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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local Circulando, do jornalismo local ao jornalismo público: Jornal-laboratório como instrumento de interação com as comunidades Alpeniano Silva Filho Belo Horizonte - MG 2012

Circulando, do jornalismo local ao jornalismo público ... · rara da MPB, possui uma letra que me motivou a pesquisar a prática jornalística. Notícia de Jornal subsidia várias

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1

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Circulando, do jornalismo local ao jornalismo público: Jornal-laboratório como instrumento de

interação com as comunidades

Alpeniano Silva Filho

Belo Horizonte - MG 2012

2

ALPENIANO SILVA FILHO

Circulando, do jornalismo local ao jornalismo público: Jornal-laboratório como instrumento de

interação com as comunidades

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Linha de pesquisa: Processos Educacionais: Tecnologias Sociais e Desenvolvimento Local. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Márcio Magalhães

Belo Horizonte – MG Centro Universitário UNA

2012

3

Silva Filho, Alpeniano

Circulando do jornalismo local ao jornalismo cívico: Jornal-Laboratório como instrumento de interação com as comunidades/ Alpeniano Silva Filho. -- 2012.

127 f.

Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, Belo Horizonte, MG, 2012.

Orientador: Cláudio Márcio Magalhães

1. Jornalismo – estudo ensino. 2. Jornalismo – orientação profissional. 3. Interação social. I. Magalhães, Cláudio Márcio. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDD 070.407

4

Para Alpiniano Silva, meu pai!

Notícia de Jornal1 (Luiz Reis - Haroldo Barbosa)

Tentou contra a existência Num humilde barracão Joana de tal Por causa de um tal João Depois de medicada Retirou-se pro seu lar Aí, a notícia carece de exatidão O lar não mais existe Ninguém volta ao que acabou Joana é mais Uma mulata triste que errou Errou na dose Errou no amor Joana errou de João Ninguém notou Ninguém morou Na dor que era o seu mal A dor da gente não sai no jornal

1 Notícia de jornal é um samba-canção composto em 1961, pelos compositores e sambistas,

Luiz Reis e Haroldo Barbosa. Os dois, além de compor vários sambas clássicos da Música Popular Brasileira, eram jornalistas e atuaram em vários jornais, dentre estes, o lendário Diário Carioca. Muitos sites e blogs atribuem a autoria desta música a Chico Buarque, isso porque o drama de Joana de Tal foi gravado por ele em 1975, e depois pelo sambista Miltinho, em dueto com o mesmo Chico Buarque, no disco “Miltinho Convida”, em 1998. Meu pai, Alpiniano Silva, fã do Miltinho, ouvia no rádio as músicas interpretadas de forma bem humorada pelo “sambista do bigodinho branco”. Eu ouvia estes sambas na companhia do meu pai, homem simples, que nunca frequentou a escola, mas à sua maneira, falando de música, rádio e futebol, conduziu-me aos caminhos da música e do jornalismo. Hoje, aos 79 anos de idade e debilitado pelo mal de Parkinson, quase sem memória, meu pai merece a dedicatória que faço a ele nesta dissertação. Gostaria muito de dizer a meu pai que o samba que ele ouvia, além de uma jóia rara da MPB, possui uma letra que me motivou a pesquisar a prática jornalística. Notícia de Jornal subsidia várias discussões citadas nesta dissertação: subjetividade, imparcialidade, notícias reproduzidas dos boletins de ocorrência da polícia sem a devida contextualização dos fatos, dentre outros temas. O drama de Joana de Tal é a dor de muitos, que infelizmente não sai no jornal.

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço,

Aos amigos queridos, Regina Miranda e Daniel Antunes, e

também à Mirtes Cipriano, pela acolhida em Belo

Horizonte nas minhas as idas e vindas entre Governador

Valadares e a capital mineira, durante o curso das

disciplinas deste Mestrado.

Luciana Gross, minha sobrinha, pela força, ao formatar

este trabalho.

Emilly Vítor, pela amizade e por fiscalizar o meu trabalho:

“e aí, já terminou essa dissertação?”

Ao professor Cláudio Márcio Magalhães, pela valiosa

orientação e bom humor.

Áurea Thomazi, professora do Mestrado, fã de jazz, uma

das belas amizades que conquistei durante este curso.

Igualmente, outra bela amizade conquistada: professora

Eloísa Cabral, com aquele sotaque paulista de São

Carlos, SP, cara de brava, mas um doce de pessoa.

Kristianne Moreira, que durante as aulas do Mestrado foi

amiga e companheira, junto com a filha Rafaela, ainda na

barriga. Assim como a Kris, outra amizade de sala de aula

que me encantou: Natália Marra, a nossa “Santinha”,

pequena notável, que virou torcedora do Democrata-GV.

Áurea Nardely, grande amiga, professora e jornalista das

melhores e das mais competentes, pelo apoio

incondicional durante todo o Mestrado.

E, finalmente, à Lena, minha esposa, pela compreensão.

Foram muitas viagens e muitas horas de estudo, mas

valeu a pena.

6

RESUMO

A natureza social do jornalismo impõe ao jornalista e aos meios de comunicação, a responsabilidade de divulgar informações de interesse público e adotar uma prática jornalística capaz de contribuir para o desenvolvimento local. No entanto, nem sempre isso acontece e os jornais impressos, principalmente aqueles produzidos em cidades do interior do Brasil, se distanciam das aspirações comunitárias, priorizando o interesse particular ou político-partidário. Um dos caminhos para resolver esta situação-problema está na educação, com a formação profissional dos jornalistas nas universidades, e esta deve estar voltada para o ensino-aprendizagem do jornalismo de interesse público. Para que isto aconteça, os cursos de jornalismo devem oferecer a articulação prático-teórica das disciplinas específicas do jornalismo em ambientes laboratoriais que permitam a experimentação em meios de comunicação próprios, como os jornais-laboratórios, com periodicidade regular e dirigidos a um público específico, preferencialmente das comunidades de sua área de abrangência. Estes órgãos laboratoriais podem ser instrumentos importantes para o aprendizado dos alunos e uma forma de garantir interação com as comunidades, ampliando os espaços dos movimentos sociais na esfera pública. A construção e a aplicação de uma tecnologia social de comunicação, baseada no conceito “fazer com e para a comunidade”, pode contribuir para a as atividades de ensino-aprendizagem nos laboratórios dos cursos de Jornalismo, permitindo que o futuro profissional do jornalismo entenda como deve ser uma prática jornalística cidadã. Este trabalho tem como objetivo tentar oferecer às escolas de comunicação um modelo de jornal-laboratório que privilegie a prática do jornalismo de interesse público. Para a construção deste modelo, propõe uma intervenção às práticas laboratoriais nos cursos de jornalismo, contidas em uma cartilha, sem a pretensão de ser o único referencial, mas o princípio de um debate que vise o aprimoramento das práticas acadêmicas e sua proximidade com as comunidades onde estão inseridas.

Palavras chaves: educação, desenvolvimento local, jornal-laboratório.

7

ABSTRACT The social nature of journalism requires the journalist and the media, responsibility to disclose information de from public interest and adopt a journalistic practice that can contribute to local development. However, not always it happened and newspapers, especially those produced in the inner cities of Brazil, have distant aspirations of community, prioritizing the particular interest or political party. One way to solve this problem situation is in education, including professional training of journalists in the universities. This should be the focused: teaching and learning of journalism in the public interest. For this to happen, the journalism courses should offer practical and theoretical articulation of the specific disciplines of journalism in laboratory environments to experiment in their own media, like newspaper-lab at regular intervals and directed to a specific audience, preferably from the communities of its catchment area. These newspapers-labs can be important tools for student learning and a way to ensure interaction with the communities, expanding the spaces of social movements in the public sphere. The construction and application of a social technology of communication, based on the concept "do from and to the community", can contribute to the activities of teaching and learning in laboratory courses in journalism, allowing the professional future of journalism understand how the journalism can be a citizen practice. This work aims to offer schools a model of communication lab-newspaper that favors the practice of journalism in the public interest. To build this model, we propose an intervention to laboratory practice in journalism courses, contained in a booklet, without claiming to be the sole criterion, but the principle of a debate aimed at the improvement of academic practices and its proximity to the communities from where they are. Keywords: education, local development, newspaper-lab.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES _______________________________________________________________

Quadro 1 Descrição dos jornais-laboratórios............................................ 54

Quadro 2 Descrição dos jornais locais de Governador Valadares............ 57

Figura 1 Capa da Folha Regional.............................................................. 76

Figura 2 Capa do Diário do Rio Doce........................................................ 79

Figura 3 Coluna da Folha Regional composta em 1 coluna...................... 80

Figura 4 Página do Jornal-laboratório OutrOlhar....................................... 82

Figura 5 Página do Jornal-laboratório Senso(in)comum – cabeçalho...... 83

Figura 6 Página do Jornal-laboratório Senso(in)comum – linha viúva..... 83

Quadro 3 Descrição de dados do novo projeto Circulando....................... 100

Figura 7 Capa do novo projeto do Jornal-laboratório Circulando.............. 101

9

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS _______________________________________________________________

MEC Ministério da Educação

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

ACGV Associação Comercial de Governador Valadares

ANDI Agência de Notícias dos Direitos da Infância

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CDL-GV Câmara de Dirigentes Lojistas de Governador Valadares

CEPES Cento de Pesquisas Econômico-Sociais

CFE Conselho Federal de Educação

CONSEPE Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

DRD Diário do Rio Doce

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EXPOCOM Exposição Experimental da Comunicação

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

INTERCOM Sociedade de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

IPVA Imposto Sobre Veículos Automotivos

PUC MINAS Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

REDE API Rede de Apoio a Perdas Irreparáveis

RTS Rede de Tecnologia Social

TC Tecnologia Convencional

TS Tecnologia Social

UFU Universidade Federal de Uberlândia

UFV Universidade Federal de Viçosa

UNIVALE Universidade Vale do Rio Doce

10

SUMÁRIO

Introdução................................................................................................ 13

Capítulo 1

Jornal-laboratório, house organ ou exercício social?.........................

17

1.1 A função social do jornalismo.............................................................. 17

1.2 Interlúdio histórico sobre a imprensa................................................... 18

1.3 O jornalismo cidadão........................................................................... 20

1.4 O simulacro da verdade na objetividade jornalística........................... 23

1.5 Ensino de Jornalismo.......................................................................... 25

1.6 A prática profissional nos laboratórios................................................ 28

1.7 O que jornal-laboratório?.................................................................... 30

1.8 A construção de uma tecnologia Social de Comunicação.................. 32

1.9 A pauta jornalística.............................................................................. 34

Capítulo 2

A tentativa de mudar uma realidade por meio da educação...............

38

2.1 A responsabilidade social do jornalista............................................... 38

2.2 O jornal-laboratório na democratização da informação...................... 40

2.3 Jornalismo voltado às comunidades................................................... 42

2.4 O fim de um projeto............................................................................. 46

Capitulo 3

Percurso metodológico nos jornais locais e laboratoriais..................

48

Capítulo 4

Procedimentos editoriais identificados na coleta de dados...............

53

4.1 Dados sobre jornais-laboratórios e jornais locais................................ 53

4.1.1 Jornal-laboratório Circulando............................................................ 54

4.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar............................................................. 55

4.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)comum.................................................. 56

4.1.4 Jornal-laboratório Marco................................................................... 56

11

4.2 Descrição de dados dos jornais locais................................................ 57

4.2.1 Diário do Rio Doce........................................................................... 58

4.2.2 Cadernos do DRD............................................................................ 59

4.2.3 Dados das edições do DRD............................................................. 60

4.2.4 Jornal de Domingo............................................................................ 62

4.2.5 Jornal Folha Regional....................................................................... 63

4.2.6 Jornal Classificados O Domingo....................................................... 64

Capítulo 5

Analisando a prática jornalística na escola e no mercado..................

65

5.1 Análise de conteúdo dos jornais-laboratório e jornais locais............... 65

5.1.1 Jornal-laboratório Circulando............................................................ 66

5.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar............................................................. 68

5.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)comum.................................................. 69

5.1.4 Jornal-laboratório Marco................................................................... 70

5.2 Análise dos jornais locais.................................................................... 71

5.2.1 Diário do Rio Doce............................................................................ 71

5.2.2 Folha Regional.................................................................................. 74

5.2.3 Jornal de Domingo............................................................................ 77

5.2.4 Jornal Classificados O Domingo....................................................... 77

5.3 As distorções no projeto gráfico dos jornais locais.............................. 78

Capítulo 6

O jornalismo cívico aplicado ao jornal-laboratório..............................

85

6.1 Projeto editorial e gráfico para o jornal-laboratório Circulando............ 85

6.2 A participação da comunidade no processo de produção da notícia.. 86

6.3 As comunidades no Conselho Editorial............................................... 87

6.4 Redação de textos jornalísticos........................................................... 90

6.5 Projeto Gráfico..................................................................................... 92

6.6 Edição Jornalística............................................................................... 95

6.6.1 Urbanismo........................................................................................ 95

6.6.2 Esportes........................................................................................... 95

6.6.3 Cidadania......................................................................................... 95

12

6.6.4 Cultura.............................................................................................. 96

6.6.5 Serviço.............................................................................................. 96

6.6.6 Política.............................................................................................. 96

6.6.7 Polícia............................................................................................... 96

6.6.8 Opinião............................................................................................. 96

6.6.9 Economia.......................................................................................... 96

6.7 Recomendações à rotina de produção................................................ 97

6.7.1 Uso de normas de padronização e estilo......................................... 97

6.7.2 Procedimentos editoriais associados ao projeto gráfico.................. 97

6.7.3 Distribuição e público-alvo................................................................ 99

6.7.4 Cronograma de atividades semanais............................................... 99

6.7.5 Composição do Corpo Editorial........................................................ 100

6.8 Inserção de anúncios........................................................................... 101

6.9 Dados adicionais à proposta............................................................... 101

Considerações finais.............................................................................. 103

Referências.............................................................................................. 105

Apêndices e Anexos............................................................................... 110

Termo de aprovação do projeto no CAAE................................................ 110

Termo de autorização para pesquisa / Univale......................................... 111

Anexo 1 Capas dos jornais analisados.................................................... 112

Capa Jornal-laboratório Senso(in)comum................................................ 112

Capa Jornal-laboratório Circulando.......................................................... 113

Capa Jornal-laboratório OutrOlhar............................................................ 114

Capa Jornal-laboratório Marco.................................................................. 115

Capa Diário do Rio Doce........................................................................... 116

Capa Jornal de Domingo........................................................................... 117

Capa Folha Regional................................................................................. 118

Capa Classificados O Domingo................................................................ 119

Anexo 2 Cartilha com adaptação resumida da proposta de intervenção. 120

13

INTRODUÇÃO

Esta dissertação se propõe a estudar as práticas jornalísticas dos jornais-

laboratório de cursos de Jornalismo de algumas universidades mineiras, a

partir de um comparativo com as práticas jornalísticas dos jornais impressos

produzidos em Governador Valadares, Minas Gerais, identificando os

elementos que caracterizam a prática profissional dos jornalistas e possíveis

distorções na prática jornalística destes jornais. O estudo busca subsídios em

conhecimentos já produzidos sobre a comunicação e o jornalismo, como forma

de oferecer uma proposta ideal para a edição de um jornal-laboratório que

tenha compromisso com o interesse público. A relevância social desta

investigação se justifica em vários pontos, mas é oportuno destacar que ela se

sustenta na afirmação de Melo (2004), que em seus estudos sobre

comunicação constatou que “a imprensa das cidades do interior constitui um

território pouco explorado na bibliografia brasileira do Jornalismo, embora

represente uma alternativa para assimilação dos novos profissionais

jornalistas” (MELO, 2004, p.9).

No capítulo 1, os estudos teóricos sobre comunicação e jornalismo são

apresentados, e reafirmam a necessidade de entender uma melhor formação

de jornalistas nas universidades brasileiras, fato que tem motivado muitas

discussões. Algumas delas resultaram na elaboração de um documento

intitulado “Novas Diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo”,

apresentado ao Ministério da Educação em 2009, por uma Comissão de

Especialistas em Ensino de Jornalismo. Os pontos principais deste documento

são destacados neste capítulo, que também apresenta diferentes pensamentos

sobre a prática jornalística, partindo da conceituação do que é comunicação,

que, apesar do caráter polissêmico, possui uma definição, citada por Santaella

(2002, p.17), que se aproxima muito do caráter do jornalismo: “interação social

através de mensagens”.

14

Este conceito, intrínseco à atividade jornalística, conduziu este estudo ao

interlúdio histórico sobre a origem e a evolução dos jornais, a formação dos

jornalistas nas universidades brasileiras, o jornalismo de interesse público, e os

jornais-laboratórios dos cursos de jornalismo como uma antítese da prática

editorial dos jornais, principalmente aqueles produzidos no interior do Brasil,

que de acordo como Melo (2004, p.11) se distanciam das aspirações

comunitárias, servindo aos interesses dos donos do poder local.

Esta situação-problema, gerada pelas aspirações comunitárias ausentes das

páginas dos jornais impressos do interior, e a possibilidade de as comunidades

terem espaço nos jornais-laboratório dos cursos de Jornalismo, é o objeto

deste estudo, descrito no capítulo 2. O recorte feito para a realização do estudo

proposto, relaciona-se à prática jornalística nos jornais de Governador

Valadares, baseado na hipótese de que a precariedade no processo de

produção de notícia nos jornais impressos do interior gera distorções diversas,

como a publicação de noticiário nacional e internacional recortado dos sites de

notícias, ou obtido em agências noticiosas, em detrimento do noticiário local.

Outra distorção está relacionada a uma prática comum nos jornais de

Governador Valadares, que é a publicação parcial ou na íntegra dos press-

releases2 produzidos pelos jornalistas das assessorias de comunicação. O

problema central desta prática: a informação oficial dos press-releases, que é

repassada ao público, deriva do interesse das assessorias em exaltar a

imagem dos seus assessorados, ou noticiar as ações gerenciais de empresas

e instituições, que nem sempre são de interesse público, e certamente são

parciais, embora isso, em muitos casos, não fique claro para o leitor. Outra

hipótese é de que a formação de profissionais jornalistas, ainda incipiente na

região do Vale do Rio Doce, e a não admissão dos profissionais formados pelo

curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio Doce na maioria das

redações dos jornais locais, acentue o problema.

2 Press releases são textos informativos produzidos nas assessorias de imprensa e enviados

pelos assessores para as redações dos meios de comunicação com o objetivo de informar, anunciar, contestar, esclarecer ou responder à mídia sobre algum fato que envolva o assessorado, positivamente ou não.

15

A experiência do jornal-laboratório Circulando, do curso de Jornalismo da

Universidade Vale do Rio Doce, que nasceu para cumprir uma função

importante dentro do jornalismo local, com a missão de democratizar a

informação, foi descrita neste capítulo, como forma de estabelecer os

contrapontos entre a prática dos jornais locais e a prática sugerida pelos

estudos teóricos sobre comunicação e jornalismo, aplicadas ao jornal-

laboratório.

Para identificar os problemas e propor soluções, foi necessário o percurso

metodológico descrito no capítulo 3, estruturado na pesquisa qualitativa e em

procedimentos de investigação baseados em análise de conteúdo,

experimentação, e adoção de instrumentos de coleta e tratamento de dados

obtidos nas análises de 4 (quatro) jornais-laboratório (dois de universidades

privadas e dois de universidades federais): Senso(in)comum, do curso de

Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU, Uberlândia, MG);

OutrOlhar, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV,

Viçosa, MG); Circulando, do curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio

Doce (Univale, Governador Valadares, MG) e Marco, da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas, Belo Horizonte, MG).

Também foi feita uma análise de edições de jornais locais, da cidade de

Governador Valadares: Diário do Rio Doce, Jornal de Domingo, Folha Regional

e Classificados O Domingo.

No capítulo 4 são descritos os dados previamente colhidos nestes jornais,

relacionados à linha editoral, ao espaço destinado ao noticiário local, ao projeto

gráfico e composição do corpo editorial, à circulação e ao conteúdo jornalístico

apurado, tanto pelos alunos-repórteres dos jornais-laboratório, como pelos

repórteres dos jornais locais. Tais dados contribuíram para a análise descrita

no capítulo 5, e possibilitou a compreensão da situação-problema, ao

estabelecer um comparativo dos conteúdos dos jornais analisados e os

procedimentos editoriais sugeridos na revisão bibliográfica, definindo a prática

do jornalismo voltado ao interesse público.

16

Os dados colhidos nas edições do Diário do Rio Doce (único jornal diário da

região do Vale do Rio Doce) revelaram que a publicação de noticiário de

agências de notícias nacionais e internacionais predomina sobre a publicação

de noticiário local, apurado pelos repórteres da redação. Os outros jornais

locais, apesar de não utilizar os serviços das agências de notícias, assim como

o DRD, ocupam suas páginas com fotos e notas sobre celebridades locais,

publicam de forma integral ou parcial os press-releases que chegam à redação,

publicam matérias pagas por Prefeituras e Câmaras Municipais, e textos

opinativos. Assim, a informação de interesse público fica reduzida às áreas

periféricas das páginas, condenando grande parte dos fatos ocorridos nas

comunidades à inexistência social.

Seria possível um jornal-laboratório de um curso de Jornalismo adotar uma

linha editorial voltada ao interesse público, assumindo a defesa dos direitos dos

cidadãos? No capítulo 6, baseado na coleta e análise de dados, e com o

referencial teórico desta dissertação, este estudo propõe a reformulação

editorial e gráfica no jornal-laboratório Circulando, visando ampliar sua inserção

comunitária e permitir a articulação prático-teórica de forma interdisciplinar nas

atividades de ensino-aprendizagem do curso de Jornalismo da Univale.

Esta reformulação, além de contribuir para a formação de profissionais capazes

de atuar em prol da democratização da informação, também poderá contribuir

para o desenvolvimento local, e se apresenta com a perspectiva de se tornar

uma Tecnologia Social de Comunicação, com elementos que a caracterizam

como uma proposta de inovação da prática jornalística.

A proposta de intervenção desta dissertação, que poderá ser adotada por um

jornal-laboratório interessado em voltar-se ao jornalismo de interesse público,

foi resumida em uma cartilha, cujo fac-símile compõe o Anexo 2. O objetivo

desta cartilha é oferecer subsídios para a edição de um jornal-laboratório

impresso, que sirva de modelo para uma prática jornalística cidadã.

17

Capítulo 1 JORNAL-LABORATÓRIO, HOUSE ORGAN OU EXERCÍCIO SOCIAL? 1.1 A função social do jornalismo

A relação entre o jornalismo e a sociedade tem sido, ao longos dos anos,

objeto de vários estudos teóricos, que buscam, em uma perspectiva crítica,

analisar a sua natureza ideológica e suas funções no meio social. França

(1998) argumenta que a imprensa, embora exerça um papel de propagar a

informação, responderia ainda por várias outras funções, como “integração

social, função recreativa, função psicoterápica, expressão de opiniões,

formação de opinião pública, denúncia, democratização da informação (e da

cultura), mobilização e outras” (FRANÇA, 1998, p.35). A autora observa ainda

que “no jornalismo, não é a relação emissor/receptor que está em primeiro

plano, não é a troca que está em causa, mas a produção da informação de um

sentido objetivo do mundo” (FRANÇA, 1998, p.35).

Santaella (2002) também faz referência aos estudos teóricos sobre a

comunicação e a pluralidade dos fenômenos comunicacionais. Para esta

autora, o termo “comunicação” é polissêmico, diverso e multifacetado. A

natureza multidisciplinar da comunicação, segundo Santaella, conduz o

pesquisador a defini-la como “interação social através de mensagens”

(SANTAELLA, 2002, p.17).

Ao se referir à etimologia da palavra comunicação, Dines (1986) faz referência

à sua raiz latina para conceituá-la. “Comunicação vem do latim communis,

comum, e communicare, tornar comum, compartilhar” (DINES, 1986, p.60).

Dines argumenta que algo para ser comum necessita de mais de um elemento

para o confronto verificador da igualdade. Citando Cherry (1971), Dines (1986)

afirma que a comunicação é uma questão eminentemente social.

