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CÓDIGO PENAL e LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR de Moçambique Edição revista e actualizada pela Lei n.º 6/2014, de 5 de Fevereiro

Codigo Penal

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Codigo penal

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  • CDIGO PENALe

    LEGISLAO COMPLEMENTAR

    de Moambique

    Edio revista e actualizadapela Lei n. 6/2014, de 5 de Fevereiro

  • Coleco Universitria

    2 Edio

    CDIGO PENALe

    LEGISLAO COMPLEMENTAR

    de Moambique

    Revista e actualizada

  • TtuloCdigo Penal e Legislao Complementar de Moambique

    AutorLuis Miguel M.S. Ribeiro

    EditoraMinerva Press

    Rua Consiglieri Pedroso n.66/84 1A - MaputoTelefs: 21356800

    email: [email protected]

    Impresso e AcabamentoMinerva Print

    Av. Mohamed Siad Barre, 365Telefs: 21356800

    email: [email protected]

    DistribuidoraMinerva

    Nr. de Registo7780/RLINLD/2013

  • Artigo 1.

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    LIVRO PRIMEIRODISPOSIES GERAIS

    TTULO IDos crimes em geral e dos criminosos

    CAPTULO IDisposies preliminares

    ARTIGO 1.

    (Conceito de crime. Princpio da legalidade)

    Crime ou delito o facto voluntrio declarado punvel pela lei penal.

    ARTIGO 2.

    (Negligncia. Fundamento)

    A punio da negligncia, nos casos especiais determinados na lei, funda-se na omisso voluntria de um dever.

    ARTIGO 3.

    (Conceito de contraveno)

    Considera-se contraveno o facto voluntrio punvel, que unicamente consiste na violao, ou na falta de observncia das disposies preventivas das leis e regulamentos, independentemente de toda a inteno malfica.

    ARTIGO 4.

    (Negligncia nas contravenes)

    Nas contravenes sempre punida a negligncia.

    ARTIGO 5.

    (Nullum crimen sine lege)

    Nenhum facto, ou consista em aco ou em omisso, pode julgar-se criminoso, sem que uma lei anterior o qualifique como tal.

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    ARTIGO 6.

    (Aplicao da lei penal no tempo)

    A lei penal no tem efeito retroactivo, salvas as seguintes excepes:

    1. A infraco punvel por lei vigente, ao tempo em que foi co-metida, deixa de o ser se uma lei nova a eliminar do nmero das infraces.

    Tendo havido j condenao transitada em julgado, fica extinta a pena, tenha ou no comeado o seu cumprimento.

    2. Quando a pena estabelecida na lei vigente ao tempo em que praticada a infraco for diversa das estabelecidas em leis posteriores, ser sempre aplicada a pena mais leve ao infractor, que ainda no estiver condenado por sentena passada em julgado.

    3. As disposies da lei sobre os efeitos da pena tm efeito retroactivo, em tudo quanto seja favorvel aos criminosos, ainda que estes estejam condenados por sentena passada em julgado, ao tempo da promulgao da mesma lei, salvo os direitos de terceiros.

    ARTIGO 7.

    (Maioridade civil)

    A maioridade estabelecida no artigo 311. do Cdigo Civil produzir todos os seus efeitos nas relaes da lei penal, quando a menoridade for a base para a determinao do crime, e sempre que a mesma lei se refira, em geral, maioridade ou menoridade.

    CAPTULO IIDa criminalidade

    ARTIGO 8.

    (Formas de aparecimento do crime)

    So punveis no s o crime consumado mas tambm o frustrado e a tentativa.

    ARTIGO 9.

    (Crime consumado)

    Sempre que a lei designar a pena aplicvel a um crime, sem declarar se se trata de crime consumado, de crime frustrado, ou de tentativa, entender--se- que a impe ao crime consumado.

  • Artigo 10.

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    ARTIGO 10.

    (Crime frustrado)

    H crime frustrado quando o agente pratica com inteno todos os actos de execuo que deveriam produzir como resultado o crime consumado, e todavia no o produzem por circunstncias independentes da sua vontade.

    ARTIGO 11.

    (Tentativa)

    H tentativa quando se verificam cumulativamente os seguintes requisitos:

    1. Inteno do agente;

    2. Execuo comeada e incompleta dos actos que deviam produzir o crime consumado;

    3. Ter sido suspensa a execuo por circunstncias indepen-dentes da vontade do agente, excepto nos casos previstos no artigo 13.;

    4. Ser punido o crime consumado com pena maior, salvo os casos especiais em que, sendo aplicvel pena correccional ao crime consumado, a lei expressamente declarar punvel a tentativa desse crime.

    ARTIGO 12.

    (Punio autnoma dos actos queconstituem a tentativa)

    Ainda que a tentativa no seja punvel, os actos, que entram na sua constituio, so punveis se forem classificados como crimes pela lei, ou como contravenes por lei ou regulamento.

    ARTIGO 13.

    (Irrelevncia da suspenso da execuo nas infraces uniexecutivas)

    Nos casos especiais, em que a lei qualifica como crime consumado a tentativa de um crime, a suspenso da execuo deste crime pela vontade do criminoso no causa justificativa.

    ARTIGO 14.

    (Conceito de actos preparatrios)

    So preparatrios os actos externos conducentes a facilitar ou preparar a execuo do crime, que no constituem ainda comeo de execuo. Os

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    actos preparatrios no so punveis, mas aos factos que entram na sua constituio aplicvel o disposto no artigo 12.

    ARTIGO 15.

    (Fontes do Direito Penal. Princpio da legalidade)

    No so crimes os actos que no so qualificados como tais por este Cdigo.

    nico. Exceptuam-se da disposio deste artigo:

    1. Os actos qualificados crimes por legislao especial, nas matrias que no so reguladas por este Cdigo, ou naquelas em que se fizer referncia legislao especial;

    2. Os crimes militares.

    ARTIGO 16.

    (Crimes militares)

    So crimes militares os factos que ofendem directamente a disciplina do exrcito ou da marinha, e que a lei militar qualifica e manda punir como violao do dever militar, sendo cometidos por militares, ou outras pessoas pertencentes ao exrcito ou marinha.

    nico. Os crimes comuns, cometidos por militares ou outras pessoas pertencentes ao exrcito ou marinha, sero sempre punidos com as penas determinadas na lei geral, ainda quando julgados nos tribunais militares.

    ARTIGO 17.

    (Ressalva de legislao civil)

    As disposies das leis civis, que, pela prtica ou omisso de certos factos, modificam o exerccio de alguns dos direitos civis, ou estabelecem condenaes relativas a interesses particulares, e somente do lugar aco e instncia civil, no se consideram alterados por este Cdigo sem expressa derrogao.

    ARTIGO 18.

    (Interpretao e integrao da lei penal)

    No admissvel a analogia ou induo por paridade, ou maioria de razo, para qualificar qualquer facto como crime; sendo sempre necess-rio que se verifiquem os elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso, que a lei penal declarar.

  • Artigo 19.

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    CAPTULO IIIDos agentes do crime

    ARTIGO 19.

    (Agentes dos crimes)

    Os agentes do crime so autores, cmplices ou encobridores.

    ARTIGO 20.

    (Autores)

    So autores:

    1. Os que executam o crime ou tomam parte directa na sua execuo;

    2. Os que por violncia fsica, ameaa, abuso de autoridade ou de poder constrangeram outro a cometer o crime, seja ou no vencvel o constrangimento;

    3. Os que por ajuste, ddiva, promessa, ordem, pedido, ou por qualquer meio fraudulento e directo determinaram outro a cometer o crime;

    4. Os que aconselharam ou instigaram outro a cometer o crime nos casos em que sem esse conselho ou instigao no tivesse sido cometido;

    5. Os que concorreram directamente para facilitar ou preparar a execuo nos casos em que, sem esse concurso, no tivesse sido cometido o crime;

    nico. A revogao do mandato dever ser considerada como circuns-tncia atenuante especial, no havendo comeo de execuo do crime, e como simples circunstncia atenuante, quando j tiver havido comeo de execuo.

    ARTIGO 21.

    (Excessus mandati)

    O autor, mandante ou instigador tambm considerado autor:

    1. Dos actos necessrios para a perpetrao do crime, ainda que no constituam actos de execuo;

    2. Do excesso do executor na perpetrao do crime, nos casos em que devesse t-lo previsto como consequncia provvel do mandato ou instigao.

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    ARTIGO 22.

    (Cmplices)

    So cmplices:

    1. Os que directamente aconselharam ou instigaram outro a ser agente do crime, no estando compreendidos no artigo 20.;

    2. Os que concorreram directamente para facilitar ou preparar a execuo nos casos em que, sem esse concurso, pudesse ter sido cometido o crime.

    ARTIGO 23.

    (Encobridores)

    So encobridores:

    1. Os que alteram ou desfazem os vestgios do crime com o propsito de impedir ou prejudicar a formao do corpo de delito;

    2. Os que ocultam ou inutilizam as provas, os instrumentos ou os objectos do crime com o intuito de concorrer para a impunidade;

    3. Os que, sendo obrigados em razo da sua profisso, emprego, arte ou ofcio, a fazer qualquer exame a respeito de algum crime, alteram ou ocultam nesse exame a verdade do facto com o propsito de favorecer algum criminoso;

    4. Os que por compra, penhor, ddiva ou qualquer outro meio, se aproveitam ou auxiliam o criminoso para que se aproveite dos produtos do crime, tendo conhecimento no acto da aqui-sio da sua criminosa provenincia;

    5. Os que do coito ao criminoso ou lhe facilitam a fuga, com o propsito de o subtrarem aco da justia.

    nico. No so considerados encobridores o cnjuge, ascendentes, descendentes e os colaterais ou afins do criminoso at ao terceiro grau por direito civil, que praticarem qualquer dos factos designados nos n.os 1., 2. e 5. deste artigo.

  • Artigo 24.

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    ARTIGO 24.

    (Conexo entre o encobrimento, a cumplicidadee a autoria)

    No h encobridor, nem cmplice sem haver autor; mas a punio de qualquer autor, cmplice, ou encobridor, no est subordinada dos outros agentes do crime.

    ARTIGO 25.

    (No punio da cumplicidade e do encobrimento nas contravenes)

    Nas contravenes no punvel a cumplicidade nem o encobrimento.

    CAPTULO IVDa responsabilidade criminal

    ARTIGO 26.

    (Sujeito activo da infraco criminal. Imputabilidade)

    Somente podem ser criminosos os indivduos que tm a necessria inteligncia e liberdade.

    ARTIGO 27.

    (Responsabilidade criminal. Fins das penas)

    A responsabilidade criminal consiste na obrigao de reparar o dano causado na ordem moral da sociedade, cumprindo a pena estabelecida na lei e aplicada por tribunal competente.

    ARTIGO 28.

    (Princpio da individualidade da responsabilidade criminal)

    A responsabilidade criminal recai nica e individualmente nos agentes de crimes ou de contravenes.

    ARTIGO 29.

    (Erro e consentimento do ofendido)

    No eximem de responsabilidade criminal:

    1. A ignorncia da lei penal;

    2. A iluso sobre a criminalidade do facto;

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    3. O erro sobre a pessoa ou coisa a que se dirigir o facto punvel;

    4. A persuaso pessoal da legitimidade do fim ou dos motivos que determinaram o facto;

    5. O consentimento do ofendido, salvos os casos especificados na lei;

    6. A inteno de cometer crime distinto do cometido, ainda que o crime projectado fosse de menor gravidade;

    7. Em geral, quaisquer factos ou circunstncias, quando a lei expressamente no declare que eles eximem de responsa-bilidade criminal.

