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COLOCANDO A CONVENÇÃO DE KAMPALA EM PRÁTICA: UM BALANÇO

COLOCANDO A CONVENÇÃO DE KAMPALA EM PRÁTICA · HTP MoradiaHabitação, Terra e Propriedade IGAD Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (na África Oriental) ... prejudicial

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COLOCANDO A

CONVENÇÃO DE

KAMPALA EM

PRÁTICA:

UM BALANÇO

REFERÊNCIA : Citar como: CICV 2016, Colocando a Convenção de Kampala em prática: um balanço, Comitê Internacional da Cruz

Vermelha, Genebra

Foto da capa: Imagem do campo de deslocados internos no aeroporto de M’poko em Bangui, República Centro-Africana (2015). Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)

19, avenue de la Paix

1202 Genebra, Suíça

T +41 22 734 60 01 F +41 22 733 20 57

E-mail: [email protected] www.icrc.org

© CICV, outubro de 2016 Foto da capa: […] R. Kradjeyo

ÍNDICE

Sobre este relatório

Abreviaturas

Prefácio do Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos Deslocados Internos

Prefácio do Comissário para os Assuntos Políticos da Comissão da União Africana

Resumo Executivo

Introdução

CONSTATAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

1. Prevenção

2. Planejamento, gestão e monitoramento das atividades de proteção e assistência

3. Prestação de assistência humanitária adequada aos deslocados internos

4. Proteção dos deslocados internos

5. Soluções duradouras para os deslocados internos

Conclusão

Perspectivas

ANEXO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sobre este relatório

O CICV encomendou a elaboração deste relatório ao consultor Robert Young como um dos resultados de um balanço sobre a "operacionalização" da Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (doravante a Convenção de Kampala). O documento contém constatações e recomendações baseadas nas contribuições recebidas das delegações do CICV, combinadas com pesquisas de apoio e consultas no âmbito do CICV e com partes interessadas selecionadas. Young é advogado internacional e especialista em proteção humanitária. Durante o longo tempo em que trabalhou como delegado do CICV, assumiu postos como o de delegado de proteção na Etiópia e assessor jurídico regional com base em Abidjan, Côte d’Ivoire, além de vice-chefe da delegação e assessor jurídico da Missão Observadora Permanente do CICV nas Nações Unidas, em Nova York. Sarah Gaines, ex-funcionária da delegação do CICV em Nova York, além de escritora e editora free lancer, ajudou a pesquisar, editar e elaborar este relatório.

Angela Cotroneo, assessora para deslocados internos da Unidade de Proteção da População Civil do CICV, supervisionou o balanço e a redação deste relatório juntamente com Maria Ximena Londoño, assessora jurídica do Serviço de Assessoramento em Direito Internacional Humanitário (DIH) do CICV.

Agradecemos especialmente aos numerosos colegas das delegações do CICV em toda a África cujas contribuições iniciais e informações adicionais tornaram possível este relatório. Diversos assessores jurídicos de delegações do CICV no terreno fizeram contribuições muito úteis, assim como vários membros das Divisões de Proteção e Assistência e do Departamento de Direito Internacional e Doutrina.

O CICV gostaria de expressar a sua gratidão ao presidente do Subcomitê sobre Refugiados, Repatriados e Deslocados Internos do Comitê de Representantes Permanentes (CRP) da União Africana (UA), por sua ativa participação, comentários e observações sobre as conclusões e recomendações preliminares do relatório. Nossos agradecimentos também aos funcionários do Departamento de Assuntos Políticos da Comissão da União Africana (CUA), assim como aos representantes em Adis Abeba e Genebra do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), à Organização Internacional para as Migrações (OIM) e ao Conselho Norueguês de Refugiados (CNR).

Seus conselhos e sugestões práticas foram inestimáveis na redação deste informe. No entanto, isto não implica qualquer endosso pessoal ou institucional ao relatório, ou responsabilidade por seu conteúdo, no todo ou em parte, que recai somente sobre o CICV.

Abreviaturas

ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

CADHP Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos

CAR Comissão de Ajuda e Reabilitação (no leste da África)

CDH Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas

CEDEAO Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental

CER Comunidades Econômicas Regionais

CICV Comitê Internacional da Cruz Vermelha

CIRGL Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos

CMDI Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno

CMH Cúpula Mundial Humanitária

CNARR La Commission nationale d’accueil et de réinsertion des réfugiés et des rapatriés /

(Comissão Nacional para a Recepção e Reinserção de Refugiados e Repatriação)

(Chade)

CONASUR Conseil National de Secours d'Urgence et de Réhabilitation, Ministère de l'Action

Sociale et de la Solidarité National (/ Conselho Nacional para Ajuda de Emergência e

Reabilitação do Ministério de Ação Social e Solidariedade Nacional) (Burkina Faso)

CRP Comitê de Representantes Permanentes da União Africana

CUA Comissão da União Africana

DI Deslocados internos (pessoas deslocadas internamente)

DIDH Direito Internacional dos Direitos Humanos

DIH Direito Internacional Humanitário

GANE Grupo Armado Não Estatal (nota: a Convenção de Kampala utiliza os termos

"grupos armados" e "atores não estatais", definidos no artigo 1.o)

HTP MoradiaHabitação, Terra e Propriedade

IGAD Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (na África Oriental)

INA Itens não alimentícios

JIPS Joint IDP Profiling Service (Serviço Conjunto de Identificação dos Perfis dos

Deslocados Internos), Genebra

MINUSCA Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na

República Centro-Africana

MR Mecanismos Regionais para a Prevenção, Gestão e Resolução de Conflitos

NDMEC National Disaster Management Executive Committee (Comitê Executivo Nacional

de Gestão de Desastres) (Ruanda)

NPSDRM National Policy and Strategy on Disaster Risk Management (Política e Estratégia

Nacional sobre Gestão de Risco de Desastres) (Etiópia)

OIM Organização Internacional para as Migrações

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PdC Proteção dos Civis (em conflitos armados)

RLF Restabelecimento de Laços Familiares

SN Sociedade Nacional da Cruz Vermelha / Crescente Vermelho

UA União Africana

UNMISS Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul

Prefácio do Relator

Especial das Nações

Unidas para os Direitos

Humanos dos

Deslocados Internos

O deslocamento interno atingiu um pico global sem precedentes. No final de 2015, 40 milhões de pessoas estavam deslocadas internamente em decorrência de conflitos armados ou outras situações de violência. A África abriga quase um terço delas. Embora permaneça invisível em grande medida, o deslocamento interno prejudica vidas, ameaça comunidades e afeta países inteiros. O sistema internacional está sobrecarregado com o número e a complexidade de crises de deslocamento interno prolongadas e de larga escala. Portanto, deve-se enfatizar, uma vez mais, a responsabilidade primordial dos governos de satisfazer as necessidades dos cidadãos deslocados. Com frequência, porém, os Estados carecem de estruturas jurídicas e políticas para responder às necessidades específicas e às vulnerabilidades dessas pessoas. A Convenção de Kampala busca preencher essa lacuna.

Como primeiro instrumento regional juridicamente vinculante sobre o deslocamento interno, a Convenção é um marco para as pessoas deslocadas na África e no mundo todo. Representa o compromisso dos Estados africanos em enfrentar o problema de maneira abrangente. A Convenção oferece garantias contra o deslocamento forçado e padrões para a proteção e assistência às pessoas durante o deslocamento, assim como soluções duradouras. Também aborda as causas profundas do fenômeno. A sua plena implementação pode não apenas guiar os Estados africanos em sua resposta ao deslocamento interno no continente, mas também servir como uma inspiração para outras regiões.

Defender a plena implementação da Convenção de Kampala tem sido uma das maiores prioridades de meu mandato como Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos Deslocados Internos.

Este relatório representa a contribuição do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o avanço da operacionalização da Convenção, em conformidade com o compromisso de longo prazo da organização em promover a ratificação e apoiar a implementação desse tratado. Oferece uma descrição abrangente sobre os esforços realizados pelos Estados africanos na formulação de legislações nacionais e na adoção de medidas concretas para cumprir com as suas obrigações de proteger e assistir os deslocados internos. As lições aprendidas, as melhores práticas e os desafios identificados constituem a base para novas recomendações sobre o fortalecimento da implementação da Convenção de Kampala. O relatório serve como uma ferramenta para apoiar o diálogo e a troca de experiências entre os Estados Partes da Convenção, além de outros Estados que também avancem nesse sentido. Com esse objetivo em mente, proporciona um ponto de referência para a primeira Conferência dos Estados Partes. Felicito o CICV pelo seu compromisso contínuo com a difusão da Convenção de Kampala e com o apoio às autoridades na busca de maneiras eficazes de torná-la realidade. Esta é uma importante contribuição para uma melhor proteção e assistência aos deslocados internos.

Dr. Chaloka Beyani Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos Deslocados Internos

Prefácio do Comissário

para os Assuntos

Políticos da Comissão

da União Africana

A adoção da Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (Convenção de Kampala), em 23 de outubro de 2009, representa um marco histórico para os deslocados internos. O caminho que conduziu à Convenção foi fruto de um decidido esforço por parte dos líderes africanos em enfrentar os crescentes desafios do deslocamento forçado no continente. Tal iniciativa foi motivada pelo reconhecimento do caráter prejudicial do fenômeno do deslocamento, assim como pelo desejo de preencher a lacuna jurídica na proteção dos deslocados internos no continente. De fato, por meio da Convenção, os líderes africanos deram um passo corajoso e adotaram medidas abrangentes com relação ao deslocamento em todas as suas formas.

Além disso, a Convenção de Kampala constitui a contribuição da União Africana (UA) na definição de normas internacionais para proteger e ajudar os deslocados internos. No entanto, sua importância só pode ser concretizada através da plena implementação, que garantirá a efetiva proteção e assistência a essas pessoas. Precisamos, portanto, passar da definição de normas para a implementação.

Assim, à medida que nos aproximamos do 4.o aniversário da entrada em vigor da Convenção, recordemos o seu espírito e o apelo dos chefes de Estado durante a Cúpula Especial para a rapidez na ratificação e implementação. A Convenção pode ser melhor implementada se for assinada e ratificada em todo o continente.

A responsabilidade por prevenir o deslocamento interno, proteger e assistir os deslocados e encontrar soluções duradouras cabe primordialmente aos Estados Membros envolvidos. Nas situações em que o Estado não tem capacidade ou disposição de efetivamente cumprir com tais obrigações, contudo, espera-se que busque, permita e facilite a assistência da UA, de organizações internacionais e de agências humanitárias.

A UA, em colaboração com organizações internacionais e a sociedade civil, continuará apoiando os Estados Membros na adoção da Convenção de Kampala e na sua incorporação ao Direito Interno. Um estudo como este, realizado pelo CICV, é útil e oportuno. Trata-se de uma ferramenta de reflexão sobre o que é necessário para superar os desafios na operacionalização da Convenção, aproveitando as boas práticas em andamento.

Em dezembro, celebramos os quatro anos da entrada em vigor da Convenção. A Comissão da União Africana, em conformidade com o artigo 14, convocará a primeira Conferência. Será uma oportunidade de promover a solidariedade e a cooperação no enfrentamento do problema dos deslocados internos no continente, além de elaborar um quadro de implementação do tratado. Este relatório oferece orientação para as discussões durante a Conferência.

Ao adotarem esse instrumento jurídico pioneiro e inovador, os Estados Membros da UA assumiram a liderança no tratamento da situação de milhões de deslocados internos. No entanto, a Convenção só terá o seu impacto esperado se for assinada, ratificada e implementada com rapidez.

Sua Excelência Dr. Aisha Abdullahi Comissário para os Assuntos Políticos da Comissão da União Africana

Resumo Executivo

O deslocamento de milhões de pessoas dentro dos seus próprios países, seja em decorrência de desastres naturais, conflitos armados ou outras situações de violência, tornou-se uma preocupação humanitária premente na segunda metade do século 20. A quantidade de deslocados internos continua aumentando neste novo século, gerando sérios custos humanitários, sociais e econômicos.

A África é um continente especialmente afetado por esta tendência. Em resposta ao desafio de prevenir e lidar com o deslocamento interno no continente, os Estados africanos reuniram esforços na União Africana (UA) para elaborar a Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (doravante a Convenção de Kampala, ou a Convenção) em 2009. Este tratado inovador,1 o primeiro instrumento mundial legalmente vinculante sobre deslocados internos, entrou em vigor em 2012, 2 depois de 15 Estados africanos o terem ratificado. Atualmente, 25 Estados africanos são partes da Convenção de Kampala, enquanto outros 18 assinaram mas ainda não a ratificaram.3

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) faz este balanço para apoiar os esforços da UA, das Comunidades Econômicas Regionais (CER) e Mecanismos Regionais para a Prevenção, Gestão e Resolução de Conflitos (MR), bem como dos Estados Partes da Convenção de Kampala, para monitorar e implementar com eficácia a Convenção. A finalidade deste exercício é simples: ajudar a ampliar o impacto concreto da Convenção para prevenir os deslocamentos provocados por conflitos armados e outras situações de violência e melhorar a proteção e a assistência aos deslocados internos na África.

O CICV trabalha há muito tempo com a proteção e a assistência a deslocados no mundo inteiro, como parte do seu mandato para ajudar as pessoas afetadas por conflitos armados e outras situações de violência. 4 A organização também está envolvida desde o princípio no apoio à Convenção de Kampala. Participamos da elaboração da minuta da Convenção, prestando assessoria jurídica relativa ao Direito Internacional Humanitário (DIH) e apoiando o processo de negociação que levou à adoção da Convenção em outubro de 2009. Desde então, o CICV vem trabalhando junto à Comissão da União Africana (CUA) e aos Estados africanos para incentivar e apoiar a ratificação, implementação nacional e "operacionalização" da Convenção de Kampala. 5 Com este objetivo, oferecemos assessoria jurídica sobre as modalidades de adoção da Convenção e o fortalecimento dos marcos normativos nacionais para implementá-la. Além disso, a organização, mediante o seu diálogo operacional com os Estados de toda a África, recomenda medidas concretas que podem ser tomadas pelos Estados para adotar e implementar a Convenção.

O CICV produz, há várias décadas, ferramentas que oferecem apoio técnico e orientações aos Estados para a implementação nacional do DIH e outros marcos jurídicos relevantes. A organização aproveita este conhecimento e experiência para realizar o presente balanço. Pode igualmente se beneficiar da sua presença no terreno na África, onde as delegações do CICV realizam atividades de proteção e assistência em 29 países em prol de deslocados internos, comunidades que os acolhem e todos que sofrem com as consequências de conflitos armados ou outras situações de violência.

Ao longo da primeira metade de 2016, as delegações do CICV em toda a África proporcionaram atualizações e análises sobre os avanços no âmbito nacional relativos aos deslocados internos, incluindo as últimas ações dos Estados para aderir, implementar internamente e "operacionalizar" a Convenção de Kampala. Incluem os Estados que ratificaram a Convenção de Kampala, assim como os que não o fizeram, mas adotaram políticas ou marcos normativos internos relativos à proteção

1 CMDI, Conselho Norueguês de Refugiados, From Kampala to Istanbul: Advancing Global Accountability for IDPs through Law and Policy Making, Genebra, 19 de maio de 2016 (http://www.internal-displacement.org/assets/publications/2016/20160519-whs-briefing-paper.pdf, consulta em 29 de setembro de 2016).

2 Comunicado de imprensa do CICV, CICV acolhe com satisfação entrada em vigor da Convenção de Kampala sobre deslocados (12/234), Adis Abeba, Genebra, 12 de dezembro de 2012 (https://www.icrc.org/eng/resources/documents/news-release/2012/12-05-kampala-convention-entry-into-force.htm, consulta em 29 de setembro de 2016).

3 União Africana, List of Countries which Have Signed, Ratified/Acceded to the African Union Convention for the Protection and Assistance of Internally Displaced Persons in Africa (Kampala Convention), Adis Abeba, 1 de abril de 2016 (http://www.au.int/en/sites/default/files/treaties/7796-sl-african_union_convention_for_the_protection_and_assistance_of_internally_displaced_persons_in_africa_kampala_convention_11.pdf, consulta em 29 de setembro de 2016).

4 "Outras situações de violência" significam "situações nas quais a violência é cometida coletivamente, mas que se encontram abaixo do umbral de conflito armado. Essas situações são caracterizadas, em particular, pelo fato de que a violência é fruto da ação de um ou vários grupos constituídos de grande quantidade de pessoas". (https://www.cambridge.org/core/journals/international-review-of-the-red-cross/article/the-international-committee-of-the-red-crosss-icrcs-role-in-situations-of-violence-below-the-threshold-of-armed-conflict/64183418A12D456A04D7BB59529547D5, consulta em 1.o de outubro de 2016).

5 O CICV, junto com o Acnur, foi nomeado especificamente no preâmbulo da Convenção de Kampala, p. 2 (http://www.au.int/en/sites/default/files/treaties/7796-treaty-0039_-_kampala_convention_african_union_convention_for_the_protection_and_assistance_of_internally_displaced_persons_in_e.pdf, consulta em 29 de setembro de 2016).

dos deslocados, com base nas disposições dos Princípios Orientadores da ONU Relativos aos Deslocados Internos de 1998 (Princípios Orientadores) 6 e de dois dos Protocolos dos Grandes Lagos.7 Consideraram-se também alguns Estados que enfrentam situações de deslocamento interno, mas não implementaram um marco interno formal. Uma consultoria independente contratada pelo CICV compilou e analisou os dados coletados pelas delegações e formulou Constatações (na forma de lições aprendidas, alguns exemplos de boas práticas e principais desafios) e Recomendações. Refletem as análises da prática dos Estados em aproximadamente 25 países africanos.

As Constatações propiciam um panorama do atual estado de operacionalização da Convenção de Kampala e dos esforços dos Estados em cumprirem com as suas obrigações relativas à prevenção e abordagem dos deslocamentos internos.

As Recomendações, direcionadas aos Estados, mas também a outras organizações (p.ex. UA, CERs, MRs, ONU, CICV e organizações da sociedade civil), baseiam-se nas Constatações, assim como em pesquisas adicionais e consultas com o CICV e atores externos selecionados. Estruturam-se como ações propostas para lidar com os desafios na implementação da Convenção, dando uma visão de como a implementação atual pode ser fortalecida. As Recomendações não interferem no dever dos Estados de cumprirem com as suas respectivas obrigações segundo o Direito Internacional e o Interno.

O foco do balanço, e consequentemente deste relatório, são as obrigações da Convenção de Kampala derivadas diretamente do DIH e/ou relacionadas com as questões humanitárias que o CICV encontra nas suas operações em toda a África.

Ao redigir este relatório, buscamos responder às seguintes perguntas:

– Qual o impacto da Convenção de Kampala no terreno?

– Que diferença pode fazer nas vidas dos deslocados internos?

– O que mais precisa ser feito – pelos Estados; CUA, CERs e MRs; o CICV e outras organizações e atores humanitários – para que a total implementação da Convenção seja uma realidade?

O relatório contém mais de 80 constatações e 25 recomendações. Estão agrupadas em cinco títulos principais, segundo as obrigações legais e as medidas correspondentes necessárias para a sua implementação:

1. Prevenção 2. Planejamento, gestão e monitoramento das atividades de proteção e assistência 3. Prestação de assistência humanitária adequada aos deslocados internos 4. Proteção dos deslocados internos 5. Soluções duradouras para os deslocados internos O CICV espera que cada uma das Constatações e Recomendações seja de interesse de alguns Estados, dependendo do enfoque particular de cada um com relação à Convenção de Kampala. Vários temas transversais surgiram na formulação das Constatações e Recomendações, três dos quais merecem atenção especial:

1. A importância de os Estados e outros atores estabelecerem um diálogo com as comunidades de deslocados internos, a fim

de assegurar a participação efetiva deles na tomada de decisões relativa a leis, políticas e programas que os afetem; 2. A necessidade urgente de assegurar aos deslocados internos o acesso a serviços essenciais como assistência à saúde e

educação; 3. O papel fundamental que a CUA – e as CERs e MRs – terão no futuro para consolidar os esforços dos Estados Membros da

UA na implementação da totalidade da Convenção de Kampala.

Como parte das lições aprendidas a partir do balanço, o relatório destaca os esforços que devem ser feitos antes de uma crise para garantir que as obrigações segundo a Convenção de Kampala sejam incorporadas na legislação nacional. Compreende colocar em prática as estruturas necessárias com mandatos e recursos para responder às necessidades de proteção e assistência dos deslocados internos. É crucial garantir a coordenação entre os distintos ministérios e agências governamentais, bem como entre os âmbitos centrais, regionais e locais das autoridades públicas. Em particular, a experiência demonstra a importância de garantir um processo inclusivo que envolva todos os principais atores internos, começando pelos deslocados internos e as comunidades que os acolhem, que precisam participar das consultas, compartilhamento de informações e tomada de decisões.

Quando se trata de garantir o acesso dos deslocados internos aos bens essenciais e serviços básicos (p.ex. assistência à saúde, educação, busca de familiares e serviços de reunificação), a falta de recursos humanos e financeiros é, com frequência, um obstáculo para que as autoridades públicas cumpram com as suas obrigações básicas. Assim, o acesso eficaz aos deslocados internos pelas organizações humanitárias, junto com o compromisso das autoridades públicas e atores

6 Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Princípios Orientadores sobre Deslocados Internos (Guiding Principles on Internal

Displacement) (ADM 1.1, PRL 12.1, PR00/98/109), Nações Unidas, Nova York, 22 de julho de1998 (http://www.unhcr.org/protection/idps/43ce1cff2/guiding-principles-internal-displacement.html, consulta em 5 de setembro de 2016).

7 Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), The Pact on Security, Stability and Development for the Great Lakes Region, Nairóbi, 2006 (http://www.icglr.org/images/Pact%20ICGLR%20Amended%2020122.pdf, consulta em 5 de setembro de 2016).

internacionais de respeitarem os princípios humanitários ao prestar assistência aos deslocados, é um fator importante para atender às necessidades deles.

Com relação à proteção efetiva dos deslocados internos, o relatório explora os desafios de se chegar a um equilíbrio entre as considerações humanitárias e as de segurança ao regular o movimento dos deslocados, assim como de manter o caráter estritamente civil e humanitário do ambiente em que se encontram. De outro modo, as dificuldades enfrentadas muitas vezes pelos deslocados para obter documentos oficiais (p.ex. documentos de identificação pessoal) possuem um impacto na sua capacidade de ter acesso aos serviços básicos e modos de sobrevivência. Uma lição aprendida importante é que estratégias eficientes para fornecer ou substituir os documentos rendem frutos na hora de responder às necessidades humanitárias urgentes.

Quando um conflito armado está em curso, os Estados e outras partes em conflito podem adotar medidas para prevenir, antes de mais nada, que ocorram deslocamentos. Isso é especialmente verdadeiro para assegurar o respeito pelo DIH e aumentar os esforços para proteger os civis e limitar o dano a que estão expostos. Na prática, as violações do DIH continuam sendo uma importante causa de deslocamento interno na África. O desafio que temos aqui é fortalecer o compromisso (e a capacidade) dos Estados para respeitar e fazer respeitar o DIH.

Por fim, com relação ao importante papel desempenhado pela UA, CERs e MRs para avançar, o relatório confirma a necessidade de se coordenarem maiores esforços para conscientizar ainda mais sobre as questões relativas ao deslocamento interno e promover a Convenção de Kampala entre os Estados Membros da UA.

A Convenção de Kampala propicia atualmente um marco robusto que já começou a levar melhorias concretas para as vidas de muitos deslocados na África. Para alcançar o seu pleno potencial, contudo, deve ser colocada em prática de modo sistemático e abrangente pelos Estados africanos. 8 Espera-se que este relatório contribua ao importante trabalho de operacionalização plena da Convenção de Kampala, em benefício dos atuais e futuros deslocados na África.

Lista de recomendações O conjunto completo das recomendações do relatório é compilado a seguir para facilitar a referência. Cada recomendação e a lógica adjacente podem ser analisadas inseridas no contexto do relatório.

1. Prevenção Para os Estados Recomendação 1: Os Estados que ainda não o fizeram devem acelerar o processo de ratificação, ou adesão, da Convenção de Kampala.

Recomendação 2: Os Estados Partes da Convenção de Kampala devem iniciar e completar as ações para integrar as obrigações do tratado no Direito Interno e nos processos de formulação de políticas, inclusive proibições penais, solicitando assessoria e apoio técnico quando e se necessário.

Recomendação 3: Os Estados devem tomar medidas para promover o conhecimento da Convenção de Kampala por todas as partes envolvidas, incluindo os próprios deslocados, as comunidades que os acolhem, a sociedade civil e as autoridades públicas, nos âmbitos central, regional e local.

Recomendação 4: Os Estados devem garantir que todas as autoridades públicas relevantes – incluindo as forças armadas e de segurança – tenham todas as informações relativas às suas obrigações e sejam instruídas para respeitar e fazer respeitar o Direito Internacional Humanitário.

Para outros atores Recomendação 5: As organizações internacionais e humanitárias devem continuar oferecendo assessoria e apoio técnico aos Estados Membros da UA, não apenas para a ratificação da Convenção de Kampala, mas também para todas as medidas de implementação nacional exigidas nos marcos jurídicos e de políticas dos países.

Recomendação 6: A CUA, as CERs e MRs e outras organizações com conhecimentos nessa área devem aumentar a conscientização da população e as atividades de desenvolvimento de capacidades relativas à Convenção de Kampala, em coordenação com os Estados e atores da sociedade civil local. Podem incluir a Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (CADHP) e o seu Relator Especial para Refugiados, Requerentes de Asilo e Deslocados Internos, segundo os seus mandatos relativos aos deslocados internos.

Recomendação 7: A CUA e os Estados Membros da UA devem garantir que a primeira Conferência dos Estados Partes seja realizada como previsto, em dezembro de 2016, adotando um plano abrangente de ação para a operacionalização da Convenção de Kampala.

8 CMDI et al, Workshop Report - Kampala Convention: from ratification to domestication and operationalisation, Adis Abeba, 30 novembro-2 dezembro 2015,

CMDI, Genebra, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2016/workshop-report (consulta em 29 de setembro de 2016).

2. Planejamento, gestão e monitoramento das atividades de proteção e

assistência Para os Estados Recomendação 8: Os Estados devem tomar medidas para assegurar que a autoridade ou órgão de coordenação designados tenham o mandato e a legitimidade necessários para mobilizar os ministérios e agências correspondentes, recebendo os recursos adequados (humanos e financeiros) para funcionar de modo efetivo.

Recomendação 9: As autoridades públicas devem desenvolver capacidades adequadas em todas as esferas para coletar e manter dados sólidos e atualizados sobre as necessidades, vulnerabilidades e capacidades dos deslocados internos, assim como soluções duradouras, incluindo dados diferenciados (por sexo, idade e outros fatores relevantes).

Recomendação 10: As autoridades públicas devem garantir, de modo proativo, a consulta e o envolvimento ativo com os deslocados internos e as comunidades que os acolhem, para assegurar a sua participação no processo decisório em ações tomadas em seu nome. O envolvimento deve levar em consideração os diversos perfis das populações de deslocados (p.ex. sexo, idade e outros fatores).

Recomendação 11: As autoridades públicas em todas as esferas com responsabilidade pela prestação de assistência devem estabelecer mecanismos para monitorar os resultados de curto e longo prazos. Estes devem incorporar elementos apropriados de prestação de contas aos deslocados.

