Coimbra06-05

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    1/16

    SUBSDIOS PARA UMA DIDCTICA DA FILOSOFIAA propsito de algumas i n i c i a t i v a s recentes para aconstituio de uma Didctica e s p e c f i c a da Filosofia

    JOAQUIM NEVES VICENTE

    IntroduoA "questo", f ilo s o fi c ame nte c o n t ro v er sa, de uma didctica especfica da

    f i l o s o f i a s u s c i t o u , n os ltimos anos, e e s t a s u s c i t a r , h o j e , sobretudo em Frana,um v iv o deb at e e n t r e o s defensores da sua legitimidade e urgncia e aqueles quevem com suspeita qualquer aproxima o da f i l o s o f i a e do seu ensino s cinciasda educao.

    Para e s t e s ltimos, a f i l o s o f i a e l a p r pr ia un ia pedagogia e uma d i d c t i c a .Des t e p o n t o de v i s t a , o en sin o da f i l o s o f i a n o t em nada a pedir de emp rs t imo s cincias da educao, porque a f i l o s o f i a c o n t m em s i mesma o s f u n d am e n t o sdo seu exerccio comunicativo.

    F oi a p r edomi n n c ia destas t e s e s adentro da c o m u n i d a d e f i l o s f i c a que j u s t i -ficou a inexistncia, a t h bem p o u c o t emp o , de q ualq uer projecto para aconstituio de uma "didc ti ca espec f ica" da f i l o s o f i a . Na verdade, a t h t r sou quatro anos, a contrastar com a maior p a r t e das d i s c i p l i n a s escolares e decor-ridos cerca de vinte anos sobre o i n c i o das investigaes n o d o m n i o das"didcticas e s p e c f i c a s " , 2 a f i l o s o f i a aparecia como a nica d i s c i p l i n a escolar quen o produzira qualquer reflexo didctica a r t i c u l a d a com a s c i n c i a s da educao.

    1 Cf. AA VV-hilo s o p h i e - c ole . Mme Combai . P a r i s , PUF, 1984 e AA VV-u Grvedes P h i l o s o p h e s . P a r i s , Osiris, 1986.2 Em 1969 foram c r i a d o s o s IREM-n s t i t u t s d e Recherche pour l Ens e igneme nt de sMuthmatique . c . Em 1980 , a p a r e c e , com o apoio do CNRS , a r e v i s t a Recherches e n Didactique d e sMathmatiques.

    No domnio do Francs-ngua Materna e Lngua E s t r a n g e i r a -tem s i d o p u b l i c a d a , desdeh alguns anos , abundante documentao n a s r e v i s t a s R e p r e . c . Recherche s e n d i d a c t i q u e du f r a n a i s ,langue m a t e r n e l l e ( INRP) e P r a t i q u e s . Em 1989 apareceu a obra c o l e c t i v a Recherches e u Didactiquee i Acqui s i t i o n du Franais Langue Maternelle , em d o i s volumes , e d i t a d a conjuntamente por INRP,PPMF , D e Boeck e d i t i o n s U n i v e r s i t a i r e s .

    No domni o d a s C in c ias Experimen tais, destaca - s e a publicao a n u a l da r e v i s t a A s t e r .Recherche s e n d i d a c t i q u e d e s s c i e n c e s e x p r i m e n t a l e s .

    Revista Filosfica de C o i m b r a-. " 6 (1994) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    2/16

    398 J o a q u i m Neves V i c e n t eNo e n t a n t o , n o s l t i m o s a n o s , i n i c i a t i v a s d i v e r s a s testemunham que a l g o s e

    e s t a a l t e r a r n e s s e d o m n i o . 3D e e n t r e t o d a s a s i n i c i a t i v a s t e n d e n t e s c o n s t i t u i o de uma d i d c t i c a daf i l o s o f i a , uma d e l a s s e d e s t a c a e merece , p o r i s s o , a n o s s a a t e n o n e s t e a p o n t a -mento d e l e i t u r a .P r e t e n d e - s e d a r n ot c i a e p a s s a r a q u i e m r e v i s t a ( c r t i c a ) o s t r a b a l h o s p r o d u -z i d o s n o mbi to dos s e m i n r i o s e d a s u n i v e r s i d a d e s de v e r o ( u n i v e r s i t s d ' t )q u e , d e s d e 1 9 8 9 , tm t i d o l u g a r n a U n i v e r s i d a d e d e M o n t p e l l i e r , s o b a o r i e n t a odo P r o f . Michel T o z z i , e m e s t r e i t a c o l a b o r a o c o m o s Departamentos d e Forma-o de P r o f e s s o r e s e d e C i n c i a s d a Educao daquela u n i v e r s i d a d e . 4

    No s domnios da H i s t r i a , da Geografia e d a s C i n c i a s S o c i a i s , tm vindo a s e r p u b l i c a d a s ,desde 1986 , p e l o INRP, a s Actas do s En c on t ro s ( a n u a i s ) s o b r e a D i d c t i c a da H i s t r i a , da G e o g r a f i a ,das C i n ci as Eco nmi cas e S o c i a i s .

    Em 1 de Outubro d e 1990 f o i c r i a d o n o INR P-n s t i t u i National d e Recherche Pdagogique -o Departamento d a s " D i d c t i c a s das d i s c i p l i n a s " , c o n s t i t u d o por no ve " un i dad es d e i n v e s t i g a o - :Unidade "Didctica d a s Matemticas " . Unidade "Didctica do Francs e da Filosofia ' , Unidade" D i d c t i c a s da H i s t r i a , Geografia e C i n c i a s S o c i a i s " , Unidade " D i d c t i c a s d a s Lnguas Vivas",Unidade " Didctica das Cincias Experimentais " , Unidade " Didctica da Educa o F s i c a eDesportiva e dos Ensinos A r t s t i c o s " , Unidade " Processos Cognitivos e Didcticas dos EnsinosTecnolgicos " , Unidade " D i d c t i c a d a s Aprendizagens d e Base", e Unidade " D i d c t i c a e F o rma ode P r o f e s s o r e s " .

    Sobre a c o n t r o v r s i a em t o m o das d i d c t i c a s e s pe c f i c a s v e j a - s e : BAILLY , D .-A proposde I a didactique " i n Les Sciences de l ' E , d u c a t i o n , n 1-2/1987 : 37-51; MARTINAND. J . - L .-"Quelques remarques s u r l e s d i d a c t i q u e s de d i s c i p l i n e s " i n Les Sciences de l'ducation , n 1 - 2 /1987:23-35; e MIALARET, G.-Les s c i e n c e s de I ' d u c a t i o n e t l e s d i d a c t i q u e s " i n Les Sciencesde l'ducation , n 1 - 2 / 1 9 8 7 : 1 3 - 2 2 ; e ROPE , F .-Didactiques s p c i f i q u e s , d i d a c t i q u e g n r a l e e ts c i e n c e s d e I ' d u c a t i o n " i n Les Sciences de l ' d u c a t i o n , 2 / 1 9 8 9 : 5 - 2 1 .

    3 O r e l a t r i o elaborado por J . Derrida e J . Bouveresse s o b r e o ensino da f i l o s o f i a , publicadoem 1 9 8 9 , r e f e r e - s e e x p l i c i t a m e n t e necessidade de uma r e f l e x o d i d c t i c a .Nos recm - c r i a d o s IUFM-n s t i t u i s U n i v e r s i t a i r e s de Formation des Maitres-s c a n d i d a t o sao concurso de recrutamento de p r o f e s s o r e s so obrigados a abordar o s problemas d i d c t i c o sd i s c i p l i n a r e s r e s p e c t i v o s .Nos e s t g i o s do MAFPEN , em Montpellier , em Toulouse , em N i c e , em C r e t e i l , e t c , tem s i d op o s t a com i n s i s t n c i a a questo da p o s s i b i l i d a d e e da necessidade de uma d i d c t i c a e s p e c f i c a daf i l o s o f i a .Na sequncia de mui to s c u r s o s de ps-graduao conducentes ao s DEA-iplome d'tudesAprofondis- a o s doutoramentos , c o m e a m a s u r g i r t r a b a l h o s que c o n t m elementos r e l e v a n t e sp a r a uma d i d c t i c a da f i l o s o f i a .No INRP-n s t i t u i National de Recherche Pdagogique- i n s t i t u i o francesa maisimportante n os domnios da i n v e s t i g a o em educao-o i c r i a d a recentemente uma unidade dei n v e s t i g a o designada " Didctica do Francs e da F i l o s o f i a " .Em d i v e r s a s publicaes p e r i d i c a s vm aparecendo , desde h j v r i o s a n o s , " d o s s i e r s "t e m t i c o s s o b r e o ensino da f i l o s o f i a que t r a t a m e x p l i c i t a m e n t e de uma d i d c t i c a da f i l o s o f i a . C f .Z e i t s c h r i f t f r Didaktik der Philosophie , Philosopher ( L a v a i ) , Cahiers Pdagogiques , Dialogue(GFEN ) , R e v i s t a de F i l o s o f i a y Didctica F i l o s f i c a , e Paideia ( S o c . Es p . de Prof . s de F i l o s o f i a deI n s t i t u t o ) .

