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Folheto de História (V.C. e R.V.) – 9. o ano 1 ro. O alcance dessas medidas foi reduzido, pois não atin- giram o país como um todo e, mesmo nas regiões onde foram efetivadas, não levaram em conta os problemas que ocasionaram para as camadas pobres. As cidades foram o alvo privilegiado dessa política modernizadora. Reformas urbanas foram feitas em algu- mas cidades para torná-las mais semelhantes às capitais europeias. Largas avenidas foram abertas e os antigos ca- sarios coloniais cederam lugar a edifícios mais modernos. Procurou-se resolver os sérios problemas de saneamento que assolavam nossos maiores centros urbanos ocasio- nando frequentes epidemias. Para combatê-las, também, foram efetuadas vacinações, um recurso recentemente obtido pela medicina daquela época. A higienização do espaço urbano, que envolveu me- didas como desinfecção de residências, destruição de cor- tiços e casas velhas e abertura de avenidas em seu lugar, focalizou especialmente os bairros pobres, identificados como focos de propagação de doenças por neles imperar a sujeira e falta de higiene. Dali também se temia a pro- pagação de “doenças sociais”, identificando-se a pobreza com a existência de vícios, ócio e degradação moral. As soluções propostas pela política higienista não focalizavam as causas da pobreza e da fome, mas seus efeitos, e as reformas urbanas acabaram por expulsar a população pobre dos centros das cidades. A “regeneração urbana” do Rio de Janeiro A cidade do Rio de Janeiro, além de ser a capital da República, era o centro cultural do país. Entretanto, a cidade enfrentava problemas. Nas últimas décadas do século XIX a população crescera. As moradias não eram suficientes para todos. Proliferavam os cortiços, nos quais as pessoas se amontoavam. A sujeira era grande. As epi- demias de varíola e febre amarela eram frequentes, sendo as principais causas de morte entre a população da cidade. Isso tudo se tornava mais grave pelo fato de a capital do governo republicano ser também um importante porto de exportação. Muitos navios temiam atracar na cidade com medo das epidemias, e o próprio porto exigia reparos. A reforma urbana da cidade se impunha como uma necessidade, sendo defendida por médicos higienistas, engenheiros e políticos. Estes acreditavam que sua reali- zação traria benefícios também para o regime político re- COLÉGIO OBJETIVO JÚNIOR NOME: ______________________________________________ N. o : __________ DATA: ___/___/2015 FOLHETO DE HISTÓRIA (V.C. E R.V.) 9. o ANO Este folheto é um roteiro de estudo para você recuperar o conteúdo proposto para o ano de 2015. Siga as instru- ções e bom trabalho! 1) Estude bem este folheto. a) Leia com muita calma e atenção e sublinhe o mais importante. b) Faça anotações se necessário – procure no di- cionário as palavras desconhecidas. c) ATENÇÃO: Este folheto será utilizado no estudo tanto para a prova de V.C. como para a de R.V. Portanto, é necessário que você não o esqueça, caso fique de R.V., para revisar a matéria e tirar todas as suas dúvidas. Acertando o passo com a Europa Introdução Entre a década de 1890 e o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as inovações científicas e tecnoló- gicas criaram uma sensação de otimismo e prosperidade que marcou a expansão do mundo burguês. Nessa fase, chamada de Belle Époque, na qual o mundo parecia viver uma fase de progresso sem fim, o capitalismo ampliava sua hegemonia sobre as mais longínquas áreas do planeta. No Brasil, o advento de um novo regime políti- co – a República (1889) – acompanhara transformações econômicas e sociais profundas. A República era anunciada como a sequência natural dessas transformações que conduziriam o país no rumo do progresso e da civilização. “Ordem e Progresso” era o lema do novo regime, tal como está escrito na bandeira nacional que foi escolhida naquela época. O objetivo era fazer que o Brasil se equiparasse às nações europeias que forneciam o padrão de civilização a ser seguido, e pas- sasse a ocupar uma posição destacada no “concerto das nações”, como se dizia naqueles tempos. Com esse espírito, o governo republicano procurou tomar algumas iniciativas e realizar reformas que deve- riam “civilizar” e “modernizar” o país, tentando acabar com a péssima reputação que o Brasil tinha no estrangei-

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ro. O alcance dessas medidas foi reduzido, pois não atin-giram o país como um todo e, mesmo nas regiões onde foram efetivadas, não levaram em conta os problemas que ocasionaram para as camadas pobres.

As cidades foram o alvo privilegiado dessa política modernizadora. Reformas urbanas foram feitas em algu-mas cidades para torná-las mais semelhantes às capitais europeias. Largas avenidas foram abertas e os antigos ca-sarios coloniais cederam lugar a edifícios mais modernos. Procurou-se resolver os sérios problemas de saneamento que assolavam nossos maiores centros urbanos ocasio-nando frequentes epidemias. Para combatê-las, também, foram efetuadas vacinações, um recurso recentemente obtido pela medicina daquela época.

A higienização do espaço urbano, que envolveu me-didas como desinfecção de residências, destruição de cor-tiços e casas velhas e abertura de avenidas em seu lugar, focalizou especialmente os bairros pobres, identificados como focos de propagação de doenças por neles imperar a sujeira e falta de higiene. Dali também se temia a pro-pagação de “doenças sociais”, identificando-se a pobreza com a existência de vícios, ócio e degradação moral.

As soluções propostas pela política higienista não focalizavam as causas da pobreza e da fome, mas seus efeitos, e as reformas urbanas acabaram por expulsar a população pobre dos centros das cidades.

A “regeneração urbana” do Rio de Janeiro

A cidade do Rio de Janeiro, além de ser a capital da República, era o centro cultural do país. Entretanto, a cidade enfrentava problemas. Nas últimas décadas do século XIX a população crescera. As moradias não eram suficientes para todos. Proliferavam os cortiços, nos quais as pessoas se amontoavam. A sujeira era grande. As epi-demias de varíola e febre amarela eram frequentes, sendo as principais causas de morte entre a população da cidade.

Isso tudo se tornava mais grave pelo fato de a capital do governo republicano ser também um importante porto de exportação. Muitos navios temiam atracar na cidade com medo das epidemias, e o próprio porto exigia reparos.

A reforma urbana da cidade se impunha como uma necessidade, sendo defendida por médicos higienistas, engenheiros e políticos. Estes acreditavam que sua reali-zação traria benefícios também para o regime político re-

COLÉGIO OBJETIVO JÚNIOR

NOME: ______________________________________________ N.o: __________

DATA: ___/___/2015 FOLHETO DE HISTÓRIA (V.C. E R.V.) 9.o ANO

Este folheto é um roteiro de estudo para você recuperar o conteúdo proposto para o ano de 2015. Siga as instru-ções e bom trabalho!

1) Estude bem este folheto.

a) Leia com muita calma e atenção e sublinhe o mais importante.

b) Faça anotações se necessário – procure no di-cionário as palavras desconhecidas.

c) ATENÇÃO: Este folheto será utilizado no estudo tanto para a prova de V.C. como para a de R.V. Portanto, é necessário que você não o esqueça, caso fique de R.V., para revisar a matéria e tirar todas as suas dúvidas.

Acertando o passo com a Europa

Introdução

Entre a década de 1890 e o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as inovações científicas e tecnoló-gicas criaram uma sensação de otimismo e prosperidade que marcou a expansão do mundo burguês. Nessa fase, chamada de Belle Époque, na qual o mundo parecia viver uma fase de progresso sem fim, o capitalismo ampliava sua hegemonia sobre as mais longínquas áreas do planeta.

No Brasil, o advento de um novo regime políti-co – a República (1889) – acompanhara transformações econômicas e sociais profundas.

A República era anunciada como a sequência natural dessas transformações que conduziriam o país no rumo do progresso e da civilização. “Ordem e Progresso” era o lema do novo regime, tal como está escrito na bandeira nacional que foi escolhida naquela época. O objetivo era fazer que o Brasil se equiparasse às nações europeias que forneciam o padrão de civilização a ser seguido, e pas-sasse a ocupar uma posição destacada no “concerto das nações”, como se dizia naqueles tempos.

Com esse espírito, o governo republicano procurou tomar algumas iniciativas e realizar reformas que deve-riam “civilizar” e “modernizar” o país, tentando acabar com a péssima reputação que o Brasil tinha no estrangei-

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publicano, que procurava ser identificado com o progres-so e a civilização. Pretendia-se que o Rio de Janeiro se tornasse um verdadeiro “cartão-postal” do novo regime. O exemplo a ser seguido era Paris, capital europeia que anos antes havia sido palco de uma ampla remodelação urbana, com a abertura de largas avenidas e a transforma-ção do centro urbano em local de desfrute da burguesia.

Durante a administração do prefeito Pereira Passos (1902-1906), assistiu-se a um verdadeiro “bota-abaixo”. O Rio de Janeiro passou por reformas que levaram à destruição de antigos edifícios, ainda do período colonial, e à constru-ção de outros, mais “modernos”. Para facilitar a circulação no centro e torná-lo mais elegante, abriram-se grandes aveni-das, como a Central e a Beira-Mar. Para tanto foram destruí-dos vários cortiços, nos quais inúmeras famílias viviam. Os preços dos aluguéis e dos terrenos na região subiram muito. A solução para os desalojados e para os pobres foi passar a viver nos morros ou em locais distantes.

A Revolta da Vacina

Durante o processo de reurbanização do Rio de Ja-neiro, o governo agiu de forma autoritária. A população desabrigada, por ter suas moradias destruídas, foi pratica-mente expulsa de suas casas. Houve também uma intensa campanha de limpeza e desinfecção da cidade, que teve o apoio do médico sanitarista Osvaldo Cruz. Funcionários do serviço sanitário entravam nas moradias das pessoas pobres e, com o apoio até mesmo de tropas policiais, de-sinfetavam à força residências e vacinavam a população contra a varíola.

A varíola assustava a população da cidade, causan-do muitas mortes. Na época, a ciência médica vinha con-seguindo desenvolver as primeiras vacinas. Muitos des-confiavam dessa novidade, temendo que, ao invés de se proteger, poderiam contrair a doença. No final de outubro de 1904 o governo decretou a vacinação obrigatória con-tra a varíola. A população da capital federal se revoltou contra o que entendeu ser mais uma atitude autoritária do governo e, durante uma semana, as ruas da cidade foram ocupadas por agitações populares. Houve a destruição de prédios públicos, tombamento de bondes e saques aos quais o governo reagiu duramente, resultando na morte de várias pessoas. Para controlar a revolta, foram utiliza-dos navios de guerra que chegaram a bombardear a Praia Vermelha. Após o governo reassumir o controle da cida-de, o presidente Rodrigues Alves decidiu que a vacinação não seria mais obrigatória, mas sim opcional.

A “belle époque” chega a outras cidades

A remodelação urbana do Rio de Janeiro influenciou outras cidades que passaram também por um processo de reformas, como São Paulo e Belém.

Na capital paulista, em franco crescimento, largas avenidas foram abertas e o centro foi reurbanizado. Ao mesmo tempo, a expansão da cidade levou ao loteamento das chácaras que a circundavam.

Belém, transformada em porto de escoamento da produção de borracha, passou a contar com ruas largas e arborizadas, produto do planejamento urbano realizado. Manaus recebeu novas edificações, que simbolizavam a prosperidade econômica e celebravam o advento da ci-vilização e do progresso, sendo emblemático o Teatro de Manaus.

