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Coleção Cadernos EJA - 06 Juventude e Trabalho

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Juventude e Trabalho

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A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que

gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda

não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um

sistema de educação que os acolha.

Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o

exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.

Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias

para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos

tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não

completaram o Ensino Fundamental.

Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta

de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que

ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,

valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.

Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o

1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da

abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.

A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com

a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea

de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-

dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.

A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-

trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-

do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC

Apresentação

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Sumário

TEXTO Subtema

1. Para quem não tem experiência Relicostumes 6

2. Cinco dias por dois 8

3. A fome do lobo Diversidades regionais 10

4. Formación y empleo Maturidade social 13

5. O jovem e o adolescente Miscigenação 14

6. O que é grafite? Crítica social 16

7. O primeiro emprego Trabalhadores 18

8. The british are coming! Cultura suburbana 20

9. Desempregado, sim, desocupado, nãoa luta dos negros 24

10. De norte a sul Ambiente de trabalho 26

11. O aprendiz Identidade nacional 31

12. Juventude rural: ampliando as oportunidades Ambiente de trabalho 32

13. O trem Índios do Brasil 34

14. O jovem e suas comprasImigração e culinária 37

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15. Deus-dará Direitos civis 38

16. Procura-se trabalho Origens dos trabalhadores 40

17. Primeiros passosÍndios do Brasil 44

18. Se liga, mano! 45

19. HIV e trabalho Olhos da alma 46

20. Para além dos ovos e tomates Arte culinária 48

21. Mudança de estiloArte culinária 50

22. Nada é impossível de mudarArte culinária 52

23. Soneto de juventude Arte culinária 53

24. Conselho nacional de juventude aprova por aclamação carta

sobre acessibilidade Arte culinária 54

25. Ensaio: Bruno Miranda Arte culinária 58

26. A redução só complica Arte culinária 60

27. A verdadeira dança do patinho Arte culinária 63

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Desemprego juveni lTEXTO 1

• Juventude e Trabalho6

PARA QUEM NÃO TEM EXPERIÊNCIA

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Pesquisas divulgadas pelo Depar-tamento Intersindical de Estatística eEstudos Socioeconômicos – DIEESE,

sobre emprego e desemprego, denunciamque os jovens representam 45,5% dosdesempregados, quase metade de todos osdesempregados do país.

Segundo o DIEESE, dos 3,2 milhões dedesempregados pesquisados nas regiõesmetropolitanas de São Paulo, Belo Hori-zonte, Porto Alegre, Salvador, Recife eDistrito Federal, 1,5 milhão são jovens deaté 24 anos.

A população economicamente ativacom mais de 16 anos é minoria entre osque conquistaram um posto de trabalho. Afase mais crítica compreende o períodoentre os 16 e os 24 anos. Justamente por-que é esta a fase da vida que coincide coma conclusão de uma formação e a busca deuma vaga no mercado de trabalho.

Sabemos que a necessidade de umacolocação no mercado de trabalho, muitasvezes, atrapalha e desestimula a continui-dade dos estudos, ampliando os númerosda evasão escolar.

Neste sentido, a pesquisa demonstra queos jovens trabalham com uma carga horária

acima do limite legal, colaborando para oafastamento dos bancos escolares. Além doque, o rendimento recebido pelos jovensvaria entre um e dois salários mínimos.

A falta de uma perspectiva profissionalpara os milhares de jovens brasileiros é umfator preponderante de desagregação so-cial e de aumento da criminalidade. Basea-dos nestes dados, concluímos que é precisofomentar a economia brasileira e gerar osempregos de que o país precisa.

Um dos maiores especialistas emdesemprego do país, Márcio Pochmann, emuma entrevista dada em 2000, já alertavasobre o assunto dizendo o seguinte:

“Como há pessoas disponíveis e não hávagas para serem ocupadas, isso gera umacirramento da competição no interior domercado de trabalho. Os postos de traba-lho que eram tradicionalmente ocupadospelos jovens estão sendo hoje ocupados poradultos. É por isso que as empresas dizemque o jovem não tem preparação.”

No mundo inteiro, hoje, temos omaior número de adolescentes de toda ahistória da humanidade. Por isso, preci-samos investir nos jovens, promover o seudesenvolvimento, criar perspectivas favo-ráveis para o seu futuro e apoiar suaparticipação integral na sociedade.

Desempregados de até 24 anosenfrentam dificuldades na horade entrar no mercado de trabalho

Juventude e Trabalho • 7

Paulo Paim

Adaptado de discurso pronunciado em 14 de setembro de 2006

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CINCO DIASCCCRhuna | Composição: Alex Martinho/Rafael de Castro

Carlos é um cara ocupado com a vida Que rala todo dia pelo pão de cada dia

E não tem tempo pra nada, só estudo e trabalhoCada hora é apenas mais uma volta do relógio

Que ele olha apressado pra ver se tá na hora da aula do cursinhoQue ele acredita possa trazer uma nova vida

E só deve trazer ainda mais agulhação

Mas quando chega o fim de semana é hora de tudo mudarPõe a camisa sem manga, expõe a tattoo e sai pra provocar

Ele vai arrepiarSe der mole quebra tudo, quer extravasar

Ela chega e vem pra provocarSai de baixo, ele não perdoa, chega junto

Oh, oh, oh, uh, oh, chega junto, fica junto, quebra tudo

Rot ina do jovemTEXTO 2

• Juventude e Trabalho8

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POR DOISS

Juventude e Trabalho • 9

Carolina só estuda o dia todo trancada no seu quartoO dia passa e nada faz ela olhar o sol"Eu preciso passar", pensa ela o tempo todoO stress e o sono não importamA hora corre mas ela nem olha pro relógioQuando nota o dia já se foiE amanhã vai ser tudo outra vez

Mas quando chega o fim de semana é hora de tudo mudarPõe a maquiagem, o vestido colado, e parte pra night pra provocar

As máscaras caem no fim de semanaÉ hora do show particular

Extraído do site: http://rhuna.letras.com.br/letras/513896/

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A FO

ME

DO L

OBO

Amãe me ligou desesperada. O filho estava preso naPapuda, um presídio em Brasília onde ficam os quecometem crimes os mais horríveis, aqueles que per-

deram os tênues fios que os laçariam para uma vida com-preendida, aceita por todos. Ah, aquele rapaz é bom, ele étrabalhador, ele não faz mal a ninguém, é pobre mas nãoincomoda! Ah, aquele ali é melhor que desapareça, quemorra! O rapaz tem cerca de 30 anos, mas é como se tives-se 100 anos, porque muito se gastou. A mãe, essa tem milanos (o outro filho caiu na droga, como viver num lugarassim e preservar os filhos?). Aos 20, o rapaz envolveu-se comuma gangue que roubava toca-fitas de carros. Mãe e filhosmoram na cidade-satélite do Guará, periferia de Brasília, guaráé o nome de um lobo, lindo, vermelho de pernas altas e negras,e seu uivo parece o grito de uma pessoa pedindo socorro. Umdia, a polícia bateu na casa daquela mãe atônita, sem recursosde nenhuma espécie, e encontrou no quarto do rapaz peçasroubadas. Ele foi preso, sofreu torturas na delegacia – arran-caram unhas das suas mãos e pés, diz a mãe, com a dor deuma madona, mas como se expiasse a culpa de ter um filhoerrado, de agressor ele passou a vítima, de mãe de um agres-sor ela se tornou a mãe de uma vítima. Foi bom para ele apren-der, ela diz, conformada. O filho foi para a prisão. Um rapazquieto, que nunca levanta a voz, com cara de sonso.

A polícia e a justiça transformam infratores em criminosos e vítimas

Risco soc ia lTEXTO 3

• Juventude e Trabalho10

Ana Miranda

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Como teve bom comportamento, deixaram que cumpris-se a pena em casa, e ele não se apresentou mais à Justiça,sendo considerado foragido. A mãe teve um longo e árduotrabalho para recuperar o filho, sem a ajuda de ninguém,só a do próprio filho. Com o tempo foram conseguindo. Ofilho não arrumava emprego em lugar nenhum, mas passoua vender cachorro-quente na porta de uma escola, a prepa-rar churrascos em sítios, ah, se os burgueses soubessem queo churrasqueiro era um “foragido”, e acabou por comprarele mesmo uma carrocinha de cachorro-quente, casou, tevefilhos, tornou-se um pai, um marido, um trabalhador. Hápouco tempo conseguiu afinal o dinheiro para seu sonho,que era comprar um carro. Encontrou um com preço ótimoe o comprou, mas, quando foi atrás dos documentos, soubeque o carro tinha problemas, talvez fosse roubado. Ele e amãe procuraram a mulher que lhes vendera o carro, eleexigiu o dinheiro de volta, mas a mulher negava que o carrofosse roubado e não quis desfazer o negócio. Ao passar poruma blitz numa das ruas de Brasília, o rapaz se lembrou de

Juventude e Trabalho • 11

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sua condição, e sem os documentos do carro apavorou-se,acelerou, tentou escapar. Perseguido pela polícia, detido,acabou numa delegacia. Foi bom para ele aprender, repetiua mãe. Constataram sua condição diante da Justiça e oenviaram para a Papuda. Então, a mãe me ligou.

Essa história é a história mais comum nas nossas peri-ferias. Com a diferença de que o rapaz foi recuperado paraviver na sociedade sem incomodar ninguém, tornou-se umapessoa útil. O mais comum é que os jovens se enredem cadavez mais na trama do crime, nesse submundo que permeiatodas as nossas classes sociais, mas principalmente noslugares onde os lobos gritam por socorro. Eu soube, diasatrás, que o rapaz conseguiu a prisão domiciliar e estánovamente vendendo seus cachorros-quentes e fazendochurrascos, vivendo com a família, mas dorme na prisão.Essa história faz pensar em quantos outros jovens devemestar em situação semelhante, com histórias de vida pare-cidas, mas sem alguém para lhes dar um oriente. Fiqueisabendo que existe em Brasília uma organização ligada adireitos humanos que trata desses casos, e com muitacompetência. Existe uma fronteira entre o criminoso e oquase criminoso, digamos assim, e é este último quem maismerece atenção e apoio, não somente as penas alternati-vas, mas um trabalho diário e extenuante, como o daquelamãe que aprendeu a conhecer a fome do lobo.

Texto 3 / R isco soc ia l

• Juventude e Trabalho12

Extraído da revista Caros Amigos nº 91.Ana Miranda é escritora, autora de Boca do Inferno, Desmundo, Amrik, Dias & Dias, Deus-dará, entre outros livros.

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Juventude e Trabalho • 13

El 27% de los jóvenes brasileñosentre 15 y 24 años que vive en lasgrandes regiones urbanas del país

no trabaja ni estudia, según encuestasrealizadas en las principales regionesmetropolitanas del país.

Muchas veces, a causa de la dificultadde encontrar un empleo, los jóvenes sedesaniman y dejan de buscar hasta que lasituación del país mejore. Otros puedenestar estudiando en casa o haciendo cursosesporádicos.

Una queja común consiste en larestricción del mercado de trabajo. Sininserción laboral posible, nunca se ten-drá la experiencia solicitada para acce-der a un empleo.

FORMACIÓN Y EMPLEO Un cuarto de los

jóvenes brasileños no trabaja ni estudia

Desemprego juveni lTEXTO 4

Extraído do site http://www.ilo.org/public/spanish/region/ampro/cinterfor/temas/youth/rec_dif/jov_bra.htm

GLOSARIO

Acceder. ter acesso a, alcançar algoEmpleo. empregoEncuesta. pesquisa de opiniãoHasta. atéLaboral. de trabalhoMejorar. melhorarNinguna. nenhumaQueja. queixa

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Embora muitas vezes tidas como si-nônimos, juventude e adolescênciatêm significados distintos, ainda que

superpostos.A Organização das Nações Unidas

(ONU) define como jovens as pessoas entre15 e 24 anos.

