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Clarice Lispector e a Performance Da Liguagem

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Clarice Lispector; performance; linguagem

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  • Clarice Lispector e a performance da linguagem literria

    Clarice Lispector and the literary language performance

    Katiuce Lopes JUSTINO1

    Resumo: Este trabalho prope o estudo de uma concepo particular de linguagem por

    parte da autora Clarice Lispector. Em sua obra, o discurso sempre problematizado e o

    ato da escrita, sobretudo nas obras finais da escritora, aparece como tentativa limtrofe

    de apreenso/criao da realidade. Com base nas recentes teorias sobre a performance

    em literatura, objetivou-se apontar algumas consequncias possveis desse tipo de

    procedimento na manipulao da palavra. Reposicionando a importncia do ato de

    narrar em relao ao fato narrado, Clarice, principalmente a partir da dcada de 60,

    coloca em xeque o mercado editorial e seu prprio discurso anterior, chegando ao ponto

    de ficcionalizar sua prpria assinatura, seu prprio estilo, renegar seus leitores fiis e

    lanar-se no abismo da criao infinita da linguagem vazia, como no sopro de vida.

    Palavras-chave: autoria, performance, Clarice Lispector.

    Abstract: The present work proposes a study of a particular language conception by the

    author Clarice Lispector. In her work, the speech is always problematized and the

    writing action, mostly in her final works, appears as a limitrophe attempt of

    creation/apprehension of reality. Based on the recent theory about literature

    performance, it was aimed to appoint some possible consequences of such procedures of

    word's manipulation. Repositioning the importance of the narrating act with respect to

    the narrated fact, Clarice, mainly from the sixties, questions the publishing market and

    her own previous discourse, reaching to the point of forging her own signature, her own

    style, denying her faithful readers and casting herself into the infinite abyss of creation

    of empty language.

    Keywords: authorship, performance, Clarice Lispector.

    1 Doutoranda Departamento de teoria lingustica e literria do Instituto de Biocincias, Letras e Cincias

    Exatas de So Jos do Rio Preto - Unesp /Ibilce 15054-000 So Jos do Rio Preto SP Brasil.

    Email: [email protected]

  • 1. Desenho de uma continuidade

    Clarice Lispector possua a certeza de que o corao selvagem da vida s

    poderia existir fora dos limites da palavra. Para ela, o ser humano, com sua linguagem,

    poderia, no mximo, tentar chegar perto dele.

    Revisitar toda a obra da autora, desde o seu primeiro romance, nos obriga

    percepo de que o apontamento desse primeiro fracasso o da palavra desse seu

    esvaziamento, desse seu labirinto foi o caminho escolhido por ela para superar seu

    incmodo maior, absoluto: o de no ter nascido bicho.

    Da anttese entre a animalidade e a fora civilizatria do discurso, nascia uma

    literatura nica, obstinada em descortinar o funcionamento das relaes humanas

    sempre mediadas pela linguagem: o fato de estar sendo para si ao mesmo tempo em

    que se vive com os outros (ou apesar deles), tendo, portanto, que simular um

    entendimento precrio, falseador e, muitas vezes, desonesto do que seja esse Outro.

    Exatamente por esses confrontos, selvagem, incomunicvel, maldosa, sozinha

    e terrivelmente lcida a primeira grande personagem do romance de inaugurao

    Perto do corao selvagem (1944). Inteligente, Joana aprende j na infncia a utilizar a

    palavra como isca:

    Sim, eu sei o ar, o ar! Mas no adiantava, no explicava. Esse era um

    de seus segredos. Nunca se permitiria contar, mesmo a papai, que no

    conseguia pegar a coisa. Tudo o que mais valia exatamente ela no podia contar. S falava tolices com as pessoas. (LISPECTOR, 1997,

    p. 22)

    No livro, nenhum dilogo parece natural. Todos encenam, de um modo ou de

    outro, para atacar ou para se defender. A menina rf estranha as palavras, mas depois

    de domin-las sente com isso uma espcie de destinao: a certeza de que dava para o

    mal.

    Ela se afasta fazendo uma trancinha nos cabelos escorridos. Nunca

    nunca nunca sim sim, canta baixinho. Aprendeu a tranar um dia

    desses. Vai para a mesinha dos livros, brinca com eles olhando-os a

    distncia. Dona de casa marido filhos, verde homem, branco

    mulher, encarnado pode ser filho ou filha. "Nunca" homem ou

    mulher? Por que "nunca" no filho nem filha? E "sim"? Oh, tinha

  • muitas coisas inteiramente impossveis. Podia-se ficar tardes inteiras

    pensando. Por exemplo: quem disse pela primeira vez assim: nunca?

