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36 | RAÇA BRASIL pede passagem CAPA o cinema participação do negro ganhou mais força a partir do processo batizado como retomada do cinema nacional, em 1995, com filmes de temática urbana e violência das grandes metrópoles. Nesse contexto, dois lançamentos de outubro seguem a tendência do chamado cinema negro: Flordelis – Basta uma palavra para mudar, dirigido por Marco Antônio Ferraz e Anderson Corrêa, conta a trajetória de uma professora moradora da favela Jacarezinho que resolve, nos anos 1990, ajudar meninos de rua envolvidos com o tráfico de drogas. Para a, agora também atriz Flordelis foi doloroso reviver algumas A 36 | RAÇA BRASIL

Cinema Negro

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Matéria sobre o cinema negro

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pede passagem

CAPA

o cinema

participação do negro ganhou mais força a partir do processo batizado como retomada do cinema nacional, em 1995, com filmes de temática urbana e violência das grandes metrópoles. Nesse contexto, dois

lançamentos de outubro seguem a tendência do chamado cinema negro: Flordelis – Basta uma palavra para mudar, dirigido por Marco Antônio Ferraz e Anderson Corrêa, conta a trajetória de uma professora moradora da favela Jacarezinho que resolve, nos anos 1990, ajudar meninos de rua envolvidos com o tráfico de drogas. Para a, agora também atriz Flordelis foi doloroso reviver algumas

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pede passagem

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o cinema

participação do negro ganhou mais força a partir do processo batizado como retomada do cinema nacional, em 1995, com filmes de temática urbana e violência das grandes metrópoles. Nesse contexto, dois

lançamentos de outubro seguem a tendência do chamado cinema negro: Flordelis – Basta uma palavra para mudar, dirigido por Marco Antônio Ferraz e Anderson Corrêa, conta a trajetória de uma professora moradora da favela Jacarezinho que resolve, nos anos 1990, ajudar meninos de rua envolvidos com o tráfico de drogas. Para a, agora também atriz Flordelis foi doloroso reviver algumas

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pede passagem por AMILTON PINHEIRO e ANDRÉ REZENDE

fotos RAFAEL CUSATO, DIVULGAÇÃO e ARQUIVO RAÇA

Depois da retomada

do cinema nacional, as

produções que colocam

o negro - como tema

ou personagem central

– não param de surgir,

seja mostrando a dura

realidade atual ou

resgatando as raízes e a

cultura afro-descendente

passagens de sua vida. “Quando ia rodar uma determinada cena, sentia praticamente os mesmos sentimentos da época em que eu as vivi. Tive que fugir diversas vezes para preservar a integridade das crianças e minha própria vida”, relata. E qual o motivo da escolha de atores globais para os personagens negros em Flordelis? “Têm muitos filmes que falam de violência nas favelas e quase que a totalidade é feita por negros que são os protagonistas desta triste realidade. Acho que colocar atores brancos interpretando negros é uma maneira de inverter essa situação e, com isso, refletir a respeito da triste realidade a que os negros pobres estão diariamente submetidos”.

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TUDO COMEÇOU...Um dos poucos livros que analisam a trajetória do negro no cinema nacional, O Negro Brasileiro e o Cinema, de João Carlos Rodrigues (2001), procura mapear a produção brasileira desde que aqui aportou o cinema, em 1898, introduzido pelo italiano Affonso Segretto. Nesse interessante estudo o autor enumera arquétipos que englobam toda a caracterização que o ator negro ganhou nos filmes ficcionais realizados no Brasil, entre eles o preto velho, o mártir da escravidão, o nobre selvagem, o negro revoltado, o de alma branca, o crioulo doido e a musa negra. João Carlos afirma que o nosso cinema só começou a mostrar o negro de uma forma mais complexa e menos estereotipada (inclusive levantando o problema da discriminação racial de forma aberta) no filme Também somos irmãos (1949), dirigido por José Carlos Burle, e que trazia um dos mais completos atores brasileiros de todos os tempos, Grande Otelo (1915-1993). Outros filmes iriam surgir e diminuir o problema da falta de complexidade dos

Outro lançamento é Besouro, a trajetória real de Manoel Henrique Pereira, o maior capoeirista de todos os tempos que viveu nos anos 1920 no Recôncavo Baiano. O personagem se transformou num mito, muito em função das histórias mirabolantes e imprecisas sobre sua vida. O personagem é vivido pelo capoeirista Ailton Carmo que, até então, não tinha nenhuma experiência como ator. “Filmes assim são necessários para mostrar o negro no cinema e para que os negros que assistam a esses filmes possam se ver e se afirmar na sociedade”. O diretor João Daniel Tikhomiroff não se preocupa com as possíveis criticas que possa sofrer pela escolha estética do filme. Ele preferiu contar essa história de forma ficcional, onde não faltam mirabolantes coreografias dos capoeiristas, coordenadas por Dee Dee, o mesmo que idealizou as lutas no filme Kill Bill, de Quentin Tarantino. “Eu tenho plena convicção que fiz um filme com negros, respeitando as raízes africanas. Fazer cinema negro é antes de tudo respeitar a cultura e a religião afro-brasileiras”, diz.

