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Data de Criação: 30/06/2020
Criado por: Biblioteca
Clipping SCA
Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto
na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso
mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.
Sumário das
Matérias:
PGR quer criar órgão com acesso a dados da PF e MPF
Valor ––30 de junho.............................................01
Carteira Verde- Amarela mira os ‘horistas’
Valor ––30 de junho.............................................05
MP facilita desconto de calote no IRPJ
Valor ––30 de junho.............................................07
Aneel calcula ‘bônus tarifário’ que pode trazer alívio de mais de R$ 20 bi na conta
Valor ––30 de junho.............................................10
Aneel calcula ‘bônus tarifário’ que pode trazer alívio de mais de R$ 20 bi na conta
Valor ––30 de junho.............................................12
Redução de jornada e salário será prorrogada
Valor ––30 de junho.............................................14
Câmara facilita desconto de calote em base de impostos
Valor ––30 de junho.............................................16
Movimento falimentar
Valor ––30 de junho.............................................18
Na disputa da fibra óptica, Oi acelera e ganha mercado
Valor ––30 de junho.............................................20
Ordem pede pressa em discussão sobre correção de ação trabalhista
Valor ––30 de junho.............................................26
STF manda devolver PIS e Cofins pagos a mais
Valor ––30 de junho.............................................29
Pandemia e insider trading
Valor ––30 de junho.............................................31
WhatsApp e Cielo recorrem ao Cade pelo fim de suspensão de pagamentos via aplicativo
Folha ––30 de junho.............................................34
Câmara desiste de ação no STF para votar de novo MP 936, que trata de suspensão de contrato
Globo ––30 de junho.............................................37
Em um mês, Brasil registra rombo fiscal antes esperado para todo o ano de 2020
Globo ––30 de junho.............................................39
Sonegar auto judicial é delito contra a administração da Justiça, decide TRF-3
Conjur ––30 de junho.............................................41
Valor Econômico
Caderno: Primeira Página, terça-feira 30 de junho de 2020.
PGR quer criar órgão com acesso a dados da PF e MPF
Unidade daria superpoderes a
Augusto Aras, uma vez que
centralizaria em Brasília
informações, inclusive sigilosas,
sobre operações do MPF e da
Polícia Federal
Por Maria Cristina Fernandes —
De São Paulo
Tramita no Conselho Superior do
Ministério Público Federal (MPF)
anteprojeto de resolução para criar a
Unidade Nacional de Combate à
Corrupção e ao Crime Organizado. O
novo órgão teria acesso aos bancos de
dados de investigações em curso no
MPF e seria subordinado à
Procuradoria-Geral da República
(PGR).
A unidade daria superpoderes ao
procurador-geral, Augusto Aras, uma
vez que centralizaria em Brasília
informações, inclusive sigilosas, sobre
operações do MPF e da Polícia Federal.
Procuradores temem que a PGR passe a
ter o poder de interferir em seu
trabalho. A proposta é questionada
internamente pelos procuradores, com
base na independência funcional
garantida a eles pela Constituição. Por
esse princípio, não há relação de
hierarquia no MPF.
01
Da mesma maneira que os ofícios
expedidos às forças-tarefas do MPF, a
requisição de dados é fundamentada na
Lei Complementar 75, de 1993, e na
Portaria 44, de 2013. Os dois
dispositivos atribuem à PGR e à
Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise
(SPPA), subordinada a Aras, o
armazenamento e a análise de dados
sigilosos.
Pesa contra o texto o argumento de que
muitos dados à disposição dos
procuradores, obtidos por meio da
quebra de sigilos bancários e
telefônicos, além de operações de busca
e apreensão, são obtidos somente com
autorizações judiciais. Ao serem
compartilhados num banco de dados
centralizado em Brasília, podem se
prestar a usos não autorizados pelo
Poder Judiciário.
O interesse de Aras na centralização
tem sido relacionado à atuação da Lava-
Jato em Curitiba, mas o temor é que o
procurador-geral mire, na verdade, as
investigações relativas à família
Bolsonaro no Rio. Aras é um dos nomes
cogitados pelo presidente da República
para ocupar uma vaga no Supremo
Tribunal Federal.
Aras quer criar banco de dados único das forças-tarefas do MPF
Anteprojeto tramita no Conselho
Superior da corporação
Por Maria Cristina Fernandes —
De São Paulo
Augusto Aras: banco de dados único daria
acesso ao PGR sobre todas as investigações
em curso no país pelo Ministério Público
Federal — Foto: Denio Simoes/Valor
Tramita no Conselho Superior do
Ministério Publico Federal um
anteprojeto para a criação de uma
Unidade Nacional de Combate à
Corrupção e ao Crime Organizado que
teria acesso aos bancos de dados de
todas as investigações em curso na
corporação e estaria subordinada
diretamente ao Procurador-Geral da
República.
A criação desta unidade, que daria
superpoderes ao procurador-geral
Augusto Aras, é questionada
internamente pela corporação com base
na independência funcional garantida
aos procuradores pela Constituição. O
anteprojeto é de autoria de dois
procuradores federais, José Adonis
Callou de Araújo Sá e Hindemburgo
Chateubriand Filho, sendo este último
muito próximo do PGR.
Da mesma maneira que os ofícios
expedidos às forças-tarefas do MP, a
requisição de dados é fundamentada na
Lei Complementar 75, de 1993, e na
portaria 44, de 2013, que atribuem à
Procuradoria-Geral da República e à
Secretaria de Perícia, Pesquisa e
Análise, diretamente subordinada ao
gabinete de Aras, o armazenamento de
dados sigilosos da corporação.
02
O anteprojeto enfrenta resistências não
apenas dos integrantes das forças-
tarefas como da Associação Nacional de
Procuradores da República (ANPR).
Além da hierarquização do MPF, não
albergada pela Constituição, pesa
contra o texto o argumento de que
muitas das informações à disposição
dos procuradores, como quebras de
sigilo bancário e telefônico, além das
operações de busca e apreensão, são
obtidas por meio de autorizações
judiciais relativas a casos específicos.
Ao serem compartilhadas na PGR, essas
informações se prestariam a usos não
chancelados pelo judiciário.
O interesse de Aras na centralização de
informações, expresso tanto nos ofícios
enviados recentemente às forças-tarefas
quanto no anteprojeto, tem sido
relacionado à atuação da Lava-Jato de
Curitiba e, mais especificamente, ao
desempenho do ex-juiz da operação e
ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.
Ao fazê-lo, o PGR, na visão de
procuradores que se sentem cerceados,
busca angariar apoio tanto do
Congresso quanto do Supremo em
relação a uma operação cujos excessos
se tornaram consensuais, e,
principalmente do presidente da
República, alvejado por seu ex-ministro
na denúncia que acabou levando à
investigação sobre a reunião ministerial
de 22 de abril.
O temor, no entanto, é de que Aras
esteja a mirar, na verdade, a Lava-Jato
no Rio para satisfazer o interesse do
Executivo em controlar as investigações
relativas à família do presidente Jair
Bolsonaro.
Os defensores do anteprojeto alegam
que a investigação hoje é conduzida
pelo Ministério Público Estadual do Rio
estando, portanto, fora do alcance do
MPF. Acontece que foram as
investigações da força-tarefa da Lava-
Jato conduzida pelos procuradores
federais do Rio que originaram a
operação responsável pela identificação
do esquema da rachadinha no gabinete
do então deputado estadual, hoje
senador Flávio Bolsonaro.
Ainda que o MPE tenha avançado na
investigação nascida no MPF, o banco
de dados dos procuradores federais
pode sugerir os caminhos e os atalhos
tomados pela investigação. Além disso,
o MPF faz o controle externo da Polícia
Federal e concentra informações sobre
delegados que vazam informações e
cometem desvios nas investigações.
Está no Rio também aquela que talvez é
considerada a maior base de dados
sobre doleiros do Brasil. Foi de lá que se
originou a operação que prendeu Dario
Messer, o maior doleiro da América
Latina.
Esta Unidade Nacional de Combate à
Corrupção e ao Crime Organizado já foi
tentada pelo ex-procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, que buscou
viabilizá-la, sem sucesso, por meio de
um projeto de lei. Chegou a ser
anunciada num encontro de
procuradores sob a alcunha de
“Procuradoria Nacional Anticorrupção”.
A ideia, que chegou a ter apoio de
muitos procuradores, pela possibilidade
de compartilhamento de dados e troca
de experiências, acabou sendo vista
como um potencial manancial de
dossiês a ser usado por inimigos dos
poderosos de plantão.
03
Ao tentar fazê-lo por meio de uma
resolução interna, Aras até pode driblar
eventuais dificuldades que esta unidade
enfrentaria no Congresso, mas não tem
caminho aberto no Conselho Superior
do Ministério Público, instância pela
qual o anteprojeto tramita.
São dez os integrantes do Conselho.
Além do PGR e do vice-PGR, o
integram quatro conselheiros
escolhidos pelos 74 sub-procuradores
da República e outros quatro escolhidos
pelos 1.152 integrantes do Ministério
Público Federal.
Hoje há equilíbrio de forças dentro do
Conselho. Na semana passada o PGR
foi derrotado em sua tentativa de
desempatar o placar, mas perdeu com a
reeleição de Nicolao Dino e com a
escolha de Mario Bonsaglia, ambos
integrantes da lista tríplice da ANPR
desprezada pelo presidente da
República no processo que resultou na
escolha de Aras.
Nesta terça, mais duas vagas serão
renovadas. Os atuais ocupantes
(Hindemburgo Chateaubriand e Maria
Caetana) são candidatos à reeleição,
mas um terceiro candidato, José
Bonifácio de Andrada, menos alinhado,
corre por fora.
Esta não é a primeira atitude de Aras no
sentido de ter mais controle sobre a
corporação. Aliás, trata-se de uma
promessa de sua anticampanha ao
cargo. De fora da lista tríplice, foi na
pregação da “unidade da corporação”
que o PGR cativou a confiança do
presidente.
No início da pandemia, o PGR expediu
um ofício aos ministérios para que
todos os requerimentos de informações
do MPF fossem redirecionados para seu
gabinete. A justificativa alegada, à
época, foi a de que a interpelação dos
ministros é atribuição do PGR e que os
requerimentos burlavam essa restrição
com o endereçamento aos secretários
executivos das Pastas.
Na linha da aproximação com o
Executivo, Aras também exonerou
Daniel Azeredo da coordenação da 4ª
Câmara do MPF. O procurador,
responsável por processos ambientais
premiados, foi substituído por Juliano
Baiocchi, colega com 30 anos de
carreira e afinidades familiares com o
agronegócio.
Interlocutores do PGR veem na sua
atuação uma resposta mais as suas
convicções pessoais do que a qualquer
tentativa de aproximação do presidente.
O argumento abrange o inquérito dos
atos democráticos que prendeu aliados
do presidente e esvaziou atos de rua. O
interesse de Bolsonaro em se aproximar
de Aras, na visão desses interlocutores,
se expressou na visita feita pelo
presidente à PGR.
Ninguém, no entanto, nega a ambição
de Aras de vir a ocupar uma cadeira no
Supremo Tribunal Federal, das duas a
serem nominadas por Bolsonaro. É em
torno do preenchimento dessas vagas
que o presidente tem buscado compor a
retaguarda do seu mandato. Nenhum
dos inquéritos em curso no STF poderá
ir adiante se não contar com a
disposição de Aras em denunciar o
presidente da República.
