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06/04/14 ar ti gos daleth.cj f.j us.br /rev ista/numer o7/artig o6.htm 1/32 DIREITO PENAL Crim es contra a Adminis tração P úbli ca  Paulo de Tarso Di as Klautau RESUMO Trata dos crimes contra a Administração Pública a partir da conceituação doutrinária de Administração Pública e de funcionário público. Traça as principais diferenças entre tais tipos penais, ressaltando o que se encontra em vigor e o que veio a ser revogado por leis especiais. Traz, ainda, um apanhado jurisprudencial correspondente à interpretação que os tribunais pátrios vêm dando à matéria.   ABSTR ACT  It discus ses the cri mes agains t Public Admini stration as those about the doctrinal con ceptualiz ation of Public Administration and of the government employee.  It outlines the main di ff erences among such penal types, emphasizi ng what is in force and what came to be rev oked by special l aws.  It brings , still , a jurispru dential s ummary correspond ing to the interpretation which the national Courts are giving to the subject.  Do alto de sua genialidade, nos Comentários ao Código Penal  de 1940, ao abrir a parte concernente aos crimes contra a Administração Pública, como que antevendo, inclusive, as alterações terminológicas que o dinamismo da vida em sociedade determinam, como fatos sociais para repercutir na órbita do Direito, escreveu o insuperável Nelson Hungria:  A objeti vi dade jurídi ca dos cri mes de que ora vamo-nos ocupar é o interesse da normalidade funcional, probidade, prestígio, incolumidade e decoro da  Administração  Pública. Como di sser ta Von List, à exteriorização da per sona lidade i ndivi dual, ao pleno e livre desenvolvimento das energias vitais do indivíduo, corresponde, como manifestação da vida coletiva, a complexa atuação administrativa do Estado: a  Admini stração Públi ca. Em sentido lato (que é o jurídi co-penal), Admi ni stração Públi ca é a atividade do Estado, de par com a de outras entidades de Direito Público, na consecução de seus fins, quer no setor do Poder Executivo (Administração Pública no  senti do estri to), quer no do Legislati vo ou do Judici ário. Segu * ndo pre cisa defi nição de Costa e Silva, Administração Pública é "o conjunto das funções exercidas pelos vários órgãos do Estado, em benefício do bem-estar e do desenvolvimento da sociedade". Onde

Código Penal e Legislação Extravagante sobre os tipos penais relativos ao Servidor

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    DIREITO PENAL

    Crimes contra a Administrao Pblica

    Paulo de Tarso Dias Klautau

    RESUMO

    Trata dos crimes contra a Administrao Pblica a partir da conceituao doutrinria de Administrao

    Pblica e de funcionrio pblico.

    Traa as principais diferenas entre tais tipos penais, ressaltando o que se encontra em vigor e o que veio a

    ser revogado por leis especiais.

    Traz, ainda, um apanhado jurisprudencial correspondente interpretao que os tribunais ptrios vmdando matria.

    ABSTRACT

    It discusses the crimes against Public Administration as those about the doctrinal conceptualizationof Public Administration and of the government employee.

    It outlines the main differences among such penal types, emphasizing what is in force and what came

    to be revoked by special laws.

    It brings, still, a jurisprudential summary corresponding to the interpretation which the national

    Courts are giving to the subject.

    Do alto de sua genialidade, nos Comentrios ao Cdigo Penal de 1940, ao abrir a parteconcernente aos crimes contra a Administrao Pblica, como que antevendo, inclusive, asalteraes terminolgicas que o dinamismo da vida em sociedade determinam, como fatossociais para repercutir na rbita do Direito, escreveu o insupervel Nelson Hungria:

    A objetividade jurdica dos crimes de que ora vamo-nos ocupar o interesse danormalidade funcional, probidade, prestgio, incolumidade e decoro da AdministraoPblica. Como disserta Von List, exteriorizao da personalidade individual, ao plenoe livre desenvolvimento das energias vitais do indivduo, corresponde, comomanifestao da vida coletiva, a complexa atuao administrativa do Estado: aAdministrao Pblica. Em sentido lato (que o jurdico-penal), Administrao Pblica a atividade do Estado, de par com a de outras entidades de Direito Pblico, naconsecuo de seus fins, quer no setor do Poder Executivo (Administrao Pblica no

    sentido estrito), quer no do Legislativo ou do Judicirio. Segu*ndo precisa definio deCosta e Silva, Administrao Pblica "o conjunto das funes exercidas pelos vriosrgos do Estado, em benefcio do bem-estar e do desenvolvimento da sociedade". Onde

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    quer que haja o desempenho de um cargo oficial ou o exerccio de uma funo pblica,a poder ser cometido o especfico ilcito penal de quo agitur, seja por aberranteconduta das prprias pessoas integrantes na rbita administrativa, isto , osfuncionrios pblicos (agentes do Poder Pblico, empregados pblicos, intranei), sejapela ao perturbadora de particulares (extranei). (HUNGRIA, 1958. p. 311).

    Relembro, em promio, as lies do inolvidvel Mestre de Direito Penal, como reafirmaode que a via mais correta para o conhecimento dos tipos legais de crimes definidos nasvrias esferas de previso criminal , e ser sempre, ter em linha de conta o bem jurdicotutelado. E, no particular dessa abordagem, inequivocamente, o exato sentido dasentidades delitivas que compem basicamente o ttulo XI da Parte Especial do CdigoPenal vigente e mais as alteraes posteriores, s ser alcanado, antes de mais nada, sechegar-se a um entendimento hodierno sobre o que representa a Administrao Pblica.

    Fixe-se, pois, o que no novidade, mas de mister que se o reitere, que o ttulo XI daParte Especial do Cdigo Penal vigorante tem, como bem jurdico protegido, em seusentido mais elstico, a Administrao Pblica, bem delineado na mensagem de NelsonHungria e, qual, por necessidade de maiores elucidaes, se aditaro outras mais nodesdobramento desta troca de idias. Alis, o tpico informativo da elasticidade doconceito de Administrao Pblica, para os objetivos penais, ratificado pelanomenclatura atribuda aos trs captulos que integram o mencionado ttulo XI, que sededica aos crimes contra a Administrao Pblica, a saber: captulo I Dos crimespraticados por funcionrio pblico contra a Administrao em geral (arts. 312 a 327);captulo II Dos crimes praticados por particular contra Administrao em geral (arts.328 a 337); e captulo III Dos crimes praticados contra a Administrao da Justia (arts.338 a 359).

    De permeio, para, em seguimento, retornar-se questo atinente contempornea eescorreita noo de Administrao Pblica, aconselhvel se afigura, at como corolrio efundamento do que se alvitra, que se rememorem alguns ngulos concernentes ao conceitode bem jurdico. imperiosa a assero de que, no campo, reina alguma controvrsia, oque, todavia, no alija, de nenhuma forma, o postulado central do Direito Criminal de queo delito ou crime lesa ou ameaa de leso os bens jurdicos.

    Sobre o enfoque, originariamente, com base na mais pura tradio neokantiana, de matrizespiritualista, procura-se conceber o bem jurdico como valor cultural entendida acultura no sentido mais amplo, como um sistema normativo. Os bens jurdicos tm comofundamento valores culturais que se baseiam em necessidades individuais. Estas seconvertem em valores culturais e transformam-se em bens jurdicos quando a confianaem sua existncia surge necessitada de proteo jurdica.

    A seu turno, no sentido objetivista, Welzel considera o bem jurdico como um bem vital dacomunidade ou do indivduo que, por sua significao social, protegido juridicamente.(WELZEL-HANS, 1970. p. 15). No dizer de Polaino Navarrete, o bem ou valormerecedor da mxima proteo jurdica, cuja outorga reservada s prescries doDireito Penal. Bens e valores mais consistentes da ordem de convivncia humana emcondies de dignidade e progresso da pessoa em sociedade. (NAVARRETE, 1974. p.

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    E, como no poderia deixar de acontecer, prestigiando a doutrina ptria, impe-se que secolacionem, para voltar nossa via principal, as opinies dos doutos nacionais. Assim,Anbal Bruno destaca que os bens jurdicos so valores de vida individual ou coletiva,valores da cultura. (BRUNO, 1984. p. 31). Por sua vez, Assis Toledo diz que bensjurdicos so valores tico-sociais que o Direito seleciona, com o objetivo de assegurara paz social e colocar sob sua proteo para que no sejam expostos a perigo de ataqueou a leses efetivas. (TOLEDO, 1996. p. 16). Para o meu inesquecvel amigo HelenoCludio Fragoso, o bem jurdico no apenas um esquema conceitual, visandoproporcionar uma soluo tcnica de nossa questo: o bem humano ou da vida socialque se procura preservar, cuja natureza e qualidade dependem, sem dvida, do sentidoque a norma tem ou que a ela atribudo, constituindo, em qualquer caso, umarealidade contemplada pelo Direito. Bem jurdico um bem protegido pelo Direito; ,portanto, um valor da vida humana que o Direito reconhece e a cuja preservao disposta a norma. (FRAGOSO, 1985. p. 277-278).

    Bem de ver-se, pois, que, sob qualquer tica, sob qualquer matiz ideolgico, sob qualqueropo cultural que se adote, irretorquvel se patenteia reconhecer que a AdministraoPblica um bem jurdico relevantssimo, cuja tutela penal absolutamenteindispensvel, para que, dentro da normalidade, da idoneidade, do decoro, da seriedade eem prol do bem comum, se possam levar a cabo as finalidades essenciais (conservao eordem) e no-essenciais (bem-estar e progresso social), na feliz alocuo de Rameletti.(RAMELETTI, 1950. p. 8).

    E tanto isso verossmil que a Constituio Federal de 1988, com propriedade, adotando amelhor e mais segura orientao, dedicou, dos arts. 37 a 42, de forma exaustiva em umcaptulo subdividido em trs sees, toda uma disciplina voltada Administrao Pblica: o

    captulo VI, pertencente ao ttulo III Da Organizao do Estado , destacando-secomo princpio vetor, bssola e diretriz, a parte significativa do caput do art. 37, assimposto: A Administrao Pblica direta, indireta ou fundacional, de qualquer dosPoderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e do Municpios obedecer aos

    princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade**.

    So esses os valores, os smbolos, os dons, enfim, os objetos transcendentais que merecemser preservados e, no que lhes concerne, so esses indubitavelmente os bens jurdicos queo Direito Penal, seja no mbito de sua legislao bsica, o Cdigo Penal, seja no prisma dalegislao extravagante, tem a obrigao de proteger, por meio da definio de crimes e dacominao de sanes penais.

    Mostra-se, tambm, que, a partir de um certo estgio da vida contempornea, o Estado,aqui entendido como rgo que comanda a coisa pblica, nas diversas esferas polticas e,no caso brasileiro, nos vrios departamentos de sua Federao, passou a ter uma atuaoproveniente de ideologias estatizantes, abalanando-se a dirigir as economias e a participarcomo agente econmico concorrente, quando no monopolista, tendncia que, felizmente,vem sendo amenizada, para tentar colocar o Estado em suas funes primordiais, comoacima j se expressou.