    4 Durante o s anos l e c t i v o s de 1989 / 1990 e 1990/1991 , M. Tozzi o r i e n t o u , n a Universidade P a u lValery- Montpellier I I I , d o i s seminrios s o b r e d i d c t i c a da f i l o s o f i a , donde sairam a s brochuras"Enseigner I a philosophie aujourd ' h u i / (89 - 90) e / / (90 - 9 1 ) , publicadas p e l o Departamento deCincias de Educao daquela universidade . No s meses de Julho de 1991 e de 1992 , M. Tozzic o o rden ou , em colaborao c o m Yveline Fumai , r e s p o n s v e l p e l o s Departamentos de F o r m a o d e

    p p . 397-412 R e v i s t a F i l o s f i c a d e Coimbra -n . 1 1 6 ( 1 9 9 4 )

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    3/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a da F i l o s o f i a 399Vrias s o a s razes invocadas por M. Tozzi e s e u s colaboradores p a r aj u s t i fi c a r a n e c e s s i d a d e e a u r g n c i a de uma d i d c t i c a d a f i l o s o f i a . Destacam-seduas d e l a s : I - a a l t e r a o q u a n t i t a t i v a e q u a l i t a t i v a dos alunos da " c l a s s e

    t e r m i n a l " , 2 ' -o i r r e s i s t v e l desenvolvimento das d i d c t i c a s e s p e c f i c a s .Enquanto, e m 1 9 5 0 , s 5% d o s jovens f r a n c e s e s , c o m i d a d e p a r a f r e q u e n t a ro BAC-l t i m o ano do e n s i n o s e c u n d r i o -, o frequentavam e f e c t i v a m e n t e ,em 1992 a percentagem d e 50% e e s t i m a - s e que no ano 2000 s e r c e r c a d e80%. Assim, a f i l o s o f i a , que a n t e s e r a uma m a t r i a r e s e r v a d a a uma m i n o r i a ,s o c i a l m e n t e s e l e c c i o n a d a p e l a e s c o l a , p a s s a a s e r uma d i s c i p l i n a g e n e r a l i z a d a .D e um e n s i n o f i l o s f i c o d e e l i t e passou-se a um e n s i n o f i l o s f i c o de massa.E ningum d e e n t r e o s d e f e n s o r e s d e uma nova d i d c t i c a da f i l o s o f i a pe emc a u s a a " e d u c a b i l i d a d e f i l o s f i c a d e t o d o s " , a s s i m c o m o o " d i r e i t o f i l o s o f i a p a r at o d o s " .T o importante ou mais a i n d a a a l t e r a o q u a l i t a t i v a . O s a l u n o s quefrequentam h o j e o BAC s o l i n g u s t i c a e c u l t u r a l m e n t e mui to mai s d e f i c i t r i o sque a e l i t e d a s dcadas a n t e r i o r e s . N o s e pode i g n o r a r um f a c t o i n q u e s t i o n v e l :a l t e r a r a m - s e substancialmente a s c ondies de p o s s i b i l i d a d e do ensino daf i l o s o f i a n a educao s e c u n d r i a . O m o d o c o m o a t a o p r e s e n t e s e tem ensinadoa f i lo s of i a pressupunha da p a r t e dos a l u n o s o domnio d a l n g u a e da g r a m t i c a ,assim c o m o a capacidade d e l e i t u r a e c omp r eens o d e um t e x t o , d a s s u a sa r t i c u l a e s i n t e r n a s e d o s s e u s mecanismos de argumentao.

    A e s t a s r a z e s , s p o r s i s u f i c i e n t e s p a r a j u s t i f i c a r uma renovao profundado e n s i n o d a f i l o s o f i a e d a s u a d i d c t i c a , o s a u t o r e s a c r e s c e n t a m o u t r a s t a i s como:o b a i x o reconhecimento s o c i a l e i n s t i t u c i on a l da d i s c i p l i n a , a p e r d a de p r e s t g i oda " c l a s s e de f i l o s o f i a " e a i n d a o s r e s u l t a d o s c a t a s t r f i c o s d a s n o t a s d e exame,c u j a mdia n a c i o n a l s e s i t u a , des de h a l g u n s a n o s , em 8 v a l o r e s s o b r e 2 0 , muitoa b a i x o , p o r t a n t o , d a s mdias n a c i o n a i s n a s demais d i s c i p l i n a s .E ste mal- es tar d o en sin o da f i l o s o f i a s u s c i t a a questo de saber s e os alunost m capacidade para ac om pa nhar um t a l ensino, o u s e o s p ro f es so re s s o capazes

    de o ministrar o u o mi n i s t r am c o n v e n i en t e me n t e.

    P r o f e s s o r e s e d e C i n c i a s d a Ed uc a o , a s U n i v e r s i t s d ' t , j o r n a d a s que deram l u g a r a uma v a s t ado cume ntao r eun ida n os volumes Apprendre Philosopher 1 . C o n t r i b u t i n n un e D id ac t iq ue deI a Philosophie ( U n i v e r s i t d ' t 91) e Apprendre Philosopher. 11- La p r i s e e n comp t e desr e p r . s e n t a t i a n s de l ' l v e . ( U n i v e r s i t d ' t 9 2 ) . Retomando alguma documentao j publicada n a sbrochuras a n t e r i o r e s , a c r e s c i d a d e o u t r o s t e x t o s , s a i u , a i n d a em 1 9 9 2 , a brochura 88-92: C o n t r i b u t i o n un e Didactique de l ' A p p r e n t i . s s a g e du P h i l o s o p h e r . T rac e d' un e recherche c o l l e c t i v e . U n i v e r s i t P a u l Valery- Montpellier 1 1 1 .

    Tambm em 1 9 9 2 , da a u t o r i a d e M. Tozzi e o u t r o s f o i p u b l i c a d a , n a L i b r a i r i e H a c h e t t e , a obraAp p r e nd r e Philosopher dans l e s Lyces d ' A u j o u d ' h u i .Para dar sequncia a e s t e p r o j e c t o f o i c r i a d a e n t r e t a n t o a ARDAP-. s s o c i a t i o n p ou r I aRecherche en Didactique de l ' A p p r e n t i . s s a g e du PhilosopherM. Tozzi, o p r i n c i p a l responsvel por e s t a s i n i c i a t i v a s , que a p r e s e n t a r a , j em 1 9 8 9 , naUniversidade L y o n 1 1 , p a r a a obteno d e um D E A , a t e s e Enseigner I a p h i l o s o p h i e a u j o u r d ' h u i ,apresentou , em Junho de 1 9 9 2 , n a mesma Universidade, sob a o r i e n t a o do P r o f . P h i l i p p e M e i r i e u ,a sua t e s e de doutoramento i n t i t u l a d a justamente Vers un e D idac t iq ue de l'Apprentissage duPhilosopher.

    Revista Filosfica de C o i m b r a-. ' 6 (1994) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    4/16

    400 Joaquim Neves Vicente

    P e r g u n t a - s e n a t u r a l m e n t e s e no s e r n e c e s s r i o e n s i n a r a f i l o s o f i a a o s a l u n o sa c t u a i s d e o u t r o modo.Impe-se, concluem o s a u t o r e s , uma i n v e s t i g a o que d r e s p o s t a questod e s a b e r c o m o que o s a c t u a i s a p r e n d i z e s d e f i l s o f o s s e p o d e m a p r o p r i a r docontedo e d a s " dmar c he s" d o f i l o s o f a r .P e r a n t e tamanho m a l - e s t a r d a f i l o s o f i a no e n s i n o s e c u n d r i o , dizem, a p r e -s e n t a - s e c o m o p a r a d o x a l a v i t a l i d a d e d a i n v e s t i g a o f i l o s f i c a p o r oposio f r a q u e z a da r e f l e x o d i d c t i c a em f i l o s o f i a . E t a n t o mais incompreensvelq u a n t o , n a maior p a r t e d a s d i s c i p l i n a s e s c o la r e s , s e a s s i s t e desde h v i n t e anosa u n i grande i n t e r e s s e e desenvolvimento d a s d i d c t i c a s e s p e c f i c a s , apoiadasn a i n v e s t i g a o pedaggica r e s u l t a n t e d a i n s t i t u c i o n a l i z a o d a s c i n c i a s dae d u c a o .A f i l o s o f i a a p a r e c e c o m o a l a n t e r n a vermelha da i n v e s t i g a o d i d c t i c a . 5

    H que d a r a o e n s i n o da f i l o s o f i a n a educao s e c u n d r i a a d i d c t i c a d e quee l a p r e c i s a .

