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Combustão de Combustíveis Sólidos Num Reator de Queda Livre André Filipe do Ouro Moço Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientadores: Prof. Mário Manuel Gonçalves da Costa Prof. Cláudia Sofia Séneca da Luz Casaca Júri Presidente: Prof. Edgar Caetano Fernandes Orientador: Prof. Cláudia Sofia Séneca da Luz Casaca Vogal: Prof. Sandrina Batista Pereira Outubro 2017

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Combustão de Combustíveis Sólidos Num Reator de

Queda Livre

André Filipe do Ouro Moço

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientadores: Prof. Mário Manuel Gonçalves da Costa

Prof. Cláudia Sofia Séneca da Luz Casaca

Júri

Presidente: Prof. Edgar Caetano Fernandes

Orientador: Prof. Cláudia Sofia Séneca da Luz Casaca

Vogal: Prof. Sandrina Batista Pereira

Outubro 2017

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Agradecimentos

Gostaria de começar por agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Mário Costa e à minha

co-orientadora, Professora Doutora Cláudia Casaca, por todo o apoio, disponibilidade e

orientação dada ao longo deste trabalho.

Ao Professor Doutor Fernando Pereira e à Doutora Juliana Pohlman, da Universidade Federal

do Brasil, agradeço a colaboração e o fornecimento do carvão para elaboração de parte deste

trabalho.

Quero agradecer também ao Manuel Pratas toda a disponibilidade e ajuda prestada no decorrer

de todos os testes laboratoriais.

À professora Amélia Almeida e ao técnico do laboratório de materiais, Daniel de Jesus, agradeço

toda a ajuda prestada e terem disponibilizado o laboratório de matérias.

À Sandrina Pereira gostaria de agradecer a ajuda prestada na leitura atenta e discussão do

documento final.

À Rita Maia agradeço toda disponibilidade e apoio dado na resolução de todas as questões

burocráticas.

Aos meus colegas do laboratório agradeço toda a colaboração, ajuda e amizade demonstradas

ao longo de todo o trabalho.

A toda a minha família agradeço o apoio, compreensão e amizade que me têm dado desde

sempre.

Por último, mas não menos importante, quero agradecer a todos os meus amigos, em particular,

ao Alcino Reis, ao André Antunes, ao André Varela, ao João Cunha, ao João Gaspar, ao João

Magrinho, José Simões e à Paula Martins, toda a amizade e apoio ao longo destes últimos anos.

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Resumo

O presente trabalho analisa duas problemáticas associadas à combustão de combustíveis

sólidos: avaliação do processo de combustão de três carvões e deposição de cinzas na

combustão de bagaço de uva. Inicialmente, no estudo dos carvões foi efetuada termogravimetria

(TGA) para o cálculo dos parâmetros cinéticos. Os dois estudos foram realizados num reator de

queda livre (RQL) a 1200 ºC, obtendo-se perfis de temperatura, espécies gasosas e oxidação do

resíduo carbonoso ao longo do reator. No estudo dos carvões também foi efetuada recolha de

partículas para avaliar a distribuição dos seus tamanhos e a sua concentração. Os valores de

energia de ativação aparente extraídos do TGA têm uma boa correlação com os valores de

oxidação do resíduo carbonoso obtidos no RQL. A oxidação do resíduo carbonoso é maior para

um carvão colombiano que, consistentemente, é o que apresenta menor concentração total de

partículas à saída do RQL. O estudo da deposição de cinzas na combustão de bagaço de uva

foi realizado com tempos de amostragem, entre 2 e 14 horas, através da introdução de uma

sonda no RQL a uma distância de 930 mm do injetor. Os depósitos de cinzas revelaram que a)

a massa e a altura dos depósitos aumentam com o tempo de amostragem, apresentando

importantes diferenças morfológicas, b) a porosidade diminui da base até ao topo dos depósitos

à medida que o tempo de amostragem aumenta, c) a concentração de oxigénio nos depósitos

diminui com o aumento do tempo de exposição da sonda, sendo que o Ca e o Si apresentam um

comportamento oposto, e d) não foram detectados nos depósitos S e Cl, os quais apresentam

um elevado potencial corrosivo/erosivo.

Palavras chave: carvão; combustão; termogravimetria; reator de queda livre; bagaço de uva;

formação de depósitos de cinza.

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Abstract

This work analyzes two problematics associated to solid fuel combustion: characterization of the

combustion behavior of three coals and ash deposit formation during the combustion of grape

pomace. Initially, the combustion behavior of the three coals was evaluated by thermogravimeric

analysis (TGA) to calculate its kinetic parameters. Both studies were performed in drop tube

furnace (DTF) at 1200 ªC, being the temperature, gas species concentration and burnout profile

extracted along the axis of the furnace. For the coal study, a particulate matter sampling was

performed, in order to evaluate its size distribution and concentration. The values of the apparent

activation energy evaluated from the TGA data are in accordance with the burnout values

obtained in the DTF. The burnout is higher for a Colombian coal that, consistently, shows a lower

total concentration of particulate matter at the exit of the DTF. The ash deposition tests were done

for sampling times between 2 and 14 hours through the introduction of a probe at 930 mm from

the injector. The ash deposits revealed that a) the mass and height of deposits increases with the

sampling time, showing morphologic differences, b) for larger sampling times, the deposit porosity

decreases towards the top of the deposit, c) oxygen concentration decreases as the probe

exposition time increases, while the opposite behavior is observed for Ca and Si, and e) elements

like S and Cl, which present an enormous corrosive/erosive potential, were not detected in the

deposit layers.

Keywords: coal; combustion; thermogravimetric analysis; drop tube furnace; grape pomace; ash

deposit formation.

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Índice de Conteúdos

Agradecimentos............................................................................................................................. iii

Resumo ......................................................................................................................................... v

Abstract ........................................................................................................................................ vii

Índice de Conteúdos ..................................................................................................................... ix

Lista de Figuras ............................................................................................................................. xi

Lista de Tabelas .......................................................................................................................... xiii

Nomenclatura ............................................................................................................................... xv

1. Introdução .............................................................................................................................. 1

1.1 Motivação ...................................................................................................................... 1

1.2 Fundamentos Teóricos e Estudos Prévios ................................................................... 3

1.2.1 Composição dos Combustíveis Sólidos ................................................................ 3

1.2.2 Processo de Combustão de Combustíveis Sólidos .............................................. 4

1.2.3 Estudos Prévios ................................................................................................... 11

1.3 Objetivos ...................................................................................................................... 14

1.4 Estrutura da tese ......................................................................................................... 14

2. Materiais e Métodos ............................................................................................................ 15

2.1 Preparação e Caracterização dos Combustíveis ........................................................ 15

2.2 Análise Termogravimétrica .......................................................................................... 17

2.2.1 Instalação Experimental ...................................................................................... 17

2.2.2 Parâmetros Cinéticos da Combustão .................................................................. 18

2.3 Reator de Queda Livre e Condições de Teste ............................................................ 19

2.4 Métodos Experimentais e Incertezas .......................................................................... 20

2.4.1 Temperatura ........................................................................................................ 20

2.4.2 Recolha de Partículas para o Cálculo do Resíduo Carbonoso Oxidado ............ 22

2.4.3 Concentrações de Emissões Gasosas ............................................................... 23

2.4.4 Concentração de Partículas e Distribuição de Tamanhos .................................. 24

2.4.5 Deposição de Cinzas........................................................................................... 26

3. Resultados e Discussão: Caracterização da Combustão de Carvões ............................... 28

3.1 Composição dos Combustíveis ................................................................................... 28

3.2 Análise Termogravimétrica .......................................................................................... 29

3.3 Caracterização do Processo de Combustão no RQL ................................................. 32

4. Resultados e Discussão: Formação de Depósitos na Combustão de Bagaço de Uva ...... 36

4.1 Composição do Bagaço de Uva .................................................................................. 36

4.2 Caracterização do Processo de Combustão no RQL ................................................. 36

4.3 Formação de Depósitos .............................................................................................. 37

5. Fecho ................................................................................................................................... 41

5.1 Conclusões .................................................................................................................. 41

5.1.1 Caracterização da Combustão de Carvões ........................................................ 41

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5.1.2 Formação de Depósitos na Combustão de Bagaço de Uva ............................... 41

5.2 Trabalhos Futuros ....................................................................................................... 41

Referências ................................................................................................................................. 43

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Lista de Figuras

Figura 1.1 Previsão do consumo de energia primária global entre 1990 e 2035 (adaptado de

[1]). ................................................................................................................................................ 1 Figura 1.2 Ciclo de carbono típico para biomassa. ...................................................................... 2 Figura 1.3 Exemplos de problemas relacionados com a deposição de cinzas: a) e b) slagging

c) corrosão (adaptado de [10]). ..................................................................................................... 3 Figura 1.4 Processo de combustão dos combustíveis sólidos. .................................................. 4 Figura 1.5 Esquema do processo de formação de matéria particulada (adaptado de [23]). ....... 8 Figura 1.6 Zonas de formação de depósitos típicas ao longo de uma caldeira (Adaptado de

[29]). ............................................................................................................................................ 10 Figura 2.1 Moinho Retsch SM 100. ............................................................................................ 15 Figura 2.2 Peneiradora SS-15 Gilson Economy 203 mm Sieve Shaker. ................................... 16 Figura 2.3 Combustíveis utilizados no presente trabalho: a) carvão australiano, b) carvão

brasileiro, c) carvão colombiano, d) bagaço de uva.................................................................... 17 Figura 2.4 Thermobalance Netzsch STA 409 PC LUXX. ........................................................... 18 Figura 2.5 Fotografia do RQL usado no trabalho desenvolvido. ............................................... 21 Figura 2.6 Esquema da sonda de termopar. .............................................................................. 22 Figura 2.7 Impactor total contendo um filtro de quartzo. ............................................................ 23 Figura 2.8 Esquema do sistema de análise de concentrações gasosas. .................................. 24 Figura 2.9 Esquema do impactor de baixa pressão de três estágios. ....................................... 25 Figura 2.10 Impactor de baixa pressão de treze estágios. ........................................................ 25 Figura 2.11 Esquema do RQL e da sonda utilizada no estudo de deposição de cinzas ........... 27 Figura 2.12 Processo de tratamento das cápsulas. ................................................................... 27 Figura 3.1 Curvas de TG e DTG dos os três carvões. ............................................................... 30

Figura 3.2 Gráficos de ln[g(α)/T2] em função de 1/T para os três carvões estudados. ............. 31

Figura 3.3 Perfis de temperatura, gases e oxidação do resíduo carbonos ao longo do eixo do

RQL para os três carvões. .......................................................................................................... 33 Figura 3.4 Concentração de partículas usando o LPI-3 à saída do RQL (x = 1330 mm) para os

três carvões. ................................................................................................................................ 34 Figura 3.5 Distribuição dos tamanhos de partículas usando o LPI-13 à saída do RQL

(x=1330mm) para os três carvões. ............................................................................................. 34 Figura 4.1 Distribuição cumulativa do tamanhos das partículas de bagaço de uva. ................. 37 Figura 4.2 Perfis de temperatura, gases e oxidação do resíduo carbonoso ao longo do eixo do

