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Ricardo Dalla Costa COLETÂNEA DE ARTIGOS DE ECONOMIA % Renda 1,0 0,9 A 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 45º 0,1 B 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 % Popula

Coletânea de Artigos de Economia - UENP-CCPccp.uenp.edu.br/centros/d_economia/rdcosta/lvs/lv-rdc02.pdf · portadores têm direito a receber rendimentos por eles produzidos. ... antes

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Ricardo Dalla Costa

COLETÂNEA DE ARTIGOS DE ECONOMIA

% Renda1,00,9 A0,80,70,60,50,40,30,2 45º0,1 B

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 % Popula

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Ricardo Dalla Costa

COLETÂNEA DE ARTIGOS DE ECONOMIA

1ª Edição

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TODOS DIREITOS RESERVADOS Nos termos da Lei 9.610 de 1998 e o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, parágrafo XXVII que resguarda os direitos autorais, é proibida à reprodução total ou parcial, bem como a duplicação sob qualquer forma, inclusive em apostilas, seja por meio eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Internet ou outros métodos similares. A violação sem prévia autorização do autor é crime e está estabelecido no artigo 184 do Código Penal.

CDD

Pedidos: Ricardo Dalla Costa Rua Carlos Gomes, 204 – Cornélio Procópio – PR. CEP: 86.300-000

Índice para catálogo sistemático

COSTA, Ricardo Dalla. Coletânea de Artigos de Economia. 1ª ed. Cornélio Procópio, 2005. 1 Economia - periódicos 2 Economia Brasileira 3 Políticas públicas CDD - 330

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Ricardo Dalla Costa Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio. Especialista em Administração Financeira pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná. Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá. Autor das obras: Economia Brasileira: de 1930 aos dias de hoje; A Estrutura Econômica do Brasil e de vários artigos científicos destinados à pesquisa.

COLETÂNEA DE ARTIGOS DE ECONOMIA

1ª Edição

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Às minhas filhas Thayse

e Yasmin.

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APRESENTAÇÃO

Esta obra resume-se no próprio título: Coletânea de Artigos de Economia.

Neste livro coloquei textos altamente desenvolvidos com a finalidade de promover a Ciência como ferramenta de ensino nos cursos superiores das áreas sociais.

Estes artigos foram publicados em Anais, Encontros entre outros, e adianto

a princípio, que o público que presenciou estas publicações ficou bem otimista quanto à abordagem e metodologia aplicada na Ciência Econômica.

Contudo, não satisfeito a aquela parcela de indivíduos que me viram

explanar sobre os temas, resolvi juntá-los e publicá-los numa só obra para que a abrangência seja bem maior e acessível a um grande público de interesse a fim.

Faço um convite a uma leitura no mundo econômico. Não é necessário ler

tudo de uma só vez, pois os artigos independem uns dos outros, porém alguns são complementares.

Pelo Sumário escolha um título de maior interesse. Os artigos estão em

ordem de data, ou seja, o primeiro artigo foi escrito em 1999 e os últimos em 2004. Leia pausadamente e depois leia outro análogo para reforçar a assimilação.

Esta viagem no mundo dos periódicos econômicos inicia neste ponto e

terminará no momento que, de alguma maneira, direta ou indiretamente, meus pensamentos ilustrarem outras obras em forma de citações.

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SUMÁRIO ARTIGO 1 - Título de capitalização 13 ARTIGO 2 - Inflação e desemprego no plano real – uma abordagem empírica 47 ARTIGO 3 - Um resumo da obra “teoria econômica e regiões subdesenvolvidas” de Gunnar Myrdal 57 ARTIGO 4 - Um estudo econômico do Bosque Municipal Manoel Júlio De Almeida, no Município de Cornélio Procópio, Paraná 75 ARTIGO 5 - Industrialização no Brasil versus meio ambiente 87 ARTIGO 6 - Desenvolvimento Regional: AMUNOP – Associação dos Municípios do Norte do Paraná 93 ARTIGO 7 - O comportamento dos preços de algumas commodities (café, soja, açúcar e suco de laranja) 105 ARTIGO 8 - Pré-condições para a retomada do crescimento sustentável 127 ARTIGO 9 - Principais índices de pobreza brasileira 135 ARTIGO 10 - Reciclagem do lixo, um exemplo 155 ARTIGO 11 - O comércio internacional e o meio ambiente 167 ARTIGO 12 - O desenvolvimento sustentável e as conferências Internacionais 185 ARTIGO 13 - Políticas ambientais no setor siderúrgico e minerário com ênfase no minério de ferro 195 ARTIGO 14 - Políticas comerciais e ambientais 225 ARTIGO 15 - Modelos produtivos industriais com ênfase no fordismo e toyotismo: o caso das montadoras paranaenses 239

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ARTIGO 1

Título de capitalização1 Introdução

Títulos são documentos que certificam a propriedade de um bem ou de um

valor. O termo se aplica genericamente a todos os valores mobiliários. Distinguem-se dois tipos de títulos:

a) Os títulos comerciais: Letra de Câmbio, Letras do Tesouro Nacional, Certificados de Depósitos Bancários, Nota Promissória e Duplicata. Caracterizam pelo prazo de vencimento relativamente curto e pelo direito que têm seus portadores de receber em moeda corrente as importâncias por elas representadas. b) Títulos de renda: Ações, Debêntures, Títulos de Dívida Pública, Títulos de Capitalização. Caracterizam pelo prazo de vencimento em longo prazo e cujos portadores têm direito a receber rendimentos por eles produzidos.

O estudo enfoca o segundo item especialmente Título de Capitalização. Contudo, antes da realização desse trabalho, uma pesquisa foi levantada e os dados são apresentados a seguir.

1 Artigo desenvolvido em 1999.

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ENTREVISTA

Número de Pessoas entrevistadas: 238 Data das entrevistas: 21, 22 e 23 / 11 / 1999

1) Qual é seu grau de estudo?

a) até a 4º série a 2,10%b) 1º grau completo b 1,26%c) 2º grau completo c 4,62%d) 3º grau completo d 5,04%e) mais do 3º grau e 0,00%f) analfabeto f 0,00%g) 1º grau incompleto g 1,68%h) 2º grau incompleto h 1,68%i) 3º grau incompleto i 83,61%j) estudou no exterior j 0,00%

2) Você sabe qual é a diferença entre: ËMPRESA DE CAPITALIZAÇÃO e INSTIRUIÇÃO FINANCEIRA?

[ ] SIM [ ] NÃO

a a 100,00%b b 100,00%c c 100,00%d 25,00% d 75,00%g g 100,00%h h 100,00%i 46,73% i 54,77%

3) Você sabe o que é um Título de Capitalização?

[ ] SIM [ ] NÃO

a 20,00% a 80,00%b 66,67% b 33,33%c 54,55% c 45,45%d 66,67% d 33,33%g 25,00% g 75,00%h 50,00% h 50,00%i 65,33% i 35,18%

Qual é seu grau de estudo ?

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

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1. O Que é? Como Funciona? Os títulos de capitalização são oferecidos por empresas da área financeira, especialmente, instituições financeiras. Este tipo de transação tem como berço o século XIX, onde grandes bancos precisavam de grandes valores para fomentar grandes indústrias para movimentar a revolução industrial. No Brasil do Plano Real podemos sentir uma economia ‘estabilizada’ frente às inflações passadas. Hoje os Títulos de Capitalização são usados freqüentemente pelos Bancos contra seus clientes, também denominados Titular ou Subscritor onde os Bancos vendem esse tipo de Título vinculado ao rendimento igual ao da poupança, isto é, a taxa de 0,5% mais a T.R. (Taxa Referencial – varia de 0,21 a 0,25 % ao mês). O período para resgate é no mínimo de 2 a 10 anos, dependendo da empresa e do contrato. O cliente assume o pagamento de pequenas parcelas mensais, com reajustes anuais por um índice, geralmente o IGP-M da FGV (Índice Geral de Preços do Mercado, apurado pela Fundação Getúlio Vargas). O IGP-M em 1998 apurou um índice de aproximadamente 4,62% para reajustes das parcelas. Existem também títulos de pagamento único. Esse tipo de rendimento embora remunera igual às cadernetas de poupança, na prática são inferiores, uma vez que, só e somente só, as cadernetas de poupança são isentas do IR (Imposto de Renda)2 que é descontando em torno de 20% do rendimento bruto, IOF/IOC (Imposto de Operações Financeira / Imposto de Operações de Crédito) que é de 1,50 % ao ano (o governo federal abaixou esta alíquota recentemente) e o CPMF (Contribuição Provisória de Movimentação Financeira) que é debitado do saque a taxa de 0,38% (somente a partir do terceiro mês para as cadernetas de poupança ou aplicações específicas). Em contrapartida os portadores de títulos de capitalização concorrem a prêmios em dinheiro ou a um produto vinculado ao título semanalmente ou mensalmente conforme estipula o contrato. Em se tratando de um contrato, a pessoa não poderá resgatar o capital aplicado nesse tipo de título sem antes cumprir o período de carência sob pena de receber um valor menor do que aplicou. Geralmente a empresa de capitalização associada aos Bancos propõe uma “Provisão Matemática” para saldar o resgate caso seja solicitado antes do vencimento. Nesse caso, dependendo da empresa, o resgate será feito em torno de 50% a 90% do valor aplicado. Nunca serão os 100% aplicados. Além disso, a pessoa não receberá os rendimentos auferidos como se fosse a da poupança, a menos que o contrato remunere parcialmente um período proporcional aos anos ou meses e não paga para outros períodos.

2 Até uma determinada quantia monetária.

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Em síntese, resgatar o capital antes da vigência do contrato, é perder dinheiro ou doar dinheiro às empresas de capitalização. Mas uma pergunta fica no ar. Se as empresas de capitalização tomam empréstimos do público remunerando e ainda premiando, qual é a lógica desses títulos ?

As empresas de capitalização captam dinheiro do público de uma forma “barata” para reemprestar a juros mais altos.

Assim, supondo que a remuneração da caderneta de poupança num mês qualquer pagou 0,5% de juros + 0,2% de TR, ou seja, 0,7% , o possuidor do título será ressarcido em 0,7% ao mês e a instituição financeira empresta para outros clientes a taxa de 8 a 12% ao mês, sendo empréstimos contratuais até para limite do cheque especial. Ainda assim, se a empresa utiliza esse dinheiro para fins de investimento, pode jogar até no mercado de ações, isto é, na Bolsa de Valores.

Tirando os encargos financeiros e pagando o empréstimo para o proprietário do título, a instituição ganha um lucro fabuloso que jamais será alcançado por qualquer empresa. Os prêmios sorteados nada mais são do que impostos que teriam que ser recolhidos ao governo só que agora são distribuídos em forma de prêmios aos sorteados. Título de capitalização é um ótimo negócio se o titular for sorteado ou se comparado com as apostas em loterias, como a Mega Sena, Esportiva, etc. Neste caso o dinheiro apostado não volta em caso de não acertar. Já em capitalização, o dinheiro volta, menos do que foi investido, mas volta, e a probabilidade de ganhar um prêmio é bem maior.

Na verdade, a maioria das pessoas não sabe administrar seu próprio dinheiro e não sabem fazer poupança, formando-se uma lacuna em que o título se encaixa. Sabendo disso, grandes empresários do setor de capitalização investem altamente em Marketing Agressivo sob forma de passar a informação como uma espécie de negócio da China. Os termos mais utilizados são: HOJE; CORTESIA; SORTE; PRÊMIOS; IMPORTANTE; INTELIGENTE; ACOMPANHADO e TEMPO.

Os profissionais da área de marketing ficam horas e horas inventando questões que obrigam as pessoas a só disserem SIM. As questões são uma espécie de afunilamento sob a forma que as perguntas sejam respondidas sempre com a palavra SIM. Exemplo ilustrativo 1:

Pergunta 1: Boa noite, é da residência do senhor Mário? Olha, você foi escolhido por nossa empresa a receber uma cortesia, mas só lhe entregaremos se o senhor vier acompanhado de sua esposa. O senhor vem?

Pergunta 2: Só pelo fato de você ter vindo aqui você ganhou esta cortesia. Não é ótimo?

Pergunta 3: E não é só isso, dentre vários clientes, você é para nós o mais importante, não é verdade?

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Pergunta 4: Você quer apreender uma forma inteligente de aplicar seu dinheiro?

Pergunta 5: Você além de aplicar, ganha juros, correção monetária e prêmios, não é sensacional?

Pergunta 6: Você já se imaginou daqui a 5 anos poder comprar algum objeto de seus sonhos sem se preocupar em juntar dinheiro?

Pergunta 7: Que tal você perder alguns minutos do seu tempo precioso para ouvir essa forma inteligente de como isso é possível?

Pergunta 8: Nota, hoje é seu dia de sorte, a oportunidade bateu a sua porta e você não vai deixá-la escapar, não é?

Pergunta 9: Então assine aqui autorizando o débito automático em sua conta ou deixe um cheque no valor para começarmos hoje mesmo o seu grande negócio.

Observe que todas as perguntas só destinam a uma resposta, o SIM . Os vendedores são treinados para esse tipo de situação e o cliente não. A

probabilidade de um cliente disser NÃO é restrita, uma vez que o perfil do cliente já fora examinado com antecedência por uma outra equipe, seja por meio de sondagem ou por compra de banco de dados de terceiros. Ainda assim, em caso de NÃO, o vendedor vai insistir até que a pessoa compra o título para que o mesmo não o incomode mais. Os vendedores são escolhidos muito por aparência, boa dicção verbal e formação universitária, tudo isso para facilitar a venda. O vendedor ganha comissão por cada título vendido.

Também o ambiente ou local onde serão ofertados os títulos é de forma atraente, ou seja, com bexigas, papéis no chão, quadros animados, som ambiente, simulação de ambiente congestionado, tudo isso para dar a impressão que o negócio é bom e que não se pode perder a oportunidade pois outros foram e se deram bem.

É muito comum também oferecer os produtos em horários não compatíveis com o horário de trabalho da pessoa e também a pessoa que vai adquirir o título de capitalização venha acompanhada com sua esposa se for o marido ou vice versa. Tudo isso para evitar um desculpa por parte dos compradores, tais como: - Amanhã vou pensar e volto a falar sobre isso; - Vou consultar minha esposa ou meu marido; - Agora estou em serviço, não posso atendê-lo.

As manobras para essa tática de venda são muito frias. A princípio trata a pessoa como se fosse um Rei (princípio de marketing) para depois cercá-lo como uma presa indefesa.

A população não está imune disso uma vez que a situação não está fácil para todos e alguns querem se aproveitar disso para fazer riquezas.

Não vou dizer que a aquisição de um título de capitalização é um péssimo negócio, mas afirmo: não é o melhor negócio. Quanto aos prêmios, não se iluda, sorte é para poucos, não viva de esperança que um dia vou ganhar. Isso é conversa para ‘boi dormir’.

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2. Regularidade

Empresas de Capitalização têm que se descreverem e aguardarem a aprovação pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) através de um processo de um número de registro.

Exemplo ilustrativo 2: O Super Plus (Banestado) da Capitaliza Empresa de Capitalização S.A. tem

seu registro na SUSEP n.º 10.002222/99-05. Abaixo alguns exemplos reais de como funciona a venda dos títulos de

capitalização. 1) Top Vida Título de Capitalização de pagamento único que vincula a compra de um

seguro de vida em forma de cartela (proposta de adesão). A empresa denomina-se APLUB Capitalização S.A., conhecida como APLUBCAP.

A cartela ou bilhete é vendido a R$ 4,00 nas casas lotéricas. Parte do valor pago destina-se ao Carregamento, ou seja, para responder pelas despesas administrativas e de sorteio. Fazendo as diferenças, formar-se-á Previsão Matemática ou Reserva Matemática, na qual será corrigida pela TR + 0,5% .

O valor nominal é R$ 1,00 sendo capitalizado somente 50%, ou seja, R$ 0,50 por cartela será acrescido de juros da poupança mais a TR para posterior resgate. A diferença (R$ 4,00 – R$ 1,00 = R$ 3,00) provavelmente destina-se a despesas de comissão e a publicidade.

O período de capitalização é de 12 meses. Os encargos são de responsabilidade do Titular ou Subscritor.

Os sorteios são diários de R$ 6.500,00 de terça a sábado, sendo um de maior importância aos sábados.

Proporciona ao ganhador o prêmio integral, ou seja, sem a divisão do prêmio caso haja mais de um ganhador. É divulgada pela emissora de TV Rede Record. Usam uma trilha sonora animada em forma de vídeo clipe com artistas famosos representando o início do dia com o azar e o final do dia com a sorte.

Ainda assim, a empresa que vincula o seguro coletivo de acidentes pessoais no valor de R$ 6.500,00 (apólice), é a Companhia Excelsior de Seguros.

2) Papa Tudo (Fora de Mercado) As pessoas compravam títulos de capitalização via agência dos correios e

os sorteio dos prêmios era feito ao domingos pela emissora de TV Rede Globo, onde era apresentado pelo ator Cezar Filho. Esta empresa pertencia ao Banco Interudium, que foi interditado pelo Banco Central e veio ser inadimplente com seus sócios (os compradores do título). Muitas ações de indenização rolam até hoje na justiça .

3) Baú da Felicidade e Tele Sena O primeiro é da empresa do Baú da Felicidade, vendido nos Correios. O

título é em forma de carnê e os sorteios são em cima de prêmios (casa própria, carros, motos, panelas, etc.) através do Programa Tentação, apresentado pela emissora de TV SBT, pelo apresentador Silvio Santos. O reembolso geralmente é feito pela permuta de prêmios.

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O Baú da Felicidade, cujo nome é divulgado como as Lojas do Baú, é título o é mais antigo do mercado.

O segundo é da empresa Liderança Capitalização S.A. São títulos de capitalização de pagamento único (R$ 3,00) em forma de cartela. O período de capitalização é de 12 meses. Os tributos são por conta do Titular.

Do valor nominal pago, 50% constituem o Fundo de Reserva, restituindo ao Titular pela TR mais 0,04% ao mês (inferior ao da poupança que é de 0,5% ao mês).

O resgate só é possível mediante o vencimento do prazo da capitalização, ou seja, não há resgate antecipado, exceto se o título for sorteado. Decorrido a carência, existe a devolução corrigida pela TRP. Também existe a possibilidade de trocar as cartelas velhas sob forma de desconto por novas. É uma forma da pessoa resgatar e aplicar o capital.

No sorteio poderá haver mais de um ganhador, logo os prêmios serão divididos em partes iguais. Os prêmios são de 13,06 a 13.333,32 vezes o valor do título, vinculado a prêmios.

4) PIC do Banco Itaú A pessoa aplica uma quantia mínima exigida e deixa essa mesma aplicada

por um período de 60 meses (antes era 30 meses), podendo resgatar antecipadamente após ter cumprido uma carência de 12 meses, recebendo 90% do valor da provisão de capitalização ou provisão matemática. Após o 24º mês, recebe 100% da provisão. O resgate total só é possível após o cumprimento dessa carência. A rentabilidade é da caderneta de poupança, juros mais a TR. Concorre toda semana em prêmios de 1.200 vezes o valor da prestação mensal, deduzidos dos impostos previstos por lei. O sorteio é de acordo com a Loteria Federal. A capitalização é de 12,13% da prestação para o 1º e o 2º mês. Do 3º ao 60º , é de 88,50%. A empresa administra o capital por uma quantia de 13% do investimento, chamado de Provisão de Capitalização. Os impostos dos sorteios e dos resgates são por conta do cliente. A provisão matemática corresponde à parte da contribuição mensal ou da contribuição única que é separada para constituição de seu fundo de resgate.

5) Federal Cap 2000 da Caixa Econômica Federal Diferentemente das demais capitalizações, a Caixa Econômica vende o

título de capitalização em uma única parcela de R$ 300,00. Os prêmios são mensais de forma a concorrer a 5 prêmios de R$ 20.000,00. Na virada do milênio, o prêmio vai para R$ 500.000,00, lembrando os 500 anos do descobrimento do Brasil (tática de marketing). Os sorteios são pela Loteria Federal no último sábado de cada mês.

6) Ouro Cap do Banco do Brasil Denomina-se como título de capitalização da Brasilcap. São parcelas de R$

30,00 a R$ 200,00 reajustáveis anualmente pelo IGP-M. O período de capitalização é de 48 meses. O resgate pode ser solicitado a qualquer momento, mas tem que esperar um prazo de carência de 12 meses. Os prêmios são de 100 vezes o valor da mensalidade, sendo 22 prêmios por semana. O Banco resguarda certa porcentagem dos 100% do valor aplicado como forma de pagamento do bilhete ao sorteio dos prêmios.

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7) Super Plus do Banco Banestado O cliente compra o título através das agências do Banco Banestado, porém

a empresa que comercializa denomina-se Capitaliza Empresa de Capitalização S/A. O período é de 36 meses ou 3 anos. A remuneração é da caderneta de poupança. Se a pessoa atrasar três mensalidades o título será cancelado. A pessoa pode pedir o resgate antecipado a qualquer momento, só que terá em mão o dinheiro somente depois de decorrido 24 meses contados a partir da vigência. Quando receber o dinheiro e a mensalidade estiver entre a 1ª a 35ª receberá 90% do valor investido de acordo com a previsão matemática. Após o 36º mês receberá os 100%. As taxas são de responsabilidade do titular. Os sorteios são feitos durante o prazo de pagamento, resultados das extrações realizadas aos sábados pela Loteria Federal de forma a combinar linha e coluna.

O valor do prêmio varia de 200 a 2.000 vezes o valor da última mensalidade vencida e paga. O prêmio será tributado em 25% pelo Imposto de Renda. A capitalização é de 0,00% do 1º ao 3º mês e para o 4º mês em diante, 80,4841%. Observe que se a pessoa resgatar até o 3º mês, não ganhará nada e ainda após o 4º, a provisão da capitalização não em cima de 100% mas sim de 80,4841%. Houve uma perda de 24,25 % para que a empresa administre o capital.

8) Fiat Super Fácil da Seguradora Sul América e da Fiat Automóveis O cliente é convidado a comparecer nas agências de capitalização da Sul

América Seguros ou a uma concessionária autorizada a atuar nesse ramo de forma a ser explanado a compra de um carro da linha Fiat a preço de fábrica pagos mensalmente sem alteração das prestações mas corrigidos pelo IGP-M a cada ano. Não existe taxa de adesão como no consórcio, nem de aval quando empréstimo e comprovação de renda, pois na verdade, se a pessoa não pagar as parcelas não é a empresa que terá problemas porque só está administrando o dinheiro do cliente. A devolução do dinheiro só é feita com o pedido do resgate. O título é vinculado à compra de um carro, mas no final do contrato, que pode ser de 24, 36 ou 50 meses. A pessoa não é obrigada a comprar um carro e sim receber seu dinheiro de volta com as correções.

Também é vinculado prêmio em forma de sorteio de 2 carros uma vez por semana para todo o Brasil. Os prêmios são sorteados de forma que a pessoa que ganhou uma vez possa a concorrer a outros sorteios. O sorteio é de acordo com a Loteria Federal de forma a combinar linha e coluna.

9) Rasp & Invest e Mega Plin do Banco Unibanco Ambos são títulos de capitalização. O primeiro para não correntistas, é um

título em forma de raspinha, ou seja, a pessoa compra o título já numerado e raspa, o prêmio pode sair na mesma hora ganhando até R$ 5.000,00. Os sorteios são semanais. Já a partir do segundo mês concorre a 100 prêmios de até R$ 100.000,00. Os sorteios são feitos pela Loteria Federal, no último sábado de cada mês. O período para vigência do contrato é de 18 meses mas pode solicitar o resgate a partir do primeiro ano, ou seja, tem que esperar uma carência de 12 meses para receber o dinheiro de volta e ainda com 90% do valor investido. O valor de cada parcela é de R$ 10,00. O segundo, para correntistas, é semelhante ao primeiro, sendo as parcelas

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de R$ 30,00 a R$ 100,00. Os prêmios são semanais, podendo ganhar 2.500 a 6.666,67 vezes o valor do depósito mensal. Os sorteios são pela Mega Sena, ao contrário do primeiro que é pela Loteria Federal. Dos 100% inicialmente aplicados, apenas 75% irá formar a Reserva Financeira, isto é, os 25% restantes é como se fosse a compra do bilhete para concorrer aos prêmios. Os valores dos prêmios são brutos, ou seja, os encargos financeiros, como IR, IOF e CPMF são deduzidos e cobrados do cliente. O período para vigência do contrato é de 24 meses, mas pode solicitar o resgate a partir do primeiro ano, ou seja, tem que esperar uma carência de 12 meses para receber o dinheiro de volta e ainda com 90% do valor investido.

10) TC Cash do Banco HSBC Bamerindus É um título de capitalização onde a pessoa pode escolher três modalidades

de plano conforme o pagamento das parcelas. Assim as parcelas são de R$ 15,00 a R$ 60,00. Os prêmios são de forma a multiplicar de 4.000 o valor da mensalidade. O período de capitalização é de 36 a 60 meses. Esse tipo de aplicação garante os 100% aplicados inicialmente de volta. Ainda assim, todo processo sofre tributação sob a responsabilidade do cliente.

11) Real Cap Universitário e Real Cap 500 do Banco Real O primeiro é para cliente universitários, ou seja, clientes isentos de tarifas.

O valor é de 12 parcelas de R$ 9,00. O período de capitalização é de 12 meses. O cliente só pode pedir o resgate após o período de carência que é de 8 meses. A porcentagem que vai para contribuição da Provisão é de 49,86% para o primeiro mês, de 69,43% do 2º ao 12º mês e os sorteios são aos sábado. O valor da premiação é de R$ 20.000,00 a deduzir dos impostos previstos em lei. O plano ainda oferece sugestões de prêmios tais como, cursos de inglês e espanhol, viagens para Austrália, Nova Zelândia, Europa e Estados Unidos ou premiação em dinheiro. O sorteio é feito pela extração da Loteria Federal, conforme a combinação matricial (linhas e colunas).

O segundo, para clientes comuns, destina o valor de R$ 500.000,00 por semana decorrente do pagamento das mensalidades de R$ 30,00 a R$ 100,00. Os sorteios são uma combinação através da Supersena, podendo também ganhar de 2.500 a 5.000 vezes o valor da parcela. O regaste é de 77% dos 100% investidos decorridos o período de 36 meses corrigidos pela TR , ou seja, o preço da administração ou o preço do bilhete é de 23%. As parcelas são corrigidas anualmente pelo IGP-M.

12) Pé Quente do Banco Bradesco Por meio de uma proposta o cliente assina a compra de um título de

capitalização de característica nominativo com pagamento mensal. O prazo de capitalização é de 120 meses ou 10 anos. A pessoa pode fazer o resgate antecipado caso tenha decorrido 12 meses de carência recebendo 90% do saldo da provisão matemática. Se resgatar após a 24º mensalidade recebe os 100% do saldo da provisão matemática. Os sorteios são semanais realizado pela própria empresa sob a fiscalização da SUSEP. O sorteio dá se na forma de 750 a 1.500 vezes o valor da mensalidade. A provisão matemática é de 0,5 % para as 3 primeiras parcelas e 75,55 % da 4º a 120º parcela.

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As parcelas são reajustadas anualmente pelo IGP-M da FGV, divulgado no final do mês de novembro anterior ao mês da atualização. Os tributos são de responsabilidade do Titular ou Subscritor do Título.

Exemplo ilustrativo 3: A Empresa Capitaliza Lucro S.A. coloca Títulos de Capitalização no

mercado financeiro. Para isso utiliza Marketing Agressivo sob forma a atrair grande multidão de pessoas. Certa pessoa aparece e adquire o produto da seguinte forma: - Parcelas iguais a R$ 30,00 ; - Período de 48 meses ; - Reajuste anual pelo IGP-M ; - O Banco irá formar a Provisão Matemática em: a) do 1º ao 48º mês em 90 %; - O capital será remunerado igual ao rendimento da poupança (0,5% + TR); - O Subscritor poderá solicitar o resgate antecipado desde que cumpra a carência de 12 meses a contar da primeira parcela; - Caso o resgate seja antecipado, o Subscritor receberá 90% da Provisão Matemática; - Os encargos fiscais são de responsabilidade do Subscritor; - Os prêmios são semanais a tantas vezes o valor das parcelas, através da extração da Loteria Federal pelo número do Título; - Dados: I.R. = 10%; CPMF=0,38%; IOF=1,5% aa = 0,125% am; Poupança = 0,50% am; TR = 0,25% am; IGP-M= 4,62% a.a.

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QUADRO 1 – Planilha 1 Mês % Valor da % da Saldo % da Saldo Acumu-Nº IGPM Parcela Provisão Provisão Poup.+TR Corrido lado1 - 30,00 90,00 27,00 1,0075 27,202 - 30,00 90,00 27,20 1,0075 27,413 - 30,00 90,00 27,41 1,0075 27,614 - 30,00 90,00 27,61 1,0075 27,825 - 30,00 90,00 27,82 1,0075 28,036 - 30,00 90,00 28,03 1,0075 28,247 - 30,00 90,00 28,24 1,0075 28,458 - 30,00 90,00 28,45 1,0075 28,669 - 30,00 90,00 28,66 1,0075 28,88

10 - 30,00 90,00 28,88 1,0075 29,0911 - 30,00 90,00 29,09 1,0075 29,3112 - 30,00 90,00 29,31 1,0075 29,53 340,2413 4,62 31,39 90,00 29,53 1,0540 31,1314 - 31,39 90,00 31,13 1,0075 31,3615 - 31,39 90,00 31,36 1,0075 31,6016 - 31,39 90,00 31,60 1,0075 31,8317 - 31,39 90,00 31,83 1,0075 32,0718 - 31,39 90,00 32,07 1,0075 32,3119 - 31,39 90,00 32,31 1,0075 32,5620 - 31,39 90,00 32,56 1,0075 32,8021 - 31,39 90,00 32,80 1,0075 33,0522 - 31,39 90,00 33,05 1,0075 33,2923 - 31,39 90,00 33,29 1,0075 33,54 340,2424 - 31,39 90,00 33,54 1,0075 33,80 389,3525 4,62 32,84 90,00 33,80 1,0540 35,62 729,5926 - 32,84 90,00 35,62 1,0075 35,8927 - 32,84 90,00 35,89 1,0075 36,1628 - 32,84 90,00 36,16 1,0075 36,4329 - 32,84 90,00 36,43 1,0075 36,7030 - 32,84 90,00 36,70 1,0075 36,9831 - 32,84 90,00 36,98 1,0075 37,2632 - 32,84 90,00 37,26 1,0075 37,5333 - 32,84 90,00 37,53 1,0075 37,8234 - 32,84 90,00 37,82 1,0075 38,1035 - 32,84 90,00 38,10 1,0075 38,39 729,5936 - 32,84 90,00 38,39 1,0075 38,67 445,5537 4,62 34,36 90,00 38,67 1,0540 40,76 1175,1338 - 34,36 90,00 40,76 1,0075 41,0739 - 34,36 90,00 41,07 1,0075 41,3840 - 34,36 90,00 41,38 1,0075 41,6941 - 34,36 90,00 41,69 1,0075 42,0042 - 34,36 90,00 42,00 1,0075 42,3243 - 34,36 90,00 42,32 1,0075 42,6344 - 34,36 90,00 42,63 1,0075 42,9545 - 34,36 90,00 42,95 1,0075 43,2746 - 34,36 90,00 43,27 1,0075 43,6047 - 34,36 90,00 43,60 1,0075 43,93 1175,1348 - 34,36 90,00 43,93 1,0075 44,26 509,86

TOTAL R$ 1.130,76 R$ 1.684,99 1.684,99 ANÁLISE: Total do valor investido: R$ 1.130,76 Total do valor resgatado bruto..: R$ 1.684,99 Total do valor resgatado líquido: R$ 1.684,99 – 10% IR – 0,38% CPMF – 0,125% IOF Total do valor resgatado líquido: R$ 1.684,99 – 168,50 – 6,40 – 2,11 = R$ 1.507,98

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Se o cliente aplicasse em uma Caderneta de Poupança em vez da compra de um Título de Capitalização, quanto teria o montante final ?

SOLUÇÃO: P = parcela ; i = taxa ; n = período ; M = montante (Renda postecipada) P = R$ 30,00 ; i = 0,5% + 0,25% = 0,75% a.m. ; n = 48 m ⇒ MP = 1.725,62

Comparando o montante resultado da Caderneta de Poupança com o Resgate final do Título de Capitalização, temos: Título de Capitalização R$ 1.507,98 Retorno Total 87,39% ou - 12,61 % Caderneta de Poupança R$ 1.725,62

TABELA 1

2) Padrão usado na qualificação: Retorno < 70% ==> Deficiente 80% > Retorno > 70% ==> Regular 90% > Retorno > 80% ==> Bom √ 95% > Retorno > 90% ==> Muito Bom Retorno > 95% ==> Excelente

FONTE: [email protected]

Exemplo ilustrativo 4: A Empresa Capitaliza Bônus S.A. coloca Títulos de Capitalização no

mercado financeiro. Certa pessoa aparece e adquire o produto da seguinte forma: - Parcelas únicas a R$ 1.000,00; - Período de 36 meses; - O Banco irá forma a Provisão Matemática em: a) do 1º ao 2º mês em 10 % b) do 3º ao 36º mês em 90 % - O capital será remunerado igual ao rendimento da poupança (0,5% + TR); - O Subscritor poderá solicitar o resgate antecipado desde que cumpra a carência de 12 meses a contar da primeira parcela; - Caso o resgate seja antecipado, o Subscritor receberá 90% da Provisão Matemática; - Os encargos fiscais são de responsabilidade do Subscritor; - Os prêmios são semanais a tantas vezes o valor das parcelas, através da extração da Loteria Federal pelo número do Título; - Dado: IR = 10% ; CPMF = 0,38% ; IOF = 1,5% aa = 0,125% am; Poupança = 0,50% am; TR = 0,25% am; IGP-M = 4,62% aa

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QUADRO 2 – Planilha 2 Mês % Valor % da Saldo % da Saldo Total noNº IGPM Base Provisão Provisão Poup.+TR Corrido Resgate1 - 1.000,00 10,00 100,00 1,0075 100,752 - 1.000,00 10,00 100,75 1,0075 101,513 - 1.000,00 90,00 900,00 1,0075 906,754 - 1.000,00 90,00 906,75 1,0075 913,555 - 1.000,00 90,00 913,55 1,0075 920,406 - 1.000,00 90,00 920,40 1,0075 927,317 - 1.000,00 90,00 927,31 1,0075 934,268 - 1.000,00 90,00 934,26 1,0075 941,279 - 1.000,00 90,00 941,27 1,0075 948,3310 - 1.000,00 90,00 948,33 1,0075 955,4411 - 1.000,00 90,00 955,44 1,0075 962,6012 - 1.000,00 90,00 962,60 1,0075 969,8213 - 1.000,00 90,00 969,82 1,0075 977,1014 - 1.000,00 90,00 977,10 1,0075 984,4315 - 1.000,00 90,00 984,43 1,0075 991,8116 - 1.000,00 90,00 991,81 1,0075 999,2517 - 1.000,00 90,00 999,25 1,0075 1006,7418 - 1.000,00 90,00 1006,74 1,0075 1014,2919 - 1.000,00 90,00 1014,29 1,0075 1021,9020 - 1.000,00 90,00 1021,90 1,0075 1029,5621 - 1.000,00 90,00 1029,56 1,0075 1037,2922 - 1.000,00 90,00 1037,29 1,0075 1045,0723 - 1.000,00 90,00 1045,07 1,0075 1052,9024 - 1.000,00 90,00 1052,90 1,0075 1060,8025 - 1.000,00 90,00 1060,80 1,0075 1068,7626 - 1.000,00 90,00 1068,76 1,0075 1076,7727 - 1.000,00 90,00 1076,77 1,0075 1084,8528 - 1.000,00 90,00 1084,85 1,0075 1092,9829 - 1.000,00 90,00 1092,98 1,0075 1101,1830 - 1.000,00 90,00 1101,18 1,0075 1109,4431 - 1.000,00 90,00 1109,44 1,0075 1117,7632 - 1.000,00 90,00 1117,76 1,0075 1126,1433 - 1.000,00 90,00 1126,14 1,0075 1134,5934 - 1.000,00 90,00 1134,59 1,0075 1143,1035 - 1.000,00 90,00 1143,10 1,0075 1151,6736 - 1.000,00 90,00 1151,67 1,0075 1160,31

TOTAL R$ 1.000,00 R$ 1.160,31 1.160,31

ANÁLISE: Total do valor investido: R$ 1.000,00 Total do valor resgatado bruto..: R$ 1.160,31 Total do valor resgatado líquido: R$ 1.160,31 – 10% IR – 0,38% CPMF – 0,125% IOF Total do valor resgatado líquido: R$ 1.160,31 – 116,03 – 4,41 – 1,45 = R$ 1.038,42

Se o cliente aplicasse em uma Caderneta de Poupança em vez da compra de um Título de Capitalização, quanto teria o montante final ?

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SOLUÇÃO: C = capital ; i = taxa ; n = período ; M = montante C= R$ 1.000,00 ; i = 0,5% + 0,25% a. m. = 0,75% ; n = 36 m ⇒ M = 1.308,65

Comparando o montante resultado da Caderneta de Poupança com o Resgate final do Título de Capitalização, temos:

Título de Capitalização R$ 1.038,42 Retorno Total 79,35% ou – 20,65% Caderneta de Poupança R$ 1.308,65

TABELA 2 2) Padrão usado na qualificação: Retorno < 70% ==> Deficiente 80% > Retorno > 70% ==> Regular √ 90% > Retorno > 80% ==> Bom 95% > Retorno > 90% ==> Muito Bom Retorno > 95% ==> Excelente

FONTE: [email protected]

Abaixo uma tabela extraída via Internet sob forma de rank das empresas de títulos de capitalização.

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QUADRO 3 - Análise dos Títulos de Capitalização Instituição

Nome do Título Retorno Total Qualificação

Sul América Invest One, PU 12/01 97,03% Excelente Banco do Brasil Ourocap PM 36/36 95,79% Excelente

Real Realcap PU 24/001 95,45% Excelente Bradesco Bolão 2 PM 48/48 92,36% Muito Bom

HSBC TC Cash PM 36/03 92,01% Muito Bom Banco do Brasil Novo Ourocap PM 48/48 91,98% Muito Bom Boavista/Icatu Boa Sorte Capitalização PM 60/60 91,97% Muito Bom

C&A/Icatu PM 60/60 91,97% Muito Bom Bradesco Pé Quente PU 24/001 91,82% Muito Bom Bradesco Pé Quente Reveillon PU 24/001 91,66% Muito Bom

Arapuã/Icatu PM 60/60 90,57% Muito Bom American Express/Icatu PM 60/60 90,57% Muito Bom

CEF Federalcap 2000 PU 24/01 90,55% Muito Bom CEF Federalcap PM 60/60 90,27% Muito Bom

Sul América Multi Compra, PM 60/60 88,75% Bom Sul América Super Fácil, PM 50/50 88,40% Bom

Itaú PIC PM 60/60 88,37% Bom Sul América Investcap, PM 84/84 88,12% Bom Sul América Super Fácil, PM 36/36 86,92% Bom Sul América Super Fácil, PM 24/24 84,78% Bom

Boavista/Icatu Super Boa Sorte Capitalização PU 60/01

82,78% Bom

HSBC TC Cash PM 60/06 82,18% Bom Capitaliza Novo SuperPlus PM 36/36 80,22% Bom Unibanco Mega Plin PM 110/110 79,44% Regular

Real Realcap PM 36/36 76,83% Regular Capitaliza Novo SuperPlus PU 36/1 76,42% Regular Bradesco Pé Quente PM 10/10 75,27% Regular

Observações:

TABELA 3 1) Retorno Total: Ao final, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título 2) Padrão usado na qualificação: Retorno < 70% ==> Deficiente 80% > Retorno > 70% ==> Regular 90% > Retorno > 80% ==> Bom 95% > Retorno > 90% ==> Muito Bom Retorno > 95% ==> Excelente 3) Critérios desenvolvidos no artigo "Títulos de Capitalização: Critérios para o Consumidor", Cadernos de Seguro, Funenseg, março/abril de 1999, Francisco Galiza.

FONTE: [email protected] . Acesso em 05/11/1999. Abaixo tabelas retirada via Internet esclarecendo melhor cada tipo de título

de capitalização.3

3 Disponível em: <[email protected]> . Acesso em 05/11/1999.

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QUADRO 4 - Pé Quente, PM 10/10, Bradesco DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Bradesco Nome do Título Pé Quente, PM 10/10

Valor do pagamento R$ 43,54/mês Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 10 anos Composição da série Escolher 6 números diferentes de 1 a 50, com 25

combinações diferentes em cada título, resultando em 635.628 títulos distintos

Pagamento e provisão Da 1a a 3a parcela, 5% do pagamento; a partir da 4a, 75,55%

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Da 1a a 23a parcela, 90% das provisões; a partir da 24a, 100% das provisões

Prêmios e periodicidade Semanalmente, 1.500 vezes a mensalidade com a combinação de 6 números; 750 vezes a mensalidade com

a combinação dos 6 números posteriores e anteriores, cada um

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 2,05%

Retorno - 1 ano e meio 58,85% Retorno – 2 anos 68,31% Retorno – 3 anos 71,22% Retorno – 4 anos 72,67%

Retorno – Final do título 75,27% Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU esta condição não mais ocorre por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 5 - Bolão 2, PM 48/48, Bradesco DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Bradesco Nome do Título Bolão 2, PM 48/48

Valor do pagamento R$ 87,08/mês Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 48 meses Composição da série 100.000 números distintos, um em cada título

Pagamento e provisão 88,29% do pagamento Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Da 1a a 11a parcela, 90% das provisões; da 12a a 23a parcela, 95% das provisões; a partir da 24a, 100% das

provisões Prêmios e periodicidade 3.400 vezes o valor da mensalidade, último sábado de

cada mês; 200 vezes o valor, nos outros sábados INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 4,07%

Retorno - 1 ano e meio 87,74% Retorno – 2 anos 92,36% Retorno – 3 anos 92,36% Retorno – 4 anos 92,36%

Retorno – Final do título 92,36%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos

QUADRO 6 - Pé Quente, PU 24/001, Bradesco DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Bradesco Nome do Título Pé Quente, PU 24/001

Valor do pagamento R$ 436,67, uma vez somente Reajuste do pagamento Mensal, para venda de títulos novos

Prazo do Título 24 meses Composição da série Escolher 6 números diferentes de 1 a 50, com 50

combinações diferentes em cada título, resultando em 317.814 títulos distintos

Pagamento e provisão 88,72% do pagamento Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado 100% das provisões, a partir da 12a parcela Prêmios e periodicidade Toda semana, 1 prêmios de 100 PU

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 3,28%

Retorno - 1 ano e meio 91,08% Retorno – 2 anos 91,82% Retorno – 3 anos n.d. Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 91,82% Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 7 - Pé Quente Reveillon, PU 24/001, Bradesco DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Bradesco Nome do Título Pé Quente Reveillon, PU 24/001

Valor do pagamento R$ 1.000,00, uma vez somente Reajuste do pagamento Não tem

Prazo do Título 24 meses Composição da série 100.000 números distintos, um em cada título

Pagamento e provisão 88,72% do pagamento Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Da 1a a 18a parcela, 90% das provisões; da 19a a 23a parcela, 95% das provisões; 24a parcela, 100% das provisões

Prêmios e periodicidade Em dois anos, 2 prêmios de 1.000 PU e 22 prêmios de 50 PU (estes dados mensalmente)

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 3,10%

Retorno - 1 ano e meio 82,21% Retorno – 2 anos 91,66% Retorno – 3 anos n.d. Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 91,66%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 8 - PIC, PM 60/60, Itaú DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Itaú Nome do Título PIC, Plano PM 60/60

Valor do pagamento R$ 40,00/mês Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 60 meses Composição da série 100.000 números distintos, 2 em cada título; no total, 50.000

títulos diferentes Pagamento e provisão Até 2a parcela, 12,13% dos pagamentos; a partir da 3a parcela,

88,5% dos pagamentos Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até 23a parcela, 90% das provisões; a partir da 24a parcela, 100% das provisões

Prêmios e periodicidade Último sábado do mês, 1.200 vezes o valor de PM; nos outros sábados, 40 vezes o valor de PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 2,80%

Retorno - 1 ano e meio 74,22% Retorno – 2 anos 84,58% Retorno – 3 anos 86,69% Retorno – 4 anos 87,74%

Retorno – Final do título 88,37%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 9 - Mega Plin, PM 110/110, Unibanco

DESCRIÇÃOEmpresa Unibanco Nome do Título Mega Plin

Valor do pagamento De R$ 30,00 a R$ 150,00/mês; média de R$ 90,00/mês Reajuste do pagamento Sem previsão.

Prazo do Título 110 meses Composição da série Escolha de 6 números de um total de 60; cada cartela tendo 44

composições; no total, 1.137.815 títulos diferentes Pagamento e provisão 75% de todas as parcelas

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até 23a parcela, 90% das provisões; a partir da 24a parcela, 100% das provisões

Prêmios e periodicidade Semanalmente, 1 prêmio de 6.666,67 PM e 2 de 2.500 PM INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 4,44%

Retorno - 1 ano e meio 71,50% Retorno – 2 anos 79,44% Retorno – 3 anos 79,44% Retorno – 4 anos 79,44%

Retorno – Final do título 79,44%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 10 - Federalcap, PM 60/60, Caixa Econômica Federal

DESCRIÇÃO VARIÁVEIS Empresa Caixa Econômica Federal

Nome do Título Federalcap Valor do pagamento De R$ 30,00 a R$ 200,00/mês; média de R$ 115,00/mês

Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM Prazo do Título 60 meses

Composição da série 100.000 números, um em cada título Pagamento e provisão 88,984% da mensalidade, a partir da 3a parcela

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até 12a parcela, 90% das provisões; a partir da 13a parcela, 100% das provisões

Prêmios e periodicidade Mensalmente, 1 prêmio de 2.000 PM e 9 de 300 PM INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 4,70%

Retorno - 1 ano e meio 83,40% Retorno – 2 anos 85,86% Retorno – 3 anos 88,31% Retorno – 4 anos 89,54%

Retorno – Final do título 90,27% Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 11 - Realcap Pagamento Único, PU 24/001, Real DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Real Nome do Título RealCap Pagamento Único

Valor do pagamento Entre R$ 250,00 e R$ 1500,00; média, R$ 875,00; uma vez somente

Reajuste do pagamento Sem variação Prazo do Título 24 meses

Composição da série 25.000 números, um em cada título Pagamento e provisão 88,72% do pagamento

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado 100%, em qualquer mês Prêmios e periodicidade 12 prêmios de 50 PU e 12 de 100 PU

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 7,20%

Retorno - 1 ano e meio 93,29% Retorno – 2 anos 95,45% Retorno – 3 anos n.d. Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 95,45%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 12 - Realcap 500, PM 36/36, Real DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Real Nome do Título RealCap 500

Valor do pagamento R$ 30,00 a R$ 100,00; média de R$ 65,00/mês Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 36 meses Composição da série Escolha de 6 números, de um total de 48; cada título tem 48

combinações; no total, 511.313 títulos diferentes Pagamento e provisão A partir da 3a parcela, 75% do valor pago

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até o 35o. mês, 90% das provisões; no 36o mês, 100% Prêmios e periodicidade Semanalmente, 2 prêmios; 1 de 5.000 PM, outro de 2.500 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 6,36%

Retorno - 1 ano e meio 65,42% Retorno – 2 anos 67,29% Retorno – 3 anos 76,83% Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 76,83%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 13 - Ourocap, PM 36/36, Banco do Brasil DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Banco do Brasil Nome do Título Ourocap

Valor do pagamento Em média, R$ 100,00/mês Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 36 meses Composição da série Escolha de 1 número, de um total de 100.000

Pagamento e provisão A partir da 2a parcela, 93,91% da mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado 100% das provisões Prêmios e periodicidade Mensalmente, 1 prêmio de 1.600 PM, 1 de 1.000 PM, 1 de 800

PM, 1 de 600 PM e 20 de 36 PM INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 4,72%

Retorno - 1 ano e meio 93,19% Retorno – 2 anos 94,49% Retorno – 3 anos 95,79% Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 95,79% Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 14 - Novo Ourocap, PM 48/48, Banco do Brasil

DESCRIÇÃO VARIÁVEIS Empresa Banco do Brasil

Nome do Título Novo Ourocap Valor do pagamento De R$ 30,00 a R$200,00; em média, R$ 115,00/mês

Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM Prazo do Título 48 meses

Composição da série Escolher 6 números de 48; em cada título, há 33 combinações; logo há 371.864 títulos diferentes

Pagamento e provisão A partir da 2a parcela, 90,696387% da mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,4867551%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até a 24a parcela, 90% das provisões; da 25a a 36a, 95%, a partir da 37a parcela, 100% das provisões

Prêmios e periodicidade Em cada mês, 88 prêmios de 100 PM; 1 prêmio de 5.000 PM INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 3,71%

Retorno - 1 ano e meio 79,82% Retorno – 2 anos 80,98% Retorno – 3 anos 86,73% Retorno – 4 anos 91,98%

Retorno – Final do título 91,98%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 15 - Super Boa Sorte, PU 60/01, Boavista/Icatu DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Boavista/Icatu Nome do Título Super Boa Sorte

Valor do pagamento R$ 500,00; uma vez somente Reajuste do pagamento Sem alteração

Prazo do Título 60 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão 74,14% de cada mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado 100% da reserva matemática Prêmios e periodicidade No período, 50 meses pagando 100 PU e 10 meses pagando

50 PU INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 10,00%

Retorno - 1 ano e meio 77,01% Retorno – 2 anos 77,91% Retorno – 3 anos 79,63% Retorno – 4 anos 81,25%

Retorno – Final do título 82,78%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 16 - Boa Sorte, PM 60/01, Boavista/Icatu DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Boavista/Icatu Nome do Título Super Boa Sorte

Valor do pagamento R$ 40,00 a R$ 200,00; média, R$ 120,00/mês Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 60 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão A partir da 3a parcela, 90,78% de cada mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até a 23a parcela, 90% da reserva matemática, a partir da 24a, 100%

Prêmios e periodicidade Todo mês, 1 prêmio de 1.500 PM, 10 prêmios de 100 PM, 100 prêmios de 25 PM, 1000 prêmios de 1,4 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 6,40%

Retorno - 1 ano e meio 73,33% Retorno – 2 anos 85,23% Retorno – 3 anos 88,98% Retorno – 4 anos 90,85%

Retorno – Final do título 91,97%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 17 - PM 60/60, C&A/Icatu

DESCRIÇÃO VARIÁVEIS Empresa C&A/Icatu

Nome do Título n.d. Valor do pagamento n.d.

Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM Prazo do Título 60 meses

Composição da série Escolher 1 número de 100.000 Pagamento e provisão A partir da 3a parcela, 90,78% de cada mensalidade

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até a 23a parcela, 90% da reserva matemática, a partir da 24a, 100%

Prêmios e periodicidade Todo mês, 1 prêmio de 1.500 PM, 10 prêmios de 100 PM, 100 prêmios de 25 PM, 1000 prêmios de 1,4 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 6,40%

Retorno - 1 ano e meio 73,33% Retorno – 2 anos 85,23% Retorno – 3 anos 88,98% Retorno – 4 anos 90,85%

Retorno – Final do título 91,97%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 18 - PM 60/60, American Express/Icatu DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa American Express/Icatu Nome do Título n.d.

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 60 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão A partir da 3a parcela, 90,78% de cada mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até a 23a parcela, 90% da reserva matemática, a partir da 24a, 100%

Prêmios e periodicidade Todo mês, 1 prêmio de 2.000 PM, 10 prêmios de 100 PM, 100 prêmios de 20 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 5,00%

Retorno - 1 ano e meio 72,07% Retorno – 2 anos 83,83% Retorno – 3 anos 87,58% Retorno – 4 anos 89,45%

Retorno – Final do título 90,57%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 19 - PM 60/60, Arapuã/Icatu DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Arapuã/Icatu Nome do Título n.d.

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 60 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão A partir da 3a parcela, 90,78% de cada mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês; 12 meses

Resgate antecipado Até a 23a parcela, 90% da reserva matemática, a partir da 24a, 100%

Prêmios e periodicidade Todo mês, 1 prêmio de 2.000 PM, 10 prêmios de 100 PM, 100 prêmios de 20 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 5,00%

Retorno - 1 ano e meio 72,07% Retorno – 2 anos 83,83% Retorno – 3 anos 87,58% Retorno – 4 anos 89,45%

Retorno – Final do título 90,57%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 20 - TC Cash, PM 60/6, HSBC DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa HSBC Nome do Título TC Cash

Valor do pagamento Em média, R$ 35 Reajuste do pagamento 6 pagamentos iguais

Prazo do Título 60 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão 75,06% de cada parcela Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Após a 24a parcela, 100% das provisões Prêmios e periodicidade 6 prêmios de 4.000 PM e 54 prêmios de 400 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 7,60%

Retorno - 1 ano e meio n.d. Retorno – 2 anos n.d. Retorno – 3 anos 80,91% Retorno – 4 anos 81,56%

Retorno – Final do título 82,18%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 21 - TC Cash, PM 36/3, HSBC DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa HSBC Nome do Título TC Cash

Valor do pagamento Em média, R$ 35 Reajuste do pagamento 3 pagamentos iguais

Prazo do Título 36 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão 83,98% de cada parcela Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Após a 24a parcela, 100% das provisões Prêmios e periodicidade 3 prêmios de 4.000 PM e 33 prêmios de 400 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 8,40%

Retorno - 1 ano e meio n.d. Retorno – 2 anos n.d. Retorno – 3 anos 90,63% Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 92,01%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 22 - Multi Compra, PM 60/60, Sul América DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Sul América Nome do Título Multi Compra

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 60 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão 89,43%, a partir da 3a. parcela Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Até a 23a. parcela, 90% das provisões; após a 24a parcela, 100%

Prêmios e periodicidade 32 prêmios mensais de 100 PM INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 3,20%

Retorno - 1 ano e meio 73,69% Retorno – 2 anos 84,34% Retorno – 3 anos 86,80% Retorno – 4 anos 88,02%.

