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1 COMBATE AO CANIÇO NOS TALUDES DAS VALAS E DOS VALADOS DA LEZÍRIA GRANDE DE VILA FRANCA DE XIRA Moreira, J.F. 1 ; Serrasqueiro, P.M. 2 ; Moreira, I. 3 ; Santos, A.C. 4 e Monteiro, A. 3 1 Direcção-Geral de Protecção das Culturas, Quinta do Marquês, 2780-155 Oeiras, [email protected] agricultura.pt 2 Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. Estrada Nacional 10 ao Camarão. Apartado 6 2601-997 Vila Franca de Xira, [email protected] 3 Instituto Superior de Agronomia; DPPF/Herbologia, Tapada da Ajuda, 1349-007 Lisboa, [email protected]; [email protected] 4 AGROQUISA, Rua dos Navegantes, 53-2º Esq., 1200-732 Lisboa, [email protected] Resumo Resumem-se os resultados duma prospecção sobre a expansão do caniço e de experiências de aplicação extensivas de glifosato, com diversos aparelhos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos e diferentes bicos de pulverização, em caniço, nos taludes de valas da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, integradas no programa do Projecto n.º 113 do Programa AGRO, “Gestão integrada do solo e da água na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira”. Relata-se a adaptação duma barra de pulverização às condições específicas dos taludes das valas de drenagem da Lezíria. Os custos suportados pela Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira na limpeza de infestantes de taludes de valas e valados e nas bermas das rede viária da Lezíria, predominantemente caniço (Phragmites australis) e cana (Arundo donax), antes e após a introdução da luta química, são discutidos. Finalmente são referidas propostas de estudos para controlo do caniço. Palavras Chave: Phragmites australis, gestão, infestantes ribeirinhas Abstract COMMON REED ON CHANNEL BANKS AND ROADSIDE OF LEZÍRIA GRANDE DE VILA FRANCA DE XIRA Results of a search about the common reed spreading and experiments of glyphosate wide-range sprayings, with several agrochemical application devices and different nozzles, on common reed on the channel banks of the Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, in the Project Nr. 113 of the AGRO’s Programme, “Soil and Water Integrated Management in Lezíria Grande de Vila Franca de Xira” are summarized. The adaptation of a spraying bar to the specific drainage channels slope conditions, in Lezíria, is reported. The costs born by Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, with the weed control on the channel banks, as well as on the roadside of Lezíria, mainly common reed (Phragmites australis) and giant reed (Arundo donax), before and after the introduction of chemical control, are discussed. Key Words: Phragmites australis, Arundo donax, weed management

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COMBATE AO CANIÇO NOS TALUDES DAS VALAS E DOS VALADOS DA LEZÍRIA GRANDE DE VILA FRANCA DE XIRA

Moreira, J.F.1; Serrasqueiro, P.M.2; Moreira, I.3; Santos, A.C.4 e Monteiro, A.3

1Direcção-Geral de Protecção das Culturas, Quinta do Marquês, 2780-155 Oeiras, [email protected]

2Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. Estrada Nacional 10 ao Camarão. Apartado 6 2601-997 Vila Franca de Xira, [email protected] 3Instituto Superior de Agronomia; DPPF/Herbologia, Tapada da Ajuda, 1349-007 Lisboa, [email protected]; [email protected] 4AGROQUISA, Rua dos Navegantes, 53-2º Esq., 1200-732 Lisboa, [email protected] Resumo

Resumem-se os resultados duma prospecção sobre a expansão do caniço e de experiências de aplicação extensivas de glifosato, com diversos aparelhos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos e diferentes bicos de pulverização, em caniço, nos taludes de valas da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, integradas no programa do Projecto n.º 113 do Programa AGRO, “Gestão integrada do solo e da água na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira”. Relata-se a adaptação duma barra de pulverização às condições específicas dos taludes das valas de drenagem da Lezíria. Os custos suportados pela Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira na limpeza de infestantes de taludes de valas e valados e nas bermas das rede viária da Lezíria, predominantemente caniço (Phragmites australis) e cana (Arundo donax), antes e após a introdução da luta química, são discutidos. Finalmente são referidas propostas de estudos para controlo do caniço. Palavras Chave: Phragmites australis, gestão, infestantes ribeirinhas Abstract

