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Introdução A cinesioterapia é essencial no sucesso terapêutico da síndrome dolorosa miofascial (SDM). Consiste na aplicação de pro- cedimentos que visam a melhorar o desempenho muscu- lar e o potencial de força e resistência à fadiga; auxiliar os pacientes a identificar e corrigir as posturas antálgicas e compensatórias; permitir ao corpo realizar suas tarefas co- tidianas no ambiente doméstico, de trabalho e na prática desportiva de maneira adequada e com menor risco de sobrecarga ou lesão ao sistema músculo-esquelético. A prescrição da cinesioterapia é tão importante quanto a prescrição de medicamentos, pois quando esta é exe- cutada adequadamente, torna-se um agente terapêutico muito eficaz na reabilitação dos pacientes com dor músculo- esquelética. Os critérios, as adaptações e as adequações constituem os requisitos básicos para iniciar um pro- grama de cinesioterapia e são determinados a partir de uma avaliação personalizada e modulada em função das atividades próprias de cada paciente. Por exemplo, o funcionamento dos membros superiores de um pedrei- ro é distinto de um violinista: a força, a leveza e a des- treza são distintas, pois preenchem funções diferentes 8 ; isso ocorre com a região lombar: no pedreiro, é mais dinâmica, no violinista, mais estática. Em cada caso há necessidade de se adotar critérios específicos de avalia- ção e conduta, mesmo que a sintomatologia seja simi- lar. Portanto, a cinesioterapia não pode ser comum a todos os pacientes, pois as causas são peculiares. Avaliar o corpo como um todo, com a observação analítica do indivíduo e integrando as características segmentares ao conjunto das funções corporais, durante a avaliação estática e a dinâmica, permitirá realizar o diagnóstico fi- sioterápico e a partir deste estabelecer os objetivos do tratamento e os recursos a serem empregados. Na reali- zação de gestos cotidianos, como vestir-se, pentear-se, mudar de decúbito e de posturas, atividades domésticas e profissionais, o paciente deve ser avaliado quanto às habilidades em preparar e realizar as tarefas, se as reali- za com uma boa integração e coordenação dos diversos segmentos do corpo, dentro de um período de tempo ade- quado e consumo energético razoável 16 . Além disso, é preciso identificar as estruturas que estão comprometi- das, estabelecendo a relação entre as queixas dolorosas, os mecanismos causais e/ou perpetuantes e os achados do exame físico. A cinesioterapia estimula o sistema sensório-motor para que os pacientes identifiquem os padrões habituais de tensão e, por meio desse reconhecimento no próprio corpo, consigam resgatar o sinergismo muscular, per- mitindo realizar gestos do cotidiano com eficiência, eco- nomia, fluência e menor risco de lesão 10 . Conceitos Básicos de Cinesioterapia Diversos autores e estudiosos do assunto propuseram métodos que estimulavam esse sistema neuropsicomotor, com os seguintes conceitos básicos: Kabat 14 baseou-se nos trabalhos de Sherrington e desenvolveu a facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Aplicou as leis da inervação recíproca e su- cessivas induções de técnicas de exercícios terapêuticos. Iniciava a contração de agonistas com relaxamento – inibição de antagonistas. Sugeriu que o movimento voluntário do músculo podia ser facilitado pela ação de outros e assim obtinha a melhora da coordenação, facilitava a estabilização proximal e o ganho funcio- nal progressivo. Moshe Feldenkrais 10 fundamentou seu trabalho na sensibilidade cinestésica, explorando o potencial de movimento para que uma nova configuração senso- rial e uma nova organização neuromotora pudessem ser aprendidas. Assim, alterava os padrões de movi- mentos defeituosos aumentando a percepção deles. Acreditava que padrão motor e sentimento formavam uma só função, e que a atitude motora que acompa- nha cada sentimento é muito específica e diferente da outra. Brunkow 7 recomendava automatização dos movimentos normais e co-contrações dos músculos dos membros para facilitar a estabilização dos músculos do tronco, às vezes com estimulação de mecanorreceptores cutâneos. A instrução era de distal para proximal, o que ativava cadeias musculares inteiras. Janda 7 afirmava que a atividade reduzida e a fraque- za resultante de alguns músculos podiam decorrer de padrões de movimento alterados, regulação motora e desempenho motor alterados. Considerava a progra- Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial Maciel Murari Fernandes Cláudio Dias Patricio CAPÍTULO 42 978-85-7241-625-2

Cinesioterapia na Síndrome Dolorosa Miofascial

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A cinesioterapia é essencial no sucesso terapêutico da síndrome dolorosa miofascial (SDM). Consiste na aplicação de procedimentos que visam a melhorar o desempenho muscular e o potencial de força e resistência à fadiga; auxiliar os pacientes a identificar e corrigir as posturas antálgicas e compensatórias; permitir ao corpo realizar suas tarefas cotidianas no ambiente doméstico, de trabalho e na prática desportiva de maneira adequada e com menor risco de sobrecarga ou lesão ao sistema músculo-esquelético.

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Introdução

A cinesioterapia é essencial no sucesso terapêutico da síndromedolorosa miofascial (SDM). Consiste na aplicação de pro-cedimentos que visam a melhorar o desempenho muscu-lar e o potencial de força e resistência à fadiga; auxiliar ospacientes a identificar e corrigir as posturas antálgicas ecompensatórias; permitir ao corpo realizar suas tarefas co-tidianas no ambiente doméstico, de trabalho e na práticadesportiva de maneira adequada e com menor risco desobrecarga ou lesão ao sistema músculo-esquelético.

A prescrição da cinesioterapia é tão importante quantoa prescrição de medicamentos, pois quando esta é exe-cutada adequadamente, torna-se um agente terapêuticomuito eficaz na reabilitação dos pacientes com dor músculo-esquelética. Os critérios, as adaptações e as adequaçõesconstituem os requisitos básicos para iniciar um pro-grama de cinesioterapia e são determinados a partir deuma avaliação personalizada e modulada em função dasatividades próprias de cada paciente. Por exemplo, ofuncionamento dos membros superiores de um pedrei-ro é distinto de um violinista: a força, a leveza e a des-treza são distintas, pois preenchem funções diferentes8;isso ocorre com a região lombar: no pedreiro, é maisdinâmica, no violinista, mais estática. Em cada caso hánecessidade de se adotar critérios específicos de avalia-ção e conduta, mesmo que a sintomatologia seja simi-lar. Portanto, a cinesioterapia não pode ser comum atodos os pacientes, pois as causas são peculiares.

