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Francisco Carlos Duarte Panóptica, ano 1, n. 8, maio – junho 2007 385 SÚMULAS VINCULANTES E O FEDERALISMO JUDICIAL. Francisco Carlos Duarte Pós-doutor em direito pela Università degli studi di Lecce, Itália, e pela Universidad de Granada, Espanha; Doutor pela UFSC/Università degli studi di Lecce; Professor titular dos cursos de graduação, especialização, mestrado e doutorado em direito da PUC-PR; Pesquisador do CNPq. SUMÁRIO: 1. Introdução – 2. O contexto social da reestruturação e reforma do sistema de administração e gestão da justiça – 3. A súmula vinculante e o princípio federativo judicial. – 4. Conclusões – 5. Referências bibliográficas. 1. INTRODUÇÃO. No contexto de crise paradigmática, novos conceitos surgiram ainda como parte integrante do arcabouço da modernidade; entre eles, um dos mais significativos é o de “reforma”. Tanto no sistema social como, particularmente, no sistema do direito, tudo precisa ser reformado: Constituição, códigos, leis, decretos, Poder Judiciário, Administração Pública etc. Isto é, cada segmento de referenciais discursivos precisa de uma nova forma, ou seja, de uma “re- forma”, para tentar adequar-se à complexidade sistêmica contemporânea 1 . Na realidade, “reformar” significa realizar alterações em algo existente como forma de adequá-lo às necessidades demandantes do contexto em que opera. Reformar as formas implica dar nova forma às formas. 1 Sobre esse tema, consultar: DUARTE, Francisco Carlos. Reforma do Judiciário, v. 2. Curitiba: Juruá, 2002.. Reforma Política. Curitiba: Juruá, 2003. Justiça & decisão: teoria da decisão judicial, v.1. Curitiba: Juruá, 2001. Comentários à emenda constitucional 45/2004. Os novos parâmetros do Processo Civil no Direito Brasileiro. Curitiba: Juruá, 2005.

CNJ e Accountability

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Descrição das relações entre o cnj e os mecanismos de accountability

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  • Francisco Carlos Duarte

    Panptica, ano 1, n. 8, maio junho 2007

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    SMULAS VINCULANTES E O FEDERALISMO JUDICIAL.

    Francisco Carlos Duarte

    Ps-doutor em direito pela Universit degli studi di Lecce, Itlia, e pela Universidad de Granada, Espanha; Doutor

    pela UFSC/Universit degli studi di Lecce; Professor titular dos cursos de graduao, especializao, mestrado e

    doutorado em direito da PUC-PR; Pesquisador do CNPq. SUMRIO: 1. Introduo 2. O contexto social da reestruturao e reforma do sistema de administrao e gesto da justia 3. A smula vinculante e o princpio federativo judicial. 4. Concluses 5. Referncias bibliogrficas. 1. INTRODUO.

    No contexto de crise paradigmtica, novos conceitos surgiram ainda como

    parte integrante do arcabouo da modernidade; entre eles, um dos mais

    significativos o de reforma. Tanto no sistema social como, particularmente,

    no sistema do direito, tudo precisa ser reformado: Constituio, cdigos, leis,

    decretos, Poder Judicirio, Administrao Pblica etc. Isto , cada segmento de

    referenciais discursivos precisa de uma nova forma, ou seja, de uma re-

    forma, para tentar adequar-se complexidade sistmica contempornea1.

    Na realidade, reformar significa realizar alteraes em algo existente como

    forma de adequ-lo s necessidades demandantes do contexto em que opera.

    Reformar as formas implica dar nova forma s formas.

    1 Sobre esse tema, consultar: DUARTE, Francisco Carlos. Reforma do Judicirio, v. 2. Curitiba: Juru, 2002.. Reforma Poltica. Curitiba: Juru, 2003. Justia & deciso: teoria da deciso judicial, v.1. Curitiba: Juru, 2001. Comentrios emenda constitucional 45/2004. Os novos parmetros do Processo Civil no Direito Brasileiro. Curitiba: Juru, 2005.

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    A reforma ou nova forma, que nos ocupa atualmente, refere-se aos debates

    atuais da comunidade jurdica que trazem tona duas questes primordiais: a

    necessidade de o Estado assegurar o acesso justia a todos, (entendendo-

    se este acesso no somente o direito de propor uma ao e obter uma deciso,

    mas sim obter uma deciso em um tempo razovel), e a imperiosidade de

    amparar o Poder Judicirio por uma organizao material voltada a propiciar a

    realizao mais efetiva da tutela dos direitos. Esta efetividade correlata aos

    termos celeridade e segurana.

