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    Memria e esquecimento no Planejamento Estratgico

    Clara Luiza Miranda 2003 (publicado com reviso na revista Farol, Centro De Artes, UFES)

    "Disse (o Grande Khan) - tudo intil, se o ltimo porto s pode ser a cidade infernal, que est l nofundo e que nos suga num vrtice cada vez mais estreito. E Polo: O inferno dos vivos no algo que

    ser; se existe, aquele que j est aqui (...) existem duas maneiras de no sofrer. A primeira fcil pa-

    ra a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste at o ponto de deixar de perceb-lo. A

    segunda arriscada e exige ateno e aprendizagem contnuas: tentar saber reconhecer quem e o que,

    no meio do inferno, no inferno, e preserv-lo, e abrir espao". talo Calvino,

    Introduo

    Aps a crise da urbanidade e das formas urbanas tradicionais provocada pelo desenvolvimento industrial mo-

    derno e pelo urbanismo funcionalista, observa-se o renascimento de algumas cidades. Estas ganharam impor-

    tncia estratgica como centros de comando da economia mundial. So cidades de troca informaes de altonvel sobre a ordem econmica mundial, interligadas em rede planetria. Esta que se converteu na base de

    criao de riquezas e conhecimento na economia mundial.

    A nova "geometria global" de produo, consumo e circulao de informaes "nega o significado especfico de

    produtividade de qualquer lugar fora de sua posio em uma rede (CASTELLS, 2000).

    As cidades com uma posio marginal na rede mundial reagem para inserirem-se nos fluxos globais e tornarem-

    se atraentes para o capital. O instrumento utilizado tem sido o Planejamento Estratgico, que visa a cidade

    como uma mquina de produzir riquezas (ARANTES, 2002). As estratgias so competitivas no quadro inter-

    nacional e regional e na localidade estabelecem um cerco s competncias, a fim de atrair investimentos.

    Em funo da decadncia econmica de algumas reas centrais no chamado perodo ps industrial (1970-80), aperiferia deslocou-se e mesclou-se aos centros urbanos das cidades. As trocas desiguais geraram periferias que

    intercambiaram suas indeterminaes com o centro, provocando a sua desterritorializao e o descolamento do

    centro em relao ao territrio global. Assim algumas ilhas de prosperidade emergiram e desagregaram-se da

    nebulosa urbana formada pela periferia, que deixou de ser a contraparte do cent ro. De modo que, as fronteiras

    comearam a passar no interior das cidades como relata Paul Virilio (1993). Por outro lado, ocorre uma confu-

    so de limites manifestando que no h mais um fora (HARDT, 2000) para circunscrever o lugar do outro. Esta

    indeterminao desestrutura tanto a urbsquanto a civitas. A forma e as posies do territrio urbano so esfa-

    celadas.

    O novo sistema econmico embaralha as caractersticas definidoras das atividades industriais e de servios.Pois, mobiliza atividades comunicativas e simblicas ao mesmo tempo em que produzem materiais diversos.

    Deste modo, as cidades contemporneas rejeitam o carter de diviso social do espao tpico das cidades for-

    distas. A economia mundializada requer urbanidade e formas urbanas. Isto explica o renascimento urbano nas

    cidades mundiais, cuja qualificao das reas centrais um desdobramento.

    No mesmo mbito, a revitalizao dos centros urbanos tem sido incorporada s polticas pblicas municipais no

    Brasil, visando agregao de valor economia urbana das localidades, aambarcando o potencial cultural hist-

    rico e simblico das centralidades para produo de uma imagem rentvel.

    A rarefao de manifestaes culturais sobre a aparente obsolescncia econmica e a efetiva degradao fsica

    do centro urbano refora a hiptese (local) da reduo da capacidade de simbolizao, de expresso do senti-

    mento e de formalizao da experincia.

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    Este trabalho discute a relao entre memria e esquecimento no quadro da Arquitetura e do Planejamento

    Estratgico, colocando a crtica em foco, seus mecanismos de regulagem entre proximidade e distncia na

    anlise e interveno na cidade.

    A cidade e seus duplos

    Uns querem ressuscitar a cidade antiga a todo custo, alguns querem apagar os rastros das geraes passadas,

    outros no se importam em deixar seu rastro de destruio na cidade a especulao imobiliria e a arquitetura

    associada a ela, sempre abandonando reas antigas em busca de novos e lucrativos espaos de construo.

    Porm importante apontar como se constri o lugar e sua imagem.

    A banalizao da morte e dos acontecimentos, enquadrada nas telas da mdia, efetua um distanciamento anes-

    tsico. A significao autonomiza-se do referente, quer dizer, a mdia produz sua imagem da cidade mas o mo-

    delo visado mais importante do que a cidade real, arquitetura torna-se fico plana: to longe, to perto.

    Estas imagens so consumidas e esgotadas rapidamente, no sobrevivem ao processo de reflexo.

    O excesso de coisas e imagens no mundo d uma sensao de vertigem. Sente-se a necessidade de ancora-

    gem, mas como enfrentar a velocidade e intangibilidade desta situao? Italo Calvino prope a leveza para

    enfrentar o olhar da Medusa que petrifica (o hbito, a repetio, a violncia, a indiferena). Simone Weil (1993)

    corrobora ao dizer que entre os movimentos do esprito, somente a graa no regida por leis anlogas s da

    gravidade material, como sinnimo da beleza livre de todo interesse.

    As imagens recorrentes de transparncia e leveza refletem o novo modo de comunicao, que age num meio

    fluinte que urde o local e o global do slido ao voltil (SERRES, 1994). A rede invisvel dissolve antigas frontei-

    ras e as questes do lugar: onde se situa o que transformando os deslocamentos e as formar de habitar.

    Entretanto, no ocorreu uma desterritorializao do local irrestrita na globalizao. Algumas localidades conse-

    guem compor na economia mundial, conectando-se e influindo nas interaes em rede. Na exigncia de mobili-dade, o local pode vir a ser eleito devido sua posio estratgica como fator de estruturao na captura, gera-

    o e valorizao de fluxos materiais e imateriais.

    Os novos modos de comunicao, seus sistemas simblicos, seu impacto na realidade urbana colocam proble-

    mas multidimensionais, complexos, interativos que se tornam inadequados para saberes separados e especiali-

    zados, como o da arquitetura. Por sua vez, esta posta em questo quando admite a sua dificuldade de resol-

    ver os problemas do habitat humano e a impossibilidade de traduo universal pela linguagem.

    Princpio e comando

    Em arquitetura, o objeto que se pretende absoluto e nico, clssico, diferencia-se do seu entorno pela preci-so de suas partes constituintes e pela clara demarcao de seus limites. A arquitetura clssica, em contraste

    com o que a rodeia completa e total, tem unidade (Tzonis, & Lefraive, 1986).