Retorno – Final do título 88,75%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 23 - Investcap, PM 84/84, Sul América DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Sul América Nome do Título Investcap

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 84 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão Da 6a. a 24a. parcela, 91,15302%; da 25a. a 84a. parcela, 92,075360% da mensalidade

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,4867551%, ao mês

Resgate antecipado Até a 83a. parcela, 90% das provisões; na 84a parcela, 100% Prêmios e periodicidade 32 prêmios mensais de 120 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 3,84%

Retorno - 1 ano e meio 61,07% Retorno – 2 anos 66,64% Retorno – 3 anos 72,49% Retorno – 4 anos 75,44%.

Retorno – Final do título 88,12%

41

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 24 - Super Fácil, PM 50/50, Sul América DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Sul América Nome do Título Super Fácil

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 50 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão Da 6a. a 24a. parcela, 91,15302%; da 25a. a 84a. parcela, 92,075360% da mensalidade

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Até a 49a. parcela, 90% das provisões; na 84a parcela, 100% Prêmios e periodicidade 8 prêmios mensais de 71,429 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 0,57%

Retorno - 1 ano e meio 73,71% Retorno – 2 anos 76,00% Retorno – 3 anos 78,28% Retorno – 4 anos 79,49%.

Retorno – Final do título 88,40%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

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QUADRO 25 - Super Fácil, PM 36/36, Sul América DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Sul América Nome do Título Super Fácil

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 36 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão A partir da 3a. parcela, 92,531028% da mensalidade Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Até a 35a. parcela, 90% das provisões; na 36a parcela, 100% Prêmios e periodicidade 8 prêmios mensais de 51,43 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 0,41%

Retorno - 1 ano e meio 73,65% Retorno – 2 anos 75,94% Retorno – 3 anos 86,92% Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 86,92%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 26 - Super Fácil, PM 24/24, Sul América

DESCRIÇÃO VARIÁVEIS Empresa Sul América

Nome do Título Super Fácil Valor do pagamento n.d.

Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM Prazo do Título 24 meses

Composição da série Escolher 1 número de 100.000 Pagamento e provisão A partir da 3a. parcela, 92,425145% da mensalidade

Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Até a 23a. parcela, 90% das provisões; na 24a parcela, 100% Prêmios e periodicidade 8 prêmios mensais de 34,286 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 0,27%

Retorno - 1 ano e meio 74,00% Retorno – 2 anos 84,78% Retorno – 3 anos n.d. Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 84,78%

43

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 27 - Invest One, PM 12/01, Sul América DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Sul América Nome do Título Invest One

Valor do pagamento n.d. Reajuste do pagamento n.d.

Prazo do Título 12 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão Sem padrão uniforme Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Sem padrão uniforme Prêmios e periodicidade 1 prêmios mensais de 1 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 0,01%

Retorno - 1 ano e meio n.d. Retorno – 2 anos n.d. Retorno – 3 anos n.d. Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 97,03%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

44

QUADRO 28 - FederalCap 2000, PU 24/1, CEF DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa CEF Nome do Título FederalCap 2000

Valor do pagamento R$ 300 Reajuste do pagamento Sem alteração

Prazo do Título 24 meses Composição da série Escolher 1 número de 500.000

Pagamento e provisão 88,719% do pagamento Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado 100%, a partir de qualquer período Prêmios e periodicidade Em todo o período, 120 prêmios de 66,667 PU e 1 prêmio de

1.666,667 PU INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 1,93%

Retorno - 1 ano e meio 90,11% Retorno – 2 anos 90,55% Retorno – 3 anos n.d. Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 90,55%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 29 - Novo SuperPlus, PM 36/36, Capitaliza DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Capitaliza Nome do Título Novo SuperPlus

Valor do pagamento De R$ 20 a R$ 80 Reajuste do pagamento Anual, pela variação acumulada do IGPM

Prazo do Título 36 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão Sem padrão uniforme Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Até a 35a. parcela, 90% das provisões; na 36a parcela, 100% Prêmios e periodicidade Mensalmente, 16 prêmios de 200 PM, 1 prêmio de 300 PM, 1

prêmio de 500 PM, 1 prêmio de 1000 PM, 1 prêmio de 2000 PM

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 7,00%

Retorno - 1 ano e meio 66,21% Retorno – 2 anos 69,20% Retorno – 3 anos 80,22% Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 80,22%

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Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

QUADRO 30 - Novo SuperPlus, PU 36/1, Capitaliza DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

Empresa Capitaliza Nome do Título Novo SuperPlus

Valor do pagamento De R$ 720 a R$ 2.880 Reajuste do pagamento Sem definição

Prazo do Título 36 meses Composição da série Escolher 1 número de 100.000

Pagamento e provisão Sem padrão uniforme Atualização das provisões matemáticas e carência

TR+0,5%, ao mês

Resgate antecipado Até a 35a. parcela, 90% das provisões; na 36a parcela, 100% Prêmios e periodicidade Mensalmente, 16 prêmios de 5,5555 PU, 1 prêmio de 27,7770

PU, 1 prêmio de 13,8800 PU, 1 prêmio de 8,3330 PU, 1 prêmio de 55,5555 PU

INDICADORES ANÁLISES Taxa do Jogo 7,00%

Retorno - 1 ano e meio 65,66% Retorno – 2 anos 66,71% Retorno – 3 anos 68,72% Retorno – 4 anos n.d.

Retorno – Final do título 76,42%

Observações: i) Taxa do Jogo: Indica o quanto do valor do pagamento é usado na distribuição dos prêmios do jogo. ii) Retorno: Para diversos prazos de resgate, calcula-se o % do valor que todos os subscritores teriam se aplicassem na caderneta de poupança em vez do título. iii) Atenção: No artigo da referência, utiliza-se a hipótese da neutralidade do capital usado no jogo, pois os valores provisionados para o sorteio são imediatamente gastos. No caso dos produtos PU, esta condição não mais ocorre, por dois motivos: primeiro, defasagem entre o pagamento e o recebimento; segundo, cancelamento do título na antecipação e o titular não participa mais dos sorteios, mesmo já tendo pago. Estes dois fatos foram considerados nos cálculos.

46

3. Observações

Os dados das empresas de capitalização foram obtidos sob a forma de prospectos, cartelas, carnês ou folders ilustrativos distribuídos gratuitamente nas agências dos bancos4, correios, casas lotéricas e via Internet.

Algumas informações foram colidas sob forma de propagada através dos meios de comunicação, como por exemplo, as Redes de Televisão. Ainda assim, entrevistas foram direcionadas a coleta de dados para esse material sob forma direta.

A cada solicitação de um folder foi comentada a finalidade, portanto, na data da coleta não foi escondido o porque dos dados.

A data de coleta dos dados foi em 05/11/1999 das 10:00 às 11:30. A data das entrevistas foi em 05, 21, 22 e 23/11/1999. Foram citados os nomes das empresas e suas características, sem nenhuma

cobrança por parte nossa em relação à divulgação. Todo o processo foi extraído sob forma responsável e coerente, não

existindo nenhuma inverdade. Este material destina-se a população em geral como investidores,

empresários, autônomos, profissionais liberais, professores, estudantes, agricultores e aposentados.

O material não pode ser reproduzido sob qualquer forma, total ou parcial, por qualquer meio eletrônico ou mecânico, inclusive processo xerográfico ou scaner, salvo se citar a fonte e de acordo com as normas da ABNT.

4 O Banco do Estado do Paraná (Banestado) foi vendido para o Banco Itaú.

47

ARTIGO 2

Inflação e desemprego no plano real: uma abordagem empírica5

Resumo O presente artigo vem colocar uma nota em relação ao plano que estabilizou a inflação no Brasil e que agora inicia o processo de estudo principalmente a nível estatístico. Com a Teoria Macroeconômica o presente estudo ilustra o comportamento da inflação com o desemprego no curto e longo prazo. Palavras-Chave: Curva de Phillips, inflação, desemprego, teoria aceleracionista. 1. Introdução

Muito tem se estudado sobre o comportamento da inflação com o

desemprego. A relação é estudada na Macroeconomia com a denominação de Curva de

Phillips,6 onde é ilustrado a relação inversa entre a inflação e o desemprego.

2. Curto Prazo Vasconcellos (2000), refere-se “que o nível de emprego, ou inversamente

ao desemprego, e sabendo que a inflação corresponde a um aumento no nível geral de preços, a Curva de Phillips fornece-nos um guia sobre o que devemos buscar em termos de modelo de oferta agregada”.

Considere U0 a taxa natural de desemprego. Para ilustrar a teoria, graficamente a Figura 1:

5 Artigo desenvolvido em 2001. 6 Segundo Sandroni (1994), “representação gráfica de uma regularidade estatística, encontrada em 1958 por A.W.H. Phillips, ao estudar a economia inglesa entre 1861 e 1957”.

48

FIGURA 1 – Curva de Phillips

Taxa de inflação

(π) Taxa de desemprego (U) U0 Assim, para melhor compreender a Curva de Phillips, é necessário perceber

que quanto mais tente a inflação a subir, menor será o desemprego e vice-versa. Para uma abordagem empírica, os dados coletados nos períodos de 1995 a

2000 (uma amostra pequena) estão representados na Tabela 1:

TABELA 1 – Quadro de dados 1995-2000 Ano Taxa de

desemprego1 Taxa de inflação2

1995 4,6 % 21,98 % 1996 5,4 % 9,12 % 1997 5,7 % 4,34 % 1998 7,6 % 2,49 % 1999 7,6 % 8,43 % 2000 7,1 % 5,27 %

FONTE: (1) Média anual de desemprego aberto (IBGE) (2) INPC / IBGE

Lembrando que Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)

divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), orienta os reajustes dos salários e taxa média de desemprego, compõe as seis maiores regiões metropolitanas do Brasil, como Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Colocando as amostras da Tabela 1 num modelo econométrico a fim de testar a Teoria Econômica (Curva de Phillips), o modelo proposto é o Método dos Mínimos Quadrado (MMQ), ou seja, através de uma Análise de Regressão Linear Simples, onde o modelo matemático sugerido é o seguinte:

y = b0 – b1 . x

Sendo ‘y’ é a taxa de inflação, e ‘x’, a taxa de desemprego, a função de

primeiro grau permite o diagnóstico de um gráfico semelhante à Figura 1. Assim, a equação básica do modelo econométrico encontrado foi:

49

y^ = 33,3058 – 3,9001. x (2,6495) (-1,998)

O coeficiente de determinação (R²) é igual a 0,4994 o que indica que

49,94% do mercado de trabalho é influenciado pela inflação no período considerado. A análise do gráfico original (Figura 2) mostra uma tendência a Curva de

Phillips, porém um formato anormal no final, visto que em 1999 a taxa de inflação foi de 8,43% e esperava-se uma redução da taxa de desemprego e o que aconteceu foi à repetição da taxa de 1998, ou seja, 7,6%. Já em 2000, a inflação apresentou 5,27% que com sua queda em relação ao ano anterior, esperava-se aumentar a taxa de desemprego e a mesma reduziu de 7,6% para 7,1%. O gráfico linealizado (Figura 3) assemelha-se a Figura 1.

FIGURA 2 – Gráfico original

FIGURA 3 – Gráfico linealizado

A fim de testar a significância dos parâmetros estimados, o desvio padrão b0 é igual a 12,5704 e b1 igual a 1,9523. Para a Distribuição t de Students, com graus de liberdade (gl) igual a 4 e o nível de significância (α) igual a 10%, para t0 e t1 para o valor crítico (tc) = 2,13200 observamos que apenas t0 é maior que tc , ou seja, somente t0 é estatisticamente significante nesse nível (vede os valores entre parênteses na equação estimada).

0 ,005,00

10,0015,0020,00

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00

T axa de desemprego (% )Taxa

de

infla

ção

(%)

0 ,0 0

1 0 ,0 0

2 0 ,0 0

3 0 ,0 0

0 ,0 0 2 ,0 0 4 ,0 0 6 ,0 0 8 ,0 0

T a x a d e d es em p r eg o (% )

Taxa

de

infla

ção

(%)

50

Considerando que a meta inflacionaria traçada pelo FMI de 6,0% em 2001 é de se esperar uma taxa de desemprego de 7,0% segundo o modelo econométrico. Porém o Intervalo de Previsão (IP) sugere um valor entre os extremos de –7,0674 < inflação < 19,0772.

Concluímos que, embora o modelo aproxima-se da Teoria de Phillips, R² de 0,4994 deixa uma lacuna muito grande uma vez que os juros (aqui não abordado) também tem grande influência.

O termo erro, 50,06%, embora muito significativo, não será abordado, uma vez que a análise de autocorrelação e da heterocedasticidade (correlação de resíduos) exige um grande número de amostras, não sendo possível no governo abordado. 3. Longo Prazo

O estudo da Curva de Phillips, embora em análise de curto prazo7,

estabelece uma relação decrescente entre inflação8 (π) e a taxa de desemprego (U) não fica estável pois movimenta-se à medida que as expectativas de inflação são anunciadas.

Em longo prazo9 torna-se vertical, como na Figura 5. A relação inflação e desemprego tem como inclinação da curva de forma positiva. Contudo, SIMONSEN e CYSNE (1995), “levando a taxa de desemprego para seu nível natural U0 (...) a teoria aceleracionista, eqüivale a hipótese de taxa natural de desemprego, ou de curva de Phillips vertical a longo prazo”.

FIGURA 4 – Curva de Phillips de Longo Prazo Taxa de inflação (π)

U0 Taxa de desemprego (U)

7 Neste estudo, foi usado o período de seis anos. Segundo SHAPIRO (1981) , “a curva de Phillips, original, estimada por ele, com base em dados de quase um século, inclinava-se negativamente. Uma vez que um século pode, sem dúvida, ser considerado como longo prazo, aparentemente havia uma relação negativa de longo prazo.” 8 Inflação de custo. Veja figura 1. 9 Do rodapé 4, id., “e até mesmo uma década pode ser considerado como longo prazo.”

51

Da mesma forma, VASCONCELLOS (2000), a versão aceleracionista é uma nova versão da Curva de Phillips. Assim, se por ventura o governo quisesse manter a economia apresentando uma taxa de desemprego menor do que aquela que seria natural, haveria a necessidade de continuadamente acelerar as taxas de inflação e esperar que os trabalhadores levassem algum tempo para perceber essa aceleração. Em outras palavras, caso a taxa de inflação se elevasse, e com isso a economia apresentasse uma taxa de desemprego menor, a partir de certo momento os trabalhadores perceberiam que a taxa de inflação era maior do que a esperada. A partir dessa percepção, os trabalhadores passariam a negociar os salários com base nessa expectativa e, conseqüentemente, a taxa de desemprego voltaria ao seu nível original, pois salários reais que haviam diminuído, voltariam a seu nível original. A Tabela 2 abaixo fornece dados para uma análise em longo prazo.

TABELA 2 – Economia Brasileira 1983-2000 Ano Taxa de desemprego1 Taxa de Inflação2 Governo 1983 6,7 211,8 Figueiredo 1984 7,1 238,8 Figueiredo – III PND 1985 5,3 235,1 Figueiredo / Sarney 1986 3,6 65 Sarney – Plano Cruzado I e II 1987 3,7 415,8 Sarney –Plano Bresser 1988 3,9 1037,6 Sarney – Plano Bresser 1989 3,4 1782,9 Sarney – Plano Verão 1990 4,3 1476,6 Collor – Plano Collor I 1991 4,8 480,2 Collor – Plano Collor II 1992 5,8 1158 Collor / Itamar Franco 1993 5,3 2489,11 Itamar Franco - Plano PAI 1994 5,1 929,32 FHC – Plano Real 1995 4,6 21,98 FHC – Plano Real 1996 5,4 9,12 FHC – Plano Real 1997 5,7 4,34 FHC – Plano Real 1998 7,6 2,49 FHC – Plano Real 1999 7,6 8,43 Reeleição FHC – Plano Real 2000 7,1 5,27 FHC – Plano Real

FONTE: (1) Média anual de desemprego aberto (IBGE). (2) De 1983 a 1994, Revista Conjuntura Econômica/FGV. De 1995 a 2000, INPC/IBGE.

A figura 5 ilustra o gráfico da tabela acima.

FIGURA 5 – Inflação e desemprego 1983-2000

0

500

1000

1500

2000

2500

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Desemprego

Infla

ção

52

Novamente é ressaltada a importância da pesquisa de Phillips, sobretudo no rodapé de página n.º 22 da obra de Shapiro (1981) onde

Phillips comprovou que a mesma relação que se ajusta aos dados para 1861-1913, com exceções de menor importância, se ajusta também aos dados para 1913-48 e l948-57. Evidentemente, o mesmo não seria de se esperar que acontecesse em todas as economias ou todos os períodos de tempo; a curva poderia deslocar-se, no decorrer do tempo, tanto para a direita com para a esquerda. Para melhor analisar a citação acima, a Figura 6 é uma cópia do gráfico

ilustrado pelo autor.

FIGURA 6 – Curvas A e B

Aumento da A B percentagem dos salários W2 H

W1

0 U2 U3 U1 U4 Percentagem de Desemprego FONTE: SHAPIRO, (1981, Figura 23.6)

Assim, de acordo com os dados analisados pela Figura 6, o Reino Unido

posiciona-se na curva A onde a taxa de inflação estaria a níveis de 2 a 3% com desemprego de 2,5%. Já na economia americana, a curva posiciona-se em B, cujo projeto para taxa de desemprego é de 3% para uma inflação na faixa de 4 a 5%.

Porém, uma ressalva é feita por Simonsen e Cysne (1995),10 como:

A lei de Okun levou à conclusão de que a relação de Phillips podia ser reformulada de modo a exprimir a taxa de crescimento dos salários nominais como função crescente do desvio do produto. Finalmente, em 1968, Friedman e Phelps identificaram importante omissão na relação original de Phillips: o que poderia ser função estável da taxa de desemprego não seria de crescimento dos salários nominais, mas a taxa esperada crescimento dos salários reais. Assim, era indispensável adicionar a taxa esperada da inflação à equação de terminação da taxa de variação nominal dos salários. Em outras palavras, cada ponto de percentagem de inflação esperada elevaria em um ponto de percentagem a curva de Phillips. Ou, equivalentemente, que a curva indicada na Figura 5.19 deveria marcar nas ordenadas wt - wt-1 - πe

t , e não apenas wt - wt-1 .

10 Os autores citam o argumento: Milton Friedman (ao receber o Prêmio Nobel) e Edmund Phelps.

53

Para uma análise matemática, considere W o salário nominal e Q o custo de vida. Assim Idem ,(1995): • • w - q = F(h) (F’(h) > 0; F(0) = 0)

Onde ‘w’ é Ln11 de W e, ‘q’ é Ln de Q. Contudo, a análise em período ‘t’ leva conclusão que os reajustes são em

intervalos fixos de tempo. Logo wt é o salário nominal do período e qt o índice de custo de vida médio. O logaritmo do custo de vida médio esperado é qe

t Ibidem, (1995):

(wt - qe

t ) – (wt-1 - qt-1 ) = F(ht-1) E a taxa média da inflação esperada no tempo ‘t’:

πet = qe

t - qt-1 Na nova formalização do salário tem-se:

wt - wt-1 = πet + F(ht-1) (F’(h) > 0; F(0) = 0)

Assim, segundo nota do autor, πe

t é a taxa esperada da inflação, onde a teoria aceleracionista é marcada.

Para ilustrar a passagem das duas últimas linhas da citação (figura 5.19 mencionada) é representada na Figura 7:

FIGURA 7 – Curva de Phillips

wt - wt-1 U

FONTE: SIMONSEN e CYSNE, (1995, Figura 5.19)

11 Logaritmo neperiano ou natural.

54

Contudo, para maior análise, convém o leitor a fazer uma pesquisa na obra de SIMONSEN e CYSNE (1995), onde a abordagem é bem rica e completa.

Shapiro (1981) coloca a expressão e faz uma análise interessante. Assim, considere a equação:

π = π* - ε(u – u-)

Onde π é a taxa esperada da inflação (ou πet segundo Simonse e Cysne), e

u- é a taxa natural.

A curva de Phillips de longo prazo gerou controvérsias na década de sessenta, parecendo sugerir que nada pode ser feito quanto ao desemprego de longo prazo, que se acomodará à sua taxa natural u- independente da política de demanda agregada adotada. Contudo, não importando se, no longo prazo, a curva de Phillips seja de fato vertical ou descendente, é possível reduzir a taxa natural u- , através de uma política que afete o mercado de trabalho, e que se destina a torná-lo mais eficiente (SHAPIRO,1981).

A citação acima ilustra a figura 8:

FIGURA 8 – Curva de Phillips com inclinação negativa no longo prazo

π PnPn PvPv

A ° B °

u - u FONTE: SHAPIRO, (1981, Figura 15.1)

(...) embora há, agora, concordância sobre a curva de Phillips vertical de longo prazo, não podemos dizer que seja unânime. Nem tão pouco podemos declarar com plena confiança que a curva de Phillips seja vertical, a todas as taxas de inflação. Portanto, não nos surpreenderia se a curva de Phillips assumisse o perfil mostrado no Gráfico 15-2 (SHAPIRO, 1981).

A citação acima ilustra na qual faz referência o Gráfico 15-2, é ilustrado

pela Figura 9:

55

FIGURA 9 – Curva de Phillips com salários nominais rígidos

PLPL

Inflação

0 Desemprego u FONTE: SHAPIRO, (1981, Figura 15-2)

Da importância da qual o estudo refere-se concluí que a curva de Phillips

no curto prazo, na sua abordagem inicial, tem inclinação negativa. Porém, Ibidem (1981), de acordo com “as expectativas e/ou salários e preços rígidos pode ser achatada”. Em longo prazo a relação inflação versus desemprego não existe e que a curva de Phillips é vertical. Porém, “a taxas negativas de inflação, poderá se tornar praticamente horizontal”.

56

4. Referências DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. Macroeconomia. 2ª ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em dez. 2000 e set. 2001. SANDRONI, P. Novo Dicionário de Economia. 5ª ed. São Paulo: Editora Best Seller, 1994. SHAPIRO, E. Análise Macroeconômica. 2 ª ed. São Paulo: Atlas, 1981. SIMONSEN. M. H.; CYSNE, R. P. Macroeconomia. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1995. VASCONCELLOS, M. A. S. de. Economia: Micro e Macro. São Paulo: Atlas, 2000.

57

ARTIGO 3

Um resumo da obra “Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas” de Gunnar Myrdal12

PRIMEIRA PARTE

O MECANISMO DAS DESIGUALDADES ECONÔMICAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Capítulo 1 Característica geral inexplicada da realidade social Os países de alto desenvolvimento econômico e elevados níveis de renda per capita são em número reduzido. Os países mais ricos do mundo são antigas colônias britânicas, localizadas em zonas temperadas, cuja população, na maior parte, é de origem européia, ou seja, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia Por outro lado, nos países subdesenvolvidos, onde as rendas são muito mais baixas, a formação de capital e o investimento tendem geralmente a ser bem menores, mesmo em relação a essas rendas. Em cada lugar do mundo subdesenvolvido há, porém, países ou regiões que experimentam rápido desenvolvimento econômico. Mesmo na África existem áreas em que o investimento é intenso e a produção ascendente, sempre ligada à exploração econômica estrangeira dos seus recursos naturais.

12 Resumo desenvolvido em 2002.

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Capítulo 2 O princípio da causação circular e acumulativa Quase todos os que estudam os problemas ligados a desenvolvimento e subdesenvolvimento tem efeito, de quando em quando, referências ao “circulo vicioso”. Dentro do mesmo espírito, o Prof. Ragmar Nurkse, “... um país é pobre porque é pobre”. Nessa admirável sentença percebe-se que o processo acumulativo opera em ambas as direções. Revela-se nela também a compreensão do fato, a que daremos muita importância em nossa análise de que o processo acumulativo, quando não controlado, promoverá desigualdades crescentes. Capítulo 3 Tendências para as desigualdades econômicas regionais em um país O princípio da interdependência circular dentro do processo de causação acumulativa tem validade em todo campo das relações sociais. Esta deve ser a principal hipótese a considerar no estudo do subdesenvolvimento e do desenvolvimento econômico. O processo acumulativo também funciona se a mudança inicial for favorável. A decisão de localizar uma indústria em determinada comunidade, por exemplo, impulsiona seu desenvolvimento geral. Proporcionam-se possibilidades de emprego e rendas àqueles que se encontravam desempregados ou com empregos de baixo salário. Os negócios locais podem florescer à medida que aumenta a demanda para seus produtos e a iniciativa são atraídos de fora para aproveitarem as oportunidades de expansão. O estabelecimento de um novo negócio, ou a ampliação de um existente, expande o mercado para os outros, como acontece, em geral, com o aumento das rendas e da demanda. Os lucros em elevação aumentam as poupanças, ao mesmo tempo que elevam, ainda uma vez, a demanda e o nível de lucros. O processo de expansão cria economias externas favoráveis à sua continuidade. Os efeitos fiscais da expansão localizada podem ser reduzidos por interferências do Estado na forma de esquemas de igualização inter-regional inseridos no sistema tributário. A principal idéia, é que o jogo das forças do mercado tende, em geral, a aumentar e não a diminuir as desigualdades regionais. Se as forças de mercado não fossem controladas por uma política intervencionista, a produção industrial, o comércio, os bancos, os seguros, a navegação e, de fato, quase todas as atividades econômicas que, na economia em desenvolvimento, tendem a proporcionar remuneração bem maior do que a média, e além disso, outras atividades como a ciência, a arte, a literatura, a educação e a cultura superior se concentrariam em determinadas localidades e regiões, deixando o resto do país de certo modo estagnado.

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Como é natural, a geografia econômica constitui o cenário. Os centros comerciais localizam-se, obviamente, onde havia condições naturais favoráveis à construção de um porto e dos centros de indústria pesada situaram-se, em regra, não muito longe das fontes produtoras de carvão de ferro. É fácil ver como a expansão em uma localidade produz “efeitos regressivos” em outras, isto é, os movimentos de mão-de-obra, capital bens e serviços não impedem, por si mesmos, a tendência natural à desigualdade regional. Por si próprios, a migração, o movimento de capital e o comércio são, antes, os meios pelos quais o processo acumulativo se desenvolve – para cima, nas regiões muito afortunadas, e para baixo, nas desafortunadas. Em geral, seus efeitos são positivos nas primeiras e negativos nas últimas. Os movimentos de capital tendem a produzir efeitos semelhantes no aumento da desigualdade. Nos centros de expansão, o aumento da demanda dará um impulso ao investimento que, por sua vez, elevará as rendas e a procura, e causará um fluxo de investimentos, e assim por diante. A poupança aumentará em decorrência das rendas mais altas, mas tenderá a ficar inferior ao investimento, no sentido de que a oferta de capital teria de satisfazer uma ativa demanda. Nas outras regiões, a falta de novo impulso expansionista tem como conseqüência o fato de a demanda de capital permanecer relativamente fraca, mesmo quando comparada ao volume de poupanças, que será pequeno, porque as rendas também o são e tendem a declinar. Como a industrialização é a força dinâmica nesse desenvolvimento, é quase tautológico afirmar que as regiões mais pobres permanecem essencialmente agrícolas. Deve assinalar-se, neste ponto, que a História mostra que a mão-de-obra barata e não raro submissa das regiões subdesenvolvidas não atrai em geral a indústria. Em oposição aos “efeitos regressivos” há, também, certos “efeitos propulsores” centrífugos, que se propagam do centro de expansão econômica para outras regiões. É natural que toda região situada em torno de um ponto central de expansão se beneficie dos mercados crescentes dos produtos agrícolas e seja paralelamente estimulada ao progresso técnico. O problema das desigualdades torna-se, então, o problema dos diferentes níveis de progresso entre as regiões do país. Mas, em geral, mesmo nos países em rápido desenvolvimento muitas regiões se atrasarão, estagnarão, ou mesmo ficarão pobres; haverá mais regiões nas duas últimas categorias, se apenas as forças do mercado puderem decidir quanto ao resultado. Um país no qual, ao contrário, aos poucos impulsos que estão sendo desferidos não resultaram em aumento substancial e contínuo da demanda, renda, investimentos e produção torna-se subdesenvolvido. Mesmo nesse caso porém como nos vários países latino-americanos há não raro localidades e regiões que se desenvolvem industrialmente. Grande parte da explicação dessas duas largas correlações se encontra no importante fato de que quanto mais alto o nível do desenvolvimento que um país

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alcançar, tanto mais fortes tenderão a ser os “efeitos propulsores”. Um alto nível médio de desenvolvimento é acompanhado de melhores transportes e comunicações, padrões educacionais mais elevados e uma comunhão mais dinâmica de idéias e valores, todos propensos a robustecer as forças para a difusão centrífuga da expansão econômica ou a remover os obstáculos à sua atuação. Ao contrário, parte dos males de um baixo nível médio, de desenvolvimento em país subdesenvolvido reside no fato de serem fracos os “efeitos propulsores”. Isto quer dizer que, em regra, o livre jogo das forças do mercado em um país pobre funcionará mais precisamente no sentido de criar desigualdades regionais e de ampliar as existentes. O fato de um baixo nível de desenvolvimento econômico ser acompanhado, em geral, por grandes desigualdades econômicas representa, por si mesmo, grande obstáculo ao progresso. Esta é uma das relações interdependentes, por meio das quais, no processo acumulativo, “a pobreza se torna sua própria causa”. Capítulo 4 O Papel do Estado As diretrizes políticas igualitárias de “bem-estar” do Estado moderno são bastante dispendiosas. Aos benefícios recebidos pelas regiões mais pobres de determinado país correspondem, pelo menos temporariamente, sacrifícios impostos às regiões mais ricas. As medidas políticas igualitárias, portanto, embora sejam mais necessárias, enfrentam maiores dificuldades em países mais pobres, porque a debilidade dos “efeitos propulsores” ocasiona maiores desigualdades. Estamos, pois, diante de outro exemplo de causação circular, no processo acumulativo: mais uma vez, “a pobreza torna-se sua própria causa”. Nos países mais ricos, por outro lado, o progresso econômico e os níveis ascendentes de renda oferecem oportunidades para todos e, portanto, dão mais força aos ideais de generosidade consciente. Quando se desfruta de uma vida mais confortável e se tem maior segurança, há mais disposição para renunciar a privilégios, a desprezar proibições discriminatórias e a suportar o preço de sacrifícios comuns. Este processo, por sua vez, fortalece os fundamentos de um progresso econômico contínuo. Quanto mais um Estado Nacional se transforma, efetivamente, em um “Estado de Bem-Estar” – quanto mais se aproxima de uma democracia perfeita, tendo à sua disposição recursos nacionais, em tal magnitude, que seja possível o emprego, em grande escala, de políticas igualitárias, como sacrifícios toleráveis pelas regiões e grupos cujos padrões de vida são relativamente melhores – tanto mais fortes serão a necessidade e a capacidade de combater as forças cegas de mercado que tendem a provocar desigualdades regionais. Este fato por sua vez impulsionará o desenvolvimento econômico e assim, sucessivamente, em progresso de causação circular.

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Desde que começaram a existir, em épocas distantes, os Estados nacionais se apoiaram em parte nas aspirações populares e, por isso, quase sempre tomavam certas medidas contra a tendência à desigualdade regional. Assim, todo Estado Nacional tomou a si a responsabilidade da prestação de serviços públicos, da construção de estradas, da elevação do nível tecnológico de regiões atrasadas, embora, muitas vezes, nos países pobre as parcelas dos reduzidos fundos públicos, destinadas àqueles fins, fossem aplicadas em regiões mais ricas. Em princípio, naqueles países, a tendência geral foi no sentido de maior igualdade de oportunidades e sempre se relacionou com um nível ascendente de desenvolvimento econômico. Mas, na etapa pré-democrática do capitalismo primitivo, o rápido aumento da oferta de mão-de-obra e outras circunstâncias fizeram que os salários continuassem baixos, enquanto floresciam os lucros, dando, assim, margem à formação das grandes poupanças necessárias ao rápido desenvolvimento. A alta integração que caracteriza esses poucos países se explica pelas redes complexas dos sistemas de interferências estatais que impedem qualquer região, indústria ou grupo social de atrasar-se em seu desenvolvimento. As interferências nutrem-se do sentimento de solidariedade nacional, em países onde os ideais de liberdade e igualdade são forças sociais operantes. Por sua vez, a realização gradual desses ideais os fortalece e, conseqüentemente, amplia a base de solidariedade para a política nacional. Capítulo 5 Desigualdades internacionais O estudo dos dois últimos capítulos, do problema das desigualdades regionais de cada país é, por duas razões, relevante para esta análise das desigualdades internacionais. A primeira das razões está no fato de que os dois problemas muito se assemelham. A segunda, na circunstância de que as desigualdades internas, em países muito pobres, são da maior importância para as desigualdades internacionais entre países. Como veremos, os dois tipos de desigualdade são causa um do outro, na forma circular do processo acumulativo. Tanto no plano internacional quanto nacional o comércio não opera, necessariamente, no sentido da igualdade. Nos países subdesenvolvidos, ao contrário, pode provocar fortes “efeitos regressivos”. Muitas vezes a ampliação dos mercados fortalece, no primeiro momento, os países ricos e progressistas, cujas indústrias manufatureiras lideram o mundo dos negócios e são defendidos pelas economias externas abundantes, enquanto os países subdesenvolvidos, não adotarem medidas de proteção, estarão sempre ameaçados de ver seu artesanato e sua indústria, sobretudo as de pequeno porte, expulsos do mercado por importações a baixos preços, provenientes dos países industrializados. O principal efeito positivo do comércio internacional nos países subdesenvolvidos tem sido, de fato, fomentar a produção primária; essa produção

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que emprega, principalmente, mão-de-obra não-qualificada, passou a constituir o grosso de suas exportações. Mesmo em nossos dias, a orientação – e a assistência – que os países mais pobres recebem dos mais ricos visa a aumentar sua produção de bens primários de exportação. Essa orientação é certamente ministrada de boa-fé e será, a curto prazo, até mesmo racional, do ponto de vista de um país subdesenvolvido considerado isoladamente. Em perspectiva mais ampla e a longo prazo, seria racional, antes de tudo, aumentar a produtividade, as rendas e o padrão de vida nos setores mais importantes de subsistência da agricultura, a fim de elevar o preço de oferta da mão-de-obra, e fomentar a indústria. Isto provocaria o desenvolvimento econômico e incrementaria as rendas. Mas o comércio, por si mesmo, não promove esse desenvolvimento; tende, antes, a ter “efeitos regressivos” e a robustecer as forças que mantêm a estagnação ou a regressão. O desenvolvimento econômico tem de ser promovido por interferências políticas, provenientes da comunidade mundial ou de cada país subdesenvolvido – duas possibilidades que estão fora do nosso escopo nesse ponto da argumentação, quando analisamos, apenas os efeitos do jogo das forças do mercado. O colonialismo tinha – e em alguns países ainda o tem, pelo menos nos próprios países dependentes – réplicas em certas estruturas institucionais do poder dentro de cada país: um sistema de casta, as dissensões raciais e religiosas, a dependência das regiões rurais ao centro urbano mais rico e, na ordem feudal e semi-feudal, a submissão dos camponeses ao senhor da terra, ao comerciante, ao agiota ou ao coletor de tributos. Essas inflexíveis instituições que mantêm desigualdades são inimigas do progresso econômico, em cada país subdesenvolvido. Se impedem os “efeitos propulsores” dentre desses países, essas instituições, ao mesmo tempo, criam dificuldades ao ritmo expansionista vindo do exterior, originário dos países adiantados. Quando uma nação pobre e atrasada se torna politicamente independente, vem a descobrir que a independência política não significa que ela se encontra automaticamente no caminho do desenvolvimento econômico. É conveniente recordar agora que, nos países desenvolvidos, as desigualdades regionais foram atenuadas e, em alguns dos mais ricos e mais adiantados, quase liquidadas, pela difusão do desenvolvimento e pelas interferências políticas por parte do Estado Nacional. Porém o mundo, como um todo, assemelha-se muito a um país subdesenvolvido com “efeitos propulsores” fracos e com um Estado menos capaz de contrabalançar, mediante deliberadas interferências políticas, os “efeitos regressivos” do jogo das forças do mercado, orientados para desigualdades. Entrementes, os países subdesenvolvidos estão utilizando as organizações internacionais como lugares onde se podem reivindicar medidas internacionais que melhorem as flutuações desastrosas de suas receitas de exportação.

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Não se pode deixar de admitir, porém, que as políticas corretivas, iniciadas pelas organizações inter-governamentais, equivalem a muito pouco, a muito menos do que os efeitos das mudanças, ascendentes ou descendentes, suscetíveis de afetar de um ano para outro os termos de intercâmbio dos países subdesenvolvidos. Em tal situação, os países subdesenvolvidos tem de se valer exclusivamente, dos próprios recursos. Sua situação não é inteiramente perdida. Mesmo na falta do Estado Mundial que interfira no jogo das forças do mercado, no interesse de maior igualdade, os países subdesenvolvidos estão-se tornando donos de sua própria economia e podem até controlar, no tocante às suas importações e exportações, o comércio internacional. Capítulo 6 A política do estado nacional nos países subdesenvolvidos Há uma regra simples a ser aplicada quando se traça a linha do nacionalismo equilibrado e energético: um país subdesenvolvido procede, acertadamente, ao tomar toda e qualquer medida que, à luz do bom-senso, seja capaz de melhorar seu próprio bem-estar econômico, mas deve evitar, cuidadosamente, medidas políticas que não sejam benéficas à nação em seus efeitos totais e remotos. Os países subdesenvolvidos tendem a manter suas principais relações econômicas e culturais e, de fato, a maior parte de suas ligações com um ou vários países industriais, enquanto os laços entre países subdesenvolvidos são fracos. Isto, naturalmente, resulta do prolongado atraso econômico e cultural, da dominação econômica estrangeira e, em particular, do colonialismo político. De fato, as políticas econômicas nacionais dos países subdesenvolvidos, particularmente nas primeiras etapas, devem dirigir-se contra os países mais ricos, com os quais têm eles mantidos, tradicionalmente, estreitas relações econômicas, porque essas relações econômicas representam um estado de dependência colonial ou quase-colonial, que deve acabar. Isto, naturalmente, se opõe aos interesses dos países que desfrutam dos privilégios que ora lhes devem ser retirados. Têm de ser interrompidas, nesses processo, numerosas relações. Não raro, um país subdesenvolvido terá de nacionalizar as instalações pertencentes a estrangeiros para exploração dos recursos naturais. As razões para determinada medida política nesse processo de independência econômica podem ser fortes ou fracas, boas ou más. Capítulo 7 O planejamento nacional nos países subdesenvolvidos Dadas as várias deficiências dos países atrasados, aceita-se também que o Governo exerça muitas funções que, na maioria dos países adiantados, são desempenhadas pela iniciativa privada.

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Mas é claro que, se um país subdesenvolvido consegue iniciar e manter um processo acumulativo de desenvolvimento econômico, haverá mais e nunca menos espaço para a iniciativa privada já existente ou que venha a promover-se nele. O planejamento central terá como objetivo permanente romper as resistências, que constituem a marca do subdesenvolvimento, e dotar de maior flexibilidade toda a estrutura social e econômica. A maior parte das decisões cotidianas sobre a maneira de combinar os fatores de produção terá de basear-se nos cálculos dos “custos de oportunidades”, expressos desse modo.

O comportamento econômico racional sempre trata de aplicar recursos escassos em usos alternativos; esta é a realidade por trás da noção dos “custos de oportunidade”. Se, como de fato acontece, muitos países subdesenvolvidos exibem chocante desperdício de recursos escassos em obras públicas de “fachada” e em subsídios custosos a investimentos improdutivos, tal resulta de uma falha de planejamento. O único remédio é melhorar o próprio planejamento, o que implica uma análise realista das relações causais circulares, implícitas no processo de desenvolvimento acumulativo. O plano de desenvolvimento de um país subdesenvolvido requererá, em regra, vultosas compras de equipamentos no exterior. Se esse incremento nas importações não for plenamente coberto por doações ou empréstimos externos, aquele país terá de fazer o máximo esforço para aumentar suas exportações. Porém sua capacidade produtiva, como, muitas vezes, pela natureza inelástica da demanda externa. Talvez tenha que restringir suas importações de bens de consumo e, em particular, de artigos de luxo, se quiser obter as importações essenciais de que carece. Essas mudanças induzidas na estrutura de seu comércio exterior terão de ser contrabalançadas por aumento na produção agrícola e industrial, para deter a inflação e, também por controles nos preços e no consumo, a fim de impedir que a demanda de importações de luxo incentive inversões e produções internas indesejáveis. A formação de capital destinado a elevar o nível de investimento ter de ser compensada, simultaneamente, por poupanças mais altas, a serem obtidas por meio de diversas medidas políticas. Todas essas mudanças induzidas nas magnitudes de consumo, de produção de exportação e de importação são elementos essenciais do plano nacional. Um país subdesenvolvido caracteriza-se também pela circunstância de que grande parte de sua mão-de-obra se encontra desempregada ou apenas consegue substituir por meio de várias formas de “desemprego disfarçado”. O fato de que a mão-de-obra não tem emprego produtivo é, de um lado, um modo de afirmar que o país é subdesenvolvido; e, de outro, representa sua oportunidade de torna-se desenvolvido. Se parte dessa mão-de-obra “livre” puder empregar-se produtivamente, o país obterá uma vantagem líquida mesmo que para tal fim seja necessária levantar-se uma barreira contra a competição.

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Capítulo 8 Desafio Em geral, o nível econômico de que partem é muito mais baixo; a relação entre a população e os recursos mais desfavorável, e as tendências populacionais são mais dinâmicas e perigosas. Não dispõem de mercado internacional de capitais como o que tinham os países ora desenvolvidos, nem de escoadouros para emigração. Não herdaram tradições da racionalidades e de obediência à lei, tão importantes nos primórdios da história dos países desenvolvidos. E chegam tarde ao teatro dos acontecimentos: não têm a oportunidade, que os países desenvolvidos tiveram, de se expandirem como centros industriais, cercados de nações atrasadas, que podiam explorar como mercados para os bens manufaturados e fontes de matérias-primas e, com esse propósito, manter em servidão colonial. Sua única vantagem é o acervo de conhecimentos científicos e técnicos de que podem tirar proveito; mas, para utilizá-los, necessitam de pesquisas atualizadas em todos os setores de atividades. É ideal que os países subdesenvolvidos utilizem todo o conhecimento de que possam dispor, mas devem elaborar suas próprias técnicas específicas, adaptadas e seus valores e condições. Em geral, esse trabalho não pode ser delegado a outrem. Para que tenham, de fato, oportunidade de êxito no programa de desenvolvimento econômico, os países subdesenvolvidos devem conferir a mais alta prioridade à criação de escolas e universidades, destinadas à preparação de cientistas e à realização de pesquisas em todos os campos. Como veremos, é isso justamente o que acontece com a teoria do comércio internacional. Essa teoria, na verdade, admite que o comércio provoque um movimento no sentido de igualização da renda; no entanto, em vez disso, o comércio sem controle entre dois países, um dos quais industrializado e outro subdesenvolvido, desencadeia um processo acumulativo ao empobrecimento e à estagnação desse último país. Nesta época do Grande Despertar seria lamentável que os economistas jovens dos países subdesenvolvidos se deixassem seduzir pelas preferências do pensamento econômico nos países adiantados, as quais, mesmo nesses países, prejudicam os estudiosos em seus esforços de racionalidade, mas nas regiões subdesenvolvidas seriam funestas ao trabalho dos intelectuais. Em vez de ruminar velhos conceitos e controvérsias doutrinárias, muitos deles com cerca de cem anos ou até mais, deviam colher o que é realmente prático e útil em nossa tradição e, depois, proceder à elaboração de suas próprias concepções teóricas, adaptadas a seus problemas. Descobririam, então, que vários argumentos e teoremas antigos e muito divulgados passam a ser úteis quando ajustados a nova estrutura.

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SEGUNDA PARTE

AS DESIGUALDADES ECONÔMICAS, A CONSCIÊNCIA PÚBLICA E A TEORIA ECONÔMICA

Capítulo 9 A doutrina da igualdade e as maneiras de escapar a esses princípios Não é possível ignorar esse continuado impulso ideológico ao explicar-se a evolução bem recente dos países mais ricos para a integração nacional e para uma realização mais completa da igualdade de oportunidade. O Grande Despertar dos países muito pobres ora em marcha, também reflete, como é natural, o ideal de igualdade da civilização do ocidente. De certo modo, é importante assinalar que esse ideal tradicional dos países mais ricos se disseminou rápida e efetivamente no mundo subdesenvolvido estimulando os povos contra a pobreza e, conseqüentemente, induzindo-os à conclusão de que não são absolutamente culpados de sua situação econômica. Essa doutrina de igualdade radical, essência de importantes correntes filosófica, cujos efeitos se fizeram sentir nas próprias atitudes individuais, constitui, há séculos, uma anomalia em um mundo que se caracteriza por grosseiras desigualdades e é dominado, sobretudo, por interesses criados que procuram preservá-las. O que me causa surpresa, insisto, não é o fato de nossa sociedade ter tolerado tanta desigualdade econômica, mas sim, que ideal tão elevado quanto o da doutrina da igualdade se mantivesse, em santuário, nos espíritos durante tantos anos. Em geral as ciências sociais, especialmente a teoria econômica, apegaram-se teimosamente ao postulado naturalista da igualdade, segundo o qual os homens, em regra, são igualmente dotados pela natureza, defendendo, portanto, também, a teoria do meio. Nas últimas décadas, como observei, a pesquisa sobre diferenciais de inteligência de grupo e sobre outras capacidades e aptidões mentais deu fundamento ainda mais sólido a essa presunção básica da teoria econômica e social. Filósofos e economistas tinham que opor um argumento geral às deduções tiradas dessas observações, ou seja, que as diferenças eram apenas o resultado de desigualdades econômicas anteriores. Mas era difícil para o homem comum acreditar que fosse a explicação cabal. E é evidente que mesmo os doutos mantinham uma dúvida pertinaz – às vezes mais do que uma dúvida – de que, no fundo, algumas diferenças fossem inatas. Voltando aos domínios da teoria econômica, deparamos com estranho paradoxo. De um lado, constituída o ramo da ciência social em que a doutrina ultra-radical da igualdade era “provada” e aperfeiçoada logicamente como instrumento particularmente preciso e eficaz de valoração “objetiva”. De outro lado, tendo erigido solidamente a doutrina da igualdade sobre seu fundamento estrutural, a teoria econômica demonstrava, desde logo, tendência muito forte para escapar à postulação do problema da igualdade.

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A doutrina da igualdade, depois de ter sido provada, limitou-se, muitas vezes, a afirmações gerais em setores abstratos, insulada por invencível obscuridade, enquanto, no resto, a teoria econômica se desenvolvia de sorte a evitar, tanto possível, a proposição de problemas que pudessem servir de base a interferências políticas de caráter prático.

Além disso, com argumentação bem fundamentada, resta explicar porque a ciência econômica, como resultado global das tendências de tantas gerações de economistas, se orientou nessa direção particular e, assim, evitou, em princípio, tratar dos problemas da distribuição das rendas e da riqueza.

Em sua época, Ricardo não tentou evitar o problema da distribuição. Proclamou, ao contrário que era tarefa primordial da economia explicar os preços dos três fatores de produção: trabalho, capital e terra e, portanto, a distribuição da renda. Pela abstração estática das mudanças e das inter-relações entre as mudanças, chamou a atenção e, mais do que isso, deu maior importância ao conflito de interesses entre as diferentes classes econômicas: nenhuma das quais poderia ampliar a sua participação no produto social, exceto às expensas de uma ou das outras.

Isso se relaciona com a teoria dos salários naturais de Ricardo. Essa teoria, por sua vez, defluiu da lei da população de Malthus. A idéia é muito mais antiga, embora Malthus fosse o primeiro a elaborá-la e dar-lhe projeção.

O padrão de vida dos trabalhadores, em termos dos bens e serviços reais que seus salários podiam, comprar, era havido como constante. Salários mais altos, assistência social mais generosa ou qualquer outra interferência “artificial” que visasse a tornar mais alta a participação do pobre resultaria apenas em taxa mais elevada de reprodução. A formação de capital se reduziria porque baixaria o lucro. A redução do lucro agravar-se-ia pelo aumento na participação dos proprietários de terras, porque o crescimento de população forçaria o aumento dos arrendamentos. Os salários, em termos de meio de subsistência, logo voltaria ao seu nível original. Assim, qualquer intervenção destinada a melhorar o padrão de vida dos trabalhadores tenderia a frustar-se em conseqüência do impulso natural para procriar. O pobre sempre permaneceria pobre, apenas o rico seria menos rico.

Quando, no meado do século, John Stuart Mill escreveu os Principles of Polical Economy, with Some of Their Applications to Social Philosophy, ocorrera uma enorme mudança, que abalou as bases desta motivação do laissez-faire conservador na esfera da distribuição: o controle da natalidade apareceu como recurso possível e efetivo de impedir que a lei da população de Malthus tornasse inúteis as reformas redistributivistas. Nas décadas seguintes, a queda na taxa de fertilidade começou gradualmente a acompanhar a queda nas taxas de mortalidade que não vinham subindo há longo tempo.

Depois da II Guerra Mundial e sob influência do Grande Despertar, o objetivo da análise econômica se ampliou de forma a abranger efetivamente os países subdesenvolvidos. A teoria da população de Malthus tornou-se novamente relevante. É claro que grande parte das populações desses países vivem em nível de

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subsistência malthusiano, em que qualquer melhoria potencial nos níveis de renda enfrenta o perigo de ser devorada pelo aumento populacional.

No mundo de hoje, porém, razões políticas tornam cada vez mais difícil manter essa atitude negativista no nível da teoria e dos princípios gerais. Há uma realidade sinistra no problema da população. E quem quer que defenda realmente o ideal de igualdade deve ter esperanças e fazer tudo para que diminuam as taxa de fertilidade e exigir medidas destinadas à rápida propagação do controle de natalidade façam parte dos planos de desenvolvimento dos países subdesenvolvidos.

Seus efeitos imediatos seriam a desorganização e a diminuição da produção de bens e serviços. Foi por esse motivo que Alfred Marshall concluiu: “... que portanto, cabe aos homens responsáveis procederem, com experiência e cautela, ao reformar ou modificar mesmo esses direitos que pareciam impróprios às condições ideais da vida social”. Marshall salientava que os grandes economistas sempre sustentaram o ideal da igualdade:

O fato é que quase todos os fundadores da economia moderna eram homens de temperamento moderado e cordato, tocados por entusiasmo humanitário. Preocupavam-se pouco com a riqueza própria; cuidavam muito de sua larga difusão na massa. ... Eram devotados, sem exceção, à doutrina de que o bem-estar do povo devia ser o objetivo fundamental de todo esforço privado e de toda a política... Os direitos de propriedade, com tais, não foram venerados por esses espíritos magistrais que edificaram a ciência econômica...

Pode-se observar que, na conciliação entre o modo de pensar e o de viver, os indivíduos de melhor situação, comumente, esforçam-se por não se preocupar com o problema da igualdade.

Em primeiro lugar, procuram ignorar a existência da pobreza e o desconforto dos pobres.

Do mesmo modo, a profunda ignorância da pobreza do mundo subdesenvolvido foi conveniente e oportuna para os povos dos países mais ricos. Valeria a pena analisar, pormenorizadamente, como conseguiram habituar-se a tomar conhecimento abstrato da forma ocasional de muitos milhões de seres humanos em algum lugar da Ásia, sem que este fato fizesse parte de sua percepção da realidade.

Alfred Marshall, para citar novamente esse grande mestre eclético de nossa ciência, cuja mente era sempre tão sensível às questões de consciência, na introdução do Industry ans Trade, publicado logo após a I Guerra Mundial, enfrentou o fato com toda a franqueza:

A noção de comércio nacional tem sido vinculada à noção de solidariedade entre vários membros de uma nação... Na verdade, aproximamo-nos rapidamente de condições sem precedente próximo no passado, mas talvez, mais naturais do que aquelas que estão substituindo condições sob as quais as relações entre várias camadas industriais em uma nação civilizada se baseiam na razão e não na tradição. Haverá tempo talvez em que esses assuntos serão tratados como uma obrigação cosmopolita e não como nacional: mas essa época não está à vista. Para os propósitos práticos da geração

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presente e da futura, cada país deve, em princípio, dispor de seus próprios recursos e suportar seus próprios sacrifícios.

Enquanto os povos do mundo subdesenvolvido eram submissos e calmos, suas queixas não podiam chamar a atenção dos povos dos países mais ricos, dada a parede isolante de desconhecimento oportunista. Nova fase na velha luta em prol de maior igualdade que abrange o mundo todo, começou agora com o Grande Despertar. Observei que, de certo ponto de vista, o Grande Despertar nada mais é do que a propagação vitoriosa, nos países subdesenvolvidos, do ideal de igualdade de oportunidades, herdado das nações mais ricas. Essas nações espalham a semente da revolução mundial. E tão poderosa é a força e a unidade de uma cultura que, mesmo se elas agora o tentassem não conseguiram evitar a continuidade do processo de disseminação. Para onde quer que se voltem estarão ensinando e pregando igualdade. O que se faz necessário, primordialmente, não é a redistribuição da riqueza e das rendas. A ajuda, como acontece no caso de um país representa, como acontece no caso de um país, representará, apenas, pequena parte no programa racional de igualdade internacional. Nenhum dos planos propostos para ajuda ao desenvolvimento dos países subdesenvolvidos, em forma de capital, alcançou mais do que reduzida fração do aumento anual da renda nacional per capita nos países mais ricos, o que implica não se ter jamais cogitado de sacrifícios reais. E quem quer tenha advogado esses planos nunca deixou de acreditar que ajuda seria investimento lucrativo para os países mais ricos. A igualização da renda, mediante sua redistribuição entre nações, não só é impossível, como estou inclinado a acreditar, mas destituída de importância. Desejo salientar, antes de concluir este capítulo, o seguinte: à medida que nosso raciocínio sobre assuntos econômicos sofre a influência dessas antigas e poderosas preferências, nossa atenção se desvia do problema da igualdade. Tende a levar nossas conclusões práticas e políticas à idéia de que tudo promoverá a satisfação de todos se as forças naturais do mercado seguirem seu livre curso – o que implica, naturalmente, ser mais admissível deixar de lado o postulado da igualdade. Essas doutrinas e preferências representam, pois politicamente, um preconceito conservador, especialmente no que toca às questões da distribuição da renda e da riqueza. Houve muitos escritores radicais que insistiram em estudar a realidade social do ponto de vista do ideal de igualdade. Capítulo 10 As preferências conservadoras da teoria econômica e seu funcionamento nas filosofias básicas Outra preferência um pouco diversa, relacionada com a doutrina da harmonia de interesses, é o preconceito antiestatal e de fato, “antiorganizacional” ou, como é mais conhecido, a inclinação ao laissez-faire.

