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1 COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ PROFª Drª. CAMILA PASQUAL DISCIPLINA: LINGUA PORTUGUESA BARROC0: DOS ANOS 1600 E INÍCIO DOS ANOS 1700- CONTEXTO HISTÓRICO Renascimento e a Reforma de Lutero. A contra- Reforma da Igreja Católica (Concílio de Trento; Companhia de Jesus= padres jesuítas). Séculos XV e XVI. Teocentrismo Medieval X Antropocentrismo Renascentista mais Contrarreforma = BARROCO = homem em conflito. MARCO INICIAL: Prosopopeia (1601)- poema épico de Bento Teixeira, tendo por assunto os feitos militares de Jorge de Alburquerque. CORRENTES CULTISMO: valorização dos aspectos externos, sensoriais, formais. (Preocupação com a forma. Uso exagerado de figuras de linguagem. Espetáculo aos sentidos. Predomina o jogo de palavras. Influência do poeta espanhol- Gôngora. Os mais bem elaborados textos cultistas de nossa literatura são de Gregório de Matos. Exemplo: Essa enchente gentil de prata fina, Que de rubi por conchas se dilata, Faz troca tão diversa peregrina (Gregório de Matos) CONCEPTISMO: Marcado pelo jogo de ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, usando uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo. Os padres jesuítas desenvolviam de forma brilhante esse elaborado jogo de conceitos (conteúdo), com destaque para o Padre Antônio Vieira. Exemplo: fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira: “A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é esse, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastava um só grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem nem cem nem mil pequenos para um só grande […]”. CARACTERÍSTICAS Pessimismo. Desequilíbrio entre razão e a emoção. Dualidade: contradição. Tendência à ilusão (fuga à realidade objetiva, subjetividade). Tendência à alusão (descrição indireta). Predomínio de figuras como a metáfora, a antítese, o paradoxo, a hipérbole, o hipérbato. Tematização da brevidade da vida e da efemeridade de tudo: juventude, beleza, poder, riqueza. O famoso "Carpie diem". RECORDANDO: RECURSOS COMUMENTE EXPLORADOS POR POETAS DO BARROCO Metáfora: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece. "Meu pensamento é um rio subterrâneo." ( Fernando Pessoa) "Minha bela ingrata/ cabelo de ouro tem, fonte de prata,/ de bronze o coração, de aço o peito." (Jerônimo Baía) Antítese: Afirmação contraditória de dois pensamentos contrários ( palavras ou frases). "Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro" (Vieira)

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COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ PROFª Drª. CAMILA PASQUAL DISCIPLINA: LINGUA PORTUGUESA BARROC0: DOS ANOS 1600 E INÍCIO DOS ANOS 1700- CONTEXTO HISTÓRICO Renascimento e a Reforma de Lutero. A contra- Reforma da Igreja Católica (Concílio de Trento; Companhia de Jesus= padres jesuítas). Séculos XV e XVI. Teocentrismo Medieval X Antropocentrismo Renascentista mais Contrarreforma = BARROCO = homem em conflito. MARCO INICIAL: Prosopopeia (1601)- poema épico de Bento Teixeira, tendo por assunto os feitos militares de Jorge de Alburquerque. CORRENTES CULTISMO: valorização dos aspectos externos, sensoriais, formais. (Preocupação com a forma. Uso exagerado de figuras de linguagem. Espetáculo aos sentidos. Predomina o jogo de palavras. Influência do poeta espanhol- Gôngora. Os mais bem elaborados textos cultistas de nossa literatura são de Gregório de Matos. Exemplo: Essa enchente gentil de prata fina, Que de rubi por conchas se dilata, Faz troca tão diversa peregrina

(Gregório de Matos)

CONCEPTISMO: Marcado pelo jogo de ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, usando uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo. Os padres jesuítas desenvolviam de forma brilhante esse elaborado jogo de conceitos (conteúdo), com destaque para o Padre Antônio Vieira. Exemplo: fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira: “A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é esse, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastava um só grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem nem cem nem mil pequenos para um só grande […]”. CARACTERÍSTICAS Pessimismo. Desequilíbrio entre razão e a emoção. Dualidade: contradição. Tendência à ilusão (fuga à realidade objetiva, subjetividade). Tendência à alusão (descrição indireta). Predomínio de figuras como a metáfora, a antítese, o paradoxo, a hipérbole, o hipérbato. Tematização da brevidade da vida e da efemeridade de tudo: juventude, beleza, poder, riqueza. O famoso "Carpie diem". RECORDANDO: RECURSOS COMUMENTE EXPLORADOS POR POETAS DO BARROCO Metáfora: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.

"Meu pensamento é um rio subterrâneo." ( Fernando Pessoa) "Minha bela ingrata/ cabelo de ouro tem, fonte de prata,/ de bronze o coração, de aço o peito." (Jerônimo Baía) Antítese: Afirmação contraditória de dois pensamentos contrários ( palavras ou frases).

"Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro" (Vieira)

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Paradoxo: afirmação contraditória. (Fusão dos opostos)

"é dor que desatina sem doer" (Camões) "é um contentamento descontente" (Camões)."é ferida que dói e não se sente" (Camões)

Antítese e paradoxo: coexistência angustiada de ideias e sentimentos opostos.

Hipérbole: expressão deliberadamente exagerada. (Expressão da perplexidade diante do mundo e da vida) "Gozava mil potentos de alegria" (Gregório de Matos). Hipérbato: inversão violenta dos termos da frase. (Para refletir, na inversão da frase, as contorções da alma.) ”A quem tirar não pode o mundo nada" (Francisco Manuel de Melo) PRINCIPAIS POETAS DO BARROCO Gregório de Matos Guerra : Conhecido como: "Boca do Inferno". Gregório de Matos foi poeta brasileiro. A figura mais importante da época colonial. O maior poeta do barroco brasileiro. Por suas críticas à sociedade baiana, recebeu o apelido de "Boca do Inferno". Gregório de Matos (1636-1696) nasceu em Salvador, Bahia, no dia 23 de dezembro de 1636. Filho de pai português e mãe baiana, frequentou o Colégio da Companhia de Jesus. Foi estudar na Universidade de Coimbra. Em 1661 já está casado e formado em Direito. Neste mesmo ano, é nomeado juiz em Alcácer do Sal, no Alentejo. Volta a Salvador, nomeado procurador da cidade, junto a corte portuguesa. Fica viúvo e casa-se novamente. Além de grande poeta, fez também um trágico retrato da vida e da cultura baiana do século XVII. Como não havia imprensa no Brasil Colônia, seus poemas tiveram circulação escrita e oral. Sua produção poética pode ser dividida em três linhas: satírica, lírica e religiosa. Seus poemas líricos e religiosos revelam influência do barroco espanhol. Sua poesia satírica é do tipo que ataca sem compostura, toda a sociedade baiana (uma das características de suas poesias era criticar a sociedade como um todo e não apenas uma parcela Em 1694, por suas críticas violentas e debochadas às autoridades da Bahia, é degredado para Angola. Em 1695 recebe permissão para voltar ao Brasil, mas não para a Bahia. Vai viver na cidade do Recife. Gregório de Matos Guerra morreu no Recife, no dia 26 de novembro de 1696. Em 1650, viajou a Portugal com o objetivo de se formar na Universidade de Coimbra, onde pôde presenciar o fortalecimento da burguesia urbana em função do comércio de produtos brasileiros, e uma nova mentalidade mais comprometida com os fatores de ordem extrarreligiosa e o afastamento da influência castelhana. Foi nomeado arcebispo, mas destituído de seu cargo por não obedecer às ordens de autoridades nem aceitar usar batina. Essa experiência lhe proporcionou uma visão satírica do governo, do comércio e da religião, as quais são transmitidas ao leitor por meio de suas obras. Nunca foi considerado de fato brasileiro, já que todos que nasceram antes da independência eram considerados luso-brasileiros. Retomando. Poeta baiano. Produziu poesia satírica, pornográfica, amorosa, filosófica e religiosa. Através, sobretudo, de sua poesia satírica, traça um painel do Brasil Colônia de então. Incorpora características da linguagem popular. Na poesia amorosa: descrição idealizante da amada, convite ao prazer amoroso. Na poesia religiosa: homem pecador X Deus salvador. Obras: Poesia sacra; Poesia lírica; Poesia graciosa; Poesia satírica (dois volumes); Últimas. Padre Antônio Vieira: Português de nascimento. Orador sacro famoso: cerca de 200 Sermões. Tendência conceptista de estilo. Grande domínio da Língua portuguesa. Além de temas religiosos, demonstrou preocupação com assuntos sociais, políticos e econômicos de seu tempo. Sermão da Sexagésima: aponta as três causas possíveis pelo fraco efeito das pregações: o próprio pregador, o ouvinte e Deus. Obras: Obra composta de sermões (15 volumes); Cartas e profecias. Algumas delas: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda; Sermão da Sexagésima; Sermão da primeira dominga da Quaresma; Sermão de Santo Antônio aos peixes. Bento Teixeira: Obra Prosopopeia. Manuel Botelho de Oliveira: Música do Parnasso. A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR (Gregório de Matos)

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Pequei, senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal, e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

(Em Antônio Cândido e J.A Castello Op. Cit. P.60) 1) Identifique o tema do poema lido. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2) O poema é organizado a partir das oposições entre Deus e o pecador.