    1 . Proposies para uma Didctica da F i l o s o f i aExistem, c e r t o , circunstncias externas q ue ajudam a c o m p r e e n d e r a

    inexistncia de uma didctica da f i l o s o f i a t a i s como o facto de a f i l o s o f i a , emFrana, s s e r objecto de en si n o durante um an o e j n o terminus d o e n s i n os ec un d ri o, o q ue deixa de t r a z e r mui t o s do s p r o blemas q ue s e c o l o c a m n asdemais didcticas e s p e c f i c a s : o n v e l de de se n v ol v ime n to cognitivo do s alunos,a p ro gr es s o n os c o n tedos, e t c . Mas so sobretudo razes de ordem interna,como r e c o n h e c e M. Tozzi, 6 q ue justificam a resistncia do s filsofos e dac o m u n i d a d e do s professores de f i l o s o f i a ao de se n v ol v ime n to de uma didcticaespecfica da d i s c i p l i n a . Para a grande maioria, como s e o b s e r v o u j , a f i l o s o f i a intrinsecamente didctica e t em em s i a sua prpria pedagogia, pelo q ue n onecessita de qualquer didctica constituda a p a r t i r de fora (das cincias dae du c a o ou da pedagogia), como a c o n te c e com a s outras d i s c i p l i n a s . Bastaf i l o s o f a r . A melhor f o r m a o p edaggi ca de um professor de f i l o s o f i a sers e m p r e uma slida f o r m a o f i l o s f i c a . Esta , de r e s t o , a a r gum e n t a o maisutilizada p o r alguns professores e investigadores em f i l o s o f i a q ue n o t mp o u p a d o a s suas c r t i c a s c o n tra os actuais d e f e n s o re s de uma didctica da

    5 Para alm do p r e s e n t e p r o j e c t o de uma d i d c t i c a e s p e c f i c a da f i l o s o f i a n o temosconhecimento , em F r a n a , d e qualquer o u t r o . At n o INRP, onde f o i c r i a d o e funciona desde halguns anos o r e f e r i d o Departamento de " d i d c t i c a das d i s c i p l i n a s " , presentemente em grandea c t i v i d a d e , nu n ca e x i s t i u n e m e x i s t e qualquer p r o j e c t o de i n v e s t i g a o em d i d c t i c a da f i l o s o f i a , n oo b s t a n t e uma das unidades de investigao d o d ep ar tame nt o de d i d c t i c a s das d i s c i p l i n a s s ede nomi nar precisamente " Didctica do Francs e da F i l o s o f i a " . A n i c a a c t i v i d a d e em c u r s o , n oINRP, n o mbito do e n s i n o da f i l o s o f i a um seminrio que v e m decorrendo , desde 1 9 9 1 , subordinadoa o tema "Philosophie : d i s s e r t a t i o n s u r t e x t e " , sob a o r i e n t a o d e M 1 1 c F . R a f f i n .6 C f . TOZZI, M. e t a l .-pprendre philosopher dans l e s l y c e s d ' aujourd ' h u i . P a r i s ,Hachette/CRDP L i l l e , 1 9 9 2 , p p . 2 4 - 2 6 .p p . 397 - 412 Revista Filosfica de C o i m b r a-. " 6 (1994)

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    5/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a da F i l o s o f i a 401f i l o s o f i a , c o m o o haviam j f e i t o c o n t r a um e n s i n o da f i l o s o f i a segundo o scnones da pedagogia p o r o b j e c t i v o s . 7A e s t a s o b j e c e s M. T o z z i e s e u s c o l a b o r a d o r e s respondem c o m a a f i r m a ode que j n o a d m i s s v e l uma i d e n t i d a d e ou um i s o m o r f i s m o , frequentementes u p o s t o s , e n t r e a f i l o s o f i a c o m o d i s c i p l i n a de i n v e s t i g a o e a f i lo s of i a c o m om a t r i a e s c o l a r do e n s i n o s e c u n d r i o . E x i s t e um c o r t e e uma d i s t n c i a a b i s s a le n t r e o f i l o s o f a r por p a r t e do p r o f e s s o r d i a n t e do a l u n o e o e n s i n - l o a f i l o s o f a r .O e n s i n o f i l o s f i c o por p a r t e do p r o f e s s o r n o p o d e , p o r i s s o , s e r tomado c o m ocondio s u f i c i e n t e , embora s e j a condio n e c e s s r i a , d a aprendizagem dof i l o s o f a r por p a r t e do a l u n o . no i n t e r m e i o d e s t e s p l o s que tem s e n t i d o e s et o r n a h o j e , mais do que n u n c a , p e l a s r a z e s i n v o c a d a s , n e c e s s r i a e u r g e n t e umad i d c t i c a d a f i l o s o f i a , o u s e j a , uma r e f l e x o s o b r e a s mediaes n e c e s s r i a s e n t r ea f i lo s of i a e o f i l o s o f a r do p r o f e s s o r e o f a z e r a p r e n d e r a f i lo s of a r p o r p a r t e doa l u n o . 8Admitida a h i p t e s e d e uma d i d c t i c a da f i l o s o f i a , c o l o c a - s e , d e p r o n t o , aquesto d e s a b e r q u a l o s e u o b j e c t o , de d e f i n i r q u a i s o s s e u s o b j e c t i v o s f u n d a -mentais e de i n v e s t i g a r q u a i s o s s u p o r t e s t e r i c o s mais adequados, assim c o m oa s metodologias mais a p r o p r i a d a s .M. Tozzi reconhece a d i f i c u l d a d e e a complexidade do problema. C i e n t e d eque n em s e q u e r e x i s t e , e n t r e f i l s o f o s , um consenso f i l o s f i c o s o b r e o que s e j aa f i l o s o f i a e o f i l o s o f a r , i n s a t i s f e i t o c o m a s formulaes muito vagas que a p a r e -c em n o s programas a c e r c a dos o b j e c t i v o s do e n s i n o da f i l o s o f i a n a educaos e c u n d r i a t a i s como: "desenvolvimento de um e s p r i t o c r t i c o " , "educar p a r a al i b e r d a d e " ou " e s c l a r e c e r o c i d a d o " , dos q u a i s no s e depreende q u a l q u e r o r i e n -t a o p a r a a s p r t i c a s p e d a g g i c a s , M. Tozzi p e r g u n t a s e , a p e s a r d i s s o , n o s e r p o s s v e l , d e s e j v e l e sobretudo n e c e s s r i o e s t a b e l e c e r um acordo e n t r e p r o -f e s s o r e s s o b r e o que deve s e r e em que deve c o n s i s t i r n a p r t i c a o e n s i n o daf i l o s o f i a n a educao s e c u n d r i a . Lamenta que a f i l o s o f i a s e j a actualmente a n i c a d i s c i p l i n a e s c o l a r onde n o s o d e f i n i d o s c o m r i g o r o b j e c t i v o s pedaggicosa p r o s s e g u i r . Prope que e s s e s o b j e c t i v o s sejam d e f i n i d o s em termos dec a p a c i d a d e s , d e p o i s d e c a r a c t e r i z a d o s o s p r o c e s s o s d e pensamento n e c e s s r i o sao f i l o s o f a r e a c e s s v e i s a o s a l u n o s .Apoiando-se n a documentao produzida e n o s t r a b a l h o s r e a l i z a d o s n ombito dos s e m i n r i o s d e 1989-1990 e de 1990-1991 e n a s u n i v e r s i t s d ' t de1 9 9 1 e 1 9 9 2 , que decorreram n a U n i v e r s i d a d e d e M o n t p e l l i e r , c o m a p a r t i c i p a ode algumas dezenas d e p r o f e s s o r e s do l i c e u , o a u t o r p r o p e , a t t u l o d e h i p t e s eh e u r s t i c a e mtodo d e i n v e s t i g a o , o e s t a b e l e c i m e n t o d e um acordo d i d c t i c oque a s s e n t e n a s s e g u i n t e s p r o p o s i e s :

    1 . O ensino da f i l o s o f i a n a educao secundria t e r po r f i n a l i d a d e eo b j e c t o a aprendizagem do f i l o s o f a r .

    C f . AA VV-h i l o s o p h i e - c o l e . Mme Combat, P a r i s . PUF, 1984 e AA VV-a Grvedes Philosophes. P a r i s , O s i r i s , 1 9 8 6 .8 T OZZI, M.-Contribution I ' l a b o r a t i o n d'une d i d a c t i q u e de l ' a p p r e n t i s s a g e duphilosopher" i n Revue Franaise de Pdagogie, 103 ( 1 9 9 3 ) , p . 2 0 .

    Revista Filosfica de C o i m b r a-. 6 (1994) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    6/16

    402 J o a q u i m Neves V i c e n t eUma proposio q u e , a o p r i v i l e g i a r a a c t i v i d a d e do f i l o s o f a r s o b r e a

    t r a n s m i s s o d a ( s ) f i l o s o f i a ( s ) , d i z M. T o z z i , e n c o n t r a a s u a l e g i t i m i d a d e f i l o s f i c an a d i s t i n o k a n t i a n a e n t r e a p r e n d e r f i l o s o f i a ( s ) e a p r e n d e r a f i l o s o f a r .Uma proposio q u e , a o c e n t r a r o e n s i n o da f i l o s o f i a na aprendizagem,e n c o n t r a a s u a l e g i t i m i d a d e pedaggica n a s r e c e n t e s i n v e s t i g a e s em c i n c i a sd a educao q u e , desde h a l g u n s a n o s , p r i v i l e g i a m uma l g i c a da aprendizagems o b r e uma l g i c a do e n s i n o , o me smo d i z e r uma l g i c a do aluno s o b r e umal g i c a do p r o f e s s o r .Uma p r o p o s i o q u e , a o c e n t r a r a aprendizagem do f i l o s o f a r n a a c t i v i d a d edo a l u n o e n a s s u a s c a p a c i d a d e s e f e c t i v a s , e n c o n t r a a s u a l e g i t i m i d a d e t i c a ep o l t i c a no " d i r e i t o f i l o s o f i a p a r a t o d o s " , d i r e i t o que a s s e n t a no " p o s t u l a d o dae d u c a b i l i d a d e f i l o s f i c a d e t o d o s " .

    S uma t a l " r ev o lu o c o p e rn i c an a" n o en sin o - ap r en d iz age m d a f i l o s o f i a n aedu ca o secundria poder g a r a n t i r a acessibilidade do en sin o f i l o s f i c o a umpblico de massa.

