Ciume na psicanálise

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    UM OLHAR PSICANALTICO AO CIME ENTRE OS CASAIS DACONTEMPORANEIDADE

    A PSYCHOANALYTIC SIGHT TO THE JEALOUSY BETWEEN COUPLES OF THECONTEMPORARY

    1SOUZA, M.O.M.; OLIVEIRA, F. S.

    1e2Departamento de Psicologia - Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO/FEMM

    RESUMO

    Esta pesquisa ir tratar do cime entre casais heterossexuais no contemporneo. Partindo da idiade que este sentimento bem presente nos relacionamentos entre os casais, organizou-se um

    estudo onde possibilitar ao leitor refletir no s sobre o cime, mas tambm sobre outrossentimentos que o cercam como o dio, o medo e a paixo. Atravs de um olhar psicanaltico buscar-se- compreender questes como a origem e o desenvolvimento do cime nos casaisheterossexuais, quais os sentimentos que so revividos e as angstias que so compartilhadas. Como principal objetivo de descobrir os motivos provocadores do cime nos casais do contemporneo, notvel como os autores se assemelham no ponto de vista que o medo de perder o objeto amado fator primordial, gerador do cime. Este estudo bibliogrfico realizado por diversas fontes tericascomo livros, dissertaes e artigos cientficos concluiu que a individualidade faz parte da convivncianos relacionamentos, o que a cada dia est mais forte em nossa sociedade contempornea. Sendoassim, a traio, a valorizao da esttica, a independncia feminina, o sentimento de fragilidade e deposse so alguns dos fatores que causam forte impacto nos casais, resultando este sentimento toambguo que o cime.

    Palavras-Chave: Cime; relacionamento; contemporneo.

    ABSTRACT

    This research will discuss the jealousy among heterosexual couples in contemporary. Starting fromthe idea that every day this feeling is more present in relationships between couples, A study wasorganized where will enable the reader to reflect not only on jealousy, but also other feelings thatsurround it as hate, fear and passion. Through a psychoanalytic sight will seek to understand issuessuch as the origin and development of jealousy in heterosexual couples, what feelings are revived andanxieties that are shared. With the main of discovering the trigger motives of jealousy in contemporarycouples, it is remarkable how the authors resemble the point of view that the fear of losing the lovedobject is a key factor, generator of jealousy. This bibliographical study undertaken by varioustheoretical sources like books, dissertations and scientific articles concluded that individualism is part

    of living together in relationships, that is stronger every day in our contemporary society. Therefore,the betrayal, the appreciation of the aesthetic, and feminine independence are factors that causestrong impact on couples, resulting in this so ambiguous feeling that is jealousy.

    Keywords: Jealousy; relationship; contemporary.

    INTRODUO

    H momentos em nossas vidas que o cime parece tomar conta de nosso

    psiquismo. Este sentimento vivido por casais, ao ser levado a extremos se torna

    patolgico, promovendo intenso sofrimento psquico e, consequentemente,enfraquecimento do relacionamento.

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    Entre os autores utilizados para a discusso deste tema, destacam-se Freud

    ([1920] 2006) com a classificao dos trs tipos de cime, tambm Freud ([1910]

    2006) com a escolha do objeto e Bauman (2004) atravs de consideraes acerca

    do amor lquido, no qual os relacionamentos atuais esto sendo formados.

    A pesquisa foi realizada a partir de levantamentos bibliogrficos. Os critrios

    para a seleo dos textos foram feitos de modo que buscasse informaes com

    bases cientficas sobre o cime dentro de um olhar psicanaltico no mundo

    contemporneo. Por ser um tema abrangente, envolvendo dio, medo, obsesses e

    o amor, caminhou-se por todos eles, dando especial relevncia ao amor, o qual

    sempre associado ideia do cime. Devido o assunto provocar grandes

    discusses no s entre os casais, mas tambm ser alvo de manchetes na mdia; oobjetivo desta pesquisa foi descobrir quais os principais motivos desencadeantes do

    cime dentro de um relacionamento. Qual ser o motivo que levam os casais a

    pensar que o cime necessrio? Uma hiptese seria a crena de que o cime

    uma forma de expresso do amor. Mas ser mesmo que o cime uma forma de

    declarao de amor? Partindo destas dvidas que habitam principalmente a mente

    das pessoas ciumentas, esta pesquisa ir trazer alguns esclarecimentos para a

    melhor compreenso do leitor.Acredita-se que este trabalho possa proporcionar s pessoas interessadas

    no assunto um conhecimento um pouco mais amplo. um tema polmico que pode

    servir de ponto de partida a diversas outras pesquisas.