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/06/30
/aras-quer-criar-banco-de-dados-unico-das-forcas-
tarefas-do-mpf.ghtml
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04
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 30 de junho de 2020.
Carteira Verde- Amarela mira os ‘horistas’
Modelo que o governo está
construindo será acoplado ao
programa social Renda Brasil,
que pretende ser uma versão
turbinada do programa Bolsa
Família
Por Fabio Graner — De Brasília
A nova Carteira Verde-Amarela digital
que o governo está construindo deverá
permitir o pagamento por hora do
trabalhador - respeitado o valor do
salário mínimo/hora. A renda auferida
nesse sistema, totalmente isenta de
tributos e encargos, servirá de base para
que o trabalhador receba o chamado
“imposto de renda negativo”, um
complemento a ser pago pelo governo
para a faixa de pessoas entre a
assistência social e o salário mínimo
formal, hoje de R$ 1.045. “Se o IR
negativo for de 20% e ele recebeu de
renda R$ 500, posso pagar mais R$
100”, exemplificou uma fonte da equipe
econômica. O objetivo é que o
instrumento incentive a formalização.
05
Proposta permite registro por hora de trabalho
Carteira verde-amarela mira
trabalhador informal e aposta em
IR negativo para complementar
renda
Por Fabio Graner — De Brasília
A nova carteira verde-amarela que o
governo está construindo deverá
permitir o registro do pagamento de
contratação por hora, respeitando o
salário mínimo por hora. E o total de
renda contabilizado nesse instrumento,
que deve ser totalmente digital e sem
incidência de qualquer tipo de tributo,
servirá de referência para que o
trabalhador receba o chamado
“Imposto de Renda negativo”, um
complemento que o setor público
pagará para a faixa entre a assistência
social e o salário mínimo formal, hoje
em R$ 1.045.
“Por exemplo, se o IR negativo for de
20%, e ele recebeu de renda R$ 500,
poderei pagar mais R$ 100”, disse fonte
da equipe econômica, destacando que
esse desenho permitirá a ascensão
daqueles que estão na assistência social
e acesso a possibilidades como o
microcrédito. Seria um incentivo para
que haja alguma formalização de um
grupo de pessoas que hoje está
totalmente fora do sistema.
“Nós queremos dignificar o trabalhador
que está fora do mercado formal. Por
isso daremos alguns incentivos. A
carteira é quase uma máquina de
calcular, a pessoa trabalha duas horas
em um lugar, marca-se o valor. Depois,
mais três horas em outro lugar,
apresenta a carteira e marca. Ele pode
ser empregado de oito pessoas ao
mesmo tempo”, disse uma fonte
ao Valor.
A possibilidade de contratação por hora
foi contemplada na reforma trabalhista
de 2017, dentro do modelo de trabalho
intermitente, atingindo os
trabalhadores da CLT. Com a carteira
verde-amarela, tenta-se incluir o
trabalhador informal, que pode ter no
complemento do “IR negativo” um
incentivo para declarar nela os
trabalhos feitos com diferentes
empregadores.
A visão do governo é que esse modelo
livre de encargos e voltado para quem
está fora do sistema vai fomentar a
geração de emprego, exatamente em
um momento no qual o país estará com
níveis elevados de desemprego por
causa da crise. Nesse contexto, a equipe
econômica reforça o discurso para o
avanço de projetos no Congresso que
fomentem os investimentos na área de
petróleo, gás, cabotagem, como ocorreu
com o recém-aprovado marco do
saneamento.
No fim do ano passado, o governo fez
uma tentativa de emplacar a carteira
verde-amarela. Mas ela era voltada para
o público jovem, com até 29 anos. A
medida provisória perdeu validade
neste ano sem ser votada, embora tenha
permitido a contratação de 12,9 mil
pessoas.
O novo desenho em gestação, embora
ainda nas etapas iniciais, é mais amplo,
pois é genericamente voltado para o
trabalhador informal, e será acoplado
ao programa social Renda Brasil, que
pretende ser uma versão turbinada do
programa Bolsa Família, incluindo
06
parte dos informais que hoje estão de
fora.
As simulações iniciais sobre o Renda
Brasil apontam que o novo programa
atingirá cerca de 30 milhões de pessoas
- os 19 milhões hoje do Bolsa Família
mais cerca de 11 milhões do universo de
informais. Dessa forma, os outros cerca
de 25 milhões de informais poderão
aderir à nova carteira.
Um dos desafios do governo para
colocar os dois programas de pé é de
natureza fiscal. O déficit do setor
público está subindo muito neste ano,
com as ações de combate à pandemia de
covid-19, e, consequentemente, o
endividamento público, que deve
encostar em 100% do PIB. Dessa forma,
os técnicos estão com a missão de
colocar de pé esse novo desenho dentro
das capacidades do governo.
No caso do Renda Brasil, a ideia é que a
maior parte do aumento do programa
seja bancada a partir da fusão com
outros programas sociais, como abono
salarial, seguro-defeso e salário-família.
Embora tenha sido cogitada por alguns
técnicos, a inclusão do Benefício de
Prestação Continuada (BPC) perdeu um
pouco de força, dado o potencial maior
de polêmica (na reforma da Previdência
foi tentado, mas nem sequer a idade de
acesso o governo conseguiu mudar),
embora ainda haja quem defenda juntá-
lo no novo programa.
No IR negativo, a questão fiscal estava
mais distante de ser equacionada,
embora ideias preliminares já estejam
sendo levantadas pelos técnicos.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/06/30/p
roposta-permite-registro-por-hora-de-trabalho.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 30 de junho de 2020.
MP facilita desconto de calote no IRPJ
Mudança beneficia
principalmente os bancos e
companhias de maior porte e foi
aprovada como uma emenda à
medida provisória 944
Por Raphael Di Cunto e Marcelo
Ribeiro — De Brasília
Em acordo com a equipe econômica, a
Câmara aprovou emenda à MP 944 que
acaba com a obrigatoriedade de as
empresas tributadas pelo lucro real
ingressarem na Justiça contra
devedores para poder deduzir do IRPJ e
da CSLL os valores referentes a
produtos e serviços que foram vendidos
e não pagos. Com a mudança, que
beneficia principalmente bancos e
grandes empresas, basta o protesto da
dívida em cartório para permitir o
abatimento.
Câmara facilita desconto de calote em base de impostos
Proposta contou com apoio do
setor financeiro e foi introduzida
por emenda em MP
Por Raphael Di Cunto e Marcelo
Ribeiro — De Brasília
07
Vinicius Carvalho: “ é um absurdo
ainda manter a obrigação de entrar na
justiça para não pagar imposto em cima
de um calote” — Foto: Najara
Araújo/Câmara dos deputados
Com apoio do governo federal, a
Câmara dos Deputados acabou com a
obrigatoriedade de empresas tributadas
pelo lucro real ingressarem com ações
judiciais contra devedores para
poderem deduzir dos impostos os
créditos referentes a produtos e serviços
vendidos, mas cujo pagamento não
ocorreu. Bastará o mero protesto da
dívida em cartório para permitir o
desconto da base de cálculo do Imposto
de Renda e da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL).
A mudança beneficia principalmente os
bancos e companhias de maior porte e
foi aprovada como uma emenda à
medida provisória 944, editada para
abrir uma linha de crédito para as
empresas pagarem salários durante a
pandemia da covid-19. O “jabuti” (texto
com conteúdo estranho à MP) entrou
no relatório do deputado Zé Vitor (PL-
MG) e teve o aval dos deputados na
quinta-feira. A votação do projeto deve
acabar hoje, com a análise de quatro
emendas, mas não há nenhuma para
retirar esse ponto do texto, que depois
seguirá para votação no Senado.
Para o relator, a alteração diminuirá o
número de processos nos tribunais e
simplificará a vida das empresas, que
hoje precisam arcar com custas
processuais e advogados para
reduzirem seus tributos. “São milhares
de ações por ano apenas com esse
propósito. Ações que já sabe que o
devedor não tem condições de pagar”,
afirmou. O vice-líder do governo na
Câmara, deputado Ubiratan Sanderson
(PSL-RS), disse que o Executivo apoiou
as mudanças do relator.
Hoje a lei permite que as empresas do
lucro real (regime tributário que pode
ser utilizado por aquelas com
faturamento superior a R$ 78 milhões)
possam descontar da base de cálculo do
imposto de renda e da CSLL os créditos
inadimplidos. Se não houver garantia,
os de até R$ 100 mil podem ser
abatidos com a mera cobrança
administrativa após um ano de
inadimplência. Se houver bens
oferecidos como promessa do
pagamento, o limite é de R$ 50 mil
após dois anos de calote. Acima desses
valores, a lei só permite fazer o
desconto após entrar com ação judicial.
Com a proposta inserida na MP, não
haverá mais exigência dessa cobrança
judicial para fazer a dedução, não
importa o valor. As dívidas de maior
monta poderão ser abatidas com o
protesto em cartório, respeitadas duas
regras: os prazos (um ano para aquelas
sem garantia e dois anos para as
garantidas) e o pagamento antecipado
08
de todas as taxas, emolumentos e
despesas do processo extrajudicial.
A medida, segundo especialistas, será
bastante útil para os bancos, que lidam
com valores altos de empréstimos, são
todos tributados pelo lucro real e
precisavam entrar com ações judiciais
contra os inadimplentes para poderem
excluir esses calotes do imposto a
pagar. Por outro lado, o autor da
emenda, deputado Vinícius Carvalho
(Republicanos-SP), argumenta que é
preferível ser cobrado numa ação
extrajudicial, numa tentativa de
conciliação, do que judicialmente.
Carvalho diz ter ouvido que a Federação
Brasileira de Bancos (Febraban)
procurou parlamentares para defender
a mudança, mas que a proposta surgiu
de seu mestrado em gestão pública,
onde aprendeu que 60% dos processos
no Judiciário são da esfera cível. “Há 30
anos, quando a lei foi criada, não existia
outra forma de cobrança, agora há. É
um absurdo ainda manter essa
obrigação de ingressar na Justiça para
não pagar imposto em cima de um
calote”, afirmou. Ele ressaltou também
que a pandemia aumentará o número
de inadimplentes e de litígios judiciais.
Em nota, a Febraban apoiou a proposta,
mas negou que tenha articulado sua
aprovação. “Qualquer medida
legislativa que reduza a judicialização
no país é sempre bem-vinda, por
reduzir os custos, mas a Febraban não
tratou desse assunto no âmbito do
Congresso”, disse a federação.
A medida conta com a simpatia até de
auditores da Receita Federal, sempre
resistentes em mudanças no uso de
créditos. Diretor de Assuntos
Parlamentares do Sindifisco, George de
Souza diz que “esse é um excelente
exemplo de uma lei que pode ser
flexibilizada em prol do contribuinte,
que levou calote e ainda teria que pagar
tributo”, mas ressalva que é preciso
regras para punir quem cometer
irregularidades, como criar créditos
fictícios. “E o debate precisa ser
transparente, não como jabuti numa
MP”, disse.