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    Essa derivao, irrecusavelmente, lanou suas conseqncias para o mbito do que sepassou a entender como Administrao Pblica e, evidentemente, como decorrnciainelutvel, mexeu com as noes do bem jurdico tutelado na circunscrio do DireitoPenal.

    Isso porque, em verdade, e neste passo foi a jurisprudncia que veio e vem fixando osrumos a seguir, ainda no-definitivos, na busca do que se deve ter finalmente como algo amerecer a tutela do Direito Penal nesse campo a que se refere nessas palavras. Issoporque, em seu carter seletivo e sem necessidade de, aqui e agora, tecer maioresconsideraes sobre o enfoque, dado que ele de sabena geral, penetrar na anlise do quese enfeixa no ramo do ilcito administrativo e o que, nitidamente, deve ser preocupao doDireito Criminal.

    Assim, e nesta quadra, h, inafastavelmente, de partir-se de um critrio fundamental paraque se dessuma, deixando de lado maiores incurses doutrinrias, qual o verdadeiro, oexato, o autntico sentido que se deve considerar para ter-se a Administrao Pblica narbita de bem jurdico protegido pelo Direito Penal, para que, nos casos concretos, possamos operadores do Direito atuar na busca da aplicao da lei, em defesa de toda a sociedade.

    Esse critrio constitui precisamente verificar nas situaes efetivas onde est o interessepblico. Presente ele, configura-se a insero do bem jurdico Administrao Pblica;ausente ele, afasta-se o bem jurdico.

    E para tal compreenso, nada melhor do que ir abeberar-se na lcida manifestao de DoraMaria de Oliveira Ramos, Procuradora do Estado de So Paulo, a extrair suas conclusesno estudo denominado "Princpios da Administrao Pblica: a supremacia do interessepblico sobre o interesse particular", assim bem e fundamentadamente lanada:

    1 O objetivo precpuo do Estado a consecuo do interesse pblico.

    2 A supremacia do interesse pblico s existe nos limites fixados pela lei; da suaestreita correlao com o princpio da legalidade.

    3 O interesse pblico no se confunde com o interesse da Administrao Pblica, de talforma que a sua supremacia s ocorrer quando se cuidar de efetivo interesse primrioda sociedade.

    4 O princpio da supremacia do interesse pblico materializa-se em diversas reas doDireito Administrativo, informando o instituto do poder de polcia; servindo-se defundamento para as limitaes ao direito de propriedade (desapropriao e requisioadministrativa); embasando a existncia das clusulas exorbitantes do Direito comumno mbito dos contratos administrativos; justificando a revogao de atosadministrativos.

    5 O interesse pblico pode no ser coincidente com os interesses difusos e coletivos.

    6 O tema em estudo tem como decorrncia lgica a aplicao dos princpios daautotutela, da indisponibilidade do interesse pblico e da auto-executoriedade dos atosadministrativos.

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    7 O interesse pblico atua como limite ao poder discricionrio do administrador.

    8 A prtica de atos administrativos em desvinculao com o interesse pblico configuradesvio de poder, passvel de invalidao pelo Poder Judicirio.

    9 O princpio da impessoalidade est relacionado com a supremacia do interessepblico, atuando como limitador do poder poltico. (RAMOS, 1996. p. 682-683).

    Cumpre lembrar, mesmo que de passagem, que h, em nosso ordenamento jurdico ecomo os h sendo imprescindvel uma total reviso para uma sistematizao, inmerosdiplomas legais que fazem a definio de crimes e a cominao de penas envolvendo onosso repetido bem jurdico Administrao Pblica, gerando como conseqncia para oDireito Penal brasileiro o abalo em sua dignidade, o derruimento em sua cientificidade e adesmoralizao em sua validade.

    Posso imaginar como os emritos aplicadores da lei aos casos concretos se sentem diantedesse caos, a que Damsio de Jesus timbra de "esquizofrenia legislativa".

    Em recente conferncia que pronunciei sobre o Anteprojeto da Parte Especial do CdigoPenal, em maro de 1998, na Universidade Federal do Par, na Aula Inaugural do Cursode Direito, a que se aludir neste artigo, assim comentei o tema para que se reflita sobre ofenmeno:

    Por causa dessa desmesurada falta de critrios, dos cochilos legislativos decorrentes doraciocnio equivocado de fazer leis e mais leis para combater a criminalidade, j se vempugnando, de h muito, para que se leve a cabo a reforma da legislao penalbrasileira, na busca da elaborao de um Cdigo Penal que, em primeiro lugar, vejasintonizada sua Parte Geral, alterada em 1984, e a sua Parte Especial, que propicie areimplantao criteriosa da proporcionalidade entre as penas atribudas para osmodelos abstratos, reproduzindo tambm a simplificao da linguagem dos dispositivose a eliminao do quanto que j se apresente contraditrio, superposicionado edesnecessrio sob o ponto de vista da relevncia penal.

    Preciosa a lio de Beccaria, ditada h mais de 230 anos:

    "Enquanto o texto das leis no for um livro familiar, como um catecismo, enquanto elasforem redigidas em lngua morta e no conhecida do povo, e enquanto forem de maneirasolene mantidas como orculos misteriosos, o cidado, que no puder aquilatar por siprprio as conseqncias que devem ter os atos que pratica sobre a sua liberdade e osseus bens, estar dependendo de pequeno nmero de homens, que so depositrios eintrpretes das leis".

    Concluindo esta primeira parte, vale noticiar que o Anteprojeto da Parte Especial doCdigo Penal, em fase de recebimento de sugestes no Ministrio da Justia, trata doscrimes contra a Administrao Pblica, no ttulo X, em quatro captulos, tendo os trsprimeiros a mesma denominao dos atuais e o IV sendo intitulado Disposies Gerais.Nas etapas seguintes, voltaremos ao aludido Anteprojeto.

    CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONRIO PBLICO CONTRA A

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    ADMINISTRAO EM GERAL

    Neste momento, de mister se torna verificar a questo alusiva ao conceito de funcionriopblico para os efeitos penais, pois isto de grande valia para as consideraes objetivas econcretas sobre os aspectos mais importantes dos tipos legais de crime definidos nestecaptulo.

    Recordando, eis o texto do Cdigo Penal:

    Art. 37 Considera-se funcionrio pblico, para os efeitos penais, quem, emboratransitoriamente e sem remunerao, exerce cargo, emprego ou funo pblica.

    1 Equipara-se a funcionrio pblico quem exerce cargo, emprego ou funo ementidade paraestatal.

    2 A pena ser aumentada da tera parte quando os autores dos crimes previstosneste captulo forem ocupantes de cargos em comisso ou de funo de direo ouassessoramento de rgo da administrao direta, sociedade de economia mista,empresa pblica ou fundao instituda pelo Poder Pblico.

    O Anteprojeto, deslocando o que est no art. 327 e seus pargrafos para o ltimo captulodo ttulo dos crimes contra a Administrao Pblica, repete o que est no caput eestabelece o seguinte em dois artigos autnomos: a) art. 355 Equipara-se a funcionriopblico quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade autrquica, empresapblica ou fundao instituda pelo Poder Pblico; b) art. 356 A pena aumentadade um tero se o funcionrio pblico comete o crime valendo-se da condio deocupante de cargo em comisso, funo de direo e ou assessoramento ou nodesempenho de mandato eletivo.

    O tema relativo ao conceito de funcionrio pblico est longe de ser pacfico, como se temampla notcia. O autor italiano Nino Levi chegou a dizer que as definies de funcionriopblico so tantas quantos so os seus autores.

    No h dvida de que, ao longo das pocas, a doutrina e a jurisprudncia vm analisandoos casos concretos para tirar as concluses apropriadas em relao a essa relevantepassagem do Direito Penal.

    O acerto do Cdigo Penal brasileiro foi, com certeza, dar a esse elemento do tipo umconceito abrangente. No prprio Direito Administrativo no faltam os que advertem daimpossibilidade de uma definio precisa, inclinando-se para o conceito amplo.

    No que tange, no entanto, terminologia adotada e, sobretudo nessa fase de reviso eatualizao da legislao penal, h de aduzir no ter sido feliz o Anteprojeto, como logomais procurarei transmitir em minha inteleco.

    Devo, antes, chamar a ateno, nesse cipoal legislativo com que se convive, a umaparticularidade. que, em se tratando de crime relacionado com licitao pblica praticadopor servidor pblico, aplica-se o art. 84 da Lei de Licitaes (Lei n. 8.666, de 21/06/93),registrando-se, neste passo, que o conceito dessa Lei dado ao funcionrio pblico ainda

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    mais abrangente do que aquele estabelecido no Cdigo Penal, pois considera servidorpblico toda pessoa que exerce, mesmo que transitoriamente ou sem remunerao, cargo,funo ou emprego pblico. Alargando ainda mais o conceito dito no art. 327 do CdigoPenal, o 1 do art. 84 da Lei de Licitaes equipara a servidor pblico, para os fins destaLei, quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade paraestatal, assimconsideradas, alm das fundaes, empresas pblicas e sociedades de economia mista edemais entidades sob controle direto ou indireto do Poder Pblico.

    Consagra-se, assim, mais uma vez, o critrio do interesse pblico na formulao daproteo coisa pblica.

    A propsito, em recentssimo estudo, Eloy Ojea Gomes (1998, p. 7-8), ProcuradorMunicipal de Praia Grande-SP, guisa de tecer comentrios sobre a Lei n. 9.437/97, quetrata do novo regramento acerca do registro e porte de arma de fogo, analisa acircunstncia de que, como se deu na Lei de Licitaes, a Lei n. 9.437 usa tambm aexpresso "servidor pblico" no lugar de funcionrio pblico.

    Manifesta sua opinio em termos muito interessantes. Julgo pertinente citar para a devidareflexo, sendo certo que, aps transplantar o alvitre, ser feita breve anlise dejurisprudncia sobre o tpico, permitindo, assim prometo, que se penetre na constatao deprismas de quilate sobre os tipos legais de crime.

    Aduz o autor citado:

    Desde a vigncia do Cdigo Penal de 1940, j controvertida era a definio defuncionrio pblico. Alberto Silva Franco faz aluso dissenso existente quanto exegese do termo:

    "Diz Nelson Hungria que sobre o que seja funcionrio pblico, na rbita do DireitoAdministrativo, duas principais teorias so formuladas: uma restritiva, outraampliativa". Temstocles Brando Cavalcanti, igualmente, reconhece o problema,salientando que "no h uniformidade na doutrina e a legislao, para pr termo sdificuldades, procura geralmente um sentido formal. No h coincidncia mesmo nalegislao especializada. As disposies legais nem sempre so claras; raramentepermitem delas tirar um critrio jurdico seguro, abstraindo conceitos doutrinrios.Outras vezes, a prpria legislao contraditria. Vemos, por a, que nada maisdifcil do que definir o que seja funcionrio pblico".

