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cloração de água

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Tipos de cloro usados no tratamento de água.

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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003

Recebido em 19/8/02, aceito em 27/3/03

Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água

É fato notório, reconhecido pelaOrganização Mundial da Saúde(OMS), que o fornecimento de

água em quantidade suficiente e de boaqualidade é uma das medidas prio-ritárias para a saúde de uma comuni-dade. O homem necessita de água dequalidade adequada e em quantidadesuficiente para as várias atividades quedesenvolve; não só para atender às suasnecessidades físicas, mas também parao seu desenvolvimento econômico.

A água destinada ao consumo hu-mano deve preencher condições míni-mas para que possa ser ingerida ouutilizada para fins higiênicos, o que seconsegue através dos processos usa-dos em estações de tratamento. É ne-cessário realizar o controle da qualida-de da água para que se possa asse-gurar a saúde da população, pois aágua é considerada como um veículode muitas doenças. É importanterelembrar que são muitos os prejuízoseconômicos que podem advir da máqualidade da água de consumo. Ocontrole da qualidade é uma atividadede caráter dinâmico e que deve serexercida, tanto no meio urbano quanto

Sérgio M. Sanches, Carlos Henrique Tomich de Paula da Silva e Eny Maria Vieira

A água destinada ao consumo humano deve preencher condições mínimas para que possa ser ingeridaou utilizada para fins higiênicos. No Brasil, a desinfecção da água para consumo é usualmente realizada coma adição de cloro, nas formas de gás cloro e hipoclorito de sódio. Estudos recentes demonstraram que adesinfecção da água com cloro pode trazer certos inconvenientes, como a formação de trihalometanos, quesão substâncias cancerígenas. Neste artigo, discute-se o uso de agentes desinfetantes alternativos paratentar minimizar a formação de trihalometanos.

trihalometanos, desinfecção da água, agentes desinfetantes alternativos

no rural. Em outras palavras, o controlede qualidade da água deve ser consi-derado em todas as etapas do serviçode abastecimento,desde o manancial, acaptação, o recalque, aadução, o tratamento ea distribuição, termi-nando na torneira.

A desinfecção daágua é um processo emque se utiliza um agen-te, químico ou não, e noqual se tem por objetivoa eliminação de microrganismos pato-gênicos presentes na mesma, incluindobactérias, protozoários e vírus, além dealgas. No Brasil, a desinfecção da águapara o consumo humano é usualmenterealizada com a adição de cloro ativo nasformas de gás cloro e hipoclorito desódio, apresentando como vantagens obaixo custo e o fácil manuseio.

Utilização do cloroA desinfecção pode ser o principal

ou único objetivo da cloração quando aágua a ser tratada não recebeu qual-quer forma de poluição. No entanto, no

caso de águas de qualidade inferior, co-mo o são as poluídas, a cloração podeser empregada com um objetivo adicio-

nal, aproveitando aação oxidante docloro.

Na água, o cloroage de duas formasprincipais: a) comodesinfetante, des-truindo ou inativandoos microorganismospatogênicos, algas ebactérias de vida li-

vre; e b) como oxidante de compostosorgânicos e inorgânicos presentes.

Quando o cloro é adicionado a umaágua isenta de impurezas, ocorre a se-guinte reação:

Cl2(g) + 2H2O(l) HClO(aq) + H3O

+(aq) + Cl–(aq)

Dependendo do pH da água, o áci-do hipocloroso (HClO) se ioniza, for-mando o íon hipoclorito (ClO–), segun-do a reação a seguir:

HClO(aq) + H2O(l) H3O

+(aq) + ClO–(aq)

Estudos realizados demonstraramque, para valores de pH superiores a6, a quantidade de HClO é menor e a

A água destinada aoconsumo humano devepreencher condições

mínimas para que possa seringerida ou utilizada parafins higiênicos, o que seconsegue através dos

processos de uma estaçãode tratamento

A seção “Atualidades em Química” procura apresentar assuntos que mostrem como a Química é uma ciência viva, sejacom relação a novas descobertas, seja no que diz respeito à sempre necessária revisão de conceitos. Neste número a seçãoapresenta dois artigos