    TRAJETRIAS DO CIME

    De acordo com Santos (2007) o cime teve grande influncia da cultura

    judaico-crist, entre os povos antigos, os hebreus valorizavam este sentimento de

    unicidade, isso fica claro no antigo testamento, onde o Deus deles, Jeov, exige

    exclusividade. Segundo o autor, a que se formou a idia de posse, o que tambm

    nos leva a pensar at hoje que sentir cime prova de ser amado. O autor ainda

    comenta sobre a monogamia do casamento hebreu, e sobre a pena de caso a

    mulher cometesse um adultrio, era proscrita e apedrejada.

    Com o Renascimento, por volta dos anos de 1350 e 1650, Santos (1998)

    lembra das grandes mudanas ocorridas; polticas, culturais e religiosas. Nesseperodo, o cime era associado honra, algo que sobrepunha os desejos

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    particulares em defesa de uma moral da poca. A monogamia devia ser respeitada,

    e o cime visto como uma proteo famlia. Dessa forma no sec. XIV, o cime

    tinha um valor de zelo e cuidado.

    possvel que a crena quem ama cuida teve influncias desta poca, no

    entanto, este cuidado se referia mais a uma defesa da honra do que um amor. A

    preservao da famlia era uma questo de moral, de princpios que deviam ser

    rigorosamente cumpridos.

    A palavra cime tem origem no latim zelumen, que, por sua vez, vem do

    grego zelus. Na acepo original, significaria zelo, cuidado. (SANTOS, 2007 p. 18).

    Este conceito nos leva a pensar no excesso de cuidado direcionado ao parceiro. A

    princpio sero apresentados diferentes conceitos dos mais diversos autores, paraque o cime, este sentimento to intrigante e causador de dvidas seja esclarecido.

    Nunes (2006) faz a diferenciao do cime normal do patolgico, dizendo que

    no normal, h apenas um receio da perda do amor do parceiro(a), e que tambm

    perante situaes concretas de ameaa de perda, existe o sentimento de posse,

    porm sem qualquer sofrimento psquico ansiedades, pensamentos delirantes,

    angstias. J no cime patolgico, estas mesmas caractersticas, devido aos

    diversos conflitos travados entre o casal, so geradoras de sofrimento. Apesar de ociumento ter a conscincia de que seus pensamentos so ilgicos e obsessivos,

    eles acabam executando-os, em uma tentativa de provar para si o que imaginavam.

    Para Santos (2002), o cime normal aquele, que diante de determinadas

    situaes de risco de excluso ou perda, o sujeito fica enciumado, porm tem a

    liberdade de compartilhar suas dvidas com seu parceiro(a), mudando suas

    concluses. J o sujeito com cime patolgico, aquele que sempre est ansioso,

    alerta com tudo, inseguro de si, vivendo um estado de ateno, temendo serenganado ou trado. Nunes (2006) tambm da mesma opinio de que o cime

    patolgico a ameaa ou perda do objeto desejado, induzindo o sujeito a uma

    vigilncia extrema, causadora de dor. Uma forma de dedicao e dependncia,

    quase que absoluta do(a) parceiro (a), invalidando suas prprias necessidades,

    vontades e sentimentos.

    De acordo com Mielnik (1920) o cime uma reao perante a real ou ilusria

    perda de afeto. como se o sujeito projetasse no outro ou at mesmo em si um

    ressentimento, um dio. Para o autor, o cime um sentimento negativo que pode

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    trazer aos cnjuges um desequilbrio emocional, iniciando-se na infncia, ir moldar

    as atitudes do sujeito durante toda a vida.

    Inseguro e infeliz, supersensvel e irritadio, minunciosamente observadorat o desespero, sempre alerta e detetivesco, amargo e sarcstico,superior quando na realidade se sente inferiorizado, o indivduo ciumento ,para si e para os outros, uma pesada carga que termina por afugentar todoo mundo de seu convvio. (MIELNIK, 1920, p. 128).

    Segundo Freud ([1920] 2006), o cime se classifica em trs graus, o primeiro

    competitivo ou normal, o segundo projetado e o terceiro delirante.

    O cime normal tem origem na perda de um objeto amado, no sentimento

    hostil contra o rival bem sucedido e na dor causada por no ter mais tal objeto, nocaso, o parceiro(a). Este cime no totalmente racional, pois no percebe somente

    a realidade, no h o controle do ego consciente, mas sim est enraizado no

    inconsciente, nas vivncias passadas que a criana teve, de modo que se origina do

    Complexo de dipo do primeiro perodo sexual. J o cime projetivo, derivado de

    impulsos prprios de infidelidade, ou desejo deste, os quais foram reprimidos.