    No se trata de definir o objeto perdido da arquitetura que concerne um esforo de busca pelo sujeito, que traz

    consigo a contradio da impossibilidade da recuperao deste objeto, do conflito inerente em toda busca no

    satisfeita. Mas trata-se de agarrar um fio da meada que abra mltiplos horizontes.

    Arquitetura uma palavra composta de arkhee tektoniks. Tektoniks relativo construo, estrutura e de

    tkhnsignifica meio de fazer, de produzir, assim os processos artsticos so aqueles mediante o emprego de

    meios adequados, permite fazer bem determinada coisa.Arkhesignifica ao mesmo tempo princpio e comando,

    neste lugar aonde a ordem dada. (DERRIDA, 2001).Arkhetem a mesma raiz da palavra agir. Segundo Han-

    nah Arendt (1973) h duas palavras para agir em grego, rkhein: comear, conduzir e governar, eprattein: levar

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    a cabo alguma coisa. Os verbos latinos correspondentes so agere: por alguma coisa em movimento, e gerere:

    que exprime a continuao permanente e sustentadora de atos passados cujos resultados so atos e eventos

    chamados histricos.

    Para Vitrvio, o ofcio do arquiteto consistia em ordenar e dispor: propores, a simetria, a harmonia entre par-tes determinadas e calculadas. O conceito de ordem dava a identidade do homem colocado no centro do uni-

    verso, partcipe da terra e do cu ao mesmo tempo. Nesta alegoria de circunscrio, a memria foi reconhecida

    como o caminho para o interior, a fim de recordar ao homem sua centralidade e seu papel no mundo.

    A prtica da arquitetura que reivindicava o posto de comando e origem, hoje, resigna-se sua realidade fsica e

    espacial e os sentidos que emanam de sua tangibilidade. Porm ainda se requer algum que possa tomar essa

    deciso (Steven Holl).

    A arquitetura clssica e tambm a moderna pretenderam expressar verdades essenciais e objetivas. A arquite-

    tura contempornea em sua multiciplidade de referncias, que mais demarca diferenas que compartilha cdi-

    gos, possui uma polifonia freqentemente referida Torre de Babel.

    No Gnesis, conta-se que Deus percebeu que o desgnio dos homens rivalizava com o dele e determinou aseparao e a confuso da linguagem, desde de ento no houve entendimento. Pode-se inferir disso que as

    lnguas nasceram das paixes e dos ressentimentos herdados da Torre de Babel e no das necessidades

    humanas. A existncia de relaes entre lnguas longnquas presume a existncia da linguagem no para co-

    municao mas para traduo. Por isso, a linguagem supe o Estado, que sobrecodifica o territrio (DELEUZE

    & GUATTARI, 2002).

    Aps reincidentes desencantos no campo da arquitetura, resigna-se com a pluralidade e com a implausibilidade

    de sistemas absolutos. No limite, prope-se que projetar e planejar relacionam-se ao e gesto, mas reco-

    nhece-se o acaso e a luta como um dos determinantes desses processos.

    Memria e esquecimentoOs caracteres inscritos nos suportes se apagam assim como os homens que os escreveram passam, contudo,

    antes disso, estes objetos constrem o mundo em que vivem os homens, condicionando sua existncia

    (ARENDT, 1995). O aspecto de manufatura da arquitetura designa o impacto da realidade, conferindo o sent i-

    do da sua objetividade do mundo. O sujeito se diferencia do objeto que conhece ou transforma; o sujeito pode

    desejar, mas o objeto que seduz.

    O objeto resultante da ao uma obra que se torna o tempo convertido em espao. (GURIN, 1995). A eti-

    mologia da palavra objeto conduz a sua compreenso como localizao e posio sensvel. O objeto como

    inscrio no espao tem o momento de desgnio no projeto. Projetar significa antepor-se, prefigurar e, ao mes-

    mo tempo, estar em relao aos que habitam (CACCIARI, 1981), que so os outros da arte e da arquitetura.O projetar dirige-se ao futur, mas no se imagina sem a memria. Projetar um movimento constante do d e-

    sejo que vai da lembrana ao futuro. um projetar contnuo, exercer sempre uma crtica sobre a exist ncia

    diz Giulio Carlo Argan (1994). Argan tambm adverte sobre o problema da legitimidade e da responsabilidade

    do ato de projetar: Ser que estamos autorizados a projetar? (...) Mas ser que temos o direito de dete rminar

    as condies de existncia de geraes futuras?

    A faculdade de simulao do projeto permite a reflexo sobre conseqncias da projetao, que pesam diante

    da questo de Simone Weil: o futuro no nos d nada, ns que damos a ele (1979). Refere-se aqui seleo

    de valores parciais de indivduos e culturas que interferem no porvir por meio de referncias, formas e significa-

    dos. Esta a funo do discurso histrico, que escolhe o fato que vai se tornar histrico.

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    Em toda seleo h fatos relegados ao esquecimento. Como a amnsia que decorre de um passado opaco de

    colonizado (Ronaldo brito) e da nsia de modernizao. Por outro lado, os lugares mesmo desfigurados consti-

    tuem a memria local, seu esquecimento enfraquece o poder do tempo (MATOS, 1998). Inclusive, h o expedi-

    ente da criao de passado para as culturas carentes de historicidade: mal-entendidos ou interpretaes malintencionadas que podem vir a funcionar como tergiversaes, estratagemas para evitar dificuldades, subterf-

    gios para escapar de tarefas.

    Segundo Argan (1988), a arte e arquitetura tm sido objetos de juzo de valor e consideradas patrimnio cultu-

    ral. A sociedade e os rgos representativos tem selecionado as obras que lhes interessam conservar e trans-

    mitir, mas, tambm esquecido as que acham que devem rejeitar, destruir, substituir.

    A memria conservadora, requer a gesto, no entanto, preciso estar aberto ao novo, ao, ao espanto,

    que ausncia de predisposio para a angstia (BENJAMIN, 1983). Reconciliar-se com o mundo onde acon-

    tecimentos terrveis so possveis e geram conseqncias.

    A estratgia contra o esquecimento

    A estratgia um recurso de quem tem condies de possibilidade de um projeto global, e consequentemente,

    obtm individualidade institucionalizada no campo. Segundo Michel de Certeau, estratgias so as prticas

    executadas a partir de um lugar prprio, de onde se pode manipular as relaes de fora. Constituem um tipo

    especfico de saber, possuindo no poder a sua face preliminar. Em contraposio, as tticas so recursos, de

    quem no domina um lugar prprio, quando tem que jogar num te rreno cuja regra exterior e se ocupa o lugar

    do outro.