    Posto isso, aps treze anos, a Reforma do Poder Judicirio, introduzida pela

    Emenda n. 45/2004, encontra-se como ncleo central de dvida e esperana a

    toda a comunidade jurdica brasileira. Ante a explcita demanda social sobre o

    tempo processual nos Tribunais, busca-se dar certeza na prestao funcional

    do sistema com a adoo de diversas medidas capazes de garantir o tempo

    razovel processual, entre elas, destaco a adoo do dispositivo da smula

    vinculante.

    A certeza e a segurana na Justia apresentam-se como justificativas

    legitimantes no interior de toda reforma. A globalizao da economia fator

    que no se pode descartar como outro fundamento desta Reforma, j que

    certo que os investidores teriam mais interesse no mercado brasileiro se

    houvesse maior estabilidade da Justia. Nesse contexto, a reforma

    constitucional institui princpios que constituem aspiraes polticas as quais

    podero ter repercusso na realidade jurdica social e econmica. O mau

    funcionamento do Judicirio devastador para a economia, sendo a incerteza

    jurdica um obstculo para a formao de um mercado de crdito de longo

    prazo no Brasil, algo essencial para o crescimento econmico.

    A Justia necessita ser mais veloz, a presso do tempo fez com que diversas

    reformas fossem introduzidas no nosso sistema processual vigente e agora foi,

    a nosso ver, o alicerce das alteraes ora inseridas na Constituio Federal.

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    No entanto, pretende-se interrogar a poltica de reforma do poder judicirio,

    sobretudo a possibilidade de adoo da smula vinculante pelo STF luz do

    princpio do federalismo judicial. Para tanto, sero usados dois discursos: um

    sociolgico, para contextualizar ideologicamente a reforma e outro de carter

    dogmtico, para comentar os limites constitucionais das competncias judiciais

    da Unio. Assim, a hiptese que se parte consiste em saber se a nova

    competncia judicial atribuda ao Supremo Tribunal Federal para formalizar

    smulas vinculantes viola o princpio federativo. Isto porque, essa nova

    competncia judicial da Unio pode interferir na competncia judicial dos

    Estados-membros.

    2. O CONTEXTO SOCIAL DA REESTRUTURAO E REFORMA

    DO SISTEMA DE ADMINISTRAO E GESTO DA JUSTIA.

    Diversas investigaes cientficas identificaram um conjunto de problemas

    concorrentes para a lentido e ineficincia do sistema judicial brasileiro. Dentre

    eles, destaca-se a insuficincia de infra-estruturas judicirias e de recursos

    humanos; o aumento considervel de conflitos jurdicos resultantes da

    evoluo do sistema jurdico; a crescente complexidade dos casos, quer no

    mbito da justia civil, quer no mbito da justia penal; a falta de recursos

    financeiros; a excessiva burocratizao dos procedimentos judiciais; legislao

    processual pouco flexvel; a opacidade judicial; os elevados nveis de

    desperdcios e disfuncionalidades resultantes de uma estrutura burocrtica, etc.

    Desde o comeo da dcada de 90, que o movimento global pela poltica de

    restruturao e reforma do sistema de administrao e gesto da justia tem

    adquirido imensa visibilidade social. Nesse sentido, o Banco Mundial tem

    demonstrado um crescente interesse na poltica de restruturao e reforma dos

    sistemas judiciais dos pases perifricos, como o Brasil. Como reconhece,

    alis, o prprio Pacto de Estado em favor de um judicirio mais rpido e

    republicano, subscrito em 15 de dezembro de 2004, pelos Presidentes da

    Repblica, do Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal e da Cmara dos

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    Deputados: Poucos problemas nacionais possuem tanto consenso no tocante

    aos diagnsticos quanto a questo judiciria. A morosidade dos processos

    judiciais e a baixa eficcia de suas decises retardam o desenvolvimento

    nacional, desestimulam investimentos, propiciam a inadimplncia, geram

    impunidade e solapam a crena dos cidados no regime democrtico2.

    No entanto, paradoxalmente o diagnostico realizado por tal Pacto de Estado

    em favor de um judicirio mais rpido e republicano, no sentido de que a

    reforma viabilizada pela Emenda 45 essencialmente procedimental, uma vez

    que no incluiu a questo nuclear da Justia brasileira: o respeito e a proteo

    aos direitos de propriedade, como fundamento da sociedade civil e elemento

    necessrio ao crescimento econmico e a reduo da pobreza.

    3. A SMULA VINCULANTE E O PRINCPIO FEDERATIVO

    JUDICIAL.

    O art. 2 A Constituio Federal passou a vigorar acrescida dos seguintes arts.

    103-A3, 103-B, 111-A e 130-A.