A Organização Mundial de Saúde(OMS) entende que a adolescência é umprocesso biológico, que vai dos 10 aos 19anos de idade, abrangendo a pré-adoles-cência (10 a 14 anos) e a adolescênciapropriamente dita (15 a 19 anos). Já ajuventude é considerada uma categoriasociológica que implica a preparação dosindivíduos para o exercício da vida adulta,abrangendo a faixa dos 15 aos 24 anos deidade. As diferenças entre adolescência ejuventude, portanto, não se limitam à

idade, mas aos conceitos, demonstrandoprocessos de naturezas distintas.

Mais comum ainda do que falar daadolescência e da juventude como a mesmacoisa é se referir indistintamente aos quevivem esses períodos como adolescentes oujovens. Como se observa em reportagens,em conversas informais e até mesmo emtextos teóricos. Também pode ser verifica-do nas definições encontradas no dicioná-rio Aurélio, por exemplo (veja boxe).

Embora a juventude possa ser conside-rada uma categoria social que agrupa osque compartilham a mesma fase de vida, épreciso ficar atento à multiplicidade deexperiências que se reúnem sob essa deno-minação. Será que podemos falar numamesma experiência juvenil vivida por umjovem morador do sertão nordestino, e por

Ser jovemTEXTO 5

• Juventude e Trabalho14

O JOVEM E O ADOLESCENTE

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Juventude e Trabalho •

Foto

:Xxx

xxxx

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Juventude - 1. Idade moça; mocida-de, adolescência, Juventa. 2. a gentemoça; mocidade. 3. fase do ciclo deum lago na qual este recebe mais águado que perde e por isso tem maiorduração.

Adolescência - 1. 0 período da vidahumana que sucede à infância, come-ça com a puberdade, e se caracterizapor uma série de mudanças corporaise psicológicas (estende-se aproxima-damente dos 12 aos 20 anos).

Jovem - 1. Que é moço, que está naidade juvenil; juvenil. 2. produzido oucriado pelos jovens, pela juventude. 3.diz-se do animal de tenra idade.

Adolescente - 1. Que está na adoles-cência. 2. Fig. Que está no começo, noinício; que ainda não atingiu todo ovigor. 3. De pouco tempo; novo: "Plan-tei, com a minha mão ingênua emansa, / Uma linda amendoeira ado-lescente". (Raul de Leoni, Luz Medi-terrânea, p. 65). 4. Próprio do adoles-cente: "D. Camila prolongou, quantopôde, os vestidos adolescentes dafilha." (Machado de Assis, Históriassem data, p. 122). 5. Pessoa que estána adolescência.

Extraído do site: http://www2.uol.com.br/aurelio

Extraído do livro Diálogos com o mundo juvenil / Ana PaulaCorti e Raquel Souza / Ação educativa, 2005

Segundo o mestre

um jovem que reside num grande centrourbano? Certamente não.

A classe social, a condição étnica e degênero, a presença ou não no mercado detrabalho e na escola, a moradia – urbanoou rural – a situação familiar e a orientaçãoreligiosa são fatores que vão diferenciandointernamente esse grupo que chamamos dejuventude. Afinal, dois jovens negros, porexemplo, que possuam diferentes condiçõeseconômicas terão provavelmente experiên-cias juvenis muito diferentes.

Por isso, ao falar das experiências devida juvenis propriamente ditas, é precisoreconhecer uma multiplicidade – o que nosleva a falar de juventudes, no plural.

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?Cultura juveni l

TEXTO 6

• Juventude e Trabalho16

O QUE É GRAFITEA arte que embeleza ou enfeia as cidadestem origem na antiguidade

Para muitos, o grafite é apenas uma"pichação evoluída". Para outros, éuma arte urbana. O fato é que ele está

presente em diversas partes da cidade:banheiros públicos, fachadas de edifícios,muros, casas abandonadas, ônibus, metrô,orelhões, postes, monumentos públicos eoutros lugares expostos.

A palavra grafite tem origem na Itáliae significa "escrita feita com carvão".

Os antigos romanos escreviam assim,com carvão, manifestações de protesto, oude qualquer outro cunho nas paredes dasconstruções. Alguns desses grafites ainda

podem ser vistos em sítios arqueológicosespalhados pela Itália.

No final da década de 1960, jovensdo Bronx, bairro de Nova York, (EUA),restabeleceram essa forma de arte usan-do tintas spray. O grafite seria uma dastrês manifestações artísticas do hip-hop,movimento nascido nos guetos ameri-canos que reúne outras duas modali-dades: o rap e o break.

Os artistas do grafite costumavamescrever os próprios nomes em seus traba-lhos ou chamar a atenção para problemasde ordem política ou questões sociais.

Grafite: Os Gêmeos – Foto: Ruy Fraga

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No Brasil, as críticas ao grafite sedevem às pichações de fachadas, monu-mentos, igrejas, e mesmo de residências.Para reverter esse problema, algumas ci-dades estão convidando artistas do grafitea participar de projetos que visam em-belezar os locais públicos. Por exemplo, aUniversidade de São Paulo (USP) decidiuorganizar a primeira cooperativa brasi-leira de grafiteiros, muitos deles ex-picha-dores. O objetivo é profissionalizá-los comorientação de professores de artes plásti-cas e designers, de forma a exibirem seustrabalhos em painéis e muros especial-mente destinados a esse fim.

Juventude e Trabalho • 17

Extraído e adaptado do site:http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/desenhista/grafite.html

Pode-se dividir o grafiteem seis modalidades:

Grafite 3D: desenhos concebidos a par-tir de idéias visuais de profundidade, semcontornos. Exige domínio técnico do grafi-teiro na combinação de cores e formas.

WildStyle: tem o formato de letras dis-torcidas, em forma de setas, que quasecobrem o desenho.

Bomber: são letras gordas e que pare-cem vivas, geralmente feitas com duasou três cores.

Letras grafitadas: incorporação dastécnicas do grafite à pichação. As letrasgrafitadas representam a assinatura dogrupo.

Artístico ou livre figuração: nesseestilo vale tudo: caricaturas, perso-nagens de história em quadrinhos, figu-rações realistas e elementos abstratos.

Com máscaras e spray: facilita a rápi-da execução e disseminação de umamarca individual ou de grupo.

Grafite: Binho – Foto: Ruy Fraga

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Renato Pompeu

Segundo as estatísticas governamentais,os jovens que nunca tiveram um em-prego, mas que estão à procura de um

lugar no mercado de trabalho, constituemhoje em dia no Brasil a faixa da populaçãoem que há maior proporção de desempre-gados. Pois, para ser considerado desempre-

PRIMEIROEMPREGO

Como conseguir um primeiro emprego, quando, naturalmente,não se tem experiência?

Desemprego juveni lTEXTO 7

• Juventude e Trabalho18

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gado, não basta não ter emprego: é precisotambém estar procurando um. E nas gran-des cidades se contam às centenas de milha-res, senão aos milhões, os jovens que estãoprocurando seu primeiro emprego.

A primeira dificuldade que esses jovensencontram é que, por definição, não têmnenhuma experiência de trabalho. E, na filados desempregados candidatos a cadaemprego, sempre haverá, na atual situaçãodo País, uma ou mais pessoas que tenhamexperiência em atuar no serviço para o qualhá vagas. Ao contrário do que poderia pare-cer à primeira vista, fica mais fácil umapessoa mais velha conseguir um empregodepois de ter perdido outro, do que umapessoa mais nova conseguir um empregopela primeira vez.

Um dos conselhos que são dados aoscandidatos ao primeiro emprego é queprocurem aperfeiçoar ao máximo a suaformação. Se estão no curso secundário,devem procurar formar-se num dos nume-rosos cursos profissionalizantes oferecidospor entidades do comércio e indústria e porramos específicos, como a hotelaria e odesign. A formação profissional especializa-da pode suprir a falta de experiência detrabalho, reforçando a situação do candi-dato no caso de ele procurar empregonuma área para a qual está especificamen-te qualificado.

Se, porém, os candidatos ao primeiroemprego estão fazendo curso superior, oideal é que busquem formar-se como mes-tres e como doutores e que aperfeiçoem osseus conhecimentos de línguas estrangei-ras – quanto mais títulos a pessoa acumu-lar, maiores serão suas chances, principal-mente nas maiores e melhores empresas,mais exigentes em matéria de qualificação.

Deve-se estar atento para os empregosoferecidos em anúncios de jornais, inclusi-ve os jornais de menor expressão, como osjornais de bairro. Deve-se enviar currículosbem-feitos e atraentes para todos os canaispossíveis e imagináveis, inclusive pelaInternet. Mas aqui é preciso tomar cuida-do. Existem empresas que cobram paraarmazenar currículos, alegando que osdivulgam junto aos departamentos respec-tivos das firmas empregadoras, numaverdadeira “bolsa de empregos”. Nemtodas essas empresas, entretanto, cumpremo que prometem. É mais sensato dirigir-seàs próprias firmas empregadoras, ou aosserviços governamentais e sindicais decolocação. Acima de tudo, jamais desistir:insistir sempre em procurar o primeiroemprego, até alcançá-lo.

Renato Pompeu é escritor e jornalista

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Cultura juveni lTEXTO 8

THE BRITISH

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Piers Grimley Evans

In the 1960’s an enormous quantity offoreign bands making success in Americawas known as “the British invasion”.

Today, the trend has reversed. WhileAmerican bands occupy a large part of theUK pop market, this year – for the first timesince 1963 – there were weeks without anyBritish artist listed in the US top 100. But anew style of dance music, UK Garage, couldchange things. In the competitive arena ofurban music, it has triumphed over trans-atlantic competition and is currently pre-pared for global success. Timmi Magic, 1/3of the influential group of DJs and produc-ers, the Dreem Teem, explains the reason:

Timmi Magic: In the last two years,we’ve had top tens, number ones andthere’s been a variety of styles that havechanged from basic club music to some-

thing really popular. And I’m sure the restof the world will like it. If they like vocals,there’s vocals there, if they like instrumentslike bass there’s bass line, you know. SoI’m sure that the rest of the world is goingto like it. Now it’s already in Europe. Youcan hear UK Garage in Amsterdam, inSwitzerland, Belgium, places like that, youknow, where people like night clubs. So,you know, that’s a start out of England butwe expect to go to more and more countriesand continents.

The Cyprus Sound

The fast beat, big vocals and heavy basslines of UK Garage were first heard in 1996on the events of innovative DJs like theDreem Teem. An underground scene,sustained by illegal pirate radio stations,then popularized from London to majorcities around Britain. By the start of 2000,it was regularly in the clubs and manypeople went to Cyprus every summer toenjoy garage at the vast clubs of Ayia Napa.

Juventude e Trabalho • 21

The rediscovery of the garage music: the elegant andaggressive sound that is beating in the British night clubs

ARE COMING!

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The music is a mix of House, R&B andDrum’n’bass. The attitude, explains SimonLong, the music manager at London radiostation, Kiss 100 FM, is new and distinctive.

Simon Long: It’s an urban experience.It’s an urban attitude. It’s lots of differentcultures together, lots of different musicalstyles together, people with different inter-ests, it’s not important if it’s drum’n’ bass,ragga, reggae. It’s a predominantly blackexperience. The attitude is very urban. It’svery aspirational too, because people areinterested in this music and the DJs like todress in nice clothes, fashion, etc. This wasnot common before. You know, you seepeople going to clubs in suits and theydrink the most expensive champagne. It’scalled “The Bling Bling,” you know. It’s allabout the gold and the flashy jewellery andit’s all about image. So I would say that’sthe attitude. It’s streetwise. It’s sassy. Inthat, it’s very exhibitionist too.

