Coleção Pajeú Aerolândia

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    Obra realizada com o apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza – Secultfor.

    Prefeito de FortalezaRoberto Cláudio Rodrigues Bezerra

    Vice-Prefeito de FortalezaGaudêncio Gonçalves de Lucena

    Secretário Municipal de Cultura de FortalezaFrancisco Geraldo de Magela Lima Filho

    Secretário da Regional VIRenato César Pereira Lima

    Secretária-ExecutivaPaola Braga de Medeiros

    Assessora de Políticas CulturaisNilde Ferreira

    Assessor de PlanejamentoInácio Carvalho de A. Coelho

    Assessora de ComunicaçãoPaula Neves

    Assessor JurídicoVitor Melo Studart

    Coordenadora de Ação CulturalGermana Coelho Vitoriano

    Coordenador deCriação e Fomento

    Lenildo Monteiro Gomes

    Coordenador de PatrimônioHistórico e Cultural

    Jober José de Souza Pinto

    CoordenadorAdministrativo-Financeiro

    Rosanne Bezerra

    Diretora da Vila das ArtesClaudia Pires da Costa

    Diretora da Biblioteca PúblicaDolor Barreira

    Herbênia Gurgel

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    Gylmar Chaves

    Aerolândia

    A Cidade do Ar

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    Copyright © 2015, Gylmar Chaves

    Concepção e Coordenação EditorialGylmar Chaves

    Projeto Grá co e DiagramaçãoKhalil Gibran

    RevisãoMilena Bandeira

    Fotos da Capa e ContracapaSheila Oliveira

    Consultoria TécnicaAdson Pinheiro/ Graça Martins

    Catalogação na Publicação

    Bibliotecária: Perpétua Socorro Tavares Guimarães CRB 3 /801

    V 512 A Chaves, Gylmar Aerolândia / Gylmar Chaves.- Fortaleza: Secultfor, 2015.

    80p. (Coleção Pajeú) ISBN: 978-85-420-0583-7

    1. Memórias 2. Crônicas 3. Título

    CDD: 869. 4

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    Sumário

    Observando do jardim 11

    O itinerário para o bairro da Aerolândia 16

    Antes de ser um bairro 20

    A escola de dona Detinhae o Grupo Escolar Edith Braga 29

    Do Clube Recreativo Aerolândia às Tertúlias 34

    Nasceu o comércio 43

    Um bairro também sobrevive da saúde 49

    Uma líder comunitária e os aparatos sociais 51

    O caminhão do seu Silva nos levava

    aos jogos do Time da Garotada 54Depois do m 59

    Referências Bibliográ cas 62

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    O subtítulo “Cidade do Ar” é umadesignação usada por Raimunda Paula e

    Silva (dona Raimundinha do Lagamar),incansável militante social em favor dos

    excluídos do bairro da Aerolândia.

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    Para meus tiosEdgar Chaves

    e Maria José Nogueira Chaves.

    Minha carinhosa tiaSarita (Sarah Faheina Nogueira).

    Meus primosLauro de Paula Lima

    e Maria Stela Marques Lima.

    In memorian deMeu pai José Pessoa Lima,meu irmão Gilson Chaves,

    meus primos Gerardo José Nogueirae José Hernando de Lima,

    e minha querida primaClaire Anne Lima Freire de Paiva.

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    Observando do jardim

    Eu tinha um ano e oito meses quando estive pela primei-ra vez no bairro da Aerolândia, em meados de 1961.Meus pais moravam em Tabuleiro do Norte, e melevaram à capital cearense na boleia de um Misto, uma

    condução com cabine e carroceria adaptadas para o trans- porte de passageiros e cargas.

    Na noite do mesmo dia da chegada, uma médica,atendendo ao pedido da minha querida tia Sarita (SarahFaheina Nogueira), aplicou-me uma injeção. Estava como corpo mole e ardia em febre. Desse dia em diante, jamais

    z as pazes com as injeções.

    No outro dia cedo, depois de um café bem postosobre a mesa pela tia Maria José, minha mãe me levou para tomar banho de sol no jardim. Deve ter sido o primei-ro jardim que usufruí de uma casa.

    Na cidade que nasci, até então, as casas tinham asfachadas rentes à calçada, com suas portas e janelas aber-tas para o mundo, de onde costumávamos conversar com

    os passantes.

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    Anos mais tarde, percebi que o jardim da casa datia Maria José não era tão grande como cou cravado emminha memória. O muro divisório com a calçada era bai-xo, e por ele a gente cava espiando os moradores do bair -ro passarem com suas compras, ou descendo do ônibusapós retornarem do centro de nossa capital.

    Nascido próximo às barrancas do rio Jaguaribe,também me intrigava aqueles homens com suas carroças pipas oferecendo água nas portas das casas.

    Ainda meninote, contou-me minha mãe de eu ter re-cebido naquela mesma manhã a visita de meus primos pre-diletos, Nogueira Filho e Paula Neto. Eles trouxeram mui-tos brinquedos, como um enorme Fort Apache , o qual me

    deixou com brilho nos olhos, pela extrema novidade lúdica. Não tenho lembrança do dia do regresso à minha

    cidade natal. Nem do número de vezes que brinquei commeus primos. Algo que muito recordo vem das ruas da Ae-rolândia. Quase todos os dias passava o vendedor de “che-gadinha” – delicioso doce anunciado pela batida forte deuma haste num triângulo, ambos feitos do mesmo metal. Osom produzido insistia em permanecer em meus ouvidos.E eu, com a minha musicalidade ainda imatura, asseme-lhava-o ao do sino da torre da igreja matriz de minha ci-dade, ecoando nas manhãs cedo de domingo para sinalizaraos éis a celebração da missa.

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    O que mais me chamou a atenção foram os aviões ariscarem o céu. Era a impressão que colhia meus olhos. Elesdecolavam do antigo aeroporto Pinto Martins, ou do Aero-clube, e vinham ganhando altura sobre as casas, en ando-senas nuvens, até a gente não mais ouvir o ronco do motor.

    As viagens para Fortaleza passaram a ser contínu-as, devido ao meu tratamento de saúde. E eu vivia de olhar

    para o céu, a admirar aqueles aviões com suas asas xas

    e frias sustentadas pelo vento. Eles fugiam da gente demodo diferente. Certamente não se assustavam. Foi assimque compreendi a diferença entre passarinhos e aviões. Eseus destinos...

    A primeira vez que andei na Aerolândia foi em

    1961. Estava em companhia de meu esposo, JoséPessoa Lima, para um tratamento de saúde, devi-do uma doença que acometeu meu segundo lho,o escritor Gylmar Chaves. Chegamos por voltadas 20h, depois de mais de meio dia de viagem. Nesse dia, muitos passageiros lotavam o Misto deJúlio Moreira, além de bastante bagagem.

    Descemos na BR-116 e fomos com o nosso lhonos braços até a casa de meu irmão, Edgar Cha-ves, que ainda mora na rua Capitão Clóvis Maia.Achei o bairro muito bom. Nessa rua passavamos ônibus rumo ao centro, onde costumavam se

    localizar os consultórios médicos. A maioria das

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    ruas ainda era de barro batido. Tinha a merceariado senhor Joaquim, logo na esquina. Tinha outrosfamiliares naquele bairro, meu primo Gerardo Nogueira, casado com Sarah Faheina. A igrejatambém cava próxima, mais acima, como se agente fosse para os lados do centro.

    Em 1966, deixamos Tabuleiro do Norte e fomosxar residência na Aerolândia de Fortaleza, na

    rua Tenente Roma. Fizemos logo amizade comnossos vizinhos. Do lado direito, o seu Pinheiroe dona Tonheira. Eles tinham muitos lhos quelogo se misturaram aos nossos. Aposentado daBase Aérea, o quintal da casa de Seu Pinheiro eragrande, onde meu marido acabou montando umao cina mecânica por uns tempos.

