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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE DIREITO CÓDIGO PENAL ANOTAÇÕES DE: Dr. ORLANDO RODRIGUES Docente da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto Dr. GRANDÃO RAMOS Docente da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

Codigo Penal

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Page 1: Codigo Penal

UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETOFACULDADE DE DIREITO

CÓDIGOPENAL

ANOTAÇÕES DE:

Dr. ORLANDO RODRIGUESDocente da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

Dr. GRANDÃO RAMOSDocente da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

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FICHA TÉCNICA

EDIÇÃO:FACULDADE DE DIREITO

COLECÇÃO:FACULDADE DE DIREITO

FOTOCOMPOSrçÃo E MONTAGEM:LITOCOR, LDA.

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:LITOTlPO, WA.

TIRAGEM: 1.500 EXEMPLARES

LUANDA- 2006

LIVRO PRIMEIRO-DISPOSIÇOES GERAIS

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TÍTULO IDOS CRIMES EM GERAL E DOS CRIMINOSOS

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES PRELIMINARES

ARTIGO 1.0

(Conceito de crime. Princípio da legalidade)

Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela leipenal.

ARTIGO r(Negligência. Fundamento)

A punição da negligência, nos casos especiais determinados nalei, funda-se na omissão voluntária de um dever.

ARTIGO 3.°(Conceito de contravenção)

Considera-se contravenção o facto voluntário punível, queunicamente consiste na violação, ou na falta de observância dasdisposições preventivas das leis e regulamentos, independentementede toda a intenção maléfica.

ARTIGO 4.°(Negligência nas contravenções)

Nas contravenções é sempre punida a negligência.

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ARTIGO 5."(Nullum crimen sine lege)

Nenhum facto, ou consista em acção ou em omissão, pode julgar-se criminoso, sem que uma lei anterior o qualifique como tal.

ARTIGO 6.°

(Aplicação da lei penal no tempo)

A lei penal não tem efeito retroactivo, salvas as seguintesexcepções:

I." - A infracção punível por lei vigente, ao tempo em que foicometida, deixa de o ser se uma lei nova a eliminar do número dasinfracções.

Tendo havido já condenação transitada em julgado, fica extinta apena, tenha ou não começado o seu cumprimento.

2.a - Quando a pena estabelecida na lei vigente ao tempo emque é praticada a infracção for diversa das estabelecidas em leisposteriores, será sempre aplicada a pena mais leve ao infractor, queainda não estiver condenado por sentença passada em julgado.

3.a - As disposições da lei sobre os efeitos da pena têm efeitoretroactivo, em tudo quanto seja favorável aos criminosos, ainda queestes estejam condenados por sentença passada em julgado, ao tempoda promulgação da mesma lei, salvos os direitos de terceiros.

ARTIGO 7."(Maioridade civil)

A maioridade estabelecida no artigo 311.° do Código Civil I

produzirá todos os seus efeitos nas relações da lei penal, quando amenoridade for a base para a determinação do crime, e sempre que amesma lei se refira, em geral,à maioridade ou à menoridade.

Pelo Código Civil de 1966 o artigo é o 130.°. Em Angola, a maioridade atinge-se aos 18anos - Artigo 1.0 da Lei n." 68n6, de 5 de Outubro.

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CAPÍTULO IIDA CRIMINALIDADE

ARTIGO 8.°

(Formas de aparecimento do crime)

São puníveis não só o crime consumado mas também o frustradoe a tentativa.

ARTIGO 9."(Crime consumado)

Sempre que a lei designar a pena aplicável a um crime, semdeclarar se se trata de crime consumado, de crime frustrado ou detentativa, entender-se-á que a impõe ao crime consumado.

ARTIGO 10.0(Crime frustrado)

Há crime frustrado quando o agente pratica com intenção todosos actos de execução que deveriam produzir como resultado o crimeconsumado, e todavia não o produzem por circunstânciasindependentes da sua vontade.

ARTIGO 11.°

(Tentativa)

Há tentativa quando se verificam cumulativamente os seguintesrequisitos:

1.0 - Intenção do agente;2.° - Execução começada e incompleta dos actos que deviam

produzir o crime consumado;3. ° - Ter sido suspensa a execução por circunstâncias

independentes da vontade do agente, excepto nos casos previstos noartigo 13.°;

4.° - Ser punido o crime consumado com pena maior, salvos oscasos especiais em que, sendo aplicável pena correccional ao crimeconsumado, a lei expressamente declarar punível a tentativa dessecrime.

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ARTIGO 12."(punição autónoma dos actos que constituem a tentativa)

Ainda que a tentativa não seja punível, os actos, que entra~ nasua constituição, são puníveis se forem classificados como cnmespela lei, ou como contravenções por lei ou regulamento.

ARTIGO 13."(Irrelevância da suspensão da execução nas infracções uniexecntivas)

Nos casos especiais, em que a lei qualifica como crimeconsumado a tentativa de um crime,a suspensão da execução destecrime pela vontade do criminoso não é causa justificativa.

ARTIGO 14.0

(Conceito de actos preparatórios)

São actos preparatórios os actos externos co~ducent~s a facilitarou preparar a execução do crime, que não constItu~m ainda começode execução. Os actos preparatórios não são pu.níveIs, mas a?s fact~sque entram na sua constituição é aplicável o disposto no artigo 12..

ARTIGO 15."(Fontes do Direito Penal. Princípio da legalidade)

Não são crimes os actos que não são qualificados como tais poreste Código.

§ único - Exceptuam-se da disposição deste artigo:

1.° - Os actos qualificados crimes por legislação especial, .nasmatérias não reguladas por este Código, ou naquelas em que se fizerreferência à legislação especial;

2.° - Os crimes militares.

ARTIGO 16."(Crimes militares)

São crimes militares os factos que ofendem directamente adisciplina do exército ou da marinha, e que a lei militar qu.alifica emanda punir como violação do dever militar, sendo cometidos pormilitares ou outras pessoas pertencentes ao exército ou marinha.

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§ único - Os crimes comuns,cometidos por militares ou outraspessoas pertencentes ao exército ou marinha, serão sempre punidoscom as penas determinadas na lei geral, ainda quando julgados nostribunais militares.

ARTIGO 17.0

(Ressalva de legislação civil)

As disposições das leis civis que.pela prática ou omissão decertos factos, modificam alguns dos direitos civis, ou estabelecemcondenações relativas a interesses particulares, e somente dão lugar àacção e instância civil, não se consideram alteradas por este Códigosem expressa derrogação.

ARTIGO 18.0

(Interpretação e integração da lei penal)

Não é admissível a analogia ou indução por paridade, ou pormaioria de razão, para qualificar qualquer facto como crime; sendosempre necessário que se verifiquem os elementos essencialmenteconstitutivos do facto criminoso, que a lei expressamente declarar.

CAPÍTULomDOS AGENTES DO CRIME

ARTIGO 19.0

(Agentes do Crime)

Os agentes do crime são autores, cúmplices ou encobridores.

ARTIGO 20.0

(Autores)

São autores:

1.o - Os que executam o crime, ou tomam parte directa na suaexecução;

2.° - Os que por violência física, ameaça, abuso de autoridadeou de poder constrangeram outro a cometer o crime, seja ou nãovencível o constrangimento;

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3.0 - Os que por ajuste, dádiva, promessa, ordem, pedido, oupor qualquer meio fraudulento e directo, determinaram outro acometer o crime;

4.0 _ Os que aconselharam ou instigaram outro a com~ter ocrime nos casos em que sem esse conselho ou instigação não tivessesido cometido;

5.0 - Os que concorreram directamente para facilitar ou prep~ara execução nos casos em que,sem esse concurso,não tivesse sidocometido o crime.

§ único - A revogação do mandato deverá ser consideradacomo circunstância atenuante especial, não havendo começo deexecução do crime, e como simples circunstância atenuante, quandojá tiver havido começo de execução.

ARTIGO 2l.°

(Excessus mandati)

O autor, mandante ou instigador é também considerado autor:

1.0 - Dos actos necessários para a perpetração do crime, aindaque não constituam actos de execução; .

2.0 - Do excesso do executor na perpetração do cnme nos casosem que devesse tê-lo previsto como consequência provável domandato ou instigação.

ARTIGO 22.°(Cúmplices)

São cúmplices:

1.0 - Os que directamente aconselharam ou instigaram outro aser agente do crime, não estando compreendidos no ~go 20.0;

2.0 - Os que concorreram directamente para facilitar ou prep~ara execução nos casos em que, sem esse concurso, pudesse ter SIdocometido o crime.

ARTIGO 23.°(Encobridores)

São encobridores:

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1.0 - Os que alteram ou desfazem os vestígios do crime com opropósito de impedir ou prejudicar a formação do corpo de delito;

2.0 - Os que ocultam ou inutilizam as provas, os instrumentosou os objectos do crime com o intuito de concorrer para aimpunidade;

3.0 - Os que,sendo obrigados em razão da sua profissão,emprego, arte ou ofício,a fazer qualquer exame a respeito de algumcrime,alteram ou ocultam nesse exame a verdade do facto com opropósito de favorecer algum criminoso;

4.° - Os que por compra,penhor,dádiva ou qualquer outro meio,se aproveitam ou auxiliam o criminoso para que se aproveite dosprodutos do crime, tendo conhecimento no acto da aquisição da suacriminosa proveniência; 2

5.0 - Os que dão coito ao criminoso ou lhe facilitam a fuga, como propósito de o subtraírem à acção da justiça.

§ único - Não são considerados encobridores o cônjuge,ascendentes, descendentes e os colaterais ou afins do criminoso atéao terceiro grau por direito civil, que praticarem qualquer dos factosdesignados nos n.OS1.0, 2.0 e 5.0 deste artigo.

ARTIGO 24.°(Conexão entre o encobrimento, a cumplicidade e a autoria)

Não há encobridor nem cúmplice sem haver autor; mas a puniçãode qualquer autor, cúmplice ou encobridor não está subordinada àdos outros agentes do crime.

o artigo 46.0 da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro, substituída, entretanto, pela Lei 6/99, de3 de Setembro, criou o crime de receptação o qual, no entanto, não cobre todas aspossibilidades de encobrimento real que cabem neste n.? 4.0 do artigo 23.0 do CódigoPenal, pois, aquela disposição exige dolo específico «intenção de obter para si ou paraterceiro, uma vantagem patrimonial» que não consta da previsão deste n." 4.", podendoconfigurar-se hipóteses de encobrimento real sem tal «intenção» de «vantagempatrimonial». Por outro lado, o artigo 47.0 da referida Lei n." 9/89, de II de Dezembrorevoga «o artigo 106." do Código Penal quando relativo aos casos de receptação real.Assim sendo, embora a doutrina, em geral, considere que "receptação" é o "encobrimentoreal" previsto no n.? 4." do artigo 23." do Código Penal, parece que, face à actual legislaçãopenal vigente, passam a existir como conceitos algo distintos, o "encobrimento real"previsto pelo n." 4.0 do artigo 23." do Código Penal e a "receptação" ou "receptação real"assinaladas pela Lei n." 9/89 nos seus artigos 46." e 47.°. A Lei 6/99 (art." 30.") mantémpara o crime de receptação o dolo especial ou específico (vintençâo de comercializar»).

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ARTIGO 25."

(Não punição da cumplicidade e do encobrimento nas contravenções)

Nas contravenções não é punível a cumplicidade nem oencobrimento.

CAPÍTULO IVDA RESPONSABILIDADE CRIMINAL

ARTIGO 26."

(Sujeito activo da infracção criminal. Imputabilidade)

Somente podem ser criminosos os indivíduos que têm anecessária inteligência e liberdade.

ARTIGO 27."(Responsabilidade criminal. Fins das penas)

A responsabilidade criminal consiste na obrigação de reparar odano causado na ordem moral da sociedade, cumprindo a penaestabelecida na lei e aplicada por tribunal competente.

ARTIGO 28."

(Princípio da individualidade da responsabilidade criminal)

A responsabilidade criminal recai única e individualmente nosagentes de crimes ou de contravenções.

ARTIGO 29.0

(Erro e consentimento do ofendido)

Não eximem da responsabilidade criminal:

1.0 - A ignorância da lei penal;2.° - A ilusão sobre a criminalidade do facto;3.° - O erro sobre a pessoa ou coisa a que se dirigir o facto

punível; .4.° - A persuasão pessoal da legitimidade do fim ou dos motivos

que determinaram o facto;

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5. ° - O consentimento do ofendido, salvos os casosespecificados na lei;

6.° - A intenção de cometer crime distinto do cometido, aindaque o crime projectado fosse de menor gravidade;

7.° - Em geral, quaisquer factos ou circunstâncias, quando a leiexpressamente não declare que eles eximem de responsabilidadecriminal.

§ 1.0 - As circunstâncias designadas nos n.os 1.0 e 2.° deste artigonunca atenuam a responsabilidade criminal.

§ 2.° - O erro sobre a pessoa a que se dirigir o facto punívelagrava ou atenua a responsabilidade criminal, segundo ascircunstâncias.

§ 3.° - A circunstância designada no n." 6.0 não pode derimir emcaso algum a intenção criminosa, não podendo por consequência serpor esse motivo classificado o crime como meramente culposo.

ARTIGO 30.0

(Circunstâncias)

A responsabilidade criminal é agravada ou atenuada, quandoconcorrem no crime ou no agente dele circunstâncias agravantes ouatenuantes.

A esta agravação ou atenuação é correlativa a agravação ouatenuação da pena.

ARTIGO 31.°

(Circunstâncias inerentes ao agente)

As circunstâncias agravantes ou atenuantes inerentes ao agentesó agravam ou atenuam a responsabilidade desse agente.

ARTIGO 32."

(Circunstâncias relativas ao facto incriminado)

As circunstâncias agravantes relativas ao facto incriminado sóagravam a responsabilidade dos agentes, que delas tiveramconhecimento ou que devessem tê-las previsto, antes do crime oudurante a sua execução.

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ARTIG03r(Agravação e atenuação da responsabilidade criminal por contravenção)

A responsabilidade criminal por contravenção não pode seragravada nem atenuada, salvo o disposto no artigo 36.°.

ARTIGO 34.0

(Circunstâncias agravantes. Enumeração taxativa)

São unicamente circunstâncias agravantes:

L" - Ter sido cometido o crime com premeditação;2.a - Ter sido cometido o crime em resultado de dádiva ou

promessa;3.3 - Ter sido cometido o crime em consequência de não ter o

ofendido praticado ou consentido que se praticasse alguma acção ouomissão contrária ao direito ou à moral;

4.a _ Ter sido cometido o crime como meio de realizar outrocrime;

5." - Ter sido precedido o crime de ofensas, ameaças, oucondição de fazer ou não fazer alguma coisa;

6.3 - Ter sido o crime precedido de crime frustrado ou detentativa;

7." - Ter sido o crime pactuado entre duas ou mais pessoas;8." - Ter havido convocação de outra ou outras pessoas para o

cometimento do crime;9.a - Ter sido o crime cometido com auxílio de pessoas que

poderiam facilitar ou assegurar a impunidade;1O.a - Ter sido o crime cometido por duas ou mais pessoas;l l ." - Ter sido cometido o crime com espera, emboscada,

disfarce, surpresa, traição, aleivosia, excesso de poder, abuso deconfiança ou qualquer fraude;

12." - Ter sido cometido o crime com arrombamento,escalamento ou chaves falsas;

13.a - Ter sido cometido o crime com veneno, inundação,incêndio, descarrilamento de locomotiva, naufrágio ou avaria debarco ou de navio, instrumento ou arma cujo porte e uso forproibido;

14.a - Ter sido cometido o crime com o emprego simultâneo dediversos meios ou com insistência em o consumar, depois demalogrados os primeiros esforços;

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15.a - Ter sido cometido o crime entrando o agente ou tentandoentrar em casa do ofendido;

16." - Ter sido cometido o crime na casa de habitação doagente, quando não haja provocação do ofendido;

17.a - Ter sido cometido o crime em lugares sagrados, emtribunais ou em repartições públicas;

18." - Ter sido cometido o crime em estrada ou lugar ermo;19.a - Ter sido cometido o crime de noite, se a gravidade do

crime não aumentar em razão de escândalo proveniente dapublicidade;

20." - Ter sido cometido o crime por qualquer meio depublicidade ou por forma que a sua execução possa ser presenciada,nos casos em que a gravidade do crime aumente com o escândalo dapublicidade;

21.a - Ter sido cometido o crime com desprezo de funcionáriopúblico no exercício das suas funções;

22. a - Ter sido cometido o crime na ocasião de incêndionaufrágio, terramoto, inundação, óbito, qualquer calamidade públicaou desgraça particular do ofendido;

23. a - Ter sido cometido o crime com quaisquer actos decrueldade, espoliação ou destruição desnecessários à consumação docrime;

24.a - Ter sido cometido o crime, prevalecendo-se o agente dasua qualidade de funcionário;

25.a - Ter sido cometido o crime, tendo o agente a obrigaçãoespecial de o não cometer, de obstar a que seja cometido ou deconcorrer para a sua punição;

26.a - Ter sido cometido o crime,havendo o agente recebidobenefícios do ofendido, quando este não houver provocado a ofe~saque haja originado a perpetração do crime;

27.a - Ter sido cometido o crime, sendo o ofendido ascendentedescendente, esposo, parente ou afim até ao segundo grau por direitocivil, mestre ou discípulo,tutor ou tutelado, amo ou doméstico, ou dequalquer maneira legítimo superior ou inferior do agente;

28.a - Ter sido cometido o crime com manifesta superioridade,em razão da idade, sexo ou armas;

29.a - Ter sido cometido o crime com desprezo do respeitodevido ao sexo, idade ou enfermidade do ofendido;

30.a - Ter sido cometido o crime,estando o ofendido sob aimediata protecção da autoridade pública;

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31.a - Ter resultado do crime outro mal além do mal do crime;32.a - Ter sido aumentado o mal do crime com alguma

circunstância de ignomínia;33.a - Haver reincidência ou sucessão de crimes;34.a - Haver acumulação de crimes.

ARTIGO 35.0

(Reincidência)

Dá-se a reincidência quando o agente, tendo sido condenado porsentença passada em julgado por algum crime, comete outro crime damesma natureza, antes de terem passado oito anos desde a ditacondenação, ainda que a pena do primeiro crime tenha sido prescritaou perdoada.

§ 1.° - Quando a pena do primeiro crime tenha sido amnistiada,não se verifica a reincidência.

§ 2.° - Se um dos crimes for intencional e o outro culposo, nãohá reincidência.

§ 3.° - Os crimes podem ser da mesma natureza, ainda que nãotenham sido consumados ambos, ou algum deles.

§ 4.° - Não são computados para a reincidência, por crimesprevistos e punidos no Código Penal, as condenações proferidaspelos tribunais militares por crimes militares não previstos no mesmoCódigo, nem as proferidas por tribunais estrangeiros.

§ 5.° - Não exclui a reincidência a circunstância de ter sido oagente autor de um dos crimes e cúmplice do outro.

ARTIGO 36.0

(Reincidência nas contravenções)

Nas contravenções dá-se a reincidência quando o agente,condenado por uma contravenção, comete contravenção idênticaantes de decorrerem seis meses, contados desde a dita punição.

ARTIGO 37.0

(Sucessão de crimes)

Verifica-se a sucessão de crimes nos termos declarados no artigo35.°, sempre que os crimes não sejam da mesma natureza, e sem

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atenção ao tempo que mediou entre a primeira condenação e osegundo crime,ou sempre que, sendo da mesma natureza, tenhampassado mais de oito anos entre a condenação definitiva peloprimeiro e a perpetração do segundo.

§ único - Para os efeitos do que dispõe o artigo 10 1.° eparágrafos, é aplicável à sucessão de crimes o que para a reincidênciaestabelecem os §§ 2.° e 5.° do artigo 35.°.

ARTIGO 38.0

(Acumulação de infracções)

Dá-se a acumulação de crimes, quando o agente comete mais deum crime na mesma ocasião, ou quando, tendo perpetrado um,comete outro antes de ter sido condenado pelo anterior, por sentençapassada em julgado.

§ único - Quando o mesmo facto é previsto e punido em duasou mais disposições legais,como constituindo crimes diversos,não sedá a acumulação de crimes.

ARTIGO 39.0

(Circunstâncias atenuantes)

São circunstâncias atenuantes da responsabilidade criminal doagente:

I." - O bom comportamento anterior;2.a - A prestação de serviços relevantes à sociedade;3.a - Ser menor de catorze (sendo punível),dezoito ou vinte e

um anos,OU maior de setenta anos; 3

4.a - Ser provocado, se o crime tiver sido praticado em actoseguido à provocação, podendo esta,quando consistir em ofensa

A imputabilidade penal começa aos 16 anos, conforme o Decreto-Lei n." 39 688, de 5 deJunho de 1954 que introduziu a actual redacção do artigo 109." do Código Penal. Até aos16 anos, nos termos dos artigos 16.°, 17.",21.° e 22.0 da Organização Tutelar de Menores,aprovada pelo Decreto-Lei n." 42 488, de 20 de Abril de 1962, s6 são aplicáveis medidastutelares de protecção, assistência ou educação. Ver INSTITUTO DE ASSISTÊNCIAJURISDICIONAL DOS MENORES, DEC. n." 417n5 de 15 de Setembro.

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directa à honra da pessoa, ser considerada como violência grave paraos efeitos do que dispõe o artigo 370.°;

5. a - A intenção de evitar um mal ou a de produzir um malmenor;

6." - O imperfeito conhecimento do mal do crime;T? - O constrangimento físico, sendo vencível;S." - A imprevidência ou imperfeito conhecimento dos maus

resultados do crime;9.a - A espontânea confissão do crime;10." - A espontânea reparação do dano;l l.." - A ordem ou o conselho do seu ascendente, tutor, educador

ou amo, sendo o agente menor e não emancipado;12.a - O cumprimento de ordem de superior hierárquico do

agente, quando não baste para justificação deste;13.a - Ter o agente cometido o crime para se desafrontar a si, ao

seu cônjuge, ascendentes, descendentes, irmãos, tios, sobrinhos ouafins nos mesmos graus, de alguma injúria, desonra ou ofensa,imediatamente depois da afronta;

14.a - O súbito arrebatamento despertado por alguma causa queexcite a justa indignação pública;

15." - O medo vencível;16.a - A resistência às ordens do seu superior hierárquico, se a

obediência não for devida e se o cumprimento da ordem constituíssecrime mais grave;

17.a - O excesso de legítima defesa, sem prejuízo do dispostono artigo 378.°;

18.a - A apresentação voluntária às autoridades;19.a - A natureza reparável do dano causado ou a pouca

gravidade deste;20.a - O descobrimento dos outros agentes, dos instrumentos do

crime ou do corpo de delito, sendo a revelação verdadeira e profícuaà acção da justiça;

21.a - A embriaguez quando for: 1.0 incompleta e imprevista,seja ou não posterior ao projecto do crime; 2.° incompleta, procuradasem propósito criminoso e não posterior ao projecto do crime;

3.° completa, procurada sem propósito criminoso, e posterior aoprojecto do crime;

22.a - As que forem expressamente qualificadas como tais, noscasos especiais previstos na lei;

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23.a - Em geral, quaisquer outras circunstâncias,que precedam,acompanhem ou sigam o crime, se enfraquecerem a culpabilidade doagente ou diminuírem por qualquer modo a gravidade do factocriminoso ou dos seus resultados.

ARTIGO 40.°(Circunstâncias agravantes. Cessação do respectivo efeito)

As circunstâncias indicadas como agravantes deixam de o ser:

1.0 - Quando a lei expressamente as considerar como elementoconstitutivo do crime;

2.° - Quando forem de tal maneira inerentes ao crime, que semelas não possa praticar-se o facto criminoso punido pela lei;

3.° - Quando a lei expressamente o declarar,ou as circunstânciase natureza especial do crime indicarem,que não devem agravar ouque devem atenuar a responsabilidade criminal dos agentes em queconcorrem;

§ único - Quando qualquer das circunstâncias indicadas noartigo 34.° constituir CI1me,não agravará a responsabilidade criminaldo agente, senão pelo facto da acumulação de crimes.

ARTIGO 41.°(Circunstâncias derimentes)

São circunstâncias derimentes da responsabilidade criminal:

1." - A falta de imputabilidade;2.a -Ajustificação do facto.

ARTIGO 42.°(Inimputabilidade absoluta)

Não são susceptíveis de imputação:

1.0 - Os menores de 10 anos; [REVOGADO] 4

A imputabilidade começa hoje aos 16 anos. Ver, nomeadamente, a redacção do artigo 109."introduzida pelo Decreto-Lei n." 3 .688, de 5 de Junho de 1954. Ver também OrganizaçãoTutelar de Menores - Decreto-Lei n." 44 288, de 20 de Abril de 1962 e Instituto deAssistência Jurisdicional dos Menores.Decreto n." 417/75, de 15 de Setembro. Verificartambém a nota referente ao Artigo n." 39.° CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES - Nota 3.

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2.° - Os loucos que não tiverem intervalos lúcidos.

ARTIGO 43.°

(Imputabilidade relativa)

Não têm imputação:

1.° - Os menores que, tendo mais de dez anos e menos decatorze, tiverem procedido sem discernimento; [REVOGADO] 5

2. ° - Os loucos que, embora tenham intervalos lúcidos,praticarem o facto no estado de loucura;

3.° - Os que, por qualquer outro motivo independente da suavontade, estiverem acidentalmente privados das suas faculdadesintelectuais no momento de cometer o facto punível.

§ único - A negligência ou culpa considera-se sempre comoacto ou omissão dependente da vontade.

ARTIGO 44.°

(Causas de justificação do facto e de exclusão da culpa)

Justificam o facto:

1.0 - Os que praticam o facto violentados por qualquer forçaestranha, física e irresistível;

2.° - Os que praticam o facto dominados por medo insuperávelde um mal igualou maior, iminente ou em começo de execução;

3.° - Os inferiores, que praticam o facto, em virtude deobediência legalmente devida a seus superiores legítimos, salvo sehouver excesso nos actos ou na forma de execução;

4.° - Os que praticam o facto em virtude de autorização legal,no exercício de um direito ou no cumprimento de uma obrigação, setiverem procedido com a diligência devida, ou o facto for umresultado meramente casual;

Actualmente a imputabilidade penal começa aos 16 anos e antes disso há inimputabilidadeabsoluta. Ver actual redacção do artigo 109.0 introduzida pelo Decreto-Lei n." 39 688, de 5de Junho de 1954, a Organização Tutelar de Menores, Decreto-Lei n." 44 288 de 20 deAbril de 1962 e o Decreto n." 417n5, (Instituto de Assistência Jurisdicional dos Menores)

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5.° - Os que praticam o facto em legítima defesa própria oualheia;

6.° - Os que praticam um facto cuja criminalidade provémsomente das circunstâncias especiais, que concorrem no ofendido ouno acto, se ignorarem e não tiverem obrigação de saber a existênciadessas circunstâncias especiais;

7.° - Em geral, os que tiverem procedido sem intençãocriminosa e sem culpa.

ARTIGO 45.°

(Estado de necessidade)

Só pode verificar-se a justificação do facto nos termos do n." 2.°do artigo precedente, quando concorrerem os seguintes requisitos:

1.0 - Realidade do mal;2.° - Impossibilidade de recorrer à força pública;3.° - Impossibilidade de legítima defesa;4.° - Falta de outro meio menos prejudicial do que o facto

praticado;5.° - Probabilidade da eficácia do meio empregado.

ARTIGO 46.°

(Legítima defesa)

Só pode verificar-se a justificação do facto, nos termos do n." 5.°do artigo 44.°, quando concorrerem os seguintes requisitos:

1.° - Agressão ilegal em execução ou iminente, que não sejamotivada por provocação, ofensa ou qualquer crime actual praticadopelo que defende;

2.° - Impossibilidade de recorrer à força pública;3.° - Necessidade racional do meio empregado para prevenir ou

suspender a agressão.

§ único - Não é punível o excesso de legítima defesa devido aperturbação ou medo desculpável do agente.

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ARTIGO 47.°(Delinquentes anormais)

[REVOGADO] 6

Os loucos que, praticando o facto, forem isentos deresponsabilidade criminal, serão entregues a suas famílias para osguardarem, ou recolhidos em hospital de alienados, se a mania forcriminosa, ou se o seu estado o exigir para maior segurança.

ARTIGO 48.°(Menores inimputáveis)

[REVOGADO] 7

Os menores que, praticando o facto, forem isentos deresponsabilidade criminal por não terem dez anos ou por teremobrado sem discernimento sendo maiores de dez e menores decatorze anos, serão entregues a seus pais ou tutores ou a um qualquerestabelecimento de correcção, ou colónia penitenciária, se a houverno continente.

ARTIGO 49.°(Internamento dos menores inimputáveis em estabelecimentos de correcção)

[REVOGADO] •

Os menores a que se refere o artigo precedente, só podem serentregues a um estabelecimento de correcção em algum dosseguintes casos:

1.0 - Sendo vadios;2.° - Não tendo pais ou tutores;3.° - Não sendo estes idóneos;4.° - Não tendo estes os meios indispensáveis ou recusando-se a

dar-lhes educação idónea;

'- Revogado pelo artigo 68.° do Código Penal com a redacção que lhe foi dada pelosDecretos-Lei n." 39 688, de 5 de Junho de 1954 (§ único) e 184n2, de 31 de Maio (corpodo artigo).

7 - Revogado pelo Decreto-Lei n" 39.688, de 5 de Junho de 1954. Ver ORGANIZAÇÃOTUTELAR DE MENORES, Decreto-Lei n." 44 288, de 20 de Abril de 1962 eINSTITUTO DE ASSISTÊNCIA JURISDICIONAL DOS MENORES, Decreto n." 417n5de 15 de Setembro.

• - Revogado pelo Instituto de Assistência Jurisdicional dos Menores, Decreto n." 417n5, de15 de Setembro.

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5.° - Dando estes o seu consentimento;6.° - Tendo os menores cometido outro crime só justificado pela

idade.

ARTIGO 50.°(Privação voluntária e acidental da inteligência)

A privação voluntária e acidental do exercício da inteligência,inclusivamente a embriaguez voluntária e completa, no momento daperpetração do facto punível,não derime a responsabilidade criminal,apesar de não ter sido adquirida no propósito de o perpetrar, masconstitui circunstância atenuante de natureza especial, quando severifique algum dos seguintes casos:

1.0 - Ser a privação ou a embriaguez completa e imprevista, sejaou não posterior ao projecto do crime;

2.o - Ser completa, procurada sem propósito criminoso e nãoposterior ao projecto do crime.

ARTIGO 51.°

(Independência da responsabilidade civil em relaçãoà responsabilidade criminal)

A isenção de responsabilidade criminal não envolve a 'deresponsabilidade civil, quando tenha lugar.

ARTIGO 52.°(Regra da responsabilidade criminal)

Têm responsabilidade criminal todos os agentes de factospuníveis, em que não concorrer alguma circunstância dirimente dessaresponsabilidade, nos termos do artigo 41.° e subsequentes, salvas asexcepções expressas nas leis.

ARTIG05J.O

(Aplicação da lei penal no espaço)

A lei penal é aplicável, não havendo tratado em contrário:

1.0 - A todas as infracções cometidas em território angolano,qualquer que seja a nacionalidade do infractor;

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2.° - Aos crimes praticados a bordo de navio angolano em maralto, de navio de guerra angolano surto em porto estrangeiro, ou denavio mercante angolano surto em porto estrangeiro, quando osdelitos tiverem lugar entre gente da tripulação somente, e nãohouverem perturbado a tranquilidade do porto;

3.° - Aos crimes cometidos por angolano em país estrangeiro,contra a segurança interior ou exterior do Estado, de falsificação deselos públicos, de moedas angolanas, de papéis de crédito público oude notas do banco nacional, de companhias ou estabelecimentoslegalmente autorizados para a emissão das mesmas notas, não tendoos criminosos sido julgados no país onde delinquiram;

4.° - Aos estrangeiros que cometerem qualquer destes crimes,uma vez que compareçam em território angolano, ou se possa obter aentrega deles;

5.° - A qualquer outro crime ou delito cometido por angolanoem país estrangeiro, verificando-se os seguintes requisitos:

a) Sendo o criminoso ou delinquente encontrado emAngola;

b) Sendo o facto qualificado de crime ou delito, tambémpela legislação do país onde foi praticado;

c) Não tendo o criminoso ou delinquente sido julgado nopaís em que cometeu o crime ou delito.

§ 1.0 _ Exceptuam-se da regra estabelecida no n." 1.0 desteartigo as infracções praticadas a bordo de navio de guerra estrangeiroem porto ou mar territorial angolano, ou a bordo de navio mercanteestrangeiro, quando tiverem lugar entre gente da tripulação somentee não perturbarem a tranquilidade do porto.

§ 2.° - Quando aos delitos de que trata o n." 5.° só foremaplicáveis penas correccionais, o Ministério Público não promoverá aformação e julgamento do respectivo processo, sem que haja queixada parte ofendida ou participação oficial da autoridade do país ondese cometeram os mencionados delitos.

§ 3.° - Se nos casos dos n.OS 3.° e 5.° o criminoso ou delinquente,havendo sido condenado no lugar do crime ou delito, se tiversubtraído ao cumprimento de toda a pena ou de parte dela, formar-se-á novo processo perante os tribunais angolanos,que, se julgaremprovado o crime ou delito, lhe aplicarão a pena correspondente pelanossa legislação, levando em conta ao réu a parte que já tivercumprido. .

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TÍTULO IIDAS PENAS E SEUS EFEITOS

E DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

CAPÍTULO IDAS PENAS E DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

ARTIGO 54.0

(penas e medidas de segurança. Princípio da legalidade das reacções criminais)

Para prevenção e repressão dos crimes haverá penas e medidasde segurança. Não poderão ser aplicadas penas ou medidas desegurança, que não estejam decretadas na lei.

. As pen~s e medidas de segurança são as que se declaram nosartigos segumtes.

ARTIGO 55.0

(Penas maiores. Enumeração)

As penas maiores são:

1.° - A pena de prisão maior de vinte a vinte e quatro anos'2.° - A de prisão maior de dezasseis a vinte anos' '3.° - A de prisão maior de doze a dezasseis anos.'4.° - A de prisão maior de oito a doze anos' '5.° - A de prisão maior de dois a oito anos.'6 ° '. ~ A de suspensão dos direitos políticos por tempo de quinze

ou de vinte anos.

ARTIGO 56.0

(Penas correccionais)

As penas correccionais são:

1.° - A pena de prisão de três dias a dois anos'2.0-Adedesterro· ',3.°- A de suspensão temporária de direitos políticos'4.° - A de multa; ,5.°- A de repreensão.

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ARTIGO 57.0

(Penas especiais para os empregados públicos)

As penas especiais para os empregados públicos são:

1.0 - A pena de demissão;2.0 -A de suspensão;3.0 - A de censura.

ARTIGO 58.0

(Execução das penas privativas de liberdade)

Na execução das penas privativas de liberdade ter-se-á emvista,sem prejuízo da sua natureza repressiva,a regeneração doscondenados, e a sua readaptação social.

ARTIGO 59.0

(Trabalho prisional)

Os condenados a penas privativas de liberdade são obrigados atrabalhar na medida das suas forças e aptidões; o trabalho seráorganizado de maneira a promover a regeneração e readaptaçãosocial dos delinquentes, e a permitir-lhes a aprendizagem ou oaperfeiçoamento dum mester ou ofício.

§ 1.0 - O trabalho dos condenados em penas privativas deliberdade terá lugar,em regra,em oficinas e explorações industriais ouagrícolas próprias dos estabelecimentos prisionais. Poderá, porém,nos termos estabelecidos em legislação especial, ser permitida aocupação dos condenados fora das prisões,

§ 2.0 - O trabalho prisional é remunerado. O produto daremuneração será aplicado em conformidade com os regulamentos,de maneira a reforçar a consciência dos deveres morais, familiares esociais dos condenados, e a facilitar a sua readaptação à vida emliberdade, após o cumprimento da pena.

ARTIGO 60.0

(Suspensão dos direitos políticos)

A pena fixa de suspensão dos direitos políticos consiste naincapacidade de tomar parte, por qualquer maneira, no exercício ou

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no estabelecimento do poder público e na incapacidade de exercerfunções públicas por tempo de quinze ou de vinte anos.

ARTIGO 61.0

(Suspensão temporária dos direitos políticos)

A suspensão temporária dos direitos políticos consiste naprivação do exercício de todos ou de alguns dos direitos políticos portempo não menor de três anos nem excedente a doze.

ARTIGO 62.0

(Desterro)

A pena de desterro obriga o réu a permanecer em um lugardeterminado pela sentença ou a sair da comarca por espaço de tempode três meses a três anos.

ARTIGO 63.0 '·A

(Multa)

A pena de multa consiste no pagamento:

a) De quantia determinada ou a fixar entre um mínimo e ummáximo declarados na lei;

b) De quantia proporcional aos proventos do condenado,pelo tempo que a sentença fixar até dois anos, não sendo,por dia, inferior a Kz. 2.00 nem superior a Kz. 40.00.

§ 1.0 - Os limites estabelecidos na alínea b) deste artigo serãoelevados ao triplo:

1.0 - Se a infracção tiver sido cometida com fim de lucro;2. ° - Se, em virtude da situação económica do réu, dever

reputar-se ineficaz a multa dentro dos limites normais.

§ 2.0 - O quantitativo da pena de multa fixada em sentença nãopode ser acrescido de quaisquer adicionais.

§ 3.0 - Da importância de todas as multas aplicadas em processopenal, incluindo as resultantes de conversão da pena de prisão,reverterá metade para a Fazenda Nacional e metade para o CofreGeral de Justiça.

S·A - Redacção do Decreto-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro

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ARTIGO 64.0

(Repreensão)

A pena de repreensão obriga o condenado a comparecer emaudiência pública do juízo respectivo para aí ser repreendido.

ARTIGO 65.0

(Demissão)

A pena de demissão ou perda de emprego pode ser comdeclaração de incapacidade para tornar a servir qualquer emprego, ousem essa declaração.

§ único - Pronunciar-se-á sempre a demissão do empregadopúblico quando este, fora do exercício das suas funções, forencobridor de coisa furtada ou roubada, ou cometer o crime dolosode falsidade, ou o de furto.de roubo, de burla, de quebra fraudulenta,de abuso de confiança, de fogo posto, e que a pena decretada na leiseja a prisão,nos casos em que o Ministério Público acusa,independentemente de denúncia ou acusação particular.

ARTIGO 66.0

(Suspensão do exercício do emprego e censura)

A suspensão do exercício 'do emprego terá a duração de trêsmeses a três anos.

§ único - A pena de censura dos empregados públicos pode serou simples, ou severa,com as formalidades decretadas na respectivalei disciplinar.

ARTIGO 67.0

(Delinquentes perigosos. Prorrogação da pena)

As penas de prisão e de prisão maior aplicadas a delinquentes dedifícil correcção poderão ser prorrogadas por dois períodossucessivos de três anos, quando se mantenha o estado deperigosidade, verificando-se que o condenado não tem idoneidadepara seguir vida honesta.

Consideram-se delinquentes de difícil correcção os delinquenteshabituais e por tendência.

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§ 1.0 - São delinquentes habítuais:

1.0 - Os que ,tendo sido condenados por crimes dolosos damesma natureza duas ou mais vezes em pena de prisão maior,reincidirem pela segunda vez cometendo novo crime a que caibatambém pena maior;

2.° - Os que, tendo sido condenados por crimes dolosos damesma natureza em penas de prisão ou prisão maior três vezes oumais num total de cinco anos, reincidirem pela terceira vezcometendo novo crime a que caiba também pena daquelas espécies;

3.° - Todos aqueles de quem se prove haverem já praticado,pelomenos,três crimes dolosos, consumados,frustrados ou tentados,a quecorresponda prisão maior,ou quatro desses crimes a que correspondaprisão ou prisão maior e que, atenta a sua espécie e gravidade, o fimou motivos determinantes, as circunstâncias em que foram cometidose o comportamento ou género de vida do criminoso, revelem o hábitode delinquir.

§ 2.° - São considerados delinquentes por tendência os que, nãoestando compreendidos nas categorias enunciadas no parágrafoanterior,cometerem um crime doloso, consumado,frustrado outentado, de homicídio ou de ofensas corporais, a que correspondapena maior, e que, atentos o fim ou motivos determinantes, os meiosempregados e mais circunstâncias, e o seu comportamento anterior,contemporâneo ou posterior ao crime, revelem perversão e malvadezque os faça considerar gravemente perigosos.

ARTIGO 68.0

(Delinquentes anormais perigosos)

Aos delinquentes imputáveis, criminalmente perigosos em razãode anomalia mental, anterior à condenação ou sobrevinda após esta,poderá a pena de prisão ou de prisão maior em que tenham sidocondenados ser prorrogada por dois períodos sucessivos de três anos,quando se mantiver o estado de perigosidade criminal resultante deanomalia mental. Se após as prorrogações a perigosidade do reclusose mantiver, poderá ser-lhe aplicada a medida de segurança do n." 1.0do artigo 70.°.

§ único - Os dementes inimputáveis que tenham cometido umfacto previsto na lei penal, a que corresponda pena de prisão por mais

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de seis meses, e que pela natureza da afecção mental devam serconsiderados criminalmente perigosos, mormente em razão datendência para perpetração de actos de violência, serão internados emmanicómios criminais. O internamento cessará, quando o tribunalverificar a cessação do estado de perigosidade criminal resultante daafecção mental.

Quando o facto cometido pelo demente irresponsável consista emhomicídio, ofensas corporais graves ou outro acto de violência,punível com pena maior, e se verifique a probabilidade deperpetração de novos factos igualmente violentos ou agressivos, ointernamento em manicómio criminal terá a duração mínima de trêsanos.

ARTIGO 69.0

(Menores imputáveis)

Os delinquentes menores de 21 anos e maiores de 16 cumprirãoas penas ou medidas de segurança privativas de liberdade, com o fimespecial de educação, em prisão-escola ou em estabelecimentoprisional comum, mas neste caso, separados dos demaisdelinquentes.

§ 1.0 - Aos delinquentes menores de difícil correcção só poderáser prorrogada a pena por dois períodos sucessivos de dois anos.

§ 2.° - Os maiores de 16 anos e menores de 18, com bonsantecedentes, condenados pela primeira vez a pena de prísão ou àmedida de segurança do n." 2 do artigo 70.°, poderão ser internadosem um instituto de reeducação pelo tempo de duração da pena oumedida de segurança. Se, durante o internamento, se mostrarinadequado o regime dos institutos de reeducação, o tribunalcompetente ordenará a transferência do menor para uma prísão-escolaou estabelecimento prísional comum.