Faça um pequeno quadro das antíteses das duas primeiras estrofes, extraindo delas as palavras ou expressões que caracterizam o eu- lírico e opondo- as às que caracterizam Deus.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3) É comum, no conceptismo, o emprego de parábolas que servem de exemplo ou de argumento para fundamentar um princípio. Parábola é uma narrativa curta que transmite um conteúdo moral sendo, normalmente, construída a partir de um encadeamento de metáforas. Identifique e explique a parábola existente nos dois últimos tercetos do poema. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4) Aos poucos se percebe uma mudança de tom na linguagem do poema, que se inicia respeitosa, mas gradativamente, vai se tornando mais direta e menos cerimoniosa. Ao mesmo tempo, o eu- lírico apresenta uma série de argumentos, procurando chantagear Deus e inverter a posição de ambos. a) Destaque da 1ª e da 2ª estrofes os versos- argumento que comprovam o esforço do eu-lírico

em ser perdoado. ______________________________________________________________________________ b)Identifique no texto os versos em que Deus é chantageado. _______________________________________________________________________________ Padre Antônio Vieira, nasceu em Lisboa (1608), filho de família humilde e veio para o Brasil com 6 anos de idade. Teve uma bisavó negra, e talvez isso tenha predisposto a defender a liberdade dos negros e índios. Estudou no colégio jesuíta, aos 15 anos, ouviu um sermão sobre horrores do inferno que o impressionou tanto que resolveu ser padre. Aos 19 anos, ministrava aulas retóricas.

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Tornou-se excepcional pela qualidade de seus sermões. Seus sermões tratam de assuntos morais e filosóficos, sociais e políticos, pregando contra a corrupção, a ganância, a injustiça a escravidão, unindo o engajamento aos problemas de seu tempo ao mais genuíno espírito cristão. Entre os sermões escritos pelo padre Antônio Vieira podemos destacar O Sermão do Bom Ladrão que foi escrito em 1655, Ele pronunciou este sermão na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha. Estavam presentes os maiores dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros. TEXTO O Sermão do Bom Ladrão [...] Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre por andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco ponem latronem, et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata: o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. [...] O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: “lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos…” Ditosa Grécia que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecerá a justiça as mesmas afrontas. Quantas vezes se viu em Roma ir enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província! E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? Percebe-se que o autor preocupava-se com temas de caráter social e de dimensão política. Neste sermão, ele aproxima e compara a figura de Alexandre Magno, grande conquistador do mundo antigo, com a do pirata saqueador, evidenciando assim sua crítica aos valores morais e sua visão ideológica. 1) Qual passagem sintetiza o tema a ser tratado? ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 2) Padre Antônio Vieira cita algumas personalidades históricas. Explique por quê? .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 3) Segundo o texto há dois tipos de ladrão: a) Quais são eles? ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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b) Dos dois tipos, quais são os verdadeiros ladrões? Justifique a resposta com argumentos do texto. ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 4) Procure no texto figuras de linguagem próprias do estilo barroco (como as antíteses) .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 5) Nesse sermão predomina o estilo cultista ou conceptista? Justifique sua resposta. .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 6) Por meio desse sermão, podemos deduzir que Padre Antônio Vieira estava mais preocupado em reverenciar as instituições ou em reafirmar uma verdade essencial? Justifique sua resposta com base no texto lido. ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 7) Explique o sentido que esta passagem tem no texto: “roubar com pouco poder pode fazer os piratas, a roubar com muito, os alexandres”. .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. QUESTÕES DE VESTIBULAR 1)Eis um exemplo dos muitos “retratos” que Gregório de Matos compôs: Soneto cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um frequentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha, Para levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos.

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Gregório de Matos. (“Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa”)

O poema, escrito por Gregório de Matos no século XVII, a) representa, de maneira satírica, os governantes e a desonestidade na Bahia colonial. b) critica a colonização portuguesa e defende, de forma nativista, a independência brasileira. c) tem inspiração neoclássica e denuncia os problemas de moradia na capital baiana. d) revela a identidade brasileira, preocupação constante do modernismo literário. e) valoriza os aspectos formais da construção poética parnasiana e aproveita para criticar o governo. 2) Leia as estrofes abaixo: I. “A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.” II. Há coisa como ver um Paiaiá Mui prezado de ser Caramuru, Descendente do sangue de tatu Cujo torpe idioma e Cobepá?” III. “Rubi, concha de perlas peregrina, Animado cristal, viva escarlata, Duas safiras sobre lisa prata, Ouro encrespado sobre prata fina. Este o rostinho é de Catarina.” IV. “Ardor em coração firme nascido! Pranto por belos olhos derramado! Incêndio em mares de água disfarçado! Rio de neve em fogo convertido!”. Conforme afirma o critico literário Alfredo Bosi, são conhecidas as críticas “de Gregório de Matos contra algumas autoridades da colônia, mas também palavras de desprezo pelos mestiços e de cobiça pelas mulatas. A situação de “intelectual” branco não bastante prestigiado pelos maiores da terra ainda mais lhe pungia o amor próprio e o levava a estiletar às cegas todas as classes da nova sociedade.” Essa afirmação pode ser comprovada apenas pelos fragmentos a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) III e IV 3) Texto para a próxima questão: 1Triste Bahia! Oh quão dessemelhante 2 Estás, e estou do nosso antigo estado! 3 Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 4 Rica te vejo eu já, tu a mi abundante. 5 A ti trocou-te a máquina mercante, 6 Que em tua larga barra tem entrado, 7 A mim foi-me trocando, e tem trocado 8 Tanto negócio, e tanto negociante. 9 Deste em dar tanto açúcar excelente 10 Pelas drogas inúteis, que abelhuda