    Os vizinhos do lado esquerdo eram o senhor Rai-mundo e dona Ester. Casal com três lhos, tam -

    bém zeram grande amizades com os nossos. To -das as noites eles brincavam na calçada, e corriam pela rua sem nos despertar algum tipo de medo.

    Quase não passava carro.

    Dois anos depois, nos mudamos para outra casa,ela cava numa esquina da rua Capitão Olavo.Também tivemos vizinhos bons. Rosa Maria, lhade seu Moreira e dona Josira, acabou casando commeu primo Hernando.

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    Nos fundos do nosso quintal, havia uma casa den-tro de um grande terreno todo murado. Lá, mora-va seu Frota (Gerardo Frota), que levava nossos

    lhos todos os domingos para a praia. Numa pe -quena vila à rua lateral da nossa nova morada, aSanta Rosa, havia uma pequena vila de sete casas,onde famílias oriundas também do interior cria-ram laços conosco, como a da dona Ivone.

    No Grupo Escolar Edith Braga, matriculei você,Gylmar. Era tão pertinho da nossa casa...

    Lembro que quando chegava um familiar ou outroconterrâneo vindo de Tabuleiro ou de São João doJaguaribe, que se hospedavam em nossa casa, enão conheciam os aviões de perto, a gente costu -mava levá-los pela noite, para assistirem o pousodo avião Caravelle.

    Ainda hoje retorno a Aerolândia para visitar meu ir-mão. Tenho muitas saudades daquele tempo de mo-radia. A gente sentava na calçada e cava em con -

    versas sobre o passado e as novidades do presente...

    Margarida Chaves, funcionária pública aposentada.

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    O itinerário para o bairro da Aerolândia

    Minha mãe me presenteou com uma roupinha do mes-mo modelo do uniforme militar usado pelos mari-nheiros. Era a preferida, para vergonha dela, dada a possi- bilidade dos demais se convencerem de ser única em nossoguarda-roupa. Costumava chorar compulsivamente quandoela colocava sobre a cama outra que não fosse a náutica.

    Certa vez, disse-me ela que essa roupa quase nãovisitou a nossa mala de viagem. E eu tenho alguns res-quícios de memória dessa tão surpreendente indumentáriado meu gosto. Quem sabe uma forma simbólica do meu

    desejo precoce de conhecer o mundo...E foi de Tabuleiro do Norte, por motivo de uma

    paralisia infantil, que acabei indo ao encontro de muitasnovidades. Deixei por um bom tempo a lentidão dos diasdo sertão para me embrenhar na desconhecida e movimen-

    tada vida urbana.A estrada, toda carroçável, parecia-me um cordão

    comprido que ia se enrolando nos pneus do Misto. Meu pai me transmitia a certeza que, de tanto se enrolar aqueleimaginário cordão, chegaríamos ao nosso destino.

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    Durante o trajeto, paramos para uma merecida me-renda, sendo a penúltima parada em Messejana, onde des-ceram do Misto alguns passageiros. Na parada do bairrodo Alto da Balança, nas proximidades do rio Cocó, comsuas periódicas enchentes ainda a invadir as ruas mais baixas da Aerolândia pelo lado leste, outros passageirosdesembarcaram.

    A gente desceu defronte ao Posto Irmãos Campe-lo, local de encontro de passageiros, motoristas e “caronei-ros” oriundos da nossa região, o Vale do Jaguaribe.

    Malas e sacolas à mão, pegamos à direita pela ruacapitão Clóvis Maia, rumo à casa dos meus tios Edgar eMaria José.

    Chegamos aqui em maio de 1961. No mesmo diado nosso casamento. Fomos morar na casa que pertencia ao senhor Raimundo Borges, antigo mo-rador do bairro, à rua capitão Clóvis Maia, 243.Depois de cinco anos construímos nossa própriacasa e nos mudamos para a mesma rua, nº 154,onde moramos até hoje.

    Temos cinco lhos. Todos nasceram e zeram os primeiros estudos aqui.

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    Tudo era diferente. O pão era entregue na porta.O leite a gente pegava na vacaria do senhor Chi-có, bem próxima aqui de casa.

    Nós viemos morar aqui por intermédio do meu ir-mão, Gerardo Nogueira, que era sargento da BaseAérea. O bairro quase todo era constituído de mo-radores civis e militares da Base Aérea.

    Edgar viajava constantemente daqui para Tabu-leiro do Norte. Trazia na carga caroço e plumade algodão da F. Cardoso Dantas. Só depois ele passou a viajar para São João da Barra, no Rio deJaneiro. Trazia para o Ceará o famoso conhaqueSão João da Barra.

    Ele guardava o nosso caminhão Chevrolet 1961no Posto de Gasolina Irmãos Campelo, que cavaentre a BR-116 e a rua Tenente Wilson.

    Quando Edgar chegava de viagem, a gente cos-tumava frequentar nos nais de semana o Clube

    Recreativo da Aerolândia – CRA. Lá encontrá-vamos nossos amigos e outros familiares resi-dentes aqui no bairro.

    À noite a gente frequentava a casa dos vizinhosque tinham televisão. Ou então sentávamos nascalçadas para conversas a o.

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    As ruas pareciam a extensão do quintal denossas casas. Nossos lhos brincavam com totalsegurança.

    O número de carros trafegando pela rua era muito pequeno. A violência quase não existia.

    Edgar de Lima Chavese Maria José Nogueira Chaves

    moradores do bairro.

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    Antes de ser um bairro

    Na Aerolândia sempre moraram muitos entes da minhafamília. Tios, avós, tias, primos e primas. A maioriaveio tentar a vida na capital e certamente escolheu esse bairro em virtude de ser a porta de regresso ao Vale doJaguaribe, de onde somos originários.

    Somente alguns anos depois das várias vezes queme hospedei por lá, vim a perceber seus limites e outrosdemais indicadores. Com uma área de 68,1 hectares, fazlimite ao sul com o bairro Alta da Balança. Ao norte, como extinto bairro do Atapu, na região onde concentra o cru-zamento das avenidas Visconde do Rio Branco e Pontes

    Vieira. Ao leste, com a margem esquerda do rio Cocó; e pelo oeste, com a BR-116, que atualmente termina qua-se sobre o viaduto construído sobre a avenida Borges deMelo, em paralelo ao paredão da Base Aérea de Fortaleza.

    Há registros no livro Aerolândia, seu povo, sua

    história: de sua origem aos dias atuais , de Francisco Ca-minha e João Luís Filgueiras, sobre os primeiros morado-res do bairro serem pescadores que extraíam o sustento para suas famílias do rio Cocó. Arranchados em choupa-nas simples, nal do século 19 e início do século 20, cer -tamente jamais imaginariam daquela grande extensão de

    terra, lamaçais e barro batido, à época pertencente ao Alto

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    da Balança. A denominação desse bairro deve-se à instala-ção pela Secretaria da Fazenda Municipal de uma grande

    balança na BR-116 para veri car o peso das mercadoriastransportadas do interior do estado e do sul do País.

    Na década de 1930, somou-se aos pescadores con-siderado número de pedreiros, serventes, carpinteiros e pintores, trabalhadores contratados para a construção doCampo de Aviação do Alto da Balança, primeiro aeroportoda capital, inaugurado em 16 de setembro de 1931.

    Esses pro ssionais acabaram se interessando emxar suas famílias nas imediações do bairro, tanto pela co -

    modidade de estarem próximos ao trabalho, como também por morar à pequena distância de onde pousaria a instigan-

    te invenção do mineiro Santos Dumont. No dia da inauguração do aeroporto, feito em terra

    batida, o primeiro pouso acabou sendo realizado inespera-damente pelo aviador australiano Herbert Hinkler. Deten-tor de uma verdadeira façanha para a época, ele decolou doCanadá rumo à Nova York, e de lá para a Jamaica, trechoaéreo que fez sem um único pouso. Passou ainda por Vene-zuela, Guiana Francesa e Brasil, antes de voar pelos maresdo Atlântico Sul em direção ao continente africano.