A comunicação é interpessoal e não intrapessoal. Consigo próprio o homem não se comunica, ele apenas se observa, reflete, devaneia. A comunicação só ocorre individualmente nas situações de sonhos ou fantasia, quando consciente e

18

inconsciente fazem o jogo emissor receptor (CHERRY apud DINES, 1986, p.60).

Dines constrói sua argumentação sobre o caráter coletivo da comunicação no

fato de que, “para se ter algo em comum com alguém é preciso que haja este

alguém” (DINES, 1986, p.60). Para este autor, a comunicação é, portanto,

coletiva a partir da sua essência, e essa comunhão, segundo ele, se origina da

palavra communis, a continuação lógica do processo.

Adotando o mesmo método etimológico, encontraremos uma definição igualmente clara para o termo informação. Origina-se igualmente do latim, in formatio, dar forma, enformar, organizar. Temos, assim, a comunicação como estabelecimento de uma sintonia, a criação de um conduto de igualdades, e a informação, o conteúdo que corre dentro desse canal. É de Norbet Wiener, o pai da Cibernética, o conceito de que a informação é a mensagem organizada. Por extensão, diríamos que a informação jornalística (jornal, do latim, diurnalis, diária) seria a informação organizada periodicamente, sistematizada no tempo (DINES, 1986, p.61).

1.2 Interlúdio histórico sobre a imprensa

A informação jornalística, intrínsecamente ligada ao caráter da comunicação,

possui raízes históricas que remontam anos. O jornalismo, de acordo com

Marcondes Filho (1986), seguiu uma linha evolutiva baseada em fases, como a

que determinou o início da imprensa artesanal ou meramente informativa,

levada pelos “vendedores de notícia”. Nesta fase, os jornais funcionavam como

classificados, com grandes anúncios para circular informações sobre

transações comerciais de uma burguesia emergente. Havia poucas notícias

como são entendidas hoje, e estas se referiam a desastres, mortes,

nascimentos, entre outros acontecimentos factuais. O advento desta imprensa

simbolizou a ruptura com a forma desagregada de armazenar informações.

Antes, tendo em vista o predomínio da lógica religiosa, eram sacerdotes que

guardavam as informações. Com a secularização dos ritos sociais, o jornalista

passou a disseminar a informação socialmente. Isto se deu a partir do século

XVII.

19

A imprensa literária, que emergiu nos séculos XVII e XIX, caracterizou-se pela

briga entre a burguesia e a aristocracia. Os burgueses estavam surgindo como

classe social e queriam tomar o poder da aristocracia. Para atingir seu objetivo,

usaram a imprensa como meio de disputa política.

Outra fase é destacada por Marcondes Filho. No final do século XIX e início do

século XX, o capitalismo entrou em uma fase monopolista, com tendência de

concentração de empresas. O jornal deixou de ter finalidade pedagógica e

política. Prevalecem os interesses financeiros. Assume, portanto, a

característica de produto, de mercadoria a ser vendida. Marcondes Filho

observa que não há muita diferença entre os jornais ditos “sérios” e os

chamados “sensacionalistas”, uma vez que todos recorrem ao sensacionalismo

para vender, e isso constitui uma forma mais radical de mercantilização do

produto. Para ele, os jornais passaram a viver na auto-referencialidade, o que

um divulga, todos os outros acabam divulgando também, caindo na mesmice.

E, por fim, o processo do trabalho reflete o domínio do capitalismo. Os jornais

contam com “bons jornalistas”, profissionais que se adaptam bem ao sistema,

têm textos razoáveis, mas são pouco críticos e fazem o que a empresa manda.

Marcondes Filho descreve como a atividade jornalística transformou-se no

início do século passado, em negócio, em empresa capitalista, e afirma que

com isso, o jornal se torna uma mercadoria a ser vendida como qualquer outro

produto.3 Passa, portanto, a ser subordinado ao desenvolvimento da economia

de mercado. Basta observar atualmente as mudanças tecnológicas, como têm

interferido na embalagem do produto (jornal), que trabalha mais com o visual.

O problema levantado por Marcondes Filho, relacionado ao fato dos jornalistas

serem pouco críticos e servis às empresas nas quais atuam, também é

observado por Lima (1995), que citando Medina (1978), vê como precárias as

discussões de pauta, e um indicativo deste problema em muitas redações.

3 - Ciro Marcondes Filho, no livro “O Capital da Notícia”, recorre à discussão feita por Jurgen

HABERMAS (1984), no livro Mudança estrutural da esfera pública, em que o filósofo alemão descreve as fases de consolidação da imprensa.

20

Nas rotinas de redação, momentos decisivos como as reuniões de pauta pecam por falta de domínio técnico-profissional. A opção de assuntos e a forma de como tratá-los raramente é levada no grau de seriedade e aprofundamento que a situação exige. Assim, por exemplo, a falta de imaginação (criação), uma das fontes mais comuns de pauta é a seleção de assuntos já publicados em outros veículos. Uns jornais se pautam pelos outros num círculo vicioso, fechado e pobre (MEDINA apud LIMA, 1995, p.60).

O julgamento sobre o que deve ser notícia ou não, é algo que se evidencia nas

redações dos jornais a cada dia. Os editores fazem uma triagem dos fatos e

elegem aqueles que, no seu modo de ver e pensar, será pautado como a

notícia do dia. Os outros, não escolhidos, são condenados a inexistência social.

Erbolato (1991) lista os principais critérios de noticiabilidade usados nesta

triagem: a) proximidade; b) marco geográfico; c) impacto; d) proeminência –

personalidades; e) aventura e conflito; f) conseqüências; g) humor; h) raridade;

i) progresso; j) interesse humano; l) importância; m) rivalidade; n) política

editorial do jornal; o) utilidade; p) oportunidade; q) culto de heróis; r)

descobertas e invenções; s) repercussão (ERBOLATO, 1991, p.60-62).

Wolf (1999) explica que estes critérios de noticiabilidade estão estreitamente

ligados aos processos de rotinização e de estandardização das práticas

produtivas dos meios de comunicação. Nesse sentido, a definição de

noticiabilidade liga-se ao conceito de perspectiva-da-notícia, que é a resposta

que o órgão de informação dá à questão que domina a atividade dos

jornalistas: quais os fatos cotidianos que são importantes e devem virar

notícia?

1.3 O Jornalismo cidadão

O atendimento às demandas da cidadania, como instrumento de mobilização

social, é um dos principais pilares do jornalismo comunitário, de acordo com

Pena (2005). Para ele, os indivíduos inseridos em comunidade devem

participar do processo de produção das mensagens. O autor defende que no

jornalismo comunitário, o jornalista deve enxergar com os olhos da

21

comunidade, e fazer um esforço no sentido de verificar uma real apropriação

dos processos de mediação pelo grupo.

Esta participação das pessoas no processo de construção da notícia foi

amplamente discutida nos Estados Unidos quando alguns profissionais da

comunicação observaram que havia uma incompatibilidade entre a agenda da

imprensa e as comunidades estadunidenses. Das discussões sobre esta

incompatibilidade surgiu o jornalismo cívico, em 1994. Castilho; Fialho (2009),

explicam que a interlocução das comunidades estadunidenses com

autoridades municipais foi parte de um projeto de 10 milhões de dólares

patrocinado pelo Pew Center For Civic Journalism4. O projeto teve a adesão de

quase 30 jornais regionais em diferentes estados, que convocaram a

população de bairros para participar de assembléias públicas, nas quais as

autoridades municipais eram questionadas sobre problemas comunitários. “O

principal objetivo era aumentar a participação dos moradores em eleições

locais” (CASTILHO; FIALHO, 2009, p.133).

Estes autores esclarecem que o projeto, apesar de ter proporcionado a

articulação de diferentes atores da esfera pública, foi muito criticado por alguns

profissionais e estudiosos da comunicação nos Estados Unidos, que

reclamavam do processo de discussão dos temas comunitários com

autoridades municipais. Segundo Castilho; Fialho (2009), por ter acontecido

durante o processo eleitoral de 1994, a aplicação do projeto alterava o conceito

de isenção da informação.

Traquina (2001) também aborda as origens do jornalismo cívico, que segundo

ele, surgiu da crítica incessante e implacável dos profissionais da mídia, com

particular ênfase na análise da cobertura noticiosa dos processos eleitorais nos

Estados Unidos. Ele explica que existem outras denominações para este “novo

jornalismo” e cita vários autores e denominações defendidas por eles:

“jornalismo comunitário” (Craig,1995); “jornalismo de serviço público”

4 O Pew Center For Civic Journalism é uma organização criada nos Estados Unidos,

responsável pelo financiamento de grande parte dos projetos e experimentos de jornalismo cívico na imprensa estadunidense.

22

(Shepard,1994); “jornalismo público” (Rosen,1994 e Merritt,1995) e “jornalismo

cívico” (Lambeth e Craig,1995). Citando Merritt (1995), Traquina (2001) afirma

que o jornalismo pode, e deve ser uma “força fundamental” na “revitalização da

vida pública”, mas, para que isso ocorra, é necessário uma mudança

fundamental na profissão para conseguir esse objetivo.

O jornalismo cívico que Merritt defende, envolve as seguintes mudanças: 1) ir para além da missão de dar as notícias para uma missão mais ampla de ajudar a melhorar a vida pública; 2) deixar para trás a noção do “observador desprendido” e assumir o papel de “participante justo”; 3) preocupar-se menos com as separações adequadas e mais com as ligações adequadas; 4) conceber o público, não como consumidores, mas como atores na vida democrática, tornando assim prioritário para o jornalismo estabelecer ligações com os cidadãos. Assim, para o jornalismo cívico, torna-se um imperativo que o jornalismo encoraje o envolvimento do cidadão na vida pública, desenvolvendo nos jornalistas uma nova perspectiva do “participante justo” (fair-minded participants) com a utilização de um novo conjunto e instrumentos de trabalho (TRAQUINA, 2001, p.178-179).

Traquina (2001) afirma que o pensamento de Merritt (1995) dá conta de que

“na sociedade de indivíduos dispersos e abarrotados com informação

descontextualizada, uma vida pública precisa ter informação relevante”

(TRAQUINA, 2001, p.177). Ele descreve ainda que Merritt adverte a categoria

dos jornalistas sobre a necessidade de uma mudança na postura profissional, e

que esta informação relevante apenas será repassada à sociedade por

jornalistas independentes. Traquina observa que o pensamento de Merritt,

centrado na democracia participativa, coloca o conceito de objetividade como

um dos principais alvos a abater, e aponta este conceito central como

responsável para a valorização do valor de afastamento. “O afastamento

decidido conduz a um tipo de cegueira acerca de coisas específicas, uma

incapacidade instruída para compreender uma parte do nosso ambiente e as

pessoas envolvidas nele” (MERRITT apud TRAQUINA, 2001, p. 178).

Rosen (1991), citado por Traquina (2001), concorda em vários pontos com

Merritt. Prefere o termo “jornalismo público”, que segundo ele é mais

apropriado ao que se convencionou a se chamar de “jornalismo cívico”. Partilha

23

a visão de democracia participativa e defende uma prática jornalística mais

ativa na construção de um espaço público. Segundo Traquina, Rosen define o

jornalismo cívico como

“a arte subdesenvolvida de ligação com a comunidade na qual os jornalistas trabalham – incluindo a comunidade política” [...] disponibilidade para quebrar velhas rotinas, um desejo de estar ligado ao novo com cidadãos e as suas preocupações, uma ênfase na discussão séria como atividade principal na política democrática, e um foco nos cidadãos como atores do drama público em vez de espectadores (ROSEN apud TRAQUINA, 2001, p.180-181).

1.4 O simulacro da verdade na objetividade jornalística

Quando a discussão chega à objetividade jornalística, Rosen se posiciona na

linha oposta ao pensamento de Merritt, que vê a necessidade de “abater” o

conceito de objetividade na prática jornalística. Traquina explica que Rosen,

apesar de concordar em alguns pontos com Merritt, acredita que a objetividade

traz benefícios à democracia, e que esta se trata de “noção de uma verdade

desinteressada, não objetiva, mas desinteressada”.

Com todos os seus defeitos, ele (o conceito de objetividade) ainda exprime valores profundamente acreditados e legítimos: a noção de uma verdade desinteressada, o desejo de separar o fazer jornalístico do fazendo política, a tentativa disciplinada de reprimir inclinações pessoais, utilizando a perspectiva de outra pessoa para encarar as coisas. São valores importantes para nós todos, e em particular para jornalistas. [...] Nos próximos anos, será crucial para as pessoas no jornalismo declarar o fim da neutralidade no que diz respeito a certas questões. [...] Eles (os jornalistas) irão talvez ter dificuldades no caminho da sua própria filosofia, que possa substituir a objetividade por algo mais forte, se posso estimulá-lo assim, mais estimulante (ROSEN apud TRAQUINA, 2001, p.182).

A discussão sobre a objetividade no jornalismo é ampliada com o pensamento

de Barros Filho (1995). Ele explica que a objetividade é um conjunto de

características e abstrações que não existem enquanto tal, em estado puro, na

realidade. Trata-se de uma racionalização utópica. Barros Filho afirma que

24

estudos teóricos definem a “objetividade informativa” como um modelo

abstrato, que embora não possa ser atingido na sua plenitude, deve significar

uma tendência, uma orientação, uma direção a ser buscada em permanência

pela informação jornalística.

Citando Dovifat (1964), Barros Filho (1995) observa que a notícia “é uma

comunicação controlada e dirigida”. Sustenta que o jornal informará o melhor

que possa, não sendo objetivamente verdadeiro, mas subjetivamente

verossímil. Defende a inviabilidade de um jornal puramente objetivo. Para ele,

um jornal puramente objetivo, ou não seria lido por ninguém, ou se

desmoronaria no primeiro erro de cálculo.

Reconhecida a imperfeição intrínseca ao processo comunicacional, e aceita a

“objetividade informativa” como tendencial, Barros Filho argumenta que os

estudos sobre a objetividade, ora enfatizam as características do produto

mediático, ora consideram que a “objetividade informativa” não pode ser

avaliada pelo produto e sim pelo procedimento ou intenção do seu autor.

A objetividade como um tipo de mensagem se confunde com o próprio conceito de “informação”. A noção de informação, como a de comunicação, é passível de múltiplas abordagens, como contornos pouco precisos. A confusão persiste quando os autores se propõem a estabelecer as diferenças entre os dois conceitos. O termo informação, em português, é polissêmico, apresentando pelo menos três significados distintos: os dados (de um certo problema ou da informática – data), as notícias jornalísticas (news) e o saber de uma forma geral (knowledge) (BARROS FILHO, 1995, p.34).

Barros Filho (1995) comenta que, para alguns teóricos, o conceito de

informação faz referência a uma medida quantitativa da improbabilidade dos

acontecimentos e das organizações. Para outros analistas, segundo este autor,

a informação encerra um conteúdo que, por princípio, deveria tender a ser o

mais completo possível para perfilar os traços definidores desse algo (conteúdo

da mensagem), suas propriedades, circunstâncias e dimensão semiológica.

Escarpit (1975), citado por Barros Filho (1995), também entende a informação

como a medida, matemática ou não, do conteúdo das mensagens que a mídia

25

transmite. Ele distingue, assim, a informação da comunicação, e entende que

comunicação é um processo complexo que funciona através de determinado

número de aparatos, dos quais a mídia só compõe a parte tecnológica. Citando

o comunicólogo Wiener (1969), Barros Filho (1995) lembra que a informação é

o conteúdo do que trocamos com o mundo exterior, quando tentamos nos

adaptar a ele e impor-lhe nossa adaptação.

1.5 Ensino de Jornalismo

As novas diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo, elaboradas por

uma Comissão de Especialistas em Ensino de Jornalismo5, e que atuou sob a

nomeação do Ministro da Educação, em 2009, demonstrou a intenção de

aproximar a formação superior dos jornalistas em cursos de Jornalismo nas

universidades brasileiras, às necessidades comunicacionais da sociedade e à

evolução tecnológica dos meios de comunicação. As propostas da Comissão

dão conta de que

do Jornalismo que hoje está nas expectativas da sociedade, exige-se tanto o domínio das técnicas e artes da narração quanto o domínio da lógica e das teorias da argumentação. Exige-se também o manejo competente das habilidades pedagógicas na prestação de serviço público, para que os cidadãos possam tomar decisões conscientes e responsáveis. Da mesma forma, persiste o desafio de questionar, refletir e interagir com a multiplicidade de fontes, ou seja, como o jornalista pode entender o mundo que o cerca e como pode compreender as motivações, os interesses, as demandas, os códigos do público que ele pretende atingir (MEC, 2009, p.7).

5 Esta comissão foi formada pelos professores José Marques de Melo (Universidade Metodista

de São Paulo), Alfredo Vizeu (Universidade Federal de Pernambuco), Carlos Chaparro (Universidade de São Paulo), Eduardo Meditsch (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Gonzaga Motta (Universidade de Brasília), Lucia Araújo (Fundação Roberto Marinho / Canal Futura), Sergio Mattos (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), Sonia Virginia Moreira (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). A Comissão entregou o relatório final ao Ministério da Educação no dia 18 de setembro de 2009. À época, o Ministro Fernando Haddad, acompanhado pela Diretora do Ensino Superior do MEC, Maria Paula Dallari Bucci, acolheu o relatório final dos trabalhos realizados pela comissão, e encaminhou o documento para apreciação do Conselho Nacional de Educação – CNE –, antes de promulgar o ato que fixará as novas diretrizes curriculares para o Curso de Jornalismo.

26

A Comissão argumentou no relatório final apresentado ao Ministério da

Educação (MEC), que o Jornalismo é uma profissão reconhecida

internacionalmente, regulamentada e descrita como tal no Código Brasileiro de

Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho. Desta forma, a mudança no

processo de elaboração das novas diretrizes curriculares foi adequar estas

diretrizes à formação e ao exercício da profissão de jornalista, corrigindo uma

distorção até então existente, que abrigava a habilitação sob propostas

curriculares para a Comunicação Social.

A Comunicação Social não é uma profissão em nenhum país do mundo, mas sim um campo que reúne várias diferentes profissões. É também uma área acadêmica que engloba diversas disciplinas específicas, como ocorre também em outras áreas das ciências aplicadas como, por exemplo, a da Saúde, que reúne em seu âmbito as profissões (e respectivas disciplinas) de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Fisioterapia, etc. Desta forma, é inadequado considerar o Jornalismo como habilitação da Comunicação Social, uma vez que esta, como profissão, não existe, assim como não existe uma profissão genérica de Saúde. O equívoco não se origina nas DCN em vigor. Anteriormente a elas, a mesma organização já estava prevista nos Currículos Mínimos “do Curso de Comunicação Social” emanados do Conselho Federal de Educação a partir de 1969. Desde então, os Currículos Mínimos de Comunicação Social substituíram os Currículos Mínimos “do Curso de Jornalismo” adotados até então (MEC, 2009, p.10).

Até então, conforme relatou a Comissão, o Brasil adotava como obrigatório o

modelo de ensino da Comunicação Social proposto então pela Unesco6 para o

Terceiro Mundo. Esta adoção, segundo o relatório final, é uma herança do

governo ditatorial dos militares (1964-1985) com a intenção de substituir todas

as profissões do campo da Comunicação historicamente existentes

(Jornalismo, Publicidade, Relações Públicas, Editoração, etc.) por uma

“profissão de novo tipo”, a de “Comunicador Polivalente” (MEC, 2009, p.10).

Sobre o contexto histórico da formação dos jornalistas brasileiros, a Comissão

afirma que a educação dos jornalistas desafia a sociedade brasileira há mais

6 A sigla Unesco significa, em língua portuguesa, Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura. Em língua inglesa, na qual é codificada, significa: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

27

de um século. Segundo esta Comissão, a demanda cresceu com o processo

de industrialização da imprensa, período em que os jornais deixavam de ser

correias de transmissão dos partidos políticos, para se converter em empresas

auto-sustentáveis.

A sociedade requeria profissionais competentes para produzir notícias de interesse coletivo e comentários sintonizados com as aspirações do público leitor. Já em 1908, Gustavo de Lacerda, ao fundar a Associação Brasileira de Imprensa - ABI, reivindicava uma escola de jornalismo para formar repórteres. Em 1935, o educador Anísio Teixeira atendeu a essa demanda, criando o primeiro curso de jornalismo do país, experiência que se frustrou com o fechamento da Universidade do Distrito Federal pela truculência do Estado Novo. Em consequência, a academia só abriu suas portas aos jornalistas nos anos 40, quando o ensino de jornalismo foi oficializado e as primeiras escolas foram autorizadas a funcionar em São Paulo (1947) e no Rio de Janeiro (1948) (MEC, 2009, p.9).

Na organização dos cursos de Jornalismo, a Comissão sugeriu que estes

propiciem a interação permanente do aluno com fontes, profissionais e públicos

do jornalismo desde o início de sua formação. O aluno, ao vivenciar desde os

primeiros anos uma interação com a sociedade por meio da prática jornalística,

“seria estimulado a se envolver com problemas reais, assumindo

responsabilidades crescentes, compatíveis com seu grau de autonomia” (MEC,

2009, p. 15).

As sugestões da Comissão são coerentes com o pensamento de Lopes (1995),

que, citando Beltrão (1961), lembra que as escolas têm como objetivo cumprir

três funções primordiais:

a) formar profissionais ministrando-lhes conhecimentos de coleta, redação, interpretação, seleção e apresentação gráfica da notícia, com a utilização de métodos e processos racionais e práticos e, simultaneamente, das ciências e das artes que lhes elevam o nível cultural; b) promover e desenvolver investigações e análises sobre os meios de comunicação coletiva, embasadas nos modernos métodos de investigação e com o emprego do instrumental adequado, controlando não apenas a melhoria dos padrões técnicos da imprensa de sua região ou país, como também sua maior influência na formação da opinião pública. c) funcionar como um núcleo de renovação

28

dos processos jornalísticos servindo de laboratório para experiências morfológicas e de conteúdo (de redação) das matérias, ações e serviços que a comunidade espera encontrar nesses meios (BELTRÃO apud LOPES, 1985, p.27).

Desta forma, de acordo com a Comissão, o perfil do egresso do Curso de

Jornalismo, jornalista profissional diplomado, será de um profissional com

formação universitária ao mesmo tempo generalista, humanista, crítica e

reflexiva.

Esta o capacita a atuar como produtor intelectual e agente da cidadania dando conta, por um lado, da complexidade e do pluralismo característicos da sociedade e da cultura contemporâneas e, por outro, dos fundamentos teóricos e técnicos especializados. Dessa forma terá clareza e segurança para o exercício de sua função social específica no contexto de sua identidade profissional singular e diferenciada dentro do campo maior da Comunicação (MEC, 2009, p. 17).

1.6 A prática profissional nos laboratórios de jornalismo

A atividade laboratorial nos cursos de Jornalismo é de fundamental importância

para esta articulação teórico-prática. Lopes (1985) afirma que desde o início da

implantação da formação de jornalistas nas universidades brasileiras, “os

cursos de Jornalismo têm-se revelado incompetentes na tarefa de manter

órgãos laboratoriais capazes de proporcionar aos seus estudantes o contato

com a prática profissional” (LOPES, 1985, p.14).

Os órgãos laboratoriais, segundo Melo (2003), tornaram-se obrigatórios com a

Resolução CFE 2/84 e criaram um ambiente propício ao desenvolvimento do

experimentalismo nas faculdades de comunicação brasileiras. O autor explica

que, antes desta resolução ser aplicada, o CFE havia reformado o anacrônico

currículo mínimo então vigente, instituindo novas exigências didático-

pedagógicas para os cursos de Comunicação. Explica que entre estas

exigências estava a necessidade de equipamentos profissionais e laboratórios

especializados. No entanto, segundo o autor, esta reforma demorou anos para

ser aplicada, “tendo em vista o dissenso imperante em nossa área do

29

conhecimento, por razões de natureza ideológica (professorado) ou mercantil

(donos de escola), a implantação dos laboratórios foi sendo adiada” (MELO,

2003, p.17).

