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ARTIGO – COMENTÁRIOS POLÍTICAS PÚBLICAS – CGU 2012 PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 1 Comentários da Prova de Políticas Públicas – CGU 2012 Olá, Pessoal! Este final de semana ocorreu a prova do concurso para a Controladoria Geral da União (CGU). Para o cargo de Auditoria e Fiscalização – Geral caiu a disci- plina de Políticas Públicas, cujas questões eu comento abaixo. A prova foi ex- tremamente difícil, bastante aprofundada. 6. (ESAF/CGU/2012) Uma perspectiva crítica sobre o funcionamento das democracias liberais surgiu ao final do século XIX na Alemanha e na Itália e se fundamentou na constatação de que, nas sociedades modernas, o poder se concentrava nas mãos de uma pequena parcela da população, enquanto a grande massa era incapaz de influenciar as decisões sobre políticas públicas. Para os adeptos dessa perspectiva, a concentração de poder era uma caracte- rística comum a todos os sistemas políticos, independente da sua orientação ideológica: Considerando as ideias da chamada Teoria das Elites apresentadas de forma sintética no texto acima, assinale a afirmativa correta sobre as teses elitistas. a) Foram submetidas a diversos testes e há hoje evidência que aponta para existência de distribuição assimétrica de poder nas decisões sobre políticas públicas em muitas das democracias contemporâneas. b) Para seus seguidores, os partidos políticos exercem o poder compensatório, reduzindo a influência da classe dirigente nas decisões de políticas públicas. c) A competição entre grupos de interesse ocupa papel central nas explicações elitistas sobre o desempenho das economias contemporâneas. d) Em países onde a classe dirigente é pequena e com interesses econômicos bem definidos, é maior a possibilidade de ocorrência de conflitos internos com possibilidade de resultar em paralisia decisória. e) A aplicação das teses elitistas nos países da América Latina sofre diversas restrições, especialmente pela valorização excessiva do papel exercido pela classe empresarial, desconsiderando a importância da burocracia e dos militares nas decisões sobre políticas públicas. Questão passível de recurso. A letra “A” é certa, é o gabarito preliminar, mas pode ser questionada. Re- almente, mesmo os pluralistas mais radicais não negam que existam Elites ou

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Comentários da Prova de Políticas Públicas – CGU 2012

Olá, Pessoal!

Este final de semana ocorreu a prova do concurso para a Controladoria Geral da União (CGU). Para o cargo de Auditoria e Fiscalização – Geral caiu a disci-plina de Políticas Públicas, cujas questões eu comento abaixo. A prova foi ex-tremamente difícil, bastante aprofundada.

6. (ESAF/CGU/2012) Uma perspectiva crítica sobre o funcionamento das democracias liberais surgiu ao final do século XIX na Alemanha e na Itália e se fundamentou na constatação de que, nas sociedades modernas, o poder se concentrava nas mãos de uma pequena parcela da população, enquanto a grande massa era incapaz de influenciar as decisões sobre políticas públicas. Para os adeptos dessa perspectiva, a concentração de poder era uma caracte-rística comum a todos os sistemas políticos, independente da sua orientação ideológica:

Considerando as ideias da chamada Teoria das Elites apresentadas de forma sintética no texto acima, assinale a afirmativa correta sobre as teses elitistas.

a) Foram submetidas a diversos testes e há hoje evidência que aponta para existência de distribuição assimétrica de poder nas decisões sobre políticas públicas em muitas das democracias contemporâneas.

b) Para seus seguidores, os partidos políticos exercem o poder compensatório, reduzindo a influência da classe dirigente nas decisões de políticas públicas.

c) A competição entre grupos de interesse ocupa papel central nas explicações elitistas sobre o desempenho das economias contemporâneas.

d) Em países onde a classe dirigente é pequena e com interesses econômicos bem definidos, é maior a possibilidade de ocorrência de conflitos internos com possibilidade de resultar em paralisia decisória.

e) A aplicação das teses elitistas nos países da América Latina sofre diversas restrições, especialmente pela valorização excessiva do papel exercido pela classe empresarial, desconsiderando a importância da burocracia e dos militares nas decisões sobre políticas públicas.

Questão passível de recurso.

A letra “A” é certa, é o gabarito preliminar, mas pode ser questionada. Re-almente, mesmo os pluralistas mais radicais não negam que existam Elites ou

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que até numa sociedade democrática exista uma contraposição permanente entre aqueles que têm o poder e aqueles que não o têm. Porém, a questão poderia ser questionada por sem um pouco simplista, colocando as teorias das elites como uma coisa só, sendo que há sim pontos das teorias que podem ser criticados. O principal deles é a afirmação de alguns teóricos de que haveria apenas uma elite coesa. Segundo o Dicionário de Política, de Norberto Bobbio et. al. (1998):

O mais autorizado representante da primeira crítica é Robert A. Dahl, o qual num ensaio intitulado A critique ofthe ruling elite model (1958), aparecido dois anos depois: do livro de Robert Mills, defendeu a hipótese de a existên-cia de uma elite no poder poder ser aprovada se: a) a hipotética ruling elite for um grupo bem definido; b) houver uma amostragem suficiente de casos de decisões fundamentais, em que as preferências da hipotética elite con-trastam com as de outros grupos; c) em todos esses casos, as preferências da hipotética elite prevalecem. Como nem o primeiro nem o terceiro ponto foram até agora empiricamente provados, a teoria das elites no poder não tem, segundo Dahl, fundamento científico.