    Devido ao mau tempo ocasionado durante esse tra- jeto, nuvens baixas e pesadas deixara o piloto com escassa

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    visibilidade; Hinkler mudou seu plano de voo para pousarem Londres, o que lhe rendeu, pela coragem e determina-ção de ser o primeiro a atravessar o Atlântico Sul, ganhar oTroféu Segrave, o prêmio Memorial Johnston e o BritanniaTroféu, como desempenho de voo mais meritório daqueleano. Até então, a população fortalezense somente assistira

    pousos aéreos realizados por hidroaviões na Barra do Ceará.

    Ainda segundo os autores de Aerolândia, seu povo, sua história: de sua origem aos dias atuais , de FranciscoCaminha e João Luís Filgueiras, outra memorável guraque também pousou no Campo de Aviação do Alto da Ba-lança foi Amelia Earhart, pioneira da aviação dos EstadosUnidos. Defensora ardente dos direitos femininos, ela foia primeira mulher a receber a condecoraçãoThe Distin-

    guished Flying Cross , por ser considerada a precursora dovoo solo sobre o oceano Atlântico. Dentre outros recordes,Amelia Earhart também se dedicou a escrever livros so- bre suas experiências de voos, essenciais para a formaçãode organização de mulheres desejosas de desbravarem aimensidão dos céus.

    Amelia Earhart, ao tentar realizar um voo ao re-dor do mundo, em 1937, desapareceu no oceanoPací co próximo à Ilha Howland, um atol desabitado e situadadoao norte do Equador no oceano Pací co, a 3.100 km a su -doeste de Honolulu.

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    Presume-se que a inauguração do Campo de Avia-ção do Alto da Balança viabilizou muitas transformaçõesna tão sertaneja Aerolândia. Embora não muito frequentes,dos bairros mais nobres costumavam acorrer curiosos paraassitirem aos pousos dos aviões, a m de recepcionarem passageiros visitantes, como gente famosa, para algumaatividade política ou artística, amigos ou familiares, alémde admirarem aquela máquina mais pesada que o ar a voarlongas distâncias.

    O bairro da Aerolândia ganhou também outroequipamento público de grandes proporções, a Base Aéreade Fortaleza, situada na con uência da BR-116, que passasobre um viaduto à avenida Borges de Melo.

    O processo de criação deste espaço genuinamentemilitar foi moroso. Iniciou-se em 15 de março de 1933,com a instalação do 6º Regimento de Aviação, emborasuas atividades tenham sido autorizadas somente três anosdepois, período em que começou a funcionar como um nú-cleo da Base Aérea, devido à chegada e permanência em

    solo cearense de três biplanos modelo WACO CPF 5. No ano de 1941, o 6º Regimento de Aviação passou

    a ser designado de 6º Corpo de Base Aérea. E somente em23 de março de 1944 passou a ser de nitivamente deno -minado de Base Aérea de Fortaleza, possivelmente quandoaquela faixa de terra que compreende o seu paredão exposto

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    para a BR-116 começou a dar os primeiros passos para setornar o bairro de Aerolândia. Até então, pertencia ao Altoda Balança.

    Mesmo que o país estivesse sendo governado porum regime ditatorial simpático ao nazifascismo, o presi-dente Getúlio Vargas acabou declarando guerra a Alema-nha e a Itália em agosto de 1942, conjuntamente com seusadversários, os Países Aliados.

    O motivo deveu-se ao torpedeamento em feverei-ro desse mesmo ano por submarinos alemães e italianosaos navios da Marinha Mercante brasileira. Em represália,o Brasil aderiu aos compromissos da Carta do Atlântico,cujo tratado era o alinhamento automático com qualquer

    uma das nações americanas, caso fosse atacada por um país de outro continente.

    Somente quase dois anos depois, em julho de1944, as Forças Expedicionárias Brasileiras chegaram àstrincheiras da guerra. Treinado e equipado pelos america-nos, um contigente de 25.000 homens cumpriu algumasmissões com sucesso, como a conquista das cidades italia -nas de Monte Castelo e Montese, denominando dois dos bairros de nossa capital.

    Nesse período, os norteamericanos montaram ba-ses de apoio em alguns estados do Nordeste. Aqui no Ceará

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    ela foi construída onde hoje se localiza o Campus do Pici.Eles trouxeram aviões de combate com tecnologia maisavançada, sendo vários dos nossos pilotos treinados nessesequipamentos modernos antes de seguirem para o front .

    Das 117 ruas que atualmente compõem o bairro deAerolândia, 25 homenageiam militares, mortos em aciden-tes aéreos no perímetro urbano de nossa capital, e os queforam condecorados como heróis por suas participações

    durante a segunda guerra mundial. Seus nomes estão gra-vados nas placas das principais ruas, talvez uma recom- pensa por perderem suas vidas prematuramente. Há casosde vítimas de desastre aéreo, como ocorreu com o pilototenente Roma, que foi homenageado com seu nome emuma das principais vias públicas do bairro.

    As demais ruas são alusivas a comerciantes, polí-ticos, pro ssionais liberais, e também a denominações que podemos considerar inusitadas. No Conjunto ResidencialCocó, localizado dentro dos limites do bairro, deparamo-nos com a rua da Monarquia, da República, da Assembleia,

    do Príncipe, do Reinado, dos Ministérios, do Palácio, doGoverno, do Parlamento e do Congresso.

    No Conjunto Residencial BR-116, encontram-seoutras contrastantes denominações, como a rua dos An -tares, da Sagrada Família, da Trindade, das Sete Estrelas,da Cinderela, do Livramento, da Ponte Grande, da Santa

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    Joana D’arc, Maringá, Todos os Santos, Monte Cristo, e ainesperada rua Cláudio Coutinho, em homenagem a essetécnico de futebol que causou grandes controvérsias comsua proposta tática. Para ele, todo jogador escalado para aseleção teria mais de uma função em campo, dissipando,dessa forma, as posições tradicionais. A “polivalência”,como ele próprio denominou, não obteve resultados mui-to positivos, sendo alvo de inúmeras críticas pela crônicaesportiva especializada e de obervadores natos do futebol.

    Para um bairro assomado de ruas com denomina-ções tão marcantes, a família de Cláudio Coutinho, nasci -do na cidade gaúcha de Dom Pedrito, certamente se sentemuito à vontade com a homenagem. O que não se sabe ése ele ao menos pisou no solo fértil e histórico do bairroda Aerolândia.

    Cheguei à Aerolândia por volta das 21h, proce-dente de Aracoiaba. Era o ano de 1965. A minhaimpressão foi de encontrar algo totalmente estra-nho ao meu dia a dia em Aracoiaba. Tinha seteanos e saía pela primeira vez do convívio de ami-gos já bastante familiarizados. Chorei muito nos primeiros dias. Saudades dos amigos e da cidade.

    A casa onde fui morar cava na rua Tenente Au -rélio Sampaio, 206. Uma rua que ainda não tinhacalçamento e era bastante esburacada.

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    O Misto que nos trouxe, juntamente com amudança, quase não chegou à porta da nossanova casa. Chovia muito, e para completar, aindafaltava luz.Quando se iniciaram as aulas, fui matriculado noGrupo Escolar Edith Braga. Confesso que queium pouco surpreso com o tamanho da escola e seunúmero de alunos. A la da merenda era grande, etínhamos como opções de lanche canja, mingau de

    milho etc.

    Com o passar dos dias, fui me adaptando. Fiz no-vas amizades e as brincadeiras de rua ressurgiram.Algumas delas eram as mesmas de Aracoiaba: pião, sete pecados, triângulo e a famosa arraia.

