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Capítulo 11: Cobertura jornalística sobre drogas: distorções e potencialidades na
prevenção
Ana Regina Noto, Emérita Sátiro Opaleye, Danilo Polverini Locatelli e Telmo Mota
Ronzani
Ao discutir o tema álcool e outras drogas, é importante considerar que, além dos
efeitos no Sistema Nervoso Central, os aspectos socioculturais apresentam grande
importância. Muitas substâncias que em algum momento da história foram utilizadas
em rituais e livres para consumo, em outros tempos ou culturas passaram a ser
consideradas proibidas (MacRae, 2010). Portanto, a percepção social relacionada ao
tema drogas também pode influenciar as ações de prevenção e tratamento, bem como
trazer consequências aos usuários.
Nesse sentido, a nossa percepção individual sobre “drogas” é influenciada pela
forma como o contexto social, do qual fazemos parte, discute e apresenta o tema. O
contexto, assim, passa a ser fonte de informação e formação de crenças e atitudes sobre
determinado assunto. Nas sociedades modernas, a mídia de massa tem se tornado cada
vez mais fonte de influência de percepção social, podendo ser, portanto, uma ferramenta
útil para ações de prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Porém, também pode
representar fonte de banalização, incentivo ou distorção de aspectos relacionados ao
tema drogas (Andrews, McLeese, & Curran, 1995; Ramos, 2003; Thompson, 1995).
Acontecimentos relacionados ao consumo e comércio de drogas ocupam considerável
espaço de jornais e revistas do país. Várias são as matérias que envolvem assuntos como
apreensões de drogas ilegais, poder do tráfico, questionamentos a respeito da
descriminalização e potencial terapêutico da maconha, acidentes que envolvem
motoristas embriagados, restrições do fumar em ambientes públicos e, mais
recentemente, a chamada “epidemia do crack”. Tais temas levantam questões polêmicas
e, algumas vezes, contraditórias. Por exemplo, violência e acidentes associados à
embriaguez podem, nas mesmas edições, coexistir com sofisticadas propagandas de
bebidas alcoólicas.
Os meios de comunicação influenciam consideravelmente políticas e opinião
pública. No entanto, algumas pesquisas levantam questionamentos acerca do conteúdo
divulgado sobre drogas no país (ANDI, 2005; Noto, Pinsky, & Mastroianni Fde, 2006;
Ronzani et al., 2009). O jornalismo, por definição, deveria investigar, informar,
propiciar reflexão e, dessa forma, ser um grande aliado das ações públicas. Porém, de
acordo com pesquisa realizada por Mastroianni (2006), os próprios jornalistas admitem
frequentes distorções de informações e explicam que isso tende a ocorrer em função do
ritmo acelerado na produção de matérias e a concorrência entre os veículos
(Mastroianni, 2006).
Apesar dos vieses, muitos jornais e revistas tradicionais são considerados
referenciais da verdade no Brasil. Não é raro observar inadequadas citações de matérias
jornalísticas como referências bibliográficas fidedignas, inclusive em teses ou trabalhos
de conclusão de cursos. Isso reflete a considerável influência social dos meios de
comunicação, inclusive em contextos acadêmicos.
Para a saúde pública e, consequentemente, para ações preventivas, essa
influência merece atenção especial. É necessário conhecer como e em qual sentido essa
influência acontece, para tentar minimizar o impacto de crenças e valores enviesados
decorrentes de distorções jornalísticas (Ramos, 2003; Thompson, 1995). Por outro lado,
também é válido conhecer as potencialidades da mídia, a qual pode ser uma grande
aliada das ações preventivas. Na medida em que os profissionais de saúde saibam como
interagir com a imprensa, pode ser criada uma relação favorável à promoção de saúde
(Ronzani et al., 2009).
Este capítulo tem por objetivo apresentar discussão crítica acerca da cobertura
jornalística sobre drogas, no sentido de ampliar a visão de profissionais frente ao tema,
despertar questionamentos e fornecer subsídios para um planejamento de ações de
saúde.
