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libreto CINE BIJOU

Cine Bijou | Libreto

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Libreto que acompanha o livro Cine Bijou - Coleção Ópera Urbana. Um guia com curiosidades e dicas sobre a praça Roosevelt e o Cine Bijou.

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libreto

CINE BIJOU

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Morava em pensão até que decidi (e tive dinheiro) ir para apartamento. Encontrei uma quitinete, na praça Roosevelt, 128, 83. Primeira locação. Era a coisa mais fácil alugar apar-tamento naqueles tempos. Quanto ganha, quem é o avalista? Um ano depois, em 1961, fui para o prédio 168, apto 803. Tinha varanda, um luxo. Incorporei-me à praça, vivi nela, dela, nela tudo acontecia. No 128 escrevi parte de meu primeiro livro, Depois do Sol. No 168, Bebel que a cidade comeu, romance.

O Cine Bijou está nos dois livros. Point da intelectuali-dade. Nunca me esqueço: o filme Oito e meio, do Fellini, ficou meses em cartaz, dizíamos que tinha grudado no projetor. Na praça estava a Standard Propaganda, onde pontificavam Neil Ferreira e Roberto Duailibi (O D da dpz), jovens lendas da publicidade. Também Livio Rangan, a quem a moda brasileira deve tudo. Ele criou os desfiles da Rhodia e inventou o que mais tarde o São Paulo Fashion Week desenvolveu.

Na Standard você via as top models da época: Lucia Curia, Inge, Giedre, Mariela, Darcy, Paula, Sandra, Mailu. Rhodia e Dener se complementavam. Quem tinha dinheiro frequentava o restaurante Baiúca, no qual Baby Pignatari, milionário e playboy, entrava de sapatos mocassim e sem meia. Um desco-lado. Ali tocavam Cesar Camargo Mariano, Walter Wanderley e Azeitona, ali cantavam Dick Farney, Maysa, Marisa Gata Mansa, Claudette Soares e Isaura Garcia. O Sujinho era um boteco tranqueira, de quinta, ao lado do Baiúca. Em tempos diversos ali você encontrava Lennie Dale, que morava na esquina, Raul Cortez ou Jardel Filho, Sérgio Viotti, Paulo Autran, Miriam Persia.

Saindo do Teatro de Arena (esquina da Ipiranga com a Consolação), Augusto Boal, Paulo José, Dina Sfat, Juca de

Oliveira seguiam pela calçada do Sujinho em direção ao Gigetto. Da praça se atingia o Gigetto, o Canal 9, a tv Excelsior (onde é o Cultura Artística), o Ferro’s (primeiro reduto gls da cidade), chegava-se ao Bela Vista.

A praça era local de passagem de todas as tribos. Dos grã--finos que iam às boates Zum Zum, ou Djalma (estiveram no mesmo endereço em tempos diferentes), ou ao Stardust. As putas dos inferninhos (palavra antiga, bar de programa) na Boca de Luxo frequentavam o salão de cabelereiro da esquina da rua Gravataí com a praça. O La Licorne, antecessor do Café Photo, com as mais belas e caras mulheres da cidade, teve ali seu primeiro ponto, antes de ir para a Major Sertório.

Na semana, durante o dia, a praça era estacionamento, um mar de carros ao sol. Aos sábados, tornava-se feira livre com do-nas de casa se misturando a artistas, modelos, putas, vagabun-dos, bêbados, jornalistas, escritores, publicitários, trombadinhas (ladrõezinhos na época), pivetes. A feira acabava, o cheiro de peixe dominava tudo. No fim da tarde, moleques jogavam futebol.

O vagabundo cheio de gadgets (alfinetes, medalhas, bótons, tampinhas, brincos, o que se pudesse imaginar) presos a um paletó sujo se considerava o dono do pedaço, seguido por um cachorro fiel. Nas manhãs de domingo, católicos iam à missa na igreja da Consolação. Dona Claretta, mãe do Luis e do Mino Carta, era uma delas, enquanto o marido, Giannino, ficava na varanda do Gigetto esperando.

Por dez anos a praça foi minha.A Roosevelt era o coração da cidade.

Texto escrito por Ignácio de Loyola Brandãoespecialmente para este libreto

ROOSEVELT, O CORAÇÃO DA CIDADE

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EU TE BATIZOPÚBLICA POR DEFINIÇÃO

pra.ça sf. 1 área pública sem construções, dentro de uma cidade; largo 2 local aberto onde se compra e se vende; mercado, feira 3 área urbana arborizada e / ou ajardinada, para descanso e lazer; jardim público 4 historicamente, área em torno da qual se construía a estrutura administrativa e civil de uma cidade: pre-feitura, câmara de vereadores, igreja 5 nas cidades pequenas, local onde casais de namorados se sentam para tomar sorvete aos domingos 6 ponto de encon-tro dos cachorros e das partidas de dominó

DE TODOS E DE NINGUÉM

es.pa.ço pú.bli.co sm. 1 Espaço pertencente ao poder público, mas de uso coletivo, acessível a qualquer cidadão 2 Espaços de circulação (ruas), de lazer e recreação (praças, parques e praias), de contemplação (monumentos) e de preservação e conservação (reservas ecológicas, prédios tomba-dos), em oposição às propriedades privadas 3 Local onde um público se reúne para formar uma opinião pública 4 Espaço simbólico de representação e de expressão coletiva da sociedade