COMMON REED ON CHANNEL BANKS AND ROADSIDE OF LEZÍRIA GRANDE DE VILA FRANCA DE XIRA

Results of a search about the common reed spreading and experiments of glyphosate wide-range sprayings, with several agrochemical application devices and different nozzles, on common reed on the channel banks of the Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, in the Project Nr. 113 of the AGRO’s Programme, “Soil and Water Integrated Management in Lezíria Grande de Vila Franca de Xira” are summarized. The adaptation of a spraying bar to the specific drainage channels slope conditions, in Lezíria, is reported. The costs born by Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, with the weed control on the channel banks, as well as on the roadside of Lezíria, mainly common reed (Phragmites australis) and giant reed (Arundo donax), before and after the introduction of chemical control, are discussed. Key Words: Phragmites australis, Arundo donax, weed management

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1. Introdução

Diversas referências bibliográficas sobre os problemas globais das infestantes aquáticas e ribeirinhas em Portugal são apresentadas noutro comunicação (Moreira et al., 2005). Em particular, sobre o controlo químico do caniço (Phragmites australis (Cav.) Steudel) referem-se os trabalhos de Moreira et al. (1999) e de Monteiro et al. (1999), respectivamente, sobre o efeito de diferentes técnicas de aplicação de herbicidas com base em glifosato e glufosinato-amónio e do corte prévio dos caniços na sua eficácia, estudado em ensaios realizados na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira.

Neste documento, resumem-se os resultados duma prospecção sobre a expansão do caniço e de experiências de aplicação extensivas de glifosato com diversos aparelhos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos e diferentes bicos de pulverização em caniço nos taludes de valas da Lezíria, integradas no programa do Projecto n.º 113 do Programa AGRO, “Gestão integrada do solo e da água na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira”, coordenado pelo Prof. Pedro Leão de Sousa.

Os custos suportados pela Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira na limpeza de valados e propostas de estudos para controlo do caniço são também referidos. 2. Prospecção do caniço na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira

Como se relatou na outra comunicação (Moreira et al., 2005) na Primavera de

2003 efectuou-se uma prospecção às infestantes das valas e dos seus taludes da Lezíria Grande, cujos resultados detalhados se encontram no trabalho de Monteiro et al. (2003).

Dos cerca de 82 km amostrados, dos 470 km de valas principais da Lezíria, aproximadamente 95% revelaram a presença de caniço, o que significa, considerando a amostra representativa da realidade da Lezíria Grande, a quase totalidade das valas se encontrar-se bordejada por caniço. A avaliação das plantas aquáticas e ribeirinhas evidenciou espécies cujo comportamento interessa continuar a monitorizar de modo a evitar novos problemas no sistema de regadio e enxugo.

Esta quase constante presença do caniço, com diversos graus de cobertura, tem de ser encarada de modo peculiar, pois pode ter a vantagem de alguma protecção dos taludes; todavia encontra-se, por vezes, a invadir o leito das valas, como se verificou em duas das monitorizadas.

Esta expansão do caniço para o interior das valas, e mesmo no talude se houver vantagem na sua limpeza para facilitar a boa funcionalidade e manutenção de drenos, surge em vários troços com alguma acuidade. Nalguns troços parece relacionar-se com o sucesso da eliminação do jacinto-aquático (Eichhornia crassipes (Mart.) Solms). 3. Ensaios sobre material de aplicação de produtos fitofarmacêuticos 3.1. Material e métodos

Em particular, estudaram-se as eficácias de tratamentos herbicidas contra o caniço efectuados com diferentes pulverizadores de pressão hidráulica (jacto projectado) e munidos de diferentes bicos de pulverização.

