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ANÁLISE DA POLÍTICA INSTITUCIONALDE SEGURANÇA PRIVADA– UM ESTUDO COMPARADO –FERNANDO DA CRUZ COELHO2006
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ANLISE DA POLTICA INSTITUCIONAL DE SEGURANA PRIVADA
UM ESTUDO COMPARADO
FERNANDO DA CRUZ COELHO 2006
Trabalho Final apresentado ao Centro de Estudos de Criminalidade e Segurana Pblica da UFMG, como requisito parcial para a obteno do ttulo de especializao. Orientador: Prof. Dr. Antnio Augusto Pereira Prates
Resumo do Trabalho
COELHO, Fernando da Cruz. Anlise da Poltica Institucional de Segurana Privada Um Estudo Comparado, 2006. 56f. Monografia (especializao em Criminalidade e Segurana Pblica) CRISP, Universidade Federal de Minas Gerais.
Pesquisa sobre o controle da segurana privada no Brasil, garantido pela Lei n 7.102/83, atualizada pelas Leis 8.863/94 e 9.017/95, aplicvel s atividades que utilizam armas de fogo, que equivocadamente tem se interpretado que as Leis citadas abrangeriam a segurana desarmada, e, portanto estariam sendo encaradas de forma semelhante. Comparada com legislaes promulgadas recentemente na Espanha, Portugal, Mxico e Argentina, verificam-se as atividades de segurana privada desarmada controlada originariamente e de forma distinta da segurana que utiliza arma de fogo, que para ocorrer, necessita de autorizao especial nos citados pases pesquisados. Em cada um desses pases se estipula quais as atividades de segurana podero fazer uso de arma de fogo e a mesma ter de envolver situao de risco comprovado. Demonstra-se por
meio das teorias de Bayley, Michel Crozier e Perrow, que a especializao e o profissionalismo existem no rgo responsvel pela fiscalizao do setor e enfatiza a dbia interpretao que o texto de Lei em vigor proporciona. Comprovando, que a legislao brasileira se encontra defasada e desatualizada com relao aos tipos de controle existente em nvel internacional, bem como, das necessidades e evoluo tecnolgica inseridas no setor. Sugerindo estudos para que se reformule a legislao atual. Devendo exigir o controle da segurana eletrnica, das atividades envolvendo a instalao e monitoramento de alarmes e cercas eltricas e Circuito Fechado de Televiso (CFTV), e ainda das investigaes particulares e demais atividades que a rigor no se utilizam de arma de fogo, que de forma pontual e clere podem ser objeto de fiscalizao por parte de Estados e/ou Municpios. Permanecendo a Unio com a exclusividade do controle das atividades de segurana privada que utiliza arma de fogo em consonncia com a Lei Federal n 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento). Palavras-chave: controle, segurana privada, legislao, arma de fogo, desarmada. .
A minha esposa Cristina, as minhas filhas Fernanda, Lorena e Paola e aos meus filhos Joo Pedro e Gabriel, pelas infindveis horas de estudos roubadas aos seus convvios. Aos meus pais, Casimiro e Maria, pelo esforo na minha formao.
Aos colegas da DELESP/MG, pela dedicada colaborao, minha gratido. Ao professor Antnio Augusto Prates pelos momentos de orientao, subtrados ao j restrito tempo pessoal, dedicado aos nobres afazeres acadmicos.
O Bom entendedor: Saber argumentar foi outrora tido como a suprema arte. Hoje no basta. Temos de adivinhar sobretudo nas questes que podem nos enganar. No pode ser entendido que no bom entendedor. H videntes do corao e linces das intenes. As verdades mais importantes se exprimem sempre por meias palavras; s os atentos as compreendem totalmente. Nos assuntos que parecem favorveis, puxe as rdeas de credulidade. Nos odiosos, use as esporas .
BALTASAR GRACIN
SUMRIO CAPTULO 1 INTRODUO......................................................................... 01
1.1 OBJETIVOS....................................................................................... 03
1.1.1 GERAL......................................................................................... 03
1.1.2 ESPECFICO............................................................................... 03
1.2 E VOLUO TEMTICA. ................................................................. 04
CAPTULO 2 METODOLOGIA...................................................................... 06
2.1 ASSUNTO.......................................................................................... 06
2.2 TEMA................................................................................................. 06
2.3 PROBLEMA....................................................................................... 06
CAPTULO 3 SEGURANA PBLICA E PRIVADA
REFERNCIAS TERICAS.......................................................................... 08
3.1 Teoria do Policiamento................................................................. 09
3.2 Teoria das Organizaes.............................................................. 13
3.3 Diagnstico da Ao Estatal Brasileira......................................... 15
3.4 O Controle da Segurana Privada no Brasil................................. 22
3.4.1 Quantitativo da Segurana Privada por Estado......... 23/24
3.4.2 Quantitativo da Segurana Privada por Regio.............. 25
3.4.3 Quantitativo da Segurana Privada no Brasil.................. 25
CAPTULO 4 O CONTROLE DA SEGURANA PRIVADA
INTERNACIONAL COMPARADO AO BRASILEIRO...................................... 30
4.1 O Controle da Segurana Privada na Unio Europia................. 30
4.1.1 Quantitativo de Empresas de Segurana Privada e
Vigilncia na Unio Europia................................... 32/33
4.1.2 Quantitativo das Empresas de Transporte de
Valores na Unio Europia......................................... 34
4.1.3 O Controle da Segurana Privada na Espanha.............. 35
4.1.4 O Controle da Segurana Privada em Portugal.............. 38
4.2 O Controle da Segurana Privada na Amrica Latina.................. 40
4.2.1 O Controle da Segurana Privada no Mxico................ 44
4.2.2 O Controle da Segurana Privada na Argentina............. 47
4.3 Quadro Comparativo do Controle de Segurana Privada entre:
Brasil Espanha Portugal Mxico Argentina................ 50/51
CAPTULO 5 CONCLUSES E RECOMENDAES............................ 52/56
1
CAPTULO 1 - INTRODUO
A interveno institucional do Estado na segurana privada obedece a uma lgica
universalmente acatada pela sociedade: regulamentar e fiscalizar com vistas promoo justa
de contratao de agentes de proteo ao patrimnio e a incolumidade fsica de pessoas. Para
isso, uma situao ideal de regulao e controle deve estabelecer como objetivos estratgicos
a busca de transparncia nas relaes estabelecidas entre os prestadores e tomadores de
servio, que s pode se dar atravs de regras claras, expressas atravs de legislao especifica.
O controle das atividades de segurana privada no Brasil misso do Departamento de
Polcia Federal - DPF, atravs de sua especializada, denominada Delegacia de Controle de
Segurana Privada - DELESP. Tal misso encontrava-se respaldada apenas pela lei 7.102, de
20 de junho de 1983, e posteriormente, foi atualizada pelas Leis n 8.863, de 28 de maro de
1994 e n 9017, de 30 de maro de 1995. A lei em questo foi regulamentada pelo Decreto n
89.056, de 24 de novembro de 1983, que foi alterado pelo Decreto n 1592 de 10 de agosto de
1995. Com isso, permitiu ao DPF, atravs da Portaria n 992, de 25 de outubro de 1995,
alterada pela Portaria n 277, de 13 de abril de 1998, criar para todo territrio nacional,
procedimentos uniformes direcionados ao controle das empresas prestadoras de servios de
segurana privada, s empresas que executam servios de segurana orgnica e aos planos de
segurana dos estabelecimentos financeiros.
Entretanto, a legislao como se encontra hoje, defasada e confusa e est a merc de
interpretao equivocada, conforme demonstrado no trabalho de pesquisa realizado em 2004
por este acadmico junto ao Centro Universitrio de Belo Horizonte Uni-bh. No citado
trabalho argumentado que o rgo fiscalizador no intuito de controlar a atividade de
segurana privada no Brasil de forma abrangente corre o risco de extrapolar seu poder de
2
fiscalizao sob o fundamento de que a norma atual no especifica expressamente, se tal
controle, somente deva ser exercido nas atividades que utilizem arma de fogo ou no. Encara
como similar atividade exercida pelo vigilante (aquele profissional preparado para exercer a
segurana privada utilizando-se de arma de fogo), quelas tambm exercidas pela segurana
desarmada, por meio da mo de obra de vigias, porteiros e zeladores, ou seja, profissionais
que controlam os acessos ao patrimnio pblico ou privado em especial, sem a utilizao de
arma de fogo.
Vale dizer, que a atividade armada tem a capacidade preventiva e reativa, enquanto as
demais apenas preventiva. A vigilncia armada exercida por profissional adequadamente
preparado, denominado vigilante, que possui o poder de reao por meio de arma de fogo,
assegurado por lei, e, portanto previsto o rigor e o controle desses profissionais, que tambm
por exigncia legal, devem possuir vinculo empregatcio com uma empresa de segurana
privada autorizada a funcionar pela Polcia Federal. Quanto vigilncia desarmada, essa no
possui o poder de reao apontado, pois no h utilizao de arma de fogo, atua apenas
preventivamente, que diante de um ato desviante contundente, quem a executa ter de se
subjugar.
bom ressaltar, que as atividades exercidas por vigias, porteiros, zeladores e
assemelhados, comumente ocorrem de forma autnoma ou por meio de pessoas com vnculo
empregatcio com empresas de conservao e limpeza. A legislao em estudo no prev
qualquer tipo de fiscalizao sobre tais atividades, por motivos bvios, a inexistncia de arma
de fogo.
Ao se interpretar que as atividades acima descritas se assemelham, leva o organismo
estatal a executar um controle deficiente com o desvio do foco de interesse da Unio, que o
controle das armas de fogo destinadas aos vigilantes vinculados s empresas de vigilncia
3
especializadas.
A legislao brasileira descreve como segurana privada as atividades de: segurana
patrimonial, transporte de valores, orgnica, escolta armada, segurana pessoal privada e
cursos de formao de vigilantes. Vale lembrar, que a Segurana Privada pode ser vista como
um s negcio, mas na realidade contm vrios segmentos e cada um deles possui uma
dinmica prpria, com variveis regionais e locais. Atividades desenvolvidas nos diferentes
setores como: segurana eletrnica, alarmes, cercas eltricas, blindagem de veculos e
edifcios, circuito fechado de televiso, investigaes particulares encontram-se desamparados
pela legislao, tal qual, a segurana privada desarmada, que mesmo diante da franca
expanso a mais de uma dcada, no se tem conhecimento da existncia de algum tipo de
regulamento em nvel Federal, Estadual ou Municipal.
