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CLÁUSULA DE NÃO-CONCORRÊNCIA NON-COMPETITION CLAUSE IN EMPLOYMENT CONTRACTS Rodrigo Allan Coutinho Gonçalves Procurador Federal pós-graduado em Direito do Trabalho SUMÁRIO: introdução; 1. Da não-concorrência; 1.1. Conceito; 1.2. Legislação brasileira; 2. Da cláusula de não-concorrência no contrato individual de trabalho; 2.1. Alguns deveres do empregado; 2.2. Da justa causa prevista no art. 482, alínea “c” da CLT; 3. Da cláusula de não- concorrência após a extinção do contrato de trabalho; 3.1. Da validade da cláusula de não- concorrência; 3.2. Pressupostos de validade da cláusula de não-concorrência; 3.2.1. Do interesse do empregador; 3.2.2. Limite material; 3.2.3. Limitação espacial; 3.2.4. Da limitação temporal 3.3. Compensação pela cláusula de não- concorrência; 4. Conclusão; Referências. RESUMO: O presente trabalho aborda, de forma simples e objetiva, toda a sistemática envolvendo a cláusula de não-concorrência, tanto na vigência do contrato de trabalho quanto após a extinção do contrato de trabalho, que é a forma mais polêmica para aceitação da sua validade. Aborda-se de forma sintética aspectos da livre concorrência para justificar a legalidade da cláusula de não- concorrência nos contratos de trabalho, desde que obedecidos certos requisitos limitadores. O tema aqui tratado tem grande relevância diante da ausência de legislação específica no Brasil, principalmente no que toca a possibilidade da cláusula ter vigência após a extinção do contrato de trabalho. Inúmeras dúvidas práticas tem surgido quando alguns estudiosos chegam a suscitar a ocorrência de ofensa a princípios constitucionais de grande relevância, como a liberdade de trabalho e da livre iniciativa. No entanto, o que ocorre é uma colisão dos princípios da liberdade de trabalho e a necessidade de proteção dos segredos da empresa bem como dos deveres de lealdade e boa-fé que devem existir entre os contratantes. Portanto, procura-se a sistematização do tema, baseada em considerações acerca dos diversos posicionamentos defendidos pelos doutrinadores, além de aspectos legais e jurisprudenciais. PALAVRAS-CHAVE: cláusula de não-concorrência; liberdade contratual; liberdade de trabalho; livre concorrência; livre iniciativa. ABSTRACT: This paper discusses a simple and objective way, all the systematic involving non-competition clause, both in term of the contract of employment or after the termination of the employment contract, which is the most controversial form for acceptance of their validity. Addresses of aspects synthetic form of free competition to justify the legality of non-compete clause in employment contracts, provided that obeyed certain limiting requirements. The topic discussed here is highly relevant in the absence of specific legislation in Brazil, especially in terms of the possibility to have validity clause after the termination of the employment contract. Numerous practical questions have arisen when some scholars even raise

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  • CLUSULA DE NO-CONCORRNCIA

    NON-COMPETITION CLAUSE IN EMPLOYMENT CONTRACTS

    Rodrigo Allan Coutinho Gonalves Procurador Federal

    ps-graduado em Direito do Trabalho

    SUMRIO: introduo; 1. Da no-concorrncia;

    1.1. Conceito; 1.2. Legislao brasileira; 2. Da

    clusula de no-concorrncia no contrato

    individual de trabalho; 2.1. Alguns deveres do

    empregado; 2.2. Da justa causa prevista no art.

    482, alnea c da CLT; 3. Da clusula de no-concorrncia aps a extino do contrato de

    trabalho; 3.1. Da validade da clusula de no-

    concorrncia; 3.2. Pressupostos de validade da

    clusula de no-concorrncia; 3.2.1. Do interesse

    do empregador; 3.2.2. Limite material; 3.2.3.

    Limitao espacial; 3.2.4. Da limitao temporal

    3.3. Compensao pela clusula de no-

    concorrncia; 4. Concluso; Referncias.

    RESUMO: O presente trabalho aborda, de forma simples e objetiva, toda a

    sistemtica envolvendo a clusula de no-concorrncia, tanto na vigncia do

    contrato de trabalho quanto aps a extino do contrato de trabalho, que a forma

    mais polmica para aceitao da sua validade. Aborda-se de forma sinttica

    aspectos da livre concorrncia para justificar a legalidade da clusula de no-

    concorrncia nos contratos de trabalho, desde que obedecidos certos requisitos

    limitadores. O tema aqui tratado tem grande relevncia diante da ausncia de

    legislao especfica no Brasil, principalmente no que toca a possibilidade da

    clusula ter vigncia aps a extino do contrato de trabalho. Inmeras dvidas

    prticas tem surgido quando alguns estudiosos chegam a suscitar a ocorrncia de

    ofensa a princpios constitucionais de grande relevncia, como a liberdade de

    trabalho e da livre iniciativa. No entanto, o que ocorre uma coliso dos princpios

    da liberdade de trabalho e a necessidade de proteo dos segredos da empresa

    bem como dos deveres de lealdade e boa-f que devem existir entre os

    contratantes. Portanto, procura-se a sistematizao do tema, baseada em

    consideraes acerca dos diversos posicionamentos defendidos pelos doutrinadores,

    alm de aspectos legais e jurisprudenciais.

    PALAVRAS-CHAVE: clusula de no-concorrncia; liberdade contratual; liberdade

    de trabalho; livre concorrncia; livre iniciativa.

    ABSTRACT: This paper discusses a simple and objective way, all the systematic

    involving non-competition clause, both in term of the contract of employment or

    after the termination of the employment contract, which is the most controversial

    form for acceptance of their validity. Addresses of aspects synthetic form of free

    competition to justify the legality of non-compete clause in employment contracts,

    provided that obeyed certain limiting requirements. The topic discussed here is

    highly relevant in the absence of specific legislation in Brazil, especially in terms of

    the possibility to have validity clause after the termination of the employment

    contract. Numerous practical questions have arisen when some scholars even raise

  • the occurrence of offending constitutional principles of great importance, such as

    freedom of work and free enterprise. However, what happens is a collision of the

    principles of freedom of labor and the need to protect company secrets and the

    duties of loyalty and good faith that must exist between contractors. Therefore

    seeks to systematize the subject, based on considerations of the different positions

    espoused by scholars, as well as legal and jurisprudential aspects.

    KEYWORDS: non-compete clause; contractual freedom; freedom to work; free

    competition; free enterprise.

    INTRODUO

    Com a globalizao, o surgimento de novas tecnologias tornou-se

    imprescindvel para o desenvolvimento econmico. Assim, como forma de garantir

    a competitividade entre as empresas, torna-se imprescindvel a conjugao do

    conhecimento ao capital e fora de trabalho. Nesse diapaso, diversas

    alternativas so buscadas pelas empresas como forma de garantir a prpria

    sobrevivncia, na tentativa de aperfeioar o processo de produo e a gerao de

    riqueza. Um exemplo a utilizao da clusula de no concorrncia nos contratos

    de trabalho, artifcio cuja legalidade muito discutida.

