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Coletânea de contos Terceiro ano/ turma 2013 Escola Estadual Estevam Ferri

Coletânea de contos - 3º ano E.M. - Escola Estadual Estevam Ferri

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Este livro contém contos produzidos pelos alunos do 3º ano da E.E. Estevam Ferri. Passando pelo humor, terror e fantasia os alunos revisitam o gênero do conto breve. Divirta-se!

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Coletânea de contos

Terceiro ano/ turma 2013

Escola Estadual Estevam Ferri

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Coletânea de contos

Caique Bustamante, Erick Renan Bastos, Ismael Penteado, Leonardo Silva, Amanda

Eduarda Fernandes Leite, Pamela Cardenuto, Thais Carolina Ferreira da Silva, Luana

da Silva, Bruno Simão, Gustavo Uchôas, Igor Américo e Igor Sermarini, Bianca

Alexia, Leandro Rocha, Marcus Vinicius F. Barbosa, Tainá Maria, Beatriz Helena,

Karine Rodrigues, Ana Paula Oliveira e Thais Barbosa.

Alunos do 3º Ano A

Escola Estadual Estevam Ferri

São José dos Campos2013

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Índice

O caso 13. __________________________________________________________________3

Caique Bustamante, Erick Renan Bastos, Ismael Penteado e Leonardo Silva

Por um segundo terraqueano.________________________________________5

Amanda Eduarda Fernandes Leite e Pamela Cardenuto

Noite de formatura. ________________________________________________6

Thais Carolina Ferreira da Silva e Luana da Silva

Nelson. ___________________________________________________________9

Bruno Simão, Gustavo Uchôas, Igor Américo e Igor Sermarini

O mundo dá voltas. ________________________________________________10

Bianca Alexia, Leandro Rocha, Marcus Vinicius F. Barbosa e Tainá Maria.

O delírio. _________________________________________________________11

Beatriz Helena, Karine Rodrigues e Thais Barbosa.

O corvo. _________________________________________________________12

Ana Paula A. Oliveira

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O caso 13.

Caique Bustamante, Erick Renan Bastos, Ismael Penteado e Leonardo Silva

“Mais um desaparecimento confirmado pela polícia na pacata cidade de Greenfield,

totalizando o décimo terceiro caso.”Após ler a notícia no jornal, me levantei do sofá e fui me

preparar para mais um dia de serviço. Eu era coveiro e meu trabalho era enterrar corpos.

Mas algo estava errado, muitas pessoas estavam morrendo e quase já não havia lugar para os

corpos. Mas isso tinha uma explicação, as pessoas estavam desaparecendo e, uma semana depois,

aparecendo mortas, como se fosse um suicídio.

O 13º caso foi algo muito perturbador para mim, aconteceu mais ou menos assim: Certo dia,

em meu expediente noturno, ouvi gritos desesperados do que parecia ser uma garota. Fiquei

preocupado e fui a sua direção para ajudá-la. Chegando lá, consegui ver a menina sentada no chão

chorando muito, com seu ursinho laranja desbotado. Quando me aproximei, escutei passos atrás de

mim e ao me virar fiquei surpreso. Depois não me lembro de mais nada.

Acordei pela manhã deitado justamente onde a garota estava e ela havia sumido. Fui direto à

polícia para contar o ocorrido. Passei dias em claro, com medo de ser pego, até que uma notícia me

abalou. A menina, cujo nome era Stephanie, apareceu depois de 8 dias, só que com um pequeno

problema, estava morta em um terreno baldio do cemitério, o que me fez relembrar do primeiro

caso. Qual foi? O da minha esposa. Mas por que alguém faria isso?

Parece que ela previu que iria morrer, achei que tinha sido besteira, mas não foi. Dois dias

antes, ela me pedira para que eu a enterrasse com uma caixa se algo acontecesse, mas eu não devia

ver o conteúdo.

E assim fui ao cemitério e desenterrei: uma grande surpresa! Dentro da caixa havia vários

pertences, inclusive o ursinho desbotado que pertencia àquela garota. Fiquei chocado! O que ele

estaria fazendo ali?

