gestão do meio ambiente; bio-diversidade; recursos do mar; recursos hídricos; re-cursos minerais.

Na segunda parte, serão apresentadas algumas vul-nerabilidades e oportunidades de desenvolvimentoda sociedade brasileira. Serão abordados temas rela-cionados a iniciativas de grande envergadura social,científica e tecnológica, com potencial para envolvervárias áreas da Ciência e Tecnologia e para contribuir,de forma direta, tanto para a solução de problemasrelevantes, como para a abertura de novas oportuni-dades de desenvolvimento. Os principais temas: fár-macos, energia, biotecnologia e seu potencial para oPaís; telecomunicações, informática, atividades es-paciais; tecnologia aeronáutica; tecnologia nuclear.

Page 195: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

169

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

PARTE 1: CONHECIMENTO E GESTÃODO PATRIMÔNIO NACIONAL

Levantamento Geográfico e Estatístico

do Território

Os mapas e as informações estatísticas são necessá-rios para a formulação de políticas públicas, planeja-mento de empresas e a gestão territorial. Essas ativi-dades requerem freqüentemente informações básicasatualizadas e sistematizadas em campos como geologia,solos, vegetação, biodiversidade, geomorfologia, recur-sos hídricos, recursos minerais, população, indústria,serviços, lazer, clima, uso da terra, safras agrícolas, den-tre outros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística e outras instituições integrantes do SistemaCartográfico Nacional elaboram cartas topográficas,mapas e bancos de dados em diferentes níveis (nacional,regional, estadual e municipal), com os resultados delevantamentos específicos.

Conquanto os levantamentos estatísticos feitos noBrasil deixem a desejar, a situação do mapeamentotopográfico é ainda mais insatisfatória diante da cres-cente e cada vez mais complexa demanda por dadoscartográficos para o planejamento em geral, particu-larmente das ações orientadas para a exploração sus-tentável do meio ambiente. Esse contexto determinaa necessidade de reavaliar o modelo de mapeamentotopográfico e o preparo de material cartográfico.

Paralelamente, com o uso mais intenso da tecnologiade Sistemas de Informações Geográficas (SIG), au-

“A Amazônia representa perto da

metade do território brasileiro e é

hoje uma área submetida a vários

riscos. Perduram as migrações intensas

do Nordeste e Centro-Oeste; há

pressões sobre o patrimônio mineral e,

em particular, problemas graves com a

preservação da biodiversidade.

Necessita tecnologias específicas e

estas não surgirão espontaneamente

do mercado.”

Luiz Hildebrando Pereira da Silva,Centro de Pesquisa em Medicina Tropical,Roraima

Page 196: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

170

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

mentou a demanda por cartas topográficas, inclusiveno formato digital. Identificar as características físi-cas e a capacidade do ambiente de sustentar dife-rentes tipos de uso significa, antes de tudo, apontaras possibilidades de crescimento sustentável de umaregião. Para tal, é necessário conceber, construir emanter um Sistema Integrado de Informações, quetenha por meta principal informar o sistema de pla-nejamento em seus diferentes níveis de atuação (na-cional, regional, estadual, municipal).

Um programa nacional integrando métodos tradicio-nais, sensoriamento remoto e aerogeofísica, aliadoao desenvolvimento de aplicativos de SIG, teria con-dição de prover o Brasil de cartas e folhas topográ-ficas com a elevada precisão exigida pela economiamoderna. Seus resultados serviriam de base sólidapara todos os demais mapeamentos, fundamentaispara o conhecimento e desenvolvimento do País.Ademais, promoveria a formação de recursos hu-manos, modernizaria equipamentos de ensino e pes-quisa dos cursos universitários, estimularia o inter-câmbio científico e tecnológico, permitiria a atuali-zação freqüente de bancos de dados georeferenciadossobre recursos naturais e meio ambiente, alem deestimular a criação de empresas de base tecnológica,tanto em equipamentos e serviços de mapeamentoe de gestão de bancos de dados primários, quantono desenvolvimento de aplicações inovadoras.

A correlação da informação geográfica assim dispo-nibilizada, com informações estatísticas de qualidadesobre produção industrial, comércio, transações fi-nanceiras, produção agrícola, produção mineral, po-pulação e suas características econômicas, sociais,educacionais etc., permitiria planejar políticas pú-blicas, prover serviços essenciais, organizar progra-mas estratégicos ou investimentos privados, com ba-

se em informações muito mais confiáveis do que asatualmente disponíveis. Ganhar-se-ia, assim, em efi-ciência, eficácia e efetividade no emprego de recur-sos escassos.

Meteorologia e Climatologia

A meteorologia vem ganhando relevo, principalmen-te devido aos impactos da variabilidade climática.E também pela percepção de que o homem está alte-rando a composição da atmosfera, e as mudançasclimáticas globais resultantes destas alterações pode-

A avaliação e o acompanhamento dos impactos ambientais de proje-tos no setor agropecuário estão sendo muito facilitados pelo uso detecnologias de geoinformação e modelos associados.

Os Sistemas de Geoinformação incluem tecnologias de bancos dedados geográficos e sensoriamento remoto aliadas a modelos ma-temáticos, estatísticos e de otimização. Ao realizar a integração emum mesmo banco de dados de informações provenientes de dife-rentes fontes, os sistemas de informação geográfica permitem arepresentação computacional dos diferentes componentes do meioagroambiental. Tais sistemas são ferramentas auxiliares importan-tes para o planejamento agroambiental, monitoramento de safras,monitoramento e planejamento de projetos de agronegócios.

Para sua efetiva utilização, esta tecnologia requer a existência debancos de dados agropecuários com informações amostrais queincluem, por exemplo, produtores, clima e situação dos mercadose sua integração com fontes periódicas de monitoramento de da-dos, como imagens de satélite.

A diversidade intrínseca dos problemas ambientais indica que o usomais apropriado desta tecnologia é feito de forma distribuída, paraque as diversas instituições públicas e privadas venham a dispor detecnologia de geoinformação e modelos associados e tenham amploacesso a bancos de dados sobre os diferentes componentes domeio agroambiental.

Neste sentido, é importante ressaltar que o Brasil já possui signifi-cativa experiência no desenvolvimento e uso de tecnologia degeoinformação, merecendo destaque os resultados já obtidos porinstituições como o INPE e a Embrapa. Tais experiências, metodo-logias e produtos poderiam servir de base para um programa nacio-nal de uso de geoinformação no setor de agronegócios.

Quadro 1Sistema Avançado de Informaçõespara a Agricultura

Page 197: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

171

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

rão ter profundas conseqüências no clima. No hori-zonte de décadas, se as emissões de gases do efeitoestufa não forem mitigadas, as mudanças climáticasglobais poderão trazer impactos adversos a toda asociedade e às atividades econômicas.

Os efeitos da variabilidade natural do clima são no-táveis. Vários setores da economia nacional são di-reta ou indiretamente afetados por ela, cujos efeitossão potencializados pelas condições particulares deinfra-estrutura básica e social do País; a qualidadede vida cotidiana da população urbana e rural tam-bém está sendo conturbada por fenômenos associa-dos ao clima, sejam enchentes nas regiões metropo-litanas, problemas de abastecimento de água potávele geração de energia hidroelétrica, seja a seca no se-mi-árido nordestino e mesmo incêndios florestais.

O progresso científico e tecnológico permitiu o de-senvolvimento de instrumentos e técnicas de previ-são meteorológica mais acuradas, aumentando a im-portância estratégica da meteorologia e climatolo-gia no Brasil. O País possui acentuada diversidadede condições climáticas e conta com uma base derecursos naturais cuja exploração sustentável estáassociada ao comportamento do clima e à disponi-bilidade e capacidade para gerar e utilizar, de formaeficaz, informações meteorológicas e climatológicas.A aplicação dessas informações é também cada vezmais essencial para a gestão dos grandes centros ur-banos. O conhecimento sobre as flutuações do tempoe do clima e a capacidade de prevê-las são hoje con-siderados como parte da riqueza dos países.

Na segunda metade da década de oitenta surgiramduas iniciativas que deram forma ao Sistema Nacio-nal de Meteorologia: i) o planejamento de uma gran-de modernização da capacidade técnico-científica,

efetivada pela criação do Centro de Previsão deTempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE; ii)um programa de incentivo ao uso da informação emnível local e regional em todo o País, que adicional-mente criasse as bases para a melhoria da capacida-de observacional e de ciência e tecnologia em me-teorologia.

Em que pese a expansão recente da rede observacio-nal com plataformas de coleta de dados meteorológicos,hidrológicos e ambientais que utilizam modernos sis-temas de telecomunicações, baseados nos satélites bra-sileiros de coleta de dados, a densidade das informa-ções meteorológicas é insuficiente. Ademais, muitasdestas informações não chegam aos usuários finais deforma adequada e em tempo hábil para proporcionaros resultados possíveis e desejáveis.

O aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano PacíficoEquatorial Oriental caracteriza o fenômeno El Niño, que é cíclico,embora sem periodicidade definida, e dura de 12 a 18 meses. Quandoocorre, inicia-se normalmente no começo do ano, atinge intensida-de máxima em dezembro e se enfraquece na metade do segundoano. O aumento dos fluxos de calor e de vapor d'água do mar para aatmosfera, sobre as águas quentes, provoca mudanças nas condi-ções meteorológicas e climáticas em várias partes do mundo. NoBrasil, a chuva aumenta no Sul e diminui no norte e leste da Ama-zônia e no Norte do Nordeste. No Sudeste, as temperaturas ficammais altas, tornando o inverno mais ameno.

La Niña é o fenômeno oposto, de resfriamento anômalo das águassuperficiais no Oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental. ElNiño e La Niña são variações normais do sistema climático da Terra.Os efeitos econômicos dessas variações são diversos: alguns benéfi-cos, outros não. Em 1998, as altas temperaturas provocadas pelo ElNiño, aliadas a chuvas abundantes, favoreceram o desenvolvimentode lavouras e a produção de grãos em São Paulo. No outro extremo,o Nordeste enfrentou uma das piores secas do século XX.

Fonte: http://www.cptec.inpe.br/

Quadro 2El Nino/La Nina e o clima no Brasil~ ~

Page 198: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

172

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Aperfeiçoamentos no sistema de previsão meteoro-lógica, climática e hidrológica poderão contribuir,ainda mais, para: i) diminuição dos riscos à vida e àpropriedade; ii) redução de danos ao meio ambiente;iii) aumento da produtividade e diminuição de per-das e riscos na produção agrícola, pecuária e indus-trial, no comércio e no setor de serviços, com o con-seqüente aumento da produtividade global da eco-nomia brasileira e da competitividade internacionaldos setores indicados.

O País dispõe de base para lançar-se, com determi-nação, em programas objetivando melhor conhecer oclima e suas variações e monitorar as condições at-mosféricas, climáticas e ambientais do País. Conta com

uma massa crítica de cientistas, muitos de áreas afinse com experiência adquirida a partir de algumas ini-ciativas de grande porte, como o CPTEC e o conjun-to das atividades de monitoramento por satélite doInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

A implantação de uma Agência Nacional de Meteo-rologia (Anamet), proposta resultante de discussõesenvolvendo vários segmentos interessados no âmbitogovernamental e acadêmico, estabelece um novo mo-delo de organização institucional, descentralizado eparticipativo, para o Sistema Nacional de Meteoro-logia. A efetivação do Fundo Setorial de RecursosHídricos poderá viabilizar, a partir de 2001, a capa-citação de recursos humanos para pesquisa de inte-

Estima-se que o uso disseminado de confiáveis previsões e infor-mações meteorológicas possa representar significativos ganhos eco-nômicos e sociais. Somente na agricultura, o uso de informaçõesmeteorológicas, climáticas e agrometeorológicas na redução de per-das e aumentos de produtividade tem o potencial de economizarmais de R$3 bilhões anualmente neste setor para o País. Algunsexemplos são:

• Economia de Água na Irrigação: uma previsão correta de ocorrên-cia de chuvas para 24 e 48 horas, rotineiramente elaborada no Paíscom índices de acerto acima de 75%, permitiria desligar o sistemade irrigação em 15 mil hectares que utilizam o sistema de irrigaçãoconstante, representando economia, somente no estado de SãoPaulo, de mais de 600 milhões de litros de água por dia.

• Redução de Riscos Climáticos para a Agricultura: de 1991 a 1995,o valor médio de indenização de seguro agrícola pelo Proagro foi deR$150 milhões por ano. A partir de 1996, com base no zoneamentoagrícola, o Proagro somente financiou culturas selecionadas foradas áreas de risco climático, obtendo taxas de risco menores eenorme redução das indenizações para cerca de R$500 mil anuais.

Também nos setores de energia e recursos hídricos, pode-se gerareconomias e benefícios sociais de monta, como ilustrado nos exem-plos a seguir:

• Ganhos no Setor de Energia Elétrica: previsões da tendênciaclimática sazonal de chuvas abundantes para a primavera de 1997 no

Quadro 3O Valor dos Serviços Meteorológicos

Sul do país, fornecidas pelo CPTEC às empresas de geração e trans-missão daquela região, fizeram com que aquelas empresas diminuís-sem o uso de energia termelétrica, economizando milhões de re-ais; informações fornecidas pelo Sistema de Meteorologia do Paranáà Companhia Paranaense de Energia representam economias po-tenciais superiores a R$20 milhões por ano com o uso adequado dasinformações no planejamento do uso dos recursos hídricos na gera-ção de energia elétrica e também na operação, manutenção e pro-jeto de linhas de transmissão.

• Melhor Gerenciamento de Recursos Hídricos Escassos: a compa-nhia de águas do Ceará utiliza rotineiramente previsões climáticassazonais das chuvas na região semi-árida do Nordeste em suasoperações. Por exemplo, baseado na previsão de seca severa para aestação chuvosa de 1998, disseminada pelo CPTEC em novembrode 1997, um grande volume de água foi transferido do açude deOrós para reservatórios que abastecem Fortaleza, evitando o queseria uma situação crítica de abastecimento em função da severida-de da seca que assolou a região em 1998.

• Mitigação dos Efeitos de Secas do Nordeste: a partir de 1999, aatual Adene (ex-Sudene), a Defesa Civil, estados e municípios detodo o Nordeste têm utilizado as informações climáticas e estima-tivas de água armazenada no solo fornecidas pelo projeto Pró-Climapara fins de agricultura e identificação precoce de regiões com dé-ficit hídrico com potencial de afetar a produção agrícola, permitindoracionalização das ações de mitigação dos efeitos das secas, combenefícios econômicos e principalmente sociais.

Page 199: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

173

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

resse do setor e ainda irá fomentar a pesquisa e odesenvolvimento da área.

Uma diretriz para a área deve ser orientada para amodernização dos meios, com o uso intensivo detecnologia atualizada e a descentralização dos ser-viços, pelo apoio à implantação ou fortalecimentode centros estaduais de meteorologia e recursos hí-dricos. As ações a serem empreendidas poderiam serorganizadas em cinco direções: i) Implantação e mo-dernização de sistemas de observação in situ e a par-tir de plataformas remotas; ii) implantação de sis-temas de assimilação das observações, de mode-lagem geoambiental e de armazenamento e disse-minação de dados e informações; iii) modernizaçãoda infra-estrutura de pesquisa e de desenvolvimentotecnológico; iv) descentralização das Estruturas deatuação em monitoramento, modelagem geoambien-tal e aplicações; v) capacitação de recursos huma-nos, especialmente com a criação de especializaçãoem Geoinformática.

Gestão do Meio Ambiente

A vida humana não pode ser entendida de modo dis-sociado dos processos naturais. Mesmo tendo modi-ficado radicalmente a superfície do planeta, a huma-nidade preserva uma dependência ancestral em re-lação aos ecossistemas que a rodeiam e continua ase valer de outros organismos e de recursos naturaispara sua alimentação, atividade econômica e sobre-vivência em geral. O uso estratégico e sustentáveldos ecossistemas, seja dos produtos da biodiversi-dade, seja dos serviços ambientais providos, apre-senta vantagens econômicas que podem proporcio-nar ganhos importantes à Nação, como um todo, eàs comunidades diretamente envolvidas, em parti-cular. A importância dos ecossistemas, tanto por seu

valor de uso, como por seu valor de existência, justi-fica a necessidade de uma gestão que procure suasustentabilidade e que, portanto, seja realizada embases científicas sólidas. Nesse sentido, conhecimen-to e tecnologia colocam-se como condições neces-sárias, mas não suficientes, para mudar de forma sig-nificativa as relações homem–meio ambiente.

Sustentabilidade implica garantir às futuras geraçõesum estoque de capital econômico, humano e am-biental pelo menos equivalente ao atual. Ao mesmotempo, passa a ser reconhecido que a conservaçãodos recursos naturais é do interesse comum, inclusiveda coletividade maior, a humanidade. Isto é refletidona implantação das convenções sobre diversidadebiológica, desertificação e mudanças climáticas e daDeclaração de Dublin sobre recursos hídricos, dasquais o Brasil é signatário. Este interesse comum tam-bém é reconhecido na Agenda 21 Mundial e na Agenda21 Brasileira, esta ainda em formulação.

As rápidas mudanças que se vêm registrando nascondições ambientais e, especialmente, no clima ter-restre deverão absorver recursos crescentes da co-munidade científica pelo mundo afora. Cresce a preo-cupação e a consciência de que a humanidade estátransitando por uma rota insustentável e que os efei-tos sobre as condições ambientais do desenvolvi-mento econômico (ou falta dele) já não podem sernegligenciados. Estudo recente do Programa de MeioAmbiente das Nações Unidas resume as principaistendências e preocupações da comunidade interna-cional: i) o uso atual de recursos naturais (terra, flo-restas, água doce, zona costeira, zonas de pesca e arurbano) está além da capacidade natural de regene-ração; ii) o efeito estufa ainda não foi estabilizado, ea emissão de gases continua superior aos níveis fixa-dos pela Convenção das Nações Unidas de Mudan-

Page 200: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

174

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ças Climáticas; iii) as áreas naturais depositárias dabiodiversidade do planeta estão sendo progressiva-mente reduzidas, tanto pela agricultura e suas práti-cas, quanto pela expansão das cidades; iv) o uso cres-cente de substâncias químicas vem provocando da-nos crescentes e, em alguns casos, de difícil reversi-bilidade, quer sobre o meio ambiente, quer sobre asaúde humana; v) o padrão energético atual é umdos principais responsáveis pelo uso insustentávelde recursos naturais, inclusive não renováveis, pelacontaminação atmosférica e o efeito estufa; vi) a ur-banização propõe novos problemas para o meio am-biente, tais como a poluição do ar, o abastecimentode água potável de boa qualidade, a provisão de redesde esgoto e o manejo dos resíduos sólidos, com efei-tos relevantes para a qualidade de vida, especialmen-te a saúde da população. Tudo isso vem alterando,de forma não suficientemente compreendida, ascomplexas relações entre os ciclos biogeoquímicosglobais, com impactos sobre as condições climáticas,mudanças nos ciclos hidrológicos, perda de biodi-versidade, biomassa e bioprodutividade.

Esse conjunto de preocupações define uma agendade CT&I no que concerne à gestão sustentável domeio ambiente como desafio nacional. Na verdade,a própria natureza e dimensão dos problemas já ex-plicitam que se trata de desafios globais que, na maio-ria dos casos, não podem ser enfrentados pelos paísesde forma isolada. Nesse sentido, além dos esforçosnecessários para que o País cumpra os acordos in-ternacionais dos quais é signatário, é necessário de-finir prioridades para canalizar recursos e as açõesde CT&I segundo dois critérios básicos: o interessedo País e as possibilidades e qualidade da contribui-ção que o Brasil pode dar.

Em termos gerais, é possível apontar, a título ilus-

trativo, algumas áreas nas quais CT&I podem pres-tar considerável contribuição: i) desenvolvimento demétodos e tecnologias adequadas para controlar osimpactos ao meio ambiente, em particular a gestãodo solo, ar, água e utilização dos recursos naturaisem geral; ii) estudo das implicações regionais e lo-cais das mudanças globais e dos impactos sobre ossistemas econômicos existentes e sobre as potencia-lidades de desenvolvimento das áreas afetadas; iii)desenvolvimento de tecnologias para reduzir as emis-sões poluentes e seus efeitos nocivos sobre a quali-dade do ar, água e solo; iv) impacto sobre a qualida-de de vida da população em geral, em particular nosgrandes centros urbanos e em regiões mais vulnerá-veis e mais afetadas pela variabilidade climática.O tratamento desse conjunto de temas requer o de-senvolvimento de uma abordagem integradora queviabilize a gestão dos recursos naturais para uma ex-ploração sustentável.

Dentre os temas de pesquisa importantes para a ges-tão de ecossistemas, a biodiversidade ocupa no mo-mento lugar de destaque, seja pela atenção da mídiae da sociedade, seja pela esperança de que possatornar-se uma fonte de progresso econômico e social.Os avanços nos conhecimentos sobre os diferentesecossistemas nacionais, bem como o estímulo à ino-vação tecnológica nos processos de exploração dosrecursos naturais ou transformação e processamento,têm importância central para sua conservação e pre-servação, notadamente em ambientes tropicais.É papel da ciência entender as influências do mundoexterior sobre os ecossistemas e, o que é ainda maisdesafiador, melhorar a concepção e desenho de po-líticas de gestão ambiental.

Há exemplos de tecnologias brasileiras já disponíveiscom resultados positivos para a conservação de ecos-

Page 201: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

175

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

sistemas, tais como tecnologias agrícolas de menorimpacto negativo (por exemplo: controle biológico depragas e doenças); tecnologias de manejo de florestaspara produção de madeira e de produtos não-lenhosos;recuperação de áreas degradadas, matas ciliares e con-servação de bacias hidrográficas; despoluição de ma-nanciais hídricos; tratamento de efluentes; manejo deresíduos urbanos e agrícolas (por exemplo: não-gera-ção, minimização ou reciclagem).

Novos produtos oriundos da biodiversidade têm sidopesquisados. Para a região Amazônica, há importan-tes alternativas para a utilização econômica de recur-sos naturais como frutos amidosos ou oleosos, frutossuculentos, óleo-resinas e látex, óleos industriais,óleos essenciais, materiais industriais e matérias des-tinadas a artesanato.

Dadas as dinâmicas naturais e a taxa de resposta dosecossistemas às intervenções humanas, em ecologiae gestão ambiental, o desenvolvimento científico sóse realiza com a garantia de continuidade das ativi-dades pelo intervalo de tempo necessário. Muitaspesquisas demandam um cronograma de observaçãode longo prazo, o que, evidentemente, necessita degarantia de apoio ao longo de vários anos ou até mes-mo décadas.

Existe ainda a necessidade de aprofundar os métodoscientíficos capazes de compreender as complexida-des e incertezas envolvidas na gestão ambiental.A pesquisa com ecossistemas é, na maioria das vezes,de longo prazo e interdisciplinar, o que lhe permiteenfocar a complexidade física, biológica e humanados ecossistemas. Considerando-se que muitos dosgrandes ecossistemas brasileiros ultrapassam nossasfronteiras, em regiões fisiográficas compartilhadas,o intercâmbio internacional é uma necessidade.

Freqüentemente os temas ambientais envolvem ris-cos e incertezas complexos e polêmicos, de difícilquantificação, não sendo raro que os especialistasdivirjam sobre a alternativa melhor ou mais adequada.A participação da sociedade nas decisões reduz osriscos e eleva a eficiência das políticas e da gestãodo meio ambiente, uma vez que os atores tendem aassumir maior compromisso com políticas de cujaformulação participaram.

A produção de conhecimento para a gestão de ecos-sistemas é realizada por um grande número de uni-versidades, instituições de pesquisa, empresas pri-vadas e ONGs. Um levantamento feito no âmbitodo Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil mos-tra que para os oito biomas mais representativos(Embrapa, 1994) havia no Brasil, em 1997, cerca de500 grupos de pesquisa atuando em mais de 400linhas de pesquisa.

Biodiversidade

O Brasil e mais outros dezesseis países reúnem emseus territórios 70% das espécies animais e vegetaisdo planeta, o que lhes confere o título de países me-gadiversos. Entre esses, o Brasil é o de maior diversi-dade biológica do planeta. Estima-se que possua en-tre 15% e 20% de toda a biodiversidade mundial e omaior número de espécies endêmicas do globo. São55 mil espécies vegetais ou 22% do total do planeta,524 mamíferos (dos quais 131 endêmicos), 517 anfí-bios (294 endêmicos), 1.622 aves (191 endêmicas) e468 répteis (172 endêmicos), além de 3 mil espéciesde peixes de água doce (ou três vezes mais que qual-quer outro país) e provavelmente entre 10 e 15 mi-lhões de insetos (muitos de famílias ainda não descri-tas). Somente a Amazônia responde por cerca de 26%das florestas tropicais remanescentes no planeta.

Page 202: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

176

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Mesmo assim, a produção agropecuária brasileira ba-seia-se fundamentalmente no uso de espécies exóti-cas. Mais de 40% das exportações brasileiras têmcomo base espécies não nativas, entre as quais o café,a laranja, a soja e a cana-de-açúcar. A silviculturanacional depende do eucalipto da Austrália e de pi-nheiros da América Central. A pecuária depende deforrageiras africanas.

Enquanto somente vinte espécies de plantas respon-dem por 85% da alimentação utilizada em todo omundo, 1.300 espécies nativas são usadas na medi-cina tradicional apenas na Amazônia. O potencialeconômico da biodiversidade brasileira é incalculá-vel. O uso sustentável da biodiversidade requer aconvergência de esforços em muitos campos daciência e da produção, o desenvolvimento de técni-cas de manejo, melhoramento, biotecnologia e indus-trialização de produtos derivados da biodiversidadedo País. O incentivo à prospecção biológica comvistas ao desenvolvimento de novos produtos eprocessos biotecnológicos com potencial para aexploração econômica sustentável dos componentesda nossa diversidade biológica é uma das diretrizespara as ações de CT&I. A apropriação dabiodiversidade permitirá ampliar a capacidadeprodutiva da economia em geral, absorver mão-de-obra especializada, oferecer diferentes oportunidadesde utilização nos campos da agricultura, saúdehumana e animal e do extrativismo.

Estima-se que existam mais de 3 mil antibióticosderivados de microorganismos, cuja exploração eco-nômica está apenas engatinhando. No Brasil, o con-trole biológico da lagarta da soja (Anticarsiagemmatalis) por meio de Baculovirus anticasia gera eco-nomias da ordem de US$200 milhões anuais. O con-trole biológico da cigarrinha da cana-de-açúcar pro-

porciona economia superior a US$100 milhões anuaise a substituição de fertilizantes de nitrogênio por as-sociações simbióticas da planta com bactérias fixa-doras de nitrogênio do gênero Rhizobium vem pro-porcionando à agricultura brasileira poupança da or-dem de US$1,6 bilhão por ano.

Em um país de megadiversidade como o Brasil, partirdo conhecimento tradicional sobre o uso da biodiver-sidade representa uma economia incomensurável detempo e dinheiro no desenvolvimento de novosprodutos. No entanto, os impactos provocados pelodesenvolvimento tecnológico, industrial, pelaexpansão das fronteiras agrícolas e pela devastaçãodas florestas estão destruindo não apenas a bio-diversidade, mas o conhecimento tradicional a elaassociado. Desaparecimento de grupos indígenas,aculturação, êxodo rural, práticas tradicionais des-locadas pela expansão das economias centrais sãofenômenos comuns que implicam na perda de co-nhecimentos tradicionais sobre o uso da biodiversi-dade. Enquanto as autoridades competentes e a so-ciedade lutam pela reversão deste quadro de em-pobrecimento da diversidade cultural, é fundamentalampliar o conhecimento existente. Toda a informa-ção gerada deverá ser incluída em bancos de dadosque assegurem a utilização das informações e ao mes-mo tempo preservem os eventuais direitos das comu-nidades tradicionais detentoras do conhecimento, emcaso de exploração econômica no País e no exterior.

O futuro do desenvolvimento da biodiversidade noBrasil depende da forma como serão administradassuas potencialidades, conciliando equilíbrio ecoló-gico, desenvolvimento sustentável, melhoria substan-tiva da qualidade de vida de sua população, cresci-mento econômico, modernização, avanço tecnoló-gico e a sua integração à economia nacional e mun-

Page 203: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

177

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

dial. A integração de ações neste campo devem estarcoordenadas por programas inovativos que estejamalinhados com os princípios da Convenção sobreDiversidade Biológica, da qual o Brasil é signatário.

A Convenção sobre Diversidade Biológica e de ou-tros acordos internacionais recentes se pautam na bus-ca do desenvolvimento sustentável cujo cumprimen-to vem ganhando importância nas relações interna-cionais. O paradigma do desenvolvimento sustentávelque condiciona todas as diretrizes para ações de CT&Ino Brasil não opõe conservação à exploração danatureza; ao contrário, considera que uma dasmaneiras de conservá-la é criar um marco institucio-nal adequado para a sua exploração sustentável. Issopressupõe a definição de incentivos à conservação,de benefícios econômicos para a exploração sus-

tentável e de punição à má utilização dos recursos.

O debate sobre um programa de CT&I orientado pa-ra o conhecimento, uso e desenvolvimento de pro-dutos derivados da biodiversidade brasileira deverialevar em conta alguns objetivos estratégicos: i) inven-tariar e ampliar a base de conhecimento sobre a biodi-versidade brasileira; ii) promover o desenvolvimentode redes de pesquisa e informação em biodiversi-dade; iii) identificar o uso desta biodiversidade pelosvários grupos sociais e étnicos, e avaliar seu potencialbiotecnológico e industrial; iv) identificar áreas priori-tárias para a conservação da biodiversidade e sistemasde manejo sustentável; v) definir estratégias e açõespara repatriar informações sobre a biodiversidade eseus usos tradicionais e comerciais; vi) estimular in-vestimentos em inovação tecnológica pelo setor em-

Há no Brasil diversas iniciativas destinadas a promover o avanço doconhecimento sobre a biodiversidade. Uma iniciativa recente é oCentro de Referência em Informação Ambiental (CRIA). O CRIA temcomo missão promover e disseminar conhecimentos científicos etecnológicos para a conservação e utilização sustentável dos recursosnaturais do País. Seu público alvo é a comunidade científica, educado-res, formuladores de políticas e tomadores de decisão. O CRIA estáligado a outras iniciativas, tais como Rede Inter-americana de Infor-mação em Biodiversidade (Iabin); Rede Brasileira de Informação emBiodiversidade (BINbr); Programa Biota/Fapesp; Sistema de Infor-mação Ambiental SinBiota/Fapesp; Bioline Internacional.

Entre estas iniciativas, merece destaque o Projeto Biota/InstitutoVirtual da Biodiversidade, implantado com apoio da Fapesp. O obje-tivo comum dos projetos vinculados ao Biota Fapesp é estudar abiodiversidade do estado de São Paulo, incluindo: i) compreenderos processos geradores e mantenedores da biodiversidade, inclusi-ve aqueles que possam resultar em sua redução deletéria; ii) siste-matizar a coleta de informações relevantes para a tomada de deci-sões sobre as prioridades de conservação e o uso sustentável dabiodiversidade; iii) divulgar toda a informação gerada de maneiraampla, rápida e livre; iv) melhorar a qualidade do ensino, em todosos níveis e formas, sobre a natureza e os princípios fundamentais daconservação e do uso sustentável da diversidade biológica.

Quadro 4Iniciativas brasileiras em mapeamento e gestão da biodiversidade

Um dos produtos do projeto Biota-Fapesp é um banco de dadosrelacional, que busca todas as informações referentes às coletas rea-lizadas, captando dados relevantes por meio de uma ficha de coletapadrão. As informações são georreferenciadas, por meio da utilizaçãodo GPS, para que os bancos de dados possam ser associados a outrasbases de dados contendo informações geoespaciais sobre ecossis-temas, ecologia, clima e seqüência genética, entre outros. Estes da-dos poderão ser plotados em um mapa-síntese para a realização dediagnósticos ambientais. Todas as informações passam a estar dispo-níveis via internet. Espera-se que o rápido acesso às informaçõessobre a biodiversidade promova novas perspectivas na conservaçãoda diversidade biológica no estado de São Paulo.

Outra iniciativa na área é a Rede Brasileira de Informação em Biodi-versidade (BIN-BR). A BIN-BR faz parte do programa Probio doMinistério do Meio Ambiente, que tem por objetivo subsidiar odesenvolvimento do Pronabio (Programa Nacional de Biodiversida-de), identificando ações prioritárias, estimulando projetos demons-trativos que promovam parcerias entre os setores públicos e priva-dos e divulgando informações sobre biodiversidade. Este projetocontribuirá para o estabelecimento de uma rede eletrônica cominformações sobre a diversidade biológica, atualmente dispersa porgrande número de instituições e pessoas, tornando-as disponíveispara estudos científicos, tomada de decisões políticas e administra-tivas e programas de educação. O BIN-BR interage com o Inter-American Biodiversity Information Network.

Page 204: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

178

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

presarial; vii) estabelecer um programa de transferênciados conhecimentos obtidos para a indústria e para ostomadores de decisão em políticas públicas; viii)desenvolver tecnologias capacitadoras (bioinformá-tica, tecnologia de informação e comunicação; ix)proteger as informações de caráter mais sensível.

A informatização dos acervos é prioritária, sendonecessário viabilizar a criação de um sistema de in-formação on line que integre as bases de dados sobrediversidade biológica. Essas deveriam ser alimenta-das de forma descentralizada por instituições públi-cas, grupos de pesquisa e empresas privadas cujoenvolvimento nas atividades de mapeamento e ex-ploração da biodiversidade deve ser estimulado.

No âmbito legal, é fundamental regulamentar a le-gislação para agilizar e facilitar o acesso à biodiver-sidade brasileira, particularmente à comunidade de

ciência e tecnologia nacional, contendo mecanismosinstitucionais ágeis, descentralizados, flexíveis e des-burocratizados. É necessário, portanto, um esforçode: i) aprimoramento contínuo da legislação sobrebiossegurança, propriedade intelectual e acesso aopatrimônio genético; ii) identificação de pontos con-flitantes e avaliação da legislação associada aos se-tores produtivos que afetam a diversidade biológica(por exemplo: agricultura, silvicultura, produção deenergia, pesca, mineração, turismo, entre outros); iii)elaboração de sistemas inovadores e sui generis de pro-teção de conhecimento tradicional associado aos re-cursos genéticos; iv) difusão contínua da legislaçãoe de sua aplicabilidade nos diversos campos asso-ciados à biodiversidade.

Recursos do Mar

A presença do mar na formação geográfica e histórica

A Convenção sobre Diversidade Biológica permite que os paísesdetentores de megadiversidade, como o Brasil, possam auferir nãoapenas compensações pelo seu uso no desenvolvimento de novosprodutos tecnológicos, mas principalmente acesso, transferência edesenvolvimento conjunto das tecnologias correspondentes. O usosustentável e a conservação da diversidade biológica requerem subs-tancial incremento dos investimentos em P&D, em especial emáreas como fitofármacos, descoberta de novas moléculas com finsmedicinais, e desenvolvimento de tecnologias limpas. No entanto,mesmo ratificada, a Convenção não é auto-aplicável e requer legis-lação nacional regulamentadora do acesso, seja aos recursos gené-ticos, seja às tecnologias deles derivadas.

O Brasil definiu legislação inovadora que estabelece as regras parao acesso ao Patrimônio Genético do País, à tecnologia e transferên-cia de tecnologia para a conservação e utilização da biodiversidadebrasileira. Essa legislação conceitua patrimônio genético como in-formação contida em espécimes vegetal, microbiano ou animal, emcondições in situ ou ex situ; conceitua e regula a bioprospecçãocomo atividade exploratória para identificar componente do pa-trimônio genético e informação sobre conhecimento tradicionalassociado com potencial de uso comercial; trata das expediçõescientíficas estrangeiras sem fins comerciais.

Quadro 5Acesso a Biodiversidade

Tendo em vista a importância do patrimônio genético para os avan-ços nas pesquisas de genoma, área em que as pesquisas brasileirasse sobressaem, o acesso a esse patrimônio deverá ter controlemais claro. Por exemplo, uma instituição estrangeira só poderá teracesso a espécies nativas do Brasil sob a coordenação e responsabi-lidade de uma instituição nacional de pesquisa. A idéia é que ospesquisadores brasileiros e estrangeiros trabalhem em conjunto e,se possível, desenvolvam a pesquisa em território brasileiro. Aregra de acesso vale também para os bancos de genes da biodiver-sidade brasileira localizados no exterior. Os benefícios que advieremda exploração econômica do patrimônio genético deverão ser repar-tidos por quem o estiver explorando, cabendo uma parcela à União,que se obrigará a utilizar os recursos para financiar a conservação dadiversidade biológica, incluindo a criação de bancos depositários, ofomento à pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e acapacitação de recursos humanos. Esses benefícios podem resultartanto da divisão de lucros e royalties, mediante o acesso e a transfe-rência de tecnologia, ou ainda pelo licenciamento de produtos eprocessos e pela capacitação de recursos humanos. A legislaçãotambém protege os chamados conhecimentos tradicionais que fo-rem associados à biodiversidade, ou seja, conhecimentos como osde grupos indígenas e de habitantes da floresta.

Page 205: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

179

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

da sociedade brasileira é marcante. Apesar da inte-riorização do desenvolvimento, o País continua vol-tado para o Atlântico, porta de entrada e saída parao resto do mundo. A Zona Econômica Exclusiva(ZEE) possui aproximadamente 3,5 milhões de km2,representando 41% da área continental emersa e pos-suindo 8.500 km de extensão de zona costeira, ocu-pada por 70% da população do País.

A ZEE representa uma complexa região do meio ma-rinho de grande interesse científico e econômico. Es-tende-se desde os ambientes costeiros, transicionaisentre o continente e o oceano, como estuários, del-tas, lagunas, ilhas barreiras, manguezais, planícies demaré, costões rochosos e praias, até a plataforma con-tinental com os recifes, o talude e o sopé continental.

A importância econômica dos recursos vivos mari-

nhos tem sido largamente negligenciada ao longo dasúltimas décadas. Recursos estratégicos para a eco-nomia pesqueira vêm sofrendo exploração excessivae apresentam rendimentos decrescentes. Ao mesmotempo, a demanda por produtos pesqueiros, no Brasile no mundo, encontra-se em expansão, abrindo novasoportunidades para o crescimento do setor, geraçãode emprego, renda e divisas internacionais.

Apesar do avanço tecnológico da oceanografia pes-queira nas últimas décadas, a produção marinha depeixes, moluscos, crustáceos e algas ainda é muitomenor em relação à pesca e ao extrativismo dos ban-cos naturais. A maricultura representa a melhor al-ternativa para atender à demanda comercial e à pre-servação dos estoques naturais para as gerações fu-turas, sendo um dos setores que mais cresce no ce-nário global de produção industrial de alimentos.

A Amazônia brasileira, a par de suas enormes potencialidades natu-rais, é a região brasileira que teve o maior crescimento demográ-fico relativo nas últimas décadas. Isto coloca uma grande pressãosobre o ecossistema, mas também potencializa o seu aproveita-mento racional. A C&T são instrumentos essenciais para o desen-volvimento sustentável de um ecossistema tão diverso, complexo erico. É fundamental e urgente que se elabore um plano estratégicoe abrangente de C&T para esta região.