    2 . O filosofar- um p r o c e s s o de p e n s a m e n t o incontestavelmente com-plexo-o de e deve, p a r a e f e i t o s didcticos, desdobrar-se em t r s o p e r a e si n t e l e c t u a i s maiores: conceptualizar , problematizar e argumentar.

    E s t e dever s e r o paradigma organizador do e n s i n o f i l o s f i c o n a educaos e c u n d r i a .A aprendizagem d o s p r o c e s s o s fundamentais do pensamento f i l o s f i c o i m p l i -c a r da p a r t e do a p r e n d i z - f i l s o f o o desenvolvimento d a s s e g u i n t e s c a p a c i d a d e s :

    a ) s e r capaz d e c o n c e p t u a l i z a r f i l o s o f i c a m e n t e uma n o o ;b ) s e r capaz d e problematizar f i l o s o f i c a m e n t e uma q u e s t o ou uma n o o ;c ) s e r capaz de argumentar f i l o s o f i c a m e n t e uma t e s e ou uma d v i d a .E s t e s s e r i a m , n o e nten dimen t o de M. Tozzi e s e u s c o l a b o r a d o r e s , o s o b j e c -

    t i v o s n u c l e a r e s ( n o y a u x ) do e n s i n o da f i l o s o f i a n a educao s e c u n d r i a .3 . Uma didc tica da filosofia adequada e d u c a o se cu n d ria d e v e r

    didac tizar essas t r s figuras fu ndamentai s do f i l o s o f a r . Ou s e j a , dever investigaros mtodos, os p r o cedime nt o s , a s actividades e os dispositivos q ue h o- deproporcionar o desenvolvimento e a aq ui s i o d es s as c o mp et n c i as fundamentais.

    No p a r g r a f o s e g u i n t e p a s s a r - s e - o em r e v i s t a algumas d a s a c t i v i d a d e s ed i s p o s i t i v o s p r o p o s t o s p e l o s a u t o r e s p a r a l e v a r p r t i c a a s t a r e f a s de con cep-t u a l i z a r , p r o b l e m a t i z a r e a r g u m e n t a r .

    4 . Em c o n s o n n c i a com a s proposies a n t e r i o r e s , a avaliao em f i l o s o f i adever ser de natureza p r e d o m i n a n t e m e n t e f o r m a t i v a e n o tanto o u ape na ssumativa. A avaliao dever f azer p ar te integrante do prprio p r o c e s s o deen sin o -aprendizagem.

    5 . C o n h e c i d a a c r es c en t e heterogeneidade scio-cultural e cognitiva do n o v opblico e s c o l a r , em nome do " d i r e i t o f i l o s o f i a para todos", e em c o n f o r m i d a d ecom o "postulado da educabilidade f i l o s f i c a de todos", um imperativo t i c o edidctico s e impe: a diferenciao pedaggica.Enquanto a l g u n s a l u n o s preferem t r a b a l h a r em g r u p o , o u t r o s preferemt r a b a l h a r i n d i v i d u a l m e n t e , enquanto u n s r e t i r a m mais p r o v e i t o de uma o r i e n t a of o r t e , o u t r o s b e n e f i c i a m mais d e um t r a b a l h o i n d e p e n d e n t e . O s e s t i l o s c o g n i t i v o se a s e s t r a t g i a s p e s s o a i s de aprendizagem tambm variam s u b s t a n c i a l m e n t e d ep p . 397-412 R e v i s t a F i l o s f i c a d e Coimbra - n . 1 1 6 ( 1 9 9 4 )

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    7/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a d a F i l o s o f i a 40 3aluno p a r a a l u n o . Por e s t a s r a z e s e x i g e - s e do p r o f e s s o r d e f i l o s o f i a que d i v e r -s i f i q u e o s s e u s mtodos e a s s u a s e s t r a t g i a s p e d a g g i c a s . A a u l a e x po s i t i v a , achamada l i o , n o pode s e r t i d a seno c o m o uma d a s m u i t a s p o s s i b i l i d a d e s deg e r a r s i t u a e s d e ensino-aprendizagem.

    2 . Algumas p ro po st as de concretizao dos o b j e c t i v o s nuclearesEis algumas das propostas de concretizao ( a c t i v i d a d e s , p r o cedime nt o s e

    dispositivos) de cada um dos o bjec t i vo s n ucleares da aprendizagem do f i l o s o f a rq ue f o r a m apresentadas n os r e f e r i d o s seminrios e "universidades de vero", emMontpellier, entre 1988 e 1992, retomadas n a sua mai or ia p or M. T o z z i emA p p r e n d r e philosopher da n s l e s lyces d'aujoud'hui.

    2 . 1 . Propostas de concretizao para a ap rendi zagem da conceptua-l i z a o

    N o h r e f l e x o , n em t r a b a l h o f i l o s f i c o , s em c o n c e p t u a l i z a o . E l e v a r a sn o s s a s i d e i a s ou noes a o n v e l do c o n c e i t o uma e x i g n c i a b s i c a de t o d o opensamento r i g o r o s o e , e m p a r t i c u l a r , do f i l o s f i c o .Que a c t i v i d a d e s , procedimentos e d i s p o s i t i v o s p o d e m s e r u t i l i z a d o s p a r a queo s a l u n o s adquiram a capacidade d e c o n c e p t u a l i z a r ?

    S o propostos, de e n t r e o u t r o s , o s s egui nt es d is po si ti vo s de a p r e n d i z agem :1 tipo de exerccio . A p r o x i m a o l i n g u s t i c a . Trabalho sobre a linguagem.Objectivo:-larificao do sentido de uma n o o pela explicitao das

    palavras q ue e x p r i m e m o conceito.Tarefas:-xplicitao do significado l i n g u s t i c o corrente de uma n o o.-xpl ora o da etimologia, da h i s t r i a e/ou da e vo lu o s emn t i ca de uma

    n o o .-xplicitao do sentido de uma n o o mediante a a n l i s e do s seus sin-n i m o s e antnimos.-istin o dos usos correntes e f i l o s f i c o de uma no o.2 t i p o de e x e r c c i o . Aproximao p r e d i c a t i v a . Trabalho s o b r e o s a t r i b u t o s

    de uma n o o .O b j e c t i v o :-laborao c o n c e p t u a l de uma noo p e l a determinao da s u acompreenso.T a r e f a : - D e t e r m i n a o dos a t r i b u t o s de um c o n c e i t o e c l a r i f i c a o d a s

    r e l a e s e n t r e e s s e s a t r i b u t o s .3 t i p o de e x e r c c i o . Aproximao r e p r e s e n t a t i v a . Trabalho s o b r e a s r e p r e -

    s e n t a e s .O b j e c t i v o : -uperao d a s r e p r e s e n t a e s es po ntn eas do s alun os pore l a b o r a e s c o n c e p t u a i s .T a r e f a :-x p r e s s o , p o r p a r t e do a l u n o , d a s s u a s r e p r e s e n t a e s p e s s o a i s

    e s p o n t n e a s , s e g u i d a d e questionamento p o r c o n f r o n t a o c o m a s dos s e u s c o l e -g a s , c o m o p r o f e s s o r ou c o m t e x t o s dos g r a n d e s a u t o r e s . R e c o r r e - s e a o que h o j es e designa p o r c o n f l i t o s c i o - c o g n i t i v o .

    Revista Filosfica de C o i m b r a-. 6 (1994 ) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    8/16

    40 4 Joaquim Neves Vicente

    4 tipo de exerccio . A p r o x i m a o e x t e n s i v a . Trabalho sobre os campos deap li ca o de uma n o o.

    O b j e c t i v o :-econstruo c o n c e p t u a l d e uma n o o c o m o instrumento dei n t e l i g i b i l i d a d e do r e a l .

    T a r e f a :-xplorao e x t e n s i v a d e um c o n c e i t o , p e l a a n l i s e da d i v e r s i d a d edos s e u s campos d e a p l i c a o , c o m v i s t a s u a r e c o n s t r u o .5 t i p o de e x e r c c i o . I ndu o guiada por c o n t r a s t e s .O b j e c t i v o : -Construo do c o n c e i t o d e uma noo p o r i d e n t i f i c a o l g i c a

    dos s e u s a t r i b u t o s .T a r e f a : -O a l u n o c o n s t r i , p o r v i a i n d u t i v a e p o r aproximaes e o p o s i e sd e exemplos e c o n t r a - e x e m p l o s , o s a t r i b u t o s d e um c o n c e i t o .Diz-se induo guiada por c o n t r a s t e s p o r s e t r a t a r d e d i s p o s i t i v o s , p r e -viamente concebidos p e l o p r o f e s s o r , c o n s t i t u d o s por c o n j u n t o s de elementos

    c o n t r a s t a n t e s a p a r t i r d o s q u a i s o a l u n o l e v a d o a o r g a n i z - l o s segundo c r i t r i o si m p l i c i t a m a n t e c o n t i d o s n o s m a t e r i a i s f o r n e c i d o s .6 t i p o de e x e r c c i o . Ap r oximao m e t a f r i c a . Trabalho s o b r e m a t e r i a i ssimbolicamente p o l i s s m i c o s .O b j e c t i v o :-esenvolver a capacidade d e p e n s a r p or i magen s , m e t f o r a s ,

    s m b o l o s , e t c . c o m v i s t a a o desenvolvimento do pensamento a n a l g i c o .T a r e f a :-o rmula o d o s e n t i d o i m p l c i t o conotado p o r i m a g e n s , s m b o l o s ,

    a l e g o r i a s , m i t o s , e t c . que evo cam c e r t a s n o e s .O con ceito de felicidade, po r exemplo, p o d e s e r c o n o t a d o (ou n o) melhor

    (ou p i o r ) c o m :-uma c o r , como o castanho, p o r s e r uma c or quen te, q ue p r o p o r c i o n ac o n f orto?-uma msica, como a 9 Sinfonia, po r s e r alegre, q ue dispe bem?-um gosto, como o do gengibre, que s en do f o r t e , c o n o t a intensidade?-uma e m o o , como o amo r, q ue s e ndo precisas duas p es so as , de sej a ap r e s e n a do s outros?