RQL para o bagaço de uva. ........................................................................................................ 38 Figura 4.3 Massa do depósito por unidade de área da superfície da cápsula em função do

tempo de recolha. ........................................................................................................................ 39 Figura 4.4 Imagens do SEM dos depósitos recolhidos nas superfícies das cápsulas, e

respetivas composições elementares das áreas selecionadas para: a) 2 h, b) 4 h, c) 6 h, d) 8 h,

e) 10 h, f) 12 h, g) 14 h. ............................................................................................................... 39 Figura 4.5 Composição elementar representativa dos depósitos recolhidos nas várias

superfícies das cápsulas. As barras de erro representam o desvio padrão de obtido de 20

medidas independentes. ............................................................................................................. 40

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Lista de Tabelas

Tabela 2.1 Principais condições de operação do RQL utilizadas. ............................................. 21 Tabela 2.2 Propriedades dos analisadores e concentrações das misturas padrão. .................. 24 Tabela 2.3 Diâmetro aerodinâmico para cada estágio do impactor. .......................................... 26 Tabela 3.1 Propriedades dos carvões. ....................................................................................... 28 Tabela 3.2 Características da combustão dos três carvões. ...................................................... 30 Tabela 3.3 Parâmetros cinéticos da combustão dos três carvões. ............................................ 31 Tabela 3.4 Valores de energias de ativação retirados da literatura. .......................................... 31 Tabela 4.1 Propriedades do bagaço de uva. .............................................................................. 36

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Nomenclatura

Abreviaturas bs Base seca

BU Bagaço de uva

CA Carvão Australiano

CB Carvão Brasileiro

CC Carvão Colombiano

DTG Derivative thermogravimetric (Derivada da termogravimetria)

EGR Exaust gases recirculation (recirculação dos gases de escape)

EDS Energy dispersive spectroscopy (espectroscopia de energia dispersiva)

HC Hidrocarbonetos não queimados

Mtep Milhões de toneladas equivalentes de petróleo

PAH Polycyclic aromatic hydrocarbons (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos)

PM Particulate matter (matéria particulada)

ppm Partes por milhão

RQL Reactor de queda livre

SEM Scanning electron microscope (microscópio eletrónico de varrimento)

smm Sem matéria mineral

TGA Thermogravimetric analysis (análise termogravimétrica)

Símbolos Romanos A Fator pré exponencial

𝒅 Diâmetro do termopar

DTGmax Valor máximo da taxa de perda de peso

Ea Energia de ativação

𝒇(𝜶) Modelo hipotético do mecanismo de reação

𝒈(𝜶) Função integral de conversão

𝑲 Constante da reação

𝑲𝒎 Condutividade do meio

𝒎𝟎 Massa no instante inicial

𝒎𝒇 Massa no instante final

𝒎𝒕 Massa no instante t

𝑵𝒖 Número de Nusselt

𝑹 Constante universal dos gases

𝐓 Temperatura Tb Temperatura de burnout

𝑻𝒈𝒂𝒔 Temperatura do gás

Ti Temperatura inicial de decomposição

Tp Temperatura de pico

𝑻𝒕 Temperatura do termopar

𝑻𝒘𝒂𝒍𝒍 Temperatura da parede

Símbolos Gregos

𝜶 Fator de conversão

𝜷 Taxa de aquecimento

𝜺 Emissividade do termopar

𝝈 Constante de Stefan Boltzmann

𝝍 Oxidação do resíduo carbonoso

𝝎𝒇 Fração mássica de cinzas na biomassa, em base seca

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𝝎𝒙 Fração mássica de cinzas na amostra recolhida, em base seca

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1. Introdução

1.1 Motivação

A previsão de evolução do consumo global de energia primária entre 1990 e 2035 é apresentada

na figura 1.1, onde é também possível observar a contribuição de cada fonte de energia. Nos

últimos anos, o consumo de energia tem aumentado bastante e prevê-se que tal continue a

acontecer. Importa também referir que o consumo de energia renovável tem vindo a aumentar,

embora ainda seja uma parcela reduzida comparanda com as outras fontes de energia, existindo

ainda uma forte dependência dos combustíveis fósseis, como o carvão. Atualmente, no Brasil,

existe muito carvão sem qualquer uso, sendo de extrema importância os estudos que avaliem a

sua qualidade, para se perceber se representa, ou não, uma mais valia do ponto de vista

energético. A dificuldade de se perfazer as necessidades de consumo energético a nível mundial

apenas com fontes de energia renováveis provoca a necessidade de se utilizarem outras fontes

de energia, mesmo que não sejam renováveis

Figura 1.1 Previsão do consumo de energia primária global entre 1990 e 2035 (adaptado de

[1]).

No âmbito dos combustíveis renováveis, a biomassa pode ter um papel fundamental na redução

da dependência de combustíveis fósseis, uma vez que é uma fonte renovável de energia.

Existem várias origens da biomassa como por exemplo, resíduos florestais, madeira e resíduos

agrícolas, cuja quantidade é muitas vezes abundante e de preço reduzido. O processo de

combustão de biomassa é considerado neutro no que diz respeito às emissões de dióxido de

carbono (CO2) , devido ao seu ciclo de carbono, pois o CO2 emitido no processo de combustão

é igual ao que é “consumido” durante o período de vida da biomassa através da fotossíntese

[2,3]. A Figura 1.2 representa um ciclo de carbono típico para biomassa.

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Figura 1.2 Ciclo de carbono típico para biomassa.

Dentro dos resíduos agrícolas há um em particular de grande interesse para países que, tal como

Portugal, possuem uma cultura vinícola muito vincada, o bagaço de uva. O bagaço de uva é um

subproduto resultante da produção de vinho, especificamente, e é o que se obtém no final do

processo. Na maioria dos casos este subproduto é aproveitado para fertilização dos solos,

compostagem, alimentação de gado e/ou produção de bagaceira. Segundo alguns autores a

quantidade de bagaço de uva que é possível obter durante a produção de vinho pode variar entre

13,5 Kg e 20,0 kg por cada 100 litros de vinho produzidos [4–6]. Segundo o Instituto da Vinha e

do Vinho em Portugal, na última colheita (2016/2017) foram produzidos cerca de 6.000.000 hl de

vinho [7], o que equivale a uma quantidade média de bagaço de 100500 toneladas,

aproximadamente.

Embora existam inúmeras vantagens em substituir diretamente o uso de carvão por biomassa

ou realizar a queima em regime de co-combustão, quer em caldeiras domésticas (pellets) quer

em centrais termoelétricas. podem existir alguns problemas associados que necessitam de ser

estudados, para que se possam tomar medidas eficazes na redução do seu impacto. Um dos

grandes problemas associados ao uso de biomassa é a deposição de cinzas. A deposição de

cinzas está associada a fenómenos como o fouling, o slagging (nomes provenientes da literatura

inglesa) e a corrosão / erosão dos equipamentos assim como uma redução da eficiência

energética dos mesmos e, em casos extremos, pode provocar mesmo a sua falha [8–10]. Na

Figura 1.3 é possível visualizar-se alguns dos problemas associados à deposição de cinzas.

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Figura 1.3 Exemplos de problemas relacionados com a deposição de cinzas: a) e b) slagging c) corrosão (adaptado de [10]).

1.2 Fundamentos Teóricos e Estudos Prévios

1.2.1 Composição dos Combustíveis Sólidos

Os combustíveis sólidos, tal como o carvão e a biomassa, são oriundos de matéria viva sendo o

tempo de formação a grande diferença entre ambos. A qualidade do carvão também é

dependente da escala temporal, podendo este ser classificado em lenhite, semi-betuminoso,

betuminoso, semi-antracite e antracite de acordo com o valor do poder calorífico.

A biomassa é constituída, essencialmente, por matéria orgânica e cinzas (inertes). A matéria

orgânica é constituída por celulose, hemicelulose e lignina cuja distribuição de peso pode estar

compreendida entre 40% a 50%, 20% a 40 % e 10% a 40%, respetivamente [11]. Em geral, a

biomassa apresenta valores de humidade entre 10% e 70%, o que pode trazer alguns malefícios.

A humidade potencia a degradação da matéria orgânica e o aparecimento de fungos e bactérias

[12]. Adicionalmente, quanto maior é a quantidade de água presente na biomassa mais difícil se

torna o seu processo de ignição, a quantidade de energia despendida no processo de secagem

é maior, diminuindo assim o seu poder calorifico [13]. O carvão apresenta valores de humidade

inferiores ao da biomassa, sendo esse um dos motivos para o seu maior poder calorifico.

Existem vários tipos de análise que podem ser feitos de modo a determinar-se a composição

quantitativa de cada combustível. Uma dessas análises é a análise imediata, onde é fornecida a

composição em termos de humidade, matéria volátil, carbono fixo e cinzas. No processo de

combustão, só a matéria volátil e o carbono fixo são responsáveis pela libertação de energia.

A matéria volátil é a parte do combustível, que durante a combustão é libertada no estado

gasoso, excluindo a humidade, e é constituída sobretudo por hidrocarbonetos leves, CO, CO2 e

Hidrogénio. A matéria volátil é o componente em maior quantidade na biomassa estando o seu

valor compreendido entre 48% e 86% da massa total em base seca (bs). No caso do carvão a

matéria volátil apresenta menor quantidade que a biomassa, podendo variar entre 12% e 68%

[14]. A quantidade de carbono fixo presente na biomassa situa-se entre 1% e 38% (bs), sendo

um pouco inferior à presente no carvão que tem um valor médio que ronda os 44% (bs) [15].

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As cinzas são constituídas por matéria inorgânica e podem ser divididas em dois grupos, as

inerentes ao combustível e as que são adicionadas ao combustível durante o seu

processamento. Os elementos mais representativos nas cinzas da biomassa são Si, Al, Ti, Fe,

Ca, Mg, Na, K, S, e P que podem representar até 40% da massa em base seca [13]. A biomassa

que contém menor quantidade de cinzas é a madeira (pinho), e a que apresenta maior

quantidade é a proveniente de resíduos industriais, e o mesmo se verifica para a humidade.

1.2.2 Processo de Combustão de Combustíveis Sólidos

O processo de combustão de combustíveis sólidos contempla três estágios fundamentais:

secagem e aquecimento da partícula, volatilização e combustão do resíduo carbonoso [16].

Durante o processo de combustão existem emissões de gases poluentes, de partículas e, no

final do processo, ainda restam as cinzas que podem formar depósitos. A Figura 1.4 mostra

esquematicamente este processo.

Figura 1.4 Processo de combustão dos combustíveis sólidos.

Seguidamente serão descritos em pormenor os estágios de combustão acima referidos.

Secagem e Aquecimento da Partícula

O processo tem início quando a partícula atinge uma temperatura de aproximadamente 105 ºC,

isto é, um pouco acima da temperatura de mudança de fase da água para vapor à pressão

atmosférica. Durante este processo a água presente nas partículas do combustível migra do

interior para a sua superfície através dos poros. A secagem, tal como o aquecimento da partícula,

é um processo endotérmico controlado pela transferência de calor e massa. A energia que é

necessária despender neste processo depende da quantidade de humidade do combustível

sólido, do seu tamanho e propriedades. A taxas de aquecimento e temperaturas elevadas o

processo de mudança de fase da água pode promover o aparecimento de fissuras na partícula

que, se for em número suficiente, pode mesmo dividi-la.