    (LISPECTOR, 1999, p. 23)

    Cada romance da autora, desde sua estreia, demonstrou grande coragem e

    autonomia, como se l nas palavras de Antnio Cndido:

    [...] uma tentativa impressionante para levar a nossa lngua canhestra

    a domnios pouco explorados, forando-a a adaptar-se a um

    pensamento cheio de mistrio, para o qual sentimos que a fico no

    um exerccio ou uma aventura afetiva, mas um instrumento real do

    esprito, capaz de nos fazer penetrar em alguns dos labirintos

    retorcidos da mente. (CNDIDO, 1970, p. 126).

    Dada a singularidade de seu projeto estruturado numa experimentao que

    envolve a prpria estrutura da linguagem e sem uma tradio direta a quem dever,

    Clarice forou crticos a fabricarem antecessores na literatura brasileira, alm de buscar

    apadrinhagem estrangeira para suas inovaes.

    Muito mais que uma tentativa, a continuidade da obra de Clarice revelou uma

    revoluo. Um dos pontos centrais dessa ruptura, notada por Srgio Buarque de

    Holanda, no ensaio Tema e Tcnica, de 28 de maio de 1950, foi a dedicao poesia e

    aos problemas da poesia:

    Em toda a nossa histria literria, a primazia do tema na inspirao

    novelstica tem sido fato discutido. ela que tende, quase com a

    excluso de outros fatores, a autorizar e justificar movimentos

    literrios, s desaparecendo seu prestgio quando desaparece, pela

    reiterao fatigante, pelo cansao, o interesse por determinado tema.

    (HOLANDA, 1989, p. 178).

    Privilegiando a captao deslocada da realidade, fazendo emergir nas tramas

    uma srie de heris aparentemente tolos (no sentido mesmo de sem inteligncia,

    idiota) que, no obstante, triunfam, Clarice o faz sempre atravs de um tratamento dado

    linguagem, que presentifica a realidade, vinculando-a estreitamente percepo do

    narrador, num mecanismo performtico apontado por Benedito Nunes j em 1961:

  • [...] a concepo da escrita como encenao, um dos mais importantes

    traos caractersticos da potica de Clarice Lispector [...] j se d a ver

    com clareza na estrutura, na concepo e na linguagem deste romance

    [...]. preciso ler [em A cidade sitiada] um evidncia do projeto

    literrio clariceano que concebe a escrita como processo performtico,

    e o escritor como um encenador. (NUNES, 1995, p.41).

    No caso deste romance de 1949, alguns trechos delineiam claramente a

    teatralizao do narrar. Sob a tica da personagem Lucrcia, intenta-se, em vez de ver a

    realidade dos objetos, criar a prpria realidade deles com uma linguagem forjada

    especificamente para isso, tornando presente a percepo dos objetos no ato da escritura

    e projetando o mesmo processo para o instante-j da leitura, fundindo dessa forma o

    estado de coisas captado ao movimento contnuo da linguagem literria: a personagem,

    diante de uma srie de miniaturas, tem fluxo dos pensamentos descrito da seguinte

    forma: Que diria se pudesse passar, de ver os objetos, a diz-los... Era o que ela,

    com pacincia muda, parecia desejar. Sua imperfeio vinha de querer dizer, sua

    dificuldade de ver era como a de pintar. (LISPECTOR, 1995a, p.62).

    Aps A cidade sitiada, de 1949, Clarice escreveu A ma no escuro. Trata-se

    de um romance difcil, tido como o mais elaborado da escritora, pelo menos at ento,

    em que os problemas tericos da escrita de fico comeam a fazer parte da estrutura

    ficcional de maneira deliberada. Neste livro, a trama se divide em trs captulos: Como

    se faz um homem, Nascimento do heri e A ma no escuro, num claro

    posicionamento de reflexo acerca de como o amlgama da linguagem far nascer e

    performar a persona que delineia o centro da narrativa.

    Sabemos, como leitores, que o homem feito no primeiro captulo , na

    verdade, um homem que intenta morrer para a linguagem utilitarista do mundo.

    depois dessa incurso (quase que anloga aventura do nascimento da palavra potica)

    que o heri romanesco comea a ser delineado, ainda para fracassar de antemo no

    papel que lhe cabe.