    C f .-pprendre philosopher dans l e s l y c e s d ' a u j o u r d ' h u i , p p . 3 7 - 4 7 ; e8 8 - 9 2 : C o n t r i b u t i o n l ' E l a b o r a t i o n d'une Didactique du P h i l o s o p h e r , pp 8 1 -- 1 0 1 .

    2 . 2 . Pr op os tas d e c o n c r e t i z a o para a aprendizagem da problematizaoEm f i l o s o f i a t o i m p o r t a n t e c o m o a c o n c e p t u a l i z a o a p r o b l e m a t i z a o .

    A f i l o s o f i a define-se em bo a verdade pelo seu modo especfico e rigoroso deformular os problemas-o n d i o prvia e necessria da sua ab o r dagem r i g o -rosa e c r t i c a .Em termos d i d c t i c o s , ou s e j a , c o m v i s t a a o desenho d e a c t i v i d a d e s e d i s p o -s i t i v o s que permitam a a q u i s i o d a capacidade d e p r o b l e m a t i z a r p o r p a r t e dosa l u n o s , pode o p e r a c i o n a l i z a r - s e uma t a l aprendizagem mediante o p e r c u r s o d a ss e g u i n t e s e t a p a s :

    ] ' e t a p a . Questionar , ou s e j a , t o r n a r p r o b l e m t i c a ou duvidosa uma d e t e r -minada a f i r m a o , s e j a e l a uma e v i d n c i a do s e n s o comum ou uma d e f i n i o .2 e t a p a . Descobrir , a p a r t i r d e uma n o o , p o r d e t r s de uma q u e s t o oup p . 397-412 R e v i s t a F i l o s f i c a d e Coimbra -n 6 ( 1 9 9 4 )

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    9/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a da F i l o s o f i a 40 5na r e l a o e n t r e d o i s ou mais c o n c e i t o s , a e x i s t n c i a d e um problema f i l o s o f i c a -mente r e l e v a n t e .

    3 e t a p a . Formular um problema s o b forma a l t e r n a t i v a , ou s e j a , s o b uma f o r -ma que admita mais do que uma r e s p o s t a ou s o l u o p a r a e s s e m e s m o problema.4 e t a p a . Explorar a d i v e r s i d a d e d a s r e s p o s t a s p os s v e i s p a r a um d e t e r m i -nado problema.Com e s t a metodologia p r e t e n d e - s e a j u d a r o a l u n o a s u p e r a r t r s o b s t c u l o smaiores e mais f r e q u e n t e s :- s u f i c i n c i a da c e r t e z a p r e c o n c e i t u o s a ;- i g n o r n c i a ou desconhecimento do que s e j a um problema f i l o s f i c o ;- r e s i s t n c i a a tomar e m c o n s i d e r a o o ponto d e v i s t a do o u t r o .D i sp o si t iv o s di d c ti c os p r o p o s t o s para a apre n d izagem da problematizao:1 tipo de exerccio.O b j e c t i v o : -Desenvolver a capacidade d e q u e s t i o n a r f i l o s o f i c a m e n t e umapseudo-evidncia ou uma " i d e i a f e i t a " .T a r e f a : -Dada uma " o p i n i o - r e s p o s t a " , e n c o n t r a r a q u e s t o f i l o s f i c a n e l a

    i m p l c i t a .Exemplo :-iz-se:-A vida e s t pr-destinada. O aluno formular ques-

    tes d o t i p o :-O homem inventa a s ua vida?O e x e r c c i o d e c o r r e e m 3 momentos. Num p r i m e i r o , i n d i v i d u a l m e n t e , cadaaluno procurar formular uma ou v r i a s q u e s t e s p e r a n t e o enunciado dado( a o p i n i o - r e s p o s t a ) . Num segundo momento, e m pequenos g r u p o s , cada grupoa p u r a r a s melhores q u e s t e s p a r a a " o p i n i o - r e s p o s t a " em a p r e o . Num t e r c e i r omomento, em p l e n r i o d e t u r m a , p r o c e d e r - s e - d i s c u s s o d a q u e l a s que s o , d ef a c t o , q u e s t e s formuladas f i l o s o f i c a m e n t e .

    2 t i p o de e x e r c c i o .Objectivo:-e s e n v o l v e r a capacidade de s e auto-questionar f i l o s o f i c a -

    mente.Tarefa:-n c o n t ra r a s questes f i l o s f i c a s subjacentes s respostas q ue s e

    d o comummente acerca de problemas como Deus, a v i d a , a morte, a liberdade,o o u t r o , o amor, e t c .Exemplo:-e us uma i n v e n o do homem. Ques t o f i l o s f i c a :-eusexiste?O e x e r c c i o d e c o r r e c o m o o a n t e r i o r , em t r s momentos, c o m o b j e c t i v o ss e m e l h a n t e s .

    3 t i p o de e x e r c c i o .O b j e c t i v o : -esenvolver a capacidade d e q u e s t i o n a r defo rma a l t e r n a t i v a .T a r e f a : -Cada a l u n o procura e n c o n t r a r r e s p o s t a s d i f e r e n t e s d a s s u a s p a r aq u e s t e s c o r r e n t e s .Exemplo:-uesto:-H vida depois da morte ? Respostas a l t e r n a t i v a s :- o , a m o r t e o fim.-im, pela reencarnao.- o , pela ressurreio.4 tipo de exerccio.O b j e c t i v o : -esenvolver a c a p a c i d a d e d e e x p l o r a r d i f e r e n t e s r e s p o s t a s p a r a

    uma mesma q u e s t o f i l o s f i c a .T a r e f a :-ncontrar r e s p o s t a s d i f e r e n t e s p a r a uma q u e s t o f i l o s f i c a d a d a .Revista Filosfica de C o i m b r a-. 6 (1994 ) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    10/16

    40 6 Joaquim Neves Vicente

    Exemplo: -Que a t i t u d e perante a morte?C f . A p p r e n d r e philosopher da n s l e s lyces d'aujourd' h u i , p p . 48-52.2 . 3 . Pr op os tas de concretizao para a aprendizagem da argumentaoUma p r i m e i r a t a r e f a d a aprendizagem d a argumentao c o n s i s t e e m c l a r i f i c a r

    o que s e deve e n t e n d e r p o r uma argumentao e s p e c i f i c a m e n t e f i l o s f i c a .Complementarmente s e r n e c e s s r i o d i s c u t i r o e s t a t u t o d a prova em f i l o s o f i ar e l a t i v a m e n t e a o u t r o s modelos d e argumentao t a i s c o m o a demonstraom a t e m t i c a , a v e r i f i c a o e x p e r i m e n t a l , a argumentao j u r d i c a , a persuasop u b l i c i t r i a , e t c . A e s t a s q u e s t e s f o i dedicada a t e n o p a r t i c u l a r n a " u n i v e r s i t d ' t " d e 1 9 9 1 , e m M o n t p e l l i e r .

    C l a r i f i c a d a s e s t a s q u e s t e s , uma t e r c e i r a deve s e r d e b a t i d a :- que podee deve s e r e x i g i d o a o s a l u n o s do e n s i n o s e c u n d r i o em m a t r i a d e argumentaof i l o s f i c a .D a r e f l e x o h a v i d a , chegou-se a um c e r t o consenso s o b r e a s s e g u i n t e se x i g n c i a s :-m argumento n o pode c o n t r a d i z e r - s e a s i mesmo;-m argumento deve s e r c o e r e n t e c o m a t e s e s u s t e n t a d a ;-m argumento deve s e r c o e r e n t e c o m o s o u t r o s argumentos u t i l i z a d o s nad e f e s a de uma me sma t e s e ;-m argumento no pode s e r r e d u z i d o a um exemplo, a s s e n t a r e m expe-r i n c i a s p e s s o a i s , ou s e r c o n s t i t u d o p o r r e f e r n c i a s ou c i t a e s (elementos quep o d e m i l u s t r a r e a j u d a r compreenso, mas que n o tm v a l o r f i l o s f i c o ) .E n t r e o s o b s t c u l o s mais d i f c e i s d e u l t r a p a s s a r p e l o s a l u n o s , quando tm d eargumentar f i l o s o f i c a m e n t e , e n c o n t r a m - s e :-d i f i c u l d a d e d e s e descentrarem d o s s e u s p r p r i o s p o n t o s de v i s t a (dondea i m p o r t n c i a e s t r a t g i c a do r e c u r s o pedaggico a o c o n f l i t o s c i o - c o g n i t i v o ) ;- d i f i c u l d a d e de p a s s a r da s u a p a r t i c u l a r i d a d e emprica p a r a a razou n i v e r s a l ;-d i f i c u l d a d e , s o b r e t u d o n a argumentao o r a l , de assumir uma p o s t u r a d ea b e r t u r a e d i l o g o , d i s p o n d o - s e mais a p r o c u r a r a verdade do que a dominar o ,o u t r o .

