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Universidade Estadual de Londrina 2º Ano – Jornalismo Matutino Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística II Mônica dos Santos Alves Pereira Começar de novo A realidade de quem errou na escolha, decidiu jogar tudo pro alto e mudar de curso superior dentro da universidade Terminar o colegial, fazer um bom cursinho preparatório e passar no tão sonhado vestibular. O desejo que tantos jovens realizam todos os anos chega com novas responsabilidades e difíceis escolhas, situações que muitos deles ainda não sabem como lidar. Enquanto a maioria vai se acostumando com o passar do tempo, existem aqueles que aos poucos percebem que o curso escolhido talvez não seja a melhor opção para sua vida, e a dúvida sobre a futura profissão começa a aparecer diariamente. É a partir desse momento que uma questão se torna constante na vida desses estudantes: como agir ao descobrir que você fez a escolha errada? A realidade é que um diploma universitário conta – e muito – em um currículo profissional, e pode abrir as portas para várias oportunidades. Enquanto muitos se focam apenas na formação superior, outros buscam alternativas que permitam um maior desempenho e satisfação pessoal, já que com a extensa quantidade de cursos de graduação disponíveis atualmente pode ser difícil encontrar aquele que seja mais adequado a sua personalidade. Para que isso aconteça sem maiores surpresas, é preciso conhecer bem o campo antes de se arriscar. Foi exatamente a falta de informação que assolou Leandro Domingues, de 21 anos. Como não sabia qual carreira seguir assim que se formou no colegial, o jovem da cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, começou a fazer Psicologia por indicação dos pais e amigos. “Sempre gostei muito de conversar e ajudar as pessoas, por isso em um primeiro momento achei que me daria bem como psicólogo”, afirma. Depois de um ano na faculdade, ele percebeu que as coisas não eram assim tão fáceis. “Vi que a profissão exige muito mais do que compreender os problemas dos outros e dar conselhos, e foi aí que notei que não daria certo. Conversei com meus pais e eles entenderam, me dando a maior força pra encontrar outro caminho”. Depois de pesquisar e conversar com vários profissionais da área, Leandro resolveu prestar Economia, e

Começar de Novo

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Matéria sobre a evasão universitária e a troca de curso superior.

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Universidade Estadual de Londrina2º Ano – Jornalismo MatutinoTécnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística IIMônica dos Santos Alves Pereira

Começar de novo

A realidade de quem errou na escolha, decidiu jogar tudo pro alto e mudar de curso superior dentro da universidade

Terminar o colegial, fazer um bom cursinho preparatório e passar no tão sonhado vestibular. O desejo que tantos jovens realizam todos os anos chega com novas responsabilidades e difíceis escolhas, situações que muitos deles ainda não sabem como lidar. Enquanto a maioria vai se acostumando com o passar do tempo, existem aqueles que aos poucos percebem que o curso escolhido talvez não seja a melhor opção para sua vida, e a dúvida sobre a futura profissão começa a aparecer diariamente. É a partir desse momento que uma questão se torna constante na vida desses estudantes: como agir ao descobrir que você fez a escolha errada? A realidade é que um diploma universitário conta – e muito – em um currículo profissional, e pode abrir as portas para várias oportunidades. Enquanto muitos se focam apenas na formação superior, outros buscam alternativas que permitam um maior desempenho e satisfação pessoal, já que com a extensa quantidade de cursos de graduação disponíveis atualmente pode ser difícil encontrar aquele que seja mais adequado a sua personalidade. Para que isso aconteça sem maiores surpresas, é preciso conhecer bem o campo antes de se arriscar. Foi exatamente a falta de informação que assolou Leandro Domingues, de 21 anos. Como não sabia qual carreira seguir assim que se formou no colegial, o jovem da cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, começou a fazer Psicologia por indicação dos pais e amigos. “Sempre gostei muito de conversar e ajudar as pessoas, por isso em um primeiro momento achei que me daria bem como psicólogo”, afirma. Depois de um ano na faculdade, ele percebeu que as coisas não eram assim tão fáceis. “Vi que a profissão exige muito mais do que compreender os problemas dos outros e dar conselhos, e foi aí que notei que não daria certo. Conversei com meus pais e eles entenderam, me dando a maior força pra encontrar outro caminho”. Depois de pesquisar e conversar com vários profissionais da área, Leandro resolveu prestar Economia, e com apenas dois meses no cursinho ele passou na Unesp em Araraquara, ao lado de sua cidade natal. “Já estou no segundo ano e agora tenho certeza que fiz a escolha certa. Já faço estágio na área e adoro meu curso”, diz o estudante. Casos como o de Leandro são mais comuns do que muitos imaginam. Segundo dados do Censo do Ensino Superior, divulgados pelo Inep, cerca de 800 mil estudantes abandonaram a faculdade entre os anos de 2008 e 2009. As instituições privadas apresentam a maior taxa de desistência: apenas 55,4% graduandos concluem seus cursos. Já em universidades públicas, o índice sobre para 63,8%. De acordo com cálculos feitos pela própria organização, a evasão universitária já causa prejuízos que se aproximam da casa dos R$ 6 bilhões, e os principais motivos para o abandono são problemas financeiros, relacionados ao pagamento de mensalidades em faculdades privadas, e a falta de conhecimento sobre a carreira, o problema mais comum entre aqueles que decidem trocar de curso. Hobby, não profissão