    Para reverter o quadro de evaso e degradao das reas centrais no Brasil, a requalificao urbana tem feito

    parte das polticas urbanas. No municpio de Vitria/ES, inclui-se no Projeto de Planejamento Estratgico da

    cidade promovido pela prefeitura. A revitalizao do centro da cidade foi contemplada com estudos especficosno Plano Estratgico de Vitria 2002. Estes estudos pretendem a reverso do seu esvaziamento econmico e

    destacam a importncia do centro principal para habitao e para investimentos, mediante o restauro do patri-

    mnio histrico e instalao de novos equipamentos urbansticos, tursticos, culturais e de lazer (MELLO, 2002).

    Em outras partes do documento, a vocao apontada a localizao de espaos de atrao no Centro de

    Vitria, focalizando, sobretudo, o segmento de turismo. (CALIMAN, 2002)

    No quadro do planejamento estratgico, o investimento na revitalizao do centro tenta resgatar o valor do capi-

    tal acumulado durante anos e estimular o retorno da gerao de riqueza, pois, a situao de decadncia tende a

    comprometer o desempenho econmico e a eficcia de toda a cidade.

    evidente o desgaste da imagem simblica do centro histrico de Vitria, porm existem esforos de conservarsignificados mesmo diante de uma situao modificada. Estes esforos so expressos nos fundamentos dos

    projetos de tombamento e nas modalidades do restauro do patrimnio empreendidas.

    Esta luta institucional para restabelecer um determinado passado promissor no assimila a concreta vida das

    diferenas na apropriao popular e eletiva do lugar. O centro de Vitria antes foi o locusda burguesia e seus

    bens, convergindo o mercado e o consumo de modo predominante.

    Atualmente, a economia urbana encontra-se espalhada por toda a regio metropolitana. O centro mudou de

    destino com a sua apropriao popular e produtiva. Ainda o centro principal da aglomerao, possui 30 mil

    habitantes mas circulam mais de 150 mil pessoas nos dias teis, concentra 41% dos empregos da regio me-

    tropolitana. Pesquisas sobre trfego e origem e destino no transporte pblico demonstram a convergncia de

    pessoas para o centro (CETURB, 1999).

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    A mancha urbana de Vitria difundiu-se para periferias distantes e com menor oferta de qualidade de vida. No-

    vos centros surgiram e no possuem a capacidade de diversidade social, cultural e arquitetnica caracterstica

    de uma centralidade. Para os moradores de outras localidades centrais praticamente desnecessria a ida ao

    centro histrico que se torna uma viagem. Na passagem, o centro assemelha-se a um lugar alheio e poucos secomportam estando nele como se estivessem em casa.

    No deslocamento do centro periferia ou do limite ao longe, a distncia no puramente geogrfica. De acor-

    do com Jean-Paul Doll, a viagem simblica e coloca em questo a identidade dos que se deslocam por

    vontade prpria ou forados. Ocorre um desarraigamento: se memria espacializao do tempo, se e x-

    presso e atualizao mediante os lugares (SEIXAS, 2001), emerge uma relao deslocada entre os loci da

    memria, cada vez mais interiorizada. Pois, predominantemente, a paisagem que povoa e fixa quem a habita

    ou visita.

    O desarraigamento segue ao despaisamento da periferia, que se torna o terreno e o objeto de um conflito com a

    idia de fixao estvel e slida de referncias. A perspectiva de comear a partir do zero proporcionada pelo

    subrbio, como experincia da modernidade, assemelhou-se ao choque e estranhamento. O seu expediente departir do zero carrega um aspecto catrtico tentador, mas a amnsia decorrente esvaziou a socialidade urb a-

    na, a civitas.

    Os novos espaos da periferia freqentemente tm significados esvaziados ao invs de praa espao verde,

    ao invs de rua, ruas sem nome ou vias. Os homens tm costume, a cada vez que mudam de hbitos, de m u-

    dar de vocabulrio como diz Ernest Bloch. O desaparecimento de designaes e formas estruturadoras do

    tecido urbano tradicional afeta a noo de cidade, diz Doll.

    A noo de habitar abalada, pois, neste contexto restringe-se esfera do consumo e do trabalho. Este que

    transio e no comunicao, que consome e consumido, ligando-se mais reproduo que produo.

    Pois, habitar quer dizer marcar por meio de sinais, ir ao mundo sob a influncia e a proteo de um cenriofamiliar; as obras nos orientam(GURIN).

    O histrico espao pblico das trocas e dos contatos deste modo, fica sob a perspectiva da difrao e o senti-

    mento de perda local inevitvel. O cineasta Amylton de Almeida registrou esta sensao em Blissful Agony,

    1988, onde relata o cerco da memria, a suspeita sobre o imobilismo dos fatos oficiais, da nsia de ser inclu-

    do na modernidade, e a dificuldade de disfarar que alguma coisa estaria prestes a terminar , sentenciando

    que todas as mortes pertenceriam ao patrimnio comum.

    Procedimentos de esquecimento

    [A] expulso da memria da cidade tanto mais forte quanto ela parece estar sendo mais conservada.A defesa obsessiva dos centros "histricos", a museologizao generalizada dos bairros "antigos" trans-

    formam as formas urbanas em clonesdelas mesmas, cenrio de uma pea da qual a ao e os atores

    fugiram, e onde no perambulam mais que figurantes do texto real. Jean -Paul Doll

    A sano de smbolos oficiais concorre com uma espcie de privao da visibilidade do que acontece concre-

    tamente no centro e sobrepe-se memria coletiva recente do centro de Vitria. Esta no tem encontrado

    meios de consolidar-se como cultura, em parte devido o prprio deslocamento da populao entre localidades,

    em parte porque as imagens oficiais constituem-se fixaes ou procedimentos de esquecimento (CERTEAU,

    1994). O investimento na reconstruo da identidade utilitrio e ideolgico.

    A primeira providncia para a recuperao da memria perdida foi a divulgao da histria atravs de fotogra-fias, relatos e textos antigos como se saber o que e como as coisas foram, ocultasse o presente obscuro e

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    ingrato que apenas intensifica a ausncia do lugar em si mesmo. Pois, compreende-se que o duplo do lu-

    gar, seu signo, no pode resgatar o modo de ser no mundo que as imagens retratam, ao contrrio, reforam o

    esquecimento.

    A providncia de restauro do patrimnio construdo apresentou a tendncia de preterir os perodos recentes,como a arquitetura moderna, e investir na preservao dos edifcios mais antigos (perodo ecltico e colonial),

    chegando ao ponto de recuperar prdios sem dar-lhes um uso, efetuar mscaras que pouco disfaram a runa

    interna ou ainda, realizar pastiches.