    p r o p o s t a a t uma "moral p r o v i s r i a " do d i l o g o a r g u m e n t a t i v o .Quanto a o s d i s p o s i t i v o s d i d c t i c o s p a r a o desenvolvimento da capac idaded e argumentar s o p r o p o s t o s q u a t r o t i p o s d e e x e r c c i o s .1 t i p o de e x e r c c i o .O b j e c t i v o :-ompreender o que argumentar f i l o s o f i c a m e n t e .T a r e f a :-ecorrendo "induo g u i a d a p o r c o n t r a s t e s " , j u t i l i z a da p a r aa aprendizagem da c o n c e p t u a l i z a o , a n t e uma l i s t a g e m d e argumentos d i v e r s o s ,f a z e r d e s c o b r i r a o a l u n o , p e l a a n l i s e dos c o n t r a s t e s e n t r e argumentos f i l o s f i c o se n o f i l o s f i c o s , o que d i f e r e n c i a u n s dos o u t r o s .2 t i p o de e x e r c c i o .O b j e c t i v o :-rgumentar a d v i d a .T a r e f a :-ncontrar argumentos ou objeces r a c i o n a i s c o n t r a uma t e s ep r e c o n c e i t u o s a .

    p p . 397-412 Revista Filosfica de C o i m b r a-. 6 (1994)

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    11/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a da F i l o s o f i a 40 7Exemplo:-e s c o b r i r que o f a c t o de o s s e n t i d o s n o s enganarem algumas

    v e z e s uma objeco t e s e que d i z que conhecemos a r e a l i d a d e p e l o s s e n t i d o s .3 t i p o de e x e r c c i o .O b j e c t i v o :-n c o n t r a r a s t e s e s a a r g u m e n t a r .T a r e f a :-n te um tema-problema s o b r e o q u a l s o p o s s v e i s v r i a s t e s e s ,proceder a o levantamento e formulao d a s v r i a s t e s e s p o s s v e i s .Exemplo:-e r a n t e a q u e s t o :-O homem l i v r e ? , que t e s e s s e podero

    formular?4 t i p o de e x e r c c i o .O b j e c t i v o :-r a b a l h a r s o b r e o s argumentos.T a r e f a s :-ncontrar uma c o n t r a d i o de ordem l g i c a n um argumento ( n o s s e u s

    p r p r i o s t e r m o s ) .-o n t r a d i z e r um argumento mediante um o u t r o argumento do mesmo t i p o .-ncontrar argumentos d e o r d e n s d i f e r e n t e s . Por exemplo, c o n t r a d i z e r umargumento de ordem econmica ou t c n i c a a t r a v s d e um argumento de o rdem t i c a .-ncontrar argumentos mais f o r t e s . Por exemplo, c o n t r a d i z e r um a r g u -mento de o rdem l e g a l p e l o r e c u r s o a um argumento d e ordem l e g t i m a .Outros e x e r c c i o s .-ada uma l i s t a g e m d e argumentos , p r o c e d e r s u a s e r i a o g r a d u a l .-roceder a o levantamento e h i e r a r q u i z a o dos argumentos dum t e x t oa r g u m e n t a t i v o .-o n s t r u i r o esquema g e r a l ( o u p l a n o ) d e argumentao p a r a um e x e r c c i ode d i s s e r t a o .C f . Apprendre philosopher dans l e s l y c e s d ' a u j o u r d ' h u i , p p . 5 3 - 5 9 .

    3 . Apreciao c r t i c a . Virtualidades e l i m i t e s do p r o j e c t o1 . O e n s i n o da f i l o s o f i a n a educao s e c u n d r i a , t a n t o em F r a n a , c o m o noQuebec, ou a t em P o r t u g a l , v i v e um dilema grave e e n c o n t r a - s e num c e r t o

    i m p a s s e .Ou ma n tm a s u a f i d e l i d a d e f i l o s o f i a e s p r t i c a s t r a d i c i o n a i s do s e u

    e n s i n o , por c e r t o mais consentneas c o m a n a t u r e z a da p r p r i a f i l o s o f i a ,a r r i s c a n d o - s e a n o a t i n g i r seno uma pequena e l i t e c u l t u r a l m e n t e p r i v i l e g i a d a ;

    ou procura a d a p t a r - s e a o n o v o p b l i c o , um p b l i c o de massa, c u l t u r a l el i n g u i s t i c a m e n t e d e f i c i t r i o , cedendo na sua e s p e c i f i c i d a d e , r i g o r e n v e l deexigncia i n t e l e c t u a l . A e s c o l a r i z a o da f i l o s o f i a , d e r e s t o , uma questoc o n t r o v e r s a des de h muito.9Michel Tozzi e s e u s c o l a b o r a d o r e s j f i z e r a m uma o p o . Decididamentepreferem o compromisso c o m o novo p b l i c o e a c e i t a m o s c u s t o s da d e m o c r a t i z a -

    9 VICENTE, J . N .-S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a Comunicacional n o Ensino - Aprendizagemda F i l o s o f i a " i n R e v i s t a F i l o s f i c a de Coimbra, v o l . t , n 2 ( 1 9 9 2 ) , p p . 346-348.

    R e v i s t a F i l o s f i c a de Coimbra -n P 6 ( 1 9 9 4 ) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    12/16

    40 8 Joaquim Neves Vicente

    o do e n s i n o da f i l o s o f i a , t e n d o t r a d o , de algum modo, a " f i l o s o f i a " , c o m as u a o p o . Uma c r t i c a n a q u a l obviamente s e n o reconhecem, mas da q u a l s eno p o d e m j e s q u i v a r . E l a j c h e g o u . E v e i o c o m veemncia. 1 0Reconhece-se, p o r i s s o , n e s t e p r o j e c t o d e uma d i d c t i c a e s p e c f i c a daf i l o s o f i a um g r a n d e v o l u n t a r i s m o e um a c t o d e coragem p a r a , p o r um l a d o , e n c a -r a r d e f r e n t e o m a l - e s t a r do e n s i n o d a f i l o s o f i a no e n s i n o s e c u n d r i o f r a n c s , e ,p o r o u t r o , p a r a d e s a f i a r uma p e s a d a h e r a n a q u a n t o s metodologias consagradasdo e n s i n o d a f i l o s o f i a . n a a t e n o comprometida c o m o novo p b l i c o do e n s i n o s e c u n d r i o e n a" t r a i o " a u r n a t r a d i o d e 20 0 a n o s d e e n s i n o d a f i l o s o f i a n o s l i c e u s f r a n c e s e sque s e ho-de p e r s p e c t i v a r a s v i r t u a l i d a d e s e o s l i m i t e s do p r o j e c t o em a p r e o .

    2 . U r n a segu nda nota de apreciao que n os me r e c e o presente projecto deuma didctica especfica da f i l o s o f i a t em a ver com a questo institucional, maisexactamente com a questo do s lugares o n d e e l e e s t em curso. Parece-nos q ues e r i a mais correcto q ue o projec to estivesse em ma r c h a num de pa rtame n to def i l o s o f i a , i s t o , adentro de uma UFR. Po r que uma didctica da f i l o s o f i a deves e r antes de mais f i l o s f i c a , conviria que, de um p o n t o de v i s t a i n s t i t u c i o n a l , e l ae s t i - vesse n a proximidade e sob a vigilncia da prpria f i l o s o f i a . 1 1 Esta mesmat e s e d ef en di da p or Charles Coutel n o texto "Didactique, Pdagogie, Philoso-phie" publicado em L a Philosophie e t sa Pdagogie. A reflexo acerca d o en sin oe da didctica da f i l o s o f i a deve s e r considerada um momento da p r p r ia r ef lex of i l o s f i c a . As s i nalmo s j algumas das razes q ue explicam a resistncia do sf i l s o f o s didctica da f i l o s o f i a .

    3 . Mais importante d o q ue a questo do s lugar es e das i n s t i t u i e s o n d e oprojecto faz o seu c a m i n h o o dos seus fundamentos e sup o r t es tericos. Po ri s s o , uma t e r c e i r a nota de apreciao c r t i c a v a i para a s p r o p o s i es p a r a umadidctica da f i l o s o f i a , antes assinaladas, e para os s eus p res s up os t os .Ao a f i r m a r - s e que o o b j e c t o do e n s i n o d a f i l o s o f i a n a educao s e c u n d r i a a aprendizagem do f i l o s o f a r , a t r i b u i - s e a cada um dos termos um s i g n i f i c a d omuito p a r t i c u l a r que importa d i s c u t i r c r i t i c a m e n t e .D i g a - s e , e m p r i m e i r o l u g a r , que n o s e e n c o n t r a em t o d a a documentaoproduzida uma e x p l i c i t a o s u f i c i e n t e do que s e entende por f i l o s o f a r . F i c aapenas uma d e f i n i o o p e r a t i v a : -ensar f i l o s o f i c a m e n t e s e r capaz de t r soperaes i n t e l e c t u a i s c o o r d e n a d a s : c o n c e p t u a l i z a r , p r o b l e m a t i z a r , a r g u m e n t a r .