Diante do exposto, esta pesquisa est focada em dar continuidade a analise da atual
Legislao desenvolvida no Trabalho anteriormente citado. A idia apresentar fundamentos
de cunho sociolgico e jurdico comparado com outros pases, para reforar as recomendaes
que visem dirimir as dvidas e confuses que a legislao atual causa diariamente,
especialmente as de ordem operacional como as atividades de segurana armada e desarmada,
balizando a sugesto que estas deveriam ser reguladas por normas distintas e de origens
tambm distintas.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1Geral: Promover uma anlise comparativa da atual Legislao Brasileira de
Segurana Privada com a de outros pases, visando sua reformulao e aprimoramento.
1.1.2Especfico: Interpretar o caso brasileiro luz da experincia internacional.
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1.2EVOLUO TEMTICA: Divididos em sees primria, secundria e terciria, a
partir do CAPTULO 2 ser destacado a METODOLOGIA de estudo, que trata do controle
das atividades de Segurana Privada no Brasil, comparando-o com o exercido por outros
pases e com os dados apurados, buscar a contribuio necessria para a modernizao
organizacional e normativa da Legislao Brasileira, enfocando problemas e sugestes para
dirimi-los;
No CAPTULO 3, sob o ttulo POLICIAMENTO PBLICO E PRIVADO -
REFERNCIAS TERICAS: na 1 Seo intitulada Teoria de Policiamento, os argumentos
apresentados possuem como fundamento os estudos de David Bayley, no livro intitulado: O
Desenvolvimento da Polcia Moderna, no qual o autor ao fazer uma abordagem do
desenvolvimento da polcia, afirma que o carter pblico e privado distinguido,
necessariamente, tanto pelo pagamento como pela orientao das instituies, que justificam
no plano sociolgico e operacional as recomendaes a serem defendidas no contedo deste
trabalho monogrfico; Na 2 Seo Teoria das Organizaes, buscar-se- uma anlise
prtica no mbito burocrtico que envolve o rgo responsvel pelo controle da segurana
privada, tendo como referncia os ensaios de Michel Crozier no texto O Fenmeno
Burocrtico Relaes de poder e situaes de incerteza Editora Universidade de Braslia
vol 2 e de Perrow, C. no livro intitulado Anlise organizacional: Um Enfoque Sociolgico,
Cap. 3, pg. 74/83, Editora Atlas, 1972. que aborda sobre as estruturas paralisantes e os
mecanismos quase inelutveis da rotina existente nas organizaes, passando a idia de
estarem intimamente associadas aos temores, s expectativas e ao comportamento de todos os
participantes. Matria de poder e de relaes de dependncia, na busca de se sustentar as
recomendaes a serem feitas no plano sociolgico e administrativo, quando do trmino do
desenvolvimento do presente trabalho monogrfico; Na 3 Seo Diagnstico da Ao
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Estatal Brasileira, aborda sobre pesquisas realizadas por setores especializados e/ou
interessados no acompanhamento das atividades desenvolvidas pela segurana privada no
Brasil, discorrendo sobre os pontos positivos e negativos existentes no setor; Na 4 Seo O
Controle da Segurana Privada no Brasil, discrimina as atividades que podem ser
desenvolvidas no Brasil pelo setor em anlise, apresentando dados estatsticos no nvel:
Estadual, Regional e Nacional existentes no SISVIP Sistema Nacional de Segurana e
Vigilncia do DPF Departamento de Polcia Federal.
No CAPTULO 4, sob o ttulo: O CONTROLE DA SEGURANA PRIVADA
INTERNACIONAL COMPARADO AO BRASILEIRO, busca-se mostrar como ocorre o
controle da segurana privada em alguns pases membros da Unio Europia e da Amrica
Latina, descrevendo os dados estatsticos do setor e fazendo breve comentrio das legislaes
vigentes nos pases selecionados comparando-as com a existente no Brasil. A teoria de base
fundamentada no texto desenvolvido por este pesquisador acadmico no trabalho apresentado
ao Uni-bh, como j citado, e, que foi uma das exigncias para obteno do grau Superior em
Gesto em Segurana Patrimonial Tcnicas e Marketing, sob a orientao do Professor
Renato Vieira, em dezembro de 2004. Nesta oportunidade, seu contedo serve de referncia
para que se desenvolvam anlises comparadas da Legislao Brasileira de Controle da
Segurana Privada com as Legislaes vigentes em alguns pases selecionados, membros da
Unio Europia e da Amrica Latina com objetivo de se buscar formas claras de controle dos
servios desenvolvidos pelo setor.
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CAPTULO 2 - METODOLOGIA
2.1ASSUNTO: Controle da Segurana Privada.
2.2TEMA: Anlise comparativa do Controle das atividades de Segurana privada no Brasil
com a de outros pases.
2.3PROBLEMA: A Lei n 10.826, de 22 de dezembro de 2003, chamada de Estatuto do
Desarmamento, dispe sobre registro, posse e comercializao de armas de fogo e munio,
e, sobre o Sistema Nacional de Armas Sinarm. Define crimes e d outras providncias,
principalmente, com o resultado do referendo direcionado a questionar a comercializao ou
no das armas de fogo, no qual a populao optou pelo sim, ou seja, autorizou a continuao
de sua comercializao em todo territrio brasileiro. Entretanto, qualquer que fosse o
resultado, continuaria e continua a exigir um controle sem precedentes do Estado sobre as
empresas de segurana privada autorizadas a utilizar armas de fogo em suas atividades fim.
A Legislao em vigor (Lei 7.102/83 atualizada pelas Leis 8863/94 e 9.017/95
regulamentada pelo Decreto 89.056 atualizado pelo Decreto 1.592/95), diante de tantos
remendos, sob o prisma de estarem sendo atualizadas, criaram e criam dificuldades
operacionais, tanto para as empresas de segurana privada, quanto para os rgos
fiscalizadores, como o DPF, e de forma acessria, a Polcia Rodoviria Federal (no auxilio
fiscalizao da escolta armada), e o Comando do Exrcito (no auxilio fiscalizao dos
produtos controlados: como munio, material de recarga e coletes a prova de bala, usados no
treinamento e exerccio da profisso de vigilncia e segurana privada no Brasil), como
ressaltado no trabalho citado no Captulo 1.
Diante do problema apresentado de cunho organizacional e legal, temos o problema
social, tendo em vista, que necessrio discutir o papel e os limites do Estado Democrtico de
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direito na proviso da segurana como bem pblico versus o desenvolvimento e a
disseminao dos servios privados de segurana. Necessrio ainda, avaliar a presso da
sociedade e do mercado sobre organizaes pblicas por mais eficcia e eficincia, uma vez
que as empresas privadas de segurana esto conquistando novos espaos.
Explorar mais a anlise do problema e perguntar: Qual a estrutura organizacional das
instituies que regulam e controlam a segurana privada armada e desarmada em outros
pases? E em nvel de Brasil: Quais os recursos alocados? Tecnologia usada, formas de
controle e avaliao das empresas de segurana privada, etc.
Em consonncia com a situao apresentada, de vital importncia a busca de dados a
respeito do segmento da segurana privada em outros pases. As normas de controle efetivo, a
estrutura organizacional e os meios utilizados pelos rgos fiscalizadores devem ser
analisados e comparados com a realidade em nosso pas, a fim de reforar a criao de
legislaes que visem o fortalecimento da estrutura de regulao e fiscalizao das empresas
de segurana privada que utilizam armamento ou no distintamente. Por isso, ser enfatizado
nesta monografia, por exemplo, a necessidade da Unio, reestruturar o modelo burocrtico
adotado na fiscalizao e controle da segurana privada.
Este trabalho desenvolver-se- por meio de dados secundrios coletados nos rgos
especializados do pas e do exterior, bem como, nos estudos da legislao brasileira e das
regulamentaes de outros pases com objetivo comparativo.
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CAPTULO 3 SEGURANA PBLICA E PRIVADA
REFERNCIAS TERICAS
indiscutvel que o desenvolvimento das atividades de controle da segurana privada
pelo Estado, por intermdio dos rgos de segurana pblica, tem como condicionantes a
atuao profissional dos servidores pblicos, at porque, no se imagina que a atividade de
segurana privada, em especial a que faz uso da arma de fogo, sem qualquer tipo de
interveno estatal. Para tanto, as regras tem que ser absolutamente claras, entretanto, tem se
notado, que a desinformao existente no segmento da segurana privada alia-se ao
desinteresse em analisar as nuanas que a envolvem. Alis, regras pouco claras parecem no
ser exclusividade do objeto desse estudo, como pode ser visto no ensaio de David H. Bayley
intitulado Imposio da Lei e a Obedincia Lei, onde descreve no fator Complexidade da
Lei o seguinte:
As leis que concernem o trabalho da polcia normalmente so complexas e pouco
claras. Em seu livro Guilty, o juiz Haroldo Rothwax mostra que mesmo os juzes e
promotores discordam sobre a aplicao adequada das leis que a polcia
rotineiramente chamada a seguir, em especial no campo crtico da busca e apreenso
(1997). Como o contedo da lei criminal freqentemente contm poucas linhas
claras e essas linhas mudam com as interpretaes judiciais e novas legislaes, a lei
se torna suspeita na mente dos policiais (Eterno, 1999). Eles a vm como um artefato
de interpretao, bem como de poltica, e no como uma diretriz impositiva.
Com base nessa colocao, que fundamenta o argumento no qual a falta de clareza da
legislao de controle da segurana privada no Brasil que dificulta a sua aplicao de forma
eficiente e eficaz. Defende-se ento a necessidade de se discutir a reformulao da regulao
atual que se d atravs do controle direto do Estado, somado ao mecanismo de autodisciplina,
de acordo com os quais o prprio mercado fixa e cobra das empresas de segurana privada o
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atendimento e prtica operacional ligada a padres ticos idealizados pelo setor e
consensualmente submetidos aceitao.
Implementar aes de comunicao corporativa, direcionadas ao rgo responsvel pelo
controle da segurana privada, destinadas a esclarecer pontos obscuros, principalmente, no
que diz respeito interpretao dada quanto ao objeto da fiscalizao, se entende, restringir-se
a que utiliza arma de fogo.