Movimentos sociais no campo

As condições de vida no campo

O Brasil passava por um processo de transforma-ções econômicas e sociais desde a segunda metade do século XIX. A economia cafeeira havia trazido o cres-cimento das cidades, impulsionando as atividades co-merciais e a indústria. Essas transformações, entretan-to, não atingiam o país como um todo. Restringiam-se aos centros urbanos de algumas regiões, especialmente no Sudeste. Esses focos de modernização existiam co-mo verdadeiros “quistos” inseridos num mundo rural que o progresso não alcançava.

A população do campo continuava a viver precaria-mente. A concentração da propriedade em mãos de uma minoria mantinha a maior parte da população rural em si-tuação de miséria absoluta. Sem terra para cultivar, busca-vam trabalho nas grandes fazendas. Ganhavam pouco e às vezes eram submetidos a um regime de semiescravidão. Os coronéis, grandes proprietários de terra, dominavam o poder local e conduziam a política nacional. A impossibi-lidade de ter acesso à terra e de participar verdadeiramen-te da vida política produzia a marginalização social do homem do campo.

Nessas condições de miséria absoluta, desigualdades sociais profundas e necessidade de se obter acesso à terra como forma de sobrevivência, não causa surpresa o fato de terem surgido conflitos sociais no campo nos primeiros tempos da República. Tivemos movimentos de inspiração religiosa, como Canudos, na Bahia, e Contestado, entre o Paraná e Santa Catarina. Outra forma de manifestação foi o banditismo social conduzido pelos cangaceiros no Nordeste. Em Juazeiro, o poder local se colocou contra o esforço do presidente Hermes da Fonseca, que propusera diminuir o poder das oligarquias regionais. Embora cada um desses movimentos tenha surgido de acordo com mo-tivações específicas, tinham em comum as condições de vida miseráveis e a exclusão social do homem do campo.

No sertão nordestino era grande a religiosidade po-pular. Em localidades afastadas dos centros urbanos, os

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serviços religiosos costumavam ser prestados por leigos. Por toda parte circulavam beatos e rezadores.

Durante vinte anos o beato Antonio Conselheiro pre-gou pelo sertão, com número crescente de seguidores. Carismático, esse líder messiânico anunciava a salvação para aqueles que levassem uma vida de penitências e de abandono dos bens materiais. Atraía camponeses pobres, fugitivos da lei e doentes, que buscavam conforto e espe-rança em um futuro melhor, caracterizando um verdadei-ro fanatismo religioso.

Antonio Vicente Mendes Maciel, o Antonio Conse-lheiro, nasceu em Quixeramobim, no Ceará, em 1830, tendo vivido muitos anos uma pacata vida de comercian-te. Casado, morou em várias cidades da região. Para al-guns autores, sua vida de beato e suas peregrinações co-meçaram após ter sido abandonado pela mulher, que fugiu com um policial. Testemunhos da época o descrevem, em sua fase de líder messiânico, como sendo baixo, moreno, apresentando barbas e cabelos longos. Vestia normalmen-te um grande camisolão azul, caminhando com auxílio de cajado. Hábil orador, fazia pregações inflamadas anun-ciando o fim do mundo e defendendo uma vida austera. Colocando-se ao lado dos pobres, condenava os ricos e poderosos. O líder do movimento de Canudos morreu em 22 de setembro de 1897, alguns dias antes do arraial ser destruído.

Em suas pregações o Conselheiro atacava os pode-rosos, por vezes identificados com o regime republica-no. Perseguido pela Igreja e pelo governo, deslocou-se com seus seguidores para uma fazenda abandonada no vale do rio Vaza-Barris, sertão da Bahia. Ali ergueu a igreja do Bom Jesus, dando início à formação do ar-raial de Canudos.

O arraial era considerado um lugar santificado, uma verdadeira Terra Prometida. A comunidade de Canudos logo cresceu, recebendo todo tipo de pessoas, que chega-vam atraídas pelo sonho de conseguir uma vida melhor. Chegou a ter população estimada em cerca de 20 mil pes-soas, tornando-se a terceira cidade do estado!

A comunidade vivia segundo regras próprias. As terras e a produção eram coletivas. Todos trabalhavam. Vivia-se de forma austera, as bebidas eram proibidas e as orações eram realizadas diariamente ao cair da tarde.

Quanto mais crescia o povoado, mais aumentava a preocupação da Igreja e do governo, que viam seus po-deres ameaçados. O Conselheiro pregava abertamente contra a República, que para ele traria o final dos tempos.

A reação do governo republicano não demorou a acontecer. Expedições foram enviadas para invadir o ar-raial, mas foram derrotadas. Os soldados, mal preparados, desconheciam a região e os costumes dos sertanejos, sen-do combatidos com facilidade. Armou-se uma nova ex-pedição. Seu comando coube ao coronel Moreira César,

conceituado estrategista militar. Mais uma vez as tropas do governo foram derrotadas.

A quarta expedição foi na verdade um verdadeiro exército que não apenas derrotou os sertanejos, mas tam-bém destruiu Canudos em meio a grande carnificina. Em 5 de outubro o arraial foi tomado de assalto pelas tropas governistas com saldo de cerca de 15 mil mortos. Eucli-des da Cunha, que conhecera Canudos como repórter do jornal O Estado de S. Paulo, em sua obra-prima Os Ser-tões, refere-se à derrota dos seguidores de Antonio Con-selheiro:

“Canudos não se rendeu..., resistiu até o esmaga-mento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5 ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”

A “monarquia celeste”

Entre o Paraná e Santa Catarina ocorreu uma outra rebelião envolvendo um líder messiânico, à semelhança de Canudos. A região na qual os conflitos se desenrola-ram era conhecia como Contestado devido a uma questão de disputa de limites que vinha ocorrendo entre os dois estados desde a época do Império.

A tensão se agravou no local devido à expulsão de posseiros e pequenos madeireiros feita para facilitar a construção de uma ferrovia ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul que envolvia a participação de empresas norte-americanas. Essas empresas também tinham inte-resses na exploração da madeira. Centenas de famílias foram desalojadas, passando a perambular em busca de trabalho. Muitos seguiram um líder messiânico que pre-gava na região, o monge José Maria.

Em sua pregação, o “monge” defendia a instalação de uma “monarquia celeste” na terra, na qual se viveria em condições de bem-estar geral. Seus seguidores se agruparam em acampamentos nos campos de Irani, próxi-mo à cidade de Palmas. Ali passaram a viver numa comu-nidade organizada sob rígidos princípios morais. As rezas realizavam-se duas vezes por dia e as tarefas eram dividi-das segundo o sexo e as habilidades de cada um.

A existência dessa comunidade começou a incomo-dar as autoridades regionais, que se colocaram à disposi-ção do governo para combatê-la, acusando os seguidores do monge de invasão de terras. Cada vez mais se preocu-pavam em acabar com aquele bando de “fanáticos”!

Entre 1912 a 1916, as vilas dos adeptos do monge, e após sua morte, de seus seguidores, foram violentamen-te atacadas por tropas governamentais. Foram derrotadas por um batalhão de sete mil homens comandado pelo ge-neral Setembrino de Carvalho. Para se defender, contavam

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apenas com um armamento precário, que incluía o uso de foices, enxadas e facões. O saldo desses anos de luta alcançou um total de 20 mil homens.

A violência do sertão

As dificuldades para o homem do campo eram ainda maiores no Nordeste do país. No final do século XIX e início do XX, a região enfrentou um período agudo de secas, aumentando a situação de pobreza. Milhares de tra-balhadores vagavam em busca de empregos num intenso movimento migratório.

Bandos de cangaceiros circulavam pelo sertão saqueando propriedades, trens e armazéns. O bando mais famoso foi o de Lampião.

Sobre esses bandos há muita controvérsia. Há quem considere que tiveram sua origem na situação de miséria, caracterizando-se como banditismo social. Menciona-se que às vezes roubavam dos ricos e distribuíam aos pobres, mas isso não foi a regra geral. De qualquer forma, sem sombra de dúvidas, expressam um duro cotidiano de vio-lência e marginalidade social, característicos do período no sertão nordestino.

A revolta no campo atingiu o vale do Cariri, inte-rior do Ceará. Ali os pobres encontraram uma promessa de esperança na figura de um religioso. O Padre Cícero Romão Batista, atuando entre a população miserável, tornou-se famoso como profeta e fazedor de milagres. O “padim Cícero” trazia palavras de conforto e acon-selhava a população pobre de Juazeiro, auxiliando-a na luta pela sobrevivência. Exercia forte liderança na região, chegando a se envolver na política, tendo si-do prefeito daquela cidade. Colaborou com líderes lo-cais que, com o auxílio de jagunços armados, lutaram contra intenções do presidente Hermes da Fonseca de combater o poder dos coronéis. Com essa intenção o governador do Estado, que representava os interesses oligárquicos, havia sido destituído. De 1913 a 1914 o Ceará foi palco de lutas que acabaram por reconduzir ao poder as oligarquias regionais.

A Grande Guerra

O primeiro grande conflito do século XX

Em 28 de junho de 1914 um estudante da Bósnia, Gabriel Princip, matou a tiros o herdeiro do trono do im-pério austro-húngaro. O príncipe Francisco Ferdinando passeava de carro aberto, junto de sua mulher, Sofia, pelas ruas de Sarajevo, capital da Bósnia, região anexada à Áus-tria em 1908. Foi o estopim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Para o historiador inglês Eric Hobsbawn, a Primeira Guerra marcaria, de fato, o verdadeiro início do século XX.

Com ela, inaugurava-se uma fase de grandes convulsões sociais que se encerraria apenas com a derrocada do mun-do soviético, já no final do século.

De fato, após esse conflito, o mundo não seria mais o mesmo. Para muitos, contemporâneos ou não da guerra, com ela terminava a paz e a prosperidade sob as quais a sociedade burguesa parecia repousar. Chegava ao fim a época de esperanças no futuro da humanidade com base na ideologia do progresso.

As razões do conflito

De que forma um incidente localizado, que dizia res-peito à política interna do império austro-húngaro, pôde levar tantos países à guerra?

As razões são múltiplas e devem ser buscadas nas rivalidades imperialistas que comprometiam o equilíbrio do jogo de forças internacional.

Considere:

• derrota francesa na guerra franco-prussiana, no fim da qual se deu a unificação alemã, resultou na ane-xação da Alsácia-Lorena pela Alemanha. Essa região era grande produtora de carvão e ferro, necessários para a indústria do aço.

• No início do século XX a indústria alemã produzia mais e com mais qualidade que a Inglaterra. Produ-tos alemães eram vendidos a preços menores e os mercados ingleses viam-se prejudicados, com seus lucros diminuindo.

• França e Inglaterra praticamente controlavam a gran-de maioria das colônias asiáticas e africanas. A Ale-manha e a Itália ambicionavam participar desse rico sistema de exploração.

• O czar da Rússia defendia o pan-eslavismo: preten-dia reunir todos os povos eslavos sob seu comando. Na verdade essa medida era uma justificativa para os interesses imperialistas da Rússia, que passou a apoiar os movimentos nacionalistas eslavos que pre-tendiam separar-se do império austro-húngaro.

A situação estava tensa no continente europeu desde 1871, quando ocorreu a unificação alemã. Vivia-se em um estado de “Paz Armada”. Desde então, os grandes países da Europa vinham-se militarizando e estabelecendo alian-ças políticas na expectativa de uma guerra.

O atentado em Sarajevo foi o estopim de um conflito de proporções assustadoras que, devido às alianças exis-tentes, envolveu toda a Europa e alguns países dos outros continentes.

O confronto foi travado entre dois blocos liderados pelas seguintes alianças:• Tríplice Entente: Rússia, Grã-Bretanha e França.• Tríplice Aliança: Alemanha, Áustria-Hungria e

Itália.