A importância da prática laboratorial recebeu atenção especial da Comissão na

elaboração das novas diretrizes curriculares, e foi destacada no tópico

“Elementos estruturais do Projeto Pedagógico”. Como forma de efetivação da

interdisciplinaridade e integração entre teoria e prática, a comissão sugeriu que

a elaboração do projeto pedagógico deve considerar “estar focado teórica e tecnicamente na especificidade do jornalismo, com grande atenção à prática profissional, dentro de padrões internacionalmente reconhecidos, comprometidos com a liberdade de expressão, o direito à informação, a dignidade do seu exercício e o interesse público” (MEC, 2009, p.16).

Entre as competências gerais, o relatório final da Comissão considerou

importante que o aprendiz de jornalismo valorize e compreenda conquistas

históricas da cidadania e participação no processo democrático, respeitando o

pluralismo de idéias e de opiniões, “a cultura da paz, os direitos humanos, as

liberdades públicas, a justiça social e o desenvolvimento sustentável” (MEC,

2009, p.18). Nas competências pragmáticas, o aluno, de acordo com as novas

diretrizes propostas, deve ter habilidades para

Contextualizar, interpretar e explicar informações relevantes da atualidade, agregando-lhes elementos de elucidação necessários à compreensão da realidade; Perseguir elevado grau de precisão no registro e na interpretação dos fatos noticiáveis; Propor, planejar, executar e avaliar projetos na área de jornalismo; Organizar pautas e planejar coberturas jornalísticas; Formular questões e conduzir entrevistas; Adotar critérios de rigor e independência na seleção das fontes e no relacionamento profissional com elas, tendo em vista o princípio da pluralidade, o favorecimento do debate, o aprofundamento da investigação e a garantia social da veracidade; Dominar metodologias jornalísticas de apuração, depuração, aferição, produção, edição e difusão; Conhecer conceitos e dominar técnicas dos gêneros jornalísticos; Produzir enunciados jornalísticos com clareza, rigor e correção, e ser capaz de editá-los em espaços e períodos de tempo limitados; Traduzir em linguagem jornalística, preservando-os, conteúdos originalmente formulados em linguagens técnico-

30

científicas, mas cuja relevância social justifique e/ou exija disseminação não especializada; Elaborar, coordenar e executar projetos editoriais de cunho jornalístico para diferentes tipos de instituições e públicos; Elaborar, coordenar e executar projetos de assessoria jornalística a instituições legalmente constituídas de qualquer natureza, assim como projetos de jornalismo em comunicação comunitária, estratégica ou corporativa; Compreender, dominar e gerir processos de produção jornalística, e ser capaz de aperfeiçoá-los pela inovação e pelo exercício do raciocínio crítico; Dominar linguagens midiáticas e formatos discursivos utilizados nos processos de produção jornalística nos diferentes meios e modalidades tecnológicas de comunicação; Dominar o instrumental tecnológico – hardware e software – utilizado na produção jornalística; Avaliar criticamente produtos e práticas jornalísticas (MEC, 2009, p.19-20).

Assim, a Comissão sugeriu alguns eixos para a formação profissional e incluiu

entre estes, o eixo da prática laboratorial, cujo objetivo é desenvolver

conhecimento e habilidades inerentes à profissão, a partir da aplicação de

informações e valores, integrando os demais eixos que contemplam a

formação ética e humanística do profissional. Na prática laboratorial, o

aprendiz, segundo esta Comissão, deve se envolver na articulação teórico-

prática e “em projetos editoriais definidos e orientados a públicos reais, com

publicação efetiva e periodicidade regular, tais como: jornal, revista e livro,

jornal mural, radiojornal, telejornal, webjornal, agência de notícias, assessoria

de imprensa, entre outros” (MEC, 2009, p.21).

1.7 O que é jornal-laboratório?

O jornal-laboratório é um meio de comunicação feito por alunos de um curso de

jornalismo sob a supervisão e orientação de professores jornalistas, capaz de

contribuir de forma eficaz para a formação do profissional jornalista. Sobre as

origens desta prática laboratorial, Lopes (1985) afirma que esta começou em

1908, nos Estados Unidos, com a Escola de Jornalismo da Universidade de

Missouri. O autor explica que no currículo do curso de Jornalismo desta

universidade, paralelo às disciplinas de formação humanística, como Língua e

Literatura, Sociologia, História e Política, havia também o ensino-aprendizagem

de reportagem, secretaria, chefia de redação e oficinas. “As aulas práticas

31

eram ministradas de modo a reproduzir o funcionamento de uma redação, com

os professores como diretores e chefes de redação e os alunos nas funções de

redatores, repórteres, subsecretários e secretários” (LOPES, 1985, p.24-25). O

resultado destas atividades teórico-práticas foi a publicação de um jornal

vespertino diário, com 4 páginas, denominado University Missourian,

totalmente redigido pelos alunos. “Em seu primeiro número, o jornal

denominava-se o laboratório, a clínica, a escola prática do novo departamento.

Destinava-se a universitários e à população da cidade de Columbia, sede da

universidade” (LOPES, 1985, p.25).

A natureza social do trabalho do jornalista e dos meios de comunicação sugere

que os jornais-laboratórios sejam voltados para o interesse público, como

afirma Amaral (2001). Para este autor, os veículos de comunicação “são

instituições sociais, criadas pela necessidade dos agrupamentos definidos de

indivíduos obedientes a leis, costumes e tradições comuns, emanam da

sociedade e se destinam à sociedade” (AMARAL, 2001, p.25). Segundo o

autor, este relacionamento veículos de comunicação-sociedade não significa,

porém, que eles estejam sempre a serviço da sociedade.

Os interesses nem sempre coincidem, muitas vezes discrepam, em outras chegam ao antagonismo. Representando grupos específicos da sociedade – políticos, culturais, econômicos, religiosos, ideológicos – os veículos de comunicação, cuidam, apenas da defesa desses grupos, embora refiram constantemente à sociedade como um todo, ao povo, às massas (AMARAL, 2001, p.25).

Lopes considera importante que o jornal-laboratório seja voltado às

comunidades, mas apresenta vários questionamentos sobre o procedimento

editorial nestes jornais.

Quem determina a linha editorial? Em qualquer jornal isso fica equacionando, na maioria das vezes, de forma convincente: quem define é o dono, por meio de seus prepostos nos postos de direção na redação. No jornal-laboratório a questão é bem mais complexa, mesmo levando-se em consideração que quem arca com as despesas do veículo é a escola. Qual seria então o procedimento: a faculdade ou o professor determinarem a

32

linha? Deixar em aberto para a discussão entre alunos? E se houver divergências entre eles? (LOPES, 1985, p.51).

Bueno (2008) afirma que muitas instituições de ensino (e muitas chefias que

dirigem os cursos de Jornalismo) parecem não ter entendido o "espírito da

coisa" ou, por cumplicidade/má fé, resolveram transformar o jornal-laboratório

num verdadeiro "frankstein pedagógico". Para este autor, os jornais-laboratório,

meios de importância fundamental para a formação do jornalista, são

transformados em house organ7, se caracterizando pelo “tom institucional,

propagandístico, reduzido a um canal de promoção de reitores, chefes de

gabinete, chefes de departamento, diretores de unidades e outras autoridades

vaidosas do ensino, da pesquisa e da extensão” (BUENO, 2008).

As universidades, cursos e chefes de departamento que assumem este jornal-laboratório de fachada incorporam (e põem em prática) uma perspectiva de ensino que confunde educação com adestramento e cujo objetivo não é permitir o debate, o diálogo, a experimentação, mas a repetição de formas e fórmulas que engessam a criatividade, desestimulam a participação e contribuem para a burocratização do processo de produção jornalística. (BUENO, 2008)

1.8 A construção de uma Tecnologia Social de Comunicação

Ampliar o espaço destinado às comunidades no jornal-laboratório, além de

aprimorar a formação profissional oferecida ao aluno, pode reverberar este

procedimento para outras regiões, e ser aplicado em outros jornais-laboratório,

servindo também de modelo para jornais impressos, por meio de uma

Tecnologia Social de Comunicação. Bava (2004) define Tecnologia Social (TS)

como “técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas na interação

com a população, que representam soluções para a inclusão social” (BAVA,

2004, p.106). Ele afirma ainda que “as experiências inovadoras podem ser

avaliadas e valorizadas tanto pela sua dimensão de processos de construção

de novos paradigmas e novos atores sociais” (BAVA, 2004, p.106). 7 House organ é a denominação dada ao veículo (jornal ou revista) de uma empresa ou

entidade, concebido para divulgar fatos e realizações, e pode assumir diferentes configurações, dependendo do público a que se destina.

33

A construção de uma TS de comunicação deve considerar os conceitos de TS

e Tecnologia Convencional (TC), estabelecendo de forma clara as diferenças

entre uma e outra. Novaes; Dias (2009) afirmam que a TC pode ser definida a

partir de um conjunto de características, dentre estas, aquelas relativas a seus

efeitos sobre o trabalho. Citando Dagnino (2004), os autores mostram que “a

TC é inerentemente poupadora de mão-de-obra, o que pode ser verificado na

constante substituição do trabalho humano pelo trabalho morto8” (DAGNINO

apud NOVAES; DIAS, 2009, p.18). Apontam outras características da TC,

como o seu caráter convencional segmentado, não permitindo que o produtor

exerça controle sobre a produção. Além disso, é alienante, pois suprime a

criatividade do produtor direto. Ao contrário, “a tecnologia social incentiva o

potencial e a criatividade do produtor direto e dos usuários, é capaz de

viabilizar economicamente empreendimentos como cooperativas populares,

assentamentos de reforma agrária, a agricultura familiar e as pequenas

empresas” (NOVAES; DIAS, 2009, p.18).

Em resumo, podemos concluir que, enquanto a tecnologia capitalista convencional é funcional para a grande corporação (em especial para as grandes empresas multinacionais), a tecnologia social aponta para a produção coletiva e não mercadológica (NOVAES; DIAS, 2009, p.19).

A TC convencional parece dominar as rotinas de produção nas redações dos

jornais. Medina (1978) afirma que “o monopólio da informação representado

pelas agências de notícia diminui muito a força do repórter na empresa

jornalística de centros de industrialização como os brasileiros” (MEDINA, 1978,

p.84). A autora constatou em seus estudos que o percentual de informações

coletado das agências de notícias e publicado nos jornais, é maior que as

reportagens ou notícias produzidas pelos recursos próprios das redações,

“chegando ao ponto de até notícias nacionais virem via agência internacional”

(MEDINA, 1978, p.84).

8 “Trabalho Vivo” (Trabalho humano) e “Trabalho Morto” são expressões da teoria marxista, do

filósofo Karl Marx. Para Marx, o trabalho vivo é o realizado pelo homem. O trabalho morto é aquele que já foi feito pelo homem, mas assumido por um instrumento/ferramenta. “Esses conceitos nos ajudam a pensar no trabalho como mercadoria” (LIMA, 2002, p.8).

34

A constatação de Medina é coerente com a característica da TC apontada por

Novaes; Dias (2009), ou seja, poupadora de mão-de-obra e aplicada na

substituição do “trabalho humano” pelo “trabalho morto”, pois o jornalista, ao

replicar um trabalho já produzido e distribuído pelas agências de notícias para

veículos de comunicação de todo o mundo, deixa de inovar, criar, e exercer

sua função primordial no ciclo de produção da notícia.

Considerando o conceito de TS, e buscando técnicas e metodologias

inovadoras em um espaço de interação com a comunidade, é importante

destacar que o processo de construção de uma TS de comunicação, que

poderia ser adotada pelos jornais-laboratório, tenha a participação dos atores

sociais da área de abrangência deste jornal.

Neste modelo, o jornalista deixa de ser um gatekeeper, ou seja, aquele

profissional que, segundo Traquina (2005), toma uma decisão numa sequência

de decisões próprias, e não coletivas. Traquina explica que, na teoria do

gatekeeper, o processo de produção da informação é concebido como uma

série de gates, isto é, portões, que não são mais do que áreas de decisão em

relação às quais o jornalista (gatekeeper) tem de decidir se vai escolher essa

notícia ou não.

“Se a decisão for positiva, a notícia acaba passando pelo portão, se não for, sua progressão é impedida, o que na prática significa a sua “morte” porque significa que a notícia não será publicada, pelo menos nesse órgão de informação” (TRAQUINA, 2005, p.150).

1.9 A pauta jornalística

A pauta jornalística e a seleção das fontes de informação é assunto que

motivou vários estudos de Lage (2001). Para este autor, a denominação pauta

aplica-se a duas coisas distintas:

... a) ao planejamento de uma edição ou parte da edição (nas redações estruturadas por editorias – de cidade, economia,

35

política e etc.) com a listagem dos fatos a serem cobertos no noticiário e dos assuntos a serem abordados em reportagens, além de eventuais indicações logísticas e técnicas: ângulos de interesse, dimensão pretendida pela matéria, recursos disponíveis para o trabalho, sugestões de fontes e etc. b) a cada um dos itens desse planejamento, quando atribuídos a um repórter: ele dirá “a minha pauta”, quer a tenha recebido como tarefa, quer a tenha proposta (o que é comum, particularmente com free-lancers) (LAGE, 2001, p.34).

Lage explica que antes da instituição da pauta no jornalismo brasileiro, “apenas

as matérias principais ou de interesse da direção eram programadas. O

noticiário do dia-a-dia dependia de repórteres que cobriam setores” (LAGE,

2001, p.33). Estes setoristas9, segundo o autor, “se obrigavam a trazer

diariamente sua cota de textos, o que significava, na prática, ter uma

programação de notícias frias ou reportagens adiáveis para os dias de menor

atividade” (LAGE, 2001, p.33).

Um dos componentes mais importantes da pauta é a fonte de informação.

Campos (2010) afirma que são raras as reportagens que articulam e

aprofundam um determinado problema social, e isso reflete a deficiência do

jornalismo brasileiro, que de acordo com ele, não passa de um jornalismo

noticioso precário para um jornalismo interpretativo mais maduro, ao esbarrar

na deficiência profissional dos que conduzem o processo. Assim, segundo

Campos, esta deficiência não contribui para uma dinâmica de atuação que

transforme uma notícia passageira em documento de realidade.

Para articular e aprofundar um tema social, o jornalista, ao elaborar a sua pauta

e partir em busca da notícia deve ampliar as possibilidades de obter

informações em várias fontes. Lage (2001) argumenta que

as fontes podem ser mais ou menos confiáveis (confiança, como se sabe, é coisa que se conquista); pessoais, institucionais ou documentais. Classificam-se em: oficiais, oficiosas e independentes. Fontes oficiais são mantidas pelo Estado; por instituições que preservam algum poder de Estado,

9 Setorista é o termo que designa o jornalista que cobre o dia-a-dia de um setor do poder

Executivo, Legislativo ou Judiciário. Os meios de comunicação também utilizam este modelo para fazer a cobertura diária dos clubes de futebol e nas delegacias de polícia.

36

como as juntas comerciais e os cartórios de ofício; por empresas e organizações, como sindicatos, associações, fundações etc. Fontes oficiosas são aquelas que, reconhecidamente ligadas a uma entidade ou indivíduo, não estão, porém, autorizadas a falar em nome dela ou dele, o que significa que o que disserem poderá ser desmentido. Fontes independentes são aquelas desvinculadas de uma relação de poder ou interesse específico em cada caso (LAGE, 2001, p.62-63).

A realidade, no entanto, coloca a pauta e a seleção de fontes como uma

deficiência na prática jornalística, principalmente quando os assuntos são

problemas sociais, como por exemplo, os direitos de crianças e adolescentes.

O relatório “Infância na Mídia”, produzido em 2005 pela Agência de Notícias

dos Direitos da Infância (ANDI), destaca que a prática de preceitos básicos do

jornalismo de qualidade foi deixada de lado no ano de 2003. Para chegar a

esta conclusão, a pesquisa da ANDI constatou que um pequeno número de

matérias menciona causas, consequências, soluções, estatísticas e legislação.

Apenas 34,2% dos textos pesquisados apresentavam mais de uma fonte de

informação, e não contemplavam o princípio do contraditório, visto que a

maioria dos entrevistados não trouxe opiniões e pontos de vista divergentes

(ANDI, 2005).

O problema detectado pela ANDI é tratado por Costa (2002). Para este autor, a

pouca inserção ou quase exclusão das ações promovidas pelos movimentos

sociais, associações e cooperativas de trabalho, revela que o interesse público

é algo ausente nas linhas editoriais dos meios de comunicação locais. Ao

distinguir opinião pública e opinião da população, Costa considera que a esfera

pública é um fórum aberto, com “uma diferenciação funcional rígida entre os

porta-vozes de partidos, de grupos organizados, e os meios de comunicação,

por um lado, e o público (no sentido de platéia), por outro” (COSTA, 2002, p.18-

19). Afirma que os primeiros são, em última instância, os atores da esfera

pública, e o público é mero destinatário de mensagens, sem voz pública

efetiva. Costa afirma que os movimentos sociais emergiram dentro de um hiato

entre atores da esfera pública e o público. Argumenta que parte da população

quando percebe que os temas que lhe interessa não estão recebendo o

37

tratamento adequado pelos atores da esfera pública, se organizam na busca de

atenção pública para suas questões.

As possibilidades dos movimentos sociais serem bem sucedidos em sua tarefa de arregimentar atenção da mídia e do público para os temas que trazem à luz, superando a concorrência estabelecida pela presença dos demais atores da esfera pública, dependeria, prioritariamente, conforme tal visão, da habilidade dos movimentos em manipular os recursos comunicativos de que dispõe. Não cabe, portanto, perguntar pelas possibilidades abertas aos movimentos sociais de convencer a sociedade de justeza de seus propósitos, nem, tampouco, de se questionar os modelos trazidos pelos movimentos sociais correspondem a reivindicações e “projetos” latentes da sociedade ou padrões de moralidade existentes ou almejados. Trata-se, unicamente, de avaliar a capacidade destes de produzir, seja pela espetacularização de suas ações, seja através de um trabalho adequado de relações públicas (COSTA, 2002, p.18).

Assim, o papel da imprensa na construção de um espaço democrático, deve

ser marcado pela inclusão de setores diversos da sociedade, permitindo-lhes a

discussão de seus principais problemas. Na publicação “Orçamento Público,

Legislativo e Comunicação – Três eixos estratégicos para incidência nas

políticas públicas”, produzida pela ONG Oficina de imagens e rede ANDI, a

orientação passada aos setores que atuam pelos direitos da infância é que

“uma das importantes contribuições que a imprensa pode oferecer ao processo de consolidação das sociedades democráticas está relacionado à divulgação de informações que, historicamente, sempre estiveram sob controle de um reduzido número de privilegiados” (ANDI, 2005).

38

Capítulo 2 A TENTATIVA DE MUDAR UMA REALIDADE POR MEIO DA EDUCAÇÃO 2.1 A responsabilidade social do jornalista

O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e um

dos compromissos fundamentais deste profissional, descrito no Código de

Ética dos Jornalistas Brasileiros, deve ser a divulgação de fatos e informações

de interesse público. No entanto, é comum que este e outros compromissos

sejam postos de lado, quando a precariedade do exercício profissional, o

interesse particular ou político-partidário domina a cena das redações dos

jornais, principalmente nas cidades do interior, como afirma Melo (2004): “a

imprensa do interior, em nosso país, distancia-se das aspirações comunitárias,

funcionando organicamente como correia de transmissão de projetos ungidos

pelos donos do poder local” (MELO, 2004, p.11).

Neste cenário, os atores sociais de uma comunidade ou bairro, que têm

necessidades específicas, e que precisam ser resolvidas de acordo com suas

especificidades, e com a mediação dos meios de comunicação, deixam de ser

contemplados na pauta dos jornais, principalmente naqueles que circulam nas

cidades do interior do Brasil.

A ausência do interesse público nas páginas dos jornais impressos locais,

como afirma Melo (2004), pode estar relacionada à formação de profissionais

jornalistas, ainda incipiente em várias regiões brasileiras, fato que pode

contribuir para a precariedade do trabalho nas redações dos jornais. Este

problema foi descrito na proposta de criação do curso de Comunicação Social

(com habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda), da Universidade

Vale do Rio Doce (Univale), sediada em Governador Valadares, na região do

Vale do Rio Doce, leste de Minas Gerais. Enviada ao MEC em 1997, a

proposta informou que

em Governador Valadares estão os poucos profissionais da comunicação, com graduação na área, em toda a região. O exercício profissional dá-se precariamente na condição de

39

provisionamento10, por falta de pessoal habilitado da Comunicação Social. Entretanto, a grande maioria dos que exercem funções próprias da Comunicação Social, mesmo em Governador Valadares, o centro urbano mais importante, sequer são provisionados (UNIVALE, 1997).

A proposta elaborada pela Univale para a criação do curso de Comunicação

Social, também informou ao MEC que em Governador Valadares, a imprensa

escrita, em 1997, era formada por 5 jornais diários, sendo apenas 1 diário local,

o Diário do Rio Doce. Os demais eram de Belo Horizonte, com sucursal na

cidade: Estado de Minas, Hoje em Dia, O Tempo11. As emissoras de rádio e

televisão12

eram Rádio Ibituruna, Rádio Novo Tempo (FM), Rádio Mundo

Melhor (AM-FM), Rádio Transamérica (FM) e Rádio Imparsom (FM), mais a TV

Leste (Rede Globo), TV Rio Doce (TV Brasil) e Alterosa (SBT).

Esta situação-problema também foi observada na região do Vale do

Jequitinhonha, vizinha do Vale do Rio Doce, em relatório do Instituto Cidadania,

da Fundação Perseu Abramo, em 1996. O documento, intitulado “Uma

proposta alternativa para o desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha”,

assinado por Luiz Inácio Lula da Silva13, aborda vários problemas estruturais do

Vale, inclusive aqueles relacionados à comunicação social.

A imprensa escrita é pouco difundida na região, não apenas pelo alto índice de analfabetismo, mas também porque os principais jornais do país só chegam com um ou dois dias de atraso, e assim, em pouquíssimas cidades. Alguns municípios possuem semanários ou mensários, em geral mantidos com publicidades de prefeituras e câmaras municipais (INSTITUTO CIDADANIA, 1996, p.13).

10

Os jornalistas provisionados possuem um registro temporário para trabalhar em um determinado município. De acordo com a lei, este registro deve ser renovado a cada três anos. Essa renovação só é possível para as cidades que não tenha nenhum jornalista profissional interessado na vaga existente, e também não tenha curso superior de Jornalismo. 11

A sucursal do jornal Estado de Minas foi desativada em 2009. 12

A Rádio Ibituruna foi incorporada à Rádio Globo Brasil em 2003 e a TV Leste passou a retransmitir a programação da Rede Record em 2008. A InterTV dos Vales, de Coronel Fabriciano, MG, abriu sucursal em Governador Valadares em 2008, e transmite a programação da Rede Globo. 13

Lula chefiou a Caravana da Cidadania, promovida pelo Instituto da Cidadania, da Fundação Perseu Abramo, em 1996, cujo objetivo principal, segundo Lula, era “trazer à tona o Brasil dos excluídos, das regiões esquecidas e dos que produzem todas as riquezas, ficando muitas vezes com migalhas delas”.

40

Mesmo depois da criação do curso de Comunicação Social da Univale e a

formação de várias turmas de jornalistas, as emissoras de rádio de Governador

Valadares ainda deixam o jornalismo a cargo de radialistas, sem formação

profissional. As emissoras de TV baseadas na cidade, embora empreguem os

profissionais jornalistas formados na Univale, são sucursais de grandes redes

nacionais (TV Globo, SBT, TV Record e TV Brasil) e cumprem pautas

derivadas de assuntos nacionais ou estaduais, e o Diário do Rio Doce, único

jornal impresso diário da região, publica um número expressivo de material

jornalístico vindo de agências de notícias nacionais e internacionais.

Os outros jornais locais (Folha Regional, Classificados O Domingo e Jornal de

Domingo), não utilizam material das agências de notícias nem empregam

jornalistas com formação superior e, como em 1997, época em que a Univale

relatou ao MEC a situação da imprensa local e regional, ainda exercem a

prática jornalística de forma precária.