    Como esclarece Olga de S,

    Em A ma no escuro, Martin tambm recuara at o estado ednico,

    alcanando a linguagem icnica do gestual, sem palavras. Parece at

    que recuara mais ainda, pois seu pulo inicial no jardim de um

    macaco e sua voz um grunhido de satisfao. Quando, muito depois,

  • atinge o alto da colina, em companhia de Vitria, e pode apontar com

    o dedo, isto seria a nomeao dos seres. (S, 1999, p. 80).

    Beirando o silncio, figurando no romance com o corpo, Martin lana um olhar

    de desconfiana para o teatro das relaes humanas. Negando-se a responder aos papis

    e limites que lhe impe o fato de ser um homem racional, ele ameaa a ordem da

    representao, ensejando, em ltima instncia, um mundo no qual se possa,

    completamente s e desvalido, em contato profundo com a natureza bruta, gritar:

    [...] , sim! alto e sem sentido, e parecia cada vez mais glorioso como se fosse cair morto.

    [...] Ento repetiu com inesperada certeza: , sim! Cada vez que dizia essas palavras estava convencido de que aludia a alguma coisa.

    Fez mesmo um gesto de generosidade de largueza com a mo que

    segurava o passarinho, e magnnimo pensou: eles no sabem a que estou me referindo. (LISPECTOR, 1995b, p. 26 -27).

    Em A ma no escuro, portanto, como viria a acontecer obsessivamente na

    produo final da escritora, Clarice trabalha o problema da criao versus linguagem,

    revisitando o mito bblico do Gnesis e deslocando seus smbolos mais recorrentes,

    como o crime, a expulso do den, a nomeao dos seres, a ma (signo exato do

    malfadado discernimento humano). Assim, o problema envolvendo a linguagem e sua

    capacidade de acionar a realidade est plenamente colocado, dialogando com o mito

    judaico-cristo, fonte, alis, amplamente utilizada por Clarice.

    J na dcada de 60, com A paixo segundo G.H. (1964), uma diferena central

    se coloca: o foco narrativo passa a ser a primeira pessoa. Muito embora a narrao dos

    romances anteriores esteja coalhada de dilogos em que existem intervenes ntidas na

    voz do narrador, o que nos leva percepo de um discurso indireto livre, neles est

    presente o tom de constatao e investigao em relao aos personagens e realidade

    que eles vivem. No entanto, em A paixo, a linguagem se estrutura de modo a ser ela a

    fora principal, no sentido de que uma realidade mutvel se incorpora num estilo

    mstico, numa espcie de sagrao do verbo que no contm a realidade, mas a constri.

    Uma ofensiva contra a linguagem utilitarista est erigida: A paixo o resultado de uma

    entrega. Se a personagem Joana pudesse acessar a experincia de G.H., poderamos

    dizer que ela se libertara da palavra-isca e alcanara a palavra-transcendncia:

  • Vou criar o que me aconteceu. S porque viver no relatvel. Viver

    no vivvel. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim,

    mentir no. Criar no imaginao, correr o grande risco de se ter a

    realidade. Entender uma criao, meu nico modo. Precisarei com

    esforo traduzir sinais de telgrafo - traduzir o desconhecido para uma

    lngua que desconheo, e sem sequer entender para que valem os

    sinais. Falarei nessa linguagem sonmbula que se eu estivesse

    acordada no seria linguagem. (LISPECTOR, 1998, p. 21)

    O livro, escrito todo em epifania, tem um enredo banal, mas, mesmo assim,

    primeiro a conter uma espcie de moldura, como se fosse um aviso. O trecho, assinado

    pelas iniciais C.L. o seguinte:

    A POSSVEIS LEITORES

    Este livro como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse

    lido apenas por pessoas de alma j formada. Aquelas que sabem que a

    aproximao, do que quer que seja, se faz gradualmente e

    penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai

    aproximar. Aquelas pessoas que, s elas, entendero bem devagar que

    este livro nada tira de ningum (LISPECTOR, 1998, p. 7).

    Nesse trecho, esboa-se uma comunicao direta entre a autora (sempre

    indicada pelas iniciais) e o pblico. No entanto, tratando-se de um projeto vazado por

    armadilhas, como o de Clarice Lispector, uma anlise mais acurada poderia mostrar

    ironias, sabotagens... Quem poderia supor que um livro tira algo de algum? Por que

    dizer que este livro nada tira de ningum?

    Logo aps A paixo segundo G.H., Clarice lanou A Legio Estrangeira, que,

    inclusive, no teve a repercusso merecida em funo do grande destaque dado pela

    crtica ao romance do mesmo ano. O volume de contos dividido em duas partes, sendo

    que a segunda apresenta uma espcie de ressalva, de certa forma introduzindo um novo

    paradigma na escrita clariceana que seria amplamente utilizado na dcada de 70, ou

    seja, o que a crtica chamou de rebaixamento. A seguir, o comentrio que

    supostamente justifica a publicao de textos menores:

    Por que publicar o que no presta? Porque o que presta tambm no

    presta. Alm do mais, o que obviamente no presta sempre me

    interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do

  • malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno voo e cai

    sem graa no cho. (LISPECTOR, 1964, p.127)

    O aparecimento cada vez mais frequente desse tipo de comentrio, pr-texto,

    paratexto ou mesmo introdues e dedicatrias prope uma discusso: at que ponto um

    autor retira-se do prprio corpo ficcional que incorpora ao escrever tais textos? Ou

    seriam eles molduras de uma estratgia ficcional que inclui a disperso da categoria

    autoral em nveis hierrquicos, o que torna mais complexo e autoconsciente seu projeto

    artstico performtico? Assumir esse procedimento (a performance literria) e tentar

    compreend-lo na base de suas implicaes filosficas parece ser um caminho bastante

    interessante no que diz respeito forma como Clarice toma a linguagem para trabalh-la

    literariamente.

    2. Molduras modificam retratos

    Em A legio estrangeira, o anncio de textos de fundo de gaveta insere no

    interior do livro uma opinio e uma justificativa sobre os textos que viro. No entanto,

    cotejando o trecho com uma anlise mais profunda do projeto do livro em geral, pode-se

    ler o fragmento como texto ambguo, insidioso, que, de dentro do sistema literrio,

    emoldura a discusso poltica sobre o sistema de valores que rege o mercado e a

    atividade literria no Brasil. , portanto, a indicao de uma presena performtica

    (actorial) de uma voz autoral no interior da fico com a capacidade de adicionar uma

    camada estratgica e crtica ao projeto do livro como um todo.

    Arnaldo Franco Jr., em artigos recentes, tem esclarecido esse tipo de estratgia,

    colaborando para uma leitura mais politizada das estratgias formais de Clarice, como

    podemos ler a seguir:

    Ao organizar o livro em duas partes, Clarice encena uma diviso

    assentada no bom-senso, no senso de proporo e de medida, no

    sistema de valores que enforma o senso comum dos que participam do

    sistema literrio para, numa reviravolta, question-lo, desestabiliz-lo,

    avaliando-o como imposio muito limitadora (FRANCO JUNIOR, 2004).

    Tal procedimento, como apontado anteriormente, reiterado em obras

    subsequentes. A via crucis do corpo, publicado em 1974, , como se sabe, um livro

  • curioso. Feito sob encomenda, encena o drama da literatura no mercado editorial e lana

    um olhar sobre os aprisionamentos a que est sujeito um autor supostamente

    responsvel por uma obra anterior:

    O livro torna-se interessante quando lido sob a perspectiva da

    encenao caracterstica do trabalho de criao de Clarice. Ele no

    rompe com o projeto literrio da escritora, apenas radicaliza o drama

    da linguagem de que nos fala Benedito Nunes (1989), mostrando que

    a heteronmia constitui um elemento de base em sua literatura. Choca,

    entretanto, porque abala a clausura das rotulaes metafsico-msticas

    em que Clarice tende a ser encarcerada. (FRANCO JUNIOR, 2007).

    Dessa explanao, depreendemos uma matriz essencial que motivou a escrita

    deste artigo: A Via Crucis do Corpo. Como os demais livros da dcada de 70, um livro

    que j inclui em sua problemtica o esplio intelectual de sua escritora, que parece

    querer livrar-se dele, ou, pelo menos, super-lo, negociando um nome, de um lado, com

    o prprio mercado editorial e, do outro, com a prpria lgica ficcional, utilizando-a para

    botar preo em sua escritura. Tal procedimento baseia-se fundamentalmente na

    colocao do que estamos chamando de moldura. Trata-se, efetivamente, de um

    paratexto2 denominado: Explicao. Alguns trechos presentificam o problema:

    O poeta lvaro Pacheco, meu editor na Artenova, me encomendou

    trs histrias que, disse ele, realmente aconteceram. [...] Quero apenas

    avisar que no escrevo por dinheiro e sim por impulso. Vo me jogar

    pedras. Pouco importa. No sou de brincadeiras, sou mulher sria.

    Alm do mais tratava-se de um desafio. [...] No fazia sentido

    escrever nesse dia histrias que eu no queria que meus filhos lessem

    porque eu teria vergonha. Ento disse ao editor: s publico sob

    pseudnimo. At j tinha escolhido um nome bastante simptico:

    Cludio Lemos. Mas ele no aceitou. [...] um livro de treze histrias.

    Mas podia ser de quatorze. (LISPECTOR, 1984, p. 7-8)

    Nesse fragmento, encontramos elementos centrais como a sugesto de que a

    voz narradora se vale da ambiguidade de ser ou no ser, na verdade, Clarice Lispector.

    Alm disso, a meno a uma heteronmia (Cludio Lemos) ratifica a permanncia de

    uma espcie de rastro das iniciais do nome da autora, que, inclusive, assinam o

    2 referncia a Gerard Genette

  • fragmento. As treze histrias, que podiam ser quatorze, emolduram possivelmente

    Explicao fragmento que questiona, inclui e subverte, de modo performtico, os

    pr-conceitos e valores de um sistema literrio que parece se apropriar de um nome e

    transform-lo em campanrio de bom senso e bom gosto.

    Alis, por falar em campanrio, faz-se necessrio, nesta sequncia, analisar as

    configuraes que esse tipo de procedimento toma em A hora da estrela (1974), mais

    um marco entre os livros que discutem claramente os problemas do escrever, desde suas

    esferas ontolgicas at mesmo as mais vis, como por exemplo, as demandas de mercado

    e os estigmas associados ao intelectual. Na novela, a representao autoral ganha um

    nome, um sexo, um qualificador, uma classe social e uma personalidade sdica.

    Estamos falando de Rodrigo S.M., cujo qualificador ser na verdade Clarice

    Lispector, o intelectual de classe mdia que narra a histria de Macaba, a personagem

    nordestina com quem ele se identifica por contrrios, por quem se apaixona e a quem

    depois mata, impiedosamente.

    A hora da estrela possui um pr-texto muito especfico: A Dedicatria do

    Autor (na verdade Clarice Lispector). Tambm possui uma pgina em que figuram

    treze ttulos e em cujo centro penetra a assinatura da autora, reproduzida em cada

    volume, misturadas aos tipos editoriais.

    Conforme aponta Lgia Maria Winter (2007),

    Como antropnimo, Clarice Lispector um fantasma de presena,

    uma reminiscncia, cuja inscrio imprpria pe em pauta seu

    renome. A mesma dualidade (nome/renome) instaura-se na dedicatria

    do livro: Dedicatria do Autor (Na verdade Clarice Lispector) [...]

    Antes de se sujeitar a um antropo, evocando-o, o nome prprio refere-

    se a seu renome: o estatuto pontuado Autor (autoridade, direito

    adquirido, poder). Trazer o autor verdade ficcional da narrativa

    questionar suas bases (WINTER, 2007, p.21, p. 23).

    Assombrando sua prpria obra com uma forte presena de um autor em

    primeira pessoa, Clarice provoca uma exposio de um si mesmo autoral, que parece

    ter como funo criar um interesse pelos chamados bastidores da literatura, delegando

    uma importncia em desnvel para a fbula narrada.

  • Ao mesmo tempo em que se mostra, esse autor parece diferir de si mesmo,

    ficcionalizando sua prpria assinatura, se afastando de seu prprio renome, dispersando-

    se para alm do seu trao, do seu estilo:

    Noto que meus imitadores so melhores que eu. A imitao mais

    requintada que a autenticidade em estado bruto. Estou com a

    impresso de que ando me imitando um pouco. O pior plgio o que

    se faz de si mesmo. A luta dura: se eu for fraco morro. [...] O pouco

    de popularidade que eu tenho me desagrada. E h tambm os meus

    imitadores. Mas e eu? Para que estilo eu vou, se j fui to usado e

    manuseado por algumas pessoas que tiveram o mau gosto de serem

    eu? Vou escrever um livro to fechado que no dar passagem seno

    para alguns. [...] Minha escurido fatal ser promessa de uma luz

    tambm fatal? (LISPECTOR, 1999, p. 34)

    Tais procedimentos remetem a uma srie de recursos ligados ao universo

    normalmente relacionado ao problema da performance em literatura, termo amplo e que

    ainda clama por uma definio mais profunda. Embora no seja o escopo neste trabalho

    incorrer em tarefa to audaciosa, nosso dever, pela prpria necessidade de

    conformao terica, um levantamento seletivo dos usos que alguns estudiosos tm

    feito desta palavra mais ou menos polissmica.

    Acompanhando uma trilha organizada por RAVETTI (2002, p. 47-66),

    podemos elencar quatro importantes vertentes:

    1) quando performance, no sentido de teatralizao, est correlacionada a

    [...] exposio radical do si-mesmo do sujeito enunciador assim como

    do local da enunciao; a recuperao de comportamentos

    renunciados ou recalcados; a exibio de rituais ntimos; a encenao

    de situaes de autobiografia; a representao das identidades como

    um trabalho de constante restaurao (op. cit).

    2) quando performance, no sentido de atuao de termo performativo, segundo acepo

    de Austin e posteriores discusses de Searle e Derrida, designa situaes enunciativas

    em que palavras deixam de indicar determinada ao para perform-la, ou seja, realiz-

    la na substncia lingustica. O exemplo clssico o dos verbos performativos,

    exaustivamente estudados, dos quais o principal exemplo est na formulao Eu te

    batizo, que, quando a) dita em 1 pessoa; b) dita por pessoa reconhecidamente

  • autorizada a diz-la e c) dita em ocasio em que se monta o ritual para diz-la tem poder

    de realizar o prprio ato que enuncia;

    3) quando performance, no sentido de prtica cultural, marcada pela repetio do

    discurso oficial, segundo as teorias identitrias de Homi Bhabha e Judith Butler,

    produzem um sujeito enunciativo. Nesse caso, o discurso quem determina o sujeito, e

    no o contrrio;

    4) quando performance, no sentido de discursos que evocam civilizaes indgenas, por

    meio do devoramento de situaes de oralidade, em que esto presentes tambm a

    prtica ritual, caracterizada por movimentos coreogrficos, recitao, musicalizao,

    entre outros.

    No caso da primeira linha, tais procedimentos criam, em primeiro lugar, uma

    recusa ao estabelecimento de uma identidade oficial, slida, crvel, fechada. No caso de

    Clarice Lispector, vinte anos de escrita fazem com que ela possua uma marca, um

    contorno mais ou menos definvel e ser justamente essa marca (essa assinatura) que

    passar a ser um ponto problematizante na sua obra posterior, como explica Luciene

    AZEVEDO (2007b) acerca desse procedimento em A hora da estrela:

    sintomtico que, considerando a tradio interessada de nossa

    literatura, seja justamente em uma obra de Clarice Lispector que todos

    esses impasses venham tona de forma quase cnica. Sintomtico

    ainda pelo fato de Clarice Lispector ter merecido ateno da crtica

    pela resistncia que impe a essa tradio (basta reler o artigo de

    Antnio Cndido que saudava sua apario). Chega a ser irnico o

    fato de que, depois de ter pairado sobre ela o rtulo de escritora

    alienada de estilo mulherzinha, A hora da estrela possa ser encarado como um marco problematizador da representao da voz do Outro no

    panorama literrio brasileiro, colocando-se no olho do furao dessa

    mesma tradio interessada. (AZEVEDO, 2007b, p.82)

    No entanto, preciso considerar que h contaminaes e fulcros

    problematizantes nos quais a amplitude do conceito de performance se faz presente. Por

    exemplo, nota-se, tambm, na anlise de A hora da estrela, a teia de problemas

    identitrios, passando obviamente pelo problema da escritora-mulher, trazendo tona as

    possveis consequncias que reverberam nas contribuies de Bhabha e Butler, como

    aponta o item 3, e que no vem ao caso, neste artigo, explorarmos.

  • Vale dizer tambm que o problema mais filosfico envolvendo Austin, Searle e

    Derrida (item 2) desemboca no problema da palavra/ao de Clarice Lispector e na

    questo da assinatura/falsificao, j apontado anteriormente.

    O jogo estabelecido pela autora parece repercutir a polmica discusso acerca

    da existncia ou no de performativos srios e no-srios. Derrida, como se sabe,

    desconstri a estratgia de Austin de deixar de lado performativos feitos por atores em

    cena, em funo de eles serem parte de um discurso parasitrio, ou seja, no srio

    (CULLER, 1997, p. 135).

    Segundo o prprio Austin, os performativos esto sujeitos

    [...] a certos outros tipos de enfermidade que infectam todos os

    enunciados. E esses, da mesma forma, embora possam novamente ser

    trazidos para uma exposio mais geral, estamos no momento

    excluindo deliberadamente. Quero dizer, por exemplo, o seguinte: um

    enunciado performativo ser, por exemplo, de um modo especfico

    oco ou vazio, se dito por um ator no palco, introduzido num poema,

    ou dito em um solilquio. (AUSTIN apud CULLER, p. 134-135)

    No caso de A hora da estrela, a assinatura, gesto performtico de validao da

    autoria, acontece nos moldes de um gesto feito por um ator no palco, considerando que

    a escrita um locus de encenao para Clarice Lispector. Portanto, o excerto na

    verdade Clarice Lispector, na dedicatria do autor em A hora da estrela, um exemplo

    claro do que Austin est chamando de enfermidade ou performativo parasitrio.

    Entretanto, essa fora que reafirma Derrida ao desconstruir o pensamento de

    Austin (mesmo ante a defesa de John Searle em prol de Austin no famoso Reiterating

    the Differences). Segundo o filsofo francs, para que uma promessa (ou uma aposta ou

    mesmo uma prtica como o batismo ou a declarao de um casamento) ocorra, ela deve

    ser um gesto reconhecvel como cerimnia, algo que se repete mais ou menos da

    mesma forma, em que os atores tenham papis preconcebidos, como numa atuao.

    Assim, um ator no palco podendo representar um casamento um excelente modelo de

    como um casamento uma repetio (uma iterao), uma atuao. Dessa forma,

    podemos reverter o pensamento dual do que seja srio e parasitrio em Austin, e

    considerar, com Derrida, que os performativos srios so apenas um caso especial de

  • atuao. As consequncias desse raciocnio para as questes de performance autoral so

    previstas por Culler (1997):

    Esse um princpio de amplitude considervel. Algo pode ser uma

    sequncia significante somente se itervel, somente se pode ser

    repetido em vrios contextos srios e no srios, citado e parodiado. A

    imitao no um acidente que recai sobre um original, mas sua

    condio de possibilidade. S existe alo como um estilo original de

    Hemingway se pode ser citado, imitado e parodiado. Para que haja tal

    estilo, preciso que haja aspectos reconhecveis que o caracterizam e

    produzem seus efeitos distintivos; para que os aspectos sejam

    reconhecveis, deve-se poder isol-los com elementos que poderiam

    ser repetidos e, portanto, a iterabilidade manifesta no inautntico, no

    derivado, na imitao o que possibilita o original e o autntico.

    (CULLER, 1997, p. 138-139)

    Desta forma, tendo demonstrado acima como as vrias vertentes de

    considerao do gesto/escrita/enunciado/rito performticos esto interligadas no mesmo

    problema previsto por Austin na mensurao de uma capacidade da linguagem de ir

    alm da simples descrio das circunstncias e poder vertiginosamente deslocar padres

    de verificao e construo do que real e do que encenao, e analisando com

    Derrida o jogo perverso de complementariedade que existe entre a validao de um

    original e a iterao de uma cpia, seja na literatura ou na decodificao de um sujeito

    pretensamente nico, verificamos o quanto a literatura de Clarice Lispector foi capaz de

    perceber essas potncias na linguagem e apont-las em diferentes circunstncias e com

    reverberaes distintas.

    A obra de Clarice Lispector talvez seja um dos mais poderosos exemplos em

    lngua portuguesa dessa matria complexa que tanto gerou polmica nos estudos sobre a

    linguagem nos ltimos cinquenta anos a problemtica da performance que em ltima

    instncia mais um derivado do problema central da representao. Certamente, a

    modulao performtica existe desde que existe literatura, porm o aprofundamento da

    conscincia metaficcional e a coragem para desmascar-la no cerne da narrativa

    colocam o leitor diante de escrituras que possuem a propriedade de comunicar ao

    mesmo tempo em que colocam a linguagem diante de seus limites ontolgicos para, em

    ltima instncia, questionar a prpria natureza lingustica da realidade em si, pelo

    menos da realidade em si para o ser humano, definvel conscincia a partir da

  • linguagem. dessa literatura profundamente filosfica, no sentido exato do termo, que

    estamos falando neste artigo.

    3. Cobra que engole o prprio rabo

    Em Um sopro de vida, finalmente, Clarice conclui a imerso em seu prprio

    cone como figura literria, desrealizando-se em prol de um fechamento, que provocaria

    uma subverso intensa dos lugares crticos a que vinha sendo relacionada, fazendo

    reverberar como cobra que engole o prprio rabo sua capacidade de subverter at seu

    autorretrato, j bem delineado em tantos anos de atividade literria.

    Um sopro de vida no comea de onde comea: seu texto dialoga com aquilo

    que podemos chamar de obra anterior de Clarice Lispector. Um livro cujos

    personagens so instncias narrativas e os fatos so procedimentos literrios. No um

    livro comum, uma obra sobre os limites do livro, da obra, da escritura e da autoria. A

    performance aqui da prpria escritura e termina com o autor morto e a significao

    recomeada.

    AUTOR. Isto afinal um dilogo ou um duplo dirio? S sei uma coisa: neste momento estou escrevendo: neste momento coisa rara porque s s vezes piso com os dois ps na terra do presente: em geral

    um p resvala para o passado, outro p resvala para o futuro. E fico

    sem nada. (LISPECTOR, 1999, p. 36).

    Iniciado em 1974 e concludo em 1977, essa obra dialoga com os pressupostos

    estticos e temticos que orientaram a produo clariceana desde a sua estreia, em 1944.

    Ao mesmo tempo, pode ser lida como uma proposta inovadora, calcada na

    problematizao da linguagem e das relaes estabelecidas via linguagem, vinculando

    questes como encenao e dramatizao a um questionamento sempre duplo: o que

    o ser? e o que o escrever?. Na obra final, escrever se torna uma espcie de

    agonia: Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de algum. Provavelmente a

    minha prpria vida. Viver uma espcie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos

    porque neles vivemos (LISPECTOR, 1999, p. 13).

    Assim, escrever gesto presentificado, performance de autor que luta contra a

    morte e ao mesmo tempo luta para libertar-se das amarras que sua prpria vida literria

  • construiu. Convocando, portanto, uma renovao no que concerne s expectativas com

    relao sua produo e promovendo uma crtica que desestabiliza uma herana de

    leitores pela qual ela mesma teria sido responsvel, Lispector tece a difcil relao entre

    o exerccio sempre indito da composio artstica e sua obra anterior, seja dentro de

    uma tradio pr-existente, em termos gerais, ou mesmo de uma tradio que rotula um

    artista. Assim, o texto desmascara e reformula aquilo que poderamos chamar de mito

    do escritor.

    Se este livro vier jamais a sair, que dele se afastem os profanos. Pois

    escrever coisa sagrada onde os infiis no tm entrada. Estar fazendo

    de propsito um livro bem ruim para afastar os profanos que querem

    gostar. Mas um pequeno grupo ver que esse gostar superficial e

    entraro adentro do que verdadeiramente escrevo, e que no ruim

    nem bom. (LISPECTOR,1999c, p. 21).

    Tendo dessa vez uma longa introduo, o livro quer afastar os infiis que

    querem gostar, por j terem gostado, acuando um gesto que se quer livre em um padro

    por ele mesmo criado e o faz performando a criao. Lendo-se e defendendo-se, o livro

    inclui na sua prpria estrutura o paratexto, prescindindo de margens e arvorando-se a

    liberdade de inclusive dizer:

    Eu sei que este livro no fcil, mas fcil apenas para aqueles que

    acreditam no mistrio. Ao escrev-lo no me conheo, eu me esqueo

    de mim. Eu que apareo neste livro no sou eu. No autobiogrfico,

    vocs no sabem nada de mim. Nunca te disse e nunca te direi quem

    sou. Eu sou vs mesmos. (LISPECTOR, 1999c, p.20).

    Emoldurando, portanto, de dentro do prprio discurso, entrelaada a ele, sua

    prpria sabotagem, a autobiografia inscrita , sobretudo, uma performance, que ,

    inclusive, interrompida de modo cnico na ltima pgina.

    O gesto de incompletude assinala a encenao da morte, includa e anunciada

    no livro todo. Assim, esta uma obra pesada de uma autora beira da morte, que de

    tanto desconfiar do discurso, aprendeu a faz-lo se autoapontar, de modo que possa

    sempre voar como uma estrutura vazia, ldica, cnica, leve. Eis a leveza do sopro,

    mesmo em face da morte.

  • Pode-se dizer, por fim, que a mscara que Clarice to sabiamente manipulou

    tambm salva seu ltimo livro: numa escrita que encena um presente eterno, haver o

    no-tempo sagrado da morte transfigurada. (LISPECTOR, 1999, p.11) e assim o rito

    da performance acontecer sempre que o leitor virar a pgina.

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