Volatilização

A volatilização é a fase da combustão do combustível onde se dá a libertação da matéria volátil

e inicia-se, geralmente, após a secagem e aquecimento da partícula. A temperatura de início da

volatilização depende do combustível sólido. Para a biomassa essa temperatura está

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compreendida entre 200 ºC e 260 °C, enquanto para o carvão varia entre 350 e

400 °C. O tipo de combustível, a dimensão das partículas e o ambiente em que ocorre a

combustão, tal como a temperatura do meio e a taxa de aquecimento da partícula, são fatores

que influenciam a quantidade e a composição da matéria volátil libertada. O aumento da taxa de

aquecimento tem um forte impacto na quantidade de matéria volátil libertada para valores abaixo

dos 10 °C/s [17].

Durante a volatilização são emitidos, essencialmente, CO, CO2, CH4, H2, vestígios de

componentes inorgânicos, alguma água que não se libertou no processo de secagem, e alguns

gases combustíveis que serão queimados ainda nesta fase.

A biomassa, geralmente, apresenta elevados valores de matéria volátil na sua composição, como

tal em média 70% da energia libertada durante a sua combustão advém deste processo. No caso

do carvão a volatilização tem um peso significativamente inferior no processo de combustão,

estando o seu valor compreendido entre 30% e 40%.

Combustão do Resíduo Carbonoso

A combustão do resíduo carbonoso representa o último estágio da combustão de uma partícula

de um combustível sólido. Denomina-se por resíduo carbonoso à matéria resultante do processo

de volatilização, e é constituído essencialmente por carbono, cinzas e pequenas quantidade de

hidrogénio, oxigénio, azoto e enxofre.

O resíduo carbonoso do carvão e da biomassa são morfologicamente diferentes, embora ambos

apresentem uma estrutura porosa, que depende do tipo de combustível, e fissuras provenientes

da fase de volatilização. O resíduo carbonoso do carvão tem tipicamente um formato esférico,

enquanto o da biomassa tende a ter um formato irregular e não esférico [18].

A combustão do resíduo carbonoso é um processo de oxidação controlado pela transferência de

massa, onde a difusão do oxigénio nas partículas tem um papel preponderante. A reatividade do

resíduo carbonoso depende da taxa de difusão do oxigénio, da temperatura do meio envolvente

e da dimensão das partículas e da morfologia e porosidade do resíduo carbonoso [19].

1.2.2.1 Produtos de Combustão

Um dos grandes problemas da combustão é a emissão de gases poluentes. Esses gases podem

ser em maior ou menor quantidade dependendo do combustível e da sua eficiência de queima.

Os principais poluentes que se formam durante a combustão são o monóxido de carbono (CO),

o dióxido de carbono (CO2) e os óxidos de azoto (NOx).

Dióxido de Carbono

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O CO2 é um gás inodoro, incolor e é o gás poluente produzido em maior quantidade no processo

de combustão de hidrocarbonetos. O dióxido de carbono é essencial no processo de fotossíntese

e, em baixas concentrações, é inofensivo para a vida humana. O grande problema ambiental

associado a este gás é o efeito de estufa.

Monóxido de Carbono

O monóxido de carbono, tal como o dióxido de carbono, também não apresenta cheiro nem cor.

O CO é um gás provocado pela ineficiência dos sistemas de combustão ou pelo uso de misturas

ricas, isto é, com défice oxidante, o ar na maioria dos casos. Em termos ambientais este gás

também contribui indiretamente para o aumento do efeito de estufa, pois influencia a formação

do ozono troposférico. O monóxido de carbono é um gás bastante tóxico que, em concentrações

mais elevadas, pode mesmo levar à morte. O mecanismo de oxidação que dá origem ao CO e

ao CO2 pode ser descrito pelas seguintes reações:

C +

1

2O2 ↔ C (1.1)

C + CO2 ↔ 2CO (1.2)

CO +

1

2O2 ↔ CO2 (1.3)

C + H2O → CO + H2 (1.4)

Óxidos de Azoto

Os óxidos de azoto (NOx) são constituídos pelo óxido de azoto (NO) e pelo dióxido de azoto

(NO2), sendo que o NO representa quase a totalidade de NOx. Os óxidos de azoto são gases

que contribuem para uma degradação da atmosfera, nomeadamente o NO2 que é um dos

responsáveis pela ocorrência de chuvas ácidas [20].

Os dois principais mecanismos envolvidos na formação dos óxidos de azoto são a oxidação do

azoto presente no ar de combustão e a oxidação do azoto existente no combustível. O azoto

presente no ar de combustão pode oxidar e formar NO por via de três mecanismos, que são:

Mecanismo térmico, acontece a temperaturas elevadas (acima de 1800 K);

Mecanismo imediato, tem especial importância para misturas ricas onde o azoto

presente no ar de combustão reage com os radicais do hidrocarboneto dando origem a

HCN e CN, promotores da produção de NO;

Mecanismo com óxido nitroso (N2O) como intermédio, relevante em chamas pobres de

pré mistura (∅ < 0,8) a temperaturas baixas.

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O mecanismo responsável pela formação de NO através da oxidação do azoto presente na

constituição do combustível denomina-se mecanismo do combustível. Este mecanismo tem

maior importância na combustão de carvão que na de biomassa pois aquele, geralmente,

apresenta na sua composição quantidades mais elevadas de N.

Atualmente, são usados alguns métodos eficazes na redução das emissões de NOx, que

implicam modificações no processo de combustão. Entre esses métodos destacam-se a

recirculação dos produtos de combustão (exhaust gas recirculation, EGR na nomeclatura

inglesa), a injeção de água ou vapor de água, o estagiamento do combustível, o reburning, os

queimadores com baixas emissões de óxidos de azoto e as pré-misturas pobres.

Hidrocarbonetos

A emissão de hidrocarbonetos pode acontecer nas seguintes situações:

Em zonas onde a mistura é muito pobre, sendo o processo de combustão lento,

provocando uma oxidação parcial do combustível;

Em zonas onde a mistura é muito rica e o combustível abandona a câmara de combustão

sem entrar em contacto com o ar, ou quando entra em contacto o tempo de residência é

insuficiente para que a queima seja completa.

Os hidrocarbonetos (HC), em particular os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (Polycyclic

aromatic hydrocarbons, PAH’s, na nomeclatura inglesa), são muito nocivos para a saúde, quer

humana quer animal, devido ao seu potencial carcinogénico [21].

Emissão de Partículas

A combustão de combustíveis sólidos, tal como o carvão e a biomassa, é um dos principais

responsáveis pela emissão de matéria particulada (particulate matter, PM na nomenclatura

inglesa) [22]. A formação de partículas está fortemente relacionada com a quantidade e

composição dos minerais presentes no combustível. A matéria particulada em suspensão na

atmosfera é composta, sobretudo, por partículas finas sólidas e/ou líquidas que, quando entram

no sistema respiratório, tornam-se um risco para a saúde humana.

Uma das formas mais comuns de classificar as partículas é através do seu tamanho havendo,

sobretudo dois grupos: partículas finas (PM2,5), cujo diâmetro hidráulico é inferior a 2,5 µm, e

partículas grosseiras (PM10), cujo diâmetro hidráulico é superior a 10 µm.

A Figura 1.5 apresenta um esquema do processo de formação da matéria particulada, onde é

possível ver os principais mecanismos envolvidos na sua formação. As partículas ultrafinas são

originadas por um processo de vaporização e condensação, as partículas finas por um processo

de fragmentação e as partículas grosseiras por um processo de fragmentação/coalescência.

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Figura 1.5 Esquema do processo de formação de matéria particulada (adaptado de [23]).

A formação de partículas ultrafinas tem origem na vaporização da matéria inorgânica (mineral)

presente no combustível. A vaporização acontece para temperaturas muito elevadas e depende

da composição do combustível e das condições da atmosfera envolvente. Alguns elementos

puros, como Na, K, Ca e Mg, têm mais facilidade em volatizar que outros, tais como Si, Al e Fe.

Contudo estes elementos surgem nos combustíveis associados a compostos com diferentes

formas químicas que têm volatilidades diferentes dos elementos puros [24]. Após a vaporização

os elementos podem reagir entre eles no estado gasoso havendo durante a condensação

formação de partículas com composição diferente das originais.

O mecanismo envolvido na formação de partículas de maior dimensão é, maioritariamente, a

fragmentação, em que uma partícula se quebra dando origem a dois ou mais fragmentos. Os

mecanismos de fragmentação podem ser divididos em dois grupos: fragmentação primária e

fragmentação secundária. A fragmentação primária tem início no período de aquecimento e

volatilização das partículas. Nesta fase as partículas fragmentam devido a tensões térmicas,

geradas pelas altas taxas de aquecimento, e ao aumento da pressão interna, originada pela

matéria volátil do combustível [25]. Este processo de fragmentação origina sobretudo partículas

de grande dimensão, podendo em alguns casos originar também pequenas quantidades de

partículas finas. A fragmentação secundária acontece na fase de combustão do resíduo

carbonoso onde as partículas, devido ao processo de combustão, enfraquecem e as pontes de

ligação dos vários elementos do resíduo carbonoso quebram [26].

Atualmente, um dos sistemas mais usados no controlo das emissões de matéria particulada,

quer em veículos equipados com motores de combustão interna, quer em centrais termoelétricas,

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são os filtros. Embora esses ainda não sejam capazes de capturar eficazmente as partículas de

dimensão mais reduzida, tais como as ultrafinas.

1.2.2.2 Formação de depósitos de cinzas

A formação de depósitos de cinzas está intrinsecamente ligada à quantidade e composição da

matéria inorgânica presente nos combustíveis sólidos, às condições operacionais do sistema de

queima, nomeadamente o tipo de atmosfera em que se dá a queima e à temperatura e morfologia

das paredes onde os depósitos se formam. Os depósitos podem ser classificados em fouling e

slagging. A Figura 1.6 apresenta um esquema de formação dos diferentes tipos de depósito ao

longo de uma caldeira . O fouling é um tipo de depósito que se forma nas zonas convectivas dos

sistemas de combustão, onde a temperatura tem um valor inferior. Estes depósitos também

podem ser originados pela condensação de alguns elementos voláteis e pelo impacto das cinzas,

presentes no fluxo de gases, nas superfícies dos permutadores. O fouling, comparativamente ao

slagging, forma depósitos com menor poder aderente. O slagging forma-se na zona radiativa da

câmara de combustão, isto é, de temperatura mais elevada. A formação deste tipo de depósitos

implica a fundição e sinterização dos elementos nas paredes dos permutadores que, devido ao

seu elevado poder de adesão, pode agregar outros elementos.

Alguns autores [27,28] propõem a existência de quatro mecanismos para a formação de

depósitos de cinzas na combustão de combustíveis sólidos. Esses mecanismos são o impacto

inercial, a difusão térmica, a difusão e condensação de vapores inorgânicos e as reações

químicas.

Impacto Inercial

O impacto inercial é o mecanismo de formação de depósitos mais relevante para partículas de

grande dimensão (>10 μm) [27]. Neste processo, as partículas de maior dimensão que circulam

no fluxo de gases, devido à sua densidade e tamanho, colidem e aderem à superfície dos

permutadores. A propensão deste tipo de deposição é dependente de fatores como as

características geométricas das paredes onde se dá a deposição, as propriedades das partículas

(físicas e químicas) e do escoamento.

Difusão Térmica

A difusão térmica é um processo de difusão de massa provocado pela existência de gradientes

térmicos [30]. As partículas que se situam em zonas mais quentes do fluxo de gases possuem

uma energia cinética superior à daquelas que estão em zonas mais frias, criando-se assim uma

força contrária ao gradiente térmico, provocando a colisão das mesmas. Este mecanismo é

importante na deposição de partículas submicrométricas (< 1 μm), originando depósitos com uma

distribuição uniforme e com um formato arredondado [29].

