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7/25/2019 Colonizao Poltica e Imprensa Mato-grossense o Caso Da Revista Brasil-oeste
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COLONIZAO, POLTICA E IMPRENSA MATO-GROSSENSE: O CASO DA
REVISTA BRASIL-OESTE*
SALGUEIRO, Eduardo de Melo**
1) Introduo
A revista Brasil-Oeste1 foi criada pelo jornalista Fausto Vieira de Campos e
produzida na cidade de So Paulo-SP, pela Brasil-Oeste Editra Ltda.2 Seu perodo de
circulao se estendeu entre janeiro de 1956 e agosto de 1967, totalizando a publicao de
123 edies. Campos dedicou boa parte de sua carreira jornalstica a escrever sobre o estado
de Mato Grosso, interesse despertado nos anos iniciais da dcada de 1950 em decorrncia de
sua passagem por Cceres e Cuiab,3 sobretudo aps ter assumido o cargo de assessor de
imprensa (1954) do ento governador mato-grossense Fernando Corra da Costa (UDN).4
Adquiriu prestgio e destaque no Centro-Oeste do pas, especialmente aps a publicao de
sua obra Retrato de Mato Grosso, no ano de 1955, na qual realizou uma abordagem
geoeconmica da regio. Seu livro, que mereceu duas outras publicaes, nos anos de 1960 e
1969, foi o primeiro passo para a editorao da RBO.
Fausto Vieira de Campos reuniu em torno de si e de seu projeto uma gama de
colaboradores e correspondentes. A linha editorial da RBO se dava em duas frentes
principais, sendo que a primeira procurava dar conta de tornar visveis as potencialidades
existentes no estado de Mato Grosso, com especial relevncia para as oportunidades
existentes na agropecuria. Para tal objetivo, seu segundo tpico principal consistia em
reclamar frente ao poder pblico, sobretudo da esfera Federal, um plano concreto que
acelerasse o desenvolvimento daquela regio, encarada como atrasada to somente por falta
de vontade poltica.
Levando isso em considerao, Campos acreditava que sua revista poderia ser um
canal de divulgao dos anseios mato-grossenses. O momento era especial para tal tarefa,
* Este artigo uma parte do terceiro captulo da dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao emHistria da Universidade Federal da Grande Dourados, sob orientao do Prof. Dr. Paulo Roberto CimQueiroz e financiada pela Capes (Conselho de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior) intitulada Omaior projeto em prol de Mato Grosso: uma anlise da RBO (1956-1967). 183f. Dourados/MS, 2011.
**Doutorando em Histria pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Bolsista Capes.1Doravante, RBO.2Essa editora contava com dois scios, Fausto Vieira de Campos (scio-majoritrio) e seu filho, Fausto M. G. V.
de Campos (scio-minoritrio). Informaes retiradas da Certido Simplificada. Contrato Social de Brasil-Oeste Editra. Ano de 1957, Junta Comercial do Estado de So Paulo.
3Fausto Vieira de Campos trabalhou para o jornal Folha da Manh entre os anos de 1953-1955. Nesse perodo,
o jornalista ficava encarregado de fazer reportagens exclusivamente sobre o estado de Mato Grosso.4Fernando Corra da Costa governou o estado de Mato Grosso por duas vezes, entre os anos de 1951-1956 e1961-1965. Em ambas as situaes representando o partido da Unio Democrtica Nacional (UDN).
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uma vez que a imprensa passava por modificaes impressionantes, tanto no que diz respeito
s novas possibilidades de produo e distribuio, aumento de publicidade, barateamento de
custo, mas tambm o papel de reformulao da profisso jornalstica. No Brasil, pelo menos
em tese, o jornalista buscava se desfazer da imagem de mero reprodutor da fala poltica. Para
tanto, almejava-se a mtica da objetividade [...] fundamental para dar ao campo lugar
autnomo e reconhecido, construindo o jornalismo como a nica atividade capaz de decifrar o
mundo para o leitor(BARBOSA, 2007, p. 150). Esse era um dos passos necessrios para a
atividade jornalstica ganhar mais respeito e representatividade junto sociedade, sendo capaz
de reproduzir os acontecimentos da melhor maneira para o seu leitor, de modo que esse
compreendesse os fatos da realidadepor meiodapalavra do jornalista.
Por conta disso, o discurso jornalstico passou a se revestir de uma aura de
fidelidade aos fatos, que lhe conferiu um considervel poder social(RIBEIRO, 2007, p. 14).
Assim, no ser apenas no campo poltico que exercer sua fora, mas, sobretudo,
conseguir mobilizao maior do pblico. Quanto maior a sua audincia, maior sua
divulgao e a lgica da conquista do prprio poder, poiso momento social da dcada de
1950 se faz crucial para uma imprensa que quer se transformar em porta-voz da
modernizao (BARBOSA, 2007, p. 153). Fausto Vieira de Campos discursava como se
fosse aquele cuja missoera fazer ecoar as vozes do esquecidoestado de Mato Grosso,
valendo-se do poder e da credibilidade de sua profisso, para tornar mais respeitada e
reconhecida aquela regiodo pas.
Nesse sentido, a RBO, tal como qualquer veculo de informao,deve ser concebida
no apenas como um peridico depositrio de acontecimentos nos diversos processos e
conjunturas, mas especialmente como uma fora ativa da histria (CRUZ; PEIXOTO,
2007, p. 257). Tal constatao no se d ao lu, pois quando do surgimento de sua primeira
edio, uma espcie de manifesto-programa foi publicado e estabelecia os principais
objetivos desse peridico. Vejamos:
Nossa revista tem uma finalidade precpua: tornar mais conhecida e melhorcompreendida a vasta regio do Centro-Oeste brasileiro, compreendida pelosEstados de Mato Grosso e Gois [...].No temos ligaes com grupos polticos nem econmicos. Nossa atuaoobedecer a um roteiro superior, tendo em vista difundir a maior soma deconhecimentos sbre as regies brasileiras que estabelecemos como quadronatural de nossa atividade jornalstica.Todos os problemas geoeconmicos que digam respeito aos Estados de MatoGrosso e de Gois e aos Territrios do Guapor e do Acre sero
gradativamente examinados em nossas colunas, de modo que se esboce,atravs de uma honesta difuso de opinies, uma soluo adequada e justapara les.
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Particular intersse merecero de nossa parte os assuntos agropecurios, poisque nesse ramo de atividades se fundamenta a parcela mais pondervel daeconomia dos Estados do Centro-Oeste.5
Como pode ser percebido, buscava-se estabelecer um roteiro superior, que estava
isento de ligaes com grupos polticos e econmicos. Pretendia-se difundir
conhecimentos sobre o Oeste do pas, na inteno de que fossem esboadas e lavradas
opinies e solues para os problemas daquela regio. Esse manifesto no foi o nico
desenvolvido pela a revista. Em diversas oportunidades, foi publicado um tipo de programa
de metas, em que constavam 10 tpicos especiais, cujo primeiro objetivo era fazer uma
colonizao intensiva nos estados de Mato Grosso e Gois. Por esta razo, resolvemos
analisar este tpico em especial, por meio de alguns textos publicados por essa revista entre os
anos de 1956-1961, que enfatizaram a questo da colonizao como uma das possibilidades
encaradas pelo seu grupo dirigente, como ideal para o desenvolvimento do estado de Mato
Grosso. Tal tema foi muito debatido na esfera poltica nos anos de 1950 e, conforme
ressaltam alguns autores que se debruaram a estudar sobre o assunto, essa dcada foi um
perodo de capital importncia para intensificar a colonizao em Mato Grosso (MORENO
[2007] ; LENHARO [1986]; VASCONCELOS [1986]).