    1. As circunstncias designadas nos n.os 1. e 2. deste artigo nunca atenuam a responsabilidade criminal.

    2. O erro sobre a pessoa, a que se dirigir o facto punvel agrava ou atenua a responsabilidade criminal, segundo as circunstncias.

    3. A circunstncia designada no n. 6. no pode dirimir em caso algum a inteno criminosa, no podendo por consequncia ser por esse motivo classificado o crime como meramente culposo.

    ARTIGO 30.

    (Circunstncias)

    A responsabilidade criminal agravada ou atenuada, quando concorre-rem no crime ou no agente dele circunstncias agravantes ou atenuantes.

    A esta agravao ou atenuao correlativa a agravao ou atenuao da pena.

    ARTIGO 31.

    (Circunstncias inerentes ao agente)

    As circunstncias agravantes ou atenuantes inerentes ao agente s agravam ou atenuam a responsabilidade desse agente.

    ARTIGO 32.

    (Circunstncias relativas ao facto incriminado)

    As circunstncias agravantes relativas ao facto incriminado s agra-vam a responsabilidade dos agentes, que delas tiveram conhecimento ou que devessem t-las previsto, antes do crime ou durante a sua execuo.

  • Artigo 33.

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    ARTIGO 33.

    (Agravao e atenuao da responsabilidade criminal por contraveno)

    A responsabilidade criminal por contraveno no pode ser agravada nem atenuada, salvo o disposto no artigo 36..

    ARTIGO 34.

    (Circunstncias agravantes. Enumerao taxativa)

    So unicamente circunstncias agravantes:

    1. Ter sido cometido o crime com premeditao;

    2. Ter sido cometido o crime em resultado de ddiva ou promessa;

    3. Ter sido cometido o crime em consequncia de no ter o ofendido praticado ou consentido que se praticasse alguma aco ou omisso contrria ao direito ou moral;

    4. Ter sido cometido o crime como meio de realizar outro crime;

    5. Ter sido precedido o crime de ofensas, ameaas, ou condies de fazer ou no fazer alguma coisa;

    6. Ter sido o crime precedido de crime frustrado ou de tentativa;

    7. Ter sido o crime pactuado entre duas ou mais pessoas;

    8. Ter havido convocao de outro ou outras pessoas para o cometimento do crime;

    9. Ter sido o crime cometido com auxlio de pessoas, que pode-riam facilitar ou assegurar a impunidade;

    10. Ter sido o crime cometido por duas ou mais pessoas;

    11. Ter sido cometido o crime com espera, emboscada, disfarce, surpresa, traio, aleivosia, excesso de poder, abuso de confiana ou qualquer fraude;

    12. Ter sido cometido o crime com arrombamento, escalamento ou chaves falsas;

    13. Ter sido cometido o crime com veneno, inundao, incndio, exploso, descarrilamento de locomotiva, naufrgio ou ava-ria de barco ou de navio, instrumento ou arma cujo porte e uso for proibido;

    14. Ter sido cometido o crime com o emprego simultneo de diversos meios ou com insistncia em o consumar, depois de malogrados os primeiros esforos;

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    15. Ter sido cometido o crime entrando o agente ou tentando entrar em casa do ofendido;

    16. Ter sido cometido o crime na casa de habitao do agente, quando no haja provocao do ofendido;

    17. Ter sido cometido o crime em lugares sagrados, em tribunais ou em reparties pblicas;

    18. Ter sido cometido o crime em estrada ou lugar ermo;

    19. Ter sido cometido o crime de noite, se a gravidade do cri-me no aumentar em razo de escndalo proveniente da publicidade;

    20. Ter sido cometido o crime por qualquer meio de publicidade ou por forma que a sua execuo possa ser presenciada, nos casos em que a gravidade do crime aumente com o escndalo da publicidade;

    21. Ter sido cometido o crime com desprezo de funcionrio pblico no exerccio das suas funes;

    22. Ter sido cometido o crime na ocasio de incndio, naufrgio, terramoto, inundao, bito, qualquer calamidade pblica ou desgraa particular do ofendido;

    23. Ter sido cometido o crime com quaisquer actos de crueldade, espoliao ou destruio, desnecessrios consumao do crime;

    24. Ter sido cometido o crime, prevalecendo-se o agente da sua qualidade de funcionrio;

    25. Ter sido cometido o crime, tendo o agente a obrigao espe-cial de o no cometer, de obstar a que seja cometido ou de concorrer para a sua punio;

    26. Ter sido cometido o crime, havendo o agente recebido be-nefcios do ofendido, quando este no houver provocado a ofensa que haja originado a perpetrao do crime;

    27. Ter sido cometido o crime, sendo o ofendido ascendente, descendente, esposo, parente ou afim at segundo grau por direito civil, mestre ou discpulo, tutor ou tutelado, amo ou domstico, ou de qualquer maneira legtimo superior ou inferior do agente;

    28. Ter sido cometido o crime com manifesta superioridade, em razo da idade, sexo ou armas;

  • Artigo 35.

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    29. Ter sido cometido o crime com desprezo do respeito devido ao sexo, idade ou enfermidade do ofendido;

    30. Ter sido cometido o crime, estando o ofendido sob a imediata proteco da autoridade pblica;

    31. Ter resultado do crime outro mal alm do mal do crime;

    32. Ter sido aumentado o mal do crime com alguma circunstn-cia de ignomnia;

    33. Haver reincidncia, ou sucesso de crimes;

    34. Haver acumulao de crimes.

    ARTIGO 35.

    (Reincidncia)

    D-se a reincidncia quando o agente, tendo sido condenado por sen-tena passada em julgado por algum crime, comete outro crime da mesma natureza, antes de terem passado oito anos desde a dita condenao, ainda que a pena do primeiro crime tenha sido prescrita ou perdoada.

    1. Quando a pena do primeiro crime tenha sido amnistiada, no se verifica a reincidncia.

    2. Se um dos crimes for intencional e outro culposo, no h reincidncia.

    3. Os crimes podem ser da mesma natureza, ainda que no tenham sido consumados ambos, ou algum deles.

    4. No so computadas para a reincidncia, por crimes previstos e punidos no Cdigo Penal, as condenaes proferidas pelos tribunais militares por crimes militares no previstos no mesmo cdigo, nem as proferidas por tribunais estrangeiros.

    5. No exclui a reincidncia a circunstncia de ter sido o agente autor de um dos crimes e cmplice do outro.

    ARTIGO 36.

    (Reincidncia nas contravenes)

    Nas contravenes d-se a reincidncia quando o agente, condenado por uma contraveno, comete contraveno idntica antes de decorrerem seis meses, contados desde a dita punio.

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    ARTIGO 37.

    (Sucesso de crimes)

    Verifica-se a sucesso de crimes nos termos declarados no artigo 35., sempre que os crimes no sejam da mesma natureza, e sem ateno ao tempo que mediou entre a primeira condenao e o segundo crime, ou sempre que, sendo da mesma natureza, tenham passado mais de oito anos entre a condenao definitiva pelo primeiro e a perpetrao do segundo.

    nico. Para os efeitos do que dispe o artigo 101. e pargrafos, aplicvel sucesso de crimes o que para a reincidncia estabelecem os 2. e 5. do artigo 35.

    ARTIGO 38.

    (Acumulao de infraces)

    D-se a acumulao de crimes, quando o agente comete mais de um crime na mesma ocasio, ou quando, tendo perpetrado um, comete outro antes de ter sido condenado pelo anterior, por sentena passada em julgado.

    nico. Quando o mesmo facto previsto e punido em duas ou mais disposies legais, como constituindo crimes diversos, no se d acumu-lao de crimes.

    ARTIGO 39.

    (Circunstncias atenuantes)

    So circunstncias atenuantes da responsabilidade criminal do agente:

    1. O bom comportamento anterior;

    2. A prestao de servios relevantes sociedade;

    3. Ser menor de catorze (sendo punvel), dezoito ou vinte e um anos, ou maior de setenta anos;

    4. Ser provocado, se o crime tiver sido praticado em acto segui-do provocao, podendo esta, quando consistir em ofensa directa honra da pessoa, ser considerada como violncia grave para os efeitos do que dispe o artigo 370.;

    5. A inteno de evitar um mal ou a de produzir um mal menor;

    6. O imperfeito conhecimento do mal do crime;

    7. O constrangimento fsico, sendo vencvel;

    8. A imprevidncia ou imperfeito conhecimento dos maus resultados do crime;

    9. A espontnea confisso do crime;

  • Artigo 39.

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    10. A espontnea reparao do dano;

    11. A ordem ou o conselho do seu ascendente, tutor, educador ou amo, sendo o agente menor e no emancipado;

    12. O cumprimento de ordem do superior hierrquico do agente, quando no baste para justificao deste;

    13. Ter o agente cometido o crime para se desafrontar a si, ao seu cnjuge, ascendente, descendente, irmos, tios, sobrinhos ou afins nos mesmos graus, de alguma injria, desonra ou ofensa, imediatamente depois da afronta;

    14. O sbito arrebatamento despertado por alguma causa que excite a justa indignao pblica;

    15. O medo vencvel;

    16. A resistncia s ordens do seu superior hierrquico, se a obedincia no for devida e se o cumprimento da ordem constitusse crime mais grave;

    17. O excesso da legtima defesa, sem prejuzo do disposto no artigo 378.;

    18. A apresentao voluntria s autoridades;

    19. A natureza reparvel do dano causado ou a pouca gravidade deste;

    20. O descobrimento dos outros agentes, dos instrumentos do crime ou do corpo de delito, sendo a revelao verdadeira e profcua aco da justia;

    21. A embriaguez quando for: 1. incompleta e imprevista, seja ou no posterior ao projecto do crime; 2. incompleta, pro-curada sem propsito criminoso e no posterior ao projecto do crime; 3. completa, procurada sem propsito criminoso, e posterior ao projecto do crime;

    22. As que forem expressamente qualificadas como tais, nos casos especiais previstos na lei;

    23. Em geral, quaisquer outras circunstncias que precedam, acompanhem ou sigam o crime, se enfraquecerem a cul-pabilidade do agente ou diminurem por qualquer modo a gravidade do facto criminoso ou dos seus resultados.

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    ARTIGO 40.

    (Circunstncias agravantes.Cessao do respectivo efeito)

    As circunstncias indicadas como agravantes deixam de o ser:

    1. Quando a lei expressamente as considerar como elemento constitutivo do crime;

    2. Quando forem de tal maneira inerentes ao crime, que sem elas no possa praticar-se o facto criminoso punido pela lei;

    3. Quando a lei expressamente declarar, ou as circunstncias e natureza especial do crime indicarem, que no devem agravar ou que devem atenuar a responsabilidade criminal dos agentes em que concorrem.

    nico. Quando qualquer das circunstncias indicadas no artigo 34. constituir crime, no agravar a responsabilidade criminal do agente, seno pelo facto da acumulao de crimes.

    ARTIGO 41.

    (Circunstncias dirimentes)

    So circunstncias dirimentes da responsabilidade criminal:

    1. A falta de imputabilidade;

    2. A justificao do facto.

    ARTIGO 42.