Avaliar o corpo como um todo, com a observação analíticado indivíduo e integrando as características segmentaresao conjunto das funções corporais, durante a avaliaçãoestática e a dinâmica, permitirá realizar o diagnóstico fi-sioterápico e a partir deste estabelecer os objetivos dotratamento e os recursos a serem empregados. Na reali-zação de gestos cotidianos, como vestir-se, pentear-se,mudar de decúbito e de posturas, atividades domésticase profissionais, o paciente deve ser avaliado quanto àshabilidades em preparar e realizar as tarefas, se as reali-za com uma boa integração e coordenação dos diversossegmentos do corpo, dentro de um período de tempo ade-quado e consumo energético razoável16. Além disso, épreciso identificar as estruturas que estão comprometi-das, estabelecendo a relação entre as queixas dolorosas,os mecanismos causais e/ou perpetuantes e os achadosdo exame físico.

A cinesioterapia estimula o sistema sensório-motorpara que os pacientes identifiquem os padrões habituaisde tensão e, por meio desse reconhecimento no própriocorpo, consigam resgatar o sinergismo muscular, per-mitindo realizar gestos do cotidiano com eficiência, eco-nomia, fluência e menor risco de lesão10.

Conceitos Básicosde Cinesioterapia

Diversos autores e estudiosos do assunto propuserammétodos que estimulavam esse sistema neuropsicomotor,com os seguintes conceitos básicos:

• Kabat14 baseou-se nos trabalhos de Sherrington edesenvolveu a facilitação neuromuscular proprioceptiva(FNP). Aplicou as leis da inervação recíproca e su-cessivas induções de técnicas de exercícios terapêuticos.Iniciava a contração de agonistas com relaxamento –inibição de antagonistas. Sugeriu que o movimentovoluntário do músculo podia ser facilitado pela açãode outros e assim obtinha a melhora da coordenação,facilitava a estabilização proximal e o ganho funcio-nal progressivo.

• Moshe Feldenkrais10 fundamentou seu trabalho nasensibilidade cinestésica, explorando o potencial demovimento para que uma nova configuração senso-rial e uma nova organização neuromotora pudessemser aprendidas. Assim, alterava os padrões de movi-mentos defeituosos aumentando a percepção deles.Acreditava que padrão motor e sentimento formavamuma só função, e que a atitude motora que acompa-nha cada sentimento é muito específica e diferenteda outra.

• Brunkow7 recomendava automatização dos movimentosnormais e co-contrações dos músculos dos membrospara facilitar a estabilização dos músculos do tronco,às vezes com estimulação de mecanorreceptorescutâneos. A instrução era de distal para proximal, oque ativava cadeias musculares inteiras.

• Janda7 afirmava que a atividade reduzida e a fraque-za resultante de alguns músculos podiam decorrer depadrões de movimento alterados, regulação motora edesempenho motor alterados. Considerava a progra-

Cinesioterapia na Síndrome DolorosaMiofascialMaciel Murari Fernandes ◆ Cláudio Dias Patricio

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mação nervosa motora central comprometida comouma das pré-condições mais importantes para o desen-volvimento de síndromes de dor crônica. Salientava,também, a importância da restauração da propriocepção,pois informações alteradas da periferia resultam eminformações alteradas provenientes do sistema ner-voso central (SNC).

• Marie Madelene Béziers4 aperfeiçoou o conceito decoordenação motora segundo um princípio de orga-nização fundamental do movimento e da forma doorganismo vivo da espécie humana. Descreveu o “per-curso do movimento”, desde a sua previsão genéticaaté a sua efetivação na relação com o objeto, o espaçoe com os outros seres.

• Lily Ehrenfried9 realizou um trabalho de conscienti-zação corporal por meio do movimento, fazendo agirsimultaneamente a respiração, o equilíbrio e a tonicidadepara melhorar as funções do indivíduo em seu todopsicossomático. Empreendeu uma reeducação inte-gral do comportamento físico conhecida como ginásticaholística, tornando perceptível à sensação o que háde defeituoso nos movimentos e nas atitudes.

• Susanne Klein-Vogelbach7 desenvolveu o conceito de“cinética funcional” baseando-se na observação, análisee ensino do movimento humano; integrou o uso dabola, utilizando padrões complexos de movimentos,estimulando receptores articulares, musculares etendíneos.

• Godelieve Denys-Struyf17 desenvolveu um método deleitura da postura, dos gestos e formas do corpo se-gundo uma visão psicocomportamental, por meio daanálise da forma humana na posição ereta, na sua pulsãoglobal, evidenciando as diversas maneiras que cadaindivíduo encontra para lidar com as imposições dagravidade, em diferentes arranjos e deslocamentos dasmassas corporais. A partir de um comportamento pre-ferencial e repetitivo, ou melhor, com a repetição damesma atitude neuromuscular, o corpo, com o tempo,torna-se portador de certas marcas que, se forem exces-sivas e fixadas, provocarão distúrbios funcionais, de-sencadeando o quadro álgico. Conceituou seis cadeiasde tensão miofasciais correspondentes a linhas de tensãoao longo do corpo, definidas pelo termo Cadeias Mús-culo-aponevróticas.

Figura 42.2 – (A – D) Situações em que o materialconsultado está fora do alcance adequado.

A B C

D

Figura 42.1 – (A – C) Exemplos de situações em que os reflexos ofuscam a visão.

A B C

Ofuscamentopor reflexo

Ofuscamentodireto

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• Václav Vojta19 adotou uma linha terapêutica de dife-renciação da função muscular nos dois padrões delocomoção reflexa (o rastejar reflexo e o rolar refle-xo) que corresponde à diferenciação da função mus-cular da ontogênese motora humana ideal. Procurouestimular aferentes sensitivos e motores para obteruma adequada resposta eferente durante a locomo-ção reflexa e automática.