O jornalismo e a agenda pública sobre drogas: inversões de prioridades
De acordo com a Teoria de Agenda-setting, a agenda pública sofre forte influência dos
temas destacados pela imprensa. A partir da frequência e destaque dado a determinados
assuntos, a imprensa acaba selecionando os conteúdos a serem considerados
importantes pela sociedade. A prioridade atribuída a determinados temas influencia a
opinião pública que, por sua vez, cobra ações governamentais, dentro de um processo de
interação entre imprensa, sociedade e governo (Scheufele, 2000). Se, por alguma razão,
a imprensa caminha em descompasso com a epidemiologia, tendem a ocorrer inversões
de prioridades. Nesse aspecto chama também atenção, a forma como as evidências
científicas são transformadas e veiculadas na mídia leiga, algumas vezes podendo
distorcer ou supervalorizar de forma descontextualizada resultados de pesquisa, se
transformando muitas vezes como fonte de evidência secundária e definindo prioridades
de ação e políticas públicas que empiricamente não se sustentam.
Uma questão de grande dimensão do ponto de vista epidemiológico, como a
violência associada ao álcool, pode ser ofuscada por outra que, embora muito
impactante, apresenta menor dimensão epidemiológica, como a violência associada ao
crack. Esses descompassos podem refletir em distorções na agenda das políticas de
saúde.
Estudos epidemiológicos apontam o álcool como tema prioritário de saúde. Um
estudo domiciliar, realizado nas maiores cidades brasileiras, sugerem que cerca de 12%
da população, entre 12 e 65 anos, preenche critérios diagnósticos para dependência do
álcool (Carlini, Galduroz, Noto, Fonseca, & Carlini, 2007). Cerca de metade dos casos
de homicídio e violência familiar envolvem agressores embriagados (Fonseca,
Galduróz, Tondowski, & Noto, 2009). Uma parcela significativa de acidentes de
trânsito e de trabalho também está associada ao consumo indevido de álcool. No
entanto, a frequência de matérias jornalísticas publicadas sobre álcool no país, apesar de
crescente, ainda tende a ser menor do que o observado para drogas ilegais, como
maconha, cocaína e crack (Mastroianni, 2006; Noto et al., 2006; Ronzani et al., 2009).
Em relação ao tabaco, foi observado crescimento da proporção de matérias
jornalísticas nas duas últimas décadas, mas com abordagem predominantemente factual
(Lacerda, Mastroianni Fde, & Noto, 2010). Outro exemplo envolve os inalantes, como
lança-perfume e cola de sapateiro, os quais raramente geram notícias, apesar de
representar um dos grupos de drogas mais usados por adolescentes. O mesmo acontece
com medicamentos psicotrópicos, como ansiolíticos e anfetaminas, cujo conhecimento
da população sobre os danos é influenciado pela lisura de uma prescrição médica e a
garantia de um laboratório farmacêutico (Johnston, 2009). Diante da falta de
informações, essas drogas passam invisíveis diante da opinião pública, deixando espaço
para situações de risco e de uso indevido.
Para as drogas ilegais, ao contrário, a mídia tende ao exagero. São freqüentes as
manchetes sensacionalistas e uso de termos pejorativos como viciados, drogados e
maconheiros, permeados de sérios equívocos de informação. Nos últimos anos, foram
crescentes as matérias sobre casos de violência associados ao crack e cocaína, com
manchetes como “Menor mata a avó com 70 facadas após usar cocaína/crack” (Folha
de São Paulo). Porém, um estudo epidemiológico domiciliar, realizado em São Paulo,
identificou que os casos de violência física associados aos derivados de cocaína são
cerca de cinco vezes superados pelos casos associados ao álcool, os quais são bem
menos divulgados na imprensa (Noto et al., 2006).