Para outros atores Recomendação 12: Ao apoiar as autoridades públicas para formular leis e políticas, incluindo estratégias nacionais sobre deslocamento interno, outros atores devem favorecer enfoques que garantam a máxima apropriação por parte das autoridades.

3. Prestação de assistência humanitária adequada aos deslocados internos Para os Estados Recomendação 13: As avaliações devem analisar as necessidades e capacidades dos deslocados internos, assim como das comunidades que os acolhem, para informar de modo contínuo os que elaboram os programas de respostas.

Recomendação 14: Os Estados devem desenvolver capacidades para prever, avaliar e responder de maneira efetiva às necessidades dos deslocados.

Recomendação 15: Os Estados devem garantir que todas as autoridades públicas relevantes – incluindo as forças armadas e de segurança – tenham todas as informações relativas às suas obrigações e sejam instruídas para facilitar o acesso rápido e desimpedido das organizações humanitárias aos deslocados internos. Devem garantir também que os deslocados tenham as suas necessidades básicas atendidas (como água, comida, abrigo) e que tenham acesso aos serviços básicos (como assistência à saúde, educação, etc.).

Para outros atores Recomendação 16: Outros atores devem garantir que os pedidos das organizações humanitárias para um acesso rápido e desimpedido aos deslocados, assim como as atividades desenvolvidas em decorrência deste acesso, estejam em conformidade com os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência dos atores humanitários.

4. Proteção dos deslocados internos Para os Estados Recomendação 17: Os Estados devem garantir que todas as autoridades públicas relevantes – incluindo as forças armadas e de segurança – tenham todas as informações relativas às suas obrigações e sejam instruídas para facilitar a liberdade de movimento e de residência dos deslocados internos.

Recomendação 18: As autoridades públicas devem desenvolver capacidades adequadas nos âmbitos central e local para criar e manter um registro atualizado dos deslocados. Isso poderá constituir uma linha de base com a concordância de todos os atores envolvidos.

Recomendação 19: As autoridades públicas devem se empenhar em alocar recursos adequados para garantir que os deslocados possam obter documentos de identidade e outros documentos oficiais em um tempo razoável.

Recomendação 20: As autoridades públicas devem fortalecer as suas leis, políticas e medidas concretas para garantir que seja mantida a natureza civil e humanitária dos lugares em que se encontram os deslocados.

Para outros atores Recomendação 21: Os atores internacionais e humanitários devem prestar um apoio coordenado às autoridades estatais para garantir um sistema prático e eficaz para lidar com as necessidades de busca de familiares e reunificação.

5. Soluções duradouras para os deslocados internos Para os Estados

Recomendação 22: Os Estados devem assegurar que todos os órgãos e repartições das autoridades públicas estejam plenamente informados sobre a necessidade de consulta significativa e envolvimento ativo dos deslocados e comunidades que os acolhem na tomada de decisões para soluções duradouras.

Recomendação 23: Os Estados devem iniciar um diálogo proativo com os parceiros nacionais e internacionais e os doadores sobre questões relacionadas a soluções duradouras de modo a cumprir com as suas próprias obrigações internacionais.

Recomendação 24: Os Estados (e outros atores relevantes) devem garantir que os acordos de paz contenham disposições e recomendações específicas para lidar e resolver situações existentes de deslocamento interno, conforme necessário, levando em consideração os desafios do contexto.

Para outros atores Recomendação 25: A ONU e outros atores internacionais que estejam em uma posição para tal devem contribuir com o monitoramento das condições de regresso, com atenção especial às perspectivas e preocupações das comunidades de deslocados em questão. Devem também ajudar a garantir a natureza voluntária e segura do regresso e outras soluções duradouras, assim como segurança, dignidade e condições adequadas dos deslocados no lugar atual em que se encontram.

Introdução

Retrato de uma família de deslocados internos em Yola, Nigéria, que precisou escapar da zona de conflito (2015).

Contexto sobre o deslocamento interno e a Convenção de Kampala O deslocamento de milhões de pessoas dentro dos seus próprios países, seja em decorrência de desastres naturais, conflitos armados ou outras situações de violência, tornou-se uma preocupação humanitária premente na segunda metade do século 20. A quantidade de deslocados internos continua aumentando neste novo século, gerando sérios custos humanitários, sociais e econômicos.

A África é um dos continentes especialmente afetados por essa tendência. Estima-se que haja 9,5 milhões de deslocados internos no Sudão, República Democrática do Congo, Nigéria e Sudão do Sul.9 Muitos outros Estados também enfrentam situações de deslocamento interno, incluindo as de caráter prolongado. No mundo todo, pessoas que foram deslocadas internamente muitas vezes têm necessidades e vulnerabilidades específicas, que podem exacerbar as dificuldades sofridas por quem vive em um ambiente de conflito ou violência. Com frequência, são privadas de seus bens e meios de subsistência. As famílias, em particular as crianças, são muitas vezes separadas e perdem a segurança e o apoio das suas comunidades. Mulheres e meninas são especialmente vulneráveis à exploração e à violência sexual. 10 O acesso precário a produtos e serviços básicos, como assistência à saúde e educação, é comum entre as comunidades de deslocados. Os deslocados internos podem enfrentar exclusão devido à falta de documentação, voz ou influência – ou por tudo isso. Medo, angústia e incerteza podem dominar as suas vidas.

Em resposta a essas necessidades urgentes, os Estados africanos reuniram esforços na União Africana (UA) para elaborar a Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (doravante a Convenção de Kampala, ou a Convenção) em 2009.11 Este tratado inovador, 12o primeiro instrumento mundial legalmente vinculante sobre deslocados internos, entrou em vigor em 2012, 13 depois de 15 Estados africanos o terem ratificado. Atualmente, 25 Estados africanos são partes da Convenção de Kampala, enquanto outros 18 assinaram14 mas ainda não a ratificaram.15 Embora o número de Estados Partes à Convenção continue crescendo, o ímpeto dos primeiros anos se perdeu.

Numerosos Estados iniciaram ou adotaram políticas e leis nacionais para incorporar as suas obrigações de acordo com a Convenção. No entanto, são necessárias mais ações a esse respeito. Além disso, necessitam-se com urgência mais medidas práticas e concretas para realizar plenamente o potencial da Convenção de Kampala e fazer uma diferença positiva na vida dos deslocados internos no continente. Acima de tudo, os Estados africanos devem destinar maiores recursos – humanos, financeiros, técnicos e políticos – para a prevenção e a resposta ao deslocamento interno.

A UA continua desempenhando um papel essencial com relação à Convenção de Kampala, colocando seu compromisso com a Convenção no centro de uma agenda mais ampla da organização sobre questões humanitárias.16 Reconhecendo a urgência

9 Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno, GRID 2016 – Global Report on Internal Displacement, disponível em: (http://www.internal-

displacement.org/assets/publications/2016/2016-global-report-internal-displacement-IDMC.pdf, consulta em 2 de outubro de 2016).

10 Conselho Norueguês de Refugiados, The Kampala Convention: Make it work for women, disponível em: (https://www.nrc.no/globalassets/pdf/reports/the-kampala-convention---make-it-work-for-women.pdf, consulta em 2 de outubro de 2016).

11 http://www.peaceau.org/uploads/au-convention-for-the-protection-and-assistance-of-idps-in-africa-kampala-convention-.pdf

12 Para uma revisão dos aspectos inovadores da Convenção, ver: CMDI, Conselho Norueguês de Refugiados, From Kampala to Istanbul: Advancing Global Accountability for IDPs through Law and Policy Making, Genebra, 19 de maio de 2016, disponível em: (http://www.internal-displacement.org/assets/publications/2016/20160519-whs-briefing-paper.pdf, consulta em 29 de setembro de 2016).

13 CICV, Comunicado de imprensa: ICRC welcomes entry into force of Kampala Convention for displaced persons (12/234), Adis Abeba, Genebra, 12 de dezembro de 2012, disponível em: (https://www.icrc.org/eng/resources/documents/news-release/2012/12-05-kampala-convention-entry-into-force.htm) (consulta em 29 de setembro de 2016).

14 União Africana, List of Countries which Have Signed, Ratified/Acceded to the African Union Convention for the Protection and Assistance of Internally Displaced Persons in Africa (Kampala Convention), Adis Abeba, 1 de abril de 2016, disponível em: http://www.au.int/en/sites/default/files/treaties/7796-slafrican_union_convention_for_the_protection_and_assistance_of_internally_displaced_persons_in_africa_kampala_convention_11.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

15 Ibid.

16 A Posição Africana Comum (PAC) da UA oferece uma visão estratégica de longo prazo para enfrentar o deslocamento e outras questões humanitárias na África, em conformidade com sua Agenda 2063. Ver UA, Common African Position (CAP) on Humanitarian Effectiveness (FV: 03/03/2016 17:31), Istambul, 23 e 24 de maio de 2016, disponível em: (http://www.au.int/en/sites/default/files/newsevents/workingdocuments/29553-

de enfrentar o deslocamento interno no continente e o potencial da Convenção nesse sentido, a Comissão da UA (CUA) lançou uma estratégia, em cooperação com os seus parceiros e as agências das Nações Unidas, com o objetivo de alcançar a ratificação em todo o continente e a plena implementação da Convenção. A estratégia concentra-se em quatro elementos fundamentais: 1) desenvolvimento de capacidades para as instituições dos Estados Membros que lidam com a questão do deslocamento interno; 2) promoção da ratificação e da incorporação da Convenção de Kampala no Direito Interno; 3) fortalecimento e supervisão dos mecanismos de denúncia; 4) conscientização, defesa e promoção da Convenção.

A promoção da Convenção de Kampala também tem sido uma prioridade fundamental para o Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos Deslocados Internos desde o início do seu mandato. O Dr. Chaloka Beyani tem defendido com veemência a plena "operacionalização" da Convenção de Kampala. Com esse termo, ele se refere não apenas à ratificação da Convenção e à adoção de leis para implementá-la, mas também à execução de políticas e medidas práticas para melhorar a situação dos deslocados internos.17 A ênfase do Dr. Beyani na operacionalização da Convenção deu mais ímpeto ao compromisso do CICV de lançar este balanço.

O CICV e o Balanço A decisão do CICV de realizar este balanço sobre a Convenção de Kampala é parte de nosso firme compromisso com o deslocamento interno em âmbito global, seguindo nossa meta de melhorar a resposta do CICV às crescentes necessidades humanitárias das pessoas afetadas por conflitos armados e outras situações de violência, incluindo os deslocados internos.18 O compromisso do CICV de fortalecer a proteção das pessoas através de normas, operações e políticas também é refletido neste balanço.19

O balanço também faz parte do contínuo apoio do CICV à Convenção. O CICV participou desde o início na elaboração da Convenção de Kampala, prestando assessoria jurídica sobre questões relativas ao Direito Internacional Humanitário (DIH) e apoiando o processo de negociação que levou à sua adoção em 2009. Mais tarde, a organização apresentou comentários sobre o projeto de lei modelo da UA para a implementação da Convenção de Kampala, especialmente sobre as disposições do DIH. Desde 2009, o CICV promove a ratificação e a adesão da Convenção, apoiando a sua implementação. Fazemos isso prestando assessoria técnica e jurídica sobre a adoção e o fortalecimento de marcos jurídicos nacionais para implementar o tratado, recomendando também medidas concretas em um diálogo mais operacional com os Estados de toda a África.20

Em particular, o balanço se desenvolveu a partir do reconhecimento sobre a importância de promover a troca de experiências dos Estados na implementação da Convenção de Kampala.21 Até a presente data, muitos Estados Membros da UA tomaram importantes medidas para tornar realidade a Convenção, mas tenderam a fazer isso de forma isolada. É necessário compilar as diversas experiências dos Estados a fim de ir além da implementação na teoria e garantir a operacionalização na prática. O balanço foi pensado para ajudar nesse sentido. Ao reunir as lições aprendidas e identificar os exemplos de boas práticas, oferece uma oportunidade para compartilhar, de maneira concreta, como trabalhar melhor a Convenção. Este relatório tem como objetivo estimular uma maior reflexão e discussão – dentro e entre os Estados – sobre as ações que possam implementar de modo mais eficaz as suas obrigações sobre o deslocamento interno. Finalmente, os frutos deste exercício talvez ajudem a inspirar os Estados que ainda não ratificaram ou aderiram à Convenção a fazê-lo.

wd-cap_rev-final_version_as_of_13_april_2016.pdf) (consulta em 29 de setembro de 2016). Ver também UA, Agenda 2063 – The Africa We Want, 2nd ed., agosto de 2015, disponível em: (http://archive.au.int/assets/images/agenda2063.pdf) (consulta em 2 de outubro de 2016.)

17 Ver, por exemplo, Conselho de Direitos Humanos da ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced persons, Chaloka Beyani, A/HRC/26/33, ONU, Nova York, disponível em: (https://daccess-ods.un.org/TMP/5365040.89832306.html) (consulta em 2 de outubro de 2016) e adendos; Conselho de Direitos Humanos da ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced persons, Chaloka Beyani, A/HRC/32/35, ONU, Nova York, abril de 2016, em particular os parágrafos 37-43 e 101, disponível em: (https://daccess-ods.un.org/TMP/8979222.17845917.html) (consulta em 2 de outubro de 2016). Ver também ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced persons, Chaloka Beyani, A/71/279, ONU, Nova York, 2016, disponível em: (https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N16/246/93/PDF/N1624693.pdf?OpenElement) (consulta em 2 de outubro de 2016).

18 CICV, ICRC Strategy 2015-2018, ref. 4203-ebook, ICRC, Geneva, 18 de junho de 2014, disponível em: https://shop.icrc.org/strategie-du-cicr-2015-2141.html (consulta em 29 de setembro de 2016). https://shop.icrc.org/strategie-du-cicr-2015-2141.html (last consulted 29 September 2016).

19 Ibid, p. 15.

20 CICV, Annual Report 2015, CICV, Genebra, 9 de maio de 2016, disponível em: https://www.icrc.org/en/document/annual-report-2015-icrc (consulta em 29 de setembro de 2016).

21 CMDI et al, Workshop Report - Kampala Convention: from ratification to domestication and operationalisation, Adis Abeba, 30 de novembro a 2 de dezembro de 2015, CMDI, Genebra, abril de 2016, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2016/workshop-report- (consulta em 29 de setembro de 2016).

Cabe recordar que o CICV não é novo nesse tipo de exercício. Produzimos ferramentas que oferecem apoio técnico e orientação aos Estados sobre a implementação do DIH e de outros marcos jurídicos relevantes,22 com relação a questões humanitárias como a proteção da assistência à saúde durante conflitos armados ou outras emergências23 e a situação das pessoas desaparecidas e suas famílias.24 A organização parte desse conhecimento e experiência para realizar o presente balanço. Pode igualmente se beneficiar da sua presença no terreno na África, onde as delegações do CICV realizam atividades de proteção e assistência em 29 países em prol dos deslocados internos, das comunidades que os acolhem e de todos os que sofrem com as consequências de conflitos armados ou outras situações de violência. Isto permite que o CICV acrescente uma perspectiva operacional ao considerar a melhor forma de colocar em prática a Convenção de Kampala. Ao fazê-lo, o balanço procura complementar e reforçar o trabalho de outros atores, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e o Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno, que apoiam a implementação da Convenção de Kampala com foco especial na definição de normas em âmbito nacional.

Metodologia do Balanço Ao longo do primeiro semestre de 2016, as delegações do CICV em toda a África forneceram atualizações e análises sobre os avanços relativos aos deslocados internos, incluindo as últimas iniciativas dos Estados para aderir, implementar e operacionalizar a Convenção de Kampala. Isto envolveu os Estados que são partes da Convenção de Kampala, independentemente de terem ou não adotado leis e políticas nacionais de implementação. Também incluiu alguns Estados que ainda não são partes da Convenção, mas que adotaram marcos normativos ou políticas sobre a proteção dos deslocados internos com base em disposições paralelas aos Princípios Orientadores Relativos aos Deslocados Internos de 199825 ou aos dois protocolos para a proteção dos deslocados internos da região dos Grandes Lagos. 26 Além disso, contou com a participação de Estados que não são partes da Convenção e que não têm um marco nacional vigente, mas que adotaram algumas medidas para enfrentar a situação do deslocamento em seu território. Ao todo, considerou-se a prática em cerca de 25 Estados africanos.

A decisão de incluir a experiência de Estados que não são partes da Convenção de Kampala permitiu a compilação de um conjunto mais amplo de práticas africanas sobre aspectos fundamentais da implementação, pelos Estados, de suas obrigações relativas ao deslocamento interno. Também reflete um reconhecimento subjacente, entre os Estados, de que as obrigações da Convenção se baseiam em normas existentes do DIH e do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), assim como nos Princípios Orientadores e no Pacto dos Grandes Lagos.27 Embora alguns Estados não tenham ratificado a Convenção, podem ter adotado medidas que tragam benefícios positivos e concretos para os deslocados. Tais práticas podem ser uma fonte de inspiração aos Estados que ainda não ratificaram a Convenção, assim como para aqueles que são partes mas enfrentam desafios na sua implementação. Finalmente, ao identificar as experiências dos Estados que não são partes da Convenção, o balanço destaca a consideração que tiveram para colocar em prática atividades voltadas à proteção e assistência dos deslocados internos. Isto ajuda a demonstrar a tais Estados que, embora ainda tenham de ratificar o tratado oficialmente, já estão implementando de facto componentes dele na prática.

Uma consultoria independente contratada pelo CICV compilou e analisou as contribuições relevantes. O balanço foi abordado de duas maneiras:

1. Uma avaliação de como a Convenção de Kampala tem sido implementada no direito e na política nacionais. Essa parte buscou identificar as políticas e os marcos jurídicos nacionais, relativos ou não à Convenção de Kampala, que poderiam ter um impacto concreto na proteção e assistência aos deslocados internos.

2. Uma revisão das medidas práticas e ações concretas adotadas pelos Estados na incorporação da Convenção no Direito Interno.

22 Ver, por exemplo, CICV, National IHL Implementation Manual: The domestic implementation of International Humanitarian Law (CD version), ref. dvd 40,

CICV, Genebra, 1 de dezembro de 2015, disponível em: https://www.icrc.org/eng/resources/documents/publication/pdvd40.htm (consulta em 29 de setembro de 2016).

23 Assistência à Saúde em Perigo, HCID Project, disponível em: (http://healthcareindanger.org/hcid-project) (consulta em 2 de outubro de 2016)

24 CICV, Relatório do CICV: The Missing and their Families, Genebra, 2003, disponível em: (https://www.icrc.org/eng/assets/files/other/icrc_themissing_012003_en_10.pdf) e ICRC Guiding principles/Model law on the missing, disponível em: (https://www.icrc.org/en/document/guiding-principles-model-law-missing-model-law)(consulta em 2 de outubro de 2016).

25 Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Guiding Principles on Internal Displacement (ADM 1.1, PRL 12.1, PR00/98/109), ONU, Nova York, 22 de julho de1998 (http://www.unhcr.org/protection/idps/43ce1cff2/guiding-principles-internal-displacement.html).

26 Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), The Pact on Security, Stability and Development for the Great Lakes Region, Nairóbi, 2006 (http://www.icglr.org/images/Pact%20ICGLR%20Amended%2020122.pdf). Para comparação, ver Serviço de Assessoramento do CICV sobre DIH, Internally displaced persons: comparison of relevant legal instruments and frameworks, CICV, setembro de 2016, no Anexo deste relatório.

27 Ver, por exemplo, International Refugee Rights Initiative, Comparison of the Kampala Convention and the IDP Protocol of the Great Lakes Pact - a briefing note by the International Refugee Rights Initiative, janeiro de 2014, disponível em http://www.refugee-rights.org/Assets/PDFs/2014/Comparative%20Note%20on%20the%20Kampala%20Convention%20and%20IDP%20Protocol%20FINAL-EN.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

Na análise das práticas dos Estados, consideraram-se as seguintes perguntas:

– Qual o impacto da Convenção de Kampala no terreno?

– Que diferença pode fazer nas vida dos deslocados internos?

– O que mais precisa ser feito? – pelos Estados, pela CUA, CERs e MRs, pelo CICV e por outras organizações e atores humanitários – para que a plena implementação da Convenção de Kampala se torne realidade?

Em consulta com os próprios especialistas do CICV e consultores externos selecionados, baseando-se também em pesquisas adicionais, a análise das informações compiladas no balanço propiciou a elaboração das Constatações (na forma de Lições

Aprendidas, Alguns Exemplos de Boas Práticas e Principais Desafios) e Recomendações.

As Constatações refletem a situação atual dos esforços dos Estados em cumprir com as suas responsabilidades de prevenir e enfrentar o deslocamento interno. Como parte das Constatações, os exemplos de "boas práticas" refletem as experiências dos Estados que adotaram medidas normativas, políticas ou concretas para implementar de maneira eficaz as diversas obrigações de acordo com a Convenção. A menção de Estados específicos com relação às boas práticas é feita para que outros Estados possam estudar tais experiências e consultar as respectivas leis, políticas e práticas quando necessário. Não tem como finalidade excluir outros Estados que possam igualmente ter tomado medidas importantes relativas a determinadas obrigações. Quanto aos exemplos que se referem a medidas políticas ou normativas, sua qualificação como "boas práticas" não necessariamente significa que estejam também sendo plenamente implementadas, o que, em alguns casos, exige mais tempo.

As Recomendações foram extraídas das Constatações mas vão além, sugerindo medidas para enfrentar os desafios na implementação da Convenção e oferecendo uma visão sobre como fortalecer esse processo. Deve-se enfatizar que as Recomendações não interferem no dever dos Estados de cumprirem com as suas respectivas obrigações segundo o Direito Internacional e a legislação interna.

Como parte do balanço, em 14 de setembro de 2016, o CICV convocou uma reunião de consulta na sede da UA em Adis Abeba, Etiópia.28 Antes disso, as constatações e recomendações preliminares extraídas do exercício foram compartilhadas com a CUA e seus Estados Membros. Durante as consultas informais, os representantes de mais de 25 Estados Membros da UA, da CUA (Departamento de Assuntos Políticos) e de diversas CERs e MRs reuniram-se com o CICV. Trabalhando de acordo com a Regra Chatham House, eles deram um retorno sobre o balanço e suas conclusões iniciais, além de trocar perspectivas sobre o caminho a seguir. Os resultados do encontro contribuíram para a finalização das Constatações e Recomendações, que constituem o cerne deste relatório.

Além do balanço, a delegação do CICV em Abuja elabora um minucioso relatório sobre a operacionalização da Convenção de Kampala nos estados de Borno, Adamawa e Yobe, na Nigéria. O relatório baseia-se em avaliações realizadas durante o ano passado. Inclui uma pesquisa com deslocados internos nos três estados, assim como entrevistas com importantes atores governamentais e não governamentais envolvidos com a proteção e prestação de assistência aos deslocados internos. A iniciativa da delegação de Abuja foi um catalisador para o desenvolvimento deste balanço de toda a África. Seu informe será lançado ainda este ano.

Estrutura e Escopo deste Relatório O trabalho contém mais de 85 Constatações e 25 Recomendações, organizadas em cinco partes. Cada uma se baseia em um conjunto de obrigações fundamentais conforme a Convenção de Kampala, agrupadas por tópicos, da seguinte forma:

1. Prevenção 2. Planejamento, gestão e monitoramento das atividades de proteção e assistência 3. Prestação de assistência humanitária adequada aos deslocados internos 4. Proteção dos deslocados internos 5. Soluções duradouras para os deslocados internos

Cada uma das 25 Recomendações é apresentada com uma lógica adjacente. As Recomendações são direcionadas sobretudo aos Estados. No entanto, em cada uma das cinco partes, uma ou mais Recomendações também se referem a outros atores. Podem incluir a CAU, as CERs e MRs, a ONU, o CICV e organizações da sociedade civil.

O balanço e o relatório do CICV não pretendem esgotar o tema. A intenção é compilar e sintetizar as experiências relevantes de uma série de Estados da África. Dada a ampla gama de assuntos tratados na Convenção de Kampala, o CICV julgou necessário limitar o escopo deste exercício. O foco do balanço e do relatório, portanto, é nas obrigações com as quais o CICV está mais familiarizado, seja porque foram extraídas diretamente do DIH ou porque se relacionam com preocupações

28 O CICV é grato ao Subcomitê sobre Refugiados, Repatriados e Deslocados Internos do Comitê de Representantes Permanentes (CRP), que

desempenhou um papel construtivo na reunião de consulta.

humanitárias que a organização encontra nas suas operações pela África (p.ex. questões de registro e documentação dos deslocados internos).

Além disso, o foco do relatório nos Estados significa que não foi possível examinar as obrigações dos grupos armados não estatais, definidos como "grupos armados" e "atores não estatais" na Convenção de Kampala. Tais obrigações foram claramente consideradas importantes pelos Estados Membros da UA na negociação e adoção da Convenção, permanecendo assim ainda hoje.

Finalmente, nem todas as observações e conclusões formuladas pelo CICV a partir do balanço estão incluídas neste relatório. Algumas serão compartilhadas diretamente com os Estados envolvidos no marco tradicional de diálogo bilateral confidencial que o CICV mantém com as autoridades públicas no mundo inteiro.

CONSTATAÇÕES E

RECOMENDAÇÕES

1. Prevenção

Delegado do CICV conversa com deslocados internos no campo de Gereida, Sudão (2007)

Resumo das principais obrigações (a) Incorporar as obrigações da Convenção de Kampala na legislação nacional (Art. 3.2.(a)); (b) Garantir responsabilidade penal individual por deslocamento arbitrário (Art. 3.1. (g)).

Lições aprendidas As lições aprendidas nas áreas da ratificação ou adesão e da implementação nacional talvez sejam previsíveis para todos os funcionários públicos ou outros especialistas que trabalham com a incorporação de tratados no Direito Interno, mas nem por isso são menos importantes.

Em primeiro lugar, a experiência em toda a África confirma que é fundamental que os Estados adotem medidas relativas à ratificação ou adesão e à implementação nacional da Convenção de Kampala antes da ocorrência de crises que poderiam provocar deslocamento interno. Independentemente das suas causas em um determinado contexto, o deslocamento quase sempre ocorre de maneira rápida, impedindo que os formuladores de políticas respondam em tempo real e implementem as normas e políticas adequadas.

Com isto em mente, os Estados podem considerar útil iniciar o seu próprio balanço, analisando como poderiam reviver ou acelerar os procedimentos necessários na sua respectiva jurisdição para aderir à Convenção e implementá-la em âmbito nacional. Nesse sentido, talvez considerem, como muitos Estados já fizeram, que vale a pena aproveitar o apoio técnico disponível para agilizar os processos de ratificação ou adesão e de implementação nacional. Um ponto de partida muito útil é a CAU, que elaborou um projeto de Lei Modelo29 e já assessorou diversos Estados sobre a sua aplicação. Organizações internacionais como CMDI e Acnur organizam capacitações para funcionários públicos, sem encargos, sobre a implementação nacional da Convenção de Kampala, apoiando os Estados na adoção de estruturas jurídicas e políticas sobre o deslocamento interno.30 O CICV também presta assessoria confidencial às autoridades sobre a formulação de legislações e/ou políticas nacionais que reflitam as obrigações da Convenção de Kampala.31

É evidente que os Estados alcançarão melhores resultados quando houver uma vontade política clara e continuada de cumprir com as responsabilidades. É o caso tanto da incorporação da Convenção de Kampala no Direito Interno como da prevenção e resposta ao deslocamento interno. Seria prudente que os funcionários com responsabilidades por questões relativas aos deslocados internos reconsiderem a maneira em que possam criar um sentido de apropriação e um ímpeto para que os seus países se tornem partes da Convenção e, sobretudo, para a sua implementação.