Cenas do �lme Besouro, que estreia nos cinemas em 30 de outubro. O longa conta a história do famoso capoeirista do Reconcavo Baiano que viveu nos anos 1920

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personagens negros nessas películas que, na maioria das vezes, deixava fluir o preconceito racial velado que nós tínhamos herdado com o fim da escravidão, em 1888. Outro estudioso do assunto é Celso Prudente, antropólogo, cineasta, pesquisador do NEINB-USP e curador da Mostra Internacional do Cinema Negro, que este ano chega à sua 6ª edição. Para ele “toda produção cinematográfica que trata a imagem do afro-descendente e da sua cultura como uma afirmação positiva é cinema negro”, independente de quem o realiza - seja branco, pardo, amarelo ou negro. Ele reconhece alguns méritos que filmes como Rio Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, têm ao mostrar o negro nas condições precárias de moradia e sobrevivência e as incoerências de uma sociedade excludente que coloca o negro à margem, porém, afirma que essa produção ainda não pode ser designada como cinema negro. “O cinema negro, na acepção do termo, ficou assim cunhado pelo cineasta Glauber Rocha no filme Barravento (1962). A partir daí você passa a ter propriamente dito um cinema negro constituído enquanto uma tendência cinematográfica. Os negros no Brasil não são mais o objeto. Eles passam a ser o sujeito cinematográfico, na medida em que deixam de ser o

elemento filmado para ser o elemento que filma”, explica. Divergências à parte, como o cinema negro (e o próprio negro) se colocam diante disso? Na introdução do livro Imagens da Redenção, Carlos Diegues coloca a seguinte questão partindo dos adventos da fotografia e do cinema. “Essa falta de autoconfiança é gerada, em grande parte, pela deficiência de observarmos e pensarmos sobre nossas próprias alternativas e escolhas. Não temos uma tradição, nem mesmo certa continuidade na produção de imagens de nós mesmos. Com elas, poderíamos nos confrontar melhor com nossas dúvidas. Esse é o mais belo papel do cinema”, afirma. Além de negligenciar a nossa produção audiovisual em mais de 100 anos de cinema, fomos incapazes de guardar e preservar os filmes produzidos. Do cinema mudo, apenas 5% está preservado, o que torna muito difícil uma análise mais apropriada. Um exemplo é o cenógrafo e roteirista Cajado Filho (1912-1966), o primeiro negro a dirigir um longa-metragem. Ele não conseguiu deixar para posterioridade as cinco obras que produziu entre os anos de 1949 a 1958.

Flordelis – Basta uma palavra para mudar, conta a trajetória de uma professora (foto) moradora da favela Jacarezinho que resolveu, nos anos 1990, ajudar meninos de rua envolvidos com o trá�co de drogas

Celso Prudente, curador da Mostra Internacional do Cinema Negro

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Rio zona nortede Nelson Pereira dos Santos, 1957 É a história do sambista Espírito da Luz Soares, homem

desiludido que, ao viajar num trem de subúrbio, cai

nos trilhos e, enquanto agoniza, repassa sua vida, seus

sambas e amarguras. O protagonista é vivido pelo ator

Grande Otelo e o filme ficou conhecido como um dos

marcos do cinema novo, sendo Glauber Rocha o seu

maior expoente.

Quilombode Cacá Diegues, 1984 Mais um filme do diretor que mostra o príncipe africano Ganga

Zumba e um grupo de escravos que se rebelam em um engenho

de Pernambuco e que resistem ao cerco colonial. No elenco, Zezé

Motta, Grande Otelo, Antônio Pitanga e Toni Tornado. Cacá é um dos

diretores que mais fizeram filmes com a temática negra (um episódio

da série 5 x favela, Chica da Silva e Orfeu.)

Barraventode Glauber Rocha, 1962Após a abolição da escravatura, negros continuam

escravizados. São pescadores cujos antepassados

vieram da África e que são

dominados pelo misticismo

religioso. Para alguns

estudiosos é o começo do

chamado ‘cinema negro’.

Com Antonio Pitanga e

Luiza Maranhão.

Cruz e Souza O poeta do desterrode Sylvio Back, 2000Com Kadu Carneiro, Maria Ceiça e Lea Garcia. Do talentoso diretor

“branco” Silvio Back, é uma reconstrução da vida e obra do poeta

catarinense Cruz e Sousa, fundador do Simbolismo no Brasil e

considerado o maior poeta negro da língua portuguesa. Ganga Zumbade Cacá Diegues, 1963Com Lea Garcia, Antonio Pitanga e Jorge Coutinho.