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Figura 1.6 Zonas de formação de depósitos típicas ao longo de uma caldeira (Adaptado de [29]).

Difusão e Condensação de Vapores Inorgânicos

A difusão é responsável pela migração de espécies inorgânicas no estado gasoso para as

superfícies das câmaras de combustão devido à diferença de gradientes de concentração. A

formação de depósitos por condensação ocorre quando as partículas entram em contacto com

as superfícies que estão a uma temperatura inferior. A condensação de partículas pode ser

proveniente de dois mecanismos distintos: nucleação homogénea ou condensação heterogénea

[31]. A nucleação homogénea é um mecanismo no qual as partículas no estado gasoso passam

ao estado sólido ou líquido, e posteriormente, pelo processo de difusão térmica, são depositadas

nas paredes das câmaras de combustão. No processo de condensação heterogénea as

partículas condensam na superfície onde podem já estar condensadas partículas compostas por

diferentes espécies químicas.

A difusão e condensação de vapores inorgânicos origina depósitos bastante uniformes e

compostos por partículas de tamanho muito reduzido (< 0,5 μm).

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Reações Químicas

As reações químicas são um mecanismo muito importante na formação de depósitos, podendo

existir reações dentro dos gases provenientes da combustão dos combustíveis sólidos, ou entre

os gases e os depósitos previamente formados por outro mecanismo. As reações químicas de

maior interesse no estudo da formação de depósitos são:

Reações envolvendo que envolvem o silício e o fósforo que originam depósitos com

baixo ponto de fusão, como é o caso das reações [28];

Reações envolvendo enxofre e elementos alcalinos, que originam os sulfatos;

Reações a altas temperaturas que promovem a formação de ácido clorídrico, que tem

um elevado poder corrosivo/erosivo para os sistemas de queima.

1.2.3 Estudos Prévios

Nesta secção serão apresentados os estudos prévios relativos à caracterização da combustão

de carvões e à formação de depósitos de cinzas.

Caracterização da Combustão de Combustíveis Sólidos

Ulloa et al. [32] estudaram a combustão de misturas de carvão num RQL com o objetivo de tentar

prever a percentagem de oxidação do resíduo carbonoso numa central termoelétrica. Os autores

produziram resíduo carbonoso, a partir das misturas de carvões a uma elevada taxa de

aquecimento, num RQL aquecido a 1300 ºC, que foi posteriormente analisado em TGA, de modo

a conhecer-se o seu comportamento. Verificou-se que existe uma boa correlação entre os

parâmetros cinéticos, os perfis de oxidação do resíduo carbonoso e as características

petrográficas, entre o resíduo carbonoso recolhido nas centrais termoelétricas e o produzido no

RQL.

Manquais et al. [33] compararam a reatividade do resíduo carbonoso de um carvão betuminoso

obtido em TGA e num RQL. O procedimento e as condições dos testes realizados foram similares

às usadas no trabalho anterior, [32], diferindo no combustível utilizado. Os autores verificaram

que, para partículas de carvão abaixo do 75 µm existia uma boa aproximação da taxa de

oxidação do resíduo carbonoso entre os testes realizados no RQL e no TGA. Para partículas

acima deste valor, a oxidação do resíduo carbonoso no RQL tende a ter um valor mais elevado

que o do TGA, devido às diferenças morfológicas do resíduo carbonoso.

Biswas et al. [34] realizaram um estudo sobre o comportamento da combustão de misturas de

carvões indianos em TGA e num RQL. Para o estudo foram utilizados dois tipos de carvão

indiano, um com baixo e outro com alto teor de cinzas, A1 e A2, respetivamente, que foram

misturados em proporções de 80:20, 70:30, 50:50 e 30:70, B1, B2, B3 e B4, respetivamente. O

RQL usado nos testes foi mantido a uma temperatura de 1100 ºC. Da análise dos resultados

concluiu-se que o TGA apresenta efeitos aditivos e não aditivos nos perfis de combustão. As

temperaturas características demonstram efeitos aditivos contrariamente aos parâmetros

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cinéticos, que apresentam efeitos não aditivos, sobretudo para as misturas com percentagens

maiores do carvão com alto teor de cinzas. A oxidação do resíduo carbonoso no RQL apresenta

um comportamento não aditivo, pois, por exemplo, as misturas B1 e B2 apresentam uma

oxidação do resíduo carbonoso maior que os carvões constituintes individualmente (B1 > B2 >

A1 > A2).

Na literatura é possível encontrar alguns trabalhos semelhantes aos anteriores mas utilizando

apenas biomassa, Um desses trabalhos foi o desenvolvido pelos autores Pereira et al. [35] onde

avaliaram os parâmetros cinéticos do choupo de curta rotação no TGA e no RQL. No estudo

efetuado foram utilizados três tipos de choupo, dois provenientes de Itália e um de Portugal, cujos

parâmetros cinéticos de combustão foram obtidos em TGA e em testes realizados num RQL a

cinco temperaturas diferentes, 900, 950, 1000, 1050 e 1100 ºC. Os autores verificaram que o

processo de combustão num TGA é apenas controlado pela cinética química, enquanto a

combustão num RQL é limitada pelos efeitos de difusão.

Formação de Depósitos de Cinzas

Qiu et al. [36] investigaram experimentalmente, utilizando uma técnica digital, as características

dos depósitos de cinzas da co-combustão de carvão com casca de arroz. Os testes

experimentais foram realizados numa fornalha onde foi inserida uma sonda arrefecida a água e

um sistema de aquisição de imagem. Os ensaios experimentais foram efetuados para misturas

de carvão com diferentes percentagens mássicas de casca de arroz: 0, 5, 10 e 20%. Com este

trabalho constatou-se que, com o aumento da percentagem de casca de arroz a camada de

depósitos se tornava mais porosa, solta e de fácil remoção. Verificou-se também que a

quantidade de Si nos depósitos aumentava com o aumento da percentagem de casca de arroz,

devido a esta possuir uma elevada quantidade de SiO2, na sua composição.

Luan et al. [37] estudaram as características da sinterização e a composição das cinzas

provenientes da co-combustão de biomassa e carvão num RQL laboratorial. Os combustíveis

utilizados neste trabalho foram um carvão betuminoso proveniente da China, serrim de pinho e

palha de trigo, com tamanhos de partículas abaixo dos 100, 800 e 1000 µm, respetivamente. Os

três combustíveis foram estudados individualmente e misturados entre si. Os testes realizaram-

se num RQL cujas paredes da câmara de combustão foram mantidas a 1500 ºC. Os autores

concluíram que à medida que se aumentou a fração de biomassa na mistura, a temperatura de

sinterização das cinzas diminuiu, seguindo uma tendência não linear. Neste trabalho também se

constatou que o processo de sinterização das cinzas foi promovido com a adição de biomassa

ao carvão, devido à maior quantidade de elementos inorgânicos presentes na biomassa.

Wang et al. [38] avaliaram o comportamento da combustão e as características das cinzas de

biomassa proveniente de resíduos, pinho e carvão num RQL. No trabalho desenvolvido foram

utilizados vários tipos de biomassa provenientes de resíduos, tais como casca de arroz, casca

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de café, palha e resíduos sólidos urbanos. Além destas biomassas também foram usados, como

termo de comparação, um carvão betuminoso e ramos de pinheiro. O equipamento utilizado nos

testes foi um RQL aquecido até a uma temperatura de 1100 ºC e, para cada combustível, foram

recolhidas partículas ao longo do eixo da câmara de combustão, usando uma sonda de aço

inoxidável arrefecida a água. Neste estudo verificou-se que as cinzas produzidas pela queima

da biomassa proveniente dos resíduos sólidos urbanos têm um elevado potencial de corrosão e

de formação de slagging, devido à sua composição. Conclui-se também que as cinzas da casca

de arroz e da palha originam compostos de baixo ponto de fusão que promovem a formação de

slagging.

Magdziarz et al. [39] investigaram as características, a composição química e reatividade de

cinzas de combustíveis renováveis. Neste estudo foram avaliadas as características corrosivas

das cinzas de um tipo de biomassa e de dois combustíveis provenientes de lamas residuais. Os

testes efetuados mostraram que os principais elementos presentes nas cinzas da biomassa de

madeira são o K e o Ca. Os autores concluíram também que existem compostos corrosivos

contendo K, Na, K2Ca(CO3)2, KAlSi2O6, KCl, NaAlSiO4 e Na2SO4, no caso das cinzas da

biomassa, e contendo Na2SO4 e NaCl, no caso das cinzas dos combustíveis provenientes de

lamas residuais.

Namkung et al. [40] realizaram testes num RQL, usando um sistema de pesagem em tempo real,

com o objetivo de relacionar a deposição de cinzas de carvão com o sua composição química.

O carvão utilizado neste trabalho foi recolhido de uma central termoelétrica, passando depois por

um processo de moagem e peneira até se obter uma gama de tamanhos entre 106 e 150 μm. O

RQL usado nos testes laboratoriais foi mantido a 1300 ºC. A análise dos resultados permitiu aos

autores concluírem que uma elevada quantidade de Fe e Ca nas cinzas conduz a um aumento

da sua taxa de deposição.

Wang et al. [41] investigaram a formação de depósitos de cinzas durante a co-combustão de

carvão com resíduos agrícolas numa fornalha semi-industrial. Os combustíveis utilizados no

estudo foram carvão proveniente do Reino Unido, ramos de pinheiro, palha de trigo, caroço de

azeitona e caroço de pêssego. Os testes foram realizados numa fornalha semi-industrial do

Instituto Superior Técnico e os depósitos foram recolhidos por uma sonda de aço inoxidável

arrefecida a água, mantida a 500 ºC, e por uma sonda cerâmica sem arrefecimento, cuja

temperatura de superfície rondava 850 ºC. As sondas foram introduzidas no interior da fornalha

numa zona em que a temperatura média do gás era, aproximadamente, 1000 ºC e cada ensaio

teve a duração de 2 horas. Os autores concluíram que a taxa de deposição resultante da co-

combustão de carvão com caroço de azeitona e com palha de trigo aumenta, em comparação

com a combustão de somente carvão. O oposto verificou-se para a co-combustão de carvão com

ramos de pinheiro. Os depósitos provenientes da co-combustão de carvão com caroço de

azeitona e com palha de trigo revelaram maior grau de aderência às superfícies.

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Abreu et al. [42] analisaram a deposição de cinzas durante a co-combustão de carvão

betuminoso com serrim de pinheiro e com caroço de azeitona numa fornalha semi-industrial. Os

autores variaram a percentagem de serrim de pinheiro e de caroço de azeitona entre 10% e 50%

da potência térmica total. Os depósitos foram recolhidos por uma sonda arrefecida a ar colocada

numa zona da fornalha onde a temperatura média do gás era cerca de 640 ºC. Os depósitos

foram analisados no microscópio eletrónico de varrimento equipado com espectroscopia de

energia dispersiva. Neste trabalho verificou-se que a taxa de deposição diminuía com o aumento

da quantidade de serrim de pinheiro na potência térmica total. A co-combustão de carvão com

caroço de azeitona, comparando com a combustão de carvão, provocou um aumento da taxa de

deposição. Este efeito também foi verificado no trabalho anterior [41].

