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Coleção Cadernos EJA - 04 Emprego e Trabalho

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C a d e r n o s d e

aCO

LE ÇÃO

Emprego e Trabalho

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A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que

gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda

não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um

sistema de educação que os acolha.

Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o

exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.

Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias

para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos

tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não

completaram o Ensino Fundamental.

Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta

de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que

ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,

valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.

Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o

1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da

abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.

A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com

a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea

de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-

dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.

A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-

trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-

do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC

Apresentação

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Sumário

TEXTO Subtema

1. O poema “O operário em construção” de Vinicius de Morais Relicostumes 6

2. Santos Dias (1942–1979) 10

3. Cântico da rotina Diversidades regionais 12

4. Pai e eu Maturidade social 13

5. A grande data Miscigenação 14

6. Emprego Crítica social 16

7. Por que reduzir as jornadas? Trabalhadores 18

8. O homem que inventou a roda Cultura suburbana 20

9. Desempleoa luta dos negros 22

10. Dia da confraternização Ambiente de trabalho 25

11. Um apólogo Identidade nacional 28

12. A última carroça Ambiente de trabalho 30

13. A cigarra e a formiga Índios do Brasil 36

14. Três gênios de secretariaI 38

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15. O fazendeiro e os filhos Direitos civis 43

16. O que a lei garante ao trabalhador 44

17. Brasil divididoÍndios do Brasil 47

18. Eles trabalham feito cavalos 49

19. Trabalho infantil Olhos da alma 51

20. A metamorfose Arte culinária 52

21. O funcionário idealArte culinária 55

22. De dar dóArte culinária 56

23. O camelô Arte culinária 57

24. Emprego e desemprego Arte culinária 58

25. Indicador de desemprego Arte culinária 61

26. A economia vai bem, mas o trabalho… 62

27. Procura-se empregado Arte culinária 63

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O POEMAO OPERÁRIO EMCONSTRUÇÃO”DE VINICIUS DE MORAIS

Émuito raro que os poetas cantem assituações de trabalho urbano. Sobre otrabalho no campo, a agricultura e o

pastoreio, os poetas fizeram durante milê-nios obras épicas e líricas, como “As Geór-gicas”, do poeta romano antigo Virgílio; nopróprio Brasil colonial tivemos o arcadis-mo, em que os poetas mineiros cantavampastores e pastoras, como Dirceu e Marília.Mas sobre os trabalhos urbanos, como omilenar artesanato e a secular indústria,nunca houve muita poesia. O trabalho ruralera considerado pelos poetas ao mesmotempo mais “dramático” e mais “belo”, porenvolver relações diretas com as forças danatureza e estar sujeito, por exemplo, aoscaprichos do clima, sendo assim considera-

do mais “heróico” do que o calculista traba-lho industrial, previsto e medido nos seusmínimos detalhes.

As exceções ficam por conta dos tra-balhos industriais a céu aberto, como aconstrução civil, de estradas e de usinasde energia, em que também se tem de en-frentar a fúria dos elementos. Além disso,os poetas não costumam visitar o chão defábricas, mas, circulando pelas ruas eestradas, vêem de relance os trabalhos deconstrução; até há poucas décadas, quan-do não havia proteções que prejudicas-sem a visibilidade, a construção civil eraum espetáculo urbano, com os pedestresdetendo-se para apreciar o andamentodas obras.

Também os poetas, na sua grande maio-ria oriundos das classes mais altas, se diri-giam ao público culto e não aos trabalha-

Al ienação do t rabalhoTEXTO 1

• Emprego e Trabalho6

Renato Pompeu

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dores manuais, e em geral tratavam detemas mais “nobres”, como o amor, a mor-te, a natureza, as artes em geral e a própriapoesia em particular. Apenas uma minoriade poetas que, nos conflitos sociais, simpa-tizavam com as causas dos trabalhadores –independente da origem de classe do poe-ta –, é que procuraram chamar a atençãopara os dramas dos trabalhadores. Mesmoesses, por não terem a vivência do traba-lho manual, em geral se limitaram a cantaro que consideravam a nobreza desse traba-lho, sem entrarem em detalhes concretos.

Uma exceção no Brasil, justamentesobre a construção civil, é o poema “Ooperário em construção”, do poeta Viniciusde Moraes, que conhecia o trabalho depedreiros e serventes por suas contempla-ções dos canteiros de obras em seus pas-sei-os de deambulador pelas ruas da cidade do

Rio de Janeiro. Devemos chamar a atençãopara o fato de que, como boa poesia, o títu-lo é ambíguo: tanto significa “o operário naconstrução civil” como “o operário durantea construção de si próprio”, isto é, durantea tomada de consciência de sua posição nasociedade.

Eis o início do poema:

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDa sua grande missão:Não sabia, por exemplo,Que a casa de um homem é um temploUm templo sem religião

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Operários protestam em São Bernardo do Campo, São Paulo, 1974.

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Como tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadria.Quanto ao pão, ele o comia...(...)

Aqui vemos que, além de descrever acondição operária em geral, que se man-tém a mesma apesar das mudanças tecno-lógicas, Vinicius encontrou facilidade paradescrever um canteiro de obras de manei-ra compreensível, o que se deve, além deà sua arte, também ao fato de que a cons-trução civil, pelo menos na alvenaria detijolos, se manteve imutável ao longo deséculos. Com a introdução de pré-molda-dos e do concreto armado, é que houve aprimeira grande mudança tecnológica naconstrução de casas e prédios e outrasobras, mas Vinicius não descreve essasnovidades, e sim a milenar alvenaria detijolos. O mais importante, porém, é que,poeticamente, ele descreve a condiçãooperária que se manteve, se mantém e semanterá inalterada enquanto houverindústria.

Entretanto, passemos a outro trechodo poema:

Texto 1 / A l ienação do t rabalho

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(...)Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo dia,À mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue todo naquela mesa— Garrafa, prato, facão —Era ele quem os faziaEle, um humilde operário,Um operário em construção. (...)

Aí vemos como Vinicius descreve atomada de consciência do operário, já nãocomo “operário em construção”, mas comouma encarnação da “classe operária” emgeral, a qual produz praticamente todos os

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bens materiais em uso na sociedade indus-trializada. E Vinicius descreve também,mais abstratamente, o que ser humanoproduz: ao mesmo tempo que “produz”algo externo a ele, também “se produz”, noseu íntimo como ser humano.

Mais adiante no poema, em outrotrecho, Vinicius conta como a descobertaindividual de que um operário é umaencarnação da classe operária, passa sercoletiva:

(...)O operário adquiriuUma nova dimensão:A dimensão da poesia.E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário diziaOutro operário escutava.E foi assim que o operárioDo edifício em construção

Que sempre dizia simComeçou a dizer: não.(...)

Isto é, da satisfação em ter um empre-go que lhe garantisse a sobrevivência, ooperário passou à insatisfação com ascondições de trabalho e com as suas condi-ções indignas de vida, que só garantiam asua sobrevivência nua e crua para quepudesse voltar a trabalhar no dia seguinte.Essa tomada de consciência, como diz opróprio poema, não é específica do operá-rio em construção, mas da classe operáriaem geral.

Emprego e Trabalho • 9

Greve dos funcionários dos correios e telégrafos, Rio de Janeiro, 1932.

Texto escrito por Renato Pompeu, escritor e jornalista.

Trechos extraídos do site:www.espacoacademico.com.br/024024poesia_vm.htm

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Dez horas da manhã de 31 de outubrode 1979. Uma multidão de 30.000pessoas segue pela rua da Consola-

ção para a catedral da Sé, no centro de SãoPaulo. O cortejo canta a canção Pra nãodizer que não falei das flores, do compositorGeraldo Vandré, tomada como hino pelosque se opõem à ditadura militar iniciadaem 1964. À frente vão os bispos auxiliares

de São Paulo e de outros Estados, cente-nas de padres e religiosos, bem como pas-tores de outras religiões. Logo atrás vem ocarro de dom Paulo Evaristo Arns, cardealarcebispo de São Paulo. Também estão alimuitos estudantes, donas de casa e políti-cos oposicionistas, lado a lado com repre-sentantes de todas as categorias profissio-nais: professores, bancários, funcionários

Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 2

• Emprego e Trabalho10

SANTO DIAS (1942–1979)O assassinato do operário transformou-se em bandeira

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A multidão vinda da rua da Consolação chega à catetral da Sé e exige o fim da repressão política; ganharia a anistia, menos de dois anos depois.

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públicos e milhares de metalúrgicos paulis-tas. Os operários carregam num caixão sim-ples o corpo do metalúrgico Santo Dias daSilva, assassinado no dia anterior por umpolicial militar num piquete grevista. Nocarro do cardeal arcebispo Arns está umcasal de adolescentes, filhos do morto: orapaz, também chamado Santo; a menina,Luciana. A viúva, Ana Maria, segue a pé,amparada pelos caminhantes. Faixas e car-tazes se destacam na multidão: “Compa-nheiro, você será vingado”;“Abaixo a repressão”; “Abaixoa ditadura”. Entre as palavrasde ordem gritadas, uma deespecial contundência: “Che-ga de manter assassinos nopoder!”.

A maior parte dos estabe-lecimentos comerciais da áreacentral fecha as portas em si-nal de luto. Na periferia, prin-cipalmente na zona sul, onde se concentraa maior parte das indústrias, nenhum meta-lúrgico foi trabalhar.

Nada está certo

O cortejo chega à praça da Sé ao meio-dia e 40 minutos. A catedral já está lotadaquando entra o caixão com o corpo de SantoDias. Do lado de fora, milhares de pessoas.Dom Paulo preside a missa de corpo presen-te. Ele diz: “Não está certo. Quase nada estácerto entre nós. Que andem munidos de

armas de fogo, os que irão encontrar-se como povo de braços cruzados. Quase nada estácerto, quando milhões que constroem ariqueza de uma cidade apanham porquequerem dar pão a seus filhos. Pão, só pão epaz. Quase nada está certo nesta cidade,enquanto houver dois pesos e duas medidas:uma para o patrão e outra para o operário”.

Depois da missa, à uma e meia da tar-de, o caixão é colocado num carro funerá-rio, que vai pela avenida 23 de Maio, seguido

por incontáveis veículosaté o cemitério CampoGrande. Ali, 15.000pessoas acompanham oenterro há 3 horas. Mo-mentos antes que o cai-xão baixe à sepultura,Luiz Inácio da Silva, oLula, presidente do Sin-dicato dos Metalúrgicosde São Bernardo, faz

um breve discurso: “Se os patrões pensa-vam que, com a morte de Santo, os traba-lhadores iriam ficar com medo, estamosaqui para mostrar que isso não aconteceu”.

O enterro, as manifestações desse diase converteram num marco histórico políti-co e sindical.

Emprego e Trabalho • 11

Texto de Luciana Dias e Jô Azevedo. Extraído da Coleção RebeldesBrasileiros. São Paulo: Casa Amarela.

Quase nada está certoentre nós. Que andemmunidos de armas de

fogo, os que irão encontrar-se com o povo

de braços cruzados”.(Dom Paulo Evaristo Arns,cardeal arcebispo de São

Paulo, 31/10/1979.

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Todo trabalhador tem direito a bocejarTodo trabalhador tem direito a ganhar floresTodo trabalhador tem direito a sonharTodo trabalhador tem direito a ir ao banheiroTodo trabalhador tem direito a manteiga no pãoTodo trabalhador tem direito a promoçãoTodo trabalhador tem direito a ver o pôr-do-solTodo trabalhador tem direito a um cafezinhoTodo trabalhador tem direito a ler um livroTodo trabalhador tem direito a um rádio de pilhaTodo trabalhador tem direito a sorrirTodo trabalhador tem direito a ganhar um sorriso alheioTodo trabalhador tem direito a ficar gripadoTodo trabalhador tem direito a peru no NatalTodo trabalhador tem direito a festa de aniversárioTodo trabalhador tem direito a jogar peladaTodo trabalhador tem direito a dentistaTodo trabalhador tem direito a andar nas nuvensTodo trabalhador tem direito a tomar solTodo trabalhador tem direito a sentar na gramaTodo trabalhador tem direito a viagem de fériasTodo trabalhador tem direito a catar conchas numa praia desertaTodo trabalhador tem direito a dizer o que pensaTodo trabalhador tem direito a pensarTodo trabalhador tem direito a saber por que trabalhaTodo trabalhador tem direito a se olhar no espelhoTodo trabalhador tem direito a seu corpo e sua alma

Porque nosso corpo não é uma máquina. Em nosso corpo há vida. (…) É preciso haver sempre uma relação entre prazer e trabalho, entre satis-fação pessoal e contribuição, e uma relação individual com a natureza.Uma relação íntima entre o movimento da mão e o pensamento. Nenhumser humano deve trabalhar como se fosse uma máquina. O trabalho tem deservir ao aprimoramento de nosso ser e dar significado à nossa existência.