Uma importante lição aprendida a partir das consultas do CICV no terreno e de muitos anos de trabalho em nome dos deslocados internos na África é que a implementação nacional da Convenção de Kampala requer um processo inclusivo, com a participação de todos os atores nacionais importantes, nos processos de consulta, compartilhamento de informações e tomada de decisões. Isto inclui os ministérios e órgãos governamentais envolvidos, no âmbito do governo central e no terreno, autoridades municipais e organizações da sociedade civil, assim como os deslocados internos e as comunidades que os acolhem. Sem um processo inclusivo, possivelmente faltará a necessária apropriação por parte desses atores. O resultado provável será o atraso em um ou mais pontos do processo de incorporação na legislação nacional.

A educação pública e a conscientização sobre a Convenção de Kampala e a situação dos deslocados internos são importantes fatores que contribuem para traduzir os compromissos políticos em medidas concretas. Podem ser realizadas com as autoridades públicas e a sociedade civil, além dos deslocados internos e das sociedades que os acolhem. Incentivam o interesse e o envolvimento da população, assim como o seu diálogo com os funcionários públicos, o que pode ajudar a garantir que a abordagem do deslocamento interno continue sendo uma prioridade e goze de vontade política contínua.

29 O projeto de Lei Modelo da UA deverá ser formalmente aprovado no último trimestre de 2016.

30 CMDI, A review of the normative framework in Kenya relating to the protection of IDPs, CMDI, Genebra, agosto de 2015, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2015/a-review-of-the-normative-framework-in-Kenya (consulta em 29 de setembro de 2016); CMDI, Applying the Kampala Convention in the context of Zimbabwe, CMDI, Genebra, fevereiro de 2015, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2015/applying-the-kampala-convention-in-the-context-of-zimbabwe (última consulta em 30 de setembro de 2016).

31 CICV, National Implementation of IHL: Documentation, disponível em https://www.icrc.org/en/war-and-law/ihl-domestic-law/documentation#penal (consulta em 29 de setembro de 2016); CICV, Preventing and Repressing International Crimes: Towards an “Integrated” Approach Based in Domestic Practice – Report of the Third Universal Meeting of National Committees for the Implementation of International Humanitarian Law, CICV, Genebra, 29 de agosto de 2013, disponível em https://www.icrc.org/en/publication/4138-preventing-and-repressing-international-crimes-towards-integrated-approach-based (consulta em 29 de setembro de 2016).

Deve-se dar especial atenção à garantia de que as leis e políticas estejam disponíveis nos idiomas oficiais e nos idiomas das partes interessadas mais afetadas, sejam os deslocados internos ou as comunidades que os acolhem.

É essencial que as leis e políticas sobre o deslocamento interno contenham disposições sobre os meios adequados (institucional/mandato, recursos humanos, orçamento) para a sua implementação ou operacionalização. Essa tem sido uma importante e, por vezes, difícil "lição aprendida" em inúmeros contextos, nos quais os processos de implementação foram iniciados com um esforço sério mas pararam por falta de recursos adequados. Em muitos contextos, essa falha em garantir os recursos suficientes tem realmente prejudicado uma resposta efetiva às necessidades específicas de proteção e assistência dos deslocados internos.

Finalmente, sanções penais claras e contundentes relativas ao deslocamento podem ter um importante efeito dissuasivo e contribuir para esforços mais amplos no combate à impunidade por violações ao DIH. Há décadas, o CICV trabalha em estreita parceria com os Estados no desenvolvimento de ferramentas e recursos de apoio à incorporação das obrigações do DIH nas legislações nacionais, inclusive sobre responsabilidade penal 32 e sobre mecanismos de coordenação entre as autoridades públicas para fortalecer a prevenção e a responsabilização por graves violações ao DIH.33

Alguns exemplos de boas práticas Em toda a África, os Estados adotaram uma gama de medidas para implementar a Convenção de Kampala34 e desenvolver, de maneira mais ampla, um enfoque nacional para os desafios relativos ao deslocamento interno. Obviamente, não existe um único "modelo" ou um "melhor" enfoque. O que gera entusiasmo é que o número e a diversidade dos esforços realizados ofereçam exemplos práticos para outros Estados, à medida que aderem ou implementam a Convenção nos seus respectivos contextos políticos.

Uganda foi pioneira, adotando The National Policy for Internally Displaced Persons (Política Nacional de Uganda sobre Deslocados Internos) em 2004,35 muito antes da criação da Convenção de Kampala. A política de Uganda foi elaborada para implementar os Princípios Orientadores relativos aos Deslocados Internos e tem um amplo escopo. Inclui o estabelecimento de um órgão de coordenação nacional, procedimentos detalhados para a coordenação intergovernamental nos âmbitos nacional e local, disposições específicas sobre aspectos da proteção e assistência e planos para a educação pública.36 A implementação da política foi objeto de uma revisão de diferentes partes interessadas em 2006. O relatório sobre essa revisão oferece uma "captura instantânea" útil, detalhando os desafios da implementação, e continua valioso uma década depois.37

Na Somália38 e no Mali,39 as autoridades nacionais trabalharam em estreita cooperação com os parceiros internacionais para formular leis e políticas nacionais.40 Isto ampliou o âmbito de consulta entre esses importantes grupos e deve gerar frutos à medida que os Estados avancem rumo à finalização e à entrada em vigor de seus programas e políticas.

32 Serviço de Assessoramento do CICV sobre DIH, Penal Repressions Factsheets, CICV, Genebra, várias datas, disponível em:

https://www.icrc.org/en/war-and-law/ihl-domestic-law/documentation#penal (consulta em 2 de outubro de 2016).

33 Serviço de Assessoramento do CICV sobre DIH, Preventing and Repressing International Crimes: Towards an “Integrated” Approach Based in Domestic Practice – Report of the Third Universal Meeting of National Committees for the Implementation of International Humanitarian Law , CICV, Genebra, 2013, disponível em: https://www.icrc.org/en/publication/4138-preventing-and-repressing-international-crimes-towards-integrated-approach-based (consulta em 2 de outubro de 2016).

34 CMDI, The Kampala Convention two years on: time to turn theory into practice, CMDI, Genebra, dezembro de 2014, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2014/the-kampala-convention-two-years-on-time-to-turn-theory-into-practice (consulta em 29 de setembro de 2016).

35 República de Uganda, Escritório do Primeiro Ministro, Departamento de Preparação para Desastres e Refugiados, The National Policy for Internally Displaced Persons, Uganda, agosto de 2004, disponível em: https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2016/07/Uganda_IDPpolicy_2004.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

36 Para um bom resumo sobre a Política Nacional de Uganda sobre Deslocados Internos, ver: J. Miller, Brookings-Bern Project on Internal Displacement-Uganda’s IDP Policy, FMR 27, disponível em: https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2016/06/200701_JM_FMRUganda.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

37 Para mais informações sobre a implementação prática da Política Nacional de Uganda, ver o resumo do workshop de 2006: Universität Bern, The Republic of Uganda, Workshop on the Implementation of Uganda’s National Policy for Internally Displaced Persons, Kampala, Uganda, 3-4 July 2006, available at: https://www.brookings.edu/research/workshop-calls-for-effective-implementation-of-ugandas-national-policy-for-internally-displaced-persons (consulta em 29 de setembro de 2016). Para saber mais sobre outros esforços iniciais voltados à criação de leis e estratégias nacionais para enfrentar o deslocamento interno, em especial relativas aos Princípios Orientadores, ver: J. Wyndham, A Developing Trend: Laws and Policies on Internal Displacement, Human Rights Brief, Vol. 14 Núm. 1, Art. 2.o, 2006 disponível em: http://digitalcommons.wcl.american.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1191&context=hrbrief (consulta em 29 de setembro de 2016).

38 Estado signatário desde 23 de outubro de 2009, a Somália ainda não ratificou a Convenção, mas desenvolveu uma política nacional abrangente.

39 O Mali é parte da Convenção desde 2012.

40 No Mali, o projeto do marco nacional foi concluído, mas aguarda aprovação oficial.

O Quênia elaborou e adotou um marco abrangente para enfrentar os problemas do deslocamento.41 É signatário do Pacto dos Grandes Lagos, mas ainda não é parte da Convenção de Kampala. Cabe observar que o marco do Quênia aborda uma série de obrigações da Convenção, podendo servir como um exemplo para outros Estados, sejam eles partes ou não.42

No Burundi, o abrangente acordo de paz (Acordo de Paz e Reconciliação de Arusha, 2000) inclui múltiplas disposições relativas ao deslocamento interno (p.ex. sobre o acesso às pessoas necessitadas, a segurança das equipes internacionais e a prestação de ajuda humanitária) compatíveis com a Convenção de Kampala. O Burundi ainda não é parte da Convenção, mas suas medidas também são, em muitos casos, compatíveis com as suas obrigações.

Na República Democrática do Congo, a legislação de proteção às crianças (Child Protection Code, 2009) inclui uma disposição sobre os direitos das crianças deslocadas, que especifica o direito delas à proteção e à assistência humanitária. Esse é um exemplo interessante de uma base jurídica existente para a ação em prol das crianças deslocadas, mesmo na ausência de uma legislação específica que implemente a Convenção de Kampala.

Também na República Democrática do Congo, as autoridades iniciaram um grupo de trabalho para convocar representantes de agências humanitárias e agências da ONU, prestando assessoria às partes interessadas sobre os Termos de Referência para este órgão (Groupe de travail technique sur le déplacement). É provável que essa estrutura e processo gerem frutos no futuro, melhorando a qualidade da consulta e do envolvimento para as principais partes interessadas, das quais se espera que possam contribuir mais com as medidas nacionais sobre deslocamento interno.

Em muitos Estados, a legislação nacional vigente já prevê a criminalização de atos de deslocamento arbitrário. Em Ruanda, para mencionar apenas um exemplo, o Código Penal (2012) inclui crimes e sanções relativas ao deslocamento arbitrário.43

Na África Ocidental, os Estados adotaram medidas por meio da sua CER, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para promover a consciência e a adesão à Convenção, incluindo uma excursão por capitais selecionadas em 2016. Na África Oriental, os Estados uniram esforços sob os auspícios da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), em outubro de 2016, durante um seminário em Nairóbi organizado conjuntamente pelo CICV. O seminário revisou as medidas nacionais adotadas pelos Estados Membros do IGAD e considerou o caminho a seguir na promoção da Convenção.

Essa é apenas uma amostra dos tipos de iniciativas realizadas pelos Estados. Consideradas em seu conjunto, elas demonstram que há muitos exemplos de Estados que superaram uma gama de desafios na implementação nacional. Além disso, sua análise individual revela que existem muitos precedentes práticos e recentes para os Estados que lidam no momento – ou o farão no futuro – com passos específicos de implementação para integrar plenamente a Convenção de Kampala ao seu ordenamento jurídico.

Principais desafios

O impulso que a Convenção de Kampala teve entre a adoção, em 2009, e a entrada em vigor, em 2012, perdeu força nos últimos anos.

Desde 2014, poucos Estados a ratificaram ou aderiram a ela. Em setembro de 2016, 1844 Estados Membros da UA haviam assinado a Convenção, mas não tinham adotado as medidas necessárias para a ratificação ou adesão, mesmo depois de vários anos.

Igualmente preocupante é que muitos Estados enfrentem demoras no processo de promulgação da legislação nacional necessária para implementar a Convenção. Em alguns casos, esses atrasos chegam a vários anos. Entre os motivos, que variam de Estado para Estado, podem-se incluir: falta de consciência, por parte de algumas autoridades, sobre a questão do

41 CMDI, A review of the normative framework in Kenya relating to the protection of IDPs, CMDI, Genebra, agosto de 2015, disponível em:

http://www.internal-displacement.org/publications/2015/a-review-of-the-normative-framework-in-Kenya (consulta em 29 de setembro de 2016).

42 CMDI, Towards a comprehensive response to internal displacement in Kenya: a roadmap for action, IDMC, Genebra, agosto de 2015, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2015/towards-a-comprehensive-response-to-internal-displacement-in-kenya-a-roadmap-for-action (consulta em 29 de setembro de 2016).

43 O Código Penal de 2012 estabelece, em seu artigo 123(7), que o deslocamento forçado da população civil, assim como a sua transferência ou detenção sistemática em campos de concentração ou trabalho forçado, é um crime de guerra. As sanções estão previstas no artigo 125. As disposições de direito penal em Ruanda são complementadas por medidas separadas que abordam outros aspectos relativos à prevenção do deslocamento, tais como a National Disaster Management Policy , de 2009 (que foi revisada em 2012 e se refere ao deslocamento como um perigo em Ruanda (https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0ahUKEwiEloXJgK_PAhVRGsAKHb-EAQ8QFggdMAA&url=http%3A%2F%2Fwww.ifrc.org%2Fdocs%2FIDRL%2FRwandaDisaster_Management_Policy_01.pdf&usg=AFQjCNHs1Pf4cgXS4XuekwnaEKdvv63BhA&cad=rja), e a nova Lei 41/2015 sobre Gestão de Desastres (2015). A Lei faz referência à Convenção de Kampala em seu Preâmbulo e, embora não mencione o deslocamento diretamente, o deslocamento interno pode ser qualificado como um desastre de acordo com a definição de desastre do artigo 2(4): "graves calamidades que ocorrem em uma área grande ou pequena do país, envolvendo perda de vida, feridas físicas ou psicológicas ou importantes danos materiais, econômicos ou ambientais, que excedam a capacidade da população afetada de superar a situação com os seus próprios recursos".

44 União Africana, List of Countries which Have Signed, Ratified/Acceded to the African Union Convention for the Protection and Assistance of Internally Displaced Persons in Africa (Kampala Convention), Adis Abeba, 1 de abril de 2016, disponível em: http://www.au.int/en/sites/default/files/treaties/7796-slafrican_union_convention_for_the_protection_and_assistance_of_internally_displaced_persons_in_africa_kampala_convention_11.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

deslocamento interno, suas obrigações e/ou a importância da Convenção de Kampala; falta de capacidade; falta de recursos orçamentários; o fato de as autoridades não considerarem o deslocamento interno como um tema prioritário; e a participação do Estado em um conflito armado, entre outros. Do mesmo modo, numerosos Estados investiram tempo e esforços consideráveis na elaboração de uma política ou estratégia para os deslocados internos, mas não conseguiram concluir esse processo.

Diversos países onde vigora a teoria do monismo jurídico baseiam-se na sua respectiva Constituição, que automaticamente incorpora os tratados internacionais no Direito Interno. 45 No entanto, isto geralmente não conclui a implementação nacional. Por exemplo, as disposições da Convenção de Kampala relativas à responsabilidade penal provavelmente não serão exequíveis, a menos que haja sanções designadas para elas, contrariando o princípio de legalidade.

Na prática, hoje há poucos ou nenhum processo relativo a crimes previstos na Convenção de Kampala em curso nos tribunais nacionais. A falta de disposições penais específicas em ordenamentos jurídicos nacionais é certamente um dos principais fatores subjacentes à falta de "operacionalização" desta parte da Convenção.

Quando um conflito armado está em curso, os Estados e outras partes em conflito podem adotar medidas para prevenir, antes de mais nada, que ocorram deslocamentos. Isso é especialmente verdadeiro para assegurar o respeito pelo DIH e aumentar os esforços para proteger os civis e limitar o dano a que estão expostos. Na prática, as violações do DIH continuam sendo uma importante causa de deslocamento interno na África. O desafio que temos aqui é fortalecer o compromisso (e a capacidade) dos Estados para respeitar e fazer respeitar o DIH. Outro desafio, especialmente em conflitos armados prolongados, é evitar deslocamentos que possam ser vistos pelas partes como incidentes naturais das operações militares e cuja lógica a esse respeito não seja questionada.

As autoridades estatais podem ter dificuldade de prevenir o deslocamento em áreas onde grupos armados não estatais estejam presentes. Não há uma solução simples para este obstáculo, que pode ter consequências humanitárias graves e prolongadas. Dito isso, deve-se recordar que a Convenção de Kampala cria obrigações para grupos armados não estatais (referidos como "grupos armados" e "atores não estatais")46 e inclui inúmeras referências a eles.47 De um modo mais geral, o DIH estabelece obrigações para grupos armados não estatais que são partes de um conflito armado.48

Recomendações. Para os Estados

Recomendação 1: Os Estados que ainda não o fizeram devem acelerar o processo de ratificação, ou adesão, da Convenção de Kampala.

– A ratificação proporciona ao Estado uma base jurídica clara para a adoção de medidas nacionais normativas e políticas relativas à proteção e assistência de deslocados internos. A Convenção de Kampala oferece um marco de referência abrangente e pormenorizado que pode guiar os Estados no cumprimento das suas obrigações de prevenir e responder ao deslocamento interno.

– Numerosos Estados não ratificaram a Convenção de Kampala, mas adotaram medidas concretas que correspondem a obrigações específicas previstas nesse tratado. Para tais Estados, a ratificação é o passo lógico que traria coerência às normas, políticas e práticas nacionais, constituindo um novo exercício de soberania.

45 Para uma discussão sobre o monismo jurídico e as implicações para a implementação dos tratados do DIH, ver: CICV, The Domestic Implementation of

International Humanitarian Law: A Manual, CICV, Genebra, setembro de 2015, disponível em: https://www.icrc.org/eng/resources/documents/publication/pdvd40.htm (consulta em 29 de setembro de 2016).

46 Artigo 1(e) e 1(n), respectivamente.

47 Ver, p. ex., os artigos 2(e), 3(1)(h) e (i), e 7(4) e (5).

48 Como já foi mencionado, o foco deste relatório é sobre as obrigações e práticas dos Estados. Portanto, não se examinam as obrigações dos grupos armados não estatais, que são reconhecidos como um componente essencial da Convenção de Kampala.

– Inúmeras obrigações contidas na Convenção de Kampala já estão incluídas nas obrigações existentes dos Estados de acordo com o DIH e o DIDH. Portanto, a ratificação da Convenção de Kampala complementa e se baseia nas obrigações jurídicas existentes, proporcionando maior clareza sobre como deveriam ser interpretadas e implementadas. Pode ajudar os Estados a fortalecer a proteção e assistência aos deslocados internos.

– A ratificação da Convenção de Kampala demonstra o compromisso do Estado em prevenir e enfrentar o deslocamento interno. Pode ajudar a atrair apoio de doadores e assessoria/assistência técnica para toda a gama de elementos da Convenção de Kampala. Essas modalidades de apoio podem incluir tanto a assessoria/assistência técnica para a adoção da legislação nacional e da estrutura de coordenação como a ajuda financeira para assistir os deslocados internos e as comunidades que os acolhem, na fase de emergência e no longo prazo.

– Ratificações adicionais fortalecem a relevância e legitimidade da Convenção de Kampala ao destacarem a resposta da UA ao desafio global do deslocamento interno. Também permitem que as experiências e boas práticas adquiridas sejam compartilhadas com outros Estados na África e em outros continentes.

Recomendação 2: Os Estados Partes da Convenção de Kampala devem iniciar e completar as ações para integrar as obrigações do tratado no Direito Interno e nos processos de formulação de políticas, solicitando assessoria e apoio técnico quando e se necessário.

– A ratificação é um passo importante. No entanto, deve ser acompanhada pela adoção de medidas jurídicas e políticas concretas no âmbito nacional, a fim de garantir que as proteções previstas pela Convenção de Kampala se tornem uma realidade para os deslocados internos em um determinado contexto.

– A implementação nacional, mediante medidas apropriadas ao sistema jurídico e às estruturas de governança do Estado Parte, ajudará a garantir que o Estado possa responder de maneira eficaz às necessidades dos deslocados internos, seja em situações de desastre natural, conflito armado ou outras situações de violência.

– Para serem eficazes, as leis e políticas desenvolvidas a fim de implementar a Convenção de Kampala precisam incluir as disposições sobre os meios adequados (institucionais/mandato, recursos humanos, orçamento) para a sua implementação prática.

– Os Estados podem solicitar assessoria e assistência técnica sobre a implementação nacional à CUA (que elaborou um projeto de Lei Modelo), a outros Estados Partes da Convenção de Kampala e a várias organizações humanitárias (como o CICV, ACNUR e CMDI). Podem também se beneficiar de um crescente conjunto de boas práticas e lições aprendidas sobre a implementação da Convenção de Kampala, que os Estados estão criando. Ao fazê-lo, a legislação nacional ajuda a expandir o conhecimento dos funcionários do Estado sobre questões relativas ao deslocamento interno. Além disso, ao se inspirar na experiência de outros Estados e adaptar soluções aos seus contextos específicos, os Estados podem contribuir para o estabelecimento de "boas práticas".

– Criminalizar o deslocamento arbitrário que configura um crime de guerra ou crime contra a humanidade é uma obrigação legal para todos os Estados Partes da Convenção. Fortalecer o marco jurídico nacional nesse sentido permitirá que os Estados Partes garantam a responsabilidade penal individual dos perpetradores nos tribunais nacionais.

– As medidas nacionais de implementação demonstram a disponibilidade de um Estado em responder às necessidades de suas comunidades de deslocados internos. Isto pode ajudar a atrair apoio de doadores, além de assessoria e assistência técnica. Os Estados podem manter esse apoio demonstrando a eficácia das estratégias e mecanismos nacionais. Esse enfoque proativo ajuda a garantir que o Estado cumpra efetivamente com a sua responsabilidade primordial relativa aos deslocados em seu território.

Recomendação 3: Os Estados devem tomar medidas para promover o conhecimento da Convenção de Kampala por todas as partes envolvidas, incluindo os próprios deslocados, as comunidades que os acolhem, a sociedade civil e as autoridades públicas, nos âmbitos central, regional e local.

– Esse é um elemento essencial para assegurar um processo nacional inclusivo, desde a ratificação até a incorporação e a implementação da Convenção.

– Os parceiros internacionais e humanitários com frequência estarão prontos e dispostos a cooperar nas atividades de conscientização, assim como nas iniciativas mais especializadas de desenvolvimento de capacidades para autoridades públicas e outros atores, em especial os funcionários públicos.

– As CERs e os MRs muitas vezes estão em condições de promover uma maior conscientização sobre as questões relativas ao deslocamento interno, incluindo o potencial da Convenção de Kampala de abordá-las.

– Do mesmo modo, atores da sociedade civil local com frequência têm condições de promover o conhecimento sobre a Convenção. Em muitos casos, as capacidades desses grupos podem ser usadas para complementar os esforços das autoridades públicas e seus parceiros.

– Os esforços dos atores da sociedade civil podem ajudar as autoridades públicas a entender melhor e aproveitar o interesse da população sobre questões relativas aos deslocados internos e à Convenção de Kampala em particular. Podem também ajudar a garantir um interesse continuado na incorporação da Convenção.

– São de grande importância as atividades de conscientização da Convenção de Kampala entre as próprias comunidades de deslocados internos. Tais atividades podem empoderar os deslocados, tornando-os mais conscientes dos seus direitos e responsabilidades.

Recomendação 4: Os Estados devem garantir que todas as autoridades públicas relevantes – incluindo as forças armadas e de segurança – tenham todas as informações relativas às suas obrigações e sejam instruídas para respeitar e fazer respeitar o Direito Internacional Humanitário.

– As violações do DIH são uma importante causa de deslocamento durante conflitos armados.

– Em muitos casos, o aumento do respeito pelo DIH em situações de conflito armado evitará a ocorrência de deslocamentos fortalecendo, antes de mais nada, a proteção das vítimas e limitando os efeitos das hostilidades sobre as vidas e os bens dos civis.

– De particular importância é o cumprimento dos princípios fundamentais de distinção, proporcionalidade e precaução, assim como da proibição de ordenar o deslocamento da população civil, ao todo ou em parte, por motivos relacionados com o conflito armado, salvo se a segurança dos civis envolvidos ou razões militares imperiosas o exigirem.49

– Em caso de deslocamento, o respeito pelo DIH pode ajudar a garantir que o fenômeno seja, na medida do possível, reduzido e temporário. Além disso, o DIH oferece importantes proteções aos civis durante o deslocamento. Por isso, a sua plena implementação ajuda a garantir a segurança e o bem-estar dos deslocados.

– Não respeitar o DIH pode acarretar a responsabilização de superiores civis e militares por crimes de guerra, seja diretamente ou sob o conceito de responsabilidade do comando.50

– As proibições do direito penal nacional relativas ao deslocamento podem ser incluídas em treinamentos, reuniões e manuais militares.

Para outros atores Recomendação 5: As organizações internacionais e humanitárias devem continuar oferecendo assessoria e apoio técnico aos Estados Membros da UA, não apenas para a ratificação da Convenção de Kampala, mas também para todas as medidas de implementação nacional exigidas nos marcos jurídicos e de políticas dos países.

– Muitos Estados já se beneficiaram dessa assessoria ou apoio e/ou continuam expressando um interesse em recebê-los.

– As organizações que oferecem orientação e apoio podem compartilhar boas práticas iniciadas por outros Estados ou facilitar a troca de experiências entre os Estados diretamente. Isto pode ajudar a agilizar os processos de implementação nacional.

– Ao desenvolver as capacidades das autoridades, os atores internacionais podem reforçar as melhores práticas em consulta com os deslocados internos e prestando contas a eles.

Recomendação 6: A CUA, as CERs e MRs e outras organizações com conhecimentos nessa área devem aumentar a conscientização da população e as atividades de desenvolvimento de capacidades relativas à Convenção de Kampala, em coordenação com os Estados e atores da sociedade civil local. Podem incluir a Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (CADHP) e o seu Relator Especial para Refugiados, Requerentes de Asilo e Deslocados Internos, segundo os seus mandatos

49 Ver CICV, Customary International Humanitarian Law, CICV, Genebra, 2005, normas 1, 14 e 15 genericamente; e sobre deslocamento, normas 129, 131,

132 e 133, disponível em: https://ihl-databases.icrc.org/customary-ihl/eng/docs/v1_rul (consulta em 2 de outubro de 2016).

50 Para mais informações sobre responsabilidade do comando, ver: Serviço de Assessoramento do CICV sobre Direito Internacional Humanitário, Command responsibility and failure to act, CICV, Genebra, abril de 2014, disponível em: https://www.icrc.org/eng/assets/files/2014/command-responsibility-icrc-eng.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

relativos aos deslocados internos. (Ver também a Recomendação 12 sobre a importância de fomentar

a apropriação por parte das autoridades, através de atividades de desenvolvimento de capacidades).

– Um maior conhecimento público da Convenção de Kampala pode ajudar a acelerar os processos de incorporação e operacionalização da Convenção.

– Atores locais da sociedade civil são normalmente parceiros com um bom custo-benefício e um sólido conhecimento sobre o contexto. Como tais, podem contribuir de forma positiva para a implementação das atividades de conscientização e desenvolvimento de capacidades.