Not So Solid

In 2002 UK Garage has a higher profilethan ever, but it has also attracted a lot ofcontroversy, with the explosive arrival of 30south London garagists named The SoSolid Crew. Until they appeared, UK Garagehad more melodic pop music. The lyrics, inthe words of Timmi Magic, were about“getting out on the dancefloor”. The SoSolid Crew produce less melodic music andmuch darker lyrics. One track includes theexpression “to beat your ass up and takeyou to the morgue”. There are rumours ofa division in UK Garage and of hostilitybetween successful artists and a confronta-tional younger generation. Timmi Magicsays it is not true, although he has somereservations and critics about The So SolidCrew as a Garage group:

Timmi Magic: We’ve always believedthat any music that’s in the name of UKGarage, or anything that we can play on the

Texto 8 / Cul tura juveni l

• Juventude e Trabalho22

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dance floor, we’re going to support. Somepeople say, “You know, that the music TheSo Solid produces isn’t really UK Garage.It’s more like UK Hip-hop”, and I sometimesagree, because the elements that webelieved were garage (US Garage, UKGarage and others), are the vocals andmelodies, but these songs have morerhythm and breaks and rapping, and thatis more related to the hip-hop category. Soyou never know, maybe it is the evolutionof a new type of music. Only time can tellif UK Garage is going to be remembered asa goodtime dance music, or as somethingdarker. The British record industry hopesthat young people will be hearing a lotmore of both, particularly, of course, inAmerica.

Juventude e Trabalho • 23

Extraído do sitehttp://speakup.ig.com.br/stories_b/183_garage.shtml

GLOSSARYArrival. chegadaBass. contra-baixoBeat. batida, ritmoConfrotational. agressiva.Currently. atualmenteGetting out on the dancefloor. soltar-se napistaLyrics. letra.Morgue. necrotérioSassy. atrevida.Streetwise. com conhecimentos da ruaTrend. tendênciaThe flashy jewellery. jóias reluzentesTo beat your ass up. "quebrar sua cara"

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Para quem ainda acha que ter traba-lho é ter emprego, a explicação deVerônica Sá, 18 anos, é curta e clara:

“Trabalho é tentar se organizar de formacriativa para atuar economicamente nasociedade”. Com isso, ela demonstra quehá pelo menos uma parte da juventudebrasileira que não é apenas produto (ouvítima) da era do “fim do emprego”.

Jovens como Verônica também consi-deram-se agentes, com direito de optar ecriar novas formas de trabalho, nas quais aatividade profissional também proporcioneconhecimento e prazer. Parece discurso dequem tem ótimas condições econômicas e,teoricamente, não são pressionados pelanecessidade de ganhar dinheiro. Mas, para

a socióloga Lívia de Tommasi, coordenado-ra do projeto Rede de Juventude, que atuano Nordeste do Brasil, a separação entretrabalho e emprego e a visão de que traba-lho deve proporcionar prazer é comum aosjovens de todas as camadas sociais, mesmoas mais pobres. “Eles querem trabalho, sim,não só por causa da necessidade do dinhei-ro, mas também para crescimento pessoal.Quando peço para que definam trabalhocom uma palavra, um adjetivo, o que ouçomuito é ‘prazer’, ‘satisfação’, ‘compromisso’.”

Por que a gente tem de trabalhar? Muita gente acha que é para ter uma

participação ativa na sociedade. E acreditanos princípios do trabalho solidário comouma nova forma de participar, de intervirno meio em que vivemos, na comunidade.É o que Verônica Sá pensa e faz: no grupo

DESEMPREGADO,SIM,

DESOCUPADO,

NÃOA iniciativa pode criar ocupações

produtivas quando o mercadoformal se fecha.

Empreendedor ismo TEXTO 9

• Juventude e Trabalho24

Iara Biderman

Foto Valéria Gonçalvez / AE

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Juventude e Trabalho • 25

Conexão Solidária, do Liceu de Artes e Ofí-cios da Bahia, ela aplica os seus princípios.Estudante de relações públicas, acha que afaculdade que cursa está muito voltadapara a área empresarial, e procura, em seutrabalho, romper com as barreiras.

“Por que a gente tem de trabalhar?Para ter uma participação economicamenteativa na sociedade. O trabalho solidário éuma nova forma de participar”, diz.

Para Verônica, o Conexão é um espaçoonde ela pode fazer o que gosta, da manei-ra que acredita ser a melhor. Esse prazer noque faz a ajuda a encarar horários extrasaos sábados, domingos, às vezes, noiteadentro. “Meu trabalho e minha vida pes-soal estão misturadíssimos, não sei ondecomeça um e termina o outro”, diz. Essamistura é típica dos jovens que podem estardesempregados, mas nunca desocupados.

Operário da criação

Conciliar períodos de muito trabalhocom épocas de quase nada também écomum. “Meu trabalho é prazeroso, mas hámomentos em que me sinto um operário,tenho de criar e produzir direto. Mas tam-bém, quando quero, fico em casa. 0 empre-go formal me impediria isso”, diz o artistaplástico Roberto Carlos Pereira, o Bessa,de 25 anos, que tem um ateliê de bonecosna cidade de Olinda, em Pernambuco.Bessa conta que tirou sua carteira de traba-lho aos 16 anos, mas nunca a usou. “Sóentraria em um emprego se fosse algo emque acreditasse.”

E se não for artista?

Nem todo mundo vai ser artista, nemeste pode ser o único caminho. Porém, ummisto de trabalho solidário, criativo e dequalidade pode ser um ótimo caminho. Ocoletivo Êxitos D'Rua, de Recife, por exem-plo, aproveita o talento dos jovens paracriar oportunidades de trabalho. Utilizatécnicas de grafitagem, por exemplo, paraproduzir camisetas, capas de CD, ou paraanunciar shows. Com isso, seus jovens ecriativos trabalhadores também podemmanter uma loja solidária, onde cada umcoloca os seus produtos de forma que todospossam comprá-los.

Extraído da revista Onda Jovem – Ano I, no 2, jul/05 Instituto Votorantim

Aerógrafos da ONG Revolucionarte pintamo túnel que liga a Avenida Dr. Arnaldo a

Avenida Paulista, em São Paulo. Na foto,Edmilson Barbosa (21 anos) pinta a obra

"Casamento na Roça", de Cândido Portinari

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Um estilo quase musical queserve de veículo a textos em

geral libertários e de protesto

Cultura juveni lTEXTO 10

• Juventude e Trabalho26

DE NORTE

A SUL

Grafite: Titi Freak – Foto: Ruy Fraga

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Não tem mais volta: a tendência émesmo a expansão do movimentohip-hop. Com ajuda do poder pú-

blico, o movimento ganha força maisrápido; se tiver espaço na mídia, aí nemse fala. No entanto, parece que, se nãotiver ajuda de nenhum dos dois, o pessoalse articula e acontece mesmo assim.Achamos o movimento hip-hop em todasas regiões brasileiras.

NORDESTEO Nordeste está bem organizado politi-

camente. É em Teresina, por exemplo, quefica a sede do MHHOB (Movimento Hip-Hop Organizado). A sede, chamada Centrode Refêrencia da Cultura Hip-Hop, é o maiorespaço dedicado à cultura no país. Lá acon-tecem oficinas de MC, a produção de umfanzine e até um pré-vestibular para negros.

Em Recife, o pessoal também está acada dia mais organizado. O movimentocomeçou a crescer em 2000 e hoje existea Associação Metropolitana de Hip-Hop,que une todos os grupos locais. Galo deSouza, referência do hip-hop pernambu-cano pela sua atuação política, diz que a

associação pensa ações para estruturar ohip-hop na região.

Em Salvador, a infra-estrutura é frágil– os shows acontecem em praças e nasescolas – e faltam equipamentos para osDJs e informação sobre o rap de outrosestados. Mas o movimento vem crescen-do e hoje se ouve o freestyle – rima deimproviso – na saída das escolas, nosintervalos de aulas e até em pontos deônibus. A batida costuma misturar ele-mentos da cultura negra, é o hip-hop afro,como faz o grupo Quilombo Vivo, deAmaralina, em Salvador, que misturacapoeira e candomblé em suas músicas.Outros grupos representativos são: FúriaConsciente, Quilombahia, DGS, SimplesRap’ortagem, Juri Racional, Lica, OsAgentes, Anjos da Rima e Jr-junior.

Em São Luís, a miscelânea é comelementos do folclore, em uma combina-ção de rap com tambor-de-crioula e comtambor-de-minas. O Clã Nordestino, grupode São Luís, fez uma batida na músicaToada do Clã que começa com cantoria debumba-meu-boi, passa para a batida do rape volta para o bumba-meu-boi: uma mistu-ra verdadeiramente original. Eles tambémmisturam rap com maracatu. Lamartine, doClã, explica que a influência é inevitável.

Juventude e Trabalho • 27

Júlia Contier

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“A gente se criou ouvindo tambor noterreiro das nossas casas, ouvindo cantiga,ouvindo ladainha, até porque a gente veiodo interior do estado, então essa convivên-cia com o tambor-de-crioula e o bumba-meu-boi é natural”.

NORTEO Norte do Brasil também está arti-

culado e unido. Há mais de um anoformou-se a rede Movimento Hip-Hop naFloresta ou MHF, filiada ao MHHOB. OMHF funde a ideologia hip-hop comconceitos ecológicos para fortalecer acultura amazônica. Tem MHF no Pará,Amapá, Acre, Rondônia e Amazonas. Emjulho, vai acontecer um encontro chama-do Ritual do Hip-Hop da Floresta, em Rio

Branco – vai durar uma semana e definiras diretrizes do movimento, estabeleceruma agenda e agilizar os projetos.

Preto Michel, representante do MHFno Pará, diz que os grupos costumamcantar os problemas de cada região. EmBelém, o grupo MBC fez uma músicasobre o massacre de Eldorado dos Cara-jás; um grupo de Macapá fala da pororo-ca, o encontro do rio com o mar; e em RioBranco e Roraima a temática das quei-madas é bastante presente.

O movimento valoriza a cultura ama-zônica, as tribos indígenas, os quilombolase as populações ribeirinhas. Por isso, emManaus misturam rap com bumba-meu-boi. Em Macapá, misturam com o mara-baixo, som percussivo das comunidades

Texto 7 / Cul tura juveni l

• Juventude e Trabalho28

O grupo de rapRacionais mantém

um núcleo de apoioà juventude no

bairro proletário deCapão Redondo,

na periferia de São Paulo.

Foto

:Viv

i Zan

atta

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quilombolas. Nesta cidade, o que chamaatenção é o número de grupos: apenasnove. Além disso, tem três grafiteiros, quelutam por reconhecimento e apoio.

CENTRO-OESTE“O rap aqui é do pé rachado.” Foi assim

que o MC Letal, da banda goiana Teste-munha Ocular, definiu o rap de lá, ou seja,um rap de raiz, da terra. Eles misturam ogênero com a congada, catira, folia de reis,moda de viola. O movimento é um poucodividido, não tem sede, e as bandas sãopoucas; mas não fica fora de cena.

Já o pessoal de Brasília parece prio-rizar mais as letras do que a batida. “Osrappers se preocupam demais em retrataro cotidiano violento e se esqueceram damusicalidade, o que prejudicou a recep-tividade em outras regiões do país”, diz ajornalista e dançarina de break BiancaChiaviatti. Mas a receptividade emBrasília é grande, já que a cidade compor-ta grandes festivais, como o Abril proRap, que existe há quatro anos – porém,só em 2005 é que o graffiti e o breakganharam espaço. Os grupos de rap emevidência são: Vadios Loucos, AtitudeFeminina, Veronika e Código Penal.

