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Universidade Federal de Juiz de Fora Seminário de história do Brasil II Henrique Lowson Thaís Cabral CINEMA BRASILEIRO O cinema, sem sombra de dúvida, é o mais impactante meio de expressão da era moderna. Em 1898, o cinegrafista italiano Alfonso Segreto após aportar no Brasil, filmando cenas do porto do Rio de Janeiro, torna-se nosso primeiro cineasta. Um imenso mercado de entretenimento é montado em torno da capital federal no início do século XX, entretanto, as produções diminuíram muito em face da massiva penetração e dominação americana do mercado cinematográfico. Os governos brasileiros em alguns momentos se preocuparam, em outros se desinteressaram com o projeto de um cinema nacional de nível industrial e capaz de se manter competitivamente diante das invasões cinematográficas estrangeiras. Os jornalistas e produtores de cinema Adhemar Gonzaga e Pedro Lima, foram os pioneiros do movimento anti- imperialista no cinema, em 1927 já buscavam a liberação das taxas de importação para os filmes virgens e lutavam pela garantia de exibição dos filmes brasileiros. O pioneiro cinema nacional concorre com o forte esquema de distribuição norte-americano, numa disputa que se estende até os dias atuais. Nesse período, destacam-se o mineiro Humberto Mauro, autor de “Ganga Bruta” (1933) - filme que mostra uma crescente sofisticação da linguagem cinematográfica – e as “chanchadas” (comédias musicais com populares cantores do rádio e atrizes do teatro de revista) do estúdio Cinédia. Filmes como “Alô, Alô Brasil” (1935) e “Alô, Alô Carnaval” (1936) caem no gosto popular e revelam mitos do cinema brasileiro, como a cantora Carmen Miranda, portuguesa símbolo da brejeirice brasileira. Mas, apenas em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, surgiram os primeiros mecanismos de proteção do cinema nacional, o qual fixou uma proporção de filmes brasileiros que deveriam ser obrigatoriamente encaixados na programação. Em 1934, foi formada a Associação Cinematográfica de Produtores Brasileiros (ACPB), esta produziu uma lista de reivindicações que somente foram ouvidas e praticadas a partir de 1937, as vésperas do

Cinema Brasileiro

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Universidade Federal de Juiz de Fora

Universidade Federal de Juiz de Fora

Seminrio de histria do Brasil II

Henrique Lowson

Thas Cabral

CINEMA BRASILEIRO

O cinema, sem sombra de dvida, o mais impactante meio de expresso da era moderna. Em 1898, o cinegrafista italiano Alfonso Segreto aps aportar no Brasil, filmando cenas do porto do Rio de Janeiro, torna-se nosso primeiro cineasta. Um imenso mercado de entretenimento montado em torno da capital federal no incio do sculo XX, entretanto, as produes diminuram muito em face da massiva penetrao e dominao americana do mercado cinematogrfico. Os governos brasileiros em alguns momentos se preocuparam, em outros se desinteressaram com o projeto de um cinema nacional de nvel industrial e capaz de se manter competitivamente diante das invases cinematogrficas estrangeiras.

Os jornalistas e produtores de cinema Adhemar Gonzaga e Pedro Lima, foram os pioneiros do movimento anti-imperialista no cinema, em 1927 j buscavam a liberao das taxas de importao para os filmes virgens e lutavam pela garantia de exibio dos filmes brasileiros. O pioneiro cinema nacional concorre com o forte esquema de distribuio norte-americano, numa disputa que se estende at os dias atuais. Nesse perodo, destacam-se o mineiro Humberto Mauro, autor de Ganga Bruta (1933) - filme que mostra uma crescente sofisticao da linguagem cinematogrfica e as chanchadas (comdias musicais com populares cantores do rdio e atrizes do teatro de revista) do estdio Cindia. Filmes como Al, Al Brasil (1935) e Al, Al Carnaval (1936) caem no gosto popular e revelam mitos do cinema brasileiro, como a cantora Carmen Miranda, portuguesa smbolo da brejeirice brasileira. Mas, apenas em 1932, durante o governo de Getlio Vargas, surgiram os primeiros mecanismos de proteo do cinema nacional, o qual fixou uma proporo de filmes brasileiros que deveriam ser obrigatoriamente encaixados na programao.

Em 1934, foi formada a Associao Cinematogrfica de Produtores Brasileiros (ACPB), esta produziu uma lista de reivindicaes que somente foram ouvidas e praticadas a partir de 1937, as vsperas do Estado Novo varguista, com a criao do Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE). Infelizmente, essa unilateral ao educativa e socialmente louvvel do Estado brasileiro para o cinema nacional no contemplou as necessidades da indstria e do mercado exibidor cinematogrfico brasileiro. Novamente, o governo de Getlio Vargas concentra suas preocupaes no aspecto ideolgico do cinema e do rdio, criando o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1939, para fiscalizar e censurar a mdia e a produo cultural e artstica no territrio brasileiro. Contudo, como estratgia de seduo da classe profissional de cinema no pas, o governo regulamentou a exibio obrigatria de um filme de fico brasileiro de longa-metragem ao ano nas salas de cinema e determinou a iseno da taxa cinematogrfica para os filmes estrangeiros que eram copiados no Brasil.