Praça também sofre crise de identidade, ganha apelido, presta homenagem... Conheça histórias curiosas por trás dos nomes de algumas praças paulistanas.

praça da Sé

Construção típica da época colonial brasi-leira, é considerada o marco zero de São Paulo, de onde são medidas as distâncias para outras cidades e estados. É também referência para a numeração das vias pú-blicas. Foi ao redor da praça e do Pátio do Colégio que a cidade foi crescendo. O nome Sé vem do fato de a praça ter sido criada em torno da Catedral da Sé (abre-viação de Sedes Episcopalis), denominação comumente atribuída à principal igreja de uma região.

praça da República

No século xviii, a área, pertencente ao te-nente José Arouche, servia para os exercí-cios militares. Ficou conhecida como praça dos Milicianos. Anos depois, passou a se chamar praça dos Curros, por abrigar fes-tas, cavalgadas e touradas. Em 1865, a deno-minação 7 de Abril foi uma homenagem à data em que D. Pedro I abdicou do trono em prol de seu filho, Pedro de Alcântara, que viria a ser D. Pedro II. Com o fim da monar-quia e a proclamação da república, em 1889, a praça ganhou o nome que tem até hoje.

praça da Árvore

No lugar onde hoje fica a praça, no distrito de Jabaquara, na zona sul da capital, ha-via no século xix um grande bosque. Por ser associado a um estilo de vida saudável, recebeu o nome de Bosque da Saúde. Anos depois, foi construída ali uma estação de trem que deu origem à praça. O nome Árvore faz referência às inúmeras árvores que existiam no Bosque.

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A MAIORAlém da maior população mundial, a China guarda outro recorde: a maior praça do mundo. Fundada em 1420, a praça da Paz Celestial, em Pequim, tem 396 mil metros quadrados (o equivalente a quatro estádios do Morumbi). Abriga importantes monumentos – os museus da China Revolucionária, da História Chinesa e o Nacional da China, o Grande Salão do Povo, o Monumento aos Heróis do Povo e o Mausoléu do líder comunista Mao Tsé-Tung. A praça também é lembrada por importantes fatos históricos, como o massacre de estudantes chineses durante uma manifestação pela democracia no país em junho de 1989.

A praça Tomé de Sousa, conhecida como praça Municipal de Salvador, é considerada a primeira praça cívica brasileira. No centro da primeira capital do Brasil, os historiadores estimam que a praça tenha sido cons-truída em 1549, ano de fundação da cidade.

Naquela época, quando o país ainda era colônia de Portugal, a praça, que fica na parte alta da cidade, reunia importantes prédios adminis-trativos como a Câmara, a cadeia e a sede do governo colonial. Hoje em dia, continua sendo centro de poder político em Salvador e abriga a pre-feitura, no Palácio Tomé de Sousa, a Câmara Municipal e o Palácio Rio Branco, sede do governo estadual. O Elevador Lacerda, que liga as partes alta e baixa da cidade, também fica ali.

A PRIMEIRA

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Nascido em 1882, em Nova York, Franklin Delano Roosevelt é lembrado pelos norte-americanos como o presidente democrata que conseguiu salvar os Estados Unidos da Grande Depressão depois da que-bra da bolsa de Nova York, em 1929. Ele assumiu o governo em 1933, no primeiro de quatro mandatos na Casa Branca, e lançou uma política econômica que ficou conhecida como New Deal (Novo Trato).

Roosevelt também promoveu mudanças nas leis do país, permitindo que o estado tivesse maior poder para regular a economia e evitar novas crises. O pre-sidente foi um dos idealizadores das Organizações das Nações Unidas. Faleceu em 12 de abril de 1945, antes do fim da Segunda Guerra Mundial.

O HOMENAGEADO

No século xix, a área onde hoje fica a praça Roosevelt pertencia a Dona Veridiana Prado, uma senhora dona de muitas terras na capital (há inclusive uma rua com o nome dela nas proximidades).

A cidade foi crescendo, mas a Roosevelt só ganhou um projeto concreto no final da década de 1960. A nova praça foi inaugurada no aniversário de 416 anos da cidade, em 25 de janeiro de 1970.

Ali já existia desde 1799 a igreja da Consolação e, por isso, a região ficou conhecida como praça da Consolação. Apenas em 1950 recebeu o nome de Roosevelt, uma homenagem a Franklin Roosevelt, o presidente americano que por mais tempo governou o país (de 1933 a 1945).

O CONCRETO É ARMADO

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RAIO-X DA PRAÇA

A Roosevelt é inaugurada com pompa em 25 de janeiro de 1970 (1), pelo então prefeito Paulo Maluf, com a presença do presidente militar Emílio Garrastazu Médici (2). Havia dois andares de estacionamento no sub-solo (3), uma praça pequena voltada para a rua Augusta, uma praça com um pombal (4) com entrada pela rua da Consolação, e a praça maior, no formato de um pentágono regular com 52 metros de lado, com playground, restau-rante, supermercado, bancas de flores, lojas e agência dos Correios. A grande massa de concreto com pouca área verde não atraiu os moradores. Em 1978, o arquiteto Benedito Lima de Toledo, conselheiro do Condephaat, propôs in-tegrar a praça ao Colégio Caetano de Campos, transformando a rua de liga-ção entre os dois num calçadão. A prefeitura não aceitou a proposta.