    A Smula vinculante um dos temas mais controvertidos e debatidos da

    Reforma Constitucional que introduziu a Emenda 45/2004. Aps muitas

    2 Publicado no D.O.U. em 16 de dezembro de 2004, seo I, pg. 8. 3 Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poder, de ofcio ou por provocao, mediante deciso de dois teros dos seus membros, aps reiteradas decises sobre matria constitucional, aprovar smula que, a partir de sua publicao na imprensa oficial, ter efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder Judicirio e administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder sua reviso ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 1 A smula ter por objetivo a validade, a interpretao e a eficcia de normas determinadas, acerca das quais haja controvrsia atual entre rgos judicirios ou entre esses e a administrao pblica que acarrete grave insegurana jurdica e relevante multiplicao de processos sobre questo idntica. 2 Sem prejuzo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovao, reviso ou cancelamento de smula poder ser provocada por aqueles que podem propor a ao direta de inconstitucionalidade. 3 Do ato administrativo ou deciso judicial que contrariar a smula aplicvel ou que indevidamente a aplicar, caber reclamao ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anular o ato administrativo ou cassar a deciso judicial reclamada, e determinar que outra seja proferida com ou sem a aplicao da smula, conforme o caso.

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    opinies favorveis e contrrias4 (o que definitivamente legtimo numa

    democracia participativa), agora norma constitucional: o Supremo Tribunal

    Federal, depois de reiteradas decises sobre matria constitucional5 poder

    aprovar smula com efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder

    Judicirio e administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal,

    estadual e municipal, cuja maior contribuio ser feita para dar efetividade ao

    princpio do direito razovel durao do processo.

    Como disposto, cumpre frisar que a smula vincular tambm Administrao

    Pblica. A partir de agora, a Administrao Pblica direta e indireta, nos trs

    nveis de governo devero obedecer as decises que forem objeto de smula.

    Se o Supremo Tribunal Federal, rgo supremo do Poder Judicirio,

    constitucionalmente competente para interpretar a Constituio Federal, revela

    a interpretao correta de um dispositivo constitucional no seria razovel que

    qualquer outro rgo do Estado brasileiro, seja judicial ou administrativo,

    apresente outra interpretao ou venha decidir em sentido contrrio6.

    O ideal era no haver smula vinculante, porm, com o atual estgio do

    judicirio brasileiro, uma das solues para o STF cumprir sua misso

    constitucional7. A verdade que, contra a utpica corrente de que cada ao

    4 So favorveis smula vinculante: Cndido Rangel Dinamarco, Luis Guilherme Marinoni, Min. Edson Vidigal, Min. Nilson Naves, Min. Francisco Fausto, J.J Calmon de Passos, Teresa Arruda Alvim Wambier, Luis Rodrigues Wambier, Jos Miguel Garcia Medina, Rodolfo de Camargo Mancuso. Com opinio contrria: Lnio Streck, Clito Fornaciali Jr., Min. Marco Aurlio Mello, Luiz Flvio Gomes, Antnio F. lvares da Silva, Silvio Nazareno da Costa e Carmem Lcia Antunes Rocha. PENA, Eduardo Chemale. A reforma do Judicirio: a polmica em torno da colocao das smulas vinculantes e a soluo oferecida pelas smulas impeditivas de recursos. Revista de Processo, So Paulo, ano 30, fev/2005, p. 77/78. 5 Como observa Marco Antonio Botto Muscari: com a responsabilidade do cargo que ocupam e a prudncia que os tem caracterizado, podemos supor que os integrantes do Supremo Tribunal Federal no iro conferir eficcia vinculante a uma primeira deciso de mrito sobre dado tema, aguardando um debate profundo, com a participao de toda a comunidade jurdica. A partir da, quando houver jurisprudncia sedimentada na Corte, ter lugar o efeito vinculante. apud MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergncia Jurisprudencial e Smula vinculante. So Paulo: editora RT, 2002, p. 328. 6 SILVA. Bruno Mattos. A Smula Vinculante para a administrao pblica aprovada pela Reforma do Poder Judicirio. Revista Bonijuris. Curitiba: v. 17, n. 496, maro 2005, p. 14. 7 Calmon de Passos Acredito estejamos caminhando para o processo como instrumento poltico de participao. A democratizao do Estado alou o processo condio de garantia constitucional; a democratizao da sociedade f-lo- instrumento de atuao poltica. No se cuida de retirar do processo sua feio de garantia constitucional, e sim, faz-lo ultrapassar os

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    ou recurso deveria ser julgado isoladamente, atendendo-se para eventuais

    circunstncias particulares de cada caso, encontramos a tormentosa realidade

    do abarrotamento dos tribunais8. Por bvio que a aplicao do efeito vinculante

    no ter o condo de isoladamente, resolver todas dificuldades e carncias que

    comprometem a prestao jurisdicional adequada e tempestiva, mas a eficcia

    vinculante vem a ser considerada como um passo, talvez uma importante

    vitria para solucionar o problema das demandas mltiplas que sobrecarregam

    a estrutura do judicirio9.

