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COMENTÁRIO DA PROVA DE REDAÇÃO Professor Wellington Borges Costa O tema desta primeira prova de 2016 está absolutamente dentro do padrão ENEM. Trata-se de uma situação-problema que atenta contra a cidadania. No caso, o estudante deveria redigir um texto dissertativo-argumentativo “apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos” sobre o tema Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. Não se trata, pois, como é característico desta prova, de debate posicionando-se a respeito de alguma polêmica contra ou a favor. Parte-se de um problema constatado e buscam-se soluções. A coletânea de textos deixa bem clara a delimitação do tema: nacional e atual. Os três primeiros textos foram acessados em 21 de maio de 2016 e o infográfico (texto IV) dez dias depois. O texto I se refere à constituição brasileira que garante liberdade de religião e a busca da laicidade do Estado. O texto II estabelece que apesar da liberdade de expressão em críticas a conceitos religiosos, atos extremos são criminalizados no Brasil. O texto II extrai justamente a tipificação dos “crimes contra o sentimento religioso” do Código Penal Brasileiro. O primeiro risco a ser comentado é o de erro na delimitação do tema. Obviamente argumentos com base em outras épocas e outros lugares são pertinentes na contextualização da discriminação e da intolerância de base religiosa – quantas guerras e mortes em função de um “fator Deus”. No entanto, a discussão deveria ser trazida para o Brasil presente e futuro. E o Texto IV, o infográfico, ajuda a delinear um perfil que opõe o cenário nacional ao dos conflitos entre judeus e muçulmanos no Oriente Médio ou das guerras entre católicos e protestantes na Europa. As duas maiores vítimas de intolerância no Brasil são os sabidamente discriminados pelos termos pejorativos “macumbeiro” e “crente”. O texto deveria, assim, procurar primeiro entender as causas que levam à situação para então buscar formas de intervenção. Entre inúmeras outras possibilidades de intervenção, podemos sugerir: – a intensificação da busca da laicidade por meio do poder público na fiscalização e punição dos crimes já estabelecidos – atuação mais severa na observação dos limites à liberdade de expressão em dois âmbitos principais: 1) emissoras de rádio e televisão que, apesar de concessões públicas, são mantidas por instituições religiosas e sabidamente atuam na promoção do ódio e da intolerância 2) as redes sociais que têm funcionado como terreno fértil para promoção de ódio e intolerância, infelizmente não apenas por razões religiosas. – penas mais drásticas aos criminosos Além disso, os dois caminhos já clássicos: – a mídia – comunicação social com campanhas nas várias mídias que proponham tolerância, respeito e informação da amplitude e diversidade de crenças – a escola – inclusão e ampliação no currículo das culturas e religiões de matrizes africanas como base que constitui a cidadania brasileira.

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COMENTÁRIO DA PROVA DE REDAÇÃO

Professor Wellington Borges Costa

O tema desta primeira prova de 2016 está absolutamente dentro do padrão ENEM. Trata-se de umasituação-problema que atenta contra a cidadania. No caso, o estudante deveria redigir um textodissertativo-argumentativo “apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos” sobre o temaCaminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. Não se trata, pois, como é característico desta prova, dedebate posicionando-se a respeito de alguma polêmica contra ou a favor. Parte-se de um problema constatado ebuscam-se soluções.

A coletânea de textos deixa bem clara a delimitação do tema: nacional e atual. Os três primeiros textos foramacessados em 21 de maio de 2016 e o infográfico (texto IV) dez dias depois. O texto I se refere à constituição brasileiraque garante liberdade de religião e a busca da laicidade do Estado. O texto II estabelece que apesar da liberdade deexpressão em críticas a conceitos religiosos, atos extremos são criminalizados no Brasil. O texto II extrai justamente atipificação dos “crimes contra o sentimento religioso” do Código Penal Brasileiro.