Todos esses métodos proporcionam impulsos para osistema nervoso central (SNC) e estimulam neurôniosespinhais e do SNC quiescentes ou pouco usados. Osneurônios motores e os neurônios sensoriais vizinhossão sensíveis a impulsos provenientes da periferia e podemse adaptar durante o treinamento, contribuindo para arecuperação da função espontânea das síndromes dolo-rosas músculo-esqueléticas7.

Os gestos cotidianos apresentam, muitas vezes, padrõesde movimentos prejudiciais ao corpo e por isso tornam-seos grandes responsáveis pelo desencadeamento e perpe-tuação do quadro doloroso. Realizar torções com o tron-co dissociado da pelve durante o movimento de pegarobjetos de um lado do corpo e passar para o outro lado;flexionar o tronco sem fletir os joelhos e o quadril; le-vantar da cadeira sem um bom apoio dos pés são algunsexemplos de movimentos inadequados adotados pelosindivíduos nas atividades diárias no lar e no trabalho.

A conquista de um gesto adequado, seja no cotidia-no ou na prática desportiva, depende de um trabalho decinesioterapia que vise criar referências sobre a locali-zação de estruturas corporais, tocando-se e percebendoa forma da região do corpo a ser movimentada, desco-brir como os segmentos se movem, quais músculos en-volvidos e segundo quais padrões de movimentação. Énecessário reunir os fundamentos de base para o exer-cício, da mesma forma que antes é preciso se posicionarcorretamente no interior de um veículo para depois acioná-lo2. Deve-se preparar o corpo antes de usá-lo3. Sherrington(1907), nos seus trabalhos de neurofisiologia, concluiuque todo corpo humano se prepara antes de executarcada movimento e que os movimentos servem para in-tegrar os diferentes elementos do corpo5.

As pessoas fazem os mesmos gestos, mas cada umos faz à sua maneira, como escrever, segurar o garfo,andar e subir uma escada, e correspondem às caracte-rísticas pessoais4. Dessa maneira, formam-se hábitos eo corpo tende a assumir as posições e posturas, comotambém a se acomodar às atividades que desempenha.A eficiência de um gesto pode ser medida por três crité-rios básicos: se ele alcança sua finalidade, o gasto ener-gético e sua organização interna11.

De acordo com os critérios de investigação é que sedetermina o tratamento cinesioterapêutico e, por essarazão, os temas a seguir – cervicobraquialgia e lombal-gia – são exemplos selecionados, com enfoque na fun-ção, para se discutir esses critérios neste capítulo.

CervicobraquialgiaA vida moderna estimula e impõe que as pessoas pas-sem grande parte do dia sentadas e se isso não for feitoadequadamente é possível haver graves conseqüênciasà saúde e à qualidade de vida. Segundo Grandjean13, aspessoas que executam funções com computador senta-

das em estações de trabalho apresentam uma freqüên-cia de cervicalgia e de dor nos ombros 13 vezes supe-rior às dos outros trabalhadores sentados. Isso decorredo fato de que, na informática, essas pessoas ficam muitoconcentradas nas tarefas, permanecendo em posturas àsvezes inadequadas e prolongadas18.

A coluna cervical encontra-se em posição ideal quandosuas curvaturas originais são preservadas. Em posiçãosentada, a cabeça tende a se posicionar de acordo como local em que se encontra o objeto que estiver sendoolhado, pois os olhos se fixam sempre onde ocorre aação, qualquer que seja a atividade, e muitas vezes ascurvaturas da coluna espinhal não são respeitadas. Alémdisso, freqüentemente as pessoas que trabalham na frentedo computador têm que forçar a vista ou deslocar o corpopara evitar reflexos (Fig. 42.1) ou iluminação excessivae essas ações levam a um esforço maior da musculaturaocular e cervical, causando dores de cabeça (cefaléia

Figura 42.4 – (A e B) A distância mínima do monitor é me-dida com o membro superior estendido. (C e D) A altura domonitor deve ter como referência o nível dos olhos.

Figura 42.3 – Alcance ideal representado pelo tracejado deraio menor, medido a partir do cotovelo à mão. Alcancemáximo representado pelo tracejado de raio maior, medidodo ombro à mão.

70 a 80cm

A

B

C D

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cervicogênica) ou outros sintomas, podendo tornar otrabalho mais lento e comprometer a precisão e a qua-lidade. A área de alcance dos objetos a serem consulta-dos no ambiente de trabalho e/ou de estudo (Figs. 42.2e 42.3), uso do telefone, distância e altura do monitor(Fig. 42.4) são de fundamental importância para evitarposturas e gestos lesivos ao corpo. Sendo assim, é im-portante orientar o paciente quanto aos aspectos ergo-nômicos, como local do objeto de leitura, iluminação epresença de reflexos. Esclarecer e estimular o pacientepara que não fique muito tempo em uma só posição sãomedidas profiláticas relevantes, pois trabalhadores queadotam posturas inadequadas e contração estática po-dem apresentar dor e fadiga crônica dos músculos dacintura escapular e dos antigravitários.

Figura 42.6 – Situação em que a altura do travesseiro ocupatodo o espaço entre a cabeça e a cama sem que altere o ali-nhamento da coluna.

Figura 42.5 – (A – C) As duas situações representadas provocam desvios no alinhamento da coluna cervical.