    Quando o sujeito ciumento mostra o que sente, como se fosse uma forma de alvio

    de colocar para fora algo inconsciente. A terceira forma de cime, o delirante,

    tambm est ligada represso. O que os distingue, o objeto do mesmo sexo que

    ele direcionado. O cime delirante o sobrante de um homossexualismo que

    cumpriu seu curso e corretamente toma sua posio entre as formas clssicas da

    parania. uma maneira de negar fortes impulsos homossexuais, no homem pode

    ser explicado na maneira inconsciente de pensar: eu no o amo; ela que o ama.

    (FREUD, [1920] 2006, p. 238).

    Freud ([1910] 2006) postula que no Complexo de dipo, com a escolha do

    primeiro objeto que o cime comea a ser observado. Nesta fase a criana ir

    escolher entre o pai e a me para que possa direcionar sua libido. No caso do

    menino, este ter preferncia pela me, tentando ocupar o lugar do pai. A menina

    ter preferncia pelo pai, querendo ocupar o lugar da me. Os sentimentos travados

    dentro desta fase no so puramente positivos, mas sim hostis em relao ao sexo

    oposto. O menino ter cime do pai e a menina da me. Assim, podemos dizer que

    na infncia a criana internaliza um modelo parental de escolha do objeto e quando

    adulto este modelo a influenciar em uma nova escolha, na qual direcionar sua

    libido.

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    Para Ferreira (2004) somos seres desejosos de algo inexistente, por isso

    nunca estamos satisfeitos com o que temos, procurando incessantemente saciar

    algo insacivel. Dentro de um relacionamento, freqente haver idealizaes entre

    o casal; expectativas que so criadas durante suas vivncias. Pensando assim, a

    autora escreve sobre a importncia que um acaba adquirindo na vida do outro,

    vivendo como cmplices, nutrindo forte empatia. O objeto amado colocado no

    lugar do eu ideal. (FERREIRA, 2004, p. 23).

    Caruso (1981) coloca que quando o casal estabelece uma relao amorosa,

    surge uma crena de que um pode ser dono do outro, no entanto, quando o vnculo

    entre ambos se rompe, o ego se torna fragilizado, ocorrendo uma perda de

    identidade, levando regresso. Tal regresso no significa a volta ao estado denarcisismo primrio caracterizado pelo prazer, mas sim volta a uma ambivalncia,

    ao princpio da realidade, separao quando a angstia toma conta do indivduo.

    Para Guede, Leitner e Machado (2008) com o tempo, os relacionamentos

    tendem a se tornarem mais interdependentes, cria-se um sentimento de pertena,

    com isso a empatia comea a ter espao, fazendo do casal parceiros e cmplices

    com capacidades de compartilhar alegrias e tristezas, sem esquecer que so

    indivduos. Santos (1998) pontua que necessrio entender que cada sujeito dentrodo relacionamento possui seus compromissos, uma vida que j existia e que no

    pode parar com a unio do casal. Importante que no haja um controle sobre o

    outro, mas um apoio, incentivos que demonstrem uma ajuda, carinho, no uma

    possesso.

    Considerando o sentimento de posse como algo prazeroso ao sujeito, Santos

    (1998) mostra que ele est intimamente ligado ao cime, onde existe uma ameaa

    da perda do valioso objeto, no caso, o parceiro amoroso. A ameaa de no ter maiso amor do companheiro leva o ciumento a um desequilbrio mental. As causas,

    conseqncias e o desenvolvimento segundo Mielnik (1920) so de acordo com a

    personalidade, criao e educao recebida, lembrando ainda da forma como foram

    enfrentadas as primeiras frustraes ainda na infncia.

    [...] para o ciumento o que importa no o que verdadeiramente se deu, mas

    sim o que ele acredita que ocorreu. (FERREIRA; AQUOTTI, 2009). A partir desta

    frase, possvel afirmar que o sujeito ciumento cria fantasias que acabam

    substituindo a realidade. Suas obsesses se tornam um tormento interminvel

    causador de ansiedade e dor.