    (Inimputabilidade absoluta)

    No so susceptveis de imputao:

    1. Os menores de 10 anos;

    2. Os loucos que no tiverem intervalos lcidos.

    ARTIGO 43.

    (Inimputabilidade relativa)

    No tm imputao:

    1. Os menores que, tendo mais de 10 anos e menos de catorze, tiverem procedido sem discernimento;

    2. Os loucos que, embora tenham intervalos lcidos, praticarem o facto no estado de loucura;

  • Artigo 44.

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    3. Os que, por qualquer outro motivo independente da sua vontade, estiverem acidentalmente privados do exerccio das suas faculdades intelectuais no momento de cometer o facto punvel.

    nico. A negligncia ou culpa considera-se sempre como acto ou omisso dependente da vontade.

    ARTIGO 44.

    (Causas de justificao do facto e de excluso da culpa)

    Justificam o facto:

    1. Os que praticam o facto violentados por qualquer fora estranha, fsica e irresistvel;

    2. Os que praticam o facto dominados por medo insupervel de um mal igual ou maior, iminente ou em comeo de execuo;

    3. Os inferiores, que praticam o facto em virtude de obedin-cia legalmente devida a seus superiores legtimos, salvo se houver excesso nos actos ou na forma de execuo;

    4. Os que praticam o facto em virtude de autorizao legal, no exerccio de um direito ou no cumprimento de uma obrigao, se tiverem procedido com a diligncia devida, ou o facto for um resultado meramente casual;

    5. Os que praticam o facto em legtima defesa prpria ou alheia;

    6. Os que praticam um facto cuja criminalidade provm somen-te das circunstncias especiais, que concorrem no ofendido ou no acto, se ignorarem e no tiverem obrigao de saber a existncia dessas circunstncias especiais;

    7. Em geral, os que tiverem procedido sem inteno criminosa e sem culpa.

    ARTIGO 45.

    (Estado de necessidade)

    S pode verificar-se a justificao do facto nos termos do n. 2. do artigo precedente, quando concorrerem os seguintes requisitos:

    1. Realidade do mal;

    2. Impossibilidade de recorrer fora pblica;

    3. Impossibilidade de legtima defesa;

    4. Falta de outro meio menos prejudicial do que o facto praticado;

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    5. Probabilidade da eficcia do meio empregado.

    ARTIGO 46.

    (Legtima defesa)

    S pode verificar-se a justificao do facto, nos termos do n. 5. do artigo 44., quando concorrerem os seguintes requisitos:

    1. Agresso ilegal em execuo ou iminente, que no seja motivada por provocao, ofensa ou qualquer crime actual praticado pelo que defende;

    2. Impossibilidade de recorrer fora pblica;

    3. Necessidade racional do meio empregado para prevenir ou suspender a agresso.

    nico. No punvel o excesso de legtima defesa devido a perturbao ou medo desculpvel do agente.

    ARTIGO 47.

    (Delinquentes anormais)

    Os loucos que, praticando o facto, forem isentos de responsabilidade criminal, sero entregues a suas famlias para os guardarem, ou recolhidos em hospital de alienados, se a mania for criminosa, ou se o seu estado o exigir para maior segurana.

    ARTIGO 48.

    (Menores inimputveis)

    Os menores que, praticando o facto, forem isentos de responsabilidade criminal por no terem dez anos, ou por terem obrado sem discernimento sendo maiores de dez e menores de catorze anos, sero entregues a seus pais ou tutores ou a um qualquer estabelecimento de correco, ou colnia penitenciria, se a houver no continente.

    ARTIGO 49.

    (Internamento dos menores inimputveis emestabelecimentos de correco)

    Os menores, a que se refere o artigo precedente, s podem ser entregues a um estabelecimento de correco em alguns dos seguintes casos:

    1. Sendo vadios;

    2. No tendo pais ou tutores;

    3. No sendo estes idneos;

  • Artigo 50.

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    4. No tendo estes os meios indispensveis ou recusando-se a dar-lhes educao idnea;

    5. Dando estes o seu consentimento;

    6. Tendo os menores cometido outro crime s justificado pela idade.

    ARTIGO 50.

    (Privao voluntria e acidental da inteligncia)

    A privao voluntria e acidental do exerccio da inteligncia, inclusi-vamente a embriaguez voluntria e completa, no momento da perpetrao do facto punvel, no dirime a responsabilidade criminal, apesar de no ter sido adquirida no propsito de o perpetrar, mas constitui circunstncia atenuante de natureza especial, quando se verifique algum dos seguintes casos:

    1. Ser a privao ou a embriaguez completa e imprevista, seja ou no posterior ao projecto do crime;

    2. Ser completa, procurada sem propsito criminoso e no posterior ao projecto do crime.

    ARTIGO 51.

    (Independncia da responsabilidade civil em relao responsabilidade criminal)

    A iseno de responsabilidade criminal no envolve a de responsabi-lidade civil, quando tenha lugar.

    ARTIGO 52.

    (Regra da responsabilidade criminal)

    Tm responsabilidade criminal todos os agentes de factos punveis, em que no concorrer alguma circunstncia dirimente dessa responsa-bilidade, nos termos do artigo 41. e subsequentes, salvas as excepes expressas nas leis.

    ARTIGO 53.

    (Aplicao da lei penal no espao)

    A lei penal aplicvel, no havendo tratado em contrrio:

    1. A todas as infraces cometidas em territrio ou domnio portugus, qualquer que seja a nacionalidade do infractor;

    2. Aos crimes praticados a bordo de navio portugus em mar alto, de navio de guerra portugus surto em porto

  • Cdigo Penal

    22

    estrangeiro, ou de navio mercante portugus surto em porto estrangeiro, quando os delitos tiverem lugar entre gente da tripulao somente, e no houverem perturbado a tranqui-lidade do porto;

    3. Aos crimes cometidos por portugus em pas estrangeiro, contra a segurana interior ou exterior do Estado, de falsifi-cao de selos pblicos, de moedas portuguesas, de papis de crdito pblico ou de notas de banco nacional, de companhias ou estabelecimentos legalmente autorizados para a emisso das mesmas notas, no tendo os criminosos sido julgados no pas onde delinquiram;

    4. Aos estrangeiros que cometerem qualquer destes crimes, uma vez que compaream em territrio portugus, ou se possa obter a entrega deles;

    5. A qualquer outro crime ou delito cometido por portugus em pas estrangeiro, verificando-se os seguintes requisitos:

    a) Sendo o criminoso ou delinquente encontrado em Portugal;

    b) Sendo o facto qualificado de crime ou delito tambm pela legislao do pas onde foi praticado;

    c) No tendo o criminoso ou delinquente sido julgado no pas em que cometeu o crime ou delito.

    1. Exceptuam-se da regra estabelecida no n. 1. deste artigo as infraces praticadas a bordo de navio de guerra estrangeiro em porto ou mar territorial portugus, ou a bordo de navio mercante estrangeiro, quando tiverem lugar entre gente de tripulao somente e no perturbarem a tranquilidade do porto.

    2. Quando aos delitos de que trata o n. 5. s forem aplicveis penas correccionais, o Ministrio Pblico no promover a formao e julgamento do respectivo processo, sem que haja queixa da parte ofendida ou parti-cipao oficial da autoridade do pas onde se cometeram os mencionados delitos.

    3. Se nos casos dos n.os 3. e 5. o criminoso ou delinquente, havendo sido condenado no lugar do crime ou delito, se tiver subtrado ao cumpri-mento de toda a pena ou de parte dela, formar-se- novo processo perante os tribunais portugueses, que, se julgarem provado o crime ou delito, lhe aplicaro a pena correspondente pela nossa legislao, levando em conta ao ru a parte que j tiver cumprido.

  • Artigo 54.

    23

    TTULO IIDas penas e seus efeitos e das medidas de

    segurana

    CAPTULO IDas penas e das medidas de segurana

    ARTIGO 54.

    (Penas e medidas de segurana. Princpio da legalidade das reaces criminais)

    Para preveno e represso dos crimes haver penas e medidas de segurana. No podero ser aplicadas penas ou medidas de segurana, que no estejam decretadas na lei.

    As penas e medidas de segurana so as que se declaram nos artigos seguintes.

    ARTIGO 55.

    (Penas maiores. Enumerao)

    As penas maiores so:

    1. A pena de priso maior de vinte a vinte e quatro anos;

    2. A de priso maior de dezasseis a vinte anos;

    3. A de priso maior de doze a dezasseis anos;

    4. A de priso maior de oito a doze anos;

    5. A de priso maior de dois a oito anos;

    6. A de suspenso dos direitos polticos por tempo de quinze ou de vinte anos.

    ARTIGO 56.

    (Penas correccionais)

    As penas correccionais so:

    1. A pena de priso de trs dias a dois anos;

    2. A de desterro;

    3. A de suspenso temporria dos direitos polticos;

  • Cdigo Penal

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    4. A de multa;

    5. A de repreenso.

    ARTIGO 57.

    (Penas especiais para os empregados pblicos)

    As penas especiais para os empregados pblicos so:

    1. A pena de demisso;

    2. A de suspenso;

    3. A de censura.

    ARTIGO 58.

    (Execuo das penas privativas de liberdade)

    Na execuo das penas privativas de liberdade ter-se- em vista, sem prejuzo da sua natureza repressiva, a regenerao dos condenados e a sua readaptao social.

    ARTIGO 59.

    (Trabalho prisional)

    Os condenados a penas privativas da liberdade so obrigados a traba-lhar na medida das suas foras e aptides; o trabalho ser organizado de maneira a promover a regenerao e readaptao social dos delinquentes, e a permitir-lhes a aprendizagem ou o aperfeioamento dum mester ou ofcio.

    1. O trabalho dos condenados em penas privativas de liberdade ter lugar, em regra, em oficinas e exploraes industriais ou agrcolas prprias dos estabelecimentos prisionais. Poder, porm, nos termos estabelecidos em legislao especial, ser permitida a ocupao dos condenados fora das prises.

    2. O trabalho prisional remunerado. O produto da remunerao ser aplicado em conformidade com os regulamentos, de maneira a reforar a conscincia dos deveres morais, familiares e sociais dos condenados, e a facilitar a sua readaptao vida em liberdade, aps o cumprimento da pena.

    ARTIGO 60.

    (Suspenso dos direitos polticos. Pena fixa.Em que consiste)

    A pena fixa de suspenso dos direitos polticos consiste na incapacidade de tomar parte, por qualquer maneira, no exerccio ou no estabelecimento

  • Artigo 61.

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    do poder pblico e na incapacidade de exercer funes pblicas por tempo de quinze ou de vinte anos.

    ARTIGO 61.

    (Suspenso temporria dos direitos polticos)

    A suspenso temporria dos direitos polticos consiste na privao do exerccio de todos ou de alguns dos direitos polticos por tempo no menor de trs anos nem excedente a doze.

    ARTIGO 62.

    (Desterro)

    A pena de desterro obriga o ru a permanecer em um lugar determinado pela sentena no continente ou ilha em que o crime for cometido, ou a sair da comarca por espao de tempo de trs meses a trs anos.

    ARTIGO 63.