1970

1980

Deteriorada, com rachaduras, vazamentos, problemas no piso e na iluminação, a praça passou pela primeira reforma em 1980, na qual paredes e colunas foram pintadas de verde – uma ten-tativa de maquiar a ausência de natureza. Em 1984, numa se-gunda reforma, foram construídas duas quadras poliesportivas e um novo playground na parte superior. A rede elétrica e o piso também passaram por reforma e a área verde cresceu 800 me-tros quadrados. A rede hidráulica, contudo, não foi substituída. Mais colorida, em tons de vermelho, ocre, marrom e branco, a praça passou a sediar atividades culturais e esportivas promo-vidas pela prefeitura para atrair frequentadores.

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Cedendo à pressão das associações de moradores e comerciantes – e considerando a latente necessidade de revitalização –, em 2006 a prefeitura anunciou nova reforma. O projeto previa a derrubada do pen-tágono (7), a criação de uma área mais arborizada e a instalação de um telecentro. Mas a ideia não saiu imediatamente do papel. Apenas quatro anos depois, após mudanças no projeto, a Roosevelt se transfor-mou num canteiro de obras (8). Antes do início da reforma, o cenário já se mostrava favorável. Imóveis abandonados começavam a ser ocupados por novos teatros, lojas, bares, restaurantes e livrarias.

Apesar das obras, a praça continuou malconservada (5), virou ponto de tráfico de drogas, prostituição e depósito de lixo. Em 1990, a prefeitura interditou o estaciona-mento do subsolo por conta de infiltrações no teto (6), danos nas instalações elétricas e falta de extintores. Três anos depois, o centro de convivência, que funcio-nava desde setembro de 1992, também foi fechado por problemas na infraestrutura. Na tentativa de tirar a praça da situação de caos, moradores e comerciantes se reuniram e fundaram a Ação Local Roosevelt. Os te-atros começaram a se instalar na praça nesse período.

1990

2000

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7 8

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EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS

EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS EM OBRAS EM OBRASPela primeira vez em sua história, teve início no segundo semestre de 2010 uma grande reforma estrutural na praça, que custou R$ 55 milhões. A pri-meira fase foi concluída em setembro de 2012. A segunda tem previsão de término no final do mesmo ano. O estacionamento no subsolo também está sendo reformado, mas só deve começar a funcionar após licitação para de-finir a empresa operadora, ainda sem prazo determinado. Terminada a obra, o trabalho mais difícil está apenas começando: o desafio de fazer da praça um espaço de convívio dos paulistanos.

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RE INAUGURAÇÃO

No sábado 29 de setembro de 2012 – um final de semana antes do primeiro turno das eleições municipais – a praça Roosevelt foi reinaugurada com a presença do prefeito da cidade Gilberto Kassab, funcionários que trabalharam na obra e moradores. Em clima de festa, com direito a apresentação da banda da Guarda Civil Metropolitana (gcm), a cerimônia também contou com benção de representantes religiosos das igrejas locais e expo-sição fotográfica de todas as fases da reforma, com curadoria de Dario Bueno. Longe de ser uma unanimidade, as críticas à nova Roosevelt já começaram a surgir: skatistas atrapalhando a circu-lação das pessoas, fazendo muito barulho durante a madrugada e danificando o patrimônio, cachorros passeando sem coleira, falta de bebedouros etc. A base do batalhão da Policia Militar, maior reivindicação dos moradores e comerciantes, está prevista para ser entregue até o fim do ano. Câmeras de segurança estão em fase de instalação. Na manhã da segunda-feira, 1 de outubro, apenas dois dias após a inauguração, a praça amanheceu pichada, para desgosto dos paulistanos.

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A NOVA ROOSEVELT

R. D

A C

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SO

LA

ÇÃ

O

ESTRUTURA DE CONCRETO DEMOLIDA

PISO ECOLÓGICO E TÁTIL

2ª. FASE [PREVISÃO: DEZEMBRO / 2012]

> Integração completa com as ruas que a circulam, por meio de duas esplanadas, uma ligando a rua da Consolação à rua Augusta e outra a rua Guimarães Rosa à Consolação

> base do batalhão da Polícia Militar

216 ÁRVORES

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PLAYGROUND

CACHORRÓDROMO

FLORICULTURAS

SISTEMA ESPECIAL DE ILUMINAÇÃO

BASE DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA

R. JOÃO GUIMARÃES ROSA

R. MARTINHO PRADO

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QUEM DÁ MAIS

Junto à reforma vem a especulação imo-biliária. Teatros, restaurantes e outros comércios que não têm sede própria e pa-gam aluguel estão preocupados. “Vamos tentar conscientizar os proprietários de que se os teatros saírem, a praça pode voltar a se desvalorizar e, a longo prazo, eles vão sair perdendo”, argumenta Cuza.