§ 3.° - Poderá ser concedida a liberdade condicional aosdelinquentes menores quando, tendo completado 25 anos, se mostremcorrigidos, ainda que não tenham cumprido metade da pena.

ARTIGO 70.°(Medidas de segurança)

São medidas de segurança:

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1.° - O internamento em manicómio criminal;2.° - O internamento em casa de trabalho ou colónia agrícola;3.° - A liberdade vigiada;4.° - A caução de boa conduta;5.° - A interdição do exercício de profissão.

§ 1.0 - O internamento em manicómio criminal de delinquentesperigosos será ordenado na decisão que declarar irresponsável eperígoso o delinquente nos termos do § único do artigo 68.°.

§ 2.° - O internamento em casa de trabalho ou colónia agrícolaestende-se por período indeterminado de seis meses a três anos. Esteregime considera-se extensivo a quaisquer medidas de internamento,previstas em legislação especial.

§ 3.° - A liberdade vigiada será estabelecida pelo prazo de doisa cinco anos e implica o cumprimento das obrigações que sejamimpostas por decisão judicial nos termos do artigo 121.°.

Na falta de cumprimento das condições de liberdade vigiadapoderá ser alterado o seu condicionamento ou substituída a liberdadevigiada por internamento em casa de trabalho ou colónia agrícola porperíodo indeterminado mas não superior,no seu máximo, ao prazo deliberdade vigiada ainda não cumprído.

§ 4.° - A caução de boa conduta será prestada por depósito daquantia que o juiz fixar, pelo prazo de dois a cinco anos.

Se não puder ser prestada caução, será esta substituída porliberdade vigiada pelo mesmo prazo.

A caução será perdida a favor do Cofre Geral dos Tribunais seaquele que a tiver prestado tiver comportamento incompatível comas obrigações caucionadas, dentro do prazo que for estabelecido ouse, no mesmo prazo, der causa à aplicação de outra medida desegurança.

§ 5.° - A interdição duma profissão, mester,indústria oucomércio priva o condenado de capacidade para o exercício deprofissão, mester, indústria ou comércio, para os quais sejanecessária habilitação especial ou autorização oficial. A interdiçãoserá aplicada pelo tribunal sempre que haja lugar a condenação em

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pena de prisão maior ou prisão por mais de seis meses por crimesdolosos cometidos no exercício ou com abuso de profissão, mester,indústria ou comércio, ou com violação grave dos deverescorrespondentes,

A duração da interdição será fixada na sentença, entre o mínimode um mês e o máximo de dez anos. Quando o crime perpetrado forpunível com prisão, a duração máxima da interdição é de dois anos.

O prazo da interdição conta-se a partir do termo da pena deprisão. O tribunal poderá, decorrido metade do tempo da interdição,e mediante prova convincente da conveniência da cessação dainterdição, substituí-la por caução de boa conduta.

O exercício de profissão, mester, comércio ou indústria interditospor decisão judicial é punível com prisão até um ano.

ARTIGO 71.0

(Aplicação de medidas de segurança)

São aplicáveis medidas de segurança:

l ." - Aos vadios, considerando-se como tais os indivíduos demais de dezasseis anos e menos de sessenta que, sem teremrendimentos com que provejam ao seu sustento, não exercitemhabitualmente alguma profissão ou mester em que ganhemefectivamente a sua vida e não provem necessidade de força maiorque os justifique de se acharem nessas circunstâncias.

2.° - Aos indivíduos aptos a ganharem a sua vida pelo trabalho,que se dediquem,injustificadamente, à mendicidade ou explorem amendicidade alheia.

3.° - Aos rufiões que vivam total ou parcialmente a expensas demulheres prostituídas.

4.° - Aos que se entreguem habitualmente à prática de vícioscontra a natureza.

5.° - Às prostitutas que sejam causa de escândalo público oudesobedeçam continuadamente às prescrições policiais.

6.° - Aos que mantenham ou dirijam casas de prostituição ouhabitualmente frequentadas por prostitutas, quando desobedeçamrepetidamente às prescrições regulamentares e policiais.

7.° - Aos que favoreçam ou excitem habitualmente adepravação ou corrupção de menores, ou se dediquem ao aliciamento

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à prostituição, ainda que não tenham sido condenados por quaisquerfactos dessa natureza.

8.° - Aos indivíduos suspeitos de adquirirem usualmente ouservirem de intermediários na aquisição ou venda de objectosfurtados, ou produto de crimes, ainda que não tenham sidocondenados por receptadores, se não tiverem cumprido asdeterminações legais ou instruções policiais destínadas à fiscalizaçãodos receptadores.

9.° - A todos os que tiverem sido condenados por crimes deassociação de malfeitores ou por crime cometido por associação demalfeitores, quadrilha ou bando organizado.

§ 1.0 - O internamento, nos termos do n." 2.° e § 2.° do artigo70.°, só poderá ter lugar pela primeira vez quanto aos indivíduosindicados nos n." 1.°,2.°,7.° e 9.°.

Aos indivíduos indicados nos n.OS 3.°, 4.°, 5.°, 6.° e 8.° seráimposta, pela primeira vez,a caução de boa conduta ou a liberdadevigiada e, pela segunda vez, a liberdade vigiada com caução elevadaao dobro, ou o internamento.

§ 2.° - Os delinquentes que forem alcoólicos habituais epredispostos pelo alcoolismo para a prática de crimes, ou abusem deestupefacientes, poderão cumprir a pena em que tiverem sidocondenados e ser internados após esse cumprimento emestabelecimento especial, em prisão-asilo ou em casa de trabalho oucolónia agrícola por período de seis meses a três anos.

O internamento só pode ser ordenado na sentença que tivercondenado o delinquente.

§ 3.° - Em relação aos estrangeiros, as medidas de segurançapoderão ser substituídas pela expulsão do território nacional.

§ 4.° - A aplicação de medidas de segurança que não devam serimpostas em processo penal conjuntamente com a pena aplicável aqualquer crime ou em consequência da inimputabilidade dodelinquente, e bem assim a prorrogação e substítuição de medidas desegurança, tem lugar em processo de segurança ou complementar,nos termos da respectiva legislação processual.

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ARTIGO 72.0

(Alteração do estado de perigosidade)

A alteração do estado de perigosidade,determinante daprorrogação das penas ou de aplicação de medidas de segurança,tempor efeito a substituição dessas penas ou medidas de segurança poroutras correspondentes à natureza da alteração,nos termos seguintes:

1.° - Poderá ser substituída a prorrogação da pena aosdelinquentes de difícil correcção pela prorrogação da pena comoanormais perigosos, bem como a prorrogação da pena de anormaisperigosos pela prorrogação da pena como delinquentes de difícilcorrecção, em consequência da alteração da classificação anteriordos reclusos ou por se demonstrar pràticamente mais eficaz asujeição a regime diverso do inicialmente determinado;

2.° - Poderá ser aplicada a medida de segurança do n." I." doartigo 70.° aos delinquentes a quem tenha sobrevindo anomaliamental durante a execução da pena, ou aos delinquentes anormaisperigosos, nos termos da parte final do corpo do artigo 68.°;

3.° - A prorrogação das penas aplicadas a delinquentes de difícilcorrecção ou anormais perigosos poderá, nos casos queespecialmente o justifiquem, ser substituída por qualquer dasmedidas de segurança previstas nos n.OS3.° e 4.° do artigo 70.°;

4.° - As medidas de segurança não privativas de liberdadepodem ser reduzidas na sua duração quando tal redução se mostreconveniente para a readaptação social do condenado e já tiverdecorrido metade do prazo fixado pela sentença condenatória;

5.° - Poderão, em geral, as medidas de segurança mais gravesser substituídas, durante a execução,por medidas de segurança menosgraves, que se mostrem adequadas à readaptação social dosdelinquentes.

ARTIGO 73.°

(Limite da duração total das penas e medidas de segurança privativasde liberdade)

A duração total das penas e medidas de segurança privativas deliberdade aplicadas cumulativamente a um delinquente não podeexceder trinta anos.

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CAPÍTULO IIDOS EFEITOS DAS PENAS

ARTIGO 74.°

(Efeitos da condenação. Limitação)

A condenação do criminoso, logo que passe em julgado, temunicamente os efeitos declarados nos artigos seguintes.

ARTIGO 75.°

(Efeitos não penais da condenação)

o réu definitivamente condenado, qualquer que seja a pena,incorre:

I." - Na perda, a favor do Estado, dos instrumentos do crime,não tendo o ofendido, ou terceira pessoa, direito à sua restituição;

2.° - Na obrigação de restituir ao ofendido as coisas de que pelocrime o tiver privado, ou de pagar-lhe o seu valor legalmenteverificado, se a restituição não for possível, e o ofendido ou os seusherdeiros requererem esse pagamento;

3.° - Na obrigação de indemnizar o ofendido do dano causado, eo ofendido ou os seus herdeiros requeiram a indemnização;

4.° - Na obrigação de pagar as custas do processo e as despesasde expiação.

ARTIGO 76.0

(Efeitos da condenação em pena maior)

o réu definitivamente condenado a qualquer pena maior,incorre:

1.0 - Na perda de qualquer emprego ou funções públicas,dignidades, títulos, nobreza ou condecorações;

2.° - Na incapacidade de eleger, ser eleito ou nomeado paraquaisquer funções públicas;

3.° - Na de ser tutor, curador, procurador em negócios de justiça,ou membro do conselho de família.

§ único - A incapacidade de que trata o n." 3.°, cessa com aextinção da pena, salvo disposição especial da lei.

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ARTIGO 77.0

(Efeitos da condenação em pena de prisão correccional, suspensão temporáriados direitos políticos ou desterro)

o réu definitivamente condenado a pena de prisão, de suspensãotemporária de direitos políticos ou de desterro, incorre:

1.° - Na suspensão de qualquer emprego ou funções públicas;2.° - Nas incapacidades estabelecidas nos n.O'2.° e 3.° do artigo

precedente.

§ 1.° - As incapacidades e a suspensão decretadas neste artigocessam, ipso facto, pela extinção da pena que as produziu, salvo odisposto no § 2.° e no artigo 78.°.

§ 2.° - Os condenados em qualquer pena pelo crime delenocínio ficam definitivamente incapazes de exercer o poderpaternal ou a tutela.

ARTIGO 78.°

(Impossibilidade de provimento em emprego público)

Não poderá ser provido em qualquer emprego público:

1.0 - Aquele que tiver sido condenado em pena de prisão porfurto, roubo, abuso de confiança, burla, quebra fraudulenta,falsidade, fogo posto ou por crime cometido na qualidade deempregado público no exercício das suas funções, desde que se tratede crimes dolosos, bem como o que tiver sido declarado delinquentede difícil correcção;

2.° - Aquele a quem tiver sido aplicada pena de prisão poroutras infracções ou de multa por infracções com carácter de delitodoloso contra a economia ou a saúde pública, salvo estandoreabilitado.

ARTIGO 79.°

(Princípio da legalidade na suspensão de direitos)

Fora do caso de suspensão do exercício de todos os direitospolíticos, a suspensão das honras e das distinções da nobreza,do usode qualquer condecoração, do direito de trazer armas, do de ensinar

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ou dirigir ou concorrer na direcção de qualquer estabelecimento deinstrução, da capacidade de ser tutor ou curador ou membro dealgum conselho de família, de ser procurador em juízo, de sertestemunha em qualquer acto solene e autêntico, e bem assim asuspensão do exercício de profissão que exija título, só terá lugarquando a lei expressamente o declarar.

ARTIGO 80.0

(Conteúdo da pena de suspensão temporária dos direitos políticos)

A suspensão de qualquer dos direitos políticos por tempodeterminado produz, quanto aos empregados públicos, a suspensãodo exercício do emprego por tanto tempo quanto aquela durar.

ARTIGO 81.0

(Conteúdo da pena de demissão)

O condenado à pena de demissão de emprego, incorre:

1.0 - Na incapacidade de tomar a servir o mesmo emprego;2.° - Na perda do direito de se jubilar, aposentar ou reformar,

por serviços públicos anteriores à condenação.

ARTIGO 82.09

(Penas eclesiásticas)

As penas eclesiásticas não produzem efeito algum civil.

ARTIGO 83.0

(Efeitos das penas. Produção ope legis)

Os efeitos das penas têm lugar em virtude da lei,independentemente de declaração alguma na sentença condenatória.

• - Este artigo não faz sentido e é desnecessário face ao disposto no artigo 74.".

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TÍTULO IIIDA APLICAÇÃO E EXECUÇÃO DAS PENAS

CAPÍTULO IDA APLICAÇÃO DAS PENAS EM GERAL

ARTIGO 84.0

(Medida da pena)

A aplicação das penas, entre os limites fixados na lei para cadauma, depende da culpabilidade do delinquente, tendo-se em atençãoa gravidade do facto criminoso, os seus resultados, a intensidade dodolo ou grau da culpa, ou motivos do crime e a personalidade dodelinquente.

§ único - Na fixação da pena de multa, atender-se-á sempre àsituação económica do condenado, de maneira que o seuquantitativo, dentro dos limites legais, constitua pena correspondenteà culpabilidade do delinquente.

ARTIGO 85.0

(Substituição das penas. Princípio da legalidade)

Nenhuma pena poderá ser substituída por outra, salvo nos casosem que a lei o autorizar.

ARTIGO 86.0

(Substituição da prisão por muita)

A pena de prisão aplicada em medida não superior a seis mesespoderá ser sempre substituída por multa correspondente.

§ 1.0 - A substituição da pena de prisão pela de multa far-se-ásegundo o critério estabelecido na alínea b) do artigo 63.° e nosparágrafos do mesmo artigo.

§ 2.° - Se a infracção for punida com pena de prisão até seismeses e multa, o tribunal que decidir a substituição da pena de prisãoaplicará uma só multa, equivalente á soma da muIta directamentecominada e da resultante da conversão da prisão.

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ARTIGO 87."(Pessoalidade da pena de multa)

Quando a lei decretar a pena de multa,se a infracção for cometidapor vários réus, a cada um deles deve ser imposta essa pena.

§ único - A obrigação de pagar a multa só passa aos herdeirosdo condenado se em vida deste a sentença de condenação tiverpassado em julgado.

ARTIGO 88.0

(Suspensão da execução da pena. Pressupostos e fundamentação)

Em caso de condenação a pena de prisão, ou de multa, ou deprisão e multa, o juiz, tendo ponderado o grau de culpabilidade ecomportamento moral do delinquente e as circunstâncias dainfracção, poderá declarar suspensa a execução da pena,se o réu nãotiver ainda sofrido condenação em pena de prisão. A sentençaindicará os motivos da suspensão da pena.

§ 1.0 - O tempo de suspensão não será inferior a dois anos, nemsuperior a cinco, e contar-se-á desde a data da sentença em que tiversido consignada.

§ 2.° - A suspensão pode ser subordinada ao cumprimento deobrigações similares às que acompanham a liberdade condicional.

ARTIGO 89.0

(Pena suspensa. Caducidade da suspensão, sua revogação e alteraçãodo condicionamento da condenação)

Se decorrer o tempo da suspensão sem que o réu tenhaperpetrado outro crime da mesma natureza daquele por que foicondenado ou qualquer crime doloso pelo qual venha a sercondenado em pena privativa de liberdade, ou infringido asobrigações impostas, a sentença deverá considerar-se de nenhumefeito.

§ 1.0 - No caso de nova condenação, o juiz acumulará a primeirapena à segunda,sem que todavia se confundam na execução,nem seprejudiquem as regras estabelecidas para a aplicação da pena no casode reincidência ou sucessão de crimes.

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§ 2.° - No caso de infracção das obrigações impostas, poderá ojuiz revogar a suspensão, ordenando a execução da pena, alterar oumanter o condicionamento da condenação.

ARTIGO 90.°(Substituição da pena de suspensão dos direitos políticos)

Quando algum indivíduo que não tenha ou não exerça direitospolíticos, cometer algum crime, se a pena decretada pela lei for apena fixa de suspensão dos direitos políticos pelo tempo de quinzeou de vinte anos, será substituída pela de prisão. Se for a desuspensão temporária do exercício de todos ou de alguns dessesdireitos, será substituída pela de prisão até um ano.

CAPÍTULO IIDA APLICAÇÃO DAS PENAS QUANDOHÁ CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES

OU ATENUANTES

ARTIGO 91°

(Agravação e atenuação geral das penas maiores)

Se nos casos em que forem aplicáveis penas maioresconcorrerem circunstâncias agravantes ou atenuantes, as quais nãosejam consideradas especial e expressamente na lei para qualificar amaior ou menor gravidade do crime, determinando a penacorrespondente, observar-se-á, segundo a maior ou menor influênciana culpabilidade do criminoso, o disposto nos números seguintes:

1.0 -As penas dos n." 1.0, 2.0,3.0 e 4.0 do artigo 55.° agravam-see atenuam-se, quanto à duração, dentro do máximo e mínimo dasmesmas penas. Poderá, no entanto, reduzir-se de dois anos o limitemínimo normal das penas referidas;

2.0 - A pena do n." 5.° do artigo 55.° agrava-se e atenua-se,quanto à duração, dentro dos seus limites legais;

3.° - A pena de suspensão dos direitos políticos por tempo dequinze ou vinte anos agrava-se com a pena de multa até dois anos eatenua-se com a redução da sua duração a dez ou quinze anos.

43

ARTIGO 92.0

(Agravação e atenuação das penas de prisão, desterro e suspensãotemporária dos direitos políticos)

As penas de prisão e de desterro agravam-se e atenuam-se,fixando a sua duração entre os limites que a lei determinar para ainfracção.

§ único - A pena de suspensão temporária dos direitos políticosgradua-se entre o máximo e o mínimo legais, mas poderá redu~ir-se asua duração a dois anos.

ARTIGO 93.0

(Agravação extraordinária das penas quanto aos delinquentes habituaise por tendência)

Haverá lugar a agravação extraordinária das penas quanto aosdelinquentes habituais e por tendência, nos termos seguintes:

1.0 - Os limites máximo e mínimo das penas de prisão maior,serão aumentados de um quarto da sua duração;

2.° - A pena de prisão será aumentada de metade nos seuslimites mínimo e máximo, não podendo ser inferior a um mês.

ARTIGO 94.°(Atenuação extraordinária das penas)

Poderão extraordinàriamente os juízes, considerando o especialvalor das circunstâncias atenuantes:

1.° - Substituir as penas de prisão maior mais graves pelasmenos graves;

2.° - Reduzir a um ano a pena do n." 5.° do artigo 55.° ousubstituí-la por prisão não inferior a um ano;

3.0 - Substituir a pena fixa de suspensão dos direitos políticospela de suspensão temporária de direitos políticos;

4.° - Reduzir o mínimo especial da pena de prisão ao seumínimo geral, ou substituir a pena de prisão pela de desterro ou pelade multa;

5.° - Substituir qualquer das penas correccionais indicadas noartigo 56.° pela de muIta ou aplicar somente esta quando fordecretada juntamente com outra;

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6.° - Substituir as penas especiais para empregados públicosmais graves pelas menos graves.

ARTIGO 95.°

(Concurso simultâneo de agravantes e atenuantes)

. Concorrendo simultâneamente circunstâncias agravantes ecircunstâncias atenuantes, conforme umas ou outras predominarem,será agravada ou atenuada a pena.

ARTIGO 96.°

(Circunstâncias agravantes qualificativas)

Quando uma circunstância qualifique a maior ou menorgravidade de um crime, determinando especialmente a medida dapena, é em relação à pena fixada em razão da qualificação que seestabelece a agravação ou atenuação resultante do concurso doutrascircunstâncias.

§ único - No concurso de circunstâncias qualificativas queagravam a pena do crime em medida especial e expressamenteconsiderada na lei, só terá lugar a agravação resultante dacircunstância qualificativa mais grave, apreciando-se as demaiscircunstâncias dessa espécie como se fossem de carácter geral.

ARTIGO 97.0

(Gravidade relativa das penas)

A gravidade das penas considera-se, em geral, segundo a ordemde precedência por que vêm enumeradas nos artigos 55.°, 56.° e 57.°.

ARTIGO 98.0

(Equivalência entre as penas de desterro, prisão e prisão maior)

Quando, para qualquer efeito jurídico, se deva fazer aequivalência entre a duração de penas de espécies diferentes, far-se-ácorresponder a pena de desterro a dois terços da pena de prisão e estaa dois terços da pena de prisão maior.

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ARTIGO 99.°

(Equivalência entre as penas de multa e de prisão)

A equivalência entre a pena de multa e a de prisão, quandoaquela directamente não corresponda a certo tempo de duração, faz-se tendo em atenção o critério estabelecido no § único do artigo 123.°para conversão da multa em prisão.

CAPÍTULO IIIDAAPLICAÇÃO DAS PENAS, NOS CASOS

DE ~INCIDÊNCIA, SUCESSÃO,ACUMULAÇAO DE CRIMES, CUMPLICIDADE,

DELITO FRUSTRADO E TENTATIVA

ARTIGO 100.0

(Aplicação da pena no caso de reincidência)

No caso de reincidência observar-se-á o seguinte:

1.0 - Se a pena aplicável for de prisão maior, a agravaçãocorrespondente à reincidência será igual a metade da diferença entreos limites máximo e mínimo da pena. A medida da agravação poderá,no entanto, ser reduzida, se as circunstâncias relativas àpersonalidade do delinquente o aconselharem, a um aumento igual àduração da pena aplicada na condenação anterior.

A medida da pena será ainda elevada com metade do aumentoassim determinado, no caso de segunda reincidência;

2.° - Se a pena aplicável for de prisão, a agravação consistiráem aumentar o máximo e mínimo da pena de metade da duraçãomáxima da pena aplicável.

ARTIGO 101.°

(Aplicação da pena no caso de sucessão de crimes)

No caso de sucessão de crimes.se for aplicável prisão maior, e sea condenação anterior tiver sido também em prisão maior, observar-

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se-á a regra estabelecida para a primeira reincidência, no n.? 1.0 doartigo antecedente.

§ único - nos demais casos de sucessão de crimes, agravar-se-àa pena segundo as regras gerais.

ARTIGO 102.0

(Pena aplicável no caso de acumulação de infracções)

A acumulação de crimes será punida segundo as seguintes regrasgerais:

1.0 - No concurso de crimes puníveis com a mesma pena, seráaplicada a pena imediatamente superior,se aquela for alguma dasindicadas nos n.os 2.0, 3.0 e 4.0 do artigo 55.0; se for qualquer outrapena, com excepção da do n." 1.0 do artigo 55.0, aplicar-se-a a mesmapena agravada em medida não inferior a metade da sua duraçãomáxima;

2.0 - Quando os crimes sejam puníveis com penas diferentes,será aplicada a pena mais grave, agravada segundo as regras gerais,em atenção à acumulação de crimes. O mesmo se observará quandouma das penas for a do n.° Lado artigo 55.0•

§ 1.0 - Exceptuam-se do disposto neste artigo a pena ou penasde multa, que serão sempre acumuladas com as outras penas.

§ 2.0 - O cúmulo das penas, nos termos deste artigo, far-se-ásem prejuízo da indicação na sentença condenatória da penacorrespondente a cada crime. Em nenhum caso, a pena única poderáexceder a soma das penas aplicadas.

ARTIGO 103.0

(Pena dos cúmplices)

A pena dos cúmplices do crime consumado será a mesma quecaberia aos autores do crime frustrado.

A dos cúmplices do crime frustrado a mesma que caberia aosautores da tentativa desse crime.

A dos cúmplices de tentativa a mesma que, reduzida ao mínimo,caberia aos autores daquela.

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ARTIGO 104.0

(Pena aplicável no caso de crime frustrado)

No caso de crime frustrado observar-se-ão as seguintes regras:

1.0 - Se as penas aplicáveis, supondo-se consumado o crime,fossem quaisquer das penas designadas nos n.OS1.0, 2.0, 3.0 e 4.0 doartigo 55.0, serão aplicadas respectivamente as penas imediatamenteinferiores;

2.0 - Se a de prisão maior de dois a oito anos, ou nos casosespeciais declarados na lei, qualquer pena correccional, o máximo dapena aplicável será reduzido a metade da sua duração máxima.

ARTIGO 105.0

(pena aplicável aos autores de tentativa)

Aos autores de tentativa será aplicada a mesma pena que caberiaaos autores de crime frustrado, se nele tivessem intervindocircunstâncias atenuantes.

CAPÍTULO IVDA APLICAÇÃO DAS PENAS EM ALGUNS

CASOS ESPECIAIS

ARTIGO 106.0 10

(Pena aplicável ao encobridor)

O encobridor será punido nos termos seguintes:

1.0 - Se ao crime for aplicável qualquer pena maior, com aexcepção da indicada no n." 5.0 do artigo 55.0, ser-lhe-a aplicada penade prisão;

10 Conforme já foi referido na nota n." 2 referente ao artigo 23.° da presente edição do CódigoPenal, o artigo 46.° da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro, criou o crime de receptação, quecabe no âmbito mais vasto do encobrimento real definido pelo n." 4.° do artigo 23.° e, emrelação ao referido crime, segundo o artigo 47.° da citada Lei, "revogou" o artigo 106.° doCódigo Penal, estatuindo de forma diferente. Aquele diploma foi substituído pela Lei 6/96.de 3 de Setembro (v. art." 30.°)

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2.° - Se for a pena maior do n." 5.° do artigo 55.0, ser-lhe-áaplicada a de prisão por seis meses a um ano;

3.° - Se for a pena de prisão, ser-lhe-á aplicada a mesma pena,atenuada e nunca superior a três meses.

ARTIGO 107."

(pena aplicável aos menores de vinte e um anos)

Se o criminoso for menor de vinte e um anos ao tempo daperpetração do crime, nunca lhe será aplicada pena mais grave doque a do n." 3.0 do artigo 55.°.

ARTIGO 108.0

(Pena aplicável aos menores de dezoito anos)

Se o criminoso tiver menos de dezoito anos ao tempo daperpetração do crime, nunca lhe será aplicada pena mais grave doque a do n." 5.° do artigo 55.0.

ARTIGO 109.0 II

(Tratamento dos menores inimputáveis em razão da idade)

Os menores de dezasseis anos estão sujeitos à jurisdição dostribunais de menores e, em relação a eles, só podem ser tomadasmedidas de assistência, educação ou correcção previstas nalegislação especial.

ARTIGO no-(punibilidade dos crimes culposos)

Os crimes meramente culposos só são punidos nos casosespeciais declarados na lei. A estes crimes nunca serão aplicáveispenas superiores à prisão e multa correspondente.

11 Redacção introduzida pelo Decreto-Lei n.? 39 688, de 5 de Junho de 1954. Ver notas 3,4,5, 7, 8. Imputabilidade e inimputabilidade em razão da idade, Organização Tutelar deMenores, Instituto da Assistência Jurisdicional de Menores, etc ...

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ARTIGO lll.°

(Punição do agente com privação voluntária e acidental da inteligência)

O disposto no artigo antecedente é extensivo aos criminosos emque concorrer alguma das circunstâncias especificadas no artigo 50.0•

ARTIGO 112.°

(Ressalva dos casos especiais punidos com pena determinada)

As disposições dos artigos 100.0, 101.°,102.°, 103.°, 104.0, 105.° e106.° entendem-se, salvos os casos especiais em que a lei decretarpena determinada.

CAPÍTULO VDA EXECUÇÃO DAS PENAS

E MEDIDAS DE SEGURANÇA

ARTIGO 113.O(Pessoalidade das penas)

As penas não passarão em caso algum da pessoa do delinquente

ARTIGO 114.0

(Impossibilidade de prisão por falta de pagamento de imposto de justiça,custas e selo)

Não haverá prisão por falta de pagamento de imposto de justiça,custas ou selos.

ARTIGO 115.°(Fundamento das sanções crimmais e medidas de segurança

que podem ser aplicadas provisoriamente)

A execução das penas ou medidas de segurança funda-seexclusivamente em sentença passada em julgamento.

§ único :- Só podem ser aplicadas provisoriamente as medidasde segurança de internamento em manicómio criminal, de liberdadevigiada e de interdição do exercício de profissão.

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ARTIGO 116.0

(Início do cumprimento das penas e medidas de segurançaprivativas da liberdade)

A execução das penas e medidas de segurança privativas deliberdade inicia-se no dia em que passar em julgado a sentençacondenatória sempre que o condenado se encontre preso.

§ único - O início da execução das penas e medidas desegurança privativas de liberdade será diferido:

1.0 - Nos casos previstos nos artigos 304.° e 305.° do Código deProcesso Penal;

2.° - Se o condenado enlouquecer depois da condenação, atéque recobre a integridade mental, salvo no caso do n." 1.0 do artigo70.°;

3.° - Durante os presumidos três últimos meses de gravidezdevidamente comprovada e até três meses depois do parto; mas, se acondenação for em prisão maior, o juiz poderá ordenar o internamen-to, sob custódia, em estabelecimento adequado;

4.° - Se o condenado tiver de cumprir primeiro outra pena.

ARTIGO 117.0

(Desconto na duração das penas e medidas de segurança)

Na duração das penas e medidas de segurança privativas deliberdade levar-se-á em conta por inteiro:

1.0 - A prisão preventiva, a partir da captura;2.° - A prisão que houver sido cumprida em execução de

condenação por tribunal estrangeiro pelo mesmo crime;3.° - O tempo de internamento hospitalar que suspenda a

execução da pena, se não tiver havido simulação;

§ l ." - O tribunal que condenar em pena ou medida desegurança privativa de liberdade ordenará o desconto da prisãopreventiva sofrida pela imputação de outro crime desde que este nãotenha sido cometido depois do termo daquela prisão.

§ 2.° - Na pena de multa descontar-se-á a prisão preventiva àrazão de um dia de multa por um dia de prisão, ou à razão de Kz.5.00por dia se se tratar de pena de multa de quantia determinada. liA

liA _ Ver art." I", n." 2 do Decreto-Lei n." 7/00, de 5 de Novembro.

51

Neste último caso, o quantitativo da multa descontado por dia deprisão preventiva sofrida não será inferior à taxa diária de conversãoda multa em prisão, indicada no § único do artigo 123.°.

O desconto da prisão preventiva na pena de multa só terá lugarquando não possa ser aplicado a qualquer pena de prisão ou prisãomaior,

§ 3.° - Na pena de desterro descontar-se-ã a prisão preventiva àrazão de três dias de desterro por dois de prisão.

§ 4.° - Na interdição temporária do exercício de profissãodescontar-se-á o tempo da aplicação provisória.

ARTIGO 118.0

(Execução das penas)

Salvas as excepções previstas na lei, a execução das penas écontínua.

A execução das penas e medidas de segurança privativas deliberdade suspende-se:

1.0 - Por doença física ou mental que imponha internamentohospitalar;

2.° - Por evasão do condenado e durante o tempo por que eleandar fugido;

3.° - Por decisão do Tribunal Supremo, quando seja admitida arevisão da sentença.

ARTIGO 119.0

(Resgate das penas de prisão por trabalho)

Aos condenados com exemplar comportamento na prisão, quederem provas durante a execução da pena de grande aptidão para otrabalho,poderá ser concedido,nos termos estabelecidos emregulamento, o resgate parcial da pena de prisão ou prisão maior, atéao limite de um dia de prisão por três dias de trabalhoparticularmente pesado, efectuado com notável diligência ou deexcepcional importância. rendimento e perfeição.

§ único - A aprendizagem de um ofício ou mester, comdiligência e reconhecida aptidão, constitui motivo bastante para a

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apresentação ao tribunal competente de proposta de cessação damedida de internamento em casa de trabalho ou colónia agrícola, dosindivíduos indicados nos n." 1.0e 2.° do artigo 71.°.

ARTIGO 120.°

(Liberdade condicional)

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraçãosuperior a seis meses poderão ser postos em liberdade condicionalpelo tempo que restar para o cumprimento da pena, quando tiveremcumprido metade desta e mostrarem capacidade e vontade de seadaptar à vida honesta.

ARTIGO 121.0

(Obrigações do libertado condicionalmente)

A decisão que conceder a liberdade condicional especificará asobrigações que incumbem ao libertado e que podem variar segundo ocrime cometido, a personalidade do recluso, o ambiente em quetenha vivido ou passe a viver, ou outras circunstâncias atendíveis.

E, assim, isolada ou cumulativamente, poderá ser-lhe imposto,em geral:

1.° - A reparação, por uma só vez ou em prestações, do danocausado à vítima do crime;

2.° - O exercício de uma profissão ou mester, ou o emprego emdeterminado ofício, empresa ou obra;

3.° - A proibição do exercício de determinados mesteres;4.° - A interdição de residência, ou fixação de residência, em

determinado lugar ou região;5.° - A aceitação da protecção e indicações das entidades às

quais for cometida a sua vigilância;6.° - O cumprimento de deveres familiares específicos,

particularmente de assistência;7.° - A obrigação de não frequentar certos meios ou locais, ou

de não acompanhar pessoas suspeitas de má conduta;8.° - A obrigação de prestar caução de boa conduta.

§ 1.° - Em especial, poderá ser imposto:

53

a) Aos delinquentes anormais - a obrigação de sesubmeterem ao tratamento médico que lhes for prescrito;

b) Aos delinquentes de difícil correcção - a obrigação dedarem entrada em estabelecimento adequado, para suaocupação em regime de meia liberdade, nos períodos emque se encontrem desempregados;

c) Aos menores - a obediência às prescrições dos pais, dafanu1ia ou dos órgãos encarregados de os educar ou assistir.

§ 2.° - As obrigações impostas podem ser alteradas quandoocorram circunstâncias que o justifiquem.

ARTIGO 122.0

(Revogação da liberdade condicional)

Se o libertado condicionalmente cometer outro crime da mesmanatureza daquele por que foi condenado ou qualquer crime dolosopelo qual venha a sofrer pena privativa de liberdade, a liberdadecondicional será revogada.

Se não tiver bom comportamento ou não cumprir alguma dasobrigações que lhe tenham sido impostas, a liberdade condicionalpode ser revogada ou alterado o seu condicionamento.

Quando revogada a liberdade condicional, o condenado terá decompletar o cumprimento da pena, não se descontando o tempo quepassou em liberdade.

ARTIGO 123.° liA

(Conversão e substituição da pena de multa)

A pena de multa, na falta de bens suficientes e desembaraçados,pode ser modificada na sua execução:

1.0- Pela conversão em prisão por tempo correspondente;2.° - Pela substituição por prestação de trabalho.

§ único - Quando a multa for de quantia taxada pela lei, seráconvertida em prisão à razão de Kz. 5.00 por dia, não excedendo asua duração dois anos no caso de multa aplicada por qualquer crime,

II-A _ Redacção do Decreto-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro.

Page 27: Codigo Penal

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seis meses no caso de multa aplicada a contravenções previstas nasleis, e um mês no caso de multa aplicada a contravenções previstasem regulamentos ou posturas.

A taxa diária de conversão da multa em prisão não será, porém,inferior à que resultar da divisão do seu total pelo máximo do tempoem que pode ser convertida a pena de multa.

ARTIGO 124.0

(Cumprimento da pena de multa por prestação de trabalho)

As penas de multa, quer directamente aplicadas como tais, querresultantes da substituição de penas de prisão, poderão ser cumpridaspor meio da prestação de trabalho em qualquer mester ou ofício, emobras públicas, serviços ou oficinas do Estado e dos corposadministrativos, ou em obras, serviços ou oficinas de entidadesparticulares, nos termos e condições constantes da lei.

§ 1.0 - No caso de substituição da multa por prestação detrabalho, por cada dia de trabalho fica resgatada a parte da multaequivalente à importância descontada na remuneração do condenado.

§ 2.0 - Tratando-se de pena de muita fixada por certa duração detempo, ou de pena de prisão substituída por multa, considerar-se-áresgatado um dia de multa com a entrega de metade da remuneraçãode cada dia de trabalho.

CAPÍTULO VIDA EXTINÇÃO

DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL

ARTIGO 125.0

(Extinção do procedimento criminal, das penas e das medidas de segurança)

o procedimento criminal, as penas e as medidas de segurançaacabam, não só nos casos previstos no artigo 6.°, mas também:

1.0 - Pela morte do criminoso;2.0 - Pela prescrição do procedimento criminal, embora não seja

alegada pelo réu ou este retenha qualquer objecto por efeito docrime;

55

3.° - Pela amnistia;4.0 - Pelo perdão da parte, ou pela renúncia ao direito de queixa

emjuízo, quando tenham lugar;5.0 - Pela ablação voluntária, nas contravenções puníveis só

com multa;6.0 - Pela anulação da sentença condenatória em juízo de

revisão;7.0 - Pela caducidade da condenação condicional;8.0 - Nos casos especiais previstos na lei.

§ 1.0 - A morte do criminoso e a amnistia não prejudicam aacção civil pelos danos causados, nem têm efeito retroactivo peloque respeita aos direitos legitimamente adquiridos por terceiros.

§ 2.0 - O procedimento criminal prescreve passados quinzeanos, se ao crime for aplicável pena maior, passados cinco, se lhe foraplicável pena correccional ou medida de segurança e passado umano, quanto a contravenções.

§ 3.0 - Se,para haver procedimento criminal, for indispensável aqueixa do ofendido ou de terceiros, prescreve o direito de queixapassados dois anos, se ao crime corresponder pena maior, e passadoum ano, se a pena correspondente ao crime for correccional.

§ 4.0 - A prescrição do procedimento criminal conta-se desde odia em que foi cometido o crime.

A prescrição do procedimento criminal não corre:

1.0 - A partir da acusação em juízo e enquanto estiver pendenteo processo pelo respectivo crime;

2.° - Após a instauração da acção de que dependa a instrução doprocesso criminal e enquanto não passe em julgado a respectivasentença.

§ 5.° - Acerca da acção civil resultante do crime cumprir-se-á,no que for aplicável, o disposto nos §§ 2.°, 3.0 e 4.° deste artigo, setiver sido cumulada com a acção eliminai e os prazos estabelecidosnesses parágrafos forem mais longos que os da lei civil, mas emtodos os mais casos, prescreverá, assim como a restituição oureparação civil mandada fazer por sentença criminal, segundo asregras do direito civil.

Page 28: Codigo Penal

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§ 6.° - O perdão da parte só extingue a responsabilidadecriminal do réu, quando não há procedimento criminal sem denúnciaou sem acusação particular, excepto se já tiver transitado em julgadoa respectiva sentença condenatória e ainda nos casos especiaisdeclarados na lei. Se a parte for menor não emancipado ou interditopor causa que o iniba de reger a sua pessoa, o perdão apenasproduzirá efeitos quando seja legitimamente autorizado.

§ 7.° - O condenado julgado inocente em juízo de revisão, osseus herdeiros, tem direito a receber do Estado uma indemnizaçãopelos danos sofridos.

ARTIGO 126."

(Outras causas de extinção das penas e das medidas de segurança)

A pena e a medida de segurança também acabam:

1.° - Pelo seu cumprimento;2.° - Pelo indulto ou comutação;3.° - Pela prescrição;4.° - Pela reabilitação;

§ 1.0 - O indulto e a comutação são da competência do Chefedo Estado.

O indulto não pode ser concedido antes de cumprida metade dapena ou metade da duração mínima da medida de segurança.

O indulto consiste na extinção total da pena.A comutação verifica-se por algum dos modos seguintes:

1.° - Reduzindo a pena ou medida de segurança fixadas porsentença;

2.° - Substituindo-as por outras menos graves e de duraçãoigualou inferior à da parte da pena ou medida de segurança aindanão cumprida;

3.° - Extinguindo ou limitando os efeitos penais da condenação.

§ 2.° - A aceitação do indulto ou comutação é obrigatória para ocondenado.

§ 3.° - As penas maiores prescrevem passados vinte anos, aspenas correccionais passados dez anos e as penas por contravenções

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passado um ano. As medidas de segurança prescrevem passadoscinco anos.

§ 4.° - A prescrição da pena ou da medida de segurança conta-sedesde o dia em que a sentença condenatória tiver passado emjulgado, mas, evadindo-se o condenado e tendo cumprido parte dapena, conta-se desde o dia da evasão. Nos condenados à revelia, aprescrição começa a contar-se desde a data em que foi proferida asentença condenatória.

§ 5.° - A prescrição da pena ou medida de segurança não correenquanto o condenado se mostrar legalmente preso por outro motivo.

§ 6.° - Nas penas mistas, as penas mais leves prescrevem com apena mais grave; mas as causas de extinção referidas nos n.OS1.°,2.° e3.° não extinguem os efeitos da condenação.

§ 7.° - Salvo disposição em contrário, o procedimento criminale as penas só acabam relativamente àqueles a quem se referem ascausas da sua extinção.

ARTIGO 127.°

(Reabilitação)

A reabilitação extingue os efeitos penais da condenação.

§ 1.0 _ A reabilitação de direito verifica-se, decorridos prazosiguais aos prazos de prescrição das penas ou ao dobro do prazo deprescrição das medidas de segurança, depois de extintas estas, seentretanto não houver lugar a nova condenação.

§ 2.° - A reabilitação judicial plena ou limitada a algum oualguns dos efeitos da condenação, pode ser requerida e concedidaapós a extinção da pena e da medida de segurança sem novacondenação, quando se prove o bom comportamento do requerente,esteja cumprida ou de outro modo extinta a obrigação de indemnizaro ofendido ou seja impossível o seu cumprimento, e tenhamdecorrido os seguintes prazos:

1.0 _ Seis anos.quando se trate de delinquentes de difícilcorrecção;

2.° - Um ano, quando se trate de condenados por crimesculposos ou por crimes dolosos punidos com pena de prisão até seismeses ou outra de menor gravidade;

3.° - quatro anos, nos casos não especificados.

Page 29: Codigo Penal

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§ 3.° - Negada a reabilitação por falta de bom comportamentodo requerente, só pode ser de novo requerida decorridos os prazos aque se refere o § 2.°.

§ 4.° - A reabilitação não aproveita ao condenado quanto àsperdas definitivas que lhe resultaram da condenação, não prejudicaos direitos que desta advieram para o ofendido ou para terceiros, nemsana,de per si,a nulidade dos actos praticados pelo condenadodurante a sua incapacidade.

§ 5.° - Serão canceladas no registo criminal, não devendo deleconstar para quaisquer efeitos:

1.0 - As condenações anuladas em juízo de revisão e ascondenações por crimes amnistiados;

2.° - As condenações anteriores à reabilitação de direito ou àreabilitação judicial plena;

3.° - As condenações condicionais quando se tenha verificado acondição resolutiva do julgado.

ARTIGO 128.°(Responsabilidade civil)

A imputação e a graduação da responsabilidade civil conexa comos factos criminosos são regidas pela lei civil.