Outra medida profilática importante é a utilização ade-quada do travesseiro ao dormir, pois a altura e o tipo dematerial deste influenciam diretamente a coluna cervical.Considerando o decúbito lateral, travesseiro alto ou baixoprovoca inclinação da cabeça (Fig. 42.5) desalinhandoe sobrecarregando as estruturas periarticulares da colunacervical, distendendo músculos e seus anexos de um lado,comprimindo outros do lado contralateral. Nesse caso,a altura do travesseiro deve ocupar o espaço entre a cabeçae a cama de maneira que a coluna cervical fique em po-sição neutra, ou seja, alinhada com a coluna dorsal, evitandoa inclinação (Fig. 42.6). Considerando o decúbito dorsal,ainda que esta posição não seja a mais indicada paradormir, o travesseiro alto favorece a retificação ou atémesmo inversão da lordose cervical fisiológica (Fig. 42.7);o travesseiro baixo acentua a lordose. Nesse caso, o tra-vesseiro deve preencher o espaço entre a nuca e a cama,respeitando a curvatura fisiológica da cervical, obser-vando-se a região supra e infra-hióidea e a posição damandíbula em relação ao tórax (Fig. 42.8). Quanto aomaterial do travesseiro, recomenda-se que ele tenha umaresistência ao peso da cabeça de maneira a não exercermuita pressão sobre ela, mas que seja suficiente paranão ceder demais ao peso.

O tratamento cinesioterápico das cervicobraquialgiasdeve visar a restauração de uma boa função ombro/pes-coço. Mas para que isso ocorra é fundamental a restau-ração de uma boa postura, pois um tronco alinhado eestável serve como base sólida para a cintura escapulare o pescoço. A cintura escapular requer essa base sólidapara evitar a criação de qualquer sobrecarga, desequi-líbrio e padrões de movimentos alterados nos músculosao redor do ombro7. White e Sahrman20 observaram quealinhamento incorreto e/ou transmissão de força defei-

Figura 42.7 – (A – B) Situaçãoem que o travesseiro está muitoalto.

A B C

A B

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tuosa no sistema músculo-esquelético acarretam má adap-tação dos componentes do sistema. Essa má adaptação,muitas vezes, é a grande responsável pela instalação depontos dolorosos miofasciais.

Lombalgia

Desequilíbrio da ação muscular na pelve, como nos atosde sentar e levantar da cadeira, caminhar, subir e descerescadas, e na manutenção da postura em pé e sentada é,muitas vezes, a principal causa de lombalgia. Nessescasos, é preciso dar ênfase à reeducação muscular, embusca de equilíbrio e harmonia dos movimentos. Paraisso, deve-se intervir nas articulações vizinhas à pelve,pois possuem papel importante na manutenção da dinâ-mica músculo-esquelética12.

As disfunções sacroilíacas podem gerar dor referi-da na região lombar e podem ocorrer em resposta asobrecargas repetitivas ocasionadas pela postura incorreta.Ficar em pé com apoio unilateral, por muito tempo,

Figura 42.9 – Posição inadequada dos membros inferioresem decúbito lateral.

Figura 42.10 – Posição inadequada dos membros inferioresem decúbito lateral.

resultará em forças torsionais na pelve, assim comoao se deitar em decúbito lateral com um quadril fletidoe outro estendido (Fig. 42.9), ou com joelhos desali-nhados (Fig. 42.10). Sentar cruzando as pernas, semum bom apoio da pelve (Fig. 42.11), também provocatorções na pelve. Essas forças de torção, quando cons-tantes, podem provocar disfunções sacroilíacas comconseqüente quadro de mialgia tensional e formaçãode pontos-gatilho (PG) miofasciais. Portanto, orientare principalmente criar condições para que o corpo dopaciente adote as posturas corretas, torna-se parte in-tegrante no programa de cinesioterapia. Por exemplo,sentando sobre os ísquios e verticalizando o ilíaco (Fig.42.12), apoiando os pés (Fig. 42.13), utilizando tra-vesseiros adequadamente, entre os joelhos e tornoze-los, à frente do tórax abraçando-os com os membrossuperiores (Fig. 42.14) e evitando o uso de colchão “duro”demais ou “macio” demais.

Figura 42.8 – (A – B) Posiçãoideal do travesseiro em decú-bito dorsal.

Figura 42.11 – (A – B) Situa-ções inadequadas na posiçãosentada.

A B

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Figura 42.12 – (A – B) Posição adequada da pelve ao sentar,deixando o osso ilíaco na vertical.

Figura 42.13 – Apoio adequa-do para os pés na posiçãosentada.

Figura 42.14 – Posição ideal em decúbito lateral.

O músculo transverso do abdome é um estabilizadorda coluna vertebral, sua ação está ligada à função dodiafragma, dos músculos do assoalho pélvico e à fásciatoracolombar1. Esse músculo forma um “espartilho in-terno” juntamente com a ação do músculo multífido dolombo. Esse padrão de controle motor está comprome-tido em pacientes com lombalgia. O resgate desse con-trole depende da relação sinérgica entre os músculosabdominais e os do assoalho pélvico.

Freqüentemente, nos pacientes com lombalgia, osmúsculos quadrado do lombo, iliopsoas, glúteos mínimoe médio, adutores do quadril e piriforme apresentam-seem estado de tensão excessiva, encurtados, retraídos ecom comprometimento na sua função. Restabelecer ocomprimento de repouso desses músculos por meio doalongamento e restaurar força e trofismo muscular pelofortalecimento são as condutas comumente realizadasnesses pacientes. Mas é necessário verificar se após essaintervenção houve melhora da função, pois esses mús-culos encontram-se nesse estado por serem hipersolicitados,hiperprogramados e reativos. Se esses músculos, apóso restabelecimento do comprimento, da força e do trofismo,continuarem a ser solicitados de forma inadequada, oquadro doloroso permanecerá.

Nos casos em que o doente permanece sentado vá-rias horas por dia e de maneira incorreta, realiza ativi-dade física como carregar peso usando alavancas indevidas(Figs. 42.15 e 42.16), faz atividades domésticas semorientação (Fig. 42.17) e possui maus hábitos (Fig. 42.18),não é suficiente dizer ou mostrar a ele como deve pro-ceder nas atividades de vida diária, mas, sim, levá-lo a

vivenciar situações em seu corpo, para que perceba suasdificuldades e, a partir desse reconhecimento, trabalharcom exercícios que o auxiliem a estar em uma posiçãocorreta com mais conforto. É possível caminhar parauma mudança de comportamento gestual se houver umareestruturação da biomecânica da qual esses doentes fazemuso (Fig. 42.19).

