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Coleções Entomológicas Legislação brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens Rhescyntis reducta

Coleções entomológicas

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legislação brasileira, coleta, curdoria e taxonomia para as principais ordens de insetos

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  • Colees Entomolgicas

    Legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    Rhescyntis reducta

  • Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEmbrapa CerradosMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    EmbrapaBraslia, DF2015

    Amablio Jos Aires de CamargoCharles Martins de Oliveira Marina Regina Frizzas Kathia Cristhina Sonoda Danilo do Carmo Vieira Corra

    Colees Entomolgicas Legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

  • Todos os direitos reservados.A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou

    em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Cerrados

    C691 Col ees entomolgicas : legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens / Amablio Jos Aires de Camargo ... [et al.]. Braslia, DF : Embrapa, 2015.

    E-book : il. color.E-book no formato pdf.Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.Modo de acesso: World Wide WebNo e-book contm 2 vdeos com 10 minutos de durao.

    ISBN 978-85-7035-388-7

    1. Entomologia. 2. Inseto. 3. Armadilha. 4. Legislao. I. Camargo, Jos Aires de. II. Oliveira, Charles Martins de. III. Frizzas, Maria Regina. IV. Sonoda, Ktia Cristhina. V. Corra, Danilo do Carmo Vieira. VI. Embrapa Cerrados.

    595.70981 CDD 21

    Embrapa 2015

    Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa CerradosBR 020, Km 18, Rodovia Braslia/FortalezaCaixa Postal 08223CEP 73310-970 Planaltina-DFFone (61) 3388-9898 Fax (61) 3388-9879www.embrapa.brwww.embrapa.br/fale-conosco/sac/

    Unidade responsvel pelo contedo e pela edioEmbrapa Cerrados

    Comit de PublicaesPresidente: Cludio Takao KariaSecretria-executiva: Marina de Ftima VilelaSecretrias: Maria Edilva Nogueira

    Alessandra S. Gelape Faleiro

    Superviso editorialJussara Flores de Oliveira Arbues

    Reviso de textoFrancisca Elijani do NascimentoJussara Flores de Oliveira Arbues

    Normalizao bibliogrficaFabio Lima Cordeiro

    Capa, projeto grfico e diagramaoFabiano Bastos

    IlustraoNcholas F. Camargo Wellington Cavalcanti

    Foto da capa Fabiano Bastos Rhescyntis reducta Camargo e Becker, 2000

    1a edio e-book (2015)

  • Autores

    Amablio Jos Aires de CamargoBilogo, doutor em Entomologia

    Analista da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF

    Charles Martins de Oliveira Engenheiroagrnomo, doutor em Entomologia

    Pesquisador da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF

    Marina Regina Frizzas Engenheiraagrnoma, doutor em Entomologia

    Professora da Universidade de Braslia, Braslia, DF

    Kathia Cristhina Sonoda Biloga, doutor em Ecologia de Agroecossistemas

    Pesquisadora da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF

    Danilo do Carmo Vieira Corra Bilogo, especialista em Meio Ambiente

    Analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade ICMBio, Braslia, DF

  • Agradecimentos

    Os autores so gratos a todos que de alguma maneira ajudaram para a concretizao deste trabalho. Em especial, agradecemos ao Willian Rogers Ferreira de Camargo, da Embrapa Cerrados, que providenciou a autorizao de uso e a traduo da chave para identificao dos imaturos; Graziele Oliveira Batista, Analista Ambiental da COFAU/CGFAP/DBFLO/IBAMA, pela reviso do texto sobre o Cadastro Nacional de Colees Biolgicas.

  • Apresentao

    Um dos principais desafios que a humanidade enfrenta atualmente a produo de alimentos aliada preservao ambiental e o uso racional dos recursos naturais. A diversidade biolgica, alm de ser de grande importncia na manuteno da vida, fundamental para atender s necessidades bsicas do homem. No caso dos insetos, sabese que esto presentes em praticamente todos os ambientes, ocorrendo desde locais extremamente quentes at regies com temperaturas abaixo de zero. O papel que desempenham nos diversos ecossistemas inegvel. Esto envolvidos em vrios processos e interaes ecolgicas entre as quais destacamse a polinizao e o controle biolgico.

    Para a plena utilizao das informaes a respeito de qualquer grupo de organismos, incluindose os insetos, imperativo a existncia de colees cientficas. Os dados contidos nessas colees, quando organizados, fornecem informaes fundamentais para vrios estudos, tais como: padres de distribuio, ciclos biolgicos, controle de pragas e mudanas ambientais.

    Apesar dos avanos em algumas reas de estudos, que auxiliam na identificao dos insetos, como por exemplo, a biologia molecular, toda atividade relacionada rea de pesquisa em Entomologia depende de maneira imprescindvel da identificao taxonmica dos organismos com os quais se est trabalhando. Dessa forma, as colees entomolgicas so ferramentas inestimveis tanto para os taxonomistas quanto para aqueles que necessitam das identificaes.

    A catalogao e a maioria dos estudos relacionados aos insetos dependem, em essncia, de tcnicas apropriadas de coleta, transporte e armazenamento, e a utilizao de exemplares da natureza regulada pela legislao, que deve ser conhecida por estudantes e profissionais da rea.

    Nesse contexto, esta obra contribui de maneira significativa para o preenchimento de uma enorme lacuna de informaes a respeito

  • da importncia das colees biolgicas como um banco de dados e sua curadoria. O livro trata das etapas inerentes formao, manuteno e regulamentao de uma coleo entomolgica, desde a apresentao das diferentes tcnicas de coleta das principais ordens de insetos, sua triagem, montagem, conservao e identificao at a legislao brasileira que regulamenta essas atividades. uma obra indicada para estudantes, professores, pesquisadores e para todos aqueles que se interessam pela Entomologia, constituindose em uma referncia metodolgica de relevante importncia para o estudo dos insetos no Brasil.

    Jos Roberto Rodrigues PeresChefeGeral da Embrapa Cerrados

  • Sumrio

    Introduo .....................................................................................................10

    Os insetos .............................................................................................11

    Colees biolgicas: finalidades e importncia .................................11

    Taxonomia .............................................................................................12

    Cadastro Nacional de Colees Biolgicas CCBIO ..........................13

    Morfologia bsica de um inseto ..................................................................15

    Etapas para formao de uma coleo entomolgica ................................18

    Sistema de Autorizao e Informao em Biodiversidade SISBio ..19

    Atividades cuja autorizao disciplinada pelo SISBio......................20

    Tcnicas de coleta ..........................................................................................22

    Material necessrio para coleta ..........................................................24

    Tipos de armadilhas .............................................................................29

    Armadilhas mais indicadas para as principais ordens de insetos ..............30

    Ordem Lepidoptera .............................................................................31Ordem Lepidoptera (mariposa) ...................................................31Ordem Lepidoptera (borboleta) ...................................................38

    Ordem Coleoptera ...............................................................................40

    Ordem Hemiptera ...............................................................................46

    Ordem Hymenoptera ..........................................................................49

    Ordem Orthoptera ..............................................................................51

    Ordem Isoptera ....................................................................................53

    Ordem Diptera .....................................................................................54

    Ordem Odonata ..................................................................................56

    Ordem Mantodea ................................................................................57

    Ordem Neuroptera ..............................................................................58

    Ordem Megaloptera ............................................................................59

  • Ordem Trichoptera ..............................................................................60

    Ordem Ephemeroptera ........................................................................61

    Ordem Blattaria ....................................................................................61

    Ordem Phasmatodea ..........................................................................62

    Ordem Dermaptera ..............................................................................63

    Ordem Thysanoptera ...........................................................................64

    Outras ordens .......................................................................................64

    Insetos aquticos e Semiaquticos ....................................................65

    Acondicionamento temporrio para transporte ao laboratrio .................72

    Curadoria .......................................................................................................75

    Hidratao ............................................................................................76

    Montagem ............................................................................................77Dupla montagem ..........................................................................84

    Desmontagem ......................................................................................85

    Etiquetagem ..........................................................................................85

    Parataxonomia ......................................................................................86

    Identificao .........................................................................................87Dissecao completa de Lepidoptera ..........................................88Dissecao de genitlia ...............................................................89Dissecao de genitlia de Coleoptera ........................................89Preparao de genitlia de Diptera ..............................................90

    Digitalizao dos dados .......................................................................90

    Incorporao do material entomolgico na coleo ..........................91

    Conservao e manuteno ................................................................92

    Filogenia de Hexapoda .........................................................................93

    Chave para identificao das Ordens da superclasse Hexapoda (adultos) .........................................................................................95

    Chave para identificao de imaturos ...............................................104

    Referncias...................................................................................................113

  • Introduo

  • 11

    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    Introduo

    Os insetos

    Os insetos (Arthropoda: Insecta) esto presentes em praticamente todos os ambientes, desde locais extremamente quentes at regies com temperaturas abaixo de zero. O papel que desempenham nos diversos ecossistemas inegvel, estando envolvidos em vrios processos e interaes ecolgicas, como polinizao, predao, ciclagem de nutrientes, herbivoria e controle biolgico. Ocupam quatro dos cinco nveis trficos bsicos: consumidores primrios, consumidores secundrios, produtores secundrios e degradadores. Podem ser de extrema importncia econmica ao atuar, por exemplo, na produo de mel, cera e seda. Servem de alimento para vrios animais, desde peixes e anfbios at mamferos e aves. Contribuem para o equilbrio populacional de diversos animais e plantas. Podem ser utilizados na medicina e em pesquisas cientficas. Entretanto, algumas espcies so pragas que geram impacto significativo na produo de gros, carnes, fibras e bioenergia; e outras atuam como vetores de doenas de plantas e animais. Alm disso, por responderem rapidamente s mudanas ambientais, os insetos podem ser usados como indicadores biolgicos dessas mudanas.

    A classe Insecta apresenta uma imensurvel diversidade em termos de espcies. Como consequncia, seus representantes exibem os mais variados hbitos, hbitats, comportamentos e morfologia. A catalogao bem como a maioria dos estudos relacionados aos insetos dependem de tcnicas apropriadas de coleta e transporte dos espcimes, o que permitir que as espcies sejam depositadas adequadamente em colees biolgicas, tornandose fontes importantes de informaes por perodo indefinido de tempo.