A letra “B” é errada. Robert Michels, um dos principais autores do elitismo, escreveu o livro "Partidos Políticos: um Estudo Sociológico das Tendências Oli-gárquicas da Democracia Contemporânea, em que demonstrou que mesmo dentro dos partidos, haveria uma elitização, com concentração do poder num determinado grupo restrito de pessoas. Dessa forma, a elitização ocorreria inclusive dentro das organizações comprometidas com os princípios de igual-dade e democracia, ou seja, os partidos políticos de massa.

A letra “C” é errada, essa é a ideia do Pluralismo, que traz como ponto prin-cipal a competição entre os grupos. Para o elitismo, não há essa competição, mas sim um pequeno grupo organizado que controla os demais.

A letra “D” é errada, é justamente o contrário, com elites mais coesas e de menor tamanho os conflitos são menores.

A letra “E” é errada. A Teoria das Elites se contrapõe ao marxismo no senti-do de não concordar com a visão de que é o modo de produção que estabelece a oposição nas sociedades. Não seria a propriedade, mas sim a autoridade o fator preponderante para distinguir a elite das massas. Segundo o Dicionário de Política:

Ralf Dahrendorf (...) defende em seu livro (...) que é a autoridade e não a propriedade, ou seja, o poder de comando, que consegue obediência e é a causa da formação das classes sociais, das desigualdades e dos conflitos. Desta premissa, tira a consequência de que é possível identificar os conten-dores de um certo tipo de conflito quando se consegue individualizar "aque-les que ocupam as posições de domínio e de subordinação numa determinada associação.

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Ainda no Dicionário, analisando a obra de Wright Mills, Bobbio afirma que:

Com uma análise histórica e sociológica, procura demonstrar que, atual-mente, os Estados Unidos são dominados por um restrito grupo de poder, que constitui precisamente a "Elite no poder" e é composto por aqueles que ocupam as posições-chaves nos três setores: da economia, do exército e da política.

Portanto, a teoria das elites consideraria sim os grupos que não só a classe empresarial.

Bibliografia:

BOBBIO, Norberto. Teoria das Elites (Verbete). In: BOBBIO, Norberto; MAT-TEUCCI Nicola; e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Brasília: UNB, 1998.

Gabarito: A.

7. (ESAF/CGU/2012) Sobre redes de políticas públicas, não é correto afir-mar que:

a) surgem no âmbito da reforma gerencial do Estado, quando se buscou im-plementar inovações na administração pública que promovessem a eficácia e a eficiência das ações governamentais.

b) são sujeitas aos efeitos causados pela assimetria informacional entre seus membros.

c) demandam uma estrutura de coordenação e prestação de contas que leve em consideração as interdependências existentes.

d) possuem estruturas polimórficas, que podem ser representadas por um conjunto de nós e vínculos que indicam, entre outros aspectos, a possível pre-sença de capital social nas transações.

e) são instrumento analítico fundamental para caracterizar as relações intergovernamentais nas políticas sociais brasileiras.

Questão passível de recurso.

A letra “A” foi dada como certa, é o gabarito preliminar, mas pode ser questionada em recurso, pois este assunto é bastante polêmico. Segundo Sô-nia Maria Fleury Teixeira (2002), no texto “O desafio da gestão das redes de políticas”:

A proliferação de redes de gestão é explicada por uma multiplicidade de fa-tores que incidem, simultaneamente, conformando uma nova realidade ad-

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ministrativa. A globalização econômica alterou os processos produtivos e administrativos em direção à maior flexibilização, integração e interdepen-dência.

Por outro lado, as transformações recentes no papel do estado e em suas relações com a sociedade, impõem novos modelos de gestão que compor-tem a interação de estruturas descentralizadas e modalidades inovadoras de parcerias entre entes estatais e organizações empresariais ou sociais.

Como vocês podem ver, uma série de fatores contribuiu para a formação de redes, entre eles o fato de o Estado ter se retirado da condição de único im-plementador de políticas públicas e ter transferido uma série de atividades para o setor privado e o terceiro setor.

Segundo Peter Bogason e Juliet A. Musso (2006):

This special symposium considers the democratic character of democratic governance networks. The evolution in public affairs to encompass govern-ment within governance spans more than a quarter century, and the con-cept has its origins in the growth and increasing complexity of the modern welfare state and in the decentralization, devolution, and new public management reforms of the 1980s and 1990s.

Podemos observar que os autores associam as diretamente com as reformas gerenciais das décadas de 1980 e 1990.

Alguns autores tratam das redes dentro de uma segunda geração de reformas do NPM. Segundo Caio Marini e Humberto Falcão Martins (2004):

A marca distinta das reformas de segunda geração no início do século XXI é a promoção do desenvolvimento. Acredita-se que os imensos desafios soci-ais em escala global, manifestos pela crescente desigualdade e pobreza, não podem ser vencidos pela simples ação dos mercados, mas por meio do fortalecimento de instituições tais como Estado, o mercado e o terceiro se-tor.

Porém, outros autores abordam o tema das redes dentro de um modelo de gestão diferente do NPM. Stephen Osborne, afirma que o New Public Manag-ment constituiu um período intermediário e que hoje prevaleceria a Nova Go-vernança Pública. Assim, na visão de alguns, as redes não teriam se originado nas reformas gerenciais, mas num segundo momento, com a busca da atuação conjunta do Estado com a sociedade.