    1 1 1 COUTEL, Charles-Pdagogie , Didactique , P h i l o s o p h i e " i n AA VV-a Philosophie e ts a Pdagogie . CRDP de L i l l e , 1 9 9 1 , pp . 53-73; e BILLARD, J .-Sciences de l ' d u c a t i o n e tpdagogie de I a p h i l o s o p h i e " i n L'Enseignement Philosophique , 43/4 ( 1 9 9 3 ) , p p . 3 9 - 6 3 .1 1 Entre ns , a soluo i n s t i t u c i o n a l en c on tr ada h alguns anos com a c r i a o do RamoEducacional d a s Faculdades d e L e t r a s , por e s t a s r a z e s , mais a c e r t a d a . Sempre n os p ar ec eu que

    a s Faculdades de L e t r a s ( e a s o u t r a s tambm ) s e n o p o d e m a l h e a r do d e s t i n o e do modo como sot r a n s p o s t o s p a r a o s o u t r o s n v e i s d e ensino o s s a b e r e s que n e l a s s o i n v e s t i g a d o s . D e r e s t o , a soluoencontrada e n t r e ns reconhecida p o r v r i a s a u t o r i d a d e s u n i v e r s i t r i a s e s t r a n g e i r a s como a maisapropriada . Presentemente , em Frana , a soluo encontrada com a c r i a o dos IUFM que g o z amd e autonomia r e l a t i v a m e n t e a o s departamentos de formao c i e n t f i c a o r i g in a l e s t a r e v e l a r - s e muitopreocupante.

    p p . 397-412 Revista Filosfica de C o i m b r a-. 6 (1994)

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    13/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a da F i l o s o f i a 409

    O mnimo que s e poder d i z e r que uma t a l d e f i n i o c o n t r o v e r s a e i n s u -f i c i e n t e .Controversa e i n s u f i c i e n t e por r e d u z i r o pensamento, independentemente des e r f i l o s f i c o ou n o , s t r s operaes r e f e r i d a s . O pensamento uma t o t a l i d a d ecomplexa, g l o b a l e u n i t r i a , no dec ompo n v el me can i came n te numas q u a n t a soperaes i n t e l e c t u a i s ou nuns t a n t o s p r o c e s s o s c o g n i t i v o s .Controversa e i n s u f i c i e n t e tambm por pressupor uma independncia d a soperaes e dos p r o c e s s o s c o g n i t i v o s r e l a t i v a m e n t e a o s c o n t e d o s . Em t o d a s a s r e a s d i s c i p l i n a r e s h conhecimentos b s i c o s q ue c on fi gur am epistemolo-gicamente e s s es s a b e r e s e s p e c f i c o s e s em o s q u a i s j no s e pode f a l a r em F s i c a ,Matemtica, G eo gr af i a o u F i l o s o f i a . Em f il os of i a e s t a s e p a r a o p a r t i c u l a r -mente g r a v e . N o h i n i c i a o a o f i l o s o f a r que n o e x i j a uma c u l t u r a e umainformao f i l o s f i c a s que i n c i d a s o b r e o s t e x t o s e o s a u t o r e s c l s s i c o s e a c t u a i s .Sem e s t a r e f e r n c i a fundamental j n o es tamo s em f i l o s o f i a , mas f o r a d e l a .Controversa e i n s u f i c i e n t e a i n d a por r e d u z i r a ap r endi zagem do f i l o s o f a r s u a dimenso puramente f o r m a l ou t c n i c a . Reduzir o s o b j e c t i v o s do e n s i n o daf i l o s o f i a a o s t r s o b j e c t i v o s n u c l e a r e s a s s i n a l a d o s ( c o n c e p t u a l i z a r , p r o b l e m a t i z a re a r g u m e n t a r ) , p o r mais i m p o r t a n t e s que sejam ( e s o - n o e f e c t i v a m e n t e ) , s e r i ar e d u z i r a f i lo s of i a a uma s o f s t i c a . D e r e s t o , e s s a s o p e r a e s c o n s t i t u i r a m j ab a s e c u r r i c u l a r do programa s o f i s t a . E l a s p o d e m tambm s e r t o m a d a s , h o j e , c o m oo s grandes o b j e c t i v o s de um q u a l q u e r programa d e r e t r i c a o u d e um qualquercurso de argumentao p e r s u a s i v a . O Programa " F i l o s o f i a p a r a Crianas"de Matthew Lipman ou o " P r o j e c t o I n t e l i g n c i a " d a Universidade d e Harvardregem-se p o r o b j e c t i v o s e p r e s s u p o s t o s s e m e l h a n t e s .

    Controversa e i n s u f i c i e n t e , p a r a t e r m i n a r , p o r q u e , me smo do ponto de v i s t aformal ou t c n i c o , s e r i a n e c e s s r i o a c r e s c e n t a r a o s t r s o b j e c t i v o s n u c l e a r e so u t r o s igualmente i n d i s p e n s v e i s ao t r a b a l h o f i l o s f i c o , t a i s c o m o a a n l i s e ecomentrio de t e x t o s , a d i s s e r t a o , e t c .

    D i g a - s e , em segundo l u g a r , que no s e e n c o n t r a em t o d a a documentaopublicada a t ao p r e s e n t e uma r e s p o s t a p a r a a s q u e s t e s p r i m e i r a s que umad i d c t i c a da f i l o s o f i a l e v a n t a e que o p r p r i o M. T o z z i , n um a r t i g o publicadoem 1 9 8 9 , no n 270 dos Cahiers Pdagogiques, 1 2 colocou n o s s e g u i n t e s t e r m o s :

    " -Uma i n v e s t i g a o em c i n c i a s da educao s e r f i l o s o f i c a m e n t ea u t o r i z a d a e m d i d c t i c a da f i l o s o f i a ?-ma vez que a f i l o s o f i a s e s i t u a a o n v e l do fundamento e n o podendor e c e b e r fundamento seno d e s i mesma, p o d e r - s e - f a z e r uma i n v e s t i g a o emd i d c t i c a da f i l o s o f i a que n o s e j a f i l o s f i c a ?-oder haver l u g a r a uma d i d c t i c a da f i l o s o f i a que n o s e j ap r i o r i t a r i a m e n t e f i l o s f i c a ?-oder haver l u g a r a uma d i d c t i c a da f i l o s o f i a que no pressuponha umadeterminada f i l o s o f i a da educao?1 2 TO2ZI, M.-V ers un e d i d a c t i q u e de I a p h i l o s o p h i e " i n Cahiers Pdagogiques , 270 ( 1 9 8 9 ) ,

    p . 1 7 .

    Revista Filosfica de C o i m b r a-. , 6 (1994) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    14/16

    410 Joaquim Neves Vicente

    -ue s e r i a um e n s i n o da f i l o s o f i a subordinado a uma t c n i c a ou a umac i n c i a seno um p o s i t i v i s m o ? "A e s t a s d i f i c u l d a d e s a documentao produzida n o s l t i m o s a n o s a i n d a nod e u , d e f a c t o , r e s p o s t a s a t i s f a t r i a . Aquilo a que a s s i s t i m o s , d e 1989 p a r a c , f o ia uma f u g a p a r a a f r e n t e c o m a e l i s o d e s t a s q u e s t e s . E enquanto e l a s n ot i v e r e m uma r e s p o s t a e uma s o l u o f i l o s o f i c a m e n t e a c e i t v e i s , c o r r e - s e o r i s c od e e d i f i c a r uma b o n i t a c o n s t r u o s o b r e t e r r e n o s movedios ou uma l i n d a e s t t u ac o m p s d e b a r r o . A d i d c t i c a que n o s p r o p o s t a-ma d i d c t i c a c o n s t r u d a amontante d a f i l o s o f i a - uma d i d c t i c a que a i n d a s e s t e d i f i c a d a em s e d e der a z o t c n i c a ou i n s t r u m e n t a l , mas no a i n d a e m s e d e d e r a z o f i l o s f i c a . P o d e r -- s e - d i z e r que u r n a d i d c t i c a para a f i l o s o f i a ( e r e n e elementos r e l e v a n t e sp a r a o e f e i t o , que no p o m o s em c a u s a ) , mas no s e r , p o r c e r t o , a i n d a umad i d c t i c a ( p r p r i a ) da f i l o s o f i a .