Em meio mensagem de modernizao e desenvolvimento em Mato Grosso, a
questo da colonizao foi pea importante nas disputas polticas da regio, e a RBO noficou neutra naquele debate. Por conta disso, levantamos a possibilidade de que havia uma
consonncia de ideias entre o grupo que se aglutinou em torno daquele mensrio a uma
parcela dos polticos mato-grossenses, sob a liderana do governador Corra da Costa, pelo
menos no que tange ao tema em apreo.
2 A colonizao e a poltica no estado de Mato Grosso na dcada de 1950
No perodo da dcada de 1950, no Brasil havia uma corrente de pensamento poltico
(que tinha como seus maiores cones Getlio Vargas e Juscelino Kubitschek), que acreditava
na necessidade de uma ocupao efetiva e imediata do Extremo-Oeste do pas, pois ali seria
a terra da Promisso, com grandes reservas de terras frteis, que substituiriam as
esgotadas e devastadas do Leste(RODRIGUES, 1970, p. 84, grifo nosso) do pas, isto , o
osisdo desenvolvimento. O incio desse projeto se deu com a Marcha para Oeste, que
5RBO,ano I, n. 1, jan. 1956, p. 2. Resolvemos manter a ortografia da poca sem fazer qualquer alterao. Issovale para todas as citaes de documentos ou de bibliografia feitas neste artigo. Grifo nosso.
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incentivava a ocupao das regies vazias6do Brasil, sob a inteno de nacionalizar as
fronteiras e fortalecer a ideia de construo da Nao por todos os brasileiros (OLIVEIRA,
1999, p. 88), e que acabou desencadeando a criao dos projetos de Colnias Agrcolas
Nacionais, tais como a de Gois e a de Dourados na dcada de 1940.
Nesse sentido, o governo Vargas visava alargar o espao de produo e ocupao
nacional para localidades distantes, como Amazonas, Gois e Mato Grosso. Em resumo,
havia uma poltica de colonizao dirigida pelo Estado a fim de fazer com que trabalhadores
de outras regies pudessem se estabelecer em reas ainda pouco habitadas e, para isso, as
Colnias Agrcolas foram pensadas e colocadas em prtica. Ali, o Governo distribua terras
gratuitamente para quem quisesse nelas se estabelecer (LENHARO, 1986a, p. 50).
No estado de Mato Grosso, desde o governo de Arnaldo Estevo de Figueiredo
(PSD, 1947-1950), intensificava-se um plano de reorganizao da colonizao para acelerar o
desenvolvimento, contudo, a partir da posse de Figueiredo, houve um forte discurso
contrrio poltica de colonizao dirigida exclusivamente pelo Estado (LENHARO, 1986a).
O projeto estatal de colonizao lanado pelo Estado Novo foi reformulado pela associao
entre o poder pblico e as companhias privadas e, tal como afirma Lenharo, aps a queda de
Vargas, quando o intervencionismo estatal foi afastado [...] o tratamento da terra como
mercadoria implementou a expanso especulativa da colonizao do pas (1986b, p. 46).
Deste modo, o governadorplanejou uma ampla estratgia de ocupao do oeste brasileiro.
Esse modelo consistia na implantao de projetos oficiais de colonizao, por meio de
empresas particulares, o qual se revelou um projeto lucrativo, tanto em termos econmicos
quanto partidrio e eleitoral(MORENO, 2007, p. 103, grifo nosso).
A partir de ento, a cada novo governo que iniciava um mandato em Mato Grosso,
uma questo era colocada em pauta: a legislao de terras era sempre obsoleta para o
perodo, havendo, nesse sentido, urgncia em modific-la para facilitar o processo de
colonizao associado iniciativa privada. Na opinio de Figueiredo, a legislao seencontrava divorciada da realidade,pois a modalidade antiga de colonizar terrascerceava
os grandes empreendimentos particulares, capazes depromover a efetiva ocupao do Estado
em moldes empresariais (MORENO, 2007, p. 103, grifo nosso). Buscava-se, ento,
6 importante ressaltar que a regio de Mato Grosso era ocupada por povos indgenas muito antes da Marchapara Oeste varguista. Nesse sentido, povoar as regies vazias, naquela altura, significava que se buscavaajustar ali uma populao no indgena, ou, como ressalta Alcir Lenharo, assentar trabalhadoresdisciplinados e produtivos, mostrando toda a carga de excluso que tal empreendimento exerceu. O mesmo
autor, no entanto, informa que alm dos indgenas, outros segmentos da sociedade j estavam ali presentes.Nas palavras do autor, os espaos vazios no se encontravam to vazios assim. Sobre o tema: LENHARO(1986b).
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solucionar os problemas e entraves que dificultavam a aquisio de terras por empresas
particulares.
No governo seguinte, foi acentuado o plano de colonizao privada em Mato Grosso.
Conforme ressalta Gardin, no incio dos anos de 1950, quando comeava o seu primeiro
mandato (1951-1956), o governador Fernando Corra da Costa (UDN) apoiou-se em em trs
eixos de ao para o desenvolvimento do estado: energia, transporte e povoamento. No que
diz respeito ao que pertinente para a presente anlise, o governo tomou a deciso de
povoar-se o Mato Grosso por colonizao racional [entenda-se, por empreendimento
empresarial](GARDIN, 2009, p. 116). Nesse sentido, foi sob o mandato de Corra da Costa
que a poltica de colonizao particular foi intensificada e uma das primeiras medidas
tomadas pelo ento novo governador, tal como seu antecessor, foi introduzir modificaes no
Cdigo de Terras estadual. Nas palavras de Moreno, o udenista implementou no Estado a
poltica de colonizao, entregando esta tarefa a empresas particulares de colonizao
(MORENO, 2007, p. 113).
Para a execuo desse projeto, o governo do Estado colocou, disposio deempresas colonizadoras, grande parte de seu territrio para que as mesmas,atravs de Contrato de Colonizao, organizassem os ncleos coloniais eefetuassem a venda da terra. O governo fez esse tipo de contrato, comparticulares, individualmente, ou com empresas organizadas, desde que osmesmos assumissem certas condies especficas relacionadas sdisposies de leis federais e estaduais (VASCONCELOS, 1986, p. 24).