Dulce Muniz, do Teatro Studio 184, concorda: “A arte, onde quer que ela esteja, é transformadora”. A livraria hq Mix foi a primeira a sentir a alta dos alu-guéis. Depois de quatro anos e meio na praça, teve que deixar o local no fim de 2011. O dono, Gualberto Costa, conta que o proprietário do imóvel triplicou o valor do aluguel, o que inviabilizou a perma-nência da livraria ali. Agora, a hq Mix está no bairro de Higienópolis, ironicamente uma das regiões mais caras da cidade. Mas Costa ainda acalenta o sonho de vol-tar para a Roosevelt. “Tenho meu coração naquela praça”, diz.

Já os membros da Ação Local Roosevelt e a maio-ria dos gestores dos teatros são favoráveis à de-molição do pentágono. “Com o pentágono não se tinha segurança porque a gente não conseguia ver o que acontecia do outro lado da praça”, diz Luiz Cuza, presidente da Ação Local.

O projeto da nova Roosevelt não agradou a todos. A moradora Carmen Zilda Ribeiro, uma das fun-dadoras do Comitê Gestor da praça, organizou dois abaixo-assinados contra a derrubada da área de concreto e garante ter reunido mais de 2 mil assinaturas. Segundo ela, sem a estrutura, os skatistas, por exemplo, não serão contempla-dos na reforma. “Derrubaram a praça em vez de ajeitar os problemas, de fazer manutenção. Isso não é certo”, afirma.

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BOSSA

CHEIADE

A praça Roosevelt foi o berço da Bossa Nova em São Paulo nas décadas de 1950 e 1960. Foi na Baiúca que se formou o Zimbo Trio, em 1964, um dos grupos mais representativos da bossa pau-listana. Os músicos César Camargo Mariano, Johnny Alf, as can-toras Claudete Soares, Alaíde Costa e tantos outros se apresen-taram lá. Dick Farney, expoente do gênero, chegou a ter um bar na praça, o Farney’s, que em 1962 deu lugar à boate Djalma. Dois anos depois, seu palco receberia o primeiro show de Elis Regina em São Paulo.

Quem queria dançar, atravessava para o outro lado e ia ao Stardust, onde o conjunto Robledo comandava a animação. Anos depois, o cantor Jair Rodrigues levou seu gingado para lá. Na rua Nestor Pestana funcionava a tv Excelsior, que promovia gran-des festivais de música. Também nos arredores, a Universidade Presbiteriana Mackenzie recebeu shows da Bossa Nova. Alaíde Costa, Claudete Soares, Vinicius de Moraes, João Gilberto e Baden Powell se apresentaram lá em 27 de junho de 1961.

A Bossa Nova não resistiu à barulheira causada pela obra de construção da estrutura de concreto da praça, no fim da década de 1960, e o local deixou de ser um polo musical.

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O Cine Bijou começou a funcionar em junho de 1962, no nú-mero 172 da praça Roosevelt. Era uma sala pequenininha, com apenas 137 poltronas – daí a carinhosa denominação em fran-cês (bijou = joia). A programação fazia jus ao nome: filmes de arte, a maioria premiados, de cineastas como Ingmar Bergman, Stanley Kubrick, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Luis Buñuel e tantos outros.

“Tinha gente que não queria perder o filme de jeito nenhum e pedia para assistir de pé ou sentado no chão. A sala ficava super-lotada”, lembra o antigo dono do cinema, Francisco Coelho, 74 anos, que passou a administrar o Bijou em 1967. Seu Francisco conta que muitas pessoas assistiam às películas – que nunca eram os últimos lançamentos da telona – mais de uma vez.

“Eram filmes de arte, densos, muitos não entendiam a história e voltavam para ver de novo, conversavam com os amigos para en-tender melhor.”

Estudantes, intelectuais e artistas eram maioria entre o pú-blico do Bijou, além de militantes de esquerda que puderam ver nas telas, nos anos de chumbo da Ditadura Militar, histó-rias sobre movimentos grevistas e sindicalistas, como em Os companheiros (1963), de Mario Monicelli e Mimi, o metalúrgico (1972), de Lina Wertmüller. “Acho que, como era cinema de arte, os militares não implicavam com o Bijou. Eu sempre ia pedir au-torização para passar os filmes, na época da censura, e eles libe-ravam todos”, conta seu Francisco.

Em 1972, o cinema ganhou outra sala, vizinha à primeira, batizada como Bijou – Sérgio Cardoso. Na década de 1990, os Bijous, assim como vários cinemas de rua, foram vítimas da de-cadência do centro de São Paulo e da concorrência com os mul-tiplex em ascensão. Nessa época, a praça Roosevelt sofria com a prostituição e o tráfico de drogas, o que afastou até os mais fiéis espectadores. Seu Francisco não teve escolha: foi obrigado a fe-char as salas. As telas se apagaram em setembro de 1996. Hoje em dia, apenas um cartaz na fachada lembra os passantes: “aqui funcionou o antigo Cine Bijou”.

JOIA DA SÉTIMAARTE

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Em 1999, o Bijou renasceu. Reformada, a antiga sala passou a funcionar como cinema e teatro: o Cine Teatro Recriarte Bijou. Nos moldes de antigamente, contava inclusive com laterninhas durante as sessões.

O público pôde rever filmes que haviam sido exibidos na época áurea do Bijou. Com as projeções, peças e outras atividades, o Cine Teatro chegou a receber 20 mil espec-tadores em um ano. Mesmo assim, a arrecadação não foi suficiente para manter o local. Com o tempo, o público di-minuiu e o projeto tornou-se inviável. Em 2003, o espaço virou o Teatro do Ator.