    Colees biolgicas: finalidades e importncia

    As colees biolgicas constituemse de materiais biolgicos (organismos ou partes desses) devidamente tratados, conservados, organizados e sistematizados, cujas finalidades so: cientfica, didtica, particular, de segurana nacional, de servio, entre outras.

    Uma coleo entomolgica no apenas uma entidade esttica para visitao e admirao de insetos coloridos. Apesar do notvel

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    Introduo

    valor esttico, uma coleo biolgica , antes de qualquer coisa, uma ferramenta, um banco de dados que permite o desenvolvimento de inmeras pesquisas estratgicas para ecologia, biogeografia e conservao. As colees biolgicas, em geral, detm informaes fundamentais para que o Pas possa cumprir os compromissos e tratados internacionais j firmados (CAMARGO, 2009).

    Colees entomolgicas desempenham papel essencial para o estudo dos insetos. Os dados quando organizados, georeferenciados e sistematizados fornecem informaes fundamentais para vrios estudos, tais como padres de distribuio geogrfica, biodiversidade, ciclos biolgicos, controle de pragas, exigncias ecolgicas, mudanas ambientais e sade humana (CAMARGO, 2005a).

    Sabese que a diversidade biolgica, alm de ser de grande importncia na manuteno da vida na Terra, fundamental para atender s necessidades bsicas do homem (sade e alimentao, por exemplo). A biodiversidade constitui um patrimnio nacional que deve ser salvaguardado, sendo sua conservao estratgica para o desenvolvimento de uma nao. Nesse sentido, as colees devem ser vistas como patrimnio memorial da diversidade biolgica do Pas, sendo bancos de dados essenciais para o desenvolvimento cientfico, tecnolgico e para a segurana nacional.

    Taxonomia

    A correta identificao das pragas agrcolas um dos pilares para o delineamento de estratgias para manejo desses organismos. No entanto, no Brasil, existem poucos taxonomistas1 para a maioria das ordens de insetos. Em muitos casos, no possvel determinar a espcie da praga na lavoura, tornandose necessrias a coleta dos espcimes e a anlise por parte de um taxonomista, que muitas vezes utilizar uma coleo de referncia que funciona como uma biblioteca. O conhecimento acumulado em uma coleo biolgica sempre traz impactos muito positivos para gestores ambientais, bilogos, zologos, entomlogos, pesquisadores nas reas agronmica e ambiental

    1 Especialista que faz as identificaes.

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    Introduo

    e agricultores, que podem se beneficiar da correta identificao de pragas agrcolas.

    importante que haja uma concentrao de esforos, tanto para a sistematizao de dados existentes nas colees biolgicas quanto para a coleta de novas informaes. A organizao dos dados existentes nas colees permitir estabelecer prioridades para conservao, viabilizar a correta identificao de agentes de controle biolgico, polinizadores, pragas agrcolas e insetos de importncia forense, alm de identificar o material entomolgico de risco cuja interceptao e quarentena sejam necessrias. A sistematizao dos dados permite tambm ampliar o suporte tcnico para algumas atividades de pesquisa que esto sendo consolidadas no Brasil (CAMARGO, 2009).

    Apesar dos avanos em algumas reas de estudos que auxiliam na identificao dos insetos por exemplo, a biologia molecular , toda atividade relacionada rea de pesquisa em Entomologia depende de maneira imprescindvel da identificao taxonmica dos organismos com os quais se est trabalhando. Nesse contexto, as colees entomolgicas so ferramentas inestimveis para os taxonomistas realizarem tais identificaes.

    Cadastro Nacional de Colees Biolgicas CCBIO

    Visando atender a uma resoluo da Conveno sobre o Comrcio Internacional das Espcies da Flora e da Fauna Selvagem em Perigo de Extino (Cites), que recomenda o registro das instituies cientficas a fim de facilitar o intercmbio de espcimes destinados aos estudos taxonmicos e de conservao da biodiversidade, foi editado o Decreto n 3.607, de 21 de setembro de 2000, que dispe sobre a implementao da Cites no mbito brasileiro. Instituiuse o Cadastro Nacional de Colees Biolgicas CCBIO, por meio da Instruo Normativa n 160 de 27 de abril de 2007, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama), disciplinando os registros das instituies cientficas e das colees biolgicas, bem como o transporte e intercmbio de material biolgico entre colees.

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    Introduo

    A Instruo Normativa especifica cinco tipos de colees biolgicas que atendem a finalidades distintas:

    a) Colees cientficas: constituemse de material biolgico devidamente tratado, conservado e documentado de acordo com normas e padres que garantam a segurana, acessibilidade, qualidade, longevidade, integridade e interoperabilidade dos dados da coleo, visando subsidiar a pesquisa cientfica e a conservao ex situ.

    b) Colees: destinamse a exposio, demonstrao, treinamento ou educao.

    c) Colees biolgicas particulares: visam conservao ex situ e ao subsdio de pesquisas cientficas e atividades didticas.

    d) Coleo de segurana nacional: envolve acervos mltiplos pertencentes a instituies pblicas, com representatividade do conjunto gnico de diferentes espcies de importncia estratgica que promovam a autossuficincia e a segurana interna da nao, considerando fatores econmicos, sociais, populacionais, ambientais e tecnolgicos.

    e) Colees de servio: constituemse de materiais biolgicos certificados e rastreveis e visam gerao de produtos biotecnolgicos, farmacuticos, alimentcios e servios (por exemplo, no saneamento ambiental, em processos de biorremediao de resduos txicos).

    O registro das pessoas fsicas e jurdicas detentoras de colees biolgicas deve ser feito junto ao Ibama. O emprstimo, a devoluo, a troca, a doao ou a transferncia de material biolgico entre instituies cientficas e colees esto sujeitos aos critrios relacionados ao tipo de coleo e de material biolgico e destinao. O registro das colees, assim como a autorizao de transporte e intercmbio de material, de competncia do Ibama, coordenado pela Diretoria de Uso Sustentvel da Biodiversidade e Florestas (DBFLO). Para mais informaes, enviar correio eletrnico para: fauna.sede@ ibama.gov.br e [email protected].

  • Morfologia bsica de um inseto

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    MorfologIa bsIca de uM Inseto

    De maneira geral, o corpo de um inseto composto por uma srie de segmentos ao longo de um eixo principal, dividido em trs regies (cabea, trax e abdmen). Entre os segmentos, sempre existe uma membrana articular que possibilita os movimentos. Na cabea, esto as estruturas relacionadas alimentao e rgos sensoriais, como olhos, ocelos, antenas, clpeo, labro, mandbulas, maxilas e lbio. O trax, no qual esto as estruturas ligadas locomoo (pernas e asas), dividido em pronoto, mesonoto e metanoto. As asas dos insetos podem ser de diferentes formas, tamanhos, com maior ou menor nmero de veias, apresentando, porm, as mesmas estruturas bsicas. Existem, no entanto, excees para certos grupos, em que as asas apresentam notveis modificaes. Esse o caso dos Coleoptera, cujas asas anteriores so do tipo litro, normalmente no usadas para voo, e Diptera, nos quais as asas posteriores so modificadas para equilbrio e so chamadas de halteres ou balancins. No abdmen, no qual ocorrem vrios processos metablicos, esto os rgos reprodutores, espirculos e cercos (BUZZI, 2002; CAMARGO, 2005b) (Figuras 1 e 2).

    Figura 1. Estruturas gerais da morfologia de um inseto (1. Antena; 2. Ocelo; 3.Olho; 4. Occipcio; 5. Ps-occipcio; 6. Pronoto; 7. Mesonoto; 8. Metanoto; 9. Tergos; 10. Cerco; 11. Epiprocto; 12. Paraprocto; 13. Ovipositor; 14. Espirculo; 15. Esternos; 16. Metapleura; 17. Mesopleura; 18. Coxa; 19. Propleura; 20. Trocanter; 21. Fmur; 22. Tbia; 23. Tarso; 24. Garras tarsais; 25. Lbio (palpo); 26. Maxila (palpo); 27. Mandbula; 28. Labro; 29. Clpeo).Ilustrao: Ncholas F. Camargo e Wellington Cavalcanti

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    MorfologIa bsIca de uM Inseto

    Figura 2. Desenho esquemtico de asas anterior e posterior de Saturniidae (Lepidoptera) com a nomenclatura das estruturas de acordo com Lemaire (1971) = L; Nijhout (1991) = N; Heppner (1998) = H; Camargo (2005b) = A., 2005b. Venao: Sc = subcostal; R = radial; M = mediana; Cu = cubital e A= anal.Ilustrao: Wellington Cavalcanti

  • Etapas para formao de uma coleo entomolgica

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    etapas para forMao de uMa coleo entoMolgIca

    Inicialmente devese levar em considerao que os insetos precisam ser coletados e armazenados adequadamente. Devese tambm considerar que cada grupo tem exigncias prprias, tanto para ser coletado e preparado quanto para ser armazenado. Dessa forma, um bom planejamento fundamental nessa fase inicial. A formao de uma coleo entomolgica normalmente envolve os seguintes passos: coleta, transporte, montagem, etiquetagem, identificao, incorporao e manuteno do material.

    As colees entomolgicas podem ter finalidade cientfica ou didtica. O primeiro caso normalmente envolve coletas de grupos especficos de insetos em projetos de pesquisa de professores e pesquisadores. As colees com finalidade didtica buscam a obteno de material que possa ser utilizado em aulas prticas com o intuito de despertar no estudante o interesse pelos insetos, permitindo maior contato, manipulao e a aprendizagem sobre seus hbitats, hbitos e comportamentos. Esse um aspecto de grande importncia quando se considera a necessidade de formao de novos taxonomistas no Brasil para quase todas as ordens de insetos.

    De modo geral, os insetos so muito abundantes e as coletas dificilmente causaro algum impacto no tamanho das populaes, no entanto sempre necessrio obter licena para coleta, transporte e armazenamento de material entomolgico junto aos rgos ambientais competentes.