1.3 Objetivos

A utilização de novos combustíveis para obtenção de energia requer que sejam conhecidas as

suas propriedades de combustão e alguns dos seus problemas associados, tal como a formação

de depósitos de cinzas. Deste modo esta dissertação tem dois objetivos principais: caracterizar

o comportamento da combustão, de três tipos de carvão, um carvão australiano, um carvão

brasileiro e um carvão colombiano; e estudar a deposição de cinzas provenientes da queima de

bagaço de uva. A caracterização da combustão dos carvões foi feita, inicialmente, através de

análises termogravimétricas de onde foram extraídos os dados para o cálculo dos parâmetros

cinéticos. Posteriormente, foram realizados num reator de queda livre onde se obtiveram os perfis

de temperatura, concentrações de espécies gasosas e oxidação do resíduo carbonoso, ao longo

do eixo, e onde foram recolhidas partículas para se avaliar a distribuição de tamanhos e sua

concentração. O estudo da deposição de cinzas foi realizado inteiramente num reator de queda

livre onde, numa primeira fase, foi avaliado o processo de combustão do bagaço de uva através

dos perfis de temperatura, concentrações de espécies gasosas e oxidação de resíduo

carbonoso. Após esta avaliação foram realizados testes de deposição de cinzas para vários

tempos de amostragem (entre 2 e 14 horas), através do uso de uma sonda especialmente

projetada para esse fim, colocada a uma distância de 930 mm do injetor. Os dados obtidos

permitiram realizar uma análise química e morfológica dos depósitos.

1.4 Estrutura da tese

A tese encontra-se dividida em seis capítulos distintos. O presente capítulo é a introdução onde

são apresentados a motivação, os fundamentos teóricos, os estudos prévios e os objetivos. O

segundo capítulo é referente aos materiais e métodos usados onde é feita uma descrição do

equipamento utilizado nos testes experimentais e da metodologia seguida para análise de

resultados. O terceiro e quarto capítulos apresentam e discutem os resultados da caracterização

da combustão de carvões e da formação de depósitos na combustão de bagaço de uva,

respetivamente. O quinto capítulo constituiu o fecho da dissertação e lista as principais

conclusões e apresenta algumas propostas para trabalho futuro.

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2. Materiais e Métodos

2.1 Preparação e Caracterização dos Combustíveis

No trabalho desenvolvido foram usados três tipos de carvão fornecidos pela Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, situada em Porto Alegre no Brasil, e uma biomassa fornecida

pelos produtores de vinho da região da Azambuja, Agrovil. Os carvões utilizados foram o carvão

australiano (CA), o carvão brasileiro (CB) e o carvão colombiano (CC), e a biomassa utilizada foi

o bagaço de uva (BU). De acordo com a norma ASTM D388, o carvão australiano foi classificado

como betuminoso de baixo teor de voláteis, o carvão brasileiro como sub-betuminoso A e o

carvão colombiano como betuminoso com alto teor de voláteis. A biomassa foi posta a secar até

conter um teor de humidade inferior a 14% para, posteriormente ser triturada num moinho Retsch

SM 100 ( Figura 2.1), usando um crivo de 1 mm.

Figura 2.1 Moinho Retsch SM 100.

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Quer a biomassa, quer os três tipos de carvão foram peneirados recorrendo a uma peneiradora

SS-15 Gilson Economy 203 mm Sieve Shaker, semelhante à apresentada na

Figura 2.2. No caso da biomassa foi utilizado um peneiro com uma rede de furação igual a 1 mm

de forma a garantir-se que todas as partículas tinham um tamanho inferior a 1 mm, semelhante

ao que é usado em sistemas de queima usuais, enquanto para os carvões foram usados os

crivos de furação igual a 36 e 75 µm, sendo utilizada a gama entre estes dois tamanhos que é

a mais representativa destes carvões.

Figura 2.2 Peneiradora SS-15 Gilson Economy 203 mm Sieve Shaker.

Na Figura 2.3 são apresentadas fotografias dos quatro combustíveis utilizados nos testes do

presente trabalho.

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Figura 2.3 Combustíveis utilizados no presente trabalho: a) carvão australiano, b) carvão

brasileiro, c) carvão colombiano, d) bagaço de uva.

A distribuição de tamanhos da biomassa foi obtida com o auxílio do Malvern 2600 Particle Size

Analyser. A análise imediata dos três carvões foi realizada seguindo as normas ASTM D3173,

D3174 e D3175, e a análise elementar recorrendo à norma ASTM D5373, o enxofre utilizando a

norma ASTM D4239 e o poder calorífico, quer o superior quer o inferior, medido de acordo com

a norma ASTM D5865. No caso do bagaço de uva a análise imediata, elementar e os poderes

caloríficos foram obtidos seguindo as normas ASTM-E-870, EN 14918 e EN 14775,

respetivamente. Para ambos os combustíveis a composição química das cinzas foi determinada

usando a espectroscopia de fluorescência de raio-x. Para os carvões foi realizada uma análise

petrográfica seguindo a norma ISO 7405/5 para a reflectância da vitrinite e a norma ISO 7403/3

para a análise do maceral.

2.2 Análise Termogravimétrica

2.2.1 Instalação Experimental

No presente trabalho foram realizados testes de combustão de termogravimetria

(Thermogravimetric analysis, TGA, na nomenclatura inglesa), aos três tipos de carvão

estudados. O equipamento usado nestes testes foi o Thermobalance Netzsch STA 409 PC

LUXX, como ilustrado na Figura 2.4. Em cada teste foi utilizado aproximadamente 30 mg de

carvão pulverizado, com o tamanho compreendido entre 36 e 75 µm. Os testes foram realizados

em condições não isotérmicas, sendo que a temperatura variou dos 40 ºC aos 800 ºC a uma taxa

de aquecimento de 30 ºC/min com um caudal de ar de 100 mL/min. Os valores da temperatura

e da perda de massa ao longo do tempo são registados automaticamente, tornando possível

traçar as curvas de perda de massa em função do tempo (TG) e a sua derivada (DTG). Esta

análise também fornece outros dados importantes tal como a temperatura de início de

decomposição (Ti), a temperatura onde a perda mássica é mais elevada, denominada

temperatura de pico (Tp), a temperatura de burnout (Tb) e o valor máximo da taxa de

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decomposição (DTGmax). Para cada espécie de carvão foram realizados no mínimo dois testes e

a variabilidade foi estimada em menos de 3%.

Figura 2.4 Thermobalance Netzsch STA 409 PC LUXX.

2.2.2 Parâmetros Cinéticos da Combustão

Os parâmetros cinéticos dos testes não isotérmicos do TGA dos carvões foram determinados

com recurso à equação de Arrhenius, seguindo a mesma metodologia que alguns autores

usaram [35,43]. A taxa de reação é, de um modo geral, descrita pela seguinte equação:

𝑑𝛼

𝑑𝑡= 𝑘𝑓(𝛼) (2.1)

onde 𝛼 representa o factor de conversão, 𝑓(𝛼) é o modelo hipotético do mecanismo da reação

e 𝑘 é a constante de reação definida como:

𝑘 = 𝐴𝑒−𝐸𝑎𝑅𝑇 (2.2)

Em que 𝐸𝑎 é a energia de ativação, 𝐴 o factor pré exponencial, 𝑅 a constante universal dos gases

e 𝑇 a temperatura. O factor de conversão, 𝛼, é dado por:

𝛼 =

(𝑚0 − 𝑚𝑡)

(𝑚0 − 𝑚𝑓) (2.3)

Sendo que 𝑚0 é a massa da amostra no instante inicial, 𝑚𝑡 a massa da amostra no instante t e

𝑚𝑓 a massa da amostra no final. Assumindo um modelo de reação de ordem 𝑛, o fator de

conversão, 𝑓(𝛼), toma a forma:

𝑓(𝛼) = (1 − 𝛼)𝑛 (2.4)

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19

Neste trabalho foi assumido que a ordem da taxa de reação é igual a 1 (𝑛 = 1), seguindo as

referências [44,45].

Substituindo na equação (2.1) as equações (2.2) e (2.4), e assumindo para 𝛽 = 𝑑𝑇/𝑑𝑡, o valor

constante da taxa de aquecimento dos testes de TGA , obtém-se através de:

𝑑𝛼

(1 − 𝛼)=

𝐴

𝛽𝑒

−𝐸𝑎𝑅𝑇 𝑑𝑇

(2.5)

Integrando a equação (2.5) tem-se:

𝑔(𝛼) = ∫

𝑑𝛼

(1 − 𝛼)

𝛼

0

=𝐴

𝛽∫ 𝑒

−𝐸𝑎𝑅𝑇

𝑇

𝑇0

𝑑𝑇 (2.6)

Usando o método de Coats–Redfern para a resolução da equação (2.6) obtém-se:

𝑙𝑛 [

𝑔(𝛼)

𝑇2] = 𝑙𝑛 [

𝐴𝑅

𝛽𝐸𝑎

(1 −2𝑅𝑇

𝐸𝑎

)] −𝐸𝑎

𝑅𝑇 (2.7)

Devido a 2RT/Ea << 1, pode-se reescrever a equação (2.7):

𝑙𝑛 [

𝑔(𝛼)

𝑇2] = 𝑙𝑛 [

𝐴𝑅

𝛽𝐸𝑎

] −𝐸𝑎

𝑅𝑇 (2.8)

em que 𝑔(𝛼) = − 𝑙𝑛(1 – 𝛼), para 𝑛 = 1.

Traçando o gráfico de 𝑙𝑛[𝑔(𝛼)/𝑇2] em função de 1/𝑇 com os valores obtidos nos testes de TGA,

obtém-se uma reta cujo declive representa o valor de –𝐸𝑎

𝑅𝑇, e o valor da ordenada na origem é

ln (𝐴𝑅

𝛽𝐸𝑎). É assim possível o cálculo do fator pré exponencial e da energia de ativação.

2.3 Reator de Queda Livre e Condições de Teste

A Figura 2.5 mostra uma fotografia do Reator de Queda livre (RQL) usado no trabalho

desenvolvido. O RQL tem uma câmara de combustão cilíndrica composta por um tubo cerâmico

com um diâmetro interno de 36 mm e 1,75 m de comprimento. O reator possui um conjunto de

resistências eletricamente aquecidas que permitem à câmara de combustão atingir uma

temperatura máxima de 1300 °C. A temperatura ao longo da câmara é continuamente controlada

usando três termopares tipo K, distanciados de igual modo entre si. A introdução de combustível

sólido pulverizado no interior do RQL é feita com recurso a um injetor arrefecido a água colocado

no topo do RQL. O injetor possui quatro entradas laterais para fornecimento do ar necessário à

combustão, designado por ar secundário. Adicionalmente, existe um tubo central por onde é

alimentado o combustível sólido no RQL proveniente de um alimentador de duplo parafuso

controlado por um motor de rotação variável. Esta introdução de combustível é auxiliada através

de um caudal de ar, denominado de ar de transporte. Ambos os caudais de ar são provenientes

de um compressor (10 bar) e controlados por dois caudalímetros digitais.

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20

Todos os testes foram realizados mantendo as paredes do reator a uma temperatura de

1200 ºC. O caudal de ar total injetado foi de 3,4 L/min, à temperatura ambiente (25 ℃) e à pressão

atmosférica. O caudal mássico de combustível foi mantido aproximadamente constante com o

valor de 23 g/h. A Tabela 2.1 sumariza as principais condições de operação do RQL utilizadas

neste trabalho.