    Morei na Aerolândia por mais de quinze anos.Esse bairro ainda é pra mim um local de boas re-cordações. Tinha o verso de uma música que mi -nha mãe, Dona Antonieta Ramos de Melo, semprecantarolava depois que nos mudamos de lá: “Aique saudade me dá...”.

    Na Aerolândia foi onde despertei para o universoartístico e musical. Meus primeiros acordes nas-ceram do violão de meu irmão José Maria, quan-do ele, sentado no muro frontal da casa, costuma-va tocar para chamar a atenção das meninas queretornavam da escola e de seus passeios.

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    Foi da Aerolândia que também saí para conhecer omar, levado pela família Nobre Façanha, Seu Al-denor e dona Dinair. Eles me tinham como lho.

    Sempre que posso retorno à rua onde morei. Acasa ainda está lá, o colégio, a mesma bodegaonde vi meus irmãos jogarem sinuca, beberemcervejas.

    Conservo muitos amigos dessa época. Ainda

    grande parte deles se encontram no mesmo local.Morar na Aerolândia continua sendo o maior dosmeus orgulhos! Foi onde começou a se xar emmim a consciência cidadã e onde se desenvolve-ram meus dons artísticos.

    Marcelo Melo,músico e compositor .

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    A escola de dona Detinha

    e o Grupo Escolar Edith Braga

    Existem vários estabelecimentos de ensino, entre públi-cos e privados, no bairro da Aerolândia.Uma das mais antigas escolas do bairro é a Escola

    de Ensino Fundamental e Médio Estado do Pará, inaugu-rada em 01 de março de 1948, local onde já funcionou aEscola Campo de Aviação, mantida também pelo governodo Estado.

    A primeira escola que frequentei no bairro da Ae-rolândia tinha a orientação pedagógica de dona Detinha (Al-dete Rodrigues Marinho). Funcionava numa das salas de suacasa, à rua Capitão Olavo, entre a Capitão Clóvis Maia ea Tenente Roma. Eu estudava pela manhã. E quase sempresentia saudade de meus primos Nogueira Filho e Paula Neto.Ficava imaginando eles brincando no jardim ensolarado desua casa, sob a vigia de Tetê (Tereza Pereira Cruz), para não pegarem o sol depois das nove, ao tentarem ampliar os limi-tes da sombra produzida por um lindo pé de Acácia.

    Tia Sarita era funcionária graduada do Instituto Nacional de Serviço Social – INSS, e, para a nossa alegria,costumava trazer alguns brinquedos comprados na Loja

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    Progresso, que havia na esquina da rua Pedro Pereira comSolon Pinheiro, num dos lados do Parque da Liberdade,mais conhecido por Parque da Criança.

    Quase sempre no início da noite, tia Sarita chegavado trabalho no Jeep de seu esposo, meu primo Gerardo Nogueira, portando um embrulho com papel de presente.E a gente já sabia do que se tratava. Mais brinquedos. Mi-nha tia Sarita, como é chamada por todos da família, aindahoje estampa alegria em seu semblante ao lidar com seus

    lhos e parentes.

    Para somar ao nosso divertimento, minha mãetambém costumava nos presentear. E eu corria para mos-trar aos meus primos o presente da vez. A gente trocava os

    brinquedos. Tomava emprestado. Vivíamos dessa algazar-ra lúdica. Inventávamos muitos outros brinquedos a partirdos que ganhávamos... Bolas se transformavam em aviõesredondos. Carros em navios. O Fort Apache numa novacidade. Tínhamos a certeza que esses empreendimentosimaginativos podiam a qualquer dia vir a se tornarem re-

    ais, e nós, famosos por tê-los inventado.Certo dia elaborei um plano para sair da aula mais

    cedo e ir brincar com meus primos. Disse a dona Detinhaque necessitava tomar uma injeção muito forte. Não hádúvidas que ela percebeu de imediato a minha trama tãocarente de versatilidade. Para a minha surpresa, depois de

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    um olhar pensativo, acabou cochichando em meu ouvido:“Que a sua mãe nunca saiba dessa injeção... Você não vaié brincar com seus primos?”.

    Foi uma glória ter conquistado a simpatia de donaDetinha. Jamais me esqueci dela, com seu olhar terno ecompreensivo. Assim, fez-me ser inventivo sem medo.

    Eu nasci na avenida Mons. Tabosa, próxima à

    Igreja da Prainha. Fiz o meu primário na Phater-non Santa Luzia, dirigida pela doutora LeirissePorto. O ginásio foi no Santa Lúcia. Vim com 12anos residir aqui no bairro. Minha mãe comprouuma casa aqui na Aerolândia. Quando me formeiem pedagogia, no Colégio São José, resolvi mon-tar a minha própria escola, no início dos anos 60,a Escola Nossa Senhora de Fátima. Até então sóexistia aqui a escola da dona Climeide, que fun-cionava à rua capitão Uruguai.

    Naquela época a gente exigia muito dos alunos. Atabuada era temida por todos eles. Havia até casti-

    go para quem desobedecesse e não desse de contadas matérias estudadas. Eu só aplicava castigos para aprofundar o conhecimento. Quando elesnão cumpriam com as tarefas para fazer em casa,eu mandava que copiassem o mesmo conteúdo dolivro várias vezes.

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    Dirigi a escola e ensinei até 1969, quando resolvime casar e fui morar em Belo Horizonte.

    Ao retornar, depois de quatro anos, somente medediquei a criar os lhos. São quatro. Ainda hojeencontro alguns dos meus ex-alunos que aprovei-tam para me agradecer o que aprenderam comigo.

    Professora Detinha (Aldete Rodrigues Marinho),aposentada pelo INSS .

    Nogueira Filho e Paula Neto estudavam à tarde na

    escola de dona Detinha. Dois anos depois foram matricu-lados no Colégio Cearense. Eu, no Grupo Escolar EdithBraga, inaugurado em 1955. Estudei no Edith Braga noano de 1966.

    Lembro-me ainda da minha fascinação por uma bandinha de música que fez uma apresentação para nós,alunos, e tivemos a permissão para pegar nos instrumen-tos. Eu não sabia qual deles escolhia primeiro para saciarminha curiosidade. Ver aqueles instrumentos todos de per-to foi uma grande novidade. Por dias, recontei para meus pais, irmãos e visitas. Aqueles instrumentos construíramcertamente em mim o caminho musical...

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    Jamais conseguiremos ser criança por toda a vida.O tempo costuma passar rápido demais com suas lonjuras, para não nos cansar. Sem ao menos esperarmos, trocamosas arraias, o triângulo, os piões, a brincadeira de esconde-esconde, de pega-pega e de manja por outros interessestambém sedutores. Nasceram as primeiras paixões.

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    Do Clube Recreativo Aerolândia às Tertúlias

    OClube Recreativo Aerolândia (CRA) acomodou em seus bailes memoráveis e primorosas noitadas de confrater-nização e sortilégio, principalmente quando eram animados por Ivanildo e sua banda, sempre os mais concorridos.

    A escolha do dia do baile, os comentários a respei-to da banda contratada; a corrida de jovens e senhoras àscostureiras do bairro com tecidos e modelos de roupa damoda vigente era outro acontecimento.

    Os preparativos eram tantos. Havia até “olheiras”disfarçadas que se demoravam pelas janelas das residên-cias dessas pro ssionais da vestimenta e da roupa.

    Houve casos em que se descobriu a confecção deum mesmo modelo por costureiras distintas. O fato causougrandes constrangimentos e provocou despeita, chegando-se até a desavença, principalmente quando uma das en-volvidas preferia retornar a suas casas, deixando para trás pretensos namorados a mercê da simpatia de suas rivais.

    No dia do baile, os homens marcavam presençanas barbearias do senhor Raimundo Barbeiro (à rua As- pirante Mendes), do Antônio (à rua Brigadeiro Vilela, do

    Bolinha e do Didi da Base. Os dois últimos já faleceram,

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    e suas barbearias funcionavam ao lado do Mercado, en-quanto que as mulheres do bairro costumavam frequentaro Salão de Beleza Ester, localizado à rua tenente Roma.