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Tanto a filosofia do direito natural quanto no utilitarismo, o individualismo atomista era premissa consciente, acentuada em sinal de protesto contra as filosofias anteriores e as contemporâneas, que tendiam a dar ao Estado e a outras instituições coletivas uma natureza orgânica uma espécie de personalidade com direitos, deveres e interesses independentes, embora limitados. Para os fisiocratas, como primeiros expoentes da filosofia do direito natural, o preconceito do laissez-faire era progmático: a “ordem natural” da harmonia de interesses individuais não se realizava perfeitamente devido, sobretudo, a “inferências” do Estado e de outras instituições coletivas. A noção de equilíbrio estável permeou toda especulação econômica e social durante os últimos dois séculos e até hoje determina conceitos de todas as ciências sociais e não apenas da Economia. Normalmente, presumia-se que a realidade não está em equilíbrio. Porém, a doutrina estabelecia que o equilíbrio tinha uma “realidade virtual”, estado para o qual a realidade efetiva, a despeito de todas as perturbações, sempre tendia a mover-se. Este estado de equilíbrio virtual podia, ao mesmo tempo, ser utilizado como norma na elaboração de julgamentos de valor, concernentes à realidade efetiva. Era este o modo de pensar dos fisiocratas e dos autores clássicos, e a idéia atingiu alto nível de aprimoramento e amplitude na teoria neoclássica do equilíbrio geral. Em especial, a imensa estrutura dominante da teoria do comércio internacional continuou a ser obstinadamente, na sua quase totalidade, uma teoria do equilíbrio. Uma espécie de ponto cego oportunista formou-se para servir a este propósito. Como Lionel Robbins acertadamente demonstrou, seria difícil achar um só caso em que os economistas clássicos ingleses realmente recomendassem que a Grã-Bretanha fizesse um sacrifício pelo bem-estar do resto do mundo. Quando, por exemplo, recomendaram o livre-câmbio como política geral não foi com base no fato de que traria benefícios à humanidade, mas de que seria do interesse de seu próprio país. A doutrina do livre-câmbio tornou possível aos economistas clássicos não revelar a si próprios e a seus leitores a existência de um ponto cego no seu pensamento. Capítulo 11 Nota sobre a teoria do comércio internacional e o problema da desigualdade A insistência expressa nos efeitos equilibradores e igualizantes do comércio internacional representa o principal interesse da nova conceituação. O comércio permitiria à atividade industrial adaptar-se à localização dos recursos naturais e populacionais dos diferentes países e regiões. Disto resultaria que a escassez relativa de mão-de-obra e capital seria menos discordante. A teoria do comércio internacional e a teoria econômica em geral jamais foram construídas para compreender a realidade das grande e crescentes

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desigualdades econômicas e dos processos dinâmicos de subdesenvolvimento e de desenvolvimento. A teoria econômica nunca focalizou problemas ligados às grandes diferenças nas técnicas de produção e nas próprias funções de produção e a imensas discrepâncias nos padrões de vida e em todo o ambiente cultural. Também a teoria do comércio internacional, mais do que qualquer outro setor da teoria econômica, tem sido dominada pelo pressuposto do equilíbrio estável, o que implica a crença de que, normalmente provocará, como reação, mudanças secundárias de direção oposta. Só a partir desse e de vários outros pressupostos, o comércio representa um elemento do processo econômico que opera para promover maior igualdade econômica entre regiões e países. Sob o pressuposto contrário e mais realista de que, freqüentemente o processo econômico é acumulativo, em virtude da causação circular, o papel do comércio internacional passa a ser, como vimos, o oposto, isto é, um dos meios pelos quais as forças de mercado tendem a provocar desigualdades crescentes quando os “efeitos propulsores” são fraco, como ocorre regularmente nos países subdesenvolvidos. A concepção do equilíbrio com suas fortes conotações ideológicas tradicionais surge, então, como conveniente e oportuna; porque, enquanto uma teoria realista, que reconheça a predominância, no desenvolvimento social da causação circular com efeitos acumulativos, propicia argumentos para o planejamento estatal do desenvolvimento econômico num país subdesenvolvido e para a intervenção estatal em larga escala, a teoria do equilíbrio, dadas as suas conotações ideológicas, tende a levar a conclusões de laissez-faire. Concluída essa exposição devemos salientar que, em conjunto, a extensa bibliografia, que aumenta sobre os problemas econômicos dos países subdesenvolvidos, tem dedicado pouca atenção à teoria econômica em geral ou à teoria do comércio internacional em particular. Na fase atual, essas obras em conjunto, manifestam uma tendência não teórica. Na realidade, quando muito, procuram tornar-se válidas, restringindo-se aos fatos concretos e aos problemas práticos. Muitos autores exprimem o desejo de encontrar um arcabouço teórico; mas essa aspiração, de ordinário, é limitada pelo cepticismo, que algumas vezes a descrença total de que jamais se consiga elaborar uma teoria geral do subdesenvolvimento e do desenvolvimento econômico. Se um dia nos aproximarmos da formulação de uma teoria geral do subdesenvolvimento e do desenvolvimento econômico, restará a tarefa difícil, mas necessária, de integrá-la na teoria econômica geral e, sobretudo, de ajustá-la, coerentemente, à teoria do comércio internacional. Porque é descabido sustentar teorias logicamente descoordenadas e de fato incoerentes.

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Capítulo 12 O ponto lógico e crucial de toda ciência Na orientação subjacente de toda tentativa sistemática de encontrar a verdade sobre a vida social há, pois, sempre, uma teoria: uma visão dos fatos essenciais e das relações causais entre eles. Essa teoria, que determina a direção da investigação, deve ser explícita. Os risco de mantê-la implícita – como razões não definidas para levantar as questões especiais que são propostas e organizar os resultados da forma que de fato o fazem – naturalmente escapa à crítica. Se a teoria for estabelecida a priori, por outro lado, é princípio básico da ciência que os fatos são soberanos. Em outras palavras, a teoria nunca é mais do que uma hipótese. A teoria e investigação de fatos devem, portanto, reajustar-se continuamente uma à outra, subordinadas, porém, ao princípio de que na análise final os fatos são decisivos. Os problemas concretos nunca são simplesmente econômicos, sociológicos, psicológicos ou políticos. Uma teoria do subdesenvolvimento e do desenvolvimento que opere com variáveis “econômicas”, por motivos lógicos, está fadada ao irrealismo e à irrelevância. Este é o ponto crucial de toda ciência: pressupõe, em todas as suas iniciativas, um a priori, mas sempre ambiciona descobrir uma base empírica para esse a priori. Se algum dia puder ser formulada uma teoria válida de desenvolvimento e de subdesenvolvimento terá de basear-se em idéias destinadas do mais amplo conhecimento empírico da mudança social em todos os seus múltiplos aspectos, idéias essas oriundas das preferências ligadas à tradição. Somente deste modo é possível fundamentar-se seguramente audaciosas simplificações que sirvam de guia teórico à investigação. Mas o conhecimento empírico não pode adquirir-se sem princípios de seleção e de organização, isto é, sem a visão de uma teoria.

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Bibliografia MYRDAL, G. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. 2ª ed. Editora Saga. Rio de Janeiro, 1968.

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ARTIGO 4

Um estudo econômico do Bosque Municipal Manoel Júlio de Almeida, no Município de Cornélio Procópio,

Paraná13 Resumo

O presente estudo é referente a uma área de preservação ambiental, situado na cidade de Cornélio Procópio, Paraná, sendo denominado de Bosque14. “O Bosque Municipal ‘Manoel Júlio de Almeida’, criado em 1967, fazia parte da mata estacional semidecidual que ocupava toda a região norte do Paraná. Hoje é um pequeno remanescente que conta a história desse valioso ecossistema” (PMCP, 2000). Possui extensão de 9,78 hectares, sendo uma área turística, com ruas pavimentadas. Compõe-se por floresta primária alterada, além de algumas árvores e arbustos exóticos ornamentais, sendo ilhado por culturas de café, soja, cana-de-açúcar, pastagens, malha rodoviária e a própria cidade. Dessa forma, o estudo em questão preocupará na valoração do Bosque levando em conta o meio ambiente e seu valor de mercado. Palavras-chave: Valoração, Custo de oportunidade, Fitossociológico. Introdução Considerando que no Paraná a legislação ambiental através do Decreto nº 387/99 que institui o Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente no Estado do Paraná (SISLEG) e esse Decreto foi publicado no Diário Oficial em 03 de março de 1999, pelo

13 Artigo desenvolvido em 2002. 14 O bosque pertencia a Mata São Paulo com 250 ha.

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Governador Jaime Lener, publicado no site do Instituto Ambiental do Paraná (IAP, 2002), vem a caracterizar que:

O Governador do Estado do Paraná, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 87, item V, e considerando os artigos 161, incisos I e II, 207, parágrafo primeiro, incisos II, XVIII da Constituição Estadual e ainda o que dispõe a Lei No. 11.054 de 11 de janeiro de 1995 (Lei Florestal Paranaense), DECRETA: Art. 2o - É propósito do Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente levar o Estado do Paraná a ter um índice de no mínimo 20% (vinte por cento) de cobertura florestal, através da conjugação de esforços do Poder Público e da Iniciativa Privada. Art. 4o - Para os efeitos deste Decreto, entende-se por: Reserva Florestal Legal - as florestas e demais formas de vegetação representadas em uma ou várias parcelas, em pelo menos 20% da área total da propriedade rural, com uso permitido apenas através de técnicas de manejo que garantam a sua perpetuidade.

Mas acontece que na prática isso se verifica de outra maneira, ou seja, os

agricultores e pecuaristas estão adquirindo lotes de outros proprietários rurais que por acaso excedam os 20%, assim o Decreto nº 387/99 vem:

Art. 9o - Atendidos os critérios do Art. 8o deste Decreto, poderão ser utilizadas as seguintes alternativas para a manutenção e a recuperação das áreas de reserva florestal legal: a. estar localizada no próprio imóvel; b. estar localizada em outro imóvel do mesmo proprietário; c. estar localizada em imóvel de terceiros; d. estar localizada em outro imóvel sob a modalidade de reserva florestal legal coletiva pública; e. estar localizada em outro imóvel sob a modalidade de reserva florestal legal coletiva privada (Idem, 2002). Assim, com base na Lei paranaense, é grande a procura pela reserva dos

20% e é de se averiguar o valor econômico. Para isso, no decorrer deste estudo, várias abordagens serão analisadas. 1. Valoração Comercial

Em pesquisa realizada em 07 de março de 2002, uma imobiliária forneceu os seguintes preços para imóveis em Cornélio Procópio: . preço mínimo de uma área rural próxima ao bosque: R$ 6.198,35 o ha. . preço máximo de uma área rural próxima ao bosque: R$ 7.438,02 o ha.

Como o bosque tem 9,78 hectares que equivale (em nível de terra) R$ 60.619,86 a R$ 72.743,84. Considerando a média aritmética, temos um valor médio de R$ 66.681,85.

Uma ressalva é feita no sentido de que a legislação leva em conta a propriedade rural e o estudo mostra o bosque como área urbana, porém,

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circunvizinho a propriedades rurais. Sendo assim, considera-se propriedade rural com preços urbanos até o limite de 3 km do município.

Neste caso, a cotação do preço para área municipal15 aplica-se a legislação. 2. Valoração da Flora

A mensuração do valor econômico é propícia neste momento uma vez que

explora um conceito de projeto ambiental em mercados hipotéticos, como de acordo com o método fornecido por Clemente et al., (1998, p. 218):

Valoração de Mercado – Valorações de mercado podem ser usadas quando serviços ambientais são comercializados no mercado. (...) Mercados Hipotéticos – Esse método está desenvolvendo-se rapidamente. Em técnicas como a valoração contingente, um instrumento de pesquisa é usado para estimar a disposição para pagar (ou de receber para aceitar a perda de) serviços do meio ambiente.

Dessa forma será útil mensurar alguns valores como evidencia:

Nos últimos anos, a região de Paragominas, no leste do Pará, passou por mudanças ecológicas significativas, começando em 1960 quando a então floresta tropical foi derrubada para dar lugar as pastagens, com subseqüente desenvolvimento da atividade extrativa da madeira. (...) A base dos dados financeiros é a seguinte: . retorno bruto da extração de madeira = $ 2.772 por hectare; . custo da extração = $ 1.811 por hectare; e . custo líquido = $ 961 por hectare (CLEMENTE, et al., 1998, p. 229) Para o bosque, análise dos estratos16 superior, intermediário e inferior.

Segundo o estudo de Vicentini e Hatschbach (1993) e dessa forma transformando em meros cúbicos obtém-se: . Estrato superior:

altura: 17,5 a 22,5 m → média de 20 m diâmetro: 0,71 a 0,856 m → média de 0,783 m² Cúbico: 20 m x 0,783 m² = 15,66 m³ / ha Uma exceção é a Paineira, que tem altura de 30 m, sendo relatado casos

como a Peroba Rosa de 40 m de altura por 1,20 m de diâmetro.

. Estrato intermediário: altura: 11,5 a 17,5 m → média de 14,5 m diâmetro: 0,127 a 0,315 m → média de 0,221 m² Cúbico: 14,5 m x 0,221 m² = 3,2045 m³ / ha

15 O preço de uma área até 3 km do município, tem preços superiores em relação às áreas mais afastadas. 16 Entende-se por estrato como sendo uma determinada camada de vegetação em uma comunidade vegetal.

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. Estrato inferior: altura: 3,0 a 11,5 m → média de 7,25 m diâmetro: 0,299 m² Cúbico: 7,25 m x 0,299 m² = 2,1678 m³ / ha Em se tratando do estrato inferior, As árvores mortas, apresentam maior valor importância (VI) de todas as espécies, inclusive daquelas pertencentes aos estratos intermediários e superior. (...) No entanto, por se constituírem de troncos geralmente sem copa, com 7,4m de altura média, aparecem como representativas deste estrato inferior. (...) A regeneração natural, reiniciada a partir desta data, é extremamente alta na classe I (até 1 m de altura) e bastante reduzida na classe III (de 3 m de altura até 29,9 cm de circunferência). Árvores desta última, que já tem seu lugar garantido na composição da floresta (VICENTINI e HATSCHBACH, 1993, p.25 e p.34).

A fim de mensurar valores, a madeira é avaliada por metros cúbicos. Para a

espécie Peroba Rosa, o valor é de R$ 180,00 o m³ e espécies nobres como Caivúna e Cabreúva tem o metro cúbico avaliado em R$ 200,00. Considerando-se a média o cálculo vem a ser:

Valor bruto da madeira: . (15,66 m³ + 3,2045 m³ + 2,1678 m³) = 21,0323 m³ x 9,78 ha = 205,6959 m³ . 205,6959 m³ x R$ 190,00 / m³ = R$ 39.082,22

O custo do corte é avaliado em R$ 40,00 o metro cúbico: . 205,6959 m³ x R$ 40,00 = R$ 8.227,84

O custo líquido17 é a diferença do valor da madeira e o custo do corte: R$ 30.854,38

Além disso, deve-se levar em conta o custo de oportunidade, que de acordo com os autores da citação de Clemente, et al., (1998, p. 229 e 230),18 tem-se uma característica na constituição do valor econômico.

1. Valor de uso direto renunciado – A extração da madeira tem vários impactos nos outros usos da floresta, destacando-se a recreação. (...) O custo de oportunidade estimado dessas atividades recreacionais é $ 17,04 por hectare (Van Kooten, 195a); 2. Valor de uso indireto – A retirada do carbono extraído reduz o efeito estufa é importante uso indireto da floresta. /.../ De acordo com Almeida e Uhl (1995), em torno de 29 toneladas de carbono por hectare são extraídas usando tecnologia comum de extração de madeira e esse carbono é avaliado entre $3,75 a $ 43,70 por tonelada. Usando o ponto médio desses valores, tem-se $ 693,53 19 por hectare (693,53 = 29 x (3,75 + 43,70) ÷ 2); 3. Valor (de uso pessoal) de opção – Potencialmente, a floresta tropical pode fornecer produtos úteis no futuro, mesmo que sejam desconhecidos atualmente. (...) Simpson, Sedjo e Reid (1996) calcularam que a máxima disposição para pagar um hectare de terra na Amazônia Ocidental é $ 2,59, que é aqui utilizada como proxy para o valor de opção; 4. Valor não relacionado ao uso (preservação) – A preservação de um recurso para o futuro pode ser avaliada mesmo sem a visão de seu uso direto ou indireto. Uma opção combinada de não-uso, de herança e valor de existência para a floresta temperada da Colômbia Britânica, no

17 Vale apena ressaltar que não está incluso os valor do ICMS , do ICMS do frete, do frete e licenças. 18 CLEMENTE et al, 1998) cita apenas a informação essencial aqui repassada. 19 Para não ferir a citação, esse valor foi mantido, sendo o valor correto é de 688,03.

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Canadá, foi calculada entre $ 0,73 e $ 55,08 por hectare (Van Kooten, 1995a). A estimativa mais alta é usada aqui como proxy do valor de preservação. Para o bosque, um censo em nível de flora é de suma importância, como “a

fitossociologia se ocupa da ecologia quantitativa das comunidades vegetais, ou seja, do estudo da composição florística, da estrutura, da dinâmica, do funcionamento e das relações ambientais das populações de plantas” (VICENTINI, 1993, p. 1). Os benefícios ambientais para o bosque são:

Valor de uso direto renunciado : Valor para atividades recreacionais é: 9,78 ha x R$ 17,04 / ha = R$ 166,65

Valor de uso indireto: Valor do carbono extraído:20 R$ 3.796,00 [16021 x (3,75 + 43,70) ÷ 2] toneladas / ha: 9,78 ha x R$ 3.796,00 = R$ 37.124,88

Valor (de uso pessoal) de opção: Valor da biodiversidade é: 9,78 ha x R$ 2,59 / ha = R$ 25,33

Valor não relacionado ao uso: Valor da preservação é: 9,78 ha x R$ 55,08 / ha = R$ 538,68

Valor do ICMS Ecológico: Em pesquisa de campo realizada em 01, 15 e 20/04/2002 no IAP e na

SEMA, o documento (público) chamado “Memória de cálculo financeiro do ICMS Ecológico por biodiversidade, em reais, acumulado por mês e individualizado por município e por unidade de conservação ou área protegida”.

A área protegida refere-se à conservação das matas paranaenses. Com base nesse documento, foi possível extrair os seguintes dados:

TABELA 1 – Repasse do ICMS ecológico – janeiro de 2002 Exercício: 2002 Município: Cornélio Procópio Área do Município: 63.274,02 Emissão: 04/02/2002 Valor repassado acumulado em reais até o mês 1 NOME NÍVEL (HA) REPASSE . Bosque Mun. Manoel J. Almeida Municipal 9,78 R$ 431,95

FONTE: SEMA, IAP e DIBAP/ICMS por Biodiversidade Na matemática financeira, mais exatamente em Rendas Postecipadas, para

determinarmos o valor futuro de uma sucessão de pagamentos uniformes, é usada a seguinte formulação:

M = p . [(1 + i) n - 1] i

20 Aqui não foi abordado o tempo para a absorção do carbono. 21 Segundo a revista Veja (bibliografia), “Armadilha Natural. Quanto gás carbônico (CO2) cada tipo de vegetação pode retirar da atmosfera (em toneladas por hectare)” Assim, a absorção é na Floresta Tropical 160 T/ha , Mata de Eucaliptos 7,4 T/ha , Áreas de agricultura, 7,2 T/ha.

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Onde: M → o montante ou valor acumulado no final de um ano; p → a parcela mensal recebida com base dos 5% dos 25% do ICMS (Lei nº 59/91), supondo a mesma em todos os meses; i → taxa mensal, supondo a taxa da caderneta de poupança como meio de correção monetária; n → o período considerado.

Como resultado para a parcela de R$ 431,95, a taxa de 0,7% ao mês, o período de 12 meses é o montante de R$ 5.387,69.

Dessa forma temos: 166,65 + 37.124,88 + 25,33 + 538,68 + 5.387,69 = R$ 43.243,23 Vale a pena lembrar que, embora foi utilizado valor de outras regiões, a metodologia segue essencial ao entendimento do estudo. 3. Valoração da Final

Considerando as informações anteriores temos: Custos Ecológicos: Custo líquido para o bosque22 → R$ 30.854,38 Benefícios Ecológicos Valor de uso direto renunciado para atividades recreacionais → R$ 166,65 Valor de uso indireto para o carbono extraído → R$ 37.124,88 Valor (de uso pessoal) de opção para da biodiversidade → R$ 25,33 Valor não relacionado ao uso da preservação → R$ 538,68 Valor do ICMS Ecológico → R$ 5.387,69 Total destes Benefícios → R$ 43.243,23

Faminow e Clemente (1998, p. 228), exprimem a seguinte fórmula para o valor presente de um projeto ecológico, assim:

n n

V = ∑ B0 – ∑ A0 eβ t . t=0 (1 + i)t eγ t t=0 (1 + i)t

Assim: V = valor presente; B = benefícios financeiros; A = impactos

ambientais negativos, i = taxa de juros; t = tempo ; γ (ou ‘g’) e β (ou ‘b’) = taxa de crescimento constante; Seja e = 2,7183 que é o número neperiano ou natural.

Exemplo 1: Custo (impacto da retirada).

22 Página 5.

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A fim de considerar uma taxa de 4% a.a. por um período de 1 ano com um custo de impacto na ordem de R$ 30.854,38 a taxa de crescimento de 1,0% a.a. podemos descobrir o Valor Ecológico do bosque. n

V = ∑ A0 eβ t = 30.854,38 e0,01.1 = 29.965,84 t=0 (1 + i)t (1 + 0,04)¹

Exemplo 2: Benefício.

A fim de considerar uma taxa de 4% a.a., por um período de 1 ano com um benefício de impacto na ordem de R$ 43.243,23 , a taxa de crescimento de 1,0% a.a. podemos descobrir o Valor Ecológico do bosque. n

V = ∑ B0 = 43.243,23 = 41.166,30 t=0 (1 + i)t eγ t (1 + 0,04)¹ e0,01.1

Exemplo 3: Valor Líquido A diferença do exemplo 2 com o exemplo 1 fornece o valo líquido de

11.200,46. A Tabela 2 fornece a programação para os vinte anos de estudo, ou seja, de

acordo com Decreto nº 387/99 que institui o SISLEG (IAP,2002): Art. 7o - O prazo máximo para a recuperação das áreas de reserva florestal legal fixado por este Decreto é de 20 (vinte) anos, a ser cumprido pelo proprietário de forma escalonada, conforme tabela deste artigo. Parágrafo único - O não cumprimento da recuperação da parcela correspondente anual, gera efeito cumulativo para os anos subseqüentes.

Na Tabela23 2 podemos fazer tentativas e obter os seguintes resultados.

Mantendo a taxa de crescimento constante em 1,0% a taxa de desconto em 4% ao longo de 20 anos obtém-se: γ (g) = 1,0% β (b) = 1,0% i = 4% V.L. = R$ 76.329,67

Há de observar-se que no décimo ano que o benefício líquido será próximo

de zero entre os anos 16 e 17. “Como é evidente, este cálculo é puramente mecânico e não pode referir-se aos fatores subjacentes que poderiam fazer com que valores relativos mudassem. Por essa razão, esses dados devem ser interpretados como uma simulação de possíveis mudanças e não devem ser considerados como previsões” (CLEMENTE, et al., 1998, p. 235).

23 Tabela semelhante à Tabela 13.2 da obra de FAMINOW e CLEMENTE.

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TABELA 2 – Benefício, Custo e Valor Líquido

Ano Benefício Custo Valor

(t em ano) (g em a.a.) (b em a.a.) Líquido

1 41.166,30 29.965,84 11.200,46

2 39.189,12 29.102,88 10.086,24

3 37.306,91 28.264,78 9.042,13

4 35.515,10 27.450,81 8.064,28

5 33.809,34 26.660,29 7.149,05

6 32.185,51 25.892,53 6.292,98

7 30.639,67 25.146,88 5.492,80

8 29.168,08 24.422,70 4.745,38

9 27.767,17 23.719,38 4.047,79

10 26.433,54 23.036,31 3.397,23

11 25.163,96 22.372,91 2.791,05

12 23.955,36 21.728,62 2.226,75

13 22.804,81 21.102,88 1.701,93

14 21.709,52 20.495,16 1.214,36

15 20.666,83 19.904,94 761,89

16 19.674,22 19.331,72 342,50

17 18.729,29 18.775,01 -45,72

18 17.829,74 18.234,33 -404,58

19 16.973,40 17.709,21 -735,82

20 16.158,18 17.199,23 -1.041,05

Total (R$) 536.846,06 460.516,39 76.329,67 4. Análise Empírica

A fim de se verificar uma regressão linear entre os anos (X) e o valor líquido (Y), podemos esperar a seguinte função: Y^ = b0 + b1 . X

A Tabela 3 fornece a regressão linear simples:

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TABELA 3 – Análise econométrica Y^ = 10.444,7611 - 631,2645 . X

(32,5299) (-23,5516)

r² = 0,9886 α = 5% gl = 18 tc = 2,010 5. Reflorestamento

Se por outro lado, o Decreto nº 387/99 que institui o SISLEG, “prazo máximo para a recuperação das áreas de reserva florestal legal fixado por este Decreto é de 20 (vinte) anos” (IAP, 2002), ou seja, se uma propriedade 9,78 ha que ao longo dos anos usufruiu culturas mecanizadas e para isso desmatou tudo, agora tem que manter 20% de sua propriedade em forma de reserva florestal, o custo de “implantação de reflorestamento com nativas” (MORAES, 1998, p. 36, apud STANTARELLI, 1996):

1) Rendimentos Operacionais: inclui a construção de cerca, roçada prévia, combate a formigas, alinhamento e marcação, abertura de covas, calagem manual de covas, incorporação de calcáreo e aterro de covas. Adubação manual de plantio, distribuição e plantio de mudas, coroamento e manutenção, adubação de cobertura, roçada e condução. Custo: R$ 1.294,00 / ha;

2) Materiais: inclui palanques de cerca, arame farpado, grampos, fertilizantes, isca granulada e mudas. Custo: R$ 953,60 / ha;

3) Isolamento da área:

o simples isolamento da área permite que esta inicie um processo natural de recuperação, com o desenvolvimento dos indivíduos em cada fase da sucessão. Outro elemento de extrema importância, e talvez o principal na degradação e na destruição das florestas é o fogo. Sabe-se que alguns ecossistemas, como os cerrados, resistem bem ao fogo. Já as espécies florestais de mata não toleram esse tipo de agressão. Considerando tais aspectos, é essencial que se promova o cercamento das áreas revegetadas, principalmente quando essas fazem divisa com áreas de pastagem, além da construção e da manutenção de aceiros em torno da área, para evitar a entrada do fogo (MORAES, 1998, p. 37).

Esse modelo leva em conta uma propriedade de 100 ha, com um rio de

200m de largura que margeia, respeitando a mata ciliar tem-se, arame farpado, moirões de cerca e mão de obra. O custo é de R$ 3.611,00 para uma área de 200.000 m² o que equivale a R$ 180,55 / ha.

Para uma área de 9,78 ha tem-se: Rendimentos operacionais: 9,78 x 1.294,00 = R$ 12.655,32 Materiais 9,78 x 953,60 = R$ 9.326,21 Isolamento da área 9,78 x 180,55 = R$ 1.765,78 Total R$ 23.747,31

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Por outro lado, levando-se em conta o valor comercial para uma área desmatada equivalente ao Bosque e o custo para o reflorestamento tem-se:

R$ 66.681,85 + R$ 23.747,31 = R$ 90.429,16 6. Conclusões

No cálculo da valoração comercial, o bosque foi considerado como valor médio de R$ 66.681,85, ou seja, com base no valor de propriedades vizinhas onde o desmatamento já ocorreu dando lugar a culturas mecanizadas, como a soja, o milho, o trigo e também a pastagens.

Porém, na análise do valor do benefício, levando a exploração da madeira do bosque, conclui-se que a área de 9,78 ha possui 205,6959 m³ o que equivale a R$ 39.082,22. Para derrubar a mata, o valor do corte é de R$ 8.227,84. A diferença é o custo líquido R$ 30.854,38.

Na análise do impacto ambiental, ou seja os benefícios ecológicos, chegou-se ao valor de uso direto renunciado para atividades recreacionais, valor de uso indireto para o carbono extraído, valor (de uso pessoal) de opção para da biodiversidade, valor não relacionado ao uso da preservação, valor do ICMS Ecológico em R$ 43.243,23.

O resultado empírico mostra que 98,86% da regressão é explicada. Considerando o valor comercial: R$ 66.681,85. Considerando o valor da floresta e dos impactos nos 20 anos: R$ 76.329,67. Valor de Reflorestamento: R$ 23.747,31. Observe que considerando o valor comercial mais o impacto nos 20 anos menos o valor comercial mais o valor de reflorestamento, chega-se ao resultado de R$ 52.582,36 ou dividindo por 9,78 ha, 5.376,52 / ha, que é o valor ambiental que deveria ser dedicado à pesquisa, conservação, manutenção no Bosque.

Dessa forma, o valor enfatizado nada mais é do que um valor de importância à conscientização de uma melhor qualidade de vida no futuro.

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7. Referências CLEMENTE, A.(Org.), et al. Projetos Empresariais e Públicos. São Paulo: Atlas, 1998. COUTINHO, L. A Floresta dá Dinheiro. Revista Veja, p. 76-81, 22 ago 1991. IAP - Instituto Ambiental do Paraná. Disponível em: <http://www. pr.gov.br/iap/sisleg.html>. Acesso em 10 mar. 2002. Informe acerca de tráfico ilegal de animales en salvaje que Brasil revela figura increíbles. Eco Portal.net. Disponível em: <http://www.new.onda.om.r/canais/serviços/index_pesquia.htm>. Acesso em 10 mar. 2002. LOUREIRA, W. (Org), et al. ICMS Ecológico: Unidades de Conservação. Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA) e Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Curitiba: [s.n], 1998. MORAES, D. A. A. de (Org.) et al. Princípios básicos para a formação e recuperação de florestas nativas. 2ª ed. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. PMCP - Prefeitura Municipal de Cornélio Procópio. Disponível em: <http://www.cornelioprocopio.pr.gov.br/bosque.htm>. Acesso em 10 mar. 2002. RECOR - RESERVA ECOLÓGICA IBGE. Caracterização – Fauna. Disponível em: <http://www.recor.org.br/reserva/caracterizacao/fauna/index.html>. Acesso em 17 mar.. 2002. REIGOTA, M. Quanto vale a biodiversidade? Revista Trevisan, São Paulo, ano XII, n. 134, p. 8-11, abr. 1999. SEMA – Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/sema>. Acesso em 10 mar. 2002. VICENTINI, A. (Exec.). HATSCHBACH, G. et al. Levantamento Fitossociológico do Bosque Municipal Manoel Júlio de Almeida. Cornélio Procópio: [s.n.], 1993.

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ARTIGO 5

Industrialização no Brasil versus meio ambiente24 1. Getúlio Vargas – 1937/54 - Diversificação da produção agrícola; - Melhorias do transporte e na comunicação; - Criação do Estado empreendedor no que tange a recursos minerais e indústrias estratégicas, como o Conselho Nacional de Petróleo, a Companhia Siderúrgica Nacional (Usina de Volta Redonda), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Companhia do Vale do Rio Doce; - Criação da Eletrobrás e Petrobrás

2. Juscelino Kubitschek (J.K.) - 1956/61 Plano de Metas

O Plano de Metas compreendeu 30 metas, agrupadas em 5 cinco setores: . Energia: Energia elétrica, energia nuclear, carvão mineral e petróleo (produção e refinaria); . Transportes: Ferrovias (reaparelhamento e construção), rodovias (pavimentação e construção), serviços portuários e de dragagens, marinha mercante e transportes aeroviários; . Alimentação: Trigo, armazéns e silos, armazéns frigoríficos, matadouros industriais, mecanização da agricultura e fertilizantes. . Indústrias de base: Siderurgia, alumínio, metais não ferrosos, cimento, álcali, celulose e papel, borracha, indústria de construção naval, indústria mecânica e de material elétrico pesado; como principal pólo de germinação, indústria automobilística; . Educação

24 Artigo desenvolvido em 2002. Este artigo foi uma palestra conferida e simplificada para esta obra.

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3. Castelo Branco – 1964/66 Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG)

Medidas Adotadas para Modernizar e Fortalecer os Mercados Financeiros

do Brasil. i) Incentivos Fiscais - criação de recursos para atrair investimentos, tais como: - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE): criada em 1959 pelo economista Celso Furtado, destacando projetos como rodovias, energia elétrica, abastecimento de água e esgoto, habitação popular, treinamento de pessoal, recursos naturais, agricultura e industrialização. Posteriormente, estendido para a área amazônica; - Reflorestamento: consciência ecológica para promover o reflorestamento de diversas regiões. ii) Prioridades - mesmo com dificuldades orçamentárias o Estado não reduziu seu investimento: - infra-estrutura urbana; - energia elétrica; - sistemas de transportes; - indústrias pesadas: aço, mineração e petroquímica.

4. Emílio G. Médici – 1970/73 - Milagre Brasileiro (I PND – Plano Nacional de Desenvolvimento)

Ainda assim, algumas metas superaram a expectativa, crescendo mais de 100%, como: - Siderurgia, metalurgia, mineração e habitação.

Prioridades: - agricultura, saneamento básico, programas de saúde, incremento à pesquisa tecnológica e educação.

Fomento: - projeto PIN – Programa de Integração Nacional - construir a Rodovia Transamazônica; - colonizar regiões por ela cortada; - ampliar para 40.000 hectares a área irrigada do nordeste;

SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente, Órgão subordinado ao Ministério do Interior, criado a 30 de outubro de 1973, pelo decreto nº 73030. Tem por objetivo a conservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais. Principais atribuições: acompanhar as transformações do ambiente de técnicas de aferição direta e sensoriamento remoto, identificando as ocorrências adversas e procurando corrigi-las; assessorar órgãos e entidades incumbidas de conservação do meio ambiente e promover, em todos os níveis, a formação e o treinamento de técnicos e especialistas ligados, promover a elaboração e o estabelecimento de normas e padrões relativos à preservação do meio ambiente, em especial dos recursos hídricos, e controlar, diretamente ou em colaboração com outros órgãos, a aplicação dessas normas e padrões; atuar junto aos agentes financeiros para

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concessão de financiamentos e entidades públicas e privadas com vistas à recuperação de recursos naturais (SANDRONI, 1997).

5. Ernesto Geisel - 1974/79 (II PND)

Ao Segundo Plano Siderúrgico Nacional os setores beneficiados foram:

- Papel e celulose; - Metais não ferrosos; - Fertilizantes; - Defensores agrícolas; - Produtos petroquímicos.

Vale lembrar que os planos de desenvolvimento elaborados pelos sucessivos governos do Brasil de até então não contemplavam nenhuma preocupação com o meio ambiente. O primeiro a fazer isso, o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), aprovado para o período de 1975-79, ou seja, após a Conferência de Estocolmo, não o faz sem antes o marcar uma posição típica da postura desenvolvimentista tradicional. De fato, antes de enunciar as diretrizes para a preservação do meio ambiente, o II PND declara de modo categórico que não é valida qualquer colocação que o limite o acesso dos países subdesenvolvidos ao estágio da sociedade industrializada, sob pretexto de conter o avanço da poluição mundialmente (BARBIERI, 1997).

6. Constituição Federal de 1988

De acordo com a Carta Magna no seu Artigo 225, caput, “que todos têm

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum ao povo, essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações”. 7. Agenda/Programa 21 (Eco 92) ECO-92 - Primeira iniciativa global; - Realizado no Rio de Janeiro de 1992; - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Agenda 21 É composta de 40 capítulos, destacando os seguintes: . Capítulo 2 – Cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento e políticas internas correlatadas;

90

. Capítulo 3 – Combate a pobreza;

. Capítulo 8 – Integração entre o meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisão; . Capítulo 33 – Recursos e mecanismos de financiamento; . Capítulo 34 – Transferências de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e fortalecimento institucional; . Capítulo 35 - A ciência para o desenvolvimento sustentável; . Capítulo 36 – Promoção do ensino, da conscientização pública e do treinamento.

8. Uma Visão de Produção Com base na equação Cobb-Douglas, considere: Q = kα . Lβ para α + β = 1 Q = T . f (K,L) CT = vK + wL + rT

Onde: CT = custo total Q = produto K = insumo capital v = taxa que remunera o capital L = insumo trabalho w = taxa que remunera o trabalho r = taxa que remunera os recursos ambientais T = insumo terra que representa os recursos ambientais

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9. Referências BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudança da agenda 21. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1990. SANDRONI, P. Novo Dicionário de Economia. 5ª ed. São Paulo: Editora Best Seller, 1994

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ARTIGO 6

Desenvolvimento Regional: AMUNOP – Associação dos Municípios do Norte do Paraná25

Resumo Este artigo analisa o campo da economia regional e coloca como exemplo uma associação de municípios localizada numa microregião do Estado do Paraná. O objeto de estudo é a AMUNOP. Com 19 municípios é apresentada e diagnosticada perante o quadro econômico. Compara-se alguns índices como o PIB per capita dos municípios e seus respectivos setores. Outros indicadores de renda também são abordados, como o Coeficiente de Gini e o IDH. Tabelas e Gráficos ilustram o perfil industrial e agrosilvapastoril dos municípios. Palavras-Chave: Economia Regional, PIB per capita, Anel de Integração. 1. Introdução O presente artigo visa mostrar o lado da economia regional sob a ótica de conceitos de espaço e região. Como exemplo, a Associação dos Municípios do Norte do Paraná (AMUNOP), onde a partir de cidades circunvizinhas, unem-se para discutir problemas políticos comuns e estratégias de crescimento e desenvolvimento. Os municípios pertencentes a AMUNOP são 19 e constituem uma associação,26 sendo Cornélio Procópio a cidade pólo. A Tabela 1 ilustra as cidades que compõem a AMUNOP, o Produto Interno Bruto (PIB), o PIB per capita e o PIB Municipal em porcentual para os setores de agropecuária, indústria e serviço.

25 Artigo desenvolvido 2003. 26 Havia mais dois, Curiúva e Jataizinho.

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No passado as cidades onde passavam a ferrovia27 foram aquelas que mais se desenvolveram. Hoje o Anel de Integração vem dar continuação ao progresso e neste contexto, apenas três municípios são beneficiados, Bandeirantes, Cornélio Procópio e Santa Mariana. Para que não haja exclusão, a união de municípios é de suma importância para a sobrevivência daqueles omitidos pela passagem do desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento regional, segundo Clemente (2000) vem a ser

O indicador mais amplamente utilizado para representar o nível de desenvolvimento de uma região ou de um país é a renda ‘per capita’; no entanto, as deficiências desse procedimento são evidentes, principalmente quando não se complementa a análise com outros indicadores. Entre esses outros indicadores surge imediatamente a distribuição de renda, pois, sendo a renda ‘per capita’ um valor médio, é muito desejável que haja também informação sobre a distribuição. (...) Há, porém, outro conceito de desenvolvimento que merece ser considerado: o desenvolvimento auto-sustentado. (...) O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publica desde 1990 o Relatório de Desenvolvimento Humano. Esse relatório é baseado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera três fatores: longevidade, educação e renda ‘per capita’. Nessa abordagem, fica clara a dimensão econômica do desenvolvimento. (...) O desenvolvimento de uma região tende a estimular o desenvolvimento das regiões vizinhas ou, pelo contrário, constitui obstáculo para que estas também se desenvolvam? A Teoria do Crescimento Regional fornece resposta positiva a essa questão. (...) Não seria possível exagerar a importância dessas hipóteses para a política de desenvolvimento regional. Se a hipótese de espraiamento estiver correta, os desequilíbrios regionais tenderão a diminuir espontaneamente com o passar do tempo, e as regiões menos desenvolvidas aos poucos se aproximarão dos padrões das regiões adiantadas. Se entretanto, a hipótese de dominação estiver correta, os desequilíbrios tenderão a se exacerbar com o passar do tempo e as regiões atrasadas se distanciarão cada vez mais das regiões desenvolvidas.

27 Para o escoamento da safra de café.

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TABELA 1 – AMUNOP e suas Conjunturas Econômicas

Municípios PIB PIB per PIB Municipal (%)

(US$) capita (US$) Agropec. Indústria Serviço

1 Assaí 55.773.511,79 2.774,53 15.28 21.17 57.55 2 Bandeirantes 70.127.749,70 1.252,96 14.01 17.74 71.26 3 Congonhinhas 9.690.371,19 1.252,96 42.74 2.11 55.15 4 Cornélio Procópio 124.593.486,74 2.668,98 7.83 31.56 61.41 5 Itambaracá 13.326.259,83 1.557,53 41.22 0.00 58.78 6 Leópolis 9.873.434,59 2.108,81 48.04 5.51 46.45 7 Nova América da Colina 7.334.149,77 1.868,57 33.73 21.07 45.20 8 Nova Fátima 12.809.334,04 1.536,08 31.00 1.64 67.37 9 Nova Santa Bárbara 3.523.333,15 941,56 37.97 0.60 64.43 10 Rancho Alegre 11.341.898,56 2.572,44 30.91 19.02 50.07 11 Santa Amélia 6.408.562,11 1.392,56 33.67 3.41 62.92 12 Santa Cecília do Pavão 7.410.818,02 1.612,45 18.19 29.85 51.96 13 Santa Mariana 20.924.987,90 1.486,04 43.38 4.03 52.59 14 Santo Antônio do Paraíso 5.280.457,47 2.092,10 41.23 0.15 58.62 15 São Jerôrimo da Serra 11.398.890,57 922,24 33.03 0.42 66.55 16 São Seb. da Amoreira 9.983.396,49 1.240,02 40.76 2.22 57.03 17 Sapopema 6.752.719,04 939,31 39.00 3.46 57.54 18 Sertaneja 19.124.594,46 2.866,40 32.62 1.78 65.59 19 Uraí 14.877.504,15 1.158,23 33.71 8.21 58.07

FONTE: AMUNOP, (2003) 2. Região Pólo A AMUNOP tem como sede a cidade de Cornélio Procópio por ser a mais expressiva (tanto em PIB, população e infra-estrutura) sob a presidência do prefeito de algum município membro para um mandato de dois anos. Atualmente28 o presidente é o prefeito de Bandeirantes. A região tem características de homogeneidade, pois os municípios tem em comum hábitos similares de clima, vocação agropecuária e industrial. Também tem características de pólos, pois suas relações são conhecidas e interdependentes. Por fim, constitui uma região piloto, pois atende o quesito de planejamento administrativo e tomadas de decisões governamentais.

28 Em 2003.

96

3. Objetivos Dentre os objetivos pode-se destacar como:

promover ações destinadas ao desenvolvimento urbano, regional e institucional dos municípios paranaenses; financiar intervenções envolvendo despesas correntes e de capital; tornar-se instrumento de intermediação administrativo-financeiro, visando compatibilizar as exigências das entidades de financiamento internas e externas às características sócio-econômicas e à capacidade financeira dos municípios; aplicar os recursos com eficiência e eficácia no fortalecimento técnico, administrativo e financeiro dos municípios; gerir o Fundo Estadual de Desenvolvimento Urbano, criado em dezembro de 1998 (AMUNOP, 2003).

Contudo, a AMUNOP apesar de apresentar característica de pólo desenvolvimentista, parece um pouco anestesiada, pois a mesma atende mais a demanda política e auxílio jurídico a questões regionais de desenvolvimento. Um sistema de consórcio29 ou parceria com seus membros seria o passo inicial para objetivar o crescimento com horizonte para o desenvolvimento. Ainda assim, essa parceria pode contar com apoio de instituições de ensino, profissionais liberais e linhas de pesquisa. Quanto à criação do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU), este vem atender a falta de demanda financeira percebida pelos municípios, isto é, “Disponibilizar, aos Municípios paranaenses e agentes da administração direta e indireta do Governo do Estado, recursos para a promoção do desenvolvimento urbano, financiando planos, programas e projetos” (Idem, 2003). Em relação às fontes de recursos para a formação do FDU, pode se destacar como:

-Retorno dos subempréstimos contratados pelo Estado e repassados aos municípios paranaenses, em ações voltadas ao desenvolvimento urbano. -Produto de juros e amortizações resultantes de aplicações de recursos do FDU. -Produto resultante de operações de crédito interno e externo, integralizado para financiar intervenções do FDU.

-Aporte de recursos dos governos federal e estadual. -Aportes externos provenientes de ajuda de cooperação internacional, acordos bilaterais, convênios e contratos (Ibidem, 2003).

É de estrema importância o conceito e a fixação dos objetivos, pois a seriedade para o desenvolvimento inicia-se pela cooperação e responsabilidades. 4. Características dos Municípios Antes de iniciar o estudo pela Tabela 1 é importante saber como funciona os indicadores de renda. Assim, de acordo com a Tabela 2, a primeira coluna ilustra a região de análise. A segunda coluna, mostra o Coeficiente de Gini. Este índice 29 Um bom exemplo é o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Norte do Paraná (CISNOP), sediada em Cornélio Procópio.

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muito utilizado para medir a concentração da renda. O valor para análise varia de 0 a 1, isto é, quanto mais próximo de 0, menor a concentração e quanto mais perto de 1, maior a concentração da renda. O IDH mede de desenvolvimento humano em nível de educação, longevidade e renda. O valor para análise varia de 0 a 1, dividido em intervalos, isto é, quanto mais próximo de 0, menor o IDH e quanto mais perto de 1, maior o IDH. No intervalo de 0 a 0,499 diz-se que existe desenvolvimento humano baixo, entre 0,500 a 0,799 médio e acima de 0,800 considerado alto. A PIB per capita é o somatória de tudo que é produzido no país, estado ou município dividido pela respectiva população.

TABELA 2 – Indicadores de renda País, Estado e Município Coeficiente de GINI IDH PIB

per capita Brasil 0,609 (1) 0,757 (2) US$ 7.625 (2) Paraná 0,588 (1) 0,786 (1) R$ 7.352,40 (5)

Cornélio Procópio - 0,769 (3) US$ 2.668,98 (4) R$ 5.435,00 (6)

FONTE: (1)Censo 2000 (IBGE, 2003); (2) Ref. a 2000 (IPEA, 2002); (3)SEID (2002); (4) Ref. a 2000 (AMUNOP, (2003); (5) Ref. a 2000 (SEIT, 2003); (6) Ref a 1999 (IPARDES, 2003) Dessa forma, o Coeficiente de Gini do Paraná é inferior ao do Brasil, mostrando uma ‘melhor’ distribuição de concentração renda. Porém, Santa Catarina apresenta o índice de 0,548, e só para se ter idéia, os Estados Unidos é de 0,408. Isso mostra que o Brasil e seus Estados têm a renda pessimamente distribuída, isto é, a renda está concentrada nas mãos de poucos. O Índice de Desenvolvimento Humano de Cornélio Procópio apresenta superior ao do Brasil, porém inferior ao do Paraná. Pode-se dizer que as três esferas estão dentro do médio desenvolvimento, tendendo para o alto. A renda per capita de Cornélio Procópio é quase três vezes inferior ao do Brasil, isto é muito preocupante, pois significa alto desemprego, baixos salários e tendência a mudança de classe social, isto é, de classe média para classe baixa, e esta para a miserável, constituindo a linha da pobreza brasileira. Em comparação com o Paraná, o PIB per capita (em reais) é R$ - 1.917,40. De acordo com a Tabela 1 podemos chegar ao Gráfico 1. Assim, considerando no eixo horizontal os municípios (identificados por códigos, veja Tabela 1) e no eixo vertical, o PIB municipal em dólares. É visível o comportamento da estrutura de alguns municípios comparado a outros. O município 4 destaca quase duas vezes em relação ao município 2, que vem em segundo lugar e trinta e cinco vezes em relação ao município 9 que vem em último lugar.

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GRÁFICO 1 – Municípios e PIB

020000000400000006000000080000000

100000000120000000140000000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Municípios

PIB

(US$

)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da AMUNOP, (2003) Outra característica importante porém não surpreendente é mostrado no Gráfico 2. A região é predominantemente agropecuária, porém, não ostenta maior percentual no PIB neste setor. Já o setor secundário vem sofrendo mudanças de paradigmas desde os anos 80, isto é; - saída do modelo Fordista para entrada do modelo Toyotista ; - tecnologias (P&D e C&T)30 e inovações; - sistema poupador de mão-de-obra; - redução do tempo de trabalho; - trabalhador multifuncional; - flexibilidade (processo e produto), diversidade e diferenciação de produto; - metodologias Schumpeterianas31. Dessa forma, isso vem explicar o salto direto para o setor de serviços, seja pela maior absorção de mão-de-obra, seja por maiores (falta) oportunidades ou mesmo pela futura vocação do pólo que vem sustentando o crescimento no setor terciário em mais de 50% do PIB em quase todos os municípios.

30 Pesquisa e Desenvolvimento; Ciência e Tecnologia. 31 A tecnologia nova substitui a velha.

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GRÁFICO 2 – Municípios e setores econômicos

0.0010.0020.0030.0040.0050.0060.0070.0080.00

Agropec. Indústria Serviço

Setores

PIB

(US$

)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da AMUNOP, (2003). Contudo, as maiores nações do mundo não são por acaso, pois nelas está o desenvolvimento e este está associado a indústria. Como exemplo, dos seis países do G-7 como os Estados Unidos, Alemanha, Itália, Inglaterra, França e Japão são países tipicamente industriais. Por outro lado, países como Canadá32, Austrália e Nova Zelândia são considerados exceções, pois são países desenvolvidos com base na agricultura, porém menos expressivos quanto os seis países do G-7. Por isso que a indústria é importante no desenvolvimento da nação e conseqüentemente de pólos regionais podendo gerar crusters e distritos industriais. Para isso, a Tabela 3 ilustra o perfil das indústrias instaladas nos municípios membros. A indústria de produtos alimentares destaca-se em 16 municípios. Para efeito, são consideradas apenas as indústrias dominantes.

32 Pertence ao G-7.

100

TABELA 3 – Indústrias dominantes por município Indústrias Dominantes Cidades por código Total Têxteis 1,4,11,12,19 5 Metalurgia 1,5,9,12,13,16,19 7 Produtos Alimentares 2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,15,16,17,18 16 Bebidas 2 1 Perfumaria 2 1 Sabões e Velas 2 1 Produtos Minerais Não Metálicos 3,6,13,17 4 Madeira 3,6,8,9,11,12,15,17 8 Mecânica 4 1 Química 7 1 Mat. Elétrico e de Comunicação 8 1 Editorial e Gráfica 8,18 2 Vestuário 9,10,13,16 4 Calçados e Tecidos 9,10,13,16 4 Mobiliário 10,18 2 Couros 13 1 Peles e Produtos Similares 13 1 Extração de Minerais 15 1

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da AMUNOP, (2003) NOTA: O município 14 não possui dados disponíveis O Gráfico 3 é elaborado a partir dos dados da Tabela 3 onde é possível ilustrar a distribuição dessas indústrias.

GRÁFICO 3 – Principais Indústrias nos Municípios

57

16

1 1 1

4

8

1 1 1 24 4

2 1 1 1

Têxteis

Meta

lurgia

Produto

s Alim

entare

s

Bebidas

Perfum

aria

Sabões

e Vela

s

Prod. M

inerai

s Não

Metá

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Nº d

e in

dúst

rias

por m

unic

ípio

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da AMUNOP, (2003)

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Destaca-se aqui o município de Santa Mariana (13) pois apresenta característica de crusters pois seu parque industrial constitui empresas de couro, peles e produtos similares, calçados, tecidos e vestuário. Além disso, como mencionado anteriormente, está no Anel de Integração. Em relação ao ensino técnico, Cornélio Procópio conta com uma Escola Técnica Federal nas áreas de eletrônica, mecânica e informática (CEFET). Na área de pesquisa econômica, o mesmo município conta uma Faculdade Estadual. Isso vem a atender o desenvolvimento no campo tanto a nível de pesquisas quanto para mão-de-obra técnica. Embora é reconhecido a importância do setor secundário, não se pode menosprezar o setor primário, isto é, de agronegócios, aqui constituído como agropecuário. A Tabela 4 mostra as principais culturas cultivadas nos solos paranaenses, a extração de madeira e pecuária.

TABELA 4 – Principais atividades agropastoris por município Agrosilvapastoris Cidades por código Total Soja Safra Normal 1,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,18,19 17 Uva 1,7,16,19 4 Algodão 1,2,9,11,12 5 Cana-de-Açúcar 2,5,7,11,13,16 6 Alfafa 2,11 2 Trigo 4,6,10,12,13,14,18,19 8 Milho Safra Normal 5,6,8,15,17 5 Milho Safrinha 10,18 2 Mamão 9 1 Leite 17 1 Bovinos 3,4,8,14,15,17 6 Aves de Corte 3 1

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da AMUNOP, (2003) Como destaque, surge a soja, cultivada por 17 municípios, e em segundo lugar, o trigo, com 8 municípios. Destaca-se a mudança tecnológica quanto a migração do café para a soja. A primeira, intensiva em mão-de-obra e a segunda em mecanização e poupadora de mão-de-obra. Outro destaque, é a cidade de Uraí, famosa pela produção de rami,33 que nem aparece na tabela. Assim como o café, que antes da geada de 1975, era predominantemente em todos os municípios, ou seja, foi o passo inicial ao desenvolvimento do Norte do Paraná. 34

33 Foi largamente usado em confecções e como matéria-prima para fabricação de papel-moeda. 34 Até 1975, antes da geada negra, os cafezais eram intensivos em trabalho (algumas fazendas empregavam até 3000 homens). Após essa tragédia, as ‘novas’ lavouras (soja, milho e trigo) foram mecanizadas, ou seja, intensivas em capital.