2.4 Métodos Experimentais e Incertezas

Nesta secção serão apresentados os vários métodos experimentais e equipamentos usados na

elaboração deste trabalho e respetivas incertezas associadas.

2.4.1 Temperatura

A temperatura do gás no interior da câmara de combustão foi medida com o auxílio de uma

sonda de termopar, como a esquematizada na Figura 2.6. A sonda estava conectada a uma

placa de aquisição com ligação a um computador para aquisição de dados. A sonda possui na

sua extremidade um termopar, do tipo R, de 76 µm de diâmetro. O interior da sonda é composto

por um cilindro de alumina duplamente furado, onde passam dois fios, um de platina e outro de

platina/13% ródio.

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21

Figura 2.5 Fotografia do RQL usado no trabalho desenvolvido.

Tabela 2.1 Principais condições de operação do RQL utilizadas.

Parâmetro CA CB CC BU

Temperatura das paredes do RQL (⁰C) 1200

Tamanho das partículas do combustível (μm ) 35 - 76 < 1000

Caudal mássico de combustível (g/h) 23

Caudal de ar total (L/min) 3,4

Coeficiente de excesso de ar, λ 1,2 1,7 1,4 1,8

O cálculo da incerteza experimental das medições de temperatura do gás foi efetuado através

de um balanço de energia entre o termopar e a envolvente. Para tal, foi assumido que o termopar

apenas troca calor por convecção com o gás envolvente e por radiação com as paredes do

reator, considerando-se desprezáveis as trocas de calor por condução no fio do termopar e a

troca de calor por radiação entre o termopar e o gás envolvente. A equação que descreve este

processo é dada por [38]:

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22

𝑁𝑢𝑘𝑚

𝑑(𝑇𝑡 − 𝑇𝑔𝑎𝑠) + 𝜀𝜎(𝑇𝑡

4 − 𝑇𝑤𝑎𝑙𝑙4 ) = 0

(2.9)

Nesta equação o termo 𝑁𝑢𝑘𝑚

𝑑(𝑇𝑡 − 𝑇𝑔𝑎𝑠) traduz a transferência de calor por convecção entre o

termopar e o gás envolvente e o termo 𝜀𝜎(𝑇𝑡4 − 𝑇𝑤𝑎𝑙𝑙

4 ) representa a troca de calor por radiação

entre o termopar e as paredes do RQL, considerando que o termopar e as paredes são um

pequeno e um grande corpo, respetivamente. O valor de incerteza experimental máximo

estimado foi inferior a 10%.

Figura 2.6 Esquema da sonda de termopar.

No presente trabalho foram efetuadas medidas de temperatura em seis pontos distintos ao longo

do eixo do reator, desde uma distância de 330 mm do injetor, até à saída do RQL

(x = 1330 mm), sendo a distância entre dois pontos consecutivos de 200 mm. Para cada ponto

foram feitas no mínimo duas medidas de temperatura com a duração de 2 minutos cada.

2.4.2 Recolha de Partículas para o Cálculo do Resíduo Carbonoso

Oxidado

Para a recolha de partículas foi usada uma sonda de aço inoxidável, um impactor da marca

Tecora contendo um filtro de quartzo, representado na Figura 2.7, uma bomba de sucção e um

rotâmetro. A sonda é arrefecida a água e as partículas são recolhidas através de um orifício

central com um diâmetro de 4 mm onde existem também três furos por onde é injetado um caudal

de azoto capaz de congelar a reação. Nos testes efetuados esse caudal foi de 4,6 L/min. As

partículas, após atravessarem toda a sonda, são conduzidas para o impactor onde ficam

armazenadas no filtro de quartzo. O rotâmetro é utilizado para monitorizar o caudal de sucção

da bomba de modo a garantir que a recolha foi realizada em condições isocinéticas. Nos testes

efetuados o valor do caudal de sucção da bomba foi de 7 L/min temperatura ambiente e à pressão

atmosférica.

A fração mássica das cinzas foi calculada tendo em conta os procedimentos descritos na norma

CEN/TS 1477. Para o cálculo do valor do resíduo carbonoso oxidado, (𝜓), foi usado o método

traçador de cinzas descrito pela seguinte expressão [35,41,42]:

𝜓(%) =1 −

𝜔𝑓

𝜔𝑥

1 − 𝜔𝑓

× 100 (2.10)

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23

onde 𝜔𝑓 e 𝜔𝑥 representam a fração mássica de cinzas, em base seca, existentes na biomassa

e na amostra recolhida, respetivamente.

Figura 2.7 Impactor total contendo um filtro de quartzo.

A recolha de partículas para o cálculo do resíduo carbonoso oxidado foi realizada nas mesmas

posições que a medição de temperatura, sendo o tempo de amostragem o suficiente para

garantir uma amostra de resíduo com um peso igual ou superior a 400 mg. Para cada posição

foram feitas no mínimo três recolhas de partículas. O método utilizado tem como principais fontes

de incerteza a volatilidade e a solubilidade das cinzas em água [35,46]. Nos cálculos efetuados

o valor máximo de incerteza experimental foi de 9%.

2.4.3 Concentrações de Emissões Gasosas

As concentrações das emissões gasosas foram obtidas usando um sistema de análise como o

esquematizado na Figura 2.8. O sistema de análise consiste numa sonda de aço inoxidável

arrefecida a água, um sistema de tratamento da amostra, um conjunto de analisadores, um

conversor A/D e um computador. A amostra gasosa é retirada do interior da câmara de

combustão através da sonda, usando uma bomba de diafragma cujo caudal de sucção é

controlado através de um rotâmetro. Os gases, depois de saírem da sonda, passam por um

sistema de tratamento, composto por um secador, um condensador e um conjunto de filtros onde

a humidade e as partículas de maiores dimensões são retiradas da amostra. A amostra já tratada,

passa então para o sistema de amostragem onde são avaliadas as concentrações de oxigénio

(O2), monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), óxidos de azoto (NOx) e de

hidrocarbonetos não queimados (HC). As caraterísticas dos analisadores e respetivas misturas

padrão para a sua calibração encontram-se descritas na Tabela 2.2. Os analisadores enviam um

sinal analógico que é convertido num conversor A/D, conectado a um computador onde os

valores das concentrações gasosas são registados.

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Figura 2.8 Esquema do sistema de análise de concentrações gasosas.

Tabela 2.2 Propriedades dos analisadores e concentrações das misturas padrão.

Espécie Analisador Método de Análise Escala de Medição

Concentração da Mistura Padrão

O2 Horiba, modelo

CMA-331 A Paramagnetismo 0-25% 0; 20,9%

CO Horiba, modelo

CMA-331 A Não-dispersivo de

infra-vermelhos 0-50/5000 ppm 0; 100 ppm

CO2 Horiba, Modelo

CMA-331 A Não-dispersivo de

infravermelhos 0-50% 0; 12,3%

NOx Horiba, modelo

CLA-510 SS Quimiluminescência 0-1000 ppm 0; 92 ppm

HC Amluk, modelo

FID E2020 Deteção por

ionização de chama 0-100ppm

0; 60 ppm (CH4) e 1,93% (C3H8)

Neste estudo as concentrações gasosas foram medidas nas mesmas posições do RQL, que a

temperatura e a recolha de partículas para o cálculo do burnout. Antes de cada teste foi sempre

realizada uma calibração dos analisadores utilizando a concentração da mistura padrão. As

incertezas do método descrito advêm sobretudo da eficiência da congelação da reação e da

perturbação do escoamento causada pela introdução da sonda. Em trabalhos anteriores usando

a mesma metodologia, concluiu-se que estas incertezas são desprezáveis [47]. Para cada foram

realizadas no mínimo cinco repetições onde se obtiverem repetibilidades, nos piores casos, de

7% para o O2, 17% para o CO, 9% para o CO2, 9% para o NOx, e de 13% para os HCs.

2.4.4 Concentração de Partículas e Distribuição de Tamanhos

A concentração de partículas e a sua distribuição de tamanhos foi obtida usando a mesma sonda

da recolha de partículas, dois impactores distintos e uma manta de aquecimento. Foi utilizado

um impactor de baixa pressão de três estágios da Tecora, low pressure three-stage cascade

impactor (LPI, TCR Tecora) na nomeclatura inglesa, e um impactor de baixa pressão de treze

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estágios da Dekati, low pressure thirteen-stage impactor (DLPI, Dekati Ltd.). O impactor de três

estágios está esquematizado na Figura 2.9 e o de treze na Figura 2.10. Durante os testes os

impactores foram envolvidos na manta de aquecimento com o objetivo de evitar a condensação

do vapor de água presente nos gases de combustão.

Figura 2.9 Esquema do impactor de baixa pressão de três estágios.

Figura 2.10 Impactor de baixa pressão de treze estágios.

O impactor de três estágios incorpora três filtros de quartzo com 47 mm de diâmetro, que

permitem a recolha simultânea de partículas com tamanho superior a 10 µm (PM10), com

tamanho entre 2,5 µm e 10 µm, e com tamamho inferior a 2,5 µm (PM2,5). A concentração de

partículas é obtida através da diferença de pesos dos filtros antes e depois do ensaio. Os filtros,

antes de serem pesados, são colocados numa estufa a uma temperatura de aproximadamente

105 ℃, para a eliminar toda a humidade presente nos mesmos.

O impactor de trezes estágios permite conhecer qual a distribuição de tamanhos das partículas

de acordo com os dados da Tabela 2.3. As partículas são capturadas em cada estágio por um

filtro de alumínio de 25 𝑚𝑚, que, tal como os filtros do LPI, são pesados antes e depois de cada

teste. O DLPI é usado em conjunto com uma bomba de vácuo específica de modo a garantir um

caudal aproximadamente constante de 10 NL/min. No estudo efetuado foram estudadas a

concentração de partículas e a distribuição de tamanhos à saída do RQL, isto é a uma distância

1330 mm do injetor.

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Tabela 2.3 Diâmetro aerodinâmico para cada estágio do impactor.

Estágio do Impactor

Diâmetro aerodinâmico (μm)

1 0,028

2 0,055

3 0,094

4 0,158

5 0,265

6 0,386

7 0,616

8 0,950

9 1,597

10 2,384

11 3,979

12 6,651

13 9,862

2.4.5 Deposição de Cinzas

Na Figura 2.11 encontra-se esquematizado o RQL e a sonda utilizada no estudo de deposição

de cinzas, com o seu topo em detalhe. A sonda é arrefecida a água em todo o seu comprimento,

exceto o topo, que é arrefecido a ar para garantir um maior controlo da temperatura da base da

cápsula. A água e o ar de arrefecimento da sonda foram controlados por intermédio de dois

rotâmetros permitindo assim que todos os testes fossem efetuados em condições semelhantes.

Nos testes realizados o caudal de água de arrefecimento da sonda foi mantido a 27 L/min e o do

ar de arrefecimento a 15 L/min à pressão de 0,2 bar relativa à pressão atmosférica. Em cada

ensaio foi colocada uma cápsula no topo da sonda, onde as cinzas se foram depositando com o

tempo, cuja temperatura foi monitorizada através de dois termopares, do tipo K, ligados a uma

placa de aquisição.