    Sistema de Autorizao e Informao em Biodiversidade SISBio

    O Ibama, por meio da Instruo Normativa (IN) n 154, de 1 de maro de 2007, instituiu o Sistema de Autorizao e Informao em Biodiversidade (SISBio), cujo objetivo fixar normas para a concesso de autorizaes e licenas para a realizao das atividades de coleta de material biolgico, captura ou marcao de animais silvestres in situ, manuteno temporria de espcimes de fauna silvestre em cativeiro, transporte de material biolgico, recebimento e envio de material biolgico ao exterior e realizao de pesquisas em unidade de conservao federal ou em cavernas no territrio brasileiro.

  • 20

    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    etapas para forMao de uMa coleo entoMolgIca

    Aps a criao do Instituto Chico Mendes de Conservao de Biodiversidade (ICMBio), o SISBio foi reestruturado, ficando sob a gerncia desse instituto. Atualmente, o SISBio normatizado pela Instruo Normativa ICMBio n 03 de 1 de setembro de 2014.

    O SISBio trouxe avanos significativos na unificao das normas que tratam da concesso de autorizaes e licenas para o acesso de recursos naturais em unidades de conservao federal para fins cientficos e didticos; da celeridade e transparncia do processo de concesso de autorizaes; da regulamentao da licena permanente para coleta de material zoolgico ou de recursos pesqueiros; da implementao do registro voluntrio para coleta de material botnico, fngico e microbiolgico; da anotao de coletas imprevistas de material biolgico ou de substrato no contemplado na autorizao ou na licena; do recolhimento de animais mortos para aproveitamento cientfico ou didtico; e da sistematizao de informaes sobre a diversidade biolgica brasileira a partir dos registros de coleta e de pesquisas executadas em unidades de conservao.

    Antes de realizar qualquer atividade envolvendo coleta ou captura de espcimes silvestres, o pesquisador precisa realizar seu cadastro no SISBio a fim de obter uma licena especfica para a atividade pretendida. Essas licenas normalmente so concedidas para a coleta ou captura de espcimes do grupo taxonmico em que o pesquisador especialista, podendo abranger grupos amplos como classes inteiras ou serem mais especficas, incluindo apenas uma espcie.

    Atividades cuja autorizao disciplinada pelo SISBio

    Coleta e transporte de amostras biolgicas in situ: consiste na retirada de fragmentos de tecido, amostras de secrees ou substncias (exemplo: sangue, urina, etc.) de espcimes silvestres, nativos ou exticos, in situ. A coleta de amostras no implica, necessariamente, na captura ou coleta do espcime (exemplo: folhas, frutos, sementes, cascas, ramos obtidos em unidades de conservao federal).

    Coleta e transporte de espcimes da fauna silvestre in situ: consiste na captura e remoo de animal silvestre pertencente a espcies nativas migratrias ou exticas, aquticas ou terrestres , que tenham

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    etapas para forMao de uMa coleo entoMolgIca

    todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do territrio brasileiro ou em guas jurisdicionais brasileiras do seu hbitat.

    Coleta de amostras biolgicas ex situ: consiste na retirada de amostras de tecido de espcimes mantidos em cativeiro (criadouro, zoolgicos).

    Captura de animais silvestres in situ: consiste no impedimento temporrio de movimentao de um animal, por meio qumico ou mecnico, seguido de soltura no ambiente de captura. Essa atividade contempla apenas os espcimes da fauna.

    Marcao de animais silvestres in situ: consiste na identificao de indivduos da fauna na natureza. Isso pode ser feito por diversos mtodos, por vezes, especficos por txon, e que devem ser descritos em materiais e mtodos do projeto objeto da licena.

    Manuteno temporria de vertebrados e invertebrados silvestres em cativeiro: consiste na manuteno de animais em cativeiro por at 24 meses.

    Essas normas no se aplicam coleta e ao transporte de material biolgico de espcies domesticadas ou cultivadas, exceto quando relacionados s pesquisas realizadas em unidades de conservao federal de domnio pblico e espcies silvestres exticas em condio ex situ.

  • Tcnicas de coleta

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    tcnIcas de coleta

    O levantamento de insetos pode ser realizado para diferentes finalidades e, na maioria dos casos, s possvel por meio de amostragem. Isso porque quase sempre so inviveis a captura e a contagem de toda a entomofauna de determinado hbitat.

    Para o sucesso na captura dos insetos, em que se busca uma amostra significativa da populao, alguns fatores como as condies climticas, poca do ano, fases lunares, metodologia de amostragem e a escolha correta do tipo de armadilha devem ser levados em considerao. Esses fatores variam conforme o tipo de inseto a ser capturado, o estgio de desenvolvimento do inseto, o tipo de planta ou animal hospedeiro (caso de insetos parasitoides), a extenso geogrfica e, tambm, com a finalidade a que se destina o material. Insetos destinados s colees e aos estudos de taxonomia devem estar bem preservados.

    De acordo com o grupo taxonmico de interesse, cada um dos fatores mencionados pode ser de maior ou menor importncia. Na regio do Cerrado, por exemplo, a maioria dos insetos tem pico de atividade na estao chuvosa (OLIVEIRA; FRIZZAS, 2008; SILVA et al., 2011), constituindo esta a melhor poca para as coletas. Para as coletas de insetos de hbito noturno, as fases da lua nova e minguante tmse mostrado as mais adequadas, devendo ser escolhidas as noites sem chuva e com pouco vento (CAMARGO, 1997; CAMARGO; MATSUMURA, 2000).

    Como um dos focos desta publicao demonstrar as etapas que constituem a formao de uma coleo, preciso usar tcnicas que preservem a integridade morfolgica do material. Assim, acreditamos que a abordagem deva ser feita para cada grupo de inseto a ser coletado indicando qual o melhor mtodo para cada um deles.

    As tcnicas de coleta podem ser divididas em: Ativas (dependem muito do amostrador/coletor) o coletor utiliza redes, aspiradores, guardachuvas entomolgicos, panos de batida, panos branco, pinas e frascos.

    Passivas (dependem pouco do amostrador/coletor) as coletas so feitas com auxlio de armadilhas, por exemplo, armadilha luminosa, Malaise, armadilha de queda, armadilha tipo janela, funil de Berlese.

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    tcnIcas de coleta

    Material necessrio para coleta A coleta de insetos de maneira geral no requer o uso de materiais

    sofisticados. Alm das armadilhas, que devem ser apropriadas para cada grupo, so necessrias pinas (Figura 3), cmaras ou frascos mortferos (Figura 4), seringas (Figura 5) e rede entomolgica (Figura 6). No caso de capturas ativas de cupins, formigas, colmbolos e formas imaturas de outras ordens, necessrio o uso de aspiradores entomolgicos (Figura 7). O material para transporte dos exemplares para o laboratrio consiste basicamente de caixas com manta entomolgica (Figuras 8 a 10), envelopes entomolgicos (Figura 11) e tubos de ensaio (Figura 12), este ltimo utilizado para transporte de microlepidpteros (pequenas mariposas ou borboletas). Cmaras ou frascos mortferos podem ser confeccionados com frascos reaproveitados de recipientes domsticos. No fundo, colocase algodo ou esponja, onde ser colocado o produto qumico, podendo opcionalmente ser adicionado gesso nas bordas do recipiente, evitando que o algodo saia do recipiente no momento de retirar os insetos da cmara (ver detalhes na Figura 4). Os tipos de pinas a serem utilizadas dependem da finalidade e tipo de inseto a ser manuseado, por exemplo, pinas de ponta achatada (pina filatlica) so usadas para manuseio de Lepidoptera (Figura 3a) e de ponta fina e curva, para manipulao de alfinetes nas montagens (Figura 3b). Poucas empresas no Brasil vendem materiais para uso entomolgico, e alguns so importados. Sugerese fazer buscas em sites especializados para compra desses materiais.

    Tambm importante que, durante as coletas, o coletor/amostrador tenha em mos um caderno para anotar os dados (local, hbitat, data e outras informaes sobre os insetos coletados).

    Figura 3. Pinas: (a) filatlica e (b) ponta curva.Foto: Amablio Camargo

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    tcnIcas de coleta

    Figura 4. Frasco mortfero.Foto: Amablio Camargo

    Figura 5. Seringas.Foto: Amablio Camargo

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    tcnIcas de coleta

    Figura 6. Rede entomolgica.Foto: Amablio Camargo

    Figura 7. Aspirador entomolgico.Foto: Charles M. de Oliveira

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    tcnIcas de coleta

    Figura 8. Insetos em caixas com manta entomolgica para transporte e armazenagem temporria.Foto: Amablio Camargo

    Figura 9. Detalhe de caixa com manta entomolgica para transporte e armazenagem temporria de insetos).Foto: Amablio Camargo

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    tcnIcas de coleta

    Figura 10. Detalhe de caixa com insetos acondicionados em mantas entomolgicas.Foto: Amablio Camargo

    Figura 11. Envelopes entomolgicos.Foto: Amablio Camargo

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    tcnIcas de coleta

    Figura 12. Tubos de ensaio.Foto: Amablio Camargo

    Tipos de armadilhas

    Cada grupo de insetos mais eficientemente capturado com o uso de determinado tipo de armadilha. Muitos possuem hbito noturno e so atrados por armadilhas luminosas; outros tm comportamento migratrio ou de pequenos deslocamentos e so facilmente capturados com armadilhas do tipo janela. Podem ainda ser atrados por iscas ou feromnios. O mais importante definir quais insetos so de interesse para o estudo ou para a formao da coleo.

    Dos vrios tipos de armadilhas disponveis, as mais utilizadas so: Malaise, suco, funil de BerleseTllgren, guardachuva, armadilha de queda (pitfall), bandejas coloridas, armadilhas com feromnios, adesivas, redes entomolgicas, armadilha tipo janela e armadilhas luminosas de diferentes modelos e variaes (SILVEIRA NETO et al., 1976; ALMEIDA et al., 1998; CAMARGO; CAVALCANTI, 1999; GALLO et al., 2002; TRIPLEHORN; JOHNSON, 2011). Existe uma vasta bibliografia que descreve cada tipo de armadilha, contudo sero detalhadas neste trabalho apenas aquelas que consideramos mais apropriadas para cada grupo de insetos.