Enfim, quando comecei a ver os objetos e ler a carta que lá estava, as coisas se encaixaram.

Na carta estava escrito:

“Querido, não tive coragem de lhe contar, mas sabia que iria morrer. Quase morri diversas

vezes atacada por alguém que eu amava muito. No entanto, ele não tinha culpa, pois era vítima de

um distúrbio que o deixava muito agressivo.

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Te amo muito, e desejo que você não mate mais ninguém. Beijos!”

Não podia ser, como eu teria coragem de matar alguém? Logo eu que sempre fui tão bom.

Não posso viver com essa culpa. Então como minha mulher, fiz esta carta de despedida. Vou morrer.

Minha causa de morte? Suicídio!

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Por um segundo terraqueano.

Amanda Eduarda Fernandes Leite e Pamela Cardenuto

E não era de se esperar que no meio da viagem o combustível acabasse. Parar em um

mundo como o tal não era também a melhor saída, porém discordar de minha mãe era resultado de

morte. “Seu pai disse que eles tinham algo parecido, não podemos seguir com o tanque na reserva.”

Estacionamos a nave no meio do nada. O Planeta Terra não é tudo isso que meus amigos

comentavam no Martbook. Lugar vazio, silencioso e apenas com um ponto de comércio cujo nome

era “Shell”. No entanto a Terra por um momento se tornou o planeta mais bonito que existe, era de

cor rosada – classificada como as mais belas de todas as cores em meu planeta, Marte – com dentes

brancos e lindas curvas. Terraquianas são lindas como nos livros. Minha mãe desconfiada de

minhas olhadas me puxou pra perto e exigiu que eu não saísse de perto.

Quando entramos no “Shell”, terráqueos corriam para todo lugar, gritavam e se debatiam.

Mas a terráquea ficou parada, olhando com aqueles olhos da cor da minha pele. Arrepiei-me.

Nervosa com a situação, minha mãe, a senhora Galark, me prendeu na mesa com o laser

colante 2000. “Vou buscar o combustível “Coca-Cola” e você fica ai mocinho”. A senhora Galark

foi sumindo através das prateleiras me deixando sozinho com aqueles olhos verdes vidrados em

mim. Meu coração acelerava a cada passo que ela dava em minha direção, parada em minha frente

me cutucava dizendo “Sua maquiagem está perfeita, nunca vi fantasia melhor que a sua”.

Desconhecia tais palavras, fantasia e maquiagem. Será que seria um elogio? Ela tinha se

apaixonado? Tudo me deixava muito feliz. Poderia me imaginar com aquela terráquea no meu

futuro, com a nossa casa flutuante e uma nave, a Camaroks 3500 de preferência.

Tudo fazia sentido agora, não foi em vão que o combustível acabou justamente nesse

planeta, era destino. Agradecia todo instante pelo ocorrido. Mas tudo que é bom, dura pouco, para

estragar aquele clima romântico, minha mãe aparece com cerca de dez mil litros de combustível

“Coca-Cola” no flutuador, me arrancando a força da mesa e me separando de minha amada

terraquiana.

Já na nave, a senhora Galark começou com seu sermão. Não ouvi nenhuma palavra dita por

ela, estava entretido com meus pensamentos. No meu aniversário de trezentos e cinquenta anos,

seria responsável pelos meus atos e buscarei minha amada terraqueana, o que alias será no mês que

vem. Se não, não me chamo Etevaldo.

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Thais Carolina Ferreira da Silva e Luana da Silva

E, quando eu senti aquela mão gelada em meu pescoço, senti que era o fim, senti que ia

morrer, naquele lugar medonho, fedido e mal cuidado. Foi aí que senti algo rasgando meu corpo

com tanta força que não aguentei, fechei os olhos para que não caísse nenhuma lágrima e parei de

respirar.

Tive uma vida muito difícil, perdi meus pais aos 12 anos e fui adotada por uma família que

morava numa casa grande com uma enorme área verde e uma piscina incrível. July, minha meia

irmã, me ajudou muito a me adaptar ao lugar. Na escola sempre fui uma boa aluna e uma ótima

amiga.