    No plano Vitria do Futuro 2002, consta a proposta do tombamento do traado urbano da cidade alta, argumen-

    tando que nela permanecem elementos significativos do perodo colonial. Trata-se de um argumento falacioso,

    pois o local um somatrio de intervenes de vrios perodos da histria e teve seu traado e configurao

    urbanos bastante alterados desde o incio do Sc. XX. Estas manobras demonstram uma carncia no de histo-

    ricidade, mas de identidade estratgica, na medida em que as imagens de especificidades locais eficientes, no

    mundo globalizado, contribuem para atrair investimentos para suas localidades.

    A criao de factides menos grave do que ignorar a histrica dinmica de mudanas da cidade alta, que tevevrias fisionomias distintas: colonizao, Sc. XVIII, Sc. XIX, anos 1910-20, anos 1930-50, anos 1960-80. O

    ponto crtico o virtual engessamento do lugar que pode impedir que as novas geraes por ventura possam

    intervir criativamente, reconfigurando a paisagem de acordo com seus desejos. Mas as coisas mudam sempre.

    Esta gerao diferente, pois est exercitando a terapia da recordao, enquanto o velho ethoslocal sempre

    sobreps-se ao passado. As diversas culturas foram superpostas sucessivamente umas sobre as outras no

    mesmo stio e cada gerao buscou construir o espao segundo os padres de sua poca, sua imagem.

    Ladeira da Pedra, atual Escadaria So Diogo,

    vista dos fundos da Catedral incio dos anos

    1920

    Rua Dois de Dezembro, o quarteiro foi demolido

    entre 1924-28 para a construo da Praa da

    Catedral, ao fundo Loja Manica

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    Demolio da Igreja da Misericrdia

    (Sc. XVII), para construo da Assem-

    blia Legislativa 1912

    Assemblia Legislativa, 1936 Nos anos 1990 (LPP-UFES)

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    Vistas da cidade alta: o plat davelha Matriz no sculo XIX , aCatedral anos 1950 e anos1980foto Sagrillo

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    Foto rea 1930 em se observa a Catedral j com a abertura da Praa frontal,mantendo o casario lateral. Abaixo, Construo da Catedral nos anos 1920 emseu entorno o casario colonial.

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    Colgio dos Jesutas em seu aspecto original, 1908 e aps a reforma o Palcio Anchieta em EstiloEcltico de 1912. A modificao no foi apenas de estilo todo o espao do entorno foi reconfigura-do de modo haussmaniano.

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    Entre 1894 e 1940 as modificaes so bastante significativas, sobretudo em torno da Catedral, do PalcioAnchieta e as ruas de ligao entre estes edifcios.

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    To longe, to perto

    Vim l de longe onde ningum v aquele horizonte onde est voc. Z Maria

    As imagens publicitrias de Vitria geralmente ou so fotos areas, mantendo a pobreza camuflada na paisa-

    gem, ou so closes, recortes que excluem quaisquer rudos visuais na imagem. Tal manipulao da imagem

    tem a funo de dissimular as aparncias sem deixar-se penetrar ou desdobrar. A regulagem entre proximidade

    e distncia cada vez mais manipulvel, os meios permitem.

    O turista o alvo dessas imagens, um espectador que consome a histria do lugar distncia. Para aquele

    que se desloca temporariamente a experincia supera o espao, de vrias maneiras a arquitetura dos espaos

    substituda por uma arquitetura de imagens (BRISSAC, 1996).

    O distanciamento para quem habita a cidade espao espaamento entre as construes, demarcao de

    limites entre a propriedade (sua inrcia, suas dificuldades, saturaes e obstrues) e o espao pblico o

    lugar de convivncia com os outros. A distncia do limite ao longe, do centro periferia, inclui o tempo, geramovimento, deslocamento.

    No espao do centro histrico h superposio de tempos, que adaptam a cidade e seus significados s cir-

    cunstncias. A modernidade causou uma alterao do modo de sua percepo da estrutura fsica da cidade,

    cujo espao fixo cedeu ao fluxo, superpondo as diversas redes de circulao e de comunicao, acarreando os

    aspectos de extenso, conexo, anelao e saturao das redes (CAUQUELIN, s. d.). Imps-se o tempo da

    acelerao distinto da antiga contemplao epromenade.

    A velocidade choca-se permanncia imvel dos monumentos, que se tornaram invisveis mergulhados num

    mar de esquecimento (Robert Musil) e de obstrues. Monumento algo que provoca a memria e a lembran-

    a, mas tambm admoestaes. Liga-se ao maravilhamento e morte. No entanto, exauridos pelo hbito, osmonumentos comemorativos cumprem um ciclo formal e insignificante (CHOAY, 2001). No contexto atual, apro-

    funda-se a evocao um ausente pelos monumentos, pois cada vez menos possvel socialmente e civicamen-

    te co-memorar.

    O retorno ao centro preconizado pelos processos de requalificao urbana como uma forma de resgate do pas-

    sado, de uma determinada cadncia, muitas vezes resulta numa reterritorializao arcaica. Porm, no um

    processo que possa ser engendrado pelo planejamento estratgico e pelo marketing; uma construo histrica

    demanda um longo perodo de construo coletiva.

    As representaes da cidade renem significaes que se constrem tanto por anlises tericas (conceitos),

    quanto, sobretudo, se estabelecem sob comunicaes simblicas, no fundo da memria, sob a lgica do sensocomum e do verossmil (CAUQUELIN, 1982).

    O centro histrico um lugar onde o tempo materializado conta histrias, porm, no se restringe a um lugar de

    recordao do passado. Mesmo esfacelado este espao insere-se no mundo contemporneo em seus movi-

    mentos de transformao da paisagem. A ausncia de um plano consistente de interveno no espao da cida-

    de mostra que os instrumentos de anlise e de interveno tornaram-se obsoletos e sem sentido para expressar

    a vida urbana contempornea. Peter Einseman diz que a resistncia da arquitetura em assumir o estado de

    desagregao cultural, provocou fortemente no campo da arquitetura, a nostalgia pelo autntico, verdadeiro e

    original. Paul Virlio (1993) diz que a arquitetura vem regredindo desde quando as cidades e aglomeraes

    maiores tornaram-se decadentes. Para Virilio a arquitetura tornou-se uma forma degradada de explorao do

    solo.