2.2 O jornal-laboratório na democratização da informação

Com a implantação do curso de Comunicação Social, com dupla habilitação

(Jornalismo e Publicidade e Propaganda14) na Univale, a coordenação deste

curso, com a intenção de contrapor esta realidade da imprensa local, criou em

1998 o Jornal-Laboratório O Foca, que em 1999 mudou o nome para

Circulando. Os objetivos para a criação do jornal-laboratório eram claros:

democratizar a informação e cumprir a exigência do Ministério da Educação

para os cursos de Jornalismo, além de permitir a articulação teórico-prática no

ensino do jornalismo. Esta articulação é destacada por Lopes (1985), que

considera os jornais-laboratório instrumentos de integração dos alunos na

problemática da futura profissão, tornando possível que obtenham uma visão

14

O Projeto Pedagógico do curso de Comunicação Social da Univale (Jornalismo e Publicidade e Propaganda) foi criado em 1997 e modificado em 2001 por determinação do Ministério da Educação à época do seu reconhecimento. A partir daí, a dupla habilitação foi extinta e a Univale passou a oferecer de forma separada os cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda.

41

global do processo jornalístico, não apenas no aspecto conceitual, mas

também na prática do dia-a-dia das redações.

A criação do Circulando, de acordo com o projeto do curso de Comunicação

Social da Univale (1997), também foi motivada pelo objetivo de permitir às

pessoas que não tinham acesso aos jornais impressos (moradores de áreas

pobres localizadas, na periferia de Governador Valadares), receber um jornal

que abordasse fatos de suas comunidades. Assim, os alunos-repórteres

poderiam confirmar o pensamento de Beltrão (1963), citado por Lopes (1985),

considerando que o jornal-laboratório “permite que o aprendiz de jornalismo se

exercite na capacitação e análise dos problemas de sua comunidade, de seu

país e da civilização contemporânea” (BELTRÃO apud LOPES, 1985, p.49).

O propósito do Circulando era permitir que o aluno compreendesse a

importância de praticar um jornalismo voltado ao interesse público, pautando o

seu trabalho pelo respeito às pessoas, ouvindo seus questionamentos e

proporcionando uma interlocução entre estas pessoas e os poderes

constituídos.

A história do Circulando foi destacada na revista Integração, da Univale, como

um importante meio de comunicação para as comunidades de sua área de

abrangência. Esta revista, editada pela Assessoria de Comunicação da Univale

(2004), mostrou, na primeira edição, os projetos de extensão da universidade e

destacou o jornal-laboratório Circulando na matéria intitulada “Comunidade

antenada com as notícias”.

Um jeito prático de aprender a fazer jornalismo sério e de exercer o compromisso de responsabilidade social. É assim que os alunos de Jornalismo do curso de Comunicação Social encaram a produção do Jornal-Laboratório Circulando. Cumprindo não apenas seu papel acadêmico na formação dos estudantes, o produto do curso de Jornalismo assume importância junto às comunidades em que atua. Valorizando o cotidiano, a cultura e os personagens que fazem a história de bairros de Governador Valadares, desde 1999, quando foi criado, o Circulando tem sido um canal aberto para divulgar o que acontece nas comunidades e os problemas que enfrentam, contribuindo sensivelmente para a solução de carências em

42

infra-estrutura ou lançar discussões para mobilização da opinião pública. Depois de atuar nos bairros Jardim do Trevo e Santa Paula, Santa Rita, Santos Dumont e Sir, há três anos, o Circulando desenvolve suas atividades em 15 bairros da Região da Ibituruna. A estimativa é de que cerca de 30 mil pessoas façam a leitura regular do semanário distribuído gratuitamente aos sábados nas comunidades, em residências e em pontos fixos (REVISTA INTEGRAÇÃO, 2004, p.24).

O nome Circulando foi dado ao jornal porque a intenção era que circulasse de

ano em ano em uma área da cidade. Este modelo de circulação apresentou

alguns problemas. O jornal se propunha a ser mensal, mas as edições sempre

chegavam aos leitores com atrasos. Havia edições que saíam com atraso de

até dois meses.

Além disso, o fato de trocar de região a cada ano quebrava um vínculo que se

iniciava dentro das comunidades. “Quando as pessoas começavam a se

acostumar com o jornal, este deixava de circular numa determinada área e

mudava para outra” (CIRCULANDO, 2007, p.4).

Para corrigir esta distorção, a partir de 2002, o Circulando passou a ser

distribuído na Região da Ibituruna15, seguindo o modelo bem sucedido do

jornal-laboratório Rudge Ramos, da Universidade Metodista de São Paulo, que

à época circulava na área do bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do

Campo, SP. Deixou o formato tablóide e adotou o formato standard, aumentou

a sua tiragem de 2 mil para 5 mil exemplares, além de circular semanalmente,

de forma gratuita e ininterrupta, mesmo durante os meses não letivos, entre

2002 e primeiro semestre de 2010.

2.3 Jornalismo voltado às comunidades

Em 2003, com pouco de 12 meses de circulação na sua nova área de

abrangência, o Circulando, além de conquistar o respeito dos leitores,

conquistou o seu maior prêmio, conferido pela Sociedade Brasileira de Estudos

15

A Região da Ibituruna é uma faixa territorial localizada na margem direita do Rio Doce, no município de Governador Valadares. Esta região é formada por 22 bairros e população próxima de 33 mil habitantes, de acordo com informações do Setor de Cadastro da Prefeitura Municipal de Governador Valadares, que contabilizava 9.229 imóveis cadastrados nesta região, em 2009.

43

Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), que o considerou o melhor

jornal-laboratório do Brasil16.

No período em que o Circulando era distribuído na Região da Ibituruna, as

reivindicações dos moradores, exigindo da Prefeitura de Governador Valadares

solução para os problemas relacionados à infraestrutura de ruas sempre foram

priorizados, de acordo com o interesse dos leitores.

Com o passar dos anos, o Circulando tornou-se presente na vida comunitária

dos bairros onde era distribuído, construindo relações importantes com os

diversos setores das comunidades, amarrado pelos “laços de afetividade”

citados por França (1998). Para esta autora, um jornal existe por si mesmo,

mas esta existência também é um ponto de passagem da vida de uma

sociedade, e “mais que informar sobre ela, é um dos momentos desse viver”.

Em sua análise, França afirma que um jornal, ou qualquer veículo de

comunicação, não se sustenta apenas a partir da lógica do poder; “ele se

mantém à medida que consegue se alimentar da força (ou da potência)

emanada da vida social” (FRANÇA, 1998, p.20).

Estes laços de afetividade ficaram evidentes na edição número 300 do

Circulando, quando líderes comunitários deram depoimentos falando sobre a

importância do jornal nas comunidades. O padre José Gonsalves de Sousa

Neto, conhecido como Padre Juca, da Paróquia São Raimundo, destacou a

importância do Circulando para as comunidades, afirmando que

o jornal é um veículo de comunicação muito interessante, sobretudo para o pessoal da nossa região, porque sempre está presente, focando os fatos que acontecem aqui. Tem focado a Paróquia São Raimundo, algumas pessoas que se dedicam aos trabalhos sociais, trabalhos nas igrejas, os idosos. Muitas pessoas

16

O jornal-laboratório Circulando foi premiado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) durante a 10ª Exposição de Pesquisa Experimental da Comunicação (Expocom), realizada em Belo Horizonte, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em 2003. O Circulando disputou o título de “melhor jornal-laboratório do Brasil” com outros 43 jornais-laboratórios de cursos de Jornalismo de todo o Brasil. Venceu a finalíssima disputando com os jornais Marco (PUC Minas) e Impressão (Uni-BH).

44

daqui, consideradas simples, pobres, se sentem muito elevadas com a presença do jornal Circulando (CIRCULANDO, 2007, p.5).

O Padre Juca lembrou que o Circulando teve um papel importante na

reconstrução da matriz do bairro São Raimundo e que, graças à veiculação de

matérias, a paróquia conseguiu arrecadar fundos para as obras.

Outro depoimento, de Maria Luiza Calmon Dias, coordenadora comunitária da

Pastoral da Criança na Paróquia São Raimundo, testemunhou a importância do

Circulando na Região da Ibituruna. “Vários projetos sociais são beneficiados

graças ao jornal. A Pastoral da Criança, por exemplo, foi muito beneficiada.

Muitas crianças desnutridas foram ajudadas graças ao Jornal Circulando”

(CIRCULANDO, 2007, p.5).

A vice-coordenadora da comunidade e Ministra da Eucaristia na Vila dos

Montes, Maria do Carmo de Jesus, 49 anos, disse que o Circulando é o porta-

voz da comunidade. “O Circulando é uma oportunidade para a nossa região,

porque os outros jornais nem sempre abrem espaço para nós. O Circulando

divulga, informa e valoriza a comunidade, que é considerada periférica”

(CIRCULANDO, 2007, p.5).

A proximidade do jornal com a vida social das comunidades da Região da

Ibituruna, noticiando fatos e prestando serviços, contribuiu para reforçar as

identidades. Antes da chegada do Circulando, as comunidades desta região

não se viam como personagens da notícia nos jornais impressos que

circulavam em Governador Valadares, e nos outros meios de comunicação a

que tinham acesso. Martín-Barbero (2004) argumenta que as novas

tecnologias de comunicação, que possibilitaram o surgimento de uma

variedade de meios noticiosos, de entretenimento e interação, criaram uma

sociedade mais aberta e interconectada, agilizaram fluxos de informação e as

transações internacionais, revolucionaram as condições de produção e de

acesso ao saber. Contudo, segundo o autor, estas tecnologias, ao mesmo que

cumprem estes diferentes papéis, apagam memórias, alteram o sentido do

tempo, a percepção do espaço, ameaçam as identidades.

45

A globalização econômica e tecnológica diminui a importância do territorial desvalorizando os referentes tradicionais da identidade. Contraditória e complementariamente, as culturas locais e regionais se revalorizam exigindo a cada dia maior autodeterminação, direito de participar nas decisões econômicas e políticas, construir suas próprias imagens e contar-nos seus próprios relatos (MARTÍN-BARBERO, 2004, p.357).

Esta ameaça às identidades locais, vista por Martin-Barbero, também é

analisada por Dowbor (2009), ao afirmar que o público, ao ler os órgãos de

imprensa, ou até revistas técnicas, tem a ideia de que tudo está globalizado.

Segundo ele, “a globalização é um fato indiscutível, diretamente ligado a

transformações tecnológicas da atualidade e à concentração mundial do poder

econômico”. No entanto, Dowbor afirma que nem tudo foi globalizado.

Quando olhamos dinâmicas simples, mas essenciais para a nossa vida, encontramos o espaço local. Assim, a qualidade de vida no nosso bairro é um problema local, envolvendo o asfaltamento, o sistema de drenagem, as infraestruturas do bairro (DOWBOR, 2009, p.2).

A questão do jornalismo local é vista por Tétu (2002) a partir do lar. Este autor

argumenta que o “local”, para muitos, é caracterizado pela predominância de

um modelo rural, o que segundo ele, é uma ideia equivocada. Argumenta que a

cidade substituiu o vilarejo. Para Tétu, “a cidade prevalece, mas não há modelo

de cidade: o local, na grande cidade, é o bairro, seja qual for o nome que se lhe

dê” (TÉTU, 2002, p. 434).

Analisando a questão “local” baseada no lar, Tétu afirma que a unidade de

base do local, o “lar”, quase não pertence mais a um espaço territorializado.

Ainda ontem, o lar era o alvo privilegiado da grande mídia difusora (imprensa). Atualmente, está no centro de um conjunto muito vasto de redes de comunicação (inicialmente telefone, mas também telemática, cabo ou satélite), aos quais está permanentemente ligado. Pode-se estabelecer que aproximadamente um quarto do tempo passado no domicílio era dedicado a “comunicação”. Mas não se trata aí de uma comunicação relativa ao grupo local. Trata-se, essencialmente,

46

do audiovisual (4 a 6h/dia), ainda que o lar, imaginado como local fechado, protegido do mundo, ou local privilegiado de uma socialidade de pequenos grupos, tenha-se tornado um alvo privilegiado para as indústrias de comunicação. As rápidas e bastante sensíveis modificações do lar indicam que o local não se pode mais definir apenas pelos limites de um território (sob o modelo do cadastro) ou proximidade real (a vizinhança) (TÉTU, 2002, p.434).

Buscando uma definição para o “local”, Tétu afirma que qualquer definição

atual do local deve levar em conta três componentes principais:

a proximidade, certamente, mas à proximidade do lugar há que se acrescentar a teleproximidade; o pertencimento a um grupo social, i.e., as marcas de solidariedade que assinalam a ligação social (ou a exclusão); a participação, i.e., a efetividade do pertencimento (uma importante parte da comunicação das coletividades repousa doravante sobre a necessidade do ser levado em conta e do ser escutado). [...] Resumindo, o local não pode ser mais definido por um único território, mas pela noção de lugar de vida [...] quer dizer, não apenas á ancoragem territorial do hábitat, mas, sobretudo o lugar, não forçadamente territorializado, onde se dão os conflitos e o efeito das decisões em matéria de desigualdade de todos os tipos, de emprego (ou desemprego), de transporte, de acesso á cultura (de escolaridade), de saúde, etc. Em outras palavras, o local aparece como lugar de “verdade” do político (TÉTU, 2002, p.434-435).

2.4 O fim de um projeto

Desde o segundo semestre de 2010 o Circulando não tem mais a relação que

manteve com as comunidades da Região da Ibituruna, entre 2002 e primeiro

semestre de 2010. Na edição 393, de agosto de 2010, o Circulando noticiou

que entrava em uma nova fase, com mudança na periodicidade e circulação a

cada dois meses letivos. O jornal-laboratório também diminuiu sua tiragem para

1 mil exemplares, adotou o formato tablóide (44 cm x 32 cm) e abandonou o

formato standard (56 cm x 32 cm). O seu corpo editorial se reduziu a 1 (uma)

professora jornalista e aos alunos do 4º ao 8º período do curso de Jornalismo.

Entre os anos de 2002 e 2010, o Circulando contava com corpo editorial fixo,

composto por um professor jornalista (orientador), uma jornalista profissional

(editora assistente), uma aluna do 8º Período contratada para a diagramação e

47

editoração eletrônica das edições, mais três alunas estagiárias (duas do 8º

período e uma do 4º Período). Juntavam-se a este corpo editorial fixo, os

alunos do 4º ao 7º período, que produziam notícia, reportagem, texto opinativo

e fotografias. As pautas eram produzidas com orientação do professor da

disciplina de Redação Jornalística, que discutia assuntos de interesse do

público alvo do jornal, em sala de aula, e depois comandava a reunião de

pauta. Os alunos apuravam e redigiam. Depois o professor corrigia e editava o

material, enviando, na sequência, ao laboratório de jornalismo para a edição

final.

O jornal era distribuído preferencialmente nos bairros da Região da Ibituruna,

periferia de Governador Valadares, área central da cidade e bairros próximos

da área central. Com periodicidade semanal, o jornal tinha tiragem de 10 mil

exemplares. Em ocasiões especiais chegava a 20 mil exemplares.

48

Capítulo 3

PERCURSO METODOLÓGICO NOS JORNAIS LOCAIS E LABORATORIAIS

A metodologia proposta para a realização deste trabalho foi estruturada na

pesquisa qualitativa e em procedimentos de investigação baseados em análise

de conteúdo, experimentação, e adoção de instrumentos de coleta e

tratamento de dados obtidos nos arquivos do jornal-laboratório Circulando, do

curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio Doce (Univale - Governador

Valadares, MG); em artigos científicos que abordam os jornais-laboratório

Senso(in)comum, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de

Uberlândia (UFU - Uberlândia, MG); jornal-laboratório OutrOlhar, do curso de

Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV - Viçosa, MG); jornal-

laboratório Marco, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC

Minas – Belo Horizonte, MG), além da análise de edições destes jornais.

Também foi feita uma análise de conteúdo de edições de jornais locais, da

cidade de Governador Valadares: Diário do Rio Doce, Jornal de Domingo,

Folha Regional e Classificados O Domingo.

A abordagem qualitativa foi utilizada por possibilitar, de acordo com Oliveira

(2007) “um estudo detalhado de um determinado fato, objeto, grupo de

pessoas ou ator social e fenômenos da realidade” (OLIVEIRA, 2007, p.60). A

autora argumenta que na pesquisa qualitativa é possível buscar informações

fidedignas para articular o conhecimento científico produzido acerca do objeto

de pesquisa e o contexto no qual ele está inserido.

Os dados podem ser obtidos através de uma pesquisa bibliográfica, entrevistas, questionários, planilhas, e todo instrumento (técnica) que se faz necessário para obtenção de informações. [...] No entanto, em pesquisas de abordagem qualitativa, os dados estatísticos só devem ser utilizados quando visam dar maior precisão aos dados coletados, que são analisados com base na realidade, nos objetivos, hipóteses e nos fundamentos teóricos preestabelecidos na construção do projeto de pesquisa (OLIVEIRA, 2007, p.60).

49

A pesquisa considerou o método empírico, que de acordo com Santaella

(2002), surgiu da necessidade de superar a especulação teórica em benefício

da observação empírica, e pode também ser realizada com o teste

experimental e medidas quantitativas. Citando Fiske (1900), Santaella (2002)

argumenta que o método empírico está baseado no raciocínio indutivo e na sua

versão experimental tem estes propósitos:

(a) colecionar e categorizar fatos objetivos ou dados; (b) levantar hipóteses para explicá-los; (c) eliminar, tanto quanto possível, qualquer interferência de elemento humano nesse processo; (d) construir métodos experimentais para testar e provar ou refutar a confiabilidade dos dados e das hipóteses (FISKE apud SANTAELLA, 2002, p.136).

A autora explica que, “quando o método empírico é aplicado às ciências

sociais, busca-se reproduzir condições similares às do laboratório”

(SANTAELLA, 2002, p.136).

Considerando que esta pesquisa versa sobre a comunicação, cujos estudos de

vários teóricos apontam para uma diversidade de conceitos e opiniões, foi

necessário um estudo teórico apurado, com a leitura de livros, jornais, revistas

e artigos. Este procedimento é coerente com o pensamento de Santaella

(2002), que vê as pesquisas teóricas com a função de preencher lacunas no

conhecimento, desvendar e construir quadros conceituais de referência. A

autora considera a diversidade e a ausência de um consenso no pensamento

dos teóricos sobre a comunicação:

Há pesquisas cuja função poderia estar exclusivamente na discussão de um conceito controverso dentro de uma determinada área do conhecimento: o conceito de representação ou o conceito de consciência, nas ciências cognitivas, por exemplo, ou o próprio conceito de comunicação, na área de comunicação, um conceito que, aliás, está longe de ser consensual (SANTAELLA, 2002, p.139).

Na pesquisa bibliográfica, que segundo Oliveira é uma “modalidade de estudo

e análise de documentos de domínio científico, tais como livros, enciclopédias,

periódicos, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos (OLIVEIRA, 2007,

50

p.69)”, foi necessário ler autores que discutiam a comunicação e o jornalismo,

principalmente em questões controversas, como a objetividade jornalística e

jornalismo alinhado às aspirações sociais, conforme descrito do Capítulo 2, que

trata do referencial teórico.

A realização da pesquisa bibliográfica também possibilitou a utilização de

conceitos que abordam as principais questões do jornalismo, desenvolvimento

local e Tecnologia Social, e como a comunicação pode contribuir para o

desenvolvimento da sociedade. Possibilitou uma análise dos aspectos

relacionados à educação, principalmente sobre as novas diretrizes curriculares

para o curso de Jornalismo, propostas ao Ministério da Educação pela

Comissão de Especialistas em Ensino de Jornalismo, e questões que

permeiam as propostas metodológicas para a prática jornalística integrada ao

desenvolvimento local. Isto foi importante e necessário para conhecer o

pensamento da Comissão sobre a formação de jornalistas nas universidades e

articular este pensamento com os estudos teóricos obtidos na revisão

bibliográfica deste trabalho.

Assim, o percurso metodológico para pesquisar as formas interativas de um

jornal-laboratório nas comunidades e a prática jornalística voltada ao interesse

público, considerou alguns procedimentos citados por Oliveira (2007), como,

por exemplo, o método de pesquisa. Sobre este método, a autora afirma que

ele deve ser entendido como “um processo que se inicia desde a disposição

inicial de se escolher um determinado tema para pesquisar, até a análise dos

dados com as recomendações para minimização ou solução do problema

pesquisado” (OLIVEIRA, 2007, p.43). Oliveira explica que a metodologia é

também “um processo que engloba um conjunto de métodos e técnicas para

ensinar, analisar, conhecer a realidade e produzir novos conhecimentos”

(OLIVEIRA, 2007, p.43).

A pesquisa documental, definida por Oliveira como busca de informações em

“documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como

relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações,

fotografias, entre outras matérias de divulgação” (OLIVEIRA, 2007, p.69),

51

considerou os projetos pedagógicos dos cursos de Jornalismo da Univale e da

UFU, Relatório da Rede ANDI sobre a atuação da mídia na divulgação dos

fatos relacionados às crianças e adolescentes, relatório da Fundação Perseu

Abramo sobre o Vale do Jequitinhonha, especialmente sobre a comunicação

nesta região de Minas Gerais, leitura de jornais e revistas, dentre outros citados

neste trabalho.

A leitura destes documentos acrescentou muito ao trabalho, pois, conforme

afirma Oliveira, a pesquisa em documentos oferece ao pesquisador acesso a

materiais que ainda não receberam tratamento analítico, ou seja, “fontes

primárias”.

É importante que o leitor(a) entenda o que significa “fontes primárias”, como sendo dados originais, a partir dos quais o pesquisador tem uma relação direta com os fatos a serem analisados, ou seja, é ele quem analisa, observa, por exemplo, uma fotografia, uma imagem, um som; é ele quem ouve relato de experiências vivenciadas por outrem (OLIVEIRA, 2007, p.70).

A utilização da internet como ferramenta de pesquisa permitiu o acesso a

periódicos científicos, dissertações e teses que versam sobre o jornalismo e os

jornais-laboratório. No caso dos jornais-laboratório, cuja bibliografia é pequena

e sempre tendo como obra referência o livro “Jornal-laboratório: do exercício

escolar ao compromisso com o público leitor”, do professor Dirceu Fernandes

Lopes (1985), a pesquisa teve de se valer da internet, conforme sugere

Oliveira, dando conta de que a rede mundial de computadores “se constitui

uma ferramenta indispensável à humanidade para informações rápidas sobre

os mais diversos assuntos” (OLIVEIRA, 2007, p.70).

Na análise de conteúdo dos jornais editados e distribuídos em Governador

Valadares, MG, e dos jornais-laboratórios dos cursos de jornalismo das

universidades já citadas, considerou-se prioritariamente o estudo sobre a

interação destes jornais com as comunidades, se havia ou não esta interação e

de que forma ela acontecia.

52

Esta pesquisa também foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do Centro Universitário UNA, seguindo as normas do Conselho

Nacional de Saúde – Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996 –, que

regulamentam a pesquisa com seres humanos, sob o número CAAE

0071.0.391.000-11, em 04/10/2011.

53

Capítulo 4 PROCEDIMENTOS EDITORIAIS IDENTIFICADOS NA COLETA DE DADOS

4.1 Dados sobre jornais-laboratórios e jornais locais

Buscar alternativas para democratizar a informação e fazer um jornalismo

voltado ao interesse público deve ser a missão dos cursos de jornalismo,

conforme sugere as novas diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo

propostas ao MEC pela Comissão de Especialistas em Ensino de Jornalismo.

Para analisar os procedimentos editoriais em jornalismo impresso, durante a

formação do jornalista, adotados por alguns jornais-laboratório, e verificar se os

principais jornais impressos produzidos em Governador Valadares atendem

aos anseios das comunidades valadarenses, foi necessária uma análise de

conteúdo destes jornais.

A intenção de analisar os jornais-laboratório e os jornais locais de Governador

Valadares foi uma forma encontrada para estabelecer um comparativo entre

eles e ter, como isso, embasamento teórico para elaborar um projeto editorial e

gráfico ideal para o jornal-laboratório Circulando, tendo o jornalismo cívico

como prática, conforme descrito em capítulos anteriores.

A análise foi precedida de uma descrição de dados sobre os jornais-laboratório

de 4 (quatro) universidades mineiras e sobre 4 (quatro) jornais locais de

Governador Valadares. Foram analisados os jornais-laboratório Circulando

(Univale) e Marco (PUC Minas), OutrOlhar (Universidade Federal de Viçosa) e

Senso(in)comum (Universidade Federal de Uberlândia).