102

O Gráfico 4 ilustra a partir dos dados da Tabela 4 os principais produtos agrosilvapastoris presentes na Associação dos Municípios do Norte do Paraná.

GRÁFICO 4 – Principais produtos agrosilvapastoris nos municípios 17

45 6

2

8

5

21 1

6

1

Soja Safr

a Norm

alUva

Algodão

Cana-d

e-Açú

carAlfa

faTrig

o

Milho Safr

a Norm

al

Milho Safr

inha

Mamão

Leite

Bovinos

Aves de C

orte

Prin

cipa

is p

rodu

tos

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da AMUNOP, (2003) Embora ainda com pouca evidência, o setor de agronegócios vem se destacando, como por exemplo, pequenas propriedades agrícolas estão diversificando a atividade no campo. O Novo Rural como é chamado, constitui de pesque-pague, hotéis fazenda, ecoturismo, produtos laticínios, artesanatos, doces caseiros, entre outros. Dessa forma, isso vem a ser um meio de sobrevivência no campo e ao mesmo tempo alternativa para que não haja êxodos rurais, proporcionando soluções próprias, simples e de pouco investimento, necessário a fixação do homem na região. Em relação ao ensino técnico, Santa Mariana conta com uma Escola Estadual Técnica Agrícola, Bandeirantes, com iniciativa privada, conta com Engenharia Agronômica e Medicina Veterinária. Cornélio Procópio conta com a Faculdade Estadual com o curso de Habilitação Plena em Biologia. Isso vem a atender o desenvolvimento no campo tanto a nível de pesquisas quanto para mão-de-obra técnica. 5. Conclusão A Associação dos Municípios do Norte do Paraná vem a constituir uma solução para problema de exclusão de alguns municípios que estão fora do Anel de Integração. Por outro lado a região é rica e diversificada nas atividades agropastoris e também no seu parque industrial. Porém, nem o setor primário e nem o setor secundário abrangem o maior PIB municipal, ficando com o setor terciário. Isso

103

reflete uma migração por busca de oportunidades, seja por emprego ou porque se esgotou em outros setores. Contudo, os 19 municípios têm em comum a proximidade e facilidade de acesso, possui infra-estrutura de cidade grande, como hospitais, escolas técnicas e administrativa e escoamento da produção facilitada tanto pelo sul e oeste do Paraná e também pelo sul do Estado de São Paulo. Ainda assim este estudo mostrou o grande potencial em se explorar a economia regional, suas mazelas e necessidades.

104

6. Referências AMUNOP - Associação dos Municípios do Norte do Paraná. Disponível em: <www.paranacidade.org.br/base/ associacoes/>. Acesso em 18/01/2003. CLEMENTE, A.; HIGACHI, H. Y. Economia e Desenvolvimento Regional. São Paulo: Atlas, 2000. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censo Demográfico 2000. Resultados do universo: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em: <http://www.gov.org.br/> Acesso em 06/01/2003. IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - 2003. Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/>. Acesso em 20/01/2003. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2002. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>. Acesso em 07/01/2003. SEIT - Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo - 2002. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/celepar/seit/seit/>. Acesso em 20/12/2002. SEIT - Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo - 2003. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/celepar/industria_comercio/graficos_ indicadores.htm>. Acesso em 19/01/2003.

105

ARTIGO 7

O comportamento dos preços de algumas commodities (café, soja, açúcar e suco de laranja)35

Resumo O presente artigo vem analisar o nível de preço e produtividade, tecnologia, comercialização e competitividade das commodities café, soja, açúcar e suco de laranja no mercado internacional. Partindo da hipótese que o preço das quatro commodities tendem a decrescer nos próximos anos seja pela razão do excesso do estoque mundial ou por dificuldades aduaneiras ditada pelo protecionismo de algumas nações. Palavras-Chave: Commodities; preço; quantidade. 1. Introdução O presente artigo considera o preço de mercado de quatro produtos agrícolas específicos, como o café, a soja, o açúcar e o suco de laranja. Dessa forma, será apresentado nesta seqüência respectiva uma análise de comparação e a verificação da hipótese de que as quatro commodities tendem a cair a partir de 2003. Análise de tabelas e gráficos ilustram o desenrolar deste trabalho de forma a facilitar a interpretação. 2. Café

Com a queda no preço do café no mercado internacional, ou seja, “os baixos preços do café, 40% menores do que no ano passado, levou representantes

35 Artigo desenvolvido 2003.

106

brasileiros do setor a liderar um audacioso plano internacional de retenção do produto, visando uma melhora, ainda não verificada, dos preços no mercado mundial” (VILLELA, 2001). A retenção do café para evitar queda nos preços traz lembrar da queima do café na década de 1930, por motivos de retenção do produto por causa do excesso mundial e queda nos preços, além da recessão mundial devido a crise mundial de 1929. Porém, a meta é reter “20% do total das exportações de cada um dos países produtores, membros ou não da Associação dos Países Produtores de Café (APPC)” (Idem, 2001). Para obter uma visão da redução do preço, os países que importam café aumentaram seus estoques em 10% sendo os Estados Unidos em 70%. Desse modo existe um excesso de produto no mercado fazendo com que o preço baixe. Considerando que a safra de café mundial em 2001 foi por volta de 118 milhões de sacas, isso explica uma oferta muito grande do produto. No caso do Brasil, a implantação de tecnologias como por exemplo, o uso de fertilizantes, adubos e defensivos aliados ao sistema de plantio adensado, promove um aumento de 8,6 sacas/ha no período de 1995 a 1991 para 15,7 sacas/ha em 1998, ou seja, a tecnologia aumenta 82,6% na produção nacional. Ainda assim, a tecnologia adequada é ditada em dólares e com a desvalorização do real, os insumos tornam-se mais caros e a previsão das áreas plantadas poderá ser uma redução entre 10% e 15%. Juntando tudo, os custos tornam-se inviáveis e os produtores tendem a diversificar a produção, substituindo o café por outras culturas, como o milho, a soja e até mesmo por frutas. A Tabela 1 mostra uma série de preços em milhões de dólares e quantidades produzidas da commoditie café de 1990 a 2002 e a Tabela 2 a quantidade produzida em 1000 toneladas no período de 1991 a 2000. A Tabela 2 também mostra os principais produtores de café que são os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. O Paraná já foi grande produtor de café, porém sua vocação atualmente está na soja. Os principais mercados internacionais são os Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão.

TABELA 1 – Série preço da commoditie café (1990 – 2002) Exportações - setor: café - (FOB) - Mensal - US$(milhões)

1990 01 92.9 1991 01 172.2 1992 01 172.9 1993 01 88.4 1994 01 123.1 1995 01 185.8 1996 01 124.2 1990 02 91.3 1991 02 104.6 1992 02 133.8 1993 02 100.4 1994 02 160.2 1995 02 188.3 1996 02 127.4 1990 03 103.5 1991 03 156.6 1992 03 116.7 1993 03 96.7 1994 03 101.6 1995 03 230.3 1996 03 118.3 1990 04 89.5 1991 04 137.8 1992 04 108.9 1993 04 86.4 1994 04 93.2 1995 04 222.6 1996 04 145.4 1990 05 99.1 1991 05 119.5 1992 05 95.4 1993 05 71.2 1994 05 115.5 1995 05 248.2 1996 05 155.7 1990 06 95.5 1991 06 122.8 1992 06 75.6 1993 06 87.3 1994 06 152.7 1995 06 267.7 1996 06 160.4 1990 07 98.4 1991 07 105 1992 07 111.7 1993 07 109.2 1994 07 191.7 1995 07 178.3 1996 07 196.3 1990 08 133.7 1991 08 175.4 1992 08 86.5 1993 08 124.8 1994 08 308.1 1995 08 234.8 1996 08 233.3 1990 09 85.9 1991 09 92.8 1992 09 76.5 1993 09 203.7 1994 09 372.9 1995 09 244 1996 09 214.3 1990 10 121.1 1991 10 147.8 1992 10 93 1993 10 118 1994 10 383.8 1995 10 203.2 1996 10 292.3 1990 11 212.8 1991 11 141.9 1992 11 74.1 1993 11 139.5 1994 11 399.8 1995 11 171.9 1996 11 250.9 1990 12 195.1 1991 12 157.6 1992 12 109.1 1993 12 181.2 1994 12 300.5 1995 12 152.8 1996 12 207.8

1997 01 197.7 1998 01 198.8 1999 01 193.3 2000 01 152.6 2001 01 103 2002 01 85.1 1997 02 221.5 1998 02 228 1999 02 242.3 2000 02 175.3 2001 02 105.3 2002 02 85.5 1997 03 297.2 1998 03 200.6 1999 03 270.4 2000 03 140.1 2001 03 120.4 2002 03 87.8 1997 04 313.8 1998 04 178.4 1999 04 215.1 2000 04 133.9 2001 04 126.7 2002 04 106.2 1997 05 297.8 1998 05 179.4 1999 05 193.2 2000 05 166.3 2001 05 116.4 2002 05 86.3 1997 06 250 1998 06 218.3 1999 06 187.5 2000 06 139.2 2001 06 122 2002 06 69.9 1997 07 264.8 1998 07 260.8 1999 07 180.5 2000 07 108.2 2001 07 108.3 2002 07 126.7 1997 08 288.1 1998 08 270.7 1999 08 224.8 2000 08 169.3 2001 08 147.4 2002 08 135.2 1997 09 301.7 1998 09 265.1 1999 09 205.9 2000 09 149.2 2001 09 116.2 2002 09 149.2 1997 10 301.3 1998 10 245.5 1999 10 193.7 2000 10 170.5 2001 10 129 2002 10 152.9 1997 11 242.5 1998 11 215.6 1999 11 209.6 2000 11 155.1 2001 11 127.2 1997 12 241.8 1998 12 243 1999 12 215.3 2000 12 124.5 2001 12 95

FONTE: IPEADATA; FUNCEX

TABELA 2 – Saldo comercial do café 1991-2000

Com os dados da Tabela 1 foi feito a média aritmética dos meses pertencentes aos respectivos anos, chegando ao preço médio mostrado na Tabela 3 conjuntamente com a quantidade produzida mostrada na Tabela 2.

TABELA 3 – Café: preço, quantidade e variação

Ano Preço Méd Var (%) Qtde. Var (%) 1990 118.233 - - - 1991 136.167 15.2 3051 -15.2 1992 104.517 -23.2 2587 -1.2 1993 117.233 12.2 2555 2.3 1994 225.258 92.1 2613 -28.9 1995 210.658 -6.5 1858 44.6 1996 185.525 -11.9 2686 -12.8 1997 268.183 44.6 2341 47.4 1998 225.350 -16.0 3450 -5.3 1999 210.967 -6.4 3268 11.7 2000 148.683 -29.5 3651 - 2001 118.075 -20.6 - - 2002 108.480 -8.1 - -

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados do IPEA-DATA; FUNCEX; IBGE; SECEX/MDIC

O Gráfico 1 ilustra a relação do preço no período de 1990 a 2002

GRÁFICO 1 – Evolução do preço do café

050.000

100.000150.000200.000250.000300.000

1985 1990 1995 2000 2005

Anos

Preç

o - U

S$

(milh

ões)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 3 Observa-se que após a abertura comercial os preços tiveram uma oscilação com tendência de alta até 1997, que é o preço mais alto da série. Porém, de 1997 a

110

2002, a série apresenta tendência de queda sendo a média de 2002 inferior a de 1990. O Gráfico 2 ilustra a relação da quantidade no período de 1991 a 2000 com tendência de queda da produção até 1997 quando então inverte a trajetória.

GRÁFICO 2 – Evolução da quantidade produzida do café

0

1000

2000

3000

4000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

Anos

Qua

ntid

ade

(100

0 t)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 3 O Gráfico 3 ilustra a variação percentual do preço do café de 1990/91 a 2000/02 e a variação da quantidade referente ao período 1991/92 a 1998/1999.

GRÁFICO 3 – Variação percentual do preço e da quantidade de café

-50.0

0.0

50.0

100.0

0 5 10 15

Variação % do Preço Variação % da Qtde.

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 3 A Tabela 4 ilustra a cotação do café na Bolsa de Nova Iorque referente aos anos 2001 e 2002, comprovando mais uma vez uma queda no preço internacional do café.

111

TABELA 4 – Commodities Soja em grãos *

US$ cents/bushel Açúcar **

US$ cents/LBS-peso

Café em grãos ** US$

cents/LBS-peso

Suco de laranja ** US$

cents/LBS-peso JAN/01 480,51 10,11 66,34 77,37 JAN/02 435,57 7,43 47,78 88,49

FONTE: Suma Econômica, p. 39, 2002. NOTA: * Bolsa de Chicago ** Bolsa de Nova Iorque Sendo assim, a hipótese de que o preço da commoditie café tende a cair nos próximos anos é confirmada, isto é, em 1997 o preço começa a cair e a produção a aumentar. 3. Soja O Mercado da soja é muito animador para o produtor brasileiro principalmente quando a produção americana cai. A previsão de 48 milhões de toneladas de soja brasileira é diagnosticada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para safra 2002/03. Com a desvalorização do real o mercado externo é um atrativo muito importante para a economia brasileira, mas por outro lado, os preços dos insumos ficam mais caros, uma vez que são cotados em dólar. Com o desempenho e expectativa em alta os produtores de soja estão otimistas. Um bom exemplo é o Grupo Maggi, que investiu na aplicação de tecnologia em insumos, obteve uma produtividade mais alta do Brasil, cerca de 57 sacas/há.36 Desse modo a estimativa para a exportação da soja é por volta de US$ 5 bilhões o que vem a contribuir com um superavit na Balança Comercial. Contudo não podemos esquecer que a média nacional é de 39,7 saca/ha chegando até 50 sacas/ha no cerrado usando insumos apropriados. Com os dados da Tabela 5 observa-se que a produção está nos Estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Já os países consumidores em grãos são os Países Baixos, Espanha e Alemanha. Para o Farelo, Países Baixos, França, Alemanha e Espanha. Para o óleo, o Irã e a China.

36 Sacas por hectare.

TABELA 5 – SALDO COMERCIAL DA SOJA 1991-2000

Após a abertura comercial os dois primeiros anos do preço da commoditie soja teve queda para depois seguir uma trajetória ascendente (até 1996) quando então volta a seguir a trajetória decrescente. A Tabela 6 exibe a série visualizada nos Gráficos 4 e 5.

TABELA 6 – Soja: preço, quantidade e variação Commodities - soja em grão

Preço / tonelada métrica - EUA - Anual - US$

Ano Preço Var (%) Qtde. Var (%) 1990 246.75 - - - 1991 239.562 -2.9 15395 26.1 1992 235.517 -1.7 19419 18.7 1993 255.25 8.4 23042 8.8 1994 252.833 -0.9 25059 3.5 1995 259.25 2.5 25934 -10.6 1996 304.5 17.5 23190 12.8 1997 295.417 -3.0 26160 19.9 1998 245.417 -16.9 31370 -1.9 1999 199.583 -18.7 30765 3.6 2000 211.25 5.8 31887 - 2001 195.5 -7.5 - - 2002 - - - -

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados: IPEADATA; IFS; CECEX/MDIC; CONAMA

O Gráfico 4 mostra uma tendência de alta dos preços até 1996 para depois seguir uma trajetória de queda.

114

GRÁFICO 4 – Evolução do preço da soja

0

100

200

300

400

1985 1990 1995 2000 2005

Anos

Preç

o US

$ (A

nual

)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 6

O Gráfico 5 mostra a tendência de aumento da produção a partir da abertura comercial.

GRÁFICO 5 – Evolução da quantidade produzida da soja

0

10000

20000

30000

40000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

Anos

Qua

ntid

ade

(100

0 t)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 6 O Gráfico 6 mostra a relação entre a variação percentual da quantidade produzida e a variação percentual dos preços.

115

GRÁFICO 6 – Variação percentual do preço e quantidade da soja

-30.0-20.0-10.0

0.010.020.030.0

0 2 4 6 8 10 12

Variação % do Preço Variação % da Qtde.

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 6 A Tabela 4 ilustra a cotação da soja na Bolsa de Chicago referente aos anos 2001 e 2002, comprovando mais uma vez uma queda no preço internacional da soja. Logo, com o aumento da produção após a abertura comercial e uma seqüência de queda nos preços a partir de 1997, a hipótese de que o preço da commoditie soja tenha uma trajetória de queda para os próximos anos é confirmada. 4. Açúcar O mercado do açúcar vem crescendo consideravelmente principalmente depois da abertura comercial. Porém, não se pode esquecer da enorme influência da cana-de-açúcar com nosso potencial energético, principalmente como combustível. O álcool produzido pelas usinas abastece o mercado nacional onde já manteve cerca de 90% da frota nacional de automóveis com esse combustível. A Tabela 7 fornece a série de dados de 1990 a 2002 e a Tabela 8 a exportação em mil toneladas entre 1991 a 2000. Dentre os grandes produtores destaca-se os Estados de São Paulo, Alagoas e Paraná e as principais nações compradoras, como a Rússia, os Emirados Árabes Unidos, Irã, Arábia Saudita e Marrocos. A Tabela 9 mostra a média dos preços anuais da série da Tabela 7 conjuntamente com os dados da quantidade em 1000 toneladas fornecido pela Tabela 8 e a variação do preço e quantidade do açúcar.

TABELA 7 – Série preço da commoditie açúcar (1990 – 2002) Exportações - setor: açúcar - (FOB) - Mensal - US$(milhões)

1990 01 45.8 1991 01 53.2 1992 01 49.2 1993 01 59.8 1994 01 52 1995 01 145.7 1996 01 112.8 1990 02 71.8 1991 02 57.5 1992 02 59.4 1993 02 41.6 1994 02 11.7 1995 02 138 1996 02 51.1 1990 03 66.8 1991 03 50.2 1992 03 56.9 1993 03 29.8 1994 03 30.9 1995 03 73.8 1996 03 51.1 1990 04 53.2 1991 04 35 1992 04 44.8 1993 04 43.1 1994 04 30 1995 04 101.6 1996 04 47.5 1990 05 39.9 1991 05 17.7 1992 05 29.5 1993 05 60.2 1994 05 50.6 1995 05 108.6 1996 05 74.8 1990 06 38.6 1991 06 6.9 1992 06 21.4 1993 06 33.3 1994 06 101.2 1995 06 104.9 1996 06 133 1990 07 22.3 1991 07 15.2 1992 07 27.9 1993 07 58.9 1994 07 139.3 1995 07 209.4 1996 07 195.6 1990 08 34.6 1991 08 17.6 1992 08 31.6 1993 08 88.5 1994 08 175.6 1995 08 259.7 1996 08 222.3 1990 09 32.8 1991 09 9.2 1992 09 52.5 1993 09 83 1994 09 123.1 1995 09 214.9 1996 09 210.2 1990 10 12.4 1991 10 18.4 1992 10 67.4 1993 10 101 1994 10 130.7 1995 10 215.5 1996 10 206.7 1990 11 24.9 1991 11 56.5 1992 11 65 1993 11 104.4 1994 11 90.9 1995 11 206.6 1996 11 195.9 1990 12 91.1 1991 12 107.2 1992 12 95.3 1993 12 84.5 1994 12 57.4 1995 12 141.5 1996 12 107.9

1997 01 124.9 1998 01 253.9 1999 01 118.7 2000 01 81.5 2001 01 229.6 2002 01 148.3 1997 02 31.5 1998 02 132.4 1999 02 144.9 2000 02 115.5 2001 02 74.3 2002 02 127.9 1997 03 45.2 1998 03 84.7 1999 03 109.2 2000 03 32.6 2001 03 116.1 2002 03 65.4 1997 04 44.5 1998 04 93.6 1999 04 99.8 2000 04 12.7 2001 04 71.8 2002 04 53 1997 05 71.5 1998 05 61.5 1999 05 130.8 2000 05 11.6 2001 05 78.5 2002 05 90.3 1997 06 164.1 1998 06 182.3 1999 06 187.1 2000 06 67 2001 06 163.3 2002 06 186.9 1997 07 215.6 1998 07 209.1 1999 07 212.9 2000 07 153.7 2001 07 239.8 2002 07 229.8 1997 08 220.9 1998 08 150.4 1999 08 159.6 2000 08 143.5 2001 08 288.7 2002 08 221.9 1997 09 201.6 1998 09 236.6 1999 09 178.3 2000 09 92.6 2001 09 292.2 2002 09 330.8 1997 10 236.4 1998 10 178.3 1999 10 163.4 2000 10 173.3 2001 10 291.3 2002 10 270.5 1997 11 167.9 1998 11 175.1 1999 11 170.2 2000 11 166.8 2001 11 281.7 1997 12 245.7 1998 12 182.9 1999 12 235.8 2000 12 148.6 2001 12 151.9

FONTE: IPEADATA; FUNCEX

TABELA 8 - Saldo comercial da cana-de-açucar 1991-2000

TABELA 9 - Açúcar: preço, quantidade e variação Ano Preço Méd Var (%) Qtde. Var (%) 1990 44.517 - - - 1991 37.050 -16.8 980.9 37.0 1992 50.075 35.2 1343.8 59.8 1993 66.675 33.2 2148 27.7 1994 82.783 24.2 2742.9 75.0 1995 160.017 93.3 4800 -14.8 1996 134.075 -16.2 4090.3 -6.0 1997 147.483 10.0 3844.2 24.7 1998 161.733 9.7 4792.2 63.3 1999 159.225 -1.6 7826.9 -44.5 2000 99.950 -37.2 4344.08 - 2001 189.933 90.0 - 2002 172.480 -9.2 - -

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados: IPEA-DATA; FUNCEX; IBGE; SECEX/MDIC

Pelo Gráfico 7 é visível a tendência de alta nos preços desde a abertura comercial.

GRÁFICO 7 – Evolução do preço do açúcar

0

50.000

100.000

150.000

200.000

1985 1990 1995 2000 2005

Anos

Preç

o - U

S$

(milh

ões)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 9 Pelo Gráfico 8, a tendência de alta na produção é verificada, exceto pelo ano de 2000.

119

GRÁFICO 8 – Evolução da quantidade produzida de açúcar

02000400060008000

10000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

Anos

Qua

ntid

ade

(100

0 t)

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 9 O Gráfico 9 mostra a variação percentual do preço e da quantidade de açúcar.

GRÁFICO 9 – Variação percentual do preço e da quantidade

-100.0

-50.0

0.0

50.0

100.0

150.0

0 5 10 15

Variação % do Preço Variação % da Qtde.

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da Tabela 9 A Tabela 4 ilustra a cotação da soja na Bolsa de Nova Iorque referente aos anos 2001 e 2002, mostrando uma queda no preço internacional do açúcar. Contudo o estudo mostra uma posição contrária a hipótese inicial e a Tabela 4. O preço da commoditie açúcar não mostra uma trajetória de queda para os próximos anos, e sim, o inverso.

120

5. Suco de Laranja Com grande destaque nos agronegócios brasileiros, o suco de laranja tem a maior fatia do mercado internacional. Isso por um lado vem a incomodar o EUA que com geadas vê-se obrigado a importar do Brasil. A boa qualidade do suco brasileiro faz com que muitos países como a Holanda, Bélgica e os Estados Unidos37 importem sucos brasileiros e reprocessem, misturam e embalam com outros sucos e reexportam, tirando “nossos” mercados. O Gráfico 10 mostra a liderança brasileira na produção do suco de laranja.

GRÁFICO 10 – Brasil: liderança na produção

56%

1% 2%

39%

2%

FONTE: BOTEON, (2000) O mercado para suco de laranja é caracterizado sob três tipos: suco concentrado congelado, suco integral pasteurizado e o suco fresco natural. Interessante análise é feita no artigo do BNDES (1996) e no Gráfico 11, onde “nos últimos cinco anos, o custo de industrialização do suco brasileiro vem apresentando crescimento devido aos maiores custos de colheitas e transporte, implicando um aumento da ordem de 12,5% por tonelada de suco. Ainda assim, o custo por caixa brasileira continua inferior ao norte-americano. Isto é importante na medida em que o suco de laranja, apesar as diferenciações de produto, é uma commodity, e a competição se dá via preço”.

37 As importações americanas de suco de laranja são denominadas de FCOJ.

Legenda: Itália (1%); México (2%); Espanha (2%); EUA (39%); Brasil (56%)

121

GRÁFICO 11 –US$ por caixa de laranja para processamento

FONTE: BNDES (1996); COINBRA – FRUTESP (1995) Porém “de 1988 a 1990 os preços internacionais do suco estiveram em alta, com um preço por caixa pago ao produtor . A partir de 1991, os preços internacionais entraram em queda, o que provocou um crescente endividamento dos produtores junto a indústria, causando insatisfação em relação ao contrato de vigência” (BNDES, 1996). Isto é observado no Gráfico 12.

GRÁFICO 12 – Preços internacionais versus contratos de participação

FONTE: BNDES (1996); COINBRA/ABECITRUS Mas, para os anos posteriores, o Mercado Futuro de Suco de Laranja Concentrado vem demonstrando queda nos preços em virtude do aumento da safra americana e a espanhola, embora o Brasil ainda tenha a maior participação mundial. Porém “ao se observar o histórico do preço do suco concentrado na Bolsa de Nova Iorque, vê-se claramente que existe uma redução nesses preços, de forma mais acentuada a partir de 1993 (gráfico 1)” (MEDEIROS, 2002). De acordo com o Gráfico 13 (que é o Gráfico 1 da citação acima), pode-se observar que com a abertura comercial em 1990, não foi possível mudar a trajetória de tendência de queda dos preços da commoditie suco de laranja. Segundo Carrer

122

(2002), “o câmbio favorável às exportações não está ajudando a ampliar as vendas de suco concentrado de laranja para o exterior”. Contudo a Tabela 4 apresenta um aumento de preço de janeiro de 2001 para 2002 na cotação da Bolsa de Nova Iorque.

GRÁFICO 13 – Tendência de queda no preço do suco de laranja

Gráf. 1 - Evolução dos preços do suco de laranja concentrado. Bolsa de Nova Iorque. 1980/2001

y = -37,653x + 2163,2

-

500,00

1.000,00

1.500,00

2.000,00

2.500,00

3.000,00

1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000

US$

/ t (

med

ia a

nual

)

preço Linear (preço)

FONTE: MEDEIROS, (2002)

Analisando a Tabela 10 pode-se observar um aumento das exportações de 1991 a 2000, com exceção de 1995. Assim, o maior incentivo à cultura da laranja e conseqüente produção do suco, é o fenômeno concorrencial em outros países. Os principais Estados produtores são o São Paulo, Bahia, Sergipe e Minas Gerais. Os mercados internacionais de maior destaque são Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Estados Unidos, Japão e República da Coréia. Na Balança comercial do suco de laranja, as importações são desprezíveis se comparadas com as exportações, demonstrando mais uma vez outro potencial da agricultura brasileira.

TABELA 10 - SALDO COMERCIAL DA LARANJA E SUCO DE LARANJA 1991-2000

124

6. Conclusão O estudo deste artigo mostrou a capacidade e potencialidade brasileira com suas commodities. Mesmo com pressões de países desenvolvidos e com uma política voltada de subsídios e refinamento (mistura) do suco de laranja para reexportação, os produtores nacionais investem na produção e tecnologia. Contudo, como colocado na hipótese inicial que as quatro commodities tenderiam a ter queda nos preços a partir dos próximos anos, segundo as séries verificadas conclui-se que o preço do café tende a cair é confirmado, isto é verificado a partir de 1997. Para a soja, com o aumento da produção após a abertura comercial e uma seqüência de queda nos preços a partir de 1997, o preço apresenta uma trajetória de queda para os próximos anos. A hipótese inicial não é verificada no caso do preço do açúcar onde mostra uma trajetória de alta para os próximos anos. Para o suco de laranja, pois segundo Carrer (2002)

As exportações neste ano safra deverão somar 1,1 milhão de toneladas, volume que vem se repetindo há alguns anos. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus), Ademerval Garcia, o Brasil tem avançado pouco na conquista de novos mercados e sofre forte concorrência em mercados tradicionais, como dos Estados Unidos e Europa. (...) O México e a Costa Rica, principalmente, vêm ganhando espaço nas exportações e concorrem com o Brasil, o maior produtor mundial, com 50% de todo o suco produzido no mundo.

Novamente, a hipótese inicial deste artigo vem a confirmar uma tendência de queda no preço da commoditie suco de laranja em virtude de novos produtores. Como solução, uma política voltada eficientemente para defender os interesses nacionais diante as economias que sobrevivem de subsídios governamentais na qual impedem uma justa competição. Talvez o Brasil tenha êxito em impor algo semelhante. Porém o problema será verificado nas dificuldades em sustentar preços mais altos a partir de 2003 levando em conta o aumento da produção com exceção da commoditie açúcar. Uma outra solução é a busca de novos mercados, a sua manutenção e credibilidade (como a China que aumentou a importação de suco de laranja em 1.500% a partir de 2000), onde a produção será absorvida rapidamente e o preço tende a aumentar. Ainda assim, um planejamento de redução das barreiras protecionistas com alguns países importadores faz parte de uma estratégia para o novo Ministro da Agricultura.

125

7. Referências BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - 1996. <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/setorial/>. Acesso em 11/01/2003. BOTEON, M. Aumento da produção Mundial de Suco. <http://pa.esalq.usp.br/> Acesso em 10/01/2003. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento - 2002. Cai a produção americana de soja. Suma Econômica. P. 36-37. Set 2002. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/>. Acesso em 10/11/2002. CARRER, N. J. Suco de laranja mantém média de exportações. Disponível em: <http://www.socitrus.com.br/pomar.htm>. Acesso em 12/01/2003. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2002b. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em 07/01/2003. MEDEIROS, N. H. O Mercado de Suco Concentrado de Laranja e os Agronegócios Brasileiros. In: Texto para discussão – seminário das quintas – Programa de pós-graduação em economia, 28, 2002. UEM: Maringá, 2002. VILLELA, G. Derriça Global. Panorama Rural. Ano II, n. 27, p. 28-36 – mai 2001.

126

127

ARTIGO 8

Pré-condições para a retomada do crescimento sustentável38

Resumo Este artigo visa a apontar os principais objetivos para a retomada do crescimento nacional. Iniciando com uma análise histórica dos planos governamentais que levaram o crescimento e conseqüente desenvolvimento brasileiro, analisando os pontos de maior planejamento, ou seja, os desequilíbrios nas Transações Correntes com o exterior, os desníveis regionais, incluindo o desemprego, a repartição da renda e da riqueza e a educação. Palavras-chave: crescimento, políticas regionais, educação. 1. Análise Histórica Fazendo uma retrospectiva por volta da metade do século XX até a década de 80 é de suma importância para detectar-se a alavancagem do processo de crescimento. Em 1945, Getúlio Vargas fez do Brasil o Estado empreendedor, no que tange a recursos minerais e indústrias estratégicas, como o Conselho Nacional de Petróleo, a Companhia Siderúrgica Nacional (Usina de Volta Redonda), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Companhia do Vale do Rio Doce. O Plano Salte, criado no governo de Eurico Gaspar Dutra, em 1948, foi o primeiro plano modelo econômico brasileiro. Elaborado pelo Departamento do Serviço Público, tinha como prioridades a saúde, alimentação, transporte e energia. Com a volta de Getúlio Vargas em 1951, o Brasil deu mais um passo ao desenvolvimento com a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE),

38 Artigo desenvolvido 2003.

128

criação da Eletrobrás, empresa estatal geradora de energia elétrica e com a criação da Petrobrás, empresa estatal petrolífera, onde tinha o monopólio da extração e refinação de petróleo. O primeiro grande plano de desenvolvimento posto em prática foi o Plano de Metas. Elaborado e executado pelo governo Kubitschek (1956/61). O plano partiu da concepção de que o Estado deveria criar condições necessárias e suficientes para que as empresas privadas desenvolvessem indústrias de transporte, setores agrícolas e pecuária, isto é, industrialização, expansão das oportunidades de emprego no setor dinâmico-urbano, identificação de pontos de estrangulamento existentes, pólos de germinação de crescimento, catalisar recursos e orientar os projetos decorrentes das metas setoriais e criação de instituições de fomento. O Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social foi elaborado para o período de 1963 a 1965 no governo João Goulart. Tinha como objetivo planejar um desenvolvimento econômico rápido e simultaneamente agilizasse uma rápida estabilização dos preços. O Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) foi criado em novembro de 1964-66. Elaborado no governo de Castelo Branco, tinha como objetivo interpretar o desenvolvimento recente do país e formular uma política capaz eliminar as fontes internas de estrangulamento que haviam bloqueado o crescimento econômico desde 1962.

O Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) foi estruturado no período de 1970 a 1973, no governo Médici, elaborado pelo Ministério do Planejamento, tinha como finalidade o desenvolvimento até o final do século, ou seja, ser uma sociedade capitalista desenvolvida. No governo Geisel (1974-79) o II PND foi posto em prática para vigorar entre 1975 a 1979. O plano era coerente com estratégia do crescimento estabelecida nos planos anteriores. Seu ponto forte era que o Brasil deveria ser um país de potência emergente. No governo Figueiredo (1979-85), todavia iniciando simultaneamente ao 2ª choque do Petróleo, procurou manter a continuidade da política econômica do II PND, mas implementado o III PND para o período 1980-85. A implementação ocorreu em uma flexibilidade tanto maior que o plano anterior para os setores energético, agrícola e exportador.

2. A Volta do Planejamento Entre a década de 1950 e 1980 foi promovido o crescimento e

desenvolvimento do Brasil. Com o fim do Estado do Bem-Estar e início do Estado Mínimo, somente agora, em 2003, a área de planejamento do governo Lula traça horizontes para a pré-condição para a retomada do crescimento sustentável. Porém “o Estado não pode limitar as suas ações a administrar o curto prazo e as questões emergenciais, mas deve se pautar por uma visão estratégica de longo prazo, articulando interesses e coordenando investimentos públicos e privados que desemboquem no crescimento sustentado” (PT, 2002).

129

Por outro lado, para que haja uma retomada do crescimento, é importante manter a estabilidade, isto é, “equilíbrio fiscal sustentado, estabilidade de preços, superação da vulnerabilidade externa, aumento da poupança interna e respeito às regras de mercado” (CNI, 2003). Segundo Gomes (2003) “O índice de inflação IPCA medido pelo IBGE fechou o ano de 2002 com variação de 12,5%. O resultado é quase o dobro do registrado em 2001 (7,6%) e bem acima da meta revista com o FMI de 11%”. Contudo, o alicerce para este crescimento vem a ser uma política industrial de forma que a mesma tenha uma política voltada para a inovação, exportação e competição na economia mundial. Porém a estrutura política do Brasil é antiga e precisa de reformas. A reforma tributária e a previdenciária são as prioritárias, pois a primeira visa uma melhor e mais eficiente forma de arrecadação e até mesmo um tratamento tributário diferenciado para a redução da desigualdade regional.39 A segunda reforma, visa a eliminação ou redução do déficit previdenciário, principalmente no setor público. Para crescer também é necessário financiamento acessível que atualmente inibe o empreendorismo, pois com altas taxas de juros, grande spreads bancários e escasso crédito de longo prazo. Importante informação é fornecida por Prates (2003): “mas adiante (talvez já no segundo trimestre), a redução da taxa Selic e dos juros de prazo mais longo (viabilizada pelo recuo da inflação e estabilidade da taxa de câmbio), a continuidade do estímulo do câmbio sobre as exportações líquidas, e de modo geral, as expectativas positivas dos agentes econômicos sobre a economia, garantiriam a retomada do crescimento”. No que diz respeito ao meio ambiente, uma convivência harmônica com o desenvolvimento, assegurando e incentivando o uso de tecnologias limpas e que não agridem tanto o meio ambiente. Competitividade na infra-estrutura, principalmente ao sistema de escoamento da produção, seja por custos semelhantes aos padrões internacionais, seja pela pluralidade de opções (sistema portuário, ferroviário, rodoviário e aéreo). Contudo a dependência de recursos externos gera barreiras para esta audaciosa proposta. Mas o Brasil tem meios de sobressair, através das instituições de fomento, pois segundo as proposta do PT (2002), o novo governo diz:

apesar da crescente desnacionalização e privatização do setor financeiro brasileiro, há ainda elementos neste sistema que podem e devem ser recuperados na construção de um novo modelo de financiamento capaz de alavancar o crescimento interno e reduzir a dependência de recursos externos. O primeiro deles se refere às instituições especiais de crédito, tais como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (BASA). Esse tipo de instituição, presente também nos países capitalistas avançados, é essencial para o financiamento de atividades de maior risco (agricultura, inovação tecnológica, pequenas e médias empresas, comércio exterior) ou de setores com retorno de mais longo prazo (infra-estrutura, habitação).

39 O ICMS já faz essa distinção.

130

A falta de uma poupança interna leva o país a utilizar recursos externos. Embora não muito significativa (em volume monetário), as poupanças compulsórias vem ‘quase’ fazer esse papel. Como exemplo, o FGTS, PIS/PASEP e FAT constituem fundos para o crescimento, pois o FGTS é usado para financiar a casa própria e o FAT para pequenos projetos para micro e pequenas empresas. O próprio BNDES vem fomentado muitos setores, porém a incerteza de uma estabilidade e prosperidade faz com que o crédito muitas vezes não seja transacionado. Sendo assim, detectado um dos maiores problemas, a ação governamental parte para a solução deste problema objetivando também a criação de empregos, que irão gerar salários, que aumentaram o consumo, que reduzirão a taxa de desemprego, aumentarão a arrecadação de impostos e os fundos mencionados acima tenderão a aumentar sua captação, fomentando crédito para o crescimento nacional, a taxas mais baratas e de longo prazo. 3. Produto Nacional O fluxo total de bens e serviços finais produzidos pela economia na década passada deixou de acompanhar a nação índice, ou seja, os Estados Unidos. Enquanto este teve êxito em suas atividades (primária, secundária e terciária), o Brasil passou (e ainda passa) por modificações estruturais, como a abertura comercial no início da década de 90 e principalmente no aspecto inflacionário. 4. Desequilíbrio nas Transações Correntes No que diz respeito às Transações Correntes, a Balança Comercial permaneceu deficitária no primeiro governo FHC e nos dois primeiros anos do segundo. Essa iniciativa tomada pelos técnicos do governo foi para reduzir drasticamente a inflação e eliminar as políticas de substituição de importação, que por anos deixaram obsoletos os parques industriais brasileiros, seja pela falta ou desinteresse do incentivo tecnológico ou mesmo por causa do paternalismo, protecionismo e subsídios fornecido de forma ‘coronelista’ e arbitrária a setores considerados estratégicos. Ainda assim, no item Serviços, subitem Renda de Capitais (juros, dividendos e lucros), o caráter deficitário deve-se ao pagamento de juros relativos a Dívida Externa no qual o déficit público faz-se presente de forma a levar o uso excessivo da Poupança Externa. Segundo Gutierrez (2003), “a dívida líquida do setor público consolidado (governo central, estados e municípios e empresas estatais) atingiu em novembro 57,5% do PIB depois de ter alcançado o pico do Plano Real em setembro de 2002 (63,6%)”. Contudo, depois da desvalorização do Real em 1999, superávits comerciais começaram a aparecer, porém o histórico déficit na conta Serviços é um desafio a

131

sua redução. A Tabela 1 ilustra as transações correntes, a dívida externa e o PIB per capita.

TABELA 1 – Perfil brasileiro de 1994 a 2002

FONTE: IPEA-DATA, (2003) 5. Desníveis Regionais Adotar políticas macroeconômicas com modelos de crescimento para um país com estrutura continental não é uma solução de grande sucesso porque envolve o caráter centralizador. Políticas regionais atendem melhor esse pré-requisito de forma a identificar mais de perto problemas de ordem estrutural, como por exemplo, a infra-estrutura, a educação e a tecnologia que são divergentes e carentes em cada Estado brasileiro, além das vocações que fazem as diferenças. No Brasil, as estruturas de distritos industriais e clusters vêm atendendo o que se denomina de crescimento sustentável, pois promove o crescimento do PIB per capita da região, reduz o desemprego40 e desenvolve um padrão tecnológico próprio e barato, isto é, absorve a capacidade instalada como as instituições de ensino para alavancar o desenvolvimento tecnológico aproveitando as bases industriais já instaladas para a promoção do crescimento econômico. 6. Repartição da Renda e da Riqueza O indicador mais usado para medir a distribuição de renda é o Coeficiente de Gini. Este índice relaciona valores no intervalo de zero a um, sendo quanto mais próximo de um, pior a distribuição. De 1980 a 2000 a melhor distribuição foi em 1992 com 0,583 e a pior foi em 1989 com 0,637, sendo os dados do IPEA (2002). Comparando o Brasil com países continentais pode-se verificar que esse problema pode ser reduzido como é ilustrado na Tabela 2.

40 Em dezembro de 2002, segundo dados do IPEADATA (2003), alcançou 18,5% para RMSP.

Período Balança comercial - (FOB) – saldo (US$)

Dívida Externa (US$)

PIB per capita (US$)

1994 10.466,5000 148.295,2000 3.451,7628 1995 -3.466,0000 159.256,2000 4.428,1139 1996 -5.599,0000 179.934,5000 4.805,4057 1997 -6.753,0000 199.997,5000 4.937,9863 1998 -6.575,0000 241.644,0700 4.751,9957 1999 -1.199,0000 241.468,8400 3.161,3597 2000 -698,0000 236.156,6100 3.491,1042 2001 2.642,0000 226.067,2532 2.921,8494 2002 13.127,6000 1º T 226.961,7

2º T 235.815,3 3ºT 229.224,1

132

Outro indicador muito difundido é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em conta a educação, a longevidade e o PIB per capita. Em 2000, segundo os dados do IPEA (2002), o Brasil ficou em 73º lugar. Mas considerando os países com mais de 50 milhões de habitantes, a colocação nacional ficou em 10ª posição, com índice de 0,757. O “IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano considerado baixo; os países com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH maior que 0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto” (Idem, 2002).

TABELA 2 - Coeficiente de Gini

Ano País Desenvolvido

País Sub-desenvolvido

1999 Argentina 0,480 (1) 2000 Brasil 0,609 (3) 1994 Canadá 0,315 (2) 1997 E.U.A. 0,408 (2)

FONTE: Elaboração própria com base nos dados: (1) BID (2001), (2) BIRD (2000/01) e IBGE (2003) A Tabela 3 ilustra o IDH para três nações territorialmente grandes.

TABELA 3 – IDH (2000) Nações IDH México 0,796

Federação Russa 0,781 Estado Unidos 0,939

FONTE: Elaboração própria com dados do IPEA (2002) A educação vem reagindo e apresentado resultados extradiordinários se comparado com anos atrás, pois a taxa de alfabetização reduziu-se e a taxa de matrícula aumentou. Segundo o Banco Mundial (2002):

O Relatório sobre o Desenvolvimento Global 2003 (...) Importantes indicadores sociais do Brasil apresentaram melhoras significativas ao longo dos anos, principalmente nas áreas de educação fundamental e saúde básica. A porcentagem de crianças fora da escola caiu de 18,2% para 3% entre 1992 e 2000; a taxa de analfabetismo teve uma redução de 18,3% para 10,2% no período de 1992 e 2000; e a mortalidade infantil caiu de 47,8 por mil em 1990 para 29,6 por mil em 2000. Essas melhorias estão entre as mais rápidas para qualquer país do mundo, em período semelhante.

Embora o governo anterior obteve pouco êxito na implementação de políticas para a pré-condição da retomada do crescimento, frisa-se destaque a educação, que apresentou avanços significativos comparando com outros governos. A educação é o motor para este desafio. Financiando a educação resulta em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e também a Ciência e a Tecnologia (C&T), ou seja, know-how . A Tabela 4 ilustra a evolução do IHD brasileiro.

133

TABELA 4 – Composição do IDH no Brasil Componentes 1997 1998 1999 2000 Esperança de vida ao nascer 66,8 67,0 67,5 67,7 Taxa de alfabetização 84,0 84,5 84,9 85,2 Taxa combinada de matrícula 80,0 84,0 80,0 80,0 PIB real per capita ( US$ PPC) 6.480 6.625 7.037 7.625

FONTE: IPEA, (2002, Tabela 3) Contudo, uma curiosidade é mostrada na Tabela 1, onde o PIB per capita apresenta queda contra a Tabela 4 onde apresenta uma pequena evolução. 7. Conclusão O Brasil possui pré-condições para a retomada de seu crescimento. Experiências passadas foram relatadas neste artigo, sendo o Plano de Metas e o II PND as mais expressivas. Como qualquer nação subdesenvolvida, o Brasil sofre pelo seu atraso tecnológico e pelas perdas de oportunidades por governos anteriores. A inflação foi a grande responsável pela instabilidade do país por vários anos. Graças a Plano Real, a inflação foi contida e abriu o horizonte para o planejamento seguindo a meta para a estabilidade econômica. No campo da educação, passos extradiordinários foram dados e tende a continuar. A expectativa da população, sobretudo dos empresários é grande e isso leva a nação ao crescimento.

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8. Referências Banco Mundial. Relatório sobre o Desenvolvimento Global 2003 . BRASÍLIA, 21 de agosto de 2002. Disponível em: <http://www.obancomundial.org/>. Acesso em 05/01/2003. Banco Mundial. Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2000/2001. Disponível em: <http://www.obancomundial.org/>. Acesso em 10/03/2001. BID - Banco Internacional de Desenvolvimento - 2001. <http://www.iadb.org>. Acesso em 2001. CNI - Confederação Nacional da Indústria - 2003. Disponível em: <www.cni.org.br/>. Acesso em 26/12/2003. GOMES, C. T. F. F. Análise da Conjuntura Macroeconômica. Economia & Conjuntura. Rio de Janeiro, ano 3 n.36. p.19, jan. 2003. <http://www.ie.ufrj/infomacro.br>. Acesso em 29/01/2003. GUTIERREZ, M. Análise da Conjuntura Macroeconômica. Economia & Conjuntura. Rio de Janeiro, ano 3 n.36. p.22, jan. 2003. <http://www.ie.ufrj/infomacro.br>. Acesso em 29/01/2003. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico - 2000. Resultados do universo: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em: <http://www.gov.org.br/>. Acesso em 06/01/2003. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2002). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>. Acesso em 07/01/2003. PRATES, C. Análise da Conjuntura Macroeconômica. Economia & Conjuntura. Rio de Janeiro, ano 3 n.36. p.3, jan. 2003. <http://www.ie.ufrj/infomacro.br>. Acesso em 29/01/2003. PT - Partido dos Trabalhadores - 2002. Disponível em: <www.partidodostrabalhadores.gov.br/>. Acesso em 18/12/2003.

135

ARTIGO 9

Principais índices de pobreza brasileira41 Resumo A discussão proposta neste artigo é mostrar alguns parâmetros que leva a divulgação dos índices de pobreza. Assim a privação de algumas necessidades básicas para a sobrevivência do indivíduo colabora para o aumento da linha de pobreza. Uma análise empírica é ilustrada para verificar um índice hipotético de pobreza no Brasil para fins de comparação. Também é abordado a análise da distribuição da renda, onde a Curva de LORENZ, o Coeficiente de GINI e o Índice de Desenvolvimento Humano, onde é analisado os Estados brasileiros assim como no país com o resto do mundo. Por fim, um exemplo ilustrativo de distribuição de renda através da Hipérbole de PARETO. Palavras-Chave: Pobreza; Privações; Curva de LORENZ, Coeficiente de GINI, IDH, Hipérbole de PARETO. 1. Introdução No discurso de posse em primeiro de janeiro de 2003, o Excelentíssimo Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, frisou várias vezes o combate à fome e conseqüente a pobreza do povo brasileiro. Segundo o artigo de Lemos (1999), “neste estudo buscou-se construir um Índice de Pobreza (IP) com base no conceito de privações. Para tanto utiliza-se os indicadores: privação de acesso aos serviços de água encanada, de saneamento e de coleta de lixo e privação da renda”.

41 Artigo desenvolvido 2003.

136

De acordo com esse índice é interessante fazer uma regressão para verificar a análise desses dados. Neste estudo é dado ênfase a Curva de LORENZ e conseqüente o Coeficiente de GINI, de forma a comparar dados com economias internacionais, desenvolvidas ou não. Da mesma forma, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), também é alvo de estudo e comparações com outras nações. Para fechar, um modelo da aplicação da Hipérbole de PARETO segundo os dados do Censo do IBGE (2000) de forma a ilustrar uma análise empírica. 2. Horizonte do Desejo A pobreza brasileira vem em conseqüência do “Horizonte do Desejo”, isto é, título do artigo de Santos (1998), onde a privação de uma melhor qualidade de vida aumenta cada vez mais o número de pessoas para a linha da pobreza. Do mesmo autor “o sentimento de privação relativa instala-se precisamente nos interstícios que se expandem ou contraem entre aquilo de que se dispõe e aquilo de que se ambiciona dispor, entre o real cotidiano e o horizonte do desejo”. A pobreza brasileira é também conseqüência do descaso social e da falta de vontade política de governos anteriores. A perspectiva de um horizonte de menores privações parece ser um sonho de tempo infinito. A Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, frisa no Capítulo 3 o Combate à Pobreza, como:

3.1. A pobreza é um problema complexo e multidimensional, com origem ao mesmo tempo na área nacional e na área internacional. Não é possível encontrar uma solução uniforme, com aplicação universal para o combate à pobreza. Antes, é fundamental para a solução desse problema que se desenvolvam programas específicos para cada país, com atividades internacionais de apoio às nacionais e com um processo paralelo de criação de um ambiente internacional de apoio. A erradicação da pobreza e da fome, maior eqüidade na distribuição da renda e desenvolvimento de recursos humanos: esses desafios continuam sendo consideráveis em toda parte. O combate à pobreza é uma responsabilidade conjunta de todos os países (IPARDES, 2001).

Ainda assim, não se poderia deixar de mencionar o consumo, este ligado diretamente a renda, pois:

Supondo solucionado o problema de traduzir as diferenças relativas em valores monetários, a questão converte-se em formular estratégias para a obtenção de renda monetária, cuja tradução material se manifesta nos indicadores do padrão de vida ambicionado. O segredo inicial dessa estratégia foi descoberto por Adam Fergusson, mais uma vez, e encontra-se em radical mudança no horizonte de tempo. Enquanto em sociedades primitivas a taxa de desconto temporal é, por assim dizer, infinita, sendo zero o valor presente de um bem futuro, o consumo tende a ser imediato e a atividade econômica predatória. De onde, nenhuma poupança, nenhum investimento, nenhum aumento sistemático de riqueza, exceto por expropriação de terceiros (SANTOS, 1998).

137

E novamente a Agenda 21 no Capítulo 4, frisa a Mudança dos Padrões de Consumo, como:

4.3. A pobreza e a degradação do meio ambiente estão estreitamente relacionadas. Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais causas de deterioração ininterrupta do meio ambiente são os padrões insustentáveis de consumo e de produção, especialmente nos países industrializados. Motivo de série preocupação, tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios (IPARDES, 2001).

3. Índice de Pobreza Os dados da Tabela 1 foram extraídos da Tabela 5 de Lemos (1999). É de grande observação que os Estados serão analisados pela sua totalidade com exceção da Região Norte, onde o PNAD não pesquisou o Setor Rural. Para facilitar a identificação, considere IP como Índice de Pobreza, PE como Privação da Educação, PA como Privação de Água, PS como Privação de Saneamento, PL como Privação de Lixo e PR como Privação de Renda, todos em percentuais.

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TABELA 1 – Índice de Pobreza dos Estados Brasileiros em 1996. AMOS-TRAS ESTADOS IP (%) PE PA PS PL PR

NORTE 1 Rondônia 25.63 12.64 40.37 19.29 25.09 33.97 2 Acre 29.67 17.55 36.32 46.58 25.21 32.76 3 Amazonas 28.32 15.62 13.21 45.63 25.29 29.47 4 Roraima 20.05 10.24 2.27 30.29 21.96 21.70 5 Pará 38.52 14.22 43.26 53.23 48.16 41.32 6 Amapá 48.69 16.85 30.32 85.16 25.16 27.45 7 Tocantins 46.41 23.32 37.46 51.92 53.00 57.84 NORDESTE 8 Maranhão 59.35 34.68 53.76 69.39 78.38 64.67 9 Piauí 56.33 32.78 41.19 63.37 72.49 64.40 10 Ceará 51.48 30.24 49.59 74.27 50.48 60.79 11 Rio G. Norte 42.27 23.74 23.66 58.15 32.67 52.97 12 Paraíba 47.34 29.55 31.88 66.78 42.55 57.50 13 Pernambuco 43.09 23.72 28.14 53.49 38.65 55.29 14 Alagoas 46.48 36.34 37.44 62.75 37.72 57.01 15 Sergipe 41.32 24.95 23.22 41.88 37.65 54.35 16 Bahia 48.01 28.40 34.83 60.90 50.36 59.47 SUDESTE

17 Minas Gerais 30.32 13.47 20.28 32.06 31.24 39.25 18 Espírito Santo 30.42 14.28 23.73 31.60 37.02 37.17 19 Rio de Janeiro 18.21 8.71 14.16 12.57 14.63 24.56 20 São Paulo 13.21 8.75 6.19 10.87 5.40 17.80 SUL

21 Paraná 31.33 12.39 17.36 51.26 20.51 33.15 22 Santa Catarina 19.84 6.84 28.28 21.39 23.29 24.56

23 Rio Grande Sul 22.60 7.77 21.85 23.95 20.65 29.78

CENTRO OESTE

24 Mato Grosso Sul 29.63 15.52 23.38 12.60 24.43 39.95

25 Mato Grosso 45.63 13.29 37.84 77.78 35.32 39.33 26 Goiás 38.35 15.21 37.39 60.95 27.77 42.77

27 Distrito Federal 14.05 8.45 7.86 7.66 4.20 19.08

BRASIL 28,59 15,89 22,48 36,44 26,91 36,19 FONTE: LEMOS (1999) e IBGE/PNAD (1996)

139

Assim, esses dados analisados econometricamente pelo método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) com 27 amostras (Estados) e 6 parâmetros, tem-se:

Y^ = β1 + β2PE + β3PA + β4PS + β5PL + β6PR Equação (I): Y^ = 3,8101 + 0,1182 PE + 0,0398 PA + 0,2856 PS + 0,1514 PL + 0,2559 PR (1,6805) ( 0,1445) (0,0618) (0,0317) ( 0,0631) (0,1018)

O Coeficiente de Determinação (R²) mostrou o valor de 0,9714 ou 97,14%

da regressão é explicada, que pode ser considerada satisfatório. Para uma análise de teste de significância,42 usa-se os valores entre parênteses, que são os desvios-padrão.