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No decorrer do conflito...• A Itália deixou de apoiar a Alemanha em 1915 e rece-

beu a promessa da Inglaterra de receber colônias na África.• Os Estados Unidos entraram na guerra em 1917 de-

vido a temores de uma derrota de franceses e ingle-ses, seus possíveis parceiros econômicos, e aos ata-ques de submarinos alemães que ameaçavam o livre trânsito de suas exportações.

• A Rússia retirou-se da guerra pelo Tratado de Brest-Litovsky (1917) em função da Revolução Socialista.

• O Japão entrou em guerra contra a Alemanha, vi-sando conseguir territórios desse país na China e no Pacífico.

• O Brasil declarou guerra à Alemanha em 1917, acompanhando os Estados Unidos. A ajuda brasileira se deu pelo envio de enfermeiras e alimentos.

O desenvolvimento da guerra

1914 - Guerra de movimento• Superioridade militar alemã.• Alemanha invade a Bélgica.• Alemanha movimenta-se em território francês.• Batalha do Marne – franceses expulsam o exército

alemão de seu território.

1915–1918 - Guerra de trincheiras• Exércitos de ambos os lados constroem trincheiras

protegidas por arames farpados e metralhadoras.• Uso de novos equipamentos e armas: gases tóxicos,

tanques de guerra e aviões.• Início da guerra naval – submarinos alemães atacam

navios de suprimentos vindos da América para seus opositores.

1917 - Ano de mudanças • Estados Unidos, grande fornecedor de armas e supri-

mentos, une-se à Tríplice Entente e declara guerra à Alemanha.

• O exército norte-americano trouxe armas poderosas e soldados equipados.

• A Rússia sai do conflito por motivos internos, a Re-volução Socialista.

Aos 28 de setembro de 1918, a Alemanha, completa-mente isolada, reconheceu a derrota. O Kaiser Guilherme II procurou a mediação do presidente norte-americano Woodrow Wilson, para a assinatura de um Armistício.

Cresce uma forte oposição política ao imperador ale-mão, liderada pelo partido socialista. Guilherme II abdica e foge para a Holanda.

Forma-se assim a República de Weimar que, em 11 de novembro de 1918, assinou sua rendição incon-dicional aos aliados.

O saldo da guerra

Mobilizados: 65 milhões de homens

Mortos: 9 milhões (1 em cada 7 homens)

Feridos: 22 milhões

Inválidos: 7 milhões

Desaparecidos: 5 milhões

MONTEIRO, Severiano (org.). História de Las Civilizaciones. Madri: Akal Ediciones. p. 276.

Em 23 de junho de 1919 foi assinado o Tratado de Versalhes, que responsabilizava a Alemanha pela guerra, condenando-a ao pagamento de pesadas indenizações em dinheiro, equipamentos, máquinas, minérios e produtos químicos, à França e à Inglaterra.

Os Estados Unidos não participaram da assinatura desse Tratado por considerarem abusivas as penalidades impostas aos alemães.

Como tentativa de promover a paz mundial, foi criada a Liga das Nações (1919), com sede em Genebra, na Suíça. As tensões políticas na Europa continuaram e a Liga das Nações mostrou-se ineficiente. Os Estados Unidos, a Alemanha e a Rússia acabaram por não fazer parte dela.

Efeitos da guerra

A Primeira Guerra provocou transformações no jo-go de forças internacional. As mortes foram muitas e a Europa, palco dos combates, estava economicamente ar-rasada. Acabava a época de hegemonia quase exclusiva das potências europeias sobre as outras nações do mundo. Os Estados Unidos despontavam como força econômica e política.

A Alemanha fora penalizada severamente nos acor-dos de paz. Além das indenizações, fora desmilitarizada, perdera 1/7 de seu território e todas as suas colônias.

O mapa da Europa foi redesenhado com o surgi-mento de nações criadas conforme critérios de identidade étnica. Às potências vencedoras do conflito – Itália, Fran-ça, Inglaterra e Estados Unidos – importava fazer frente a um possível avanço soviético.

O conflito contribuiu também para intensificar mudanças sociais. O esforço de guerra exigira a uti-lização intensa da mão de obra feminina, lançando as mulheres no mercado de trabalho. Com isso produzi-ram-se mudanças de comportamento, consolidadas nas décadas seguintes.

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A ascensão do fascismo

Fascismo, fascismos

O contexto de crise econômica e de descrédito no Estado liberal existentes durante o período entreguerras abriu caminho para o surgimento de movimentos e regi-mes de extrema direita, genericamente chamados de fas-cistas, em razão do primeiro deles ter surgido com esse nome na Itália. A Alemanha hitlerista é o outro exemplo mais significativo de regime totalitário com conotação fascista. O fascismo repercutiu em graus variados em ou-tros países, como na Espanha franquista e no governo de Salazar, em Portugal. Chegou até mesmo a influenciar o regime autoritário de Getúlio Vargas.

Ascensão nazifascista• 1919 - República de Weimar na Alemanha.• 1921 - Criação do Partido Nacional Fascista.• 1922 - Marcha sobre Roma. Mussolini assume o po-

der na Itália.• 1924 - Vitória eleitoral dos fascistas; assassinato do

líder socialista Giacomo Matteotti, que denunciou fraudes nas eleições.

• 1923 - Tentativa nazista frustrada de tomar o poder, Putsch de Munique.

• 1925 - Publicação de Minha Luta, de Adolf Hitler.• 1933 - Hitler assume o poder na Alemanha, como

Chanceler.• 1934 - Morre Hindenburg e Hitler acumula as fun-

ções de chanceler e chefe de Estado.

O fascismo é fenômeno complexo e como tal tem recebido diferentes definições. Como características fun-damentais, destacam-se:• nacionalismo exacerbado;• aspirações imperialistas;• caráter antiliberal e antidemocrático;• anticomunismo;• identificação entre Estado e Nação;• defesa do Estado forte como condição para garantir o

bem público e a coesão nacional;• colocação dos interesses nacionais acima dos indi-

viduais;• militarização da sociedade.

O fascismo distingue-se, também, de outros regi-mes de direita pela forte mobilização de massas na qual se apoia, seja nas inúmeras associações cuja formação incentiva ou patrocina, seja nos eventos coletivos que organiza.

Na Itália e na Alemanha estimulava-se, por exemplo, a formação de associações de grupos profissionais diver-sos, tais como de operários e agremiações estudantis. Dava-se especial importância à participação da juventude, com destaque para organizações como a Juventude Hitle-rista, na Alemanha, e a Opera Nazionali Balilla (depois Gioventu Italiana Del Littorio), na Itália, que congrega-vam estudantes de acordo com a faixa etária.

A propaganda oficial feita pelos governos fascistas era intensa e revestida de grande importância. As pala-vras do Führer ou de Mussolini eram veiculadas por toda a parte com os meios disponíveis na época. O rádio e o cinema foram largamente utilizados para fazer a propa-ganda das realizações dos governos e para garantir, por meio da difusão das ideias fascistas, a adesão ao regime.

Os eventos de massa conferem a fisionomia mais em-blemática dos regimes fascistas. Os comícios do Führer em Nuremberg, os pronunciamentos de Mussolini em Ro-ma, as estrondosas paradas militares serviam para criar um clima de comunhão coletiva e de exaltação das massas jamais visto anteriormente.

O fascismo italiano

Benito Mussolini fundou em 1919 o Fascio di Com-battimento (feixe de combate), movimento político nacio-nalista, antiliberal e anticomunista que veio a ser o núcleo inicial do Partido Fascista Italiano, criado dois anos de-pois. Os fascistas desde logo passaram a realizar atentados contra líderes e membros de organizações trabalhistas.

Em 1922, ocorre a “Marcha sobre Roma”, primei-ra demonstração de força do Partido Fascista. Mussolini e seus “camisas negras” desfilaram pelas ruas de Roma. Um dia antes, Mussolini havia conseguido do rei Vítor Emanuel II plenos poderes para organizar um ministério. O fascismo chegava ao poder.

Nas eleições realizadas em 1924 o Partido Fascista ob-teve 65% dos votos e formou, sob acusações de fraudes, a maioria dos deputados do Parlamento italiano. O país passou a viver oficialmente sob uma monarquia parlamentarista. No entanto, Benito Mussolini tinha o controle efetivo do poder, com o respaldo das classes dominantes.

Começou um período de forte censura à imprensa e de perseguição às oposições. Em 1925 o Senado e a Câ-mara foram extintos e passou-se a viver sob um partido único: o Partido Nacional Fascista. Mussolini, chefe polí-tico desse partido, tornava-se o Duce, o ditador absoluto da Itália.

Talvez sua construção mais original na época tenha sido a implantação de um regime corporativista, pelo qual se pretendia atingir a “conciliação entre as classes”, vale dizer, entre “patrões” e “empregados”, “operários” e “bur-guesia”, ou seja, entre os dois polos da tão temida luta de classes anunciada pelos grupos de esquerda.

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As corporações substituíram os sindicatos operários. Cada corporação era formada por representantes patro-nais e de trabalhadores do mesmo ramo produtivo. Regu-lamentadas em 1927 pela Carta Del Lavoro, que as vin-culava diretamente ao Estado, a partir de 1934 passaram a formar um colegiado composto de representantes dos patrões, do governo e dos trabalhadores. A participação desses setores servia para dar a ilusão de que havia uma relação de harmonia entre as classes, o que mascarava a realidade.

O regime fascista preocupou-se em modernizar e di-namizar a economia. Com a “batalha do trigo”, aumen-tou significativamente a produção agrícola, reduzindo as importações no setor. As atividades industriais foram im-pulsionadas nos setores hidroelétrico e automobilístico, entre outros. Com obras públicas, tais como autoestradas e conjuntos habitacionais, procurou-se ampliar a oferta de emprego.

O fascismo apresentava-se como uma solução al-ternativa para o capitalismo liberal e para o socialismo estatal vigente na União Soviética. No exterior, não fo-ram poucos aqueles que se sentiram fascinados pelas suas realizações e especialmente pela sua proposta de corpo-rativismo, inclusive no Brasil que, com Getúlio Vargas, viu-se bastante influenciado por alguns aspectos do fas-cismo. Entretanto, a feição totalitária do regime acabou por tornar-se evidente, levando alguns antigos simpati-zantes ao distanciamento, especialmente após as relações estabelecidas com a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

O nacional-socialismo entra em cena

A República de Weimar

Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha tivera que se render não só pela perda de posições no con-flito. Enfrentava problemas também internamente com sua economia arrasada e agitações populares que ocor-riam a todo momento. Multiplicavam-se as greves, assim como manifestações em prol do armistício. À frente des-ses movimentos estavam social-democratas e adeptos da Liga Spartakista, embrião do futuro Partido Comunista alemão. O exemplo da vitoriosa Revolução Russa incenti-vava a ação desses grupos.

No ano seguinte ao término da guerra, na cidade ale-mã de Weimar, importante centro cultural localizado na Turíngia, parlamentares recém-eleitos reuniram-se para dar início a um regime republicano e começar os prepa-rativos para elaborar uma nova Constituição, conforme os acordos de paz exigiam. Instalava-se um governo social-democrata sob o comando de Friedrich Ebert. A esse go-verno provisório coube a tarefa de acertar os termos de

paz no Tratado de Versalhes, que penalizou severamente a Alemanha.

A organização do novo regime não foi capaz de tra-zer a tranquilidade aos alemães. A crise econômica era in-tensa, as dívidas de guerra complicavam a situação de um país com a economia arrasada. As agitações sociais conti-nuaram. Viveu-se um período de grande instabilidade po-lítica, com tentativas de golpes por parte de nacionalistas e monarquistas. Os operários, inflamados pelos grupos de esquerda, davam curso a movimentos reivindicatórios.