CÂNT

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DARO

TIN

ADire i tos do t rabalhador

TEXTO 3

• Emprego e Trabalho12

Extraído do livro Deus-Dará. São Paulo: Casa Amarela.

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PAI E EUAl ienação do t rabalho

TEXTO 4

Extraído da revista Caros Amigos Especial,Literatura Marginal, Ato I.

Edson Veóca

Emprego e Trabalho • 13

Era manhã, eu era menino.Meu pai caminhavapor dentro do sol.Muitos outros paiso sol atravessavam.Partia meu paipara o trabalho braçal e pesadono norte de criar as criassem que faltassem pão e farinha.Essa agonia cotidiana de anos,do rosnar incômodo do motordo ônibus lotado.Vezes eu viao olhar fixo de meu pai.E num de repente,de raio rachando as nuvens,de vento sudoeste apagando as velas,ele sacudia o crâniopara afugentar os gritos deste cotidiano,as sombras do desemprego,as garras da ditadura.Esses pregosperfuravam-lhe a vida,os poros, os sonhos.Livre só erana mínima fraçãode chegar em casa tarde, esgotado,com cinco balinhas juquinha no bolso,e saber dos filhos vivose dormindo.

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No dia 1o de maio de 1886 realizou-se uma manifestação de trabalha-dores nas ruas de Chicago, nos

Estados Unidos da América. Essa manifes-tação tinha como finalidade reivindicar aredução da jornada de trabalho para oitohoras diárias e teve a participação de cen-tenas de milhares de pessoas. Nesse diateve início uma greve geral nos EUA. Nodia 3 de maio houve um pequeno levan-tamento que acabou com uma escaramu-ça com a polícia e com a morte de algunsprotestantes. No dia seguinte, 4 de maio,uma nova manifestação foi organizadacomo protesto pelos acontecimentos dosdias anteriores, tendo terminado com olançamento de uma bomba por desconhe-cidos para o meio dos policiais que come-çavam a dispersar os manifestantes, ma-tando sete agentes. A polícia abriu entãofogo sobre a multidão, matando doze pes-soas e ferindo dezenas. Esses aconteci-mentos passaram a ser conhecidos comoa Revolta de Haymarket.

Três anos mais tarde, a 20 de junhode 1889, a segunda Internacional Socialistareunida em Paris decidiu, por proposta deRaymond Lavigne, convocar anualmenteuma manifestação com o objetivo de lutarpelas oito horas de trabalho diário. A dataescolhida foi o 1o de maio, como home-nagem às lutas sindicais de Chicago. Em1o de maio de 1891, uma manifestação nonorte da França é dispersada pela polícia,resultando na morte de dez manifestan-tes. Esse novo drama serve para reforçara data como um dia de luta dos trabalha-dores e, meses depois, a InternacionalSocialista de Bruxelas proclama esse diacomo dia internacional de reivindicaçãode condições laborais.

A 23 de abril de 1919, o senado fran-cês ratifica o dia de oito horas e proclamaferiado o dia 1o de maio. Em 1920, a Rús-sia adota o 1o de maio como feriado nacio-nal, e esse exemplo é seguido por muitosoutros países.

Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 5

• Emprego e Trabalho14

A GRANDE DATAO Dia do Trabalho é celebrado anualmente no dia 1.o de maio emnumerosos países do mundo e é feriado nacional em muitos deles

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O Dia do Trabalho no mundo

Alguns países celebram o Dia doTrabalho em datas diferentes:

Austrália. A data de celebração variade acordo com a região: 4 de março naAustrália ocidental, 11 de março no Esta-do de Vitória, 6 de maio em Queenslande Território do Norte e 7 de outubro emCanberra, Nova Gales do Sul (Sydney) ena Austrália meridional.

Estados Unidos da América. Celebramo Labor Day na primeira segunda- feira desetembro. Por interesse do empresariado, odia 1o de maio foi transformado no "Dia daLei", quando se comemora a "associaçãoentre a lei e a liberdade", esquecendo-se osacontecimentos que deram origem a esse dia.

Emprego e Trabalho • 15

O Dia do Trabalho é celebrado anualmente em 1o de maio em numerosospaíses do mundo, e é feriado nacional em muitos deles.

Extraído de pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Trabalhador

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Um dia eu vi.Vi e não gostei nada.Nada poderia explicar aqueles olhos.Olhos tristes de uma dor.Dor que não poderia ter explicação.Explicação que seria fácil demaispara algo tão doloroso.Doloroso foi quando chegou aohospital e lhe deram uma notícia.Notícia que jamais podia preverdesse jeito.Jeito estranho de falar que haviafalecido seu pai.Pai esse que fizera de tudo para lhedar o mínimo que era o estudo.Estudo que hoje aprendeu a valorizare a entender.Entender era difícil naquela situação,soltava uma pipa.Uma pipa que voava e tentava planara dor que sentia.Sentia uma dor muito forte no peito.Esse mesmo peito que tinha umcoração igual ao do pai.Pai que tanto havia trabalhado atéficar desempregado.Desempregado, sempre visto comofracassado e sujeito a humilhação.Humilhação para o pai, homemnegro, forte, era ver o filho fumar.Fumar era algo feio para o filho, mas ele precisava de algo novo.Novo era o coração que o paiprecisava, mas sem convênio não dava.

DesempregoTEXTO 6

• Emprego e Trabalho16

EMPREGOFerréz

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Não dava para viver aquela vidaestranha, sem dinheiro, sem futuro.Sem futuro para quem sempretrabalhou.Trabalhou de vigilante por mais de dez anos.Dez anos de um pouco de fartura.Fartura que servia para uma boacomida, roupas e diversão.Diversão que para o pai era beber e jogar bilhar.Jogar bilhar o filho aprendeu, masgostava mais de soltar pipa.Soltar pipa para ele naquele dia era até um alívio.Alívio era ver o pipa voando, os olhosenchendo d’água.Enchendo d’água sua casa sempreestava em dias de chuva.Dias de chuva traziam ao menos a lembrança.Lembrança de estar com seu paitomando chuva na viela.Viela que agora parecia vazia e sem um grande homem.Grande homem simples, que começou a morrer quando perdeu o emprego.

(Este texto é dedicado ao Luizão, mais uma vítima de São Paulo.)

Ferréz é escritor.Publicado na revista Caros Amigos nº- 71.

Emprego e Trabalho • 17

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Vivemos uma realidade de extremos,com muitas pessoas desempregadase muitas outras trabalhando longas

jornadas.É muito fácil comprovar essa situação.

Basta olhar ao redor para saber quantosestão desempregados e quantos estão tra-balhando cada vez mais e sem tempo paraoutras coisas. Provavelmente, muitos denós se encaixam em uma dessas situações.

As longas jornadas de trabalho trazemdificuldades para o convívio social e fami-liar e fazem crescer os problemas relacio-nados à saúde, como, por exemplo, as le-sões por esforço repetitivo. Por outro lado,muitas famílias enfrentam situações difí-ceis porque aqueles que deveriam estar tra-balhando não conseguem emprego.

POR QUEREDUZIRAS JORNADAS?Para o movimento sindical,uma jornada menor vai gerar mais empregos e mais qualidade de vida

Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 7

• Emprego e Trabalho18

Em vista disso, a redução da jornada,como uma das formas de geração de pos-tos de trabalho e melhor qualidade de vida,torna-se uma necessidade social.

Já foi dito que a RJT — redução da jor-nada de trabalho — sem redução salarial éum instrumento capaz de preservar e criarnovos empregos e melhorar a qualidade devida.

Entretanto, pouca gente se lembra deque novos empregos, mais gente trabalhan-

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do, contribuiriam para o aumento da rendae, portanto, do consumo, o que traria ex-pectativas positivas para o investimento e oconseqüente aumento da produção. Enfim,um círculo virtuoso de crescimento econô-mico e social!

A jornada na atual legislação brasileira hoje

Horas extras: limite 2h/diaA luta dos trabalhadores brasileiros

levou, nos anos 30, à primeira lei nacionalsobre jornada de trabalho, limitando-a a 48horas semanais.

No início da década de 1980 garantiu-se a limitação da jornada em 44 horas se-manais, depois estabelecida na Consti-tuição Federal de 1988. Depois dela, todasas mudanças relativas aos direitos do tra-balho introduzidas na legislação foram pre-judiciais aos trabalhadores.

A limitação das horas extras, única pro-posta de mudança que poderia ter geradoemprego, acabou não sendo implantada. Oprojeto de lei 1.724, de 1996, que criou obanco de horas e alterou a compensação dashoras extras para doze meses, estabelecia olimite de 120 horas extraordinárias dentrodo período de um ano.

Emprego e Trabalho • 19

Mas no Congresso, na hora de votar alei, prevaleceu o ponto de vista dos quedefendiam a ampliação do prazo de com-pensação, sem que fosse incluída a limita-ção das horas extras.

Uma das maneiras de reverter essatendência de precarização das condiçõesdo trabalho e da vida seria a adoção daredução da jornada de trabalho sem redu-ção dos salários.

Essa mudança na legislação é necessá-ria e interessa aos trabalhadores e à socie-dade em geral, porque gera emprego emelhora a qualidade de vida.

Extraído da cartilha da campanha Reduzir Jornada É Gerar Emprego– CUT, CAT, CGT, CGTB, SDS e Força Sindical, 2004.

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O HOMEM QUE INVENTOU A R DAP

rimeiro foram os operários menos especializados, depois os maisespecializados, e por fim chegou a vez dos executivos: HelmuthMayer foi despedido da fábrica de automóveis onde trabalhava.

Tratava-se de um administrador competente e criativo, mas, comodisse o diretor, era necessário provar que nem mesmo os altos esca-lões estavam imunes e assim mandaram-no embora.

Ao receber a notícia de sua demissão, Helmuth Mayer não dissenada. Entrou em seu carro, ligou a máquina e tomou o rumo de casa...

Tomou o rumo de casa, mas não chegou lá. No caminho aconte-ceu-lhe uma coisa muito estranha. Deteve-se numa esquina e derepente esqueceu que marcha tinha de engatar para arrancar. Pior:nem sabia para que servia a alavanca de câmbio, nem o volante, nada.Um caso de amnésia traumática, naturalmente, mas Helmuth Mayernão sabia que isso existia, ou se sabia, tinha esquecido também. Tinhaesquecido tudo. Não se sentia mal por causa desta situação: um poucoesquisito, apenas. Mas alegre, como se tivesse bebido algo delicioso einebriante. Buzinavam furiosamente atrás dele. Não deu importânciaaos vociferantes motoristas: abriu a porta do carro e saiu andando,sem destino. Lá pelas tantas deu-se conta de que carregava sua pastade executivo; mas como tal objeto já não lhe significava nada, e erapesado, jogou-o fora. E também se desfez do paletó e da gravata, por-que fazia calor.

Caminhando sempre, chegou ao limite da cidade, embrenhou-sepelo mato e foi indo, até que já não avistava nenhum vestígio da civi-lização. Naquela noite, dormiu ao relento. No dia seguinte, livrou-sedas roupas; sentia-se melhor sem elas. Teve fome; movido por puroinstinto, comeu umas frutinhas, aliás, muito gostosas. E movido por

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Moacyr Scliar

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este instinto foi sobrevivendo. Nos dias que se seguiram aprenderia apescar e a caçar e até a plantar alguma coisa. A família procurou-odesesperada, mobilizando polícia, amigos, detetives particulares. Nãoo encontrando, concluíram que tinha se suicidado e desistiram deprocurá-lo. Com o tempo, todos acabaram por esquecê-lo.

Helmuth, entretanto, vivia feliz. Ele não sabia que era feliz, por-que tinha esquecido o significado desta palavra, de todas as palavras,mas era feliz.

Até que um dia fez uma roda.Isso mesmo: trabalhando com seu machado de pedra num tron-

co roliço, fez uma roda. Não sabia que aquilo se chamava roda, masgostou da coisa porque rodava. Aí lhe ocorreu fazer um orifício naroda e colocar um eixo. Um pouco mais adiante já tinha as quatrorodas, estava pensando no chassi e no motor. E de repente se lembra-va do nome das coisas: roda, chassi, motor.