TÍTULO IVDISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

ARTIGO 129.°

(Substituição de penas)

No Código Penal e legislação penal extravagante considerar-se-ão substituídas as penas abolidas pelas que lhes correspondem nostermos seguintes:

1.0 - A pena de prisão maior celular por oito anos seguida dedegredo por vinte anos, com prisão no lugar do degredo ou sem ela ea pena fixa de degredo por vinte e oito anos, com prisão no lugar dodegredo por oito a dez anos, pela pena de prisão maior de vinte avinte e quatro anos;

59

2.° - A de prisão maior celular por oito anos, seguida dedegredo por doze e a pena fixa de degredo por vinte e cinco anos,pela pena de prisão maior de dezasseis a vinte anos;

3.° - A de prisão maior por seis anos, seguida de degredo pordez e a pena fixa de degredo por vinte anos, pela pena de prisãomaior de doze a dezasseis anos;

4.° - A de prisão maior celular por quatro anos, seguida dedegredo por oito e a pena fixa de degredo por quinze anos, pela penade prisão maior de oito a doze anos;

5.° - A prisão maior celular de dois a oito anos, a pena de prisãomaior temporária de três a doze anos e a de degredo temporário detrês a doze anos, pela pena de prisão maior de dois a oito anos;

6.° - A pena de prisão correccional pela pena de três dias a doisanos;

7.° - A pena de expulsão do território nacional, sem limitação detempo, pela pena de prisão e multa correspondente, e a pena deexpulsão temporária do território nacional, pela de prisão até seismeses.

§ 1.0 - A referência em quaisquer preceitos incriminadores àspenas dos n.OS 1.0, 2.°, 3.° e 4.° do artigo 57.° é substituída pelareferência às penas dos n.OS 1.0, 2.°, 3.° e 4.° do artigo 55.°, e asreferências aos n.OS 5.° e 6.° do artigo 57.°, pela referência à pena don." 5.° do artigo 55.°.

§ 2.° - Consideram-se fixas as penas dos n.OS 1.°,2.°,3.°,4.° e 6.°do artigo 55.°.

§ 3.° - No confronto das penas substituídas nos termos desteartigo, e para o efeito do artigo 6.°, considera-se mais leve a pena deprisão maior em relação às de prisão maior celular, degredo e prisãotemporária, sem que, contudo, o máximo da sua duração possaexceder, em direito transitório, o máximo da anterior prisão maiorcelular, directamente aplicada ou resultante de redução obrigatória dapena de degredo, ou o máximo da duração da pena de degredo,quando devesse ser cumprida como prisão maior celular sem reduçãodo tempo da sua duração.

Page 30: Codigo Penal

LIVRO SEGUNDO

DOS CRIMES EM ESPECIAL

Page 31: Codigo Penal

63

TÍTULO IDOS CRIMES CONTRA A RELIGIÃO

DO REINO E DOS COMETIDOS POR ABUSODE FUNÇÕES RELIGIOSAS

CAPÍTULO IDOS CRIMES CONTRA A RELIGIÃO DO REINO

ARTIGO 130.°(Crimes contra a religião)

[REVOGADO] 11

Aquele que faltar ao respeito à religião do reino, católica,apostólica, romana, será condenado na pena de prisão desde um atédois anos, e na multa, conforme a sua renda, de três meses a trêsanos, em cada um dos casos seguintes:

1.0 - Injuriando a mesma religião publicamente em qualquerdogma, acto ou objecto do seu culto, por factos ou palavras, ou porescrito publicado, ou por qualquer meio de publicação;

2.° - Tentando pelos mesmos meios propagar doutrinascontrárias aos dogmas católicos definidos pela Igreja;

3.° - Tentando por qualquer meio fazer prosélitos ou conversõespara religião diferente, ou seita reprovada pela Igreja;

" - Este artigo foi revogado pelo artigo 4.° do Decreto de 15 de Fevereiro de 1911. Pelo citadoDecreto a religião católica deixou de ser a religião do Estado e todas as igrejas e confissõesreligiosas passaram a ser autorizadas desde que não ofendessem a moral pública nem osprincípios do direito público português.

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4.° - Celebrando actos públicos de um culto que não seja o damesma religião católica;

§ 1.° - Se o criminoso for estrangeiro, serão nestes casossubstituídas as penas de prisão e de multa pela expulsão do territórionacional até doze anos.

§ 2.° - Se unicamente se tiver cometido simples falta derespeito, ou as palavras injuriosas ou blasfémias forem proferidas deviva voz publicamente, mas sem intenção de escarnecer ou ultrajar areligião do reino, nem propagar doutrina contrária aos seus dogmas,será somente aplicada a pena de repreensão, podendo ajuntar-se aprisão de três a quinze dias.

§ 3.° - Se a injúria consistir no desacato e profanação dasSagradas Formas da Eucaristía, a pena será de dois a oito anos deprisão maior.

ARTIGO 131.°

(perturbação violenta do culto religioso)[REVOGADO] LJ

A mesma pena será imposta àquele que por actos de violênciaperturbar ou tentar impedir o exercício do culto público da religiãodo reino.

ARTIGO 132.°(Injúria e ofensa contra ministro da religião)

[REVOGADO) ,.

A injúria e ofensa cometida contra um ministro da religião doreino, no exercício ou por ocasião do exercício de suas funções, será

IJ _ Revogado pelo Decreto de IS de Fevereiro de 1911. Entretanto,o Decreto de 20 de Abrildo mesmo ano de 1911, no seu artigo 11.°, sobre a perturbação dos actos de culto, dispõe:«Aquele que por actos de violência perturbar ou tentar impedir o exercício legítimo doculto de qualquer religião, será condenado na pena de prisão até um ano e na muIta,conforme a sua renda, de três meses a dois anos.»

"- Este artigo foi substituído pelo artigo 12.° do Decreto de 20 de Abril de 1911, segundo oqual:«A injúria ou ofensa cometida contra um ministro de qualquer religião, no exercício ou porocasião do exercício legítimo do culto, será considerada crime público e punida com aspenas que são decretadas quando cometidas contra as autoridades públicas.»

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punida com as penas que são decretadas para os mesmos crimescometidos contra as autoridades públicas.

ARTIGO 133.°

(Constrangimento ou embaraço no exercício do culto){REVOGADO] 15

Aquele que, por actos de violência ou ameaças, constranger ouembaraçar outro no exercício do culto da religião do reino, serácondenado em prisão até seis meses, salvo se tiver incorrido em penamaior pelo facto da violência.

ARTIGO 134.°

(Falsa qualidade de ministro de uma religião)[ REVOGADO] 16

Aquele que, fingindo-se ministro da religião do reino, exercerqualquer dos actos da mesma religião, que somente podem serpraticados pelos seus ministros, será condenado na pena de dois aoito anos de prisão maior.

" Este artigo foi revogado e substituído pelo artigo 13.° do Decreto de 20 de Abril de 1911,

segundo o qual:«Incorre nas multas de 5$000 a 50$000 réis e prisão correccional de dez a sessenta dias,sem prejuízo da pena mais grave que ao caso possa caber, aquele que por actos deviolência ou ameaça contra um indivíduo, ou fazendo-lhe recear qualquer perigo ou danopara a pessoa, honra ou bens, dele ou de terceiros, o determinar ou procurar determinar aexercer ou abster-se de exercer um culto,a contribuir ou abster-se de contribuir para as

despesas desse culto.Entretanto, o montante da multa foi elevado ao décuplo pelo artigo 56." do Decreto n." II991, de 29 de Junho de 1926 e estendido ao ex-Ultramar pelos Decretos n.os 13 518, de 25de Abril de 1927, 19271, de 24 de Janeiro de 1931 e 20 891, de 13 de Fevereiro de 1932.

" Este artigo foi substituído pelo artigo 15.0 do Decreto de 20 de Abril de 1911, nos termos

do qual:«Aquele que arrogando-se a qualidade de ministro de uma religião, exercer publicamentequalquer dos actos da mesma religião, que somente podem ser praticados pelos seusministros para isso devidamente autorizados, será condenado na pena do artigo 236.°, §2.° do Código Penal.»

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ARTIGO 135.0

(Falta de respeito à religião)[REVOGADO] 17

Todo O português que, professando a religião do reino, faltar aorespeito á mesma religião, apostatando ou renunciando, ourenunciando a ela publicamente, será condenado na pena fixa desuspensão dos direitos políticos por vinte anos.

§ 1.0 - Se o criminoso for clérigo de ordens sacras, será expulsodo reino sem limitação de tempo.

§ 2.° - Estas penas cessarão logo que os criminosos tornem aentrar no grémio da Igreja.

CAPÍTULonDOS CRIMES COMETIDOS POR ABUSO

DE FUNÇÕES RELIGIOSAS

ARTIGO 136.0

(Abuso de funções religiosas)

Todo O ministro eclesiástico que se servir de suas funçõesreligiosas para algum fim temporal reprovado pelas leis do reino,será condenado em prisão, e multa de um mês até três anos.

§ 1.0 - O que abusar de suas funções religiosas, se o abusoconsistir na revelação do sigilo sacramental, ou em sedução depessoa sua penitente para fim desonesto, será condenado na pena deprisão maior de oito a doze anos.

§ 2.° - [REVOGADO] 18 Se o abuso consistir em proceder oumandar proceder à celebração do matrimónio, sem que previamente

IJ _ Revogado pelo artigo 4. c do Decreto de 15 de Fevereiro de 1911.

" - A este respeito regem os artigos 14." e 15.° do Decreto-Lei n." 30.615, de 25 de Julho de1940.

Artigo 14.0 - Salvo os casos do artigo 17.', o ministro da religião que oficiar nocasamento sem lhe ser presente o certificado incorre em responsabilidade civil e nas penasde desobediência qualificada, obrigatoriamente convertíveis em multa na primeiracondenação, e na primeira reincidência quando o casamento possa ser transcrito.Artigo 15.0 - O pároco que, sem grave motivo, deixar de enviar o duplicado ou o enviarfora do prazo, além da responsabilidade civil, incorre nas penas de desobediênciaqualificada, obrigatoriamente convertíveis em multa.

§ único - Exceptuam-se das disposições deste artigo os casamentos secretos, reguladosno direito canónico como casamentos de "consciência", enquanto não forem denunciadospela autoridade eclesiástica, oficiosamente ou a requerimento dos interessados,e oscelebrados nos termos do artigo 17.°, que não possam ser transcritos.

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tenham tido lugar as formalidades que as leis civis requerem, serácondenado em prisão de um até dois anos e multa de um mês a umano.

ARTIGO 137.0

(Injúria às autoridades no exercício do culto)[REVOGADO] 19

Todo O ministro eclesiástico que,no exercrcro do seuministério,em sermões ou em qualquer discurso público verbal, ouescrito publicado, injuriar alguma autoridade pública, ou. atacaralgum dos seus actos, ou a forma do governo, ou as leis do rem~, .ounegar, ou puser em dúvida os direitos da coroa acerca de matenaseclesiásticas, ou provocar a qualquer crime, será punido com pena deprisão de um até dois anos, e multa de três meses até três anos.

ARTIGO 138.0

(Abuso em decisões eclesiásticas temporais)[REVOGADO] 20

Será condenado em multa, conforme a sua renda, de um ano atétrês, o ministro da religião do reino que abusar das suas funções:

1.0 - Não cumprindo devidamente as decisões passadas emjulgado dos tribunais civis competentes nos recursos à coroa; .

2.° - executando bulas ou quaisquer determinações da cúnaromana, sem ter precedido beneplácito régio, na forma das leis do

I. _ Revogado em parte. Substituído pelo artigo 48.0 do Decreto de 20 de Abril de 1911, quepreceitua:«O ministro de qualquer religião que, no exercício do seu ministério, ou por ocasião dequalquer acto do culto, em sermões ou em qualquer discurso público verbal, ou emescrito publicado, injuriar alguma autoridade pública ou atacar algum .d~s seus a~tos. ou aforma de governo ou as leis da República, ou negar ou puser em dúvida os direitos doEstado consignados neste Decreto e na demais legislação relativa às igrejas, ou provocara qualquer crime, será condenado na pena do artigo 137." do Código Penal, e na perdados benefícios materiais do Estado.»

'" _ Revogado e substituído pelo artigo 181.0 do Decreto de 20 de Abril de 1911, por sua vezrevogado pelo artigo 12." do Decreto n." 3.856 de 22 de Fevereiro de 1918, segundo oqual:«As bulas pastorais ou outras determinações escritas da cúria romana, dos prelados ououtras entidades que tenham funções dirigentes de qualquer religião, não ficamdependentes de prévia aprovação do Estado para se publicarem e correrem dentro doPaís, mas os abusos ou delitos que elas contenham serão punidos nos termos das leispenais e da imprensa.»

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reino, salvos os casos em que este crime, pelas suas circunstâncias,tenha o carácter de crime mais grave.

ARTIGO 139.°(Exercício ou recusa ilegal de funções religiosas)

[REVOGADO] 21

A pena de prisão de três meses a dois anos será imposta aqualquer ministro da religião do reino que cometer algum dosseguintes crimes:

1.o - Se, estando legalmente suspenso do exercício das suasfunções ou de alguma delas, exercer aquelas de que estiver suspenso;

2.0 - Se recusar, sem motivo legítimo, a administração dosSacramentos, ou a prestação devida de qualquer acto do seuministério.

ARTIGO 140.°(Admissão ilegal em comunidade religiosa)

[REVOGADO] 22

Qualquer pessoa que, contra a proibição da lei, se fizer admitircomo membro de alguma sociedade ou comunidade religiosaautorizada pela lei ou pelo Governo, ou que admitir ou concorrerpara que se admita outrem, com violação da mesma lei, serácondenada em multa, conforme a sua renda, de um mês a um ano.

II _ Revogado pelo Decreto de 20 de Abril de 1911.

" - Artigo substituído pelo artigo 40.· do Decreto de 20 de Abril de 1911 que dispõe:"São também declaradas extintas, passando para o Estado todos os seus bens, semexcepção, as associações, corporações ou outras entidades que admitirem entre os seusmembros ou empregados, quaisquer indivíduos, de um ou outro sexo, que tenhampertencido às ordens ou congregações declaradas extintas pelo Decreto de 8 de Outubro de1910, e bem assim aqueles que pertencerem aos institutos dessa natureza, onde quer queexistam, ficando esses indivíduos,os membros da direcção ou administração daquelasassociações, corporações ou entidades e quaisquer outros responsáveis pela infracção,sujeitos à sanção do artigo 140.· do Código Penal e a quaisquer outras penalidadesaplicáveis pelos Decretos de S de Outubro e de 31 de Dezembro de 1910,»

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TÍTULO IIDOS CRIM:ES CONTRA

A SEGURANÇA DO ESTADO[REVOGADO] 23

2l _ Todo este Título II do Livro II foi revogado e substituído pela Lei n." 7nS de 26 de Maio,"Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado", incluída na Legislação Complementardesta edição, a qual, por sua vez sofreu as alterações constantes da Lei n.o 22·C/92, de 9 deSetembro de 1992.

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TÍTULO IIIDOS CRIMES CONTRA A ORDEM

E TRANQUILIDADE PÚBLICA

CAPÍTULO IREUNIÕES CRIMINOSAS, SEDIÇÃO E ASSUADA

SECÇÃO IDISPOSIÇÃO GERAL

ARTIGO 177.°(Reuniões ilegais)

Em todo o ajuntamento ou reunião de povo,que se reunir,contravindo as condições legais de que dependa essa reunião, ospromotores ou convocadores dela serão punidos como desobedientes.

§ 1.0 - Na mesma responsabilidade incorrem aqueles que,ordenada competentemente a dispersão do ajuntamento, ou sejaconvocado ou fortuito, não se retirarem; e, se forem os promotoresou convocadores da reunião, ser-Ihes-á imposta a pena dedesobediência qualificada.

§ 2.° - Em qualquer ajuntamento ou reunião de que trata esteartigo e § 1.0, serão isentos da responsabilidade criminal, a elerespectiva, os que, não sendo promotores nem convocadores, seretirarem voluntàriamente depois da advertência da autoridade ouantes de praticado qualquer acto.

§ 3.° - Se em algum ajuntamento ou reunião incriminada nestecapítulo se praticarem actos para que esteja estabelecida pena maisgrave do que as cominadas para o mesmo ajuntamento ou reunião, osque os praticaram serão condenados segundo as regras geraisestabelecidas para a acumulação de crimes.

ARTIGO 178.Q

(Reunião armada)

Em geral considera-se reunião armada aquela em que mais deduas pessoas têm armas ostensivas. Quando estiverem armadas comarmas ostensivas uma ou duas pessoas somente, nestas haverá lugar apena como se a reunião fosse armada, e bem assim, em todas as queforem encontradas com armas escondidas, posto que nenhuma outraesteja armada.

71

§ 1° - Presume-se sempre estar armado aquele que tem qualquerarma no acto de cometer o crime; excepto provando que a tinha, ouacidentalmente ou para usos ordinários da vida, e sem desígnio decom ela fazer mal.

§ 2° - Todos os instrumentos cortantes, perfurantes oucontundentes são compreendidos na denominação de armas.

§ 3° - Aqueles objectos, porém, que servirem habitualmentepara os usos ordinários da vida, são considerados armas somente nocaso em que se tiverem empregado para se matar, ferir ou espancar.

SECÇÃO IISEDIÇÃO

ARTIGO 179.°(Sedição)

Aqueles que, sem atentarem contra a segurança interior doEstado, se ajuntarem em motim ou tumulto,ou com arruído,empregando violências, ameaças ou injúrias, ou tentando invadirqualquer edifício público, ou a casa de residência de algumfuncionário público: 1.0, para impedir a execução de alguma lei,decreto, regulamento ou ordem legítima da autoridade; 2.°, paraconstranger, impedir ou perturbar no exercício das suas funçõesalguma corporação que exerça autoridade pública, magistrado,agente da autoridade ou funcionário público; 3.°, para se eximirem aocumprimento de alguma obrigação; 4.°, para exercer algum acto deódio, vingança ou desprezo contra qualquer funcionário.ou membrodo Poder Legislativo, serão condenados a prisão até um ano, se asedição não for armada.

§ 1.° - Se a sedição for armada, aplicar-se-á a pena de prisão.§ 2.° - Se não tiver havido violências, ameaças ou injúrias,nem

tentativa de invasão dos edifícios públicos ou da casa de residênciade algum funcionário público, a prisão não excederá a seis meses,nahipótese do artigo, e a um ano na do parágrafo antecedente.

§ 3.° - Se os criminosos conseguirem a realização do fimsedicioso, serão condenados a prisão maior de dois a oito anos, seesta não constituir crime a que por lei seja aplicável pena mais grave.

§ 4.° - Os que excitaram,provocaram ou dirigiram a sedição,serão condenados ao máximo da pena que, em virtude do dispostoneste artigo e §§ 1.0 e 2.°, for aplicável ao crime, e a dois a oito anosde prisão maior no caso previsto no § 3.°.

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§ 5.° - A conjuração para a sedição é punida com prisão até trêsmeses e multa correspondente, se a sedição não se houver verificado.Tendo havido sedição.a conjuração será considerada circunstânciaagravante em relação aos criminosos a que se refere o § 4.° desteartigo.

SECÇÃO IIIASSUADA

ARTIGO 180.°(Assuada)

Aqueles que se ajuntarem em qualquer lugar público para exerceralgum acto de ódio, vingança ou desprezo contra qualquer cidadão,ou para impedir ou perturbar o livre exercício ou gozo dos direitosindividuais,ou para cometer algum crime, não havendo começo deexecução mas somente qualquer acto preparatório ou aliás motim outumulto, arruído ou outra perturbação da ordem pública, serãocondenados a prisão até seis meses, se a reunião for armada, e aprisão até três meses no caso contrário.

§ único - A conjuração só é punível se tiver havido começo deajuntamento, ou algum acto preparatório, e nesse caso ser-lhe-áaplicada a prisão até três meses.

CAPÍTULO IIINJÚRIAS E VIOLÊNCIAS CONTRA

AS AUATORIDADES PÚBLIÇAS,RESISTENCIA E DESOBEDIENCIA

SECÇÃO IINJÚRIAS CONTRA AS AUTORIDADES PÚBLICAS

ARTIGO 181.°

(Injúrias contra as autoridades públicas)

Aquele que ofender directamente por palavras, ameaças ou poractos ofensivos da consideração devida à autoridade, algum ministroou conselheiro de Estado, membro das câmaras legislativas, ou

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deputação das mesmas câmaras, magistrado judicial, administrativoou do ministério público,professor ou examinador público, jurado oucomandante da força pública, na presença e no exercício das funçõesdo ofendido, posto que a ofensa se não refira a estas, ou fora dasmesmas funções, mas por causa delas, será condenado a prisão atéum ano. Se neste crime não houver publicidade, a prisão nãoexcederá a seis meses.

§ 1.0- O funcionário público, que no exercício das suas funçõesofender o seu superior hierárquico por palavras,ameaças ou acçõesna presença dele, ou por escrito que lhe seja directamente dirigido,ainda que neste caso o faça no exercício das suas funções, se todaviase referir a um acto de serviço, haja ou não publicidade na ofensa,será condenado a prisão até um ano e multa correspondente.

§ 2.° - A ofensa cometida em sessão pública de alguma dascâmaras legislativas contra algum dos seus membros ou dosministros de Estado, posto que não esteja presente, ou contra amesma câmara, e bem assim em sessão pública de algum tribunaljudicial ou administrativo ou corporação que exerça a autoridadepública, contra algum dos seus membros, posto que não estejapresente, ou contra o mesmo tribunal ou corporação, será punida coma pena declarada no § 1.0deste artigo.

ARTIGO 182.°

(Injúrias contra agentes da autoridade ou força pública, perito ou testemunha)

O crime declarado no artigo precedente, cometido contra algumagente da autoridade ou força pública, perito ou testemunha noexercício das respectivas funções, será punido com prisão até trêsmeses.

SECÇÃO IIACTOS DE VIOLÊNCIAS CONTRA AUTORIDADES PÚBLICAS

ARTIGO 183.°

(Ofensas corporais contra autoridades públicas)

A ofensa corporal contra alguma das pessoas designadas noartigo 181.° no exercício das suas funções ou por causa destas, serápunida com prisão até um ano e multa correspondente.

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§ 1.0 - Se a ofensa consistir em ameaças com arma, ou for feitapor uma reunião de mais de três indivíduos em disposição de causarmal imediato, a pena será de prisão e multa.

§ 2.° - Se resultar algum dos efeitos especificados no artigo 360.°,n.OS1.°, 2.°, 3.° e 4.°, a pena será de prisão maior de dois a oito anos.

§ 3.° - Quando o efeito da ofensa for algum dos especificadosno n." 5.° do artigo 360.°, ou outro qualquer de superior gravidade,será aplicada a pena especificada para o crime cometido, como senele concorressem circunstâncias agravantes.

ARTIGO 184.°(Ofensas corporais contra agentes da autoridade, peritos ou testemunhas)

Se as ofensas corporais,de que trata o artigo antecedente, forempraticadas contra as pessoas designadas no artigo 182.°, serãopunidas com as penas estabelecidas nos artigos 359.° e seguintes,mas sempre agravadas.

ARTIGO 185.°(Arruído, embriaguez e rompimento de selos)

Aquele que levantar volta ou arruído perante algum magistradojudicial ou administrativo, ou professor público no exercício das suasfunções, ou em sessão de alguma das câmaras legislativas,corporação administrativa, ou júri de exames, será condenado aprisão até seis meses.

§ 1.0 - Aquele que perturbar a ordem nos actos públicos, emqualquer estabelecimento, espectáculo, solenidade, ou reuniãopública, será condenado a prisão até três meses.

§ 2.° - Aquele que nalgum lugar público levantar gritossubversivos da segurança do Estado, da ordem ou da tranquilidadepública, será condenado à pena estabelecida no parágrafo antecedente.

§ 3.° - Aquele que nalgum lugar público se apresentar emmanifesto estado de embriaguez será condenado como contraventor amulta até oito dias.

A primeira reincidência será punida com prisão por dez dias; asegunda com prisão por quinze dias; as subsequentes com prisão porum mês e multa.

§ 4.° - Se alguém quebrar ou romper os selos postos por ordem doGoverno ou da autoridade judicial ou administrativa em qualquer lugar

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ou em quaisquer objectos móveis, ou arrancar ou por qualquer formainutilizar os editais das mesmas autoridades, será condenado a prisãoaté três meses, nos casos em que a lei não estabelecer pena diversa.

§ 5.° - O rompimento ou quebramento de selos postos porordem do Governo ou da autoridade judicial ou administrativa empapéis ou outros objectos pertencentes a algum indivíduo arguido decrime, a que corresponda pena maior, será punido com o máximo dapena de prisão.

ssccxo mRESISTÊNCIA

ARTIGO 186.°(Resistência)

Aquele que, empregando violências ou ameaças, se opuser a quea autoridade pública exerça as suas funções,ou a que seus mandadosa elas respectivos se cumpram, quer tenha lugar a oposiçãoimediatamente contra a mesma autoridade, quer tenha lugar contraqualquer dos seus subalternos ou agentes, conhecido por tal eexercendo suas funções para execução das leis ou dos ditosmandados, será condenado:

1.° - A prisão até dois anos e multa até dois anos, se a oposiçãohouver produzido efeito, impedindo-se aquele exercício ou execução,e tiver sido feita com armas ou por mais de duas pessoas;

2.° - A prisão até dois anos e multa até seis meses, se no casoprevisto no n." 1.0 deste artigo a oposição tiver sido feita sem armasou por menos de três pessoas;

3.° - A prisão até um ano em todos os outros casos.

§ único - Se os meios empregados para a resistência, ou oobjecto desta constituírem crime,a que seja aplicável pena mais gravedo que as estabelecidas neste artigo, serão observadas as regrasgerais para a acumulação de crimes.

ARTIGO 187.°(Coacção contra empregado público)

Todo O acto de violência para constranger qualquer empregadopúblico a praticar algum acto de suas funções, a que a lei o não

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obrigar, se chegou a ter efeito, será punido, aplicando-se asdisposições sobre o crime de resistência.

SECÇÃO IVDESOBEDIÊNCIA

ARTIGO 188.024

(Desobediência)

Aquele que se recusar a prestar ou deixar de prestar qualquerserviço de interesse público, para que tiver sido competentementenomeado ou intimado, ou que faltar à obediência devida às ordens oumandados legítimos da autoridade pública ou agentes dela, serácondenado a prisão até três meses, se por lei ou disposição de igualforça não estiver estabelecida pena diversa.

§ 1.0 - Compreendem-se nesta disposição aqueles queinfringirem as determinações de editais da autoridade competente,que tiverem sido devidamente publicados.

§ 2.° - A pena estabelecida neste artigo será agravada com a demulta por seis meses, se a desobediência for qualificada.

§ 3.° - A desobediência diz-se qualificada, quando consistir emrecusar ou deixar de fazer os serviços ou prestar os socorros queforem exigidos em caso de flagrante delito ou para se impedir afugida de algum criminoso,ou em circunstâncias de tumulto,naufrágio, inundação, incêndio ou outra calamidade, ou de quaisqueracidentes em que possa perigar a tranquilidade pública.

ARTIGO 189.°(Desobediência qualificada)

É considerada desobediência qualificada a que for feita naqualidade de jurado, testemunha, perito, intérprete, tutor ou vogal doconselho de família.

" - Entre outros casos de desobediência, ver os do artigo 33.0 da Lei n." 9/81, de 2 deNovembro (incumprimento das decisões definitivas proferidas em matéria laboral) e doartigo 23.0 da Lei n." 10/87, de 26 de Setembro (não pagamento das multasadministrativas).

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CAPÍTULO IIIDA TIRADA E FUGIDA DE PRESOS E DOS QUE

NÃO CUMPREM AS SUAS CONDENAÇÕES

SECÇÃO ITIRADA E FUGIDA DE PRESOS

ARTIGO 190.°(Tirada de presos)

Se alguém tirar ou tentar tirar algum preso, por meio deviolências ou ameaças à autoridade pública, aos subalternos ouagentes dela, ou a qualquer pessoa do povo, nos casos em que estapode prender, será condenado às penas de resistência.

§ único - Se a tirada do preso se fizer por meio de algumartifício fraudulento, a prisão não excederá a um ano.

ARTIGO 191.0

(Evasão de detidos)

o preso que,antes do julgamento passado em julgado, se evadir,será punido com as penas disciplinares dos regulamentos da pr~s~o oucasa de custódia ou de detenção,sem prejuízo da responsabilidadepelos crimes cometidos para se realizar a fuga; mas, se for condenado,a evasão será tomada em conta como circunstância agravante.

ARTIGO 192.°(Comparticipação do encarregado da guarda do preso)

Qualquer empregado ou agente encarregado da guarda dequalquer preso, que tiver dolosamente procurado ou facilitado afugida do mesmo preso, se este o estava por crime a que a lei impõepena mais grave do que a prisão maior variável, será condenado aprisão maior de dois a oito anos.

§ único - No caso de ser a prisão maior variável,ou qualqueroutra pena menos grave, a pena desse crime, ou de que a prisão fossepor qualquer outro motivo, o empregado ou agente será condena~o aprisão maior de dois a oito anos, ou ao máximo da pena de pnsãosegundo as circunstâncias.

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ARTIGO 193,0

(Negligência do encarregado da guarda do preso)

Se a fugida tiver lugar sem que concorressem da parte dosempregados ou agentes mencionados no artigo antecedente ascircunstâncias aí referidas, e se os mesmos agentes não provaremcaso fortuito ou força maior, que exclua toda a imputação denegligência, serão punidos com prisão de um mês a um ano,no casodo artigo antecedente, e com a prisão de quinze dias a seis meses, nocaso do § único do mesmo artigo.

§ 1.0 - Cessará a pena deste artigo desde que o preso fugido forcapturado, não tendo cometido posteríonnente à fugida algum crime,por que devesse ser preso.

§ 2.° - Quando os agentes,de que tratam os artigos antecedentes,forem militares, a presunção legal da negligência não se estende alémdo comandante da força armada e do seu imediato, salva a prova emcontrárío, e salvo o que for especialmente decretado nas leis militares,nos casos de prisão dos militares, e sobre as infracções de disciplina.

ARTIGO 194.°

(Evasão violenta)

Se a fugida da prisão.ou do lugar de custódia ou detenção, tiverlugar com arrombamento, escalamento ou chave falsa, ou qualqueroutra violência,todo o empregado ou agente encarregado da guardado preso, que, ou for autor do arrombamento,escalamento ouviolências, ou fornecer, ou concorrer.ou dolosamente não obstar aque se forneçam instrumentos ou armas para aquele fim, serácondenado a prisão maior de oito a doze anos, ou a prísão maior dedois a oito anos, segundo as circunstâncias.

§ 1.0 - Se alguns outros indivíduos fizerem o arrombamento,escalamento, abertura de porta ou de janela com chave falsa ouqualquer outra violência, para procurar ou facilitar a fugida do preso,serão condenados a prisão maior de dois a oito anos.

§ 2.° - Os indivíduos declarados no parágrafo antecedente, queapenas tiverem fornecido ao preso armas ou outros instrumentos parase evadir, serão condenados à pena de prisão maior de dois a oitoanos, se se realizar a evasão, e à pena de prisão no caso contrário;

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mas se forem ascendentes,descendentes, cônjuge, irmãos ou irmãs,ou afins, nos mesmos graus, do preso, só incorrerão emresponsabilidade crímínal, se este tiver feito uso das armas ou outrosinstrumentos contra alguma pessoa.

ARTIGO 195.°(Sujeição a vigilância policial)

Nos casos declarados nesta secção, excepto no artigo 193.°, temlugar sujeição à vigilância especial da polícia, pelo tempo queparecer aos juízes.

SECÇÃO IIDOS QUE NÃO CUMPREM AS SUAS CONDENAÇÕES

ARTIGO 196.°

(Evasão de preso condenado)

Àquele que, estando condenado por sentença passada emjulgado, se evadir sem que tenha cumprido a pena, será prolongada apena da sentença pelo dobro do tempo em que andar fugido, salvo odisposto nos parágrafos seguintes.

§ 1.° - O aumento da duração da pena da sentença não excederáem caso algum a metade do tempo da mesma pena.

§ 2.° - Quando a pena seja mista, o aumento, de que trata oparágrafo precedente, será calculado apenas em relação à espécie dapena que o condenado estiver cumpríndo quando se evadir.

CAPÍTULO IVDOS QUE ACOLHEM MALFEITORES

ARTIGO 197.°

(Acolhimento ocasional de malfeitores)

Aquele que tiver, acoutar, ou encobrir,ou fizer ter, acoutar, ouencobrír em sua casa, ou em outro lugar, algum indivíduo condenadoem qualquer das penas maiores, sendo disso sabedor, será condenadoem prisão até dois anos, ou a multa, segundo as circunstâncias.

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§ 1.° - Se, no caso declarado neste artigo, houver unicamentepronúncia, a pena será a de prisão até um ano, ou a multacorrespondente, segundo as circunstâncias.

§ 2.° - Exceptuam-se da disposição deste artigo e seu parágrafoos ascendentes ou descendentes daquele que foi acoutado ouencoberto, o esposo ou esposa, os irmãos ou irmãs, e os parentes porafinidade nos mesmos graus.

ARTIGO 198.°(Acolhimento habitual de malfeitores)

Aquele que voluntariamente e habitualmente, acolher, ou derpousada a malfeitores, sabendo que eles têm cometido crimes contraa segurança do Estado, ou contra a tranquilidade e ordem pública, oucontra as pessoas ou propriedades, quer seja dando sucessivamenteeste acolhimento, quer seja fornecendo-lhes lugar de reunião, serápunido como cúmplice dos crimes que posteriormente ao seuprimeiro facto do acolhimento esses malfeitores cometerem.

CAPÍTULO VDOS CRIMES CONTRA O EXERCÍCIO

DOS DIREITOS POLÍTICOS

ARTIGO 199.°(Impedimento de assembleia ou colégio eleitoral)

[REVOGADO] :!l

Se for impedida qualquer assembleia eleitoral, ou colégioeleitoral, de exercer, em cumprimento da lei, as suas funções notempo e no local competentemente determinado, e este impedimentofor causado por tumulto, ou por qualquer violência, serão punidos os

,,_ Esta matéria foi regulada pelo Decreto-Lei n." 35570, de 3 de Outubro de 1949, que, por suavez, sofreu alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.~ 42264, de 15 de Maio de 1959,e 49229, de 10 de Setembro de 1969.Ver Decreto-Lei n." 556171, de 16 de Dezembro. Em Angola, as infracções eleitorais econtra o execício de direitos políticos estão previstas hoje na Lei n." 5/92, de 16 de Abril(Lei Eleitoral).

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autores ou chefes, com a pena de prisão maior de dois a oito anos. Osoutros criminosos serão punidos com a pena de prisão de seis mesesa dois anos, e suspensão dos direitos políticos por cinco anos.

ARTIGO 200.°(Impedimento do exercício de direitos políticos)

[REVOGADO] 2.

Se qualquer cidadão for impedido, ou por tumulto, ou porqualquer violência, ou por ameaças, de exercer os seus direitospolíticos, serão,o criminoso ou criminosos,punidos com prisão detrês meses até dois anos, e suspensão por cinco dos seus direitospolíticos.

§ único - Se o acto de violência merecer pena mais grave, seráesta imposta.

ARTIGO 201.°(Concerto para tumulto ou reunião ilegal)

[REVOGADO] 27

Em qualquer dos casos declarados nos artigos antecedentes, se otumulto ou reunião tiver lugar em consequência de concerto entrediversas pessoas, para cometer algum dos mesmos crimes em maisde um círculo eleitoral, aplicar-se-ão as disposições penaisdecretadas para o crime de sedição.

ARTIGO 202.°(Injúria ou ofensa à mesa eleitoral)

[REVOGADO] 28

Se em qualquer assembleia eleitoral, ou colégio eleitoral, duranteo acto da eleição, for injuriado ou ofendido o presidente, ou qualquerdos membros da mesa, observar-se-á o que se acha disposto sobre asinjúrias e violências cometidas contra os membros das corporaçõesadministrativas.

ze - Ver nota do artigo 199.°.

27 _ Ver nota do artigo 199.°.

" - Ver nota ao artigo 199.°.

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ARTIGO 203."

(Falsificação de escrutínio)[REVOGADO] 29

Se durante as operações da assembleia eleitoral, ou colégioeleitoral, for descoberta alguma falsificação cometida em qualquerdas listas que contêm os votos dados pelos cidadãos no exercício doseu direito, ou subtracção de alguma delas, ou adição de algumaoutra, ou alteração de qualquer voto; se o criminoso for membro damesa, será condenado na pena de suspensão dos direitos políticos porvinte anos e prisão até um ano.

§ único - Se for outra pessoa que cometa o crime declaradoneste artigo, a pena será a de suspensão dos direitos políticos porcinco anos, e prisão até um ano.

ARTIGO 204.°

(Compra e venda de votos)[REVOGADO] 30

Aquele que em uma eleição comprar ou vender um voto porqualquer preço, será suspenso de todos os direitos políticos até dezanos, e pagará uma multa do dobro do preço.

ARTIGO 205."

(Leis especiais das eleições)[REVOGADO] 31

Em todos os casos, que não são compreendidos nos artigosantecedentes, observar-se-ão as disposições que se acham decretadasnas leis especiais das eleições.

" - Ver nota ao artigo 199.°.

se - Ver anotação ao artigo 199.°.

31 _ Ver anotação ao artigo 199.°.

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CAPÍTULO VIDAS FALSIDADES

SECÇÃO IDA FALSIDADE DA MOEDA, NOTAS DE BANCOS NACIONAIS

E DE ALGUNS TÍTULOS DO ESTADO

ARTIGO 206.0 32

(Falsificação de moedas, notas de banco e títulos do Estado)

Aquele que falsificar moeda de ouro ou prata,da forma daquelasque têm curso legal no reino, e a passar usando dela por qualquermaneira, ou a expuser à venda, e bem assim aquele que, por concertocom o fabricador ou sendo seu cúmplice,praticar qualquer destesactos ou neles tiver parte, será condenado em prisão maior dedezasseis a vinte anos.

§ 1.0 - Na mesma pena incorrerão os que falsificarem notas debancos nacionais, ou inscrições, ou obrigações de dívida públicaangolana.

§ 2.° - Se houver somente a fabricação, a pena será a de prisãomaior de oito a doze anos.

ARTIGO 207.0

(Passagem sem concerto com o falsificador)

Aquele que, sem concerto com o fabricador e sem que seja seucúmplice,passar a dita moeda, notas, inscrições ou obrigaçõesfalsificadas, ou as puser à venda, será condenado a prisão maior dedois a oito anos.

ARTIGO 208.0

(Fabrico de moeda com o valor da legítima; cerceio; cumplicidadecom o falsificador e passagem)

A pena de prisão maior de dois a oito anos será imposta:

" - Os crimes de moeda falsa estão também regulados na Convenção Internacional para aRepressão da Moeda Falsa, concluída em Genebra a 20 de Abril de 1929. Deve serconsiderada como direito interno e aplicada nos casos em que colide com preceitosanteriores. Ver também a Lei Cambial.

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1.° - Ao que sem autorização legal fabricar, ou passar, ouexpuser à venda qualquer peça de moeda de ouro ou prata com omesmo valor das legítimas;

2.° - Ao que cercear ou por qualquer modo diminuir o valor dealguma das ditas peças de moedas legítimas, e passar ou expuser àvenda a moeda assim falsificada;

3.° - Ao que,por concerto ou cumplicidade com o falsificador,praticar algum dos actos declarados neste artigo, ou neles tiver parte.

§ 1.0 - Se a moeda assim falsificada não foi exposta à vendanem chegou a passar-se, a pena será a de prisão,

§ 2.° - O que passar a dita moeda falsificada por qualquer dosmodos declarados neste artigo ou a expuser à venda, não seconcertando nem sendo cúmplice com o falsificador, será condenadoao máximo da pena de prisão e ao máximo da multa.

ARTIGO 209.0

(Passagem sem conhecimento da falsidade no momento do recebimento)

Se em qualquer dos casos declarados nos artigos antecedentes opassador teve conhecimento da falsidade só depois de ter recebido amoeda como verdadeira, a pena será a de multa,conforme a suarenda, de quinze dias a um ano ,mas nunca inferior ao dobro do valorrepresentado pelas peças de moeda falsa que passou.

ARTIGO 210.0 JJ

(Actos preparatórios)

As penas determinadas nos artigos desta secção para ospassadores da moeda, notas, inscrições ou obrigações falsificadas, seaplicam aos que as introduzem em território angolano.

§ 1.° - A pena de prisão maior de dois a oito anos será impostaàquele que fabricar, importar, expuser à venda, vender, ou porqualquer modo fornecer, subministrar, possuir ou retiver cunho paramoeda e chapa, ou formas com letras de água, que sirvam

3J _ Os n.~ 4.° e s." do artigo 3.° da Convenção de Genebra, referida na anotação ao artigo 206.°,pune a tentativa dos crimes aí previstos e os actos de participação intencional e actosfraudulentos de fabrico, recebimento ou obtenção de instrumentos ou outros objectosdestinados à falsificação ou alteração de moedas.

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exclusivamente para falsificação de moeda,ou de notas de banco, oude quaisquer títulos do Estado de dívida ou representativos de moeda.

§ 2.° - A pena de prisão e multa será imposta àquele que, semlicença do Governo, fabricar, importar, expuser à venda, vender, oupor qualquer modo fornecer, subministrar, possuir ou retiver balancésou prensas de cunhar e serrílhas que sirvam, posto que nãoexclusivamente, para a falsificação da moeda, notas ou títulosespecificados no parágrafo antecedente.

§ 3.° - O disposto nos parágrafos antecedentes não é aplicávelaos bancos, companhias ou estabelecimentos em relação à fabricaçãode moeda,notas ou outros papéis que por leis especiais lhes estivercometida, ou permitida, nem aos indivíduos que para o mesmo fimcontratarem com o Governo, ou com os referidos bancos,companhias ou estabelecimentos.

ARTIGO 211.0

(Moeda não de ouro ou prata)

Nos diversos casos declarados nos artigos antecedentes, se amoeda não for de ouro ou prata,mas de outro metal,terão lugar naspenas as seguintes modificações:

1.° - Se a pena for a de prisão maior de dezasseis a vinte anos,impor-se-á a pena de prisão maior de dois a oito anos;

2.° - Se for a de prisão maior de dois a oito anos.impor-se-á omáximo da pena de prisão, com ou sem multa;

3.° - Se for o máximo da prisão, a de prisão até um ano;4.° - Se for a de prisão, a mesma pena até seis meses.