O maior desafio para um plano desta natureza está na falta derecursos humanos qualificados. A região amazônica conta com cer-ca de 800 doutores, metade dos quais em funções administrativas.Diante do fato de o Brasil estar titulando cerca de 5 mil doutores acada ano, o número de doutores presentes na região mostra-seirrisório e contrasta com os números do Sul e Sudeste.

Para agravar este quadro, existem apenas duas instituições queformaram doutores nesta região no ano de 1999: a UFPA, que for-mou 17 doutores, e o INPA, que formou 14, somando um total de31 doutores. É imprescindível que este quadro se reverta rapida-mente. Para isto, é necessário lançar mão de todos os instrumen-tos possíveis. O reforço às pós-graduações existentes é apenas umdeles. Um plano ambicioso de cooperação científica entre as institui-ções da região com as do Sul - Sudeste também é recomendado.

Quadro 6Ciência e Tecnologia para a Amazônia

No entanto, é claro que nenhum plano terá o impacto desejado sema devida capacitação do sistema universitário da região. A longoprazo este é o maior desafio.

Um projeto estratégico para a Amazônia deve contemplar e focali-zar as áreas em que a região apresenta seu maior potencial: i) abiodiversidade amazônica é uma das mais ricas do mundo, sendoassunto de grande interesse internacional. O conhecimento e usoda biodiversidade deveria ser a linha mestra dos investimentos emC&T na região; ii) a água é uma das maiores riquezas mundiaisneste novo século. A bacia do Amazonas é a maior bacia de águadoce do mundo, representando, pois, um enorme potencial para aregião e o País. O investimento de C&T no uso e na qualidade daágua, bem como na biodiversidade a ela associada, é da maior im-portância e deve ser tratada como tal; iii) outras áreas que devemser fortalecidas são os recursos florestais, o estudo dos subsistemasecológicos, os efeitos climáticos, entre outros.

As unidades de pesquisa do MCT, em particular, o Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia e o Museu Paraense Emílio Goeldi, de-vem ser instrumentos para a implantação de um plano abrangentede C&T para a Amazônia. Especial ênfase deve ser dada à questão datransferência do conhecimento para o setor produtivo e a socieda-de em geral.

Page 206: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

180

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A precariedade do setor de tecnologia pesqueira noBrasil representa uma ameaça à atividade econômicada pesca, não apenas devido ao caráter predatório,como também à perda de competitividade para en-frentar as importações e incrementar as exportações.O desenvolvimento da tecnologia de pesca é um em-preendimento interdisciplinar envolvendo qualifica-ção de recursos humanos, pesquisas em economiada pesca, identificação de áreas promissoras por meiode imagens de satélite, tecnologia de pré-processa-mento industrial do pescado e tecnologia e instru-mentação da embarcação.

A área da biotecnologia marinha vem se expandindorapidamente, com aplicações em um vasto campo,desde a medicina até a preservação do ambiente ma-rinho e costeiro, e com significativas implicações so-cioeconômicas. Apesar de restritas ao meio acadê-mico, as pesquisas atuais sobre biotecnologia mari-nha no Brasil têm gerado evidências convincentesde que as substâncias bioativas extraídas da biotamarinha são passíveis de exploração econômica, cujaviabilidade depende, em caráter preliminar, de açõesno âmbito de CT&I.

O desenvolvimento tecnológico nas áreas de moni-toramento oceânico por satélites (com ou sem pla-taformas in situ) vem ampliando as fronteiras dasciências marinhas e de suas aplicações. A coleta eanálise matemática de informações em tempo realestá permitindo o rápido desenvolvimento da ocea-nografia operacional. Os dados operacionais coleta-dos pela rede de monitoramento terão duplo uso:em primeiro lugar, continuarão a dar suporte às pes-quisas científicas e, em segundo, serão usados emsistemas de previsão das condições oceânicas, de mo-do similar aos sistemas de previsão de tempo atuais.O monitoramento das condições oceânicas e a dis-

ponibilização das informações em tempo real possi-bilitam uma gestão mais racional dos estoques pes-queiros, a melhoria dos modelos de previsão meteo-rológicas em geral e têm implicações diretas nas ati-vidades econômicas, em áreas como agricultura, pro-dução de energia hidroelétrica, transportes e defesacivil. O País já detém razoável capacitação técnicana área de recepção e processamento de dados desatélites. O INPE, o Inmet e a Embrapa operam umconjunto de satélites ambientais, projetados e cons-truídos no País, que já estão sendo utilizados na re-cepção de dados oceânicos coletados por platafor-mas derivantes e fixas.

Ciência, Tecnologia e Inovação têm papel essencialna implementação das atividades científicas e tec-nológicas do mar definidas como de interesse para odesenvolvimento socioeconômico sustentável dopaís, identificando-se ainda com os programas esta-belecidos no âmbito do Plano Setorial para os Re-cursos do Mar (PSRM), implementados sob a coor-denação da Comissão Interministerial para os Re-cursos do Mar (CIRM).

A cooperação internacional é essencial para poten-cializar os esforços de CT&I locais. Baseada nos prin-cípios básicos de "benefício mútuo" e de "subsidia-riedade", a cooperação internacional da área deCT&I do Mar inclui três vertentes: i) participaçãoem fóruns internacionais que originam as direçõespolíticas das ciências e tecnologias do mar; ii)participação em programas e planos de açãointernacionais em que o Brasil está comprometidoem algum nível; iii) cooperação bilateral em CT&I.

Uma comissão de especialistas reunidos pelo MCTdestacou dois temas como merecedores de ações in-duzidas: i) impacto do oceano Atlântico no clima

Page 207: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

181

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

do Brasil e nas mudanças globais; ii) sustentabilidadedos sistemas marinhos costeiros brasileiros.

O levantamento e monitoramento do oceano Atlân-tico revestem-se de vital importância, especialmentedevidos aos impactos socioeconômicos resultantes defenômenos naturais originados em alto mar ou regiõesremotas e mesmo em regiões próximas à zona costeira,justificando a necessidade de estudos sobre as cor-rentes, formação e propagação de ondas, e ciclos migra-tórios de espécies economicamente relevantes.

A biodiversidade marinha e costeira vêm sofrendoos efeitos de fenômenos naturais e de ações humanas,tais como poluição originária de fontes terrestres,sobreexploração de recursos vivos e utilização detécnicas destrutivas de extração de recursos mari-nhos. Devido ao papel que a biodiversidade marinhae costeira representa para a manutenção dos ecos-sistemas naturais que produzem e mantêm os recur-sos pesqueiros, a conservação desses recursos é ta-refa considerada como fundamental e inadiável. Umamplo entendimento sobre sustentabilidade dos sis-temas marinhos e costeiros deve contribuir para asolução de questões como: i) aproveitamento e con-servação da biodiversidade da costa brasileira; ii) de-senvolvimento de tecnologia pesqueira eficiente; iii)aprimoramento das atividades de maricultura; iv)otimização dos processos de aproveitamento dos re-cursos minerais da zona costeira; v) minimização dosimpactos naturais e de atividades humanas na zonacosteira.

Para o desenvolvimento das atividades de pesquisae de geração de conhecimentos em ciência e tecno-logia marinha, o País conta, hoje, com cerca de trintainstituições. Contudo, a capacidade instalada, em ter-mos de infra-estrutura, recursos humanos e apoio

logístico, é temática e geograficamente desigual. Nes-se sentido, o grande desafio que se coloca para aestrutura de apoio governamental à ciência e tecno-logia marinha é a consolidação de uma competênciaendógena, conjuntamente com a viabilização de umainfra-estrutura de pesquisa, sobretudo em termos delaboratórios e de meios flutuantes, e que incluiria ofomento a um programa de desenvolvimento de ins-trumentação oceanográfica e a instalação de tanquesde prova de navios oceânicos, calibração e instru-mentação oceanográfica. Adicionalmente, deve-sefomentar pesquisas na área de construção, inspeção,reparo e desativação de estruturas flutuantes e sub-marinas, utilizadas na exploração e explotação derecursos do mar.

O reforço à formação de recursos humanos é umadas prioridades na área de CT&I do Mar. Ao longodos próximos dez anos, seria necessário: i) ampliar oapoio à formação de profissionais qualificados denível superior e pós-graduação, especialmente dou-tores, em oceanografia no exterior; ii) induzir o inter-câmbio de pesquisadores em âmbito nacional e inter-nacional; iii) estimular parcerias com o setor produ-tivo para a implementação de programas de especia-lização e aperfeiçoamento.

Recursos Hídricos

O uso da água é uma questão que tem suscitadogrande preocupação no que diz respeito às bases desustentação da sociedade moderna. Levando em con-ta a demanda corrente e projetada para a próximadécada, a avaliação da disponibilidade indica que,em condições de normalidade climática, pode-seconsiderar que a maior parte do território brasileiroconta com recursos hídricos que, bem utilizados, sãosuficientes. No entanto, observam-se condições crí-

Page 208: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

182

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ticas em algumas regiões onde o uso da água é intenso,como na vizinhança das cidades médias e principal-mente das regiões metropolitanas ou que atravessamlongos períodos de estiagem, como no semi-árido nor-destino, onde a falta de água compromete seriamentea economia e as condições de vida da população local.Ademais, as projeções de demanda de água para con-sumo humano, irrigação, geração de energia e finsindustriais para os próximos dez anos revelam um qua-dro não menos preocupante, especialmente se não fo-rem revertidos o uso predatório e as atuais ineficiênciasna gestão dos recursos hídricos do País.

Em 1995, a Associação Brasileira de Recursos Hídri-cos (ABRH, Carta do Rio de Janeiro 1995) definiucomo maior prioridade nacional em recursos hídri-cos e saneamento ambiental a reversão urgente dadramática poluição dos corpos de água, em especialnos grandes centros populacionais. Soluções paravárias questões relacionadas à gestão sustentável dosrecursos hídricos podem ser geradas a partir de umabase adequada de CT&I.

Uma possível agenda para investimentos, pesquisas,desenvolvimento de tecnologias e capacitação derecursos humanos incluiria: i) monitoramento hidro-lógico e ambiental acoplados a sistemas de informa-ções avançados; ii) recuperação, melhoria e amplia-ção da rede hidrometeorológica, contemplando-sepequenas bacias hidrográficas; iii) desenvolvimentode conhecimento e tecnologias para a exploração edespoluição das águas subterrâneas; iv) desenvolvi-mento de tecnologia para conter a erosão do solo eo assoreamento dos corpos de água naturais e reser-vatórios; v) controle da salinização dos solos e daságuas no semi-árido; vi) monitoramento, avaliaçãoe controle dos impactos de mudanças no uso da terrae da urbanização na quantidade, qualidade ou regime

das águas superficiais e subterrâneas; vii) desenvol-vimento de técnicas de previsão meteorológica, como aperfeiçoamento das redes de observação.

As regiões semi-áridas brasileiras requerem atençãoespecial, por apresentar grave quadro de fragilidadesocioeconômica associado à disponibilidade e sus-tentabilidade dos recursos hídricos. As economiaslocais são afetadas pela ocorrência sistemática desecas e pela escassez de água, seja para abasteci-mento humano, seja para uso econômico, resultandoem elevados níveis de pobreza e em movimentospopulacionais para outras regiões, em busca de me-lhores oportunidades. Essa fragilidade é agravadapela sobreexploração da base de recursos naturais,contribuindo para acelerar os processos de degra-dação e desertificação do solo.

Embora o fenômeno das emigrações não possa seratribuído apenas à escassez de água, não há dúvidasde que a seca periódica é um fator de expulsão po-pulacional. Assim, um desafio do desenvolvimentocientífico e tecnológico em recursos hídricos é con-tribuir para gerar condições de vida adequadas paraa população das regiões semi-áridas. Para isso, é pre-ciso aumentar a disponibilidade hídrica por meio detécnicas inovadoras como novas formas de explora-ção de água subterrânea no cristalino, processos dedessalinização, processos integrados de gestão da de-manda e de racionalização do uso da água, controlee melhoria da qualidade da água e melhoria da pre-visão climatológica.

No passado, o manejo dos recursos hídricos e domeio ambiente em geral tinha uma abrangência lo-cal, tal como um trecho de rio ou um perímetro deirrigação. Atualmente, os problemas hídricos já sãovistos pelo menos em escala da bacia hidrográfica,

Page 209: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

183

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

assim mesmo levando em conta que muitas vezes ascondições das bacias são profundamente afetadaspor mudanças e ocorrências exógenas. A redução dadisponibilidade dos recursos hídricos, a deterioraçãoda qualidade da água e a intensificação da concor-rência pelo seu uso exigem uma maior eficiência nagestão desses recursos. O planejamento da ocupaçãoda bacia hidrográfica é fundamental tanto para asse-gurar a sustentabilidade dos recursos hídricos, comopara garantir a provisão dos bens e serviços associa-dos à sua exploração

O Brasil carece de sistemas de planejamento de ba-cias hidrográficas e de gestão integrada de recursoshídricos. A recente criação da Agência Nacional deÁguas e a aprovação de legislação relativa ao manejode bacias hidrográficas são alguns passos tomadosno sentido de reverter o quadro herdado do passadoEntretanto, a capacitação do País nessas áreas passanecessariamente pelas ações de CT&I, desde o co-nhecimento do comportamento das bacias hidrográ-ficas, formação de recursos humanos até o domíniode tecnologias de monitoramento por satélite e sis-temas de informação ambiental.

As ações de CT&I para gestão sustentável dos re-cursos hídricos devem levar em conta a necessidadede desenvolver tecnologias apropriadas às peculia-ridades das regiões brasileiras e capacitar e treinarrecursos humanos para aplicá-las, evitando a defa-sagem e dependência da cooperação de outros países.Também deve levar em conta a necessidade de pro-gramas de comunicação e educação ambiental, vi-sando conscientizar a população, em especial ascrianças e jovens, sobre a importância da proteção econservação dos corpos d'água, seus leitos, margense várzeas.

A gestão apropriada de recursos hídricos nacionaisrequer ações visando: i) ampliar o corpo técnico qua-lificado; ii) ampliar e modernizar o acervo de dadoshidrológicos, sedimentológicos e de qualidade daágua; iii) desenvolver e implantar sistemas de infor-mações para subsidiar a tomada de decisão; iv) cons-cientizar a população sobre o assunto.

É inegável a falta de profissionais capacitados paraatuar no setor de recursos hídricos hoje no País, par-ticularmente com formação universitária e pós-gra-duação. Tradicionalmente, o tema Recursos Hídricosé tratado de forma marginal nos cursos de engenhariacivil e de geografia. Em ambos, prevalece uma visãosegmentada em várias disciplinas, tais como irrigação,energia e abastecimento doméstico. A recente criaçãodo fundo setorial CTHidro (ver capítulo 6) repre-senta uma mudança considerável em relação ao pas-sado e abre novas perspectivas para que CT&I pos-sam contribuir para a gestão e utilização sustentáveldos recursos hídricos.

Recursos Minerais

O setor de mineração tem uma importância estraté-gica para a economia brasileira. No final dos anosnoventa, a produção mineral era superior a US$15,5bilhões, dos quais US$7,5 bilhões correspondiam apetróleo e gás natural. Por seu turno, as importaçõesde petróleo e gás atingiam cerca de US$5 bilhões,mas as exportações de outros bem minerais eram su-periores a US$6 bilhões. Dada a inserção estratégicado setor mineral na economia doméstica e interna-cional, sua perspectiva para os próximos dez anos éde crescimento a uma taxa superior à da economiacomo um todo.

Graças a importantes investimentos realizados nas

Page 210: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

184

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

últimas décadas, principalmente pelo CNPq, Capese Fapesp, o País conta hoje com um número razoá-vel de doutores e mestres especialistas nas diferen-tes subáreas do setor mineral. Não obstante essa ca-pacitação, inúmeros desafios e gargalos na área deCT&I devem ser equacionados. Será necessário uniresforços do setor governamental, da iniciativaprivada e da comunidade técnico-científica brasileirapara superar alguns desafios: i) ampliação sig-nificativa do conhecimento geológico das provínciasminerais e dos seus recursos (em especial na Ama-zônia), condição sine qua non para atrair investi-mentos; ii) desenvolvimento tecnológico necessárioao aproveitamento dos depósitos minerais; iii) atua-lização da capacitação dos profissionais do setor; iv)homogeneização da capacidade científica das regiõesassim como do conhecimento sobre as várias regiõesdo país; v) fortalecimento da competitividade daindústria mineral nacional pela inovação tecnológica;vi) minimização dos efeitos ambientais na mineraçãoe viabilização do desenvolvimento sustentável.

A região Amazônica representa cerca de 60% do ter-ritório brasileiro, e, em que pesem as descobertasdas grandes províncias minerais de Tapajós, Rondô-nia e Carajás, permanece uma das menos conhecidasda terra sob o ponto de vista geológico e geofísico.O pequeno número de instituições científicas e tec-nológicas locais e a grande dificuldade de fixação deprofissionais na região constituem em lacunas adi-cionais na capacidade de desenvolvimento de pes-quisas e tecnologias avançadas apropriadas à explo-ração mineral da região.

É necessário reforçar as iniciativas de formação detécnicos em mineração em todos os níveis. Na Ama-zônia, a oferta de técnicos de nível médio, de cursosde especialização e de capacitação continuada de

pessoal é ainda insuficiente. Na pós-graduação, é ne-cessário promover a convergência entre as compe-tências da comunidade científica e as demandas dosetor produtivo. Ademais, o País ainda carece de sis-temas de informação integrados e de desenvolvimen-to científico e tecnológico na exploração e aprovei-tamento dos recursos minerais brasileiros, especial-mente em levantamentos aerogeofísicos e softwaresde processamento e interpretação de seus produtos,e nas áreas de lavra subterrânea, beneficiamento, me-talurgia extrativa, recuperação de áreas degradadase monitoramento ambiental de efluentes sólidos, lí-quidos e gasosos. Finalmente, é preciso expandir arelação entre as universidades, e entre estas e com-panhias de pesquisa e órgão reguladores, como aCompanhia de Pesquisa de Recursos Minerais(CPRM) e o Departamento Nacional de ProduçãoMineral (DNPM), além de fomentar a criação de re-des, centros ou grupos de pesquisa cooperativa mul-tiinstitucional, envolvendo universidades, institutos,centros de pesquisa, empresas e outras agências go-vernamentais.

Devem ser desenvolvidas também ações para apoiara difusão de novas tecnologias e a realização de testesexperimentais e demonstrativos de sua adaptação àscondições brasileiras, e promovidos, com especialatenção, programas e projetos de inovação e apoiotecnológico para as pequenas empresas. A criaçãodos fundos setoriais, particularmente o CTPetro eCTMineral, abre novas perspectivas para que CT&Ipossam contribuir para a utilização sustentável dosrecursos minerais da Nação.

Page 211: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

185

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

Não há dúvidas de que a maior vulnerabilidade doPaís é o déficit social acumulado ao longo da suahistória. Neste Livro, tem-se examinado, em linhasgerais, as relações entre a CT&I e os problemas so-ciais do País sob dois pontos de vista: de um lado,como tais carências colocam-se como obstáculos aodesenvolvimento, em geral, e da CT&I, em particular;de outro lado, a contribuição que a CT&I podemaportar para a superação destas macrovulnerabili-dades. Aqui, a questão das vulnerabilidades é trata-da por outro prisma, mais pontual, referindo-se a al-gumas áreas do conhecimento e a setores da econo-mia onde o País não pode correr riscos associados àfalta de domínio científico e tecnológico. Enfrentaresses desafios significa abrir novas oportunidades,tanto para o progresso do conhecimento como paraa geração de riqueza e a promoção do desenvolvi-mento em geral.

Fármacos

O setor de fármacos e outras especialidades da quí-mica fina cobre uma ampla variedade de produtos,com elevado conteúdo tecnológico e alto valor agre-gado. Possui ainda importante aplicação nas áreasde saúde e alimentação e tem implicação estratégicapara o desenvolvimento econômico, devido à inter-relação com grande número de outros setores indus-triais. Com a acelerada ampliação dos conhecimentosna área das ciências da vida, abriu-se novo campo

PARTE 2: GRANDES VULNERABILIDADESE OPORTUNIDADES

“Os países de maior desenvolvimento

tecnológico estão em condições de se

beneficiar mais de suas relações com

os demais países. Conseguem captar

muitas dos novos saberes que aqui se

produzem. Este risco da

internacionalização afeta o queo queo queo queo que

fazerfazerfazerfazerfazer em matéria de educação e

formação de recursos humanos. Estes

vínculos entre globalização e C&T

ganham maior projeção em algumas

das regiões do País, em particular na

Amazônia.”

Luiz Bevilacqua,Laboratório Nacional de Computação Científica

Page 212: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

186

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

de atuação industrial, a biotecnologia, atingindo es-pecialmente as áreas de produtos para a saúde e paraa produção de alimentos. De especial relevo para oavanço da utilização científica e industrial da biotec-nologia é o patrimônio genético natural, de que oBrasil é particularmente rico.

Apenas cerca de 20% do faturamento total do setor égerado por empresas brasileiras, percentual que sereduziu nos últimos anos. As importações totais dosetor (produtos finais ou intermediários de síntese)cresceram sensivelmente nos últimos dez anos, con-tribuindo de forma significativa para o déficit da ba-lança comercial brasileira. O aumento das importa-ções ocorrido ao longo desse período acarretou a dimi-nuição da produção realizadas por empresas brasileiras,em que pese o extraordinário crescimento do mercado.

O perfil das indústrias atuantes no Brasil apresentauma dicotomia marcante. Um bloco de empresas degrande porte, diversificadas, com produtos de alta tec-nologia, normalmente subsidiárias de empresas inter-nacionais é responsável por cerca de 80% da produçãototal do setor; um segundo bloco de empresas de pe-queno ou médio porte, em sua maioria de origem local,responde pelos outros 20% da produção interna.

As empresas brasileiras têm uma fragilidade emrelação as demais, representado pela dificuldade deacesso à tecnologia, quer via transferência, quer viageração própria, ainda que, recentemente, existamexcepcionais exemplos de desenvolvimento tecno-lógico no âmbito dessas empresas, algumas com pa-tentes internacionais.

A despeito de tais dificuldades, existem áreas do setorde fármacos e outras especialidades da química finaque apresentam potenciais de crescimento em uma

economia globalizada, por serem competitivas nomercado interno e apresentarem reais possibilidadesde acesso ao mercado externo. A passagem do poten-cial para o efetivo requer um ambiente econômicofavorável e capacitação tecnológica local, especial-mente através de estímulos específicos, dentro dasregras praticadas internacionalmente.

• Configurando um "monopólio legal"

O uso do poder de compra do Estado, aplicado comtanto sucesso nos Estados Unidos e demais paísesdesenvolvidos, teve uma incipiente e muito questio-nável experiência no Brasil, representada pela Centralde Medicamentos (CEME) do Ministério da Saúde.Hoje, tem se revelado fundamental a ampliação re-cente da capacidade de produção de fármacos e vaci-nas dos laboratórios oficiais, especialmente da Fio-cruz, Tecpar e Butantã. Essa produção tornou-se pos-sível pela determinação do Ministério da Saúde deelevar o percentual de encomendas realizadas aoslaboratórios públicos, bem como pela progressivacapacitação tecnológica dessas instituições. Esse fato,ao lado da política de genéricos, viabiliza não apenasredução de custos, como serve de indicação, para aslicitações públicas, de quais são os efetivos custos deprodução de uma série de medicamentos.

Um outro exemplo da interveniência do Estado nestaárea é a aprovação de legislações, em alguns países,que visam estimular o investimento em atividades depesquisa e desenvolvimento tecnológico para a curade doenças raras. Um bom exemplo neste sentido é oOrphan Drug Act, aprovado pelo congresso norte-americano em 1992, o qual estabeleceu toda uma polí-tica industrial visando ao desenvolvimento tecnoló-gico e a industrialização de novas drogas destinadasao combate de doenças que afetam a menos de 200

Page 213: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

187

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

mil pessoas/ano. Empresas envolvidas em taisprogramas recebem créditos fiscais referentes adispêndios em testes clínicos e doações para odesenvolvimento das drogas, além da exclusividadede mercado por sete anos, após a droga ter sidoaprovada pela FDA. Outro exemplo vem do Japão,onde as drogas órfãs são aquelas requeridas por menosde 50 mil pacientes/ano, e ao seu desenvolvimentoestão direcionados os seguintes instrumentos deincentivo: financiamento, redução de impostos,prioridade no exame pelo órgão de saúde e concessãode exclusividade de mercado por dez anos.

A Lei de Licitações vigente no País foi concebida como propósito de combater situações irregulares ante-riormente encontradas em grandes licitações paraobras públicas de infra-estrutura e, naturalmente, nun-ca teve pretensões de se tornar um agente motivadorpara o investimento industrial no Brasil, especialmenteem segmentos de alta tecnologia. Como não poderiadeixar de ser, os processos de licitação de produtos

adquiridos pelo setor público, especialmente na áreade fármacos e produtos farmacêuticos, têm por objeti-vo alcançar menores preços. Esse aspecto é funda-mental, tanto pelo peso que os medicamentos tem nacesta de consumo da população de menor renda, comotambém em função da elevada margem de lucro prati-cada no setor de fármacos. Ainda assim, seria interes-sante cogitar mecanismos de incentivo ao desen-volvimento tecnológico, premiando a capacitação localque reduzisse a vulnerabilidade do sistema.

A situação particular do Brasil recomenda que sejamfeitos esforços visando à recuperação da infra-estru-tura operacional ociosa ou desativada, através da alo-cação orientada de investimentos pouco expressivosem volume, mas estratégicos para o desenvolvimen-to do setor. Adicionalmente, é necessário prever a im-plantação de novas unidades produtivas na ampla áreaque envolve os negócios agropecuários (defensivosagrícolas ou produtos químicos derivados da agri-cultura) e da saúde (medicamentos), que não necessi-

Novas moléculas e medicamentos recebem proteção patentáriapor certo período de tempo. Regulada pela Organização Mundial daPropriedade Intelectual (OMPI), a proteção das inovações constituium "monopólio legal" e é essencial para garantir os direitos dosinovadores e favorecer os investimentos, muitas vezes de riscoelevado, em P&D. Em alguns mercados, contudo, a proteção per-mite a prática de preços tão elevados que terminam gerando umconflito entre os interesses privados das empresas e os da socieda-de em geral. Esse conflito é mais grave quando os produtos prote-gidos não encontram qualquer substituto, têm grande utilidade so-cial e devem ser comprados pela população de países mais pobrese de renda intermediária. Este é o caso de alguns medicamentosessenciais para o combate de moléstias de grande impacto epi-demiológico, que não contam com substitutos, mesmo de geraçãotecnológica anterior e menor eficácia terapêutica. O desafio nestaárea é compatibilizar a necessidade de preservar o incentivo à ino-vação e o interesse maior da sociedade como um todo. O recenteconfronto entre o governo federal do Brasil, os grandes laboratóri-os de empresas multinacionais e o governo dos Estados Unidos daAmérica em torno dos preços de medicamentos utilizados para o

Quadro 7A questão de patentes de fármacos

tratamento da Aids e da Lei de Patentes demonstra o valor dasnegociações para solucionar conflitos neste campo. O País terátanto mais êxito em eventuais negociações sobre direitos de pro-priedade, caso tenha capacidade tecnológica para, sem romper comos acordos internacionais dos quais é signatário e ao amparo dalegislação nacional, enfrentar situações adversas que poderiam re-sultar de uma indesejável falta de acordo em negociações sobrecasos específicos.

Neste sentido e, em particular, na área crítica de medicamentos, énecessário reforçar tanto a base de geração de conhecimento doPaís neste campo, como a capacidade tecnológica e de inovação dasempresas de capital nacional, para produzir localmente sob licençaprodutos patenteados. Em termos mais gerais, a conciliação dosinteresses dos inovadores com o dos consumidores, expresso empreços de mercado não monopolistas, passa pela: i) capacidade parafabricar no País o produto patenteado ou licenciado; ii) incentivos àfabricação de produtos similares e genéricos; iii) facilitação dosprocedimentos visando ao uso de dados proprietários para o regis-tro sanitário de produtos similares.

Page 214: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

188

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

tam de longo período de maturação, além de consti-tuírem produtos com valor estratégico para o desen-volvimento econômico, inclusive a balança comerciale o atendimento de necessidades sociais do País.

No âmbito específico do MCT, são fundamentais acoordenação institucional e a implementação de me-didas destinadas a compor uma bem articulada polí-tica tecnológica para o complexo produtivo de fár-macos e outras especialidades da química fina brasi-leira, como, por exemplo: i) apoiar e estimular a pes-quisa e o desenvolvimento de tecnologias, especial-mente em áreas como a biotecnologia e a engenha-ria genética; ii) privilegiar mecanismos de financia-mento voltados para a inovação, relacionados como processo produtivo básico, produtos genéricos edrogas órfãs; iii) definir o uso de incentivos fiscais enão fiscais, principalmente o poder de compra doEstado, para estimular o desenvolvimento local detecnologias e conseqüente processo de fabricação;iv) criar mecanismos para apoiar a industrializaçãopioneira.

Energia

No período recente, o Brasil viveu várias crises ener-géticas. Em passado não muito remoto, a falta totalou a irregularidade no fornecimento de energia elé-trica era a regra em cidades do interior de pequenoe médio porte. Nos anos setenta, a crise do petróleoevidenciou a fragilidade da matriz energética brasi-leira, dependente do binômio água abundante (con-dicionada ao regime de chuvas) e petróleo barato(sujeito às flutuações do mercado internacional e àdisponibilidade de divisas para pagar importações).Em resposta à crise do petróleo, o País promoveuuma radical mudança de sua matriz energética, subs-tituindo o petróleo por energia hidroelétrica e por

carburante gerado a partir de biomassa. A viabilidadeda reconversão energética, particularmente a imple-mentação do programa de geração de energia a partirda biomassa, contou com soluções tecnológicas de-senvolvidas pela Ciência e Tecnologia nacionais.Apesar da escassez da energia, consolidou-se a per-cepção, associada possivelmente à disponibilidadede recursos hídricos, de que a energia era um produtoabundante, barato e praticamente inesgotável. Fa-mílias, empresas e governos deram, portanto, poucaou nenhuma prioridade ao uso racional da energia.A crise que afeta o País neste início de década, aomesmo tempo em que reflete a debilidade do planeja-mento e a falta de investimentos no setor nos últimosquinze anos, oferece uma oportunidade de mudançade rumos, redefinição de estratégias, valorização defontes alternativas de energia e reavaliação deatitudes e costumes, da população em geral, dasempresas e do setor público. CT&I têm certamentegrande contribuição a dar para reduzir a vulnerabi-lidade energética do País.

O Brasil deverá conduzir, na próxima década, umambicioso programa de expansão de capacidadeenergética instalada. A previsão de crescimento doconsumo total de energia elétrica no período de2000/2009 é de 4,7% ao ano. Paralelamente, prevê-se que a oferta de energia elétrica deverá crescer de64.300 MW para 109.400 MW, incluindo as parcelasde energia importadas através de interligações compaíses vizinhos. Igualmente, imagina-se que a parti-cipação termelétrica passará de 9,2 % para 25,0%no período, reduzindo tanto a pressão sobre o sistemahidroelétrico como a vulnerabilidade daí decorrente.

O setor energético exige gestão planejada e de longoprazo, inclusive em relação ao suporte científico etecnológico necessário para o seu desenvolvimento.

Page 215: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

189

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

Nesse sentido, ressalte-se a recente elaboração doPrograma Nacional de Ciência e Tecnologia para oSetor de Energia (CTENERG). Um documento pre-liminar para discussão e consulta pública aponta asseguintes ações como prioritárias na década: i) pes-quisas para desenvolver novas fontes de energia, des-de a concepção em laboratório até a operação emescala comercial; ii) estudos visando melhorar a efi-ciência energética e econômica das fontes atuais deenergia, especialmente a elétrica; iii) desenvolvi-mento de tecnologias que permitam a utilização maiseficiente da energia disponível; iv) desenvolvimentode modelos para avaliar e quantificar os impactossocioeconômicos e ambientais decorrentes daimplantação e operação de sistemas energéticos,especialmente elétricos; vi) estudos e projetos de de-senvolvimento de novas tecnologias para transmis-são e distribuição de energia; vii) promoção da ca-pacitação de recursos humanos na área energética.

• Geração Hidroelétrica e Termoelétrica

Estima-se que o crescimento da geração térmica noBrasil deverá estar baseado principalmente na utili-zação do gás natural, cujas limitações de suprimentoe condições financeiras de uso ainda são objeto deintensos debates; do carvão e de biomassa, sob asformas de madeira, bagaço de cana e resíduos in-dustriais, agrícolas e urbanos para usinas de menorporte. Isto não implica abrir mão de explorar o ele-vado potencial hidráulico (93.000MW de potencialinventariado firme e competitivo economicamente).

Como é sabido, no Brasil a geração de energia elé-trica tem como principal fonte os recursos hídricos.Embora abundantes, a exploração econômica dessesrecursos mediante novos empreendimentos, locali-zados principalmente na região Norte, oferece uma

série de obstáculos econômicos e ambientais que re-comendam a busca de novas alternativas.

Nesse novo ambiente, deve-se priorizar as seguinteslinhas de desenvolvimento tecnológico: novas téc-nicas de projeto, construção e operação de usinashidroelétricas; desenvolvimento e adequação de tec-nologias para aumentar a competitividade de peque-nas e médias centrais de geração; desenvolvimentode tecnologias de geração limpa com emprego docarvão mineral (gaseificação do carvão e sistemasde combustão de elevado desempenho); desenvol-vimento de tecnologia e ferramentas para manuten-ção e operação de usinas termelétricas.

• Geração e Cogeração a partir da Biomassa

A cogeração permite reduzir os custos, elevar a segu-rança e confiabilidade da energia e reduzir os impac-tos ambientais. Nesse sentido, propõe-se apoiar as se-guintes áreas: desenvolvimento, em escalas de ban-cada e protótipo, da gaseificação e purificação de re-síduos pesados do refino de petróleo e de fontes re-nováveis de energia (biomassa); desenvolvimento detecnologia de microturbinas para aumento da eficiên-cia energética e a possibilidade de utilizar resíduos devários tipos de combustíveis, inclusive o gás natural;realização de estudos setoriais e regionais sobre opotencial técnico, econômico e de mercado da coge-ração de energia; produção de óleos vegetais e con-versão dos motores de combustão interna para usodestes óleos in natura para geração em comunidadesisoladas; sistemas de gaseificação de biomassa (depequeno porte para resíduos rurais e de maior portepara subprodutos da cana); limpeza dos gases, uso dogás em motores e microturbinas; processos de pirólisee conversão dos motores para geração; otimização doemprego dos resíduos nas indústrias que têm a biomas-

Page 216: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

190

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

sa como insumo básico (indústria de papel e celulose,agroindústrias e setor sucro-alcooleiro).

• Geração eólica e solar (fotovoltaica e

Heliotérmica)

A utilização do sol e dos ventos como fonte primáriade energia tem mostrado um crescimento expressivoem vários países do mundo, principalmente a partirda década de setenta, com a crise do petróleo e ofortalecimento das políticas ambientalistas.

No Brasil, a energia eólica tem sido usada há muitotempo, de forma isolada e em pequena escala. Osavanços tecnológicos dos últimos anos possibilita-ram uma penetração ainda maior das turbinas eólicaspara a geração de energia elétrica no País. A tecno-logia eólica de pequeno porte para geração elétricadoméstica ou mesmo para atendimento a comuni-dades isoladas que ainda não são atendidas pela redeelétrica convencional deveria ser explorada.

A energia solar, por sua vez, é usada como fonte decalor (aquecimento de água, secagem) ou para pro-duzir energia elétrica diretamente pelo emprego datecnologia fotovoltaica. Esta fonte de energia temsido empregada como alternativa de suprimento parao meio rural, caracterizado por pequenas demandasdispersas (telecomunicações, necessidades residen-ciais básicas, aplicações de cunho social etc.).

A aplicação em larga escala da tecnologia eólica efotovoltaica, tanto para demandas dispersas e isoladasquanto interligadas à rede elétrica, carece de soluçõesou aperfeiçoamentos, criando amplas oportunidadesnão apenas para a pesquisa, como também para odesenvolvimento de novos negócios e a geração deemprego.

• Equipamentos para transmissão e distribuição

A maior parte da rede básica de transmissão é com-posta de linhas e equipamentos com vida média nafaixa de vinte a trinta anos de serviço, o que acarretainevitável degradação da confiabilidade do sistema,agravada pela reconhecida sobrecarga do sistemaexistente. Desta forma, aparece claramente a impor-tância estratégica de investir no desenvolvimento detecnologias de transmissão que permitam aumentara capacidade de transporte e a confiabilidade combaixos custos de investimento e operação.

A nova institucionalidade do setor elétrico vem for-çando as empresas concessionárias de distribuição deenergia elétrica a oferecer uma qualidade crescentedos serviços prestados aos seus clientes, bem como abuscar a redução dos seus custos com o objetivo deaumentar a competitividade. Este cenário abre pers-pectivas para o desenvolvimento de novas articulaçõescom empresas e instituições de C&T visando encontrarsoluções inovadoras em vários segmentos da ativi-dade de transmissão e distribuição de energia elétrica.

• Conservação e uso final de energia

As atuais limitações de recursos financeiros associa-da à crescente importância da preservação ambientaltorna ainda maior o desafio de expansão do sistema,isto é, a colocação de novas usinas e grandes troncosde transmissão para atendimento à demanda.

No que se refere ao uso final, a conservação de ener-gia elétrica tem assumido um papel importante, comoum dos instrumentos efetivos na diminuição do cres-cimento da demanda de energia elétrica. Além disso,as mudanças em curso no setor elétrico exigem dasempresas uma postura de busca permanente da efi-ciência e redução de perdas, tornando ainda maior a

Page 217: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

191

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

importância da continuação dos programas de con-servação de energia e gerenciamento da demanda.

• Energia e meio ambiente

A crescente preocupação com o desenvolvimentosustentável traz um novo desafio para a expansão eoperação do sistema elétrico brasileiro, traduzido peloreconhecimento de que a adoção de uma estratégiaenergética incorrerá também na escolha de uma estra-tégia ambiental.

Além dos pontos mencionados anteriormente, aagenda de CT&I para o setor de energia é muito am-pla. Dois temas merecem apreciação adicional: a apli-cação de novos materiais e a célula combustível.

- Novos MateriaisCada parte do sistema de geração de energia (geração,transmissão, distribuição e utilização final da energia)faz uso de materiais específicos, de acordo com astecnologias utilizadas, que afetam diretamente a efi-ciência dos sistemas. Assim, projetos de P&D na áreade materiais devem considerar estas necessidades es-pecíficas.