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As modalidades ensaiadas foram seguintes: A – Pulverizador motorizado de dorso F320, com bico na extremidade de lança

telescópica; B – Pulverizador acoplado nos três pontos do tractor com depósito de 800 litros,

munido de barra; C – Pulverizador motorizado em carrinho de mão com pistola de pulverização

de bico de jacto regulável. Resumem-se adiante as condições de aplicação. O herbicida utilizado foi em todos os ensaios um produto com a substância

activa glifosato. A distribuição das gotas sobre as folhas do caniço e as perdidas no solo foi

apreciada pela observação de alvos artificiais (papeis hidrossensíveis) previamente colocados entre a folhagem. A eficácia dos tratamentos foi avaliada, visualmente, pela clorose e necrose da parte superior dos caniços, relativamente às plantas de talhões não tratados.

3.1.1. Pulverizador de dorso F320

As pulverizações foram efectuadas em 8 de Março de 2002, com a altura das plantas de cerca de 1 metro. A pressão de funcionamento oscilou entre 2 e 3 kg/cm2. Foram ensaiados os seguintes bicos de fenda com jacto em leque de ângulo de 110º, na extremidade de lança telescópica, identificados por código de cores relacionando o seu diâmetro e respectivo débito:

A.1 - anti-arrastamento (verde, LECHLER, ID); A.2 - castanho; A.3 - verde.

As características das pulverizações estão indicadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Condições observadas nos ensaios com pulverizador de dorso F320

* Para os bicos anti-arrastamento não há indicação do débito.

A.1 – bicos de fenda anti-

arrastamento (verde)

A.2 – bicos de fenda

(castanho)

A.3 – bicos de fenda (verde)

Débito medido (l/min) Valor tabelado (l/min) - 2kg/cm2

- 3 kg/cm2

0,8 *

0,59

1,44 1,63 2,00

0,52 0,49 0,60

Tamanho dos talhões (m) 20x5 20x5 20x5 Concentração herbicida (produto comercial) na calda

2,5% 2,5% 2,5%

Concentração substância activa no produto comercial

30,8% 30,8% 30,8%

Volume de calda aplicado(litros) 2,75 5,9 2,5 Volume de calda/ha (litros) 275 590 250 Dose – litros p.c./ha litros s.a./ha

6,9 2,13

14,8 4,56

6,23 1,92

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3.1.2. Pulverizador acoplado a tractor

O ensaio realizou-se a 24 de Março de 2002, com as plantas de 1 a 2 metros de altura. A rotação do motor do tractor usada, de 2000 rpm, imprimiu 520 rpm na tomada de força.

Efectuaram-se aplicações com os seguintes bicos: B.1 - de jacto cónico (castanho); B.2 - de fenda anti-arrastamento (amarelo);

B.3 - de fenda (castanho) Na barra, os bicos foram distanciados entre si de 0,5 m. As características das

pulverizações com estes bicos foram as indicadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Condições observadas nos ensaios com pulverizador acoplado a tractor B.1 – bicos jacto

cónico (castanho) B.2 – bicos de

fenda anti-arrastamento

(amarelo)

B.3 – de fenda (castanho)

Velocidade do tractor (km/h) 5,7 7,7 5,8 Débito total medido (l/min) Nº de bicos Débito médio por bico Valor tabelado - 2 kg/cm2

- 3 kg/cm2

3,36 7

0,48 0,31 0,38

7,36 7

1,05 *

0,78

4,20 7

0,6 0,35 0,43

Tamanho dos talhões (m) 120x3,5 100x3,5 77x3,5 Concentração herbicida (produto comercial) na calda

5% 5% 5%

Concentração substância activa no produto comercial

30,8% 30,8% 30,8%

Volume de calda aplicado 4,24 litros 5,76 litros 3,36 litros Volume de calda/ha 101 litros 163 litros 121 litros Dose – litros p.c./ha litros s.a./ha

5,1 1,57

8,2 2,5

6,1 1,9

* Para os bicos anti-arrastamento não há indicação do débito.