A diferença de comprimento nos membros inferio-res pode levar a uma assimetria rebaixando a pelve deum lado e elevando-a de outro. Por exemplo, se um pacientetem o membro inferior direito curto, a pelve cairá paraa direita e, como o indivíduo procura adequação óptica,pode ocorrer uma curva compensatória da coluna lom-bar à esquerda. Essa posição assimétrica conduz a for-ças não fisiológicas através de coluna e pelve, aumentando,no lado côncavo, o suporte de peso nas facetas articu-lares, estreitando o forâmen intervertebral e colocandosob risco o disco intervertebral no lado convexo. Alémdisso, os músculos do lado convexo tendem a se alon-gar e enfraquecer, ao passo que os músculos do ladocôncavo tendem a se encurtar12.

A estrutura femoral pode influenciar a mecânica pélvica.Se o paciente tem coxa vara, a pelve tende a ser trazida

A

B

Figura 42.15 – (A) Posição incorreta e (B) posição correta paraelevar objetos do chão.

A BÍsquios Ísquio

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Figura 42.16 – (A – D) Ao segurar objetos, deve-se procurarmantê-los próximos ao corpo.

Figura 42.17 – (A e B) Ao varrer, manter o alinhamento dacoluna. (C e D) Nas atividades domésticas, observar a alturada mesa.

A B

Figura 42.18 – (A – B) Maus hábitos posturais.

Figura 42.19 – (A – C) Representação de um gesto ideal aopegar objetos no chão.

para uma posição de retroversão, o que levaria a umaperda da lordose lombar. O oposto é verdadeiro na coxavalga, na qual a pelve tende a uma anteversão com umaumento da lordose lombar. O flexum ou recurvatumdos joelhos também influenciarão na retroversão ouanteversão da pelve. A biomecânica alterada produz tensãoe tração em desequilíbrio e forma de utilização inade-quada da cintura pélvica18.

Quando há um desequilíbrio da função muscular, noexemplo da pelve em anteversão, o sistema músculo-esquelético pode desenvolver compensações. Os mús-culos flexores da articulação coxofemoral são colocadosem posição de menor tensão e pode ocorrer o encurta-mento dos extensores do lombo. Reciprocamente, os mús-culos glúteos e abdominais estão em posição de estiramento,

A B

C D

A

B

A B CC D

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situação não ótima de contração. Os músculos cronica-mente encurtados podem perder flexibilidade passiva eser ativamente levados a um estado mais alto de con-tratilidade, tornando-se progressivamente tensos. De formasimilar, o alongamento crônico pode inibir neurologica-mente os componentes ativos, tornado os músculos menosefetivos na produção de tensão11.

A mecânica corporal adequada pode influenciar nastarefas mais comuns do dia a dia. Quando um pacientenecessita se agachar e os músculos isquiotibiais encon-tram-se encurtados, haverá dificuldade da pelve em manter-se em um alinhamento relativamente neutro em razãoda tração desses em suas inserções nas tuberosidadesisquiáticas. Durante a flexão coxofemoral ocorrerá umtracionamento nas tuberosidades isquiáticas, levando apelve a uma retroversão. Em outra situação, em que opaciente for elevar o membro superior acima da cabeçae o músculo grande dorsal estiver encurtado, a pelveterá que anteverter para facilitar o gesto11.

Com todos os dados da avaliação estática e acessandoa mecânica corporal do paciente, observando como eleentra ou sai do carro, como carrega os objetos pesados,o modo de sentar, de agachar e sua posição no trabalhopode-se iniciar uma intervenção mais precisa com re-sultados satisfatórios na cinesioterapia.

O equilíbrio das tensões entre os músculos da cintu-ra pélvica é importante não apenas por razões posturais,mas também pelo papel crucial na habilidade da pelvede receber e transmitir apropriadamente as forças quelhe são devidas.

Embora a mecânica corporal seja dinâmica e a pos-tura pareça estática, uma é verdadeiramente a extensãoda outra. Quando o corpo se move através do espaço,forças gravitacionais estão presentes, variando de dire-ção e intensidade. O corpo adapta-se constantemente aessas forças, porém o indivíduo desinformado não é cons-ciente das posturas potencialmente eficientes e segurasque são adequadas para suportar forças externas. As-sim, é imperativo observar o paciente em movimentosfuncionais, averiguando a mecânica do movimento paraidentificar manobras ineficientes e perigosas.

Freqüentemente, a biomecânica é comprometida nãoapenas com a falta de compreensão de um desempenhofuncional seguro, mas também por uma limitação físicaque torna impossível uma performance apropriada. Ofisioterapeuta com um olhar mais crítico deve atentarpara tais compensações e procurar visar tanto as limi-tações físicas quanto as funcionais.

TratamentoOs pacientes com diagnóstico de SDM apresentammúsculos reativos e adquirem com a cronicidade aver-são e medo quanto ao movimento. Adotam padrão com-portamental de evitação à dor, formando, assim, um ciclovicioso: dor-inatividade física-dor. O corpo se submetea funções que exigem maior ou menor grau de comple-xidade, força, resistência, flexibilidade, percepção cor-poral e propriocepção, sendo o movimento a expressãoda relação entre corpo e função.

Na falta de adequação entre os diversos componen-tes do sistema músculo-esquelético está primariamenteo movimento, que, quando executado, pode organizarou desorganizar esse sistema. O que define uma ou outra

situação é a qualidade com que ele acontece perante asfunções a que esse corpo se submete diariamente.

Ao se elaborar um programa de cinesioterapia fun-cional, é imprescindível que ele esteja ancorado em umaavaliação que investigue todas as funções que o pacienterealiza em sua rotina, quais são as demandas dessas funçõese se o paciente tem potencial biomecânico para realizá-las adequadamente. Com essas respostas, o tratamentotem objetivos claros e consistência nos resultados.

As propostas de intervenções discutidas neste capí-tulo mostram uma direção na avaliação e no tratamentoque busca resgatar a capacidade de adaptação do pa-ciente perante os estímulos com que se depara nos di-ferentes ambientes e tarefas do seu cotidiano.