Segundo Erik-Hans Klijn:

One can even say that in a way the governance “narrative” forms na alter-native to the “narrative” of the New Public Management. That “narrative”, especially in its early versions, focused strongly on organizational and insti-tutional changes within public sector organizations and on improving effi-ciency and effectiveness of public sector organizations mainly by such

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means as outsourcing and increasing use of market-like mechanisms in public service delivery. As the governance narrative has grown in popularity over the last ten years it is not surprising tha network theory, as one of the possible theoretical underpinnings of that narrative, has also grown in popu-larity.

A letra “B” é certa. As redes também apresentam problemas de assimetria de informações, em que um agente possui informações das quais os outros atores não têm conhecimento.

A letra “C” é certa. As redes têm como característica a interdependência, ou seja, cada um necessita do outro para o atingimento dos resultados. A coorde-nação dos atores precisa levar em consideração essa interdependência. O mesmo vale para a prestação de contas, pois o alcance dos resultados não é decorrente da ação de apenas um ator, mas da sua atuação em conjunto com os demais.

A letra “D” é certa. Poliformismo significa “várias formas”, ou seja, nas redes não há uma única forma de organização, elas variam em cada caso, depen-dendo dos atores. As redes também são chamadas de estruturas reticulares ou policêntricas. Reticulado se refere a qualquer coisa que tenha o formato de rede. Policêntrica porque a rede não possui um centro único, não há uma hie-rarquia estabelecida.

O capital social corresponde aos ganhos advindo das relações de confiança entre os atores de determinada sociedade que trabalham de forma colaborati-va. Assim, uma sociedade em que as pessoas colaboram entre si, atuando em redes, teria maior capital social.

A letra “E” é certa. As redes são importantíssimas nas políticas sociais. Se-gundo Sônia Maria Fleury Teixeira:

A complexidade dos problemas sociais, a diversidade de atores e interesses em conflitos envolvidos, a crescente mobilização da sociedade civil cobrando atenção diferenciada que respeite as diferenças sociais, a organização de um setor não-governamental que atua cada vez mais no campo das políti-cas sociais e o aumento da ação social das empresas, são fatores que im-pulsionam e explicam o florescimento das redes de políticas sociais.

Bibliografia:

BOGASON, Peter e MUSSO, Juliet A. The Democratic Prospects of Network Governance. American Review of Public Administration, v. 36, n.1, mar-ço/2006.

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TEIXEIRA, Sônia Maria Fleury. O desafio da gestão de redes de políticas. VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Adminis-tración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002.

MARINI, Caio e MARTINS, Humberto Falcão. Um governo matricial: estruturas em rede para geração de resultados de desenvolvimento. In: Congreso Inter-nacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, 9. Madrid. 2004.

Gabarito: A.

8. (ESAF/CGU/2012) Entre as intervenções no âmbito das políticas públicas que são adotadas pelos governos para compensar as falhas de mercado, po-demos citar as seguintes:

1. Ações voltadas para compensar o nível limitado de competição em decor-rência dos efeitos causados por economias de escala;

2. Mecanismos voltados para incentivar a revelação sincera das preferências em relação à provisão de bens públicos;

3. Incentivos para que os indivíduos invistam menos em bens cujos custos são privados e os benefícios são públicos;

4. Estímulos à seleção adversa em contextos de competição perfeita.

É correto o que se afirma em

a) 1, 2, 3, 4.

b) 1, 4.

c) 1, 2.

d) 2, 3.

e) 3, 4.

A primeira afirmação é certa. Entre as falhas de mercado podemos citar os monopólios e oligopólios. Algumas vezes, eles se originam a partir da necessi-dade de as empresas adquirirem tamanhos significativamente grandes para poderem operar com lucro. Ocorre o monopólio natural quando os investimen-tos necessários são muitos elevados e os custos marginais são muito baixos. Um exemplo é a distribuição de energia elétrica. Nesses casos, é necessária a atuação do Estado para evitar o abuso do poder de monopólio.

A segunda afirmação é certa. Os bens públicos são caracterizados pelo prin-cípio da não-exclusão, ou seja, o consumo de um não exclui o dos demais. Também se caracterizam pela indivisibilidade de consumo. As necessidades de manter-se a ordem interna e externa e de defesa nacional constituem uma

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necessidade coletiva da comunidade. Contudo, uma vez que não se consegue identificar a quantidade desses serviços que é consumida pelos indivíduos, torna-se impossível a determinação de um preço por meio do mercado, pela oferta e demanda. Não sendo possível fixar um preço, a alocação dos recursos para a produção desses bens pelo setor privado torna-se impraticável.

Nesse sentido, é preciso saber as preferências da sociedade em termos de bens públicos, já que a lei da oferta e da procura não poderá ser estabelecida como ocorre nos mercados concorrenciais.

A terceira afirmação é errada. Haverá falhas de mercado quando o custo social for maior ou menor do que o benefício social. Essa diferença pode ocor-rer em função de externalidades, que são os efeitos da ação de uma pessoa sobre terceiros. Elas podem ser positivas ou negativas. Por exemplo, a polui-ção de uma fábrica é uma externalidade negativa, que gera problemas na saú-de da população. A restauração de um prédio antigo pode trazer turistas para a região, gerando maiores vendas para o comércio, é um exemplo de externa-lidade positiva.