3.1.3. Pulverizador motorizado em carrinho de mão Com o pulverizador motorizado em carrinho de mão, com pistola de

pulverização de bico de jacto regulável, comparam-se as pulverizações usando duas diferentes pastilhas reguladoras de débito, marcadas com 1 e 1,5. O jacto obtido tinha a forma de leque cónico vazio. A pressão de funcionamento oscilou entre 8 e 10 kg/cm2. As características das aplicações estão referidas no Quadro 3.

3.2. Resultados e discussão A observação das plantas de caniço nos meses seguintes às aplicações de

herbicidas mostraram eficácia razoável, embora aparentemente se tenha notado menor influência do herbicida pelo tratamento primaveril, época menos vantajosa para a eficácia sistémica do produto utilizado (modalidades Ai e Bi), como aliás havia sido anotado em estudos anteriores (Monteiro et al., 1999).

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Quadro 3 – Condições observadas nos ensaios com pulverizador motorizado em carrinho de

mão. Pastilha 1,5 Pastilha 1 Débito total (início-final)(l/min) Valor tabelado - 8 kg/cm2 10 kg/cm2

3,4-3,3 2,9 3,3

1,5-1,5 1,3

1,56 Tamanho dos talhões (m) 200x3,5 120x3,5 Concentração herbicida (produto comercial) na calda

3% 3%

Concentração substância activa no produto comercial

30,8% 30,8%

Volume de calda aplicado 67 litros 18,4 Volume de calda/ha 957 litros 438 litros Dose – litros/ha p.c. litros/ha s.a.

29,7 9,2

13,1 4,0

Notou-se uma grande diferença entre o valor do débito tabelado para os bicos de

fenda (castanho) da modalidade A.2 (1,63 e 2,00 l/min, respectivamente para 2 e 3 kg/cm2 de pressão) e o dos bicos de fenda da mesma cor (castanho) da modalidade B.3 (0,35 e 0,43 l/min). Efectivamente estes últimos obedecem à norma da ISO – International Standard Organisation - já seguida pelos fabricantes para os bicos de fenda, também conhecidos por bicos de jacto em leque, desde 2003, o que não acontece com os bicos usados na modalidade A2. Anota-se que os bicos de fenda anti-arrastamento (modalidades A.1 e B.2) obedecem aquela norma. Para os bicos de jacto cónico (castanho) usados na modalidade B.1, não está em vigor o código de cores da norma ISO.

Em condições da maior densidade de plantas, provavelmente, seria conveniente aumentar a periodicidade dos tratamentos. Lembra-se que nos referidos estudos (Monteiro et al., 1999) se verificou uma maior eficácia do glifosato aplicado em caniço previamente cortado (corte no Verão e aplicação no Outono ou corte no Outono e aplicação na Primavera.

Alguma especificidade dos três equipamentos experimentados e dos diferentes bicos usados são de seguida anotadas.

Nas aplicações com o pulverizador de dorso, nas condições dos ensaios, não se encontraram diferenças de eficácia com os vários tipos de bico. Todavia com os bicos de fenda (castanho) o consumo de herbicida foi muito superior ao dos bicos de fenda (verde) e bicos anti-arrastamento.

Nas aplicações com o pulverizador de pressão hidráulica de 800 litros, acoplado

ao tractor, as condições do terreno dos talhões pulverizados obrigou a redução de velocidade nalguns troços com piso mais irregular condicionando a uniformidade da pulverização.

Todavia, com a barra de pulverização acoplada ao tractor, como era natural, obtiveram-se bons rendimentos de trabalho. A distribuição das gotas foi bastante satisfatória contribuindo para a eficácia do herbicida nas plantas por ele atingidas.

Com os bicos anti-arrastamento, tanto no pulverizador de dorso como no acoplado ao tractor, verificou-se, uma maior dimensão das gotas, avaliada pelas manchas nos alvos artificiais, e em consequência, menor risco de arrastamento da calda.