– A CADHP e o seu Relator Especial para Refugiados, Requerentes de Asilo e Deslocados Internos são especificamente mencionados na Convenção de Kampala.51

– Para todos os atores envolvidos na conscientização pública e no desenvolvimento de capacidades entre as comunidades de deslocados internos, é de especial importância que haja um diálogo significativo e uma comunicação bidirecional com tais comunidades.

Recomendação 7: A CUA e os Estados Membros da UA devem garantir que a primeira Conferência dos Estados Partes seja realizada como previsto, em dezembro de 2016, adotando um plano abrangente de ação para a operacionalização da Convenção de Kampala.

– A Primeira Conferência dos Estados Partes será uma demonstração histórica da vontade política na África para enfrentar o problema do deslocamento interno de forma proativa e coletiva. Confirmará a forte liderança da UA nesse sentido.

– A Conferência terá inúmeros benefícios práticos. Oferecerá aos Estados Partes a oportunidade de trocar experiências de ratificação e implementação da Convenção de Kampala. Também permitirá que os Estados Partes e as organizações humanitárias e internacionais convidadas considerem, em conjunto, como abordar melhor os desafios da prevenção e resposta ao deslocamento interno na África.

– Além disso, a Conferência seria uma importante fonte de informações para os Estados que consideram ratificar a Convenção, em especial para aqueles que já a assinaram.

– A primeira Conferência dos Estados Partes poderia ajudar a estabelecer mecanismos compartilhados de comunicação e supervisão, como previsto no artigo 14. Poderia-se criar uma secretaria permanente da Convenção de Kampala para se encarregar dessas questões.

– A primeira Conferência poderia ser concluída com a adoção de um plano de ação52 para a plena implementação da Convenção de Kampala, com avaliações comparativas e prazos aproximados. Poderiam incluir, por exemplo, planos detalhados sobre os diversos grupos vulneráveis que necessitam proteção, assim como para a coleta e análise de dados por sexo, idade e outros fatores relevantes.

– O plano poderia então ser atualizado regularmente durante e entre as futuras Conferências dos Estados Membros.

– Os Estados Membros da UA devem garantir que o trabalho da Conferência dos Estados Partes e do plano de ação se enquadrem na Agenda Humanitária 2063 e na Posição Africana Comum sobre Eficiência Humanitária e seu Plano de Ação de Dez Anos. Tais iniciativas devem igualmente ter em conta os vários mecanismos africanos de direitos humanos e as funções que desempenham para garantir as condições necessárias à proteção dos deslocados internos e outros grupos vulneráveis.

51 Ver artigos 8(3)(e) e (f), respectivamente.

52 O Relator Especial propôs anteriormente um plano de ação para a operacionalização da Convenção. Poderia ser uma referência útil na elaboração de um planoa ser adotado pela primeira Conferência dos Estados Partes. Ver: Conselho de Direitos Humanos da ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced persons, Chaloka Beyani, A/HRC/26/33, ONU, Nova York, 2014, supra, nota 19.

2. Planejamento, gestão

e monitoramento das

atividades de proteção e

assistência

Resumo das principais obrigações (a) Designar uma autoridade ou órgão, quando necessário, responsável por coordenar as atividades destinadas a proteger e

assistir os deslocados internos e atribuir responsabilidades de proteção e assistência aos órgãos apropriados, além de cooperar com as agências ou organizações internacionais competentes e com organizações da sociedade civil, caso não exista tal autoridade ou órgão (art. 3.2 (b));

(b) Propiciar os fundos necessários para a prestação de assistência e proteção aos deslocados internos (art. 3.2 (d)); (c) Avaliar as necessidades dos deslocados internos, inclusive por meio de consultas com eles, facilitando a sua participação nas decisões relativas à sua assistência e proteção (art. 5,5; art. 9.2 (k)); (d) Monitorar e avaliar a eficácia da assistência humanitária prestada aos deslocados (art. 9.2 (m)).

Lições aprendidas É fundamental garantir que o órgão de coordenação designado tenha a autoridade e o mandato necessários para mobilizar todos os ministérios e órgãos envolvidos. Deve contar com os recursos adequados (humanos e financeiros) para funcionar de maneira eficaz.

As estruturas e os processos de coordenação implementados para enfrentar situações de deslocamento interno devem ser claramente definidos para assegurar processos efetivos de troca de informações e tomada de decisão em âmbito nacional entre os respectivos órgãos e ministérios. Devem igualmente levar em consideração as responsabilidades compartilhadas das diferentes esferas de governo, em especial entre o âmbito central/nacional e os níveis subnacionais/locais. A experiência mostra que as autoridades regionais e municipais estão com frequência na vanguarda das respostas de proteção e assistência em nome dos deslocados internos, mas podem não receber o apoio e os recursos adequados de maneira oportuna. Finalmente, as funções dos atores externos ao governo (sejam comunidades de deslocados internos ou organizações da sociedade civil) também devem ser reconhecidas e incorporadas nos processos de coordenação.

Ao mesmo tempo, sem marcos jurídicos e de políticas bem formulados e administrados e sem processos/órgãos nacionais de coordenação, os Estados que enfrentam situações de deslocamento interno podem ter dificuldades para manter o interesse e o apoio dos doadores aos programas. Dito de outro modo, os Estados que demonstram esforços para garantir a "boa governança" com relação à questão do deslocamento interno podem esperar um interesse maior por parte dos doadores.

Também é evidente que os atores internacionais (p.ex. agências da ONU, CICV, ONGs) podem desempenhar funções importantes no apoio à formulação de estratégias e políticas nacionais em resposta às situações de deslocamento interno. No entanto, se eles "liderarem" mais do que "acompanharem" as autoridades nacionais, corre-se o risco de que as autoridades não tenham a apropriação suficiente para conduzir as estratégias e políticas às etapas de implementação. Uma parceria genuína entre as autoridades nacionais e os atores internacionais, condizente com a responsabilidade primordial do Estado com relação aos deslocados internos sob a sua jurisdição, provavelmente terá resultados mais sustentáveis. De fato, os atores internacionais não podem substituir a vontade política e o compromisso das autoridades de prevenir e enfrentar o deslocamento interno.

Há fortes indícios de que as respostas são mais eficazes quando há informações confiáveis disponíveis sobre as necessidades, vulnerabilidades e capacidades dos deslocados internos, incluindo dados diferenciados por sexo, idade e outros fatores relevantes. Isso poderá constituir uma linha de base com a concordância de todas as partes.

Alguns exemplos de boas práticas

No Mali, a Estratégia Nacional para os Deslocados Internos trata especificamente das funções potenciais da comunidade internacional, incluindo os atores humanitários e os que lidam com as questões de desenvolvimento. O art. 5(6) da Estratégia enfatiza "o apelo do Secretário-Geral da ONU aos atores humanitários e de desenvolvimento para que apoiem o governo do Mali na aplicação e implementação da Convenção de Kampala".

Além disso, o ministro da Solidariedade do Mali, responsável pelas questões relativas aos deslocados internos, tem representantes não apenas na capital, mas também nos âmbitos regionais e locais. Isto ajuda a assegurar a boa coordenação e cooperação entre os níveis municipais e o nacional, refletindo as importantes funções de primeira linha das administrações locais com relação aos deslocados.

No Sudão do Sul, a nova legislação prevê o mandato da Comissão de Ajuda e Reabilitação.53 A Comissão tem como função coordenar as agências e o trabalho humanitário. Seu mandato abrange a coordenação da ajuda, reabilitação, reassentamento e reintegração dos deslocados e dos que retornam.54 As estruturas locais da Comissão foram criadas e posicionadas no país. No futuro, será útil considerar o desenvolvimento de políticas da Comissão para avaliar o impacto da sua tarefa de implementar os princípios no centro da proteção aos deslocados internos.

Na Somália, elaborou-se em 2014 um marco abrangente de políticas sobre o deslocamento, que inclui disposições relativas a sistemas de alerta, coleta de dados e designação de funções no âmbito das autoridades nacionais.

No Burundi, o Acordo de Paz e Reconciliação de Arusha (2000), de alcance abrangente, contém múltiplas disposições relativas à proteção e assistência dos deslocados internos. 55 Inclui disposições sobre as responsabilidades pela ajuda humanitária56 e sobre o acesso e segurança das equipes internacionais.57

Na Nigéria, o Fórum de Coordenação Humanitária e grupos de trabalho de setores específicos funcionam no âmbito federal e em muitos estados da região nordeste, incluindo os três mais afetados pelo deslocamento interno (Borno, Adamawa e Yobe). Os fóruns de coordenação ajudaram a melhorar a troca regular de informações entre todas as partes interessadas envolvidas na proteção e assistência aos deslocados internos. Todos os atores devem continuar fortalecendo esses fóruns e melhorar a coordenação.

Além disso, deslocados internos em muitos dos campos em Yola e Maiduguri participam de decisões sobre assistência e proteção por intermédio dos líderes, homens e mulheres, do campo. Essas estruturas foram criadas pelos deslocados internos nos respectivos campos, a fim de garantir que as visões e perspectivas tanto de homens como de mulheres sejam levadas em conta.

Na Nigéria, por outro lado, as partes interessadas têm realizado esforços consideráveis, com o apoio da OIM, para implementar a Data Tracking Matrix. Essa ferramenta forneceu uma linha de base de referência do número de deslocados internos na região nordeste do país, permitindo uma programação mais informada. Devem-se fazer mais esforços para garantir dados precisos em áreas que têm difícil acesso por motivos de segurança.

Em Zâmbia, as autoridades criaram a Unidade de Gestão e Mitigação de Desastres, que se reporta ao vice-presidente e recebe recursos orçamentários anuais de maneira regular.58

Em Burkina Faso, o órgão governamental responsável pela resposta a desastres (Le Comité national de secours d’urgence et réhabilitation – CONASUR) pôde responder a crises de maneira rápida e eficaz, em conjunto com doadores, no curto prazo. Ter uma estrutura em permanente operação sem dúvida melhora a capacidade do Estado de responder às emergências, permitindo o acúmulo de experiências e o desenvolvimento de procedimentos duradouros.

Quando atrasos na legislação ou de outra natureza impedem o estabelecimento de uma estrutura de coordenação adequada para os deslocados internos, outras estruturas podem, em alguns casos, ser adaptadas para oferecer respostas práticas às necessidades dessas pessoas. Isto pode ser útil, embora não diminua a importância das estruturas e órgãos de coordenação criados especificamente para lidar com o deslocamento interno. No Chade, portanto, a Commission Nationale d’accueil et de réinsertion des réfugiés et rapatriés (CNARR) tem, em certa medida, exercido uma função prática com relação aos deslocados internos no país. Na Libéria, a Comissão de Refugiados poderia ser mobilizada em caso de desafios com relação ao deslocamento interno.

Em alguns países, como Ruanda e Etiópia, as autoridades estatais têm acordos com as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para a avaliação inicial e a rápida resposta quando ocorre uma situação de deslocamento. Esse tipo de acordo pode ser muito valioso ao servir para colocar em prática, antecipadamente, planos e recursos em resposta a emergências.

53 Lei de Ajuda e Reabilitação (2016).

54 Ibid.

55 https://peaceaccords.nd.edu/accord/arusha-peace-and-reconciliation-agreement-burundi

56 Ibid, (Protocol III, art. 26)

57 Ibid, (Protocol III, art. 2)

58 http://www.dmmu-ovp.gov.zm/?page_id=18

Há experiências positivas em numerosos contextos com o uso de exercícios colaborativos de identificação de perfis (p.ex. aqueles liderados pelo Joint IDP Profiling Service (JIPS) no terreno).59

Principais desafios Diversos Estados elaboraram e inclusive aprovaram planos para órgãos e processos de coordenação, mas não os implementaram completamente. Entre os motivos do atraso, incluem-se a escassez de recursos orçamentários, demoras na designação das equipes e falta de acordo sobre as funções do órgão de coordenação ou dos departamentos e agências envolvidos, além de ausência de uma vontade política adequada.

Em variados contextos, os Estados criaram um órgão de coordenação para questões relativas aos deslocados internos, mas não o financiaram adequadamente, seja com recursos estatais (orçamento anual ou alocações ad hoc) ou com fundos de parceiros ou doadores.

Além disso, estabeleceram-se, em alguns contextos, órgãos de resposta aos refugiados ou de redução e resposta a riscos de desastre, mas sem um mandato explícito para lidar com as questões relativas aos deslocados. Durante crises de deslocamento interno, o órgão pode ser encarregado de responder de facto (ou porque nenhum outro organismo o fez). Isto pode ser de grande valor, mas existe o risco de que o órgão de coordenação não disponha de recursos nem autoridade para enfrentar as questões relativas ao deslocamento interno de forma eficaz.

Muitos Estados têm dificuldades para criar e manter o nível de diálogo necessário com as comunidades de deslocados. Isto pode ser o resultado de vários fatores, desde a falta de prioridade até políticas e estruturas inadequadas, preocupações com segurança e acesso, entre outros. Pode também solapar a capacidade das autoridades de implementar programas que respondam de maneira efetiva às necessidades dos deslocados internos no terreno, usando recursos disponíveis do modo mais eficiente.

Uma dificuldade relacionada surge quando as autoridades envolvidas em diálogos e consultas com as comunidades de deslocados descobrem que os representantes desses grupos (p.ex. comitês de deslocados internos ou líderes dos campos) não são totalmente representativos da comunidade inteira de deslocados. Na maioria das vezes, os subgrupos mais marginalizados ou vulneráveis com necessidades específicas (p.ex. mulheres, idosos e pessoas com deficiência) não são bem representados. Isto pode dificultar a avaliação precisa das autoridades sobre a gama de necessidades.

A experiência mostra também que os maiores conhecimentos e capacidades técnicas para efetuar avaliações de necessidades e planejar atividades de assistência tendem a se concentrar nas capitais e grandes cidades. Quando os deslocados internos permanecem fora dessas áreas, portanto, pode haver uma falta de conhecimento ou capacidade técnica para satisfazer as suas necessidades no âmbito local. Isto representa um desafio para garantir avaliações precisas e planejamento de programas de proteção e assistência bem direcionados e oportunos.

Outro desafio frequente enfrentado na implementação de respostas eficazes é a falta de dados sólidos e abrangentes sobre as necessidades, vulnerabilidades e capacidades dos deslocados em um determinado contexto. Incluem, por exemplo, dados diferenciados por sexo, idade e outros fatores relevantes que podem constituir uma linha de base com a concordância de todas as partes. Pode haver muitos obstáculos à identificação dos deslocados internos e à adequada coleta de dados. Com frequência, os deslocados ficam dispersos com as famílias e as comunidades que os acolhem. Pode ser também que as autoridades ou os atores humanitários não tenham acesso às comunidades de deslocados 60 ou que estes busquem anonimato por motivos de segurança. Quando se adota uma definição de deslocados internos excessivamente restritiva, os dados podem não refletir exatamente a dimensão do problema.

Recomendações Para os Estados

Recomendação 8: Os Estados devem tomar medidas para assegurar que a autoridade ou órgão de coordenação designados tenham o mandato e a legitimidade necessários para mobilizar os ministérios e agências correspondentes, recebendo os recursos adequados (humanos e financeiros) para funcionar de modo efetivo.

– É essencial que os marcos jurídicos e de políticas do Estado sobre os deslocados internos sejam acompanhados pela correta estrutura governamental para operacionalizá-los.

– Os procedimentos precisos variam conforme o Estado. Em todo caso, a autoridade designada deve ter o mandato e a legitimidade necessários em um determinado Estado para ser eficaz.

59 Site do Joint IDP Profiling Service: http://www.jips.org/en/about/about-jips

60 Para mais informações sobre avaliações das necessidades e o envolvimento com os deslocados internos e as comunidades que os acolhem, ver seção 3 das "Constatações".

– De especial importância são as medidas para cooperação e coordenação entre os ministérios e agências no âmbito nacional, assim como entre as esferas nacional e locais.

– Sem uma vontade política permanente, até mesmo o mais bem formulado órgão de coordenação de resposta ao deslocados internos dificilmente será – ou continuará – eficaz na assistência e proteção dessas pessoas.

– A autoridade designada deve contar com recursos humanos e financeiros adequados – ou ter acesso a eles em caso de crise – para poder implementar as leis e políticas.

Recomendação 9: As autoridades públicas devem desenvolver capacidades adequadas em todas as esferas para coletar e manter dados sólidos e atualizados sobre as necessidades, vulnerabilidades e capacidades dos deslocados internos, assim como soluções duradouras, incluindo dados diferenciados (por sexo, idade e outros fatores relevantes). (Ver também Recomendação 18 sobre a

importância, para as autoridades, de manter registros sobre deslocados internos.).

– É do interesse de todo Estado dispor das melhores informações disponíveis sobre as necessidades dos cidadãos, em particular os que se encontram vulneráveis devido ao deslocamento interno.

– Estados que realizam coleta e análise de dados em colaboração com atores internacionais fortalecerão a suas próprias capacidades nesse campo.

– Além disso, poderão ajudar a garantir que os dados sejam coletados, analisados e compreendidos com um conhecimento preciso do contexto e das comunidades afetadas pelo deslocamento.

– A disponibilidade de dados sólidos leva a respostas mais eficazes e direcionadas, levando a melhor assistência e proteção aos deslocados. Quando todos os atores envolvidos endossam a análise de dados, existe a possibilidade de uma poderosa linha de base comum para a programação coordenada.61

– Dados sobre soluções duradouras (p.ex. quais soluções preferenciais dos deslocados em um determinado contexto, número de pessoas que se integraram localmente, regressos realizados, etc) também são muito importantes. Isto pode não apenas ajudar a garantir uma melhor resposta em um dado contexto, mas também proporcionar percepções mais amplas, que podem ser úteis para aperfeiçoar as respostas em outros contextos.

Recomendação 10: As autoridades públicas devem garantir, de modo proativo, a consulta e o envolvimento ativo com os deslocados internos e as comunidades que os acolhem, para assegurar a sua participação no processo decisório em ações tomadas em seu nome. O envolvimento deve levar em consideração os diversos perfis das populações de deslocados (p.ex. sexo, idade e outros fatores). (Ver também Recomendação 22 sobre a importância da consulta e do envolvimento ativo dos deslocados

internos na tomada de decisões para soluções duradouras).

– Este é o elemento mais importante para assegurar que as necessidades dos deslocados internos sejam satisfeitas de maneira eficaz em cada etapa do deslocamento. Além disso, ajuda a garantir a prestação de contas para as pessoas em nome das quais as atividades são realizadas. A prestação de contas exige que as atividades respondam às verdadeiras necessidades das pessoas e às preocupações prioritárias, utilizando os recursos disponíveis da maneira mais eficaz.

– O envolvimento necessário começa com a avaliação das necessidades, continua durante toda a formulação e a implementação de respostas do programa e termina com o monitoramento e a análise das respostas.

– A consulta e o envolvimento com os deslocados internos são compatíveis com a plena consideração por sua dignidade e direitos humanos. Ambos fortalecem a ação e a autonomia dos próprios deslocados internos, individualmente ou em comunidades. Como resultado, os deslocados podem contribuir para a sua própria proteção e assistência.

– Deve-se dar especial atenção à garantia de que mulheres, idosos e pessoas com deficiência, assim como grupos minoritários, sejam ouvidos e possam participar do processo de tomada de decisões.

– As autoridades públicas devem assegurar um diálogo contínuo com as comunidades de deslocados, já que as suas necessidades provavelmente mudarão à medida que uma dada situação evoluir. A consideração sobre os desejos e preocupações dos deslocados internos é particularmente importante com relação ao seu acesso a soluções duradouras, que deveriam ser o resultado de uma escolha livre e informada.

61 Para mais informações sobre os benefícios de uma coleta e análise de dados colaborativa, ver http://www.jips.org/en/home

Recomendação 11: As autoridades públicas em todas as esferas com responsabilidade pela prestação de assistência devem estabelecer mecanismos para monitorar os resultados de curto e longo prazos. Devem incorporar elementos apropriados de prestação de contas aos deslocados.

– A principal vantagem de criar um mecanismo de monitoramento eficaz é uma melhor capacidade, por parte das autoridades, de garantir que a assistência chegue aos necessitados e que os recursos sejam utilizados da maneira mais eficiente.

– O monitoramento e a avaliação permitem que os programas sejam ajustados e adaptados, quando necessário, e que a assistência prestada responda melhor às necessidades dos deslocados internos.

– O monitoramento e a avaliação eficazes podem envolver um circuito de feedback bidirecional, permitindo que as comunidades de deslocados internos realizem contribuições contínuas para as respostas do programa direcionadas a eles.

– Quando cada uma das autoridades públicas possui mecanismos para monitorar de maneira eficaz o impacto da assistência e garantir a prestação de contas, isto pode ter um efeito positivo em todos os órgãos governamentais, fortalecendo as capacidades do Estado como um todo na realização dos programas e na prestação de contas.

– Um mecanismo de monitoramento eficaz aumentará a confiança dos doadores no impacto da assistência e proteção em prol dos deslocados internos.

– Mecanismos de monitoramento eficazes podem ser usados para incentivar outras partes interessadas a criar também os seus próprios mecanismos para supervisionar resultados de pequeno e longo prazos para a assistência.

Para outros atores Recomendação 12: Ao apoiar as autoridades públicas para formular leis e políticas, incluindo estratégias nacionais sobre deslocamento interno, outros atores devem favorecer enfoques que garantam a máxima apropriação por parte das autoridades. (Ver também Recomendação 6 sobre

desenvolvimento de capacidades).

– Os atores internacionais devem permitir que as autoridades nacionais nutram um sentimento de apropriação na formulação de leis e políticas, incluindo estratégias nacionais para enfrentar as situações relativas aos deslocados internos. Isto pode ajudar a garantir que as autoridades nacionais possam avançar com as estratégias e políticas rumo ao processo de implementação.

– Deverão buscar parcerias genuínas e incorporar o desenvolvimento de capacidades nos objetivos e calendários dos seus programas.

3. Prestação de

assistência humanitária

adequada aos

deslocados internos

Resumo das principais obrigações (a) Distribuir gêneros alimentícios e não alimentícios aos deslocados internos no prazo mais curto possível (art. 9.2 (b)); (b) Proporcionar abrigo adequado aos deslocados internos no prazo mais curto possível (art. 9.2 (b)); (c) Fornecer água e saneamento adequados no prazo mais curto possível (art. 9.2 (b)); (d) Prestar atendimento médico e outros serviços de saúde no prazo mais curto possível (art. 9.2 (b)); (e) Propiciar educação e quaisquer outros serviços sociais necessários (art. 9.2 (b)); (f) Apoiar iniciativas de autossuficiência e meios de vida sustentáveis, conforme o caso e na medida do possível (art. 3.1 (k)); (g) Prestar assistência às comunidades que os acolhem (art. 9.2 (b)); (h) Facilitar o acesso rápido e desimpedido das organizações humanitárias aos deslocados internos (art. 3.1 (j); art. 5.7).

Lições aprendidas Quando os Estados carecem dos recursos humanos e financeiros necessários para cumprir com a sua função e dever primordiais de responder ao deslocamento interno e assistir os deslocados, o acesso efetivo das organizações humanitárias às pessoas afetadas é um fator fundamental na satisfação das suas necessidades. Isto deve ser acompanhado por um compromisso, por parte das autoridades estatais e dos atores internacionais, de respeitar os princípios humanitários ao prestar assistência aos deslocados internos. É de suma importância manter esses princípios a fim de conservar ou expandir o acesso.

Em muitos contextos, os deslocados internos não são alojados em campos ou estabelecimentos oficiais, permanecendo com as famílias e as comunidades que os acolhem.62 Em tais situações, a experiência mostra que, ao avaliar as necessidades dos deslocados internos, é fundamental considerar as necessidades dessas comunidades. Isto leva em conta o possível impacto negativo do deslocamento sobre aqueles que recebem os deslocados, em particular como resultado do compartilhamento de recursos já limitados. Reconhecer as importantes contribuições que essas comunidades com frequência oferecem também ajuda a reduzir ou evitar possíveis tensões entre os deslocados e as comunidades que os acolhem.

Como ocorre com outros grupos-alvo, programas de ajuda financeira em nome dos deslocados internos devem ser priorizados pelos Estados e outros atores, desde que os mercados locais estejam funcionando. Programas de transferência de renda podem dar um sentido de apropriação e dignidade aos deslocados, permitindo que determinem as suas prioridades e decidam sobre como gastar os recursos. Além disso, a ajuda financeira permite um "ciclo virtuoso", uma vez que o dinheiro entregue aos beneficiários é reinjetado no mercado e fomenta a atividade dos comerciantes residentes. Como resultado, os deslocados internos podem ser percebidos como uma carga menos pesada para a comunidade que os acolhe.

Para as comunidades rurais que dependem sobretudo da agricultura, o deslocamento prolongado às áreas urbanas pode exigir a reorientação das suas estratégias de subsistência para terem acesso ao mercado de trabalho formal. Os Estados e outros atores devem criar oportunidades de formação profissional e empregabilidade aos deslocados internos, apoiando iniciativas microeconômicas registradas. Do mesmo modo, se o deslocamento prolongado ocorrer em uma zona rural, as autoridades locais devem facilitar a alocação oficial de terras aráveis para atividades agrícolas, a fim de evitar o risco de exploração dos trabalhadores temporários.

É importante considerar que as escolas e outras estruturas da comunidade podem oferecer uma solução de curto prazo para o alojamento dos deslocados. No entanto, a natureza comunitária desses estabelecimentos ad hoc e a falta de privacidade não permitirão, ao longo do tempo, uma coesão familiar normal. Além disso, no médio e no longo prazos, soluções desse

62 Deve-se reconhecer que, em muitos contextos, os deslocados internos podem não buscar abrigo entre tais comunidades, optando por se assentar em áreas remotas e de difícil acesso por motivos de segurança.

tipo terão um impacto negativo sobre o acesso à educação para as crianças que residem na área, já que a escola não estará totalmente disponível para as aulas. Podem também ser uma outra fonte de tensão entre os residentes e os deslocados internos.

Alguns exemplos de boas práticas Em Burkina Faso, o órgão governamental responsável pela resposta a desastres (Le Comité national de secours d’urgence et réhabilitation – CONASUR) pôde responder a crises de maneira rápida e eficaz, em conjunto com doadores, no curto prazo.

Em inúmeros contextos, as autoridades estatais em geral permitem que as organizações humanitárias tenham um acesso rápido e desimpedido aos deslocados internos.

Em Ruanda, por exemplo, as autoridades estatais participam com os atores humanitários da Plataforma Nacional de Redução de Risco de Desastres, que se reúne regularmente. Essa cooperação contínua pode ajudar a melhorar a coordenação em tempos de emergência, melhorando, portanto, o acesso à prestação de ajuda humanitária às comunidades de residentes e deslocados mais necessitadas.

As autoridades estatais de Ruanda também criaram, no âmbito do governo, uma estrutura que centraliza a tomada de decisões sobre possíveis pedidos de assistência internacional. O Comitê Executivo Nacional de Gestão de Desastres, formado por representantes de ministérios e agências encarregados de responder a desastres naturais, assessora o governo ruandês em situações em que as capacidades nacionais possam não ser suficientes e recomenda, quando necessário, que o governo busque ajuda internacional. 63 Mecanismos similares podem ajudar a garantir velocidade na prestação de assistência, conforme necessário.