    (Multa)

    A pena de multa consiste no pagamento:

    a) De quantia determinada ou a fixar entre um mnimo e um mximo declarados na lei;

    b) De quantia proporcional aos proventos do condenado, pelo tempo que a sentena fixar at dois anos, no sendo, por dia, inferior a 2.000,00 meticais, nem superior a 30.000,00 meticais.*

    1. Os limites estabelecidos na alnea b) deste artigo sero elevados ao triplo:

    1. Se a infraco tiver sido cometida com fim de lucro;

    2. Se, em virtude da situao econmica do ru, dever reputar--se ineficaz a multa dentro dos limites normais.

    2. O quantitativo da pena de multa fixada em sentena no pode ser acrescido de quaisquer adicionais.

    3. Da importncia de todas as multas aplicadas em processo penal, incluindo as resultantes de converso da pena de priso, reverter metade para o Tesouro Pblico e metade para o Cofre Geral dos Tribunais.

    * A redaco da alnea b) foi introduzida pela Lei n. 5/99, de 2 de Fevereiro.

  • Cdigo Penal

    26

    ARTIGO 64.

    (Repreenso)

    A pena de repreenso obriga o condenado a comparecer em audincia pblica do juzo respectivo para a ser repreendido.

    ARTIGO 65.

    (Demisso)

    A pena de demisso ou perda de emprego pode ser com declarao de in-capacidade para tornar a servir qualquer emprego, ou sem essa declarao.

    nico. Pronunciar-se- sempre a demisso do empregado pblico quando este, fora do exerccio das suas funes, for encobridor de coisa furtada ou roubada, ou cometer o crime doloso de falsidade, ou o de furto, de roubo, de burla, de quebra fraudulenta, de abuso de confiana, de fogo posto, e que a pena decretada na lei seja a priso, nos casos em que o Ministrio Pblico acusa, independentemente de denncia ou acusao particular.

    ARTIGO 66.

    (Suspenso do exerccio do emprego e censura)

    A suspenso do exerccio do emprego ter a durao de trs meses a trs anos.

    nico. A pena de censura dos empregados pblicos pode ser, ou simples, ou severa, com as formalidades decretadas na respectiva lei disciplinar.

    ARTIGO 67.

    (Delinquentes perigosos. Prorrogao da pena)

    As penas de priso e de priso maior aplicadas a delinquentes de difcil correco podero ser prorrogadas por dois perodos sucessivos de trs anos, quando se mantenha o estado de perigosidade, verificando-se que o condenado no tem idoneidade para seguir vida honesta.

    Consideram-se delinquentes de difcil correco os delinquentes ha-bituais e por tendncia.

    1. So delinquentes habituais:

    1. Os que, tendo sido condenados por crimes dolosos da mes-ma natureza duas ou mais vezes em pena de priso maior, reincidirem pela segunda vez cometendo novo crime a que caiba tambm pena maior;

    2. Os que, tendo sido condenados por crimes dolosos da mesma natureza em penas de priso ou de priso maior trs vezes ou mais, num total de cinco anos, reincidirem pela terceira vez

  • Artigo 68.

    27

    cometendo novo crime a que caiba tambm pena daquelas espcies;

    3. Todos aqueles de quem se prove haverem j praticado, pelo menos, trs crimes dolosos, consumados, frustrados ou tentados, a que corresponda priso maior, ou quatro desses crimes a que corresponda priso ou priso maior e que, atenta a sua espcie e gravidade, o fim ou motivos determinantes, as circunstncias em que forem cometidos e o comportamento ou gnero de vida do criminoso, revelem o hbito de delinquir.

    2. So considerados delinquentes por tendncia os que, no estando compreendidos nas categorias enunciadas no pargrafo anterior, comete-rem um crime doloso, consumado, frustrado ou tentado, de homicdio ou de ofensas corporais, a que corresponda pena maior, e que, atentos o fim ou motivos determinantes, os meios empregados e mais circunstncias, e o seu comportamento anterior, contemporneo ou posterior ao crime, re-velem perverso e malvadez que os faa considerar gravemente perigosos.

    ARTIGO 68.

    (Delinquentes anormais perigosos)

    Aos delinquentes imputveis, criminalmente perigosos em razo de anomalia mental, anterior condenao ou sobrevinda aps esta, poder a pena de priso ou de priso maior em que tenham sido condenados ser prorrogada por dois perodos sucessivos de trs anos, quando se mantiver o estado de perigosidade criminal resultante de anomalia mental. Se aps as prorrogaes a perigosidade do recluso se mantiver, poder ser-lhe aplicada a medida de segurana do n. 1. do artigo 70.

    nico. Os dementes inimputveis que tenham cometido um facto previsto na lei penal, a que corresponda pena de priso por mais de seis meses, e que pela natureza da afeco mental devam ser considerados criminalmente perigosos, mormente em razo da tendncia para a perpe-trao de actos de violncia, sero internados em manicmios criminais. O internamento cessar, quando o tribunal verificar a cessao do estado de perigosidade criminal resultante da afeco mental.

    Quando o facto cometido pelo demente irresponsvel consista em ho-micdio, ofensas corporais graves ou outro acto de violncia, punvel com pena maior, e se verifique a probabilidade de perpetrao de novos factos igualmente violentos ou agressivos, o internamento em manicmio criminal ter a durao mnima de trs anos.

  • Cdigo Penal

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    ARTIGO 69.

    (Menores imputveis)

    Os delinquentes menores de 21 anos e maiores de 16 cumpriro as penas ou medidas de segurana privativas de liberdade, com o fim especial de educao, em priso-escola ou em estabelecimento prisional comum, mas neste caso separados dos demais delinquentes.

    1. Aos delinquentes menores de difcil correco s poder ser prorrogada a pena por dois perodos sucessivos de dois anos.

    2. Os maiores de 16 anos e menores de 18, com bons antecedentes, condenados pela primeira vez a pena de priso ou medida de seguran-a do n. 2. do artigo 70., podero ser internados em um instituto de reeducao pelo tempo de durao da pena ou medida de segurana. Se, durante o internamento, se mostrar inadequado o regime dos institutos de reeducao, o tribunal competente ordenar a transferncia do menor para uma priso-escola ou estabelecimento prisional comum.

    3. Poder ser concedida a liberdade condicional aos delinquentes menores quando, tendo completado 25 anos, se mostrem corrigidos, ainda que no tenham cumprido metade da pena.

    ARTIGO 70.

    (Medidas de segurana)

    So medidas de segurana:

    1. O internamento em manicmio criminal;

    2. O internamento em casa de trabalho ou colnia agrcola;

    3. A liberdade vigiada;

    4. A cauo de boa conduta;

    5. A interdio do exerccio de profisso.

    1. O internamento em manicmio criminal de delinquentes peri-gosos ser ordenado na deciso que declarar irresponsvel e perigoso o delinquente nos termos do nico do artigo 68.

    2. O internamento em casa de trabalho ou colnia agrcola entende--se por perodo indeterminado de seis meses a trs anos. Este regime considera-se extensivo a quaisquer medidas de internamento, previstas em legislao especial.

    3. A liberdade vigiada ser estabelecida pelo prazo de dois a cinco anos e implica o cumprimento das obrigaes que sejam impostas por deciso judicial nos termos do artigo 121.

  • Artigo 71.

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    Na falta de cumprimento das condies de liberdade vigiada poder ser alterado o seu condicionamento ou substituda a liberdade vigiada por internamento em casa de trabalho ou colnia agrcola por perodo indeterminado mas no superior, no seu mximo, ao prazo de liberdade vigiada ainda no cumprido.

    4. A cauo de boa conduta ser prestada por depsito da quantia que o juiz fixar, pelo prazo de dois a cinco anos.

    Se no puder ser prestada cauo, ser esta substituda por liberdade vigiada pelo mesmo prazo.

    A cauo ser perdida a favor do Cofre Geral dos Tribunais se aquele que a tiver prestado tiver comportamento incompatvel com as obrigaes caucionadas, dentro do prazo que for estabelecido ou se, no mesmo prazo, der causa aplicao de outra medida de segurana.

    5. A interdio duma profisso, mester, indstria ou comrcio priva o condenado de capacidade para o exerccio de profisso, mester, indstria ou comrcio, para os quais seja necessria habilitao especial ou autoriza-o oficial. A interdio ser aplicada pelo tribunal sempre que haja lugar a condenao em pena de priso maior ou priso por mais de seis meses por crimes dolosos cometidos no exerccio ou com abuso de profisso, mester, indstria ou comrcio, ou com violao grave dos deveres correspondentes.

    A durao da interdio ser fixada na sentena, entre o mnimo de um ms e o mximo de dez anos. Quando o crime perpetrado for punvel com priso, a durao mxima da interdio de dois anos.

    O prazo da interdio conta-se a partir do termo da pena de priso.O tribunal poder, decorrido metade do tempo da interdio, e mediante

    prova convincente da convenincia da cessao da interdio, substitu-la por cauo de boa conduta.

    O exerccio de profisso, mester, comrcio ou indstria interditos por deciso judicial punvel com priso at um ano.

    ARTIGO 71.

    (Aplicao de medidas de seguranas)

    So aplicveis medidas de segurana:

    1. Aos vadios, considerando-se como tais os indivduos de mais de 16 anos e menos de 60 que, sem terem rendimentos com que provejam ao seu sustento, no exercitem habitualmente alguma profisso ou mester em que ganhem efectivamente a sua vida e no provem necessidade de fora maior que os justifique de se acharem nessas circunstncias;

    2. Aos indivduos aptos a ganharem a sua vida pelo trabalho, que se dediquem, injustificadamente, mendicidade ou explorem a mendicidade alheia;

  • Cdigo Penal

    30

    3. Aos rufies que vivam total ou parcialmente a expensas de mulheres prostitudas;

    4. Aos que se entreguem habitualmente prtica de vcios contra a natureza;

    5. s prostitutas que sejam causa de escndalo pblico ou desobedeam continuadamente s prescries policiais;

    6. Aos que mantenham ou dirijam casas de prostituio ou habitualmente frequentadas por prostitutas, quando de-sobedeam repetidamente s prescries regulamentares e policiais;

    7. Aos que favoream ou excitem habitualmente a depravao ou corrupo de menores, ou se dediquem ao aliciamento prostituio, ainda que no tenham sido condenados por quaisquer factos dessa natureza;

    8. Aos indivduos suspeitos de adquirirem usualmente ou ser-virem de intermedirios na aquisio ou venda de objectos furtados, ou produto de crimes, ainda que no tenham sido condenados por receptadores, se no tiverem cumprido as determinaes legais ou instrues policiais destinadas fiscalizao dos receptadores;

    9. A todos os que tiverem sido condenados por crimes de asso-ciao de malfeitores ou por crime cometido por associao de malfeitores, quadrilha ou bando organizado.

    1. O internamento, nos termos do n. 2. e 2. do artigo 70., s poder ter lugar pela primeira vez quanto aos indivduos indicados nos n.os 1., 2., 7. e 9.

    Aos indivduos indicados nos n.os 3., 4., 5., 6. e 8. ser imposta, pela primeira vez, a cauo de boa conduta ou a liberdade vigiada e, pela segun-da, a liberdade vigiada com cauo elevada ao dobro, ou o internamento.

    2. Os delinquentes que forem alcolicos habituais e predispostos pelo alcoolismo para a prtica de crimes, ou abusem de estupefacientes, podero cumprir a pena em que tiverem sido condenados e ser internados aps esse cumprimento em estabelecimento especial, em priso-asilo ou em casa de trabalho ou colnia agrcola por perodo de seis meses a trs anos.