Cinesioterapia Aplicada

Intervenção InicialMassoterapia do tecido conjuntivo é uma das técnicasutilizadas para disponibilizar o tecido miofascial. Al-gumas manobras para cintura escapular e cintura pélvi-ca são mostradas nas Figuras 42.20 a 42.24. Observaro sentido das mãos do fisioterapeuta.

A escovação da pele com diferentes texturas é um recursoutilizado para informar a direção da tensão que se esperado músculo durante o movimento. Promove calor e me-lhora da percepção no local (Fig. 42.25). A escolha dadireção, da força e do grupo muscular trabalhado depen-derá da informação que o fisioterapeuta quer despertar(Fig. 42.26).

Dessensibilização dos pontos-gatilho miofasciais pormeio de digitopressão sobre o PG até promover, para amesma pressão, diminuição da dor inicial. Concomitan-temente, associar a aproximação das inserções musculares(ir no sentido da tensão) (Figs. 42.27 a 42.36).

As manobras de liberação miofascial são ferramentasdo Rolfing e visam a manipulação do tecido conjunti-vo (esqueleto fibroso), para com isso possibilitar a adequa-ção das relações entre os diferentes segmentos corporais(Figs. 42.37 a 42.45).

Sugestão de Manobras Miofasciaispara Cintura Escapular e RegiãoCervicalPara uma boa execução das manobras miofasciais é funda-mental que o terapeuta tenha domínio da técnica e sen-sibilidade suficiente para dosar a intensidade, que estámuitas vezes vinculada ao limiar da dor.

A princípio, o terapeuta conduz o segmento a umtensionamento. É importante entender que a palavra tensãonão quer dizer tração. O terapeuta alonga lenta, regulare progressivamente somente aquilo que a fáscia cede.vai apenas ao limite da elasticidade fisiológica.

Em seguida, é o momento de manutenção da tensão.Nessa fase o terapeuta retém a fáscia durante alguns se-gundos, o tempo de sentir sua mão sendo tracionada parao ponto inicial e deverá conservar essa sensação durantetoda a terceira parte de retorno com expirações relaxantes.

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Figura 42.20 – (A – C) Massoterapia do tecido conjuntivo.

Figura 42.21 – Trapézio inferior/grande dorsal.

Figura 42.22 – Levantador da escápula/trapézio superior/suboccipitais.

Figura 42.23 – Rombóides/trapézio médio.

Figura 42.24 – Esternocleidomastóideo.

A

B

C

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Figura 42.25 – Escovação com diferentes texturas. (A) Glúteo máximo. (B) Trato iliotibial. (C) Semitendíneo/semimembranáceo/bíceps femoral. (D) Quadrado lombar/paravertebrais/aponeuroses.

C

A B

D

A B

DC

Figura 42.26 – (A – D) A direção e a força aplicadas a certo grupo muscular dependem do que a fisioterapeuta quer despertar.

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Figura 42.27 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do rombóide maior. (B) Aproximação das inserções dos rombóides(adução da escápula).

Figura 42.28 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do levantador da escápula. (B) Aproximação das inserções dolevantador da escápula (elevação da escápula).

Figura 42.29 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do redondo maior. (B) Aproximação das inserções do redondomaior (extensão e condução da rotação interna da glenoumeral, lentamente).

Figura 42.30 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do trapézio superior. (B) Aproximação das inserções do trapéziosuperior (elevação da escápula).

A B

A B

A B

A B

A B

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Figura 42.31 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do esternocleidomastóideo. (B) Aproximação das inserções doesternocleidomastóideo (inclinação e rotação da cabeça).

Figura 42.32 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do quadrado lombar. (B) Aproximação das inserções do qua-drado lombar (pelve na direção das últimas costelas).

Figura 42.33 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofas-cial do glúteo máximo. (B) Aproximação das inserções doglúteo máximo (abdução e rotação externa da coxofemoral).

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A

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Figura 42.35 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do adutor longo. (B) Aproximação das inserções do adutor longo(flexão e adução da coxofemoral).

Figura 42.36 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofascial do reto femoral. (B) Aproximação das inserções do reto femoral(flexão coxofemoral).

Figura 42.34 – (A) Digitopressão do ponto-gatilho miofas-cial do glúteo médio. (B) Aproximação das inserções doglúteo médio (abdução e rotação externa).

A

B

A B

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Figura 42.41 – Forças: perpendicular na direção do tratoiliotibial (logo após sua passagem pelo trocanter maior) etangencial na direção do joelho.

Figura 42.42 – Forças: perpendicular na direção do glúteomáximo (logo após sua passagem pelo trocanter maior) etangencial na direção do sacro.

Figura 42.43 – Forças: perpendicular na direção dos adutorese tangencial na direção de suas inserções.

Figura 42.37 – Forças: perpendicular no trapézio superior etangencial na direção da mesa.

Figura 42.38 – Forças: perpendicular na direção dos rom-bóides e tangencial na direção da pelve.

Figura 42.39 – Forças: perpendicular na direção das inser-ções do esternocleidomastóideo e tangencial na direção doesterno.

Figura 42.40 – Forças: perpendicular na borda interna daespinha da escápula (infra-espinal) e tangencial na direçãodo ângulo inferior.

Figura 42.44 – Forças: perpendicular na direção dos poste-riores da coxa e tangencial na direção do ísquio.

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Figura 42.45 – Forças: perpendicular na direção dos ante-riores da coxa e tangencial na direção de suas inserções.

As Figuras 42.46 a 42.57 apresentam algumas manobrasmiofasciais utilizadas conjuntamente com a dessensibi-lização dos PG miofasciais, em uma intervenção inicial.

Figura 42.46 – Manobra miofascial para esternocleidomas-tóideo (ECM). O terapeuta coloca uma das mãos na inserçãodo ECM no osso esterno e a outra na inserção do mastóide.O tensionamento ocorrerá por uma força da mão que estásobre o esterno para baixo, que acompanha uma expiraçãodo paciente.

Figura 42.47 – Manobra miofascial para trapézio superior.O terapeuta apóia uma das mãos no ombro e a outra na basedo crânio. A tensão é obtida pelo afastamento das mãos.