ARTIGO 212.°(Moeda estrangeira)

Aquele que cometer em território angolano algum dos crimesdeclarados nesta secção, falsificando,ou passando ou introduzindofalsificada moeda estrangeira, que não tenha curso legal no reino,será condenado segundo as regras estabelecidads no artigoantecedente. 34

J4 _ Nos termos da Convenção de Genebra, já citada, nomeadamente, o seu artigo 5.°, as sançõesa aplicar são iguais quer se trate de moeda nacional quer estrangeira, portanto, está alteradaa estatuição deste artigo 212.°.

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ARTIGO 213.°

(Denúncia, isenção de pena e cumplicidade do comprador)

Será isento da pena o co-réu que, antes de consumado qualquerdos crimes enunciados nos artigos antecedentes, e antes de seinstaurar o processo, der à autoridade pública conhecimento domesmo crime e das suas circunstâncias, e dos outros co-réus. Poderácontudo determinar-se a sujeição à especial vigilância da polícia,pelo tempo que parecer aos juízes.

§ único - Em todos os casos declarados nesta secção ocomprador será punido como cúmplice do passador.

ARTIGO 214.°

(Rejeição de moeda com curso legal)

Aquele que enjeitar moeda que tenha curso legal no reino serácondenado no anoveado da moeda enjeitada.

SECÇÃO IIDA FALSIFICAÇÃO DOS ESCRITOS

ARTIGO 215.°

(Falsificação de títulos de crédito)

Aquele que falsificar cheques de bancos ou de estabelecimentosbancários, ou outros títulos de crédito não especificados nos artigosprecedentes, cuja emissão no reino estiver legalmente autorizada, ouos introduzir ou puser em circulação em território angolano, ou delesfizer uso, será condenado à pena de prisão maior de oito a doze anos.

§ 1.0 - Se a emissão estiver autorizada só em país estrangeiro, eo crime for cometido em território angolano, a pena será a de prisãomaior de dois a oito anos.

§ 2.° - Se na introdução, passagem ou uso dos mesmos títulosnão houver concerto com o falsificador ou com outro introdutor oupassador, a pena será a de prisão e multa.

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ARTIGO 216.°(Falsificação de documentos autênticos ou que fazem prova plena)

Será condenado a prisão maior de dois a oito anos aquele quecometer, por qualquer dos modos abaixo declarados, falsificação queprejudique,ou possa por sua natureza prejudicar, terceira pessoa ou oEstado:

1.0 - Fabricando disposições, obrigações ou desobrigações emqualquer escritura, título,diploma, auto ou escrito, que pela lei devater a mesma fé que as escrituras públicas;

2.° - Fazendo nos ditos documentos alguma falsa assinatura ousuposição de pessoa;

3.° - Fazendo falsa declaração de qualquer facto, que osmesmos documentos têm por fim certificar e autenticar, ou que éessencial para a validade desses documentos.

4.° - Acrescentando, mudando ou diminuindo em alguma parteos ditos documentos, depois de concluídos, de modo que se altere asubstância ou tenção deles pela adição, diminuição ou mudança dasdisposições, obrigações ou desobrigações, ou dos factos que estesdocumentos têm por objecto certificar ou autenticar;

5.° - Fabricando alguns dos ditos documentos inteiramente falsos.

§ único - Se se provar que alguma das falsidades declaradasneste artigo foi cometida por mera inconsideração, negligência ouinobservância do respectivo regimento, a pena será em todos oscasos a de prisão.

ARTIGO 217.°(Falsificação de letra de câmbio ou de título comercial transmissível

por endosso)

Na mesma pena será condenado aquele que, por qualquer dosmodos enunciados no artigo antecedente, cometer falsificação em letrasde câmbio, ou em qualquer título comercial transmissível por endosso.

ARTIGO 218.°(Falsificação praticada por empregado público no exercício das suas funções)

Será condenado à pena de dois a oito anos de prisão maior oempregado público que, no exercício das suas funções, cometeralguma falsificação que prejudique ou possa prejudicar terceira

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pessoa ou o Estado, em escritura pública, título, diploma, auto ouescrito de igual força:

1.0 - Fabricando um documento inteiramente falso;2.° - Imitando ou fingindo letra, assinatura, filma, rubrica ou

sinal de outrem;3.° - Supondo num acto a intervenção de pessoas que nele não

figuraram;4.° - Atribuindo aos que intervierem num acto declarações que

não fizeram, ou diferentes das que realmente tiverem feito;5.0 - Faltando à verdade na narração ou declaração dos factos

essenciais para a validade de um documento, ou na daqueles que estetenha por objecto certificar;

6.° - Alterando as datas verdadeiras;7.0 - Fazendo em documento verdadeiro alguma alteração ou

intercalação, que lhe mude o sentido ou o valor;8.0 - Certificando ou reconhecendo como verdadeiros factos

falsos;9.0 - Passando translado, certidão, cópia que haja de fazer fé, ou

pública-forma de documento suposto, ou em que declare coisadiferente da que se achar no original;

10.° - Intercalando qualquer acto em protocolo, livro ou registooficial, ou registando sem que tenha existência jurídica, algum actode natureza daqueles para que a lei estabelece o registo, ou canceladoo que deva subsistir.

§ único - Se se provar que alguma das falsidades declaradasneste artigo foi cometida por mera inconsideração, negligência ouinobservância do respectivo regimento, a pena será a de prisão e multa.

ARTIGO 219.°(Falsificação de outros escritos)

Aquele que, por qualquer dos modos declarados no artigo 218.0,

falsificar escrito não compreendido no mesmo artigo, será condenadoa prisão e multa.

ARTIGO 220.0

(Falsificação de escrito assinado em branco)

Será punida com as mesmas penas a falsificação cometida, porqualquer dos modos declarados nos artigos antecedentes, por cima de

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uma assinatura em branco, ainda que voluntàriamente entregue pelosignatário.

ARTIGO 22l.°(Testemunhas do documento falso)

Serão impostas as penas da cumplicidade à testemunha dedocumento público ou particular, que intervier com conhecimento dafalsidade, salvo se dever ser considerada como autor.

ARTIGO 222.°(Uso de documento falso)

Aquele que fizer uso dos documentos falsos declarados nosartigos antecedentes, ou dolosamente fizer registar algum acto oucancelar algum registo, será condenado como autor da falsidade.

ARTIGO 223.°(Excepções quanto a certificados, passaportes, guias ou itinerários)

As regras estabelecidas nos artigos antecedentes têm,relativamente aos certificados, passaportes, guias ou itinerários, asexcepções declaradas nos artigos seguintes.

ARTIGO 224.°(Falsificação de atestados e certificados)

Serão condenados a prisão e multa:

1.° - Todo o facultativo, ou pessoa competentemente autorizadapela lei para passar certificados de moléstia ou lesão, que, comintenção de que alguém seja isento ou dispensado de qualquerserviço público, certificar falsamente moléstia ou lesão que deva teresse efeito;

2.0 _ Todo aquele que,com o nome de algum facultativo oupessoa competentemente autorizada pela lei, fabricar algumcertificado da mesma natureza;

3.° - Todo aquele que fabricar em nome de um empregadopúblico algum certificado de recomendação, atestando quaisquercircunstâncias em favor da pessoa nele designada, e bem assimaquele que alterar com a mudança de nome da pessoa designada oatestado de um empregado público originariamente verdadeiro;

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4.° - Todo o funcionário público que, faltando à verdadegeralmente sabida, atestar ou certificar falsamente alguns factos oucircunstâncias que possam interessar ou prejudicar a pessoa a favorde quem ou contra quem foram passados estes atestados oucertificados, salvo se estiver incurso no artigo 218.°;

5.° - Aquele que fizer uso de qualquer destes certificados ouatestados falsos, sabendo que o são;

6.° - O funcionário público encarregado dos serviços dostelégrafos, que supuser ou falsificar algum despacho telegráficorecebido ou a transmitir; ou aquele que, não sendo o funcionáriocompetente, cometer este crime ou fizer uso do despacho falso,sabendo que o é.

§ 1.° - O dono de hospedaria ou doutra casa onde se dê alberguepor dinheiro, que no respectivo livro ou registo fizer comconhecimento de causa alguma inscrição falsa ou suposta, serácondenado a prisão até dois meses e multa.

§ 2.° - Aquele que,não estando incluido neste artigo nem emalgum dos antecedentes, passar atestado ou certificado falso, e bemassim o que dele fizer uso, sabendo da sua falsidade, será condenadoa prisão até três meses e multa correspondente.

§ 3.° - O disposto neste artigo e seus parágrafos entende-se semprejuízo de pena mais grave, se os factos incriminados fizerem parteda execução doutro crime. Os prejuízos imediatos produzidos pelodespacho telegráfico falsificado serão, para os efeitos deste parágrafoe dos artigos que regulam as responsabilidades dos autores ecúmplices, considerados como subtracção fraudulenta de haveresalheios.

ARTIGO 225.°

(Falsificação de passaporte por empregado público)

O empregado público, encarregado de dar passaportes, que comintenção de subtrair alguém à vigilância legal da autoridade, deralgum passaporte com suposição do nome, será condenado àdemissão do emprego e à prisão de um até dois anos.

§ único - Aquele que,não conhecendo a pessoa a quem deu opassaporte, não exigiu a abonação que as leis e os regulamentosrequerem, será condenado em multa de um mês a um ano.

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ARTIGO 226.°(Passaporte falso, com nome suposto, ou alterado)

Toda a pessoa que, ou tomar o nome suposto,ou ~abricar .umpassaporte falso, ou substancialmente alterar o verdadeiro, ou f1ze~uso de passaporte falsificado por qualquer destes modos, seracondenado a prisão de dois meses até dois anos.

§ único - As testemunhas que tiveram concorrido para se dar opassaporte com nome suposto serão punidas como cúmplices.

ARTIGO 227.°(Falsificação de guias ou itinerários)

As penas determinadas nos dois al:tigos ~~tec~~entes sãoaplicáveis aos casos de falsidade das guias ou .ltmer~nos, c~m adeclaração de que, se, em virtude da falsa gUla ou Itmeráno.' oportador recebeu da Fazenda Públic~ alguma q~antia, ,será punidocom a pena decretada no artigo 216. , e bem aSSIm sera do ~esmomodo punido o empregado, se para esse fim tiver cometido afalsificação.

SEcçÃomDA FALSIFICAÇÃO DOS SELOS, CUNHOS E MARCAS

ARTIGO 228.°(Falsificação de selo, cunho, marca ou chancela de autoridade)

Aquele que falsificar selos,cunhos,marcas ou. chanc.ela dequalquer autoridade ou repartição pública, os intr~du~lf .no remo, oudeles fizer uso, que não esteja especificadamente mcnmm.a~o no~troartigo, será condenado na pena de dois a oito anos de pnsao maior,

ARTIGO 229.°(Falsificação de valores selados ou de objectos timbrados exclusivos do Estado)

A mesma pena haverá aquele que falsificar papel selad~,estampilhas de selo ou postais, ou outros objectos timbrados, cujofornecimento seja exclusivo do Estado, e os que dolosamente osintroduzirem no reino, emitirem, passarem, expuserem à venda oudeles fizerem uso.

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ARTIGO 230.0

(Uso de marcas, cunhos ou selos falsos)

Aquele que cometer alguma falsificação, usando de marcas,selos ou cunhas falsificados de contraste ou avaliadores, cujoscertificados têm pela lei fé em juízo, será condenado à prisão deum até seis meses,sem prejuízo de qualquer outra pena, se houverlugar.

§ 1.0 - Se as marcas, cunhas ou selos falsificados forem dequalquer estabelecimento de indústria ou comércio, a pena será a deprisão de um até três meses, sem prejuízo de pena maior, se houverlugar, e salva a reparação, segundo as regras gerais.

§ 2.° - A mesma pena será imposta ao que expuser à vendaobjectos marcados com nomes supostos ou alterados, ou que tiverposto ou feito aparecer de qualquer modo sobre objectos fabricados onome ou firma de fábrica diversa daquela, em que teve lugar afabricação.

§ 3.° - A mesma pena será também imposta àquele que fizerdesaparecer das estampilhas de selo ou postais,ou bilhetes paratransporte de pessoas ou coisas, o sinal de já haverem servido, oudeles fizerem uso neste estado.

§ 4.° - Aquele que em bilhetes ou senhas de admissão aestabelecimento ou lugar público, ou em cautelas de lotaria ou narespectiva lista, e com o fim fraudulento de tirar para si ou paraoutrem algum lucro, ou de prejudicar terceira pessoa, falsificar anumeração, data ou valor, ou deles fizer uso, os vender ou expuser àvenda, será condenado a prisão.

ARTIGO 231.0

(Falsificação por uso ilícito de instrumentos legítimos)

As penas declaradas nos artigos antecedentes desta secção sãoaplicáveis, segundo os diversos casos neles designados, àqueleque, para executar alguma falsificação em prejuízo do Estado, oude alguma pessoa, fizer uso dos instrumentos legítimos que lhetenham sido confiados, ou que por alguma maneira tenha tido emseu poder.

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SECÇÃO IVDISPOSIÇÃO COMUM ÀS SECÇÕES ANTECEDENTES

DESTE CAPÍTULO

ARTIGO 232,0

(Atenuação. Destruição dos instrumentos e perda dos objectos do crime)

As penas determinadas nos artigos das antecedentes secçõesdeste capítulo, contra o uso da coisa falsa, não terão lugar quandoaquele que usou dela não conheceu a falsificação.

§ 1.0 _ Nos crimes de falsificação é sempre atenuante o factode não se ter feito uso do documento público ou particular, ouobjecto falsificado, ou de não ter resultado desse uso o prejuízo ouproveito que determinou a falsidade; inclusivamente no caso emque o apresentante de um documento falso e.m juízo ~enhadeclarado desistir dele nos termos da lei civil, depois de arguido defalso.

§ 2.° - Em todos os crimes de falsidade ordenar-se-á nasentença condenatória a destruição dos in~trumen:osespecialmente destinados ao cometimento deles, se tiverem sidoencontrados, e o perdimento em favor dos ofendidos, quando te~alugar, dos objectos dos mesmos crimes que tenham si doapreendidos.

SECÇÃO VDOS NOMES, TRAJOS, EMPREGOS, TÍTULOS SUPOSTOS

OU USURPADOS

ARTIG023r

(Uso de falso nome)

Aquele que, tomando um falso nome,tentar subtrair-se,. dequalquer modo, à vigilância legal da autoridade pública, ou fizeralgum prejuízo ao Estado ou a particulares, será punido com a pe~ade quinze dias a seis meses de prisão, ou com multa de um mes,

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salvo o que se acha decretado sobre o uso de nomes supostos nosdiversos casos mencionados neste código. 35

§ único - O uso de um nome suposto pode ser por justas causasautorizado temporàriamente pela autoridade superior administrativa.

ARTIGO 234.°(Mudança ilegal de nome)

Aquele que mudar de nome, sem que esta mudança sejalegalmente autorizada com as solenidades que determinar a lei civil,será condenado na multa de um mês, salva a reparação de qualquerprejuízo que com isso tenha causado.

ARTIGO 235.°(Uso de trajos, uniformes ou condecorações supostas)

Aquele que se vestir e andar em trajos próprios de diferente sexo,publicamente, e com intenção de fazer crer que lhe pertencem, ouque do mesmo modo trouxer uniforme próprio dum empregadopúblico, ou alguma condecoração que lhe não pertença, serácondenado em prisão até seis meses e multa até um mês.

ARTIGO 236.°(Exercício ilegal de funções públicas ou profissão titulada)

Aquele que, sem título ou causa legítima, exercer funçõespróprias de um empregado público, arrogando-se esta qualidade, será

" - A este respeito, convém recordar os crimes previstos pelos artigos 23.° e 24.° do Decreto-Lei n.? 33 725, de 21 de Junho de 1944 (B.a. n." 19/1957):

ARTIGO 23." - "Será punido com prisão simples até seis meses ou multa até 5.000KzR., se o facto não constituir crime mais grave, aquele que induzir alguém em erro,atribuindo falsamente, a si ou a terceiro, nome, estado ou qualidade que por leiproduza efeitos jurídicos, para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, oupara causar dano a outrem."

ARTIGO 24.° - "Aquele que, dolosamente, usar como próprio qualquer documentode identidade alheia, ou ceder a outrem para que dele se utilize documento dessanatureza, próprio ou de terceiro, será punido com prisão até dois anos, se não houverlugar a pena mais grave."

Ver, quanto à multa. o Dec.-Lei n." 7/00.

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punido com a pena de prisão de um até dois anos, e multacorrespondente, sem prejuízo das penas de falsidade, se houveremlugar.

§ I." - Se as funções forem de um comando militar de terra oude mar, observar-se-ão as disposições das leis militares, posto que ocriminoso não seja militar, em tempo de guerra, e terá aplicação odisposto no § único do artigo 307.°.

§ 2.° - O que exercer acto próprio duma profissão que exijatítulo, arrogando-se, sem título ou causa legítima, a qualidade deprofessor ou perito, será condenado na pena de seis meses a doisanos, e multa correspondente.

ARTIGO 237.°(Uso indevido de títulos de nobreza ou brasões)

Aquele que se arrogar qualquer título de nobreza, ou usurparbrasão de armas, que lhe não pertença, será condenado em prisão atéseis meses e multa até um mês.

SECÇÃO VIDO FALSO TESTEMUNHO E OUTRAS FALSAS DECLARAÇÕES

PERANTE A AUTORIDADE PÚBLICA

ARTIGO 238.°(Falso testemunho em inquirição contenciosa)

Aquele que em causa criminal, e sobre as circunstânciasessenciais do facto, que é o objecto da acusação, testemunhar falsocontra ° acusado, será condenado a pena de dois a oito anos de prisãomaior.

§ I." - Se, porém, o acusado foi condenado e sofreu pena maisgrave, será aquele, que assim testemunhou falso contra ele,condenado na mesma pena.

§ 2.° - O que der o mesmo testemunho falso a favor do acusado,será condenado a prisão maior de dois a oito anos.

§ 3.° - Quando o crime tiver somente pena correccional, a penado referido testemunho falso, 9U contra ou a favor do acusado, será ade prisão maior de dois a oito anos.

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§ 4.° - O testemunho falso em processo preparatório serápunido com as penas imediatamente inferiores.

§ 5.0 - O testemunho falso em matéria civil será punido comprisão maior de dois a oito anos.

ARTIGO 239.0

(Falso testemunho. Retractação)

Cessa a pena de testemunho falso, se aquele que o deu seretractar antes de estar terminada a discussão da causa.

§ único - Se o testemunho falso for dado em processo criminalpreparatório, somente cessará a pena, se a retractação se fizer antesde concluído o mesmo processo preparatório.

ARTIGO 240.°(Suborno de testemunha falsa)

Em todos os casos declarados nos artigos antecedentes,se o quetestemunhou falso foi subornado com dádivas ou promessas, a pena,que nos termos dos mesmos artigos lhe for aplicável, será sempreagravada.

§ 1.0 - O que se recebeu perder-se-á a favor do Estado.§ 2.° - O subornador será punido com as mesmas penas.§ 3.° - A tentativa de suborno será punida em conformidade

com as regras gerais da lei.ARTIGO 241.0

(Falsas declarações de peritos)

As penas declaradas nos artigos antecedentes serão aplicáveis aosperitos que fizerem, com juramento, declarações falsas em juízo.

ARTIGO 242.0

(Falso testemunho em inquirição não contenciosa. Falsas declaraçõesperante a autoridade)

Aquele que testemunhar falso em qualquer .inquirição nãocontenciosa, e bem assim aquele que, sendo legalmente obrigado adar informações, ou fazer declarações, com juramento ou sem ele, àautoridade pública, sobre algum facto relativo a outras pessoas ou ao

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Estado, der falsamente essa informação, ou fizer falsamente essadeclaração, será punido com suspensão temporária dos direitospolíticos, e prisão até seis meses. 36

ARTIGO 243.°

(Juramento falso)[REVOGADO] 37

Quando for deferido o juramento supletório, aquele que jurarfalso será punido com a pena fixa de suspensão dos direitos políticospor vinte anos.

§ único - Quando for deferido ou referido o juramento de alma,será condenado na mesma pena o que jurar falso, mas a querela eacusação poderá ser tão somente intentada pelo Ministério Público.

ARTIGO 244.0

(Querela maliciosa)

Se alguém querelar maliciosamente contra determinada pessoa,será condenado a prisão maior de dois a oito anos.

§ único - Se querelar de crime,que só tenha pena correccional,ou acusar nos casos em que não tem lugar a querela, será condenadoem prisão de seis meses a dois anos, e multa correspondente.

J6 Entre as disposições do Decreto-Lei n." 33 725, de 21 de Junho de 1944, já referido nanota 35 ao artigo 233.", avultam as que se destinam a punir os que testemunham falso nosprocessos de bilhete de identidade de outrem para fins repreensíveis. Assim, além dos seusartigos 23." e 24." já trancritos na citada nota 35, refere o seu artigo 22.°:"Aquele que declarar ou atestar falsamente à autoridade pública ou a funcionário noexercício das suas funções, identidade, estado ou outra qualidade a que a lei atribuaefeitos jurídicos, próprios ou alheios, será punido com prisão até seis meses.

§ 1." - A pena será de prisão até um ano quando as declarações se destinem a ser exaradasem documento oficial.

§ 2." - Se a falsidade a que se referem o corpo deste artigo e o § L" tiver sido cometidapor negligência, aplicar-se-à a pena de multa até 1000.00 KzR.

" Tanto o juramento supletório como o decisório foram abolidos pelo artigo 580.· do Códigode Processo Civil, não sendo mais admissível esse meio de prova.

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ARTIGO 245.°(Denúncia caluniosa)

Aquele que, por escrito, com assinatura ou sem ela, fizerparticipação ou denunciação caluniosa contra alguma pessoa,directamente à autoridade pública, será punido com prisão de ummês a um ano, e suspensão dos direitos políticos por cinco anos.

CAPÍTULO VIIDA VIOLAÇÃO DAS LEIS SOBRE INUMAÇÕES,E DA VIOLAÇÃO DE TÚMULOS E DOS CRIMES

CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

SECÇÃOIDA VIOLAÇÃO DAS LEIS SOBRE INUMAÇÕES

E VIOLAÇÃO DOS TÚMULOS

ARTIGO 246.°

(Enterramento com violação das leis sobre inumações)

o enterramento de qualquer indivíduo em contravenção das leisou regulamentos, quanto ao tempo,lugar e mais formalidadesprescritas sobre inumações, será punido com pena de prisão.

§ único - A mesma pena, agravada com multa, será imposta aofacultativo que, sem intenção criminosa, passar certidão de óbito deindivíduo que depois se reconheça que estava vivo.

ARTIGO 247,°

(Violação de túmulos e quebra de respeito devido aos mortos)

Aquele que cometer violação de túmulos ou sepulturas,praticando antes ou depois da inumação quaisquer factos tendentesdirectamente a quebrantar o respeito devido à memória dos mortos,será condenado à pena de prisão até um ano e multa correspondente.

§ 1.° - Não estão compreendidos na disposição deste artigo oscasos em que, nos termos das leis ou regulamentos e em virtude da

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ordem da autoridade competente, se proceda à trasladação de cadáverde um para outro túmulo ou sepultura do mesmo ou diversocemitério ou lugar de enterramento, à beneficiação do túmulo ousepultura, e outros semelhantes. .

§ 2.° - Aquele que praticar quaisquer factos directamentetendentes a quebrantar o respeito devido à memória do morto ou dosmortos, sem violação do túmulo ou sepultura, será condenado aprisão até um ano. . ,

§ 3.° - Se o crime previsto no parágra~o anteced~nt~, cons~shrem facto que, praticado contra pessoa Viva, constituísse cnmeprevisto na última parte do artigo 293.°, será punido com prisãomaior de dois a oito anos. A violação de sepultura será para esseefeito considerada como circunstância agravante do crimeconsumado.

SEcçÃorrCRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

ARTIGO 248,°

(Venda ou exposição de substâncias venenosas ou abortivas)

Aquele que expuser à venda, vender ou subministrar substânci~svenenosas ou abortivas, sem legítima autorização e sem as formah-dades exigidas pelas respectivas leis ou regulamentos, serácondenado à pena de prisão não inferior a três meses e multacorrespondente. 38

ARTIGO 249.0

(Substituição ou alteração do receituário)

A pena de prisão, nunca inferior a um mês, e multacorrespondente, será imposta ao boticário ou farmacê.ut~co que,vendendo ou administrando algum medicamento, substituir ou dequalquer modo alterar o que se achar p.r~scrito n~ receitacompetentemente assinada, ou vender ou subministrar medicamentosdeteriorados.

" _ Ver Decreto-Lei n." 420170, sobre estupefacientes. (B.a. n." 25511970). entretanto revogadopela Lei n." 3/99, de 6 de Agosto (D.R. n.? 32/99).

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ARTIGO 250.·(Recusa de facultativo)

o facultativo que em caso urgente recusar o auxílio da suaprofissão e bem assim aquele que, competentemente convocado ouintimado para exercer acto da sua profissão, necessário, segundo aLei, para o desempenho das funções da autoridade pública, recusarexercê-lo, será condenado a prisão de dois meses a um ano, e multacorrespondente.

§ único - O não comparecimento sem legítima escusa, no lugare hora para que for convocado ou intimado, será considerado comorecusa para todos os efeitos do que dispõe este artigo.

ARTIGO 25l.·(Alteração de géneros destinados ao consumo público)

[REVOGADO] ,.

Aquele que de qualquer modo alterar géneros destinados aoconsumo público, de forma que se tornem nocivos à saúde, e osexpuser à venda assim alterados, e bem assim aquele que do mesmomodo alterar géneros destinados ao consumo de alguma ou dealgumas pessoas, ou que vender géneros corruptos, ou fabricar ouvender objectos, cujo uso seja necessàriamente nocivo à saúde, serápunido com prisão de dois meses a dois anos, e multacorrespondente, sem prejuízo da pena maior, se houver lugar.

§ 1.0 - Em qualquer parte em que se encontrem os génerosdeteriorados, ou os sobreditos objectos, serão apreendidos einutilizados.

§ 2.° - Será punido com a mesma pena:

1.° - Aquele que esconder ou subtrair, ou vender ou comprarefeitos destinados a serem destruídos ou desinfectados;

2.° - O que lançar em fonte, cisterna, rio, ribeiro ou lago, cujaágua serve a bebida, qualquer coisa que torne a água impura ounociva à saúde.

19 - Revogado pelos artigos 17.° e 18.· do Decreto-Lei n." 41 204, de 27 de Abril de 1966. Ver oartigo 29.° da Lei n." 9/89. de 11 de Dezembro (Lei dos Crimes Contra a Economia).

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ARTIGO 252.·(Casos omissos. Regulamentos sanitários)

Em todos os casos não declarados neste capítulo, em que severificar violação dos regulamentos sanitários, observar-se-ão as suasespeciais disposições.

CAPÍTULO VIIIDAS ARMAS, CAÇAS E PESCARIAS DEFESAS

SECÇÃO IARMAS PROffiIDAS

ARTIG025r(Fabrico, importação e comércio de armas ou explosivos)

Aquele que fabricar, importar, ou vender, o~ subminis~rar, ouguardar qualquer mecanismo,tendente a det~r~mar explosao, quepossa servir à destruição de pessoas ou de edifícios, sera co.n~enadona pena de prisão maior de oito a doze an~s.' sem prejuizo daagravação que lhe possa competir por cumplicidade em qualquercrime dessa natureza.

§ 1.° - Aquele que, sem licença da autoridade administrativa,fabricar, ou importar, ou vender, ou subministrar quaisquer armasbrancas ou de fogo, e bem assim aquele que delas usar s~~ a m~s~alicença, ou sem autorização legal, será condenado a pnsao ate seismeses e multa correspondente. 40

§ 2.° - Na mesma pena serão condenad~s os .indivíduoscompreendidos no parágrafo antecedente, a que~ tiver SIdo caçada arespectiva licença, e que, não obstante, dela contmuem usando comose estivesse em vigor.

§ 3.° - A simples detenção na casa de residência ou do detentor,ou em outro local, será punida com multa de oito dias a um mês.

40 _ Ver o artigo 123." e seguintes do Diploma Legislativo n." 3 778, de 22 de Novembro de1967, no B.a. n." 140 (Regulamento de Armas e Munições).

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§ 4.° - Não se compreendem nas disposições deste artigo e seusparágrafos as armas que devem ser consideradas como objectos dearte e de ornamentação.

§ 5.° - Em todos os mais casos, declarados neste artigo e seusparágrafos,as armas serão apreendidas e perdidas a favor do Estado.

SECÇÃO IICAÇAS E PESCARIAS DEFESAS

ARTIGO 254.° 41

(Caça proibida)

Aquele que caçar, nos meses em que pelas posturas municipais,ou pelos regulamentos da administração pública for proibido oexercício da caça, ou que, nos meses que não forem defesas, caçarpor modo proibido pelas mesmas posturas ou regulamentos, serápunido com a prisão de três a trinta dias, e multa correspondente.

§ único - Será punido com as mesmas penas,mas só arequerimento do possuidor, aquele que entrar para caçar em terrasmuradas ou valadas, sem consentimento do mesmo possuidor.

ARTIGO 255.° 42

(Pesca proibida)

Será punido com as mesmas penas:

1.° - O que pescar nos meses defesas pelas posturas municipaisou regulamentos de administração;

2.° - O que pescar com rede varredoura,ou de malha maisestreita que a que for limitada pela câmara municipal,ou pescar porqualquer outro modo proibido pelas mesmas posturas ouregulamentos;

41 _ Ver o artigo 41." da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro, (Lei dos Crimes Contra a Economia) eo Regulamento de Caça, aprovado pelo Diploma Legislativo n." 2 873 de 11 de Dezembrode 1957 (B.a. n." 50). Aquele primeiro diploma encontra-se hoje substituído pela Lei 6/99,de 3 de Setembro que revogou aquele art." 41.".

42 _ Ver o artigo 41." da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro (Lei dos Crimes Contra a Economia).a art." 41 foi, como se referiu na nota anterior, revogado pela Lei 6/99.

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3.° - O que lançar nos rios ou lagoas,em qualquer tempo do ano,trovisco, barbasco, coca, cal, ou outro algum material com que se opeixe mata.

CAPÍTULO IXDOS VADIOS E MENDIGOS,

E DAS ASSOCIAÇÕES DE MALFEITORES

SECÇÃO IVADIOS

ARTIGO 256.°(Vadios)

[REVOGADO] 43

Aquele que não tem domicílio certo em que habite: n~m meio~ ~esubsistência nem exercita habitualmente alguma profissão, ou OfICIO

ou outro mester em que ganhe a vida, não provando necessidade deforça maior, que o justifique de se achar .nestas c~rcunstânci~s~ ser~competentemente julgado e declarado vadio, e purudo com pnsao ateseis meses, e entregue à disposição do Governo, para lhe fornecertrabalho pelo tempo que parecer conveniente.

ARTIGO 257.°(Fiança e fixação de residência ao vadio)

[REVOGADO] 44

Se depois de a sentença passar em julgado o vadio pre.st~· ~ançaidónea, poderá o Governo admitir-lha, assinando-lhe residência nolugar que indicar o fiador.

§ 1.° - A fiança admitida faz cessar o cumprimento da pena.

-c _ Este artigo está revogado. Aos vadios são aplicáveis medidas de segurança, nos termos dosartigos 70." e 71.° do presente Código.

" _ Também este artigo se encontra revogado. Ver a nota anterior.

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.§ ~'° - Em qualquer tempo pode o fiador requerer a suaextinção, apresentando o vadio à autoridade competente para que,pelo res!o do tempo que faltar, s~ execute a sentença de condenação.

. §A 3.. - Se o ~o,ndenado fugir do lugar que lhe foi assinado parar~sIdencla, cumpnra toda a pena imposta na sentença, como se nãotivesse prestado fiança.

ARTIGO 258.°(Comportamento injustificado do vadio e impossibilidade de fiança)

[REVOGADO] 4'

Se o vadio, sem motivo que o justifique, entrar em habitação oulugar fechado dela dependente, ou se for achado disfarçado dequalquer modo, ou for achado detentor de objectos cujo valor excedaa ~:r 10.00 e não justificar a causa da detenção, será condenado empnsao de um a dois anos, e depois entregue ao Governo na forma doartigo 256.°, sem que possa ter lugar a fiança do artigo 257.°.

ARTIGO 259.°(Vadio estrangeiro)

[REVOGADO] 46

Se o vadio for estrangeíro, será entregue à disposição doGoverno, para o fazer sair do território português, se recusar otrabalho que lhe for determinado.

SECÇÃO IIMENDIGOS

ARTIGO 260.°(Mendicidade)

[REVOGADO] 47

Todo O ~divíduo capaz de ganhar a sua vida pelo trabalho, quefor .convencIdo de mendigar habitualmente, será considerado epurudo como vadio.

45 - Este artigo está também revogado. Ver a anotação ao artigo 256.°.

46 - Revogado. Ver as notas anteriores.

47 - Revogado. Ver os artigos 70.0 e 7l.° do Código. São passíveis de medidas de segurança.

SEcçÃomASSOCIAÇÃO DE MALFEITORES

105

ARTIGO 261.0

(Mendicidade com simulação de enfermidade, ameaças ou injúrias)[REVOGADO] "

Serão punidos com prisão de dois meses a dois anos todos osmendigos que, por sinais ostensivos simularem enfermidades, ou quetiverem empregado ameaças ou injúrias, ou que mendigarem emreunião, salvo marido e mulher, pai ou mãe e seus filhos impúberes,o cego e o aleijado, que não puder mover-se sem auxílio, cada umcom o seu respectivo condutor.

ARTIGO 262.°(Comportamento injustificado do mendigo. Impossibilidade de fiança)

[REVOGADO] '9

É aplicável aos mendigos o que se determina no artigo 258.°, eobservar-se-ão a respeito deles as disposições das leis e regulamentosde polícia.

ARTIGO 26r '0

(Associação de malfeitores)

Aqueles que fizerem parte de qualquer associação formada paracometer crimes e cuja organização ou existência se manifeste porconvenção ou por quaisquer outros factos, serão condenados à penade prisão maior de dois a oito anos, salvo se forem autores daassociação ou nela exercerem direcção ou comando, aos quais seráaplicada a pena de oito a doze anos de prisão maior.

§ único - Serão punidos corno cúmplices dos autores daassociação ou dos que nela exerçam funções de direcção oucomando, os que a estas associações ou a quaisquer divisões delasfornecerem ciente e voluntariamente, armas, munições, instrumentosdo crime, guarida ou lugar para reunião.

'" - Revogado. Ver notas anteriores.

49 _ Revogado. Ver as notas anteriores.

se _ Redacção introduzida pela Lei n." 8/85, de 16 de Setembro.

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CAPÍTULO XDOS JOGOS, LOTARIAS, CONVENÇÕES

ILÍCITAS SOBRE FUNDOS PÚBLICOSE ABUSOS EM CASAS DE EMPRÉSTIMOS

SOBRE PENHORES

SECÇÃO IJOGOS

ARTIGO 264.°(Jogo como modo de vida)

[REVOGADO] SI

Todo O jogador, que se sustentar do jogo, fazendo dele a suaprincipal agência, será julgado e punido como vadio.

ARTIGO 265.°(Jogo de fortuna ou azar)

[REVOGADO] sz

o que for achado, jogando jogo de fortuna ou azar, será punidopela primeira vez com a pena de repreensão, e no caso dereincidência, com a multa, conforme a sua renda, de quinze dias aum mês.

si - Tal como os outros artigos que integram a Secção I do Capítulo X foram revogados peloDecreto n." 14643, de 3 de Dezembro de 1927.O regime de concessão e exploração de jogos de fortuna ou azar foi estabelecido peloDecreto-Lei u." 48912, de 18 de Março de 1969, cujos artigos 1.°.2 .•,43.°,44.°, e 56.· setornaram extensivos ao então Ultramar por força da Portaria n." 517170,de 16 de Outubro,que revogou, assim. os artigos 264.° a 269.· do Código Penal.O Artigo I: define jogo de azar: «Denominam-se de fortuna ou azar os jogos cujosresultados são contingentes, por dependerem exclusivamente da sorte.»O Artigo 2: restringe a sua prática a certos estabelecimentos, zonas e épocas:«A prática de jogos de fortuna ou azar só é permitida nos casinos existentes nas zonasde jogo e nas épocas estabelecidas para o seu funcionamento.»O Artigo 56: estabelece as penas aplicáveis à prática ilícita de jogos de fortuna ou azar:«Aqueles que infringirem o disposto no artigo 2.·, quer explorando jogos de fortunaou azar, incluindo máquinas automáticas de fichas ou moedas, quer exercendo a suaactividade na respectiva exploração, bem como os que infringirem o preceituado noartigo 6:, serão punidos com prisão de seis meses a dois anos e demissão dos seuscargos se forem funcionários do Estado ou dos corpos administrativos.»

" - Ver a anotação anterior.

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ARTIGO 266.°(Jogo de fortuna ou azar com menor)

[REVOGADO] l3

Aquele que jogar jogo de fortuna ou azar com ur.n_menor devinte-e-um anos ou filho-fanu1ias, será condenado em pnsao de um aseis meses e multa de um mês.

ARTIGO 267.°(Tavolagem)

[REVOGADO] l4

Aqueles que em qualquer lugar derem tavola~em ~e jog.o defortuna ou azar, e os que forem encarregados da dIrec!ao do Jogo,posto que o não exerçam habitualmente, e bem ass1r.n_qualqu~radministrador, proposto ou agente, serão punidos com pnsao de dOISmeses a um ano, e multa correspondente.

§ único - O dinheiro e efeitos destinados a~ ~ogo, os ~óveis dahabitação, os instrumentos, objectos e u~enslllOS destinados aoserviço do jogo, serão apreendidos e perdidos, metade a favor doEstado e metade a favor dos apreensores.

ARTIGO 268.°(Constrangimento ao jogo)

[REVOGADO] ss

Aquele que usar de violência ou de ame~ças ~ara constra~g:routrém a jogar ou para lhe manter o jogo, sera purndo ~~m a pnsaode dois meses a um ano ,e multa correspondente,sem prejuizo de penamais grave, se houver lugar.

53 _ Ver anotação ao artigo 264.°.

" - Ver anotação ao artigo 264.°.

" - Ver anotação ao artigo 264.°.

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ARTIGO 269.°

(Fraude no jogo)[REVOGADO] S6

Serão impostas as penas de furto aos que empregarem meiosfraudulentos para assegurar a sorte.

ssccao nLOTARIAS 57

ARTIGO 270.°

(Lotarias ilícitas)

É proibida toda a lotaria que não for autorizada por lei, salvo odisposto no artigo 272.°.

§ 1.° - É considerada lotaria, e proibida como tal, toda aoperação oferecida ao público para fazer nascer a esperança de umganho que haja de obter-se por meio de sorte.

§ 2.° - Os autores, os empresários e os agentes de qualquerlotaria nacional, ou de qualquer operação considerada lotaria, serãopunidos com multa, conforme a sua renda, de um a seis meses.

§ 3.° - Os objectos postos em lotaria serão apreendidos eperdidos a favor do Estado.

§ 4.° - Sendo a lotaria de alguma propriedade imóvel, a perda afavor do Estado do objecto da lotaria será substituída por uma multaimposta ao proprietário, que, segundo as circunstâncias, poderá serelevada até ao valor da mesma propriedade, acumulando-se a quefica determinada no § 2.°.

§ 5.° - Ficam salvas as disposições especiais respectivas àvenda de bilhetes e cautelas de lotarias estrangeiras, constantes dacarta de lei de 28 de Julho de 1885.

56 _ Ver anotação ao artigo 264.°.

st - Ver Maia Gonçalves, Código Penal Anotado, anotações ao artigo 270.°. Vide Decreto-Lein." 43777, de 3 de Julho de 1961 (B.O. n." 29/61.

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ARTIGO 271.°

(Distribuição de bilhetes de lotaria ilícita)

Aqueles que negociarem os bilhetes, ou os distribuírem, .o~ q~epor qualquer meio de publicação tiverem feito conhece~ a eXlstenc~ada lotaria, ou facilitado a emissão ou distribuição dos bilhetes, seraopunidos com a multa, conforme a sua renda, de quinze dias a três

meses.

ARTIGO 272.°

(Lotarias destinadas à beneficência ou à protecção das artes)

Podem ser autorizadas pelo Governo as lotarias de objectosmóveis ou dinheiro, destinadas exclusivamente a actos debeneficiência ou à protecção das artes.

§ único - O que violar os regulamentos feitos pelo Gove~nopara estas lotarias autorizadas, será punido com as penas do artigoantecedente.

SECÇÃOlli

CONVENÇÕES ILÍCITAS SOBRE FUNDOS PÚBLICOS

ARTIGO 273.°

(Convenções ilícitas sobre fundos públicos)

Aquele que convencionar a venda ou a entrega de fu~dos doGoverno, ou de fundos estrangeiros, ou dos estabelecimentospúblicos ou de companhias anónimas, se não provar que ao t~mpo daconvenção tinha esses fundos à sua disposição, ou que os d~vIa ter ~otempo da entrega, será punido com prisão de quinze dias a seismeses, e multa correspondente.

§ único - O comprador, se for sabedor das circunstânciasdeclaradas neste artigo, será punido com metade destas penas.

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Page 55: Codigo Penal

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SECÇÃO IVABUSOS EM CASAS DE EMPRÉSTIMOS SOBRE PENHORES

ARTIGO 274.°"

(Abusos em estabelecimentos de penhores)

Aquele que, sem a competente autorização, tiver estabelecimentoem que habitualmente se façam empréstimos sobre penhores, e bemassim aquele que no estabelecimento autorizado não tiver livrodevidamente escriturado, em que se contenham seguidamente e sementrelinhas as somas ou objectos emprestados, os nomes, domicílio eprofissão dos devedores, a natureza, qualidade e valor dos objectosempenhados, será punido com prisão de quinze dias a três meses emulta de um mês.

CAPÍTULO XIDO MONOPÓLIO E DO CONTRABANDO

SECÇÃO IMONOPÓLIO

ARTIGO 275.°(Açambarcamento)

[REVOGADO] 59

Todo O mercador que vender para uso do público génerosnecessários ao sustento diário, se esconder suas provisões, ou recusarvendê-las a qualquer comprador, será punido com multa, conforme asua renda, de um a seis meses.

se - Ver Maia Gonçalves, ob. cit. e Decreto 17 766, de 17 de Dezembro de 1929 (B.O. n.?4/1930).

59 - Este artigo foi revogado pelo Decreto-Lei n." 41 204, de 24 de Julho de 1957 e hoje estáprevisto no artigo 32.° da Lei n." 9/89, de J 1 de Dezembro, "Lei dos Crimes Contra aEconomia".