Em meio a esses problemas, viveu-se um período de intensa atividade artística e cultural. Só para citar al-guns exemplos, a vida cultural alemã contou naquela épo-ca com o teatrólogo Bertold Brecht e o escritor Thomas Mann, nas letras. No cinema, Josef von Stemberg produ-ziu O Anjo Azul, com Marlene Dietrich. Na arquitetura, a Bauhaus, fundada por Walter Gropius, dava seus primei-ros passos.

O nazismo chega ao poder

Em meados da década de 1920, capitais estrangeiros, especialmente norte-americanos, começaram a ser envia-dos à Alemanha, o que produz uma relativa recuperação da sua economia. Os spartakistas e outros grupos de es-querda, que vinham tentando fazer uma revolução à seme-lhança da soviética, foram severamente combatidos. Com tudo isso, diminuiu a preocupação dos setores burgueses da sociedade com a ameaça das esquerdas, e garantiu-se alguma estabilidade econômica social.

A crise de 1929 veio alterar esse quadro. Os capitais americanos foram retirados e os problemas econômicos retornaram. Aumentou o desemprego e a inflação. Cerca de 6 milhões de trabalhadores, o que perfazia o assusta-dor índice de 1/3 da população ativa da Alemanha, fica-ram desempregados. A questão social voltou a preocupar. Criou-se uma situação bastante propícia ao crescimento de grupos de direita, que ofereciam soluções para conter a crise por meio do controle do Estado. Além de a esquerda estar bastante desarticulada, o crescimento da direita foi facilitado pelo apoio que recebeu de grupos industriais que temiam os resultados da crise.

As forças conservadoras e nacionalistas aglutinaram-se no Partido Nacional Socialista, também conhecido co-mo nazista. Esse partido originou-se de um agrupamen-to anterior chamado de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, que fora fundado logo depois da guerra por um ferreiro e um jornalista na cidade de Mu-nique. Em 1921 o comando desse partido passou para o jovem Adolf Hitler, que o fez crescer e se tornou um de seus principais líderes.

Em 1923, já organizados na Baviera, os nazistas tentaram pela primeira vez tomar o poder através de um golpe de Estado, o Putsch de Munique. Não obtiveram

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A ideologia nazista

O nazismo apoiava-se fundamentalmente em ideais nacionalistas e racistas que justificariam a expansão ale-mã de forma a construir a Grande Alemanha sob o coman-do da raça pura ariana.

A ideologia nazista assentava-se em princípios racis-tas de superioridade da raça germânica, de origem ariana, o que lhe conferia o direito de dominar os outros povos representantes de raças inferiores. Apoiava-se em ideias que lhe eram anteriores, originadas do racismo científi-co do século XIX, que colocou em cena a ideia de que haveria gradações entre os povos conforme a raça a que pertenciam. Os nazistas souberam aproveitar sentimentos de superioridade alemã traduzidos em critérios raciais ca-pazes de melhorar a auto-estima daquele povo humilhado pela derrota na Primeira Guerra Mundial.

A defesa da “raça pura” justificava a eugenia, “pseu-do-ciência” que na época propunha medidas que visavam ao aperfeiçoamento racial, como a proibição de casamen-tos e esterilização de indivíduos considerados “degenera-dos”: deficientes mentais, portadores de deficiência física ou mesmo pertencentes a uma raça “degenerada”, como eram considerados os judeus pelos nazistas.

O nazismo foi um regime de massas, que contava com grande apoio popular. Muito contribuiu para isso a intensa utilização dos meios de propaganda disponíveis na época, em especial do rádio e do cinema. Hitler criou um Ministério da Propaganda, entregue para seu compa-nheiro Joseph Goebbels dirigir, que soube aproveitar as possibilidades que eram oferecidas pelas técnicas de pro-paganda que começavam a ser descobertas naquela época.

Houve uma proliferação de símbolos capazes de identificar os nazistas: bandeiras, gestos, como o famoso “Hei! Hitler”, uniformes, braçadeiras com a águia e a cruz gamada, e outros fartamente utilizados nos eventos de massa. As paradas militares realizadas nas festividades e os grandes comícios funcionavam como uma teatraliza-ção do regime nazista capaz de levar as massas ao delírio, forma de garantir adesão coletiva da população alemã.

Da mesma forma, o culto à personalidade de Hitler, o grande Führer, era estimulado pela propaganda nazista. Sua figura confundia-se com a do Estado e seu poder es-tava acima da sociedade.

Apesar das técnicas de persuasão utilizadas, o poder dos nazistas contava também com a força expressa na sua polícia política, a Gestapo, comandada por Himmler, e a SS, sua polícia executiva.

A guerra como solução

A economia sob o nazismo teve sinais de recupera-ção. O Estado nela interveio, houve construções de obras públicas e retomou-se a indústria bélica. Começava a pre-

sucesso e Hitler acabou sendo condenado a cinco anos de prisão, dos quais cumpriu apenas 9 meses, durante os quais escreveu seu livro doutrinário, o Mein Kampf (Minha Luta). Nesse livro já aparecem claramente o ódio que Hitler devotava aos judeus e sua pretensão de expan-dir as fronteiras alemãs, que levou o país a provocar a deflagração da Segunda Guerra Mundial. A justificativa apresentada para suas intenções expansionistas seria a ne-cessidade da Alemanha buscar seu “espaço vital”, ou seja, ampliar o território alemão de forma que nele ficassem agregados todos os povos germânicos.

Encaminhava-se a instalação de uma ditadura. Os nazistas incendiaram o Reischstag, o parlamento alemão, e acusaram os comunistas de serem os responsáveis pe-lo atentado. Com isso encontraram uma justificativa para colocar o Partido Comunista na ilegalidade, dando início a uma feroz perseguição a seus membros.

O poder de Hitler aumentava. Todos os partidos, com exceção do nazista, foram extintos. Com a morte do presidente Hindenburg em 1934, Hitler acumulou as funções de chanceler e presidente. Após um plebiscito, sua permanência ao poder foi legalizada. Hitler tornou-se a partir daí o único guia, chefe maior da nação ale-mã: o Führer.

Adolf Hitler

Nasceu na Áustria em 1889, filho de Alois Hitler e Klara Poezl. Na infância iniciou os estudos de violino e, posteriormente, fez cursos de pintura, nos quais repro-duziu em telas paisagens e naturezas mortas. Alistou-se voluntariamente no exército alemão no início da Primei-ra Guerra Mundial, tornou-se cabo, ganhou duas vezes a condecoração da Cruz de Ferro por atos de bravura e foi ferido em combate.

Após a Primeira Guerra a Alemanha vivia sob o peso da derrota e de uma gravíssima crise econômica. Hitler estava desempregado, morava em uma modesta pensão e chegou a pintar paredes de casa para sobre-viver. Nesse momento conheceu um grupo de ex-sol-dados que se reunia em uma cervejaria de Munique e passava as tardes discutindo política e soluções para a crise institucional do país. Desse núcleo surgiu o Parti-do Nacional-Socialista Alemão, do qual em 1921 Adolf Hitler tornou-se líder.

Ao longo da Segunda Guerra Mundial, Hitler se-guiu táticas bastante pessoais, indo contra conselhos de especialistas militares. Sobreviveu à conspiração para assassiná-lo e eliminou todos os que estavam nela envolvidos.

Todas as evidências levam a crer que Hitler e sua amante Eva Braun cometeram suicídio e tiveram seus cor-pos cremados em um abrigo subterrâneo em 1945, quan-do o exército soviético entrou vitorioso em Berlim.

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Vivia-se sob a sensação de que o frágil equilíbrio mundial não demoraria a ser rompido. Ao findar a década de 1930, um conflito entre os países europeus parecia es-tar cada vez mais próximo.

Com a ascensão de Hitler ao poder, a Alemanha, desrespeitando as determinações de Versalhes, começou a se preparar para a guerra. Hitler defendia abertamente a construção do III Reich, mediante a submissão de ou-tros povos à superioridade da raça ariana. Em 1936 os alemães já dispunham de 88 mil soldados e um crescente desenvolvimento na marinha e na aeronáutica. A indústria bélica também fora reativada e a produção de armamentos dava-se num ritmo acelerado.

Naquele mesmo ano, a Alemanha iniciou uma agres-siva política expansionista, estabelecendo tropas na Renâ-nia, região fronteiriça com a França. Dois anos depois, os alemães anexaram a Áustria (Anschluss) e conseguiram a região industrial dos Sudetos, localizada na fronteira entre a Alemanha e a atual República Tcheca, habitada por uma minoria alemã.

A definição completa dos beligerantes só foi concluí-da após a invasão da URSS pelos alemães em 1941 e tam-bém depois do ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor no Pacífico, o que levou os Estados Unidos a participar diretamente do conflito.

A partir daí estabeleceram-se definitivamente os dois blocos de países em confronto. De um lado o Eixo, con-siderado o agressor. De outro, os países aliados, que se apresentavam como defensores dos ideais democráticos frente o avanço do nazifascismo.

Eixo: Alemanha, Itália e Japão.Aliados: liderados pela Inglaterra, Estados Unidos e

URSS, com a adesão de outros 25 países.

O desenrolar da guerra

1a Fase - 1939–1941• Conflito eminentemente europeu.• “Blitzkrieg” (guerra relâmpago) - exército nazista

passou à ofensiva.• Alemanha apodera-se da Noruega e Dinamarca.• Hitler invade a França através da Bélgica e Holanda.• 14 de junho de 1940. Paris é declarada “cidade

aberta”.• Bombardeio alemão à Inglaterra.• RAF (Força Aérea Inglesa) responde com ataques

sucessivos a Berlim.• Hitler adia a invasão à Inglaterra.• Invasão das tropas alemãs - AFRIKAKORPS - ao

norte da África.• Alemães invadem a Grécia e a Iugoslávia.

paração para a guerra. A expansão alemã era apontada co-mo uma necessidade política e econômica. A guerra era defendida por grupos de industriais, um dos setores que apoiava a política nazista. Para eles, a guerra seria uma oportunidade de expansão econômica.

A Segunda Guerra Mundial

O início do conflito

Entre 1939 e 1945 o mundo esteve envolvido mais uma vez numa guerra de proporções mundiais. Em 1941, ainda durante o desenvolvimento do conflito, o maior do século XX, Winston Churchill disse: “Essa guerra, de fa-to, é uma continuação da anterior”. O primeiro-ministro britânico tinha razão.

Após a Primeira Guerra, os países europeus, em ruí-nas, enfrentaram sérios problemas econômicos, tornados mais graves com a crise de 1929. Com a retirada dos ca-pitais norte-americanos da Europa, a situação dos países desse continente piorou. Aliado a isso, o crescimento da esquerda era sentido como uma ameaça pela burguesia europeia. Nesse contexto vimos que houve o crescimento de regimes de direita. Na Itália e na Alemanha assistiu-se ao surgimento do nazismo e do fascismo. Esses regimes totalitários trouxeram à cena sentimentos nacionalistas que embasaram uma política de expansão territorial.

Às dificuldades trazidas pela crise econômica mun-dial para o continente europeu somavam-se os descon-tentamentos dos países perdedores com as condições do armistício previstas no Tratado de Versalhes (1919), cele-brado no final da Primeira Guerra. A nova partilha impe-rialista do mundo ali efetuada levara à divisão dos países do mundo colonial, com suas valiosas matérias-primas, entre os países vencedores.

A Alemanha, a mais penalizada nos termos do acor-do, sentia-se humilhada. Fora obrigada a pagar vultosas indenizações às nações vencedoras, perdera territórios na África e estava submetida a condições de rígido desarma-mento. A Itália, embora do lado vencedor, recebeu territó-rios que julgou insuficientes.