    O problema a ser investigado pela presente pesquisa consiste em saber se no

    exerccio da liberdade contratual das partes no direito do trabalho, mesmo diante

    das regras de ordem pblica de observncia obrigatria, legtima a colocao de

    clusula de no concorrncia no contrato de trabalho.

    O direito do trabalho uma disciplina jurdica de cunho social, tendo surgido

    principalmente para proteger os trabalhadores, buscando uma igualdade material

    entre as partes do contrato de trabalho, j que o empregador detm uma

    superioridade econmica.

    Vale colacionar as palavras de Amauri Mascaro Nascimento1, em sua obra

    iniciao ao direito do trabalho, quando diz que:

    O direito do trabalho consolidou-se como uma necessidade dos

    ordenamentos jurdicos em funo das suas finalidades sociais, que o caracterizam como regulamentao jurdica das relaes de trabalho que se desenvolvem nos meios econmicos de produo de bens e prestao de servio, de certo modo impulsionado pela fora dos fatos.

    Deve-se ter em mente que o ordenamento jurdico ptrio possui diversos

    dispositivos que oferecem proteo ao trabalhador, entretanto, tambm existem

    dispositivos que protegem o empregador, constituindo-se num emaranhado legal

    em que se busca a proteo do trabalho, garantindo-se os direitos recprocos entre

    o trabalhador e o empregador.

    A relevncia da pesquisa em tela situa-se em demonstrar que no h bice

    para a insero da clusula de no concorrncia no contrato de trabalho, pois

    decorre da autonomia privada, no constituindo em prejuzo para o trabalhador,

    visto que se compatibiliza com os princpios protetivos do trabalhador e mesmo do

    empregador.

    Ademais, no existem regras claras e especficas acerca da possibilidade de

    clusula de no concorrncia para viger depois da extino do contrato de trabalho.

    Diante da omisso legislativa, o presente estudo busca analisar sobre diversos

    aspectos a legitimidade de tal clusula, visto que no ofende princpios

    constitucionais fundamentais do trabalhador, como liberdade de trabalho, ofcio ou

    profisso, preconizado no art. 5, XIII da Constituio Federal.

    1 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciao ao direito do trabalho. 32. ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 26.

  • Vale ressaltar que, diante do fenmeno da globalizao, em que se busca

    cada vez maior o aperfeioamento do processo de produo, para que as empresas

    possam ter competitividade, garantindo a prpria sobrevivncia, torna-se til e

    importante a utilizao de mecanismos que possam assegurar essa

    competitividade.

    Nesse contexto, os contratos de trabalho sofrem influncia direta, visto que a

    fora de trabalho um componente essencial para a produo. Assim, a clusula de

    no concorrncia inserida nos pactos laborais torna-se uma importante ferramenta

    na garantia de direitos recprocos dos trabalhadores e empregadores, alm de

    constituir-se num meio hbil de evitar conflitos concernentes as novas formas de

    produo, gesto e de prticas de concorrncia empresarial.

    Cumpre ainda afirmar que a clusula de no concorrncia trata-se de uma

    importante ferramenta a ser utilizada nos contratos de trabalho diante das

    circunstncias atuais, como a globalizao e a prpria crise global que afeta os

    mercados, no entanto, um mecanismo a ser utilizado com ponderao, dentro de

    preceitos razoveis e proporcionais, sob pena de ofensa a dispositivos

    constitucionais e legais.

    1 DA NO-CONCORRNCIA

    A estipulao contratual da impossibilidade de o empregado realizar

    concorrncia ao empregador tem sua validade discutida na doutrina, constituindo-

    se num conflito de princpios tutelados tanto pelo direito constitucional quanto pelo

    direito do trabalho.

    Por um lado, os que defendem a impossibilidade alegam ofensa proteo ao

    livre exerccio de profisso (art. 5, inciso IX e XIII da CF) e livre iniciativa, ao

    passo que os defensores da sua validade recorrem aos deveres de lealdade, de

    sigilo, de boa-f que devem estar presentes na relao contratual existente entre o

    empregado e o empregador, bem como apontam uma interpretao onde no se

    constata ofensa aos princpios citados.

    Com o fenmeno da globalizao da economia, torna-se imprescindvel o

    conhecimento de novas tecnologias para viabilizar a concorrncia da empresa em

    mbito mundial. Assim, alm do capital e do trabalho, o conhecimento passou a ser

    essencial para o processo de produo e gerao de riquezas, havendo reflexos no

    contrato de trabalho, visto que empregados especializados situados em reas

    estratgicas da empresa detm informaes privilegiadas, sendo necessrio novas

    regulamentaes na relao de trabalho. Nesse contexto, surge a clusula de no-

    concorrncia.

    A doutrina aponta que a clusula de no-concorrncia teve sua origem no

    direito norte americano, depois tendo se expandido pelo mundo. Adriana Carrera

    Calvo2, em artigo publicado na internet aponta alguns casos emblemticos de

    existncia da clusula de no-concorrncia:

    William Redmond Jr., Diretor Geral das Operaes Californianas da Pepsi, aceitou, em 1994, o cargo de Diretor Executivo Operacional da diviso mundial Gatorade da Quaker Oats. Logo aps o seu

    desligamento, a Pepsi Co. ajuizou um processo contra o ex-empregado, alegando que ele assinara contrato de confidencialidade e no-concorrncia. Redmond era co-responsvel pelo plano de marketing de refrigerantes da empresa. A sentena judicial no s obrigou Redmond a no trabalhar para referia empresa durante 6 (seis) meses, como tambm o proibiu de revelar o plano da

    2 CALVO, Adriana Carrera. Os aspectos legais e a validade da clusula de no-concorrncia no Brasil .

    Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 616, 16 mar. 2005. Disponvel em: . Acesso em: 05 abr. 2009

  • PepsiCo. aos seus novos patres. [...] Em muitos casos

    americanos, os tribunais se colocam a favor dos empregadores:

    "esto dispostos a colocar o trabalhador de lado durante determinado perodo de tempo, at que a informao que ele possui envelhea", afirma Theodore Rogers Jr., scio de uma grande firma de advogados nos EUA.

    Portanto, pode-se constatar pelo exemplo citado que os Tribunais norte

    americanos tem se posicionado favorveis a estipulao da clusula de no-

    concorrncia nos contratos de trabalho, desde que obedecidos alguns pressupostos,

    como a limitao temporal, j que proibiu o executivo de trabalhar por 6 meses,

    alm de no poder revelar ao novo empregador os planos estratgicos da empresa

    em que prestara servios.

    1.1 CONCEITO

    O termo concorrncia significa, segundo o minidicionrio da Melhoramentos,

    ato ou efeito de concorrer (MELHORAMENTOS, p. 120). Por sua vez, concorrer pode significar ter a mesma pretenso de outrem; competir.

    Em artigo publicado na Revista Ltr, Ari Possidonio Beltran3 conceitua

    concorrncia como sendo:

    disputa entre aqueles que exercem a mesma atividade. Como conseqncia, busca-se a proteo de dados comerciais, tcnicos, know-how, at a preservao de empregados com elevada formao tcnica, por vezes com bolsas de estudos no exterior

    financiadas pela prpria empresa, bem como a relao de clientes, ou ainda, almeja-se, em certas condies, evitar a prpria concorrncia direta, ainda que por disposio limitada no tempo.