E isso, como citado no Capitulo 1, o primeiro passo, para obtermos um controle gil e
eficaz. Para se sustentar tal argumento, algumas teorias sociolgicas consagradas sobre a
segurana nas comunidades organizadas de diferentes etnias atravs da histria, sero
apresentadas a seguir:
3.1 TEORIA DO POLICIAMENTO
A comunicao reclamada no pargrafo anterior passa seguramente pelo conhecimento e
entendimento da dimenso que envolve as atividades de segurana pblica e segurana
privada perante a sociedade ao longo da histria em diferentes pases. Sendo que nesta
oportunidade, pode-se recorrer ao ensaio produzido por este pesquisador e o grupo formado
para executar o trabalho final da disciplina: Modelos de Polcia em Sociedades Democrticas,
do CRISP/UFMG 2005. Tal trabalho apresentou e comentou as perspectivas de David
Bayley, no ensaio sobre O Desenvolvimento da Polcia Moderna, e alguns fatores ali
defendidos possuem relevncia para fundamentar o presente trabalho de pesquisa, no qual se
destacam:
Bayley ao julgar fatores como urbanizao, aumento da riqueza e industrializao,
afirma que estes por si s no geram o sistema pblico de polcia, no qual acredita que
seria errado concluir que o policiamento privado decadente, afinal no haveria
nenhuma necessidade histrica na mudana de polcia privada para publica. E ainda,
10
que as formas de policiamento pblico no suplantam permanentemente as privadas,
prova disso que mesmo nos dias de hoje o policiamento privado cresce
enormemente no mundo industrializado e isso sugere que o aumento do crime pode
levar ao fortalecimento do policiamento privado se o pblico no for eficaz.
Defende que o policiamento pblico nunca substitui definitivamente o privado, ele
difcil de ser explicado porque ocorre em todos os tipos de circunstncias sociais. Dois
fatores de suma importncia ocorrem na mudana de polcia privada para pblica:
Mudanas sociais que enfraquecem a capacidade dos grupos privados para manter
nveis aceitveis de segurana e a formao de comunidades policiais maiores, que
resistem violncia dos grupos que pretendem abranger.
O DPF atravs de sua especializada procura abranger o controle da segurana privada
no Brasil, contudo, no basta, a existncia da delegacia como organismo de controle. Os
policiais que a integram devem ter tempo para se especializarem, entretanto, a rotatividade
grande, e poucos policiais conseguem se especializar o bastante para exercerem com
desenvoltura a fiscalizao e at mesmo aprimorarem seu senso crtico a respeito das
atividades exercidas no setor.
Sobre esse assunto envolvendo a necessria especializao, ainda se valendo do
trabalho final citado anteriormente, pode-se destacar o que teoriza Bayley. Ao tratar da
Polcia Especializada, o autor nos apresenta primeiramente o termo Especializao como
sendo a exclusividade em se desenvolver uma atividade ou tarefa, depois apresenta essa tarefa
ou atividade no contexto do policiamento, a saber:
O policiamento moderno dominado por instituies que se tornaram cada vez mais
especializado nos ltimos dois sculos. Nos Estados modernos, o uso da fora para a
manuteno da ordem pblica tem sido confiado a organizaes especializadas no-
militares, alis, isso implica numa diversidade de funes desempenhada pela polcia
nos dias de hoje e no s no simples uso da fora, como resultado de sua prpria
11
adaptao aos novos requisitos de manuteno da ordem.
Quando trata das Causas da especializao, Bayley afirma ser difcil construir uma
explicao convincente para especializao da polcia. Na realidade no encontra
justificativas completas, seja pelo aumento da complexidade social na forma de
estratificao e diferenciao, visto as circunstncias sociais modernas que facilitam a
especializao, seja no campo poltico, j que regimes no esto automaticamente
ligados especializao. Acredita-se que a especializao seja til tanto em termos
de garantir no s o controle adequado quanto ao aumento da eficincia.
Vejam que a frase em destaque resume de maneira feliz o entendimento defendido
neste trabalho, quanto especializao. Contudo, esta, deve ser direcionada ao profissional
de polcia previamente selecionado e adequadamente preparado, obedecendo a um perfil para
o exerccio da funo, por meio de critrios rgidos e especficos, ou seja, adotar um
comportamento profissional direcionado para o objeto a ser controlado e fiscalizado. E sobre
isso, as idias de Bayley, podem tambm servir de base, pois suas consideraes sobre a
profissionalizao vo de encontro ao que se prega neste captulo, como descrito abaixo:
O autor entende que a profissionalizao uma atribuio moderna da polcia, mais
claro que o carter pblico ou a especializao, conota uma ateno explicita da
conquista da qualidade no desempenho, como: uso de tecnologia moderna,
neutralidade na aplicao da lei, uso responsvel da discricionariedade e certa
autonomia, no qual conclui que o policiamento moderno dominado por rgos
pblicos, especializados e profissionais. Sendo, que o grande diferencial na matria
policiamento a combinao desses atributos, assim estes se completam e deixam de
ser atributos em si mesmos passando a ser um atributo uno das policias modernas.
Apresentado esses ensaios, no resta dvida que a concluso do autor se trata de
caracterstica marcante do Departamento de Polcia Federal do Brasil, por ser um organismo
policial com incontestvel credibilidade nacional e internacional. Bem estruturada em todo
12
pas a Polcia Federal possui um dos maiores e mais conceituados centros de formao
policial do mundo, a Academia Nacional de Polcia - ANP, que ocupa uma rea de 600.000
m em Sobradinho Distrito Federal.
Com capacidade de alojar 450 alunos a cada 5 meses (perodo dos cursos de formao
profissional do Policial Federal em todos os nveis hierrquicos) e salas de aula com
equipamentos de ltima gerao, a ANP tem a misso de selecionar, formar e especializar no
s Policiais Federais, mas profissionais de segurana pblica de todo pas e/ou do exterior.
Como instituio de ensino, a ANP visa tambm promover estudos cientficos sobre
temas da rea criminal e de tcnica policial para consolidar uma polcia eficiente, moderna e
operacional, que exera, com maestria, suas atribuies constitucionais. Difunde a doutrina
policial que busca proteger o cidado com intuito de preservar seus valores individuais, bem
como comunitrio, ou seja, o policial deve agir sempre em defesa da sociedade, sem se
descuidar dos interesses do Estado. A combinao dos atributos especializado e profissional
se insere na ANP pelo histrico de realizaes desde sua inaugurao em 20 de dezembro
de 1961, e pela formao do corpo docente, composta por professores experientes em todos os
setores que fazem parte do organograma da Polcia Federal.
A ANP possui a responsabilidade de compor a estrutura administrativa da Polcia
Federal do Brasil, que busca o aperfeioamento permanente do ensino e aprendizagem, bem
como, a formao e a especializao de seus policiais. nesse contexto que se insere todo
Policial Federal. Servidor de uma instituio preocupada com atributos importantes para
poder moldar um policial moderno, bem preparado e apto para enfrentar os delitos de vrias
espcies e as necessidades do dia a dia, como por exemplo, o controle das atividades de
segurana privada no Brasil.
13
Na prxima seo buscar-se- maior fundamentao ao entendimento da necessria
profissionalizao e conseqente especializao dos atores envolvidos no controle e
fiscalizao das empresas de segurana privada, os aspectos burocrtico e institucional que os
contagiam e o formalismo a ser respeitado com base na disciplina comportamental.
3.2 TEORIA DAS ORGANIZAES
Para o socilogo Perrow em um modelo burocrtico existem pelo menos dois requisitos
para a criao de uma organizao formal: algum em posio de comando e outros para
diversas fases do trabalho, que se especializam na execuo.
preciso algum com caractersticas para exercer as incumbncias de forma isolada e
disciplinada, de acordo com a aptido natural e sua experincia anterior ou ao tipo de
treinamento recebido.
O ideal para ser eficiente, que a organizao conte com um ambiente estvel e
que seu pessoal no seja influenciado por fatores alheios ao rgo.
importante que o rgo que funciona como instrumento de controle do Estado na
atividade de segurana exercida pela iniciativa privada fique atento a esse argumento em
destaque, para que no se desvie do objetivo a ser fiscalizado, do que realmente deva ser
controlado, atendendo ao interesse social e, por conseguinte da Unio. At porque, as
empresas de segurana privada muitas vezes em detrimento do interesse social, que oferecer
um servio de qualidade ao cliente e por extenso ao pblico que o rodeia, orientam e
direcionam seus profissionais a se esforarem no sentido de evitar gastos e alteraes
inerentes s atividades de segurana, apoiados no binmio custo/beneficio. Em outras
palavras: O que interessa o lucro.
Na verdade as empresas de segurana deveriam assumir uma postura profissional,
14
mostrando sua eficcia atravs de bons servios que compreendessem a atividade de
vigilncia e proteo de forma participativa e integrada. Consciente de que ela
responsabilidade de todos. O profissional da segurana privada possui o importante dever de
assessorar e agilizar as diretrizes e polticas, que mostrem a sociedade: qualidade, eficincia e
seriedade com suas atividades de proteo.
Como parte integrante do complexo empresarial natural que as empresas de segurana
necessitem de lucro, entretanto, esse no pode ser obtido a qualquer custo, por se tratar de
uma atividade que visa preservar o patrimnio e principalmente a incolumidade fsica das
pessoas. Da a necessidade do controle dessas atividades envolvendo a segurana privada,
que no Brasil possui legislao especfica exigindo certos requisitos bsicos para constituio
e operao de empresas de vigilncia, segurana patrimonial, pessoal, escolta armada,
transporte de valores e dos cursos de formao de vigilantes.
No que diz respeito mo de obra utilizada, existe ainda, toda uma preparao,
qualificao, treinamento e reciclagem do profissional denominado vigilante. A ele
assegurado o porte de arma no local de trabalho, sendo que a arma a ser utilizada em servio
deve ser de propriedade da empresa de segurana autorizada a funcionar pelo DPF nos limites
de uma determinada Unidade da Federao, como previsto em lei. Para que todo esse
mecanismo tome a forma que o Poder Estatal exige, ocorre tramitao demorada de
documentos, comuns nas reparties pblicas, a chamada burocracia.
Por falar em burocracia, Michel Crozier no texto O Fenmeno Burocrtico diz:
Relaes de poder e situaes de incerteza resumem-se na existncia de um equilbrio
conflitante, porm estvel, entre os grupos que negociam asperamente para defender
seus privilgios em um mundo de plena mudana, e que tm muito medo de que seus
adversrios marquem tentos a seu favor, se eles relaxarem sua vigilncia.