O grande capital industrial, que se havia mostrado favorável ao crescimento do nazifascismo, apoiava as intenções expansionistas. Para os grandes grupos indus-triais, interessava conquistar novos mercados e controlar novas fontes de matérias-primas.

Fora da Europa também havia tensões. No Extremo Oriente, o Japão dava curso a suas pretensões imperialis-tas. Em 1931 invadiu a região da Manchúria, na China. A Liga das Nações, organização formada para intermediar problemas entre os países e impedir o surgimento de no-vos conflitos, nada fez. Também a Etiópia, invadida quatro anos depois pela Itália, recorreu em vão a esse organismo.

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1941 e 1942 os combates foram violentos na frente orien-tal. Os soviéticos, beneficiados pelo inverno rigoroso, forçaram os alemães à sua primeira capitulação. Com a sangrenta Batalha de Stalingrado, terminava a invencibi-lidade alemã.

Conforme perdia terreno, a Alemanha intensificava sua dominação sobre os países ocupados. A violência ra-cial aumentava e os campos de concentração se multipli-cavam. Milhares de prisioneiros, sobretudo judeus, foram encaminhados para a morte em câmaras de gás.

Em 1944 a França foi libertada. Os aliados come-çaram a penetrar na Itália através da Sicília em junho de 1943, impondo sucessivas derrotas aos fascistas. Benito Mussolini foi deposto do cargo de primeiro-ministro e o rei Vítor Emanuel rendeu-se. As tropas alemãs sediadas na Itália central continuaram a luta até abril de 1945. A FEB – Força Expedicionária Brasileira – participou desse conjunto de batalhas. Em abril de 1945 Mussolini morre ao tentar fugir para a Suíça.

Restava ainda o Japão. Este acabou-se rendendo em agosto de 1945, após o bombardeio atômico efetuado nas cidades de Hiroshima e Nagasaki.

O saldo da guerra

Pela abrangência do conflito e também devido às enormes perdas humanas e materiais que causou, a Se-gunda Guerra Mundial superou a anterior. Os horrores da guerra extrapolaram as linhas de combate. Milhares de civis foram vítimas de bombardeios indiscriminados. O extermínio em massa de judeus produzido em campos de concentração nazistas é dos maiores crimes já realizados contra a humanidade.

Dentre as atrocidades cometidas, não se pode esque-cer do lançamento da bomba atômica. Pela primeira vez na história, uma arma tão poderosa foi lançada sobre uma população civil. Na verdade, esse bombardeio foi sobre-tudo uma demonstração de força. A guerra já estava, vir-tualmente, vencida. O objetivo dos norte-americanos, que desenvolveram e lançaram a bomba sobre as cidades japo-nesas de Hiroshima e Nagasaki, foi demonstrar sua força especialmente para a União Soviética. Há quem considere que o ataque feito com a bomba atômica teria significado não apenas o final da Segunda Guerra, mas, sobretudo, o início de um outro capítulo: começava, a partir daí, a Guerra Fria.

Saldo da guerra• 50 milhões de mortos• 35 milhões de feridos• 3 milhões de desaparecidos• 6 milhões de judeus foram vítimas do genocídio

nazista

2a Fase - 1941–1945• 7 de dezembro de 1941 - EUA entram na guerra, ao

lado dos aliados, após o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor no Pacífico.

• O conflito torna-se mundial, desenvolvendo-se em quatro frentes:Frente Ocidental: Europa - Alemanha e Inglaterra. Frente Oriental: Europa - Alemanha e União Soviética.Frente Pacífico: EUA, Japão.Frente Norte da África

• 6 de junho de 1944 - Dia D - ataque aliado à Nor-mandia (costa norte da França), libertando o país da dominação nazista.

• Fevereiro de 1945 - Conferência de lalta - EUA, In-glaterra e URSS acertam os detalhes da grande ofen-siva final contra a Alemanha.

• 24 de abril de 1945 - exército soviético faz o cerco a Berlim. Rendição nazista.

• Agosto de 1945 - EUA lançam bombas atômicas so-bre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

A grande virada

A Alemanha ganhara terreno nos primeiros tempos da guerra. A partir de 1942 os aliados começaram a deter seu avanço e passaram para a ofensiva. Seguramente, a entrada dos Estados Unidos e da URSS na guerra dese-quilibrou o conflito para o lado dos aliados.

Os problemas entre Estados Unidos e Japão, relati-vos à disputa por áreas no Pacífico, já vinham acontecen-do antes mesmo do conflito. O Japão invadira a Indochina e em contrapartida os Estados Unidos e a Inglaterra impuseram um bloqueio econômico àquele país. Sem declaração formal de guerra, em dezembro de 1941 os japoneses atacaram Pearl Harbor, precipitando a entrada dos EUA na guerra. Antes disso o presidente norte-ame -ricano Franklin Roosevelt já havia estimulado a produção de armamentos visando a uma possível participação do país no conflito mundial. O poder econômico e militar dos Estados Unidos contribuiu com as tropas enviadas, os bombardeios aéreos e sua força naval para conduzir os aliados à vitória.

O acordo de não agressão feito entre a Alemanha e a URSS foi rompido quando, em junho de 1941, não havendo acordo quanto a uma possível divisão de territó-rios entre os dois países, Hitler invadiu a União Sovié tica. A reação dos soviéticos foi intensa. A penetração nazista foi dificultada pela política de “terra arrasada” na qual se impedia que os invasores se apossassem das riquezas do território soviético. Com o objetivo de que nada deveria ser entregue ao inimigo, fábricas inteiras eram destruídas ou desmontadas e transferidas para a retaguarda. Entre

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dezembro de 1954, censurou publicamente seu membro Joseph MacCarthy, que renunciou à vida pública.

A questão racial

A segregação racial nos Estados Unidos vinha des-de o final da Guerra de Secessão (1861-1865), depois da qual foram promulgadas leis que restringiam a participa-ção dos negros na sociedade norte-americana. Pelas cha-madas Leis Jim Crow, negros não podiam no sul do país frequentar as mesmas escolas que os brancos, viajar nos mesmos ônibus ou utilizar os mesmos locais públicos. A segregação se expandiu por outros setores chegando até mesmo às Forças Armadas.

Durante o governo do presidente norte-america-no Dwight Eisenhower (1953-1961), do Partido Re-publicano, houve a eclosão de violentos conflitos ra-ciais no país envolvendo negros e brancos. Em 1954 foram promulgadas leis para integrar os negros na sociedade americana, proibindo, entre outras coisas, a segregação nas escolas. Isso não serviu para acal-mar os ânimos, mesmo porque o Congresso america-no recusou, na mesma época, um projeto de lei para estender o direito de voto aos negros. Isso ensejou a criação da Comissão dos Direitos Civis que investi-garia as violações ao direito de voto baseadas na cor, raça, religião e nacionalidade.

O presidente democrata John F. Kennedy (1961-1963) apoiou a organização do Movimento pelos Di-reitos Civis dos Negros, que lutava contra a segre-gação racial nos Estados Unidos. Conseguiu aprovar no Congresso a Lei dos Direitos Civis, sancionada no governo de Lyndon Johnson (1964-1968). Com isso assegurou-se, entre outras medidas, que os ne-gros tivessem a mesma condição que os brancos para votar e não fossem alvo de restrições de locomoção em transporte coletivo.

As relações com a América Latina

Após a ocupação da porção territorial do Oeste, os Estados Unidos voltaram-se para a América Latina, apos-sando-se, em 1848, da metade do território mexicano. No final do século XIX, a América Central passa por suces-sivas intervenções militares, culminando com a Guerra Hispano-Americana, que colocou Cuba e Porto Rico sob o domínio de Washington.

A presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909) definiu a política do Big Stick (grande porrete), também conhecida como a “diplomacia do dólar”, que proclamava os Estados Unidos como o “guardião do continente ame-ricano”. Nesse contexto podemos entender a anexação da zona do canal do Panamá em 1903.

Os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial

Introdução

A prosperidade econômica dos Estados Unidos cresceu após a Segunda Guerra Mundial. Este país havia se beneficiado do fato de não ter que enfrentar combates em seu próprio território, apesar de ter-se envolvido no conflito. O declínio europeu levou a uma desorganização dos mercados internacionais, o que ampliou as possibilidades de negócios para os Estados Unidos. Da mesma forma, o processo de li-bertação das antigas colônias europeias abriu novos mercados. A América Latina também se firmou co-mo importante área de atuação econômica para os americanos do norte. A Guerra Fria contribuiu para abrir espaço para a expansão das áreas de influência do capitalismo norte-americano. Com tudo isso, os Estados Unidos tomaram a dianteira, figurando co-mo a principal potência econômica, política e militar do mundo capitalista.

Também contribuíram para essa prosperidade um conjunto de medidas econômicas implantadas interna-mente que visavam eliminar problemas de desemprego ocasionados pela volta de milhares de soldados norte-americanos que retornavam da guerra para a vida civil. Foram também tomadas medidas para fazer a recon-versão da poderosa indústria bélica para a de bens de consumo.

A partir da ajuda financeira para a reconstrução eu-ropeia – Plano Marshall –, os mercados europeus pude-ram exportar produtos norte-americanos.

Ao mesmo tempo em que o padrão de vida das ca-madas médias elevava-se, crescia dentro da sociedade norte-americana um forte sentimento anticomunista que foi reforçado após a Revolução Chinesa e a explosão da primeira bomba atômica soviética em 1949.

O “macarthismo”

Na década de 1950, no auge da Guerra Fria, os Estados Unidos são atingidos por uma violenta onda anticomunista notadamente após a criação do Co-mitê de Atividades Americanas, sob a inspiração do senador republicano Joseph MacCarthy, que desen-cadeou uma verdadeira “caça às bruxas”. O macarthismo ocasionou intensa perseguição aos intelectuais, artis-tas e funcionários do governo, e sua prisão, a partir da acusação de serem simpatizantes do movimento comunista.

O macarthismo foi neutralizado quando figuras de destaque do exército norte-americano foram acusadas de envolvimento com atividades comunistas. O Senado, em

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por reformas importantes, como a legislação trabalhista no Brasil.

O governo de Lázaro Cárdenas

Lázaro Cárdenas foi eleito presidente do México em 1934, dando início a um processo de nacionalização e dis-tribuição de milhões de hectares de terras aos campone-ses, retomando o projeto de reforma agrária do ejido, da época da Revolução Mexicana, e de apoio financeiro aos camponeses.

As greves operárias deixaram de ser reprimidas, e várias leis ampliando os direitos sociais foram aprovadas. Em 1938 o governo Cárdenas criou a Pemex – Petróleo Mexicano – que oficializava o monopólio estatal sobre a extração e distribuição de petróleo.

O governo Cárdenas colocou-se na ótica do populis-mo, na medida em que atrelou os movimentos populares ao Estado, neutralizando-os politicamente. Empreenden-do reformas importantes, esse governo, todavia, fortale-ceu a burguesia mexicana, que se tornou parceira e aliada dos Estados Unidos.

O populismo de Perón

Em junho de 1943, o argentino Ramón Castillo foi deposto da Presidência por um golpe militar, articulado por jovens oficiais portenhos de ideias próximas ao nazi-fascismo. Com Castillo foram afastados do poder políti-cos ligados aos grandes proprietários de terra, que manti-nham a economia atrelada ao capital estrangeiro.

Um desses oficiais era Juan Domingo Perón – filho de um dos mais importantes criadores de gado da Argen-tina – que de 1939 a 1941 atuou junto ao exército italiano, conhecendo os princípios ideológicos do fascismo.