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    O ciumento costuma fazer visitas inesperadas ao parceiro, certo de que ir

    surpreend-lo em meio a uma situao constrangedora. A ruminao de antigos

    relacionamentos constante, idias que perturbam o ciumento de que algo ainda

    existe entre o antigo casal. Desejo de vingana, baixo auto-estima, maior desejo

    sexual, insegurana, so decorrncias que um sujeito ciumento tende a enfrentar. O

    portador de Cime Patolgico um vulco emocional sempre prestes erupo e

    apresenta um modo distorcido de vivenciar o amor, para ele um sentimento

    depreciativo e doentio. (BANDELI; CARDOSO; DALCO, 2003, p. 101). Nesta frase,

    o autor se refere ao ciumento como algum que est em constante estado de alerta,

    atormentado pelos prprios pensamentos distorcidos. Sobre isso, Santos (1998) diz

    que quando no se encontra o motivo do cime, descartando a possibilidade de serfalta de confiana, traio, possesso, importante que o casal converse

    francamente, sem temores, cada um expondo seus sentimentos, discutindo e

    tentando lembrar um eventual acontecimento do passado que pode ter sido o

    gerador de tal angstia. Quando sentimentos como a ira e a vingana so

    reprimidos, Rinne (2007) coloca que h uma possibilidade do ciumento se tornar

    depressivo, porm, em casos onde no h a elaborao desta dor da rejeio, existe

    o risco de morte e agresso do parceiro(a) por ideais de vingana.O cime patolgico do contemporneo marcado pela evoluo dos

    relacionamentos, onde hoje, a liberdade e o individualismo esto cada vez mais

    presentes. De acordo com Nunes (2006), o ciumento possui uma vontade implcita

    de ele prprio ser dominado, dessa forma, compromissos amorosos caracterizam-se

    por uma ambigidade, onde cada um exige proteo, mas tambm individualismo.

    dentro desta complexa ambigidade que Caruso (1981) afirma que esto presentes

    as relaes objetais de posse, identificao e destruio, com o outro e consigomesmo.

    Se apontarmos alguns dos motivos que levam os casais do contemporneo a

    sentirem cime, teremos, segundo Nunes (2006) a inveja, a qual amide

    responsvel pela constituio do cime, de modo que, o ciumento tem inveja da

    simpatia e do modo cativante de seu companheiro(a). Sendo assim, vlido pensar

    que o ciumento mrbido carrega um dio latente, o qual se manifesta de modo hostil

    a seu parceiro(a). A valorizao da beleza e da esttica outro fator motivador do

    cime, pois quando o ciumento no se sente bem consigo, com baixa auto-estima,

    percebe que outra pessoa pode ser mais atraente e chamar a ateno de seu

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    parceiro(a). Sobre isso, Almeida, Rodrigues e Silva (2008) indicam que o cime

    tambm pode aparecer aps uma primeira traio, cujo parceiro(a) trado(a) fica na

    expectativa de ser novamente vtima da infidelidade. Assim, torna-se vigilante, e

    qualquer situao ameaadora motivo para conflitos. O acmulo de

    desentendimentos pode ser outro motivo.

    Existe sempre uma curiosidade em relao s diferenas entre o cime

    masculino do feminino, sobre isso, Santos (2007) pontua que a mulher receia em

    perder o afeto de seu companheiro, que ele se apaixone por outra e a deixe; muitas

    at nem se importam que o marido tenha relacionamentos extra-conjugais, desde

    que, seja por simples satisfao sexual. J o homem, levado pelo machismo, pelo

    esprito de competio, teme que sua mulher o traia, sente-se dono dela, como umobjeto de posse.

    Segundo Guedes e Assuno (2006) como no contemporneo a televiso

    influencia as relaes interpessoais, destacando as telenovelas que muitas vezes

    servem de modelos a serem seguidos no que diz respeito a neologismos, roupas e

    at expresses e jeitos dos personagens. Pode parecer que no, mas a televiso

    hoje um meio de comunicao atuante nos diferentes tipos de comportamentos

    existentes, de forma intrnseca dita as regras de beleza e de vida docontemporneo. Relacionamentos amorosos no ficam de fora, tambm so

    influenciados; um personagem marcante que vive um romance conturbado, pode

    servir de espelho para muitos jovens que esto iniciando uma vida a dois.

    Bauman (2004, p. 52) articula a idia de como os relacionamentos de hoje

    so superficiais, onde uma pessoa se aproxima da outra por interesses pessoais e

    aps ter alcanado seu objetivo, deixa o outro, pois este no tem mais o significado

    de antes. O autor discute como a fidelidade do at que a morte nos separe, naalegria e na tristeza, deixou de estar presente, formando assim relacionamentos

    frouxos e frgeis. O autor ainda faz a faz a comparao dos relacionamentos atuais

    com a sociedade cuja lgica consumista, o prazer e a satisfao so tidos de

    forma momentnea, sem compromissos, um prazer descartvel, assim como um

    objeto que se usa e depois joga.