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Nos papéis hidrossensíveis colocados no solo foi observada maior densidade de gotas. O fabricante não recomenda o funcionamento a pressões inferiores a 3 kg/cm2, por não se garantir a formação correcta do jacto em leque do bico de fenda anti-arrastamento, bem como o adequado aumento de diâmetro das gotas provocado pela aspiração do ar, por sucção devido ao efeito de Venturi, através do orifício do corpo do bico (Figura 1). Efectivamente de acordo com os fabricantes só com a adequada pressão se reduz substancialmente a proporção de gotas de diâmetro menor que 100 µm, responsáveis pelos maiores arrastamentos de calda. Todavia a pulverização efectuada, com o manómetro a registar valores entre 2 e 3 kg/cm2, mostrou-se eficiente.

Figura 1. Bico de fenda anti-arrastamento (corte longitudinal)

A distribuição de calda, com o pulverizador motorizado em carrinho de mão,

permitiu uma boa cobertura na folhagem das plantas, não tendo sido observada diferença muito relevante entre as pastilhas de diâmetro 1 e 1,5. Todavia nos alvos artificiais colocados no solo foi francamente visível a diferença entre o grau de cobertura para as duas pulverizações realizadas. Nas pistolas de pulverização com bico de jacto regulável, o débito (l/min), além de depender, como habitualmente, do diâmetro do bico e da pressão, é também condicionado pela abertura do leque escolhida pelo operador. Todavia, no jacto utilizado, o débito verificado, pouco variou do valor tabelado, para a pressão indicada.

Nas aplicações com este equipamento foi notório, relativamente aos outros dois equipamentos, o elevado volume de calda aplicado por hectare e consequente consumo de herbicida para a concentração utilizada, acarretando aumentos de custos sem um aumento compensador de eficácia. Este aspecto ficou agravado com a pastilha de maior diâmetro, com a qual o débito foi superior ao dobro do da pastilha de menor diâmetro.

3.3. Considerações finais Para combate de caniço muito desenvolvido e denso poderia ser eficaz a

pulverização pneumática, com os aparelhos vulgarmente designados por atomizador, para o que seria conveniente configurar uma máquina ligada ao tractor, tendo em consideração os acentuados declives dos taludes das valas da Lezíria.

Efectivamente, ensaios já realizados no passado (Fernandes & Moreira, 1985) em caniço na Lezíria, mas em terreno plano e com atomizador de dorso, mostraram eficácia dos atomizadores. Contudo, com este tipo de equipamento, tem-se sempre de contar com o risco de arrastamento de calda, podendo limitar a sua aplicação.

Todavia, no início dos anos 90 foram efectuados ensaios com equipamento de aplicação de herbicidas instalados em barco, de pressão hidráulica e de pulverização pneumática, mostrando que com esta, produzindo gotas de menor diâmetro, se obtinha

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uma melhor cobertura do glifosato na vegetação e melhor eficácia(Moreira et al.,1999),; e os perigos de arrastamento do herbicida, em aplicação a partir do barco nas valas, ficaram bastante anulados pela posição do barco em plano inferior ao talude (J. F. Moreira, A. Monteiro e E. Matos, informação verbal).

O pulverizador de dorso, naturalmente, apenas se mostrou prático para extensões de valas relativamente pequenas.

Com o pulverizador em carrinho de mão também foi manifesto o inconveniente duma baixa produtividade de trabalho e de riscos de arrastamento da calda e de exposição do operador; nas massas de caniço densas e muito largas verificou-se alguma dificuldade de penetração da calda na folhagem.

Nas condições da Lezíria para tratamentos em grandes extensões de valas é evidentemente necessário a adopção de equipamento acoplado ou rebocado por tractor.

Salienta-se que os ensaios efectuados demonstraram bem a necessidade da boa manutenção dos equipamentos para se conseguirem as condições de aplicação recomendadas pelos fabricantes. Em particular, pela dificuldade da leitura dos manómetros vulgares a baixas pressões há, a apreciável vantagem da instalação de manómetros de precisão para garantia de trabalho a pressão adequada para a devida eficácia dos herbicidas sem risco de arrastamento.

Os bicos de fenda anti-arrrastamento, com evidentes vantagens ambientais, permitiram tratamentos eficazes contra o caniço.