15
Tal argumento se encaixa bem no comportamento adotado pelas empresas de segurana
privada autorizadas a funcionar, que na busca da reserva de mercado, defendem por meio de
entidades corporativas e sindicais da classe patronal e laboral, que qualquer tipo de segurana
privada (armada ou desarmada) do patrimnio e dos que ali acessam estaria sob a gide da
Legislao atual. Vale ressaltar, que o pensamento defendido por essas entidades, entende-se
ser equivocado, e isso que se busca demonstrar na prxima seo.
3.3 DIAGNSTICO DA AO ESTATAL BRASILEIRA
O entendimento focado no pargrafo anterior mostra o quanto tem custado caro ao DPF
em termos de imagem e at certo ponto, em termos de sua atuao profissional propriamente
dita no que diz respeito fiscalizao exercida junto s empresas de segurana privada. Para
se ter uma idia, pode-se usar como exemplo a matria publicada em 19 de fevereiro de 2003
pela Revista Carta Capital, intitulada Segurana Privada: Exrcito sem Controle, na qual
divulga um trabalho do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea), junto a Polcia
Federal mostrando que o nmero de profissionais da segurana privada cadastrados em
janeiro de 2003, chegava a 913.269 vigilantes.
Naquela oportunidade a reportagem destacava que a quebra do monoplio estatal teria
tornado-se um risco em virtude da delegao dos servios de segurana privada s empresas
comandadas por pessoas cujas credenciais seriam suspeitas. A matria teria se baseado em um
dossi montado pela prpria Carta Capital, feito por meio de investigaes realizadas nos
meandros da segurana privada no Brasil, onde aps anlise de dezenas de processos de
execuo fiscal, autuaes do INSS, sentenas judiciais, relatrios de Comisses
Parlamentares de Inqurito, papis arquivados em juntas comerciais de trs diferentes Estados
Brasileiros e documentos adormecidos em cartrio, concluram que o bilionrio negcio das
empresas de segurana privada seria: [...]um corpo anabolizado sobre um esqueleto fraturado
16
por falcatruas[...], com fortes indcios de firmas funcionando em nome de laranjas ou com
expressivos dbitos com o Fisco. E a revista faz ao longo da matria uma colocao
pejorativa de forma repetitiva com relao a cada empresa de segurana que estaria envolvida
com tais irregularidades, quando pergunta: - E o que diz a PF[ ...]? Resposta: A empresa tem
autorizao para funcionar atravs da Portaria n [...]
Em resumo: O ttulo da matria de capa da Carta Capital - Segurana Privada: Exrcito
sem Controle por si s expe a imagem de competncia e coloca em dvida a eficcia do
trabalho da Polcia Federal, atravs de sua Delegacia Especializada no que concerne ao
controle das atividades de segurana privada no Brasil.
Da torna-se oportuno abrir espao para o Estudo do Setor da Segurana Privada
ESSEG realizado em 2004 promovido pela Fenavist Federao Nacional das Empresas de
Vigilncia e Transporte de Valores. O ESSEG ao traar diagnstico das caractersticas
econmicas, perspectivas e desafios para conquista de novos espaos no mercado, acusou o
problema enfrentado pelas empresas de segurana autorizadas a funcionar nas diferentes
Unidades da Federao, que estariam lutando para reverter imagem negativa que possuem
perante os tomadores de servio em potencial devido clandestinidade no setor, dizendo o
seguinte:
O mercado de segurana privada explorado ainda por empresas clandestinas, que
no se sujeitam s normas da Polcia Federal e dos servios terceirizados, e tambm
pelos servios informais de segurana, que sequer constituem pessoas jurdicas. As
empresas clandestinas e as informais so consideradas um dos principais problemas
enfrentados pelo setor e um desafio para rgos reguladores do mercado, como o
Departamento de Polcia Federal...Assim, a contratao dos servios irregulares ou
ilegais implica sanes previstas pela Lei n7.102[...]
Vale ressaltar, que tal afirmao no condiz com a realidade, pois a citada lei no prev
17
qualquer tipo de sano aos tomadores e/ou prestadores de servios irregulares ou ilegais da
chamada segurana clandestina. A Lei 7.102/83 possui apenas um artigo que trata das
sanes, o de n 23, e esse visa apenas penalizar as empresas especializadas e os cursos de
formao de vigilantes que infringirem as disposies nela contida. Portanto, a Lei determina
penalidade somente para as empresas de segurana privada autorizadas a funcionar pela
Polcia Federal nas diferentes Unidades da Federao. No h qualquer tipo de meno
quelas que no so alcanadas pelo regulamento, e, conseqentemente no sujeitas ao
controle direto do organismo estatal de controle da segurana privada, que seriam as
atividades exercidas, via de regra sem a utilizao de arma de fogo, pelas chamadas
empresas clandestinas.
Importante acrescentar a necessidade de especificar e caracterizar o que pode ser
considerada empresa clandestina (armada ou desarmada? eletrnica com ou sem apoio ao
cliente? etc), bem como, retratar o que realmente ocorre no segmento por um motivo bem
simples: Diz respeito clandestinidade invocada, pois luz da Lei 7.102/83, essa s ser
considerada se houver uso de arma de fogo, o qual o texto do ESSEG no esclarece, e, nos
dias de hoje os envolvidos com arma de fogo de forma irregular ou ilegal sofrem tambm as
sanes previstas na Lei 10.826, de 22.12.2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento.
interessante a interpretao de forma continuada dada por tal estudo, que se
pressupem retratar o pensamento dominante do setor de segurana privada no Brasil, pois,
mesmo sendo contraditrio no que diz respeito ao tema envolvendo os prestadores de servio,
acaba corroborando com a tese do presente trabalho, pois afirma que:
Do ponto de vista operacional, as empresa de segurana privada se caracterizam pela
atuao limitada regio e aos servios especificados nas portarias de autorizao de
funcionamento emitidas pela Polcia Federal. E o insumos bsicos para prestao dos
18
servios, como vigilantes e as armas e munies adquiridas e comercializadas
tambm so controladas pela DPF (armas e munies so controladas tambm pelo
Ministrio do Exrcito). J, os servios de vigilncia eletrnica, apesar de comporem
o mercado, no esto sujeitos ao controle direto da Polcia Federal.
Em outras palavras o Estudo do Setor da Segurana Privada (ESSEG- 2004) retrata o
obvio de que os insumos bsicos para prestao de servios que dependem de Autorizao da
Polcia Federal so os compostos por: vigilantes, armas e munies. De forma complacente
admite a vigilncia eletrnica compondo o mercado, mesmo no estando sujeita ao controle
da Polcia Federal. Mas como visto anteriormente, taxa de clandestina as atividades de
segurana privada como um todo (armada ou desarmada), sem apresentar fundamentao
legal. Pois, a Lei 7.102/83, em seu artigo 10, enumera os servios considerados de segurana
privada, que para serem executados, o artigo 19 da citada lei assegura ao vigilante o porte de
arma em servio. No entanto, ignorando tal preceito legal, o ESSEG no esclarece que tipo
de atividade considerada clandestina, pondo-a como problema para o setor e desafio para
Polcia Federal.
Dvidas que poderiam ser evitadas pela prpria Polcia Federal se suas Delegacias de
Controle da Segurana Privada e Comisses de Vistorias (localizadas nas capitais dos estados
e principais cidades do interior deste pas) se eximissem do controle da segurana desarmada,
por ausncia de previso legal. Deveriam se ater apenas ao que a Lei 7.102/83 atualizada
pelas Leis 8.863/94 e 9.017/95 prev na essncia: o controle da segurana privada que se
utiliza da arma de fogo no local de trabalho, como estipula o artigo 19 da Lei 7.102/83,
regulamentado pelo artigo 20 do Decreto 89.056/83, alterado pelo Decreto 1592/95, que
asseguram ao profissional vigilante porte de arma no local de trabalho quando em servio.
Portanto, o desafio apontado repousa sobre a interpretao da Lei, distinguir a segurana
19
desarmada da segurana armada.
Entende-se que a segurana desarmada tambm deva sofrer algum tipo de
regulamentao e controle, que a priori seria mais bem executado por estados e municpios,
tamanho o volume de profissionais exercendo tal atividade em condomnio residencial e/ou
empresarial, shopping, indstria e comrcio, shows e eventos em diferentes e distantes
localidades do pas. Assim como, os segmentos de: segurana eletrnica, alarmes, cercas
eltricas, blindagem de veculos e edifcios, circuito fechado de televiso, investigaes
particulares que da mesma forma encontram-se desamparados pela citada legislao.
O que se acredita, em se tratando de Polcia Federal, ser totalmente invivel fiscalizar os
segmentos da segurana privada desarmada, se for levado em considerao, quaisquer
servios de controle de acesso por meios fsicos (porteiros e zeladores) e/ou eletrnicos
existentes nos incontveis estabelecimentos industriais, comerciais e residenciais em todas as
cidades brasileiras, somada as seguintes situaes: primeiro - por falta de previso legal;
segundo por no utilizarem armas de fogo; e terceiro em razo do texto constitucional, que
especifica as atividades atribudas polcia da Unio, conforme se verifica no Capitulo III sob
o ttulo - Da Segurana Pblica, que diz:
Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do
patrimnio, atravs dos seguintes rgos:
I - polcia federal;
II - polcia rodoviria federal;
III - polcia ferroviria federal;
IV - polcias civis;
V - polcias militares e corpos de bombeiros militares.
20
1 A polcia federal, instituda por lei como rgo permanente, organizado e mantido
pela Unio e estruturado em carreira, destina-se a:" (Redao dada pela Emenda
Constitucional n 19, de 1998).
I - apurar infraes penais contra a ordem poltica e social ou em detrimento de bens,
servios e interesses da Unio ou de suas entidades autrquicas e empresas pblicas,
assim como outras infraes cuja prtica tenha repercusso interestadual ou
internacional e exija represso uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando
e o descaminho, sem prejuzo da ao fazendria e de outros rgos pblicos nas
respectivas reas de competncia;
III - exercer as funes de polcia martima, aeroporturia e de fronteiras; (Redao
dada pela Emenda Constitucional n 19, de 1998)
IV - exercer, com exclusividade, as funes de polcia judiciria da Unio...
Em sntese: Os artigos constitucionais em comento sinalizam o quantitativo e a
variedade de funes atribudas a Polcia Federal, das quais no pode excluir-se e a faz com
que priorize os preceitos constitucionais apresentados em sua atividade fim.