Foi então que começou a desconfiar que aquela coisa podia nãodar certo. Mas agora ia adiante. Já que tinha começado ia adiante. Eficou pensando em quem botaria na rua quando tivesse sua fábricade automóveis.

Emprego e Trabalho • 21

Publicado na Folha de S.Paulo, 4 de doutubro de 1981.

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DESEMPLEO

Y POSIBILIDAD DE EMPLEO

DesempregoTEXTO 9

• Emprego e Trabalho22

Los índices de desempleo influyen sobre la actividad económicade las comunidades mas allá de las individualidades

Foto: Eduardo Martins / AE

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En todos los países y tipos de economíahay trabajadores desempleados (de-finidos como personas capaces y dis-

puestas a trabajar que buscan empleo). Losperíodos de desempleo constituyen unacaracterística habitual de algunos sectoresen los que la mano de obra aumenta y dis-minuye en función de las estaciones (p. ej.,la agricultura, la construcción y la indus-tria de la confección) y de sec-tores cíclicos en los que sedespide a trabajadores cuandola actividad decae y se lesvuelve a contratar cuandomejora. Asimismo, un ciertogrado de rotación es habitualen el mercado de trabajo, ya que algunostrabajadores abandonan su empleo paraocupar otro mejor y los jóvenes se incorpo-ran a la población activa para sustituir a losque se jubilan.

El proceso de desempleo estructural seproduce cuando sectores enteros sufrenuna recesión como resultado del avancetecnológico (p. ej., la minería y la fabrica-ción de acero) o en respuesta a grandescambios de la economía local. Un ejemplode estas transformaciones es el traslado delos centros de producción de un área dondelos salarios se han encarecido a otra menosdesarrollada en la que hay mano de obramás barata.

En las últimas décadas, el desempleoestructural también ha sido provocado por

la multitud de fusiones, absorciones yreestructuraciones de grandes empresas,procesos que se han convertido en unfenómeno habitual, sobre todo en EstadosUnidos, donde el número de medidas obli-gatorias de protección sociales y del pro-pio bienestar del trabajador es muchomenor que en otros países industrializa-dos. Estas tendencias han dado lugar al

“redimensionamiento” yla reducción de las planti-llas, a medida que se haneliminado filiales de fá-bricas y oficinas y se hanvuelto innecesarios mu-chos puestos de trabajo.

Con ello se ha perjudicado no sólo a losque han perdido su empleo, sino tambiéna los que lo han conservado y han perdi-do seguridad en el puesto y temen ser des-pedidos.

El desempleo estructural suele ser unproblema irresoluble, ya que muchos tra-bajadores carecen de la cualificación y laadaptación necesarias para optar a otrospuestos similares existentes a escala local y,con frecuencia, no cuentan con recursospara emigrar a otras zonas en las que puedehaber trabajo.

En los casos de despidos generalizados,suele producirse un efecto dominó sobre lacomunidad. La pérdida de ingresos enfríala economía local y causa el cierre de lastiendas y las empresas de servicios frecuen-

Emprego e Trabalho • 23

En los casos de despidos generalizados

puede producirse unefecto dominó sobre

la comunidad

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tadas por los desempleados, lo que aumen-ta a su vez el número de éstos.

El estrés económico y mental que gene-ra el desempleo suele afectarnegativamente a la salud delos trabajadores y sus fami-lias. Se ha observado que lapérdida del empleo y, en par-ticular, la amenaza de sufrir-la son los factores de estrésmás potentes relacionadoscon el trabajo y se ha demostrado que pro-vocan enfermedades emocionales. Con elfin de evitar estos efectos perjudiciales,algunas empresas ofrecen iniciativas dereconversión profesional y ayuda paraencontrar un nuevo empleo, así muchospaíses han adoptado leyes en las que seexige específicamente a las empresas laconcesión de prestaciones sociales y econó-

micas a los trabajadores afectados.El grupo de los subempleados está

constituido por los trabajadores cuyascapacidades productivas noson plenamente utilizadas.Se incluyen aquí los traba-jadores a tiempo parcialque buscan un empleo dejornada completa y los queposeen un nivel de cualifi-cación elevado y sólo en-

cuentran trabajos que exigen una cualifi-cación relativamente baja. Además de lareducción de ingresos, sufren los efectosadversos que provoca el estrés por la insa-tisfacción en el trabajo.

Extraído do site www.mtas.es/insht/EncOIT/tomo1.htm

Texto 9 / Desemprego

• Emprego e Trabalho24

GLOSARIO

Absorción. absorçãoAmenaza. ameaçaAsimismo. tambémAvance. avanço, progressoCualificación. qualificaçãoCambio. mudança, trocaDesarrollar. desenvolver, crescerDesempleado. desempregadoDespido. demissãoDisminuir. diminuirEnfriar. esfriar

Entero. inteiro, íntegro, completoEstrés. estresseInnecesario. desnecessárioIrresoluble. insolúvelLey. leiPerjudicado. prejudicadoPlantilla. conjunto de trabalhadoresPoblación. populaçãoReconversión. reconversãoRotación. rotação, revezamentoSeguridad. segurança, garantiaTraslado. mudança

El estrés económico ymental que genera el

desempleo suele afectarnegativamente a lasalud de los traba-

jadores y sus familias

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DE: Gerência Executiva

PARA: Todos os funcionários

Como é de conhecimento de todos, esta Empresa realiza

anualmente o seu Dia da Confraternização, uma oportunidade

para colegas de trabalho e seus familiares se reunirem num

ambiente de congraçamento, descontração e sadio companhei-

rismo. Como em outras ocasiões, o Dia da Confraternização

deste ano teve lugar na Sede Campestre da Fundação que

leva o nome do Fundador da nossa Empresa e saudoso pai

do nosso atual Diretor-Presidente. Infelizmente, nem todos

sabem compreender o espírito do evento, como atestam os

desagradáveis acontecimentos, a que passamos a nos referir.

Já no primeiro jogo de futebol interdepartamental que se

realizou pela manhã, Recursos Humanos x Manutenção e

Oficinas, surgiram os primeiros incidentes. O doutor Almeida,

assessor do nosso Departamento Jurídico, prontificou-se gen-

tilmente a atuar como juiz. As chacotas dirigidas aos calções

largos do doutor Almeida eram compreensíveis, pois estavam

dentro do espírito descontraído da ocasião. Nada justifica, no

entanto, a covarde agressão de que foi vítima o doutor

Almeida depois de apitar o pênalti que deu a vitória ao

Departamento de Recursos Humanos. No jogo Contabilidade

x Almoxarifado, realizado a seguir, era evidente a intenção

dos jogadores do Almoxarifado de atingir, deslealmente, o

nosso estimado caixa Gurgel, que quando se recusa a des-

Emprego e Trabalho • 25

DIA DA CONFRATERNIZAÇÃO

Relações no t rabalhoTEXTO 10

Luis Fernando Verissimo

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contar vales para o pessoal o faz por orientação da Direção

e não — como pareciam pensar seus adversários — por deci-

são própria. Gurgel ficou desacordado até a hora da distri-

buição dos brindes, outros lastimáveis episódios que comen-

taremos adiante. O torneio de futebol atingiu o cúmulo da

violência no jogo decisivo, Secretaria x Embalagem e

Expedição, realizado às 3 da tarde, quando todos já recla-

mavam o início do churrasco e uma tentativa de invasão da

churrasqueira, por parte de um grupo de mães à procura de

comida para seus filhos, fora repelida à força por elementos

do nosso Departamento de Segurança Interna. Houve uma

batalha campal entre jogadores e assistentes e o nosso com-

panheiro Druck, do Faturamento, que atuava como juiz, está

hospitalizado até hoje. Recebendo, aliás, completa assistên-

cia da Empresa, embora não fosse um acidente de trabalho,

mas tudo bem.

Como faz todos os anos, o nosso Diretor-Presidente pre-

parou-se para dizer algumas palavras antes de começar o chur-

rasco, agradecendo a colaboração de todos para o crescimen-

to da Empresa durante o ano. Foi recebido com gritos de “Aí,

lingüinha”, “Fala, seboso” e “Nada de discurso, queremos

comida”. Também recebeu um pão na testa. Com seu conheci-

do espírito democrático e tolerante, nosso Diretor-Presidente

decidiu suprimir o discurso. O churrasco transcorreu sem maio-

res incidentes, fora o prato de salada de batata despejado, à

traição, sobre a cabeça do doutor Almeida, reflexo ainda da

sua atuação como juiz pela manhã, mas o consumo de chope

Texto 10 / Re lações no t rabalho

• Emprego e Trabalho26

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Emprego e Trabalho • 27

foi alto e a certa altura ouviram-se pedidos descabidos para

que a digníssima esposa do nosso Diretor Industrial, dona

Morena, fizesse um strip-tease em cima da mesa, sendo

nosso Diretor obrigado a segurar sua mulher à força.

Chegou a hora de sortear os números que receberiam os

brindes, o que foi feito pela digníssima esposa do nosso

Diretor de Planejamento, Dona Santa, recebida com gritos

de “Pelancuda! Pelancuda!” O primeiro número sorteado

por Dona Santa foi o do sobrinho Roni, do Departamento

de Arte, o que despertou revolta geral e gritos de

“Marmelada!” Todos avançaram sobre os brindes e na con-

fusão diversos membros do nosso Conselho Fiscal foram

pisoteados e Dona Morena sofreu alguns apertões.

A Direção está disposta a esquecer os acontecimentos do

Dia da Confraternização se os funcionários se compromete-

rem a esquecê-los também. Elementos da Secretaria e de

Embalagem e Expedição têm-se envolvido em seguidas bri-

gas durante o horário de trabalho a respeito do jogo inacaba-

do e o doutor Almeida, cuja presença no nosso Departamento

jurídico é indispensável, está impedido de aparecer na

Empresa sob o risco de apanhar. Isto está afetando a nossa

produção. Se as coisas continuarem assim, a Direção será

obrigada a tomar medidas drásticas, podendo, inclusive, can-

celar o Dia da Confraternização do próximo ano!

Extraído do livro Ed Mort e outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 1984.

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Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: — Por que está você com esse ar, to-

da cheia de si, toda enrolada, para fingirque vale alguma cousa neste mundo?— Deixe-me, senhora.— Que a deixe? Que a deixe, por quê?Porque lhe digo que está com um ar insu-portável? Repito que sim, e falarei sempreque me der na cabeça.— Que cabeça, senhora? A senhora não éalfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça.Que lhe importa o meu ar? Cada qual temo ar que Deus lhe deu. Importe-se com asua vida e deixe a dos outros.— Mas você é orgulhosa.— Decerto que sou.— Mas por quê?— É boa! Porque coso. Então os vestidose enfeites de nossa ama, quem é que oscose, senão eu?— Você? Esta agora é melhor. Você é queos cose? Você ignora que quem os cose soueu e muito eu?— Você fura o pano, nada mais; eu é quecoso, prendo um pedaço ao outro, dou fei-ção aos babados...— Sim, mas que vale isso? Eu é que furoo pano, vou adiante, puxando por você,

que vem atrás obedecendo ao que eu façoe mando...— Também os batedores vão adiante doimperador.— Você é imperador?— Não digo isso. Mas a verdade é que vocêfaz um papel subalterno, indo adiante; vaisó mostrando o caminho, vai fazendo o tra-balho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo,ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureirachegou à casa da baronesa. Não sei se disseque isto se passava em casa de uma baro-nesa, que tinha a modista ao pé de si, paranão andar atrás dela. Chegou a costureira,pegou do pano, pegou da agulha, pegou dalinha, enfiou a linha na agulha, e entrou acoser. Uma e outra iam andando orgulho-sas, pelo pano adiante, que era a melhordas sedas, entre os dedos da costureira,ágeis como os galgos de Diana — para dara isto uma cor poética. E dizia a agulha:— Então, senhora linha, ainda teima no quedizia há pouco? Não repara que esta dis-tinta costureira só se importa comigo; eu éque vou aqui entre os dedos dela, unidinhaa eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando.Buraco aberto pela agulha era logo enchido

Relações no t rabalhoTEXTO 11

• Emprego e Trabalho28

UM APÓLOGOMachado de Assis

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Emprego e Trabalho • 29

por ela, silenciosa e ativa, como quem sabeo que faz, e não está para ouvir palavrasloucas. A agulha, vendo que ela não lhedava resposta, calou-se também, e foiandando. E era tudo silêncio na saleta decostura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, acostureira dobrou a costura, para o diaseguinte. Continuou ainda nesse e no outro,até que no quarto acabou a obra, e ficouesperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa ves-tiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho,para dar algum ponto necessário. E enquan-to compunha o vestido da bela dama, epuxava de um lado ou outro, arregaçavadaqui ou dali, alisando, abotoando, acol-chetando, a linha para mofar da agulha,perguntou-lhe:— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao

baile, no corpo da baronesa, fazendo partedo vestido e da elegância? Quem é que vaidançar com ministros e diplomatas, en-quanto você volta para a caixinha da costu-reira, antes de ir para o balaio das muca-mas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada;mas um alfinete, de cabeça grande e nãomenor experiência murmurou à pobreagulha:— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrircaminho para ela e ela é que vai gozar davida, enquanto aí ficas na caixinha de cos-tura. Faze como eu, que não abro caminhopara ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor demelancolia, que me disse, abanando a cabeça:— Também eu tenho servido de agulha amuita linha ordinária!