O gosto pessoal e as preferências de cada um devem ser levados em consideração na hora da escolha, mas não são os únicos fatores a serem analisados. A história de Flavia Guedes, de 22 anos, é um exemplo disso. A estudante da cidade de Barretos, no norte de São Paulo, estava no primeiro ano do curso de Rádio e TV da Fundação Cásper Líbero quando percebeu que a profissão não era adequada para ela. “Adorava as aulas, as pessoas e as idéias que eu aprendia lá, mas não sabia como encaixar tudo em uma carreira profissional. A verdade é que toda a produção existente em Rádio e TV é como um hobby pra mim”, explica. A distância de casa também não ajudava, e rapidamente Flavia tomou a decisão de voltar. “Mudei pra São Paulo pra estudar e morava lá com meus avós. Todo domingo, voltando pra capital, eu chorava no ônibus porque queria ficar em casa. Foi aí que tive certeza que tinha que parar”. Ao voltar pra Barretos, ela fez seis meses de cursinho e passou no curso de Administração na Unesp em Jaboticabal, a apenas 40 km de Barretos. “Estou muito feliz e sei que quero isso pra minha vida”, conclui. O mesmo aconteceu com Alessandra Brusantin, que via no Jornalismo uma alternativa para o seu desejo de ser artista. “A minha vontade sempre foi lidar com a integração entre artes e ciências humanas na sociedade, e achei que encontraria isso no Jornalismo”. Durante um ano, a estudante freqüentou as aulas no curso da UEL, mas não se sentia motivada. “Eu até gostava de escrever e conversar com as pessoas, mas não conseguia me imaginar fazendo aquilo pelo resto da vida. O jornalista tem que estar o tempo todo pronto pra trabalhar, e eu não achava esse comprometimento em mim”, explica a estudante. Depois de explicar para seus pais como se sentia, ela resolveu tentar mais uma vez. “Tirei um ano pra pensar no que eu realmente quero fazer, e agora vou prestar vestibular para Arquitetura. Ainda tenho dúvidas se tomei a decisão certa, mas acho que só vou ter certeza quando ingressar no mercado de trabalho”. Essa confusão entre o pessoal e o profissional é muito comum entre os jovens, e atinge até mesmo os mais maduros. “A gente sempre acha que só basta gostar pra seguir em frente, e não é bem assim”, explica a psicóloga Marlene Cármino. De acordo com a especialista, é muito difícil separar o hobby da carreira, ainda mais quando se é muito novo. “É muito importante gostar do seu trabalho, mas não é só isso que tem que ser levado em conta. Aspectos financeiros e estruturais também devem ser postos na balança, e é nesse ponto que muitos jovens percebem que fizeram a escolha errada. Se isso acontece, não há mais nada a fazer além de conversar com os pais ou responsáveis e buscar outros caminhos”, analisa Marlene.