Já o advogado Roberto Duque Estrada,
diretor da Associação Brasileira de
Direito Financeiro (ABDF), afirma que
é positiva a facilitação “até porque, se o
pagamento ocorrer depois, pagará o
imposto”. “Se a empresa realmente não
tem condições de receber, tomou um
cano, o sujeito sumiu, de fato há uma
perda patrimonial que deve ser
reconhecida no imposto de renda. E o
crédito mais relevante, que realmente
vai ter impacto no balanço, esse o
credor vai atrás”, diz.
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/
06/30/camara-facilita-desconto-de-calote-em-
base-de-impostos.ghtml
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09
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 30 de junho de 2020.
Aneel calcula ‘bônus tarifário’ que pode trazer alívio de mais de R$ 20 bi na conta
Desconto decorre da derrota do
governo federal no STF em 2017
que excluiu o ICMS da base de
cálculo do PIS/Cofins
Por Rafael Bitencourt — De Brasília
A Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) está mobilizada para calcular o
novo desconto nas contas de luz que
beneficiará os consumidores de energia
em, ao menos, R$ 20 bilhões, com o fim
de uma briga judicial que durou mais de
dez anos. O “bônus tarifário” decorre de
derrota em 217 do governo federal no
Supremo Tribunal Federal (STF) que
excluiu o ICMS da base de cálculo do
PIS/Cofins.
A decisão da corte, de repercussão
geral, provocou efeito em cascata em
julgamentos nas demais instâncias,
mas, só agora, começa a gerar resultado
prático no setor elétrico. Parte das
ações chega neste ano à reta final de
análise no Judiciário, já com trânsito
em julgado. Com isso, inicia-se a
liberação de recursos de depósitos
judiciais ou crédito tributário em favor
do contribuinte - neste caso, os clientes
das distribuidoras.
10
Um integrante da diretoria da Aneel
disse ao Valor que cerca de R$ 20
bilhões certamente vão retornar ao
caixa das distribuidoras, o que deve ser
convertido em desconto na fatura. Este
montante já supera os R$ 16,1 bilhões
da “conta covid”, mecanismo criado
para socorrer o setor e atenuar a alta
nas tarifas durante a crise da pandemia.
Outra autoridade do governo, ouvida
pela reportagem, considerou
conservadora a estimativa de R$ 20
bilhões. Ela avalia que o valor deve
facilmente chegar em R$ 25 bilhões,
pois a soma dos valores considerados
na reta final de julgamento já chega a
R$ 30 bilhões.
Na semana passada, o diretor da Aneel
Efrain da Cruz tentou incluir parte do
crédito tributário no cálculo do reajuste
anual da Cemig. O diretor sugeriu que
R$ 800 milhões fossem convertidos em
desconto na tarifa.
A Cemig, em estágio mais avançado de
liberação dos créditos, reconheceu que
já recebeu de volta R$ 6,08 bilhões em
depósitos judiciais. Para a companhia,
R$ 4,19 bilhões, relativos ao créditos
dos últimos dez anos, seriam de direito
do consumidor.
O desconto proposto por Efrain foi
barrado pelos demais colegas da
diretoria. Eles acharam melhor não
tratar casos isolados. A ideia é definir
um cronograma e uma metodologia
geral de repasse dos créditos
tributários. O processo administrativo
inclusive já foi instaurado tendo o
próprio Efrain como relator.
Se o desconto definido para a tarifa da
Cemig fosse aplicado, os 8,5 milhões de
clientes de 774 municípios mineiros
contariam com uma redução média de
0,51%, em vez do aumento médio de
4,27%, aprovado na última semana.
Na apuração dos créditos, Efrain enviou
carta aos presidentes das distribuidoras
solicitando informações sobre os
valores e o estágio de tramitação dos
processos. As respostas, acessadas em
parte pelo Valor, dão a noção do
impacto financeiro do desfecho de
processo sobre a exclusão do ICMS da
base de cálculo do PIS/Cofins.
O ofício enviado pela distribuidora Enel
SP (Eletropaulo) mostrou que os
créditos totalizam R$ 7,3 bilhões.
Segundo a empresa, a maior parte (R$
5,04 bilhões) já foi habilitada na
Receita para a devolução. Duas
distribuidoras coligadas, a Enel RJ e a
Enel GO, não precisaram o valor dos
créditos, apenas indicaram que deve
ficar entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões
para cada uma. Os valores não foram
definidos por decisão dos tribunais.
O posicionamento da Copel também
indicou que os consumidores
paranaenses devem contar com um
desconto expressivo na conta de luz,
diante do total de créditos de R$ 5,7
bilhões. A distribuidora da Bahia, a
Coelba, informou à Aneel que discute
na Justiça a devolução R$ 2,7 bilhões,
ainda pendentes de decisão.
Em ofício, o Grupo Equatorial, com
distribuidoras em quatro Estados,
indicou o montante de R$ 2,4 bilhões a
receber em nome do consumidor, mas
ainda sem data para julgamento. Já a
distribuidora catarinense Celesc indicou
o crédito tributário de R$ 1,5 bilhão, na
mesma situação.
11
Questionada, a Aneel reconheceu que já
concluiu a tomada de subsídios com as
distribuidoras, mas não informou o
valor total que deve ser convertido em
desconto de tarifa. De acordo com a
agência, o próximo passo é a abertura
de consulta pública no segundo
semestre para discutir com o setor a
minuta de resolução - com critérios e
prazo para conceder o benefício - e o
estudo de impacto regulatório.
Nos ofícios enviado à Aneel, a Enel SP
destacou que “qualquer repasse aos
consumidores dependerá do efetivo
aproveitamento do crédito tributário
pelas companhias ante a Receita
Federal”. A Cemig, que até recebeu os
créditos, solicitou que o ressarcimento
aos consumidores fosse dividido em
três montantes iguais, nos ciclos de
reajuste tarifário de 2020, 2021 e 2022.
Antes de definir o mecanismo de
desconto, o comando da agência deve
responder a questões como o não
pagamento de créditos tributários
questionados há mais de dez anos,
conforme pedido da Cemig. Além disso,
será preciso avaliar se os consumidores
que moveram ações individuais,
possivelmente aqueles de maior porte
(como os industriais), também serão
beneficiados pelo desconto linear
oferecido.
Procurada, a Associação Brasileira de
Distribuidores de Energia Elétrica
(Abradee) informou que não se
pronunciaria, pois as concessionárias
estão tratando individualmente do
assunto.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/06/30/a
neel-calcula-bonus-tarifario-que-pode-trazer-alivio-
de-mais-de-r-20-bi-na-conta.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 30 de junho de 2020.
Aneel calcula ‘bônus tarifário’ que pode trazer alívio de mais de R$ 20 bi na conta
Desconto decorre da derrota do
governo federal no STF em 2017
que excluiu o ICMS da base de
cálculo do PIS/Cofins
Por Rafael Bitencourt — De Brasília
A Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) está mobilizada para calcular o
novo desconto nas contas de luz que
beneficiará os consumidores de energia
em, ao menos, R$ 20 bilhões, com o fim
de uma briga judicial que durou mais de
dez anos. O “bônus tarifário” decorre de
derrota em 217 do governo federal no
Supremo Tribunal Federal (STF) que
excluiu o ICMS da base de cálculo do
PIS/Cofins.
A decisão da corte, de repercussão
geral, provocou efeito em cascata em
julgamentos nas demais instâncias,
mas, só agora, começa a gerar resultado
prático no setor elétrico. Parte das
ações chega neste ano à reta final de
análise no Judiciário, já com trânsito
em julgado. Com isso, inicia-se a
liberação de recursos de depósitos
judiciais ou crédito tributário em favor
do contribuinte - neste caso, os clientes
das distribuidoras.
12
Um integrante da diretoria da Aneel
disse ao Valor que cerca de R$ 20
bilhões certamente vão retornar ao
caixa das distribuidoras, o que deve ser
convertido em desconto na fatura. Este
montante já supera os R$ 16,1 bilhões
da “conta covid”, mecanismo criado
para socorrer o setor e atenuar a alta
nas tarifas durante a crise da pandemia.
Outra autoridade do governo, ouvida
pela reportagem, considerou
conservadora a estimativa de R$ 20
bilhões. Ela avalia que o valor deve
facilmente chegar em R$ 25 bilhões,
pois a soma dos valores considerados
na reta final de julgamento já chega a
R$ 30 bilhões.
Na semana passada, o diretor da Aneel
Efrain da Cruz tentou incluir parte do
crédito tributário no cálculo do reajuste
anual da Cemig. O diretor sugeriu que
R$ 800 milhões fossem convertidos em
desconto na tarifa.
A Cemig, em estágio mais avançado de
liberação dos créditos, reconheceu que
já recebeu de volta R$ 6,08 bilhões em
depósitos judiciais. Para a companhia,
R$ 4,19 bilhões, relativos ao créditos
dos últimos dez anos, seriam de direito
do consumidor.
O desconto proposto por Efrain foi
barrado pelos demais colegas da
diretoria. Eles acharam melhor não
tratar casos isolados. A ideia é definir
um cronograma e uma metodologia
geral de repasse dos créditos
tributários. O processo administrativo
inclusive já foi instaurado tendo o
próprio Efrain como relator.
Se o desconto definido para a tarifa da
Cemig fosse aplicado, os 8,5 milhões de
clientes de 774 municípios mineiros
contariam com uma redução média de
0,51%, em vez do aumento médio de
4,27%, aprovado na última semana.
Na apuração dos créditos, Efrain enviou
carta aos presidentes das distribuidoras
solicitando informações sobre os
valores e o estágio de tramitação dos
processos. As respostas, acessadas em
parte pelo Valor, dão a noção do
impacto financeiro do desfecho de
processo sobre a exclusão do ICMS da
base de cálculo do PIS/Cofins.
O ofício enviado pela distribuidora Enel
SP (Eletropaulo) mostrou que os
créditos totalizam R$ 7,3 bilhões.
Segundo a empresa, a maior parte (R$
5,04 bilhões) já foi habilitada na
Receita para a devolução. Duas
distribuidoras coligadas, a Enel RJ e a
Enel GO, não precisaram o valor dos
créditos, apenas indicaram que deve
ficar entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões
para cada uma. Os valores não foram
definidos por decisão dos tribunais.
O posicionamento da Copel também
indicou que os consumidores
paranaenses devem contar com um
desconto expressivo na conta de luz,
diante do total de créditos de R$ 5,7
bilhões. A distribuidora da Bahia, a
Coelba, informou à Aneel que discute
na Justiça a devolução R$ 2,7 bilhões,
ainda pendentes de decisão.
Em ofício, o Grupo Equatorial, com
distribuidoras em quatro Estados,
indicou o montante de R$ 2,4 bilhões a
receber em nome do consumidor, mas
ainda sem data para julgamento. Já a
distribuidora catarinense Celesc indicou
o crédito tributário de R$ 1,5 bilhão, na
mesma situação.
13
Questionada, a Aneel reconheceu que já
concluiu a tomada de subsídios com as
distribuidoras, mas não informou o
valor total que deve ser convertido em
desconto de tarifa. De acordo com a
agência, o próximo passo é a abertura
de consulta pública no segundo
semestre para discutir com o setor a
minuta de resolução - com critérios e
prazo para conceder o benefício - e o
estudo de impacto regulatório.