  • Armadilhas mais indicadas para as principais ordens de insetos

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    arMadIlhas MaIs IndIcadas para as prIncIpaIs ordens de Insetos

    Ordem Lepidoptera

    Nesta ordem esto includas as mariposas (Figura 13) e as borboletas (Figura 21). No se conhece o nmero exato de espcies no mundo, no entanto Gaston (1991) estimou em aproximadamente 500 mil. No Brasil, so conhecidas cerca de 26 mil espcies (HEPPNER, 1991), mas estimativas mais recentes apontam entre 60 e 80 mil (DUARTE et al., 2012).

    So insetos holometbolos ou endopterigotos, com asas membranosas, corpo e apndices cobertos por escamas. Os adultos so sugadores e se alimentam de nctar, plen, lquidos de frutos fermentados, excretas, resinas vegetais e alguns so hematfagos. No entanto, certos adultos no se alimentam e consomem reservas acumuladas no estgio larval. As larvas possuem aparelho bucal mastigador e so herbvoras (DUARTE et al., 2012).

    um grupo que exige cuidados especiais na manipulao, podendo perder facilmente as antenas e escamas, dificultando a identificao. A manipulao deve ser feita com pina filatlica, evitando a impresso de digitais nas asas.

    Ordem Lepidoptera (mariposa)

    Figura 13. Mariposa.Foto: Charles M. de Oliveira

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    Para a coleta de adultos de mariposas (lepidpteros noturnos), utilizamse armadilhas luminosas, uma prtica largamente adotada (SILVEIRA NETO et al., 1976; CAMARGO & CAVALCANTI, 1999). Vrios modelos de armadilhas luminosas so conhecidos, diferenciandose apenas por pequenas adaptaes.

    Muitas vezes as capturas so realizadas com a finalidade especfica de levantamentos quantitativos. Nesses casos, o tipo de armadilha a ser usada deve privilegiar a eficincia da captura. Em estudos ecolgicos e taxonmicos, cujo material precisa ser tratado e depositado em uma coleo, o tipo e o modelo de armadilha deve favorecer a conservao dos insetos.

    Os modelos mais conhecidos e utilizados de armadilhas luminosas so os tipos Luiz de Queiroz, Pensilvnia e New Jersey. Esses modelos so eficientes para levantamentos quantitativos de pragas conhecidas e que no apresentem dificuldade de identificao nem necessidade de conservao posterior. A possibilidade de separao dos insetos no momento da captura muito importante para a sua conservao. Nas armadilhas luminosas citadas acima, os insetos maiores e de constituio mais robusta, como os besouros ( Coleo ptera), danificam os de constituio mais frgil, especialmente as mariposas (Lepidoptera), que perdem suas escamas.

    Assim, para as coletas de mariposas cuja finalidade seja estudos de taxonomia, ecologia ou formao de uma coleo, indicada a armadilha luminosa de pano (Figura 14) onde as mariposas so atradas pela luz e coletadas manualmente. Com esse tipo de armadilha, os insetos no so danificados, tornando possvel a identificao e a conservao do material. um mtodo conhecido e, embora varie no tamanho dos tecidos e tipos de lmpadas, vem sendo bastante utilizado, especialmente em estudos ecolgicos e de taxonomia (ROBINSON et al., 1995; CAMARGO, 1997; CAMARGO; CAVALCANTI, 1999).

    As principais vantagens desse tipo de armadilha so: possibilidade de manter os espcimes coletados em excelentes condies; atrair grande diversidade e quantidade de insetos; e permitir uma coleta seletiva. Apresenta, no entanto, a desvantagem de exigir a permanncia do coletor junto armadilha durante o tempo integral de coleta, visto que essa armadilha atrai, mas no aprisiona os insetos. Os

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    macrolepidpteros devem ser capturados manualmente no prprio pano, com rede entomolgica ou com auxlio de cmaras mortferas que devem conter ter, amnia, formol ou outro produto que cause a morte rpida. No caso de espcimes maiores como saturndeos e esfingdeos, prefervel a injeo de amnia na face ventral do trax para sacrificar os insetos. Os microlepidpteros devem ser coletados vivos em tubos de ensaio individuais. No laboratrio, os tubos devem ser colocados em geladeira para reduzir a atividade dos insetos, os quais devem ser sacrificados em cmaras mortferas e montados em pranchas apropriadas no dia seguinte ou no mximo em trs dias.

    Uma alternativa vivel utilizada por alguns pesquisadores a armadilha modelo Luiz de Queiroz, adaptada com coletor de voil ou outro material que reduza os danos ao material (Figuras 15 e 16). Esse modelo apresenta a vantagem de dispensar a presena do coletor em tempo integral.

    Os horrios mais adequados para as coletas noturnas variam de acordo com os lepidpteros a serem capturados. Mesmo dentro de um grupo especfico como o das mariposas, existe uma grande variao de horrios de pico de voo. Para privilegiar uma coleta mais diversa, recomendase jornada de coletas do crepsculo ao amanhecer.

    Figura 14. Armadilha luminosa de pano.Foto: Danilo Corra

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    Figura 15. Armadilha luminosa modelo Luiz de Queiroz adaptada com coletor de voil.Foto: Laura Braga

    Figura 16. Armadilha luminosa modelo Luiz de Queiroz com coletor de Nylon.Foto: Charles M. de Oliveira

    Sugesto para confeco de armadilha luminosa com pano

    Existem modelos simples, com apenas um tecido branco estendido, conforme apresentado em Almeida et al. (1998), e modelos mais elaborados, como indicado em Camargo e Cavalcanti (1999) ( Figuras 17 a 20).

    No modelo de Camargo e Cavalcanti (1999), as armadilhas so compostas de dois tecidos brancos de algodo, com 2,0 m de comprimento por 1,5 m de largura, suspensos, vertical e perpendicularmente, a 30 cm do solo. A armadilha fixada por meio de fincas de ferro macio e esticada por cordas de nylon (Figuras 17 a 20).

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    Figura 17. Vista geral do modelo de armadilha luminosa com pano.Ilustrao: Wellington Cavalcanti

    Figura 18. Esquema geral de montagem da armadilha luminosa.Ilustrao: Wellington Cavalcanti

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    Figura 19. Detalhes da haste lateral de suporte para armadilha luminosa: (a) parte inferior; (b) parte superior; (c) suporte para fixao da iluminao; (d) ponta de ferro para fixao no solo; (e) pea para juno de encaixe.Ilustrao: Wellington Cavalcanti

    Figura 20. Detalhes da haste central de suporte para armadilha luminosa: (a) parte inferior; (b) parte superior; (c) suporte para fixao da iluminao.Ilustrao: Wellington Cavalcanti

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    Os panos so suspensos por meio de duas hastes laterais e uma central, confeccionadas com tubos de alumnio. As hastes so compostas de duas partes, uma inferior e outra superior, que, depois de encaixadas, formam um conjunto nico. Na extremidade superior, deve ser encaixado o suporte para fixao da iluminao e, na inferior, uma ponta de ferro macio prpria para fixao no solo. As duas peas de alumnio que formam a haste devem ser unidas por meio de uma pea para juno de encaixe (Figuras 19 e 20).

    Alm das hastes laterais descritas anteriormente, a armadilha possui uma terceira haste central, que difere das duas primeiras por apresentar dois ganchos, e no um, para esticar os tecidos na parte inferior, e trs na parte superior em vez de dois. Alm disso, apresenta o suporte para fixao das lmpadas em dimenso um pouco maior, o que facilita o distanciamento das lmpadas em relao aos tecidos.

    Os insetos so atrados por lmpadas colocadas ao centro de cada um dos tecidos, que podem ser alimentadas por um gerador porttil movido gasolina ou ligadas na corrente eltrica. Esse modelo bastante simples permite o uso de qualquer tipo de lmpada, podendo variar de acordo com os insetos a serem capturados. Quando o objetivo atrair o maior nmero possvel de insetos, as lmpadas mistas de 250 watts tmse mostrado as mais eficientes.

    Os fios eltricos usados para a confeco dos cabos de alimentao devem ser do tipo paralelos com 1,5 mm de dimetro. Alm dos cabos de alimentao das lmpadas, aconselhvel providenciar uma extenso de 20 m a 50 m, que ser bastante til nas coletas em lugares ngremes, onde se torne difcil o transporte de um gerador. Em casos de extenses maiores do que 50 m, os cabos devem ser de 2,5 mm de dimetro para evitar perda de tenso e aquecimento dos fios. Ver instrues detalhadas em Camargo e Cavalcanti (1999).

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    Ordem Lepidoptera (borboleta)

    Figura 21. Borboleta. Foto: Charles M. de Oliveira

    Para a coleta dos adultos de borboletas (lepidpteros diurnos), utilizamse armadilhas com isca e redes entomolgicas tipo Van SomerenRydon (VSR). As armadilhas com isca podem ter algumas variaes, mas possvel confeccionlas com facilidade, conforme mostrado na (Figura 22).

    A principal diferena que o modelo de Marcio UeharaPrado (MUP) (Figura 22A) apresenta um cone na base ao invs de um anel interno. Outra diferena o tecido: o modelo do MUP confeccionado com voil branco, mais resistente, porm mais caro e dificulta a visualizao das borboletas dentro da armadilha; j o modelo de Onildo Joo MariniFilho (OJMF) (Figura 22B) confeccionado com fil preto, mais barato, mais difcil de ver em campo, no entanto mais adequado para lugares com circulao de pessoas, porm menos resistente. Nunca se testou se h diferena no sucesso de captura entre elas2.