A hora de errar

Outro fator agravante para a evasão universitária é a idade em que a maioria dos estudantes ingressa no ensino superior. Aqueles que passam direto do colegial para a faculdade tem, em média, 18 anos, sendo considerados ainda adolescentes. Muitas vezes esses jovens nunca tiveram experiência com o mercado de trabalho ou contato com diferentes tipos de pessoas fora de seus próprios grupos. O choque com outra realidade, nesse caso, pode ser crucial. “Nós somos muito novos quando escolhemos um curso, e temos que tomar uma decisão séria mesmo tendo muitas dúvidas”, aponta Paulo Henrique de Araújo, de 23 anos, que por falta de um, abandonou dois cursos antes de optar por Jornalismo na UEL. “Sempre quis ser jornalista, mas prestei Direito e Economia como segunda opção. Primeiro eu tentei Direito, mas logo vi que não era aquilo, e a mesma coisa aconteceu com Economia”, explica Paulo. Os pais do aluno, que é do estado de Minas Gerais e veio para o Paraná para estudar, tiveram um pouco de receio pela decisão do filho. “Quando larguei

Direito, meu pai ficou furioso, disse que não pagaria o cursinho para mim e que eu teria que trabalhar com ele. Mas no outro caso, eles já esperavam porque sabiam que Economia não era minha cara, e assim que passei no vestibular da UEL não pensei duas vezes. Ainda tenho algumas dúvidas sobre meu futuro, mas fiz minhas escolhas”, conclui o estudante que já está no terceiro ano de Jornalismo. Já Felipe de Souza, amigo e da mesma sala de Paulo, se enganou com o curso de Psicologia devido à proximidade familiar com a área. “Comecei a pensar seriamente em escolher Psicologia como profissão seguindo os passos da minha mãe, que trabalha na área agora há quase 30 anos. Sempre tive interesse e a influência era óbvia: havia muitos livros sobre isso em casa, e as conversas com minha mãe eram interessantes. Então, não foi surpresa que eu acabasse pensando nisso mais cedo ou mais tarde”, explica o estudante da cidade de Maringá. A curiosidade por assuntos como política e relações internacionais foi o que o levou ao Jornalismo. “Sabia que poderia atuar em várias áreas dentro do curso, e hoje eu já penso em fazer uma pós-graduação relacionada a Ciências Sociais ou História, que são assuntos que me interessam muito. Sei que é uma carreira difícil e que vou ter que trabalhar mais do que o previsto, mas não me arrependo”, conclui o jovem de 22 anos. Apoio dos pais

Em meio a tantas turbulências e dúvidas na cabeça dos estudantes, a psicóloga Marlene Cármino reforça a importância da compreensão dos pais. “É preciso se colocar no lugar dos seus filhos e pensar no quão desgastante é continuar com uma formação que não te atrai”. Os gastos com mensalidades ou até mesmo moradia para aqueles que mudam de cidade são grandes, mas de nada adiantam se o jovem não estiver satisfeito com o rumo que está seguindo. “O diálogo nesse caso é extremamente importante e deve ser feito da maneira mais honesta possível. Os pais devem ter em mente que seus filhos estão passando por um momento atribulado e que precisam de ajuda e apoio, mantendo sempre o respeito pela decisão que eles resolverem tomar”, conclui a psicóloga. Vista como um problema de caráter nacional pelas instituições de ensino superior, a evasão universitária deve ser tratada com a seriedade que merece, e não apenas como um ato de rebeldia adolescente. Dessa forma, o apoio das pessoas próximas aliado ao comprometimento do próprio estudante tendem a ajudá-lo a encontrar o caminho certo para que seu diploma seja uma garantia de um futuro profissional satisfatório, e não apenas um troféu exposto na parede.