    O internamento s pode ser ordenado na sentena que tiver condenado o delinquente.

    3. Em relao aos estrangeiros, as medidas de segurana podero ser substitudas pela expulso do territrio nacional.

  • Artigo 72.

    31

    4. A aplicao de medidas de segurana que no devam ser impostas em processo penal conjuntamente com a pena aplicvel a qualquer crime ou em consequncia da inimputabilidade do delinquente, e bem assim a prorrogao e substituio de medidas de segurana, tem lugar em pro-cesso de segurana ou complementar, nos termos da respectiva legislao processual.

    ARTIGO 72.

    (Alterao do estado de perigosidade)

    A alterao do estado de perigosidade, determinante da prorrogao das penas ou da aplicao de medidas de segurana, tem por efeito a subs-tituio dessas penas ou medidas de segurana por outras correspondentes natureza da alterao, nos termos seguintes:

    1. Poder ser substituda a prorrogao da pena aos delin-quentes de difcil correco pela prorrogao da pena como anormais perigosos, bem como a prorrogao da pena de anormais perigosos pela prorrogao da pena como delin-quentes de difcil correco, em consequncia da alterao da classificao anterior dos reclusos ou por se demonstrar praticamente mais eficaz a sujeio a regime diverso do inicialmente determinado;

    2. Poder ser aplicada a medida de segurana do n. 1. do artigo 70. aos delinquentes a quem tenha sobrevindo anomalia mental durante a execuo da pena, ou aos delinquentes anormais perigosos, nos termos da parte final do corpo do artigo 68.;

    3. A prorrogao das penas aplicadas a delinquentes de difcil correco ou anormais perigosos poder, nos casos que es-pecialmente o justifiquem, ser substituda por qualquer das medidas de segurana previstas nos n.os 3. e 4. do artigo 70.;

    4. As medidas de segurana no privativas de liberdade po-dem ser reduzidas na sua durao quando tal reduo se mostre conveniente para a readaptao social do condenado e j tiver decorrido metade do prazo fixado pela sentena condenatria;

    5. Podero, em geral, as medidas de segurana mais graves ser substitudas, durante a execuo, por medidas de segurana menos graves, que se mostrem adequadas readaptao social dos delinquentes.

  • Cdigo Penal

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    ARTIGO 73.

    (Limite da durao total das penas e medidas de seguranaprivativas de liberdade)

    A durao total das penas e medidas de segurana privativas de li-berdade aplicadas cumulativamente a um delinquente no pode exceder trinta anos.

    CAPTULO IIDos efeitos das penas

    ARTIGO 74.

    (Efeitos da condenao. Limitao)

    A condenao do criminoso, logo que passe em julgado, tem unicamente os efeitos declarados nos artigos seguintes.

    ARTIGO 75.

    (Efeitos no penais da condenao)

    O ru definitivamente condenado, qualquer que seja a pena, incorre:

    1. Na perda, a favor do Estado, dos instrumentos do crime, no tendo o ofendido, ou terceira pessoa, direito sua restituio;

    2. Na obrigao de restituir ao ofendido as coisas de que pelo crime o tiver privado, ou de pagar-lhe o seu valor legalmente verificado, se a restituio no for possvel, e o ofendido ou os seus herdeiros requererem esse pagamento;

    3. Na obrigao de indemnizar o ofendido do dano causado, e o ofendido ou os seus herdeiros requeiram a indemnizao;

    4. Na obrigao de pagar as custas do processo e as despesas de expiao.

    ARTIGO 76.

    (Efeitos da condenao em pena maior)

    O ru, definitivamente condenado a qualquer pena maior, incorre:

    1. Na perda de qualquer emprego ou funes pblicas, digni-dades, ttulos ou condecoraes;

    2. Na incapacidade de eleger, ser eleito ou nomeado para quaisquer funes pblicas;

  • Artigo 77.

    33

    3. Na de ser tutor, curador, procurador em negcios de justia, ou membro do conselho de famlia.

    nico. A incapacidade de que trata o n. 3. cessa com a extino da pena, salvo disposio especial da lei.

    ARTIGO 77.

    (Efeitos da condenao em pena de priso correccional, suspenso temporria dos direitos polticos ou desterro)

    O ru, definitivamente condenado a pena de priso, de suspenso temporria dos direitos polticos ou de desterro, incorre:

    1. Na suspenso de qualquer emprego ou funes pblicas;

    2. Nas incapacidades estabelecidas nos n.os 2. e 3. do artigo precedente.

    1. As incapacidades e a suspenso decretadas neste artigo cessam, ipso facto, pela extino da pena que as produziu, salvo o disposto no 2. e no artigo 78.

    2. Os condenados em qualquer pena pelo crime de lenocnio ficam definitivamente incapazes de exercer o poder paternal ou a tutela.

    ARTIGO 78.

    (Impossibilidade de provimento em emprego pblico)

    No poder ser provido em qualquer emprego pblico:

    1. Aquele que tiver sido condenado em pena de priso por furto, roubo, abuso de confiana, burla, quebra fraudulenta, falsidade, fogo posto ou por crime cometido na qualidade de empregado pblico no exerccio das suas funes, desde que se trate de crimes dolosos, bem como o que tiver sido declarado delinquente de difcil correco;

    2. Aquele a quem tiver sido aplicada pena de priso por outras infraces ou de multa por infraces com carcter de delito doloso contra a economia ou a sade pblica, salvo estando reabilitado.

    ARTIGO 79.

    (Princpio da legalidade na suspenso de direitos)

    Fora do caso de suspenso do exerccio de todos os direitos polticos, a suspenso das honras e distines da nobreza, do uso de qualquer conde-corao, do direito de trazer armas, do de ensinar ou dirigir ou concorrer na direco de qualquer estabelecimento de instruo, da capacidade de

  • Cdigo Penal

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    ser tutor ou curador ou membro de algum conselho de famlia, de ser pro-curador em juzo, de ser testemunha em qualquer acto solene e autntico, e bem assim a suspenso do exerccio de profisso que exija ttulo, s ter lugar quando a lei expressamente o declarar.

    ARTIGO 80.

    (Contedo da pena de suspenso temporria dos direitos polticos)

    A suspenso de qualquer dos direitos polticos por tempo determina-do produz, quanto aos empregados pblicos, a suspenso do exerccio do emprego por tanto tempo quanto aquela durar.

    ARTIGO 81.

    (Contedo da pena de demisso)

    O condenado pena de demisso de emprego incorre:

    1. Na incapacidade de tornar a servir o mesmo emprego;

    2. Na perda do direito de se jubilar, aposentar ou reformar, por servios pblicos anteriores condenao.

    ARTIGO 82.

    (Penas eclesisticas)

    As penas eclesisticas no produzem efeito algum civil.

    ARTIGO 83.

    (Efeitos das penas. Produo ope legis)

    Os efeitos das penas tm lugar em virtude da lei, independentemente de declarao alguma na sentena condenatria.

  • Artigo 84.

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    TTULO IIIDa aplicao e execuo das penas

    CAPTULO IDa aplicao das penas em geral

    ARTIGO 84.

    (Medida da pena)

    A aplicao das penas, entre os limites fixados na lei para cada uma, depende da culpabilidade do delinquente, tendo-se em ateno a gravidade do facto criminoso, os seus resultados, a intensidade do dolo ou grau da culpa, ou motivos do crime e a personalidade do delinquente.

    nico. Na fixao da pena de multa, atender-se- sempre situao econmica do condenado, de maneira que o seu quantitativo, dentro dos li-mites legais, constitua pena correspondente culpabilidade do delinquente.

    ARTIGO 85.

    (Substituio das Penas. Princpio da legalidade)

    Nenhuma pena poder ser substituda por outra, salvo nos casos em que a lei o autorizar.

    ARTIGO 86.

    (Substituio da priso por multa)

    A pena de priso aplicada em medida no superior a seis meses poder ser sempre substituda por multa correspondente.

    1. A substituio da pena de priso pela de multa far-se- segundo o critrio estabelecido na alnea b) do artigo 63. e nos pargrafos do mesmo artigo.

    2. Se a infraco for punida com pena de priso at seis meses e multa, o tribunal que decidir a substituio da pena de priso aplicar uma s multa, equivalente soma da multa directamente cominada e da resultante da converso da priso.

    ARTIGO 87.

    (Pessoalidade da pena de multa)

    Quando a lei decretar a pena de multa, se a infraco for cometida por vrios rus, a cada um deles deve ser imposta essa pena.

  • Cdigo Penal

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    nico. A obrigao de pagar a multa s passa aos herdeiros do conde-nado se em vida deste a sentena de condenao tiver passado em julgado.

    ARTIGO 88.

    (Suspenso da execuo da pena. Pressupostos e fundamentao)

    Em caso de condenao a pena de priso, ou de multa, ou de priso e multa, o juiz, tendo ponderado o grau de culpabilidade e comportamento moral do delinquente e as circunstncias da infraco, poder declarar suspensa a execuo da pena, se o ru no tiver ainda sofrido condenao em pena de priso. A sentena indicar os motivos da suspenso da pena.

    1. O tempo de suspenso no ser inferior a dois anos, nem superior a cinco, e contar-se- desde a data da sentena em que tiver sido consignada.

    2. A suspenso pode ser subordinada ao cumprimento de obrigaes similares s que acompanham a concesso da liberdade condicional.

    ARTIGO 89.

    (Pena suspensa. Caducidade da suspenso, sua revogaoe alterao do condicionamento da condenao)

    Se decorrer o tempo da suspenso, sem que o ru tenha perpetrado outro crime da mesma natureza daquele por que foi condenado ou qualquer crime doloso pelo qual venha a ser condenado em pena privativa de liberdade, ou infringido as obrigaes impostas, a sentena dever considerar-se de nenhum efeito.

    1. No caso de nova condenao, o juiz acumular a primeira pena segunda, sem que todavia se confundam na execuo, nem se prejudiquem as regras estabelecidas para aplicao da pena no caso de reincidncia ou sucesso de crimes.

    2. No caso de infraco das obrigaes impostas, poder o juiz revogar a suspenso, ordenando a execuo da pena, alterar ou manter o condicionamento da condenao.

    ARTIGO 90.

    (Substituio da pena de suspenso dos direitos polticos)

    Quando algum indivduo, que no tenha ou no exera direitos polticos, cometer algum crime, se a pena decretada pela lei for a pena fixa de suspenso dos direitos polticos pelo tempo de quinze ou de vinte anos, ser substituda pela de priso. Se for a de suspenso temporria do exerccio de todos ou de alguns desses direitos, ser substituda pela de priso at um ano.

  • Artigo 91.

    37

    CAPTULO IIDa aplicao das penas quando h

    circunstncias agravantes ou atenuantes

    ARTIGO 91.

    (Agravao e atenuao geral das penas maiores)

    Se nos casos em que forem aplicveis penas maiores concorrerem cir-cunstncias agravantes ou atenuantes, as quais no sejam consideradas especial e expressamente na lei para qualificar a maior ou menor gravidade do crime, determinando a pena correspondente, observar-se-, segundo a maior ou menor influncia na culpabilidade do criminoso, o disposto nos nmeros seguintes:

    1. As penas dos n.os 1., 2., 3. e 4. do artigo 55. agravam-se e atenuam-se, quando durao, dentro do mximo e mnimo das mesmas penas. Poder, no entanto, reduzir-se de dois anos o limite mnimo normal das penas referidas;

    2. A pena do n. 5. do artigo 55. agrava-se e atenua-se, quanto durao, dentro dos seus limites legais;

    3. A pena de suspenso dos direitos polticos por tempo de quinze ou vinte anos agrava-se com a pena de multa at dois anos e atenua-se com a reduo da sua durao a dez ou quinze anos.