    A maioria dos moradores seguia a pé e logo se en-carregava de adentrar para o interior do clube, permane-cendo em sua frente um grande número de curiosos semcondições econômicas necessárias para comprar o ingres -so, como também pelo motivo de não serem associados oude se sentirem parte da sociedade local.

    Ocupando o espaço onde outrora fora o Sítio SantaClara, entre a porta de entrada e a BR-116, esse aglomera-do de curiosos se restringiam à animação de participar dafesta ouvindo simplesmente a música tocada e a saborear o

    famoso “churrasquinho de gato” para amenizar o teor forteda “bicada” da cachaça.

    Comum eram as moças e senhoras menos favore-cidas social e economicamente a assistir a chegada de suas

    patroas e lhas vestidas com a nova peça do guarda-rou - pa, quando no outro dia também colhiam sua observação:“Você acha que me destaquei mais que fulana?...”.

    Os bailes eram abertos com a fala do presidente doclube, quando este pedia, em tom cerimonioso, pela atençãode todos! Com esse alerta, o silêncio passava a imperar, salvoum ou outro som produzido pela a nação dos instrumentos.

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    O senhor Jerônimo Pereira da Costa, primeiro pre-sidente, costumava nesse momento fazer alguma prestaçãode contas e anunciar as próximas atrações, como as festi -vidades juninas e a escolha da rainha do bairro, que pos-teriormente concorria com as escolhidas pelos bairros doSão João do Tauape, Pio XII, Jardim Guanabara e Floresta,evento muito propalado que arrebanhava imensas torcidasorganizadas ali atentas com faixas e dispostas a retumban-tes aplausos ou vaias, conforme suas preferências.

    Como uma grande largada musical, logo os casaisocupavam o local próprio para a dança, enquanto os jovens,ainda sem pares, cavam à espreita de suas paqueras, ávidos por se aproximarem e lhes fazer o convite para dançarem.

    Nem sempre rejeitados, pois seus olhares antes jáa rmavam o aceite, nessas noites alegres e fortuitas, r -maram-se muitos casais, ainda hoje moradores do bairro eque deram surgimento à população local.

    Construído onde hoje funciona a Madeireira Pi-ca-pau, inúmeras foram as tertúlias ao som da vitrola, ou

    Hi-Fi , como assim também era chamado esse tipo de en-tretenimento. O CRA foi considerado, em 1955, pela Pre-feitura Municipal de Fortaleza, importante recinto social ede lazer para os moradores do bairro, para o qual chegou atransferir aporte nanceiro.

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    Doze anos após ser fundado, o CRA encerrou suasatividades, deixando para a memória seus bailes e tertúlias.

    ***

    Havia também outros locais de entretenimento no bairro da Aerolândia. O Grande Ponto, situado entre a Ca- pitão Olavo e a Djalma Petit, tornava-se convidativo; alémda bebida, pelo jogo de sinuca, quando era comum seusfrequentadores vararem noites inteiras sob a mira do taco,ganhando ou perdendo as partidas, quando não muito ela- boravam alguns pequenos e informais torneios.

    De acordo com os autores do livro Aerolândia, seu povo, sua história: de sua origem aos dias atuais , deFrancisco Caminha e João Luís Filgueiras, existem outroslocais de encontro tradicionais nesse festivo bairro, como, por exemplo, o Bar do Genésio onde serve merenda até al-tas horas da noite; o Bar do Mestrinho e o Bar do Josias quefuncionavam nos boxes do Mercado da Aerolândia; alémdo estabelecimento comercial de dona Josina, frequentado por grande número de negociantes procedentes do interiorcom o intuito de venderem seus produtores diretamente aos participantes da feira montada às margens da BR-116.

    ***

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    Sempre com a fama de ser um lugar de gente festei-ra, a rua Djalma Petit cou em segundo lugar num concurso promovido durante a Copa do Mundo de 2002, por sua ta-manha animação e tão bela decoração, que acabou cravandoainda mais essa imagem sobre os moradores do bairro.

    Um bar inovador e ousado se destacou na noite daAerolândia, oThe Wall . Fundado na década de 80, arre- batou frequentadores de muitos recantos da nossa capital,devido ao seu excelente repertório e atrações artísticas, principalmente da cantora Joana Angélica e Isaac César. Nos dias dessas apresentações, crescia a disputa por mesascom melhor localização frente ao palco.

    O BarThe Wall não existe mais. Durante alguns

    anos funcionou à rua Tenente Roma, nas proximidades daavenida Raul Barbosa, até se mudar para a Washington So-ares, onde acabou fechando as portas. E virou memória.

    Com o tempo, a Aerolândia se voltou novamente para a BR-116, engatada pelo ramo das churrascarias, piz-zarias e lanchonetes. A Churrascaria de seu Manoel, loca-lizada onde funciona hoje a Skina do Baião, foi a primeirado bairro. Tem outras. E tem também a Ciclo-Burguer, naesquina da BR-116 com Tenente Wilson.

    ***

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    Nasceram as paixões ao som das tertúlias...

    Era comum indagarmos sobre onde seria a do m

    de semana. A que a gente mais frequentava era promovida pela Tânia e sua mãe, Bia Pereira Cruz, família muito que-rida e respeitada entre os vizinhos. E ainda hoje moradorasda rua Capitão Clóvis Maia.

    Geralmente nos demorávamos um pouco na calça-

    da das casas que promoviam tertúlias, para trocarmos con-versas sobre as novidades da semana, aproveitando tam- bém para espiar nossas pretensas paqueras, com as quais

    ertávamos. De acordo com a reação delas, sentíamos alio passe livre para o convite à dança, muitas vezes sob oritmo deGrease, nos tempos da brilhantina , lançamen-

    to musical costurado por John Travolta e Olivia NewtonJohn, além de outros demaishits dançantes dadiscoteque .E tudo explodia numa verdadeira apoteose de emoção!

    Grandes sucessos nacionais também tocavam sol-tos na radiola, tais como as músicas contidas no LP “Déca-da Explosiva”,Quem é ele , música de lançamento da canto-ra Miss Lene; Paralelas , do Belchior, também interpretada por Maria Zenaide; Pertinho de você , da atriz Elizangela; Revelação , do Fagner; e Não Chore Mais (No Woman NoCry) , de Bob Marley, mas na versão do Gilberto Gil. Elasnos deixavam numa vibração romântica desa ante.

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    Por essa época comecei a manter contato mais di-reto com a realidade brasileira, ao tomar conhecimento daexistência de organizações clandestinas e de seus militan -tes comprometidos com as expressões da liberdade, tran -ca ados em “aparelhos”, a mercê da tortura nas prisões,do assassinato disfarçado e do banimento involuntário deinúmeros deles do convívio familiar, e do nosso país, pro-movidos pela ditadura civil/militar.

    Durante a campanha pela Anistia Ampla, Geral eIrrestrita, ocorrida em 1979, fui conhecendo a existência deoutro Brasil. O Brasil da punição arbitrária. E com o regres-so de políticos, intelectuais e artistas do exílio, o sentimentode liberdade se exaltou ainda mais em minha consciência.

    Mas dois anos antes, em 1977, quando saí de Li-moeiro do Norte para residir em Fortaleza, a m de darcontinuidade aos estudos, jamais deixei de frequentar astertúlias da Aerolândia nos ns de semana.

    Hoje, caminhando por suas ruas, e novamente olhan-do para suas placas indicativas, percebo mais uma vez a forçaque o conceito de herói pode in uir sobre todos nós, mesmoque essas homenagens a militares da Base Aérea de Forta-leza tenham sido o cializadas em outro contexto histórico.

    De modo algum desejo me ater aqui ao julgamentode merecimento ou não de qualquer um dos pilotos mortos

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    em acidentes aéreos no perímetro urbano de nossa capital,e aos que foram condecorados como heróis por suas parti-cipações durante a segunda guerra mundial.