- Desenvolvimento de Células CombustíveisCélulas de combustível representam uma nova tec-nologia para produção direta de energia elétrica, apartir da conversão de átomos ou moléculas neutrasem elétrons e íons positivos por meios eletroquími-cos. Ainda em desenvolvimento, as células tem sidoobjeto de esforços intensos de pesquisa no exterior,visando suas aplicações como fontes estacionárias,em veículos automotores e em substituição às bate-rias convencionais de aparelhos eletrônicos portáteis.Elas podem empregar uma variedade de combustí-veis, um dos melhores sendo o hidrogênio, cuja“queima” produz apenas água como rejeito, sendo,

portanto, favorecido do ponto de vista do meio am-biente. O hidrogênio é, entretanto, um vetor energé-tico de difícil armazenamento, cuja produção é não-trivial. Novos reformadores catalíticos poderiam per-mitir a sua geração a partir do etanol, uma inovaçãoque faria uso da tecnologia de produção do álcool,amplamente dominada pelo Brasil. O próprio etanolpoderia, desenvolvidas as tecnologias apropriadas,ser empregado como combustível em células. Umprograma de pesquisa na área deveria levar em conta:i) a melhoria da eficiência das células mediante apesquisa em novos materiais; ii) sistemas catalíticosinovadores para produção de hidrogênio (plasma, ele-trólise em células fotovoltaicas, reformadores cata-líticos a partir de biomassa); iii) sistemas de armaze-namento e distribuição de hidrogênio; iv) a realizaçãode estudos sobre aspectos ambientais e sociais, bemcomo análises de viabilidade econômica dessas novastecnologias, especialmente tendo em vista os resul-tados internacionais e o potencial de desenvolvimen-to de tecnologias apropriadas para o Brasil.

Tecnologia da Informação

Já no século XXI, a revolução da informação e dacomunicação redesenha o mapa econômico do mun-do e traz mudanças profundas nas forma de produ-ção e nas relações sociais. Para todos os países umdesafio que se apresenta é o de construir, no menorespaço de tempo, as bases para uma adequada inser-ção na nova sociedade da informação. Três fenôme-nos inter-relacionados estão na origem da transfor-mação em curso. O primeiro, a convergência da basede tecnologia, decorre do fato de se poder representarquase tudo de uma só forma, a digital. Com a digi-talização, a computação (a informática e suas apli-cações), as comunicações (transmissão e recepçãode dados, voz, imagens etc.), e os conteúdos (livros,

Page 218: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

192

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

• A internet no Brasil

A rápida evolução e disseminação da Internet no Bra-sil em anos recentes coloca o País em posição dedes taque no mundo em desenvolvimento, mantendoliderança absoluta na América Latina. Segundo in-formações da Fundação de Amparo à Pesquisa doestado de São Paulo (Fapesp), órgão responsável peloregistro de domínios brasileiros, os domínios regis-trados somavam, no início de março/2001, mais de382 mil. Dentre estes domínios, destacam-se os co-merciais (com.br) que representam mais de 92%; emseguida os domínios de entidades não governamen-tais e sem fins lucrativos (org.br) com aproximada-mente 2%.

O Brasil está hoje muito bem colocado no rankingmundial dos países em número de hosts e é o primeirona América Latina. Em 1999, o País ocupava o 12ºlugar. Considerando o período de 1996 a outubro/2000, o número de computadores conectados à redecresceu de 74.458 para 662.910 (790%).

filmes, música etc.) integram-se em um único meio.O segundo aspecto é a dinâmica da indústria e docomércio com uma queda contínua de preços dosequipamentos e serviços. Em grande parte comodecorrência dos dois primeiros, está o extraordiná-rio crescimento da Internet, ainda que reconhecida-mente um serviço restrito a poucos. A disseminaçãoda Internet, em comparação com outros serviços,mostra o surgimento de um novo padrão de produçãoe de relações sociais e constitui um fenômeno singulara ser considerado como estratégico para o desenvol-vimento das nações.

A inserção favorável no novo paradigma requer umabase tecnológica e de infra-estrutura adequada, umconjunto de condições de inovações na estrutura pro-dutiva e organizacionais, no sistema educacional ede pesquisa, assim como nas instâncias reguladoras,normativa e do governo em geral.

1 Note-se que o número de pessoas conectadas à rede mundial é muito superior ao número de usuários cadastrados pelos provedores de acesso.Universidades, com poucos registros como usuária, permitem a conexão de milhares de alunos e funcionários à rede.

Page 219: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

193

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

Entre os países da América Latina, o Brasil possui omaior número de usuários conectados à Internet. Es-tima-se entre 9,8 milhões e 14 milhões o número debrasileiros conectados à rede mundial1. Do total deusuários da rede, 64% estão na Região Sudeste, se-guida pelo Sul (18%), Nordeste (9%), Centro Oeste(7%) e Norte (2%).

• Comércio Eletrônico

Com relação ao varejo on line, o Brasil continua sendoo mercado maior e mais maduro na América Latina.O crescimento do comércio eletrônico no País temsido expressivo. A estimativa é que, em 1999, o consu-midor virtual brasileiro tenha movimentado cifras emtorno de US$90 milhões, segundo estimativas do IDCe do Gartner Group. Segundo estas fontes, o comércioeletrônico atingiria cifras de US$ 500 milhões até ofinal de 2000, a maior parte em comércio entre empre-sas (B2B). Esse crescimento deverá ser contínuo, atin-gindo em 2003, vendas no valor de US$1,9 bilhão emoperações B2B e US$760 milhões em operações devendas ao consumidor (B2C).

No âmbito do comércio eletrônico, durante o ano

2000, foram lançadas políticas e instituições parapromover o comércio eletrônico. Foi criado o ComitêExecutivo de Comércio Eletrônico, de caráter inter-ministerial, com atribuições relacionadas a seu de-senvolvimento e que começou a operar em marçode 2001. Os pontos-chave do desenvolvimento destenovo tipo de comércio no País são a implantação deestrutura de validação de assinaturas eletrônicas, ga-rantias na estrutura de segurança e maior acesso àInternet pela população.

• Exclusão digital

Embora excepcionais, os efeitos positivos relaciona-dos às tecnologias da informação e da comunicaçãopodem ser fortemente heterogêneos uma vez que ainfra-estrutura requerida, incluindo a parte de tele-comunicações e a de computadores, além do nívelmédio de educação, já é distribuída de forma muitoassimétrica entre as regiões do mundo. Como conse-qüência já se observa, mesmo nos países em desen-volvidos, uma clara tendência à geração de espaçose grupos sociais excluídos, (a chamada exclusão di-gital), o que exigirá políticas adequadas voltadas paraa promoção do acesso universal a todos. Acesso uni-

Dentro de uma perspectiva de desenvolvimento social, o governovem implantando aceleradamente o projeto do governo eletrônico,e-Gov. O principal objetivo do e-Gov é garantir acesso de todo cida-dão à Internet e, por meio desta facilidade, disponibilizar os serviçosde governo. O princípio orientador é que o modelo de acesso àinternet no País deve ser comunitário, a fim de evitar o apro-fundamento das desigualdades sociais. O projeto compreende umconjunto de medidas a serem tomadas e metas a serem alcançadasnos próximos anos (algumas já atingidas no ano 2000) e busca usar astecnologias da informação para aumentar a transparência das açõesgovernamentais, bem como para aumentar a eficácia dos recursostecnológicos existentes por meio da integração de redes e sistemasusados pela administração pública federal, contribuindo desta formapara acelerar a redução do gap social existente no País.

De 1995 até abril de 2001, foram investidos R$10 bilhões na

Quadro 8Governo eletrônico

informatização de serviços públicos, e nos próximos dois anos serãoinvestidos $800 milhões por ano para atingir algumas das 45 metas doPrograma Nacional de Informatização relativas à Internet pública: deque até 2002 todos os órgãos públicos federais ofereçam os seusserviços pela rede de Internet, expansão e modernização da infra-estrutura, sistema de compras on line, bem como implantação deprogramas de universalização do acesso por meio de um computadorpopular, desenvolvido com recursos do Fundo de Universalização dasTelecomunicações (FUST) e com a produção financiada pelo BNDES.

O Brasil se tornou o sexto país que mais investiu em internetpública em todo o mundo. Os resultados estão disponibilizados noportal www.redegoverno.gov.br que contém mais de 12 mil links,800 serviços, e mais de 4.200 itens de informação. De setembro de2000 a abril de 2001, o número de visitas ao portal triplicou, deven-do atingir a marca de 70 milhões até o final de 2001.

Page 220: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

194

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O uso crescente das tecnologias da informação e comunicação apro-xima pessoas e instituições e contribui para uma maior sinergia dosfluxos informacionais, em velocidades cada vez maiores. Ao mesmotempo, introduz o risco de um novo tipo de exclusão social que vemsendo chamada de "exclusão digital". Nos países em que o processode penetração de tais tecnologias se expande em ritmo acelerado,observa-se, como em nenhum outro momento da história, um cres-cimento econômico a taxas cada vez mais significativas. Todavia, opotencial de geração de riqueza associado a tal fenômeno não temse refletido, com a mesma intensidade e significado, em benefíciosdistributivos e relacionados à eqüidade. Ao contrário, observa-seuma tendência de aumento da exclusão, com o surgimento de umnovo divisor entre os que têm e os que não têm acesso às tecnologiasda informação. Uma clivagem potencial que, ao guardar uma relaçãodireta com a renda e o nível educacional das pessoas ou dos grupossociais, quando agregada ou adicionada àquelas herdadas ou acumu-ladas ao longo da história, proporcionará desequilíbrios sociais ain-da mais intoleráveis e difíceis de combater. O maior desafio dasiniciativas voltadas para a difusão das tecnologias da informação ecomunicação, em suas diversas aplicações, é garantir eqüidade departicipação no novo padrão de desenvolvimento.

A evolução das tecnologias digitais é mais veloz do que as transfor-mações de valores e atitudes da sociedade. Assim, para inserirminimamente, em termos competitivos as diferentes populações esubespaços no processo de competição mundial, é fundamentalgarantir o acesso às redes de informação e comunicação e, simultanea-

Quadro 9O desafio da exclusão digital

mente, capacitar diferentes substratos da população no uso e domí-nio da linguagem apropriada. Um grande desafio a ser enfrentado nacriação de oportunidades de inclusão digital é a universalização dosserviços. Para isto, é necessário criar competências e desenvolverequipamentos de acesso baratos, promover a alfabetização digitalem larga escala, capacitar pessoas em todo o ciclo de geração edesenvolvimento de TIC, conteúdos adequados em língua portugue-sa, além de desenvolver novos modelos de acesso à Internet. Sãoinúmeros os desafios e oportunidades de desenvolvimento científi-co e tecnológico que se apresentam na transição para uma socieda-de da informação a que estamos assistindo.

Conscientes da crescente importância das TIC, um grupo de vinte eoito países em desenvolvimento da África e Oriente Médio, Ásia eOceania, América Latina e Caribe emitiu a Declaração do Rio de Janei-ro, denominada Tecnologias de Informação e Comunicação para o De-senvolvimento. O documento explicita a necessidade de levar em con-ta o papel das TIC para o progresso dos países em desenvolvimento.

Neste sentido, solicitam a criação pelo Grupo dos 8 (G-8) de fontesde financiamento e outros mecanismos de promoção de acesso edifusão das TIC, tais como fundos regionais e outras iniciativas, paraauxiliar a formulação e implementação de estratégias nacionais deTIC para o desenvolvimento, incluindo governança, desenvolvimentode conteúdos, aperfeiçoamento de recursos humanos, infra-estrutu-ra, acesso universal, alfabetização digital, pesquisa científica e tecno-lógica, entre outros objetivos dos países em desenvolvimento.

versal significa garantir a todos os cidadãos acessoamplo, irrestrito e de baixo custo à rede mundial decomputadores.

As políticas de universalização de acesso, como oFundo de Universalização dos Serviços de Teleco-municações (FUST), em conjunto com a estrutura pro-dutiva do setor, destinam-se a viabilizar o uso inten-sivo pela população das tecnologias da informação.Por sua vez, a disponibilidade destes produtos e ser-viços permitirá alavancar o desenvolvimento de outrossetores econômicos, propiciando maiores oportuni-dades para reduzir as diferenças sociais do País.

• Segurança eletrônica

A preocupação com a questão da segurança e confia-

bilidade das informações na utilização dos serviçosvia Internet é um ponto relevante, não somente paraas transações de governo, mas principalmente parao desenvolvimento do comércio eletrônico. Com esteobjetivo, foi criado o Comitê Gestor de Segurançada Informação (CGSI), que instituiu a Política deSegurança da Informação nos órgãos e entidades daadministração pública federal. Trata-se de órgão deassessoramento da Secretaria Executiva do Conse-lho de Defesa Nacional na avaliação e análise deassuntos relativos à segurança da informação nosÓrgãos e Entidades da Administração Pública Fe-deral. A principal prioridade do CGSI no ano 2000foi a implantação da Infra-estrutura de Chaves Pú-blicas do Governo Federal, elemento habilitador paraa utilização da Criptografia de Chaves Públicas, para

Page 221: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

195

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

a implantação de serviços sigilosos, de autenticaçãoe gestão de documentos eletrônicos, para assegurara integridade das informações governamentais e airretratabilidade dos atos praticados pelos agentespúblicos, que servirá de referência para o tratamen-to da assinatura eletrônica no âmbito privado do co-mércio eletrônico.

• Recursos humanos para P&D

A capacidade de P&D, em tecnologias da informa-ção, está localizada predominantemente em institui-ções de pesquisa. Segundo o Diretório de Gruposde Pesquisa-2000 (desenvolvido pelo CNPq), há 314grupos de pesquisa em ciências da computação ematividade, mobilizando cerca de 2.500 pesquisadores,que desenvolvem mais de mil linhas de pesquisa. Adi-cionando-se uma parcela de um terço dos grupos epesquisadores classificados em engenharia elétrica quedesenvolvem atividades em áreas de TI e correlatas,esses números crescem para cerca de 400 grupos e 3mil pesquisadores. Não obstante, esse número deveser ainda maior, à medida que incorpora pesquisadoresatuando em TI em áreas correlatas, como ciência dosmateriais, fotônica, eletrônica, física, matemática,química e físico-química. Finalmente, deve-se men-cionar também que a geração de conteúdo para TI epara Internet, em particular, emprega um número depesquisadores que tende a crescer.

O Brasil tem hoje 13 programas de doutorado e 28de mestrado em ciências da computação, localizadosprincipalmente na região Sudeste. No ano 2000, fo-ram formados nesses programas em torno de 80 dou-tores e 500 mestres. Para que o País tenha condiçõesde dominar o amplo leque de tecnologias de aquisi-ção, armazenamento, recuperação, acesso e distri-buição de informação, será necessário ampliar con-sideravelmente o número de doutores e incentivar

atividades de P&D nas empresas.

Segundo as informações da Relação Anual de Infor-mações Sociais (Rais), o Brasil possuía, em 1999, cercade 215 mil profissionais empregados em ocupaçõestípicas de informática (analistas de sistemas, pro-gramadores e operadores de informática) e cerca de24 mil em empresas de desenvolvimento de software.

O grande desafio é a inserção do Brasil na nova "eco-nomia digital", área em que o setor de software des-ponta como agente crítico da participação brasileiranesta economia globalizada e transnacional, em cená-rio altamente competitivo.

• Pesquisa e Desenvolvimento

A tremenda evolução e a ampliação da capacidade nossistemas individuais de comunicação e processamentoda informação exigirá um contínuo acompanhamentode tendências e identificação de oportunidades detecnologias estratégicas para o desenvolvimento indus-trial e econômico, junto a universidades e ao setor pro-dutivo. Países como a França e o Japão, entre outros,vêm aplicando metodologias de identificação das tec-nologias estratégicas ou tecnologias-chave para o setorde tecnologias da informação que permitam aumentara sua competitividade. A seleção de nichos de oportu-nidades de desenvolvimento deverá ser objeto de defi-nição a partir de discussões envolvendo o governo, acomunidade acadêmica e a empresarial.

• Infra-estrututura avançada para P&D

Em 1989, o CNPq deu início a um esforço nacionalde redes acadêmicas que resultou no projeto RedeNacional de Pesquisa (RNP). A RNP, também comoprograma prioritário de informática do MCT, viabi-lizou uma infra-estrutura de serviço Internet nacio-nal, interligou as instituições de ensino superior e

Page 222: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

196

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

pesquisa do País, apoiou a consolidação de redesestaduais, implantou serviços básicos, englobandorepositórios de software e acesso a bases de dados,assegurou a compatibilidade de aplicações e, em1995, induziu e apoiou a difusão do uso de tecnolo-gia Internet pelo setor privado, principalmente porpequenas e médias empresas do setor de serviços.

Hoje a RNP interliga 326 instituições acadêmicasem todo o País e quinze redes acadêmicas estaduais,sendo uma referência fundamental para a experimen-tação e uso de tecnologia Internet.

O crescimento acelerado do tráfego nas redes e atendência de utilização de informações multimídiademandam uma atualização permanente na infra-es-trutura de redes para pesquisa e serviços, de formaintegrada a iniciativas internacionais semelhantes.Uma infra-estrutura de alto desempenho implantadaem 2000, chamada RNP2, interliga-se às principaisiniciativas internacionais de redes avançadas Inter-net2 e, também, a quatorze Redes Metropolitanasde Alta Velocidade (Remavs), formadas por consór-cios entre empresas e universidades do País. Esteambiente permite a colaboração técnico-científica

Page 223: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

197

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

Page 224: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

198

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

nacional e internacional no desenvolvimento e usode aplicações avançadas, como educação a distância,vídeo interativo e bibliotecas digitais, entre outras.

O MCT e a RNP planeja o novo ciclo de redes avan-çadas que empregará tecnologia óptica e protocolosIP em capacidade da ordem de Gigabits/segundo paraatender a pesquisa e ao desenvolvimento de aplica-ções intensivas em processamento e manipulação dedados, como grades de processamento distribuído parasuporte a aplicações interativas. A experimentação denovos protocolos e serviços permitirá o desenvolvi-

mento da comunidade de ensino superior e pesquisa,setor público e privado e a capacitação de novos recur-sos humanos em tecnologias-chave para o País.

A evolução da pesquisa e desenvolvimento no Brasilem áreas fortemente demandantes de processamentode alto desempenho como genoma, modelagem declima, dispersão de poluição, previsão meteorológica,entre outras, está associada à capacidade de renova-ção da infra-estrutura de redes para P&D que per-mita o acompanhamento dos ciclos tecnológicos as-sociados à Internet.

Instituído pelo de Decreto Presidencial 3.294 de 15 de dezembrode 1999, o Programa Sociedade da Informação tem por objetivointegrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de tecnologiasde informação e comunicação, de forma a contribuir para a inclusãosocial de todos os brasileiros na nova sociedade e, ao mesmo tem-po, para que a economia do País tenha condições de competir nomercado global. Considerado como Programa Estratégico do Go-verno Federal, sua execução pressupõe o compartilhamento deresponsabilidades entre os segmentos de governo, iniciativa priva-da e sociedade civil, inclusive no estabelecimento de diretrizes paraesforços de desenvolvimento científico e tecnológico em tecnologiasda informação e comunicação. A proposta apresentada à sociedadebrasileira contempla o seguinte conjunto de linhas de ação:

• mercado, trabalho e oportunidades – promoção da competitividadedas empresas nacionais, inclusive das pequenas e médias empre-sas, apoio à implantação de comércio eletrônico e oferta de novasformas de trabalho, por meio do uso intensivo das TICs;

• universalização de serviços para a cidadania – promoção da univer-salização do acesso à Internet, buscando soluções alternativas combase em novos dispositivos e meios de comunicação, modelos deacesso compartilhado e projetos voltados à valorização da cidadania eà promoção da coesão social por meio da inclusão digital;

• educação na sociedade da informação – apoio aos esquemas de apren-dizado, de educação continuada e à distância, baseados na Internet e emredes; capacitação de professores, auto-aprendizado em tecnologia dainformação e comunicação – inclusive revisão curricular –, visando ao

Quadro 10O Programa Sociedade da Informação

uso de tais tecnologias em todos os níveis de educação formal;

• conteúdos e identidade cultural – promoção da geração de con-teúdos e aplicações que enfatizem a identidade cultural brasileiraem sua diversidade, a presença da língua portuguesa na internet e apreservação artística, cultural e histórica através da digitalização deacervos;

• governo ao alcance de todos – promoção da informatização daadministração pública e do uso de padrões em seus sistemas aplica-tivos, fomento a aplicações em serviços de governo voltados à disse-minação ampla de informações de interesse do cidadão;

• P&D, tecnologias-chave e aplicações – identificação de tecnologiasestratégicas para o desenvolvimento industrial e econômico e promo-ção de projetos de pesquisa e desenvolvimento junto a empresas euniversidades, desenvolvimento de protótipos de aplicações estra-tégicas, formação maciça de profissionais, inclusive pesquisadores,em todos os aspectos das tecnologias da informação e comunicação;

• infra-estrutura avançada e novos serviços – implantação de infra-estrutura básica nacional de informações, integrando as diversas es-truturas especializadas de redes – governo, setor privado e de pes-quisa; fomento à implantação de redes de processamento de altodesempenho e à experimentação de novos protocolos de serviçosgenéricos; transferência de tecnologias de redes do setor de pesqui-sa para outras redes e fomento à integração operacional das mesmas;adoção de políticas e mecanismos de segurança e privacidade.

Fonte: Programa Sociedade da Informação no Brasil - Livro Verde, www.socinfo.org.br

Page 225: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

199

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

• O Programa Sociedade da Informação

O Programa Sociedade da Informação cria as con-dições básicas para impulsionar a pesquisa, bem co-mo assegurar à economia brasileira condições decompetir no mercado global, tendo como foco a in-clusão do cidadão e o engajamento da sociedade nomercado das tecnologias da informação.

O Programa conta com recursos do Tesouro Nacio-nal e, igualmente, com uma parte significativa derecursos provenientes do setor privado por meio deincentivos associados à Lei da Informática e ao Fun-do Setorial de Informática.

O Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil,lançado em setembro de 2000, constitui uma pro-posta inicial de discussão sobre caminhos a seremperseguidos pela sociedade brasileira e é objeto dedebate em consultas públicas em todo o País. O resul-tado desse processo deverá definir um conjunto dediretrizes estratégicas para a inserção do Brasil nestanova sociedade. Dentre as principais propostas, des-tacam-se as seguintes: i) nova rede para P&D, coma inclusão progressiva de serviços de internet de no-va geração (ou Internet 2, como é mais conhecida);ii) fomento ao comércio eletrônico em bancas dejornal, casas lotéricas e outros pontos de fácil aces-so ao cidadão; iii) interconexão à Internet de todasas bibliotecas públicas do País; iv) geração de con-teúdos de importância cultural para o País; v) con-sórcios de P&D em tecnologias-chave; vi) fomentoà produção de hardware e software para acesso amploà Internet com o menor custo.

Telecomunicações

Na década de sessenta, as comunicações eram con-sideradas estratégicas para o desenvolvimento e a

Page 226: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

200

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

integração da Nação. Como conseqüência, as duasdécadas seguintes assistiram à notável expansão dosserviços de telecomunicações, a par da qualidadecrescente na instalação e operação dos mesmos.A implantação de infra-estrutura física, em particular,mereceu atenção e cuidados que viriam a destacar aTelebrás dentre empresas similares em outros paísesem desenvolvimento.

Na década de noventa, o Governo Federal propôsnova diretriz, que seria sancionada pela Lei Geralde Telecomunicações (LGT), de 1997, preconizan-do a privatização do Sistema Telebrás, a concepçãode um regime de duopólio para todos os serviçosdurante um período de transição até 2002, e livrecompetição a partir de 2003. Para exercer a regula-mentação e fiscalização, bem como implementar polí-ticas do setor, foi criada a Agência Nacional de Tele-comunicações (Anatel).

No contexto anterior à privatização, a formulação eexecução da política tecnológica para o setor estavaalicerçada no poder de compra do Sistema Telebráse na capacidade de geração de tecnologias do CPqDem parceria com o setor privado nacional. As tecno-logias geradas pelo CPqD foram amplamente apro-priadas pela indústria local, nacional e estrangeira.

Em paralelo, houve o apoio por parte das agênciasgovernamentais (Finep, CNPq, Capes e o próprio Mi-nistério das Telecomunicações, por intermédio doCPqD) à formação de recursos humanos e de pes-quisa na área, em uma dezena de centros de exce-lência. Essa mão-de-obra altamente qualificada per-mitiu a rápida expansão do sistema e vem gerandoempresas baseadas no conhecimento desenvolvidonesses centros que ocupam nichos de mercado emredes, equipamentos e sistemas de gerência de redese serviços para telecomunicações. Com a aberturado setor de telecomunicações, acompanhada por uma

O aumento contínuo da velocidade dos sistemas de transmissão deinformações e telecomunicações deve-se ao uso da luz em sistemasde comunicações. Só com o uso de comunicações ópticas (baseadasem luz) é possível atingir hoje velocidades de transmissão de cente-nas de gigabits por segundo. Isto se tornou possível a partir dadescoberta de fibras ópticas com baixas perdas de luz, ocorrida nosanos setenta. O Brasil entrou cedo nesta atividade, com a instalaçãodo Projeto de Pesquisa em Sistemas de Comunicação por Laser noInstituto de Física da Unicamp em 1973, financiado pela Telebrás.

Em 1977, foram fabricadas as primeiras fibras ópticas nos laborató-rios do Instituto de Física Gleb Wataghin. Em 1978, a tecnologiacomeçou a ser transferida para o Centro de Pesquisa e Desenvolvi-mento da Telebrás, o CPqD, em Campinas. Este processo ilustrauma característica fundamental da transferência de tecnologia en-tre organizações – o sucesso do projeto se deveu à transferência decientistas da Unicamp para o CPqD.

Em 1983, a tecnologia foi transferida do CPqD para a empresa ABCXtal, localizada também em Campinas (vizinha do CPqD). Nova-mente a transferência de cérebros foi fundamental, com a migração

Quadro 11Comunicações Ópticas no Brasil

de cientistas do CPqD (muitos vindos da Unicamp) e da Unicamppara a ABCXtal.

A Xtal Fibras Ópticas, (comprada recentemente pela Fiber Core.EUA), agora denominada Xtal Fibercore Brasil, é hoje o maior fa-bricante de fibras ópticas no Brasil, produzindo anualmente mais de1,1 milhão de quilômetros de fibras ópticas – 35% das fibras co-mercializadas no País. O faturamento anual da empresa é superior aUS$45 milhões, e 20% de sua produção são destinados à exportação.

O programa de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia parafabricação de fibras ópticas do Instituto de Física da Unicamp, doCPqD e da Abc Xtal tem todos os elementos essenciais do desen-volvimento tecnológico: a universidade, gerando conhecimento fun-damental competitivo internacionalmente e formando recursos hu-manos; o centro de pesquisas ligado à empresa, desenvolvendo atecnologia; a empresa prosseguindo continuamente no desenvolvi-mento da tecnologia, empregando para isto os cientistas e engenhei-ros formados na universidade. Trata-se, sem dúvida, de um exce-lente exemplo de programa de P&D bem sucedido no País.

Page 227: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

201

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

pulverização das compras de equipamento, sistemase software para gerência de redes e serviços pelas di-versas operadoras, houve expressivo aumento nasimportações e perda de competitividade das empre-sas de capital nacional, uma vez que várias opera-doras passaram a comprar de seus fornecedores deequipamentos e sistemas no país de origem. Por con-seguinte, várias empresas locais de capital nacionalforam vendidas a empresas estrangeiras que entraramno mercado, outras se transferiram para novas áreas

ou simplesmente desapareceram.

O setor de equipamentos de comunicação é o maisdinâmico do segmento de Tecnologias de Informaçãoe Comunicação(TIC). Entre as aplicações de tele-comunicações mais promissoras nessa área, estãotecnologias e aplicativos para telecomunicações semfio de terceira geração (3G), sistemas de comunica-ção baseados em fibras ópticas de alta capacidade –tais como comunicação óptica que deverá ampliar acapacidade atual de transmissão em 10 mil vezes –,sistemas geográficos de informação e navegação, queincluirão sistemas de apoio, localização, comunicaçãoe informação de veículos e pessoas.

A convergência da telefonia celular com o comércioeletrônico, o chamado "comércio móvel", que deverácomeçar a se concretizar ao longo dessa década, éuma das importantes áreas de oportunidade para odesenvolvimento de P&D em telecomunicações. Es-tas incluem estudos das necessidades e preferênciasdos usuários, desenvolvimento de equipamentos querespondam a suas necessidades e gostos, além dodesenvolvimento de soluções de conteúdo viáveispara distribuição em sistemas móveis sem fio. Em2005, o Brasil deverá contar com 27 milhões de usuá-rios acessando serviços de internet móvel.

• Uso da Tecnologia Digital em

Telecomunicações

O paradigma atual do setor de telecomunicações con-sagra o uso amplo da tecnologia digital. Não se tratamais de introduzir uma nova base tecnológica, masde fazer melhor uso dela. O conceito de convergênciaprocura sintetizar este novo estágio em que as plata-formas de rede podem suportar diferentes meios paraveicular a informação. Telecomunicações, tecnologiada informação e também radiodifusão são todos seg-

Os programas de P&D que o CPqD propõe para os próximos anostêm como contexto um cenário de emergência dos novos paradig-mas: amplo uso da tecnologia digital e surgimento de um ambientede competição no setor. A conseqüência deste cenário é que ageração de tecnologia não é pautada apenas pela sua própria dinâmi-ca, isto é, pelo processo interno de pesquisa, desenvolvimento eengenharia, mas deve atender também às necessidades distintasdos vários atores envolvidos: usuários, provedores de rede e deserviços básicos, provedores de serviços de valor adicionado, pro-vedores de conteúdo, fornecedores de equipamentos e de serviçose o governo, que desempenha muitos papéis, como os de reguladorsetorial, promotor de geração tecnológica e defensor dos interes-ses maiores da sociedade.

A proposta do CPqD leva em conta também a própria história desuas áreas de competência, o seu porte institucional e a diversidadede alternativas tecnológicas, característica do paradigma atual. Emtais circunstâncias, os grandes temas condutores da proposta deP&D são:

• Convergência e Mobilidade – Este tema sintetiza as grandes mar-cas do paradigma que têm origem no domínio clássico das telecomu-nicações, principalmente as redes capazes de suportar serviços demeios ou conteúdos variados e as tecnologias sem fio que liberam ousuário da necessidade de um terminal fixo. Incluem-se neste temaprojetos ligados às tecnologias de meios fixos, móveis e à área deserviços e aplicações, esta última tipicamente interdisciplinar.

• Interação Eletrônica – Este tema abrange as áreas de P&D origi-nadas da Informática ou TI e que hoje têm como maior desafiotornar mais cômoda e segura a interação mediada eletronicamente,entre pessoas, entre pessoas e sistemas ou entre sistemas. Com-preende projetos envolvendo tanto as tecnologias de sistemas pro-priamente ditas, como a questão da segurança das transações e suasaplicações, outra área de natureza multidisciplinar.

Quadro 12Novos paradigmas em telecomunicações - aAgenda de P&D do Centro de Pesquisa eDesenvolvimento (CPqD), no início do século XXI

Page 228: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

202

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

mentos de atividade econômica que se valem dos mes-mos fundamentos tecnológicos. A internet serve comosímbolo deste ciclo. As transformações foram aindamais longe e removeram não só as barreiras dos meiosde expressão, mas também as restrições de posiçõesfixas dos terminais. Como já mencionado, a telefoniae a comunicação móvel de dados são exemplos douso amplo da digitalização.

Neste novo paradigma, a tecnologia é posta conti-nuamente a serviço de novas formas de interação,

Para substituir a obsoleta planta de telefones públicos a ficha, oCPqD desenvolveu um sistema de telefonia pública utilizando tec-nologia totalmente nacional e pioneira no mundo: a tecnologia deleitoras e cartões indutivos. O sistema foi lançado oficialmente em1992 e atualmente a rede de telefones públicos com a tecnologiaindutiva continua em plena expansão pelo território nacional. Em1999, após a privatização do Sistema Telebrás, a Anatel, agênciareguladora dos serviços de telecomunicações no Brasil, considerouo uso da tecnologia indutiva obrigatório em todos os telefones pú-blicos brasileiros.

Devido à sua versatilidade e baixo custo, cartões e leitoras indutivaspodem ser utilizados em diversas aplicações. Cada cartão podeconter até 100 unidades de crédito, equivalentes a 100 ligaçõeslocais de dois minutos de duração. As características básicas doCartão Indutivo desenvolvido pelo CPqD são:

· baixo custo de produção - viabilizando a produção de cartões compoucas unidades de crédito, essenciais para a população de baixarenda;· alta imunidade a fraudes - processo de fabricação complexo, viávelapenas em larga escala, dificultando fraudes domésticas. Cartõesfalsificados são reconhecidos pela leitora indutiva;· fino e flexível - apenas 0,4mm de espessura;· imune a fatores externos - O cartão não é afetado pela presença decampos eletromagnéticos dispersos, poeira, umidade, calor, mare-sia, raios ultravioleta e raios-X;· descartável - não pode ser regravado. O material é reciclável;· facilidade de uso - não exige posição específica para ser inserido naleitora;· simplicidade - não necessita de contato mecânico entre aleitora e o cartão ou de movimentação interna para a operaçãode leitura;· comodidade - estão disponíveis atualmente cartões com 90, 75,50, 35 e 20 unidades de crédito.

Quadro 13Cartão telefônico indutivo

mediadas por sistemas eletrônicos. A introdução deinovações no setor de telecomunicações continuaseguindo o seu curso, condicionada não apenas peloprocesso endógeno de P&D e de engenharia, mastambém por uma significativa transformação insti-tucional, caracterizada pela quebra de monopólio epela introdução da competição e da progressivaampliação dos serviços de telecomunicações.

• • • • • A inovação em serviços

A questão da inovação em serviços, isto é, do usoadequado da tecnologia, capaz de transformar recur-sos técnicos de Telecomunicações e Tecnologia deInformação (T&TI) (hardware e software) em riquezaeconômica e benefício social, deve ser estudada emmaior profundidade. Hoje, o entendimento no setoré que o mero transporte de bits está se tornando umacommodity, exigindo dos atores na cadeia de valor dacomunicação novos posicionamentos e composiçãode tecnologias já existentes e inovadoras para a agre-gação de valor aos serviços.

Neste contexto, é importante ressaltar que, em umasociedade da informação, a importância econômicado conhecimento não se traduz apenas no desen-volvimento de produtos ou de tecnologia per se, se-jam eles de hardware ou de software. Um ponto fun-damental para alavancar o progresso na direção deuma sociedade baseada em oportunidades equita-tivas de acesso à informação e à construção de re-des de conhecimento reside na inovação em servi-ços. A despeito de sua nítida importância, esta áreacostumava ser subestimada, e, mesmo hoje, a dinâ-mica deste processo não é suficientemente compre-endida. O provimento de serviços baseados emT&TI necessita de um tripé formado pela infra-es-trutura de redes e plataformas, pelos procedimentose rotinas característicos do serviço propriamente dito

Page 229: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

203

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

e pela dimensão relacional intrínseca que existe entreo usuário e o serviço. Percebida dessa forma, as ati-vidades de pesquisa e desenvolvimento deverãotranscender as divisões tradicionais em especialida-des acadêmicas, tornando-se, cada vez mais, inter-disciplinares e incorporando, desde o início, aborda-gens sociotécnicas. O uso adequado da tecnologiaadequada talvez represente o maior desafio para queas políticas públicas em Ciência e Tecnologia pro-porcionem um benefício claro a todos os setores dasociedade.

Biotecnologia

O termo biotecnologia refere-se a um conjunto am-plo de tecnologias habilitadoras e potencializadoras,envolvendo a utilização, a alteração controlada e aotimização de organismos vivos ou suas partes, cé-lulas e moléculas para a geração de produtos, pro-cessos e serviços. A biotecnologia e suas novas fer-ramentas de manipulação e transferência gênicaabrem novas perspectivas de potencialização dosmétodos tradicionais de melhoramento genético eexploração da biodiversidade e variabilidade genética.Isto permite o rápido e preciso desenvolvimento deplantas e animais melhorados, de medicamentos eoutros aplicativos, com grande diversidade de atri-butos, com rapidez e escala nunca imaginadas. Osresultados de seu desenvolvimento são utilizados pordiversos setores, como saúde, agroindústria e meioambiente, e envolvem áreas do conhecimento comobiologia molecular, genética, fisiologia, microbiolo-gia, química, engenharia de alimentos, entre outras.Considerando sua abrangência, a biotecnologia per-meia inúmeros segmentos industriais, utilizando téc-nicas inovadoras e promovendo revoluções no tra-tamento de doenças, no uso de novos medicamentospara aplicação humana e animal, na multiplicação e

reprodução de espécies vegetais e animais, no desen-volvimento e melhoria de alimentos, na utilizaçãosustentável da biodiversidade, na recuperação e tra-tamento de resíduos, entre outras áreas com potencialcrescente de aplicação.

Um grande número de nações considera que, no sé-culo XXI, o domínio da biotecnologia terá papel re-levante na determinação da competitividade, desen-volvimento econômico e qualidade de vida, levando-as a apoiar, com alta prioridade, investimentos estra-tégicos nessa área. Exemplo mais marcante é o darede americana de pesquisa biotecnológica, que vempriorizando diversos ramos estratégicos da biologiaavançada, como o conjunto de programas do ProjetoGenoma Humano – o mais extenso e o que recebe omaior volume de verbas públicas –, sendo fortemen-te centrado no setor de pesquisas em ciências bio-médicas. No grupo das pesquisas microbiológicas,há esforços para determinar as bases genéticas dosefeitos patogênicos de microorganismos e as formasde interação ambiental destes seres. Outro grupocompõe as pesquisas na agricultura, que visam pro-duzir novos cultivares e raças de animais, entendere bloquear ações adversas originárias do ambienteou de parasitas sobre processos de produção agro-pecuária e florestal.

O Brasil está acompanhando esta evolução, com oseqüenciamento de genes aplicado à saúde e agri-cultura, a exemplo do estudo da Xylella fastidiosa, co-ordenado pela Fapesp; do projeto Genoma Brasi-leiro, destinado a sequenciar a bactéria Chomobacteriumviolaceum; e da implantação de redes regionais de pes-quisa em genômica, com o apoio do MCT e das Fun-dações Estaduais de Amparo a Pesquisa. O Programade Biotecnologia e Recursos Genéticos do MCT bus-ca elevar o nível de competitividade científica e tec-

Page 230: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

204

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

nológica do País a patamares equiparáveis aos depaíses desenvolvidos. Ele busca acelerar os meca-nismos de transferência ao setor produtor de bens eserviços dos conhecimentos e tecnologias geradoscom vistas à inovação e à melhoria de produtos, pro-cessos e serviços biotecnológicos de interesse sociale econômico.

O cenário para a biotecnologia no Brasil é promissor,e o progresso nesta área pode ser acelerado, se houveresforços conjugados entre o governo, a comunidadecientífica e a empresarial no desenvolvimento de pro-jetos conjuntos, na formação de parcerias produtivas,na criação de ambiente favorável a novos investi-mentos e no desenvolvimento ou adaptação de tec-nologias com o objetivo de ampliar a competitividadee dinamizar o mercado de produtos biotecnológicos.