Quando completei 18 anos meus amigos resolveram me levar a um bar, e mesmo sem nunca

ter bebido adorei estar ali, me senti uma adulta. Não bebi muito pois não queria decepcionar meus

pais e queria chegar cedo em casa para aproveitá-los. Quando cheguei em casa vi algumas pessoas

tinham se mudado para a casa ao lado, mas não dei muita atenção.

No dia seguinte, estava relaxando um pouco na piscina quando a campainha tocou, e eu,

como estava sozinha, fui correndo atender, mas quando abri a porta eu fiquei paralisada ao ver

aquele homem alto, forte como um esportista, com cabelos pretos e un olhos verdes muito intensos.

Ele se apresentou como Maicon e eu como Anahe, ficamos calados por um tempo, apenas um

olhando para o outro, quando ele pediu uma ajuda para mostrar a cidade para ele pois ele era novo

alí e se sentia perdido. Eu aceitei e falei para ele marcar um dia. Na hora em que ele foi embora me

deu um beijo na bochecha e fiquei com muita vergonha. Dormi pensando nele, no jeito dele, no

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sorriso, em tudo.

Era final de ano e com isso haveria a festa de formatura da minha turma, e vi todas aquelas

meninas desesperadas para achar um par, um vestido e se perguntando se seriam a rainha do baile,

mas, como sempre, eu não ia.

Com o tempo pude conhecê-lo melhor, a levei a vários lugares da cidade, a vários barzinhos,

shoppings, centro, restaurantes, cinemas. Tornamos-nos grandes amigos, mas o sentimento que

sentia por ele era muito mais que amizade.

Uma semana antes do baile ele me convidou para ir com ele. Fiquei sem reação, nunca me

chamaram e logo ele o garoto mais lindo e popular da escola. Nesse momento a escola parou, todas

as meninas ficaram espantadas e eu logo falei “sim, eu aceito”. Foi motivo para virar conversa na

escola toda.

No dia seguinte fui comprar meu vestido e marcar uma hora no salão. Já que era meu

primeiro baile, queria ir linda e à altura do Maicon.

Finalmente o dia chegou, me olhei no espelho e vi uma menina completamente diferente,

estava com um vestido azul tomara que caia com strass no bojo, curto cheio de renda, com o cabelo

solto enrolado e uma maquiagem não muito for te mais no contraste do vestido. Comecei a imaginar

como ele estaria e como seria perfeita aquela noite, mas fui interrompida pela campainha, fiquei

muito nervosa mas quando o vi, abri um enorme sorriso em meu rosto. Ele estava muito lindo,

perfeito, pra ser exata, ele falou que eu estava linda e para irmos logo para não nos atrasarmos, ele

estava com um cadillac preto, lindo e reluzente.

Quando chegamos ao baile antes de entrar ele segurou minha mão olhou nos meus olhos e

me deu um beijo, e falou bem baixinho, “hoje a noite é nossa e vai ser perfeita”. O baile estava com

uma decoração fantástica. Quando entramos todos nos olhavam e senti deu um frio na barriga.

Dançamos, comemos, rimos, foi uma noite perfeita até que quando acabou, ele falou que me

levaria para um lugar especial antes de me deixar em casa, e eu concordei.

A estrada era muito escura, de terra e estava muito frio. Ele parou em um lugar que parecia

mais com uma casa abandonada, ele saiu, abriu a porta e logo agarrou no meu pescoço até eu ficar

sem ar. Assim, desmaiei.

Quando acordei estava deitada de costas, não conseguia ver nada, estava sem meu vestido.

Me desesperei e comecei a gritar por socorro. Por que? Por que ele havia feito aquilo comigo? Eu

confiava nele e me entreguei a ele. Foi quando ele me falou sobre um lado que ele não conseguia

controlar, a sede dele por ver alguém chorar, gritar e morrer na frente dele. Fiquei paralisada,

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pensando na minha família, nos meus amigos e no meu futuro que não ira acontecer.