Em 1942, foi formado o Conselho Nacional de Cinematografia, representado por produtores, exibidores, importadores e distribuidores, mas sempre presidido o conselho pelo diretor do DIP. A importncia desse conselho histrica e atual, pois fixou regras econmicas para o mercado exibidor vlidas at os dias atuais, de que 50% da renda lquida o valor pago pelo exibidor ao produtor do filme nacional, como tambm de que 20% da receita do produtor o valor pago pela distribuio nas grandes cidades e de 30% para as demais cidades brasileiras. Com o fim do Estado Novo, no governo de Eurico Gaspar Dutra, j em 1945, a cota da tela, termo ento utilizado para determinar o nmero de filmes brasileiros ou nmeros de dias de exibio dos filmes brasileiros, subiu para trs longas-metragens ao ano e, no ano de 1951, se constituiu a proporo de para cada 8 filmes estrangeiros exibidos em salas comerciais de cinema no territrio brasileiro, pelo menos um deveria tambm exibido.

A criao do estdio Vera Cruz, no final da dcada de 40, representa o desejo de diretores que, influenciados pelo requinte das produes estrangeiras, procuravam realizar um tipo de cinema mais sofisticado. Mesmo que o estdio tenha falido j em 1954, conhece momentos de glria, quando o filme O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, ganha o prmio de melhor filme de aventura no Festival de Cannes. A reao ao cinema da Vera Cruz representa o movimento que divulga o cinema nacional conhecido para o mundo inteiro: o Cinema Novo O Cinema Novo foi um movimento cinematogrfico que nasceu da preocupao de jovens cineastas com a posio subdesenvolvida e neocolonial do Brasil e a falta de uma cultura de cinema nativa. Ento, unidos por seu nacionalismo cultural, estes cineastas propuseram, no incio dos anos 60, criar um autntico cinema brasileiro que iria "descolonizar" a linguagem dos filmes e explorar os problemas scio-econmicos, a histria e a cultura do Brasil. Entre eles est Gluber Rocha, cineasta baiano e smbolo do Cinema Novo. Diretor de filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Drago da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968), Rocha torna-se uma figura conhecida no meio cultural brasileiro, redigindo manifestos e artigos na imprensa, rejeitando o cinema popular das chanchadas e defendendo uma arte revolucionria que promovesse verdadeira transformao social e poltica. Inspirados por Nelson Pereira dos Santos (que, j em 1955, dirigira Rio, 40 Graus sob influncia do movimento neo-realista, e que realizaria o clssico Vidas Secas em 1964) e pela Nouvelle Vague francesa, diretores como Cac Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Ruy Guerra participam dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, ganhando notoriedade e admirao. A represso poltica terminou com o Cinema Novo e alguns de seus cineastas tiveram de se exilar. A maioria dos filmes foram fracassos comerciais, mas o movimento deixou um rico legado: a tradio de filmes de qualidade feitos independentemente, sobre assuntos brasileiros e para o pblico brasileiro. As dcadas seguintes revelam-se a poca de ouro do cinema brasileiro. Mesmo aps o golpe militar de 1964, que instala o regime autoritrio no Brasil, os realizadores do Cinema Novo e uma nova gerao de cineastas conhecida como o digrudi, termo irnico derivado do underground norte-americano continuam a fazer obras crticas da realidade, ainda que usando metforas para burlar a censura dos governos militares. Dessa poca, destacam-se o prprio Gluber Rocha, com Terra em Transe (1968), Rogrio Sganzerla, diretor de O Bandido da Luz Vermelha (1968) e Jlio Bressane, este dono de um estilo personalssimo.

Temas memorveis e diversidade de estilos caracterizaram o cinema brasileiro nos anos 70 e 80. Alguns dos trabalhos mais importantes foram "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto, "Bye Bye Brasil" (1979), de Carlos Diegues, "Pixote" (1981), de Hector Babenco, e "Memrias do Crcere" (1984), de Nelson Pereira dos Santos. Nessa poca, o governo teve o papel principal na produo, distribuio e exibio dos filmes atravs da estatal Embrafilme. De 10 a 14 de janeiro de 1973, ocorre o primeiro Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, que teve seu ponto de partida nas mostras apresentadas na Festa das Hortnsias, entre 1969 e 1971. O longa-metragem "Toda Nudez Ser Castigada" (1972), de Arnaldo Jabor, ganha como melhor filme no Festival.

A partir dos anos 90, o Festival passa a contar com trabalhos de pases latinos, alm dos brasileiros. Por causa de crises poltico-econmicas, a produo nacional ficou praticamente paralisada durante a primeira metade da dcada de 90, sendo prejudicada tambm pelo fechamento da Embrafilme. Atualmente o cinema brasileiro est "renascendo" e tentando recuperar o prestgio que dispunha nos tempos da Vera Cruz e da Atlntida, tendo um pblico bastante tmido ainda mas que j est voltando a acreditar no cinema nacional. As principais obras que contriburam para o novo crescimento do cinema brasileiro foram "Lamarca" (1994), de Srgio Rezende, "Carlota Joaquina - A Princesa do Brazil" (1994), de Carla Camurati, e "O Quatrilho" (1995), de Fbio Barreto.