O mercado brasileiro de biotecnologia, abrangendo osvários setores econômicos e todas as categorias deprodutos biotecnológicos, movimentou no ano de 2000cifras da ordem de US$500 milhões, e conta com aparticipação de cerca de 120 empresas de base biotec-nológica, a maioria ligada às universidades.

Diversos condicionantes podem limitar a aplicaçãoda biotecnologia nos países em desenvolvimento, es-pecialmente a escassez de recursos financeiros, a fal-ta de informação, a infra-estrutura de pesquisa e deserviços tecnológicos deficientes, o acesso limitadoà tecnologia, seus possíveis efeitos na biodiversidadee no meio ambiente, suas implicações na segurançaalimentar e em fatores socioeconômicos. No entan-to, é em países em desenvolvimento que esta tecno-logia pode ter maior impacto, especialmente do pontode vista de segurança alimentar e nutricional e daqualidade ambiental.

O documento do MCT sobre a definição de diretrizespara biotecnologia e recursos genéticos, preparadopela equipe do Ministério e discutido com diversosespecialistas, aponta sete ações estratégicas para oPaís nos próximos dez anos. São elas:

• Formação e capacitação de Recursos

Humanos para Biotecnologia

Há hoje no Brasil cerca de 1.700 grupos de pesquisaatuando nas diversas áreas do conhecimento relacio-nadas à biotecnologia, localizados, principalmente,nas universidades e instituições públicas (Diretóriode Grupos de Pesquisa IV – CNPq). Estes gruposintegram mais de 6.700 pesquisadores, além de maisde 16 mil estudantes e estagiários, distribuídos porcerca de 3.800 linhas de pesquisas e concentrados,em sua maioria, na região Sudeste do País.

Com relação às empresas de base biotecnológica, nãoexistem dados estatísticos exatos, mas sabe-se que épequeno o número de pesquisadores e de técnicos es-pecializados, nelas exercendo atividades de P&D.Estima-se que cerca de 30% das empresas de base bio-tecnológica existentes no País apresentem os requisitosfundamentais para desenvolver atividades de P&D.

Considerando o caráter multidisciplinar da biotecno-logia, esta ação deverá estruturar-se para atender ademandas diversificadas, induzindo a formação de re-cursos humanos em diversas áreas do conhecimentonas diferentes modalidades, incluindo o apoio à pós-graduação, os estágios de curta e média duração parao aprendizado de técnicas biotecnológicas e o in-tercâmbio nacional e internacional de pesquisadores.

• Expansão da base do conhecimento

Na área de ciências da vida, que engloba a maioriadas subáreas do conhecimento relacionadas à biotec-

Page 231: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

205

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

A Lei de Biossegurança foi promulgada no ano de 1995 e estabele-ceu as diretrizes para o controle das atividades e produtos origina-dos pela moderna biotecnologia, conhecida como tecnologia do DNArecombinante. A CTNBio, vinculada ao Ministério da Ciência eTecnologia, é composta por trinta e seis membros entre titulares esuplentes: oito especialistas de notório saber científico e técnico,em exercício no segmento de biotecnologia; um representante decada um dos seguintes ministérios – Ciência e Tecnologia, Saúde,Meio Ambiente, Educação, Relações Exteriores –, dois represen-tantes do Ministério da Agricultura; um representante de órgãolegalmente constituído da defesa do consumidor; um representan-te de associações legalmente constituídas, representativas do setorempresarial de biotecnologia e um representante de órgão legal-mente constituído de proteção à saúde do trabalhador.

Entre as competências da CTNBio está emitir parecer técnico so-bre qualquer liberação de Organismo Geneticamente Modificado(OGM) no meio ambiente e acompanhar o desenvolvimento e oprogresso técnico e científico na biossegurança e áreas afins,objetivando a segurança dos consumidores e da população em geral,com permanente cuidado à proteção do meio ambiente. Desta for-ma a CTNBio se pronuncia sobre qualquer atividade com OGMs nopaís, previamente a sua realização.

A Lei de Biossegurança estabelece ainda que compete aos órgãosapropriados do Ministério da Saúde, do Ministério da Agricultura e

do Ministério do Meio Ambiente a fiscalização e monitorização dasatividades com OGMs, no âmbito de suas competências, bem comoa emissão de registro de produtos contendo OGMs ou derivados, aserem comercializados ou a serem liberados no meio ambiente.

Desta forma, além do controle habitual que sofrem os produtosproduzidos por outras tecnologias, os produtos geneticamentemodificados ("transgênicos") estarão sujeitos a um controle adicio-nal feito pela CTNBio, sob o aspecto biossegurança. Esses procedi-mentos garantirão que, ao serem colocados no mercado esses pro-dutos, tenham as mesmas características de segurança, inocuidadee eficácia exigidas também para os produtos convencionais.

Atualmente o Brasil se destaca no cenário internacional pelo extre-mo rigor com que tem conduzido as pesquisas neste setor. Entre aslinhas de pesquisa desenvolvidas no País estão o estudo experi-mental de variedades de vegetais geneticamente modificadas, avalia-ção de risco de organismos geneticamente modificados nos setoresambiental e saúde humana, participando em diversos programasinternacionais, relacionados à questão de biossegurança.

O Brasil estará propondo brevemente uma política nacional debiossegurança e o estabelecimento de um código de ética em mani-pulações genéticas, o que envolverá ampla discussão com os diver-sos segmentos da sociedades interessados na matéria.

Quadro 14Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio

nologia, o volume de publicações brasileiras em re-vistas indexadas, de 1981 a 1996, corresponde a maisde 41 mil artigos, sendo maior que o total das publi-cações feitas pelos demais países do continente sul-americano no mesmo período. Entretanto, mesmoconsiderando este número expressivo, ainda é ne-cessário expandir a base do conhecimento da bio-tecnologia para responder às necessidades do País emelhorar o desempenho do segmento em questão.

Outras áreas científicas têm contribuído para avan-ços significativos na biotecnologia, entre eles novosmétodos de estudo da nanociência e nanotecnologia,além da engenharia tecidual e biomimética. Na áreade terapêutica, por exemplo, são relevantes as tec-nologias de microencapsulação de drogas para obtercarreadores de fármacos, que, controlando a libera-

ção da substância ativa em dose e tempo otimizados,aumentam a eficácia do medicamento e reduzem seusefeitos colaterais.

• Suporte ao desenvolvimento da biotecnologia

Para assegurar o desenvolvimento do setor biotec-nológico nacional, é imprescindível a implementaçãode uma ação específica para dar o suporte funcionalaos vários setores da biotecnologia de diferentes ní-veis de complexidade e para disponibilizar os recur-sos primários e os instrumentos necessários ao de-senvolvimento da pesquisa e da indústria de basebiotecnológica.

Neste sentido, deve-se fortalecer a infra-estrutura na-cional de pesquisas e serviços por meio da criação decentros de referência em bioinformática e de um la-

Page 232: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

206

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

• Biotecnologia para o uso sustentável

da biodiversidade

Os impactos provocados pelo desenvolvimento tec-nológico e industrial e pela expansão das fronteirasagrícolas, o uso irrestrito de pesticidas, a devastaçãodas florestas, o aumento do número das espécies emextinção, as denúncias de biopirataria e os riscos ine-rentes à transgênese, entre outros, passam a comporos temas de debate entre países e organizações não-governamentais, influenciando o processo decisóriona busca de dispositivos e mecanismos para evitar odesequilíbrio ecológico.

boratório nacional de biologia molecular, do forta-lecimento e ampliação das coleções de cultura de mi-croorganismos e de células e tecidos humanos e animais,do apoio aos bancos de germoplasma e de todas ascomplexas atividades relacionadas a biossegurança.

O desenvolvimento de organismos modificadosgeneticamente está impondo à sociedade e às institui-ções que os desenvolvem a necessidade de contarcom um processo de avaliação da segurança dessesprodutos. Em 1995, a Lei de Biossegurança esta-beleceu diretrizes para o uso de técnicas de enge-nharia genética e a liberação no meio ambiente deOrganismos Geneticamente Modificados (OGMs).Foi criada também a Comissão Técnica Nacional deBiossegurança (CTNBio), vinculada à Secretaria Exe-cutiva do MCT e responsável por estabelecer nor-mas e regulamentos relativos aos projetos e atividadesque envolvam OGMs.

É necessário continuar as pesquisas destinadas a fun-damentar os processos de avaliação de riscos e todosos aspectos relativos a biossegurança, bem como de-senvolver capacitação técnica nacional para realizartodos os testes que respondam às exigências desegurança dos consumidores.

• Estímulo à formação de empresas de base

biotecnológica e à transferência de tecnologias

para empresas consolidadas

O objetivo primordial desta ação é acelerar a expan-são da base biotecnológica do País por meio do for-talecimento das pesquisas em tecnologias avançadase da criação de novas empresas de pequeno e médioporte, propiciando-lhes apoio técnico-científico, re-cursos e ambiente favorável às fases iniciais de orga-nização, produção e habilitação para o mercado.

Vitória é o primeiro animal brasileiro resultante da tecnologia datransferência nuclear, ou clonagem. É uma bezerra da raça Simentalque nasceu no dia 17 de março de 2001, no campo experimentalSucupira “Assis Roberto de Bem”, pertencente à Embrapa RecursosGenéticos e Biotecnologia. Vitória é, literalmente, uma vitória daspesquisas em reprodução animal do Brasil e da Embrapa, que tive-ram início em 1984, com o objetivo de viabilizar o Banco Brasileiro deGermoplasma Animal. Foi utilizada a técnica de Transferência deEmbriões (TE), que permite a uma só doadora, geneticamente supe-rior, gerar até doze bezerros por ano. Os benefícios econômicos dodomínio desta técnica são imensos, pois permitirão a aceleração doprocesso de melhoria genética do rebanho bovino brasileiro.

Quadro 15Vitória da biotecnologia

Page 233: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

207

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

• Cooperação internacional

Na área de biotecnologia, exemplos expressivos decooperação podem ser citados, como o Centro Brasi-leiro-Argentino de Biotecnologia, em funcionamentohá mais de treze anos, promovendo inúmeros cursosde curta duração além de projetos conjuntos; a co-operação com a Alemanha, por meio de programasespecíficos como o Gesellschaft für BiotechnologischeForschung (GBF-biotecnologia); com a França, por meioda cooperação como o Institut National de la Santé etde la Recherche Médicale (INSERM) e CYRAD; e aindao Labex/Embrapa que vem funcionando em estrei-ta cooperação com o ARS/USDA.

• Prospecção, monitoramento e estudos em

biotecnologia

O avanço tecnológico e a dinâmica do processo deglobalização têm acarretado uma série de mudançasnas relações entre países, envolvendo novos interes-ses comerciais e disputas por novas tecnologias. Diantedeste cenário, os estudos prospectivos constituemmecanismos eficazes para a análise das tendências,permitindo indicar possíveis desenvolvimentos de no-vas tecnologias de pesquisa e de produção, bem co-mo de seus desdobramentos em termos de impactosmercadológicos e dos riscos que lhes são inerentes.

Tecnologia espacial

As atividades espaciais no Brasil justificam-se por trêsrazões: sua importância estratégica, seu elevado con-teúdo tecnológico e seu caráter multidisciplinar, envol-vendo alguns dos segmentos mais avançados da enge-nharia, assim como e pelo potencial das aplicaçõesde tecnologias espaciais na solução de problemas asso-ciados às características geográficas e econômicas bra-sileiras. Estas incluem as dimensões continentais doPaís, suas extensas fronteiras e zona costeira, as amplas

regiões de floresta tropical e as grandes áreas de di-fícil acesso e de baixa densidade populacional, alémde vastos recursos naturais insuficientementemapeados e monitorados.

O Brasil possui extensa infra-estrutura espacial que,além de centros de lançamento, inclui instalações deintegração e testes de foguetes e satélites, centros demissão e de controle de satélites, estações de solo, obser-vatórios e laboratórios de pesquisa. Essa infra-estruturadeverá ser mantida, modernizada e ampliada, paraatender às necessidades de um programa nacional.

Os setores aeronáutico e espacial brasileiros são umdos melhores exemplos no País de uma política delongo prazo: criação de uma escola (Instituto Tecno-lógico de Aeronáutica – ITA) e logo de institutos deP&D dentro de um mesmo centro (Centro Tecnoló-gico Aeronáutico, hoje Aeroespacial - CTA) ou namesma região (Instituto Nacional de Pesquisas Espa-ciais - INPE), de laboratórios em seqüência ao desen-volvimento de competências locais e, finalmente, acriação de empresas, das quais a Embraer é a maior.

O Programa Espacial Brasileiro, cujos primórdiosdatam do início dos anos sessenta, depende quaseque exclusivamente de verbas do orçamento públicofederal, característica comum aos programas espa-ciais em todo o mundo. Os recursos públicos fede-rais sofreram reduções sucessivas a partir de mea-dos da década de oitenta, impondo ao Programa atra-sos e alterações de rota.

A criação em 1994 de uma agência federal de carátercivil, a Agência Espacial Brasileira (AEB), a apro-vação no mesmo ano da Política Nacional de Desen-volvimento das Atividades Espaciais (PNDAE) e apromulgação de um Plano Nacional de Atividades

Page 234: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

208

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Espaciais (PNAE), de alcance decenal, geraram aexpectativa de que as atividades do Programa reto-mariam níveis de execução adequados. O orçamentopara o PNAE praticamente dobrou de 2000 para2001, e o Fundo Espacial, recentemente aprovadopor iniciativa do Ministério, já consegue atrair os pri-meiros recursos adicionais, provenientes da privati-zação de posições orbitais destinadas a satélites decomunicações.

As aplicações espaciais priorizadas no PNAE estãodiretamente relacionadas à solução de problemas na-cionais nos campos de observação da terra (agricul-

PNAE E SEUS ATORES PRINCIPAIS: AEB, INPE E DEPEDO Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), multissetoriale de longo prazo, objetiva capacitar o País para desenvolver e utili-zar tecnologias espaciais na solução de problemas nacionais e embenefício da sociedade brasileira.

Em sua concepção atual, o PNAE é definido para um horizontedecenal em documento aprovado em 1996 e atualizado periodica-mente pela Agência Espacial Brasileira (AEB). Contudo, muitas dasatividades centrais do Programa iniciaram-se efetivamente em 1980,com a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). Projeto desa-fiador e de longo prazo, a MECB, reconhecendo como necessáriodotar o Brasil de meios próprios de acesso ao espaço, fixou comoobjetivos desenvolver quatro pequenos satélites de aplicações, umveículo lançador de satélites e uma base de lançamentos, promo-vendo, no processo, a capacitação da indústria brasileira no setor ea qualificação de equipes técnicas especializadas.

As ações do PNAE balizam-se por objetivos e diretrizes estabele-cidas na Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espa-ciais (PNDAE), documento aprovado por decreto de 1994. Sua exe-cução dá-se no âmbito do Sistema Nacional de Desenvolvimentodas Atividades Espaciais (Sindae), no qual a AEB atua como elemen-to de coordenação central e onde o Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE) e o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimen-to (Deped) do Comando da Aeronáutica atuam como órgãossetoriais.

Cabe à AEB, autarquia vinculada ao MCT, como órgão central do

Quadro 16O Plano Nacional de Atividades Espaciais - PNAE e seus atores principais: AEB, INPE E DEPED

2 O SSR é um satélite de sensoriamento remoto nacional de características inovadoras, concebido especialmente para o monitoramento deflorestas tropicais, e deverá operar em órbita equatorial.

Sindae, dentre outras atribuições: i) coordenar a formulação depropostas de revisão da PNDAE e de atualização do PNAE, bemcomo executar e fazer executar as ações do programa; ii) promovera cooperação internacional no âmbito das atividades espaciais, emarticulação com o Ministério das Relações Exteriores e a estruturacentral do MCT; iii) promover a regulamentação do setor, estabele-cendo normas, expedindo licenças e autorizações, bem como apli-cando padrões de qualidade aos produtos espaciais.

A AEB inclui em sua estrutura um Conselho Superior, de caráterdeliberativo, do qual participam representantes de ministériossetoriais com interesses nas atividades espaciais, além dos minis-térios da área econômica, bem como representantes da comunida-de científica e do setor industrial, todos nomeados diretamentepelo presidente da República

O INPE, órgão do MCT, é responsável por projetos de desenvolvi-mento de satélites e tecnologias associadas, bem como por pesqui-sa e desenvolvimento no campo das ciências e das aplicações espa-ciais - onde se destacam as áreas de observação da terra, coleta dedados ambientais e meteorologia por satélites.

O Deped, vinculado ao Comando de Aeronáutica do Ministério daDefesa, incumbe-se do desenvolvimento de lançadores de satélitese de foguetes de sondagem, por meio do Instituto de Aeronáutica eEspaço (IAE), órgão do Centro Técnico Aeroespacial (CTA).O Deped é também responsável pela implantação e operação doCentro de Lançamento de Alcântara (CLA) e pela operação do Cen-tro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI).

tura, meio ambiente, recursos naturais e organiza-ção territorial), meteorologia, oceanografia, comu-nicações, geodésia e navegação. A Amazônia temtido e continuará a merecer tratamento prioritário,devendo-se destacar iniciativas visando estimar astaxas de desmatamento da região, detectar queimadasvia satélite e contribuir para o projeto de Zonea-mento Econômico Ecológico por meio de sensoria-mento remoto. O desenvolvimento de ferramentasde processamento de imagens e de sistemas de in-formações geo-referenciadas constitui também im-portante linha de atuação deste subprograma. Ou-tro projeto interessante de aplicação espacial é a im-

Page 235: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

209

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

plantação e operação da rede de plataformas de coletade dados ambientais, que já inclui cerca de 400 uni-dades, distribuídas por todo o território nacional ealguns países vizinhos, contribuindo diretamente paraa melhoria das operações do sistema hidrelétrico edos sistemas de previsão do tempo e do clima.

Os esforços nacionais de capacitação em projeto, de-senvolvimento e fabricação de satélites iniciaram-seem 1980, tendo por resultado, dois pequenos saté-lites de coleta de dados, o SCD-1 e SCD-2, lançadoscom grande êxito em 1993 e 1998, respectivamente.Ambos permanecem operacionais – um feito notável,considerando-se que o SCD-1 foi projetado para umavida útil de um ano. Em continuidade a esses projetos,encontram-se em fase inicial de desenvolvimento umpequeno satélite de sensoriamento remoto, SSR2, eum terceiro satélite de coleta de dados, SCD-3, con-

O CBERS (Chinese-Brazilian Earth Resources Satelite) é uma associa-ção do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), pelo ladobrasileiro, com a CAST (Chinese Academy of Space Technology), pelolado chinês, que objetiva o desenvolvimento de um sistema completode sensoriamento remoto competitivo e compatível com os pa-drões mundiais. Incluem-se, em seus objetivos, a concepção, pro-dução e operação de dois satélites de observação da Terra, seusrespectivos lançadores e uma estação de controle de solo em cadapaís participante.

O programa de cooperação teve início em 1988, com a assinaturade um acordo de cooperação tecnológica entre os dois países, edeve concluir-se em 2002 com a colocação em órbita do segundosatélite a partir do lançador chinês "Longa Marcha". O primeirogrande marco do programa foi alcançado com o lançamento do CBERS1 pelo foguete chinês Longa Marcha, em outubro de 1999. O saté-lite funciona hoje em regime operacional. O segundo satélite,CBERS-2, encontra-se em fase final de integração e testes no Labo-ratório de Integração e Testes (LIT) do INPE.

Esses satélites têm como principais funções inventariar e monitoraros recursos terrestres da China e do Brasil nas áreas de agricultura,cartografia, controle de desmatamento, geologia, hidrografia, meio

Quadro 17Programa China-Brasil de Desenvolvimento de Satélites (CBERS)

ambiente e meteorologia, contribuindo para o gerenciamento e pre-servação efetivos dos mesmo. Trata-se, assim, de um programa civilque visa dotar o Brasil de autonomia tecnológica para o gerenciamentode seus recursos terrestres. Na consecução deste objetivo, o pro-grama fomentou a produção industrial nacional da área espacial ecapacitou o INPE para a concepção, montagem, lançamento e opera-ção de satélites de sensoriamento remoto de grande porte.

O custo total da parte brasileira do programa é estimado em apro-ximadamente US$ 100 milhões, distribuídos em 27% para despe-sas no âmbito do Instituto, 39% para contratos com a indústrianacional, 1% para contratos de P&D com instituições de ensino epesquisa nacionais e 33% em aquisições e contratos no exterior.O CBERS teve papel decisivo para capacitar tecnologicamente osfornecedores nacionais. Participaram da parte brasileira do pro-grama 24 fornecedores, dos quais 21nacionais.

Em função do êxito obtido com a construção dos dois primeirossatélites, os governos da China e do Brasil decidiram dar continui-dade ao programa de cooperação entre os dois países. Para a novafase, programa-se a construção de mais dois satélites, os CBERS 3e 4, estando previsto o aumento da participação brasileira para50% do custo do projeto.

cebido também para executar outras aplicações espe-cíficas de comunicações em órbita baixa. Em 1988, oBrasil e a China iniciaram o desenvolvimento con-junto de dois satélites de sensoriamento remoto(China-Brazil Earth Resources Satellite – CBERS).

Desde o início dos anos setenta, o Brasil vem realizan-do um esforço de longo prazo para capacitação emveículos lançadores de satélites (VLS), tendo comoresultado o desenvolvimento de uma bem sucedida fa-mília de foguetes de sondagem, denominada Sonda.

A tecnologia desenvolvida para os foguetes de son-dagem serviu de base para o subprograma de lança-dores de satélites. O VLS-1, primeiro veículo lança-dor de satélites brasileiro, encontra-se em fase dequalificação. Utilizando apenas combustível sólido,destina-se à colocação de satélites de até 300kg em

Page 236: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

210

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

órbita baixa. Testado em vôo em duas oportunida-des em que se verificaram falhas, tem mais dois lan-çamentos de qualificação programados até 2003,estando prevista a participação mais intensa da in-dústria nacional nesta fase final do projeto.

O desenvolvimento de lançadores terá continuidadecom o projeto de veículo capaz de colocar, em órbitabaixa, satélites com massa em torno de 600kg, ocu-pando nicho com reais possibilidades de mercado.Este veículo utilizará, provavelmente, um motor acombustível líquido, devendo ser objeto de coope-ração internacional.

O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) estásendo implantado desde 1984 e encontra-se atualmen-te preparado para lançar foguetes de sondagem e veí-culos lançadores de satélites de pequeno porte.A posição geográfica do CLA – localizado muito próxi-mo à linha do equador, em uma península na costa doMaranhão – aumenta as condições de segurança e per-mite economia de combustível, tornado-o atraentepara o lançamento de satélites estrangeiros em basescomerciais, um mercado novo e bastante promissor.

Em que pesem os resultados positivos, deve-se notarque na década de noventa o INPE e os programas deveículos lançadores sofreram um processo de perdade recursos humanos qualificados e de desatualiza-

ção dos laboratórios e parques tecnológicos. Isto acon-teceu em parte pelas condições de financiamento jámencionadas. A reversão deste processo já foi inicia-da pelas várias iniciativas aqui citadas, que deve-riam constituir-se em prioridades para o futuro pró-ximo.

• • • • • Ações em CT&I na área espacial

É possível identificar um conjunto de ações emCT&I para o fortalecer o desenvolvimento tecnoló-gico e a capacidade de aprendizagem para inovaçãono setor aeroespacial: i) concentração dos esforçosgovernamentais em programas de longo prazo de de-senvolvimento tecnológico nacional; ii) expansão,manutenção e adequação da infra-estrutura neces-sária para o setor; iii) apoio e fomento das atividadestecnológicas que privilegiem ou produzam condiçõesde isonomia competitiva às fornecedoras nacionaisfrente aos seus concorrentes estrangeiros, inclusiveem programas de normalização e certificação; iv) in-centivo à participação empresarial no financiamentode sistemas espaciais destinados à prestação de ser-viços em bases comerciais; v) utilização da políticade compra governamental por meio de programascooperativos e transitórios, estimulando a formali-zação das interações de aprendizado e eficiência co-letiva entre os agentes; vi) promoção do adensamen-to da rede local através do fortalecimento das re-lações de cooperação tecnológica, extraindo vanta-

Page 237: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

211

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

gens logísticas do efeito de aglomeração espacial;vii) estímulo às atividades de pesquisa e desenvol-vimento mediante a constituição de laboratórios emempresas que disponham de capacidade inovadorabem como do incentivo à utilização compartilhada,por tais empresas, das infra-estruturas laboratoriaisdas instituições governamentais; viii) fomento de cen-tros, instituições e escolas técnicas de formação pro-fissional, especialização técnica e de nível superior;ix) promoção da modernização do arcabouço institu-cional e revitalização das instituições governamen-tais do setor, particularmente o INPE, o CTA, o CLAe o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno –CLBI; x) promoção de projetos de cooperação no âm-bito da ciência, das aplicações e da engenharia, bemcomo da tecnologia de sistemas espaciais, privilegian-do parcerias com países em estágio de desenvolvi-mento semelhante ao do Brasil, nas quais as relaçõesde troca possam ser equilibradas e mutuamente be-néficas; xi) promoção da constituição e consolidaçãode núcleos universitários atuantes no desenvolvimentoe na utilização da ciência e das tecnologias espaciais.

Tecnologia aeronáutica

O desenvolvimento da indústria aeronáutica no Brasil,de forma articulada, como já referido, começa na décadade quarenta, com a criação do Centro de TecnologiaAeronáutica (1945) e do seu primeiro instituto, o Insti-tuto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que contouna sua origem com a cooperação de professores doMassachussets Institute of Technology (MIT - EUA). Em1971, foi criado o INPE, e dois anos após deu-se afundação da Embraer. Talvez este seja um caso exem-plar e pioneiro de política de desenvolvimento de umSistema Local de Inovação ou até mesmo de um "clusterconstruído" por políticas públicas articuladas.

Este Pólo de Desenvolvimento de Pesquisa e Tecno-logia gerou resultados extremamente positivos. Em1994, quando a Embraer foi privatizada, já haviaproduzido mais de 2.500 aeronaves e faturado maisde US$10 bilhões. Ela é hoje a quarta maior empresado mundo no setor aeronáutico e o maior exportadorindividual do País.

Em 2000, o Setor Aeroespacial Brasileiro foi respon-sável pelo faturamento de US$3,2 bilhões, sendo 74%desse total gerados no mercado externo, e pelo empregode cerca de 20 mil trabalhadores, dos quais 14 mil emempregos diretos. Os gastos médios anuais em P&Ddo setor nos últimos cinco anos giram em torno de 8%do faturamento das empresas, bastante superior à médianacional da indústria de transformação.

Em 1999, foram investidos pela Embraer US$83milhões em P&D. Neste mesmo período, cerca de1.000 pessoas se dedicavam a atividades de P&D.A empresa é o principal exemplo do potencial eco-nômico da tecnologia aeronáutica. As vendas de 480unidades de cada tipo de aeronave ERJ-145 e ERJ-135 gerará um valor de aproximadamente US$13 bi-lhões e milhares de postos de trabalho.

A vinda de fornecedores da empresa para o Brasil, oaumento da produção nacional de componentes im-portantes dos aviões produzidos pela empresa, inclusi-ve no setor de aviônica, e a continuação do esforçode P&D em redes cooperativas com universidades ecentros de pesquisa completam o quadro positivo daevolução da indústria aeronáutica brasileira.

Tecnologia nuclear

A manutenção de uma capacidade científica e tecno-lógica própria na área nuclear é crítica para o desen-

Page 238: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

212

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

volvimento de competências na fronteira da utiliza-ção da energia nuclear para geração de eletricidade,assim como para a identificação de novas oportuni-dades tecnológicas e novas demandas de aplicaçãonuclear na medicina, agricultura, recursos hídricos,monitoração do meio ambiente, processos industriaise em novos materiais. Assim, diretrizes para osdiferentes campos devem ser estabelecidas, incluin-do aquelas referentes à formação, capacitação e aper-feiçoamento dos recursos humanos necessários aocompleto desenvolvimento do setor, o que obriga-toriamente inclui a segurança das atividades, a pro-teção da população, dos trabalhadores e do meioambiente, e têm como premissas básicas a transpa-rência e garantia do uso pacífico da energia nuclear.

• • • • • Energia nuclear

O desafio energético será responsável por mudançasconsideráveis no desenvolvimento global no futuropróximo e por novas fontes de energia ou pela utili-zação otimizada, segura e ambientalmente aceitáveldas atuais, o que demandará esforços da Ciência eTecnologia para satisfazer os requisitos da sociedade.Os combustíveis fósseis (óleo, carvão e gás) conti-nuarão sendo utilizados de forma intensiva, e as ener-gias renováveis, tais como a hidroeletricidade e abiomassa, prevalecerão como fontes de energia elé-trica não-fóssil. A energia nuclear, via fissão térmica,ocupa um espaço considerável na matriz energéticamundial (17%). Atualmente, existem 438 reatoresnucleares em operação e 31 em construção. Em paísescomo a França, Bélgica, Ucrânia e Lituânia, a geraçãonúcleo elétrica é a predominante (acima de 70%), epaíses como o Japão, China, Coréia e Índia possuemprogramas nucleares de grande porte para o curto,médio e longo prazos. Os EUA, que possuem o maiorparque nuclear mundial (104 reatores, 97.411 MWe),onde não se instalavam novos reatores desde fins dadécada de setenta, estão revertendo sua posição emanifestaram internacionalmente a decisão daretomada da construção de novas centrais nucleares,bem como dos programas de P&D visando à geraçãofutura de reatores nucleares (Nuclear Energy ResearchInitiative - NERI, Generation IV etc). A maior ou menorparticipação de cada uma dessas fontes de energiaestará condicionada ao seu desempenho ambiental,principalmente à emissão de gases causadores do efeitoestufa, notadamente CO2, à aceitação pública e àcompetitividade e aos riscos financeiros. Além dageração de eletricidade, a tecnologia nuclear apresentaum diversificado e importante papel nas áreas dasaúde, indústria, engenharia e meio ambiente.

Dentre as aplicações de larga escala de técnicas nucleares no Brasil,a mais visível é a medicina nuclear para diagnóstico e terapia dediversas doenças, cujo número de procedimentos médicos realiza-dos em 2.000 foi da ordem de 1,7 milhões e que cresce anualmentea uma taxa de 12 a 15%. No segmento industrial de irradiação, háno País 6 irradiadores gama comerciais de grande porte e váriosoutros de pequeno porte que são utilizados para a esterilização deprodutos médico-cirúrgicos e tecidos humanos e também para amelhoria de qualidade sanitária de produtos fitoterápicos, especia-rias, frutas e alguns ingredientes alimentícios. Os aceleradores in-dustriais de elétrons são usados, principalmente, para melhorar aspropriedades de materiais poliméricos particularmente os isolan-tes de fios e cabos e componentes de pneus. Outra aplicação bas-tante difundida é a gamagrafia, aplicada por mais de 20 empresasprestadoras de serviços utilizando-a nos ensaios não destrutivos,principalmente, na indústria petrolífera e química. No campo dosrecursos hídricos, estas técnicas avaliam o movimento das águassubterrâneas e o potencial dos aquíferos para o abastecimento dapopulação. Na produção do petróleo são empregadas para otimizara exploração dos campos petrolíferos. Os reatores nucleares depesquisa e aceleradores de partículas possibilitam a produção deradioisótopos e a irradiação de amostras que viabilizam inúmerastécnicas nucleares. A técnica de análise por ativação possui grandeseletividade, sensibilidade e exatidão, tornando-a muitas vezes úni-ca em aplicações nas áreas da saúde, meio ambiente e estudos demateriais.

Quadro 18Aplicações de larga escala de técnicasnucleares no Brasil

Page 239: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

213

Capítulo 5 - Desafios Estratégicos

O Brasil possui duas usinas nucleares em operação:Angra I e Angra II, responsáveis pelo fornecimentode aproximadamente 1960MWe de eletricidade ao sis-tema interligado da região Sudeste. Estas usinas sãooperadas pela Eletronuclear, que atualmente investena melhoria do desempenho operacional de Angra I(626MWe) através de um programa de gestão de en-velhecimento. Aguarda autorização a construção deuma terceira, Angra III, para a qual já foram adqui-ridos 70% dos equipamentos, realizado 95% do pro-jeto e também parte dos trabalhos de infra-estrutura.A viabilização da construção de Angra III consolidaráa implantação da indústria nuclear no Brasil. Paraatender à demanda de combustível a longo prazo, oPaís já é detentor da sexta reserva mundial de urânio,embora a maior parte de seu território não tenha sidoprospectada. Atualmente o País continua contratando,no exterior, os serviços de conversão, por conveniên-cia econômica, e os de enriquecimento de urânio, atéque fiquem prontas as instalações industriais de ultra-centrifugação, ora em construção em Resende. Emum horizonte de médio e longo prazos, o Brasil temespecial interesse nos temas relacionados aos reatorese ciclos de combustível de quarta geração, com instala-ções de concepção intrinsecamente segura, que mini-mizam a produção de rejeitos, aumentam a eficiênciado combustível e permitem a utilização do tório.

Além de fonte de eletricidade, a energia nuclear temdiferentes aplicações na agricultura, medicina e in-dústria. A exigência de esterilização de certos pro-dutos comercializados no mercado mundial tende acrescer e tornar-se obrigatória. Da mesma forma, aaceitação de produtos de uso hospitalar esterilizadospor irradiação já é amplamente difundida e aceitapela sociedade, o que ainda não ocorre com a apli-cação desta mesma metodologia de esterilização paraprodutos alimentícios. Novos desenvolvimentos

ocorridos na área médica são baseados em aplicaçõesde tecnologia e energia nuclear, ampliando o campoe possibilidades de utilização.

• • • • • Ciclo do combustível nuclear no Brasil

Graças, em grande parte, a um intenso esforço dedesenvolvimento tecnológico próprio, coordenadopela Marinha do Brasil (Copesp – Coordenadoria deProjetos Especiais), o País domina hoje etapas so-fisticadas do ciclo de combustível nuclear, em parti-cular, o processo de enriquecimento isotópico de urâ-nio por ultracentrifugação. Isto torna o Brasil poten-cialmente independente da tecnologia de outras na-ções em todo o ciclo do combustível, sendo umexemplo notável da capacidade nacional de dominartecnologias estratégicas para o futuro do País.

As Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) detêm atecnologia e completaram as instalações para todasas etapas industriais economicamente significativase necessárias para a produção do combustível paraas centrais nucleares, desde a reconversão do hexa-fluoreto de urânio, a fabricação de pastilhas de com-bustível, a fabricação dos componentes e a monta-gem do elemento combustível. O enriquecimentoisotópico de urânio, empregando a tecnologia brasi-leira de ultracentrifugação, teve implantação em es-cala industrial iniciada em 2001, e seu primeiro mó-dulo deverá começar a operar nos próximos anos.Considerando-se o preço por tonelada de urânio con-tido, o valor comercial do combustível, na sua formafinal, é cerca de trinta vezes maior que o do minério.Hoje a maior parte desta agregação de valor é feitana INB, pois a parcela nacional responde por, apro-ximadamente, 60% do valor final do produto. Coma implantação da unidade industrial de enrique-cimento isotópico, cuja capacidade prevista alcança50% das necessidades atuais, a parcela nacional

Page 240: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

214

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

passará a ser de 78% no combustível de Angra I eAngra II. Em termos de produção, as instalaçõesatuais têm capacidade para suprir o dobro das ne-cessidades requeridas pelas usinas atuais.

• Pesquisa em energia nuclear

A pesquisa e desenvolvimento da tecnologia e apli-cações nucleares é realizada, principalmente, nos ins-titutos da CNEN, que foram recentemente incorpo-rados ao MCT, complementando assim a base de in-fra-estrutura de pesquisa avançada e estratégica parao País. Existem, ainda, alguns programas específicosque são realizados no Centro Tecnológico da Marinhaem São Paulo (CTM-SP). Igualmente, o Centro deEnergia Nuclear na Agricultura (CENA), da USP,localizado em Piracicaba, dedica-se à pesquisa deaplicações nucleares na agricultura. Uma expansãoda competência nuclear no País, entretanto, exigiráo maior envolvimento de universidades e centros depesquisa, nos programas de interesse estratégico quevenham a ser formulados.

Uma discussão das diretrizes estratégicas para o setordeveria contemplar, entre outras questões, a geraçãonúcleo-elétrica; conservação e expansão do parquegerador no País e disposição dos rejeitos radioativos;a revisão da legislação referente aos minérios radioa-tivos; domínio do Ciclo do Combustível, tendo comoprioridade de curto prazo a concretização da usinade enriquecimento de urânio (Marinha – INB).

No campo das aplicações das técnicas nucleares, de-ver-se-ia: i) assegurar a disseminação e ampliação douso de todas as técnicas já dominadas pelo País; ii)manter o contínuo aperfeiçoamento dos segmentos emque já se alcançou o patamar dos países mais avançados;iii) acelerar o desenvolvimento daquelas aplicações jáidentificadas como de alto valor agregado e que ainda

não são dominadas; iv) manter um processo contínuode prospecção e contato com os centros mais avançados,visando identificar a direção de novos rumos daspesquisas de maior potencial para aplicação no Brasil.

Page 241: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

225

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

DESAFIOS INSTITUCIONAIS

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Page 242: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

226

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Um dos maiores desafios para aincorporação de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação à agenda da socie-dade brasileira é de ordem institu-cional. Modernamente, concei-tuam-se instituições não apenascomo organizações formais, fir-mas, órgãos governamentais e as-sociações de fins diversos, mastambém regras, normas, rotinas eprocedimentos, formais ou não.A rigor – e em um sentido maisabrangente, mas nem por isso me-nos preciso e relevante – até mesmoatitudes, hábitos e elementos denatureza cultural formam a con-cepção mais ampla de instituições.

Diretrizes estratégicas para Ciência,Tecnologia e Inovação terão de serforçosamente ousadas, em face damagnitude do que está em jogo –as opções do futuro da sociedadebrasileira. Mais ambiciosas e cria-tivas ainda terão de ser as formasde enfrentar os desafios institucio-

CIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃOCIÊNCIA, TECNOLOGIAE INOVAÇÃO

DESAFIOS INSTITUCIONAISDESAFIOS INSTITUCIONAIS

Page 243: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

227

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

nais, se quisermos atingir boa parcela dos objetivosa serem fixados para a próxima década.

Como assinalam os especialistas, a inércia é uma ca-racterística básica das instituições. E é exatamentepor isso que os anseios de mudança de uma sociedadesó se poderão realizar se forem engendradas trans-formações institucionais. Neste sentido, os desafiosinstitucionais são aqueles que remetem ao processode transformação que se quer implementar, lidandoassim com variáveis mais ou menos controláveis.

O Brasil passa por uma transição em seu marco ins-titucional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Comovimos no início deste Livro, essa transição requer aincorporação de novos atores e arranjos institucionaisque vêm juntar-se às estruturas típicas de Ciência eTecnologia. Falar em construir sistemas de inovaçãoe em construir uma sociedade para o aprendizado é,ao mesmo tempo, falar na necessidade de uma novainstitucionalidade no campo de CT&I.