Figura 42.48 – Manobra miofascial para o levantador da es-cápula. Uma das mãos do fisioterapeuta é colocada na espinhada escápula e a outra, na base do occipital. O tensionamentoacontecerá com o afastamento das duas mãos.

Figura 42.49 – Manobra miofascial para os rombóides. Umadas mãos é colocada no bordo medial da escápula e a outraexerce uma pequena resistência no cotovelo. O tensionamentoacontecerá com a tração em abdução da escápula e contra-resistência do cotovelo à mão do fisioterapeuta.

Figura 42.50 – Manobra miofascial para o redondo maior. Oterapeuta posiciona um dos membros do paciente em rota-ção externa e flexão, fazendo um ponto fixo com a outra mãono ângulo inferior da escápula e parte das costelas. A tensãose dará com o afastamento das duas mãos.

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Figura 42.51 – Manobra miofascial para glúteo máximo. Umadas mãos do fisioterapeuta é colocada no ilíaco, mantendo-o estável, e a outra conduz a coxofemoral em adução e leverotação interna.

Figura 42.52 – Manobra miofascial para piriforme. O tera-peuta apóia uma das mãos na face posterior do trocantermaior e mantém esse apoio, enquanto a outra mão mantémo joelho a 90°. A tensão será obtida pela rotação interna dacoxofemoral e manutenção do apoio no trocanter maior.

Figura 42.53 – Manobra miofascial para semitendíneo,semimembranáceo e bíceps femoral. O fisioterapeuta iráconduzir o membro inferior à flexão e solicitar ao pacienteque mantenha seu sacro apoiado no chão. O tensionamentoacontecerá com a tração da mão do fisioterapeuta contra amanutenção da pelve no chão.

Figura 42.54 – Manobra miofascial para quadríceps e sóleo.Uma das mãos se posiciona no terço distal do quadríceps ea outra promove a flexão dorsal do tornozelo. O tensionamentoocorrerá com a tração do tecido miofascial pela mão infe-rior e a flexão dorsal com flexão do joelho pela mão superior.Observar o alinhamento da pelve do paciente durante a ma-nobra miofascial.

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Figura 42.55 – Manobra miofascial para adutores dacoxofemoral. O terapeuta posiciona suas mãos nas espinhasilíacas ântero-superiores para fixar a pelve. A tensão ocorre-rá com o afastamento das pernas pela força dos cotovelos.

Figura 42.56 – Manobra miofascial para quadrado lombar. Oterapeuta apóia as suas mãos nas inserções do quadrado lom-bar; a tensão será alcançada com o movimento em oposição.

Figura 42.57 – Manobra miofascial para lombossacral. Oterapeuta posiciona uma das mãos na inserção superior doquadrado lombar e a outra na inserção inferior de bícepsfemoral, semitendíneo e semimembranáceo. A tensão ocor-rerá com o afastamento das mãos.

Exercícios de Alongamento paraMembros Superiores e CinturaEscapularVer Figuras 42.62 a 42.67.

Figura 42.58 – Para alongar e mobilizar os adutores da escá-pula , é possível iniciar com o posicionamento da pelve contrao chão dos membros inferiores contra a parede. O terapeutadeve utilizar uma das mãos para proporcionar apoio às costelase a outra para auxiliar o paciente a conduzir sua escápula àabdução. A bola pode ajudar na direção do membro superior.

Figura 42.59 – Para o alongamento do grande dorsal e re-dondo maior pode-se, a partir do bom posicionamento dapelve e dos membros inferiores, dar um ponto fixo à escápulainferiormente e conduzir o membro superior à rotação ex-terna e à abdução. Cuidado com a inclinação lateral do troncoe a projeção das costelas anteriormente.

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Figura 42.60 – Para o alongamento do trapézio superior, so-licita-se ao paciente que permaneça com a pelve contra osolo, os membros inferiores contra a parede e com uma suavepressão contra a bola, caso tenha tendências à abdução dosmembros. Deve-se pedir a inclinação lateral da cabeça e, emseguida, sustentá-la com uma das mãos, à medida que o om-bro desce suavemente em direção à pelve. A inclinação lateralda coluna lombar não pode ocorrer; observar os espaços entreilíacos e costelas flutuantes.

Figura 42.61 – Para o alongamento do esternocleidomastói-deo, solicitar ao paciente que permaneça com a pelve contrao solo, os membros inferiores contra a parede e com umasuave pressão contra a bola, caso tenha tendências à abdu-ção. Deve-se pedir a rotação da cabeça e a descida do esternonas expirações, contração dos abdominais para posicionarcostelas, além do esterno.

Exercícios de Alongamento paraCintura Pélvica e MembrosInferioresVer Figuras 42.62 a 42.67.

Figura 42.62 – Para o alongamento do quadrado lombar, osilíacos devem estar alinhados. Em seguida, deve-se dar umponto fixo aos ilíacos e conduzir a inclinação lateral do tronco.Pode-se, nesse exercício, acrescentar o membro superior emabdução e rotação externa e, com isso, trabalhar o grandedorsal e o redondo maior.

Figura 42.63 – Para o alongamento dos rotadores externos,solicita-se ao paciente que regule a aproximação do troncoà parede, pois quanto mais perto dela estiver, mais aumen-tará o grau de dificuldade. Em seguida, observar se os ombrosestão na direção da pelve, o alinhamento dos ilíacos e o po-sicionamento de sacro e ísquios na direção do chão.

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Figura 42.64 – Para o alongamento dos glúteos, deve-se ini-ciar com o paciente próximo da parede, com sacro e ísquiosna direção do chão, ombros na direção da pelve, membrode apoio na parede em semiflexão de joelho e dorsiflexãodo tornozelo. O terapeuta dará apoio e direção ao ilíaco, àmedida que aduz a coxofemoral.

Figura 42.65 – Para o alongamento dos posteriores de bí-ceps femoral, semitendíneo e semimembranáceo, deve-seposicionar um dos membros inferiores apoiado na paredeem 90° de flexão da coxofemoral. Solicitar ao paciente quemantenha o sacro contra o chão, o ísquio contra a parede, aflexão dorsal do pé que está na parede e a contração dosmúsculos abdominais para estabilizar a região lombar. Apóstodos os ajustes, iniciar a condução do calcanhar na direçãodo teto, sem perder os controles.