O pulverizador acoplado ao tractor, da Sociedade Agrícola do Faiel, de accionamento assistido hidraulicamente, com barras de pulverização, concebidas para pulverização em culturas arvenses, permite uma inclinação da barra para alinhamento com o terreno, mas limitado, em geral com uma inclinação máxima de 8,5º (Figura 2).

O comprimento da barra e a sua capacidade de inclinação relativamente pequenos dificultaram a correcta pulverização e especialmente a impossibilidade de atingir os caniços na parte inferior dos taludes.

Assim com a colaboração de empresa especializada em material de aplicação – TOMIX – conseguiu-se a montagem dum componente hidráulico que permite maiores inclinações descendentes da barra, aproximadamente de 75º, com o consequente paralelismo ao talude, adquirido pela Associação de Beneficiários e ensaiado com êxito. Este sistema obriga a um esforço significativo para o manuseamento das barras, que exigiu adaptação especial do equipamento.

Figura 2. Aplicação de herbicida em talude de vala de drenagem.

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4. Programa de controlo do caniço e aplicação de herbicidas em

valados e rede viária Os esforços para a manutenção de valados na Lezíria podem ser apreciados nas figuras 3 e 4, referentes ao número de horas de trabalho de máquinas e aos seus custos para várias operações, destacando-se a importância da aplicação de herbicidas e que tem permitido manter os valados limpos com custos baixos (Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, 2005).

Figura 3 – Distribuição do trabalho de máquinas da Associação dos Beneficiários com a

manutenção dos valados da Lezíria Grande. (Extraído de Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, 2005).

Figura 4 – Distribuição dos custos com a manutenção dos valados da Lezíria Grande. (Extraído de Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, 2005).

Na Figura 5 pode ainda apreciar-se a importância da aplicação de herbicidas na

manutenção de rede viária nos anos de 2003 e 2004. A aplicação dos herbicidas com base em glifosato, após corte prévio das plantas,

acima referido, tem sido posto em prática pela Associação de Beneficiários com aparentes bons resultados.

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A conjugação da limpeza mecânica com a aplicação de herbicidas quando se impõe o combate ao caniço, será provavelmente continuada pela Associação de Beneficiários e agricultores. Todavia, em face da vantagem do caniço na consolidação dos taludes das valas de drenagem, admite a Direcção Técnica da Associação a realização de testes com reguladores de crescimento que reduzam a biomassa do caniço, se economicamente viável.

Figura 5 – Distribuição do trabalho de máquinas na manutenção da rede viária da Lezíria

Grande. (Extraído de Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, 2005).

Bibliografia ASSOCIAÇÃO DE BENEFICIÁRIOS DA LEZÍRIA GRANDE DE VILA FRANCA DE

XIRA (2005) Relatório e Contas. Exercício de 2004. FERNANDES, E. & MOREIRA, I. (1985) Ensaios de luta química para o controle de

infestantes aquáticas. DGPPA e CBAA. 12pp. MONTEIRO, A.; MOREIRA, I. & SOUSA, E. (1999) Effect of prior common reed

(Phragmites australis) cutting in herbicide efficacy. Hydrobiologia, 415: 305-308. MONTEIRO, A.; MOREIRA, I., SANTOS, A.C. & SERRASQUEIRO, P. (2003) Gestão do

jacinto-aquático (Eichhprnia crassipes) na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. An. Isnt. Sup. Agronom., 49: 297-315.

MOREIRA, I.; FERREIRA, M.T.; MONTEIRO, A., CATARINO, L. & VASCONCELOS, T. (1999a) Aquatic weeds and their management in Portugal: insights and the international context. Hydrobiologia, 415: 229-234.

MOREIRA, I.; MONTEIRO, A.; SOUSA, E. (1999) – Chemical control of common reed (Phragmites australis) by foliar herbicides under different spray conditions. Hydrobiologia, 415: 229-304.

MOREIRA, I.; SANTOS, A.C., MONTEIRO, A.; SERRASQUEIRO, P.M.; REBELO, T. & MOREIRA, J.F. (2005) Combate ao jacinto-aquático nas valas da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. I Congresso Nacional de Rega e Drenagem. 5 a 7 Dezembro 2005, Beja.