Em linhas gerais, o País possui um aparato de institui-ções de pesquisa científica e tecnológica complexo esedimentado sobre bases razoavelmente sólidas. Com-putadas as organizações públicas (federais e estaduais,estatais e não estatais) e privadas (com e sem fins lu-crativos) de pesquisa, desenvolvimento e serviços emciência e tecnologia, registram-se mais de duas centenasde instituições em plena atividade e produzindo co-nhecimento com extraordinário potencial de repercus-são no aparato produtivo e nas condições de vida dapopulação. E, embora com distribuição geográfica desi-gual, estão presentes em todas as regiões do País.

Nenhuma outra nação do continente latino-ameri-cano apresenta números próximos a estes, mesmotendo-se em conta as diferenças de tamanho e po-

“A continuidade e efetividade das

pesquisas em C&T exigem novo

arcabouço legal. Há que atualizá-lo,

inclusive porque a lógica do trabalho

em C&T tende sempre a se diferenciar

da lógica com a qual opera a maioria

da burocracia estatal. Em C&T há

necessidade crescente de se trabalhar

de forma mais flexível. Há também

que aperfeiçoar a gestão: é necessário

que em C&T se passe a operar mais

por resultados, com maior

transparência e seguindo de perto a

evolução das próprias prioridades.”

Alberto Duque Portugal,Embrapa

“Há pouca probabilidade de se atrair

potencial externopotencial externopotencial externopotencial externopotencial externo de pesquisas; o

capital externo ingressa mais atraído

pelo mercado doméstico brasileiro.

Cabe gerar novos vínculos entre

Universidades, Institutos de Pesquisa e

empresas nacionais para

desenvolverem trabalhos de fato ememememem

conjuntoconjuntoconjuntoconjuntoconjunto (e não mais "em

sequência", como se pensava fazer no

passado).”

Guilherme Emrich,Biobras

Page 244: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

228

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

pulação. Mais do que isto, o Brasil caminha na di-reção de incrementar consideravelmente seu apara-to de CT&I, por vários motivos, mas, principalmen-te pela recente entrada em cena dos recursos parapesquisa provenientes dos fundos setoriais (ver dis-cussão sobre os fundos adiante).

A trajetória das instituições de CT&I, embora vir-tuosa para formação de quadros e para geração eadaptação de conhecimento, esteve pouco articuladaa duas funções vitais para integrar, efetivamente, aCiência e a Tecnologia no desenvolvimento social eeconômico do País: a articulação com o setor pro-dutivo e a participação, na medida necessária, na so-lução dos problemas sociais do País.

Esta é uma apreciação geral, um tanto sumária, dasituação da Ciência e da Tecnologia no Brasil. É su-mária porque separa elementos que estão de umaforma ou de outra associados. Por exemplo, as con-tribuições feitas pelas organizações de pesquisas agrí-cola no País (Instituto Agronômico de Campinas,Embrapa, Instituto Agronômico do Paraná, Institutode Pesquisa Agropecuária de Pernambuco, entre ou-tras), além de terem-se pautado por forte integraçãocom a produção agropecuária nacional, serviram paralegitimar, frente à sociedade, o papel de CT&I parao desenvolvimento da agricultura. Outro exemploclássico está no setor saúde, no qual organizaçõesseculares de pesquisa, como o Instituto Butantã e aFiocruz, desenvolveram vacinas, soros e outros pro-dutos absolutamente essenciais para o desenvolvi-mento econômico e social. Vários outros setores, on-de houve esforço de desenvolvimento nacional pró-prio – telecomunicações, energia elétrica, ciclo docombustível nuclear, pequenos satélites – tambémforam bem sucedidos. Infelizmente, alguns dessesesforços não tiveram a continuidade institucional de

longo prazo necessária para ultrapassar os patama-res iniciais de êxito. Finalmente, somente para lem-brar o papel das instituições de ensino e pesquisa naformação de recursos humanos altamente especia-lizados, pode-se indicar que, sem o Instituto Tecno-lógico da Aeronáutica e várias outras faculdades deengenharia, a Embraer e a Petrobras não ocupariam,hoje, posição de relevo na produção de aviões e naexploração de petróleo.

Não é correto, portanto, afirmar que inexiste articu-lação entre ensino e pesquisa, de um lado, e inovaçãoe empresas, de outro; tampouco se pode asseverarde forma tão categórica que sempre houve distan-ciamento das trajetórias do aparato de pesquisa emrelação às necessidades de desenvolvimentosocioeconômico da sociedade brasileira. Entretanto,houve um distanciamento progressivo de muitasdessas organizações em relação ao papel que hojeCiência e Tecnologia devem cumprir.

Assim, no que concerne aos desafios institucionais, háquatro conjuntos de questões principais a enfrentar:i) entendimento do que significa a construção desistemas de inovação e seus diversos componentes– arranjos locais, regionais, setoriais, cadeias etc.;ii) identificação do que vem a ser uma integraçãodos vários atores que compõem os sistemas de ino-vação, visando a sua articulação progressiva;iii) revisão das funções públicas do Estado no quediz respeito às ações e políticas voltadas a CT&I;iv) proposição do que vem a ser a nova agenda paraCiência, Tecnologia e Inovação no Brasil na próximadécada. Esta última questão deverá ser o objeto dosdebates decorrentes do Projeto de Diretrizes Estra-tégicas ora em curso, no qual se insere, entre outrasetapas, a Conferência Nacional de Ciência, Tecno-logia e Inovação.

Page 245: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

229

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

A ORGANIZAÇÃO PARA CT&I EO MARCO INSTITUCIONAL

A questão fundamental é a de definir quais os apa-ratos institucionais que devem ser desenvolvidos paraque Ciência e Tecnologia se integrem, de maneiramais eficiente, eficaz e efetiva, nos sistemas produti-vos e no cotidiano das sociedades de maneira geral.Articulação e coordenação de atores, criação de ins-trumentos de incentivos os mais variados, enqua-dramento do aparato de pesquisa em uma perspectivae em um contexto mais amplos, entre outros ele-mentos, são pontos a serem discutidos. A preocu-pação central é a identificação de formas organiza-cionais mais apropriadas para o surgimento e a difu-são de novas tecnologias. O fosso tecnológico entrepaíses não se deve apenas à escala das atividades deP&D, ao nível das atividades de invenção e inovação,ou mesmo à presença eventual de clusters de inova-ção1 ; são fundamentais as mudanças institucionaisno sistema de inovação, as novas formas de organi-zação da produção, dos investimentos e do marketing,assim como as novas combinações entre invenção eempreendimento.

O que se percebe hoje é a possibilidade de uma novareferência institucional, com maior integração dos in-teresses políticos, acadêmicos e industriais na condu-ção, gestão e regulação da pesquisa. A noção de sis-temas de inovação – em seus variados arranjos – pro-

1 Clusters de inovação são aglomerados de empresas, em geral industriais, que interagem intensamente em parcerias, subcontratação e contratos deco-desenvolvimento, gerando assim forte capacidade de inovação em produtos e processos.

Page 246: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

230

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

cura justamente colocar em pauta essas dimensões,mostrando a necessidade de articulação entre condiçõesinstitucionais direta e indiretamente ligadas à CT&I.

Não são apenas novas tecnologias e disciplinas querevolucionam os conceitos tradicionais de conheci-mento; de forma mais intensa, o que se vê são novasformas de produzir, aplicar e valorizar o conheci-mento. Ciência e Tecnologia são crescentemente ava-liadas desde as suas prioridades até suas conseqüên-cias sobre a economia e a sociedade em geral.

Ao mesmo tempo em que surge uma gama mais am-pla de agentes que criam e se utilizam de conheci-mento como sua atividade-fim (além dos tradicionais,como as universidades, institutos públicos e labora-tórios industriais), são estabelecidas redes entre estesagentes, que buscam a diferenciação simultânea, den-tro dos campos e áreas de estudos, tornando-se cadavez mais especializados em determinado tipo de saber.Assim, o novo padrão técnico-científico tem comomarca a crescente manifestação da criatividade comofenômeno coletivo, no qual as contribuições indivi-duais são reunidas e submetidas como parte de umprocesso comum de geração de conhecimento. No-vos agentes de pesquisa são dotados de maior flexi-bilidade visando novos arranjos contratuais.

Exatamente por se tratar de um fenômeno coletivo,é importante atentar para um ponto fundamental: adiversidade institucional, de interesses e cultural dosatores envolvidos. Falar em sistemas de inovação,em redes ou mesmo em programas tecnológicos in-tegrados, é lidar com atores os mais variados, desdeaqueles diretamente envolvidos com atividades deP&D até agentes econômicos produtivos, financeirose comerciais, instituições de fomento, formuladoresde políticas etc. A diversidade aparece, portanto,

entre esses atores, assim como intracategorias. Uni-versidades, institutos de pesquisa, agentes econô-micos, órgãos formuladores de políticas, agências defomento, agências reguladoras e seus membros sãoinstituições igualmente heterogêneas entre si.

Coloca-se, assim, a necessidade de mecanismos par-ticipativos e de coordenação que não são triviais nosistema nacional de CT&I, que esteve até hoje muitocentrado nas instituições de P&D e de ensino. Entreos desafios institucionais está, portanto, a adequaçãodos instrumentos de planejamento e gestão para con-templar essa diversidade, desde a definição de priori-dades, até os mecanismos de avaliação e legitimaçãodas ações voltadas à organização de sistemas de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação e de seus componentes.

É crescente a preocupação com os impactos que osavanços em Ciência e Tecnologia têm sobre a socie-dade e sobre a economia, e isso é espelhado no au-mento do interesse público sobre o apoio aos pro-gramas de pesquisa e das discussões quanto a seusresultados. Agentes até agora não contemplados nossistemas de Ciência e Tecnologia começam a influen-ciar, de forma crescente, a definição dos problemas,a priorização de atividades e os rumos da pesquisacientífica e do desenvolvimento tecnológico.

Dada a amplitude do problema, não cabe – pelo me-nos para o caso brasileiro – querer desenhar todas ascaracterísticas do aparato e instituições vinculadasa CT&I em um sistema nacional. Do ponto de vistadas políticas e do planejamento, um sistema nacionalergue-se a partir da capacidade de criar e organizarvários tipos de arranjos, considerando oferta, deman-da e um quadro tendencial. Esta composição pode edeve ser consubstanciada em um quadro normativoe gerencial de longo prazo.

Page 247: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

231

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

Por este motivo é que os desafios são tanto de natu-reza micro como macroinstitucional. No plano ma-croinstitucional, não se pode perder de vista o papeldo Estado e as funções públicas que suas instituiçõese organizações devem exercer.

Um Estado menos empreendedor (no sentido de pro-duzir diretamente bens e serviços) e mais regulador éa tônica da maioria das políticas. Todavia, a experiên-cia de países líderes em CT&I mostra que o Estadoregulador não é, na prática, um Estado que se retirado financiamento de Ciência, Tecnologia e Inovação.Muito menos, que abre mão de seu papel de planeja-dor, indutor e coordenador de políticas de incentivoa CT&I e ao desenvolvimento econômico e social.

A reforma institucional, com a privatização ou a aber-tura para exploração privada de determinados seto-res e redefinição do papel do Estado, mudou o eixode sua atuação e está redefinindo seus espaços. Deve-se entender que houve mudança na estrutura doEstado e, mais ainda, na lógica e condicionantes dofuncionamento dos mercados. Está completamentesuperada a questão de o Estado dever ou não inter-ferir no funcionamento da economia. Atualmente aquestão relevante diz respeito à forma e aos mecanis-mos de intervenção e regulação, a como articularesforços e produzir sinergias entre os setores públicoe privado, orientando-os para os macroobjetivos dodesenvolvimento sustentável.

Documento recente da Organização para a Coope-ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE)aponta o papel central das políticas públicas em au-mentar a quantidade, a qualidade e o acesso a ele-mentos fundamentais para o desenvolvimento eco-nômico e social sustentável, por meio de investi-mentos em P&D, ampliação e qualificação de mão-

de-obra qualificada, aumento do capital social e re-cursos financeiros. Para tanto, as políticas públicasusam mecanismos diretos e indiretos, tais como pro-moção do capital de risco, juros baixos, redução deimpostos, além de investimentos públicos na forma-ção de ativos intangíveis (qualificação e conhecimen-to). Outro elemento de política destacado é o apoioa setores econômicos específicos, por meio de polí-ticas direcionadas a pequenas e médias empresas e aregiões ou setores, facilitando o acesso à informação,tecnologia e crédito, marketing, canais de exportaçãoe compras governamentais.

Todos esses elementos são, de forma mais ou menosenfática, complementados pelo estabelecimento denovos arranjos jurídicos para as organizações públi-cas. Este talvez seja um dos pontos mais importantespara os desafios institucionais, precisamente porquetraz para discussão a questão crítica da competitivi-dade das organizações públicas de pesquisa. Estetema voltará a ser tratado no item sobre competiti-vidade institucional.

Page 248: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

232

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 249: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

233

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

POLÍTICAS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO:UMA REVISÃO DE INSTRUMENTOS

As mudanças nas políticas de CT&I envolvem mo-vimentos de múltiplas direções: universidades, ins-titutos de pesquisa e agências atuando no espaço domercado de pesquisa; empresas articulando-se comas organizações públicas; novos requisitos de ca-pacitação e aprendizagem gerencial; criação de ins-trumentos voltados à articulação de atores e aoaprendizado coletivo (redes, arranjos produtivos,consórcios, plataformas).

Alguns aspectos emergem com maior força neste no-vo contexto e configuram um conjunto de temas eáreas críticas para as políticas de CT&I, que podemser resumidos em quatro dimensões: (i) diversificaçãoe ampliação de mecanismos de financiamento; (ii)definição de prioridades e oportunidades; (iii) pro-moção da articulação entre diferentes atores, con-substanciados arranjos institucionais coletivos; (iv)aprimoramento de serviços de apoio à inovação.

Diversificação e Ampliação de Mecanismosde Financiamento

Os mecanismos institucionais de financiamento re-vestem-se de grande importância para a revisão e odesenho de novos instrumentos de política de CT&I.Não se trata apenas do volume de recursos, aspectoem geral acentuado nos debates sobre a atuação dosetor público, mas também da adequação dosinstrumentos às necessidades dos componentes dos

“Se a Empresa é, por excelência,

agente introdutor de inovações, a

Universidade é a grande fonte

geradora de novos conhecimentos. O

Estado tem a responsabilidade de

melhorar o processo seletivo e o de

criar instituições facilitadoras da

geração e difusão de novas

tecnologias. Hoje se transita a um

novo sistema produtivo e um grande

desafio para o Estado é prover

mudanças institucionais acordes com

esta transição e que, ao mesmo

tempo, atendam requisitos de toda a

sociedade nacional.”

João Carlos Ferraz,UFRJ

Page 250: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

234

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

sistemas de inovação. Em um contexto marcado pelarestrição de recursos e pela necessidade de responderde forma eficaz às demandas da sociedade, a con-cepção e operação dos instrumentos de financiamen-to têm tanta importância quanto o volume de recur-sos disponível para atividades de CT&I.

Fortalecer o mercado de capitais, prover condiçõesde estímulo ao capital de risco, incentivos fiscais,recursos públicos acessíveis ao setor privado (comoanunciados pelos fundos setoriais), além de outrosmecanismos discutidos no capítulo de CT&I e De-senvolvimento Econômico, constituem desafios ins-titucionais em várias dimensões. Recursos competi-tivos, fundos casados, linhas de apoio a centros deexcelência, linhas de financiamento de redes e demaisarranjos coletivos, financiamento de novas empresas,apoio a pequenas e médias empresas de base tecno-lógica, apoio à transferência de tecnologia, financia-mento de infra-estrutura de pesquisa são instrumen-tos que vêm tendo ênfase em todo o mundo. Articu-lar os recursos públicos para a promoção da P&Dempresarial e para a aproximação dos agentes en-volvidos na geração de conhecimento são diretrizesde curto prazo para induzir a organização dos com-ponentes dos sistemas de inovação. A participaçãodo Estado continua a ser fundamental na construçãode sistemas de inovação, quer para o financiamentoda Ciência e Tecnologia (que tem crescido nos últi-mos anos) e para a viabilização de empreendimen-tos de inovação em suas primeiras etapas, quer nofortalecimento de grandes empresas.

No caso brasileiro, há quatro iniciativas públicas quemerecem destaque: o Projeto Inovar da Finep (vercapítulo 4); o projeto Pesquisa Inovadora em Peque-nas Empresas (PIPE) da Fapesp; os fundos setoriais;o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.

PIPE

O PIPE da Fapesp traz duas contribuições impor-tantes em termos de soluções institucionais para ocenário nacional. A primeira é o financiamento diretoà empresa por intermédio do pesquisador ligado àempresa. A segunda decorre da primeira, pois o pleitoempresarial por recursos públicos dentro do programapassa pela necessidade de a empresa ter em seus qua-dros pessoal qualificado para pesquisa, estimulando,desta forma, a formação de funcionários-pesqui-sadores de alto nível (Quadro 1).

Fundos Setoriais

A criação dos fundos setoriais é uma iniciativa quetransforma de maneira substantiva o cenário do finan-ciamento e da gestão da pesquisa. Trata-se de umanova forma de gestão, da pesquisa, que está funda-mentada na participação de diferentes atores sociaise no foco em resultados. O volume de recursos pre-vistos para os próximos anos é significativo. O maisimportante porém, é que esses recursos representam,de um lado, a possibilidade ímpar de estabilidadepara o financiamento de CT&I no País e, de outro, otratamento orgânico entre pesquisa e empresa, assimcomo entre pesquisa e demandas da sociedade emgeral. A questão central neste momento é justamentea de criar mecanismos institucionais que viabilizemseu uso para a criação de sistemas de inovação e deseus diversos componentes.

Os fundos setoriais constituem uma nova propostade financiamento sustentado por receitas fiscais adi-cionais ao orçamento fiscal, derivada da exploraçãoou concessão de um determinado setor de atividades.Com exceção do Funttel (Fundo para o Desenvolvi-mento Tecnológico das Telecomunicações), os

Page 251: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

235

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

recursos captados são alocados no Fundo Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico(FNDCT), que passou a operar recentemente commecanismos adequados ao cumprimento dessafinalidade. Antiga reivindicação da comunidadecientífica foi atendida e, desde março de 2000, osrecursos do FNDCT não mais são recolhidos aoTesouro Nacional ao final de cada exercício fiscal,mantendo seu saldo financeiro disponível paraaplicação no próximo exercício. As receitas quealimentam os fundos setoriais têm diversas origens,tais como royalties, parcela da receita das empresasbeneficiárias de incentivos fiscais, compensaçãofinanceira, licenças e autorizações.

Além dos fundos apresentados, a seguir, na Tabela1, mais quatro estão em negociação e ou

O programa foi criado em 1997 e apresenta os seguintes objetivoscentrais:

- oferecer incentivo e oportunidades para que pequenas empresasde base tecnológica desenvolvam pesquisa em ciências, engenharias,ou em educação científica e tecnológica de impacto comercial ousocial;

- possibilitar que pequenas empresas se associem a pesquisadoresdo ambiente acadêmico em projetos de inovação tecnológica;

- estimular o desenvolvimento de inovações tecnológicas e ao mes-mo tempo viabilizar uma maior aplicação prática de pesquisas rea-lizadas com apoio da Fapesp;

- contribuir para a criação de uma cultura que valorize as atividadesde pesquisas em ambientes empresariais, propiciando aumento noespaço de atuação profissional para pesquisadores das diversas áre-as do conhecimento.

Organiza-se em três fases:

Fase I, com duração de seis meses, visa à realização de pesquisassobre a viabilidade técnica das idéias propostas cujos resultadosserão o principal critério de qualificação para a fase seguinte (FaseII). O valor máximo financiável nesta fase é de R$ 75 mil para cada

Quadro 1Pesquisa Inovadora em Pequenas Empresas - PIPE/Fapesp

projeto aprovado.

Fase II, com duração de vinte e quatro meses, caracteriza-se pelodesenvolvimento da pesquisa. Nesta etapa, o valor máximo finan-ciável corresponde a R$300 mil para cada projeto, sendo as conces-sões feitas àqueles projetos de maior sucesso na Fase I. Para que osprojetos nesta fase sejam financiados, é necessário, além de teremsido bem-sucedidos na fase anterior, que apresentem um “plano denegócios” para a comercialização da inovação resultante, podendoreceber orientação do Sebrae-SP.

Fase III, realizada pela própria empresa, ou sob sua coordenação, etem como objetivo desenvolver novos produtos comerciais basea-dos nos resultados obtidos nas duas fases anteriores. A Fapesp nãodá qualquer tipo de apoio financeiro às empresas nesta fase, maspode colaborar na obtenção de apoio de outras fontes.

O investimento acumulado na Fase I gira em torno de R$4,7 mi-lhões. Desse total, 62,7% correspondem aos investimentos nasengenharias, 13,5% correspondem aos investimentos nas ciênciasagrárias e 6,0% aos investimentos na física. Na segunda fase pode-se constatar que as proporções se mantiveram as mesmas. De umtotal de R$7,2 milhões em investimentos, 72,4% foram destinadosàs engenharias, enquanto 7,6% foram destinados às ciências agrári-as e 7,3% do total para a física.

regulamentação: Agronegócio, Saúde, Aeronáuticoe Biotecnologia. No total, o aporte dos fundos seto-riais deverá representar receita adicional da ordemde mais de R$1 bilhão ao ano.

Se é desejável que os recursos dos fundos setoriaiscontribuam para a formação e consolidação de ar-ranjos institucionais para a inovação, então não sepode pensar em operá-los da mesma forma comoestão sendo aplicados os recursos públicos paraCT&I. As restrições de ordem legal para que os órgãospúblicos e seus pesquisadores participem da criaçãode empresas, de investimentos em tecnologias gené-ricas, ou mesmo de projetos integrados precisam sersuperadas por meio de legislação mais adequada àampliação da competitividade, do alcance e da flexi-bilidade do sistema de CT&I.

Page 252: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

236

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Ademais, os fundos setoriais colocam uma oportuni-dade (ou mesmo uma necessidade) de se adotar umaperspectiva de políticas integradas de longo prazo.Dada a natureza eminentemente setorial desses fun-dos, é plausível que seu uso se dê em estreita ligaçãocom as demandas setoriais das áreas de petróleo, ener-gia, recursos hídricos, telecomunicações, transportese mineração. Não obstante, a atual necessidade dearticulação intersetorial marca um quadro institucionalinédito, no qual se destacam grandes empresasnacionais privatizadas, empresas multinacionais,agências reguladoras, centros de pesquisa privados,além de toda a cadeia de fornecedores e usuários.

Juntem-se a este quadro os fundos de natureza não-setorial, como o Verde-Amarelo e Infra-estrutura, ese tem-se um panorama de diversidade institucional,ainda não totalmente definido, que representa umdesafio de articulação que exige uma estrutura e umacultura de gestão adequadas ao funcionamento deum novo modelo de organização das ações de pla-nejamento e fomento em CT&I.

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

A iniciativa do MCT de criar o Centro de Gestão eEstudos Estratégicos (CGEE) vem justamente nessadireção. Encarregado da gestão dos fundos setoriais ede programas do MCT no que diz respeito à prospec-ção e identificação de prioridades, à promoção da arti-culação entre os atores e entre políticas, e ao acom-panhamento e avaliação de políticos e programas, oCGEE deverá operar de forma integrada com asagências e secretarias do MCT e com os Comitês Ges-tores dos fundos, além de buscar articulações comórgãos estaduais e municipais, comunidade acadêmica,empresas e demais atores públicos e privados rela-cionados a CT&I.

Duas ações são particularmente importantes paraque os fundos setoriais sejam um ponto de inflexãona política de CT&I do País: criar uma cultura dedefinição articulada de prioridades de investimento(multissetorial, multiinstitucional e multiatores), epromover a revisão dos instrumentos tradicionais decontratação, com vistas à flexibilidade e agilidadedesses instrumentos. São, portanto, diretrizes estra-tégicas da organização dos fundos setoriais a pro-moção de mecanismos sistemáticos de planejamentocoletivo, a eleição de prioridades, a introdução denovos instrumentos de gestão dos gastos, além doacompanhamento e avaliação dos resultados.

Finalmente, cabe realçar a importância da capacita-ção para lidar com uma nova realidade de financia-mento. Em paralelo à criação de novas fontes, é pre-ciso promover o aprendizado dos diversos atores so-bre como usar essas fontes (Quadro 2).

Definição de Prioridades e Oportunidades

As ações de prospecção e de planejamento vêm,crescentemente, retomando a prática da identificaçãode prioridades e do acompanhamento e avaliaçãode resultados. Também tem havido o estabelecimen-to de critérios condicionais para o financiamento,privilegiando aqueles programas que tenham o po-tencial de atração de recursos privados e garantia deavaliação ex post, como forma de assegurar os resul-tados e justificar o investimento público.

Neste contexto ressurge, com vigor, a prática de le-vantamento de prioridades e oportunidades de inves-timento como instrumento fundamental da gestãodos sistemas de inovação. Dentre os diversos mode-los implementados em vários países, destacam-se oenfoque metodológico das tecnologias-chave e a

Page 253: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

237

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

prospecção tecnológica (Technology Foresight). Ambosconstituem-se de princípios e métodos práticos delevantamento de prioridades que partem da concep-ção de organização de sistemas de inovação, e suautilização vem se consolidando como instrumentode planejamento em vários países do mundo (comoJapão, Austrália, Inglaterra, França, Bélgica, Hungria,Irlanda, México, Nova Zelândia e Suécia).

O projeto ProspeCTar, de iniciativa do MCT, repre-senta uma experiência singular nesta temática.O objetivo é fazer um amplo, mas dirigido, esforçode identificação de prioridades (Quadro 3).

As questões cruciais da prospecção são as seguintes:transformar as prioridades levantadas em ações efetivasde CT&I; consolidar a prática da priorização como ele-mento de planejamento, internalizando-a nas instituiçõesde planejamento, fomento e execução de CT&I; criaruma competência no País para a melhoria contínua demétodos de levantamento de prioridades e oportunidades.

Também no campo da avaliação são cada vez mais

freqüentes os contratos temporários com cláusulasde risco, dependentes dos resultados de projetos, pro-gramas ou mesmo de instituições. Ou seja, valoriza-se mais o acompanhamento e avaliação dos resulta-dos alcançados que dos procedimentos de gasto. Oscontratos de gestão – e outras formas similares –estabelecem um compromisso de desempenho quese coaduna com a implementação de novas formasde financiamento, justamente porque estimulam abusca de maior efetividade e a profissionalização dagestão de projetos, programas e instituições.

As encomendas tecnológicas feitas pelo setor público são um me-canismo largamente utilizado em vários países desenvolvidos. Tra-ta-se de uma ação de política que induz o desenvolvimento deprodutos ou processos que ainda não estão disponíveis e para osquais há clara demanda (definida segundo diferentes perspectivas,de maneira ampla). Não se trata de uma compra pública tradicio-nal, mesmo porque há risco envolvido, requerendo, portanto, umadecisão política e um arranjo legal específico (que varia entre ospaíses – e os governos de turno).

O exemplo mais comum é justamente o das encomendas militaresfeitas pelos EUA durante o Pós-Segunda Guerra para firmas, uni-versidades e instituições de pesquisa. Dois elementos caracteriza-ram este modelo: (i) contratos celebrados tanto com grandes fir-mas, quanto com pequenas e médias empresas; (ii) participaçãoativa de agências e organizações públicas de pesquisa e um esforço

Quadro 2Encomendas Tecnológicas pelo Setor Público

de difusão dos resultados junto ao setor produtivo. Já na UniãoEuropéia (UE) os contratos foram principalmente dirigidos a gran-des empresas, e o esforço de difusão dos resultados teria sidomenos intenso que nos EUA.

Há quatro situações típicas de uso deste instrumento na UE: gover-no e agências como usuários finais; governo e agências como agen-tes catalisadores; contratos orientados ao desenvolvimento de co-nhecimento; contratos para adaptação de tecnologia. Estas formascontratuais seguem sendo utilizadas, com maior ênfase na funçãocatalisadora do Estado, seja para o desenvolvimento de conheci-mento novo, seja para a adaptação de tecnologia. Trata-se de uminstrumento essencial não apenas para desenvolver produtos e pro-cessos, mas principalmente para alavancar o investimento privadoarticulado com o setor público em áreas de maior densidadetecnológica.

Page 254: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

238

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

O Programa ProspeCTar reúne ações do Ministério da Ciênciae Tecnologia que apóiam atividades e projetos de estímulo ao de-senvolvimento da prospecção tecnológica no Brasil.

A principal ação do programa é o Estudo ProspeCTar. De abrangêncianacional e baseado na metodologia Delphi, o Estudo visa à: (i) cons-trução de uma lista básica de tópicos tecnológicos, sobre a qualdecisões e outros estudos nacionais e setoriais poderão ser funda-mentados; (ii) adaptação da metodologia para estudos nacionais deprospecção tecnológica, de maneira a que a primeira rodada de con-sulta seja, ao mesmo tempo, conclusiva e a etapa inicial de um con-junto de outras rodadas; (iii) identificação de uma base de dados paraatender às atividades brasileiras de prospecção tecnológica.

A primeira fase do Estudo iniciou a construção da lista de tópicos,testou a metodologia, o conteúdo e a eficiência do programa eletrô-

Quadro 3ProspeCTar

Promoção da Articulação entre DiferentesAtores: Arranjos Institucionais Coletivos

Os arranjos institucionais coletivos dizem respeitoàs políticas que procuram estabelecer quadros favo-ráveis aos investimentos privados em CT&I, às me-didas que estimulem a cooperação entre agentes, àfacilitação do trânsito de conhecimentos e recursosentre os agentes, à criação de empresas baseadas emrecursos tecnológicos e à participação de agentes pri-vados no estabelecimento de prioridades de inves-timento. Inclui-se, ainda, a promoção de centros deexcelência, medida estimulada em vários países, eque, no Brasil, consubstancia-se em algumas inicia-tivas governamentais de âmbito estadual e federal(como, por exemplo, os projetos temáticos da Fapesp,o Pronex e os Institutos do Milênio do MCT). Umdesafio ao Brasil é também constituir novos centrosde excelência que conjuguem recursos públicos eprivados.

Outras iniciativas são os centros cooperativos, cons-tituídos com perspectiva mais aplicada que os centros

nico e, mais importante, gerou ampla discussão nacional sobre aprospecção tecnológica, em cima de uma experiência real.

A decisão metodológica de ouvir o maior número possível de pes-soas nesta primeira rodada decorreu do fato de ser esta uma faseexperimental e justificou-se pela multidisciplinaridade de algunstópicos, cuja avaliação exigia diferentes tipos de expertise, e pelavontade de expor o projeto a sugestões e críticas, para que seconsolide como instrumento auxiliar de reflexão e formulação depolítica de CT&I do Brasil.

Na prática, a participação de 10.938 pessoas que responderam aosquestionários agregou uma contribuição crítica de grande valor, àqual somam-se outras opiniões enviadas à coordenação do Estudo.Este material está sendo processado e estudado para compor abase das rodadas adicionais.

de excelência. Alguns exemplos marcantes têm sidoos Acordos de Pesquisa e Desenvolvimento Coope-rativo (Crada) nos EUA e os Centros de PesquisaCooperativa (CRC) na Austrália (Quadros 4 e 5).

Cabe também estimular medidas de incentivo paraa interação ciência e indústria envolvendo a conces-são de subsídios em projetos de pesquisa feitos emconjunto entre universidades ou institutos públicose indústria, ou ainda para custos de contratação depesquisadores para unidades industriais, como noPrograma de Recursos Humanos em Áreas Estraté-gicas (RHAE) do CNPq. Outras medidas importan-tes são aquelas destinadas à colocação de jovens pes-quisadores em indústrias, como a criação de cursosde pós-graduação vinculados às atividades indus-triais com participação e supervisão de universidades.

Outro arranjo coletivo de grande impacto é o de pla-taformas tecnológicas, que requerem o envolvimentode vários agentes pertencentes a um dado segmentoprodutivo - por exemplo, uma cadeia produtiva. Essetipo de arranjo coletivo leva em conta uma complexa

Page 255: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

239

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

relação usuário-produtor, muitas vezes com diferen-tes perspectivas setoriais (além das organizações depesquisa, fornecedores de equipamentos e insumos,produtores, importadores, exportadores etc.). Recen-temente, o MCT e a Finep vêm desenvolvendo umprograma em associação com várias instituições parapromover arranjos produtivos locais a partir da pro-posição e implementação de plataformas tecnoló-gicas de abrangência regional (Quadro 6).

Ainda na categoria dos arranjos coletivos, é impor-tante assinalar a organização de redes. Há vários for-matos possíveis de redes, desde aqueles dedicadosao desenvolvimento de um conhecimento específico,até outros voltados à implantação de uma certa tec-nologia – mais acadêmicos ou mais aplicados. Emqualquer caso, as redes permitem algo absolutamentecentral para o êxito das políticas de CT&I: estimulamfortemente o processo de aprendizado.

Crada é um acordo de cooperação para a pesquisa e desenvolvi-mento, seguindo os desdobramentos do Technology Transfer Act de1986. Estes acordos são feitos entre empresas privadas e agênciasdo governo para se trabalhar em projetos conjuntos. As partescolaboradoras concordam em prover fundos, pessoal, serviços, infra-estrutura, equipamentos ou outros recursos necessários para acondução de P&D.

Quadro 4Acordos de Pesquisa e Desenvolvimento Cooperativos (Crada)

Os Centros de Pesquisa Cooperativa têm por objetivo maximizaros benefícios da pesquisa por meio do desenvolvimento da articula-ção entre pesquisadores e usuários de pesquisa nos setores públicoe privado. O programa dá ênfase ao desenvolvimento de competiti-vidade internacional do setor industrial, bem como a saúde e bem-estar da população. Estimula ainda a educação e o treinamentoatravés do envolvimento de pessoas de fora do sistema universitá-rio com programas educativos bem como oferece cursos e treina-

Quadro 5Centros de Pesquisa Cooperativa (CRC)

O Crada também provê incentivos que facilitam a comercializaçãode tecnologias desenvolvidas, sendo, assim, importante ferramentade transferência de tecnologia.

Objetivos: expandir as capacidades tecnológicas dos laboratóriosnacionais e assistir a indústria em aplicações comerciais de novastecnologias criadas em laboratórios nacionais.

mentos focados na indústria e em outras áreas estratégicas.

Atualmente, existem sessenta e três projetos CRCs, com um aporteindividual de cerca de 2,2 milhões de dólares australianos. Paracada dólar aportado pelo programa, devem ser alocados no mínimo25 cents por parte dos parceiros. Atualmente, a iniciativa privadacontribui com mais de 1 bilhão de dólares australianos aos centrosjá existentes.

Importante exemplo de rede é a Rede Nacional doProjeto Genoma Brasileiro, que tem por objetivo am-pliar a competência nacional nas atividades de pes-quisa e manipulação de genoma, mediante apoio parainfra-estrutura laboratorial, formação de recursos hu-manos e trabalhos multiinstitucionais. A iniciativaanunciada pelo MCT em dezembro de 2000 já envol-veu investimentos diretos da ordem de R$ 8 milhões.A rede é composta por vinte e cinco laboratóriosrepresentativos de todas as regiões do País, que de-verão realizar, no período de até doze meses, o se-qüenciamento do conteúdo genômico daChromobacterium violaceum. Trata-se de uma bactériaencontrada, principalmente, no rio Negro, na regiãoAmazônica, que possui entre 2,8 e 3,2 milhões depares de base em seu genoma, e que pode ser eficazno tratamento de algumas endemias, como a doençade Chagas e a leishmaniose. Além disso, apresentapotencial para produção de polímeros plásticos bio-

Page 256: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

240

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Serviços de Apoio à Inovação

A construção de sistemas de inovação completa-se pelaimplementação de um conjunto de serviços que dão anecessária coesão às ações de inovação propriamenteditas. Dentre esses serviços, destacam-se a informaçãopara CT&I e a capacitação no uso de propriedade inte-lectual, ambos dependentes da existência de infra-es-trutura de comunicação e de clara política de acesso.

Informação para CT&I

Abrange serviços, que compreendem desde a infor-mação bibliográfica até a informação sobre patentes,fontes de financiamento, entre outras. O Instituto Bra-sileiro de Informação Científica e Tecnológica (Ibict),fundado na década de cinqüenta, com missão de cole-tar, produzir e disponibilizar informação, além de em-preender ações de pesquisa e ensino em ciência dainformação, é um dos principais marcos institucionaisdesta temática no País.

Dois conjuntos complementares de informação de-vem ser mencionados no apoio às ações de inovação:o primeiro diz respeito ao empreendedorismo; o se-gundo à formulação e implantação de políticas. Quan-to ao primeiro, diversos países têm implementado ar-ranjos institucionais voltados à preparação e disponi-bilização de informação para a inovação, incluindoelementos de inteligência competitiva, tais comofontes de financiamento, identificação e localizaçãode competências e oportunidades (elementos essen-ciais para a organização de redes e demais formas cole-tivas de organização da inovação), localização e acessoà informação sobre mercados, localização e assessora-mento para proteção da propriedade intelectual,transferência de tecnologia, banco de consultorias téc-nicas, entre outros.

degradáveis. O Centro de Bioinformática que centra-lizará e processará as informações produzidas pelaRede será o Laboratório Nacional de ComputaçãoCientífica (LNCC).

Outro exemplo recente de arranjo coletivo é a cons-tituição da rede ONSA para seqüenciamento genô-mico, cuja concepção inédita permitiu estabelecerum processo de aprendizado coletivo eficaz no Bra-sil (Quadro 7).

Os Institutos do Milênio, ora em implementação peloMCT, também caminham na direção da criação dearranjos coletivos que organizam redes de pesquisae inovação, abrangente e diversificada em termos dosatores participntes (Quadro 8).

“Plataforma Tecnológica” deve ser entendida mais como umametodologia, um processo de comunicação e negociação entre to-dos os atores envolvidos no desenvolvimento tecnológico e no pro-cesso de inovação, do que como um programa de governo. Trata-sede um instrumento útil para alcançar múltiplos objetivos, entre osquais: (i) identificar problemas tecnológicos dos diversos setores(definir pautas de CT&I); (ii) gerar demandas por projetos coopera-tivos para resolver problemas identificados pelos atores que inte-gram uma cadeia ou cluster produtivo, para os quais a ação “espon-tânea” do mercado é pouco eficaz e cuja solução exige coordenaçãoentre os agentes. Portanto, o processo de “plataforma” envolve,pelo menos, os seguintes momentos:(i) criação de contexto (problematização) ou construção de cenáriossobre o setor escolhido;(ii) conhecimento e identificação de problemas tecnológicos espe-cíficos;(iii) motivação (persuasão) dos atores para resolver problemas ouaproveitar oportunidades identificadas;(iv) geração de demanda por projetos cooperativos;(v) negociação entre todos os atores envolvidos para resolução dosproblemas identificados.

