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54 ideias O médico convive melhor com as citações do que a maioria das pessoas. Para estas, são quase sempre preciosismos que o sujeito lança mão para aparecer. Em uma cultura pouco letrada como a nossa, chegam a ser ofensivas, embora devessem ser utilizadas para dar melhor esclarecimento às ideias que estão sendo expressas ou discutidas. Como faz parte da vida intelectual do médico ava- liar informações, conceitos, indícios ou provas, tem que recorrer a referências bibliográficas e ter formação científica para analisar material e métodos. E para refe- rendar ou não as conclusões do autor ou dos autores. Mas vive de autores e, logo, de citações. Assim mesmo, pesquisa feita pelo pessoal da Mc Master e publicada em 1981 no Canadian Medical Association CITAÇÕES: FASCÍNIO OU EXIBICIONISMO? Journal , e que listava os 10 principais motivos para que os médicos liam revistas científicas – e portanto as citavam –, colocava em primeiro lugar a resposta “para impressionar os outros”. Não adianta, é bíblico, tudo é vaidade. De qualquer forma, na prática, a citação faz sentido quando é natu- ral e explicativa, concernente e orgânica. Um profes- sor que esteja ministrando uma aula e que seja articu- lado e tenha vocabulário extenso, vez ou outra expele um vocábulo que não atinge a maioria. Se repararmos bem, na maioria das vezes é a palavra mais apropriada e eufônica para dar sentido à ideia. Pois o bom professor tem algumas ideias básicas para expressar e improvisa o discurso em cima da pauta. Seria mal-vinda se fosse forçada, só para mos- Domicio Pedroso - Favela, 1992

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ideias

O médico convive melhor com as citações do que a maioria das pessoas. Para estas, são quase

sempre preciosismos que o sujeito lança mão para

aparecer. Em uma cultura pouco letrada como a

nossa, chegam a ser ofensivas, embora devessem ser

utilizadas para dar melhor esclarecimento às ideias

que estão sendo expressas ou discutidas.

Como faz parte da vida intelectual do médico ava-

liar informações, conceitos, indícios ou provas, tem

que recorrer a referências bibliográficas e ter formação

científica para analisar material e métodos. E para refe-

rendar ou não as conclusões do autor ou dos autores.

Mas vive de autores e, logo, de citações. Assim

mesmo, pesquisa feita pelo pessoal da Mc Master e

publicada em 1981 no Canadian Medical Association

CITAÇÕES: FASCÍNIO OU EXIBICIONISMO?

Journal, e que listava os 10 principais motivos para

que os médicos liam revistas científicas – e portanto

as citavam –, colocava em primeiro lugar a resposta

“para impressionar os outros”.

Não adianta, é bíblico, tudo é vaidade. De qualquer

forma, na prática, a citação faz sentido quando é natu-

ral e explicativa, concernente e orgânica. Um profes-

sor que esteja ministrando uma aula e que seja articu-

lado e tenha vocabulário extenso, vez ou outra expele

um vocábulo que não atinge a maioria. Se repararmos

bem, na maioria das vezes é a palavra mais apropriada

e eufônica para dar sentido à ideia.

Pois o bom professor tem algumas ideias básicas

para expressar e improvisa o discurso em cima da

pauta. Seria mal-vinda se fosse forçada, só para mos-

Domi

cio Pe

dros

o - Fa

vela,

1992

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música

SOBRE GRANDES IDEIAS

Durante alguma conferência, você já ouviu alguma

grande ideia? Claro que sim. Mas por certo não foi

criada para tal exposição. A vaidade humana faz

com que toda grande ideia, hoje, seja publicada

antes, para não ser apropriada. Ou, se furtada, para

que saibamos que teve dono. Teve, porque uma vez

solta no mundo, fica sem dono. Sendo usada, mal

usada, ignorada, hermetizada – e num clarão –

compreendida. É o choque do reconhecimento, tão

essencial no livre mercado das ideias.

Uma conferência pretende tão somente criar

uma impressão no ouvinte, ser modificadora. Do

quê? Sabe-se lá. Cada um aproveita como pode e

quer. Isto é, à sua maneira, como dizia o Quintana:

“Qualquer ideia que te agrade,

Por isso mesmo... é tua.

O autor nada mais faz que vestir a verdade

Que dentro em ti se achava inteiramente nua...”

Os saberes, em sua impermanência crua, ges-

tam em ti.

Trilhas do Iátrico

ON A CLEAR DAY

Confira as trilhas sonoras do Iátrico no Portal do CRM-PR.

1. OVERJOYED(Stevie Wonder)Celine Dion e Stevie Wonder

2. IT’S TOO LATE BABY, TOO LATE(Buddy Johnson, John Brown)Arthur Prysock

3. CARUSO(Lucio Dalla)Lara Fabian

4. ON MY OWN(Burt Bacharach, Carole Bayer Sager)Patti La Belle e Michael McDonald

5. ANGIE(Jagger, Richards)Rolling Stones

6. AS TEAR GO BY(Jagger, Richards, Oldham)Felicia Wong

7. OH VERY YOUNG(Cat Stevens)Cat Stevens

8. CAN’T TAKE MY EYES OF YOU(Bob Crewe, Bob Gaudio)Nancy Wilson

9. I APOLOGIZE(Al Hoffman, Al Goodhart, Ed Nelson)Billy Eckstine

10. OCEANS AWAY(Elton John, Bernie Taupin)Elton John

11. MY HEART CAN’T TELL YOU NO(Simon Climie, Dennis Morgan)Rod Stewart

trar erudição. Quando isso ocorre, é como se o vocá-

bulo fosse um elemento estranho no contexto, imedia-

tamente rejeitado por quem acompanha o raciocínio,

por ser extemporâneo.

Ademais, há sempre a justificativa da necessi-

dade de ampliarmos os horizontes de uma audiên-

cia ou dos leitores. As citações, quando pertinentes,

serão sempre fascinantes. Invoco para dar fecho

com o saudoso José Guilherme Merquior, intelectual

de primeira e grande citador, que dizia: “Se cito é por

ali; se ali aprendi e, se confesso que preciso de aval

ao que estou pensando e me socorro dos outros, é

prova de humildade”. Taí! Sem a citação, o texto não

seria o mesmo.