    Em verdade, no tarefa do legislador impor ou formular conceitos, mas sim dadoutrina, esta a legtima mandatria da funo interpretativa.

    Tendo o legislador, todavia, optado pela definio legislativa, penso que, ento, deveriater sido tcnico, haja vista que o nomen iuris do preceito (art. 327 do CP) guardaverdadeiro descompasso com a noo que exprime.

    E a assertiva supra se justifica na medida em que, sendo o Direito sistema, deve haveridentidade de adoo conceitual ante a ocorrncia de idnticos fenmenos nos diversosramos da cincia jurdica, pois a duplicidade de denominaes para esse gera

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    intranqilidade jurdica, situao com a qual o Direito no pode compactuar.

    Bem se v que a inteno do legislador foi abarcar, no conceito do art. 327 do CP, todoaquele que, de alguma forma, "serve ao Estado".

    Dessa maneira, deveria o legislador, constitucional e ordinrio, ter falado em agentepblico. Neste sentido a lio de Jos Cretella Jnior: "A expresso agente pblico ento muito mais ampla do que a expresso funcionrio pblico e compreende, almdos funcionrios pblicos propriamente ditos, uma grande quantidade de outrosindivduos incorporados ao Estado". Alm do mais, o conceito acerca desse termo pacfico na doutrina.

    "Assim", prossegue o autor, "a meu juzo correta seria a admisso na legislao daexpresso agente pblico, esta sim designativa do contedo do art. 327 do CP e emconsonncia com a melhor tcnica jurdica" (GOMES, 1998. P. 7-8).

    Fica a idia para ser pensada.

    Em termos de concretude, no que tange ao conceito de funcionrio pblico, selecioneialguns julgados que reputei interessantes para noticiar.

    Ei-los:

    Por fora do art. 327 do CP, estudante de Direito em estgio junto Defensoria Pblica

    pode ser sujeito ativo do crime definido no art. 316 daquele Cdigo. (STF RHC Relator Ministro Moreira Alves, RTJ n. 77/79 1).

    A caracterizao de funcionrio pblico, para efeitos penais, dispensa a investiduraregular. Basta o exerccio da funo pblica. (TJRJ-AC Relator Raphael Cirigliano Filho,RT n. 550/356).

    Funcionrio Pblico. Serventurio de Justia. Responsabilidade penal. Funcionriopblico para efeitos penais (art. 327 do CP) titulares e auxiliares de tabelionatos eofcios de registro: caracterizao no afetada pelo art. 236 da Constituio. O art. 236da Constituio ao dispor que os servios notariais e de registro sero exercidos emcarter privativo, por delegao do Poder Pblico no lhes afetou, mas antes lhesconfirmou a publicidade da natureza, da qual resulta a considerao de seu pessoalcomo funcionrios pblicos, para efeitos penais, ainda que no para outros efeitos.(STF Relator Ministro Seplveda Pertence RDSA n. 188/75).

    O sndico da falncia, conquanto exera no processo mnus pblico, no pode serequiparado a funcionrio pblico para efeitos penais. A Lei de Falncias disciplinou asfunes do sndico sujeitando-o a sanes, inclusive penais, sem no entanto equipara-loa funcionrio pblico ou conferir-lhe funo pblica. (RT n. 583/320).

    O empregado de empresa de economia mista somente equiparado a funcionriopblico, para efeitos penais, quando sujeito ativo e no passivo de delito. (RT n.409/70).

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    Deve-se agora, de forma sucinta, dada a largueza do assunto, como j referi, tentar trazer alume alguns ngulos dos crimes praticados por funcionrio pblico contra a Administraoem geral.

    Optei, tanto para as entidades delitivas deste captulo, quanto para as dos subseqentes,mediante pesquisa realizada, aludir a manifestaes jurisprudenciais que tenhamconsistncia e que conduzam devida reflexo:

    Peculato

    Ramais de eletrificao, linhas e postes so do domnio pblico. As redes detransmisso que servem as propriedades rurais so de propriedade pblica, ainda quepassem por terrenos particulares, tanto assim que a lei impe servido administrativa e,no caso, no se pode falar que o funcionrio pblico venha a se apropriar ou se apossardesses bens. (STJ DJ de 17/05/93 Relator Ministro Pedro Acioli).

    Pelo simples fato de haver o Tribunal de Contas aprovado contas no impede oMinistrio Pblico de fazer denncia. (STJ Relator Ministro Adhemar Maciel DJUde 28/02/84).

    No configuram estado de necessidade, de modo a excluir a antijuridicidade daapropriao de valores pblicos sob a guarda do funcionrio, as dificuldadesfinanceiras decorrentes de insuficiente remunerao. (RJTJSP n. 94/405).

    Peculato culposo

    Para a caracterizao do peculato culposo deve haver relao direta entre a aoculposa e o crime praticado por terceiro. Nada se apurando quanto a este, impossvelestabelecer um liame entre o fato omissivo e a conduta delituosa para punir aquele.(TFR 09/12/82).

    Peculato mediante erro de outrem

    Responde por peculato mediante erro de outrem, e no por apropriao indbita, oescrivo do cartrio de notas que, tendo recebido dinheiro de partes para pagamento deimpostos, se apropria de numerrio, deixando de praticar os referidos atos. (TACRIM-SP, 43/179/80).

    Extravio, sonegao ou inutilizao de livro ou documento

    Para a caracterizao do delito, no importa a ocorrncia ou no de prejuzo a algum,pois o dano, efetivo ou potencial, no elemento do tipo penal. (RT n. 639/277).

    Este um crime com raras hipteses e que s admite, evidentemente, a forma dolosa. Sehouver culpa do funcionrio, o assunto fica nas esferas administrativa e civil.

    Emprego irregular de verbas ou rendas pblicas

    Visa o preceito penal contido no art. 315 do CP a impedir o arbtrio administrativo no

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    tocante discriminao de verbas, rendas e respectivas aplicaes, sem a qual haveriaa anarquia nas finanas pblicas, no cogitando do prejuzo resultante de seu empregoirregular. (RT n. 259/299).

    O que est na ementa acima vem sendo, na atualidade, muito contestado. As ocorrnciasso em maior monta na rea de aes penais contra os prefeitos municipais, que se vem,muitas vezes, na contingncia de fazer aplicaes de recursos oramentrios de forma nomuito ortodoxa no que tange s especificaes. Precisa-se, portanto, de muita prudnciapara evitar condenaes precipitadas, pois, como sempre, h de voltar-se o olhar para oprisma do atendimento ao interesse pblico.

    Concusso

    Lesa o servio pblico federal quem, contratado pela Previdncia Social para prestaratendimento hospitalar ou laboratorial, exige dos segurados pagamento adicional. Oresponsvel pelo estabelecimento hospitalar ou laboratorial conveniado com aPrevidncia Social incide no crime de concusso se exigir dos segurados pagamentoadicional pelos servios a que se obrigou. (TRF da 4 Regio 1/ 02/94).

    O crime definido no art. 316 do CP tem como ncleo do tipo o verbo "exigir". de ver-se, no entanto, que a exigncia da vantagem tanto pode ser direta como indireta, no sefazendo mister a promessa de mal determinado. Basta o temor genrico que autoridadeinspira, desde que influa na manifestao volitiva do sujeito passivo. (RT n. 452/338 en. 585/311).

    Corrupo passiva

    No ocorre o delito de corrupo passiva, embora de natureza formal, consumando-sepela simples solicitao, se esta impossvel de ser cumprida, isto , se no estiver aoalcance da pessoa que solicitada. (TJSP AC Relator Denser de S RT n.505/296).

    Comete o delito de corrupo passiva aquele que, exercendo funo de destaque emempresa concessionria de servio pblico, solicita e recebe de fornecedores da mesmafavores para o pagamento de seus crditos. (TJSP El Relator Mendes Frana RTn. 403/104). (Idem: TJSP AC n. 93.631 Relator Accio Rebouas).

    A corrupo passiva exige para a sua configurao a prtica de atos de ofcio, dandoensejo ao recebimento de vantagem indevida. E, por ato de ofcio, consoante uniformejurisprudncia, se entende somente aquele pertinente funo especfica do funcionrio.(TJSP AC Relator Cantidiano de Almeida RT n. 390/100).

    A corrupo passiva somente se perfaz quando fica demonstrado, mesmo por meio deindcios, que o funcionrio procurou alienar ato de ofcio.(TFR AC Relator JesusCosta Lima DJU de 16/12/82, p. 13.063).

    Deve-se aproveitar a oportunidade, nesta quadra, para apontar, como ratificao da crticah pouco feita sobre a superposio de tipos, uma efetiva ocorrncia dessa agresso tcnica legislativa, o que se d com a previso legal do tipo abaixo descrito, no art. 3, II,

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    da Lei n. 8.137, de 27/12/90, que define crimes contra a ordem tributria, econmica econtra as relaes de consumo e d outras providncias, verbis:

    Constitui crime funcional contra a ordem tributria, alm dos previstos no Decreto-lein. 2.818, de 7 de dezembro de 1940, Cdigo Penal, ttulo XI, captulo I:

    (...)

    II exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, aindaque fora da funo ou antes de iniciar seu exerccio, mas em razo dela, vantagemindevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lanar ou cobrar tributoou contribuio social, ou cobr-los parcialmente.

    A pena de recluso de 3 a 8 anos e multa.

    A atecnia estridente. Colocam-se, no mesmo plano, os elementos da concusso e dacorrupo ativa, igualando o mnimo da pena cominada. Na prtica, qualquer magistradoconsciente far o enquadramento no Cdigo Penal, pois l j existe o tipo legal de crime.

    Felizmente, neste tpico, o anteprojeto procura corrigir tal anomalia, ao introduzir, no ttuloXIII, os crimes contra o Sistema Tributrio, Cambial e Aduaneiro, sendo o captulo Idedicado aos crimes contra a ordem tributria (art. 374 a 378).

    Facilitao de contrabando ou descaminho

    O crime definido no art. 318 do CP consuma-se com a efetiva facilitao por parte doagente, com conscincia de estar infringindo o dever funcional, pouco importando quecircunstncias diversas impeam a consumao do contrabando. (TFR AC RelatorFlquer Scartezzini EJTFR 68/21).

    Prevaricao a exigncia de dolo

    O dolo da prevaricao, dizia Heleno Cludio Fragoso, consiste na vontadeconscientemente dirigida prtica de qualquer das aes que constituem amaterialidade do fato. (FRAGOSO, 1965. p. 1.113. Grifo nosso).