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ARTIGO 276.°(Especulação)

[REVOGADO] 60

Qualquer pessoa que, usando um meio fraudulento, conseguiralterar os preços que resultariam da natural e livre concorrência nasmercadorias, géneros, fundos ou quaisquer outras coisas, que foremobjecto de comércio, será punida com multa, conforme a sua renda,de um a três anos.

§ único - Se o meio fraudulento, empregado para cometer estecrime, for a coligação com outros indivíduos, terá lugar a pena, logoque haja começo de execução.

ARTIGO 277.0

(Greve e lock-out)[REVOGADO] 61

Será punida com a prisão de um a seis meses, e com multa de5$00 a 200$00:

1.0 _ Toda a coligação entre aqueles que empregam quaisquertrabalhadores, que tiver por fim produzir abusivamente a diminuiçãodo salário, se for seguida do começo de execução;

2.° - Toda a coligação entre os indivíduos de uma profissão, oude empregados em qualquer serviço, ou de quaisquer trabalhadores,que tiver por fim suspender, ou impedir, ou fazer subir o preço dotrabalho, regulando as suas condições, ou de qualquer outro modo, sehouver começo de execução.

§ único - Os que tiverem promovido a coligação ou a dirigirem,e bem assim os que usarem da violência ou ameaça para assegurar aexecução, serão punidos com a prisão de um a dois anos, e poderádeterminar-se a sujeição à vigilância especial da polícia, semprejuízo da pena mais grave, se os actos de violência a merecerem.

se Revogado pelo Decreto-Lei n." 41 204, de 24 de Julho de 1957 e depois previsto peloartigo 33.° da Lei n.? 9/89, de 11 de Dezembro, "Lei dos Crimes Contra a Economia".Substituída, entretanto, pela Lei 6/99, de 3 de Setembro (ver. art.° 42.°).

61 Ver artigos 28.0 e 29.0 do Decreto-Lei n." 3/75, de 8 de Janeiro (Lei da Greve) e o artigo31.° da mesma que revoga expressamente o artigo 277.° do Código Penal. Ver ainda a Lein." 11/75, a Lei dos Crimes Contra a Segurança do Estado sobre o "lock out" e a actual LeIda Greve. (Artigos 26.°,27.° e 28.° da Lei n." 23/91, de 15 de Junho).

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ARTIGO 278.°(Fraudes ou violências nas arrematações)

Aquele .que em qualquer arrematação, autorizada por lei ou peloG:JVerno, tiver conseguido por dádivas ou promessas, que alguém~ao lance, e bem assim aquele que embaraçar ou perturbar ahberda?e_ do acto: por meio de violência ou ameaças, será punidoco~ ~nsao de dOIS~eses a dois anos, e muIta correspondente, semprejuízo da pena mais grave, se os actos de violência a merecerem.

ssccxo nCONTRABANDOS E DESCAMINHOS

ARTIGO 279.°(Contrabando)

[REVOGADO] .2

Contrabando é a importação ou exportação fraudulenta demercadorias, cuja entrada ou 'saída seja absolutamente proibida.

ARTIGO 280.°(Descaminho)

[REVOGADO] ss

. Descaminho é todo e qualquer acto fraudulento que tenha por fimevitar, n~ todo ou em parte, o pagamento dos direitos e impostosestabelecidos sobre a entrada, saída ou consumo das mercadorias.

ARTIGO 281.°64

(Ressalva das leis especiais)

. Sobre. ~ matéria desta secção observar-se-ão as disposições dasleis especiais.

.2. Revogado expressamente pelo artigo 47.° da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro crimeprevisto e punido no artigo 37.0 da mesma lei, substituída, hoje, pela Lei 6/99, de 3 deSetembro (ver art." 44.°).

" - Ver a nota ao artigo 279.° sobre o contrabando, o qual passou a abranger também o conceitode ~escaminho. A Lei 6/99, que substituiu a Lei 9/89, prevê o crime de contrabando (art.?44. ) e o de descaminho (art." 45.°).

" - Ver as anotações aos artigos 279.° e 280.".

113

CAPÍTULO XIIDAS ASSOCIAÇÕES ILÍCITAS 65

SECÇÃO IASSOCIAÇÕES ILÍCITAS POR FALTA DE AUTORIZAÇÃO

ARTIGO 282.°(Associações não autorizadas)

Toda a associação de mais de vinte pessoas, ainda mesmodividida em secções de menor número, que, sem preceder autorizaçãodo Governo com as condições que ele julgar convenientes, se reunirpara tratar de assuntos religiosos, políticos, literátios ou de qualqueroutra natureza, será dissolvida, e os que a dirigirem e administraremseão punidos com a prisão de um mês a seis meses. Os outrosmembros serão punidos com a ptisão até um mês.

§ 1.0 _ As mesmas penas serão aplicadas no caso de infracçãodas condições impostas pelo Governo.

§ 2.° - As pessoas domiciliadas na casa, em que se reunir aassociação, não são compreendidas no número das declaradas nesteartigo.

§ 3.° - Serão punidos como cúmplices aqueles que consentiremque a reunião tenha lugar em toda ou em parte da casa de quedisponham.

SECÇÃO IIASSOCIAÇÕES SECRETAS

ARTIGO 283.°(Associações secretas)

É ilícita, e não pode ser autorizada qualquer associação, cujosmembros se impuserem, com juramento ou sem ele, a obrigação deocultar à autoridade pública o objecto de suas reuniões ou a suaorganização interior, e os que nela exercerem direcção ouadministração serão punidos com prisão de dois meses a dois anos;os outros membros com metade desta pena.

ss - Ver Lei das Associações .

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§ 1.0 - É aplicável a disposição do § 3.° do artigo antecedentesobre a cumplicidade.

§ 2.° - Se qualquer membro da associação declararespontâneamente à autoridade pública o que souber sobre o objectoou planos da associação,ainda que não declare os nomes dos outrosassociados, será isento da pena.

CAPÍTULoxmDOSCR~ESDOSEMPREGADOSPÚBLICOS

NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕESSECÇÃO I

PREVARICAÇÃO

ARTIGO 284.°(prevaricação)

Todo O juiz que proferir sentença definitiva manifestamenteinjusta, por favor ou por ódio, será condenado na pena fixa desuspensão dos direitos políticos por quinze anos.

§ 1.0 - Se esta sentença for condenatória em causa criminal, apena designada no artigo será acumulada com a prisão maior de doisa oito anos.

§ 2.° - Se a sentença definitiva for proferida em causa nãocriminal, a pena do artigo será acumulada com a de multa maior.

§ 3.° - Se a sentença não for definitiva, a pena será a desuspensão temporária de todos os direitos políticos.

§ 4.° - A mesma pena será aplicada àquele que aconselhar umadas partes sobre o litígio que pender perante ele.

§ 5.° - As disposições deste artigo e seus §§ 2.°, 3.° e 4.° sãoaplicáveis a todas as autoridades públicas que, em virtude das suasfunções, decidirem ou julgarem qualquer negócio contenciososubmetido ao seu conhecimento.

ARTIGO 285.°(Consulta ou informação falsa)

Todo O empregado público que, sendo obrigado pela natureza dassuas funções, a dar conselho ou informação à autoridade superior,

115

consultar ou informar dolosamente com falsidade do facto, serácondenado às penas de demissão e prisão até seis meses.

ARTIGO 286.°

(Denegação de justiça)

Todos os juízes ou autoridades administrativas, que se negarem aadministrar a justiça, que devem às partes, depois de se lhes terrequerido, e depois da advertência ou mandado de seus superiores,serão condenados em suspensão.

ARTIGO 287.°(Falta de promoção de procedimento criminal)

o empregado público que, faltando às obrigações do seu ofício,deixou dolosamente de promover o processo ou castigo dosdelinquentes, ou de empregar as medidas da sua competência paraimpedir ou prevenir a perpetração de qualquer crime, será demitido,sem prejuízo de pena mais grave, no caso de encobrimento oucumplicidade.

ARTIGO 288.°(Promoção dolosa do Ministério Público)

Se o agente do Ministério Público proceder criminalmente contradeterminada pessoa,tendo conhecimento de que as provas são falsas,será condenado como autor do crime de falsidade, se a falsidade daprova resultar necessariamente da falsidade do título que a constitui,e às penas de demissão e de prisão até seis meses, em qualquer outrocaso.

ARTIGO 289.°

(Prevaricação dos advogados, procuradores judiciais e Ministério Público)

Será punido com suspensão temporária e multa correspondentede três meses até dois anos:

1.0 - O advogado ou procurador judicial que descobrir ossegredos do seu cliente, tendo tído conhecimento deles no exercíciodo seu ministério;

------- --- --

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116

2.° - O que,tendo recebido de alguma das partes dinheiro ououtra qualquer coisa, por advogar ou procurar seu feito por demanda,ou tendo aceitado a procuração e sabido os segredos da causa,advogar, procurar ou aconselhar, em público ou secreto, pela outraparte, na mesma causa;

3.° - O que receber alguma coisa da parte contra quem procurar;4.° - O agente do Ministério Público, que incorrer em algum

dos crimes mencionados neste artigo, será demitido e condenado nareferida multa, salvo se pela corrupção lhe deve ser imposta penamais grave.

ARTIGO 290.°

(Violação de segredo profissional)

Será condenado a prisão até seis meses e multa correspondente ofuncionário:

1.0 - Que revelar segredo de que só tiver conhecimento ou fordepositário, em razão do exercício do seu emprego;

2.° - Que indevidamente entregar papel ou cópia de papel, quenão devia ter publicidade e que lhe esteja confiado ou exista narespectiva repartição, ou dele der conhecimento sem a devidaautorização.

§ 1.0 - Esta disposição é aplicável a todos aqueles que,exercendo qualquer profissão, que requeira título, e sendo em razãodela depositários de segredos que lhes confiarem, revelarem os queao seu conhecimento vierem no exercício do seu ministério.

§ 2.0 - As disposições precedentes entendem-se sem prejuízo dapena de injúria ou difamação, se houver lugar.

SECÇÃO IIABUSOS DE AUTORIDADE

ARTIGO 29l.°

(Prisão ilegal)

Será punido com prisão de três meses a dois anos,podendoagravar-se com a multa correspondente, segundo as circunstâncias:

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1.0 - Qualquer empregado público que prender ou fizer prenderpor sua ordem alguma pessoa, sem que poder tenha para prender;

2.0 - O que, tendo este poder, o exercer fora dos casosdeterminados na lei ou contra alguma pessoa, cuja prisão for daexclusiva atribuição de outra autoridade;

3.0 - O que retiver preso o que dever ser posto em liberdade, emvirtude da lei ou de sentença passada em julgado, cujo cumprimentolhe competir, ou por ordem do superior competente;

4. ° - O que ordenar ou prolongar ilegalmente aincomunicabilidade do preso, ou que ocultar um preso, que devaapresentar;

5.0 - O juiz que recusar dar conhecimento, ao que se acharpreso à sua ordem,dos motivos da prisão,do acusador e dastestemunhas, depois que para isso for requerido.

§ 1.° - Por prisão se entende também qualquer detenção oucustódia.

§ 2.0 - Se o juiz deixar de dar, no prazo legal, ao preso à suaordem o conhecimento de que trata o n." 5.0 deste artigo, somente pornegligência, incorrerá na pena de censura, salva a indemnização doprejuízo que por esta negligência possa ter causado.

ARTIGO 292.°(prisão formalmente irregular)

Será punido com a suspensão até um ano, podendo agravar-secom a multa correspondente, segundo as circunstâncias:

1.0 _ Qualquer empregado público que ordenar ou executar aprisão de alguma pessoa, sem que se observem as formalidadesprescritas na lei;

2.0 - O que arbitràriamente retiver ou ordenar que se retenhaqualquer preso fora da cadeia pública ou do lugar determinado pelalei ou pelo Governo;

3.° - O que, sendo competente para passar ou mandar passar acertidão da prisão,a negar ou recusar apresentar o registo das prisões,quando for competentemente requisitado;

4.° - O que, sendo encarregado da polícia judicial ouadministrativa, e sabedor de alguma prisão arbitrária, deixar de darparte à autoridade superior competente;

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5.° - Todo o agente da autoridade pública, encarregado daguarda dos presos, que receber qualquer preso sem ordem escrita daautoridade pública.

ARTIGO 293.°

(Rigor ilegítimo para os presos)

Todo O agente da autoridade pública, encarregado da guarda dealgum preso, que empregar para com ele rigor ilegítimo, será punidocom prisão até seis meses, e, se os actos que praticar tiverem pelasleis pena maior, ser-Ihes-á esta imposta.

ARTIGO 294.°

(Entrada abusiva em casa alheia)

Qualquer empregado público que, nesta qualidade,e abusandodas suas funções,entrar na casa de habitação de qualquer pessoa semseu consentimento, fora dos casos ou sem as formalidades que as leisprescrevem, será punido com prisão de um a seis meses e multacorrespondente a um mês.

ARTIGO 295.°

(Subtracção ou violação de correspondência por funcionário)

Qualquer empregado dos serviços públicos dos correios quesuprimir, subtrair ou abrir alguma carta confiada ao mesmo serviçopúblico,ou para isso concorrer,será condenado a prisão e multacorrespondente.salvo as penas maiores em que incorrer, se pelasubtracção, supressão ou abertura cometer algum outro crimequalificado pelas leis.

§ 1.° - Se o crime for cometido por qualquer outro funcionáriopúblico ou agente da autoridade,a pena designada no artigo nãoexcederá a um ano.

§ 2.° - As disposições do artigo e do § 1.0 não compreendem oscasos em que a autoridade competente proceda, para a formação doprocesso criminal, às investigações necessárias, com as formalidadesprescritas na lei.

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ARTIGO 296.°(Impedimento abusivo do exercício de direitos políticos)

Qualquer empregado público que, nesta qualidade e abusandodas suas funções, impedir de qualquer modo a um cidadão oexercício legal dos seus direitos políticos, será suspenso dos mesmosdireitos por tempo não inferior a cinco anos, salvas as penas maioresem que possa ter incorrido nos casos previstos pelo capítulo V destetítulo, que serão aplicadas segundo as regras gerais.

ARTIGO 297.°(Emprego ou requisição da força pública para impedir a execução da lei

ou de ordens legais)

o empregado público que, sendo competente para requisitar ouordenar o emprego da força pública, requisitar ou ordenar esteemprego para impedir a execução de alguma lei, ou de mandadoregular da justiça ou de ordem legal de alguma autoridade pública,será condenado a prisão até um ano e multa correspondente.

§ 1.0 - Se o impedimento não se consumar, mas a requisição ouordem tiver sido seguida de algum efeito, a pena será de prisão emulta correspondente.

§ 2.° - Se o impedimento se consumar, a pena será de prisãomaior de dois a oito anos,se esse impedimento não constituir crime, aque por lei seja aplicável pena mais grave.

ARTIGO 298.°(Responsabilidade criminal do superior hierárquico)

Se um empregado público for acusado de ter cometido algum dosactos abusivos, qualificados crimes, dos artigos antecedentes destasecção, e provar que o superior,a que deve directamente obediência,lhe dera, em matéria da sua competência, a ordem em forma legalpara praticar esse acto, será isento da pena, a qual será imposta aosuperior que deu a ordem.

ARTIGO 299.°(Violências desnecessárias no exercício de funções públicas)

Qualquer empregado público que, no exercício ou por ocasião doexercício das suas funções, empregar ou fizer empregar, sem motivo

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legítimo, contra qualquer pessoa, violências que não sejamnecessárias para a execução do acto legal que deve cumprir, serápunido com a pena de prisão de um a seis meses,salva a pena maiorem que tiver incorrido, se os actos de violência forem qualificadoscomo crimes.

ARTIGO 300.°

(Conluío de funcionários contra a execução de alguma lei ou ordem legal)

Se qualquer empregado público ou corporação investida deautoridade pública, se ligar por qualquer meio com outrosempregados ou corporações, ajustando entre si medidas para impedira execução de alguma lei ou ordem do poder executivo, serácondenado cada um dos criminosos na prisão de um a seis meses, eserá demitido.

saccxo mEXCESSO DE PODER E DESOBEDIÊNCIA

ARTIGO 301.°

(Excesso de poder)

Será condenado à pena de demissão, e além disso à prisão maiorde dois a oito anos, ou à prisão, segundo a gravidade do crime:

1.0 - Todo o empregado público que se ingerir no exercício doPoder Legislativo, suspendendo quaisquer leis ou arrogando-sequalquer das atribuições, que exclusivamente competem às Côrtescom a sanção do rei;

2.° - O juiz que fizer regulamentos em matérias atribuídas àsautoridades administrativas,ou proibir a execução das ordens daadministração;

3.° - Todo o funcionário público que cometa o crime previsto noartigo 291.°, n." 1.0, contra qualquer membro do Poder Legislativo, ebem assim o que contra essa pessoa executar a ordem, a que se refereaquele n." 1.°, não tendo lugar em caso algum nesta hipótese aisenção estabelecida no artigo 298.°;

4.° - A autoridade administrativa que com quaisquer ordens ouproibições tentar impedir ou perturbar o exercício do Poder Judicial.

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ARTIGO 302.°

(Conflito entre autoridades judiciais e administrativas)

Será condenado a suspensão até um ano e multa até dois anos:

1.0 - O juiz que,depois de apresentado em juízo o despacho, quenos termos da lei levantar conflito positivo entre a autoridadeadministrativa e a autoridade judicial, não sobrestiver em todos ostermos da causa, ou continuar a despachar nela, sem que a leiexpressamente o autorize, depois de lhe terem sido opostos artigos desuspeição;

2.° - A autoridade administrativa que, depois de reclamação dequalquer das partes interessadas, decidir em matéria da competênciado Poder Judicial, sem que a autoridade competente tenha julgado areclamação ou depois que a tenha julgado procedente.

ARTIGO 303.°

(Desobediência dos funcionários e recusa do cumprimento de decisões judiciais)

Os membros dos tribunais judiciais ou administrativos,equaisquer juízes que recusarem dar o devido cumprimento àssentenças,decisões ou ordens, revestidas das formas legais eemanadas da autoridade superior, dentro dos limites da jurisdição,que tiver na ordem hierárquica, serão suspensos de três meses a trêsanos.

§ 1.0 - Qualquer outro empregado público que recusar dar odevido cumprimento às ordens que o superior, a que devedirectamente obediência, lhe der em forma legal em matéria da suacompetência, será punido com a demissão ou suspensão segundo ascircuns tâncias.

§ 2.° - Se for caso em que, segundo a lei, possa ter lugar arepresentação do empregado inferior, com suspensão da execução daordem, só terá lugar a pena, se depois de desaprovada a suspensãopelo superior, e repetida a ordem, houver a recusa de sua execução.

§ 3.° - Fica salvo o que se determinar nas leis militares, sobre asubordinação militar, como está declarado no artigo 15.0,§ 2.°, eartigo 16.°.

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ARTIGO 304.°(Recusa de prestação de serviço público)

Todo o empregado público civil ou militar que, tendo recebidorequisição legal da autoridade competente para prestar a devidacooperação para a administração da justiça ou qualquer serviçopúblico, se recusar a prestá-la, ou sem motivo legítimo a não prestar,será condenado a prisão por dois meses a um ano, e, além disso, sedo crime resultar prejuízo grave para a administração da justiça oupara o serviço público, à pena de demissão.

ARTIGO 305.°(Recusa ilegal de emprego público)

Aquele que recusar um emprego público efectivo, sem que requeiraperante a autoridade competente a sua escusa, por motivo legal, outendo esta sido desatendida, será punido com uma multa de Kz.IO.00 a100.00 e suspensão dos direitos polítícos por dois anos. 65-A

SECÇÃO IVILEGAL ANTECIPAÇÃO, PROLONGAÇÃO E ABANDONO

DE FUNÇÕES PÚBLICAS

ARTIGO 306.°(Exercício de funções administrativas com omissão de juramento)

[REVOGADO] ••

Todo O empregado público que exercer as funções do emprego,tendo voluntàriamente omitído a prestação do juramento requeridopela lei, será condenado a multa de 2$00 a 10$00.

ARTIGO 307.°(Prolongação ilegal do exercício de funções públicas)

Aquele que continuar no exercício das funções do empregopúblico, depois de lhe ter sido oficialmente intímada a sua demissão

'~ANos termos do art," 1.0, n." 2 do Dec.-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro, a multa é de Kz. 1.00aKz.lO.oo .

se - Nenhum funcionário administrativo podia ser investido em cargo público sem tomar posse eno acto de posse era obrigatório o juramento. Ver o artigo 81.° do revogado Estatuto doFuncionalismo Ultramarino, com a redacção introduzida pelo Decreto n." 183nl (B.O. n."111, de 12 de Maio de 1971).

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ou suspensão, ou depois de estar legalmente substituído, será punidocom prisão de um até dois anos, salvas as penas da falsidade, sehouverem lugar.

§ único - Se as funções forem as de um comando militar,aquele que continuar no exercício delas,nos casos declarados nesteartigo, ou no caso em que for licenciada a força militar, ou dequalquer outro modo cessar o comando, será punido com a demissão,e com a prisão de um a dois anos, salvo o que se acha determinadonas leis militares para o caso de guerra, e salvos os casos em quedevam aplicar-se as penas mais graves, decretadas para os crimescontra a segurança interior ou exterior do Estado.

ARTIGO 308.°(Abandono de funções públicas)

Todo O empregado público da ordem judicial ou administrativaque abandonar o emprego, recusando a continuação do exercício desuas funções, será punido com a suspensão dos direitos políticos porcinco anos.

§ 1.0 - O que sem licença se ausentar por mais de quinze dias,ou exceder a licença sem motivo justo, pelo mesmo espaço de tempo,será suspenso dos direitos políticos por dois anos, ou será condenadoa multa correspondente a um mês, segundo as circunstâncias.

§ 2.0 - Se estes crimes forem cometidos para não impedir ounão repelir qualquer crime contra a segurança interior ou exterior doEstado, serão punidos com as penas da cumplicidade.

ARTIGO 309.°(Deserções militares)

Nas deserções militares observar-se-á o que se acha disposto nasleis militares. 67

§ único - O crime de aliciação para a deserção militar,seguindo-se efeito, será punido, ou com as mesmas penas da

ct - Ver artigo 12.0 da "Lei dos Crimes Militares", Lei n." 4/94, de 28 de Janeiro.

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deserção, se o aliciador for julgado como autor, segundo as regrasgerais da lei, ou com as da cumplicidade, se somente julgadocúmplice, segundo as mesmas regras. Se não se seguir efeito, serápunida a aliciação pelas regras da tentativa.

SECÇÃO VROMPIMENTO DE SELOS E DESCAMINHO DE PAPÉIS

GUARDADOS NOS DEPÓSITOS PÚBLICOS OU CONFIADOSEM RAZÃO DE EMPREGO PÚBLICO

ARTIGO 310.0

(Rompimento de selos)

Os empregados públicos encarregados da guarda de papéis,títulos, ou outros objectos selados por ordem da autoridadecompetente, que abrirem ou romperem os selos, serão condenados aprisão maior de dois a oito anos.

§ 1.0 - O furto com rompimento dos selos, cometido pelosmesmos empregados públicos, será punido com prisão maior de oitoa doze anos.

§ 2.° - Se alguma outra pessoa cometer os crimes declaradosneste artigo e no § 1.0, será condenada, no primeiro caso na pena deprisão, e no segundo a prisão maior de dois a oito anos.

ARTIGO 311.0

(Subtracção ou descaminho de papéis ou documentos por empregado público)

Será condenado a prisão maior de dois a oito anos todo oempregado público encarregado da guarda e conservação dosdocumentos e papéis existentes nos arquivos, cartórios ou quaisquerdepósitos públicos, que subtrair, suprimir, ou desencaminhar algumdesses documentos ou papéis, ou parte de qualquer deles.

§ único - Se aos empregados de que tratam este artigo e oantecedente, se imputar unicamente e provar a negligência, nos casosem que os crimes declarados nos mesmos artigos forem cometidospor outra pessoa,a pena da negligência será a suspensão até seismeses.

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ARTIGO 312.0

(Subtracção, descaminbo ou destruição de documentos por empregado públicoa quem tenham sido confiados)

Todo O empregado público que voluntàriamente desencaminhar,destruir ou subtrair quaisquer documentos ou títulos, ou parte dequalquer deles, cuja perda ou descaminho possa ser prejudicial aoutra pessoa, ou ao Estado, e que lhe tenham sido confiados emrazão do seu ofício, será condenado a prisão maior de dois a oitoanos.

§ 1.0 - A mesma pena será aplicada no caso deste artigo aqualquer pessoa encarregada da guarda dos documentos ou títulosnele referidos, pela autoridade legítima, ou por comissão doempregado público, a quem houverem sido confiados.

§ 2.° - Em todos os casos designados nesta secção, tratando-sede títulos, papéis, ou parte de qualquer deles, representativos devalores negociáveis, ou dando direito a receber, no todo ou em parte,as importâncias nele mencionadas, será sempre imposta a penaimediatamente superior à correspondente ao crime de furto, se ainfracção for cometida por um particular,nos termos do § 1.0, ou apena imediatamente superior à correspondente ao crime de roubo,nos termos do artigo 437.°, se o for por empregado público, emboranão encarregado da guarda dos referidos títulos ou papéis, salvo,emambos os casos, se por disposição especial couber pena mais grave.

SECÇÃO VIPECULATO E CONCUSSÃO

ARTIGO 313.0

(peculato)

Todo o empregado público que em razão das suas funções tiverem seu poder dinheiro, títulos de crédito, ou efeitos móveispertencentes ao Estado, ou a particulares, para guardar, dispender ouadministrar, ou lhes dar o destino legal,e alguma coisa destas furtar,maliciosamente levar, ou deixar levar ou furtar a outrém, ou aplicar auso próprio ou alheio, faltando à aplicação ou entrega legal, serácondenado na pena correspondente ao crime de roubo, nos termos doartigo 437.°.

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§ 1.0 - Se der o dinheiro a ganho, ou o emprestar ou pagar antesdo vencimento, ou se, estando encarregado da arrecadação oucobrança de alguma coisa pertencente ao Estado, der espaço ouespera aos devedores, será condenado na pena correspondente aocrime de furto, segundo o valor.

§ 2.° - Se der ao dinheiro público um destino público diferentedaquele para que era destinado, será suspenso até seis meses econdenado em multa de 500.00 a 3000.00 KzR. 67·A

§ 3.° - As disposições deste artigo e seus parágrafoscompreendem quaisquer pessoas que pela autoridade legítima foremconstituídas depositários, cobradores ou recebedores, relativamente àscoisas de que forem depositários públicos, cobradores ou recebedores.

ARTIGO 314.°(Concussão)

Todo O empregado público que extorquir de alguma pessoa, porsi ou por outrém, dinheiro, serviços, ou outra qualquer coisa que lhenão seja devida, empregando violências ou ameaças, será punidocom a pena de prisão maior de dezasseis a vinte anos.

§ único - Esta pena, porém, poderá ser atenuada, substituindo-se-lhe a pena de prisão, segundo as circunstâncias.

ARTIGO 315.°(Imposição arbitrária de contribuições)

Todo O empregado público que sem autorização legal impuserarbitrariamente uma contribuição, receber por si ou por outrémqualquer importância dela com destino ao serviço público, e bemassim todo o empregado público encarregado da cobrança ouarrecadação de impostos, rendas, dinheiro ou qualquer coisapertencente ao Estado ou a estabelecimentos públicos, que recebercom o mesmo destino o que não for devido ou mais do que fordevido, sendo disso sabedor, será punido com a suspensão de um atrês anos e multa correspondente.

§ 1.0 - Os propostos ou encarregados da cobrança por comissãodos empregados públicos, de que trata este artigo, se cometerem ocrime enunciado no mesmo artigo, serão punidos com multa de um adois anos.

"·A - A multa é de Kz 50.00 a Kz. 300.00. Ver art.° L", n.? 2 do Dec.-Lei n." 7/00, de 3 deNovembro.

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§ 2.° - Se as coisas indevidamente recebidas, cobradas ouarrecadadas, forem convertidas pelo criminoso em seu próprioproveito, serão impostas, em atenção ao valor dessas coisas, as penasdo artigo 313.° e § 1.0.

ARTIGO 316."

(percebimento ilegal de emolumentos)

Os empregados públicos não autorizados pela lei para levar àspartes emolumentos ou salários, e bem assim aqueles que a leiautoriza a levar somente os emolumentos ou salários por ela fixados,se levarem maliciosamente por algum acto de suas funções o quelhes não é ordenado, ou mais do que lhes é ordenado, posto que aspartes lho queiram dar, serão punidos com a demissão ou suspensão,segundo as circunstâncias, e multa de um mês até três anos, salvas aspenas de corrupção, se houverem lugar.

ARTIGO 317.°

(Aceitação de interesse particular por empregado público)

Todo O empregado público que em coisa ou negócio de cujadisposição, administração, inspecção, fiscalização ou guarda estiverencarregado, em razão de suas funções, ou em que do mesmo modoestiver encarregado de fazer ou de ordenar alguma cobrança,arrecadação, liquidação ou pagamento, tomar ou aceitar, por si oupor outrem, algum intersse por compra ou qualquer outro título oumodo, será punido com a prisão de um a dois anos, e multacorrespondente.

§ 1.° - O mesmo se observará a respeito daquele que, porcomissão ou nomeação legal do empregado público ou da autoridadecompetente, for encarregado de algum dos objectos de que trata esteartigo.

§ 2.° - As mesmas penas serão impostas aos peritosavaliadores, arbitradores, partidores, depositários nomeados pelaautoridade pública, e bem assim, aos tutores, curadores,testamenteiros, que violarem as disposições deste artigo a respeitodas coisas ou negócios em que deverem exercer as suas funções.

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SECÇÃO VIIPEITA, SUBORNO E CORRUPÇÃO

ARTIGO 318.°

(peita, suborno e corrupção de empregado público)[REVOGADO] ••

Todo O empregado público que cometer o crime de peita, subornoe corrupção, recebendo dádiva ou presente, por si ou por pessoainterposta, com sua autorização ou ratificação, para fazer um acto desuas funções, se este acto for injusto e for executado, será punidocom a pena de prisão maior de dois a oito anos e multacorrespondente a um ano; se este acto porém não for executado, serácondenado em suspensão de um a três anos, e na mesma multa.

§ 1.0 - Se o acto injusto e executado for um crime, a que pelalei esteja decretada pena mais grave, terá lugar a pena que, segundo alei, dever ser imposta.

§ 2.° - Se for um acto justo que o empregado seja obrigado apraticar, será suspenso até um ano, e condenado na multacorrespondente a um mês.

§ 3.° - Se a corrupção teve por fim a abstenção de um acto dasfunçõe do mesmo empregado, a pena será a de demissão oususpensão de um a três anos, e multa correspondente, segundo ascircunstâncias.

§ 4.°_ A aceitação de oferecimento ou promessa será punida,observando-se as regras gerais sobre a tentativa; mas sempre haverálugar a pena de demissão, se o acto for injusto e executado.

§ 5.° Se o empregado repudiou livremente o oferecimento oupromessa que aceitara, ou restituiu a dádiva ou presente querecebera, e livremente deixou de executar o acto injusto, sem quefosse impedido por motivo algum independente da sua vontade,cessará a disposição deste artigo.

ss - Revogado expressamente pelo artigo 47.0 da Lei n.? 9/89, de 11 de Dezembro, "Lei dosCrimes contra a Economia". Sobre esta matéria passaram a reger hoje os artigos 43.0

(corrupção passiva) e 44." (corrupção activa) desta Lei, substituída, entretanto, pela Lei6/99, de 3 de Setembro (v. art."s 48." e 49.0).

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§ 6.°_ As disposições deste artigo e seus parágrafos terão lugartambém nos casos em que o empregado público, arrogando-sedolosamente ou simulando atribuição de fazer qualquer acto, aceitaroferecimento ou promessa, ou receber dádiva ou presente, para fazeresse acto ou não o fazer, salvas as penas mais graves da falsidade, sehouverem lugar.

§ 7.°_ São igualmente aplicaveis aos árbitros as disposições desteartigo e seus parágrafos.

§ 8.°_ As penas determinadas nos artigos antecedentes sãoaplicadas aos peritos e a quaisquer outros que exercerem algumaprofissão a respeito dos seus actos que forem, segundo a lei,requeridos para o desempenho do serviço público, excepto quando alei os autorizar a regular com as partes o seu salário.

§ 9.°_ Nos casos dos dois últimos antecedentes parágrafos, a penade demissão ou de suspensão será substituida pela suspensão doexercício da profissão ou pela suspensão dos direitos políticos nãoinferior a dois anos, salvo o disposto no artigo 241.°, e sem prejuízoda pena mais grave em que possam ter incorrido por motivo dosreferidos actos.

ARTIGO 319.°

(Corrupção de juízes e jurados)

Os juízes e jurados que forem corrompidos para julgarem, ouordenarem, antes ou depois da acusação, serão condenados a prisãomaior de oito a doze anos e na multa de 1000$00 distribuida portodos os co-réus. 69

ARTIGO 320.°(Agravação do crime previsto no artigo 319.°)

Se por efeito da corrupção houver condenação a uma pena maisgrave, que a declarada no artigo antecedente, será imposta ao juiz, oujurado, que se deixar corromper, essa pena mais grave, e a multadeclarada no artigo antecedente .

(IJ A multa era de 1000$00 e foi elevada para 10000$00 pelo Decreto n.? 11.991, de 30 deJulho 1926. (B.O. n." 26/927). Hoje é de Kz, 1.000.00, nos termos do art." 1.0, n." 2 doDec.-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro.

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ARTIGO 321.°(Corrupção activa)

[REVOGADO] 70

Qualquer pessoa que corromper por dádivas, presentes,oferecimentos ou promessas qualquer empregado público,solicitando uma injustiça, comprando um voto ou procurandoconseguir ou assegurar pela corrupção o resultado de quaisquerpretensões, será punida com as mesmas penas que forem impostas aoempregado corrompido, com a declaração de que as penas dedemissão ou suspensão serão substituídas pela suspensão dos direitospolíticos, não inferior a dois anos.

§ único - Quando o suborno tiver lugar em causa criminal afavor do réu, por parte dele mesmo, do seu cônjuge ou de algumascendente ou descendente, ou irmão ou afim nos mesmos graus, apena será a de multa de um a seis meses. 71

ARTIGO 322.°(Aceitação de oferecimento ou promessa por empregado público)

[REVOGADO] 72

Se o empregado público aceitar por si ou por outremoferecimento ou promessa, ou receber dádiva, ou presente de pessoaque perante ele requeira desembargo ou despacho, ou que tenhanegócio ou pretensão dependente do exercício de suas funções, ser-lhe-ão aplicadas as disposições do art. 318.0 e seus parágrafos.

ARTIGO 323.°(Aceitação de oferecimento ou promessa por empregado público)

[REVOGADO] 73

Serão sempre perdidas a favor do Estado as coisas recebidas porefeito de corrupção ou o seu valor.

10 - Revogado pela Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro. A corrupção activa passou a estar previstano artigo 44.° daquela Lei, substituída, entretanto, pela Lei 6/99, de 3 de Setembro (v. art,"49.°).

" - Não pode deixar de se considerar discutível a revogação deste § único pela Lei dos CrimesContra a Economia. (Ver nota anterior)

n - Revogado pelo artigo 47.° da Lei 0.° 9/89, de 11 de Dezembro. Ver artigos 43.° e 44.° dacitada Lei, hoje substituída pelos art.os 48.° e 49.° da Lei 6/99, de 3 de Setembro

" Revogado pelo artigo 47.° da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro. Sobre perda de bens, veja-se o artigo 11.° desta Lei, substituído hoje pelo art." 13.° da Lei 6/99.

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SECÇÃO VIIIDISPOSIÇOES GERAIS

ARTIGO 324.°

(Cumplicidade dos superiores hierárquicos)

Todo O empregado público será considerado cúmplice, e punidosegundo as regras gerais sobre a cumplicidade, no caso em que,sabedor de um crime cometido por empregado subalterno, que lhedeva directamente obediência, não empregar os meios que a lei lhefaculta, para que seja punido.

ARTIGO 325.°

(Punição dos empregados públicos)

Nos casos em que a lei não decretar especialmente as penas doscrimes de qualquer natureza, cometidos por empregados públicos,será imposta a pena do crime agravada ao empregado público, quepor qualquer dos modos declarados no artigo 22.0 for cúmplice deum crime, que ele esteja encarregado de velar e obstar a que secometa, ou de concorrer para que seja punido.

ARTIGO 326.°

(Punição dos empregados públicos nos casos não especificados)

Em todos os casos não designados neste capítulo, nos quais asleis ou regimentos de cada um dos empregados públicos decretarempenas correcionais ou especiais, pela violação ou falta de observânciade suas disposições, aplicar-se-ão essas penas com as seguintesdeclarações:

l ." - Havendo somente negligência, não se imporá pelacontravenção a pena de demissão, e será esta pena substituída pela desuspensão;

2.a - Verificando-se em qualquer caso e em qualquer temposegunda reincidência, o empregado que duas vezes tiver sidocondenado será demitido;

3." - As disposições antecedentes aplicam-se aos factos dacompetência da jurisdição disciplinar.

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132

ARTIGO 327.°

(Conceito de empregado público)

Para os efeitos do disposto neste capítulo, considera-seempregado público todo aquele que, ou autorizado imediatamentepela disposição da lei, ou nomeado por eleição popular ou pelo rei,ou por autoridade competente, exerce ou participa no exercício defunções públicas civis de qualquer natureza.

TITULO IVDOS CRIMES CONTRAAS PESSOAS

CAPITULODOSCR~ESCONTRAALmERDADE

DAS PESSOASSECÇÃO I

VIOLENCIAS CONTRA A LmERDADE

ARTIGO 328.°

(Cativeiro)

Todos os que sujeitarem a cativeiro algum homem livre, serãocondenados a prisão maior de dois a oito anos e no máximo da multa.

ARTIGO 329.°

(Coacção física)

Todo indivíduo particular que, sem estar legitimamenteautorizado, empregar actos de ofensa corporal para obrigar outrem aque faça alguma coisa ou impedir que a faça, será condenado aprisão de um mês a um ano, podendo também ser condenado namulta correspondente.

133

saccxo nCÁRCERE PRIVADO

ARTIGO 330.°(Cárcere privado)

Todo o indivíduo particular que fizer cárcere privado, retendo,por si ou por outrem, até vinte-e-quatro horas, alguém como presoem alguma casa ou em outro lugar onde seja reteúdo, e guardado emtal maneira, que não seja em toda a sua liberdade, posto que nãotenha nenhuma prisão, será condenado a prisão de um mês a um ano.

§ 1.0_ A simples retenção por menos tempo é considerada comoofensa corporal, e punida conforme as regras da lei em tais casos.

§ 2.°_ Se a retenção durar mais de vinte-e-quatro horas, serácondenado o criminoso a prisão de três meses a dois anos.

§ 3.°_ Se dentro de três dias o criminoso der liberdade ao retido,sem que tenha conseguido qualquer objecto a que se propusesse coma retenção, e antes do começo de qualquer procedimento contra ele, apena será atenuada.

§ 4.°_ Se a retenção, porém, durar mais de vinte dias, a pena seráa de prisão maior de dois a oito anos e o máximo da multa.

ARTIGO 331.0

(Agravação especial no crime de cárcere privado)

Em qualquer dos casos em que se verifique o crime de cárcereprivado, a pena será de prisão maior de dois a oito anos e o máximoda multa, verificando-se alguns dos seguintes requisitos:

1.0 - Se o criminoso cometer o crime, simulando por qualquermodo autoridade pública;

2.° - Se o crime tiver sido acompanhado de ameaças de morteou de tortura ou qualquer outra ofensa corporal, a que nãocorresponda pena mais grave.

ARTIGO 332.0

(Não libertação e ocultação do ofendido)

Se aquele que cometer o crime de cárcere privado não mostrarque deu a liberdade ao ofendido, ou onde este existe, será condenadona pena de prisão maior de dezasseis a vinte anos.

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134

ARTIGO 333,°(Cárcere privado cometido por empregado público)

As disposições dos artigos antecedentes são aplicáveis aosempregados públicos que cometerem este crime fora do exercício desuas funções.

ARTIGO 334,°(Captura ilegal por particulares)

Salvos os casos em que a lei permite aos indivíduos a prisão dealguém, todo aquele que prender qualquer pessoa para a apresentar àautoridade, será punido com a prisão de três a trinta dias.

ARTIGO 335,°

(Violência de particulares contra detidos)

Nos casos em que a lei permite aos indivíduos particulares aretenção de alguém, se se empregarem actos de violência,qualificados crimes pela lei, serão punidos esses actos de violênciacom as penas correspondentes.

CAPITULO IIDOS CRIMES CONTRA O ESTADO CIVIL

DAS PESSOAS

SECÇÃO IUSURPAÇÃO DO ESTADO CIVIL

E MATRIMÓNIOS SUPOSTOS E ILEGAIS

ARTIGO 336,°

(Usurpação do estado civil de outrem)

Aqueles que dolosamente usurparem o estado civil de outrem, ouque, para prejudicar os direitos de alguém, usurparem os direitosconjugais por meio de falso casamento, ou que para o mesmo fim sefingirem casados, ou usurparem quaisquer direitos de família, serãocondenados a prisão maior de dois a oito anos.

SECÇÃO IIPARTOS SUPOSTOS

135

ARTIGO 337.°

(Bigamia)

Todo O homem ou mulher que contrair segundo ou ulteriormatrimónio, sem que se ache legitimamente dissolvido o anterior,será punido com prisão maior de dois a oito anos e com o máximo damulta.

ARTIGO 338,°

(Cumplicidade na bigamia)

Se o homem ou mulher, que contrair o matrimónio, tiverconhecimeto de que é casada a pessoa com quem o contrair, serápunido pelas regras da cumplicidade.

ARTIGO 339,°

(Ressalva de leis especiais)

As disposições especiais, que as leis existentes estabelecem arespeito de matrimónios ilegais e de contravenções aos regulamentossobre os actos do estado civil, obeservar-se-ão em tudo o que não seacha decretado neste Código.

ARTIGO 340,°

(Parto suposto e substituição do infante)

A mulher que, sem ter parido, der o parto alheio por seu, ou que,tendo parido filho vivo ou morto, o substituir por outro, serácondenada a prisão maior de dois a oito anos.

§ 1.0 - A mesma pena será imposta ao marido, que for sabedor econsentir.

§ 2.0 - Os que para este crime concorrerem serão punidos comoautores ou cúmplices, segundo as regras gerais.