Nos ofícios enviado à Aneel, a Enel SP
destacou que “qualquer repasse aos
consumidores dependerá do efetivo
aproveitamento do crédito tributário
pelas companhias ante a Receita
Federal”. A Cemig, que até recebeu os
créditos, solicitou que o ressarcimento
aos consumidores fosse dividido em
três montantes iguais, nos ciclos de
reajuste tarifário de 2020, 2021 e 2022.
Antes de definir o mecanismo de
desconto, o comando da agência deve
responder a questões como o não
pagamento de créditos tributários
questionados há mais de dez anos,
conforme pedido da Cemig. Além disso,
será preciso avaliar se os consumidores
que moveram ações individuais,
possivelmente aqueles de maior porte
(como os industriais), também serão
beneficiados pelo desconto linear
oferecido.
Procurada, a Associação Brasileira de
Distribuidores de Energia Elétrica
(Abradee) informou que não se
pronunciaria, pois as concessionárias
estão tratando individualmente do
assunto.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/06/30/a
neel-calcula-bonus-tarifario-que-pode-trazer-alivio-
de-mais-de-r-20-bi-na-conta.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 30 de junho de 2020.
Redução de jornada e salário será prorrogada
MP com a medida sai nos
próximos dias, afirma secretário
da Previdência
Por Mariana Ribeiro — De Brasília
O governo vai prorrogar o programa
que permite a redução de jornada e
salário e a suspensão do contrato de
trabalho, confirmou ontem o secretário
especial de Previdência e Trabalho,
Bruno Bianco. Segundo ele, o
presidente Jair Bolsonaro sancionará
nos próximos dias a medida provisória
(MP) 936, que criou o benefício e,
então, editará decreto liberando a
ampliação dos prazos.
No desenho inicial, o programa permite
que o acordo para redução de jornada
dure até três meses. No caso da
suspensão de contrato, o limite é de
dois meses. Agora, explicou Bianco, a
ideia é que haja prorrogação de mais
um mês no caso da redução de jornada
e de mais dois meses no caso da
suspensão de contrato. Assim, as duas
modalidades poderão durar até quatro
meses.
A permissão para que o Executivo
amplie o período dos acordos foi
incluída na medida provisória, em vigor
desde abril, durante a tramitação no
Congresso.
14
O secretário enfatizou que qualquer
renovação exigirá o fechamento de um
novo acordo entre empregador e
empregado e não será, portanto,
automática. Além disso, a prorrogação
manterá a exigência de garantia do
emprego durante a vigência do acordo e
por igual período após o encerramento.
O Benefício Emergencial para
Preservação de Renda e do Emprego
(BEm), que compensa os trabalhadores
que tiveram a jornada de trabalho
reduzida ou o contrato suspenso, já
atingiu 11,7 milhões de pessoas,
informou ontem o Ministério da
Economia. Os valores a serem
desembolsados para complementar a
renda desses trabalhadores somam R$
17,4 bilhões.
Do total de acordos, 5,4 milhões
(46,4%) dizem respeito à suspensão do
contrato de trabalho. Além disso, há 1,7
milhão (14,6%) referente à redução de
jornada de 25%; 2,1 milhões (18,3%) à
redução de 50% e 2,3 milhões (19,3%) à
redução de 70%. Os trabalhadores
intermitentes responderam por 167,1
mil (1,4%) dos acordos.
O secretário de Trabalho, Bruno
Dalcolmo, destacou que, no início do
programa, os acordos de suspensão
eram mais significativos. Segundo ele, a
queda na participação reflete a melhora
no cenário econômico.
A maior quantidade de acordos
fechados está no setor de serviços
(45,8%). Na sequência, aparecem
comércio (25,4%) e indústria (23,6%).
Do total, 32,6% das negociações foram
fechadas em São Paulo.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/06/30/r
educao-de-jornada-e-salario-sera-prorrogada.ghtml
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15
Valor Econômico
Caderno: Politica, terça-feira 30 de junho de 2020.
Câmara facilita desconto de calote em base de impostos
Proposta contou com apoio do
setor financeiro e foi introduzida
por emenda em MP
Por Raphael Di Cunto e Marcelo
Ribeiro — De Brasília
Vinicius Carvalho: “ é um absurdo
ainda manter a obrigação de entrar na
justiça para não pagar imposto em cima
de um calote” — Foto: Najara
Araújo/Câmara dos deputados
Com apoio do governo federal, a
Câmara dos Deputados acabou com a
obrigatoriedade de empresas tributadas
pelo lucro real ingressarem com ações
16
judiciais contra devedores para
poderem deduzir dos impostos os
créditos referentes a produtos e serviços
vendidos, mas cujo pagamento não
ocorreu. Bastará o mero protesto da
dívida em cartório para permitir o
desconto da base de cálculo do Imposto
de Renda e da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL).
A mudança beneficia principalmente os
bancos e companhias de maior porte e
foi aprovada como uma emenda à
medida provisória 944, editada para
abrir uma linha de crédito para as
empresas pagarem salários durante a
pandemia da covid-19. O “jabuti” (texto
com conteúdo estranho à MP) entrou
no relatório do deputado Zé Vitor (PL-
MG) e teve o aval dos deputados na
quinta-feira. A votação do projeto deve
acabar hoje, com a análise de quatro
emendas, mas não há nenhuma para
retirar esse ponto do texto, que depois
seguirá para votação no Senado.
Para o relator, a alteração diminuirá o
número de processos nos tribunais e
simplificará a vida das empresas, que
hoje precisam arcar com custas
processuais e advogados para
reduzirem seus tributos. “São milhares
de ações por ano apenas com esse
propósito. Ações que já sabe que o
devedor não tem condições de pagar”,
afirmou. O vice-líder do governo na
Câmara, deputado Ubiratan Sanderson
(PSL-RS), disse que o Executivo apoiou
as mudanças do relator.
Hoje a lei permite que as empresas do
lucro real (regime tributário que pode
ser utilizado por aquelas com
faturamento superior a R$ 78 milhões)
possam descontar da base de cálculo do
imposto de renda e da CSLL os créditos
inadimplidos. Se não houver garantia,
os de até R$ 100 mil podem ser
abatidos com a mera cobrança
administrativa após um ano de
inadimplência. Se houver bens
oferecidos como promessa do
pagamento, o limite é de R$ 50 mil
após dois anos de calote. Acima desses
valores, a lei só permite fazer o
desconto após entrar com ação judicial.
Com a proposta inserida na MP, não
haverá mais exigência dessa cobrança
judicial para fazer a dedução, não
importa o valor. As dívidas de maior
monta poderão ser abatidas com o
protesto em cartório, respeitadas duas
regras: os prazos (um ano para aquelas
sem garantia e dois anos para as
garantidas) e o pagamento antecipado
de todas as taxas, emolumentos e
despesas do processo extrajudicial.
A medida, segundo especialistas, será
bastante útil para os bancos, que lidam
com valores altos de empréstimos, são
todos tributados pelo lucro real e
precisavam entrar com ações judiciais
contra os inadimplentes para poderem
excluir esses calotes do imposto a
pagar. Por outro lado, o autor da
emenda, deputado Vinícius Carvalho
(Republicanos-SP), argumenta que é
preferível ser cobrado numa ação
extrajudicial, numa tentativa de
conciliação, do que judicialmente.
Carvalho diz ter ouvido que a Federação
Brasileira de Bancos (Febraban)
procurou parlamentares para defender
a mudança, mas que a proposta surgiu
de seu mestrado em gestão pública,
onde aprendeu que 60% dos processos
no Judiciário são da esfera cível. “Há 30
anos, quando a lei foi criada, não existia
outra forma de cobrança, agora há. É
um absurdo ainda manter essa
obrigação de ingressar na Justiça para
17
não pagar imposto em cima de um
calote”, afirmou. Ele ressaltou também
que a pandemia aumentará o número
de inadimplentes e de litígios judiciais.
Em nota, a Febraban apoiou a proposta,
mas negou que tenha articulado sua
aprovação. “Qualquer medida
legislativa que reduza a judicialização
no país é sempre bem-vinda, por
reduzir os custos, mas a Febraban não
tratou desse assunto no âmbito do
Congresso”, disse a federação.
A medida conta com a simpatia até de
auditores da Receita Federal, sempre
resistentes em mudanças no uso de
créditos. Diretor de Assuntos
Parlamentares do Sindifisco, George de
Souza diz que “esse é um excelente
exemplo de uma lei que pode ser
flexibilizada em prol do contribuinte,
que levou calote e ainda teria que pagar
tributo”, mas ressalva que é preciso
regras para punir quem cometer
irregularidades, como criar créditos
fictícios. “E o debate precisa ser
transparente, não como jabuti numa
MP”, disse.
Já o advogado Roberto Duque Estrada,
diretor da Associação Brasileira de
Direito Financeiro (ABDF), afirma que
é positiva a facilitação “até porque, se o
pagamento ocorrer depois, pagará o
imposto”. “Se a empresa realmente não
tem condições de receber, tomou um
cano, o sujeito sumiu, de fato há uma
perda patrimonial que deve ser
reconhecida no imposto de renda. E o
crédito mais relevante, que realmente
vai ter impacto no balanço, esse o
credor vai atrás”, diz.
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/06/30
/camara-facilita-desconto-de-calote-em-base-de-
impostos.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, terça-feira 30 de junho de 2020.
Movimento falimentar
Falências Requeridas
Requerido: Capela Comércio de
Produtos Gráficos Ltda. - CNPJ:
11.425.174/0001-12 - Endereço: Rua
Bento José de Anchieta, 110, Centro,
Capela do Alto/sp - Requerente: Breno
Vieira Compian - Vara/Comarca: 6a
Vara de Sorocaba/SP
Requerido: L. A. F. do Brasil Indústria
de Cabos e Fios Granulados Eireli -
CNPJ: 11.328.730/0001-32 - Endereço:
Av. Montemagno, 1117, Bairro Vila
Formosa, São Paulo/sp - Requerente:
Monetae Securitizadora S/A -
Vara/Comarca: 8a Vara de Santos/SP
Falências Decretadas
Empresa: A Fau Instalações &
Representações Ltda. - CNPJ:
04.592.260/0001-54 - Endereço: Av.
Dona Eugênia Machado da Silva, 197,
Bairro Vila Galvão - Administrador
Judicial: Dr. Oreste Nestor de Souza
Laspro - Vara/Comarca: 1a Vara de
Guarulhos/SP
Empresa: Casa 77 Publicidade e
Propaganda Ltda. - CNPJ:
14.562.254/0001-08 - Endereço: Rua
Funchal, 538, Cjto. 19 A, Bairro Vila
Olíimpia - Administrador Judicial:
Brasil Trustee Assessoria e Consultoria
18
Eireli, Representada Pelo Dr. Filipe
Marques Mangerona - Vara/Comarca:
1a Vara de Falências e Recuperações
Judiciais de São Paulo/SP
Empresa: Stakonski Construtora e
Incorporadora Ltda. - CNPJ:
11.527.517/0001-50 - Endereço: Av.