Conforme conclamava Corra da Costa, os capitalistas seriam os novos
bandeirantes que saberiam fazer progredir esta parte da nao, sempre tendo o estado de
So Paulo como modelo a ser seguido. No trecho a seguir, fica ntido esse anseio por parte do
governador, ao fazer referncia aos colonizadores como novos pioneiros, [que] j
penetraram, [e] se instalam na nossa terra e comeam a trabalhar, procurando anular os
sculos de evoluo que separam S. Paulo de Mato-Grosso[...] espera de novos
bandeirantes dotados de esprito de iniciativa aparelhados de capitais e mtodos modernos.7
Nota-se que o clima de otimismo fazia-se presente naquela gesto, sobretudo se for
levado em considerao o sucesso nas vendas de terras, influenciando diretamente no
aumento de arrecadao de recursos financeiros por parte do estado de Mato Grosso, que j
vinha numa crescente desde o ano de 1952. Fernando Corra da Costa orgulhava-se desse
suposto sucesso e enfatizava que finalmente as vistas do Brasil litorneo se volviam para o
interior do pas. Alm disso, o governador de Mato Grosso justificava que no dispondo o
7Mensagens Governamentais do Governador Fernando Corra da Costa, 1953, p. 4. Grifo nosso.
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Estado de recursos financeiros capazes de manterem o servio de colonizao, achamos que o
povoamento das nossas [...] terras, em pleno desconhecido, somente se poder realizar
mediante o concurso da iniciativa privada.8Nas Mensagens Governamentais do ano de 1954,
dizia ele,
[...] a colaborao da iniciativa privada com a estatal objetivando uma dastarefas mais alvissareiras, que a de tornar produtivas regies at agoradesconhecidas. No dispondo o Estado de recursos para essa obra, no hcomo repelir a cooperao de empresas credenciadas para realiz-las.9
No entanto, muitas das obrigaes contratuais a que se comprometiam as empresas
no foram devidamente respeitadas, e diversas irregularidades foram encontradas no
cumprimento das clusulas dos contratos de colonizao de terras. Iniciava-se, ento, um
escndalo na gesto de Fernando Corra da Costa, pois foi acusado de ter vendido terras
acima da rea permitida pela Constituio Federal.
Para elucidar o caso, trata-se da ocasio em que 22 empresas firmaram contrato com
o governo estadual, sob a gesto de Fernando Corra da Costa, equivalentes a uma rea
prxima de 3,5 milhes de hectares em Mato Grosso para colonizao. Gislaene Moreno
informa que cada uma delas adquiriu em mdia 200.000 hectares [...] cujos lotes de 10.000
hectares eram contguos e de pessoas de um mesmo grupo, o que por si s violava o
prescrito na Constituio Federal (1946) que vedava a alienao de reas superiores a 10.000hectares, sem prvia autorizao do Senado (MORENO, 2007, p. 116). De modo
semelhante, Lenharo ressalta que a ilegalidade das concesses incidia sobre as
determinaes do artigo 156 da Constituio Federal de 1946 [...] Acresce terem sido as
enormes concesses todas desviadas para posterior revenda especulativa de lotes menores
(1986a, p. 56).10
Aproveitando-se desse clima tenso, no que diz respeito s vendas e contratos com as
colonizadoras de terras em Mato Grosso, quando Joo Ponce de Arruda (PSD) assumiu ogoverno mato-grossense (1956), ele fez duras crticas ao seu antecessor, Fernando Corra da
Costa. Mais uma vez um governante que assumia o poder no estado de Mato Grosso
encontrava irregularidades no Departamento de Terras e Colonizao. Como ressalta
Gislaene Moreno, a crtica do governador [Joo Ponce de Arruda] em nada diferencia da que
fizera o prprio Fernando Corra da Costa ao seu antecessor, em 1951(2007, p. 122). Ainda
8Mensagens Governamentais do Governador Fernando Corra da Costa, 1954, p. 78-79.9Mensagens Governamentais do Governador Fernando Corra da Costa, 1954, p. 6.10
Recentemente o Supremo Tribunal Federal julgou que efetivamente os contratos de terras com ascolonizadoras de terras efetuados na dcada de 1950 pelo ento governo de Fernando Corra da Costa infringiua Constituio de 1946.http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1424856.
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1424856http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1424856http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1424856http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=14248567/25/2019 Colonizao Poltica e Imprensa Mato-grossense o Caso Da Revista Brasil-oeste
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nas palavras da autora, o governo Fernando Corra da Costa foi acusado de facilitar esses
contratos, especialmente, porque tais acordos teriam sido feitos em anos pr-eleitorais
(MORENO, 2007, p. 116), o que significa dizer que, no final das contas, teria sido uma
jogada poltico-eleitoreira, intentando angariar apoio desse setor do segmento privado nas
eleies que estavam por vir, em 1955, pois evidentemente a UDN planejava fazer um
sucessor.
Entre o interregno que compreende os anos de 1956-1961, sob o mandato de Joo
Ponce de Arruda, o estado de Mato Grosso tambm arrecadou uma grande monta em razo da
titulao de terras. O fato que, ainda que aparentemente tentando diminuir as irregularidades
envolvendo as terras de Mato Grosso, o governo Joo Ponce de Arruda no ficou imune s
irregularidades tambm sob sua gesto.Em resumo, a dcada de 1950 foi um perodo em que
os que mais lucraram foram os negociantes de terras e os grandes empresrios, pois s eles
poderiam cumprir com os requisitos bsicos exigidos pelo governo para a aquisio de terras
para a colonizao(VASCONCELOS, 1986, p. 30).
O que apresentaremos a seguir ser mostrar como a RBO se posicionou em relao
quele debate travado entre o Governador Joo Ponce de Arruda (PSD), com os partidrios do
ex-governador Fernando Corra da Costa (UDN), e quais possveis interesses polticos e
econmicos estavam envolvidos nos textos ali publicados, pois um peridico impresso deve
ser entendido como lugares especiais de articulao de pessoas e ideias que precisam de
suportes materiais e simblicos para fazer circular projetos (GOMES, 1999, p. 58, grifo
nosso). Da a importncia dos estudos que pretendem fazer uma aproximao com a histria
poltica e suas implicaes na modalidade de fonte peridica ao fazer uma leitura do objeto
(imprensa) como aquela que entende que nas pginas de jornais e revistas, por exemplo, so
disseminadas e travadas lutas simblicas, isto , os dirios, semanrios e mensrios so
lugares que emitem representaes, por determinados grupos, e que devem ser concebidas
como entidades que vo construindo as prprias vises do mundo social (CHARTIER,1990), e que, no caso em apreo, so acionadaspor um meiode comunicao.
3 A colonizao e as disputas polticas na revista
Quando o governador Joo Ponce de Arruda (PSD) assumia seu mandato em 1956, o
segundo editorial da RBO foi dedicado especialmente para tecer comentrios sobre a posse do
novo governador. Sob o ttulo deNovo Govrno de Mato Grosso, o texto iniciava da seguintemaneira:
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O Dr. Joo Ponce de Arruda assume o Govrno de Mato Grosso emcondies excepcionalmente favorveis [...] Fora das fronteiras, v o seuEstadomelhor compreendido e mais respeitado, merc da conduta corretaque pautou a administrao anterior, fazendo-se cumprir os compromissosassumidos pelo Govrno.11
Esse primeiro trecho do editorial deixa claro que, na viso do editorialista (que muito
provavelmente era Fausto Vieira de Campos), a vitria de Ponce de Arruda significava que
ele tinha em suas mos grande responsabilidade, sobretudo porque o estado de Mato Grosso
encontrava-se em condies excepcionalmente favorveis, deixadas pelo governador
Fernando Corra da Costa (UDN). A postura da revista em relao ao novo governo
evidencia-se no decorrer do editorial e fica tensionada entre a presso e o aconselhamento
ao recm-eleito.