SUDESTENo Rio de Janeiro e em São Paulo

perde-se a conta de quantos grupos e orga-nizações existem. Descobrimos até articu-

lações no Vale do Paraíba, em São Paulo,onde o hip-hop está presente em todas asperiferias, embora de maneira desorganiza-da e desarticulada ainda. Em Jacareí, jáexiste a Associação Cultural e EducacionalNego Prettu – em vias de se tornar umaOSCIP (Organização da Sociedade Civil deInteresse Público). Lá funciona um Centrode Juventude onde acontecem diversas ofi-cinas. Recentemente, em São José dosCampos, a Câmara Municipal aprovou umprojeto de lei que cria a Semana Hip-Hop,que vai acontecer sempre em junho. A partemusical tem muita influência da capital deSão Paulo, tanto na batida como com letras.

Como em São Paulo, a cultura hip-hopinvadiu Belo Horizonte através do break.A dança chegou à cidade com filmes comoBreak Dance, ao qual os jovens assistiammuitas vezes para aprender os passos; de-pois se reuniam em espaços públicos paramostrar o que já sabiam. Uma curiosi-dade: como os b.boys se instruíam pelatela, acabavam invertendo as posições –dançavam espelhado. Essa característica,mais a mistura com a capoeira, resultouem um estilo próprio da região. O rap,hoje em dia, é o elemento com mais visi-bilidade em Belo Horizonte, mas o graffitié o elemento que mais cresce, com amploapoio do governo local.

A antropóloga Júnia Torres conseguiulistar mais de trezentos grupos de rap emsua dissertação de mestrado para a Federal

Juventude e Trabalho • 29

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de Minas Gerais. Entre os de maior des-taque estão A Fuga, Retrato Radical e NUC– Negros da Unidade Consciente, que mis-tura no seu rap samba e cantiga de roda,além de levar para o palco apresentaçõesde capoeira.

SUL

Parece que em Porto Alegre o hip-hopestá bem ligado ao PT, que ajudou o movi-mento durante seus anos de governo. OBazi, da banda Da Guedes, de Porto Alegre,revela: “Ganhamos um programa de tele-visão, o Hip-Hop Sul, do PT, há alguns anosatrás, porque o hip-hop gaúcho se aliou aopartido para auxiliá-lo na campanha. Emtroca, disseram que gostariam de ter umespaço melhor e acabaram tendo”. Mas eagora que o PT não é mais governo? “Agoranão tinha mais como tirar isso da gente. Oespaço já está conquistado.” O fato é que ohip-hop se expandiu em todas as classessociais. Tem muita gente fazendo rap emPorto Alegre – Nitrodi, Odisséia, Depen-dentes, Manos do Rap, Polêmica... são maisde sessenta grupos. O que prevalece nasletras é a situação da periferia em geral.Poucas letras falam da raça negra especifi-camente, já que em Porto Alegre a maioriada população é branca.

Em Curitiba, o movimento tambémcresceu depois que conquistou um espaçomaior na mídia – hoje há três programas derádio destinados ao do público rap. Os inte-grantes da banda Consciência Suburbanacontam que o movimento está se profissio-nalizando, mas tende para a polarização:enquanto alguns assumem o discurso políti-co-social, que eles chamam de “rap raiz”,com trabalhos que levam o hip-hop para asescolas e para as comunidades, outrosfazem o rap underground, mais dançante ecom temas mais alegres.

Em Florianópolis, o hip-hop aindaengatinha, como diz o grafiteiro Laídio, masjá conquistou muito espaço. Existem algu-mas organizações como a CH2F (ConexãoHip-Hop Floripa), Nação Hip-Hop e Hip-Hop Rua. O Nação Hip-Hop faz o Cinemana Favela, promovendo mostras de filmesnacionais e, depois da exibição, debatescom alguns atores dos elencos. MV Billcostuma aparecer por lá, pois essa organi-zação é filiada à Cufa – Central Única dasFavelas. As outras organizações tambémdesenvolvem trabalhos sociais, com oficinassobre a cultura hip-hop.

Texto 10 / Arte em evolução

• Juventude e Trabalho30

Julia Contier é estudante de jornalismo.Extraído da revista Caros Amigos, Edição especial Hip-Hop Hoje

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Juventude e Trabalho • 31

Renato Pompeu

No Brasil, pelo menos na letra da lei,não é permitido que uma pessoacom menos de 16 anos exerça

emprego. Mas a Lei do Aprendiz, sancio-nada em 2000 e regulamentada em 2005,permite que, a partir de 14 anos, se façamcursos profissionalizantes, nos quais a pes-soa pode ficar até completar 24 anos (se apessoa sofre de alguma deficiência, podecontinuar como aprendiz depois dos 24anos de idade.

A cada contrato de aprendizagem, quetem de ser por escrito e não pode ter prazode mais de dois anos, o empregador se com-promete a instruir o aprendiz em tarefasespecíficas, adequadas para as característi-cas dos jovens, e o aprendiz se comprometea cumprir as tarefas que lhe são designadas.O contrato deve ser registrado na Carteirade Trabalho do Aprendiz, que, além do trei-no profissionalizante, deve freqüentar tam-bém o ensino fundamental até o fim.

Quem dá as aulas? O Artigo 8.o daRegulamentação da Lei do Aprendiz apre-senta as entidades qualificadas:

Art. 8o Consideram-se entidades quali-ficadas em formação técnico-profissionalmetódica:

I - os Serviços Nacionais de Aprendiza-gem, assim identificados: a) Serviço Nacional de AprendizagemIndustrial – SENAI; b) Serviço Nacional de AprendizagemComercial – SENAC; c) Serviço Nacional de AprendizagemRural – SENAR; d) Serviço Nacional de Aprendizagem doTransporte – SENAT; e e) Serviço Nacional de Aprendizagem doCooperativismo – SESCOOP; II – as escolas técnicas de educação,inclusive as agrotécnicas; e III – as entidades sem fins lucrativos, quetenham por objetivos a assistência aoadolescente e à educação profissional,registradas no Conselho Municipal dosDireitos da Criança e do Adolescente.

Os dados estão aí; agora cabe a cadaum decidir se vai ser aprendiz.

Renato Pompeu é escritor e jornalista

É proibido trabalhar antes dos16 anos, mas se pode aprendera trabalhar desde os 14

Jovens aprendem mecânica em curso

profissionalizante do SENAI

O APRENDIZ

Pr imeiro empregoTEXTO 11

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Jovens no campoTEXTO 12

• Juventude e Trabalho32

Fixar o homem ao campo: poucas ex-pressões são tão populares e, ao mes-mo tempo, nocivas a uma política de

desenvolvimento rural capaz de mobilizaras melhores energias da juventude. "Époste, e não gente, que fica parado num sólugar", gostava de dizer o saudoso JoséGomes da Silva, nome emblemático da lutapela reforma agrária no Brasil. E em ne-nhum outro momento da vida a mobilida-de, o desejo de viver novas experiências ecorrer riscos são maiores que na juventude.Além de traço característico da juventude,o impulso para a inovação é evidentementeútil para a sociedade como um todo.

Inovações projetadasPara que a propensão dos jovens à ino-

vação se realize, entretanto, é necessárioum ambiente social que estimule o co-

nhecimento e favoreça que as novas idéiastenham chance de se tornar empreendi-mentos. Uma das maiores doenças denosso tempo está exatamente na incapa-cidade de as sociedades contemporâneasoferecerem perspectivas para que a inova-ção se concretize em projetos – privadosou sociais – construtivos.

Para isso, o mais importante é que odestino dos jovens não esteja traçadodesde seu nascimento, como fatalidade.Ora, o pressuposto da tão propalada "fixa-ção do homem ao campo" é que não hámelhor caminho para os jovens rurais quesua transformação em agricultores. Hádois equívocos nessa suposição.

As sementes da evasãoEstudos mostram que parte importan-

te dos jovens vivendo hoje em estabeleci-

JUVENTUDE

RURAL:AMPLIANDO AS OPORTUNIDADES

Ricardo Abramovay

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mentos agropecuários – e a grande maio-ria das moças, em especial – não desejaseguir a profissão dos pais. O trabalho li-mita-se ao oeste de Santa Catarina, mas écertamente representativo: mesmo em umadas regiões em que a agricultura familiartem maior expressão social e econômicano país, um terço dos rapazes e quase doisterços das moças declaravam não querercontinuar vivendo em estabelecimentosagropecuários.

Agricultores pluriativos

Uma política de desenvolvimento ruralvoltada para a juventude não pode limitar-se à agricultura. Os futuros agricultoresserão cada vez mais pluriativos, suas ren-das dependerão da agricultura, mas tam-bém de outras atividades. Quanto mais osjovens estiverem preparados para essasoutras atividades – entre as quais se desta-cam as voltadas à valorização da própriabiodiversidade existente no meio rural –maiores suas chances de realização pessoale profissional. Além disso, nas regiões ru-

rais não vivem apenas agricultores. Não sepode ignorar esta realidade elementar ehoje sobejamente conhecida: o meio rural émuito maior do que a agricultura.

Uma verdadeira política de desenvol-vimento rural deve associar uma educa-ção de qualidade e estímulo para proje-tos inovadores que façam do meio rural,para eles, não uma fatalidade, mas umaopção de vida.

A política deve contemplar igualmenteos jovens rurais que não querem ser agri-cultores, mas gostariam de permanecer emsuas regiões de origem, valorizando seuscírculos de amizade, contribuindo para osurgimento de novas atividades e evitando,na prática, a falsa oposição entre a mono-tonia e a pobreza da vida interiorana e osconhecidos problemas das periferias dasgrandes cidades.

Ricardo Abramovay é professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Programa de Pós-Graduação emCiência Ambiental da USP - Pesquisador do CNPq -Organizador de Laços Financeiros na Luta contra a Pobreza(Annablume/FAPESP, 2004) Extraído de http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/

Foto

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al C

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cant

e / A

E

Juventude e Trabalho • 33

Cortadores decana de Guaíba,região de RibeirãoPreto – SP, estãoabandonando o trabalho porcausa dos baixossalários do setor.

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O TREMRot ina do jovem

TEXTO 13

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Realidade é muito tristeMas é no subúrbio sujismundoO submundo que persiste o crimePegar o trem é arriscadoTrabalhador não tem escolhaEntão enfrenta aquele trem lotadoNão se sabe quem é quem, é assimPode ser ladrão, ou não,Tudo bem se for pra mimSe for polícia fique esperto ZéPois a lei dá cobertura pra eleTe socar se quiserO cheiro é mau de ponta a pontaMas assim mesmo normalmenteO que predomina é a maconhaE aos milhares de todos os tiposDe manhã, na neurose, comoPode ter um dia lindoPortas abertas mesmo correndoLotado até o teto sempre estáMeu irmão vai vendoNão dá pra agüentar, simÉ o trem que é assim, já estive, eu sei, já estiveMuita atenção, essa é a verdadeSubúrbio pra morrer, vou dizer é moleSubúrbio pra morrer, vou dizer (é mole)E agora se liga, você pode crer (é pra gravar, tá ?)Todo cuidado não basta, porque (um toque)

Crônica da arriscada viagem de todo dia nos trens de subúrbio

Composição: Rzo

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Juventude e Trabalho • 35

Subúrbio pra morrer, vou dizer (é mole)Confira de perto, é bom conhecer (é mole)E agora se liga, você pode crer (é pra gravar, tá ?)Todo cuidado não basta, porque (um toque)Subúrbio pra morrer, vou dizer...Todos os dias mesma genteÉ sempre andando, viajando,Surfando, mais a mais não temeVários malucos, movimento quenteVários moleques pra vender,Vêm comprar, é aqui que vendeQuem diz que é surfista, éEntão fica de pé, boto mó fé, assim que éSe cair vai pro sacoMe lembro de um irmão, troço chatoSubia, descia por sobre o trem, sorriaVinha da Barra Funda há dois anos todo diaEm cima do trem com os manosSurfistas, assim chamados são popularmenteSe levantou e encostou naquele fio,Tomou um choqueMas tão forte que nem sentiu, foi às nuvensTá com Deus, mano Biro sabeSubúrbio pra morrer, vou dizer é mole(Refrão)

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Texto 21 / Rot ina do jovem

• Juventude e Trabalho36

...E eu peço a Oxalá e então,sempre vai nos guardarDai-nos forças pra lutar, sei vai precisarNo trem, meu bom, é assim, é o que éEntão centenas vão sentados eMilhares vão em péE em todas as estações, ali presteAtenção aos PFsO trem pára, o povo entra e saiDepois disso, o trem já se vaiMas o que é isto? EsquisitoE várias vezes assistiTrabalhador na porta tomando borrachadasMarmitas amassadas, fardas, isso é a lei?Vejam vocês, são cães, só querem humilhar toda vezAconteceu o ano passado em PerusUm maluco estava na paz, sem deverCaminhava na linha do trem sim, a uns cem metrosDessa estação, preste atenção, repressãoSegundo testemunhas dali, ouviFoi na cara dura assassinado, mas não foi divulgadoE ninguém está, não está, ninguém viuAs mortes na estrada de ferro Santos-JundiaíE ninguém tá nem aí, Osasco-Itapevi,do Brás a Mogi ou TamanduateíÉ o trem que é assim, já estive, eu sei, já estiveMuita atenção, essa é a verdadeSubúrbio pra morrer, vou dizer é mole(Refrão)

Fonte P http://rappinhood.letras.terra.com.br/letras/70520/

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O JOVEM E SUAS COMPRAS

Juventude e Trabalho • 37

Pesquisa mostra que o jovem médiobrasileiro se acha mais considerado pe-lo que adquire do que pelo que ele é.