Participando do novo governo, Perón tornou-se uma espécie de eminência parda, acumulando os cargos de vi-ce-presidente, secretário do Trabalho e Bem-Estar Social e ministro da Guerra. Em seus discursos pregava o fim da luta de classes e a conciliação entre patrões e empregados. Criou uma Confederação Geral do Trabalho (CGT), neu-tralizou a participação de grupos socialistas e comunistas nos sindicatos e passou a reprimir violentamente toda e qualquer oposição política.

O governo peronista foi consolidado junto a uma só-lida base de apoio na classe operária, através da implanta-ção da legislação trabalhista e previdenciária: pensão para os aposentados, férias remuneradas, aumentos salariais.

Nas eleições presidenciais de 1946, a vitória pero-nista definiu o início de um novo período na história da Argentina, o justicialismo.

Juan Domingo Perón nacionalizou os serviços pú-blicos e estabeleceu as bases da intervenção do Estado na economia, sindicatos e meios de comunicação. Sua

Os caminhos políticos da América Latina

Introdução

O continente americano não se define apenas pelas fronteiras e pela divisão política. O Rio Grande, entre os Estados Unidos e o México, é um marco divisor entre a América Anglo-Saxônica e a América Latina.

Cenário de três séculos de dominação colonial, os países latino-americanos desenvolveram-se, historicamente, dentro de um processo de dependência dos grandes po-los econômicos mundiais. Ao imperialismo britânico seguiu-se, no início do século XX, a dominação norte-americana na América Latina.

A presença norte-americana

Os países latino-americanos figuram no mercado mundial, de acordo com a Divisão Internacional do Tra-balho, como tradicionais produtores de matérias-primas e consumidores de bens industrializados importados. En-tretanto, desde o final do século XIX a América Latina já vinha encaminhando um processo de industrialização. No século XX esse processo se intensificou, sobretudo nos períodos das duas guerras mundiais. Deve-se ressaltar que a industrialização alcançou mais alguns países que outros e ficou restrita a algumas regiões. Após a Segunda Guerra os Estados Unidos voltam-se para a América Latina co-mo investidores, exportadores de capitais e de tecnologia, agindo na estimulação das atividades industriais. Nesse processo, a industrialização latino-americana acentuou a dependência econômica ao contar com uma intensa par-ticipação do capital estrangeiro sem que houvesse trans-ferência de tecnologia. Vale lembrar que as iniciativas de industrialização ocorreram, em grande medida, em mode-los econômicos estatizantes.

A industrialização foi acompanhada do crescimento das cidades. Houve um aumento dos setores sociais ur-banos. As classes médias e o operariado passaram a sig-nificar uma força política de peso. Nesse contexto, surge o populismo na América Latina, que se apresenta como uma forma de absorver e controlar a força política das massas urbanas.

O populismo na América Latina

Desde a década de 1930 surgiram na América Latina regimes populistas. Getúlio Vargas no Brasil (1930-1945), Juan Domingo Perón na Argentina (1946-1955) e Lázaro Cárdenas no México (1934-1940) foram seus principais representantes políticos.

O Estado populista criou uma política de conciliação de classes sociais e defendia reformas sociais limitadas, para manter o apoio popular. O populismo foi responsável

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A expansão da influência econômica e política do capitalismo norte-americano tornou-se o principal alvo das críticas formuladas por grupos políticos de esquerda. Essas ideias se concretizavam em ações políticas que vi-savam levar os comunistas ou partidários de outras ideo-logias de esquerda ao poder. A forte repressão aos grupos de esquerda no período, em diferentes países da América Latina, acabou originando movimentos que passaram a utilizar guerrilhas como estratégia revolucionária. A re-volução socialista chega por essa forma a Cuba. Grupos guerrilheiros atuaram também, sem alcançar o mesmo sucesso, em outros países latino-americanos. Em El Sal-vador, por exemplo, diferentes grupos revolucionários de-ram origem à Frente Farabundo Martí de Libertação Na-cional, que realizou uma tentativa fracassada de golpe em 1980 naquele país. Na Nicarágua foi instalado o governo constitucional sandinista, pró-socialista.

Os grupos de esquerda foram, no seu conjunto, al-vos de grande repressão pelos governos latino-america-nos, com o apoio dos Estados Unidos. A CIA – Agência Central de Informações – teve atuação direta no combate ao comunismo no continente e na instalação de governos favoráveis aos interesses norte-americanos. A “ameaça comunista”, em muitos casos mais ilusória que real, ser-viu como justificativa para o crescimento do número de ditaduras no período.

A experiência cubana

A última colônia latino-americana a conquistar sua independência foi Cuba, em 1898, no contexto de uma guerra entre Espanha e Estados Unidos, dando início a um intervencionismo norte-americano que se prolongou pelo século XX. A ingerência norte-americana foi institucio-nalizada pela Emenda Platt, que garantia legalmente sua intervenção no país.

Não apenas na política a influência norte-americana se fazia sentir. Na economia cubana, a participação do ca-pital estrangeiro, especialmente dos Estados Unidos, era gigantesca. Atividades fundamentais, como transportes, energia e serviços públicos, eram controladas por empre-sas estrangeiras. Da mesma forma a vigorosa indústria de tabaco. No campo, onde se desenvolvia a produção açu-careira, principal atividade econômica do país, a situação não era diferente. A posse da terra estava concentrada nas mãos de poucos, na sua maioria estrangeiros, e dentre esses, muitos norte-americanos. A cidade de Havana era conhecida internacionalmente pelos seus cassinos, casas noturnas e de prostituição explorados por empresários norte-americanos.

Em 1934 chegou ao poder Fulgêncio Batista, que se tornou ditador sangrento, líder de um governo cor-rupto, responsável por permitir que seu país se trans-formasse em um verdadeiro bordel de luxo. Contra

esposa, Eva Perón, tornou-se uma poderosa aliada em sua política paternalista, e esteve associada à imagem de porta-voz das reivindicações operárias.

Eva Duarte, filha de rico estancieiro argentino, ex- atriz radiofônica, casou-se com Perón em 1945. Era uma mulher sofisticada e muito bonita, que assumiu o papel de Evita, a “mãe dos descamisados”. Ela adorava distribuir brinquedos e doces para as crianças pobres, que a chama-vam de “Senhora da Esperança”. Sua popularidade não parou de crescer, rivalizando mesmo com a de Perón. Em decorrência de um câncer, Evita faleceu em 1952.

Uma grave crise econômica assolou a Argentina em 1951. A adoção de medidas austeras, como con-gelamento de salários e aumento de preços, aliadas a negociações do governo em contratos de exploração de petróleo e gás com empresas norte-americanas, afeta-ram as bases do peronismo.

A morte de Evita, em 1952, aprofundou a crise ar-gentina, agravada por denúncias de corrupção e pelo rom-pimento do governo com a Igreja, acusada de intervir nos assuntos de Estado.

A aliança de forças políticas de oposição desenca-deou um golpe militar que, em setembro de 1955, retirou Juan Domingo Peron da Presidência. Perón exilou-se no Paraguai e depois na Espanha.

Perón retornou do exílio em 1973, elegendo-se presidente da Argentina. Com idade bastante avançada, faleceu em 1974. Sua mulher, Isabel de Perón – Isabeli-ta –, assumiu a função de chefe de Estado. O país vivia uma violenta crise político-econômica e, em 1976, o general Jorge Videla assumiu a Presidência por um gol-pe militar. Após a Guerra das Malvinas (1982), travada com a Inglaterra, começou o processo de transferência de poder aos civis.

Buscando novas alternativas

Introdução

A América Latina atravessou o século XX como par-ceira menor do mundo capitalista, situando-se na área de influência econômica dos Estados Unidos. Os laços ca-pitalistas pressupunham um alinhamento político ao lado daquele país no contexto da Guerra Fria. Essa foi a posi-ção assumida preponderantemente pelos governos latino-americanos. Entretanto, as ideias comunistas alcançaram diferentes países a partir de setores sociais insatisfeitos com a forte presença no continente dos interesses eco-nômicos vinculados ao capitalismo internacional. Soma-va-se o fato de que a situação dependente da economia latino-americana passava a ser apontada por diferentes teóricos como a principal responsável pela pobreza e pe-las desigualdades sociais existentes.

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A Revolução Cubana teve grande repercussão política por toda a América Latina, contribuindo para aumentar a adesão aos ideais socialistas, especialmente entre as camadas médias urbanas. Criava-se um novo modelo revolucionário. O modelo cubano destacava a importância do camponês como classe revolucioná-ria e a tática de guerrilhas móveis como estratégia de luta. Com essa tática os focos revolucionários seriam multiplicados, não havendo a necessidade de se esperar que as condições estivessem “maduras” na sociedade para dar início à luta, como vinha sendo habitualmente defendido pelos movimentos revolucionários. A exis-tência de uma “vanguarda revolucionária” para enca-minhar a luta armada passou a ser defendida como uma necessidade para assegurar o êxito de movimentos revolucionários.

A Revolução de Cuba

• 1902 - Emenda Platt - inserida na Constituição de Cuba, permitia aos Estados Unidos intervir militar-mente nesse país para garantir sua independência política.

• 1933 - Movimento popular coloca no poder Ramón Grou de San Martin, que revogou a Emenda Platt, concedeu direito de voto às mulheres e fez reformas trabalhistas.

• 1934 - Início do governo do ditador Fulgêncio Batista, favorável aos Estados Unidos.

• 1953 - Manifestações de estudantes contra Fulgên-cio Batista. Fidel Castro lidera tentativa frustrada de derrubar Fulgêncio Batista em ataque ao quartel de Moncada, sendo preso em seguida.

• 1957 - Invasão frustrada de Cuba por guerrilheiros, com a presença de Fidel Castro e Che Guevara.

• 1958 - Assinatura do Manifesto de Sierra Maestra, contra o governo de Fulgêncio Batista, com apoio da burguesia açucareira.

• 1959 - Final da “Marcha sobre Havana”, que é to-mada pelos revolucionários, assim como outras ci-dades, dando-se início a um governo nacionalista de esquerda.

• 1961 - Fidel Castro declara seu regime socialista, Cuba sofre tentativa de invasão na Baía dos Porcos, comandada pela CIA, e as relações com os Estados Unidos são rompidas.

• 1962 - Crise dos Mísseis e alinhamento de Cuba com os soviéticos; início do bloqueio econômico norte-americano sobre a ilha.

• 1963 - Criado o Partido Unido da Revolução Socia-lista, substituído em 1965 pelo Partido Comunista Cubano.

ele, forças oposicionistas organizaram-se e algumas se encaminharam para a ação armada. Fidel Castro surge como líder revolucionário nesse momento. Nascido em 1926 na Província de Mayari, estudou direito em Ha-vana e atuou na política estudantil. Em julho de 1953 Fidel Castro, seu irmão Raul e mais de uma centena de pessoas atacaram o quartel de Moncada como tentativa frustrada de derrubar o governo de Fulgêncio Batista. Foram mortos 65 dos participantes do ataque, depois do qual Fidel foi preso. Beneficiário de uma anistia em 1955, exilou-se no México, deixando a frase que usara em sua própria defesa, depois tornada título de panfle-to: “A história me absolverá” .

Um grupo de guerrilheiros, dentre os quais o médico Che Guevara, Camilo Cienfuegos e José Antonio Eche-verria, além de Fidel Castro, foi treinado para desembar-car em Cuba. Entendendo que a sociedade cubana estava preparada para uma revolução, desembarcaram, em um grupo de 81 pessoas, mas foram reprimidos, indo refu-giar-se em Sierra Maestra. Dali, saíam colunas guerrilhei-ras para desestabilizar o governo de Batista.