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11 Simples aceitas do sagaz Brichote. 12 Oh se quisera Deus, que de repente 13 Um dia amanhecerás tão sisuda 14 Que fora de algodão o teu capote! A partir da leitura do texto de Gregório de Matos, considere as afirmativas a seguir. I. O poema faz parte da produção de Gregório de Matos caracterizada pelo cunho satírico, visto que ridiculariza vícios e imperfeições e assume um tom de censura. II. As figuras do desconsolado poeta, da triste Bahia e do sagaz Brichote são imagens poéticas utilizadas para expressar a existência de um triângulo amoroso. III. O poema apresenta a degradação da Bahia e do eu-lírico, em virtude do sistema de trocas imposto à Colônia, o qual privilegiava os comerciantes estrangeiros. IV. Os versos “Que em tua larga barra tem entrado” e “Deste em dar tanto açúcar excelente” conferem ao poema um tom erótico, pois, simbolicamente, sugerem a ideia de solicitação ao prazer. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 4)Texto para a próxima questão: Soneto Vês esse Sol de luzes coroado? Em pérolas a Aurora convertida? Vês a Lua de estrelas guarnecida? Vês o Céu de Planetas adorado? O Céu deixemos; vês naquele prado A Rosa com razão desvanecida? A Açúcena por alva presumida? O Cravo por galã lisonjeado? Deixa o prado; vem cá, minha adorada, Vês desse mar a esfera cristalina Em sucessivo aljôfar desatada? Parece aos olhos ser prata fina? Vês tudo isto bem? pois tudo é nada À vista do teu rosto, Catarina. O texto apresenta: a) Linguagem sensorial; b) ausência de rigor formal; c) pessimismo em relação ao sentimentalismo amoroso; d) preocupação com a fugacidade das coisas; e) tensão entre o erótico e o platônico no relacionamento amoroso.

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5) O poema abaixo foi escrito por Gregório de Matos Guerra, no século XVII. Ao Governador Antônio de Sousa de Meneses, chamado vulgarmente o "Braço de Prata". Sôr Antônio. de Sousa de Meneses, Quem sobe ao alto lugar, que não merece, Homem sobe, asno vai, burro parece, Que a subir é desgraça muitas vezes. A fortunilha, autora de entremezes, Transpõe em burro herói que indigno cresce; Desanda a roda, e logo homem parece, Que é discreta a fortuna em seus reveses. Homem sei eu que foi Vossenhoria Quando o pisava da fortuna a roda; Burro foi ao. subir tão alto clima. Pois, alto! Vá descendo ande jazia, Verá quanto melhor se lhe acomoda Ser homem em baixo do que burro em cima Assinale a alternativa incorreta a respeito do poema acima. a) A forma do poema — soneto em decassílabos, vinculado a uma tradição clássica de temas sublimes — contrasta com o conteúdo de cunho satírico, vazado numa linguagem mais coloquial. É um contraste compreensível no âmbito do Barroco. b) Na primeira estrofe, o poeta utiliza metáforas para desqualificar aquele que assume alta posição de mando (no caso, no governo) sem atributos e credenciais para tal. c) A segunda estrofe desenvolve a mesma tese da primeira: um homem só é digno se assume um lugar adequado a sua natureza; a pretensão à posição superior por meio de cobiça e bravata configurará a inépcia, a imoralidade, a corrupção. d) A “roda da fortuna” é metonímia para o destino da vida. E quando apela para que o governador desça de onde jazia, o poeta sugere que o político deve estar entre o povo para atender a suas necessidades e demandas. 6) O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu: Seis horas enche e outras tantas vaza A maré pelas margens do Oceano, E não larga a tarefa um ponto no ano, Depois que o mar rodeia, o sol abrasa. Desde a esfera primeira opaca, ou rasa A Lua com impulso soberano Engole o mar por um secreto cano, E quando o mar vomita, o mundo arrasa. Muda-se o tempo, e suas temperanças. Até o céu se muda, a terra, os mares, E tudo está sujeito a mil mudanças. Só eu, que todo o fim de meus pesares Eram de algum minguante as esperanças,

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Nunca o minguante vi de meus azares. De acordo com o poema, é correto afirmar: a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si. b A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano. c) A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável. d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a aurea mediocritas. e) A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.