[...] S. Excia. tem diante de si vasto plano de colonizao em plenodesenvolvimento e dever definir a sse respeito a poltica que melhoratendaaos imperativos de Mato Grosso. de crer-se que agircom a devidaprudncia, neste particular, pois que no poder prescindir o Estado dacooperao das emprsas de colonizao para um maior aceleramento doprogresso.[...] As inovaes, muitas vezes ditadas por motivos egostas ou partidrios,so geralmente fatais para os Estados que dispem de recursos bastantelimitados para a realizao de obras de grande envergadura.12
perceptvel que havia uma preocupao especial em relao s questes de
colonizao e terras que, na concepo do editorialista, progrediram no governo Corra da
Costa. Esse editorial intentava pautar as tarefas e medidas que deviam ser tomadas pelo novo
governante, para que o interesse pblico fosse atendido. Assim, a RBO antecipava-se e
pretendia dirigir as atividades do aparelho estatal para que as consequncias das atitudes
governamentais fossem favorveis a Mato Grosso.
Se inicialmente havia uma cordialidade no discurso, durante boa parte do mandato de
Ponce de Arruda, as crticas em relao ao seu governo estiveram muito presentes nos textos
da revista. A maior parte das opinies emitidas (velada ou explicitamente) nos artigos e
reportagens era desfavorvel ao governo de Arruda, e mais; em nenhum dos textos analisados
encontramos menes elogiosas em relao s polticas pblicas do ento chefe do executivo
mato-grossense.
A primeira das crticas mais cidas datada do ms de setembro de 1956. Trata-se de
um texto publicado comentando o primeiro pronunciamento feito por Ponce de Arruda
11RBO, ano I, n. 2, fevereiro de 1956, So Paulo (SP), p. 1. Grifo nosso.12RBO, ano I, n. 2, fevereiro de 1956, So Paulo (SP), p. 1. Grifo nosso.
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Assembleia Legislativa, intitulado de Um Documento Desalentador, escrito pelo
pseudnimo De um observador econmico originalmentepublicado na RBO. Nesse texto,
foi feita uma severa crtica mensagemdo governador, considerada, na sua totalidade, um
documento vazio de contedo.
A crtica que se fez residia no fato de que Joo Ponce no havia apresentado um
programa de governo embasado e slido, sob o ponto de vista do articulista, que constri seus
argumentos fazendo uma relao entre o novo governante e o seu predecessor, que, por sua
vez, quando citado, foi elogiado sobremaneira:
A leitura da Mensagem do Governador Joo Ponce de Arruda, dirigida Assemblia Legislativa de Mato Grosso, deixa, a quem a conclui, aimpresso de um documento vazio de contedo [...]Sucedendo em 31 de Janeiro passado a um Govrno do Sr. FernandoCorreia da Costatido como o mais construtivoque houve em Mato Grossoe que deixou em to edificante situao financeira e econmica o Estado,cuja renda fz triplicar em cinco anos, sem aumento nos impostos, era deesperar-se que o Sr. Joo Ponce de Arruda trouxesse, na sua primeira fala Assemblia, o programa de sua ao governamental, capaz de sobrepor-se obra administrativa de seu antecessor e de atrair a ateno do pas para oportentoso Estado. [...]A sua orientao, refletida na primeira Mensagem aos representantes dopovo no abona a objetividade do engenheiro, que S. Excia.: no revela oadministrador experimentado em vrias funes, que se aguardava, e nem oestadista que a hora atual reclama para Mato Grosso, o que desalentador.13
O que se pode abstrair desse texto que no foi colocado em pauta nenhum dos
problemas de ingerncia na questo dos contratos de terras envolvendo a administrao
anterior. Tampouco foi feita meno s crticas apontadas pelo governador Joo Ponce de
Arruda ao seu antecessor. Muito pelo contrrio, o articulista s fez elogios ao governador
Fernando Corra da Costa, que deixou edificante situao financeira e econmica o Estado.
Esse artigo foi publicado no quinto nmero da RBO, e um indicativo de como se
posicionariam os articulistas do peridico em relao ao novo governante.
Um ano antes, na primeira edio da obra Retrato de Mato Grosso, o diretor-proprietrio da revista, Fausto Vieira de Campos, dedicou um captulo especial para debater
sobre a colonizao no estado e, tal como o articulista da RBO, fez elogios ao ento
governador Fernando Corra da Costa. O autor consagrou algumas pginas para mostrar uma
srie de dados que evidenciavam os avanos conquistados pelo modelo de gesto dos
negcios envolvendo as terras de Mato Grosso naquela gesto administrativa. Iniciava o
captulo dissertando sobre a legalidade daquele plano governamental que visava ampliar o
13RBO, ano I, n. 5, setembro de 1956, So Paulo (SP), p. 12.
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territrio civilizado, criando assim a oportunidade que possibilita ao homem a
concretizao de um desejo justo de progresso e de bem-estar. Ressaltou ainda a questo da
segurana que o estado tinha na elaborao desses contratos, uma vez que as empresas deviam
cumprir com condies especficas e oferecer garantias, que se estendem desde o rgido
respeito das disposies de leis federais e estaduais, at o requisito bsico da capacidade
financeira(CAMPOS, 1995, p. 94).
Ao que tudo indica, a maioria desses contratos demonstrava que houve
irregularidades e garantias no cumpridas. Contudo, Fausto Vieira de Campos evidenciava
muito otimismo, pois, sob seu ponto de vista, a colonizao particular, se fosse feita dentro
das normas, era o melhor caminho para fazer progredir o estado de Mato Grosso, por duas
razes principais. Nas palavras do autor, a venda de terras devolutas, alm de forar a receita
do Estado, favoreceu perspectivas melhores para Mato Grosso, em virtude do afluxo de
colonos para as novas reas [...] A poltica de terras do Governador Fernando Corra da Costa
a que melhor atende aos interesses de Mato Grosso(CAMPOS, 1995, p. 96-97).
Campos argumentava em favor de suas ideias, mostrando elementos que
confirmavam sua tese de que a colonizao por meio de particulares era o melhor caminho,
uma vez que, apesar de toda a imensido e riqueza do territrio mato-grossense, cinco vezes
maior do que a rea total do Estado de So Paulo existia, no ano de 1953, apenas 558.000
habitantes. Ainda em comparao com os paulistas, ressaltava que nsse mesmo ano de
1953 a populao do Estado de So Paulo era estimada em 9.837.000 habitantes (CAMPOS,
1955, p. 97). importante frisar, mais uma vez, que o lugar idealde desenvolvimento para
o jornalista era tambm o estado de So Paulo, assim como para os governantes de Mato
Grosso.
Na reedio deRetrato de Mato Grosso (1960),Campos foi obrigado a acrescentar e
comentar os escndalos, envolvendo a gesto do ento ex-governador Fernando Corra da
Costa, acusado por parte da imprensa e pelo seu sucessor, Joo Ponce de Arruda. Contudo, oautor no dedicou muito espao ao tema, resumindo seus comentrios apenas para descrever
os acontecimentos, sem qualquer detalhamento. Sobre os contratos com as colonizadoras de
terras, dizia ele que a validade daqueles contratos de colonizao foi contestada por
dirigentes do PSD-MT, originando-se demanda, que culminou com o reconhecimento pelo
Congresso Nacional de uma situaosub judice(CAMPOS, 1960, p. 194, grifo nosso).