Quadro 6Plataforma Tecnológica

Page 257: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

241

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

Esse conjunto de informações pode ser produzido edivulgado por vários tipos de arranjos institucionais,públicos ou privados. Pode-se propor tanto institui-ções especializadas (como é o caso do Ibict), comoarranjos complementares ligados a instituições de pes-quisa, agências governamentais, fundações, associa-ções de empresas e outras. Dada a diversidade detemas e a especificidade que muitos deles apresen-tam, é preciso que a construção desses arranjos insti-

tucionais seja feita de forma coordenada, com vistasà divisão de tarefas que contemple todos os assuntose facilidades necessários.

O segundo conjunto de informações diz respeito àformulação de políticas. Embora este também sejaum tema amplo, vale concentrar esforços sobre olevantamento de indicadores macro sobre CT&I.

No início de 1997, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado deSão Paulo (Fapesp) deu início a um programa de pesquisa em genô-mica, com o objetivo de impulsionar a biotecnologia no estado,sobretudo na área agrícola.

Entre maio e agosto de 1997, após ouvir pesquisadores em biologiamolecular e bioinformática, e, ainda com base em programas emimplementação no CNPq, a Fapesp estruturou a rede ONSA(Organization for Nucleotide Sequence and Analysis) com a missão deseqüenciar o genoma completo da bactéria fitopatogênica Xyllelafastidiosa, agente causal da clorose variegada do citrus, que infecta30% dos laranjais paulistas, causando danos estimados em US$ 50milhões/ano. A rede ONSA iniciou com vinte e três laboratórios deseqüenciamento localizados em três universidades estaduaispaulistas (USP, Unicamp e Unesp), no Instituto Agronômico de Cam-pinas, no Instituto Biológico e em três universidades privadas:Univap, Unaerp e Universidade de Mogi das Cruzes. Um laborató-rio de bioinformática foi instalado na Unicamp.

Cerca de 180 pesquisadores, estudantes e técnicos participaram doesforço de seqüenciamento da Xyllela. A rede ONSA passou a sercompreendida como um Instituto Virtual, cujos pesquisadores, es-palhados pelas diversas instituições do estado, participavam do pro-jeto produzindo as seqüências e discutindo os resultados através dainternet. Uma estrutura robusta e inédita foi estabelecida pelolaboratório de bioinformática, permitindo um ambiente de traba-lho e aprendizado sem precedentes na história da ciência brasileira.

Graças a uma logística estabelecida pela Fapesp para aquisição deequipamentos e reagentes, em janeiro de 1998 os seqüenciadoresde DNA começaram a ser instalados e, em março do mesmo ano,as seqüências começaram a ser depositadas no banco de dados. Emnovembro de 1999 o genoma da Xyllela já estava virtualmente fe-chado e em fevereiro de 2000 a seqüência estava completa com omais alto grau de qualidade até então conseguido em um projetogenoma. Em março de 2000 completava-se a identificação e anota-

ção de todos os genes da Xyllela e em julho a publicação estavaestampada na capa da revista Nature como primeiro microorganismofitopatogênico a ser seqüenciado. Em agosto de 1998, devido aobom caminhamento do projeto Xyllela, a rede ONSA lançou maistrês projetos: o genoma da cana-de-açúcar, o genoma humano docâncer, destinados a seqüenciar genes expressos (ESTs - expressedsequence tags), e o genoma da Xanthomonas citri - bactéria causado-ra do cancro cítrico. Novos grupos foram integrados à rede ONSA e,no caso do projeto genoma da cana, grupos de Pernambuco, Alagoas,Rio Grande do Norte, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paranáforam incorporados para participar das análises dos genesseqüenciados.

A rede ONSA está conduzindo oito projetos de seqüenciamento eanálise funcional de genomas de plantas e microorganismos de inte-resse para a agricultura nacional. Um desses projetos foi contrata-do pelo Departamento de Agricultura Americano (USDA) para se-quenciar o genoma da Xyllela fastidiosa causadora da doença dePierce, que tem trazido enormes danos aos vinhedos da Califórnia.Além disso, o USDA contratou a Rede ONSA no final de maio de2001 para fechar e anotar o genoma de outras duas Xyllelas parcial-mente seqüenciadas pelo Joint Genome Initiative do Departamentode Energia Americano e realizar um estudo comparativo dos genomasdas Xyllelas. Esse projeto confirmou a liderança mundial da redeONSA na genômica de patógenos vegetais.

Até o momento a Rede completou o seqüenciamento das bactériasXyllela fastidiosa, causadora da CVC; Xyllela fastidiosa, causadora dadoença de Pierce; Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico;Xanthomonas campestris, causadora de doenças em várias espéciesde plantas; e Leifsonia xyli, causadora do raquitismo em cana-de-açúcar.

Atualmente a rede ONSA envolve cerca de quinhentos pesquisado-res, estudantes e técnicos e firma a posição de um dos maioresInstitutos Virtuais na pesquisa genômica mundial.

Quadro 7Rede ONSA

ONSA: O consórcio que colocou o Brasil no cenáriointernacional da genômica

Page 258: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

242

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

x 350 x 16.000

Indicadores de CT&I

Um dos principais gargalos em termos de informaçãoe que tem limitado seriamente o próprio planejamen-to de CT&I no País é o da produção de indicadores.A produção sistemática de indicadores de CT&I éelemento imprescindível para o planejamento, mo-nitoramento e avaliação de programas e projetos daárea, sejam públicos ou privados. Além disso, é fun-damental para orientar a atuação dos diversos agentesdo sistema de inovação.

O conhecimento da realidade de CT&I exige a pro-dução primária de certo tipo de informação específi-

O Programa Institutos do Milênio é um programa do MCT noâmbito do PADCT III.

Em sua formulação, os Institutos do Milênio devem representarpropostas que sejam inovadoras em uma multiplicidade de aspec-tos: quer em sua abordagem temática, que se supõe seja o decaráter multi e interdisciplinar; quer em sua concepção organi-zacional, que deve prever novos arranjos institucionais capazes desuperar as tradicionais divisões acadêmicas entre disciplinas ouáreas do conhecimento, de formar parcerias entre o setor públicoe o privado, e de articular redes de competências de âmbito nacio-nal e internacional. A inovação deve ser a marca dos Institutos doMilênio, seja no estabelecimento de novas técnicas nas atividadesde pesquisa básica, na previsão de efetivos mecanismos de transfe-rência para a sociedade do conhecimento adquirido, ou na incorpo-ração de práticas de treinamento de recém-doutores.

Por meio deste programa deverão ser criados e fortalecidos doisgrandes grupos (redes) estratégicos para o País: Grupo I – aberto atodas as áreas da Ciência e Tecnologia, que contará com cerca dedois terços dos recursos totais do Programa (aproximadamente R$60 milhões) para o período de três anos. Prevê-se o apoio a vinteprojetos a serem implementados a partir de 2001. Grupo II – res-trito a áreas da Ciência e Tecnologia consideradas estratégicas peloMCT, que contará com cerca de um terço dos recursos totais doPrograma (R$ 30 milhões) para o período de três anos.

Deverão ser apoiados três projetos em 2001 e dois projetos em2002. Os três primeiros projetos dos Institutos do Milênio no Gru-po II estão previstos nos temas de Amazônia, Semi-Árido e Ocea-nografia.

Quadro 8Programa Institutos do Milênio

ca, como aquelas referentes aos diversos custos en-volvidos na atividade de inovação das empresas.O Brasil ressente-se, há anos, da inexistência da ela-boração sistemática, contínua e persistente de infor-mações e indicadores de CT&I. Algumas iniciativasrecentes são exemplos importantes no sentido de co-brir esta lacuna, como o volume bienal de indicado-res de CT&I no estado de São Paulo, elaborado pelaFapesp, com sua segunda edição lançada este ano. Noplano federal, o MCT deu início a uma ampla revisãona elaboração de indicadores, atividade que por suaimportância estratégica para o planejamento e a ava-liação do setor de CT&I, deveria merecer atençãoespecial na formulação de diretrizes para a próximadécada.

Propriedade Intelectual

A questão da propriedade intelectual também é, porvárias razões, crítica para o novo marco institucionalda CT&I. Mecanismos de apropriabilidade legal sãoparte constitutiva da formação de arranjos coletivospara o aprendizado e inovação porque: i) regulam adivisão dos direitos, contribuindo para a redução dosriscos de oportunismo, da incerteza inerente ao pro-cesso de inovação e, assim, dos custos de P&D e daexploração comercial; ii) provêem estímulos para aatividade inventiva e mesmo inovativa, na medidaem que acenam com a possibilidade de ganhos paraos atores envolvidos, institucionais ou individuais;iii) criam efeitos cumulativos e prospectivos, umavez que asseguram aos envolvidos a continuidadeno desenvolvimento futuro de uma inovação, melho-rando-a e desdobrando-a em outras inovações; iv)finalmente, criam competências para elaborar con-tratos e negociar elementos cada vez mais impor-tantes na promoção dos arranjos coletivos para ino-

Page 259: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

243

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

vação e aprendizado. A questão central, do pontode vista de diretrizes de longo prazo, é promoverestímulos ao uso dos mecanismos de propriedadeintelectual, criando competências nessa área no País,visto que o número de patentes concedidas ou de-positadas é mais indicador de excelência das insti-tuições que realizam pesquisas, bem como dos níveisnacionais de inovação. No curto prazo, há outrasquestões práticas que devem ser enfrentadas.

Embora a legislação brasileira tenha-se diversificadonos últimos anos (leis de propriedade industrial,1996, de proteção de programas de computador,1998, de direitos autorais, 1998, de proteção de cul-tivares, 1998, além de diversos decretos e atos nor-mativos), há vários aspectos que precisam ser apri-morados, visando à maior agilidade e adequação àrealidade local. Um deles reveste-se de especial im-portância: o debate e a política de licenciamentocompulsório e de fabricação local de produtos eprocessos objetos de patenteamento.

A possibilidade de que a Lei de Propriedade Industrialcontribua efetivamente para a formulação e a exe-cução de políticas e para indução de investimentose empregos diz respeito ao tratamento dispensado atrês matérias: exploração local do objeto da patente(fabricação local versus importação irrestrita); impor-tação paralela (importação direta pelo titular ou licen-ciado versus importação por terceiros); licença com-pulsória contra o titular da patente que não estiverexplorando seu objeto no território nacional.

No Brasil, a Lei de Propriedade Industrial associade forma inédita, os três mecanismos – fabricaçãolocal, licença compulsória e importação paralela –com o fim de privilegiar, sempre que economicamen-te viável, sua produção em território nacional, facul-

tando alternativamente a importação – não exclusivado titular. Essa condição, prevista no artigo 68, temo mérito de evitar a criação de reserva de mercadoou monopólio de importação.

O caráter estratégico do artigo 68 não tem passadosem contestação. Recentemente, sua manutençãotem sido questionada pelos EUA, especialmente apósmedidas do governo federal relativas ao licenciamen-to compulsório para medicamentos em casos deemergência nacional, especialmente os que com-põem o tratamento gratuito contra a Aids.

A manutenção desses instrumentos é fundamentalnão apenas do ponto de vista socioeconômico, mastambém para o desenvolvimento científico e tecno-lógico, na medida em que força a produção local,abrindo a perspectiva de maior acesso à informação.Como se sabe, mesmo com a produção local, não hágarantias de que haja efetiva transferência de tecno-logia. Entretanto, o licenciamento compulsório podelevar à capacitação tecnológica de empresas e insti-tuições locais (como é o caso dos esforços recentesde Far-Manguinhos na produção de certos fárma-cos). Esta é uma decisão de natureza essencialmen-te política, legítima do ponto de vista do desenvol-vimento nacional e em acordo com as regras inter-nacionais de propriedade industrial.

Outro ponto que merece destaque refere-se ao usode instrumentos de propriedade intelectual por partede universidades e organizações públicas de pesquisa.Sua aplicação no Brasil é, entretanto, ainda pouco di-fundida, sendo necessário criar uma cultura para tan-to. Segundo o Instituto Nacional de Propriedade In-dustrial (INPI), embora nos anos noventa tenha havidoum crescimento do número de pedidos de patentesligados a universidades brasileiras, eles permanecem

Page 260: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

244

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

em patamares muito aquém do potencial (foram cer-ca de quatrocentos pedidos na última década).

Em 1997, as universidades norte-americanas fizerammais de 2000 depósitos para patentes, foram obtidosdireitos em 2100 pedidos de patentes, 248 novas em-presas surgiram de ações de invenção e patenteamen-to e foram registradas cerca de 2700 licenças e opções.Metade das patentes das universidades americanasdesenvolvidas com recursos federais são licenciadas,provendo um aporte de recursos de mais de US$20bilhões e gerando cerca de 180 mil empregos diretose indiretos. Obviamente, não é o instrumento em sique possibilita números como esses, mas ele é vitalpara o próprio crescimento do sistema de CT&I.

Hoje, o País dispõe de um quadro jurídico de prote-ção da propriedade intelectual abrangente e atuali-zado do ponto de vista do direito e do comércio inter-nacional. O próximo passo é colocar em vigor meca-nismos que promovam a interação entre as institui-ções de pesquisa e o setor industrial, mais qualificadopara levar essas invenções ao mercado. É chegado omomento de identificar os elementos adequados aoaparelhamento de universidades e institutos de pes-quisa, para fazer face à adequada regulação – legal eadministrativa – da inovação.

Embora a invenção decorrente de contrato de tra-balho que tenha por objeto a pesquisa ou a atividadeinventiva pertença exclusivamente ao empregador, osartigos 88 e 89 da Lei de Propriedade Industrial de-terminam que poderá ser concedida ao empregado,autor de invento ou aperfeiçoamento, participação nosganhos econômicos resultantes da exploração dapatente. Nos termos do artigo 93, tal possibilidadeestende-se também à administração pública direta,indireta e fundacional, federal, estadual ou municipal,

podendo conceder ao empregado, autor de inventoou aperfeiçoamento, participação nos ganhos econô-micos resultantes da exploração da patente.

Page 261: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

245

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

Nos últimos quinze anos, as organizações públicasde pesquisa, tanto em nível nacional quanto inter-nacional, vêm enfrentando diversos desafios: redu-ção de recursos financeiros, surgimento de novoscampos do conhecimento, alterações nas políticasque definem o papel do Estado, riscos e oportuni-dades decorrentes de maior abertura para o ambienteexterno, entre outros.

A questão da competitividade institucional é crucialpara essas organizações, particularmente porque aorganização da pesquisa e da inovação requer atual-mente capacidade de inserção em redes multiatores,nas quais o ritmo das ações é normalmente empre-endido pelo agente mais ágil. A dificuldade de umaorganização para responder ao ritmo de atuação darede pode fazer com que ela seja substituída por ou-tra, mais ágil e flexível.

A maioria das organizações de CT&I no Brasil nãodispõe de mecanismos institucionais que permita suarápida adaptação às demandas a elas impostas. Falta-lhes autonomia e flexibilidade para executar, com anecessária agilidade, atividades tão básicas quantocomprar e vender produtos e serviços, adequar oquadro funcional, captar recursos no mercado, ela-borar e implementar contratos, entre outras coisas.Isto significa que essas organizações apresentam, departida, desvantagens competitivas em relação aoutras que gozam de maior autonomia e flexibilidade.

A COMPETITIVIDADE INSTITUCIONAL DA PESQUISA: ANECESSIDADE DE UM NOVO ARRANJO LEGAL

Page 262: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

246

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Apesar desse quadro, há exemplos notáveis de buscade eficiência gerencial por parte de instituições depesquisa. Se o setor de CT&I necessita de um arca-bouço legal que garanta agilidade e flexibilidade, eletambém tem a responsabilidade de buscar melhorarsua gestão interna, profissionalizando-a.

Há um ponto central que, por mais bem equacionadodo ponto de vista interno de uma instituição, exigerevisão. As organizações públicas são rigorosamentecobradas quanto aos procedimentos, mas não são ava-liadas em relação aos resultados alcançados. É im-portante que haja controle dos procedimentos, masisto não pode preceder e dificultar a execução dafunção pública e social destas organizações. Garantiro bom uso dos recursos públicos é garantir que seusresultados tenham retorno como bens públicos.

Novas bases contratuais devem regular as relaçõesinstitucionais, particularmente no que diz respeitoaos seguintes aspectos: (i) avaliação dos resultadosmais que dos procedimentos; (ii) revisão da gestãode recursos orçamentários e financeiros; (iii) revisãoda gestão de recursos humanos. Nesse contexto, estáem curso um processo de revisão do papel e da formade organização das dezoito instituições ligadas aoMCT. Foi criada uma comissão em 2000 que tempor objetivo avaliar o papel desses institutos. Inicial-mente, pretende-se que essas instituições sejam divi-didas em duas grandes categorias: laboratórios nacio-nais e institutos nacionais.

O principal instrumento legal hoje existente que per-mite minimizar substantivamente as limitações dasentidades de pesquisa é a figura das OrganizaçõesSociais (OS), instituídas na Reforma do Estado pelaLei 9.637 de 15/05/98. As OS são entidades de di-reito privado, reconhecidas pelo Estado como de

interesse social e utilidade pública, podendo assimreceber recursos públicos para cumprir atividades deinteresse do Estado. Elas têm ampla autonomia degestão financeira, patrimonial e de recursos huma-nos. Por outro lado, a dotação de recursos, que emtese depende do cumprimento de contratos de ges-tão, é também dependente de exaustivas negocia-ções, uma vez que os governos não são obrigados,se assim o quiserem, a renovar os contratos. Em ou-tras palavras, são formatos jurídicos relativamenteinstáveis do ponto de vista político, sujeitos que es-tão às mudanças de orientação de governo para go-verno, o que pode comprometer a continuidade esustentabilidade das atividades de pesquisa científicae tecnológica. Atualmente existem três entidades pú-blicas de pesquisa que já adotaram o formato de Or-ganizações Sociais (Laboratório Nacional de Luz Sín-crotron, Instituto de Matemática Pura e Aplicada eInstituto Mamirauá), assinando contratos de gestãocom o MCT, e outras estão em negociação.

A criação da figura jurídica “Instituto de Pesquisa”é outra alternativa que mereceu atenção nos últimosanos. A essência da proposta é a alteração do artigo16 do Código Civil (Lei no 3.071, de 1º de janeiro de1916), para incluir os “Institutos de Pesquisa” entreas pessoas jurídicas de direito privado.

Segundo o Projeto de Lei que propõe a criação dafigura do “Instituto de Pesquisa”, “o Estado promo-verá, em qualquer área do conhecimento, o desen-volvimento científico, a pesquisa, a capacitação tec-nológica, por intermédio do Instituto de Pesquisa,pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos,regida pelas normas de direito civil e pela presenteLei”, de acordo com uma das propostas em tramita-ção no Congresso Nacional. Dois Projetos de Leipara criação da figura jurídica “Institutos de Pes-

Page 263: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

247

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

A Fundação Mato Grosso é uma empresa privada, sem fins lucrati-vos, voltada ao desenvolvimento de atividades tecnológicas. Surgiuem 1993 devido à necessidade de combater doenças e pragas nasculturas de soja e algodão. Hoje, conta com 100 funcionários, 105produtores de soja e de algodão instituidores, 40 empresas asso-ciadas de insumos agrícolas, 191 produtores associados, 11 prefei-turas conveniadas e 25 instituições parceiras que formam o quadroassociativo da empresa. Utiliza-se de mais de setenta áreas deassociados para a realização de pesquisas, junto com as parceriasde empresas públicas, privadas e multinacionais, somando o capitalhumano e tecnológico na realização de pesquisas que visem resol-ver os problemas da agricultura do cerrado brasileiro.

O Fundecitrus é uma instituição privada, sem fins lucrativos, mantidapor produtores citrícolas e pelas indústrias de suco, estando volta-do fundamentalmente para a defesa sanitária vegetal. Além de atuarno monitoramento dos pomares, realiza e principalmente financiapesquisas para a descoberta de formas de combate ou de convivên-cia com doenças e pragas que afetam essa lavoura. Produtores eempresários investem em pesquisa e estabelecem relações deparceria e cooperação com universidades e institutos públicos depesquisa. Em 1994, foi criado o Departamento Científico, com afinalidade de realizar pesquisas de interesse da citricultura. O Centrode Pesquisas Citrícolas, localizado em Araraquara (São Paulo), éconsiderado um dos mais modernos laboratórios da América Lati-na, possuindo equipamentos de última geração para diagnóstico dedoenças. O orçamento do Fundo é da ordem de R$ 30 milhões/ano,sendo a maior parte dos recursos captados junto ao próprio setor,pelo recolhimento, em caráter não obrigatório, de R$ 0,08 porcaixa processada, sendo R$ 0,03 do produtor e R$ 0,05 da indústria(esses valores podem mudar em função da oscilação dos preços dosuco e da caixa de laranja). Para atividades especificamente depesquisa, o Fundecitrus declara um investimento médio anual daordem de R$ 3 milhões (cerca de 10% de seu orçamento), os quaissão alocados em dezenas de projetos, tanto próprios como realiza-

dos em parceria com órgãos governamentais, universidades e insti-tuições privadas.

A Cooperativa Central Agropecuária de DesenvolvimentoTecnológico e Econômico Ltda (Coodetec ) foi criada em 1995 apartir de experiência do Departamento de Pesquisa da Organiza-ção das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Congrega hoje 32 coope-rativas associadas, sendo 28 do Paraná, uma de Santa Catarina, umde Goiás, um do Mato Grosso do Sul e um do Rio Grande do Sul.Apesar de ter sua base no estado do Paraná, recebe associados dequalquer estado da Federação. Além de uma estrutura própria, aCoodetec conta com uma ampla rede de experimentação de campojunto às suas associadas e parceiros. Desenvolve pesquisas na áreade melhoramento genético, visando à obtenção de novas cultivaresque atendam às demandas dos produtores. Até recentemente, aCoodetec vinha aplicando métodos tradicionais de melhoramento,mas, a partir do recebimento do Certificado de Qualidade emBiossegurança (CQB), em agosto/97, passou a utilizar também osrecursos da biologia molecular no seu programa de pesquisa.

Trabalha principalmente com desenvolvimento e indicação de varie-dades de trigo, soja e híbridos de milho, além de promover siste-mas de cultivo mínimo e tecnologia de controle biológico de pragas.

O Centro Tecnológico do Couro, Calçados e Afins (CTCCA) foicriado há vinte e cinco anos para apoiar o desenvolvimento do setorcalçadista nacional. Além do apoio técnico em áreas de controle dequalidade e em treinamento, o Centro desenvolve atividades nasseguintes áreas: padronização de produtos/matérias-primas; pes-quisa ambiental através da reutilização de resíduos; sistemas degestão; técnicas de produção; estabelecimento de convênios e par-cerias com empresas e institutos; pesquisa em insumos e compo-nentes; projetos técnicos específicos para a necessidade de cadaempresa; serviços de consultoria.

Quadro 9Organizações Privadas de Pesquisa

quisa” (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazôniae Embrapa) foram submetidos ao Congresso Nacio-nal em 1993 e 1997, respectivamente.

Outra iniciativa é a da criação de centros de pesquisapor associações de produtores. Na América Latina,a área de pesquisa agropecuária fornece exemplosdessa natureza, podendo-se encontrar centros pri-vados de pesquisa em todos os países, voltados tan-to a produtos agropecuários específicos, como aodesenvolvimento de cadeias produtivas integradas.

Exemplos para arroz, café e flores na Colômbia; ce-vada e cerveja no Uruguai; cana-de-açúcar, soja, la-ranja e suco de laranja no Brasil; frutas no Chile,entre outros, mostram a importância da criação deorganizações de pesquisa diretamente ligadas a pro-blemas tecnológicos bem delimitados. (Quadro 9)

Por trabalharem com parcerias com centros públicosde pesquisa, a própria efetividade dessas organiza-ções privadas acaba dependendo da capacidade dasorganizações públicas em realizar contratos para

Page 264: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

248

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

participar de arranjos coletivos de pesquisa.

Assim, a criação e fortalecimento de arranjos de pes-quisa, desenvolvimento e inovação dependem deajustes legais estabelecendo e regulando modelos jurí-dicos organizacionais que gozem de autonomia eflexibilidade e que sejam cobrados pelo cumprimen-to de objetivos e metas de interesse público. Taldesafio encontra respaldo na própria Carta Magna,que, em seu artigo 218, parágrafo 3°, explicita que“O Estado apoiará a formação de recursos huma-nos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, econcederá aos que delas se ocuparem meios e con-dições especiais de trabalho.”

Experiência legislativa recente da França (Quadro10) aponta na direção da criação de condições demaior competitividade para Organizações Públicasde Pesquisa (OPPs) e universidades e maior articu-lação entre essas e o setor produtivo. A lei francesaapresenta quatro pontos principais todos voltados a

promover incentivos a OPPs, universidades e em-presas inovadoras.

Registre-se, neste sentido, o Projeto de Lei no 257/2000, de autoria do senador Roberto Freire, em tra-mitação no Senado Federal, cujos principais pontosforam explicitamente inspirados na lei francesa. OProjeto de Lei no 257/2000 caminha na direção dealgo que já está sendo praticado em países desen-volvidos como EUA, Alemanha, França e Inglaterrahá algum tempo (Quadro 11).

Flexibilidade, autonomia e busca de maior competi-tividade de organizações públicas de pesquisa, in-centivos à emergência de empresas de base tecnoló-gica, à constituição de redes de pesquisa; à imple-mentação de programas de demanda pública por tec-nologia, entre outros elementos, são questões que

Objetivo maior: fomentar a participação de pessoal ligado à pesquisa pública na criação e desenvolvimento de empresas.

A Lei compreende quatro eixos:(i) facilitar a mobilidade de pessoal de pesquisa para as empresas e comercialização de seus produtos e serviços;

(ii) facilitar a colaboração entre pesquisa pública e empresas;

(iii) oferecer um quadro fiscal adequado para empresas inovadoras;

(iv) modificar o quadro jurídico para as empresas inovadoras.A Lei prevê ainda a criação de meios financeiros de suporte, tanto em nível nacional, como regional, com o objetivo de promover a:• criação de empresas por pesquisadores e docentes-pesquisadores;• autorização para participação temporária de pesquisadores para colaborar com empresas;• participação de capital (até 15%) em firmas tipo start-up;• ampliação da interlocução de pesquisadores com empresas e aceitação de complementação de remuneração;• valorização do empreendendorismo dentro das organizações públicas de pesquisa e ensino;• criação de incubadoras: financiamento e aporte de capital para organizações públicas de pesquisa e ensino que queiram constituir fundospara a criação de empresas.

Quadro 10Lei Francesa de Incentivo à Inovação

Page 265: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

249

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

A concepção de que a universidade teria a funçãode sanar deficiências tecnológicas da empresa e deque a empresa viria a ser uma importante fonte definanciamento da universidade ainda está presenteem grande parte das análises sobre o tema. Essa for-mulação tem dificultado a elaboração de políticasmais efetivas, pois constitui uma visão equivocadado tema. Prova desse equívoco é a constatação quedos U$21bilhões contratados para pesquisa em to-das as universidades americanas em 1994, somenteU$1,4bilhão (ou seja, menos que 7%) foi provenientede contratos com empresas. Mesmo considerandoas instituições de pesquisa com elevado número decontratos com empresas, como é o caso do Mas-sachussets Institute of Technology (MIT), verifica-se que

podem ser consolidadas em uma base legal comum,ou mesmo em medidas infralegais.

Universidade e Empresa

A discussão sobre as relações universidade-empresatem sido, há muitos anos, intensa no Brasil. É umtema recorrente, que em geral gravita em torno de ummesmo ponto: a busca dos motivos que dificultam ainteração entre as instituições públicas de ensino epesquisa e as empresas. Sem desconsiderar os avan-ços conquistados pela vasta produção técnico-cientí-fica nesta temática, é preciso requalificar alguns pon-tos do debate, particularmente no que diz respeito àforma de enfocar a questão.

Autoria: senador Roberto Freire

Objetivos:Dispõe sobre diretrizes gerais de incentivo à pesquisa e à inovaçãotecnológica. Seu objetivo é o de permitir que servidores ou empre-gados da administração direta e indireta, de caráter científico outecnológico, bem como ocupante de cargo de magistério superior,possam participar de atividades ou projetos de pesquisa ligados comárea científica ou tecnológica nos seguintes termos:

Servidores, empregados ou cargo de magistériosuperior poderão:• receber participação sobre ganhos econômicos resultantes daexploração de resultado de criação intelectual ou produção técnico-científica inovadora, para a qual tenha contribuído individualmenteou enquanto membro de uma equipe de pesquisadores;• prestar colaboração, por prazo não superior a cinco anos, a em-presa privada ou órgão ou entidade da administração pública diretaou indireta para o desenvolvimento de atividade ou projeto de pes-quisa científica ou tecnológica de alta relevância para o interessenacional, mediante autorização do presidente da República;• licenciar-se, mediante autorização do Ministro de Estado ao qualseu órgão de origem está lotado, com remuneração reduzida, porprazo certo, para desenvolver atividade empresarial relativa à pro-dução de bens diretamente decorrentes de sua criação ou invenção.

Ressalvas:• servidor ou empregado lotado em entidade de administração públi-ca direta ou indireta só poderá desenvolver projetos de pesquisa ouatividades empresariais em áreas compatíveis ao seu cargo atual;

• a remuneração durante este período é decrescente do primeiroao último ano do afastamento;• durante o período de afastamento, o servidor, empregado ou ma-gistrado deverá abdicar de todas as atividades vinculadas ao cargo efunção exercidos anteriormente, com exceção dos magistrados queexercerem docência no estrito âmbito de sua instituição pública deorigem.

Orgãos e entidadesOs órgãos e entidades da administração pública direta ou indireta,de caráter científico ou tecnológico, especialmente as universidadespúblicas, poderão celebrar convênios de prestação de serviços oucontratos de pesquisa, explorar patentes e licenças, bem como criarserviços voltados para a industrialização ou comercialização de pro-dutos e serviços diretamente decorrentes de atividades técnico-científicas inovadoras por eles desenvolvidas.

Poderão também ser contratados, em caso de manifesta necessida-de, técnicos ou especialistas não integrantes do quadro efetivo deservidores, empregados ou pesquisadores daquelas instituições,mediante contratos de trabalho de duração determinada. Os órgãose entidades da administração pública direta e indireta, de carátercientífico ou tecnológico, poderão ceder laboratórios, equipamen-tos, instrumentos, materiais e demais instalações, por prazo limita-do e mediante remuneração adequada. Firmas que tenham por ob-jetivo a pesquisa e a inovação tecnológica, com receita bruta anual deaté cinco vezes a receita bruta anual estipulada para as micro epequenas empresas, gozarão de facilidades fiscais pelo prazo decinco anos contados. Dispõe ainda sobre recursos para a atualizaçãoe manutenção de bibliotecas.

Quadro 11Projeto de Lei do Senado No. 257

Page 266: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

250

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Mostra, apenas, qual a necessária ênfase que se devedar às políticas de interação entre os dois tipos deinstituição.

O papel fundamental da universidade de formaçãode pessoal qualificado deve, cada vez mais, ser de-sempenhado no contexto dos sistemas de inovação.Este é o ponto fundamental das relações universi-dade-empresa: a efetividade do processo de capaci-tação requer que os diferentes papéis dos diferentesatores presentes nos sistemas de inovação estejamem boa parte referidos uns aos outros.

A organização em redes da pesquisa para a inovaçãocoloca essa questão em termos adequados. Redes seestruturam a partir de problemas específicos, quepodem ou não ter aplicação no curto prazo. Do pontode vista da geração de conhecimento, a participaçãode instituições de ensino e pesquisa junto com em-presas, organizações comunitárias, órgãos de gover-no e outros atores relevantes abre caminho para aefetividade dos sistemas de inovação.

Como vimos em capítulos precedentes, o sistemade ensino e pesquisa universitário no Brasil vem so-frendo transformações substantivas nos últimos dezanos. De um sistema predominantemente público egratuito, passa-se a um sistema misto, no qual pre-valece, em termos quantitativos, o ensino superiorprivado. Além do crescimento do ensino privado, ob-serva-se que o ensino público está sendo progres-sivamente questionado em suas funções e em suainserção no sistema de CT&I.

Não obstante, as universidades públicas brasileirasainda constituem o principal locus de produção e atua-lização do conhecimento científico no Brasil. Comoexplicitado no capítulo Avanço do Conhecimento, o

este percentual não passa de 15% do orçamento depesquisa.

A missão da empresa é produzir e gerar riqueza, aopasso que cabe primordialmente à universidade for-mar pessoal qualificado, particularmente por meiode uma intensa prática em atividades de pesquisa.Contudo, isto não quer dizer que se deva negligenciaro potencial das instituições de pesquisa e ensino co-mo fonte de conhecimento para a inovação tecnoló-gica. Tampouco, que a empresa não deva exercerqualquer papel no financiamento dessas instituições.

No contexto do processo de fortalecimento da ciência e tecnologianacional, é urgente e necessário empreender uma iniciativa de ca-ráter legal e institucional que ofereça, às universidades, centros depesquisas, empresas e governos, os instrumentos necessários aoestímulo à inovação. Em especial, os projetos científicos e tecno-lógicos decorrentes da associação das instituições públicas de P&Dcom o setor produtivo apresentam novos desafios em diferentesesferas, desde o regime trabalhista, até a proteção e a gestão dapropriedade intelectual e da transferência de tecnologia.Um dos instrumentos desse conjunto de medidas é a elaboração deuma Lei da Inovação, como prevê a Agenda do Governo para o biênio2001-2002 , que deverá tratar de temas como:

• estímulos à mobilidade de pesquisadores do setor público para oprivado e vice-versa;• reexame do regime jurídico das instituições de pesquisa e dasempresas, permitindo maior autonomia administrativa e financei-ra, novas práticas de gestão e desburocratização;• estímulo a parcerias público-privadas através de novos arranjosinstitucionais e novas formas de contratação ou encomendas dedesenvolvimento tecnológico junto ao setor privado;• estímulo à constituição de capital de risco e à mobilização dapoupança para atividades intensivas em P&D;• estímulo ao surgimento de empresas inovadoras;• estímulo ao empreendedorismo por parte de pesquisadores dasorganizações públicas de pesquisa;• proteção à propriedade intelectual e à transferência de tecnologia;• estímulo ao empreendedorismo e à proteção da propriedadeintelectual por parte de pesquisadores de instituições públicas;

É fundamental, nesse contexto, que no âmbito da Conferência Na-cional de C&T&I sejam discutidas essas questões, no sentido deaprimorar o quadro legal, com vistas a desobstruir entraves à prá-tica de ações inovadoras.

Quadro 12Lei da Inovação

Page 267: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

251

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

sistema de ensino superior expandiu-se significati-vamente na última década, atendendo parcialmenteàs necessidades crescentes de profissionais qualifi-cados. No entanto, esse sistema passa por um mo-mento crítico que exige reflexão para orientar a defi-nição de estratégias para alcançar dois objetivos. Deum lado, a ampliação da oferta de oportunidades deformação em sintonia com as exigências da socieda-de do conhecimento. Isto requer uma reposição doquadro funcional e a recuperação da atratividade dejovens talentos para as carreiras acadêmicas. Poroutro lado, dever-se-ia também considerar a neces-sidade de maior atenção às demandas sociais e aosrequisitos de inovação, cada vez mais relevantes paraa competitividade das empresas.

A universidade pública padece, atualmente, de umacerta ambigüidade: a ampliação da formação de qua-dros profissionais para o mercado e a contínua produç-ão de pesquisa de qualidade. Na realidade, essas duasfunções poderiam ser complementares, não fossem astransformações institucionais das últimas duas décadas,a produzir dificuldades com relação ao corpo docenteuniversitário a manutenção do financiamento públicoem níveis que limitam o crescimento do ensino públicode qualidade e pressionam a formação universitária nosentido do mercado. Essa disjuntiva acentua justamentea necessidade de revisão de papéis e constituiimportante objeto de debate no momento.

A maioria das instituições públicas de ensino superiortem se preocupado em gerenciar o curto prazo, dei-xando de explorar sua própria inteligência em pro-veito desse reposicionamento. É sintomático quequestões vitais, como a busca de alternativas para arecomposição de quadros e a profissionalização dagestão da inovação, fiquem em segundo plano diantedas questões administrativas do cotidiano universi-

tário. Até o momento, o debate sobre o destino dauniversidade tem se restringido às esferas acadêmicase de governo, deixando a população em geral à mar-gem de compreensão do papel estratégico das univer-sidades como agente de produção de conhecimentoe de formação de recursos humanos, consideradoscomo insumos básicos para a geração de riqueza epromoção de desenvolvimento. É preciso, portanto,ampliar o diálogo para incorporar as prioridades deCT&I na agenda destas instituições.

Construir um sistema de CT&I exige que o aparatouniversitário brasileiro passe por profunda revisão.De um lado, as instituições públicas de ensino supe-rior devem se preparar para contribuir na construçãodesse sistema, definindo inclusive uma nova relaçãocom o Estado. De outro, as instituições privadas nãodevem seguir se reproduzindo sem aquela mesmareferência, ou seja, não devem ser um fim em si mes-mas, mas buscar excelência na formação e, tantoquanto possível, ter participação no desenvolvimentocientífico e tecnológico e na geração de inovações.

Para que as universidades possam participar dessetipo de organização, é fundamental contar com ele-mentos de autonomia e flexibilidade. A otimizaçãodas relações universidade-empresa passa pela capa-cidade das organizações públicas de ensino e pes-quisa de responder com agilidade às necessidadesde estruturação em redes. O potencial da interaçãouniversidade-empresa só terá condição de ser maisbem explorado, se o arcabouço legal viabilizar condi-ções de autonomia para a mobilidade dos recursosessenciais, particularmente recursos intangíveis,daquelas instituições.

Page 268: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

252

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 269: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

253

Capítulo 6 - Desafios Institucionais

AS AGÊNCIAS DE FOMENTO NA ORGANIZAÇÃO DOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO

O papel das agências e órgãos de governo voltadosao planejamento e ao fomento de CT&I também temse alterado no panorama internacional. Da funçãopredominante de organização de sistemas de ciência,as agências tendem a adotar uma política que integrea promoção de projetos acadêmicos com o desen-volvimento tecnológico e a inovação. Neste sentido,ampliam-se e tornam-se mais complexas suas fun-ções de planejamento e de promoção da inovaçãopor meio de novos instrumentos de fomento.

No Japão e Coréia, a organização dos sistemas deinovação partiu de um concepção oposta a de paísescomo França e Brasil. Naqueles, o fomento esteveprimariamente voltado à criação de competência parainovar e competir em mercados externos, deixandoem segundo plano o estímulo às instituições cien-tíficas. Desde o final dos anos oitenta, o Japão e aCoréia têm se preocupado em formar uma base cien-tífica para completar e prover seus sistemas de ino-vação com instituições dedicadas à geração de co-nhecimento científico.