Quando os agentes privados tomam decisões acerca da realização ou não de uma ação, eles tendem a não considerar as externalidades. O dono da indús-tria está preocupado em ter lucro, o problema que a poluição gera não lhe interessa. Por outro lado, um investimento numa estrada pode não lhe parecer interessante, pois o custo é alto, e os benefícios que ELE vai ter não superam tais custos. Porém, considerando as externalidades positivas, para a sociedade como um todo o investimento vale à pena.

A afirmação 3 traz o caso de uma externalidade positiva, pois a ação do agente gera benefícios para a coletividade, “benefícios públicos”. São serviços cujos ganhos beneficiam a toda a sociedade, mas que podem não parecer interes-santes para investidores privados, porque individualmente não gerariam o benefício suficiente. Assim, o agente privado pode não ter o interesse individu-al em realizar o investimento, por isso são necessários incentivos para que ele o faça.

A terceira afirmação é errada, a seleção adversa é algo ruim, deve ser mi-norada, e não incentivada. Ela ocorre quando são selecionados os agentes com maior risco.

Gabarito: C.

9. (ESAF/CGU/2012) Em relação aos principais postulados que orientam o debate sobre falhas de governo, é correto afirmar que

a) associam a tendência de crescimento da participação do setor público no PIB das democracias contemporâneas à tendência de centralização das compe-

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tências na esfera federal em detrimento de uma maior autonomia dos gover-nos locais.

b) a relação entre custos e benefícios nos projetos governamentais é avaliada pelos políticos com base em taxas de desconto menores do que aquelas que seriam socialmente ótimas.

c) quando os bens são produzidos com base no menor custo marginal, então existem incentivos suficientes para que a quantidade produzida seja aquela indicada pela interseção entre a curva de custo marginal e a curva de demanda do eleitor mediano.

d) as políticas voltadas para minimizar as desigualdades na distribuição de renda e de riqueza são condicionadas pelas assimetrias na distribuição de po-der e prestígio.

e) a função de utilidade daqueles que decidem sobre políticas públicas é guiada pelo atendimento às demandas do eleitor mediano em detrimento da busca de poder, prestígio e salário.

A letra “A” é errada. A descentralização para estados e municípios normal-mente provoca um aumento dos gastos do setor público, sendo ruim para o controle fiscal do país como um todo. O que tem ocorrido nos Estados contem-porâneos é justamente a descentralização, e não a centralização.

A letra “B” é errada. Quando os políticos tomam decisões, eles pensam mui-to no presente. Os ganhos que a política pública pode gerar no futuro são normamente desconsiderados ou recebem pouca importância, por que ele não os vê como geradores de votos. Os custos que serão gerados em um período de tempo mais distante também não recebem atenção, pois quem terá que pagá-los serão os próximos governantes.

A taxa de desconto é aquilo que traz para o valor presente os custos e benefí-cios que serão incorridos com um projeto no futuro. Quando esta taxa é maior, o valor do futuro fica muito baixo no cálculo realizado hoje. Por exemplo, se uma determinada ação custará R$ 100 milhões daqui 15 anos, se for aplicada uma taxa de desconto alta, esse valor poderá corresponder à R$ 40 milhões hoje; se a taxa de desconto for baixa, o valor pode ser de R$ 60 milhões.

Como os políticos dão pouca importância aos custos e benefícios futuros, o valor presente deles é baixo, ou seja, a taxa de desconto seria alta.

A letra “C” é errada. Quando o custo marginal do eleitor mediano é diferente do custo marginal da produção do bem público poderá haver suboferta ou ex-cesso de oferta de bens públicos. Quando o custo marginal é menor, o eleitor mediano não estará disposto a pagar tal valor para consumi-lo, resultando numa oferta excessiva.

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A letra “D” é certa. Ela fala que as políticas que reduzem as desigualdades sociais são influenciadas pela forma como o poder está distribuído na socieda-de. Assim, se uma determinada elite detém o poder, será mais difícil reduzir as desigualdades, pois ela não irá aceitar perder em benefício dos mais pobres.

A letra “E” é errada. A teoria das falhas de governo vem principalmente dos postulados da Teoria da escolha Pública, segundo a qual os políticos e burocra-tas não tomam decisões com base no interesse público, mas sim no próprio interesse, ou seja, com base na busca pelo poder, prestígio e salário.

Gabarito: D.

10. (ESAF/CGU/2012) Na abordagem tradicional das políticas públicas, as ações do governo seriam produzidas por formuladores benévolos. Com base nessa perspectiva, as políticas públicas seriam determinadas exogenamente ao sistema político e concebidas e implementadas de forma predominantemente tecnocrática. Em grande medida, é a partir da perspectiva crítica sobre a abor-dagem tradicional das políticas públicas que evolui o debate contemporâneo sobre a importância das instituições nas políticas públicas. Essa nova aborda-gem tem sido cognominada de neoinstitucionalismo.