    A concorrncia constitui-se num tema complexo, que extrapola os limites do

    direito do trabalho, despertando a preocupao de outros ramos do direito, como

    do direito civil, comercial, penal entre outros.

    O presente artigo preocupa-se com a concorrncia no mbito laboral, mais

    precisamente com abusos cometidos no exerccio do direito de concorrer pelos

    empregados, visto que, por uma srie de fatores, encontram-se impossibilitados de

    realizar concorrncia ao respectivo empregador.

    No campo do Direito do Trabalho Srgio Pinto Martins diz que a clusula de no-concorrncia envolve a obrigao pela qual o empregado se compromete a no

    praticar pessoalmente ou por meio de terceiro ato de concorrncia para o

    empregador (MARTINS, 2008, p. 121).

    O renomado doutrinador Srgio Pinto Martins4 ainda nos fornece os diversos

    sinnimos encontrados para a clusula de no-concorrncia na doutrina brasileira:

    So encontradas as denominaes clusula de no-restabelecimento, clusula de no-concorrncia em contrato social,

    clusula de no-concorrncia em contrato de trabalho, clusula de no-concorrncia, proibio de concorrncia, pacto de no-restabelecimento, proibio negocial de concorrncia, clusula de interdio da concorrncia, pacto de no-concorrncia, pacto de

    absteno de concorrncia, pacto de excluso de concorrncia etc. Muitas dessas denominaes dizem respeito ao Direito Comercial e no propriamente ao Direito do Trabalho.

    3 BELTRAN, Ari Possidonio. Dever de fidelidade, dever de no-concorrncia e clusula de no-

    concorrncia. Revista LTR, legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 04/2002. p. 419 a 424.

    4 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 11.

  • Cibele Andrade Pessoa de Freitas5, em artigo publicado na Revista de Direito

    do Trabalho 2008 RDT 132, faz uma rpida abordagem da concorrncia em outros ramos do direito:

    Outras manifestaes esto presentes na esfera cvel, a exemplo do

    art. 1.147 do CC/2002, previso que obsta o alienante de fazer concorrncia ao adquirente do estabelecimento nos cinco anos subsequentes a transferncia. Ainda na rea comercial, h possibilidade de se estabelecer no contrato social vedao dirigida ao scio retirante no sentido de obstar sua atuao em empresa concorrente e/ou em determinado espao territorial.

    Portanto, constata-se a importncia da regulamentao da concorrncia pelo

    direito, visto que se torna importante para a manuteno dos mercados, sendo

    necessrio o Estado coibir prticas que afetem a normalidade da concorrncia.

    Complementando, pode-se afirmar que a clusula de no-concorrncia

    constitui-se numa obrigao negativa do empregado, que no poder realizar atos

    que possam constituir concorrncia ou que de algum modo afete a atividade da

    empresa do seu empregador.

    No que toca a impossibilidade de concorrncia durante o contrato de trabalho,

    a CLT fez previso expressa em seu art. 482, alnea c, determinando como ensejador do rompimento do pacto por justa causa a prtica de atos de

    concorrncia empresa para a qual trabalha o empregado. No entanto, deve-se

    considerar que, mesmo aps a extino do contrato de trabalho, alguns efeitos

    devem continuar vigendo por um certo perodo, em especial o dever de fidelidade,

    probidade e boa-f, constituindo-se a clusula de no-concorrncia um desses

    efeitos a serem observados mesmo aps a extino do contrato de trabalho.

    1.2 LEGISLAO BRASILEIRA

    No que toca a legislao brasileira, como j foi dito em outras passagens do

    presente trabalho, a Consolidao das Leis Trabalhistas do Brasil dispe em seu art.

    482, alnea c que constitui justa causa para o rompimento do pacto laboral a negociao habitual por conta prpria ou alheia sem permisso do empregador, e quando constituir ato de concorrncia empresa para a qual trabalha o empregado,

    ou for prejudicial ao servio.

    Com relao ao pacto de no-concorrncia para viger aps a extino do

    contrato de trabalho, a legislao brasileira omissa, no havendo uma disciplina

    especfica acerca da matria.

    Portanto, considera-se dois momentos distintos para se avaliar o pacto de

    no-concorrncia. Durante a vigncia do contrato a CLT veda expressamente,

    constituindo uma justa causa para a resciso contratual, como decorrncia do dever

    de lealdade, de fidelidade e da boa-f que deve nortear os contratantes. J com

    relao a no-concorrncia considerada aps a extino do contrato, o

    ordenamento jurdico ptrio no dispes de normas especficas, deixando a cargo

    da doutrina e da jurisprudncia a disciplina acerca da matria.

    2 DA CLUSULA DE NO-CONCORRNCIA NO CONTRATO INDIVIDUAL DE

    TRABALHO

    Predomina na doutrina o entendimento de que a natureza da relao de

    emprego contratual, sendo o elemento volitivo essencial para a formao da

    5 FREITAS, Cibele Andrade Pessoa de. Clusula de no-concorrncia no contrato individual de trabalho

    brasileiro. Revista de direito do trabalho, So Paulo: Revista dos Tribunais, 10/2008 A 12/2008. p. 11.

  • relao empregatcia, demonstrando a existncia de um contrato, que reflete a

    liberdade de constituir obrigaes mtuas entre as partes.

    Dado a natureza contratual, empregado e empregador estipulam livremente

    as condies para a realizao do pacto laboral, desde que obedecidos certos

    parmetros previstos por normas de ordem pblica, j que o direito do trabalho

    marcadamente social, com vrias normas dispositivas de observncia obrigatria

    por todos, dado o carter intervencionista do Estado no mbito laboral, para coibir

    abusos que j foram cometidos no passado.

    perfeitamente aplicvel ao pacto laboral o disposto no art. 122 do Cdigo

    Civil:

    Art. 122. So lcitas, em geral, todas as condies no contrrias

    lei, ordem pblica ou aos bons costumes; entre as condies defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negcio jurdico, ou o sujeitarem ao puro arbtrio de uma das partes.

    Assim, obedecendo-se os direitos consagrados pelas normas trabalhistas

    como essenciais para a validade do pacto laboral, lcito s partes estabelecerem

    condies para a realizao do trabalho, tanto para vigerem durante o vnculo como

    para terem eficcia aps a sua extino, como a clusula de no-concorrncia aps

    o fim da relao empregatcia. Nesse sentido, Amauri Mascaro Nascimento6:

    Com as restries autonomia da vontade no direito do trabalho, so essas negociaes de mbito reduzido, mas existem, quer na oportunidade da formao do vnculo de emprego, quer durante o seu desenvolvimento, quer, ainda, em sua extino.

    Portanto, dado a liberdade contratual que rege as relaes trabalhistas, ainda

    levando-se em conta ainda a existncia de normas de ordem pblica que devem ser

    obrigatoriamente observadas, verificamos a validade da clusula de no-

    concorrncia nos contratos individuais de trabalho, por razes que sero melhor

    expendidas posteriormente.