H0: β1 = 0 t1 = 2,2671 > tc (5%, gl=21) = 2,080 Rejeita-se H0 e o teste é estatisticamente significativo. H0: β2 = 0 t2 = 0,8180 < tc (5%, gl=21) = 2, 080 Não rejeita-se H0 e o teste não é estatisticamente significativo. H0: β3 = 0 t3 = 0,6440 < tc (5%, gl=21) = 2, 080 Não rejeita-se H0 e o teste não é estatisticamente significativo. H0: β4 = 0 t4 = 9,0013 > tc (5%, gl=21) = 2, 080 Rejeita-se H0 e o teste é estatisticamente significativo. H0: β5 = 0 t5 = 2,398 > tc (5%, gl=21) = 2, 080 Rejeita-se H0 e o teste é estatisticamente significativo. H0: β6 = 0 t6 = 2,5116 > tc (5%, gl=21) = 2, 080 Rejeita-se H0 e o teste é estatisticamente significativo. Para uma análise do teste F Global43 tem-se: F(5,21) = 142,8316 > Fc (5%,5,21) = 2,68 , o teste F rejeita H0 e é

estatisticamente significativo. Para testar se existe multicolinearidade a regressão será feita por partes de forma a comparar os coeficientes de determinação simples (r²). Assim, Regredindo IP contra: 1) PE obtém-se r² = 0,7500 , sendo t1 = 4,1308 > tc e t2 = 8,6610 > tc 2) PA obtém-se r² = 0,5958 , sendo t1 = 3,5354 > tc e t2 = 6,0714 > tc 3) PS obtém-se r² = 0,7903 , sendo t1 = 4,5915 > tc e t2 = 9,7070 > tc 4) PL obtém-se r² = 0,7518 , sendo t1 = 4,9129 > tc e t2 = 8,7028 > tc 5) PR obtém-se r² = 0,7857, sendo t1 = 1,0169 < tc e t2 = 9,5760 >tc

Logo, como as razões t são altas (exceto em t1 na quinta regressão) e os r² são inferiores ao R², não existe multicolinearidade.

42 Os dados estatísticos foram retirados de GUJARATI (2000). 43 Os dados estatísticos foram retirados de <www.Baseeconomia.cjb.net> (2000).

140

Para análise de autocorrelação, a estatística Durbin-Watson44 apresenta para n = 27 , nível de signficância a 5% e k' = 5, tem-se:

GRÁFICO 1 - Autocorrelação

Autocorre- Incon- ausência de Incon- Autocorre- lação (+) clusão autocorrelação clusão lação (-)

0 di ds 2 4-ds 4-di 4 1,004 1,861 2,139 2,996 O valor DW = 1,8815, está ausente de autocorrelação.

Como seria o índice de pobreza brasileira com menos restrições das privações? Considerando os menores índices dos Estados na Tabela 1 tem-se: 1) PE = 6,84 em Santa Catarina 2) PA = 2,27 em Roraima 3) PS = 7,66 no Distrito Federal 4) PL = 4,20 no Distrito Federal 5) PR = 17,80 em São Paulo

Utilizando a equação (I) obtém-se o índice de pobreza estatístico de 12,09% contra o valor total fornecido pela Tabela 1 de 28,59%, ou seja, é o porcentual da população brasileira restrita as condições mínimas para sair da linha da pobreza, como educação, água, saneamento, lixo e a renda na melhor das hipóteses. Comparando com outras nações, como a República da Coréia do Sul e no Chipre, a água e o saneamento chegam a 100% da população, e para não ir muito longe, a média de educação dos brasileiros não chega a 4,5 anos de estudo contra 8 anos na Argentina. Porém, essa realidade está mudando, pois segundo o Banco Mundial (2002),

O Relatório sobre o Desenvolvimento Global 2003 (...) Importantes indicadores sociais do Brasil apresentaram melhoras significativas ao longo dos anos, principalmente nas áreas de educação fundamental e saúde básica. A porcentagem de crianças fora da escola caiu de 18,2% para 3% entre 1992 e 2000; a taxa de analfabetismo teve uma redução de 18,3% para 10,2% no período de 1992 e 2000; e a mortalidade infantil caiu de 47,8 por mil em 1990 para 29,6 por mil em 2000. Essas melhorias estão entre as mais rápidas para qualquer país do mundo, em período semelhante.

44 Idem rodapé n. 2.

141

4. A Curva de Lorenz Representação gráfica da distribuição de renda usada pela primeira vez em

1905 pelo estatístico norte-americano M. C. Lorenz. Dessa forma, o modelo de LORENZ consiste num gráfico cartesiano, onde

o eixo das abscissas é representada na forma percentual da população, e no eixo das ordenadas, a percentagem da renda no período (em média por um ano), resultando em uma representação gráfica de 45º graus, chamada de reta de eqüidistribuição.

Sendo assim, “a curva que surge então poderá ser assim interpretada: x% das pessoas mais pobres perceberam y% da renda total, ou, ao contrário, y% das rendas mais baixas correspondem a x% de pessoas. A curva serve, portanto, para medir o grau de desigualdade entre os limites opostos da distribuição da renda” (SANDRONI, 1994).

Como exemplo, considere a Tabela 2 a seguir:

TABELA 2 –Exemplo do modelo de LORENZ População Renda

50% 10% (mais pobres) 40% 15% 9% 30% 1% 45% (mais ricos)

100% 100%

5. O Coeficiente de GINI

Utilizando a curva de LORENZ o coeficiente de GINI define como limite o

valor de 0 a 1. Assim, quanto mais o índice tende a zero, melhor será a distribuição da

renda, e conseqüentemente, quanto mais se aproximar de um, pior será a distribuição e a desigualdade.

A forma expressa é a seguinte: Coeficiente de GINI = G = Área .

∆ OAB Onde o numerador é a área hachurada do Gráfico 2 e o denominador é o

triângulo formado pelos pontos OAB.

142

GRÁFICO 2 - Coeficiente de GINI % Renda

1,00,9 A0,80,70,60,50,40,30,2 45º0,1 B

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 % População FONTE: SANDRONI, (1994)

As tabelas 3, 4 e 5 abaixo ilustram alguns índices.

TABELA 3 – Comparações internacionais

(renda por percentis) Economia Ano Coeficiente de GINI Alemanha 1994 30,0 Canadá 1994 31,5 Estados Unidos 1997 40,8 França 1995 32,7 Itália 1995 27,3 Japão 1993 24,9 Reino Unido 1991 36,1

FONTE: Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2000 / 2001. NOTA: Tabela 5 - Distribuição da renda ou do consumo. Banco Mundial.

143

TABELA 4 – Coeficiente de GINI no Brasil Período Renda – desigualdade –

Coeficiente de GINI Anual1960* 0,490 1970* 0,560 1977 0,625 1978 0,604 1979 0,605 1980 0,588 1981 0,587 1982 0,595 1983 0,599 1984 0,593 1985 0,601 1986 0,590 1987 0,603 1988 0,619 1989 0,637 1990 0,616 1991 0,605 1992 0,583 1993 0,604 1994 0,602 1995 0,601 1996 0,602 1997 0,602 1998 0,602 1999 0,596

2000** 0,609 FONTE: IPEA, (2002b) NOTA: * ROSSETTI, (1982); ** IBGE, (2000)

TABELA 5 – Coeficiente de GINI para a América Latina em 1996

Período Coeficiente de Gini Anual Argentina 0,48 Bolívia 0,53 Brasil 0,59 Chile 0,56 Costa Rica 0,46 Equador 0,57 El Salvador 0,51 México 0,55 Panamá 0,56 Paraguai 0,59 Peru 0,46 Uruguai 0,43 Venezuela 0,47

FONTE: Banco Inter-Americano, (1999)

144

Da série da Tabela 4 o coeficiente mais baixo na década de 1990 foi de 0,583 no ano de 1992 (governo Collor). Comparando a Tabela 3 com a Tabela 5, o país com a pior distribuição de renda foi os Estados Unidos com 0,408 que está além da melhor distribuição da América Latina, no caso, o Uruguai com 0,43. No Brasil, em 2000, o índice apontava para 0,609, isto é, muito além do desejável, que seria no mínimo, semelhante a 1960 como 0,49.

6. O Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Uma definição direta sobre o IDH é fornecido pelo IPEA (2002a) como:

O Índice de Desenvolvimento Humano foi criado originalmente para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano considerado baixo; os países com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH maior que 0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) é um órgão de

pesquisa que vem destacando o IDH freqüentemente como se verifica na Tabela 6.

TABELA 6 – IDH Brasil Período IDH

1975 0,644 1980 0,679 1985 0,692 1990 0,713 1995 0,737 1999 0,750 2000 0,757

FONTE: IPEA, 2002(a) Assim o Brasil é considerado como nível médio de desenvolvimento

humano. A Tabela 7 compara o IDH com outras nações, colocando o Brasil na 10ª

posição dos países com mais de 50 milhões de habitantes:

145

TABELA 7 - IDH, População e PIB per capita em 2000 Países IDH Posição População PIB per capita

(milhões) (dólares PPC)

2000 2000 2000 2000

1 Estados Unidos 0,939 6 283,2 34.142

2 Japão 0,933 9 127,1 26.755

3 França 0,928 12 59,2 24.223

4 Reino Unido 0,928 13 59,4 23.509

5 Alemanha 0,925 17 82,0 25.103

6 Itália 0,913 20 57,5 23.626

7 México 0,796 54 98,9 9.023

8 Federação Russa 0,781 60 145,5 8.377

9 Tailândia 0,762 70 62,8 6.402

10 Brasil 0,757 73 170,4 7.625

11 Filipinas 0,754 77 75,7 3.971

12 Turquia 0,742 85 66,7 6.974

13 China 0,726 96 1.275,1 3.976

14 Irã 0,721 98 70,3 5.884

15 Vietnã 0,688 109 78,1 1.996

16 Indonésia 0,684 110 212,1 3.043

17 Egito 0,642 115 67,9 3.635

18 Índia 0,577 124 1.008,9 2.358

19 Paquistão 0,499 138 141,3 1.928

20 Bangladesh 0,478 145 137,4 1.602

21 Nigéria 0,462 148 113,9 896

22 Rep. Dem. Congo 0,431 155 50,9 765

23 Etiópia 0,327 168 62,9 668

FONTE: IPEA, (2002a)

146

Uma interessante comparação é o cruzamento dos dados do Índice de Pobreza da Tabela 1 com o IDH e com o coeficiente de GINI com os Estados brasileiros.

TABELA 8 – Índices de Pobreza por Estado

Amostras Estados IP (%) 1996

IDH 2000

Coefic. GINI

1 Rondônia 0,2563 0,729 0,5750

2 Acre 0,2967 0,692 0,5710

3 Amazonas 0,2832 0,717 0,6110

4 Roraima 0,2005 0,749 0,5640

5 Pará 0,3852 0,720 0,5980

6 Amapá 0,4869 0,751 0,5690

7 Tocantins 0,4641 0,721 0,6120

8 Maranhão 0,5935 0,647 0,6080

9 Piauí 0,5633 0,673 0,6120

10 Ceará 0,5148 0,699 0,6280

11 Rio Grande Norte 0,4227 0,702 0,6080

12 Paraíba 0,4734 0,678 0,5990

13 Pernambuco 0,4309 0,692 0,6180

14 Alagoas 0,4648 0,633 0,6180

15 Sergipe 0,4132 0,687 0,6080

16 Bahia 0,4801 0,693 0,6120

17 Minas Gerais 0,3032 0,766 0,5970

18 Espírito Santo 0,3042 0,767 0,5920

19 Rio de Janeiro 0,1821 0,802 0,5860

20 São Paulo 0,1321 0,814 0,5690

21 Paraná 0,3133 0,786 0,5880

22 Santa Catarina 0,1984 0,806 0,5480

23 Rio Grande Sul 0,2260 0,809 0,5710

24 Mato Grosso Sul 0,2963 0,769 0,6010

25 Mato Grosso 0,4563 0,767 0,6000

26 Goiás 0,3835 0,770 0,6000

27 Distrito Federal 0,1405 0,844 0,6080

BRASIL 0,2859 0,757 0,6090

FONTE: LEMOS, (1999); IBGE/PNAD, (1996); IPEA (2002a) e Censo IBGE, (2000)

De acordo com a Tabela 8, o Estado de São Paulo apresenta o menor Índice

de Pobreza, com 0,1321 e o Distrito Federal é onde melhor apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano, com 0,844. Da mesma forma, o maior Índice de

147

Pobreza, com 0,5935 é o Maranhão e o Estado que pior apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano, com 0,633 é Alagoas.

Quanto ao Coeficiente de GINI, Santa Catarina apresenta o mais baixo com 0,5480 enquanto Ceará apresenta a pior distribuição de renda com 0,6280.

Nota-se que o Nordeste é realmente a parte brasileira onde a carência de infra-estrutura é acentuada.

7. A Hipérbole de PARETO Vilfredo Pareto (1848-1923) destacou-se nos princípios das desigualdades

da repartição da renda. Assim, a economia passa a se preocupar com o lado social mais isolado e mais necessitado, ou seja, “a renda social se distribui sempre entre os indivíduos de acordo com certo padrão universalmente similar: grande número de indivíduos percebe pequeno número se abaixo do nível médio geral, enquanto se localiza nas faixas superiores, percebendo rendimentos acentuadamente acima da média” (ROSSETTI, 1982) .

Assim, PARETO pesquisou na Europa Ocidental de forma a construir modelos estatísticos. Novamente:

O enunciado geral da lei de PARETO baseou-se em indicações estatísticas de diferentes países, a partir das quais o pesquisador de Lausanne construiu apreciável número de séries de distribuição de freqüências adotando como intervalo de classe os diversos escalões de repartição e acumulando descendentemente os dados correspondentes ao número de indivíduos inscritos em cada uma das classes indicadas. A seguir, construiu os gráficos correspondentes, representando nas abscissas as classes de renda e no eixo das ordenadas as freqüências descendentes acumuladas, correspondentes ao número de indivíduos com rendimentos iguais ou superiores aos das classes consideradas (Idem, 1982). Na definição da economia do bem-estar, A economia do bem-estar estuda as condições em que, pode-se dizer, a solução para um modelo de equilíbrio geral é ótima. Isto exige, entre outras coisas, uma distribuição ótima de fatores entre as mercadorias e uma distribuição ótima de mercadorias (isto é, distribuição de renda) entre os consumidores. Diz-se que uma distribuição de fatores de produção é ótima de Pareto se a produção não pode ser reorganizada para aumentar a produção de um ou mais bens sem diminuir a produção de outro bem. (...) Do mesmo modo, diz-se que uma distribuição de bens é ótima de Pareto, se a distribuição não puder ser reorganizada para aumentar a utilidade de um ou mais indivíduos, sem diminuir a utilidade de outro indivíduo (SALVATORE, 1984). Assim a forma45 da hipérbole é: Y = β0 . (X – r)β1

45 Os parâmetros originais são interpretados como A e α, ou seja, A por β0 e α por β1.

148

Onde: X é a variável independente; Y é a variável dependente; β0 e β1 são parâmetros; r é a menor renda da qual a curva começa a desenvolver.

Desprezando r e levando em conta que a curva tem duas assintotas (X = r e

Y = 0; r = 0 uma vez que deslocando o eixo das ordenadas de forma que a menor renda e a origem se coincidem), a forma da hipérbole reduz a:

Y = β0 . (X)β1 No caso do Brasil, de acordo com o Censo do IBGE de 2000, existem

169.799.170 habitantes sendo distribuído conforme a Tabela 9.

TABELA 9 - Famílias por classes de rendimento médio mensal familiar - 1999

Brasil e Grandes Regiões

Até 2 Mais de 2 a 5

Mais de 5 a 10

Mais de 10 a 20

Mais de 20

Sem Rendimento**

Brasil (1) 27,6 32,2 18,6 9,9 5,9 3,5 FONTE: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999 [CD-ROM]. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, (2000) NOTA: ** Exclusive os sem declaração de renda.

Porém para uma análise ilustrativa, existe a dificuldade em conceituar o rendimento médio da primeira (de zero a dois salário mínimo) e da última faixa (mais de vinte salários mínimos). Assim para fins didáticos, ou seja, fazendo a primeira faixa com rendimento igual a média de 0 a 1 SM,46 a segunda faixa com a média de 2 a 5 SM, a terceira faixa a média de 5 a 10 SM, a quarta de 10 a 20 SM, a quinta de 20 a 40 SM e a sexta de 40 a 80 SM. Usando os níveis percentuais da Tabela 9 chega-se a Tabela 10.

46 Salário Mínimo.

149

TABELA 10 – Renda e Indivíduos Renda Nº de (%)

R$ Indivíduos População

100 54675333 32.2

600 31582646 18.6

1500 16810118 9.9

3000 10018151 5.9

6000 5942971 3.5

12000 1697992 1 FONTE: Elaboração própria a partir dos dados do Censo IBGE, (2000)

GRÁFICO 4 – Hipérbole de PARETO para o Brasil pelo Censo de 2000

0100000002000000030000000400000005000000060000000

0 5000 10000 15000

Faixas de renda (R$)

Nº d

e in

diví

duos

(m

ilhõe

s)

Por expressão matemática temos: Y = β0 . (X) -β1 Estabelecendo a forma logarítmica47 e de acordo com a Tabela 10 tem-se: log Y = log β0 . (x) -β1 log Y = log β0 + log (x) -β1 log Y = log β0 - β1 log x LY^ = 21,3600 – 0,6839 LX Equação (II)

47 ROSSETTI descreve como escala dilogarítma.

150

Desse modo o coeficiente β1 determina a inclinação ao qual PARETO definiu como “indicador do grau de desigualdade da repartição da renda”.

Em suas pesquisas apresentou como variação do coeficiente β1 como -1,9 < β1 < -1,2 , sendo a média β1 = – 1,5.

O coeficiente β1 saiu bem diferente do esperado. Contudo, o coeficiente de -0,6839 aproxima-se mais de β1 = – 1,2 do que β1 = –1,9 o que indica uma reta mais inclinada e conseqüente maior desigualdade de renda.

Graficamente:

GRÁFICO 5 – Log da Hipérbole de PARETO – Brasil 2000

1.261.271.281.291.3

1.31

0 1 2 3 4 5

X (log das faixas de renda)

Y (lo

g do

nº d

e in

diví

duos

)

8. Análise Empírica Com base na equação (II) a análise vem a ser: log Y^ = 21,3600 – 0,6839 LX (0,8520) (0,1125)

R² = 0,9021 F(1,4) = 36,8961 gl = 4 n = 6 t1 = 25,0684 t2 = -6,0742 tc = 2,776 DW = 1,4186

Observa-se um coeficiente de determinação admissível e os testes de significância como estatisticamente significativos. O teste F também é significativo uma vez que o valor crítico é Fc (5%,1,4) = 7,71. Para análise de autocorrelação, a estatística Durbin-Watson apresenta para n = 6 nível de signficância a 5% e k' = 1:

151

GRÁFICO 6 - Autocorrelação Autocorre- Incon- ausência de Incon- Autocorre- lação (+) clusão autocorrelação clusão lação (-) 0 di ds 2 4-ds 4-di 4 0,61 1,400 2,60 3,39 Logo, a estatística DW ilustrada no Gráfico 6, não existe autocorrelação.

9. Conclusão

Apesar do estudo ser abrangente e interessante, este artigo mostrou alguns indicadores para ilustrar o grau de necessidade e conscientização que todos devem ter com o bem-estar. A partir da década de 1980 surge o Estado Mínimo, visando revitalizar o processo de acumulação capitalista. Com governos neo-liberais a pobreza acentuou-se e os índices não pouparam a verdade, refletindo a cada ano os assustadores números de um país que por um lado é considerado um das dez maiores economias industriais do mundo e por outro lado um dos piores níveis de distribuição de renda, amparo social e nutricional. O índice de pobreza de Lemos (1999), com análise estimativa, indica 12,09% na melhor das hipóteses para reduzir a privação da educação, a privação de água, a privação de saneamento, a privação ao lixo e privação a renda.

O Coeficiente de GINI no Brasil em 2000 apontou para 0,609, uma evidência da difícil missão em distribuir a renda de uma maneira mais uniforme.

O IDH brasileiro em 2000 foi uma boa surpresa, 0,757 subindo a cada ano. Hoje o Brasil é considerado como nível médio de desenvolvimento humano, e se continuar nessa trajetória, conseguirá ir para o alto nível que é acima de 0,800. Talvez com esse índice, os demais tendem a melhorar no futuro.

Ainda assim, não se pode esquecer de mencionar que o estudo revelou, e que não é surpresa, que os estados nordestinos apresentam o maior nível de distribuição de renda, maior nível de pobreza e mais baixo nível de desenvolvimento humano.

Por fim, um estudo da Hipérbole de PARETO ilustra o perfil da distribuição de renda no Brasil com dados do Censo 2000 de forma didática.

152

10. Referências

BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o Desenvolvimento Global 2003 . BRASÍLIA, 21 de agosto de 2002. Disponível em: <http://www.obancomundial.org/>. Acesso em 05/01/2003. BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2000/2001. Disponível em: <http://www.obancomundial.org/>. Acesso em 10/03/2001. CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992). Curitiba: IPARDES, 2001. 260p. GUJARATI, D. N. Econometria Básica. 3ª ed. São Paulo: Makron Books, 2000. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico - 2000. Resultados do universo: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em: <http://www.gov.org.br/>. Acesso em 06/01/2003. IPARDE - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - 2001. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2001. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>. Acesso em 10/06/2001. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2002a. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>. Acesso em 07/01/2003. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2002b. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em 07/01/2003. LEMOS, J. de J. S. Pobreza Rural e Urbana no Brasil Pós Plano Real. In: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMISTAS E VII CONGRESSO DE ECONOMISTAS DE AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE, 13 – 17, 1999. Rio de Janeiro. CD-ROM... Rio de Janeiro: COFECON, CORECON/RJ, IERJ, SIDECON/RJ, AEALC, 1999. ROSSETTI. J. P. Introdução à Economia. 9ª. ed., rev., atualizada, ampl. São Paulo, Atlas: 1982 SANTOS, W. G. dos. Horizonte do Desejo – privação relativa e o limiar de sensibilidade social. In: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMISTAS E VII CONGRESSO DE ECONOMISTAS DE AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE, 13 – 17, 1999. Rio de Janeiro. CD-ROM... Rio de Janeiro: COFECON, CORECON/RJ, IERJ, SIDECON/RJ, AEALC, 1998.

153

SALVATORE. D. Microeconomia. Introdução à Economia. Coleção Schaum. São Paulo: McGraw-Hill, 1984. SANDRONI, P. Novo Dicionário de Economia. 5ª ed. São Paulo: Editora Best Seler, 1994. Valores Críticos da Distribuição F. Ponto dos 5% superiores. Disponível em: <http://www.baseeconomia.cjb.net>. Acesso em jan. 2000.

154

155

ARTIGO 10

Reciclagem do lixo, um exemplo48 Resumo O presente artigo mostra o impacto da coleta de lixo no Brasil. Levando em conta que um país de 169.799.170 habitantes têm problemas gravíssimos de fome e epidemias (dengue, leptospirose e cólera), levando o homem em situações extremas. O IDH também é abordado para fins educacionais. Ainda assim, o texto apresenta uma abordagem sobre a reciclagem e coleta de lixo citando um exemplo bem sucedido de usina de resíduos sólidos num município paranaense. Como forma de alternativa para estímulo a reciclagem uma proposta de abertura de mercado de ações é fornecida. Palavras-Chave: lixo doméstico, reciclagem, renda. 1. Introdução O sistema de coleta de lixo no Brasil é muito preocupante, principalmente quando a maior parte da população é privada desse direito, ainda mais quando a média diária é de um quilo de lixo por habitante. Porém, o fato de existir somente a coleta de lixo não é sinônimo de um ótimo nível de higienização, mas também de qualidade de vida e melhor convivência com o meio ambiente. De outra forma, quando o lixo é recolhido e depositado em céu aberto, fica a critério da natureza reciclar. Com o crescimento exponencial do lixo doméstico, a natureza fica incapaz de absorver e reciclar, dando início a acumulação de materiais nocivos ao meio ambiente e ao homem, além de animais e pessoas conviverem diretamente com esse meio como a forma mais natural. Assim, três causas são destacadas:

48 Artigo desenvolvido 2003.

156

- crescimento populacional - consumo per capita crescente - mudança tecnológica A população crescendo anualmente, a renda per capita49 aumentando e o consumo de bens oriundos da mudança tecnológica, o hábito de países subdesenvolvidos tende a seguir dos países desenvolvidos. O Gráfico 1 ilustra as principais nações do mundo e seus rejeitos sólidos.

GRAFICO 1 – Rejeitos Sólidos (libras per capita por dia)

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0

Alemanha

Japão

Suécia

Grã-Bretanha

Estado Unidos

Canadá

França

Austrália

FONTE: MCCONNEL e BRUE, (2001) Dessa forma, o lixo gera externalidade, isto é, impactos ambientais negativos na qual pode ser definido por Clemente (2000) como:

A definição de impacto ambiental, contida na Resolução nº 001-86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, é a seguinte: “(...) Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do Meio Ambiente , causadas por qualquer matéria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do Meio Ambiente; a qualidade dos recursos ambientais”.

O mais preocupante de tudo isso é a falta de consciência da população, pois com pouca educação é fácil pensar que o problema só acontece com os outros ou mesmo só nos grandes centros e periferias. Só para se ter uma idéia, a Tabela 1 mostra através do Censo de 2000 o número de domicílios por Estado sob a forma de percentual onde a coleta de lixo é realizada. No Brasil a coleta de lixo não alcança

49 PIB per capita em 2000: US$ 7.625 (FONTE: IPEA).

157

30% como no Estado de São Paulo que conta com 27,82% do lixo coletado, seguido por Rio de Janeiro com 11,25% e Minas Gerais com 10,60%. Os demais Estados estão abaixo de 7,2% sendo Roraima o Estado onde a coleta de lixo é a menor por residência, isto é, somente 0,15%.

TABELA 1 – Quadro comparativo brasileiro Censo Nº de Coleta de lixo IDH 2000 domicílios (%) 2000

Brasil 35320364 100.00 0.757 Rondônia 209994 0.59 0,729 Acre 70331 0.20 0.692 Amazonas 392296 1.11 0.717 Roraima 54736 0.15 0.749 Pará 771644 2.18 0.720 Amapá 72686 0.21 0.751 Tocantins 171492 0.49 0.721 Maranhão 408044 1.16 0.647 Piauí 268229 0.76 0.673 Ceará 1078983 3.05 0.699 R. G. Norte 475145 1.35 0.702 Paraíba 563777 1.60 0.678 Pernambuco 1381843 3.91 0.692 Alagoas 431995 1.22 0.633 Sergipe 303451 0.86 0.687 Bahia 1951385 5.52 0.693 Minas Gerias 3744191 10.60 0.766 Espírito Santo 662620 1.88 0.767 Rio de Janeiro 3972672 11.25 0.802 São Paulo 9824668 27.82 0.814 Paraná 2182804 6.18 0.786 Santa Catarina 1249933 3.54 0.806 R. G. Sul 2538094 7.19 0.809 Mato G. Sul 443759 1.26 0.769 Mato Grosso 445698 1.26 0.767 Goiás 1130059 3.20 0.770 Distrito Federal 519836 1.47 0.844 TOTAL 35320365 100.00 -

FONTE: Censo IBGE, (2000)

158

Levando em conta que o problema do lixo doméstico está diretamente ligado ao nível de educação (Tabela 2), também mostra o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que pode ser definido como:

O Índice de Desenvolvimento Humano foi criado originalmente para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano considerado baixo; os países com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH maior que 0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto (IPEA, 2002).

TABELA 2 - Taxa de analfabetismo das pessoas

de 15 anos ou mais de idade Brasil (1) 13,3 % Norte (2) 11,6 % Nordeste 26,6 % Sudeste 7,8 % Sul 7,8 % Centro-0este 10,8 %

FONTE: Censo50 IBGE, (2000) O nível educacional no Brasil é mais grave nos Estados do Nordeste,

principalmente quanto ao analfabetismo. O Distrito Federal é o Estado que melhor apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano, com 0,844 e o Alagoas é o Estado que pior apresenta o IDH com 0,633. Não é por coincidência que o grau de analfabetismo é tão alto quanto mais baixo é o IDH como por exemplo no Nordeste. Na verdade a pouca vontade política de governos anteriores em lidar com esse problema deixou a desejar. 2. Reciclagem e Coleta Seletiva Novamente a privação a educação leva a falta de instrução e pessoas com baixa escolaridade não se dão conta do problema que é o lixo sob sua forma de recolhimento, tratamento e até mesmo como meio de industrialização, como por exemplo, as usinas de lixo.

Quase 90% do que se joga diariamente pode ser transformado em alguma forma de riqueza. Considerando que o lixo doméstico cresce 5% ao ano e que no Brasil muito pouco se faz ainda para reciclar esse material, o volume do que se desperdiça é razoável. (...) O campo de estudo dos resíduos sólidos é muito vasto e dinâmico, exige dos pesquisadores uma visão global e realista, de tal modo que as pesquisas básicas e a tecnologia possam equacionar e ajudar a resolver problemas. Na maioria das cidades brasileiras, o lixo é irresponsavelmente despejado em “lixões”, verdadeiros centros de transmissão de doenças, pela presença de mamíferos

50 (1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (2) Exclusive a população rural. Obs.: dados parciais da tabela.

159

roedores e outros animais, insetos, aves e do próprio manuseio do lixo pelos catadores (SCHALCH, 1999).

Boa parte da matéria orgânica pode ser reaproveitada sob a forma compostagem onde gerará adubo orgânico de baixo custo. Papel, metal, vidro e plástico são recicláveis e geram receitas. O Gráfico 2 ilustra esse percentual a nível brasileiro.

GRÁFICO 2 – Lixo doméstico no Brasil

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados de SCHALCH, (1999) O sistema de coleta seletiva é uma alternativa simples de recolhimento de lixo porém proporciona habilidade e agilidade na absorção da venda do lixo reciclável. Alguns municípios adotam a coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos. Um bom exemplo é a educação orientada à população a depositar o lixo em lixeiras diferenciada por cores, como verde para vidro, azul para papel, amarelo para metais e vermelho para plástico. A Tabela 3 ilustra como o lixo brasileiro é distribuído.

65%

25%

4% 3% 3%

Legenda: Matéria orgânica (65%), Papel (25%), Metal (4%), Vidro (3%) e Plástico (3%)

160

TABELA 3 – Distribuição do lixo no Brasil por domicílios Lixo Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste Coletado 35.393.331 1.621.792 6.907.879 18.266.171 6.019.897 2.577.592 Coletado por serviço de limpeza 33.263.039 1.478.891 6.015.979 17.430.625 5.866.152 2.471.392 Coletado em caçamba de serviço de limpeza 2.130.292 142.901 891.900 835.546 153.745 106.200

Queimado (na propriedade) 5.029.000 753.344 1.684.181 1.334.799 842.470 414.206 Enterrado (na propriedade) 521.785 50.340 158.280 87.022 174.396 51.747 Jogado em terreno baldio ou logradouro 3.102.584 286.821 2.203.262 411.563 115.182 85.756

Jogado em rio, lago ou mar 193.505 61.070 78.434 43.977 7.532 2.492 Outro destino 554.896 36.545 369.349 80.737 45.580 22.685 FONTE: Censo Demográfico - IBGE, (2000) “A coleta seletiva e a reciclagem não são um ‘modismo ecológico’ nem uma solução única e isolada, já que sua implantação corresponde a uma redução em média de 20% do total de resíduos produzidos diariamente num município” (SCHALCH, 1999). Dessa forma, além do recolhimento doméstico feito periodicamente por caminhões apropriados, um outro caminhão especial passa recolhendo lixo pré selecionado nas residências e escolas. Este lixo será enfardado e comercializado para empresas de reciclagem, gerando receita. Ainda assim, a Agenda 21 no seu artigo 21 em Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos Sólidos e Questões Relacionadas com os Esgotos, diz:

21.3 Os resíduos sólidos, para os efeitos do presente capítulo, compreendem todos os restos domésticos e resíduos não perigosos, tais como os resíduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e os entulhos de construção.

21.4 O manejo ambientalmente saudável desses resíduos deve ir além dos simples depósito ou aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados e buscar resolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os padrões não sustentáveis de produção e consumo (IPARDES, 2001). 3. Modelo de Reciclagem de Lixo A instalação de usina de reciclagem de lixo é extremamente essencial nos municípios brasileiros. Assim, por exemplo, uma usina de porte pequeno51 que é capaz de processar até 5 toneladas de lixo bruto por dia,52 tem um custo53 de R$ 54.105,00 e o sendo o prazo de instalação (entrega) em 55 dias.

51 Dados fornecido gentilmente pela empresa Iguaçumec. 52 Turno de 8 horas.

161

Para uma simples noção, dividindo para uma gestão municipal de quatro anos, o investimento sai por R$ 13.526,30 ou mesmo por R$ 1.127,20 mensais. Um custo de baixa aquisição levando em conta o retorno social e ambiental na qual será proporcionado. Só para se ter idéia do que é constituído uma usina de lixo, a Tabela 4 ilustra os itens necessários.

TABELA 4 – Usina de Lixo Modelo UTM-05

QTDE DESCRIÇÃO

01 01

SISTEMA DE RECEPÇÃO: Moega metálica com capacidade de 1,1 m³ Rastelo manual para alimentação do lixo

01 10 01

SISTEMA DE TRIAGEM (seleção manual) Correia de seleção manual, comprimento de 7m por 1,1 m de largura Container metálico cilíndrico com capacidade 100 litros Carrinho porta-container com duas rodas de borracha

04

SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO Carrinho metálico de distribuição, capacidade 250 litros

01

SISTEMA ELÉTRICO Conjunto de fiação e tubulação

01

SISTEMA DE COBERTURA METÁLICA Cobertura metálica 133 m²

01

SISTEMA DE PRENSAGEM Prensa hidráulica vertical para papel, papelão, plástico fino e PET, latas e alumínio

-- MONTAGEM ELETROMECÂNICA Equipamentos, translado, estadia e alimentação

FONTE: IGUAÇUMEC, (2003) Para a instalação de uma usina de médio porte, isto é, que é capaz de processar até 50 toneladas de lixo bruto por dia54 tem um custo55 de R$ 450.000,00 sendo o prazo de entrega em 120 dias. A Tabela 5 ilustra os componentes necessários a sua instalação. 53 Não inclui obras civis necessárias a instalação dos equipamentos, nem obras complementares como galpões, sanitários, depósitos e cercas. 54 Turno de 8 horas. 55 Não inclui obras civis necessárias a instalação dos equipamentos, nem obras complementares como galpões, sanitários, depósitos e cercas.

162

TABELA 5 – Usina de Lixo Modelo MEC-50 QTDE DESCRIÇÃO

01 01 01

SISTEMA DE RECEPÇÃO: Carregador hidráulico tipo polido Moega metálica com capacidade de 5 m³ Transportador mecânico

01 20

SISTEMA DE TRIAGEM (seleção manual) Correia de seleção manual, de 20m por 1,3 m Container metálico cilíndrico com capacidade 250 litros

01 01

SISTEMA DE TRITURAÇÃO Moinho triturador para lixo, tipo martelo. Transportador mecânico contínuo de correia

01

SISTEMA DE COBERTURA Estrutura metálica de cobertura com 360 m2

01 01

SISTEMA ELÉTRICO Quadro elétrico de comando e proteção Conjunto de fiação e tubulação

03

01

SISTEMA DE PRENSAGEM Prensa hidráulica vertical para enfardamento de papel, papelão, plástico fino e PET Prensa hidráulica horizontal para enfardamento de latas e alumínio

01

01 03

SISTEMA DE PENEIRAMENTO Transportador mecânico contínuo de correia com comprimento de 4,5 m por 0,8m de largura Peneira rotativa cilíndrica Carrinho metálico, capacidade 250 litros

-- MONTAGEM ELETROMECÂNICA Equipamentos, translado, estadia e alimentação

FONTE: IGUAÇUMEC, (2003) O município de Cornélio Procópio, situado no norte do Paraná, é uma cidade com 46.868 habitantes, com IDH56 igual a 0,769 e constitui um bom exemplo no tratamento do lixo urbano. Na Estação de Reciclagem e Compostagem de Lixo Urbano da Prefeitura Municipal existe uma usina de médio porte em pleno funcionamento. A usina recebe 29 toneladas de lixo57 diariamente, com 47 funcionários58 e é composta com um braço mecânico (guincho), sistema de triagem com seleção manual, três prensas, sendo duas hidráulicas e uma eletromecânica, além de uma peneira para refinar adubo, espaço coberto para armazenar materiais recicláveis e espaço aberto para aterro sanitário. O volume do lixo59 é constituído por 60% de materiais orgânicos, sendo 20% usado pelo próprio município para manutenção do viveiro florestal, adubagem em praças e canteiros e 80% é comercializado ou doado. O lixo reciclável é constituído por 20%, como plástico, metais, vidros e papel, no qual é

56 FONTE: SEIT 57 Bem acima da média nacional, ou seja, 1,60 kg/hab contra 1,00 kg/hab. 58 Registrados de acordo com a CLT. 59 Não inclui lixo industrial e nem lixo hospitalar, que são recolhidos separadamente.

163

comercializado. O restante, isto é, 20% são os rejeitos, como materiais sem valor comercial. A usina não tem fins lucrativos, mas sim fins ecológicos, sociais e ambientais, que atende a necessidade do município. Ainda assim, a usina tem um faturamento mensal com a venda de lixo reciclável de aproximadamente de R$ 6.000,00 menos R$ 3.500,00 de manutenção.60 A folha de pagamento não está incluída, uma vez que existe a taxa de recolhimento de lixo para essa e outras despesas. Contudo, a usina gera emprego e renda, reduz drasticamente a transmissão de doenças e conseqüente despesa na saúde, não permite a presença de catadores de lixo, nem depósito e nem queima em céu aberto e ainda fornece um campo vasto de estudo para várias ciências afins. Mas o simples fato de obter a comercialização de objetos recicláveis, não só gera uma receita adicional mas também como coloca em prática do termo reciclável. Para entender melhor como funciona o mercado de recicláveis, informações microeconômicas são necessárias, como mostra os gráfico 3:

GRÁFICO 3 – Demanda e Oferta

P P P E2 O1 O1 P2 O1 E1 P1 O2 P1 P1 D2 E3 P3 D1 D1 D1 0 Q1 Q 0 Q1 Q2 Q 0 Q1 Q3 Q

(a) (b) (c) FONTE: MCCONNEL e BRUE, (2001)

O Gráfico 3a mostra a posição de equilíbrio (E1) entre demanda (D) e oferta (O) para um preço P1 e uma quantidade Q1. Com o aumento da demanda por empresas de matérias recicláveis, quantidade ofertada aumenta pelas usinas, logo aumenta de Q1 para Q2 e o preço sobe de P1 para P2 (Gráfico 3b) mudando a posição de equilíbrio para E2. Dessa forma, uma maior oferta das usinas de Q1 para Q3 (Gráfico 3c), faz com que o preço cai de P1 para P3, isto é, mudando novamente a posição de equilíbrio para E3. Como a questão é econômica (como é ilustrado no Gráfico 3c) existe uma maneira para que não se perca o incentivo a reciclar mais produtos de forma que o preço não continue reduzindo. A chave é a intervenção governamental, isto é, a criação de um “preço mínimo” a nível nacional (de acordo com o produto) que é colocado a disposição no mercado e as empresas consumidoras deste material

60 Inclui na manutenção os equipamentos, uniformes de proteção, entre outros.

164

podem ser beneficiadas mediante redução no ICMS no transporte desses produtos e/ou mesmo uma redução no IPI na confecção de produtos novos. Ainda assim, o preço mínimo pode ser colocado na Bolsa de Valores, onde seu preço pode variar de acordo com o mercado. Como exemplo desse mercado, a Petrobrás em 2001 e a Vale do Rio Doce em 2002 mostraram como isso é possível adquirir recursos de baixo valor de pessoas físicas ou através do FGTS. Dessa forma, as ações de lixo reciclável podem ser um ótimo negócio para as famílias e para o governo, pois elas terão ganhos e o governo terá mais uma parcela de poupança interna. Contudo o meio ambiente continuará fornecendo uma vida mais saudável para o homem. Como exemplo ilustrativo,61 considere a Tabela 6. Com o volume negociado em toneladas de lixo reciclável são possíveis obter dois preços, um na alta e outro na baixa, que resultará num preço de fechamento. Para isso, leilões acontecem durante o dia. Neste exemplo, a Bolsa de Valores abre com 12 toneladas de metal reciclável, com preço entre $ 1,8 e $ 2,0, fechando o pregão com $1,9. Nos próximos dias, segue da mesma forma, e como se observa, o volume negociado oscila assim como o preço. O melhor preço foi de $ 3,0 com o volume negociado em 8,0 toneladas.

TABELA 6 – Cotação em mercado aberto Volume Preço Preço Preço de

Negociado na alta na baixa fechamento 12.0 2.0 1.8 1.9 15.0 1.6 1.5 1.6 16.0 1.8 1.4 1.6 10.0 2.5 1.1 1.8 11.0 2.4 1.9 2.2 10.0 2.5 2.0 2.3 9.0 2.8 2.5 2.7 8.0 3.0 2.8 2.9

O Gráfico 4 ilustra os dados da Tabela 6.

61 Apenas para fins didático.

165

GRÁFICO 4 – Mercado de ações de recicláveis

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

1 2 3 4 5 6 7 8

Leilões

Volu

me

Neg

ocia

do0.00.51.01.52.02.53.03.5

Preç

o

Volume Negociado Preço na altaPreço na baixa Preço de fechamento

4. Conclusão Este trabalho demonstrou o problema que é o lixo brasileiro desde a sua coleta e administração, gerando efeitos negativos como o impacto ambiental. Uma forma de conter essas externalidades é o órgão municipal adquirir uma usina de reciclagem de lixo, que é de baixo custo de aquisição. Como exemplo, um simples cálculo permite ilustrar que uma usina de pequeno porte é de custo acessível para maioria dos municípios com população em torno de 5.000 habitantes. Para municípios com até 50.000 habitantes, a usina de porte médio é recomendada ou mesmo em cidade grandes, colocando em pontos estratégicos varias usinas. Ainda assim, o exemplo da usina de lixo de Cornélio Procópio vem provar que é possível lidar com o problema de forma criativa e remunerada. Contudo, o modelo de tratamento através da reciclagem e coleta seletiva pelos municípios vem demonstrar um sério compromisso com a população, como por exemplo, o município é poupado de gastos extras com saúde uma vez que se reduz o nível de doenças infecto-contagiosas proporcionadas por lixões em céu aberto através de insetos, roedores, aves e o próprio manuseio humano de forma inadequada. Finalizando, um mercado de ações é uma boa alternativa para incentivar a reciclagem de lixo, gerando renda para a população, poupança interna para o governo e uma melhor qualidade de vida para o homem.

166

5. Referências CLEMENTE, A.; HIGACHI, H. Y. Economia e Desenvolvimento Regional. São Paulo: Atlas, 2000. ESTAÇÃO de Reciclagem e Compostagem de Lixo Urbano da Prefeitura Municipal de Cornélio Procópio – PR, jan. 2003. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico - 2000. Resultados do universo: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em: <http://www.gov.org.br/>. Acesso em 06/01/2003. IGUAÇUMEC Eletromecância Ltda. Cornélio Procópio – PR, jan. 2003. IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - 2001. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - 2002b. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em 07/01/2003. MCCONNEL, C. R.; BRUE, S. L. Microeconomia. 14ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. SCHALCH, V. Lixo, reciclagem e meio ambiente. Revista Trevisan. São Paulo, ano XII, n. 134, p. 20-26, abr. 1999. SEIT - Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo - 2002. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/celepar/seit/seit/>. Acesso em 20/12/2002.

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ARTIGO 11

O comércio internacional e o meio ambiente62 1. As Conferências Ambientais As regulamentações, as normas, as rodadas ou mesmo as relações entre o comércio internacional e o meio ambiente têm como finalidade o despertar entre nações como forma de acordos multilaterais discutidos e a serem discutidos e incluídos em tratados internacionais .

A questão inicial a ser levantada é a da importância sobre o meio ambiente no comércio internacional, principalmente a partir da década de sessenta, que modificou e conscientizou governos a adotarem políticas nacionais em defesa da degradação ambiental com reflexo ao comércio internacional. Corrêa (1998, p. 12), expõe que

a década dos sessenta, entretanto prevaleceu o ‘paradigma social da exclusão’, na convicção de que seriam infinitos as fontes de recursos naturais e de que o livre mercado maximizaria o bem-estar social. Como a teoria econômica convencional tratava apenas da alocação de recursos escassos, e a natureza não era considerada fator de limitação, esse paradigma considerava o meio ambiente irrelevante para a economia. A resposta mais apropriada no que diz respeito ao problema da escassez é

se tal recurso é limitado, então existe a preocupação nesta discussão sobre os fatores de produção ou insumos destinados à satisfação dos consumidores.

Tal preocupação levou em 1969 um país membro da ONU63 a propor uma conferência internacional que discutisse os problemas de um possível surto de crescimento e como conseqüência uma rápida degradação e escassez dos recursos ambientais causado pela ação humana, colocando em risco a sobrevivência da humanidade. A poluição nos rios, nos mares, na atmosfera, as alterações climáticas, os impactos ambientais são exemplos que atravessam fronteiras e já exige ação. Barbieri (1997, p. 17) narra a realização deste evento:

62 Artigo desenvolvido em 2004 e baseia-se em alguns capítulos modificados da dissertação de mestrado. 63 Organização das Nações Unidas.

168

Em 1969, o Governo da Suécia propôs à Organização das Nações Unidas (ONU) a realização de uma conferência internacional para tratar desses problemas. Essa proposta só encontrou maior receptividade após o desastre ecológico de Minamata, no Japão, que levou à morte milhares de pessoas contaminadas pelo mercúrio lançado ao mar pelas empresas locais. Aceita a proposta, em 1972 foi realizada em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.

O grande impacto desta conferência foi quando os países desenvolvidos ficaram frente a frente com os países não desenvolvidos. Os primeiros preocupados com a velocidade de devastação ambiental praticada pelos segundos. Estes, preocupados em resolver problemas sociais e macroeconômicos, como a fome, moradia, saneamento e infecções generalizadas por organismos patogênicos, destinavam-se seus esforços a um rápido crescimento econômico para amenizar tais problemas. De fato, seja por esse motivo ou mesmo pela ambição de uma melhor qualidade de vida, seja com maior poderio industrial ou mesmo para um futuro nivelamento de bem-estar, os países não desenvolvidos não medem esforços e nem respeitam o meio ambiente64 para almejar seus objetivos. Por outro lado, os países desenvolvidos desejam manter seu atual estágio de bem-estar e necessitam manter sua planta industrial a todo vapor e utilizar como fonte de matéria-prima os recursos enérgicos oriundos em nações não desenvolvidas.

Conferência de 1972, liderou o bloco de países em desenvolvimento que tinham posição de resistência ao reconhecimento da importância da problemática ambiental (sob o argumento de que a principal poluição era a miséria) e que se negavam a reconhecer o problema da explosão demográfica. A posição defendida era de que todos tinham direito ao crescimento econômico. Nesta conferência, o Brasil liderou 77 países (do total de 113 países) com acusações aos países industrializados e defesa do crescimento a qualquer custo. Em protesto estendeu uma faixa com os dizeres: ‘Bem vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento’ (GODOY, 2002, p. 21-22).

Em Estocolmo, a mesa de negociações estava repleta de discussões, onde contou com 250 organizações não-governamentais65 e representantes de 113 países. Assim a questão chave foi a responsabilidade humana sobre o meio ambiente e a busca de soluções que amenizem esses problemas. Contudo, pode-se dizer, embora a Conferência gerou conflitos, foi necessário e essencial, pois esse debate representou um avanço extraordinário nas negociações entre países e que outras conferências66 haveriam de serem marcadas para aprofundar as discussões até então protocoladas.

64 Muitas vezes com legislação ambiental muito branda. 65 Também denominado de ONGs. 66 Em 1974, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Cocoyoc, México. Em 1982, Conferência Estocolmo+10, em Nairóbi, Quênia. Em 1992, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro. Em 2002, Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), Johannesburgo, África do Sul.

169

Exatos 20 anos mais tarde surge a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro em 1992. A regulamentação desta conferência foi feita em 1988 em forma de Assembléia Geral na ONU. Em 1989 ficou decidido que o Brasil seria a cede do evento, denominado de Cúpula da Terra. Da pauta da conferência, destaca-se a evolução das relações internacionais desde 1972, a transferência de tecnologias não poluentes para as nações não desenvolvidas, introdução de normas e regulamentos ambientais no processo de desenvolvimento e manter a ONU como organismo central das discussões. No que diz respeito à Cúpula da Terra, Barbieri (1997, p. 47) descreve que havia

representantes de 178 países, incluindo cerca de 100 chefes de estados, estiveram presentes na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro em 1992 (CNUMAD). Simultaneamente a este evento oficial de caráter intergovernamental, realizou-se o Fórum Global das ONGs, reunindo cerca de 4.000 entidades da sociedade civil do mundo todo, um evento sem precedente até então, quer pelo número de entidades e pessoas envolvidas, quer pelos seus resultados: 36 documentos e planos de ações elaborados durante este fórum. A esses dois eventos se denominou popularmente de Eco-92.

Na CNUMAD as relações internacionais foram reforçadas e como resultado, cinco documentos foram assinados, como a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Agenda 21, Princípios para a Administração Sustentável das Florestas, Convenção da Biodiversidade e Convenção sobre Mudança Climática. Com respeito à primeira Declaração, 27 princípios foram colocados como forma de objetivar e orientar a formulação de políticas de caráter intergovernamental. Com destaque ao princípio 12 que expõe a não discriminação do comércio internacional, sobretudo de forma arbitrária ou mesmo disfarçada.

PRINCÍPIO 12 - Os Estados devem cooperar para o estabelecimento de um sistema econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de modo a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental. Medidas de política comercial para propósitos ambientais não devem constituir-se em meios para a imposição de discriminações arbitrárias ou justificáveis ou em barreiras disfarçadas ao comércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento de questões ambientais fora da jurisdição do país importador. Medidas destinadas a tratar de problemas ambientais transfronteiriços ou globais devem, na medida do possível, basear-se em um consenso internacional (CNUMAD, 2001).

Outro destaque é o princípio 16 onde promove a internalização dos custos ambientais, ou seja, o princípio do país poluidor-pagador. Assim: “PRINCÍPIO 16 - Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais” (CNUMAD, 2001).

170

2. Os Acordos e o Papel da OMC O comércio internacional é regido por normas já estabelecidas. A discriminação ou mesmo o protecionismo é fortemente citado e deve ser evitado, principalmente nas decisões unilaterais. Novamente a ONU é o órgão habilitado para conferências restando a OMC67 os problemas de desordem comercial. Lichtinger (2003) cita a relação simbiótica entre o meio ambiente e o comércio internacional e como fórum das negociações a OMC:

a relação entre comércio e meio ambiente tornou-se tema recorrente, sobretudo depois da Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento, em 1992, e as discussões na recente criada Organização Mundial do Comércio (OMC) e nos organismos internacionais. As políticas sobre comércio e meio ambiente, até há pouco tempo independentes, começam agora a ser discutidas, levando-se em consideração as respectivas implicações sobre as possibilidades de um desenvolvimento sustentável. Por boas razões, a noção de independência entre comércio e proteção ambiental tem-se desenvolvido simultaneamente aos esforços internacionais para ampliar o livre comércio, percebido como ferramenta central do crescimento econômico das nações, incluindo as que estão em processo de desenvolvimento. No documento denominado de Acordo sobre Barreiras Técnicas para o

Comércio (Agreement on Technical Barriers to Trade), emitido pela OMC, destaca-se a preocupação de tomar medidas cabíveis para prevenir práticas enganosas no que diz respeito sob a forma de discriminação sem fundamento. Assim logo no artigo 5, (Procedures for Assessment of Conformity by Central Govenment Bodies), coloca a regulação de barreiras técnicas e padronizadas sobre a não discriminação, como mencionado no parágrafo 1.1 onde a oferta de produtos de origem nacional ou de outro país membro existe o direito de taxação de acordo com regras já previstas. No artigo 2 (Preparation Adoption and Apllication on Technical Regulations by Central Government Bodies), o assunto refere-se às regulamentações técnicas e padrões, onde o parágrafo 2.2 chama a atenção sobre as regulamentações e os efeitos da criação de obstáculos ao comércio internacional de forma desnecessária. Destaca-se a proteção da humanidade, animal ou plantas. Ainda no mesmo artigo, porém no parágrafo 10, a questão da segurança nacional, da saúde e da proteção ambiental que pode levar aos membros participantes a omissão, ou seja, uma falta grave, com destaque ao parágrafo 9.4 e 10.3 que mencionam a discriminação. Contudo, a carta direcionada aos membros sobre o Acordo sobre Barreiras Técnicas para o Comércio frisa logo seu preâmbulo a seguinte nota:

Recognizing that no country should be prevented from taking measures necessary to ensure the quality of its exports, or for the protection of human, animal or plant life or health, of the environment, or the prevention of deceptive practices, at the levels it considers appropriate, subject to the requirement that they are not applied in a manner which would constitute a means of arbitrary or unjustifiable discrimination between countries where the same conditions prevail or disguised restriction on international tradem and are otherwise in accordance with the provisions of this Agreement (OMC).