Os jovens brasileiros se interessam maispor compras do que os americanos. É o quediz a pesquisa Os Jovens e o ConsumoSustentável, feita por dois institutos espe-cializados e divulgada pela Fundação Getú-lio Vargas. O estudo trouxe revelações so-bre como pensa a juventude na hora emque vai às compras, sua percepção da pro-paganda e dos impactos de suas própriasações – dela, juventude – no meio ambien-te e na sociedade.

A pesquisa foi elaborada a partir de umlevantamento realizado pelo Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente(Pnuma) e pela Organização das NaçõesUnidas para a Educação, Ciência e Cultura(Unesco), no ano 2000, em 24 países. Cer-ca de 70% dos jovens brasileiros entrevis-tados disseram que se interessam pelo te-ma compras. Entre os norte-americanos,país de elevado consumo, o percentual émenor: 33%.

Jovens brasileiros são também os quemais gostam de televisão e os que menosse interessam por política e sociedade.Outro dado destacado é o que mostra abaixa noção de interdependência dasações do jovem com o mundo em que vive.Quase 60% dos entrevistados disseramque suas ações não têm impacto no mun-do; 44% opinaram que suas atitudes nãoinfluem nem na cidade onde moram; e24% afirmaram que suas ações não cau-sam impacto nenhum nem em suas pró-prias vidas. Conforme a pesquisa, a gran-de maioria dos jovens brasileiros (59%)acha que o seu trabalho não tem impactona sociedade, quer dizer, o jovem não seperceberia como parte de um todo. E oconsumo seria o principal elo de sua liga-ção com o meio em que vive. Finalmente,cerca de 50% disseram que pessoas dasua idade consomem demais.

ConsumoTEXTO 14

Desvendado o engano contido na frase “você é o que tem”.

Fonte P http://integracao.fgvsp.br/BancoPesquisa/pesquisas_

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Na esquina da minha rua fica sem-pre o mesmo grupo de meninos,uns 7 ou 8 anos, com suas caixi-

nhas de dropes, ou flanelas amarelas. Sãoalegres, bonitinhos, a pele queimada,saudáveis, com o corpo de idade indefini-da, aquela pequena estatura de criança,mas sem a ingenuidade infantil. Elesandam pela cidade sem a companhia denenhum adulto, parecem rapazinhos,mesmo na maneira de andar e falar, bemespertos, astuciosos. Têm agasalhos sur-rados, mas que dão pro gasto; usam tênis,camisetas, bonés com a aba virada paratrás. Quando eles me vêem, correm paraa janela do meu carro, na maior alga-zarra. Se o sinal está aberto e passo dire-

to, eles correm para o outro quarteirão,em bando, e me pegam no sinal da aveni-da, bem mais demorado. Me chamam detia, fazem sinal com dois dedos, abanan-do a cabeça e dando um sorriso de con-fiança, para que eu desça o vidro e ouça.Contam histórias de que precisam de di-nheiro para comprar material escolar, ouestão sem almoçar, ou vão viajar no fe-riado. Eles me dizem que estudam, e tra-balham ali para ajudar a família, e medão nomes falsos, mas às vezes escuto osnomes verdadeiros de um ou outro, numdescuido deles. O Fábio, por exemplo, sechama Wellington. Um tem o pai desem-pregado, outro não tem pai, outro nãotem casa, outro não tem nada a não ser arua. Quase sempre dou dinheiro. Às vezes,compro um iogurte para cada um, outrasvezes cadernos e lápis, ou livros dehistórias infantis, ou biscoitos. Mas um

DEUS-DARÁ

Ana Miranda

Risco soc ia lTEXTO 15

• Juventude e Trabalho38

O dilema de dar ounão dar dinheiro aosmeninos no sinal

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amigo meu, especialista em questões demeninos de rua, me disse que não devodar dinheiro aos meninos, para nãoestimular o trabalho infantil, e que euajudaria muito mais se desse uma quan-tia mensal para uma associação que cuidade crianças. Um dia abri o vidro do carroe expliquei para o chefe deles, o Fábio, oque meu amigo havia dito, e que estavadando o dinheiro deles para uma creche.Ele ficou pensativo. No dia seguinte, veiome perguntar, mesmo, o que o meu amigohavia me dito, por que não se podia dardinheiro para eles. Nas vezes seguintes,

eles ainda tentaram me convencer a daralgum dinheiro, pediam cada vez quan-tias mais ínfimas. Hoje passo na esquina,eles me vêem, eu os vejo, sentados nagrama, na murada do restaurante, numcaixote de madeira, eles acenam, confor-mados, alegres, e eu sigo com o coraçãoopresso por dúvidas. Eles ainda estão ali,em bando, vivendo a vida em seu dia-a-dia, crescendo de qualquer maneira, aodeus-dará.

Ana Miranda é escritoraExtraído da revista Caros Amigos no 42

Juventude e Trabalho • 39

Leandro dos Santos Ribeiro (de camiseta azul), 11 anos, cursando a 6ª série, vendedoces no trânsito de Caieiras, na Grande São Paulo, para comprar material escolar.

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Como os jovens enfrentam o desafio de um mundo que exige formação escolar cada vez melhor e ainda espírito empreendedor

Desemprego juveni lTEXTO 16

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PROCURA-SE TRABALHO

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Inexperiência, indecisão vocacional, bai-xa escolaridade ou falta de oportunida-de. São desafios que a maior parte dos

jovens brasileiros tem de enfrentar quan-do começa a dar os primeiros passos embusca de trabalho. As estatísticas demons-tram: só pouco mais da metade dos 34 mi-lhões de jovens entre 15 e 24 anos têmalgum tipo de ocupação.

Empregado, subempregado ou de-sempregado, rico, pobre ou remediado,nenhum jovem quer ficar onde está. En-tão vamos ver como eles driblam os obstá-culos para ingressar em um mercado detrabalho cada vez mais exigente.

Iniciativa precoce

Alguns têm sorte de encontrar logo ocaminho, como o carioca Edgar Noguei-ra. Aos 13 anos de idade ele ganhou umcomputador e inventou um site de busca,o aonde.com. Aos 21 anos, recém-forma-do em administração, segue feliz e resol-vido com sua empresa e já mantém umsegundo site, o namoro.com. Já a paulis-ta Débora Tatiana Vilhena, 19 anos, abriumão de alguns sonhos, para preservar

outros. Pobre, arranjou emprego deempacotadora de supermercado. “Preci-sava trabalhar logo”, diz ela, que abando-nou o sonho da universidade. “Particularé muito cara; pública, muito difícil.

O potiguar Neilton de Freitas, 21anos, aprendeu com a ONG Natal Volun-tários que o caminho é difícil, masninguém deve se contentar com menos doque deseja. Ele terminou o curso degarçom. “Busquei o setor de turismo,forte na cidade”, conta ele, que antestentou o mais brasileiro dos sonhos: serjogador de futebol. Sua meta é ser intér-prete de inglês.

E a experiência?

A mineira Angelina de Lima Ramos,22 anos, passou um ano dando com acara na porta antes de arrumar umemprego: faltava experiência. Conseguiuo de vendedora de uma loja de lumináriasem Juiz de Fora e faz sua crítica aos obstá-culos: “Como alguém com 16, 17 anospode ser experiente se ninguém dá umaoportunidade? Uma tremenda injustiça”.

“O Brasil tem poucos com muita chan-ce e muitos sem nenhuma”, avalia o cario-ca William Sebastião dos Santos Oliveira,22 anos, que só pôde estudar até a 6a série,porque precisou trabalhar cedo para ajudarem casa. Agora parece que encontrou suavocação. Por meio da Incubadora Afro-

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Ao lado: Jovens aguardam àprocura de emprego no Paláciodo Trabalhador em São Paulo.

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Brasileira, que promove o empreendedoris-mo entre jovens afrodescendentes, desen-volveu sua empresa de grafismo e já vivede estampar camisetas e faixas.

Vocação elástica

O apicultor gaúcho Francis Leal Batis-ta, 19 anos, cursa engenharia agrícolagraças a uma bolsa do Programa Univer-sidade para Todos, do governo federal.“Queria ser biólogo, mas não teria condi-ções de pagar a faculdade. Aqui, encon-trei minha vocação e tenho muito maismercado”, comemora.

Com pouco estudo e sem experiência,a cearense A. G. F, de 19 anos, sente napele as dificuldades de ingressar no merca-do de trabalho. “Fiz até a 7a série e depoisque engravidei não deu para continuar osestudos. Quando meu filho nasceu, nãotinha com quem deixá-lo e por isso nãoprocurei emprego”, diz ela, que conta coma ajuda da avó para sobreviver.

Das ruas para o céuPor muito pouco a baiana Luciana

Xavier, de 21 anos, não engrossou o tristeexército de desalentados. Dos 2 aos 14anos, ela viveu nas ruas de Salvador, pe-dindo esmola, dormindo ao relento. Sua

vida só tomou outro rumo quando ingres-sou no Projeto Axé: “O Axé mudou osrumos da minha existência. Percebi poten-cialidades em mim mesma que não conhe-cia. Isso me ajudou a descobrir o que gos-tava de fazer. Terminei o curso de moda evirei estilista. Ganhei uma bolsa para estu-dar numa faculdade de moda de Floren-ça, na Itália, e agora quero ser uma profis-sional revolucionária”, conta Luciana.

Escolha o caminho

Em São Paulo, o projeto Cidade Esco-la Aprendiz também está dando muitocerto. Participante da primeira turma doAprendiz, a paulistana Mônica Alves, de23 anos, formou-se em arquitetura etrabalha na restauração de prédios nocentro de São Paulo: “O Aprendiz me fezacreditar que eu poderia conseguir fazero que gostava. O problema de alunos deescolas públicas, como era o meu caso, énão saber como concretizar os seussonhos”.

Difícil acessoOs jovens portadores de necessidades

especiais ainda têm dificuldades maiores.Embora a legislação brasileira exija queempresas maiores reservem pelo menos 5%

Texto 16 / Desemprego juveni l

• Juventude e Trabalho42

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de suas vagas a trabalhadores com essesproblemas, a situação é complexa: a pessoatem dificuldade para entrar no mercadonão apenas por causa de suas limitações,mas também pelo preconceito e pelas defi-ciências na capacitação e atendimento aessas pessoas.