Extraído do livro Várias histórias 1896, Volume 9, Contos – Editora Ática, São Paulo, 1984

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AÚLTIMA CARROÇA

Trabalho informalTEXTO 12

• Emprego e Trabalho30

Anotícia dizia: “A circulação de ani-mais e veículos de tração animalestá com os dias contados na capi-

tal. A Câmara aprovou na terça-feira (14de março de 2006) projeto do vereadorRoberto Tripoli que proíbe a prática e com-plementa uma lei de 1995 (do então vere-ador Brasil Vita), ainda não regulamenta-da. Se sancionada e virar lei, a propostavai impedir o trabalho de carroceiros (...)”.

Na cidade são cerca de 2.500 carroçascirculando entre 6 milhões de carros em16.000 quilômetros de vias asfaltadas,uma realidade que, para o vereador Tri-poli, “não comporta veículos de traçãoanimal”. Maus-tratos aos animais são aoutra alegação dessa lei que atingirá aprofissão independente dos que recolhemlixo reciclável usando veículos de traçãoanimal, os carroceiros, que diferem doscarrinheiros ou catadores, homens que

puxam sua própria carroça. Em comumeles têm a ausência de lei regulamentan-do a atividade, que lhes garante o míni-mo sustento.

Em São Paulo, a idéia é acabar com oscarroceiros, mas há cidades pensando ooposto. São José dos Campos, SP, porexemplo, promove programas de educa-ção para os carroceiros, dando-lhes treina-mento com noções de trânsito, higiene ecuidados com os animais. O Rio de Janeirotambém regularizou a atividade em 2002,as carroças são registradas e os animaistrabalham com horário determinado enunca aos domingos. Em São Carlos, SP, oprojeto Carroceiros do Futuro oferece gra-tuitamente registro, assistência veteriná-ria, medicamentos e ferraduras. Já são80% de carroças vistoriadas e emplacadas.Para a vereadora são-carlense Laíde dasGraças Simões (PMDB), “o custo do pro-

Projeto de vereador paulistano proíbe o tráfego urbano de animais e veículos de tração animal

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grama é viável para qualquer administra-ção pública”. Tanto que Araraquara, tam-bém no interior de São Paulo, segue osmesmos passos de São Carlos, adotandoum projeto similar.

O vereador paulistano Tripoli, na justi-ficativa à Câmara, escreveu: “O fim dessetransporte é fundamental, tanto do pontode vista da fruição (sic) do trânsito, comoda proteção aos transeuntes e motoristas,mas também do ponto de vista ético – abarbárie a que são submetidos cavalos,burros, mulas, bois não condiz com o graude civilidade atingido por São Paulo empleno século XXI”.

Sancionada pelo prefeito GilbertoKassab em 11 de abril último, a lei 14.146já pode ser aplicada. Congratulou-seKassab: “A louvável iniciativa do nobre

vereador vem somar com todas que obje-tivam a melhoria das condições de vidada comunidade paulistana, constituindomais um fator de prevenção de riscode acidentes no trânsito e de eventuaismaus-tratos a animais”.

Sete horas da manhã, avenida Marquêsde São Vicente, zona oeste de São Paulo,bairro da Água Branca. César, 26 anos,negro, olhos desconfiados, cavanhaque ebigode bem recortados, chinelo, bermudae fala tranqüila, explica que estamos naVila Charlote, uma área de várzea do rioTietê onde fazem vizinhança barracos demadeira e um dos célebres conjuntos habi-tacionais chamados de Cingapura. Apóscaminhar por um trecho de terra, cruzarum campo de futebol, chegamos ao bloco5 do conjunto Cingapura II.

Emprego e Trabalho • 31

A justificativa do projeto é de que a lentidão das carroças já não cabe nas ruas paulistanas.

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César nos apresenta sua sogra, AnaMaria, 48 anos, casada com o também car-roceiro Clóvis César Toledo, de 47 anos,que chega em seguida. Próximo dali,numa estreita rua de terra, ficam as duas“cocheiras” improvisadas onde hospedamos cavalos. César apresenta Lulu, um cas-tanho de 10 anos, com uma mancha bran-ca na cara, “o xodó da sogra Ana Maria”.Ana diz que “Lulu é rápido, falam que erade corrida, mas eu não sei, não”. Ela tem“pressão alta”, leva uma vida difícil. Preo-cupada, pergunta se a Caros Amigos temcomo ajudá-la a vender os cavalos, poistem “medo de perdê-los” com a nova lei.

César e Clóvis ajeitam as carroças, per-gunto a Clóvis como a coisa funciona.“Tiro a carroça da cocheira, arreio o cava-lo, engato na carroça, escovo, arrumo,pego a sacaria pra recolher o material epronto, podemos ir. Vamos em duas car-roças, cada uma deve carregar no máxi-mo 150 quilos de material recolhido.” Voucom Clóvis, enquanto o fotógrafo Cazupega carona com César e o cavalo Baião,outro castanho, de 8 anos.

Ao primeiro tranco, a impressão é quevou despencar, mas Clóvis é hábil com asrédeas e tem uma tranqüilidade impres-sionante. Logo pegamos a primeira rua dotrajeto. O simpático Clóvis é moreno ebaixinho, do tipo falante e atencioso, pau-lista, pai de seis filhos. Estudou até a 2a

série e começou a trabalhar com 7 anos,

numa olaria onde fez tijolos até os 15,quando então se empregou numa gráfica.Depois foi servente de pedreiro, vigia deprédio e, sem maiores chances, virou car-roceiro, profissão que exerce há dez anosna informalidade. Confessa: “Não queriaser muita coisa, só que desse pra viverhonestamente, um bom ordenado, comovejo certas pessoas por aí”.— O que faz um carroceiro?— Várias coisas: cata papel, ferro velho,plástico, mas também limpa um jardim seprecisar, tudo é uma forma de ganhar umdinheiro pra quem trabalha com carroça.— E vamos pra onde?— O itinerário é a Água Branca, Lapa deBaixo, e a região da Santa Marina.— Quanto tempo leva o percurso?— Ah, se tiver material, umas duas horas.Se não tiver, em uma hora voltamos. — O cavalo agüenta?— Agüenta, vamos devagar e ele está fer-rado e alimentado. O animal trabalha nomáximo quatro horas por dia, duas horasde manhã e duas de tarde.

O cavalo mencionado é o Faísca, umtordilho robusto, o jovem da turma, 7anos, e que custou 500 reais. “Não gosta-ria de vender. Peguei amor no Faísca, gostodele.” É comum os carroceiros trocarem oscavalos entre si ou comprarem em “feirasdo rolo”, hoje extintas na capital.— Como você faz nesse trânsito pra guiara carroça?

Texto 12 / Trabalho informal

• Emprego e Trabalho32

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— Com carroça, a seta é a mão e o freioé a rédea. — E essa história de que atrapalha o trân-sito?— Acho errado. Muitos carros por aí vãodevagar pela direita, tipo caminhão car-regado, é a mesma coisa da carroça.

Aquele que contrariar a lei “será remo-vido (carroça, mercadoria ou animal)” epara isso poderá ser utilizada “força poli-cial”. Os animais apreendidos são exami-nados e registrados e o dono terá cincodias para resgatar o seu, porém deveráapresentar carteira de vacinação do ani-mal (contra raiva e outras doenças) epagar – entre resgate, remoção, microchipe diárias no Centro de Controle deZoonoses – aproximadamente 800 reais.Ainda terá que comprovar que é o donodo bicho com documentação ou duas tes-temunhas, arrumar “transporte adequa-do” e exibir cópia do imposto territorialrural (ITR) da propriedade rural ondeficará o animal.

Nenhuma estranheza entre os motoris-tas e transeuntes, ao contrário, por ondepassamos os porteiros e vendedores derua nos saúdam. Paramos no sinal fecha-do e pergunto a um motorista o que achada lei: “É diferente ver cavalo e carroçaandando com os carros, mas acho que nãoatrapalha”. Primeira parada, para reco-lher um engradado de plástico. Desçojunto, com medo de o Faísca disparar

comigo (seria assim nas oito paradasseguintes). Outra parada e dessa vezFaísca tenta adubar o asfalto. Clóvislimpa, para manter a boa vizinhança.Quase não pegamos trânsito e Faíscasegue firme no caminho que faz há cincoanos. Última parada, carroça abastecida eClóvis recebe uma sacola ao bater nosfundos de um supermercado. — É pão pro café. Quando a carroçachega lá de volta todos vêm atrás.— E qual tua opinião sobre a proibição decarroças na cidade?— Essa lei é errada, porque dependodisso, não se consegue mais trabalho pelaidade, sem estudo é difícil. Se roubar, vaipreso. Só sei ser carroceiro. — Quanto você ganha como carroceiro?— Tem mês que dá pra tirar uns 500, vaida sorte de encontrar material.

A renda mensal de um carroceiro oucatador, segundo pesquisa da SecretariaMunicipal do Trabalho, é de “um a trêssalários mínimos”. Os materiais maisrecolhidos são “plástico (mais de cem anospara decompor), metal (não se decompõe)e papel (de três a seis meses)”. Cada habi-tante da capital produz, em média, 1,2quilo de lixo por dia, a cidade inteira380.000 toneladas por mês. SegundoSabetai Calderoni, autor do livro Osbilhões perdidos no lixo, toda a mão-de-obra que se dedica à atividade de recicla-gem movimenta, em média, 326 milhões

Emprego e Trabalho •

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de reais por ano. E o Brasil perde, anual-mente, 4,6 bilhões de reais por não reci-clar adequadamente o lixo residencial. Seo país reciclasse tudo o que é pos-sível, ganharia 10 bilhões de reais porano, diz Calderoni.— E quanto custa a carroça?— Vai do estado. Uma carroça quebradapaga 300. A minha foi 1.200, porque só opar de pneus e o eixo paguei 350, é deum Chevrolet 57.— O que você pretende fazer?— Pra não ficar sem nada, é vender tudoe ver outro meio de sobreviver.

São quase 9 da manhã, fim de expedien-te. De volta à Vila Charlote, é como disseClóvis: o pessoal vem atrás do pão, umasdez pessoas. Mas sobrou até para o cachor-ro de Clóvis, um vira-lata assustado quetambém ganhou sua porção. César e Cazuchegaram antes e Baião já estava pastando.

Antes de me despedir, o convite para ocafé no apartamento do Cingapura. Adoença volta à baila. “A gente sente quan-do o animal não está bem. É que nem agente, quando não se sente bem, nemlevanta da cama. Animal é a mesmacoisa”, diz Ana. Clóvis fala que o animalprecisa ter espaço próprio e limpo a cadatrês dias: “A gente dá milho, capim, fare-lo, água, banho uma vez por semana commangueira, injeção contra tétano, raiva,ferra o cavalo. Vai 200 reais por mês comos três cavalos”. O café preparado por

Ana é bom, mais um gole e marcamosnova visita.

O trajeto será o mesmo dali a dois dias,só mudam as fábricas que disponibilizamo material reciclável. Paramos para ven-der um plástico mole, 20 quilos mostra abalança e César garante 14 reais. As para-das dessa vez são cinco em quase duashoras. Como da primeira vez, nenhumtranstorno pelas ruas em que circulamos.Voltamos para a Vila Charlote e Césarquer me mostrar seu barraco:— Você já entrou num barraco?— Apenas uma vez — respondo, constrangi-do.