Na Etiópia, no contexto da implementação da Política e Estratégia Nacional sobre Gestão de Risco de Desastres, o governo criou Comitês de Gestão de Desastres e de Segurança Alimentar não apenas na capital, mas também em âmbito local. Essas comissões participam diretamente da contagem de deslocados internos, da compilação de números com o apoio a OIM e da prestação de assistência por meio do governo, da Cruz Vermelha da Etiópia, de ONGs internacionais e de atores humanitários como o CICV.

Identificaram-se alguns exemplos interessantes sobre a importante questão do acesso das crianças deslocadas à educação. No Mali, as autoridades nacionais organizaram escolas itinerantes (écoles itinérantes) e sessões especiais de exames escolares para permitir que crianças e jovens deslocados prossigam com a sua formação. As autoridades do país africano também facilitaram a emissão de certidões de nascimento para crianças deslocadas, permitindo a sua matrícula nas escolas. Essa medida beneficiou tanto as crianças que precisavam iniciar o ensino básico como as que já frequentavam a escola em seu lugar de origem mas necessitavam ter acesso ao colégio na região do deslocamento. Na Etiópia, as autoridades escolares locais permitiram que as crianças deslocadas sem documentos de identificação pessoal de residentes assistissem às aulas, evitando ou reduzindo assim as interrupções na aprendizagem.64 De modo similar, as autoridades do Sudão do Sul às vezes fazem acordos para facilitar o acesso de crianças deslocadas à escola, tais como a aprovação do conteúdo programático para escolas das áreas de proteção de civis da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) e a isenção do pagamento de taxas escolares.

Principais desafios Em inúmeros contextos, conflitos armados recentes ou atuais significam que as estruturas do Estado não funcionam plenamente. Em alguns casos, existe um governo central que está no início do mandato e, portanto, ainda se encontra em processo inicial de estabelecer prioridades e controle efetivo sobre os departamentos e agências, assim como de uma coordenação eficaz. Isto pode ter um impacto negativo sobre a prestação eficiente de assistência humanitária aos deslocados internos.

Do mesmo modo, conflitos armados em curso podem impedir que as autoridades assegurem um acesso seguro dos próprios funcionários e agências e/ou de atores humanitários aos deslocados internos. Nesses casos, existe também o risco de que preocupações militares urgentes levem a restrições excessivamente amplas ao acesso humanitário, incompatíveis com as normas fundamentais do DIH.

Um desafio é vinculado ao fato de que os Estados podem não dispor dos recursos financeiros adequados ou de um conjunto suficiente de recursos humanos qualificados para responder às necessidades da população, mesmo nas circunstâncias mais favoráveis. Em tais situações, o Estado provavelmente não terá capacidade de responder de maneira apropriada às necessidades de assistência dos deslocados internos em tempos de crise.

63 As funções do Comitê são definidas na seção II.3.1 da política atualizada de 2012. Incluem "adotar as medidas apropriadas quando o impacto do desastre superar a capacidade nacional de lidar com a situação" e "assessorar Sua Excelência o Presidente sobre se é o caso de declarar calamidade e, posteriormente, solicitar assistência internacional com base nas informações e análises fornecidas pelo Comitê". http://www.parliament.gov.rw/uploads/tx_publications/Draft_Law_on_Disaster_Management.pdf

64 No entanto, essas medidas ad hoc enfatizam a importância de que as autoridades desenvolvam programas eficazes para garantir que os deslocados internos, incluindo as crianças, recebam as cédulas de identidade e outros documentos necessários para que possam receber educação e outros serviços: ver abaixo o item g) das principais obrigações, na seção Proteção dos Deslocados Internos.

Outro ponto a considerar é que, embora as autoridades estatais possam cooperar de maneira eficaz com os doadores para ações no curto prazo, a falta de programas e políticas para a etapa pós-emergência leva, em alguns contextos, a uma resposta aquém do esperado por parte do Estado e dos doadores.

Além disso, em numerosos contextos, não são sistemáticas as iniciativas para avaliar ou facilitar a avaliação das necessidades, vulnerabilidades e capacidades dos deslocados, em cooperação com organizações internacionais.

Em alguns contextos, os Estados podem, por várias razões, subestimar a escala ou a duração de uma crise de deslocados. Isto gera o risco de que as necessidades urgentes de assistência e proteção dos deslocados não sejam atendidas. Pode também levar a uma atenção inadequada por parte das autoridades nacionais e outros atores com relação às soluções duradouras para os deslocados em tais contextos. As CERs e MRs podem não estar plenamente conscientes do seu potencial para incentivar os Estados a abordar de forma adequada a escala e a duração de uma determinada situação de deslocamento interno.

A experiência indica também que, quando os programas para promover a autossuficiência e os meios de subsistência sustentáveis estão ausentes ou não são desenvolvidos o suficiente, os deslocados muitas vezes não têm condições de buscar quaisquer oportunidades econômicas independentes possíveis. Isto, por sua vez, agrava a dependência deles com relação à ajuda humanitária, o que pode prolongar ou aumentar a carga sobre as autoridades nesse aspecto. Além disso, em muitos desses casos os deslocados acabam participando da economia informal. Isto pode incluir atividades que, embora propiciem uma renda necessária a famílias de deslocados, podem também ter consequências sociais e ambientais negativas. Pode também abranger alguns mecanismos de adaptação prejudiciais, como o trabalho infantil e a prostituição.

Há ainda desafios específicos na promoção da autossuficiência para os deslocados nos campos. Um importante conjunto de restrições pode estar relacionado com temas de segurança, o que poderia levar as autoridades a limitar a liberdade de movimento dos deslocados internos e o fluxo de produtos e serviços para dentro e fora dos campos. Como resultado, a capacidade dos deslocados de ter acesso aos meios de subsistência e recuperar a autossuficiência pode ficar prejudicada.

Outros exemplos de desafios podem ser observados em contextos em que a longa presença de deslocados internos leva a uma competição com as comunidades que os acolhem por recursos escassos, tanto os naturais como os bens e serviços públicos, incluindo assistência à saúde, água e educação. Isto pode criar ou exacerbar as tensões, em alguns casos agravando diferenças e conflitos étnicos ou culturais preexistentes.

Finalmente, em alguns contextos, a falta de respeito pelas normas fundamentais do DIH durante conflitos armados significa que os estabelecimentos de assistência à saúde, tais como hospitais e clínicas, não recebem a devida proteção, sendo inclusive deliberadamente atacados algumas vezes.65 Isto torna ainda mais difícil o acesso à assistência à saúde para os deslocados internos (assim como para a população civil em geral).

Recomendações. Para os Estados

Recomendação 13: As avaliações devem analisar as necessidades e capacidades dos deslocados internos, assim como das comunidades que os acolhem, para informar de modo contínuo os que elaboram os programas de respostas.

– Como as comunidades que acolhem os deslocados são com frequência uma parte fundamental da resposta a situações de deslocamento, as suas próprias necessidades devem também ser atendidas para que possam continuar se mantendo e apoiando os que chegam.

– Não dar atenção às necessidades das comunidades pode agravar as tensões e a competição entre estas e os deslocados que acolhem. Isto pode aumentar a vulnerabilidade dos deslocados e reduzir as opções de soluções duradouras.

– A avaliação e o monitoramento por parte das autoridades e dos serviços locais podem permitir uma programação que os fortaleça, em vez de tentar criar serviços paralelos que poderiam duplicar o trabalho e ser mais onerosos.

Recomendação 14: Os Estados devem desenvolver capacidade para prever, avaliar e responder de maneira efetiva às necessidades dos deslocados.

– Os Estados têm a responsabilidade primordial de responder ao deslocamento interno de maneira eficaz. Isto inclui a avaliação das necessidades dos deslocados internos sob a sua jurisdição e lhes prestar assistência, incluindo alimentos, água, abrigo, assistência à saúde, educação e acesso aos meios de subsistência.

– Os Estados devem buscar apoio internacional quando não possuírem os recursos adequados para satisfazer as necessidades dos deslocados internos. As organizações internacionais podem complementar e apoiar os esforços das autoridades, em particular no caso de um deslocamento repentino e/ou em massa. No entanto, não podem substituí-las.

65 Assistência à Saúde em Perigo, It’s a Matter of Life and Death Project: informações disponíveis em: http://healthcareindanger.org/hcid-project/ (última consulta em 29 de setembro de 2016).

A participação ou apoio das organizações internacionais tampouco pode diminuir as responsabilidades de um Estado com relação à sua população.

– Os Estados devem buscar oportunidades para desenvolver capacidades nacionais de avaliação das necessidades, seja no âmbito do governo ou de parceiros locais confiáveis, tais como as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Recomendação 15: Os Estados devem garantir que todas as autoridades públicas relevantes – incluindo as forças armadas e de segurança – tenham todas as informações relativas às suas obrigações e sejam instruídas para facilitar o acesso rápido e desimpedido das organizações humanitárias aos deslocados internos. Devem garantir também que os deslocados tenham as suas necessidades básicas atendidas (como água, comida, abrigo) e que tenham acesso aos serviços básicos (como assistência à saúde, educação, etc.).

– Cumprir com a obrigação de assistir os deslocados internos, seja de forma independente ou com o apoio de atores internacionais, é um exercício de soberania do Estado.

– Em muitos casos, Estados com recursos limitados só podem atender às necessidades dos deslocados internos em seu território com apoio internacional, em particular quando há uma crise repentina. Nos casos em que o acesso das organizações internacionais às comunidades de deslocados (e vice-versa) é dificultado, os riscos de danos graves aos deslocados necessitados tornam-se muito maiores.

– Além das consequências humanitárias inaceitáveis, a ingerência no acesso pode aumentar as tensões entre os deslocados e as comunidades que os acolhem, além de exacerbar os possíveis ressentimentos e desconfianças em relação ao Estado por parte das comunidades de deslocados.

– Não garantir o um acesso humanitário rápido e desimpedido pode, em determinadas circunstâncias, configurar uma grave violação do DIH (isto é, um crime de guerra).

– As autoridades públicas – incluindo as forças armadas – devem entender e respeitar as modalidades de trabalho dos atores humanitários, incluindo o fato de que algumas organizações podem não aceitar seguranças armados para facilitar o acesso a áreas menos seguras.

Para outros atores Recomendação 16: Outros atores devem garantir que os pedidos das organizações humanitárias para um acesso rápido e desimpedido aos deslocados, assim como as atividades desenvolvidas em decorrência deste acesso, estejam em conformidade com os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência dos atores humanitários.

– O respeito pelos princípios humanitários garantirá melhor o acesso eficaz e reiterado por parte das organizações humanitárias, sendo portanto de grande benefício para os deslocados internos necessitados.

– Por vezes, os Estados podem ser cautelosos quando à presença e às atividades de organizações internacionais em seu território. O respeito constante dos atores humanitários pelos princípios humanitários pode ajudar a mitigar essa desconfiança.

4. Proteção dos

deslocados internos

Mulheres deslocadas no campo de Maiduguri, na Nigéria (2015). Mulheres deslocadas têm com frequência necessidades de proteção específicas em virtude da sua situação. O CICV tenta incorporar as necessidades e as capacidades específicas aos seus programas.

Resumo das principais obrigações (a) Respeitar e assegurar o direito dos deslocados internos de buscar segurança (art. 9.2 (e)) e de serem recebidos sem

discriminação (art. 9.2 (a)); (b) Garantir que os deslocados internos vivam em condições satisfatórias de segurança, dignidade e proteção (art. 9.2 (a)); (c) Respeitar a natureza humanitária dos lugares onde se encontram os deslocados internos (art. 9.2. (g)) (d) Assegurar a liberdade de movimento e a escolha de residência dos deslocados internos (art. 9.2 (f)); (e) Adotar as medidas necessárias para a busca e reunificação das famílias separadas pelo deslocamento (art. 9.2 (h)); (f) Criar e manter um registro atualizado de todos os deslocados internos (art. 13.1); (g) Garantir que os deslocados recebam os documentos de identificação pessoal necessários (art. 13.2).

Lições aprendidas A experiência em toda a África mostra que, quando os deslocados têm acesso aos serviços básicos de comunicação, podem se reconectar com os entes queridos e se assistir mutuamente. Apenas um número limitado deles precisará depender dos mecanismos estabelecidos de busca e reunificação de famílias separadas.

É fundamental observar que o apoio aos esforços dos deslocados internos em restabelecer contato com os familiares, o mais breve possível, pode ter diversas vantagens. Em primeiro lugar, previne o desaparecimento, reduz o número de pessoas dadas como desaparecidas e alivia o sofrimento dos deslocados de não saber a sorte e o paradeiro dos seres queridos. Em segundo lugar, reduz a carga para as autoridades estatais e os atores humanitários (p.ex. os custos de manter menores desacompanhados por longos períodos de tempo). Finalmente, pode também ajudar a facilitar soluções duradouras (p.ex. famílias podem não estar dispostas a mudar do lugar onde vivem até que os entes queridos sejam encontrados ou, inversamente, podem estar em melhor posição para mudar caso os laços familiares na área de realocação sejam restabelecidos).

Nesse sentido, as medidas ad hoc sobre restabelecimento de laços familiares66 são importantes (p.ex. através da ligação com o CICV e/ou a Sociedade Nacional da Cruz Vermelha/Crescente Vermelho), inclusive na ausência de um mecanismo adequadamente estruturado. Ao mesmo tempo, todo caso resolvido reduz vulnerabilidades e pode empoderar os deslocados internos envolvidos, de modo que uma estratégia estruturada é justificada.

Outra importante lição aprendida é que estratégias eficientes para fornecer ou substituir os documentos pessoais de identidade e outros documentos oficiais dão bons resultados na hora de responder às necessidades humanitárias urgentes. Isto também facilita os esforços de médio e longo prazos para permitir que os deslocados se movimentem livremente e busquem soluções duradouras por si próprios, o que, por sua vez, facilita a reunificação familiar.

Como observação final, o investimento para garantir que o lugar onde os deslocados se encontram mantenha seu caráter civil e humanitário pode dar resultados importantes na mitigação dos riscos de vulnerabilidade e segurança. As comunidades de deslocados em questão gozarão de melhor proteção, o que muitas vezes beneficiará comunidades próximas e reduzirá os esforços de "autodefesa" nos campos e entre as populações vizinhas.

Alguns exemplos de boas práticas Muitas disposições importantes para a proteção dos deslocados internos foram incluídas no acordo de paz abrangente negociado em 2015 entre o governo do Sudão do Sul e a oposição. Por exemplo, o mandato do Governo de Transição de Unidade Nacional inclui acelerar "a ajuda, proteção, repatriação voluntária e digna, reabilitação e reassentamento dos

66 CICV, atividades de Restabelecimento de Laços Familiares, informações disponíveis em: https://familylinks.icrc.org

deslocados internos". Embora esses compromissos ainda não tenham sido implementados, são importantes tarefas sobre os deslocados, assumidas pelo governo e a oposição, que podem se concretizar no futuro.

De modo similar, disposições sobre a proteção dos deslocados internos também foram incluídas no abrangente acordo de paz do Burundi (Acordo de Paz e Reconciliação de Arusha, 2000),67 que continua relevante no país.68

Cabe observar que, no Níger, as autoridades algumas vezes têm adotado medidas para transferência/evacuação de pessoas deficientes ou idosas para lugares mais seguros. Ao fazê-lo, cumpriram com as suas obrigações de proteger os deslocados internos, levando em conta as necessidades de alguns dos membros mais vulneráveis das comunidades de deslocados.

Em Uganda, a Estratégia Nacional para os Deslocados Internos autoriza expressamente as autoridades nacionais a emitir os documentos necessários aos deslocados.69 A medida inclui a substituição dos documentos perdidos em decorrência do deslocamento. A Estratégia impede especificamente a imposição de multas ou encargos adicionais para a substituição de documentos ou de outras "condições injustificadas". Cabe notar que a Estratégia especifica que mulheres e homens terão os mesmos direitos para a obtenção dos documentos de identificação, e que as mulheres têm direito a que tais documentos sejam emitidos em seu nome.

Além dos Estados, outras partes interessadas podem ser tanto atores como catalisadores no desenvolvimento de boas práticas. Desse modo, na República Centro-Africana, a Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA) adotou uma diretriz relativa ao caráter civil dos campos de deslocados internos. A diretriz, que se seguiu a uma consideração conjunta por parte da MINUSCA, das autoridades locais em Bambari e Kagabandoro e de organizações internacionais, especificou a função e as responsabilidades das autoridades e da força da ONU em garantir que as armas e elementos armados não chegassem aos campos de deslocados internos. Neste caso, vemos uma ação multilateral que aproveitou a vontade política de um Estado.

Na Nigéria, tem sido aplicado um procedimento de triagem respeitoso e profissional para garantir a dignidade e a integridade dos deslocados internos, assim como a segurança em geral da população de deslocados. Na maioria dos campos de deslocados internos situados em Yola e Maiduguri, a triagem das mulheres deslocadas foi realizada por integrantes do sexo feminino, tanto da Polícia e como da Força-Tarefa Civil Conjunta, para garantir o respeito à dignidade e à integridade das deslocadas.

Na Nigéria, a criação de Unidades Policiais responsáveis por atividades de aplicação da lei dentro dos campos de deslocados em Yola e Maiduguri (incluindo a resolução de disputas que possam surgir entre eles, como roubo e questões relacionadas ao casamento) mostrou ser um bom exemplo de iniciativa comunitária. Essas Unidades Policiais contam com soldados da Polícia que são, eles próprios, deslocados. Reproduzem a estrutura previamente implantada nas suas Áreas de Governo Locais.

Principais desafios Podem surgir desafios complexos, em especial durante conflitos armados ou outras situações de violência, para encontrar o equilíbrio correto entre as considerações humanitárias e de segurança ao regular o movimento dos deslocados. Esses desafios surgem em função dos movimentos dos deslocados internos tanto a caminho do lugar onde os outros deslocados se encontram como no próprio lugar (em particular, movimentos para dentro e fora dos campos), assim como na triagem dessas pessoas. Os direitos dos deslocados internos nem sempre são plenamente compreendidos ou respeitados na prática. Como resultado, a consideração por esses direitos, quando confrontada com preocupações de segurança, pode ser menos rigorosa do que o exigido.

Um desafio muito real e prático durante conflitos armados é o de manter o caráter estritamente civil e humanitário dos campos e outros lugares onde os deslocados se encontram. 70 Por exemplo, a presença constante das forças armadas nacionais dentro de um campo, às vezes decidida por motivos de segurança, poderia aumentar o risco de ataques contra o campo.

Forças armadas nacionais que participam de um conflito armado podem ter motivos legítimos, de acordo com o DIH, para considerar a evacuação de civis, nomeadamente quando imperiosas razões militares ou de segurança dos civis envolvidos o

67 O texto completo do Acordo de Paz e Reconciliação de Arusha, 2000, está disponível em: https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2016/07/Burundi_Arusha-Peace-and-Reconciliation-Agreement-for-Burundi.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

68 Sobre a contínua relevância do Acordo de Paz e Reconciliação de Arusha, 2000, para o Burundi, ver: P. Nantulya, Burundi: Why the Arusha Accords are Essential, Africa Center for Strategic Studies, 5 de agosto de 2015, disponível em: http://africacenter.org/spotlight/burundi-why-the-arusha-accords-are-central (consulta em 29 de setembro de 2016).

69 República de Uganda, Escritório do Primeiro Ministro, Departamento de Preparação para Desastres e Refugiados, The National Policy for Internally Displaced Persons, Uganda, agosto de 2004, disponível em: https://www.brookings.edu/wpcontent/uploads/2016/07/Uganda_IDPpolicy_2004.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

70 Acnur, Operational Guidelines on Maintaining the Civilian and Humanitarian Character of Asylum, ACNUR, setembro de 2006, disponível em: http://www.refworld.org/pdfid/452b9bca2.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

exigirem.71 Na prática, contudo, a tomada de decisões por parte delas nem sempre leva em conta a legislação nacional e as obrigações internacionais relativas aos civis, em especial com respeito às condições de deslocamento (p.ex. acesso adequado a comida, abrigo e água, além de respeito pela unidade familiar) e ao fato de que uma evacuação só pode durar enquanto persistirem as condições que a justifiquem. Posteriormente, deve-se respeitar o direito ao regresso voluntário, embora isto com frequência não aconteça na prática.

Podem-se encontrar outros desafios em alguns contextos nos quais as autoridades não estabelecem um enfoque sistemático para a reunificação familiar. Em tais circunstâncias, os funcionários – em particular, no âmbito local – às vezes encaminham os casos às organizações humanitárias. No entanto, isto continua sendo ad hoc e fica aquém das obrigações do Estado com relação aos cidadãos.

É fundamental destacar que o deslocamento interno agrava a vulnerabilidade das pessoas a certos tipos de abusos em situações de conflitos armados, o que revela a importância de respeitar as normas do DIH. Em especial, aumenta o risco de violência sexual, dentro ou fora dos campos de deslocados internos.

A experiência mostra que, em diversos contextos, os deslocados enfrentam dificuldades na obtenção de documentos oficiais – seja o documento de identificação pessoal ou documentos de residência ou de caráter especial que reconheçam o status dos deslocados e facilitem o acesso adequado aos serviços. As causas desses obstáculos podem variar. Vão desde a falta de pessoal nas repartições públicas de regiões com muitos deslocados até uma observância excessivamente rigorosa das normas relativas à emissão de documentos (p.ex., que só devem ser emitidos no lugar de residência habitual do deslocado, entre outros). Sejam quais forem as causas, a falta de documentos oficiais pode limitar a liberdade de movimento e as opções de subsistência de um deslocado. Além disso, a falta de documentos pode restringir o acesso à educação para as crianças e os jovens deslocados, podendo também, como já foi mencionado, impedir a reunificação familiar.

Recomendações Para os Estados

Recomendação 17: Os Estados devem garantir que todas as autoridades públicas relevantes – incluindo as forças armadas e de segurança – tenham todas as informações relativas às suas obrigações e sejam instruídas para facilitar a liberdade de movimento e de residência dos deslocados internos.

– Uma maior liberdade de movimento aumenta a capacidade dos deslocados de se movimentarem de acordo com as suas próprias prioridades e se tornarem autossuficientes. 72 Isto reduz potencialmente a carga das comunidades que os acolhem, dos estabelecimentos dos campos e, em última instância, das autoridades.

– A liberdade de movimento envolve a capacidade de chegar a um local seguro e, uma vez lá, a capacidade de se movimentar livremente para dentro e fora do lugar onde os deslocados se encontram, a fim de ter acesso aos serviços básicos, produtos e emprego, além de manter ou restabelecer laços familiares.

– Há uma necessidade reconhecida de buscar um equilíbrio entre as considerações humanitárias e as preocupações de segurança. No entanto, o direito à liberdade de movimento deve ser considerado fundamental para os deslocados internos do mesmo jeito que seria para outros cidadãos e residentes de qualquer Estado.

– Restrições indevidas à liberdade de movimento dos deslocados podem aumentar as necessidades humanitárias tanto deles e como das comunidades que os acolhem.

Recomendação 18: As autoridades públicas devem desenvolver capacidades adequadas nos âmbitos central e local para criar e manter um registro atualizado dos deslocados. Isto pode constituir uma linha de base com a concordância de todos os atores envolvidos (ver também a Recomendação 19

sobre a importância da coleta de dados).

–Para fins de proteção, é vital contar com dados confiáveis sobre indivíduos73 e famílias vulneráveis na forma de um registro.

– Informações pessoais coletadas em relação ao registro devem ser compiladas e geridas em conformidade com todas as leis e padrões relevantes de proteção dos dados pessoais, com a devida consideração pela segurança e a dignidade dos deslocados internos e, se for o caso, daqueles que os acolhem.

71 CICV, Customary International Humanitarian Law, CICV, Genebra, 2005, Customary Law Study, Norma 129.

72 CMDI, Protracted displacement: uncertain paths to self-reliance in exile, CMDI, Genebra, setembro de 2015, disponível em: http://www.internal displacement.org/publications/2015/protracted-displacement-uncertain-paths-to-self-reliance-in-exile (last consulted 29 September 2016).

73 CMDI, Getting on the list: the registration of children born to IDPs, CMDI, Genebra, maio de 2015, disponível em http://www.internal-displacement.org/publications/2015/getting-on-the-list-the-registration-of-children-born-to-idps

Recomendação 19: As autoridades públicas devem se empenhar em alocar recursos adequados para garantir que os deslocados possam obter documentos de identidade e outros documentos oficiais em um tempo razoável.

– Isto pode ajudar a reforçar a ação e a autossuficiência dos deslocados. Pode permitir que se movimentem de maneira mais livre (p.ex. para buscar assistência, emprego) e também que tenham possibilidade de se beneficiar de programas de assistência e proteção.

– Também ajuda o Estado a cumprir com as suas obrigações de manter um registro e facilitar a reunificação familiar. Além disso, contribui para a coleta precisa de dados, permitindo que um Estado tenha e analise as informações sobre a dimensão de uma crise de deslocados. Isto, como foi dito, ajuda o Estado a garantir atividades de assistência e proteção mais direcionadas.

Recomendação 20: As autoridades públicas devem fortalecer as suas leis, políticas e medidas concretas para garantir que seja mantida a natureza civil e humanitária dos lugares em que se encontram os deslocados.

– Esta é uma medida essencial para ajudar a garantir a proteção das pessoas altamente vulneráveis dentro dos campos e em outros lugares onde os deslocados se encontram.

– Os atores internacionais e humanitários podem auxiliar os Estados nesse sentido. Por exemplo, as responsabilidades podem ser divididas entre as forças armadas nacionais e as forças da ONU em operação no contexto.

Para outros atores Recomendação 21: Os atores internacionais e humanitários devem prestar um apoio coordenado às autoridades estatais para garantir um sistema prático e eficaz para lidar com as necessidades de busca de familiares e reunificação.

– O deslocamento com frequência causa separação entre os familiares.

– Muitos Estados reconhecem a importância das atividades de busca e reunificação das famílias, mas vários deles carecem de estruturas ou mecanismos específicos para realizá-las.

– Muitos Estados estão dispostos a receber apoio e assessoramento de atores internacionais e humanitários para assegurar o restabelecimento do contato entre os familiares separados em decorrência do conflito.

– As Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho geralmente estão em condições de assistir nessa questão, muitas vezes em colaboração com o CICV. Seu envolvimento ajuda a construir um sistema para garantir que as pessoas separadas das famílias recebam a atenção adequada.

– De acordo com o Direito Internacional Humanitário, toda pessoa tem o direito de saber o que aconteceu com um familiar desaparecido e de se comunicar com os membros da família que foram separados.

– Cabe aos Estados a principal responsabilidade por garantir o respeito pelos direitos das famílias que foram separadas.

– Determinados grupos de pessoas são especialmente vulneráveis e têm necessidades específicas a serem atendidas. É o caso de crianças separadas dos familiares, assim como dos idosos ou pessoas com deficiência que podem não ser capazes de se manter por si sós.

5. Soluções duradouras

para os deslocados

internos

Habitantes do vilarejo de Apyeta, em Uganda, voltam às suas casas após terem sido deslocados internamente. O CICV os ajuda a começar uma vida nova através de um programa agrícola de remuneração por trabalho.