Foi quando eu senti aquela mão gelada em meu corpo e algo me rasgando, dei um grito,

fechei os olhos e não consegui mais respirar. Morri ali, naquele lugar medonho e quem me matou

foi o único menino de quem realmente gostei...

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Nelson.

Bruno Simão, Gustavo Uchôas, Igor Américo e Igor Sermarini

Nelson é um garoto diferente dos demais, ele fala em uma língua estranha, que só ele

conhece, chamada língua do Nelson. Ele desenvolveu esta habilidade desde que aprendeu a falar,

pois achava interessante dizer o nome dele junto com suas palavras.

Certa vez, Nelson foi à uma padaria e queria comer um lanche, chegou no garçom e disse:

- Olá, quanto custa um cheese nelson?

E o garçom respondeu assustado:

- Desculpa, o que você quer?

- Um cheese nelson!

- O que seria isso?

- Aquele lanchenelson que vem com presunelson, queijelson, hamburnelson e alfacenelson

- Nelson?

- Meu nome, porquenelson?

- Não senhor, quero saber o que é isso que o senhor quer.

- Um lanchenelson garçonelson.

- Não estou entendendo o por que de tanto Nelson

- É uma língua nelson que eu inventeinelson

- E o senhor quer que eu entenda como?

- Entendenelson, não é tão difinelson

-Até que estou entendenelson, então o senhor quer um chesse burguer, certo Nelson?

- Nelson!

Então Nelson se satisfez com seu lanche e foi embora para sua casa, feliz, pois o

garçonelson entendeu sua línguanelson.

Finelson.

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O mundo dá voltas.

Bianca Alexia, Leandro Rocha, Marcus Vinicius F. Barbosa e Tainá Maria.

Serenita era uma jovem de 17 anos que estava no terceiro ano do ensino médio. Menina

dedicada, seguia uma rotina de pessoa responsável, decidida a ter um futuro exemplar. Sempre era

uma ótima aluna, mas na escola sofria “bullying” de seus colegas, por ser sempre a aluna que se

destacava e também pelo fato de ser gorda.

Serenita era bastante humilhada na escola, se sentia triste, mas nunca demonstrava, pois para

ela o que importava era seu futuro e ela sabia que sua vida iria melhorar, a de seus colegas

provavelmente não. No futuro não estariam em boas condições.

Em uma sexta-feira, uma garota falou para Serenita:

- Garota, você fica aí estudando, estudando, mas você não vai chegar a lugar nenhum,

principalmente gorda desse jeito.

Serenita então levantou a cabeça e no silêncio saiu da sala.

Terminando o ensino médio, Serenita conseguiu uma bolsa de estudos na faculdade de

Harvard, nos Estados Unidos.

Ela desde então foi para o exterior e sua vida mudou completamente, de boa para a melhor

de todas.

Passados dez anos, Serenita voltou para São Paulo, onde viveu sua infância e adolescência,

ela estava toda poderosa, ficou rica, com um corpão de deixar qualquer marmanjo de boca aberta, e

terminou a faculdade, ou seja, ela estava bem sucedida e principalmente bem consigo própria.

Chegando à sua cidade, no aeroporto ela depara com uma mulher que á humilhava e dizia

que ela não seria nada, a mulher estava vendendo doces em uma banquinha do lado de fora do

aeroporto em péssimas condições e Serenita super bem de vida e também super bela, viu a mulher e

só se lembrou das humilhações. Ela levantou a cabeça e seguiu em frente, enquanto a mulher a

observava com um olhar de arrependimento.

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O delírio.

Beatriz Helena, Karine Rodrigues e Thais Barbosa.

Era uma final de uma decisão da Copa do Mundo. Meu time, o Brasil, jogava contra França.

O jogo estava empatado em dois a dois, no final do segundo tempo. Não havia jeito, a decisão deste

importante jogo seria com um pênalti.

Simon, marcou seu primeiro pênalti. Logo em seguida Julius errou a cobrança, acertando a

bola na trave. A torcida não acreditava que Julius tinha perdido aquele pênalti. Luizinho foi para a

cobrança decisiva, e... errou novamente!