    A smula vinculante representa uma necessidade da Justia brasileira nos

    tempos que correm. Como aduz Cndido Rangel Dinamarco10: todos so

    unnimes em proclamar que a justia est abarrotada e lenta, que as lides

    repetitivas muitas vezes recebem tratamentos desiguais e trazem o serssimo

    mal da quebra da equidade, situao que desgasta o Poder Judicirio e

    prejudica o universo de consumidores da justia, mas, paradoxalmente a tudo

    isto, essa mesma coletividade de profissionais crticos do sistema vem

    adotando uma postura de reao inovao agora introduzida.

    importante assinalar, antes de tudo, que a Emenda no suprimiu a

    competncia do Supremo Tribunal Federal para prosseguir editando smulas

    da sua jurisprudncia como sempre fez. A smula vinculante ser uma

    categoria especial da smula para cuja elaborao a Corte continuar livre, e

    agir segundo os dispositivos de seu regimento interno11.

    limites da tutela dos direitos individuais, como hoje conceituados. Cumpre proteger-se o indivduo e as coletividades no s do agir contra legem do Estado e dos particulares, mas de atribuir a ambos o poder de provocar o agir do Estado e dos particulares no sentido de se efetivarem os objetivos politicamente definidos pela comunidade. Despe-se o processo de sua condio de meio para realizao de direitos j formulados e transforma-se ele em instrumento de formulao e realizao dos direitos. Misto de atividade criadora e aplicadora do direito, ao mesmo tempo Democracia, participao e processo. In: Participao e Processo, p. 95. 8 BERMUDES, Srgio. A Reforma do Poder Judicirio pela emenda Constitucional n. 45, p. 115. 9 MANCUSO, Rodolfo. Smula vinculante, p. 718. 10 DINAMARCO, Cndido Rangel. As Smulas Vinculantes, p. 65. 11 BERMUDES, Srgio. A Reforma do Poder Judicirio pela emenda Constitucional n. 45, p. 117.

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    A Smula de que trata o art. 103-A uma proposio, um resumo. No Supremo

    Tribunal Federal, denomina-se smula o conjunto de proposies numeradas

    que resumem a jurisprudncia da Corte sobre diferentes matrias. Cada um

    destes enunciados considerado smula. bvio que a vinculante seguir o

    mesmo padro das smulas anteriormente editadas, se diferenciando das

    normais pela obrigatoriedade de votao de 2/03 dos membros do STF e

    outros requisitos elencados no art. 103-A da Constituio Federal.

    Com relao s atuais smulas do Supremo Tribunal Federal, cumpre

    esclarecer que o art. 8 da Emenda Constitucional n. 45/2004 prescreve: As

    atuais smulas do Supremo Tribunal Federal somente produziro efeito

    vinculante aps sua confirmao por dois teros de seus integrantes e

    publicao na imprensa oficial. As smulas j editadas, que no possuem o

    efeito vinculante, se aprovadas por oito dos onze ministros do STF e

    publicadas, tero a eficcia vinculante. Destarte, nada impede que o Supremo

    Tribunal Federal transforme em vinculantes as smulas da sua jurisprudncia

    sobre matria constitucional j publicada12.

    A utilidade maior que se pode alcanar com a adoo da smula vinculante a

    da realizao do binmio justia/certeza, o qual constitui fundamento do prprio

    Direito e finalidade da atividade judiciria do Estado13. Como assinala Rodolfo

    Mancuso, se no foi para eliminar a incerteza, e se no houver uma razovel

    previsibilidade no julgamento, a partir dos parmetros que o prprio Direito

    oferece, ento no se compreende a existncia do to vasto ordenamento

    jurdico, nem tampouco se justifica a manuteno do dispendioso organismo

    12 BERMUDES, Srgio. A Reforma do Poder Judicirio pela emenda Constitucional n. 45, p. 120. 13 A pacificao social , indiscutivelmente, o objetivo principal da cincia do Direito, que, atravs de suas normas substantivas e adjetivas, regula a conduta do indivduo, enquanto membro de uma sociedade organizada, prevenindo a instaurao de conflitos de interesses e, obviamente, tutelando aqueles interesses conformes e harmnicos ao ordenamento jurdico vigente. A morosidade na prestao jurisdicional e o prprio surgimento de novas e importantssimas categorias de direito geraram novas necessidades que no podem ser desprezadas e ignoradas pelos operadores do Direito, reclamando, por este vis, a criao, pela sociedade, de novos instrumentos processuais capazes de satisfazer seus anseios e esta a funo agora da smula vinculante.