67 Organização Mundial do Comércio.

171

A padronização do Código da Boa Prática (Code of Good Practice) vem a objetivar a resolver futuros conflitos. Porém, no comércio internacional, as relações de trocas vem se intensificando ano a ano. Vários governos protegem seus mercados de várias formas, como “as regulamentações governamentais vêm estabelecendo padrões ambientais cada vez mais rígidos, que podem se constituir em fortes barreiras não-tarifárias ao comércio internacional” (SILVA e BRAVO, 1994). Entende-se por barreiras não-tarifárias um mecanismo disfarçado de protecionismo utilizado por algumas nações para proteger setores nacionais. Segundo Ruppenthal, Zanini Junior e Franceschi (2002), “o protecionismo, que vem diminuindo desde a criação do GATT, provém tanto de barreiras tarifárias, como de barreiras técnicas e sanitárias, ou de sistemas de garantia de preços internos”.

Do documento denominado Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitosanitárias (Agreement on the Application of Sanitary and Phytosanitary Measures), da OMC, vem a notificar seus membros sobre a importância e a prevenção, isto é, um esforço necessário para estas medidas para a proteção humana, animal, planta ou mesmo para a saúde, que deve ser proibido o uso arbitrário ou injustificável pelos membros. Assim, no artigo 1, das Provisões Gerais (General Provisions), parágrafos 1 e 4, advertem quanto ao uso, pois o primeiro parágrafo pode ser aplicado diretamente ou indiretamente, e o segundo, adverte sobre os direitos do Acordo sobre Barreiras Técnicas para o Comércio. O artigo 2 frisa o Direito Básico e Obrigações (Basic Rights and Obligations) para o uso dessas medidas, como no caso do parágrafo 1, onde a proteção humana, animal ou planta vem a tornar-se necessária. O parágrafo 2 com base no anterior coloca a importância de princípios científicos e não somente evidências para a justificação para uso de barreiras não-tarifárias. A discriminação é colocada e citada várias vezes no parágrafo 3 dentro do próprio território e também a de outros membros. Quanto às dúvidas, é evidenciado a formação de um corpo subsidiário para julgar tais medidas, sendo um comitê constituído por três organismos, como o Comitê de Alimentação, Escritório Internacional de Animais e Convenção de Proteção da Planta Internacional (Codex Alimentarius, International Office of Epizootics e Intenational Plant Protection Convenction), escolhidos para o desenvolvimento e revisão periódica dos padrões, diretrizes e recomendações sobre medidas sanitárias e fitosanitárias.

O artigo 4, parágrafos 1 e 2, frisam a equivalência (Equivalence) das medidas entre as nações sócias e que os mesmos devem, com requerimento, consultar os acordos bilaterais e multilaterais. No artigo 5, o risco da existência de uma taxação sobre determinado nível de proteção (Assessment of Risk and Determination of the Appropriate Level of Sanitary or Phytosanitary Protection) é amparado com dados científicos ou mesmo através de detecções de pragas ou doenças que levem em risco as condições ambientais. Contudo, o artigo 14, nas Provisões Finais (Final Provisions), coloca uma ressalva para países subdesenvolvidos com relação ao prazo de incorporação ao referido acordo. Assim um período de carência de cinco anos será ofertado a esses países para desenvolverem ou adquirirem tecnologias de forma a padronizar as medidas

172

referidas. “The least-developed country Members may delay application of provisions of this Agreement for a period of five years following the date of entry into force of the WTO Agreement with respect to their sanitary or phytosanitary mesasures affecting importation or imported products” (OMC).

3. As discussões recentes sobre o Comércio e o Meio Ambiente A luz das informações anteriores, três visões são discutidas sobre o

comércio internacional e a qualidade ambiental no que diz respeito ao livre comércio, a proteção de mercados e uma posição intermediária das duas visões anteriores. Em se tratando dessas visões, Gutierrez (1995, p. 197-198) ilustra o comércio internacional e a qualidade ambiental como:

a) Em um pólo extremo, alega-se que o livre comércio contribui à degradação ambiental; neste caso, a liberalização comercial deveria ser reduzida por razões ambientais. Uma ilustração desta afirmação seria o comércio de madeiras tropicais, que, em geral, são obtidas através de métodos de produção não sustentáveis. b) No outro pólo e contrariando a afirmação anterior, argumenta-se que a proteção dos mercados domésticos contribui à degradação ambiental; neste caso, a liberalização comercial deveria ser promovida com fins ambientais. Um exemplo desta afirmação seria dado pela Política Agrícola comum praticada pelos países europeus membros da atual União Européia. c) Uma afirmação de conteúdo intermediário entre os itens (a) e (b) seria que o processo de liberalização comercial deveria ser reduzido quando fosse verificado degradação ambiental associada a fluxos comerciais específicos, o que poderia ocorrer tanto como decorrência do consumo de um produto no país exportador através de um processo poluidor, ou de uma combinação do dois aspectos. Com referência a primeira visão, como mostra o item (a), passa a idéia de

evitar-se a degradação ambiental. Contudo essa visão pode ser distorcida ou mesmo estar associada a uma espécie de protecionismo disfarçado em barreiras tarifárias e não-tarifárias. Corrêa (1998, p. 29), ratifica essa posição como:

Conceitualmente argumenta-se que a liberalização do comércio pode agravar problemas existentes ou provocar efeitos ambientais tão negativos que neutralizem os benefícios derivados do mercado aberto, resultado em declínio global da riqueza nacional. Essa possibilidade ocorre quando o valor dos recursos naturais não reflete seu verdadeiro preço para a sociedade: sob a perspectiva econômica, a diferença entre preços de mercado e preços sociais representa uma distorção de mercado, ou seja, a existência de externalidade. Já a visão do item (b) a idéia é oposta, isto é, a abertura comercial atrai

tecnologias e a agressão ambiental é evitada através de mecanismos impostos por leis internacionais, como a OMC68, um órgão essencial para dirimir conflitos

68 “A conclusão da oitava rodada de negociações comerciais multilaterais no âmbito do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), em dezembro de 1993, deu origem à Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi estabelecida oficialmente em 1º de janeiro de 1995. A rodada Uruguai do GATT, iniciada em 1986 e concluída em 1993, significou o estabelecimento de 28 acordos e implicou a

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comerciais multilaterais. Segundo dados do Boletim de Pesquisa do Banco Mundial (World Bank Policy Research Bulletin), vários artigos e autores são citados em defesa da liberalização comercial e o processo tecnológico aliado ao crescimento positivo de forma a reduzir os impactos ambientais. O Boletim cita economias abertas (liberais) de rápido crescimento como a do Chile, ao contrário de economias fechadas, como a Bolívia e El Salvador que ostenta crescimento brando. Assim a liberalização comercial trás inovações, pesquisas e tecnologias que permitem um melhor controle ambiental, sinalizando como viabilidade econômica. Ferrantino (1997) argüi que

The new macroeconomic models of endogenous growth emphasise that openness to trade and the rate of tecnological change exhibit positive feedbacks with respect to each other, as well. This accords well with empirical evidence that economies with an outward-looking trade orientation tend to grow faster. Thus, the dynamic mechanisms in an open world economy in which resources are consciously directed toward technological progreess are likely to have felicitous effects on environmental quality. Com reforço a idéia do Boletim, é citado a relação verificada por Gross e

Krueger e também por Shafik e Bandhyopadhay onde a evidência de uma ótima qualidade ambiental, por exemplo,69 com uma maior renda ‘per capita’. Contudo, “there is substancial evidence that many environmental problems get worse in the transition from low-income to middle-income status” (Idem, 1997).

Para esta visão o Boletim coloca no topo da discussão o crescimento, comércio e qualidade ambiental (growth, trade and environment quality) a posição microeconômica como uma alta elasticidade renda da demanda pela qualidade ambiental como condição necessária para uma melhor proteção do meio ambiente, com respeito aos direitos de propriedade.

Novamente Ferrandino (1997) destaca os Efeitos sobre a Vantagem Comparativa Revelada nos Estados Unidos (Effects on Reveled Comparative Advantage of the United States), onde frisa os custos, pois o “hight pollution control spending has a negative impact on industrial productivity, with in turn may lead to lower wages in the affected industries”. Contudo uma contradição é colocada, pois se por um lado o aumento da rendas proporciona uma melhor qualidade ambiental e isso reflete diretamente nos salários, como as empresas vão equipar-se com tecnologias antipoluentes sem repassar esses custos?

A resposta talvez seja, segundo o autor, um subsídio na indústria ou um relaxamento nas normas ambientais, termo denominado de Tarifa Social. Outra saída é a transferência de tecnologia para países subdesenvolvidos com vínculo aos investimentos diretos através de multinacionais70, uma vez que a própria pressão dos países desenvolvidos em adquirir produtos ecologicamente corretos vem ao encontro

substituição do GATT, como mecanismo regulador do comércio internacional, pela OMC” (GONÇALVES, 2000, p. 15). 69 O estudo frisa países com renda média entre US$ 3000 e US$ 5000, a exemplo o Brasil, Iraque, Iran, Turquia e Iugoslávia. 70 Embora esse não seja o principal caminho.

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com legislações ambientais mais brandas. No estudo do comércio e meio ambiente com vínculo a dimensão global (a survey of the trade and environment nexus: global dimensions), uma política instrumental mais drástica é citada por Beghin, Roland-Holst e Mensbrugghe (1994) como “trade instruments, such asa bans on exports”. Outra medida mais abrangente seria “the optimal polity would be a targeted uniform tax per unit of pollution as this would directly discourage the emission of pollutants”. Essas medidas são muito unilaterais, pois países do Sul71 não aceitariam um corte em suas exportações devido de acesso a tecnologia menos poluente e muito menos uma forma padronizada de impostos. Neste caso a transferência de tecnologia dos países do Norte tem muita importância e, além disso, deve-se levar em conta que alguns problemas, como oportunistas de negócio, ou seja, “trade politcy instruments can induce more rent-seeking activities than other policies, with important income transfer effects depend upon property rights to natural recourses”.

Assim os direitos de propriedade estão vinculados diretamente a transferência de tecnologia e a ineficiência de leis que protegem os inventores e mesmo que lhes assegura o direito da invenção, pois se isso não for feito, surge uma abertura para oportunistas que minimizam a força de qualquer instrumento de política cambial. Os autores acima mencionados também frisam a necessidade de um acordo internacional que visa uma melhor coordenação ou cooperação dos problemas ambientais, como “the most efficient way to address transborder environment problems”, porém isto não pode ser imposto, pois “threat of trade sactions can be used to discourage free riding and to enforce co-operation”. Outras medidas são o sistema de certificações, rotulagens ou etiquetas ambientais,72 que podem mencionar informações úteis à formação de instrumento inibidor dos impactos ambientais, pois traz informações úteis ao consumidor, que podem procurar outro bem que tenha uma custo inferior por não atender as exigências ambientais e ainda pode ser um instrumento de protecionismo.

A Rodada Uruguai foi muito importante neste sentido, pois proporcionou uma redução nas tarifas uma vez que promoveu a liberação comercial, integrando mais as relações entre países desenvolvidos e os não desenvolvidos. Neste contexto, o conceito de crescimento e meio ambiente citado novamente por Beghin, Roland-Holst e Mensbrugghe (1994) destacam os autores Copeland e Taylor sobre três efeitos contrários ao meio ambiente, ou seja,

growth with trade as opposed to autarky induces three main effects: a scale effect that always increases pollution; a composition effect that reflets international specialization in more or less dirty activities; and a technical effect that indicates the move towards cleaner technology (...) fist, a scale effect (more output means more pollution); second, a composition effect cleaner goods are produced with economic development); and, third, a technology effect (clear technologies become available and are adopted because of tighter regulation).

71 Considera-se países do Sul os menos desenvolvidos, e os do Norte, os mais desenvolvidos. 72 ISO 9001 - Sistema de Gestão de Qualidade; ISO 14001 - Sistema de Gestão Ambiental; AS 8000 - Responsabilidade Social; OHSAS 18001 e BS 8800 - Saúde e Segurança Ocupacional; SSO - Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional; SGA - Sistema de Gestão Ambiental; TS 16949 que substituiu a QS 9000, que é uma norma automotiva mundial; SGI, Sistema de Gestão Integrado que une Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade.

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O crescimento de uma nação com respeito ao meio ambiente acompanhado

de uma liberalização comercial só tem efeito se as políticas são internalizadas no país gerador de impacto de forma a minimizar as externalidades.73 Isso é benéfico ao bem-estar, pois quotas de poluição são distribuídas de forma controlada. Em relação à transferência de tecnologia, importante nota é dada na ligação entre o crescimento e poluição. Novamente os autores ilustram que “technology and transfer are central to currents analysis of relationship between economic development and the environment because they are fundamental means for breaking the link between growth are pollution accumulation. Tade and world market integration facilite the transboundary transfer of cleaner technologies”. Porém uma advertência vem a limitar o sucesso de uma liberalização comercial, pois em alguns casos pode haver impactos negativos devido a limitação dos recursos naturais, promovendo a rápida degradação ou mesmo o excesso de lixo descartável oriundo do modelo americano.

Na nota de rodapé número nove desse artigo citado, o censo americano74 coloca os custos de abatimento da poluição para o petróleo em 1%, papel em 2,3% e para o aço em 2,2%, ou seja, são custos inferiores a 3% do custo total das indústrias consideradas sujas. Com destaque, exemplo de indústrias sujas ou poluentes, a química, papel e papelão, aço e ferro e metais não-ferrosos. Pelos dados obtidos pelo RCA (Revelead Comparative Advantage) destas indústrias75, observa-se que “the aggregate US trade deficit increased during 1973-86 e decreased during 1986-87”. De posse desses dados, o estudo conclui que os países desenvolvidos comportam-se como um grupo de importadores, com ganhos de competitividade com grande intensidade de recursos do Norte, principalmente nos Estados Unidos, o que justifica uma menor dependência no setor químico, proporcionando condições de mercado exportador, sendo os demais setores como importador. Ainda assim o estudo adverte para a redução da dependência das importações até 1986 pelos Estados Unidos, seguindo uma trajetória inversa até 1991, alcançado pelos países desenvolvidos. Deve se levar em conta que políticas ambientais influenciam neste processo, porém a intensidade vem das condições macroeconômicas, como por exemplo, taxa de câmbio e o ciclo de investimento direto.

4. Análise Empírica para a Indústria do Ferro e Aço Os dados avaliados no período de 1973 a 1991 para uma regressão contra o

saldo comercial dos Estados Unidos e os Países Desenvolvidos para o Ferro e Aço apresentam a seguinte equação: Y^ = β1 + β2X1 + β3 X2 + ui

73 Princípio do Poluidor-pagador. 74 Bureau of the Census. 75 Média aritmética das exportações e importações americanas e de países desenvolvidos no período de 1973 a 1991.

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Onde Y^ é a variável dependente representando os Anos e as variáveis independentes (X1 e X2) são representadas pela Média Aritmética dos Saldos dos Estados Unidos e dos Países Desenvolvidos respectivamente. Assim:

Y^ = 1965,2048 + 4,1326 X1 + 30,8407 X2 (2,1846) (2,7236) (2,4371)

Onde os valores entre parênteses são os devios-padrão e o Coeficiente de

Determinação (R²) mostrou o valor elevado de 0,9319, isto é, 93,19% da regressão é explicada, que pode ser considerada satisfatória. Para uma análise de teste de significância76 para 16 graus de liberdade (gl), o teste para o parâmetro β2 não rejeita a hipótese nula H0 e o teste não é estatisticamente significativo. Já para β1 e β3, rejeita-se H0 e o teste é estatisticamente significativo. Para uma análise do teste F Global77 tem-se: F(3,9) = 109.4331 > Fc (5%,x,y) e o teste F rejeita H0 e é estatisticamente significativo.

Sendo assim a equação estatística comprova a dependência dos Países Desenvolvidos e mesmo os Estados Unidos das importações. O Gráfico 1 ilustra a trajetória para o produto ferro e aço.

GRÁFICO 1 – Vantagem Comparativa Revelada (RCA) –

Ferro e Aço no Período de 1973 A 1991

0,000,200,400,600,801,00

1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991Méd

ia d

a Bal

ança

Com

erci

al

X1 X2

NOTA: Elaborado a partir dos dados de Beghin, Roland-Holst e Mensbrugghe, (1994).

76 Tabela D.2 de Gujarati, (2000, P. 815). 77 Tabela D.3 de Gujarati, (2000, p. 816).

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5. A Administração Ambiental Interessante análise de paradigmas sobre a administração ambiental e o

desenvolvimento é analisada por Colby (1991), onde divide as evoluções da natureza em cinco paradigmas, como escala horizontal a Economia de Fronteira e Ecologia Profunda. Como escala vertical, a proteção ambiental, administração de recursos e o ecodesenvolvimento, ou seja, como “la escala vertical representa la progresión en el tiempo de un paradigma al siguinte en sentido ascendente; la escala horizontal indica la posición de los paradigmas superiores en el espacio que media entre los paradigmas ‘diametralmente opuestos’ de la economía de frontera y de ecología profunda”.

Dessa forma a Economia de Fronteira coloca o meio ambiente como fonte infinita de recursos físicos com pouca importância a vários tipos de degradação ou mesmo poluição. O problema não tinha uma importância de destaque e assim passava desapercebida pela economia clássica e pela economia marxista. Novamente, “tanto en el análisis económico neoclásico com en el marxista se perciben el trabajo humano y el capital creado por el hombre como factores primarios limitantes de la producción”. A idéia é que o esgotamento dos recursos naturais elevem os preços com “el agotamiento o la degradación de los recursos aumenta su valor medido, pero com frecuencia reduce la calidad de vida de la gente y degrada la funcionalidad del ecosistema en el que descansa haciendoles más vulnerables”.

A Economia de Fronteira trás inúmeras tecnologias para o desenvolvimento da qual o homem é o responsável pelo aumento ou redução no impacto na sociedade, porém a falta de uma consciência é crucial para um equilíbrio ecológico. Outro ponto na escala horizontal é a Ecologia Profunda, onde existe “una visión del mundo que se interpretado amplamente como todo lo contrario de la economía de frontera: un sistema de valor ético fundamentalmente diferente”.

Neste estremo, a visão biocentrica vem ao encontro do homem com a natureza, como igualdade intrínseca de bioespécies de forma não orientada para o crescimento, pois “los ecologistas profundos (y muchos otros) consideram que los avances tecnológicos conducen de ordinario a problemas más grandes, costosos e intratables, más bien que al ‘progresso’.” Logo existe um conflito entre a Economia de Fronteira e a Ecologia profunda, pois o crescimento torna-se limitado uma vez que este último coloca o homem a serviço da natureza de forma não criativa, podendo levar o mundo ao estilo de vida pouco prático com muito desconforto aos atuais níveis populacionais, ou seja, a Ecologia Profunda manifesta contra a tecnologia.

A tecnologia não pode ser vista como um mal necessário, mas sim uma análise de custos e benefícios acessível a todas economias mesmo que as soluções tecnológicas sejam mitigadoras no curto prazo. Assim “la precupación por el ambiente ya no implica que sea uno necessariamente enemigo del desarrollo. En efecto, el desarrollo sostenible depende del ambiente”. Como exemplo de economia sustentável ou pelo menos o caminho a ser seguido é “la ecologización gradual de

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los códigos fiscales, elevando los impuestos a la extracción de recursos y a las actividades contaminantes, al mismo tiempo que se reducem los impuestos a otras actividades que deverían alentar-se”.

Com o intuito de analisar essa posição o acordo celebrado em Qatar, denominado de Quarta Conferência em Doha (Fourth Conference in Doha), em novembro de 2001, evidenciou as negociações sobre o comércio e o meio ambiente, onde as relações entre as regras da OMC devem ser respeitadas nos Acordos Multilateriais Ambientais (MEAs) e vice-versa, sem prejuízo aos membros envolvidos na questão, redução ou mesmo eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias para bens e serviços ambientais, medidas ambientais sobre acesso a mercados, acordos sobre direitos de propriedades no que diz respeito à transferência de tecnologia, (Trade-Related Aspects os Intellectual Rights – TRIPS), a não discriminação e nem a adição ou subtração dos direitos e obrigações celebrados pela OMC e a padronização de etiquetas ambientais (eco-labelling). Contudo o referido Boletim frisa a encorajamento de todos os membros na divisão das experiências obtidas nas conferências que virão pela frente. Com referência a terceira visão, de certa forma um misto da primeira e a segunda, é a mais adotada pelos pesquisadores, pois permite uma análise mais dedicada no caso de uma rápida degradação ambiental conjuntamente com meios que permitem com a tecnologia disponível reduzir ou mesmo amenizar de forma significativa tal impacto trazendo benefícios ao meio ambiente. Novamente toda a preocupação do comércio internacional e meio ambiente está em torno das barreiras não-tarifárias como pretexto para um protecionismo. Se por outro lado,

os defensores do liberalismo comercial acreditam que o livre comércio estimula o desenvolvimento econômico, aumenta a renda das populações e assim contribui para a preservação ambiental, (...) não existe garantia de que a liberalização comercial proporcione um desenvolvimento econômico equilibrado entre os países. Ao contrário, com a liberalização comercial alguns países saem fortalecidos comercialmente (aqueles com maior capacidade de atrair novos investimentos), enquanto os outros ficam totalmente marginalizados (RUPPENTHAL, ZANINI e FRANCESCHI, 2002). Interessante análise é desenvolvida no artigo denominado Green

Protectionism do jornalista Ruiz (1996) que frisa a lógica imperialista das nações desenvolvidas contra a soberania nacional das nações menos desenvolvidas, onde barreiras são erguidas para impedir o desenvolvimento. Tais restrições somam o montante de meio trilhão de dólares por ano. Outra nota importante são as barreiras não-tarifárias que afetam vinte por cento das exportações das nações de terceiro mundo e que o protecionismo vem crescendo na última década. Na íntegra, o protecionismo é citado na visão do jornalista e representante do Instituto de Agricultura e Política de Comércio na primeira conferência ministerial da OMC em Singapura em dezembro de 1996:

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The United Nations Development Program estimated in its 1992 report that the protectionist measures of the developed countries cost Third World countries half a trillion dollars a year. This is approximately twelve times the amount of aid they receive annually from those same countries that close their markets. The UN Conference on Trade and Development (UNCTAD) estimates that the non-tariff trade barriers of industrialized countries reduce Third World exports by twenty percent. The situation is actually getting worse, since 20 of the 24 industrialized countries are more protectionist now than they were a decade ago. Ironically the United States, the country with the biggest ideological commitment to free trade, is the worst offender, according to the Organization for Economic Cooperation and Development. Com relação ao meio ambiente e as relações internacionais, Cardoso (1994,

p. 217) destaca que “a partir da década de 70, a questão ambiental tem cada vez mais polarizado a atenção, principalmente por conta da emergência de problemas globais, ou seja, problemas que ameaçam o equilíbrio global do planeta o que afetam vários países, ou ainda, que envolvem interesses diferenciados de várias nações”. Já Comune (1994, p. 206) destaca os países periféricos como “aspecto interessante para países subdesenvolvidos é que eles podem, por ocasião do estabelecimento de programas de controle ambiental em outras partes, aproveitar para reativar o mercado de produtos naturais e, dessa maneira, melhorar suas trocas internacionais”.

6. Modelos de Crescimento

Com a preocupação em desenvolver modelos de crescimento econômico com ênfase na redução da pobreza e expansão da renda, Souza (2003, p. 325) comenta “a abordagem neoclássica fundamenta-se em algumas equações simples, para explicar o crescimento econômico. Ela parte do pressuposto de que a economia produza um único bem com apenas três fatores: capital fixo (K), trabalho (L) e terra (N) e que os fatores de produção são homogêneos e perfeitamente divisíveis”.

Como exemplo, seja Y a renda ou o nível do produto e t a tecnologia. O Modelo apresenta-se assim: Y = f (K, L, N, t)

Aprofundando mais na análise macroeconômica, Romer (2001, p. 9) descreve o modelo de crescimento de Solow,78 ou seja, “the Solow model focuses in four variable: output (Y), capital (K), labor (L), and ‘knowledge’or the ‘effectiveness of labor’ (A). At any time, the economy has some amounts of capital, labor, and knowledge, and these are combined to produce output. The production function takes the form Y(t) = F[K(t), A(t) L(t)], where t denotes time”.

Em consideração ao modelo anunciado é importante destacar que existe apenas um produto, não é uma economia fechada, não existe trocas porque o produto é homogêneo, os agentes não otimizam, ou seja, não há maximização, existem retornos constantes de escala, é um mercado de concorrência perfeita,79 a tecnologia é exógena e K, A, L e AL são os insumos capital, conhecimento, trabalho

78 Robert Solow, 1956. 79 Empresas tomadoras de preço.

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e unidade de eficiência no trabalho respectivamente. Novamente o autor ilustra a função de crescimento estendendo o modelo na função produção Cobb-Douglas80 para incluir os recursos naturais.

A specific example of a production is the Cobb-Douglas function, F(K,AL) = Kα(AL)1-α , 0 < α < 1 . (...) We want to extend our analysis to include natural resources and land. To keep the analysis manageable, we start with the case of Cobb-Douglas production. Thus the production function, (1.1), becomes Y(t) = K(t)α R(t)β ,T(t)γ [A(t) L(t)]1-α-β-γ α > 0 , β > 0 , γ > 0 , α+β+γ < 1 Here R denotes resources used in production, and T denotes the amount of land (ROMER, 2001, p. 11 e 37). Antes de continuar este modelo, é necessário rever alguns passos do

desenvolvimento, como os insumos trabalho, capital e conhecimento que são formalizados por:

L.(t) = n L(t) → n = L.(t)/L(t) ; L.(t) = dL(t)/d(t) A.(t) = g A(t) → g = A.(t)/A(t) ; A.(t) = dA(t)/d(t) Onde n é a população e g a tecnologia, ambos são parâmetros exógenos,

L.(t) e A.(t) são derivadas do trabalho e conhecimento respectivamente. Considerando K.(t) como a derivada do capital em função do tempo, sY(t) à parte da poupança (exógena e constante) aplicada na renda (investimento) e δK(t) a depreciação do capital, a função toma forma de K.(t) = sY(t) – δK(t). Assim, retornando a citação, “the dynamics of capital, labor, and effectiveness of labor are the same as before: K.(t) = sY(t) – δK(t), L.(t) = nL(t), and A.(t) = gA(t). The new assumpitions concern resources and land” (ROMER (2001).

Contudo a terra é fixa e não cresce. O recurso terra assume T.(t) = 0. Recursos naturais são escassos e tendem a reduzir-se, então assume R.(t) = -bR(t) , b>0. O autor trata do assunto na condição da necessidade da trajetória de crescimento equilibrado como “by assumption, A, L, R and T are each growing at a constant rate. Thus what is needed for a balanced growth path is that K and Y each grow at a constant rate” (Idem, 2001).

Em relação à taxa de crescimento, R cresce a taxa –b, T cresce a taxa 0, A cresce a taxa g e L cresce a taxa n. Após algumas manipulações algébricas, chega-se à equação da taxa de crescimento de Y(gY) sobre a trajetória de crescimento equilibrado (bgp), como:

gY

bgp = (1 – α – β – γ) (n + g) – βb

1 - α

80 Charles Cobb e Paul Douglas, em 1928, desenvolveram inicialmente para α+β=1, onde α é qualquer valor entre 0 e 1. Assim, esta função apresenta retornos constantes à escala, ou seja, se dobrar os insumos, dobra o produto.

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O desenvolvimento finaliza com a implicação da equação acima that the growth rate of output per worker on the balanced growth path is gY/L

bgp = gY

bgp - gL

bgp

= (1 – α – β – γ) (n + g) – βb - n (1.49) 1 - α

Equation (1.49) shows that growth in income per worker on the balanced growth path, gY/Lbgp

, can be either positive or negative. That is, resource and land limitations can cause output per worker to eventually be falling, but they need not. The declining quantities of resources and land per worker are drags on growth. But technological progress is a spur to growth.

Como exemplo hipotético, Romer (2001, p.39) menciona Nordthaus81. Agora a terra não é mais fixa e assume valor de T.(t) = nT e os recursos naturais assumem valor de R.(t) = nR(t). Neste modelo o resultado deste crescimento amarrado (drag) de recursos e terra limitados são a diferença entre o caso hipotético e o crescimento desses fatores limitados, dando como resultado o valor de 1/4% ao ano de dívida da oferta limitada da terra. “Thus this evidence suggests that the reduction in growth caused by environmental, while not trivial, is not large. In addition, since growth in income per worker has been for more than a quarter of percentage point per year, the evidence suggests that would have to be very large changes for resource and land limitation to cause income per worker to star falling”. 7. Considerações De posse deste levantamento bibliográfico a problemática deste trabalho vem de encontro com a preocupação ambiental com relação ao desenvolvimento industrial com o comércio internacional.

construir de um modo novo e eficaz as instituições de regulação apropriada ao sistema industrial num país pressupõe o respeito a interferências globais, pois um sistema industrial nacional torna-se economicamente parte do mercado mundial. Mais ainda: do ponto de vista ecológico, reporta-se aos bens comuns, às reservas energéticas e de matérias-primas, enquanto inputs; e ao meio ambiente, enquanto depósito para as emissões industriais, enquanto output. Resultado: qualquer estratégia de desenvolvimento, e portanto de industrialização, traz conseqüências para o desenvolvimento e para o meio ambiente em todas as outras regiões do mundo (ALTVATER, 1995, p. 26).

A preocupação com o desenvolvimento sustentável também evidencia esta questão, pois

já faz quase um quarto de século que o cientista norte-americano Dennis Meadows e seus colaboradores apresentaram o famoso relatório do Clube de Roma sobre ‘os limites do crescimento’. Nele se mostra que o crescimento exponencial da economia moderna acarreta como conseqüência necessária, num espaço de tempo historicamente curto, uma catástrofe dos fundamentos naturais da vida. O consumo voraz de recursos e a emissão desenfreada de poluentes, afirma Meadows, põem em xeque a sobrevivência da humanidade (KURTZ ,2002).

81 William D. Nordthaus, 1992.

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Com certo receio do impacto negativo do comércio internacional possa intensificar nas rodadas de negócio, a principal preocupação é a dependência de recursos naturais com reflexos sócios-econômicos impactantes no meio ambiente com um alto custo para o desenvolvimento.

o fato de os países industrializados dependerem em grande medida de importação de recursos naturais energéticos e materiais e, assim, as fontes de sintropia (em países de recursos naturais) serem espacialmente separadas dos sistemas de transformação energética e material (países consumidores) provoca o desenvolvimento de sistemas de transporte e de armazenamento de alto desempenho. Na medida em que os países do Terceiro Mundo tentam imitar o tipo fordista de industrialização (...), eles tornam-se igualmente dependentes dos inputs necessários de recursos naturais (ALTVATER, 1995, p. 97-98).

Em síntese, as discussões sobre comércio internacional e meio ambiente ainda estão longe de terminar, pois deve ser levado em conta não somente as análises das nações desenvolvidas, mas também as das nações não desenvolvidas, como a legislação e os atores sociais (ongs, cientistas, populações envolvidas, imprensa, Igreja e comunidade indígena). Contudo não se pode esquecer que no passado o desenvolvimento se fez com a degradação ambiental e hoje se faz com sustentabilidade, e esta, está inserida nas discussões internacionais da qual o Brasil deve participar ativamente.

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ARTIGO 12

O desenvolvimento sustentável e as conferências internacionais82

Em primeiro de maio83 de 1956 foi divulgado o famoso acidente ecológico no Japão, onde a indústria química de alumínio Chisso derramou mercúrio na Baia de Minamata, ocasionando envenenamento nas algas, mariscos e peixes. Estes contaminaram inúmeros animais e mais de 3000 pessoas morreram. Mortes, deformações genéticas, cegueiras e paralisias foram causadas pela contaminação. Tamanha tragédia levou a propor uma conferência internacional sobre o meio ambiente.

Desde que ocorreu esta tragédia, que marcou a necessidade de reflexão internacional, várias discussões e conferências internacionais ocorreram.84 Uma das mais significativa foi a Rio-92 na qual foi consagrado o conceito de desenvolvimento sustentável proposto pelo relatório Brundtland.

De 3 a 14 de junho de 1992, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, conhecida como a Rio 92 ou Eco-92. O documento base de discussão foi o Relatório Nosso Futuro Comum, conhecido como Relatório Brundtland,85 publicado em 1987. Tal relatório destacou-se devido ao conceito de desenvolvimento sustentável. Dentre os objetivos da Comissão Brundtland (CMMAD) destacam-se quatro:

82 Artigo desenvolvido em 2004 e baseia-se em alguns capítulos modificados da dissertação de mestrado. 83 “No dia 21 de abril, uma criança com disfunções do sistema nervoso dá entrada no Hospital Shin Nihon Chisso. Logo em seguida, no dia 1º de maio, quatro outros pacientes com sintomas similares aparecem no Centro de Saúde Pública de Kumamoto. Esta última acabou sendo a data oficial da descoberta do Mal de Minamata, doença cerebral causada pela ingestão de mercúrio” (GREENPEACE, 2003). 84 Em 1972, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia. (BARBIERI, 1997, p. 17 e GODOY e EHLERT, 1995, p. 17). Em 1974, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Cocoyoc, México. (GODOY, 2002c, p. 23). Em 1982, Conferência Estocolmo+10, em Nairóbi, Quênia. Em 1992, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro. (GODOY, 2001, p. 96). Em 2002, Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), Johannesburgo, África do Sul. (MELLO e OJIMA, 2004, p. 3). 85 Devido à coordenação de Gro Harlem Brundtland, ministra da Noruega.

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propor estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante; recomendar maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em desenvolvimento e entre países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns e interligados que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento; considerar meios e maneiras pelos quais a comunidade internacional possa lidar mais eficientemente com as preocupações de cunho ambiental; ajudar a definir noções comuns relativas a questões ambientais de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os problemas da proteção e da melhoria do meio ambiente, uma agenda de longo prazo para ser posta em prática nos próximos decênios, e os objetivos a que aspira a comunidade mundial (CMMAD, 1991, p. xi).

A proposta e regulamentação desta conferência foram feitas em 1988 na

Assembléia Geral da ONU.86 Em 1989, ficou decidido que o Brasil seria a sede de tal evento. Da pauta da conferência, destaca-se a evolução das relações internacionais desde 1972, a transferência de tecnologias não poluentes para as nações não desenvolvidas, introdução de normas e regulamentos ambientais no processo de desenvolvimento e manter a ONU como organismo central das discussões.

A CNUMAD apesar dos conflitos existentes (posição dos Estados Unidos em não assinar o tratado sobre mudanças climáticas, a soberania nacional, entre outras), teve como resultado, cinco documentos assinados (embora muitos países, até hoje, não ratificarem): a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento ou a Carta da Terra, a Agenda 21, a Declaração de Princípios sobre Florestas, a Convenção da Biodiversidade e a Convenção sobre Mudança de Clima além da reafirmação do conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo Godoy (2001, p. 96),

Nesta conferência houve a incorporação do conceito de Desenvolvimento Sustentável nos discursos governamentais. A reunião oficial produziu três documentos que, devido a divergências tornaram-se apenas cartas de intenções, que não têm o caráter de execução obrigatória e servem mais como uma orientação. São eles: 1) A Convenção sobre Mudanças Climáticas; 2) A Convenção sobre a Diversidade Biológica; 3) A Declaração de Florestas.

No que diz respeito ao desenvolvimento sustentável destaca-se o conceito

de “ecodesenvolvimento” que fora formulado por Ignacy Sachs, em 1973, referindo-se ao crescimento de economias subdesenvolvidas com base em seus próprios recursos naturais, com respeito às gerações futuras assim como a preservação do meio ambiente. Em 1974 houve a reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), onde foi discutido a Declaração de Cocoyoc (México). Como resultado, a pobreza foi alvo da destruição dos recursos naturais devido à explosão demográfica. Contudo o mais polêmico relatório foi intitulado como Os Limites do Crescimento, de Dennis Meadows, publicado em 1972 pelo Clube de Roma, que teorizou sobre o crescimento zero de economias industriais em virtude do aumento da pobreza, do alto padrão industrial (modelo fordista de 86 Organização das Nações Unidas.

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desenvolvimento) conjuntamente com a emissão desenfreada de poluentes esgotaria os recursos naturais por volta do ano 2070, colocando em xeque a sobrevivência da humanidade. Martins (2002, p. 5) argüi que:

Em 1968, há a formação do Clube de Roma [grifo do autor], que publicou em 1972 o estudo ‘Limites do Crescimento’ [grifo do autor], sobre os riscos da degradação do meio ambiente. O estudo concluía que, se mantidos os níveis de exploração no mesmo ritmo, o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido em 100 anos, provocando uma repentina diminuição da população mundial e da capacidade industrial. O estudo recorria à teoria malthusiana como solução para tal catástrofe, pois pregava um absoluto controle de natalidade.

Em 1975 surge outro relatório para complementar o de Cocoyoc: o relatório Dag-Hammarskjöld. Elaborado pela ONU, a principal discussão girou em torno das terras de melhor qualidade nas mãos de poucos e terras de baixa qualidade nas mãos da população em geral o que acaba promovendo a pobreza e a devastação ambiental. Em 1982 houve a Conferência Estocolmo+10, em Nairóbi (Quênia), resultando na criação da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, dando continuidade as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente iniciada em 1972. Em 1990 a Comissão sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente da América Latina e do Caribe (CDMAALC) criou o relatório intitulado como

‘Nossa Própria Agenda’ [grifo do autor] no qual pressupõe ser o objetivo central do desenvolvimento sustentável a melhoria da qualidade de vida da população, já que não se pode falar em melhoria da qualidade ambiental enquanto houver uma proporção elevada da população em condições de extrema pobreza. A Comissão defendeu uma estratégia para a obtenção de uma sociedade mais igualitária à luz da equidade social (MARTINS, 2002, p. 8).

Em outras palavras, o desenvolvimento sustentável “é um processo de

transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas” (CMMAD, 1991).

Para Gitli e Murilo (2002) o assunto pode ser enriquecido da seguinte forma:

Uma das grandes contribuições da visão de desenvolvimento sustentável é o esforço para integrar elementos ou componentes de desenvolvimento que, até então, estavam desarticulados. Esse conceito é a longo prazo e busca compatibilizar o crescimento econômico com a proteção ambiental e os aspectos sociais. (...) Tanto a literatura quanto na prática das políticas públicas, tem-se discutido acerca da compatibilidade entre a utilização do mecanismo de mercado e a proteção do meio ambiente. Aqueles que percebem essa incompatibilidade destacam que, em muitos casos, o mecanismo de mercado não é adequado para realizar uma destinação e uma valoração adequada dos recursos naturais, pois quando se trata de assuntos ambientais, alguns de seus pressupostos básicos, como, por exemplo, os direitos de propriedade, não ficam claramente estabelecidos. A utilização destes mecanismos pode subestimar o valor dos recursos naturais por não refletir nos preços diversas considerações não percebidas no mercado. Por outro lado, aqueles que privilegiam o

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mecanismo de mercado afirma que, à medida que ele se aperfeiçoa, a tendência é de um melhor manejo dos recursos e, conseqüentemente, maior respeito e valorização dos recursos naturais e dos ecossistemas (GITLI e MURILO, 2002, p. 76-77).

O desenvolvimento sustentável é alvo de grandes discussões e muitas vão de encontro aos relacionados à industrialização acelerada, ao crescimento demográfico, a escassez de alimentos, o esgotamento de recursos não renováveis e a rápida deterioração do meio ambiente (daí a insustentabilidade do modelo). No que diz respeito à competência na formulação de uma política de desenvolvimento sustentável, um bom exemplo é dado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), onde a implementação estudos afins visa à melhoria da relação entre o setor produtivo e o meio ambiente. Assim:

I - a contribuir para a formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável; II - ao desenvolvimento de instrumentos econômicos para a proteção ambiental; III - a contabilidade e a valoração econômica dos recursos naturais; IV - aos incentivos econômicos fiscais e creditícios; V - ao fomento ao desenvolvimento de tecnologias de proteção e de recuperação do meio ambiente e de redução dos impactos ambientais; VI - ao estímulo à adoção pelas empresas de códigos voluntários de conduta, tecnologias ambientalmente adequadas e oportunidades de investimentos visando ao desenvolvimento sustentável; VII - a promoção do ecoturismo (BRASIL, 2003).

Como exemplo ilustrativo seja o minério de ferro o objeto de estudo. Logo sob o pano de fundo do conceito de desenvolvimento sustentável a Rio-92 introduz temas que afetam a forma de extração e industrialização do ferro, em particular as que afetam a atmosfera. A proteção da atmosfera é evidenciada na Agenda 21, Capítulo 9, onde o desenvolvimento industrial tem que ser capaz de minimizar os impactos adversos na atmosfera desenvolvendo equipamentos antipoluentes. Assim:

9.1. a proteção da atmosfera é um empreendimento amplo e multidimensional, que envolve vários setores da atividade econômica. 9.2 Reconhece-se que muitas das questões discutidas neste capítulo também são objeto de acordos internacionais como a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, de 1985; o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, 1987, em sua forma emendada; a Convenção-Quadro sobre Mudança de Clima, de 1992; e outros instrumentos internacionais, inclusive regionais (CNUMAD, 2001, p. 61).

Neste contexto, a proteção da atmosfera requer uma área programa específica, como a promoção do desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento industrial, onde as bases para a ação são destacadas a seguir:

9.9 (...) A necessidade de controlar as emissões atmosféricas de gases que provocam o efeito estufa e de outros gases e substâncias deverá basear-se cada vez mais na eficiência, produção, transmissão, distribuição e consumo de energia, e em uma dependência cada vez maior de sistemas energéticos ambientalmente saudáveis, sobretudo de fontes de energia novas e renováveis. 9.16 A indústria é essencial para a produção de bens e serviços e é fonte importante de emprego e renda, e o desenvolvimento industrial enquanto tal é essencial para o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, a indústria é um dos principais usuários de recursos e matérias-primas e, conseqüentemente, as atividades industriais resultam em emissões para a atmosfera e o meio ambiente como um todo. A proteção da atmosfera pode ser

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fortalecida, inter alia, por meio de um aumento da eficiência dos recursos e matérias-primas na indústria, com a instalação ou aperfeiçoamentos das tecnologias de redução da poluição e a substituição dos compostos clorofluorcarbonos (CFCs) e outras substâncias que destroem o ozônio por substâncias apropriadas, e ainda por meio da redução de resíduos e subprodutos (CNUMAD, 2001, p. 62 e 64).

Como exemplo da aplicação dos conteúdos discutidos em várias conferências ocorreram, têm-se as que afetam a extração e industrialização do ferro, em particular, as que tratam do aquecimento global, como a emissão de gases com destaque aos gases-estufa que acabam por aumentar a poluição.

O aumento da concentração de gás carbônico no ar está ocasionando a intensificação do efeito estufa, retendo mais calor do que normalmente ocorreria. Caso se verifique uma elevação contínua da temperatura da atmosfera, seriam previstas conseqüências catastróficas, como o aumento do nível geral dos mares em razão do derretimento de geleiras polares e mudanças profundas no clima do planeta (GODOY, 2000, p. 47).

Assim a transformação do minério de ferro em gusa, aço ou mesmo nos subprodutos, ocorre com a queima de combustível87 fóssil (carvão vegetal, mineral, óleo ou mesmo o gás natural), necessário para fomentar os Altos Fornos. Na produção existe a emissão de diversos gases como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) que contribuem para o aumento do efeito estufa e da temperatura. A Tabela 1 ilustra os Fatores de emissão de metano no processo industrial do ferro e aço mostrando a quantidade em gramas de metano emitido por quilograma de produto para o período de 1990 a 2000.88

TABELA 1 – Fator emissão do metano no processo industrial (gramas de metano emitido por quilograma de produto produzido)89

Produto Industrial Fator de Emissão do Metano Coque 0,5 Sínter90 0,5 Ferro Gusa 0,9 Carbono Preto (CO2) 11,0 Etileno 1,0 Dicloroetileno 0,4 Estireno91 4,0 Metanol 2,0

FONTE: USA ( 2001, p. A27)

87 Exceto se a energia elétrica vier de usinas siderúrgicas. 88 FONTE: Chemical production figures for 1990-2000 were obtained from the Chemical Manufacturers Association, U.S. Chemical Industry Statistical Handbook (Washington, DC, various years); and for 2001 were obtained from the American Chemistry Council, Guide to the Business of Chemistry (Table 3.12). 89 FONTE: Intergovernamental Panel on Climate Change, Greenhouse Gas Inventory Reference Manual: Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories, Vol. 3 (Paris, France, 1997), p. 2.6, web sit www.ipcc.ch/pub/guide.htm. 90 Sedimentação química. 91 Estireno é um monômero (C8H7) usado na fabricação do poliestireno e seus copolímeros.

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Nesse processo industrial o maior fator de poluição através da liberação do gás metano vem a ser o carbono preto (CO2), que sozinho é mais impactante do que os demais produtos. Outros gases também estão presentes oriundos da adição de componentes químicos em vários estágios da produção na siderurgia e também na lavagem dos Altos Fornos. Estes são expelidos para a atmosfera (em menor ou maior escala), como o dióxido de enxofre (SO2), componentes orgânicos voláteis (VOC),92 benzeno, etileno, tolueno, monóxido de carbono (CO), amônia, dióxidos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs),93 sulfureto (H2S), carbonato de cloreto (HCI) e fluorídrico (HF). Ainda assim, metais pesados também são lançados no ar, como o zinco (Zn), chumbo (Pb), Cromo (Cr+3), Cádmio (Cd), Mercúrio (Hg), Cobre (Cu) e Arsênico (As). No meio aquoso estes metais também estão presentes como nos rios e mares. Interessante análise é a comparação dos efeitos ambientais verificado pela Companhia Britânica Corus Stall BV (situada em Netherlands, na região de Ijmond, Inglaterra) com suas concorrentes, denominado de ‘benchmark’. O Gráfico 1 (Chart 21) compara no eixo da ordenada a emissão em quilos por tonelada de aço bruto referente à emissão de SO2, NOx e poeira fina. No eixo da abscissa estão as Companhias suecas (SSAB e Rautauukki), a canadense (Dofasco) e a australiana (BHP) na produção de pelotas (pellets). Nesta comparação, as maiores emissões de NOx , SO2 e poeira fina são respectivamente na BHP (Broken Hill Proprietary), na Dofasco e na Rautauukki. Embora a Corus Staal pareça bem melhor que as outras companhias, a emissão de NOx ainda não representa uma conquista, pois a SSAB apresenta melhores resultados.

GRÁFICO 1 – Benchmark das Companhias

FONTE: SHE-report, (2000, p. 29)

92 Volatile organic compounds. 93 Polycyclic aromatic hydrocarbons.

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Um grande avanço na discussão da emissão de gases na atmosfera foi o Protocolo de Kyoto em 1997. O Jornal Folha de São Paulo publicou um artigo sobre a emissão de gases estufas nos países ricos. Como ilustração o Quadro 1 simula um termômetro colocando os Estados Unidos entre os maiores poluidores após a Rússia. A redução desses gases que afetam o clima foi tema de debate na Eco-92 no qual 160 países participaram.

QUADRO 1 - Emissão de gases-estufa dos países ricos (em %) Termômetro Cor Descrição 80 a 100 Branco 80,3 - só com os EUA 60 a 80 Vermelho 61,6 - só com a Rússia 40 a 60 Amarelo 55 – meta de Kyoto 0 a 40 Azul 44,2 – nível alcançado

NOTA: Adaptado de RÚSSIA, (2003, p. A 15)

Disso resultou no índice de redução em 5,2% com base em 1990 até sua primeira fase, que será 2008-2012, e para ratificar, surgiu o Protocolo de Kyoto94, em 1997.

Porque a decisão Russa põe o protocolo em risco? Até agora, 120 países, responsáveis por 44,2% das emissões, ratificaram o pacto. No entanto, o principal emissor (os EUA, que emitiam 36,1% dos gases-estufa dos países ricos) se retirou do protocolo O tratado ainda poderia ser alvo com a Rússia, que emitia 17,4% dos gases em 1990 Isolados, nem EUA nem Rússia podem acabar com o plano, mas sua recusa conjunta pode significar o fim de Kyoto. (RÚSSIA, 2003, p. A 15).

“Para que o protocolo entre em vigor, é preciso que ele seja ratificado por pelo menos 55 países – entre eles, os países desenvolvidos responsáveis por 55% das emissões” (MELLO e OJIMA, 2004, p. 6). Esse protocolo não entrou em vigor até hoje, principalmente pela recusa dos Estados Unidos e pela ameaça da Rússia95 em não colaborar com a redução da emissão desses gases. Concluindo, verificou-se que houve avanços significativos na discussão sobre o meio ambiente, inclusive com a incorporação do conceito de desenvolvimento sustentável. No entanto apesar de vários documentos e protocolos existentes muito se tem a caminhar no sentido de colocar em execução o proposto.

94 Cidade japonesa. 95 Os EUA e a Rússia são os países que mais emitem os gases-estufa. Em 05/11/2004 a Rússia assinou o Protocolo de Kyoto. Os americanos ainda não se manifestaram.

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Referências BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudança da agenda 21. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Políticas de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <www.mma.gov.br>. Acesso em 26 fev. 2003. CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992: Rio de Janeiro). Agenda 21. Curitiba: Ipardes, 2001. GITLI, E.; MURILO, C. O Futuro das Negociações sobre Investimento e Meio Ambiente. In: BRAGA, A. S.; MIRANDA, L. C. (Org); et al. Comércio e Meio Ambiente: Uma abordagem positiva para o desenvolvimento sustentável. Brasília: MMA/SDS, 2002. GODOY, A. M. G.; EHLERT, L. G. Políticas Públicas: Alguns Aspectos de Natureza Ambiental. Apontamentos. Maringá, n. 36, ago. 1995. GODOY, A. M. G. Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente. In: Cadernos de Economia. Chapecó, Santa Catarina, ano 5, n. 9, jun/dez. 2001. _____ . Políticas Públicas e Meio Ambiente. 2000. _____. Desenvolvimento e Meio Ambiente. 2002c. GREENPEACE. Minamata. Disponível em: <www.google.com.br>. Acesso em 07 jul. 2003. MARTINS, R. O Debate Internacional Sobre Desenvolvimento Sustentável: Aspectos e Possibilidades. Unesp – Campus de Marília, 2002. MELLO L. F. de; OJIMA R. Além das certezas e incertezas: desafios teóricos para o mito da explosão populacional e os acordos internacionais. In: XIV ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 20 a 24 set. 2004. Caxambu - MG. Anais... ABEP, 2004. RÚSSIA ameaça destruir Protocolo de Kyoto. Folha de São Paulo, São Paulo, 3 dez. 2003. Folha Ciência, p. A 15

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SHE-report 2000. Safety, health and the environment in 2000. Corus Strip Products Ijmuden, Netherlands: Corus BV, jul. 2001. Disponível em: <www.scirus.br> e <www.corusgroup.com>. Acesso em 12 set. 2003. USA. Emissions of Greenhouse Gases in the United States 2001. Appendix A - Estimation Methods. In: Energy Information Administration - Official Energy Statistics from the U.S. Government. Disponível em: <www.scirus.br> e <www.eia.doed.gov>. Acesso em 24 set. 2003.

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195

ARTIGO 13

Políticas ambientais no setor siderúrgico e minerário com ênfase no minério de ferro96

1. Breve relato histórico A essência dessa passagem histórica se faz jus ao desenvolvimento da produção e consumo de minérios no Brasil. Dessa forma, a exploração da natureza é exclusiva do homem em vista do seu desenvolvimento insustentável e a natureza jamais será a mesma e a evolução da humanidade depende desse processo no qual o futuro aguarda.

'O trabalho das minas nunca conheceu interrupcção desde a aurora brumosa em que nosso antepassado pitecântropo destacou um lasca de sílex de um buraco de greda até este dia recente em que uma série de pás mecânicas, atividades pelo vapor ou a eletricidade, cavaram rapidamente e com grande ruído uma montanha de rocha cuprífera. A operação se pratica sobre uma escala muito maior, mas o fim é o mesmo; explorar os recursos minerais da natureza em proveito do homem' (RICHARD, s.d. apud GOMES, 1978, p. 3).

Mais à frente o autor também completa sua posição na fabricação de ferro, onde

A constituição dos processos para extrair o ferro e fabricar suas ligas usuais a partir dos óxidos, e ocasionalmente do carbonato (siderita) só se fez necessário nos tempos históricos. É a evolução dessa indústria primitiva até a grande indústria atual que tornou o ferro o metal da civilização (GOMES, 1978, p. 11) .