    4 . A centrao da ap r e n di z age m d o f i l o s o f a r n o s p ro ces so s cognitivos e n asdestrezas i n t e l e c t u a i s , praticamente margem dos c o n t e d o s , e n c o n t r a o seusuporte terico n o p a ra d ig ma cognitivo ( J . Piaget , J . Bru ne r , D. Ausubel,E . Eisner e outros) q ue veio s u b s t i t u i r , n os anos 7 0 , o p a ra d ig ma condutista( B . Bloom e "Pedagogia p or Objectivos"), vigente n os anos 6 0 e c en tr ado n osc o m p o r t a m e n t o s e resultados esperados, p ar ad i gma q ue havia substitudo , por suavez, o paradigma tradicional ( c en trado n os c o n t e d o s ) . luz do pa radigmat r a d i c i o n a l , e ram os c o n t edo s que t i nham carcter formativo. Privilegiava-seuma lgica epistemolgica . A edu ca o escolar sobrevalorizava a instruo outransmisso de c o n h e c i m e n t o s . luz d o pa radigma cognitivo, aquilo q ue aedu ca o escolar deve p r i v i l e g i a r antes o de se n v ol v ime n to cognitivo, o u s e j a ,o de se n v ol v ime n to dos processos da c ogn i o e a aquisio de destrezas i n t e -l e c t u a i s e e s t r a t g i a s de ap rendi zagem . F oi luz deste m o d e l o q ue surgiramdeclaraes pedaggicas d o t i p o : O q ue preciso "ap r e nder a aprender","aprender a pensar" . T r a t a - s e , com certeza , de uma proposta me re c e d ora de todaa ateno , ainda q ue c r t i c a .A i n v e s t i g a o d o s p r o c e s s o s c o g n i t i v o s e d a s d e s t r e z a s i n t e l e c t u a i s e x i g i d a sp e l a s a p r e n d i z a g e n s e s c o l a r e s , s e g u i d a da concepo d e i n s t r u m e n t o s , d i s p o s i t i -v o s e a c t i v i d a d e s que levem a q u i s i o d e s s e s p r o c e s s o s c o g n i t i v o s e d e s t r e z a si n t e l e c t u a i s a p r e s e n t a - s e - n o s c o m o uma r e a que deve merecer por p a r t e d a sd i d c t i c a s uma a t e n o p a r t i c u l a r . E s t e um d o s m r i t o s do p r o j e c t o em a p r e o .A s p r t i c a s t r a d i c i o n a i s do e n s i n o da f i l o s o f i a ( e d a s o u t r a s d i s c i p l i n a stambm ) ignoravam p o r i n t e i r o a q u e s t o dos p r o c e s s o s c o g n i t i v o s , c e n t r a n d o -- s e apenas n o s contedos . As i n v e s t i g a e s no domnio d a s c i n c i a s c o g n i t i v a se e m p a r t i c u l a r n a P s i c o l o g i a C o g n i t i v a ( um dos s u p o r t e s t e r i c o s maiores d a sd i d c t i c a s e s p e c f i c a s ) trouxeram - n o s uma o u t r a c o n s c i n c i a da s u a i m p o r t n c i ae da n e c e s s i d a d e d e o s t r a b a l h a r d i d a c t i c a m e n t e . A p a r d e o b j e c t i v o s c o g n i t i v o s( r e l a c i o n a d o s c o m o s contedos ) n e c e s s r i o a t e n d e r e formular o b j e c t i v o s d ec a r c t e r m e t a c o g n i t i v o , r e l a t i v o s a o desenvolvimento dos p r o c e s s o s da c o g n i o , a p r o p r i a o de e s t r a t g i a s d e aprendizagem e a q u i s i o de t c n i c a s ei n s t r u m e n t o s de t r a b a l h o i n t e l e c t u a l .N i s t o r e s i d e a maior v i r t u a l i d a d e do p r o j e c t o d e uma d i d c t i c a da f i l o s o f i at a l c o m o e s t a s e r desenvolvido por Michel Tozzi e s e u s c o l a b o r a d o r e s .p p . 397-412 Revista FilosJca de C o i m b r a-. " 6 (1994)

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    15/16

    S u b s d i o s p a r a uma D i d c t i c a da F i l o s o f i a 41 1O reconhecimento d e s t a v i r t u a l i d a d e n o n o s p o d e , no e n t a n t o , f a z e r esquecero s l i m i t e s a p o n t a d o s .

    5 . parte a s virtualidades e os l i m i t e s do p r o j e c t o , uma das questes maio-r e s q ue e l e s u s c i t a , com i n t e r e s s e redobrado para o caso portugus, pelas razesq ue s e adiantaro, naturalmente a do lugar e do pap el da f i l o s o f i a n a escolae , mais concretamente, n a edu ca o secundria. O ensino da f i l o s o f i a n o secun-drio uma especificidade genui nament e francesa, a c o m p a n h a d a de perto p orpases o u regies de influncia francesa como o Quebec, alguns cantes suiose um o u outro p a s do norte de f r i c a ; e a c o m p a n h a d a de longe po r outros pasescomo a E s p a n h a o u a I t l i a q ue s i n cluem a f i l o s o f i a n o c ur r ic ulum escolar do salun os de humanidades. Portugal s e r o p a s do mundo o n d e a f i l o s o f i a o c u p amais importncia c u r r i c u l a r n o en sin o secundrio. T o d o s os alunos d o ensinos e c un d r i o p o r t ugu s frequentam, pelos menos durante d o i s anos a disciplina deI n t r o d u o Filosofia, e alguns podem frequent-la durante t r s anos. EmFrana, como n o Q u e be c e em algun s c an t es s u i o s , a f i l o s o f i a , de f a c t o ,disciplina curricular p ar a t odo s os alunos do secundrio, mas apenas durante uman o e com carga h o r r i a semanal muito diferenciada (desde 2 a 8 horas semanais,c o n s oa n te a s reas de e s t u d o ) . Relevante ainda o f a c t o de a F i l o s o f i a s e r objectode e n s i n o -a pre n d izagem naqueles pases ap en as n o ltimo an o do en sin o secun-d r i o , n o BAC, c uja i dade mdia dos alunos anda v o l t a dos 17/18 anos. EmPortugal, os alunos t m a sua I n t r odu o Filosofia aos 1 5 anos de idade, logon o 1 an o d o en sin o secundrio.Esta especificidade portuguesa t r a z acrescidas dificuldades e levanta proble-mas muito p a r t i c u l a r e s . Os d e f i c i t s l i n g u s t i c o s e c u l t u r a i s do s alun os sados daescolaridade obrigatria s o mai or es , a maturidade cognitiva e i n t e l e c t u a l e s t ainda em f a s e de consolidao, a s c ap ac i dad es d e abstraco so ainda p r e c r i a s ,os hbitos de estudo, a s e s t r a t g i a s de aprendizagem, assim como a s compe-tncias de l e i t u r a c o m p r e e n s i v a e de expresso discursiva esto ainda, em bo ap a r t e , po r a d q u i r i r .

    Ora, o ensino da f i l o s o f i a e o f i l o s o f a r p r e s s u p e m como suas c o n d i e s depossibilidade a aquisio daquelas exigncias e c o mp et n c i as i n t e l e c t u a i s . Noestando adquiridas, uma didctica da f i l o s o f i a adequada aos n ossos j o ve ns t emde re-equacionar o que fazer da e com a f i l o s o f i a . A argume n ta o de M. T o z z ie seus colaboradores a propsito da alterao quantitativa do pblico escolarfrancs tambm p er ti n en t e en tr e n s e - o mais ainda n o que d i z respeito qualidade, consideradas a diferena de idade ( 2 anos) e sobretudo a diferenai n t e l e c t u a l e c o g n i t i v a . Convenhamos q ue frequentar f i l o s o f i a logo aps a escola-r idade b si c a o u n o an o terminal do e ns in o s ec un d ri o a c a r r e t a c o n s equ n c i asp ed ag gi c as e n or me s.

    Por e s t a s r a z e s , cremos que e s t cometida d i s c i p l i n a d e Introduo F i l o s o f i a , a p a r do ensino-aprendizagem da f i lo s of i a e do f i l o s o f a r e por s e ui n t e r m d i o , o desenvolvimento d a s competncias a t r s r e f e r i d a s c o m o condiesde p o s s i b i l i d a d e do p r p r i o ensino-aprendizagem da f i l o s of i a e a t de o u t r a sm a t r i a s que exigem maior maturidade i n t e l e c t u a l .C remos tambm, p e l a s mesmas r a z e s , que o s o b j e c t i v o s da Int r odu o F i l o s o f i a tm de s e r n o ap en as d e n a t u r e z a e s t r i t a m e n t e f i l o s f i c a , mas tambmRevista Filosfica de C o i m b r a-. 6 (1994) p p . 397-412

  • 7/28/2019 Coimbra06-05

    16/16

    412 J o aq ui m Ne ve s Vicente

    d e n a t u r e z a m e t a c o g n i t i v a . A p a r d o s contedos programticos impe-se umaa t e n o p a r t i c u l a r a o desenvolvimento d e competncias c o g n i t i v a s e i n t e l e c t u a i sd i v e r s a s .E cremos a i n d a que o s p r o f e s s o r e s d e f i l o s o f i a , uma v e z s e n s i b i l i z a d o s e p r e -parados p a r a t r a b a l h a r e s t a o u t r a dimenso do ensino-aprendizagem , podero( e devero ) , s em t r a i r a e s p e c i f i c i d a d e da f i l o s o f i a , c o n t r i b u i r p a r a o d e s e n v o l -vimento e a q u i s i o d a q u e l a s c o m p e t n c i a s .

    O p r o b l e m a a equaci o nar em Introdu o F ilosofia dei xa as si m de s e rapenas o de s ab er q ual a funo de uma educao e de uma f o r m a o f i l o s f i c a s ,mas tambm o de saber qual o lugar e a f un o da disciplina n a e du c a o e n af o r m a o g e r a l do s alunos n o n o s s o e n s i n o se cu n d r i o . De r e s t o , i n s t i t u c i o -nalmente, o desafio e s t f e i t o . Quando o curriculum a t r i b u i s disciplinas dePortugus e de I n t r odu o Filosofia o lugar de disciplinas de f o r m a o g e r a l ,os professores de Filosofia e de Po rt ugu s n o podem deixar de eq uac io nar oq ue que l h e s a ss im pedido.

    p p . 397-412 Revista