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GABARITO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ

PROFESSORA: CAMILA PASQUAL DISCIPLINA: LINGUA PORTUGUESA GABARITO BARROC0: DOS ANOS 1600 E INÍCIO DOS ANOS 1700- CONTEXTO HISTÓRICO Renascimento e a Reforma de Lutero. A contra- Reforma da Igreja Católica (Concílio de Trento; Companhia de Jesus= padres jesuítas). Séculos XV e XVI. Teocentrismo Medieval X Antropocentrismo Renascentista mais Contrarreforma = BARROCO = homem em conflito. MARCO INICIAL: Prosopopeia (1601)- poema épico de Bento Teixeira, tendo por assunto os feitos militares de Jorge de Alburquerque. CORRENTES CULTISMO: valorização dos aspectos externos, sensoriais, formais. (Preocupação com a forma. Uso exagerado de figuras de linguagem. Espetáculo aos sentidos. Predomina o jogo de palavras. Influência do poeta espanhol- Gongora. Os mais bem elaborados textos cultistas de nossa literatura são de Gregório de Matos. Exemplo: Essa enchente gentil de prata fina, Que de rubi por conchas se dilata, Faz troca tão diversa peregrina

(Gregório de Matos)

CONCEPTISMO: Marcado pelo jogo de idéias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, usando uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo. Os padres jesuítas desenvolviam de forma brilhante esse elaborado jogo de conceitos (conteúdo), com destaque para o Padre Antônio Vieira. Exemplo: fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira: “A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é esse, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo

contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastava um só grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem nem cem nem mil pequenos para um só grande […]”. CARACTERÍSTICAS 1) Pessimismo. 2) Desequilíbrio entre razão e a emoção. 3) Dualidade: contradição. 4) Tendência à ilusão (fuga à realidade

objetiva, subjetividade). 5) Tendência à alusão (descrição

indireta). 6) Predomínio de figuras como a

metáfora, a antítese, o paradoxo, a hipérbole, o hipérbato.

7) Tematização da brevidade da vida e da efemeridade de tudo: juventude, beleza, poder, riqueza. O famoso "Carpie diem".(aproveite o dia)

RECORDANDO: RECURSOS COMUMENTE EXPLORADOS POR POETAS DO BARROCO 1) Metáfora: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.

"Meu pensamento é um rio subterrâneo." ( Fernando Pessoa)

"Minha bela ingrata/ cabelo de ouro tem, fonte de prata,/ de bronze o coração, de aço o peito." ( Jerônimo Baía) 2) Antítese: Afirmação contraditória de dois pensamentos contrários ( palavras ou frases). "Se os olhos veem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro" (Vieira) 3) Paradoxo: afirmação contraditória. (Fusão dos opostos)"é dor que desatina sem doer" (Camões)" é um contentamento descontente" (Camões)."é ferida que dói e não se sente" (Camões) Antítese e paradoxo: coexistência angustiada de ideias e sentimentos opostos. 4) Hipérbole: expressão deliberadamente exagerada. (Expressão da perplexidade diante do mundo e da vida) "Gozava mil potentos de alegria" (Gregório de Matos).

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5) Hipérbato: inversão violenta dos termos da frase. (Para refletir, na inversão da frase, as contorções da alma.) ”A quem tirar não pode o mundo nada" (Francisco Manuel de Melo) PRINCIPAIS POETAS DO BARROCO Gregório de Matos Guerra : Conhecido como: "Boca do Inferno". Gregório de Matos foi poeta brasileiro. A figura mais importante da época colonial. O maior poeta do barroco brasileiro. Por suas críticas à sociedade baiana, recebeu o apelido de "Boca do Inferno". Gregório de Matos (1636-1696) nasceu em Salvador, Bahia, no dia 23 de dezembro de 1636. Filho de pai português e mãe baiana, frequentou o Colégio da Companhia de Jesus. Foi estudar na Universidade de Coimbra. Em 1661 já está casado e formado em Direito. Neste mesmo ano, é nomeado juiz em Alcácer do Sal, no Alentejo. Volta a Salvador, nomeado procurador da cidade, junto a corte portuguesa. Fica viúvo e casa-se novamente. Além de grande poeta, fez também um trágico retrato da vida e da cultura baiana do século XVII. Como não havia imprensa no Brasil Colônia, seus poemas tiveram circulação escrita e oral. Sua produção poética pode ser dividida em três linhas: satírica, lírica e religiosa. Seus poemas líricos e religiosos revelam influência do barroco espanhol. Sua poesia satírica é do tipo que ataca sem compostura, toda a sociedade baiana (uma das características de suas poesias era criticar a sociedade como um todo e não apenas uma parcela Em 1694, por suas críticas violentas e debochadas às autoridades da Bahia, é degredado para Angola. Em 1695 recebe permissão para voltar ao Brasil, mas não para a Bahia. Vai viver na cidade do Recife. Gregório de Matos Guerra morreu no Recife, no dia 26 de novembro de 1696. Em 1650, viajou a Portugal com o objetivo de se formar na Universidade de Coimbra, onde pôde presenciar o fortalecimento da burguesia urbana em função do comércio de produtos brasileiros, e uma nova mentalidade mais comprometida com os fatores de ordem extrarreligiosa e o afastamento da influência castelhana. Foi nomeado arcebispo, mas destituído de seu cargo por não obedecer às ordens de autoridades nem aceitar usar batina. Essa experiência lhe proporcionou