    ARTIGO 92.

    (Agravao e atenuao das penas de priso, desterro e suspenso temporria dos direitos polticos)

    As penas de priso agravam-se e atenuam-se, fixando a sua durao entre os limites que a lei determinar para a infraco.

    nico. A pena de suspenso temporria dos direitos polticos gradua--se entre o mximo e o mnimo legais, mas poder reduzir-se a sua durao a dois anos.

    ARTIGO 93.

    (Agravao extraordinria das penas quanto aos delinquentes habituais e por tendncia)

    Haver lugar a agravao extraordinria das penas quanto aos delin-quentes habituais e por tendncia, nos termos seguintes:

    1. Os limites mximo e mnimo das penas de priso maior sero aumentados de um quarto da sua durao;

  • Cdigo Penal

    38

    2. A pena de priso ser aumentada de metade nos seus limites mnimo e mximo, no podendo ser inferior a um ms.

    ARTIGO 94.

    (Atenuao extraordinria das penas)

    Podero extraordinariamente os juzes, considerando o especial valor das circunstncias atenuantes:

    1. Substituir as penas de priso maior mais graves pelas menos graves;

    2. Reduzir a um ano o mnimo da pena do n. 5. do artigo 55., ou substitu-la por priso no inferior a um ano;

    3. Substituir a pena fixa de suspenso dos direitos polticos pela de suspenso temporria de direitos polticos;

    4. Reduzir o mnimo especial da pena de priso ao seu mnimo geral, ou substituir a pena de priso pela de desterro ou pela de multa;

    5. Substituir qualquer das penas correccionais indicadas no artigo 56. pela de multa ou aplicar somente esta quando for decretada juntamente com outra.

    6. Substituir as penas especiais para empregados pblicos mais graves pelas menos graves.

    ARTIGO 95.

    (Concurso simultneo de agravantes e atenuantes)

    Concorrendo simultaneamente circunstncias agravantes e circuns-tncias atenuantes, conforme umas ou outras predominarem, ser agra-vada ou atenuada a pena.

    ARTIGO 96.

    (Circunstncias agravantes qualificativas)

    Quando uma circunstncia qualifique a maior ou menor gravidade do crime, determinando especialmente a medida da pena, em relao pena fixada em razo da qualificao que se estabelece a agravao ou atenuao resultante do concurso doutras circunstncias.

    nico. No concurso de circunstncias qualificativas que agravem a pena do crime em medida especial e expressamente considerada na lei, s ter lugar a agravao resultante da circunstncia qualificativa mais grave, apreciando-se as demais circunstncias dessa espcie como se fossem de carcter geral.

  • Artigo 97.

    39

    ARTIGO 97.

    (Gravidade relativa das penas)

    A gravidade das penas considera-se, em geral, segundo a ordem de precedncia por que vm enumeradas nos artigos 55., 56. e 57.

    ARTIGO 98.

    (Equivalncia entre as penas de desterro, prisoe priso maior)

    Quando, para qualquer efeito jurdico, se deva fazer a equivalncia entre a durao de penas de espcie diferente, far-se- corresponder a pena desterro a dois teros da pena de priso e esta a dois teros da pena de priso maior.

    ARTIGO 99.

    (Equivalncia entre as penas de multa e de priso )

    A equivalncia entre a pena de multa e a de priso, quando aquela directamente no corresponda a certo tempo de durao, faz-se tendo em ateno o critrio estabelecido no 1. do artigo 123. para converso da multa em priso.

  • Cdigo Penal

    40

    CAPTULO IIIDa aplicao das penas, nos casos de

    reincidncia, sucesso, acumulao de crimes, cumplicidade, delito frustrado e tentativa

    ARTIGO 100.

    (Aplicao da pena no caso de reincidncia)

    No caso de reincidncia observar-se- o seguinte:

    1. Se a pena aplicvel for de priso maior, a agravao corres-pondente reincidncia ser igual a metade da diferena entre os limites mximo e mnimo da pena. A medida da agravao poder, no entanto, ser reduzida, se as circuns-tncias relativas personalidade do delinquente o acon-selharem, a um aumento de pena igual durao da pena aplicada na condenao anterior;

    A medida da pena ser ainda elevada com metade do au-mento assim determinado, no caso de segunda reincidncia;

    2. Se a pena aplicvel for de priso, a agravao consistir em aumentar o mximo e mnimo da pena de metade da durao mxima da pena aplicvel.

    ARTIGO 101.

    (Aplicao da pena no caso de sucesso de crimes)

    No caso de sucesso de crimes, se for aplicvel priso maior, e se a con-denao anterior tiver sido tambm em priso maior, observar-se- a regra estabelecida para a primeira reincidncia no n. 1. do artigo antecedente.

    nico. Nos demais casos de sucesso de crimes agravar-se- a pena segundo as regras gerais.

    ARTIGO 102.

    (Pena aplicvel no caso de acumulao de infraces)

    A acumulao de crimes ser punida segundo as seguintes regras gerais:

    1. No concurso de crimes punveis com a mesma pena, ser aplicada a pena imediatamente superior, se aquela for alguma das indicadas nos n.os 2., 3. e 4. do artigo 55.; se for qualquer outra pena, com excepo da do n. 1. do artigo 55., aplicar-se- a mesma pena, agravada em medida no inferior a metade da sua durao mxima;

  • Artigo 103.

    41

    2. Quando os crimes sejam punveis com penas diferentes ser aplicada a pena mais grave, agravada segundo as regras gerais, em ateno acumulao de crimes. O mesmo se observar quando uma das penas for a do n. 1. do artigo 55.

    1. Exceptuam-se do disposto neste artigo a pena ou as penas de multa, que sero sempre acumuladas com as outras penas.

    2. O cmulo das penas nos termos deste artigo far-se- sem preju-zo da indicao na sentena condenatria da pena correspondente a cada crime. Em nenhum caso a pena nica poder exceder a soma das penas aplicadas.

    ARTIGO 103.

    (Pena dos cmplices)

    A pena dos cmplices do crime consumado ser a mesma que caberia aos autores do crime frustrado.

    A dos cmplices de crime frustrado a mesma que caberia aos autores da tentativa desse crime.

    A dos cmplices de tentativa a mesma que, reduzida ao mnimo, caberia aos autores daquela.

    ARTIGO 104.

    (Pena aplicvel no caso de crime frustrado)

    No caso de crime frustrado observar-se-o as seguintes regras:

    1. Se as penas aplicveis, supondo-se consumado o crime, fossem quaisquer das penas designadas nos n.os 1., 2., 3. e 4. do artigo 55. sero aplicadas respectivamente as penas imediatamente inferiores;

    2. Se a de priso maior de dois a oito anos, ou nos casos espe-ciais declarados na lei, qualquer pena correccional, o mximo da pena aplicvel ser reduzido a metade da sua durao mxima.

    ARTIGO 105.

    (Pena aplicvel aos autores de tentativa)

    Aos autores de tentativa ser aplicada a mesma pena que caberia aos autores de crime frustrado, se nele tivessem intervindo circunstncias atenuantes.

  • Cdigo Penal

    42

    CAPTULO IVDa aplicao das penas em alguns casos

    especiais

    ARTIGO 106.

    (Pena aplicvel ao encobridor)

    O encobridor ser punido nos termos seguintes:

    1. Se ao crime for aplicvel qualquer pena maior, com excepo da indicada no n. 5. do artigo 55., ser-lhe- aplicada pena de priso;

    2. Se for a pena maior do n. 5. do artigo 55., ser-lhe- aplicada a de priso por seis meses a um ano;

    3. Se for a pena de priso, ser-lhe- aplicada a mesma pena, atenuada e nunca superior a trs meses.

    ARTIGO 107.

    (Pena aplicvel aos menores de vinte e um anos)

    Se o criminoso for menor de vinte e um anos ao tempo da perpetrao do crime, nunca lhe ser aplicada pena mais grave do que a do n. 3. do artigo 55..

    Artigo 108.

    (Pena aplicvel aos menores de dezoito anos)

    Se o criminoso tiver menos de dezoito anos ao tempo da perpetrao do crime, nunca lhe ser aplicada pena mais grave do que a do n. 5. do artigo 55..

    ARTIGO 109.

    (Tratamento dos menores inimputveis em razo da idade)

    Os menores de dezasseis anos esto sujeitos jurisdio dos tribunais de menores e, em relao a eles, s podem ser tomadas medidas de assis-tncia, educao ou correco previstas na legislao especial.

    ARTIGO 110.

    (Punibilidade dos crimes culposos)

    Os crimes meramente culposos s so punveis nos casos especiais declarados na lei. A estes crimes nunca sero aplicveis penas superiores de priso e multa correspondente.

  • Artigo 111.

    43

    ARTIGO 111.

    (Punio do agente com privao voluntriae acidental da inteligncia)

    O disposto no artigo antecedente extensivo aos criminosos em que concorrer alguma das circunstncias especificadas no artigo 50.

    ARTIGO 112.

    (Ressalva de casos especiais punidos com pena determinada)

    As disposies dos artigos 100., 101., 102., 103., 104., 105. e 106. entendem-se, salvos os casos especiais em que a lei decretar pena determinada.

    CAPTULO VDa execuo das penas e medidas de segurana

    ARTIGO 113.

    (Pessoalidade das penas)

    As penas no passaro em caso algum da pessoa do delinquente.

    ARTIGO 114.

    (Impossibilidade de priso por falta de pagamento de imposto de justia, custas e selos)

    No haver priso por falta de pagamento do imposto de justia, custas ou selos.

    ARTIGO 115.

    (Fundamento das sanes criminais e medidas de segurana que podem ser aplicadas provisoriamente)

    A execuo das penas ou medidas de segurana funda-se exclusiva-mente em sentena passada em julgado.

    nico. S podem ser aplicadas provisoriamente as medidas de segu-rana de internamento em manicmio criminal, de liberdade vigiada e de interdio do exerccio de profisso.

    ARTIGO 116.

    (Incio do cumprimento das penas e medidasde segurana privativas da liberdade)

    A execuo das penas e medidas de segurana privativas de liberdade inicia-se no dia em que passar em julgado a sentena condenatria sempre que o condenado se encontre preso.

  • Cdigo Penal

    44

    nico. O incio da execuo das penas e medidas de segurana pri-vativas de liberdade ser diferido:

    1. Nos casos previstos nos artigos 304. e 305. do Cdigo de Processo Penal;

    2. Se o condenado enlouquecer depois da condenao, at que recobre a integridade mental, salvo no caso do n. 1. do artigo 70.;

    3. Durante os presumidos trs ltimos meses de gravidez devidamente comprovada e at trs meses depois do parto; mas, se a condenao for em priso maior, o juiz poder ordenar o internamento, sob custdia, em estabelecimento adequado;

    4. Se o condenado tiver de cumprir primeiro outra pena.

    ARTIGO 117.