    O crime, alm do dolo, reclama um elemento subjetivo do tipo, contido na expresso parasatisfazer interesse ou sentimento pessoal. (NORONHA, 1982. p. 277; FRAGOSO in:HUNGRIA, 1978. p. 548).

    O dolo, na reforma penal de 1984, configura elemento subjetivo do tipo, no integrando aculpabilidade. De forma que a ausncia de dolo conduz atipicidade da conduta,excluindo-se o delito. (FRAGOSO, 1985. p. 175).

    A exigncia do elemento subjetivo do tipo para satisfazer interesse ou sentimento pessoalno se reflete na culpabilidade, incluindo-se no fato tpico. Dessa forma, a ausncia de talelemento enseja a atipicidade do fato, excluindo-se o crime. (NUES, 19--. p. 19;POLITOFF, 1965. p. 87-88; FRAGOSO, 1985. p. 179).

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    O dolo, na espcie, a vontade dirigida realizao das condutas de retardar ou deixar depraticar ato de ofcio. Essa vontade deve ser livre e consciente (HUNGRIA, 1978. p. 376).

    Condescendncia criminosa

    Figura delitiva que foi considerada de pequena monta, criminalidade de bagatela, que sesitua muito mais como conduta demonstrativa de ilcito administrativo. No consta doanteprojeto.

    Advocacia administrativa

    Sempre se criticou o nomen iuris dessa infrao penal que, em verdade, infelicssima,chegando, mesmo, a agredir o exerccio da advocacia.

    O tipo deve ser patrocnio indevido, como est no anteprojeto (art. 313).

    Para Damsio E. Jesus, a Lei n. 8.666, de 21/06/93, que disciplina as licitaes pblicas,derrogou esse art. 321 do Cdigo Penal, esclarecendo: O art. 321, que definia o crime deadvocacia administrativa, foi derrogado pelo art. 91 da mencionada Lei n. 8.666/93.Hoje, tratando-se de crime de advocacia administrativa relacionado com licitaopblica, no se aplica o art. 321 do CP, e sim a lei especial. O art. 321 passou a definirum crime genrico e o art. 91 da Lei n. 8.666, um crime especfico. Assim, o art. 321perdeu parte de sua incidncia punitiva. (JESUS,1993).

    Nesse sentido manifestou-se tambm Paulo Jos da Costa Jnior: Conseqentemente, oart. 321 do Cdigo Penal foi derrogado. Vale dizer, quando se tratar do patrocnioindireto, do interesse privado, perante a Administrao Pblica, no que se refere licitao, ser aplicvel o presente dispositivo e no mais o art. 321 do Cdigo Penal.(COSTA JNIOR, 1994.).

    O art. 91, da Lei n. 8.666, de 21/06/93, que regulamenta o art. 37, inc. XXI, da CF/88 einstitui normas para licitaes e contratos da Administrao Pblica, dispe:

    Art. 91 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante aAdministrao, dando causa instaurao de licitao ou celebrao de contrato,cuja invalidao vier a ser decretada pelo Poder Judicirio:

    Pena deteno, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

    Trata-se, sem dvida, de modalidade particular e peculiar de advocacia administrativa.

    Observa Vicente Greco Filho que o delito especial em face do art. 321 do CP; maisgrave e visa, no dizer de Basileu Garcia, robustecer a obrigao de extremaimparcialidade dos funcionrios em face das pretenses dos particulares perante oEstado, veiculadas pelas reparties pblicas. (GARCIA in: GRECO FILHO, 1994. p.21).

    Para ns, a Lei n. 8.666/93 revogou em parte o art. 321 do Cdigo Penal, na medida emque se excluram da regra geral as hipteses de advocacia administrativa praticadas por

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    particulares, com o objetivo de instaurar licitao ou celebrar contrato de forma irregularou ilcita, na considerao de que legis specialis derrogat legis generalis.

    Desse modo, se o agente patrocinar interesse privado perante a Administrao visando alicitao pblica, aplica-se a regra especial: em qualquer outra hiptese, aplica-se a regrageral, contida no Cdigo Penal.

    Violncia arbitrria

    Mais uma vez, denota-se a presena de conflito de normas desse artigo do CP com o art.3, i, da Lei n. 4.898/65, achando-se que foi ele absorvido pela segunda norma.

    Sobre o enfoque, dois acrdos:

    O art. 322 do CP no pode mais ser invocado como suporte jurdico de uma denncia,uma vez que se acha revogado pela Lei n. 4.898/65. Trata-se de lei que regulouinteiramente a punio dos crimes de abuso de poder, classe a que pertencia odenominado delito de violncia arbitrria. (TACRIM-SP Rec. Relator LauroMalheiros RT n. 436/410).

    Os crimes de violncia arbitrria e de exerccio arbitrrio ou abuso de poder, previstosnos arts. 322 e 350 do CP, foram absorvidos pela Lei n. 4.898/65, sob a denominao deabuso de autoridade. (TAMG AC Relator Moacir Brant RT 405/417).

    Abuso de poder Absoro das infraes dos arts. 129 e 322 do CP, tambm admitidascontra os rus Apelao provida Inteligncia do art. 3, i, da Lei n. 4.898/65 ALei n. 4.898/65 no prev a aplicao cumulativa da pena correspondente violncia,como o fazia o art. 322 do CP. Assim sendo, no pode o infrator ser condenado tambmnesse dispositivo e no art.129 do citado Cdigo. (TJSP AC Relator XavierHomrich RT n. 512/343).

    O anteprojeto define o delito de abuso de autoridade no art. 314.

    Abandono de funo e exerccio funcional ilegalmente antecipado ou prolongado(arts. 323 e 324)

    Prticas muito mais vinculadas ao Direito Administrativo e, pois, devendo em sua rbitaser cuidadas. O anteprojeto no mais as consagra.

    Violao de sigilo funcional

    Ao incriminar a violao de sigilo funcional, a lei visa impedir a revelao de fato quedeva permanecer em segredo, porque sua divulgao pode prejudicar ou pr em perigoos fins que o Estado persegue. No incrimina a simples indiscrio ou a indesejvelbisbilhotice nem tutela interesses fteis, carecedores de relevncia jurdica. (TACRIM SP Rec. Relator Dante Busana Boletim AASP, n. 1.300/273, nov.1983).

    Pratica o delito do art. 325 do CP o professor, integrante de banca examinadora deuniversidade federal, que, antecipadamente, fornece a alguns do alunos cpias das

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    questes que iam ser formuladas nas provas. (TFR AC RTFR n. 61/100).

    Violao do sigilo de proposta de concorrncia

    Esse artigo est revogado pelo art. 94 da Lei n. 8.666, de 21/06/93, que regulamenta o art.37, inc. XXI, da Constituio Federal e institui normas para licitaes e contratos daAdministrao Pblica, com a seguinte redao:

    Art. 94 Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatrio ouproporcionar a terceiro o ensejo de devass-lo:

    Pena deteno de 2 (dois) a 3 (trs) anos e multa.

    Nesse sentido o esclio de Damsio E. de Jesus em sua consagrada obra (JESUS, 1995. p.171).

    Note-se que a redao do atual dispositivo, em sua essncia, muito semelhante quelaconstante do Cdigo Penal, ora revogado.

    Como observou Damsio E. de Jesus, o art. 326 do CP ficou vazio (tal como ocorreucom o art. 281 do CP). Hoje o delito de violao de sigilo de licitao pblica estdescrito na lei especial. (JESUS, 1993).

    No mesmo sentido, COSTA JNIOR, 1994.

    Preleciona Vicente Greco Filho que o delito corresponde ao art. 326 do CP e, portanto, osubstituiu, acrescentando: houve, apenas, alterao da redao. Onde se lia "proposta deconcorrncia pblica", agora consta "proposta apresentada em procedimentolicitatrio". A atualizao foi pertinente, porque licitao gnero de que concorrncia espcie, tendo ficado esclarecido, tambm, que a violao do sigilo refere-se proposta apresentada, como j era o entendimento da doutrina a respeito. (GRECOFILHO, 1994. p. 39).

    O delito, agora previsto em lei especial ou extravagante, guarda as mesmas caractersticasdaquele antes previsto no Cdigo Penal.

    Procura-se proteger a Administrao Pblica, no que pertine lisura que deve orientar aslicitaes pblicas, seja na sua forma mais simples (convite), seja na mais complexa(concorrncia pblica), posto ter-se estabelecido um procedimento formal e vinculado(obrigatrio em suas fases e no discricionrio) com o objetivo precpuo de imprimirmoralidade e exao na aquisio de bens, contratao de servios ou realizao deconvnios por parte do Poder Pblico, estabelecendo critrios de igualdade aosconcorrentes e assegurando a entrega ou adjudicao do objeto da licitao ao vencedor docertame, sem favorecimentos ou perseguies.

    Cuida-se de crime prprio pois, como observa Damsio E. de Jesus, embora primeiravista parea delito comum, uma vez que a devassa pode ser cometida por qualquerpessoa, na verdade crime prprio. (JESUS, 1995. p.171).

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    Assim, sujeito ativo s poder ser o funcionrio pblico. No, porm, qualquer servidor.

    A estrutura do tipo legal exige uma especial qualidade do servidor: deve ser funcionriocom funo especfica de receber as propostas dos licitantes e s dar-lhes publicidade e darconhecimento a terceiros na fase adequada do procedimento. Sua atuao deve estar, pois,relacionada diretamente com as licitaes pblicas, impondo-se-lhe guardar segredo arespeito do contedo das propostas.

    Alis, o art. 84 da Lei n. 8.666/93 considera servidor pblico toda pessoa que exerce,mesmo que transitoriamente ou sem remunerao, cargo, funo ou emprego pblico.Alargando o conceito estabelecido no art. 327 do Cdigo Penal, o 1 do artigomencionado da referida Lei de Licitaes equipara a servidor pblico, para os fins destalei, quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade paraestatal, assim consideradas,alm das fundaes, empresas pblicas e sociedade de economia mista, as demaisentidades sob controle direto ou indireto do Poder Pblico.

    CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAO EMGERAL

    Art. 328 Usurpao de funo pblica

    Configura os crimes de usurpao de funo pblica e de constrangimento ilegal o atode quem, a pretexto de ser policial, a servio, porm, de empresa particular, medianteviolncia, procura investigar sobre alcance praticado contra aquela e atribudo aempregado. (TJSP AC Relator Camargo Sampaio RT n. 533/316).

    Usurpa funo pblica aquele que pratica atos inerentes ao servio policial como senele estivesse investido legalmente, daquela se valendo para a prtica de estelionato.(TJSO AC Relator Arthur de Godoy RT n. 541/369).

    Na incerteza da legitimidade da investidura, no se configura o crime de usurpao defuno pblica e, por isso, de trancar a ao penal iniciada sem aquela primeiraindagao. (TACRIM HC Relator Adalberto Spagnuolo JUTACRIM 71/128).