ATUALIDADES EM QUÍMICA

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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água

do íon ClO– é maior. O pH das águasnaturais encontra-se normalmente nafaixa em que há presença tanto doácido hipocloroso quanto do íon hipo-clorito. Por exemplo,para um pH igual a 8,tem-se cerca de 22%de HClO e 78% deClO–. Ambos os com-postos possuem açãodesinfetante e oxi-dante; porém, o ácidohipocloroso é mais efi-ciente do que o íonhipoclorito na des-truição dos micror-ganismos em geral.

O íon ClO– tam-bém pode estar emequilíbrio com os íonsH3O

+ (o que depende do pH) e, por-tanto, uma parcela do cloro disponíveltende a reagir com a água para formaro ácido hipocloroso, o íon hipocloritoe o ácido clorídrico. Os íons hidrônioformados reagem com as hidroxilaspresentes na água, influindo dessaforma no pH, o qual, por sua vez, alteraa ionização do ácido hipocloroso.

A cloração de águas contendo ma-téria orgânica natural (MON) favorece aformação de trihalometanos (THMs) eoutros subprodutos da desinfecção(SPDs). Levando-se em conta a possí-vel presença de íons brometo na águaem tratamento, a reação de formaçãode THMs pode ser assim representada:

HOCl(aq) + MON(aq) + Br–(aq) →THMs(aq) + outros SPDs(aq)

Alguns trihalometanos, tais como oclorofórmio, têm sido identificados co-mo substâncias cancerígenas, segun-do dados do Instituto Nacional de Cân-cer dos EUA. De acordo com as nor-mas e o padrão de potabilidade da águapara o consumo humano vigentes noBrasil, a concentração máxima permitidade trihalometanos é de 100 µg L-1

.Os trihalometanos são assim deno-

minados por apresentarem em sua es-trutura molecular um átomo de carbo-no, um de hidrogênio e três de halogê-nios. Dentre os trihalometanos, quatroganharam destaque nas águas trata-das, devido à sua ocorrência em con-centrações mais significativas: clorofór-mio (CHCl3), diclorobromometano

(CHBrCl2), dibromoclorometano(CHBr2Cl) e bromofórmio (CHBr3). O tri-halometano que se apresenta emmaiores concentrações é o clorofór-

mio, mas existem ex-ceções. Quando o teorde brometos na águado manancial é consi-derável, eles são oxi-dados pelo hipocloritoa hipobromitos, e ain-da há a reação desteúltimo com os precur-sores para formar ostrihalometanos bro-mados. A Figura 1apresenta a estruturamolecular dos princi-pais trihalometanosformados durante o

tratamento de água de abastecimentopúblico.

Tratamento de água para remoçãodos THMs

Os processos mais utilizados paraa remoção dos THMs são a aeração eo uso do carvão ativo em pó. O pro-cesso de aeração, entretanto, não é efi-caz na retirada dos precursores. Porserem voláteis, os THMs tendem a eva-porar-se quando a água clorada é ar-mazenada por algum tempo. Se a águaé armazenada a temperatura ambienteem recipientes abertos, por exemplopor um período de três dias, ocorre avolatilização completa dos trihalome-tanos. A ressalva que se faz a este pro-cesso é em relação ao seu caráter prá-tico, que deixa muito a desejar, pois fa-vorece a recontaminação da água.Além disso, o uso de aeradores é des-cartado, em função do custo e da ma-nutenção dos equipamentos necessá-rios para uma aeração mecânica.

Na remoção dos trihalometanosatravés de carvão ativo em pó, obser-vou-se que a eficiência varia de pobre

a muito boa, dependendo da fração dematéria orgânica natural existente naágua. Uma segunda estratégia no con-trole de trihalometanos é a remoçãodos compostos precursores (matériaorgânica) antes de sua reação com ocloro, impedindo assim a formação detrihalometanos.