Figura 42.66 – Para o alongamento dos adutores, o pacientedeve manter o sacro contra o chão, a contração dos múscu-los abdominais para estabilizar a coluna lombar e os joelhosalinhados com os pés. Com os ajustes, é possível afastar osmembros inferiores para modular a intensidade.

Figura 42.67 – Para o alongamento do iliopsoas e adutoresda coxofemoral, posiciona-se o paciente com o joelho domembro inferior que está à frente flexionado em 90° e faz-sea rotação externa da coxofemoral do membro inferior queestá atrás. É necessário que o paciente mantenha os ombrosna direção da pelve e os ilíacos alinhados. A seta grossa in-dica o alinhamento do tronco com a pelve.

Construção do Movimento deExtensão e Flexão da Coxofemoralcom Estabilidade do TroncoCada fase é executada com o propósito de auxiliar opaciente a identificar como o seu corpo se estruturapara o movimento. A partir desse reconhecimento, sãosugeridos caminhos alternativos para o melhor apro-veitamento de sua biomecânica. Esse gesto é freqüente-mente solicitado durante as atividades de vida diária eprofissional, sendo responsável, quando bem execu-tado, pela prevenção do sistema músculo-esqueléticodos membros inferiores, cintura pélvica e coluna lom-bar (Figs. 42.68 a 42.77).

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Figura 42.68 – Solicitar ao paciente que alinhe os joelhos comos pés, mantenha a cintura escapular na direção da pelve(por meio da ação do grande dorsal) e estabilize o troncopela contração dos abdominais. O fisioterapeuta coloca suasmãos na coxofemoral do paciente, induz a flexão com todosos controles, pede ao paciente que faça força com os pés con-tra o chão e que mantenha essa sensação por alguns segundos,retornando à posição inicial.

Figura 42.69 – Mantendo todas as sensações anteriores, ofisioterapeuta pode dar referências sobre o alinhamento dascostelas e solicitar a ação dos músculos responsáveis.

Figura 42.70 – Nesse momento, o paciente começa a aliviaro peso da pelve sobre a bola com a ajuda do fisioterapeuta.Ficar nessa posição por alguns segundos e retornar à posi-ção inicial.

Figura 42.71 – Nessa fase, os membros superiores não esta-rão apoiados nos membros inferiores e a cintura escapulardeverá permanecer na direção da pelve (ação do grandedorsal). Solicitar que o paciente alivie o peso da pelve na bolae permaneça na posição por alguns segundos.

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Figura 42.72 – Após ter vivenciado cada fase e obtido res-postas no aprendizado, o fisioterapeuta pode solicitar aopaciente que faça o movimento de flexão e extensão dacoxofemoral com estabilidade do tronco de forma isotônica.Repetir algumas vezes, lentamente.

Figura 42.73 – As mãos do fisioterapeuta no sacro e na basedo occipital informam sobre o alinhamento da pelve, dotronco e da cabeça durante o movimento de flexão e exten-são da coxofemoral. Pedir ao paciente que integre todas assensações e informações vivenciadas na execução do movi-mento.

Figura 42.74 – Nesse exercício, o paciente se posiciona emflexão e extensão da coxofemoral em isometria. O fisiotera-peuta inicia os ajustes no membro inferior em extensão,solicitando ao paciente que pressione o pé contra o chão, eobserva como essa força é transmitida até a pelve, o tronco,os membros superiores e a cabeça. A bola é um parâmetropara paciente e fisioterapeuta sobre a intensidade da des-carga de peso do tronco sobre os membros superiores. Quantomais pressão do tronco sobre a bola, menos força é exercidapelos membros superiores.

Figura 42.75 – Nesse exercício houve um aumento da flexãoe da extensão da coxofemoral. Com isso, o tronco tende auma queda anterior mais acentuada e requer mais controle.O fisioterapeuta ainda trabalha nas coxofemorais, observandoa passagem de tensão.

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Figura 42.76 – Nesse momento, o fisioterapeuta intervém notronco em relação à pelve, solicitando que o paciente man-tenha todos os controles adquiridos anteriormente. Os ajustessugeridos devem respeitar a capacidade de aprendizado e anecessidade de cada corpo.

Figura 42.77 – O fisioterapeuta agora intervém na cinturaescapular e na cabeça. Para que o paciente mantenha oscontroles até aqui conquistados, ele utiliza uma faixa em di-reções previamente selecionadas, as quais irão estimular aforça de reação em uma série de grupos musculares. Comisso, o fisioterapeuta conduz o paciente à adequação e àintegração das estruturas durante a construção do gesto.

Conclusão

Ao priorizar, no programa de reabilitação, movimentosque respeitem a tipologia do doente e suas necessida-des funcionais, aumentam as chances de modificar seupadrão gestual, evitando as recidivas que esses doentespossam apresentar. O paciente deverá ter condições dedesenvolver liberdade de movimento, sem tensão mus-cular excessiva, e de forma eficiente durante as ativida-des cotidianas; deverá acessar de forma adequada amecânica corporal, como ao entrar ou sair do carro, carregarobjetos, na maneira de sentar, em seu posto de trabalho,nas atividades físicas diárias, esportivas e de lazer.

O sistema músculo-esquelético necessita de movimentose estímulos permanentes para sua boa manutenção. Nocotidiano, uma seqüência de situações é imposta e in-duz a adaptações necessárias. Se a forma como o indi-víduo consegue suas adaptações o conduz a gestoscoordenados, eficientes e funcionais, passa a dar manu-tenção permanente ao sistema músculo-esquelético, pre-servando e melhorando sua qualidade de vida. Portanto,essa resultante deve ser a prioridade de um programade cinesioterapia.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer aos colegas GutembergA. Gomes Jr., Patrícia S. Duro, Cláudia M. Zerillo eMário E. Gimenez pelos valiosos auxílios para a reali-zação deste capítulo.

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