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    judicirio do Estado.14 Ademais, poderia se afirmar que esse binmio

    justia/ certeza que imprime legitimidade funo do Poder Judicirio15.

    Observando algumas pesquisas, possvel notar que em 1998, o STF recebeu

    18.000 processos; em 2000, 105.000 processos e, em 2002, cerca de 160.000

    processos. No ano de 2003, cada Ministro do STF, em mdia, chegou a julgar

    9.000 processos. E, aqui, devemos concordar que um absurdo imaginar que

    um ser humano, sozinho, consiga vencer a falibilidade e julgar tudo isso16.

    Interessante o depoimento de Jos Augusto Delgado, ex-Ministro do STJ:

    Outrora, talvez influenciado pelo ardor da mocidade e ainda querendo vibrar

    com as tertlias acadmicas, cheguei a brigar muito contra a smula

    vinculante. Mas quando, comecei a viver com 4.000 processos recebidos, por

    ms, no STJ; 4.000 processos recebidos por ano, no TRF, eu mudei

    completamente de opinio. Os fatos esto a demonstrar, de modo inequvoco,

    que mais de 80% das questes apresentadas ao foro, e resistidas pela

    Administrao Pblica, so decises maturadas e meditadas. Observa-se que

    a resistncia adotada pela Administrao Pblica, tem sentido nico de

    procrastinar a soluo do feito, ou melhor, resolver problema de caixa, criando

    apenas entraves entrega da boa prestao qual o cidado tem direito.17

    Se fizssemos uma pesquisa com os juzes sobre a questo da smula

    vinculante, temos certeza que a maioria destes se posicionam favoravelmente

    a adoo do efeito vinculante, pois so eles que se deparam com milhares de

    processos idnticos e possuem o dever de argumentar exaustivamente em

    14 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergncia Jurisprudencial e Smula vinculante. So Paulo: editora RT, 2002, p. 351. 15 DALLARI, Dalmo. O poder dos juzes. So Paulo: Saraiva, 1996, p. 63-64. Em posio contrria smula vinculante: Esse argumento contm uma distoro grave, pois demonstra que se pretende suprir com fora a falta de autoridade. De fato, obrigar Juzes e tribunais a decidirem acolhendo plena e automaticamente as decises do Supremo Tribunal, mesmo quando estiverem convencidos que estas decises forem erradas e injustas, negar a prpria razo de ser do Poder Judicirio. 16 PDUA CERQUEIRA Thales Tcito Pontes Luz de. A Reforma do Judicirio e a Caixa de Pandora parte II. Jornal Sntese n 95 - Jan/2005, p. 3. 17 DELGADO, Jos Augusto. A smula vinculante e a Administrao Pblica. Boletim de Direito Administrativo, no. 6, junho 1998, p. 357.

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    toda a motivao destes feitos iguais. Seria muito mais proveitoso se estes

    juzes pudessem se concentrar mais sobre processos no homogneos que

    clamam por uma justia adequada, especial e clere.

    Com a sua aplicao, os magistrados de primeiro grau sero beneficiados, j

    que os feitos mais repetitivos sequer sero objeto de anlise, sob pena de

    haver extino do processo por impossibilidade jurdica do pedido quando este

    for contrrio ao entendimento sumulado18. Poderamos citar como exemplo, a

    seguinte situao: se uma smula estabelea que descabe a repetio de

    indbito de um certo tributo. Isso influenciar na conduta dos contribuintes cuja

    situao fiscal ali se enquadra, os quais, conseqentemente ficaro

    desestimulados a ajuizar aes, porque suas pretenses teriam desde logo

    contra si o enunciado da smula.

    Importa considerar tambm que a smula com efeito vinculante no tem

    somente o objetivo de desafogar os tribunais superiores. Como todos sabem, o

    mau congestionamento judicirio no reside exclusivamente no Supremo

    Tribunal de Federal e Superior Tribunal de Justia. Existem atualmente cerca

    de 2.500.000 processos pendentes nas diversas instncias da nossa justia19.

    Convm deixar claro que as smulas sempre existiram em nosso pas e eram

    tidas somente como fontes secundrias do Direito. Tem-se que a Emenda

    Constitucional criou no a smula, mas trouxe a possibilidade delas se

    revestirem de carter vinculante, a partir do voto de 2/3 dos membros do

    Supremo Tribunal Federal, impondo seu atendimento aos demais rgos do

    Poder Judicirio e Administrao Pblica direta e indireta nas esferas federal,

    estadual e municipal.

    18LAMY, Eduardo de Avelar. Smula Vinculante: um desafio. Revista de Processo, So Paulo, ano 30, fev/2005, p. 129. 19 DINAMARCO, Cndido Rangel. Smulas Vinculantes, p. 52.