Uso de desinfetantes alternativosAtualmente, tem havido um cres-

cente interesse pelo uso de desinfetan-tes alternativos que minimizam a for-mação de trihalometanos. Entre elesestão o ozônio (O3), o permanganatode potássio (KMnO4) e o dióxido decloro (ClO2), entre outros.

Dióxido de cloroA primeira aplicação de dióxido de

cloro como desinfetante e oxidanteocorreu em 1944, na estação de trata-mento de água da cidade de Cataratasdo Niágara (EUA). A aplicação dodióxido de cloro para o tratamento deágua de abastecimento tornou-se pos-sível devido à disponibilidade comer-cial do clorito de sódio, a partir do qualtodo o dióxido de cloro para tratamentode água normalmente é produzido. Emestações de tratamento, o dióxido decloro é gerado a partir de soluções declorito de sódio (NaClO2), segundo asreações a seguir:

2NaClO2(aq) + Cl2(g) 2ClO2(aq) + 2NaCl(aq)

2NaClO2(aq) + HOCl(aq) 2ClO2(aq) + NaCl(aq) + NaOH(aq)

5NaClO2(aq) + 4HCl(aq) 4ClO2(aq) + 5NaCl(aq) + 2H2O(l)

Pode ocorrer a formação do íon clo-rato (ClO3

–) como subproduto indese-jável, através da seguinte reação decompetição:

Figura 1: Fórmulas estruturais dos quatro trihalometamos que ocorrem em concentraçõesmais significativas nas águas tratadas.

A cloração de águascontendo matéria orgânica

favorece a formação detrihalometanos (THMs),assim denominados por

apresentarem em suaestrutura molecular um

átomo de carbono, um dehidrogênio e três de

halogênios. Alguns THMs,tais como o clorofórmio,têm sido identificados

como substânciascancerígenas

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NaClO2(aq)+ Cl2(g) + OH–(aq) NaClO3(aq) + HCl(aq) + Cl–(aq)

Há, portanto, dois métodos comer-cialmente disponíveis para a geraçãode dióxido de cloro a partir do cloro eclorito de sódio: o sistema cloro aquo-so/clorito de sódio e o sistema clorogasoso/clorito de sódio.

O uso do dióxido de cloro é restrito,em função dos problemas de estoca-gem e manuseio e por exigir capacita-ção técnica para sua utilização, em de-corrência de seu efeito explosivo, o queleva à sua produção no próprio localde uso. Estudos realizados demons-traram que o dióxido de cloro apresen-ta vantagens quando comparado aosdemais compostos clorados. Ele pos-sui maior estabilidade em soluçõesaquosas, hidrolisa compostos fenó-licos (diminuindo a possibilidade de sa-bores e odores) e reage em menorintensidade com a matéria orgânica,apesar de ser cerca de 2,5 vezes maisoxidante do que o gás cloro.

O dióxido de cloro é um desinfe-tante eficiente e, com baixos valoresde tempo de contato, é efetivo para ocontrole de sabor e odor e para a oxi-dação de ferro e manganês, não sen-do exercida demanda adicional dessecomposto se a água bruta contiveramônia. O dióxido de cloro não produzquantidades significativas de subpro-dutos da desinfecção (ácidos haloacé-ticos, halocetonas e haloaldeídos), ex-ceto a formação de íons clorito e cloratoem determinadas faixas de pH, poiscerca de 50% a 70% do dióxido de clo-ro consumido é reduzido a clorito.

As principais desvantagens de suautilização são:

• a desinfecção com dióxido de clo-ro produz subprodutos, como cloritose cloratos, cujos padrões de potabili-dade brasileiros são 0,2 mg L-1;

• altos custos são associados aomonitoramento de cloritos e cloratos;

• a luz solar decompõe o dióxidode cloro;

• pode produzir odores repulsivosem alguns sistemas.