Enquanto os países desenvolvidos buscam a orga-nização do planejamento e do fomento voltado aprogramas de promoção da inovação e ao estímuloà interação entre os diversos atores públicos e pri-vados (ver Quadros 9 e 10, neste capítulo), nos paí-ses menos desenvolvidos essas iniciativas são menossistemáticas e efetivas.

Page 270: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

254

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

A implementação dos fundos setoriais é, neste sen-tido, um dos principais desafios para os órgãos deplanejamento e fomento do País. O uso dos recursosdos fundos setoriais não pode seguir a mesma lógicaque orientou as experiências anteriores, tampoucopode se basear na execução orçamentária burocrati-zada que vem se cristalizando a mais de três décadas.Há aí um risco institucional evidente: é preciso criarcondições ágeis de implementação dos recursos queatendam aos objetivos finalísticos.

Isto se verifica em diversos planos: na forma de de-finição de prioridades; na incorporação efetiva dosdiversos atores envolvidos (particularmente o meioacadêmico e o setor privado) na avaliação do mérito,que deve ir além da excelência acadêmica eincorporar diversos “pares” e suas diferentes visões;na contratação e participação dos parceiros (reveros mecanismos de propriedade intelectual, contornarou eliminar as dificuldades contratuais típicas dasorganizações públicas de pesquisa); na proposiçãode projetos, facilitando o encaminhamento depropostas e sua avaliação de mérito e relevância; naimplementação dos contratos, pela criação de meca-nismos ágeis de contratação e de liberação e uso derecursos, fortalecimento de sistemas de informaçãoacessíveis e amigáveis sobre processos em anda-mento; no acompanhamento e avaliação de resul-tados (por meio da valorização de mecanismos queprivilegiem resultados sobre os procedimentos e quepremiem e punam adequadamente).

Todos esses requisitos demandam mudanças cultu-rais nas instituições de pesquisa e particularmentenas de fomento. Nestas, é preciso iniciar uma novafase de configuração institucional, voltada para o pro-cesso de inovação, que por suas próprias caracterís-ticas requer a aproximação de práticas gerenciais

entre os diversos atores.

O Brasil conta com instituições consolidadas de pla-nejamento e fomento de atividades de CT&I. CNPqe Capes, por exemplo, completam cinqüenta anos deserviços prestados à formação de uma substantiva co-munidade científica e de extenso conjunto de organi-zações de pesquisa no País. A crescente complexida-de do papel dessas agências aponta para a necessi-dade de enfocar as seguintes questões: delimitaçãoda finalidade e da abrangência de atuação; articulaçãodos papéis e dos mecanismos de planejamento e fo-mento; capacitação do quadro técnico; avaliação sis-temática; revisão dos procedimentos burocráticos.

Vale ressaltar a questão da necessidade de ampliaçãoe qualificação do quadro técnico dessas agências. Es-te é, sem dúvida, um ponto crucial para a mudançacultural que se exige dessas agências, para que ve-nham a cumprir um papel ativo na construção desistemas de inovação.

É preciso atentar, ainda, para o papel das Fundaçõesde Amparo à Pesquisa estaduais (FAPs), pois a cor-reção dos desequilíbrios regionais e a criação de sis-tema descentralizado de Ciência, Tecnologia e Ino-vação passam, naturalmente, pela atuação mais vi-gorosa dos estados da Federação no fomento àpesquisa e ao desenvolvimento.

Finalmente, cabe assinalar o pequeno papel desem-penhado pelo mecenato privado nacional no apoioàs instituições de ensino e pesquisa do País. Enquan-to nos Estados Unidos detentores de grandes fortu-nas, individuais e institucionais, notabilizam-se pordoações a universidades e centros de pesquisa, noBrasil esses casos são praticamente desconhecidos.

Page 271: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

TRAVESSIA: COOPERAÇÃO, DIVERSIDADEE SUSTENTABILIDADE

Page 272: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

256

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

TRAVESSIA:COOPERAÇÃO,DIVERSIDADE ESUSTENTABILIDADE

“Existe é homem humano. Travessia.”Essas são as duas últimas frases deGrande Sertão: Veredas, de JoãoGuimarães Rosa, uma das maioresobras da literatura brasileira.Relembra-se assim que não apenasCiência, Tecnologia e Inovação sãoimportantes no processo dedesenvolvimento, mas, sobretudo,reafirma-se a centralidade do serhumano e de sua travessia, individuale coletiva, por este mundo.

O sistema de Ciência e Tecnologiabrasileiro é jovem. O fomento re-gular às atividades de pesquisa e de-senvolvimento no Brasil iniciou-sehá apenas cinqüenta anos. Nesteprazo, curto na história de uma Na-ção, o País conheceu avanços im-portantes, alguns dos quais relata-dos neste documento. O sistema éjovem, também, em termos da ida-de média de seus pesquisadores.Esta juventude é uma das grandesforças do Brasil. Ciência, Tecnolo-gia e Inovação se fazem com entu-siasmo, curiosidade, ambição e acoragem que nasce da vontade dedesafiar o sistema existente de cul-tura e conhecimento recebidos.“Eles fizeram, porque não sabiamque era impossível” já foi dito maisde uma vez de grandes progressosem Ciência, Tecnologia e Inovação.Só os jovens não sabem das coisasque são impossíveis e, por isso mes-mo, conseguem fazê-las.

Page 273: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

257

Travessia: cooperação, diversidade, sustentabilidade

As tarefas imprescindíveis e de longo prazo que sedelineiam são a sustentação e o fortalecimento doesforço nacional em CT&I, como condições de de-senvolvimento, bem-estar e soberania. Elas deman-dam conscientização e mobilização política, emba-sadas em uma visão de futuro do País e de sua po-sição no mundo, e pertinácia na execução de medi-das transformadoras. O que se busca é construir acapacitação em Ciência, Tecnologia e Inovação pararesponder e se antecipar às necessidades do País.

Muitos dos pontos fortes do sistema de Ciência eTecnologia do País são indicados neste documento.O mais importante deles pode ser resumido em umaexpressão: sua capacidade de dar respostas quandodesafiado. Respostas sob a forma de instituições quese construíram ao longo do tempo, como o CNPq, oprincipal órgão de fomento à pesquisa científica dogoverno federal; a Finep, secretaria-executiva do Fun-do Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-nológico; a Capes, do Ministério da Educação e Cul-tura, orientadora e fomentadora da pós-graduaçãona universidade, essencialmente a universidade pú-blica, que hoje forma mais de cinco mil doutorespor ano e possui avançado sistema de avaliação quegarante sua qualidade; a Fapesp, a agência pioneirade fomento estadual; ou respostas sob a forma dedescobertas científicas e inventos que contribuírampara o crescimento do País em áreas tão diversasquanto agricultura e telecomunicações. Esse sistema,construído com paciência, perseverança e enfren-tando muitos obstáculos, já atingiu um patamar ele-vado de competência e qualificação, deu e continuadando contribuições relevantes para a sociedade bra-sileira. Está, portanto, pronto para o próximo saltode expansão e de qualificação, que resultará de suamobilização para aproveitar as oportunidades ofere-cidas pelos desafios do processo de inclusão defini-

Page 274: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

258

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

tiva da Ciência, Tecnologia e Inovação na agendanacional, objetivo maior do processo de elaboraçãodas Diretrizes Estratégicas para o setor.

Há ainda deficiências, algumas das quais decorremdas desigualdades da sociedade brasileira. Uma po-pulação de escolaridade média inferior a seis anos,produto da exclusão social e de uma educação básicae de nível médio que precisa ser aprimorada e que jácomeça a mudar de rumo de forma positiva. Fortesdesigualdades regionais, problema grave, que emergeem mais de uma das questões tocadas neste docu-mento, oferecem uma oportunidade excepcional deexpansão para um sistema de CT&I que precisa cres-cer rapidamente. Além disso, infra-estruturas de en-sino e pesquisa, ultrapassadas pela falta de investi-mentos, atrasam a solução de problemas para os quaisa universidade e centros de pesquisa têm contribui-ções a dar. A superação desse gargalo ganha, agora,novas perspectivas com a criação dos fundos setoriaise a nova institucionalidade que se desenha paraCT&I no Brasil. Portanto, há desafios do tamanhodo País a enfrentar e que já estão sendo enfrentadoscom êxito.

A pequena participação do setor privado nas ativi-dades de pesquisa e desenvolvimento é uma questãocentral da discussão das Diretrizes Estratégicas.O arcabouço institucional para uma sociedade doconhecimento – não apenas aquele específico dosetor de Ciência e Tecnologia, mas também o quetrata das relações do Estado com o setor privado naárea de pesquisa e desenvolvimento – precisa serrevisto com urgência. Novos instrumentos legais emanálise estabelecerão canais de cooperação público/privado e acelerarão a transferência de conhecimentodos centros geradores para a sociedade e para omercado. Os programas Inovar da Finep, a Lei de

Inovação, bem como a criação das plataformas re-gionais de inovação já apontam para o incrementosignificativo da participação do setor privado na exe-cução da pesquisa e desenvolvimento, segundo umatrajetória que atende, em primeiro lugar, aos inte-resses da sociedade brasileira. Um dos desafios dasnovas iniciativas é o de alcançar escala e escopo co-mensuráveis com as necessidades de nossa economia.

Da leitura deste documento, traços comuns emergempara a formulação de programas para a Ciência, Tec-nologia e Inovação. A idéia de projetos integradorese cooperativos é recorrente, qualquer que seja o tematratado. Na solução de problemas sociais urgentesou na pesquisa fundamental – e, em muitos casos,como o documento exemplifica, há coincidência en-tre essas duas atividades –, a necessidade da uniãode esforços, de especialistas das mais diversas disci-plinas e da comunidade interessada, se repete emtodas as áreas.

Projetos integradores têm a vantagem de explorar aunicidade fundamental do conhecimento para ace-lerar seu avanço, mediante mecanismos de reforçomútuo de progressos em disciplinas vizinhas ou pelafertilização de idéias através das barreiras conven-cionais das disciplinas. Não há uma natureza física,outra química, outra biológica e, mais além, uma so-cial ou outra econômica que trafeguem em vias es-tanques. A natureza é uma só, e tão mais rapida-mente entrega seus segredos, quanto mais poderosafor a combinação das interrogações que sobre ela sefazem. Tais projetos têm ainda a vantagem de agregarconhecimentos de diferentes especialidades na buscade soluções para problemas de todo tipo, dos maissimples aos mais complexos – da provisão de em-prego e renda ou saneamento básico para uma po-pulação carente, à cura de doenças, como a malária,

Page 275: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

259

Travessia: cooperação, diversidade, sustentabilidade

que afetam milhões de pessoas. Mas, e isto não édesprezível, eles têm também o atrativo pragmáticodo ganho rápido, da junção de esforços na busca dainovação e da redução de tempo do ciclo de geraçãode um novo produto que conquista mercados. Co-operação, redes, comunicação e intercâmbio de in-formações, movidos pela curiosidade, pelo altruísmoou pela atração do ganho, são todos necessários parao rápido avanço do conhecimento.

A preservação da diversidade, seja biológica, sejainstitucional, seja ainda de campos de pesquisa oude atividades econômicas, é outro tema que trans-parece de quase todas as discussões deste documen-to. A biodiversidade, mais do que uma riqueza naturala ser preservada ou explorada sustentavelmente, éuma forma de a Natureza garantir sua estabilidadede longo prazo. A vida é sujeita a toda espécie de“choques” externos – mudanças lentas ou rápidasdo meio ambiente, introdução de novas espécies, ca-tástrofes naturais de maior ou menor amplitude – e,apesar disso, sob uma forma ou sob outra, elacontinua a existir, porque sua diversidade lhe garan-te, coletivamente, ainda que não individualmente, anecessária capacidade de adaptação e sobrevivência.Do mesmo modo, a diversidade de um sistema deCiência, Tecnologia e Inovação é a garantia de suaestabilidade no longo prazo – ninguém pode prevercom segurança de onde surgirá a próxima descobertaque mudará o curso da economia mundial, comoninguém sabe onde surgirá a próxima ameaçadevastadora à saúde pública ou ao meio ambiente.A diversidade do sistema garante sua capacidade dedar resposta a desafios e ao aproveitamento dasoportunidades que se sucedem, cada vez com maiorrapidez. Isto impõe a necessidade de incrementarmose qualificarmos o esforço nacional em CT&I.

Cooperação e diversidade resumem, assim, dois dosprincipais temas de fundo deste documento e, cer-tamente, merecem figurar com realce na discussãodas Diretrizes Estratégicas.

Como assinalado, a telemática e a biotecnologia for-mam a base da mais recente revolução mundial doconhecimento e da produção. O que, além delas,aguarda a humanidade no século que se inicia é im-possível saber. Nanotecnologias, materiais especiais,neurociências, novas técnicas de manufatura, a ex-ploração de grandes fronteiras ainda em aberto, comoos oceanos e o espaço, reservam surpresas, se a his-tória é um indicador. Contudo, nem os grandes avan-ços científicos e tecnológicos do século XX, nem astransformações sociais que deles decorreram ante-viam-se no horizonte um século atrás. Só por ex-traordinária ingenuidade se poderia supor que o co-nhecimento disponível no alvorecer deste novo sé-culo será mais importante dentro de cinqüenta anosdo que tudo quanto ignoramos neste momento. Nes-sas circunstâncias, construir o futuro significa forta-lecer e expandir um sistema de Ciência, Tecnologiae Inovação capaz de enfrentar, de forma sustentável,os “choques de conhecimento” que estão por vir.

A situação atual do Brasil não o condena a uma per-petuidade de atraso. Bem ao contrário, o que estedocumento procurou mostrar foi o extraordinário ca-minho percorrido nos últimos cinqüenta anos, as ini-ciativas transformadoras atualmente em curso e asfantásticas oportunidades para o futuro. Procuroumostrar, igualmente, que, para a próxima década, háuma consciência clara das demandas mais prementese das dificuldades a vencer. No curto prazo, muitodo que precisa ser feito já se encontra bem encami-nhado e estão delineadas as linhas mestras de atua-ção. A chave do caminho do futuro encontra-se no

Page 276: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

260

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

exemplo da ação pertinaz e conseqüente, orientadapor uma visão de longo prazo da construção do País,que caracterizou o crescimento da Ciência eTecnologia no Brasil nas últimas cinco décadas.

Dois fatos contribuem para a possibilidade do Paísqueimar ou abreviar etapas de seu desenvolvimentocientífico e tecnológico e, em poucas gerações, si-tuar-se entre as nações líderes da humanidade. Emprimeiro lugar, Ciência, Tecnologia e Inovação ten-dem a ser o produto do trabalho de jovens, uma “ma-téria-prima” de que o País dispõe em abundância eque não pode desperdiçar. Dadas condições institu-cionais adequadas, CT&I são bastante fáceis deserem aprendidas e desenvolvidas pelos jovens, comoo demonstra a agilidade com que qualquer criançamanuseia as últimas novidades tecnológicas, enquan-to seus pais se atrapalham à vista de um simples con-trole remoto. Daí a preocupação com a absorção derecém-doutores e sua fixação no mercado de trabalho.Essas condições institucionais incluem cooperação,diversidade e sustentabilidade e vale, ainda, adicio-nar a essas a flexibilidade indispensável para fazerfrente às constantes mudanças de um sistema extre-mamente dinâmico. Em segundo lugar, precisamenteos “choques de conhecimento”, que alteram a con-figuração das disciplinas, tornando algumas ultrapas-sadas e criando novas, fazem com que recém-che-gados não tenham uma desvantagem insuperável emrelação aos velhos sistemas estabelecidos. Onde, derepente, tudo está por descobrir e por fazer, as posi-ções do jogo voltam praticamente à estaca zero, asbarreiras de entrada se reduzem e os jogadores seigualam. Foi isto que permitiu, por exemplo, que oBrasil, em tão pouco tempo, se projetasse internacio-nalmente no cenário da genômica ou conquistasseuma posição única na exploração submarina de petró-leo. Quando, dentro de alguns anos, o sistema

nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação ganharainda mais em dimensão e em sustentabilidade, oque hoje são eventos excepcionais passarão a ser aregra, pois esta é a lógica do processo de desenvol-vimento científico e tecnológico.

Novas organizações de pesquisa e desenvolvimentoserão necessárias para abarcar a crescente diversi-dade de áreas do conhecimento, mas serão, igual-mente, importantes para reduzir desigualdades regio-nais. Novas modalidades de organização cooperativada pesquisa e desenvolvimento, concomitantemente,terão de ser exploradas, visando aproveitar as tec-nologias da comunicação e da informação na acele-ração do avanço do conhecimento e da superaçãodas barreiras da distância e do isolamento geográficoe cultural de novos centros que venham a surgir.

Novos organismos de gestão, como o Centro de Ges-tão e Estudos Estratégicos, em implantação; novasfontes de recursos, como os fundos setoriais; novosinstrumentos de fomento que terão de ser definidos;e a crescente participação do setor privado contri-buirão para a manutenção e expansão do sistema.

A necessidade de inclusão definitiva do tema inova-ção na agenda econômica brasileira é uma conclusãotambém marcante das discussões apresentadas nesseLivro. Isto passa pela necessidade de internalizarmais conhecimento nas empresas e, em especial, di-fundir tecnologia junto às pequenas e médias em-presas para torná-las competitivas e aptas a exploraroportunidades de negócios em um mundo globali-zado. A nova economia, a economia da informação,do aprendizado ou do conhecimento, como quer sedefina essa nova dinâmica, será marcada pelo papelestratégico da Ciência, da Tecnologia e da Inovação.Um ambiente favorável à inovação, que estimule das

Page 277: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

261

Travessia: cooperação, diversidade, sustentabilidade

mais diversas maneiras o esforço privado em P&D,é um requisito do futuro. É um requisito da geraçãode mais e melhores empregos, da melhoria dainserção internacional da economia brasileira. É,enfim, um requisito de qualquer trajetória de desen-volvimento para o País.

A articulação entre o MCT e outros órgãos do Go-verno Federal, com estados, municípios e com o se-tor privado são apenas aspectos, desta feita de cará-ter institucional, do trinômio cooperação, diversida-de e sustentabilidade, já mencionado. A crescentedemanda pela ação regional e local em CT&I é umfato muito positivo. Cabe ao MCT o papel de articu-lador das múltiplas oportunidades de interlocução ede parceria entre os mais variados agentes do siste-ma, para alcançar os objetivos do esforço nacionalem CT&I. As dimensões do País e o tamanho de suapopulação dão, a qualquer problema de relevâncianacional, uma escala que poucas nações possuem.Nada no Brasil é pequeno – desafios ou soluções.Unir competências e respeitar a diversidade de de-mandas é o caminho da sustentabilidade do sistema.

Inserir o Brasil nos novos padrões internacionais deCT&I significa aproveitar a experiência de outrospaíses e contribuir com sua própria experiência parao benefício de outros povos, mediante uma coope-ração internacional pautada por uma agenda políticade interesse nacional. É preciso definir novos enfo-ques, mais abrangentes, que espelhem a dinâmicado setor no País e no exterior, possibilitem manter oPaís em sintonia com o que se passa no mundo e naregião em CT&I.

O processo que ora se inicia de definição das Dire-trizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Ino-vação, na próxima década, deve ser visto como algo

que precisa ter continuidade, que não se encerra coma realização da Conferência Nacional de Ciência,Tecnologia e Inovação, ou com a posterior publica-ção de um documento, o Livro Branco, que sinteti-zará as conclusões das etapas percorridas neste anoe as opções do Ministério da Ciência e Tecnologia.Quaisquer que sejam essas opções, pela própria dinâ-mica do processo criativo da Ciência, Tecnologia eInovação, elas certamente serão revistas em menosde uma década. Dez anos é prazo longo demais paraimaginar que as diretrizes manterão, em sua totali-dade, relevância e pertinência. O que mais importaé perenizar o debate e, sobretudo, o enfoque estra-tégico das políticas de CT&I. Uma das Diretrizesque já se desenha e que, justamente, espera-se sejamantida é a que diz respeito à necessidade desse de-bate permanente, que será estimulado pela criaçãodo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos e quepoderá ensejar, no futuro, a convocação de novasConferências Nacionais. É inevitável, contudo, queo debate evolua na sua forma, nos seus mecanismose no seu conteúdo, à medida que o sistema de CT&Ise expanda e incorpore novos agentes.

O momento é mais do que oportuno para se impul-sionar definitivamente este debate nacional. Bemaproveitá-lo é o desafio maior para a Ciência, Tecno-logia e Inovação no Brasil hoje.

Page 278: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

262

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 279: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

PERSPECTIVAS DA COOPERAÇÃOINTERNACIONAL EM CT&I

Page 280: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

216

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

PERSPECTIVASDA COOPERAÇÃOINTERNACIONALEM CT&I

É direto e legítimo o interesse dos países emdesenvolvimento – cuja população corresponde amais de quatro quintos da humanidade – na defini-ção do novo paradigma de desenvolvimento global,que se funda no conhecimento e na inovação; emsua difusão e também no modo pelo qual deverácondicionar o futuro do planeta. Têm eles contra sipróprios, no entanto, a desvantagem das tradicionaisassimetrias políticas, econômicas e tecnológicas, quequalificam sua posição no mundo e os diferenciamdos principais centros do sistema internacional.

Parece existir hoje uma rara oportunidade para quese redefinam, de maneira mais favorável, a inserçãoe a eqüitativa integração desses países na ordemmundial. Se esse processo avançar, as nações em de-senvolvimento passarão a ter melhor acesso ao co-nhecimento, mais facilmente modernizarão seusmeios e procedimentos, desenvolverão ou adaptarão,individual ou coletivamente, novas tecnologias.

No Brasil, a política de CT&I se operacionaliza nocontexto das realidades políticas. Ao governo, cabecriar um ambiente favorável – interno e externo –,um espaço de reflexão e de crítica, mas, acima detudo um espaço, no qual, com a participação ativa

da comunidade acadêmica, a sociedade e os meiospolíticos trabalhem com vistas a dar viabilidade aosavanços científicos e tecnológicos, que são impres-cindíveis para garantir o futuro do País.

Nas últimas décadas, a cooperação pontual e indivi-dual ensejou marcante presença dos pesquisadorese cientistas brasileiros no cenário mundial. Propor-cionou, aqui e ali, avanços no conhecimento, masum progresso relativamente menor no desenvolvi-mento tecnológico. Demonstrou mesmo as sérias li-mitações do processo que se convenciona chamarde transferência de tecnologia e, por outro lado, evi-denciou a necessidade de promover-se a internali-zação do conhecimento sobre o País, que se acumu-lou em importantes centros de pesquisa no exterior,em função de ações de cooperação internacional.

É visível, na fase atual, a necessidade de mudança napolítica de cooperação internacional em CT&I do País.As transformações em curso no plano mundial e ascarências nacionais em CT&I demandam iniciativastransformadoras. Nesse panorama, estão defasadas aspremissas, práticas e metodologias de trabalhodominantes na cooperação internacional em CT&Icom o Brasil, assim como tornaram-se antiquados os

Page 281: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

217

Perspectivas da cooperação internacional em CT&I

objetivos que as vêm orientando há décadas.

Novos enfoques fazem-se necessários. Na perspec-tiva desta década, a cooperação internacional emCT&I demanda atualização e ampliação de concei-tos, reprogramação de atividades e criação de instru-mentos, assim como a adoção de aperfeiçoamentosinstitucionais.

Nesta etapa, inexiste – por ineficaz e, mesmo, contra-producente –, a opção da simples manutenção do statusquo em cooperação internacional. Parece necessário,pelo contrário, identificar e realizar as potencialidadesexistentes no sistema internacional, mobilizar recursos,imprimir nova dinâmica e acrescentar novosconteúdos ao esforço de cooperação internacional.

Para além de ampliar a mobilidade, a atualização e apresença dos pesquisadores brasileiros junto aos prin-cipais centros da ciência mundial, será preciso refor-çar a prioridade conferida aos temas mais relevantesda agenda nacional do conhecimento e da inovação.Do mesmo modo, não bastaria estimular e facilitar oacesso individual ou coletivo ao conhecimento gera-do no exterior, mas seria igualmente fundamentalreforçar a capacidade de absorvê-lo e de gerar tec-nologias por parte das próprias instituições brasileirasde pesquisa e desenvolvimento.

O quadro externo não é inteiramente favorável ou“amigável”. Se, por um lado, comprova-se a acelera-ção do avanço científico e tecnológico mundial, poroutro, acentua-se, a despeito de toda a retórica da glo-balização, o risco de concentração do conhecimentoe inovação nas mãos de alguns poucos países desen-volvidos. O acesso internacional ao conhecimento é,na verdade, complexo e, em certos casos, inexistente.

Além disso, é altamente provável que o ritmo da re-volução científica e tecnológica mundial ainda se ace-lere, de modo significativo, nesta década, tendo emvista os previsíveis avanços, de caráter tanto sistê-mico – com a generalização da aplicação das tecno-logias da informação – quanto pontual. As pressõesgeradas pela competição global e regional estimulama clareza quanto às perspectivas da cooperação inter-nacional e a concentrar a atenção no papel a ser de-sempenhado, no Brasil, pelo esforço nacional emCT&I, na vigência de uma era marcada por desloca-mentos sociais e pelo alargamento da marginalizaçãotecnológica em escala mundial.

É preocupante que se esteja instalando – no bojo daglobalização – a tendência ao aprofundamento dohiato científico e tecnológico, com severos impactosde toda ordem. As tecnologias da informação vêmacompanhadas de perto pelo espectro da exclusãodigital, pelo estabelecimento de uma divisória sofis-ticada a separar, ainda mais que no passado, os paísesdesenvolvidos e os países em desenvolvimento, emtermos de sua sobrevivência no competitivo con-texto do mercado internacional. O domínio da gamacrescente de altas tecnologias não se tem difundidono mundo em desenvolvimento na velocidade e am-plitude desejáveis.

O grupo seleto dos países avançados vê melhoraremsuas perspectivas. Já os demais, aqueles que não inte-gram tal grupo, mesmo os que mais condições reú-nem, encontrarão crescentes dificuldades para par-ticipar do avanço científico e tecnológico mundial,nas décadas vindouras. Estão, em conseqüência, des-de já compelidos, individualmente ou em parceria, àrealização de esforços de grande porte que sejam si-multaneamente adicionais, deliberados e de cunhoestratégico.

Page 282: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

218

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

No mundo contemporâneo, é inescapável a dimensãointernacional da Ciência e da Tecnologia, tendo emvista as condições em que são conduzidas. Bomexemplo desse fenômeno está nos padrões de recru-tamento acelerado, em países em desenvolvimento,de pessoal qualificado, por parte das principais na-ções desenvolvidas, com o fim de suprir suas neces-sidades. Essa nova política, que altera o mercadomundial de trabalho especializado, exigirá que o Bra-sil e outros países se empenhem no sentido de sesituarem nesse mercado. Propõe-se que esse com-plexo tema seja objeto de amplo debate, com a par-ticipação interessada de círculos acadêmicos, em-presariais e governamentais.

É evidente e necessária a relação entre modernizaçãodo perfil da cooperação internacional e participaçãocrescente do setor privado. A cooperação interna-cional em CT&I poderá facilitar o acesso do setorempresarial brasileiro aos circuitos internacionais deP&D, os quais, para a boa execução de suas ativida-des, fortalecerão sua demanda por recursos humanosaltamente qualificados e pela produção interna deconhecimento.

Por outro lado, ainda no concernente ao âmbito inter-nacional, estão sendo estabelecidas condições quelevem as empresas a realizar ou incrementar investi-mentos em P&D no Brasil, de modo que se repro-duza no País a sinergia entre empresas, universida-des, centros de pesquisa e governo existente nos paí-ses desenvolvidos.

Na economia globalizada, parece afirmar-se o de-senvolvimento conjunto, compartilhado, de novastecnologias, como uma trajetória eficiente e prioritá-ria – a exemplo do que já ocorre tradicionalmentenos projetos de cooperação em ciências fundamentais

e nas “hard sciences”. Com o crescimento da parti-cipação das empresas nos investimentos nacionaisem P&D e com a adequada condução de nossasações na área internacional, maior será a autonomiana geração de tecnologia, contrariamente ao que, comas poucas exceções, tem acontecido ao longo do pro-cesso de industrialização no Brasil, marcado maispela aquisição de tecnologias ultrapassadas, que pelaautonomia tecnológica. Nestas condições, o proces-so integral de produção, operação e comercializaçãoda tecnologia poderá efetivar-se de maneira mais ágile plena, evitando-se a inserção subalterna do Brasilno mercado internacional da inovação, de novos pro-dutos e serviços.

É nesse vasto contexto que o Brasil deve buscar a otimi-zação da cooperação internacional em CT&I, ajustan-do-a aos atuais desafios de nossa sociedade e economia.

Coloca-se, com clareza, a necessidade de resolver,em definitivo, nesta década, problemas tipicamentebrasileiros em matéria de CT&I. Muitos deles são“tradicionais”, como, por exemplo, carência e insta-bilidade de recursos; desatualização da gestão; déficitde desenvolvimento tecnológico, desatendimento denecessidades específicas de pesquisa com relação àAmazônia e Semi-árido, levantamento da biota brasi-leira, ciências do mar etc. Uma das questões funda-mentais é, sem dúvida, a concentração excessiva doesforço nacional de C&T nas regiões Sudeste e Sul ea conseqüente necessidade de promover uma regio-nalização maior dos esforços nacionais. Todos essesproblemas têm sido objeto de ativo tratamento, emtempos recentes.

Em outro corte, é preciso enfrentar o chamado desa-fio da relevância e deixar perfeitamente explícita adedicação da CT&I à solução dos problemas sociais

Page 283: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

219

Perspectivas da cooperação internacional em CT&I

e econômicos do País, quer dizer ao atendimentodos reclamos da sociedade, por um lado, e das ne-cessidades do setor produtivo, por outro. Em termosde geração de conhecimento e de inovação, tornou-se imprescindível, tanto manter a sintonia com o quede mais avançado se está produzindo no mundo, demodo a assegurar-se a competitividade internacionaldo País, quanto refinar a sensibilidade do sistemanacional de CT&I para as grandes questões da rea-lidade nacional e internacional.

Em síntese, será necessário que esse sistema atue, aum só tempo, nas fronteiras do conhecimento, napromoção de pesquisas avançadas e na solução daquestão tecnológica brasileira, assim como no planoda realização das vocações nacionais e regionais, emmatéria de CT&I. Em todas essas áreas, a cooperaçãointernacional em CT&I tem papel relevante e estra-tégico a desempenhar.

A cooperação internacional está sendo reforçada noâmbito do MCT, suas agências e institutos, com vis-tas, sobretudo, ao melhor acesso ao conhecimento eà competitividade internacional. A cooperação comos países desenvolvidos é certamente desejável emesmo imprescindível, na medida em que propor-ciona acesso ao que de melhor se faz na ciência. Masnão deve ser uma rota exclusiva, nem deve obscure-cer as oportunidades de ação conjunta com paísesem desenvolvimento, que muitas vezes enfrentamdesafios semelhantes aos brasileiros, nem de qualquerforma fazer olvidar a necessidade de sustentar e am-pliar o esforço nacional em CT&I.

No passado, de modo geral, os acordos de coopera-ção científica e tecnológica entre nações quase nãopassavam de declaração de boas intenções, de coope-ração assistencialista e de intercâmbio de pesquisa-

dores – sem dúvida este último é ferramenta útil,mas de alcance limitado. Muitos dos instrumentosfirmados no plano internacional encontraram difi-culdades para sair do papel e serem executados.

A experiência indica que são eficazes os projetos bemfocalizados, ou seja, concebidos em torno de umobjetivo preciso. Por exemplo, a cooperação com aChina na área espacial, para construção da série desatélites CBERS, tem proporcionado a execução deinteressantes projetos de pesquisa científica, o desen-volvimento da tecnologia espacial e o envolvimentoda indústria brasileira no desenvolvimento e forne-cimento de componentes de satélites, além da pos-sibilidade de acesso ao exclusivo mercado de pro-dutos e serviços espaciais - como fornecedor, e nãomais apenas como usuário.

Integram o atual arsenal de medidas inovadoras, inter alia,a generalização das redes de pesquisa, a atualização dapolítica de mobilidade de pesquisadores, a revisão dapolítica de bolsas no exterior e a criação de uma políticaespecífica de recrutamento e fixação de talentos, assimcomo o esforço de atração de investimentos no Brasilpor parte de empresas de alta tecnologia.

Com relação a todos esses aspectos, coloca-se a neces-sidade da mobilização da cooperação internacional emCT&I, um dos veículos de acesso ao conhecimentointernacionalmente disponível e, ao mesmo tempo,fonte potencial de recursos para ações cooperativas deinteresse brasileiro. Essas ações devem estender-setambém aos níveis locais, aproveitando o espaço abertopelas ações do MCT com vista à desconcentraçãoregional da pesquisa e da inovação brasileiras.

No quadro dos esforços de sintonia entre o que sepassa no exterior e de ampliação e intensificação de

Page 284: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

220

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

atividades nacionais, caracterizaria-se a premênciada revisão completa da política de cooperação inter-nacional, de acordo com os seguintes parâmetros:

• expansão dos campos de atividade, com vistas adirigi-las para as áreas da fronteira do conhecimentoe da inovação, bem como para a realização das voca-ções nacionais, regionais e estaduais, com a atuali-zação dos presentes acordos e programas e a conclu-são de novos instrumentos internacionais;

• Intensificação da execução das atividades, mediantea mobilização de novos instrumentos e recursos, comapoio à academia e ao empresariado. Articulação eorientação deliberada dos esforços nacionais de coope-ração internacional em CT&I, preservado naturalmenteo indispensável potencial de criatividade acadêmica;

• reconhecimento de que a pesquisa e o desenvolvi-mento têm caráter internacional, mas que, ao mesmotempo e com intensidade crescente, impõe-se o avan-ço do esforço nacional de CT&I, como condição dedesenvolvimento, bem-estar e soberania, na cons-trução do futuro do País;

• avaliação das perspectivas de transferência inter-nacional de tecnologia em termos de aquisição, licen-ciamento e venda, em termos favorecidos ou não;

• desenho de um programa para promoção da inter-nalização da massa de conhecimentos sobre o Brasilexistente em importantes centros de pesquisa no ex-terior;

• prioridade a pesquisas conjuntas ou coordenadas epesquisas e desenvolvimento tecnológico coopera-tivo, no Brasil e no exterior, com o desenho de umprograma nacional dirigido a tais atividades;

• percepção de que é necessário ao Brasil não sóreceber cooperação internacional em CT&I, mastambém articular esforços de sua prestação a paísesem patamares de C&T semelhantes ou inferiores aosnossos, em especial em regiões com que mantenha-mos vínculos imediatos. Exame da generalização defundos brasileiros de cooperação internacional emCT&I, a partir das experiências do Fundo Coreano edo Fundo Sul-Americano, de modo a prover condi-ções de financiamento estável das atividades de co-operação internacional;

• tipificação dos programas e projetos de cooperaçãointernacional em: (a) de interesse primordial brasi-leiro e, portanto, prioritários e parte de nosso esforçonacional, que se conduzem com a cooperação estran-geira; ou (b) de interesse conjunto com outros países,a receberem tratamento diferenciado, em seus esta-tutos, objetivos, financiamento, gestão etc;

Tudo isso, tendo em vista os altos requisitos dedesempenho que exigem as realidades mundiais ebrasileira, criação de mecanismos avançados deinformação, prospecção, coordenação, acompanha-mento e avaliação da cooperação internacional, noâmbito do MCT, englobando suas agências einstitutos.

Além disso, mecanismos abrangentes de articulaçãoda cooperação internacional devem ser estabeleci-dos, sob liderança do MCT, com vistas à interaçãomoderna, ágil e cooperativa, entre distintos atoresem CT&I: órgãos do Executivo, secretarias estaduais,fundações de amparo, universidades, centros de pes-quisa, sociedades científicas, grupos de pesquisa,pesquisadores, empresários etc. Em particular, re-comenda-se a melhor integração entre MCT e Minis-tério das Relações Exteriores, o qual realiza uma va-

Page 285: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

221

Perspectivas da cooperação internacional em CT&I

riedade de esforços de cooperação internacional.

Os programas, projetos e os mecanismos institucio-nais de CICT devem ser desenvolvidos de maneiradiferenciada, tendo presentes os seguintes camposde atividade:

Cooperação bilateral

Os princípios gerais desse campo de trabalho dizemrespeito às peculiaridades de cada país e às possibi-lidades objetivas de cooperação; o desenho de pro-gramas específicos; a criação de mecanismo institu-cionais (fundos, comitês de gestão compartilhada,grupos bilaterais, etc.), e a programação da utilizaçãointensiva das Casas do Brasil e Centros de Estudos,em especial os apoiados pelo MCT.

Cada um dos instrumentos internacionais de CICT,recentemente firmados ou em vias de conclusão coma Alemanha, Coréia, Índia, França, Austrália, China,Espanha, Chile, incorpora elementos inovadores,substantivos ou de procedimento, que permitem amelhor coordenação de esforços, a expansão da co-operação em novos e avançados campos, melhoresinstrumentos, recursos adicionais e organização deprogramas abrangentes.

COOPERAÇÃO BILATERAL COM PAÍSES AVANÇADOS QUE SÃO

TRADICIONAIS PARCEIROS DO BRASIL. É necessário dese-nhar programas diferenciados para cada um dessespaíses, e muito especialmente com relação aos EUA,cujas metodologias de trabalho são muito diferentesdas dos demais, e cuja participação no avanço daC&T mundiais é hoje preponderante.

Já tem sido sinalizada pelo MCT aos principais par-ceiros desenvolvidos do Brasil a disposição de mo-

dernizar a cooperação e adaptá-la à nova fase da Ciên-cia e Tecnologia no País e aos novos rumos da or-dem mundial. A agenda comum de CICT deve mu-dar para que possa melhor refletir as novas realidades.

COOPERAÇÃO BILATERAL COM OUTROS PAÍSES AVANÇADOS,que são nossos parceiros ocasionais e com os quaisa cooperação não tem tido base e volume perma-nentes. Estamos dando novos passos, no sentido deincorporar parcerias não tradicionais, com países tan-to desenvolvidos quanto em desenvolvimento, espe-cialmente os mais dinâmicos. No ambiente mundial,as formas tradicionais de cooperação tendem a cederlugar ao desenvolvimento conjunto e compartilhadoda pesquisa e da inovação, do qual é emblemático oexemplo da cooperação sino-brasileira.

COOPERAÇÃO BILATERAL COM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

DA ÁSIA, DA AMÉRICA LATINA (EM PARTICULAR A AMÉRICA

DO SUL) E COM PAÍSES AFRICANOS. A atitude brasileiraem CICT deve ser medida por nossos interesses nocampo do conhecimento e da tecnologia a longo pra-zo de cada Região, e pelos laços históricos, étnicos,culturais e econômicos que a elas nos ligam.

Entre os países asiáticos, o caso da China é especial,tendo em vista existir uma cooperação em andamen-to do maior interesse, no desenvolvimento dos saté-lites sino-brasileiros CBERS e que agora está tornan-do possível expandir a cooperação bilateral para ou-tros campos de vanguarda. A Coréia é outro parceirocom o qual vêm-se desenvolvendo tratativas de es-pecial alcance no último ano, com a criação do FundoBrasil-Coréia e com o desenho, que está em processo,de um programa de cooperação. Com a Índia, acooperação está-se acelerando e revela um potencialde grande interesse.