Resumo das principais obrigações Permitir que os deslocados internos façam uma escolha informada sobre as soluções duradouras, inclusive consultando-os sobre

as soluções disponíveis (art. 11.2); Promover e criar condições satisfatórias para um regresso, integração e transferência voluntários, dignos e seguros (art. 11.1); Proteger os deslocados internos contra o regresso ou reassentamento forçados (art. 9.2 (e)).

Lições aprendidas Um requisito comum para soluções duradouras é uma resposta adequada e oportuna durante as etapas de crise e de recuperação inicial. Uma resposta inadequada pode significar que a segurança e a proteção dos deslocados não estejam asseguradas de maneira eficaz, o que pode ocasionar mais deslocamentos. Pode significar também que os deslocados não recebam apoio suficiente no seu esforço de restabelecer a autossuficiência, prolongando a dependência da assistência humanitária. Uma resposta inadequada à crise pode criar e ampliar as tensões entre os deslocados e as comunidades que os acolhem. Isto pode levar a problemas econômicos e de segurança, que, por sua vez, limitariam as opções para soluções duradouras (p.ex. dificultando a integração local). Em alguns casos, respostas inadequadas podem ser sintomáticas da interface ineficaz entre os atores humanitários e os de recuperação/desenvolvimento.74

É valioso para um Estado antecipar e integrar considerações sobre soluções duradouras desde o início ao responder a uma situação de deslocamento interno. Algumas decisões tomadas nas fases iniciais de uma crise de deslocamento (por exemplo, relativas a onde e como acomodar os deslocados) podem ter um impacto, em um estágio posterior, nos esforços para alcançar este tipo de solução. Nesse sentido, a adoção de uma lei/ política abrangente que aborde conjuntamente a assistência, a proteção e as soluções duradouras para os deslocados internos pode ser um passo muito útil na garantia de uma visão holística. Do mesmo modo, em alguns casos essas soluções podem ser abordadas de maneira mais eficaz como parte de uma estratégia nacional de desenvolvimento mais ampla.

Alguns Estados investem na promoção e criação de condições satisfatórias para que o regresso, a integração e a transferência sejam voluntários, dignos e seguros. Em general, tais Estados alcançam resultados mais bem-sucedidos e duradouros. Com frequência, isto é realizado por meio de estratégias coordenadas ao longo de todas as instituições estatais – incluindo as forças armadas e de segurança. É importante destacar ainda que os resultados duradouros são mais frequentemente alcançados através de cronogramas realistas e consultas com parceiros internacionais, regionais e nacionais.

A experiência também mostra que a consulta e o diálogo adequados e genuínos com as comunidades de deslocados internos são requisitos essenciais para soluções duradouras. Sem isso, iniciativas como o simples fechamento de campos são muitas vezes recursos artificiais e não levam a soluções realmente duradouras, conduzindo, em vez disso, a um novo e prolongado deslocamento. Exemplos de assistência devidamente planejada para ajudar os deslocados que regressam ou são transferidos a satisfazerem as suas necessidades básicas e para promover a recuperação inicial de sua subsistência mostraram-se mais eficazes.

Para serem efetivos, a consulta e o diálogo sobre soluções duradouras devem se basear em informações suficientes e confiáveis quanto às perspectivas e condições de cada solução duradoura. Nessa perspectiva, é fundamental que os deslocados internos tenham acesso às informações sobre as condições em seu lugar de residência habitual, a fim de poderem avaliar, de maneira realista, a viabilidade do regresso. As visitas de reconhecimento, quando possíveis, podem ser

1. 74 Para mais informações, ver IASC Framework on Durable Solutions for Internally Displaced Persons, The Brookings Institution – University of Bern Project

on Internal Displacement & IASC, abril de 2010, disponível em: http://www.unhcr.org/50f94cd49.pdf (consulta em 2 de outubro de 2016).

úteis nesse sentido. Ameaças à segurança no lugar habitual de regresso (p.ex. minas terrestres e resíduos explosivos) devem ser explicadas aos deslocados e abordadas pelas autoridades antes de incentivá-los a considerar o retorno.

A inclusão, em um acordo de paz, de disposições fundamentais prevendo a proteção dos deslocados e relativas a soluções duradouras pode ajudar a melhorar as possibilidades de tais soluções uma vez que as questões tenham sido abordadas.

A importância dos documentos oficiais aparece de novo nos esforços para identificar e aplicar soluções duradouras. Nessa etapa, os documentos de maior preocupação são os relativos a Moradia, Terra e Propriedade. Nesse campo, novamente, as autoridades precisam antecipar e responder às necessidades das populações de deslocados.75

Alguns exemplos de boas práticas Proteções jurídicas para os deslocados internos no âmbito da Constituição e das leis ordinárias de um país são importantes elementos na criação de um ambiente propício para soluções duradouras. Na Etiópia, por exemplo, a Constituição, o Código Penal e a Política de Administração de Terras estipulam proteções importantes aos deslocados internos, que são essenciais para soluções duradouras dignas.

A Estratégia Nacional de Uganda contém disposições detalhadas sobre o regresso e o reassentamento voluntários dos deslocados, incluindo sobre a necessidade de "informações precisas e objetivas importantes para o seu regresso ou reintegração aos seus lares..."76

Na República Centro-Africana, o novo governo criou estruturas ad hoc para estudar o eventual fechamento de campos de deslocados em M’Poko, assim como o regresso e a transferência de deslocados instalados na região. Trata-se de uma expressão de vontade política para lidar com a questão das soluções duradouras, que, espera-se, dará impulso a futuras estratégias nesse sentido.

Principais desafios Os Estados podem carecer de recursos financeiros para abordar de maneira adequada e abrangente a questão das soluções duradouras para as comunidades de deslocados. Além disso, os Estados que demonstrem disposição em assistir os deslocados no curto prazo podem não manter o interesse para formular soluções de médio ou longo prazo.

Especificamente, em contextos prolongados de conflito armado ou outras situações de violência, a tomada de decisões do governo pode focar sobretudo no curto/médio prazo, reduzindo muito a prioridade das soluções de longo prazo para os deslocados. Em tais circunstâncias, doadores e parceiros internacionais podem hesitar em fornecer recursos e assistência técnica caso um Estado não possua uma estratégia abrangente para soluções duradouras aos deslocados internos. No entanto, quanto maior a duração de um conflito, mais necessário será o envolvimento com as pessoas e comunidades em um âmbito estrutural para permitir a sua sobrevivência imediata e a sua capacidade de viver com dignidade em meio à piora nas condições. Por vezes, atividades de médio e longo prazos de apoio à infraestrutura e aos serviços são a resposta mais apropriada para atender às necessidades urgentes dos indivíduos.

Em conflitos prolongados, outro desafio importante é conseguir que as partes do conflito cumpram com o DIH e limitem a destruição e a deterioração dos serviços durante as hostilidades. Tal destruição não apenas provoca um agravamento das condições de vida das pessoas, mas também impede o eventual regresso dos deslocados.

Outro desafio diz respeito aos próprios doadores, que podem involuntariamente contribuir para o regresso ou transferência prematuros dos deslocados internos. Isto pode acontecer quando seus termos e cronogramas de financiamento criam pressões sobre as autoridades estatais para que mostrem rápidos resultados sobre soluções duradouras. As decisões dos doadores de restringir o "financiamento de emergência", sem garantir uma transição eficaz para programas de desenvolvimento, podem também levar ao mesmo desfecho. A importância de responder às necessidades urgentes e às de longo prazo, de modo a minimizar o impacto cumulativo dos conflitos e evitar uma mudança completa no desenvolvimento é, no entanto, cada vez mais reconhecida. Assegurar essa continuidade humanitária requer mudanças nos processos de alocação de fundos, para que o financiamento humanitário plurianual se torne viável e confiável.

É evidente que, sem diálogos e consultas regulares sobre as soluções disponíveis e um entendimento dos seus direitos e obrigações, os deslocados internos não estarão em posição de tomar decisões quanto às opções possíveis.

Nesse sentido, os desafios em alguns contextos podem também decorrer de decisões tomadas em campos próximos, sem a devida consideração pela segurança e os desejos dos deslocados. Isto pode ocorrer porque nem todas as repartições e órgãos das autoridades públicas (p.ex. os ministérios responsáveis pela segurança nacional, serviços sociais e forças armadas) têm o mesmo entendimento sobre as obrigações do Estado com relação aos deslocados; em tais circunstâncias,

75 Para mais informações sobre os Princípios Pinheiro, ver: Centre on Housing Rights and Evictions, The Pinheiro Principles - United Nations Principles on Housing and Property Restitution for Refugees and Displaced Persons, Centre on Housing Rights and Evictions, Genebra, 2005, disponível em http://reliefweb.int/report/world/pinheiro-principles-united-nations-principles-housing-and-property-restitution-refugees

76 República de Uganda, Escritório do Primeiro Ministro, Departamento de Preparação para Desastres e Refugiados, The National Policy for Internally Displaced Persons, Uganda, agosto de 2004, disponível em: https://www.brookings.edu/wpcontent/uploads/2016/07/Uganda_IDPpolicy_2004.pdf (consulta em 29 de setembro de 2016).

outras considerações podem influenciar uma tomada de decisões que tenha implicações para eles. De modo similar, podem surgir desafios caso os deslocados sejam incentivados a regressar de forma prematura, incluindo por meio de ofertas de assistência, sem as informações adequadas ou um apoio sustentável.

O processo de obtenção de soluções duradouras muitas vezes exige lidar com questões complexas, como a restituição ou compensação de terra/propriedade. Isto pode atrasar o processo de soluções duradouras. Outro obstáculo é criado pelo fato de que, em alguns casos, a solução duradoura preferencial pode não ser possível por enquanto. Este é o caso, por exemplo, quando os deslocados desejam retornar às suas casas mas a área ainda não está segura porque as condições que provocaram o seu deslocamento continuam existindo.77

Em alguns contextos, as autoridades nacionais podem estar excessivamente concentradas na promoção do regresso sem dar a devida atenção a outras possíveis soluções duradouras, como a integração local e a transferência para outra parte do país.78

Recomendações Para os Estados

Recomendação 22: Os Estados devem assegurar que todas as repartições e órgãos das autoridades públicas estejam plenamente informados sobre a necessidade de consulta significativa e envolvimento ativo dos deslocados e comunidades que os acolhem na tomada de decisões para soluções duradouras. (Ver também Recomendação 10 sobre a importância da consulta e do

envolvimento ativo dos deslocados internos na tomada de decisões para soluções duradouras).

– Em crises que geram deslocamento interno, há muitas vezes confusão e desinformação sobre as causas do problema. Pode haver desconfiança por parte das comunidades de deslocados com relação aos motivos e prioridades na resposta do Estado. Consultas regulares e diálogos significativos com os deslocados irão ajudá-los a avaliar melhor as suas opções, além de gerar confiança nas autoridades. Também ajudarão as autoridades do Estado a entender melhor as preocupações e desejos das comunidades, abordando os problemas de desconfiança e desinformação.

– Ao serem consultadas, as comunidades de deslocados podem ser capazes de propor soluções viáveis, que sejam sustentáveis e tenham um bom custo-benefício para os Estados.

– Se a solução duradoura preferencial não for possível em um determinado momento, as autoridades devem procurar facilitar soluções transitórias para melhorar as circunstâncias dos deslocados, dialogando com eles. Nesses casos, as autoridades devem ter em mente que os deslocados não perdem o direito de alcançar a solução duradoura que prefiram.

Recomendação 23: Os Estados devem iniciar um diálogo proativo com os parceiros nacionais e internacionais e os doadores sobre questões relacionadas a soluções duradouras de modo a cumprir com as suas próprias obrigações internacionais.

– Cabe ao Estado em questão assegurar o caráter voluntário, seguro e digno de todas as soluções duradouras possíveis. Ao mesmo tempo, reconhece-se que a assistência internacional pode ser necessária para a realização das respostas adequadas.

– Um enfoque proativo aumenta as possibilidades do Estado de se beneficiar das experiências e recursos dos parceiros e doadores internacionais, assim como das melhores práticas.

– Em especial, isto pode ajudar um Estado que enfrenta desafios com o deslocamento interno a vincular a resposta humanitária urgente a uma agenda de desenvolvimento de longo prazo. Pode também, com frequência, abordar algumas das causas e resultados do deslocamento.

– Os recursos financeiros necessários para soluções eficazes podem ser consideráveis, e isto deve ser abertamente reconhecido por todas as partes interessadas.

77 CMDI, Home sweet home: housing practices and tools that support durable solutions for urban IDPs, CMDI, Genebra, março de 2015, disponível em: http://www.internal-displacement.org/publications/2015/home-sweet-home-housing-practices-and-tools-that-support-durable-solutions-for-urban-idps (consulta em 29 de setembro de 2016).

78 Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Guiding Principles on Internal Displacement (ADM 1.1, PRL 12.1, PR00/98/109), ONU, Nova York, 22 de julho de1998, disponível em: http://www.unhcr.org/protection/idps/43ce1cff2/guiding-principles-internal-displacement.html (consulta em 5 de setembro de 2016).

Recomendação 24: Os Estados (e outros atores relevantes) devem garantir que os acordos de paz contenham disposições e recomendações específicas para lidar e resolver situações existentes de deslocamento interno, conforme necessário, levando em consideração os desafios do contexto.

– Seria importante ajudar a resolver os problemas relativos ao deslocamento interno que surjam de um conflito armado.

– Um aspecto importante a ser tratado no acordo de paz e em quaisquer processos de justiça de transição pós-conflito se relacionaria com soluções duradouras, como o regresso voluntário dos deslocados.

– Entre os outros elementos, poderiam-se incluir reforma agrária, reparações e outras questões de interesse para os deslocados, dependendo do conflito.

Para outros atores Recomendação 25: A ONU e outros atores internacionais que estejam em uma posição para tal devem contribuir com o monitoramento das condições de regresso, com atenção especial às perspectivas e preocupações das comunidades de deslocados em questão. Devem também ajudar a garantir a natureza voluntária e segura do regresso e outras soluções duradouras, assim como segurança, dignidade e condições adequadas dos deslocados no lugar atual em que se encontram.

– Caso as autoridades enfrentem dificuldades para estabelecer um diálogo significativo com as comunidades de deslocados, a ONU e outros atores internacionais podem desempenhar um papel útil para conseguir que os deslocados entendam as suas perspectivas e preocupações.

– Ao fazê-lo, podem levar questões importantes ao conhecimento das autoridades. Inclusive a possível falta de informações claras e suficientes sobre opções de soluções duradouras oferecidas aos deslocados. Além disso, podem-se também abordar situações em que os deslocados sintam que a solução duradoura em questão esteja sendo promovida de forma prematura pelas autoridades, ou sem a consideração adequada dos seus desejos.

– Os doadores podem muitas vezes exercer uma influência positiva ao ajudar os Estados na elaboração de estratégias de médio a longo prazo para desativar progressivamente os lugares onde os deslocados se encontram e facilitar o regresso ou outras soluções duradouras.

Conclusão

O marco jurídico abrangente da Convenção de Kampala oferece aos Estados africanos a oportunidade de melhorar a qualidade de vida diária dos deslocados internos em todo o continente, atendendo de forma eficaz às suas necessidades de proteção e assistência. Os Estados podem prevenir, enfrentar e reduzir em grande medida o deslocamento, implementando a Convenção de forma metódica e abrangente. Podem assegurar que, em caso de deslocamento, as pessoas afetadas recebam assistência e sejam tratadas com respeito por sua dignidade e seus direitos humanos.

O relatório contém mais de 80 constatações e 25 recomendações. O CICV espera que cada uma delas seja do interesse de alguns Estados, dependendo do enfoque particular de cada um com relação à Convenção de Kampala. Vários temas transversais surgiram na formulação das Constatações e Recomendações, três dos quais merecem atenção especial:

1. A importância de os Estados e outros atores estabelecerem um diálogo com as comunidades de deslocados internos, a fim

de assegurar a participação efetiva deles na tomada de decisões relativa a leis, políticas e programas que os afetem; 2. A necessidade urgente de assegurar aos deslocados internos o acesso a serviços básicos como assistência à saúde e

educação; 3. O papel fundamental que a CUA – e as CERs e MRs – terão no futuro para consolidar os esforços dos Estados Membros da

UA na implementação da totalidade da Convenção de Kampala. Embora tenha havido um impulso na defesa da responsabilidade primordial e nas obrigações dos Estados relativas à questão dos deslocados, o potencial da Convenção de Kampala só pode realmente se realizar uma vez que os Estados não apenas a tenham ratificado ou aderido, mas também adotado medidas para implementá-la de maneira plena. Espera-se que este relatório sirva como uma ferramenta para apoiar e ajudar a acelerar a ratificação, implementação e operacionalização da Convenção e a promessa desta de beneficiar os atuais e futuros deslocados na África.

Perspectivas

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tem o prazer de apresentar os resultados do seu processo intensivo de análise e consulta sobre implementação da Convenção de Kampala. Nosso compromisso com a Convenção remonta-se aos primórdios da sua criação. Desde a adoção e a entrada em vigor do tratado, o CICV tem, de maneira contínua, oferecido conhecimento e apoio à União Africana e aos Estados Membros para promover a sua ratificação e garantir a sua implementação nacional de maneira prática.

Quando nos propusemos a realizar este balanço sobre a Convenção de Kampala, nosso objetivo consistia em reunir e entender as melhores práticas e os desafios que os Estados enfrentaram ao implementá-la. Hoje, quase um ano depois, é com grande satisfação que o CICV publica as constatações desse exercício. As boas práticas e lições aprendidas identificadas pelo processo de balanço, assim como as recomendações concretas delas extraídas, serão o alicerce para os próximos passos do CICV em nosso compromisso com a Convenção de Kampala. A relevância do exercício foi confirmada pela União Africana e os seus Estados Membros, que consideram este relatório uma ferramenta útil para os seus esforços atuais e futuros na implementação das obrigações da Convenção de maneira mais eficaz.

O CICV trabalha há décadas na prevenção do deslocamento forçado e nas atividades de proteção e assistência aos deslocados no mundo todo. Durante a nossa longa história operacional em satisfazer as necessidades dos deslocados, assim como as de outros setores da população civil afetados por conflitos armados e outras situações de violência, uma parte importante dos programas do CICV direcionaram-se às pessoas deslocadas e às comunidades que os acolhem na África. A intenção do balanço é ser um passo adicional para melhorar a vida dos deslocados internos e as comunidades que os acolhem no continente. Ao estabelecer o vínculo entre a promoção da lei, o trabalho de proteção no terreno e a política baseada em evidências, o balanço relaciona a ambição do CICV de fortalecer a proteção das pessoas através da lei, as operações e as políticas, como está definido em nossa Estratégia Institucional 2015-2018.

Nossa esperança é que este relatório cumpra uma gama de propósitos no futuro. No curto prazo, servirá como um ponto de partida para discussões entre os Estados durante a primeira Conferência dos Estados Partes da Convenção de Kampala. Além disso, poderá apoiar a União Africana e os Estados Partes em suas tarefas de monitorar e comunicar sobre o andamento da implementação do tratado. As constatações do balanço podem também embasar reflexões e troca de conhecimentos entre os Estados sobre como cumprir melhor a sua responsabilidade primordial de prevenir o deslocamento interno, proteger e assistir os deslocados e encontrar soluções duradouras para eles em seus países. As conclusões do relatório contribuirão para o diálogo bilateral do CICV com as autoridades sobre o fortalecimento da resposta ao deslocamento interno em muitos contextos africanos onde a organização opera. No longo prazo, as experiências realizadas na implementação da Convenção de Kampala podem servir de inspiração para Estados fora da África, caso decidam desenvolver outros marcos regionais sobre deslocados internos. O CICV está pronto para apoiar tais iniciativas.

Dominik Stillhart Diretor de Operações do CICV

Anexo:

DESLOCADOS INTERNOS: COMPARAÇÃO DE INSTRUMENTOS E

MARCOS JURÍDICOS IMPORTANTES (Serviço de Assessoramento do

CICV sobre Direito Internacional Humanitário, setembro de 2016). O presente documento foi elaborado no âmbito do balanço sobre a operacionalização da Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (Convenção de Kampala)

O exercício e esta tabela, portanto, não levam em conta as disposições relativas a atores não estatais. Além disso, limitam-se ao Direito Internacional Humanitário (DIH) e, mais especificamente, às Convenções de Genebra, aos seus Protocolos Adicionais e ao DIH Consuetudinário. Portanto, não se consideram aqui as disposições e padrões do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Resumo das

principais obrigações

Convenção de Kampala79

Princípios Orientadores relativos aos Deslocados Internos80

DIH81 Pacto dos Grandes Lagos (Protocolo dos

Deslocados Internos)82 83

Prevenção do

deslocamento

(incluindo

repressão

penal)

Os Estados deverão abster-

se de praticar

deslocamentos arbitrários

das populações,

prevenindo-os e proibindo-

os, além de qualificar como

infrações puníveis por lei

os atos de deslocamento

arbitrário84 equivalentes a

genocídio, crimes de guerra

ou crimes contra a

humanidade – arts. 3(1)(a)

e 4(6).

Os Estados deverão

prevenir a exclusão e a

marginalização políticas,

sociais, culturais e

econômicas, suscetíveis de

Todas as autoridades e

atores internacionais

deverão respeitar e

assegurar o respeito das

suas obrigações à luz do

Direito Internacional,

incluindo os direitos

humanos e lei

humanitária85, em

quaisquer circunstâncias,

de modo a prevenir e

impedir condições que

conduzam ao

deslocamento de pessoas

– Princípio 5

Todo ser humano tem o

direito de ser protegido

contra o deslocamento

Artigo 1o comum;

CG I, art. 49; CG

IV, arts. 49 e 147;

PA I, arts. 51(7),

85(1) e 85(4)(a); PA

II, art. 17; normas

do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário

129, 139, 144 e 156

Os Estados Membros

se comprometem a

prevenir o

deslocamento arbitrário

e eliminar as causas

profundas do

deslocamento – art.

3(1)

Aderem aos princípios

do Direito

Internacional

Humanitário e do

Direito Internacional

dos Direitos Humanos

aplicáveis à proteção

dos deslocados

internos em geral e tal

como é refletido nos

79 Convenção da União Africana para a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África, 2009 [http://www.internal-displacement.org/assets/publications/Tools-and-Frameworks/200910-training-KC-AU-Convention-on-IDPs-Eng.pdf] (doravante Convenção de Kampala).

80 Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Guiding Principles on Internal Displacement ADM 1.1, PRL 12.1, PR00/98/109, ONU, Nova York, 22 de julho de 1998 [http://www.unhcr.org/protection/idps/43ce1cff2/guiding-principlesinternal-displacement.html] (doravante Princípios Orientadores relativos aos Deslocados Internos).

81 Convenção de Genebra para a Melhoria das Condições dos Feridos e dos Enfermos das Forças Armadas em Campanha de 1949 (doravante CG I); Convenção de Genebra para a Melhoria das Condições dos Feridos, Enfermos e Náufragos das Forças Armadas no Mar de 1949 (doravante CG II); Convenção de Genebra relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra de 1949 (doravante CG III); Convenção de Genebra relativa à Proteção dos Civis em Tempo de Guerra de 1949 (doravante CG IV); Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949 relativo à Proteção das Vítimas dos Conflitos Armados Internacionais de 1977 (doravante PA I); Protocolo III às Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949 relativo à Proteção das Vítimas dos Conflitos Armados Não Internacionais de 1977 (doravante PA II) [https://ihl-databases.icrc.org/applic/ihl/ihl.nsf/vwTreaties1949.xsp;] Normas do Direito Internacional Humanitário Consuetudinário, como é demonstrado no Estudo do CICV sobre Direito Internacional Humanitário Consuetudinário [https://ihl-databases.icrc.org/customary-ihl/eng/docs/home]

82 Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), Protocolo sobre Proteção e Assistência aos Deslocados Internos, Nairóbi, 2006 [http://www.refworld.org/pdfid/52384fe44.pdf (consulta em 30 de setembro de 2016)] (doravante Protocolo dos Deslocados Internos).

83 É importante observar que, em decorrência do objetivo de implementação, pelos Estados, dos Princípios Orientadores relativos aos Deslocados Internos anexo (artigo 2o), o Protocolo dos Deslocados Internos torna a implementação dos Princípios Orientadores uma obrigação à luz do artigo 6o. Além disso, uma lei modelo é anexada ao Protocolo dos Deslocados Internos [http://www.refworld.org/pdfid/52384fe44.pdf#page=16]. Este instrumento não vinculante reafirma ou especifica ainda mais determinadas disposições relativas a criminalização, asilo e registro dos deslocados internos, entre outras questões.

84 A definição de deslocamento arbitrário pode ser encontrada no artigo 4(4) da Convenção de Kampala.

85 NT. Manteve-se aqui o texto da tradução oficial dos Princípios, embora o CICV prefira utilizar os termos Direito Internacional Humanitário e Direito Internacional dos Direitos Humanos como tradução de International Humanitarian Law and Human Rights Law.

causar deslocamento – art.

3(1)b.

Os Estados devem respeitar

e velar pelo respeito das

suas obrigações em virtude

do direito internacional,

nomeadamente os direitos

humanos e o direito

humanitário, com vista a

prevenir e evitar situações

que possam conduzir aos

deslocamentos arbitrários

das pessoas – art. 4(1)

Todas as pessoas têm o

direito de serem protegidas

contra o deslocamento

arbitrário. As categorias de

deslocamento arbitrário

proibidas incluem, entre

outras, mas não se limitam

a:

a. Deslocamentos baseados

em políticas de

discriminação racial ou

outras práticas similares

visando a alteração da

composição étnica,

religiosa ou racial da

população;

b. Deslocamento individual

ou coletivo de civis em

situação de conflito

armado, salvo em situações

de segurança dos civis

envolvidos ou por razões

militares imperativas, de

acordo com o Direito

Humanitário Internacional;

c. Deslocamentos usados

intencionalmente como

método de guerra ou

decorrentes de outras

violações do Direito

Internacional Humanitário

em situações de conflito

armado;

d. Deslocamento causado

por violência generalizada

ou violação dos direitos

humanos;

e. Deslocamento resultante

de práticas nocivas;

f. Evacuações forçadas em

casos de calamidades

naturais ou provocadas

pelo próprio homem ou por

outras causas, se tais

evacuações não são feitas

por imperativos de

segurança e saúde das

pessoas visadas;

g. Deslocamento usado

como pena coletiva;

h. Deslocamentos causados

por qualquer ato,

arbitrário da sua casa ou

do seu local de

residência habitual –

Princípio 6(1)

Antes de tomar qualquer

decisão que exija o

deslocamento de

pessoas, as autoridades

competentes devem

assegurar que todas as

alternativas exequíveis

tenham sido exploradas

com vista a se evitar o

deslocamento. Quando

não houver alternativas,

todas as medidas devem

ser tomadas para

minimizar o

deslocamento e os seus

efeitos adversos –

Princípio 7(1)

Ninguém será

arbitrariamente privado

da sua vida.

Os deslocados internos

devem ser, sobretudo,

protegidos contra:

a. o genocídio;

b. o assassinato;

c. as execuções sumárias

e arbitrárias; e

d. os desaparecimentos

forçados, incluindo rapto

ou detenção sem

comunicação prévia, que

represente ameaça ou

provoque a morte. As

ameaças e o incitamento

para o cometimento de

quaisquer dos

supracitados atos devem

ser proibidos – Princípio

10(1)

Princípios Orientadores

em particular – art.