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    O ritmo da cidade contempornea expe o conflito entre preservao e destruio. Neste ponto, se emerge a

    oposio entre o arquiteto que atua nas cidades como lugares de memria e que a consideram objeto de expe-

    rimento que desperta reflexes sobre a sociedade contempornea. Bernard Tchumi (1994) refere-se valores

    antagnicos, suscitados partir de um diagnstico negativo da situao da produo contempornea das cida-des, recorta dois tipos de atitudes: a que recorre contextualizao ou histria para combater a negatividade e

    a outra que investe na ativao da negatividade.

    Uma atitude reitera as dvidas com as geraes passadas e a outra instiga a deconstruo das formas de cida-

    de. Aborda-se, ento, as controvrsias entre a histria e a deconstruo, exemplificadas aqui, respectivamente,

    por Jean-Paul Doll e Bernard Tchumi.

    Doll: A forma urbana o resultado de um trabalho coletivo de geraes. (...) A cidade a conjuno i n-

    trnseca entre sua forma e o conjunto de sua histria. Quando formas que guardam a memria da hist-

    ria da cidade desaparecem, a cidade que desaparece. (2001)

    Tchumi: Em oposio s tentativas nostlgicas de restaurar uma impossvel continuidade de ruas e pra-

    as, esta pesquisa sugere a configurao do evento ou do choque urbano, acelerar a experincia urbana

    mediante o clashe a disjuno .

    Crtica como crise

    A melancolia da idia de uma estrutura permanente est no apego aos cdigos do processo histrico, que so

    arrancados do seu espao-tempo, convertendo-se em runa, uma estratgia de entendimento dos bens cultu-

    rais, que de acordo Walter Benjamin, permite que o sujeito se aproprie dos objetos. Por seu turno, o deconstruti-

    vismo aponta a possibilidade de identificar e detonar o centro (fundamento, essncia), a fim de obter mltiplos

    fragmentos que deveriam resultar em novos significantes e significados. Uma acelerao do processo da morte

    do objeto, sua runa, que se ope ao preenchimento do vazio desta morte com um retorno.

    Quem se afirma mediante uma postura crtica no vai agradar. A ao da arte no tem a funo de apaziguar. A

    anlise da crise no deve ter como objetivo apresentar solues, mas o de indicar caminhos crticos e conscien-

    tes, a possibilidade de transformar no-lugares em lugares de experincia, de vida.

    Os deconstrutivistas utilizando a terminologia de Benjamin, dizem que a experincia esttica consiste em provo-

    car estranhamento em contraste com seu oposto, o hbito, a sensao de segurana e a rejeio de novas

    experincias. Esta caracterstica que Bernard Tchumi atribui a experincia esttica, na verdade de acordo com

    Walter Benjamin, um procedimento da crtica, que opera por reflexo e descontextualizao do objeto, que

    desconectado do seu espao temporal, transformado em objeto de saber. O distanciamento e estranhamento

    so estratgias de lidar com os bens culturais, que observam o mundo paralisado, o que possibilita ser apropri-ada pelo sujeito. Entretanto, a autntica obra de arte para Benjamin possui aura, que ao contrrio da runa,

    quem se apropria do sujeito de assalto. uma experincia de estesia(espanto) que no tem a ver com distan-

    ciamento (traumas) ou esquecimento (anestesia).

    A revoluo, o clashe a disjuno como querem os deconstrutivistas, um momento de abreviao concentra-

    da, histrica de tempo em Walter Benjamin. Porm, Benjamin no recalca o passado para produzir uma apolo-

    gia do presente, os dias de festa so dias de rememorao (MATOS, 1998).

    Contudo, os deconstrutivistas tambm propem o entre. Peter Einseman (1993) diz que estar entre em arquite-

    tura, significa buscar um atoposdentro do topos. Quando se quer restaurar a topiade lugares que o perderam,

    Einseman sugere que se busque o novo toposno atopos. Atopia um percurso rumo prpria impossibilidadede fixao num nico sentido (Roland Barthes).

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    Assim, procede uma crtica ao passado como arquivo, que formalizao e interpretao, torna -se simulacro.

    Os acontecimentos so singulares e se produzem no acaso da luta (no so determinados, no h destino)

    como pode se inferir de Friedrich Nietzsche. O sentido histrico derivado de Friedrich Nietzsche comporta a

    destruio da realidade que se ope aos temas reminiscncia e reconhecimento, destruio da identidade quese ope tradio e a continuidade da histria e a destruio da verdade, do conhecimento e ao sujeito do

    conhecimento (FOUCAULT, 1982). Para Nietzsche, a arte recria a vida, assenta-se na vivacidade. A arte cria

    valores novos, constituindo-se uma instncia simultaneamente gentica e crtica de aes, sentimentos e pen-

    samentos. Devido a variabilidade infinita da vida e da arte; esttica, tica e utopia podem assimilarem-se e

    salvarem-se da banalidade recorrente.

    A crtica: regulagem entre proximidade e distncia

    A cidade configurada pela prtica social que precede a idia de espao, de modo que todo espao arquite-

    tnico. A arquitetura materializa e estrutura a cidade adquirindo significados, reverberando smbolos urbanos.

    A apreenso da significao dos centros histricos requer um tipo de sensibilidade que possibilite a percepohistrica, uma tarefa crtica de regulagem entre proximidade e distncia: a crtica desloca o objeto do contexto,

    ressaltando as noes de hierarquia e rarefao. A histria estabelece relaes entre o objeto recortado, signifi-

    cados e contextos.

    Segundo Tafuri, h dois tipos de arquiteto: o mgico e o cirurgio. O mgico conserva uma distncia em relao

    ao que lhe proposto, sua viso ampla. A viso do cirurgio parcial e fragmentada, devido a proximidade

    facultada ao penetrar no interior dos corpos (Benjamin apud TAFURI, 1979). O arquiteto mago possui uma men-

    talidade mimtica em relao ao contexto que um dado a ser computado no projeto. O arquiteto cirurgio ou

    operador quer produzir e no interpretar as novas condies de produo do espao.

    A posio do operador destitui o projeto de todas as referncias, inclusive as da tcnica e do programa. Consti-tui-se um ndice do contgio da desagregao (j histrica) de um sistema de valores estvel, das certezas.

    Para enfrentar esta situao, os contextualistas se apegam histria, propem-se uma terapia da recordao,

    como diz Manfredo Tafuri, os deconstrutivistas pelo contrrio, no mostram nenhum apego ao passado.

    A exacerbao das condies do presente, por sua vez, pode abalar a experincia. E deve ser refletido no qua-

    dro do exagerado valor da informao, na chamada sociedade em rede: um panorama que d muito a saber e

    pouco o que pensar como diz Marilena Chaui. A informao efmera, no se desdobra, se exaure. A experi-

    ncia entretecida na matria vivida a sabedoria (BENJAMIN, 1983), que foi ocultada sob o conhecimento que

    engolido pela informao (MORIN, 2002). A histria conhecimento; portanto que no contm a potencialida-

    de da sabedoria de considerar a situao humana no mago da vida (MORIN).