Indique qual das afirmativas abaixo melhor caracteriza as contribuições dos neoinstitucionalistas para o debate recente sobre políticas públicas.

a) A ênfase no papel que as instituições responsáveis pela liberalização do comércio exterior possui na explicação das diferenças entre as taxas de cres-cimento dos diferentes países.

b) O reconhecimento que países com sistemas políticos fundados no voto ma-joritário simples têm desempenho macroeconômico superior daqueles onde prevalece outros sistemas eleitorais.

c) A relação de causalidade entre capital social e corrupção, ou seja, países onde existem redes informais de confiança bem estabelecidas são mais corrup-tos.

d) A constatação de que custos transacionais influenciam as estruturas de go-vernança apenas no curto prazo.

e) A proposição de que as diferenças nas bases institucionais que fundamentam as transações políticas intertemporais explicam muitas das diferenças no desempenho econômico entre nações.

A letra “A” foi dada como errada. Ela ficou muito confusa, mal escrita, con-fundindo acerca do seu significado. Parece que foi copiada de algum texto, retirada de seu contexto e alterada em algum ponto para ficar errada. Porém, sem o contexto, não conseguimos compreender o que ela realmente quer di-zer. Para o neoinstitucionalismo, as instituições possuem sim papel preponde-

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rante na explicação das diferentes entre as taxas de crescimento econômico, como está na letra “E”, que é certa. O neoinstitucionalismo estuda impor-tância das instituições para o funcionamento da economia, visto que as imper-feições do mercado requerem o estabelecimento de normas que organizem a ação coletiva. Nesse sentido, as instituições e organizações afetam o desem-penho da economia na medida em que, ao dar forma e estruturar as interações humanas, reduzam as incertezas e induzam a cooperação, diminuindo os cus-tos das transações. Nesse sentido, não vejo erro na letra “A”, mas essa não era a ênfase do neoinstitucionalismo.

A letra “B” é errada. Pelo que eu conheça, não há comprovação de que de-terminado sistema eleitoral possuam melhores efeitos sobre o desempenho econômico. Em termos de presença do eleitorado nas urnas e representativi-dade de grupos sociais, os sistemas proporcionais são mais eficientes; por outro lado, ambos são equivalentes no desempenho econômico e no político. Ou seja, países de sistema majoritário, com gabinetes mais estáveis e dura-douros, não seriam mais eficientes na implementação de políticas públicas que países com sistema proporcional.

A letra “C” é errada, a teoria da capital social, que não está no neoinstitucio-nalismo, afirma que quanto maior o capital social, ou seja, quanto maior a confiança, MENOR a corrupção.

A letra “D” é errada, os custos de transação influenciam as estruturas de governança não só no curto prazo, mas também no longo, resultando em dife-renças nos desempenhos econômicos dos países.

Gabarito: E.

11. (ESAF/CGU/2012) O estudo sobre a chamada economia política da cor-rupção tem avançado bastante ao longo dos últimos anos. Centenas de traba-lhos importantes foram produzidos sobre o tema, muitos deles fazendo uso de analogias advindas da microeconomia, mais especificamente da chamada eco-nomia da informação.

Desses trabalhos surgiu uma série de recomendações para a melhoria da qua-lidade do governo e redução dos níveis de corrupção nos estados contemporâ-neos. Entre as principais contribuições do estudo da economia política da corrupção, podem-se destacar as seguintes proposições:

1. No contexto de assimetria informacional, a estrutura de incentivos prevista nos contratos entre agente e principal pode ser mais efetiva como instrumento de coibir a corrupção do que a fiscalização realizada por auditores independen-tes.

2. A alta rentabilidade da busca de privilégios por parte dos “caçadores de renda” (rent seekers) contribui para o desenvolvimento econômico, pois apesar

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da sua imagem negativa, ela gera renda e oportunidades de emprego para algumas das pessoas mais talentosas do país.

3. O incentivo à corrupção é diretamente proporcional aos custos transacionais envolvidos no relacionamento entre agente e principal.

4. O tamanho do governo está inversamente relacionado à sua qualidade.

É correto o que se afirma em

a) 1, 2, 3, 4.

b) 1, 4.

c) 2, 3.

d) 2, 4.

e) 1, 3.

Questão passível de recurso.

A primeira afirmação é certa. Na visão das relações agente-principal, a corrupção seria o resultado de estruturas de governança específicas que sinali-zam incentivos inadequados para as partes envolvidas em transações. Newton Paulo Bueno, o problema da corrupção pode ser modelado como um problema típico que ocorre em estruturas de governança denominadas “Principal-Agente”. Em termos simples, o problema surge porque funcionários governa-mentais, que deveriam garantir a aplicação de leis e regulamentos no interesse da sociedade, deixam de fazê-lo para perseguir sua própria agenda de interes-ses. A corrupção ocorre porque os agentes são estimulados a isso.

Porém, nada é tão simples como a afirmação coloca. O que está ali é afirmado por vários autores, mas também é criticado. Segundo Bueno:

Quando colocado dessa forma, isto é, como uma situação do tipo Principal-Agente, identificamos imediatamente o que está errado e inferimos intuiti-vamente o que deve ser feito para corrigir o problema. A corrupção ocorre porque os agentes são estimulados a fazer isso; assim, para induzir os a-gentes a se comportarem honestamente basta mudar a estrutura de incen-tivos a que eles estão submetidos. Mas o problema, infelizmente, é bem mais complexo do que parece à primeira vista.