Agora era o momento realmente decisivo, todos começaram a olhar para o campo e perceber

que faltava apenas uma jogada e que ainda não tinham escolhido quem irira cobrar. Foi quando o

técnico apontou para mim e disse que eu seria o próximo a marcar o pênalti! Meu coração começou

a acelerar e eu comecei a suar frio, nunca tinha feito uma cobrança de pênalti e sabia que aquele

momento era importante, não para a Seleção Brasileira, mas para todos os torcedores. Foi aí então

que respirei fundo olhei em minha volta, e chutei a bola.

Naquele momento parecia que tudo havia parado e a bola parecia correr lentamente em

direção ao gol. Havia um certo suspense e a bola bateu na trave, meu coração parou por um instante

ao ver aquela imagem. Eu vi o olhar dos meus colegas e principalmente da torcida. Todos

confiavam em mim. Foi como um filme, a bola passou e foi parar no fim da rede. Era gol!

No mesmo momento, a torcida delirava, a Seleção Brasileira deixava de ser penta campeã e

finalmente tinha passado a ser “hexa”! E quem tinha decidido a partida era eu!

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O Corvo.

Ana Paula A. Oliveira

Já havia uma semana que Edgar e seus dois irmãos, Allan e Poe, estavam saindo mais tarde

da escola por conta do trabalho de Ciências. Como já estava escurecendo, os três irmãos decidiram

pegar um atalho para casa.

Quando chegaram à estrada, perceberam que ela estava deserta e o céu já negro da noite, não

tinha estrelas e a Lua estava encoberta pelas nuvens. A única fonte de iluminação provinha de um

poste de luz tremeluzente ao longe. Enquanto caminhavam em direção à luz, e as nuvens deixavam

entrever alguns fachos de luz da Lua, uma sombra despontou no céu e desapareceu entre os galhos

de uma árvore.

Imediatamente, Edgar, Allan e Poe ouviram então um grasnar atrás de si, e sobressaltados

com o súbito barulho, voltaram-se rapidamente a tempo de ver que se tratava de um corvo.

-Odeio corvos – disse Edgar. –Dizem que eles são de mau agouro.

-Superstições... Superstições – disse Poe, balançando a cabeça. –Isso tudo é coisa de gente

ignorante que não tem o que fazer e inventa essas historias.

-Ei, vocês dois! Parem de discutir e ouçam – intrometeu-se Allan. –Já tiveram a sensação de

estarem sendo observados?

-Sim, o tempo todo – respondeu-lhe Poe com o semblante sério.

-Perdão? Disse o tempo todo? – inquiriu Allan, estupefato.

-Disse sim, maninho. Ou vai me dizer que acha que somos as únicas pessoas no planeta?

-Claro que não acho! E de qualquer modo, não é desse tipo de “observar” que estou falando

- atirou-lhe Allan, com raiva. –Falo do “observar” de um predador.

-Pare de bancar o paranóico, Allan – disse Poe, levantando uma sobrancelha com desdém. –

Está até parecendo o Edgar.

Os dois começaram uma discussão sobre a hipótese da personalidade racional de Allan

possuir uma faceta paranoica ou não. Não havia se passado sequer cinco minutos quando Edgar se

intrometeu.

-Parem com isso os dois! –enfureceu-se Edgar. –E vamos embora antes que...

Edgar foi interrompido pelo corvo, que dava um rasante e levava seu chapéu.

-Ei! Isso é meu – bradou Edgar, caminhando depressa seguido de seus irmãos até o poste

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onde o corvo pousara.

Por causa da luz fraca, quando os três se aproximaram do poste, estacaram e levaram um

segundo para se convencerem de que a cena frente a seus olhos não se tratava de uma ilusão.

Acorrentado ao pé do poste, estava o que parecia ser um homem que havia sido vítima da

mais cruel forma de agressão, pois seu corpo estava mutilado.

-Andem logo! – gritou Edgar, correndo até o homem. –Temos que ajudá-lo!