    2.1 ALGUNS DEVERES DO EMPREGADO

    Emerge do prprio contrato de trabalho alguns deveres que devem ser

    obedecidos pelas partes, como a boa-f dos contratantes, o dever de lealdade, de

    fidelidade e mesmo o dever de no-concorrncia.

    O dever de boa-f decorre da necessidade de os contratantes agirem com

    lealdade, com correo, de acordo com os usos, costumes e sem desobedecer s

    normas em vigor.

    O art. 422 do Cdigo Civil dispes que Os contratantes so obrigados a guardar, assim na concluso do contrato, como em sua execuo, os princpios de

    probidade e boa-f, sendo um exemplo de positivao da boa-f que deve nortear as partes de um contrato.

    Considera-se que a boa-f deve estar presente nos contratos de trabalho,

    desde as negociaes pr-contratuais, j que antes mesmo da concluso do

    contrato as partes j devem agir com o nimo de no violar interesses alheios.

    Durante a execuo do contrato tambm imprescindvel a boa-f entre as partes.

    Ainda aps a extino do pacto laboral necessria a observncia da boa-f,

    na medida em que existem segredos das partes contratantes que devem ser

    preservados, alm de outros valores ticos e morais.

    6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho: histria e teoria geral do direito do

    trabalho, relaes individuais e coletivas do trabalho. 17. ed. rev. e atual. So Paulo, Saraiva, 2001, p. 206.

  • Assim, a boa-f contratual dever subsistir aps o trmino dos contratos. o

    que ocorre, por exemplo, com a insero da clusula de no-concorrncia em que,

    mesmo aps a extino do contrato, o empregado deve agir de boa-f no

    prejudicando o empreendimento do seu antigo empregador por atos concorrenciais

    por algum tempo.

    Como conseqncia do dever de boa-f no relacionamento entre as partes, o

    empregado deve executar o trabalho com seriedade e conscincia, empreendendo

    diligncias no sentido de melhor desempenhar a sua funo no emprego. Da

    decorre o dever de fidelidade. Na concepo de Orlando Gomes e lson

    Gottschalk7:

    O dever de fidelidade na prestao de trabalho o aspecto

    particular que assume o princpio de boa-f inerente execuo de todo contrato. Nos contratos a trato sucessivo, especialmente no de trabalho, este dever assume relevncia especial, que em certos ordenamentos jurdicos, como aconteceu na legislao do III Reich, foi elevado mxima exaltao com a instituio de um Tribunal de Honra Social, com o objetivo assinalado de disciplinar o Treupflicht,

    que era a pedra de toque da organizao social de empresa nazista.

    Dessa forma, decorre do dever de fidelidade a obrigao de o empregado

    abster-se na sua atividade dentro e fora da empresa de praticar atos prejudiciais a

    mesma.

    Ari Possidonio Beltran8 seguindo os ensinamentos de Krotoschin nos fornece a

    seguinte lio:

    Krotoschin discorrendo sobre o dever de fidelidade diz que,

    contrariamente ao que foi sustentado no passado, no se trata de um mero dever acessrio, mas essencial para a configurao do contrato de trabalho que alicerado na confiana recproca e no nimo de colaborao. [...] Afirma ainda, que o dever de fidelidade materializa-se, sobretudo, em trs aspectos da relao de trabalho: proibio de fazer concorrncia ao patro, dever de guardar sigilo sobre certos segredos da empresa e proibio de receber vantagens

    pecunirias de terceiros.

    Portanto, decorre tambm do dever de fidelidade a impossibilidade de o

    empregado realizar concorrncia ao empregador.

    2.2 DA JUSTA CAUSA PREVISTA NO ART. 482, ALNEA C DA CLT

    Trataremos agora da resciso contratual em decorrncia de ato faltoso

    praticado pelo empregado, mais precisamente da hiptese da alnea c do art. 482 da CLT, que dispe:

    Art. 482 - Constituem justa causa para resciso do contrato de trabalho pelo empregador:

    [...]

    c) negociao habitual por conta prpria ou alheia sem permisso do empregador, e quando constituir ato de concorrncia empresa

    para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao servio;

    Um dos requisitos para que se configure a resciso por justa causa a

    taxatividade da conduta, ou seja, somente ocorre nos casos expressamente

    previstos em lei. A hiptese em apreo trata-se de um caso de resoluo

    7 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed. Rio de Janeiro:

    Forense, 2005, p. 212.

    8 BELTRAN, Ari Possidonio. Dever de fidelidade, dever de no-concorrncia e clusula de no-

    concorrncia. Revista LTR: legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 04/2002. p. 419.

  • contratual, visto que o rompimento do pactuado se d pelo cometimento de ato

    faltoso do empregado.

    Pela anlise do dispositivo citado, percebe-se que a realizao de concorrncia

    pelo empregado motivo ensejador do rompimento do liame empregatcio, por

    constituir uma falta grave do empregado. Maurcio Godinho Delgado9 esclarece

    que:

    Para que seja desleal a concorrncia, necessrio que ela afronte

    expressamente o contrato, ou agrida o pacto inequivocamente implcito entre as partes, ou, por fim, derive, naturalmente, da dinmica prpria do empreendimento do trabalho.

    Assim, a falta somente se caracterizar quando a atividade desempenhada

    caracterizar concorrncia desleal ao empregador ou for prejudicial ao servio e que

    se desenvolva de forma habitual, sem a concordncia do patro. Vale ressaltar

    ainda que no necessariamente a concorrncia aqui estudada ser considerada

    crime. Nesse sentido, vale transcrever os ensinamentos de Dlio Maranho10:

    A concorrncia ao empregador, que se traduz pela negociao

    habitual do empregado, por conta prpria ou alheia, sem o consentimento daquele, no se confunde, necessariamente, com o crime de concorrncia desleal, de que trata o art. 195 da Lei 9.279/96, embora, algumas vezes, o ilcito trabalhista possa configurar tal crime, como quando o empregado recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita promessa de paga ou recompensa, para, faltando ao seu dever, proporcionar vantagem a concorrente do empregador (art. 195, X, do Citado Cdigo).

    Mais adiante, socorrendo-se dos ensinamentos de Evaristo de Moraes Filho,

    Dlio Maranho conclui que a negociao que se probe restrita ao gnero de atividade do empregado (MARANHO, 2005, p. 581).

    Tambm nesse sentido so os ensinamentos de Francisco Ferreira Jorge e

    Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante11, buscando apoio na doutrina de Pl

    Rodriguez:

    A concorrncia desleal apresenta-se quando o empregado exerce atividades que impliquem em prejuzos ao empregador, pela evidente coliso de interesses contrrios. Acentua Pl Rodriguez: Note-se que a proibio no atinge qualquer outra atividade, mas somente o desempenho da mesma atividade por conta prpria ou de outra pessoa que no seja o empregador. No se probe a pluralidade de ocupaes, mas a concorrncia desleal. A proibio somente abrange toda espcie de atividade quando no contrato for estipulada exclusividade ou dedicao total...