Permanganato de potássioO permanganato de potássio é um

oxidante eficiente para o controle desabor e odor da água de consumo e

para a oxidação de uma grande varie-dade de compostos orgânicos e inor-gânicos, principalmente de Fe e Mn,especialmente quan-do esses metais en-contram-se comple-xados com a matériaorgânica natural. Eletambém é utilizado nocontrole de algas emdecantadores. O per-manganato de potás-sio é altamente reativosob condições encon-tradas nas estaçõesde tratamento deágua. Em condiçõesácidas, suas reaçõesparciais são (potenciais padrões xEPH):

MnO4–(aq) + 4H+(aq) + 3e–

MnO2(s) + 2H2O(l) E0 = 1,68 V

MnO4–(aq)+ 8H+(aq) + 5e–

Mn2+(aq) + 4H2O(l) E0 = 1,51 V

Em condições alcalinas, a reaçãoparcial é:

MnO4–(aq) + 2H2O(l) + 3e–

MnO2(s) + 4OH–(aq) E0 = 0,60 V

As taxas de reação de oxidação dosconstituintes encontrados em águasnaturais são relativamente rápidas edependem da temperatura, do pH e dadosagem.

Este reagente pode inativar váriasbactérias e vírus; entretanto, não é em-pregado como desinfetante primárioou secundário quando aplicado em do-ses comumente utilizadas em trata-mento de água. Altas doses têm ele-vados custos; além disso, resíduos deKMnO4 deixam a água rosada. Não háestudos sobre a formação de subpro-dutos com esse método de tratamento.

OzônioO ozônio foi utilizado pela primeira

vez no tratamento de água em 1893,na Holanda, não tendo sido muito utili-zado no Brasil. O ozônio é uma formaalotrópica do oxigênio, apresenta odorpeculiar e irritante, é muito volátil e pou-co solúvel em água, sendo pouco está-vel. O ozônio é um potente oxidante,capaz de oxidar compostos orgânicos

e inorgânicos na água, os quais exer-cerão uma demanda do oxidante an-tes de ocorrer a desinfecção. Por se

tratar de um gás instá-vel, a sua produçãotem de ser feita no pró-prio local de aplica-ção. A técnica maiscomumente emprega-da na geração de ozô-nio é a descarga emplasma frio ou descar-ga corona, na qual oozônio é formado peladecomposição do oxi-gênio molecular e pos-terior combinação deum átomo de oxigênio

radicalar com uma molécula de oxi-gênio, como apresentam as reações aseguir:

O2 O• + O•

O• + O2 → O3

O ozônio decompõe-se na água,espontaneamente, por meio de meca-nismos complexos que envolvem ageração de radicais livres hidroxilas(•OH). Os dois mecanismos de reaçãodo ozônio na água são:

• oxidação direta dos compostospelo ozônio, em valores de pH neutrosou ácidos;

• oxidação dos compostos pelosradicais livres hidroxilas produzidos du-rante a decomposição do ozônio, emvalores de pH básicos.

O ozônio se decompõe com rapi-dez, principalmente em temperaturasrelativamente elevadas. Na sua aplica-ção, perde-se cerca de 10% por vola-tilização. As principais vantagens douso do ozônio são:

• reduz sabor, odor e cor;• é um poderoso oxidante, com

atuação rápida sobre a matéria orgâ-nica;

• tem ação rápida sobre bactérias;• não apresenta riscos à saúde hu-

mana em casos de doses excessivas,já que o seu tempo de meia-vida é deapenas alguns minutos;

• destrói fenóis, detergentes e pig-mentos;

• tem rápida ação desinfetante,sendo suficiente um tempo de contatode 5 a 10 minutos;

O dióxido de cloroapresenta vantagens

quando comparado aosdemais compostos

clorados. Ele possui maiorestabilidade em soluções

aquosas, hidrolisacompostos fenólicos

(diminuindo a possibilidadede sabores e odores) e

reage em menorintensidade com a matéria

orgânica

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• seu uso pode ser combinado coma pós-cloração para eliminar proble-mas organolépticos decorrentes daexistência de material orgânico produ-tor de gosto e odor.