    (Desconto na durao das penas e medidas de segurana)

    Na durao das penas e medidas de segurana privativas de liberdade levar-se- em conta por inteiro:

    1. A priso preventiva, a partir da captura;

    2. A priso que houver sido cumprida em execuo de conde-nao por tribunal estrangeiro pelo mesmo crime;

    3. O tempo de internamento hospitalar que suspenda a exe-cuo da pena, se no tiver havido simulao.

    1. O tribunal que condenar em pena ou medida de segurana pri-vativa de liberdade ordenar o desconto da priso preventiva sofrida pela imputao de outro crime desde que este no tenha sido cometido depois do termo daquela priso.

    2. Na pena de multa descontar-se- a priso preventiva razo de um dia de multa por um dia de priso, ou razo de 50$ por dia se se tratar de pena de multa de quantia determinada.

    Neste ltimo caso, o quantitativo da multa descontado por dia de priso preventiva sofrida no ser inferior taxa diria de converso da multa em priso, indicada no nico do artigo 123.

    O desconto da priso preventiva na pena de multa s ter lugar quando no possa ser aplicado a qualquer pena de priso ou priso maior.

    3. Na pena de desterro descontar-se- a priso preventiva razo de trs dias de desterro por dois de priso.

    4. Na interdio temporria do exerccio de profisso descontar-se- o tempo da aplicao provisria.

  • Artigo 118.

    45

    ARTIGO 118.

    (Execuo das penas)

    Salvas as excepes previstas na lei, a execuo das penas contnua.A execuo das penas e medidas de segurana privativas de liberdade

    suspende-se:

    1. Por doena fsica ou mental que imponha internamento hospitalar;

    2. Por evaso do condenado e durante o tempo por que ele andar fugido;

    3. Por deciso do Tribunal Supremo, quando seja admitida a reviso da sentena.

    ARTIGO 119.

    (Resgate das penas de priso por trabalho)

    Aos condenados com exemplar comportamento na priso, que derem provas durante a execuo da pena de grande aptido para o trabalho, poder ser concedido, nos termos estabelecidos em regulamento, o resgate parcial da pena de priso ou priso maior, at ao limite de um dia de priso por trs dias de trabalho particularmente pesado, efectuado com notvel diligncia ou de excepcional importncia, rendimento e perfeio.

    nico. A aprendizagem de um ofcio ou mester, com diligncia e reconhecida aptido, constitui motivo bastante para a apresentao ao tribunal competente de proposta de cessao da medida de internamento em casa de trabalho ou colnia agrcola dos indivduos indicados nos n.os 1. e 2. do artigo 71.

    ARTIGO 120.

    (Liberdade condicional)

    Os condenados a penas privativas de liberdade de durao superior a seis meses podero ser postos em liberdade condicional pelo tempo que restar para o cumprimento da pena, quando tiverem cumprido metade desta e mostrarem capacidade e vontade de se adaptar vida honesta.

    ARTIGO 121.

    (Obrigaes do libertado condicionalmente)

    A deciso que conceder a liberdade condicional especificar as obri-gaes que incumbem ao libertado e que podem variar segundo o crime cometido, a personalidade do recluso, o ambiente em que tenha vivido ou passe a viver, ou outras circunstncias atendveis.

  • Cdigo Penal

    46

    E, assim, isolada ou cumulativamente, poder ser-lhe imposto, em geral:

    1. A reparao, por uma s vez ou em prestaes, do dano causado s vtimas do crime;

    2. O exerccio de uma profisso ou mester, ou o emprego em determinado ofcio, empresa ou obra;

    3. A proibio do exerccio de determinados mesteres;

    4. A interdio de residncia, ou fixao de residncia, em determinado lugar ou regio;

    5. A aceitao da proteco e indicaes das entidades s quais for cometida a sua vigilncia;

    6. O cumprimento de deveres familiares especficos, particu-larmente de assistncia;

    7. A obrigao de no frequentar certos meios ou locais, ou de no acompanhar pessoas suspeitas ou de m conduta;

    8. A obrigao de prestar cauo de boa conduta;

    1. Em especial, poder ser imposto:

    a) Aos delinquentes anormais a obrigao de se submeterem ao tratamento mdico que lhes for prescrito;

    b) Aos delinquentes de difcil correco a obrigao de darem entrada em estabelecimento adequado, para sua ocupao em regime de meia liberdade, nos perodos em que se en-contrem desempregados;

    c) Aos menores a obedincia s prescries dos pais, da fa-mlia ou dos rgos encarregados de os educar ou assistir.

    2. As obrigaes impostas podem ser alteradas quando ocorram circunstncias que o justifiquem.

    ARTIGO 122.

    (Revogao da liberdade condicional)

    Se o libertado condicionalmente cometer outro crime da mesma nature-za daquele por que foi condenado ou qualquer crime doloso pelo qual venha a sofrer pena privativa de liberdade, a liberdade condicional ser revogada.

    Se no tiver bom comportamento ou no cumprir alguma das obrigaes que lhe tenham sido impostas, a liberdade condicional pode ser revogada ou alterado o seu condicionamento.

    Quando revogada a liberdade condicional, o condenado ter de com-pletar o cumprimento da pena, no se descontando o tempo que passou em liberdade.

  • Artigo 123.

    47

    ARTIGO 123.

    (Converso e substituio da pena de multa)

    A pena de multa, na falta de bens suficientes e desembaraados, pode ser modificada na sua execuo:

    1. Pela converso em priso por tempo correspondente;

    2. Pela substituio por prestao de trabalho.

    nico. Quando a multa for de quantia taxada pela lei, ser convertida em priso razo de 50$ por dia, no excedendo a sua durao dois anos no caso de multa aplicada por qualquer crime, seis meses no caso de multa aplicada a contravenes previstas nas leis, e um ms no caso de multa aplicada a contravenes previstas em regulamentos ou posturas.

    A taxa diria de converso da multa em priso no ser, porm, inferior que resultar da diviso do seu total pelo mximo do tempo em que pode ser convertida a pena de multa.

    ARTIGO 124.

    (Cumprimento da pena de multa por prestao de trabalho)

    As penas de multa, quer directamente aplicadas como tais, quer re-sultantes da substituio de penas de priso, podero ser cumpridas por meio de prestao de trabalho em qualquer mester ou ofcio, em obras pblicas, servios ou oficinas do Estado e dos corpos administrativos, ou em obras, servios ou oficinas de entidades particulares, nos termos e condies constantes da lei.

    1. No caso de substituio da multa por prestao de trabalho, por cada dia til de trabalho fica resgatada a parte da multa equivalente importncia descontada na remunerao do condenado.

    2. Tratando-se de pena de multa fixada por certa durao de tem-po, ou de pena de priso substituda por multa, considerar-se- resgatado um dia de multa com entrega de metade da remunerao de cada dia de trabalho.

    CAPTULO VIDa extino da responsabilidade criminal

    ARTIGO 125.

    (Extino do procedimento criminal, das penas e das medidas de segurana)

    O procedimento criminal, as penas e as medidas de segurana acabam, no s nos casos previstos no artigo 6., mas tambm:

  • Cdigo Penal

    48

    1. Pela morte do criminoso;

    2. Pela prescrio do procedimento criminal, embora no seja alegada pelo ru ou este retenha qualquer objecto por efeito do crime;

    3. Pela amnistia;

    4. Pelo perdo da parte, ou pela renncia ao direito de queixa em juzo, quando tenham lugar;

    5. Pela oblao voluntria, nas contravenes punveis s com multa;

    6. Pela anulao da sentena condenatria em juzo de reviso;

    7. Pela caducidade da condenao condicional;

    8. Nos casos especiais previstos na lei.

    1. A morte do criminoso e a amnistia no prejudicam a aco civil pelos danos causados, nem tm efeito retroactivo pelo que respeita aos direitos legitimamente adquiridos por terceiros.

    2. O procedimento criminal prescreve passados quinze anos, se ao crime for aplicvel pena maior, passados cinco, se lhe for aplicvel pena correccional ou medida de segurana, e passado um ano, quanto a contravenes.

    3. Se, para haver procedimento criminal, for indispensvel a queixa do ofendido ou de terceiros, prescreve o direito de queixa passados dois anos, se ao crime corresponder pena maior, e passado um ano, se a pena correspondente ao crime for correccional.

    4. A prescrio do procedimento criminal conta-se desde o dia em que foi cometido o crime.

    A prescrio do procedimento criminal no corre:

    1. A partir da acusao em juzo e enquanto estiver pendente o processo pelo respectivo crime;

    2. Aps a instaurao da aco de que dependa a instruo do processo criminal e enquanto no passe em julgado a respectiva sentena.

    5. Acerca da aco civil resultante do crime cumprir-se-, no que for aplicvel, o disposto nos 2., 3. e 4. deste artigo, se tiver sido cumulada com a aco criminal e os prazos estabelecidos nesses pargrafos forem mais longos do que os da lei civil, mas em todos os mais casos prescrever, assim como a restituio ou reparao civil mandada fazer por sentena criminal passada em julgado, segundo as regras do direito civil.

    6. O perdo da parte s extingue a responsabilidade criminal do ru, quando no h procedimento criminal sem denncia ou sem acusao

  • Artigo 126.

    49

    particular, excepto se j tiver transitado em julgado a respectiva sentena condenatria e ainda nos casos especiais declarados na lei. Se a parte for menor no emancipado ou interdito por causa que o iniba de reger a sua pessoa, o perdo apenas produzir efeitos quando seja legitimamente autorizado.

    7. O condenado julgado inocente em juzo de reviso, ou seus her-deiros, tem direito a receber do Estado uma indemnizao pelos danos sofridos.

    ARTIGO 126.

    (Outras causas de extino das penas e das medidas de segurana)

    A pena e a medida de segurana tambm acabam:

    1. Pelo seu cumprimento;

    2. Pelo indulto ou comutao;

    3. Pela prescrio;

    4. Pela reabilitao.

    1. O indulto e a comutao so da competncia do Chefe do Estado.O indulto no pode ser concedido antes de cumprida metade da pena

    ou metade da durao mnima da medida de segurana.O indulto consiste na extino total da pena.A comutao verifica-se por algum dos modos seguintes:

    1. Reduzindo a pena ou medida de segurana fixadas por sentena;

    2. Substituindo-as por outras menos graves e de durao igual ou inferior da parte da pena ou medida de segurana ainda no cumprida;

    3. Extinguindo ou limitando os efeitos penais da condenao.

    2. A aceitao do indulto ou comutao obrigatria para o condenado.

    3. As penas maiores prescrevem passados vinte anos, as penas correccionais passados dez anos e as penas por contravenes passado um ano. As medidas de segurana prescrevem passados cinco anos.

    4. A prescrio da pena ou da medida de segurana conta-se desde o dia em que a sentena condenatria tiver passado em julgado, mas, evadindo-se o condenado e tendo cumprido parte da pena, conta-se desde o dia da evaso. Nos condenados revelia, a prescrio comea a contar-se desde a data em que foi proferida a sentena condenatria.

    5. A prescrio da pena ou da medida de segurana no corre en-quanto o condenado se mostrar legalmente preso por outro motivo.

  • Cdigo Penal

    50

    6. Nas penas mistas, as penas mais leves prescrevem com a pena mais grave; mas as causas de extino referidas nos n.os 1., 2. e 3. no extinguem os efeitos da condenao.

    7. Salvo disposio em contrrio, o procedimento criminal e as penas s acabam relativamente queles a quem se referem as causas da sua extino.

    ARTIGO 127.