Para o estudo da deposição de cinzas foram realizados 7 ensaios distintos a uma distância de

930 mm do injetor, variando apenas o tempo de amostragem. Foram realizados testes de 2, 4,

6, 8, 10, 12 e 14 horas. As cápsulas foram pesadas antes e depois da recolha e, através da sua

diferença, foi obtido o peso do depósito para cada teste. Após a recolha e pesagem, as cápsulas,

e o respetivo depósito foram impregnados em resina epóxida. No final de todos os testes e da

resina curada, todas as cápsulas impregnadas foram tratadas no laboratório de materiais do

Instituto Superior Técnico, onde sofreram um processo de corte, lixa e polimento. Todo o

processo desde a recolha até ao acabamento final encontra-se representado na Figura 2.12.

Após todo este processo as cápsulas foram analisadas no microscópio de varrimento eletrónico

(Scanning electron microscope, SEM na nomenclatura inglesa) no Instituto Superior Técnico,

onde foram tiradas imagens e feitas análises de espectroscopia de energia dispersiva (Energy

dispersive spectroscopy, EDS na nomenclatura inglesa), para se conhecer a morfologia e a

composição química dos depósitos. Para a análise de EDS foram escolhidas 20 áreas distintas

para cada tempo de amostragem.

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Figura 2.11 Esquema do RQL e da sonda utilizada no estudo de deposição de cinzas

Figura 2.12 Processo de tratamento das cápsulas.

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3. Resultados e Discussão: Caracterização da

Combustão de Carvões

3.1 Composição dos Combustíveis

Na Tabela 3.1 são apresentas as propriedades dos três carvões em estudo. A análise da tabela

permite constatar que, tanto o carvão brasileiro como o carvão colombiano, apresentam um valor

elevado de matéria volátil. O carvão brasileiro apresenta ainda um valor elevado de cinzas, sendo

um indicador de possíveis problemas relacionados com a formação de depósitos. A constituição

das cinzas dos três carvões tem em comum a elevada percentagem de silício e de alumínio.

Tabela 3.1 Propriedades dos carvões.

Parâmetro Carvão

Australiano (CA)

Carvão Brasileiro

(CB)

Carvão Colombiano

(CC)

Humidade (% mássica) 1,9 6,0 8,0

Análise imediata (% mássica, bs)

Matéria volátil 15,2 31,3 39,9

Carbono fixo 74,4 42,2 53,3

Cinzas 10,4 26,5 6,8

Análise elementar (% mássica, bs)

Carbono 88,1 76,7 77,4

Hidrogénio 4,7 5,7 5,6

Azoto 1,9 1,4 1,7

Enxofre 0,7 1,4 0,7

Oxigénio 4,6 14,9 14,6

Composição das cinzas (% mássica, bs)

SiO2 46,0 60,4 59,7

Al2O3 23,2 25,5 19,8

Fe2O3 9,2 3,2 7,3

MnO 0,1 - -

MgO 1,3 0,5 1,4

CaO 7,1 2,6 2,0

Na2O 0,3 - 0,2

K2O 1,1 1,5 2,0

TiO2 1,2 1,2 1,0

P2O5 1,1 0,1 0,1

SO4 3,3 2,3 3,0

Outro óxidos 6,1 2,7 3,5

Poder Calorífico (MJ/Kg)

Superior 35,3 31,1 31,3

Inferior - - -

Análise petrográfica

Vitrinite random reflectance 1,59 0,49 0,50

Vitrinite (% volúmica, smm) 78,6 67,5 76,1

Liptinite (% volúmica, smm) - 14,4 3,5

Inertinite (% volúmica, smm) 21,4 18,4 20,4

Verificou-se através da análise petrográfica que o carvão australiano tem um valor mais elevado

de reflectância petrográfica que os outros dois tipos de carvão, cujos valores são idênticos. Os

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três carvões apresentam um valor elevado de vitrinite e um valor moderado de inertinite. O carvão

brasileiro, comparativamente aos outros carvões, apresenta um valor elevado de liptinite.

3.2 Análise Termogravimétrica

A presente secção apresenta uma análise das diferentes fases do processo de combustão dos três

carvões, da temperatura de início de decomposição (Ti), da temperatura de burnout, da taxa máxima

de perda de peso (DTGmax). e da temperatura a que esse ponto é alcançado (Tp). Estes dois últimos

parâmetros são indicadores da combustibilidade e da reatividade do combustível. Por sua vez, a

temperatura de burnout (Tb) representa o ponto a partir do qual não há perda de massa ou que essa

perda é insignificante. À temperatura de burnout está associado o tempo de burnout, que é o tempo

que o combustível demora até atingir a combustão completa. Estes parâmetros são importantes

para a determinação do tempo de residência e temperatura dos sistemas de queima.

A Figura 3.1 apresenta as curvas de termogravimetria (TG) e sua derivada (DTG) para os três

carvões em estudo. A perda de peso e a taxa de perda de peso são representadas em termos

percentuais por forma a normalizar os resultados. As curvas serviram de base à obtenção dos

valores de Ti, Tb, DTGmax e Tp apresentados na Tabela 3.2.

Analisando as curvas DTG dos três carvões torna-se claro que o processo de combustão é

dominado por uma única fase, existindo apenas um pico evidente de perda de massa. Tendo por

base a análise imediata, a fase predominante é a oxidação de resíduo carbonoso, visto os

carvões terem um baixo teor de matéria volátil.

Nas curvas de DTG dos carvões australiano e brasileiro é possível observar um ligeiro aumento

de massa inicial, entre 200 ºC e 400 ºC no caso do carvão australiano e entre 160 ºC e 330 ºC

no carvão brasileiro. Este acréscimo de massa pode ser justificado pela absorção química do

oxigénio por parte da estrutura de carbono [48]. No carvão colombiano esse aumento é

insignificante. No carvão australiano e no carvão brasileiro também se verifica a decomposição

dos carbonatos no fim da reação. A comparação entre os valores das temperaturas

características (Ti, Tb, e Tp) dos carvões permite verificar que o carvão australiano é aquele que

apresenta valores mais elevados, enquanto os carvões brasileiro e colombiano apresentam

valores semelhantes.

Refira-se, ainda, que as taxas de perda de massa são semelhantes para os três carvões,

variando entre -0,28 % s-1 e -0,32 % s-1.

Tendo por base os dados representados nos gráficos DTG, os parâmetros cinéticos de

combustão dos carvões foram calculados para o processo global. A Figura 3.2 apresenta os

gráficos de ln[g(α)/T2] em função de 1/T para os três carvões e na Tabela 3.3 encontram-se os

parâmetros cinéticos de combustão estimados para cada carvão. Verifica-se que o carvão que

possui a menor energia de ativação aparente é o colombiano com 59,1 kJ mol-1, seguindo-se o

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brasileiro com 81,8 kJ mol-1, e por fim o que apresenta o valor mais elevado é o australiano,

117,28 kJ mol-1.

Figura 3.1 Curvas de TG e DTG dos os três carvões.

Tabela 3.2 Características da combustão dos três carvões.

Carvão CA CB CC

Ti (°C) 370 296 295

Tp (°C) 572 480 497

Tb (°C) 704 630 643

DTGmax (% s-1) - 0,32 - 0,28 - 0,30

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Figura 3.2 Gráficos de ln[g(α)/T2] em função de 1/T para os três carvões estudados.

Tabela 3.3 Parâmetros cinéticos da combustão dos três carvões.

Carvão CA CB CC

Ea (kJ mol-1) 117,2 81,8 59,1

A (s-1) 8,0E+06 2,0E+05 3,2E+03

A Erro! Autorreferência de marcador inválida. mostra alguns valores de energias de ativação

encontrados na literatura para carvões idênticos. Existe consistência entre os valores de energia

de ativação estimados no presente trabalho e os apresentados na tabela.

Tabela 3.4 Valores de energias de ativação retirados da literatura.

Matéria volátil (% mássica, bs)

Ea (kJ mol-1)

Referência

29,9 97,9 Gil et al. [45] 28,8, 38,3 54,9 Kök [44]

24,5 158 Haykiri- Açma et al. [49] 21,7 132,4 Sahu et al. [50]

ln[g

(α)/

T2]

ln[g

(α)/

T2]

ln[g

(α)/

T2]

CC

CB

CA

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-20

-18

-16

-14

-12

-10

1 1.2 1.4 1.6 1.8

1000/T (1/K)

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32

3.3 Caracterização do Processo de Combustão no RQL

A Figura 3.3 mostra os perfis de temperatura, de espécies gasosas e de oxidação do resíduo

carbonoso, ao longo do eixo do reator de queda livre, para os três carvões estudados. Analisando

o perfil de temperaturas ao longo do RQL é possível ver que as temperaturas com e sem

alimentação de carvão são bastante idênticas, havendo também pouca diferença entre os

diferentes tipos de carvão.

A concentração de O2 ao longo do RQL é substancialmente alta para os três carvões, devido ao

elevado excesso de ar utilizado (ver Tabela 2.1). O valor da concentração de CO2 ao longo do

eixo é semelhante para os carvões brasileiro e australiano, tendo este último uma concentração

ligeiramente inferior. O carvão colombiano é, dos três, aquele que apresenta maiores

concentrações de CO2. A emissão de CO é proporcional à quantidade de matéria volátil presente

nos carvões, sendo o carvão australiano aquele com menor valor de ambas, seguido do carvão

brasileiro e, por fim, o carvão colombiano. A emissão de HC ao longo do eixo do reator está

associada ao processo volatilização, verificando-se que, para os três carvões este processo

termina a uma distância de aproximadamente 800 mm do injetor, onde a concentração de

hidrocarbonetos passa a ser residual. Analisando o gráfico da concentração de NOx ao longo do

RQL, constata-se que o carvão brasileiro é aquele que possui menor concentração, seguido do

colombiano e, por ultimo, com maior concentração, vem o australiano, cujas percentagens

mássicas de nitrogénio na constituição são, 0,9%, 1,5% e 1,7%, respetivamente. A analogia entre

os valores da concentração de NOx ao longo do eixo e a percentagem mássica de azoto nos

carvões, mostra que o mecanismo de conversão do azoto presente no combustível em NO é o

principal fator responsável pela emissão de NOx ao longo do RQL.

O último gráfico da Figura 3.3 mostra a evolução da oxidação do resíduo carbonoso ao longo do

eixo do RQL, onde se verifica que o carvão colombiano apresenta sempre valores mais elevados

de oxidação, seguindo-se o carvão brasileiro, e por último, vem o carvão australiano. Esta

tendência está em concordância com os perfis de concentrações de CO e de HC discutidos

anteriormente.

A Figura 3.4 mostra a concentração de partículas dos três tipos de carvão à saída do reator de

queda livre, obtida com recurso ao impactor de 3 estágios. A concentração total de matéria

particulada para cada carvão é resultado, essencialmente, da combinação de dois fatores: a

quantidade de cinzas presente em cada carvão, e a taxa de oxidação do resíduo carbonoso. Isto

pode ser visto, por exemplo, no carvão colombiano que, dos três é, o que tem uma emissão total

de partículas menor, sendo também o que apresenta o menor valor de cinzas, 6,8%, e tem a

maior taxa de oxidação do resíduo carbonoso à saída do RQL, aproximadamente 95%.

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33

Figura 3.3 Perfis de temperatura, gases e oxidação do resíduo carbonos ao longo do eixo do

RQL para os três carvões.

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34

Figura 3.4 Concentração de partículas usando o LPI-3 à saída do RQL (x = 1330 mm) para os

três carvões.