O apoio aos guerrilheiros cubanos contou com gru-pos radicais na cidade e com a aproximação de setores da burguesia açucareira descontentes com a ditadura de Batista. Em 1958 uma forte ofensiva foi preparada: dois grupos de guerrilheiros, comandados por Che Guevara e Cienfuegos, dirigiram-se à capital. Fidel liderou outro grupo para Santiago. O exército em vários locais se re-cusou a lutar e Fulgêncio Batista, isolado, fugiu para a República Dominicana. Em janeiro de 1959, Havana es-tava tomada pelos revolucionários cubanos. Fidel Castro chegava ao comando do país.

Cuba é socialista

A presença do socialismo em área de influência nor-te-americana preocupou severamente Washington, que passou a apoiar a contra-revolução. Em abril de 1961 a CIA organizou uma invasão à Baía dos Porcos, em Cuba, que se revelou um fiasco do ponto de vista estratégico. Fidel saía fortalecido do episódio. Em 1962, após a Crise dos Mísseis, Cuba foi expulsa da OEA – Organização dos Estados Americanos – e os Estados Unidos deram início ao bloqueio naval e econômico contra Cuba.

A reorganização da economia cubana sob o socialis-mo levou à coletivização e à nacionalização de empresas estrangeiras. O Estado assumiu o controle da economia planificada pela Junta Central de Planificação. Cassinos e bordéis foram fechados e os hotéis, abertos à população. Especial atenção foi dedicada à medicina e à educação. Grupos de jovens foram espalhados por toda a ilha numa gigantesca campanha da alfabetização. Em tempo recorde foi extinto o analfabetismo no país, causa de orgulho na-cional para os cubanos até hoje.

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A pressão norte-americana, que chegou até a minar portos nicaraguenses, fez com que Daniel Ortega convo-casse eleições para fevereiro de 1990, em troca da desmo-bilização dos “contra” por noventa dias.

O líder sandinista concorreu com a empresária Vio-leta Chamorro, que, vitoriosa, tornou-se presidente da Nicarágua. Os Estados Unidos acabaram com o embargo econômico, na certeza de que a experiência revolucioná-ria de Cuba não se havia repetido.

Os militares no poder

Introdução

O golpe militar de 31 de março de 1964 levou os militares a assumir o controle da vida política brasileira. Com a saída de João Goulart, havia assumido interina-mente a Presidência da República Ranieri Mazili, presi-dente da Câmara. Pouco depois uma Junta Militar forma-da por chefes militares das três Armas passou a compor o Comando Supremo da Revolução, que ocupou o poder.

Em 9 de abril foi decretado o Ato Institucional (AI-l) que deu início ao regime de exceção que vigorou no país durante duas décadas. Os Parlamentares tiveram seus mandatos cassados, e centenas de pessoas foram atingi-das por aposentadorias compulsórias. Houve reformas no meio militar e intensas perseguições políticas numa ver-dadeira caça às bruxas.

Procurava-se, de todas as formas, eliminar as possí-veis oposições ao regime militar que se implantava.

Desde logo foram cassados os direitos políticos de João Goulart, Jânio Quadros, Leonel Brizola, Miguel Ar-raes e Luís Carlos Prestes, com a intenção de desarticular a oposição. Pouco depois Juscelino Kubitschek também perdia seus direitos políticos.

Apregoando uma ameaça comunista à ordem vigen-te, seguiu-se intensa perseguição a líderes sindicais e es-tudantis, intelectuais e jornalistas, colaborando para criar um clima de tensão e incerteza quanto aos rumos da po-lítica brasileira.

A 15 de abril de 1964, a partir de indicação dos mi-nistros militares, assumia a Presidência Humberto de Alencar Castello Branco, o primeiro presidente do gover-no militar. Considerado representante de uma linha mo-derada entre os militares, Castello Branco dizia defender um retorno rápido à vida democrática após a realização de algumas reformas que julgava necessárias. Não foi o que aconteceu. Após promulgação de uma nova Constituição em 1967, a Presidência foi ocupada pelo marechal Artur da Costa e Silva, identificado com a chamada linha dura que passou a comandar o país.

A ditadura militar atingiu seu ápice durante a Presi-dência de Emílio Garrastazu Médici. O retorno à normali-

O processo revolucionário nicaraguense

País da América Central, banhado pelos oceanos Pa-cífico e Atlântico, a Nicarágua teve seu nome associado ao povo Nicarao, uma civilização pré-colombiana que recebeu influência dos Astecas, e que se localizava na re-gião do lago de Manágua.

Em função de uma estratégica localização geográ-fica, o país tornou-se alvo de disputas pela construção de um canal interoceânico. Inicialmente a Espanha, depois Inglaterra e Estados Unidos disputavam o controle sobre essa empreitada.

Em 1917, o general Emiliano Chamorro Vargas, presidente nicaraguense, concedeu aos Estados Unidos o direito de construir o canal. Washington pagaria à Nica-rágua a quantia de três milhões de doláres, e apesar de o Canal do Panamá estar concluído desde 1914, o governo norte-americano pretendia obter mais uma ligação entre os dois oceanos.

Um movimento de resistência ao intervencionismo norte-americano despontou no país em 1927. Atuando principalmente nas montanhas, com tática de guerrilha, o grupo liderado por Augusto César Sandino propunha a ação armada dos camponeses contra o tratado de conces-são do canal assinado pelo presidente Chamorro.

Após um processo de lutas, os Estados Unidos aban-donaram o país em 1933, levando consigo a certeza de que não construiriam o canal interoceânico.

Em 1934, Anastácio Somoza Garcia assumiu a pre-sidência por um golpe de Estado. Uma de suas primeiras deliberações foi planejar o assassínio de Sandino, que a partir de então teve seu nome ligado aos movimentos de luta pela emancipação da Nicarágua.

Em junho de 1979 instalou-se no país um governo de Reconstrução Nacional, com a participação de repre-sentantes de diversas correntes oposicionistas, entre eles a empresária Violeta Chamorro, viúva do jornalista assas-sinado em 1978. A junta de governo era chefiada por Da-niel Ortega, líder sandinista. Um dos primeiros decretos do novo governo foi a expropriação dos bens da família Somoza, que representavam 40% da economia nacional.

Na década de 1980, mais da metade do orçamento nicaraguense foi canalizado para o setor de defesa, e mes-mo assim, as taxas de inflação e desemprego diminuíram significativamente.

Durante a realização da primeira eleição livre, após a era somozista, os sandinistas, liderados por Daniel Ortega, foram vitoriosos. O governo cubano passou a dar apoio técnico, científico e financeiro ao governo sandi-nista. A esse auxílio seguiu-se um bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos à Nicarágua.

O governo norte-americano passou a incentivar e pa-trocinar a ação dos “contra”, que passaram a solapar o governo de Reconstrução Nacional.

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amordaçadas sob rígida censura e com suas lideranças perseguidas, presas ou exiladas.

Atos Institucionais

AI no 1(9 de abril de 1964)

• Cassação de mandatos políticos.• Suspensão de direitos políticos de membros da opo-

sição.• Possibilidade de decretar estado de sítio sem aprova-

ção do Congresso Nacional.• Eleição indireta do presidente da República.

AI no 2(27 de outubro de 1965)

• Eleição indireta para presidente da República.• Extinção dos partidos políticos.• Julgamento de civis acusados de crime contra a segu-

rança nacional em tribunais militares.• Confere-se ao presidente o direito de cassar direitos

políticos e decretar estado de sítio sem autorização do Congresso Nacional.

AI no 3(5 de fevereiro de 1966)

• Eleições indiretas para governadores e prefeitos das capitais.

AI no 4(6 de dezembro de 1966)

• O Congresso é convocado para discutir e aprovar o novo texto constitucional.

AI no 5(13 de dezembro de 1968)

• Fechamento do Congresso por tempo indeterminado.• Suspensão das garantias individuais; suspensão do

habeas corpus para os casos de crimes considerados contra a segurança nacional.

• Intervenção nos estados.• O presidente passa a ter direito de decretar o estado

de emergência e o estado de sítio por tempo indeter-minado.

Defendendo a “segurança nacional”

A justificativa ideológica da ditadura era conferida pela Doutrina de Segurança Nacional, formulada no âm-bito das instituições militares, especialmente na ESG, Es-cola Superior de Guerra. A ditadura e o estado de exceção

dade democrática deu-se numa transição “lenta e gradual” a partir do governo de Ernesto Geisel, sendo concluída por João Baptista de Oliveira Figueiredo.

Presidentes militares

Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967)

Artur da Costa e Silva (1967-1969)

Emílio Garrastazu Médici (1969-1974)

Ernesto Geisel (1974-1979)

João Batista de Oliveira Figueiredo (1979-1985)

Os anos de chumbo: repressão e resistência

O fechamento político

A ditadura militar foi implantada a partir da suspen-são dos mecanismos políticos vigentes e da criação de ou-tros como, por exemplo, facultar ao presidente a decisão de fechar o Congresso Nacional quando julgasse neces-sário e expandir suas atribuições às áreas do Legislativo e do Judiciário. Na prática, produziu-se ao mesmo tempo a centralização do poder no Executivo e o aumento do poder militar.

Os militares, a princípio, mantiveram a carta consti-tucional de 1947, mas fizeram algumas modificações, uti-lizando o recurso de promulgação de Atos Institucionais. A partir de 24 de janeiro de 1967, contaram com uma no-va Constituição feita para assegurar as características au-toritárias do regime. Por esse texto constitucional, criou-se a Lei de Segurança Nacional, os poderes do Congresso foram reduzidos e concentrou-se mais ainda o poder no Executivo. Em 1969 houve uma reforma constitucional que incorporou o AI-5 e permitiu ao presidente decretar estado de emergência e estado de sítio.

Pelo AI-2 ficaram extintos todos os partidos políticos existentes, permitindo-se a criação de apenas dois novos: a Arena (Aliança Renovadora Nacional), originada do go-verno, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que deveria desempenhar o papel de oposição. A ameaça de cassação e de perseguições mais duras, como prisão e torturas, estabelecia os limites possíveis dessa oposição consentida.

O fechamento do regime fez-se aos poucos, mas decisivamente. A promulgação do AI-5 em dezembro de 1968 – considerado um “golpe dentro do golpe” – signi-ficou o momento crítico que marcou a conclusão do pro-cesso de fechamento político e o início do terror dentro da ditadura. Os militares puderam então exercer o poder sob um regime político de exceção que manteve as oposições

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Populares de Cultura, vinculados à UNE, União Nacional dos Estudantes, ou da mobilização feita ao redor do edu-cador Paulo Freire, que desenvolveu um método inovador de alfabetização de adultos.

Com a implantação do AI-5 o governo militar for-taleceu os órgãos de vigilância e repressão. Teve início um novo ciclo de cassações e perda de direitos políticos que impôs a aposentadoria compulsória a muitos profes-sores universitários. A censura aos meios de comunicação tornou-se mais rígida e a tortura foi intensificada como método repressivo.

Ao endurecimento do regime militar seguiu-se um conjunto de ações armadas nas cidades e no campo. A partir de 1969, multiplicaram-se os atos de guerrilha rural e urbana que, sob inspiração dos processos revolucioná-rios de Cuba, China e Vietnã, pretendiam derrubar a dita-dura militar e implantar um regime socialista no Brasil.

Uma das táticas utilizadas pelas organizações arma-das da esquerda foi o assalto a bancos para conseguir di-nheiro para financiar a luta armada e o sequestro de em-baixadores para negociar a libertação de presos políticos.

Abertura política e redemocratização no Brasil

Introdução

A posse do general Ernesto Geisel, em 1974, repre-sentou o retorno do grupo castelista ao Palácio do Planalto e, consequentemente, uma derrota da linha dura. Na equi-pe do novo governo destacava-se o general Golbery do Couto e Silva, um antigo colaborador de Castello Branco, e que era avaliado com restrições pelo grupo de militares favoráveis à manutenção do fechamento político.