    Portanto, a realizao de concorrncia pelo empregado na vigncia do

    contrato de trabalho constitui uma hiptese ensejadora da resoluo contratual, por

    justa causa, por constituir uma falta grave prevista pela CLT em seu art. 482,

    alnea c, tendo o ordenamento jurdico ptrio disciplinado expressamente tal situao.

    9 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. So Paulo: LTr, 2006, p. 1193.

    10 SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHO, Dlio. Instituies de Direito do Trabalho, v. 1. 22. ed. So Paulo:

    LTr, 2005, p. 581.

    11 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do Trabalho,

    Tomo I. 3. ed. Rio de Janeiro; Lmen Jris, 2005, p. 429.

  • 3 DA CLUSULA DE NO-CONCORRNCIA APS A EXTINO DO CONTRATO

    DE TRABALHO

    Como j ficou assente anteriormente, a hiptese de se pactuar no contrato de

    trabalho a hiptese de no-concorrncia para viger aps a extino do pacto laboral

    no expressamente prevista na legislao brasileira. Por isso, no existe

    unanimidade tanto na doutrina quanto na jurisprudncia acerca da sua validade.

    Para os que advogam a tese da impossibilidade de sua utilizao, alegam, em

    sntese, ofensa aos princpios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de

    trabalho. Os que a defendem no vislumbram ofensa aos princpios citados,

    justificando-se a sua utilizao na liberdade de contratar alm de imporem alguns

    requisitos para que se utilize a razoabilidade na utilizao da clusula de no-

    concorrncia para viger aps a extino do contrato de trabalho.

    3.1 DA VALIDADE DA CLUSULA DE NO-CONCORRNCIA

    Atualmente a globalizao facilitou sobremaneira as transaes comerciais,

    inclusive internacionais, tornando as empresas cada vez mais vulnerveis. Isso se

    d porque com o avano tecnolgico, a competitividade do mercado se torna cada

    vez mais acirrada.

    Nesse contexto, torna-se de grande importncia a valorizao dos

    empregados, principalmente daqueles que ocupam posies estratgicas na

    empresa, j que possuem o conhecimento das tcnicas e mtodos de produo

    imprescindveis para o bom posicionamento da empresa no mercado, ou seja,

    possuem acesso s informaes confidenciais e aos segredos da empresa.

    Diante dessa situao, surge o legtimo interesse das empresas em

    estipularem a clusula de no-concorrncia para produzirem efeitos aps extinto o

    contrato de trabalho, a fim de impedir que o empregado pratique atos abusivos, em

    virtude da posio e conhecimento obtidos na empresa, causando-lhe prejuzo.

    Como decorrncia dos deveres de lealdade e fidelidade inerentes ao contrato

    de trabalho, deve o empregado conservar os segredos da empresa, mesmo que lhe

    custe uma limitao liberdade de trabalho aps a extino do contrato de

    trabalho. Tais prerrogativas decorrem da boa-f que deve nortear o esprito dos

    contratantes, que devem manter a lealdade mesmo aps a extino do pacto, ou

    seja, so alguns efeitos do contrato que devem ser observados mesmo depois de

    rescindido o pacto laboral.

    Assim, h de um lado o direito do empregador de proteger os segredos da

    empresa, de outro o direito do empregado de liberdade de trabalho. Como dito em

    outras passagens, h uma verdadeira coliso de princpios, sendo necessrio uma

    cuidadosa atividade interpretativa, em que se busque os critrios de interpretao

    das normas diante de cada caso concreto.

    Vale ressaltar que, de acordo com os mtodos hermenuticos, a soluo ter

    que levar em considerao a importncia de cada princpio em coliso, objetivando

    uma soluo ponderada que considere os interesses em conflito e no se

    fundamente na completa prevalncia de um princpio em detrimento do outro.

    Sabe-se que nenhum princpio absoluto, e sim relativo. Por isso, a liberdade

    de trabalho deve ser relativizada j que se coloca diante de outros princpios

    igualmente tutelados pelo corpo constitucional. Dessa forma, s haveria ofensa ao

    princpio da liberdade de trabalho se fosse estipulada a proibio de qualquer

    atividade, em qualquer lugar e para sempre, o que no ocorre na clusula de no-

    concorrncia.

  • Alice Monteiro de Barros12 defende a validade da clusula de no-

    concorrncia:

    No cremo, tampouco, possa a referida clusula, nessas condies, cercear a liberdade de exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, na forma do art. 5, XIII, da Constituio de 1988, pois a

    insero da clusula dever permitir ao empregado a possibilidade de exercer a atividade que lhe prpria, considerando sua experincia e formao, desde que junto a estabelecimentos empresariais insuscetveis de ocasionar concorrncia danosa ao ex-empregador.

    Ademais, deve-se levar em conta os artigos 8 e 444 da CLT, aliados ao art.

    122 do Cdigo Civil, que dispem:

    Art. 8 - As autoridades administrativas e a Justia do Trabalho, na falta de disposies legais ou contratuais, decidiro, conforme o caso, pela jurisprudncia, por analogia, por eqidade e outros

    princpios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito

    comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevalea sobre o interesse pblico.

    Art. 444 - As relaes contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulao das partes interessadas em tudo quanto no

    contravenha s disposies de proteo ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicveis e s decises das autoridades competentes.

    Art. 122. So lcitas, em geral, todas as condies no contrrias lei, ordem pblica ou aos bons costumes; entre as condies defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negcio

    jurdico, ou o sujeitarem ao puro arbtrio de uma das partes.

    Assim, permite o texto consolidado em seu art. 8 a possibilidade de

    utilizao do direito comparado alm de outros princpios, preservando-se ao

    interesse pblico, alm de os arts. 444 da CLT 122 da CC disporem acerca da

    liberdade que dado aos contratantes em pactuarem clusulas que no sejam

    ofensivas ao interesse pblico nem as disposies protetivas do trabalho.

    No se considera que a clusula de no-concorrncia seja ofensiva a qualquer

    dos princpios e normas protetivas previstas no ordenamento jurdico ptrio, por

    isso, pode ser utilizada, desde que usada com razoabilidade e obedecendo a certos

    requisitos.

    Nos Tribunais ainda verificamos poucas decises tratando da clusula de no-

    concorrncia. possvel encontrar algumas decises no Tribunal Regional do

    Trabalho da 2 regio13, no havendo um consenso entre as Turmas do Tribunal.

    Em acrdo proferido pela 8 Turma do Tribunal citado, os magistrados

    posicionaram-se contrrios a clusula de no-concorrncia, seno vejamos:

    Clusula de no concorrncia. Cumprimento aps a resciso contratual. Ilegalidade. A ordem econmica fundada, tambm, na valorizao do trabalho, tendo por fim assegurar a todos existncia digna, observando dentre outros princpios a busca do pleno

    emprego. Pelo menos, assim est escrito no art. 170, inciso VIII, da

    Constituio. O art. 69 do diploma deu ao trabalho grandeza fundamental. A fora de trabalho o bem retribudo com o salrio e assim meio indispensvel ao sustento prprio e familiar, tanto que a

    12 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5. ed. rev. e ampl. So Paulo: LTr, 2009, p.