Este entendimento encontra respaldo na dissertao de mestrado de Viviane de Oliveira
Cubas defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP no ano de
2003, que ao relatar sobre fiscalizao das empresas de vigilncia feita pela Polcia Federal,
atravs da Delegacia de Segurana Privada, destacava naquela poca: Que o nmero de
funcionrios insuficiente para o controle das empresas legalizadas e a represso ao servios
clandestinos.
No resta dvida, que a Polcia Federal ao receber a atribuio legal para exercer a
fiscalizao e o controle da segurana armada, preparou-se de forma competente e
organizada. Para tanto, fez constar em seu organograma: a CGCSP- Coordenao Geral de
21
Controle de Segurana Privada com sede em Braslia/DF; a DELESP Delegacia de Controle
da Segurana Privada, em cada uma das capitais brasileiras; e as Comisses de Vistoria da
Segurana Privada nas cidades do interior onde existe Delegacia da Polcia Federal. Essas
reparties em conjunto alimentam o banco de dados do SISVIP Sistema Nacional de
Segurana e Vigilncia Privada da Polcia Federal. Esse Sistema possibilita ao interessado
consultar dados (efetivo, postos contratados, nmero de armas, veculos, autorizaes, datas
de vencimento, etc) das empresas de segurana privada autorizadas a funcionar. Quanto aos
vigilantes em atividade no pas (dados pessoais, formao, reciclagem e cursos de extenso
realizados), bem como, cadastro das instituies financeiras no pas.
Vale ressaltar, entretanto, que so as prprias empresas de segurana privada
autorizadas a funcionar que atualizam o SISVIP, via SISEV- Sistema das Empresas de
Vigilncia, caso no o faam a confiabilidade dos registros armazenados se torna falha, ou no
mnimo defasada. Para que os dados armazenados sejam confiveis, as empresas devem
registrar todas as informaes previstas no sistema, obedecendo no s o que determina a Lei,
mas o conjunto de aes que redefinam a relao entre sindicatos e empresas de segurana
associadas, revelando de certa forma se h organizao no setor.
Sobre tal organizao, pode-se recorrer mais uma vez ao Estudo da Segurana Privada
(ESSEG 2004), que independentemente da anlise do contexto scio econmico que
envolve o setor, demonstra o quanto a segurana privada est organizada em nvel de
associao e de sindicato patronal para alcanar seus objetivos empresariais e corporativos,
pois avalia as perspectivas de mercado e os negcios para elaborao de estratgias das
empresas, fornecedores e contratantes, bem como, tornar-se fonte de informaes para
consulta pblica e para os rgos reguladores do mercado, como a Polcia Federal, o INSS e
as Receitas Federal, Estaduais e Municipais, no qual podemos destacar, alm da prpria
22
Fenavist Federao Nacional das Empresas de Vigilncia e Transporte de Valores, as
seguintes entidades: ABTV Associao Brasileira das Empresas de Transporte de Valores,
ABCFAV Associao Brasileira de Cursos de Formao e Aperfeioamento de Vigilantes,
Sindesp - Sindicato das Empresas de Segurana e Vigilncia dos seguintes Estados: Acre,
Alagoas, Amap, Amazonas, Bahia, Cear, Distrito Federal, Esprito Santo, Gois/Tocantins,
Maranho, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Par, Paraba, Pernambuco, Piau, Paran, Rio
Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondnia, Roraima, Santa Catarina e So Paulo,
O captulo ora em desenvolvimento tem como objetivo precpuo, mostrar um
posicionamento sobre as informaes bsicas a respeito do Controle das Empresas de
Segurana Privada em todo territrio nacional. Na seo seguinte passa a ser descrito alguns
dados quantitativos referentes ao setor.
3.4 O CONTROLE DA SEGURANA PRIVADA NO BRASIL
No Brasil a Legislao em vigor (Lei 7.102/83 atualizada pelas Leis 8863/94 e
9.017/95 e regulamentada pelo Decreto 89.056 atualizado pelo Decreto 1.592/95) descrimina
em seu artigo 10 o que deve ser entendido como atividade de segurana privada (vigilncia
ostensiva), a saber: a vigilncia patrimonial das instituies financeiras e outros
estabelecimentos pblicos ou privados, a segurana de pessoas fsicas, o transporte de valores
ou a garantia do transporte de qualquer tipo de carga (escolta armada), e os cursos de
formao de vigilantes.
A citada legislao em seu artigo 3 determina que a vigilncia ostensiva e o transporte
de valores sero executados por empresa especializada ou pelo prprio estabelecimento
financeiro, com pessoal prprio (vigilante), aprovado em curso de formao de vigilante
autorizado pelo Ministrio da Justia e o artigo 19 da Lei e o artigo 20 do Decreto asseguram
ao vigilante quando em servio, entre outras garantias, uniforme especial e porte de arma
23
no local de trabalho, sendo que o artigo 21 da Lei determina que as armas destinadas ao uso
dos vigilantes sero de propriedade e responsabilidade das empresas especializadas e
autorizadas a funcionar ou dos estabelecimentos financeiros. Maiores detalhes a respeito da
sero comentados no Captulo 4, de forma comparada com legislaes de outros paises.
Pesquisa realizada no dia 31.03.2006 no Sistema Nacional de Segurana e Vigilncia
SISVIP do DPF Departamento de Polcia Federal apresentou os seguintes dados estatstico
estadual, regional e nacional:
3.4.1. - Quantitativo da Segurana Privada por Estado
UF Vigilantes
Cadastrados
Vigilantes
Trabalhando
Empresas
Vigilncia
Emp Transp
Valores
Carros
Fortes
Cursos
vigilantes
AC 2572 445 11 2 2 1
AL 16499 2636 50 2 51 2
AM 24743 4982 31 5 54 3
AP 9376 1890 14 3 10 3
BA 77938 22099 78 5 193 6
CE 34809 7000 71 5 110 5
DF 69197 12856 50 5 62 6
ES 22374 8261 45 5 51 3
GO 43055 6795 59 6 108 6
MA 21573 4399 32 4 80 4
24
MG 81814 22150 129 12 496 10
MS 8884 1747 26 8 128 3
MT 9973 2523 29 10 17 1
PA 32408 6724 62 6 134 9
PB 13359 1353 41 6 30 3
PE 48279 6564 95 8 313 8
PI 7208 628 20 3 85 2
PR 56405 18627 69 13 287 10
RJ 183167 38655 177 12 374 19
RN 11823 2409 33 4 23 5
RO 9531 2698 23 2 10 2
RR 1777 156 3 2 9 1
RS 80617 21476 112 10 203 12
SC 48124 14597 136 15 76 7
SE 16005 2539 23 3 17 3
SP 375770 116765 752 28 2111 37
TO 2694 759 9 2 11 1
SISIVIP/DPF-2006
25
3.4.2. - Quantitativo da Segurana Privada por Regio
Regio Vigilantes
Cadastrados
Vigilantes
Trabalhando
Empresas
Vigilncia
Emp Transp
Valores
Carros
Fortes
Cursos
Vigilante
Norte 83.101 17.654 153 22 230 20
Nordeste 247.493 49.627 443 40 902 38
Sudeste 663.125 187.818 1103 57 3032 69
Sul 185.146 54.700 317 38 566 29
Centro Oeste 131.109 23.921 164 29 315 16
SISIVIP/DPF-2006
3.4.3. Quantitativo da Segurana Privada no Brasil
Vigilantes cadastrados 1.309.974
Vigilantes trabalhando 333.720
Empresas Autorizadas
Vigilncia - 2.180
Transporte de. Valores - 186
Cursos de Formao - 172
2.538
Carros Fortes Cadastrados 5.045
SISIVIP/DPF-2006
26
Um dado relevante coletado em maro de 2006 na estatstica apresentada, mostra o
nmero de vigilantes cadastrados (queles que fizeram curso regular): 1.309.974. Desse
quantitativo, verifica-se que apenas 333.720 vigilantes foram absorvidos pelas 2.538 empresas
de segurana privada autorizadas a funcionar pela Polcia Federal em todo Brasil, revelando
que nos dias de hoje, s 25,47% dos vigilantes cadastrados esto vinculados s empresas de
segurana privada autorizadas a funcionar.
Abre-se a um parntese, para relembrar o discorrido na seo 3.3 desta monografia
sobre matria publicada pela Revista Carta Capital, quando divulga um trabalho do Instituto
de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea), junto a Polcia Federal mostrando que o nmero de
profissionais da segurana privada cadastrados em janeiro de 2003, chegava a 913.269
vigilantes.
Observa-se que em trs anos, houve um acrscimo de 396.705 vigilantes cadastrados
junto a Polcia Federal, representando uma elevao de 43,43% de novos profissionais do
setor a disposio do mercado de trabalho nesse perodo, nmeros que superam os 333.720
vigilantes que se encontram trabalhando na empresas de segurana autorizadas atualmente.
Ainda, em 2003, os nmeros divulgados pelo Sindicato dos Empregados das Empresas
de Vigilncia, Segurana e Similares de So Paulo - SEEVISSP, colhidos junto ao
SISVIP/DPF, informavam que as empresas autorizadas a funcionar naquele ano empregavam
329.695 vigilantes.
Ao se deparar com os 333.720 vigilantes vinculados s empresas de segurana privada
em 2006, a diferena representa um pequeno acrscimo de 4.025 vigilantes trabalhando no
setor da segurana, o que significa uma elevao no perodo 2003-2006 de apenas 0.98% de
vigilantes absorvidos pelas empresas de segurana privada contra o elevado percentual de
27
43,43% de vigilantes cadastrados e no absorvidos por esse mercado no mesmo perodo.
Em sntese, as empresas de segurana privada autorizadas a funcionar absorvem to
somente 25,47% dos vigilantes cadastrados na Polcia Federal. Da perguntar: e os 74.53%
desses vigilantes cadastrados se encontram em que tipo de atividade e de que forma? Essa
pergunta merece ser objeto de pesquisa em outra oportunidade...
Nota-se que o que poderia ser sinnimo de crescimento no setor, e, portanto ser
festejado, torna-se motivo de preocupao, pois se verifica uma letargia no setor de prestao
de servio de segurana privada que utiliza da mo de obra especializada do vigilante, e como
conseqncia as empresas autorizadas no conseguem acolher a avalanche de vigilantes
cursados a cada ano.