uma visão satírica do governo, do comércio e da religião, as quais são transmitidas ao leitor por meio de suas obras. Nunca foi considerado de fato brasileiro, já que todos que nasceram antes da independência eram considerados luso-brasileiros. Retomando. Poeta baiano. Produziu poesia satírica, pornográfica, amorosa, filosófica e religiosa. Através sobretudo de sua poesia satírica, traça um painel do Brasil Colônia de então. Incorpora características da linguagem popular. Na poesia amorosa: descrição idealizante da amada, convite ao prazer amoroso. Na poesia religiosa: homem pecador X Deus salvador. Obras: Poesia sacra; Poesia lírica; Poesia graciosa; Poesia satírica ( dois volumes); Últimas. Padre Antônio Vieira: Português de nascimento. Orador sacro famoso: cerca de 200 Sermões. Tendência conceptista de estilo. Grande domínio da Língua portuguesa. Além de temas religiosos, demonstrou preocupação com assuntos sociais, políticos e econômicos de seu tempo. Sermão da Sexagésima: aponta as três causas possíveis pelo fraco efeito das pregações: o próprio pregador, o ouvinte e Deus. Obras: Obra composta de sermões (15 volumes); Cartas e profecias. Algumas delas: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda; Sermão da Sexagésima; Sermão da primeira dominga da Quaresma; Sermão de Santo Antônio (sermões). Bento Teixeira: Obra Prosopopeia. Manuel Botelho de Oliveira: Música do Parnasso A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR ( Gregório de Matos) Pequei, senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

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Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal, e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. (Em Antônio Cândido e J.A Castello Op. Cit. P.60)

1) Identifique o tema do poema lido. R: O eu-lírico arrepende-se de seus pecados e pede a clemência a Deus. 2) O poema é organizado a partir das oposições entre Deus e o pecador. Faça um pequeno quadro das antíteses das duas primeiras estrofes, extraindo delas as palavras ou expressões que caracterizam o eu- lírico e opondo- as às que caracterizam Deus. R: Eu- lírico: delinguido, pecado, tanto pecado, culpa. Deus: clemência, perdoar, um só gemido, perdão. 3) É comum, no conceptismo, o emprego de parábolas que servem de exemplo ou de argumento para fundamentar um princípio. Parábola é uma narrativa curta que transmite um conteúdo moral sendo, normalmente, construída a partir de um encadeamento de metáforas. Identifique e explique a parábola existente nos dois últimos tercetos do poema. R: Nos dois tercetos, o eu-lírico lembra a parábola bíblica da ovelha perdida que foi recuperada por Deus. Em seguida, aplica-a a sua própria situação: equivalendo a uma ovelha perdida, deseja ser perdoado por Deus. 4) Aos poucos se percebe uma mudança de tom na linguagem do poema, que se inicia respeitosa, mas gradativamente, vai se tornando mais direta e menos cerimoniosa. Ao mesmo tempo, o eu- lírico apresenta uma série de argumentos, procurando chantagear Deus e inverter a posição de ambos. a) Destaque da 1ª e da 2ª estrofes os versos- argumento que comprovam o esforço do eu-lírico em ser perdoado. R: Os versos são 3-4-5-6-7-8. b) Identifique no texto os versos em que Deus é chantageado.

R:” Não queirais, Pastor Divino”, Perder na vossa ovelha a vossa glória”. Obs. Esse texto é predominantemente conceptista, dada a sua estrutura lógico argumentativa. O seu jogo de ideias e o emprego da parábola. Alguns poucos aspectos relacionados ao cultismo podem ser apontados como inversões sintáticas, como sonoridade, por exemplo. Padre Antônio Vieira, nasceu em Lisboa (1608), filho de família humilde e veio para o Brasil com 6 anos de idade. Teve uma bisavó negra, e talvez isso tenha predisposto a defender a liberdade dos negros e índios. Estudou no colégio jesuíta, aos 15 anos, ouviu um sermão sobre horrores do inferno que o impressionou tanto que resolveu ser padre. Aos 19 anos, ministrava aulas retóricas. Tornou-se excepcional pela qualidade de seus sermões. Seus sermões tratam de assuntos morais e filosóficos, sociais e políticos, pregando contra a corrupção, a ganância, a injustiça a escravidão, unindo o engajamento aos problemas de seu tempo ao mais genuíno espírito cristão. Entre os sermões escritos pelo padre Antônio Vieira podemos destacar O Sermão do Bom Ladrão que foi escrito em 1655, Ele pronunciou este sermão na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha. Estavam presentes os maiores dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros. TEXTO O Sermão do Bom Ladrão [...] Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre por andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco ponem latronem,