Como empecilhos ao uso mais in-tenso do ozônio, prin-cipalmente no Brasil,citam-se:

• é um gás veneno-so, de odor irritante,sem cor perceptível,tendo como concentra-ção máxima permissí-vel na atmosfera0,1 mg m-3, necessitan-do de mão-de-obra es-pecializada para suamanipulação;

• não existem técni-cas analíticas suficientemente especí-ficas ou sensíveis para o controle deseus resíduos de forma imediata e efi-ciente após sua aplicação;

• os custos operacionais, nos quaisestão incluídos energia elétrica, insta-lação e operação, são altos, em tornode 10 a 15 vezes os do uso de cloro.

Ozônio/peróxido de hidrogênioNo processo ozônio/peróxido de hi-

drogênio, há um acréscimo na concen-tração de •OH em relação ao processode ozonização, aumentando o potencialde oxidação e desinfecção. Nesse pro-cesso, a eficiência de oxidação é au-mentada pela conversão de moléculasde ozônio em radicais hidroxila e peloaprimoramento de transferência do ozô-nio da fase gasosa para a líquida, au-mentando as taxas da reação em geral.

Ambas as reações do ozônio ocor-rerão e competirão pelo substrato. Por-tanto, a principal diferença é que a ozo-nização depende em alto grau da oxi-dação direta da matéria orgânica peloozônio, enquanto o peroxônio dependeprincipalmente da oxidação do radicalhidroxila.

Os potenciais de redução do ozônioe dos radicais hidroxilas são apresen-tados nas reações a seguir (potenciaispadrões x EPH):

•OH(aq) + e– OH–(aq) E0 = 2,8 V

O3(aq) + 2H+(aq) + 2e– O2(aq) +H2O(l) E0 = 2,07 V

O3(aq) + H2O(aq) + 2e– O2(aq) + 2OH–(aq) E0 = 1,24 V

O valor do tempo de contato parao processo com peroxônio não podeser medido, apesar do alto poder de-

sinfetante, pois nãose tem certeza da ge-ração de resíduo narede.

CloraminasUma outra classe

de desinfetantes al-ternativos é a das clo-raminas, obtidas apartir da reação docloro residual com aamônia. Podem-seformar três tipos de

cloraminas, a partir das reações se-qüenciais ilustradas a seguir.Monocloramina:

NH4+(aq) + HOCl(aq)

NH2Cl(aq) + H2O(l) + H+(aq)

Dicloramina:

NH2Cl(aq) + HOCl(aq) NHCl2(aq) + H2O(l)

Tricloramina:

NHCl2(aq) + HOCl(aq) NCl3(aq) + H2O(l)

A formação dos três tipos de clora-minas é dependente da relação cloro/nitrogênio, do pH, da temperatura e dotempo de reação, sendo que a dimi-nuição do pH e o aumento da relaçãocloro/nitrogênio favorece a formaçãode produtos mais clorados. Em pH 8,5,a monocloramina encontra-se emmaior quantidade. Em pH 4,4, virtual-mente toda cloramina se encontra naforma de tricloramina, cuja presença éresponsável, em parte, pelo odor egosto desagradáveis na água. Na faixade pH 4,5 a 9,0, monocloramina edicloramina coexistem em proporçõesvariadas. Por exemplo, entre pH 4,5 e5,5, existe quase que somente diclo-ramina. Essas quantidades de mono,di e tricloramina são relevantes, já queapresentam entre si diferente poder dedesinfecção: a dicloramina tem maiorefeito bactericida, seguida da mono-cloramina; a tricloramina apresenta

praticamente nenhum efeito desinfe-tante.

Para a aplicação das cloraminascomo desinfetantes primários em umaestação de tratamento de água, o amô-nio e o cloro são adicionados à águasimultaneamente ou em sucessõespróximas.

As cloraminas são uma boa escolhacomo desinfetantes secundários, de-vido às seguintes vantagens:

• são menos reativas com a matériaorgânica do que o cloro, minimizandoa formação de trihalometanos e ácidoshaloacéticos;

• são de fácil obtenção e baixo cus-to;

• minimizam o surgimento de pro-blemas de gosto e odor.