Alguns escravos tramam uma figa para uma

comunidade de

negros na Serra da

Barriga – inspirado

pelo Quilombo

dos Palmares,

entre eles, o jovem

Ganga Zumba.

ENTRE TEMAS E PERSONAGENSUm pouco da história do negro no cinema nacional

Terra em transede Glauber Rocha, 1967No famoso longa de Glauber, o então ator Zózimo Bulbul vive um

cinegrafista que não pronuncia uma só palavra durante todo o filme. A

intenção do diretor era falar do ambiente de repressão a que o Brasil estava

submetido, onde comunistas, negros e pobres não podiam emitir opiniões.

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Cafundóde Clóvis Bueno e Paulo Betti, 2005 Vencedor de vários prêmios, o filme é inspirado em um personagem real

saído das senzalas do século XIX que virou lenda após a sua morte, nos anos

1940: o Preto Velho João Camargo. Uma história cheia de religiosidade que

traz Lázaro Ramos, Leandro Firmino, Flavio Bauraqui e Alexandre Rodrigues.

Última parada, 174Bruno Barreto, 2008Baseado no documentário de Ônibus 174, de José

Padilha, conta a história real de Sandro do Nascimento,

ex-menor de rua sobrevivente da chacina da Calendária

que no ano de 2000 sequestrou um ônibus no Rio de

Janeiro e matou uma das reféns. No papel central o

jovem e talentoso Michel Gomes.

Cidade de Deusde Fernando Meirelles, 2002Um enorme sucesso de público que narra a realidade de um dos lugares

mais violentos do Rio de Janeiro. Longa repleto de violência, tráfico de

drogas, miséria e exclusão social. Por outro lado, trouxe um grupo de atores

novatos e moradores de favelas da cidade que cresceram na profissão, como

Leandro Firmino, Jonathan Haagensen e Roberta Rodrigues.

Filhas do ventode Joel Zito Araújo, 2004No interior do Brasil, os fantasmas da escravidão e do racismo afetam a

vida de mulheres de forma sutil. Joel substitui os papéis estereotipados

dos negros por uma rica construção de personagens. Um belíssimo filme

com a participação de atores negros de peso como Milton Gonçalves, Ruth

de Souza, Lea Garcia, Zózimo Bulbul, Taís Araújo.

Salve geralde Sérgio Rezende, 2009O filme é inspirado nos ataques que o Primeiro

Comando da Capital (PCC) promoveu em São Paulo

no fim de semana do dia das mães de 2006. A história

de fundo é sobre a professora Lucia (brilhantemente

interpretada por Andrea Beltrão) que se vê envolvida

com a organização criminosa quando decide tirar seu

único filho da prisão, acusado de assassinato.

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UMA DIFÍCIL RETOMADAQuando o assunto envereda pela compreensão de como o negro é representado no cinema nacional, a celeuma está armada e os pontos de vista diferem entre os profissionais da área. O diretor Jeferson De é dado a polêmicas. Iniciou a carreira liderando um movimento que ficou conhecido como “Dogma Feijoada” e alcançou relativo sucesso no lançamento do curta-metragem Carolina (2003), sobre a escritora Carolina de Jesus, interpretada por Zezé Motta. Forte discussão também causará o seu primeiro longa-metragem, Bróder (previsto para 2010), muito pelo fato de ter um ator branco – o excelente Caio Blat – interpretando um dos protagonistas. Na época das filmagens, começou a usar a expr essão branquitude para designar alguns brancos entre 15 e 25 anos que agem como se fossem negros (com roupas e assessórios, o consumo da cultura dita negra da periferia e as gírias dos manos). “Há muita imprecisão quando falamos de negritude e esse assunto ainda é muito recente para nós. Precisamos ampliá-lo e colocar, por exemplo, a discussão acerca da branquitude, explica Jeferson. Sem fugir à polêmica, afirma que os filmes em que o negro está são feitos quase que exclusivamente por brancos que não sabem nem o que é uma ação afirmativa. “Muitos desses diretores oriundos da classe média e alta do sudeste não entendem nada sobre o negro. Muitas vezes o negro é o cara que é objeto da ação do personagem branco”. Para o diretor, os únicos filmes da retomada, que representam verdadeiramente o negro, são As Filhas do Vento (2004), de Joel Zito Araújo e o seu próprio cutra-metragem, Carolina, e solta farpas a Cidade de Deus, Tropa de Elite e Cafundó. “São irregulares”, completa. Na mesma toada, mas sem meias palavras, Zózimo Bulbul classifica esses filmes como equivocados e feitos por brancos que não respeitam o negro, colocando-o como objeto de seu preconceito. “Esses e muitos outros por aí são uma merda... Onde colocam os pretos? Nós temos que dirigir, pois se continuar assim seremos alijados nesse país. Tem que abrir espaço para a negritude poder dirigir e contar a história do seu povo. Negro quase sempre é colocado na posição de marginal. Tem outra coisa perversa nesse processo que é a seleção dos roteiros dos filmes que o Ministério da Cultura e as empresas estatais escolhem. Dificilmente aceitam um roteiro de negros e sobre histórias de negros. É uma coisa lamentável”, desabafa o ator e diretor Zózimo, uma referência na área.