Quaresma (2001) narra as formações ferríferas como

Cerca de 4,2% da litosfera são constituídos de ferro. Os principais minerais que contêm ferro são: hematita, magnetita, geothita e siderita. As formações ferríferas bandadas, denominadas de itabirito, compostas de hematira (Fe2O3) e sílica, se constituem nos maiores depósitos de minério de ferro. (...) O minério de ferro, em virtude de suas propriedades químicas e físicas, é, na sua quase totalidade, utilizado na indústria siderúrgica (99%). O restante é utilizado

96 Artigo desenvolvido em 2004 e baseia-se em alguns capítulos modificados da dissertação de mestrado.

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como carga na indústria de ferro-liga, cimento e eventualmente na construção de estradas (QUARESMA, 2001, p. 1). Em relação às jazidas e ao impacto ambiental tem-se: As jazidas de minério de ferro acham-se em diversos Estados, porém as mais importantes localizam-se numa área de Minas Gerais que foi denominada ‘Quadrilátero Ferrífero’, onde estão as cérebres montanhas ferríferas de Itabira do Campo (Pico de Itabirito) e Itabira do Mato (o Pico do Cauê, já muito desgastado pela extração do minério) (MINÉRIO, 1971, vol. 13, p. 65). Este artigo discute as políticas ambientais da extração e industrialização

nacional do minério de ferro e seus impactos ambientais, inclusive aos padrões vigentes na época, inerente ao progresso. 2. Os Impactos Ambientais da Mineração Os danos causados pela extração e industrialização do minério de ferro têm por conseqüência significativos impactos ao meio ambiente. Tais impactos merecem uma abordagem mais detalhada, como mostra a Figura 1, onde os possíveis impactos ambientais da mineração são mencionados. Na mesma, o Meio Ambiente é dividido em Espaço Urbano e Rural. Este, por sua vez, resulta em impactos que podem ocorrer no Meio Ambiente Biogeofísico e o Meio Ambiente Sócio-Econômico. Pela mesma, do lado esquerdo, os impactos no Meio Ambiente Biogeofísico podem ser dividido em duas partes. A primeira, físico, altera as condições da água, ar e solo, gerando o impacto físico. A segunda, biológico, altera a fauna e a flora, gerando o impacto biológico. Do lado direito, tem-se os impactos do Meio Ambiente Sócio-Econômico, também divididos em duas partes. A primeira, a infra-estrutura material, que impacta a água, ar e solo, para atender as necessidades físicas como a alimentação, saúde, saneamento e habitação. A segunda, a super-estrutura social, envolve o institucional, cultural e político para atender as necessidades da sociedade, como a educação, a participação no trabalho e o bem-estar. O uso e ocupação do espaço rural ou urbano provocam impactos ambientais, em particular, na mineração.

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FIGURA 1 - Diagrama do Impacto Ambiental

MEIO AMBIENTE|

ESPAÇO|

DESENVOLVIMENTO URBANO E RURAL|

| | |MEIO AMBIENTE | MEIO AMBIENTE BIOGEOFÍSICO | SÓCIO-ECONÔMICO

| | | | | | | |FÍSICO BIOLÓGICO | INFRA-ESTRUTURA SUPER-ESTRUTURAS | | | MATERIAL SOCIAIS | | | | |ÁGUA FLORA | ÁGUA INSTITUCIONALAR FAUNA USO AR CULTURALSOLO | E SOLO POLÍTICO | | OCUPAÇÃO | | | | DO | | | | ESPAÇO NECESSIDADES NECESSIDADES | | | FÍSICAS SOCIAIS | | | | |IMPACTO IMPACTO | ALIMENTAÇÃO EDUCAÇÃO FÍSICO BIOLÓGICO | SAÚDE PARTICIPAÇÃO | | | SANEAMENTO TRABALHO | | | HABITAÇÃO BEM ESTAR

| | | || | |

IMPACTO BIOGEOFÍSICO | IMPACTO SÓCIO-ECONÔMICO| | |

| IMPACTO AMBIENTAL

|CRITÉRIOS

|AIA

FONTE: Adaptado de PERAZZA et al., (1985) apud IMPACTOS, (1992, p. 9)

É interessante frisar que, apesar de todas tecnologias existentes (nacionais ou não), várias delas ainda não estão disponíveis, seja por causa dos altos custos de investimento, pelas prioridades de cada empresa em cada setor ou mesmo pela falta de mais incentivo às pesquisas na área. Também é importante destacar, que muitas empresas ainda agem após ocorrer o acidente e/ou para atender a uma legislação mínima. Segundo Silva e Souza (2002):

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A atuação da empresa na área ambiental pode ser vista de duas formas: a primeira objetiva adequar o processo industrial ao mínimo exigido pela legislação e, a partir daí, agir preventivamente com ênfase em tecnologias novas e menos poluidoras; outra é a do tipo ‘apagar incêndio’, em que se utilizam equipamentos do tipo 'end of pipe' (SILVA e SOUZA, 2002, p. 15).

A sensibilização ou adoção e respeito pelas normas (seja pressões

tecnológicas, ambientais ou através da legislação) existentes por parte das empresas de extração e nas indústrias ‘prova’ a importância da qualidade que o meio ambiente vem adquirindo no mundo e no Brasil. Citam-se alguns avanços e/ou adoções nas empresas desde a década de 1990, com ressalva a muitos casos onde se usa propaganda ambiental para mostrar compromisso com a responsabilidade social. A seguir, será abordado o avanço ambiental de várias empresas, destacando suas inovações tecnológicas e certificações. Estas, como a ISO 9001, que se refere ao Sistema de Qualidade, a ISO 14001, ao Meio Ambiente, AS 8000, de Responsabilidade Social e a OHSAS 18001 e BS 8800 que tratam da Saúde e Segurança Ocupacional, além de outras certificações.

3. Minerações Brasileiras Reunidas – MBR A MBR97 já aponta para esse caminho, pois já reformulou seu projeto de

forma a rastrear possíveis incidências impactantes com o meio ambiente. Ciente de que a mineração apresenta forte potencial de degradação ambiental, a MBR dotou suas unidades operacionais de adequados projetos de instalações industriais, planos racionais de lavra e monitorização permanente de seus parâmetros ambientais, visando-se assegurar a compatibilização do desenvolvimento de suas lavras com o meio ambiente (MBR, 1990, p. 19-20).

Atualmente a MBR faz um monitoramento de suas unidades operacionais (inclui a CAEMI Mineração e Metalurgia S.A.). Também utiliza técnicas de hidrossemeadura98 assim como o plantio de árvores para minimizar os impactos causados. Em suas unidades e comunidades próximas, a Empresa mantém uma série de equipamentos destinados a controlar as variáveis que podem interferir na qualidade do ar e da água, como poeira, detonações e ruídos emitidos por suas operações. Em relação à exploração de uma nova mina (Capão Xavier, Nova Lima - MG), a preocupação ambiental da empresa é expressa da seguinte forma:

Um dos tópicos mais detalhados do trabalho é o que se refere aos potenciais impactos sobre o sistema hídrico do entorno da mina, que incorpora os mananciais de Mutuca, Fechos, Catarina e Barreiro e produz cerca de 5% do consumo de Belo Horizonte. Sabe-se que o futuro rebaixamento dos lençóis subterrâneos, uma atividade rotineira na atividade mineradora, poderá afetar, porém de maneira pouco significativa, o manancial de Fechos. Ainda que

97 Pertence CAEMI, que por sua vez pertence a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). 98 Plantio de gramíneas.

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reduzido, esse impacto é considerado importante pela empresa e poderá ser neutralizado com facilidade: parte da água captada nos poços, perfurados para possibilitar o rebaixamento, será aduzida para os mananciais, o que proporcionará, na verdade, um superávit na produção aqüífera, capaz de atender às necessidades operacionais da MBR e de regularizar a vazão dos córregos, minimizando os efeitos dos períodos de estiagem sobre o abastecimento (MBR, 2004).

Assim, a MBR já inicia todo o processo de licenciamento de seu novo projeto de exploração uma vez que já encaminhou o projeto a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), anexando um documento denominado de ‘Termo de Referência’, onde consta o estudo do Impacto Ambiental (EIA) do novo empreendimento. Em relação aos rejeitos e estéril gerados em Capão Xavier,99 os mesmo serão colocados na forma de recomposição da cava da Mina da Mutuca.100 Uma especial atenção também será dada para as comunidades vizinhas em relação aos ruídos (serão construídas barreiras ao redor da nova mina devido as detonações), a poeira (devido ao tráfego pesado na estrada) e aos impactos101 (harmonia com os mananciais, com a fauna e flora da região). Assim:

Na fase inicial, o transporte de estéril e minério de ferro entre Capão Xavier e Mutuca será feito através de uma estrada particular da MBR, pavimentada e exclusiva, paralela à BR-040. Posteriormente será construída uma correia transportadora para levar o minério. O estéril continuará sendo transferido por caminhões (MBR, 2004).

Outra nota a ser destacada pela empresa é com relação ao futuro, quando a mina chegar à exaustão. “A área de operação, devidamente recuperada, será incorporada ao Parque Estadual Serra do Rola Moça, vizinho a Capão Xavier (...) e ao sistema de abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)” (Idem, 2004).

A MBR possui as seguintes certificações: ISO 9001/2000, ISO 14001 e OHSAS 18001.

99 A previsão de operação desta mina é prevista ao longo de 17 anos, segundo a MBR. 100 Esta mina foi desativa em 2001. 101 “Dentro do conceito de colocar toda a tecnologia disponível a serviço da mineração, a MBR já investiu mais de R$ 1 milhão, desde 1993, apenas em pesquisas ambientais e monitoramentos na região do empreendimento, próxima a mananciais. (...) Esse acompanhamento, que será realizado durante toda a fase de operação da mina, já teve os primeiros efeitos: permitiu detectar, no local, a presença de dois gêneros de microcrustáceo, sendo que um deles, o Branchineta sp., era ainda desconhecido”. (SISTEMA MBR, 2004).

200

4. Mannesmam102 Em 1997, a empresa torna públicas suas políticas ambientais, dividindo a responsabilidade ambiental com a sociedade e governo. A empresa inicia sua política ambiental primeiramente aos seus funcionários, através de treinamento visando à conscientização com o meio ambiente. Em seguida destina US$ 500 mil na construção de uma barragem em 1994 para conter os resíduos e estéreis gerados na industrialização do aço em tubos.

A barragem da Mina Pau Branco, em operação desde 1994, com custos aproximado de US$ 500 mil e o projeto Mata Ciliar são exemplos da preocupação da empresa com a recuperação do meio ambiente. E 1995, os investimentos nesse sentido alcançaram 4% do faturamento e para 1996 a previsão é de que o valor seja o mesmo. (...) Para atender as metas e os mais itens referentes à despoluição industrial, os investimentos na área ambiental deverão totalizar, nos próximos dois anos, aproximadamente R$ 40 milhões, o que corresponde ao montante investido nos últimos 20 anos (MANNESMAMM, 1997, p. 37-38). A questão dos resíduos também aponta para outro problema, a emissão de

poeira na atmosfera. Assim, a importância da instalação de equipamentos de desempoeiramento, de recirculação da água e outras medidas de saneamento ambiental se fazem necessárias, além do destino com os resíduos industriais, onde levou a Mannesmann a criar um sistema de gestão para sua destinação ou mesmo transformar em sub-produto rentável. Com isso também foi possível reduzir o volume do estoque de carvão vegetal o que implica em menor impacto ambiental.

O pó do coletor (pó do balão) e a lama da lavagem dos Altos-Fornos, resíduos da V&M do BRASIL que podem ser utilizados como aditivos na massa cerâmica, já estão sendo destinados corretamente para a Cerâmicas Minas Brasil. A empresa foi licenciada no primeiro semestre de 2002 pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), autorizando a parceria entre a VMB e a Minas Brasil para reutilização de subproduto da siderúrgica, visando a redução de custos, o aumento de receitas e o atendimento aos requisitos legais. (...) A redução contínua das emissões atmosféricas, geradas pelos processos de produção, em função das melhorias incorporadas aos equipamentos e a eficiência dos filtros, são facilmente observadas pela melhoria da qualidade do ar. Além disso, o estoque interno de carvão vegetal foi reduzido de 300.000 para 30.000 metros cúbicos, demonstrando que técnicas e procedimentos de gerenciamento, de forma integrada, garantem a gestão adequada da matéria prima e reduzem os impactos ambientais (MANNESMAMM, 2004).

Outros grandes impactos ambientais são as emissões de gases gerados pela

empresa e este problema pode ser amenizado com a implantação de uma usina termoelétrica utilizando o gás de Alto Forno e o alcatrão vegetal (subproduto da carbonização da madeira) como combustíveis.

102 A Mannesmam S.A. em 02 de junho de 2000 passou a fazer parte da Vallourec & Mannesmann Tubes, empresa formada em 1997 através de uma ‘joint venture’ (união de empresas do mesmo setor para desenvolverem juntas uma alta tecnologia, ou seja, um sistema de parceria) entre o grupo francês Vallourec (55%) e a alemã Mannesmannrohren-Werke (45%) na fabricação de tubos de aço sem costura.

201

Para o meio ambiente as vantagens são significativas: uma termelétrica a gás natural do mesmo porte dessa que está sendo construída na VMB, emite cerca de 10 t/h103 de CO2 para a atmosfera. No caso da termelétrica que emprega GAF e alcatrão, o balanço de CO2 pode ser considerado ‘zero’, pois toda emissão é anteriormente fixada na formação da biomassa de madeira de eucalipto, plantada para este fim (MANNESMAMM, 2004). Embora a empresa apresente como solução o destino dos gases e resíduos,

estes ainda estão longe de uma redução significativa a favor do meio ambiente.

5. S.A. Mineração Trindade - SAMITRI Em 1992 a SAMITRI104 destacou-se pelo pioneirismo quanto ao controle de

material estéril ou canga, através de reposição controlada por cobertura vegetal com operações de hidrossemeaduras nas bancadas definitivas, pois segundo a Companhia, “esta técnica não só aumenta a segurança nas áreas trabalhadas, por meio de proteção contra deslizamentos ou erosão superficial como, sobretudo, resgatar a paisagem natural que vier a ser trabalhada” (SAMITRI, 1992, p. 19).

Dando continuidade ao projeto, em 1998 a empresa cria uma sistema de gestão ambiental, investindo R$ 10,2 milhões, e em 1999, R$ 3 milhões para proteção do meio ambiente ocasionados pela atividade mineradora (SAMITRI, 1999). Os principais destinos destes investimentos são a minimizações das áreas degradas, como por exemplo

revegetar 100 hectares por ano. Entre setembro de 1998 e abril de 1999, 150 hectares foram revegetados, sendo 60 hectares na Mina de Alegria, em Mariana, 10 hectares em Córrego do Meio, na região de Sabará e 70 hectares em Morro Agudo, em Rio Piracicaba e 10 hectares na Mina do Andrade, próximo a João Monlevade. O Programa visa a recuperação das áreas degradadas imediatamente após o processo de lavra, evitando a geração de passivos ambientais para as próximas gerações (SAMITRI, 1999).

A construção de barragens também faz parte do projeto ambiental da S.A. como a Barragem Campo Grande, em 1998, na Mina de Alegria. “A nova barragem possui um processo inovador de ciclonagem que envia o rejeito fino para o reservatório e o grosso para formar o corpo da barragem” (Idem, 1999). 6. Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA - USIMINAS A USIMINAS105 começou sua política ambiental em 1962, sendo alterada em 1973 e ratificada em 1979 para preservar o meio ambiente através de instalação de equipamentos em suas unidades de produção.

103 Tonelada por hora. 104 Pertence a CVRD. 105 Privatizada em outubro de 1991.

202

Em 12/06/1990, foi assinado com o Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais (Copam) um termo de compromisso, visando a adequação das unidades funcionais à legislação ambiental. Com o encerramento dos compromissos, em 04/08/1998, a Usiminas foi convocada pela Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais (Feam) a proceder o licenciamento ambiental (USIMINAS, 2004).

Em 1996 a empresa recebe a certificação ISO 14001 reafirmado em 1999 e 2002. Entre os objetivos e metas da Empresa destacam-se: - ar: reduzir a emissão específica de material particulado de 1,25 kg/tab106 em 2002 para 0,86 kg/tab até dezembro de 2008; - gases: avaliar as emissões de gases provenientes do processo produtivo até dezembro de 2004. Está em elaboração as emissões de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) provenientes das áreas de coquerias e carboquímicos até dezembro de 2004. Outros gases, como SO2 e NO2 provenientes da queima de combustíveis até dezembro de 2003; - Água: captar água do Rio Piracicaba em um volume menor ou igual a 109,2 m³/min107 obtendo um consumo máximo de 12,8 m³/tab e atingir um índice de recirculação maior ou igual a 93,3 % até dezembro de 2003. A meta é reduzir o consumo de água no Alto Forno 2 até dezembro de 2003. Quanto ao efluente, eliminar este hídrico dos Altos-Fornos 1 e 2, contendo contaminação de H2S até dezembro de 2003; - Solo: reduzir a disposição de resíduos sólidos em aterro controlado para 15.000 t/mês108 em dezembro de 2003. A meta é comercializar 5.000 toneladas da lama de Alto Forno no ano de 2003. Para recuperação do solo, o objetivo é descontaminar a antiga área de disposição de resíduos (Poço Redondo) até 2012, adequando o teor de benzeno dos efluentes hídricos da área do Poço Redondo aos padrões da legislação (<0,01 mg/L)109 até 2012 (USIMINAS, 2004). Analisando os objetivos, as metas propostas e também a preocupação da Empresa, pode-se adiantar que a política ambiental parece estar presente por trás dos danos causados por ela. 7. Companhia Siderúrgica Tubarão - CST A CST110 está localizada no Estado do Espírito Santo, atua na produção de placas de aço por lingotamento contínuo, conseguindo através de suas políticas ambientais, o certificado ISO 14001 em 2001, incluindo neste diagnóstico, a co-geração de energia elétrica e o sistema de transporte interno. A empresa elabora um relatório ambiental onde coloca a público seus processos, normas e metas através da

106 Quilo por tonelada. 107 Metro cúbico por tonelada. 108 Tonelada por mês. 109 Miligrama por litro. 110 Privatizada em julho de 1992.

203

sua gestão ambiental. O investimento em gestão ambiental111 foi 1998, US$ 411 mil, US$ 135 mil em 1999, US$ 185 mil em 2000, US$ 360 mil em 2001 e US$ 491 em 2002. A redução do dióxido de carbono112 é uma preocupação nítida da empresa que leva em consideração as metas traçadas pelo Protocolo de Kyoto, e mais, busca uma qualidade ambiental semelhante à européia.

Realizar esforços e investimentos no desenvolvimento de projetos voltados para a redução das emissões de CO2, é um objetivo de efeito global que coloca a Companhia em sintonia com a estratégia definida pelo protocolo de Kioto. (...) No âmbito interno, o SGA vai buscar atingir níveis de qualidade ambiental equivalentes aos da Comunidade Européia (SISTEMA, 2003). Como resultado, a empresa consegue através de uma tecnologia

desenvolvida no uso da granulação da escória gerada nos Altos-Fornos como matéria-prima na fabricação de cimento em substituição ao clínquer, reduzindo a emissão do gás carbono.

O processo permite a utilização desse resíduo como matéria-prima, de menor custo e mais limpa, para a produção de cimento, em substituição ao clínquer, material cuja produção gera emissões de CO2. Para cada tonelada de clínquer substituída evita-se a emissão de 648 kg de CO2. De 1984 até 2002, cerca de 17 milhões de toneladas de escória granulada gerada pelos Altos-Fornos da CST foram destinadas à produção de cimento (DESENVOLVIMENTO, 2003). Já os investimentos em equipamentos e sistemas de controle ambiental, a

Companhia tem como marco a cifra de US$ 481 milhões no período de 1998 a 2002, conforma mostra o Gráfico 1 abaixo:

GRÁFICO 1 – Investimento da CST em Equipamentos

e Sistemas Antipoluentes

FONTE: INDICADORES, (2003)

111 Gastos com programa de educação ambiental, campanhas de conscientização, auditorias externas, entre outros. 112 Gás carbônico ou CO2

204

No Gráfico 1 as barras verticais indicam os investimentos anuais e a linha indica os investimentos acumulados. Os investimentos estão centrados na instalação do Terceiro Filtro de Mangas no sistema secundário da aciaria (US$ 3,7 milhões), na substituição das portas dos fornos da coqueira113 (US$ 15 milhões), melhorias no sistema de despoeiramento do desenfornamento do coque, melhorias no Filtro de Mangas do refino secundário e melhorias na estação de tratamento de água na aciaria.

A CST mantém relações ambientais constantes com o IEMA/SEAMA (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, órgão da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Espírito Santo) de acordo com a conformidade legal para obter as licenças requeridas.

Outros índices são os de eco-eficiência, como a relação de emissão de dióxido de carbono. O Gráfico 2 mostra a quantidade do gás emitido no período de 1998 a 2002. Nesse período, houve uma redução de 8,16% em kg de CO2/ton114 de aço líquido. Segundo o relatório da Companhia, “foram registradas reduções de 23% em partículas totais em suspensão (PTS), 18% em dióxido de enxofre (SO2) e 8% em óxidos de nitrogênio (NOX) em relação ao ano 2001” (INDICADORES, 2003).

GRÁFICO 2 – Emissão de CO2 na CST

FONTE: INDICADORES, (2003) A CST utiliza 95% da água do mar como fonte nas centrais termoelétricas,

nas coqueiras e nas aciarias “como fluído refrigerante sem contato com equipamentos e produtos e retorna à sua origem através de um canal de longo percurso e bacia de acumulação, no qual a temperatura é reduzida pela troca de calor com ar” (Idem, 2003).

113 Forno movido à queima de coque. 114 Gás carbono por tonelada.

205

Quando a água é retornada ao mar, esta é monitorada pela Companhia para verificar o grau dos efluentes nela contido num de raio de 50 metros a 10 quilômetros. Nesse estudo é analisado a “salinidade, pH, oxigênio dissolvido, sólidos de suspensão, coliformes fecais, amônia não ionizada, fósforo solúvel, óleos e graxas, incluindo metais” e a água doce é também usada no processo, porém sofre contato com matérias poluentes, mas “a empresa contabiliza 96,6% de recirculação de água doce” (Ibidem, 2003). O gráfico 3 mostra a redução do consumo de água doce, com redução constante até 2001, quando mantém o mesmo índice em 2002.

GRÁFICO 3 – Consumo de água doce pela CST

FONTE: INDICADORES, (2003)

Já o Gráfico 4 mostra índice de recirculação de água doce (clorificada),

aumentando a cada ano, ou seja, do patamar de 93% de recirculação em 1998 até 96,6% em 2002. Segundo a CST, este é o melhor índice das siderurgias brasileiras.

GRÁFICO 4 – Índice de recirculação de água doce

FONTE: INDICADORES, (2003)

206

Um impacto muito agressivo está nos efluentes hídricos (lama) gerado no processo de limpeza dos gases da ‘coqueira’ onde a amônia é o material nocivo. O Gráfico 5 mostra a emissão de líquidos em quilos por hora (kg/h) que contém amônia no período de 1998 a 2002, com percentual de redução de 32,22% embora o ano de 2002 apresentou um retrocesso aos anos de 2000 e 2001.

GRÁFICO 5 – Emissão de efluentes líquidos contendo amônia (lama)

FONTE: INDICADORES, (2003)

Com relação ao tratamento de emissão de partículas de aço, o Gráfico 6

mostra a emissão específica (barras) e a produção de aço (linha).

GRÁFICO 6 – Emissão de material particulado (kg/t aço líquido) versus produção de aço

líquido (kg.x 1000/ano)

FONTE: INDICADORES, (2003)

207

Assim é possível concluir que a implantação de filtros caracterizou numa redução de mais de 50% na emissão de material particulado (gráfico de barras) em relação ao aumento da produção (gráfico de linhas).

8. Cia Aços Especiais Itabira - ACESITA A ACESITA115 foi fundada em 1944 e iniciou suas atividades em 1949. Sua

produção é voltada em aços ao carbono e microligados, aços ao silício de grão orientado (GO) e de grão não orientado (GNO), além dos aços inoxidáveis planos laminados a frio. Em setembro de 1998, incorpora a Usinor, grupo francês considerado um dos maiores produtores de aço do mundo. Sua produção está voltada para o uso do carvão vegetal, ou seja, segundo Furtado (2000, p. 176), “a empresa, produtora de aços especiais de alta qualidade, emprega o carvão vegetal como principal redutor em seus altos-fornos, do mesmo modo que a Belgo-Mineira.” Sua política ambiental foi implementada em 1992 na Fundação Acesita através do Oikós, seu Centro de Educação Ambiental. Em 2001 conseguiu a certificação ISO 14001.

Essa certificação equivale a um selo verde já concedido a poucas siderúrgicas no mundo e é fruto de investimentos superiores a US$ 58 milhões, realizados no período pós-privatização. Atualmente, a Acesita faz controles regulares de poluição hídrica, atmosférica e de resíduos industrias; pratica a coleta seletiva e recircula 94% da água usada no processo siderúrgico (ACESITA, 2004).

Os investimentos nos oito anos seguintes a privatização foram na ordem de

US$ 58 milhões sendo US$ 38,2 milhões na aquisição de equipamentos e US$ 19,8 milhões em compromissos assumidos com o Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam). Entre os investimentos, destacam-se os equipamentos para “desempoeiramento da casa de corrida do Alto-Forno 2 e os painéis acústicos para amortecimento ou bloqueio do ruído gerado na Aciaria” (Idem, 2004).

9. Companhia Siderúrgica Nacional - CSN A CSN116 em 1993 iniciou uma estratégia de controle ambiental nas suas

unidades de produção, como a “desativação de antigas unidades e a instalação de equipamentos de ponta, destinados a eliminar cada vez mais os efluentes, resultaram em sensível melhora na qualidade ambiental de Volta Redonda e no processo produtivo da Companhia” (CSN, 2004). Entre as políticas ambientais adotadas pela empresa são as iniciais da palavra SEMPRE, ou seja, Suporte ao negócio, Empresa 115 Privatizada em outubro de 1992. A Acesita detém a participação acionária da CST. 116 Privatizada em abril de 1993.

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transparente, Melhoria contínua, Prevenção da poluição, Respeito à legislação ambiental e Equacionamento das não conformidades. No que diz respeito aos efluentes gerados na unidade GalvaSud (joint-venture entre a CSN e a alemã Thyssen Krupp Stahl AG - TKS), na fabricação de aços galvanizados para atender o seguimento automobilístico, a emissão e efluentes com relação aos impactos ambientais são analisados da seguinte forma:

Todo efluente gerado na fábrica é tratado por intermédio de uma completa estação físico-química totalmente automatizada, ou de sistemas compostos de fossas sépticas e filtros anaeróbicos. Nas atividades operacionais foram instalados queimadores de baixa emissão de NOX, processos de recirculação e reutilização de soluções alcalinas, transformadores secos e lâmpadas de sódio de alta pressão, entre outros (CSN, 2002, p. 24).

Os custos e investimentos ambientais realizados pela CSN e suas controladas (CISA, GalvaSud e INAL), foram R$ 172,5 milhões em 2000, R$ 150,9 milhões em 2001 e R$ 123,1 milhões em 2002 (CSN, 2002, p. 26). A Cia. dispõe dos certificados ISO 14001/96, ISO 9001/2000 e TS 16949. No que diz respeito a índices, os dados em relação ao benzeno que influencia na qualidade do ar sob a forma de quantidade de Partículas Totais de Suspensão (PTS), em Volta Redonda (RJ), é vista da seguinte forma:

Embora no Brasil não exista padrão legal para a presença de benzeno no ar, o valor registrado em 2002 enquadra-se nos índices de concentração máximos permitidos para áreas residenciais previstos na legislação da Alemanha (2,5 µg/m3), além de ser também inferior ao valor de referência da OMS (Organização Mundial da Saúde), reconhecidamente o mais restritivo (1,0 µg/m3) (CSN, 2002, p. 18).

De acordo com o Gráfico 7, a poeira devido à concentração de benzeno no ar ficou em 71,6 µg/m3 (micro-grama por metro cúbico) entre 1995/96, reduzindo para 22,6 µg/m3 em 1999, 1,5 µg/m3 em 2001 e 0,63 µg/m3 em 2002.

GRÁFICO 7 - Emissão de benzeno na CSN

FONTE: CSN, (2002)

209

Na análise de emissão das partículas em quilogramas por toneladas de aço, a CSN demonstra através do Gráfico 8 uma redução substancial ano a ano. Assim, em 1995 eram emitidos 5,13 kg/t 117 de aço em forma de partículas e em 2002, 0,43 kg/t. Isso significa, de certa forma, uma maior oxigenação para a sociedade.

GRÁFICO 8 - Emissão de material particulado

FONTE: CSN, (2002) NOTA: Em Kg/t de aço. No que diz respeito a outros gases emitidos, destacam-se, segundo a Cia.,

os produtos carboquímicos oriundos da limpeza do gás de coqueira (alcatrão, naftaleno, antrafem, BTX, amônia e creosoto, entre outros, com ampla utilização em vários segmentos da indústria química), pós e lamas (utilizados como agregados e indutores energéticos na indústria cerâmica) e uma série de resíduos que retornam como matéria-prima às próprias unidades produtivas da usina (CSN, 2002, p. 20).

Entre os produtos carboquímicos, estes são comercializados gerando um acréscimo no faturamento da CSN de R$ 55.498 em 2002. 10. Companhia Siderúrgica Paulista - COSIPA A Cosipa118 está localizada em Cubatão, São Paulo. Começou suas atividades em 1963 com a laminação. Atende a política do meio ambiente colocando

117 Quilograma por tonelada. 118 Privatizada em agosto de 1993.

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como meta a segurança e a saúde. Nesses itens, a empresa efetua os procedimentos através das normas nos processos de operação e manutenção. Os Projetos Ambientais Cosipa (PAC) são tratados pelo órgão competente que centraliza a implementação de equipamentos de controle de poluição (ar, água e solo). Também concilia o uso da sucata (reciclagem) como matéria-prima, o que reduz de certa forma os impactos ambientais.

No início de 1989 executou o projeto de despoeiramento do Alto-Forno 1, etapa final do processo de fabricação do ferro gusa. A poeira é muito nociva, principalmente quando resulta da oxidação. Assim, foram instalados 1.344 filtros que tornam o ar mais limpo em Cubatão, com tecnologia nacional. “A Cosipa já investiu no controle de 70% das emanações para a atmosfera. (...) Para concluir o programa, a Cosipa necessita de outros US$ 73 milhões” (COSIPA, 1989, p. 32). Com isso, a Companhia conseguiu a certificação ISO 14.001. Ainda assim seus investimentos estão na ordem de US$ 240 milhões.

Esse programa foi iniciado em 1995 e é, sem dúvida, um dos mais amplos já realizados pela siderurgia brasileira, com objetivo eminentemente ambiental. Para a sua execução até 2002, serão utilizados US$ 240 milhões. (...) A atuação desse projeto já resultou na redução de 92% das emissões de material particulado na atmosfera (COSIPA, 2003).

Com isso a Cia. conseguiu a certificação ISO 14001 e OHSAS 18001. O Gráfico 8 apresenta os investimentos passados e futuros, estes, com maior volume no período pós privatização.

GRÁFICO 8 – Investimento da COSIPA

FONTE: COSIPA, (2003)

Em relação à poluição do ar devido à emissão de partículas, a empresa adota medidas de cavagem, lavagem, limpeza e umectação das ruas e distribuição de folhetos informativos aos motoristas. O Gráfico 9 é ilustrado o grau de alerta e o grau de emergência na quantidade de partículas dispersas no ar. Nota-se que em 1984, o índice de alerta estava em 12, considerado como alto nível. Nos próximos anos o indicador oscila mantendo nos anos seguintes uma trajetória de queda. Já o

211

índice de emergência manteve-se em 1 em 1984, 1985, 1991 e 1994. Após 1995, ambos índices foram considerados nulos.

GRÁFICO 9 – Índice de emissão de partículas

FONTE: COSIPA, (2003)

O Quadro 1 mostra as conquistas da empresa na redução de seus materiais nocivos ao meio ambiente.

QUADRO 1 – Redução de poluentes na COSIPA

Redução / Aumento % Redução na Emissão de Material Particulado 98,3 Redução no Lançamento de Óleos e Graxas 99 Redução da Carga Orgânica 80 Redução no Lançamento de manganês Solúvel 79 Redução no Lançamento de Amônia 68 Aumento no Índice de Recirculação de Água 72

FONTE: COSIPA, (2003)

11. Aço Minas Gerais SA - AÇOMINAS A AÇOMINAS119 está localizada em Ouro Branco, Minas Gerais. Investiu

em equipamentos antipoluentes na ordem de US$ 160 milhões na primeira fase em 1990 para conservar a fauna, a flora e os mananciais. Na fase II, a empresa expande a produção. Assim:

um dos desafios a que se propôs a Açominas, ao implantar a Usina, foi o de não alterar a qualidade do ar, da água e do solo existentes na região do Alto-Paraopeba. (...) Especial

119 Privatizada em setembro de 1993, sendo o Grupo Gerdau o maior acionista.

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atenção está sendo dada ao Plano de Controle Ambiental, visando, também, à Fase II de expansão da capacidade de produção para 4,5 milhões de toneladas/ano de aço, com investimento de US$ 200 milhões em equipamentos (PRESERVAÇÃO, 1990, p. 28-29).

A empresa possui certificação ISO 9001. 12. Companhia Belgo-Mineira A Belgo-Mineira foi fundada em 1921 e faz parte do maior grupo siderúrgico do mundo, a Arcelor, resultado da união da Arbed (Luxemburgo), Usinor (França) e Aceralia (Espanha). Produz aços longos sob a forma de laminados e trefilados.

No Brasil, a Belgo e sua controlada BMP Siderurgia contam com seis unidades no Brasil: em Monlevade, Sabará, Juiz de Fora e Itaúna, em Minas Gerais, em Piracicaba (SP) e Vitória (ES). Nessas unidades, produzem fio-máquina, vergalhões, barras, perfis e arames para construção civil (BELGO, 2003).

A empresa possui certificados ISO 14001120 e BS 8800. Assim, sua política ambiental está vinculada à minimização dos impactos gerados por ela.

Atendendo a diretriz de melhoria contínua, a Empresa implementou uma série de projetos com a finalidade de minimizar a geração de materiais particulados, reduzir consumo de energia elétrica, produtos químicos e outros, reduzir a geração de lamas, disposição e reciclagem adequados de resíduos, melhoria da qualidade do ar, redução da probabilidade de impactos negativos no meio ambiente, eliminação de passivo ambiental, redução do potencial de acidentes e melhoria na organização e limpeza das usinas (BELGO, 2003).

De acordo com a citação a Belgo-Mineira ‘evidencia’ o desenvolvimento sustentável, adequação à legislação ambiental vigente, avanços técnico-científicos e ênfase no desenvolvimento industrial. 13. Aços Finos Piratini - AFP

A AFP121 foi fundada em 1961 e em 1975 a Aços Finos Piratini passou a

integrar o Grupo Siderbrás, holding pública do Governo Federal automotiva. Após a privatização a empresa foi adquirida pelo Grupo Gerdau passando a denominar a partir de 1993 como Gerdau Aços Finos Piratini. Possui certificações ISO 14001, ISO 9002 e QS 9000. “A siderurgia atua na fabricação e transformação do aço, dispõe de investimentos significativos, como modernos sistemas de despoeiramento para proteção atmosférica” (AFP, 2004).

120 Cinco das seis unidades do seu setor de Siderurgia. 121 Privatizada em fevereiro de 1992.

213

Dentro da cultura de sustentabilidade, destaca-se sua posição de liderança na reciclagem da sucata e pela política de reaproveitamento dos subprodutos decorrentes da produção do aço.

14. Comercial Gerdau A Comercial Gerdau atua no ramo de siderurgia e sua política ambiental

está enfocada na eco-eficiência e desenvolvimento sustentável, com destaque ao uso de técnicas que permitem a reciclagem da sucata. “Hoje, o índice de reciclagem já alcança mais de 85% e o restante deste total é encaminhado para aterros licenciados externos” (GERDAU, 2004). O Grupo investe recursos na implantação de novos sistemas de despoeiramento nas usinas (material particulado dos Fornos Elétricos da Aciaria) de forma a reduzir as emissões atmosféricas. Assim:

Em todas as unidades, multiplicam-se iniciativas como: adoção de sistemas fechados de recirculação das águas industriais, lagoas de separação dos sólidos dos efluentes líquidos, isolamento acústico de diversos pavilhões e melhoria dos sistemas de tratamento de efluentes líquidos. (...) Somente nos últimos 10 anos, o Grupo Gerdau investiu mais de R$ 360 milhões em tecnologias na área ambiental (Gerdau, 2004). Para a água o efluente industrial é tratado e reaproveitado “no processo

produtivo, permanecendo em circuito fechado dentro da usina. Com esta tecnologia, a unidade alcança um volume de 45 bilhões de litros de água reciclados por ano” (Idem, 2004).

15. SAMARCO A SAMARCO enfatiza seu trabalho na mineração e no seu processo

produtivo nas usinas de pelotização. A empresa enfrenta um grande desafio na questão do ar. Assim, “a Samarco conta com diversos procedimentos de controle de poluição atmosférica, como lavadores de gases nas torres, filtros de mangas, sistemas de aspersão e umectação de vias internas” (SAMARCO, 2004). Com isso, a empresa dispõe de certificação 14001 e também uma tecnologia em nível de

precipitadores eletrostáticos122, que retêm o material particulado proveniente da queima de pelotas no forno e o impedem de atingir a atmosfera. Medidores nas saídas das chaminés de exaustão permitem monitorar, de forma instantânea, o desempenho do equipamento e agir preventivamente, caso qualquer desvio seja detectado. Os dados ficam disponíveis on-line na rede Samarco e alarmes são acionados antes que a concentração atinja os níveis-limite. Além disso, um sistema de câmeras filmadoras monitora os pátios de estocagem em tempo real (SAMARCO, 2004).

122 Precipitadores eletrostáticos são filtros que impedem o ar particulado de atingir a atmosfera.

214

O Gráfico 10 mostra a emissão de partículas de forma monitorada ‘on line’. Considerando o limite de emissão permitido por lei como 100 mg/Nm3 (miligrama por metro cúbico), a concentração atingiu níveis alarmantes em janeiro de 2003, oscilando de 40 a 80 mg/Nm3.

GRÁFICO 10 – Partículas emitidas pelos fornos da SAMARCO

FONTE: SAMARCO, (2004) A preocupação ambiental em sua atividade coloca a mesma em situação de

nociva contra o meio ambiente. Assim, a estratégia da empresa é assumir a responsabilidade e amenizar os danos causados.

No caso da mineração, o processo industrial envolve a remoção da camada vegetal, do solo e das rochas que estão acima dos depósitos minerais. O grande desafio é a reabilitação desse ambiente. Para restaurar o equilíbrio ecológico nas áreas que sofreram o impacto de suas atividades, a Samarco desenvolve um conjunto de estudos e ações ambientais, em parceria com consultores externos e órgãos de ensino e pesquisa (Idem, 2004).

O grande passo é sem dúvida a pesquisa, pois é neste processo que grandes impactos são revelados assim como um diagnóstico para alertar o grau do estrago. Pode-se destacar como exemplo de resultado de pesquisa, o mineroduto, onde a água é misturada ao minério para ser transportada e posteriormente numa estação de bombas a mesma é retirada, reduzindo de forma significativa o custo do transporte e prováveis impactos decorrentes de acidente ferroviários. A Samarco tem um mineroduto que atinge 396 quilômetros de extensão e atravessa 24 municípios com capacidade de bombeamento de 15,5 milhões de toneladas por ano.

16. Companhia Vale do Rio Doce – CVRD A CVRD dispõe de dois sistemas (sul e norte) da qual organiza sua

extração, siderurgia e exportação. Assim:

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O Sistema Sul é composto por 3 grandes complexos mineradores: Itabira, Mariana, Minas Centrais e Minas da Região Oeste. (...) A capacidade de produção atual do Sistema Sul é de 90 milhões de toneladas. O Sistema Norte engloba as atividades de extração, beneficiamento, expedição, pelotização, estocagem e embarque de minérios de ferro em Ponta da Madeira. Esse sistema é composto pelo Complexo Minerador Serra dos Carajás e Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (TMPM) (COMPANHIA, 2004).

A CVRD emite anualmente um relatório em que divulga as ações sociais

e patrimoniais dos exercícios anteriores. Seus relatórios estão disponíveis para consulta pública assim como para análise de suas ações. Dentre suas ações sociais, a parte ambiental é a mais detalhada, uma vez que a empresa é alvo de constantes queixas de diversos atores sociais.

Assim, na década de 70, “a CVRD investiu em qualidade ambiental e, apesar de não terem especificado dispêndios em atividades ambientais nas estruturas contábeis da época, os registros mostram que cerca de US$ 236 milhões foram aplicados até 1989” (COMPANHIA, 2001).

No início da década de noventa, “a CVRD contribuiu para a preservação de 1.165.698 ha de floresta tropical no sul do Pará” (COMPANHIA, 1992, p. 26).

No entanto, a preocupação ambiental da CVRD está restrita ao ambiente físico. É priorizado o recobrimento vegetal aos taludes123, controle dos rejeitos através da barragem do Estéril Norte e o plantio de gramíneas, por meio de hidrossemeadura, para evitar erosão e desabamento das bancadas. Outras medidas em nível de reflorestamento são os cinturões verdes, as aspersões das minas e vagões com polímero.

Em 2001 foi iniciados a reabilitação de 7 minas, com destaque a Mina de Piçarrão, onde foram feitos a reconformação de taludes, hidrogeologia, revegetação e monitoramento.

Pela página da empresa, a certificação serve como propaganda, atendimento às exigências internacionais e diferenciação de mercado.

A Companhia dispõe da certificação ISO 14001 sendo suas exportações de minério de ferro certificada na origem (minas) e passam por terminais portuários igualmente certificados. O mesmo acontece com as usinas de pelotização. “Qualidade ambiental é um fator fundamental para a competitividade e o crescimento sustentado da Vale no mercado global. As operações em seus complexos integrados mina-ferrovia-porto, para produção de minério de ferro e manganês, são referências tanto no Brasil quanto no exterior e são certificadas pelas Normas ISO 9000 e ISO 14001” (COMPANHIA, 2003).

O Quadro 2 mostra as certificações da Companhia.

123 Inclinação do terreno após a terraplanagem.

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QUADRO 2 – Certificações ISO 14001 da CVRD Unidade Operacional Data Centro de Desenvolvimento Mineral de Santa Luzia – MG 04/1997 Minas de Ferro e Manganês de Carajás – PA 10/1998 Minas de Ferro de Timbopeba, Fazendão e Brucutu – MG 06/2000 Terminal Marítimo de Ponta da Madeira – Maranhão 09/2000 Minas de Ferro de Alegria, Córrego do Meio, Morro Agudo* e Água Limpa* – MG 05/2001 Usina de Ferro-Ligas Rio Doce Manganèse Europe – RDME – Dunquerque/França 09/2001 Complexo Portuário e Industrial de Tubarão – ES 12/2001 Complexo Minerador de Ferro e Ouro de Itabira e Conceição – MG 2002 Minas de Ferro da Ferteco Mineração – MG 2002 Mina de Ferro de Gongo Soco – MG 07/2002 Cais de Rebocadores da Docenave – ES 08/2002 Mina de Manganês da Sociedade Mineira de Mineração – MG 11/2002 Minas de Ferro de Cauê, Conceição – Complexo de Itabira – MG 11/2002 Terminal Vila Velha 10/2003 Terminal Marítimo da Companhia Portuária Baía de Sepetiba – RJ 11/2003 Mina do Córrego do Feijão, Fábrica – MG 11/2003

FONTE: COMPANHIA, (2001-2003) (*) Sistema Integrado de gestão pelas Normas ISO 9002, ISO 14001 e OHSAS 18001.

No final do século XX a empresa passa a investir também em tecnologias

antipoluentes intensivas em capital. Em 1994, a CVRD implantou o Programa de Auditorias Ambientais,

inclusive porque visava à certificação, e no período de 1994 a 2000, setenta projetos absorveram um investimento de US$ 110 milhões. De acordo com Relatório Social da CVRD, os dispêndios ambientais124 foram de R$ 60 milhões em 2000, R$ 60 milhões em 2001, R$ 78 milhões em 2002 e R$ 110 milhões em 2003.

17. Síntese da ISO 14000 e outras normas ambientais

É interessante frisar que, apesar das tecnologias existentes (nacionais e internacionais), várias delas ainda não estão amplamente disponíveis por causa dos altos custos de investimento e pelas prioridades de cada empresa em cada setor. Também é importante destacar que, muitas empresas ainda agem após ocorrer o acidente e/ou para atender a uma legislação mínima.

A sensibilização ou adoção das normas (seja por pressões tecnológicas, ambientais ou através da legislação) existentes por parte das empresas de extração e nas indústrias mostra a importância que a qualidade do meio ambiente vem adquirindo no mundo e no Brasil.

Dentre as várias formas de manifestar a incorporação da variável ambiental na produção está a certificação. Citam-se as empresas certificadas, desde a

124 FONTE: Relatório Anual 2001, 2002 e 2003. Demonstrações Contábeis - Balanço Social (informativo adicional) – Indicadores sociais - Controladora.

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década de 1990, com a ressalva que em muitos casos, a responsabilidade social e ambiental é assumida e usada como propaganda. O Quadro 3 mostra as certificações de algumas empresas mineradoras e siderúrgicas. Salienta-se que a ISO 9001 refere-se ao Sistema de Gestão de Qualidade, a ISO 14001 ao Sistema de Gestão Ambiental, a AS 8000, de Responsabilidade Social e a OHSAS 18001 e BS 8800 tratam da Saúde e Segurança Ocupacional. Além desses, o SSO, Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional, o SGA, Sistema de Gestão Ambiental. Outra certificação específica é a TS 16949 que substituiu a QS 9000, que é uma norma automotiva mundial, sendo requisito necessário à qualidade da ISO 9001/2000. Também, o SGI, Sistema de Gestão Integrado que une Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade.

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QUADRO 3 – Certificações obtidas pelas empresas de mineração e siderurgia

Empresas Atividade Monitoramento ambien-tal na lavra

Equipa-mentos anti-poluição na lavra e/ou indústria

Parceria com órgãos ambientais

Certificações

MBR1

Mineração e

Metalurgia

X X X ISO 9001; ISO 14001; OHSAS 18001

Mannesmann2 Siderurgia X X ISO 14001 USIMINAS3 Siderurgia X X ISO 14001 CST4 Siderurgia X X ISO 14001; SGA ACESITA5 Siderurgia X X ISO 14001 CSN6 Siderurgia X X ISO 9001;ISO 14001;

TS 16949; SGA COSIPA7 Siderurgia X X ISO 14001

OHSAS 18001 SGA; SSO

AÇOMINAS8 Siderurgia X ISO 9001 CIA. BELGO MINEIRA9

Siderurgia X X ISO 14001; BS 8800

AÇOS FINOS PIRATINI10

Siderurgia X ISO 9002; ISO 14001; QS 9000

COM. GERDAU

Siderurgia X X SGA

SAMARCO Mineração Siderurgia.

X X X ISO 14001

CVRD11 Mineração e

Siderurgia

X X X ISO 9001; ISO 9002; ISO 14001 OHSAS 18001

RTB- Min. Corumbá

Mineração X X X ISO 14001; SGI SSMAQ

FONTE: Sites das respectivas empresas, modificado pelo autor. NOTA: (1) Pertence a CAEMI, que por sua vez pertence a CVRD; (2) Joint venture entre o grupo francês Vallourec e o grupo alemão Mannesmannrohren-Werke; (3) Privatizada out. 1991;(4) Privatizada jul. 1992; (5) Privatizada out. 1992 e detém ações da CST; (6) Privatizada abr. 1993; (7) Privatizada ago. 1993; (8) Privatizada set. 1993 e a Comercial Gerdau é a maior acionista; (9) Pertence Arcelor, união da Arbed (Luxemburgo), Usinor (França) e Aceralia (Espanha); (10) Privatizada em fevereiro de 1992; (11) Privatizada em maio de 1997.

Como se observa todas possuem certificado internacionais ISO 14001,

com exceção da Açominas que possui a ISO 9001. A Companhia Gerdau embora não tenha o certificado, possui o SGA, formulado nos moldes da norma ISO 14000. Desse modo às empresas estão buscando certificações internacionais talvez premidas

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pelas novas condicionalidades ou como um diferencial de mercado ou ambos os casos. A obtenção da certificação não implica necessariamente que as empresas não estão poluindo, apenas indica que as agressões ambientais estão sendo controladas e mantendo-se, no mínimo, no limite imposto pela lei. 18. Considerações O Brasil por ser um país importante na América Latina devido ao seu porte continental possui uma riqueza em recursos naturais de maneira ímpar e sua inserção está cada vez mais dinâmica no comércio internacional, pois exporta boa parte do que extrai, em particular do minério de ferro. Em outras palavras, “as exportações brasileiras têm uma significativa intensidade de recursos naturais e recursos energéticos, cuja exploração tem influência direta sobre o meio ambiente” (GONÇALVES, 2000, p. 79). No que diz respeito aos recursos manufaturados intensivos em energia, como o ferro e o aço, os impactos ambientais são mais danosos quando o setor dinamiza o crescimento, principalmente quando os recursos não-renováveis são exportados em escala.

Os anseios, as expectativas e preocupações da comunidade não são vistas como prioridade das Companhias, apenas sob a forma de poluição e de acordo com a exigência da legislação (mínima). Estas têm como concepção de que a “a legislação ambiental é extensa e avançada, porém conflitante, criando dificuldades na sua aplicação, necessitando uma compatibilização” (FARIAS, 2002, p. 20). Contudo as Cias. quando montaram suas plantas industriais no Brasil tinham plena consciência de uma a política ambiental branda e que com o tempo haveria o amadurecimento, sendo comparável a de outras nações. Como exemplo, a implantação do Projeto Ferro Carajás (PFC) no Pará pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD):

A urgência estaria justificada pela necessidade de aproveitar oportunidades sem precedentes: as dificuldades das nações mais ricas em obter energia barata e os rígidos controles de poluição adotados pelos países mais desenvolvidos. Assim, a Amazônia Oriental seria o local ideal para o deslocamento de empreendimentos consumidores de energia e poluidores, caso se ofereça agora e por um longo período, energia barata e garantias de legislação antipoluente menos exigente. Esta atitude imediatista não chega a ser novidade. Ela tem estado presente em outros programas e projetos aprovados pelo governo – inclusive na região amazônica (CARAJÁS,1983, p. 61). Pode-se considerar uma exceção a essa mitigação a obtenção da

certificação ISO 14001 pelas empresas como exigência internacional (mas não reduz os danos, apenas monitora para agir preventivamente). Algumas empresas adotam essa conduta como responsabilidade social, internalizando custos para recuperação ambiental, mas o passivo deixado no passado é alvo de grandes reivindicações do poder público e de diversos atores sociais, como populações envolvidas, cientistas, imprensa, comunidades indígenas, Igreja e Ongs.

220

No início dos anos noventa, o governo federal privatizou as empresas e por força de lei, as Cias. do setor de extração e siderurgia intensificaram a valorização as questões ambientais125 devido à pressão social que levou a CVRD aos tribunais.126 Contudo a política ambiental é parte do negócio com vínculo a estratégia de crescimento com vistas a lucratividade e eficiência, onde vai ao encontro de técnicas de reaproveitamento de rejeitos para comercialização (pelotas, co-produtos e sucatas) visando não somente ações anti-poluentes, mas como uma oportunidade rentável de negócio (marketing) e como exigências do comércio127 internacional. Contudo as Cias. estão buscando um mecanismo de autodefesa para mostrar suas ações para a sociedade e ao mesmo tempo silenciar suas ações nocivas e impactantes deixadas no passado e aquelas que ainda não foram denunciadas.

125 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, conhecida como a Rio 92 ou Eco-92, foi um grande avanço nas políticas ambientais das empresas. 126 A CVRD é levada aos tribunais pela população de Itabira (MG) com 3 ações públicas, sendo em 1986 por poluição atmosférica, danos paisagísticos e degradação ambiental, em 1992 pelos projetos que não saíram do papel, pouco abrangia a recuperação topográfica e não previa o preenchimento das cavas e em 1993 por poluição atmosférica em volume excessivo aos níveis da OMS (Organização Mundial da Saúde), SEMA (Secretaria do Meio Ambiente de Minas Gerais) e COPAM (Conselho Ambiental de Política Ambiental) (FERREIRA e BRAGA, 1995, p. 481 ; SILVA e SOUZA, 2002, p. 7 e 11). 127 Em 1999, “existiam 14.106 certificações IS0 14000 em 84 países, sendo que a América Central e do Sul detinham 2,2%, a Europa detinha 52,2%, o Leste Asiático com 30,84% (no qual o Japão detém a maioria das certificações), e América do Norte com 6,9%”. Para adquirir uma ISO “os preços variam de US$ 197,00 (Alemanha) até US$ 1.655,00 (Suécia) (...) a França, por exemplo, para realizar a auditoria cobra US$ 1.090,00 por dia, além da passagem e acomodação” (GODOY e BIAZIN, 2001, p. 9 e 11).

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19. Referências

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ARTIGO 14

Políticas comerciais e ambientais128 1. As origens do debate sobre Comércio e Meio Ambientais nos Organismos Internacionais Dentre as origens que levaram o debate sobre o comércio internacional e o meio ambiente, Araya e Salazar-Xirinachs (2000, p. XIII), destacam três princípios discutidos nos anos noventa com ênfase na liberalização comercial e a proteção ambiental. Assim os autores citam:

Se pueden resaltar, al menos, tres hechos que jugaron un rol clave en el inicio del debate sobre comercio y ambiente: a) la discusión ambiental generada en Estados Unidos y Canadá durante las negociaciones del Tratado de Libre Comercio de América del Norte (TLCAN); b) el reporte en 1991 de un panel del Acuerdo General sobre Aranceles y Comercio (en adelante GATT) respecto a la disputa entre Estados Unidos y México en materia de comercio atunero; y c) la Conferencia de las Naciones Unidas sobre Ambiente y Desarrollo en Río de Janeiro en junio de 1992 (o la "Cumbre de la Tierra"). Estos tres elementos se exponen a continuación.

No primeiro ponto as decisões envolvem as negociações com o Acordo do Livre Comércio da América do Norte (TLCAN ou NAFTA) que envolveram os Estados Unidos e o Canadá devido a incorporação do México ao TLCAN. O México por ser um país não desenvolvido e com padrões ambientais considerado mais brandos, levou um acordo paralelo denominado de Acordo de Cooperação Ambiental da América do Norte. No segundo ponto as discussões envolveram o comércio do atum e golfinho em setembro de 1991, onde os americanos impuseram condições proibitivas aos mexicanos alegando a mortalidade predatória dos golfinhos pelas técnicas usadas para capturar atuns. Tal discussão foi levada ao GATT129 (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio), pelos Estados Unidos, isto é, “El panel no evaluó la política ambiental de Estados Unidos (basada en la Ley Estadounidense de los Mamíferos Marinos) sino fundamentalmente: a) si un país podía decir a otro qué normas

128 Artigo desenvolvido em 2004 e baseia-se em alguns capítulos modificados da dissertação de mestrado. 129 GATT - General Agreement on Tariffs and Trade.