O Instituto Brasileiro de Defesa dosDireitos da Pessoa Portadora de Deficiência(IBDD), do Rio de Janeiro, trabalha emfavor da colocação de portadores de neces-sidades especiais. A carioca e estudante dedireito Joana de Montenegro Roquete, 22anos, se beneficiou. Ela tem uma doençadegenerativa, precisa usar cadeira de rodase conseguiu trabalho na consultoria jurí-dica da companhia Furnas Centrais Elétri-cas, como empregada terceirizada. “A leique obriga as empresas a contratarem defi-cientes facilitou minha entrada no merca-do, mas a maior dificuldade do portador dedeficiência não é obter uma vaga e sim boaqualificação, principalmente pela dificulda-de de acesso físico às instituições de ensi-no”, diz Joana.

Juventude e Trabalho • 43

Extraído do Portal Onda Jovem http://ondajovem.terra.com.br/manchete. asp?ID_Edicao=8

O subemprego é outra faceta do drama demuitos jovens, principalmente os pobres ecom pouco estudo. Eles pulam de empregoem emprego, exercendo funções mínimas ecorriqueiras. O mineiro A.L., de 16 anos, deIpatinga, é exemplo. Há um ano largou a esco-la e foi trabalhar em um mercadinho do bair-ro. “É muito cansativo trabalhar o dia todo eainda estudar à noite”, diz. E o emprego nomercadinho, sem carteira assinada, não foi oprimeiro. Ele começou aos 14 anos numa ofi-cina mecânica, já foi ajudante de pedreiro ebalconista de bar. “Decidi trabalhar porquemeus pais não tinham condições de me darcoisas que eu queria. Precisava ter meupróprio dinheiro, ganho salário mínimo.A situ-ação não está fácil. Lá no mercado chegamuita gente procurando trabalho. Por isso, eutento de fazer tudo certinho, senão vem outroe toma minha vaga”, constata o garoto.

A luta por um emprego

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Há mais de 1 bilhão de pessoas nomundo que têm entre 15 e 25 anosde idade. Oitenta e cinco por cento

desses jovens vivem em países em desen-volvimento, como o Brasil, onde muitosdeles estudam, trabalham, e vivem naextrema pobreza.

Calcula-se que existam 180 milhõesde desempregados no planeta, sendo que,desses, 74 milhões são jovens.

Um número ainda maior de pessoas,jovens e adultos, enfrenta longas jornadasde trabalho informal, lutando para con-seguir sua subsistência.

Enquanto para alguns a globalização e atecnologia oferecem novas oportunidades detrabalho, para muitos jovens estas mesmastendências aumentam a dificuldade dearranjar emprego – sendo que a discrimi-nação contra jovens mulheres é ainda maior.

Jovens pobres ou sem perspectivasencontram-se em maior risco de serematraídos para comportamentos socialmentedestrutivos. A sua energia, sua capacidadepara a inovação e as suas aspirações sãobens que a sociedade não pode desperdiçar.

PRIMEIROS PASSOS

Os jovens têm asolução, mas

quem os procura?

Desemprego juveni lTEXTO 17

• Juventude e Trabalho44

Adaptado do site: http://www.oitbrasil.org.br

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Risco soc ia lTEXTO 18

Fonte P

AngeliSE LIGA, MANO!

Segurança e Saúde no Trabalho • 45

— Você fica se perguntando o que vai ser quando crescer?— Se liga, mano! Não raciocino sobre hipóteses!

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• Juventude e Trabalho46

Aepidemia do HIV/Aids está afetandoprofundamente a estrutura social,cultural e econômica, constituindo-

se em uma grave ameaça ao mundo pro-dutivo, na medida que afeta a força de tra-balho, impõe altos custos a empresas detodos os setores, diminui a produtividade,aumenta os custos trabalhistas e acarreta aperda de capacidades e experiências. Esti-mativas da Organização Internacional doTrabalho indicam que, hoje, pelo menos 25milhões de trabalhadores, entre 15 e 49anos de idade, estão infectados com HIVem todo o mundo.

Diante destes fatos, a CoordenaçãoNacional de DST/Aids vem promovendoações sobre este tema no local do trabalho.

Em outubro de 1998, foi publicada umaPortaria do Ministério da Saúde, criando oConselho Empresarial Nacional de Preven-ção ao HIV/Aids no Local de Trabalho.

O Conselho tem como objetivo apoiara resposta nacional frente à epidemia eviabilizar ações de sensibilização, mobiliza-ção, difusão de conhecimento sobre pre-venção da Aids e a promoção da saúdejunto às empresas.

Ao reconhecer que o problema do HIV/Aids é, também, uma questão do local detrabalho, a OIT criou, em novembro de2000, o “Programa da OIT sobre HIV/Aidse o Mundo do Trabalho”. O objetivo do Pro-grama é contribuir para a contenção dapandemia, sistematizando informações so-bre o seu impacto no mundo do trabalho,combatendo a discriminação e a exclusão,desenvolvendo campanhas de conscientiza-ção e prestando assessoria a seus membros.

Saúde do jovemTEXTO 19

HIV ETRABALHO

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Uma das primeiras atividades doPrograma da OIT foi a produção do“Repertório de Recomendações Práticassobre o HIV/Aids e o Mundo do Traba-lho”, elaborado em parceria com gover-nos, empregadores e trabalhadores. ORepertório foi lançado pelo diretor geralda OIT na Sessão Especial das NaçõesUnidas sobre HIV/Aids, realizada emNova York em junho de 2001. Este docu-mento incentiva a prevenção e a assistên-cia aos trabalhadores e suas famílias.

A partir dos princípios básicos de prote-ção dos direitos dos trabalhadores, depromoção do emprego, de proteção social edo diálogo social da OIT, o documentocobre temas como a prevenção, o treina-mento, a testagem anti-HIV e a confiden-cialidade, a assistência e o apoio aos empre-gados infectados e afetados pelo HIV/Aids.São eles:1. reconhecimento do HIV/Aids como um

problema do local de trabalho;2. não-discriminação e estigmatização das

pessoas que vivem com HIV/Aids;3. promoção da igualdade de gênero;4. manutenção de um ambiente de traba-

lho saudável e seguro;5. promoção do diálogo social para estabe-

lecer programas e ações conjuntas entregovernos, empregadores e trabalhadores;

6. proibição de exames (screening) paraos candidatos a emprego ou pessoascontratadas;

7. garantia de confidencialidade sobre asinformações relativas ao HIV/Aids de can-didatos e empregados;8. manutenção da relação de emprego;9. desenvolvimento de ações de preven-ção; e10. garantia de assistência e apoio aosempregados e suas famílias.

Extraído dos Cadernos da Unesco Brasil – 2002.

Juventude e Trabalho • 47

Recomendações

Promover o conhecimento acerca das questõesbiológicas, psicológicas e socioculturais queenvolvem a Aids de modo a preparar as empre-sas ou locais de trabalho para:• reconhecer a Aids como um problema no localde trabalho como qualquer outra enfermidade;

• não exigir a apresentação do diagnóstico deHIV tanto para os futuros contratados quantopara os funcionários efetivos;

• respeito às necessidades dos portadores;

• garantir uma política de trabalho na perspec-tiva dos Direitos Humanos e em cidades comoSão Paulo e Rio de Janeiro, ser jovem e ter oprimeiro trabalho é muito difícil, e se não tivero primeiro trabalho não se tem experiência, por-que não se tem experiência, não se conseguetrabalho.

Tudo isso gera uma roda-viva muito complicada.Quando a questão da Aids vem se juntar ao con-texto, a tal roda-viva se agrava tremendamente.

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Enquanto projetamos sobre a juven-tude o desencanto com as eleiçõesatuais, presente em uma parcela da

sociedade brasileira, as informações sobreo alistamento eleitoral, divulgadas recen-temente pelo TSE mostram um aumentode 39%, em relação a 2002, do número deeleitores de 16 e 17 anos, faixa etária emque o voto é facultativo. Foi nesta faixaetária o maior crescimento proporcional deeleitores. Certamente estes números nãofalam por si, mas eles são no mínimo intri-gantes (e fornecem uma pauta e tanto parameios de comunicação). Com a mesmaindagação na cabeça, vale citar a pesquisaJuventudes Brasileiras, recentemente di-vulgada pela Unesco, que revela que 68,8%dos jovens de 15 a 29 anos acreditam queo voto pode mudar a situação do país e que66,6% deles afirmaram não ser aceitávelnão votar nas eleições.

Por outro lado, a despeito das estatísti-cas que buscam dar conta do todo, há mui-

ta informação qualitativa disponível. Sãomúltiplas as experiências de participaçãojuvenil existentes no Brasil. Não se podepensar nos grêmios estudantis, nos centrosacadêmicos, nas juventudes partidárias esindicais de hoje com os olhos de décadasatrás. Hoje – distinguindo-se e/ou identifi-cando-se com aqueles espaços usuais dapolítica – há posses de Hip-Hop, há jovensreunidos em diferentes tipos de ONGs e emmovimentos sociais específicos. Redes dejovens mulheres, da juventude negra eindígena, de jovens rurais, de jovens pelalivre orientação sexual, de jovens com defi-ciência atuam buscando inscrever seusdireitos em diferentes espaços. A Rede dosJovens do Nordeste, que há anos tem feitouma campanha pelo voto consciente, seorganiza através do recorte regional.Grupos culturais, religiosos e esportivostambém fazem parte de um cardápioamplo e plural. Mas há momentos em queas fronteiras (sociais e identitárias) exis-tentes entre eles se suspendem produzindocombinações inéditas e desafiantes inter-

PARA ALÉM DOSOVOS E TOMATES

Cresce em número e qualidade o universo de eleitores jovens

Part ic ipação pol í t icaTEXTO 20

• Juventude e Trabalho48

Regina Novaes

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locuções. Alguns destes momentos surgeme ecoam no interior do Conselho Nacionalde Juventude, onde se busca valorizar asdiferentes formas de participação juvenil.

De fato, são múltiplas as expectativasda juventude brasileira. O convite é paraque se conheça mais sobre as criativas epouco divulgadas experiências em curso.Conhecendo, fica difícil dizer, a priori, queestes grupos não estejam produzindo emuma “linguagem jovem”, a não ser que seconsidere que tal linguagem seja mono-pólio de alguém ou de algum canal.

Para terminar, vale citar uma pesquisarealizada sob a coordenação do Ibase ePolis, em conjunto com outras ONGs, em

sete regiões metropolitanas brasileiras.Nesta pesquisa, amplamente divulgada, agrande maioria dos jovens entrevistadosdiz desacreditar dos políticos, mas acredi-tar na política e dela querer participar. Estaúltima frase pode parecer um mero jogo depalavras ou um enigma. Mas pode ser vistatambém como um convite dos jovens paraque não se economize reflexão e para quefaça um debate que possa resgatar o senti-do mais profundo da política. Para alémdos ovos, tomates e eleições.

Juventude e Trabalho • 49

Regina Novaes é antropóloga, secretária nacional adjunta deJuventude e presidente do Conselho Nacional de JuventudeFonte P Agência Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br)

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A nova geração deeleitores: a jovemRoberta Galvão,18 anos, votandopela primeira vez,nas eleiçõesnacionais de 2002.

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Um em cada três jovens brasileirosparticipa de algum tipo de organi-zação social. São grupos religiosos,

de hip-hop, de grafiti, que não são vistostradicionalmente como organizações polí-ticas. Mas atualmente essas têm sido asformas de participação social dos jovensbrasileiros.

As avaliações fazem parte de umapesquisa feita pelo Instituto Brasileiro deAnálises Sociais e Econômicas (Ibase) epelo Instituto Pólis de Estudos e Assessoriaem Políticas Públicas.

“Apesar de se comentar que o jovembrasileiro está em apatia, a pesquisa apontaum grande nível de participação juvenil”,destaca Ozanira da Costa, uma das coorde-nadoras do estudo. Apesar disso, os jovenstêm buscado novas formas de participar davida política, já que há um descontenta-mento grande com as formas tradicionaisde participação, como partidos, sindicatos e

entidades estudantis. “A própria realidadedo país não estimula esse jovem a partici-par da política tradicional”, lamenta Ozirada Costa, em entrevista ao programa Revis-ta Brasil, da Rádio Nacional.