O autor afirma que uma linha de ataque à corrupção seria fortalecer as institu-ições responsáveis pelo “enforcement” das leis e regulamentos anticorrupção. Porém, isso também não tem demonstrado resultados. O que tem promovido melhorias significativas é o aumento do grau de accountability por meio da promoção da transparência.

A segunda afirmação é errada. Rent-seeking é uma forma de patrimonia-lismo, de corrupção, que sempre é associada com menor crescimento econô-mico.

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A terceira afirmação foi dada como certa, mas entendo que cabe recurso. Na minha visão, quando ela fala que a corrupção é diretamente proporcional aos custos transacionais, dá a entender que, quanto maiores os custos de transação entre agente e principal, maior seria a corrupção. Mas ocorre o con-trário, quanto maior a corrupção, maiores são os custos de transação.

Quando o principal não conhece o comportamento do agente, ou este possui um histórico de corrupção, o principal deverá aumentar os controles e incorrer em custos para monitorar o agente, ou seja, os custos de transação serão maiores. Segundo Araujo e Sanchez (2005):

O segundo pressuposto do homem contratual é a propensão ao oportunis-mo. O oportunismo se refere ao uso de informações incompletas ou distor-cidas em beneficio próprio. É um comportamento que objetiva conseguir vantagens criando ou explorando assimetrias de informação. Este tipo de comportamento tem importantes implicações teóricas. A presença do opor-tunismo como ameaça constante leva à busca de inúmeras garantias con-tratuais como forma de se precaver ante a possibilidade desse tipo de comportamento. Em outras palavras, com o homem contratual deixa de va-ler o pressuposto de que um sistema, político ou econômico, goza de uma oferta ilimitada de confiabilidade pessoal (Fonseca, 1989, p. 64). Como a propensão ao oportunismo é uma ameaça latente, devem-se criar inúmeras salvaguardas ex ante e ex post o contrato para prevenir esse comporta-mento, que tem como conseqüência o aumento dos chamados custos de transação.

A quarta afirmação foi dada como errada, mas também pode ser questio-nada, pois é um tema bastante polêmico. Newton Paulo Bueno enumera alguns fatores citados pela doutrina que podem aumentar a corrupção. Segundo o autor:

Outros trabalhos têm apontado causas não tão solidamente assentadas em evidência econométrica ou ainda não suficientemente replicadas por outros estudos, por exemplo:

a) elevada participação do Estado na economia, porque aumentam as opor-tunidades de corrupção para os agentes do Estado (LaPalombara 1994);

Assim, se o governo é maior, a corrupção seria maior e a qualidade maior. Outros podem afirmar ainda que quanto mais eficiente um governo, menor ele será. Por exemplo, dois auditores que conseguem fiscalizar 30 contratos são mais eficientes que três auditores que conseguem fiscalizar os mesmos 30 contratos.

Bibliografia:

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ARAUJO, Marcelo; SANCHEZ, Oscar Adolfo. A corrupção e os controles internos do estado. Lua Nova, São Paulo, n. 65, Aug. 2005 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452005000200006&lng=en&nrm=iso>

BUENO, Newton Paulo. Corrupção: teoria, evidências empíricas, e sugestões de medidas para reduzir seus níveis no Brasil - uma análise institucional. Revista CGU – 6ª edição/2009.

Gabarito: E.

12. (ESAF/CGU/2012) Nas duas colunas abaixo, encontra-se a descrição sumária das 8 Metas do Milênio e uma lista de 8 Indicadores de Políticas Públi-cas utilizados para monitorar essas metas. Considerando apenas essa lista de indicadores e considerando que apenas um indicador pode ser utilizado para monitorar cada uma das metas, indique qual das opções abaixo proporcionaria a melhor combinação entre metas e indicadores.

a) 1D, 2E, 3C, 4A, 5B, 6F, 7G, 8H

b) 1C, 2A, 3G, 4F, 5D, 6H, 7B, 8E

c) 1H, 2D, 3G, 4F, 5C, 6A, 7E, 8B

d) 1D, 2E, 3H, 4A, 5F, 6G, 7C, 8B

e) 1C, 2E, 3F, 4G, 5D, 6H, 7B, 8A

Essa questão estava mais fácil:

1-D O único indicador que fala de renda é o “Evolução da proporção da população empregada vivendo com menos de US$ 1,25 por dia”, por isso está associado com a erradicação da pobreza.

2-E O indicador do fluxo de matrículas está relacionado com o ensino básico universal.

3-H O indicador que mede a igualdade entre os sexos é o da participação das mulheres no mercado de trabalho.

4-A A mortalidade infantil pode ser reduzida com o aumento de crianças vacinadas.

5-F A saúde das mães melhora quando o parto é assistido por profissio-nal de saúde habilitado.

6-G O HIV/AIDS é combatido com a camisinha.

7-C A sustentabilidade está relacionada com o tratamento do esgoto.

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8-B O aumento de exportações em relação à dívida representa a busca pelo desenvolvimento.

Gabarito: D.

13. (ESAF/CGU/2012) Entre os modelos de avaliação de programas utilizados na análise de programas governamentais, pode-se citar:

a) Modelos baseados em estudos experimentais que demandam a escolha ale-atória de grupos em tantos fatores quanto possíveis, exceto um: a questão que está sendo avaliada.

b) Estudos de séries temporais interrompidas, muito utilizados quando o obje-tivo é apenas descrever atitudes, opiniões ou comportamentos de grupos ou subgrupos em um momento específico.

c) Estudos de corte transversal, um modelo quase experimental em que os dados são coletados antes e depois da introdução do programa objetivando mensurar seus efeitos.

d) Modelos de avaliação naturalista, objetivando avaliar os custos e benefícios de um programa na sua forma natural, isso é, em valores monetários.

e) Avaliação somativa, isso é, feita para dar à equipe do programa informações úteis para melhorar o programa ainda quando este está em fase de implantação.