Os quatro jornais de Governador Valadares analisados foram: Diário do Rio

Doce, Jornal de Domingo, Classificados O Domingo e Folha Regional. O

objetivo da análise foi identificar se os jornais locais publicam material

jornalístico que privilegia as demandas sociais do público leitor de Governador

Valadares, se as matérias publicadas contextualizam o fato, ampliando a

compreensão da notícia pelo público, se existe variedade de fontes de

54

informação ouvidas durante o processo de produção da notícia e qual o

percentual de ocupação de espaço nas páginas destes jornais, com notícias

locais, nacionais e internacionais.

Quadro 1 (Dados sobre os jornais-laboratório)

Dados

Marco Circulando OutrOlhar Senso(in)comun

Fundação 1972 - 40 anos 2008 - 14 anos 2003 - 9 anos 2011 - 1 ano

Formato Standard Tablóide Tablóide Tablóide

Papel Jornal (opaco) Jornal (opaco) AP (branco) AP (branco)

Páginas 16 8 16 12

Periodicidade 8 edições/ano 4 edições/ano 8 edições/ano 4 edições/ano

Tiragem 12.000 1.000 2.000 2.000

Preço de capa Gratuito Gratuito Gratuito Gratuito

Público-alvo Externo Interno Externo Interno

Prof/Jornalistas 4 1 4 4

Estagiários 0 0 0 0

Impressão Terceirizada Terceirizada Gráfica UFV Gráfica UFU Fonte: Coleta de Dados das Edições (2011)

4.1.1 Jornal-laboratório Circulando

O Circulando, jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Vale

do Rio Doce, nasceu para cumprir uma função importante dentro do jornalismo

local, com a missão de democratizar a informação, permitindo que pessoas que

não tinham acesso aos jornais impressos, lessem um jornal que divulgasse

fatos de suas comunidades, conforme foi descrito no capítulo 3 desta

dissertação.

Sua implantação se deu em 1998, com o nome de O Foca. A intenção era fazer

um jornal com uma linha editorial voltada ao interesse público, permitindo ao

estudante do curso de Jornalismo, a oportunidade de escrever nos três

gêneros do jornalismo: opinativo, informativo e interpretativo. No ano seguinte,

em 1999, o jornal-laboratório trocou de nome e passou a se chamar

Circulando. Recebeu este nome porque o objetivo era que circulasse de ano

em ano em uma área da cidade. A partir de 2002, o Circulando passou a

circular na Região da Ibituruna. Sua interação com as comunidades desta

55

região lhe valeu o prêmio de “Melhor jornal-laboratório do Brasil”, na 10ª

Exposição Experimental da Comunicação, em 2003.

A partir do segundo semestre de 2010, o Circulando deixou de ser distribuído

na Região da Ibituruna, mudou sua periodicidade para trimestral (bimestral, se

for considerado apenas os meses letivos), e passou a ter tiragem de 1 mil

exemplares. Deixou de ser editado no formato standard (54 cm x 32 cm) e

adotou o formato tablóide (44 cm x 31 cm).

4.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar

O jornal-laboratório OutrOlhar, do curso de Jornalismo da Universidade Federal

de Viçosa, Minas Gerais, foi criado em 2003 e, à época, sua linha editorial

“dava ênfase aos assuntos gerais da cidade, tal e qual os jornais circulantes na

região” (LANNES, 2001, p.247). Lannes explica que o jornal recebeu este

nome para ter um olhar diferenciado da notícia.

Em 2007, o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFV foi reformulado

com o Projeto Editorial OutrOlhar, que segundo Lannes foi desenvolvido com “o

objetivo de formar profissionais de jornalismo com visão cidadã da notícia ou

da prática jornalística” (LANNES, 2001, p.247). Esta visão cidadã objetivou

direcionar o jornal para os alunos das escolas públicas de nível médio de

Viçosa, MG, que de acordo com os idealizadores do projeto, eram carentes de

conhecimento e seriam estimulados à leitura.

Lannes argumenta que “ao contrário de boa parcela dos jornais acadêmicos,

desde a implantação do projeto OutrOlhar, procuramos tomar o máximo de

cuidado para que nossas edições não fossem fadadas aos balcões dos

diversos setores da UFV” (LANNES, 2001, p.250). Assim, segundo este autor,

evitou-se que as edições “viessem servir para amaciar o ego de alunos e

professores perante seus familiares ou colegas, e em outros casos até servir

de veículo útil à Universidade ou aos seus interesses mercadológicos”

(LANNES, 2001, p.250).

56

4.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)Comum

Criado em 2010, seguindo a proposta do Projeto Pedagógico17 do Curso de

Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o jornal-laboratório

Senso(in)comum é impresso no formato tablóide, e destinado aos estudantes

da UFU. Spannenberg; Nunes (2011) explicam que na produção do jornal, os

alunos “entram em contato com as rotinas e práticas de produção de um jornal

impresso e, ao mesmo tempo, têm a oportunidade de desenvolver estratégias

de comunicação para um público específico” (SPANNENBERG; NUNES, 2011,

p.4). Este público específico, de acordo com as autoras é formado pelo alunado

da UFU, seguindo a proposta de ter “um jornal diferente, parecido com uma

revista, contendo características gráficas e textuais trazidas da internet para

chamar a atenção do leitor” (SPANNENBERG; NUNES, 2011, p.5). A

periodicidade do Senso(in)comum é bimestral.

O Senso(in)comum circulou com sua edição número 01 em 2011, referente ao

bimestre fevereiro e março. Os assuntos abordados foram todos, em maioria,

relacionados ao interesse da comunidade acadêmica da UFU. Na capa, a

manchete e a foto principal é sobre o Trote Solidário, evento da universidade,

realizado para incentivar a doação de sangue pelos calouros que ingressaram

na UFU naquele ano. Outros assuntos publicados abordaram as atividades dos

laboratórios de outros cursos da universidade, construção de prédios no

campus da UFU, e outros, sobre cultura e lazer.

4.1.4 Jornal-laboratório Marco

O jornal-laboratório Marco, do curso de comunicação da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), com 40 anos de

17

O Projeto Pedagógico do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU/FACED, 2008), em consonância com tal exigência, prevê o desenvolvimento de um jornal-laboratório. Conforme a Resolução nº 007/2010 do Colegiado do Curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo, o produto deve ser resultado da interdisciplinaridade entre quatro componentes curriculares do quarto semestre da graduação e tem como objetivo “ser jornal de treinamento e aprofundamento da prática em jornal impresso [...]” (SPANNENBERG; NUNES, 2011, p.3).

57

existência, tem a sua história dividida em quatro fases, de acordo com Pacheco

(2011).

A primeira fase marcada por um jornalismo comunitário e popular que vai do surgimento dele, em dezembro de 1972, a novembro de 1982; a segunda vai de novembro de 1983 a outubro de 1987 no qual o JM passa a atender o bairro Coração Eucarístico e sofre algumas alterações no projeto gráfico; a terceira fase vai de outubro de 1987 a março de 1992 quando passa a ser standard e trata de matérias fora da demanda dos bairros vizinhos; a quarta fase iniciada em março de 1992 perdura até os dias atuais com apenas uma alteração no projeto gráfico ocorrida em 1996. (PACHECO, 2011).

O Marco, de acordo com o site da PUC Minas, publica regularmente 8 edições

anuais e conta com a participação voluntária dos alunos de todos os períodos

do curso de Jornalismo. Seu é formato standard, com 12 páginas impressas

em cores na capa e contra-capa.

Jornal premiado, o Marco já ganhou dois prêmios como o “melhor jornal-

laboratório do Brasil” nos congressos da Expocom/Intercom, e em outras

quatro edições deste congresso esteve entre os três primeiros colocados.

Desde 2002, mantém redação na sucursal do campus São Gabriel.

4.2 Descrição de dados dos jornais locais

Quadro 2 (Descrição de dados dos jornais locais)

Dados Diário do Rio Doce

Jornal de Domingo

Folha Regional

Classificados O Domingo

Fundação 1958 - 54 anos 1998 - 14 anos 2003 - 9 anos 2001 - 11 anos

Formato Standard Tablóide Standard Tablóide

Papel Jornal Jornal Jornal Jornal

Páginas 16 a 24 8 a 12 12 8

Periodicidade Diário Semanal Quinzenal Semanal

Tiragem 6.000 Gratuito 8.000 8.000

Preço de capa R$ 1,00 Gratuito R$ 1,20 Gratuito

Público-alvo G.Valadares e Região Rio Doce

G.Valadares Região do Rio Doce e Centro-nordeste

G.Valadares

Jornalistas Profissionais

9 0 0 0

Estagiários 4 0 0 0

Impressão Gráfica própria Terceirizada Terceirizada Terceirizada Fonte: Coleta de Dados das Edições (2011)

58

4.2.1 Diário do Rio Doce

Fundado em 30 de março de 1958, o Diário do Rio Doce, de acordo com

Espindola (1999), começou a circular como principal instrumento estratégico da

Associação Comercial de Governador Valadares (ACGV), na defesa de seus

ideais desenvolvimentistas. O jornal “nasceu da necessidade da ACGV ter um

órgão de comunicação para apoiar e sustentar os seus projetos, suas ideias

inovadoras, bem assim, as ações objetivas para viabilizá-los” (ESPINDOLA,

1999, p.53). Este autor lembra que o jornal funcionou como instrumento para a

sua atuação como porta-voz do empresariado. “No período do embate político-

ideológico, que antecedeu o golpe militar de 1964, foi importante tribuna

conservadora frente ao jornal de esquerda O Combate. Parceiro permanente

da ACGV, o DRD foi um veículo de ideias e formador de opinião”

(ESPINDOLA, 1999, p.53).

Um dos líderes do grupo que fundou o DRD foi o jornalista Mauro Santayana,

que segundo Espindola, discutiu o projeto para a criação deste jornal com

empresários de Governador Valadares. Santayana, que já havia editado em

Governador Valadares, nos anos 1950, um jornal com o nome Correio do Rio

Doce, sugeriu o formato e o nome do jornal.

Em 1979, o DRD foi comprado pelo empresário e ex-Deputado Federal Pedro

Tassis (PMDB), que passou a administrá-lo juntamente com sua família. Seu

irmão, Ivanor Tassis, esteve à frente da direção do jornal por mais de 20 anos.

O DRD já manteve uma sucursal na cidade de Ipatinga, onde era editado o

suplemento Vale do Aço.

Em 2005, o DRD foi adquirido pelo Grupo Leste de Comunicação, de

propriedade dos empresários Edison Gualberto de Souza e Getúlio Miranda

Primo, que também controlam a TV Leste (afiliada Rede Record), Rádio Globo

Governador Valadares (afiliada Rádio Globo Brasil), Rádio Imparsom FM e TV

Rio Doce (afiliada Rede Brasil).

59

O DRD se declara como um jornal comprometido com os seus leitores e que

tem “a verdade como objetivo”. A propósito, “A verdade como objetivo” foi o

título do editorial da edição número 1, que circulou em 20 de março de 1958,

cuja reprodução da capa está dependurada na parede da redação.

4.2.2 Cadernos do DRD

Primeiro Caderno – Varia de 4 a 8 páginas, com destaque para a política local

na página 3. A página 2 é de conteúdo opinativo (charge, coluna do jornalista

Cláudio Humberto – enviada por agência de notícia). A página 4 é destinada

50% à coluna social e 50% a anúncios ou noticiário internacional da Agência

Estado. Nas outras páginas predomina o noticiário político nacional e estadual

(Agência Estado, Agência Minas e Agência Brasil). A editoria de Esportes é

incorporada neste caderno, ocupando 1 ou 2 páginas, com noticiário dos times

da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, das capitais São Paulo, Rio

de Janeiro e Belo Horizonte, e produzido pela agência Estado. As informações

sobre estes times ocasionalmente são obtidas em seus sites oficiais. O

noticiário do Esporte Clube Democrata, único time de futebol profissional de

Governador Valadares, é pequeno, além de ser produzido apenas durante os

três primeiros meses do ano, quando o E.C. Democrata disputa o Campeonato

Mineiro de Futebol Profissional. O Campeonato de Futebol Amador de

Governador Valadares e outras competições esportivas que acontecem na

cidade têm espaço diminuto.

Cultura – Varia de 4 a 8 páginas. Em média, 60% do espaço das páginas são

ocupados por noticiário da Agência Estado, com notícias sobre as celebridades

da TV, resumo de novelas, horóscopo e culinária. O noticiário local (Peças de

teatro, show musicais – axé, sertanejo e gospel) é destacado na capa, mas

ocupa espaço diminuto nas páginas internas, em média 20% do espaço. O

restante do espaço é ocupado por anúncios.

Cidades - 8 páginas. Predomina o noticiário local, obtido na ronda policial

diária, destacando assassinatos, furtos e roubos, acidentes automobilísticos.

Os problemas relacionados à infraestrutura urbana dos bairros são noticiados

60

neste caderno, sem o destaque dado ao noticiário policial. Estes assuntos

locais ocupam em média 70% das quatro primeiras páginas, com média de

30% de anúncios. Nas outras quatro páginas, duas são para os anúncios

classificados e duas para a editoria de Economia, cujo noticiário é obtido na

Agência Estado, Agência Brasil ou Agência Minas. Nas edições de domingo, 4

páginas são dedicadas às colunas sociais.

4.2.3 Dados das edições do DRD

Dados das edições 17.410 (domingo, 15/01/2012), 17.411 (terça-feira,

17/01/2012), 17.412 (quarta-feira, 18/01/2012) 17.413 (quinta-feira,

19/01/2012), 17.414 (sexta-feira, 20/01/2012) e 17.415 (sábado 21/01/2012).

A edição 17.410, circulou com 26 páginas, no domingo (15/01/2012), com os

cadernos Cultura (8 páginas), Classificados (6 páginas), Cidades (4 páginas),

além do primeiro caderno (8 páginas). As matérias, notas, colunas, artigos,

fotos e ilustrações foram editadas nas editorias de Opinião, Política, Sociedade,

Mundo, Esporte, Cidades e Variedades.

A manchete foi “Valadares tem 25 bairros com áreas de risco”. O noticiário

local ocupou espaço equivalente a 8 páginas e meia, sendo que destas, 4

páginas foram ocupados pelos colunistas Márcio Castelo Branco e Sinara

Neves, com fotos e assuntos relacionados à alta sociedade. As outras 4

páginas e meia foram ocupadas por matérias jornalísticas sobre o combate à

dengue, campanha de popularização do teatro, resgate do carnaval de rua em

Governador Valadares, identificação de áreas de risco em 25 bairros da cidade,

cadastramento de estudantes para a compra do passe escolar em ônibus

urbanos e a campanha solidária de arrecadação de donativos para os

desalojados da enchente no Rio Doce.

As demais páginas (17 páginas e meia) foram ocupados por anúncios

classificados (6 páginas), noticiário nacional e internacional, produzidos por

agências de notícias (4 páginas), variedades (horóscopo, moda, passatempo,

receitas de culinária), somando 4 páginas, e anúncios publicitários.

61

Nas duas páginas da editoria Mundo, as notícias produzidas pelas agências

noticiosas, Estado e Reuters, e selecionadas pelos editores do Diário do Rio

Doce para serem publicadas foram: General sírio desertor quer lutar contra

regime de Assad; Ahmadinejad está tranqüilo diante da ameaça dos EUA;

Hugo Chávez diz que respeitará resultados das eleições se perder; Bomba

mata 50 em atentado contra xiitas no sul do Iraque; Estados Unidos planejam

retirar 15 mil soldados da Europa; Ao menos três morrem em naufrágio de

Cruzeiro na Itália.

A edição 14.711, circulou com 16 páginas, na terça-feira (17/01/2012), com os

cadernos Cidades, Classificados, além do primeiro caderno. A manchete foi

“Assassinato com requintes de crueldade”, noticiando a morte de um rapaz de

17 anos, morador do bairro Jardim Pérola. O noticiário local ocupou 4 páginas

da edição (meia página para a coluna social, 1 página de entrevista com a

presidente da FIEMG Regional Rio Doce, 1 página com ocorrências policiais,

noticiário sobre o Esporte Clube Democrata e entrega de carro do sorteio de

Natal, da CDL-GV ocuparam o restante do espaço). As demais páginas, 12 ao

todo, foram ocupadas por anúncios e noticiário estadual, nacional e

internacional produzido por agências de notícias.

As edições 14.712 (18/01/2012), 14.713 (19/01/2012), 14.714 (20/01/2012) e

14.715 (21/01/2012), circularam com 14 páginas cada uma. A edição 14.712

teve como manchete “Ação contra a dengue”. O noticiário local ocupou espaço

equivalente a 5 páginas, sendo que 1 página foi ocupada pelos dois colunistas

sociais, Márcio Castelo Branco e Sinara Neves. Os outros assuntos de

destaque foram a arrecadação de donativos para as vítimas das enchentes,

notas policiais, liberação do FGTS para as vítimas das enchentes. As demais

páginas, 9 ao todo, foram ocupadas por anúncios e noticiário estadual, nacional

e internacional produzidos por agências de notícias.

Na edição 14.713, a manchete foi “Quase 12 mil cartuchos de fuzil”, sobre

notícia de apreensão de munição pesada em Tarumirim, cidade próxima a

Governador Valadares. O noticiário local ocupou espaço equivalente a 3

62

páginas, sendo que deste total, 1 página foi dedicada às ocorrências policiais e

meia página para a coluna social de Sinara Neves. As demais páginas, 11 ao

todo, foram ocupadas por anúncios e noticiário estadual, nacional e

internacional produzidos pelas agências de notícias.

Com a manchete “Irmãs são picadas por escorpiões”, a edição 17.414 teve

cerca de 3 páginas para o noticiário local, sendo que meia página foi ocupada

pela coluna social de Sinara Neves, com destaque para um escultor argentino

que fez esculturas de areia às margens do Rio Doce, e notas relacionadas às

ações da Polícia Militar (apreensão de drogas e combate à pirataria). O curioso

nesta edição é que a matéria que motivou a manchete de primeira página se

resumiu às informações do boletim de ocorrência do Corpo de Bombeiros, e

teve aproximadamente 1.200 toques, menos de 1 lauda. As outras 11 páginas

da edição foram ocupadas por anúncios e pelo noticiário estadual, nacional e

internacional, produzidos pelas agências de notícias.

A edição 17.415, cuja manchete foi “Morto a tiros enquanto trabalhava”, teve

aproximadamente 3 páginas dedicadas ao noticiário local, com meia página

para a coluna social de Sinara Neves, e destaque para assuntos como o show

musical em solidariedade às vítimas das enchentes, preço de alimentos,

preparação da equipe do Esporte Clube Democrata para o Campeonato

Mineiro 2012 e doação de terreno da Prefeitura ao Tribunal de Justiça para

obras de ampliação do fórum da comarca de Governador Valadares. As outras

páginas 11 páginas da edição foram ocupadas por anúncios e noticiário

estadual, nacional e internacional produzidos pelas agências de notícias.

4.2.4 Jornal de Domingo

O ex-diretor proprietário do Diário do Rio Doce, Carlos Alberto Sobreira, fundou

o Jornal de Domingo em 15 de março de 1992. O nome do fundador e a data

de fundação constam no expediente do jornal. Mesmo depois de Sobreira ter

deixado a publicação, a editora Jornal Minas Leste, que edita o Jornal de

Domingo mantém o nome do fundador no expediente como forma de

homenageá-lo.

63

O Jornal de Domingo circula semanalmente e sua linha editorial é voltada

prioritariamente ao conteúdo opinativo, produzido por colaboradores. A cada

edição o jornal publica em média 10 colunas versando sobre assuntos

diversos: humor, literatura, sociedade, direito, agropecuária e temas variados.

Desde a sua fundação, o Jornal de Domingo publica semanalmente uma

entrevista no estilo pingue-pongue (perguntas e respostas) com personalidades

de Governador Valadares, geralmente, pessoas que se caracterizam pelo

pioneirismo na construção da cidade, que contam fatos importantes que

aconteceram em décadas passadas, nos primeiros anos de Governador

Valadares como município, emancipado de Peçanha, MG, em 1938. Estas

entrevistas, publicadas na seção “Jogo Bruto”, possuem um grande número de

leitores e é fonte de pesquisa constante nos arquivos do jornal.

As poucas notícias publicadas no Jornal de Domingo, geralmente na capa e

contracapa, são apuradas e redigidas por um único repórter (sem formação

superior em Jornalismo). Outras têm como fonte os press-releases enviados à

redação do jornal pela Secretaria Municipal de Comunicação e Mobilização, da

Prefeitura Municipal de Governador Valadares, entidades e instituições. Uns

são editados e outros publicados na íntegra.

4.2.5 Jornal Folha Regional

O jornal Folha Regional tem como editor responsável Rafael Barbosa, sem

formação superior em jornalismo. O jornal possui três colaboradores fixos,

cujos nomes e colunas são citados no expediente: Renato Zouain Zupo (Em

dia com a justiça), José Arimateia Alves (Panorama) e Tarcísio Alves (Fatos

atuais).

As notícias e as entrevistas publicadas na Folha Regional não são assinadas e

possuem um forte conteúdo opinativo. Os assuntos pautados são, em maioria,

sobre a política partidária nas cidades que recebem o jornal (Governador

Valadares, cidades do Vale do Rio Doce e Centro-nordeste Mineiro). É comum

64

a publicação de matérias pagas por órgãos públicos da região, porém sem a

identificação “informe publicitário”. Na edição 208, que circulou na segunda

quinzena de dezembro de 2011, com 8 páginas, os fatos relacionados à

Governador Valadares ocuparam cerca de 70% de uma página. Na edição 209,

que circulou na primeira quinzena de janeiro de 2011, com 12 páginas, os fatos

relacionados a Governador Valadares ocuparam espaço de 2 páginas. As

demais páginas noticiaram fatos de cidades como São João Evangelista,

Divino das Laranjeiras, Sardoá, Guanhães, Sabinópolis, Santa Efigênia de

Minas e Goiabeiras, entre outras.

Além do conteúdo opinativo, noticioso e publicitário, a Folha Regional publica

uma página com entretenimento (notícias da TV e piadas), horóscopo e a

coluna “Ser Feliz”, assinada pela psicóloga Cláudia Queiroz. Esta página

ostenta a vinheta “Cultura”, e também abre espaço para os leitores enviarem

poemas que são publicados na seção “Espaço Cultural”, com foto do autor.

4.2.6 Jornal Classificados O Domingo

O jornal Classificados O Domingo circula em Governador Valadares há 11 anos

com pequenos anúncios classificados. Seu diretor é Alessandro Caffarello e o

jornal não possui jornalista. As notícias publicadas são reproduções de jornais,

revistas e sites como o Uol e o G1. Na primeira página, estas notícias são

chamadas com título e um pequeno texto, com remissão para a página onde

está publicada.

Os anúncios classificados e anúncios comerciais ocupam cerca de 7 das 8

páginas de cada edição. As matérias ocupam o equivalente a 1 página em

cada edição. As notícias publicadas têm vinhetas: Mundo, Negócios, Viagens,

Cinema, Clima e Concursos. O Classificados O Domingo tem distribuição

gratuita em pontos comerciais da área central e alguns bairros de Governador

Valadares.

65

Capítulo 5 ANALISANDO A PRÁTICA JORNALÍSTICA NA ESCOLA E NO MERCADO 5.1 Análise de conteúdo dos jornais-laboratório e jornais valadarenses

A análise dos dados procurou identificar se os jornais de Governador Valadares

(Diário do Rio Doce, Jornal de Domingo, Classificados O Domingo e Folha

Regional) noticiam os fatos de interesse das comunidades, se as pessoas são

ouvidas e se o critério de noticiabilidade ligado à proximidade predomina nas

matérias publicadas.

O critério da proximidade, segundo Erbolato (1991), é a grande arma que os

jornais do interior e semanários comunitários têm à disposição, divulgando

fatos que ocorrem perto do leitor e a ele ligados.

Todas as notícias locais possuem essa característica. A pessoa que tem um problema a perturbá-la, como um terreno baldio ao lado de sua residência ou a precariedade da iluminação pública, procura com mais interesse a nota do jornal que aborde esses assuntos do que o telegrama procedente de Washington que fale sobre as atividades do presidente norte-americano (ERBOLATO, 1991, p.61).