    Art. 329 Resistncia

    Um dos elementos caracterizadores da resistncia a oposio a uma ordem legal. Ora,se essa abusiva, portanto, antijurdica, no se pode falar na existncia do delito emquesto. (TACRIM-SP AC Rel. Camargo Aranha RT n. 461/378).

    No ignorando o ru, diante do mandado que lhe foi exibido, que a vtima era peritojudicial, e se opondo, apesar disso, a que vistoriasse o imvel objeto da demanda,comete o delito de resistncia. (TJSP AC Relator Carvalho Filho RT n.515/334).

    Para a tipificao do delito de resistncia, a oposio prtica de ato legal deve serefetiva, nada significando a mera resistncia passiva, bem como o fato de espernear edesferir o acusado pontaps em seu detentor. (TACRIM-SP AC Relator BrennoMarcondes RT n. 601/332).

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    Configura-se a resistncia na oposio por meio de violncia ou ameaa execuo deato legal por autoridade pblica competente. Assim, responde pelo delito o meliante que,perseguido logo aps a consumao de diversa infrao, mo armada se ope voz depriso. (TACRIM-SP AC Relator Ferreira Leite JUTACRIM 27/356-357).

    Art. 330 Desobedincia

    O delito de desobedincia no suscetvel de cometimento apenas por particulares.Tambm o funcionrio pblico pode ser sujeito ativo da infrao. (TACRIM-SP RHC Relator Ricardo Couto RT n. 418/249).

    Na conceituao do crime capitulado no art. 330 do CP, equipara-se ao particular ofuncionrio que no age nessa qualidade, isto , em cujos deveres funcionais no seinclui o de obedecer ordem descumprida, pois, caso contrrio, o que poder ocorrer o crime de prevaricao. (TJSC HC Relator Ivo Sell RT n. 519/416).

    Pratica o delito de desobedincia o agressor que, solicitado pela autoridade a lheentregar a arma usada, nega-se a faz-lo. (TACRIM-SP AC Relator Ricardo Couto JUTACRIM 14/267).

    Para que se configure o delito de desobedincia, indispensvel a existncia de ordemlegal, expedida por autoridade competente, em forma regular e contra pessoadeterminada. Dele no se h de cogitar, portanto, sequer em tese, se a ordem que se dizdesobedecida no foi dirigida ao acusado, e sim autoridade policial. (TACRIM-SP HC Relator Erclio Sampaio RT n. 591/342).

    Do simples no-comparecimento audincia por parte da testemunha devidamenteintimada no se pode concluir que tenha ela agido com o propsito de desobedecer aordem da autoridade, inexistindo, portanto, o elemento subjetivo caracterizador dodelito do art. 330 do CPC. (TACRIM-SP AC n. 335.931 Relator Adauto Suannes).

    Se a lei alude s providncias para trazer a juzo o recalcitrante, resulta bvio que oprocessamento da testemunha pelo crime de desobedincia somente de determinar-sedepois que, tendo sido conduzida, no justificou convenientemente sua ausnciaanterior. (TACRIM-SP HC Relator Adauto Suannes RT n. 587/326).

    Art. 331 Desacato

    O crime de desacato se configura por qualquer palavra que redunde em vexame,humilhao, desprestgio ou irreverncia ao funcionrio pblico. (TACRIM-SP AC Relator Manoel Pedro RT n. 369/277).

    A ofensa constitutiva do desacato qualquer palavra ou ato que redunde em vexame,humilhao, desprestgio ou irreverncia ao funcionrio. a grosseira falta deacatamento, podendo consistir em palavras injuriosas, difamatrias ou caluniosas, viasde fato, agresso fsica, ameaas, gestos obscenos, gritos agudos etc. (TAMG AC Relator Sylvio Lemos RT n. 409/427).

    O desacato, em tese, se objetiva por meio de qualquer palavra ou ato que redunde em

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    desprestgio ou irreverncia ao funcionrio, tais como a grosseira falta de acatamento,ameaas e expresses proferidas em altos brados, ainda que no contumeliosas. (TJSPRHC Relator Humberto da Nova RT n. 466/316). No mesmo sentido: JUTACRIM23/342-343, 64/269, 81/465 e 83/287; RT n. 595/378.

    O desacato aperfeioa-se na inteno de aviltar, amesquinhar o funcionrio pblico emrazo de seu ofcio ou quando estiver no exerccio de suas funes. Quando o insultoatingir, no mximo, a honra subjetiva, no se configura o delito. (TACRIM-SP AC Relator Marrey Neto RT n. 649/284).

    A certido lavrada por oficial de justia que documenta claramente o delito de desacatocontra ele praticado, quando no exerccio de suas funes, suficiente para fundamentaro decreto condenatrio, vez que esse funcionrio goza de f pblica e a presuno deveracidade de seus atos, conquanto seja juris tantum, somente poder ser destrudamediante prova convincente. (TACRIM-SP AC Relator Sidnei Beneti RT n.661/1.296).

    Sem a vontade livre e consciente de menosprezar, no funcionrio, a funo pblica,expondo-se ao desprestgio, no se integra o desacato. Essa tem sido a razo pela qual ajurisprudncia tem afastado o reconhecimento do delito nas hipteses em que as ofensasso proferidas por brios ou por indivduos que, no momento, se mostram possudos deintenso descontrole nervoso. (TACRIM-SP AC Relator Cid Vieira JUTACRIM75/189).

    Se a embriaguez, ainda que incompleta, paralisadora dos processos psquicos maiselevados, evidente que tal estado no se harmoniza com o fim certo e deliberado,estatudo na prpria tipicidade, para a caracterizao do desacato. A intoxicaoalcolica obsta a que o agente tenha condies de atuar com inteno certa,determinada, qualificada, e a figura exige, ao ser realizada, que o agente atue com afinalidade especfica de desacatar. (TACRIM-SP AC Relator Silva Franco RTn. 526/392).

    Art. 332 Trfico de influncia

    Acusado que solicita determinada importncia para dar a funcionrio pblico e"aliviar" a situao da vtima no inqurito policial contra ela instaurado Condenaodecretada Inteligncia do art. 332 do CP Na explorao de prestgio, o agenteatribui-se persuasivamente a exerc-la em favor do interessado perante a AdministraoPblica, em troca de obteno de vantagem ou promessa de vantagem para si prprio oupara outrem, como preo da mediao. (TJSP AC Relator Rocha Lima RT n.519/319).

    Explorao de prestgio Desconhecimento da identidade do funcionrio influenciado Delito no reconhecido No se pode cogitar de crime de explorao de prestgioquando no se sabe junto a que funcionrio o agente pretextava influir na obteno devantagem para terceiro. (TACRIM-SP AC Relator Edmond Acar JUTACRIM27/108).

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    Art. 333 Corrupo ativa

    Delito caracterizado Ru que, encaminhado presena do delegado de polcia,quando no Distrito Policial, ofereceu importncia em dinheiro a investigador, a fim deimpedir a apurao de sua ilcita atividade. (TJSP AC Relator Goulart Sobrinho RJTJSP 19/440-441).

    Doutrinariamente indicam-se como ncleos do crime de corrupo ativa o oferecer e oprometer vantagem indevida a funcionrio pblico, nos termos do art. 333 do CP. Masque isso ocorra sem nenhuma sugesto ou captao de vontade por parte do funcionrio.(TJBA AC Relator Ivan Brando RT 589/395).

    O oferecimento de dinheiro posterior ao ou omisso no caracteriza o crime decorrupo ativa, cuja razo de ser oferecer ou prometer vantagem indevida afuncionrio pblico, para que faa ou omita ato de ofcio, e no dar porque se fez ouomitiu. (TJSP AC Relator Nlson Schiavi RT n. 599/309).

    A corrupo ativa consiste em oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionriopblico para determin-lo a omitir ato de ofcio. A lei no distingue se a oferta oupromessa se faz por sugesto ou solicitao do funcionrio. (TJSP HC RelatorDante Busana RT n. 684/316).

    No crime de corrupo, podem concorrer as modalidades ativa e passiva ou apresentar-se somente uma delas, pois o art. 333 do CP s pune quem corrompe oferecendo ouprometendo, e no quem apenas se limita a ceder ante solicitao do funcionriopblico. (TJSP Relator Mendes Frana RJTJSP n. 7/545-547).

    Na corrupo ativa, certo, basta que o agente oferea a vantagem indevida aofuncionrio pblico para que o delito se aperfeioe. Todavia, a prova de sua existncia,para ser completa e serena, h de ser feita pela priso em flagrante ou, quando mais noseja, com a apreenso do dinheiro oferecido. (TJSP AC Relator Rezende Junqueira RT n. 565/311).

    Art. 334 Contrabando ou descaminho

    (Anteprojeto sobre Crimes Cambiais e Aduaneiros arts. 379-380). (Descaminho art.376).

    No o comerciante estabelecido que est sujeito s sanes do crime de descaminho,nas modalidades previstas na Lei n. 4.729/65. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo detal delito, desde que caracterizada a conduta de atividade de comrcio, pela revenda,com fim lucrativo. A prpria Lei n. 4.729/65, 2, no seu art. 50, refere-se claramenteao "comrcio irregular ou clandestino". Provimento, em parte, ao apelo do ru, parareduo da pena a um ano de recluso. (TFR AC Relator Esdras Gueiros DJUde 12/02/73).

    O objeto da tutela pena nesse crime fundamentalmente a salvaguarda dos interesses doerrio pblico, seriamente prejudicado pela evaso de renda que resulta do descaminho.Interesses de outra ordem so, todavia, igualmente tutelados, de forma secundria, tais

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    como a sade e a moralidade pblica (na represso importao de mercadoriasproibidas), bem como a indstria nacional, que se protege com a barreira alfandegria.Essencialmente, porm, esse crime encontra sua objetividade jurdica na economiapblica, o que justifica a classificao que lhe foi dada pelo legislador, considerando-seo amplo conceito de Administrao Pblica. (FRAGOSO, 1985. p. 978).

    No crime de descaminho, o objeto da tutela jurdica a salvaguarda dos interesses doerrio pblico com pagamento de tributos e, tambm, a proteo da indstria nacional.A jurisprudncia do extinto TFR solidificou o entendimento de que, quando asmercadorias apreendidas so em pequena quantidade, desde que demonstrada a boa-fdo agente e a ausncia de destinao comercial, no se justifica a condenao do ru,aplicando-se o princpio da insignificncia. (TRF 2 Regio Ac. 94.02.01228-1 Relator Chalu Barbosa j. 06/04/94 DJU de 19/05/94 p. 23.816).

    Descaminho. Caador que adquire, na cidade argentina de Pasos de los Libres,cartucho para espingarda de caa, destinado, por sua quantidade e qualidade, aoesporte, e os introduz no Brasil, por meio da cidade de Uruguaiana, onde reside e emcujo municpio programara, com alguns amigos, uma caada. Absolvio por ausnciade animus delinquendi. Interpretao razovel do art. 334, segunda parte, do CP, em facedas peculiaridades do caso. Recurso extraordinrio no conhecido. (STF RE Relator Soares Munz RTJ 83/972).