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et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata: o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. [...] O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: “lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos…” Ditosa Grécia que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecerá a justiça as mesmas afrontas. Quantas vezes se viu em Roma ir enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província! E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? Percebe-se que o autor preocupava-se com temas de caráter social e de dimensão política. Neste sermão, ele aproxima e compara a figura de Alexandre Magno, grande conquistador do mundo antigo, com a do pirata saqueador, evidenciando assim sua crítica aos valores morais e sua visão ideológica. 1) Qual passagem sintetiza o tema a ser tratado? R:Paradoxo: “ Roubar pouco é culpa; roubar muito é grandeza”

2) Padre Antônio Vieira cita algumas personalidades históricas. Explique por quê? R: Para dar maior credibilidade a suas palavras, o orador vale-se do exemplo de personagens históricas. 3) Segundo o texto há dois tipos de ladrão: a) Quais são eles? R: Os ladrões que furtam para sobreviver e os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, ou seja, os que detêm o poder b) Dos dois tipos, quais são os verdadeiros ladrões? Justifique a resposta com argumentos do texto. R: Os verdadeiros ladrões são aqueles que detêm o poder, pois, eles roubam cidades e reinos[...] sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. 4) Procure no texto figuras de linguagem próprias do estilo barroco (como as antíteses) R:Todo o texto apoia-se na oposição “ pequeno ladrão” versus “grande ladrão” o que já configura uma estrutura barroca. O autor vale-se de figuras de oposição e de ideias como paradoxos. 5) Nesse sermão predomina o estilo cultista ou conceptista? Justifique sua resposta. R Conceptista: pois, a partir do raciocínio lógico dos fatos concretos, apresentam-se argumentos que confirmam a ideia central do texto. Há portanto, uma preocupação em defender uma ideia e comprová-la. 6) Por meio desse sermão, podemos deduzir que Padre Antônio Vieira estava mais preocupado em reverenciar as instituições ou em reafirmar uma verdade essencial? Justifique sua resposta com base no texto lido. R: Pe Vieira estava mais preocupado em reafirmar uma verdade essencial e com esse objetivo, chega a atacar implacavelmente o poder a “ quem os reis encomendam exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades 7) Explique o sentido que esta passagem tem no texto: “roubar com pouco poder pode fazer os piratas, a roubar com muito, os alexandres”.

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R: O autor procura destacar o fato de que muitas vezes grandes conquistas não passam de grandes furtos. No fundo, Alexandre e o pirata fazem a mesma coisa roubar. Mas um rouba em seu próprio nome e sob risco de vida — o autor, em nome de um império e apoiado por gente poderosa. O fundamental, nessa passagem, é que o autor analisa as ações humanas de um único ângulo o da virtude e da justiça. Nesse sentido, Alexandre e o pirata não são diferentes. QUESTÕES DE VESTIBULAR 1)Eis um exemplo dos muitos “retratos” que Gregório de Matos compôs: Soneto cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um frequentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha, Para levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos.

Gregório de Matos. (“Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa”)

O poema, escrito por Gregório de Matos no

século XVII, a) representa, de maneira satírica, os

governantes e a desonestidade na Bahia colonial.

b) critica a colonização portuguesa e defende, de forma nativista, a independência brasileira.

c) tem inspiração neoclássica e denuncia os problemas de moradia na capital baiana.

d) revela a identidade brasileira, preocupação constante do modernismo literário.

e) valoriza os aspectos formais da construção poética parnasiana e aproveita para criticar o governo. 2) Leia aas estrofes abaixo: I. “A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.” II. Há coisa como ver um Paiaiá Mui prezado de ser Caramuru, Descendente do sangue de tatu Cujo torpe idioma e Cobepá?” III. “Rubi, concha de perlas peregrina, Animado cristal, viva escarlata, Duas safiras sobre lisa prata, Ouro encrespado sobre prata fina. Este o rostinho é de Catarina.” IV. “Ardor em coração firme nascido! Pranto por belos olhos derramado! Incêndio em mares de água disfarçado! Rio de neve em fogo convertido!”. Conforme afirma o critico literário Alfredo Bosi, são conhecidas as críticas “de Gregório de Matos contra algumas autoridades da colônia, mas também palavras de desprezo pelos mestiços e de cobiça pelas mulatas. A situação de “intelectual” branco não bastante prestigiado pelos maiores da terra ainda mais lhe pungia o amor próprio e o levava a estiletar às cegas todas as classes da nova sociedade.” Essa afirmação pode ser comprovada apenas pelos fragmentos a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) III e IV 3) Texto para a próxima questão: 1Triste Bahia! Oh quão dessemelhante 2 Estás, e estou do nosso antigo estado! 3 Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 4 Rica te vejo eu já, tu a mi abundante. 5 A ti trocou-te a máquina mercante, 6 Que em tua larga barra tem entrado,