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ambientales debía aplicar y b) si las normas comerciales permitían adoptar medidas contra el método utilizado para producir mercancías (en vez de limitarse a la calidad de las mismas)” (Idem, p. XIV). Algumas obrigações foram protocoladas sob forte pressão ambiental, que levou a inclusão do tema em questão as mesas de discussão. Porém tal organismo não fora criado para o devido fim, cabendo apenas ao artigo XX do GATT uma pequena menção mas não evidencia a palavra ambiente. Abaixo, com destaque, o artigo é citado no Anexo A da obra mencionada.

Artículo XX Excepciones Generales A reserva de que no se apliquen las medidas enumeradas a continuación en forma que constituya un medio de discriminación arbitrario o injustificable entre los países en que prevalezcan las mismas condiciones, o una restricción encubierta al comercio internacional, ninguna disposición del presente Acuerdo será interpretada en el sentido de impedir que toda parte contratante adopte o aplique las medidas: b) necesarias para proteger la salud y la vida de las personas y de los animales o para preservar los vegetales; g) relativas a la conservación de los recursos naturales agotables, a condición de que tales medidas se apliquen conjuntamente con restricciones a la producción o al consumo nacionales (ARAYA e SALAZAR-XIRINACHS, 2000, p. XIV).

Cabe destacar que a inclusão dos temas ambientais em acordos multilaterais, que em 1991 os trabalhos ainda dentro da Rodada Uruguai, levou a criação do Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente (CCMA), ou seja, o Comitê abrange funções gerais com o objetivo de promover acordos comerciais e o desenvolvimento sustentável, com destaque aos bens, serviços e propriedade intelectual. Entre as negociações destacam-se as “incorporaron disposiciones relacionadas con el ambiente en los Acuerdos de la OMC sobre: Obstáculos Técnicos al Comercio (OTC); Agricultura; Medidas Sanitarias y Fitosanitarias (MSF); Subvenciones y Medidas Compensatorias; Aspectos de los Derechos de Propiedad Intelectual relacionados con el Comercio (ADPIC) y el Comercio de Servicios (AGCS)” (Idem, 2000). O terceiro ponto envolve a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro em 1992. Também chamada de Eco 92, Cúpula da Terra ou Declaração do Rio, fez ressurgir as discussões da Conferência de Estocolmo,130 onde a proteção ambiental foi incluída definitivamente na agenda internacional. O destaque da declaração foi à união dos Estados para uma cooperação internacional com vínculo ao crescimento econômico e desenvolvimento sustentável. A degradação ambiental agora é visto como tema global. Com destaque, houve simultaneamente três conferências, sendo a primeira a Conferência da Cúpula da Terra, com 112 Chefes de Estados e 172 países presentes. A segunda como Fórum Global composta por Organizações Não-Governamentais (ONG). A terceira foi o Desenvolvimento Sustentável ou Conferência dos Empresários, analisando o lado empresarial.

130 Conferência Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA.

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2. As Conferencias da ONU A partir da década de sessenta movimentos ambientais modificaram e

conscientizaram governos a adotarem políticas nacionais em defesa da degradação ambiental com reflexo ao comércio internacional. Com relação ao meio ambiente e as relações internacionais Cardoso (1994, p. 217) destaca que “a partir da década de 70, a questão ambiental tem cada vez mais polarizado a atenção, principalmente por conta da emergência de problemas globais, ou seja, problemas que ameaçam o equilíbrio global do planeta o que afetam vários países, ou ainda, que envolvem interesses diferenciados de várias nações”. Já Corrêa (1998, p. 12) expõe que

a década dos sessenta, entretanto prevaleceu o ‘paradigma social da exclusão’, na convicção de que seriam infinitos as fontes de recursos naturais e de que o livre mercado maximizaria o bem-estar social. Como a teoria econômica convencional tratava apenas da alocação de recursos escassos, e a natureza não era considerada fator de limitação, esse paradigma considerava o meio ambiente irrelevante para a economia. A resposta mais apropriada no que diz respeito ao problema da escassez é

se tal recurso é limitado, então existe a preocupação nesta discussão sobre os fatores de produção131 ou insumos destinados à satisfação dos consumidores.

Tal preocupação levou a Suécia em 1969 (país membro da ONU132) a propor uma conferência internacional que discutisse os problemas de um possível surto de crescimento e como conseqüência uma rápida degradação e escassez dos recursos ambientais causado pela ação humana, colocando em risco a sobrevivência da humanidade. A poluição nos rios, nos mares, na atmosfera, as alterações climáticas e diversos danos ambientais são exemplos que atravessam fronteiras e já exige ação.

Na década de 60, aconteceu o famoso acidente ecológico no Japão, onde uma indústria de alumínio derramou mercúrio na Baia de Minamata,133 ocasionando envenenamento nas algas, mariscos e peixes e estes contaminaram inúmeros animais e o próprio homem que se alimentava desses organismos. Mortes, deformações genéticas, cegueira e paralisia foram causada pela contaminação. Contudo, tamanha tragédia levou a discussão internacional a propor uma conferência internacional sobre o meio ambiente, onde Barbieri (1997, p. 17) narra a realização deste evento:

Em 1969, o Governo da Suécia propôs à Organização das Nações Unidas (ONU) a realização de uma conferência internacional para tratar desses problemas. Essa proposta só encontrou maior receptividade após o desastre ecológico de Minamata, no Japão, que levou à morte

131 Terra, capital e trabalho. 132 Organização da Nações Unidas. 133 “No dia 21 de abril, uma criança com disfunções do sistema nervoso dá entrada no Hospital Shin Nihon Chisso. Logo em seguida, no dia 1º de maio, quatro outros pacientes com sintomas similares aparecem no Centro de Saúde Pública de Kumamoto. Esta última acabou sendo a data oficial da descoberta do Mal de Minamata, doença cerebral causada pela ingestão de mercúrio” (GREENPEACE, 2003).

228

milhares de pessoas contaminadas pelo mercúrio lançado ao mar pelas empresas locais. Aceita a proposta, em 1972 foi realizada em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.

O grande impacto desta conferência foi quando os países desenvolvidos ficaram frente a frente com os países não desenvolvidos. Os primeiros preocupados com a velocidade de devastação ambiental praticada por eles no passado e pelos segundos no presente. Por outro lado, os países desenvolvidos desejam manter seu atual estágio de bem-estar e necessitam manter sua planta industrial baseada no ‘petróleo funcionando’ a todo vapor134 e utilizar como fonte de matéria-prima os recursos naturais oriundos em nações não desenvolvidas. Os países subdesenvolvidos preocupados em resolver problemas sociais e macroeconômicos como a fome, moradia, saneamento e infecções generalizadas por organismos patogênicos, destinavam seus esforços a um rápido crescimento econômico para amenizar tais problemas. Em Estocolmo a mesa de negociações estava repleta de discussões, onde contou com 250 organizações não-governamentais135 e representantes de 113 países. Assim a questão chave foi à responsabilidade humana sobre o meio ambiente e a busca de soluções que amenizem esses problemas. A Conferência foi conflituosa mas representou um avanço extraordinário nas negociações entre países. Exatos 20 anos mais tarde surge a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro em 1992. O documento base de discussão foi o Relatório Brundtland136 conhecido como Relatório Nosso Futuro Comum publicado em 1987. Tal relatório destacou-se devido à inclusão do tema desenvolvimento sustentável, onde preserva as necessidades do presente para garantir para as gerações futuras. Na íntegra, os objetivos da Comissão Brundtland (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD) através da decisão da Assembléia da Organização das Nações Unidas destaca-se quatro objetivos:

(1) propor estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante; (2) recomendar maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em desenvolvimento e entre países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns e interligados que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento; (3) considerar meios e maneiras pelos quais a comunidade internacional possa lidar mais eficientemente com as preocupações de cunho ambiental; (4) ajudar a definir noções comuns relativas a questões ambientais de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os problemas da proteção e da melhoria do meio ambiente (CMMAD apud BARBIERI, 2001, p. 24).

134 Altvater (1995, p. 97-98) define tal estágio como consumo fordista de industrialização através de energia fóssil. Assim, tal desenvolvimento é de forma insustentável, pois essa energia não é renovável e altamente poluidora. 135 Também denominado de ONGs. 136 Gro Harlem Brundtland, ministra da Noruega.

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A regulamentação desta conferência foi feita em 1988 em forma de Assembléia Geral na ONU. Em 1989 ficou decidido que o Brasil seria a Sede de tal evento, denominado de Cúpula da Terra. Da pauta da conferência, destaca-se a evolução das relações internacionais desde 1972, a transferência de tecnologias não poluentes para as nações não desenvolvidas, introdução de normas e regulamentos ambientais no processo de desenvolvimento e manter a ONU como organismo central das discussões. No que diz respeito à Cúpula da Terra, Barbieri (1997, p. 47) descreve que havia

representantes de 178 países, incluindo cerca de 100 chefes de estados, estiveram presentes na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro em 1992 (CNUMAD). Simultaneamente a este evento oficial de caráter inter-governamental, realizou-se o Fórum Global das ONGs, reunindo cerca de 4.000 entidades da sociedade civil do mundo todo, um evento sem precedente até então, quer pelo número de entidades e pessoas envolvidas, quer pelos seus resultados: 36 documentos e planos de ações elaborados durante este fórum. A esses dois eventos se denominou popularmente de Eco-92.

Na CNUMAD as relações internacionais foram reforçadas e como resultado, cinco documentos foram assinados, como a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Agenda 21, Princípios para a Administração Sustentável das Florestas, Convenção da Biodiversidade e Convenção sobre Mudança Climática. Com respeito à primeira Declaração foram aprovados 27 princípios dos quais destaca-se o princípio 12 que expõe a não discriminação do comércio internacional, sobretudo de forma arbitrária ou mesmo disfarçada.

PRINCÍPIO 12 - Os Estados devem cooperar para o estabelecimento de um sistema econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de modo a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental. Medidas de política comercial para propósitos ambientais não devem constituir-se em meios para a imposição de discriminações arbitrárias ou justificáveis ou em barreiras disfarçadas ao comércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento de questões ambientais fora da jurisdição do país importador. Medidas destinadas a tratar de problemas ambientais trans-fronteiriços ou globais devem, na medida do possível, basear-se em um consenso internacional (CNUMAD, 2001).

Outro destaque é o princípio 16 onde promove a internalização dos custos ambientais, ou seja, o princípio do país poluidor-pagador. Assim, “PRINCÍPIO 16 - Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais” (Idem, 2001). Com relação a inter-independência ecológica, alguns problemas ambientais levaram a uma união de esforços para dirimir acordos globais que regulamentem impactos que depredem os recursos naturais. Entre os acordos multilaterais, Araya e Salazar-Xirinachs (2000, p. XXI-XXII) destacam que

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entre los acuerdos más relevantes están el Protocolo de Montreal relativo a las Sustancias que Agotan la Capa de Ozono (1987); el Convenio de Basilea sobre el control de los movimientos transfronterizos de los desechos peligrosos y su eliminación (1989); Convención Marco sobre Cambio Climático (1992), el Protocolo de Kioto sobre Cambio Climático (1997), Convención sobre la Diversidad Biológica (1992) y el Protocolo de Cartagena de Bioseguridad (2000).

Com relação às mudanças climáticas a principal preocupação são com os gases que contribuem diretamente com o aumento do efeito estufa, como o dióxido de carbono (através da queima de combustível fóssil e devastação florestal), óxido de nitrato (através dos fertilizantes, da queima da biomassa e combustíveis fósseis), clorofluorcarbono (uso industrial de ar condicionado, refrigeradores e spray) e metano (através da fermentação, dos arrozais e escape de gás). O aquecimento global foi tema de discussão na Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio (1985), o Protocolo de Montreal (1987) dando ênfase aos gases de efeito estufa e regulamentação dos níveis de emissão. A Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas (1995), realizada em Berlim, embora de grande dimensão, “deixou a desejar e frustrou os movimentos ambientalistas. Medidas concretas foram mais uma vez postergadas, principalmente face à resistência dos principais países industrializados, especialmente os Estados Unidos e o Japão, bem como exportadores de petróleo” (BARBIERI, 2001, p.55). Por fim o Protocolo de Quioto (1997) alerta para “os países desenvolvidos devem, individual ou conjuntamente, assegurar uma redução de gases de estufa em pelos menos 5% abaixo dos níveis de 1990 no período compreendido entre 2008 e 2012 (Art. 3º, inciso I)” (Idem, 2001). Contudo, a redução da emissão desses gases vem a ser a promoção de mitigar seus efeitos nocivos a mudança climática. Com relação às florestas, pouco se avançou devido à soberania de países no plano jurídico internacional de explorar seus próprios recursos, mas o capítulo 11 da Agenda 21 destaca o Combate ao desflorestamento e o capítulo 12 o Manejo de ecossistemas frágeis: a luta contra a desertificação e a seca. Com relação à diversidade biológica, foi colocado em pauta o melhor aproveitamento sócio-econômico e a erradicação da pobreza. Assim, a Convenção da Biodiversidade (1992) destacou os direitos de propriedade vinculada à transferência de tecnologia devido a melhor capacidade de conservação e uso sustentável do meio ambiente. O capítulo 15 da Agenda 21 faz menção à conservação da biodiversidade com ênfase em investimentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). 3. A Organização Mundial do Comércio - OMC O comércio internacional é regido por normas estabelecidas nas quais a discriminação ou mesmo o protecionismo deve ser evitado, principalmente nas decisões unilaterais.

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A ONU137 é o órgão mais indicado para conferências restando a OMC os problemas de desordem comercial. Lichtinger (2003) coloca em seu artigo a relação simbiótica entre o meio ambiente e o comércio internacional e como fórum das negociações a OMC. Assim:

a relação entre comércio e meio ambiente tornou-se tema recorrente, sobretudo depois da Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento, em 1992, e as discussões na recente criada Organização Mundial do Comércio (OMC) e nos organismos internacionais. As políticas sobre comércio e meio ambiente, até há pouco tempo independentes, começam agora a ser discutidas, levando-se em consideração as respectivas implicações sobre as possibilidades de um desenvolvimento sustentável. Por boas razões, a noção de independência entre comércio e proteção ambiental tem-se desenvolvido simultaneamente aos esforços internacionais para ampliar o livre comércio, percebido como ferramenta central do crescimento econômico das nações, incluindo as que estão em processo de desenvolvimento. Antes da OMC os acordos sobre o comércio internacional eram regidos

pelo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e este foi celebrado em 1947 em Genebra. Em 1948 começou a regulamentar as discrepâncias tarifárias entre nações. Os princípios que incorporavam o acordo eram que o comércio dever ser conduzido de forma não discriminatória (sem protecionismo), deve ser condenado o uso de qualquer restrição quantitativa e as disputas devem ser resolvidas através de consultas.

Quando as exceções, os países que estejam enfrentando dificuldades em seus balanços de pagamentos podem estabelecer tarifas restritivas, depois do aval do FMI. As regras do GATT podem ser quebradas pelos países subdesenvolvidos quando isso for necessário para acelerar seu desenvolvimento econômico e quando as produções nacionais de artigos agrícolas e de pesca estiverem sujeita a restrições e controles, esses controles de restrições podem ser extensivos aos importados. O GATT não proíbe a formação de Blocos Econômicos desde que as tarifas sejam reduzidas entre seus membros. Também não se podem aumentar as tarifas para os países não membros do Bloco.

Com o avanço das negociações, surge a necessidade do mundo propor um organismo mais eficiente, como a OMC, que nasceu na mesa da Rodada Uruguai. A origem da rodada deve-se porque iniciou em setembro de 1986 na cidade de Punta del Este, no Uruguai e finalizou em Marrakesh em 15 de abril de 1994. Nesta Rodada houve a participação de 116 países, incluindo nas pautas de negociações além das mercadorias, os serviços e os direitos autorais. Com destaque a comercialização dos produtos agrícolas foram os grandes entraves que levou a mais

137 A Organização das Nações Unidas é o órgão criado em 1945 através da Conferência de São Francisco, onde 51 estados assinaram um documento denominado de Carta da Organização das Nações Unidas, com cede em Nova Iorque. A ONU é uma associação de Estados independentes com o objetivo de preservar a paz mundial. Entre as atribuições destacam-se o Conselho de Segurança, Conselho Econômico-Social, Conselho de Administração Fiduciária e a Corte Internacional de Justiça. Também compõe as agências especializadas, como a Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio – GATT, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD).

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extensa das rodadas de negociações. Outra novidade foi o corte de tarifas consideradas como barreiras alfandegárias que eram consideradas como meio de protecionismo por muitos países. Os subsídios agrícolas138, alvo de ataque dos países não-desenvolvidos aos países desenvolvidos, não foram eliminados.

Sendo assim a rodada estabeleceu o fim do GATT (um acordo entre nações) e a criação de um órgão mais forte e com poder de rápida decisão, este que vem a ser denominado de Organização Mundial do Comércio. Com a adesão de 124 países, a OMC iniciou suas atividades em primeiro de janeiro de 1995.

O Quadro 1 ilustra as rodadas de negociações no período de 1947 a 1994 com destaque ao assunto em questão e o número de países participantes.

QUADRO 1 – Rodadas de Negociações Internacionais

Ano Cidade Principal Acordo Países Participantes

1947 Genebra Criação 23 1949 Annecy Corte de Tarifas 13 1951 Torquay Corte de Tarifas 38 1956 Genebra Corte de Tarifas 26 1960/61 Genebra

Rodada Dillon Corte de Tarifas 26

1964/67 Genebra Rodada Kennedy

Tarifas e leis antidumping 62

1973/79 Genebra Rodada Tóquio

Barreiras tarifárias, não-tarifárias e acordos pró-nações em desenvolvimento

102

1986/94 Genebra Rodada Uruguai

Barreiras tarifárias, não-tarifárias e inclusão dos serviços no acordo multilateral de bens

116

FONTE: MAIA, (1995, p. 85) Quantos aos documentos que levaram em consideração a Rodada Uruguai e

as negociações multilaterais para melhorar e facilitar a condução do comércio internacional cabe destacar dois acordos: 1º - Acordo sobre Barreiras Técnicas para o Comércio - TBT (Agreement on Technical Barriers to Trade); 2º - Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitosanitárias – SPS (Agreement on the Application of Sanitary and Phytosanitary Measures).

Com relação ao primeiro documento, ou seja, o Acordo sobre Barreiras Técnicas para o Comércio - TBT, emitido pela OMC, destaca-se a preocupação de tomar medidas cabíveis para prevenir práticas enganosas que geram a discriminação sem fundamento. No artigo dois139, o assunto refere-se às regulamentações técnicas e padrões em relação aos governos na qual os membros deverão assegurar respeito

138 O Brasil não adota a política de subsídios agrícolas e é competitivo. Contudo os EUA e países europeus usam essa forma de discriminação aos produtos nacionais. 139 Preparation Adoption and Apllication on Technical Regulations by Central Government Bodies - Article 2: With respect to their central government bodies.

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às regulamentações. Dessa forma, o parágrafo 2.2140 chama a atenção sobre as regulamentações e os efeitos da criação de obstáculos ao comércio internacional de forma desnecessária. Destaca-se a proteção da humanidade, animal ou vegetal. No artigo cinco141 coloca a regulação de barreiras técnicas e padronizadas sobre a não discriminação como mencionado no parágrafo 5.1142 sobre os produtos de origem nos territórios (direito soberano dos países de explorar seus próprios recursos ambientais por razões econômicas, ecológicas e políticas) de seus membros onde é especificado no sub-parágrafo 5.1.1143 a não discriminação de produtos de outro país em favor dos produtos de origem nacional. A citação abaixo ilustra a advertência para algum país que não assegure qualidade de seus produtos para a exportação, ou mesmo com respeito a proteção humana, de animais ou vegetais. Também é injustificável a discriminação entre países ou mesmo algum tipo de disfarce sobre o comércio internacional.

Recognizing that no country should be prevented from taking measures necessary to ensure the quality of its exports, or for the protection of human, animal or plant life or health, of the environment, or the prevention of deceptive practices, at the levels it considers appropriate, subject to the requirement that they are not applied in a manner which would constitute a means of arbitrary or unjustifiable discrimination between countries where the same conditions prevail or disguised restriction on international trade, and are otherwise in accordance with the provisions of this Agreement (OMC, 1994a). No comércio internacional as relações de trocas vêm se intensificando ano a

ano. Vários governos protegem seus mercados de várias formas, como “as regulamentações governamentais vêm estabelecendo padrões ambientais cada vez mais rígidos, que podem se constituir em fortes barreiras não-tarifárias144 ao comércio internacional” (SILVA e BRAVO, 1994).

140 2.2 Members shall ensure that technical regulations are not prepared, adopted or applied with a view to or with the effect of creating unnecessary obstacles to international trade. For this purpose, technical regulations shall not be more trade-restrictive than necessary to fulfil a legitimate objective, taking account of the risks non-fulfilment would create. Such legitimate objectives are, inter alia: national security requirements; the prevention of deceptive practices; protection of human health or safety, animal or plant life or health, or the environment. In assessing such risks, relevant elements of consideration are, inter alia: available scientific and technical information, related processing technology or intended end-uses of products. 141 Procedures for Assessment of Conformity by Central Govenment Bodies., 142 5.1 Members shall ensure that, in cases where a positive assurance of conformity with technical regulations or standards is required, their central government bodies apply the following provisions to products originating in the territories of other Members: 143 5.1.1 conformity assessment procedures are prepared, adopted and applied so as to grant access for suppliers of like products originating in the territories of other Members under conditions no less favourable than those accorded to suppliers of like products of national origin or originating in any other country, in a comparable situation; access entails suppliers' right to an assessment of conformity under the rules of the procedure, including, when foreseen by this procedure, the possibility to have conformity assessment activities undertaken at the site of facilities and to receive the mark of the system. 144 Entende-se por barreiras não-tarifárias um mecanismo disfarçado de protecionismo utilizado por algumas nações para proteger setores nacionais. Segundo Ruppenthal, Zanini Junior e Franceschi (2002), “o protecionismo, que vem diminuindo desde a criação do GATT, provém tanto de barreiras tarifárias, como de barreiras técnicas e sanitárias, ou de sistemas de garantia de preços internos”.

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Com relação ao segundo documento, ou seja, o Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitosanitárias - SPS, também da OMC, notifica seus membros sobre a importância e a prevenção. É um esforço necessário para a proteção humana, animal e vegetal que deve ser proibido o uso arbitrário ou injustificável pelos membros. Assim no artigo um145 parágrafos um e quatro146 advertem quanto ao uso, pois o primeiro parágrafo pode ser aplicado diretamente ou indiretamente, e o segundo, adverte sobre os direitos do Acordo sobre Barreiras Técnicas para o Comércio. O artigo dois147 frisa o Direito Básico e Obrigações para o uso dessas medidas, como no caso do parágrafo um, aonde a proteção humana, animal ou vegetal vem a tornar-se necessária. O parágrafo dois148 com base no anterior coloca a importância de princípios científicos e não somente evidências para a justificação para uso de barreiras não-tarifárias. A discriminação é colocada e citada várias vezes no parágrafo três149 dentro do próprio território e também a de outros membros. Quanto às dúvidas, é evidenciado a formação de um corpo subsidiário para julgar tais medidas, sendo um comitê constituído por três organismos, como o Comitê de Alimentação, Comissão Internacional, Escritório Internacional de Animais e Convenção de Proteção da Planta Internacional (Codex Alimentarius, International Commission, International Office of Epizootics e Intenational Plant Protection Convention) escolhidos para o desenvolvimento e revisão periódica dos padrões, diretrizes e recomendações sobre medidas sanitárias e fitosanitárias.

O artigo quatro150, parágrafos um e dois151 frisam a equivalência das medidas entre as nações sócias e que os mesmos devem, com requerimento,

145 Article 1- General Provisions. 146 1 This Agreement applies to all sanitary and phytosanitary measures which may, directly or indirectly, affect international trade. Such measures shall be developed and applied in accordance with the provisions of this Agreement. 4 Nothing in this Agreement shall affect the rights of Members under the Agreement on Technical Barriers to Trade with respect to measures not within the scope of this Agreement. 147 Basic Rights and Obligations 148 2 Members shall ensure that any sanitary or phytosanitary measure is applied only to the extent necessary to protect human, animal or plant life or health, is based on scientific principles and is not maintained without sufficient scientific evidence, except as provided for in paragraph 7 of Article 5. 149 3 Members shall ensure that their sanitary and phytosanitary measures do not arbitrarily or unjustifiably discriminate between Members where identical or similar conditions prevail, including between their own territory and that of other Members. Sanitary and phytosanitary measures shall not be applied in a manner which would constitute a disguised restriction on international trade. 150 Article 4 - Equivalence 151 1 Members shall accept the sanitary or phytosanitary measures of other Members as equivalent, even if these measures differ from their own or from those used by other Members trading in the same product, if the exporting Member objectively demonstrates to the importing Member that its measures achieve the importing Member's appropriate level of sanitary or phytosanitary protection. For this purpose, reasonable access shall be given, upon request, to the importing Member for inspection, testing and other relevant procedures. 2 Members shall, upon request, enter into consultations with the aim of achieving bilateral and multilateral agreements on recognition of the equivalence of specified sanitary or phytosanitary measures.

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consultar os acordos bilaterais e multilaterais. No artigo cinco152 o risco da existência de uma taxação sobre determinado nível de proteção é amparado com dados científicos ou mesmo através de detecções de pragas ou doenças que levem em risco as condições ambientais. Contudo, o artigo quatorze153 nas Provisões Finais, coloca uma ressalva para países subdesenvolvidos com relação ao prazo de incorporação ao referido acordo. Um período de carência de cinco anos é ofertado a esses países para desenvolverem ou adquirirem tecnologias de forma a padronizar as medidas referidas. Assim, “the least-developed country Members may delay application of provisions of this Agreement for a period of five years following the date of entry into force of the WTO Agreement with respect to their sanitary or phytosanitary mesasures affecting importation or imported products” (OMC, 1994b). A Rodada Uruguai foi muito importante neste sentido, pois proporcionou uma redução nas tarifas uma vez que promoveu a liberação comercial integrando mais as relações entre países desenvolvidos e os não desenvolvidos. A OMC tornou-se palco das interações políticas nacionais e interesses internacionais. Barreiras tarifárias foram reduzidas drasticamente e barreiras não-tarifárias foram sendo distinguidas de protecionismo. Contudo, é importante salientar que a OMC não é uma agência ambiental e nem de conflitos que podem ser resolvidos por governos nacionais como padrões e prioridades nas políticas ambientais. Almeida (1997) coloca que “um dos objetivos da Rodada, presente desde a sua convocação, foi o de aumentar as obrigações destes países no GATT e reduzir a flexibilidade de que gozavam (permitida pelas próprias regras do GATT) quanto às suas políticas comerciais e industriais e submetê-los às novas disciplinas para os novos temas, dentre os quais o meio ambiente”. Nos dois acordos analisados anteriormente, TBT e SPS, “revelam um caráter paradoxal: têm por objetivo disciplinar os padrões nacionais para evitar restrições unilaterais desnecessárias (o ‘unilateralismo agressivo’), mas constituem em si mesmos restrições ao comércio de produtos que não atendam a suas especificações.” (Idem, 1997). Assim, o TBT observa o princípio da Nação Mais Favorecida e o SPS, a seletividade na aplicação da mesma e a não discriminação. Com vistas à proteção ambiental os acordos incentivam os padrões nacionais que necessariamente sejam internacionalmente aceitos com exceção a proteção e saúde humana, animais e vegetais inclusive dentre do território do país importador. Em suma, “a vinculação entre comércio internacional e meio ambiente é uma das novidades legadas pela Rodada Uruguai, constituindo tema de trabalho de uma comissão específica da OMC, cujo primeiro relatório - referente a dois anos de trabalho - não faz mais do que confirmar as colocações a esse respeito presentes no texto final da Rodada” (Ibidem, 1997).

152 Article 5 - Assessment of Risk and Determination of the Appropriate Level of Sanitary or Phytosanitary Protection. 153 Article 14 - Final Provisions.

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ARTIGO 15

Modelos produtivos industriais com ênfase no fordismo e toyotismo: o caso das montadoras paranaenses154

Resumo Na crise da década de 1930, os Estados Unidos foram fortemente afetados pela queda da Bolsa de Nova Iorque que atingiu todo o mundo. Na década 1980 outra crise afetou os países capitalistas, tendo como resultado uma recessão e uma depressão oriundas dos dois choques do petróleo (1973 e 1979) e a inserção do novo padrão tecnológico japonês e alemão. Assim houve esgotamento da relação L/K (trabalho/capital), a oferta não respondia mais a produtividade (fluxo monetário e de bens), os salários não acompanham os aumentos de preço e o poder aquisitivo caia significativamente. Como análise desse comportamento, estuda-se o modelo fordista e toyotista assim como a saída do primeiro modelo que se deu pela crise no período que abrangeu o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1970, a saturação do mercado e a queda da renda com redução do poder de compra da população. O Estado do Bem-estar (welfare state) tornou-se Mínimo e deixou de intervir na economia. Por fim, um mix de modelos produtivos industriais nacionais (empresa paranaense) serão apresentados. Palavras-chave: fordismo, toyotismo, capital e trabalho. 1. Introdução A origem dos modelos das plantas industriais em série retratam da histórica fábrica de alfinetes descrita por Adam Smith, na célebre obra A riqueza das Nações em 1776. A essência da Revolução Industrial criou oportunidades para a redução

154 Artigo desenvolvido em 2004.

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dos custos dos produtos a especialização dos trabalhadores, gerando destreza e organização nas etapas do processo produtivo. Nas palavras de Smith (1978),

Um homem estica o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz a ponta, um quinto esmerilha o topo para receber a cabeça; produzi-la requer duas ou três operações distintas; ajustá-la no alfinete é uma atividade peculiar, pratear os alfinetes é outra; inseri-los na cartela de alfinetes constitui até uma atividade independente. (...) Essas dez pessoas eram capazes de produzir, conjuntamente, mais de 48 mil alfinetes por dia. Porém, trabalhando separada e independentemente, e sem ter sido educada nessa atividade peculiar, cada uma delas certamente não conseguiria produzir vinte, ou nem mesmo um alfinete ao dia.

A evolução das idéias de Smith e a análise dos Tempos e Movimentos de Taylor tornaram-se realidade para Ford, que encontrara a aplicação prática dessas teorias. 1. Fordismo

O desenvolvimento do processo de produção industrial em escala teve como antecedente ao modelo fordista pela concepção das idéias de Taylor onde a organização do trabalho é essencial à produção. Assim Marques (1987, p. 19) cita a contribuição de Taylor para a simplificação do trabalho levando em conta parcelização com aumento intensivo da produção, além da redução dos custos e a desvinculação dos trabalhadores métier.155

Parece-me que, apesar de Taylor ter buscado prioritariamente controlar o elemento humano do processo de trabalho, não foi de menor importância sua contribuição no que toca às ferramentas. A combinação do estudo de tempos e movimentos com a relação das ferramentas permitiu um aumento significativo da quantidade produzida por jornada de trabalho, estribada que foi no aumento substancial de intensidade de trabalho.

Do trabalho desenvolvido por Taylor, Ford consegue por em prática de forma impressionante e criativa na produção industrial. Mas não era o suficiente, pois a velocidade da produção não era proporcional à demanda por veículos. Inspirado numa indústria de conserva que utilizava uma esteira rolante para dar seqüência à produção, Ford adotou a idéia e a fez em sua fábrica. Agora quem dita o ritmo da produção é o capital e não o trabalho. Assim, “a linha de montagem consiste de uma esteira que passa à frente dos trabalhadores sobre a qual são sucessivamente adicionadas preços ou subconjuntos que encontram estocados perto do trabalhador” (MARQUES, 1987, p. 21). Ford dizia, em Bibliografias (1998, p. 20), “a palavra-chave para a produção em massa é a simplicidade”. Já Godoy (2002, p. 3), coloca como “o processo fordista de produção caracterizava-se pela economia de movimento dos trabalhadores o que resultava na diminuição do tempo de espera entre uma tarefa e outra”.

155 Trabalhadores que detém conhecimento oriundo de pai para filho.

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Nas palavras de Benko (1999, p. 113), “o modelo de desenvolvimento fordista parte de uma revolução nas condições de produção e de trabalho (o taylorismo e o fordismo como princípios de organização do trabalho) no setor de bens de consumo”. A flexibilização da produção pode ser verificada da seguinte forma: - Produção em série; - Aceitação de certo nível percentual de defeito; - Utilização de esteiras rolantes; - Tecnologia eletro-mecânica. O trabalhador era considerado de baixa qualificação para que numa necessidade possível sua reposição sem perda na eficiência do processo produtivo. Em 1903 a Ford fabricava 1.700 veículos da seguinte maneira: - Trabalho sob forma de especialização, ou seja, rotina, repetição e destreza; - Economia de escala: a iniciativa de partir para a produção em larga escala coincidiu com o momento em que os banqueiros, antes limitados aos financiamentos das estradas de ferro, estavam dando maior atenção à indústria. Em 1913 um automóvel era montado em 8,56 minutos. “Em 1914, com a linha de montagem, a fabricação foi para 300.000 unidades. Em 1923 chegou a 1.900.000 unidades” (TAUILE, 1988, p. 96-97 apud GODOY, 2002). Em 1923, o mesmo automóvel era montado em 1,19 minutos.

O motor da revolução foi o Ford T, com seu design estandardizado, cor preta, com apenas 5 mil partes, linha de produção organizada e baixo custos, justamente para que pudesse ser comprado por qualquer pessoa. (...). Nos primeiros cinco anos de pleno funcionamento, a linha de operação saltou de 17.771 carros para 202.667. Onze anos mais tarde, somava 1,8 milhões de unidades. (...) De 950 dólares caíram para 550 até fixar-se no patamar de 355 dólares (BIBLIOGRAFIAS, 1998, p. 14).

No trabalho de Marques (1987, p. 24) “Ford conseguiu em pouco tempo reduzir a montagem do chassi de 12 horas e 8 minutos para 1 hora e 33 minutos, e a montagem de motores de 9 horas e 54 minutos para 5 horas e 56 minutos”. No ano de 1914 quando as vendas começaram a decolar, Ford elevou os ganhos diários de 2,34 para 5 dólares por dia. Resultado: motivação dos operários, o absenteísmo caiu em torno de 85% e criação de novos consumidores para seus próprios carros. Com isso, o modelo fordista trouxe:

- Sistema intensivo de mão-de-obra; - Hierarquia formal: o dono da fábrica é o patrão, como Henry Ford; - Salários rígidos: inflexibilidade de acordo com o operário e a indústria; - Sindicatos fortes: grande união operária e oferta de emprego razoável. 2. Toyotismo No início dos anos 1970, a crise do fordismo intensificava-se e um novo modelo produtivo começava a surgir. Um modelo com padrão flexível e

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diversificado era a solução. Benko (1999, p. 115) coloca dois fatos que caracterizava a crise segundo as teorias da regulação:

1. uma crise da oferta, que reflete a baixa tendencial da taxa de lucro, ficando raízes não nas condições do mercado, mas no seio do sistema de produção do valor e dos conflitos do trabalho; 2. Uma crise da demanda, subseqüente à internacionalização da atividade econômica (gerada pela busca de economias de escala e com o conseqüente enfraquecimento do vínculo entre crescimento nacional e controle da demanda ao nível de um país, fenômeno que conduziu ao monetarismo.

O modelo keynesiano vai cedendo lugar para o neoliberalismo, que vai ao encontro com um mercado interno saturado a procura de mercado externo muito competitivo, usando dados como a taxa de crescimento, economias de escala, tecnologias de ponta, variação nos preços dos bens e serviços, evolução da demanda e nos volumes produzidos e análise dos ciclos econômicos. Assim para

alguns autores neoclássicos identificaram as dificuldades encontradas com as imperfeições do mercado. As expectativas irracionais dos consumidores e assalariados, a informação imperfeita e as interferências nos mecanismos de mercado, associadas à ação dos monopólios, dos sindicatos, dos grupos de interesses e dos governos, constituíram outros tantos entraves, catalogados como tais, ao funcionamento do mercado. (...) Partindo desse diagnóstico, criaram estratégias neoliberais que, sob roupagens conservadoras, centristas ou social-democratas, substituíram as estratégias do Estado-providência keynesiano na maioria dos países (Idem, 1999, p. 105-106).

O novo padrão tecnológico iniciou-se nos anos 1980 e teve como objetivo contornar a crise econômica e social que se instalava a nível mundial. Para Coriat (1994, p. 30) “a essência do sistema – determinado por sua ‘intenção’ fundadora – é apresentada por Ohno como consistindo na concepção de um sistema adaptado à produção em séries restritas de produtos diferenciados e variados”. Mudanças organizacionais na linha de produção levaram a criação de um novo paradigma, intensivo em capital, tecnologia, informação e conhecimento. Como exemplo a terceira revolução industrial que trouxe a microeletrônica como sinônimo de inovação tecnológica associada à pesquisa e desenvolvimento. Assim surgiu o ‘espírito Toyota’. A idealização de Taiichi Ohno inverte o conceito americano de produção em escala para redução de custo.

Grandes séries de produtos rigorosamente idênticos contra séries restritas de produtos diferenciados, eis, aí, sucintamente, o coração da oposição central, fundamentalmente, entre os dois métodos e logo também a especificidade e a singularidade da intenção que presidiram a formação do método Toyota (CORIAT, 1994, p. 31).

A ‘fábrica mínima’ derrubou barreiras que ocultavam custos onerosos à fabricação como o estoque que além de exigir certa e complexa organização (logística) também contém um excessivo número de pessoal. Ohno dá um passo gigantesco neste assunto, pois a solução, embora pareça simples vai direto ao problema. “Atrás do estoque há um ‘excesso de pessoal’ (...) há atrás do estoque o excesso de equipamento” (Idem, 1994, p. 32-33). Assim a fábrica mínima tem o

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objetivo de atingir o estoque zero (Kan Ban), enxugando o excesso de pessoal e trazendo a flexibilização da produção. O método Kan-Ban que significa ‘cartaz’, foi originado de um sistema de supermercado como necessidade de uma fábrica ‘magra’ para a racionalização do trabalho.

O princípio aplicado por Ohno foi o seguinte: o trabalhador do ponto de trabalho posterior (aqui tomado como ‘cliente’) se abastece sempre que necessário, de peças (‘os produtos comprados’) no posto de trabalho anterior (a seção). Assim sendo, o lançamento da fabricação no posto anterior só faz para realimentar a loja (a seção) em peças (produtos) vendidas. (...) No fundo, o Kan-Ban se apresenta antes de mais nada como uma revolução nas técnicas de controle do processo de fabricação e encomendas e de otimização do lançamento das fabricações (Idem, 1994, p. 56).

A ideologia do sistema ohnista teve como antecedente a experiência na indústria têxtil156, aliando a visão empresarial com a inovação tecnológica e melhor aproveitamento da força de trabalho humano. Contudo, em 1949, a Toyota sofre uma crise financeira e em 1950 uma greve geral leva a fábrica a demitir aproximadamente 1600 trabalhadores.

A Toyota não escapa deste movimento e o sindicato na empresa organiza todo um movimento de reivindicação salarial e de resistência à racionalização que durará cinqüenta e cinco dias. Novamente a direção se opõe a qualquer compromisso formal e negociado com os trabalhadores. E finalmente atinge os seus objetivos: o conflito termina com uma derrota do sindicato. Derrota tal que a direção amplia ainda mais suas vantagens e consegue transformar o ramo local do sindicato de indústria em um sindicato interno (ou ‘de empresa’), funcionando segundo regras e procedimentos novos, amplamente ditados pela própria empresa. (Ibidem, p. 45).

Se por um lado a Toyota estava em crise, sem recursos financeiros e com redução significativa de pessoal, uma situação paradoxal vislumbrava quando iniciava a Guerra da Coréia e a fábrica tinha que atender as encomendas sob o risco de processo e pagamento de multa, conforme acordo firmado em contrato. Assim, é neste ambiente de dificuldades que começa a surgir à concepção de um novo sistema produtivo. Em resumo, o novo padrão resume-se em: - Flexibilização: esforço em descobrir novos segmentos de mercado; - Zero percentual de defeito (Poka Yoké) é aceito, isto é, qualidade total; - Administração pelos olhos (Andon); - Linha de montagem com ênfase na atividade organizacional; - O novo paradigma agora é intensivo em capital, informação e conhecimento. A microeletrônica é a grande responsável pela inovação tecnológica juntamente com as telecomunicações, ou seja, a tecnologia eletroeletrônica (informatização e robotização). Para Marques (1987, p. 7 e 54):

A utilização da microeletrônica tem resultado na separação de problemas de estrangulamento e na extensão da linha para setores que antes não eram assim organizadas, aprofundando,

156 A atividade na área têxtil era o principal ramo da Família Toyota.

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portanto, o uso da organização taylorista/fordista do trabalho. (...) Essas normas de produção procuram basicamente atender a quatro requisitos: que a produção ocorra com a redução sensível do estoque em processo; que o aparelho produtivo seja flexível; que a organização da produção e do trabalho permita um maior controle sobre a produção e que haja redução substancial do tempo necessário à produção. A microeletrônica vem responder a essas necessidades.

Para Benko (1999, p. 117):

Com o desenvolvimento da eletrônica e das tecnologias da informação, as máquinas especializadas (assim como os trabalhadores qualificados) podem ser substituídas por robôs capazes de efetuar todo um conjunto de operações diferentes, podendo passar rapidamente de uma operação para outra.

Como exemplo tem-se a nova administração: - Controle de estoque: Kan-Ban; - Responsabilidade social com ênfase na valorização do meio ambiente. - Sistema poupador de mão-de-obra na hierarquia informal: o dono da fábrica não é o patrão, e sim o investidor. O patrão é um funcionário altamente qualificado para assumir cargos de chefia administrativa. Exemplo: Ohno, que incorporou a idéia de empresário inovador era um funcionário. A tecnologia surge como: - a incorporação do chip157: máquina-ferramenta de controle numérico (robô), com o auxílio dos softwares CAD (computer aided design) e CAM (computer aided manufacturing); A redução dos custos: - Redução e/ou eliminação de custos de manutenção; - Princípio da troca rápida de ferramenta (ferramentas padronizadas); - Sistema de parcerias: cooperação intra-firmas e com universidades; - Produção em tempo real: just-in-time; - Investimento maciço em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e Ciência e Tecnologia (C&T); - Terceirização: passar para terceiros a etapa industrial onerosa em custos, intensiva em mão-de-obra ou atividades operacionais de difícil redução de custo.

Segundo Hollanda Filho (1996, p. 30):

Os crescentes gastos em P&D envolvidos nesses tipos de concorrência, o recolhimento mútuo de vantagens específicas de cada firma em diferentes etapas e a pressão pela diminuição dos custos, têm incentivado a formação de joint-ventures,158 ou outro tipo de associação, em empreendimentos isolados. (...) É o caso das associações da General Motors, Ford e Chrysler respectivamente coma Toyota, Mazda e Mitsubushi.

O trabalho: - Atividade por grupo de trabalhadores multiqualificados (equipe);

157 Também conhecido como transistores ou integrados. 158 Parceria de alto risco.

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- Trabalhadores multifuncionais, qualificados e adaptáveis a mudanças (promoção da desespecialização); - Salários flexíveis: remuneração proporcional à competência e produtividade, ou seja, individualização dos salários; - Sindicados fracos: pouco poder de barganha devido ao desemprego estrutural. Para Marques (1987, p. 5), “o resultado disso é o aparecimento de uma fábrica moderna, flexível, onde é significativa a economia de capital fixo e circulante, e onde o controle sobre o trabalhador é mais intenso”; A principal lição que Ohno deixa é que não se pode mais produzir em massa e colocar a disposição do comprador mas sim o inverso, ou seja, a partir das informações de que existem encomendas passa-se a iniciar o processo produtivo com instruções que se estendem das montadoras aos fornecedores, analisando cada etapa que se segue.

3. Fordismo versus Toyotismo O que diferencia o modelo fordista do modelo toyotista é a Organização da Produção, com inovação e invenção,159 que na explicação schumpeteriana vem a ser a Destruição Criadora que troca o velho pelo novo. Segundo Hollanda Filho (1996, p. 19-20):

A visão de Schumpeter evidenciava-se na economia norte-americana do pós-guerra, quando se tornava comum, no âmbito das grandes empresas, a existência de departamento especializados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a recorrência a cientistas. (...) Os resultados dessas pesquisas empíricas devem, evidentemente, ser analisados com cautela. Ainda existe, no mundo moderno, inovações introduzidas por empresários shumpeterianos que não dependem de gastos em P&D; outras se tornam disponíveis publicamente a partir de publicações científicas.

Como exemplo, a invenção do toca-disco foi uma revolução tecnológica sobre os aparelhos de som denominados de vitrola. Da mesma forma, com a invenção dos aparelhos a laser, o uso de CD (compact disk) substituiu os discos de vinil assim como o toca-disco. O advento de uma nova tecnologia destrói a velha para se inserir em seu lugar. É a destruição criadora. No Quadro 1 são ilustrados os paradigmas entre fordismo e toyotismo, na indústria automobilística.

159 Para que isso realmente tenha efeito, é necessário respeito aos direitos autorais.

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QUADRO 1 – Fordismo e Toyotismo INDÚSTRIA AMERICANA

(fordismo) INDÚSTRIA JAPONESA

(toyotismo) Produção em massa (série) em forma rígida

Produção enxuta em forma flexível

Geração de estoques, altos custos e desperdícios

Sem estoques, custos reduzidos (customização)

Produtos uniformes Produtos diversificados e especializados Preços com pouca margem de barganha Preços competitivos

Para melhor interpretação, considere a produção com dois insumos variáveis. Observe o deslocamento das isoquantas no Gráfico 1. Uma isoquanta mostra as diferentes combinações de trabalho (L) e capital (K) com as quais uma empresa pode produzir uma quantidade específica do produto. O Gráfico 2 mostra os custos médios (C1 e C2) para ambos modelos.

GRÁFICO 1 – Isoquantas GRÁFICO 2 – Custo médio K toyotismo $ Kj C2 CMe (fordismo) Ki fordismo C1 CMe (toyotismo) 0 Lj Li L 0 Q

No Gráfico 1 o modelo toyotista é intensivo em capital enquanto o modelo fordista é intensivo em trabalho. A isoquanta mais alta mostra essa diferença. No Gráfico 2, ao custo médio no modelo toyotista (C1) é inferior devido ao baixo custo originado da maior aplicação de novas tecnologias contra um custo mais elevado no sistema fordista (C2) que conta com maior trabalho manual. Para modelos mistos, como será visto a seguir, tenta-se de alguma forma criar uma isoquanta mais alta e a esquerda que a representa no Gráfico 1 e também da busca incansável da redução dos custos. 4. Modelos produtivos mistos: o caso das montadoras paranaenses

Interessante análise de um mix de sistemas produtivos é apresentado por Carleial et all (2002) onde ilustra o modelo sloniano e o modelo hondiano. Na década de noventa o padrão americano e britânico saem na frente modificando novamente o paradigma econômico como: - Abertura de mercados ou mercados livres; - Pensamento neoliberal conseqüentemente Estado Mínimo e não intervencionista; - Globalização;

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- IDE (Investimento Direto Estrangeiro) na forma de aquisição, incorporação e fusão; - Desnacionalização da indústria; - Desemprego e redução da renda; - Maior intensividade de novas tecnologias como a microeletrônica, a informação e a comunicação. No caso brasileiro o modelo sloniano é adotado pela Volkswagem-Audi160 na cidade de São José dos Pinhais, sul do Paraná e “privilegia volume e diversidade em um contexto de mercado crescente. Ele combina economia de escala com tipos de automóveis diferentes e uma mesma plataforma de produção” (Idem, 2002, p. 5). Já o modelo hondiano é adotado pela Renault-Nissan161 onde a montadora “privilegiou a inovação e a flexibilidade na construção de um modelo completamente diferente” (Ibidem, p. 5). Essas empresas localizam-se também em São José dos Pinhais. Os dois modelos apresentados têm como base o sistema toyotismo como planta básica (busca de inovação tecnológica, flexibilidade na produção, redução de custos e revisão no sistema salarial) e como complementação, utilizam inovações comerciais (Honda), acordos com sindicatos em prol da manutenção dos empregos e acordos com fornecedores em forma de condomínios industriais para minimizar os riscos ocasionados pela instabilidade do mercado. Outro modelo produtivo analisado, embora simples na sua análise, é um mix do fordismo com o toyotismo, embora este último não em sua essência, mas em alguns aspectos. A empresa que apresenta tal modelo é a Matra162, localizada em Ibaiti, no norte pioneiro do Paraná. A empresa foi fundada em 2000, com capital 100% nacional e possui uma instalação pequena, com capacidade de produção de 15 unidades mensais,163 conta com aproximadamente 50 funcionários e não utiliza processos robotizados. Todo o processo funciona no padrão fordista, baseado no sistema ‘esteira rolante’, embora algumas técnicas toyotistas estejam presentes, como o procedimento de estoque zero, pessoal enxuto e método Kan-Ban. A produção é voltada para o mercado interno e no processo sob encomenda. 5. Conclusão Com as idéias de Ford todo o processo industrial foi modificado a começar pela padronização da produção, que em série, trouxe maior flexibilidade aos padrões até então adotados no início do século XX. Como exemplo, o uso da ‘esteira rolante’ e a especialização do trabalho. Além disso uma visão empresarial extradiordinária como a dos ganhos diários que passou de US$ 2,34 para US$ 5,00 estimulando a

160 São produzidos os veículos Golf (VW) e Audi A3. 161 São produzidos os veículos Scenic e Clio (Reanult) e a camioneta Frontier (Nissan). 162 Produz a camioneta Matra, como concorrente da Toyota Bandeirantes. 163 Informações obtidas no início do segundo semestre de 2003 pelo Gerente Comercial Sr. Kenhei Honma.

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produtividade, a redução drástica do absenteísmo e a criação de novos consumidores para seus produtos. Na década de 1970 o modelo fordista atinge sua fase de exaustão e existe a necessidade de se pensar numa nova estratégia para a condução da economia. Nesse período o mundo capitalista defrontava por um lado com uma crise de oferta, e por outro, de demanda. O Estado Interventor ou o Modelo Keynesiano não tinha mais seu espaço e aos poucos vai cedendo lugar ao neoliberalismo como resultado de um Estado Mínimo. Agora o princípio que rege a economia está no novo padrão tecnológico, investimento maciço de capitais e com detenção da informação e do conhecimento. Assim, na década de 1980, surge o pensamento toyotista, que trouxe a microeletrônica como a terceira revolução industrial. A organização do sistema trabalhista não é mais o funcionário especializado, mas sim o multi-qualificado, com salário flexível e proporcional a sua produção. Na linha de montagem, a produção flexível atende a um ritmo mais rápido, sem desperdício de tempo e material (peças defeituosas e o próprio estoque). Os processos onerosos são terceirizados e a pesquisa e desenvolvimento (P&D) assim como a ciência e a tecnologia (C&T) são vistas como estratégias de competição. Na década de 1990 o modelo toyotista sofre mudanças em seus paradigmas, agora com mercados desregulamentados, investimentos direto estrangeiro direcionado e parcerias tecnológicas. De uma forma ou outra a inovação se fez presente e trouxe uma dependência tecnológica cada vez mais necessária. Como exemplo de um sistema de parceria industrial, a VW-Audi e a Renault-Nissan são bons modelos. Tudo isso é influenciado por medidas de cunho locacional, ou seja, proximidades de centros educacionais e de pesquisa, portos e uma ampla rede de fornecedores que atendem não somente a essas empresas, mais outras já instaladas na CIC (Cidade Industrial de Curitiba), como a Volvo e a New Holland. Em relação à montadora do norte pioneiro, em análise, uma série de dificuldades contrapõe a montadora a crescer, principalmente quanto a sua localização, que implica em custos, como por exemplo, à distância da capital (Curitiba), de grandes centros consumidores, que trás como conseqüência a ausência de um condomínio industrial para abrigar os fornecedores em sistema de parceria, ausência de pesquisas em Universidades para novas tecnologias (principalmente engenharia e empresas de alta tecnologia), distância do litoral para futuras plantas visando o comércio exterior e dificuldade em contratação de mão-de-obra qualificada. A questão de novos investimentos e ampliação da planta industrial é essencial para que a empresa ganhe mais mercado, modificando seu modelo de sob encomenda para economia em escala. O lado positivo da empresa é a contratação de mão-de-obra barata por estar no interior do Estado (longe das pressões sindicais). O lado positivo infra-regional, é o desenvolvimento local, embora difícil de se verificar no curto prazo.

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6. Referências BENKO, G. Economia, Espaço e Globalização. 2ª ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1999. BIBLIOGRAFIAS de grandes empresários – Henry Ford. Revista Isto É Dinheiro. São Paulo, n. 29, 1998. CARLEIAL, L.; MEZZA, M. L.; NEVES, L. Modelos produtivos industriais e relação salarial nas firmas redes comandadas pelas montadoras automobilísticas na região metropolitana de Curitiba-Paraná: o caso Volks-Audi e Renault-Nissan. In: V ENCONTRO DE ECONOMIA SUL. ANPEC SUL. Florianópolis: UFSC, 2002, CD-ROM CORIAT, B. Pensar pelo avesso. Rio de Janeiro: Ed. Revan / Editora UFRJ, 1994. GODOY, A. M. G. Desenvolvimento e meio ambiente. Artigo científico, UEM, 2002. HOLANDA FILHO, S. B. Os desafios da indústria automobilística. A Crise da modernização. São Paulo: IPE/USP, 1996. MARQUES, R. M. A automação, microeletrônica e o trabalhador. Dissertação de mestrado apresentada a PUC, 1987. SMITH, A. Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultura, 1979.