    Para fins de competncia, deve ser considerada a natureza permanente do delito.Enquanto no cessada permanncia delitiva, o delito se protrai no tempo. Competnciaque se define pela preveno. (STJ CC 11.236/2 Relator Anselmo Santiago j.06/04/95 DJU de 29/05/95, p. 15.467).

    O Juzo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de contrabandoou descaminho o do lugar onde foram apreendidos os objetos introduzidos ilegalmenteno pas. (STJ CC 13.306-8 Relator Edson Vidigal j. 04/05/95 DJU20/05/95, p. 15.475).

    Embora seja o descaminho um crime instantneo, que se consuma com o transcurso dasmercadorias pela zona alfandegria, os seus efeitos se protraem no tempo e repercutemobjetivamente no lugar da apreenso, circunstncia que torna competente, porpreveno, o Juzo Federal com jurisdio no local em que foi realizada a busca dosbens. (STJ CC Relator Vicente Leal RSTJ 78/314).

    Art. 335 Impedimento, perturbao ou fraude de concorrncia

    O art. 335 do Cdigo Penal incriminava a ao fsica de impedir, perturbar ou fraudarconcorrncia pblica ou venda em hasta pblica, promovida pela Administrao federal,estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal e, ainda, a ao de afastar ou procurarafastar concorrente ou licitante, por meio de violncia, grave ameaa, fraude ouoferecimento de vantagem.

    Percebe-se que o preceito primrio da norma penal previa a concorrncia pblica, quebusca atrair interessados em vender ou prestar servios Administrao Pblica direta ou

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    indireta do Estado e a venda em hasta pblica, tambm pela Administrao Pblica,inconfundvel com a hasta pblica levada a efeito pelo Judicirio nas hipteses previstas nalegislao de regncia.

    Ocorre, porm, que essa disposio legal, contida no Cdigo Penal, foi parcialmenterevogada pelos arts. 93 e 95 da Lei n. 8.666, de 21/06/93, que instituiu normas paralicitaes e contratos.

    No sentido da revogao total, temos a manifestao recente de autores de escol.

    Para Damsio E. Jesus, o art. 335 do CP, que definia o crime de impedimento,perturbao ou fraude de concorrncia, foi revogado pelos arts. 93 e 95 da Lei n.8.666/93. Os fatos continuam a ser tpicos, mas na lei especial e no no Cdigo Penal. Aprimeira parte do caput do art. 335 est definida no art. 93 da nova Lei; a segundaparte do caput desse artigo est descrita no art. 95. (JESUS, 1993; 1995. p. 211).

    No mesmo sentido, a manifestao de Paulo Jos da Costa Jnior, quando observa quecontinua em vigor, entretanto, o art. 358 do Cdigo Penal, que incrimina a violncia oufraude em arrematao judicial, que no se acha regularmente pela presente Lei n.8.666/93. (COSTA JNIOR, 1994).

    Tambm Vicente Greco Filho preleciona que o delito corresponde parcialmente ao art.335 do CP, primeira parte. Observa, ainda, que, sob o aspecto do objeto da fraude, odispositivo atual mais amplo, porque protege cada ato do procedimento licitatrio,no mais exigindo que haja impedimento, perturbao ou fraude da concorrncia comoum todo. Essa ampliao torna crime consumado situaes que seriam de tentativa noregime da legislao anterior e tentativa de situaes que se limitariam, anteriormente,a meros atos preparatrios. (GRECO FILHO, 1994. p. 34).

    A segunda parte do caput do revogado art. 335 do Cdigo Penal corresponde, hoje, ao art.95, da Lei n. 8.666/93.

    Cabe observar, com supedneo nos ensinamentos do consagrado autor por ltimo citado,que a expresso contida no art. 93 da Lei de Licitaes qualquer ato de procedimentolicitatrio compreende as licitaes de obras, servios, compras e alienaes daAdministrao Pblica, quando contratadas com terceiros, estendendo-se aos rgos doPoder Legislativo, Judicirio e Tribunal de Contas, no exerccio de suas atividadesadministrativas.

    Contudo, no abrange outras modalidades de licitaes, como, v. g., as alienaes judiciais(art. 1.113 e seguintes do CPC), a arrematao (art. 686 e seguintes do CPC), o leilo oupraa de bens, submetidos gide do art. 358 do Cdigo Penal.

    Na obra de E. Magalhes Noronha, atualizada post mortem, o entendimento de que odispositivo do art. 335 no foi totalmente revogado, remanescendo em vigor parte dele.

    Esses os fundamentos: Referida figura tpica foi derrogada parcialmente pela Lei n.8.666, de 21/06/93, que reproduziu formas assemelhadas em seus arts. 93 e 95.Afirmamos que a derrogao foi parcial, pois o art. 335 previa duas modalidades

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    concorrncia e hasta pblica e a lei de licitaes atingiu apenas a primeira,continuando plenamente em vigor a figura tpica prevista no Cdigo Penal no tocante hasta pblica. (NORONHA, 1982. p. 337).

    Emprestamos nosso apoio a esse entendimento.

    Sem dvida, a revogao foi apenas parcial, permanecendo em vigor o art. 335 do CdigoPenal no que pertine a impedir, perturbar ou fraudar venda em hasta pblica promovidapelas entidades pblicas nele elencadas.

    Art. 336 Inutilizao de edital ou de sinal

    Crime contra a Administrao Pblica Inutilizao de sinal Delito caracterizado Ru que rompe lacre que vedava o funcionamento do seu estabelecimento comercial,interditado pelo Servio de Policiamento da Alimentao Pblica Condenaomantida Inteligncia do art. 336 do CP: Infringe o art. 336 do CP aquele que rompelacre que interditava o seu estabelecimento comercial, por ordem da autoridade pblica.(TACRIM-SP AC Rel. Onei Raphael RT n. 402/275).

    Delito no configurado Advogado que risca o seu nome do rol de devedores de custasjudiciais, constante de edital afixado no frum Singelo e fino trao a lpis, seminutilizao do dito, que continuou legvel Falta de justa causa para a ao penal Concesso de habeas-corpus para o seu trancamento Inteligncia dos arts. 336 do CPe 648, I, do CP O ato de cancelar, por meio de traos, um nome em lista de devedorespor custas judiciais, na presena de oficial de justia, no configura o contedocriminoso apenado no art. 336 do CP, que exige, formao do corpus delicti, ainutilizao ou o conspurcamento do edital. (TAMG HC Relator Fiuza Campos RT n. 514/415).

    Art. 337 Subtrao ou inutilizao de livro ou documento

    Subtrair no a simples tirada da coisa do lugar em que se achava: exige, comomomento posterior, a sujeio dela ao exclusivo poder de disposio do agente. O fimdeste ter a coisa definitivamente para si prprio (animus rem sibi habendi) ou paraterceiro. Se sua inteno apenas usar passageiramente a coisa, seguindo-se areposio desta, intacta, sob o poder de disposio do dono, no h falar em subtrao.(TJSP RHC Relator Accio Rebouas RT n. 415/59).

    CRIMES CONTRA A ADMINISTRAO DA JUSTIA

    Art. 338 Reingresso de estrangeiro expulso

    Cabe registrar que no Anteprojeto o delito passa a ser tratado, fragmentado em duasentidades (arts. 329 e 330) entre os crimes praticados por particular contra a Administraoem geral.

    Art. 339 Denunciao caluniosa

    Pressuposto do delito de denunciao caluniosa dar causa instaurao de

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    investigao policial ou de processo judicial contra algum, imputando-lhe crime de quese sabe ser inocente. Portanto, se o inqurito requerido arquivado, por versar sobreassunto de natureza exclusivamente civil, no h justa causa para que responda orequerente ao penal. (TJSP HC Relator Gonalves Sobrinho RT n.575/335).

    Aquele que emite cheque sem proviso de fundos est, em princpio, preenchendo osdados compositivos da figura criminosa do estelionato, de sorte que o beneficirio dottulo, frustrado o respectivo pagamento, no pratica denunciao caluniosa se solicita ainstaurao de inqurito policial para a punio do infrator, mesmo quando o ttulo notenha sido entregue como ordem de pagamento vista. (TJSP HC Relator SilvaFranco RT n. 528/305).

    Art. 340 Comunicao falsa de crime ou contraveno

    No importa a quem tenha sido feita a comunicao falsa de crime para que se configure ocrime do CP, art. 340. O que conta se dessa comunicao falsa houve algumaprovidncia para apurar. A se define a competncia em funo do lugar onde se iniciaram,formalmente, as averiguaes. (STJ CC Relator Edson Vidigal RSTJ 55/42).

    A simples comunicao de ocorrncia de crime que se saiba inexistente suficiente paraa caracterizao do delito de falsa comunicao de crime, ainda que aps simplesdiligncia ou indagao acerca dos fatos. (TJSP AC Relator Pereira da Silva RT n. 727/484).

    Art. 341 Auto-acusao falsa

    No comete o crime do art. 341 do CP aquele que se auto-acusa falsamente de condutorde veculo sinistrado, apenas para obter o boletim de ocorrncia destinado ao seguro,sem conhecer a existncia de vtimas, porque o fato foi omitido por aquele a quemprocurou substituir. (TACRIM-SP AC n. 320.913 Relator Dimas Ribeiro).

    Para reconhecimento do crime de auto-acusao falsa em sua segunda modalidadeobjetiva referida no art. 341 do CP, indispensvel a prova segura de autoria ematerialidade do crime anterior e que pressuposto indispensvel daquele. (TACRIM-SP AC Relator Gomes de Amorim JUTACRIM 85/509).

    Art. 342 Falso testemunho ou falsa percia

    So sujeitos ativos do crime capitulado no art. 342 do CP somente a testemunha, operito, o tradutor e o intrprete, sendo evidente que a vtima a eles no pode serequiparada. (TJMG AC Relator Lauro Pacheco Filho RT n. 694/359).

    Falso testemunho Caracterizao Depoimentos inverdicos de testemunhas,tendentes a denegrir a reputao de menor em processo de corrupo Moa de bomcomportamento, no obstante haver se entregado ao namorado Ocorrncia do delitodo art. 342 do CP Cancelamento da pena acessria. (TJSP AC Relator AlvesBraga RJTJSP 28/373-376).

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    Se o acusado, ao depor como testemunha em outro processo, no s faltou verdade,dizendo-se presente ao local dos acontecimentos, quando ali no esteve, como tambmdeformou os fatos que no presenciou, dando-lhes outra verso para beneficiar o entoru, que escapou sano penal, comete delito previsto no art. 342 do CP. (TJSP AC Relator Alves Braga RT n. 464/352).