    Em ambas as armadilhas, a parte inferior deve conter um espao por onde os insetos entraro na armadilha. O recipiente com a isca deve ser depositado na parte inferior. Embora a maioria das borboletas seja atrada por frutos maduros, a coleta ser sempre seletiva, pois no uma armadilha eficiente para todas as espcies. No entanto, as iscas podem variar conforme o grupo de interesse. Normalmente uma mistura de caldo de cana, cerveja e banana so eficientes para atrair muitas espcies de borboletas, que podem ser coletadas

    2 Onildo Joo MariniFilho comunicao pessoal

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    manualmente ou com auxlio de cmaras mortferas. No caso da coleta manual, os exemplares podem ser sacrificados com uma leve compresso no trax.

    Figura 22. Armadilhas VSR: Van Someren-Rydon. (A) modelo MUP e (B) modelo OJM-F.Foto: Onildo Joo MariniFilho

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    Ordem Coleoptera

    Figura 23. Besouro.Foto: Charles M. de Oliveira

    A ordem Coleoptera engloba os insetos conhecidos como besouros (Figura 23). composta por cerca de 350 mil espcies, o que representa 40% de todos os insetos e 30% dos animais, formando o maior grupo de organismos da terra (LAWRENCE; BRITTON, 1991; 1994). A principal caracterstica dos representantes dessa ordem o primeiro par de asas modificado (litros). No Brasil, so registradas aproximadamente 28 mil espcies pertencentes a 105 famlias ( CASARI; IDE, 2012).

    Os besouros so encontrados em quase todos os ambientes. As espcies que ocorrem em ambientes terrestres so, em sua maioria, fitfagas (se alimentam de praticamente todas as partes da planta raiz, folhas, flores frutos e plen), necrfagas (carnia), coprfagas (excrementos), predadoras, parasitas ou podem infestar produtos armazenados de origem animal ou vegetal. No ambiente aqutico, podem ser predadoras ou fitfagas (COSTA; IDE, 2006). Por apresentarem hbitos alimentares e hbitats muito diversificados, existem vrios mtodos para a coleta de besouros.

    Quando o objetivo da coleta mais restrito, ou seja, quando se quer estudar um determinado grupo ou txon de besouros que se desenvolvem em determinada planta hospedeira, por exemplo, podemse utilizar mtodos de coleta ativa.

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    Mtodos de coleta ativa

    1) Rede entomolgica: constituda por um saco de tecido (fil, voil ou outro tecido fino) de forma cnica e fundo arredondado (cerca de 1 m de comprimento), em cuja abertura h uma bainha pela qual passado um arco de metal (cerca 0,5 m de dimetro) que se prende a um cabo de madeira (1 m de comprimento) por meio de uma abraadeira de metal (Figura 6). utilizada para coletar insetos em voo ou pousados em superfcies flexveis como, por exemplo, folhagens e ramos de plantas.

    2) Rede de varredura: semelhante rede entomolgica, entretanto utiliza um saco feito de tecido mais resistente que permite que a rede seja passada vigorosamente sobre a vegetao sem a possibilidade de se rasgar e assim permitir a fuga dos espcimes.

    3) Aspirador bucal: constitudo de um tubo cilndrico de vidro ou plstico transparente (tubo de coleta) (3 cm de dimetro e 9 cm de altura), em cuja abertura colocada uma rolha de cortia ou borracha ligeiramente cnica (3,3 cm dimetro maior; 2,7 cm dimetro menor e 3 cm de altura). Na rolha, so feitos dois furos pelos quais so transpassados tubos de vidro ou plstico (5 mm dimetro e 9 cm de comprimento). Nesses dois tubos plsticos, so ligadas mangueiras plsticas ou de borracha (5 mm dimetro e 50 cm de comprimento) e, na extremidade inferior de um dos tubos, presa uma tela fina de tecido, metal ou plstico. A mangueira ligada ao tubo cuja extremidade possui a tela usada para aspirar os espcimes que ficaro presos dentro do tubo de coleta (Figura 7). Utilizado para a coleta de espcies de besouros pequenos (< 5 mm). A utilizao de tubos e mangueiras com dimetro maior permite a coleta de espcimes um pouco maiores.

    4) Guardachuva entomolgico: constitudo de um pano branco de formato retangular (0,7 m x 1,0 m), que esticado por meio de duas seces de madeira em forma de X. Os cantos do pano so presos nas extremidades das seces de madeira (Figura 24). utilizado para coletar espcimes que se encontram em arbustos ou plantas de pequeno porte.

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    O guardachuva colocado sob as plantas que, agitadas vigorosamente, fazem com que os besouros caiam no pano.

    Figura 24. Guarda-chuva entomolgico.Foto: Charles M. de Oliveira

    5) Coleta manual: nesse mtodo, o coletor, por meio da inspeo visual, localiza os espcimes e os coleta diretamente do local onde se encontram pousados.

    Mtodos de coleta passiva

    Para estudos mais abrangentes, quando se deseja, por exemplo, estudar a composio de espcies de determinado ambiente, seja ele natural ou antropizado, ou comparar a diversidade de espcies de ambientes diversos, podese utilizar mtodos de coleta passiva. Esses mtodos proporcionam menor esforo por parte do coletor e amostras mais representativas em termos qualitativos e quantitativos. Entretanto, possuem a desvantagem de no permitir a escolha a priori das espcies que sero coletadas.

    1) Armadilha luminosa: composta por quatro aletas de metal, dispostas verticalmente formando dois planos perpendiculares, onde inserida uma lmpada de luz negra no interior. Esse conjunto preso a um prato de metal cncavo na parte superior e a um funil metlico na parte inferior (Figura 16). Na poro final do funil metlico, preso o recipiente de coleta, que pode ser um cesto feito com tela de nylon (para

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    coletar espcimes vivos); um saco plstico contendo tiras de papel e um chumao de algodo embebido em algum lquido mortfero (ter ou acetato de etila) ou um saco plstico contendo lcool 50% ou 70% com algumas gotas de detergente. Essa armadilha pode ser alimentada por baterias automotivas de 12 V ou pode ser ligada diretamente na rede eltrica por meios de fios paralelos de 1,5 mm para distncias menores e 2,5 mm para maiores comprimentos. A armadilha luminosa deve ficar suspensa a uma altura de cerca de 2 m, presa em uma rvore ou suporte de metal ou madeira. utilizada para coletar besouros de hbito noturno e que so atrados por luz.

    2) Armadilha de queda ou pitfall: constituda de um recipiente plstico ligeiramente cnico (14 cm dimetro e 9 cm de altura), chamado recipiente coletor, contendo, em seu interior, aproximadamente 250 ml de soluo de sulfato de cobre a 1% (Figura 25). O recipiente coletor enterrado ao nvel do solo. Essa armadilha pode conter uma isca atrativa para os besouros ou no. No caso das armadilhas de queda com atrativo, podese colocar a isca dentro de um portaiscas, constitudo de um recipiente de plstico resistente com tampa, de formato cnico (8 cm no dimetro superior, 6 cm no dimetro inferior e 7 cm de altura), contendo em sua lateral pequenos orifcios para a disperso dos odores da isca (Figura 26). O portaisca colocado acima do recipiente coletor e fixado no solo por meio de um dispositivo denominado antipilhagem modelo CPAC113. O mecanismo antipilhagem evita que a isca seja retirada do portaiscas por pequenos mamferos (macacos, quatis...). constitudo de uma haste de metal (60 cm de comprimento), que enterrada verticalmente prxima do recipiente coletor. A haste de metal contm um suporte metlico para encaixar e travar o portaisca (Figura 27). A armadilha de queda serve para a coleta de besouros que so atrados por fezes, carcaas ou frutos em decomposio, mas no so atrados por luz (FAVILA; HALFFTER, 1997), e para a coleta de besouros que vivem na superfcie do solo (serrapilheira) por meio de queda acidental, no caso de armadilhas sem iscas atrativas.

    3 Para mais detalhes consulte Oliveira e Mendona (2011).

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    Figura 25. Armadilha de queda instalada com proteo.Foto: Charles M. de Oliveira

    Figura 26. Armadilha de queda sem proteo.Foto: Charles M. de Oliveira

    Figura 27. Detalhes dos componentes da armadilha de queda.Foto: Charles M. de Oliveira

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    3) Funil de BerleseTllgren: constitudo de um cilindro de metal aberto nas duas extremidades. Em uma das extremidades do cilindro, colocada uma malha metlica ou plstica, e essa extremidade encaixada em um funil de metal. Abaixo do funil, colocado um recipientecoletor contendo algum lquido conservante (lcool, formol ou outro). A amostra de solo ou serrapilheira colocada dentro do cilindro pela abertura superior e acima desta instalada uma lmpada de 40 W. O conjunto lmpada/cilindro/funil/recipiente coletor instalado em trs suportes de madeira, sendo um para a lmpada, um para o cilindro/funil e um para o recipientecoletor. Esse mtodo utilizado para coletar besouros que vivem no interior do solo ou na serrapilheira. Esses besouros so fototrpicos negativos, e, ao perceberem a luz e o aumento de temperatura provocado pela lmpada, comeam a se locomover para baixo, atravessam a malha no fundo do cilindro, caem no funil e so recolhidos no recipientecoletor (Figura 28).

    Figura 28. Funil de Berlese-Tllgren.Foto: Charles M. de Oliveira

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    Ordem Hemiptera

    Nessa ordem, esto includos os insetos comumente conhecidos como percevejos, barbeiros, baratas dgua, cigarras, cigarrinhas e moscabranca. So insetos hemimetbolos, terrestres, aquticos ou semiaquticos. A ordem est subdividida em quatro subordens (Sternorrhyncha, Auchenorrhyncha, Heteroptera e Coleorrhyncha), sendo as trs primeiras com ocorrncia no Brasil. Cerca de 89 mil espcies dessa ordem so conhecidas no mundo, com estimativas de 30 mil para o Brasil (GRAZIA et al., 2012).

    Entre os insetos da subordem Sternorrhyncha, destacamse os pulges, cochonilhas, moscasbranca e psildeos (Figura 29). So fitfagos e podem ser coletados com o auxlio de pinas (Figura 3), pincis, aspirador entomolgico (Figura 7) e cartes adesivos, placas de colorao amarela, azul ou verde (contendo cola em ambos os lados).