De agosto a dezembro de 2010, um grupo de jovens e militantes de esquerda frequentadores do antigo Cine Bijou promoveram sessões gratuitas na sala que fora o Bijou – Sérgio Cardoso, hoje Teatro Studio 184. O pro-jeto “Cine Bijou – Cinema e Memória” incluía exibi-ção de filmes seguida de debate. “Vinham antigos fre-quentadores saudosistas e também jovens querendo participar daquele momento”, diz Dulce Muniz, ges-tora do Teatro Studio 184. Segundo ela, o projeto deve ser retomado no primeiro semestre de 2013.

CHEGA DE SAUDADE

MARÉ

REMANDO CONTRA

A

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Com a degradação das regiões centrais e a multiplicação dos shoppings centers nas grandes cidades, os cinemas de rua brasileiros começaram a assistir à sua extinção a partir da década de 1980.

Um exemplo recente muito sentido pelos paulistanos foi o fechamento do Cine Belas Artes, em março de 2011. Instalado em um prédio alugado na rua da Consolação, ele não resistiu aos efeitos da especulação imobiliária. No ano anterior, o Gemini, que funcionava na avenida Paulista, teve que en-cerrar as atividades por falta de público. Na região central, o cinema Comodoro, um dos maiores da cidade, com mais de mil poltronas, exibiu sua última sessão alguns anos antes, em 1997. Em 2000, um incêndio destruiu o local e acabou de vez com as esperanças de reabertura da antiga sala.

Não se trata de casos isolados. Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) revelam que existem hoje na cidade de São Paulo 58 700 poltronas em 276 salas de shopping contra 4 100 poltronas em 22 salas de rua, o que representa menos de 7% do total disponível.

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A vida desses profissionais daria um filme...

PROJECIONISTA

É o responsável por preparar o filme para ser exibido no cinema: encaixar os rolos no projetor, verificar quali-dade de som e imagem e cuidar para que a película seja exibida sem ne-nhuma interrupção.

LANTERNINHA

Profissão praticamente extinta nos cinemas, era o funcionário que circu-lava com uma lanterna no interior das salas de projeção, ajudando as pes-soas atrasadas a se acomodar e atra-palhando os casais apaixonados que não resistiam ao escurinho do cinema.

PIPOQUEIRO

Essa profissão não vai acabar nunca: cinema sem pipoca perde parte da graça. O cheirinho atrai os espectadores – pode ser doce, salgada, com manteiga...

BILHETEIRO

É a pessoa que vende os ingres-sos para as sessões ou confere os tickets na entrada da sala, as car-teirinhas de estudante, os com-provantes de terceira idade etc., e ainda distribui os óculos 3D, sem deixar de desejar “um bom filme” a cada um dos espectadores.

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Em um local dominado pelo tráfico de drogas e pela prostituição, alguns grupos de teatro viram na arte uma possibilidade de renovação. O começo não foi fácil: a inse-gurança afastava o público e até os críticos teatrais. Mas com o esforço dos artistas e dos moradores, que foram se apropriando cada vez mais do espaço, a região foi mu-dando e hoje seis teatros funcionam na mesma calçada, com apresentações lotadas todos os finais de semana. Ao contrário do que se possa imaginar, não há preocupa-ção com a concorrência: a palavra de ordem é agregar. “Nós fomos muito bem recebi-dos e fazemos isso com quem chega também”, conta Hugo Possolo, um dos criadores do Parlapatões.

SATYROS “Tínhamos a ideia de tentar por cinco anos e se não desse certo nos mudaría-mos”, lembra Rodolfo Garcia Vasquez, um dos fundadores do Satyros. Com esta mentalidade, o grupo inaugurou sua sede própria na praça, no número 214, no ano 2000. No início, houve até apresentação para um único espectador. Para se integrar aos frequentadores da praça, em 2003 eles convidaram uma famosa travesti da cena paulistana, Phedra de Córdoba, para atuar na companhia. Um ano depois, Vasquez escreveu a peça Transex, sobre as histórias da Roosevelt e, além de Phedra, outra travesti ex--aluna do grupo também participou da mon-tagem. Nesse período, a companhia recebeu prêmios importantes, como o Shell de 2005 de melhor direção para Vasquez pelo espetáculo A vida na praça Roosevelt.

Também em 2005 foi inaugurado o espaço dos Satyros 2, no número 124. O grupo hoje conta com oitenta atores.tel. [11] 3258-6345; satyros.com.br

PARLAPATÕES Os Parlapatões ocuparam uma parte ainda escura da praça, onde não havia teatros, no número 158. Adepta do tea-tro de rua, depois de participar de uma edi-ção das Satyrianas, a companhia decidiu se fixar na Roosevelt em 2006. “Eu costumava vir aqui na época do Cine Bijou. Para mim, a praça sempre teve vocação cultural”, co-menta Hugo Possolo.

Em 5 de dezembro de 2009, um triste epi-sódio marcou a história do grupo. O bar do Espaço Parlapatões sofreu um assalto e o dramaturgo Mário Bortolotto ficou ferido. “Aconteceu aqui como poderia acontecer em qualquer lugar. Nessas situações, não po-demos recuar. O espaço do cidadão é a rua, se ele não a ocupa, não exerce a cidadania”, afirma Possolo.