    A Aerolândia é um bairro sábio, ensinou-me inú-meras sutilidades...

    Cheguei para morar na Aerolândia em 1954, com asminhas irmãs Adélia e Vanda. A casa cava à rua te -

    nente Wilson, 50. Somente passados alguns anos foique nos mudamos para a rua capitão Clóvis Maia.

    Em 20 de agosto de 1959 me casei com o sargentoda Aeronáutica, Gerardo José Nogueira, e tivemosdois lhos, Gerardo José Nogueira Filho e JoséOlímpio de Paula Neto.

    Para mim, existem inúmeros acontecimentos impor-tantes do tempo que morei na Aerolândia. Foi lá quecriei meus dois lhos, que convivi socialmente comas pessoas do bairro, as quais ainda prezo muito.

    Minha casa vivia cheia dos amiguinhos de meuslhos. Eu sempre gostei de muita alegria. Uma

    vez promovi um casamento junino no quintal lá decasa, que era muito grande, quase um sítio. Tenhoainda fotos dessa festa. Nogueira lho foi o noivo.A noiva foi a Narda, lha do nosso estimadovizinho, seu Plácido Moreira. Muitas crianças do

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    bairro participaram acompanhadas de seus pais.Você, Gylmar, estava lá e era muito pequeno.Sempre com esses seus olhinhos azuis brilhantes.

    Lembro bastante dos encontros sociais nos naisde semana no Clube Recreativo Aerolândia, comnossos grandes e estimados amigos da rua capi-tão Clóvis Maia, tais como seu Bessa Nogueira,Adauto Lopes e seu Betinho, todos sempre acom-

    panhados de suas esposas. Eles faziam parte dadiretoria do CRA.

    Por esse tempo eu trabalhava no Instituto de Apo-sentaria e Pensão dos Comerciários – IAPC, hojeInstituto Nacional de Serviço Social.

    Era sempre uma alegria retornar para casa no iní-cio da noite e encontrar meus lhos brincando nascalçadas em total segurança.

    Quando retorno ao bairro da Aerolândia, umagrande emoção ainda me invade. Desse querido

    bairro, com meus lhos já matriculados na univer -sidade, fomos morar na avenida Luciano Carneiro, próximo ao antigo Aeroporto. Nada deixei paratrás. Uma parte da minha vida está na Aerolândia.

    Sarah Faheina Nogueira,

    aposentada do INSS .

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    Nasceu o comércio

    A principal base de economia do Ceará já foi a culturado gado. Em muitos dos bairros de nossa capital a produção de leite e carne era comum, e mantinha acesoesse comércio local.

    Na Aerolândia existiam alguns currais. E até vaca-

    rias. Todos os dias o leite chegava à porta das casas trans- portado em grandes vasilhames; uma lata de litro serviacomo medida para o momento da venda. Consta que os maisfamosos vendedores a se debruçar na lida diária pelas ruaseram os senhores Chico, Gentil e Antonio Ademir. É o queestá registrado na memória dos moradores da comunidade.

    A carne também se vendia pelo bairro, e era co-mercializada num precário matadouro de propriedade dosenhor Saldanha.

    O que não se aproveitava de bois e vacas era des- pejado inescrupulosamente nas margens e no leito do rioCocó, principalmente no período do verão. Não havia, poressa época, nenhum órgão de scalização e uma consciên -cia ecológica e cidadã como nos dias de hoje.

    Somente depois de alguns anos, o senhor JoséLessa montou um açougue, favorecendo melhor higiene

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    no trato com as carnes e a comodidade de compra dosconsumidores.

    Além do leite e da carne, muitos outros produtosde consumo doméstico careciam na Aerolândia. Geral-mente, peixes, verduras, frutas e legumes só eram encon-trados à venda na feira permanente localizada às margensda BR-116.

    As feiras livres também passavam pela Aerolân-dia, às margens da BR-116. Uma in nidade de produtosera vendida, de materiais de construção ao feijão. Bem di-ferente do consumo do pão, vendido de casa em casa pelasruas do bairro dentro de um balaio acomodado na garupade uma bicicleta. Proveniente das padarias centrais, prin-

    cipalmente do Atapu e do Joaquim Távora, o pão da modaera o semolina, feito da farinha granulada extraída do grãode arroz. Os pães eram compridos e certamente continhammenos fermento, como os atuais, tão prejudiciais à saúde.

    No nal da década de 1960 e início da década de1970 muitas bodegas foram abertas onde costumava-seencontrar à venda inúmeros gêneros alimentícios. Algu-mas chegavam a ter uma verdadeira variedade de produ-tos, que iam da lamparina, fumo de rolo, passando pelarapadura, cachaça e refrescos, agulhas e botões, até o óleocomestível, a farinha, o feijão e o arroz.

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    Por essa época, podemos dizer de maneira român-tica, os casais de namorados também foram agraciados.Dona Fausta das Flores montou uma oricultura à rua Jay -me Andrade. De grande benefício aos pretendentes pelasmoças do bairro e aos apaixonados, essa oricultura foide grande utilidade, tanto para os dias de nados, como para os casamentos celebrados na igreja local, consagradaa Nossa Senhora do Sagrado Coração, situada à rua capi-tão Uruguai, na altura do número 300.

    De muita valia para os éis do bairro, na décadade 50, vários setores da sociedade aerolandense se envol-veram com sua ampliação. Para a aquisição da verba ne-cessária foram realizadas quermesses. Barracas repletas decomidas típicas, escolhas da rainha, leilões e até aluguel

    do terreno onde se estenderia a reforma zeram parte daarrecadação.

    Parques e circos acamparam ali, que além de con-tribuírem com o pagamento do aluguel pelo período defuncionamento, ainda divertiam a população local e os vi-

    sitantes.Muitas outras igrejas foram instaladas na Aerolân-

    dia para suprir a fé de seus moradores. Consta ainda a Cape-la de Santo Antônio, diversos templos e congregações evan -gélicas, e a Instituição Espírita dos Seguidores de Jesus.

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    Veio, então, o Mercado da Aerolândia, inaugura-do em 27 de março de 1968. Logo se tornou um íconede nobreza e desenvolvimento local. Sua estrutura em Art

    Nouveau , que segundo o historiador Tião Ponte, estilo bas-tante enfeitado que reinou absoluto durante o período dabelle époque , foi parte do Mercado da Carne de Fortaleza,tornando-se posteriormente mais conhecido por Mercadode Ferro, devido sua estrutura toda feita de peças de ferroimportadas da França.

    Montado na antiga praça Carolina, nas proximida-des onde funcionou a Assembleia Legislativa do Ceará, eatualmente está o Museu do Ceará, em 1937, sua estruturadeu origem a outros dois mercados: o dos Pinhões e doSão Sebastião.

    Alguns anos depois, uma reforma no Mercado SãoSebastião levou à afamada estrutura de ferro do Mercadoda Carne, ali utilizada para a construção do Mercado daAerolândia.

    Constituído de 52 boxes divididos em dois espaço-sos corredores que dão para suas portas laterais, o Merca-do da Aerolândia dispunha dos mais variados gêneros ali-mentícios, fornecendo às populações de bairros vizinhos eaté de cidades pertencentes à região metropolitana de For-taleza, principalmente as localizadas no lado sul, grandecomodidade.

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    O Bairro, legitimamente integrado às expressõesdo comércio, da educação, da cultura e do entretenimento,terá no antigo Mercado da Aerolândia, tombado pela Pre-feitura Municipal de Fortaleza, e que está em reforma, umcentro de cultura e de artesanato.

    Antes de residir na Aerolândia, eu e minha esposaStela morávamos num sítio, na comunidade chama-da Volta, município de São João do Jaguaribe, onde

    casamos em 1960. Nasci em 1935, e lá permaneciaté 1967. Nesse período, fui motorista do meu pai,de 1951 a 1959, dirigindo um Chevrolet 1943.