A ponte de madeira que liga a rua deterra aos quase 150 barracos do outro ladodo córrego amedronta. Tem-se a impressãode que vai desabar. Os barracos, um ao ladodo outro, estão amparados por toras demadeira fixadas na beirada do córrego, asquais vêm cedendo há alguns meses. O bar-raco de César tem 4 metros de largura por4 de comprimento e ele mesmo ergueu.Cozinha, banheiro improvisado e o quarti-nho com a cama de casal. Também impro-visadas são a luz, a água e as telhas quedurante a noite se transformam em passa-rela das ratazanas que infestam a região.Uma televisão, geladeira, fogão de quatrobocas e fotos dos filhos ao lado de um pôs-ter do time do Santos completam o cenário.

Segundo a Secretaria de Habitação eDesenvolvimento Urbano, existem 2.018

Texto 12 / Trabalho informal

• Emprego e Trabalho34

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favelas no município, com 1,2 milhão dehabitantes, 11% da população total.

Dois discos de vinil dos Racionais MCs,alguns CDs “piratas” de black-music, “émelodia do dia-a-dia”, diz César, que teveo sonho de ser jogador de futebol. Hoje,gostaria de ser bombeiro, mas não sabecomo. Estudou até a 5a série, participavado coral da igreja, tocando algumas notasao violão, e teve poucos empregos, foiajudante de obra e carregador de mate-riais de construção, “1.500 quilos por dia,no braço”. Nessa época, na rua esperan-do o chefe buscá-lo para o trabalho a pou-cos metros dali, a polícia o abordou. “Nãoperguntaram nada, gritaram comigo, mederrubaram e bateram. Meu chefe chegoue disse: ‘Ele trabalha pra mim, parem’. Aípararam, mas pediram desculpas pro meuchefe, não pra mim. Chorei de raiva.”

Sua mulher se chama Leda e têm doisfilhos, Júlio, de 11 meses, e Talita, de 5anos. Em maio de 2005, grávida de Júlio,Leda entrou em trabalho de parto emmeio a uma enchente na Vila Charlote.“Tentei levá-la no carro de um amigo, masele encheu. Só saímos pro hospital nobarco com os bombeiros. Foi um dia quefiquei desesperado.”

César também foi catador e tinha ver-gonha de separar lixo, mas se acostumoupor força da necessidade: “A gente não temmuita instrução. Eu tava contente com os500 reais, comprava as coisas pro barraco,

pras crianças, pra Leda. E agora?” Me oferece um suco. Tira do armário

fotos de família. Pergunta sobre uma cole-ção de selos que achou no lixo: “Sabequem compra isso?” E deixa entrever queé um otimista: “Falei com a Leda, precisome arranjar de alguma maneira, né?”Irritado com o fim das carroças, tentaentender a nova lei: “Minha esposa quaseperdeu o neném na enchente e nunca nin-guém veio falar nada. Os barracos estãodesbarrancando pra dentro do rio, ratopra caramba. Não é só animal e carroça,a gente merece também ter um pouqui-nho de consideração”.

Nenhum carroceiro participou da ela-boração do projeto ou foi representado.O projeto previa que o poder público cria-ria programas de requalificação profissio-nal para os carroceiros, mas o artigo 21,que tratava do assunto, foi vetado peloprefeito. Perguntada sobre o veto, a pre-feitura respondeu por escrito que: “Nãocabe criar programa de capacitação pro-fissional específico para os atingidos pelanova lei, porque os programas já existen-tes são universais, sem distinção por cate-goria profissional, e podem perfeitamen-te atender também aos carroceiros”.

Emprego e Trabalho • 35

Texto de Thiago Domenici, publicado na revista Caros Amigos,

no 111, de julho de 2006.

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Acigarra, sem pensar em guardar,

a cantar passou o verão.

Eis que chega o inverno, e então,

sem provisão na despensa,

como saída, ela pensa

em recorrer a uma amiga:

sua vizinha, a formiga,

pedindo a ela, emprestado,

algum grão, qualquer bocado,

até o bom tempo voltar.

“Antes de agosto chegar,

pode estar certa a senhora:

pago com juros, sem mora.”

Obsequiosa, certamente,

a formiga não seria.

“Que fizeste até outro dia?”,

perguntou à imprevidente.

“Eu cantava, sim, senhora,

noite e dia, sem tristeza.”

“Tu cantavas? Que beleza!

Muito bem: pois dança agora...”

Extraído do livro Fábulas de La Fontaine, de Marc Chagall – Editora Estação Liberdade.Fonte P www.saudeanimal.com.br

Tipos de t rabalhoTEXTO 13

• Emprego e Trabalho36

A CIGARRA E A FORMIGALa Fontaine

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Houve uma jovem cigarra que tinhao costume de chiar ao pé do formi-gueiro. Só parava quando cansa-

dinha; e seu divertimento era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.

Mas o bom tempo afinal passou e vie-ram as chuvas. Os animais todos, arrepia-dos, passavam o dia cochilando nas tocas.

A pobre cigarra, sem abrigo em seugalhinho seco e metida em grandes apuros,deliberou socorrer-se de alguém.

Manquitolando, com uma asa a arras-tar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu– tique, tique, tique...

Aparece uma formiga friorenta, em-brulhada num xalinho de paina.

— Que quer? – perguntou, examinan-do a triste mendiga suja de lama e a tossir.

— Venho em busca de agasalho. O mautempo não cessa e eu...

A formiga olhou-a de alto a baixo.— E que fez durante o bom tempo que

não construiu a sua casa?

A pobre cigarra, toda tremendo, res-pondeu depois dum acesso de tosse.

— Eu cantava, bem sabe...— Ah!... exclamou a formiga recordan-

do-se. Era você então que cantava nessaárvore enquanto nós labutávamos para en-cher as tulhas?

— Isso mesmo, era eu...Pois entre, amiguinha! Nunca pode-

remos esquecer as boas horas que suacantoria nos proporcionou. Aquele chia-do nos distraía e aliviava o trabalho. Di-zíamos sempre: que felicidade ter comovizinha tão gentil cantora! Entre, amiga,que aqui terá cama e mesa durante todoo mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e vol-tou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

Extraído do livro Fábulas, de Monteiro Lobato.

Emprego e Trabalho • 37

A CIGARRA E A FORMIGA(A FORMIGA BOA)Monteiro Lobato

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Omeu amigo Augusto Machado, de quem acabo de publicar umapequena brochura aliteratada – Vida e Morte de M. J. Gonzagade Sá – mandou-me algumas notas herdadas por ele desse seu

amigo, que, como se sabe, foi oficial da Secretaria dos Cultos.Coordenadas por mim, sem nada pôr de meu, eu as dou aqui, para ameditação dos leitores:

“ESTAS MINHAS memórias que há dias tento começar são deve-ras difíceis de executar, pois se imaginarem que a minha secretaria éde pequeno pessoal e pouco nela se passa de notável, bem avaliarãoem que apuros me encontro para dar volume às minhas recordaçõesde velho funcionário. Entretanto, sem recorrer à dificuldade, mas lade-ando-a, irei sem preocupar-me com datas nem tampouco me incomo-dando com a ordem das cousas e fatos, narrando o que me acudir deimportante, à proporção de escrevê-las. Ponho-me à obra.

Logo no primeiro dia em que funcionei na secretaria, senti bemque todos nós nascemos para empregado público. Foi a reflexão quefiz, ao me julgar tão em mim, quando, após a posse e o compromissoou juramento, sentei-me perfeitamente à vontade na mesa que medeterminaram. Nada houve que fosse surpresa, nem tive o mínimoacanhamento. Eu tinha vinte e um para vinte e dois anos; e nela meabanquei como se de há muito já o fizesse. Tão depressa foi a minhaadaptação que me julguei nascido para ofício de auxiliar o Estado,com a minha reduzida gramática e o meu péssimo cursivo, na suamissão de regular a marcha e a atividade da nação.

Com familiaridade e convicção, manuseava os livros – grandes mon-tões de papel espesso e capas de couro, que estavam destinados a durartanto quanto as pirâmides do Egito. Eu sentia muito menos aquele registrode decretos e portarias e eles pareciam olhar-me respeitosamente e pedir-me sempre a carícia das minhas mãos e a doce violência da minha escrita.

Al ienação do t rabalhoTEXTO 14

• Emprego e Trabalho38

TRÊS GÊNIOS DE SECRETARIA

Lima Barreto

Quando o importante é q.i.

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Puseram-me também a copiar ofícios e a minha letra tão má eo meu desleixo tão meu, muito papel fizeram-me gastar, sem queisso redundasse em grande perturbação no desenrolar das cousasgovernamentais.

Mas, como dizia, todos nós nascemos para funcionário público.Aquela placidez do ofício, sem atritos, nem desconjuntamentos vio-lentos; aquele deslizar macio durante cinco horas por dia; aquelamediania de posição e fortuna, garantindo inabalavelmente uma vidamedíocre – tudo isso vai muito bem com as nossas vistas e os nossostemperamentos. Os dias no emprego do Estado nada têm de impre-visto, não pedem qualquer espécie de esforço a mais, para viver o diaseguinte. Tudo corre calma e suavemente, sem colisões, nem sobres-saltos, escrevendo-se os mesmos papéis e avisos, os mesmos decretose portarias, da mesma maneira, durante todo o ano, exceto os diasferiados, santificados e os de ponto facultativo, invenção das melho-res da nossa República.

De resto, tudo nele é sossego e quietude. O corpo fica em cômodojeito; o espírito aquieta-se, não tem efervescência nem angústias; aspraxes estão fixas e as fórmulas já sabidas. Pensei até em casar, não só

Emprego e Trabalho • 39

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para ter uns bate-bocas com a mulher, mas, também, para ficar maisburro, ter preocupações de “pistolões”, para ser promovido. Não o fiz;e agora, já que não digo a ente humano, mas ao discreto papel, possoconfessar por que. Casar-me, no meu nível social, seria abusar-mecom a mulher, pela sua falta de instrução e cultura intelectual; casar-me acima, seria fazer-me lacaio dos figurões, para darem-me cargos,propinas, gratificações, que satisfizessem às exigências da esposa. Nãoqueria uma nem outra cousa. Houve uma ocasião em que tentei sol-ver a dificuldade, casando-me ou cousa que o valha, abaixo da minhasituação. É a tal história da criada... Aí foram a minha dignidade pes-soal e o meu cavalheirismo que me impediram.

Não podia, nem devia ocultar a ninguém e de nenhuma forma, amulher com quem eu dormia e era mãe dos meus filhos. Eu ia citar SantoAgostinho, mas deixo de fazê-lo para continuar a minha narração...

Quando, de manhã, novo ou velho no emprego, a gente se sentana sua mesa oficial, não há novidade de espécie alguma e, já dapena, escreve devagarinho: “Tenho a honra”, etc., etc.; ou, republi-canamente, “Declaro-vos para os fins convenientes” etc... etc. Se hámudança, é pequena e o começo é já bem sabido: “Tenho em vis-tas”... – ou “Na forma do disposto”...

Às vezes o papel oficial fica semelhante a um estranho mosaicode fórmulas e chapas; e são os mais difíceis, nos quais o doutor XistoRodrigues brilhava como mestre inigualável.

O doutor Xisto já é conhecido dos senhores, mas não é dos outrosgênios da Secretaria dos Cultos. Xisto é estilo antigo. Entrou honesta-mente, fazendo um concurso decente e sem padrinhos. Apesar da suapulhice bacharelesca e a sua limitação intelectual, merece respeitopela honestidade que põe em todos os atos de sua vida, mesmo comofuncionário. Sai à hora regulamentar e entra à hora regulamentar.Não bajula. Nem recebe gratificações.