Nereu Ramos, 4848, Esquina com Rua
256, Sala 15, Bairro Meia Praia -
Administrador Judicial: Instituto
Professor Rainoldo Uessler,
Representado Pela Dra. Daniela Zilli -
Vara/Comarca: 1a Vara de Itapema/SC
Processos de Falência Extintos
Requerido: Add Indústria e Comércio
de Confecções e Calçados Ltda. ME -
CNPJ: 07.821.527/0001-26 - Endereço:
Rua Augusta, 2690, Loja 04, Bairro
Cerqueira César - Requerente: Perdizes
Securitizadora de Recebíveis
Comerciais S/A - Vara/Comarca: 1a
Vara de Falências e Recuperações
Judiciais de São Paulo/SP -
Observação: Desistência homologada.
Requerido: Belmetal Indústria e
Comércio Ltda. - CNPJ:
61.091.906/0001-53 - Endereço: Rua
Dr. Moyses Kauffmann, 39/101, Bairro
Barra Funda - Requerente: Gfm Fundo
de Investimento em Direitos
Creditórios Multicrédito -
Vara/Comarca: 1a Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de São
Paulo/SP - Observação: Homologado
acordo celebrado entre as partes.
Requerido: Helzin Indústria Eletro
Metalúrgica Ltda. - CNPJ:
58.049.412/0001-04 - Endereço: Rua
Frei Gaspar, 220, Bairro da Mooca -
Requerente: Maxibarras Indústria e
Comércio de Metais Eireli –
Vara/Comarca: 1a Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de São
Paulo/SP - Observação: Homologado
acordo celebrado entre as partes.
Recuperação Judicial Deferida
Empresa: Jonfra Comércio e Serviços
em Equipamentos Ltda. Epp - CNPJ:
08.998.125/0001-64 - Endereço: Rua
Vitório Cavallaro, 67, Centro -
Administrador Judicial: Acfb
Administração Judicial -
Vara/Comarca: 2a Vara de Monte
Mor/SP
Recuperações Judiciais
Concedidas
Empresa: A. M. V. Transportes Ltda. -
CNPJ: 02.299.029/0001-41 - Endereço:
Rodovia Br 364, S/nº, Km 17, Sala 02,
Distrito Industrial - Vara/Comarca: 1a
Vara de Falências e Recuperações
Judiciais de Cuiabá/MT - Observação:
Face à homologação do plano aprovado
pela assembleia geral de credores.
Empresa: M. R. Transportadora Ltda.
ME - CNPJ: 37.432.721/0001-80 -
Endereço: Av. Victor Candeloro, 1800
S, Setor Industrial Ii, Comodoro/mt -
Vara/Comarca: 1a Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de Cuiabá/MT -
Observação: Face à homologação do
plano aprovado pela assembleia geral
de credores.
Empresa: Mav Comércio e Transportes
Ltda. ME - CNPJ: 09.547.055/0001-90
- Endereço: Av. Ayrton Senna da Silva,
S/nº, Km 397,4, Sala D 12, Distrito
Industrial - Vara/Comarca: 1a Vara de
Falências e Recuperações Judiciais de
Cuiabá/MT - Observação: Face à
homologação do plano aprovado pela
assembleia geral de credores.
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19
Valor Econômico
Caderno: Empresas, terça-feira 30 de junho de 2020.
Na disputa da fibra óptica, Oi acelera e ganha mercado
Líder absoluta no país, Telefônica
cresce mais devagar e perde
participação no segmento
Por Rodrigo Carro — Do Rio
Oi e Telefônica Brasil travam uma
guerra no mercado brasileiro de banda
larga por fibra óptica, com estratégias
distintas. Os resultados mais favoráveis
nos últimos meses foram da operadora
em recuperação judicial. Líder absoluta
no segmento de serviços de fibra óptica
até a casa do cliente (FTTH, na sigla em
inglês), a multinacional espanhola,
dona da Vivo, detinha quase um quarto
dos assinantes neste negócio ao fim de
abril. Embora continue a crescer, vêm
perdendo participação de mercado à
medida que a Oi se expande a uma
velocidade maior.
20
A Oi tira proveito de uma estrutura de
fibra mais descentralizada. Sua rede
óptica chega a mais de 2,3 mil
municípios brasileiros. Isso não
significa que os serviços estejam
disponíveis comercialmente em todas
essas cidades. A oferta ainda está
restrita a 112 municípios, contra 206 da
Telefônica.
“A base de clientes da Telefônica ainda
está muito concentrada, principalmente
em São Paulo”, diz Luís Mazzarella
Martins, sócio da JK Capital,
consultoria voltada para fusões e
aquisições.
No fim de abril, dos 2,81 milhões de
clientes de fibra que a Telefônica tinha
no país, mais de 70% estavam no
Estado de São Paulo, conforme
levantamento da JK Capital feito a
pedido do Valor. E 1,23 milhão
estavam na região metropolitana de São
Paulo.
O levantamento mostra que entre
outubro do ano passado e abril deste
ano a Oi ampliou sua fatia no mercado
de FTTH em 3,2 pontos percentuais -
passou de 8,7% para 11,9%. No mesmo
período, a participação da Telefônica
Brasil recuou de 25,8% para 24,6%.
“Não temos perdido clientes para a Oi”,
afirma o vice-presidente de marketing e
vendas da Vivo, Márcio Fabbris. “O país
é subpenetrado em termos de fibra”. Na
visão do executivo, ainda existem no
Brasil muitas áreas com potencial de
mercado ainda não atendido -
“greenfield”, no jargão em inglês.
“Existe muito greenfield ainda. Talvez
não em termos de cidades, mas de
bairros”, afirma.
Entre outubro de 2019 e abril deste ano,
a Telefônica absorveu em média 51.975
novos assinantes por mês, pelos
cálculos da JK Capital. A consultoria
leva em consideração tanto o ganho
quanto a perda de clientes no período.
Nesse mesmo intervalo de tempo, a Oi
avançou mais rapidamente. Em média,
o crescimento líquido da sua base de
clientes de fibra foi de 85.964 por mês,
65% a mais do que a concorrente.
“Estamos tirando clientes dos pequenos
provedores, das empresas regionais”,
afirma o presidente da Oi, Rodrigo
Abreu. “No período de quatro meses
que terminou em abril, colocamos mais
assinantes de fibra na nossa base do
que Vivo, Claro e TIM juntas.”
No fim de abril, o país tinha 32,9
milhões de conexões de banda larga,
segundo a consultoria Teleco. Pouco
mais de um terço (34,3%) era de fibra
óptica até a casa do cliente. No fim de
2018, esse percentual estava em 18,2%.
Como parte de sua estratégia de
expansão, a Telefônica usa dados de
telefonia pós-paga, mercado no qual
possuiu 39% de participação no país,
para identificar áreas mais promissoras
para ofertar fibra. “O FTTH tem uma
sinergia com a móvel”, diz Fabbris, da
Vivo, lembrando que os clientes de
planos pós tendem a apresentar renda
maior.
Maior provedora de banda larga do
país, a Claro provia apenas 2,9% das
conexões de FTTH em abril. O
percentual representa um avanço em
relação a outubro do ano passado,
quando sua participação era de 2,3%.
“A Claro tem muita participação em
cabo [coaxial], muita herança de
investimentos anteriores”, afirma
Martins, da JK Capital. A maior parte
21
das conexões de banda larga da
operadora está ligada a redes híbridas
que combinam cabos coaxiais e fibra.
“Não vemos nenhuma necessidade de ir
além do que já estamos indo”, diz
Marcio Carvalho, diretor de marketing
da Claro, referindo-se às cidades onde o
grupo já atua com a chamada “fibra até
o armário” (a caixa de distribuição
geralmente instalada num poste de
rua). “Quando começamos numa nova
cidade, estamos indo com fibra. Não
tiramos o pé do investimento mesmo
com a pandemia.”
Historicamente, as redes de TV a cabo
foram precursoras da banda larga no
país. Baseadas em cabos coaxiais, foram
construídas com uma alta capacidade
de tráfego já que o sinal de vídeo é
distribuído através delas.
No entanto, o sócio da JK Capital Luís
Martins ressalta que a disputa global
acirrada entre as empresas de
streaming - capitaneada por Netflix,
Amazon e Disney - tende a impulsionar
a demanda por velocidades de conexão
cada vez mais rápidas. “Nos Estados
Unidos, jogos de basquete são
transmitidos ao vivo por empresas de
streaming com resolução 4K.”
A Oi estima um potencial de 40 milhões
de domicílios no país nos quais os
serviços de FTTH podem estar
disponíveis para contratação. A
projeção exclui o Estado de São Paulo,
onde a operadora não oferece banda
larga fixa no varejo. “Estamos indo em
cidades de maior demanda imediata”,
diz Abreu. Em março, a companhia
atingiu o total de 5,6 milhões de
domicílios cobertos.
A decisão inicial de não atacar o
mercado paulista pode ser revertida,
acrescenta Abreu. Ele lembra que a Oi
optou por não vender a estrutura de
fibra óptica que possui em São Paulo.
“Existe a possibilidade de voltar a
considerar São Paulo”, conclui.
Em março, a empresa tinha em caixa
R$ 6,31 bilhões. Como o negócio de
fibra é intensivo em capital, a Oi
depende no médio prazo do êxito de sua
estratégia de venda de ativos para
manter o nível de investimento atual.
Este ano a Oi prevê investir entre R$ 4
bilhões e R$ 5 bilhões em fibra óptica.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/06/3
0/na-disputa-da-fibra-optica-oi-acelera-e-ganha-
mercado.ghtml
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22
Valor Econômico
Caderno: Finanças, terça-feira 30 de junho de 2020.
Cielo refuta barreira ao pagamento via WhatsApp
Companhia nega que tenham sido
impostas barreiras à entrada de
competidores
Por Flávia Furlan e Sérgio
Tauhata — De São Paulo
Caffarelli, da Cielo: covid-19 trouxe protagonismo forte
das adquirentes — Foto: Silvia Zamboni/Valor
A credenciadora de cartões Cielo, dos
acionistas Banco do Brasil e Bradesco,
está prestando informações e
monitorando as deliberações do Banco
Central (BC) e do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) para retomar a solução de
pagamentos via WhatsApp, em parceria
23
com o Facebook. Mesmo com tom
conciliador frente às autoridades, a
companhia nega que tenham sido
impostas barreiras à entrada de
competidores. “Nunca existiu e não
existe exclusividade para a Cielo no
pagamento via WhatsApp”, disse Paulo
Caffarelli, presidente da Cielo, em live
do Valor.
Líder em pagamentos no país, a Cielo
entrou no radar dos reguladores nos
últimos meses sob a suspeita de adotar
práticas que trazem danos ao mercado e
aumentam a concentração. As
autoridades questionam o negócio
fechado com o Facebook, devido ao
tamanho da fatia de mercado da
credenciadora, em torno de 40%, e da
quantidade de usuários da rede social
no país, de 120 milhões.
Além disso, o BC e o Cade analisam
medidas impostas às subcredenciadoras
e marketplaces, companhias que pagam
uma taxa para usar o sistema da
credenciadora e prestar serviços de
pagamento. A Cielo, no entanto, nega a
alcunha de anticompetitiva. “Refutamos
qualquer alegação de práticas
anticoncorrenciais”, disse Caffarelli.
Lançado em 15 de junho, o pagamento
via WhatsApp foi suspenso após oito
dias. O negócio envolve a Cielo, as
bandeiras Visa e Mastercard e os
emissores de cartões Banco do Brasil,
Nubank e Sicredi. De acordo com o
presidente da Cielo, a empresa
participou de concorrência para prestar
o serviço de credenciamento para o
aplicativo juntamente com outros
competidores.