Seus irmãos correram atrás dele e o detiveram antes que pudesse tocar no homem.

-Não Edgar! Ficou louco? Podem achar que temos algo a ver com o crime – disse-lhe Poe

com a voz rouca pelo medo. –É melhor não mexermos nele e ir correndo até o posto policial. Eles

saberão o que fazer.

-Mas...

-Dessa vez o Poe tem razão – disse Allan, que era o mais ajuizado dos três. –Quanto mais

rápido formos chamar ajuda, mais rápido chegarão aqui.

Relutantemente, Edgar concordou. No entanto, antes que eles pudessem ir, o homem

começara a falar.

-Vingador... Vingador – dizia a voz quase sem vida do homem.

-Essa voz... –disse Allan, tentando se lembrar de onde conhecia a voz. –É do prefeito!

-Quem faria isso com ele? – perguntou Poe.

-Ele disse “vingador”, esse deve ser o criminoso – raciocinava Allan. Em seguida virando-se

para o prefeito, perguntou: - Quem é o vingador?

Antes que o prefeito pudesse responder, a luz piscou e se apagou, deixando-os desorientados

pela escuridão total.

Um segundo depois, o silencio foi quebrado por um grito de gelar o sangue.

-Edgar! Corre, corre!

Edgar não soube dizer se foi Allan ou Poe quem lhe dissera para correr, só o que sabia era

que ouviria o que lhe parecia à voz da razão.

Num instante, a luz piscou outra vez e tornou a acender. Obedecendo a um impulso, Edgar

virou-se e comprovou o que temia: Allan e Poe estavam mortos. Um com uma faca no peito e o

outro com a garganta degolada.

Tremendo de medo e com o rosto molhado pelas lágrimas, Edgar virou-se para fugir da

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carnificina, mas só teve tempo de notar os olhos negros, frios, que o encaravam com a morte

explícita em sua expressão, quando foi engolido pela mais profunda escuridão.

Quando lentamente abriu os olhos novamente, Edgar só viu escuridão e ao tentar se levantar

para se orientar, bateu em algo.

Apalpando à sua volta, Edgar sentiu o coração acelerado, as mãos suando e a respiração se

tornando difícil devido ao pânico, pois sua mente reconheceu as formas à sua volta, tornando-o

consciente de estar dentro de um caixão. Só então ele começou a gritar por socorro.

Pouco tempo depois, a tampa do caixão foi movida alguns centímetros, dando a Edgar a

oportunidade de respirar e enxergar o céu encoberto pelas folhas das árvores. O alívio de Edgar em

estar sendo resgatado transpareceu em sua face, contudo isso só serviu para deleitar ainda mais o

assassino, que surgira imponente e ameaçador acima de Edgar.

O assassino olhou para Edgar e lhe deu um sorriso que o fez sentir um calafrio na espinha.

-Por que está fazendo isso? A polícia vai acabar descobrindo os assassinatos e você será

preso - disse Edgar, lançando mão de sua melhor cartada.

-Não Edgar, eles não vão descobrir – disse o homem com a frieza de uma rocha.

Edgar, no entanto se prendeu à menção de seu nome.

-Você me conhece?

-Digamos apenas que eu nunca entro num jogo sem conhecer bem os meus oponentes.

Quanto aos meus motivos... Tudo o que você precisa saber é que estou cobrando o que me deviam.

Dizem que quem é vivo sempre aparece.

-Você matou meus irmãos e fez aquilo com o prefeito. Quando eu sair daqui, vou até a

polícia contar tudo o que sei – disse Edgar sentindo a raiva tomar o lugar do pânico por um

momento.

Ele acabou se arrependendo do impulso quando o homem lhe disse a seguinte frase:

-Você não vai contar nada, já que os mortos não falam.

E satisfeito ao ver Edgar arregalar os olhos, recolocou a tampa no lugar.

Mesmo enquanto escutava os gritos de Edgar, o homem que havia se autodenominado “o

vingador” pôs sua cartola na cabeça e seguiu caminhando calmamente por entre os túmulos com seu

corvo empoleirado nos ombros.

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