Verificou-se que a cobertura jornalística local, em Governador Valadares,

apresenta distorções que condena muitos assuntos locais à inexistência social,

e os jornais não priorizam o critério da “proximidade” na seleção de assuntos

para as suas edições, deixando de utilizar a “grande arma” citada por Erbolato.

Confirmou-se também o pensamento de Lopes (1985) sobre o fato de os

pequenos jornais serem dependentes de fontes contratadas (agências de

notícias, nacionais e internacionais). Segundo este autor, o noticiário produzido

pelas agências noticiosas prioriza fatos ocorridos nos grandes centros,

deixando de lado o que ocorre nas pequenas comunidades onde não mantêm

correspondentes (LOPES, 1985, p.44). Desta forma, Lopes considera que

o jornalismo brasileiro assume caráter elitista tratando predominantemente de assuntos que interessam a uma minoria, deixando de lado as questões que afetam o cotidiano da população. Assim, a massa acaba se afastando dos jornais

66

em decorrência do interesse gerado pela estrutura noticiosa calcada no poder (LOPES, 1985, p.44).

Na análise dos jornais-laboratório, observa-se que todos eles seguem a

orientação de professores dos cursos de Jornalismo aos quais pertencem e

têm a participação de alunos destes cursos. O material jornalístico produzido é

resultado da articulação teórico-prática defendida pelos professores dos cursos

de Jornalismo, e ao contrário dos jornais locais de Governador Valadares,

adotam prioritariamente o critério de noticiabilidade ligado “proximidade”.

Os jornais-laboratório OutrOlhar, do curso de Comunicação Social –

Jornalismo, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Senso(in)comum, do

curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) apresentam

em comum o fato de terem a mesma tiragem e serem impressos nas gráficas

destas universidades, com o mesmo tipo de papel (AP - apergaminhado), ao

contrário do Circulando (Univale) e do Marco (PUC Minas), impressos em

gráficas particulares, em papel jornal. A diferença mais significativa entre o

OutrOlhar e o Senso(in)comum é a linha editorial e o público alvo. Enquanto o

jornal de Viçosa, MG, optou por deixar os assuntos internos do campus da

UFV, e tratar de assuntos de interesse das comunidades externas, o jornal de

Uberlândia, MG, adota uma linha editorial voltada a público interno da UFU. O

jornal-laboratório Marco, da PUC Minas, tem linha editorial voltada para as

comunidades dos bairros Coração Eucarístico, Dom Cabral, Minas Brasil e

João Pinheiro, localizados no entorno do Campus Dom Cabral. Também circula

no bairro São Gabriel, onde a PUC Minas mantém uma extensão do campus e

uma sucursal do Marco. O Circulando possui uma tiragem muito pequena para

contemplar um número expressivo de leitores, por prioriza sua distribuição aos

dois campi da Univale, e destina outra parte da tiragem ao público externo, a

órgãos e instituições de Governador Valadares.

5.1.1 Jornal-laboratório Circulando

O jornal-laboratório Circulando, do curso de Jornalismo da Universidade Vale

do Rio Doce, teve 4 (quatro) edições em 2011, cada uma com tiragem de 1 mil

67

exemplares. No projeto editorial anterior, que vigorou entre 2002 e 2010, no

período de 1 ano, o Circulando teria produzido 48 edições para um público alvo

específico, localizado nos bairros da Região da Ibituruna. O projeto atual não

possui uma distribuição com o mesmo alcance da que era feita no projeto

anterior.

Nas duas edições do segundo semestre de 2011 (397 e 398), as matérias

foram produzidas pelos alunos do 4º período do curso de Jornalismo e grande

parte do material jornalístico versava sobre assuntos de interesse público, nas

editorias de Cidadania, Saúde, Comportamento, Educação e Opinião. Na

edição 397, a manchete foi “Precisa-se de voluntários”, e se referiu uma

matéria sobre a necessidade do trabalho de voluntários em benefício da Casa

de Recuperação Dona Zulmira e do Lar dos Velhinhos, instituições filantrópicas

da cidade. Os alunos também abordaram assuntos como a vida dos moradores

de rua em Governador Valadares, os benefícios da aplicação de testes

psicológicos para a escolha profissional e outros temos de interesse coletivo.

Na edição 398 os principais assuntos foram: a busca de qualificação

profissional pelos emigrantes valadarenses que moravam e trabalhavam nos

Estados Unidos e retornaram à cidade tentando novas oportunidades de

trabalho, e a participação popular na política habitacional da cidade, executada

pela Prefeitura Municipal de Governador Valadares, seguindo deliberações do

Conselho Municipal de Habitação. As matérias se caracterizaram por ouvir

várias fontes, não restringindo a informação às fontes oficiais.

Analisando as edições, verificou-se que o Circulando não é jornal-laboratório

feito totalmente por alunos do curso de Jornalismo. Alunos e professores do

curso de Letras escrevem textos opinativos, como na edição 398, quando o

aluno José Ilton de Almeida, do 4º período de Letras assinou a crônica “O que

uma barra de chocolate pode fazer por você?”. Professores de outros cursos

da universidade publicam artigos, como na edição 397, quando o professor

Aníbal Souza Felipe da Silva publicou artigo intitulado “2011 – Ano mundial da

medicina veterinária”. As charges do Circulando são feitas pelo chargista e

professor do curso de Design Gráfico da Univale, João Marcos Parreira

68

Mendonça, e a diagramação/editoração eletrônica é feita pelo professor Brian

Lopes Honório, do curso de Design Gráfico.

5.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar

O jornal-laboratório OutrOlhar, da Universidade Federal de Viçosa, MG, é

totalmente feito pelos alunos do curso de Comunicação Social – Jornalismo,

conforme descreve a aluna Thaísa Vaz, no editorial publicado na edição 24, de

novembro de 201018. O jornal adota linha editorial voltada ao interesse público,

com pauta discutida pelos alunos, que elegem assuntos ligados à Cultura,

Comportamento, Meio Ambiente, Vida, Ciência e Saúde, Cidade e Esporte.

Na edição 24, que circulou em novembro de 2010, os assuntos escolhidos para

a edição são coerentes com o objetivo do jornal, descrito no capítulo anterior

pelo professor Joaquim Sucena Lannes, ou seja, “formar profissionais de

jornalismo com visão cidadã da notícia ou da prática jornalística” (LANNES,

2001, p.247). Além das matérias relacionadas às editorias citadas, a edição

trouxe um suplemento especial sobre os 20 anos do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), mostrando o que a lei modificou na forma como a

sociedade vê a questão da infância e juventude, o trabalho do Conselho

Municipal do Direito da Criança e do Adolescente, as ações do Ministério

Público e do Centro Referencial Especializado de Assistência Social (CRAS) no

tratamento das questões da infância.

O caderno especial editado pelos alunos-repórteres do OutrOlhar mostrou um

procedimento editorial na linha oposta à conclusão do relatório da Rede ANDI

(2005), descrito no capítulo 2 desta dissertação, ou seja, a pesquisa da ANDI

constatou que na grande imprensa, um pequeno número de matérias menciona

causas, consequências, soluções, estatísticas e legislação, quando o assunto

está relacionado aos direitos da criança e do adolescente. A edição do caderno

18

No editorial, a aluna Thaísa Vaz descreve que as atividades laboratoriais de impressos são desenvolvidas “em um jornal totalmente feito por nós, alunos do curso de Comunicação Social, procuramos pautar os mais diversos assuntos que estivessem voltados aos nossos leitores”. (OUTROLHAR, 2010, p.2)

69

especial contemplou estes pontos polêmicos que envolvem as discussões e

aplicações do ECA.

Observando outras edições do OutrOlhar publicadas em 201019, nota-se que

há uma diferença entre o formato destas edições e o formato da edição 24. As

edições de 2010 anteriores a 24 foram impressas em formato tablóide (35 cm x

29 cm), enquanto a edição 24 teve o formato 43 cm x 28 cm.

5.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)comum

O jornal-laboratório Senso(in)comum circulou com a edição 0120 no início de

2011 (referente ao bimestre fevereiro e março) com assuntos relacionados ao

interesse da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia

(UFU), publicados nas editorias de Ciência, Atualidades, Cultura e Opinião. A

manchete do jornal foi “Por todas as vidas” e se refere ao Trote Solidário, que

segundo o subtítulo aplicado sobre a foto da capa “é uma forma de incentivar

doação de sangue durante a recepção dos calouros”.

Os outros assuntos publicados abordam as atividades dos laboratórios de

outros cursos da UFU, construção de prédios no campus desta universidade, e

outros, sobre cultura e lazer. De acordo com Spannenberg; Nunes (2011), a

opção por editar estes assuntos internos não caracteriza a publicação como um

house-organ, como definiu Bueno (2008) no capítulo 2.

No processo de produção das pautas para o jornal-laboratório buscou-se abordar temas de interesse do alunado da UFU. O objetivo foi atender ao público-alvo dos diversos cursos, cujos temas poderiam, ou não, estar relacionados com as unidades acadêmicas ou com a própria universidade. Deste modo, o Senso (in)comum, distancia-se do perfil de uma publicação de

19

Estas edições do OutrOlhar, de 2010, foram disponibilizadas aos professores que participaram do GP Produção Laboratorial - Impressos, durante o Encontro Mineiro de Professores de Jornalismo, realizado em abril de 2011, na Universidade Federal de Viçosa. 20

A primeira edição do jornal-laboratório Senso(in)comum, de 2010, foi disponibilizada aos professores que participaram do GP Produção Laboratorial - Impressos, pelas professoras Ana Cristina Spannenberg e Mônica Rodrigues Nunes, da Universidade Federal de Uberlândia, que participaram do Encontro Mineiro de Professores de Jornalismo, realizado em abril de 2011, na Universidade Federal de Viçosa. Elas apresentaram o artigo “O jornal-laboratório como espaço de aprendizagem e prática profissional: Relato de experiência do jornal “Senso (in)comum” no Curso de Jornalismo da UFU

70

divulgação institucional (do curso de jornalismo, da Faculdade de Educação onde está inserido ou da Universidade Federal de Uberlândia), como um house organ, por exemplo, possibilitando aos alunos a prática profissional de uma publicação independente (SPANNENBERG; NUNES, 2011)

Apesar de estar voltado um público interno, o Senso(in)comum, na edição 01

publicou matéria de interesse do público externo, como a que mostrou o

trabalho do Centro de Pesquisas Econômico-Sociais (CEPES), do Instituto de

Economia da UFU, que consiste na coleta e análise de preços. A divulgação

das pesquisas realizadas por este centro tem relevância para as comunidades,

pois possibilita à população ter uma referência na escolha dos

estabelecimentos comerciais onde farão suas compras, fazendo uma

comparação de preços. As notas da agenda de eventos culturais também são

de interesse do público externo, pois incluem eventos realizados em todo o

município de Uberlândia.

5.1.4 Jornal-laboratório Marco

O jornalismo voltado para os interesses das comunidades de sua área de

abrangência está estampado nas páginas do jornal-laboratório Marco, da PUC

Minas. Na Edição 285, de outubro de 2011, a manchete foi “Chuva preocupa

moradores”, com chamada para uma reportagem especial nas páginas 8 e 9,

sobre a preocupação de moradores das áreas de risco com as enchentes e os

desabamentos, problemas comuns no período chuvoso.

A reportagem valoriza os personagens e a abertura envolvente, típica das

reportagens, e oferece dados para a interpretação do leitor logo nas primeiras

linhas. Os alunos-repórteres Piero Morais e Raquel Andretto, do 5º e 3º período

abrem a reportagem descrevendo o drama de um comerciante que aponta uma

marca na parede, mostrando a altura em que a água chegou dentro de seu

comércio, em 2008, dando-lhe um prejuízo de R$ 1 mil. O texto segue

mostrando outros personagens, que contam experiências negativas com as

enchentes. A fonte oficial da reportagem, uma engenheira da Regional

Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte, fala sobre medidas preventivas que

serão adotadas para evitar ou minimizar os problemas causados pelas chuvas.

71

O assunto, de interesse público, foi abordado com uma variedade de fontes e

informações relevantes, com os alunos tendo o cuidado de ouvir os dois lados.

O procedimento adotado pelo jornalismo do Marco comprovou a afirmação de

Erbolato (1991), observando que “só se considera completa uma notícia

quando ela proporciona ao leitor a ideia exata e minuciosa sobre um

acontecimento, ou mesmo a previsão do que vai ocorrer” (ERBOLATO, 1991,

p.57).

Na edição 285, que circulou em outubro de 2011, outro bom exemplo de

matéria de interesse público foi sobre a Rede API (Apoio a perdas

Irreparáveis), criada pela psicóloga Gláucia Resende. Esta rede dá assistência

às pessoas que perderam parentes ou amigos próximos e oferece

oportunidade para que estas pessoas contem suas experiências em reuniões

periódicas. A matéria ouve a psicóloga sobre o trabalho da Rede API e ouve

várias outras pessoas que participam do grupo de assistido, dando ao leitor

uma ideia completa sobre o que é e como funciona o trabalho.

Nas duas edições analisadas, verifica-se que os assuntos pautados se

enquadram nas editorias de Cidadania, Educação, Cultura, Tecnologia, Cidade,

Especial, Comunidade, Saúde, que são frequentes no jornal. A edição 284, de

setembro de 2011, teve como manchete de capa “Migrantes em busca de um

lar na capital mineira”. A reportagem sobre este assunto mostrou histórias de

vida de pessoas que chegam em Belo Horizonte em busca de emprego, e que

procuram amparo nos programas assistenciais da Prefeitura. Na página 6, o

destaque foi para as reuniões da comunidade na sede da PUC Minas, para

discutir a segurança pública no bairro São Gabriel.

5.2 Análise dos jornais locais

5.2.1 Diário do Rio Doce

Os jornais locais de Governador Valadares, analisados nesta pesquisa, com

exceção do DRD, apresentam os mesmos problemas relacionados aos

72

recursos humanos de redação, mencionados na proposta de criação do curso

de Comunicação Social da Univale, enviada ao MEC em 1997, ou seja, não

possuem jornalistas com formação superior. Folha Regional, Jornal de

Domingo e Classificados O Domingo, não são feitos por jornalistas, apesar de,

ao longo dos 10 anos, desde a formação da primeira21 turma do curso de

Jornalismo, 237 profissionais jornalistas tenham se graduado na Univale.

No DRD, assim como as sucursais das emissoras de TV em rede (Globo, SBT

e Record) e a TV Univale, emissora da Universidade Vale Do Rio Doce,

trabalha um número expressivo de profissionais jornalistas com diploma. No

DRD a redação tem 9 jornalistas profissionais com diploma, 3 fotógrafos e 4

alunos do curso de Jornalismo da Univale, como estagiários.

A linha editorial do DRD é conservadora, atrelada a interesses comerciais,

como nos anos iniciais de sua fundação. O noticiário local é dependente de

fontes oficiais, como os boletins de ocorrências da Polícia Militar e Corpo de

Bombeiros. A publicação de noticiário derivado de press-releases também é

acentuado, assim como a publicação de notícias compradas das agências de

notícias como a Reuters e a Estado. O jornal também utiliza o cardápio de

notícias da Agência Minas, oficial do Governo de Minas Gerais, e da Agência

Brasil, do Governo Federal.

A utilização de press-releases como fonte de informação, ou a publicação

integral ou parcial do conteúdo destes, é um problema descrito por Lopes

(1985), ao abordar os problemas de apuração de material jornalístico por

alguns jornais. Além deste problema, Lopes também aponta outro: o uso de

fontes contratadas, as agências noticiosas, nacionais ou internacionais, em

detrimento da notícia apurada pelos repórteres da redação.

Um dos principais filtros externos que interfere nos jornais é a fonte, que ganha seu espaço, muitas vezes, por meio de press-releases, publicados na íntegra sem mudar uma palavra. Em

21

A primeira turma de jornalistas formados na Univale colou grau em dezembro de 2001. Desde a primeira colação de grau até a última (dezembro de 2011), segundo informações da Diretoria de Registro Acadêmico da Univale, 237 jornalistas foram formados pelo curso de Jornalismo.

73

alguns casos, fontes são apontadas pela pelas próprias direções das empresas ou pelos editores que determinam aos pauteiros sejam relacionadas nas pautas para serem ouvidas pelos repórteres [...] Normalmente, os pequenos jornais ficam na dependência de uma só agência nacional ou internacional, que controla e manipula a informação, centralizando o noticiário nos grandes centros, deixando de lado o que ocorre nas pequenas comunidades onde as agências não mantêm correspondentes (LOPES, 1985, p.44).

Nas edições do DRD, a utilização de notícias da Agência Minas confere ao

noticiário de muitos assuntos do âmbito estadual, o caráter “chapa branca”22.

Os outros jornais locais analisados não utilizam noticiário da Agência Minas. No

DRD, o noticiário desta agência noticiosa é publicado na íntegra ou recebe

edição com alguns parágrafos contendo um enfoque local, como na edição

17.410, de 15/01/2012. A matéria publicada na página 4B, editoria de

Economia, intitulada “BDMG já oferece suporte para empresas atingidas pelas

chuvas”, assinada pelo repórter Ederson Ferreira, teve grande parte de seu

conteúdo transcrito das matérias “Governador prorroga prazo para

recolhimento de ICMS de contribuintes afetados pela chuva (13/01/2012) e

“Confira as medidas emergenciais de apoio à população e empresas

anunciadas por Anastasia”, publicadas no site da Agência Minas em

06/01/2012. Uma pequena entrevista com o consultor financeiro da FIEMG

Regional Rio Doce, Ricardo Lorrane, somada às informações transcritas da

agência, fechou a matéria.

Há casos em que a matéria obtida na Agência Minas e publicada quase na

íntegra (ou na íntegra) e assinada por um ou mais repórteres. Na edição

17.411, de 17/01/2012, a matéria “IPVA já começa a ser pago em Minas

Gerais”, assinada pelos repórteres do DRD, Fred Seixas e Thiago Coelho, foi

transcrita na Agência Minas. Esta matéria foi publicada no site desta agência

no dia 01/12/2011, sob o título “Valores do IPVA em Minas Gerais ficarão, em

média, 5,46% mais baixos em 2012”. O texto produzido pela agência foi

22

Expressão do jargão jornalístico, que deriva das placas brancas dos veículos oficiais. A notícia com caráter “chapa branca”, assim com os veículos, são identificadas como oficiais, com conteúdo propagandístico dos governos.

74

publicado praticamente na íntegra, com pequenas alterações em frases e na

ordem dos parágrafos, mantendo o conteúdo integral de vários deles.

As notícias locais, que tratam de problemas existentes nas diversas

comunidades dos bairros de Governador Valadares, raramente ouvem os

moradores envolvidos no problema e se resumem a informações oficiais

relatando o problema. É o caso da matéria “Vítimas da enchente poderão sacar

FGTS a partir de 4ª-feira” (publicada na edição 17.411, de 17/01/2012). Na

matéria sobre o saque do FGTS, a repórter limitou-se a ouvir apenas a prefeita

de Governador Valadares, Elisa Costa, e o presidente da Coordenadoria

Municipal de Defesa Civil, Gilson de Souza, durante reunião realizada na

Prefeitura. Nenhum atingido pela enchente e interessado no saque do FGTS foi

ouvido. O mesmo acontece nas matérias sobre ocorrências policiais, que se

limitam à descrição dos fatos do Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, sem

contextualizar o fato.

5.2.2 Folha Regional

Embora tenha sua redação em Governador Valadares, a Folha Regional busca

inserção nas cidades da Região do Vale do Rio Doce e Centro-nordeste

Mineiro, veiculando matérias sobre as cidades destas regiões, relacionadas a

atos do Executivo e Legislativo. Algumas são pagas pelas prefeituras ou

câmaras municipais, sem a chancela “informe publicitário” e sem o fio cercando

a matéria, separando o conteúdo publicitário/propagandístico do conteúdo

editorial/jornalístico.

Esta prática identificada nas edições da Folha Regional foi citada no relatório

do Instituto Cidadania (1996), da Fundação Perseu Abramo, no capítulo 3

desta dissertação, como uma prática frequente nos jornais de cidades do Vale

do Jequitinhonha, Minas Gerais, que sobrevivem com anúncios de prefeituras e

câmaras municipais.

O assunto predominante das matérias da Folha Regional é a política partidária

nos pequenos municípios da região do Vale do Rio Doce e Centro-nordeste

75

Mineiro, com forte conteúdo opinativo e geralmente com apenas uma fonte de

informação. Há também matérias baseadas nos boletins de ocorrência policial,

entretenimento e variedades, como piadas, horóscopo, notícias da TV e

poesias feitas pelos leitores.

Na edição 209 da Folha Regional, que circulou na primeira quinzena de janeiro

de 2012, a manchete do jornal foi “Mortes, destruições, desabrigados e

ausências de deputados”. A foto editada sob a manchete mostra moradores

ribeirinhos deixando suas casas, em um barco ou andando dentro d’água, com

água acima da cintura. Sobre a foto maior, um arranjo de fotos estilo 3 x 4, com

os deputados federais Leonardo Monteiro (PT), Leonardo Quintão (PMDB),

João Magalhães (PMDB), e os deputados estaduais Hélio Gomes (PSL), Jayro

Lessa (DEM) e Bonifácio Mourão (PSDB). Na chamada de capa, o texto

acusava os deputados de ter optado pelas férias ao invés de acudir as vítimas

da enchente. Na matéria principal, que deu origem a manchete, o texto não tem

o caráter jornalístico, e o redator opina sobre suposições.

Se o governador Antônio Anastasia visitasse Valadares, talvez a bancada do Vale do Rio Doce na Assembleia Legislativa (Bonifácio Mourão, Jayro Lessa e Hélio Gomes) e os deputados federais João Magalhães, Leonardo Monteiro e Leonardo Quintão aparecessem para conhecer de perto como sofreram seus eleitores. Eles podiam iniciar as visitas no bairro Santa Rita, depois São Tarcísio, São Pedro, São Paulo, Santa Terezinha, JK e outros ribeirinhos. Poderiam visitar o distrito de Baguari e serem testemunhas que várias outras famílias moram próximas a encostas e correm risco de morrer como aconteceu com as duas vítimas23. Teriam condições de ajudar algumas famílias que estavam desesperadas para sair de casa e não perder seus pertences (FOLHA REGIONAL, 2012, p.12).

O texto revela um procedimento que gerou advertência de Erbolato (1991): “a

imprensa deve publicar, na categoria de informações, o que seja verdadeiro,

pois a ficção é objeto dos romances, muito embora haja colunas jornalísticas,

ou suplementos, dedicados a ela dedicados” (ERBOLATO, 1991, p.56).

23

Duas pessoas morreram no distrito de Baguari em 06/01/2012, vítimas de desabamento da casa onde estavam durante um temporal. A tragédia com as duas mortes foi notícia nos principais meios de comunicação do Brasil, mas a Folha Regional não noticiou o fato, apenas fez menção incompleta no texto.

76

Figura 1 – Capa do jornal Folha Regional, edição 209, cuja manchete e chamada remetem à matéria publicada na página 12 da edição, cobrando ação dos deputados estaduais e federais que têm base eleitoral na região do Rio Doce, para atender aos desabrigados pelas enchentes.

77

5.2.3 Jornal de Domingo

O Jornal de Domingo opta por ocupar suas páginas com textos opinativos,

publicado em colunas assinadas por profissionais de áreas diversas

(Educação, Direito, Economia, Humor, Agronomia e outras). Ao todo são

publicadas cerca de 10 colunas em cada edição, ocupando cerca de 40% das 8

páginas do jornal. As poucas notícias publicadas têm como fonte os press-

releases enviados por órgãos públicos, instituições e empresas. Os colunistas

raramente abordam temas de interesse das comunidades, no entanto, na

edição 965, a coluna “Espaço Literário”, escrita pela professora Antônia Izanira

de Carvalho, apesar de tratar de assuntos ligados à literatura em outras

edições, denunciou o grande número de buracos nas ruas de Governador

Valadares, que segundo a professora, além de prejudicar o trânsito de

veículos, acumulam água e larvas do mosquito transmissor da dengue.