O grupo já encenou mais de vinte peças, muitas delas de comédia e mesmo com sede própria não deixa de excursionar pelo país. tel. [11] 3258-4449; parlapatoes.com.br

TEATRO STUDIO 184 É o teatro mais antigo em funcionamento na praça, no número 184. Foi fundado em 1997, e é gerido pela atriz, dire-tora e dramaturga Dulce Muniz. Além dos es-petáculos teatrais, promove palestras, debates e eventos culturais.tel. [11] 3259-6940

TEATRO DO ATOR Fica no numero 172, onde antes funcionava o Cine Bijou. O espaço re-cebe espetáculos produzidos pelos atores da Escola de Arte e Comunicação Recriarte e também é alugado por outras companhias. tel. [11] 3257-2264

MINITEATRO Com apenas 150 metros qua-drados, é o mais recente na praça (e o menor) – abriu as portas em dezembro de 2009, no número 108. Abriga as produções do grupo Cia da Revista e de outros grupos que alugam o espaço. tel. [11] 2865-5955; miniteatro.com.br

A calçada da praça Roosevelt ganhou mais uma área dedicada às artes cênicas. A SP Escola de Teatro, uma instituição do go-verno do estado, oferece oito cursos profis-sionalizantes gratuitos: direção, atuação, ce-nografia e figurino, dramaturgia, iluminação, sonoplastia, técnicas de palco e humor. As 25 vagas de cada turma são muito concorri-das. Para os estudantes de escolas públicas, a instituição mantém o programa Kairós, que disponibiliza bolsa para suprir parte das necessidades dos aprendizes com trans-porte, alimentação, materiais etc. O pro-grama também é responsável pela admissão de transexuais para trabalhar na escola. “É uma forma de não esquecer que a origem do nosso projeto é a praça Roosevelt, e a praça era o reduto dos transexuais”, explica Ivam Cabral, diretor executivo da escola e um dos fundadores do grupo Satyros.tel. [11] 2292-7988; spescoladeteatro.org.br

APRENDIZES DE ATOR

ABREM-SE AS CORTINAS

TEATRO SESC ANCHIETA Inaugurado em agosto de 1967, vizinho à Roosevelt, o Sesc Consolação abriga, no Teatro Sesc Anchieta uma série de festivais e mostras artísticas. Ali, desde 1982 é mantido, sob direção de Antunes Filho, o Centro de Pesquisa Teatral – cpt, um dos mais importantes núcleos de produção da atualidade, reconhecido por seu rigor técnico e pelos pressupostos humanís-ticos que regem seus espetáculos. rua Dr. Vila Nova, 245

tel. [11] 3234-3000; sescsp.org.br

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RECOMEÇO Na madrugada do dia 17 de agosto de 2008, um incêndio de grandes proporções destruiu praticamente todo o Cultura Artística. Felizmente, a fachada do prédio, que abriga um dos maiores painéis do artista plástico Di Cavalcanti (48 metros de largura e oito de altura), sobreviveu às chamas, apesar de ter sofrido alguns danos. No interior, poltronas, refletores, cortinas, pianos, ce-nários – tudo foi consumido pelo fogo.

O prédio passa por um processo de reconstru-ção – a obra deve custar R$ 85 milhões. O novo projeto do imóvel teve a primeira fase concluída e a segunda etapa está prevista para começar no início de 2013.

O novo teatro terá duas salas de espetáculos, com 1 200 e trezentos lugares, um terraço com jardim, com vista para a praça Roosevelt e a rua Augusta, e um bar.

A poucos metros da praça, na rua Nestor Pestana, fica um dos principais teatros de São Paulo, o Cultura Artística. O prédio, projetado pelo arqui-teto Rino Levi, foi inaugurado em 1950 com con-certos dos dois principais compositores da época, Heitor Villa-Lobos e Camargo Guarneri.

Reconhecida pela acústica invejável, a casa tornou-se referência em espetáculos de mú-sica erudita na cidade e já recebeu a Orquestra Filarmônica de Nova York. Na década de 1970, chegou a ser sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp.

O espaço também abrigou grandes espetáculos teatrais protagonizados por Fernanda Montenegro, Antônio Fagundes, Marco Nanini, Bibi Ferreira, entre outros. E foi lá que Paulo Autran se despediu dos palcos, encenando sua última peça antes de fa-lecer, O avarento, de Molière.

UM ESPETÁCULO DE TEATRO

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Em novembro de 2005, a primeira edição da Virada Cultural – evento que promove atividades culturais e de lazer durante 24 horas seguidas na capital – levou o Mercado Mundo Mix para a praça. O evento con-tou com mais de cem expositores dos segmentos de moda, decoração, acessórios, além de apresentações de DJs. Em 2010, os adeptos do cosplay – pessoas que se caracterizam como personagens de videogame, mangá e filmes – marcaram presença na Virada.

Os comerciantes locais contam que, quando o Brasil ganhou o tricampeo-nato mundial de futebol, em 1970, a taça Jules Rimet foi exposta na praça.