POR OUTRO LADO...O roteirista de cinema e escritor Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus acha muito natural a violência envolvendo o negro no cinema. “O cinema reflete a nossa sociedade. A sociedade é preconceituosa e isso é mostrado. A gente sabe que a maioria dos negros no Brasil está em situação menos favorecida e é isso que o cinema deve mostrar para que haja reflexão sobre racismo nesse país com mais apuro”. De forma mais lúcida e menos sectária, o diretor Joel Zito Araújo fala que a discussão central passa pela questão da “organicidade” que um diretor negro tem com a comunidade que pertence, diferente de um diretor branco. “O limite está no cinema autoral e no cinema comercial. Qualquer diretor branco pode fazer um cinema negro respeitando a origem, a religiosidade e a cultura do negro, mas o que é importante frisar é que ele jamais vai ter as inquietações existenciais que está dentro da comunidade negra e que somente podem ser colocadas partindo de um diretor negro. Quando você cita Cidade de Deus e Tropa de Elite, por exemplo, feitos por diretores brancos da classe média deste país, penso que eles prestam um desserviço à população e ao Brasil ao exacerbar a violência e estilizá-la”. Joel fala com razão, pois existem muitos negros que não nascem e nem se criam numa favela e que tem uma vida muito diferente da retratada nesses filmes. Outra questão que o diretor faz questão de afirmar é que muito da violência e criminalidade envolvendo negros nessas favelas é exagerada. “Se grande parte da população negra desses lugares fosse ligada ao tráfico e ao crime, estaríamos vivendo uma guerra civil sem precedentes nesse país. Por isso, tendo a concordar mais com o Jeferson De e o Zózimo Bulbul, do que com o Celso Prudente e o Paulo Lins”.

Ricardo Cândido faz parte da nova geração de cineastas brasileiros

MUITAS VEZES AS PESSOAS DE COR NEGRA REPRODUZEM OS PRECONCEITOS DOS BRANCOS”

O polêmico Jeferson De, do movimento Dogma Feijoada

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A VISÃO DAS MARGENSAs conquistas, sem dúvida, foram feitas e os novos enfrentamentos do negro na sociedade brasileira necessariamente vão repercutir nas diversas maneiras dele ser representado no cinema, principalmente em mãos em começo de carreira, cheios de ideias e força para entrar nesse concorrido universo. É o caso de Ricardo Cândido, estudante de mestrado em Cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Ele tem dois projetos de curtas-metragens aprovados pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet. Uma das histórias é Larissa S/A que fala sobre o mundo executivo, quase todo exclusivo da classe média e alta e com uma característica

essencial: a maioria dos contratados é branco. O diretor coloca seus dois personagens negros, Larissa e Ricardo, dentro desse universo e com olhares diferentes sobre suas posições no mundo e, principalmente, na profissão que escolheram. “A atitude da Larissa é igual a de qualquer outra pessoa. Ela tem uma posição de executiva e seus subordinados brancos a discriminam por ser negra. Ela foi tragada por aquele ambiente competitivo. O seu rosto e a sua cor não são ainda digeríveis naquele lugar de brancos. Muitas vezes as pessoas de cor negra reproduzem os preconceitos dos brancos”, explica. Para onde caminhará o cinema negro, isso ainda é uma incógnita, mas é fato que um maior conhecimento dos filmes produzidos ao longo dos anos se faz necessário, principalmente para o público, que tem tendência em rotular apenas a violência, o tráfico de drogas e a pobreza mostradas nas telas como cinema negro. É preciso olhar para trás e resgatar a rica memória de filmes que trazem o negro não apenas como marginal, mas com toda a bagagem cultural que lhe é peculiar. Eventos como a 6ª Mostra Internacional do Cinema Negro e o 1º Festival de Cinema Negro, ambos no mês de novembro, em São Paulo, tornam-se uma grande oportunidade para esse resgate, com exibições de filmes como Quilombo, de Cacá Diegues, Abolição, de Zózimo Bulbul e Na Boca do Mundo, de Antônio Pitanga.

O cineasta Zózimo Bulbul: “Nós temos que dirigir, pois se continuar assim seremos alijados nesse país”