Na edição 965, referente à semana de 11 a 17 de dezembro, o Jornal de

Domingo publicou duas matérias que ocuparam duas páginas. “Maior empresa

geradora de empregos em Valadares é conquista do governo Elisa Costa”, que

noticiava a inauguração de empresa Call Center A&C, e “Prefeitura e Caixa

entregam mais 372 moradias populares em Valadares”. Estas duas matérias

foram publicadas tanto no Jornal de Domingo, como no site da Prefeitura

Municipal de Governador Valadares. No site oficial do município24, as matérias

tinham títulos diferentes: “Call Center é realidade em GV” e “Mais 372 famílias

recebem moradias populares da Prefeitura e Caixa”. Embora os títulos fossem

diferentes, o texto publicado pelo Jornal de Domingo era o mesmo publicado no

site oficial, e foi produzido por jornalistas da Secretaria Municipal de

Comunicação e Mobilização Social.

5.2.4 Jornal Classificados O Domingo

O jornal Classificados O Domingo adota uma postura conhecida no jargão

jornalístico como gilete-press, ou seja, recorta matérias de revistas de 24

www.valadares.mg.gov.br

78

circulação nacional e as publica na íntegra. Na edição 497, por exemplo,

publicou matérias da revista Exame “5 indicadores essenciais ao seu negócio”,

da revista Superinteressante “Microrrevoluções, conheça o TED e saiba como

rolou no TEDxJovem@ibira”. Além dessas matérias, publicou notas retiradas

dos sites Uol e G1.

Estes press-releases utilizados como fonte ou publicados integralmente pelos

jornais locais, são, segundo Lopes (1985), “fontes consideradas voluntárias,

que são os serviços de relações públicas e assessorias de comunicação ou

mesmo de imprensa que, via de regra, divulgam só o que interessa a seus

patrões” (LOPES, 1985, p.45). Citando Lima (1983), Lopes (1985) argumenta

que este autor estudou a “releasemania” que se estabeleceu no jornalismo

brasileiro e que os press-releases são fontes de informação usadas como

referencial para confecção de pauta. “Na maioria dos casos, principalmente na

pequena imprensa, que tem um quadro profissional reduzido, o press-release é

aproveitado integralmente” (LIMA apud LOPES, 1985, p.45).

5.3 As distorções no projeto gráfico dos jornais locais

Outro problema observado nas páginas dos jornais locais e em alguns jornais-

laboratórios se relaciona à ausência dos atributos de uma página bem

elaborada de acordo com os princípios de um planejamento gráfico eficiente.

Os espaços entre letras, linhas e palavras, o arranjo dos textos na página, a

largura das colunas, parecem rasgar esse tecido.

A expressão “tecido tipográfico” é de autoria de Bringhurst (1995), que em seus

estudos sobre tipografia, relaciona a excelência de uma peça gráfica com o

arranjo tipográfico da página, e sugere que este tecido não seja rasgado.

“O instrumento tipográfico, seja ele um computador ou uma régua de composição, funciona como um tear. E o tipógrafo, como o escriba, procura tecer o texto da maneira mais homogênea possível. Do mesmo modo, os bons tipos são desenhados para produzir uma textura vivaz e homogênea, mas o espacejamento descuidado das letras, linhas e palavras, pode rasgar esse tecido” (BRINGHURST, 1995, p.32).

79

Figura 2 – Capa do DRD carregada de fios, títulos com várias fontes de tamanhos e cores

variadas, dando à página um visual pesado e pouco atraente para o leitor.

As páginas são muito carregadas de títulos e vinhetas, compostos com fontes

das mais variadas famílias e em tamanhos diversos, em descompasso com as

fotos, anúncios e ilustrações, contrariando o pensamento de Amilcar de Castro,

citado por Aguilera (2005): “Não se deve botar muita coisa numa página só, a

profusão de títulos e texto cria uma confusão na cabeça do leitor e a página

perde leveza e clareza” (CASTRO apud AGUILERA, 2005, p.36).

80

No jornal Folha Regional, a coluna “Em dia com a Justiça” ocupa meia página e

o texto é diagramado em uma única coluna, com largura de 29 cm

(aproximadamente 68 picas25). Isso, segundo Sobrinho (1993) causa

desconforto para a leitura.

Pesquisadores norte-americanos garantem que os tipos da família Romana, no corpo 10, entrelinha 11, entre 14 e 23 picas (5 a 8 centímetros de largura de coluna) são mais legíveis, isto é, causam menor desconforto para a leitura. Nesse aspecto, não atingem índices que dêem aos seus leitores o máximo de aproveitamento daquilo que lêem, com alguns agravantes (SOBRINHO, 1993, p.36)

Figura 3 – Coluna “Em dia com a justiça”, do jornal Folha Regional com texto composto em 1 (uma) coluna de 29 cm, ocupando toda a largura da página, que mede 32 cm.

Problemas como este revelam que a produção dos jornais locais, em grande

parte, é feita por pessoas que não passaram pela práxis jornalística. No caso

dos jornais-laboratórios, revelam deficiências na formação dos jornalistas na

universidade. A natureza verbal do jornalismo amplifica a alfabetização textual

dos alunos nos cursos de Jornalismo, quando estes aprendem a técnica

jornalística de redação e edição de texto, e exercitam o ato de escrever em

25

Medida tipográfica que equivale a 12 pontos do sistema anglo-americano de medição tipográfica, ou cerca da sexta parte de uma polegada (4,218 mm) ou ainda 11,22 pontos o sistema Didot. O mesmo que pica (ABC DA ADG, 2000, p.91)

81

outras disciplinas humanísticas. Mas a alfabetização visual encontra um

entrave nestes cursos, que segundo Moraes (2003) “não investiram na

linguagem visual, colocando em seus programas apenas algumas horas de

fotografia e outras de diagramação” (MORAES, 2003, p.72). Para o autor, o

jornalismo, que vem de uma tradição do uso da palavra escrita, perdeu a

cultura visual, isso, no ambiente acadêmico. E aponta outro elemento

motivador para esta perda: a obrigatoriedade do diploma universitário para que

se exerça a profissão de jornalista, que considera apenas o pessoal do texto.

Segundo ele, a legislação que regula o exercício profissional não exige o

diploma para repórter fotográfico, repórter cinematográfico, jornalista ilustrador

e jornalista diagramador26.

Moraes afirma que os jornalistas não sabem pensar em termos de imagem e

na hora de transpor para o papel o que é reportado de um fato, têm muitas

dúvidas sobre quais as cores poderão ser melhor utilizadas para transmitir o

clima ocorrido, quais os tipos tem mais a ver com a história que será contada, e

quais as referências visuais deverão ser usadas para tornar mais claro o que

será transmitido ao leitor.

Nas páginas dos jornais-laboratório OutrOlhar vê-se que não há defesa

(espaço) entre o fio-data (cabeçalho das páginas) e os títulos. As vinhetas que

identificam as editorias, aplicadas em cima do cabeçalho da página, são

compostas com fonte em corpo maior que o corpo das fontes utilizadas na

26

O Decreto Lei 83.284, de 13 de março de 1979, no artigo 4º, diz que o exercício da profissão de Jornalista requer prévio registro no órgão regional do Ministério do Trabalho, que se fará mediante apresentação de prova de nacionalidade brasileira, prova de que não está denunciado ou condenado pela prática de ilícito penal, e diploma de curso de nível superior de Jornalismo ou de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, fornecido por estabelecimento de ensino reconhecido na forma da lei, para as funções relacionadas nos itens I a VII do artigo 11; O artigo 11, nos itens VIII, IX, X e XI, lista as funções que podem ser exercidas sem a obrigatoriedade do diploma de jornalista: VIII - Ilustrador: aquele que tem a seu cargo criar ou executar desenhos artísticos ou técnicos de caráter jornalístico; IX - Repórter Fotográfico: aquele a quem cabe registrar fotograficamente quaisquer fatos ou assuntos de interesse jornalístico; X - Repórter Cinematográfico: aquele a quem cabe registrar cinematograficamente quaisquer fatos ou assuntos de interesse jornalístico; XI - Diagramador: aquele a quem compete planejar e executar a distribuição gráfica de matérias, fotografias ou ilustrações de caráter jornalístico, para fins de publicação.

82

composição dos títulos. No corpo do texto, o tracking27 parece ter sido usados

para fazer o texto completar o espaço previsto na diagramação, e que se

apresentou maior durante o processo de editoração eletrônica. As fontes estão

abertas, ou seja, com espaço entre elas, assim como existem muitos espaços

entre palavras. O corpo de texto apresenta muitas linhas viúvas no final dos

parágrafos.

Figura 4 – Página do Jornal-laboratório OutrOlhar, do curso de Jornalismo da UFV. A vinheta que identifica a editoria “Comportamento” foi composta com uma fonte de tamanho maior que o da fonte usada para compor o título, e este possui defesa (espaço) em relação ao fio-data.

No Senso(in)comum as linhas viúvas aparecem nos subtítulos, no corpo de

texto de várias matérias e nas legendas das fotos. As vinhetas que identificam

as editorias e os números das páginas, aplicadas sobre o fio-data, são

compostas em fontes com corpo quase quatro vezes maior que os títulos, e

competem visualmente com eles.

27

Kerning, segundo Niemeyer (2005) é o ajustamento de espaços horizontais entre pares de caracteres específicos em um texto, e Tracking, o controle do espaço médio entre caracteres num bloco de texto.

83

Figura 5 – No Jornal-laboratório Senso(in)comum, da UFU, os números das páginas e as vinhetas das editorias são maiores que os títulos, que não ocupam espaço até o fim da linha

84

Figura 6 – Detalhe de uma página do Senso(in)comum com subtítulos compostos com linhas

viúvas28

(“de atuação” e “China”). O problema poderia ter sido evitado com a edição do texto.

Estas distorções nos jornais-laboratório OutrOlhar e Senso(in)comum têm um

atenuante: são praticadas por alunos em processo de aprendizagem.

Identificadas por eles ou por professores, podem ser corrigidas durante o

processo. Nos jornais-laboratório Circulando e Marco estas distorções não

aparecem porque são jornais diagramados e editorados por professores.

28

Palavra ou sílaba que sobra no fim de um parágrafo. Normalmente é corrigida editorialmente por adição ou eliminação de palavras (ABC DA ADG, 2000, p.108)

85

Capítulo 6

O JORNALISMO CÍVICO APLICADO AO JORNAL-LABORATÓRIO

6.1 Projeto editorial e gráfico para o jornal-laboratório Circulando

A descaraterização do projeto editorial e gráfico do jornal-laboratório

Circulando, implantado em 2002 e executado até o primeiro semestre de 2010,

justifica a elaboração de um novo projeto, aperfeiçoando o anterior, e

substituindo o atual, implantado partir do segundo semestre de 2010. É

importante que o novo projeto editorial e gráfico conceda espaço para a

participação das comunidades da área de abrangência do jornal e permita ao

aluno do curso de Jornalismo da Univale a prática do jornalismo cívico. A

execução do projeto também permitirá ao aluno compreender que a sua futura

profissão tem natureza social29, conforme descreve o seu código de ética

profissional.

A proposta de um novo projeto editorial para o jornal-laboratório Circulando

considerou a articulação teórico-prática das disciplinas aplicadas ao jornal30,

organizada em duas áreas: produção de texto (técnicas do jornalismo), edição

(linha editorial, editorias e projeto gráfico). A criação de um Conselho Editorial

com participação de pessoas das comunidades é uma proposta inovadora,

como forma de garantir espaço maior para as comunidades da área de

abrangência do jornal no processo de produção da notícia.

A ampliação da participação comunitária no jornal-laboratório Circulando é

coerente com uma decisão recente do Conselho de Ensino, Pesquisa e

Extensão (Consepe), da Universidade Vale do Rio Doce. O Consepe aprovou

as novas linhas de atuação para a política de extensão da universidade entre

29

Capítulo II, “Da conduta profissional do jornalista”, artigo 3º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. 30

O novo projeto pedagógico do curso de Jornalismo da Univale, aprovado em agosto de 2011 (e baseado nas “Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Jornalismo”, prevê para as atividades do jornal-laboratório Circulando, a articulação de conhecimentos das disciplinas Computação Gráfica) (1º período), Comunicação Visual (2º período), Redação Jornalística I (4º período), Redação Jornalística II e Jornalismo Interpretativo e Opinativo (5º período), Edição Jornalística, Técnica de Reportagem e Jornalismo Comunitário (6º período) e Jornalismo Especializado (7º período).

86

2010/201331. Nestas propostas, a área temática da Comunicação, na qual o

jornal-laboratório se insere, foi contemplada com a linha de atuação que

promove investimentos às atividades de extensão a serem desenvolvidas no

município e na região. Esta atuação inclui prioritariamente os movimentos,

entidades e organizações sociais, governamentais ou não governamentais,

desde que desenvolvam ações multiplicadoras e contínuas, direcionadas para

a autonomia da comunidade, melhorando a qualidade de vida, promovendo o

desenvolvimento sustentável. “A universidade precisa ter um ouvido atento aos

conhecimentos sistematizados na academia e outro, aos rumores da realidade

social, ela precisa se aproximar do seu entorno, contemplar o outro, ouvir seu

apelo e acolher a sua proposta” (Univale, 2010).

6.2 A participação das comunidades no processo de produção da notícia

A participação comunitária, o jornalismo voltado ao interesse público,

elementos ausentes no jornalismo impresso de Governador Valadares e em

muitas cidades brasileiras, foi considerada no novo projeto editorial e gráfico do

jornal-laboratório Circulando, fazendo valer o Capítulo I do Código de Ética dos

Jornalistas Brasileiros.

Capítulo I - Do direito à informação

Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação. Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão por que:

I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas; II - a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público; III - a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão; IV - a prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as não-governamentais, deve ser considerada uma obrigação social; V -

31

Resolução CONSEPE: N°. 005/2010, que aprovou a Política de Extensão 2010/2013, da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, em Governador Valadares, MG. A aprovação feita pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE aconteceu durante Reunião Ordinária realizada no dia 24 de agosto de 2010.

87

a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade, devendo ser denunciadas à comissão de ética competente, garantido o sigilo do denunciante.

A proposta também se baseia no pensamento de Lopes (1985) que define o

jornal-laboratório como um veículo de comunicação importante para a

democratização da informação e para as atividades de ensino-aprendizagem.

Lopes cita a conceituação de jornal-laboratório feita de forma consensual

durante o VII Encontro de Jornalismo Regional, sobre órgãos laboratoriais

impressos, realizado na Faculdade de Comunicação de Santos, em 1982.

O jornal-laboratório é um veículo que deve ser feito a partir de um conjunto de técnicas específicas para um público também específico, com base em pesquisas sistemáticas em todos os âmbitos, o que inclui a experimentação constante de novas formas de linguagem, conteúdo e apresentação gráfica. Eventualmente, seu público pode ser interno, desde que não tenha caráter institucional (LOPES, 1985, p.50).

6.3 As comunidades no Conselho Editorial

A criação de um Conselho Editorial com participação de representantes das

comunidades da área de abrangência do jornal (a Região da Ibituruna) e

representantes de entidades e instituições que tenham importância significativa

para a vida social destas comunidades, vai nortear os trabalhos da redação no

novo projeto editorial e gráfico do Circulando. A composição do Conselho e o

seu regulamento deverão ser discutidos pelo Colegiado do curso de Jornalismo

e o corpo editorial do jornal-laboratório, com sugestões apresentadas por

pessoas das comunidades da área de abrangência do jornal. É importante

ressaltar que este Conselho deve ter representantes de alunos, professores e

comunidades.

Ao abrir espaço para as comunidades nas edições do Circulando, o novo

projeto garante a integração dos atores sociais nas reuniões de pauta do jornal-

laboratório, discutindo problemas que afetam a sua vida cotidiana. Assim, o

jornal abre possibilidades para o exercício do direito da liberdade de expressão,

88

dando voz e vez para os membros das comunidades. Peruzzo (1998) afirma

que a comunicação popular participativa abre muitas possibilidades de criação

coletiva e educação democrática.

As experiências mostram que a comunicação popular participativa dá seu aporte à edificação de uma cultura e uma educação democrática. Ela ajuda a conhecer, resgatar e valorizar as raízes do povo. Altera as dimensões do comportamento cotidiano. Socializa o direito de expressão e os conhecimentos técnicos. Desmistifica os meios. Promove a criação coletiva. Difunde conteúdos diretamente relacionados à vida local. Dá voz, pela própria voz, a quem era considerada “sem voz”. Como no conjunto da sociedade, uma prática assim caracterizada ainda não predomina nessa área. Mas ela pode vir a configurar-se. Com a expansão dos instrumentos massivos, existe uma tendência de crescimento das rádios e tevês comunitárias, que certamente hão de proporcionar mecanismos de participação mais eficientes (PERUZZO, 1998, p.302).

Esta argumentação de Peruzzo, que sugere um entendimento do jornalismo

comunitário feito com e para a comunidade, é bem mais ampla que a

formulação da IX Semana de Estudos de Jornalismo, realizada na

Universidade de São Paulo, em citada por Melo (2004): “uma imprensa só pode

ser considerada comunitária quando se estrutura e funciona como meio de

comunicação autêntico de uma comunidade. Isto significa dizer: produzido pela

e para a comunidade” (MELO, 2004, p.10).

Não apenas as rádios e tevês comunitárias, como menciona Peruzzo, mas

também os jornais impressos, que no âmbito da universidade são instrumentos

para a articulação prático-teórica de disciplinas, e espaço para a

experimentação, devem priorizar o interesse público conforme afirma Beltrão

(1965) citado por Lopes (1985).

O jornal-laboratório é o instrumento didático básico, sempre que usado apropriadamente, com um planejamento racional, que se transforma no substituto da prática de treinamento das redações. Permite que o aprendiz de Jornalismo se exercite na capacitação e análise dos problemas de sua comunidade, de seu país e da civilização contemporânea, ao mesmo tempo em que desperta interesse pela especialização, fazendo-o descobrir qual dos aspectos e atividades da profissão o seduzem mais. Esse processo dá margem ao desenvolvimento de experiências para a renovação dos processos jornalísticos, tanto na redação quanto na parte gráfica, que serão submetidos à apreciação dos orientadores dos veículos de imprensa locais para uma possível adoção em seus meios de informação (BELTRÃO apud LOPES, 1985, p.49).

89

Isto reforça o propósito de construir uma TS de comunicação aplicável aos

jornais-laboratórios, e que também pode ser adotada por outros meios de

comunicação que tenham o interesse de seguir uma linha editorial voltada ao

interesse público.

É prudente ressaltar o sentido transformador atribuído ao conceito de

Tecnologia Social adotado pela Rede de Tecnologia Social (RTS): “Tecnologia

social são técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas na

interação com a população, que representam soluções para a inclusão social”.

(BAVA, 2004, p.106). Bava explica que todo movimento contra-hegemônico,

tem um sentido “de baixo para cima”, da sociedade para a esfera da política, do

local para o nacional e o global.

Com a revolução tecnológica da informática e dos sistemas de comunicação, as distâncias se encurtam em todos os sentidos, tanto horizontalmente na sociedade, com a conformação de redes e fóruns que elaboram e debatem os novos paradigmas, quanto nas relações entre o local, o nacional e o global. É em razão dessas características atuais que as experiências inovadoras de desenvolvimento de técnicas e metodologias participativas, orientadas para a inclusão social, são portadoras de um potencial transformador que também não estava dado em períodos históricos anteriores (BAVA, 2004, p.104).

É baseado neste pensamento que a proposta de um novo projeto editorial e

gráfico para o jornal-laboratório Circulando, e a construção de uma TS de

comunicação, incorpora uma metodologia participativa, capaz de permitir a

inclusão social e a democratização da informação, conforme afirma Lopes

(1985): “não basta, entretanto, definir ou mesmo conhecer a comunidade na qual

o jornal vai atuar. Mais importante é desenvolver formas de relacionamento

com esta comunidade” (LOPES, 1985, p.56).

Assim, a proposta prevê a participação das comunidades da área de

abrangência do Circulando na discussão dos assuntos de seu interesse, e que

serão transformados em notícia, nas reuniões do Conselho Editorial, nas

reuniões de pauta da “Redação Itinerante”, e por meio de contatos com a

redação (por carta, e-mail, postagens em redes sociais). A “Redação Itinerante”

90

é um espaço que será ocupado pelos alunos-repórteres e professores em salas

cedidas por associações de moradores e igrejas, sempre que houver o trabalho

de campo semanal, na Região da Ibituruna.

A participação das pessoas das comunidades no processo de sugestão de

assuntos para pautas é denominada por Castilho; Fialho (2009) como

“produção colaborativa de notícias”. Este termo, segundo estes autores, surgiu

15 anos depois da experiência inicial da implantação do jornalismo cívico na

imprensa estadunidense (1995). Com o surgimento dos weblogs, a figura do

jornalista cidadão ganhou destaque na imprensa dos Estados Unidos e

integrou este profissional a uma dinâmica de busca, produção e publicação de

informações sobre agrupamentos humanos, em áreas urbanas reduzidas,

como bairros pouco populosos, ruas e condomínios.

Ao se integrar a uma dinâmica similar à estadunidense, os alunos-repórteres

do Circulando terão a oportunidade de se engajar no jornalismo cívico,

assegurando às pessoas afetadas pelas questões propostas nas reuniões de

pauta, o direito de expressar suas opiniões, apresentar críticas, sugestões e

reivindicações, conforme afirma Werkema (2005).

Não basta só informar. É preciso melhorar a qualidade do discurso público e incentivar o debate. Além disso, o jornalismo cívico pede que a imprensa expanda seu conceito de política, entendendo a democracia como um modo de vida, e não meramente uma forma do governo. O propósito da imprensa deve ser o de melhorar a qualidade de vida cívica ou pública, e não só reportar ou reclamar dela (WERKEMA, 2005, p.29-30)

6.4 Redação de textos jornalísticos

A atividade laboratorial que resulta da produção de um jornal impresso é de

grande importância para o exercício da redação jornalística. A importância de

escrever um bom texto, codificar o pensamento e a fala através da linguagem

escrita, organizando todos esses códigos de uma forma capaz de estabelecer a

comunicação entre os interlocutores, pode ser discutida a partir de uma antiga

abstração citada por Bringhurst (2005): “se o pensamento é um fio de linha, o

narrador é um fiandeiro, mas o verdadeiro contador de histórias, o poeta, é um

91

tecelão” (BRINGHURST, 2005, p.25). Esta abstração, se levada ao campo

midiático, ao jornalismo impresso, confere ao jornalista a condição de tecelão.

Como repórter de seu tempo, o jornalista tece a notícia com o fio de linha do

pensamento e com o material apurado em um fato. O jornalista é um contador

de histórias, como diz Noblat (2002), destacando que a missão do jornalista é

informar, ou melhor, contar histórias (NOBLAT, 2002, p.37).

O texto, matéria-prima do trabalho jornalístico, ganhou forma na antiguidade,

no tear dos escribas, que antes do advento da imprensa eram os responsáveis

pela produção de livros. Bringhurst (2005) diz que o trabalho dos escribas,

“após longa prática, ganhou textura tão homogênea e flexível que a página

escrita passou a ser chamada de textus (tecido, em latim)” (BRINGHURST,

2005, p.32).

A palavra escrita, matéria-prima do jornalista, é usada na construção do texto

noticioso, títulos, legendas, olhos32, créditos de matéria e fotos, artigos, notas,

crônicas, enfim, compõe a massa textual do jornal.

O novo projeto editorial e gráfico abre possibilidades para que o aluno pratique

a redação do texto jornalístico de acordo com a sua técnica e especificidade,

lembrando sempre que a sua condição essencial, segundo Martins (1989), é a

simplicidade.

A simplicidade do texto não implica necessariamente repetição de formas e frases desgastadas, uso exagerado da voz passiva (será iniciado, será realizado), pobreza vocabular, etc. Com palavras conhecidas de todos é possível escrever de maneira original e criativa e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem alinhavadas. Nunca é demais insistir: fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos pedantismos vocabulares, dos termos técnicos e da erudição (MARTINS, 1989, p.16).