Questão passível de recurso, a letra “A” pode ser questionada.

A letra “A” é certa. Estudos experimentais são aqueles realizados com dois grupos: o de tratamento e o de controle. A seleção dos grupos deve ocorrer de forma aleatória, ou seja, sem interferência do pesquisador. A questão que está sendo avaliada não é experimental porque se refere justamente ao que o pes-quisador quer descobrir. Por exemplo, deseja-se identificar se a presença de mulheres no governo reduz a corrupção. A questão que está sendo avaliada é essa, ela é definida e não será escolhida aleatoriamente.

Porém, acho equivocada afirmação de que apenas a questão que está sendo avaliada não é aleatória. O pesquisador faz escolhas acerca de quais variáveis serão usadas na análise, não é possível colocar tudo na equação. Assim, se ele analisa a influência da renda sobre a saúde, aqui já estão duas variáveis que farão parte da análise. Assim, a escolha das variáveis que serão analisadas também não é algo aleatório.

A letra “B” é errada, séries temporais correspondem a uma continuidade no tempo, algo é analisado em diferentes momentos, é algo dinâmico. A alternati-va fala em “momento específico”, o que é algo estático, num determinado momento do tempo, único. Aqui temos os estudos de corte transversal.

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A letra “C” é errada, o corte transversal ocorre num momento específico, a descrição é da série temporal interrompida. Determinado grupo é analisado repetidamente sem a intervenção. Quando ocorre a intervenção são feitas no-vas avaliações para verificar se houve alguma mudança.

A letra “D” é errada. Também conhecida como construtivista, a avaliação naturalista é um “estudo que tem por objetivo uma generalização natural, ba-seada na experiência do público-alvo”, levam em conta as diferentes perspec-tivas valorativas de seus membros. Ao utilizar-se de uma abordagem naturalista, o avaliador estuda o projeto tal como acontece, sem confiná-lo, manipulá-lo nem controlá-lo. A consistência das informações é corroborada por meio da triangulação ou da checagem de fontes conflitantes.

A letra “E” é errada. A avaliação somativa normalmente ocorre depois da implementação, a descrição é da avaliação formativa.

Gabarito: A.

14. (ESAF/CGU/2012) Fatores causais estranhos são variáveis que podem afetar a variável dependente e devem ser controlados de alguma maneira para estabelecer um retrato claro do efeito da variável manipulada sobre a variável dependente. Fatores causais estranhos são normalmente rotulados de variá-veis estranhas ou confusas, porque confundem a condição de tratamento, tor-nando impossível determinar se as mudanças na variável dependente são devidas unicamente às condições de tratamento. (MCDANIEL, Carl e Roger GATES. Pesquisa de Marketing. São Paulo:Thomson, pág. 243)

Considerando as ideias do texto acima, analise as proposições abaixo, referen-tes ao efeito de variáveis estranhas na avaliação de programas governamen-tais:

1. Uma das maneiras de controlar o efeito de variáveis estranhas na avaliação de programas governamentais é o controle estatístico, ajustando estatistica-mente o valor da variável dependente em cada condição de tratamento.

2. Uma das formas de manifestação das variáveis estranhas na avaliação de programas é decorrente do chamado viés de seleção, quando o grupo experi-mental é sistematicamente diferente da população ou do grupo de controle, ou seja, os grupos escolhidos para participar do experimento são fundamental-mente diferentes.

3. A mortalidade experimental é uma forma de controle do efeito das variáveis estranhas na avaliação de políticas públicas, permitindo que a perda natural de unidades de teste compense as distorções causadas pela perda de unidades de observação.

4. Um fator estranho que incide sobre os experimentos realizados na avaliação de programas governamentais decorre de erros de medição ao longo do tem-

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po, que podem ser compensados pela aleatorização dos participantes entre os diferentes grupos que participam do experimento.

É correto o que se afirma em

a) 1, 2, 4.

b) 1, 3.

c) 2, 3.

d) 2, 4.

e) 3, 4.

Questão passível de recurso. As afirmações corretas são a 1 e a 2, por isso não há resposta correta na questão.

Existem diferentes variáveis nos estudos avaliativos:

���� Variáveis dependentes: é a variável que o investigador pretende avaliar, e depende da variável independente.

���� Variáveis independentes: é a variável que integra um conjunto de fato-res, condições experimentais que são manipuladas e modificadas pelo investigador.

���� Variáveis estranhas: aquelas que não são consideradas no estudo e po-dem vir a afetar os resultados produzidos na variável dependente.

Por exemplo, se o examinador deseja verificar se a renda interfere na corrup-ção, a renda é a variável independente, a corrupção a dependente. Outros fatores que podem influenciar a corrupção e que não são consideradas no es-tudo podem ser a religião, a cultura política, a participação do Estado na eco-nomia, etc. Estas são as variáveis estranhas.