Os dois outros, porém, são mais modernizados. Um é “charadis-ta”, o homem que o diretor consulta, que dá as informações confiden-ciais, para o presidente e o ministro promoverem os amanuenses. Esteninguém sabe como entrou para a secretaria; mas logo ganhou a con-fiança de todos, de todos se fez amigo e, em pouco, subiu três passos

Texto 14 / A l ienação do t rabalho

• Emprego e Trabalho40

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na hierarquia e arranjou quatro gratificações mensais ou extraordiná-rias. Não é má pessoa, ninguém se pode aborrecer com ele: é uma cria-ção do ofício que só amofina os outros, assim mesmo sem nada estessaberem ao certo, quando se trata de promoções. Há casos muito inte-ressantes; mas deixo as proezas dessa inferência burocrática, em queo seu amor primitivo a charadas, ao logogrifo e aos enigmas pitores-cos pôs-lhe sempre na alma uma caligem de mistério e uma necessi-dade de impor aos outros adivinhação sobre ele mesmo. Deixo-a,dizia, para tratar do “auxiliar de gabinete”. É este a figura mais curio-sa do funcionalismo moderno. É sempre doutor em qualquer cousa;pode ser mesmo engenheiro hidráulico ou eletricista. Veio de qual-quer parte do Brasil, da Bahia ou de Santa Catarina, estudou no Rioqualquer cousa; mas não veio estudar, veio arranjar um emprego segu-ro que o levasse maciamente para o fundo da terra, donde deveria tersaído em planta, em animal e, se fosse possível, em mineral qualquer.É inútil, vadio, mau e pedante, ou antes, pernóstico.

Instalado no Rio, com fumaças de estudante, sonhou logo ar-ranjar um casamento, não para conseguir uma mulher, mas, pa-ra arranjar um sogro influente, que o empregasse em qualquer cousa,solidamente. Quem como ele faz de sua vida, tão-somente, caminhopara o cemitério, não quer muito: um lugar em uma secretaria qual-quer serve. Há os que vêem mais alto e se servem do mesmo meio;mas são a quintessência da espécie.

Na Secretaria dos Cultos, o seu típico e célebre “auxiliar de gabi-nete”, arranjou o sogro dos seus sonhos, num antigo professor doseminário, pessoa muito relacionada com padres, frades, sacristães,irmãs de caridade, doutores em cânones, definidores, fabriqueiros,fornecedores e mais pessoal eclesiástico.

O sogro ideal, o antigo professor, ensinava no seminário uma físi-ca muito própria aos fins do estabelecimento, mas que havia de horri-pilar o mais medíocre aluno de qualquer estabelecimento leigo.

Tinha ele uma filha a casar e o “auxiliar de gabinete” logo viu noseu casamento com ela o mais fácil caminho para arranjar uma barri-gazinha estufadinha e uma bengala com castão de ouro.

Houve exame na Secretaria dos Cultos, e o “sogro”, sem escrú-

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pulo algum, fez-se nomear examinador do concurso para o provimen-to do lugar e meter nele “o noivo”.

Que se havia de fazer? O rapaz precisava.O rapaz foi posto em primeiro lugar, nomeado e o velho sogro (já

o era de fato) arranjou-lhe o lugar de “auxiliar de gabinete” do minis-tro. Nunca mais saiu dele e, certa vez, quando foi, pró-fórmula se des-pedir do novo ministro, chegou a levantar o reposteiro para sair; mas,nisto, o ministro bateu na testa e gritou:

— Quem é aí o doutor Mata-Borrão?O homenzinho voltou-se e respondeu, com algum tremor na voz e

esperança nos olhos:— Sou eu, excelência.— O senhor fica. O seu “sogro” já me disse que o senhor precisa muito.É ele assim, no gabinete, entre os poderosos; mas, quando fala a

seus iguais, é de uma prosápia de Napoleão, de quem se não conhe-cesse a Josefina.

A todos em que ele vê um concorrente, traiçoeiramente desacredi-ta: é bêbedo, joga, abandona a mulher, não sabe escrever “comissão”,etc. Adquiriu títulos literários, publicando a Relação dos Padroeirosdas Principais Cidades do Brasil; e sua mulher quando fala nele, nãose esquece de dizer: “Como Rui Barbosa, o Chico...” ou “ComoMachado de Assis, meu marido só bebe água”.

Gênio doméstico e burocrático, Mata-Borrão não chegará, apesarda sua maledicência interesseira, a entrar nem no inferno. A vida nãoé unicamente um caminho para o cemitério; é mais alguma cousa equem a enche assim, nem Belzebu o aceita. Seria desmoralizar o seuimpério; mas a burocracia quer desses amorfos, pois ela é das cria-ções sociais aquela que mais atrozmente tende a anular a alma, a inte-ligência, e os influxos naturais e físicos ao indivíduo. É um expressivodocumento de seleção inversa que caracteriza toda a nossa sociedadeburguesa, permitindo no seu campo especial, com a anulação dosmelhores da inteligência, de saber, de caráter e criação, o triunfo inex-plicável de um Mata-Borrão por aí.

Pela cópia, conforme.

• Emprego e Trabalho42

Extraído do livro O homem que sabia javanês e outros contos.

Texto 14 / A l ienação do t rabalho

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Para que t rabalharTEXTO 15

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Um fazendeiro sentiu a morte próxi-ma e chamou os filhos para contarum segredo.

— Meus filhos, eu vou morrer. Querodizer que no nosso terreno há um tesou-ro escondido. Se vocês cavarem, vão en-contrar.

Logo que o pai morreu, os filhos pe-garam pás e ancinhos e reviraram o ter-reno de todo jeito, procurando o tesouro.Não acharam nada, mas a terra trabalha-da produziu uma colheita nunca vista.

Parábola de domínio público.

O FAZENDEIRO E OS FILHOS

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O QUE A LEI GARANTEAO TRABALHADOROs 34 incisos do artigo 7o do capítulo II da Constituiçãolistam todos os direitos de quem tem um emprego

Dire i tos do t rabalhadorTEXTO 16

• Emprego e Trabalho44

Constituição BrasileiraTítulo II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Capítulo IIDos Direitos Sociais

Art. 7o SSão direitos dos trabalhadoresurbanos e rurais, além de outros quevisem à melhoria de sua condição social:

I. relação de emprego protegida contradespedida arbitrária ou sem justa causa,nos termos de lei complementar, que pre-verá indenização compensatória, dentreoutros direitos;

II. seguro-desemprego, em caso de de-semprego involuntário;

III. fundo de garantia do tempo de serviço;

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Emprego e Trabalho • 45

IV. salário mínimo, fixado em lei, nacio-nalmente unificado, capaz de atender àssuas necessidades vitais básicas e às desua família com moradia, alimentação,educação, saúde, lazer, vestuário, higie-ne, transporte e previdência social, comreajustes periódicos que lhe preservem opoder aquisitivo, sendo vedada sua vin-culação para qualquer fim;

V. piso salarial proporcional à extensão eà complexidade do trabalho;

VI. irredutibilidade do salário, salvo o dis-posto em convenção ou acordo coletivo;

VII. garantia de salário, nunca inferiorao mínimo, para os que percebem remu-neração variável;

VIII. décimo terceiro salário com base naremuneração integral ou no valor da apo-sentadoria;

IX. remuneração do trabalho noturnosuperior à do diurno;

X. proteção do salário na forma da lei,constituindo crime sua retenção dolosa;

XI. participação nos lucros, ou resultados,desvinculada da remuneração, e, excepcio-nalmente, participação na gestão daempresa, conforme definido em lei;

XII. salário-família para os seus depen-dentes;

XIII. duração do trabalho normal não

superior a oito horas diárias e quarenta equatro semanais, facultada a compensa-ção de horários e a redução da jornada,mediante acordo ou convenção coletivade trabalho;

XIV. jornada de seis horas para o traba-lho realizado em turnos ininterruptos derevezamento, salvo negociação coletiva;

XV. repouso semanal remunerado, prefe-rencialmente aos domingos;

XVI. remuneração do serviço extraordi-nário superior, no mínimo, em cinqüentapor cento à do normal;

XVII. gozo de férias anuais remuneradascom, pelo menos, um terço a mais do queo salário normal;

XVIII. licença à gestante, sem prejuízodo emprego e do salário, com a duraçãode cento e vinte dias;

XIX. licença-paternidade, nos termosfixados em lei;

XX. proteção do mercado de trabalho damulher, mediante incentivos específicos,nos termos da lei;

XXI. aviso prévio proporcional ao tempode serviço, sendo no mínimo de trintadias, nos termos da lei;

XXII. redução dos riscos inerentes ao tra-balho, por meio de normas de saúde, higie-ne e segurança;

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Texto 16 / D i re i tos do t rabalhador

• Emprego e Trabalho46

XXIII. adicional de remuneração para asatividades penosas, insalubres ou perigo-sas, na forma da lei;

XXIV. aposentadoria;

XXV. assistência gratuita aos filhos edependentes desde o nascimento até seisanos de idade em creches e pré-escolas;

XXVI. reconhecimento das convenções eacordos coletivos de trabalho;

XXVII. proteção em face da automação,na forma da lei;

XXVIII. seguro contra acidentes de traba-lho, a cargo do empregador, sem excluir aindenização a que este está obrigado, quan-do incorrer em dolo ou culpa;

XXIX. ação, quanto a créditos resultan-tes das relações de trabalho, com prazoprescricional de:

a) cinco anos para o trabalhador urbano,até o limite de dois anos após a extinçãodo contrato;

b) até dois anos após a extinção do con-trato, para o trabalhador rural;

XXX. proibição de diferença de salários,de exercício de funções e de critério deadmissão por motivo de sexo, idade, corou estado civil;

XXXI. proibição de qualquer discrimina-ção no tocante a salário e critérios deadmissão do trabalhador portador dedeficiência;

XXXII. proibição de distinção entre tra-balho manual, técnico e intelectual ouentre os profissionais respectivos;

XXXIII. proibição de trabalho noturno,perigoso ou insalubre aos menores dedezoito e de qualquer trabalho a meno-res de quatorze anos, salvo na condiçãode aprendiz;

XXXIV. igualdade de direitos entre o tra-balhador com vínculo empregatício per-manente e o trabalhador avulso.

Parágrafo único São assegurados àcategoria dos trabalhadores domésticos osdireitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV,XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como asua integração à previdência social.

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Page 47: Coleção Cadernos EJA - 04 Emprego e Trabalho

BRASIL DIVIDIDOMais da metade dos trabalhadores brasileiros vive na informalidade

Eles habitam um mundo de tons cinzen-tos. Procuram sobreviver no improvi-so, escapar das armadilhas da burocra-

cia e do pagamento de impostos. Sãocamelôs, barraqueiros, donos de fábricas defundo de quintal. Alguns resvalam para ailegalidade, vendem cigarros e remédios fal-sificados, CDs piratas ou badulaques. Sãotambém pessoas diplomadas que dãoconsultoria ou atuam como personal trai-ners. Tem de tudo no mundo da informali-dade. O Brasil é um dos campeões nesse ter-

ritório. Nada menos do que 52,6% dos bra-sileiros que praticam alguma atividaderemunerada gravitam em ambientes infor-mais. Em 2002 eram 36,3 milhões de pes-soas, entre 69,1 milhões de trabalhadoresque recebiam algum tipo de pagamento. Osdados são do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (Ipea) com base em infor-mações do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE). O problema é crescen-te, especialmente nas regiões metropolita-nas e, dentro delas, no setor de serviços.

Trabalho informalTEXTO 17

Emprego e trabalho • 47

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Empreendedores “informais”, como os das bancas do Largo da Batata emSão Paulo, não têm benefícios trabalhistas e não recolhem impostos.

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Texto 17 / Trabalho informal

• Emprego e Trabalho48

De acordo com os especialistas do Ipea,o crescimento da informalidade no Brasilresulta de uma reacomodação da econo-mia, que ocorreu porque a indústria deuum salto de produtividade e passou a pro-duzir mais com menos gente. Ao mesmotempo, terceirizou atividades, muitas paraempresas de serviços de limpeza, seguran-ça ou alimentação.

Os dados indicam que o setor industri-al não apenas está empregando menos,também é nele que se registra o maior cres-cimento da informalidade.

Um estudo da consultoria McKinseyrevela que o maior grau de informalidadeestá no setor agropecuário. Ali, 90% damão-de-obra não têm vínculo empregatí-cio. O menor nível de informalidade é o dosetor de veículos automotores, que ostentaum índice de apenas 9%.

Um problema nacional

A informalidade é um problema para opaís por várias razões. Primeiro porquequem trabalha sem registro vive sem qual-quer rede de proteção. Não tem direito aférias, 13o salário nem Fundo de Garantiapor Tempo de Serviço. Depois, porque umaempresa não investe na capacitação de umtrabalhador que não tem vínculo com seunegócio – o que, numa perspectiva mais lar-ga, prejudica a competitividade da econo-mia do país como um todo. Em terceirolugar, porque empresas e pessoas que vivemna informalidade não pagam impostos – o

que prejudica as contas públicas e dificultainvestimentos necessários para o bem co-mum. E também porque, embora não con-tribuam, os trabalhadores informais têmdireito à assistência médica e à aposentado-ria – uma despesa que está sendo cobertapor um número cada vez menor de traba-lhadores e empresas formais.