Caffarelli não quis dar uma previsão de
restabelecimento do serviço, que
chegou a ser oferecido em fase de testes
para os clientes do aplicativo, mas
afirmou que as bandeiras, que são as
donas do arranjo de pagamentos
desenvolvido, estão prestando todo tipo
de informação aos reguladores, assim
como o Facebook e a própria Cielo. “É
preciso aguardar que tanto o BC quanto
o Cade estejam satisfeitos com as
informações.”
Uma preocupação com o serviço de
pagamentos via WhatsApp é com a
proteção de dados dos usuários.
Mundialmente, o Facebook é
questionado sobre qual o tratamento
dado às informações obtidas dos
clientes. Os reguladores querem se
assegurar de que elas não serão
compartilhadas entre as várias redes
sociais controladas por Mark
Zuckerberg. “O pagamento está dentro
do arranjo das bandeiras Visa e
Mastercard e de outras que vierem. É
óbvio que ele é observado sob todas as
óticas de risco e está em situação de
normalidade em termos de segurança.”
Há desconforto ainda com o fato de o
BC não ter informações sobre as
movimentações no aplicativo. Sobre
esse ponto, o executivo afirmou que a
visibilidade será alcançada quando o
pagamento via WhatsApp for conectado
ao ambiente do Pix, plataforma de
pagamentos instantâneos desenvolvida
pela autoridade monetária. De acordo
com o presidente da Cielo, a
credenciadora vai aderir à plataforma,
inclusive se o BC antecipar o pré-
lançamento para setembro, conforme
sondagem feita com o mercado e
noticiada pelo Valor.
24
Ainda em relação a práticas
anticoncorrenciais, a Cielo se deparou
com reclamação feita ao BC por
subcredenciadoras e marketplaces de
que a empresa estaria solicitando
informações de seus clientes - elas
argumentam que, com base nesses
dados, a Cielo poderia assediar seus
clientes. Caffarelli disse que o pedido
ocorreu porque a responsabilidade sob
a “gestão” das subcredenciadoras se dá
pelas credenciadoras, portanto elas têm
de acompanhar o fluxo de dinheiro
nessas empresas. “Em nenhum
momento solicitamos dados, mas temos
de acompanhar o fluxo do dinheiro.”
Uma saída para esse impasse, diz, seria
acompanhar esse fluxo com empresas
independentes que prestam esse serviço
às credenciadoras.
Outra reclamação é com o corte de
linha de antecipação de recebíveis. Em
momentos de crise, bancos e
credenciadoras têm restrição de captura
de recursos, que acabam por impactar a
disponibilidade de recursos. “Quando
deixamos de fazer um tipo de
antecipação, é por discricionariedade
nossa, não temos obrigação de fazer”,
diz Caffarelli.
Em um setor em transformação, a Cielo
vem sendo impactada por mudanças na
regulamentação, a chegada de novos
competidores e novas tecnologias.
Sobre esse último ponto, o executivo vê
espaço reduzido em uma eventual
concorrência do setor tradicional de
pagamentos - bandeiras, emissores e
credenciadoras - com o Pix.
“Quando a gente fala de Pix, estamos
falando, em um primeiro momento, de
transações de débito, mas o volume das
transações de crédito é muito relevante
no varejo e a covid-19 trouxe um
protagonismo forte das adquirentes,
com aumento da demanda pelas
transações on-line.” Ele dá o exemplo
que, na Índia, houve um processo muito
parecido ao ocorrido no Brasil, com
uma nova plataforma de pagamentos,
que resultou em aumento da inclusão
digital.
https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/06/30
/cielo-refuta-barreira-ao-pagamento-via-
whatsapp.ghtml
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25
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 30 de junho de 2020.
Ordem pede pressa em discussão sobre correção de ação trabalhista
Entidade solicita ao STF a
inclusão de processos na pauta de
amanhã
Por Adriana Aguiar — De São Paulo
Ministro Gilmar Mendes: Justiça do
Trabalho terá papel fundamental no
enfrentamento das consequências da crise
— Foto: Andre Coelho/Valor
A Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) pediu ao Supremo Tribunal
Federal (STF) a inclusão das duas ações
que discutem a correção de dívidas
trabalhistas na pauta de amanhã, dia 1º.
A pressa tem um motivo: no sábado, o
ministro Gilmar Mendes, relator dos
casos, suspendeu todos os processos no
26
país sobre o assunto - aplicação da TR,
mais vantajosa para as empresas, ou o
IPCA-E.
A decisão do ministro, segundo
advogados trabalhistas, praticamente
paralisa a Justiça do Trabalho. José
Alberto Couto Maciel, sócio da
Advocacia Maciel, lembra que a
correção monetária é inerente ao
processo do trabalho. “Todos os
processos têm correção monetária. Em
tese, ele está determinando a suspensão
de todas as ações do país”, diz.
O juiz ao proferir uma sentença,
acrescenta o advogado, deve tratar da
correção. Além disso, a empresa precisa
do cálculo para fazer o depósito
recursal. “É um negócio completamente
absurdo. Se o ministro entende que
dever ser aplicada a TR, o que eu
também acho, poderia ter definido a
questão. Dizer que vale a TR até o
julgamento das ações. Quem pagar a
mais ou a menos, que compense ou
pague a diferença”, diz.
Para ele, a decisão ainda é mais
estranha ao ser dada dois dias antes do
recesso do Judiciário. Somente no
Tribunal Superior do Trabalho (TST)
são quase 10,8 mil processos que
discutem correção monetária.
O pedido da OAB foi encaminhado
ontem. A entidade solicitou uma
audiência com o presidente do STF,
ministro Dias Toffoli. De acordo com o
texto, as decisões do ministro Gilmar
Mendes “possuem um alcance
incalculável, com potencial para
suspender o trâmite de uma infinidade
de reclamações e execuções
trabalhistas, paralisando, assim, em
importante medida, o ramo trabalhista
da Justiça, com repercussão drástica na
integridade dos créditos respectivos e
na circulação da economia neste
momento de crise”.
O advogado Marcelo Fortes, do Fortes
& Prado Advogados, afirma que o
impacto é enorme. “Todo processo
basicamente discute juros e correção
monetária”, diz. “Milhares de processos
trabalhistas pelo Brasil ficarão
suspensos até a decisão do Supremo, já
que não ficou definido qual índice
poderia ser usado.”
Entre os julgamentos paralisados estava
o que seria retomado ontem pelo TST,
que tinha a tendência de manter a
aplicação do IPCA-E. A maioria deveria
votar pela inconstitucionalidade do
artigo da reforma trabalhista (Lei nº
13.467, de 2017) que estabeleceu a TR
como forma de correção.
O assunto tem um longo histórico. Até
2015, os processos eram corrigidos pela
TR, acrescida de 12% de juros ao ano.
Em 2016, a TR foi derrubada pelo TST,
que a substituiu pelo IPCA-E - índice
mais vantajoso para os trabalhadores.
Em 2017, contudo, a lei da reforma
trabalhista instituiu novamente a TR.
Parte da Justiça do Trabalho, porém,
passou a considerar a previsão
inconstitucional e continuou a aplicar o
IPCA-E.
No fim do ano passado, por meio da
Medida Provisória (MP) nº 905,
estabeleceu-se o IPCA-E como índice de
correção. Porém, os juros que eram de
12% ao ano passaram a ser o de
poupança - cerca de 4,5% em 2018. A
MP acabou perdendo a validade.
Diante da insegurança, as atenções dos
advogados se voltaram ao Supremo. O
tema estava para ser definido no dia 14
27
de maio. Mas os processos foram
retirados da pauta pelo ministro Dias
Toffoli. São duas ações declaratórias de
constitucionalidade (ADC 58 e ADC
59), ajuizadas, respectivamente, pela
Confederação Nacional do Sistema
Financeiro (Consif) e pela Confederação
Nacional de Informação e Comunicação
Audiovisual.
As entidades defendem o que foi
estabelecido pela reforma trabalhista
(Lei nº 13.467, de 2017), que alterou o
artigo 870, parágrafo 7º, da
Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) e determinou a TR como forma
de correção. Querem a declaração de
constitucionalidade do dispositivo.
Ao suspender o andamento dos
processos no país, o ministro Gilmar
Mendes afirma que os acórdãos do TST
que afastam a aplicação do que dispõe a
reforma trabalhista, além de não se
amoldarem às decisões já proferidas no
STF (ADIs 4425 e 4357), tampouco se
adequam ao Tema 810 de repercussão
geral, que não aplicou a TR para
correções que envolvem a Fazenda
Pública.
“Isso porque a especificidade dos
débitos trabalhistas, em que pese a
existência de princípios como
hipossuficiência do trabalhador, a meu
sentir, teria o condão de estabelecer
uma distinção que aparta o caso
concreto da controvérsia tratada no
Tema 810, tornando inviável apenas se
considerar débito trabalhista como
relação jurídica não tributária”, diz na
decisão.
O ministro ainda diz que considerando
o atual cenário de pandemia, “entendo
que a Justiça do Trabalho terá papel
fundamental no enfrentamento das
consequências da crise econômica e
social, com a estimulação de soluções
consensuais e decisões judiciais durante
o período em que perdurarem as
consequências socioeconômicas da
moléstia”.
Diante da magnitude da crise,
acrescenta Gilmar Mendes, a escolha do
índice de correção de débitos
trabalhistas ganha ainda mais
importância. Por isso, afirma o relator,
deveriam ser suspensos os processos no
país.
Para o advogado trabalhista Daniel
Chiode, do escritório Chiode Minicucci
Advogados, a decisão do ministro
Gilmar Mendes foi adequada para
evitar a proclamação de uma decisão
pelo TST que, certamente, seria levada
ao Supremo. “Portanto, é melhor
mesmo que o STF se manifeste
rapidamente e solucione essa questão
que tanto atormenta a todos.”
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/06/3
0/ordem-pede-pressa-em-discussao-sobre-correcao-
de-acao-trabalhista.ghtml
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28
Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, terça-feira 30 de junho de 2020.
STF manda devolver PIS e Cofins pagos a mais
Contribuinte terá direito ao
ressarcimento se preço de venda
for menor do que o estabelecido
em substituição tributária
Por Beatriz Olivon — De Brasília
O Plenário Virtual do Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu que as empresas
têm direito a restituição de PIS e Cofins
se os valores efetivamente pagos forem
diferentes dos calculados por meio da
substituição tributária. A decisão foi
proferida em repercussão geral.
Portanto, deverá ser seguida pelas
instâncias inferiores da Justiça.
No regime da substituição tributária,
uma empresa antecipa o pagamento do
imposto para todas as que fazem parte
da cadeia produtiva. Caso, por exemplo,
dos setores de automóveis, bebidas,
combustíveis e farmacêutico.
O cálculo do tributo se baseia em um
valor de venda pré-estipulado
(presumido). Por essa razão se discutiu
no julgamento se o contribuinte teria
direito à diferença quando o produto é
comercializado por preço abaixo do
estabelecido.
O caso analisado pelo STF é de um
posto de gasolina, que questionava
29
decisão do Tribunal Regional Federal
(TRF) da 2ª Região (ES e RJ) que
negou pedido de restituição de valores
de PIS e Cofins pagos a mais (RE
596832).