A primeira afirmação é certa. Na versão em inglês do livro citado no enun-ciado (http://books.google.com.br/books?id=7cYOAAAAQAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_atb#v=onepage&q&f=false), os autores afirmam que:

Statistical control procedures can account for extraneous causal factors if they can be identified and measured throughout the course of the experi-ment. These procedures (e.g. analysis of covariance) can be used to adjust for the effects of a confounded variable on the dependent variable by statis-tically adjusting the value of the dependent variable within each treatment condition.

A segunda afirmação foi dada como errada, mas está certa. Segundo os autores:

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Selection Bias: the threat to validity of selection bias occurs in situations where the experimental or test group is systematically different from the population to which we would like to project the experimental results or from a control group to which we would like to compare results.

Podemos ver que a segunda afirmação é a tradução desse trecho, não vejo erro nela.

O Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Experimenta%C3%A7%C3%A3o)traz que:

Viés de seleção – ocorre quando são selecionadas unidades de teste com grandes diferenças entre si em relação à variável dependente, antes mesmo de serem expostas a tratamento. Exemplo: comparar grupos heterogêneos, como os dez piores e os dez melhores vendedores da empresa.

A terceira afirmação foi dada como certa, mas é errada. A mortalidade experimental é uma forma de ocorrer variáveis estranhas, e não uma forma de controle. Segundo os autores:

Mortality: loss of test units or subjects during the course of an experiment. The problem is that those lost may be systematically different than those who stay.

Segundo o Wikipedia:

Mortalidade de unidades de teste – perdas de unidades de teste durante a realização do experimento. A mortalidade confunde os resultados, pois não se pode garantir que as unidades perdidas responderiam da mesma manei-ra que aquelas que permaneceram.

A quarta afirmação é errada. Segundo os autores:

Measurement error occurs when there is a variation between the infor-mation being sought (true value) and the information obtained by the measurement process.

A aleatorização atua na seleção dos indivíduos, não irá solucionar problemas de medição, pois mesmo com uma amostra adequada, as informações podem ser erroneamente coletadas ou processadas.

Gabarito: B.

15. (ESAF/CGU/2012) Sobre os avanços recentes na promoção da governan-ça democrática e da participação social no Brasil, podemos citar os seguintes:

a) A integração e consolidação dos subsídios concedidos pelos estados e muni-cípios, tornando mais coerente e transparente a política tributária dos estados.

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b) A ampliação do controle social sobre a política fiscal, visto que hoje mais de 2/3 dos investimentos públicos federais são decididos a partir de consultas à população mediante mecanismos de orçamento participativo.

c) O aperfeiçoamento nos mecanismos de prestação de contas pessoais dos parlamentares que estabeleceu um novo marco fundamental para a redução dos escândalos envolvendo o Poder Legislativo nos Estados e Municípios.

d) A maior profissionalização da burocracia federal, visto que os ocupantes de todos os cargos de direção no Poder Executivo são submetidos a processo sele-tivo amplo e transparente.

e) A expansão no número e na atuação dos conselhos nacionais de políticas públicas ao longo dos últimos 10 anos, numa tentativa de colocar em prática os preceitos da democracia participativa previstos na Constituição de 1988.

Questão passível de recurso, deve-se alterar o gabarito para a letra “E”.

A letra “A” é errada, a guerra fiscal ainda é um problema sério no Brasil, em que estados e municípios concedem benefícios para as empresas instalarem-se em seus territórios. Ainda estamos longe dessa integração.

A letra “B” é errada, não existe orçamento participativo na esfera federal.

A letra “C” é errada, não existem mecanismos de prestação de contas pes-soais dos parlamentares.

A letra “D” foi dada como certa, mas é claramente errada. Os cargos de direção ainda são preponderantemente cargos em comissão de livre nomea-ção. Segundo o art. 37 da CF88:

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação pré-via em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de li-vre nomeação e exoneração;

A letra “E” foi dada como errada. Numa primeira leitura, ela parece corre-ta, pois, depois da CF88 aumentou o número de conselhos de políticas públi-cas, que são instrumentos da democracia participativa, pelo menos uma tentativa, já que na prática têm apresentado pouca efetividade. Porém, o e-xaminador pode ter considerado errada a expressão “na última década”, o que pressupõe que eles vinham sendo criados a partir dos anos 2000, quando na realidade os conselhos nacionais já existiam há mais tempo. Segundo Sônia Draibe, em texto de 1998:

Mais recentemente, por criação, reativação ou rotinização, esse ritmo alcan-çou também o plano nacional e o topo das políticas sociais federais. Na se-gunda metade dos anos 90, o sistema brasileiro de políticas sociais conta

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com aproximadamente 25 conselhos, localizados ou relacionados com o vér-tice das políticas setoriais e transversais, pontos estratégicos do processo de formação das políticas e de tomada de decisões.

Porém, isso não significa que não tenham sido criados novos conselhos nos últimos 10 anos. Temos alguns:

���� Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), ór-gão colegiado criado em 2003, no âmbito do Ministério do Desenvolvi-mento Agrário.

���� Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca (Conape), criado em 2003.

���� O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) foi criado em 2005 pela Lei 11.129, que também instituiu a Secretaria Nacional de Juventude, vincu-lada à Secretaria-Geral da Presidência da República.

Portanto, não está errado falar que houve expansão no número e na atuação dos conselhos nacionais de políticas públicas.

Gabarito: D.