    Figura 29. Mandioca atacada por cochonilha subordem Sternorrhyncha.Foto: Charles M. de Oliveira

    Os Auchenorryncha, cigarras e cigarrinhas vivem em plantas, sugando seiva (Figura 30). As ninfas de algumas espcies tm hbitos subterrneos e se alimentam da seiva das razes. O mtodo mais eficiente de coleta das cigarrinhas a rede entomolgica (Figura 6) e a rede de varredura. As cigarras podem ser capturadas manualmente ou com o auxlio de frascos mortferos (Figura 4).

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    Figura 30. Cigarra subordem Auchenorrhyncha. Foto: Charles M. de Oliveira

    Heteroptera a subordem representada pelos percevejos ( Figu ra 31). Os insetos desse grupo podem ser terrestres, aquticos e semiaquticos. Dependendo do hbitat que ocupam, podem ser coletados com rede entomolgica, rede de varredura, guardachuva entomolgico ou com equipamentos para insetos aquticos ou semiaquticos (Figuras 6, 24 e 52). Em levantamentos e avaliaes populacionais de espciespraga especialmente em cultivos de soja , utilizase o pano de batida, que consiste no uso de um pano ou plstico branco (1 m x 0,7 m) em cujas laterais (de maior comprimento) so presos, em cada um dos lados, um sarrafo de madeira (Figura 32). O pano de batida colocado entre as fileiras da cultura, com um lado na base das plantas e o outro estendido sobre as plantas da fileira adjacente. As plantas devem ser inclinadas e batidas sobre o pano (PEREIRA; SALVADORI, 2008).

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    Figura 31. Percevejo subordem Heteroptera.Foto: Charles M. de Oliveira

    Figura 32. Pano de batida.Foto: Charles M. de Oliveira

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    Ordem Hymenoptera

    Figura 33. Vespa.Foto: Charles M. de Oliveira

    Os himenpteros so popularmente conhecidos como abelhas, marimbondos, mamangavas, vespas (Figura 33), formigas e outras com diferentes denominaes regionais que distinguem cada grupo, gnero ou espcie.

    Estimase entre 110 mil e 130 mil o nmero de espcies desse grupo no mundo. No Brasil, so conhecidas aproximadamente 10 mil espcies, com estimativas que existam cerca de 70 mil espcies (MELO et al., 2012).

    Os insetos dessa ordem vivem em colnias ou de forma solitria. Constroem ninhos utilizando vrios substratos como cera, terra, resinas, celulose e outros materiais. Alm dos ninhos construdos pelas abelhas sociais, so tambm bastante conhecidos pela populao os forninhos de barro construdos pelas vespas solitrias.

    A relao do homem com os himenpteros antiga e extensa. Sua importncia econmica pode ser positiva atuando na polinizao, controle biolgico, produo de cera e mel , ou negativa, na forma de pragas agrcolas.

    A maioria das abelhas e vespas podem ser coletadas com rede entomolgica ou iscas aucaradas. Algumas so coletadas com armadilhas luminosas ou Malaise (Figura 34) e os parasitoides devem ser obtidos com a criao dos seus hospedeiros em laboratrio. A armadilha Malaise consiste em uma barraca na qual os insetos so

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    interceptados em voo e se deslocam ao ponto mais alto onde o coletor com lcool 70% est instalado (ALMEIDA et. al., 1998).

    A coleta de formigas pode ser feita com iscas de sardinha ou mel, com armadilhas de queda (pitfall) constituda de um pote com cerca de 10 cm de dimetro por 10 cm de profundidade (Figura 35), ou com auxlio de aspiradores entomolgicos (Figura 7). Nas armadilhas de queda, utilizamse gua e algumas gotas de detergente para quebrar a tenso superficial da gua.

    Figura 34. Armadilha Malaise.Foto: Amablio Camargo

    Figura 35. Armadilha de queda (pitfall) para coleta de formigas.Foto: Karen Schmidt

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    Ordem Orthoptera

    Figura 36. Gafanhoto.Foto: Charles M. de Oliveira

    Como a maioria dos insetos, os ortpteros, apesar de estarem distribudos em todo o mundo, so mais abundantes nos trpicos. Pertencem a essa ordem os gafanhotos, esperanas, grilos, mansmagros e paquinhas (Figura 36). So conhecidas cerca de 33 mil espcies no mundo, das quais 1.480 ocorrem no Brasil. Possuem hbitos alimentares muito diversificados, podendo inclusive serem predadores, mas a maioria fitfaga (EADES; OTTE, 2009; SPERBER et al., 2012). Os gafanhotos so conhecidos pela sua importncia econmica. Quando na sua fase de vida gregria, formam grandes nuvens alimentandose de plantas de qualquer espcie de maneira voraz. O mtodo de coleta mais efetivo para esse grupo por meio de busca ativa com auxlio de rede entomolgica (Figura 6), armadilhas tipo janela (Figura 37) e bandeja (Figura 38) para gafanhotos e esperanas. As armadilhas de queda (pitfall) so eficientes para a coleta de grilos. Apenas a ttulo de ilustrao sobre levantamentos de gafanhotos em reas nativas, um esforo de 3 horas de caminhada pode ser suficiente para uma boa amostragem (GUTJAHR, 2008).

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    Figura 37. Armadilha tipo Janela.Foto: Charles M. de Oliveira

    Figura 38. Armadilha tipo Bandeja.Foto: Charles M. de Oliveira

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    Ordem Isoptera

    Figura 39. Cupim.Foto: Amablio Camargo

    Os cupins ou trmitas (Figura 39) so insetos sociais e polimrficos, isto , vivem em colnias, compostas por castas representadas por formas pteras estreis e reprodutores alados, em que existe acentuada diviso de tarefas. Cada casta realiza uma funo especfica, tais como, reproduo, defesa da colnia (soldados) e operrios. Estes ltimos so encarregados da alimentao, construo e reparo dos ninhos e jardins de fungos, cuidado das larvas e da casta reprodutiva. Atualmente so conhecidas aproximadamente 2.800 espcies de cupins no mundo e cerca de 320 no Brasil (CONSTANTINO, 2012).

    Os cupins em geral se alimentam de matria vegetal, mas podem se alimentar de produtos de origem animal, desempenham importante papel ecolgico na ciclagem de nutrientes e aerao do solo. Algumas espcies tm grande importncia econmica, destruindo casas e mveis de madeira, ou ainda se alimentando de razes em pastagens e cultivos comerciais. Podem ser coletados com auxlio de aspiradores entomolgicos (Figura 7) nos termiteiros, em troncos ou serrapilheira. Tambm podem ser capturados com pinas ou pincis midos, com armadilhas feitas de papelo corrugado (8 cm dimetro e 15 cm altura) e enterrado no solo (ALMEIDA; ALVES, 1995), ou ainda com armadilhas tipo janela (Figura 37) e bandeja (Figura 38) para as formas aladas.

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    Ordem Diptera

    Figura 40. Mutuca.Foto: Charles M. de Oliveira

    Nessa ordem, esto includas as moscas, mosquitos, varejeiras, pernilongos, borrachudos e mutucas (Figura 40). So conhecidas cerca de 153 mil espcies no mundo, sendo 8.700 no Brasil, havendo, no entanto, estimativas de 60 mil espcies para o pas. um grupo que est presente na maioria dos hbitats. Ocupam diversos nichos alimentares, podendo ser parasitas, hematfagos, predadores, alm de se alimentarem de folhas, frutos, flores, nctar e outras substncias aucaradas. Muitos dpteros desempenham importante papel ecolgico, especialmente como inimigos naturais de vrios organismos. Certas espcies tm grande importncia econmica, forense, mdica e veterinria (CARVALHO et al., 2012).

    Insetos desse grupo podem ser capturados com rede entomolgica (Figura 6), aspiradores entomolgicos (Figura 7), iscas e armadilhas, principalmente Malaise (Figura 34), dependendo do hbito alimentar das espcies a serem coletadas. Se os alvos de coleta forem moscasdasfrutas, por exemplo, recomendase o uso de armadilhas do tipo frasco caamoscas. Essa armadilha pode ser confeccionada com garrafa PET de 1,5 ou 2,0 litros (Poli Etileno Tereftalato), transparente e com uma abertura lateral ou vrias aberturas menores a 10 cm da base da garrafa, contendo soluo aucarada ou outro tipo de isca dependendo das espcies que se pretende coletar (Figura 41).

    A atrao das moscas pode ser feita com vrios substratos, tais como, melao de canadeacar ou suco de frutas diludos em gua em concentraes que variam de acordo com os atrativos utilizados

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    (AGUIARMENEZES et al., 2006). As moscas, ao se alimentarem da isca, ficam presas na soluo.

    Existem espcies de moscas que se alimentam de matria animal ou vegetal em decomposio e que devem ser coletadas com iscas de carne ou frutos. Para esse grupo, sugerese o modelo proposto por Ferreira (1978), que consiste em uma lata com abertura larga, com furos na parte inferior, onde colocada a isca. Na abertura superior da lata, deve ser encaixado um funil de tela fina e rgida, e sobre este, colocase um saco plstico transparente, preso lata por elstico. O saco plstico deve ser levemente perfurado na sua parte superior para evitar excesso de umidade.

    A atrao de mosquitos, mutucas e outros hematfagos deve ser feita com iscas vivas, que pode ser algum animal ou o prprio coletor em armadilhas do tipo Malaise (Figura 34), Shannon (tenda confeccionada com tecido fino, sustentada por cordas amarradas em estacas, conforme descrito em Almeida (1998) ou similar). O material entomolgico deve ser coletado manualmente, com auxlio de frascos, tubos de ensaios ou aspirador entomolgico.

    Figura 41. Armadilha caa moscas.Foto: Amablio Camargo

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    Ordem Odonata

    Figura 42. Liblula.Foto: Charles M. de Oliveira

    So conhecidas cerca de 5.400 espcies de liblulas, das quais 828 ocorrem no Brasil (Figura 42). A postura dessas espcies feita diretamente na gua ou em algum substrato prximo aos cursos dgua. Na fase imatura (aqutica), so chamadas de niades, as quais passam por vrias mudanas e podem levar at cinco anos para atingir a fase adulta (COSTA et al., 2012). Os imaturos devem ser capturados seguindo a metodologia para insetos aquticos tratada separadamente no item Insetos aquticos e semiaquticos. Os adultos, que so alados, devem ser capturados com rede entomolgica (Figura 6). Geralmente, aps a coleta, os exemplares perdem a cor, por isso, aconselhase que o tempo de permanncia na cmara mortfera seja curto e, quando possvel, sejam colocados vivos em geladeira.