4(1)(a)

acontecimento, fator ou

fenômeno de gravidade

similar à de todas acima

referidas e que não se

justifica no quadro do

Direito Internacional,

incluindo o Direito

Internacional dos Direitos

Humanos e o Direito

Internacional Humanitário

– art. 4(4)(a)

Os Estados deverão

incorporar as obrigações

decorrentes da presente

Convenção no seu Direito

Interno, através da

promulgação ou emenda da

legislação pertinente

relativa a proteção e

assistência às pessoas

deslocadas internamente,

em conformidade com as

suas obrigações em virtude

do Direito Internacional –

art. 3(2)(a)

[O objetivo deste

protocolo é] oferecer

uma base jurídica para

a incorporação, pelos

Estados Membros, dos

Princípios Orientadores

na legislação nacional

– art. 2(3)

Os Estados Membros

promulgarão leis

nacionais para

incorporar plenamente

os Princípios

Orientadores ao Direito

Interno e

proporcionarão um

marco jurídico para a

sua implementação no

sistema jurídico

nacional – art. 6(3)

Os Estados devem designar

uma autoridade ou órgão,

caso necessário, que será

responsável pela

coordenação das atividades

de assistência e proteção,

atribuição de

responsabilidades aos

órgãos apropriados em

termos de proteção e

assistência, como também

cooperação com as

organizações internacionais

relevantes e organizações

da sociedade civil – art.

3(2)(b)

Os Estados Membros

deverão estabelecer e

designar órgãos de

governo responsáveis

pela preparação de

emergência para

desastres e

coordenação de

proteção e assistência

aos deslocados

internos, assim como

estruturas focais

responsáveis pela

cooperação com

agências internacionais

e representantes da

sociedade civil

responsáveis por

deslocados internos –

art. 3(5)

Os Estados deverão instalar

sistemas de alerta precoce

nas áreas suscetíveis de

deslocamento, elaborar e

implementar estratégias de

redução de risco de

desastre, medidas de

emergência, redução e

gestão de desastres e, caso

necessário, prestar proteção

e assistência imediata aos

deslocados internos – art.

4(2)

Os Estados Membros

deverão estabelecer e

designar órgãos

governamentais

responsáveis pela

preparação de

emergência para

desastres – art. 3(5)

Os Estados deverão

garantir a responsabilidade

Estes Princípios não

protegem a

CG I, art. 49; PA I,

art 85(1); normas do

individual por atos de

deslocamento arbitrário,

em conformidade com a

legislação nacional e o

Direito Penal Internacional,

assim como a

responsabilização dos

atores não estatais

(incluindo companhias

multinacionais e as

empresas militares ou de

segurança privada) – arts.

3(1)(g) e 3(1)(h)

responsabilidade

criminal individual à luz

do Direito Internacional,

particularmente referente

a genocídios, crimes

contra a humanidade e

crimes de guerra –

Princípio 1(2)

Todas as autoridades e

atores internacionais

deverão respeitar e

assegurar o respeito das

suas obrigações à luz do

Direito Internacional,

incluindo os direitos

humanos e lei

humanitária86, em

quaisquer circunstâncias,

de modo a prevenir e

impedir condições que

conduzam ao

deslocamento de pessoas

– Princípio 5

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário 151

e 156

Deve ser imputada a

responsabilidade aos

membros dos grupos

armados pelos seus atos

criminosos que violem os

diretos dos deslocados

internos nos termos do

Direito Internacional e da

legislação nacional.

Estes Princípios não

protegem a

responsabilidade

criminal individual à luz

do Direito Internacional,

particularmente referente

a genocídios, crimes

contra a humanidade e

crimes de guerra –

Princípio 1(2)

Todas as autoridades e

atores internacionais

deverão respeitar e

assegurar o respeito das

suas obrigações à luz do

Direito Internacional,

incluindo os direitos

humanos e lei

humanitária87, em

quaisquer circunstâncias,

de modo a prevenir e

impedir condições que

conduzam ao

deslocamento de pessoas

– Princípio 5

Normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 151

e 156.

Obrigações

relativas à

assistência e

proteção dos

deslocados

internos

Os Estados Partes assumem

o dever e a

responsabilidade primários

de conceder proteção e

assistência humanitária às

pessoas deslocadas

internamente, dentro do seu

território ou da sua

jurisdição, sem qualquer

tipo de discriminação – art.

5(1)

As autoridades nacionais

têm o dever e a

responsabilidade

primários de garantir a

proteção e a assistência

humanitária aos

deslocados internos que

se encontrem na sua área

de jurisdição – Princípio

3(1).

Os Estados Membros

aceitam que têm a

responsabilidade

primária pela proteção

da segurança física e

material dos

deslocados internos

durante a fuga, nos

lugares onde os

deslocados se

encontram e no

regresso, ou no

reassentamento em

algum outro local

86 Ver nota 85. 87 Idem.

dentro do território do

Estado – art. 3(3)

Os Estados devem avaliar

ou facilitar a avaliação das

necessidades e

vulnerabilidades dos

deslocados internos em

cooperação com as

agências internacionais –

art. 5(5)

Os Estados Membros

serão responsáveis por

avaliar as necessidades

dos deslocados

internos – art. 3(4)

Os Estados deverão

também assegurar a

promoção dos meios

autônomos e duradouros

em favor dos deslocados

internos, com a condição

de que estes meios não

sejam utilizados como

pretextos para negligenciar

a proteção e assistência dos

deslocados – art. 3(1)(k)

Os Estados deverão prestar

proteção especial e

assistência aos deslocados

internos com necessidades

específicas, nomeadamente

as crianças separadas e não

acompanhadas, as mulheres

chefes de família, as

mulheres grávidas e mães

de recém-nascidos, idosos e

pessoas com deficiência ou

doenças contagiosas – art.

9(2)(C)

Os Estados devem

esforçar-se em proteger as

comunidades com ligações

especiais e dependência às

suas terras, por razões

culturais e de seus valores

espirituais, de serem

deslocadas de tais terras,

exceto em caso de

necessidade para fins ou

interesses de caráter

público imperativo – art.

4(5)

Certos deslocados

internos, tais como

crianças, especialmente

não acompanhadas, mães

grávidas, mães com

crianças menores,

mulheres chefes de

família, pessoas

deficientes e idosas,

devem ter direito à

proteção e assistência

exigidas pelas suas

condições e a um

tratamento que tome em

consideração as suas

necessidades especiais –

Princípio 4(2)

Os Estados têm uma

particular obrigação de

garantir a proteção

contra o deslocamento de

pessoas indígenas,

minorias, camponeses,

pastores e outros grupos

que tenham uma

dependência e ligação

especiais às suas terras –

Princípio 9.

Deve-se atribuir uma

atenção especial à

prevenção das doenças

contagiosas e

infecciosas, incluindo o

SIDA, no seio dos

deslocados internos –

Princípio 19(3).

CG IV, arts. 17, 23-

24, 27 e 50; PA I,

arts. 10, 70(1), 76,

77 e 78; PA II, arts.

4(3) e 7; normas do

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário

131, 134, 135, 136 e

138

Prestar proteção

especial às populações

de deslocados,

comunidades, pastores

e outros grupos que

tenham dependência ou

ligação especial às suas

terras, em

conformidade com

outras disposições do

Pacto Internacional

sobre os Direitos Civis

e Políticos (1966), da

Carta Africana dos

Direitos Humanos e

dos Povos (1981) e dos

Princípios Orientadores

relativos aos

Deslocados Internos –

art. 4(1)(c)

Prestar proteção

especial às mulheres,

crianças, pessoas

vulneráveis e

deslocados com

deficiência – art.

4(1)(d)

Os Estados devem respeitar

e garantir o respeito do

caráter humanitário e civil

da proteção e assistência

aos deslocados, velando

inclusive para que essas

pessoas não participem em

Não se deve desviar a

assistência humanitária

destinada aos deslocados

internos, em particular

para fins políticos ou

CG IV, arts. 4 e 27;

PA I, arts. 48, 51, 52

e 75; PA II, arts. 4 e

13; normas do

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário 1 e

7-9

Os Estados Membros

deverão salvaguardar e

manter o caráter civil e

humanitário da

proteção e localização

dos deslocados

internos, em

conformidade com as

atividades subversivas –

art. 3(1)(f)

militares – Princípio 24 88

Outras normas

relevantes que

poderiam ser vistas

como subjacentes à

importância de

respeitar os campos

dos deslocados são:

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 15,

22 e 131

diretrizes

internacionais sobre a

separação dos

elementos armados –

art. 3(9)

Respeitar e apoiar a

Resolução 1296 do

Conselho de Segurança

aplicável à proteção da

população civil durante

conflitos armados – art.

4(1)(b)

Os Estados devem

consultar os deslocados

internos, permitindo-lhes

participar na tomada de

decisões relativas à sua

proteção e assistência – art.

9(2)(k)

Deve-se obter o

consentimento livre e

informado daqueles que

serão deslocados –

Princípio 7(3)(c)

Deverão ser

empreendidos esforços

especiais para garantir a

total participação das

mulheres no

planejamento e

distribuição dessas

provisões básicas –

Princípio 18(3)

Respeitar e apoiar a

Resolução 1296 do

Conselho de Segurança

aplicável à proteção da

população civil durante

conflitos armados,

assim como a

Resolução do Conselho

de Segurança 1325

aplicável à proteção de

mulheres e seu papel

durante conflitos

armados, incluindo a

sua participação na

tomada de decisões e

na administração de

programas, com

relação à sua

segurança, bem-estar,

necessidades de saúde,

cuidados sanitários,

direitos reprodutivos,

distribuição de

alimentos e processo

de retorno – art. 4(1)(b)

Os Estados membros

deverão garantir a

participação eficaz dos

deslocados internos na

preparação e

elaboração das leis

nacionais para

incorporar os

Princípios Orientadores

– art. 6(5)

Na medida do possível, os

Estados devem

providenciar os fundos

necessários para a

assistência, sem prejuízo da

recepção de apoio

internacional – art. 3(2)(d)

Caso os governos dos

Estados Membros

sejam incapazes de

assistir os deslocados

internos, deverão

aceitar e respeitar a

obrigação dos órgãos

da comunidade

internacional de prestar

proteção e assistência

aos deslocados – art.

3(10)

88 Embora não haja referência direta ao caráter civil, este pode ser deduzido de outros princípios, em particular o Princípio 10 (2) sobre a proteção dos deslocados internos contra o seu uso para proteger alvos militares.

Obrigação

primordial de

assistir os

deslocados

internos

Os Estados devem

assegurar a assistência aos

deslocados internos,

garantindo a satisfação das

suas necessidades básicas,

assim como permitindo e

facilitando um acesso

rápido e livre às

organizações humanitárias

e ao seu respectivo pessoal

– arts. 3(1)(j)

1. Cabe às autoridades

nacionais o dever e a

responsabilidade

primários de prestar a

assistência humanitária

aos deslocados internos.

2. As organizações

humanitárias

internacionais e os outros

atores apropriados têm o

direito de oferecer os

seus serviços em apoio

aos deslocados internos.

Tal oferta não deve ser

encarada como um ato

inamistoso ou como

interferência nos

assuntos internos do

Estado e deve ser

considerada de boa fé.

Não se deve, por isso,

negar arbitrariamente o

consentimento à sua

atuação, particularmente

quando as autoridades

competentes estão

incapacitadas ou não

estão dispostas a prestar

a assistência humanitária

necessária.

3. Todas as autoridades

competentes devem

garantir e facilitar a livre

passagem da assistência

humanitária e garantir às

pessoas encarregadas de

tal assistência um rápido

e livre acesso aos

deslocados internos –

Princípio 25

CG IV, arts. 23, 55 e

59; PA I, arts. 70(2)

e (5); PA II,

art. 18(2); normas

do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 55

Os Estados Membros

devem facilitar um

acesso humanitário

rápido e desimpedido e

assistência aos

deslocados internos –

art. 3(6)

Caso os governos dos

Estados Membros

sejam incapazes de

proteger e assistir os

deslocados internos,

deverão aceitar e

respeitar a obrigação

dos órgãos da

comunidade

internacional de prestar

proteção e assistência

aos deslocados – art.

3(10)

Os Estados devem

providenciar aos

deslocados internos, da

melhor forma possível e

sem demora, assistência

humanitária adequada,

nomeadamente

alimentação, água, abrigo,

cuidados médicos e outros

serviços de saúde,

saneamento básico,

educação e todos os outros

serviços sociais

necessários; e, quando

apropriado, estender tais

serviços às comunidades de

acolhimento – art. 9(2)(b)

As autoridades

empreendendoras de tal

deslocamento devem

assegurar, de maneira

prática, que seja

fornecido alojamento

adequado aos deslocados

e que tais deslocamento

sejam efetuados em

condições satisfatórias

de segurança, nutrição,

saúde e higiene e que

não haja separação dos

membros da mesma

família – Princípio 7(2)

1. Todos os deslocados

internos têm o direito a

um padrão adequado de

vida.

2. No mínimo,

independentemente das

circunstâncias, e sem

discriminação, as

autoridades competentes

deverão fornecer aos

Artigo 3o comum;

CG IV, arts. 16, 23,

24(1) 27, 49(3), 50,

55, 56 e 59; PA I,

arts. 10, 54, 70 e

75(1); PA II, arts.

4(1), 4(3)(a), 7(2), 8,

14, 17(1) e 18(2);

Normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 53-

55, 109-110 e 131

Estender proteção e

assistência, conforme

necessário, às

comunidades

residentes nas áreas

que acolhem os

deslocados internos –

art. 4(1)(2)

Garantir a localização

segura dos deslocados

internos, em condições

satisfatórias de

dignidade, higiene,

água, comida e abrigo,

longe das zonas de

conflito armado e

perigo, considerando as

necessidades

específicas das

mulheres, crianças,

pessoas vulneráveis e

com deficiência – art.

4(1)(f)

deslocados internos e

assegurar o acesso

seguro a:

a. alimentação básica e

água potável;

b. abrigo básico e

habitação;

c. vestuário adequado; e

d. serviços médicos

essenciais e saneamento.

3. Deverão ser

empreendidos esforços

especiais para garantir a

total participação das

mulheres no

planejamento e

distribuição dessas

provisões básicas –

Princípio 18(3)

Todos os deslocados

internos feridos e

doentes, assim como as

pessoas deficientes,

devem receber, até um

grau máximo de

exequibilidade e com um

mínimo de atraso

possível, o tratamento

médico de que precisam,

sem qualquer tipo de

distinção. Os deslocados

internos devem ter

acesso, quando

necessário, aos serviços

psicológicos e sociais –

Princípio 19(1)

Todo ser humano tem

direito à educação.

– Princípio 2389

Os Estados deverão adotar

medidas de monitoramento

e avaliação da eficácia e do

impacto da assistência

humanitária prestada aos

deslocados internos,

conforme a prática

correspondente, incluindo

os padrões de conduta

contidos nas Normas

Sphere – art. 9(2)(m)

Estabelecer um

mecanismo regional na

Região dos Grandes

Lagos para monitorar a

proteção de deslocados

internos à luz deste

Protocolo de

Deslocados Internos,

desde que tal

mecanismo não afete a

função de supervisão

da Comissão de

Direitos Humanos das

Nações Unidas e os

órgãos dos tratados, da

Comissão Africana dos

Direitos do Homem e

dos Povos e da Corte

Africana de Direitos

Humanos e dos Povos,

assim como o direito

dos deslocados de

89 O Princípio 23 também contém modalidades sobre o exercício do direito à educação.

apresentar denúncias a

tais órgãos – art. 4(j)

Na medida do possível, os

Estados devem

providenciar os fundos

necessários para a

assistência, sem prejuízo da

recepção de apoio

internacional – art. 3(2)(d)

Os Estados devem respeitar

e garantir o respeito a

proteção dos direitos

humanos dos deslocados

internos, incluindo um

tratamento humano, não

discriminação, igualdade e

igual proteção pelo direito

– art. 3(1)(d)

Os deslocados internos

devem gozar, em pé de

igualdade, dos mesmos

direitos e liberdades, ao

abrigo do Direito Interno

e do Direito

Internacional, como o

fazem as outras pessoas

no seu país. Eles não

devem ser discriminados

contra o gozo de

quaisquer direitos ou

liberdades por serem

deslocados internos –

Princípio 1(1)

As autoridades nacionais

têm o dever e a

responsabilidade

primários de garantir a

proteção e a assistência

humanitária aos

deslocados internos que

se encontrem na sua área

de jurisdição – Princípio

3(1)

Estes Princípios devem

ser aplicados sem

nenhum tipo de

discriminação, como

raça, cor, sexo, língua,

religião ou credo,

opinião política ou

similar, nacionalidade,

origem étnica ou social,

estatuto legal ou social,

idade, deficiência,

propriedade, nascimento,

ou por quaisquer

critérios similares –

Princípio 4(1)

O deslocamento não

deve ser realizado de

maneira a violar os

direitos à vida,

dignidade, liberdade e

segurança dos afetados –

Princípio 8

Todo ser humano tem o

direito inerente à vida.

Este direito deve ser

protegido por lei.

Ninguém o deve privar

arbitrariamente da sua

vida.

Artigo 3.º comum;

CG IV, arts. 27(3) e

27; PA I, art. 75; PA

II, arts. 2(1) e 4(1);

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 87

e 88

Os Estados Membros

aceitam que têm a

responsabilidade

primária pela proteção

da segurança física e

material dos

deslocados internos

durante a fuga, nos

lugares onde os

deslocados se

encontram e no

regresso, ou no

reassentamento em

algum outro local

dentro do território do

Estado – art. 3(3)

Aderem aos princípios

do Direito

Internacional

Humanitário e do

Direito Internacional

dos Direitos Humanos

aplicáveis à proteção

dos deslocados

internos em geral e tal

como é refletido nos

Princípios Orientadores

em particular – art.

4(1)(a)

Os deslocados internos

devem ser, sobretudo,

protegidos contra:

a. o genocídio;

b. o assassinato;

c. as execuções sumárias

e arbitrárias; e

d. os desaparecimentos

forçados, incluindo rapto

ou detenção sem

comunicação prévia, que

represente ameaça ou

provoque a morte. As

ameaças e o incitamento

para o cometimento de

quaisquer dos

supracitados atos devem

ser proibidos – Princípio

10(1)

Todo ser humano tem o

direito de ser

reconhecido, em

qualquer parte, como

pessoa perante a lei –

Princípio 20(1)

Os deslocados internos,

vivendo ou não nos

campos, não devem

sofrer discriminação

como consequência do

seu deslocamento no

gozo dos seguintes

direitos:

a. os direitos à liberdade

de pensamento,

consciência, religião ou

credo, opinião e

expressão;

b. o direito de procurar,

livremente, as

oportunidades de

emprego e participar em

atividades econômicas;

c. o direito de livre

associação e participação

nos assuntos da

comunidade;

d. o direito de votar e

participar nos assuntos

governamentais e

públicos, incluindo o

direito a ter acesso aos

meios necessários para o

exercício deste direito; e

e. o direito de

comunicar na língua que

dominam – Princípio 22

Os Estados devem abster-

se de praticar deslocamento

arbitrário – art. 3(1)(a)

Todas as pessoas têm o

direito de serem protegidas

contra o deslocamento

arbitrário – art. 4(4)

Todas as autoridades e

atores internacionais

deverão respeitar e

assegurar o respeito das

suas obrigações à luz do

Direito Internacional,

incluindo os direitos

humanos e lei

Artigo 1.o comum;

CG I, art. 49; CG

IV, arts. 49 e 147;

PA I, arts. 51(7),

78(1) , 85(1) e

85(4)(a); PA II, arts.

4(3)(e) e 17; normas

do Direito

Os Estados Membros

se comprometem a

prevenir o

deslocamento arbitrário

e eliminar as causas

profundas do

deslocamento – art.

3(1)

humanitária90, em

quaisquer circunstâncias,

de modo a prevenir e

impedir condições que

conduzam ao

deslocamento de pessoas

– Princípio 5

Todo ser humano tem o

direito de ser protegido

contra o deslocamento

arbitrário da sua casa ou

do seu local de

residência habitual –

Princípio 6(1)

Internacional

Humanitário

Consuetudinário

129, 139, 144 e 156

Os Estados Partes

protegem os direitos dos

deslocados internos,

abstendo-se de praticar e

prevenindo: discriminação,

genocídio, crimes contra a

humanidade, crimes de

guerra e outras violações

do DIH; mortes arbitrárias,

execuções sumárias,

detenção arbitrária, rapto,

desaparecimento forçado,

tortura e qualquer outra

forma de tratamento cruel,

desumano ou degradante,

violência sexual e fundada

no gênero (p.ex. violação

sexual, prostituição forçada

e exploração sexual)

escravidão e fome – art.

9(1)(a) - (e)

Estes Princípios não

protegem a

responsabilidade

criminal individual à luz

do direito internacional,

particularmente referente

a genocídios, crimes

contra a humanidade e

crimes de guerra –

Princípio 1(2)

Estes Princípios devem

ser aplicados sem

nenhum tipo de

discriminação, tais como

raça, cor, sexo, língua,

religião ou credo,

opinião política ou

similar, nacionalidade,

origem étnica ou social,

estatuto legal ou social,

idade, deficiência,

propriedade, nascimento,

ou por quaisquer

critérios similares.

O deslocamento não

deve ser realizado de

maneira a violar os

direitos à vida,

dignidade, liberdade e

segurança dos afetados –

Princípio 8

Todo ser humano tem o

direito inerente à vida.

Este direito deve ser

protegido por lei.

Ninguém o deve privar

arbitrariamente da sua

vida. Os deslocados

internos devem ser,

sobretudo, protegidos

contra:

a. o genocídio;

b. o assassinato;

CG IV, arts. 27, 32,

34, 146 e 147; PA I,

arts. 51, 75, 76, 77 e

85; PA II, arts. 4 e

13; normas do

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário 1,

7, 89, 90-94, 96, 98-

99 e 15691

90 Ver nota 8.

91 Como essa lista não é exaustiva, outras disposições podem ser relevantes aqui; em particular, as que são relativas à repressão penal de crimes de guerra e outras violações do DIH.

c. as execuções sumárias

e arbitrárias; e

d. os desaparecimentos

forçados, incluindo rapto

ou detenção sem

comunicação prévia, que

represente ameaça ou

resulte em morte. As

ameaças e o incitamento

para o cometimento de

quaisquer dos

supracitados atos devem

ser proibidos – Princípio

10(1)

Os deslocados internos,

com ou sem liberdade

restringida, têm o direito

de serem protegidos, em

particular de:

a. estupro, mutilação,

tortura, crueldade,

castigo ou tratamento

desumano e degradante,

e outras ofensas contra a

sua dignidade pessoal,

tais como atos de

violência específica do

gênero, prostituição

forçada e qualquer forma

de ameaça indecorosa;

b. escravidão ou

qualquer forma de

escravidão

contemporânea, tais

como venda para

casamento, exploração

sexual, trabalho forçado

infantil;

c. atos de violência com

intenção de espalhar o

terror dentre os

deslocados internos.

Devem-se proibir as

ameaças e incitamentos

para o cometimento dos

supracitados atos –

Princípio 11(2)

Todo ser humano tem o

direito à liberdade e à

segurança da sua pessoa.

Ninguém deve ser preso

ou detido

arbitrariamente.

A aplicação prática deste

direito no seio dos

deslocados pressupõe

que estes não devem ser

internados ou confinados

a um campo. Se, em

circunstâncias

excepcionais, tais

internamentos ou

confinamentos forem

absolutamente

necessários, deverão ser

limitados ao período

determinado por tais

circunstâncias.

Os deslocados internos

devem ser protegidos

contra a prisão e

detenção

discriminatórias,

causadas pelo seu

deslocamento.

Não se pode, de maneira

nenhuma, fazer os

deslocados internos de

reféns – Princípio 12.

Os deslocados internos

devem ser protegidos

contra práticas

discriminatórias de

recrutamento para

quaisquer forças armadas

ou grupos devido à sua

condição de deslocados.

Em particular, devem-se

proibir quaisquer

práticas cruéis,

desumanas ou

degradantes que forcem

o cumprimento ou

punam o incumprimento

com recrutamento –

Princípio 13(2)

Os Estados devem respeitar

e garantir o respeito pelos

princípios de humanidade e

da dignidade humana dos

deslocados internos – art.

3(1)(c)

O deslocamento não

deve ser realizado de

maneira a violar os

direitos à vida,

dignidade, liberdade e

segurança dos afetados –

Princípio 8

Todo ser humano tem o

direito à dignidade e

integridade física, mental

e moral – Princípio 11(1)

Todo ser humano tem o

direito à liberdade e à

segurança da sua pessoa.

Ninguém deve ser preso

ou detido arbitrariamente

– Princípio 12(1)

Artigo 3.o comum;

CG IV, art. 27; PA

I, art. 75; PA II, art.

4; norma do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 87

Os Estados devem respeitar

e garantir o respeito do

Direito Internacional

Humanitário relativo à

proteção de deslocados

internos – art. 3(1)(e)

Estes Princípios não

devem ser interpretados

de forma a restringir,

modificar ou debilitar as

disposições de quaisquer

instrumentos de direitos

humanos internacionais

ou da lei humanitária92

internacional ou direitos

garantidos às pessoas ao

abrigo do Direito

Além das

disposições do DIH

explicitamente

incluídas na

Convenção de

Kampala, outras

disposições

relevantes do DIH

são: assistência e

ajuda às crianças,

em particular

Aderem aos princípios

do Direito

Internacional

Humanitário e do

Direito Internacional

dos Direitos Humanos

aplicáveis à proteção

dos deslocados

internos em geral e tal

como é refletido nos

Princípios Orientadores

92 Ver nota 85.

Interno. É importante

sublinhar que estes

Princípios não

funcionam em

detrimento do direito de

se procurar e aceitar

asilo nos outros países –

Princípio 2(2)

São proibidos, para todos

os efeitos, os ataques ou

outros atos de violência

contra os deslocados

internos que não, ou já

não, participam nas

hostilidades. Os

deslocados internos

devem ser

particularmente

protegidos contra:

a. os ataques diretos ou

indiscriminados ou

outros atos de violência,

incluindo a criação de

áreas onde são

permitidos os ataques

contra os civis;

b. a fome como um

método de combate;

c. o seu uso para

proteger os objetivos

militares dos ataques ou

proteger, favorecer ou

impedir as operações

militares;

d. os ataques contra os

seus campos ou

instalações;

e. o uso de minas

antipessoal – Princípio

10(2)

Não se deve, em

nenhuma circunstância,

recrutar, exigir ou

permitir que crianças

deslocadas tomem parte

em hostilidades –

Princípio 13(1)

educação,

reunificação familiar

e proteção contra o

recrutamento

forçado; respeito e

proteção aos

deslocados internos

feridos;

salvaguardas

procedimentais e

garantias judiciais

para os deslocados

que estejam detidos

(artigo 1.o comum;

CG IV, arts. 5,

16(2), 23-24, 26-27,

38, 49-51, 66-76,

82(2-3), 89 e 94(2);

PA I, arts. 70(1), 74,

75 e 77; PA II,

arts. 4(3) e 6;

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário

100, 105, 111, 131,

135, 136, 139 e 144

em particular – art.