    (Reabilitao)

    A reabilitao extingue os efeitos penais da condenao. 1. A reabilitao de direito verifica-se, decorridos prazos iguais

    aos prazos de prescrio das penas ou ao dobro do prazo de prescrio das medidas de segurana, depois de extintas estas, se entretanto no houver lugar a nova condenao.

    2. A reabilitao judicial, plena ou limitada a algum ou alguns dos efeitos da condenao, pode ser requerida e concedida aps a extino da pena e da medida de segurana sem nova condenao, quando se prove o bom comportamento do requerente, esteja cumprida ou de outro modo extinta a obrigao de indemnizar o ofendido ou seja impossvel o seu cumprimento, e tenham decorrido os seguintes prazos:

    1. Seis anos, quando se trate de delinquentes de difcil correco;

    2. Um ano, quando se trate de condenados por crimes culposos ou por crimes dolosos punidos com pena de priso at seis meses ou outra de menor gravidade;

    3. Quatro anos, nos casos no especificados.

    3. Negada a reabilitao por falta de bom comportamento do reque-rente, s pode ser de novo requerida decorridos os prazos a que se refere o 2.

    4. A reabilitao no aproveita ao condenado quanto s perdas definitivas que lhe resultam da condenao, no prejudica os direitos que desta advierem para o ofendido ou para terceiros, nem sana, de per si, a nulidade dos actos praticados pelo condenado durante a sua incapacidade.

    5. Sero canceladas no registo criminal, no devendo dele constar para quaisquer efeitos:

    1. As condenaes anuladas em juzo de reviso e as condena-es por crimes amnistiados;

    2. As condenaes anteriores reabilitao de direito ou reabilitao judicial plena;

    3. As condenaes condicionais quando se tenha verificado a condio resolutiva do julgado.

  • Artigo 128.

    51

    ARTIGO 128.

    (Responsabilidade civil)

    A imputao e a graduao da responsabilidade civil conexa com os factos criminosos so regidas pela lei civil.

    TTULO IVDisposies transitrias

    ARTIGO 129.

    (Substituio de penas)

    No Cdigo Penal e legislao penal extravagante considerar-se-o substitudas as penas abolidas pelas que lhes correspondem nos termos seguintes:

    1. A pena de priso maior celular por oito anos seguida de degredo por vinte anos, com priso no lugar do degredo ou sem ela e a pena fixa de degredo por vinte e oito anos com priso no lugar do degredo por oito a dez anos, pela pena de priso maior de vinte a vinte e quatro anos;

    2. A de priso maior celular por oito anos seguida de degredo por doze e a pena fixa de degredo por vinte e cinco anos, pela pena de priso maior de dezasseis a vinte anos;

    3. A de priso maior celular por seis anos, seguida de degredo por dez e a pena fixa de degredo por vinte anos, pela pena de priso maior de doze a dezasseis anos;

    4. A de priso maior celular por quatro anos, seguida de de-gredo por oito e a pena fixa de degredo por quinze anos, pela pena de priso maior de oito a doze anos;

    5. A de priso maior celular de dois a oito anos, a pena de priso maior temporria de trs a doze anos e a de degredo temporrio de trs a doze anos, pela pena de priso maior de dois a oito anos;

    6. A pena de priso correccional pela pena de priso de trs dias a dois anos;

    7. A pena de expulso do territrio nacional, sem limitao de tempo, pela pena de priso e multa correspondente, e a pena de expulso temporria do territrio nacional, pela de priso at seis meses.

  • Cdigo Penal

    52

    1. A referncia em quaisquer preceitos incriminadores s penas dos n.os 1., 2., 3. e 4. do artigo 57. substituda pela referncia s penas dos n.os 1., 2., 3. e 4. do artigo 55., e a referncia aos n.os 5. e 6. do artigo 57. pela referncia pena do n. 5 do artigo 55.

    2. Consideram-se fixas as penas dos n.os 1., 2., 3., 4. e 6. do artigo 55.

    3. No confronto das penas substitudas nos termos deste artigo, e para os efeitos do artigo 6., considera-se mais leve a pena de priso maior em relao s de priso maior celular, degredo e priso temporria, sem que, contudo, o mximo da sua durao possa exceder, em direito transi-trio, o mximo da anterior priso maior celular, directamente aplicada ou resultante de reduo obrigatria da pena de degredo, ou o mximo da durao da pena de degredo, quando devesse ser cumprida como priso maior celular sem reduo do tempo da sua durao.

  • Artigo 130.

    53

    LIVRO IIDOS CRIMES EM ESPECIAL

    TTULO IDOS CRIMES CONTRA A RELIGIO DO REINO E DOS COMETIDOS POR ABUSO

    DE FUNES RELIGIOSAS

    CAPTULO IDOS CRIMES CONTRA A RELIGIO DO

    REINO

    Artigo 130.

    (Crimes contra a religio)

    Aquele que faltar ao respeito religio do reino, catlica, apostlica, romana, ser condenado na pena de priso desde um at dois anos, e na multa conforme a sua renda, de trs meses at trs anos, em cada um dos casos seguintes:

    1. Injuriando a mesma religio publicamente em qualquer dogma, acto ou objecto do seu culto, por factos ou palavras, ou por escrito publicado, ou por qualquer meio de publicao;

    2. Tentando pelos mesmos meios propagar doutrinas contrrias aos dogmas catlicos definidos pela Igreja;

    3. Tentando por qualquer meio fazer proslitos ou converses para religio diferente, ou seita reprovada pela Igreja;

    4. Celebrando actos pblicos de um culto que no seja o da mesma religio catlica;

    1. Se o criminoso for estrangeiro, sero nestes casos substitudas as penas de priso e de multa pela expulso do territrio nacional at doze anos.

    2. Se unicamente se tiver cometido simples falta de respeito, ou as palavras injuriosas ou blasfmias forem proferidas de viva voz publica-mente, mas sem inteno de escarnecer ou ultrajar a religio do reino, nem de propagar doutrina contrria aos seus dogmas, ser somente aplicada a pena de repreenso, podendo ajuntar-se a priso de trs a quinze dias.

  • Cdigo Penal

    54

    3. Se a injria consistir no desacato e profanao das Sagradas Formas da Eucaristia, a pena ser de dois a oito anos de priso maior.

    (Revogado pelo Decreto de 15 de Fevereiro de 1911)

    Artigo 131.

    (Perturbao violenta do culto religioso)

    A mesma pena ser imposta quele que por actos de violncia perturbar ou tentar impedir o exerccio do culto pblico da religio do reino.

    (Revogado pelo Decreto de 15 de Fevereiro de 1911)

    Artigo 132.

    (Injria e ofensa contra ministro da religio)

    A injria ou ofensa cometida contra um ministro de qualquer religio no exerccio ou por ocasio do exerccio legtimo do culto, ser considerada crime pblico e punida com as penas que so decretadas quando cometidas contra as autoridades pblicas.

    (Redaco do Decreto de 20 de Abril de 1911)

    Artigo 133.

    (Constrangimento ou embarao no exerccio do culto)

    Incorre nas penas de multa de 5$000 a 50$000 ris e priso correccional de dez a sessenta dias, sem prejuzo da pena mais grave que ao caso possa caber, aquele que, por actos de violncia ou ameaa contra um indivduo, ou fazendo-lhe recear qualquer perigo ou dano para a pessoa, honra ou bens, dele ou de terceiros, o determinar ou procurar determinar a exercer ou abster-se de exercer um culto, a contribuir ou abster-se de contribuir para as despesas desse culto.

    (Redaco do Decreto de 20 de Abril de 1911)

    Artigo 134.

    (Falsa qualidade de ministro de uma religio)

    Aquele que, arrogando-se a qualidade de ministro de uma religio. exercer publicamente qualquer dos actos da mesma religio, que somente podem ser praticados pelos seus ministros para isso devidamente auto-rizados, ser condenado na pena do artigo 236., 2., do Cdigo Penal.

    (Redaco do Decreto de 20 de Abril de 1911)

  • Artigo 135.

    55

    Artigo 135.

    (Falta de respeito religio)

    Todo o portugus que, professando a religio do reino, faltar ao respeito mesma religio, apostatando, ou renunciando a ela publicamente, ser condenado na pena fixa de suspenso dos direitos polticos por vinte anos.

    1. Se o criminoso for clrigo de ordens sacras, ser expulso do reino sem limitao de tempo.

    2. Estas penas cessaro logo que os criminosos tornem a entrar no grmio da Igreja.

    (Revogado pelo Decreto de 15 de Fevereiro de 1911)

    CAPTULO IIDos crimes cometidos por abuso de funes

    religiosas

    Artigo 136.

    (Abuso de funes religiosas)

    Todo o ministro eclesistico que se servir de suas funes religiosas para algum fim temporal reprovado pelas leis do reino, ser condenado em priso, e multa de um ms at trs anos.

    1. O que abusar de suas funes religiosas, se o abuso consistir na revelao do sigilo sacramental, ou em seduo de pessoa sua penitente para fim desonesto, ser condenado na pena de priso maior de oito a doze anos.

    2. Se o abuso consistir em proceder ou mandar proceder celebrao do matrimnio, sem que previamente tenham tido lugar as formalidades que as leis civis requerem, ser condenado em priso de um at dois anos e multa de um ms a um ano.

    (O 2. est revogado pela Concordata de 1940)

    Artigo 137.

    (Injria s autoridades no exerccio do culto)

    O ministro de qualquer religio que, no exerccio do seu ministrio, ou por ocasio de qualquer acto do culto, em sermes, ou em qualquer discurso verbal, ou em escrito publicado, injuriar alguma autoridade pblica ou atacar algum dos seus actos, ou a forma de governo ou as leis da Repbli-ca, ou negar ou puser em dvida os direitos do Estado consignados neste

  • Cdigo Penal

    56

    Decreto e na demais legislao relativa s igrejas, ou provocar a qualquer crime, ser condenado na pena do artigo 137. do Cdigo Penal, e na perda dos benefcios materiais do Estado.

    (Redaco do Decreto de 20 de Abril de 1911)

    Artigo 138.

    (Abusos em decises eclesisticas temporais)

    As bulas pastorais, ou outras determinaes escritas da cria roma-na, dos prelados ou outras entidades que tenham funes dirigentes de qualquer religio, no ficam dependentes de prvia aprovao do Estado para se publicarem e correrem dentro do Pas, mas os abusos ou delitos que elas contenham sero punidos nos termos das leis penais e da imprensa.

    (Redaco do Decreto n 3856, de 22 Fevereiro de 1918)

    Artigo 139.

    (Exerccio ou recusa ilegal de funes religiosas)

    A pena de priso de trs meses a dois anos ser imposta a qualquer ministro da religio do reino que cometer algum dos seguintes crimes:

    1. Se, estando legalmente suspenso do exerccio de suas funes ou de alguma delas, exercer aquelas de que estiver suspenso;

    2. Se recusar, sem motivo legtimo, a administrao dos Sa-cramentos, ou a prestao devida de qualquer acto do seu ministrio.

    (O n 2. est revogado pelo Decreto de 20 de Abril de 1911)

    Artigo 140.

    (Admisso ilegal em comunidade religiosa)

    So tambm declaradas extintas, passando para o Estado todos os seus bens, sem excepo, as associaes, corporaes ou outras entidades que admitirem, entre os seus membros ou empregados, quaisquer indivduos, de um ou o