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    O que ocorre, que h uma mudana no paradigma do direito brasileiro, que

    agora no ter mais a lei como nica fonte primria do direito20, mas tambm a

    Smula; o direito no vai ser mais s o que estiver descrito na lei, vai ser

    igualmente, aquilo que os Tribunais afirmarem21. Desta forma, a alterao da

    forma procedimental de ativao das smulas vinculantes significa tambm a

    mudana de uma das formas de produo do Direito, e, portanto, implica uma

    transformao na funcionalidade estrutural do sistema22.

    Com o mecanismo da smula em anlise, o modelo de Estado de direito

    brasileiro ser sui generis, pois ningum ser obrigado a fazer ou deixar de

    fazer alguma coisa seno em virtude da lei ou de smula vinculante.

    Parece-nos, ento, que a jurisprudncia sumulada ter importncia tal qual a

    lei, assim como afirma Eduardo de Avelar Lamy23. O autor afirma que com isso

    no suprime o princpio da legalidade, uma vez que o direito no constitudo

    pela lei; sendo que a doutrina e a jurisprudncia tambm constituem fontes que

    necessitam ser respeitadas.

    Niklas Luhmann24, relata que no podemos negar o fato de que os programas

    (normas) do sistema jurdico no podem determinar completamente as

    decises dos tribunais. Os Tribunais devem, queiram ou no e independente

    da existncia ou no existncia de uma motivao em termos e poltica jurdica,

    20 A fonte formal principal do Direito nos pases como o nosso, filiados vertente romanstica a lei. A Lei a principal fonte formal do Direito. Ou, como se costuma dizer, uma forma de expresso do Direito, porque , atravs dela, que a sociedade politicamente organizada prescreve e revela as normas de conduta a serem observadas por todos. Para muitos, a jurisprudncia no era e nem pode ser considerada fonte, visto que ato no emanado do poder legislativo, e tem como fundamento a regra legal e no a deciso judiciria em si mesma, sendo que a consulta jurisprudncia constitui elemento informativo que mantm a norma atualizada. 21 O conceito de jurisprudncia - h que se reservar esse termo para significar, basicamente, uma sucesso de acrdos consonantes, sobre um mesmo tema, prolatados em modo reiterado e constante, por rgo jurisdicional colegiado, num mesmo foro ou Justia. 22 Independentemente da postura com que se compreendam as fontes do Direito, o certo que no atual estgio da complexidade social no se pode negar a capacidade dos tribunais na alocao de decises necessrias que vo alm da hermenutica literal do referente legislado. 23 LAMY, Eduardo de Avelar. Smula Vinculante: um desafio. Revista de Processo, So Paulo, ano 30, fev/2005, p. 122. 24 LUHMANN, Niklas. A posio dos Tribunais no sistema jurdico. Revista Bonijuris.

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    interpretar, construir e se for o caso, distinguir os casos para que possam

    formular novas regras de deciso e test-las quanto a sua consistncia frente

    ao direito vigente.

    Cumpre observar que no mbito da Justia trabalhista, o Poder Judicirio j

    exercia poder normativo, e no entanto, esta atividade no era alvo de tantas

    crticas e debates como agora sucede com a adoo de smulas vinculantes25.

    Deste modo, mesmo antes que se cogitasse o advento da smula vinculante, j

    era possvel notar que, na prtica estas j operavam em modo impositivo, isso

    por vrias razes como explica Rodolfo Mancuso: a) pela lgica do sistema,

    no faria sentido a extrao de um enunciado de uma Corte Superior se no

    fosse servir como um guia, como uma segura diretriz para as demais

    instncias; b) a smula apresenta, uma estrutura semelhante da norma legal

    (enunciado abstrato, genrico e impessoal), no dispensando assim, o labor

    interpretativo para a subseqente subsuno aos casos concretos; c) o

    reconhecimento da obrigatoriedade da smula no atrita com o princpio da

    reserva legal, j que, em ltima anlise, na Constituio, nas leis e nos

    regimento internos que vm previstos e disciplinados os Tribunais, sendo as

    smulas o produto final potencializado, de sua atividade precpua, de dizer o

    direito26.

    Constituindo o Supremo Tribunal Federal a maior autoridade da justia

    brasileira e sendo suas decises, conseqentemente irreformveis por outro

    Tribunal, no h como achar adequado que juzes de primeiro grau e de outros

    Tribunais julgarem ao contrrio das proposies constantes na smula, mesmo

    quando esta no possua ainda o carter vinculante. Em face da autoriedade

    que a Constituio outorga ao Supremo Tribunal Federal no dar fora de lei

    25 WAMBIER, Luiz Rodrigues, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, MEDINA, Jos Miguel Garcia. Breves Comentrios Nova Sistemtica Processual Civil: emenda constitucional 45/2004; Lei 10.444/2002, Lei 10.358/2001 e Lei 10.352/2001. 3 ed. atual e amp. So Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 108. 26 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergncia Jurisprudencial e Smula vinculante. So Paulo: editora RT, 2002, p. 333.