Na Figura 3.5 é apresentado o gráfico da distribuição de tamanhos das partículas dos três

carvões à saída do RQL, usando o impactor de 13 estágios. Os três carvões apresentam uma

distribuição de partículas unimodal. No caso dos carvões colombiano e brasileiro a distribuição

encontra-se centrada em torno dos 0,6 µm, ao passo que a do carvão australiano se encontra

centrada em torno dos 0,8 µm.

Figura 3.5 Distribuição dos tamanhos de partículas usando o LPI-13 à saída do RQL

(x = 1330 mm) para os três carvões.

Trabalhos anteriores [51] mostraram que a temperatura de burnout (Tb) obtida das curvas de

DTG tem uma boa correlação com os valores da taxa de oxidação do resíduo carbonoso, para

uma vasta gama de tipos de carvão, em testes realizados numa caldeira de dimensão

laboratorial. No presente trabalho o carvão australiano é o que apresenta um menor valor de taxa

de oxidação do resíduo carbonoso ao logo do RQL, que é coerente com maior valor de Tb. Para

os restantes carvões os valores de Tb são idênticos, sendo o valor de CC maior que de CB, que

é contraditório com os valores de oxidação do resíduo carbonoso ao longo do RQL, pois o carvão

CC apresenta maiores percentagens de oxidação que o carvão CB, revelando a dificuldade de

relacionar os dados de TGA com os resultados obtidos no RQL. Adicionalmente, analisando os

valores das energias de ativação, obtidas nos testes não isotérmicos de TGA, e da oxidação do

resíduo carbonoso, extraídos do RQL, verifica-se que há uma boa correlação entre ambos, ou

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35

seja, a menor energia de ativação está associada a uma maior taxa de oxidação do resíduo

carbonoso.

Neste trabalho mostrou-se que, quer no TGA quer no RQL, o carvão australiano é aquele, que

dos três estudados, apresenta uma menor combustibilidade/reatividade.

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36

4. Resultados e Discussão: Formação de Depósitos na Combustão de Bagaço de Uva

4.1 Composição do Bagaço de Uva

A Tabela 4.1 apresenta as propriedades do bagaço de uva. A análise imediata mostra que este

tipo de biomassa tem uma percentagem mássica de cinzas relativamente baixa (4%), quando

comparada com outros tipos de biomassa provenientes de resíduos agrícolas. As cinzas do

bagaço de uva têm como principais elementos o cálcio, o fósforo e o potássio.

Tabela 4.1 Propriedades do bagaço de uva.

Parâmetro Bagaço de uva

Humidade (% mássica) 7,1

Análise imediata (% mássica, bs) Matéria volátil 69,3 Carbono fixo 26,7 Cinzas 4,0

Análise elementar (% mássica, bs) C 51,1 H 6,7 N 1,9 S 0,2 O 40,1

Composição das cinzas (% mássica, bs) SiO2 5,5 Al2O3 1,0 Fe2O3 1,2 CaO 37,8 SO3 1,7 MgO 7,2 P2O5 19,7 K2O 24,7 Na2O 0,4 Outro óxidos 0,8

Poder calorífico (MJ/kg) Superior 21,2 Inferior 19,8

A curva comulativa da distribuição de tamanhos das partículas de bagaço de uva é apresentada

na Figura 4.1.

4.2 Caracterização do Processo de Combustão no RQL

A Figura 4.2 exibe os perfis de temperatura, emissões gasosas e de oxidação do resíduo

carbonoso ao longo do reator de queda livre, para a combustão do bagaço de uva. Analisando o

perfil de temperaturas verifica-se que existe uma diferença mínima entre as temperaturas

medidas com e sem presença de combustível, e que estas se mantêm aproximadamente

constantes até uma distância de cerca de 930 mm do injetor, onde a temperatura decresce até

atingir um valor mínimo de, aproximadamente, 750 ºC à saída do reator.

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37

Figura 4.1 Distribuição cumulativa do tamanhos das partículas de bagaço de uva.

A concentração de oxigénio apresenta valores um pouco altos ao longo do eixo do RQL devido

ao elevado excesso de ar utilizado nos testes. A evolução do processo de combustão é verificada

através do aumento da concentração do CO2 e da percentagem de oxidação do resíduo

carbonoso, associados a uma diminuição da concentração de O2 ao longo do eixo do reator de

queda livre. As concentrações de HC e CO diminuem ao longo do RQL, à medida que o processo

de combustão vai evoluindo. A concentração de NOx mantém-se aproximadamente constante

em quase todos os pontos medidos, excetuando-se a região perto da saída do reator, onde a

concentração exibe valores mais elevados.

No ponto onde foram realizados os testes de deposição de cinzas, x = 930 mm, a temperatura

apresenta um valor próximo do valor estabelecido para as paredes do RQL ,1200 ºC, e o valor

da oxidação do resíduo carbonoso é, aproximadamente, 85%.

4.3 Formação de Depósitos

A evolução ao longo do tempo de amostragem da massa do depósito por unidade de área da

superfície da cápsula é mostrada na Figura 4.3 . A massa de depósito possui uma evolução

linear ao longo do tempo, atingindo o valor máximo de aproximadamente 5,5 kg/m2, no teste de

maior duração realizado (14 horas).

A Figura 4.4 apresenta imagens obtidas no SEM dos depósitos recolhidos nas superfícies das

cápsulas e, respetivas composições elementares das áreas selecionadas, para os sete tempos

de amostragem estudados, 2, 4, 6, 8, 10, 12 e 14 horas. Na figura é possível ver que a altura da

camada de depósito cresce à medida que o tempo de amostragem aumenta, variando desde

1,27 mm para o ensaio de 2 horas, até 7,24 mm para o ensaio de 14 horas. Morfologicamente

os depósitos também apresentam diferenças ao longo dos tempos de amostragem. Verifica-se

que para tempos de amostragem superiores a 8 horas a porosidade dos depósitos diminui do

topo da cápsula até ao limite da camada de deposição de cinzas. A análise elementar das áreas

1 10 100 1000

0

20

40

60

80

100

Cu

mu

lati

va

men

or

qu

e (%

)

Tamanho (m)

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38

assinaladas serve apenas para mostrar que os valores de composição obtidos estão dentro dos

valores médios que serão discutidos seguidamente.

Figura 4.2 Perfis de temperatura, gases e oxidação do resíduo carbonoso ao longo do eixo do

RQL para o bagaço de uva.

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Figura 4.3 Massa do depósito por unidade de área da superfície da cápsula em função do

tempo de recolha.

Figura 4.4 Imagens do SEM dos depósitos recolhidos nas superfícies das cápsulas, e

respetivas composições elementares das áreas selecionadas para: a) 2 h, b) 4 h, c) 6 h, d) 8 h,

e) 10 h, f) 12 h, g) 14 h.

A composição elementar representativa dos depósitos recolhidos nas superfícies das cápsulas,

para os vários tempos de amostragem, pode ser vista na Figura 4.5. No caso de elementos como

Fe, Na, e Al, apenas valores residuais foram detetados na composição mássica dos depósitos,

para todos os tempos de amostragem. Para os restantes elementos (O, Ca, Mg, Si, K e P) é

possível estabelecer algumas relações. Para os elementos Mg, P e K verifica-se que o tempo de

2 4 6 8 10 12 14

0

1

2

3

4

5

6

Mas

sa d

o d

epó

sito

po

r u

nid

ade

d

e ár

ea d

a cá

psu

la (

kg

/m2)

Tempo (h)

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40

amostragem tem um impacto desprezável na sua concentração mássica. A concentração de

oxigénio vai diminuindo à medida que o tempo de exposição aumenta, e o efeito contrário

acontece para o cálcio e o silício.

As análises de EDS realizadas às camadas de depósitos revelaram que não existem elementos

potencialmente corrosivos/erosivos, tais como S e Cl, para nenhum dos tempos de amostragem

O que é consistente com a análise das cinzas do bagaço de uva, onde também não foi detetado

Cl e, o enxofre encontrado é apenas uma pequena percentagem da massa total. Apesar disso

as elevadas concentrações de Ca e Si encontradas nos depósitos de cinzas podem promover a

ocorrência de silicatos alcalinos, que são um dos grandes responsáveis pela formação de

depósitos de fouling. O elemento que aparece sistematicamente em maior quantidade nos

depósitos é o Ca, que mais uma vez é consistente com a análise de cinzas, cujo composto em

maior quantidade é o CaO.

Figura 4.5 Composição elementar representativa dos depósitos recolhidos nas várias

superfícies das cápsulas. As barras de erro representam o desvio padrão de obtido de 20 medidas independentes.

O Na Mg Al Si P K Ca Fe

0

10

20

30

40

50

Co

nce

ntr

ação

(%

más

sica

)

Elemento

2 h 4 h 6 h

8 h 10 h 12 h

14 h

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41

5. Fecho

5.1 Conclusões

5.1.1 Caracterização da Combustão de Carvões

A caracterização do processo de combustão dos três carvões estudados permitiu chegar às

seguintes conclusões:

Os testes de TGA revelaram uns valores das energias de ativação aparentes de

59,1 kJ mol-1 para o carvão colombiano, de 81,8 kJ mol-1 para o carvão brasileiro e de

117,2 kJ mol-1 para o carvão australiano.

Os valores de oxidação do resíduo carbonoso ao longo do RQL foram sempre maiores

para o carvão colombiano, seguidos pelo carvão brasileiro e, por último, pelo carvão

australiano. De uma forma consistente a concentração de matéria particulada à saída do

reator foi maior para o carvão australiano, seguido pelo carvão brasileiro e, finalmente,

pelo carvão colombiano. As partículas com diâmetro abaixo de 10 µm apresentam uma

distribuição de tamanhos unimodal para os três tipos de carvão analisados.

Os valores de energia de ativação, obtidos no TGA, e de oxidação de resíduo carbonoso,

apresentam uma correlação coerente, isto é, quanto menor a energia de ativação maior

é o valor da oxidação do resíduo carbonoso.

5.1.2 Formação de Depósitos na Combustão de Bagaço de Uva

O estudo efetuado no reator de queda livre sobre a formação de depósitos na combustão de

bagaço de uva, permitiu concluir que:

A massa de depósitos por unidade de área das superfícies das cápsulas aumenta

lineamente com o aumento do tempo de amostragem.

A altura da camada de depósitos aumenta com o tempo de exposição, e é possível

verificar alterações morfológicas nos depósitos ao longo do tempo. Para tempos de

amostragem superiores a 8 horas verifica-se que a porosidade dos depósitos decresce

desde a base até ao topo da camada de deposição.

Não existe influência do tempo de amostragem nos elementos K, P e Mg. A concentração

de Ca e Si aumenta com o aumento do tempo de amostragem, e o efeito contrário é

observado para o oxigénio.

Não foram encontrados vestígio de elementos potencialmente corrosivos/erosivos, tais

como S e Cl.

5.2 Trabalhos Futuros

Caracterizar a combustão dos mesmos carvões em diferentes atmosferas, como por

exemplo em condições de oxy-fuel.

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Realizar um estudo de caracterização da combustão usando os três carvões analisados

misturados com carvões de qualidade superior.

Estudar a deposição de cinzas em co-combustão de bagaço de uva com carvões usados

em centrais termoelétricas.

Alargar o estudo de deposição de cinzas a outro tipo de biomassas.

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