4(1)(a)

Os Estados deverão tomar

as medidas necessárias para

assegurar que os

deslocados internos sejam

acolhidos sem

discriminação de qualquer

tipo e vivam em condições

satisfatórias de

tranquilidade, dignidade e

segurança – art. 9(2)(a)

Estes Princípios devem

ser aplicados sem

nenhum tipo de

discriminação, como

raça, cor, sexo, língua,

religião ou credo,

opinião política ou

similar, nacionalidade,

origem étnica ou social,

estatuto legal ou social,

idade, deficiência,

propriedade, nascimento,

ou por quaisquer

critérios similares –

Princípio 4(1)

As autoridades

empreendendoras de tal

Artigo 3.o comum;

CG IV, art. 27; PA

I, art. 75; PA II, arts.

2(1) e 4(1); Normas

do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 87

e 88

Garantir a localização

segura dos deslocados

internos, em condições

satisfatórias de

dignidade, higiene,

água, comida e abrigo,

longe das zonas de

conflito armado e

perigo, considerando as

necessidades

específicas das

mulheres, crianças,

pessoas vulneráveis e

com deficiência – art.

4(1)(f)

deslocamento devem

assegurar, de maneira

prática, que seja

fornecido alojamento

adequado aos deslocados

e que tais deslocamentos

sejam efetuados em

condições satisfatórias

de segurança, nutrição,

saúde e higiene e que

não haja separação dos

membros da mesma

família – Princípio 7(2)

1. Todos os deslocados

internos têm o direito a

um padrão adequado de

vida.

2. No mínimo,

independentemente das

circunstâncias, e sem

discriminação, as

autoridades competentes

deverão fornecer aos

deslocados internos e

assegurar o acesso

seguro a:

a. alimentação básica e

água potável;

b. abrigo básico e

habitação;

c. vestuário adequado; e

d. serviços médicos

essenciais e saneamento.

3. Deverão ser

empreendidos esforços

especiais para garantir a

total participação das

mulheres no

planejamento e

distribuição dessas

provisões básicas –

Princípio 18(3)

Os deslocados internos,

vivam ou não nos

campos, não devem

sofrer discriminação

como consequência do

deslocamento, no gozo

dos seguintes direitos:

a. os direitos à liberdade

de pensamento,

consciência, religião ou

credo, opinião e

expressão;

b. o direito de procurar,

livremente, as

oportunidades de

emprego e participar em

atividades econômicas;

c. o direito de livre

associação e participação

nos assuntos da

comunidade;

d. o direito de votar e

participar nos assuntos

governamentais e

públicos, incluindo o

direito a ter acesso aos

meios necessários para o

exercício deste direito; e

e o direito de comunicar

na língua que dominam.

Os Estados devem tomar

todas as medidas especiais

com vista a proteger e

providenciar a saúde sexual

e reprodutiva das mulheres

deslocadas, assim como o

apoio psicossocial

apropriado às vítimas de

abusos sexuais e outros

afins – art. 9(2)(d)

Todos os deslocados

internos feridos e

doentes, assim como as

pessoas deficientes,

devem receber, até um

grau máximo de

exequibilidade e com um

mínimo de atraso

possível, o tratamento

médico de que precisam,

sem qualquer tipo de

distinção. Os deslocados

internos devem ter

acesso, quando

necessário, aos serviços

psicológicos e sociais –

Princípio 19(1)

Deve-se dar uma atenção

especial às necessidades

sanitárias da mulher,

incluindo o acesso aos

serviços e àqueles que

prestam cuidados

sanitários femininos, tais

como saúde reprodutiva,

bem como o

aconselhamento

apropriado às vítimas de

abusos sexuais e outros

abusos.

CG IV, art. 16(2);

PA I, art. 10(2); PA

II, art. 7(2); normas

do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 110

e 131

Garantir a localização

segura dos deslocados

internos, em condições

satisfatórias de

dignidade, higiene,

água, comida e abrigo,

longe das zonas de

conflito armado e

perigo, considerando as

necessidades

específicas das

mulheres, crianças,

pessoas vulneráveis e

com deficiência – art.

4(1)(f)

Respeitar e apoiar a

Resolução 1296 do

Conselho de Segurança

aplicável à proteção da

população civil durante

conflitos armados,

assim como a

Resolução do Conselho

de Segurança 1325

aplicável à proteção de

mulheres e seu papel

durante conflitos

armados, incluindo a

sua participação na

tomada de decisões e

na administração de

programas, com

relação à sua

segurança, bem-estar,

necessidades de saúde,

cuidados sanitários,

direitos reprodutivos,

distribuição de

alimentos e processo

de retorno – art. 4(1)(b)

Os Estados devem respeitar

e assegurar aos deslocados

internos o direito de

procurar segurança numa

outra região do Estado e de

serem protegidos contra o

regresso forçado ou o

reassentamento num local

onde a sua vida, segurança

e liberdade e/ou a sua

saúde estiverem em risco –

art. 9(2)(e)

Os deslocados internos

têm:

a. o direito de procurar

segurança numa outra

parte do país;

b. o direito de sair do seu

país;

c. o direito de procurar

asilo num outro país; e

d. o direito de ser

protegidos contra o

regresso forçado ou o

reassentamento em

qualquer lugar onde a

sua vida, segurança,

liberdade e/ou saúde

possam ser colocados em

risco – Princípio 15

CG IV, arts. 49 e

147; PA I,

arts. 51(7), 78(1) e

85(4)(a); PA II, arts.

4(3)(e), e 17;

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 129

e 132.

Garantir que este

Protocolo não revogue

o direito dos

deslocados internos de

procurar e gozar de

asilo em outros Estados

nem derrogue o

princípio fundamental

de não devolução –

art. 4(1)(k)

Os Estados se

comprometem a garantir a

liberdade de movimento e

de escolha de residência

dos deslocados internos,

exceto nos casos em que as

restrições de movimentação

e de residência se

imponham

necessariamente,

justificadas e proporcionais

às exigências da segurança

dos deslocados internos ou

por razões de manutenção

da segurança, da ordem e

da saúde públicas – art.

9(2)(f)

1. Todo ser humano tem

o direito à liberdade e à

segurança da sua pessoa.

Ninguém poderá ser

preso ou encarcerado

arbitrariamente.

2. A aplicação prática

deste direito no seio dos

deslocados pressupõe

que estes não devem ser

internados ou confinados

a um campo. Se, em

circunstâncias

excepcionais, tais

internamentos ou

confinamentos forem

absolutamente

necessários, deverão ser

limitados ao período

determinado por tais

circunstâncias.

3. Os deslocados

internos devem ser

protegidos contra a

prisão e detenção

discriminatórias,

causadas pelo seu

deslocamento.

4. Não se pode, de

maneira nenhuma, fazer

os deslocados internos de

reféns – Princípio 12.

Todo deslocado interno

tem o direito à liberdade

de movimento e à

liberdade de escolher a

sua residência.

Em particular, todo

deslocado tem o direito

de circular livremente

dentro e fora dos campos

ou em outras instalações

– Princípio 14

CG IV, arts. 42-43 e

78; PA I, art. 75; PA

II, art. 5(1); norma

do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 99

Garantir liberdade de

movimento e escolha

de residência dentro

das áreas de

localização designadas,

exceto quando a

restrição a tal

movimento e

residência seja

necessária, justificada e

proporcional às

exigências da

manutenção da

segurança pública, da

ordem pública e da

saúde pública – art.

4(1)(g)

Os Estados se

comprometem a respeitar e

manter o caráter civil e

humanitário dos locais de

acolhimento dos

deslocados internos e

proteger esses lugares

contra infiltrações de

grupos ou elementos

armados, desarmar e

separar esses grupos ou

elementos dos deslocados

internos – art. 9(2)(g)

Não se deve desviar a

assistência humanitária

destinada aos deslocados

internos, em particular

para fins políticos ou

militares – Princípio 24

CG IV, arts. 4 e 27;

PA I, arts. 48, 51, 52

e 75; PA II, arts. 4 e

13; normas do

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário 1 e

7-9

Outras normas

relevantes que

poderiam ser vistas

como subjacentes à

importância de

respeitar os campos

dos deslocados são:

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 15,

22 e 131.

Os Estados Membros

deverão salvaguardar e

manter o caráter civil e

humanitário da

proteção e localização

dos deslocados

internos, em

conformidade com as

diretrizes

internacionais sobre a

separação dos

elementos armados –

art. 3(9)

Os Estados se

comprometem a tomar as

1. Todos os deslocados

internos têm o direito de

CG IV, arts. 25, 26,

27, 49 e 82 (2-3);

Facilitar a reunificação

familiar e prestar,

medidas necessárias para

localizar e reunificar as

famílias separadas, com

vista a facilitar o

restabelecimento de laços

familiares – art. 9(2)(h)

conhecer o destino e o

paradeiro dos seus

familiares desaparecidos.

2. As autoridades

competentes devem

esforçar-se para

estabelecer o destino e o

paradeiro das pessoas

desaparecidas e cooperar

com as relevantes

organizações

internacionais a cargo

desta tarefa. Elas devem

informar os parentes

mais próximos sobre o

progresso da

investigação e notificá-

los sobre quaisquer

resultados. – Princípio

16 (1-2) 93

1. Todo ser humano tem

o direito ao respeito da

sua família.

2. A aplicação prática

deste direito no seio dos

deslocados internos

significa permitir,

àqueles membros da

família que assim

desejam, ficarem juntos.

3. As famílias que estão

separadas devido a

deslocamento devem ser

reunificadas o mais

rapidamente possível.

Todas as medidas

apropriadas devem ser

tomadas para se acelerar

a reunião de tais

famílias, particularmente

quando estão envolvidas

crianças. As autoridades

responsáveis devem

facilitar os inquéritos

feitos pelos familiares e

encorajar e cooperar com

o trabalho das

organizações

humanitárias a cargo

desta tarefa de reunião

de famílias.

4. Os membros de

famílias dos deslocados

internos cujas liberdades

tenham sido

restringidas por

internação ou

confinamento em

campos devem ter o

direito de

permanecerem juntas –

Princípio 17

PA I, arts. 74 e

75(5); PA II,

art. 4(3); Normas do

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário 105

e 117

quando necessário,

proteção especial às

famílias de identidade

étnica – art 4(1)(h)

93 O Princípio 16 (3-4) também faz referência a atividades forenses que não são mencionadas na Convenção de Kampala.

Os Estados deverão criar e

manter um registro

atualizado de todos os

deslocados internos que se

encontrem sob a sua

jurisdição ou controle

efetivo. Nesse processo, os

Estados poderão colaborar

com as organizações

internacionais ou agências

humanitárias ou

organizações da sociedade

civil – art. 13(1)

Os Estados Membros

deverão, na medida

necessária, assistir os

deslocados internos

com um registro e, em

tais casos, os Estados

Membros manterão

uma base de dados

para o registro de

deslocados internos –

art. 3(4)

Os Estados assegurarão que

sejam emitidos aos

deslocados internos

documentos de

identificação civil

necessários – art. 13(2)

Nesse sentido, mulheres e

homens, assim como

crianças desacompanhadas,

têm igualmente o direito de

receber os documentos

necessários de identificação

– art. 13(4)

Todo ser humano tem o

direito de ser

reconhecido, em

qualquer parte, como

pessoa perante a lei.

A aplicação prática deste

direito no seio dos

deslocados internos

pressupõe a emissão,

pelas autoridades

competentes, de todos os

documentos necessários

para o gozo e exercício

dos seus direitos legais,

tais como passaportes,

documentos de

identificação pessoal,

certificados de

nascimento e certificados

de casamento. Em

particular, as autoridades

devem facilitar a emissão

de novos documentos

para substituir os

extraviados no decurso

do deslocamento, sem

imposição de condições

despropositadas, tais

como a exigência do

regresso a área de

residência habitual com

vista a obter esses ou

outros documentos

necessários.

As mulheres e os

homens devem ter

direitos iguais no que

respeita à obtenção de

tais documentos, assim

como o direito de acesso

aos documentos emitidos

em seus nomes –

Princípio 20.

CG IV, arts. 50

e 97(6)

Os Estados se

comprometem a tomar as

medidas necessárias para

proteger os bens

individuais, coletivos e

culturais dos deslocados

internos – art. 9(2)(i)

1. Ninguém deve ser

arbitrariamente privado

da sua propriedade e

seus bens.

2. A propriedade e os

bens deixados pelos

deslocados internos

devem ser protegidos em

CG IV arts. 33(2) e

147; PA I, arts. 51,

52, 75(2)(d) e 85;

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 7,

11, 51, 52 e 133

quaisquer circunstâncias,

em particular contra os

seguintes atos:

a. pilhagem;

b. ataques diretos ou

indiscriminados ou

outros atos de violência;

c. proteção das

operações ou objetivos

militares;

d. objeto de represálias; e

e. destruição ou

apropriação como forma

de punição coletiva.

3. A propriedade e os

bens deixados pelos

deslocados internos no

ato da fuga, devem ser

protegidos contra a

destruição e apropriação,

ocupação ou uso

arbitrário ou ilegal –

Princípio 21

Obrigações

relativas aos

atores

humanitários

Onde os recursos

disponíveis forem

inadequados, os Estados

devem cooperar com vista

a solicitar a assistência das

organizações

internacionais, agências

humanitárias, organizações

da sociedade civil e outros

atores concernentes – art.

5(6)

As organizações

humanitárias

internacionais e os outros

atores apropriados têm o

direito de oferecer os

seus serviços em apoio

aos deslocados internos.

Tal oferta não deve ser

encarada como um ato

inamistoso ou como

interferência nos

assuntos internos do

Estado e deve ser

considerada de boa fé.

Não se deve, por isso,

negar arbitrariamente o

consentimento à sua

atuação, particularmente

quando as autoridades

competentes estão

incapacitadas ou não

estão dispostas a prestar

a assistência humanitária

necessária – Princípio

25(2)

CG IV, art. 59; PA

I, arts. 70 e 71; PA

II, art. 18; norma do

Direito Internacional

Humanitário

Consuetudinário 55

Caso os governos dos

Estados Membros

sejam incapazes de

assistir os deslocados

internos, deverão

aceitar e respeitar a

obrigação dos órgãos

da comunidade

internacional de prestar

proteção e assistência

aos deslocados – art.

3(10)

Os Estados devem tomar

todas as medidas

necessárias para organizar

as operações de socorro de

caráter humanitário

imparcial – art. 5(7)

Cabe às autoridades

nacionais o dever e a

responsabilidade

primários de prestar a

assistência humanitária

aos deslocados internos –

Princípio 25(1)

Toda assistência

humanitária deve ser

prestada em

conformidade com os

princípios da

humanidade e

imparcialidade e sem

discriminação. Não se

deve desviar a

assistência humanitária

destinada aos deslocados

CG IV, arts. 23, 55 e

59; PA I, arts. 69, 70

e 71; PA II, art. 18;

norma do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 55

Observar os princípios

humanitários e os

padrões éticos relativos

à prestação de

assistência aos

deslocados internos

que necessitam dessa

assistência – art. 4(1)(i)

internos, em particular

para fins políticos ou

militares – Princípio 24

Os Estados Parte devem

autorizar a passagem rápida

e livre de todas as

operações, equipamentos e

pessoal de socorro aos

deslocados internos. Nesse

sentido, terão o direito de

definir as condições

técnicas através das quais

essa passagem é autorizada

– art. 5(7)

Todas as autoridades

competentes devem

garantir e facilitar a livre

passagem da assistência

humanitária e garantir às

pessoas encarregadas de

tal assistência um rápido

e livre acesso aos

deslocados internos –

Princípio 25 (3)

CG IV, arts. 23, 55 e

59; PA I, arts. 70,

71; PA II, art. 18;

norma do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 55

Os Estados Membros

devem facilitar um

acesso humanitário

rápido e desimpedido e

assistência aos

deslocados internos –

art. 3(6)

Caso os governos dos

Estados Membros

sejam incapazes de

proteger e assistir os

deslocados internos,

tais governos deverão

aceitar e respeitar a

obrigação dos órgãos

da comunidade

internacional de prestar

proteção e assistência

aos deslocados – art.

3(10)

Os Estados deverão

respeitar, proteger e não

atacar os atores e recursos

humanitários mobilizados

para a assistência ou para

beneficiar os deslocados

internos – art. 5(10)

Deve-se respeitar e

proteger os transportes e

provisões das pessoas a

cargo da assistência

humanitária. Não devem

ser atacados ou alvos de

outros atos de violência

– Princípio 26

Não se deve desviar a

assistência humanitária

destinada aos deslocados

internos, em particular

para fins políticos ou

militares – Princípio

24(2)

PA I, arts. 70 e 71;

norma do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 31

Os Estados Membros

também garantirão

segurança e proteção

do pessoal humanitário

em áreas de

deslocamento – art.

3(8)

Facilitar

soluções

duradouras

(regresso,

integração local

ou

transferência)

Os Estados Partes devem

tentar encontrar soluções

duradouras relativamente

ao problema do

deslocamento promovendo

e criando condições

satisfatórias para o regresso

voluntário, integração local

ou transferência numa base

sustentável e em

circunstâncias de segurança

e dignidade – art. 11(1)

As autoridades

competentes têm o dever

e a responsabilidade

primários de criar

condições, assim como

de fornecer meios que

permitam o regresso

voluntário, em segurança

e com dignidade, dos

deslocados internos às

suas casas ou aos locais

de residência habituais,

ou o seu reassentamento

voluntário em qualquer

outra parte do país. Tais

autoridades devem

esforçar-se para facilitar

a reintegração das

pessoas regressadas ou

reassentadas que outrora

foram deslocados

internos – Princípio

28(1)

Os deslocados internos

que regressaram às suas

casas ou locais de

CG IV, art. 49(2);

PA II, art. 17;

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 129

e 132

Os Estados Membros

aceitam que têm a

responsabilidade

primária pela proteção

da segurança física e

material dos

deslocados internos

durante o regresso, ou

no reassentamento em

algum outro local

dentro do território do

Estado – art. 3(3)

Os Estados Membros

devem criar condições

para o regresso e a

reintegração ou o

reassentamento das

pessoas e populações

deslocadas, como

estabelece a Seção V

dos Princípios

Orientadores – art. 5(7)

residência habituais ou

que se reassentaram em

outra parte do país não

devem ser discriminados

por terem sido

deslocados. Devem ter o

direito a uma

participação total e igual,

nos assuntos públicos

em todos os níveis,

gozando dos mesmos

direitos de acesso aos

serviços públicos –

Princípio 29(1)

Os Estados Partes devem

permitir que os deslocados

internos façam escolhas

livres e conscientes sobre o

seu regresso, ou se devem

reintegrar-se localmente ou

serem transferidos,

consultando-os sobre as

opções – art. 11(2)

Se o deslocamento

ocorrer em situações que

não tenham sido

provocadas por

emergência dos conflitos

armados e calamidades,

deverão ser observadas

as seguintes garantias:

serão tomadas medidas

adequadas para garantir

às pessoas que serão

deslocadas todas as

informações, quando

aplicáveis, sobre a

transferência; as

autoridades competentes

devem esforçar-se para

envolver as pessoas

afetadas, sobretudo as

mulheres, no

planeamento e gestão da

sua transferência –

Princípio 7(3)(b) e (d)

Devem-se envidar

esforços para assegurar a

participação plena dos

deslocados internos no

planeamento e gestão do

seu regresso ou

reassentamento e

reintegração – Princípio

28(2)

CG IV, art. 49(2);

PA II, art. 17;

normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 129

e 132

Respeitar e apoiar a

Resolução 1296 do

Conselho de Segurança

aplicável à proteção da

população civil durante

conflitos armados,

assim como a

Resolução do Conselho

de Segurança 1325

aplicável à proteção de

mulheres e seu papel

durante conflitos

armados, incluindo a

sua participação na

tomada de decisões e

na administração de

programas, com

relação à sua

segurança, bem-estar,

necessidades de saúde,

cuidados sanitários,

direitos reprodutivos,

distribuição de

alimentos e processo

de retorno – art. 4(1)(b)

Os Estados deverão

cooperar, quando

apropriado, com as

organizações internacionais

ou agências humanitárias e

organizações da sociedade

civil na prestação de

proteção e assistência no

decurso da busca e

implementação de soluções

para um regresso

duradouro, integração local

ou transferência e

reconstrução de longo

prazo – art. 11(3)

Todas as autoridades

competentes devem

garantir e facilitar às

organizações

humanitárias

internacionais e aos

outros atores

apropriados, no exercício

dos seus respectivos

mandatos, o acesso

rápido e livre aos

deslocados a fim de

assisti-los no seu

regresso, reassentamento

e reintegração –

Princípio 30

Os Estados Membros

devem criar condições

para o regresso e a

reintegração ou o

reassentamento das

pessoas e populações

deslocadas, como

estabelece a Seção V

dos Princípios

Orientadores – art. 5(7)

e, consequentemente,

Princípio 30

Os Estados adotarão um

quadro jurídico efetivo, a

fim de garantir uma

compensação justa e

equitativa ou outras formas

de reparação pelos

prejuízos resultantes do

deslocamento – art. 12(2)

Se o deslocamento

ocorrer em situações que

não tenham sido

provocadas por

emergência dos conflitos

armados e calamidades,

dever-se-á respeitar o

direito a uma solução

efetiva, incluindo a

revisão de tais decisões

pelas autoridades

judiciais competentes –

Princípio 7(3)(f)

As autoridades

competentes têm o dever

e a responsabilidade

primários de prestar

assistência aos

deslocados internos

regressados e/ou

reassentados, para

recuperarem, na medida

do possível, as suas

propriedades e bens que

deixaram ou dos quais se

viram privados aquando

do seu deslocamento.

Quando não for possível

recuperar tais

propriedades e bens, as

autoridades competentes

deverão fornecer ou

assistir essas pessoas na

obtenção da devida

indenização ou outra

forma justa de reparação

dos danos – Princípio

29(2)

Normas do Direito

Internacional

Humanitário

Consuetudinário 150

e 13394

Os Estados Membros

devem criar condições

para o regresso e a

reintegração ou o

reassentamento das

pessoas e populações

deslocadas, como

estabelece a Seção V

dos Princípios

Orientadores – art. 5(7)

e, consequentemente,

Princípio 29(2)

94 De acordo com o DIH, os Estados responsáveis por violações do DIH devem proporcionar plena reparação por perdas ou prejuízos causados (PA I, art. 91; norma do Direito Internacional Humanitário Consuetudinário 150. No entanto, o direito dos indivíduos de pedir reparação não é reconhecido em normas vinculantes. Dito isto, há uma crescente prática dos Estados nesse sentido, assim como instrumentos não vinculantes que preveem esse direito (Assembleia Geral da ONU, Princípios Básicos e Diretrizes sobre o Direito a Medidas de Recurso e Reparação para Vítimas de Graves Violações ao Direito Internacional dos Direitos Humanos e ao Direito Internacional Humanitário: resolução / adotada pela Assembleia Geral em 21 de março de 2006, A/RES/60/147, [http://www.refworld.org/docid/4721cb942.html (acesso em 30 de setembro de 2016)]). Finalmente, isto é complementado pelas obrigações do Direito Internacional dos Direitos Humanos relativas a reparações.

Referências

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(http://www.unhcr.org/protection/idps/43ce1cff2/guiding-principles-internal-displacement.html)

CICV, Movement Policy on Internal Displacement, Resolution No. 5 of the 2009 Council of Delegates, Genebra, 1 de

dezembro de 2015

(https://www.icrc.org/en/publication/1124-movement-policy-internal-displacement-resolution-no-5-2009-council-delegates)

CICV, The Domestic Implementation of International Humanitarian Law, manual, 2015

(https://www.icrc.org/eng/resources/documents/publication/pdvd40.htm)

CMDI, Capacity-building on law and policy-making on internal displacement (training package) CMDI, Genebra, janeiro de 2016

(http://www.internal-displacement.org/publications/2016/capacity-building-on-)

CMDI, From Kampala to Istanbul: Advancing global accountability for IDPs through law and policy making

(http://www.internal-displacement.org/publications/2016/from-kampala-to-istanbul-advancing-global-accountability-for-idps-through-law-and-policy-making)

CMDI, GRID 2016 – Global Report on Internal Displacement (Internal Displacement Monitoring Centre)

(http://www.internal-displacement.org/assets/publications/2016/2016-global-report-internal-displacement-IDMC.pdf)

CMDI, The Kampala Convention two years on: time to turn theory into practice

(http://www.internal-displacement.org/publications/2014/the-kampala-convention-two-years-on-time-to-turn-theory-into-practice)

CMDI, Workshop Report - Kampala Convention: from ratification to domestication and operationalization

(http://www.internal-displacement.org/publications/2016/workshop-report-)

Conselho Norueguês de Refugiados (CNR), The Kampala Convention: Make it work for women

(https://www.nrc.no/globalassets/pdf/reports/the-kampala-convention---make-it-work-for-women.pdf)

Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), The Pact on Security, Stability and Development for

the Great Lakes Region, Nairóbi, 2006

(http://www.icglr.org/images/Pact%20ICGLR%20Amended%2020122.pdf)

Conselho de Direitos Humanos da ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced

persons, Chaloka Beyani, A/HRC/26/33, ONU, Nova York, 2014

(https://daccess-ods.un.org/TMP/5365040.89832306.html)

Convenção da União Africana para a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (Convenção de

Kampala)

(http://www.peaceau.org/uploads/au-convention-for-the-protection-and-assistance-of-idps-in-africa-kampala-convention-.pdf)

Lista de países que assinaram, ratificaram/aderiram à Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às

Pessoas Deslocadas Internamente na África (Convenção de Kampala)

(http://www.au.int/en/sites/default/files/treaties/7796-sl-african_union_convention_for_the_protection_and_assistance_of_internally_displaced_persons_in_africa_kampala_convention_11.pdf)

ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced persons, Chaloka Beyani, A/HRC/32/35,

ONU, Nova York, abril de 2016

(https://daccess-ods.un.org/TMP/8979222.17845917.html)

ONU, Report of the Special Rapporteur on the human rights of internally displaced persons, Chaloka Beyani, A/71/279,

ONU, Nova York, 2016

(https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N16/246/93/PDF/N1624693.pdf?OpenElement)

Programa sobre Política Humanitária e Conflito (Universidade de Harvard), Live Web-Seminar Series on Contemporary Challenges to Humanitarian Law and Policy, Live Seminar 31: Reinforcing the International Legal Framework for Protecting and Assisting IDPs:

The Kampala Convention

(http://feedproxy.google.com/~r/LiveSeminarSeries/~3/wYiiDq4T3a4/03222011.m4a)

Missão

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é uma organização imparcial, neutra e independente cuja missão

exclusivamente humanitária é proteger a vida e a dignidade das vítimas dos conflitos armados e de outras situações

de violência, assim como prestar-lhes assistência. O CICV também se esforça para evitar o sofrimento por meio da

promoção e do fortalecimento do direito e dos princípios humanitários universais. Fundado em 1863, o CICV deu

origem às Convenções de Genebra e ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. A

organização dirige e coordena as atividades internacionais que o Movimento conduz nos conflitos armados e em

outras situações de violência.

4287/002 04.2015 10.2016