Fenômeno similar foi anteriormente descrito em outros países. Hartman &
Golub (1999) analisando matérias da década de 90, perceberam que a imprensa
americana criou um pânico em relação a uma possível epidemia de crack. Os autores
consideraram que essa visão equivocada do “problema” teria sido construída pelos
meios de comunicação e, provavelmente ajudou a desviar a atenção da população de
problemas estruturais persistentes, como desemprego, condições de saúde geral, entre
outras (Hartman & Golub, 1999).
Além disso, as matérias sobre drogas ilegais tendem a ressaltar a repressão como
uma das principais formas de intervenção. São raras as matérias que, por exemplo,
orientam de forma equilibrada sobre a possibilidade de tratamento e recuperação
(Ronzani et al., 2009). Tais distorções serão discutidas mais adiante neste capítulo.
Temas polêmicos e a mobilização social
Como apresentado anteriormente, o jornalismo também participa da formação de
conceitos, atitudes e mobilização social. Nesse sentido, a imprensa pode influenciar
consideravelmente na aceitação, ou rejeição, de questões políticas (Holder & Treno,
1997; Yanovitzky, 2002). Casos como a internação involuntária de pacientes
dependentes, a ação governamental na cracolândia de São Paulo e as restrições de fumar
em ambiente fechado são alguns exemplos de polêmicas recentes que, de alguma forma,
sofrem influência da imprensa.
Em relação ao tabaco, pesquisas internacionais indicam que a imprensa pode ter
favorecido políticas de controle, observadas em vários países. Na Austrália, um estudo
com matérias jornalísticas concluiu que a imprensa local foi favorável ao controle do
tabaco e isso pode ter contribuído para a adoção de políticas no país (Durrant,
Wakefield, McLeod, Clegg-Smith, & Chapman, 2003). Nos Estados Unidos, Clegg
Smith e colaboradores (2006) também notaram ênfase em políticas do controle do uso
de tabaco no país (Clegg Smith, Wakefield, & Edsall, 2006).
No Brasil, Lacerda e colaboradores (2010) analisaram matérias, sobre tabaco,
divulgadas em oito dos principais jornais e revistas do país, nos anos de 2000, 2003 e
2006. As principais categorias observadas em manchetes e lides foram: políticas de
controle, movimentos antitabagistas e divulgação de pesquisas. O ano 2000 foi o que
apresentou a maior frequência de matérias. Segundo os autores, esse fenômeno pode ser
explicado pela promulgação da Lei nº 10.167 no ano de 2000, que proibiu propagandas
relacionadas ao tabaco, estimulando o debate político sobre ações antitabagistas naquele
ano (Lacerda et al., 2010). Nos anos subsequentes, Galduróz e colaboradores (2007)
publicaram um artigo relacionando a mudança na legislação com uma redução da
prevalência do consumo de tabaco entre estudantes (Galduroz, Fonseca, Noto, &
Carlini, 2007). De acordo com a teoria de Agenda-setting, todos esses fenômenos
estariam interligados, ou seja, política, imprensa, opinião pública e comportamento de
consumo de drogas.
Em relação ao álcool, nas últimas décadas, a imprensa também parece ter
favorecido ações governamentais para questões específicas, em diferentes países. Em
análise de editoriais de seis jornais finlandeses, entre 1993 e 2000, foram observadas
mudanças no discurso jornalístico que acompanharam transformações políticas e da
opinião pública do país (Torronen, 2003). De acordo com Yanovitzky (2002), a
cobertura da imprensa sobre os acidentes de trânsito associados à embriaguez também
podem contribuir indiretamente para a redução do comportamento de beber e dirigir.
Segundo o autor, isso ocorre provavelmente devido ao fato de que a mídia atrai a
atenção de instituições e promove um ambiente de mudanças na sociedade (Yanovitzky,
2002).