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136

ARTIGO 341.0

(Falsas declarações relativas a nascimento ou morte de infante)

Será punida com prisão maior de dois a oito anos e com multa, afalsa declaração dos pais de um infante, feita ou com consentimentoou sem consentimento deles, perante a autoridade competente e como fim de prejudicar os direitos de alguém, e bem assim a falsadeclaração feita perante a mesma autoridade e com o mesmo fim, donascimento e morte de um infante que nunca existiu.

SECÇÃO IIISUBTRACÇÃO E OCULTAÇÃO DE MENORES

ARTIGO 342.0

(Subtracção violenta ou fraudulenta de menor de sete anos)

Aquele que por violência ou por fraude, tirar ou levar, ou fizertirar ou levar um menor de sete anos da casa ou lugar em que, comautorização das pessoas encarregadas da sua guarda ou direcção, elese achar, será condenado a prisão maior de dois a oito anos.

ARTIGO 343.°

(Constrangimento de menores a abandonar a casa dos pais ou tutores)

Aquele que obrigar por violência, ou induzir por fraude ummenor de vinte e um anos 74 a abandonar a casa de seus pais oututores, ou dos que forem encarregados de sua pessoa, ou aabandonar o lugar em em que por seu mandato ele estiver livre, ou otirar ou o levar, será condenado a prisão, sem prejuízo de pena maiordo cárcere privado, se tiver lugar.

§ único - Se o menor tiver menos de dezassete anos, a penaserá o máximo da pena de prisão.

14 A maioridade atinge-se, hoje, aos 18 anos, de acordo com o artigo 1.° da Lei n." 68/76, de5 de Outubro.

137

ARTIGO 344.0

(Ocultação, troca e descaminho de menores)

Aquele que ocultar ou fizer ocultar, ou trocar ou fizer trocar poroutro, ou desencaminhar ou fizer desencaminhar um menor de seteanos, será condenado a prisão maior de dois a oito anos.

§ 1.0 - Se for maior de sete anos e menor de dezoito, serácondenado a prisão maior de dois a oito, salvas as penas maiores decárcere privado, se houverem lugar.

§ 2.° - Em todos os casos até aqui enunciados nesta secção,aquele que não mostrar onde existe o menor será condenado na penade prisão maior de dezasseis a vinte anos.

§ 3.° - O que, achando-se encarregado da pessoa de um menor,não o apresentar aos que têm direito de o reclamar, nem justificar oseu desaparecimento, será condenado a prisão maior de dois a oitoanos, salvo se estiver incurso na disposição do artigo.

SECÇÃO IVEXPOSIÇÃO E ABONDONO DE INFANTES

ARTIGO 345.0

(Exposição ou abandono de infante)

Aquele que expuser ou abandonar algum menor de sete anos emqualquer lugar que não seja o estabelecimento público, destinado àrecepção dos expostos, será condenado na pena de prisão e multacorrespondente.

§ 1.0 - Se a exposição ou abandono for em lugar ermo, serácondenado a prisão maior de dois a oito anos.

§ 2.° - Se este crime for cometido pelo pai ou mãe legítimos, oututor ou pessoa encarregada da guarda ou educação do menor, seráagravada apena com o máximo da multa.

§ 3.° - Se com a exposição ou abandono se pôs em perigo a vidado menor ou se resultou lesão ou morte, a pena será a de oito anos deprisão maior.

ARTIGO 346.°(Omissão de apresentação à autoridade de menor exposto)

Aquele que, achando exposto em qualquer lugar um recém-nascido, ou que, encontrado em lugar ermo um menor de sete anos,abandonado, o não apresentar à autoridade administrativa maispróxima, será condenado a prisão de um mês a dois anos.

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ARTIGO 347.0

(Entrega ilegítima de menor de sete anos)

Aquele que, tendo a seu cargo a criação ou educação de ummenor de sete anos, o entregar a estabelecimento público, ou a outrapessoa, sem consentimento daquela que lho confiou ou da autoridadecompetente, será condenado a prisão de um mês a um ano e multacorrespondente.

ARTIGO 348.0

(Exposição fraudulenta dos filhos em estabelecimento público destinadoà recepção de exposto)

Os pais legítimos, que, tendo meios de sustentar os filhos, osexpuserem fraudulentamente no estabelecimento público destinado àrecepção dos expostos, serão condenados na multa de um mês a umano.

CAPITULO IIIDOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA

DAS PESSOASSECÇÃO I

HOMICÍDIO SIMPLES E AGRAVADO E ENVENENAMENTO

ARTIGO 349.0

(Homicídio voluntário simples)

Qualquer pessoa, que voluntariamente matar outra, será punidacom prisão maior de dezasseis a vinte anos.

ARTIGO 350.0

(Tentativa de homicídio e homicídio frustado)

Será punido como tentativa de homicídio ou como delitofrustado, segundo as circunstâncias, todo o ferimento, espancamentoou ofensa corporal, feita com intenção de matar, nos casos em que amorte se não seguir, ou em que a morte se seguiu por efeito de causaacidental, e que não era consequência do facto do criminoso.

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ARTIGO 35l.°(Homicídio qualificado)

Será punido com a pena de prisão maior de vinte a vinte e quatroanos o crime de homicídio voluntário declarado no art. 349.°, quandoconcorrer qualquer das circunstâncias seguintes:

l ." - Premeditação;2." - Quando se empregarem torturas ou actos de cueldade para

aumentar o sofrimento do ofendido;3." - Quando o mesmo crime tiver por objecto preparar ou

facilitar ou executar qualquer crime ou assegurar a sua impunidade;4. a _ Quando for precedido ou acompanhado ou seguido de

outro crime, a que corresponda pena maior que a de dois anos deprisão;

5.a - Nos crimes, a que se referem os dois antecedentesnúmeros, não se compreendem aqueles que são pela lei qualificadoscomo crimes contra a segurança interior do Estado, sem complicaçãode outro qualquer.

ARTIGO 352.0

(Conceitos e requisitos da premeditação)

A premeditação consiste no desígnio, formado ao menos vinte equatro horas antes da acção, de atentar contra a pessoa de umindivíduo determinado, ou mesmo daquele que for achado ouencontrado, ainda que este desígnio seja dependente de algumacircunstância ou de alguma condição; ou ainda que depois naexecução do crime haja erro ou engano a respeito dessa pessoa.

ARTIG035r(Envenenamento)

Aquele que cometer o crime de envenenamento, será punido coma pena de prisão maior de vinte a vinte quatro anos.

§ único - É qualificado crime de envenenamento todo oatentado contra vida de alguma pessoa por efeito de substâncias, quepodem dar a morte mais ou menos prontamente, de qualquer modoque as substâncias sejam empregadas, e quaiquer que sejam asconsequências.

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ARTIGO 354.°

(Auxílio ao suicídio)

Será punido com a pena de prisão aquele que prestar ajuda aalguma pessoa para se suicidar.

§ único - Se com o fim de prestar ajuda chegar ele mesmo aexecutar a morte, será punido com a pena de prisão maior de oito adoze anos.

SECÇÃO IIHOMICÍDIO VOLUNTÁRIO AGRAVADO

PELA QUALIDADE DAS PESSOAS

ARTIGO 355.°(Parricídio)

Aquele que matar voluntariamente seu pai ou mãe, legítimos ounaturais, ou qualquer dos seus ascendentes legítimos, será punido, comoparricida, com a pena de prisão maior de vinte a vinte e quatro anos.

§ 1.0 - Se não houver premeditação, poderá ser atenuada a pena,provando-se a provocação, na forma que se declara no artigo 375.°

§ 2.° - Se houver premeditação, nenhuma circunstância poderáser considerada para a atenuação da pena do parricídio.

§ 3.° - A tentativa do parricídio premeditado será punida com apena de prisão maior de doze a dezasseis anos.

ARTIGO 356.°(Infanticídio)

Aquele que cometer o crime de infanticídio, matandovoluntàriamente um infante no acto do seu nascimento, ou dentro emoito dias, depois do seu nascimento, será punido com a pena deprisão maior de vinte a vinte e quatro anos.

§ único - No caso de infanticídio cometido pela mãe paraocultar a sua desonra, ou pelos avós maternos para ocultar a desonrada mãe, a pena será a de prisão maior de dois a oito anos.

141

ARTIGO 357.°(Concurso de outras agravantes)

Se em algum dos casos declarados nesta e na antecedente secçãoconcorrerem outras circuntâncias agravantes, observar-se-ão asregras gerais.

ssccxo mABORTO

ARTIGO 358.°(Aborto)

Aquele que, de propósito, fizer abortar uma mulher pejada,empregando para este fim violências ou bebidas, ou medicamentos, ouqualquer outro meio, se o crime for cometido sem consetimento damulher, será condenado na pena de prisão maior de dois a oito anos.

§ 1.0 - Se for cometido o crime com consentimento da mulher,será punido, com a pena de dois a oito anos de prisão maior.

§ 2.° - Será punida com a mesma pena a mulher que consentir efizer uso dos meios subministrados, ou que voluntariamente procuraro aborto a si mesma, seguindo-se efectivamente o mesmo aborto.

§ 3.° - Se, porém, no caso do parágrafo antecedente, a mulhercometer o crime para ocultar a sua desonra, a pena será a de prisão.

§ 4.° - O médico ou cirurgião ou farmacêutico que, abusando dasua profissão, tiver voluntàriamente concorrido para a execuçãodeste crime, indicando ou subministrando os meios, incorrerárespectivamente nas mesmas penas, agravadas segundo as regrasgerais. 75

SECÇÃO IVFE~NTOS,CONTUSÕES

E OUTRAS OFENSAS CORPORAIS VOLUNTÁRIAS

ARTIGO 359.°(Ofensas corporais voluntárias simples)

Aquele que voluntariamente, com alguma ofensa corporalmaltratar alguma pessoa, não concorrendo qualquer das

" Nos termos do artigo lü," do Decreto-Lei n." 36171, de 29 de Julho de 1941, publicado noBoletim Oficial n." 22/947, este parágrafo 4." aplica-se a todo o pessoal auxiliar damedicina e não apenas a médicos, cirugiões e farmacêuticos,

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142

círcunstâncias enunciadas nos artigos seguintes, será condenado aprisão até três meses, mediante acusação do ofendido.

§ único - Se o ofendido for menor de 16 anos ou incapaz, oprocedimento criminal dependerá de simples participação doofendido ou do seu representante legal.

ARTIGO 360.°(Ofensas corporais voluntárias de que resulta doença ou impossibilidade

para o trabalho)

A ofensa corporal voluntária de que resultar, como efeitonecessário da mesma ofensa, doença ou impossibilidade de trabalhoprofissional ou de qualquer outro, será punida:

1.0 - Se a doença ou impossibilidade de trabalho não durar pormais de dez dias, com prisão até seis meses e multa até um mês;

2.° - Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongarpor mais de dez dias, sem exceder a vinte, ou produzir deformidadepouco notável, com prisão até um ano e multa até dois meses;

3.° - Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongarpor mais de vinte dias, sem exceder a trinta, ou produzir deformidadenotável, com prisão e multa;

4.° - Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongarpor mais de trinta dias, com prisão nunca inferior a dezoito meses emulta nunca inferior a um ano;

5.° - Se da ofensa resultar cortamento, privação, aleijão ouinabilitação de algum membro ou órgão do corpo, com prisão maiorde dois a oito anos.

§ único - Nos casos previstos no n." 1.0 só haverá lugar aprocedimento judicial mediante participação do ofendido, excepto seas ofensas corporais puserem em perigo a vida do ofendido ou foremcometidas com armas proibidas, armas de fogo ou outros meiosgravemente perigosos.

ARTIGO 361.°(Ofensas corporais voluntárias de que resulta privação da razão,

impossibilidade permanente de trabalhar ou a morte)

Se, por efeito necessário da ofensa, ficar o ofendido privado darazão ou impossibilitado por toda a vida de trabalhar, a pena será ade prisão maior de dois a oito anos.

143

§ único - A mesma pena agravada será aplicada, se a ofensacorporal for cometida voluntariamente, mas sem intenção de matar, econtudo ocasionar a morte.

ARTIGO 362."(Ofensas corporais de que resulta a morte por circunstância acidental)

Se o ferimento ou espancamento ou ofensa não foi mortal, nemagravou ou produziu enfermidade mortal, e se provar que algumacircunstância acidental independente da vontade do criminoso, e quenão era consequência do seu facto, foi a causa da morte, não serápela círcunstância da morte agravada a pena do crime.

ARTIGO 363,° 7.

(Uso e ameaças com arma de fogo ou de arremesso)

o tíro de arma de fogo, o emprego de arma de arremesso contraalguma pessoa, posto que qualquer destes factos não seja classificadocomo tentativa de homicídio, nem dele resulte ferimento oucontusão, e bem assim a ameaça com qualquer das ditas armas emdisposição de ofender, ou feita por uma reunião de três ou maisindivíduos em disposição de causar mal imediato, consideram-seofensa corporal e são punidos:

1.0 - O tíro de arma de fogo, ou o emprego de qualquer arma dearremesso, com a pena de prisão;

2.° - A ameaça com arma de fogo, ou com qualquer arma dearremesso, em disposição de ofender, ou feita por três ou maisindivíduos em disposição de causar mal imediato, com a pena deprisão;

§ único - Dependerá de participação do ofendido oprocedimento criminal por simples ameaça com qualquer arma oumeio de agressão qua não seja dos mencionados na parte final do §único do artigo 360.°

,. - Redacção introduzida pelo artigo 4,° da Lei n." 8/85, de 10 de Setembro.

~--- -- - -

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144

Se a ameaça for de uma ofensa corporal cujo procedimentocriminal dependa de acusação do ofendido, o procedimento judicialpor aquela ameaça dependerá igualmente desta acusação.

ARTIGO 364.0

(Ministração de substâncias nocivas à saúde)

As disposições dos artigos antecedentes desta secção sãoaplicáveis àqueles que, voluntariamente e com intenção de fazer malministrarem a outrém de qualquer modo substâncias que, não sendoem geral por natureza mortíferas, são contudo nocivas à saúde.

ARTIGO 365.0

(Ofensas corporais qualificadas pela pessoa do ofendido)

Se qualquer dos crimes declarados nos artigos antecedentes destasecção for cometido contra o pai ou mãe, legítimos ou naturais, oucontra algum dos ascendentes legítimos, o réu será condenado:

1.° - Se a pena do crime for a de prisão por tempo nãoexcedente a três meses, a prisão nunca inferior a um ano;

2.° - A prisão maior de dois a oito anos em todos os demaiscasos em que a pena do crime seja de prisão;

3.° - Se a pena do crime for a do número anterior, a mesmapena agravada e nunca inferior a seis anos;

4.° - Se a pena do crime for a de prisão maior de dois a oitoanos, a mesma pena agravada e nunca inferior a metade ou a deprisão maior de oito a doze anos, segundo a gravidade do danocausado.

ARTIGO 366.0

(Castração)

Se alguém cometer o crime de castração, amputando a outrémqualquer órgão necessário à geração, será condenado a prisão maiorde dois a oito anos.

§ único - Se resultar a morte do ofendido dentro de quarentadias depois do crime, por efeito das lesões produzidas, a pena será ade prisão maior de dezasseis a vinte anos.

145

ARTIGO 367.°(Inabilitação voluntária para o serviço militar)

[REVOGADO}"

Aquele que se mutilar voluntariamente, e para se tornarimpróprio para o serviço militar, será condenado na prisão de trêsmeses a um ano.

§ único - Se o cúmplice for médico, cirurgião ou farmacêutico,será condenado na mesma pena correspondente.

SECÇÃO VHOMICÍDIO, FERIMENTO E OUTRAS OFENSAS CORPORAIS

INVOLUNT ÁRIAS

ARTIGO 368.°(Homicídio involuntário)

o homicídio involuntário, que alguém cometer ou de que forcausa por sua imperícia, inconsideração, negligência, falta dedestreza ou falta de observância de algum regulamento, será punidocom a prisão de um mês a dois anos e multa correspondente.

§ único - O homicídio involuntário, que for consequência deum facto ilícito, ou de um facto lícito, praticado em tempo, lugar oumodo ilícito, terá a mesma pena, salvo se ao facto ilícito se deveraplicar pena mais grave, que neste caso será somente aplicada.

ARTIGO 369.°(Ofensas corporais involuntárias)

Se pelos mesmos motivos, e nas mesmas circunstâncias, alguémcometer ou involuntariamente for causa de algum ferimento ou dequalquer dos efeitos das ofensas corporais declaradas na secçãoantecedente, será punido com prisão de três dias a seis meses, ousomente ficará obrigado à reparação, conforme as circunstâncias,salva a pena de contravenção, se houver lugar.

77 _ Revogado pelo artigo n." 32.° da Lei n." 4/94, de 28 de Janeiro.

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§ 1.0 - Se das ofensas corporais não resultarem efeitos maisgraves do que os referidos no n." I do artigo 360 ° só h '. . , averaprocedimento criminal mediante participação do ofendido.

§ 2.° - Na falta desta participação, será, no entanto, punívelqualquer contravenção que tenha sido cometida.

SECÇÃO VI

CAUSAS DE ATENUAÇÃO NOS CRIMES DE HOMICÍDIOVOLUNTÁRIO, FERIMENTOS E OUTRAS OFENSAS CORPORAIS

ARTIGO 370.°

(Provocação nos crimes de homicídio e de ofensas corporais)

Se o homicídio voluntário ou os ferimentos, ou espancamentosou outra ofensa corporal, forem cometidos sem premeditação, sendoprovocados por pancadas ou outras violências graves para com aspessoas, serão as penas atenuadas pela maneira seguinte:

1.0 - Se a pena do crime for a de prisão maior de vinte a vinte equatro anos, ou qualquer pena fixa será esta reduzida à de prisão deum até dois anos e multa con-espondente;

. 2.° - Qualquer pena temporária será reduzida à de seis meses adOISanos de prisão;

. 3.° - A pena correcional será reduzida à de prisão de três dias aseis meses.

ARTIGO 371.°

(Provocação constituida por escalamento ou arrombamento de casa habitada

ou suas dependências)

Terá lugar a atenuação decretada no artigo antecedente se osfactos aí declarados forem praticados, repelindo de dia o escalamentoou arrombamento de uma casa habitada ou de suas dependências,que _pOdem dar acesso à entrada da mesma casa, ou repelindo oladrao ou agressor que nela se introduziu.

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ARTIGO 372.°

(provocação constitui da por adultério ou corrupção de filha menor)

o homem casado que achar sua mulher em adultério, cujaacusação lhe não seja vedada, nos termos do artigo 404.°, § 2.°, enesse acto matar ou a ela ou ao adúltero, ou a ambos, ou lhes fizeralguma das ofensas corporais declaradas nos artigos 360.°, n.OS3.° a5.°, 361.° e 366.°, será desterrado para fora da comarca por seismeses.

§ 1.° - Se as ofensas forem menores, não sofrerá pena alguma.§ 2.° - As mesmas disposições se aplicarão à mulher casada,

que no acto declarado neste artigo matar a concubina teúda emanteúda pelo marido na casa conjugal, ou ao marido ou a ambos,ou lhes fizer as referidas ofensas corporais.

§ 3.° - Aplicar-se-ão também as mesmas disposições, em iguaiscircunstâncias, aos pais a respeito de suas filhas menores de vinte eum anos e dos corruptores delas, enquanto estas viverem debaixo dopátrio poder, salvo se os pais tiverem eles mesmo excitado,favorecido ou facilitado a corrupção.

ARTIG037r

(Provocação como circunstância modificativa no crime de castração)

A pena do crime de castração somente poderá ser atenuada,segundo o disposto no artigo 370.°, no caso em que a violência graveconsistir em um ultraje violento contra o pudor.

ARTIGO 374."

(provocação constituída por injúria, difamação ou ameaça)

As injúrias verbais, as difamações ou imputações injuriosas, asameaças não qualificadas no artigo 363.°, não são compreendidas nascausas de provocação enuncidas no artigo 370.°, para o fim daatenuação especial nele decretada, salvo o disposto no artigo 39.°, 0.°

4.°.

§ único - Nos casos declarados neste artigo, assim como emtodos os outros em que se verificarem circunstâncias atenuantes,observar-se-ão as regras gerais sobre a atenuação das penas.

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ARTIGO 375,°(Exclusão da provocação como circunstância modificativa no crime

de parricídio)

No crime de parricídio não tem lugar a atenuação decretada noartigo 370.° desta secção, mas não havendo premeditação, se severificar a provocação, estando em perigo, no momento do crime,pelas violências do ascendente, a vida do criminoso, poderá seratenuada a pena segundo as regras gerais.

SECÇÃO VIIHOMICÍDIOS, FERIMENTOS E OUTROS ACTOS

DE FORÇA QUE NÃO SÃO CLASSIFICADOS CRIMES

ARTIGO 376.°(Homicídio e ofensas corporais com justificação do facto)

Não são crimes o homicídio, os ferimentos, ou espancamentos ououtros actos ou meios de força, que tiverem lugar concorrendo ascircunstâncias declaradas em cada um dos números do artigo 41.°,conforme as regras dos artigos 43.° a 46.°.

ARTIGO 377,°(Legítima defesa)

A regra estabelecida no artigo 44.°, n." 5.°, compreende os casosem que o homicídio ou ferimentos ou espancamentos foremcometidos ou outros meios de forças empregados:

1.0 - Repelindo de noite o escalamento ou arrombamento de .uma casa habitada ou de suas dependências, que podem dar acesso àentrada na mesma casa.

2.° - Defendendo-se contra os autores de roubos ou destruiçõesexecutadas com violências.

ARTIGO 378.°(Excesso de legítima defesa)

Se no caso do n." 5.° do artigo 44.°, qualquer exceder os limitesmarcados no artigo 46.°, será, segundo a qualidade e circunstâncias

149

do excesso, ou punido com pena de prisão, ou absolvido da pena,ficando somente sujeito à reparação civil pela sua falta.

SECÇÃO VIIIAMEAÇAS E INTRODUÇÃO EM CASA ALHEIA

ARTIGO 379.°

(Ameaças)

Aquele que, por escrito assinado, ou anónimo ou verbalmente,ameaçar outrem de lhe fazer algum mal que constitua crime, quer lheimponha, quer não, qualquer ordem ou condição, será condenado aprisão até três meses e multa até um mês.

§ 1.0 _ Aquele que, por qualquer meio, ameaçar ou intimidaroutrem para o constranger a fazer ou deixar de fazer alguma coisa aque por lei não é obrigado será condenado a prisão até dois meses, senão estiver incurso na disposição deste artigo, nem ao meioempregado corresponder pena mais grave por disposição especial.

§ 2.° - Depende de participação do ofendido o procedimentocriminal pelos factos previstos neste artigo e seu § 1.0.

Se o mal a que se refere a ameça for uma infracção cujoprocedimento criminal dependa de acusação da parte ou nãoconstituir crime, a acção criminal pela ameaça dependerá daacusação particular.

ARTIGO 380.°

(Introdução em casa alheia)

Aquele que, fora dos casos em que a lei o permite, se introduzirna casa de habitação de alguma pessoa, contra vontade dela, serácondenado a prisão até seis meses.

§ 1.0 _ Se houver violência ou ameaça ou se tiver empregadoescalamento, arrombamento ou chaves falsas, a pena será a de prisão.

§ 2.° - No caso do parágrafo antecedente é sempre punível atentativa, segundo as regras gerais.

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§ 3.0 - Aquele que, fora dos casos em que a lei o permite,persistir em ficar na casa de habitação de alguma pessoa contra avontade dela, não tendo cometido o crime enunciado neste artigo e §1.0, será condenado a prisão até três meses, não havendo violência ouameaça, e até seis meses no caso contrário.

§ 4.0 - Não concorrendo nos crimes previstos neste artigo eseus parágrafos qualquer das circunstâncias referidas no § 1.0 oprocedimento criminal só terá lugar mediante acusação do ofendido.

SECÇÃO IXDUELO

ARTIGO 381.0

(provocação ao duelo)

A provocação a duelo será punida com prisão de um a três mesese multa até um mês

ARTIGO 382.°

(Injúrias a quem não aceita o duelo)

Serão punidos com a mesma pena aqueles que publicamentedesacreditarem ou injuriarem qualquer pessoa por não ter aceitadoum duelo.

ARTIGO 383.0

(Excitação e provocação por injúria)

Aquele que excitar outrem para se bater em duelo, e bem assimaquele que por qualquer injúria der lugar à provocação a duelo, serápunido com prisão de um mês a um ano e multa correspondente.

ARTIGO 384.°

(Uso de armas em duelo)

Aquele que em duelo tiver feito uso de suas armas contra seuadversário, sem que resulte homicídio nem ferimento, será punidocom prisão de dois meses a um ano e multa correspondente.

151

ARTIGO 385.°

(Morte ou ofensas corporais em alguns dos combatentes)

Se em um duelo um dos combatente matar o outro, será punidocom prisão de um a dois anos e o máximo da multa, podendo e1evar-se o tempo de prisão ao dobro com os únicos efeitos da prisão.

§ 1.0 - Se do duelo resultou algum dos efeitos declarados nosD.oS 3.° a 5.0 do art.° 360.0, e no art." 361.0 a pena será de seis meses adois anos e multa correspondente.

§ 2.° - Se houver ferimentos, fora dos casos declarados noparágrafo antecedente, a pena será a prisão de três a dezoito meses emulta correspondente.

ARTIGO 386.°

(Punição dos padrinhos)

Serão punidos com prisão até seis meses e multa até um mês ospadrinhos, quando, segundo as regras gerais, não deverem serpunidos como autores ou cumplices do crime.

ARTIGO 387.°

(Aplicação da lei geral)

As penas geralmente estabelecidas pela lei serão sempreaplicadas, quando o homicídio ou ferimentos resultantem de duelo,nos casos seguintes:

1.0 - Quando o duelo tiver lugar sem assistência de padrinhos;2.0 - Quando houver fraude ou deslealdade;3. o - Contra qualquer pessoa que, por interesse pecuniário,

provocar ou excitar ou der causa voluntariamente ao duelo.

ARTIGO 388.°

(Duelo cometido por empregado público)

Se algum dos criminosos for empregado público poder-se-áajuntar a pena de demissão, segundo as circunstâncias.

- ~-.- -

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SECÇÃO XDISPOSIÇÃO COMUM ÀS SECÇÕES DESTE CAPÍTULO

ARTIGO 389.°

(Sonegação ou ocultação de cadáver)

Se, no caso de homicídio ou de morte em consequências deferimentos, espancamentos ou outras ofensas corporais, de que setrata neste capítulo, alguém sonegar ou ocultar o cadáver da pessoamorta, será punido com a prisão de três meses a dois anos, salvoquando haja lugar a pena maior, se tiver havido participação nocrime.

CAPÍTULO IVDOS CRIMES CONTRA A HONESTIDADE

SECÇÃO IULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

ARTIGO 390.°

(Ultraje público ao pudor)

o ultraje público ao pudor, cometido por acção, ou a publicidaderesulte do lugar ou de outras circunstâncias de que o crime foracompanhado, e posto que não haja ofensa individuaI da honestidadede alguma pessoa, será punido com prisão até seis meses e multa atéum mês.

SECÇÃO IIATENTADO AO PUDOR, ESTUPRO VOLUNTÁRIO E VIOLAÇÃO

ARTIGO 391.0

(Atentado ao pudor)

Todo O atentado contra o pudor de uma pessoa de um ou outrosexo, que for cometido com violência, quer seja para satisfazerpaixões lascivas, quer seja por outro qualquer motivo, será punidocom prisão.

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§ único - Se a pessoa ofendida for menor de 16 anos, a penaserá em todo o caso a mesma, posto que se não prove a violência.

ARTIGO 392.°

(Estupro)

Aquele que, por meio de sedução, estuprar mulher virgem, maiorde doze e menor de dezoito anos, terá a pena de prisão maior de doisa oito anos.

ARTIGO 393.°

(Violação)

Aquele que tiver cópula ilícita com qualquer mulher, contra suavontade, por meio de violência física, de veemente intimidação, oude qualquer fraude, que não constitua sedução, ou achando-se amulher privada do uso da razão, ou dos sentidos, comete o crime deviolação, e terá a pena de prisão maior de dois a oito anos.

ARTIGO 394.°

(Violação de menor de doze anos)

Aquele que violar menor de doze anos, posto que não se provenenhuma das circuntâncias declaradas no artigo antecedente, serácondenado a prisão maior de oito a doze anos.

ARTIGO 395.0

(Rapto violento ou fraudulento)

o rapto de qualquer mulher com fim desonesto, por meio deviolência física, de veemente intimidação ou de qualquer fraude, quenão constitua sedução, ou achando-se a mulher privada do uso darazão ou dos sentidos, será punido como atentado ao pudor comviolência, se não se consumou o estupro ou violação; e seráconsiderado como circunstância agravante do crime consumado.

§ 1.0 _ O rapto de menor de doze anos com fim desonestoconsidera-se sempre como violento.

§ 2.° - Se por crime de cárcere privado ou de outro se deveremimpor ao criminoso penas mais graves, serão estas aplicadas.

Page 77: Codigo Penal

154

ARTIGO 396.0

(Rapto consentido)

Será considerado como circunstância agravante do estupro orapto de qualquer mulher virgem, maior de doze anos e menor dedezoito anos, da casa ou lugar em que com a devida autorização elaestiver, que for cometido com o seu consentimento; se o estupro,porém, se não consumar, será punido o rapto por sedução com prisãoaté um ano.

ARTIGO 397.0

(Cárcere privado e ocultação de menores)

Em todos os casos em que houver rapto, é aplicável a disposiçãodos artigos 332.° e 344.°, §2.0.

ARTIGO 398.0

(Agravação especial)

Nos crimes de que trata esta secção, as penas serão substituídaspelas imediatamente superiores, se o criminoso for:

1.° - Ascendente ou irmão da pessoa ofendida;2.° - Se for tutor, curador ou mestre dessa pessoa, ou por

qualquer título tiver autoridade sobre ela; ou for encarregado da suaeducação, direcção ou guarda; ou for eclesiástico ou ministro dequalquer culto, ou empregado público de cujas funções dependanegócio ou pretensão da pessoa ofendida;

3.° - Se for criado ou doméstico da pessoa ofendida ou da suafamília, ou, em razão de profissão, que exija título, tiver influênciasobre a mesma pessoa ofendida;

4.° - Se tiver comunicado à pessoa ofendida afeccção sifilíticaou venérea.

ARTIGO 399.0

(Denúncia prévia)

Nos crimes previstos nos artigos antecedentes, não tem lugar oprocedimento criminal sem prévia denúncia do ofendido, ou de seus

155

pais, avós, marido, irmãos, tutores ou curadores, salvo nos casosseguintes:

1.° - Se a pessoa ofendida for menor de doze anos;2.° - Se foi cometida alguma violência qualificada pela lei

como crime, cuja acusação não dependa da denúncia ou da acusaçãoda parte;

3.° - Sendo pessoa miserável ou achando-se a cargo deestabelecimento de beneficiência.

§ único - Depois de dada a denúncia e instaurado o processocriminal, o perdão ou desistência da parte não susta o procedimentocriminal.

ARTIGO 400.0

(Dote da ofendida e efeitos do casamento)

Nos casos de estupro e nos de violação de mulher virgem, ocrimioso será sempre obrigado a dotar a ofendida, ainda quando comela case, sendo a importância do dote fixada pelo tribunal queconhecer da responsabilidade criminal do arguido.

§ 1.0 _ Em qualquer dos casos a que refere este artigo e emtodos os previstos nos artigos antecedentes, o casamento porá termoà acusação da parte ofendida e à prisão preventiva, prosseguindo aacção pública, à revelia, até julgamento final.

§ 2.° - No caso de condenação a pena ficará simplesmentesuspensa e só caducará se, decorridos cinco anos após o casamento,não houver divórcio ou separação judicial por factos somenteimputáveis ao marido, porque, havendo-os, o réu cumprirá a pena.

§ 3.° - Se a licença para o casamento nestas condições fornegada por quem de direito, pertence ao juiz da causa o suprimentodessa licença. 78

" _A disposição do § 3.° está alterada pejo disposto no artigo 187.° n." 3.0 do Código de RegistoCivil, segundo o qual "Da oposição, pode o nubente reclamar para o tribunal de menoresda comarca, mas s6 perante decisão favorável do tribunal será celebrado o casamento".

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stccxo mADULTÉRIO

ARTIGO 40l.°(Adultério) 7.

o adultério da mulher será punido com prisão maior de dois aoito anos.

§ 1.° - O co-réu adúltero, sabedor de que a mulher é casada,será punido com a mesma pena, ficando obrigado às perdas e danosque devidamente se julgarem.

§ 2.° Somente são admissíveis contra o co-réu adúltero as provasdo flagrante delito, ou provas resultantes de cartas ou outrosdocumentos escritos por ele. 80

§ 3.° Não poderá impor-se pena por crime de adultério, senão emvirtude de querela e acusação do marido ofendido.

§ 4.° O marido não poderá impor-se querela senão contra ambosos co-réus, se forem ambos vivos. 81

" - Toda esta secção, portanto, dos artigos 401.0 a 404." foi modificada DOS termos do artigo 61."do Decreto de 3 de Novembro de 1910. segundo o qual: "O adultério do marido ou damulher só será considerado quando correr durante a vida dos cônjuges em comum, e serápunido nos termos dos artigos 401." a 404.° do Código Penal, com as seguintes modificações:§ 1.0 - O adultério do marido será igualado em carácter e gravidade, ao da mulher, mas apena nunca poderá exceder para qualquer deles e respectivo co-réu o máximo da prisãocorreccional, ficando assim alteradas as incriminações e penalidades dos artigos 401." a404.°."§ 2.° - Os §§ 2." e 4.° do artigo 401." são revogados.§ 3." - O direito de queixa e acusação do cônjuge ofendido prescreve pelo lapso de seismeses.§ 4.° - O cônjuge ofendido tem de optar pela acção criminal de adultério, ou pela civil dedivórcio, ou de separação, com base em adultério, não podendo cumulá-las em caso algum,nem servir-se numa delas de elementos obtidos em diligências administrativas ou judiciais,preparatória da outra.§ 5.° - Sendo intentada a acção criminal e terminando pela absolvição do acusado, este,ainda que seja o marido, poderá requerer, sem necessidade de outro título, certidão dasentença da absolvição, que se proceda executoriamente à separação e entrega dos bens quelhes pertencerem.§ 6.° - Neste caso a sentença absolutória decretará, de direito, o divórcio ou a separação depessoas, conforme na contestação o tiver requerido o acusado, entendendo-se que opta pejoseparação em caso de silêncio, e devendo observar-se o disposto no artigo 19.° e seusparágrafos deste decreto.§ 7." - Ficam assim substituídas as disposições do artigo 1 209.° e seus parágrafos doCódigo Civil". (Tratava-se do Código Civil então vigente).

8t) Este parágrafo foi revogado, conforme resulta da nota antecedente.

81 - Este parágrafo esta revogado, conforme resulta do que foi expresso na nota 80.

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ARTIGO 402.°(perdão do marido)

[REVOGADO) S2

O marido não poderá querelar, se perdoou a qualquer dos co-réusou se se reconciliou com a mulher.

§ único - Todo o procedimento cessará pela extinção daacusação do marido, e do mesmo modo o efeito da condenação deambos os co-réus cessará, perdoando o marido a qualquer deles outomando a viver com a mulher.

ARTIGO 403.°(Efeitos da sentença cível)

A sentença passada em caso julgado em causa de divórcio poradultério. sendo obsolutória, produz todos os efeitos na causacriminal.

§ único - Se for condenatória, não prejudica a causa criminal.

ARTIGO 404.0

(Adultério do marido)

O homem casado, que tiver manceba teúda e manteúda na casaconjugal, será condenado na multa de três meses a três anos. 83

§ 1.° - Pelo crime declarado neste artigo somente pode querelara mulher.

§ 2.° - O marido convencido deste crime, ou do crime deexcitação à corrupção de sua mulher, na forma do artigo 405.°, § 1.0,não pode querelar pelo adultério dela.

§ 3.° - O disposto no § 4.° do artigo 401.°, e nos artigos 402.° e403.°, tem aplicação no caso deste artigo. 84

"- Revogado nos termos do artigo 61.° do Decreto de 3 de Novembro de 1910. Ver nota 80.

" - O corpo deste artigo está revogado nos termos do artigo 61.°, do Decreto de 3 de Novembrode 1910, reproduzido na nota 80.

" - Conforme expresso nas notas 80, 82 e 83, quer o 4." do artigo 401.° quer o artigo 402.",foram revogados pelo artigo 61." do Decreto de 3 de Novembro de 1910.

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SECÇÃO IVLENOCÍNIO

ARTIGO 405.°

(Lenocínio)

Se, para satisfazer os desejos desonestos de ontrem, o ascendenteexcitar, favorecer ou facilitar a prostituição ou corrupção de qualquerpessoa sua descendente, será condenado a prisão de um a dois anos emulta correspondente, ficando suspenso dos direitos políticos pordoze anos.

§ 1.0 - O marido, que cometer o mesmo crime a respeito de suamulher, será condenado no máximo do desterro e multa de três mesesa três anos do seu rendimento, ficando suspenso dos direitos políticospor doze anos.

§ 2.° - O tutor ou qualquer outra pessoa encarregada daeducação ou direcção ou guarda de qualquer menor de vinte e umanos, que cometer o mesmo crime a respeito desse menor, serápunido com prisão de seis meses a dois anos e multa correspondente,e suspensão por doze anos do direito de ser tutor ou membro dealgum conselho de fann1ia, e do de ensinar ou dirigir ou concorrer nadirecção de qualquer estabelecimento de instrução.

ARTIGO 406.°

(Corrupção de menores) 8S

Toda a pessoa que habitualmente excitar, favorecer ou facilitar adevassidão ou corrupção de qualquer menor de vinte e um anos, parasatisfazer os desejos desonestos de outrem, será punida com prisãode três meses a um ano e multa correspondente, e suspensão dosdireitos políticos por cinco anos.

as - Ver artigo 25.° do Decreto n," 20 431, de 24 de Outubro de 1931, publicado no B.O. n."35/961.

159

CAPÍTULO VCRIMES CONTRA A HONRA, DIFAMAÇÃO,

CALÚNIA E INJÚRIA

ARTIGO 407.°

(Difamação)

Se alguém difamar outrem publicamente, de viva voz, por escritoou desenho publicado ou por qualquer meio de publicação,imputando-lhe um facto ofensivo da sua honra e consideração, oureproduzindo a imputação, será condenado a prisão até quatro mesese multa até um mês.

ARTIGO 408.°

(prova da verdade dos factos imputados)

Não é admissível prova alguma sobre a verdade dos factosimputados, salvo nos dois casos seguintes:

1.0 - Quando os factos imputados aos empregados públicos, poreles responsáveis, forem relativos às suas funções;

2.° - Quando for imputado a pessoa particular ou empregadopúblico fora do exercício das suas funções um facto criminososobre que houver condenação ainda não cumprida, ou acusaçãopendente em juízo; mas, em um e outro caso, será unicamenteadmissível a prova resultante da sentença em juízo criminal,passada em julgado. No caso de a acusação estar pendente emjuízo, sobrestar-se-á no processo por difamação até final decisãosobre o facto criminoso.

§ único - Para os efeitos unicamente do disposto neste artigo,são equiparados aos empregados públicos os membros responsáveisde qualquer corporação, que exerça autoridade pública.

ARTIGO 409.°

(prova da verdade dos factos e calúnia)

Se em qualquer dos casos declarados no artigo antecedente o

-- - -- --

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160

acusado provar a verdade dos factos imputados, nos termos aíprescritos, será isento de pena. Se não provar a verdade dasimputações, será punido como caluniador com prisão até um ano emulta correspondente.

ARTIGO 410."

(Injúria)

o crime de injúria, não se imputando facto algum determinado,se for cometido contra qualquer pessoa publicamente, por gestos, deviva voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou por qualquer meiode publicação, será punido com prisão até dois meses e multa até ummês.

§ único - Na acusação por injúria não se admite prova sobre averdade de facto algum, a que a injúria se possa referir.

ARTIGO 411."

(Difamação e injúria contra corporação com autoridade pública)

Se os crimes declarados nos artigos 407.° e 410.° foremcometidos contra corporação, que exerça autoridade pública, a penaserá a de prisão até seis meses, no primeiro caso, a do artigo 407.°,no segundo caso.

§ único - Se forem cometidos contra alguma das câmaraslegislativas, a pena será a de prisão até seis meses e multa até um mês.

ARTIGO 412.°

(Difamação e injúria cometidas sem publicidade)

Se nos crimes previstos nos artigos antecedentes não houverpublicidade, a pena será a de multa até dois meses.

ARTIG041r

(Ofensa corporal com intenção de injuriar)

Se alguma ofensa corporal for publicamente cometida contra

161

qualquer pessoa com a intenção de a injuriar, será punida com a penade difamação, cometida com circunstâncias agravantes, salvo se àofensa corresponder pena mais grave, que neste caso será aplicadacomo se no crime concorressem também circunstâncias agravantes.

ARTIGO 414.°(Ofensas à autoridade pública)

A pena de difamação será aplicada àquele que maliciosamentecometer algum facto ofensivo da consideração devida à autoridadepública com o fim de injuriar, salvo quando a ofensa tiver pela leipena mais grave, que neste caso será aplicada como se no crimeconcorressem circunstâncias agravantes.

§ único - A regra deste artigo não terá lugar, quando o crime forcometido na presença das autoridades públicas ou dos ministroseclesiásticos, no exercício do seu ministério, ou nos edifíciosdestinados ao serviço público ou ao culto religioso, ou nos paços reais.

ARTIGO 415.°(Difamação ou injúria contra ascendentes)

Os crimes declarados neste capítulo, cometidos contra o pai oumãe legítimos ou naturais, ou algum dos ascendentes legítimos, serãosempre punidos com o máximo da pena sem prejuízo do disposto noartigo 365.°.

§ único - Se os mesmos crimes forem acompanhados de outrascircunstâncias agravantes, observar-se-ão as regras gerais.

ARTIGO 416.° 86

(Legitimidade para a acção penal nos crimes de difamação e de injúria)

Não poderá ter lugar procedimento judicial pelos crimes dedifamação e de injúria, senão a requerimento da parte, quando estafor um particular ou empregado público individualmente difamadoou injuriado, salvo nos casos declarados no Capítulo II do Título III,deste Livro.

•• _ Os crimes previstos neste capítulo são públicos, quando cometidos em lugar público, nostermos do § único do artigo 36." do Decreto-Lei n." 37 047, de 7 de Setembro de 1948,publicado no Boletim Oficial n.? 16/952.