    259.

    13 TRT 2 Regio, 8 Turma, Relator Jos Carlos da Silva Arouca. Ac. 20020U79847 DOESP 5.3.02

  • ordem social tem nele o primado para alcanar o bem-estar e a

    justia sociais. Finalmente, o contrato de trabalho contempla

    direitos e obrigaes que se encerram com sua extino. Por tudo, clusula de no concorrncia que se projeta para aps a resciso contratual nula de pleno direito, a teor do que estabelece o art. 9 da Consolidao das Leis do Trabalho. (TRT 2 Regio, 8 Turma, Relator Jos Carlos da Silva Arouca. Ac. 20020U79847) DOESP 5.3.02.

    Com o devido respeito, conclumos que o posicionamento citado no o mais

    adequado, uma vez que coloca o princpio do pleno emprego como absoluto,

    excluindo os demais princpios conflitantes.

    No entanto, no mesmo ano de 2002, a 5 Turma do Tribunal Regional do

    Trabalho da 2 regio14 proferiu acrdo admitindo a clusula de no concorrncia:

    No afronta o art. 5, inciso XIII, da Constituio Federal de

    1988, clusula contratual firmada por empregado, aps

    ruptura do contraio de trabalho, comprometendo-se a no

    prestar servios empresa concorrente, quer como

    empregado, quer como autnomo. Inexistncia de erro ou

    doao a anular o pactuado. No h Ilegalidade a macular o

    pactuado e nem danos materiais decorrentes da limitao

    expressamente aceita. Impenda aqui, invocar-se tambm o

    princpio da boa-f, presente em todos os atos da vida civil e

    pressuposto deles, mormente quando em ajuste, esto

    pessoas capazes, de mediano conhecimento jurdico e alto

    nvel profissional, como o caso das partes envolvidas no

    Termo de Confidencialidade e Compromissos Recprocos."

    (TRT 21 Regio, 5S Turma, Relatora Rita Maria Silvestre Ac. 2002053 4536) DOESP 30.8.02

    Srgio Pinto Martins15 faz aluso ao entendimento do Supremo Tribunal

    Federal acerca da matria:

    O STF j teve oportunidade de julgar questo semelhante na

    vigncia do 23, do art. 153 da Constituio de 1967, que tinha a seguinte redao: livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, observadas as condies de capacidade que a lei estabelecer. O acrdo no conheceu do recurso extraordinrio, tendo a seguinte ementa:

    Liberdade de trabalho. Clusula pela qual o empregado, que fez cursos tcnicos s expensas do empregador, obrigou-se a no servir a qualquer empresa concorrente nos 5 anos seguintes, ao fim do contrato. No viola o art. 153, 23 da Constituio o acrdo que declarou invlida tal avena (STF, RE 67.653, Rel. Min Aliomar Baleeiro, DJ 3-11-70, p. 5.294, RTJ 55, 1971, p. 42)

    Portanto, importantes doutrinadores nacionais admitem a clusula de no-

    concorrncia nos contratos de trabalho para terem vigncia aps a extino do

    pacto laboral, sendo um tema ainda pouco abordado nos Tribunais ptrios, j

    havendo decises no sentido de admiti-la. Deve-se considerar que no h qualquer

    ilegalidade na utilizao da clusula, desde que obedecidos certos requisitos, que

    sero abordados a seguir.

    14 TRT 21 Regio, 5S Turma, Relatora Rita Maria Silvestre Ac. 2002053 4536 DOESP 30.8.02

    15 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 122.

  • 3.2 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE DA CLUSULA DE NO-CONCORRNCIA

    Para que seja possvel a utilizao da clusula de no-concorrncia no

    contrato de trabalho, deve-se levar em considerao a necessidade da presena de

    alguns pressupostos de validade, dentre os quais, o que garanta a possibilidade de

    o trabalhador desenvolver outra atividade, um limite espacial e temporal, alm de

    uma recompensa indenizatria ao empregado a ser paga pelo empregador, como

    forma de garantir a sua sobrevivncia pelo tempo em que esteja obrigado a no

    praticar a concorrncia ao seu ex-patro, garantindo assim o princpio

    constitucional da dignidade da pessoa humana.

    3.2.1 DO INTERESSE DO EMPREGADOR

    O interesse na contratao da clusula de no-concorrncia deve ser claro

    entre as partes, como conseqncia de uma necessidade do empregador. Estevo

    Mallet diz que a restrio a liberdade de trabalho tem que satisfazer legtimo interesse do empregador e no se apresentar de forma desarrazoada (MALLET, 2005, p. 1161), concluindo mais adiante que a interferncia na liberdade de trabalho do empregador somente vlida quando destinada a satisfazer relevante

    e legtimo interesse do empregador.

    Por constituir a limitao uma liberdade, tem-se que a utilizao da clusula

    de no-concorrncia deve ser fundamentada. Nesse sentido, Estevo Mallet16 cita

    legislaes estrangeiras:

    No direito portugus, por exemplo, a clusula de no-concorrncia somente pode ser estabelecida em relao a actividade cujo exerccio possa efectivamente causar prejuzo ao empregador. De modo bastante semelhante, o Estatuto de los Trabajadores espanhol condiciona a validade do pacto de no competncia a que el empresrio tenga um efectivo interes industrial o comercial en ello.

    Portanto, para que se possa defender pela validade da clusula de no-

    concorrncia, inicialmente imprescindvel que exista interesse do empregador,

    que consiste na anlise da atividade exercida pelo empregado, nos conhecimentos

    adquiridos bem como na potencialidade de prejuzo que possa o empregado causar

    ao empregador realizando concorrncia.

    Realizando-se essa anlise, pode-se justificar a limitao ao direito

    liberdade de trabalho fundamentalmente legitimada pelo relevante interesse do

    empregador ocasionado pelo real potencial de risco. Assim, no se deve utilizar a

    clusula de no-concorrncia indistintamente, abrangendo qualquer trabalhador da

    empresa, visto que tem que haver essa potencialidade de risco, que se pode ser

    aferida por ocupantes de cargos que sejam efetivamente capazes de prejudicar os

    legtimos interesses do empregador.

    3.2.2 LIMITE MATERIAL

    O limite material diz respeito s atividades especficas que tero o seu

    exerccio vedado. Tal requisito de suma importncia, pois no se pode vedar o

    exerccio de qualquer atividade, sob pena de estar sendo violado o princpio da

    liberdade de trabalho.

    Discorrendo sobre o assunto, Estevo Mallet diz que trata-se de requisito substancial de validade do ajuste, cuja falta torna-o nulo, at porque no se admite

    16 MALLET, Estvo. Clusula de no-concorrncia em contrato individual de trabalho. Revista LTR:

    legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 10/2005. p. 1162.

  • restrio genrica, indeterminada, abrangendo todo e qualquer trabalho (MALLET, 2005, p. 1162).