O autor cita a Mensagem Governamental de junho de 1959, quando Joo Ponce de
Arruda tornava pblico o julgamento feito pelo Senado e as medidas que seriam tomadas,conforme citado anteriormente, ou seja, que de todas as 22 empresas particulares envolvidas
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naquele escndalo, apenas cinco delas cumpriram parte dos contratos e houve uma
renegociao entre elas e o estado.
Fausto Vieira de Campos emitiu sua opinio, demonstrando insatisfao com as
atitudes do novo governador. Dizia ele:
As declaraes do Governador Ponce de Arruda expressam, de maneirainiludvel, recuo do Govrno de Mato Grosso, que abandona formalmente oplano de colonizao desenvolvido na administrao do GovernadorFernando Corra da Costa, para forar a venda das terras comprometidas porcontratos.Se os intersses do Estado coincidem com os intersses do povo, de ver-seque os contratos de colonizao somente beneficiavam ao Estado de MatoGrosso, pois visavam a promover o progresso em reas despovoadas eimprodutivas e evitavam que elas fssem vendidas, pura e simplesmente, aosque no assumiam outras obrigaes, alm de fazer medir e demarcar as
terras.As emprsas que esto operando nesse domnio fazem-no com o prprioesforo e com os prprios riscos (1960, p. 194).
No trecho citado, nota-se que, mesmo aps os escndalos envolvendo o governo de
Fernando Corra da Costa, Fausto Vieira de Campos ainda considerava aquele modelo como
ideal para a colonizao do Estado. O autor achava que as companhias colonizadoras ficariam
demasiadamente prejudicadas com a nova modalidade implantada por Joo Ponce de Arruda,
pois afastaria novos investidores, uma vez que as terras pertinentes aos contratos no
cumpridos daquelas empresas deviam ser adquiridas somente mediante a compra direta por
parte das colonizadoras, sem a interveno do estado no processo de colonizao.
Anos antes, em 1956, na sexta edio da RBO, um artigo foi escrito sob o ttulo
Desestmulo Colonizao no Estado de Mato Grosso. Nesse texto, assinado somente pelas
iniciais A.M.T, comentava-se uma entrevista dada por Joo Ponce de Arruda ao jornal
Folha da Manh,14de So Paulo, em que o governador dizia que havia a necessidade de se
distinguir os bons e maus colonizadores de terras em Mato Grosso e, por essa razo, diversas
concesses estavam em investigao, em decorrncia das irregularidades da administrao
anterior. Assim, o autor do artigo da RBO no poupou as crticas, dizia ele que Arruda estaria
sustentando atitude dbia com respeito s emprsas colonizadoras, criando em torno delas
um ambiente de preveno que no se justifica[va] de maneira alguma,15ou seja, colocando
as concesses de terras sob investigao, o novo governador estaria, na viso do articulista,
afugentando novos investidores, receosos e temerosos com essa deciso.
14
Jornal Folha da Manh, quinta-feira, 13 de setembro de 1956, So Paulo (SP). Disponvel em: Banco de DadosFolha: . Acesso em: 24 mar. 2011.15RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 23.
http://bd.folha.uol.com.br/http://bd.folha.uol.com.br/7/25/2019 Colonizao Poltica e Imprensa Mato-grossense o Caso Da Revista Brasil-oeste
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Contudo, o trecho mais emblemtico desse texto inicia-se sob o seguinte
questionamento: Concesso ou Contrato?. Dizia ele, na tentativa de defender a
administrao anterior que:
Fernando Corra da Costa no fz nenhuma concesso de terras com reassuperiores a 10.000 hectares, mas, to smente, firmou contratos comdiversas companhias visando colonizao de glebas de terras no Norte doEstado, os quais acautelam os intersses de Mato Grosso, pois que asemprsas atuariam como meros agentes do Estado e venderiam lotes (comreas nunca superior a 2.000 hectares a uma mesma pessoa) depois deaprovados os preos pelo prprio Estado.16
Continua o autor ressaltando que, se houvesse qualquer tipo de irregularidade, o que
tinha de ser feito era exigir das companhias o cumprimento das clusulas contratuais e
aplicar-lhes, no caso de inobservncia das mesmas, no prazo estipulado, as sanescabveis.17O que merece ser destacado a tentativa do autor em defender, a todo custo, o
processo de colonizao do governo Fernando Corra da Costa, e, inegavelmente preocupado
com os rumos que foram tomados durante a gesto de Ponce de Arruda, que estaria fazendo
ruir todo o processo de desenvolvimento supostamente alcanado nos anos da gesto de
Corra da Costa.
O articulista incisivo ao dizer que o governador Ponce de Arruda conseguiu fazer
foi confundir o povo e dar-lhe a falsa impresso de que o ento Governador do Estado estavainfringindo os dispositivos constitucionais com a celebrao de contratos de colonizao. Se
no bastasse isso, prossegue, dizendo: claro que, agora, depois de haver sido a questo
apresentada na Cmara Alta, de forma to inquinada de vcios, nada poder fazer o Govrno
de Mato Grosso, sem o pronunciamento daquela Casa do Legislativo.18 Vale lembrar que,
naquela ocasio, ainda se esperava pela deciso final do Senado Federal.
Para finalizar, A.M.T escrevia que, em decorrncia dessa atitude do PSD,
representado particularmente pelo Senador Filinto Mller19e o Governador Joo Ponce de
Arruda, havia sido criado no estado de Mato Grosso uma situao deveras lamentvel [...]
aventando dvidas sbre os negcios de terras que esto fazendo as emprsas
colonizadoras.20Conclui o autor ressaltando que essas dvidas tm reflexos perniciosos em
16RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 23.17RBO, ano I, n. 06, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 23.18
RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 23. Grifo nosso.19Filinto Mller foi senador em 1947-1951 e 1955-1973.20RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 23.
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todos os negcios de terras, o que est criando desconfianas e incertezas com respeito s
transaes dsse gnero em Mato Grosso.21
Os problemas envolvendo a investigao sobre o processo de colonizao de terras e
as crticas que foram feitas pela revista se estendiam a outras esferas da administrao de Joo
Ponce de Arruda. Em artigo publicado no ms de outubro de 1958, sob o ttulo Ausncia do
Govrno de Mato Grosso, foram colocadas em pauta as razes que afastavam o
direcionamento editorial da RBO (e aquilo que eles acreditavam ser o ideal para
desenvolvimento para o estado) daquela gesto estadual. No h assinatura no artigo, mas o
articulista falava em nome da revista, o que significa dizer que muito provvel que tenha
sido escrito por Fausto Vieira de Campos. Iniciava sua explicao do seguinte modo:
Amigos e leitores escrevem-nos, com freqncia, comentando a ausncia do Govrno de
Mato Grosso na cruzada que estamos sustentando. Devemo-lhes, portanto, uma
explicao.22
Quando o autor se refere ausncia do Govrno na cruzada empreendida pela
revista, isso significa dizer que os ideais de cada uma dessas esferas estavam em caminhos
distintos, ou at mesmo, opostos. Ao que nos parece, as constantes crticas feitas ao
governador Joo Ponce de Arruda renderam acusaes contra a RBO, pois possvel observar
que nesse artigo o articulista fez de tudo para se defender de possveis ataques, que podem ter
sido feitos por partidrios do PSD ou at mesmo por leitores comuns, que pediam por
respostas, uma vez que era inegvel a inclinao favorvel s polticas adotadas por Fernando
Corra da Costa, da UDN.