Page 81: Codigo Penal

162

ARTIGO 417.°

(Difamação ou injúria contra pessoa falecida)

o crime de difamação ou injúria, cometido contra uma pessoa jáfalecida, será punido, se acusar o ascendente ou descendente, oucônjuge, ou irmão ou herdeiro desta pessoa.

ARTIGO 418.°

(Explicações satisfatórias)

Será isento de pena aquele que em juízo der explicaçãosatisfatória da difamação ou injúria de que for acusado, se o ofendidoaceitar essa satisfação.

ARTIGO 419.°

(Difamação ou injúria em discurso ou escrito forense)

Se os discursos em juízo ou os escritos aí produzidos, contiveremdifamação ou injúria, poderão os juízes perante quem pender a causa,suspender até seis meses, e no caso de reincidência por dobradotempo, os advogados ou procuradores que tiverem cometido adifamação ou injúria. Poderão também mandar riscar nos escritos asexpressões difamatórias ou injuriosas.

§ único - Se estas expressões forem relativas a factos estranhosà causa, ou se a difamação ou injúria for de tal natureza ouacompanhada de tais circunstâncias, que aos juízes pareça deverimpor-se pena mais grave, ordenarão provisoriamente a suspensão 'mencionada neste artigo, e remeterão as partes ao juízo competente."

ARTIGO 420.°

(Ultraje à moral pública)

o ultraje à moral pública, cometido publicamente por palavras,será punido com prisão até três meses e multa até um mês.

17 - A competência para suspender os advogados, prevista neste artigo, pertence hoje emexclusivo à Ordem dos Advogados de Angola (cf. art.? 3.°, j) e 74.° e segs. do respectivoEstatuto, aprovado pelo Decreto n,? 28/96, de 13 de Setembro).

163

§ único - Se for cometido este crime por escrito ou desenhopublicado, ou por outro qualquer meio de publicação, a pena será ade prisão até seis meses e multa até um mês.

TÍTULO VDOS CRTIMESCONTRAAPROPIDEDADECAPÍTULO I

DO FURTO E DO ROUBOE DA USURPAÇÃO DE COISA IMÓVEL

SECÇÃO IFURTO

ARTIGO 421.0 ss

(Furto)

Aquele que cometer o crime de furto, subtraindofraudulentamente uma coisa que lhe não pertença, será condenado:

1.0 _ A prisão até seis meses e multa até um mês se o valor dacoisa furtada não exceder a Kz. 1 200.00;

2.0 - A prisão até um ano e multa até dois meses, se exceder aesta quantia, e não for superior a Kz. 6000.00;

3.° - A prisão até dois anos e multa até seis meses, se exceder aKz. 6000.00 e não for superior a Kz. 24000.00;

4.° - A prisão maior de dois a oito anos, com multa até um ano,se exceder a Kz. 24000.00 e não for superior a Kz. 600000.00;

5.° _ A prisão maior de oito a doze anos, se exceder aKz. 600 000.00. 89

§ único - Considera-se como um só furto o total das diversasparcelas subtraídas pelo mesmo indivíduo à mesma pessoa, emboraem épocas distintas.

88 _ Nos termos do § único do artigo 3.° da Lei de 3 de Abril de 1896, publicada no BoletimOficial n." 50/913, no crime de furto a tentativa é sempre punível.

•• _ Os valores referidos neste artigo foram estabelecidos pela Lei n.? 2 138, de 14 de Março de1969 (Boletim Oficial n." 114/969), entretanto, actualizados pelo Decreto-Lei n." 7/00, de 3de Novembro.

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164

ARTIGO 422.°

(Subtracção, destruição ou descaminho de coisa própria depositada)

As penas de furto serão impostas ao que fraudulentamentesubtrair uma coisa que lhe pertença, estando ela em penhor oudepósito em poder de alguém, ou a destruir ou desencaminharestando penhorada ou depositada em seu poder por mandado d~justiça.

ARTIGO 423.°

(Apropriação ilícita de coisa achada)

Aqueles que, tendo achado algum objecto pertencente a outrem,deixarem fraudulentamente de o entregar a seu dono, ou de praticaras diligências que a lei prescreve, quando se ingora o dono da coisaachada, serão condenados às penas de furto, mas atenuadas.

ARTIGO 424.0

(Furto, destruição ou descaminho de processos, livros de registo,documentos ou objectos depositados)

Aquele que furtar algum processo ou parte dele, livro de registoou parte dele, ou qualquer documento, será punido com prisão maiorde dois a oito anos e multa até um ano.

§ 1.0 - A mesma disposição se aplica ao que subtrair um título, I

ou documento ou peça de processo, que tiver produzido em juízo emqualquer causa.

§ 2.° - Se o processo for criminal e nele se tratar de crime, a quea lei imponha alguma das penas maiores, será punido o furto comprisão maior de dois a oito anos e multa até um ano, e, se a pena nãofor alguma das penas maiores, será punido o furto com prisão atédois anos e multa até três meses.

§ 3.° - Se o furto for de papéis ou quaisquer objectosdepositados em depósitos públicos ou estabelecimentos encarregadospela lei de guardar estes objectos, será agravada a pena segundo asregras gerais.

§ 4.° - As disposições deste artigo e seus parágrafos serãoaplicadas ao que desencaminhar ou destruir os referidos papéis ouobjectos.

165

ARTIGO 425.°

(Furto doméstico)

Serão punidos com as penas imediatamente superiores às doartigo 421.°, segundo o valor:

1.° - Os criados que furtarem alguma coisa pertencente a seusamos;

2.° - Os criados que furtarem alguma coisa pertencente aqualquer pessoa na casa de seus amos, ou na casa em que osacompanharem ao tempo do furto;

3.° - Qualquer servidor assalariado ou qualquer indivíduo,trabalhando habitualmente na habitação, oficina ou estabelecimentoem que cometer o furto;

4.° - Os estalajadeiros ou quaisquer pessoas, que recolham ouagasalhem outros por dinheiro ou seus propostos, os barqueiros, osrecoveiros, ou quaisquer condutores ou seus propostos, que furtaremtodo ou parte do que por este título lhes era confiado.

§ 1.0 _ O furto de valor compreendido no n." 5.° do artigo 421.°será punido com pena de prisão maior de doze a desasseis anos.

§ 2.° - No caso de furto de objectos confiados para transporte,se estes se alterarem com substâncias prejudiciais à saúde, serátambém imposta a prisão no lugar do degredo, pelo tempo queparecer aos juízes. 90

ARTIGO 426.°

(Furto qualificado)

O furto será punido, nos termos dos artigos seguintes, quando forqualificado, segundo as regras neles estabelecidas, pelo concurso dealguma ou algumas das seguintes circunstâncias:

1.° - Trazendo o criminoso ou algum dos criminosos nomomento do crime armas aparentes ou ocultas;

2.° - Sendo cometido de noite ou em lugar ermo;

se - A pena de degredo foi eliminada pelo Decreto-Lei n." 39 688, de 5 de Junho de 1954(Reforma de 1954) publicado no Boletim Oficial n." 5 (Suplemento) de 1955, estando,pois, revogado o § 2.0 do artigo 425.° do Código Penal.

- ---~----~

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166

3.° - Por duas ou mais pessoas;4.° - Em casa habitada ou destinada a habitação, em edifício

público ou destinado ao culto religioso, ou em cemitério;5.° - Na estrada ou no caminho público, sendo de objectos que

por ele forem transportados;6.° - Com usurpação de título, ou uniforme, ou insígnia de

algum empregado público, civil ou militar, ou alegando ordem falsade qualquer autoridade pública;

7.° - Com arrombamento, escalamento ou chaves falsas emcasa não habitada nem destinada a habitação. '

ARTIGO 427.·(Agravação do furto qualificado pelas circunstâncias dos n.· 6.· e 7,·

do artigo 426.")

Quando o furto for cometido com qualquer das circunstânciasdeclaradas nos n." 6.° e 7.° do artigo antecedente, será punido com apena do n." 2.° do artigo 42l.°, se o valor da coisa furtada for odeclarado no n." I." do mesmo artigo.

l." - Com a do n.? 3.°, se for o do n." 2.°;2.° - Com a do n." 4.°, se for o do n." 3.°;3.° - Com a do n." 5.°, se for o do n.04.0;4.° - Com prisão maior de doze a desasseis anos, se for o do

n." 5.°.

ARTIGO 428.·(Agravação do furto qualificado por outras circunstâncias)

o furto cometido de noite e acompanhado de qualquer dascircunstâncias seguintes: em casa habitada ou destinada a habitação,ou a edifício público ou destinado ao culto religioso ou em cemitério,ou em estrada ou caminho público, sendo de objectos que por eleforem transportados, ocorrendo, além disso, alguma das outrascircunstâncias enumeradas no artigo 426.°, será punido.:

I." - Com a pena do n." 3.° do artigo. 421.° se o valor da coisafurtada for o declarado n." 1.° do mesmo artigo;

2.° - Com a do n." 4.°, se for o declarado no n." 2.°;3.° - Com a do n." 5.°, se for o declarado no n." 3.°;4.° - Com prisão maior de doze a desasseis anos, se for o do

n." 4.°;

167

5.° - Com pena de prisão maior de desasseis a vinte anos, se foro do n." 5.°

§ único - São aplicáveis as disposições deste artigo ao furtocometido por duas ou mais pessoas, com o concurso de duas ou maisdas restantes circunstâncias enumeradas no artigo 426.°

ARTIGO 429.·(Agravantes gerais)

A aplicação das regras gerais terá sempre lugar quando, emqualquer dos casos declarados nos artigos antecedentes, concorreremalguma ou algumas circunstâncias agravantes.

ARTIGO 430.° 9O-A

(Crime particular de furto)

Em todos os casos declarados nesta secção, não excedendo ofurto a quantia de Kz. 120.000, nem sendo habitual, só terá lugar apena, queixando-se o ofendido.

§ 1.0 _ O que entrar em terreno alheio para colher frutos ecomê-los no mesmo lugar, será punido, queixando-se o ofendido,com a pena de repreensão.

§ 2.° - O que o mesmo modo entrar em terreno alheio pararebuscar ou respigar, não estando ainda recolhidos os frutos, serápreso até seis dias, queixando-se o ofendido.

§ 3.° - Nos casos dos dois parágrafos antecedentes, a pena seráde prisão, se for segunda reincidência, ou se forem habituais oscrimes ai declarados.

ARTIGO 431.·

(Casos em que não tem lugar a acção criminal pelos crimes de furto)

A acção criminal de furto não tem lugar pelas subtraçõescometidas:

1.0 _ Pelo cônjuge em prejuizo do outro, salvo havendoseparação judicial de pessoas e bens;

OO-A. Redacção do Decreto-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro.

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2.° - Pelo ascendente em prejuizo do descendentes:

§ 1.0 - Outra qualquer pessoa, que nestes casos participar nofacto, fica sujeita à responsabilidade penal, segundo a natureza daparticipação.

§ 2.° - A acção da justiça não tem lugar sem queixa doofendido, sendo o furto praticado pelo criminoso contra seusascendentes, irmãos, cunhados, sogros ou genros, madrasta ouenteados, tutores ou mestres, cessando o procedimento logo que osprejudicados o requererem.

SECÇÃO IIROUBO

ARTIGO 432.°(Roubo)

É qualificada como roubo a subtracção da coisa alheia, que secomete como violência ou ameaça contra as pessoas.

§ único - A entrada em casa habitada, com arrombamento,escalamento ou chaves falsas, é considerada como violência contraas pessoas, se elas efectivamente estavam dentro nessa ocasião.

ARTIG043J.O

(Roubo concorrendo com o crime de homicídio)

Quando o roubo for cometido ou tentado, concorrendo o crimed~ homi~ídio será aplicada aos criminosos a pena de prisão maior devinte a vmta quatro anos.

ARTIGO 434.°(Roubo concorrendo com cárcere privado, violação ou ofensas corporais) .,

A pena de p~são maior de 20 a 24 anos será aplicada quando or~ubo !or cometido, concorrendo o crime de cárcere privado ou o deviolação.ou alguma das ofensas corporais, declaradas no artigo 361.°e seu parágrafo.

" - A presente redacção foi introduzida pelo artigo 6.° da Lei n." 8/85, de 10 de Setembro.

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§ 1.0 _ Quando O roubo for cometido em lugar ermo, por duasou mais pessoas, trazendo armas aparentes ou ocultas, qualquer doscriminosos, se da violência resultou ferimento, ou contusão ouvestigo de qualquer ferimento, será punido, segundo a gravidade dosresultados da violência, com prisão maior, nunca inferior a oito anose quatro meses, ou com prisão maior de 12 a 16 anos.

§ 2.° - As tentativas de roubo, nos casos previstos neste artigo e§ 1.0, serão punidas como o crime consumado com circunstânciasatenuantes.

ARTIGO 435.°(Roubo qualificado)"

1.0 _ A pena de prisão maior de 8 a 12 anos será aplicadaquando o roubo for cometido por duas ou mais pessoas fora doscasos declarados no artigo antecedente e seu § 1.0.

2.° - Quando o roubo for cometido com armas de fogo serápunido com pena de prisão maior de 20 a 24 anos.

3.° - Quando o roubo for cometido com usurpação de título, ouuniforme, ou insígnia de algum empregado público civil ou militar,ou alegando ordem de qualquer autoridade pública, a pena será a de12 a 16 anos de prisão maior.

ARTIGO 436.°(Punição dos comparticipantes do roubo)'J

o co-réu, que tiver convocado ou seduzido os outros ou dadoinstruções para o roubo ou dirigido a sua execução, será condenado:

1.0 _ No caso do artigo 433.° e do artigo 434.°, a prisão maior de20 a 24 anos; .

2.° - No caso do § 1.0 artigo 434.°, a prisão maior de 12 a 16anos, ou a prisão maior de 16 a 20 anos, segundo a gravidade dosresultados da violência;

3.° - No caso de § 2.° do artigo 434.°, às penas do crimeconsumado.

., _Redacção introduzida pelo artigo 7.° da Lei n." 8/85, de 10 de Setembro.

,,_ Redacção introduzida pelo artigo 8.° da Lei n." 8/85, de 10 de Setembro.

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4.° - No caso do n." 1 do artigo 435.°, a prisão maior nuncainferior a 8 anos e 4 meses;

5.° - No caso do n." 2 do artigo 435.°, a prisão maior de 20 a24 anos;

6.° - No caso do n." 3 do artigo 435.°, a prisão maior de 16 a20 anos.

ARTIGO 437,°

(Regra geral de punição do roubo)

Fora dos casos declarados nos artigos 433.° a 436.°, seráaplicável a pena imediatamente superior à correspondente ao crimede furto, tendo em atenção o valor da coisa.

ARTIGO 438,°

(Casos em que não tem lugar a acção penal pelo crime de roubo)

É extensiva aos crimes de roubo a disposição do artigo 431.° eseus números e parágrafos, na parte aplicáveL

ARTIGO 439.°

(Furto ou roubo do credor ao devedor para pagamento de dívida)

Se o credor furtar ao roubar alguma coisa pertencente ao seudevedor para se pagar da dívida, esta circunstância não justificaráo facto criminoso, mas será considerada como circunstânciaatenuante.

ARTIGO 440.°

(Extorsão)

Aquele que, por violência ou ameaça, extorquir a alguém aassinatura ou a entrega de qualquer escrito ou título, que contenha ouproduza obrigação ou disposição, ou desobrigação, será punido comas penas declaradas para o crime de roubo, segundo as circunstânciasdo facto.

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ARTIGO 441.°

(Furto ou roubo de objectos sagrados)

Se as coisas furtadas ou roubadas em edifício destinado aoculto, ou em acto religioso, forem objectos sagrados, serãoaplicadas as penas respectivas de furto ou de roubo, no máximo dasua agravação.

ARTIGO 442.°

(Arrombamento, escalamento e chaves falsas)

É arrombamento o rompimento, fractura ou destruição, em todoou em parte, de qualquer construção, que servir a fechar ou impedir aentrada, exterior ou interiormente, de casa ou lugar fechado deladependente, ou de móveis destinadas a guardar quaisquer objectos. Éescalamento a introdução em casa ou lugar fechado, dela dependente,por cima de telhados, portas, paredes, ou de quaisquer construçõesque sirvam a fechar a entrada ou passagem, e bem assim por aberturasubterrânea não destinada para entrada. São consideradas chavesfalsas: 1.0, as imitadas, contrafeitas ou alteradas; 2.°, as verdadeiras,existindo fortuita ou sub-repticiamente fora do poder de quem tiver odireito de as usar; 3.°, as gazuas ou quaisquer instrumentos quepossam servir para abrir fechaduras.

§ único - A subtracção de móvel fechado, que serve àsegurança dos efeitos que contém, e cometida dentro da casa ouedifício, considera-se feita com a circunstância de arrombamento,ainda que o móvel seja aberto ou arrombado em outro lugar.

ARTIGO 443.°

(Uso ou porte de gazua ou outro artifício para abrir fechaduras)

Quando não houver lugar a pena mais grave pelo crimecometido, será condenado:

1.0 - A prisão até três meses e multa até um mês, aquele a quemfor achada gazua ou outro artifício para abrir quaisquer fechaduras;

2.° - A prisão até um ano e multa até dois meses, aquele que emprejuízo de alguém tiver feito uso dessa gazua ou artifício.

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ARTIGO 444.0

(Fabrico de gazuas e artifícios para abrir fechaduras)

Aquele que fizer gazuas ou os referidos artifícios, tais cornofalsificar ou alterar chaves, será condenado a prisão nunca inferior aum ano e a multa até seis meses.

§ único - Se for ferreiro de profissão, sofrerá o máximo daprisão e a multa de seis meses.

SECÇÃO IIIUSURPAÇÃO DE COISA IMÓVELE ARRANCAMENTO DE MARCOS

ARTIGO 445.0

(Usurpação de imóvel)

Se alguém, por meio de violência ou ameaça para com aspessoas, ocupar coisa imóvel, arrogando-se o domínio ou a posse, ouo uso dela, sem que lhe pertençam, será punido com a pena de prisãode três dias a dois anos.

ARTIGO 446.0

(Arrancamento de marcos)

Quaquer pessoa que, sem autoridade da justiça, ou semconsentimento das partes, a que pertencer, arrancar marco, posto emalguma propriedade por demarcação, ou de qualquer modo osuprimir ou alterar, será condenado a prisão de um mês a um ano emulta correspondente.

§ único - Consideram-se marcos quaisquer construções ousinais destinados a estabelecer os limites entre diferentespropriedades, e bem assim as árvores plantadas para o mesmo fim,ou corno tais reconhecidas.

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CAPÍTULonDAS QUEBRAS, BURLAS E OUTRAS

DEFRAUDAÇÕES

SECÇÃO IQUEBRAS

ARTIGO 447.0

(Falência fraudulenta e culposa)[REVOGADO] ••

Aqueles que, nos casos previstos pelo Código Comercial, foremjulgados ter cometido o crime de quebra fraudulenta, serão punidoscom prisão maior de oito a doze anos.

§ 1.0 - Se a quebra for julgada culposa, a pena será a de prisãode três dias a dois anos.

§ 2.° - A mesma pena será aplicada aos cúmplices.

ARTIGO 448.0

(Falência dos corretores)[REVOGADO] 05

Os corretores, que forem julgados ter cometido o crime dequebra ou insolvência fraudulenta , serão punidos com prisão maiorde oito a doze anos, agravada.

ARTIGO 449.0

(Insolvência)[REVOGADO) 96

Todo O devedor não comerciante, que se constituir eminsolvência, ocultando ou alheando maliciosamente os seus bens,será punido com prisão de três meses a dois anos.

•• - Revogado. Ver artigos 1 276." a 1 278.· do Código do Processo Civil." - Revogado. Ver artigos 1 276." a 1 278." do Código do Processo Civil.•• - Revogado. Ver artigos 1 276." a 1 278." do Código do Processo Civil. aplicáveis por força

do artigo 1 315." do referido Código.

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Page 87: Codigo Penal

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sacçxo nBURLAS

ARTIGO 450.0

(Burla)

Será punido com prisão por mais de seis meses, podendo seragravada com a multa, e com suspensão dos direitos políticos pordois anos, segundo as circunstâncias:

1.0 - O que, fingindo-se senhor de uma coisa, a alhear, arrendar,gravar ou empenhar;

2.° - O que vender uma coisa duas vezes a diferentes pessoas,ou seja mobiliária ou imobiliária a coisa vendida;

3.° - O que especialmente hipotecar uma coisa a duas pessoas,não sendo desobrigado do primeiro credor, ou não sendo bastante, aotempo da segunda hipoteca especial, para satisfazer a ambas,havendo propósito fraudulento;

4._° - O que, de qualquer modo, alhear como livre uma coisa,especialmente obrigada a outrem, encobrindo maliciosamente aobrigação.

§ único - É aplicável às infracções previstas neste artigo odisposto no artigo 430.° e no artigo 431. ° e seus parágrafosrelativamente ao furto.

ARTIGO 45l.°

(Burla por defraudação)

Será punido com as penas de furto, segundo o valor da coisafurtada ou do prejuizo causado, aquele que defraudar a outrem,fazendo que se lhe entregue dinheiro ou móveis, ou quaisquer fundosou títulos, por algum dos seguintes meios:

1.0 - Usando de falso nome ou de falsa qualidade;2.° - Empregando alguma falsificação de escrito;3.° - Empregando artifício fraudulento para persuadir a

existência de alguma falsa empresa, ou de bens, ou de crédito, ou depoder supostos, ou para produzir a esperança de qualquer acidente.

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§ 1.° - A pena mais grave de falsidade, se houver lugar, seráaplicada.

§ 2.° - É aplicável às infracções previstas neste artigo o dispostono artigo 430.° e no artigo 431.0 e seus parágrafos relativamente aofurto.

ARTIGO 452.0

(Extorsão e chantagem)

Aquele que por meio de ameaça verbal ou escrita de fazerrevelações ou imputações injuriosas ou difamatórias, ou, a pretextode as não fazer, extorquir a outrem valores, ou coagir a escrever,assinar, entregar, destruir e falsificar, ou, por qualquer modo,inutilizar escrito ou título que constitua, produza ou prove obrigaçãoou quitação, será condenado às penas do furto, agravadas, mas sóterá lugar o procedimento criminal havendo queixa prévia doofendido.

§ 1.0 - Se os valores não foram extorquidos, nem o título ouescrito foi assinado, entregue, escrito, destruído, falsificado, ou porqualquer modo inutilizado, a pena será a do § único do artigo 379.°;

§ 2.° - Aquele que, com o pretexto de crédito, ou influência suaou alheia para com alguma autoridade pública, receber de outremalguma coisa, ou aceitar promessa pelo despacho de qualquernegócio ou pretensão, e bem assim o que receber de outrem algumacoisa, ou aceitar promessa com pretexto de remuneração ou presentea algum empregado público, será punido com o máximo da prisão e amulta até um ano, sem prejuízo da acção que compete ao empregadopúblico pelo crime da injúria.

SECÇÃO IIIABUSOS DE CONFIANÇA, SIMULAÇÕES

E OUTRAS ESPÉCIES DE FRAUDES

ARTIGO 453.0

(Abuso de confiança)

Aquele que desencaminhar ou dissipar, em prejuízo deproprietário, ou possuidor ou detentor, dinheiro ou coisa móvel, ou

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títulos ou quaisquer escritos, que lhe tenham sido entregues pordepósito, locação, mandato, comissão, administração, comodato, ouque haja recebido para um trabalho, ou para uso ou empregodeterminado, ou por qualquer outro título, que produza obrigação derestituir ou apresentar a mesma coisa recebida ou um valorequivalente, será condenado às penas de furto.

§ 1.° - A mesma pena será aplicada aquele que, nos termosdeste artigo, gravar ou empenhar qualquer dos efeitos nelemencionados, quando com isso prejudique ou possa prejudicar oproprietário, possuidor ou detentor;

§ 2.° - É aplicável às infracções previstas neste artigo e seu § 1.0o disposto no artigo 430.° e no artigo 431.° e seus parágrafosrelativamente ao furto.

ARTIGO 454."

(Abuso sobre incapazes)

Aquele que abusar da imperícia, necessidades ou paixões demenor não emancipado, ou de indivíduo interdito, em razão deafecção mental ou de prodigalidade, levando-o a contrair, em seuprejuízo, obrigação verbal ou escrita, ou a subscrever desobrigaçãoou transmissão de direitos, por empréstimo de dinheiro ou de bensmobiliários, ainda que debaixo de outra forma se encubra oempréstimo, será condenado a prisão de três dias a dois anos e multacorrespondente.

ARTIGO 455.°(SimuJação)

Aqueles que fizerem algum contrato simulado, em prejuízo deuma terceira pessoa ou do Estado, serão punidos com prisão de um adois anos, e multa de KzR. 50 000 a KzR. 300 000, dividida pelosco-réus. 96·A

§ único - É aplicável ao crime de simulação, que não seja emprejuízo do Estado, o disposto no artigo 430.° e no artigo 431.° e seusparágrafos relativamente ao furto.

96-A _ A multa é hoje de Kz. 5.00 a Kz. 30.00, nos termos do art." 1.0, n." 2 do Dec.-Lei n." 7/00,de 3 de Novembro.

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ARTIGO 456."

(Fraude nas vendas)[REVOGADO] 97

Será punido com um mês a um ano de prisão e multacorrespondente:

1.0 _ O que enganar o comprador sobre a natureza da coisavendida;

2.° - O que enganar o comprador, vendendo-lhe mercadoriafalsificada, ou géneros alterados com alguma substância posto quenão nociva à saúde, para aumentar o peso ou volume;

3,° _ O que, usando de pesos falsos ou medidas falsas, enganaro comprador.

§ 1.° - Se for ourives de ouro ou de prata, que cometa afalsificação, metendo nas obras que fizer para vender alguma liga porque a lei, bondade e valia do ouro ou prata seja alterada, ouengastando ou pondo pedra falsa ou contrafeita, ou que engane ocomprador sobre o peso ou toque de ouro ou prata, ou sobre aqualidade de alguma pedra, a pena será a prisão de três meses a doisanos e multa correspondente.

§ 2.° - A simples detenção de falsos pesos ou de falsas medidasnos armazéns, fábricas, casas de comércio ou em qualquer lugar, emque as mercadorias estão expostas à venda, será punida com a multade KzR. 10 000 a KzR. 50000.

§ 3.° Consideram-se como falsos os pesos e medidas que a leinão autoriza.

§ 4.° - Os objectos do crime, se pertencerem ainda ao vendedor,serão perdidos a favor do Estado, e bem assim serão perdidos einutilizados os pesos e medidas falsas.

§ 5.° - É aplicável à infracção prevista no n." 1.0 deste artigo odisposto no artigo 430.° e no artigo 431.° e seus parágrafosrelativamente ao furto.

" _ Revogado pelo artigo 47.° da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro, "Lei dos Crimes Contra aEconomia" e substituido pelo artigo 34." da mesma Lei. Entretanto, aquela Lei foisubstituída pela 6/99, de 3 de Setembro.

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ARTIGO 457.°(Contrafeíção)

[REVOGADO] ss

Aquele que cometer o crime de contrafeição, reproduzindo emtodo ou em parte, fraudulentamente e com violação das leis eregulamentos relativos à propriedade dos autores, alguma obraescnta ou de música, de desenho, de pintura, de escultura ouqualquer outra produção, será punido com a multa de 300,00 a3.000,00 e perda dos exemplares da obra contrafeita e de todos osobjectos que serviram para a execução da contrafeita.

,§ 1.~ - A mesma multa, com a perda dos exemplares da obra,sera apl.Icada ao que introduzir em território português uma obraproduzI.da em Portugal, que tiver sido contrafeita em paísestrangeiro.

§ 2.° - O que vender ou expuser à venda a obra assimcontrafeita, será condenado em multa de 100,00 a 1.000,00 e naperda dos exemplares da obra contrafeita.

ARTIGO 458.°(Representação e execução não consentidas de composição musical)

[REVOGADO] .,

. Todo O e~presário ou director de espectáculo ou associação deartistas, que fizer representar no seu teatro alguma obra dramática ouexec~tar c~mposi?ãO musical, com violação das leis e regulamentosrelativos a propnedade dos autores, será punido com a multa de100,00 a 1.000,00 e com a perda do produto da récita.

ARTIGO 459.°(Defraudação dos direitos dos proprietários dos novos inventos)

[REVOGADO] 100

. Toda a defraudação dos direitos dos proprietários dos novosmv~ntos: com violação das leis e regulamentos que lhes respeitam,sera pu~da com a multa de 300,00 a 3.000,00, e perda dos objectosque serviram para a execução do crime.

" - Ver Código dos Direitos de Autor (Lei n.? 4/90, de 10 de Março) .•• - Ver Código dos Direitos de Autor (Lei n.? 4/90).100 _ Ver Código dos Direitos de Autor (Lei n." 4/90).

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ARTIGO 460.°(Indemnização devida pelas defraudações)

[REVOGADO] 101

Nos casos declarados nos artigos antecedentes serão adjudicadosa título de indemnização ao proprietário prejudicado pelo crime osobjectos e receitas perdidos, e se alguma coisa faltar para a suainteira indemnização o poderá haver pelos meios ordinários.

CAPÍTULomDOS QUE ABREM CARTAS ALHEIAS OU PAPÉIS,

E DA REVELAÇAO DOS SEGREDOS

ARTIGO 461.·

(Abertura fradulenta de cartas ou papéis fechados)

Aquele que maliciosamente abrir alguma carta ou papel fechadode outra pessoa, será condenado a prisão até um ano e multa até trêsmeses, se tomar conhecimento dos seus segredos e os revelar; aprisão até seis meses, se os não revelar e a prisão até três meses, senem os revelar, nem deles tomar conhecimento, tudo sem prejuízodas penas de furto, se houverem lugar.

§ 1.° - A disposição deste artigo não é aplicável aos maridos,pais e tutores, quanto às cartas ou papéis de suas mulheres, filhos oumenores que se acharem debaixo da sua autoridade.

§ 2.° - Se o criminoso for criado, feitor ou qualquer outrapessoa habitualmente empregada no serviço da pessoa ofendida, seráa prisão pelo máximo do tempo mencionado neste artigo.

§ 3.0 - Se as cartas ou papéis abertos forem pertencentes aoserviço público e emanados de alguma autoridade pública ou a eladirigidos, ou instrumentos ou autos judiciais, a pena será a de prisãoe multa, nunca inferiores a um ano.

§ 4.° - O procedimento judicial pelos crimes previstos nesteartigo e seu § 2.° depende de participação do ofendido.

101 _ Ver Código dos Direitos de Autor (Lei n." 4/90).

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§ 5.° - Nos casos do § 3.° o procedimento judicial depende daparticipação do funcionário que dirige o serviço público a que ascartas ou papéis abertos forem pertencentes ou dos superiores dessefuncionário, ou da autoridade pública donde forem emanados ou aquem forem dirigidos.

§ 6.° - Quando se trate de instrumentos ou actos judiciais, oprocedimento judicial não dependerá de participação ou de acusaçãoparticular.

ARTIGO 462.°

(Revelação de segredos da indústria)[REVOGADO] 102

Todo O empregado ou operário em fábrica ou estabelecimentoindustrial, ou encarregado da sua administração ou direcção, quecom prejuízo do proprietário descobrir os segredos da sua indústria,será punido com a prisão de três meses a dois anos e multacorrespondente.

CAPÍTULO IVDO INCÊNDIO E DADOS

SECÇÃO IFOGO POSTO

ARTlG046r(Fogo posto em lugar pertencente ao Estado e habitado)

Será condenado na pena de prisão maior de dezasseis a vinteanos, aquele que, voluntariamente, puser fogo, e por este meiodestruir em todo ou em parte:

1.0 - Fortificação, arsenal, armazém, arquivo, fábrica,embarcação pertencentes ao Estado, ou edifício, ou qualquer lugarcontendo, ou destinado a conter, coisas pertencentes ao Estado;

102 _ Revogado pelo artigo 47.0 da Lei n." 9/89, de 11 de Dezembro, "Lei dos Crimes Contra aEconomia" e substituido pelo artigo 20.0 da referida Lei, substituída hoje, por sua vez, pelaLei 6/99, de 3 de Setembro (ver art.? 38.°).

1.° - Embarcação, armazém ou qualquer edifício, dentro ou forado povoado, não habitados nem destinados à habitação;

2.° - Seara, floresta, mata ou arvoredo.

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2.° - Edifício ou qualquer lugar habitado;3.° - Edifício destinado legalmente à reunião de cidadãos;4.° - Edifício destinado à habitação dentro de povoado, posto

que não habitualmente habitado.

§ único - Para os efeitos do disposto neste artigo, n." 2.°,considera-se lugar habitado nos comboios em movimento, ou porocasião de entrarem em movimento, para transportar passageiros,qualquer dos carros do mesmo comboio, ainda que os passageirosnão vão no mesmo cano.

ARTIGO 464.°

(Fogo posto em lugar habitado)

A pena será a de prisão maior de oito a doze anos, se o objecto docrime for:

ARTIGO 465.°

(Nexo de causalidade)

As penas determinadas nos dois artigos antecedentes serãoaplicadas ao que tiver comunicado o incêndio a algum dosobjectos, que neles se enumeram, pondo voluntariamente o fogo aquaisquer objectos colocados, de modo que a comunicaçãohouvesse de ser efeito natural do incêndio destes objectos semacidente imprevisto.

ARTIGO 466.°

(Morte resultante de fogo posto)

Será punido com a pena de prisão maior de vinte a vinte e quatroanos aquele que cometer o crime de incêndio, em qualquer dos casosenumerados nos artigos antecedentes, ocasionando a morte dealguma pessoa que, no momento em que o fogo foi posto, se achavano lugar incendiado.

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ARTIGO 467.0

(Crime frustrado)

As penas do delito frustrado serão aplicadas, quando o fogoposto não chegou a atear-se e a produzir dano, salvo quando ocriminoso tentou mais de uma vez o incêndio, ou que este fosseobjecto de concerto entre muitos criminosos, porque, em tais casos,será punido com as penas dos artigos 463.° e 464.°

ARTIGO 468.°(Fogo posto em coisa própria)

o proprietário que puser fogo à sua própria coisa, será punidonos casos e com as distinções seguintes:

1.0 - Se o objcto incendiado for edifício ou lugar habitado, apena será a determinada no artigo 463.°;

2.° - Em qualquer dos outros casos declarados nos artigos 463.°e 464.°, se o proprietário, pelo incêndio da sua própria coisa, causarvoluntariamente prejuízo em qualquer propriedade de outra pessoa,será punido com as penas do artigo 464.°:

§ 1.0 - Quando o prejuízo ou o propósito de causar o prejuízo,consistir em fazer nascer um caso de responsabilidade para terceiro,ou em defraudar os direitos de alguém, a pena será a de prisão de uma dois anos e multa correspondente;

§ 2.° - Fica salva, em todos os casos, além dos enumeradosnesta secção, a responsabilidade do proprietário que põe fogo à suaprópria coisa, pelos danos e pela violação dos regulamentos depolícia.

ARTIGO 469.0 102.A

(Fogo posto em coisa de menor valor)

Se o valor de algum dos objectos existentes fora de povoado,enumerados no artigo 464.°, não exceder a Kz. 120.00, e o fogo tiversido voluntariamente posto, mas sem perigo, nem propósito depropagação, a pena será a de prisão de um mês a um ano e multacorrespondente.

10'·' _ Redacção do Decreto-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro.

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ARTIGO 470.°(Fogo posto em objectos não especificados)

o incêndio de objectos não compreendidos nesta secção serápunido, aplicando-se as disposições relativas às destruições e danos,com circunstância agravante, segundo as regras gerais.

ARTIGO 471.0

(Submersão, varação e explosão de minas ou máquinas de vapor)

As regras estabelecidas nos artigos antecedentes serão aplicadasnos casos de submersão ou varação de embarcação, explosão demina ou de máquina de vapor ou agente de igual poder.

SECÇÃO IIDANOS

ARTIGO 472.0 102·.

(Dano em edificação ou construção pertencente a outrem)

Aquele que por qualquer meio derrubar ou destruir,voluntariamente, no todo ou em parte, edificação ou qualquerconstrução concluída ou somente começada, pertencente a outrem ouao Estado, será condenado:

1.° - A prisão até dois anos e multa até seis meses, se o valor doprejuízo exceder a Kz.6 000.00;

2.° - A prisão até um ano com multa até três meses, se nãoexceder esta quantia, mas se for superior a Kz. 2 400.00;

3.° - A prisão até seis meses e multa até um mês, se exceder aKz. 600 00, não sendo superior a Kz. 2 400.00;

4.° - A prisão até três meses e multa até quinze dias, se nãoexceder a Kz. 600.00:

§ 1.0 - Se, nos casos previstos no corpo deste artigo, o valor dodano não exceder Kz. 120.00, o procedimento criminal só terá lugarmediante acusação particular, e, nos mesmos casos, dependerá daparticipação do ofendido, se ultrapassar tal valor;

102·' _ Redacção do Decreto-Lei n." 7/00, de 3 de Novembro.

--- -------~- -

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§ 2.° - A segunda reincidência será punida no caso do n.? 4.°com a pena do n." 3.°, no do n." 3.° com a do n." 2.°, no do n." 2.° coma do n." 1.°, no do n." 1.° com a de prisão maior de dois a oito anos;

§ 3.° - Aquele que voluntariamente destruir ou desarranjar, emtodo ou em parte, qualquer via férrea, ou colocar sobre ela algumobjecto, que embarace a circulação, ou que tenha por fim fazer sair ocomboio dos carris, será condenado a prisão maior de dois a oito anos;

§ 4.° - Se de qualquer dos factos indicados no parágrafoantecedente resultar a morte de alguma pessoa, a pena será a deprisão maior de vinte a vinte e quatro anos; se resultar alguma dasofensas corporais especificadas no artigo 361.°, a pena será a deprisão maior de doze a dezasseis anos; se for alguma das designadasno artigo 360.°, a pena será a de prisão maior nunca inferior a trêsanos, sete meses e seis dias;

§ 5.° - A destruição de telégrafo, poste ou linha telegráfica outelefónica, a destruição ou corte de fios, postes ou aparelhostelegráficos ou telefónicos, ou a oposição com violência ou ameaçaao seu estabelecimento, será punida com prisão e multa.

ARTIGO 473.°(Dano em porta, janela, tecto, parede, fosso, vala ou cercado)

São compreendidos nas disposições do artigo antecedente e seus§§ 1.0 e 2.°:

1.° - O que arrombar porta, janela, tecto ou parede de qualquercasa ou edifício;

2.° - O que destruir, em todo ou em parte, parede, fosso, vala ouqualquer cercado:

§ único - É aplicável ao disposto neste artigo o § 1.° do artigo472.°

ARTIGO 474.°(Dano em estátua ou objecto de utilidade ou decoração pública)

Aquele que destruir ou de qualquer modo danificar estátua ououtro objecto, destinado à decoração pública, e colocado pelaautoridade pública, ou com a sua autorização, será punido com aprisão de dois meses a dois anos e multa correspondente.

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ARTIGO 475.°(Oposição à execução de trabalhos autorizados pelo Governo

e dano para impedir o exercício da autoridade)

Será punido com as mesmas penas do artigo antecedente, esalvas as penas de resistência, se houverem lugar:

1.0 - O que por meio de violência se opuser à execução detrabalhos autorizados pelo Governo;

2.° - O que causar dano com o fim de impedir o livre exercícioda autoridade pública, ou por vingança contra os que tiveremcontribuído para a execução das leis.

ARTIGO 476.°(Danos em árvores) 103

Aquele que cortar ou destruir qualquer árvore frutífera ou nãofrutífera, ou enxerto pertencente a outrem, ou a mutilar ou adanificar, de modo que a faça perecer, será condenado na prisão detrês a trinta dias e multa até um mês.

§ 1.0 - Se for mais do que uma árvore ou enxerto, a pena seráimposta multiplicada pelo número das árvores ou enxertosdestruídos, contando que não exceda ao máximo da prisão e multacorrespondente;

§ 2.° - Se a árvore ou árvores eram plantadas em lugar público,em estrada, caminho público ou concelhio, as penas serão em dobro,sem nunca excederem ao máximo da prisão e multa.

ARTIGO 477.°(Dano em seara, vinha, horta, plantação ou viveiro) 104

Aquele que destruir, em todo ou em parte, seara, vinha, horta,plantação, viveiro ou sementeira pertencente a outrem, serácondenado nas penas do artigo 472.0

103 _ Este artigo tem de ser interpretado em conjugação com o artigo 42.0 da Lei n." 9/89, de 11de Dezembro que também prevê o corte ilegal de árvores queimadas. Ver Lei 6/99, de 3 deSetembro, que substituiu a Lei 9/89 e já não prevê como crime contra a economia o corteilegal de árvores e as queimadas

101 • Ver nota anterior.

Page 93: Codigo Penal

186

ARTIGO 478.°

(Dano por meio de assuada, substância venenosa ou corrosiva ou violênciapara com as pessoas)

A destruição ou danificação de efeitos ou propriedades móveis,ou de de quaisquer animais pertencentes a outra pessoa, ou Estado,que se cometer voluntariamente:

1.o - Em assuada;2.° - Empregando substâncias venenosas ou corrosivas;3.° - Com violência para com as pessoas;4.° - Será punida com prisão maior de dois a oito anos.

ARTIGO 479.°

(Danos em animais)

Aquele que voluntariamente matar ou ferir alguma bestacavalar, ou de tiro ou de carga, ou alguma cabeça de gado vacum,ou de rebanho, fato ou vara, pertencente a outra pessoa, ouqualquer animal doméstico das espécies referidas, pertencente aoutra pessoa, será condenado em prisão de um mês a um ano emulta correspondente.

§ 1.° - Se este crime for cometido em terreno de que sejaproprietário, rendeiro ou colono o dono do animal, a pena seráagravada, e impondo-se o máximo no caso em que concorraescalamento ou outra circunstância agravante;

§ 2.° - O procedimento judicial pelo crime previsto neste artigodepende de participação do ofendido.

ARTIGO 480.°

(Morte ou ferimento de animais em terreno do dono)

Aquele que matar ou ferir sem necessidade qualquer animaldoméstico alheio, em terreno de que seja proprietário ou rendeiro oucolono o dono do animal, será condenado na pena de prisão de seisdias a dois meses, e multa até um mês, ou na de desterro até seismeses e na mesma multa.

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§ único - É aplicável às infracções previstas neste artigo odisposto no § 2.° do artigo 479.°

ARTIGO 481.°

(Danos voluntários não previstos especialmente)

Fora dos casos especificados neste capítulo, todos os danoscausados voluntariamente em propriedade alheia móvel, imóvel ousemovente, serão punidos com prisão até seis meses e multa até ummês.