    A partir destes recortes, entendemos que os casais de hoje apesar de ainda

    manterem relaes de dependncia, cuja presena do outro indispensvel em

    todas as situaes vividas, estas no so duradouras, isso porque, deixou-se de

    pensar no casal para formar um pensamento individualista, onde os interesses

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    prioritrios so de apenas um, uma ambiguidade envolvendo a pertena e a

    individualidade. Est a a resposta do que preocupa os casais apaixonados. Uma

    desconfiana em torno do medo de a qualquer momento ser descartado(a).

    Quando um relacionamento, seja ele recente ou no, a insegurana ganhar

    espao, consequentemente o casal passar a vivenciar desavenas, podendo at

    chegar ao trmino da relao. Em sua obra, Bauman (2004) fala de duas perverses

    amorosas, a primeira, onde o amor respeitoso, no havendo brigas por motivos

    banais, um aceita o outro como realmente , e no deseja mudar isso no intuito de

    manter o parceiro ao seu lado, mostrando que o amor est ali, entre ambos. Esta

    perverso mostra uma possessividade com caractersticas de autocontrole. J a

    segunda, um amor de posse sem receios, um desejo louco de tornar o outro partede si, fazendo-o que tenha as mesmas vontades e necessidades, pois desta forma

    seria uma garantia de que no haveria a perda, pois estariam fundidos num mesmo

    ser. Nesta perverso h uma constante luta de querer mudar o outro, para que cada

    vez mais o casal seja dependente, resultando em um relacionamento conturbado de

    amor e raiva.

    Na viso de Centeville (2008), hoje os homens se sentem mais enciumados

    do que antes, pois sabem que as mulheres ganharam seu espao na sociedade e nomercado de trabalho, e que se sofrerem alguma traio, elas podem abandon-los.

    Sobre isso, Nunes (2006) diz que esta ameaa de perda atinge mais as pessoas

    com auto-estima baixa, fazendo que sintam extrema vontade de proteger seu objeto

    amado. Este medo faz com que o enciumado apresente comportamentos agressivos

    e vigilantes de monitoramento do seu companheiro(a), trazendo doloroso sofrimento

    psquico a ambos. Centeville (2008) ainda pontua que tais homens ciumentos

    acabam se sentindo desonrados quando seus salrios so mais baixos do que desua parceira. Alm de todos estes motivos, a preocupao com o desempenho

    sexual algo de grande preocupao ao sexo masculino, pois pensam que se

    falharem, podem ser vtimas de uma traio ou renncia.

    Sobre o tratamento no cime, Freud ([1920] 2006, p. 238) postula: No

    tratamento de uma pessoa assim, ciumenta, temos de abster-nos de discutir com ela

    o material em que baseia suas suspeitas; pode-se apenas visar a lev-la a encarar o

    assunto sob uma luz diferente. Freud neste trecho diz que no adianta querer tentar

    mostrar pessoa que seus pensamentos e delrios de cimes so falsos ou

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    absurdos, pois ser uma tentativa fracassada; o certo seria dar a ela maneiras de

    encarar a realidade de formas diferentes.

    CONCLUSES

    Pautada em uma viso psicanaltica, possvel afirmar que o cime se inicia

    cedo em nossas vidas, segundo Freud, na escolha do objeto, onde a menina sente

    cime do pai e o menino da me. A partir disso, percebemos que ele nunca mais

    deixar nossas vidas, estando presente em todos os posteriores relacionamentos,

    de forma saudvel ou doentia.

    De fato, devido s grandes transformaes da sociedade, o cime vemganhando novos significados com a individualidade, caracterstica forte desses

    novos tempos. Assim, a partir do estudo realizado foi possvel perceber que os

    principais motivos causadores do cime so a independncia feminina; a valorizao

    da esttica; casos de traio, que deixam o parceiro com mais desconfiana; o

    sentimento de fragilidade, se deixando pertencer ao outro; o sentimento de posse,

    onde um quer mandar e desmandar na relao, entre outros. importante que

    exista uma ateno por parte do casal em relao ao cime, pois muitas vezes emnossa cultura ele visto como essencial, uma prova de que existe amor, quando na

    verdade, pode ser o incio de uma patologia, causadora de forte sofrimento psquico

    dentro dos relacionamentos.

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