O primeiro risco a ser comentado é o de erro na delimitação do tema. Obviamente argumentos com base emoutras épocas e outros lugares são pertinentes na contextualização da discriminação e da intolerância de basereligiosa – quantas guerras e mortes em função de um “fator Deus”. No entanto, a discussão deveria ser trazida para oBrasil presente e futuro.

E o Texto IV, o infográfico, ajuda a delinear um perfil que opõe o cenário nacional ao dos conflitos entre judeus emuçulmanos no Oriente Médio ou das guerras entre católicos e protestantes na Europa.

As duas maiores vítimas de intolerância no Brasil são os sabidamente discriminados pelos termos pejorativos“macumbeiro” e “crente”. O texto deveria, assim, procurar primeiro entender as causas que levam à situação paraentão buscar formas de intervenção.

Entre inúmeras outras possibilidades de intervenção, podemos sugerir:

– a intensificação da busca da laicidade por meio do poder público na fiscalização e punição dos crimes jáestabelecidos

– atuação mais severa na observação dos limites à liberdade de expressão em dois âmbitos principais:

1) emissoras de rádio e televisão que, apesar de concessões públicas, são mantidas por instituições religiosas esabidamente atuam na promoção do ódio e da intolerância

2) as redes sociais que têm funcionado como terreno fértil para promoção de ódio e intolerância, infelizmentenão apenas por razões religiosas.

– penas mais drásticas aos criminosos

Além disso, os dois caminhos já clássicos:

– a mídia – comunicação social com campanhas nas várias mídias que proponham tolerância, respeito einformação da amplitude e diversidade de crenças

– a escola – inclusão e ampliação no currículo das culturas e religiões de matrizes africanas como base queconstitui a cidadania brasileira.

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COMENTÁRIO GERAL DA PROVA DE PORTUGUÊS

Professores Braz Ogleari, Fábio Bettes, Vagner de Alencar Carreira, Yeso Osawa Ribeiro

40 questões : um bom número para se exigirem conhecimentos de “linguagens, códigos e suas tecnologias”.

Refletindo sobre as questões que versaram sobre a linguagem literária, bem como os seus códigos e suastecnologias, fazemos a seguinte avaliação.

Significativa presença de textos literários, mas...

Das 40 questões da prova, 20 se basearam em textos literários ou de teoria/crítica literárias. Tomando como basea prova cinza, temos o seguinte:

MODALIDADE QUANTIDADE DE QUESTÕES NÚMERO DAS QUESTÕES

1. Teoria / Crítica Literária 2 96, 113

2. Poesia 6 98, 110, 116, 119, 123, 132

3. Crônica 3 99, 107, 115

4. Romance 3 100, 128, 135

5. Teatro 2 101, 131

6. Conto 2 103, 109, 122

7. Canção 1 114

Lógico que muitas destas questões não versaram apenas sobre aspectos literários, mas o aluno foi exigido emsua capacidade de ler textos de tal natureza. Agora nossa ressalva reside no seguinte: em relação às questõesbaseadas em romances, vale dizer que dois dos três fragmentos foram extraídos de autores estrangeiros (MargueriteDuras e Amos Oz) e um, do excelente mas desconhecido autor paranaense Oscar Nakasato. Algo contra tais autores?Não, absolutamente não. Mas o ENEM acaba por desprestigiar a imensa variedade de prosadores brasileiros,desestimulando o interesse pelos grandes romances de nossa literatura brasileira. É, em última instância, umdesserviço ao estudo da Literatura Brasileira no Ensino Médio.

Muitas questões sobre Teoria Literária e Gêneros Literários

Foram 9 questões a exigir conhecimentos sobre:

� Funções da linguagem / Teoria Literária: 3 (96, 113, 123)

� Gênero lírico: 1 (98)

� Gênero dramático: 2 (101, 117)

� Mistura de gêneros: 1 (116)

� Poesia: 2 (110, 119)

Como em outros anos, o ENEM aponta sempre para a necessidade em se conhecerem os gêneros literários e osrudimentos da Teoria Literária, o que achamos louvável.