No Brasil, Noto e colaboradores (2006), observaram aumento da frequência de
matérias jornalísticas sobre bebidas alcoólicas nos anos de 2000, 2003 e 2006. O maior
aumento foi observado para os conteúdos relacionados a acidentes de trânsito, indicando
crescente cobertura sobre o tema (Noto et al., 2006). Nos anos subsequentes, foi
aprovada a Política Nacional específica para bebidas alcoólicas (2007) e, em 2008, foi
estabelecida maior restrição legal sobre o beber e dirigir (popularmente conhecida como
“Lei Seca” no trânsito). De acordo com a teoria de Agenda Setting, os avanços políticos
estariam relacionados ao crescente estímulo da mídia observado nos anos anteriores.
Mídia e preconceito: obstáculo para a promoção de saúde
A imprensa também representa um dos elementos que refletem e reforçam um conjunto
de crenças e valores negativos sobre o uso de drogas, estimulando o estigma social e
dificultando algumas ações de saúde. A ANDI (Agência Nacional dos Direitos da
Infância) conduziu análise de textos jornalísticos sobre drogas, entre 2002 e 2003. Foi
observado que 28% dos textos associaram o tema drogas com algum tipo de violência
ou crime. Para os autores, esse tipo de matéria ajuda a construir um estereótipo do
usuário ligando diretamente a essas práticas (ANDI, 2005). Essa visão estimula o medo
e dificulta o estabelecimento de relação de cuidado entre profissionais de saúde e
pacientes dependentes.
Da mesma forma, as matérias jornalísticas tendem a ser inespecíficas quanto aos
padrões de consumo de substâncias, generalizando conceitos e contribuindo para a
desinformação da sociedade sobre a diversidade do uso de drogas. No estudo realizado
pela ANDI (2005), os principais termos encontrados em matérias sobre drogas
apontavam o usuário como bêbado, dependente, viciado e drogado, colocando em um
mesmo patamar usuários esporádicos e dependentes.
Vale ressaltar que a grande maioria de usuários de drogas não são dependentes e
o desenvolvimento de problemas relativos ao uso de drogas se dá por meio de uma
complexa interação de diversos fatores biológicos, psicológicos e sociais, sendo errôneo
supor que o dependente é único responsável sobre sua condição. Essa tendência em não
abrir espaço para discussão multidisciplinar destaca o dependente ou a própria droga
como “bode expiatório” de um fenômeno que envolve questões estruturais da sociedade,
que muitas vezes não são comodamente tratadas, mas que estão diretamente implicadas
no desenvolvimento da dependência, como por exemplo, o crescimento da desigualdade
social.
De acordo com o estudo de Noto e colaboradores (2003), embora os jornalistas
escrevam matérias aparentemente isentas, a tendenciosidade pode ser observada nas
entrelinhas (Noto et al., 2003). Os autores ressaltam que, no estudo em questão, o
estigma foi ainda mais evidente em artigos jornalísticos produzidos por outros
profissionais e/ou especialistas (advogados, médicos, delegados, entre outros). Alguns
exemplos de expressões tendenciosas foram: “Trata-se de um abismo...”, “O uso de
drogas...é um bom exemplo do horror...” e “o flagelo da droga”. O tom emocional
tende a ser mais explícito em textos escritos por outros profissionais, provavelmente,
em função da maior liberdade de expressão da opinião pessoal. Esse cenário denuncia a
falta de conhecimento e preparo desses profissionais e, por outro lado, salienta a
necessidade da desconstrução do estigma social, especialmente entre profissionais que
pretendem trabalhar com o tema.
Como pensam os jornalistas?
Em estudo realizado por Mastroianni (2006), profissionais ligados à área do jornalismo
foram entrevistados sobre a sua visão frente à cobertura jornalística sobre o tema
“drogas”. A maioria dos jornalistas afirmou que a inclusão do tema “drogas” nas pautas
dos jornais e revistas é predominantemente associada a questões de criminalidade e
violência. Segundo os jornalistas entrevistados, o tema se torna importante por ser uma
questão social potencialmente presente no cotidiano dos leitores, ou seja, daqueles que
compram os veículos de informação. Também em relação à vendagem, alguns
jornalistas afirmaram ser freqüente a alteração de manchetes, para que se tornem mais
atrativas e, com isso, aumentem as vendas dos jornais e revistas.