Martins explica que o jornalista deve sempre se lembrar de que “escreve para

todos os tipos de leitor e todos, sem exceção, têm o direito de entender

32

Recurso de edição usado para anunciar os melhores trechos de textos longos, ao mesmo tempo provocando o leitor e arejando a sua leitura. Em geral tem poucas linhas de texto, nas quais se destacam frases relevantes e sugestivas do artigo, entrevista ou transcrição (ABC DA ADG, 2000, p.79).

92

qualquer texto, seja ele político, econômico, internacional ou urbanístico”

(MARTINS, 1989, p.16). O autor lembra que a linguagem jornalística é um

meio-termo entre a linguagem literária e a falada, e destaca que o texto deve

ser claro, preciso, direto e conciso.

6.5 Projeto Gráfico

A formação profissional do jornalista deve incluir o planejamento gráfico e o

ensino-aprendizagem desta atividade no Laboratório de Jornalismo. Assim, no

dia-a-dia da produção do Circulando será importante por em prática o que diz

Sobrinho (1979) citado por Silva (1985). Este autor diz que o planejamento

gráfico eficiente deve considerar a legibilidade dos tipos utilizados pela

imprensa em busca de um modelo adequado para proporcionar melhor

velocidade de leitura nos arranjos tipográficos. Para ele, “tanto na vida

profissional como na formação de diagramadores por escolas especializadas e

de comunicação, há um certo descuido em relação ao arranjo visual da

mensagem, e se dá pouca ênfase ao estudo dos tipos” (SOBRINHO apud

SILVA, 1985, p.31).

Dotada de sentido para quem lê, a massa textual deve se apresentar ao leitor

de forma agradável. Neste caso, um projeto gráfico bem elaborado é de

importância fundamental a um jornal-laboratório. Moraes (2003) afirma que o

texto para chegar ao leitor que pensa, é necessário, primeiro, pegá-lo pelo

olhar.

Como ele vai ler um texto se não consegue vê-lo? Que disposição terá para dar início à leitura, se o texto parece longo e cansativo? Por que ele dará continuidade à leitura se ela é desconfortável? Como ele poderá sair satisfeito, se não conseguir entender o assunto? Em todas essas questões a resposta está na imagem. Se a página tem um aspecto harmonioso e, ao mesmo tempo, provocante, o leitor se deixa capturar (MORAES, 2003, p. 72-73).

A articulação prático-teórica entre as disciplinas cujo conteúdo se baseia na

comunicação visual, redação e edição jornalística, mais as atividades

laboratoriais de produção do jornal-laboratório, deverá ser considerada na

execução do projeto gráfico. Isso permitirá ao aluno ter acesso à cultura visual

93

dos produtos impressos e compreender procedimentos de redação e edição de

textos, e formatação da página.

Isso poderá contribuir para a correção de algumas distorções que surgiram

com o advento do sistema digital de produção de jornais. Este sistema criou

inúmeras facilidades para a diagramação e editoração eletrônica de produtos

impressos, mas também criou algumas armadilhas para aqueles que não

passaram pela práxis jornalística e os que desconhecem os procedimentos

básicos do design editorial. Os critérios de legibilidade e leiturabilidade33,

comumente desrespeitados, comprometem a comunicação a ser estabelecida

entre o veículo e o leitor, e surgem nesse ambiente caótico do sistema digital.

Esta articulação é defendida por Chaparro (2008). Para este autor, a formação

do jornalista deve incorporar conhecimentos que o capacite a ser “um

profissional com educadas aptidões de intelectual, capaz de apreender, atribuir

significados e dar exposição social confiável (isto é, independente, crítica e

honesta) aos conflitos discursivos da atualidade” (CHAPARRO, 2008). Ele

argumenta que o jornalista será “intelectualmente inepto se, ao mesmo tempo,

não dominar, plena e criativamente, os conceitos, os recursos, as técnicas, as

artes e as implicações da linguagem jornalística, ferramentas do seu ofício”

(CHAPARRO, 2008).

Para Chaparro, as combinações disciplinares que articulem a formação teórica

e a capacitação técnica, em crescentes níveis de aprofundamento, oferecidas

ao aluno ao longo do curso, podem resultar em uma estratégia pedagógica

33 Sanders; McCormick (1993), citados por Niemeyer (2000), definem leiturabilidade como a

qualidade que torna possível o reconhecimento do conteúdo da informação em um suporte quando ela está representada por caracteres alfa-numéricos em grupamentos com significação, como palavras, frases ou texto corrido. Estes autores consideram que a leiturabilidade depende do espacejamento entre caracteres e grupos de caracteres, de sua combinação em frases ou sob outras formas, do espaçamento entre linhas, do comprimento de linha e das margens, mais do que da configuração específica do caractere em si. Já a legibilidade, segundo Sanders e McCormick é o atributo de caracteres alfa-numéricos que possibilita que cada um deles seja identificável aos outros. “Isto depende de algumas características como espessura da haste e a forma do caractere” (SANDERS; MCCORMICK apud NIEMEYER, 2000, p.70-72).

94

com investimentos prioritários em espaços laboratoriais com orientação e

docência multidisciplinares.

A definição do novo formato do Circulando, o uso da tipografia e o discurso

gráfico do projeto, além dos aspectos relevantes para a produção industrial

(papel, tipo de impressão, método de transferência), foi precedida da

elaboração de um projeto analógico antes da elaboração do projeto digital. O

designer Alexandre Wollner considera conflituosa a relação entre os sistemas

analógico e digital. Citado por Denser; Marani (2000), Wollner se diz favorável

ao uso do computador como ferramenta de trabalho, mas faz ressalvas,

afirmando que o computador, apesar de ser um instrumento maravilhoso,

impõe ao usuário algumas limitações que devem ser conhecidas.

No nosso tempo não havia computador, mas tínhamos todo o conhecimento em informática, quer dizer, sabíamos o que era digital e analógico. Como tivemos a sorte de não ter computador como ferramenta, pudemos nos equilibrar muito melhor. Temos uma experiência analógica importante. Por exemplo, não sou capaz de começar um projeto no computador, porque nele você não tem o formato do papel, você não tem a experiência desse espaço; o papel faz parte desse espaço e no computador isso você não tem (WOLLNER apud DENSER; MARANI, 2000).

Seguindo a linha de pensamento de Wollner, o projeto editorial do Circulando

começou com a elaboração do rough34 (rascunho), feito em papel, obedecendo

a medida exata do impresso. Papel, lápis, borracha e régua, instrumentais

aparentemente sem utilidade no processo editorial desenvolvido em

computadores, tablets ou softwares de editoração e desenho, foram utilizados

como forma de garantir ao aluno uma compreensão mais ampla do projeto

gráfico e dos procedimentos adotados em outras épocas, como as de Andrés

Guevara, ao diagramar o jornal Última Hora, do lendário jornalista Samuel

Wainer, e a época de Amílcar de Castro, durante a reformulação gráfica do

Jornal do Brasil, feita por ele. Além disso, ao desenvolver o projeto analógico, o

aluno compreende melhor a importância da divisão da página em colunas, do

34

A pronúncia mais usual desta palavra no meio gráfico é “ráfi”. Trata-se do esboço inicial de qualquer projeto gráfico. (ABC DA ADG, 2000, p.96).

95

intervalo entre colunas, tamanho dos espaços dos títulos, enfim, tudo que

estiver relacionado à estética da página impressa.

A diagramação deve começar pelo rough para cumprir pelo menos duas

grandes funções: “racionalizar o trabalho de produção e criar personalidade

gráfica ao jornal, que permitirá ao leitor identificá-lo visualmente entre os seus

concorrentes”, conforme afirmação de Sobrinho (1993). É importante ressaltar

que o trabalho do diagramador deve ser criterioso e feito com o pensamento

voltado para o leitor, conforme afirmação de Amílcar de Castro, destacada por

Aguillera (2002). Segundo esta autora, Amílcar de Castro define o diagramador

como um profissional que deve atuar a serviço do leitor. “O jornal deve chegar

a ele (o leitor) da melhor maneira possível e deve, pois, fazer com que cada

matéria publicada seja agradável ou mais fácil de ser lida e sua mensagem

melhor apreendida conforme sua importância” (CASTRO apud AGUILERA,

2002, p.31).

6.6 Edição Jornalística

A proposta de um novo projeto editorial e gráfico para o Circulando considerou

as seguintes editorias. Outras poderão criadas com a execução do projeto:

6.6.1 Urbanismo

Assuntos ligados à infra-estrutura urbana, trânsito, transporte coletivo,

manutenção de equipamentos urbanos, entre outros.

6.6.2 Esportes

Cobertura do futebol amador, com destaque para os times de futebol da Região

da Ibituruna, atividades das escolinhas de futebol e cobertura factual do

Esporte Clube Democrata.

6.6.3 Cidadania

Destaque para as pessoas da Região da Ibituruna que se envolvem em

atividades sociais diversas, e o trabalho das entidades assistenciais.

96

6.6.4 Cultura

Patrimônio histórico, eventos culturais, o “saber fazer” das pessoas da região,

em textos que articulem informação e conhecimento. Construção de perfis

sobre pessoas e coisas. Prática do jornalismo literário.

6.6.5 Serviço

Programação de shows diversos, cinema, teatro, congressos, palestras,

horários de ônibus, horários de missas e cultos religiosos, telefones úteis,

seção de cartas e outros. Agenda com atividades da Pastoral da Criança da

igreja católica, Clube de Mães e conselhos comunitários, atividades

relacionadas à saúde preventiva, entre outras.

6.6.6 Política

Cobertura de reuniões da Câmara Municipal e apuração contextualizada de

atos do Executivo Municipal que sejam de interesse da comunidade local;

cobertura de visitas de autoridades à Região da Ibituruna; redação de notas

políticas do âmbito municipal.

6.6.7 Polícia

Matérias especiais sobre a segurança pública e trânsito. As informações dos

boletins de ocorrência devem ficar restritas às notas do Giro Policial.

Informação contextualizada deve prevalecer nesta editoria.

6.6.8 Opinião

Editorial, charge, crônica do aluno-repórter, versando sobre fatos históricos ou

atuais, preferencialmente tendo como personagens as pessoas da região.

Nesta editoria também será publicada a enquete semanal com moradores da

região sobre temas polêmicos e de interesse coletivo.

6.6.9 Economia

Matérias e reportagens especiais sobre economia (produção e comercialização

de produtos nas comunidades), atividades das cooperativas de trabalho,

prestação de serviços, pesquisa de preço da cesta básica e outros.

97

6.7 Recomendações à rotina de produção no Laboratório de Jornalismo

6.7.1 Uso de normas de padronização e estilo

Os editores e subeditores devem ter zelo ao aplicar as normas de

padronização e estilo do Manual de Redação do Circulando, editado pela

Editora Univale, que deverá estar disponível na área de trabalho de todos os

computadores do Laboratório de Jornalismo. Embora os manuais de redação

pareçam ser presunçosos e representem uma espécie de camisa de força para

o redator da notícia, Caprino (2002) afirma que

a padronização sempre foi um elemento essencial ao estilo jornalístico. Mesmo antes da existência de manuais de redação publicados por periódicos para orientar seus jornalistas, várias obras trataram de descrever o estilo jornalístico ou orientar os redatores sobre como escrever periódicos. Ao estudar os manuais de redação, incluindo manuais gerais de jornalismo e livros de estilo de veículos, Ramón Salaverría compilou aproximadamente dois mil manuais em todo o mundo que ditavam normas de como escrever as notícias. Os primeiros livros que podem ser considerados manuais de redação são os tratados de retórica do século XIX, que fazem referência à redação de textos jornalísticos (CAPRINO, 2002, p.100).

6.7.2 Procedimentos editoriais associados ao projeto gráfico

Honrar a tipografia é respeitar o trabalho dos mestres que um dia desenharam

os tipos para que estes cumprissem uma função importante na difusão do

conhecimento. Honrar a tipografia é não transgredir os critérios de legibilidade

e leiturabilidade durante o processo de execução do projeto gráfico de um

jornal. O ambiente digital oferece ao usuário dos softwares de editoração um

campo sedutor para as transgressões destes critérios. Com um simples toque

surge a possibilidade de condensar ou expandir um tipo, diminuir ou aumentar

o espaço entre letras e palavras, criar entrelinhas positivas e negativas. É

comum, durante as tarefas de edição/editoração, o aluno ou profissional

desqualificado que atua no mercado, colocar um texto de 30 de linhas, no

corpo 10, e entrelinhamento 11, em um espaço onde caberiam apenas 20

98

linhas no mesmo corpo e entrelinha. Consegue a façanha usando a tecla do

tracking. Sobre estas transgressões, Bringhurst (2005) diz o seguinte:

Letras que honram e elucidam o que os homens veem e dizem merecem ser honradas. Palavras bem escolhidas merecem letras bem escolhidas; estas, por sua vez, merecem ser compostas com carinho, inteligência, conhecimento e habilidade [...] Portanto, a primeira tarefa do tipógrafo é ler e entender o texto; a segunda é analisá-lo e mapeá-lo. Só então a interpretação tipográfica pode começar. Se o texto tiver muitas camadas ou seções, pode precisar não apenas de títulos ou subtítulos, mas também títulos correntes, que reaparecem a cada página ou par de páginas, lembrando aos leitores qual é a vizinhança intelectual que estão visitando no momento (BRINGHURST, 2005, p.24-27).

Compreender estes procedimentos, segundo Lopes (1985) possibilita ao

estudante, futuro jornalista uma visão ampliada do processo de produção de

um jornal.

Quando se está debatendo a pauta da edição com os alunos, copidescando as matérias, escolhendo fotos ou mesmo diagramando o jornal está-se operacionalizando conceitos teóricos ministrados paralelamente às atividades práticas durante o curso. Os órgãos laboratoriais, numa concepção dinâmica, envolvem o quadro total de formação do jornalista, deixando de ser apenas prática, técnica ou tecnicismo, para se transformar num aparato de aprendizagem total (LOPES, 1985, p.36-37).

Citando Leandro; Medina35, Lopes argumenta que desenvolver um bom

trabalho nos cursos de jornalismo é superar barreiras, como a articulação das

disciplinas humanistas com técnicas a fim de sustentar os laboratórios com

conteúdos de comunicação e não apenas práticas formais. Lopes afirma que é

necessário revestir as disciplinas técnicas de uma base operacional teórica,

com “corpo docente especializado e não a simples presença de técnicos

profissionais com experiências que levam para os laboratórios experiências

particulares” (LEANDRO; MEDINA apud LOPES, 1985, p.36).

35

LOPES cita os autores Paulo Roberto Leandro e Cremilda Medina, mas não menciona o ano em que escreveram o ensaio “Um tema em ensaio há 15 anos”, in Teoria e prática do ensino de jornalismo, p.57-74.

99

6.7.3 Distribuição e público-alvo

A distribuição do jornal-laboratório Circulando deverá ser feita aos sábados

pela manhã, com a maior parte da tiragem proposta (10 mil exemplares)

destinada aos bairros da Região da Ibituruna, e disponibilizada aos leitores nos

balcões de supermercados, mercearias, sacolões, açougues e padarias. Outra

parte da tiragem será destinada à distribuição nas escolas secundaristas e

postos de saúde dos bairros desta região. Os órgãos públicos, entidades e

instituições, da Região da Ibituruna e da área central de cidade (Prefeitura,

Câmara Municipal, Promotorias de Justiça, gabinetes do Fórum da Comarca)

também receberão o jornal na segunda-feira.

Para que a distribuição seja eficiente, e realizada semanalmente aos sábados,

é necessário que a redação mantenha um ritmo de trabalho que não

comprometa a periodicidade do jornal, que segundo Pena (2005) é uma das

principais características de uma publicação destinada a um público específico.

Lopes (1985) também aborda a importância da periodicidade.

Só um jornal-laboratório com público definido e fora das salas de aula será capaz de vencer um dos problemas mais comuns nessa atividade: a interrupção a cada período de férias (o que descaracteriza o órgão como periódico) ou as bruscas mudanças da linha editorial e conteudística que sofre com a mudança das turmas discentes (LOPES, 1985, p.57)

6.7.4 Cronograma de atividades semanais

Segundas-feiras - Reunião de pauta, às segundas-feiras, no Laboratório de

Jornalismo, com participação do corpo editorial do jornal. Esta reunião deve ser

estendida à “Redação Itinerante”, baseada em um bairro da Região da

Ibituruna, com o objetivo de ouvir as pessoas da região sobre assuntos

diversos e sugeridos por elas.

Terças e quartas-feiras - Apuração de matérias factuais nos bairros da Região

da Ibituruna, às terças-feiras e quartas-feiras. Esta atividade deverá ser

100

coordenada pelo professor/editor ou professor/subeditor e executada pelos

alunos estagiários e por um grupo de alunos voluntários de todos os períodos.

Quartas e quintas-feiras - Produção de matérias factuais, de quarta-feira a

quinta-feira. Nesta atividade, os alunos que participaram da apuração do

material jornalístico na Região da Ibituruna redigem os textos das notícias com

orientação de professores.

Sexta-Feira - Fechamento, toda sexta-feira, com deadline36 ao meio-dia. Este

deadline é compatível com o processo industrial da gráfica que prestará o

serviço de impressão do jornal.

De segunda-feira à sexta-feira - Produção de matérias e reportagens

especiais pelos alunos de disciplinas cujo conteúdo contempla o jornalismo

informativo e interpretativo. Manutenção de um banco de matérias,

reportagens, notas, artigos, entrevistas. Esta atividade será de grande

importância para o processo de edição, principalmente para garantir o

fechamento das edições nos períodos não letivos.

Primeira segunda-feira de cada mês - Reunião do Conselho Editorial, uma

vez por mês, na redação do Circulando, localizada no Campus II da Univale, ou

no Salão Paroquial da Igreja Católica do bairro São Raimundo ou Vila Isa.

6.7.5 Composição do corpo editorial

1 Professor jornalista / Editor

1 Professor Jornalista / Subeditor

1 Aluno / diagramador

4 Alunos estagiários para cobertura jornalística factual

Alunos do 1º a 7º período do curso de Jornalismo

36

Prazo final. Em jornalismo, prazo final para fechamento de uma edição (ABC DA ADG, 2000, p.35)

101

6.8 Inserção de anúncios

É aceitável a inserção de mensagem publicitária institucional, no tamanho de 3

colunas por 5 centímetros de altura. O novo projeto gráfico permite a inserção

de dois anúncios nas páginas 4 e dois na página 12. O preço dos anúncios da

página 12 deve ser maior que os da página 4 em virtude de ser uma página

colorida. A receita apurada com a venda dos espaços publicitários ajudarão a

minimizar os custos da Fundação Percival Farqhuar (mantenedora da Univale)

com as despesas de impressão e distribuição do jornal.

Outra forma de veicular mensagem publicitária no Circulando pode ser a

inserção de encartes (folhetos de ofertas e outros) nas edições. A vantagem do

encarte é que ele não ocupa espaço das páginas, que prioritariamente devem

ser destinadas ao conteúdo jornalístico resultante das atividades de

ensino/aprendizagem.

6.9 Dados adicionais à proposta

Quadro 3 (Resumo do projeto editorial e gráfico do Circulando)

Formato 44 cm x 33 cm

Papel Jornal

Páginas 12 (doze)

Periodicidade Semanal

Tiragem 10.000

Preço de capa Gratuito

Público-alvo Moradores da Região da Ibituruna

Impressão Terceirizada

Professores jornalistas 2 (dois)

Alunos 1º ao 7º Período de Jornalismo

Estagiários 4 (quatro)

Distribuição Aos sábados pela manhã

Fontes tipográficas Franklin Gothic Medium (Subtítulos), Tahoma (Títulos), Arial (Créditos de matérias, fotos, intertítulos, remissão de páginas. Times New Roman e Arial (Corpo de texto)

Redação Laboratório de Jornalismo Univale

Largura da coluna A mancha gráfica do Circulando terá 6 colunas, cujo tamanho é 4,5 cm. O espaço entre colunas é de 0,5 cm.

Fonte: dados resumidos da proposta de intervenção (2012)

102

Figura 7 – Proposta de capa para o Jornal-laboratório Circulando, mostrando o uso de cores e fontes do projeto editorial e gráfico, além de exemplos de assuntos noticiados, todos de interesse público.

103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou um entendimento de que o jornalista deve ser um

profissional comprometido com a sociedade, conforme preconiza o seu Código

de Ética Profissional e o relatório da Comissão de Especialistas em Ensino de

Jornalismo que resultou nas Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino do

Jornalismo.

O percurso para atingir este objetivo passa obrigatoriamente pela educação. As

Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino do Jornalismo norteiam este

percurso, ao propor avanços no sentido de ampliar e qualificar a prática

laboratorial. A Comissão que elaborou estas diretrizes sugere que os projetos

pedagógicos dos cursos de Jornalismo devem considerar as atividades de

ensino-aprendizagem focadas teórica e tecnicamente na especificidade do

jornalismo, priorizando a atenção à prática profissional, em padrões

internacionalmente reconhecidos, além do comprometimento com a liberdade

de expressão, o direito à informação, e o exercício profissional de forma digna,

voltada ao interesse público.

Conforme destacou Chaparro (2009), a capacitação do profissional jornalista

nos cursos de Jornalismo deve priorizar esta articulação teórico-prática nas

atividades de ensino, de forma multidisciplinar, em espaços laboratoriais que

permitam esta multidisciplinaridade.

É nesta linha de pensamento que está inserido o jornal-laboratório, meio de

comunicação que permite aos alunos de jornalismo, e futuros jornalistas,

exercer na prática os conhecimentos teóricos obtidos na sala de aula. O

resultado deste exercício também se enquadra nas atividades de extensão das

universidades, a partir do momento em que os alunos-repórteres e professores

jornalistas atuem nas comunidades da área de abrangência do jornal na

apuração de fatos, redação e edição de notícias.

104

Valorizando o cotidiano, a cultura e os personagens que fazem a história das

comunidades de sua área de abrangência, um jornal-laboratório pode contribuir

de forma mais efetiva para garantir aos atores sociais uma atuação mais

destacada na esfera pública.

O novo projeto editorial e gráfico proposto nesta dissertação para o jornal-

laboratório Circulando, é relevante não só para as atividades de ensino-

aprendizagem no curso de Jornalismo da Univale, mas também para os bairros

da Região da Ibituruna, cujos moradores poderão experimentar e desenvolver

ações que contribuam para o desenvolvimento local.

A implantação de um Conselho Editorial Comunitário para discutir e contribuir

com a construção de uma linha editorial voltada ao interesse público é um dos

principais pontos que vão garantir a participação das comunidades no processo

de produção da notícia. Ao mediar estas informações, resultantes dos fatos

apurados pelos alunos-repórteres, o público de sua área de abrangência e os

poderes constituídos, o Circulando poderá produzir um noticiário com mais

fontes de informação e contribuir de forma efetiva para a ampliação dos

espaços de atuação dos atores sociais.

Essa experiência poderá ser útil para o desenvolvimento dos conceitos e

propostas de jornal-laboratório pelo país, extrapolando as fronteiras de

Governador Valadares. Neste sentido, a Cartilha “Proposta para a edição de

um jornal-laboratório como instrumento de interação com as comunidades”,

parte integrante desta pesquisa, poderá servir como uma referência, não na

conclusão deste instrumento acadêmico tão importante, mas para o princípio

de um debate que vise o aprimoramento das práticas acadêmicas e sua

proximidade com as comunidades onde estão inseridas.

105

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ANEXOS E APÊNDICES

Belo Horizonte, 14 de Outubro de 2011.

Ao

Pesquisador principal do projeto abaixo identificado

Título/Projeto: “Jornal Laboratório como instrumento de interação com as comunidades”

Orientador/ Prof: Claudio Márcio Magalhães

Após análise do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) em reunião do dia 04

de Outubro de 2011 , informamos que o mesmo foi:

( X ) aprovado ( ) aprovado com sugestões ( ) aprovado com restrições ( )

reprovado.

Lembramos ao pesquisador principal que o mesmo deverá encaminhar um relatório

parcial ou ao final da pesquisa até o dia (04 de Março de 2012).

O CEP deseja aos pesquisadores sucesso em sua trajetória de pesquisa!

Atenciosamente,

Profª. Elaine Linhares de Assis Guerra

Coordenadora do CEP

Centro Universitário UNA

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