Continua ele ressaltando que o projeto da revista estaria assentado em bases
prprias, isto , no apio do Comrcio e da Indstria, que se utilizam dos bons veculos de
propaganda para fazer a cobertura de seus produtos. Estamos situados, portanto, no lugar
certo, como rgo deImprensa livre.23Nota-se que h uma notvel tentativa de responder a
qualquer tipo de acusao que insinuasse que a revista recebia ajuda financeira de quaisquersetores oposicionistas ao governador Ponce de Arruda ou que os apoiasse politicamente.
o discurso da objetividade jornalstica. Apesar de parecer que de fato havia
afinidades com o ento ex-governador Fernando Corra da Costa em oposio ao governo
Ponce de Arruda, os responsveis pelo peridico faziam questo de frisar a sua independncia
frente a grupos polticos ou econmicos. Continua o autor: no sofremos presso de fraes
21
RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 23.22RBO, ano II, n. 18, outubro de 1957,So Paulo (SP), p. 32.Grifo nosso.23RBO, ano II, n. 18, outubro de 1957, So Paulo (SP), p. 32. Grifo nosso.
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poltico-partidrias, nem ingerncia de grupos econmicos [...] A poltica que sustentamos
[...] situa-se num plano muito altoe, por isso mesmo, s realizvel por homens capazes e
independentes.24
O maior problema contido nessas afirmaes reside no fato de que alguns artigos
(quando assinados) que criticavam o governador Joo Ponce de Arruda vinham de partidrios
de Fernando Corra da Costa, como foi o caso de Demstenes Martins que, em algumas
ocasies, utilizou o espao da revista para expor seu posicionamento de defesa do governo
anterior e de ataque ao seu sucessor.
Vale a pena dizer que Fausto Vieira de Campos tornou-se assessor de imprensa de
Fernando Corra da Costa com indicao feita por Demstenes Martins (Secretrio de
Agricultura Estadual da poca). Antes disso, contudo, o ento correspondente da Folha da
Manh em Mato Grosso teve fortes laos de amizade com Dormevil Faria, outro mato-
grossense que fez carreira poltica pela UDN, o que sugere, portanto, que foi por intermdio
deste ltimo que Fausto iniciou seu contato com Martins e depois, com outras personagens
influentes da regio.
Mais um importante colaborador da RBO tambm teve participao crucial no
governo da UDN. Tratava-se do engenheiro agrnomo Jos Bardauil, designado pelo ento
governador, no ano de 1951, para reorganizar o Departamento de Terras e Colonizao.
Fernando Corra da Costa disse naquela ocasio que tal indicao foi feita a fim de serem
atendidos satisfatriamente pela administrao os problemas de terras, colonizao e
cooperativismo.25Entenda-se como problemas, a m administrao do governo anterior
(de Arnaldo Estevo de Figueiredo) em relao aos negcios envolvendo as terras de Mato
Grosso.
Diversos foram os colaboradores da RBO que estavam associados base do governo
de Fernando Corra da Costa, tais como, Dolor de Andrade, Paulo Jorge Simes Corra,
Wilson Barbosa Martins, Yttrio Corra da Costa, Ren Barbour, Lenine de CamposPovoas eEdson Brito Garcia. Essas evidncias provocaram especulaes na poca em que a revista
circulou, uma vez que foi acusada de ser udenista. Como mostramos h pouco, foi preciso
Fausto Vieira de Campos publicar um texto, mostrando que [aquele projeto] estava alheio s
presses partidrias.
O texto em que o diretor da RBO d explicaes perante o seu leitor sobre essas
presses foi publicado na edio de nmero 18. Porm, anos mais tarde, no nmero 49, ou
24RBO, ano II, n. 18, outubro de 1957,So Paulo (SP), p. 32. Grifo nosso.25Mensagens Governamentais do Governador Fernando Corra da Costa, 1952, p. 41.
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seja, j no final do mandato de Joo Ponce de Arruda, outra vez o diretor tentou se justificar e
negar qualquer inclinao poltica por parte do projeto em que estava empenhado.
Esse pronunciamento aconteceu na oportunidade em que a revista RBO foi
homenageada pela Cmara Municipal de Campo Grande, no ms de maio de 1960, quando
Fausto Vieira de Campos foi ao estado de Mato Grosso para cobrir uma feira agropecuria.
Naquela ocasio, os lderes dos trs partidos que se faziam representados naquele municpio
(PSD, PTB e UDN) manifestaram o apoio ao empreendimento jornalstico capitaneado por
Campos. Aproveitando-se disso, o diretor da RBO fez um discurso, reproduzido em partes na
edio de junho de 1960, que dizia o seguinte:
A revista BRASIL-OESTE tem um programa definido. Acontece, porm,que a UDN fra o primeiro agrupamento partidrio que apoiou sse
programa, prestigiando a revista sem fazer-lhe a menor solicitao dereciprocidade. Os demais partidos polticos retardaram sse apio. Dissoresultou o falso conceito de que a BRASIL-OESTE uma revistaudenista... [Fausto] Esclareceu que todos os partidos foram convidados amanter na BRASIL-OESTE uma tribuna livre, apenas condicionados aoestrito respeito da Lei de Imprensa. A UDN e o PSD aceitaram ooferecimento e o PSP e o PTB estavam cientificados. Com essa deciso, aBRASIL-OESTE visa a forar o intercmbio das idias, a congraareleitores, a romper as barreiras da intolerncia poltica, a proporcionar aopovo o ensejo de cotejar as diretrizes dos partidos e dos seus candidatos aospostos eletivos, possibilitando-o, assim, de fazer melhores escolhas.26
Apesar do discurso defensivo, emitido por meio da tribuna da Cmara Municipal de
Campo Grande, somado queles que eram transmitidos nas pginas da RBO, em que se
destacavam objetividade, independncia poltica e econmica, seus textos do possibilidades
ao leitor de interpret-los de forma inversa. Alm das crticas, envolvendo as questes
relacionadas s terras e colonizao de Mato Grosso, outras tantas foram feitas no mbito da
prpria organizao administrativa do governo Ponce de Arruda, sempre fazendo oposio
entre esse mau governo e a viso administrativa de Fernando Corra da Costa.
Esse foi o caso do texto intitulado Inoperncia administrativa, publicado na sexta
edio da revista, novamente sob a assinatura De um Observador Econmico. Logo no
primeiro pargrafo desse artigo, o autor indicava que o novo governo instalado no estado de
Mato Grosso repetia vcios dos anteriores (com exceo de Fernando Corra da Costa),
inflando as despesas com o funcionalismo pblico. Dizia ele:
[...] a despeito das esperanas acalentadas, Mato Grosso est retornandoqules tempos de antanho em que a ao governamental se exprimia pela
26RBO, ano V, n. 49, junho de 1960, So Paulo (SP), p. 65. Maisculas do original.