De acordo com o relatório da McKinsey,a opção pela informalidade está relaciona-da ao alto custo do cumprimento das leis,que estimula as empresas menos produti-vas a permanecer nessas condições. É cadavez mais comum a opção pela informalida-de para não cumprir exigências trabalhis-tas, previdenciárias ou relacionadas à segu-rança do trabalho. “O pequeno empresárionão paga os encargos trabalhistas porqueeles pesam relativamente mais em seu fatu-ramento do que no de uma grande empre-sa”, diz Ricardo Tortorella, economista econsultor do Sebrae Nacional. O custo rela-tivo da assistência à saúde e da segurançano trabalho também é muito mais pesadopara as pequenas empresas. O trabalhadorinformal, por seu lado, tem acesso ao Sis-tema Único de Saúde. Deixa de ter direitoao seguro desemprego, ao seguro acidentede trabalho e ao seguro maternidade, masnão precisa abrir mão de uma parte de suareceita em favor da Previdência Social.

Extraído do texto de Ottoni Fernandes Jr. publicado na revistaDesafios do Desenvolvimento, ano1, n.o 4, novembro de 2004.

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Odesemprego e a fartura de lixo nasgrandes cidades fizeram surgir umacategoria de trabalhadores que não

pára de crescer: a dos moradores de ruaque sobrevivem catando lixo reciclávelcom a ajuda de uma carroça. Quase sem-pre é assim: quando conseguem se estru-turar um pouco, pagam 40 reais por umeixo de automóvel no ferro-velho, mon-tam uma carroça e passam a viver do queconseguem apurar na venda do material.

Na cidade de São Paulo, a populaçãode rua mais que dobrou em dez anos: em1993, de acordo com a Secretaria de As-sistência Social, era de 4.549 pessoas eem 2003 pulou para 10.300, sendo que3.200 delas viviam de catar lixo. Grandeparte trabalha com carroças. A coordena-doria do Programa de Coleta ColetivaSolidária de São Paulo calcula que exis-tam de 6.000 a 9.000 catadores nas áreasque englobam as 31 subprefeituras dacidade. Conflitos familiares, alcoolismo edesemprego são as principais causas des-se aumento.

Concorrência acirrada

Para os catadores, comprar uma carro-ça é o primeiro passo para reorganizar avida e recuperar dignidade. Além disso,esse trabalho gera benefícios para a cida-de. “Nossa atividade deveria ser reconheci-da como profissão. Evitamos a destruiçãoda natureza com a reciclagem de materiaise ajudamos a prefeitura a economizar re-cursos com aterros sanitários, porque des-viamos parte dos materiais que iriam paralá”, diz Nelson da Silva, morador de rua háseis anos.

Eustáquio fatura de 300 a 400 reaispor mês e se considera privilegiado: “Quemcorre atrás de material na rua acha cadavez menos”, diz. Não faz muito tempodava para tirar 200 reais por semana.“Todo mundo está tirando material darua”, reclama. Todo mundo, no caso, são:os prédios que passaram a separar o pró-prio lixo para a reciclagem e o entregampara a prefeitura; os carroceiros cada vezem maior número; os caminhões dos depó-sitos e os de coleta regular.

Emprego e Trabalho • 49

Relações de t rabalhoTEXTO 18

ELES TRABALHAM FEITOCAVALOS

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A concorrência é forte. “Um saco delixo na rua é mexido por muita gente”, dizFábio. Primeiro vêm os andarilhos quenão têm carroça porque não podem com-prar ou porque não têm força para puxaruma. Catam com sacos, buscam principal-mente latinhas de alumínio e ganham de3 a 4 reais por dia. Dá para viver? “Não, dásó para comprar o goró”, diz Eustáquio.Depois vêm os carroceiros. Em seguida, oscaminhões. Segredo do negócio: correr pa-ra pegar o lixo fresquinho.

Entretanto, para catadores associadosa cooperativas, o programa municipal éum meio de inclusão social. O material érecolhido pelos caminhões e processadopor cooperativas, em centrais criadas eequipadas pela prefeitura.

Nesses centros trabalham, diretamente,os catadores cooperados; e, indiretamente, os

outros que vendem ali seusmateriais. A inclusão

social é apenas umdos objetivos doprojeto, além da

educação ambiental dos cidadãos, da pre-servação de recursos naturais e da redu-ção da quantidade de lixo encaminhadaaos aterros sanitários.

Uma das vantagens de fazer parte dacooperativa é receber um valor maiorpelo material, pois ele é vendido direta-mente à indústria recicladora sem passarpelos depósitos. Em contrapartida, umadas exigências da prefeitura para entre-gar a gestão da central às cooperativas éque elas estabeleçam horários de traba-lho para os catadores. Nem todos queremsaber disso.

Os catadores que não se organizaremvão continuar como Eustáquio e Fábio:disputando material com os caminhões erecebendo o que os depósitos pagam pelacoleta do dia. No caso do papelão, os depó-sitos pagam em torno de 13 centavos o quilo,enquanto que, se venderem diretamente àindústria, eles recebem 30 centavos.

Fragmentos do artigo de Patrícia Cornils, publicado na internet em 18/6/2004 no site www.nominimo.com.br

50 • Emprego e Trabalho

Texto 18 / Trabalho precár io

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Em 2006, o número de catadores na cidade de São Paulo passou a ser de 20.000 pes-soas, sendo que 2.500 delas utilizam cavalos ou jumentos para puxar a carroça. Umalei sancionada em abril de 2006 pela prefeitura de São Paulo agora proíbe a utiliza-ção de animais para esse fim, o que dificulta ainda mais a vida dessa classe trabalha-dora: os animais serão recolhidos, o dinheiro investido estará perdido e as pessoasterão de encontrar outra forma de sobrevivência.

O garoto Tiago Marques (16 anos),que trabalha como catador de papel.

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TRABALHO INFANTIL

Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 19

Uma realidade que precisa ser mudada

Emprego e Trabalho • 51

Abrindo o fumo

Quebrando pedra

Operando a máquina

Foto: Dida Sampaio / AE Foto: Lewis Hine

Foto: Epitácio Pessoa / AE

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Numa manhã, ao despertar de sonhosinquietantes, Gregório Samsa deupor si na cama transformado num

gigantesco inseto. Estava deitado sobre odorso, tão duro que parecia revestido demetal, e, ao levantar um pouco a cabeça,divisou o arredondado ventre castanho divi-dido em duros segmentos arqueados, sobreo qual a colcha dificilmente mantinha aposição e estava a ponto de escorregar.

Comparadas com o resto do corpo, asinúmeras pernas, que eram miseravel-mente finas, agitavam-se desesperada-mente diante de seus olhos.

Que me aconteceu? — pensou. Nãoera nenhum sonho. O quarto, um vulgarquarto humano, apenas bastante acanha-do, ali estava, como de costume, entre asquatro paredes que lhe eram familiares.Por cima da mesa, onde estava deitado,desembrulhada e em completa desordem,uma série de amostras de roupas; Samsaera caixeiro-viajante, estava pendurada afotografia que recentemente recortara de

Franz Kafka

Al ienação do t rabalhoTEXTO 20

• Emprego e Trabalho52

Ilust

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uma revista ilustrada e colocara numabonita moldura dourada. Mostrava umasenhora, de chapéu e estola de peles, rigi-damente sentada, a estender ao especta-dor um enorme regalo de peles, onde oantebraço sumia!

Gregório desviou então a vista para ajanela e deu com o céu nublado — ouviam-se os pingos de chuva a baterem na calhada janela e isso o fez sentir-se bastantemelancólico. Não seria melhor dormir umpouco e esquecer todo este delírio? — cogi-tou. Mas era impossível, estava habituado adormir para o lado direito e, na presentesituação, não podia virar-se. Por mais quese esforçasse por inclinar o corpo para adireita, tornava sempre a rebolar, ficandode costas. Tentou, pelo menos, cem vezes,fechando os olhos, para evitar ver as pernasa debaterem-se, e só desistiu quando come-çou a sentir no flanco uma ligeira dor entor-pecida que nunca antes experimentara.

Oh, meu Deus, pensou, que trabalhotão cansativo escolhi! Viajar, dia sim, dianão. É um trabalho muito mais irritante doque o trabalho do escritório propriamentedito, e ainda por cima há também o des-conforto de andar sempre a viajar, preocu-pado com as ligações dos trens, com a camae com as refeições irregulares, com conhe-cimentos casuais, que são sempre novos enunca se tornam amigos íntimos.

Diabos levem tudo isto! Sentiu umaleve comichão na barriga; arrastou-se len-tamente sobre as costas, mais para cimana cama, de modo a conseguir mexermais facilmente a cabeça, identificou olocal da comichão, que estava rodeado deuma série de pequenas manchas brancascuja natureza não compreendeu no mo-mento, e fez menção de tocar lá com umaperna, mas imediatamente a retirou, pois,ao seu contato, sentiu-se percorrido porum arrepio gelado.

Voltou a deixar-se escorregar para aposição inicial. Isto de levantar cedo, pen-sou, deixa a pessoa estúpida. Um homemnecessita de sono. Há outros comercian-tes que vivem como mulheres de harém.Por exemplo, quando volto para o hotel,de manhã, para tomar nota das encomen-das que tenho, esses se limitam a sentar-se à mesa para o café da manhã. Eu quetentasse sequer fazer isso com o meupatrão: seria logo despedido. De qualquermaneira, era capaz de ser bom para mim— quem sabe? Se não tivesse de meagüentar, por causa dos meus pais, hámuito tempo que me teria despedido; iriater com o patrão e lhe falar exatamente oque penso dele. Havia de deitar-me emcima da mesa do escritório! Também é umhábito esquisito, esse de se sentar à mesaem plano elevado e falar para baixo para

Emprego e Trabalho • 53

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os empregados, tanto mais que eles têmde aproximar-se bastante, porque o patrãoé ruim de ouvido. Bem, ainda há umaesperança; depois de ter economizado osuficiente para pagar o que os meus paislhe devem — o que deve levar outroscinco ou seis anos —, faço-o, com certe-za. Nessa altura, vou me libertar comple-tamente. Mas, para agora, o melhor é melevantar, porque o meu trem parte às 5.

Olhou para o despertador, que faziatique-taque na cômoda. Pai do Céu! – pen-sou. Eram 6 e meia e os ponteiros mo-viam-se em silêncio, até passava da meiahora, era quase um quarto para as 7. Odespertador não teria tocado? Da cama,via-se que estava corretamente reguladopara as 4; claro que devia ter tocado. Sim,mas seria possível dormir sossegadamen-te no meio daquele barulho que trespas-sava os ouvidos? Bem, ele não tinha dor-mido sossegadamente; no entanto, apa-rentemente, se assim era, ainda devia tersentido mais o barulho. Mas que fariaagora? O próximo trem saía às 7; para oapanhar tinha de correr como um doido,as amostras ainda não estavam embrulha-das e ele próprio não se sentia particular-mente fresco e ativo. E, mesmo que apa-nhasse o trem, não conseguiria evitar umareprimenda do chefe, visto que o porteiroda firma havia de ter esperado o trem das

5 e há muito teria comunicado a suaausência. O porteiro era um instrumentodo patrão, invertebrado e idiota. Bem,suponhamos que dizia que estava doen-te? Mas isso seria muito desagradável epareceria suspeito, porque, durante cincoanos de emprego, nunca tinha estadodoente. O próprio patrão certamente irialá à casa com o médico da Previdência,repreenderia os pais pela preguiça do filhoe poria de parte todas as desculpas, recor-rendo ao médico da Previdência, que,evidentemente, considerava toda a huma-nidade um bando de falsos doentes perfei-tamente saudáveis. E enganaria assimtanto desta vez? Efetivamente, Gregóriosentia-se bastante bem, à parte uma sono-lência que era perfeitamente supérfluadepois de um tão longo sono, e sentia-semesmo esfomeado.

(...)

Texto 20 / A l ienação do t rabalho

• Emprego e Trabalho54

O escritor Franz Kafka, de nacionalidade alemã, nasceu na Tcheco-Eslováquia em 1883. A metamorfose é sua obra mais conhecida,com a ação do personagem desenrolando-se em clima fantástico eangustiante, a ponto de o nome do autor ter sofrido declinações,como a expressão “kafkiano”, para qualificar situações obscuras e desofrimento monumental. Kafka morreu na Alemanha em 1924.