VIDA

Mesmo antes de ser oficialmente uma praça, a Roosevelt já era um curioso local de entretenimento da cidade

No começo do século passado, existia um velódromo no des-campado que ainda não era oficialmente uma praça. Além das corridas de bicicleta, eram disputadas ali partidas de futebol, a exemplo do primeiro Campeonato Paulista, em 1902. Entre os jogadores, estava ninguém menos que o inglês Charles Miller, considerado o introdutor do futebol no Brasil. O velódromo foi palco das partidas finais dos campeonatos de 1902 a 1908, de 1910 a 1913, e de 1915.

Na década de 1970, uma exposição de carros de Fórmula 1 celebrou o bicam-peonato do piloto Emerson Fittipaldi (1972 e 1974).

PASSADO

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A Parada do orgulho lgbt ( lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) percorre a avenida Paulista, desce a rua da Consolação e termina na praça Roosevelt. O evento ocorre anualmente e atrai a segunda maior quantidade de turistas para a capital, perdendo apenas para o carnaval.

PRESENTE

A primavera é recebida com uma maratona de arte na Roosevelt: as Satyrianas. Promovido pelo grupo Satyros, acontece durante 78 horas ininterruptas e reúne diversas atividades teatrais, circenses, musi-cais, literárias, de artes de rua e cinema. Os eventos são realizados nos teatros, nos estabelecimentos comerciais e na própria praça. Na edição de 2009, recebeu mais de 50 mil espectadores.VIDA

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Cerca de 2 mil pessoas vivem nos 832 apartamentos da praça. Atraídos pelas facilidades de viver perto do centro, os moradores não imaginavam a degrada-ção por que ela passaria durante cerca de vinte anos, do final da década de 1970 até a década de 1990. “Aqui chegou a ser uma extensão da Cracolândia”, lembra o funcionário público João Carlos dos Santos, de 56 anos, que vive na praça desde 1980. Ele mesmo chegou a ser vítima dessa situação. Em uma madru-

gada de 1992, sofreu um assalto na praça e levou três tiros.

Depois, residiu por dois anos em Curi-tiba, mas logo decidiu voltar e se enga-jar na melhoria do lugar. “Os moradores ajudavam na segurança. Eu fazia rondas e tinha um grupo de mulheres que ficava nas janelas observando os criminosos e avisando a polícia. A gente chamava elas de ‘as corujinhas’”, conta.

A corretora de imóveis Andréa Caval-cante, 44 anos, que vive na praça há vinte

anos, garante que a situação começou a melhorar em 1995, com o envolvimento dos moradores e a presença da polícia.

“A gente ficou mais presente. A ideia era ocupar a praça porque onde tem gente de bem não tem coisa ruim.”

A chegada dos teatros no fim da década de 1990 também foi decisiva porque trouxe maior movimentação para uma área antes sem muitos atrativos.

ENDEREÇO RESIDENCIAL:

P R A ÇAR OO S E V E L T

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Do alto de sua varanda no 16º. andar do edifício Icaraí, Dario Bueno, de 65 anos, acompanhou e registrou todos os momentos da recente reforma da praça. Ele contabilizou cerca de 2 500 fotografias.

Embora more na praça há apenas seis anos, a re-lação de Dario com o espaço é antiga, vem da década de 1970, quando frequentava o Cine Bijou. Há muitos anos também comprou, numa feira de antiguidades, várias fotografias da época da construção e inaugu-ração da praça, um importante documento histórico.

Em 2006, quando foi morar na Roosevelt, de ime-diato se apaixonou por aquela estrutura de concreto e aço.

Em 2010, quando a praça completou quarenta anos, Dario fez uma exposição das fotos antigas que guardava. Os painéis foram fixados em mais de qua-renta pontos da Roosevelt – comércios, barbearia, pet shop, restaurantes, prédios residenciais, teatros e até na igreja da Consolação.

Em 2011, realizou outra exposição retratando três momentos distintos: a construção há quarenta anos, a praça em 2006 e a fase de demolição no início da última reforma. Com o título “Arquitetura da des-construção”, as fotos foram expostas na Roosevelt e na rua Nestor Pestana. “São exposições para os pas-santes, para qualquer pessoa ver. Não tem descritivo, não precisa ler nada, só olhar e refletir.”

Na reinauguração da praça, em setembro de 2012, as fotos tiradas por Dario durante os dois anos da reforma foram expostas na Roosevelt, no espaço que abrigará as floriculturas. Agora, a intenção é espalhá-las, como fez anteriormente, pelos estabalecimentos da região.

A HISTÓRIA EM CLIQUES

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O ELEVADO COMO INSPIRAÇÃO

> O elevado serviu de cenário para o filme Ensaio sobre a cegueira (2008), de Fernando Meirelles, inspirado no livro homônimo de José Saramago.

> A grife Cavalera transformou o elevado em uma “praia”: modelos de biquíni desfilaram ali a coleção verão da marca na São Paulo Fashion Week de 2009.

> O documentário Elevado 3.5 (2007), diri-gido por João Sodré, Maíra Buhler e Paulo Pastorelo, conta as histórias de quem vive ao lado do Minhocão. Para saber mais, acesse elevadotrespontocinco.com.br.

VIZINHO INCÔMODO

Obra viária mais polêmica do centro de São Paulo, o Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, é alvo de críticas desde sua inauguração, em 1971. A via, idealizada pelo então prefeito Paulo Maluf, surgiu como uma alternativa de ligação entre as regiões cen-tral e oeste da cidade.