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    Panptica, ano 1, n. 8, maio junho 2007

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    jurisprudncia dominante firmada em smula seria afrontar a sua soberania,

    reconhecer a imperfeio do Poder Judicirio e impedir a certeza jurdica.

    Nesta esteira de pensamento, Christiane Boulos observa que a possibilidade

    de proferir decises em sentido diverso do fixado pelas smulas, com base no

    em diferenas de fato, mas de direito, o mesmo que esvaziar a finalidade da

    previso de efeito vinculante das smulas, pois estas existem justamente para

    pr fim a dvidas quanto interpretao de uma norma27.

    Antes da adoo da smula vinculante, a questo em decidir

    desfavoravelmente ao expresso na smula nos trazia um grande problema,

    pois aquele que restava vencido na deciso, que foi contrria ao sumulado, era

    obrigado a interpor recursos, percorrendo um caminho difcil e demorado para

    depois de anos, chegar ao Supremo Tribunal Federal, a fim de obter a reforma

    daquela deciso.

    Por isto, Luiz Guilherme Marinoni brilhantemente assevera: Se o Juiz de

    primeiro grau diverge de entendimento contido em smula do Tribunal, a parte

    que sustenta a tese consagrada na smula obrigada a recorrer. No caso de

    demandas mltiplas, isto pode significar milhares de recursos. O que significa,

    entretanto, milhares de recursos? Significa, antes de mais nada, retardo na

    prestao jurisdicional e, portanto, prejuzo parte que tem razo. Significa,

    ainda, mais custos e, tambm, um acmulo intolervel de processos em

    segundo grau de jurisdio. Ora, bvio que a interposio exagerada de

    recursos resulta na lentido do servio jurisdicional e, portanto, aprofunda a

    crise do Poder Judicirio, que tem o grave compromisso de atender ao Direito

    constitucional de todo cidado a uma resposta jurisdicional tempestivo.28

    27 BOULOS, Christiane. A fora vinculante da jurisprudncia e o papel do juiz no direito brasileiro. Revista dos Anais do I Congresso de Iniciao Cientfica, vol. I, USP/Fapesp, 1996, p. 304. 28 MARINONI, Luiz Guilherme apud MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergncia Jurisprudencial e Smula Vinculante. So Paulo, RT, p. 335.

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    A smula com efeito vinculante torna efetiva a finalidade institucional dos

    tribunais superiores, que a de tutelar a unidade e a autoridade da lei federal,

    alm de dar maior coerncia s decises judiciais, celeridade ao processo, eis

    que evitaria a interposio e o julgamento de inmeros recursos repetitivos, de

    ndole eminentemente protelatria. Como acentuou o Ministro Seplveda

    Pertence, ao participar do Congresso Brasileiro de Advogados de Empresas de

    Consrcio, em junho de 1998, o problema do efeito vinculante no pode ser

    tratado como uma guerra de vaidades de juzes de uma instncia contra juzes

    de outra; uma disputa de orgulho intelectual, mas como um problema de

    Justia como servio pblico e como problema de isonomia. Por conseguinte,

    esquecidos os melindres intelectuais, a uniformizao da jurisprudncia,

    revestida de eficcia normativa, exercer, sem dvida, com toda eficincia, o

    grande papel que o magistrio jurisprudencial desempenha, de esclarecedor

    das leis, com a vantagem de diminuir os litgios, reduzindo ao mnimo os

    inconvenientes da incerteza do Direito, porque de antemo faz saber qual ser

    o resultado da controvrsia, garantia que no tem hoje os litigantes, mesmo

    quando apoiada a res in judicium deducta na firme e pacfica orientao do

    prprio STF, rgo da mais alta hierarquia do Judicirio brasileiro.

    Agora, os Ministros do Supremo Tribunal Federal passam a dispor do poder de

    colocar um ponto final nos litgios polmicos atuais e nas discordncias

    estabelecidas entre rgos do Poder Judicirio e da Administrao Pblica,

    dissensos capazes de causar grave insegurana jurdica e relevante

    multiplicao de aes com o mesmo objeto.

    Isto posto, passo a analisar a compatibilidade do dispositivo da smula

    vinculante com o princpio do federalismo judicial. Indagar a convenincia de

    alterar uma Constituio produz restries de diferentes ordens.

    Primeiramente, porque mudar a forma dos preceitos constitucionais significa

    inserir-se no interesse maior da sociedade.