Essa realidade se reflete nos números.Dos 8.000 jovens entrevistados, em oitoregiões metropolitanas, 28% fazem partede algum grupo. Mas apenas 1% dessesjovens participam de algum partido políti-co. E apenas 0,7% está filiado a algumsindicato.

A principal forma de participação é emgrupos religiosos (15%), seguida das asso-ciações esportivas (8%) e de grupos artísti-cos (8%). Para Ozanira da Costa, o resultadomostra a importância dos três temas – reli-gião, esporte e cultura – para a juventude.

Um em cada cinco jovens respondeu“sim” à pergunta “Você já participou dealgum movimento ou reunião para melho-rar a vida do seu bairro ou da sua cidade?”.Desse público que já havia participado dealguma mobilização, 40% tinha como obje-tivo melhorar ou criar uma área de lazer

• Juventude e Trabalho50

MUDANÇA DEESTILO

Jovens continuam participando da política,

mas de outras formas,aponta pesquisa

Part ic ipação pol í t ica

Daniel Merli

TEXTO 21

Foto: Marcelo Ximenez / AE

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ou esporte. Os outros motivos foram segu-rança (34%), melhora de saneamento(29%) e de postos de saúde (27%).

Duas das chaves para essa participa-ção, segundo a pesquisadora, são a renda eo grau de educação dos jovens. A pesquisarevelou que quanto maior a renda dojovem, maior seu grau de participação emorganizações sociais. O mesmo vale para ograu de instrução.

“A grande ligação para que o jovempossa participar mais da vida política e dasociedade é a educação”, afirma. “Mas ojovem pobre tem uma grande dificuldadede acesso à educação e não tem estímulo.Já o jovem com renda familiar melhortem condição de ir a uma escola particu-lar e lá tem mais acesso à informação emais estímulo para participar da vidapolítica do país”.

A falta de acesso à informação é outroobstáculo à participação, segundo a pesqui-sadora. “A pesquisa mostrou que 85% dos

jovens se informam pela televisão. (...) Osjovens não têm acesso e as escolas não esti-mulam temas da atualidade”.

A pesquisa dos institutos Pólis e Ibasefoi feita em dois períodos: julho de 2004,pouco antes das eleições municipais, enovembro de 2005, período da crise polí-tica que atingiu o Congresso Nacional.Foram entrevistadas 8 mil pessoas de 15a 24 anos das regiões metropolitanas deBelém, Belo Horizonte, Porto Alegre,Recife, Rio de Janeiro, Salvador, SãoPaulo e Distrito Federal.

Depois da pesquisa quantitativa,foram escolhidos 900 jovens para umapesquisa qualitativa. Segundo Ozira daCosta, foi usado um método canadensechamado de Grupos de Diálogo. Sãoformados grupos de discussão sobrealguns temas para descobrir a opinião dosentrevistados sobre cada assunto.

Juventude e Trabalho • 51

Extraído do site: http://ww.radiobras.gov.br

Grupo que faz trabalho voluntário com crianças na Escola do Retiro, em Pirituba. Na foto, da esquerdapara a direita: Luana dos Santos, Paulo França, DJ Dudu, Domingos Lima e Adevaldo de Souza.

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Desconfiai do mais trivial , na aparência singelo.E examinai, sobretudo, o que parece habitual.Suplicamos expressamente:não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,pois em tempo de desordem sangrenta,de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,de humanidade desumanizada,nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

NADA ÉIMPOSSÍVELDE MUDARBrecht

Part ic ipação pol í t icaTEXTO 22

• Juventude e Trabalho52

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Dessa juventude serei vivente,A alma eterna da vida, a minha prece,Que de sonho e conquistas enriquece,O ontem, o hoje, o amanhã e eternamente.

Quero vivê-la sempre intensamente,Nos momentos de glória envaidece,Na inquietação que a vida oferece,No rosto que traz um sorriso ausente.

Se na rebeldia do inconsciente,Encontra-se o desejo que estremece,Amar, lutar, vencer, poder ser gente,

Ser um jovem que luta e não esmorece,E mesmo que na ânsia se faz carente,De viver o sonho nunca se esquece.

Ser jovemTEXTO 23

Juventude e Trabalho • 53

SONETO DEJUVENTUDE

Dairi José Antônio DuarteCordeiros – BA

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Apartir da situação de discriminaçãovivida pelo cantor e compositorMarcelo Yuka – ex-baterista da banda

O Rappa e hoje membro do Conjuv – emsetembro de 2005, denunciada e documen-tada pela Escola de Gente – Comunicaçãoem Inclusão, publicada no jornal O Globo, oConselho se mobilizou e solicitou à organi-zação que redigisse um documento discu-tindo o tema acessibilidade para pessoascom deficiência. Abaixo, a carta:

Acessibilidade

A Organização das Nações Unidas(ONU) aponta que existem 600 milhões depessoas com deficiência no planeta – 400milhões nos países em desenvolvimento.Ainda, segundo a ONU, a deficiência é tantocausa como efeito da pobreza: 82% daspessoas com deficiência do mundo, princi-

CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE APROVAPOR ACLAMAÇÃO CARTASOBRE ACESSIBILIDADEO Conselho Nacional de Juventude aprovou por aclamação aCarta de Março, que discute a acessibilidade e inclusão socialde jovens com deficiências.

Necess idades Espec ia isTEXTO 24

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Marcelo Yuka

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palmente crianças e jovens, vivem abaixoda linha da pobreza. Dados do Banco Mun-dial apontam que pelo menos 79 milhões deindivíduos com deficiência estão na Améri-ca Latina e no Caribe, dos quais 24 milhõesno Brasil, de acordo com o Censo 2000 doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE).

Por que, então, atender às necessida-des específicas de pessoas com deficiên-cia ainda é considerado custo e não inves-timento pela maioria dos especialistas empolíticas públicas?

Por que as políticas públicas continuamtratando pobreza e deficiência como ques-tões isoladas?

De que modo as necessidades específi-cas da deficiência podem mudar o rumo deprogramas e projetos de desenvolvimento,como o combate à miséria e à fome?

No Brasil, mais da metade de crianças,adolescentes e jovens com deficiência épobre (conforme dados da ONU) e rara-mente consegue participar de programassociais em suas comunidades. Não costumahaver previsão de recursos no orçamentodesses projetos – governamentais, não-governamentais e privados – para garantira jovens com deficiência, direitos humanoscomo o de ir e vir e o de se comunicar. Direi-tos garantidos por meio de ajudas técnicasprevistas em leis como intérprete da LínguaBrasileira de Sinais (Libras), legendagemem programas de televisão e sessões de

cinema, material em braile e sites com aces-sibilidade de acordo com padrões nacionale internacional.

Agências de cooperação internacional,programas de investimento social corporati-vo e políticas públicas governamentais enão-governamentais continuam apostandoprimeiro na busca de soluções para a pobre-za e, só depois, para a deficiência – enfoqueque não vem trazendo os resultados espera-dos. A conseqüência desse modo dicotômi-co de perceber a juventude de um país é afalta de convivência de jovens com e semdeficiência e a perpetuação de práticas secu-lares de discriminação. Grande parte dosprojetos de juventude no Brasil continuadiscriminando jovens com deficiência porabsoluta inconsciência e desconhecimento.

No dia 2 de dezembro de 2004, o gover-no federal atendeu uma demanda históricados movimentos sociais que defendem osdireitos de pessoas com deficiência: assinouo Decreto Federal nº 5.296, regulamentan-do as leis nos 10.048/00 e 10.098/00 e esta-belecendo normas gerais e critérios básicospara a promoção da acessibilidade daspessoas com deficiência ou mobilidadereduzida (gestantes, pessoas com criançasde colo, pessoas com idade igual ou supe-rior a sessenta anos, pessoas obesas, entreoutras situações).

A regulamentação dessas leis represen-tou um passo decisivo para a cidadania einclusão de crianças, jovens, adultos (as) e

Juventude e Trabalho • 55

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idosos (as) com deficiência ou mobilidadereduzida, garantindo que o acesso à educa-ção, à saúde, ao trabalho, ao lazer, ao turis-mo e à cultura contemple a diversidadehumana. O decreto trata de cinco eixosprincipais: acessibilidade no meio físico;acessibilidade nos sistemas de transportescoletivos terrestres, aquaviários e aéreos;acessibilidade na comunicação e na infor-mação; acesso às ajudas técnicas; e existên-cia de um programa nacional de acessibili-dade com dotação orçamentária específica.A legislação brasileira é um exemplo mun-dial com relação à inclusão de pessoas comdeficiência, o principal desafio é divulgá-lae colocá-la em prática, comprometendotodos os segmentos da sociedade brasileiraneste processo.

Relacionando as questões da juventudecom as específicas da deficiência, temos umpanorama inédito. O país tem no momentoa maior geração de jovens de todos ostempos: são 48 milhões de brasileiros (as)com idade entre 15 e 29 anos. Ao mesmotempo, cresceu no país a percepção de queé preciso construir políticas públicas inclusi-vas para esse segmento, ou seja, abertas àdiversidade, contemplando as característi-cas e as necessidades inerentes das infinitasjuventudes, entre elas aquela formada porjovens com qualquer tipo de deficiência,hoje com baixíssima escolaridade. Nessecontexto, vem ganhando legitimidade comoassunto estratégico e de relevância nacionala urgência em reconhecer os (as) jovens

brasileiros (as) como sujeitos de todo equalquer direito, entre eles, direito à parti-cipação em todos os processos que lhes inte-ressem direta e indiretamente.

A partir dessa conjuntura, a presidên-cia da República lançou no ano de 2005uma política nacional para a juventude,criando a Secretaria Nacional de Juventudee o Conselho Nacional de Juventude. Estasdecisões refletem um sistemático processode aprendizado e reflexão do governo, so-ciedade civil, parlamento e organismos decooperação internacional no tema; mascrianças, adolescentes e jovens com defici-ência no nosso país continuam, na maioriadas vezes, invisíveis para profissionais detodos esses setores. Não estão asseguradosrecursos e investimentos federais suficien-tes em todas as áreas de atuação de políti-cas públicas de modo a criar condições reaisde inclusão de pessoas com deficiência nasaúde, na escola, no trabalho, no transpor-te, na cultura, no esporte, no lazer e noacesso à comunicação e à informação.

O Conselho Nacional de Juventude jáse posicionou com relação à acessibilidadee à inclusão de pessoas com deficiência noBrasil a partir da denúncia feita pela Escolade Gente – Comunicação em Inclusão, orga-nização da sociedade civil que participa doConselho, publicada no jornal O Globo, nacoluna Ancelmo Góis, em 27 de setembrode 2005. A nota relata atos de discrimina-ção contra o músico e poeta Marcelo Yuka,também membro do Conselho, durante

Texto 24 / Necess idades Espec ia is

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embarque no aeroporto de Brasília. Partin-do do princípio de que governo, empresas eorganizações da sociedade civil não devemimpedir ou prejudicar o acesso de pessoascom deficiência a bens, serviços e direitos,para não ferir os princípios de legalidade,eficiência e moralidade, o Conselho Nacio-nal de Juventude trabalha para garantir àspessoas com e sem deficiência o pleno exer-cício de direitos humanos e fundamentais,como o de ir e vir. O caso de Marcelo Yukanão é exceção, e sim regra. Não foi umacontecimento isolado. Diariamente, umalista de pessoas com deficiência enfrentasituações de constrangimento e violação deseus direitos.