    A problemtica da experincia na arquitetura e urbanismo parece ter sido superada pela histria iniciada a partir

    dos anos 1850, da qual se pode constatar que a tecnologia e a industrializao no cumpriram as promessas de

    eficcia tcnica e social; porm, praticamente destruram tcnicas artesanais de construo difundidas h milha-

    res de anos. Os seus elementos estruturadores do espao arruinaram paulatinamente o tecido urbano tradicio-

    nal, e por outro lado, produziram uma cidade de grandes parcelas homogneas e fragmentadas em especialida-

    des, segregando ricos e pobres. Morfologia, que a despeito de seu objetivo inicial, tem servido muito bem

    lgica da especulao e do lucro. Neste processo, a arquitetura moderna, na sua historiografia, quase anulou o

    contributo coletivo na transformao da cidade, assim como o valor da cultura dos lugares.

    Franoise Choay (1996) diz que se deve admitir sem sentimentalismo o desaparecimento da cidade tradicional,

    contudo interrogar-se sobre a natureza da urbanizao e sobre a no-cidade das sociedades avanadas.

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    Os cenrios do planejamento estratgico

    Cenrio: cena, dispositivo cnico, lugar da cena. Cena: passagem de uma representao. HOUAISS.

    A idia bsica que inspira a metodologia de cenrios a que o futuro moldado no presente pela aodos indivduos, organizaes e instituies. Ela permite uma atitude ativa e criativa em relao ao futuro,

    j que ele construdo pelos atores a partir de sua ao no presente. Luiz Paulo Velloso Lucas

    O planejamento estratgico, de acordo com Luiz Paulo Velloso Lucas, substitui o planejamento tradicional, que

    valoriza o produto, e ao invs disso, destaca o processo, facultando condies de possibilidades mobilizao.

    Luiz Paulo destaca o carter participativo e democrtico do planejamento estratgico.

    A mobilizao envolve no s o poder pblico mas tambm da sociedade em torno da concepo e execuo

    do plano e seus objetivos; tornado-se eficaz na atrao de investimentos e turistas. Alm disso, acredita que

    possibilita alcanar um consenso que atenda aos interesses coletivos e no aos grupos. Por isso, segundo

    Luiz Paulo, permite redimensionar a atividade poltica entre os poderes pblicos, os tcnicos e outros agentes.Pois, Luiz Paulo assevera a co-participao no s torna mais factvel a execuo do planejamento mas efetua

    uma poltica de melhor qualidade. Os planos estratgicos municipais procuram captar as oportunidades de

    investimento ofertadas no quadro nacional e internacional, conciliando estes agentes econmicos com uma

    estratgia multifacetada de desenvolvimento local, baseando-se nas potencialidades e recursos locais e conse-

    quentemente, valorizando os atributos especficos das localidades.

    Pois um dos objetivos explicitados pelo planejamento estratgico a criao de uma nova "imagem" da cidade.

    So os atributos especficos que diferenciam as localidades com nveis de desenvolvimento econmico sem e-

    lhante no mundo globalizado, baseado na competitividade e ciente da imprevisibilidade de retorno dos investi-

    mentos.O processo da implantao do planejamento estratgico de Vitria, que est na sua segunda edio, desenvol-

    veu-se em cinco fases: planejamento e identificao dos estudos bsicos e temticos; organizao; diagnstico;

    elaborao de cenrios; estratgias e projetos.

    Os cenrios so um instrumento auxiliar do planejamento estratgico. De acordo com seus difusores, estimulam

    o debate e a viso multilateral dos problemas, ajudando a identificar os objetivos e as e stratgias a serem

    adotadas para atingir um modelo desejvel de cidade.

    O documento Vitria do Futuro 2002 elabora um diagnstico da cidade e dois cenrios, que so "retratos" do

    futuro elaborados a partir de pesquisas e tcnicas de planejamento; e posteriormente realiza os projetos reco-

    mendados pelo plano.

    Cena cmica e cena trgica

    Ns j transgredimos tudo, inclusive os limites da cena e da verdade. Jean Baudrillard.

    Segundo Srlio (sc. XVI), a combinao entre utopia e a idia de cidade ideal engendra a substituio da cena

    cmica pela cena trgica, que converte o mundo do acontecer casual em um mundo mais integrado de postura

    sria e digna (ROWE & KOETTER ).

    Os cenrios delineados no plano Vitria do Futuro de 2002 insistem recorrer s duas figuras, utilizadas no plano

    anterior (1996): a do cenrio inercial no qual a cidade anda pra trs - o andar do caranguejo - e a do cenrio

    desejvel de progresso o salto do Marlin Azul. O caranguejo e o Marlin azul so maniquesmo dos managers

    do plano.

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    A imagem primeva do caranguejo est associada ao seu ambiente viscoso, de equilbrio precrio, limite impreci-

    so, marcado pela constante submerso. No Brasil, desde cedo arranhar a costa como caranguejos era uma

    viso pejorativa da aparente acomodao dos portugueses no litoral (Frei Vicente Salvador). Localmente, o

    caranguejo est ligado ao mangue e tem sido fonte de sobrevivncia das camadas mais pobres da populao,iguaria apreciada sem distino por todas as classes sociais.

    A faceta srdida a que se recorre apresenta-se com a sua imagem no balde antes do preparo, quando um dos

    bichos vai borda para libertar-se outro debaixo o puxa para trs. Esta imagem associa-se aos crticos do pla-

    nejamento, como se este fosse o pensamento nico para se soluc ionar os problemas da cidade e seus cen-

    rios fossem leituras inquestionveis como parte da soluo desejada.

    Por sua vez, o Marlin Azul um peixe de pesca ocenica feita por ricos proprietrios de grandes lanchas. A

    ironia que o peixe no salta, mas debate-se para lutar com o pescador, e salvo, sorte do peixe acaba quase

    sempre fisgado, perdendo a peleja. Porm, a imagem de peixe ocenico associa-se sem rodeios ao intercm-

    bio com o exterior (LUCAS, 1998). O oceano foi o lugar do episdio de globalizao que ps a Amrica no

    mundo, e continua sendo na etapa atual da globalizao, o lugar fundamental dos fluxos do comrcio internaci-onal.

    Buscar a figura do cenrio desejvel num lugar heterotpico, no oceano distante da costa, no deixa de expres-

    sar um sonho, sugerir aventura. Entretanto, mostra tambm, que ainda que Vitria tenha nascido da dialtica

    entre o local e o global, reincidente a sensao de estar fora de um mundo do qual se faz parte: A penosa

    construo de ns mesmos se desenvolve na dialtica entre o no-ser e ser o outro (Paulo Emlio).