Algumas das suas desvantagenssão:

• têm menor poder de desinfecçãoque o cloro, o ozônio e o dióxido decloro, e o tempo de contato para con-trole bacteriológico deve ser muito lon-go;

• não oxidam ferro, manganês esulfito;

• devem ser produzidas in situ.

ConclusõesQualquer que seja o desinfetante

alternativo, deve-se garantir que:a) seja efetivo na inativação de bac-

térias, vírus e protozoários, entre outrosorganismos patogênicos;

b) sua aplicação seja confiável efeita por meio de equipamentos sim-ples, tendo em vista o grau de desen-volvimento socioeconômico da comu-nidade;

c) não produza qualquer compostosecundário que cause risco à saúdepública;

d) apresente atributos similares aodo cloro, tais como fornecer resíduospersistentes na água;

e) tenha sua concentração facil-mente medida, não acarrete sabor eodor, e seja disponível no mercado acustos razoáveis.

No Brasil, não se tem feito uso deagentes desinfetantes alternativos taiscomo ozônio, dióxido de cloro, per-manganato de potássio e peroxônios,sendo que estes vêm sendo utilizadossomente em universidades, para finsde pesquisa.

As cloraminas são uma boaescolha como desinfetantes

secundários, pois sãomenos reativas com a

matéria orgânica do que ocloro (minimizando a

formação detrihalometanos e ácidos

haloacéticos),são de fácilobtenção e baixo custo, eminimizam o surgimento deproblemas de gosto e odor

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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água

Abstract: Alternative Disinfectants for Drinking Water Treatment – Water for human consumption must meet minimum requirements in order to be ingested or used for hygienic purposes. In Brazil thedisinfection of drinking water is usually done by the addition of chlorine, in the forms of chlorine gas and sodium hypochlorite. Recent studies demonstrated that the disinfection of water with chlorine canbring certain inconveniences, as the formation of trihalomethanes, which are carcinogenic substances. In this paper, the use of alternative disinfectants is discussed in order to minimize the formation oftrihalomethanes.Keywords: trihalomethanes, water disinfection, alternative disinfectants

Para saber maisDANIEL, L.A. Processos de desinfec-

ção e desinfetantes alternativos na pro-dução de água potável. Rio de Janeiro:RIMa, ABES-PROSAB, 2001. p. 27.

DI BERNARDO, L. Métodos e técnicasde tratamento de água. Rio de Janeiro:ABES, 1993. v. 2.

DI BERNARDO, L. Algas e suas influ-ências na qualidade de águas e nas tec-nologias de tratamento. Rio de Janeiro:ABES, 1995.

MACÊDO, J.A.B. Determinação detrihalometanos em águas de abasteci-mento público e de indústria de ali-mentos. Viçosa, Universidade Federal deViçosa (tese de doutorado), 1997.

USEPA - U.S. ENVIROMENTAL PRO-TECTTION AGENCY. Alternative disinfec-tants and oxidants guidance manual.Washington, 1999.

Não tem havido investimento emdesinfetantes alternativos ao uso docloro, por este apresentar o mais baixocusto, mantendo ainda alguma efici-ência. A utilização de tal agente aumen-ta os riscos à saúde pública, principal-mente quando a água apresenta umacoloração muito escura, o que geral-mente é devido a uma grande quanti-dade de matéria orgânica (substânciashúmicas). O controle tem sido realiza-do principalmente através de dosagemda quantidade de trihalometanos for-mados na água.

Em países desenvolvidos, tais co-mo França, Alemanha e Estados Uni-dos, tais agentes alternativos já vêmsendo empregados no tratamento deágua pública. Futuramente, os desin-

fetantes não clorados deverão ser cres-centemente utilizados, de forma com-binada e até substitutiva ao cloro, deacordo com o desenvolvimento socio-econômico da comunidade e com oscustos envolvidos no tratamento deágua.