O Conselho Nacional de Juventudevem, desde sua criação, estabelecendomecanismos de acompanhamento e avalia-ção dos programas governamentais desti-nados aos (às) jovens brasileiros(as),buscando aprimorar e integrar ações desti-

nadas a esse público. O objetivo é revertero quadro atual de ausência de políticasespecíficas para tratar do tema compropostas concretas de mudança alinha-das com a legislação brasileira e filosofi-camente inspiradas na força mobilizado-ra e transformadora da juventude.

Há pressa em disseminar o conceitode uma sociedade inclusiva entre jovensque se preparam e iniciam sua entrada navida adulta – pessoal e profissional. Oobjetivo desta carta é tornar público parao Brasil o compromisso assumido peloConselho Nacional de Juventude de traba-lhar para a criação de políticas públicas dejuventude inclusivas, que simultaneamen-te ratifiquem a diversidade humana comoum valor e combatam a desigualdadeeconômica e social.

Conselho Nacional de Juventude

Juventude e Trabalho • 57

Fonte: DefNet/Escola de Gente

Apresentação decaopeira com crianças deficientesna inauguração dasede da Associaçãode Assistência àCriança Deficiente,em Osasco, naGrande São Paulo Fo

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Cultura juveni lTEXTO 25

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ENSAIO: BRUNO MIRANDAQuando pensei pela primeira vez em

fotografar o movimento Hip-hop, uma coisanão saía da minha cabeça... Como vou fazerpara me aproximar dessa galera tão ressen-tida com a vida? Escutei Racionais a minhaadolescência toda. Sentia o desprezo quetinham por brancos nascidos em berço deouro criados à base de sustagem e leiteninho coisa e tal. Eu não podia negarminhas raízes, fingir que era malandrão,sendo que nunca passara de um jovem declasse média que sempre teve acesso a tudo.

Depois de entrar na faculdade ealguns professores cheios de mestrados edoutorados me ensinarem a antropologiasocial estrutural aplicada na periferia,resolvi voltar, mas agora com um olhar

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Bruno Miranda é formado em jornalismo, nascido em 1982.Extraído da revista Caros Amigos

mais crítico. Muitas coisas escritas noslivros eu joguei fora antes de pegar oônibus para dar um rolê.

Quando me encontrei com a galerado movimento capixaba, fiquei de cara:todos me receberam muito bem. Lógicoque não rolou babação nem nada, masme respeitaram e eu fiz o mesmo. Com otempo, viram que eu não estava ali parabrincar. Levava a sério, tentava ser umquinto elemento, e aos poucos conquisteimeu espaço (e venho conquistando!).

Muito mais do que belas fotos e histó-rias interessantes, esse trabalho me fezver a vida de outro jeito, alimentou minhaalma artística, viver pela arte, pelo amora uma causa, no meu caso a fotografia.

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Nos últimos anos, temos visto comfreqüência, principalmente nosperíodos eleitorais, campanhas e

projetos de lei sobre a redução da idadepenal e o aumento do tempo de interna-ção para adolescentes infratores. Essascampanhas e projetos são patrocinadospor setores políticos que demonstramnotória atuação reacionária e oportunis-ta. Também participam familiares de víti-mas de crimes praticados por adolescen-tes – que movidas, justificadamente, porforte emoção e dor, defendem a reduçãoda inimputabilidade penal ou até a mortedos jovens autores de crimes.

Porém os signatários da campanhadesconhecem ou preferem não conhecer asverdadeiras causas da violência no Brasil e

as distorções em torno da responsabiliza-ção penal dos adolescentes. A medidarefletiria, necessariamente, no aumentoda criminalidade – e não o contrário, co-mo pugnam seus defensores. Vejamos sin-teticamente algumas das principais ques-tões que envolvem o polêmico assunto:

• Um recente levantamento da Secretariade Segurança Pública do Estado de SãoPaulo mostrou que os adolescentes sãoresponsáveis por apenas 1% dos homicí-dios praticados no estado e por menos de4% do total de crimes;

• Pelo contrário, os jovens são as principa-is vítimas da violência no Brasil. Confor-me uma pesquisa realizada em 1999pelo Movimento Nacional de DireitosHumanos, para cada adolescente quecomete um crime, outros quatro são víti-mas de crimes praticados por adultoscontra eles. Um recente relatório da

A REDUÇÃOSÓ

COMPLICAUma reflexão sobre as propostas de redução

da idade penal em períodos eleitorais

Risco soc ia lTEXTO 26

• Juventude e Trabalho60

Ariel Alves

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Unesco demonstra que os jovens são asprincipais vítimas da falta de oportunida-des, do desemprego, da exclusão sociale, principalmente, da violência. Quasemetade de todos os homicídios que ocor-rem no país é praticada contra jovenscom idades entre 15 e 24 anos. Esse é omesmo perfil da maioria das vítimas daviolência policial e dos grupos de exter-mínio em São Paulo: além de jovens, sãonegros e pobres;

• Os jovens com idades entre 18 e 25 anosrepresentam 70% da população prisionalbrasileira, evidenciando que o CódigoPenal e suas punições não inibem os adul-tos jovens da prática de crimes. Portanto,também não serviria para intimidar osadolescentes entre 16 e 18 anos;

• A questão da inimputabilidade é conside-rada “cláusula pétrea”, se tratando de di-reito e garantia fundamental das crian-ças e dos adolescentes, sendo, portanto,inconstitucional qualquer emenda visan-do à modificação, conforme pode-se veri-ficar nos artigos 5o, 228 e 60, parágrafo4o, inciso IV da Constituição Federal;

• O Brasil ratificou a Convenção da ONU(Organização das Nações Unidas) de1989, que define como crianças e adoles-centes todas as pessoas com menos de 18anos de idade, que devem receber trata-mento especial e totalmente diferenciadodos adultos;

• As pesquisas que divulgam a defesa daredução da idade penal pela maioria dapopulação partem de uma indagaçãoequivocada e que induz a erro os entre-vistados: “Você acha que os jovens commenos de 18 anos devem ser responsabi-lizados?”, partindo do pressuposto de queeles ficariam impunes. Na realidade, elessão devidamente responsabilizados, masnão pela lei penal e sim pela legislaçãoespecial (Lei 8. 069/90 – Estatuto daCriança e do Adolescente), que prevê noartigo 112 as medidas socioeducativas,que não vislumbram só a punição, masprincipalmente a reeducação e socializa-ção dos adolescentes infratores;

• Os crimes graves atribuídos a adoles-centes no Brasil não ultrapassam 10%do total de infrações. A grande maioria(mais de 70%) dos atos infracionais,são contra o patrimônio, demonstrandoque os casos de infratores consideradosde alta periculosidade e autores dehomicídios são isolados e o ECA jáprevê tratamento específico para eles;

• A reincidência criminal no sistema peni-tenciário brasileiro é de 60%, já no siste-ma de internação da Febem (FundaçãoEstadual do Bem-Estar do Menor) de SãoPaulo, apesar da crise permanente dainstituição descumpridora do ECA, a rein-cidência infracional é de 16%, segundofontes oficiais. Isso demonstra que os

Juventude e Trabalho • 61

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adolescentes, por esforço próprio e apoiode entidades, estão mais propícios aserem recuperados. Nos Estados quecumprem o ECA, os índices são aindamenores, entre 1 e 5%;

• Alguns países que reduziram a idadepenal, como a Espanha e Alemanha, veri-ficaram um aumento da criminalidadeentre os adolescentes e acabaram voltan-do a estabelecer a idade penal em 18anos (como mais de 70% dos países domundo) e um tratamento especial, commedidas socioeducativas, para os jovensde 18 a 21 anos.

Tendo em vista as informações acima,será que vale a pena investir na formaçãode criminosos cada vez mais precoces oucumprir o que dispõe o Estatuto da Criançae do Adolescente, garantindo a inclusãosocial e os direitos da infância e juventudebrasileiras? Vale uma reflexão!

Texto 26 / R isco soc ia l

• Juventude e Trabalho62

Ariel de Castro Alves ([email protected]) é advogado, conselheironacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, vice-presidentedo Projeto Meninos e Meninas de Rua, diretor do Sindicato dos Advogados de São Paulo e colaborador da Justiça Global.Extraído de www.rets.org.br

Menores presosalmoçam no

Instituto PadreSeverino, na Ilha

do Governador, Rio de Janeiro.

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PATINHOEles traçam e destraçam o seu caminho – É a dança – dança do patinhoEles mandam uma qualquer e tu leva fé direitinho – É a dança – dança do patinhoDança do patinho (a verdadeira!)

Você que assina contrato sem lerAcha que a ONU se importa com vocêVocê que acredita no ouro nacionalChegou a sua hora isso é fenomenalVocê que acredita no que falam na TVDá seu dinheiro pro pastor pra fazer sua fé valer (eh, eh…)E pra você que acredita no velho azul-marinho, essa é sua dançaDança do patinho (a verdadeira!)

Você que acredita na mega-sena, toto-bola, raspadinha e na garota de IpanemaVocê que acredita nos caras pintadas, acredita que o Brasil vai tá ganhando com a ALCAAcreditou em inflação zero, no salário-desempregoMas não viu que o governo tava botando no seu…Parabéns, você é perfeito, foi feito pra issoPra dançar a dança, a verdadeira…Dança do patinho (a verdadeira!)

Você que toma volta quando quer ficar ligadoAcredita no bicho-papão e no aumento de salárioVocê que paga seus impostos religiosamente, esperando algum dia uma aposentadoria decenteVocê que acredita em alguma punição pros que roubam e colocam no… da populaçãoE pra você que acredita que nunca foi lesado, cante comigo esse hino, esse é o meu recado:braço em forma de asa, alterna pé e faz biquinho tu entrou na dançaDança do patinho (a verdadeira!)

A VERDADEIRA DANÇA DO

http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/06/283492.shtml

Cultura juveni lTEXTO 27

Juventude e Trabalho • 63

BNegão

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ExpedienteComitê Gestor do ProjetoTimothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/UnitrabalhoDiogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do ProjetoFrancisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio TécnicoAdan Luca ParisiAdriana Cristina SchwengberAndreas Santos de AlmeidaJacqueline BrizidaKelly MarkovicSolange de Oliveira

Equipe PedagógicaCleide Lourdes da Silva Araújo Douglas Aparecido de CamposEunice RittmeisterFrancisco José Carvalho MazzeuMaria Aparecida Mello

Equipe de ConsultoresAna Maria Roman – SPAntonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SPArmando Lírio de Souza – UFPA – PACélia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SPEloisa Helena Santos – UFMG – MGEugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SPGiuliete Aymard Ramos Siqueira – SPLia Vargas Tiriba – UFF – RJLucillo de Souza Junior – UFES – ESLuiz Antônio Ferreira – PUC-SPMaria Aparecida de Mello – UFSCar – SPMaria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SPMaria Márcia Murta – UNB – DFMaria Nezilda Culti – UEM – PROcsana Sonia Danylyk – UPF – RSOsmar Sá Pontes Júnior – UFC – CERicardo Alvarez – Fundação Santo André – SPRita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SCSelva Guimarães Fonseca – UFU – MGVera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorialPreparação, edição e adaptação de texto: Editora Página Viva

Revisão:Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, Mônica Rodrigues de Lima, Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini

Edição de arte, diagramação e projeto gráfico: A+ Desenho Gráfico e Comunicação

Pesquisa iconográfica e direitos autorais: Companhia da Memória

Fotografias não creditadas: iStockphoto.com

Apoio

Editora Casa Amarela

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)

Juventude e trabalho / [coordenação do projeto

Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,

Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação

Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;

Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,

-- (Coleção Cadernos de EJA)

Vários colaboradores.

Bibliografia.

ISBN 85-296-0059-2 (Unitrabalho)

ISBN 978-85-296-0059-8 (Unitrabalho)

1. Juventude 2. Livros-texto (Ensino Fundamental)

3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.

II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna. IV. Série.

07-0386 CDD-372.19

Índices para catálogo sistemático:

1. Ensino integrado : Livros-texto :

Ensino fundamental 372.19

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