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    Ordem Mantodea

    Figura 43. Louva-a-deus.Foto: Charles M. de Oliveira

    Conhecidos popularmente como louvaadeus (Figura 43), essa ordem apresenta 2.401 espcies descritas, das quais cerca de 273 ocorrem no Brasil. So insetos predadores terrestres distribudos em quase todo o mundo, especialmente nas regies tropicais. Encontrados principalmente na vegetao, mas, como apresentam grande capacidade de camuflagem com folhas, galhos e flores, no so facilmente visualizados na natureza (TERRA; AGUDELO, 2012), caracterstica vantajosa tanto para captura de presas quanto para evitar predao, especialmente por pssaros (BUZZI, 2002). So predadores de outros insetos e de aranhas, e o canibalismo comum na maioria das espcies. A maneira mais efetiva de capturar mantdeos com o auxlio de rede entomolgica ou diretamente no frasco mortfero (Figuras 4 e 6). tambm possvel coletar indivduos em armadilhas luminosas de pano durante as coletas de mariposas ( Figura 14).

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    Ordem Neuroptera

    Figura 44. Neurptero. Foto: Charles M. de Oliveira

    Esta ordem representada pelos crisopdeos, bicholixeiro e formigaleo (Figura 44). Existem mais de 6 mil espcies no mundo e 359 registradas para o Brasil. So predadores e podem ser encontrados em cavernas, vegetao em geral e agroecossistemas, cujas larvas podem ser terrestres ou aquticas. As larvas de algumas espcies podem ser encontradas no solo ou na serrapilheira (FREITAS; PENNY, 2012). Devido ao comportamento predatrio, tm sido utilizados no controle biolgico de algumas pragas (BUZZI, 2002). Os adultos podem ser coletados com rede entomolgica (Figura 6), armadilhas luminosas (Figuras 14 a 16) e Malaise (Figura 34).

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    Ordem Megaloptera

    Figura 45. Megalptero.Foto: Charles M. de Oliveira

    Ordem composta por 348 espcies, das quais 19 so registradas no Brasil (HAMADA; AZEVEDO, 2012) (Figura 45). Como o prprio nome indica, so insetos de tamanho grande e mandbulas que podem atingir at 3 cm em certas espcies, notadamente naquelas pertencentes famlia Corydalidae, cuja envergadura das asas pode ultrapassar a 16 cm. Aparentemente as longas mandbulas so usadas somente durante a cpula (BUZZI, 2002).

    Os adultos so terrestres e se alimentam de lquidos. As larvas so aquticas, predadoras e se desenvolvem em rios e cursos dgua (HAMADA; AZEVEDO, 2012).

    Os adultos so atrados pela luz, portanto podem ser capturados com rede entomolgica (Figura 6), armadilhas luminosas (Figuras 14 a 16) e Malaise (Figura 34). As larvas devem ser coletadas com material para insetos aquticos e semiaquticos (item 4.3.19).

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    Ordem Trichoptera

    Figura 46. Tricptero.Foto: Amablio Camargo

    uma ordem pouco presente nas colees entomolgicas, cujos representantes so chamados de tricpteros (Figura 46). So conhecidas no mundo 12.627 espcies e, no Brasil, 379 (PAPROCKI, 2012). As larvas so aquticas, e os adultos geralmente de pequeno porte podem ser confundidos com Lepidoptera por pessoas pouco familiarizadas com o grupo (BUZZI, 2002; TRIPLEHORN; JOHNSON, 2011). Os adultos so encontrados prximos a reas midas e se alimentam de lquidos. J as larvas, que so aquticas, podem ser predadoras, se alimentar de folhas submersas ou podem ser onvoras. Larvas de algumas espcies podem ser pragas agrcolas consumindo razes de culturas irrigadas. Adultos podem ser coletados com rede entomolgica na vegetao prxima gua ou com armadilhas luminosas (PAPROCKI, 2012).

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    Ordem Ephemeroptera

    Figura 47. Efemrida.Foto: Charles M. de Oliveira

    Conhecidos popularmente como efemridas (Figura 47), so insetos que vivem associados aos cursos dgua, onde fazem a postura e passam a maior parte da vida como imaturos. A vida adulta das efemrides, na maioria das espcies, varia de poucas horas a 10 dias. So conhecidas menos de 4 mil espcies, com registro de 199 para o Brasil (RIBEIRO DA SILVA; FALCO SALES, 2012). Os adultos podem ser coletados com auxlio de rede entomolgica e armadilhas luminosas, e os imaturos (niades), com a metodologia usada para captura de insetos aquticos.

    Ordem Blattaria

    Figura 48. Barata.Foto: Charles M. de Oliveira

    As baratas esto distribudas em todo o mundo, sendo a maioria nas regies tropicais e subtropicais (Figura 48). um grupo de im

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    portncia mdica devido aos seus hbitos alimentares, especialmente as espcies domsticas, as quais podem contaminar alimentos. As espcies silvestres so comumente encontradas no solo, em serrapilheira, sob pedras, cascas de rvores, em cavernas e at em ninhos de formigas, vespas e cupins. So de modo geral onvoras, sendo que as silvestres se alimentam preferencialmente de matria de origem animal. Cerca de 4 mil espcies so conhecidas em todo mundo, das quais 644 ocorrem no Brasil (GRANDCOLAS; PELLENS, 2012). Podem ser atradas com iscas e coletadas com pina (Figura 3), rede entomolgica (Figura 6), frascos mortferos (Figura 4) ou ainda por meio de armadilhas luminosas (Figuras 14 a16), Malaise (Figura 34) ou coleta manual.

    Ordem Phasmatodea

    Figura 49. Bicho-pau em folhas de goiabeira.Foto: Amablio Camargo

    Os representantes da ordem Phasmatodea (bichopau) (Figura 49) so fceis de reconhecer por assemelharemse a galhos, podendo, no entanto, serem confundidos, por leigos, com mansmagros ( Orthoptera: Proscopiidae). Aproximadamente 3 mil espcies so

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    conhecidas no mundo, e 220, no Brasil. As fmeas chegam a atingir 25 cm nas espcies sulamericanas. Em certas espcies em que os machos so raros, pode ocorrer reproduo por partenognese facultativa. Na criao em cativeiro, em que somente fmeas foram aprisionadas, tambm pode ocorrer partenognese, e nesse caso, somente fmeas sero geradas. A coleta pode ser manual ou com auxlio de rede entomolgica (ZOMPRO, 2012).

    Ordem Dermaptera

    Figura 50. Tesourinha.Foto: Charles M. de Oliveira

    Popularmente conhecidos como tesouras ou tesourinhas ( Figura 50), por apresentarem um par de cercos em forma de pina no pice do abdome, usado para defesa ou durante a corte. So conhecidas cerca de 2.200 espcies, 145 delas no Brasil. Eventualmente podem ser confundidos com besouros da famlia Staphylinidae. Vivem em lugares sombreados e midos, como casca de rvores, madeiras, pedras ou no meio da vegetao. So onvoros e tambm apresentam importncia por serem predadores de ovos e lagartas de alguns lepidpteros (pragas agrcolas). Podem ser coletados com pinas (Figura 3), funil de Berlese (Figura 28), armadilhas luminosas (Figuras 14 a16) e Malaise (Figura 34) (BRINDLE, 1987; HAAS, 2012).

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    Ordem Thysanoptera

    Figura 51. Adulto de Thysanoptera (Tripes).Foto: Charles M. de Oliveira

    So insetos pequenos, medindo entre 0,5 mm e 5,0 mm de comprimento, conhecidos popularmente como tripes ( Figura 51). O hbito alimentar variado, podem ser fitfagos, micfagos e, em certos casos, alimentamse de algas, ovos de outros insetos ou atuam como predadores de caros, pulges e cochonilhas (BUZZI, 2002). Das 5.800 espcies descritas, cerca de 520 ocorrem no Brasil ( MONTEIRO; MOUND, 2012). As espcies fitfagas, que so encontradas na parte area das plantas, podem ser capturadas com rede entomolgica, e aquelas que vivem em detritos, com funil BerleseTllgren (Figura 28).

    Outras ordens

    Algumas ordens de insetos so raras nas colees e so de interesse apenas de especialistas do grupo. So geralmente insetos pequenos que vivem no solo, cavernas, serrapilheira, em folhas secas, embaixo de cascas de rvores ou em restos vegetais em decomposio. Fazem parte desse grupo representantes dos Archaeognata, Zygentoma e Psocoptera. A maioria mais eficientemente coletada com funil de BerleseTllgren (Figura 28).

    Outros grupos vivem em ambientes muito particulares e o pesquisador deve conhecer bem os seus hbitos e planejar adequadamente as coletas. So insetos que vivem em tneis de seda construdos entre as plantas, lquens, musgos, no solo, sob pedras, troncos, e

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    em uma infinidade de micro hbitats, que somente um especialista saber onde e quando procurar. Esto nesse grupo os Embioptera, Zoraptera e Mecoptera. Para a coleta de espcimes dessas ordens, devem ser usadas pinas, rede entomolgica e, em certos casos, funil de BerleseTllgren. De acordo com Collucci e Machado (2012), os adultos da ordem Mecoptera podem ser coletados tambm com armadilhas Malaise e armadilhas luminosas.

    Determinadas espcies vivem como parasitas, e a melhor maneira de capturlos criando o hospedeiro parasitado em laboratrio, por exemplo, aqueles pertencentes ordem Strepsiptera.

    Insetos aquticos e Semiaquticos

    Insetos aquticos so aqueles que passam sua vida na gua; aqueles cujas fases adultas so areas so considerados semiaquticos (incluem Odonata, Trichoptera, Plecoptera, Ephemeroptera, Diptera, Hemiptera e Megaloptera), enquanto aqueles que no abandonam o ambiente aqutico so os verdadeiramente aquticos (Coleoptera).