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    Doutra sorte, h que se observar que qualquer alterao na ordem

    constitucional, seja ampla (reviso) ou especifica (emenda) requer a

    observncia de princpios e pressupostos que esto adstritos ao ordenamento

    jurdico. Desta forma, pode-se afirmar que uma das dificuldades a serem

    superadas na poltica de reestruturao e reforma do sistema de administrao

    e gesto da justia, esto atreladas ao federalismo judicial.

    Com efeito, uma das caractersticas, seno a principal, de um Estado federal

    a competncia judicial dos estados federados que o compem. Nesse ponto, o

    princpio federativo judicial se equilibra entre dois interesses. Por um lado a

    competncia judicial dos Estados da federao. A questo se torna mais

    complicada, quando se sabe que o princpio federativo clusula ptrea em

    nossa Constituio.

    A nossa Carta Magna preceitua limitaes, formais e materiais, expressas e

    implcitas, competncia que o Congresso Nacional possui para emendar a

    constituio ressalve-se que uma reforma no sistema judicial brasileiro s

    efetiva-se mediante emenda constitucional so as chamadas clusulas

    ptreas, consagradas no pargrafo 4 do artigo 60 da Constituio. Tais

    clusulas consignam o ncleo irreformvel da Carta, e integram seu contedo:

    (a) a forma federativa de Estado: (b) o voto secreto, direto, universal e

    peridico; (c) a separao dos poderes e (d) os direitos e garantias individuais.

    Para uma emenda ser considerada violadora da clusula ptrea no precisa

    abolir a Federao e instituir o estado unitrio. Uma emenda que interfira na

    competncia judicial dos estados federados tambm viola a Constituio.

    Nesse sentido, uma poltica de reforma que restrinja sensivelmente a

    competncia judicial de um dos entes da Federao, tambm

    inconstitucional, pois retira da unidade federada a possibilidade de estabelecer

    uma poltica judicial condizente com os seus objetivos polticos.

  • Francisco Carlos Duarte

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    Dessa forma, o entendimento predominante na doutrina e da jurisprudncia do

    STF o de que a Emenda Constitucional n 45/2004, para a reforma do atual

    sistema de administrao e gesto da justia, quando cria o dispositivo smula

    vinculante ou o Conselho Nacional da Justia, por si s, no viola o princpio

    federativo judicial por supostamente retirar dos Estados federados boa parte de

    sua autonomia judicial. Com efeito, na ADIN promovida pela AMB o STF

    sufragou a tese de que a Emenda Constitucional no violaria o Pacto

    Federativo, ao submeter o poder Judicirio nos estados superviso

    administrativa e disciplinar do Conselho Nacional de Justia. que, para o

    ministro Cezar Peluso, tanto o Conselho, quanto a Justia nos estados

    integram um mesmo poder - o Judicirio - e que o conselho concebido e

    estruturado como um rgo do Poder Judicirio nacional e no da Unio. Para

    o relator o conselho no anula, mas reafirma o princpio federativo.

    No entanto, qualquer deciso judicial que concretamente invada a competncia

    judicial dos estados federados ser passvel de ser qualificada de

    inconstitucional e passvel, portanto, de reclamao, nos termos da lei.

    4. CONCLUSES.

    luz de todo o exposto, conclui-se que necessrio respeitar o princpio do

    federalismo judicial, segundo o qual o Supremo Tribunal Federal, atravs do

    seu poder de editar smulas vinculantes, no deve invadir as competncias

    judiciais que podem ser adequadamente desempenhadas pelos estados

    federados.

    Na poltica de reestruturao e reforma do sistema de administrao e gesto

    da justia, embora o pacto federativo fique debilitado, mxime atravs do

    excesso de concentrao da competncia judicial da Unio, a adoo do

    dispositivo da smula vinculante, por si s, no viola o princpio federativo

    judicial. Isto porque, na hiptese de determinada smula vinculante

    concretamente invadir a competnciajudicial do Estado-federado, ela poder

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    ser cancelada, nos termos da lei que regulamentar o art. 103- A da

    Constituio da Repblica.

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.

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    Informao Bibliogrfica: DUARTE, Francisco Carlos. Smulas vinculantes e o federalismo judicial. Panptica, Vitria, ano 1, n. 8, maio junho, 2007, p. 385-406. Disponvel em: . Bibliographical Information: DUARTE, Francisco Carlos. Smulas vinculantes e o federalismo judicial. Panptica, Vitria, year 1, nr. 8, May June, 2007, p. 385-406. Available in: .

    SUMRIO: 1. Introduo 2. O contexto social da reestruturao e reforma do sistema de administrao e gesto da justia 3. A smula vinculante e o princpio federativo judicial. 4. Concluses 5. Referncias bibliogrficas.