    Em 1959 eu comprei um Misto e passei a trans- portar passageiros e mercadorias da comunidadedo Castanhão para Fortaleza.

    Depois, vendi o Misto e comprei um caminhão1961, e fui transportar cargas variadas, tais como banana, oiticica, algodão etc.

    Em 1962, troquei a carroceria desse caminhão por

    um tanque de combustível. E continuei transpor-tando banana e oiticica em cima do tanque, quan-do retornava vazio, após entrega do combustívelnos postos da região.

    Em 30 de março de 1967, vim morar em Fortaleza,no bairro da Aerolândia, à rua Capitão Olavo, 812.

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    Ainda em 1968, comprei um terreno à rua Capi-tão Clóvis Maia, 405, para guardar meu caminhão. Não sabia, mas ali nascia a Lima Transportes Ltda.

    Em 1978, fui morar à rua Major Gerardo Mendes,451 (atual Rua da Asa).

    Meus lhos nasceram todos no Sítio Volta. Eforam todos criados na Aerolândia. São eles osmeus principais funcionários, a minha extensão.

    A Aerolândia me deu esse momento promissor deme fazer na vida, tanto pro ssional quanto fami -liarmente. Hoje, tenho onze netos e um bisneto.Amo a minha família!

    Embora não resida mais na Aerolândia, encontrolá as minhas origens quando da minha chegadaem Fortaleza.

    Lauro de Paula Lima,empresário do ramo de transportes .

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    Um bairro também sobrevive da saúde

    Em seus primórdios, faleciam na Aerolândia muitosde seus moradores, principalmente pela ausência derecursos médicos e clínicos com suportes técnicos dispo-níveis. Até os anos 1960 e 1970 era comum a notícia demortes prematuras de crianças e adultos, vítimas do sa-

    rampo, caxumba e outras mais. A precariedade da saúdeera tão assustadora que a população costumava assistir aenterros de recém-nascidos “transportados em caixas de papelão ou madeira confeccionadas de maneira artesanalaté o Cemitério da Messejana, o mais próximo da região”,revela-nos Francisco Caminha e João Luís Filgueiras, em

    seu livro Aerolândia, seu povo, sua história: de sua ori- gem aos dias atuais .

    Sobre os serviços relativos à saúde da população,o bairro conta hoje somente com o Posto de Saúde CésarCals de Oliveira, que a cada dia se torna insu ciente para

    as necessidades clínicas e ambulatoriais, além de umas poucas farmácias.

    Meu pai se chamava João Pereira de Sousa, masera conhecido como Pererinha. Ele nasceu na ci-dade de Piancó, na Paraíba, e veio para o Cearános idos dos anos 40, para servir o Exército.

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    Depois de sair do exército, foi trabalhar no Depar-tamento Nacional de Estradas e Rodagens; hoje,Departamento Nacional de Infraestrutura e Roda-gens, situado no Cajazeiras, bairro mais ou menos próximo daqui da Aerolândia.

    Ele era enfermeiro prático. E por esse tempo mon-tou três farmácias. O nome de todas elas era Far-mácia Aerolândia. A primeira foi aqui na esquina

    da rua Capitão Vasconcelos com a Capitão Cló-vis Maia. A segunda, na esquina da Campo Verdecom a José Buson, e a terceira, na avenida Viscon-de do Rio Branco, 5435.

    Atuou como farmacêutico durante mais de 50 anos.Em 2005, Deus resolveu levá-lo para junto dEle.

    Aqui onde ele fundou sua primeira farmácia, aca- bei montando um bar que funciona até hoje: “Antesaqui se curava, hoje, se mata de cirrose hepática”.

    Todos dizem que meu pai foi um farmacêutico

    exemplar. Homem que não media esforços paraamenizar a dor de alguém, ou curá-lo de suasdoenças.

    Francisco Admar Castro de Sousa,

    flho .

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    Uma líder comunitária e os aparatos sociais

    Com os mesmos propósitos de cidadania, surgiram naAerolândia inúmeras lideranças comunitárias, dentreas quais aqui destaco dona Raimundinha do Lagamar.

    Líder sempre ativa e emblemática, por mais de 50

    anos participou de inúmeras lutas em quase todos os seto-res necessários ao desenvolvimento humano e de como-didade urbana, incluindo a educação, a saúde e serviçossociais do bairro. Pedagoga, sua contribuição era cons-tante nas ações de educação junto às professoras locais.Enfermeira habilidosa, constantemente era procurada para

    fazer curativos, aplicar injeções e ajudar com o interna -mento em hospitais da capital de enfermos mais graves.Participou da construção da Igreja de Nossa Senhora doSagrado Coração, foi uma das primeiras catequistas. Tra- balhou incansavelmente junto à Secretaria dos Transpor-tes da Prefeitura de Fortaleza para a ampliação do trajeto

    da linha de ônibus que trafegava pelo bairro. Empreendeugrandes esforços para a construção do Conjunto Tancredo Neves por motivo da desapropriação dos moradores situa-dos às margens da BR-116.

    Quando da ocorrência da invasão nas duas margensdo rio Cocó, cando desamparadas inúmeras famílias, dona

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    Raimundinha ajudou na aquisição, junto ao governador, de838 casas do lado direito do rio Cocó – Conjunto TassoJereissati, e organizou em regime de mutirão e construçãode 561 casas do lado esquerdo – Conjunto Rio Cocó.

    Candidata à vereadora em 1992, foi contempladacom dois mil votos. E por ter cado na suplência, conse -guiu assumir o cargo por um período de três meses.

    No ano de 2007, ela se foi para a morada do Pai, dei-xando à população local relevantes serviços prestados porela e muitos outros líderes empenhados em favor do bairro.

    Hoje a Aerolândia conta com a ação cidadã de inú-meras instituições, Organizações Não Governamentais e

    associações públicas e privadas.Para citar a convivência de seus habitantes com al-

    gumas delas, relacionamos o ABC Lagamar, que tambématende comunidades vizinhas e se localiza à rua MonteCristo, 191; a Fundação Marcos de Bruin, à rua Hermí-nio Barroso, 160; o Centro de Desenvolvimento Infantil,à rua Capitão Aragão, 863; o Instituto Marinho Palhano,à rua Major Gerardo Mendes, 74; Irmãos de Santa Teresi-nha e da Santa Madre Maravilhas de Jesus, à rua CapitãoUruguai, 384; o Projeto Criança Mais Vida, à rua Capitão Nogueira, 579; a Rádio Comunitária – FM Sucesso, à ruaCoronel Gonçalo, 221; a SOAVIDA – Sociedade de Apoio

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    e Defesa da Vida, à rua Tenente João Albano, 180; a Socie-dade de Habitação Popular da Aerolândia, que funciona noConjunto Habitacional BR-116; além de outras tantas, taiscomo a Associação das Prostitutas do Ceará – APROCE, àrua Capitão Uruguai, 290; a Associação dos Moradores doLagamar, à rua Capitão Aragão, s/n; a Associação Cearen-se da Indústria da Pani cação, à rua Capitão Aragão, 400;o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros doEstado do Ceará – SINDIÔNIBUS, à avenida Borges deMelo, s/n; o Centro de Apoio ao Cidadão – CEACI, à ruaCapitão Olavo, 897; o Posto de Saúde César Cals de Oli-veira, à rua Capitão Aragão, 555; a Frente Bene cente paraa Criança, à rua Capitão Uruguai, 393; e a Companhia dePolícia Militar Ambiental, à avenida Raul Barbosa, 6801.