Trecho de A metamorfose, de Franz Kafka.

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Randy GlasbergenTHE IDEAL EMPLOYEE

DesempregoTEXTO 21

Emprego e Trabalho • 55

“Loyalty and enthusiasm are the two things I value most in an employee. You’re hired!”

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• Emprego e Trabalho56

Rot ina do t rabalhadorTEXTO 22

É da calçada pro transporteDo transporte pro trabalho

Do trabalho para a morteA vida do operário

(...)

É da verdade pra mentiraDa palavra, conformação

Da notícia pro realPro rádio, pra televisão

É do morro para a ponteDo rio para o oceanoCorre o dia no Recife

Cidade dos meus enganos

(...)

DE DAR DÓComposição de

dj Dolores

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Acorda, João,Já passa das cinco.O relógio não pára, a vida não pára.É hora de ir para a vinte e cinco,Vender as mercadoriasQue, com os únicos centavos e tantos esforços, acabou de comprar.No corre-corre, no grita-grita:— Três por um real!João nem se dá contaQue, às suas costas,O policial durante a rondaLeva as mercadorias.João, e agora?E agora, João?Como comprará o leite da Gabriela,O pão do Pedro,A saia da Maria?E agora, João?Como pagará o aluguel ao seu Manuel?João, e agora?Os policiais ainda amarram os sacos.João volta.Não pode.João pega.Não dá!João é impedido.Não pode! Não pega! Não dá!Corre, corre agora?E o leite e o aluguel e a saia e o pão?Não posso, não dá.No corre-corre, no grita-grita,O único som: uma lágrima caindo...

Trabalho InformalTEXTO 13

Emprego e Trabalho • 57

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TEXTO 23

Publicado em www.dedic.com.br

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EMPREGO E DESEMPREGOE

mprego é a função e a condição daspessoas que trabalham, em carátertemporário ou permanente, em qual-

quer tipo de atividade econômica. Pordesemprego se entende a condição ou situa-ção das pessoas incluídas na faixa das “ida-des ativas” (em geral, entre 14 e 65 anos),que estejam, por determinado prazo, semrealizar trabalho em qualquer tipo de ativi-dade econômica.

Tipos de desemprego

Desemprego estrutural: característico dospaíses subdesenvolvidos. Explica-se peloexcesso de mão-de-obra empregada naagricultura e atividades correlatas e pelainsuficiência dos equipamentos de base quelevariam à criação cumulativa de emprego.

Desemprego tecnológico: atinge sobretu-do os países mais adiantados. Resulta dasubstituição do homem pela máquina e érepresentado pela maior procura de técni-cos e especialistas e pela queda, em maior

DesempregoTEXTO 24

• Emprego e Trabalho58

proporção, da procura dos trabalhos mera-mente braçais.

Desemprego conjuntural: também chama-do desemprego cíclico, característico dadepressão, quando os bancos retraem oscréditos, desestimulando os investimentos,e o poder de compra dos assalariados caiem conseqüência da elevação de preços.

Desemprego friccional: motivado pelamudança de emprego ou atividade dosindivíduos. É o tipo de desemprego demenor significação econômica.

Desemprego temporário: forma de su-bemprego comum nas regiões agrícolas,motivado pelo caráter sazonal do trabalhoem certos setores agrícolas.

Nos países capitalistas, a desocupaçãode 3% da força de trabalho é consideradanormal e só acima desse índice é que se falaem desemprego. Há quem considere essacota necessária ao desenvolvimento daindústria: afirmam que certa porcentagem

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40,0

9,1 7,6

Emprego e Trabalho • 59

BrasilRússia

Índia

TOP 3 DO DESEMPREGOde desemprego é salutar à economia, porconstituir reserva de mão-de-obra para aexpansão industrial.

Desemprego na América Latina

O potencial de mão-de-obra no conti-nente latino-americano está longe de seupleno aproveitamento. Na economia agro-pecuária há um desemprego disfarçado,difícil de calcular em termos estatísticos.Como nessa região do mundo coexistemformas de exploração da terra em regimesemifeudal e pré-capitalista, ocorre tam-bém o subemprego rural, decorrente daconcentração da propriedade da terra.

Calcula-se de 25% a 30% o potencialde trabalho perdido por meio do desem-prego e do subemprego.

A taxa de crescimento demográfico,bastante alta nos países menos desenvol-vidos, não é a principal causa de subutili-zação da força de trabalho. O problemase deve basicamente aos graves desequi-líbrios e inadequações nos sistemas eco-nômicos e sociais, entre eles a má distri-buição de renda.

Desemprego no Brasil

O Brasil tem 7,6 milhões de desempre-gados, segundo a Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílio de 1999 (PNAD-1999). Ele fica em terceiro lugar em núme-

Populaçãodesempregada,

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Lavanderia popular na Índia, país com maiornúmero total de desempregados no mundo.

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ro de desempregados no mundo. Acimadele estão a Índia, com quase 40 milhões, ea Rússia, com 9,1 milhões, segundo cálculofeito pelo economista Márcio Pochmann, daUnicamp. Em agosto de 2000, a taxa médiade desemprego foi de 7,15%. Esse cálculo éfeito pela Pesquisa Mensal de Emprego doIBGE nas seis principais regiões metropoli-tanas do país e serve como indicativo dataxa global do Brasil.

Esse problema se agrava ao longo dadécada de 1990. A taxa de desemprego,que era de 4,03% em agosto de 1991,chega a 7,80% em agosto de 1998. Nosprimeiros oito meses de 2000, a taxa é,em média, de 7,65%.

O fator que mais contribui para oaumento do desemprego é o baixo ritmode crescimento econômico do país. No pe-ríodo 1991-1999, a taxa média anual deincremento do PIB é de apenas 2,5%. Comisso, menos oportunidades de emprego sãocriadas. As crises externas, como o ataqueespeculativo na Ásia, em 1997, e a morató-ria da Federação Russa, em 1998, tambémcontribuem para o crescimento lento daeconomia brasileira.

Taxa de desemprego

A taxa de desemprego é uma porcenta-gem da População Economicamente Ativaque pode ser calculada com base em dife-

rentes metodologias. No Brasil, além doIBGE, a Fundação Sistema Estadual deAnálise de Dados (Seade) e o DepartamentoIntersindical de Estatística e Estudo Sócio-Econômicos (Dieese) medem a taxa dedesemprego. O IBGE utiliza o critério dedesemprego aberto, no qual somente as pes-soas que no período de referência estavamdisponíveis para trabalhar e realmente pro-curaram trabalho são consideradas desem-pregadas. O cálculo é feito com base emdados de seis regiões metropolitanas: SãoPaulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, PortoAlegre, Salvador e Recife. O Seade e oDieese — que realizam a pesquisa noDistrito Federal e nas regiões metropolita-nas de São Paulo, Porto Alegre, BeloHorizonte, Salvador e Recife — adotam ocritério de desemprego total, que englo-ba também o desemprego oculto. Nessacategoria estão aqueles que não procuraramemprego por desalento ou porque estavamexercendo um trabalho precário. Esses cál-culos levam a resultados muito diferentes.Na região metropolitana de São Paulo, porexemplo, enquanto o IBGE aponta em agos-to de 2000 uma taxa de desemprego abertode 7,55%, a Fundação Seade e o Dieese che-gam a uma taxa de desemprego total de17,7%.

Texto 24 / Desemprego

• Emprego e Trabalho60

Extraído do site www.renascebrasil.com.br/f_economia2.htm

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Emprego e Trabalho • 61

INDICADOR DE DESEMPREGO Quino

DesempregoTEXTO 25

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Orelatório anual da Organização Mun-dial do Trabalho (OMT) mostra queo alto crescimento do PIB, Produto

Interno Bruto (PIB) mundial, foi de 4,5%em 2005. Apesar disso, o número de desem-pregados no mundo todo aumentou em2,2 milhões.

Calcula-se que há 2,8 bilhões de tra-balhadores no mundo e que 6,3%, isto é,cerca de 170 milhões, estão desemprega-dos e que este número de 2005 para2006 aumentou.

O estudo mostra ainda que o crescimen-to da economia mundial não trouxe melho-rias significativas na renda da maior parteda população: dos cerca de 500 milhões detrabalhadores extremamente pobres quehavia no mundo no início de 2005 — (pes-soas que sobrevivem com o equivalente a 1dólar por dia), apenas 14,5 milhões tinhamconseguido superar a condição no final doano. Do total de 2,8 bilhões de trabalhado-res no mundo, metade ainda ganha menosdo que 2 dólares por dia — número que per-manece inalterado nos últimos dez anos.

2,2 milhões de pessoas perderam o emprego em 2005

DesempregoTEXTO 26

• Emprego e Trabalho62

Extraído da revista Desafios do Desenvolvimento – ano 3, nº 19,fevereiro 2006 – IPEA.

A ECONOMIA VAI BEM,MAS O TRABALHO…

Menos de US$1 por dia Desempregados

Menos de US$2 por dia Outros

TOTAL: 3 bilhões de trabalhadores

fonte: http://www.ilo.org/public/english/employment/strat/download/getb06en.pdfvalores aproximados

(cada unidade equivale a 30 milhões de trabalhadores)

Extraído do site www.ilo.org/public/employment/strat/download/getb06en.pdf (valores aproximados)

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No mundo do trabalho, a palavra damoda é “empregabilidade”. Exigem cadavez mais do empregado, que tem que fazerduzentos mil cursos pra ganhar uma mer-reca de salário.

Pois bem, um cara jovem, recém-casa-do e recém-formado, foi à sala do chefepedir aumento e já dizendo de cara:

— Chefe, acho que o senhor deveriaaumentar meu salário, pois já há três com-panhias atrás de mim.

O chefe ficou preocupado. Empre-gado só tem valor quando a concorrênciase interessa por ele.

O chefe nem ia discutir, ia dar o au-mento, mas, por curiosidade, perguntou:

— E você poderia me dizer quais são essas três companhias?

— Claro! A de telefone, a de água e a de luz!

PROCURA-SE EMPREGADO

Relações no t rabalhoTEXTO 27

Emprego e Trabalho • 63

Nem sempre é a concorrência que se interessa por seu funcionário

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Extraídos do blog:www.masquemario.blogspot.com/024024poesia_vm.htm

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ExpedienteComitê Gestor do ProjetoTimothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/UnitrabalhoDiogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do ProjetoFrancisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio TécnicoAdan Luca ParisiAdriana Cristina SchwengberAndreas Santos de AlmeidaJacqueline BrizidaKelly MarkovicSolange de Oliveira

Equipe PedagógicaCleide Lourdes da Silva Araújo Douglas Aparecido de CamposEunice RittmeisterFrancisco José Carvalho MazzeuMaria Aparecida Mello

Equipe de ConsultoresAna Maria Roman – SPAntonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SPArmando Lírio de Souza – UFPA – PACélia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SPEloisa Helena Santos – UFMG – MGEugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SPGiuliete Aymard Ramos Siqueira – SPLia Vargas Tiriba – UFF – RJLucillo de Souza Junior – UFES – ESLuiz Antônio Ferreira – PUC-SPMaria Aparecida de Mello – UFSCar – SPMaria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SPMaria Márcia Murta – UNB – DFMaria Nezilda Culti – UEM – PROcsana Sonia Danylyk – UPF – RSOsmar Sá Pontes Júnior – UFC – CERicardo Alvarez – Fundação Santo André – SPRita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SCSelva Guimarães Fonseca – UFU – MGVera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorialPreparação, edição e adaptação de texto: Editora Página Viva

Revisão:Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, Mônica Rodrigues de Lima, Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini

Edição de arte, diagramação e projeto gráfico: A+ Desenho Gráfico e Comunicação

Pesquisa iconográfica e direitos autorais: Companhia da Memória

Fotografias não creditadas: iStockphoto.com

Apoio

Editora Casa Amarela

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)

Emprego e trabalho / [coordenação do projeto

Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,

Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação

Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;

Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,

-- (Coleção Cadernos de EJA)

Vários colaboradores.

Bibliografia.

ISBN 85-296-0057-6 (Unitrabalho)

ISBN 978-85-296-0057-4 (Unitrabalho)

1. Emprego 2. Livros-texto (Ensino Fundamental)

3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.

II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna. IV. Série.

07-0388 CDD-372.19

Índices para catálogo sistemático:

1. Ensino integrado : Livros-texto :

Ensino fundamental 372.19

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