Outro fator importante a ser questionado diz respeito a um dos insumos de extrema
relevncia e merecedor do controle previsto na legislao: o porte de arma de fogo assegurado
ao vigilante no local de trabalho, quando em servio, de acordo com o artigo 19 da Lei
7.102/83 e o artigo 20 do Decreto 89.056/83. Armamento esse de propriedade e
responsabilidade das empresas de segurana privada conforme estipula o Artigo 21 da Lei
7.102/83 e artigo 42 do Decreto 89.056/83.
Ser que todos os 333.720 vigilantes esto trabalhando com arma de fogo, como
assegura a Lei vigente no Brasil? uma pergunta nada simples de responder, porque
dependeria do acesso a cada um dos contratos de prestao de servio de segurana privada
celebrado entre as 2.528 empresas autorizadas e os inmeros tomadores de servio para se
chegar a um dado estatstico prximo da realidade. Mas at para estimar esse quantitativo
haveria dificuldade, diante das variveis operacionais que envolvem o segmento, os quais se
podem destacar algumas, a saber:
28
1 - Em uma escala de 12h de trabalho por 36h de descanso, comum nos servios de
segurana patrimonial nas indstrias e empresas de grande porte, em um posto de 24h de
cobertura utilizado 1 arma de fogo para trs vigilantes que se reveza;
2 - Em uma escala de servios de segurana bancria disponibilizada 1 arma de fogo para
cada vigilante no local de trabalho;
3 - Em uma escala de transporte de valores ou escolta armada utilizado uma arma para cada
um dos 4 vigilantes componentes do carro de escolta ou do carro-forte, sendo que este ltimo,
ainda conta com mais 2 armas de grosso calibre;
4 - Em uma escala de segurana pessoal privada, via de regra, uma arma para cada um dos
4 vigilantes componentes da equipe;
5 - Em uma escala de segurana patrimonial em estabelecimento de menor porte, comum
seria o procedimento adotado na segurana bancria, entretanto, muitos servios so prestados
por empresas autorizadas com vigilantes desarmados. Fato que se encontra em total desacordo
com o estipulado no Artigo 19 da Lei 7.102/83 atualizada pela Lei 8.863/94 e pela Lei
9.017/95, que assegura o porte de arma ao vigilante em servio.
6 - Em uma escala de segurana orgnica que aquele exercido por empresas que tenham
objeto diverso da vigilncia ostensiva e do transporte de valores, que utilizam pessoal de
quadro prprio, geralmente o percentual maior de execuo de forma desarmada, tambm
em desacordo com o disposto no Artigo 19 da Lei 7.102/83 e suas atualizaes.
7 - Se inserem nessas variveis os inmeros vigilantes reservas contratados para suprir
eventuais falhas dos vigilantes titulares em seus postos de servio.
Vejam que na verdade, chegar-se-ia a resultados diferentes, no que se refere ao
quantitativo de vigilantes vinculados as empresas de segurana privada munidos inclusive por
29
tal insumo bsico (arma de fogo) para exercerem suas funes, mesmo sendo utilizado os
procedimentos comuns adotados pelos diversos segmentos da segurana autorizados e
controlados pela Polcia Federal no Brasil.
Controle que deve se tornar mais eficiente com a implantao do Projeto de Gesto
Eletrnica de Segurana Privada - GESP, desenvolvido e apresentado em 03.11.2005 pelo
Serpro Servio Federal de Processamento de Dados. Acredita-se que esse projeto,
possibilitar a Polcia Federal dinamizar o mais breve possvel a relao com as empresas de
segurana, com objetivo de incrementar a segurana, a integridade e a confiabilidade das
informaes do setor, alm de simplificar a manipulao dos dados na agilizao dos
processos de autorizao, compra de armas, mudana de atos constitutivos, etc. O projeto em
questo se bem implementado poder elevar o controle de tais atividades a padres de nvel
internacional, caso se distingue o que de competncia do DPF fiscalizar (a segurana
privada que utiliza arma de fogo) de acordo com a legislao em vigor, como ser
demonstrado no prximo captulo.
30
CAPTULO 4 O CONTROLE DA SEGURANA PRIVADA
INTERNACIONAL COMPARADO AO BRASILEIRO
A segurana privada a nvel internacional, como no Brasil, um setor econmico em
rpida expanso. Foram selecionados alguns pases do continente europeu e latino americano
por seus laos tnicos e sociais com o nosso pas, e por suas dimenses continentais
(8.511.996 Km) e/ou populacional em torno de 180 milhes de pessoas, para que se possa
fazer uma analise quantitativa. Segue-se ento de forma resumida o controle da segurana
privada no continente europeu.
4.1 O CONTROLE DA SEGURANA PRIVADA NA UNIO EUROPIA
A Unio Europia com 15 pases membros ocupando a superfcie territorial de
3.243.000 Km e uma populao de cerca de 366.6 milhes de pessoas, no qual, segundo
dados divulgados no dia 18.07.2003 em Bruxelas, sede da Unio Europia, pela CoESS
Confedration Europenne des Services de Scurit e Uni-Europa, mostraram que o setor de
segurana privada representava j naquele ano 14.977 empresas empregando 740.010
trabalhadores.
Se considerassem a expanso da Unio Europia para 23 pases membros aumentaria a
superfcie territorial em 23% passando a ter 3.988.890 Km e a populao cerca de 20%,
elevando-a para 439.9 milhes de pessoas. Com isso, os nmeros chegariam a 27.318
empresas de segurana e 1.262.850 agentes do setor.
A CoEES e Uni-Europa naquela oportunidade chamaram ateno para as diferentes
regulamentaes nacionais direcionadas ao setor, s vezes inadequadas ou inexistentes e com
isso, no permitiam e no permitem hoje em alguns casos, garantir o desenvolvimento e o
profissionalismo que a segurana privada necessita. Clamaram por uma regulamentao
31
harmoniosa a nvel europeu, da terem o CoEES e Uni-Europa elaborado o Cdigo de
Conduta e de tica para o Setor da Segurana Privada no ano 2003 em Bruxelas.
A harmonia buscada levou a CoEES e Uni-Europa a organizar a IV Conferncia
Europia sobre Servios da Segurana Privada realizada em Madri Espanha em 14 e 15 de
outubro de 2004 sob o ttulo: Em Direo a um Modelo Europeu de Segurana Privada, com o
objetivo principal de desenvolver procedimentos junto as autoridades competentes dos pases
membros da Unio Europia, mediante regulamentaes adequadas que adaptem as diferentes
regulamentaes nacionais, principalmente com os 10 novos Estados Membros.
Exigindo eqidade e adequao ao pensamento de levar qualidade, responsabilidade e
competncia para o franco desenvolvimento da segurana privada a todos os pases membros
da Unio Europia.
Nesse particular ocorre no Brasil certo antagonismo, pois o pas est avanado no que
tange a possuir uma regulamentao harmnica a muito tempo, independentemente de o seu
contedo proporcionar interpretaes diversas como acontece em particular com o controle da
segurana privada armada, pois a Legislao remonta dos idos da dcada de 80 (Lei 7.102/83
e Decreto 89.056/83). Entretanto, o controle de segurana privada como um todo se encontra
defasado pela no existncia de regulamentos oficiais que disciplinem os segmentos de
segurana eletrnica, alarmes, cercas eltricas, blindagem de veculos de passeio e edifcios,
circuito fechado de televiso, investigaes particulares e segurana desarmada. Isso leva o
Brasil a se equiparar queles pases que no possuem regulamentao sobre a maioria das
atividades de segurana privada.
A busca de harmonia em diversos setores da economia da Unio Europia o desafio
para se chegar a um denominador comum, em virtude da particularidade historicamente
32
conhecida de cada nao naquele continente, onde quanto mais se expande mais intenso se
revela diferena existente entre os pases membros da comunidade.
A segurana privada no est imune s diferenas originrias de cada estado membro e
tal fato encarado pela CoESS com ateno que a atividade requer, fazendo-a com que
proceda o acompanhamento evolutivo das empresas, dos profissionais e dos insumos bsicos
de segurana privada na busca de qualidade e profissionalismo, bem como, de eqidade das
legislaes que regulam o setor em cada estado membro da Unio Europia.
Feito este diagnostico, segue abaixo o quantitativo de empresas e vigilantes de
segurana privada nos pases membros da UE, segundo dados colhidos pela CoESS em 2003:
4.1.1 Quantitativo de Empresas de Segurana Privada e Vigilncia na Unio Europia
PASES MEMBROS DA
CoESS
N DE EMPRESAS N DE VIGILANTES
AUSTRIA 200 6.790
BLGICA 146 18.321
REPBLICA CHECA 2.210 28.101
CHIPRE 48 1.500
DINAMARCA 413 5.250
ESTNIA 70 4.900
FINLNDIA 250 6.000
FRANA 4.700 117.000
ALEMANHA 3.000 170.000
33
GRCIA 830 25.000
HUNGRIA 3.900 80.000
IRLANDA 300 20.000
ITLIA 1.240 55.000
LUXEMBURGO 10 2.200
POLNIA 3.600 200.000
PORTUGAL 92 28.000
ESLOVQUIA 1.730 20.839
ESPANHA 998 89.449
SUCIA 280 17.000
SUA 300 8.000
PAISES BAIXOS 818 30.000
REINO UNIDO 1.700 150.000
TURQUIA 483 179.500
EU 23/ TOTAL 27.318 1.262.850
CoESS 2003
Com relao s empresas de transporte de valores em veculos especiais (caminhes
blindados), o CoESS Confedration Europenne des Services de Scurit (organizaes
patronais) apresentou dados apurados em 2002 dos quinze pases membros da Unio
Europia poca, como pode ser verificado no quadro seguinte:
34
4.1.2 Quantitativo das Empresas de Transporte de Valores na Unio Europia
PASES DA UE EMPRESAS VIGILANTES CARROS FORTE
AUSTRIA 4 500 200
BLGICA 4 1.130 400
DINAMARCA 2 150 80
FINLNDIA 2 1.100 1120
FRANA 14 9.060 1540
ALEMANHA 159 6.500 2439
GRCIA 3 800 320
IRLANDA 4 600 160
ITLIA 205 4.300 1540
LUXEMBURGO 4 200 70
PASES BAIXOS 8 1.000 300
PORTUGAL 5 1.100 400
ESPANHA 9 2.250 750
SUCIA 4 1.700 300
REINO UNIDO 6 11.000 2.000
EU-15 / TOTAL 433 41.390 10.659
CoESS - 2002
35
Apresentado esses nmeros, sero destacados a seguir dois membros da Comunidade
Europia sob anlise: Espanha e Portugal, que atentos as orientaes da CoEES e Uni-Europa
desenvolveram regulamentos de controle das inovaes tecnolgicas e das telecomunicaes
incorporadas em todos os setores de atividades, em especial o da segurana privada, criando
regras para as atividades de vigilncia eletrnica, alarme e de segurana desarmada e armada,
bem como, as atividades desenvolvidas por detetives particulares. Setores que no Brasil,
excetuando a segurana privada armada, no sofrem qualquer tipo de controle, por no haver
normas reguladoras especficas a respeito.