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atividade nica de cobrar impostos e pagar funcionrios, em cujosestipndios se consumiram 80,60% da arrecadao do exerccio, em 1950.27
Esse o tpico caso que acontece quando um novo grupo poltico assume o governo
de uma determinada regio; contratam-se diversos aliados e demitem-se os oposicionistas,formando no interior dos governos aquilo que conhecido como cargo de confiana. O
autor indicava que, com a subida de Joo Ponce de Arruda ao poder, essa situao se
agravava, aumentando os estipndios e consumindo mais uma vez boa parte do dinheiro dos
cofres pblicos.
Abre-se um parntese para mostrar que, em editorial publicado na edio nmero 3
da RBO, sob o ttulo Governos Punitivos, encontra-se um tipo de crtica velada aos
governantes que, poca, quando assumem suas cadeiras, perseguem funcionrios de
administraes anteriores, demitindo-os. O discurso presente nesse texto importante, pois se
aproxima daquilo que Beltro chama de editorial preventivo, isto , aquele se antecipa
realidade, apontando situaes(BELTRO, 1980, p. 56), que acontecem num determinado
momento e, nesse caso especfico, iriam prejudicar o estado de Mato Grosso:
Notcias que nos chegam de dois dos Estados onde se renovaram osGovernos, em 31 de Janeiro ltimo, adiantam que se desencadeou, neles,ofensiva em regra contra funcionrios pblicos que contem menos de cincoanos de exerccio no cargo.Ao mesmo tempo, iniciou-se, nos referidos Estados, uma sequncia deinquritos sbre as administraes passadas[...] [esto cometendo erros os]Governadores empossados em 31 de Janeiro, com a agravante de que nopodem justificar seus atos com pretextos de economia para o Errio Pblico,porquanto, medida que os preteridos so postos no lho da rua, o lugarvago preenchido com a nomeao do cidado eleito pelas preferncias dopartido dominante [...]Est evidente, por conseguinte, que a derrubada do funcionalismo temcarter estritamente poltico-partidrio, e essa diretiva dos novos governantess pode comprometer os intersses pblicos e avivar descontentamentos edesconfianas.28
Nota-se que a oposio s novas medidas tomadas pelos governadores que iniciavam
seus mandatos fica muito clara. Critica-se veladamente Ponce de Arruda, sem cit-lo
diretamente, mas a aluso sua gesto visvel, sobretudo, quando so ressaltados os
inquritos sbre as administraes passadas, o que remete diretamente s questes
envolvendo os problemas de terras e colonizao do governo Fernando Corra da Costa.
Voltando ao texto anterior, continua o Observador Econmico, fazendo seu
balancete do governo Arruda, comparando-o com seu antecessor, Fernando Corra da Costa:
27RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 18.28RBO, ano I, n. 3, maro de 1956, So Paulo (SP), p. 1. Grifo nosso.
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Impulsionadaa administrao do Estadopela probidade, viso do conjuntoeoperosidade do ex-Governador Fernando Correia da Costa, a longnquaProvncia do Oeste ganhou relvo no panorama da ao construtiva dosnossos governos. Os dficits oramentrios foram banidos [e] a dvidapblica reduziu-se [...]
Ao balancear-se o ativo do Govrno transato em relao aos que oprocederam, constata-se que le foi o mais operoso nesta meia centria deadministrao em Mato Grosso.29
A partir da, o autor cita diversas aes feitas pelo governo de Corra da Costa,
inclusive no mbito da colonizao, que foi feita atravs da cooperao de emprsas
privadas. Construdos os seus argumentos em favor do representante da UDN, continua a
tecer suas crticas ao governador do PSD e pergunta: Legatrio de to grande acervo de
realizaese empreendimentos, que fz o atual Govrno do Sr. Joo Ponce de Arrruda, neste
ano prestes a extinguir-se? Prossegue criticando a descontinuidade das aes iniciadas pela
administrao anterior, enfatizando, mais uma vez, a questo das terras, ao salientar que as
emprsas colonizadoras quedam-se estacionrias diante das ameaas de elementos do
Govrno de que a orientao vai ser modificada completamente.30E completa seu raciocnio
com durssimas crticas:
A atividade governamental neste ano, at agora, tem-se cingido tarefa deexonerar funcionrios, cujos atos j ultrapassam de mais de 3.000, para
colocar correligionrios do situacionismo e, quando les no existem, asvagas no se preenchem, deixando-se os cargos acfalos, como temacontecido com numerosas escolas rurais.O Governador [...] quando profere discursos em tom polmico para dizerque tudo estava errado, mas no mostra o rumo certo que vai perlustrar.Enquanto isso, modorram alguns milhes de cruzeiros no Tesouro o que vempositivar que estamos frente de uma inoperncia governamentalsacrificadora do desenvolvimento do grande Estado, repositrio de umextraordinrio potencial de riquezas naturais.31
A partir da anlise de textos como esse, nota-se que o discurso de objetividade
jornalstica fica enfraquecido, e a inclinao em favor das polticas pblicas empreendidas no
governo de Fernando Corra da Costa apresenta-se muito claramente. Como se percebe,
justamente nas crticas ao novo governante que as comparaes com o anterior ficam mais
evidentes, pois o parmetro de ideal de governo era aquele representado por Corra da
Costa: impecvel na administrao e que elevou Mato Grosso a um patamar jamais
atingido anteriormente.
29
RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 18. Grifo nosso.30RBO,ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 18. Grifo nosso.31RBO, ano I, n. 6, outubro de 1956, So Paulo (SP), p. 18.
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O tema envolvendo as terras e colonizao foi se esgotando com o decorrer dos anos.
Ento, na edio nmero 42, do ms de novembro de 1959, estampava-se a seguinte
manchete: Fim melanclico da COLONIZAO (OFICIAL) EM MATO GROSSO, Glebas
compromissadas com as companhias postas venda como terra devolutas.32 O ttulo do
principal artigo dessa edio era Tarefa exclusiva da iniciativa particular a colonizao no
Estado de Mato Grosso. Esse texto no tinha assinatura, mas, ao que tudo indica, foi escrito
por Fausto Vieira de Campos, pois alguns trechos de igual contedo tambm se encontravam
na obraRetrato de Mato Grosso.
Nesse artigo, h uma mistura de revolta em relao s medidas tomadas por Joo
Ponce de Arruda, e forte apelo dirigido ao governador para que fossem tomadas medidas
justas em relao ao problema das terras, pois as companhias colonizadoras e diversos
investidores estariam sendo afugentados em decorrncia de tantas acusaes polticas,
impasses e entraves envolvendo a colonizao.