Vizinho à praça, e erguido em meio a prédios, a ape-nas 5 metros das janelas dos edifícios, o elevado é tido como um dos grandes responsáveis pela degradação da área. O barulho dos carros invade os apartamen-tos. São cerca de 22 mil veículos no horário de pico da manhã e 19 mil no fim da tarde.

Para dar aos moradores vizinhos alguma tranquili-dade, desde 1989 o elevado fica fechado após 21h30 e aos domingos, quando é usado como área de lazer pela população.

Arquitetos já propuseram a suspensão do uso do Minhocão como sistema viário. O fim do elevado nor-teou diversos projetos arquitetônicos e é também pro-messa de quase todos os prefeitos. Mas a ideia nunca saiu do papel porque esbarra na necessidade de uma alternativa ao trânsito e no alto custo da construção de uma nova via.

Em 2010, o prefeito Gilberto Kassab anunciou um projeto arrojado: a demolição do elevado e o desloca-mento do fluxo de veículos para uma via-parque cons-truída onde hoje passa a linha férrea da cptm, que, por sua vez, circularia por um túnel subterrâneo. A pre-feitura já lançou uma licitação para o projeto urbanís-tico da área, mas, pela complexidade da intervenção, mudanças não devem ocorrer a curto prazo.

Morador de um prédio ao lado do Minhocão há dez anos, o fotógrafo e artista plástico Felipe Morozini, 36 anos, não dorme sem tapa ouvidos. Durante o dia, convive com os ruídos, já que também mantém seu estúdio na cobertura no 13º. andar.

Em 2009, decidiu presentear a cidade com a pintura de flores no asfalto do elevado. A intervenção artística foi tema do curta-metragem Os jardins suspensos da Babilônia.

“Pintar as flores foi uma forma de dizer para os cidadãos ‘vamos ser gentis com a cidade, com o lugar onde a gente mora’”, explica.

Vencido pelo barulho, ele agora pensa em se mudar dali. Mas a separação do elevado não será em tempo integral. Mantendo o estúdio no apartamento, o trabalho seguirá ao som de buzinas e motores.

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COMER

NA PRAÇA

VOCÊ VAI SE QUISER

Tem apresentações ao vivo de samba de raiz cantado por Graça Braga, fundadora da casa, e artistas convidados. Às sextas-feiras, serve petiscos e macarronada e, aos sábados, feijoada.rua João Guimarães Rosa, 241Sex., 19h/23h; sáb., 13h/21h; tel. [11] 3129-4550

FAMIGLIA MANCINI

Serve a tradicional comida italiana há trinta anos. Muito concorrido, é recomendável chegar cedo. O grupo possui outros quatro restaurantes na rua Avanhandava: Pizzaria Famiglia Mancini, Walter Mancini Ristorante, Central 22 e Madrepérola.rua Avanhandava, 81Dom. a qua., 11h30/1h; qui., 11h30/2h; sex e sáb., 11h30/3h; tel. [11] 3256-4320; famigliamancini.com.br

O bar e restaurante serve almoço, lanches, porções e sopas à noite. Funciona na praça desde 2000 e recebe o público que trabalha no centro e também os frequentadores dos teatros.praça Roosevelt, 226Todos os dias, 10h/0h; tel. [11] 3255-3849

Restaurante e cachaçaria, serve refeições, com destaque para os pratos de comida italiana. A decoração reflete o clima da praça e é assinada pelo artista plástico Fábio Delduque, um dos sócios do estabelecimento.praça Roosevelt, 124Ter. a qui., 18h/0h30; sex., 18h/2h30; Sab., 20h/2h30; dom., 19h/23h30; tel. [11] 3129-5498; rosevelt.com.br

LA BARCA

ROSE VELT

O Gigetto tem 72 anos de história e é bastante frequentado por artistas que apreciam tanto a comida italiana como as receitas bem brasileiras, com destaque para a dobradinha.rua Avanhandava, 63Seg. a qui., 11h30/16h e 18h/1h30; sex. e sáb., 11h30/2h30; dom., 11h30/1h; tel. [11] 3259-8289; gigetto.com.br

O nome já resume o bar, que tem no cardápio onze tipos de cachaça feitos artesanalmente e outros 25 rótulos de pingas mineiras. Serve petiscos, porções e caldos.praça Roosevelt, 118Seg. a qui., 18h/1h; sex. e sáb., 18h/2h30; tel. [11] 3257-4106

PAPO, PINGA E PETISCO

GIGETTO

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COLEÇÃO ÓPERA URBANA

cidade dos deitados

Heloisa Prieto / Elizabeth Tognato

montanha-russa

Fernando Bonassi / Jan Limpens

surfando na marquise

Paulo Bloise / Daniel Kondo

av. paulista

Carla Caffé

cine bijou

Marcelo Coelho / Caco Galhardo

cosac naify

rua General Jardim, 770, 2º. andar01223-010 São Paulo sp[55 11] 3218 1444cosacnaify.com.bratendimento ao professor [55 11] 3218 1473

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Coordenação editorial Vanessa GonçalvesPesquisa e texto Luísa GonçalvesProjeto gráfico Nathalia CuryRevisão Thiago Lins e Ana Paula Martini

A editora agradece a Dario Bueno pelas imagens gentilmente cedidas para este libreto.

Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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