    Heterotopias, este tipo de lugares est fora de todos os lugares, apesar de se poder apontar a sua posi-

    o geogrfica na realidade. Devido a estes lugares serem totalmente diferentes de quaisquer outros s-

    tios, cham-los-ei, por contraste s utopias, heterotopias. [No um lugar prprio, no pertence esfera

    privada nem esfera pblica, ...]. Michel Foucault

    Modelo de cidade consensual

    Modelo de cidade, segundo Franoise Choay (1992), se configura pela crtica a uma sociedade existente e uma

    modelizao espacial dela no futuro.

    A utopia no renascimento tinha seu aplicativo urbano na cidade ideal, emblema de bem universal e final, diri-

    gia-se no entanto a uma clientela limitada. De acordo com Machiavel a cidade ideal facilitaria a informao do

    prncipe e seria um meio para manuteno e decoro do Estado. Embora se constitusse numa critica social era

    somente um ideal hipottico. O cone deveria ser admirado mais como imagem que como prescrio (ROWE &

    KOETTER).Os protocolos de implementao do planejamento estratgico em Vitria, seu centralismo poltico no executivo,

    sua nfase no processo orquestrado (controlado e dirigido) ampliam realmente a informao do governo, que

    realiza o que quer e pode.

    Este processo de planejamento formula um inventrio e uma imagem, em todos seus aspectos de simulao

    (fingir o que ) e dissimulao (fingir o que no ou ainda no ) (Aurlio).

    O plano corresponde ao momento tcnico de uma atividade, supe controle da situao, determinando condi-

    es, objetivos e meios, e ainda, pressupe o domnio de um campo institucional, que emana seus objetos e

    sistematiza suas enunciaes (CASTORIADIS, 1986). Os planos e projetos regulam relaes entre instituies,

    tcnicos e sociedade, estabelecendo uma pretenso de circunscrio de um lugar prprio no contexto social,

    caracterizando uma postura cientfica, poltica e militar.(CERTEAU, 1994)

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    Qualquer plano tem carter centralizador, normativo e organizativo. Por buscar configurar uma imagem de cida-

    de, o plano estratgico distingue-se do planejamento tradicional. Este que era criticado devido a sua pouca

    capacidade de absorver valores subjetivos e individualizantes que se referem decantao da vocao de cada

    lugar no novo desenho traado para este.O planejamento estratgico tem a pretenso de sanar as dificuldades em resolver os desequilbrios espaciais do

    capitalismo, assimilando o papel intermediao na construo da cidade e de ser uma estratgia de negociao

    entre setores privado, estatal e outros. E prometia configurar-se como estratgia flexvel, absorvendo as dimen-

    ses de incerteza e imprevisibilidade, colocando-se muito mais como momento de gesto da cidade que como

    um instrumento rgido e dado (PORTAS, 1993).

    Porm, a ligao do planejamento estratgico com o empreendedorismo competitivo o coloca sob suspeita, j

    que as informaes produzidas no processo embora pblicas e acessveis, esto sob a guarda e hegemonia

    dos managersdo plano. O fato que no esto previstos canais para divergncias e conflitos nem para negoci-

    aes e concesses democratizantes. Espera-se somente o consenso.

    O lado mais obscuro da competitividade do planejamento estratgico de cidades coloca-se na inteno de iden-tificar os pontos fortes e fracos dos principais concorrentes da cidade analisada, alm das ameaas e oportuni-dades nacionais e internacionais (para informao do prncipe e subsdio do plano). Entretanto, projetos parci-ais emblemticos, devido sua simplificao reducionista, so insuficientes diante da complexidade real dacidade e dos seus contextos relacionais (SILVA, 2001).A cidade contempornea solicita novos padres organizativos segundo princpios que estimulem o desenvolvi-mento desconcentrado. Alguns destes princpios so: a integrao vertical e horizontal de organizaes, polti-cas planos e programas; sinergia, cooperao e conhecimento da interdependncia de todos os intervenientesno sistema; adoo um planejamento cclico em vez de linear (SILVA, 2001).Se o planejamento estratgico assenta-se enfaticamente no processo deveria ser mais flexvel e mais multilate-ral do que se prope. O procedimento de modelizao no deveria ter como esteio a transmisso de mensa-gens, nem o investimento em imagens como suporte da construo de identidades (GUATARRI, 1992).

    Esta image-makingno tem a consistncia de um modelo urbanstico, pouco importa se chegar a ser concreti-

    zada. Com a image-making, os signos suplantam a cidade.

    A imagem da cidade torna-se uma mercadoria assim como a prpria cidade, enquanto os cidados so conver-

    tidos em consumidores de uma marca; que deve possuir a eficincia de sobreviver s modas. Teme -se neste

    contexto, perder a condio de objeto de desejo que implica no desaparecimento da cidade. Os managers

    chamam esta ameaa de zapping (DACHEVSKY, 2001); que significa mudanas com um mnimo de esforo

    por algo mais apropriado, elimin-lo como registro; a morte em um mercado competitivo.

    A marca da cidade ganha consistncia se os planos de revitalizao no forem efmeros, se as propostas derevitalizao e dinamizao no forem meramente promocionais; se no se adequar a nova imagem de pro-

    gresso e ao seu dinamismo (Id. Ibid.). A marca a nova designao para identidade local, que torna o Plane-

    jamento Estratgico um negcio de comunicao e marketing (ARANTES).

    Em Vitria, o Planejamento Estratgico (contemporneo) ocorre simultaneamente ao planejamento tradicional

    do movimento moderno. No houve uma absoro significativa das teorias de desenho urbano (posmodernis-

    mo). No houve um processo de ruptura na mentalidade de planejamento na cidade, j que o Plano Diretor da

    cidade foi aprovado em 1984, aps um longo perodo de negociao e de resistncia da incorporao imobili-

    ria, que logo percebeu a capacidade de rendimentos que o Plano Diretor oferecia. O Planejamento Estratgico

    teve sua primeira edio em 1996.

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    Alguns projetos de 1996 destinados a revitalizao do centro da cidade esto concludos, mas no conseguiram

    contagiar o entorno, provavelmente porque no fazem parte de uma economia de subjetivao coletiva. No

    caso da revitalizao das reas centrais, a cultura popular tem tido um papel bem menos significativo que o

    marketing na construo da imagem de cidade. Preferencialmente, no tem sido o social a se inventar e criarnovas sensibilidades.