Para o relator, ministro Marco Aurélio,
a presunção não é absoluta. “Não
verificado o fato gerador, ou constatada
a ocorrência de modo diverso do
presumido, surge o direito à
devolução”, diz em seu voto. Ele
acrescenta que, por ser uma
antecipação, deve haver um encontro de
contas para saber se os parâmetros
fixados por estimativa se
concretizaram.
“Impróprio é potencializar uma ficção
jurídica, para, a pretexto de atender a
técnica de arrecadação, consagrar e
placitar verdadeiro enriquecimento
ilícito, no que recebida quantia indevida
por aquele que está compelido a dar o
exemplo”, afirma o relator.
A decisão foi concluída por nove votos a
dois. Divergiram os ministros Dias
Toffoli e Alexandre de Moraes. A tese
aprovada diz que “é devida a restituição
da diferença das contribuições para o
PIS e a Cofins recolhidas a mais, no
regime de substituição tributária, se a
base de cálculo efetiva das operações for
inferior à presumida”.
Em 2016, o Supremo já havia decidido
que Estados deveriam restituir ICMS
pago a mais em substituição tributária,
quando um produto for comercializado
ao consumidor final abaixo do valor
fixado pela Fazenda.
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/06/3
0/stf-manda-devolver-pis-e-cofins-pagos-a-
mais.ghtml
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30
Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, terça-feira 30 de junho de 2020.
Pandemia e insider trading
Talvez seja o momento de,
finalmente, discutir nossa política
criminal sobre o insider trading
Por Philippe Nascimento
A recente investigação contra o senador
republicano Richard Burr, então
presidente do Comitê de Inteligência do
Senado americano, reaquece o debate
jurídico da punição criminal ao insider
trading nos Estados Unidos. O episódio
também chama atenção para discussão
de casos no Brasil, principalmente após
2017.
Richard Burr vendeu, ao longo de
fevereiro, grande parte de sua carteira
de ações. Uma semana após as vendas,
as bolsas americanas despencaram,
impulsionadas pela pandemia da covid-
19. Entre as ações vendidas pelo
senador, companhias de hotelaria e
turismo como Wyndham Hotels e
Extended Stay America perderam,
respectivamente, dois terços e mais da
metade de seus valores de mercado.
Talvez seja o momento de,
finalmente, discutir nossa política
criminal sobre o insider trading
Como presidente do Comitê de
Inteligência, o senador possuía acesso a
informações sigilosas relacionadas à
31
segurança dos Estados Unidos. Entre
elas, o Comitê recebia diariamente
relatórios sobre o coronavírus. Isso
pode ter colocado o senador em
vantagem informacional sobre o que
ainda estava por vir. Departamento de
Justiça, SEC e FBI investigam o caso.
Em maio, o FBI apreendeu o celular do
senador para analisar conversas com
seu broker. Burr renunciou ao cargo no
Comitê de Inteligência.
Nos Estados Unidos, o caso renova o
debate da aplicação de normas contra
insider trading, especialmente do ponto
de vista criminal. Isso porque, em regra,
a punição é voltada aos “insiders”
corporativos, ou seja, pessoas que estão
“por dentro” dos negócios da
companhia emissora de valores
mobiliários, em razão da posição que
nela ocupam ou de relação profissional
que dá acesso a suas informações.
Nesses casos, a informação surge a
partir da companhia e diz respeito a ela
própria. A proibição de utilizar tais
informações para benefício pessoal, em
violação a determinados deveres, funda
a noção clássica de insider trading.
Já o caso do senador Burr muda o
paradigma. Ele não ocupava posição em
qualquer companhia que teve ações
vendidas. Aparentemente, também não
eram informações originadas a partir
destas companhias ou que se
relacionassem especificamente com
elas. Seriam informações
macroeconômicas.
Mas, desde 2012, o Stop Trading on
Congressional Knowledge Act (Stock
Act) veda membros do Congresso
americano de utilizarem, em benefício
próprio, informações obtidas a partir do
cargo que ocupam. Curiosamente, na
época, o senador Burr votou contra a
aprovação da lei, mas perdeu por 96 a
3. Ele pode ser o primeiro congressista
processado com base na lei.
Caso o episódio tivesse ocorrido no
Brasil, algumas questões precisariam
ser analisadas. Originalmente, nosso
tipo penal seguia a lógica do modelo
clássico americano e criminalizava
apenas o “insider” corporativo.
Considerava-se crime negociar valores
mobiliários com uso de informação
relevante ainda não divulgada ao
mercado sobre companhia, da qual se
tinha acesso e devia se manter sigilo em
razão de posição ocupada nesta ou de
determinada relação profissional. É o
que dizia o artigo 27-D da Lei nº
6.385/76, criado em 2001. Para outras
hipóteses, como de terceiros estranhos
ao fluxo informacional da companhia
que negociavam ações com informações
privilegiadas, a punição cabia somente
à CVM.
Desde 2017, a política criminal mudou.
Com a Lei nº 13.506, torna-se crime
negociar valores mobiliários com uso de
informação relevante, ainda não
divulgada ao mercado,
independentemente de se quem a
utiliza possui dever sigilo ou se a obteve
de alguém que possuía. A tentativa de
ampliação punitiva é clara. Se a medida
foi correta, e juridicamente válida, é
possível discutir. Talvez o crime devesse
ter sido mantido apenas aos casos mais
graves, aos verdadeiros “insiders” que
violam deveres com seus acionistas, ou
deveres profissionais, ao utilizar tais
informações. Para os demais casos, a
ampla punição da CVM. De qualquer
maneira, o alcance da norma ainda
parece limitado.
32
O tipo penal de insider trading depende
da regulamentação trazida por outros
ramos do direito. Produto das relações
jurídicas, sociais e econômicas
complexas que representa, ele apenas
produz efeitos quando corretamente
complementado por tais normas. No
caso, tanto a Lei das S/A, quanto a
Instrução CVM nº 358, juridicamente
essenciais para configuração do ilícito
penal, ainda guardam íntima relação
com a estrutura clássica de “insider”
corporativo. Como exemplo, observa-se
que a definição de “informação
relevante” estaria atrelada à ocorrência
de ato ou fato nos negócios da
companhia emissora dos valores
mobiliários.
Portanto, mesmo com a alteração
legislativa, casos que envolvam
utilização de informações
macroeconômicas, sem nexo específico
com as companhias que tem suas ações
negociadas, podem estar de fora do
alcance da norma penal. O mesmo
poderia se discutir em casos como os
que apuraram insider trading em
operações no mercado de dólar futuro
ou a partir da antecipação da taxa Selic.
Importante destacar, porém, que o fato
de não haver crime, não significa
inexistir punição. A CVM possui amplos
poderes para punir condutas
atentatórias ao mercado, na maioria das
vezes até com maior força e eficácia do
que a própria Justiça criminal. Isso
deve ser levado em consideração.
A criminalização de condutas deve ser
pautada e precedida por amplo e
profundo debate, a partir de critérios de
necessidade, efetividade e outros, o que
não ocorreu em 2017. Se o caso
americano, e episódios recentes no
Brasil, chamam a atenção, talvez seja o
momento de, finalmente, discutir nossa
política criminal sobre o insider
trading.
Philippe Nascimento é advogado,
mestre e doutorando em Direito
Penal pela Faculdade de Direito
da USP e sócio de Dias e Carvalho
Filho Advogados
Este artigo reflete as opiniões do
autor, e não do jornal Valor
Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas
informações acima ou por
prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas
informações
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/06/3
0/pandemia-e-insider-trading.ghtml
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33
Caderno: Mercado, terça-feira 30de junho de 2020.
WhatsApp e Cielo recorrem ao Cade pelo fim de suspensão de pagamentos via aplicativo
Pedido não deve ser acatado e empresas
serão investigadas por infração à ordem
econômica
Julio Wiziack
BRASÍLIA
O Facebook, dono do WhatsApp, e a
Cielo pediram ao Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica)
que reconsidere a suspensão de
pagamentos e transferências realizados
entre usuários do aplicativo de
mensagens.
O Cade e o Banco Central barraram o
serviço na semana passada até que se
esclareça a natureza do negócio.
Enquanto a Superintendência-Geral do
Cade analisará o pedido de
reconsideração das empresas, o órgão
abriu um processo para investigar se o
acordo é uma joint venture
(associação). Caso se confirme, deveria
ter sido previamente notificado às
autoridades.
Uma decisão é desvinculada da outra.
No entanto, a chance de que a
suspensão seja revertida pelos
advogados das empresas junto ao órgão
do Cade é baixa.
34
A superintendência é a porta de entrada
das empresas no Cade para reclamações
de concorrentes ou pedidos de anuência
do conselho.
Brasileiros poderão enviar dinheiro
pelo Whatsapp - Reprodução
Se o entendimento do conselho do Cade
confirmar a notificação prévia, as
empresas deverão ser multadas
porque o serviço já estava sendo
prestado.
A multa máxima em casos similares é
de R$ 60 milhões, mas pode haver
redução mediante acordo.
Nos bastidores, tanto BC quanto Cade
consideraram a operação uma joint
venture (parceria), o que significa que
as empresas deverão apresentar um
pedido de notificação se quiserem
prosseguir com esse acordo.
O Cade poderá aprovar sem restrições
ou impor condicionantes. A outra opção
é a reprovação.
No pedido de reconsideração enviado
ao Cade na sexta-feira (26), as
empresas afirmam que o acordo não
prevê que, futuramente, elas passem a
atuar no mercado de pagamento ou
credenciamento (maquininhas), hoje
nas mãos de instituições financeiras
reguladas pelo BC.
Por isso, os advogados das empresas
negam que a existência de uma joint
venture (que exigiria notificações
prévias ao BC e ao Cade) e pedem a
liberação do serviço.
"As partes entendem que a operação
não configura um ato de concentração,
porque o contrato celebrado entre Cielo
e Facebook não envolverá uma fusão,
aquisição de participação societária ou
de ativos, incorporação ou criação de
consórcio ou joint venture", escrevem
no ofício a que a Folha teve acesso.
"Além disso, e mais importante, não é
possível afirmar que Cielo e Facebook
seriam concorrentes em qualquer
mercado relevante objeto do contrato."
Os representantes das duas empresas
consideram ainda que não haverá
tomada de decisão em conjunto e que as
empresas seguirão independentes em
suas áreas de negócio.
Afirmam que tanto Facebook quanto
WhatsApp "não atuam na área de
pagamentos no Brasil". Por isso, não
são reguladas pelo BC, ainda segundo
os advogados.
O aplicativo serviria somente como "um
canal adicional para a realização de
transações de pagamento entre
usuários".
Anunciada em meados de junho, a
parceria envolve o Facebook,
controlador do WhatsApp, e a
credenciadora Cielo, responsável pelo
processamento financeiro das
transferências e uma das maiores no
ramo das maquininhas de pagamentos.
Inicialmente, redes de cartões de
crédito e de débito do Banco do Brasil,
Nubank e Sicredi poderão usar o
sistema.
35
O Banco Central, que regula o mercado
financeiro, e o Cade, responsável pela
livre concorrência, solicitaram
esclarecimentos sobre o modelo de
negócios, que, segundo analistas, tem
potencial para levar à substituição das
maquininhas em transações de até R$
5.000 por mês.