    Cibele Andrade Pessoa de Freitas17 nos traz o seguinte exemplo real de

    nulidade da clusula de no-concorrncia pela vastido do seu objeto:

    Com base nessa restrio material foi considerada nula a clusula estabelecida entre a Aurus Ltda e Mrio Srgio Uehara, nos autos do processo 025070.2003.045.02.00-5, que tramitou na 45 Vara de So Paulo (TRT 2 Reg). O acrdo respectivo (RO 20070117254, 5 T., j. 27.02.2007) entendeu que a restrio

    imposta no podia prosperar, uma vez que abrangia extensa lista de atividades.

    Importante destacar que, quanto mais restrita a limitao imposta, menor

    dever ser a indenizao paga e menor ser o risco de discusso acerca da validade

    da clusula, visto que ser bem menor a restrio ao trabalho.

    3.2.3 LIMITAO ESPACIAL

    Ao se estabelecer uma clusula de no-concorrncia, imprescindvel a

    disposio acerca do territrio em que a mesma ter validade. A limitao territorial

    deve levar em conta o mercado que se pretende proteger, limitando-se, assim, a

    abrangncia do pacto ao territrio que o empregador exera sua atividade

    comercial.

    Srgio Pinto Martins diz que no ter valor a clusula em locais que a empresa no venha a competir com outras no mesmo mercado. Assim, ela deve ser

    estabelecida para certa rea geogrfica (MARTINS, 2008, p. 124).

    No que pese as opinies favorveis limitao espacial, considera-se que

    hoje, diante do mundo globalizado, onde os negcios se realizam em locais diversos

    dos da sede da empresa, prescindvel a estipulao de limitao espacial para a

    validade da clusula de no-concorrncia. Assim, pode ser que uma empresa

    situada em qualquer lugar do planeta faa concorrncia a uma empresa brasileira.

    Nesse sentido so os ensinamentos de Estevo Mallet18:

    Restringir, em tal contexto, a eficcia de clusula de no-concorrncia ao mbito do territrio nacional no se justifica, e faria com que se tornasse muito fcil burlar a limitao, comprometendo a legtima tutela da informao, o que no se admite. Deve-se,

    pois, aceitar, ao menos em tese, restrio territorialmente mais ampla, caso, diante das circunstncias, seja ela realmente necessria.

    Portanto, consideramos no ser imprescindvel a limitao territorial da

    clusula de no-concorrncia pelos motivos expostos, no entanto, uma vez

    prevista, h que ser observada pelos contratantes.

    17 FREITAS, Cibele Andrade Pessoa de. Clusula de no-concorrncia no contrato individual de trabalho

    brasileiro. Revista de direito do trabalho. So Paulo: Revista dos Tribunais, 10/2008 A 12/2008. p. 16.

    18 MALLET, Estvo. Clusula de no-concorrncia em contrato individual de trabalho. Revista LTR:

    legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 10/2005. p. 1163.

  • 3.2.4 DA LIMITAO TEMPORAL

    Um dos principais requisitos a serem observados diz respeito a limitao

    temporal da vigncia da clusula de no-concorrncia. No se pode achar que teria

    eficcia infinita, sob pena de acabar retirando liberdade de trabalho do

    empregado.

    Srgio Pinto Martins19 nos ensina que:

    A clusula de no-concorrncia dever ser estipulada por tempo

    determinado e para certo local. No pode ser, portanto, perptua, pois impediria o empregado de trabalhar na atividade. Deve a limitao estar balizada dentro do princpio da razoabilidade, de acordo com o que for pactuado entre as partes.

    Importantes tambm so as palavras de Estevo Mallet20 acerca da matria:

    Restrio permanente ou mesmo indefinida afigura-se, seja qual for a atividade considerada ou o empregado envolvido, ilcita, concluso a que se chega sem nenhuma dificuldade. Cerceia, de modo

    desmedido, a liberdade de trabalho do empregado. Ademais, restrio temporalmente ilimitada compromete o prprio desenvolvimento econmico e o livre progresso, o que no se concebe.

    Alguns doutrinadores chegam a defender a aplicao, por analogia, do prazo

    mximo dos contratos por prazo determinado, que de 2 anos. Outros buscam no

    art. 1.147 do Cdigo Civil o prazo de 5 anos, que o utilizado pelo direito

    empresarial, que probe o alienante do estabelecimento de fazer concorrncia ao

    adquirente nos 5 anos subseqentes. No entanto, entendemos que no se justifica

    a fixao de prazo genrica, sendo mais sensato a verificao do caso concreto

    para que, por critrios razoveis, se chegue a uma concluso acerca de um prazo

    ideal.

    Insta destacar ainda que, em decorrncia dos deveres de fidelidade e

    lealdade, bem como da boa-f que deve nortear os contratantes, mesmo aps a

    expirao da clusula de no-concorrncia, no se afigura uma postura tica a

    revelao de segredos ou informaes sigilosas que obteve no seu antigo emprego.

    Portanto, a determinao do perodo deve levar em conta o tempo razovel

    para anular ou minimizar o potencial risco de dano em razo das informaes que o

    empregado possui, tal como o tempo necessrio para que o ex-patro possa se

    fixar no mercado, para que aquele segredo de empresa se torne obsoleto em face

    das inovaes tecnolgicas ou para que determinada informao se torne de

    domnio pblico.

    3.3 COMPENSAO PELA CLUSULA DE NO-CONCORRNCIA

    No direito comparado a regra a necessidade de uma contraprestao pela

    clusula de no-concorrncia, que deve ser proporcional limitao imposta. Mallet

    diz que a obrigatoriedade de compensao constitui requisito de validade da clusula de no-concorrncia, no Cdigo de Trabalho de Portugal, na legislao

    belga, no Estatuto de los Trabajadores da Espanha e no Codice Civile italiano (MALLET, 2005, p, 1164).

    19 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 123.

    20 MALLET, Estvo. Clusula de no-concorrncia em contrato individual de trabalho. Revista LTR:

    legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 10/2005. p. 1163.

  • No Brasil, mesmo diante da omisso legislativa, considera-se como

    imprescindvel a estipulao de uma contraprestao pelo empregador,

    observando-se um mnimo de equilbrio entre a obrigao imposta ao empregado e

    a contrapartida que cabe ao empregador.

    No entanto, no basta o mero pagamento. Deve haver um equilbrio entre as

    prestaes dos contratantes, devendo a retribuio ser proporcional restrio

    imposta. Nesse sentido so os ensinamentos de Srgio Pinto Martins21:

    Para a validade da clusula, o empregado deve receber compensao financeira, que lhe permita fazer face a seus compromissos, como se estivesse trabalhando, visando a que o trabalhador no enfrente dificuldades financeiras para manter seu mesmo nvel de vida, pois o pagamento ter natureza alimentar.

    No que se refere ao valor da compensao, existem diversos

    posicionamentos a esse respeito. Srgio Pinto Martins diz que a soluo o pagamento da compensao financeira no valor da ltima remunerao do

    empregado, multiplicado pelo nmero de meses em que deixar de exercer outra

    atividade (MARTINS, 2008, p. 124).