    De qualquer modo, aqui tambm, os termos controle e funcionalidade, caractersticos do movimento moderno,

    tem sido substitudos pelos termos competncia gerencial, dinmica econmica, requalificao e revitalizao

    urbana, terminologias que pertencem ao repertrio do Planejamento Estratgico.

    A estratgia implicitamente no tenciona consertar a cidade para as pessoas que j esto l, mas devolver

    pessoas cidade, ou seja, atrair novamente camadas que se evadiram do centro. Encetando um processo de

    gentrificao, que uma forma de intercmbio de comunidades numa localidade, decorrente da requalificao

    urbana e conseqente valorizao imobiliria. A gentrificao provoca o deslocamento dos moradores que vivi-

    am no local anteriormente. Na maioria das cidades mundiais a renovao urbana causou o processo de gentrifi-

    caoaps a valorizao econmica dos lugares.Em Vitria, o processo de renovao urbana tem que dinamizar um patrimnio cultural muito frgil para obter a

    rentabilidade esperada, mas mesmo assim, pretende-se controlar o processo criando indicadores [para medir] a

    evoluo da revitalizao do centro (MELLO, 2002).

    Centro da Cidade de Vitria, 1999. Fton Imagens

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    Utopia ou memria

    Recordo o que posso no o que preciso. Carpinejar

    Arquitetura interveno num espao complexo, interagindo e integrando-se com outras linguagens e suportes;deve formar um lugar de experincia onde havia apenas lugar de passagem. A inscrio da obra de arquitetura

    nos ambientes saturados das cidades contemporneas exige menos lembrar do que reescrever: Abrir vistas

    obstrudas da paisagem por nuvens de gafanhoto de escrita (publicidade segundo BENJAMIN) e outros rudos,

    abrir espao entre as coisas.

    Reclames de lojas no centro da cidade de Vitria, Lincon Guimares Dias

    Em relao ao objeto, o centro histrico, este nunca foi lugar de uma superposio democrtica de contatos,

    mas de uma convivncia desconfiada entre diferenas, entre antpodas. A questo no de apaziguamento.

    Esquecer ressentimentos no esquecer os fatos. Para a justia prevalecer e o tempo manter sua valncia

    bom saber dispor do tempo: A mudana e o movimento tem seu tempo oportuno (...), os que dominam a m u-

    dana so os que prestam ateno ao tempo (A arte da guerra).

    Theodor Adorno (1992) diz que mesmo no inferno h ar para respirar, o que no consola. Pois, para ele a pr-

    pria socialidade participao na injustia. Extremada num mundo onde os acontecimentos tm suas conse-

    qncias minimizadas; num mundo de tempo sem memria; da invisibilidade decorrente da saturao, da trans-

    parncia obscena do espetculo (BAUDRILARD, 1996).

    Baudrillard mostra que a perverso est no desejo do espetculo ao invs do acontecimento, no desejo no das

    coisas, mas dos seus signos. Segundo ele, no o desejo de mudana que move mas a seduo exercida por

    ela. O povo no queria realmente a revoluo, ele s desejava seu espetculo (Rivarol apud BAUDRILLARD).As causas podem ser acidentais, mas acontecem e quando se tropeam nos objetos. Eis o destino do sujeito

    ligar coisa com ainda privilgio do indivduo (John Cage). Mesmo tornada oca pela socialidade (ADORNO),

    em algum momento a subjetividade emerge. Na teoria, h tempos, o primado do todo foi posto em dvida. As-

    sim a subjetividade considerada polifnica, esttica, criadora e transversalista, no sentido de ser uma ao

    em um lugar existencial-afetivo (GUATARRI, 1992).

    Hannah Arendt (1973) diz que a importncia da ao engendrar um novo comeo e novos significados. Entre-

    tanto, essa capacidade de (re)iniciar na cultura humana embate-se com a sua condio de curso. O reiniciar no

    bem um comeo mas uma mudana (interveno, intromisso, ingerncia) no curso. Uma ocupao do espa-

    o e tomada do lugar ttica, pois, em geral no h lugar; cada coisa traz seu lugar consigo; o lugar toma lugarpor si (LYOTARD, 2000).

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    A memria e a histria tm ocupado o lugar das utopias desgastadas tanto como desejo e projeo do futuro

    quanto como modelos utpicos histricos formais. No mais as utopias, mas as memrias estariam apontando

    os lugares de realizao histrica (SEIXAS, 2001). Utopias e memria entretanto, no so antagnicas.

    A memria no somente um recurso de lembrana, mas sobretudo, uma ao contra a histria operacional-institucional, permite destacar aquilo que "idntico no novo, do velho no novo e do novo no velho" (MATOS,

    1989).Considerando-se a condio de processo em curso, ento o passado est em aberto, podendo contribuir,

    como referncia utopia e ao desejo, para dar base s transformaes e para romper com a sensao de con-

    tnuo irreversvel de determinada histria.

    A condio de curso da histria implica na dificuldade de assimilar as tradies passadas, que se tornam um

    fardo quando se convertem em fetiche ou parte de uma memria passiva. Tanto a amnsia quanto a reao

    amnsia sem reflexo degeneram-se na ausncia de um projeto e de uma produo afirmativa deste.

    A terapia da recordao no campo da arquitetura no recupera o objeto perdido, mas enfatiza a crise do centro

    que ocorre nas cincias humanas, que coloca em jogo as noes de origem e de identidade.

    Se o mundo dos vivos o inferno; fcil identificar o inferno e suas manifestaes fundamentalistas,mas muito difcil identificar o que no inferno num mundo de incluso diferenciada, onde no hum lugar fora para ser o outro e onde no h um lugar designado para o poder, que se nutre da alte-ridade, relativizando-a, gerindo-a (HARDT, 2000). Encontrar a liberdade na sociedade de controle,que se manifestariam como zonas autnomas, parece mesmo pura fico ou pura especulaocomo diz Hankim Bey.

    Onde buscar? Os espaos despaisados, desairragados e os reterritorializados contm passagens e intercm-

    bios: espaos de negociao, de coexistncia e de transformao. Ainda, zonas de encontro entre elementos

    globais e locais, onde se transformam em interao, transio. As zonas de "liminaridade" (entre) so potenci-

    almente regies livres e experimentais da cultura, nas quais tanto se podem introduzir novos elementos quanto

    novas regras combinatrias de aes ou smbolos multidimensionais e polifnicos.

    Estes so sinais de vida no mundo tedioso das coisas mortificadas e dos acontecimentos banalizados. Walter

    Benjamin advertiu que no tdio que se choca o ovo da experincia.

    As fotos so do acervo do sitewww.baiadevitoria.ufes.brexceto a foto de autoria de Lincon Guimares Dias

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  • 7/25/2019 Clara Farol

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