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    O caminhão do seu Silva nos levava

    aos jogos do Time da Garotada

    Odomingo me parecia o dia escolhido por Deus paracoroar a semana de alegrias. Logo cedo, em compa-nhia de meu irmão mais velho, Gilson Chaves, esperava omomento de seu Frota arrancar com seu caminhão rumo

    à praia do Ideal. Aquelas areias, as conchas, a beleza dasondas vencendo a quentura do sol, o picolé para dar umarefrescada, o cuidado para não se perder entre os banhistassão memórias que rebentam de vez em quando de minhainfância por essa época.

    E os domingos sempre terminavam com mais emo-ções. Pela tarde, sobre a carroceria do caminhão de seu Sil -va, íamos para o Estádio Presidente Vargas assistir jogar oglorioso Fortaleza Esporte Clube, o Time da Garotada.

    Na parte traseira da cabine do caminhão havia uma janelinha, por onde meu pai, em conversa solta com seu Sil-va sobre as possibilidades de vitória do iminente jogo, con-trolava nossos movimentos sobre a carroceria. Meu irmãoGilson e eu, misturados a tantos outros torcedores mirins eadultos que aproveitavam a mesma carona, entretínhamo-nos com a algazarra durante a viagem sem nos ater às pos-sibilidades de perigo por nos aproximar das grades laterais.

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    Numa tarde bastante nublada, eu e meu irmão Gil-son, sentados na área lá de casa, presenciamos sua desven-tura, ao ser atropelado por um dos caminhões feirantes quenão conseguiu livrá-lo dos pneus traseiros.

    Danúbio ainda tentou se sustentar em pé mirandoem nossa direção. Mas, caminhões são pesados, e o amá -vel Danúbio nos deixou, para a nossa grande tristeza, que perdurou dias, meses, hoje até... sempre ao recordarmos.

    Quanto ao seu Silva, depois de assistir ao jogo en-tre o time do Fortaleza e do Palmeiras, onde ocorreu umavariação muito grande de placar, no qual o Tricolor de Açosaiu de campo vitorioso com quatro tentos a favor contratrês do Palmeiras, ele retornou para casa cheio de emoção.

    Como fazia quase todas as noites, sentou numacadeira de balanço no jardim de sua casa, que não tinhamuro divisório com a rua, de onde des ava conversas comvizinhos e passantes.

    Nessa mesma noite do jogo, seu Silva resolveu irfazer parte de outra torcida. Sua predileta cadeira de balan-ço cou solitária.

    Todos foram dormir e seu Silva bem sentado no jar-dim ali permaneceu. Sem que ninguém pudesse imaginar,ele jamais retornou para o interior de sua casa. Ao alvorecer

    do dia, em não responder aos cumprimentos de bom dia

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    dos vizinhos e passantes, percebeu-se que levara para o céua glória da vitória do Fortaleza sobre o Palmeiras.

    Os desportistas da Aerolândia também tinham ou-tro time para torcer. Era o Calouros do Ar Futebol Clu- be, embrionário dos vários campos de futebol de areia do bairro. Segundo os autores do livro Aerolândia, seu povo, sua história: de sua origem aos dias atuais , Francisco Ca-minha e João Luís Filgueiras, tudo começou por volta de1940, quando um menino, juntamente com seus colegui-nhas, José da Silva Porto, resolveu fundar uma agremiaçãoesportista, o América Futebol Clube.

    Somente em 1952, todos já rapazes formados, de-cidiram homenagear os aspirantes da Base Aérea de For-

    taleza com a criação de um novo time. Assim nasceu oCalouros do Ar com a camisa do uniforme composto delistras verticais grenás, verdes e brancas, calção branco emeias usadas também com as opções brancas ou verdes,foi assumido especialmente por sua torcida organizadaTorcida Uniformizada Calouros do Ar – TUCA, como o

    “Tremendão da Aerolândia”.Usando o símbolo de uma águia, dois dos mais vi-

    brantes orgulhos dos membros do TUCA, e sua torcida emgeral, foi obter vitória por 1x0 sobre o Botafogo, conside-rado à época um dos maiores e mais reconhecidos timescarioca e brasileiro, cuja equipe tinha como integrantes os

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    lendários Garrincha, Didi e Nilton Santos. No ano seguin-te, em 1955, o Calouros do Ar brindou sua torcida com ocampeonato cearense de futebol.

    Atualmente, sem licença da Federação Cearensede Futebol para o exercício pro ssional, no ano de 2005a Base Aérea de Fortaleza requisitou a sede e o campo detreinamento do Calouros do Ar, aterrando-o posteriormente.

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    Depois do m

    Meus parentes e muitos outros moradores que já se fo-ram certamente cariam surpresos com o atual coti -diano do bairro repleto de inúmeros equipamentos públicose privados – valoroso naipe de serviços úteis à sobrevivên-cia e ao conforto local, conquistados em nome de todos.

    Considero a Aerolândia um ícone geográ co ehistórico de nossa capital. É também para mim uma searainesquecível de acontecimentos e recordações. Belas vi -vências! E a certeza de seu constante movimento coletivoalcançar cada vez mais dias melhores.

    Saravá, meus primos Nogueira Filho, Paula Neto,Junior e Ângela Chaves. Pedro, Paulo e Laurinho. Olím- pio, Hugo, Neiva, Pedro Hélio e José Maria Almeida. Val-décio Paula, Neto, Agrimar e Francisca. Helis, Betinha,João Batista, Lélia, Luís, Fátima, Lenilce e Rita de Cás-sia Lima Nobre. Guardo boas recordações da merceariade seus pais, Francisco Concílio Nobre (in memorian ) eMaria Mimosa Lima Nobre.

    Saravá, primo João Aires, sempre esbanjandocordialidade e alegria em nossos encontros. Cada vez maistenho a convicção de que o convívio e o carinho familiar

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    Saravá, Ana Maria, Luciano, Rosa Maria, Ossiane Afrânio Moreira, lhos de Francisco Moreira da Cos -ta e Josira Bezerra Moreira, pais dedicados e repletos dealegria, nossos vizinhos quando nos mudamos para a ruaSanta Rosa, atual Brigadeiro Vilela.

    Saravá, minha professora Detinha. Sua capacida-de de compreender minhas escapulidas no horário da aularumo às brincadeiras me reforçou a preservar boas lem- branças, a entender que os lugares de afeto se tornam his-tóricos, e, possivelmente, sempre atuais!

    Aerolândia, jamais te esqueço!

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    Referências Bibliográ cas

    AZEVEDO, Miguel Ângelo (Nirez).Cronologia Ilustrada de Fortaleza: Roteiro para um turismo Histórico e Cultural. Fortaleza: UniversidadeFederal do Ceará, Casa José de Alencar, Programa Editorial, 2001.

    BORZACCHIELLO, José, CAVALCANTE, Tércia e DANTAS,Eustóquio (Org.).Ceará: Um novo olhar geográfco. 2ª. Ed. Fortaleza:Edições Demócrito Rocha, 2007.

    CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia dasLetras, 1990.

    CAMINHA, Francisco e FILGUEIRAS, José Luís. Aerolândia, seu povo, sua história – de sua origem aos dias atuais . Fortaleza: INESP, 2008.

    CHAVES, Gylmar; VELOSO, Patrícia (Org).Viva Fortaleza. Fortaleza:Terra da Luz Editorial, 2011.

    GIRÃO, Raimundo.Geografa Estética de Fortaleza. Fortaleza:Imprensa Universitária, 1959.

    JORNAL O POVO.O Povo nos bairros. Fortaleza, página 8,

    13/07/2013.

    LEAL, Ângela Barros A História passa por esta rua, 2º. Volume, Fortaleza:Multigraf Editora/Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza, 1993.

    PONTE, Tião. “Fortaleza Belle Époque – 1880/1925”. In: Ah, Fortaleza! CHAVES, Gylmar; CAPELO, Peregrina; VELOSO, Patrícia (Org.).

    Fortaleza: Terra da Luz Editorial, 2006.

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    Sites

    http://www.en.wikipedia.org/wiki/Bert_Hinklehttp://www.pt.wikipedia.org/wiki/Amelia_Earhart

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