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7 A mim foi-me trocando, e tem trocado 8 Tanto negócio, e tanto negociante. 9 Deste em dar tanto açúcar excelente 10 Pelas drogas inúteis, que abelhuda 11 Simples aceitas do sagaz Brichote. 12 Oh se quisera Deus, que de repente 13 Um dia amanhecerás tão sisuda 14 Que fora de algodão o teu capote! A partir da leitura do texto de Gregório de Matos, considere as afirmativas a seguir. I. O poema faz parte da produção de Gregório de Matos caracterizada pelo cunho satírico, visto que ridiculariza vícios e imperfeições e assume um tom de censura. II. As figuras do desconsolado poeta, da triste Bahia e do sagaz Brichote são imagens poéticas utilizadas para expressar a existência de um triângulo amoroso. III. O poema apresenta a degradação da Bahia e do eu-lírico, em virtude do sistema de trocas imposto à Colônia, o qual privilegiava os comerciantes estrangeiros. IV. Os versos “Que em tua larga barra tem entrado” e “Deste em dar tanto açúcar excelente” conferem ao poema um tom erótico, pois, simbolicamente, sugerem a ideia de solicitação ao prazer. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 4)Texto para a próxima questão: Soneto Vês esse Sol de luzes coroado? Em pérolas a Aurora convertida? Vês a Lua de estrelas guarnecida? Vês o Céu de Planetas adorado? O Céu deixemos;vês naquele prado A Rosa com razão desvanecida? A Açúcena por alva presumida?

O Cravo por galã lisonjeado? Deixa o prado; vem cá, minha adorada, Vês desse mar a esfera cristalina Em sucessivo aljôfar desatada? Parece aos olhos ser prata fina? Vês tudo isto bem? pois tudo é nada À vista do teu rosto, Catarina. O texto apresenta: a) Linguagem sensorial; b) ausência de rigor formal; c) pessimismo em relação ao sentimentalismo amoroso; d) preocupação com a fugacidade das coisas; e) tensão entre o erótico e o platônico no relacionamento amoroso. 5) O poema abaixo foi escrito por Gregório de Matos Guerra, no século XVII. Ao Governador Antônio de Sousa de Meneses, chamado vulgarmente o "Braço de Prata". Sôr Antônio. de Sousa de Meneses, Quem sobe ao alto lugar, que não merece, Homem sobe, asno vai, burro parece, Que a subir é desgraça muitas vezes. A fortunilha, autora de entremezes, Transpõe em burro herói que indigno cresce; Desanda a roda, e logo homem parece, Que é discreta a fortuna em seus reveses. Homem sei eu que foi Vossenhoria Quando o pisava da fortuna a roda; Burro foi ao. subir tão alto clima. Pois, alto! Vá descendo ande jazia, Verá quanto melhor se lhe acomoda Ser homem em baixo do que burro em cima Assinale a alternativa incorreta a respeito do poema acima. a) A forma do poema — soneto em decassílabos, vinculado a uma tradição clássica de temas sublimes — contrasta com o conteúdo de cunho satírico, vazado numa linguagem mais coloquial. É um contraste compreensível no âmbito do Barroco. b) Na primeira estrofe, o poeta utiliza metáforas para desqualificar aquele que

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assume alta posição de mando ( no caso, no governo) sem atributos e credenciais para tal. c) A segunda estrofe desenvolve a mesma tese da primeira: um homem só é digno se assume um lugar adequado a sua natureza; a pretensão à posição superior por meio de cobiça e bravata configurará a inépcia, a imoralidade, a corrupção. d) A “roda da fortuna” é metonímia para o destino da vida. E quando apela para que o governador desça de onde jazia, o poeta sugere que o político deve estar entre o povo para atender a suas necessidades e demandas.

6) O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu: Seis horas enche e outras tantas vaza A maré pelas margens do Oceano, E não larga a tarefa um ponto no ano, Depois que o mar rodeia, o sol abrasa. Desde a esfera primeira opaca, ou rasa A Lua com impulso soberano Engole o mar por um secreto cano, E quando o mar vomita, o mundo arrasa. Muda-se o tempo, e suas temperanças. Até o céu se muda, a terra, os mares, E tudo está sujeito a mil mudanças. Só eu, que todo o fim de meus pesares Eram de algum minguante as esperanças, Nunca o minguante vi de meus azares. De acordo com o poema, é correto afirmar: a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si. b A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano. c) A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável. d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a aurea mediocritas.

e) A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.