4.1.3 O Controle da Segurana Privada na Espanha.
Na Espanha a promulgao da Lei 23/1992 com nova redao dada pelo Decreto Real-
Lei n 2/1999 e pela Lei n 14/2000 (que se encontra no Anexo 3 deste trabalho) determinou
no Artigo 1 que: A presente Lei tem por objeto regular a proteo por pessoas fsicas e
jurdicas privadas de servios de vigilncia e segurana de pessoas e bens, e os servios de
segurana privada s podem ser realizados por empresas de segurana e/ou pessoas de
segurana privada autorizadas previamente pelo Ministrio do Interior. Devem possuir
nacionalidade espanhola ou de um Estado membro da Unio Europia ou de um Estado parte
do Acordo sobre o Espao Econmico Europeu.
Nota-se que a Lei espanhola autoriza a execuo de servios de segurana privada por
pessoas jurdicas (empresas de segurana) e pessoas fsicas (vigilante no vinculado
empresa de segurana autorizada). Diferente da Lei brasileira que s autoriza a pessoa
jurdica e a ela o vigilante tem de estar vinculado para poder exercer a funo.
A Lei espanhola no artigo 5 determina quais os servios e atividades de segurana
privada podem ser desenvolvidas por empresas de segurana privada e no artigo 11 por
pessoas fsicas autorizadas (pessoal de segurana) como: a segurana de bens moveis e
36
imveis; escolta de pessoas e objetos de valor; transporte de valores; instalao, conservao
e utilizao de aparatos, dispositivos e sistemas de segurana; explorao de centrais de
recepo, verificao e transmisso de sinais de alarmes e sua comunicao com as Foras e
Corpos de Segurana, assim como prestao de servios de resposta cuja realizao no seja
de competncia das ditas Foras e Corpos; Planificao e assessoramento das atividades de
segurana desta Lei;
O citado artigo determina que em nenhum caso as empresas de segurana podero
realizar as funes de informao e investigao prprias dos detetives particulares.
Os destaques assinalados demonstram a preocupao do legislador espanhol em
controlar as atividades de segurana eletrnica e alarmes, vinculando-as a uma empresa de
segurana privada autorizada a funcionar, ditando a forma que a prestao do servio se
desenvolver naquele pas. Segmento que no Brasil, como j enfatizado, no possui qualquer
tipo de regulamentao. Entretanto, explorado por qualquer tipo de empresa, inclusive de
segurana privada autorizada pela Polcia Federal, que segundo o ESSEG 2004, tal
explorao se justifica em razo da mudana de cultura promovida pelas novas tecnologias
nas empresas tradicionais alicerado no conceito da chamada segurana integrada,
combinando recursos humanos (vigilantes e equipes de apoio) e equipamento eletrnico
(CFTV, alarmes e controles de acesso).
O mesmo acontece com as investigaes particulares, que no Brasil no possuem
regulamentao alguma e as empresas de segurana privada autorizadas pela Polcia Federal
se aproveitam da omisso legal para exercerem tal atividade, conforme indica o ESSEG-2004.
Sendo que, se estiver ocorrendo de fato investigao particular foge totalmente aos objetivos
sociais permitido a uma empresa de segurana privada no Brasil, e como destacado acima, a
Lei espanhola probe que a investigao prpria dos detetives particulares seja executada
37
pelas empresas de segurana privada.
O Artigo 7 da Lei em destaque, entre diversas exigncias para se obter autorizao para
o exerccio das atividades de segurana privada determina que quando a empresa de
segurana prestar servios que precise do uso de armas, haver de adotar as medidas que
garantam sua adequada custdia, utilizao e funcionamento. E o artigo 14 descrimina quais
as atividades de segurana privada o vigilante pode exercer de maneira autnoma e em que
condies podem utilizar arma de fogo, que autorizado, s poder port-la em servio.
Para o desempenho das funes o artigo 12 enfatiza que o vigilante excepcionalmente,
poder estar integrado em empresas de segurana, mas vestindo uniforme e ostentando o
distintivo do cargo de forma visvel, aprovados pelo Ministrio do Interior e que no podem
se confundir com o das Foras Armadas e Foras de Segurana.
Ao analisar conjuntamente os artigos 7, 14 e 12 acima citados, observa-se que a Lei
espanhola regula as atividades de segurana privada desarmada, e dita quais as medidas
empresa de segurana deve adotar caso precise usar armamento em determinado servio,
discriminado os tipos de atividades de segurana privada o vigilante pode utilizar arma de
fogo. Portanto o armamento no se faz tratar de insumo bsico na maioria das atividades
exercidas pela segurana privada naquele pas. Mas requer que o vigilante vista uniforme
com plaqueta de identificao de forma ostensiva.
No Brasil, alm de assegurar ao vigilante em servio uniforme com a plaqueta de
identificao, a lei tambm assegura o porte de arma no local de trabalho, conforme prev o
artigo 19 da Lei 7.102/83 regulamentado pelo artigo 20 do Decreto 89.056/83. Sendo que a
Lei determina que toda empresa deva ter o local de guarda de armas e munies, sem o qual
ela no obtm autorizao para funcionar, bem como, o armamento tem de ser de sua
38
propriedade e responsabilidade, ou seja, o que se regula no Brasil a segurana armada. (Vide
Legislao Brasileira nos Anexos 1 e 2)
4.1.4 O Controle da Segurana Privada em Portugal.
Em Portugal o Decreto-Lei n 35 de 21 de fevereiro de 2004 (Anexo 4), revogou o
Decreto-Lei n 231/98 buscando acompanhar a evoluo e a necessidade de adaptao da
legislao ao direito comunitrio clamado pela Unio Europia. Determina como primeiro
requisito para o pessoal de segurana privada o seguinte: ser cidado portugus, de um Estado
membro da Unio Europia, de um Estado parte do Acordo sobre o Espao Econmico
Europeu ou, em condies de reciprocidade, de um Estado de lngua oficial portuguesa.
Classifica o objeto da atividade de segurana privada, distinguindo-se a prestao de servios
do setor. Do mesmo modo, estabelecem-se condies distintas para obteno das respectivas
autorizaes e mantm um rigoroso controle sobre o setor, como pode ser visto a seguir em
determinados artigos, que se entende, merecem ser destacado, a fim de se poder continuar a
desenvolver uma anlise comparada:
O artigo 2 da Lei descreve que as atividades de segurana privada compreendem os
servios de vigilncia de bens mveis e imveis, o controle de entrada, presena e sada de
pessoas, proteo de pessoas, a explorao e a gesto de centrais de recepo e
monitoramento de alarmes e o transporte, a guarda, o tratamento e a distribuio de valores.
A prestao dos servios previstos nesse artigo obriga as entidades de segurana privada
a possurem instalaes e meios materiais e humanos adequados ao exerccio da sua atividade,
cujos requisitos mnimos e regime de sano so definidos pelo Ministro da Administrao
Interna.
39
O artigo 11 entre outras exigncias, dita que o pessoal de vigilncia, quando no
exerccio das funes deve obrigatoriamente usar Uniforme e Carto profissional aposto
visivelmente.
O artigo 13 dispe sobre os meios de vigilncia eletrnica,
O artigo 14 fala do Porte de Arma, a saber:
1 O pessoal de vigilncia est sujeito ao regime geral de e porte de arma.
2 Em servio, o porte de arma s permitido se autorizado por escrito pela entidade
patronal, podendo a autorizao ser revogada a todo tempo.
3 A autorizao prevista no nmero anterior anual expressamente renovvel.
Nota-se que o resumo da legislao apresentada acima regula o controle da segurana
privada de maneira semelhante nos dois pases membros da Unio Europia (Espanha e
Portugal), e revela o avano em termos de legislao. Pois como j vem ocorrendo
paulatinamente naquela comunidade, cada pas (estado membro) vem desenvolvendo
mecanismos atuais de fiscalizao sobre o segmento, abrangendo o controle para todo o tipo
de servio desenvolvido pela segurana privada (segurana patrimonial e de pessoas;
transporte de valores; escolta de bens e de pessoas; segurana eletrnica; sistema de alarmes;
circuito fechado de televiso; atividades desenvolvidas por detetives particulares).
E direciona a execuo dos servios para o vigilante trabalhar desarmado. Sendo que
para o vigilante trabalhar armado, dependem de autorizao especial para portar a arma de
fogo, que alm do treinamento especfico tem que estar ligado diretamente s atividades
consideradas de risco. Como os servios de segurana privada a certas propriedades do
governo (Usinas Nucleares, Embaixadas dos EUA, sede da OTAN, etc); os de transporte de
valores e de escolta de bens e de pessoas.
40
As legislaes acima (Espanha e Portugal) resumem ainda o insumo bsico obrigatrio
do vigilante que o uso do uniforme e o carto de identificao exposto de maneira visvel.
Em sntese, busca controlar a segurana desarmada, e permite excepcionalmente, por meio de
autorizaes especificas e especial utilizao de armas de fogo em determinados servios.
J no Brasil, alm desses dois itens, a Lei assegura o vigilante o porte de arma no local
de trabalho, o que caracteriza como j dito anteriormente, que o controle existente no Brasil,
visa o controle da segurana armada.
A seguir, ser visto como se d esse tipo de controle em pases da Amrica Latina, alm
do Brasil.
4.2 O CONTROLE DA SEGURANA PRIVADA NA AMRICA LATINA
Os segmentos de segurana privada na Amrica Latina se encontram em elevado
crescimento, mas esbarram em todo tipo de problema normativo relacionado s atividades a
serem desenvolvidas pelo setor. A dificuldade na regulao ocorre desde pases que no tem
leis especificas, passando por aqueles que possuem legislaes insuficientes como o Brasil
(cujo controle s abrange as atividades de segurana armada), at o extremo de Argentina e
Mxico, pases federativos, no qual em cada provncia, estado ou municpio pode se ter uma
lei prpria de controle das atividades de segurana privada.