§ único - Não concorrendo circunstância agravante, a pena seráde multa até um mês, a qual será imposta acusando o ofendido, esalva a pena de contravenção, se houver lugar.

saccxo mINCÊNDIO E DANOS CAUSADOS

COM VIOLAÇÃO DOS REGULAMENTOS

ARTIGO 482.Q

(Dano culposo)

Se, pela violação ou falta de observância das providênciaspoliciais e administrativas, contidas nas leis e regulamentos, e semintenção maléfica, alguém causar incêndio ou qualquer dano empropriedade alheia, móvel, semovente ou imóvel, será punido com amulta, conforme a sua renda, de um mês, sem prejuízo das penasdecretadas nas mesmas leis ou regulamentos, pela contravenção.

§ 1.0 - O procedimento judicial pelo crime previsto neste artigodepende de participação do ofendido e ainda da sua acusação noscasos em que, se o dano tivesse sido dolosamente praticado, a acçãodependeria de acusação particular;

§ 2.° - Na falta de participação ou de acusação, apenas haveráprocedimento judicial pela contravenção cometida.

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TÍTULO VIDA PROVOCAÇÃO PÚBLICA AO CRIME

ARTIGO 48J.O

(Provocação pública ao crime)

Aquele que, por discursos ou palavras proferidas publicamente, eem voz alta, ou por escrito de qualquer modo publicado, ou porqualquer meio de publicação, provocar a um crime determinado, semque se siga efeito da provocação, será punido com prisão, e multa detrês meses a três anos, salvo se ao crime, a que provocou, for pela leiimposta uma pena menos grave, a qual será neste caso imposta aoprovocador.

§ único - Se da provocação se seguiu efeito, será o provocadorconsiderado como cúmplice, e ser-lhe-a somente imposta a pena decumplicidade.

TÍTULO VIIDAS CONTRAVENÇÕES DE POLÍCIA

ARTIGO 484.°

(Contravenções de polícia)

Terão inteira observância, no que não for especialmente alteradopor este Código, as leis e regulamentos administrativos e de polícia,actualmente em vigor, que decretam as penas das contravenções desuas disposições

ARTIGO 485.°(Coimas) 105

As coimas continuarão a ser julgadas em todos os casos, em quese acham determinadas, pelas posturas e regulamentos municipais,actualmente em vigor e feitas na conformidade das leis.

'0' _ As transgressões administrativas não têm hoje natureza penal Ver Lei n." 10/87, de 26 deSetembro - Lei Quadro das Transgressões Administrativos.

p----- ------ - --

189

ARTIGO 486.°(Limites aos regulamentos e posturas) 106

Depois da publicação deste código não poderá decretar-se nosregulamentos administrativos e de polícia geral ou municipal, ourural, ou nas posturas das câmaras, sem lei especial que o autorize,pena mais grave que as seguintes:

1.0 - Prisão até um mês;2.° - Multa até Kz. 20.00

§ único - A perda dos objectos e instrumentos apreendidos emcontravenção, só pode ser pronunciada, quando a lei especialmente odecretar.

106 _ A Lei n." 10/87 fixa os limites das multas a estabelecer pelos regulamentos administrativose, conforme a nota anterior, as transgressões administrativas não têm natureza penal e nãosão aplicadas pelos tribunais, mas pelos agentes da administração pública. De qualquermodo, o corpo deste artigo deve ter-se por revogado.

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LEGISLAÇAOCOMPLEMENTAR

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LEI N.o 4/77de 25 de Fevereiro

Lei sobre a prevenção e repressãodo crime de mercenarismo

ARTIGO 1.0

1. - Comete o crime de mercenarismo todo o cidadãoestrangeiro que, mediante o pagamento ou a promessa de pagamentode um soldo, salário ou qualquer outra retribuição material,indi vidualmente ou alistado ou incorporado em grupos armados nãointegrados no exército regular do seu país, vise atentar contra asoberania e a integridade territorial da República Popular de Angola,designadamente atráves de:

a) Acções armadas contra o Exército Nacional, forças para--militares ou população civil;

b) Actos de sabotagem contra quaisquer bens económicos;c) Atentados contra a vida, integridade física ou moral dos

membros dos órgãos do MPLA ou do Estado;d) Qualquer outro acto que ponha em perigo a paz e a

segurança do Povo.

2. - O crime de mercenarismo considera-se consumado com ocontrato ou com o alistamente ou incorporação.

3. - O crime de mercenarismo é punível com a pena de morteou com a pena de 20 a 30 anos de prisão. 1

Revogado quanto à pena que é de 20 a 24 anos de prisão maior. Ver Lei n." 3/78, de 25 deFevereiro. Revogada também a alínea c) do n." 1, no que se refere aos «membros dosorgãos do MPLA" (vd. Lei Constitucional)

~--~--~- --. .- - - -- -- -

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194

4. -- Cumulativamente com o crime de mercenarismo serãopunidos os demais crimes cometidos pelo mercenário após a suaentrada no País.

ARTIGO 2.°

Comete o crime de mercenarismo e está sujeito à mesma pena:

a) Aquele que recrutar, organizar, financiar, equipar, treinarou de qualquer outra forma empregar os mercenáriosreferidos no n." 1 do artigo anterior;

b) Aquele que, no território sob jurisdição ou em qualqueroutro local sob seu controlo, permita que se desenvolvamas actividades referidas na alínea anterior ou concedafacilidades para o trânsito ou transporte dos mercenários;

c) O cidadão estrangeiro em território angolano, desenvolvaqualquer actividade atrás referida, contra outro País.

ARTIGO 3.°

Comete igualmente o crime de mercenarismo o cidadão angolanoque, visando atentar contra a soberania e a integridade territorial deum País estrangeiro ou contra a auto-determinação de um povo,pratique as actividades referidas nos artigos anteriores.

ARTIGO 4.°

1. -- Os mercenários, porque não são combatentes legítímos, nãobeneficiam do estatuto de prisioneiros de guerra. Têm, no entanto,direito a julgamento processado pela forma legal.

2. -- Os mercenários são, para todos os efeitos, criminosos dedireito comum, não sendo atendível qualquer motivação ideológicapara a sua actividade criminosa.

ARTIGO 5.°

1. -- A instrução dos processos pelos crimes previstos napresente Lei, compete à Direcção de Informação e Segurança deAngola, D.I.S.A., e o seu julgamento é da competência do TribunalPopular Revolucionário.'

2 - o TPR foi extinto, tal como a DISA. Ver Lei 18/88 que instituiu o sistema unificado dejustiça.

195

2. -- Será pedida a extradição dos indivíduos que cometam oscrimes previstos na presente Lei e que se encontrem em territórioestrangeiro.

Vista e aprovada pelo Conselho da Revolução.

Promulgada em 5 de Março de 1977.

Publique-se.

O Presidente da República, ANTÓNIO AGOSTINHO NETO.

(Diário da República n." 57, I." série, de 1977).

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LEI N.o7/78de 26 de Maio

LEIDOSCR~ESCONTRAA SEGURANÇA DO ESTADO

PARTE I

DOSC~SCONTRAASEGURANÇAEXTERIOR DO ESTADO 1

ARTIGO 1.0

(Crime contra a segurança exterior do Estado. Traição à Pátria)

Será condenado na pena de 16 a 20 anos de prisão maior todoaquele que:

1. Intentar, por qualquer meio violento ou fraudulento ou comauxílio estrangeiro, entregar a país estrangeiro todo ou parte doterritório angolano, ou por qualquer desses meios, ofender ou puserem perigo a independência, soberania e integridade territorial daRepública Popular de Angola.

2. Sendo angolano, tomar armas sob a bandeira de paísestrangeiro contra a sua Pátria.

A redacção dos artigos 1.°,2.°, 3.°, 6.°, 12.°, 15.°, 16.°, 17.°, 19.°, 20.0, 21.°, 22.°, 24.°, 27.°,e 31.° foi introduzida pela Lei n." 22-C/92, de 9 de Setembro (D.R. n." 36 - I" Série).

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3. Tiver inteligências com um país estrangeiro, ou com seusagentes, com o objectivo de promover ou provocar uma guerra ouacção armada contra a República Popular de Angola.

§ único - No caso do n." 1 do corpo deste artigo, não havendomeio violento ou fraudulento ou auxílio estrangeiro, masverificando-se participação em acção colectiva destinada a excitar aopinião pública ou actividade, quer isolada quer colectiva,concordante com pretensões estrangeiras, a pena aplicável será a de 2a 8 anos de prisão maior.

ARTIGO 2.°(Provocação de medidas prejudiciais à República Popular de Angola)

Todo angolano ou estrangeiro residente em Angola que praticarqualquer acto com a consciência de que poderá determinar um paísestrangeiro a tomar medidas prejudiciais à República Popular deAngola ou aos interesses legítimos de cidadãos angolanos, onde querque eles se encontrem, ou que para esse fim tiver qualquerentendimento com esse país ou com seus agentes, será condenado napena de 16 a 20 anos de prisão maior.

ARTIGO 3.°(Destruição ou danificação de instalações militares, material de guerra ou de

interesse militar)

Todo aquele que, sabendo que compromete a defesa nacional,destruir ou danificar, no todo ou em parte e ainda quetemporariamente, quaisquer instalações ou obras militares, navios,aeronaves, material utilizável pelas forças armadas ou ainda meios decomunicação, estaleiros, instalações portuárias, aeroportos, fábricasou depósitos, será condenado na pena de 12 a 16 anos de prisãomaior no caso de instalações militares e material de guerra e de 8 a12 anos de prisão maior no caso de instalações ou material nãomilitares, mas de interesse militar.

ARTIGO 4.°(Espionagem)

Comete o crime de espionagem, punível com a pena do n." 1.0 doartigo 55.° do Código Penal:

1.° - Todo aquele que conscientemente destruir, falsificar,subtrair ou entregar, a pessoa não autorizada, documentos, planos,

199

modelos, objectos ou escritos que interessem à segurança do Estadoou à condução da sua política internacional.

2.° - Todo aquele que procurar obter informações secretas decarácter militar, diplomático ou económico, relativas à segurança doEstado ou à condução da sua política internacional, que dolosamenteas revele ou facilite o seu conhecimento.

§ 1.0 _ Todo aquele que, em território nacional, acolher ou fizeracolher qualquer espião, conhecendo-o por tal, será condenado napena do n." 3 do artigo 55.° do Código Penal. .' .

§ 2.° - Todo o indivíduo residente em temtóno nacional que,directa ou indirectamente, tiver com nacionais de outros países oucom qualquer pessoa residente em país estrangeiro correpondê~c!aproibida pela lei ou pelo Governo, será condenado à pena de pnsaoaté dois anos.

Se a correspondência for de natureza a pôr em perigo aindependência, a segurança, o crédito ou o prestígio do Estado, apena aplicável será a do n." 5.° do artigo 55.° do Código Penal, se ofacto não constituir crime mais grave.

ARTIGO 5.°(Passagem para país inimigo)

Todo o angolano que, sem autorização do Governo, se passarpara um país inimigo, ou abandonando o ~en·~tório naci?nal ousaindo voluntariamente para esse fim de temtóno estrangeiro, semque todavia ajude, ou tente ajudar de qualq~er modo, o inimigo naguerra contra a sua Pátria, será condenado pnsão de um a dois anos.

§ único - A tentativa deste crime, estando o criminoso noterritório nacional, é punível nos termos gerais.

ARTIGO 6.°(Provocação à guerra e exposição a represálias)

Todo O angolano ou estrangeiro residente em Angola queconscientemente, por actos não autorizados pelo Governo, expuser opaís a uma agressão armada ou expuser os angolanos a represálias daparte de um Estado estrangeiro, será condenado na pena de 16 a 20anos de prisão maior.

1. Se os actos praticados contra um Estado estrangeiro, e nãoautorizados pelo Governo, não acarretarem perigo de agressão

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200

armada ou represálias, mas forem de tal natureza que possamperturbar as relações internacionais da República Popular de Angola,as penas aplicáveis serão as do n." 3 ao n." 4 do artigo 55.0 do CódigoPenal.

2. Será condenado na pena de 16 a 20 anos de prisão maior todoo angolano ou estrangeiro residente em Angola que se concertar comum país estrangeiro ou com os seus agentes para induzir a RepúblicaPopular de Angola a envolver-se numa confrontação armada.

3. O angolano ou estrangeiro residente em Angola que receber ouaceitar a promessa de quaisquer dádivas para facilitar a ilegítimaingerência estrangeira, directa ou indirecta, na política nacional, oupara cometer qualquer acto prejudicial à segurança ou ao bom nomedo Estado, será punido com a pena de prisão até 2 anos, se outra maisgrave não for aplicável. Será punido com a mesma pena o estrangeiroque corromper ou tentar para aqueles fins qualquer cidadãoangolano.

ARTIGO 7.°

(Usurpação de poderes e entrega ilícita de pessoas a Estado Estrangeiro)

1. - Todo aquele que exercer ilicitamente no País, a favor de umEstado estrangeiro ou seus agentes, actos que saiba serem privativosdas autoridades da República Popular de Angola, será condenado napena do n." 5.0 do artigo 55.0 do Código Penal.

2. - Na mesma pena incorrerá todo aquele que em territórionacional praticar actos conducentes à entrega ilícita de qualquerpessoa, nacional ou estrangeira, a um Estado estrangeiro, a agentesdele ou qualquer entidade pública ou particular existente nesseEstado, usando para tais fins de violência ou fraude, salvo se o factoconstituir crime a que deva aplicar-se pena mais grave.

ARTIGO 8.°

(Divulgação de afirmações perigosas)

Todo aquele que em território nacional ou todo o angolano queno estrangeiro fizer ou reproduzir publicamente, ou por qualquerforma divulgar ou tentar divulgar afirmações que sabe serem falsasou grosseiramente deformadas e que façam perigar o bom nome doEstado Angolano ou o seu prestígio no estrangeiro, será condenadona pena do n." 5.0 do artigo 55.0 do Código Penal.

201

ARTIGO 9.°(Disposições relativas a estrangeiros)

1. - Os estrangeiros que se encontrarem ao serviço do EstadoAngolano e que cometerem qualquer dos factos incriminados napresente Parte, serão punidos com as mesmas penas que os cidadãosangolanos.

2. - Sem prejuízo do que se achar estabelecido no direitointernacional sobre imunidades diplomáticas, os estrangeiros que senão encontrarem ao serviço do Estado Angolano e que cometeremqualquer dos factos incriminados na presente parte, serão punidoscom a pena atenuada, se se tratar de pena inferior à do n." 4.0 doartigo 55.0 do Código Penal.

§ único - Os estrangeiros referidos no número anterior, serão,porém, punidos com a mesma pena que os cidadãos angolanos, setiverem entrado ou permanecido em território nacional sem ocumprimento das formalidades legais.

PARTE II

DOS CRIMES QUE OFENDElYIQS INTE}!ESSESDO ESTADO EM RELAÇAO AS NAÇOES

ESTRANGEIRAS

ARTIGO 10.0

(Infidelidade diplomática)

Será condenado na pena do n." 5.0 do artigo 55.0 do CódigoPenal:

1.0 - Aquele que, exercendo funções oficiais relativamente aqualquer negociação com entidades estrangeiras, abusar dos seuspoderes, causando ou podendo causar danos aos interesses do EstadoAngolano, ou assumindo em nome destes compromissos para quenão esteja devidamente autorizado.

2.0 - Aquele que, exercendo funções oficiais relativamente aqualquer negociação com entidades estrangeiras, dolosamenterevelar informações que compromentam, nas referidas negociações,os interesses nacionais.

Page 101: Codigo Penal

202

3.0 - Aquele que, representando o Estado Angolano junto de umEstado estrangeiro ou Organização Internacional, praticar actoscontra ordem ou orientação oficial ou der sobre certos factos comintenção de induzir em erro o Governo Angolano, informaçõesfalsas, ou ocultar informações importantes para o Governo Angolano.

ARTIGO lI."(Arrancamento ou supressão de sinais fronteiriços)

Aquele que dolosamente arrancar, ou por qualquer modosuprimir marcos, ou outros sinais indicativos de território angolano,será condenado na pena de prisão até dois anos.

ARTIGO 12.0

(Ofensas e outros crimes contra governantes e diplomatas estrangeiros)

Quem atentar contra a vida, integridade física, a liberdade ouhonra do Chefe de Estado ou membro do governo estrangeiro,representantes diplomáticos acreditados no país, representantes deorganizações internacionais ou ainda contra seus familiares, que seencontram em território nacional, será condenado na pena previstapara o respectivo crime, agravada nos termos do artigo 93.0 doCódigo Penal.

ARTIGO Ir(Violação de lugares que gozam do direito de extra-territorialidade)

Aquele que, por meio de violência, fraude ou por qualquer outraforma ilícita, entrar ou tentar entrar em lugares que segundo o direitointernacional, gozem do direito de extra-territorialidade, será punidocom a pena do n." 5.0 do artigo 55.0 do Código Penal, sem prejuízo daresponsabilidade por quaisquer outros crimes então cometidos.

ARTIGO 14.0

(Ultraje a símbolo de Estado estrangeiro)

Aquele que arrancar ou destruir a bandeira, a insígnia ou outrosímbolo de um Estado estrangeiro com o qual se mantenham relaçõesdiplomáticas ou cometer qualquer outro acto que revele escárnio oudesprezo para com os mesmos, será condenado na pena de prisão atéum ano.

203

ARTIGO 15.0

(Crime de pirataria)

Qualquer pessoa que, por meios violentos, cometer o crime depirataria, comandando ou tripulando nave ou aeronave, para cometerroubos ou quaisquer violências contra a própria nave ou aeronave oucontra qualquer outra, ou contra pessoas ou bens a bordo dasmesmas, ou para atentar contra a segurança do Estado ou de paísamigo, será condenado na pena de 16 a 20 anos de prisão maior.

Integra o crime de pirataria qualquer dos seguintes factos:

a) o apossamento, por meio de fraude ou violência, de naveou aeronave, visando alguns dos fins a que se refere esteartigo;

b) os actos ilegítimos de violência, ou de fraude, dedetenção ou qualquer depredação, cometidos com finspessoais pelos membros da equipagem ou no ar livre outerritorial contra a própria ou outra nave ou aeronave oucontra as pessoas ou bens que venham a bordo delas;

c) a usurpação do comando de nave ou aeronave nacional oufretada por empresa nacional, seguida de navegação comviolação das normas fundamentais de liberdade e desegurança do tráfico ou com lesão dos interessesnacionais;

d) os sinais de terra, do mar ou do ar que constituammanobras fraudulentas de naufrágio, aportagem,amaragem ou aterragem das naves ou aeronaves, com ofim de atentar contra estas ou contra as pessoas ou bens abordo.

PARTE III

DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇAINTERIOR DO ESTADO

ARTIGO 16.0

(Atentado contra o Chefe de Estado)

1. O atentado contra a vida, a integridade física ou a liberdade doChefe do Estado, será punido com as penas dos n." 2, 4 e 5respectivamente do artigo 55.0 do Código Penal.

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204

2. Havendo consumação do crime, as penas previstas no númeroanterior serão agravadas nos termos do artigo 93.0 do Código Penal.

3. As injúrias ou ofensa à honra e consideração devidas ao Chefedo Estado serão punidas nos termos do artigo 181.0 do Código Penal,considerando-se sempre como feitas directamente e na presença doofendido, agravando-se a pena nos termos do artigo 93.0 do CódigoPenal.

ARTIGO 17.0

(Atentado contra os titulares dos órgãos de soberania)

1. Os crimes previstos no n." 1 do artigo anterior, quandocometidos contra o Presidente da Assembleia da República, membrosdo Parlamento, membros do Governo e Juízes ou o Procurador Geralda República, serão punidos com as mesmas penas previstas na leipenal comum, agravadas nos termos gerais.

2. As injúrias ou ofensa à honra e consideração devidas aosdirigentes indicados no número anterior serão punidas nos termos doartigo 181.0 do Código Penal, agravadas nos termos gerais, masconsiderando-se sempre como feitas directamente e na presença doofendido.

ARTIGO 18.0

(Injúria ou ofensa a dirigentes) 2

A injúria ou ofensa à honra e consideração devidas a qualquerdas pessoas referidas no artigo 17.0 será punida com a pena do n." 5.0

do artigo 55.0 do Código Penal, agravada.

ARTIGO 19.0

(Rebelião)

Aquele que executar qualquer acto tendente, directa ouindirectamente, a mudar no todo ou em parte, por qualquer meio nãolícito, a Lei Constitucional ou a forma de Governo estabelecida, serácondenado na pena de 12 a 16 anos de prisão maior.

a - Revogado pela Lei 22-C/92. As injúrias ou ofensas a dirigentes passaram a ser punidas peloartigo 17.".

205

§ único - Será condenado na pena de prisão maior de 8 a 12anos aquele que, com o mesmo propósito, impedir ou constranger olivre exercício das funções dos órgãos de soberania.

ARTIGO 20.0

(Rebelião armada, motim ou levantamento)

1. Os crimes previstos no artigo anterior, quando cometidos pormeio de rebelião armada, motim ou levantamento, serão punidoscom a pena de 16 a 20 anos de prisão maior.

2. A mesma pena será aplicada aos que incitarem os habitantes doterritório angolano à guerra civil ou a levantarem-se contra aautoridade do Chefe de Estado ou contra o livre exercício dasfunções dos órgãos de soberania.

ARTIGO 21.0

(Sabotagem)

São punidas com a pena de 12 a 16 anos de prisão maior asdestruições ou atentados intencionais que afectem gravemente onormal funcionamento de meios ou vias de comunicação, instalaçõesde serviços ou empresas estatais, ou em que o Estado tenhaparticipação ou interesse, ou ainda outras unidades destinadas aoabastecimento e satisfação das necessidades gerais das populações,incluindo os meios básicos e circulantes desses serviços, empresas ouunidades.

§ único - Quaisquer outras destruições ou atentadosintencionais contra os mesmos bens serão punidos com a pena de 2 a8 anos de prisão maior.

ARTIGO 22.0

(Armas, engenhos e matérias proibidas)

1. Quem, por forma não autorizada, fabricar, introduzir no país,comprar, vender, ceder, transportar ou tiver em seu poder matérias,substâncias ou engenhos inflamáveis, explosivos, asfixiantes,tóxicos, agentes químicos ou biológicos, será condenado com a penade 8 a 12 anos de prisão maior.

Page 103: Codigo Penal

206

2. Qualquer crime praticado através dos meios referidos nonúmero anterior será punido com a pena do crime correspondenteagravada nos termos gerais.

ARTIG02r«<Lock-out» e incitamento à greve) 3

o encerramento ou paralisação de centros de trabalho por parte daentidade patronal ou administração, sem prévia autorização dasautoridades competentes, é punido com a pena de prisão até dois anos.

§ 1.0 - Igual pena é aplicável aos que incitarem, promoverem ouorganizarem o encerramento ou paralisação do centro de trabalho porparte dos trabalhadores.

§ 2.° - A tentativa será sempre punida, sendo os actospreparatórios equiparados à tentativa.

ARTIGO 24.0

(Instigação à desobediência colectiva)

Quem, com a intenção de destruir, alterar ou subverter o Estadode direito constitucionalmente estabelecido, incitar publicamente àdesobediência colectiva de leis de ordem pública ou ao nãocumprimento de deveres inerentes às funções públicas, será punidocom a pena de prisão até 2 anos.

ARTIGO 25.°(Ultraje aos símbolos da Pátria)

Aquele que ultrajar ou por qualquer forma manifestar escárnio oudesprezo pela bandeira, insígnia ou outro símbolo da Pátria, serácondenado na pena de prisão até dois anos.

ARTIGO 26,0(Outros actos)

Todo e qualquer acto, não previsto na lei, que ponha ou possa pôrem perigo a segurança do Estado, será punido com a pena do n." 5.°do artigo 55.° do Código Penal.

J _ Ver artigo 277 ," do Código Penal e respecti va anotação.

207

PARTEIll

DISPOSIÇÕES COMUNS E FINAIS

ARTIGO 27,0

(Instigação, provocação e apologia de crimes contra a Segurança do Estado)

1. Aquele que instigar ou provocar outrém a cometer qualquercrime contra a segurança do Estado, será condenado com a pena deprisão até 2 anos, se não se seguir o efeito da instigação ou daprovocação.

2. A apologia dos crimes contra a segurança do Estado é punidacom a pena de prisão até 2 anos.

ARTIGO 28.°

(Punição de actos preparatórios)

Os actos preparatórios dos crimes contra a segurança do Estadopuníveis com pena superior à do n." 5.° do artigo 55.° do CódigoPenal serão punidos, quando pena mais grave não couber, com prisãode dois a oito anos.

§ único - Se o crime for punível com a pena do n." 5.° do artigo55.0 do mesmo Código, os actos preparatórios serão punidos compena de prisão até dois anos.

ARTIGO 29.°

(Conjura)

A conjura ou conspiração para a perpretação dos crimes contra asegurança do Estado será punida, se pena mais grave não forestabelecida pela lei, com a pena do n." 5 do artigo 55.° do CódigoPenal, quando seguida de algum outro acto preparatório de execução,ou com a pena de prisão até dois anos se não se tiver seguido algumacto preparatório.

§ único - Se a conspiração tomar a forma de associação ilícitaou organização secreta com vista ao incitamento ou execução de

Page 104: Codigo Penal

208

qualquer daqueles crimes, será aplicável, independentemente dapreparação de qualquer acto preparatório, a pena do n." 5.° do artigo55.° do Código Penal; os dirigentes ou promotores da associação ouorganização serão punidos com a pena do n." 4.° do artigo 55.° domesmo Código.

ARTIGO 30.0

(Agravação e crimes culposos)

1. Serão agravadas as penas previstas nesta lei, podendo seraplicadas as penas superiores na escala penal, quando os crimesforem cometidos por cidadãos angolanos que, em razão das suasfunções, tenham maior facilidade em cometer ou especial obrigaçãode os não praticar.

2. Quando os crimes previstos nesta lei forem praticados commera negligência, a pena aplicável será de prisão até dois anos.

ARTIGO 31.0

(penas acessórias)

A condenação por crimes contra a segurança do Estado poderáser acompanhada das seguintes penas acessórias:

1. Multa até ao máximo do correspondente a oito anos.2. Se o criminoso for angolano, pena de suspensão temporária

dos direitos políticos.3. Se o criminoso for estrangeiro, expulsão do território nacional,

se pela natureza do crime ou pelas características pessoais docriminoso se mostrar que a sua permanência no país é indesejável.

a) em todos os casos de aplicação de pena de privação daliberdade, esta implica a privação dos direitos políticospor tempo igual.

b) a expulsão do território nacional executar-se-á depois decumprida a pena principal, ou antes, mediante decisão doGoverno a esse respeito.

209

ARTIGO 32.0

(Abandono de execução)

Aquele que tiver tido alguma participação num crime contra asegurança do Estado e revelá-lo voluntariamente às autoridades,antes do começo da sua execução ou a tempo de evitar as suasconsequências, ficará isento da pena.

ARTIGO 33.0

(Alternativa de pena de morte)[REVOGADO] 4

A alternativa de pena de morte por fuzilamento, prevista naredacção que ao n." 1 do artigo 55.° do Código Penal é dada pela Lein.? 3/78, é aplicável a todos os crimes previstos na presente leipuníveis com a pena do n." 1 do artigo 55.0 do referido Código.

ARTIGO 34.0

(Revogação de legislação)

É revogado o Título II do Livro II do Código Penal, bem comotoda a legislação que contrarie o disposto na presente lei.

ARTIGO 35.0

(Entrada em vigor)

Esta lei entra em vigor cinco dias após a sua publicação noDiário da República.

Visto e aprovado pelo Conselho da Revolução.

Publique-se.

o Presidente da República, ANTÓNIO AGOSTINHO NETO.

(Diário da República n." 136, I." série, de 1978)

4 _ Revogado pela Lei Constitucional. Ver artigo 2.° da Lei 22-C/92 .

. ~--_.~- --------

Page 105: Codigo Penal

Decreto- Lei D.o 7/00de 3 de Novembro

Artigo 1.0 - 1. Os valores estabelecidos no Código Penal edemais legislação penal avulsa, com excepção dos valores relativosàs multas, expressos em Kwanzas Reajustados, são actualizadosmultiplicando-os pelo factor 0,6.

2.° Os valores relativos às multas estabelecidos no Código Penale demais legislação penal avulsa, expressos em KwanzasReajustados são actualizados multiplicando-se pelo factor 0,1.

Art." 2.° - De acordo com o disposto no artigo anterior, osartigos 63.°, 123.°, 421.°, 430.°, 469.° e 472.° do Código Penalpassam a ter a seguinte redacção.

ARTIGO 63."

(Multa)

A pena de multa consiste no pagamento:

a) de quantia determinada ou a fixar' entre um mínimo e ummáximo declarados na lei;

b) de quantia proporcional aos proventos do condenado, pelotempo que a sentença fixar até dois anos, não sendo, por diainferior a Kz. 2.00 nem inferior a Kz. 40.00.

§ 1.0 _ Os limites estabelecidos na alínea b) deste artigo serãoelevado ao triplo:

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212

1.° - Se a infracção tiver sido cometida com fim de lucro.2.° - Se, em virtude da situação económica do réu dever

reputar-se ineficar a multa dentro dos limites normais.

§ 2.° - O quantitativo de pena de multa fixada em sentença nãopode ser acrescido de quaisquer adicionais.

§ 3.° - Da importância de todas as multas aplicada em processopenal, incluindo as resultantes de conversão da pena de prisão,revertará metade para a Fazenda Nacional e metade para o CofreGeral de Justiça.

ARTIGO 123.°(Conversão e substituição da pena de multa)

A pena de multa, na falta de bens suficientes e desembaraçados,pode ser modificada na sua execução:

1.0 - Pela conversão em prisão por tempo correspondente;2.° - Pela substituição por prestação de trabalho.

§ único: - Quando a multa for de quantia taxada pela lei, seráconvertida em prisão à razão de Kz. 5.00 por dia, não excedendo asua duração dois anos no caso de multa aplicada por qualquer crimee seis meses no caso de multa aplicada a contravenções previstas nalei.

A taxa diária de conversão da multa em prisão não será, porém,inferior à que resultar da divisão do seu total pelo máximo de tempoem que pode ser convertida a pena de multa.

ARTIGO 421.0

(Furto)

Aquele que cometer o crime de furto, subtraindofraudulentamente uma coisa que lhe não pertença, será condenado:

1.° - A prisão até seis meses e multa até um mês, se o valor dacoisa furtada não exceder a Kz. 1 200.00;

2.° - A prisão até um ano e multa até dois meses, se exceder aesta quantia e não for superior a Kz. 6000.00;

3.° - A prisão até dois anos e multa até seis meses, se exceder aKz. 6 000.00 e não for superior a Kz. 24 000.00;

------ - ------------- ---~

213

4.° - A prisão maior de dois a oito anos, com multa até um ano,se exceder a Kz. 24 000.00 e não for superior a Kz. 600 000.00.

5.° - A prisão maior de oito anos a doze anos, se exceder a Kz.600000.00.

§ único - Considera-se como um só furto o total das diversasparcelas subtraídas pelo mesmo indivíduo à mesma pessoa, emboraem épocas distintas.

ARTIGO 430.°

(Crime particular da furto)

Em todos os casos declarados nesta secção não excedendo o furtoa quantia de Kz. 120.00 nem sendo habitual, só terá lugar a pena,queixando-de o ofendido.

§ 1.0 _ O que entrar em terreno alheio para colher frutos ecomê-los no mesmo lugar, será punido queixando-se o ofendido, coma pena de repreensão.

§ 2.° - O que do mesmo modo entrar em terreno alheio pararebuscar ou respigar, não estando ainda recolhidos os frutos, serápreso até seis dias, queixando-se o ofendido.

§ 3.° - Nos casos dos dois parágrafos antecedentes, a pena seráde prisão, se for segunda reincidência ou se forem habituais oscrimes aí declarados.

ARTIGO 469.°

(Fogo posto em coisa de menor valor)

Se o valor de algum dos objectos existentes fora de povoado,enumerados no artigo 464.°, não exceder a Kz. 120.00, e o fogo tiversido voluntariamente posto, mas sem perigo, nem propósito depropagação, a pena será a de prisão de um mês a um ano e multacorrespondente.

ARTIGO 472.0

(Dano em edificação ou construção pertencente a outrem)

Aquele que por qualquer meio derrubar ou destruirvoluntariamente, no todo ou parte, edificação ou qualquer construção

Page 107: Codigo Penal

214

concluída ou somente começada, pertencente a outrem ou ao Estado,será condenado.

1.° - A prisão até dois anos e multa até seis meses, se o valor doprejuízo exceder a Kz. 6 000.00;

2.° - A prisão até um ano e multa até três meses, se não excederesta quantia mas se for superior a Kz. 2 400.00;

3.° - A prisão até seis meses e multa até um mês se exceder aKz. 600.00, não sendo superior a Kz. 2 400.00;

4.° - A prisão até três meses e multa até 15 dias, se exceder aKz.600.00.

§ 1.0 - Se, nos casos previstos no corpo deste artigo, o valor dodano não exceder a Kz. 120.00, o procedimento criminal só terálugar mediante acusação particular e, nos mesmos casos, dependeráda participação do ofendido, se ultrapassar tal valor.

§ 2.° - A segunda reincidência será punida no caso do n." 4 coma pena do n." 3.°, no do n." 3.° com a do n." 2.°, no do n." 2.° com a don." 1.0,no do n." 1.0com a de prisão maior de dois a oito anos.

§ 3.° - Aquele que voluntariamente destruir ou desarranjar, emtodo ou em parte, qualquer via férrea, ou colocar sobre ela algumobjecto, que embarace a circulação, ou que"tenha por fim fazer sair ocomboio dos carris, será condenado a prisão maior de dois a oitoanos.

§ 4.° - Se de qualquer dos factos indicados no parágrafoantecedente resultar a morte de alguma pessoa, a pena será a deprisão maior de vinte a vinte e quatro anos; se resultar alguma dasofensas corporais especificadas no artigo 361.°, a pena será a deprisão maior de doze a dezasseis anos; se for alguma das designadasno artigo 360.°, a pena será a de prisão maior nunca inferior a trêsanos, sete meses e seis dias.

§ 5.° - A destruição de telégrafo, poste ou linha telegráfica outelefónica, a destruição ou corte de fios, postes ou aparelhostelegráficos ou telefónicos, ou a oposição com violência ou ameaçaao seu estabelecimento, será punida com prisão e multa.

Art.° 3.° - Este diploma entra em vigor na data da suapublicação e salvo no que se refere às multas, aplica-se a todos osprocessos em curso, inclusive aos que tenham subido em recurso.

215

Visto e aprovado em Conselho de Ministros, em Luanda, aos 28de Abril de 2000.

Publique-se.

o Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

Page 108: Codigo Penal

-------------- --=- - .. -- -

ÍNDICE SISTEMÁTICOCÓDIGO PENAL

LIVRO PRIMEIRODisposições gerais

TÍTULO IDos crimes em geral e dos criminosos

CAPÍTULO IDisposições preliminares

CAPÍTULO IIDa criminalidade

CAPÍTULO IIIDos agentes do crime

CAPÍTULO IVDa responsabilidade criminal

7

9

11

14

TÍTULO IIDas penas e seus efeitos e das medidas de segurança

CAPÍTULO IDas penas e das medidas de segurança

CAPÍTULO IIDos efeitos das penas

27

37

TÍTULO IIIDa aplicação e execução das penas

CAPÍTULO IDa aplicação das penas em geral 40

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218

CAPÍTULO IIDa aplicação das penas quando há circunstâncias agravantesou atenuantes

CAPÍTULO IIIDa aplicação das penas nos casos de reincidência, sucessão,acumulação de crimes, cumplicidade, delito frustrado etentativa

CAPÍTULO IVDa aplicação das penas em alguns casos especiais

CAPÍTULO VDa execução das penas e medidas de segurança

CAPÍTULO VIDa extinção da responsabilidade criminal

TÍTULO IVDisposições transitórias

LIVRO SEGUNDODos crimes em especial

TÍTULO IDos crimes contra a religião do reino e dos cometidos por abuso

de funções religiosas

CAPÍTULO IDos crimes contra a religião do reino

CAPÍTULO IIDos crimes cometidos por abuso de funções religiosas

TÍTULO IIDos crimes contra a segurança do Estado

TÍTULO IIIDos crimes contra a ordem e tranquilidade pública

CAPÍTULO IReuniões criminosas, sedição e assuada

219

SECÇÃO IDisposição geral 70

42 SECÇÃO IISedição 71

SECÇÃO III72Assuada

45 CAPÍTULO IIInjúrias e violências contra as autoridades públicas, resistência

7247 e desobediência

49 SECÇÃO IInjúrias contra as autoridades públicas 72

54 SECÇÃO IIActos de violência contra as autoridades públicas 73

SECÇÃO III7558 Resistência

Secção IV76Desobediência

CAPÍTULO IIIDa tirada e fugida de presos e dos que não cumprem as suascondenações 77

SECÇÃO I77Tirada e fugida de presos

SECÇÃO II7963 Dos que não cumprem as suas condenações

66 CAPÍTULO IVDos que acolhem malfeitores 79

CAPÍTULO VDos crimes contra o exercício dos direitos políticos 80

69 CAPÍTULO VIDas falsidades 83

SECÇÃO IDa falsidade da moeda, notas de bancos nacionais e de algunstítulos do Estado 83

SECÇÃO II8670 Da falsificação dos escritos

Page 110: Codigo Penal

220

ssccso mDa falsificação dos selos, cunhos e marcas

SECÇÃO IVDisposição comum às secções antecedentes deste capítulo

SECÇÃO VDos nomes, trajos, empregos e títulos supostos ou usurpados

SECÇÃO VIDo falso testemunho e outras falsas declarações perante aautoridade pública

CAPÍTULO VIIDa violação das leis sobre inumações e da violação dostúmulos e dos crimes contra a saúde pública

SECÇÃO IDa violação das leis sobre inumeções e violação dos túmulos

SECÇÃO IIDos crimes contra a saúde pública

CAPÍTULovmDas armas, caças e pescarias defesas

SECÇÃO IArmas proibidas

SECÇÃO IICaças e pescarias defesas

CAPÍTULO IXDos vadios e mendigos e das associações de malfeitores

SECÇÃO IVadios

SECÇÃO IIMendigos

SECçÃOmAssociação de malfeitores

CAPÍTULO XDos jogos, lotarias, convenções ilícitas sobre fundos públicos eabusos em casas de empréstimos sobre penhores

SECÇÃO IJogos

91

93

93

95

98

98

99

101

101

102

103

103

104

105

106

106

221

SECÇÃO IILotarias

SECçÃOmConvenções ilícitas sobre fundos públicos

SECÇÃO IVAbusos em casas de empréstimos sobre penhores

CAPÍTULO XIDo monopólio e do contrabando

SECÇÃO IMonopólio

SECÇÃO IIContrabandos e descaminhos

CAPÍTULO XIIDas associações ilícitas

SECÇÃO IAssociações ilícitas por falta de autorização

SECÇÃO IIAssociações secretas

CAPÍTULoxmDos crimes dos empregados públicos no exercício de suasfunções

SECÇÃO IPrevaricação

SECÇÃO IIAbuso de autoridade

SECçÃOmExcesso de poder e desobediência

SECÇÃO IVIlegal antecipação, prolongação e abandono das funçõespúblicas

SECÇÃO VRompimento de selos e descarninho de papéis guardados nosdepósitos públicos ou confiados em razão de emprego público

SECÇÃO VIPeculato e concussão

108

109

110

110

110

112

113

113

113

114

114

116

120

122

124

125

Page 111: Codigo Penal

222

SECÇÃO VIIPeita, suborno e corrupção

SECÇÃO VIIIDisposições gerais

TÍTULO IVDos crimes contra as pessoas

CAPÍTULO IDos crimes contra a liberdade das pessoas

SECÇÃO IViolências contra a liberdade

SECÇÃO IICárcere privado

CAPÍTULO IIDos crimes contra o estado civil das pessoas

SECÇÃO IUsurpação do estado civil e matrimónios supostos eilegais

SECÇÃO IIPartos supostos

SECÇÃO IIISubtracção e ocultação de menores

SECÇÃO IVExposição e abondono de infantes

CAPÚTULO IIIDos crimes contra a segurança das pessoas

SECÇÃO IHomicídio voluntário, simples e agravado eenvenenamento

SECÇÃO IIHomicídio voluntário agravado pela qualidade das pessoas

SECÇÃO IIIAborto

SECÇÃO IVFerimentos, contusões e outras ofensas corporaisvoluntárias

128

131

132

132

133

141

134

134

135

136

137

138

138

140

141

223

SECÇÃO VHomicídio, ferimentos e outras ofensas corporaisinvoluntárias 145

SECÇÃO VICausas de atenuação nos crimes de homicídio voluntárioferimentos e outras ofensas corporais ' 146

SECÇÃO VIIHomicídios, ferimentos e outros actos de força que não sãoclassificados crimes 148

SECÇÃO VIIIAmeaças e introdução em casa alheia 149

SECÇÃO IXDuelo 150

SECÇÃO XDisposição comum às secções deste capítulo 152

CAPÍTULO IVDos crimes contra a honestidade 152

SECÇÃO IUltraje público ao pudor 152

SECÇÃO IIAtentado ao pudor, estupro voluntário e violação 152

SECÇÃO IIIAdultério 156

SECÇÃO IVLenocínio 158

CAPÍTULO VCrimes contra a honra, difamação, calúnia e injúria 159

TÍTULO VDos crimes contra a propriedade

CAPÍTULO IDo furto e do roubo e da usurpação de coisa imóvel 163

SECÇÃO IFurto

SECÇÃO IIRoubo

163

168

Page 112: Codigo Penal

224

SECÇÃO IIIUsurpação de coisa imóvel e arrancamento de marcos 172

CAPÍTULO IIDas quebras, burlas e outras defraudações 173

SECÇÃO IQuebras 173

SECÇÃO IIBurlas 174

SECÇÃO IIIAbusos de confiança, simulações e outras espécies de fraude 175

CAPÍTULO IIIDos que abrem cartas alheias ou papéis e da revelação dossegredos 179

CAPÍTULO IVDo incêndios e danos 180

SECÇÃO IFogo posto 180

SECÇÃO IIDanos 183

SECÇÃO IIIIncêndio e danos causados com violação dos regulamentos 187

TÍTULO VIDa provocação pública ao crime 188

TÍTULO VIIDas contravenções de polícia 188

LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR

• Lei n.o 4/77de 25 de Fevereiro

• LEI N.o 7/78de 26 de Maio

• DECRETO-LEI N.o 7/00de 3 de Novembro

193

197

211