Sobre o predomínio de matérias relacionadas ao tráfico de drogas, todos os jornalistas
entrevistados concordaram que o modelo de repressão tende a ser o preferido, sendo
este reflexo da opinião pública e do que as políticas públicas priorizam. No entanto,
alguns profissionais consideraram que a prática jornalística também reforça o
pensamento repressivo dominante.
Sobre o impacto de suas matérias para os leitores, alguns jornalistas entrevistados por
Mastroianni (2006) afirmaram que as informações apresentadas tendem a gerar uma
visão mais positiva sobre o tema, mantendo o leitor informado, enquanto parte acredita
que as matérias apenas reforçam o que o leitor pensa. Contudo, para a maioria, as
matérias tendem a levar uma sensação de medo e insegurança. Para os profissionais
ligados aos cadernos policiais, com as informações apresentadas, existe a tendência de
se pensar que o tráfico de drogas está cada vez pior. Entre as principais dificuldades
para se escrever uma matéria sobre o tema “drogas”, estaria o volume de matérias, a
falta de profissionais nas redações e falta de tempo para realizá-las de modo a se
conseguir informações com especialistas na área.
A maioria dos profissionais entrevistados possuía uma visão negativa da cobertura
praticada, destacando sua superficialidade, pouca contextualização, pouca discussão e
exagero no viés policial do tema. Em contraposição à prática comum, os jornalistas
indicaram diversas formas para se melhorar a cobertura. A solução mais apontada foi a
necessidade de um contato maior com os especialistas, acadêmicos, universidades e
centros de pesquisa. Consideraram também importante a contextualização do tema,
evitando-se assim a superficialidade e o prisma da repressão policial. Alguns
entrevistados ressaltaram a necessidade de mudança do pensamento da sociedade e a
ampliação do número de jornalistas nas redações. Melhorar a formação dos
profissionais e o pensamento dos donos de jornais também foram sugestões para se
melhorar a cobertura do tema “drogas”.
Além disso, segundo a ANDI (2005), a sociedade brasileira não dispõe de muitos
referenciais sobre a questão, o que implica em maior responsabilidade do jornalista ao
levar informação. Diante de uma quase unanimidade do discurso repressivo, resta pouco
espaço na mídia para jornalistas que apresentem pensamentos divergentes, e por esse
motivo, o debate público fica claramente prejudicado pela falta de pluralidade de ideias.
Essa questão é retroalimentada pelos interesses da própria mídia em não divergir da
opinião pública em temas “tabus”, inclusive do ponto de vista econômico, uma vez que
muitos dos anunciantes não querem sua imagem associada a questões polêmicas. Esse é
um ponto negativo da mídia brasileira, que poderia se utilizar do seu poder de inovar
nas opiniões e ampliar o debate ao invés de apenas reproduzir o senso comum.
A mídia como instrumento promotor de saúde
A influência da mídia na opinião e nas políticas públicas também pode ter efeitos
favoráveis na promoção de saúde em ações preventivas. Estudos nesse sentido
envolvem a denominada Media Advocacy, que é o uso deliberado da imprensa por
grupos sociais interessados em avanços específicos de atitudes, comportamentos e
políticas públicas (Holder & Treno, 1997).