Um fenmeno visvel na Amrica Latina a existncia em nmeros elevados da
prestao de servios ilegais de segurana privada, por meio de pessoas ou empresas
inabilitadas, e/ou empresas autorizadas (legais) que no pagam os impostos governamentais e
as obrigaes sociais de seus empregados.
Na busca de maior profissionalismo e comportamento tico por parte de todos os
41
segmentos da segurana privada em atividade na Amrica Latina, foi realizado em maio de
2001, na cidade de Curitiba, Brasil, o Encontro Latino Americano de Segurana Privada.
Com convite para todos os paises das Amricas, mas, apenas participaram Argentina, Bolvia,
Brasil, Chile, Colmbia, Equador, Estados Unidos, Mxico, Paraguai, Peru e Venezuela, que
decidiram pela criao de uma Federao que representasse o setor em todo continente latino
americano.
A partir de ento todos os pases inscritos enviaram sugestes e propostas que geraram
no dia 09 de novembro de 2001, o segundo encontro, desta vez na cidade de Buenos Aires,
Argentina, onde se formalizou a criao da Federacin Panaamercicanos de Seguridad
Privada FEPASEP com sede na capital daquele pas. Recentemente, a FEPASEP realizou
entre 17 a 19 de maio de 2006, na cidade de Quito no Equador, o seu IV Congresso
Internacional, referendando a misso de buscar a unio e dignidade das empresas e
profissionais de Segurana Privada na Amrica Latina, bem como, constituir-se como lder de
opinio em matria de preveno e segurana da regio.
Atualmente integram a FEPASEP os seguintes pases: Argentina Bolvia
Brasil Chile Colmbia Costa Rica Equador Guatemala Mxico
Paraguai Peru Uruguai Venezuela.
A FEPASEP agrupa as organizaes que representam as empresas de segurana
privada, transporte de valores, segurana eletrnica e monitoramento de alarmes e possui os
seguintes objetivos: representar os interesses dos associados nos foros internacionais,
especialmente perante a Federao Mundial de Segurana (World Security Federation
WSF); desenvolver tcnicas e profissionalismo para o setor, melhorando a inter-relao entre
os pases membros; buscar a uniformidade e modernizao das normas que regulam as
42
atividades; definir suas reas de competncia dada a sua funo complementar da Segurana
Pblica; alcanar a integrao regional e obter o reconhecimento das Organizaes das
Naes Unidas ONU.
Observa-se nesta seo, como na anterior, que a busca da uniformidade dos
regulamentos e maior profissionalismo nas atividades de segurana privada, so preocupaes
tanto da FEPASEP como da CoEES e Uni-Europa, sendo que as entidades do velho
continente, depreende-se, ter maiores chances de alcanar esses objetivos, devido ao
surgimento da Unio Europia, onde vem se implantado a unidade monetria e quebra de
barreiras alfandegrias entre os estados membros, no qual existe a vontade poltica de se criar
normas jurdicas no conflitantes. Fato que na Amrica Latina parece distante, onde tal tipo
de unidade no existe, como se constata quando deparamos com diferentes blocos econmicos
criados na regio como: Mercosul, Nafta, ALCA, Pases Andinos e outros.
Relatrio do 1 Congresso Latino Americano de Segurana Conlaseg, realizado entre
os dias 24 e 26 de setembro de 2003 na cidade de Bogot - Colmbia, descreve alm do
apontado no pargrafo anterior, que os problemas residem tambm nos insumos aplicados na
segurana pblica. Com recursos humanos mal preparados que ingressam nas Foras de
Segurana mal pagas; mal equipadas e na maioria dos pases desprestigiada perante a
sociedade. O setor de segurana privada, com isso, acaba sobrepondo a pblica de maneira
voraz em termos de presena e atuao preventiva, principalmente junto aos grupos
organizados da sociedade, sem que se tenha, contudo, notcias da diminuio dos ndices de
criminalidade.
As Empresas de Segurana Privada na Amrica Latina possuem uma taxa menor de
incorporao tecnolgica em seus servios se comparadas as existentes na Unio Europia,
tornando a utilizao de pessoas fsicas mais intensas. Os nmeros aproximados de vigilantes
43
formalmente empregados nos paises latinos americanos, segundo aquele relatrio, so:
PAS NMERO DE VIGILANTES
BRASIL 570.000 (329.695)*
MXICO 450.000
COLOMBIA 190.000
AMRICA CENTRAL 105.000
ARGENTINA 75.000
VENEZUELA 75.000
PERU 50.000
CHILE 45.000
OUTROS PASES 70.000
Total 1.630.000 (1.389.695)*
Conlaseg 2003
*Observao: Na tabela acima foi inserido nmero em negrito apurado no Brasil, que
altera o total informado para demonstrar que a situao apresentada deve ser olhada com
reserva, pois o quantitativo de vigilantes trabalhando no Brasil, estimado no citado relatrio
no condiz com o informado pela Policia Federal em 2003, que comparado com os nmeros
vistos na seo 3.3 deste trabalho tornam-se discrepantes. Portanto a tabela deve ser
considerada no s como ilustrao, mas como, um aviso importante, do quanto a Amrica
Latina carece de um melhor acompanhamento dos dados referentes a segurana privada.
44
Ainda com relao ao nmero contestado, o mesmo est muito alm inclusive do
apurado por este pesquisador em maro deste ano junto ao Sistema Nacional de Segurana e
Vigilncia SISVIP do Departamento de Polcia Federal - DPF. (vide item 3.3.3)
Feito estes destaques, a seguir ser abordado como se d o controle da segurana
privada no Mxico, bem como, na Argentina, que ao observarem evoluo dos diferentes
segmentos da segurana privada, criaram recentemente nova regulamentao para o setor.
4.2.1 O Controle da Segurana Privada no Mxico
No dia 13 de outubro de 2004 o Dirio Oficial dos Estados Unidos Mexicanos publicou
Decreto Presidencial de Regulamento dos Servios de Segurana Privada com o objetivo de
controlar as atividades quando estas so prestadas em dois ou mais estados da Federao (vide
a Lei no anexo 5).
O Decreto compreende a autorizao, requisitos, modalidades, registro, obrigaes e
restries, opinies favorveis, capacitao, visitas de verificao, medidas tendentes a
garantir a correta prestao de servios e sanes aplicadas, assim como meios de
impugnao dos ditos servios de segurana privada.
As modalidades que podem ser autorizadas em dois ou mais estados mexicanos,
conforme o artigo 6 do citado decreto, so as seguintes: vigilncia de imveis; translado e
custodia de bens e valores, translado e proteo de pessoas; localizao e informao de
pessoas fsicas ou jurdicas e bens; estabelecimento e operao de sistema e equipamentos de
segurana e atividades vinculadas aos servios de segurana privada.
Para obter autorizao de tais servios o artigo 7 determina que os prestadores devam
ser pessoas fsicas ou jurdicas mexicanas com comprovada habilitao na modalidade de
segurana privada a ser exercida. Para isso, dever fazer uso em servio da cdula de
45
identificao e uniforme contendo logotipo, distintivo ou emblema, no podendo ser iguais ou
similares aos utilizados pelas corporaes policiais ou Foras Armadas.
Ao tratar do registro nacional das empresas e pessoal de segurana privada local e
Federal, o decreto em anlise descreve quais as informaes obrigatrias devero integrar o
banco de dados nacional a respeito do setor, em especial do armamento utilizado, no qual
artigo 15 item III determina o seguinte: Opiniones sobre las consultas de los Prestadores del
Servicio, respecto de la justificacin para que sus elementos puedan portar armas de fuego
en el desempenho del servicio, otorgados, en trmite, y negadas o canceladas.
Completa este item o artigo 19 do prprio Decreto que diz: La opinin favorable que
emite la Direccin sobre la justificacin de la necesidad de portacin de armamento es el
resultado de una consulta que realizan los Prestadores del Servicio debidamente
autorizados, para tramitar una licena particular colectiva de portacin de armas de fuego
ante la Secretaria de la Defensa Nacional.
Ao inverso do Brasil que assegura ao vigilante porte de arma em servio (Artigo 19 da
Lei 7.102/83), no Mxico os artigos acima destacados demonstram que controle da Segurana
Privada se d diretamente e originariamente sobre as atividades exercidas por vigilantes
desarmados, que podem vir a usar arma de fogo, se houver necessidade comprovada para seu
porte em servio. Para tanto, dependem de autorizao da Secretaria de Defesa Nacional,
sendo que o prestador de servio ao formular a consulta, dever expor os motivos que
justifiquem a necessidade de se portar arma de fogo em determinada atividade de segurana
privada, apresentando a relao dos profissionais e do armamento devidamente especificado e
a quem ser designado individualmente, (artigo 20 do Decreto Mexicano).
O Brasil mesmo tendo uma Legislao direcionada para atividade que se utiliza de arma
de fogo, aliada ao Estatuto do Desarmamento, no possui esse tipo de controle, isso quer
46
dizer, o rgo fiscalizador no sabe os dados que identificam a arma de fogo portada por
determinado vigilante no local de trabalho individualmente. No caso, esse armamento de
propriedade e responsabilidade das empresas e disponibilizado nos postos de trabalho, e
portado por qualquer vigilante escalado por ventura para aquele posto. A arma de fogo
vinculada ao posto de servio e veculos de transporte de valores e/ou escolta, e no ao
vigilante. Com isso, o rgo fiscalizador s saber qual vigilante portava determinada arma
de fogo, se houver ocorrncia criminal registrada que os envolvam (arma e vigilante).
Voltando ao controle da segurana privada exercido pelo Mxico, o artigo 39 do
Decreto em estudo prev priso para o prestador de servio que carea de autorizao ou
revalidao correspondente para exercer tais atividades. Compreende-se a que qualquer
pessoa jurdica ou fsica que exercer sem autorizao ou fora da validade s atividades de
segurana privada descritas no regulamento mexicano, fica sujeita a priso.
Enquanto no Brasil, a Lei 7.102/83 em seu artigo 23 prev penalidade apenas para as
empresas autorizadas a funcionar, assim mesmo, de ordem administrativa, como: advertncia;
multa de 500 at cinco mil UFIR; proibio temporria de funcionamento e cancelamento do
registro para funcionar. O que no deixa de ser um incentivo para que pessoas fsicas e/ou
jurdicas contratem empresas ou pessoas inabilitadas