    O CP, na definio da figura tpica do art. 342, nomen iuris "falso testemunho ou falsapercia", pressupe como sujeito ativo da infrao exclusivamente a testemunha, operito, o tradutor ou o intrprete, tendo em vista o desempenho dessas funes na formacomo elas vm estabelecidas ou tratadas pela legislao processual, civil, penal,especial ou administrativa. Nessa legislao adjetiva que consta o que sejatestemunha, perito, tradutor ou intrprete para o efeito de responsabilizao criminalnos termos antevistos pelo aludido preceito de lei.

    Assim, para que um especialista ou expert sobre determinada matria possa ser tidocomo perito e, nessa condio, passvel de responsabilizao por falsa percia, segundopreconizado pelo art. 342 do CP, faz-se indispensvel seja ele perito, auxiliar daJustia, na conformidade do que vem estabelecido pelas normas processuais sobre apessoa que exerce essa funo. Particularmente no que diz respeito lei adjetiva penal,somente perito aquele que ocupa referido cargo na Administrao Pblica, vale dizer,que exerce oficialmente essa funo ou, na sua falta, a pessoa assim nomeada ecompromissada pela autoridade, conforme disposto nos arts. 158 e seguintes e 275 eseguintes do CPP.

    No ser perito, a toda evidncia, nos termos e para os fins suprareferidos, a pessoaque, como especialista ou expert de determinado campo de conhecimento, venha a serconvidada ou contratada particularmente para elaborar estudo ou parecer tcnico sobreassunto dessa rea com vistas a obter soluo que lhe seja favorvel. Nem ser referidapessoa perito, e nem seu trabalho tcnico merecer o qualificativo de percia, por faltade correspondncia s estritas disposies legais existentes sobre a matria, comoreferido. (TJSP HC Relator Reynaldo Ayrosa RT n. 641/331).

    A retratao, para ser admitida como fator de no-punibilidade do agente pela infraodo art. 342 do CP, h de preceder a sentena no processo em que foi esse crimecometido. Se feita posteriormente, mesmo que a deciso ainda seja passvel de recurso,s ter efeito atenuante (art. 48, IV, b, do citado estatuto) (atual art. 65, III, b). (TJSP HC Relator Adriano Marrey RT n. 394/68).

    No mesmo sentido: RJTJSP n. 22/507; RT n. 451/363 e n. 492/274.

    Art. 343 Corrupo ativa de testemunha ou perito

    O delito previsto no art. 343 do CP estabelece duas possibilidades alternativas de ofertaou promessa: dinheiro ou qualquer outra vantagem. A promessa de prestao deservios profissionais gratuitos, para que a testemunha preste depoimento falso,constitui uma promessa de vantagem e caracteriza, em tese, o delito de corrupo ativa

    de testemunha ou perito. (TJSP HC Relator Camargo Aranha RT n. 539/264).

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    Para a caracterizao do delito do art. 343 do CP, preciso que a pessoa subornadaassuma, atualmente, a qualidade de testemunha (figurando no rol apresentado pelaspartes ou mandado ouvir pela autoridade) ou, se perito, tradutor ou intrprete (jnomeado ou designado por quem de direito). (TJSP AC n. 71.737-3 Relator DanteBusana parte do Acrdo).

    Art. 344 Coao no curso do processo

    Para que se configure o crime de coao no curso do processo (art. 344 do CP), misterse faz a coexistncia de um feito judicial, policial, administrativo ou simplesmentearbitral. A grave ameaa, com o fito de obstar ou dificultar a apurao de abuso depoder, proferida antes da instaurao de inqurito policial no dirigida, portanto, autoridade, parte ou qualquer outra pessoa que estivesse funcionando ou tivesse sidochamada a intervir no processo policial , obriga a desclassificar a conduta para afigura tpica do art. 147 do CP. (TJSP Rev. Rel. Dante Busana RT n. 656/282).

    Art. 345 Exerccio arbitrrio das prprias razes

    A conduta de sndico de edifcio que, respaldado em deciso de assemblia-geralextraordinria de condomnio vedando a locao por tempo inferior a seis meses, parasegurana e moralidade do prdio, impede a continuidade de ocupao de unidade porinquilino temporrio que afronta a moral e os bons costumes, no caracteriza o delitode exerccio arbitrrio das prprias razes, representando as providncias tomadaseventual ilcito civil. (TACRIMISP HC Relator Roberto de Almeida RT n.635/374).

    O delito do art. 345 do CP compe-se de uma pretenso legtima (ou supostamente tal) ede uma ao (ou omisso) que, em outras circunstncias, constituiria fato delituosoautnomo (furto, dano, apropriao indbita etc.), mas que parte justificada pelopropsito especfico do agente. Assim, se a conduta do ru no pode ser subsumida emqualquer outro tipo penal e, ainda, est legitimada pelo juzo cvel, impe-se aabsolvio, por se tratar de fato atpico. (TACRIM-SP AC Relator WalterSwensson RT n. 639/324).

    O elemento normativo do tipo est contido na expresso "salvo quando a lei o permite".No h delito, por atipicidade do fato, quando a conduta do sujeito est autorizada pelalei, ou seja, quando a lei admite a justia particular. (ex.: direito de reteno, desforoimediato Cdigo Civil, art. 502).

    Inexiste furto mas, eventualmente, exerccio arbitrrio das prprias razes, na condutade quem abate animal alheio que invade sua propriedade, com vistas ao ressarcimentode prejuzos sofridos. (TACRIM-SP AC Relator Weiss de Andrade JUTACRIM49/337).

    A simples subtrao de coisa mvel alheia no o bastante para a configurao dofurto. indispensvel que o agente tenha a inteno de possu-la, submetendo-a ao seupoder. Se ele subtrai a res para satisfazer pretenso jurdica, comete o crime deexerccio arbitrrio das prprias razes. (TACRIM-SP AC Relator Adalberto

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    Spagnuolo RT n. 498/324).

    Art. 346 Subtrao, supresso ou danificao de coisa prpria no legtimo poderde terceiro

    O proprietrio de casa alugada que, para forar sua desocupao pelo inquilino, adanifica, comete o delito do art. 346 e no o do art. 345 do CP. (TJSP AC RelatorPrestes Barra RT n. 532/331).

    Subtraindo coisa prpria, que se encontrava em poder da vtima, legalmente, comete oacusado o delito do art. 346 e no o do art. 155 do CP. (TJSP AC Rel. RezendeJunqueira RT n. 538/327).

    Art. 347 Fraude processual

    Fraude processual Delito no caracterizado Acusado que, a fim de incriminar ocontendor e exculpar-se pela legtima defesa, fere-se a si prprio, imputando, porm, aleso quele Fato ocorrido s escncaras, sem a menor reserva ou malcia Ausncia, pois, de artificialidade, capaz de induzir a erro a Justia Absolviodecretada Inteligncia do art. 347, pargrafo nico, do CP Para que se integre afigura delituosa do art. 347, pargrafo nico, do CP, mister, da parte do agente, umquid de malcia, inerente ao artifcio empregado, sem o que este perde qualquer relevona esfera repressiva. (TACRIM-SP AC Relator Prestes Barra RT n. 369/186).

    O elemento material do delito do art. 347 do CP tem limites bem definidos que noadmitem a possibilidade de estender a norma a hipteses diversas daquelastaxativamente indicadas. (TJSP AC n. 60.079/3 parte do voto vencedor do Des.Dante Busana).

    O crime de fraude processual no se integra pela simples alterao dos fatos ou poralegaes mentirosas, destinadas a induzir em erro o juiz ou o perito. No basta suaconfigurao a mudana artificiosa, deturpadora da verdade, sendo indispensvel que ainovao recaia sobre o estado de lugar, coisa ou pessoa, como taxativamenteconsignado no tipo. (TJSP AC Relator Corra Dias RT n. 635/350-351 partedo voto vencedor proferido pelo Des. Dante Busana).

    Fraude processual Inovao de estado de pessoa Ru que mente sobre a prpriaidentidade Delito no configurado Inovar artificiosamente o estado de pessoasignifica mudar o estado fsico, isto , o aspecto exterior ou as condies anatmicasinternas. Assim, a simples mentira sobre a prpria identidade no configura o crime doart. 347 do CP. (TACRIM-SP AC Relator Baptista Garcia JUTACRIM 46/355).

    Art. 348 Favorecimento pessoal

    O crime de favorecimento pessoal no ocorre quando o seu indigitado autor co-autordo favorecido. (TJSP AC Relator Cunha Bueno RT n. 512/358).

    O fato de algum encontrar a arma que foi utilizada para a prtica de um homicdio eno entreg-la espontaneamente Polcia no caracteriza a infrao do art. 348 do CP,

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    pois o crime de favorecimento pessoal consiste no auxlio prestado ao criminoso paraque este se subtraia ao da autoridade. o ato de despistar, embaraar e confundir oresponsvel pela captura, para que o autor de um crime possa homiziar-se, esconder-seou mesmo empreender fuga. (TJSC Rec. Relator Ernani Ribeiro JC n. 60.240).

    No se pode exigir outra conduta de quem retira, apressadamente, do local do crime, oparente que acabara de comet-lo, transportando-o para longe dos acontecimentos.(TJSP AC Relator Silva Leme RT n. 611/318).

    Art. 349 Favorecimento real

    O favorecimento real supe, para sua configurao, que o agente ponha o bem fora deperigo, garantindo o proveito do crime praticado por terceiro. (TACRIM-SP AC Relator Ricardo Andreucci JUTACRIM 90/388).

    Pratica o crime de favorecimento real aquele que, fora dos casos de co-autoria oureceptao, presta auxlio a infrator para tornar seguro o proveito da transgresso, noobstante ter sido a ajuda em proveito de menor inimputvel. (STF HC Relator Nrida Silveira JUTACRIM 96/429).

    Art. 350 Exerccio arbitrrio ou abuso de poder

    Inexiste abuso de autoridade na conduta de policial que mantm detida a pretensavtima em dependncia de delegacia em que o agente se encontra lotado, para ultimaoe formalizao de auto de apreenso de objetos oriundos de crime. (TACRIM-SP Rec. Relator Silvio Lemmi JURICRIM Franceschini 21/29, n. 2.27).

    No houve revogao expressa do art. 350 do CP pela Lei n. 4.898/65. E implicitamentetambm no ocorreu a revogao, posto que os textos legais mencionados no soincompatveis ou inconciliveis. (TJSP AC Relator Mrcio Bonilha RT n.537/299).

    O inc. IV do pargrafo nico do art. 350 do CP, dada sua generalidade e abrangncia,no foi derrogado pela Lei n. 4.898, de 09/12/65, j que nem todas as condutas passveisde serem nele subsumidas esto previstas no diploma especial. Todavia, se a dilignciaefetuada com abuso de poder atentar liberdade de locomoo ou for meio de execuode medida privativa da liberdade individual, de se reconhecer, nessas hipteses, a ab-rogao do dispositivo, ou a absoro do delito nele previsto pelos crimes dos arts. 3,a, e 4, a, da Lei de Abuso de Autoridade. (TACRIM-SP Rec. Relator DanteBusana RT n. 592/344).