Era uma vez a História da Literatura

Neste ano, a prova do ENEM demonstrou integral desprezo com relação à História da Literatura: contextos ecaracterísticas de cada período. Mais um desserviço ao estudo de tal disciplina ao longo do ensino Médio. Jamaisdefendemos a decoreba de estilos, jamais aceitamos as questões que só cobravam conhecimentos meramenteenciclopédicos. Entretanto, o conhecimento da história da Literatura Brasileira não pode ser desprestigiado assim!

A Literatura é reflexo de seu tempo, e vice-versa. Desprezar um ou outro desses elementos é um erro lamentável.

ENEM 2016: uma prova com boa clareza de enunciados, mas que precisava ser melhor, pelo fato de ser um mecanismo deavaliação de milhões de estudantes.

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COMENTÁRIO DA PROVA DE INGLÊS

Professores Floriano José Guérios e Rosaly de Oliveira Barros

A prova de Inglês do ENEM deste ano foi inferior à dos anos anteriores.

Da prova constaram vários gêneros textuais, e a interpretação não apresentava muita dificuldade:

I. Um fragmento de uma letra de música, do compositor Paul Mc Cartney.

II. A importância da Língua Inglesa na Globalização.

III. O que fazer diante de catástrofes.

IV. O anúncio de uma nova tinta para produzir pele e tecidos humanos.

V. O uso de um acrônimo com a palavra “Bogof” que significa: Na compra de uma mercadoria você ganhauma grátis (Buy one get one free).

A prova do ENEM poderia ser mais abrangente, mas compreendemos que um programa tão extenso não podeser eficazmente cobrado com apenas 5 questões.

COMENTÁRIO DA PROVA DE ESPANHOL

Professora Inêz Gaias

Vários gêneros textuais marcaram a prova de espanhol do ENEM. Exigiu-se do candidato um bomconhecimento lexical, cultural e histórico. Como é de praxe, todos os anos o aluno que opta pelo Espanhol como línguaestrangeira no ENEM se depara com textos literários e, desta vez, não foi diferente. Ao todo foram dois poemas queserviram de base para duas questões.

Embora a tendência fosse o conhecimento instrumental de Espanhol, ou seja, com leitura em espanhol einterpretação em português, cobrou-se do aluno um bom conhecimento linguístico, através de textos medianos acurtos, o que deve ter dado mais dinamismo na resolução das 5 questões.

O texto que serviu de referência para a questão 91 exigiu do aluno, além do conhecimento lexical em relação àuma expressão “una de cal y otra de arena”, que significa ter que lidar com dois sentimentos/fatos antagônicos,também o conhecimento histórico da luta das mães da Plaza de Mayo – Argentina, por recuperar os seus filhosdesaparecidos. No caso específico do texto, foi apresentado o caso dos filhos adotivos da dona do jornal Clarín – umdos maiores jornais da Argentina – por haver suspeitas de que são filhos desaparecidos da ditadura.

Já o poema “Preámbulo a las instrucciones para dar cuerda al reloj” do grande escritor argentino Julio Cortazar –questão 92 – reflete sobre o objeto, o relógio, que possui o domínio sobre o ser humano; nós somos dependentes delee não o contrário.

A crônica “Inestabilidad estable” – questão 93 – ilustra que o mundo que nos foi apresentado de fato é outro,marcado pela necessidade de rentabilidade, de forma involuntária.

A questão 94 teve como aporte uma nova linguagem: o grafite. O texto presente nessa linguagem social foicoletado de um cenário urbano de Lima; a pergunta exigia do aluno uma boa compreensão do verbo “ponerse” quenesse caso indica algo momentâneo; esse verbo indica a mudança de um estado para outro.

Já o poema mexicano – questão 95 – relata o que significa sonhar com água e elenca que cada tipo de água temum significado. O aluno teria que captar a essência do texto ao descrever uma crendice mexicana.

A diversidade de gêneros presentes na prova foi um fator bastante positivo, e acreditamos que o seu conteúdonão deve ter surpreendido os nossos alunos, que estavam muito bem preparados para resolvê-la.

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