Geisel e Golbery eram os articuladores de um pro-jeto político mais amplo, discutido no final do governo Médici. Compreendiam a urgência de institucionalizar o regime ditatorial e, para tanto, acenavam com uma flexi-bilização política e buscavam alargar a base de legitima-ção do governo perante a sociedade.

Uma lenta transição

O fracasso do “milagre econômico” e o panorama político internacional, com a aproximação entre Estados Unidos e União Soviética, sinalizavam na direção de uma abertura no regime militar brasileiro. Esse processo, se-gundo palavras do presidente Geisel, devia ser feito de forma “lenta, gradual e segura”.

Mario Henrique Simonsen substituiu Delfim Netto no Ministério da Fazenda, passando a definir as diretri-zes da nova política econômica. Para fazer frente à crise mundial, o governo passou a sobretaxar os artigos con-siderados supérfluos e, internamente, foram mantidas as restrições ao crédito e o arrocho salarial.

nos quais se vivia eram apresentados como uma solução necessária, até mesmo a única, para garantir a manuten-ção da ordem social. A Lei de Segurança Nacional, pro-mulgada no final do governo de Castello Branco, em seu próprio texto designava todos os indivíduos da nação co-mo responsáveis pela defesa da segurança nacional.

O estado de ânimo na sociedade era de profunda intranquilidade. O regime político militar via ameaças por toda parte. Qualquer crítica era encarada como uma afronta. Em defesa da ordem, todas as dissidências eram entendidas como subversão, termo que se popularizou na época. Aqueles que se manifestassem contra o regime ou tivessem qualquer atitude que pudesse ser interpretada co-mo um risco à sua estabilidade, poderiam ser considera-dos “subversivos”, passando a ser duramente perseguidos e, quando presos, eram muitas vezes submetidos à tortura.

A Lei de Imprensa, instituída em 1967, instalava a censura no país. Com esse mecanismo exercia-se o con-trole da divulgação de notícias e de ideias, suprimindo as que fossem consideradas contrárias ao regime. A atuação do SNI, Serviço Nacional de Informação, garantia a exis-tência de uma extensa rede de investigação que se dedica-va a reunir dados sobre possíveis subversivos, fornecendo subsídios para a atuação dos órgãos repressivos.

A cassação política, as prisões e o exílio foram re-cursos usados pela ditadura para, em nome da defesa da “segurança nacional”, garantir o controle da sociedade, mantendo sufocadas as oposições. Com os principais lí-deres sindicais e políticos presos, cassados ou banidos, desarticulava-se o movimento social que estivera bastante ativo antes da instalação do governo militar. As lutas por reformas sociais e políticas, desenvolvidas no período an-terior ao golpe, tiveram de ser deixadas de lado.

A propaganda política

Ao lado dos mecanismos repressivos, a ditadura mi-litar também procurou criar um clima de aceitação ao re-gime apoiando-se na propaganda de suas realizações no plano econômico.

Nem sempre a propaganda correspondia à realidade, mas serviu para criar, em torno do “milagre brasileiro”, um sentimento de euforia que conseguiu envolver alguns setores sociais. Entretanto, as oposições, ainda que sem possibilidade de expressão, em face da inexistência de partidos políticos e da censura, continuaram latentes.

A resistência

No período anterior a 1964, havia sido bastante ati-va a participação política dos setores de esquerda na vida política do país. Esses grupos estiveram ligados também a atividades culturais “engajadas” que nos anos anteriores à instalação dos militares no poder tentaram produzir mu-danças na sociedade. É o caso, por exemplo, dos Centros

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ca, que lançou, em 1984, a chapa Tancredo Neves e José Sarney para concorrer com o candidato governista, Paulo Salim Maluf. Essa aliança venceu as eleições no Colégio Eleitoral, porém, o presidente eleito Tancredo Neves não chegou a tomar posse. Doente, faleceu no dia 21 de abril de 1985.

Após 21 anos de regime militar, o Brasil respirava ares de democracia. As leis de exceção criadas ao longo da ditadura foram sendo revogadas. O ano de 1985 trouxe a Nova República e a redemocratização do país.

Novas conquistas sociais foram asseguradas por uma nova Constituição, que foi promulgada em 5 de outubro de 1988.

A volta dos civis ao poder, a Nova República

José Sarney (1985-1990)• Plano Cruzado (1986) – substituição do cruzeiro pe-

lo cruzado, congelamento dos preços e aluguéis, re-ajuste automático dos salários sempre que a inflação chegasse a 20%.

• Plano Verão (1989) – moeda alterada para cruzado novo; a inflação atingiu um dos maiores patamares da História do Brasil.

Fernando Collor de Mello (1990-1992)• Plano Brasil Novo ou Plano Collor (1990)

– Extinção do cruzado novo e volta ao padrão cruzeiro.

– Congelamento de preços e salários.– Bloqueio da poupança e das aplicações financeiras.

• Graves denúncias de corrupção, envolvendo altos escalões do governo e familiares do presidente, leva-ram o Congresso a formar uma Comissão Parlamen-tar de Inquérito (CPI). Ante a pressão da sociedade civil e sob ameaça de sofrer um impeachment, Collor renunciou após dois anos de governo.

Itamar Franco (1992-1995)• O vice-presidente Itamar Franco assumiu o poder

após a renúncia de Fernando Collor.• Abril de 1993 – plebiscito sob a forma de governo

que o país adotaria. A República e o Presidencialis-mo venceram com 55,45% do total de votos.

• Plano Real (1993) – idealizado pela equipe econô-mica de Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda:– controle da espiral inflacionária;– criação do cruzeiro real.

Em novembro de 1974 foram realizadas eleições pa-ra o Congresso e Assembleias, em clima de propaganda relativamente livre nos rádios e na televisão. O MDB re-gistrou uma grande vitória, derrotando o partido oficial, a ARENA, nos principais centros urbanos do país.

Na tentativa de conter o avanço da oposição, o gover-no Geisel aprovou em 1976 a Lei Falcão que, na prática, acabava com a propaganda eleitoral gratuita veiculada na televisão. Fica claro que, nesse quadro de distensão con-trolada, as forças de oposição não tinham mais um pode-roso instrumento para a divulgação de seus programas e candidatos.

Em 1975 o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho foram mortos nas dependências dos serviços de segurança do Exército, em São Paulo. Esses acontecimentos repercutiram na sociedade civil, que pas-sou a pressionar o governo para garantir as liberdades pú-blicas dos cidadãos.

O movimento operário reorganizou-se e, em 1978, o sindicato dos metalúrgicos do ABC, em São Paulo, conse-guiu realizar a primeira greve bem-sucedida no país desde 1968. As principais montadoras de automóveis foram pa-ralisadas e, na esteira desse novo sindicalismo, emergiu a liderança de Luís Inácio “Lula” da Silva.

Ao final de seu mandato, o general Ernesto Geisel retomou o curso da abertura política. Em janeiro de 1979, o presidente revogou o AI-5, viabilizando a transição que levaria ao restabelecimento do Estado de direito no Brasil.

E os generais saem de cena...

Em fins de 1978, Ernesto Geisel articulou a chapa que o sucederia no poder. O general João Baptista de Oli-veira Figueiredo – chefe do Serviço Nacional de Infor-mação – para a Presidência e o ex-governador de Minas Gerais, Aureliano Chaves, para a Vice-Presidência.

O Colégio Eleitoral referendou a escolha de Geisel e, em março de 1979, o último general assumiu a Presi-dência. Em seu discurso de posse, o general Figueiredo prometia fazer do Brasil uma democracia.

Um dos primeiros atos políticos do presidente Fi-gueiredo foi sancionar a Lei de Anistia, em 1979. Foi es-tabelecida uma “anistia recíproca”, na qual torturadores foram anistiados, bem como os torturados. Pessoas cas-sadas ao longo do período militar puderam retornar à vi-da pública por meio da Lei da Elegibilidade. Ainda nesse primeiro ano de mandato, o Congresso Nacional aprovou a reforma partidária, restabelecendo o pluripartidarismo no país.

Anunciando uma nova República

Após a derrota da Emenda Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas para a Presidência, os partidos de oposição uniram-se em torno da Aliança Democráti-

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Folheto de História (V.C. e R.V.) – 9.o ano 19

b) Explique:

• Guerra de Canudos:

• Contestado:

• Cangaceiros:

• Março de 1994 – adoção da Unidade Real de Valor (URV), um indexador cujo valor seria reajustado diariamente, de acordo com a inflação. Inicialmente os salários e depois os preços foram convertidos em URV.

• Julho de 1994 – o cruzeiro real foi substituído por uma nova moeda, o real, que passou a ter o valor de uma URV. Nesse dia (1/7) o valor da URV era de 2.750 cruzeiros reais.

Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 – 1998-2002)• Venceu as eleições presidenciais, em primeiro turno,

com 34,37 milhões de votos, o que correspondeu a 54,3% dos votos válidos.

• Em seu plano de governo propunha a reforma do Es-tado e de suas instituições e a continuidade das refor-mas econômicas.

• Propunha planejar e controlar a execução de progra-mas nas áreas da educação, saúde e previdência so-cial, consideradas essenciais.

• Reeleito em 1998, deu início ao segundo mandato e continuou a reforma econômica e administrativa.

• Deu início a um processo de privatização com a transferência para o setor privado de diversas empre-sas estatais dos setores de telecomunicação, eletrici-dade e siderurgia.

Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janei-ro, em 1931, e iniciou a carreira universitária em 1952, formando-se em Sociologia. Após o golpe de 1964, foi in-diciado em inquérito e aposentado compulsoriamente da Universidade de São Paulo. Após um exílio na Argentina, no Chile e na França, Fernando Henrique voltou no Bra-sil em 1967, com o arquivamento do inquérito. Em 1969 foi cassado pelo AI-5. Candidatou-se ao Senado pelo MDB em 1978 e, em 1980, elegeu-se suplente de Franco Montoro, pelo PMDB, e assumiu a vaga em 1983 quando Montoro tornou-se governador de São Paulo.

2) Agora, você deverá resolver os seguintes exercícios com a ajuda de seu professor.

a) Explique a Revolta da Vacina e a Política de Re-generação Urbana do Rio de Janeiro, no fim do século XIX.

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f) Faça um resumo sobre a Segunda Guerra Mun-dial.

g) O que foi o macarthismo na década de 1950 nos Estados Unidos?

• Juazeiro:

c) Explique, resumidamente, a Primeira Guerra Mundial.

d) Cite as características do fascismo.

e) Forme um texto, historicamente correto, sobre Hitler e o nazismo.

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3) Agora, você deverá resolver os seguintes exercícios sozinho. Não deixe de fazer nenhum, pois são de muita importância.

a) Caracterize os atos institucionais 1, 2, 3, 4 e 5 de-cretados no Brasil durante o regime militar.

b) Explique o bipartidarismo criado com o AI-2.

c) Explique a Lei de Segurança Nacional.

d) O que foi a Lei de Imprensa, instituída em 1967, no Brasil?

h) Explique a questão racial nos Estados Unidos, distinguindo suas diferentes fases.

i) Explique o populismo.

j) Relacione: populismo, Perón, Argentina e justi-cialismo.

k) Forme um texto, historicamente correto, sobre a Revolução Cubana.

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e) O que foi o SNI e qual a sua importância durante o regime militar no Brasil?

f) Como era o funcionamento da propaganda políti-ca na época dos militares, no Brasil?

g) O que foi a Lei Falcão, de 1976?

h) Forme um texto, historicamente correto, sobre o governo do presidente Collor e de FHC.

4) Espaço para anotações, resumo, exercícios extras etc.