Sérgio M. Sanches ([email protected]), quí-mico, formado pela Universidade Federal de Uberlân-dia, mestre em Química Analítica pela USP, é aluno dedoutorado em Ciências da Engenharia Ambiental, naUSP, em São Carlos - SP. Carlos Henrique Tomich dePaula da Silva ([email protected]), químico pela Uni-camp, mestre pelo Instituto Militar de Engenharia,doutor pela USP, faz atualmente pós-doutorado noInstituto de Física de São Carlos da USP. Eny MariaVieira ([email protected]), química formada pelaUniversidade de Alfenas, mestre e doutora em QuímicaAnalítica pela USP, é docente do Instituto de Químicade São Carlos da USP.

Elemento 110: Darmstádtio?A descoberta do ele-mento 110 (vide QuímicaNova na Escola, n. 5 , p.12, 1997) foi confirmadapor um grupo de trabalho

conjunto da IUPAC (União Internacionalde Química Pura e Aplicada) e da IUPAP(União Internacional de Física Pura eAplicada), em 2001 (vide Química Novana Escola, n. 14 , p. 45, 2001). Agora osdescobridores do elemento, pesquisa-dores do GSI - Centro de Pesquisassobre Íons Pesados, em Darmstadt,Alemanha, propuseram nome e símbolopara esse elemento: darmstádtio e Ds.Esta proposta está de acordo com a tra-dição de elementos serem nomeadoscom base no nome do local em que fo-ram descobertos. A aceitação dessaproposta está sendo recomendada aoConselho da IUPAC pela sua Divisão deQuímica Inorgânica. O conselho deveráanalisar a proposta durante a 42ªAssembléia Geral da IUPAC, previstapara ocorrer de 9 a 17 de agosto de2003, em Ottawa, Canadá.

Para mais informações, vide: http://www.iupac.org/publications/ci/2003/2503/pr1_corish.html.

Revista Enseñanza de las CienciasPublicada desde1983, a revistaEnseñanza de lasCiencias (http://

blues.uab.es/rev-ens-ciencias) é pontode referência entre os profissionais docampo do ensino de Matemática e dasCiências Experimentais, na Espanha ena Iberoamérica.

Publicada pelo Instituto de Ciênciasda Educação da Universidade Autô-noma de Barcelona (UAB) e pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade deValência (UV), tem como objetivos:

• No campo do ensino de Ciências,aprofundar-se na base teórica dos estu-dos e pesquisas publicados, propician-do reflexões fundamentadas sobre a si-tuação e perspectivas das diferentes li-nhas de investigação prioritárias na atua-lidade, e fomentar trabalhos interpre-tativos que permitam o avanço na com-preensão de problemas significativosrelacionados à aprendizagem científica.

• Promover estudos que atendam àsnecessidades do professorado de Ciên-cias/Matemática e que aprofundem-seno impacto sobre diferentes práticaseducativas, em sala de aula ou em con-

Notas

Ds110

textos informais. Assim, dar prioridadeà publicação de estudos, relacionadosao ensino e à aprendizagem de conteú-dos científicos e matemáticos, que ana-lisem a gestão da aula (trabalhos emgrupos pequenos ou grandes, coope-ração e trabalho individual, etc.), o graude envolvimento do estudante na apren-dizagem, sua autonomia ou dependên-cia, a atenção à diversidade de interes-ses e níveis dos alunos de um grupo/classe, o preparo e aplicação de ativi-dades de diferentes tipos, a correção deerros no processo de aprendizagem etc.

• Incentivar análises críticas sobre ostrabalhos em desenvolvimento na atuali-dade.

A revista, cuja editoria é compartilha-da por docentes da UAB e da UV (lidera-dos por Neus Sanmartí e Carmen Azcá-rate, da UAB), dispõe tanto de assina-turas em papel (com acesso via Internet)ou só para acesso via Internet (com re-cebimento de um CD, ao final do ano).

Cabe destacar que os números pu-blicados no período 1998-2001 estãodisponíveis para acesso gratuito no en-dereço http://www.bib.uab.es/pub/ensenanzadelasciencias.

(RCRF)