    Art. 351 Fuga de pessoa presa ou submetida medida de segurana

    Facilitar prestar auxlio fuga executada pelo prprio preso ou internado, como, porexemplo, fornecendo instrumentos (limas, serras, escadas, cordas etc.) ou meios dedisfarce ou instrues teis. (TJSP AC n. 65.721-3 Relator Weiss de Andrade).

    Em crime de fuga de pessoa presa, irrelevante a considerao da priso do fugitivoser ou no provisria, pois tal espcie de priso est prevista na Lei Maior e no CPP

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    como modalidade regular de custdia ad processum, importando efetiva priso de quema esse ttulo encontra-se recolhido. (TACRIM-SP AC Relator Marrey Neto RJDn.14/79).

    Art. 352 Evaso mediante violncia contra a pessoa

    Tentativa (equiparada ao delito consumado).

    Consuma-se o crime com evaso ou tentativa de evaso violenta. Deixa, pois, bem claro alei que, se o agente, por exemplo, esfaqueia um carcereiro e enceta a evaso, sendo,porm, detido ao escalar o muro, no h tentativa do delito: este consumou-se com a fugaviolenta tentada, que se equipara, como j se falou, fuga violenta consumada.(NORONHA, 1982. p. 410; HUNGRIA, 1958. p. 515; FRAGOSO, 1985. p. 1.957).

    Dano qualificado Delito no configurado Presos que ao se evadirem danificam asgrades de proteo e vidraa da cela Ausncia de dolo Apelao provida Absolvio decretada Inteligncia dos arts. 163, pargrafo nico, III, e 352 do CP A fuga ou tentativa de fuga s caracteriza crime quando h violncia contra a pessoa,como se pode verificar pela leitura do art. 352 do CP. (TACRIM-SP AC RelatorNlson Hanada RT n. 499/354-355).

    Art. 353 Arrebatamento de preso

    Elemento subjetivo do crime o dolo especfico, que consiste na vontade livrementedirigida ao arrebatamento de preso para o fim de infligir-lhes maus tratos. Estes podemvariar entre as vias de fato e a morte. Se o arrebatamento feito para o fim de promoverfuga do preso, o crime ser o do art. 351 do CP. (FRAGOSO, 1985. p. 1.059; HUNGRIA,1959. p. 521; NORONHA, 1982. p. 412).

    No crime de arrebatamento de preso o ncleo do tipo indicado "arrebatar", que tem osentido de tomar fora, arrancar. A pessoa arrebatada o preso e ele tomado dequem o tenha sob custdia ou guarda. No tem relevo para a tipificao o local onde seacha o preso, desde que se acha custodiado ou guardado, pois o arrebatamento no visa fuga do preso, mas, ao contrrio, ao fim de maltrat-lo, o que marca o elementosubjetivo da figura. (TJSP AC Relator Goulart Sobrinho RJTJSP n. 71/346).

    Art. 354 Motim de presos

    O crime do art. 354 do CP caracteriza-se pela revolta coletiva de presos com intuito decontrariar a autoridade ou poder constitudo, tumultuando seriamente a ordem edisciplina da priso, mediante atos de violncia contra guardas, funcionrios ouinstalaes ou aos outros detentos no solidarizados com suas atitudes. (TAMG AC Relator Edelberto Santiago RT n. 615/341).

    Vide RJTAMG 24-25/492.

    O crime de motim de presos consiste no comportamento comum de rebeldia de pessoaspresas, agindo para o fim de reivindicaes justas ou no. a vontade livre econsciente dirigida ao motim, conhecendo o sujeito que sua conduta perturba a ordem

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    ou a disciplina do estabelecimento prisional. (TACRIM-SP AC Relator Hlio deFreitas RT n. 653/310).

    O Anteprojeto, no art. 346, cria a figura tpica de "tomada de refm".

    Art. 355 Patrocnio infiel

    Sujeitos do delito.

    Sujeito ativo (advogado ou procurador judicial).

    Somente poder ser sujeito ativo do delito o advogado (bacharel em Direito, inscrito naOAB) ou procurador (solicitador ou provisionado inscrito na Ordem, ou ainda qualquerpessoa idnea, nos casos em que a lei permite o exerccio de mandato judicial a pessoasno formadas, o que se d quando no h profissionais no lugar ou impedimento dos quehouver). No influi na configurao do crime o fato de ser o advogado ou procuradorremunerado ou no; e tanto faz que tenha sido escolhido pela parte ou nomeado pelo juiz.Pode o crime ser praticado inclusive pelo defensor pblico.

    Conquanto no se exija a existncia de mandato formal, indispensvel, como diziaCarrara (Programa 2.601), que haja defesa aceita, ou seja, que o patrocnio da causatenha sido definitivamente confiado ao agente e aceito por este. Se se tratar apenas deconsulta ou parecer, no haver patrocnio infiel mas, to-somente, transgressodisciplinar. Pressupe-se esse crime, em suma, por parte do agente, a condio deadvogado ou procurador, no patrocnio atual de interesse em Juzo. (FRAGOSO, 1959. p.1.063; JESUS, 1995. p. 307).

    Alis, E. Magalhes Noronha denominou esses delitos de crimes de advogado ouprocurador. (NORONHA, 1982. p. 415).

    O crime de patrocnio infiel s punvel a ttulo de dolo (genrico): vontade livrementedirigida traio do dever profissional, sabendo o agente que est prejudicando o seucliente. Sem inteno malfica, no identificvel o crime. Assim, no se enquadrar noart. 355 o entendimento com o ex adverso sobre um acordo transacional razovel, ouqualquer fato comissivo ou omissivo decorrente de imprudncia, negligncia ouimpercia. (TACRIM-SP HC Relator Rocha Lima JUTACRIM n. 69/103 e RT n.556/325).

    Se houve da parte do advogado certa precipitao e exorbitncia no lavrar,pessoalmente, acordo com a parte contrria, acordo que no foi aceito pelo cliente, noh como, a priori, eximi-lo de dolo, ao menos eventual, para increpar-lhe apenasimprudncia profissional ou negligncia ou, ainda, impercia, formas de culpabilidadeincapazes de concorrer para a integrao do delito de patrocnio infiel. (TJSP HC Relator Prestes Barra RT n. 522/314).

    Art. 356 Sonegao de papel ou objeto de valor probatrio

    Para configurao do delito previsto no art. 356 do CP, no basta que o advogadoretenha os autos alm do prazo legal. mister que no restitua o processo aps, para

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    isso, intimado e decorrido o respectivo prazo. A devoluo realizada depois dooferecimento da denncia no apaga a falta. (TACRIM-SP HC Relator LuizAmbra RT n. 687/298).

    Caracteriza o delito de sonegao de autos judiciais a recusa de sua restituio,firmado aquele pela cobrana determinada pelo juiz mediante regular intimao.Consuma-se o crime pela inrcia do agente, independentemente do tempo da indbitareteno ou da posterior devoluo. No elide, portanto, sua configurao a assertiva deque os autos j se encontravam em cartrio quando do oferecimento da denncia, ou deque os prazos se renovam indefinidamente ou de que somente a reteno permanente edefinitiva o tipifica. (TACRIM-SP Rec. Relator Reynaldo Ayrosa JUTACRIMn. 85/187).

    Art. 357 Explorao de prestgio

    Explorao de prestgio Caracterizao Policial militar que pede e recebedinheiro, dizendo que seria entregue a escrivo de polcia, a pretexto de influir naaprovao em exame para obteno de carta de motorista Escrivo que se encontraalheio a tudo Deciso mantida Recurso no provido. (TJSP AC RelatorDenser de S RJTJSP n. 45/351-352).

    Explorao de prestgio Acusado que, passando por amigo do promotor e do escrivoda vara onde tramitava o processo, solicita dinheiro de parte interessada Fatocapitulado no pargrafo nico do art. 357 do CP Imposio, por isso, de pena maisgrave Exacerbao dessa ainda pretendida Inadmissibilidade Deciso mantida A circunstncia de o agente insinuar que o dinheiro solicitado da parte interessadano processo se destinava ao promotor e ao escrivo j implica a qualificao dainfrao capitulada no art. 357, pargrafo nico, do CP, resultando na imposio depena mais grave e no comportando nova exacerbao. (TJSP AC Relator AlvesBraga RT n. 46 7/333).

    Art. 358 Violncia ou fraude em arremataco judicial

    O delito em apreo se assemelha aos descritos nos arts. 93 e 95 da Lei n. 8.666/93(impedimento, perturbao ou fraude de licitao pblica, antigo art. 335 do CdigoPenal). Deles se diferenciando somente quanto objetividade jurdica, pois aquiprotege-se a arrematao judicial; naqueles tutela-se a licitao pblica em geral.

    Esse, alis, o entendimento de Damsio E. de Jesus (JESUS, 1995. p. 317).

    O art. 358 do CP visa punir aquele que impede, perturba ou frauda arremataojudicial, afasta ou procura afastar concorrente ou licitante, por meio de violncia, graveameaa, fraude ou oferecimento de vantagem. Somente se tipifica a infrao penal como dolo do agente e este no se evidenciou em todo o curso do processo. (TACRIM-SP AC Relator ngelo Gallucci JUTACRIM n. 78/297).

    Oferecer lano, ciente da ausncia de disponibilidade financeira, atitude que afastacompetidores e frauda a arrematao, impedindo que o ato judicial chegue ao fim de

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    modo normal. Imprevisto atraso na chegada de dinheiro sua conta no escusa oagente, pois caracteriza, no mnimo, dolo eventual, visto que assume ele o risco daimediata apresentao do cheque ao banco, com a conseqente devoluo. (TACRIM-SP AC Relator Gonzaga Franceschini RJD n. 7/73).

    Art. 359 Desobedincia deciso judicial sobre perda ou suspenso de direito

    Desobedincia deciso judicial sobre perda ou suspenso de direito e sonegao deincapazes.

    Configura o delito do art. 359 do CP, e no o crime de sonegao de incapazes, aconduta de desquitado que retm consigo filho menor por prazo superior aoconvencionado para visita. Impe-se a soluo, eis que a infrao definida no art. 248,do mesmo diploma, a defesa dos direitos de titular do ptrio-poder, da tutela e dacuratela o que impede ser o pai, no destitudo daquele poder, sujeito ativo do delito.(TACRIM-SP AC Relator Lauro Malheiros JUTACRIM n. 48/205).

    O crime definido no art. 359 do CP pressupe deciso judiciria de natureza penal eno civil. (STF RHC Relator Antnio Neder RTJ n. 79/401).

    No mesmo sentido: JUTACRIM n. 67/164; RT n. 553/355.

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