    Por outro lado, Estevo Mallet22 no fixa parmetros relacionados

    remunerao do empregado, devendo-se avaliar caso a caso, seno vejamos:

    Quanto mais ampla a limitao quer do ponto de vista do objeto, quer do ponto de vista temporal, quer, ainda, do ponto de vista espacial maior deve ser a compensao e vice-versa. O valor da compensao no est vinculado, portanto, ao montante da remunerao recebida pelo empregado durante a vigncia do contrato, ao contrrio do que j se pretendeu. [...] O importante

    que no exista desequilbrio entre as obrigaes das partes.

    Portanto, no h que se fixar valores pela compensao nem forma padro de

    pagamento. Quer seja mensal ou de forma nica, o pagamento deve corresponder

    a uma compensao limitao imposta, observando-se a proporcionalidade entre

    eles. Considera-se apenas que, dado a hiposuficincia do empregado, no seria

    justo a estipulao de que o pagamento se daria apenas no final do perodo da no-

    concorrncia, sendo por isso, vedado tal estipulao.

    Quanto a natureza da indenizao, a doutrina no pacfica, existindo

    basicamente duas correntes, uma defendendo a sua natureza salarial ao passo que

    a outra diz ter o carter indenizatrio.

    Parece prevalecer o entendimento na doutrina que se trata de carter

    indenizatrio, como se observa das palavras de Estevo Mallet23:

    Reveste-se o crdito conferido ao empregado, outrossim, de natureza indenizatria, como explicitado em alguns sistemas

    jurdicos. [...] Indeniza-se, isso sim, a limitao liberdade de trabalho. [...] no constitui, em conseqncia, base de incidncia de contribuies previdencirias ou imposto de renda, semelhana dos valores conferidos em programas de incentivo resciso de contrato de trabalho.

    Assim, por caracterizar o ressarcimento a uma leso causada no patrimnio

    do empregado, tem-se que a compensao financeira, advinda da clusula de no-

    21 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 124.

    22 MALLET, Estvo. Clusula de no-concorrncia em contrato individual de trabalho. Revista LTR:

    legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 10/2005. p. 1164.

    23 MALLET, Estvo. Clusula de no-concorrncia em contrato individual de trabalho. Revista LTR:

    legislao do trabalho. So Paulo: LTR, 10/2005. p. 1165.

  • concorrncia, possui natureza indenizatria, sendo imprescindvel a sua estipulao

    para que a clusula tenha validade.

    4 CONCLUSO

    Como visto anteriormente, o direito do trabalho muito dinmico e

    marcadamente social, sendo que, a noo de trabalho remonta a prpria histria do

    homem.

    A Revoluo Industrial apontada como a causa econmica do surgimento do

    Direito do Trabalho, visto que da relao entre o trabalho e a indstria surge o

    salrio, bem como as exploraes aos trabalhadores, que eram submetidos a

    pssimas condies de trabalho. Nesse contexto, o Direito do Trabalho surge como

    forma de interveno estatal para conferir proteo aos trabalhadores, na tentativa

    de dar uma superioridade jurdica ao empregado para compensar a sua

    inferioridade econmica.

    A Constituio Federal de 1988 garante princpios fundamentais como o da

    dignidade da pessoa humana e da livre iniciativa e concorrncia, assegurando a

    todos a prtica livre de qualquer atividade econmica, vedando aquelas que

    busquem o domnio do mercado.

    Apesar dos dispositivos protetivos, se verifica na prtica a ocorrncia de

    alguns abusos, quando, por exemplo, algumas empresas se valem da m-f de

    alguns ex-empregados de empresas concorrentes para terem acesso a segredos de

    produo e de mercado do concorrente.

    Uma forma de se evitar esses abusos com a utilizao da clusula de no-

    concorrncia nos contratos de trabalho, impedindo que os ex-empregados passem

    um perodo de tempo sem trabalhar em empresas concorrentes, em funes que

    possam de alguma forma revelar informaes relevantes que tinha conhecimento

    no antigo emprego, e que possam de alguma forma afetar a concorrncia leal entre

    as empresas.

    A CLT dispe acerca da impossibilidade de o empregado efetuar concorrncia

    durante a vigncia do contrato de trabalho, constituindo justa causa para o

    rompimento do liame empregatcio. No entanto, para a possibilidade de clusula de

    no-concorrncia para viger aps a extino do contrato de trabalho no existe no

    ordenamento jurdico ptrio nenhuma disposio acerca da matria.

    Diante da omisso legislativa, buscamos fundamentos na doutrina e na

    jurisprudncia para justificar a legalidade da clusula de no-concorrncia para

    valer tambm aps a extino do pacto laboral.

    Ao contrrio do que alguns defendem, no existe violao dos princpios

    constitucionais da liberdade de trabalho e da livre iniciativa. Na verdade, o que h

    uma coliso de princpios constitucionais, visto que a atividade empresarial, a

    liberdade contratual e a livre concorrncia tambm devem ser protegidos. Temos

    que mesmo os princpios constitucionais pode ser relativizados, na tentativa de se

    buscar uma maior efetividade no meio social.

    Assim, a clusula de no-concorrncia pode e deve ser fundamentada no

    princpio da livre iniciativa, pois, na medida em que a livre iniciativa garante a

    liberdade no exerccio de qualquer atividade econmica, valorizando o trabalho, o

    pacto de no-concorrncia se presta a efetiv-la, mesmo que represente limitao a

    ela, pois consubstancia uma forma de evitar o cometimento de abusos e

    conseqente violao a direito alheio.

    Por outro lado, por tratar-se de uma coliso de princpios, tem-se que a

    clusula de no-concorrncia no deve ser utilizada de modo irrestrito. Deve ser

  • utilizada de modo razovel, obedecendo a certos requisitos e sofrer limitaes de

    ordem temporal, material e espacial.

    Pode-se afirmar que a clusula de no-concorrncia, de um lado, garante a

    livre iniciativa e a livre concorrncia da empresa, na medida que impede a

    revelao de seus segredos por empregados e ex-empregados, e, por outro lado,

    restringe a livre iniciativa do empregado, que tem por um certo perodo e sob

    certas condies, limitado o seu exerccio de emprego.

    Essa limitao imposta pela clusula aqui estudada concretiza a valorizao

    do trabalho humano, na medida em que garante a existncia de um mercado de

    trabalho competitivo e vivel, fazendo valer a funo social da empresa no mercado

    de trabalho, albergando aquelas pessoas que querem exercer o ofcio de forma

    honesta e de boa-f.

    Portanto, conclui-se que a clusula de no-concorrncia, apesar das

    discusses doutrinrias acerca de sua validade, apesar de apresentar certa

    restrio a liberdade de trabalho, no inconstitucional, uma vez que esta

    liberdade pode at ser relativizada, em funo de um fim nobre, como a prpria

    subsistncia do trabalho.

    Ademais, para a validade da clusula de no-concorrncia, como dito, deve-se

    obedecer alguns requisitos e limitaes. Faz-se necessrio a limitao especfica

    das atividades a serem limitadas ao ex-empregado, o espao territorial em que

    haver a restrio, o lapso temporal em que dever viger tal clusula bem como a

    previso de uma contraprestao devida ao ex-empregado como compensatria da

    limitao imposta.

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