O autor iniciava o artigo tecendo os costumeiros elogios ao ex-governador Fernando
Corra da Costa. Enfatiza que, entre os anos de 1951 e 1955, o Govrno de Mato Grosso ps
em prtica vasto plano de colonizao [...] com o concurso de emprsas particulares.33
Continuava o articulista ressaltando que havia garantias e confiana entre o estado e as
companhias colonizadoras. Dizia ele, no entanto, numa tentativa de justificar os possveis
descalabros daquela gesto, que tal empreendimento (a colonizao), traria resultado em
longo prazo, sem a rapidez pretendida. Nas suas palavras, tarefa de tamanha envergadura no
podia realizar-se, certamente de um dia para o outro, maxim considerando-se as dificuldades
que se apresentam para a movimentao de cargas e gente, na regio [...] de Mato Grosso.34
As acusaes feitas ao novo governador Joo Ponce de Arruda e seus
correligionrios residiam no fato de que, na viso do articulista da RBO, esse grupo opositor
ao governo de Fernando Corra da Costa formulou as denncias justamente para travar o
sucesso que era o modelo de colonizao efetuado pelo governador da UDN. O autor criticavao estado pelo cancelamento dos contratos de colonizao, uma vez que isso afetaria
diretamente na arrecadao para os cofres de Mato Grosso, afugentando as empresas
colonizadoras. Assim, ele escreveu que [...] a paralisao das atividades das emprsas
colonizadoras [...] gerou o desnimo, com os reflexos os mais desfavorveis nos negcios de
terras devolutas.35Enfatizava ainda que diversos boatos circulavam em outros estados da
32RBO, ano V, n. 42, novembro de 1959, So Paulo (SP). Capa. Maisculas do original.33
RBO, ano V, n. 42, novembro de 1959, So Paulo (SP), p. 23.34RBO, ano V, n. 42, novembro de 1959, So Paulo (SP), p. 23.35RBO, ano V, n. 42, novembro de 1959, So Paulo (SP), p. 24. Grifo nosso.
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nao, por conta dos processos judiciais que envolveram a questo da colonizao de terras e
as acusaes que foram feitas contra o governo anterior:
Essas verses, muitas vezes, continham significao maliciosa, que punhaem xeque a honorabilidade do Govrno de Cuiab pois se dizia, e ainda sediz, que requerimento de terra devoluta s tramita mediante pagamento detributao extra-legal.36
Finaliza o autor fazendo um apelo ao governo de Mato Grosso, em prol de um
bem maior, isto , o desenvolvimento do estado mediante atrao de capitais, e no o
contrrio:
[...] vimos favorecendo contactos com organizaes norte-americanasinteressadas em investir capitais no Estado de Mato Grosso. Temos,portanto, o maior empenho em manter a confiana nos negcios que seentabulam, e em desenvolver, cada vez mais as relaes entre as emprsasbrasileiras e os capitalistas dos Estados Unidos. preciso que no paire dvida sbre a legitimidade dos gravames queoneram as transaes com terras devolutas. preciso que se possa dizer queso legais TODOS os tributos que incidem sbre elas.37
Essa citao deixa evidente que o investimento associado entre o capital privado
(nacional e estrangeiro) e o pblico (por parte do Estado) era entendido como o melhor
caminho a ser trilhado em benefcio de Mato Grosso . Tambm nos parece claro que as
reportagens e artigos publicados na revista estavam em consonncia com as polticas pblicas
do governo Fernando Corra da Costa, mesmo que essa harmonia de ideias fosse
veementemente negada pelos diretores do mensrio.
4 Consideraes finais
Quando Joo Ponce de Arruda subiu ao poder, a dinmica de colonizao mudou
bastante (ainda que carregasse os mesmos vcios) e tomou corpo uma onda de escndalos
envolvendo o governo de Fernando Corra da Costa, no que tange aos negcios envolvendo
as terras de Mato Grosso sendo que a posio poltica da RBO no ficou imune a essas
disputas. A direo e o grupo de articulistas que participavam daquele projeto editorial no se
conformavam com as acusaes dirigidas gesto anterior, pois entendiam que naquelas
denncias havia muito mais interesses polticos do que uma tentativa de fazer o melhor para a
regio. Do ponto de vista dos textos escritos na revista, as investigaes sobre alienao de
terras teriam afastado sobremaneira os investidores para aquela regio. Ponce de Arruda foi
36RBO, ano V, n. 42, novembro de 1959, So Paulo (SP), p. 24. Grifo nosso.37RBO, ano V, n. 42, novembro de 1959, So Paulo (SP), p. 24. Maisculas do original.
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acusado de acabar com um tipo de projeto que tinha impulsionado Mato Grosso rumo ao
desenvolvimento. Ele retirava a funo do estado como agente associado, e tambm
fiscalizador, daquelas empresas particulares.
Na opinio de Fausto Vieira de Campos, Joo Ponce acabou piorando a situao,
pois a partir de ento qualquer um poderia colonizar como bem entendesse, desde que pagasse
ao estado os valores pertinentes s reas compradas, o que gerava insegurana tambm para as
empresas que ali se instalavam. Os partidos polticos, PSD e UDN, travavam, j h algum
tempo, uma batalha pelo poder no estado de Mato Grosso. Na RBO, como foi demonstrado,
havia uma parte dos colaboradores que eram ligados Unio Democrtica Nacional. No
podemos afirmar com certeza que discusses estavam sendo feitas no interior ou nos
corredores da redao da revista sobre tal tema, contudo, a julgar por aquilo que saa nas
pginas do mensrio, a inclinao udenista era evidente, quer fossem os envolvidos
conscientes ou no desse fato. Por mais que Fausto Vieira de Campos argumentasse que eles
no tinham posies polticas, seu manifesto descontentamento com a gesto do PSD, a
parceria com diversos filiados da UDN e seu histrico como assessor do governo Fernando
Corra da Costa eram alguns dos aspectos que depunham contra a objetividade do jornalista
que, certamente, recebia crticas dos pessedistas e, por essa razo, buscou se explicar frente ao
seu pblico leitor por algumas vezes.
A rigorosa neutralidade do discurso jornalstico enunciada pelos Campos no pde
ser efetivamente praticada na sua ao, tanto do ponto de vista poltico, quanto do ponto de
vista econmico, uma vez que entre os anos de 1956-1959 boa parte dos seus anunciantes
estava ligada s empresas colonizadoras.38Certamente, houve uma forte defesa da gesto de
Fernando Corra da Costa, muito em conta do histrico pessoal dos Campos, mas tambm
pelo modelo de colonizao e desenvolvimento defendido pelos diretores da RBO e pelo
governo da UDN. Diversas so as questes que ainda devem ser estudadas sobre essa revista.
O tema aqui apresentado um resumo de apenas um tpico dentre diversos outros que podemser estudados nas pginas que fazem parte da longa histria desse peridico, que esteve em
circulao por 12 anos e vendeu mais de 1.500.000 (um milho e meio de exemplares).
38Tal tema no pde ser aqui analisado em razo das limitaes de espao que so comuns na modalidade depublicao acadmica do tipo artigo cientfico, no entanto, nos primeiros quatro anos de circulao da RBO,16% dos seus anunciantes eram empresas ligadas colonizao e ao setor imobilirio. Esse pode ser umindicativo de que a defesa feita pelo mensrio em relao s empresas no era gratuita, pois, segundo os textos
da revista, tal segmento (colonizao) foi prejudicado depois do cancelamento dos contratos de terras feitos noperodo de gesto do governador Fernando Corra da Costa pelo Senado Federal, mas iniciado pelospartidrios do PSD regional de Mato Grosso.
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BIBLIOGRAFIA
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