Page 286: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

222

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Com as nações africanas, procura-se desenvolver aCTCI no contexto da CPLP, ou em outros contextosbilaterais específicos. No caso de Moçambique, jáestão abertas algumas possibilidades, que devem serexploradas em curto prazo.

Serão também fortalecidas as possibilidades de co-operação com países da América do Sul e da AméricaLatina. O Brasil está consciente da necessidade deapresentar um perfil de cooperação regional em C&Tcompatível com suas dimensões econômicas, presen-ça política e necessidades ambientais. Nesse quadro,tem relevo a iniciativa do Presidente Fernando Hen-rique Cardoso da realização, em agosto de 2000, emBrasília, da Reunião de Cúpula Sul-Americana, na qualse começou a desenvolver novos instrumentos decooperação no campo da Ciência e Tecnologia, como anúncio do Fundo Sul-Americano. Dadas as pers-pectivas então abertas, Peru, Equador, Paraguai, Chilee a própria Argentina já sinalizaram interesse em en-cetar iniciativas conjuntas ao amparo do Fundo.

Cooperação Multilateral

Em especial com as Nações Unidas e sua família deAgências, Organismos e Programas; outras organi-zações de âmbito mundial como a Organização Mun-dial do Comércio (OMC) e a Organização Mundialda Propriedade Industrial (OMPI); a Organizaçãodos Estados Americanos (OEA); os órgãos de co-operação ibero-americana; a Comunidade dos Paí-ses de Língua Portuguesa (CPLP); União Européia,inclusive a Agência Espacial Européia (ESA) e aAgência Européia de Energia Atômica (Euratom);os órgãos de cooperação regional sul e latino-ameri-cana, como o Mercosul.

Negociação de Questões Globais

Em temas como mudanças climáticas; exclusão digi-tal, ozônio, proibição de armas químicas, tecnologiasde uso duplo, biodiversidade, biossegurança, proprie-dade intelectual etc.

Atração de investimentos (empresas)

de alta tecnologia

Articulação entre políticas de atração de investimen-tos de alta tecnologia e políticas de desenvolvimentocientífico e tecnológico para o Brasil.

Captação de recursos

Junto ao Banco Mundial, Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID), fontes bilaterais, InternationalCouncil of Scientific Unions (ICSU), e outras fontes.

Cooperação no plano da política científica

e internacional

Com o apoio à presença brasileira nos principais fó-runs científicos: ICSU, Painel Inter-Academias, inte-ração da Academia Brasileira de Ciências com as de-mais academias nacionais e com a Academia de Ciên-cias do Terceiro Mundo, Conferências Mundiais deCiência e Tecnologia etc.

Possíveis Instituições ou Mecanismos

Com a criação de uma instância no MCT, que funcio-naria como núcleo de inteligência, coordenação eexecução em CICT e teria tarefas do seguinte tipo:

• Prospecção das necessidades nacionais, regionaise estaduais; prospecção setorial; das potencialidades

Page 287: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

223

Perspectivas da cooperação internacional em CT&I

brasileiras para a prestação de CICT; das oportuni-dades de recebimento ou prestação de CICT.

• Informação, acompanhamento e avaliação.

• Atração de talentos e política de formação de

recursos humanos no exterior.

• Planejamento estratégico: caracterização dos di-ferentes tipos de esforço em CICT, levantamento depremissas, objetivos, metodologias etc.

Com a já mencionada evolução da ordem mundial eas mudanças em curso no País – inclusive o estabe-lecimento de novos patamares de financiamento dapesquisa e da inovação – abre-se uma nova fase nagestão da CICT. Seus principais elementos são aintensificação da cooperação científica, a busca dainovação tecnológica – essencial para a obtenção deganhos de produtividade –, o entendimento das novasfunções que o apoio externo pode desempenhar naaceleração do nosso esforço nacional em C&T, e oexercício de discernimento e critério não apenas comrelação às parcerias que desejamos estabelecer, mastambém relativamente às áreas-chave de cooperaçãocom cada parceiro.

O novo cenário permite, portanto, projetarmosexpectativas mais ambiciosas, na medida em que apesquisa brasileira ganha maior autonomia financeirae pode exercer maior seletividade em seus temas deinteresse, tornando-se, por outro lado, parceira maisatraente em termos de CICT. Está-se verificando,por conseguinte, ampla renovação do interesse deoutros países em cooperar com o Brasil no campoda CT&I. Cria-se ambiente propício não apenas parao estabelecimento de novos programas cooperativos,mas também de revigoramento de programas tradicio-

nais, em conformidade com uma avaliação estraté-gica por parte do Brasil. A temática de interesse dacooperação internacional amplia-se e atualiza-se con-sideravelmente, passando a requerer novo esforçoindutivo para que as distintas ações, conduzidas comdiferentes países, evitem lacunas, sejam complemen-tares e não impliquem duplicidade desnecessária deesforços.

Page 288: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

224

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 289: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

269

Siglas, Acrônimos e Similares

Abipti Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa TecnológicaABNT Associação Brasileira de Normas TécnicasARS/USDA Centro de Pesquisa da USDA/ARS, Califórnia, EUAADCT II Ato das Disposições Constitucionais Transitórias IIAEB Agência Espacial BrasileiraAnamet Agência Nacional de MeteorologiaAnatel Agência Nacional de TelecomunicaçõesAneel Agência Nacional de Energia ElétricaANP Agência Nacional do PetróleoAnpei Associação Nacional de Empresas de Pesquisa IndustrialAnprotec Associação Nacional de Parque e Pólos TecnológicosAntac Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente ConstruídoAvibrás Indústria Aeroespacial S.ABASA Banco da Amazônia S.ABID Banco Interamericano de DesenvolvimentoBIN-BR Rede Brasileira de Informação em BiodiversidadeBiota/Fapesp Programa de Biodiversidade/FapespBNB Banco do Nordeste BrasileiroBNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialC&T Ciência e TecnologiaCirad Centro de Cooperação Internacional de Pesquisas Agronômicas para o DesenvolvimentoCADE Conselho Administrativo de Defesa EconômicaCaged Cadastro Geral de Empregados e DesempregadosCAIS Central de Atendimento a Incidentes de Segurança da RNPCAST Chinese Academy of Space TechnologyCapes Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino SuperiorCBERS China-Brazil Earth Resources SatelliteCBIC Câmara Brasileira da Indústria da ConstruçãoCBPF Centro Brasileiro de Pesquisas FísicasCCT Componente de Pesquisa em Ciência e TecnologiaCDC Center for Disease ControlCDTN Centro de Desenvolvimento Tecnológico NuclearCEE Centro de Estudos EstratégicosCEME Central de MedicamentosCepem Centro de Pesquisa de Medicina TropicalCENA Centro de Energia Nuclear na AgriculturaCentec Centro de Ensino TecnológicoCepel Centro de Pesquisa de Energia ElétricaCepid Centros de Pesquisa, Inovação e DifusãoCetec Fundação Centro Tecnológico de Minas GeraisCetem Centro de Tecnologia Mineral/MCTCGE Centro de Gestão Estratégica/MCTCG-I.BR Comitê Gestor Internet BrasilCGSI Comitê Gestor de Segurança da InformaçãoCHRC Comission on Health Research for DevelopmentCIRM Conselho Interministerial de Recursos do MarCLA Centro de Lançamento de AlcântaraCLBI Centro de Lançamento Barreira do InfernoCMA Comando Militar da AmazôniaCNEN Comissão Nacional de Energia NuclearCNI Confederação Nacional da IndústriaCNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoColab Laboratório de Poços de CaldasCoodetec Cooperativa Central Agropecuária de Desenvolvimento Tecnológico

SIGLAS, ACRÔNIMOS E SIMILARES

Page 290: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

270

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

CPLP Comunidade dos Países de Língua PortuguesaCPqD Fundação Centro de Pesquisas e DesenvolvimentoCPRM Companhia de Pesquisas em Recursos Minerais/MMECPTEC/INPE Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos/INPECrada Cooperative Research Development Agreement - EUACRC Cooperative Research Center - AUSCRIA Centro de Referência em Informação AmbientalCRV Centro de Realidade VirtualCT&I Ciência, Tecnologia e InovaçãoCTA Centro Tecnológico da AeronáuticaCTCCA Centro Tecnológico do Couro, Calçados e AfinsCTEnerg Plano Nacional de Ciência e Tecnologia para o Setor de EnergiaCTHidro Fundo de Ciência e Tecnologia em Recursos HídricosCTM-SP Centro Tecnológico da Marinha em São PauloCVT Centros Vocacionais TecnológicosDeped Departamento de Pesquisas e DesenvolvimentoDiang Distrito de Angra dos ReisDieese Departamento Intersindical de Estatística e Estudos SocioeconômicosDifor Distrito de FortalezaDLIS Desenvolvimento Local Integrado e SustentávelEBTU Empresa Brasileira de Transporte Urbanoe-Gov Governo EletrônicoEletronuclear Eletrobrás Termonuclear S.A.Embraer Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.ENC Exame Nacional de CursosENHR Essential National Health ResearchEOS Programa da Nasa para melhor previsão de secas no Nordeste brasileiroETAs Estações de Tratamento de ÁguaETEs Estações de Tratamento de EsgotosEuratom Agência Européia de Energia AtômicaFAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e AlimentaçãoFAP Fundação de Amparo a PesquisaFaperj Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de JaneiroFapesp Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São PauloFDA Food and Drug Administration (EUA)Finep Financiadora de Estudos e ProjetosFNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoFucapi Fundação do Centro de Análise, Pesquisa e Inovação TecnológicaFunttel Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das TelecomunicaçõesFUST Fundo de Universalização de TelecomunicaçõesGBF Gesellschaft für Biotechnologische ForschungGeipot Grupo de Estudos para a Integração da Política de TransportesGM Geneticamente ModificadosGPS Geographic Positioning SystemHSB Sensor de Umidade AtmosféricaLabin Rede Intra-Americana de Informação em BiodiversidadeIAC Instituto Agronômico de CampinasIAE Instituto de Aeronáutica e EspaçoIapar Instituto Agronômico do ParanáIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIbict Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e TecnologiaIcann The Internet Corporation for Assigned Names and NumbersICSU International Council of Scientific UnionsIDH Índice de Desenvolvimento HumanoIEN Instituto de Energia NuclearIFPRI International Food Policy Research InstituteIMPA Instituto de Matemática Pura e AplicadaIMS Institute of Mathematical StatisticsINB Indústrias Nucleares do BrasilInfohab Centro Nacional de Referência em Habitação

Page 291: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

271

Siglas, Acrônimos e Similares

Inmetro Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade IndustrialInmet Instituto Nacional de MeteorologiaINPA Instituto Nacional de Pesquisas da AmazôniaINPE Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisINPI Instituto Nacional de Propriedade IndustrialInserm Institut National de la Santé et de la Recherche MédicaleINT Instituto Nacional de TecnologiaIPA Empresa Pernambucana de Pesquisa AgropecuáriaIPEA Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaIPEN Instituto de Pesquisa Energética e NuclearIRD Instituto de Radioproteção e DosimetriaISI Institute of Scientific InformationITA Instituto Tecnológico de AeronáuticaITEP Instituto Tecnológico do Estado de PernambucoITI Instituto Nacional de Tecnologia da InformaçãoITU International Telecommunications UnionLabex/Embrapa Laboratório Virtual da Embrapa no ExteriorLIT Laboratório de Integração e Testes/INPELNA Laboratório Nacional de AstrofísicaLNCC Laboratório Nacional de Computação CientíficaLNLS Laboratório Nacional de Luz SíncrotronMAA Ministério da Agricultura e AbastecimentoMCT Ministério da Ciência e TecnologiaMD Ministério da Defesa - Comandos do Exército, da Marinha e da AeronáuticaMDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorMEC Ministério da EducaçãoMECB Missão Espacial Completa BrasileiraMercosul Mercado Comum do SulMMA Ministério do Meio AmbienteMME Ministério das Minas e EnergiaMS Ministério da SaúdeMTE Ministério do Trabalho e EmpregoMTCR Regime de Controle de Tecnologia de MísseisNASA National Aeronautics and Space AdministrationNERI Nuclear Energy Research InitiativeNTA Núcleo de Tecnologia AeronáuticaNuclep Nuclebrás Equipamentos PesadosOCDE Organisation de Coopération et Développement EconomiqueOcepar Organização das Cooperativas do ParanáOEA Organização dos Estados AmericanosOECD Organization for Economic Cooperation and DevelopmentOGMs Organismos Geneticamente ModificadosOMC Organização Mundial do ComércioOMM Organização de Meteorologia MarinhaOMPI Organização Mundial de Propriedade IntelectualOMS Organização Mundial de SaúdeON Observatório NacionalONSA Organization for Nucleotide Sequence and AnalysisOPAS Organização Panamericana de SaúdePAA Programa de Aerogeofísica da AmazôniaPACE Programa de Apoio ao Comércio ExteriorPacti Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da IndústriaPacto/USP Programa de Administração em Ciência e Tecnologia - Fundação Instituto de AdministraçãoPADCT Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e TecnológicoPAEP Pesquisa da Atividade Econômica PaulistaPAER Pesquisa da Atividade Econômica RegionalPasni Programa de Auto-suficiência Nacional em ImunobiológicosPatme Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas EmpresasPBQP Programa Brasileiro de Qualidade e ProdutividadePBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Hábitat

Page 292: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

272

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

PCTGE Programa de Ciência e Tecnologia para a Gestão de EcossistemasPDTA Programa de Desenvolvimento Tecnológico AgrícolaPDTI Programa de Desenvolvimento Tecnológico IndustrialPEA População Economicamente AtivaPEC Padrão de Exatidão GeográficaPIB Produto Interno BrutoPIPE/Fapesp Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas/FapespPITE/Fapesp Parceria para Inovação Tecnológica/FapespPME Pequena e Média EmpresaPME/IBGE Pesquisa Mensal de Empregos/IBGEPNAD/IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios /IBGEPNAE Plano Nacional de Atividades EspaciaisPNDAE Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades EspaciaisPPA/MCT Plano Plurianual do MCTPPDSM Plano Plurianual para o Desenvolvimento do Setor MineralPPTA Programa Paraibano de Tecnologia ApropriadaProagro Programa de Seguro à AgriculturaProbio Programa de BiodiversidadeProdes Programa de Desflorestamento da AmazôniaProditec Programa de Difusão TecnológicaPronabio Programa Nacional de BiodiversidadeProsab Programa de Saneamento BrasileiroProtem Programa de Tecnologia MineralProTeM-CC Programa Temático Multiinstitucional em Ciência da ComputaçãoPSRM Plano Setorial para Recursos do MarPTA Programa de Tecnologias ApropriadasRAIS Relação Anual de Informações Sociais/MTERemav Rede Metropolitana de Alta VelocidadeRedetec Rede de Tecnologia do Rio de JaneiroRHAE Recursos Humanos para Áreas EstratégicasRHAE/DTI Recursos Humanos para Áreas Estratégicas/Desenvolvimento de Tecnologia IndustrialRNP Rede Nacional de PesquisaSCD Satélite de Coleta de DadosSAPS Serviços de Alimentação PúblicaSBIR Small Business Inovation ResearchSBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da CiênciaSeade Fundação Sistema Estadual de Análise de DadosSebrae Serviço de Apoio à Média e Pequena EmpresaSebrae-SP Serviço de Apoio à Média e Pequena Empresa - São PauloSEDU-PR Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da RepúblicaSepin Secretaria de Políticas em Informática e AutomaçãoSIG Sistemas de Informações GeográficasSinaer Sistema Nacional de Averiguação de Eventos RadiológicosSinBiota Sistema de Informação Ambiental - FapespSindae Sistema Nacional de Desenvolvimento de Atividades EspaciaisSMM Serviços Municipais de MetrologiaSNCT&I Secretaria Nacional de Ciência, Tecnologia e InformaçãoSOFA/FAO State of Food and Agriculture/Food and Agricultural OrganizationSPEC Subprograma do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e TecnológicoSprin Sistema de Processamento de Informações GeoreferenciadasSSR Satélite de Sensoriamento RemotoTecPar Instituto de Tecnologia do ParanáTF Technology ForesightTIC Tecnologias de Informação e ComunicaçãoTRIPs Trade-Related Aspects of Intellectual PropertyUNCSTD United Nations Conference on Science Technology and DevelopmentVLS Veículo Lançador de SatélitesWFS World Food SummitZEE Zona Econômica ExclusivaZFM Zona Franca de Manaus

Page 293: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

273

Legendas e créditos de fotos

Capa

Difração de proteína obtida com uso de raios-X produzido na fonte brasileira de luz síncrotron, LNLS/Igor Polikarpov.Foto: Miguel Boyayan/Arquivo Fapesp

Mosaico de imagens obtidas por satélite mostra a região Amazônica.Foto: Embrapa

Irrigação aumenta a produtividade no campo no Rio Grande do Norte.Foto: Photo Agência/Eraldo Peres

Vacina contra o sarampo produzida na Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.Foto: Peter Illicciev/CCS - Fiocruz

Veículo Lançador de Satélites (VLS-1 V02), em vôo realizado em 11 de dezembro de 1999.Foto: Equipe Foto IAE.

Linha de montagem de aviões na Embraer.Foto: Embraer

Efeito visual em experimento de imã supercondutor.Foto: Finep

Introdução

Efeito visual em experimento de imã supercondutor.Foto: Finep 02

Em 11 de abril de 1951, o Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva toma posse como primeiro presidente do CNPq.Foto: Antônio Valle/Arquivo CNPq 03

Estudantes observam maquete no Centro de Visitantes do Instituto Nacional dePesquisas Espaciais, em atividade de divulgação científica.Foto: INPE 05

Em 22 de agosto de 1997, o SCD-2A, satélite construído no Instituto Nacional dePesquisas Espaciais, é encapsulado em contêiner para transporte até o local de lançamento.Foto: INPE 07

Crianças participam de atividade lúdica com fins educativos no Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS.Foto: Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS 07

Técnica trabalha em laboratório da Divisão de Geologia e Engenharia do Centro de Pesquisas eDesenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello (Cenpes).Foto: Petrobras/Eliana Fernandes 07

LEGENDAS E CRÉDITOS DE FOTOS

Page 294: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

274

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Difração de proteína obtida com uso de raios-X produzido na fonte brasileirade luz síncrotron, LNLS/Igor Polikarpov.Foto: Miguel Boyayan/Arquivo Fapesp 08

Vacina contra o sarampo produzida na Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.Foto: Peter Illicciev/CCS - Fiocruz 08

Linha de montagem de aviões na Embraer.Foto: Embraer 08

Especialistas preparam o SCD-2 para testes ambientais na câmara termovácuo doLaboratório de Integração e Testes do INPE.Foto: INPE 09

Irrigação aumenta a produtividade no campo no Rio Grande do Norte.Foto: Photo Agência/Eraldo Peres 09

Capítulo 1. Ciência, Tecnologia e Inovação: a dimensão do sistema no Brasil

Veículo Lançador de Satélites (VLS-1 V02), em vôo realizado em 11 de dezembro de 1999.Foto: Equipe Foto IAE 12

Menina observa painel de exposição no Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz.Foto: Arquivo Casa de Oswaldo Cruz 15

Fotoexposição de microestruturas em linha-piloto de microfabricação do InstitutoNacional de Tecnologia da Informação (ITI).Foto: ITI/Mário Belloni 17

Atividade no Instituto de Tecnologia em Fármacos de Manguinhos (Far-Manguinhos/Fiocruz).Foto: Peter Illicciev/CCS-Fiocruz 21

Tecnologista faz ensaio de corrosão e degradação de materiais, no Instituto Nacional de Tecnologia (INT).Foto: Guilherme Lessa/INT 35

Operadores observam lançamento da Sala de Controle no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).Foto: Arquivo CCS/AEB 39

Pesquisadora ajusta equipamento na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).Foto: Antoninho Marmo Perri/Unicamp 41

Capítulo 2. Ciência, Tecnologia e Inovação: o avanço do conhecimento

Difração de proteína obtida com uso de raios-X produzido na fonte brasileira de luz síncrotron, LNLS/Igor Polikarpov.Foto: Miguel Boyayan/Arquivo Fapesp 44

Microengrenagens para uso em microdispositivos fabricadas no LNLS, com 21 dentes, 47 milímetros dediâmetro e 13 milímetros de espessura, comparadas a uma formiga. Luís Otávio Ferreira.Foto: Paulo César Silva, em microscópio eletrônico de varredura – LME/LNLS 46

Page 295: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

275

Siglas, Acrônimos e Similares

Atividade de aprendizado no Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS.Foto: Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS 51

Aspecto parcial da exposição do Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS.Foto: Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS 53

Estudantes em aula no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).Foto: Antoninho Marmo Perri/Unicamp 55

Alunos no campus da Universidade de Brasília (UnB).Foto: Photo Agência/Carlos Moura 59

Visão panorâmica parcial da fonte brasileira de luz síncrotron, construída e operada peloLaboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).Foto: Mário Belloni 64

Técnico do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) trabalha na construção de câmara deultra-alto-vácuo, destinada a uso em experimentos científicos no Fermilab, EUA, realizados porpesquisadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).Foto: Nelson Chinalia 65

Borboleta Azul – seda (Morpho Menelaus).Foto: Museu Goeldi/Janduari Simões 70

Seqüência de quatro fotos obtidas em microscópio eletrônico de varredura, mostrando a complexaestrutura da asa da Borboleta Azul.Foto: Paulo César Silva, LME/LNLS 70

Estrutura tridimensional de proteína Hexoquinase de levedura resolvida com aplicação deluz síncrotron, LNLS/Paula Kuser.Imagem: Paula Kuser – CBME/LNLS 71

Especialista examina documentos iconográficos em processo de restauração no Centro de Memóriada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).Foto: Antoninho Marmo Perri/Unicamp 76

Pesquisadores analisam imagem obtida por satélite na Embrapa Monitoramento por Satélite.Foto: Embrapa 77

Nanofio de ouro no momento de ruptura, estudado com o uso de microscópio eletrônico detransmissão de alta resolução, podendo-se observar os átomos individuais.

Imagem: Daniel Ugarte e Varlei Rodrigues – LME/LNLS 79

Capítulo 3. Ciência, Tecnologia e Inovação: qualidade de vida

Vacina contra o sarampo produzida na Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.Foto: Peter Illicciev/CCS – Fiocruz 84

Uma cena comum nas grandes cidades brasileiras: aglomerado humano.Foto: Photo Agência/Dado Galdieri 87

Page 296: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

276

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Ônibus para uso urbano, equipado com motor a álcool desenvolvido no Brasil,em teste no Instituto de Aeronáutica e Espaço/CTA.Foto: Arquivo IAE/CTA 90

Trabalhador rural se prepara para mais um dia de trabalho no campo.Foto: Antoninho Marmo Perri/Unicamp 98

Monitoramento em plantação experimental.Foto: Antoninho Marmo Perri/Unicamp 99

Pesquisador trabalha em Laboratório de Microbiologia da Embrapa Meio Ambiente.Foto: Ademir Rodrigues 103

Técnica manipula material de testes em centrífuga na Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).Foto: Peter Illicciev/CCS-Fiocruz 105

Atividade de produção de vacinas na Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).Foto: Peter Illicciev/CCS-Fiocruz 112

Capítulo 4. Ciência, Tecnologia e Inovação: desenvolvimento econômico

Linha de montagem de aviões na Embraer.Foto: Embraer 114

Produção de hortifrutigranjeiros monitorada pela Embrapa Meio Ambiente.Foto: Ernesto de Souza 117

Técnico trabalha na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).Foto: Antoninho Marmo Perri/Unicamp 118

Plantação experimental de mudas em estufa no Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).Foto: Ademir Rodrigues 119

Corte de microestruturas e de lâminas em chips na linha-piloto de empacotamento eletrônico doInstituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI).Foto: ITI/Mário Belloni 122

Desenvolvimento de projeto de aeronave na Embraer.Foto: Embraer 133

Carga em processo de embarque no Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional de São Paulo.Foto: Photo Agência/Gilberto Nunes 138

Navio atracado no Porto de Salvador, BA.Foto: Photo Agência/José Carlos de Almeida 139

Braço passivo mecânico para acoplamento a robôs submarinos desenvolvido pelo Grupo de Simulaçãoe Controle em Automação e Robótica da Coppe/UFRJ.Foto: Bira Soares/Divulgação Coppe/UFRJ 142

Page 297: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

277

Siglas, Acrônimos e Similares

Unidade de desenvolvimento de softwares na Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD).Foto: José Elio Trovati/CPqD 143

Atividade de orientação para novos empreendedores em unidade de atendimento doSebrae instalada na Junta Comercial de Brasília.Foto: Photo Agência/Eugênio Novaes 149

Técnica faz avaliação de conformidade de produto em Laboratório de Corrosão e Proteçãodo Instituto Nacional de Tecnologia (INT).Foto: Guilherme Lessa 151

Plantação experimental no Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).Foto: Ademir Rodrigues 154

Trabalhadores rurais em atividade no Perímetro Irrigado Baixo-Açú, no Rio Grande do Norte.Foto: Photo Agência/Eraldo Peres 155

Rebanho bovino.Foto: Photo Agência/Eraldo Peres 159

Pesquisadora analisa cultivo de ácaros em Laboratório de Entomologia da Embrapa Meio Ambiente.Foto: Eliana Lima 163

Capítulo 5. Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios estratégicos

Especialistas preparam o SCD-2 para testes ambientais na câmara termovácuo do Laboratório de Integração e Testes do INPE.Foto: INPE 166

Imagem obtida por satélite mostra a cidade de Porto Velho e o Rio Madeira.Foto: INPE 169

Medicamento AZT, produzido a partir de 1992 por empresa implantada em incubadora naUniversidade Federal do Rio de Janeiro, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).Foto: Finep 185

Sítio de medidas e caracterização de antenas instalado na Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD).Foto: José Elio Trovati/CPqD 199

Bezerra Vitória, primeiro animal brasileiro resultante da tecnologia de clonagem desenvolvida naEmbrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, nascida em 17 de março de 2001.Foto: Cláudio Bezerra 206

Capítulo 6. Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios institucionais

Irrigação aumenta a produtividade no campo no Rio Grande do Norte.Foto: Photo Agência/Eraldo Peres 226

Projetistas da Embraer desenvolvem componentes com recursos avançados de computação.Foto: Embraer 229

Page 298: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

278

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Pesquisador prepara instrumentação científica utilizada em experimentos com luz síncrotron no LNLS.Foto: Nelson Chinalia 232

Técnica trabalha em tomógrafo no laboratório da Divisão de Geologia e Engenharia de Reservatóriodo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello (Cenpes).Foto: Petrobras/Patrícia Neves 233

Atividade no Laboratório de Calibração Óptica instalado na Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD).Foto: José Elio Trovati/CPqD 245

Veículo de sondagem VS-30 em plataforma de lançamento, com experimento científico a bordo.Foto: Equipe Foto IAE 252

Técnicos trabalham na fábrica da Embraer.Foto: Embraer 253

Page 299: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

279

Siglas, Acrônimos e Similares

Produção:

www.tcbr.com.br

Page 300: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ANEXO METODOLÓGICO

Page 301: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

264

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

ANEXO METODOLÓGICO

Recursos Aplicados em Ciência e Tecnologia(C&T) pelo Governo Federal

As referências básicas para o cálculo dos RecursosAplicados em Ciência e Tecnologia são o ManualFrascati da OCDE (Organização para a Cooperaçãoe o Desenvolvimento Econômico), para as atividadesde pesquisa e desenvolvimento (P&D), e o ManualEstatístico da Unesco (Organização das Nações Uni-das para a Educação, Ciência e Cultura), para as ati-vidades científicas e técnicas correlatas. A identifi-cação dos itens de despesa incorporados a seu cálculoé feita por meio dos Manuais Técnicos de Orçamento, daSecretaria de Orçamento Federal (SOF), cujos Ane-xos permitem que se delimite o chamado Universode Ciência e Tecnologia. O critério básico para suadelimitação é o da tipicidade, isto é, são incluídastodas as unidades orçamentárias cuja atividade-fimseja considerada típica de ciência e tecnologia. En-quadram-se nesta categoria, além das unidades orça-mentárias do Ministério da Ciência e Tecnologia, asseguintes instituições (em 1999): Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embrapa); FundaçãoCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal deNível Superior (Capes); Instituto Nacional de Estu-dos e Pesquisas Educacionais (Inep); Secretaria da

Comissão Interministerial para os Recursos do Mar(Secirm). A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reúnetodas estas características, mas, como incorre emgastos muito elevados com a manutenção de seuhospital, somente foram aqui incorporados os seusgastos classificados no Universo de C&T. Ao longodos anos, algumas outras instituições foram consi-deradas típicas.

Além disso, para a delimitação daquele Universo,utiliza-se a Classificação Funcional-Programática,que reúne todas as ações de governo em funções,programas e subprogramas, com vistas à programa-ção, elaboração, execução e controle orçamentário.Esta classificação possibilita a identificação do Pro-grama Ciência e Tecnologia, que possui código 10naquela Classificação, e seus subprogramas que, des-de logo, também são componentes do Universo deCiência e Tecnologia, independentemente da unida-de orçamentária que o tenha executado. Nesta situa-ção, incluem-se os seguintes subprogramas, com seusrespectivos códigos:• Pesquisa Fundamental (54);• Pesquisa Aplicada (55);• Desenvolvimento Experimental (56);• Informação Científica e Tecnológica (57);

Page 302: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

265

Anexo metodológico

• Testes e Análises de Qualidade (58);• Levantamento do Meio Ambiente (59).

A Classificação Funcional-Programática permiteainda a identificação de outros subprogramas que,mesmo não associados ao Programa Ciência e Tec-nologia, são considerados do Universo de C&T. Sobesta perspectiva, são incluídos os seguintes subpro-gramas e sua respectiva codificação:• Ensino de Pós-Graduação (206);• Levantamentos Geológicos (292);• Estudos e Pesquisas Hidrológicos (296);• Marcas e Patentes (374);• Metrologia (375).

Alguns outros projetos/atividades, mesmo não seenquadrando nesta classificação, foram incorporadosa esta apuração. Poucos projetos/atividades foramconsiderados nessa situação, como, por exemplo, o“Desenvolvimento do AM-X”, pelo Ministério daAeronáutica. Tais situações vêm-se reduzindo aolongo dos anos, com a correta classificação destesprojetos/atividades no Universo de C&T.

Ressalte-se que nas informações divulgadas foramcontabilizados os recursos provenientes do Tesouro,assim como os de outras fontes, e foram desconside-rados os gastos relativos ao pagamento de juros e amor-tizações das dívidas interna e externa (subprogramas33 e 34), mantendo assim o mesmo procedimentoanteriormente adotado. Porém, para maior aderênciaàs recomendações internacionais, foram excluídas asdespesas previdenciárias com inativos e pensionistas(programa 82), que algumas das unidadesorçamentárias contabilizam como gastos em C&T.

Para a apuração dos recursos aplicados pelo governofederal em C&T até 1999, inclusive, foi utilizada

uma extração especial do Sistema Integrado de Ad-ministração Financeira do Governo Federal (SIAFI),realizada pelo Serviço Federal de Processamento deDados (Serpro). Nessa extração foram apurados osvalores executados (empenhos liquidados) mensal-mente. Todos os valores monetários estão expressosem preços médios de 1999, obtidos por meio do Ín-dice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para estaatualização monetária, a execução mensal foi atua-lizada pelo índice do mês correspondente em relaçãoao índice médio de 1999.

A partir de 2000, com a aprovação do Plano Pluri-anual (PPA), a Classificação Funcional-Programáticafoi completamente alterada. Para manter a compa-rabilidade da série, foi feita uma tabela de referênciaentre os projetos/atividades antes existentes para asações definidas no PPA, tentando-se apropriar nanova classificação os gastos semelhantes.

Os valores de 2000, foram obtidos do Balanço Geral daUnião de 2000 e os de 2001 foram obtidos da Lei Or-çamentária Anual de 2001. Apenas os valores corres-pondentes a esses dois anos estão em preços correntes.

As informações para 1999 e anos posteriores não sãoestritamente comparáveis com as demais, tendo emvista que, a partir daquele ano, foram incorporadasao Ministério da Ciência e Tecnologia as instituições,listadas abaixo, que anteriormente eram subordinadasao Ministério Extraordinário de Programas Especiais:• Agência Espacial Brasileira (AEB);• Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN);• Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB);• Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep)

Embora parte expressiva de suas despesas já fossem

Page 303: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

266

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

classificadas no Universo de C&T, a partir daqueleano têm sido integralmente contabilizadas no âmbitodo MCT e, portanto, passaram a ser consideradastípicas de C&T. Isto implicou a ampliação, a partirde 1999, dos recursos aplicados pelo governo fede-ral em C&T e, principalmente, dos executados pelopróprio MCT.

Recursos Aplicados em Ciência e Tecnologia

(C&T) pelos Governos Estaduais

De modo geral, procedimentos semelhantes aosanteriormente descritos foram utilizados para se es-timar o montante de recursos aplicados em C&T pe-los governos estaduais. As diferenças mais relevan-tes, decorrentes da indisponibilidade de informações,são as seguintes: a) a fonte utilizada foram os res-pectivos Balanços Gerais dos Estados; b) foram com-putados apenas os recursos provenientes do Tesou-ro; c) a atualização monetária para preços de 1999não leva em conta os desembolsos mensais: os valo-res do balanço foram atualizados diretamente pelasmédias anuais do Índice Geral de Preços (Disponi-bilidade Interna) da Fundação Getúlio Vargas.

Renúncia Fiscal

Os valores sobre a renúncia fiscal do governo federalreferem-se aos incentivos fiscais para o desenvolvimentode atividades de P&D dispostos nas leis que concedemincentivos à importação de equipamentos de pesquisa(8.010/90 e 8.032/90) na Lei de Informática (8.248/91, para o conjunto do País, hoje reeditada como10.176/01, e a 8.387/91, para a Zona Franca de Ma-naus); bem como na Lei de Incentivos à P&D (8.661/93). As informações foram obtidas nos órgãosgovernamentais responsáveis por sua gestão: ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), para as duas primeiras; Secretaria de Políticade Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT) e Superintendência da Zona Franca de Manaus(Suframa) do Ministério de Desenvolvimento, Indústriae Comércio, para a Lei de Informática; a Secretaria dePolítica Tecnológica Empresarial, também do MCT, paraa Lei de Incentivos à P&D.

Seus valores monetários estão expressos em preçosde 1999 e foram atualizados pelas médias anuais doÍndice Geral de Preços (Disponibilidade Interna), daFundação Getúlio Vargas.

Gastos com a Pós-graduação

Para a estimativa desses gastos, foram utilizadoscritérios específicos para as instituições federais, esta-duais e privadas, a depender das informações dispo-níveis. No caso das instituições federais, esses dis-pêndios foram estimados a partir dos recursos orça-mentários executados por essas instituições, excluí-dos os gastos com aposentadorias e pensões e com amanutenção dos hospitais. Desse montante, tomou-se a proporção correspondente à relação entre a mas-sa anual de vencimentos dos professores da pós-gra-duação e a massa anual dos vencimentos do conjuntodos professores.

No caso das instituições estaduais de ensino, utili-zou-se procedimento semelhante, mas, devido à in-disponibilidade de informações sobre as massas devencimentos, a proporção considerada foi a corres-pondente à relação entre o número de professoresda pós-graduação e o número total de professores.Mesmo assim, só se obtiveram informações das se-guintes instituições: Universidade de São Paulo(USP); Universidade Estadual de Campinas(Unicamp); Universidade Estadual Paulista (Unesp);

Page 304: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

267

Anexo metodológico

Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ);Universidade Estadual do Norte Fluminense(UENF); Universidade Estadual do Ceará (Uence);Universidade Estadual de Londrina (UEL); Universi-dade Estadual de Maringá e Universidade Estadualdo Oeste do Paraná (Unioeste).

Para as instiuições privadas, tomou-se apenas o mon-tante estimado da massa anual de vencimentos dosprofessores da pós-graduação, adotando-se como pa-râmetro para esse cálculo o valor dos vencimentosde um professor associado da PUC-RJ.

Dispêndios das Empresas em C&T e P&D

Para o cálculo dos gastos empresariais em P&D eC&T, utilizaram-se duas fontes de informação: a basede dados da Associação Nacional de Pesquisa e De-senvolvimento das Empresas Industriais (Anpei) eas estimativas de gastos das empresas de informática,calculadas pela Secretaria de Política de Informática(Sepin) do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para tanto, estimaram-se os gastos das empresas emP&D e C&T do chamado “Universo Anpei” (veradiante), dos quais foi subtraído o montante corres-pondente aos dispêndios das empresas de informá-tica (no caso, das beneficiárias da Lei de Informática).A esse valor, adicionou-se a estimativa dos gastosem P&D das empresas do setor de informática, rea-lizada pela Sepin, obtendo-se o dispêndio empresarialem P&D. Para se obter a estimativa dos gastosempresariais em C&T, adicionaram-se os gastos emP&D e treinamento, calculados pela Sepin, ao obtidopela expansão dos resultados da Anpei.

As informações brutas da base de dados da Anpei,oriundas de painéis de informantes anualmente variá-

veis, foram expandidas para o “Universo Anpei”, istoé, o conjunto de empresas industriais que responde-ram ao inquérito da Anpei, ao menos uma vez, desdeseu início, em 1993.

Sinteticamente, os procedimentos utilizados para rea-lizar essa expansão foram os seguintes: inicialmente,as empresas foram classificadas em doze domínios,definidos pela combinação de três estratos de tamanhoe quatro agrupamentos de setor de atividade. A seguir,foram construídas duas matrizes: uma com o conjuntodo “Universo Anpei”; outra com as informações decada painel amostral. As colunas dessas matrizescorrespondem aos anos do levantamento (1993-99),e as linhas, a cada um desses domínios. Em cadacasela dessas matrizes, encontra-se o número deempresas classificada em um certo domínio emdeterminado ano, seja no “Universo Anpei”, seja nopainel amostral. A relação entre essas matrizes gerauma terceira matriz, composta do que se denominoude “fatores de expansão”. O produto de cada variáveldo questionário utilizado por esse fator correspondea seu valor expandido para o “Universo Anpei”.

Naquele questionário, há informações sobre gastoscom P&D, serviços técnicos, aquisição de tecnologiae engenharia não rotineira. Para o cálculo dos gastosempresariais em P&D, levou-se em conta apenas esseitem específico do questionário. Para os gastos emC&T, foram adicionados os dispêndios com serviçostécnicos e aquisição de tecnologia.

Como essas informações são coletadas em dólarescorrentes no momento do dispêndio, esses valoresforam transformados em reais e atualizados mone-tariamente para preços de 1999, pelas médias anuaisdo Índice Geral de Preços (Disponibilidade Interna)da Fundação Getúlio Vargas.

Page 305: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

268

Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação

Page 306: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Livro Verdelivroaberto.ibict.br/bitstream/1/859/1/ciencia, tecnologia e... · 2001 Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação