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CLÁSSICOS de literatura econômica  texto s selecionados de macroecono mia ipea 3 a  edição – reimpressão especial

Clássicos de Literatura Econômica

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    Nesta 3a edio so apresentados textos de:

    Joseph Schumpeter Michael Kalecki John M. Keynes Bertil Ohlin John R. HicksJames Tobin

    Milton Friedman

    Esta a capa da 1a edio de Clssicos de Literatura Econmica, publicada em 1988 pelo Ipea.

    ... o capitalismo pode ser es-tvel ou no, simplesmente em decorrncia da expectativa que se faz de sua durao. Sua his-tria pode ser repleta das mais violentas flutuaes ou mesmo catstrofes como sem dvida tem sido at agora , e estas flu-tuaes ou catstrofes poderiam at ser inerentes ao seu meca-nismo aspecto sobre o qual queremos precisamente formar uma opinio. Mesmo assim, de-veramos consider-lo estvel se encontrarmos razes para es-perar que ele dure. Sempre que no quisermos dizer nada alm disso isto , quando quisermos simplesmente tratar da questo do que pode ser chamado de a sobrevivncia institucional do capitalismo, falaremos, daqui por diante, da ordem capitalista em vez do sistema capitalista. Quando falarmos da estabilida-de ou instabilidade do sistema capitalista, estaremos nos refe-rindo a algo relacionado ao que os homens de negcios chamam de estabilidade ou instabilidade das condies comerciais. l-gico, a simples instabilidade do sistema, se suficientemente gra-ve, pode ameaar a estabilidade da ordem, ou o sistema pode ter uma tendncia inerente para destruir a ordem, solapando as posies sociais nas quais esta se apoia.

    Do captulo de Joseph Schumpeter

    CLSSICOSde literatura econmicatextos selecionados de macroeconomia

    ipea

    3a edio reimpresso especial

    Quando o Banco da Sucia estabeleceu o prmio para a Cincia Econmica em memria de Alfred Nobel (1968), sem dvida havia e ainda h um ceticismo ge-neralizado entre os cientistas e o pblico em geral quanto convenincia de tratar a economia como uma cincia similar fsica, qumica e medicina. Estas so con-sideradas cincias exatas, nas quais um conhecimento objetivo, cumulativo e defi-nitivo possvel. A economia e as demais cincias sociais so encaradas mais como ra-mos da filosofia do que como cincias propriamente defini-das, cheias de valores desde o princpio, por lidarem com o comportamento humano.

    As cincias sociais, nas quais os cientistas analisam seu prprio comportamento e o de seus companheiros que por sua vez esto observando e reagindo ao que os cien-tistas dizem , no exigem mtodos de investigao fun-damentalmente distintos dos aplicados s cincias fsicas e s biolgicas? Estas no de-veriam ser julgadas por meio de critrios diferentes?

    Do captulo de Milton Friedman

  • CLSSICOSde literatura econmicatextos selecionados de macroeconomia

    Braslia, 20103a edio reimpresso especial

  • Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica Ministro Samuel Pinheiro Guimares Neto

    PresidenteMarcio Pochmann

    Diretor de Desenvolvimento InstitucionalFernando Ferreira

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas InternacionaisMrio Lisboa Theodoro

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da DemocraciaJos Celso Pereira Cardoso Jnior

    Diretor de Estudos e Polticas Macroeconmicas Joo Sics

    Diretora de Estudos e Polticas Regionais, Urbanas e AmbientaisLiana Maria da Frota Carleial

    Diretor de Estudos e Polticas Setoriais, de Inovao, Regulao e InfraestruturaMrcio Wohlers de Almeida

    Diretor de Estudos e Polticas SociaisJorge Abraho de Castro

    Chefe de GabinetePersio Marco Antonio Davison

    Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoDaniel Castro

    URL: http://www.ipea.gov.br Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

    Fundao pbl ica v inculada Secretar ia de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasi leiro e disponibi l iza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

  • CLSSICOSde literatura econmicatextos selecionados de macroeconomia

    Braslia, 20103a edio reimpresso especial

  • Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2010

    As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e de inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

    Clssicos de literatura econmica : textos selecionados demacroeconomia.- 3. ed.- Braslia : Ipea, 2010.169 p. : grfs., tabs.

    1. ed.- editada em 1988.2. ed.- editada em 1992.

    Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7811-045-1

    1. Economia.2. Macroeconomia.3. Teoria Econmica.I. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada.

    CDD 330

  • Sumrio

    ApresentAo e AgrAdecimentos ......................................................... 7Joo Sics

    A instABiLidAde do cApitALismo ............................................................... 9Joseph Schumpeter

    ALgUmAs oBserVAes soBre A teoriA de KeYnes ......................... 39Michael Kalecki

    teoriAs ALternAtiVAs dA tAXA de JUros ............................................ 55John Maynard Keynes

    teoriAs ALternAtiVAs dA tAXA de JUros: rpLicA ......................... 73Bertil Ohlin A teoriA EX ANTE dA tAXA de JUros ........................................................ 85John Maynard Keynes

    o sr. KeYnes e os cLssicos: UmA sUgesto de interpretAo ............................................................................................ 97John Richard Hicks

    moedA, cApitAL e oUtrAs reserVAs de VALor ................................ 117James Tobin

    UmA ABordAgem de eQUiLBrio gerAL pArA A teoriA monetriA ...................................................................................... 135James Tobin

    inFLAo e desemprego: A noVidAde dA dimenso poLticA ........................................................................................ 159Milton Friedman

  • Apresentao e agradecimentos

    esta uma reimpresso parcial do excelente livro Clssicos de Literatura Econmica, lanado pelo ipea/inpes em 1988. o livro tal como foi publicado est no cd anexo a esta edio. A edio de 1988 continha textos clssicos de macroeconomia e microeconomia. Alm disso, contou com a preciosa apresentao de Anna Luiza osrio de Almeida. os captulos contavam com apresentaes de economistas brasileiros: ricardo tolipan, eduardo Augusto guimares, Achyles Barcelos da costa, dulio de vila Brni, clau-dio monteiro considera, Jos marcio camargo, Flvio r. Versiani, reinaldo gonalves, mauro Boianovsky, gustavo H. B. Franco, marco Antonio Bonomo e Joo da silva maia.

    os textos contidos na primeira edio e aqui reproduzidos foram selecionados e traduzidos no comeo da dcada de 1980 e publicados, inicialmente, na revista Litera-tura Econmica, entre 1983 e 1987. nesta edio, uma reimpresso especial, somente re-produzimos a segunda parte do livro Clssicos de Literatura Econmica, aquela referente aos textos clssicos de macroeconomia.

    para relembrar a revista Literatura Econmica, reproduzimos o expediente e o su-mrio de cada nmero da revista em que foi publicado originalmente o artigo em por-tugus, antes de serem publicados em conjunto na primeira edio do livro.

    A todos aqueles que contriburam para essa monumental iniciativa dos anos 1980 devemos nossos mais profundos e sinceros agradecimentos.

    o lanamento desta edio, reimpresso especial, de Clssicos de Literatura Econ-mica parte de um programa institucional do ipea de republicao de diversos de seus livros que marcaram o estudo de economia e cincias sociais no pas. este livrocontm ideias essenciais para aqueles que desejam contribuirpara a formulao de uma macro-economia voltada promoo do desenvolvimento.

    maio de 2010

    Joo Sicsdiretor de estudos e polticas macroeconmicas

  • Joseph Schumpeter

  • Joseph schumpeter

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    o texto A instabilidade do capitalismo, de Joseph schumpeter, foi publicado origi-nalmente na revista Literatura Econmica, volume 6, de maro/abril de 1984. nesta pgina e nas duas prximas, reproduzimos a capa, o expediente e o sumrio daquela edio.

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  • Joseph schumpeter

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  • A instABiLidAde do cApitALismo*

    Joseph Schumpeter

    1 estABiLidAde econmicA soB condies estticAs

    i guisa de esclarecimento, talvez seja conveniente, em primeiro lugar, separar o tipo de esta-bilidade ou instabilidade que nos propomos a discutir de outros fenmenos abrangidos pe-los mesmos termos. Analisando, por exemplo, a Frana, com sua populao, suas empresas estacionrias e seu vasto imprio colonial, e a situao oposta na itlia, o observador pode perfeitamente ter a impresso de instabilidade chammo-la de instabilidade poltica , que, entretanto, nada tem a ver com a instabilidade econmica conforme a entendemos; isto porque nos sistemas econmicos destes pases pode ser que haja, todavia, uma estabilidade perfeita. ou, ainda, se supusermos uma situao na qual todas as indstrias de um pas es-tejam monopolizadas por uma nica empresa, provavelmente, concordaramos em chamar tal sistema de instvel em sentido muito bvio classifiquemos o caso como de instabilidade social , embora ele pudesse ser altamente estvel economicamente. A instabilidade, em ou-tro sentido, poderia existir em um sistema em que os salrios de equilbrio estivessem abaixo do que os trabalhadores pudessem suportar apesar de no ser necessrio haver nenhuma tendncia de as prprias condies econmicas produzirem quaisquer mudanas pelo sim-ples funcionamento do sistema. Finalmente, casos especiais de instabilidade podem decorrer de influncias particulares externas, as quais no podem de maneira nenhuma ser atribu-das ao sistema econmico. o retorno da inglaterra ao padro-ouro um bom exemplo.

    * [este artigo foi originalmente publicado no The Economic Journal, v. XXXViii, n. 151, sept. 1928. A traduo de Fbio chazyn e Antonio de Lima Brito, sobre uma verso preliminar de george Land sobrinho. A reviso tcnica de Jeff Frieden. (n. do ed.)]

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    A estabilizao da libra no que era, do ponto de vista das condies existentes, um valor artificial, naturalmente implicou a desarticulao dos negcios, o incentivo s importaes e taxao das exportaes, o aumento dos prejuzos e do desemprego, criando, assim, uma situao eminentemente instvel. mas esta instabilidade se deve, evidentemente, atuao de polticos, e no ao funcionamento do sistema, o qual, pelo contrrio, teria proporciona-do para a libra um valor que se adaptaria exatamente s circunstncias. em suma, a estabi-lidade econmica a que nos referimos, apesar de contribuir para a estabilidade em outros sentidos, no sinnimo destes sentidos nem implica sua existncia. esta opinio deve, na-turalmente, parecer extremamente superficial para todos os que admitem a existncia de uma relao to estreita entre a esfera econmica e as outras esferas da vida social, como foi o caso, por exemplo, de marx. como, no entanto, seria perda de tempo provar aos leitores ingleses a necessidade de separar estas diversas esferas, limito-me a estas observaes.

    em segundo lugar, temos de definir o que entendemos por nosso sistema econmico: referimo-nos a um sistema econmico caracterizado pela propriedade privada (iniciativa privada), pela produo para um mercado e pelo fenmeno do crdito que, por sua vez, a differentia specifica que distingue o sistema capitalista de outros sistemas, histricos ou pos-sveis, do gnero maior definido pelas duas primeiras caractersticas. embora poucas coisas me paream mais fortemente estabelecidas pela investigao histrica do que o fato de a histria econmica no poder ser dividida em pocas correspondentes a sistemas diferentes, ainda possvel datar o predomnio dos mtodos capitalistas desde aproximadamente me-ados do sculo XViii para a inglaterra e chamar o sculo XiX de poca do capitalismo concorrencial, e o que a ele se seguiu at agora de capitalismo progressivamente oligopolizado ou de capitalismo organizado, regulamentado ou administrado.

    em terceiro lugar, o capitalismo pode ser estvel ou no, simplesmente em de-corrncia da expectativa que se faz de sua durao. sua histria pode ser repleta das mais violentas flutuaes ou mesmo catstrofes como sem dvida tem sido at agora , e estas flutuaes ou catstrofes poderiam at ser inerentes ao seu meca-nismo aspecto sobre o qual queremos precisamente formar uma opinio. mesmo assim, deveramos consider-lo estvel se encontrarmos razes para esperar que ele dure. sempre que no quisermos dizer nada alm disso isto , quando quisermos simplesmente tratar da questo do que pode ser chamado de a sobrevivncia ins-titucional do capitalismo, falaremos, daqui por diante, da ordem capitalista em vez do sistema capitalista. Quando falarmos da estabilidade ou instabilidade do sistema capitalista, estaremos nos referindo a algo relacionado ao que os homens de neg-cios chamam de estabilidade ou instabilidade das condies comerciais. lgico, a simples instabilidade do sistema, se suficientemente grave, pode ameaar a esta-bilidade da ordem, ou o sistema pode ter uma tendncia inerente para destruir a ordem, solapando as posies sociais nas quais esta se apoia.

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    iio que o homem de negcios entende por estabilidade devemos agora traduzir para a lin-guagem terica. o assunto pode ser abreviado, e sua exposio facilitada, se eu afirmar de incio que, salvo diferenas em alguns pontos especficos, as observaes seguintes giram inteiramente em torno da linha marshalliana. mas eu poderia igualmente cham-las muito bem de linhas walrasianas. isto porque, no mbito da teoria econmica sria, no existem coisas como escolas ou diferenas de princpios, e a nica diviso funda-mental em economia moderna est entre o bom e o mau trabalho. As linhas bsicas so as mesmas para todos no mundo inteiro: existem diferenas na exposio, na maneira e no maneirismo de colocar as coisas, por exemplo, de acordo com a relativa impor-tncia que os diferentes autores atribuem, respectivamente, ao rigor e generalidade, ou fidelidade para com a vida real. e, ainda, existem diferenas de tcnicas adotadas; a prpria grandeza de menger, Bhm-Bawerk e Wieser reside no fato de eles terem conseguido tanto com ferramentas to chocantemente toscas e primitivas, cujo manu-seio foi uma barreira intransponvel para se atingir a preciso. existem, ainda, diferen-as nas peas individuais da mquina analtica como, por exemplo, entre as curvas de demanda walrasianas e marshallianas, ou entre o papel atribudo aos coeficientes de produo, respectivamente por marshall e Walras, pareto e Barone. Finalmente, exis-tem diferenas no que se refere a problemas especficos, sendo os mais importan-tes aqueles sobre a teoria dos juros e a teoria do ciclo econmico. mas apenas isto. no existe diferena nos princpios fundamentais seja na produtividade de clark, no equilbrio de Walras, nas concepes austracas, na substituio de marshall ou na combinao entre Walras e Bhm-Bawerk feita por Wicksell; todos eles, em ltima an-lise, so a mesma coisa, e todos, apesar das aparncias contrrias, igualmente distantes e, ao mesmo tempo e no mesmo sentido, oriundos da colcha de retalhos de ricardo.

    o sistema econmico, no sentido de condies e processos, reduz-se, para os propsitos da teoria, a um sistema, no sentido cientfico da palavra isto , um siste-ma de quantidades interdependentes variveis e parmetros , que consiste em quan-tidades de mercadorias, taxas de mercadoria e preos, determinando-se mutuamente. este sistema tem sido considerado estvel, e sua estabilidade passvel de compro-vao racional, sob condies estticas. no to estvel, bem verdade, como os economistas teriam sustentado 60 anos atrs, quando a maioria deles quase todos, na realidade, exceto os marxistas teria afirmado com toda a confiana a absoluta estabilidade tanto da ordem como do sistema capitalista: a estabilidade tem sido sub-metida a muito daquilo por que passou tambm a teoria da maximizao de satisfa-es. Assim, como os mtodos mais modernos confirmaram a correo de uma parte da teoria da maximizao competitiva, depois de terem diminudo a importncia

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    daquela teoria, da mesma forma, eles demonstraram que temos geralmente tantas equaes quanto quantidades desconhecidas, e, portanto, um determinado estado de equilbrio correspondendo a certo grupo de dados vem a se mostrar estvel sob condies apropriadas; estes mesmos mtodos tambm tm demonstrado que as ex-cees a esta determinao so, em geral, considerveis. mesmo desconsiderando casos como a possibilidade de reverso da curva de oferta de trabalho1 ou como o caso do valor da moeda em um sistema de bimetalismo sem propores legais,2 te-mos muitas outras situaes em que o equilbrio no pode ser considerado determi-nado. o caso em que tanto a oferta como a demanda so inelsticas um exemplo.3 pode-se dizer, por exemplo, que a demanda interna de trigo nos estados Unidos altamente inelstica em uma variao de preos considervel. A oferta, mais uma vez, embora muito varivel, igualmente inelstica se for possvel aplicar este termo oferta para fins de simplificao em perodos de tempo pequenos demais para per-mitir um aumento ou uma diminuio da rea cultivada; e isto talvez possa explicar parcialmente a instabilidade da agricultura americana.

    mas, embora haja abundncia de ilustraes sobre esse e outros casos, a deter-minao do equilbrio esttico sob condies de concorrncia ainda um fato geral bsico, sendo que este equilbrio estvel, uma vez que o preo da oferta4 o preo da disposio para vender uma funo crescente da quantidade do produto.

    1. isto, naturalmente, no torna o equilbrio inteiramente indeterminado, mas apenas faz que o sistema tenha vrias e na maioria das vezes duas solues diferentes.2. Vale a pena enfatizar, entretanto, que no existe indeterminao quando duas ou mais mercado-rias circulam como moeda e cada transao concluda especificamente por meio de uma delas. A instabilidade s aparece se os contratos so rea1izados em termos de dinheiro em geral, de forma que os pagamentos podem ser feitos em qualquer daquelas mercadorias.3. outro exemplo foi apontado por Wicksell, em Geldwert und Gterpreise: se os coeficientes de produo fossem constantes e no houvesse nenhum uso alternativo para os fatores de produo sendo fixas, alm disso, suas quantidades ento, haveria indeterminao das suas propores no produto. outros so tambm discutidos por marshall, edgeworth e taussig (is market price determinate? Quarterly Journal of Economics, 1921, e divisia, Economie rationnelle, p. 410, 1928). este caso de indeterminao s surge na ausncia de qualquer utilidade marginal verdadeira da moeda. ele foi anteriormente apontado pelo prof. cassel e , obviamente, facilmente remedivel.4. o esquema de preos de oferta aqui referido compreende as sries de preos nas quais, dados os mtodos de produo usados atualmente pelas indstrias e sob condies gerais e prticas comer-ciais determinadas, as respectivas quantidades de produtos estariam disponveis. o esquema, por conseguinte, refere-se logicamente a um determinado momento. ele no leva em conta, todavia, as ocorrncias ocasionais, como as situaes momentneas do mercado, por um lado; e no leva em conta tambm, por outro lado, a no ser os ajustamentos marginais capazes de serem decompostos em avanos infinitesimais; portanto, pode ser chamado de prazo curto e normal. mas as objees a isto seriam a implicao da existncia de algum perodo longo e normal e, alm disso, a nfase que este modo de expresso coloca no elemento temporal, embora o importante no seja o perodo de tempo em si, mas o que acontece durante ele mesmo.

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    esta condio se apoia no fato fundamental de que o aumento de produo por parte de qualquer indstria significa a retirada de quantidades de fatores de produo de outros usos cada vez mais importantes, o que, obviamente, no se v nas firmas in-dividuais como tambm no se v a influncia de um aumento de produo sobre o preo de demanda na esfera de ao destas mesmas firmas em situao de concor-rncia perfeita , mas constitui, todavia, a fora que, ao ser contraposta utilidade marginal decrescente do produto, determina a distribuio de recursos entre as in-dstrias. existe, verdade, um perodo em praticamente quase toda empresa no qual esta condio no se verifica, devido ao fato de que esta tendncia compensada pelo rateio dos custos fixos entre um nmero crescente de produtos. sempre que for este o caso, no pode haver um ponto de equilbrio estvel.5 mas o efeito inevitavelmente se esgota e, portanto, o equilbrio estvel pode, no obstante, eventualmente surgir, embora possa haver, e frequentemente h, uma instabilidade prvia um tipo de instabilidade que uma das fontes da chamada superproduo.

    A hiptese esttica exclui qualquer outra causa do custo crescente. Justifica-se a aceitao de tal arranjo pelo fato de que ela separa claramente diferentes conjuntos de fenmenos que exigem tratamentos diferentes. As inovaes nos mtodos produtivos e comerciais no sentido mais amplo do termo inclusive a especializao e o desenvolvi-mento da produo em escala diferente da que prevalecia anteriormente sem dvida alteram as condies do sistema esttico e constituem, tenham ou no algo a ver com a inveno, outro grupo de fatos e problemas. Assim ocorre com a economia externa, que representada, por exemplo, pelas revistas especializadas, pelos servios de padro-nizao, pelo pool de estoques de reserva de materiais decorrente da presena de um grande mercado para eles, e assim por diante. pede-se ao leitor que reserve para mais adiante o seu juzo sobre a excluso destas coisas. Aqui basta esclarecer que deveramos enfatizar a natureza heterognea de todos estes fenmenos no momento exato em que os analisamos. de qualquer modo, teramos de reconhecer que no existe lei de custos decrescentes do mesmo tipo e simtrica lei dos custos crescentes.6 A relao entre as

    5. nem mesmo se, na ilustrao conhecida, a curva da demanda cortar a curva da oferta negativa-mente. pois, mesmo neste caso, deve ser do interesse de cada produtor individual, que, ex hipothesi, desconsidera a influncia de sua prpria ao sobre os preos e continua produzindo. enquanto isto persistir, haver um movimento em direo ao equilbrio e isto distingue fundamentalmente este caso de rendimentos crescentes dos outros , mas no o equilbrio em si. enquanto outros casos do conjunto chamado de rendimentos crescentes vires acquirunt eundo podem, assim, con-duzir a um monoplio, este dificilmente consegue faz-lo. ele, contudo, pode apresentar situaes de custos crescentes para a indstria como um todo diante da presena de custos unitrios decres-centes em cada firma individual.6. por lei dos custos crescentes, podemos entender quatro coisas inteiramente independentes entre si. primeiro, podemos, como anteriormente, entender o que a verdadeira essncia do processo eco-nmico e, tambm, apenas outra maneira de apresentar a lei da satisfao das necessidades, na qual a importncia das doses sucessivas de meios de produo deve sempre aumentar, na medida em que

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    duas pode, talvez, ser mais bem visualizada por meio da analogia com o lado da deman-da do problema. empiricamente, evidente que poderamos, em muitos casos, chegar a curvas de demanda que se inclinassem positivamente em vez de negativamente como, por exemplo, as curvas de demanda para o ferro-gusa do prof. moore. e existem, claro, muitos casos similares, sendo que o principal ponto de interesse quanto curva do ferro-gusa reside no fato de que a sua periodicidade indicativa do ciclo de negcios. nin-gum, entretanto, d pouca importncia ao que universalmente considerado como a inclinao verdadeira da curva terica de demanda. todos, pelo contrrio, reconhecem que, em tais casos, acontece uma mudana termo com o qual pretendemos incluir de forma inexata no apenas o deslocamento, mas tambm a distoro das curvas tericas, cada uma das quais mantm suas caractersticas fundamentais em conformidade com a lei que deve representar, e que qualquer curva que apresenta uma inclinao positiva simplesmente uma curva estatstica7 ou histrica, ajustada por meio de uma famlia de curvas tericas sucessivas. o mesmo se aplica se me for permitido prescindir, por uma questo de simplificao, das dificuldades de falar de algo to duvidoso s cur-vas de oferta. existe somente uma curva terica de oferta; e ela se inclina positivamente em todos os casos. mudanas nos dados no a fazem inclinar-se negativamente, mas

    se incorporam a qualquer indstria, pelo fato de eles serem real ou virtualmente retirados de outras. em segundo lugar, podemos, conforme apontado anteriormente, entender que doses sucessivas de qualquer fator de produo aplicado a uma quantidade constante dos outros produz um incremen-to fsico decrescente do produto, sendo que tudo, especialmente o mtodo, permanece o mesmo. A forma mais prtica de fazer uso desta proposio considerar uma fbrica determinada que englobe tanto um determinado mtodo de produo dado quanto um conjunto inelstico de custos suplementares, e variar os elementos dos custos primrios um de cada vez. esta talvez seja a melhor ferramenta com a qual temos de lidar para o trabalho rotineiro da administrao de uma firma in-dividual. isto, porm, no tem nada a ver com o terceiro caso, que o fato de uma comunidade estar sendo compelida, pelo processo de expanso da produo, a explorar oportunidades produtivas cada vez menos profcuas, o que ficou bem claro no acurado estudo do prof. sraffa, relazioni fra costo e quantit prodotta, Annali de Economia, 1925, resumido em artigo desta revista em dezem-bro de 1926, e comentado pelo prof. pigou no nmero de junho de 1927. [este artigo de piero sraffa, com o ttulo As leis dos rendimentos sob condies de concorrncia, foi traduzido e publicado em Literatura Econmica, rio de Janeiro, v. 4, n. l, p. 13-34, jan./fev. 1982.) (n. do ed.)] e, em quarto lu-gar, h a profecia, graas qual ricardo deve o epteto de pessimista, de que melhorias dos mtodos produtivos na agricultura sero, a longo prazo, incapazes de contrabalanar os custos crescentes no segundo e terceiro sentidos, no caso de a populao continuar crescendo.7. A curva terica pode, claro, ser determinada estatisticamente sem deixar de ser uma curva terica, j que a distino feita anteriormente no se baseia no fato ou na possibilidade, de deter-minao estatstica, mas sim no fato de a curva expressar e ilustrar ou no um teorema, adquirindo, assim, uma unidade lgica, em contraposio ao que poderia ser qualificado de unidade descritiva. no entanto, estou longe de exagerar a importncia desta distino: de um lado, a teoria em si mes-ma apenas um modo de descrever os fatos; de outro, qualquer unidade descritiva pode a qual-quer tempo converter-se, em processo de anlise, em unidade lgica de fato, a fronteira entre as duas altera-se continuamente com o progresso da cincia. mas isto no razo para simplesmente ignor-la, nem para relacionar coisas que no esto no mesmo plano.

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    a deslocam, ou, mais corretamente, a interrompem8 e iniciam uma nova. e, por meio destas mudanas de posies nas quais estas curvas mantm sua inclinao e seu signi-ficado ns podemos, se preferirmos, ajustar curvas histricas que, certamente, muitas vezes se inclinaro negativamente. elas no apresentaro, de fato, nenhuma regularidade. pode at no ser nada fcil, em alguns casos, evitar a suprema desgraa de o custo to-tal ser, na realidade, menor para uma produo maior do que para uma menor, pois as mudanas nos dados, uma vez admitidas, produziriam s vezes este resultado, que no poderia, em condies de concorrncia, ser descartado, supondo-se que uma quantidade maior seria produzida, mas parcialmente destruda.9

    no h nada de novo ou surpreendente em limitarmos, assim, o alcance desta parte do nosso aparato analtico. na verdade, no estamos fazendo nada mais do que resumir o que tem sido uma tendncia doutrinria inequvoca, desde que se tornou reconhecido, em primeiro lugar, que o custo crescente, no sentido da resposta fsica decrescente ao esforo produtivo aplicado a uma quantidade constante de um dos fatores, no uma peculiaridade da agricultura, mas sim um fenmeno geral um fenmeno que, dadas as mesmas condies, aplica-se a todos os tipos de produo e, dadas outras condies, no se aplica sequer agricultura; em segundo lugar, que existe uma tendncia mais fundamental que age para tornar positiva a segunda derivada do custo total em relao produo, e que no tem nada a ver com a lei fsica dos rendimentos decrescentes, da a dificuldade de encher certas caixas vazias. estamos simplesmente confirmando, por um lado, o que nos parece ser o verdadeiro fenmeno do custo real e, por outro, o que pare-ce ser tanto o significado de economia esttica quanto a natureza do equilbrio esttico. Que isto est perfeitamente de acordo com a direo fundamental da anlise marshallia-na, tentarei mostrar em nota de rodap.10

    8. isto se relaciona com outra distino, cuja importncia mais bem vista por meio de um exem-plo: a teoria dos juros de Von Bhm-Bawerk acentua a importncia do processo de produo in-direta. mas no o funcionamento da produo com um nvel dado de circulao que importa, e sim o ato de introduzir maior circulao. existe uma queda de natureza descontnua, irregular, imprevisvel e historicamente particular nos custos no momento em que a produo comea com um novo plano em qualquer novo plano bem-sucedido, pouco importando se ele implica ou no circulao , mas no existem novas e contnuas economias de custo por unidade de produto no funcionamento do processo. generalizando: mudanas de parmetros podem ser representadas por linhas ligando as curvas tericas deslocadas e destorcidas. se estas linhas forem pequenas e fre-quentes, elas podem, elas mesmas, parecer-se com as nossas curvas. mas nunca so curvas tericas e no tm, neste sentido, nenhum significado terico.9. cf. c. g. H. schultz, Theoretical considerations relating to supply, Journal of Political Economy, p. 441, Aug. 1929. por conseguinte, a hiptese de que continua sendo arbitrria, a no ser que seja reforada pelo critrio de cunynghame: .10. marshall, na realidade, protesta repetidamente contra as limitaes do aparato esttico cf. es-pecialmente em carta sua ao prof. John e. clark. ora, se fosse verdade que raciocinar por meio dele est demasiadamente distante da vida para ser til, ento, a maior parte da anlise dos princpios

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    iiiparece haver, entretanto, duas outras fontes de instabilidade decorrentes da inde-terminao, nos limites do sistema esttico. por consenso universal, o monoplio nico produz um equilbrio determinado e estvel, mas, segundo altas autorida-des, tal no o caso do duoplio e do monoplio mltiplo ou, geralmente, nos

    seria intil, como seria a maior parte de toda cincia exata. isto porque a anlise marshalliana apoia-se tanto nas hipteses da esttica quanto na estrutura do prof. clark. mas isto no verdade. no h nada de indevidamente abstrato em considerar um a um os fenmenos que agem no funcionamento da vida econmica sob determinadas condies. Ao contrrio, significa dar a estes problemas o tra-tamento que eles requerem. e o prprio marshall contribuiu substancialmente para a perfeio deste tratamento ao criar instrumentos to preciosos como seu excedente do consumidor e sua quase-renda. Alm disso, ele fez uso de hipteses de esttica tanto na sua teoria de distribuio como nos fundamentos dos seus catallactics; de fato, em ponto decisivo, tratando de detalhes que exigem rigor de anlise, ele limitou seus argumentos aos custos crescentes. Finalmente, ele prprio insistiu na irre-versibilidade e nas dificuldades peculiares de uma curva de oferta negativa e, ao faz-lo, chega muito perto de dizer quase o mesmo que foi dito anteriormente. A lealdade para com a tradio, a averso a parecer demasiado terico qual ele atentava significativamente e aquela sua tendncia, que em outros aspectos devemos tanto, de resumir os problemas da vida prtica podem justificar o fato de ele no ter sido conclusivo, e, por isso, s posso concordar com o sr. Keynes em considerar como a parte menos satisfatria de sua anlise, devidamente conduzida pelo prof. sraffa. isto acarreta uma srie de consequncias, mas, fundamentalmente, o que dissemos nada mais do que o desenvolvimento de uma tendncia oculta por outras coisas, mas ainda presente nos princpios.podemos acrescentar o peso da autoridade do prof. pigou, porque no artigo citado em nota anterior ele exclui da funo de custo, por motivos de coerncia lgica, o conjunto destes fenmenos que ns mesmos nos propomos a excluir, pela mesma razo. na verdade, ele at rejeita o que chamamos de lei fundamental dos custos . mas o faz apoiado apenas na hiptese tcnica de que im-possvel construir-se uma funo de custos baseada nas mudanas dos valores relativos dos fatores de produo, possveis de ocorrer em consequncia das mudanas na escala de produo de uma indstria. por outro lado, ele no rejeita inteiramente as economias externas. mas o que ele conserva delas so meramente variaes nos custos agregados associados a variaes na escala de produo e decorrentes destas (op. cit., p. 189); e se inserirmos, como devemos, a palavra automaticamente nesta frase, sero encontrados poucos casos, se houver, que correspondam quele critrio, como foi apontado pelo prof. Young (Quarterly Journal of Economics, p. 678, Aug. 1913). naturalmente, a expanso e o aperfeioamento esto intimamente ligados na vida real. mas, como tentaremos explicar no texto, a causa principal a que vai do aperfeioamento expanso, e no pode ser de forma alguma adequadamente tratada pela anlise esttica. se for correto, a posio do prof. pigou poder ser vista como bem prxima quela assumida no texto, caso o leitor leve em conta o fato de que as economias, antes de se tornarem externas, devem geralmente ser internas em alguma firma ou firmas da mesma ou de alguma outra indstria.no pretendo, alm disso, com o que disse, levantar objees s tentativas de determinar estatisti-camente as funes de custo. pelo contrrio, sou um humilde admirador do trabalho pioneiro feito pelo prof. H. L. moore e seus seguidores, apesar de pedir licena para dizer que falar de equilbrios em movimento pode ser enganoso ante o fato de que o que realmente acontece uma destruio dos equilbrios no significado comumente aceito.

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    casos em que as firmas tm conscincia da sua influncia sobre os preos. o pro-cedimento de cournot e as objees levantadas contra este, primeiramente, por Bertrand e, depois, por edgeworth, so bem conhecidos. como este caso no so-mente mais importante na prtica do que aqueles de concorrncia livre, perfeita ou simples, de um lado, e de monoplio nico, de outro, mas tambm de um caso mais geral em sentido terico pois a hiptese de concorrncia , afinal de con-tas, uma condio adicional e, em grande parte, uma espcie de muleta , ento, a falha na nossa construo parecia ser bastante sria. tornar claro este problema foi um dos ltimos entre os muitos servios que Knut Wicksell prestou cincia.11

    11. com relutncia que contradigo a grande sombra de edgeworth. mas no parece haver nenhuma garantia em supor-se indeterminao no caso que o prof. pigou chama de competio monopolista. Levando em considerao apenas o caso limite, o do duoplio, que pode ser facilmente generalizado, e supondo que ambos os concorrentes esto exatamente na mesma posio, estamos, primeiro, frente ao fato de que eles no podem deixar de se dar conta de sua situao. mas eles encontraro o preo e aderiro a este para que maximize a renda de monoplio para ambos conjuntamente pois eles teriam, na ausncia da preferncia do consumidor por um deles, que repartir a renda de monoplio, qualquer que fosse o preo. o caso no difere muito daquele da combinao consciente em princ-pio e est to determinado quanto este. A nica outra alternativa que se apresenta, na ausncia de qualquer esperana de expulsar o concorrente do mercado, mais bem visualizada partindo-se de uma situao em que um monopolista controla o mercado e s ento surge um segundo monopo-lista (procedimento de cournot). talvez seja mais realista supor que o primeiro monopolista no ceder facilmente o que seria uma vantagem eventual para ele a metade do seu mercado para o recm-chegado, e sim que este ltimo ter que forar a sua entrada. e este caso est igualmente determinado, como foi mostrado por Wicksell na sua resenha sobre o Groundwork do prof. Bowley (Ekonomisk tidskrift, 1925 e Archiv fr sozialwissenschaft, 1927). tomando, como unidade do preo p, aquele preo no qual a produo seria zero e, similarmente, como unidade da quantidade vendida x, aquela quantidade que poderia ser disponvel ao preo zero (edgeworth), temos: p = 1 - x. se no houvesse custos, um monopolista individual maximizaria px e cobraria um preo de um meio, ven-dendo um meio. Um segundo produtor, tendo que enfrentar esta situao, obviamente maximizaria sua produo x, multiplicada pelo preo ou seja, x2 p = x2 ( - x2), vendendo portanto um quarto. diante disto, o primeiro ter de reajustar sua produo, x, e oferecer trs oitavos, e assim por diante. Finalmente, o processo leva a um limite de preo de um tero, quando cada um deles vende um tero, com um preo mais elevado e vendendo uma quantidade menor do que sob condies de concor-rncia. no h nada de absurdo nisto. no se pode contestar que nenhum dos dois concorrentes est certo em supor, ao decidir sobre o ajustamento do nve1 de sua produo, que o outro concorrente manter o seu. porque tal suposio no est realmente cogitada, e o argumento dado s objetiva descrever o processo de ttonnement, do qual o preo de equilbrio finalmente obrigado a surgir, e as coisas permaneceriam substancialmente as mesmas se fossem retiradas algumas etapas assim como o equilbrio da concorrncia perfeita no ocorre necessariamente em cada uma das etapas tericas de um leilo que realmente se verifica na prtica. tampouco se pode dizer que os dois mono-polistas, ao alcanarem o que chamamos preo de equilbrio, tentariam retomar os mesmos passos. isto porque nenhum deles poderia fazer isto individualmente sem perder os clientes. s poderiam faz-lo juntos e o caso converter-se-ia em um monoplio nico. o mesmo resultado foi alcana-do independentemente pelo dr. chamberlin, no seu Monopolistic competition, ainda no publicado. [o livro de edward chamberlin foi publicado com o ttulo The theory of monopolistic competition, cambridge, massachusetts, Harvard University press, 1933. (n. do ed.)]

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    A forma mais simples do segundo caso, a qual chamo de preos correspondentes,12 apresentada pelo intercmbio entre dois monopolistas. novamente a autoridade do prof. edgeworth a responsvel pela aceitao quase universal desta opinio expressa primeiramen-te por ele no seu Mathematical psychics de que existe uma indeterminao de preo durante um intervalo (sobre a curva de contrato) que deve, geralmente, ser significativo. ele chegou at a descrever a situao do mundo econmico oligopolizado como um caos. Aqui, portanto, inicia-se uma rica fonte de instabilidade. naturalmente, qualquer terico se sentiria tentado a relacionar as instabilidades que v com esta possvel explicao para elas. tampouco podemos contestar chamando ateno para o fato de que os preos fixados pelos trustes apresentam, em muitas e importantes situaes, muito menos flutuaes do que se poderia esperar em condi-es de concorrncia; isto porque as foras no econmicas, a presso da opinio pblica ou o medo da ao governamental, por exemplo, podem ser os responsveis. e a autoridade do prof. edgeworth tem sido reforada pela autoridade no menos importante do prof. pigou.

    bem verdade que existe, nesse caso, assim como no do monoplio unilateral, muito menos garantia de que uma tendncia de preos de equilbrio realmente se impo-nha. temos muito menos razo do que temos no caso de concorrncia perfeita para esperar que os monopolistas cobrem, em qualquer dos casos, um preo de equilbrio; isto porque os produtores em concorrncia tm que geralmente cobrar este preo sob pena de morte econmica, enquanto os monopolistas, embora tendo um motivo para cobrar o preo de equilbrio monopolista, no so forados a tal, podendo at ser im-pedidos de faz-lo, por outros motivos. Alm do mais, verdade tambm que atitudes como o blefe, o uso de foras no econmicas, o desejo de subjugar a outra parte tm muito mais perspectiva no caso de monoplio bilateral como tm os mtodos preda-trios no caso de concorrncia limitada do que em situao de concorrncia perfeita.

    porm, h mais do que interesse acadmico quando afirmamos que nossa teoria no perde o seu valor a esta altura. o equilbrio determinado mesmo neste caso mesmo se tomarmos um exemplo to extremo como o de um sindicato que congregue todos os tra-balhadores de um pas, inteiramente certo da lealdade de seus membros, capaz de impedir a imigrao do exterior ou de outros estratos da sociedade, e de um sindicato patronal com caractersticas similares. se admitirmos que cada parte tem uma curva de demanda mo-nopolista definida e conhece a curva do outro, que cada qual deseja conseguir as melhores condies possveis com o sindicato dos trabalhadores oferecendo quantidades variveis de mo de obra e proporcionando meios para aqueles entre os seus membros que venham a ficar desempregados sem tentar alcanar vitrias ou infligir derrotas, e que o con-trato para cobrir todo o perodo considerado (a condio uno actu), ento, o ponto de negociao entre as partes fica perfeitamente determinado, e no somente o perodo em que ser feita a negociao. ele poderia ser indeterminado somente devido a razes que

    12. [no original, Correspective prices. (n. do ed.)]

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    tambm tornassem o caso indeterminado na concorrncia. tampouco se pode assegurar que as hipteses aludidas esto muito longe da realidade. pode ser, at, que elas estejam mais prximas da realidade do que as hipteses implcitas na ideia da concorrncia teori-camente perfeita: , por exemplo, muito mais comum do que creem os observadores, cuja ateno est naturalmente dirigida para os casos anormais, que patres e empregados se encontrem precisamente em estado de nimo imaginado e que vejam com receio todos os riscos econmicos, polticos e sociais oriundos do fato de no fazer concesses ou de en-trar em atrito, o que pode resultar em mau negcio, mesmo no caso de sucesso. seguindo o procedimento do mtodo do prix cre par hazard de Walras, ou simplesmente observando os dois esquemas plotados um contra o outro, nossa afirmativa ser to prontamente evi-denciada a ponto de no ser necessrio dar nenhuma prova formal.13

    iVAssim, existe bem mais estabilidade14 no sistema econmico do que poderamos espe-rar, baseando-nos na maioria das afirmativas das autoridades na matria. mas at que ponto esta estabilidade depende inteiramente da natureza daquela restrio que apre-

    13. o conhecido aparato edgeworthiano, usado comumente para provar o contrrio, somente mostra que os elementos que ele descreve no so suficientes para determinar nada mais do que um intervalo. o prof. Bowley, no seu Groundwork, considerando o caso de um patro e um empregado, s chega ao resultado de incompatibilidade entre os mximos respectivos supondo que o empregado poderia gerar o produto por conta prpria. o Groundwork contm, no entanto, duas abordagens muito su-gestivas para o problema do monoplio universal, uma delas includa em nota que leva aquele ttulo e a outra conduzindo ao teorema segundo o qual existe determinao no caso em que os produtos ou os fatores mas no ambos estejam monopolizados. Argumentos anlogos aos do nosso texto parecem mostrar que pelo menos o mesmo tipo de determinao prevalece tambm nestes casos.14. esta estabilidade da mesma natureza, e sua prova exata do mesmo valor que a estabilidade de qual-quer outro sistema exato. claro, ela compatvel com uma grande parcela de instabilidade no fenme-no real. Uma parte dela no importante, tanto para propsitos tericos quanto prticos; a outra parte, ainda que praticamente importante, todavia desinteressante em discusso de princpios; embora outra, entretanto, tenha, como veremos, importncia tanto prtica quanto terica. nenhum destes grupos de casos afeta a importncia fundamental da prova exata da estabilidade no sentido entendido, como seria bvio em qualquer lugar que no a economia, em que a esterilidade decorrente da prevalncia do interesse no problema prtico deve ainda ser superada, e em que o refinamento cientfico ainda uma afronta. mas devemos ter em mente que o nosso argumento exclui todos os casos importantes de equilbrio deter-minado mas instvel. para o argumento anterior, portanto, e no nosso significado dos termos, a determi-nao implica estabilidade econmica sob condies estticas, embora, claro, estas duas coisas no coin-cidam logicamente e exijam sempre provas separadas. A forma mais breve de evidenciar este ponto por meio da comprovao da afirmao segundo a qual, de todos os casos de equilbrio conhecidos pela anlise marshalliana, somente os estveis permanecem com a exceo dos equilbrios acidentais que ocorrem du-rante o processo de ttonnement walrasiano para uma teoria da esttica da forma definida acima. A prova correta desta estabilidade no foi dada at agora, mas no parece encontrar qualquer dificuldade maior.

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    sentamos junto hiptese de concorrncia que acabamos de descartar: o estado esttico, que definimos tanto por meio de um conjunto perceptvel de fatos como por meio de um aparato analtico ou ponto de vista terico. este conjunto de fatos consistentes entre si se define em termos das operaes que so a essncia do processo circular e contnuo de produo e consumo. no uma objeo vlida dizer que este processo no pode ser imaginado independentemente do crescimento ou, de forma geral, da mudana. porque ele pode. da mesma forma que a circulao sangunea de uma criana que, embora atuando simultaneamente com o seu crescimento ou, digamos, com as alteraes pato-lgicas ocorridas nos seus rgos, pode, todavia, ser isolada e tratada como um fen-meno real distinto, assim tambm este processo circular fundamental pode ser isolado e tratado como um fenmeno real distinto, e todo analista15 e todo homem de negcios realmente o tratam assim este ltimo percebendo que uma coisa calcular a despesa e a renda de um prdio em determinadas circunstncias, e outra coisa formar uma ideia sobre as perspectivas futuras da vizinhana, ou seja, uma coisa administrar um edifcio existente e outra coloc-lo abaixo e substitu-lo por outro de tipo diferente. nem intil nossa analogia com a circulao sangunea. isto porque a primeira anlise completa do processo econmico esttico, feita por Quesnay, foi inspirada diretamente na descoberta de Harvey. o aparato analtico ou o ponto de vista terico da esttica so apresentados pelo conceito de um equilbrio determinado, cujo uso, entretanto, no est absolutamente limitado explicao do processo circular, j que equilbrios temporrios ocorrem fora deste processo.

    porque um conjunto de fatos que forma um todo coerente, e, em muitos casos, capaz de se separar estatisticamente do resto, corresponde teoria da esttica. o estado esttico no apenas um artifcio metodolgico e, menos ainda, pedaggico. e o seu alcance fica bastante ampliado devido ao fato de que ele no um estado de repouso. em primeiro lugar, ele no , claro, um estado de ausncia de movimento, uma vez que implica o fluxo de servios produtivos e de bens de consumo que est em constante mutao, embora este fluxo ocorra sob condies substancialmente invariveis. em segundo lugar, entretanto, as condies no precisam ser inteiramente constantes. podemos admitir oscilaes sazo-nais. podemos admitir tambm, sem abandonar os limites da esttica, variaes ocasionais, uma vez que a reao a estas meramente adaptativa, no sentido de uma adaptao, capaz de ser conseguida por meio de passos infinitesimais. e podemos, finalmente, tratar do fenmeno do simples crescimento da populao, do capital e, consequentemente, da renda nacional.

    15. claro que somente poucos economistas esto inteirados do fato. e alguns daqueles que esto abrandam a agudeza do instrumento ao falar de um estado estacionrio. tambm, alguns deles constroem um processo de desenvolvimento harmnico para preencher o terreno existente entre a esttica e o que mais obviamente est fora dela. no h objeo a tal construo. mas nem sempre se reconhece que, pelo fato de isto implicar a considerao de grandes perodos, o normal, que corresponde a ela, uma abstrao muito mais ousada e perigosa do que a considerao esttica.

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    pois estas variaes ocorrem continuamente, e a adaptao a elas essencialmente contnua. elas podem condicionar variaes descontnuas, mas no as produzem, quer diretamente, quer por sua simples presena. o que elas produzem automaticamente so apenas variaes nas margens.16 o crescimento populacional por si s, por exemplo, tender apenas a tornar a mo de obra mais barata e o diagnstico da situao de qualquer nao, em qualquer po-ca, ter de reconhecer isto como um elemento real e distinto da situao, mesmo que possa ser compensado por outros fatores. disto deduz-se que o simples crescimento no , por si mesmo, uma fonte de instabilidade, seja para o sistema, seja para a ordem do capitalismo, no significado dado estabilidade neste artigo. isto elimina algumas, seno a maioria, das teorias da desproporcionalidade, passadas e presentes, e contribui com uma ajuda adicional com vista localizao das causas da instabilidade.

    2 estABiLidAde e progresso

    Visso poderia muito bem ser tudo: a vida econmica, o elemento ou aspecto econmico da vida social; poderia ser essencialmente passiva ou adaptativa e, portanto, essencial-mente estvel em si mesma. o fato de a realidade estar cheia de mudanas descontnuas no poderia ser uma prova em contrrio a isto, pois tais mudanas poderiam, sem ne-nhum contrassenso, ser explicadas por influncias externas, perturbando os equilbrios que, na ausncia de tais influncias, poderiam existir ou ser apenas alterados por avan-os pequenos e determinados, de acordo com o que viemos chamando de crescimento contnuo. ns poderamos, claro, mesmo assim, traar linhas de tendncias por meio dos fatos que se sucedem historicamente, mas elas seriam apenas expresses de tudo o que tem acontecido, e no das diferentes foras ou mecanismos; seriam estatsticas e no tericas; teriam de ser interpretadas em termos de acontecimentos histricos espe-cficos, tais como a abertura de novos pases no sculo XiX, influenciando certa taxa de crescimento e no em termos do funcionamento de um mecanismo econmico sui

    16. portanto, apesar destas influncias no atuarem em um dado estado de equilbrio e no pende-rem em direo a um dado centro de gravitao, mas sim deslocarem este centro e impelirem o or-ganismo econmico para longe da sua antiga posio, o aparato da esttica admiravelmente com-petente para trat-las. o tratamento de tais questes tem sido chamado de dinmica por algumas autoridades, entre as quais a mais ilustre foi e. Barone. talvez fosse melhor abandonar totalmente os termos esttica e dinmica. certamente, so inadequados quando usados no sentido dado a eles no texto, devendo-se tomar cuidado para no entend-los analogamente aos seus significados na me-cnica e para no confundir os diferentes significados atribudos a eles pelos diversos autores. todos os diferentes significados, suponho, remontam a John stuart mill, que deve a sugesto a comte, o qual, por sua vez, reconhecia sua dvida para com o zologo de Blainville.

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    generis. e se a anlise no pudesse identificar quaisquer foras puramente econmicas no sistema, tal que conduzisse a alteraes qualitativas e descontnuas, seramos eviden-temente levados a esta concluso,17 a qual no pode prescindir de comprovao, uma vez que sempre existem influncias externas identificveis, e visto que a maioria dos fatos de desequilbrio tem de ser, de qualquer modo, amplamente explicada nestas linhas, haven-do ou no nas mesmas uma parte definida do mecanismo no esttico.

    ora, sempre imprudente, e quase sempre injusto, atribuir a qualquer autor ou grupo de autores opinies definitivas sobre os processos sociais abrangentes, cujos diagnsticos sempre repousam significativamente na viso social de cada um, e no em argumentos comprovveis. isto porque nenhum autor ou grupo de autores pode dei-xar de reconhecer muitos elementos heterogneos, e sempre fcil encontrar citaes que o comprovem. o estudo da histria da anlise do valor do custo e do juro fornece exemplos ilustrativos,18 devendo-se deixar que o leitor forme sua prpria opinio a respeito da exatido ou no desta nossa formulao a respeito do que nos parece ser uma doutrina comumente aceita: a expanso industrial, que automaticamente se asso-cia e se amolda ao crescimento social geral cujas foras puramente econmicas mais importantes so o crescimento da populao e da poupana , o fato bsico acerca da transformao econmica, evoluo ou progresso; as necessidades e as possibilida-des aumentam, a indstria se expande em resposta, e esta expanso, trazendo em sua

    17. na realidade, esta vem a ser a posio das nossas mais altas autoridades. certamente a posio de ricardo e John stuart mill, cujas discusses sobre o progresso referem-se principalmente questo do crescimento relativo da populao e do capital, afetado ocasionalmente pelo aperfeioa-mento dos mtodos de produo, o qual eles encaram como um perturbador da ordem natural das coisas. esta tambm a posio de Walras ou, neste aspecto, de Bhm-Bawerk, ambos parecendo convencidos de que todas as coisas de natureza puramente econmica devem ajustar-se em um cor-po homogneo da doutrina, que em Walras francamente esttico, enquanto Bhm-Bawerk sempre rejeitou a concepo esttica precisamente porque ela exclui algumas coisas que ainda so, sem dvida, puramente econmicas. John B. clark a nica exceo evidente, mas marshall, embora dispondo no seu vasto horizonte de todos os elementos essenciais para uma teoria distinta da din-mica, mesmo assim, forou-os para dentro de uma estrutura substancialmente esttica. este autor acredita que algumas das dificuldades e as consequentes controvrsias acerca do argumento do prof. pigou, no seu Economics of welfare, tm origem na mesma fonte, e que o seu trabalho sobre Flutu-aes industriais um monumento viso de que a vida econmica, em si mesma essencialmente passiva, est sendo continuamente perturbada e impelida por impulsos iniciais vindos de fora.18. mesmo nos mais estreitos limites de problemas como estes, tornou-se moda talvez como uma justificada reao contra o vcio oposto interpretar autores mais antigos de forma to ampla a ponto de faz-los ver tudo e no dizerem nada definido, e a no verem com bons olhos e acharem mesquinho expressar as opinies deles de outras formas. Acho, contudo, em primeiro lugar, que embora esta atitude de avaliar os tericos individuais seja correta desde que a mesma amplitude generosa seja concedida a todos , ela no ti1 em ressaltar caractersticas; em segundo lugar, que o simples reconhecimento de um fato no significa nada, a menos que este fato esteja ligado ao resto da argumentao e seja colocado para executar trabalho terico.

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    esteira especializao e oportunidades crescentes, explica o resto, mudando contnua e organicamente seus prprios parmetros.

    motivos para discordar dessa opinio aparecem em vrios pontos, mas estou ansio-so para ignorar objees a fim de poder destacar a objeo. sem ser falsa, quando con-siderada como uma proposio que resume a histria econmica ao longo de, digamos, mil anos,19 ela inadequada ou mesmo enganosa quando pretende ser uma descrio daquele mecanismo da vida econmica, cuja explicao tarefa da teoria econmica; e no uma ajuda, mas um empecilho para o entendimento dos problemas e fenmenos inerentes quele mecanismo. isto porque a expanso no um fato bsico capaz de desempenhar o papel de uma causa, mas em si mesma o resultado de uma fora econ-mica mais fundamental que explica tanto a expanso como as sries de consequncias dela emanadas. isto pode ser mais bem visualizado dividindo-se o fenmeno abrangente do crescimento industrial geral pelas expanses de cada indstria especfica que o com-pem. se fizermos esta diviso para o perodo de capitalismo predominantemente con-correncial, encontraremos na verdade, em dado momento, com uma srie de casos nos quais indstrias inteiras e firmas individuais so puxadas pela demanda que lhes vem de fora e, assim, as expande automaticamente; mas esta demanda adicional origina-se quase sempre como um fenmeno secundrio,20 de uma mudana primria em alguma outra indstria primeiro, da de txteis; depois, da de ferro e vapor; e, posteriormente, da indstria de eletricidade e qumica que no acompanha, mas sim cria a expanso. ela primeiro e por sua prpria iniciativa expande a prpria produo, criando, des-sa forma, uma expanso da demanda para seus prprios produtos e, a partir da, para

    19. conjuntos diferentes de problemas requerem distncias diferentes dos assuntos de nosso inte-resse; e proposies diferentes so verdadeiras para distncias diferentes e em nveis diferentes de argumentao. Assim, e.g., para uma certa forma de descrever os processos histricos, a presena de um comandante militar com uma habilidade napolenica pode sem dvida ser considerada de importncia causal, embora, para um estudo destitudo de detalhes, ela dificilmente poder ter qual-quer importncia. nosso aparato analtico consiste em peas heterogneas, cada uma das quais fun-ciona bem em alguns dos nveis possveis de argumentao e no funciona de maneira nenhuma em outros, fato cuja inobservncia uma fonte importante, e s vezes a nica, de nossas controvrsias.20. ns podemos comodamente enumerar, em parte antecipando e em parte repetindo, os tipos mais impor-tantes destes fenmenos secundrios, os quais achamos que a opinio comumente aceita trata de forma ex-clusiva, ignorando o fenmeno primrio, na ausncia do qual, seno inteiramente mas quase, no existiriam.1. A expanso de algumas indstrias provocada pela expanso primria em outras, conforme

    mencionado acima: caso um novo empreendimento se estabelea, os negcios de mercearias aumentariam na vizinhana, o mesmo acontecendo com os produtores de artigos subsidirios. A expanso de todas as indstrias que no apresentam qualquer interrupo no seu funciona-mento durante o tempo considerado deve ser assim explicada.

    2. se a mudana primria acaba produzindo instrumentos de produo, naturalmente, ampliar as indstrias que os utilizam. isto deve ser considerado ao julgar-se, por exemplo, o sucesso de algumas ferrovias administradas pelo estado rodeadas de indstrias privadas, o que as fora a adquirir melhores locomotivas, acessrios etc.

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    outros produtos; e a expanso geral do meio ambiente que observamos incluindo-se o aumento de populao o resultado desta expanso da produo, como pode ser verificado tomando-se qualquer uma das fases significativas do processo, como, por exemplo, o crescimento do transporte ferrovirio. A forma pela qual cada uma destas mudanas ocorre permite que se estabelea uma regra geral: elas ocorrem sempre por meio de novas combinaes dos fatores de produo existentes, incorporados em novas fbricas e, tipicamente, novas firmas que ou produzem novas mercadorias ou empregam

    3. Qualquer mudana dada tem incio em dadas circunstncias e seria impossvel sem as facili-dades proporcionadas por estas. mas toda circunstncia incorpora os resultados de uma mu-dana primria anterior e, portanto, no pode ser considerada, exceto no mbito da teoria da esttica, como um parmetro bsico que atua de maneira autnoma, mas ela prpria, em grande parte, um fenmeno secundrio.

    4. Assim ocorre, em grande parte, com o que chamamos de crescimento. isto est especialmente claro no caso da poupana, cujo montante seria muito menor na ausncia de sua fonte mais importante, qual seja, o lucro dos empresrios. verdade, tambm, no caso do aumento da po-pulao. e a expanso, remanescente do processo de crescimento na ausncia de uma mudana primria, rapidamente se esgotaria pela atuao efetiva de uma lei fsica dos rendimentos decrescentes. Esta , portanto, a razo principal pela qual no consideramos importante a ao autnoma das economias externas ao contrrio da ao secundria decorrente da simples expanso, nem o que decorre dos rendimentos crescentes, se excluirmos tudo o que for primria ou secundariamente decorrente da causa que pretendemos considerar.

    5. A evoluo industrial inspira uma ao coletiva a fim de forar uma melhoria dos estratos le-trgicos. deste tipo foi e a ao do governo no continente para melhorar os mtodos agrcolas dos camponeses. esta ao no secundria no sentido que a entendemos, mas, se ela chegar a criar economias externas por meio de influncias no econmicas, no obstante devida, at ento, principalmente, a alguma realizao anterior em alguma indstria privada.

    6. Uma mudana primria bem-sucedida seguida por uma reorganizao geral na mesma in-dstria, com mais e mais firmas obedecendo s lideranas de outras, tanto por causa dos lucros a serem auferidos como devido s perdas que se pretende evitar. durante este processo, o que a princpio so economias internas das lderes logo converte-se em economias externas para o restante das firmas, cujo comportamento no precisa ser mais que uma adaptao passiva e expanso ao que, para elas, uma vantagem circunstancial. mas, para ns, observadores, considerar estes processos como de adaptao ao meio em expanso omitir o ponto principal.

    decorrentes de todos os fenmenos considerados, encontram-se, entre outras coisas, ganhos se-cundrios que vo para todos os tipos de agentes que no demonstram nenhuma iniciativa. existe, entretanto, outra iniciativa secundria estimulada pela possibilidade de tais ganhos se tornarem possveis aumentos dos negcios, transaes especulativas, e assim por diante, calculados para assegur-los. A elevao e a queda peridicas do nvel de preos uma pea essencial, como vere-mos, do mecanismo de mudana no capitalismo concorrencial traz, na sua esteira, expanses e, para financi-los, solicitaes de crdito devido simplesmente ao fato de que os preos sobem, o que intensifica amplamente o fenmeno. e este fenmeno secundrio geralmente muito mais notado pelos observadores do que o fenmeno primrio que lhe d origem.nossa anlise no passa por alto nem nega a importncia dessas coisas. pelo contrrio, ela objetiva demonstrar sua causa e sua natureza. entretanto, em declarao de princpios fundamentais feita em espao to curto, elas no podem se destacar muito no nosso quadro.

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    novos mtodos, i.e., mtodos ainda no experimentados, produzindo para um novo mercado ou comprando meios de produo em um novo mercado. o que chamamos, no cientificamente, de progresso econmico consiste, essencialmente, na alocao de recursos produtivos em usos at agora no experimentados na prtica, e na sua retirada daqueles para os quais elas serviram at agora. a isto que chamamos de inovao.

    o que importa para o tema deste estudo simplesmente o carter essencialmente descontnuo desse processo, o qual no se presta para uma descrio em termos de uma teoria de equilbrio. mas ns podemos oportunamente chegar a ela enfatizando, por ora, a importncia da diferena entre esta opinio e a que eu tenho chamado de comumente aceita. A inovao, a no ser que consista em produzir e impor ao pblico uma nova mer-cadoria, significa produzir a um custo menor por unidade, acabando com a antiga curva de oferta e iniciando uma nova. irrelevante que se produza pelo uso ou no de uma nova inveno, pois, por um lado, nunca houve nenhum momento em que o estoque de conhecimentos cientficos tivesse produzido tudo o que poderia em termos de aperfei-oamento industrial e, por outro, no o conhecimento que importa, mas sim o xito da tarefa sui generis de colocar em prtica um mtodo no experimentado pode no haver, e geralmente no h, qualquer novidade cientfica envolvida, e mesmo que haja, no faz nenhuma diferena para a natureza do processo. e insistindo na importncia da inveno, no s estaramos enfatizando um ponto irrelevante irrelevante para o nosso conjunto de problemas, apesar de ser, obviamente, to relevante quanto, digamos, o cli-ma e, assim, nos afastaramos do ponto relevante, mas tambm nos veramos forados a considerar as invenes como um caso de economias externas.21 ora, isto esconde parte

    21. existe outro ponto que se sobressai no tratamento usual dado a estas coisas: ningum pode negar a ocorrncia nem a relevncia destas grandes interrupes na prtica industrial que alteram os parmetros da vida econmica de tempos em tempos. marshall, contudo, distingue estas, que ele chama de invenes substantivas, e que trata como ocorrncias causais agindo a partir do exterior em analogia, digamos, aos terremotos , das invenes que, sendo da natureza de apli-caes mais bvias dos princpios conhecidos, devem provavelmente ocorrer em consequncia da prpria expanso. esta distino enfatizada pelo prof. pigou no artigo citado anteriormente. este ponto de vista, todavia, entrecorta um fenmeno homogneo cujos elementos no diferem uns dos outros exceto no grau, e cria, claramente, uma dificuldade semelhante quela de encher caixas vazias. exatamente como o insucesso de distinguir processos diferentes leva, no caso das caixas, a uma dificuldade de distinguir diferenas entre grupos de fatos e leva, tambm, quele estado de discusso em que alguns autores afirmam que a maioria das indstrias apresenta rendimentos cres-centes, outros que apresentam rendimentos decrescentes, e ainda outros que asseguram que qual-quer indstria mostra normalmente rendimentos constantes , assim, obviamente impossvel traar qualquer linha entre aquelas classes de inovaes, ou at invenes; e a dificuldade no est em julgar casos particulares, mas sim de princpios. pois nenhuma inveno independente das condies existentes; e nenhuma inveno to dependente delas a ponto de ser automaticamente produzida por elas. no caso de uma inveno importante, a mudana nas condies grande; e no caso de a inveno no ser importante, a mudana pequena. mas apenas isto, sendo que a natureza do processo e do mecanismo especial colocados em ao sempre a mesma.

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    da verdadeira essncia do processo capitalista. este tipo de economia externa e, alis, quase todos os tipos, mesmo as revistas especializadas, a menos que sejam produto de uma ao coletiva, devem ser negcio de algum aparece, caracteristicamente, primei-ro, sendo utilizado por uma ou poucas firmas isto , atuando como uma economia in-terna. esta firma comea a vender a preos abaixo das outras, algumas das quais so, des-sa forma, definitivamente passadas para segundo plano, sobrevivendo graas s reservas e quase-rendas acumuladas, enquanto as outras copiam os mtodos da firma predadora. podemos constatar diariamente, observando a vida industrial, que isto precisamente o que ocorre e o que falta ao aparato esttico. da a insatisfao para com este aparato, bem como as tentativas de forar tais fenmenos a caber no seu enfraquecido arcabouo em vez de, como acharamos natural, reconhecer e explicar o fato como um processo distinto que ocorre paralelamente quele explicado pela teoria da esttica. saber porque acontece assim uma questo que desviaria muito a nossa ateno para ser respondida satisfatoriamente. A inovao bem-sucedida , como dissemos anteriormente, uma tarefa sui generis. no se trata de uma ao do intelecto, mas da vontade. um caso especial do fenmeno social de liderana.22 sua dificuldade consiste nas resistncias e incertezas peculiares ao fato de se fazer o que nunca foi feito, e que s acessvel e atraente para um indivduo diferente e raro. enquanto as diferenas de aptido para o trabalho de rotina

    22. isto no implica nenhuma glria. A liderana em si no denota apenas aptides que geralmente exigem admirao, implicando, como ocorre, estreiteza de viso em todas as direes, exceto em uma, e uma espcie de fora que, s vezes, pode ser quase impossvel de diferenciar da insensibilidade. mas a liderana econmica no tem, alm disso, nada do encanto que alguns outros tipos de liderana possuem. suas implicaes intelectuais podem ser triviais; as grandes simpatias, o atrativo pessoal, a sublimao retrica de motivos e atos contam pouco nela; e, embora no carea de romantismo, ela essencialmente no romntica, de modo que qualquer anseio de cultuar o herosmo pessoal difi-cilmente pode esperar ser satisfeito em ambiente onde, entre outros tipos, encontramos sem dvida puritanos negociantes de escravos e fabricantes de bebidas alcolicas, no limiar histrico do assunto.independentemente dessa fonte de possveis objees, existe uma muito mais sria na mente de qualquer economista competente, a quem a experincia ensinou a no dar valor a tais intromisses na teoria de concepes que mais parecem sociologia, e que est propenso a associar quaisquer destas coisas com um certo grupo de objees doutrina comumente aceita, que emerge continu-amente, malgrado as frequentes refutaes das mesmas ignorando o fato totalmente , tais como objees ao homem econmico, anlise marginal, ao uso da hiptese da troca, e assim por diante. o leitor pode, acho eu, convencer-se de que nenhuma carncia de formao terica responsvel por afirmativas que, acredito, concordam fundamentalmente com a anlise marshalliana.nenhuma dificuldade aparece com relao verificao. Que novas mercadorias ou novas quanti-dades de mercadorias sejam impostas ao pblico por iniciativa dos empresrios o que, claro, no afeta o papel da demanda no processo esttico um fato da experincia comum; que uma firma ou um pequeno grupo de firmas conduzam, no sentido apontado acima, no processo de inovao, criando, portanto, o seu prprio mercado e geralmente incentivando o meio, est igualmente pa-tente e no negamos fatos de outro carter , os secundrios ou os importantes; e o que estamos tentando fazer apenas ajustar o aparato analtico para que ele considere estes fatos sem soltar as outras partes da engrenagem.

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    da administrao esttica resultam em xitos diferentes fazendo o que todos fazem, as diferenas nesta aptido especfica tm como resultado o fato de s alguns serem capazes de fazer esta coisa especfica. superar estas dificuldades inerentes mudana de prtica funo caracterstica do empresrio.

    ora, se esse processo no representasse mais do que um dos muitos tipos de atrito, certamente no valeria a pena discordar da exposio usual do tema, quantos fossem os fatos que pudessem se apresentar sob esta rubrica. mas ele representa mais: a sua anlise permite a explicao de fenmenos que no seriam possveis de ser explicados sem ele. existe, primeiro, a funo empresarial diferente da simples funo gerencial embora elas possam, e geralmente devem, encontrar-se no mesmo indivduo , cuja natureza somente aparece no processo de inovao. H, em segundo lugar, a explicao do ganho empresarial que surge neste processo e que, de outra forma, se perderia no conjunto dos ganhos administrativos,23 cujo tratamento como um todo homogneo insatisfatrio precisamente pela mesma razo que, por consenso universal, insatisfa-trio agir assim, digamos, com a renda de um campons que cultiva sua prpria terra, em vez de trat-la como a soma de salrios, rendas, quase-rendas e, possivelmente, ju-ros. Alm disso, este lucro empresarial a fonte primria das fortunas industriais, cujas respectivas histrias remontam a ou consistem em atos inovativos bem-sucedidos.24

    23. pelo fato de a funo em questo ser distinta, no importa que, na prtica, ela aparea raramente, se que aparece, por si mesma. e quem quer que se interesse em observar de perto a conduta dos homens de negcios no discordar de que as coisas novas e o trabalho de rotina sejam feitos, via de regra, indiscriminadamente pelo mesmo gerente. descobrir que o trabalho rotineiro feito com uma calma que desaparece to logo uma nova deciso est para ser tomada, e que existe uma profun-da diviso entre os dois, que at o melhor gerente no consegue superar. isto se estende ao domnio do que tendemos a considerar como mudana automtica, trazendo consigo economias externas e rendimentos crescentes. consideremos o caso de um negcio de aluguel de automveis por meio do princpio dirija voc mesmo. Um simples crescimento da vizinhana, que seria o suficiente para torn-lo lucrativo, no surte efeito. Algum tem de perceber a possibilidade, fundar a firma, fazer que as pessoas apreciem seus servios, conseguir os tipos mais apropriados de carros, e assim por diante. implica solucionar uma legio de pequenos problemas. mesmo que tal firma j exista e que um crescimento adicional das instalaes torne possvel uma extenso descontnua, o que tem de ser feito no to fcil quanto parece. seria fcil para a mente treinada de um lder industrial, mas no assim para um membro tpico da classe que costuma administrar este tipo de negcio.24. como j foi dito em nota anterior, no o funcionamento de um negcio de acordo com um novo plano, mas sim o ato de conseguir que ele funcione de acordo com este novo plano, que explica os lucros dos empresrios e que torna to indesejvel tentar express-los por meio de curvas estti-cas que descrevem precisamente os fenmenos de seu funcionamento. razo terica de nossa pro-posio que a concorrncia ou o processo de imputao tem de deter qualquer ganho excedente, mesmo no caso de monoplio, no qual o valor da patente, do agente natural ou do que quer que seja que assegure a posio do monoplio absorver o rendimento, o qual no mais se constituir em lucro. mas existe tambm uma observao prtica que apoia esta opinio. nenhuma firma jamais produzir rendimentos indefinidamente se funcionar apenas de acordo com um plano que no se altera, pois um dia isto deixar de ocorrer com todas as firmas. e todos ns conhecemos aquele tipo

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    e como ascenso e queda das fortunas industriais o fato essencial sobre a estrutura social da sociedade capitalista, tanto o aparecimento do que , em qualquer situao determinada, um ganho essencialmente temporrio, quanto a sua eliminao por meio da ao concorrencial so obviamente mais do que fenmenos de atrito como acon-tece com o processo de vender mais barato, pelo qual o progresso industrial surge em uma sociedade capitalista, resultando os seus avanos em rendas reais mais elevadas para todos.

    Ainda no tudo. esse processo de inovao na indstria por meio da ao empresarial fornece a chave para todos os fenmenos de capital e crdito. o papel do crdito seria tcnico e subordinado, no sentido de que tudo o que funda-mental acerca do processo econmico poderia ser explicado em termos de bens, se a indstria crescesse em pequenos avanos ao longo de curvas coerentes. pois, neste caso, o financiamento poderia e seria feito substancialmente por meio da renda bruta corrente, e apenas pequenas discrepncias teriam de ser atenuadas. se simplificarmos admitindo que todo o processo circular de produo e consu-mo considera exatamente um perodo, sem que nenhum instrumento ou bem de consumo permanea no perodo seguinte, o capital definido como um conceito monetrio e a renda seriam exatamente iguais, representando apenas diferentes fases de uma nica corrente monetria. entretanto, como a inovao descontnua e envolve uma mudana considervel e no capitalismo concorrencial tipicamente incorporada s novas firmas, ela exige grandes gastos antes do aparecimento de qualquer renda, razo por que o crdito se transforma em elemento essencial do processo. e no podemos recorrer poupana a fim de explicar a existncia de um fundo do qual venham a surgir estes crditos. isto porque um tal procedimento implicaria a existncia de lucros prvios, sem os quais no existiria nada que se assemelhasse aos montantes exigidos mesmo assim, a poupana geralmente fica aqum das necessidades e, em uma explanao de princpios, a presuno de lu-cros prvios resultaria em raciocnio circular. A criao de crdito transforma-se, assim, em parte essencial tanto do mecanismo do processo como da teoria que o explica. portanto, a poupana propriamente dita vem a ser menos importante do que a doutrina comumente aceita d a entender, para a qual o crescimento con-tnuo da poupana a acumulao o sustentculo da explanao. A criao de crdito o mtodo pelo qual a adoo de novos usos dos meios de produo existentes realizada por meio de um aumento de preos forando a poupana da quantidade necessria, a qual desviada dos usos aos quais ela servia at agora poupana forada, cf. carncia imposta do sr. robertson.

    de firma industrial familiar de terceira gerao que caminha para esta mesma situao, embora ela conscientemente se acredite administrada.

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    Finalmente, no se pode dizer que, embora tudo isso se aplique s firmas indivi-duais, o desenvolvimento de indstrias inteiras pode ser entendido como um proces-so contnuo, com uma viso global eliminando as descontinuidades que ocorrem em cada caso especfico. mesmo assim, as descontinuidades individuais seriam os condutores dos fenmenos essenciais. mas, por uma razo simples, isto no assim. conforme demonstrado tanto pela tpica alta geral dos preos como pela igualmente tpica atividade das indstrias de construo na fase de prosperidade do ciclo de negcios, as inovaes agrupam-se de forma compacta. de fato, to compacta que o distrbio resultante produz um claro perodo de ajustamento que precisamente no que consiste a fase de depresso do ciclo de negcios. Porque isto deve ser assim, este autor j tentou mostrar em outro texto.25 Que assim, a melhor evidncia da validade da opinio apresentada, quer apliquemos o critrio de ser verdica, quer o de proporcionar uma explicao de um fenmeno que no est, ele prprio, contido no seu princpio fundamental.

    ento, se na adoo de novos usos para os recursos existentes que consiste funda-mentalmente o progresso, se a natureza da funo do empresrio atuar como a fora propulsora do processo, se os lucros do empresrio, o crdito e o ciclo provam ser partes essenciais do seu mecanismo o autor acredita at que isto seja vlido tambm para os juros , ento, a expanso industrial per se mais bem descrita como uma consequncia, e no uma causa; e ns tenderamos a inverter o que chamamos de cadeia de causalidade comumente aceita. neste caso, e como estes fenmenos se interligam de modo a formar um todo lgico coerente e autossuficiente, bvio que deix-los bem ntidos contribui-r para tornar as coisas claras; relegar a um corpo distinto de doutrinas o conceito de equilbrio, as curvas contnuas e as pequenas variaes marginais, todos os quais, por sua vez, sob condies constantes, ligam-se ao fluxo do circuito da rotina econmica; e construir, paralelamente a isto, e antes de levar em conta toda a complexidade do fe-nmeno real (ondas secundrias, ocorrncias espordicas, crescimento, e assim por

    25. Theorie der wirtschaftlichen entwicklung, 1911, 2. ed. 1926. cf. tambm The explanation of the business cycle, Economica, 1927. A no elevao do nvel de preos nos estados Unidos no perodo 1923-1926 ser vista no como objeo, mas como uma comprovao posterior desta teoria. entre-tanto, foi mostrado ao autor, por uma alta autoridade, que os preos no aumentaram nos estados Unidos no perodo de prosperidade imediatamente anterior guerra. poderia ser respondido que os fatores responsveis pela estabilidade do perodo 1923-1926 j haviam atuado antes da guerra. mas as cifras do U.s. Bureau of Labor para 1908-1913 so Us$ 91,00, Us$ 97,00, Us$ 99,00, Us$ 95,00, Us$ 101,00 e Us$ 100,00. cf. tambm a tabela do prof. person na Review of Economic Statistics, Jan. 1927. bom lembrar tambm que a indstria de construo e o comrcio de materiais de construo no precisam mostrar toda a sua atividade em cada ndice. o ferro, e.g., sendo uma mercadoria internacional, no precisa subir de preo se as fases do ciclo no coincidem exatamente em pases diferentes. na verdade, eles geralmente o fazem. mas a maneira correta de se lidar com o ferro e o ao usando o ndice spiethoff (produo + importaes + exportaes), o qual tem, at agora, sempre funcionado satisfatoriamente.

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    diante) uma teoria da mudana capitalista, admitindo, ao faz-lo, que as condies ou dados no econmicos so constantes e que mudanas graduais e automticas nas con-dies econmicas no existem. no h dificuldade em incluir tudo isto. resultaria que a analogia orgnica est menos adaptada para expressar com fidelidade a natureza do processo do que muitos de ns acreditamos; embora sendo uma simples analogia, pode-se obviamente interpret-la de modo que no implique nada de positivamente errado e de forma a evitar a ideia de um equilbrio de crescimento ad instar do crescimento de uma rvore, que ela pode mas no precisa necessariamente sugerir.

    resumindo a argumentao, e aplicando-a ao assunto em questo, vemos que existe realmente um elemento no processo capitalista, incorporado no tipo e na fun-o do empresrio, que na ausncia de impulsos ou distrbios externos e mesmo de crescimento destruir, de dentro para fora e pelo seu simples funcionamento, qualquer equilbrio que possa ter-se estabelecido ou que esteja em processo de esta-belecer-se; que a ao do citado elemento no pode ser descrita por meio e avanos infinitesimais; e que ele produz as ondas cclicas que so, em essncia, a forma que o progresso assume no capitalismo concorrencial, as quais poderiam ser descobertas pela teoria, caso no as conhecssemos por experincia. mas por meio de um me-canismo que funciona em perodos de depresso, e que explica suas caractersticas, surge sempre ou tende a surgir um novo equilbrio, o qual absorve os resultados da inovao levada a cabo nos perodos de prosperidade precedentes. os novos elemen-tos encontram suas propores de equilbrio; os antigos se adaptam ou desaparecem; as rendas so redistribudas; a inflao ocasionada pela prosperidade corrigida pela autodeflao automtica por meio do pagamento da dvida com os lucros, dos novos bens de consumo que entram nos mercados e da poupana que ocupa o lugar dos cr-ditos criados. Assim, as instabilidades, que surgem do processo de inovao, tendem a corrigir-se por si mesmas e no continuam se acumulando. e podemos exprimir, em nossa terminologia, o resultado que alcanamos dizendo que, embora haja instabili-dade do sistema, no existe instabilidade econmica da ordem.

    ViA instabilidade decorrente do que ns consideramos como o fator bsico da mudana puramente econmica , entretanto, de importncia bastante diversa nos dois tipos his-tricos de capitalismo que destacamos.

    A inovao no capitalismo concorrencial est tipicamente implcita na fundao de novas firmas a principal alavanca, na realidade, da ascenso das famlias industriais; o aperfeioamento forado no setor como um todo por meio da venda a preos mais baixos e da transferncia dos seus meios de produo, trabalhadores etc. para as novas

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    firmas; tudo isto acarretando no somente graves perturbaes, mas tambm produ-zindo resultados, transformando economias internas em externas apenas medida que implicar perturbao. os novos processos no surgem, e geralmente no podem surgir, das empresas antigas, mas sim colocam-se paralelamente a elas e as atacam. Alm disso, para uma firma de tamanho relativamente pequeno, sem fora no mercado financeiro, e que no pode sustentar departamentos cientficos ou uma produo experimental, e assim por diante, a inovao de prticas comerciais ou tcnicas algo extremamente arriscado e difcil que requer energia e coragem sobrenormais para ser posta em prtica. mas, to logo o sucesso fica vista de todos, tudo se torna muito mais fcil. ela pode agora, com muito menos dificuldade, ser copiada e, at mesmo, melhorada e milhares invariavelmente a copiam , o que explica os grandes saltos de progresso, bem como os retrocessos, trazendo atrs de si no somente a perturbao inicial, inerente ao processo, mas tambm toda uma corrente de perturbaes secundrias e possibilidades embora no mais que possibilidades de catstrofes ou crises peridicas.

    tudo isso diferente no capitalismo oligopolizado. A inovao, neste caso, no est mais incorporada tipicamente s novas firmas, mas vai em frente no seio das gran-des unidades agora existentes, na maior parte, independentemente de pessoas indivi-duais. ela sofre muito menos atritos, j que o fracasso em cada caso particular deixa de oferecer perigo, e ela tende a ser conduzida como um assunto rotineiro de acordo com o conselho de especialistas. Uma poltica consciente em relao demanda e uma viso de longo prazo para os investimentos torna-se possvel. embora a criao de cr-dito ainda tenha um papel a desempenhar, tanto o poder de acumular reservas como o acesso direto ao mercado financeiro tendem a reduzir a importncia deste elemento na vida das empresas oligopolistas o que, a propsito, explica o fenmeno de a prospe-ridade coexistir com os preos estveis, ou quase estveis, que tivemos a oportunidade de testemunhar nos estados Unidos entre 1923 e 1926. fcil verificar que as trs cau-sas aludidas, embora tendo acentuado as ondas do capitalismo concorrencial, devem suaviz-las no capitalismo oligopolizado. o progresso torna-se automatizado, cada vez mais impessoal e cada vez menos uma questo de liderana e de iniciativa individu-al. isto representa uma mudana fundamental em muitos aspectos, alguns dos quais fogem muito da esfera econmica. isto significa a extino de um sistema de seleo de lderes, cuja caracterstica singular era que o sucesso em ascender a uma posio e o sucesso em ocup-la eram essencialmente a mesma coisa como o sucesso de uma firma e o sucesso do homem que a dirige e sua substituio por outro sistema mais de acordo com os princpios de indicao ou eleio, que caracteristicamente separa o sucesso do negcio do sucesso do homem, e exige, da mesma forma que nas elei-es polticas, aptides de um candidato , digamos, presidncia de um complexo, que pouco tem a ver com as aptides de um bom presidente. existe um ditado italiano que diz: Quem entra no conclave como o futuro papa, sair como cardeal, ditado este que expressa bem o que queremos dizer. os indivduos que ascendem e os que perma-

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    necem embaixo em uma sociedade oligopolizada so diferentes do que seriam em uma sociedade competitiva, mudana que rapidamente se estende aos motivos, estmulos e estilos de vida. para o nosso propsito, entretanto, suficiente reconhecer que a nica causa fundamental de instabilidade inerente ao sistema capitalista est perdendo im-portncia com o passar do tempo, podendo at desaparecer.

    Viiem vez de resumir uma argumentao muito fragmentada, desejo enfatizar uma vez mais, para concluir, que levamos em considerao somente os fatos e problemas de or-dem puramente econmica. nosso diagnstico, portanto, no melhor, como base de previso, do que um diagnstico mdico, segundo o qual o simples fato de um paciente no ter cncer constitui base suficiente para o prognstico de que ele continuar a viver indefinidamente. o capitalismo, pelo contrrio, est em processo to bvio de transfor-mao em algo diferente que no se pode discordar do fato, mas apenas da interpreta-o deste fato. para esta interpretao, eu quis contribuir com um resultado negativo. mas pode ser de utilidade, para evitar mal-entendidos, que eu explique claramente o que acredito seria o resultado positivo de uma tentativa de fazer um diagnstico mais ambicioso, mesmo que eu ouse faz-lo com uma frase curta e imperfeita: o capitalismo, embora economicamente estvel, e mesmo adquirindo estabilidade, cria, ao racionalizar a mente humana, uma mentalidade e um estilo de vida incompatveis com suas prprias condies, motivos e instituies sociais fundamentais, e se transformar, ainda que no por necessidade econmica, e mesmo provavelmente com algum sacrifcio do bem-estar econmico, em ordem de coisas que ser ou no chamada de socialismo, depen-dendo de uma simples questo de gosto e terminologia.

  • Michael Kalecki

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    o texto Algumas observaes sobre a teoria de Keynes, de m. Kalecki, foi publicado originalmente na revista Literatura Econmica, volume 9, de junho de 1987. nesta pgina e nas duas prximas, reproduzimos a capa, o expediente e o sumrio daquela edio.

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  • michael KalecKi

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  • ALgUmAs oBserVAes soBre A teoriA de KeYnes*

    Michael Kalecki

    io livro do sr. Keynes, The general theory of employment, interest and money, , sem nenhuma dvida, um divisor de guas na histria da teoria econmica, podendo ser separado em apro