Para BC e Cade, há dúvidas sobre a
natureza do serviço.
A iniciativa do WhatsApp se antecipou
ao Banco Central que prepara o Pix,
sistema aberto de pagamentos
instantâneos sob a coordenação do
próprio regulador.
As instituições de grande porte
(financeiras e de pagamentos) serão
obrigadas a aderir a essa plataforma de
pagamentos do BC para atuar com essa
modalidade no país.
Essas operações serão instantâneas, a
qualquer dia e hora, e a expectativa do
BC é que sejam implementadas sem
custos ou com taxas irrisórias.
O BC chegou a divulgar uma nota
afirmando ver "grande potencial" de
integração entre o Pix e a iniciativa do
WhatsApp. No entanto, considerou
prematura qualquer iniciativa que
"possa gerar fragmentação de mercado
e concentração em agentes específicos".
Depois, mudou uma norma para poder
barrar a atuação do WhatsApp.
Nos bastidores, agentes do mercado
dizem que o regulador não permitirá o
lançamento de sistemas fechados, que
não conversem entre si, e que sejam
inseguros ou com baixa transparência.
No país, o WhatsApp conta com mais
de 120 milhões de usuários, mais do
que possuem os bancos comerciais em
atividade no país.
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36
Caderno: Mercado, terça-feira 30 de junho de 2020.
Câmara desiste de ação no STF para votar de novo MP 936, que trata de suspensão de contrato
Governo e parlamentares ainda vão
discutir texto final antes da edição de
decreto para prorrogar prazo da medida
Geralda Doca
30/06/2020 - 12:32 / Atualizado em
30/06/2020 - 13:20
Governo federal e parlamentares ainda
vão discutir texto final da medida
provisória. Foto: Daniel Marenco-
Agência O Globo
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PUBLICIDADE
BRASÍLIA — A Câmara dos Deputados
desistiu do pedido que fez ao Supremo
Tribunal Federal (STF) para que duas
medidas provisórias aprovadas pelo
Senado fossem devolvidas e votadas
novamente. São as MPs 936, que
permite a redução de salário e jornada
ou a suspensão do contrato de trabalho,
e a 932, que versa sobre a redução das
37
contribuições das empresas ao Sistema
S.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), atendeu a um pedido do
Senado e já peticionou junto ao STF a
desistência do mandado de segurança.
Ainda assim, segundo integrantes da
equipe econômica, a desistência da ação
não abre caminho para que o governo
sancione a MP 936 e edite um decreto
prorrogando a possibilidade de
suspensão de contratos e redução de
jornada e salários, pois ainda será feita
uma negociação entre governo e
parlamentares com relação sobre a
redação final da MP.
O governo informou na segunda-feira
que planeja estender o prazo de
vigência das condições previstas na MP
936 por decreto.
O governo tem pressa em editar a
prorrogação, pois esse atraso deixa no
limbo uma série de empresas que
aderiram à suspensão de contrato ou
redução de jornada assim que a MP foi
editada. Muitas pequenas empresas
aguardam a prorrogação da medida
para ter fôlego para atravessar a crise.
Ponto de discórdia
O ponto de discordância entre Câmara e
Senado trata da supressão de artigos da
MP envolvendo alterações na legislação
trabalhista. Segundo o Senado, os
artigos foram retirados por se tratarem
de "jabutis" — jargão legislativo para
assuntos não relacionados à finalidade
original da proposta.
Na votação em 16 de junho, o Senado
suprimiu alguns pontos do texto que
haviam sido inseridos pela Câmara.
As mudanças incorporavam alguns
trechos da Medida Provisória 905, da
Carteira de Trabalho Verde e Amarela,
que caducou antes de ser aprovada no
Congresso. Nos artigos retirados pelo
Senado, a Câmara alterava a jornada
dos bancários e alterava outros trechos
da CLT.
No entendimento da Câmara, no
entanto, teria ocorrido mudança no
mérito da MP, o que obrigaria que o
texto retornasse para ser apreciado
pelos deputados.
https://oglobo.globo.com/economia/camara-desiste-
de-acao-no-stf-para-votar-de-novo-mp-936-que-trata-
de-suspensao-de-contrato-1-24507500
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38
Caderno: Mercado, terça-feira 30 de junho de 2020.
Em um mês, Brasil registra rombo fiscal antes esperado para todo o ano de 2020
Déficit primário do setor público
chegou a R$ 131,4 bilhões em maio, o
pior em um único mês da série histórica
do Banco Central, iniciada em
dezembro de 2001; resultado reflete os
impactos da pandemia de covid-19 na
economia
Fabrício de Castro, O Estado de
S.Paulo
BRASÍLIA - A pandemia do novo
coronavírus colocou abaixo todo o
planejamento fiscal do governo para o
ano de 2020. Com a disparada dos
gastos para fazer frente à crise, o setor
público brasileiro registrou um déficit
primário de R$ 131,4 bilhões em maio,
conforme dados divulgados nesta terça-
feira, 30, pelo Banco Central. Esse
rombo é praticamente o mesmo que era
esperado pelo governo, em janeiro, para
todo o ano de 2020.
No início do ano, com os efeitos da
covid-19 ainda limitados à China e a
setores específicos da economia global,
o governo brasileiro estimava um déficit
primário de R$ 132 bilhões para o setor
público consolidado – que reúne o
governo central (Tesouro, Banco
Central e Previdência Social), os
Estados, os municípios e as empresas
estatais, com exceção de Petrobrás e
Eletrobrás. O resultado primário reflete
39
a diferença entre receitas e despesas do
setor público, sem considerar o
pagamento de juros da dívida.
Com o avanço da covid-19, as
estimativas para a economia
despencaram a partir de março, assim
como os resultados fiscais.
Sede do Banco Central (BC) em
Brasília. Foto: André Dusek/Estadão
Com menos arrecadação e mais
despesas, o setor público registrou
déficit primário de R$ 94,3 bilhões em
março, mês em que o isolamento social
se intensificou no País. Em abril, o
rombo saltou para R$ 131,4 bilhões.
Para se ter uma ideia do impacto da
pandemia, este valor é 910,4% superior
ao déficit primário de R$ 13,0 bilhões
de maio do ano passado.
No acumulado de janeiro a maio deste
ano, o rombo soma R$ 214,0 bilhões,
conforme os dados do Banco Central.
Mas a expectativa do próprio governo é
de que as cifras sejam ainda maiores.
Até a última segunda-feira, 29, a
projeção oficial do Tesouro para o
rombo das contas públicas em 2020 era
R$ 676 bilhões. O órgão adiantou,
porém, que essa projeção será revisada
pela equipe econômica para um déficit
de mais de R$ 800 bilhões em 2020,
caso o auxílio emergencial pago a
desempregados e informais durante a
crise seja prorrogado.
A escalada do déficit primário tem
como consequência direta o aumento
da dívida pública. Para fazer frente ao
rombo, resta ao governo emitir títulos
da dívida, o que já se reflete nos
números. Em maio, a Dívida Bruta do
Governo Geral somou R$ 5,929
trilhões, o que representa 81,9%
do Produto Interno Bruto (PIB). O
porcentual é maior que os 79,8% de
abril. No melhor momento da série
histórica, em dezembro de 2013, a
dívida bruta chegou a 51,5% do PIB.
A situação preocupa. Isso porque a
Dívida Bruta do Governo Geral – que
abrange o governo federal, os governos
estaduais e municipais, excluindo o
Banco Central e as empresas estatais –
é uma das referências para avaliação,
por parte das agências globais de
classificação de risco, da capacidade de
solvência do País. Na prática, quanto
maior a dívida, maior o risco de calote
por parte do Brasil.
Como mostrou o Estadão/Broadcast,
projeções do Fundo Monetário
Internacionais (FMI) indicam que, com
o atual ritmo de gastos, o Brasil sairá
da pandemia com a segunda
maior dívida bruta entre os países
emergentes. Pela metodologia do FMI
– que tem diferenças em relação à
utilizada pelo BC – a dívida bruta
brasileira vai atingir 98,24% do PIB no
fim deste ano. Em um conjunto de 36
países emergentes e de renda média, o
porcentual será inferior apenas ao de
Angola, com dívida bruta de 132,24%
do PIB.
Alguns economistas acreditam que,
para reduzir o déficit primário nos
próximos anos e conter a dívida bruta, o
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governo será obrigado a elevar
impostos, mesmo que provisoriamente.
Uma das dúvidas é se existiria espaço
político para uma alta da carga
tributária, em um ambiente de forte
contração de renda em função da
pandemia.
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,conta
s-do-setor-publico-tem-deficit-recorde-de-r-131-4-bi-
em-maio,70003349142
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Terça-feira, 30 de junho de 2020
Sonegar auto judicial é delito contra a administração da Justiça, decide TRF-3
Por Tiago Angelo
Se recusar a devolver autos processuais,
com o objetivo de beneficiar seu cliente,
constitui crime formal contra a
administração da Justiça. O
entendimento é da 11ª Turma do
Tribunal Regional Federal da 3ª
Região.
Corte julgou caso de advogado que
sonegou autos para beneficiar a própria
mãe STF
A corte julgou o caso de um advogado
que retirou um processo criminal em
nome de sua mãe e não o devolveu
dentro do prazo legal. O objetivo era
favorecê-la em uma ação penal, já que a
senhora estava prestes a completar 70
anos, idade em que ocorre a prescrição
punitiva.
O homem foi enquadrado no artigo 356
do Código Penal. De acordo com a
previsão, o advogado que inutilizar,
total ou parcialmente, assim como
deixar de restituir autos, documentos
ou objetos de valor probatório, pode ter
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fixada pena de seis meses a três anos de
detenção, além de multa.
"Trata-se de crime formal e que pode
ser praticado mediante conduta
omissiva, caso em que se consuma com
a inércia ou recusa em devolver os autos
processuais na forma da lei ou do
comando judicial. Independe, por
conseguinte, da obtenção do resultado
do resultado suposto. Para a
caracterização do delito em questão,
exige-se que o advogado ou profissional
autorizado deliberadamente dê cabo à
vontade de sonegar", afirma o relator
do caso, desembargador Fausto De
Sanctis.
O colegiado também atendeu a um
pedido do Ministério Público Federal
para majorar a pena do réu. Foi fixado
um ano, dois meses e dez dias de
detenção, no regime inicial aberto, com
substituição da pena corporal por duas
restritivas de direito.
O advogado solicitou absolvição,
alegando que sua conduta não constitui
crime e que não houve dolo. De acordo
com a decisão, entretanto, o simples ato
de sonegar documentos já é o bastante
para que se configure o delito.
"Apesar de o acusado reafirmar que sua
conduta seria atípica, por conta de que
teria restituído os autos dentro do prazo
prescricional, o crime de sonegação de
autos, na modalidade em que praticado,
configura-se como delito omissivo e
formal, que se consuma com a mera
retenção ilegal dos autos, prolongando-
se no tempo enquanto não devidamente
restituído, independentemente do
atingimento do fim pretendido pelo
agente".
Processo 0001593-
21.2014.4.03.6122
Tiago Angelo é repórter da revista
Consultor Jurídico.
Revista Consultor Jurídico, 30 de
junho de 2020, 7h25
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