As ações Media Advocacy envolvem a mobilização da imprensa em situações como
eventos, inauguração de serviços ou divulgação de dados de pesquisa, no sentido de
difundir ideias específicas. No entanto, as ações de Media Advocacy devem
preferencialmente ser constantes. Um exemplo de críticas nesse sentido pode ser
observado em estudo norte-americano a partir da análise de 256 jornais entre 1998 e
2001 (Niederdeppe, Farrelly, & Wenter, 2007). Os autores observaram aumento de
matérias relacionadas a grupos antitabagistas, mas concentradas em períodos específicos
do ano e, predominantemente, relacionadas a campanhas promovidas em função do Dia
Mundial sem Tabaco (31 de maio). No entanto, os autores levantam crítica a tais
divulgações pontuais, consideradas subutilização dos recursos da Media Advocacy, a
qual, para ter maior efetividade, deve ser mais constante.
Para estabelecer uma parceria construtiva com a imprensa, além da promoção de
ações, é necessário identificar previamente jornalistas mais informados, interessados ou
comprometidos com a temática, assim como aqueles que se deixam influenciar menos
com o sensacionalismo e a competitividade jornalística. Matéria escritas por jornalistas
mais preparados e sensibilizados com a questão, tendem a apresentar melhor qualidade
e, consequentemente, contribuem com processos de mudanças construtivas. Para a
melhoria da qualidade das informações divulgadas na imprensa, também podem ser
planejados cursos de sensibilização e atualização sobre drogas especificamente voltados
para profissionais da área de comunicação social (ANDI, 2005).
A Propaganda como Importante Aspecto da Mídia
A propaganda é outra forma de mídia também relacionada ao consumo de
drogas. Tais propagandas podem promover a venda de uma substância lícita, como por
exemplo bebidas alcoólicas, tabaco ou substâncias psicotrópicas aprovadas para
comercialização pela ANVISA, ou ainda propagandas anticonsumo. Esta é uma área
que circula grande quantia financeira e os dados mostram que as propagandas pró-
consumo são infinitamente mais efetivas e com maior qualidade técnica às propagandas
anticonsumo (Babor et al., 2003).
Em função disso, dentre os vários fatores relacionados, um dos responsáveis
pelo aumento do consumo de bebidas alcoólicas é a propaganda, através da exposição,
do acesso e da repetição de propagandas. Tal afirmação é corroborada em estudos com
adolescentes brasileiros, demonstrando que o consumo de álcool estava diretamente
relacionado à exposição à propagandas. Neste estudo, quanto mais exposto estava o
jovem às propagandas, maior a frequência e quantidade de consumo (Engels, Hermans,
van Baaren, Hollenstein, & Bot, 2009; Vendrame, Pinsky, Faria, & Silva, 2009).
Portanto, assim como outras fontes de mídia, porém com a especificidade de
grande exposição e acesso, as propagandas são fontes importantes de influência de
comportamento, bem como crenças e atitudes sobre o consumo de substâncias, podendo
produzir crenças distorcidas em relação ao uso de álcool, tabaco e outras drogas,
principalmente entre crianças e adolescentes (Botvin & Kantor, 2000; Fielder, Donovan,
& Ouschan, 2009).
Tendo em vista a importância das propagandas no comportamento do consumo
de álcool e tabaco e da discrepância entre as propagandas pró e anti consumo, e a
eficácia da última como estratégia de prevenção ou redução de consumo, a estratégia
mais efetiva sustentada pela literatura é a regulação ou o banimento de propaganda em
meios de comunicação de massa como a TV e Rádio (Babor et al., 2003). O banimento
de propagandas de tabaco já foi regulamentado no Brasil, porém grande polêmica e
interesses estão relacionados para a mesma decisão governamental sobre as bebidas
alcoólicas.
Considerações Finais
O conteúdo abordado neste capítulo destaca a influência dos meios de comunicação no
processo de promoção de saúde relacionada ao consumo de álcool e outras drogas.
Nesse sentido, fica evidente a necessidade de leitura crítica das matérias jornalísticas,
com especial atenção aos conteúdos preconceituosos e aos vieses de informação, os
quais podem comprometer as ações de saúde. Por outro lado, quando utilizada de forma
construtiva, a mídia pode representar importante instrumento promotor de saúde.
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