    Podem ser encontrados em praticamente todos os ambientes aquticos como lagos, crregos, nascentes, pntanos, epfitas, buracos em rvores, gelo, inclusive gua salgada. Os variados tipos de ambientes sustentam diferentes comunidades de insetos, as quais variam tambm em funo dos hbitats presentes (folhio, corredeira, remanso, seixos etc) e de acordo com as condies climticas e hidrolgicas. O objetivo do estudo que determinar os hbitats a serem investigados, por exemplo, ao se escolher analisar a comunidade de um lago, podese retirar amostras das macrfitas (plantas aquticas), ou separar as amostras de acordo com as diversas espcies de macrfitas. No primeiro caso, obtmse um panorama dos insetos que vivem nas plantas aquticas do lago; no segundo, alm de estabelecer os insetos que vivem nas plantas, possvel determinar a frequncia de ocorrncia de cada txon em cada planta especfica, fornecendo um panorama mais detalhado da distribuio dos insetos em cada espcie de macrfita.

    Uma vez que existem variados hbitats nos ambientes aquticos, desenvolveuse grande quantidade de mtodos para coletar a entomofauna aqutica. importante observar que esses mtodos coletam

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    os insetos aquticos e os semiaquticos. Geralmente esses mtodos coletam mais as formas imaturas, dos quais alguns poucos adultos podero fazer parte da comunidade amostrada. Os mtodos podem ser separados em dois tipos: qualitativos e quantitativos, porm alguns podem ser usados para ambas anlises simultaneamente.

    O objetivo da coleta e o tipo de sedimento so fatores que influenciam no mtodo de coleta a ser selecionado. Sugerese consulta a Merritt et al. (1996) para conhecimento dos mtodos de amostragem. Esses autores apresentam detalhamento dos mtodos de coleta que existem no mundo e uma ampla indicao de uso.

    Neste livro, abordaremos, de forma sucinta, apenas os mtodos mais usualmente utilizados nos estudos brasileiros. A maioria dos estudos de comunidades de insetos aquticos e semiaquticos no Brasil foi desenvolvido com os estgios imaturos. Alm da escolha adequada do mtodo de amostragem, devese levar em conta a localizao do local de coleta, a frequncia e o nmero mnimo de amostras necessrias.

    Mtodos qualitativos no necessariamente permitem a quantificao dos txons na comunidade. Por exemplo, a rede em D ( Figura 52) um mtodo qualitativo, uma vez que o coletor faz uma varredura pelo ambiente em estudo. Porm, ela pode ser usada de forma quantitativa ao se estipular a rea ou o tempo que essa varredura ser realizada. No h um consenso sobre quanto tempo ou qual o tamanho da rea que se deve utilizar na amostragem, entretanto boa parte dos pesquisadores brasileiros realizam a varredura por um perodo de 5 minutos e em um trecho de crrego com comprimento de 100 m (unindo tempo e rea a serem cobertos).

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    Figura 52. Uso da rede de mo tipo D em campo.Foto: Kathia C. Sonoda

    Os mtodos quantitativos utilizam rea (ou volume) bem definida, e as coletas so feitas com amostradores tipo Surber (Figura 53) ou dragas. Amostradores com rea definida, como o Surber, provm melhor estimativa da densidade populacional, uma vez que a rea a ser amostrada claramente definida. Utilizase o Surber em ambientes lticos de pequeno volume de gua, com pedras (tamanhos podem variar) em abundncia, enquanto as dragas so mais indicadas para locais com sedimento arenoso e lnticos.

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    Figura 53. Fotografia de amostrador tipo Surber. Uso da imagem cedida por Limnotec Comrcio de Equipamentos para Laboratrio (http://www.limnotec.com.br).

    Outra metodologia quantitativa que pode ser usada so os cestos com substrato, que pode ser artificial (Figura 54) ou no. Esses cestos podem ser preenchidos com materiais diversos, como folhas, pedras, madeiras. Os substratos podem ser provenientes dos locais de coleta ou no. Substratos oriundos do mesmo local apresentam a vantagem de no necessitar de adaptao da fauna durante o processo de colonizao, o que pode ocorrer quando se introduz um material diferente. A colonizao necessita de alguns dias ou semanas para que ocorra; dessa forma, necessrio que os cestos sejam mantidos em campo, dentro da gua, por tempo suficiente para que os insetos sejam capazes de colonizlo. Um exemplo do uso dos cestos preenchlos com folhas de diferentes espcies da vegetao com a finalidade de avaliar o grau de palatabilidade das espcies presentes na mata ripria.

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    Figura 54. Cesto com substrato artificial colocado em um rio.Foto: Kathia C. Sonoda

    De forma geral, os amostradores coletam a entomofauna aqutica acompanhada de materiais orgnicos folhas, pedaos de madeira, frutos , pedras e sedimento. Sendo assim, aps a coleta, a amostra necessita ser processada. Nessa etapa, folhas, pedaos de madeira, pedras, frutos so investigados para procurar insetos (ou seus abrigos) que estejam entre esses substratos ou aderidos a eles. Os espcimes so separados do restante do material e colocados em lcool 70% para conservao.

    Para o caso de coletar adultos cujos imaturos so aquticos, usamse os mesmos mtodos descritos em sees anteriores. Alm das armadilhas j descritas, podese utilizar tambm a armadilha de emergncia que colocada sobre locais onde as pupas possam ser encontradas, como crregos, poas dgua, ambientes midos (Figura 55), permitindo coletar os adultos logo aps a emergncia, quando eles abandonam o ambiente aqutico.

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    Figura 55. Armadilhas de emergncia posicionadas em campo.Fotos: Kathia C. Sonoda

    H tambm os casos em que o objetivo coletar as formas imaturas com a finalidade de obteno do estgio adulto. A procura por indivduos nos ltimos estdios da forma imatura pode ocorrer nas margens e barrancos dos crregos ou pode consistir na visualizao e captura dos insetos que estejam aderidos s folhas de plantas aquticas. Esse o caso de Odonata, Trichoptera e alguns Plecoptera, cujos imaturos ocupam vrios hbitats e tendem a se agregar. Para essas coletas, recomendase colocar o material retido em uma bandeja e selecionar manualmente, em campo, os txons desejados para ento acondicionlos em frascos com gua local e levlos ao laboratrio. Uma vez no laboratrio, importante fornecer condies semelhantes quelas encontradas em campo para a garantia de obteno dos adultos.

    O estudo dos insetos aquticos pode consistir na determinao da composio da comunidade que vive em um trecho do crrego, avaliando dessa forma a biodiversidade local, como tambm pode ter como objetivo determinar o grau do impacto de uma determinada ao antrpica, como a supresso da mata ripria ou o efeito

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    arMadIlhas MaIs IndIcadas para as prIncIpaIs ordens de Insetos

    de efluentes industriais e (ou) domsticos. Nesse caso, o monitoramento biolgico da gua de grande valia, pois essa comunidade de insetos possui caractersticas que a qualificam como boa indicadora de qualidade ambiental; isso se deve a sua reduzida mobilidade espacial (comparada aos peixes), tempo de vida (entre dias e semanas), diferentes graus de sensibilidade a alteraes ambientais, capacidade de habitarem variados ambientes, cadeia trfica complexa. Devido a esses fatores, programas de biomonitoramento realizados por empresas ou moradores locais vm sendo estabelecidos em diversos pases, inclusive no Brasil, onde essas atividades podem ser encontradas em Itaipu, no Paran, em Minas Gerais, So Paulo e Nordeste. Uma grande vantagem nesses programas a percepo quase imediata do distrbio, o que permite a adoo de medidas mitigadoras rapidamente e logo aps a ocorrncia da alterao, reduzindo o alastramento do impacto.

  • Acondicionamento temporrio para transporte ao laboratrio

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    Colees Entomolgicas: legislao brasileira, coleta, curadoria e taxonomia para as principais ordens

    acondIcIonaMento teMporrIo para transporte ao laboratrIo

    O material coletado no campo deve ser transportado ao laboratrio de maneira a preservar os espcimes, especialmente as estruturas mais frgeis como escamas e antenas. Existem quatro maneiras bsicas para acondicionamento temporrio, e a escolha deve ser feita de acordo com o tipo de inseto a ser transportado.

    a) Via lquida: ideal para transporte de insetos sem escamas, aqueles muito pequenos ou de tegumento pouco rgido e os imaturos. O lcool nas concentraes de 70%80% suficiente para o transporte e, para alguns grupos, at como meio permanente de conservao.

    b) Tringulos ou envelopes: so normalmente confeccionados com papel manteiga, mas podese improvisar at mesmo com jornal, sendo muito teis para transporte de borboletas e para algumas mariposas (Figura 11).

    c) Manta entomolgica e caixa sanduche: indicados para o transporte de qualquer inseto, exceto aqueles muito pequenos. Um cuidado especial deve ser tomado com espcimes da ordem Lepidoptera. Tanto no campo quanto no laboratrio, a manipulao desses insetos deve ser com pina de bico chato (pina filatlica) para evitar a perda de escamas e impresso de digitais nas asas. Somente os macrolepidpteros devem ser transportados para o laboratrio em caixas sanduches ou manta entomolgica. A caixa sanduche pode ser preparada com uma camada de algodo intercalada com outra de papel fino (Figuras 8, 9 e 10). A manta entomolgica preparada cortandose duas tiras de jornal (45 cm comprimento e 15 cm de largura), que so superpostas formando uma cruz. No centro da cruz, colocado um papelo (15 cm x 15 cm) e, sobre o papelo, uma camada de algodo. Sobre o algodo, so acondicionados os insetos. Cada um dos quatro lados da cruz formada pelas tiras de jornal dobrado alternadamente sobre o algodo contendo os insetos.

    d) Tubos de ensaio: os microlepidpteros devem ser transportados vivos em tubos de ensaio individualizados, colocados em geladeira e montados o mais breve possvel (Figura 12).